Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
FORTALEZA
FORTALEZA
2023
ANA LUIZA DE SOUSA MOREIRA
FORTALEZA
2023
Formulário de solicitação de Ficha Catalográfica
Autor:
ANA LUIZA DE SOUSA MOREIRA
Titulo:
Data: Nº de folhas:
2023 42
Curso:
DIREITO
Orientador:
Palavras-chaves:
POSSE. PROPRIEDADE. DIVÓRCIO. INVENTÁRIO. PARTILHA. IMÓVEIS
IRREGULARIDADES.
E-mail: ANAMOREIRASOUSA9715@GMAIL.COM
Telefone:
(88) 9 9796-4009
Moreira, Ana Luiza de Sousa.
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________
_____________________________________________
FORTALEZA
2023
AGRADECIMENTOS
A Deus por ter me sustentado diariamente ao longo desta jornada, a Nossa Senhora do Carmo
e Santa Catarina de Sena por serem minhas intercessoras junto à Deus. Aos meus queridos avós,
Raimundo Alves de Sousa e Idelzuite Ditosa de Sousa (in memoriam), que me ensinaram ser
forte mesmo diante de todas as adversidades da vida. Às pessoas mais importantes da minha
vida que sempre estiveram comigo, apoiando-me e dando afeto, meu irmão, André Luiz de
Sousa Moreira, minha mãe, Railda Ditosa de Sousa Moreira, e meu pai, José Airton Moreira
Dorta. Às minhas tias, pelo apoio e atenção. A minha amiga por todo o incentivo e confiança,
Nayane Lima Oliveira Padre. A todos os professores que contribuíram na minha jornada
acadêmica, em especial ao professor Saulo Feitosa de Moura Porto, pela paciência, inspiração
e ensinamentos compartilhados.
RESUMO
The present work addressed the difference between possession and property, the forms of
acquisition of domain, divorce, irregular real estate and the legal position of the Superior Court
of Justice and first degree judges regarding the sharing of possessory rights of irregular real
estate. . The study pointed out that even after the decision of the third group of the Superior
Court of Justice that authorized the sharing of possessory rights over irregular properties
regardless of the regularization of the property, as long as the possessor's bad faith is absent,
however the majority of first degree magistrates have sentences contrary to the aforementioned
understanding were handed down, this was confirmed by the large number of monocratic
decisions that deal with the subject and that are reformed within the courts. However, it is
expected that the position applied by the first degree judges will soon be in line with the
understanding of the STJ, aiming for effectiveness and judicial speed.
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 7
2. DIFERENÇA ENTRE POSSE E PROPRIEDADE ......................................................... 8
2.1 Posse ..................................................................................................................................... 8
2.2 Propriedade ......................................................................................................................... 10
3. FORMAS DE AQUISIÇÃO DE PROPRIEDADE IMÓVEL ....................................... 12
3.1 Da aquisição da propriedade mediante registro do título translativo ................................. 13
3.2 Aquisição por via da sucessão hereditária .......................................................................... 14
4. INSTITUTO DO DIVÓRCIO ........................................................................................... 16
5. BENS IMÓVEIS IRREGULARES................................................................................... 18
6. PARTILHA DE BENS IMÓVEIS IRREGULARES A LUZ DO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA ................................................................................................ 20
7. PARTILHA DE BENS IMÓVEIS IRREGULARES À LUZ DAS DECISÕES DE
PRIMEIRA INSTÂNCIA ................................................................................................. 26
8.CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 31
7
1. INTRODUÇÃO
Cabe destacar, que existe uma dualidade de entendimento jurídico no que se refere a
partilha de imóveis irregulares em processos de inventário e divórcio. Embora o Superior
Tribunal de Justiça tenha reconhecido a possibilidade de partilha de direito possessório sobre
imóveis irregulares, esse tema ainda encontra bastante resistência por parte dos magistrados de
primeira instância que entendem ser indispensável a regularização dos bens imóveis que
compõem o acervo do espólio ou o patrimônio do casal que rompeu o vínculo conjugal e está
em processo de partilha, sob o fundamento da prévia necessidade de regularização desses bens.
8
2.1 POSSE
Posse corresponde ao exercício de fato, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à
propriedade, quais sejam: usar (servir-se da coisa), gozar (depreender os frutos e produtos),
dispor (transferir, alienar) e reaver (reivindicar a coisa das mãos de quem injustamente detenha
ou possua), conforme dispõe o Código Civil Brasileiro de 2002:
Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício,
pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.
Segundo Caio Mário da Silva Pereira posse refere-se: “a situação fática, em que a pessoa
independentemente de ser ou não proprietária, exerce sobre uma coisa poderes ostensivos,
conservando-a e defendendo-a”. No entendimento do referido doutrinador, o direito brasileiro
protege o estado de aparência, situação de fato, que pode ou não corresponder ao efetivo estado
de direito.
Cabe destacar, ainda que existe duas correntes que buscam justificar o instituto da posse
como categoria jurídica. Consoante Flávio Tartuce a primeira teoria é a Subjetiva, cujo principal
defensor foi Savigny, esta afirma a relevância do aspecto subjetivo da posse, ou seja, para essa
corrente a posse possui dois elementos: elemento objetivo que se refere a disponibilidade sobre
a coisa e o elemento subjetivo, que diz respeito a intenção do indivíduo de ter a coisa para si
(Animus). Caso o ordenamento jurídico brasileiro tivesse adotado essa teoria, não seriam
considerados possuidores o locatário, comodatário, depositário entre outros, haja vista à
ausência do elemento animus nas supracitadas relações jurídicas.
A segunda teoria explorada pelo Tartuce é a Objetiva desenvolvida pelo jurista Ihering
(teoria adotada pelo Código Civil Brasileiro), nesta para constituir posse, basta que o sujeito
disponha fisicamente da coisa ou seja, o elemento corpus é formado pela atitude externa do
possuidor em relação à coisa. O possuidor na ótica desta teoria passa a agir como dono fosse
inclusive explorando economicamente a coisa. Desde modo, conclui-se que posse é quem
9
exerce sobre a coisa algum, ou alguns, dos poderes inerentes à propriedade (usar, gozar, dispor,
reaver).
Além disso, outra questão relevante que diz respeito ao presente instituto é a sua
expressão econômica, pois mesmo não sendo constituído de todos os elementos inerentes a
propriedade, a posse é dotada de valor e função social, assim, merecendo ser protegida pelo
direito, como de fato o legislador assim estabeleceu.
10
2.2 PROPRIEDADE
O instituto da propriedade é considerado pela doutrina majoritária como um direito real por
excelência. Segundo (Gagliano e Filho, 2023, p.775) o direito de propriedade consiste “no
direito real de usar, gozar ou fruir, dispor e reivindicar a coisa, nos limites da sua função social”,
conforme dispõe a Constituição Federal de 1988, bem como o Código Civil Brasileiro:
Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
Ao contrário da posse, que é uma relação fática, o instituto da propriedade tem caráter
complexo (formado por um conjunto de poderes), absoluto (a sua oponibilidade é erga omnes),
perpétuo (pode ser transmitido por gerações), exclusivo (prevalece o poder dominial de alguém
exclui o de outrem) e elástico (pode ser distendida ou contraída na formação de outros direitos
reais sem perder sua essência). Ademais, o código civil brasileiro não ofereceu uma definição
de propriedade, todavia, o art. 1.228 já acima transcrito, elenca os poderes inerentes à
propriedade consistente na faculdade do proprietário (usar, gozar, dispor da coisa, e o direito
de reavê-la do poder de quem injustamente a possua ou detenha), quando o proprietário reúne
todas essas faculdades, diz-se que ele tem propriedade plena. De maneira oposta, caso lhe falte
um ou mais elementos, será limitada.
assim, ao locador assiste a faculdade de reaver e dispor a coisa, nos limites estabelecidos em
lei, ou seja, ele não perde o status de proprietário.
Por fim, a propriedade é considerada um direito fundamental, desse modo entende-se que
qualquer pessoa (natural ou jurídica) tem o direito de possuir coisas. Todavia, tal direito
fundamental não é absoluto e, significa dizer que precisa atender sua função social,
socioambiental ou seja, a coisa deve ser utilizada em prol dos interesses da coletividade e não
apenas dos proprietários.
12
Nas formas de aquisição originária, não há transmissão da coisa de um sujeito para outro,
ou seja, o direito de propriedade nasce de um vínculo entre a pessoa com a coisa, sem a
intermediação de terceiros, não há a presença de um proprietário anterior que é o caso das
acessões e da usucapião. Já na aquisição derivada (sucessão hereditária e registro do título na
matrícula do imóvel) existe uma relação negocial prévia entre o anterior proprietário e o
adquirente, neste caso, portanto, existe um vínculo anterior entre as partes.
13
A Sucessão Hereditária conforme exposto anteriormente, constitui uma das formas de aquisição
derivada da propriedade. Neste caso se dá com o fim da personalidade jurídica pela morte (real,
presumida, simultânea ou civil) da pessoa natural, dar-se de forma imediata a abertura da
sucessão, nesta acontece a transferência da herança aos herdeiros legítimos (artigo 1829 do
Código Civil Brasileiro) e testamentários (artigo 1857 do Código Civil Brasileiro),
objetivando impedir que o patrimônio deixado fique sem titular, enquanto se aguarda a
transferência definitiva dos bens aos sucessores do de cujos, isto trata-se de um dos princípios
fundamentais do direito sucessório, qual seja o Princípio da Saisine (artigo 1784 do Código
Civil Brasileiro).
IV - aos colaterais.
Art. 1.857, Lei nº 10.406/02. Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da
totalidade dos seus bens, ou de parte deles, para depois de sua morte.
Apesar dos bens serem transferidos aos herdeiros no momento da abertura da sucessão,
estes não abrangem os bens classificados como imóveis, que permanecem em nome do de cujus
na Matrícula do Imóvel, até que seja expedido o formal de partilha que será registrado no
Cartório de Registro de Imóveis da circunscrição que o bem estiver situado, após a fase de
inventário, conforme preceitua a Lei de Registros Públicos.
15
Vale ressaltar, que a herança se configura como uma espécie de condomínio, ou seja,
um estado de comunhão indivisível de bens, que somente cessará com a realização da partilha,
demonstrando a crucialidade da instauração do procedimento de inventário, rito que colocará
fim a indissociabilidade dos bens deixado pelo de cujus.
16
4. INSTITUTO DO DIVÓRCIO
Como já definido por Inácio de Carvalho Neto, o divórcio consolida o fim do laço
matrimonial (casamento com validade jurídica), bem como produz o término da sociedade
conjugal (conjunto de direitos e obrigações entre os cônjuges).
Art. 79, Lei nº 10.406/02. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar
natural ou artificialmente.
Art. 93, Lei nº 10.406/02. São pertenças os bens que, não constituindo partes
integrantes, se destinam, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao
aformoseamento de outro.
6- Na hipótese, dado que a exclusão da partilha dos direitos sobre as terras se deu
apenas ao fundamento de que seria impossível a partilha de áreas não escrituradas,
impõe-se que, afastado esse óbice, seja determinado o regular prosseguimento da
ação de inventário a fim de que seja apurada a existência dos direitos possessórios
e a qualidade da posse alegadamente exercida, dentre outras questões relevantes
para o reconhecimento do eventual direito a ser partilhado.
A ministra Nancy Andrighi, relatora do caso ora exposto entende que apesar da
lavratura da escritura e o registro serem atos de natureza obrigatória, conforme dispõe a Lei de
Registros Públicos, o rol de bens que uma pessoa junta em vida não é composta só de
propriedades formalmente constituídas. Isto é, mesmo aqueles bens imóveis que não são
constituídos de todos os elementos que formam a propriedade, estes devem serem objetos
tutelados pelo direito, haja vista que a posse é um estado de fato que corresponde ao exercício
de propriedade.
Além disso, a referida Ministra esclarece que “A falta de regularização pode decorrer
de má-fé, com objetivo de sonegar tributos ou ocultar bens, mas também há outros motivos.
Um deles, segundo a ministra, é a dificuldade que o Poder Público tem de formalizar
propriedades em determinadas áreas rurais ou urbanas”. Vale salientar, que dentre as
dificuldades para o governo regularizar propriedades inclui o cumprimento de exigências
impostas pela legislação imobiliária, bem como a necessidade de aplicar dinheiro público na
formalização de propriedades irregulares.
22
Assinala ainda Nancy Andrighi que, "Diante desse cenário, a melhor solução para a questão
controvertida está em admitir a possibilidade de partilha de direitos possessórios, quando
ausente a má-fé dos possuidores, resolvendo, em caráter particular e imediatamente, a questão
que diz respeito somente à sucessão, relegando a um segundo e oportuno momento as eventuais
discussões acerca da regularidade e da formalização da propriedade sobre o bem imóvel".
Cabe destacar, que a posse é classificada de diversas maneiras, quando a ministra afirma
a possibilidade de partilhar direitos possessórios quando ausente a má-fé, ela está utilizando a
classificação quanto à legitimidade da posse. Esta pode ser de boa-fé quando o possuidor
desconhece a existência de vício que macula a posse, conforme prevê o artigo 1.201 do código
civil brasileiro:
Art. 1.200, Lei nº 10.406/02. É justa a posse que não for violenta, clandestina
ou precária.
[...]
[...]
g) direitos e ações;
Desta forma, depreendemos do Código de Processo Civil Brasileiro que direitos e ações
devem serem considerados no momento do levantamento dos bens que irá compreender o
espólio, bem como devem serem levados em consideração no momento da realização da
partilha entre os herdeiros.
Vale consignar, ainda, que o Superior Tribunal de Justiça em ação de divórcio adotou
o mesmo posicionamento jurídico utilizado na ação de inventário de imóveis irregulares, ou
seja, o STJ estendeu o seu posicionamento de que é possível partilhar direitos possessórios de
bens irregulares também para as ações de divórcio. E que não é razoável exigir a regularização
de um imóvel perante o Cartório de Registro de Imóveis para que um casal possa exercer o seu
direito de partilha em decorrência do divórcio.
24
No entendimento do juiz de primeiro grau, embora o bem objeto da demanda faça parte
do patrimônio comum do casal, este encontra-se em situação irregular junto ao Cartório de
Registro de Imóveis. Ademais, o referido juiz sustentou ainda que o conteúdo econômico do
bem estaria à margem do mundo jurídico, impossibilitando a transferência do imóvel.
Além disso, a ministra pontua em seu voto que “não apenas as propriedades
formalmente constituídas compõem o rol de bens adquiridos pelos cônjuges na constância do
vínculo conjugal. Ao revés, também é preciso observar que existem bens e direitos com
indiscutível expressão econômica que, por vícios de diferentes naturezas, não se encontram
legalmente regularizados ou formalmente constituídos sob a titularidade do casal divorciando”.
De fato, muitas vezes a falta de regularização decorre de fatores externos a vontade das partes
como por exemplo o alto custo financeiro, ou as vezes em decorrência de desídia de um dos
interessados, mas isso não retira da posse a expressão social e econômica que a reveste.
A ministra Nancy relatora do caso no ano de dois mil e dezoito afirmou o seguinte: “é
indiscutível que a averbação das alterações realizadas em bens imóveis é um ato de natureza
obrigatória, na forma dos artigos 167, II, “4”, e 169, ambos da Lei de Registros Públicos”. A
mesma, valeu-se em sua fundamentação da legislação infraconstitucional, que dispõe que no
Registro de Imóveis da circunscrição do bem, além da matrícula que é uma ficha numerada que
descreve o imóvel e se indica o titular do bem, serão feitos registros e averbações sempre que
a situação fática do bem se modificar, exigência esta tanto da Lei de Registros Públicos como
dos provimentos estaduais.
A relatora destaca ainda que “a imposição judicial para que sejam regularizados os bens
imóveis que pertenciam ao falecido para que, apenas a partir deste ato, seja dado adequado
desfecho à ação de inventário é uma “condicionante razoável”, especialmente por razões de
ordem prática”. Na visão da ministra, à época a regularização do bem imóvel tornava-se uma
condicionante de ordem prática, tendo em vista que a ausência de regularização inviabilizaria,
a avaliação, precificação, divisão ou, até mesmo, a eventual alienação do bem imóvel.
Desta forma, a relatora em seu voto afirmou que o art. 993, IV, alínea “a” do CPC/73
(código vigente à época), que versava sobre o modo e o procedimento de realização das
primeiras declarações relacionadas aos imóveis, deveria ser lido em consonância com os artigos
167 e 169 da Lei Registros Públicos, considerando-se a imprescindibilidade da regularização
dos bens imóveis durante a ação de inventário para que não exista nenhuma dúvida acerca do
conteúdo do monte mor, bem como da cota da herança destinado a cada herdeiro.
A ministra Nancy Andrighi, concluiu seu voto afirmando que nada impede a fixação
como condição de procedibilidade da ação de inventário a regularização dos bens imóveis a ser
28
partilhado entre os herdeiros, como consequência lógica da obrigatoriedade contida nos artigos
167, II e 169, da Lei de Registros Públicos.
De acordo com tais dispositivos e com o princípio da obrigatoriedade que rege o direito
imobiliário é de suma importância fazer constar à margem da matrícula as averbações das
alterações realizadas no imóvel tais como: edificações, demolições, retificações de área,
mudança de logradouro entre outras com intuito de dar autenticidade, segurança, eficácia e
acima de tudo publicidade a essas alterações fáticas.
Portanto, depreende-se deste entendimento firmado pela terceira turma do STJ no ano
de dois mil e dezoito que era legítimo condicionar a ação de prosseguimento de inventário à
prévia regularização. Isto é, para que haja a transferência de titularidade do bem a descrição
constante na matrícula do imóvel deveria estar em consonância com a realidade fática, em
atendimento aos princípios da especialidade objetiva (todo indivíduo deve ser capaz de
identificar e diferenciar o imóvel dos demais) e da continuidade (todos os atos descritos na
matrícula relacionados ao imóvel e aos proprietários devem respeitar uma sequência lógica dos
fatos).
Apesar, do referido entendimento ter sido reformado pelo Superior Tribunal de Justiça
no ano de 2022 a maioria dos juízos de primeiro grau ainda continuam valendo-se dos
argumentos supracitados. Cabe destacar, que no estado do Ceará a possibilidade de partilhar
direitos possessórios ainda não se efetivou, este tema ainda é pouco conhecido pelos advogados
que atuam no ramo do direito da família e sucessões à afirmação se dá pela ausência de
processos que verse sobre essa temática no site do Tribunal de Justiça deste estado.
Por outro lado, ao realizar consulta do site do Tribunal de Minas Gerais constatou-se a
existência de inúmeros processos que tratam sobre a possibilidade de partilhar direitos
possessórios, e na maioria dos casos aquele tribunal tem reformado as decisões monocráticas
que continuam inadmitindo a possibilidade da partilha de direitos possessórios sobre imóveis
irregulares. Podemos citar como exemplo o
Agravo de Instrumento nº 1.0000.23.123257-0/001 da comarca de Ribeirão das Neves da 8ª
Câmara Cível Especializada do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais:
O caso acima, refere-se a recurso interposto por M.A.F, visando reformar decisão
monocrática que indeferiu nos autos da ação de inventário o pedido de expedição de alvará para
regularização de escritura pública de imóvel deixado pelo de cujus B.P.F. A agravante sustentou
que o falecido, adquiriu um imóvel situado na Rua Cinquenta e Três, nº 360, bairro Florença,
em Ribeirão das Neves, por meio de contrato de compra e venda. Porém, o de cujus não
procedeu com o registro junto ao Cartório de Registro de Imóveis competente, ou seja, na
matrícula do imóvel ainda consta os antigos proprietários, estes falecidos.
A requerente afirmou que o fato supracitado, “não elide o direito real aqui exposto, eis
que, ao contrário do afirmado pelo Juízo de 1° grau, é possível a inclusão dos direitos
decorrentes de tal negócio jurídico no plano de partilha apresentado no inventário". Além disso,
a M.A.F utilizou o argumento “que o STJ permite a inclusão dos direitos oriundos do contrato
de promessa de compra e venda de lote em inventário, ainda que sem registro imobiliário,
estipulando o artigo 1.206 do CC que a posse se transmite aos herdeiros com os mesmos
caracteres, bem como que é inviável a regularização e a transferência do bem impostas pelo
juízo”.
30
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por fim, a vida do ser humano acontece como que numa peça teatral onde a alegria dá
espaço à tristeza, quando se chega ao fim da apresentação. Da mesma forma acontece quando
o indivíduo adquire um bem imóvel seja com a finalidade de realiza-se pessoalmente ou visando
ofertar a sua família uma maior qualidade de vida, porém ao chegar ao fim da vida ou do vínculo
conjugal, este bem que despertou alegria, entusiasmo acaba sendo fonte de grande desgaste
entre os herdeiros ou o ex-casal. Isso acontece, devido a disseminação em nosso país da cultura
da não regularização imobiliária, mas deve-se destacar que esse fenômeno ocorre muitas das
vezes não pela falta de vontade das partes envolvidas em regularizar. Mas, em virtude do alto
custo que incide sobre a transferência da titularidade ou até mesmo pela dificuldade do poder
público de regularizar essas propriedades.
Neste trabalho, visou-se mostrar a autonomia existente entre a posse e propriedade, que,
apesar de serem institutos do direito civil que tratam em sua essência de bens imóveis cada um
carrega suas peculiaridades. A posse, é uma situação de fato que não necessita da comprovação
mediante um título, o possuidor simplesmente comprova pelo animus dominis, ou seja, pela
vontade ter a coisa para si e agir como proprietário fosse. Tendo em vista isso, e a fim de garantir
a paz e a ordem social, o legislador preferiu proteger o instituto da posse por presunção de que
além de ser uma situação fática também é uma situação jurídica.
Apesar do indivíduo que adquiriu o imóvel irregular ser considerado como possuidor,
pelo simples fato de não figurar como titular do bem no registro de imóveis, seja em decorrência
da hipossuficiência financeira que limita o indivíduo a regularizar o imóvel ou, por outro
motivo, isso não gera a extinção econômica e social presente no bem, especialmente para fins
de partilha. Portanto, a fim de garantir à sucessão de direitos possessórios sobre imóveis
irregulares, o Tribunal Superior de Justiça decidiu em votação unânime pela admissibilidade da
partilha de direitos possessórios sobre bens imóveis irregulares, a referida decisão foi prolatada
em face de recurso interposto contra acordão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais.
32
A decisão foi no sentido de permitir a ação de inventário que evolva partilha de direitos
possessórios sobre imóveis irregulares, desde que a parte comprove a posse e que a
irregularidade que atinge o bem não seja resultado de má-fé, sonegação de tributos ou ocultação
bens.
Ademais, a jurisprudência firmada pelo STJ, ainda não ganhou notoriedade em alguns
tribunais como por exemplo no estado do Ceará, talvez por falta de conhecimento dos
advogados que atuam na área do direito de família e sucessão. Haja vista, que muitos
profissionais quando estão diante de um processo de inventário ou divórcio que envolve bens
imóveis irregulares, optam pela sobrepartilha em momento posterior a regularização do bem.
O fato é que, não se encontra nenhum julgado no site do Tribunal de Justiça do Ceará que trate
sobre o assunto da partilha de direitos possessórios sobre imóveis irregulares, talvez por ser
ainda uma novidade jurídica ou, até mesmo por receio dos advogados em terem suas demandas
indeferidas pelos magistrados de primeira instância.
Por outro prisma, no site do Tribunal de Justiça do estado de Minas Gerais, existe um
acervo de decisões a maioria delas após o ano de 2022 que segue o mesmo entendimento
firmado pelo STJ, porém todas essas decisões constantes no referido site são frutos da reforma
das sentenças de primeiro grau. Isto é, apesar da recente decisão proferida pela terceira turma
do STJ, admitindo a partilha de direitos possessórios sobre imóveis irregulares os juízes de
primeira instância daquele estado, têm mantido o posicionamento da prévia regularização do
imóvel para só depois dá seguimento a ação de inventário ou divórcio.
como na esfera social. Mas, para que haja a efetivação deste posicionamento, faz-se necessário
a intervenção de bons advogados com intuito de encurtar o processo de inventário e divórcio
fazendo com que a morosidade e o desgaste ocasionado por esses processos sejam minimizados
ou até mesmo erradicados.
34
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
• BRASIL. Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário oficial
da União. Brasília, DF, 10 jan. 2002. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em 25 de agosto de
2023;
• PELOI, Fernando Diego. O divórcio e a partilha posterior dos bens imóveis. Site
Jusbrasil. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/o-divorcio-e-a-partilha-
posterior-dos-bens-imoveis/363052664. Acesso em: 08 de agosto de 2023;
partilha-de-bem-imovel-situado-em-loteamento-irregular-autonomia-entre-o-d/.
Acesso em 30 de agosto de 2023;
• GOULART. George Lucas. Bens Móveis e Bens Imóveis. Site Jusbrasil. Disponível
em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/bens-moveis-e-bens-
imoveis/1122628184#:~:text=Bens%20im%C3%B3veis%20por%20natureza%20s%C
3%A3o,considerados%20bens%20m%C3%B3veis%20por%20antecipa%C3%A7%C
3%A3o). Acesso em 23 de agosto de 2023;
• SALLES, V.A.P. Direito registral imobiliário. 3° Edição. São Paulo: Saraiva, 2012;
• GAGLIANO, Paplo Stolze. Novo Curso de Direito Civil – Direito de Família. 12°
Edição. São Paulo: Saraiva, 2022;
• DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro – Direito de Família. 36°
Edição. São Paulo: Saraiva, 2022;
• GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro – Direito das Sucessões. 16°
Edição. São Paulo: Saraiva, 2022;
• TARTUCE, Flávio. Manuel de Direito Civil – Direito das Sucessões. 12° Edição. Rio
de Janeiro: Forense, 2022;
• GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro – Parte Geral. 21° Edição. São
Paulo: Saraiva, 2023;
• CARVALHO, Inacio Neto de. Novo divórcio brasileiro – Teoria e prática. 15° Edição.
Curitiba: Bonijuris, 2022;
39
• SILVA, Caio Mário da Silva Pereira. Instituições de direito civil– Direito das Sucessões
28° Edição. Rio de Janeiro: Forense, 2023.