Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Leia Também:
Opinião: a pobreza não pode nos tirar o direito de sonhar
Outro fator que amplia os obstáculos da escola pública é a disputa histórica entre o público e
o privado no Brasil. No país, a educação privada não é um direito de escolha democrática. Ao
contrário, em toda nossa história, o privado atuou pela privatização da educação e por seus
interesses e impediu que as políticas públicas fossem implementadas no sentido de
universalizar o acesso à educação pública, melhorar sua qualidade e colocá-la como um
direito universal, e não como uma escola para os pobres e para os trabalhadores mais
humildes.
Alguns de nossos vizinhos da América Latina deram à educação pública esse patamar
universal e de qualidade. Embora sejam países bem menores que o Brasil, entenderam o
princípio republicano do direito à educação de qualidade, bem como compreenderam que
um projeto de desenvolvimento democrático e soberano necessita da ação consciente do
Estado na melhoria da qualidade da educação para todos, com ampliação de investimentos
nessa área.
Leia Também:
A quem interessa o fracasso da educação brasileira?
No Brasil, depois de muita luta, o Plano Nacional de Educação (PNE) deliberou a aplicação,
em dez anos, de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) em educação. Na época da aprovação
do PNE, em 2014, a aplicação era de 5,8 %; hoje, não só a Emenda Constitucional (EC) 95
congelou as verbas a serem aplicadas em educação por 20 anos, como o total aplicado caiu
para 5%, muito aquém do necessário para melhorar a infraestrutura, o material didático, a
inclusão digital, as condições de ensino e o atendimento integral aos estudantes.
Leia Também:
Cinco aspectos políticos e econômicos que ameaçam os professores
Em vez disso, depois de deturpar a realidade, coloca-se como solução a militarização das
escolas através de convênio com a Policia Militar. Os produtores dessa falsa ideia relacionam
os problemas vividos pela escola com a falta de disciplina, tratando as crianças e jovens da
escola pública como “menores” potencialmente problemáticos e vulneráveis que, se não
foram colocados sob a rigidez militar, estarão perdidos. Com isso, não se atacam as
dificuldades reais da escola e da comunidade do entorno.
Leia Também:
Militarização do ensino fere a Constituição
Um dos motivos pelos quais a disciplina militar como saída é enganosa é o fato de que a
adesão a ela não é voluntária, sendo imposta pelo medo e pela submissão a uma autoridade
de caráter arbitrário e não democrático. É a ideia do respeito a regras sem possibilidade de
construção coletiva dessas regras; é o respeito ao “superior” sem possibilidade de
questionamento — não é assim que ocorre nos quartéis? É a cabeça e os olhos baixos, a
submissão de nossas crianças a autoridades, diga-se de passagem, muito questionáveis.
As notícias mostram que, mesmo depois da Constituição Cidadã, a questão dos direitos
humanos é menosprezada na formação de policiais e agora, com o retrocesso que estamos
vivendo, pior será. As notícias dos jornais, as pesquisas e os dados divulgados por órgãos de
defesa dos direitos humanos nacionais e internacionais evidenciam que a corporação,
principalmente na periferia, tem revelado racismo e desrespeito aos direitos mais
fundamentais (basta pegar também os dados da própria Corregedoria da Política Militar nos
diferentes estados).
Escola também necessita, sim, de segurança, mas o Brasil conhece muitas experiências
vitoriosas nesse campo, quando se tinha, por exemplo, nos estados, a guarda civil
especializada em segurança escolar. Tais experiências, todavia, foram totalmente encerradas
pela incompreensão de política pública de segurança na escola.
O convênio que a Polícia Militar está realizando com algumas secretarias estaduais possui,
por um lado, o objetivo claro de fortalecer a política da repressão como método de
formação, já que os policiais militares nada entendem de educação escolar.
Por outro, ele transfere a verba da educação para a Polícia Militar ao invés de melhorar, com
verbas próprias, os problemas da segurança pública nos estados, que também são muito
graves.