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FACULDADE ANHANGUERA

CURSO DE PSICOLOGIA

PSICOPATOLOGIA I

ANÁLISE DO FILME
“BICHO DE SETE CABEÇAS”

MOISÉS DA SILVA DIAS

Porto Alegre, março de 2023


O filme Bicho de sete cabeças, do ano de 2000, é baseado na história de
Austregésilo Carrano Bueno e sua experiência dentro de manicômios dos 17
aos 20 anos, na década de 70. E retrata a “produção da loucura” dentro desses
espaços de saúde mental sem o mínimo de dignidade humana.
O filme, além de ser um drama familiar, provoca várias reflexões sobre a
internação involuntária, sobre os direitos humanos e legislação de saúde
mental, mas também sobre o adoecimento da família e a falta de informação de
quem não sabe como lidar com o uso de substâncias psicoativas dos filhos e
vice-versa. Sobre tabus e dificuldades que muitas famílias enfrentam sem ter
um apoio e ou direcionamento da problemática do uso e do abuso de drogas.
Porém vamos focar no tratamento desumano e cruel das internações
psiquiátricas sem abordagem médica apropriada, sem escuta e discriminada da
saúde mental na época. No caso de “Neto”, personagem principal do filme, foi
submetido a uma internação psiquiátrica após o pai ter achado um “cigarro de
maconha” nos pertences do filho. Sem diálogo ou opção, Neto foi levado a força
para o hospital manicomial, onde não foi atendido como deveria por um
psiquiatra, e sem diagnóstico nenhum foi colocado junto aos outros pacientes
com diversos graus de insanidade. Submetido a medicação abusiva,
eletrochoque e injeções que eram aplicadas de qualquer forma, torturas,
privação de liberdade e supressão da expressão humana.
Quero também deixar claro aqui que, mesmo concordando que
ocorreram absurdos na internação de Neto, não se pode considerar, que esse
tipo de internação seja uma regra, e sim uma exceção, já que a legislação foi
reformada e adequada aos direitos humanos, e que cada caso é um caso.
Havendo sim, casos de saúde mental onde podem gerar riscos a terceiros, claro
que não se justifica a crueldade em nenhum momento, mas a internação para o
tratamento muitas vezes é necessária.
Levando em consideração as formas degradantes com qual os pacientes
eram submetidos, e todos generalizados, sem ter uma triagem sequer, todos
tratados da mesma forma, com contenção violenta, encarceramento, medicação
abusiva que resultava em sequelas para o resto da vida, pode-se dizer sim que
eram “fabricantes” de “loucura”.
Certamente houve muita comoção e revolta quanto ás condições desses
equipamentos de saúde, e em 1979, foi criado o Movimento dos Trabalhadores
em Saúde Mental (MTSM) e em 1987, o movimento antimanicomial, dando
continuidade à luta pela nova psiquiatria. O projeto de reforma psiquiátrica foi
apresentado em 1989 pelo então deputado Paulo Delgado (MG). Após 12 anos,
o texto foi aprovado e sancionado como Lei nº 10.216/2001, ficando conhecida
como Lei da Reforma Psiquiátrica, Lei Antimanicomial e Lei Paulo Delgado.
(MS, 2002).
Tal movimento chegou para defender os direitos negligenciados da
época, porém ajudou a generalizar e classificar a “psiquiatria” e o tratamento da
saúde mental de hoje. Por exemplo, o eletrochoque, procedimento terapêutico
altamente eficaz, recomendado internacionalmente por todos os grandes
centros, pela Organização Mundial de Saúde e por toda a psiquiatria moderna,
indolor, que não lesa, destrói, nem “frita” neurônio de ninguém, foi relacionado
aos choques aplicados pelos torturadores nos “porões da loucura”. Ou seja,
sempre houve um trabalho científico e sério referente á saúde mental, porém
marginalizado por espaços que visavam o lucro e não a dignidade humana.
A Reforma teve como marca registrada o fechamento gradual de
manicômios e hospícios que proliferavam país afora. A lei que promoveu a
reforma, tem como diretriz principal a internação do paciente somente se o
tratamento fora do hospital se mostrar ineficaz. Mas infelizmente não foi desta
maneira que ocorreu. Não podemos permitir que a luta por justiça e liberdade se
torne um impedimento ao tratamento adequado de doenças cerebrais graves e
incapacitantes, que muitas vezes necessitam de internamento, a fim de evitar
desfechos de vida desastrosos como suicídios, homicídios, ou mesmo a fim de
tratar eficazmente a escravidão da consciência a sofrimentos indescritíveis
causados por doenças médicas comportamentais como a depressão grave, a
esquizofrenia e a dependência química.

REFERÊNCIAS
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Reforma
Psiquiátrica e Manicômios Judiciários: Relatório Final do Seminário
Nacional para a Reorientação dos Hospitais de Custódia e Tratamento
Psiquiátrico. Brasília, Ministério da Saúde, 2002.
OLIVEIRA, W, V. ROCHA, C, C. As relações de poder e a construção da
loucura: uma análise do livro canto dos malditos de Austregésilo Carrano
Bueno. ANAIS DO XIV ENCONTRO NACIONAL DA ABRAPSO. Diálogos em
Psicologia Social. ABRAPSO-RJ,2007.

YOU TUBE. Filosofia em pílulas. Bicho de Sete Cabeças. 2012. Disponível


em: https://www.youtube.com/watch?v=F6Yky54edpo. Acessado em:
23/03/2023.

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