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Mlnro Hrce

Po esr.a. CesÁnrce: RrcerçÂo


Cnírrc,c. E LucA R C,c.NôNrco
.x,

I pÍinreiro livro de Cesário Verde foi anunciado em 1873,


rrrr tlia após o iovem poeta de dezoito anos ter publicado
,,r.us primeiros versos em folhetim. Com alguns amigos na
ruprcnsa e, supõe-se, um punhado de poemas nâ gayeta,
( lcsilrio ingressa no mundo das letras de modo calculado.

l.rn rz de novembro, faz publicar três composiçóes suas no

r
lrütrio de Notícias.No dia seguinte, o Diário Ilustrado anun
iir para breve Cânticos do Realismo, livro de estreia de Ce,
I
!

silrio Verde. O anúncio, no entanto, não se cumpriu à época,


ncm depois, até a morte do poeta, em 1886. Um dos fatores
tlue levaram Cesário a adiar, porventura sistematicamente,
o lançamento de uma coletânea com seus versos pode ter
sido a recepção hostil que seus poemas receberam'. E não -
âpenâs de quem o poeta esperava reação negativa ou indi-
ferente, mas também de quem buscava aproximação: escri
tores da "Escola Nova" ou "Escola de Coimbra1 Sabe-se, por

r. Um outro motivo nos dá o depoimento de Bourbon e Meneses: "Per,


guntando lhe Gualdino Comes por que não reunia em volumeas suas poe,
sias respondeu Cesário Verde que pretendia dar à sua obra ceÍtâ unidade
queaindâ nâo possuiâ... nâo publicaria senão um livro que pela Íigorosa se
leçáo e pelo paciente trâbalho da forma pudesse,.oíno As Florcs do Mal de
Baudelaire impoÍ-se, atrâvés da aparente descontinu idâde das composições,
pela unidade cerrada da forma e pela unidade essencial do fundo poético"
(apad Teresa Cunha, Crir ticos do Reolismo e OutÍos Poemar, Cesário VeÍde,
Lisboa, Reló8io DÁgua,2006, pp. r4 rS).

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tlllfllutilfl -
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€xemplo, que Cesário contava receber 'hplausos do lado dos r í,r íi) ,ll.,d/r.çr7ro
- corl|enta em tom
jocoso e zombete
grandes revolucion ârios" (apud Rodrigues, p. zu) quando rugcns da composição, rro Pa§
publicou o tríptico "Fantasias do Impossível'l em 1874. Con- utrlor ao ridículo.
com o claro intuito
de expôJa e seu -
Con sta que Cesário
tudo, o que de fato recebeu foi uma repreensão pública de ruratação do jornal reagira, exigindo
O referido diáriq uma
Ramalho Ortigão, que, em uma de suas'farpas", comenta em ll (,l na qual entáo, redimiu-se
em
asse vera que
tom de mofa um poema da série: 'Esplêndida'l TeóÍilo Bra- para fazer
viit de fato extra JUI zo do poema lhe
ído trechos ,bs ha_
ga também teria censurado a composição. Para um amigo de menos asquerosos
n()entos, os menos , OS menos
rePugnan tes': E
Cesário, teria dito que considerava condenável que "um ho- ç4, "Em Petr'z,, seria transcrito
que para lhe fazer
na íntegra, para iusti-
mem, para captar as simpatias de uma mulher" tivesse que dessem comprovar qu e todos
o que Parecia óbyio, Pu-
descer 'ho lugar dos lacaios'l Para TeófrIo, "um poeta amante poema 'é simpl gue ,tada verso
esmente u m vomitório,, clo
e moderno devia ser trabalhadot forte e digno e não se devia Vidq de Cesário (apud Figueiredo,
Verde, pp. tzj_rz4). A
rebaixar assirn' (OC, p. zo3). A polêmica quase acabo
Em 1877 Teófilo edita seu Paaraso Português Moderno,
em tragédia. Segundo
época, Cesário
se pode d ePre
teria desafiado
ender de documentos
da
U
M
uma antologia poética representativa do periodo, segundo Pedro Correia, para
o dir etor do Diário
Llustfttdo,
um duelo, que
criterios do editor. Nela, Cesário nâo comparece. No mesmo "O obstácul o estimula,; Por fim não ocor reu.
ano, Cesário compôem o que pode ser considerado seu pri- diz um hemistíquio
riedades , poema de 'Contra-
em q ue o narrador
meiro grande poema: "Num Bairro Modernoi Dias após sua Poeta culto desprezado
lírico si mula ser um
publicaçâo, em 1878, um leitor do Diário de Portugal alude à
pela crítica. Em
assitDilou e pôs sua obra, Cesário
ern prática este
obra como 'tradução infelicíssima de um falso poeta realis- vista. Em r88o, pensamento de
publica uma de raiz positi-
ta" (apzd Rodrigues, p. zo5). Outro, na Correspondência de tiiv('is: "O Sent rmento suas comPOS içôes
mais no_
dum Oci dental que
Coimbra, afrima que a composição "não é romantismo nem consideraram e , muitos críticos
vem considerando
realismo; é uma coisa medonha, informe, caprichada com re- rlc lírgua port ugue§a, peça canô nica
da poesia
ou me§mo da poesia
quinte, ridícula no ensemble, disparatada nas minudências. // (le todos os I írica ocidental
te mpos. Entre seus leitores
É uma aberraçáo numa preocupaçâo de originalidadet" (apud ('Dlanto, o contemporâneos,
Poema não suscitou m no
Silveira, p. 16). Em depoimento que serviria de carta-prefácio ,r trnr ami ars que silêncio. Em carta
8(), Cesário lamenta
à zr ediçâo de O Livro de Cesário Verde, mas que ficou ina- a in diferença com
h)i recebida: "Ninguém que a obra
escreveu, ninguem
cabado, Fialho de Almeida ("Cesário Verde', p. rz) recorda rxÍiciário, n em numa faiou, nem num
conyer§a c omigo;
o tempo em que "Num Bairro Moderno' apareceu. Por essa ttinguem d tsse ninguém disse bem
mall ... Literari amente
época, alirma, Cesário era motivo de chacota nas redações de rece que Cesário - conclui o poeta _ pa-
Verde nào existe,, (
jornais e nos circulos em que se discutiam literatura e poesia. "O obstáculo OC, p. 228)
estim uia'l mas
O próprio Fialho confessa ter caçoado do poeta. às vezes também
pois de "O Senti abate. De-
mento dum Ocide
lim r879, o poema "Em Petiz" provocâ nova reação violen- ciará por quatro ntal'l a lira cesárica
anos. pelo menos, silen-
l.r. t Jnr (lia após ser publicado, o crítico de plantão do Diário inédiro de Cesár nao se conhece
io divulgado entre nenhum
t/rrvrrrrlrr pcriódico que anunciarâ o lançamento de CAíÍi- de 'O Sentimen ro junho de r8go,
to dum Ocidental,; tiar .l
e 5 de setembro (l(.rl
l4 .: lN I llolrtrr. l.t.t
^()
l
Pi,l,À,^§ lt,(rN|l)os
quando a revista Á llastraçrio publica "Nós'l Sobre esta com-
posição, a Mariano Pina, diretor do referido periódico, Ce-
sário diz na cartâ que acompanha o manuscrito: "É talue, a
minha produção Írltima, Íinal" (OC, p. 239). E de certo modo
foi. Depois de "N<is", até onde se tem noticia, Cesário só será
,l z4.ra g- -7.2*-, -a
publicado postumamente.
"Nós" é um poema assombroso. Ser publicado depois de
?2
"O Sentimento dum Ocidental" o faz, de alguma forma, ain- 7^.^.r- -)//')
da mais extraordinário. Este, em sua regularidade de acer-
tos, em sua consciência textual minuciosa, geradora de uma
1 .2,-.2.-
./. , -2:
l/-l-{rL.__--
espécie de complexo sistêmico ou associativo de imagens e -\
sons, Íigura como culminância da traietória poética de Ce-
sário, como produto final aperfeiçoado de ensaios anterio- HOBAS DE FEBBE
res bem-acabados, como poema de6nitivo, enflm. EsPanta
ver, pois, como após sua obra defnitiva, ou sob sua sombra,
Cesário logra afastar-se desse modelo. que em suas máos se
havia esgotado, e alcança formular outro, em tudo ou quase

t*
diferente do primeiro, mas ainda coerente em seus objetivos
e resultados. Sob certos aspectos, "Nós" inicia e encerra uma
-:..,
nova e derradeira fase da produção cesárica, que em muitos
sentidos supera a precedente quando esta superação era to- I!
talmente inesperada por improvável. No entanto, â mesma
indiferença que envolveu "O Sentimento dum Ocidental"
cercou o lançamento de "Nós'l

A Importôncia de Silv? Pinto

Do desdém ao silêncio. Assim poderia ser resumida a recep-


ção da obra de Cesário, durante a vida do poeta. Do silên-
cio à consagração. Assim poderia ser sintetizada a segunda
parte desta história. Cesário não morreu desconhecido. Ate
sua morte, seu nome circurlava entre leitores e escritores Uma deílicatória e um autógrafo de Sill,a pinto
em seu liyro ile contos Horas de
portugueses. A frequência com que circulava e difícil medir Febre, lançado em ú7j, ano da estrcio litetá a de Cesáfio.
Em morltagem, logo
hoje, mas por certo nâo era pequena. O modo oscilava en- abaixo, dois momefitos do escritor, cÍítico polemista,
e em rBB2 e efi ryo6.
16 j INTRODUÇÃO
uu

tre desprezo, indiferença e admiraçáo. Em notas, ainda que tlrn,'làlvez por isso, no mesmo escrito, Silva Pinto tenha se

breves, iornais noticiaram o falecimento de Cesário Ami- .onrprometido compor um estudo sobre a obrâ de Cesário,
a
I I I lfl [[Uilflflilfl I tI I tflUilflUffi UflflflUUIUUUUil!!UUn
gos também manifestaram Pesar na imPrensa Nestes textos' trrt cnsaio que por fim iustificasse aquela edição e os epítetos
à horn"^, mais que o Poeta, gânhava destaque' Aquele' em l tçados. No entanto, morto em r9rr, ou vinte e quatro anos
suma, era honesto, afável, cultoi este, sobretudo' original - tpós o compromisso firmado, a promessa não se cumpriu.
termo que à ePoca podia assumir conotaçÕes vária§' É provável que, quando editou O livlo de Cesário Vercle,
Embora a poesia de Cesário, à parte as polêmicas, tenha §llva Pinto não preüsse a dimensão que sua atitude alcançaria,
I

despertado admiração e tenha recebido manifestações Pon- que a obra seria considerada uma das mais representativâs da

tuais de apoio, é provável que o silêncio que a cercou nos úl- ;xrcsia portuguesa. É possível que Silva Pinto nem sequer sus-
timos anos de sua produçáo perdurasse e a sepultasse para Ircltasse que â edição particular que custeou em 1887 se trans-
sempre. Ou que Cesário passasse à história como um nome lirrmariaem edição comercial em r9or. O fato é que â recepção
entre outros do Parnasianismo Português' O que impediu tkr conjuntodos poemasfoi diferente daque receberam os poe-
que isso viesse a ocorrer foi a decisão de Antônio Iosé da mas avulsos. No livro, os textos, por assim dizer, se galvaniza-
Silva Pinto de reunir alguns dos poemas disPersos e outros ram por aproximação, por contágio mútuo e redistribuição de
inéditos de Cesário e, afirmando que executava plano deixa- forças. "Nós" jogou luzes sobre "Em Petizi por exemplo, eüce-

do pelo poeta, publicar, em 1887' O Livro de Cesário Verde' -versa. "O Sentimento dum Ocidental" valorizou "Num Bairro
Com este ato, Silva Pinto, crítico e escritor de obra irregular Modernol e tambem este àquele, Lidos em paralelo, campo e
e extensa, ganhou relevo na história da literatura Portugue- civilização articularam-se numa narrativa coesa e complexa. E
sa, tornando-se o maior resPonsável pelo resgate da poesia assim sucessivamente. Afinal, o critério de avaliação crítica de

cesárica que se deu durante século xx. poesia, o modo de sua recepçâo, não se haüa alterado de for-

Cesário conheceu Silva Pinto em 1873, quando ambos ma tão substanciâl entre as décadas de r87o e t89o. A geração

eram alunos no Curso Superior de Letras, em Lisboa' Des- que estimou O Livro de Cesàrio Verde, e assim promoveu sua

de então tornaram-se amigos próximos e inseparáveis' Como segundaedição, foi praticamente a mesma que desbancou seus

crítico, Silva Pinto saiu em defesa de Cesário em algumas po- poemas à época em que se publicaram na imprensa.

lêmicas. A iniciativa de editar O Livro de Cesario Verde' no


entanto, Parece ter sido motiYada mais Por sentimento fra- A Fanfarra ea Música de Câmara
terno que por convicção critica. Nos escritos que dedicou à
obra de Cesário, Silva Pinto exaltou-a mas não demonstrou Um ano antes de morrer, Cesário é citado no Dicionário Bi-
compreendê-la em profundidade. No prefácio que escreveu bliográfco Português, vol. xrrr, então dirigido por Brito Ara-
- nha. São poucas linhas as que se referem ao poeta ainda sem
para O Livro de Cesário Verde, chora a morte e louva a memó
ria do amigo, Apenas em alguns momentos, alude ao poeta, e livro, mas por elasjá se vê que à poesia cesárica era reconhe-
solta um "artista delicadol "poeta de primeira grandeza"''hr- cido um lugar na cultura literária da época. Na década de
tista e de altâ Plana!", 'briginalíssimo poeta'l expressôes de 1890, saem, uma na França e outra na Itália, duas antologiâs

valor epitetico que Pouco ou nada dizem sobre a Poesia cesá- da poesia portuguesa moderna. Em Le Mouvement Poétique

, TNTRoDUçÃo POEMAS REUNIDOS:. T9


18
Contemporain en Portugal (1892), organizado por Maximc I tr ll rlr,t rx.lr n§, Marcelo Gama e Felipe
D'Oliveira, que inicia
Formont, Cesário é disposto entre poetas considerados me Extinta (r9u) com o verso: ,,Eu
rrrrr rhrr ;'rx.trrirs «lc setr Vida
nores de seu tempo. O mesmo ocorre em I Nuovi Poeti Por hrlr. r,.trxr r (xn as crises de Cesáridi Andrade Muricy afirma
toghesi (ú96), editado por Antonio Padula. Nestas obras, o r1t, r r "/rrlrrrur de Cesário Verde" está na ,.raiz de quase todo
cânone é formado por João de Deus, Antero e Teófilo. ,, rrr,rrrr Strrrbolismo' (p. 86q). E vê na mescla sutil de ironia e
Por esse período, começam a surgir sinais de epigonis- l(riút txr Presente na poesia de Augusto dos Anjos, que pu_
mo cesárico. Em 1886, Xaüer de Carvalho publica "O Cais i ,,x cm 19rz, uma possível influência de Cesário (p. 84r).
I'lt,
- Versos dum Incoerentdl decalcado de "O Sentimento dum I rrr t9o9, a lusitanista e medievalista Carolina Michaêlis de
Ocidental': A imitação inclui até a estrutura rítmica da estro- \irr rrrrccffos elege as Cem Melhores poesias (lírica) d.a Línguo
fe, formada de quadras em que o primeiro verso é decassíla- I t|lr(r.u4, mas que de fato limitam-se a autores portugue-
I
',
bo e os demais alexandrinos. Veja-se uma passagem: rr.r I )os cem "espaços': a antologista destina catorze a poemas
|,ii r(,mânticos: sete de Antero, quâtro de )oão de Deus, dois
São frns da tarde. Uma tristeza fria ri. { ionçalves Crespo e um de Antônio Nobre. Cesiirio não
Descora os rostos vis dbbreiÍos em magotes. , onrparece. Teófilo, funqueiro e Gomes Leal também nâo. Em
Há no ar um perfume acre de maresia rurz ljidelino de Figueiredo organiza uma Antologia Geral da
E um rude homenzarrào anda atracando os botes. I llüqtura Portuguesa (ni9-t9oo), para uso em escolas secun_
Áprld Rodrigues, p. 244; w. 5-8. rlIrias. Sem limitação prévia de textos, para o mesmo período,
o organizador seleciona dezessete poemas: seis de Antero, três
Agostinho Campos, em r889, publica "Pela Manhã", poe- tlc foâo de Deus, três de Junqueiro, dois de Gonçalves Crespo,
ma em que a presença de "Num Bairro Moderno'1á se faz dois de Gomes Leal e um de Cesário. Teófilo não é convocado.
ver desde os versos iniciais: 'Seis horas da manhã. Um sol de Com efeito, em termos físicos, Cesário divide mesmo espaço
estio / Enche de animação a feira toda'l Na segunda estrofe, que Antero (cinco páginas) e supera os demais. .O Sentimen_
a imitação segue, ainda mais próxima do original: to dum Ocidental'; composição que Figueiredo escolhe, é um
texto de extensão média a longa (176 versos).
Vinde aspirar, anêmicâs meninas, Em lingua inglesa, o quadro muda mas pouco. Em r9r6, o
Deixando por um pouco em paz o amot político e erudito George Young organiza e traduz uma an-
O aroma sem rivâl das tangerinas tologia da poesia portuguesa, com yiés eminentemente nâ_
E o cheiro salutar da couve flor. cionalista. O volume traz prefácio de Teófrlo Brâga, então
Áprd Rodrigues, p. 246; w t-8. ex-presidente de Portugal. Na coletânea de young, Teófilo
comparece com um poema, loão de Deus com dois, Antero
Por esses exemplos, pode-se constatar a existência de uma com três e ]unqueiro com cinco. Dois anos antes, o ilustre
gama de estilemas cesáricos reconhecidos e parodiados .já no iberista Aubrey F. G. Bell havia publicado Studies in portu_
Iim do século xrx. No Brasil, a poesia de Cesário repercute guese Líterature. No capitulo "Three poets ofthe Nineteenth
em obras do primeiro decênio do século xx, como nas de Má- Century'l Bell comenta o legado poético de |oâo de Deus,
l
20 .: INTRODUçÃO POEMAS REUNIDoS ! 2I

I \
Tomás Ribeiro e Antero. Noutro, intitulado "portugue- ,.r cstá em julgamento o valor estilistico das obras: TeófiIo,
se Poets of To-day'l examina poetas vivos, e considera fun, t ;orncs Leal e Junqueiro são bem-sucedidos poetas maxima-
queiro o mais importânte entre eles. Nas duas obras citadas, lrrtas. Ou seja, há em suas realizaçôes coerência entre proje
nenhuma palavra sobre Cesário. Na última, nenhuma espe- r,' ( produto, entre intenção e realização. No entanto, ainda
cífrca sobre a poesia de TeófrIo. Em r9zz, Aubrey Bell lan- rlrc o resultado seja positivo, ele depende de encontrar um
ça Portuguese Literottre, um estudo histórico-literário mais slinatário predisposto à sua assimilaçâo: o que não ocor-
!l(
abrangente que o anterior, escrito a maior parte em t9r6, mas rcu, em sentido generalizado, no século xx. Na concepção
nâo publicado antes devido à guerra. Na seçâo destinada à rlc l:igueiredo, que reproduz perspectiva dominante à época,
"Escola de Coimbral Teófilo é tratado como historiador Sua
c tlccerto modo válida até nossos dias, a poesia maximalis-
poesia, diz Aubrey Bell, vem sendo julgada de modo varia- tn, grandiosa, titânica "é como a marcha de duma fanfarra,
do, uns consideram-na obra de gênio, outros, tentativa fa- (.[tusiasta e guerreira, que ouvida a primeira vez nos fasci-
lhada de exprimir o sublime (p. 3o9). Os poetas de destaque rrir, mas que de audição em audição vai perdendo seu poder
do período são Antero, |oão de Deus e funqueiro. Em segun- lxsÍtivd' (Literatura Portugueso, p. 3r9). Para um leitor do
do plano, Gonçalves Crespo e Gomes Leal- Acerca dos mais ,'úculo xrx, contemporâneo de Cesário, tal afirmação certa-
novos, despontam Antônio Nobre, Teixeira de pascoaes e nrente a6gurar-se-ia equivocada. Em sentido amplo, prefe-
Eugênio de Câstro. Cesário é descrito numa sentença que ria-se então a fanfarra à música de câmara3.
destaca sua frase clara e seu realismo intenso (p. 33o).
Por esse breve recorte, vê-se que critérios de avaliação
A Importôncia de Fernando Pessoa
crítica do 6m do século xrx e começo do xx vão pôr à som-
bra a poesia de TeófiIo. Junto com ela, com o passar dos () primeiro Modernismo português desempenhou papel de-
anos, começam a decair também )unqueiro e Gomes Leal, r isivo no processo de redimensionamento crítico da poesia
ao mesmo tempo em que Cesário vai ganhando prestígio. tcsárica. Em r9r2, Mário de Sá-Carneiro plblica Princípio,
Em r94r, Fidelino de Figueiredo afirma "O Livro de Cesário
Verde, rewido por Silva Pinto, tem subido sempre na esti-
ma das geraçôes novas, ao contrário do que se veriÍica com
]. Antes de Fidelino de Figueiredo. em 1926, Eugênio de Castro, no tex
os poetas mais identiflcados com a estética da época realista' to que escreveu sobre CesáÍio, exteÍna s€melhanle iuizo: 'Ceúrio Verde foi
(Literotura Portugueia, p. 318). Tal fato deriva, entre outros rrÍÍcmpoÍâneo de Guerra Junqueiro e de Gomes Leâl, desses dois poetas

fatores, de uma separação estilistica que o século xx deter- ,Irr. declârâdos inimigos do Romantismo, aos românticos íoÍam buscar e
I'ri .ipâlmente a Victor Hugo, a ênfase oratóÍia, de que abusaram desmar-
minou e enfatizou entre poetas (e escritores) minimalis-
r,rrlanrente, ênfase que depois se lornou epidérmica nos arraiais da poesia
tas, como Cesário, Nobre e Pessanha, e maximalistas2 como
lr,Íruguesâ, e que de si não deixou vestiSios muilo honrosos, poÍqu€, apâ'
'l'eó6kr,
funqueiro e Gomes Leal. Em última instância, não r.rlos0 mas efêmera, bÍilhante mâs oca, era €omo as bolas de sâbào que as
( rllnços sopram por um canudo, e que estoiÍam de repente, desfazendo-se
r"rt iserável pingo dàgua, depois de terem fulgido magnificamente como
2. Claro está que uso o termo "maximalismo" com o sentido oposto ao '
B&,lxN de cristal irizado" ("CesáÍio Verdel CaÍÍas d€ Tolna Viagem, Lisboa,
de'minimalismol "l v'rcn'l p. 96).
'e26,
22 -: IN'I'ToI)UçAO POEMAS REUNIDÔS,- 21
ilmil

livro de contos. Uma das estórias, intitulada 'Loucura..ll ba l.lnr r924, em uma desuas cartas
de torna_viagem, Eugênio
seia-se no Poema "lronias do Desgosto', de Cesário. Dois rlr ( llstnr escreve para resgatar Cesário
e O tiiro de Císarro
4spois, à questão proposta pelo ioÍnal Repúblíca sobre l'rrír,do "injusto esquecimento em que
"nor
'b mais belo livro das últimas três décadas'l Mário de Sá- cairam,l por esse
lt.|ltlx), a simpatia dos modernistas
não havia surtido efei_
-Carneiro responde citando a obra de Camilo Pessanha - t1, li1 rllr, ojovem )oão Gaspar
ainda não reunida em volume -, o Só, de Antônio Nobre, e o
Simões .r...r. i.p..,"r1.
llrlio sobre o poeta. no qual são a"nniau, . a.^onrrr"à",
'livro do futurista Cesário Verddl (O futurismo aludido não das linhas básicas do estilo cesárico.
'ullutnas É possivel que
é por certo o de Marinetti. Com o termo, Sá Carneiro desta- o lnlcresse de Joào Gaspar pela
poesia cesárica tenha nasci
ca um asPecto que desempenhará papel fundamental, como rÍr 0o contato pessoal com
Jose Regio e com a obra em pro.
uar"rn6s, na leitura de Cesário durante o século xx: o de pre- grcsso de Fernando pessoa.
0 primeiro dedica a Cesário um
6r1ro1 de caminhos da poesia moderna.) rt[ltulo quase inteiro de sua dissertação
' de licenciatura, en_
4 6efesa mais contundente da poesia de Cesário, nesse lrcgue em 1925, e que, refundida,
tornou -se a pequefia Histó_
período, sai da pena de um de seus contemporâneos: Fialho t.l1 d1.Molerna portuguesa,
loesia saída"^ ,94r. p"rro" .itu
de Alrneida. Em texto incompleto, publicado postumamen-

I
(
i.sário de modo reverencial em
alguns _À.rr,o, a. ,ru

I
te em 1917, e que, como já referido, serviria de carta-prefá- ,rlrra. como na "OdeMaritima'l publicad" ,o ,.g, nao
cio à 2, ediçâo de O Livro de Cesário Verde, Fialho escreve ti ne orpheu, em iulho de r9r5. nirn.l
uma esPecie de mea culpa de sua geração, que não soube euando a parii. da década
r94o, o espólio pessoano passa poÍ
'I(. revisào crifica e a ele se
compreender e avaliar a obra cesárica. O modo, aliás, como o"
p;r1l,e lê pelos anos "::l:_:l-u ".r" 8*ndeza que hoje se lhe reconhece, a poesia
a poesia de Cesário sumariza o percurso csilnca, por contágio, também
r
se valoriza. Depois dá Silva
destaiúntos a seus leitores. De início, o cronista pârticipa do l,into, Fernando pessoa pode
serconsideraao o
.oro 49 zombadores do poeta, tido como excêntrico por sua p.nsável pela consagraçâo irlncipat .er_
da obra de C.ra.io. i"_
originalidade inusual. Em r892, de modo sumário, reconhe- ,"Oorre do segundo. e dificil preu"r "ã4io
.. n.rla singularidade um aspecto positivo, especialmente ll:l ll,-T.,r:.
IIx) tomariam "os poemas cesáricos
que des_
no século xx.
quando comParada com a produção poética de sua época: A partir da década de r94o, a bibliografia
cesárica amplia-
"911 tneu loiro e divino irregular Cesário Verde! É lendo os t9l* a busca por poemas dispersos
,::.:.9Th' e por
rapazes do teu tempo que a minha adoração por ti redunda I'nrtes primárias de],icia-se
publicação. Começa-se a ordenação
em fânatismo' (Vida lrônica, p. r84). Por lim, na carta-pre- cro-
rrológica da produçâo cesárica,
a recolha ao _at..l"t .pirtoi".
fácio, de modo ponderado e argumentativo, atribui à poesia rlrr poeta. Pôe-se em questionamento
a d i'/rsão de O ivro de
cesárica valor estético superiorn. ,::",r,1:i r:rd::^ d:as parres.
e especuJa_se até que ponro
v l,tnto teria interferido ou nâo na organizaçào Sil_
da obra e nas
I que tardia, a adesão critica de fialho à poesiâ de Cesário pode
,, r ^inda
,,Í!rPreendida à luz de âfinidades existentes entre a obra do prosâdor e
(\ rilor. Para uma análise comparalivâ
.' ,1,, thctâ. Ou seia, as virtudes qu€ Fiâlho exaha na poesia de Ceúrio sáo desse
,rr.rr.,ao. .Áves Migrado;".#;;,::»:iiTi;ll"i:11,? Í:,ll
,,Irtl, r.s as que, adaptadas à prosâ, o contista e cronista perseguiu em seus
! . Bràta-po(o. Livraria Cruz, std,
ry2J, pp.69-27.
I
,,t rN l ltoDt çÀ()
POEMAS REUNIDOS:. 25
I
I I I I I I E

variantes dos poemas. Novos caminhos se abrem para o estu- lllllt{(ln, visiio alucinatória, presente em alguns momen,
do da poesia de Cesário com a obra de Luís Amaro de Oliveira, lu rli,llrisnro cesárico conectou-o com o Surreâlismo. por
Cesário Verde (Novos Subsídios para o ktudo de Sua Personali- ÍÍlro l do, o imanentismo realista, antimetaíísico,
plásti_
dade), qte sai em 944. |oel Serrão aproveita essa abertura e dá r.l'. r rrlrs limites da matéria reprimem
a expansào emotiva
sua contribuiçâo com Cesário Verde: Interpretaçao, Poesias I)is- rIr rr4cilo e u arroubo dramático do verbo,
abrlu caminho
persas e Cartos, de tgtz Em 1964, Serrão publica a Obra Com-
l'|lr'r (l iDragismo moderno substantivado e concreto, con_
pleta de Cesário Verde, trabalho que sofrerá adendos e correçôes , r,rrtrirrkr e nítido. O formalismo,
até a edição de 1988, considerada defrnitiva por seu autor. - <ie
rr r, rt.rarro
Em paralelo à crítica textual, a obra de Cesário torna-se _consciência,,.r.,;';t;'j:;[1'jt#t"t:;
rrrrrrtea de surdina. mas voltado para
â natureza dinâmica
alvo de crítica exegética ou hermenêutica. Pode-se dizer que rr,r r. §tet)cta, c não lrio, estéril,
ensimesmado, ligou Cesá.
todos os grandes nomes do ensaismo literário português r tl, il c('rtâs tendências
da poesia recente qu€ valorizam o
desse periodo empreenderam esforços para ampliar a com- ,, rchral, o matemático, o engenhoso
da foima, em que se
preensão da poesia cesárica. À medida que essa compreen- ,r, orrroda conteúdo sensivel
mas não sentimental. A ficcio_
são se expandiu, as histórias da literatura portuguesa forâm rr,rlrz.rção.da voz enunciante na
poesia cesárica ajudou a
aos poucos deslocando Cesário do grupo de poetas reâlistâs
'1,.\ntantelar o mito da sinceridade Iirica e com isso cont.il
e parnasianos, onde inicialmente apareceÍâ, para dispô-lo l,rrirr para a formação de uma era
da ficção, ou .r. d;;;;
em lugar de maior destaque, até por fim destinar-lhe capi- , ,u
icdade, em que todas as verdades
uir.rn ,ob .urtádia
tulos independentes, ao lado dos principais nomes da lite- ,l,r rlúvida. Dessa forma, Cesário
antecipou o Simbolismo,
ratura portuguesâ. I r.r'rrirndo_
Pessoa, Álvaro de Campos, Alberto
Caeiro, Mu_
r rlr Mendes,
João Cabral de Melo Neto... E desse modo,
a
Cesário Precursor ,'lrra cesárica foi ampliando seu
lugar canônico na literatu-
r.r lx)rtuguesa. Cada herdeiro reconhecido vale um
bônus;
Vanguardas do século xx procuraram na história antepas- (lll rto mais valorizado o herdeiro,
mais valioso o bônus.
sados ilustres, ou potencialmente ilustres, a maioria em bai- ( ) (lue.ajnda nào se íez. ou
fez-se pouco, e cumpre fazê_lo
xa reputaçâo, e tentaram valorizá-los para sacar dividendos rfiori e ter a poesia de Cesário reinserida
em sua instància
dessa valorizaçáo. Com isso, ganhou destaque o viés crítico hisl<irica,lê-la enfim como precursora
de si mesmas.
antecipacionista e â figura do precursor. Foi essa tipologia
de enquadramento que a poesia cesárica recebeu nesse pe-
ríodo, sendo pois valorizada mais pelo que supostamente
5. Nesse sentido, louve-se o rÍabâlho sério
anleviu e pela ressonáncia que alcançou que por suas ine- .
ilÍrgucs, Ceiálío Vede:
e singular de Fálima Ro-
Recep?ào Oitocentista e poir,-.., (Lisboa,
{ Ediçõ;s
rências em busca de diálogo com seus contemporâneos, O "smos. r998,. Sobre â qLre\tào dà 6gurà do precur\or e do viés criti(o an.
balanço harmônico e hibrido, até então imprevisto, do de- r{.(rl\r(lonr\la. verensàio introdulóriode lvan
Terxeira ao romancede Lima
ltãÍrcto, Fim de policaryo euarcsma (Cotia (Sp),
cassílabo e do alexandrino na mesma estrofe fez de Cesário ,Ttiste Áteliê Edirorial,;;;;
*.:'srâ discure a noçáo de pra-r,.r"a*"i,mo
p,rii, áf
um precursor de ritmos simbolistas. A imaginaçáo hiper- lll]..::lll::t:"1 : derignado
r(.rD1o nlslonográh(o
para o penodo. "

26 -: TNTRoDUçÀo
POEMAS REUNIDOS:- 27

/
t, ,,, r rlrrr r rrr.rgntrtica e o bom tom
II. UM PRoBLEMA DE HIsróRIÁ LrrrnÁnre: l,,,,,r1(\ (l('pravadâs.
O DnseNcotrno oe CssÁnro r Ssus
CoNrrÀ,rPonÂNsos I , l,rr,l orrro os pós à marechala.
I {i rrnoi. qttc o lockClub embalsamou,
A questâo é simples: se obra de Cesáriogrânjeou respeito e I rrlr r |l(l!'s dc tigre as regâla'
admiração de gerações de leitores que a sucederam, por que llr ll8rclt (luc por ela apunhalou,
ela foi §eitada ou desprezada em seu tempo? Ou, se Cesá I lllt lullnnte, em Bengala.
rio pode ser considerado, como o faz Eduardo Lourenço (p'
rz5), o grande poeta da Geração de 7o, por que sua poesia foi I ,hrr irlnrt'rrte esplêndidal A cârruagem
incompreendida ou ignorada Por integrantes desse mesmo \it nBrlri subindo devagar;

movimento? Ou ainda, se hoie se reconhece Cesário como I ln, Il, brilhantismo da equipagem,
I l,r, rlc olhos cerrados, cismar
um ilustre representante da Geraçâo de 7o, por que duran-
a
a vorâgem!
te o período em que produziu sua obra esse reconhecimen ^lrticomo
to não foi possível? Que critérios, enfim, fizeram com que a ( h locai()s vão frrmes na almofadal
poesia cesárica fosse marginalizada em sua época e depois
li l rhrce brisa dá-lhes de través
legitimada pela crítica? O episódio envolvendo o poema "Es- Nls capas de borracha esbranquiçada,
ptêndida" e a "farpa' de Ramalho Ortigão pode nos auxiliar Nos chapéus com roseta, e nas librés
nâ tentativa de resPonder a es§as questóes. Abaixo, transcre- l)e forma aprimorada.
ve-se a composição:
li cu vou acompanhando-a, corcovado,
Ei Ia! Como vai bela! Os esplendores No trottoit como um doido, em coN'ulsôes,
Do lúbrico Versailles do Rei-Sol Iebril, de colarinho amarrotado,
Aumentâ os com retoques sedutores l)esejando o lugar dos seus truões,
É como o refulgir dum arrebol Sinistro e maltrajado.
Em sedas multicores.
Fl dâria, contente e voluntário,
Deita-se com languor no azul celeste A minha independência e o meu porvit
Do seu landau forrado de cetim: Parâ set eu poeta solitário,
E os seus negros corcéis, que a espuma veste, Para ser, ó princesa sem sorrir,
Sobem a trote a rua do Alecrim, Teu pobre trintanário.
Velozes como a peste.

E aos almoços magnilicos do Mâta


É fidalga e soberba. As incensadas Preferiria ir, fardado, ai,
Dubarry, Montespan e Maintenon Ostentando galôes de velha prâtâ,
Se a vissem licâriam ofuscadas.

28 4INTRODUçÀO POEMÁS REUNIDOS ! 2g


E de costâs voltadas para ti, , rr,,rrr,r l,ros.ritir rlcicgante do Ronantismo. Era
45 Formosaaristocrâtâ! r, ,r, ., lltrl) s.ttiÍi.r) clo lermo, que gracejava de
,r,
, ., ,, r, t,'r,,r\, l,.rr-a clcnunciá las enr sua liagilidade
"Esplêndida'foi publicado em zz de março de 1874, rr,' . , ,rr rrr ',,' , orrro cspírito rnoderno e independente.
Diário de Notícias,ao lado de "Capricho§l que em O livro r/, , r ,,,lr,lr ,r,,,,rrrrrlu o hunror e a ironia do lirisrno de foâct
Cesatio Verde aparece com o título "Responso', e 'Arrojos l r,, ',,,. .rlirÍ,lir oUlro ingrediente que será, por assinr di
As três composiçóes formavam uma série intitulada "Fantir . t, lr, rrt,r lrorrrhiistico de sua recepção: o satanismo de
sias do Impossível". Cesário contava então dezenove anos. I i ',,rr,rr.r (rL r ltyron irônico) e baudelairiana.
Era um jovem poeta em busca de afirmação, estilo próprio, \,,,,, r,,Il( \.lllnisn)o aplicada à poesia no século xrx inr
dicção pessoal, que tentava, como muitos à época, equacitr , r r,lr r,rs ronro prosaísmo, sobretudo sintático e lexi
nar no verso o velho Romantismo e o novo Realismo. O mo |,,,,,1r,r, rr()\ivi, dandisnro,/lárerie, representação do
delo literário que Cesário adotou no inicio de sua carreira
foi o de |oão Penha, poeta parnasiano, fundador e diretor
,,, llrrr rlsÚ rlrrs irlcias de João Penha. A obrâ de Cesário râmbém pos
de A Folàa, semanário coimbrão, que desempenhou impor ,' .,,' rl,l'tt., (() r o poetâ pâÍnasiano. Afora a inRuên.ia direta presente
tante papel de difusor das letras entre 1868 e 18736. Em sua ,! . ri,r.,r.tr^p(,emas,ouaimitâçãodecertosesquemâsdâpoesiadeloào
poesia, foão Penha combinava paródia séria de estilemas ro- r, ,'
',1', l,'rnrnlisnn) maduro da lirica cesárica nâsce em pârte do contato
r ,,1,rí r.r' |cnsâmento do diretor de Á FolÀd. Para um resumo desse
,,,r,
f,, ,,"r,Ir"1,', ( l. o preiácio de Viagem por TeÍra ao Pdlr doi So,rhos (Porto,
6. loâo Penha e Á Folàa posicionaram se â meio do caminho entre os r lúr,lrÍr, rltelt). Pâra um exemplo do humor lirico, de desmontagem irô
ultrarromânti.os e os revolucionários de Coirnbra. Não negaram aqueles, ',r,
i ,l' lt o l,rnhà, que o primeiro Cesário irá imitar cl o Poema xxrr,
nem adoraram estes. I.ançadâ em dezembro de 1868, Á Fblàa pregou um ,1, ,t,,,,r\ (l.ishoà, Avelino Fernandes & Cr, 1882. pp. j5 36), obrâ que reúne
ecletismo conciliâdor entre os "metrificadores do ai" e os "sacerdotes da
, ,,Irtnrl\o(s publicâdâs ânteriormente em Á Folra;
ideia vaga: Suâs páginâs serviram â ambos, e à Posiçáo independente de
l,t (.ln Rosa brâncâ, a flor mais viva
seu diÍetor O dândismo e a independênciâ de loão Penha, aliâdos à sua r,'r lnr(lins olorosos de Granâda,
I
sólida formâção cultural, exerceran fascínio em jovens de Coimbrâ. Mais
,,t r,to parece a Ílor enamorada
que suâ obrã- Campos de FiSueiredo diz que â'briginalidade atribuídn
lrlrlr por viver só, viver cativa.
a João Penha... não estava na sua poesia. Estâvâ no homem. Ioáo Penhâ
foi sempre o poema que não escreveu: e.â â Poesiâ, e náo o Poeta" ("loão ( \rl«)ra em seu mirante, pcnsativâ,
Penhi', Perspectiva da Literatura Pottuguesa do Sécuk xrx. ,oão GâsPar Mnitas vezes a luz da madrugada
Simôes (org.), Lisboa, Áticâ, 1947, p. 44). Dentre os novos que se reu' via entre boninâs. enlevadâ
niam em torno de loão Penhâ estavà Eçâ de Queirós, que, sobretudo em ^N,'s sons de uma guitârrâ fugitivâ.
seu último âno d€ €studos superiores em Coimbra, conviveu com o Poe'
ta e jornalista. O formalismo dâ poesiâ de loão Penha, suâs ideias sobre a Beâtriz do Poetâ âbstruso,
^goÍâ,
Illeonorâ das cânçôes do Tasso,
arte e estética, váo ter forte ressonância na obra de Eçâ. O esmero for
^ Natérciâ gentil do cântor luso,
mal do ritmo seguro dâ frase, do balanço sonoro dos vocábulos, do adieti
vo vitalista, dâ âcomodação naturâl do discuÍso indireto livre, todos esses
^
solperdido em nevoeiro escuro e baço
atributos ou â noção âmplã destes e de outros recuÍsos da prosa de licçâo
A .itaÍâs prefere a rocâ e o fuso.
queirosiana são em gerâl âssociados a Flaubert. Nessâ conta, porém, deve
meus versos - presuntos de Melgaço!
^os
30 ' INTRODUçÀO POEMÂS REUNIDOS:. 31

/
,rrl, r r, ,t|rHr () contingcntc cotidiano e nrirterial,
,,..,,,r,, r t( n\r() psicoltigicos, liieza de sensitrilidade,
, , r,, lr,,r ,rl ltxtnillho C)rtigilo c(rneça sua crirnica la
r,,,,1,, lrrr.r r tkr satanismo ou "realisrno baudelairia_
r ,lr
,.i,, r'. rt,,\'o\ l)or'lAS portuguescs:

'giÉE
E> P "á
ÉÊÉ
é!'
EE$r:E
j".::É5ã s
a
tnr,, , ttrroso
^
rápidâ e extr.l()rdinária vulgarizaçiio que
5:6',& ,,' ,,!{ lrrl.rs l,oÍugueses os proccssos literários e os idtais
ãE e ü ãÊsB§iÉÉã1eE E e ,, t
ã iê ai â sÉÉ E-: í á=ã=,
,1, h,rrlt.s llaudelairel
EIE{n ,rf,r,r Í (lu. () rcirlismo baudelâiriano está lazendo ntais nu
.I rE;E'!
.ã?õJ=.Ê=5<== q9-É.,
a.EI Í j E<   :. - o:3'E , rrr.rrs l.rrrrcnl:iveis vitimas do tlue o velho rontantisnro de
I I:i §
,1, I . r.r, tin( c dr Musset
É€ - i{ "
§ÊE:Ê;!Eiã:É ã*riÊ
Ê E:g+ C: eÊ s E B ;# ãÊ"5
As FÍtípas, 1874, pp. 75_76.

ÀisáãÊEEãfgg 3E:i
ãF?"ir ;;'pjs;;!!; §;' r:gj I )'.|'ols o
cronista passa a discorrer sobre o estilo baudelai_
r t rrr, rrtolldo em contradiçôes, afogado no vício e
na miséria
lrrr,rl, r;uc o poeta francês teria conhecido e experimenta
rir "lluudclaire... é um mundano, um dândi, um corrupto,
ll',.o). (:oerente com padróes de análise da época, Ramalho
E:TY Çr
o! YT
§É
a'l
Ilrrrh.;rcrsora lírica epersoza autoral num mesmo plano para
É2
t ri="
-! 9'õ
!ã € ,rv,rlhrr o grau de autenticidade do enunciado poético. Este
Éê
l€ É rh.vr., cnr suma, estar associado a experiências psíquicas senti-
EE5
g }E e: i. 'ea
?
rlrrr pckr poeta (ser biossocial), sem o quê o lirismo perde sua
-I e é= el t s1 !9
,rrrrr tle yerdade sentimental - aspecto basilar da poesia se-
E
= {-4 tE -t ,ís
i.io --
3d
.3 E {ãí sE
t1
?,
'ó.ê / llm texto de apresentâçáo de poemas de Fradique Mendes, Antero de
é,: l)fr(.olrl assim define o conceito de satanismo: .O satanismo pode dizer-se
r1llc é o rcalismo no mundo da poesia. É a cons.iên€ia moderna (a rurva e
,rIltldr consciência do homem contemporâneol) Íevendo-se no espeláculo
,l s suas misériase âbaixamenros, e extraindo dessa observaçào uma psico_
l(,gin sinistra, rodâ de mal, conrradição e frio desespero. É o coraçáo do ho,
nttnr torturado e desmoralizado, erigindo o seu estado em lei do Universo...
Íi r poesia cantando, sobre as ruinâs da €onsciên cia Ínoderna, §n requiem
c um í.iiei ira€ fatâl e desolador!" ('poemas do Ma cadaÍÍi', O pti,neiro FÍ,,di-
qu. Mendes,loel SeÍrào (oÍg.), Lisboa, Livros Horizonte, 1985, p. 266).

POEMAS REUNIDoS;. 33
gundo a concepçâo romântica e tornâ-se mero exercicio frio rrrrr rro houlevard dos Italiânos e eles vivem na rua dos
Bacalhoei-
um corruPto,logo sua Poesia
de artificios verbais. Baudelaire é ,", . o resuhado é lançarem na circulaçáo uma fâlsa poesia, que nem
é autenticamente corrupta. Baudelaire é um dândi decadente, ,I r orci(, em que nasceu nem para o meio a que se destina.
logo ele está potencialmene capacitado para, com domínio de Ortigão, As Farpos, rg74,pp.78 79.
recursos literários, criar na Poesia, como criou, o "idioma sifi-
litico do crevetismo", nas palavras de Ratnalho (p. 78)3. licilns as reparações iniciais, de âmbito geral, o cronista
Ocorre, porém, que em Portugal - seguindo sempre a li- l,.r\\.t então a comentar o poema de Cesário, tomado como
nha de pensamento de Ramalho - "há honestos emPregados , rr.rrrplo modelar da 'deplorável influência
do crevetismo na
públicos, probos negociantes, pacíÍicos chefes de familia, dis- l,,rr.sia moderna" (p. S:). Em sintese, os argumentos princi_
cretos bebedores de chá com leite ... que deliberaram seguir 1',rrs rlc Ramalho contra "Esplêndida,, são:
o gênero de Baudelaire" (p. 78). Neste descompasso, residi-
ria, pois, uma impropriedade da poesia: o Êngimento Poeti- t. Nas duas primeiras estrofes, (a) .b poeta abusa
um pouco
co, ou a ficcionalização do sujeito e do conteúdo do discurso rhrs tdornos com que veste sua dama, já envoluendo-a em se_
lirico. "Probos negociantes", como Cesário, não podem, en- ,l.rs nrulticores, o queé de um mal gosto
inadmissivel,já fazen-
frm, sob pena de/alsidade lírica, poetizar a decadência: l
rllr portadora dos esplendores de Versailles, donde
é liclto
,lt.tluzirmos que traria à cabeça o Trianon ou que
viria dentro
Como porém Baudelâire era corruPto e eles não sáo corruPtos, rl,rclrruagem fazendo jogar as suas grandes águas,,; (b) o
lar_
como Baudelaire era um dândi e eles não são dândis'como Baudelaire ,írrr qLre leva a "esplêndida', e..forrado de cetim hzul
celestel
r oisl qus ,rraa ar.guém teve e que a ninguém se permite,,;
(r ) os cavalos que puxam o landau da ..sâo
8. Companheiro de geração de Ramalho, Oliveira MaÍlins lê poe§ia §ob
formosa pretos, o
r;rrc tt de saber que nenhuma mulher elegante
o mesmo critério utilizâdo pelo cronista de Ár FalPds. No prefácio que e§ usa senâo uma
creveu para os Sonetos Cofipletos de Antherc de Quer,ld, (Porto, LoPes & v('z única para sc ir enterrar',; (d) ,Uestes versos salya,se uni_
-
C', r886, p. 18), Mârtins observa: "Heine e EsProcendâ, Nerval e Baudelâire ( illcnte uma coisa verdadeira
e sensata, que é a rua do AIe-
viveram vidas inteiras nesse estado de ironia e de sârcasmo, de desesPero e
r |ini'(p. 8o), completa o cronista num
de raiva,deorgia e de abatimento,de fúÍia e de âton iâ--- [. .] O§ românticos' elogio desdenhoso.
mais ou menos satanistas ou salânizâdos, I...lachândoâPenas silêncio e es_
z. Na quarta estrofe, Ramalho repreende ..mau o gosto do
curidão onde tinham sonhado venturas, ou davâm em bêbâdos como Es' iurlnte, que em vez de lhe dar um narcáor de marta zibeli_
procenda, ou suicidâvam-se como Nerval, ou faziám-se cínicos. à maneirâ rra ou de raposa azul, lhe deu uma pele
de tigre, que nâo ser_
de BaudelaiÍe, cultivando com amor as Flores y'o Mal'l De fato, esse modo
v(' scnâo para capachos, obrigando a altivabela
de leilura de poesia, que opera uma fusão de ideniidâdes entÍe voz liricâ e a regalor as
autor (pessoâ fisica), foi muito difundido âté a metade do §éculo xx Den-
nrii(,s na mesma coisa que a gente embrulha os pés,, (p.
8r).
tro dessâ perspectiva, o poema buscaefeito de intersubjetividade, fenómeno
de leitura que se realizâ quando o leilor, Pôr meio de um lexrc Poético, su_
po§tâmente rerre o que o poelarerlilr e tentou lraduzirem Palavras atravé§ 9-  Íeferência à rua dos Bacalhoeiros paÍece fâzeralusão
indiÍetââ Ce_
do poema. Por esse ângulo, poesia é o esforço de tradução de uma verdade ri(\ que trabalhavâ na rua dos Fânqueiros, local onde se situâva
â loja de
sentimental- E se o sentimento expresso é falso, isto é, não logra Passâr Por {ntlstii.io Verde,paidopoeta. Ambasasruas,próximasenlresi,lo€ali;am-
verdâdeiío, o poema e o poetâ também o sáo. i( rxr ccntÍo de Lisboa.
I

34 r TNTRoDUçÃo POEMÂS REUNTDOS:- J5


3. Sobre a sétima estÍofe'
um conselho do cronista: Lllor idcal,'bs grandes revolucionários'l Ou seja: Cesário
r ollitvu que seu leitor ideal lesse o poema de unr modo,
"ouando um Poeta é de natureza tal que ao Passar Por
carruagem se vê obrigado' pelo seu
tempe' tr{r lr poema foi lido de ourro. Ou ainda: Cesário progra,
.*hor", d. tul o poemâ para pÍoduzir certos efeitos, mas nas mãos
veia ou seus princípios po-
ramento, pela sua Poética Pelos
u endoidecer' a t"r convulsóes e febre
e rhr lcitor ideal, o poema produziu outros, não planejados.
iitlo., u.or.ouut, A plrtir destas iníerências, duas questôes em princípio
esse poeta é perigoso na rua do
, uauaro,u, o, "olurinhos,
<leverá ir,'sinistro e mal traiado" deseiar
o lu- r, lnrpõcm: que modo seria o idealizado pelo poeta para
Al"aria,.
Circun- rprc o poema fosse lido por seu leitor ideal? E por que esse
gar dos truões e amarrotar a roupa branca para a

I
rrrrxkr falhou?
valação"o (P 8z).
o seguinte comentário: "E ei§ l'llra ensaiar uma resposta plausível a estas questóes, to-
4. A oitava estrofe provoca
fingida perversão leva.um rrrc sc de inicio a última observação de Ramalho, da sínte-
aoui está linalmente a que uma
de si rr' rlos comentários de sua crônica: "Fazemos a dignidade
il.*, ,rtr., p.rf.ilamente digno e brioso: a afirmar
quer ser Ia- rlrrlc jovem poeta a justiça de acreditar que quebraria
do ideal' que a sua
ni.r.o .o^o u nn" flor Predileta
hcrtgala nas costas de quem lhe atribuísse em prosa as ma-
caio!" (P. 82).
---5. "Fa- llclrus, a ,oilerre, os pensamentos e os instintos de que ele se
E io, leitura do Poema como um todo:
nrn, ,oU,e a
a de acreditar lkrria em verso'. Em paráfrase redutora, para fins de aná-
zeÁos a dignidade deste iovem Poeta
tr" bengala nas costas 'ustiça lhe atribuis-
de quem lllc, o mesmo periodo frasal poderia ser assim expresso:
lr" qu.uruii"
" t guém dissesse ao poetq em prosa o que o poeta aftm.t
os Pensamentos e os lns
,a a* pru"u auneiras' a
"r se gloria em 'oileÍte'
verso' (pp 8z-83)' fu mesmo em yerso, isso confguraria um insulto,
si A afrt-
tintos àe que ele
trtuçâo de Ramalho faz distinçáo entre dois modos de elo-
r uçlo associados a dois modos de recepção: prosa e verso.
Verso e Prosa
( i,nl efeito, pâra uma compreensão mais ampla e adequada
de Mariano rIr problema, necessário se faz desdobrar o modo prosaico
Como iá referido, sabe-se Por depoimento
fin", .ána".potaneo de Cesário' que ao publicar
o
aià"; . tetl "Fantasia do lmpossível" Poeta
"Esplên-
"esPera-
r.rr tlois: prosa de confissâo e prosa de ficção. Em seu tex-
to, Ramalho alude à prosa de conlissão, utilizada nas rela- II
" Tambem §(,cs sociais como forma de comunicaçâo denotada, como
i"-.pt"uro, a,, tuao dos grandes revolucionários'l
de Cesário que Teôfi- lirrguagem unívoca ou tendente à univocidade. A prosa de
como 1á ,.f.riao, sabe-se por cârta
o licç,ro constitui uma yariante da prosa de confrssão. Seus
lo Braga, além de Ramalho Ortigão' censurou Poema'
se pode chegar a partir des- nrccanismos de formulaçào da mensagem são mais com-
A priÁeira conclusão a que
..,'a"aot é: Cesário idealizou de maneira equivocada
seu plcxos e exigem uma participação ativa do destinatário, -
r;uc deve estar munido de conceitos culturais específicos
para decodificar informações dispostas no subsolo do tex- -
em r85! Pâra servir como
ro. A Estràdâ da Cir(unvàlaçáo loi'onstruidà lo. Veja-se um exemplo tomado da prosa de frcçâo realista,
i" ,l"rã* O, ' 'dàde
deL'i\boa' Êm r8só Íorexpandrdaparadelinir -
".0r,. rlue ó o modelo que aqui vai sob análise:
or âtuaÉ limrles dâ càPrlal Porluguesa

POEMAS REUNIDOS: l:
3ó -: INTRoDUçÀo
I

a tÍemer-lhe nas pálpebras que [Luisa] Nr prosit dc confissão, o enunciado busca uma forma de
Foi com duas lágrimâs
da [)ama das Cafiélin' F eatené'id^ n^ nltairc' rllÍlltl( ilçiio direta com o leitor, que procura a mensagem
âcabou as páginas r

com o livro caído no regaço' fazendo recuar a pelicula das unhas' rr,r r[|t.rllcic do texto e a associa metonimicamente a um

pôs-se a cantar baixinho,


com ternura' a ária frn l da Tra!íotal lrtllnto (lc valores politicos, culturais, éticos e/ou morais
Addio' del Pdssato rhr r.rrrrnr:iirdor.O modo prosaico confessional, em suma, en-
Queirós, O Primo Basílio, P. 16. rlrr,rrhrr t'nr primeiro plano o locutor, que simula a 6gura do
nllot (scr iDscrito no mundo fisico) e constrói sua imagem
reaçôe§ e referências fa-
Na prosa de ficção realista, atos, hl.lil l(it. No modo prosaico frccional, o resultado, por assim
de O Primo Bdsílio'
lam porui ao leitor PersPicaz Na cena rltrr.r, riltimo, é o mesmo: invençâo do eúftos'r do autor; este,
Luisa derramadas ao 6nal da leitura da Dama rx' flrlilnk), é inferido não do conteúdo da enunciação, mas
as láerimas de
dasíamélias e o entoar duma cançonela daTtavioto dizern
'ln
illla como a enunciaçâo é articulada. Essa forma, na
cultural da personagem, tão frouxa e flexí- l,ruu tlt licçâo realista, estava vinculada ao enunciado
sobre a formaçào irôni-
e atitude moral. Como a dama i ír, rluc pressupôe um leitor sagaz, que ombro
vel ouanto sua Personalidade a ombro com o
"Humilhaçôes'l ou, em plano social mais rebai ',rrlor': vrl o que
s,-,berba de as personagens da narraliya nâo são capazes
engomadeira de "Contrariedades" (ambos' Poemas rL'vr.r. Neste esquema, plateia mantem um pacto com o au-
xado, a a
rePresenta a mediania cultural da socie- lor ((nrlra as personagens, incluido ai o narrador, se a nara_
de Cesário), Luísa
dade burguesa
que alimenta e glamouriza â arte de esPetá- ttv,r sc c(rnstruir pela ótica da primeira pessoa do discurso.
ao mesmo temPo em que marginaliza
culo. vibrante vazia,
e Ntr caso da cena de O Primo Basílio,o efeito irônico nasce
erudição, a cultura em sua manifestaçào rIr prcssuposto cultural supostamente partilhado por leitor
e sepulta a arle de
que dela se ocupam. Compare-se agora a
mais elevada. e os r, rrrrlrlr sobre a narrativa sentimental francesa e a ópera ita-
Traviata na cena âcima transcrita com a
alusão a Verdi e à lt,rrrl, ou mais especificamente sobre Dumas (filho) e Verdi,
passagem de uma crônica de Eça' de dezembro de r87r' pu I }(t s(ja, se a obra popular de Verdi, inspirada no romance de

blicada no ano seguinte: I hrnras, é um espetáculo de futilidade com personagens im-


lrr.t is, comover-se diante desse quadro de banalidade frivola,
o que e? Não é a criaçáo de uma literatura
O teatro de S. Cârlos
contrário: é a PoPularização da velha cscola italia-
dramáticat bem ao
r,. Sirvo,me do conceito de ?lros segundo concepção de Dominique
a representâçâo de uma arte e de um reper_
nâ demúsicâ sensualistâ, Mdlrfgucneau, exposta em se|I Dis.urso Literátio (trad. Adâil CâbÍal, Sào
no pais, senão alguns dueto§ qüe as donzelas
tório de que nada 6ca l,rul(,, (:ontexro, 2006, p 268), segundo a qual etftor é o fenômeno de âtri,
otl os sinos que tilintâm âo levântâr da hóstia! lnrl{ilo à um locutor inscrito no mu ndo extradiscursivo ldel caracteristicâs
beliscam ao piâno,
rlll(. sào nâ realidade intradiscursivas, poÍque estão associadas a um modo
educaçâo, que exemPlo' que critério' que clcvaçào de espirito'
eue ilc dirrri Em outÍa de6niçáo, do mesmo âutoÍ e de pairick Charadeâu (Di-
oue aumenro de pensamento
que firmeza de critica se tira da Tra
tlüulrio de Análise.lo Discarso, coord. de trad. Fabiâna Komesu, São paulo,
,irtr.*pi."nt"' o, tlo imbecil ftovddor que a salva'la? ( illrlcxlo, 2006, p. 22o), "elr,os designa
a imagem de si que o IocutoÍ cons-
'otre
As Farpas,1872, p.63. lÍ(h cm seu discurso para exercer uma influéncia sobre seu âlocutáriol

38 -r lN rRoDUçÃo POEMAS RIt Nll)()\ li)


7-
-
como o faz Luisa, equivale a um atestado de estupidez. Mas lrrrrbora tenham ensaiado um exercicio de satanismo -
Luísa não se crê estúpida, e sim educada; e aqui, no descom- ,r 1,rr.sia de Fradique Mendes -, ou talvez por isso mesmo,
passo de consciência ou'disparidade de compreensão' entre ,,., r t,volucionários perceberam que o lirismo satânico é tâo
personagem e leitor, explode a ironia'r. , ,,rrvt.ncional, e portanto artificial, quanto o praticado pelos
No tempo de Cesário, expandindo conceito acima pro- rrltr rtrromânticos. A ambos, em suma. faltaria a sincerida-
posto, a prosa de ficção realista constituia uma variante i/ó- [. r'r.volucionária que - em tese combate o adifício, educa
,

rica da prosa de confissão. Por seu turno, a poesia lirica era ,r scrrsibilidade e, por conseguinte, auxilia na edificaçào de
lida como uma yariante seífirflental ou sinceru da prosa de rrrl soçiedade menos hipócrita e mais iusta. Foi, digamos,
confissão. A sinceridade lírica foi um aspecto que os revo- lrr.r hipocrisia, contra a qual se voltaram os novos de Coim
lucionários de Coimbra defenderam contra o convenciona- lrr,r. que Ramalho identif,cou em "Esplêndida" e por isso
Iismo estafado do ultrarromantismo. Na nota que escreve r (rsurou o poema. Mas
- e volte-se o problema outra vez
para a r! edição de s\ras Odes Modernos, publicadas em r86t, t i.sário nâo pretendia ser hipócrita e sim revolucionário, ou
Antero declara: "Este livro é uma tentativa, em muitos pon- no nrenos afinar se com os revolucionários, que admirava.
tos imperfeita, seguramente, n1as sempre sincera, para dar l)ara tanto, Cesário, por influência de Baudelaire, incor-
à poesia contemporânea a cor moral, a feição espiritual da
||orou em "Esplêndida' recursos próprios da prosa de Íicção
sociedade moderna" ("Sobre a Missão'l p. 208). No mesmo rcirlista. O principal deles é a'disparidade de compreensão,
ano, Antero assina o prefácio de Carúos .t Solidôo, volume cnlre personagens, narrador, leitor e âutor que provoca o
de poemas líricos de Manuel Ferreira da Portela; nesse tex rli.ito irônico. Nesse sentido, se pode dizer que Ramalho leu
to, discorrendo sobre arte e ciência, assevera: 'A ciência dá r 1nn agudeza os excessos de mau gosto que o poema descre
ao gênio a segurança, a frrmeza que fazem a consistência e a v(, mas não entendeu, ou recusou se a entende( o viés irô_
exata proporção das obras. Mas a obra, essa sai toda da alma Iico, pelo qual o autor (ou a consciência manipuladora dos
para a alma não há senão uma lei: a sinceridade" ("lntro- rccursos textuais) critica estes mesmos excessos. Tomem-se,
duçãol p. zz9). por exemplo, as duas primeiras estrofes do poema. Nela, Ra-
rnalho repreende o fato de que'b poeta abusa um pouco dos
12. Para oconceito de ironia, trabalhocom â de6niçãode Robert Scholes ldornos com que veste sua damal Mas não haveria nesse
& Robert Kellog, dispostaemThe Núure oí NaffdÍi"e (Oxford UB 1968, p. ahuso uma velada intenção de desmerecê-la? A comparação
24o): 'A ironiâ é o resultado de uma dispâridadede compreensáo. Em qual-
tla esplêndida e sua carruagem com o palácio de Versalhes,
quer situâçào em que uma pessoa sâbe ou percebe mais - ou menos - que
outra, â ironiâ está real ou potencialmente presente. Em qualquer exemplo irmbos atravessando a entâo provinciana rua do Alecrim,
de arte narrâtiva há, de modo 8eral, três pontos de vistâ - o dâs persona' líigura se claramente carnavalizadora e etpôe assim o sen-
gens, odo nârradore o daplâteia. À medidaquea nârrativavai se tornando tido humorístico do texto. Pelo humor, se poderia chegar
mais sofisticada, um quaíto ponto de vistâ deverá ser acrescido, decorrente
ii ironia. Mas Ramalho não chegou, ou não quis chega( e
da nitida distinçáo entre narrâdor e âutor. A ironia narrativa é uma funçâo
(lcstacou negativamente o cetim azul celeste d,o landau da
de dispâridâde entre estas trés ou quatro perspectivas. E os âÍtistas da nar
ração estão sempre atentos pârâ provocâÍ estâ disparidade a 6rn de obter lirrmosa,'toisa que nunca ninguém teve e que a ninguém se
efeitos variadoí1 pcrmite", e a carruagem puxada por cavalos negros, 'que ne-

1., -, INTRÔDlJ.,iÔ
POEMAS REUNIDOS:- 4t

t-
nhuma mulher elegante usa senão uma vez única - para sc \ l,r1 i (luc pnrece ter ofendido mais Ramalho
' foi o rebaixa_
ir enterrar". Mas não seria o enterro da "formosa aristocrata". ,,,, r,r,,,l.r Íigura do poeta. A "fingida perversào,de
um,.pro_
deslocada em um meio provinciano e pegueno-burguês, quc 1,.' ,.,I)t iinlc" representar-se a Si mesmO como um amante
o poema ambiguamente anuncia? i,, \ r,tr((| c nrasoquista insultou a sensibilidade do
cronista.
Veja se agora um exemplo extraído de OJ Mdial (1888), lr rllrllx) niio considerou que a coerência narrativa
do poema
de Eça de Queirós. Raquel Cohen e esposa do banqueiro |a' , r ttlr,r llnr sujeitolirico psicologicamente perturbado para que
cob Cohen. Na estória, ela se envolve amorosamente con'l ,, , ,,rrstruísse o elogio irônico da mulher esplêndida.
Uma voz
foão da Ega. O luxo dos Cohens confunde-se um pouco com Irr r, .r rlre proviesse de um narrador consciente
e equilibrado
a imoralidade do capitalismo: ela, bela e adúltera; ele, passi ,1. \r.t titconstruir necessariamente um discurso moralista, e
vo e preocupado com lucros financeiros. Raquel Cohen era, t".,, rlrsllria o ludismo irônico de frngir para ser sincero.
Essa
na sociedade que frequentava, famosa e muito admirada por ,rrrr r.r irlade, no poema, parece manifestar_se
num único ver_
sua fnesse: "Nos iornais, na seçào do High-liJe, ela era 'uma ,,,, r, l)cnúltimo, em que o narrador, em atitude ambígua, po-
das nossas primeiras elegantes': e toda a Lisboa a conhecia, e !1, lrxtit-se de costas para a "formosa aristocratal
a sua luneta de ouro presa por um fio de ouro, e a sua caleche lirr suma, se se ler "Esplêndida', em chave irônica. os elo
azul com cavalos preros" (p. r3o, grifo nosso). llrr's il nlusa do poema tornam-se insultos, e a apologia amo
A confiar nos comentários de Ramalho - que sâo, com r'r\.r lransforma-se em ataque politico e moral contra os
efeito, bastante confiáveis -, deve-se ler, pois, a 'taleche r,rhrrcs que a dama esplêndida representa: luxo, arrogância,
azul com cavalos pretos" de Raquel Cohen como uma no- lr tvolidade, lascívia. E é de se supor, segundo argumentàs
aqui
taçâo irônica do gosto duvidoso e fúnebre da personagem, liln,stos, que Cesário esperasse que o poema fosse lido em
que, em oposição aos leitores e ao autor, vê nestes objetos , h.rvc irônica, e assim ele poderia receber .aplausos do lado
índices de suprema elegância. Na prosa de ficção realista, , i rs grandes revolucionários : mas isso não ocorreu. Em parte.
a ironia acomoda-se naturalmente, e não faria sentido um , r,rx) se vem tentando demonstrar, porque
a tipologia de lei
critico vir a público e dizer a Eça que a caleche azul e os ca- trrrn irônica de poesia não estava difundida à época; em par_
valos pretos de Raquel Cohen depôem contra o texto e o lc lambém porque o humor no poema, ainda que presente,
autor. De fato, depóem contra a personagem e a favor do rriio se manifesta de modo tão claro, o que lhe poderia servir
autor. Mas no caso da 'tsplêndida', faz sentido que Rama- rlc salvo-conduto. Poemas byroniano-irônicos de Álvares de
lho, como leitor de poesia, se melindre com o "mau gosto Azevedo como "Namoro a Cavalo,ou..É Ela! É Ela! É EIa!
É
do amante, que em vez de lhe dar um manchon de marla ljla!'l Por exemplo, possuem quase os mesmos ingredientes
zibelina ou de raposa-azul, lhe deu uma pele de tigre, que que "Esplêndida": prosâísmo (narratividade incluída), ficcio,
não serve senão para capachos, obrigando a altiva bela a nalizaçào da voz lírica, rebaixamento do suieito Iirico, humor.
regalor as mâos na mesma coisa que a gente embrulha os No entanto, este último componente se manifesta de m<tdo
pés'l Afrnal, a aliança secreta entre leitor e autor contra nar- nrarcante, e na sátira vale o gesto carnavalizado de represerr-
rador e personagens é processo típico da prosa de Íicção do tar as instituiçôes (não apenas ciyis, mas retóricas, senlinreD
período, e nâo da poesia lírica. tais) às ayessas. "Esplêndida'tem ares de poerna si,rio, otr liri

42 -: INTRODUçÁO
ll
I I I

lido como poema serio, sem de fato o ser. Sob este asPecto, a Ihrirlirro lirico com poema narrâtivo, gênero largâmente
composição é mais baudelairiana que byroniana. Baudelaire Itíllr n(Lr no tcmpo de Cesário. O poema narrâtivo român- ffi ffi ffi ilf f f tuüff f iiiüff IiIüüüL

cultivou um tipo de enunciado Poético que reclamava dois lh r rh.rlva da epopeia clássica, que o novo modelo poético
destinatários ou leitores ideais: um conservador e outro liberal arl.Itd llo golito da época. O lirismo prosaico é um gêne-
(na acepção mais ampla desses termos). O efeito peculiar do hr lrllr|ldo, que busca produzir efeito de subjetivação senti-
verso baudelairiano consiste em ser lido de modo equivocado ttrr, lll gr(}r meio de recursos prosaicos, em particular a ação
pelo primeiro e, ao mesmo tempo, forjar vínculos de afinida arrrrllv . Seus precursores imediatos no século xIx sâo so-
de com o segundo'3. Em seu esforço para tornar-se moderno, lrl'lttrlrt rt Byron irônico de Poemas narrativos como "Don
Cesário leu Baudelaire com mais amPlitude de compreensão Ir r r r il c os poemas de Jlônerie de Baudelaireta .

que os revolucionários, de quem buscava aProúmar-se. E Por


isso foi lido de modo equivocado por aqueles com quem pro-
ra luí ificaçáo históricâ par'à a assimilação da prosa pela poesia lirica, ou
curava construir laços de simPatia. Hoie, com a nitidezda dis- rl, ^ prosaicos pelo discurso lírico, pode estar âssociada â alteraçôes
lÍrr.$os
tância histórica, vê-se que a poesia da Geração de 7o possuia ,t'l{.rxíógicas (de modos de cognição) derivadas de mudanças no modo tililí[il[hmhilffi tffi ]n1ilffiililimnnfIntf IIlf l
fundas raízes hugoanas. Dizer, Pois, que "Esplêndida' foi tido rk lfixluçáo e de consumo de mercadoriâs durante o sécr o xrx. Em sentido
.llrllrt o tÍiunfo dâ râzão cientifrcâ e dâ prosa de frcçáo parecem imbricâdos
de modo equivocado náo equivale a afirmar que Ramalho
rnr lxr(.sso histórico. Desde a RevoluÉo IndustriâI, vive-se o que poderiâ ser
e TeóÊlo não compreenderam o poemal simplesmente, eles , hrlrülo "era da prosa" ou dâ'tonsciên.ia pÍosâicdl que suplanlou a'trâ da

leram com parâmetros hugoanos um Poema que foi escrito lr.,rla'ou da "consciência poética1 Estâ, em suma, foÍmula o conhecimento
para ser lido com critérios baudelairianos' os mesmos, aliás, lxú llr.b do pensamento metúsico, e aquela prende-se à lógica materiâlista
-
utilizados pela crítica no século xx. l'.r . o rlo de construçáo do significâdo cultural. Desta, em tese, provém o Í'lu-
r.r Íülonal da discuÍsividade pÍosâicâ que se âjustou à no sociedade e pôs
íllr ( hcquê a verticalidâde mistico'egótica do fenômeno lirico. Em sua EsÍer|a

III. BREVE HIsróntco Do PRosÀísMo NA I rl rr 845), Hegel faz um diâgnóstico claro da questáor "Em épocâs remotas,
r ffi1lll
rlr.odo concepçôês do mundo, determinadâs por crençâs religiosâs ou por
CnÍrtce CrsÁnt c,c. rÍrúlsquer outras, não formavam âinda coniuntos de repÍesentâçôes e de €o-
llhcdrrcnlos racionâlmente sislemáticos e nâo estavâm âinda em condições
A poesia de Cesário âssimila e manipula recursos tíPicos rlr ragrar a atitude humana aonformemente a estes aonhecimentos, a poesia
da prosa de frcção sobretudo realista: suieito lírico ficcional, lx xll,r cxpandir-se com toda a liberdade. Não se encontrava entào em frente dâ
personagens, esPaço e temPo demarcados, ação narrativa, Irí,§n como ante um dominio independente que devesse conquistarou englo-
hlrr, nrirs a sua tarefa consistia apenas em aprofundar as significações e escla-
estilização da linguagem coloquial, enunciado que reclama
r.. cr âs pÍoduções de outÍa consciência, da consciência !,ulgar. Mas quândo a
leitura irônica, motivos cotidianos, imanentismo imaSético.
llrl,sâ cons€guiu atrair para a sua esfera o conjunto do conteúdo do espírito e
Estes aspectos como um todo estão associados ao conceito llrl)rimir o seu cunho em cada um dos seus elementos, â poesia passou a as-
de prosaismo, termo crítico em Seral reduzido a dimensÓes rurnira missáo de se refundir completamente e, dada a rudeza do prosaico e a
r$!.âpacidade de resistência, encontrou'se rodeada de numerosas dificulda'
sintático-lexicais (coloquialismo). Não se deve confundir
dci" lt\tética / Poesia,iad. Álvaro tubeiro, Lisboa, Livrâriâ GuimâÍães, r98o,
Irp.3ó.32). Em sintese, emsua nrissâode refundir se diântedo triuníoda pro
rl. Cl Dolf Oehler, Qaatlros Paisienses, tÍad.losé M M.deMacedo& r. cdâconsciência prosaica, a poesia, marginâlizada, buscou para si novos ca

sâmuel Titan ,r, Sâo Paulo, ComPanhiâ das Letras' 1997 pP. 53 e ss. rrinhos, e um deles foi a assimilaçãode traços do triunfadoÍ

44 -i TNTRODUçAO POEMAS RDUNrl,os: ,15


Mal escaldados no lirismo baudelairiano e avessos ao sa- I l.[listn úniconoapercebimeDt()dasexterioridadespibrescâs,
tanismo romântico, ou ainda, munidos de critérios românti- ,,rrr ,' rrrr&rlismo elisio dos infinitamente
secretos <la alnra coletiva,
co sentimentais que definiam a poesia lírica como expressão ürr,rrrrir os sin:ples, buscando a locução
conr dor parturienle, tra
sincera de sentimentos nobres e humanitários, leitores con- ,lrrrrrrrIr intpressires diretas e pungitivas,
como quem s(i é câpâz de
temporâneos de Cesário, em gerâI, rejeitaram sua obra. Mor- , r trr r'rx iihukr para o que
vê, sofre ou medita _ unt a ahna
de verrlode
to o poeta, como já se referiu, amigos vão aos jornais íazer rllrf. ( f)Dx) diz Shakespeare. unra alma estra tlhr
' e con d lirf,itklnde
a apologia do homem, íntegro e trabalhador, mais que a do h t(. th úttctlcÍ pocsio semelhando pelo nitiíh.,
à helo prosa.
artista, excessivo em extravagância. Em r88Z em artigo no ..Cesário
Verde,l p. ro, grifo final nosso.
qual acusa o recebimento de um dos duzentos exemplares de
O Livro de Cesário Verde, Henrique Lopes de Mendonça não linbora sem data, o texto de Fialho é anterior
a r90r, ano
altera o modelo necrológico-encomiástico. Depois de tecer rl,r r, cdição de O Livro de Cesario Verde, para a
qual ser_
elogios a Cesário, lamentar sua morte prematura etc., o dra- vtllt rlt, prefácio. O texto de Fialho, pois, é contemporâneo
maturgo português assim dispôe o sobre o poeta e sua obra: rb A Correspondência de Fradique Mendes (rgoo),
àbra em
r|lrc l.iça de Queirós discute arte e literatura
por meio de seu
Não querendo dar lugar a interpretâçôes equívocas do meu pen- lt'rsonagem central, e que pode ser considerada, em muitos
sâr, direi apenas a tal respeito que, na obra do poeta, me choca por i(.nlidos, o testamento teórico e estético
do romancista por_
vezes a procura intencionâl de originalidade, que destrói a espontâ, luguês e um dos maiores legados metalinguisticos
do século
nea e brilhante fatura dos veísos; o eícêntrica invasão Ílo pÍosaísmo, rrx tla literatura portuguesa. Em dado momento
da narra_
que perverte e corrói a poesia ha sua própria esséflrid; â substituição tlvl, falando sobre Baudelaire, Fradique afirma
ao narrador
dâs estafadas metáforas do lirismo romântico poroutms, sem dúvida (ltlc autêntica expressão da cultura francesa
nâo era a poe_
màis extravagantes, mâ5 com cerlezÀ menos ràcionais e compreensi- §Ll c sim a prosa, cujas potencialidades
defrniam, na França,
veis;a âdietivaçâo imprevista e âbstrusâ, que frequentemente dirime, o lxrdo de avaliação do verso, que, quanto
mais dotado de
enquanto a mim, a poéticâ singeleza do pensamento. virtudes prosaicas, mais valorizado:
Ápad Rodrigues, p. zzr, grifo nosso.
l)e resto em França (acrescentou o estranho
homem) não ha-
A'txcêntrica invasào do prosaismo' parece deÍinir bem vi0 poetas. Â genuína expressão da clara
inteligência francesa era
o sentido de originalidade da poesia cesárica à época de sua n prosa. Os seus mais 6nos conhecedores
prefeririam sempre os
produção. Este aspecto, em particular, representa na recep- |(,ctns cuia poesia se caracterizasse pela precisâo, Iucidez.
sobrie-
ção critica de Cesário, ambiguamente, o pomo da discórdia dnde - que sào quâlidades da prosa; e
um poeta tornava_se tântô
e o da concórdia. Naiá citada carta-prefácio de Fialho de Al- rrríis popular quânto mais visivelmente
possuia o gênio do prosa_
meida, publicada em r9r7, o cronista exalta essa singularida- rlrr (pp.3o-jr),
de do lirismo cesárico. Fialho aÍirma que a leitura de "Num
Bairro Moderno'l feita em certo momento posterior à sua As qualidades da prosa que Fradique
destaca ,eqLteo
publicação, lhe trouxe a revelaçâo de um verso pode assumir, sâo as ntesm s quc
l;illho irlcrr
i tilica
4ó -: IN'I RoDUçÂo l,r)l tlt.\\ tl r,N rr,\ .l
em "Num Bairro Modernol Fradique e Fialho encaram .r rh, r',t\ i l)r(ipria funçáo disclrrsiva. Quando Cesário nos diz
'txcêntrica invasão do prosaísmo" na poesia, que Lopes dc 1,rrr ,rlgrrrrs siio prosaico, são banais / estes versos de fibra su-
Mendonça condenou no Iirismo cesárico, como possibi ,i,' ( Nr's"), er)u ciâ o qLre âinda nós pomos como problema.
lidade de beleza e motivo de celebração. Ambos demons r,,r,lt!rl(i rlc tris versos teria que ver com â referência às írutâs;
tram, enfrm, uma mudança de critérios de avaliação critica ,r , rrrlrlr poderia estender se ao mais da sua obra, fosse qual
da poesia lírica, pelos quais Cesário e sua obra passarão n ,,1,' Í.r' (p. 185).
'r)otivo
ser valorizados - e amanhã poderáo perder valor, se estes
mesmos critérios se alterarem novamente. O fato é que Ce- I'Ir nrci(] a uma série de restriçóes ideológicas à poesia de
sário é um poeta que parece possuir o'gênio do prosador'i I lrrlrk), c atônito diante da admiração que ela a contrapelo
O pioneiro ensaio de Joâo Gaspar Simões sobre Cesário, llrr, [rrvoca, Vergilio Ferreira por frm supóe que o sortilégio
de r93r, inicia se com a seguinte aÍirmação: "Cesário Verde rh,ru Pocsia proyém, entre outro fatores, do modo como o
é o poeta mais extraordinariamente dotado de qualidades Irrrrrrlsnro controla e abafa a manifestação dum sentimento
de prosador da literatura portuguesí1 Isso produz efeito rll rohcrtra, arrogância, orgulho, que Ferreira entreyê e cen
particularizador: rttt,t nos versos cesáricos.
lirrr suma, ao adaptar à poesia processos típicos da prosa
É fácil encontrar na nossa história literária prosadores cujas carac - rh' lteçiio, Cesário ficcionalizou o discurso Iirico numa época
teristicâs essenciâis digâm respeito à poesiâ (Raul Brandão ou Fialho Irrr 11r.rc o lirismo estava firmemente atado à noção de since-
de Almeida bastam para exempliflcáJo); outro tanto náo acontece r trLulc. C) fingimento poético pessoano por certo bebeu na
com poetâs. Dâí a singularidade do caso Cesário Verde. h ulc cesárica - daí que Pessoa, como já dito, reverencie Ce-
"lntroduçâo a Cesário Verdei p. 63. r'lÍlo cm alguns momentos de sua obra. O prestígio por fim
rrl( irnçado pela poesia de Pessoa no século xx fez com que a
Pelas décadas que sucederam o estudo de Gaspar Simôes, Irreionalizaçáo lírica passasse à condiçâo de recurso retórico
a "singularidade" de Cesário deixou de ser um 'taso' para ||olcncial, disponível, presente no horizonte de expectativa
ser um/aro, ou seja, pelo século xx adentro, como já se de rIr lcikrr da poesia moderna de língua poÍtuguesa. Isso valo-
monstrou na primeira parte desta introdução, sua obra será rr'l(,rl relroativamente a obra de Cesário.
situada em um patamar dos mais altos da poesia portuguesa. lxu outros termos, o valor da poesia cesárica consiste em
Mas a questão do prosaísmo de seus versos ainda levantará lrr nranipulado com eficiência os recursos de que se vale.
dúvidas. Em r976, Vergilio Ferreira escreve: "Cesário Verde, Âlguns desses recursos, como a Êccionalização do discur-
como a toda a gente, é-me um grande poeta'l "Mas'l acres- r'0 lirico, desprezados em dado momento, passaram a ser
centa, 'b porquê disso me intriga e tento esclarecer'l E em vllorizados em outro. Com isso, a obra de Cesário valori-
busca de esclarecimento, aÍirma: ,ou se. Mas, se suas virtudes e habilidades lhe são inerentes,
ou se são, por assim dizer, insuspeitas, o modo de avaliá-las
O grande problema que tal poesia me levantâ é o seu indefrnivel niio lhe dá estabilidade na história literária. Cada época cria
entrecruzâmento com â prosa. E não âpenâs quanto a temâs e vocâ para si, a partir da matéria cultural de que dispóe, sua pró

48 -: rNrRoDUÇÂo PoEMÁS REUNIDOS ! 49

I \-
pria epistemers, que dehne o modo de a consciência humana nl lvl,rri "Nr'rs'l
ainda que independente, é uma célula contí-
racionalizar e sentir a naturezâ. Hoje, enÍim' a combinaçâo rd r.lnscl)ariivel da obra de Cesário.
desses íatores favorece a Poesia cesáric.r. lrr sul rtipicidade, "Desastre" é talvez o único poema
rL,rtrrr ,lvel do conjunto â que pertence. Nesta composiçáo,

IV. DEPOIS DE.ESPLÊNDIDÂ',: HIPóTESE DE I r,ilr h) cnsaia um modo estilístico a que não mais voltará: o
rlrr rtrrrcridade edificante, que busca efeito de intersubietivi-
Tne.lrró nt-e. DA PoESIA CEsÁntce.
rlrrrh., rxr comunhão sentimental entre suieito lirico (porta-

"Desostre" rrrr r onÍiável dos sentimentos do autor) e leitor. É possível


rIx. lclrtativa de tornar se um poeta sincero tenha sido mo-
'r
Depois de "Esplêndida', e da reprimenda de Ramalho à ttr'rln pclas criticas de Ramalho e Teófilo. Falhado o projeto
sua "frngida perversáo'. Cesário tenlou ser sincero ao me- rl. ,rproxinração dos revolucionários com "Esplêndida'l Ce-
nos uma vez, com o Poema "Desastre", publicado em ou- r'lrlo lcntaria aproximar-se deles através de "Desastre'l poe-
tubro de 1875. "Provincianas", último poema de O Lívro de rrr,r r.tu que se fundem sinceridade e modernidade.

Cesario Vertle, que licou incompleto pela morte do Poeta, Â ccna urbana, o acidente do operário da construçâo ci-
apresenta pontos de afinidades com "Desastre" no que tan- r ll, {s reaçôes dos transeuntes, a notação ágil, a linguagem

ge ao conceito de poesia social' segundo critérios românti- I l!{, tomada de estrangeirismos, tudo isso mostra um poe-

cos. Mas não se sabe que direção "Provincianas" iria tomar' l,r r[rc, cm seu anseio por ser moderno, luta para incorporar
Antes de "Provincianas" - supóe-se que imediatamente an- rr r,lcnrento social. Pois uma dâs questões centrais da época

tes - Cesário comPôs um Poema autobiográfico e memoria- fl,r lomo o artista poderia contribuir para a edificação de
lista: "Nós'l Nessa última fase de sua produção, â voz lirica rrrru sociedade nova, mais iusta e igualitária. Em tese, o poe-
dos poemas cesáricos buscou conciliar-se com a voz auto- l,r rcvolucionário deve, com sua obra, se náo fazer, ao me-
rros iruxiliar a revoluçâo liberal, de fato, em curso no tempo
rk' ( lcsário. E cantar a Justiça para sensibilizar os leitores era
Uma deliniçào con.isa e eli(az do conceito de episteme' segundo
15.
rrrrra alternativa disponível à época.
o concebeu Michel Foucault, en.ontra-se em Líterary Üili'ism: A lntro'
Mas ser revolucionário pelo caminho da sinceridade so-
duction to Theory ani! Prarli.s (2nd. ed., UPPer Saddle River' NL PÍentice
Hall, 1998, p. 242), de Charles E BressleÍ: 'Para Foucault, â História é uma r lrrl não parece ter satisfeito o poeta, que depois da experiên-
complexà inter-relaçáo de vários discuÍsos ou modos discursivos arthti_ r l,r tlc "Desastre" abandonou esse viés. No entanto, apesar de
co, social, politico - pelos quais as Pe§soâs Pensâm ou expressam o mun- rrn singular atipicidade, que empurrou o poemâ para a pe-
do em que vivem. Não é âo acaso que estes discursos inleraSem num dado
r lltria da obra cesáricaró, "Desastre" desenvolve um aspecto
momento histórico, eles estão subordinâdos a um princíPio unificador que
Foulcault chama epirleme: por meio da linguagem e do pensamento, cada ftrrnlal que o integra, ainda que de modo tangencial, ao con-
periodo na Históriâ desenvolve suâ PróPria percePçáo da nâturezâ do real
(ou o que se de6ne Por verdâde) e.riâ suas próPrias normas de comporta_
mento aceitável ou não, além de seus critéíios Para julSar o que é bom ou ró. Depois da primeira publicaçào, em em outubÍo de 1875, "Desastre"
mau, e como as pe§soas exprimem, protegem e su§tenlam PâÍâmetros pelos r o scrá reimpresso integrâlmente até 1961, em Cerário Verde . a "Cidade
quais verdâdes, valores e âçôes sào considerâdos ãceitáveii: ,r.n,i.d (Porto, Tipogrâfia Modesta), de Alberto MoreiÍa.

50 .: INTRODUçAO POEMAS REUNIDOS:- 5r

\
iunto da obra cesárica: o prosaísmo decalcado da ficção rea- Nrtr se sabe a que poemâ está se referindo Cesário.
O
lista. Com efeito, "Desastre" é uma espécie de conto realista l.to (lc uludir à sua "última maneira,, indica porventura
esse
versificado e rimado. O narrador impessoal, o fato trágico, o lr,llt;rr tle experiência, indefinição, ensaio de estilos
diver-
quadro social pintado em âmplitude, o modo de organizar o lu  "irleia de justiça' fez com que Alberto Moreira (p. zr)
tempo com o impacla\te início in tnedias res e o Jlashback
- rotrrltrísse que a composiçâo em causa fosse ,,Desastre,]'pss_
articulador de causa-efeito da narrativa (w. 33-48) - e seu |$ .la fato justiceiro. No entanto, outra hipótese plausível é
sentido analítico, bem como outros elementos do poema lhe I rlc que o poema citado seia ,.Nevroses', (rebatizàdo .Con_
emprestam caráter de prosa reâlista adaptâda ao yerso. Em lr(rl(dades" em O aivro de Cesário Verríe), publicado
quatro
suma, após o 6asco de "Esplêndida'l em "Desastre" Cesário ltÍtcs c meio depois de "Desastre,l e cujo assunto central
éo
altera o modo discursivo (de irônico para sincero), o tom trt,rr.lo injusto com que o mundo
moderno e a nova cultura
elocutório (de humorístico-amoroso para trágico-elegíaco, rh llassas tratam o artista estudioso, consciente
da tradiçâo e
de uma fria e moderna elegia) e o ponto de vista (de pessoal rh.rllcado a seu ofício. Nesse caso, a ..última
maneira,, possui
para impessoal) mas mantém o aspecto prosaico e narrativo, rr.rrtido profético, pois a partir de..Nevroses,l
Cesário càmeça
além do espaço urbano. r rlcíinir sua maneira típica, pela qual será en6m reconheci_
rIr co1p6 pq"1" rno6erno, ou simplesmente poeta,
se não por
" Ney r o ses -C ontruriedades" i(us contemporâneos, pelas geraçóes que o sucederam.
(irmo já se afirmou, entre ..Esplêndida,,e ,,Desastre,,há
Tal como "Esplêndida'l "Desâstre" também não trouxe o urna passagem bastalte marcada da ironia para
a sincerida_
reconhecimento de poeta moderno que Cesário perseguia. do humorismo amoroso para a tragédia social,
rL..
da subje
De fato, até 1875, a poesia cesárica é um laboratório de ex- tlvrçilo sentimental (eu) para a objetivaçâo analitica (outro),
periências em que o escritor luta para encontrar e definir r onro se "Desastre" fosse o reverso de ..Esplêndida, _
o que re_
seu estilo, e por ele se íazer notar. "Esplêndida' é publicado tlrça a tese de que Cesário escreveu ,.Desastrd, como
uma res_
ao lado de "Caprichos-Responso' e 'Arrojos", duas compo- posta deferente aos conselhos de Ramalho
e TeófiIo, ou como
siçôes de estilos diferentes entre si e em relação a "Esplên- rrnra espécie de zea czlpa ,.Esplêndida,r7.
por Sob a luz destas
dida'l "Ironias do Desgosto'l de setembro de 1875, um mês,
pois, antes de "Desastre", ensaia um lirismo de tipo filosó-
fico-decadentista. r7 É possível rambém que Cesário ou Silva pinto renhâ
.. excluido "Es
Em carta sem data a Silva Pinto, Cesário escreve: filodida'de O Lrvro.re Cesário Vede pot contadâs criticas de Ramalho
í 'ltófiIo. No entanro, se Cesário negou "Esplêndid",l
n"g.;;;;
rrrf',rmente sua rdprca ( À [enw "1. "ào
Jatdld e, pot asim dizer. *eu mádelo re
A poesia queeu hoie te mândoéâ minha última maneira. Vês por lónú, dls(ursivo: o do elogio tÍôni(o, em que o conteúdo
dâ menragem e
ela que eu não desprezo de modo algum o coração, que quândo des- rl(sí(rto ou inverrrdo quando âlguns elemento\ tertuais \jo
a(ronador por
prezâdo não deixa brotaÍ nenhufia obra de arte. Mas o que eu desejo ttm lcitor agudo e malicioso. A tópica e o modelo
retórtco de "nsplCndáa;
(rir) Íesgrtados e reeldborddos em composições como ..De\lumbramen-
é aliâr âo lirismo a ideia de iustiça (OC, p. 2ró).
los: Frigidà' e sobreludo..Humilhàçôes,: O fâio de Cesáflo ter trãbalhJ-
do (,,m esses etementos depois de .,Esplêndidâ..nào invalidà â tese de que

52 q TNTRoDUçÂo POEMÀS REUNIDOS:., 5]


I

duas composiçóes, enlim, "Newoses-Contrariedades" ocuprr lrúrlrlrrr, niio propriamente pela pobreza desta mas por sua
Iugar signif,cativo na trajetória do lirismo cesárico, pois nestc Irt l'l' 1./ riittirifêita e seu comodismo frívolo. Dessa forma, o
poema fundem se, sob certos aspectos, os outros dois. |rI rrrrr rrllicula dois eixos narrativos, o do poeta debruçado
"Contrariedades" (a partir de agora omite-se o título pri lt'lÍr \l nlcsnro (vertical, febril como o narrador de "Esplên-
mitivo) estrutura-se em dois planos narrativos: um poeta em r (, do poeta voltado para a engomadeira (horizontal,
'lt'lú")
revolta porque um jornal lhe rejeitou "um folhetim de versos" Ir tr r r onll o narrador de "Desastre"). Na encruzilhada desses
e uma engomadeira que trabalha e é obseryada pelo poeta. , úllrlIlx)s, o impasse da poesia: como revolucionar, instruir,
O registro discursivo simula sinceridade, mas a ele mescla-se l l,!lhllizar quem não se interessa por revoluçâo, educação,
o efeito de ironia que provém do cruzamento de planos, em ú rtr,í li por que veiculo, se todos estão fechados para o artista
princípio, incongruentes: o do poeta e o da engomadeira. Ela -
nrlr'[llco, comprometido com a tradição e com a moderni
representa o elemento social que a poesia, segundo normas e ,l,rrlr.í llil uma crise cultural localizada no canal da comu-
expectativas culturais da época, deveria abranger ou incorpo- llt, ú\tl, c no destinatário, que desacreditaram da poesia e
rar. Ele representa a consciência da arte superior, marginali- l,rr,k.rcnr a prosa de entretenimento. Como responder, en-
zada pela cultura de massas. Ambos, enfim, irmanam-se pelo Irt. lt csse impasse e seus obstáculos? Uma vez mais, para
sentido de marginalidade social. No entanto, ele revolta-se, t r"'iIio,'b obstáculo estimula': E a resposta parece vir atra
convicto de seu valor, lutando para afirmar sua arte, enquanto rlr rlc "Num Bairro Moderno]escrito cerca de um ano de-
ela resigna-se, alienada, cantarolando "uma canção plangente ;,r rtr rlc "Contrariedades'i
/ duma opereta nova'(w. 6r-6u). Como pode entâo o poeta
moderno cantar o povo se este, em sua alienação resignada, "Num Bdírro Moderno"
está surdo para as artes e se satisfaz, alegre, com manifestaçóes
de baixa cultura? Como revolucionar se os mesmos beneficiá I I rrrodo sumário, no afã de reconhecimento, Cesário tentou
rios da revolução não demonstrâm interesse pela represen- , "I.)splêndida'a musa rica, o sentimento ardente e fingi-
r,rrr
tação de uma sociedade revolucionada? Ao mesmo tempo, ,L r. rr discurso elaborado e irônico, que busca significar às ex-
conte-se o problema da imprensa, que alimenta a sociedade ;,r.rrsls do que diz, e falhou; com "Desastre", cantou o homem
com lixo cultural e barra vozes lúcidas. \lrrl)lcs, do povo, com linguagem franca, objetiya e analítica,
"Contrariedades" atualiza a tópica do desconcerto do mufi onÍ) um cientista, e falhou de novo; com "Contrariedades,l
'
do, correlacionando-a ao universo das artes na sociedade o elitismo da poesia e do poeta, a mercantilizaçâo da
',rrlrc
moderna. O poeta sofre com sua situação e com a da engo- ,rr lc pela implgn$ ç o plebeísmo do trabalho não especiali-

r,rrkr da engomadeira, Cesário questionou o papel da poesia.


( )u s!ja, num mundo onde a imprensa é venal e o público es
"Desastre'tenha sido escrito pârâ que o poeta se redimisse diante de seus
lr'rpido, que significa ser poeta? Qual a tarefa da poesia?
cíiticos, que admirâva, e assim deles buscasse nova aproximâçáo. A hipó-
"O obstáculo estimula" e, diante dele, o poeta-narrador
tese é a de que Cesário compôs "Desastre'sob o impâcto das criticas que
"Esplêndidâ' recebeu, ou seja, sob umâ dâda circunstán.iâ, que depois se rlc "(lontrariedades" apura-se em "lançar originais e exatos,,
lhe revelôu rrànsÍória scus 'hlexandrinos'l Em suma, a resposta para o impasse tlir

54 -i INTRODUçAO POEMAS REUN ll r( )s 5\

L-.
poesia numa sociedâde regida pela banalidade é a especitrli 1,, ,r rrr, s jrrsto (no duplo sentido dejrsfiça e precisoo) a
zação do poeta, seu aperíeiçoamento técnico no lidar conr .r nl, nrr r
( ()ttl() trtista.

Iinguagem da poesia, que deve ser planejada em seus recrrr


sos e calculada em seus efeitos. Quanto mais a sociedade st. ,'l,rl Írrrl(. (ltc visão de ârlistrl
banaliza ou se torna injusta, mais o poeta deve se especiali ., , ,r Ir.|lr\lol,nnssri os siDlples vegcl.ris,
zar Isso não implica isolamento da poesia, que continuarii ir \ lU ,L' vrl, r) inlenso coloristâ.
chorar, sorrir, amar, instruit consolaç emocionar, sensibi rriÍr \.r hr[liln() que se movir c cxista
Iizar, enfim. A especialização da poesia significa um ato dc r 1,, r,, rI h<las proporçóes carnais?l
Íesistência à vulgaridade ou r,ulgarização da cultura. Diantc
do canto da sereia moderna, da fama fácil e efêmera, o poeta I) lnlcnrl, enlim, cria um espaço narrativo que pressupóe,
deve resistir e polir seus "alexandrinos originais e exatos': rrSrrrh pudrões de expectativa da época, ser preenchido por
"Num Bairro Moderno'l pode-se dizer, ilustra narrati ttllr rllrctrrso de conteúdo moralizante; no entanto, tal expec-
yamente a teoria lançada em "Contrariedades". Ao mesm<l t.ttvrl ({ qucbrada pela interyençâo de um golpe de imagina
tempo, "Num Bairro Moderno' consolida o estilo cesárico. talú, r olllo se este, com sua força e frescor, equivalesse à Moral
É o primeiro grande poema de Cesário. escrito aos 22 anos. la nr l(, como se a Beleza fosse capaz de moralizarts. A respos
Nele, o narrador caminha por ruas de um bairro nobre, com
casas ricas, dirigindo-se para o trabalho. Trata-se de
Ílânerie
atípica, pois o caminhante, embora sem pressa, segue rota rll ().onceito que associa Beleza e educaçâo sentimental provém de
específlca em direção a um ponto de chegada definido: o Ihlür, p.lra quem o homem se âperfeiçoa moralmente em contato com o
lugar onde trabalha. Em dado momento da caminhada, o ldl Ncstt caso, Belezâ é um valor abstralo que estaria contido em um ob-
lrftr , npnz de provocaÍ efeilo de estesia em seu contemplador Por estesia,
narrador lírico se depara com uma cena que lhe chama a arlrrr, cnlcnda-se uma espécie de excitaçáo intelectuâl que deflagra sen-
atenção: uma pobre regateira vende produtos hortifrutícolas .a\Ofr c prâzer. Estas noções sumáriâs e incompletas talvez sirvâm pâra
na soleira de uma mansáo. O criado que negocia preços de (Í[lÍ0rnder as relaçóes entre Belezâ e Bem ou Beleza e Moral. Um exem'
alguns itens em nome do patrâo a destrata, atirando-lhe com fü' rl.ssâ conexão no século xIx encontra-se na Correspondência de Frudi
arrogância uma moeda como proposta de pagamento, falân- íxí /Vr,rdes, de Eça d€ Queirós. Numa de suâs cartas, dirigindo-se â ClâÍa,
rú. nnrada, l'Íadique descreve o impactoquea imagem dela lhe causou. Por
do-lhe com desprezo. A humilhação da hortaliceira por um lrlhrro da b€l€zâ dá mulher, â cons.iência observante passa a moldaÍ-se a
intermediário do poder econômico cria uma tensão entre as lwrlr dâs virtudes conlemplâdas. Diz Fradique a Clâía: "Fiz então sobre
personagens da cena, que inclui o narrador-observador eue firlnl unr áspero exâme de consciênciâ, Investiguei com inquietaçào se o
rrcu pensarera condigno dâ purezâdo seu pensar; se no meu gosto não ha-
fazer diante de tal impasse? Como o suieito lírico passeante
v.rll desconcertos que pudessem ferirâ disciplinado seu gostoi se a minhâ
deve reagir frente a um ato de iniquidade social? hlcr.r Ja vida era táo alta e sériâ como aquela que eu pressenlira na espiri-
Do ponto de vista narrativo, a cena constitui uma compli tullidade do seu olhar, do seu sorrir: e se o meu coÍação nào se dispersara

caçáo que demanda ]uÍna resoluçAo. Aotestemunhar um con- . coírâquecera demâis pâra poder palpitar com paralelo vigoÍjunto do seu
.orâçào: E complela: "De sorte que â minha âmiga, sem saber, se tornou a
flito de violência moral, o narradot assumindo sua condição
nrinha educadora. E táo dependente fiquei logo desta direçáo, que já náo
implícita de poeta, decide enfim intervir e, para tanto, age de posso conceber os nrovimentos do meu ser senão governados por ela e por

t6 -i TNTRoDUçÃo POEMAS REUNIDOS:' 57


ta do poema ao conflito presenciado é artística. Após assislll , rl,,'rl,rlr,(.rir. rr. criado; campo r/s. cidade; natureza vs.
ao aviltamento da regateira, o narrador entra em estado dc (lr , ritr r"
.Ulrrissito u.s. poder econômico; trabalho ts. bene-
gressão poética e passa a prestar solidariedade à campone..r ,' ,i,r ,,.,rr lr'13.lll confirma o conceito romântico de que os
A metamorfose antr() ,,llrr,,,, tl.tis siio uma fonte de matéria estética. como às
estetizando os produtos que ela vende.
I ,r 'll'.r', l', (,s.ltrtigos.
-
pomórlica dos vegetais, que ocupa cinco das vinte estrofes do .t

poema, constitui um esforço de fantasia criadora que o nar I l. . ,, tlirvillll a guerra porque viant nela beleza (üelo e
rador empreende para valorizar as frutas e os legumes cuj()s i . i, , ,
l,r ,!\l rrnr rnesnta raiz etimológica). Os românticos, por
preços o criado da mansão regateia com altivez. É enÍim como ,, , , , r torrrirvirnt a face escura da civilizaçào (pobreza, mate-
artista, e não como moralista, que o suieito lírico defende a ,,,1r rrr,r, rI r.rtlóncia dos costumes) para criar beleza através
humilde vendedeira vilipendiada. Em "Num Bairro Moder t, ,1r,, rrrros rlc clàito moral e lenitivo: moralizar e consolar
no', no entanto, o artista não nega o homem comum, imbuí ' , rr.rrrr\rtrr, (lc rlodo particular, buscou beleza no mal e na
do de espírito solidário comum. Findo o discurso digressivo ,,,,,,r.rlr,l.rtle ("O imoral pode ser beloi diz o (ionde Lopo,
de apoio à hortaliceira, o narrador dela se acerca para, num l, \ lr,rt r.s rlc Àzevedo). Cesário enveredou por sendas sata
gesto de esforço agora físico, ajudá-la a erguer seu cesto agrí- ,,r r r, rr.r sórie tle poemas que desenvolve a tópica da dama
cola. O poeta cumpre seu papel de artista, e o homem, de ci- ,,, rl, rtr.rrlc. lcntou combinar Romantismo e Realisrno em
dadão honrado. It, .,r\lrc" e cm poemas satíricos de juventude. Em "NLlm
A cena da metamorfose dos vegetais pode ser considera tt ,ll l\4otlerno'] por fint, a persora vegetal "recomposta por
r, r

da chave na formação e amadurecimento da lírica cesárica. lr.rtorrrr.r'' (v.4r) reproduz tensões paralelas às da cena que
Nela, Cesário Iogra dar uma resposta pessoal ao impasse da llr, .r'r t,irr rle fonte; o eltte artropomórfico é natural e artifi
poesia, seu papel moralizador, edifrcante, engaiado, na era
da prosa, num mundo dominado pela razão ou consciência ,,,rr r"r (livi'râ Drelopeia, as dores da humanidade, ten atormentado o sen
prosaica". Nascido da confluênçia de forças em antagonis- rrrr,lll(, nLerbo dâs suas inenarráveis m,sérias: mas essas dores. essãs misé-
rtrr rr,to us pode ela suprimir" (Ana Maria Almeidâ Martios (org.), Obras
t ,tlúttt!: (:attas ,\oL vx, Lisboâ. Universidade dos Açores/Comunica-
ela enobrecidos. Perfeitâmente sei que tudo o que hoje surge em mim de nl- \,r,,. r,r89, p.951). De certo modo, Cesário responde ao ceticismo anteriano
gum valor ideia ou sentimento, é obrâ dessa educaçào que a sua alma dá à ,.,rr ,r idria de especiâlização técnica do poeta frente ao avanço da ciênciâ
minha, de longe. só com existir e ser compreendid?i' (A ColresPonllôncia de r ,rrx prrrblemas gerados pela civilização. No século xx, Pessoâ irá atirmar
Frítdique MenÍ1es,21ed.. Porto, Livraria Chardron, r9o2, p. r87). No âmbito , fir ( Í'IsoDância com Cesário: "O artista .-. nào tem senâo que exercer â sua

da arte, o escopo do artista e a produçâo de Beleza,.Lljos efeitos no homem rl(., ( urundo de a exercer tào bem quanlo possâ. Todas as outras conside
se dâo como consequência de seu nabalho. r,r1rx,s Ihe devem ser alheias: e assim cumpre o pÍincipio da divisão do tra
19. Em r88r, Antero questiona:"E o queéhore poesià? O que é hoje poe lrrrllro social, e cumpre-o tanio melhor quanto menos deixar entrar pârâ â
ta? Que diz ele ao mundo, que valha a pena ao mundo parar para o escutar? ru,r rrrtc clementos de preocupaçào com tudo quanro à nào seja'l E conclui:
Uma experiência de Berthelot ou de Virchow. uma descoberta de Darwin '\rLi, assim, impossivel o Íipo de uomo uniyersale? Será inrpossivel o indi-
ou Haeckel, uma página histórica de Rnnke ou Renan valem mais, dizem vl(hx) que seja poeta, homem de ciênciâ e político, por exemplo? Nâo; isso
mâis ao espírito do sé€ulo, do que toda â Babel sonora dâsestrofes deVi.tor prri: scr,logo que ele seja poeta quàndo é poeta, politico quando é politico
Hügci (A Poesia na Actudliddde, Lisboâ. Fenda. 1988, pp. 28 29). Em 1889, .'lxÍnem d€ ciênciâ quando homem de ciêncii' (Páginas Í tinas e de Auto.
numa carta a Antonio Molarinho, Antero anota:'A poesia tem embalado, htüt'retaçôo,Lisboa, Atica, r966, p. 1oo).

t8 -: TNTRoDUçÂo POEMÂS REUNIDOS:- tg

I-
cial, humano ebizarro, masculino feminino, moderno e l,.r
e Cronologia
dicional'o. Além disso, a imagem participa da consolidaçal,
do estilo mesclado do lirismo cesárico maduro, que se marrr
festa sob várias formas. Em sua condição de ser irônico - pt,l,,
brusco desyio narrativo e pela excessividade da imagem t.
sincero - no sentimento de solidariedade à pobre campon.,
sa -, fantasioso e realista, subjetivado e obretivado, sedutor (. rart l,úrr lo,r(luinr Cesário Verde nâsce em Lisbol a z5 de feverei_
grotesco, mitico e historicizado, o nume hortifrutícola con r,, ,lrr (l( srio (lesário, confesst:r. Segundo lilho de cinco (ou seis,
centra em si traços que definem, se não de todo, em amplitu r,r,, n.\nh( nr).erto) do casâl Jr)sé Anâstácio Verde, próspero co-
de, a poética cesárica. llx rr r,Írt( (lc li'rragens e tecidos, e Mâriâ da Piedâde dos Sant()s
De modo marcante, a partir de "Contrariedades'l Cesário \,r'1., l,rlrcrllS5e5ZacaPitâlPortuguesaévitimadeduasgraves
forja um estilo irregular, mescladoi que escapa a todo mo I l,t,L'nritts, prinleiro a de cólera morbo e depois a de febre amarc'
mento a definiçôes estáveis, que preso a um centro pende ir ln, ,lr( iuntts nlatârâm cerca de toooo pessoas. Por esses anos, s()-

diversas direçôes, sem nunca se 6xar. Isso tornou a leitura l,rrtlr(lo rros nreses de verão, os Verdes fixam sc no campo, nuDla
de sua obra instável. Seu efeito último no leitor é o de inse- ,IrrÍn d.l limilia em Linda a_Pastorà, arredores da caPital. Pâssa_

gurança, ou de segurança provisória. Uma vez identificado ,1,,,' ris.o epidêmico, a fâmilia continua a passar tenlPoradâs enl
um aspecto na poesia cesárica, ele é logo contestado dentro ltrxlir .l I)ast()râ; âssim a inlância de Cesário e de seus irmàos se
de seus próprios limites textuais. O que desponta de inicio ,lt\ kl( cnlrc a cidâde e o câmpo.

como verdade ou realidade, alguns passos adiante mostra tlru Morre Adelaide F.ugênia, irlnã de Cesário, àos três ànos
-se insustentável. E a irredutibilidade faz-se regra. E o de- tlô,t l:(lúârdo Coelho, ex-caixeiro da ltria de losé Anâstácio Verde'
safro perpetua se. Não é dificil pois concluir que a crítica lün(li conl Tomás Quintino Antunes, o /)rário íJe Notíaids' jornâl
positivista yisse nessa maleabilidade multiforme uma fra- ,1rl( lcz e vem fàzendo - hist(iria na imprensa PortLrguesa.
gilidade, uma incapacidade criadora. Ou que visse expostas ttlôt lr-m agosk), Antero de Quental publica Orlr-s Modernas. I'nt

a própria fragilidade e incapacidade analítica frente a obje- rnrtubÍo, eclode a Questâo Coinrbrá, Polêmica que oPõe jovens de
to tão fugidiamente yulnerável. Passado, enfim, o prestigio ( i)Inbra lideràdos por Antero e adeptos do UllrârromantisI1lo'
do Positivismo, a poesia de Cesário ganha evidência em sua ,llio representànte mais ilustre e Antônio Feliciirno de Castilho.
artesania verbal, em sua dúvida assediante, que, em última tt/l l)e maio a iunho, realizam se as Conferênciasdo Cassino Lis
(ou primeira?) instância, encena o principio da precarieda lrorrense, organizadas por um grupo dejovens do qualfazem par_

de incontornável. t. Antero de Quentâl e Eça de Queirós. Das dez anunciâdâs, cinco

s.io proferidas. Consideradas rtcntatórias à maDutençâo da or_


rlcnr públic:r, as palestras são censuradas por âk) governâmental.
20. SobÍe as relações entre o ser vegetal, o Maneiíismo bâríoco e, em (:csário te
entào dezesseis anos. É provável qúe não tenha con)
particular, a série de "retÍâtos nâturaid' d€ Giuseppe ÂÍcimboldo, ver en,
pLrrecido a ncnhunra das conlirências, mas Por aerto tomou ao
saio de Andrée Crabbé Rocha, "Cesário Verde, Poet^ Bafioco1.", Colóquio-
-Letrus \
\97 r, pp. 3t-33. llhccimento dclas.

60 ] r NTRoDUçÂo

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D. Maria da Piedade dos Santos Veda mãe de CcsáÍio Maria lúlio, irmã de CesáÍio.

I
r8Z2 - Morre de Mâria Júlia, irmá de Cesário, aos dezenove anos, (l(
tuberculose.
1873 - Com apoio de Eduardo Coelho, Cesário estreia como poc
ta em páginas õo Diário de NoÍí.ids. Por esse tempo, além d(
Coelho, Cesário deve ter contado com auxilio de João de Sou
sa Araúio, cscritor de poucos recursos mas beDr relacionâdo, qu(
foi noivo de Maria fúlia. O jovem Cesário, funcionário na loja dc
seu pai, começa então a se dividirentre comércio e literatura. Por
essâ época também, talver: um pouco ântes, José Anastácio Ver
de, que em partilha de família havia herdado sozinho a quinta dc
,s .>í

Linda-a-Pastora, inicia negócios com exportâçáo de frutas. P(»


conta disso, Cesário passa temporadas no campo, administran,
do a produçâo agrícola da propriedade rurâl familiar Ao lado de
Sousa Araújo e como aluno voluntário, Cesário frequenta o Cur-
so Superior de Letras em Lisboa, no ano letivo 1873,1874. Logo,
!
porém, o abandona. Lá trâva conhecimento com Silva Pinto, seu
amigo para toda a vida. Passâ â frequentar rodas literárias ea pu,
blicar poemas. Ainda em 1873, o Diário llusttudo anuncia para
b
bÍeve Câ/tticos do Realiimo,livro de poemas de Cesário, que nun,
I
ca foi publicado. 1
1874 - "Farpa'de Ramalho Ortigâo contra "Esplêndida: Guerra lun-
queiro publica Á Morle de D. João,poema Í\arrativo sobre o mito
de D. Juan, que gera grande polêmica em Portugal. Publicaçâo de
I
'Singularidades de uma Rapariga Loural de Eçâ de Queirós, tex-

II I
to considerado marco introdutório do Realismo nas letras portu-
guesas. Desse ano devem ser dois poemâs perdidos de Cesário:
"Voto Negro'e "Subindo':
1875 -
Morte de Antônio Feliciano de Castilho. Comes Leal lançâ
Claridades do Sul, sta obra de estreiâ. Um dos poemas, o sone-
to 'O CânibâI", é dedicado a Cesário. Em carta a Silva Pinto, Ce-
sário diz que está lendo O Mistérío de Edwih Drood, de Charles (i,súíio Vede (à esquerda) aos dezesseis anos, ao lado de
loão tle
Dickens. Em outra carta do mesmo ano, ao mesmo destinatário, \orso Aíaújo, cntão noivo da innô do poeta, MaÍia
Júlia, com queh se
escreve: "Escrevo te sobre uma secretária comercial, cheia de pa- tú rht ào.lisst o ,norta pre aturd da.iovem. A hloÍte de Maria lúlia
péis, de livros, de notas, de trintâ mil coisas que me tornam muito tt o ,tttitt' |t',ttntl do ,,Nó!".
I't L,rrtn nütot it lráJit1t

64 -: cioNoLocra

À
positivo e prático. // Eu náo sou como muitos que estâo no meio
dum grande âjuntânento de gente e completamente isolados e

abstratos. A mim o que me rodeia é o que me preocupal Àpesar


do tom pessoal, muitos lerâm esta passagem pelo viés metalin
guistico, como uma involuntária arte poética.
1876 - Com aanuênciâdo rei D. Luís, é fundâdo o Pârtido Republica
no. O evento atrai a simpâtia dâ juventude idealistâ que acompa
nha a trâietória do republicanismo na França. Política e literatura >
mesclam seus discursos: o politico fala como literato; o liteÍato,
como politico. A poesia de Cesário, no entanto, toma rumo in -'
dependente. Sempre dividido entre a vida comercial e a literária,
Cesário continua enviândo poemas para publicaçào e cuidando
dos negócios familiares. A quinta de Linda-a-Pastorâ nrantém re
laçôes comerciais com lirmas da França, Inglatcrra, Alemanha,
Estados Unidos e Brasil. Cesário à frente destes contatos.
1877 - Dois âcontecimentos "modernos": Cesário escreve "Num
Bairro Moderno" publicado no ano seguinte , e Teófilo Braga
dá a lume seu Parnaso Porluguês Moderno, coletânea do mais sig'
ni6cativo da poesia portuguesa, brasileira e galega do século xrx,
até o ano de publicaçáo do volume, segundo critérios do organi-
zador. Cesário está ausente da antologia. Morre Alexandre Her-
culano, e nasce Teixeira de Pascoaes.
- Eça de Queirós p:ublica O Primo Basílio. Cesário o leu, e cita
1878
uma de suâs personagens - o visconde Reinaldo - em cârtâ de
1879. "Num Bairro Moderno" recebe criticas que censuram suâ
originalidâde. Neste mesmo ano, Cesárioescreve "Em Petiz'l poe
ma publicado no ano seguinte.
Cesrrio Yerde, oão vcodo
1879 - A publicaçáo de 'Em Petiz" provoca violenta reaçáo do Dil- Nas suâs idéas íuro-
tio llustíado.Cesáíiopolemiza com Reeolvs uma be â ;oite
iornale chega a desafrarseu
o
Ser um Cesario üaduro.
diretor, Pedro Correia, pâra um duelo, que não ocorre. Em car-
ta a Bettencourt Rodrigues, Cesário expressa desero de conhecer
Paris. No mesmo texto, fala da leitura de les Rois en Exil,de Al- (:harye de Cesário publicada
no periódico O Diário llosÍrado, en 29 de
phonse Daudet, romance que contém â descrição do bairro pari lavcteiro de ú76. O teÍto da legenda díz: ,.Cesário Verile, não vendo Nas
/
sicnsc onde morava o amigo. suos ideias Íuro, / Resolve uma bela noite / Ser um Cestárío Maduro,,.

66.i(:RoNol-ocIÀ

\-
r88o - Cesário publica "O Sentimento dum Ocidental" em porr,rgal Àhel Botelho, Fialho d€ Almeida ê Alberto dê Oliveira (diretor
a Comões, sepaÍâtâ do periódico portuense ,lo rnol de Viagens,lan- ii rcvisÍa Boémia Nova e âmigo de Àntônio Nobre).
çada pam comemorar o terceiro centenário de Câmôes. Ao lado rttrr Morre Joaquim Tomás, irmâo de Cesário, com 24 ânos, de tu-
de "Nós'l "O Sentimento dum Ocidental" é considerado o mais lrrrculose. Desse ano é o proieto, nunca concluído, de fundação
notável poema de Cesário. Não para os leitores contemporâneos d( um iornal republicano, que se chamaria O Mercafitil, e cijos
do poeta, que silenciaram diânte da composição. Cesário queixa- ((lâtores seriam Cesário, Teófrlo Braga e Joáo de Deus.
-se da indiferença do público em carta a Antônio de Macedo pa- r lx r Cesário parte para Paris em viaSem comeÍcial a 6m expandiÍ
pança: "Uma poesia minha, recente, publicada numa folha bem or negócios familiares qu€, nos últimos anos, só fâziam cÍescer.
impressa, limpa, comemorâtiva de Camôes, não obteve um olhar, l,iNsa cerca de um mês entre a capital francesa e Bordéus, e se en-
uú sorriso, um desdém, uma observação! Ninguóm escreveu, .onlra com amigos portugueses que viviam na Fmnça.
ninguém falou, nem num noticiádo, nem numa conversa comi- rti4 - Publica "Nós", seu mais pessoale autobiográfico poema. Desse
goi ninguém disse bem, ninguém disse mal! // Apenas um criti- lno devem ser ainda "De Tarde" e "De Verão I que o poeta possi-
co espanhol chamava às chatezas dos seus patrícios e dos meus vclmente terá publicâdo eín A Folha da Tatde, petiódico de so-
colegas- pérolas - e afirmava - fanfarrâo! - que os meus versos lrÍevivência efêmera, cuios números - à exceção do primeiro, que
'hâcen malisima 6gura en aqtrellas páginas impregnadas de no perderam.
lraz colaboração de Cesário - todos se
ble espíritu nacional"l Data provavelmente de r88o, um texto de rltt - Morte de Victor Hugo. Segundo depoimento de Henrique Lo-
Guerra Junqueiro sobre Cesário. Descrevendo em tom reproba- pes de Mendonça, no dia em que se divulgou em Portugâl â noticiâ,
tório a tendência âbstrâizante do lirismo português diante da na- Cesário teria comentado: 'era o avozinho de nós todos': Por essâ
tureza, Iunquei ro releva o traço lirme, de pintura realista, da líÍica época, a tuberculose, que mâtârá Cesário,já havia se mânifestado.
bucólica de Cesário: "Por isso, entre os modernos poetâs, destacâ, rllSó - Durânte o Carnaval, Cesário discute com Silva Pinto e vâi
com um relevo brilhante iuvenil, pela nota câmpesina, Cesário
e para câsa sob forte chuva. Resfria-se e seus pulmôes começam a
Verde. Ele reproduzâ paisagem do naturalcom um lance deolhos se complicar. tsm maio, o médico dâ familia desengana os paren-
instantâneo, um pincelpor vezes maravilhoso e uma alma sempre tes do poeta. Cesário, no entanto, em carta de ló de junho, escre-
adorável e sonhadoraj ao mesmo tempo graciosâ e melancólica, ve a Macedo Papança com esperanças de cura. A r9 de julho, no
altiva e feminina, cândida e sorridente..." Pâço do Lumiar paÍaonde fora em busca de recuperação, Cesário
l88r - Cesário frequentâ o recém-formado "Grupo do Leãol ter- morre. Suas últimas palavras, ao irmáo Jorge, único sobreviven
túlia de pintores e literatos que se reúne regularmente nâ cerve- te dos frlhos de )osé Ánastácio, forâm: "Nâo quero nada, deixa-
iâria Leão de Ouro, em Lisboa, para discutir arte moderna. Os -me dormir'l Em Á llusrraçdo, Mariâno Pina termina sua crôni-
encontros eram liderados por Silva Porb, pintor português, que ca sobre a morte prematura de Cesário com as seguintes palavras:
havia chegado há pouco de Paris, onde estudara belas,artes com "Náo foi um grânde artista que morreu. Morreu o embriào dum
Charles-François Daubigny. Além de Cesário e Silva porto, par- grande aÍtista, cu.io talento estava destinado a marcâr uma época,
ticipam das reunióes, entre outros, José Malhoa, Rafaele Colum- â triunfar ruidosamente de tudo e de todosl"
bano Bordalo Pinheiro - este, autor do retrâto de Cesário, feito 1887 - Em abril, com ediçâo de Silva Pinto, saem do prelo duzenk)s
de memória, parâ â primeira cdiçáo de O aivro de Cesórío Verde exemplares de O livro de CesáÍio Vetde.

68 -: CRONoTOGIÂ POEM^SlllrlrNlr)(,s ô')

l--
rgor - Publicação da 2ê edição, primeira com erci^|, ó,e O Livro de ( l .*, Critérios de OrgÍrnização .JP
sário VeÍde. O editor é Manuel Gomes, mâs o volume traz n(,r,r
e Estabelecimento dos Textos
que diz "Reimpressão textual da primeirâ edição feita pelo âmiI(,
do poeta Silva Pinto':
r9u Publicaçâo dâ 3, ediçeo de O Livro de Cesário Verde. Os etli
tores são Iosé Antonio Rodrigues & (], mas, tal como a segund,r
ediçâo, esta também leva a nota "Reimpressâo textuâl da primei
ra ediçáo feita pelo amigo do poeta - Silvâ pintol Morte de Silv.r
Lf,i dois modos basicos de aPresentar ao público a obra
I Ipoética de Cesário: por cronologia de Publicaçào alulsa
Pinto e de Fialho de Almeida.
,l,rs Puemas, considerando a versão pela qual estes foram Pu-
rgtz () Almanach de Lembranças Luso-Brasileiro publica poema
o l,lieirdos, ou dividindo a em dois blocos: O Livro de Cesário
"Loira' e o atribui a Cesário através dâ seguinte nota: ..Teve a rârr
li?irc, cujo texto de algumas comPosiçóes aPresenta varian-
felicidâde deencontrar uma poesiade Cesário Verde, inteirâmen
tcs cm relaçáo a suas versóes primitivas, e Poemas disPer-
te desconhecida, o Sr José do Nascimento Monteiro Guimarâes .,os. Ambos os modos apresentam
Problemas, que não cabem
no álbum de uma senhora cujo nome náo pode revelat e o ge
,r(lui discutir pois isso demandaria um estudo à paÍte sobre
neroso bom gosto de a comunicar ao Did, que â ins€riu em seu
tum tema já largamente tratado - mas nunca pacilicado - pela
número de 19 de setembro de r9to, onde fomos buscâr estes pre,
.ritica. O que importa aqui afirmar é que ambos o§ modos
ciosos versos': Ioel Serrâo estudou o caso e concluiu que o apócri
legítimos, ainda que produzam diferentes efeitos, que náo
siro
fo é de âutoria de loão Meira, professor universitário, especiâlista
chegam a comprometer a compreensão geral da obra cesári-
em Pârodiar Poetas.
ca. Ambos os modos são legítimos, enfim, desde que justifi-
r9r9 -
Um incêndio destrói parte da quinta de Linda-a-pâstora. A
cados com argumentos razoáveis. A Presente ediçáo optou
bibliotecâ do casârão é atiginda. Acredita-se que muitos origi_
pela divisáo O Livro de Cesorio Verde e poemas dispersos. A
nâis de Cesário, entre poemas, correspondênciâ ativa e passiva, e
intençâo foi manter o conjunto pelo qual Cesário se imPôs
ânotaçôes diversâs, lá se encontravam. Sai a t'
ediçào de O Livro aos leitores do século xx e agregar a este a Parte preterida
de Cesárío Verde, por losé Antonio Rodrigues & C!, com a nota (pelo poeta ou por Silva Pinto) da obra cesáfica. No entanto,
"Reimpressâo textuâl da primeira edição feita pelo amigo do poe
nas notas aos poemas registram-se, sempre que conhecidas,
ta Silva Pinto': Apesâr desta âdvertênciâ, a 4r edição é â que con as datas de fatura e de publicação alulsa de todas as compo-
tém mais gralhas. "O Sentimento dum Ocidental,l por exemplo, principâis variantes entre as versôes
siçóes, bem como as Pri-
surge renomeado como "O Sentimentalismo dum Ocidental':
mitivas, as da edição de 1887 e emendas Posteriores.
O texto-base de O Livro de Cesário Verde é o da primei-
ra edição (Lisboa, Tlpographia Elzeviriana, r887), preparada
por Silva Pinto. Não se sabe se a organização e as variantes
aos textos tal como eles se apresentam na ediçào de 1887 são
de autoria do poeta, do editor ou de ambos. Dai a polêmi-
ca em torno da ediçôes da poesia de Cesário. A fonte tex-

70 ? CRONOLOGIÂ

t
E

tual dos poemas dispersos é a edição da Obro CompLtr,L I


Cesário Verde (5u ed.., s.1., [Lisboa], Livros Horizonte, rgxrI

organizada por foel Serrão. Outras fontes e ediçôes conslll o LlvRo


tadas foram: "Num Bairro Modernol Brinde aos Senhot,.
Assignantes do Diario de Noticias em 1877, Lisboa, Typogr.r
fia Universal, fi78i O Livro de Cesario Verde,2u ed., Lisl)(,.r.
Manuel Gomes, r9or, na qual Silva Pinto corrigiu algurrr.rr
gralhas da edição de ú87; O Livro de Cesario Verde,3, cl..
l CESARIO VERDE
Lisboa, f. A. Rodrigues & Cr, rgrr; O Livro de Cesorío V
de, 4' ed., Lisboa, ). Rodrigues, & C., r9r9; O Livro de ()
sario Verde,5r ed., Edição definitiva, Lisboa, f. Rodrigues & rd73- r886
CA, 19z6; O Livro de Cesário Verde,7u ed,., Lisboa, Ática, rgqsr
O Livro de Cesário Verde, 9u ed., Cabral do Nascimento (re
vista por), Lisboâ, Minerva, 1952. Das edições modernaq lir
ram compulsadas O Livro de Cesário Verde. Lisboa-São Paukr,
Verbo 1983, edição de Maria Ema Tarracha Ferreira; O Llvro
de Cesário Verde, Lisboa, Assírio & Alvim, zoo4, ediçâo de
António Barúona; e Côntkos do Realísmo e Outros Poemas /
3z Cartas, Lisboa, Relógio DÁgua, zoo6, edição de Teresâ So,
bral Cunha. A onograÍa foi atualizada segundo as normas do
acordo ortográfico dos paises de língua portuguesa.
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I' 13
Pú do |tr.ürútointurÚi'l' '
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'n, ItrI{''I r1"'rr"' '/r' r'rrr"' '
,,lq,rt' rr,r","rrr'r'rrl'h'lx'rl /"rir"r

72 2 cRITÉRIos DE oRc^NIz^çÂo E EsrÀBELEcTMENTo


I
I O LIVRO O LIVRO
DE

CESARIO VE,RDE
(]ESARIO VERDE r873 - !876

B.inyestão t rtuat dd prin ira ediçôo l.ita


It{7:J I tilit; pdo ah*. Ao pôrtd
-stLt^ P18o

IBRCDIBA EDIÇIO
It, t tÍ,-,,:,.i-, t.,.tt . .l.tt,t,^.ir.t,.tit.i,, lr.t
Ittu nt ::tt tn Pi\t\1 _ sI\r l1 r;

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LISBOA
J. &ODúCúE§ & C.., EDITORES
LI ^. úó _ nu - ,33
SBO.T ^Uru
lr.\NtJt;t_ coi\tEs, Et)t.foR
I ; itu, .lr Sr,ts .lír:.,fs/.d.,r
c .:l/r.,;rr
r, _ Ru^ íiÁnlln.r ((LxrDo) _6r
it t)cc(:{t I

Folhq de rosto da * ediçào de O Li,tro de Cesário yerde,


publicada
em rgot. Trata-se da l:olha de rosto da edição de O LivÍo de Cesárioyetde' Publicado efi
priftleifiediçào cofiercial do livro, da
3o
qual forom
tgl. O colofào, no ektanto, ifiÍonna que o li'ro Íoi impresso efi outubro
Íeit os re tecen tos eÍe mplares.
de ryro. No fota um autógraío do poeta AlÍredo Pedro Cuísado, o quem

o volume ilete ter Perteficido.

I
I

O LIVRO
ffi ffi uililtf Iüiiitif f utnuf uiüüf f t

DE

CESARIO VERDE
r873- r876

Rênryrcs.ao krt al dd ptínàrc ed4ão í.ita


p.lo an ígo do po.td S,t-!^ Ptnro
-
qúrarr rorÇlo

flffi ffiff 1ilt[[[flmImnff f If i tii f f if[[


*' Parte I o'

O Lrvno on CesÁmo VBnoe -


1873-1886

LtsBo^
J. eoDilcúEr n c.1 EurotÊt
úó-Fue ooro
- ,68
r919

Folha de rcsto do 4e ediçõo de O Livro de Cesário Yerde, publicada


efi ryt9. Trata-se da ediçào que fiois gralha, aprcsento em relaçAo às
anleriores. O poema "O Sentinefito dufi Ocidental", por exenplo, traz
o título "O Senlifientolishlo dum Ocidental". Ufia cuÍiosidode: loão
GaspaÍ Sirnões, efi seu ensaio "Introduçôo o Cesário Verde", de ryj\ se

vole desta ediçõo, e, ao oludir oo referido poema, repete o erío-

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