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Casos de pacientes com HIV


indetectável após tratamento podem
dar pistas para cura
Ana Bottallo

6–8 minutes

No último ano, a notícia de um sexto caso de remissão do HIV


(vírus da imunodeficiência humana) no mundo trouxe esperança
para pacientes e médicos, mas também suscitou dúvidas sobre os
riscos envolvidos no procedimento.

Isto porque, assim como nos cinco casos anteriores, a remissão


do vírus causador da Aids ocorreu depois de um transplante de
medula óssea para tratamento de um câncer sanguíneo. Ao
receber a medula óssea de um doador, o paciente conseguiu
produzir novas células imunológicas livres do vírus, confirmado
mais de um ano após o anúncio da remissão.

Vale notar que remissão é quando não há mais o foco do vírus no


organismo, enquanto a cura é quando a remissão permanece por
cinco anos após a terapia.

Mas e o que acontece com portadores do vírus que não têm


câncer de sangue? Estamos ainda distantes de uma cura para o
HIV?

Segundo o virologista espanhol Asier Saez-Cirion, pesquisador do

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Instituto Pasteur, na França, é importante ressaltar que existem


diversos casos de pacientes com níveis considerados
indetectáveis do HIV, e os estudos sobre esses casos podem
ajudar a chegar mais próximo da tão esperada cura.

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"Os casos de remissão após transplante são espetaculares, mas


temos também remissão em pacientes que ficam meses sem o
tratamento antirretroviral e permanecem indetectáveis por anos.
Há centenas de casos assim, e estamos investigando quais são
suas características para compreender melhor a remissão do
vírus", disse ele, em entrevista à Folha no final de novembro a
partir de seu laboratório em Paris.

Uma das linhas de pesquisa em andamento no Pasteur é de


pessoas que vivem anos com o HIV indetectável sem
necessidade de tratamento. "Comparamos os três grupos de
remissão em um ensaio clínico: aqueles que receberam
transplante de medula óssea, indivíduos que naturalmente
controlam a infecção [por HIV] e finalmente pessoas que
conseguem manter o vírus indetectável anos após a interrupção
do tratamento. E ainda estamos tentando entender os
mecanismos por trás do controle natural da infecção", disse,
completando que o estudo ainda está em andamento.

Os pacientes que recebem transplante de medula têm, em geral,


uma vantagem porque não só eles eliminam todas as células
infectadas do organismo como também impedem a infecção de

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novas células, caso algumas cópias de vírus estejam dormentes


em células e não possam ter sido eliminadas.

Isso ocorreu em 5 dos 6 casos porque os doadores carregavam


uma mutação conhecida como delta 32 do gene CCR5, que
impede a entrada do HIV nas células. O gene CCR5 age como um
receptor do HIV na superfície celular, mas tal variante impede
essa ligação, por isso ela acaba com a infecção.

O sexto caso não continha essa mutação —nesse caso, é


provável que o transplante deu conta de eliminar todas as células
infectadas. Os cientistas agora esperam conseguir criar uma
terapia gênica para modificar o gene nas pessoas sem a
necessidade de transplante, o que poderia ampliar o acesso ao
tratamento.

"Sabemos agora que as pessoas podem viver normalmente


carregando essa mutação, é uma boa pista de pesquisa para
tentar um método eficaz de remissão natural", explica.

Além dos casos envolvendo terapia gênica e transplante de


medula, Saez-Cirion lembra que há outras formas de reduzir a
viremia do HIV no organismo, conseguindo alcançar um estado
em que o vírus não causa doença e não pode ser passado para
outros.

Um destes é por meio do tratamento precoce com o coquetel


antirretroviral. "Sabemos hoje também que quanto antes o
paciente começa o tratamento antiviral, em 5% a 6% das pessoas
elas se tornam controladas no restante da vida. O controle do HIV
significa exatamente isso, não desenvolver, não transmitir,
basicamente, não ter sinal do vírus. Então agora estamos
investigando o que estes indivíduos têm em comum, se há algo

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neles que pode indicar uma possível cura", disse.

A capacidade de instruir o sistema imune, em particular as células


conhecidas como NK (matadoras naturais), a identificar e atacar
precocemente o HIV pode estar por trás desse sucesso. "Em
parte destes indivíduos encontramos traços genéticos associados
à instrução das células matadoras, e agora estamos
desenvolvendo um ensaio clínico para comprovar essa
associação. Se isso for verdade, então será possível pensar em
terapias-alvo para ajudar o sistema imune de pessoas que não
controlam o vírus a combatê-lo de maneira mais eficaz", afirma.

Uma outra frente de estudo é o uso de células CAR-T, que são


células do sistema imune modificadas geneticamente fora do
corpo e depois reintroduzidas para atacar o invasor.

O pesquisador afirma que nos últimos 40 anos, porém, o


conhecimento e tratamento de HIV/Aids evoluíram muito,
principalmente aumentando a sobrevida dos pacientes. Terapias
gênicas, imunoterapia, transplante de medula óssea, drogas
antirretrovirais e até CAR-T são formas de combate ao vírus
durante ou após a infecção inicial. Existem também terapias que
ajudam a impedir a infecção, como a PrEP (profilaxia pré-
exposição).

Já as vacinas anti-HIV estão ainda distantes, lembra o virologista,


muito por causa da complexidade do vírus, uma vez que um
mesmo indivíduo pode carregar dezenas de variantes distintas do
invasor. Como as vacinas têm em sua formulação partes do vírus
ou o vírus inteiro inativado, as diferentes cópias do vírus no
organismo conseguiriam escapar da proteção. "Há alguns grupos
de pesquisa investigando vacinas de mRNA que induzem

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resposta protetora por anticorpos neutralizantes, mas eles são


muito raros, e mais complicados."

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