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Todo contrato cível ou empresarial deve possuir como base o

princípio da autonomia das vontades.

Ou seja, ao celebrar um contrato, as partes utilizam de sua


liberdade para contratar e acordam conforme o interesse da relação.

Com força de lei e caráter vinculante, o que foi


combinado deve ser cumprido nos termos do contrato.

Agora, o que fazer quando o contrato possui


cláusulas ambíguas, com dois sentidos ou dúbias?
Bom, diversos contratos realizados sem foco na segurança
jurídica ocasionaram desgastes e prejuízos nos contratantes por conta de
cláusulas mal redigidas.

As partes que utilizam modelo pronto e não se preocupam em


adequar corretamente, podem ter como consequência um contrato de difícil
interpretação.

Por isso, nesse artigo vamos entender


como interpretar cláusulas ambíguas, com dois ou mais sentidos ou dúbias.

O que é cláusula ambígua?

A cláusula ambígua é aquela que


desperta dúvida ou incerteza.

Para ficar mais claro, vamos a um exemplo.

Em um contrato de prestação de serviços há a possibilidade


de prorrogação automática pelo mesmo período do contrato e multa de 10%
em caso de rescisão. No entanto, não há clareza se essa multa se aplica a
rescisão após a prorrogação automática.

Outras situações são cláusulas com dois ou mais sentidos ou


até mesmo com expressões de duplo sentido. Vejamos:

 Cláusulas com dois ou mais sentidos (dúbia): São


cláusulas que podem ser interpretadas de duas formas
distintas.
 Expressões com dois ou mais sentidos: Palavra ou
frase que possui duas ou mais formas factíveis de
interpretação.
 Cláusulas ambígua: Cláusula que desperta dúvida ou
não é clara.
Entender essas diferenças é muito importante para
compreender as formas de interpretação corretas para cada situação que
apresentarei a seguir.

Interpretação dos contratos


Antes de trazer a interpretação específica de cada situação
listada acima é importante entendermos os critérios de interpretação dos
contratos.
A Lei n.º 10.406/02, conhecida como Código Civil, traz a forma
de interpretação no seu artigo 112.

Nesse artigo, o Código informa que a intenção dos


contratantes possui privilégio aos termos do contrato.

Explico!

De acordo com o referido artigo, mais vale a vontade das


partes presentes no contrato, do que está propriamente escrito nele.

Assim, podemos afirmar que havendo vício na vontade de


uma das partes, o contrato será integralmente afetado. Nós já falamos sobre
isso no artigo sobre vícios contratuais que podem anular seu contrato.

Dessa forma, para os contratos se aplicam duas teorias.


A teoria da vontade, que é a intenção real do contratante e a teoria da
declaração, que se trata da exteriorização dessa vontade.

Ou seja, o contrato deve ser o retrato da realidade. Os


contratos devem ser adequados a situação fática dos contratantes, suas
vontades, e ser instrumento capaz de regular direitos e obrigações.

Como interpretar cláusulas ambíguas?

Para interpretar cláusulas ambíguas a base é o, já


mencionado, artigo 112 do Código Civil.

No entanto, a clareza para essa interpretação é encontrada


nas Regras de Pothier. Robert Joseph Pothier (1699-1772) foi um jurista
francês que convencionou regras de interpretação que são perfeitamente
aplicáveis aos contratos brasileiros.

Inclusive, uma de suas regras é de procurar a intenção


real dos contratantes, como o artigo 112 do Código Civil dispõe.

Bom, dito isso, vamos as formas


de interpretação das cláusulas consideradas ambíguas e também as
cláusulas e expressões de duplo sentido, de acordo com as Regras de
Pothier:

 Cláusula com dois ou mais sentidos (dúbia): deve


produzir efeito, conforme princípio da conservação dos
contratos.
 Expressões com dois ou mais sentidos: devem ser
interpretadas conforme a natureza do contrato.
 Cláusulas ambíguas: deve ser interpretada segundo o
costume do lugar do contrato.

Agora, apesar de possuir interpretação distinta do aplicado


nos contratos de consumo, nos contratos cíveis e empresariais a
interpretação, se necessário desfavorecer uma das partes, também será
aquele que redigiu o contrato.
Por isso, se é você ou sua empresa que redige os
contratos, atenção redobrada às cláusulas, para que estejam conforme a
declaração de vontade das partes.

Conclusão

É fundamental que os contratos possuam formalidade em


sua confecção. Isso porque eles são o instrumento base da economia para
alcançar segurança jurídica. Então, é fundamental que estejam bem
redigidos.

A existência de cláusulas ambíguas, com cláusulas ou


expressões de dois ou mais sentidos só reforçam a necessidade de adequar
o contrato corretamente.
O contrato bem redigido é a forma de evitar desgastes e
prejuízos a longo prazo. Para isso, você pode contar com uma assessoria
jurídica contratual, que te auxiliará desde a etapa de negociações até o
encerramento do contrato.

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