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TEORIA GERAL

DO DIREITO
EMPRESARIAL
ÍNDICE
1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO EMPRESARIAL....................................................4
Corporações de Ofício.........................................................................................................................................................4
Estados Modernos................................................................................................................................................................4
Teoria da Empresa................................................................................................................................................................4

2. FONTES DO DIREITO EMPRESARIAL..............................................................................6


Introdução................................................................................................................................................................................6

3. PRINCÍPIOS DO DIREITO EMPRESARIAL....................................................................... 7


Introdução.................................................................................................................................................................................7
Princípios Empresariais.......................................................................................................................................................7

4. EMPRESÁRIO INDIVIDUAL................................................................................................9
Conceitos Iniciais................................................................................................................................................................... 9
Inscrição do Empresário Individual................................................................................................................................ 9
Empresário Individual Casado....................................................................................................................................... 10

5. AGENTES EXCLUÍDOS DO CONCEITO DE EMPRESÁRIO............................................11


Introdução............................................................................................................................................................................... 11
Profissionais Intelectuais.................................................................................................................................................. 11
Atividade Econômica Rural..............................................................................................................................................12
Sociedades Simples............................................................................................................................................................12
Sociedades Cooperativas................................................................................................................................................ 13

6. IMPEDIMENTOS E INCAPACIDADE DO EMPRESÁRIO INDIVIDUAL........................14


Introdução.............................................................................................................................................................................. 14
Impedimento......................................................................................................................................................................... 14
Incapacidade........................................................................................................................................................................ 15

7. SOCIEDADES EMPRESÁRIAS......................................................................................... 17
Introdução...............................................................................................................................................................................17
Da Responsabilidade..........................................................................................................................................................17
Tipos Societários..................................................................................................................................................................17

8. EIRELI..................................................................................................................................19
Introdução.............................................................................................................................................................................. 19

9. REGISTRO EMPRESARIAL...............................................................................................21
Importância do Registro....................................................................................................................................................21
Lei dos Registros Públicos de Empresas...................................................................................................................21

10. ESCRITURAÇÃO............................................................................................................. 23
Obrigatoriedade da Escrituração..................................................................................................................................23
Livros Facultativos..............................................................................................................................................................23
Formalidades do Registro e Exibição dos Livros...................................................................................................24

11. NOME EMPRESARIAL.................................................................................................... 26


Conceito..................................................................................................................................................................................26
Diferença para outros institutos...................................................................................................................................26
Firma e Denominação.......................................................................................................................................................27
Nome empresarial para cada tipo societário...........................................................................................................27

12. PROTEÇÃO AO NOME EMPRESARIAL........................................................................ 29


Impossibilidade de alienação do nome empresarial............................................................................................29
Falecimento do Sócio........................................................................................................................................................29
Uso do nome empresarial...............................................................................................................................................29

13. ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL...........................................................................31


Introdução...............................................................................................................................................................................31
Negócios Jurídicos do Estabelecimento...................................................................................................................31

14. DOS PREPOSTOS........................................................................................................... 33


Conceito e Previsão Normativa.....................................................................................................................................33
Quem são os Prepostos?.................................................................................................................................................33
Contabilista............................................................................................................................................................................33
Responsabilidade do Preponente............................................................................................................................... 34
1. Evolução Histórica do Direito Empresarial
Corporações de Ofício
Na antiguidade e na idade média, não havia regulamentação específica para a atividade
empresarial. Esse tipo de norma começou a ser desenvolvida com o surgimento das
corporações de ofício.

As corporações de ofício eram os meios pelos quais as atividades econômicas eram realizadas,
onde um “mestre” passava seus conhecimentos técnicos sobre determinado ofício (função,
trabalho) para os aprendizes. As regras e costumes de cada corporação eram aplicadas
nos seus locais de atuação, criando as primeiras bases para as normas empresariais como
conhecemos atualmente.

O desenvolvimento e aprimoramento das corporações levou ao surgimento de instrumentos


importantes, como os títulos de crédito, as sociedades, os contratos de seguro, entre outros.

Estados Modernos
A consolidação dos Estados Nacionais veio acompanhada de diferentes codificações que
regulavam o Direito Civil em geral e também o Direito Comercial. A distinção entre atos
civis e atos de comércio era feita através da Teoria dos Atos de Comércio, segundo a qual
é considerado ato de comércio aquele que é assim definido por lei. O foco muda, então, dos
sujeitos (corporações de ofício) para o objeto da relação jurídica (ato de comércio).

De maneira geral, os atos de comércio eram aqueles que tinham a função de intermediar a
efetivação de uma troca - quase sempre atos de mercância. Isso gerou um problema porque
essa definição dos atos comerciais não abarcava diversas atividades, como a prestação de
serviços e a atividade rural.

A partir do Código Civil italiano, desenvolve-se uma nova teoria: a Teoria da Empresa.

Teoria da Empresa
A Teoria da Empresa volta o foco para os sujeitos e estabelece que a legislação comercial
deve ser aplicada para toda e qualquer atividade econômica realizada por uma empresa. A
atividade de empresa é aquela organizada para a produção e circulação de bens ou serviços,
exercida com profissionalismo.

É a partir daqui que a nomenclatura é alterada de Direito Comercial para Direito Empresarial,
demonstrando a relevância dos conceitos de «empresa» e «empresário»:

• Empresa: Atividade econômica (com intuito de lucro) organizada e voltada para a produção e
circulação de bens;
• Empresário: Sujeito que exerce a empresa de maneira profissional (com habitualidade e pessoali-

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dade).

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2. Fontes do Direito Empresarial
Introdução
Até o advento do Código Civil de 2002, o ordenamento jurídico brasileiro seguia a teoria dos
atos comerciais, possuindo um código civil e um código comercial. O novo código, porém, foi
inspirado na doutrina italiana, adotando a doutrina italiana e buscando a unificação do direito
privado através da revogação de parte do Código Comercial de 1850.

Além das regras gerais previstas no Código Civil, existem outras leis que regulam a atividade
empresarial:

• Lei de S/A (6.404/76);


• Falência e Recuperação de Empresas (11.101/05);
• Lei de Propriedade Industrial (9.279/96);
• Lei do Cheque (7.357/85);
• Lei das Duplicatas (5.474/68);
• Lei Uniforme (letras de câmbio e notas promissórias).

A Constituição também é considerada uma fonte do Direito Empresarial, visto que


estabelece princípios da ordem econômica e do trabalho, extremamente importantes para
o desenvolvimento da atividade empresarial. Além disso, tratados internacionais e usos e
costumes mercantis são fontes do Direito Empresarial.

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3. Princípios do Direito Empresarial
Introdução
Alguns princípios previstos no capítulo da ordem econômica na Constituição Federal são
diretamente aplicáveis ao Direito Empresarial. Mesmo se tratando de uma área do Direito
Privado, entende-se que a aplicação dos princípios possui um caráter deontológico, ou seja,
é dever das partes cumprir com essas normativas constitucionais, independentemente da
relação jurídica que for estabelecida.

Princípios Empresariais
A partir do art. 170 da Constituição, podemos destacar os seguintes princípios empresariais:

PROPRIEDADE
Um dos princípios fundantes do Direito Empresarial, o qual vem acompanhado do dever de
cumprimento da função social. A atividade empresária só é possível mediante a garantia
da propriedade. Nesse sentido, entende-se que a empresa deve cumprir com a sua função
social, evitando ser apenas um negócio prejudicial ao interesse público/comum.

LIVRE INICIATIVA
Trata-se da prerrogativa que todo indivíduo possui de começar um negócio, de empreender.
A atividade empresária depende dessa liberdade em organizar os meios de produção ou
prestação de serviços, além da inovação que pode vir acompanhada da atividade. Basicamente,
o Estado deve garantir que os indivíduos possam exercer a empresa.

LIVRE CONCORRÊNCIA
Princípio que trata da manutenção de um ambiente saudável para o empreendedorismo e para
a ordem econômica, coibindo práticas de concorrência desleal e abuso de poder econômico.

PRESERVAÇÃO DA EMPRESA
Entende-se que a empresa é um instituto importante e necessário ao desenvolvimento
social e do Estado, por esse motivo devem existir mecanismos que permitam a preservação
da empresa. A recuperação judicial é um exemplo desse princípio, visto que cria todo um rito
especial para que a empresa possa satisfazer os credores e continuar a sua atividade, sem
resultar necessariamente na demissão de vários trabalhadores ou no impacto econômico
negativo na região onde está inserida. Dessa forma, a falência é uma última opção, utilizada
somente quando não há viabilidade em se manter o empreendimento.

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PROTEÇÃO À ME E EPP
As microempresas e as empresas de pequeno porte exercem uma função extremamente
importante na economia do país e, por essa razão, possuem um regime jurídico diferenciado,
em que lhe são conferidas maiores proteções.

Art. 179. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios dispensarão às microempresas e às empresas
de pequeno porte, assim definidas em lei, tratamento jurídico diferenciado, visando a incentivá-las pela
simplificação de suas obrigações administrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias, ou pela eliminação
ou redução destas por meio de lei.

Esse tratamento diferenciado está regulado pela Lei Complementar nº 123/06, também
conhecida como Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte.

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4. Empresário Individual
Conceitos Iniciais
O conceito de empresário está definido no Código Civil:

Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a
produção ou a circulação de bens ou de serviços.

Quando o sujeito exerce a atividade empresária enquanto pessoa física, é considerado


empresário individual. No caso de constituir pessoa jurídica para exercer a mesma atividade,
trata-se de sociedade limitada unipessoal.

Vale ressaltar que o empresário individual realiza a sua inscrição no CNPJ (cadastro nacional
de pessoas jurídicas), mas mantém-se com a personalidade natural. Isso significa dizer que
as pessoas jurídicas são somente aquelas previstas no art. 44 do Código Civil, norma que não
abrange o empresário individual.

Por não constituir personalidade jurídica, o empresário individual possui responsabilidade


direta e ilimitada, ou seja, responde com seu patrimônio pessoal pelas dívidas obtidas na
atividade empresarial.

No enunciado 5 da I jornada de direito comercial, o Conselho da Justiça Federal consolidou o


entendimento de que a execução de dívidas contraídas na atividade de empresa deve recair
primeiro sobre os bens que compõem o negócio. Porém, como mencionado anteriormente, a
responsabilidade não se limita a esses bens.

Inscrição do Empresário Individual

Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva
sede, antes do início de sua atividade.

O empresário individual deve se registrar na Junta Comercial antes de iniciar as atividades.


Porém, não é a inscrição que o torna um empresário - ela possui natureza jurídica declaratória,
ou seja, apenas declara algo que já existe. Caso contrário, a pessoa física só seria considerada
empresário após o registro (teria natureza constitutiva).

Dessa forma, o sujeito pode exercer a atividade empresária antes da inscrição, mas essa
atividade é considerada irregular.

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Empresário Individual Casado
A pessoa física casada pode constituir empresa individual independentemente da outorga
conjugal, ou seja, mesmo sem a autorização de seu cônjuge. Porém, o Código Civil traz
algumas exigências a mais quanto à publicidade dos atos:

Art. 978. O empresário casado pode, sem necessidade de outorga conjugal, qualquer que seja o regime de
bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da empresa ou gravá-los de ônus real.

Art. 979. Além de no Registro Civil, serão arquivados e averbados, no Registro Público de Empresas Mercantis,
os pactos e declarações antenupciais do empresário, o título de doação, herança, ou legado, de bens clausulados
de incomunicabilidade ou inalienabilidade.

É possível notar, então, que a pessoa física casada pode dispor de seus bens para movimentar
o negócio, mas precisa fazer a averbação dos atos nupciais no registro civil e no registro
comercial. Essa regra visa proteger terceiros que negociam e contratam com o empresário,
dando maior publicidade sobre a sua situação patrimonial.

Além disso, os atos de divórcio, de separação judicial ou de reconciliação só podem ser


utilizados contra terceiros após a averbação nos registros públicos:

Art. 980. A sentença que decretar ou homologar a separação judicial do empresário e o ato de reconciliação não
podem ser opostos a terceiros, antes de arquivados e averbados no Registro Público de Empresas Mercantis.

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5. Agentes Excluídos do Conceito de Empresário
Introdução
Tão importante quanto entender os sujeitos que são considerados empresários é compreender
os agentes que não se enquadram nessa categoria. Aqui, vamos tratar dos sujeitos que
exercem uma atividade organizada e de forma profissional, mas que por opção legislativas
não são tratados como empresários pelo ordenamento pátrio.

São agentes excluídos do conceito de empresário:

• Os profissionais intelectuais;
• As sociedades simples;
• As sociedades cooperativas;
• A atividade econômica rural.

Profissionais Intelectuais

Art. 966. [...]

Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica,
literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão
constituir elemento de empresa.

Via de regra, as atividades que possuem como tópico central o emprego intelectual de
ciência, literatura ou artes não se enquadram como empresa. Dessa forma, os advogados,
os médicos, os professores e os artistas em geral, por mais que utilizem de suas habilidades
como fonte de renda, não são considerados empresários.

Importante notar que o artigo em questão faz uma ressalva: quando o exercício da profissão
for um elemento de empresa, o profissional pode se caracterizar como empresário. Isso
acontece quando a organização dos fatores de produção se torna mais relevante do que a
atividade pessoal envolvida, quando as atividades técnicas/científicas adquirem o formato
empresarial.

Exemplo 1: a reunião de diferentes artistas em uma banda, que representa o principal sustento
de seus integrantes. Existe colaboração e assistência entre eles, mas não há o elemento
tipicamente empresário, visto que o ponto central é a prestação de serviços (arte e lazer,
cultura).

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Exemplo 2: uma clínica médica que reúne diversos profissionais da saúde para a realização
de consultas e tratamentos na área de terapia ocupacional - o foco está no serviço prestado,
na forma como ele é organizado e estruturado, não na pessoa com a habilidade técnica.

Atividade Econômica Rural

Art. 971. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, pode, observadas as formalidades
de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da
respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito
a registro.

A pessoa física que pratica a atividade rural tem a opção de se constituir como empresário
através do registro público, equiparando-se ao empresário individual. Nota-se que a natureza
dessa inscrição é constitutiva, visto que o sujeito só é considerado empresário a partir da
efetivação do registro.

Existem casos específicos em que alguns tribunais decidem de maneira diversa, considerando
a atividade rural como empresária mesmo antes do registro. Porém, vale dizer que este é um
entendimento construído a partir das especificidades de cada caso e não se enquadra na
regra geral!

Por exemplo, no julgamento do REsp 1.800.032., a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça
(STJ), entendeu que o empresário rural poderá computar período anterior à formalização do
registro na Junta Comercial para requerer a recuperação judicial.

Sociedades Simples
As sociedades simples são aquelas em que o elemento de empresa não está presente de
forma evidente, prevalecendo o caráter pessoal. Na legislação, a sociedade simples é definida
de forma subsidiária, ou seja, é tida como toda sociedade que não é empresária:

Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de
atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais.

Um exemplo de sociedade simples é a sociedade de advogados prevista no art. 15 do Estatuto


da OAB:

EAOAB

Art. 15. Os advogados podem reunir-se em sociedade simples de prestação de serviços de advocacia ou
constituir sociedade unipessoal de advocacia, na forma disciplinada nesta Lei e no regulamento geral.

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Veja, diferentemente do exemplo dado anteriormente, essa reunião de advogados está
caracterizada pela prestação pessoal dos serviços advocatícios: o cliente procura o advogado
X, não o escritório Y. Trata-se de uma diferença sutil, mas que é importante!

Vale dizer também que a sociedade de advogados precisa ser registrada na OAB para que
funcione regularmente.

Sociedades Cooperativas
Previstas no Código Civil e também em lei própria, as sociedades cooperativas enquadram-
se no gênero de sociedades simples:

CC/02

Art. 982. [...]

Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e,
simples, a cooperativa.

Lei 5.764/71

Art. 4º As cooperativas são sociedades de pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil,
não sujeitas a falência, constituídas para prestar serviços aos associados, distinguindo-se das demais
sociedades pelas seguintes características:

[...]

A característica mais marcante das cooperativas é justamente essa finalidade de prestação


de serviços aos seus associados, possuindo natureza civil. Diferentemente das sociedades
empresárias, não há que se falar em organização dos fatores de produção para a obtenção de
lucro, mas sim na prestação de serviços específicos para as pessoas sujeitas ao seu regime.

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6. Impedimentos e Incapacidade do Empresário
Individual
Introdução
Tendo em vista a importância e relevância da figura da empresa para a ordem econômica, o
exercício da atividade empresarial encontra dois requisitos na legislação: a capacidade civil e
a ausência de impedimento legal.

A capacidade civil é a aptidão para praticar os atos e celebrar os negócios da vida civil, sendo
obtida relativamente após os 16 anos de idade e completamente aos 18. Tais regras sobre a
capacidade civil estão reguladas no começo do Código, nos arts. 3º a 5º:

Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis)
anos.

Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer:

I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;

II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico;

III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade;

IV - os pródigos.

Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial.

Art. 5º A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os
atos da vida civil.

Já o impedimento legal é uma hipótese prevista em lei que proíbe a realização de um


determinado ato: no caso, o exercício da atividade empresarial. Veremos a seguir que os
impedimentos estão relacionados à normas de ordem pública, as quais objetivam proteger
a coletividade e o patrimônio público quando observadas determinadas incompatibilidades.

Impedimento
Quando falamos em impedimento, estamos nos referindo à proibição de determinado sujeito
em:

• fazer o registro como empresário individual;


• participar como sócio de responsabilidade limitada; e
• participar como sócio administrador.

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Como mencionado anteriormente, os impedimentos seguem a lógica de proteger o interesse
comum, principalmente contra o abuso de poder do indivíduo por figurar em determinados
cargos públicos. Vejamos alguns exemplos:

• Servidores públicos federais (art. 117, X, Lei 8.112/90);


• Magistrados (art. 36, I, LC 35/79 - Lei de Organização da Magistratura Nacional);
• Membros do MP (art. 44, III, Lei 8.635/93);
• Militares (Art. 29, Lei 6.880/80).

Importante notar que o ordenamento veda os atos que formalizam a atividade empresarial,
portanto, o indivíduo consegue exercer tal atividade irregularmente - o que pode gerar
responsabilidade:

Art. 973. A pessoa legalmente impedida de exercer atividade própria de empresário, se a exercer, responderá
pelas obrigações contraídas.

Dessa forma, não há nulidade ou eficácia dos atos praticados, mas apenas a responsabilidade
do impedido e a aplicação de sanções específicas (civis ou administrativas.

Incapacidade
Via de regra, a pessoa incapaz não pode se registrar como empresário individual, mas existem
exceções:

• Incapacidade superveniente (que ocorre após o registro); ou


• Herança da atividade empresarial (menor de idade que herda do ascendente a empresa).

Nessas situações, ao invés de dissolver a sociedade, a legislação prevê a continuidade dos


negócios por meio de um representante ou assistente, visando garantir a expressão correta
da vontade e a realização de atos no melhor interesse da empresa.

Art. 974. Poderá o incapaz, por meio de representante ou devidamente assistido, continuar a empresa antes
exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor de herança.

Nos parágrafos subsequentes do art. 974, estão contidas outras regras importantes: a
necessidade de autorização judicial com oitiva do MP para a continuidade da empresa em
nome do incapaz e a intangibilidade dos bens do incapaz obtidos antes da sucessão ou
interdição. Dessa forma, se os resultados da empresa forem negativos, o patrimônio pessoal
prévio do incapaz não pode ser afetado por execução.

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Caso o representante ou assistente do incapaz incorrer em um impedimento legal (for juiz,
por exemplo) é possível nomear um gerente mediante autorização judicial. O representante
ou assistente, ainda assim, é responsável pelos atos do gerente nomeado.

Além disso, o magistrado pode nomear gerente em todos os casos que entender necessário.

Quanto ao registro dos atos praticados, temos que:

Art. 974. [...]

§3º O Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais deverá registrar contratos ou
alterações contratuais de sociedade que envolva sócio incapaz, desde que atendidos, de forma conjunta, os
seguintes pressupostos:

I – o sócio incapaz não pode exercer a administração da sociedade;

II – o capital social deve ser totalmente integralizado;

III – o sócio relativamente incapaz deve ser assistido e o absolutamente incapaz deve ser representado por seus
representantes legais.

Art. 976. A prova da emancipação e da autorização do incapaz, nos casos do art. 974, e a de eventual revogação
desta, serão inscritas ou averbadas no Registro Público de Empresas Mercantis.

Parágrafo único. O uso da nova firma caberá, conforme o caso, ao gerente; ou ao representante do incapaz; ou
a este, quando puder ser autorizado.

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7. Sociedades Empresárias
Introdução
Ao iniciar o estudo das sociedades empresárias, é importante lembrar que a empresa é a
atividade econômica (com intuito de lucro) profissionalmente organizada e voltada para
a produção e circulação de bens ou serviços. Nesse sentido, a pessoa física pode optar
por exercer tal atividade de maneira direta (empresário individual) ou exercer a atividade
econômica através de uma sociedade.

A sociedade empresária está categorizada como uma pessoa jurídica de direito privado (vide
art. 44, II, do CC/02) e deve ter como seu objeto social a exploração de atividade econômica
organizada para a produção ou circulação de bens ou serviços (elemento de empresa).

Importante notar que, nessa hipótese, o “empresário” é a própria sociedade, não seus sócios.
Isso porque a sociedade possui personalidade própria e é capaz de adquirir direitos e contrair
obrigações.

Da Responsabilidade
Com a criação da pessoa jurídica, há a constituição de um patrimônio autônomo, fazendo com
que a responsabilidade seja indireta. É possível também que a sociedade se constitua como
limitada, fazendo com que as obrigações contraídas não possam atingir o patrimônio pessoal
dos sócios (exceto nas hipóteses de desconsideração da personalidade jurídica).

A desconsideração da personalidade jurídica e consequente ampliação da responsabilidade


ocorre nas hipóteses previstas no Código Civil, resumidas basicamente ao desvio de finalidade
e à confusão patrimonial:

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão
patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo,
desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos
bens particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo
abuso.

Tipos Societários
Dentro do espectro das sociedades empresárias, é possível constituir:

• Sociedade em nome coletivo;


• Sociedade em comandita simples;
• Sociedade limitada;
• Sociedade anônima;

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• Sociedade em comandita por ações.

Tratando-se de sociedades empresárias, esse rol é taxativo, ou seja, a estrutura da sociedade


precisa seguir um desses modelos. Vale observar que, da mesma forma que as sociedades
cooperativas são sempre simples, as sociedades por ações são sempre empresárias:

Art. 982. [...]

Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples,
a cooperativa.

Quanto à atividade rural, o Código dá um tratamento especial, semelhante à situação do


empresário rural:

Art. 984. A sociedade que tenha por objeto o exercício de atividade própria de empresário rural e seja constituída,
ou transformada, de acordo com um dos tipos de sociedade empresária, pode, com as formalidades do art. 968,
requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da sua sede, caso em que, depois de inscrita,
ficará equiparada, para todos os efeitos, à sociedade empresária.

Parágrafo único. Embora já constituída a sociedade segundo um daqueles tipos, o pedido de inscrição se
subordinará, no que for aplicável, às normas que regem a transformação.

Assim, o registro da sociedade empresária rural é facultativo, de natureza constitutiva e tem


como efeito a sua equiparação à sociedade empresária.

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8. EIRELI
Introdução
A Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI) foi inserida no ordenamento
jurídico brasileiro pela Lei 12.441/11, configurando um novo modelo de sociedade empresária.
Vejamos a previsão legal:

Art. 980-A. A empresa individual de responsabilidade limitada será constituída por uma única pessoa titular da
totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o maior salário-
mínimo vigente no País.

Portanto, a EIRELI tratava-se de uma pessoa jurídica composta por uma única pessoa física.
Ou seja, era uma pessoa jurídica unipessoal autônoma, que apresentava personalidade
jurídica e patrimônio distintos da pessoa física titular. Foi uma espécie societária criada para
limitar os riscos empresariais dos empreendedores individuais.

Em decorrência das modificações trazidas pela Lei de Liberdade Econômica (Lei n. 13.874/19),
que permitiu a criação de sociedades unipessoais, a EIRELI perdeu sua relevância, visto que
os requisitos para constituir esse tipo de sociedade eram mais complexos.

Assim, a pessoa física tinha como opção para exercer a sua atividade empresária:

• registrar-se como empresário individual;


• constituir sociedade com outras pessoas;
• constituir sociedade unipessoal; e
• constituir EIRELI.

Antes da Lei nº 13.874/2019 havia a necessidade de dois ou mais sócios para constituir uma
sociedade no Brasil. A doutrina elencava apenas três exceções a essa regra:
1. sociedade subsidiária integral (art. 251, § 2º, da Lei nº 6.404/76);
2. empresa pública unipessoal.
3. sociedade limitada que ficou com apenas um sócio, situação que podia durar por, no
máximo, 180 dias (art. 1.033, IV, do CC – atualmente revogado).
Entretanto, após a Lei nº 13.874/2019, foram acrescentados dois parágrafos ao art. 1.052, do
CC, que permitiram que a sociedade limitada fosse composta por apenas um único sócio,
detentor da totalidade do capital social.

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Art. 1.052. (...)

§ 1º A sociedade limitada pode ser constituída por 1 (uma) ou mais pessoas.

§ 2º Se for unipessoal, aplicar-se-ão ao documento de constituição do sócio único, no que couber, as disposições
sobre o contrato social.

Portanto, com a criação da sociedade limitada unipessoal, a EIRELI, na prática, deixou de ser
adotada, pois perdeu totalmente sua utilidade. Diante disso, a Lei n. 14.195/2021, simplificou a
situação e automaticamente transformou todas as EIRELIs ainda existentes em sociedades
limitadas unipessoais, conforme seu art. 41 dispõe:

Art. 41. As empresas individuais de responsabilidade limitada existentes na data da entrada em vigor desta Lei
serão transformadas em sociedades limitadas unipessoais independentemente de qualquer alteração em seu
ato constitutivo.

Parágrafo único. Ato do Drei disciplinará a transformação referida neste artigo.

Afinal, o art.44, VI do Código Civil que previa a EIRELI foi revogado pela Lei nº 14.382/22.

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9. Registro Empresarial
Importância do Registro
O registro do empresário na junta comercial serve para garantir a regularidade do exercício
da atividade empresarial, sendo obrigatório em todos os casos, com exceção das atividades
rurais (individual ou de sociedade).

A natureza jurídica do ato de registro é declaratória, via de regra, mas é considerada constitutiva
para a atividade rural.

Lei dos Registros Públicos de Empresas


A Lei 8.934/94 é a regulamentação legal específica dos registros empresariais. Nesse diploma,
foi instituído o Sistema Nacional de Registros de Empresas Mercantis, dividido em:

• Departamento de Registro Empresarial e Integração (DREI), órgão de normatização do sistema; e


• Juntas Comerciais, órgãos de execução e administração.

A competência para o julgamento de atos praticados pelas juntas comerciais pode variar de
acordo com as questões decididas:

• Questões Administrativas: competência da Justiça Estadual;


• Questões Técnicas: competência da Justiça Federal.

Os atos de registro das Juntas Comerciais podem ser de matrícula (para profissionais
específicos), arquivamento (atos sociais constitutivos, averbação (alterações) e autenticação
(escrituração contábil).

O prazo para a realização dos atos sujeitos a arquivamento (atos constitutivos e alterações) é
de 30 dias, consoante a Lei em estudo:

Lei 8.934/94

Art. 36. Os documentos referidos no inciso II do art. 32 deverão ser apresentados a arquivamento na junta,
dentro de 30 (trinta) dias contados de sua assinatura, a cuja data retroagirão os efeitos do arquivamento; fora
desse prazo, o arquivamento só terá eficácia a partir do despacho que o conceder.

O aspecto mais importante acerca desse prazo é a diferença nos efeitos produzidos. Quando
o documento é levado à Junta Comercial para arquivamento dentro do prazo estipulado,
os efeitos da decisão retroagem, valendo desde a data da assinatura do documento. Por

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outro lado, a apresentação fora do prazo faz com que os efeitos sejam “ex nunc”, produzidos
apenas a partir do despacho da decisão.

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10. Escrituração
Obrigatoriedade da Escrituração
A escrituração é um ato de formalidade em que ficam anotados principalmente os atos
contábeis das empresas em livros específicos exigidos pela legislação, conferindo maior
transparência à atividade empresarial.

Trata-se de um sistema obrigatório:

Art. 1.179. O empresário e a sociedade empresária são obrigados a seguir um sistema de contabilidade,
mecanizado ou não, com base na escrituração uniforme de seus livros, em correspondência com a documentação
respectiva, e a levantar anualmente o balanço patrimonial e o de resultado econômico.

Os “livros” a que se refere o artigo, são os denominados livros empresariais, dentre os


quais o “Livro Diário” se destaca como obrigatório. Ele carrega todas as movimentações da
empresa que envolvem algum valor, sejam modificativas (compra e venda, por exemplo) ou
permutativas (de troca).

Art. 1.180. Além dos demais livros exigidos por lei, é indispensável o Diário, que pode ser substituído por fichas
no caso de escrituração mecanizada ou eletrônica.

Parágrafo único. A adoção de fichas não dispensa o uso de livro apropriado para o lançamento do balanço
patrimonial e do de resultado econômico.

O Livro Diário pode ser substituído tanto por fichas nos moldes do art. 1.180 como por
balancetes, de acordo com o art. 1.185:

Art. 1.185. O empresário ou sociedade empresária que adotar o sistema de fichas de lançamentos poderá
substituir o livro Diário pelo livro Balancetes Diários e Balanços, observadas as mesmas formalidades extrínsecas
exigidas para aquele.

Livros Facultativos
São os livros empresariais que a legislação dá ao empresário a opção de elaborar ou não:

• Livro Caixa (entradas e saídas de dinheiro);


• Livro de Estoque;
• Livro Razão (classifica o movimento das mercadorias);
• Livro Borrador (rascunho do diário); e

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• Livro Conta Corrente (contas individualizadas de clientes e fornecedores).

A depender do tipo de atuação empresarial, outros livros se tornam obrigatórios, como o Livro
de Duplicatas, indispensável para os que trabalham com esse título de crédito.

Os pequenos empresários são dispensados da escrituração por previsão do art. 1.179, §2º, do
Código Civil. A definição de pequeno empresário está na LC 123/06:

Art. 68. Considera-se pequeno empresário, para efeito de aplicação do disposto nos arts. 970 e 1.179 da Lei nº
10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), o empresário individual caracterizado como microempresa na
forma desta Lei Complementar que aufira receita bruta anual até o limite previsto no § 1o do art. 18-A.

Formalidades do Registro e Exibição dos Livros


Os registros dos livros devem ser realizados por um contabilista e cumprir os requisitos
intrínsecos e extrínsecos presentes na Lei. Os livros possuem uma proteção especial contra
decisões judiciais ou de outras autoridades, com exceção das autoridades fazendárias no
cumprimento do dever de fiscalização:

Art. 1.190. Ressalvados os casos previstos em lei, nenhuma autoridade, juiz ou tribunal, sob qualquer pretexto,
poderá fazer ou ordenar diligência para verificar se o empresário ou a sociedade empresária observam, ou não,
em seus livros e fichas, as formalidades prescritas em lei.

Art. 1.193. As restrições estabelecidas neste Capítulo ao exame da escrituração, em parte ou por inteiro, não se
aplicam às autoridades fazendárias, no exercício da fiscalização do pagamento de impostos, nos termos estritos
das respectivas leis especiais.

Outra exceção que permite a exibição dos livros ocorre quando esta se faz necessária para
solucionar questões de sucessão, comunhão ou sociedade, administração ou gestão à conta
de terceiros ou em caso de falência. Em qualquer caso, o empresário, a sociedade empresária
ou a pessoa nomeada devem acompanhar o exame do livro contábil.

A recusa à apresentação dos livros por ordem judicial nas hipóteses legais pode levar à
apreensão deles:

Art. 1.192. Recusada a apresentação dos livros, nos casos do artigo antecedente, serão apreendidos
judicialmente e, no do seu § 1 o , ter-se-á como verdadeiro o alegado pela parte contrária para se provar pelos
livros.

Parágrafo único. A confissão resultante da recusa pode ser elidida por prova documental em contrário.

O procedimento de exibição dos livros está especificado no CPC:

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Art. 417. Os livros empresariais provam contra seu autor, sendo lícito ao empresário, todavia, demonstrar, por
todos os meios permitidos em direito, que os lançamentos não correspondem à verdade dos fatos.

Art. 418. Os livros empresariais que preencham os requisitos exigidos por lei provam a favor de seu autor no
litígio entre empresários.

Art. 420. O juiz pode ordenar, a requerimento da parte, a exibição integral dos livros empresariais e dos
documentos do arquivo:

I - na liquidação de sociedade;

II - na sucessão por morte de sócio;

III - quando e como determinar a lei.

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11. Nome Empresarial
Conceito
O nome empresarial é uma expressão que identifica o empresário como sujeito de direitos e
obrigações nas relações jurídicas que firmam em razão do exercício da atividade empresarial.
Trata-se de um direito personalíssimo do empresário, ou seja, exclusivamente dele.

A proteção ao nome empresarial começa desde o arquivamento dos atos constitutivos no


Registro competente (como a Junta Comercial). Por outro lado, a criação do nome deve
obedecer os princípios da veracidade e da novidade.

Diferença para outros institutos


O nome empresarial não se confunde com a marca, com o nome fantasia ou com o nome de
domínio. Apesar de todos serem instrumentos relevantes para a atividade empresária, suas
finalidades são diferentes:

• Nome Empresarial: expressão que identifica o empresário para direitos e obrigações em razão do
exercício da atividade empresarial. Exemplo: BK Brasil Operação e Assessoria a Restaurantes S.A.
• Marca: sinal distintivo visualmente perceptível que identifica produtos ou serviços do empresário.
Exemplo: o símbolo visual do Burger King (vide imagem).
• Nome Fantasia: expressão que identifica o título do estabelecimento. Exemplo: Burger King.
• Nome de domínio: endereço eletrônico que hospeda o site do empresário na internet. Exemplo:
site do Burger King (burgerking.com.br).

Exemplo de Marca (Burger King)

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Todos esses institutos possuem proteção legal específica, apesar de diversa do nome
empresarial.

Firma e Denominação
Para o instituto em estudo, devemos nos remeter ao Código Civil:

Art. 1.155. Considera-se nome empresarial a firma ou a denominação adotada, de conformidade com este
Capítulo, para o exercício de empresa.

Parágrafo único. Equipara-se ao nome empresarial, para os efeitos da proteção da lei, a denominação das
sociedades simples, associações e fundações.

Dentro do conceito de nome empresarial, temos a firma e a denominação. A firma é o nome


empresarial em que se utiliza como núcleo o nome civil por extenso ou abreviado, podendo
ser firma individual ou social (exemplos: Empresário - José da Silva; Sociedade – José da
Silva e Cia. ou Silva, Cavalcanti e Barros). A denominação é formada por qualquer expressão
linguística e indicação do objeto social - neste caso, não pode ser individual (exemplos:
Empresário – José da Silva Calçados; Sociedade – Silva, Cavalcanti e Barros Cosméticos;
José da Silva e Cia. Ferragens.). Importante notar que a firma não exige a identificação da
atividade empresarial exercida.

ATENÇÃO!
Com o objetivo de desburocratizar o ambiente de negócios, a Lei nº 14.195/2021 acrescentou
o art. 35-A na Lei nº 8.934/94, determinando que o empresário ou pessoa jurídica poderá
utilizar o CNPJ como nome empresarial.

Art. 35-A. O empresário ou a pessoa jurídica poderá optar por utilizar o número de inscrição no Cadastro Nacional
da Pessoa Jurídica (CNPJ) como nome empresarial, seguido da partícula identificadora do tipo societário ou
jurídico, quando exigida por lei.

Portanto, além da firma e da denominação, surge uma terceira espécie de nome empresarial:
o CNPJ.

Nome empresarial para cada tipo societário


A firma é utilizada obrigatoriamente nos casos de empresário individual (art. 1.156 CC) e para as
sociedades de responsabilidade ilimitada (em nome coletivo e comandita simples) previstas
no art. 1.157 do CC.

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Para as sociedades limitadas, é facultado ao empresário utilizar a firma ou a denominação,
desde que seja seguida pela expressão “limitada” ao final (vide art. 1.158 CC). Já nas sociedades
anônimas é obrigatório o uso de denominação acompanhada de “sociedade por ações” ou
“companhia” ao final do nome (art. 1.160 CC).

Por fim, as EIRELI e as sociedades em comandita por ações podem utilizar firma ou
denominação, especificando o tipo societário ao final.

ATENÇÃO
Uma outra mudança trazida pela Lei nº 14.195/2021, é que agora a menção ao objeto social
na denominação das sociedades anônimas e da sociedade em comandita por ações (quando
optar pela adoção de denominação) é facultativa.

Antes da Lei 14.195/2021 Depois da Lei 14.195/2021

Art. 1.160. A sociedade anônima opera sob


Art. 1.160. A sociedade anônima opera sob
denominação, integrada pelas expressões
denominação designativa do objeto social,
‘sociedade anônima’ ou ‘companhia’, por extenso ou
integrada pelas expressões “sociedade anônima” ou
abreviadamente, facultada a designação do objeto
“companhia”, por extenso ou abreviadamente.
social.
Parágrafo único. Pode constar da denominação
Parágrafo único. Pode constar da denominação
o nome do fundador, acionista, ou pessoa que
o nome do fundador, acionista, ou pessoa que
haja concorrido para o bom êxito da formação da
haja concorrido para o bom êxito da formação da
empresa.
empresa.

Art. 1.161. A sociedade em comandita por ações Art. 1.161. A sociedade em comandita por ações pode,
pode, em lugar de firma, adotar denominação em lugar de firma, adotar denominação, aditada
designativa do objeto social, aditada da expressão da expressão ‘comandita por ações’, facultada a
“comandita por ações”. designação do objeto social.

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12. Proteção ao Nome Empresarial
Impossibilidade de alienação do nome empresarial
Dentre as proteções aplicáveis ao nome empresarial, a primeira a se destacar é a impossibildade
de dispor dele. O Código Civil impede a alienação do nome, com exceção da situação em que
se adquire o estabelecimento empresarial. Dessa forma, se o estabelecimento da empresa
“XYZ Ltda.” é comprado, o adquirente tem a opção de manter o nome do alienante, precedido
do seu próprio e com a qualificação de “sucessor”. Essa hipótese, porém, só pode ocorrer se
estiver prevista no contrato.

Art. 1.164. O nome empresarial não pode ser objeto de alienação.

Parágrafo único. O adquirente de estabelecimento, por ato entre vivos, pode, se o contrato o permitir, usar o
nome do alienante, precedido do seu próprio, com a qualificação de sucessor.

Logo, a regra geral é de que o nome empresarial é personalíssimo.

Falecimento do Sócio

Art. 1.165. O nome de sócio que vier a falecer, for excluído ou se retirar, não pode ser conservado na firma social.

Essa proteção visa resguardar o sócio retirante para que possa realizar outros empreendimentos
e negócios da vida civil sem estar vinculado ao núcleo societário anteriior. Da mesma forma,
o sócio falecido não deve permanecer na firma social para evitar problemas ou vinculações
equivocadas no procedimento sucessório e no decorrer da vida de seus descendentes. Nota-
se que a previsão serve somente ao tipo de nome empresarial “firma”.

Uso do nome empresarial

Art. 1.166. A inscrição do empresário, ou dos atos constitutivos das pessoas jurídicas, ou as respectivas
averbações, no registro próprio, asseguram o uso exclusivo do nome nos limites do respectivo Estado.

Parágrafo único. O uso previsto neste artigo estender-se-á a todo o território nacional, se registrado na forma
da lei especial.

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Via de regra, o nome empresarial é exclusivo nos limites do Estado, mas é possível que o
empresário estenda a aplicação ao território nacional com o procedimento previsto na Lei de
Registros Públicos de Empresa.

O uso exclusivo é a prerrogativa única de usar o determinado nome empresarial para adquirir
direitos e contrair obrigações. Dessa forma, se outro sujeito tentar se utilizar do mesmo nome
em território conflitante, seus negócios estarão carregados de vícios.

O empresário tem o direito de pedir a anulação da inscrição do mesmo nome empresarial no


território, por meio de ação específica (art. 1.167 CC). Além disso, o nome empresarial pode ser
cancelado por qualquer interessado quando as atividades forem encerradas ou sobrevier a
liquidação da sociedade:

Art. 1.168. A inscrição do nome empresarial será cancelada, a requerimento de qualquer interessado, quando
cessar o exercício da atividade para que foi adotado, ou quando ultimar-se a liquidação da sociedade que o
inscreveu.

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13. Estabelecimento Empresarial
Introdução
Segundo o art. 1.142 do Código Civil, o estabelecimento é o complexo de bens organizado pelo
empresário ou pela sociedade empresária para o exercício de sua atividade. Esse conceito
não se resume ao local em que a atividade é realizada, visto que engloba todos os bens
(corpóreos ou incorpóreos, tangíveis ou intangíveis) necessários à execução do negócio.

Art. 1.142. Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por
empresário, ou por sociedade empresária.

§ 1º O estabelecimento não se confunde com o local onde se exerce a atividade empresarial, que poderá ser
físico ou virtual.

§ 2º Quando o local onde se exerce a atividade empresarial for virtual, o endereço informado para fins de registro
poderá ser, conforme o caso, o do empresário individual ou o de um dos sócios da sociedade empresária.

§ 3º Quando o local onde se exerce a atividade empresarial for físico, a fixação do horário de funcionamento
competirá ao Município, observada a regra geral do inciso II do caput do art. 3º da Lei nº 13.874, de 20 de
setembro de 2019.”

É importante também não confundir o estabelecimento com o patrimônio da empresa, já que


este abarca todo o conjunto de bens, direitos e deveres da empresa.

Outros dois conceitos importantes que não se enquadram no estabelecimento empresarial


são:

• os aviamentos: trata-se da capacidade que o estabelecimento comercial possui para a geração de


lucro ou resultado positivo para a empresa;
• a clientela: é o conjunto de pessoas diretamente envolvido na compra dos produtos ou serviços.

Esses dois institutos são atributos do estabelecimento, assim como a caracterização do


ponto de comércio.

Negócios Jurídicos do Estabelecimento


O estabelecimento pode ser objeto de negócios jurídicos, sejam eles translativos (transferência
de propriedade ou posse) ou constitutivos (ex: hipoteca, penhora).

É necessária a averbação dos negócios no Registro competente com a finalidade de oposição


a terceiros (publicidade dos atos).

ALIENAÇÃO DO ESTABELECIMENTO COMERCIAL


O negócio jurídico que dispõe do estabelecimento deve respeitar algumas características:

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• No caso de bens insuficientes, a eficácia do negócio depende do pagamento de todos os credores
ou de seu consentimento, tácito ou expresso;
• A responsabilidade do adquirente alcança os débitos anteriores à transferência se forem regular-
mente contabilizados - o devedor primitivo continua responsável solidariamente por 1 ano, contado
da publicação do negócio com relação aos débitos vencidos ou da data do vencimento para os débi-
tos abertos;
• O alienante se obriga a não criar concorrência com o adquirente por 5 anos, salvo autorização
expressa no contrato;
• O adquirente pode assumir os contratos do alienante que não possuam caráter pessoal, podendo
rescindí-los no prazo de 90 dias se houver justa causa.

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14. Dos Prepostos
Conceito e Previsão Normativa
Os prepostos são sujeitos que agem em nome do empresário em determinadas situações ou
circunstâncias. O primeiro aspecto a ser ressaltado é a necessidade de autorização escrita
para que o preposto seja substituído em suas atividades , transferindo suas funções para um
terceiro (art. 1.169 CC). Na ausência de tal autorização o preposto responde pessoalmente
pelos atos do substituto e as obrigações contraídas.

Além disso, entende-se que os prepostos não podem, sem autorização expressa:

• negociar por conta própria ou de terceiro;


• participar direta ou indiretamente de operação do mesmo gênero da que lhe foi cometida.

O desrespeito a essas normas gera responsabilidade civil e o possível pagamento de perdas


e danos.

Quem são os Prepostos?


GERENTE

Art. 1.172. Considera-se gerente o preposto permanente no exercício da empresa, na sede desta, ou em
sucursal, filial ou agência.

Art. 1.173. Quando a lei não exigir poderes especiais, considera-se o gerente autorizado a praticar todos os atos
necessários ao exercício dos poderes que lhe foram outorgados.

Parágrafo único. Na falta de estipulação diversa, consideram-se solidários os poderes conferidos a dois ou mais
gerentes.

Via de regra, o gerente possui amplos poderes de atuação em nome do empresário. Eventuais
limitações ou revogações de poderes podem ser opostas a terceiros, desde que sejam
publicizadas através de arquivamento e averbação no órgão competente.

Contabilista
Sobretudo nos atos de escrituração contábil, o contabilista figura como preposto do
empresário, assumindo as responsabilidades pertinentes à sua função.

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Art. 1.177. Os assentos lançados nos livros ou fichas do preponente, por qualquer dos prepostos encarregados
de sua escrituração, produzem, salvo se houver procedido de má-fé, os mesmos efeitos como se o fossem por
aquele.

Parágrafo único. No exercício de suas funções, os prepostos são pessoalmente responsáveis, perante os
preponentes, pelos atos culposos; e, perante terceiros, solidariamente com o preponente, pelos atos dolosos.

Responsabilidade do Preponente

Art. 1.175. O preponente responde com o gerente pelos atos que este pratique em seu próprio nome, mas à
conta daquele.

Art. 1.178. Os preponentes são responsáveis pelos atos de quaisquer prepostos, praticados nos seus
estabelecimentos e relativos à atividade da empresa, ainda que não autorizados por escrito.

Parágrafo único. Quando tais atos forem praticados fora do estabelecimento, somente obrigarão o preponente
nos limites dos poderes conferidos por escrito, cujo instrumento pode ser suprido pela certidão ou cópia
autêntica do seu teor.

O preponente é aquele que dá os poderes ao preposto, sendo responsável pelos atos, com
exceção dos atos praticados que extrapolem as funções atribuídas.

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Teoria Geral do Direito
Empresarial

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