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Educação não formal e o educador social

Gohn ( 2010) afirma que há uma diferença entre educação formal, educação não formal
e educação informal.
A autora traz elementos como agentes de educação, mediador, local,

A educação não formal é intencional, ao passo que a informal é aprendida durante o


processo de socialização.

Educação formal Educação não Educação informal


formal
Mediador/Facilitador Professor / outros Educador Social/ Pais/amigos/
profissionais que o “outro” que vizinhos
atuam no contexto interage nas
escolar relações
interpessoais
Local Instituições Territórios que Espaços que
regulamentadoras promovem demarcam
por lei como interação nacionalidade,
escolas religião, idade,
sexo
Contexto Ambientes com Ambientes ou Ambientes
normativas e situações espontâneos
padrões construídos
comportamentais coletivamente
como metodologias
de trabalho
Objetivo Ensino e São construídos Socializa,
aprendizagem de nas relações de desenvolve hábitos
conteúdos interação. e atitudes
sistematizados pela
LDBEN
Principais atributos Normatização Os conhecimentos Desenvolve laços
curricular, não são de pertencimento;
sistematização das organizados e são atua sobre aspectos
atividades, tempo transmitidos a subjetivos do
de progressão, partir de grupo;
disciplina, órgãos experiências desenvolvendo o
superiores capital social do
grupo; promove a
construção da
cidadania
Resultados Aprendizagem Não há resultados Valorização de si
esperados efetiva e esperados; pois as mesmo;
certificação dos ações são Desenvolvimento
títulos espontâneas da conscientização
e politicidade

“ Há na educação não formal uma intencionalidade na ação, no ato de participar, de


aprender e de transmitir ou trocar saberes” ( p. 15)

Gohn (2010) diz que é muito comum definir a educação não formal pelo que ela
não é e não pelo o que ela é, pelo que ela faz. Gohn cita Janela ( 1989 e 2006) ao
mencionar que a educação não formal se configura como uma educação não escolar e
nem por isso deve ser compreendida como negativa, como contraditória, opositiva. A
educação não formal segundo Cortella ( 2006,2007), deveria ser complementar a
educação formal e outros autores traz a concepção de que o foco da a educação não
escolar é os alunos.
Alguns teóricos utilizam o termo educação extraescolar para configurar a
educação não formal que se institui além dos muros da escola, em locais geográficos
que não sejam a escola.
Brennan ( 1997) utiliza a educação não formal como sinônimo de educação alternativa
para àqueles que possuem dificuldades de lidar com as regras escolares formais, os
denominados “rebeldes, insubordinados” ( p. 18). Esse autor cita a educação não formal
atrelada a cultura dos aprendizes, a determinado meio como o Projeto Escola da Família
no meio rural e outra ideia de suprir, complementar o que a educação escolar e formal
não consegue atender, como se fosse um “tapa buraco”.
No Brasil, a educação não formal esteve atrelada à Educação de Jovens e Adolescentes (
EJA), tanto no processo de alfabetização empregado por Paulo Freire como pela própria
Unesco, após a Segunda Guerra Mundial. Assim, a educação não formal era exercida
em ambientes como associações, centros comunitários, sindicatos e outros que
contemplasse o conteúdo escolar.
Alguns pesquisadores trazem a educação popular como sinônimo da educação
não formal, embora Gohn discorde em decorrência do recorte social estabelecido pela
Educação Popular.
Alguns autores como Pérez, utilizam o conceito de educação social para representar a
sistematização das práticas educativas empregadas em espaços como circo, teatro,
processos de formação para o trabalho, representações em espaços não formais.
Outro termo apontado por Gohn para caracterizar a educação social é educação
comunitária para contemplar pessoas em vulnerabilidade social ou algum tipo de
exclusão. A autora afirma que “A psicologia social tem grande ênfase nessa
abordagem, pois parte-se do pressuposto de que a aprendizagem de novos valores
altera personalidades e comportamentos sociais, viabilizando processos de mudança
social” ( p. 21)
Gonh (2010) cita Groppo ( 2006) ao enunciar que a educação não formal pode ser
considerada como Educação Sociocomunitária, a qual está articulada entre princípios de
uma educação focada no capital, processos de políticas públicas e utopias e
possibilidades, cujas características são societais, sociais.
O termo Educação Permanente ou Educação para a Vida possui pontos em comum com
a educação não formal, porém, ocorre uma dissonância porque a educação não formal
objetiva promover a autonomia e emancipação das pessoas . Educação Continuada é
utilizada na conotemporaneidade para retratar a qualifição profissional. Interessante que
ambos os termos são utilizados no SUAS.

As discussões sobre Educação Integral reintera ideias de uma educação curricular,


centrada em projetos políticos pedagógicos com formato de um modelo sistêmico e
escolar, organizado a partir dos currículos. Compreendemos assim, que a educação não
formal é percebida e analisada a partir dos parâmetros da educação formal.

A educação popular é muito mais difundida do que a educação social no Brasil.


“É um processo que adotamos para educação não formal. É um processo
sociopolítico,cultural e pedagógico de formação para cidadania, entendendo o político
como a formação do indiviíduo para interagir com o outro em sociedade. Ela designa
um conjunto de práticas socioculturais de aprendizagem e produção de saberes, que
envolve organizações/instituições, atividades, meios e formas variadas, assim como uma
multiplicidade de programas e projetos sociais “ ( p. 25) .

A intencionalidade da educação não formal é formar para a cidadania.

Na página 24, Gohn diz que não podemos confundir educação não formal com educação
religiosa, pois com o desenvolvimento de vários projetos sociais em instituições
religiosas, pode ser confudida. A educação não formal enfatiza a educação cidadã.

“ A educação ( formal , não formal e informal) é o campo prioritário para o


desenvolvimento de valores- para desenvolver a capacidade de enfrentar adversidades,
mas também como capacidade de recriar,refazer, retraduzir, ressignificar as condições
concretas de vivência cotidiana a partir de outras bases, buscando saídas e perspectivas
novas. P.31

Gohn defende que há uma carência de metodologias na educação não formal; uma
formação específica de educadores de acordo com sua área de atuação, uma
sistematização de acompanhamento de egressos. Os conteúdos aplicados e
desenvolvidos na educação não formal não são dados a priori, são evidenciados e
construídos no processo, são dinâmicos, dependendo da motivação das pessoas, do
campo simbólico. Ela diz que é importante a sistematização de metodologias, mesmo
que provisórias.
A autora ainda afirma sobre a importância de se atentar para o papel do profissional que
atua com essas metodologias, mesmo que provisórias, pois eles mediam as ações de
aprendizagem a partir de ideologias, visões de mundo, estabelecendo diálogos, conflitos
e ações solidárias no processo de educação social. “ O seu trabalho tem princípios,
métodos e metodologias de trabalho” ( p. 37)

Organizações sociais, programas de formação sobre direitos humanos, cidadania,


práticas identitárias, lutas contra desigualdades e exclusões sociais.

A educação não formal é uma área carente de pesquisa científica. Muitos trabalhos são
realizados para cumprimento de protocolos metodológicos e os pesquisadores
reproduzem o discurso dos entrevistados a partir de uma lógica mercadológica que
compreende a educação como uma forma de inserção no mercado de trabalho. Há
muitos trabalhos de ONGs caritativas que atuam nessa área.
O Educador Social possui como atribuição exercer o papel “ativo, propositivo e
interativo” ( p.37) . Possui a função a partir do diálogo de instigar, provocar, mobilizar
determinado grupo a compreender o contexto no qual ele está inserido através de várias
linguagens ( escrita, gestual, falada, simbólica, gráfica). Compreendemos assim, que a
música, o teatro, a dança, podem representar a educação em diversos contextos e serem
o gatilho para as pessoas que participam dessa educação desenvolverem a autonomia e
cidadania.
A este respeito, Gohn diz:
“Seguindo a pedagogia de Paulo Freire, haveria três fases bem distintas na construção
do trabalho do Educador Social, a saber: a elaboração do diagnóstico do problema e
suas necessidades, a elaboração preliminar da proposta de trabalho propriamente dita e
o desenvolvimento e complementação do processo de participação de um grupo ou toda
a comunidade de um dado território, na implementação da proposta. “ (p. 37- 38)

Fulano de tal é outro teórico que se ocupa do termo.....


Para o desenvolvimento da proposta educativa não formal, é necessário que haja temas
geradores vindos dos grupos nos quais o educador social atua. A autora defende que
diferente de Paulo Freire, que enfatiza o saber coletivo, que há saberes diferentes, é
necessário que o educador social tenha conhecimentos prévios sobre a cultura e
contexto em que irá trabalhar, saberes historicamente acumulados; esse conhecimento
prévio alinha-se ao conhecimento coletivo
A emancipação depende dos níveis de consciência do indivíduo, da sensibilidade aos
problemas, da capacidade de construir utopias reais e da dimensão do sentido interior que
mobiliza e impulsiona as pessoas. ( p. 44)

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