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Mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde

Psicogerontologia – 2022/2012

Relatório de avaliação (Neuro)Psicológica

Docentes: Rosa Marina Afonso e Luís Pires

Discentes:

Ana Beatriz Caldas Nepomuceno de Aragão, M12609

Thatyana Oliveira Costa Moreira da Rocha, M12572

Covilhã, 6 de Dezembro de 2022

1. Introdução
O presente trabalho encontra-se inserido na Unidade Curricular Psicogerontologia, do
Mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde, da Universidade da Beira Interior, lecionada
pelos docentes Rosa Marina Afonso e Luís Pires, com o intuito dos alunos do Mestrado em
Psicologia Clínica e Saúde terem um primeiro contacto prático com a aplicação dos testes
MoCa e GDS-15. Para concretizar este objetivo, foi realizada uma Avaliação
(Neuro)Psicológica no Sr. F. através de uma entrevista semi-estruturada e a administração
dos instrumentos Montreal Cognitive Assessment (MoCa) e a Escala de Depressão Geriátrica
15 itens (GDS-15).

Todo processo avaliativo ocorreu em ambiente doméstico de uma das alunas, no final
de tarde, em horário acordado com o entrevistado. Inicialmente, foi solicitado ao entrevistado
o consentimento informado1 escrito onde requeria sua autorização para a aplicação dos testes,
a gravação do vídeo sem exibição de sua imagem, bem como nosso comprometimento com a
proteção dos seus dados. Na sequência da explicação e assinatura do consentimento
informado, foi realizada uma entrevista semi-estruturada2 elaborada pelas alunas,
desenvolvida para recolha de dados relevantes da Avaliação Neuropsicológica, tais como:
dados sociodemográficos, estado de saúde e estado emocional/afetivo. A seguir, procedeu a
aplicação do primeiro teste de avaliação, o Montreal Cognitive Assessment (MoCa) 3 para
rastreio breve de disfunção cognitiva ligeira. Por fim, com a Escala de Depressão Geriátrica
15 itens (GDS-15)4 para avaliação de sintomatologia depressiva. Finalizada a aplicação dos
testes e entrevistas, foi efetuada uma análise dos resultados com possíveis recomendações e
formulações dos resultados.

2. Relatório de Avaliação (Neuro)Psicológica


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Anexo 1
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Anexo 2
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Anexo 3
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Anexo 4
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2.1 Motivo para a Avaliação (Neuro)Psicológica

Dada a proposta de atividade pela disciplina de Psicogerontologia, lecionada pelos


professores Rosa Marina Afonso e Luís Pires, as alunas Thatyana Rocha e Ana Aragão
entraram em contato com alguns adultos mais velhos que poderiam estar interessados na
colaboração com o projeto. O Sr. F. demonstrou interesse, e as alunas deram continuidade ao
processo de Avaliação Neuropsicológica.

2.2 História Relevante

Através das informações recolhidas pela entrevista semi-estruturada, o Sr. F. facultou-


nos algumas informações relevantes para a aplicação dos testes e posterior avaliação.

Na primeira parte, ao avaliar questões sociodemográficas, o Sr. F. referiu ter 67 anos,


viver sozinho, de forma completamente independente e divorciado. Onde apesar de estar
reformado, menciona todas as semanas realizar trabalhos manuais (tais como consertos
elétricos, etc.) para “manter-se ativo e útil”, refere. Com escolaridade de 4° ano, menciona de
início não saber ler, apesar de saber escrever o próprio nome.

No estado de saúde, o Sr. F. relatou ser diabético e ter problemas no fígado. Em


ambas as situações médicas faz utilização de medicação diária, mas não recordava-se da
nomenclatura das mesmas. Além das duas patologias, relata possuir capacidade auditiva
apenas em um dos ouvidos devido ao seu histórico de muitos anos a trabalhar em indústrias
de lanifícios. Por outro lado, no que tange a saúde mental, relata não ter nenhum histórico
relevante.

Com relação ao seu estado emocional/socioafetivo, menciona o seu filho várias vezes,
inclusive relatando ser “o maior presente que pôde ter em vida”, e a única coisa boa que sua
ex-mulher pode oferecer, apesar do filho estar, de momento, distante. Menciona ainda seus
amigos como parte importante de sua vida, como é uma pessoa ativa, mantém relação com
uma quantidade razoável de pessoas.

Ainda no que tange aspectos emocionais relevantes, refere ter vivenciado uma
situação muito difícil no seu divórcio, onde viu-se desamparado em termos emocionais e
financeiros, e recebeu muita ajuda de sua vizinha e irmãs. Apesar disso, o Sr. F. conclui que

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tem uma boa vida, inclusive responde que em 5 anos seu objetivo é “manter sua vida como
está, ativo e útil”.

3. Observação do Comportamento (durante a entrevista e a administração do MoCA e


GDS-15)

No que tange ao comportamento verbal e não-verbal durante a entrevista, o Sr. F.


demonstrou-se sempre disponível e interessado em responder e desenvolver todas as questões
postas. O seu aspecto físico era cuidado, e ele parecia bem orientado no espaço e tempo.
Apresentou emotividade em vários momentos da entrevista. Ao mencionar seus trabalhos de
conserto, sua rotina movimentada e ativa, fala com entusiasmo, sorrisos e simpatia. Por outro
lado, o aspecto do divórcio na sua história de vida demonstrou ser um assunto delicado,
através da sua instantânea alteração de expressão ao mencionar o mesmo. O Sr. F. ao tratar
do assunto do divórcio e as respectivas consequências do mesmo chora, e até o fim da
entrevista semiestruturada não contém suas emoções.

O Sr. F. se mostrou empenhado em compreender e realizar os testes da melhor forma


possível, muito bem-humorado e receptivo, porém demonstrou-se um pouco inseguro em
alguns momentos na realização do MoCa, perguntando se estava indo bem. Durante a fase da
Nomeação, o Sr. F. se mostrou frustrado por não conseguir lembrar o nome do segundo
animal (rinoceronte) e insistiu em lembrar por mais algum tempo, porém não obteve sucesso.
Relativamente a expressão corporal do Sr. F., o mesmo passou a maior parte do teste com as
mãos cruzadas e durante a fase da Atenção, especificamente na subtração em sequência de 7
se demonstrou inquieto mexendo na caneta que estava na mesa e um pouco desconfortável
em dizer que não sabia fazer contas. Ao tentar se lembrar do dia do mês em que estávamos
quando foi aplicado o teste, também se mostrou inquieto e mexendo na caneta por não
conseguir lembrar. Durante a aplicação do GDS-15, o Sr. F. ficou constantemente mexendo
suas mãos e dedos, demonstrando um certo grau de ansiedade, porém respondeu sem hesitar
todas as perguntas que lhe foram atribuídas.

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4. Resultados (MoCA e GDS-15 - resultados e interpretação)

4.1 Montreal Cognitive Assessment (MoCa)

Capacidade visuo-espacial/executiva

No primeiro domínio cognitivo onde encontra-se a capacidade


visuo-espacial/executiva, no teste de Alternância Conceptual (Trail Making alternado), o Sr.
F. teve um total de zero pontos, pois ele não desenhou corretamente a sequência. A ordem
que o sujeito fez o teste foi: 1-A-2-B-3-4-C-D-5-E.

Nas capacidades Visuoconstrutivas (Cubo), o senhor F; obteve 0 pontos, dado que o


desenho do mesmo ficou mais ou menos tridimensional, em perspectivas diferentes, linhas
relativamente paralelas, porém nem todas do mesmo tamanho,

Nas capacidades Visuocontrutivas (Relógio), no contorno o sujeito recebeu um ponto,


no número zero pontos e nos ponteiros zeros pontos. O Sr. F. iniciou com um contorno
relativamente bom, apesar de pequeno. Nos números, adicionou 12-13-14-15-16-17-18-19-
20-21-22, portanto, sem adicionar os números correspondentes ao relógio. A meio, o Sr. F.
não recordou do horário que tinha sido solicitado, e questionou. A entrevistadora pediu para
que ele marcasse o que lembrava. De seguida, o Sr. F. marcou um ponteiro menor ao 20,
outro maior para o 19. Dessa forma, marcou 1 ponto nesta secção, tendo em vista só pontuar
no critério do contorno.

Nomeação

No segundo domínio cognitivo, Nomeação, o Sr. F. recebeu dois pontos ao responder


corretamente leão e camelo. O senhor F. menciona saber o nome do animal do centro
(rinoceronte), mas que de momento esqueceu.

Memória

No primeiro ensaio da Memória, o sujeito lembrou 4 das 5 palavras, esquecendo


apenas da palavra igreja. Entretanto, no segundo ensaio, o senhor F. lembrou de todas as
palavras.

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Atenção

Na sequência numérica em sentido direto o Sr. F. concluiu com êxito a sequência


numérica, porém na sequência numérica em sentido inverso onde deveria dizer 2-4-7,
respondeu 2-4-7-2, ficando apenas com um ponto neste subteste.

No subteste de concentração, foi atribuído um ponto ao sujeito, dado que ele bateu na
mesa em todas as vezes que foi referida a letra A, e não bateu em todas as vezes que foram
ditas outras letras.

Na subtração em sequência de 7, não foi possível aplicar esse teste. O Sr. F. alegou
não saber fazer contas, o que o impossibilitou de executar este subteste, consequentemente
sendo atribuído zero pontos.

Linguagem

Na repetição de frases, o Sr. F. pontuou zero pontos ao responder, para primeira frase:
“hoje acho que podemos ajudar o João”, e na segunda “o gato esconde-se a cada vez que o
gato entra na sala”.

Na fluência verbal, o Sr. F também pontua 0 pontos ao nomear “piano, poço, parreira,
pasto, poço, passeio, passear”, 7 palavras, incluindo nelas uma repetição (poço) e palavras de
mesma categoria (passeio e passear). Nos primeiros 15 segundos, o Sr. F. menciona 3: piano,
poço e parreira. Dos 15 aos 30, 2: pasto e poço. Dos 45 aos 60, 2: passeio e passear.

Abstracção

No subteste para avaliar a abstracção, o Sr. F. pontuou 0 pontos. Primeiro, ao


responder que a semelhança entre comboio e bicicleta, o comboio entra mais passageiro e é
mais rápido, pontuou 0. Depois, em relógio e régua, respondeu que relógio é para marcar as
horas e régua, para medir, pontuou 0. Em ambas as situações, pontuou diferenças, não
semelhanças.

Evocação diferida

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No subteste para evocação diferida, o Sr. F. recebeu 2 pontos ao mencionar, sem
pistas, as palavras linho e igreja. Todavia, através de pistas de categoria e escolha múltipla,
menciona corretamente boca e cravo. Para cor, apenas com escolha múltipla.

Orientação

No sentido de orientação, o Sr. F. recebeu 4 pontos. A resposta com pontuação


máxima seria dia 26 de novembro de 2022, sábado, na casa da entrevistadora, Covilhã. O
entrevistado não sabia o dia, mas mencionou novembro, do ano de 1922, sábado, casa da
entrevistadora, Covilhã. É de enfatizar que o erro ao mencionar o ano ocorreu tanto neste
momento, quanto de início ao assinar o consentimento informado, a marcar 1922 também.

Pontuação total

A sua pontuação total, resultado da soma de todos os substestes anteriores, ficou


12/30 já contendo o ponto de bonificação devido ao grau de escolaridade do sujeito. A média
e desvio-padrão esperados do Sr. F. é de (M= 21.78; DP= 2.86), portanto como a pontuação
do mesmo foi inferior a 2 desvios-padrão da pontuação média, pode-se concluir que o Sr. F.
tem uma alteração severa devido aos resultados do teste (Freitas et al., 2011).

4.2 Escala de Depressão Geriátrica 15 itens (GDS-15)

No inventário depressivo, o Sr. F. obteve um resultado de 7 em 30, indicando sintomatologia


depressiva ligeira ao afirmar que SIM nos itens 2, 4, 6, 8, 10 e 15; e NÃO para o item 7.

5. Formulação do Caso e Recomendações

Funcionamento Cognitivo Global

O seu desempenho, em termos de funcionamento cognitivo, situa-se no resultado de 12 em 30


pontos indicando que sua pontuação está abaixo de 2 desvios-padrão, tendo
consequentemente uma alteração severa no seu funcionamento. Em termos de desempenho
por subdomínios, em que pese a escala não facultar normas para subdomínios, denota-se
maior dificuldade e deterioração nos domínios de linguagem, abstracção, capacidade visuo-
espacial e executiva, contudo, recomendamos que seja feito futuramente exames específicos e
testes mais centrados nestes domínios onde o sujeito não obteve sucesso, para que possa ter

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tal tratamento adequado. Entretanto os domínios nomeação, memória, atenção e orientação
relativamente preservados.

Capacidades executivas

Ao avaliar as capacidades executivas, o desempenho do Sr. F. no desenho do relógio


foi particularmente algo que nos chamou atenção ao observar a marcação de números
incorreta e a continuação contínua sem a percepção do seu erro. Ainda antes, na primeira
atividade em ligar a números e letras, o Sr. F. consegue inibir o estímulo da letra para iniciar
o dos números, mas a meio faz a ligação apenas de número. Não ficando exatamente claro
para nós se o problema seria atencional ou mnésico, em ambos os casos. Por outro lado, foi
evidente o bom desempenho do Sr. F. nas atividades de controlo atencional para os estímulos
das letras ao bater na mesa e da repetição dos números em sentido direto e inverso. Para
discriminar e compreender melhor a situação, faríamos avaliações específicas da memória e
atenção.

Linguagem

Em que pese o Sr. F. ter uma baixa pontuação na linguagem, em toda a avaliação na
entrevista semi-estruturada ele manteve um discurso coeso e coerente.

Orientação

Ainda que com baixa pontuação na orientação, o Sr. F. parecia completamente


consciente da atividade que estava a desempenhar no tempo e no espaço. O equívoco ao
informar o ano pareceu-nos confusão com o início do ano do seu nascimento.

Funcionamento emocional

Ao analisar a entrevista semi-estruturada com o comportamento emocional do Sr. F. e


o resultado apresentado na GDS, parece relevante avaliar mais a fundo através de
instrumentos mais específicos para avaliação do seu estado emocional e ponderar possíveis
intervenções neste nível, percebendo em que nível esses resultados efetivamente denotam
alguma interferência em alguma área da vida. Apesar da demonstração de satisfação geral
com a sua vida, parece existir pontos de atenção neste aspecto indicados pelo seu
comportamento na entrevista adicionado ao resultado da GDS.

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6. Reflexão crítica sobre o trabalho realizado

Concluímos que esta atividade foi de enorme contributo para nossa formação
enquanto futuras psicólogas. Desde o primeiro contato com os instrumentos psicológicos,
como na mediação desses instrumentos com pessoas comuns pôde nos provocar um
sentimento de pertença e encontro com nossa profissão; até o contato com relatórios de
avaliação neuropsicológica e o confronto com a necessidade de saber comunicar o que
vemos, percebemos e avaliamos. Acreditamos que estas atividades são elementais para
formação e só gostaríamos de agradecer aos docentes responsáveis por tornar possível um
encontro mais próximo da realidade da prática psicológica conosco.

7. Identificação dos alunos que realizaram a avaliação.

Ana Beatriz Caldas Nepomuceno de Aragão realizou a aplicação dos referidos testes, quanto
a aluna Thatyana Oliveira Costa Moreira da Rocha observou o comportamento do sujeito e
fez a filmagem da aplicação dos testes, e juntas redigimos o relatório.

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Referências Bibliográficas

Freitas, S., Simões, M.R., Alves, L., & Santana, I. (2011). Montreal Cognitive Assessment
(MoCA): Normative study for the Portuguese population. Submitted

Gonçalves, M. & Castro-Caldas, A. (2003). Guião de anamnese neuropsicológica.


Psychologica, 34, 257-266.

Matos, AP, Firmino, H., Duarte, J., Oliveira, S., Rodrigues, P., Vilar, M. & Costa, JJ
(2019). A Escala de Depressão Geriátrica (GDS-15): Estudo com idosos saudáveis e com
idosos com perturbações emocionais. Diagnóstico e Avaliação Psicológica: Atas do 10º
Congresso da AIDAP/AIDEP , pp 210-232. Coimbra: Associação Ibero-Americana de
Diagnóstico e Avaliação Psicológica.

Simões, M. R., Freitas, S., Santana, I., Firmino, H., Martins, C., Nasreddine, Z., & Vilar, M.
(2008). Montreal Cognitive Assessment (MoCA): Manual de administração e cotação (versão
portuguesa). Serviço de Avaliação Psicológica da Faculdade de Psicologia e de Ciências da
Educação da Universidade de Coimbra, Coimbra.

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Anexo 1

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Anexo 2

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15
Anexo 3

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Anexo 4

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