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VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Coordenação do trabalho pedagógico: do projeto político-pedagógico ao cotidiano da sala de aula.

São Paulo: Cortez,


2019. [16ª edição revista e ampliada; original: 2002]

Capítulo 1 – “Projeto político-pedagógico: Considerações sobre sua elaboração e concretização”, pp. 21-71.

1. A emergência da necessidade do Projeto Político-Pedagógico (PPP). (pp. 21-25)


1.1. Que a educação precisa mudar já virou lugar-comum.
1.2. Porém, ao tentar mudá-la, percebe-se a fragilidade da teoria, das convicções, da organização e das condições
existentes.
1.3. Por quê? É preciso vincular a transformação das práticas da sala de aula a uma proposta conjunta de mudança da
escola.
1.4. É nessa perspectiva que o PPP surge como instrumento teórico-metodológico para a mudança.
1.4.1. Desde os anos 1980 se entende a escola como mais do que um prolongamento do sistema de ensino: instância
de concretização de políticas educativas.
1.4.1.1. Isso foi resultado da crítica sociológica dos anos 1970 (teorias críticas), do avanço da escola de massas
e da chegada dos modelos de gerenciamento empresarial (planejamento estratégico e qualidade total).
1.4.2. Por isso, se adotará aqui a compreensão do PPP dentro do marco do Planejamento Participativo.
1.4.2.1. Por quê? Coerência com a visão emancipadora da educação.
1.4.2.2. Proposta do capítulo: focar no método de construir o PPP.
1.4.2.2.1. Trata-se de uma aproximação segundo esta perspectiva teórico-metodológica, apresentada
de forma um pouco diretiva (não por autoritarismo, mas para que se tenha clareza de com quem se
está dialogando).
1.4.2.2.2. Os outros capítulos podem ser lidos como sendo os “conteúdos” do PPP.

2. Resgatando o conceito e a finalidade do PPP. (pp. 25-38)


2.1. Conceito:
2.1.1. “Projeto Político-Pedagógico” = plano geral da instituição.
2.1.1. I.e.: sistematização do processo de planejamento participativo (sempre provisória).
2.1.2. Características:
2.1.2.1. Abrangência: é amplo, integral e global.
2.1.2.2. Duração: é de longo prazo.
2.1.2.3. Participação: é coletivo e democrático.
2.1.2.4. Concretização: é processual (i.e.: depende de ação-reflexão-ação permanente).
2.1.3. É composto por dois subprocessos:
2.1.3.1. Elaboração, em três dimensões:
2.1.3.1.1. Análise da realidade (coleta dados e produz conhecimento a partir deles).
2.1.3.1.2. Projeção de finalidades (estabelece objetivos, horizontes, valores).
2.1.3.1.3. Elaboração de formas de mediação (plano de ação, operacionalizando atividades).
2.1.3.2. Realização interativa, em duas dimensões:
2.1.3.2.1. Ação, propriamente dita.
2.1.3.2.2. Avaliação.
2.1.4. Controvérsia do nome: pedagógico ou político-pedagógico?
2.1.4.1. Não há consenso: projeto político-pedagógico, educativo, escolar etc.
2.1.4.1. Aqui, a opção será “político-pedagógico”: frisar que não é tarefa meramente técnica e que sempre se
serve a algum projeto (próprio ou de outrem), querendo ou não.

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2.2. Finalidade:
2.2.1. Antônio Joaquim Severino, “O diretor e o cotidiano da escola”, 1992: projeto como instrumento para ajudar a
construir uma “intencionalidade compartilhada”.
2.2.2. Portanto, o PPP tem por finalidades:
2.2.2.(1). Superar a crise de sentido das ações da escola.
2.2.2.(2). Gerar esperança na transformação da realidade.
2.2.2.(3). Gerar solidariedade e parceria (um referencial de conjunto).
2.2.2.(4). Superar o caráter fragmentário das práticas escolares.
2.2.2.(5). Racionalizar os esforços e recursos.
2.2.2.(6). Criar canais de participação efetiva na escola (contra o autoritarismo e isolamento).
2.2.2.(7). Diminuir o sofrimento advindo dos desafios cotidianos do trabalho.
2.2.2.(8). Fortalecer a identidade do grupo.
2.2.2.(9). Promover a formação dos participantes.
2.2.3. Alerta: não é remédio milagroso – depende da qualidade política e da qualidade técnica do processo.
2.2.3.1. O PPP é instrumento de luta: mecanismo para consolidar a autonomia da escola e instaurar um ethos
de corresponsabilidade pelos resultados dela.
2.2.3.2. A falta de autocrítica da escola deixa ela à mercê de juízos e soluções definidas de fora para dentro.
2.3. Estrutura do PPP:
2.3.1. A estrutura deve corresponder naturalmente às três dimensões do processo de elaboração do planejamento.
2.3.1.1. Projeção de finalidades = Marco Referencial.
2.3.1.2. Análise da realidade = Diagnóstico.
2.3.1.3. Elaboração das formas de mediação = Programação.
2.3.1.3.1. Para uma análise mais aprofundada dessa estrutura: Celso Vasconcellos, Planejamento:
Projeto de Ensino-Aprendizagem e Projeto Político-Pedagógico, 1999.
2.3.2. As partes:
2.3.2.1. Marco Referencial: explicitação das opções político-pedagógicas e dos valores assumidos.
2.3.2.1.1. É composto por:
2.3.2.1.1.1. Marco Situacional: leitura da realidade.
2.3.2.1.1.2. Marco Filosófico: ideais gerais.
2.3.2.1.1.3. Marco Operativo: ideais específicos.
2.3.2.1.2. Serve para fornecer os parâmetros para o Diagnóstico.
2.3.2.2. Diagnóstico: pesquisa e análise da realidade da escola.
2.3.2.2.1. Coleta de dados de diferentes fonte e emissão de um juízo sobre eles.
2.3.2.2.1.1. I.e.: o quão longe se está daquilo que se deseja?
2.3.2.2.2. Serve para descobrir as necessidades da escola.
2.3.2.3. Programação: o que é necessário e possível fazer?
2.3.2.3.1. Serve para decidir quais caminhos seguir.
2.3.3. Essas três dimensões/partes devem estar articuladas sempre: desejo de mudança + consciência do possível.
2.3.3.1. O sonho é importante; mas no lugar certo (qualificação dos sonhos).
2.4. Método: planejamento participativo.
2.4.1. A próxima seção irá se concentrar nas estratégias de elaboração.
2.4.2. No entanto, é preciso dizer que o planejamento participativo traz muitas contribuições para a qualidade do PPP.
2.4.2.1. Qualidade formal: rigor teórico-metodológico.
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2.4.2.2. Qualidade política: participação como direito e dever do sujeito.
2.4.2.2.1. A participação é uma forma de atender o anseio fundamental do ser humano ser notado.
2.4.2.2.1.1. Pela participação, o indivíduo se faz sujeito.
2.4.2.2.2. O indivíduo pode inclusive escolher não participar: neste caso, as contradições do
(des)engajamento ficam para a própria pessoa, e não para o grupo.
2.4.3. Por isso, é melhor evitar práticas comuns, como elaborar o PPP por comissões de representantes ou por meio de
um texto-base elaborado alhures e submetido à apreciação do grupo.
2.4.4. Ganhos da participação direta:
2.4.4.1. Psicológicos: gera engajamento.
2.4.4.2. Epistemológicos: produz-se conhecimento sobre o seu cotidiano.
2.4.4.3. Políticos: resgata a cidadania dos sujeitos.
2.4.4.4. Pedagógicos: qualifica a equipe.
2.4.5. Além disso, a participação gera corresponsabilização.
2.4.5.1. Não se planeja para outros: luta-se pela legitimação do trabalho pedagógico coletivo.
2.4.5.2. As resistências internas se transformam apenas em obstáculos a serem tratados pela prática
democrática do convencimento.

3. Fundamentação teórico-metodológica do PPP. (pp. 39-50)


3.1. Fundamentos lógicos das partes do PPP:
3.1.1. O ponto de partida é o desejo de mudança: se está tudo bem, não é preciso planejar a mudança.
3.1.2. Para isso é preciso ação.
3.1.3. Mas não qualquer ação: ação transformadora – i.e., ação imbuída de intencionalidade e proposta.
3.1.4. Como chegar à essa ação transformadora? Reflexão para localizar as necessidades e possibilidades.
3.1.4.1. “Necessidade”: critério básico de qualidade da ação a ser realizada – uma demanda radical da escola.
3.1.4.1.1. Como tal, é fruto de um processo hermenêutico: leitura do real e da negociação das
percepções.
3.1.4.1.2. É um trabalho difícil: nem todos podem concordar que algo é uma necessidade; ou perceber
uma certa necessidade de forma alienada, acrítica.
3.1.4.1.3. Por isso, é preciso muito diálogo e consideração das percepções de cada um.
3.1.4.2. “Possibilidade”: critério de viabilidade da ação a ser realizada – algo realmente exequível.
3.1.4.2.1. Como tal, é fruto de um processo político: análise das relações de poder e escolha de opções.
3.1.4.2.2. Igualmente desafiador: é preciso muita negociação, para não subestimar o poder de ação do
grupo (tendência ao imobilismo) ou superestimá-lo (tendência ao voluntarismo).
3.1.5. Essa reflexão só é possível ao se debruçar sobre a realidade da escola: Diagnóstico.
3.1.5.1. Não é só coletar dados. É preciso tomar posição diante deles.
3.1.6. Esse juízo sobre a realidade precisa ter critérios: um referencial.
3.1.6.1. É por isso que se começa a elaborar o PPP pelo Marco Referencial.
3.1.7. Esta exposição começou de trás para frente para deixar claro que as partes do PPP não são mera justaposição:
um todo articulado organicamente.
3.2. Por onde começar?
3.2.1. Virou chavão na educação dizer que sempre se deve partir da realidade concreta.
3.2.2. De fato, é um começo possível. Mas cabem alguns alertas:
3.2.2.1. Nenhuma coleta de dados é neutra: querendo ou não, há um referencial para ler o mundo.
3.2.2.2. Começar pelo confronto com a realidade pode ser desanimador sem um horizonte a perseguir.

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3.2.2.3. Diagnosticar cedo demais pode levar alguns a se sentirem atacados como “responsáveis” pelo
problema.
3.2.2.4. Começar pela realidade pode limitar o desejado.
3.2.2.5. É mais difícil o consenso sobre os problemas e suas causas do que sobre os sonhos a se perseguir.
4. Sobre a construção do PPP. (pp. 52-53)
4.1. Como qualquer processo educativo, a elaboração do PPP exige competência:
4.1.1. Conceitual: precisão sobre o que é e quais as finalidades do PPP.
4.1.1.1. Importante para não confundir PPP com regimento escolar, com a mera costura de planos individuais
ou com a adoção de uma “linha pedagógica”.
4.1.2. Atitudinal: o desejo de fazer o projeto.
4.1.2.1. Assunto da próxima seção.
4.1.3. Procedimental: o caminho para se fazer o PPP.
4.1.3.1. Assunto de seção mais à frente.
5. Sobre o desejo/necessidade de fazer o PPP. (pp. 53-59)
5.1. Como promover o engajamento com a tarefa complexa de elaborar o PPP?
5.2. Importância de um período prévio de sensibilização.
5.2.1. Simplesmente avisar que “tem que” ser feito o PPP já é desmobilizador.
5.2.2. Tal qual na aprendizagem em sala de aula, é preciso investir na dialética cognição-afetividade: bons argumentos
aliados à consciência da necessidade e possibilidade de mudança.
5.3. Como fazer isso?
5.3.1. Despertar: resgatar o sujeito.
5.3.1.1. Exercitar a percepção das contradições e exclusões da realidade.
5.3.1.2. Instigar a ruptura da posição meramente reativa: tomada de posição, mesmo a de não querer
participar.
5.3.1.3. Ouvir outras vozes: alunos, setores marginalizados etc.
5.3.2. Projetar: tematizar o planejamento explicitamente.
5.3.2.1. Levantar as representações dos sujeitos sobre o planejamento.
5.3.2.2. Apresentar os objetivos, a finalidade, a lógica, as etapas, os métodos do PPP.
5.3.2.3. Ser realista: PPP não é panaceia.
5.3.2.4. Valorizar os momentos de tomada de decisão, assegurando tempos para trocas de opiniões.
5.3.3. Decidir: a sensibilização não pode ser eterna.
5.3.3.1. Momento de decisão real, e não de cartas marcadas: tem que ser possível decidir não fazer o PPP.
5.3.3.1.1. Se for uma exigência o documento, que se faça pelos outros métodos mencionados antes.
5.3.3.2. A envolvimento dos sujeitos será confirmado (ou não) pela continuidade dos trabalhos.
6. Sobre o caminho de elaborar o PPP. (pp. 58-67)
6.1. Etapas de elaboração (baseadas em experiências prévias e na bibliografia do planejamento participativo):
6.1.1. Apresentação da tarefa: elucidar bem o que se espera dos trabalhos.
6.1.2. Resposta individual: expressão livre das ideias de cada participante.
6.1.3. Sistematização das respostas: em grupos, articular as respostas individuais em textos coesos.
6.1.3.1. Etapa que exige que se evite a interpretação: o objetivo é ser fiel a cada posicionamento.
6.1.3.1.1. Na impossibilidade de consenso já nessa etapa, é preferível manter o texto original.
6.1.3.2. Em sua conclusão, deve-se distribuir todos os textos redigidos para todos.
6.1.4. Plenário: hora de fazer a apreciação crítica dos textos coletivamente.
6.1.4.1. Começa pela explicitação do procedimento de redação.
6.1.4.2. Leitura do texto.

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6.1.4.3. Análise de fidelidade: todos se reconhecem no texto?
6.1.4.4. Análise técnica: o texto pertence à parte do PPP em elaboração? O texto está claro?
6.1.4.5. Análise do conteúdo: o grupo concorda com o que está dito?
6.1.4.5.1. Esta é a hora da construção do consenso.
6.2. Questão do papel da coordenação do processo de elaboração.
6.2.1. Não é preciso que todos os participantes supervisionem cada aspecto da elaboração: é bom ter um coordenador.
6.2.2. Compete à coordenação:
6.2.2.1. Estar atenta ao plenário, mas manter o trabalho produtivo.
6.2.2.2. Manter certo distanciamento em relação aos debates.
6.2.2.3. Manter certo distanciamento dos órgãos diretores; preferencialmente, ser um professor.
6.2.3. Para manter a credibilidade do processo:
6.2.3.1. Assegurar que o processo de elaboração não demore muito.
6.2.3.2. Assegurar que as decisões tomadas realmente virem ações.
6.2.3.2.1. Prestar atenção para a natureza dinâmica da realidade: as necessidades podem mudar.
6.2.3.2.1.1. Nada impede de rever algo que foi decido, de modo a revogar uma ação planejada.
6.3. Alguns cuidados:
6.3.1. Atenção à função crítica do PPP: não é texto pelo texto, e sim qual o impacto transformador das ações.
6.3.2. Ter clareza dos conceitos: não perder tempo debatendo conceitos sem importância.
6.3.2.1. Alguns temas podem ser estudos antes de começar a elaboração do PPP.
6.3.2.2. Outros temas podem surgir no curso dos debates, e é melhor que se resolvam ali mesmo.
6.2.2.3. Se alguma questão for muito polêmica, nada impede que ela apareça na Programação como uma ação
de formação para aprofundar seu entendimento.
6.3.3. Explicitar o “o que” e o “para que” das ações na Programação.
6.3.4. Administrar bem o tempo da elaboração.
7. Concretização do projeto e avaliação institucional. (pp. 67-71)
7.1. Por que, às vezes, o que é planejado não é executado?
7.1.1. Evidentemente, há interferência de fatores externos.
7.1.2. Mas, muitas vezes, o que houve foi falha em alguma fase da elaboração:
7.1.2.1. Na sensibilização: o indivíduo envolvido na ação enxerga o projeto como algo de outro agente.
7.1.2.2. Na localização das necessidades: a ação ou a demanda não faz sentido.
7.1.2.3. No dimensionamento das possibilidades: está difícil demais.
7.2. Sempre que essas dificuldades surgirem, é importante seguir com a metodologia participativa: tratar com o grupo.
7.2.1. Daí a importância das reuniões pedagógicas semanais, para monitorar a concretização do PPP.
7.3. A autoavaliação da escola ocupa papel vital na concretização do PPP.
7.3.1. Tal qual a avaliação da aprendizagem, ela deve ser formativa e emancipatória (e não punitiva e excludente).
7.3.2. Roteiro:
7.3.2.1. Análise da programação: as ações ocorreram? Atingiram seus objetivos? Está se avançando?
7.3.2.2. Análise das necessidades: as demandas foram supridas? Algo mudou? Há novas demandas?
7.3.2.3. Análise do Marco Referencial: é preciso mudar alguma coisa com a qual o grupo não se identifica mais?
7.4. A autoavaliação da escola deve estar prevista na Programação.

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