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Relatório MPTT - Time-Limited Psychotherapy (James Mann)
Relatório MPTT - Time-Limited Psychotherapy (James Mann)
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1. Contexto histórico
James Mann trabalhou pela primeira vez com psicoterapia breve em 1950,
inicialmente feita em grupo por Semrad. Esta surge no Boston State Hospital onde existiam
poucos recursos para tantos pacientes. Durante os anos 40 emerge a noção de que mesmo uma
1966).
Medicine em 1962. Implementando uma estratégia nova: Psicoterapia com limite de tempo
2. Bases conceptuais
dinheiro e mesmo a motivação dos pacientes são limitados. Com esta necessidade os
existem três principais métodos. Interpretativo, que foca nas interpretações, o corretivo, que
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A TLP baseia-se nos princípios psicanalíticos tradicionais. Mas não é uma miniatura
da psicanálise, a sua abordagem não versa sobre tornar consciente o que estava inconsciente.
mentais que tornam dolorosa a existência daquele sujeito. O principal é a ligação estabelecida
James Mann (1991;Mann & Goldman, 1982) distingue dois tipos de tempo: o
(“como se fossemos crianças”), e o categórico (ou “adult time”) que consta nos relógios e
calendários. Estes dois modos temporais são de extrema importância, uma vez que é a sua
integração que nos ancora à realidade, por exemplo em episódios de desrealização o tempo é
sentido como interminável apesar da sua curta duração. Paralelamente, em estados mais
saudáveis a passagem do tempo não é sentida, mas sim consciencializada quando olhamos
para um relógio.
engloba memórias significativas sobre o próprio e pessoas próximas, como receber a notícia
da morte de alguém. Estes dados mnésicos são marcados pela tensão entre tempo categórico
(“eu lembro-me que o meu avô morreu perto do natal”) e existencial (“já se passou tanto
tempo desde a morte do meu avô”), que uma vez integrados têm a função de ligar a realidade
objetiva e subjetiva. O presente diz respeito ao aqui e agora e o futuro às fantasias a curto e
surge face uma avaliação de (in)adequação à realidade (interna ou externa), se for orientada
para o passado como se “no antes é que valia a pena” a estrutura mais provável de surgir será
na via depressiva; caso esteja orientada para o futuro (“não vou conseguir estudar para o
exame”) a estrutura patológica será na via ansiosa (Mann, 1991;Mann & Goldman, 1982).
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A rigidez da TLP permite celeridade, pois confronta as crenças infantis de tempo
(principalmente com duração ambígua como na psicanálise) (Mann, 1991;Mann & Goldman,
1982).
3. Critérios de Seleção
Quanto ao público alvo, Mann primeiramente sublinha que um passado marcado por
não é sinónimo de exclusão. Alguns pacientes nestes contextos possuem egos suficientemente
coesos e têm a capacidade de se relacionar e lidar com as perdas. Emerge daqui a importância
de ter atenção a cada caso específico, sem rejeitar pacientes à priori (Mann, 1991).
TLP. Mann exclui pacientes com esquizofrenia, bipolaridade e esquizoidia. Um outro grupo
isolamento, nestes, a capacidade de estabelecer relação é baixa segundo o autor (Mann, 1991
com uma psicoterapia longa, pois acelera o tratamento. Nas perturbações narcísicas, os
pacientes podem recusar o tratamento, achando a TLP demasiado breve para os seus
sessões são desafiantes e por isso haver adesão. Quando existem tendências para dependência
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numa antecipação mais rápida do final. Não obstante, há também pacientes neuróticos que
estão conscientes da sua dependência. Já procuraram lidar com perdas no passado e por isso
estão mais disponíveis, ansiando ajuda. Nos casos em que a dependência foi fomentada por
inúmeros tratamentos com múltiplos terapeutas, a TLP é muito adequada (Mann, 1991).
estão também no escopo da TLP, sendo recomendada nestes casos. Curiosamente, em algumas
condições de saúde não é recomendada, devido à exigência de recursos alocados para lidar
com a doença, como em casos de asma severa e artrite reumatoide (Mann, 1991).
4. Técnicas terapêuticas
sessões, por si só já têm um efeito terapêutico. Sendo que esta nova relação tem “um prazo de
validade”, tensão entre a criança e o adulto “dentro do paciente” vai emergir: enquanto o
adulto não pode fugir desta realidade, a criança vai fazê-lo, fantasiando sobre voltar à
sensação de um tempo ilimitado, sentindo que 12 sessões realmente é muito tempo. Mann
(1991 p.20) diz-nos que “o sofrimento que antes foi real para a criança, tornou-se numa
fantasia adulta inerente ao self”, que substituir-se-à por uma nova apreciação da sua presente
realidade. Isto exige que o paciente abandone o vínculo de dependência hostil com figuras do
passado, daí a obrigatoriedade de respeitar o número de sessões (Mann 1991; Mann &
Goldman, 1982).
O PC consiste numa afirmação proferida pelo terapeuta perto da quarta sessão. Esta
e um reconhecimento das tentativas deste para lidar com o seu sofrimento crónico,
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temporal é importante, dado que o PC acompanha o paciente desde a infância - situações em
que se sentiu injustiçado ou vitimizado em criança, acabam por moldar a resposta afetiva do
adulto. É importante notar que tendo este trauma surgido precocemente, cria-se a sensação de
um sofrimento intemporal. Este aumenta o afeto negativo “Os nossos pacientes falam-nos,
do passado e presente deve manter-se” (Mann, 1991 p.24). A sua origem infantil é positiva,
pois fomenta a atualização das representações objetais primárias, que conjugando com a
expectativa de cura mágica, facilitará o seu acesso e atualização (Mann, 1991; Mann &
Goldman, 1982).
sentiu acerca de si mesma quando estava a experienciar, viver e lidar com esta situação
particular?” (Mann, 1991 p. 19), procurando a tal sensação de sofrimento intemporal. Esta
reflexão não é dirigida ao paciente, devido à sua falta de insight.O PC não contém alusão a
conflitos que o paciente tenha com outras pessoas, dado a natureza idiossincrática do
sofrimento. Mann salienta que o sofrimento crónico tem presente, um destes sentimentos:
contente, triste, zangado, assustado e culpado (Mann, 1991; Mann & Goldman, 1982).
A TLP divide-se em três fases, com algumas sobreposições. A primeira fase consiste
numa sessão de avaliação na qual se faz uma triagem das capacidades do paciente para se
envolver, da sua força do ego e da gestão de perdas anteriores. Nas 3/4 sessões seguintes é
sintomas pelo terapeuta. Neste período o paciente mostra-se otimista. Este otimismo é
alimentado pelo prazo de 12 sessões, que mostram possibilidades rápidas de melhoria (Mann,
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Antes da fase seguinte é revelado o PC. Como é algo que o paciente nunca pensou
transferência positiva são reforçadas. Existe possibilidade de rejeição do PC. Porém é raro e
deve-se procurar a causa desta discórdia (Mann, 1991; Mann & Goldman, 1982).
Na segunda fase (4º-8º sessões), surge a ambivalência pois nada de mágico aconteceu.
Um sinal comum, é o reaparecimento dos sintomas iniciais. O terapeuta não deve responder a
esta mudança comportamental pois é uma repetição do que o paciente sentiu ao separar-se de
figuras significativas. Como na primeira fase já houve trabalho terapêutico, o foco não é
Na última fase o tópico da separação deve ser abordado - caso não emerja através do
paciente, na 9ª/10ª sessão o terapeuta deve questioná-lo. O paciente irá repetir com o
Portanto, a relação terapêutica estará coberta de raiva, frustração, ódio, medo e tristeza. Esta
separação é vivenciada, com um nível emocional que favorece a sua resolução, isto permite
uma nova internalização menos influenciada por emoções negativas. O que permitirá o
alcance dos objetivos terapêuticos, nomeadamente (Mann, 1991; Mann & Goldman, 1982):
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5. Percepcionar amplamente as suas relações e reduzir a automaticidade de
eventos de vida com continuidade temporal - para os poder relacionar com o PC. Caso o
paciente traga temas sem relevância para o PC, pode ser uma resistência. Se sim, deve ser
interrompido e redirecionado para o PC. Porém pode evidenciar uma necessidade (a respeitar)
de espaço, perante alguma intensidade nos conteúdos tratados (Mann, 1991; Mann &
Goldman, 1982).
suicidas e ansiedade grave. Tem um temperamento explosivo. O último episódio de raiva foi
contra a sua mulher e aterrorizou-o, decidindo pedir ajuda. Nunca conheceu o pai, que
abandonou a mãe antes de ele nascer. A mãe entregou-o aos avós e morou com eles até aos 11
anos quando descobriu que a mulher que morava do outro lado da rua, que julgava ser sua
irmã, era na verdade a sua mãe. Morou um ano com ela, mas sentiu-se preterido em relação
aos irmãos, nascidos de um segundo casamento. Então voltou a casa dos avós e após concluir
descobre que a mãe tem cancro e regressa à terra natal. Casou 6 meses antes da mãe morrer da
doença oncológica. A sua maior dor era ela não ter visto o quão bem sucedido ele era no seu
trabalho e casamento. O casamento era bom apesar dos episódios de raiva e chorava cada vez
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Neste breve excerto encontramos um constante sofrimento relativamente à falta de
momentos mais exigentes, como a saída da casa dos avós para se emancipar e no regresso
para acompanhar a mãe na doença. Atualmente isto manifestava-se face ao self com a
permanência fantasmática deste sentimento de falhanço e separação da mãe sem ter recebido
oncológica. O problema central proposto por Mann foi: “Parece ser uma pessoa boa que
tenta sempre agradar os outros. Ainda assim tem um constante sentimento de que não é
desejado.” Poderia se focar na raiva, da sua mãe ou mesmo na depressão e ansiedade que
sente mas dado que estes sentimentos estão projetados na mulher levaria a uma grande
defensividade, algo que não seria passível de ser explorado numa abordagem breve desta
dimensão. Portanto percebeu-se que focar-se na frustração e tristeza seria o mais adequado.
Aquando desta revelação, o paciente sentiu-se de tal forma compreendido “como se Mann
sua capacidade de se relacionar. Pois face o seu historial de perdas tumultuosas poderia ser
7. Evidência científica
Mann, no livro em que pela primeira vez descreve a TLP, menciona uma pesquisa
piloto, que foi realizada em 1989: 6 pacientes foram tratados pelo mesmo terapeuta com uma
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Em 1995 surge o primeiro estudo com um grupo controlo (GC) e com seleção
aleatória. No total são 33 pacientes, 16 deles em fila de espera por 3 meses, sendo o GC.
Enquanto os restantes receberam TLP. A avaliação foi feita através de self reports e de juris
externos. Esta realizou-se 6 e 12 meses após o final. Nos resultados, foram observadas
melhorias no grupo experimental face o GC. Mais tarde, o GC, também recebeu TLP,
replicando os resultados anteriores. Os ganhos foram estáveis nos dois grupos por 12 meses
Joyce (1990) põe à prova os pressupostos de Mann quanto à relação terapêutica e aos
medida que a terapia progride e uma visão mais positiva no início e no final, as avaliações dos
pacientes acerca do processo foram progredindo de forma crescente até ao final. No entanto,
recursos limitados. Tem uma reduzida taxa de desistência, nomeadamente com adolescentes e
os pacientes mantêm uma visão mais positiva da terapia comparando com terapias mais
longas. Nos estudos de eficácia verificam-se impactos positivos por pelo menos dois anos
após a TLP, o que parece conferir consistência (De Geest e Meganck, 2019; Sheffler,
Não obstante, existem falhas nesta abordagem: a TLP deve ser aplicada por
melhor capacidade empática (fulcral para construir o PC). Em contrapartida existe muita
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inércia e criticismo por parte dos psicoterapeutas aptos para a aplicar. Caracterizando a TLP
como superficial ou restrita a funcionamentos específicos. No entanto, Mann (1991; Mann &
Goldman, 1982) responde apoiando-se na Lei de Parkinson - uma tarefa demora o tempo que
Acresce que é direcionada a essencialmente pacientes neuróticos, o que pode ser uma
estudo acerca do desenrolar da teoria, esta não se comprova, sendo que os resultados foram
pacientes face a itens de questionários é alterada com a terapia, causando disparidade nos
resultados quando aplicado antes e depois da terapia (Joyce et al, 1990; De Geest e Meganck,
(Almeida et al., 2013). A TLP é uma possível alternativa psicoterapêutica viável. A fim de o
aferir, sugerimos que seja realizado um estudo análogo ao de Sheffler, Dasberg e Benshakhar
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9. Referências
Almeida, J & Xavier, Miguel & Cardoso, Graca & Gonçalves Pereira, Manuel & Gusmão,
Ricardo & Barahona Correa, Bernardo & Gago, J & Talina, Miguel & Silva, J. (2013).
Burke, J. D. (1979). Which Short-term Therapy? Archives of General Psychiatry, 36(2), 177.
De Geest, R. M., and Meganck, R. (2019). How Do Time Limits Affect Our Psychotherapies?
https://doi.org/10.5334/pb.475
https://doi.org/10.1177/070674379003500107
Companies.
Shefler, G., Dasberg, H., & Ben‐Shakhar, G. (1995). A randomized controlled outcome and
Witztum, E., Dasberg, H., & Shefler, G. (1989). A two-year follow-up of time limited therapy
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