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Professor reflexivo consciente do seu papel transformador

Mircéia Terezinha Suffiatti Mesnerovicz Vareiro

Resumo
Trabalho de Conclusão da Unidade de Ensino Cotidiano da Educação Infantil, que objetiva retomar a
reflexão sobre o papel fundamental do professor na Educação Infantil, este como agente de
transformação do ambiente em que atua e que coloca a criança como participante das ações
pedagógicas. Para isso, são recuperados os textos da disciplina que discorrem sobre os papéis dos
educadores, pedagogia da participação, planejamento, pedagogia freinetiana e as diretrizes curriculares
nacionais para a Educação Infantil. O texto finaliza com a necessidade de o professor refletir sua
prática por meio de uma teoria consistente que a fundamente, como exemplo, o aporte teórico
utilizado evidencia a observação da criança como subsídio fundamental para nortear as ações do
educador em sala de aula, na formação efetiva de um cidadão participativo na sociedade.

Palavras-chave: Educação Infantil. Pedagogia da Participação. Professor Reflexivo. Aporte Teórico.

Introdução

O presente trabalho conclui a Unidade de Ensino Cotidiano da Educação Infantil do


curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Unidade Campo
Grande. Ressalta-se que se esgotam as 60 horas presenciais previstas no Projeto Político
Pedagógico, mas sem findar a influência que a apropriação do conteúdo é capaz de atingir nas
futuras ações do educador.
Diante dos diferentes autores que fundamentam a disciplina em diversas perspectivas,
o objetivo deste trabalho é retomar a reflexão sobre o papel fundamental do professor na
Educação Infantil, como agente transformador do ambiente em que atua e que se aprofunda
em teorias para fundamentar sua prática, que reconhece na criança uma cidadã ativa e
produtora de cultura e que garante seu direito de participação.
Para tanto, o aporte teórico concentra-se nos trabalhos de Oliveira-Formosinho e Lino
(2009) sobre os papéis das educadoras; Oliveira-Formosinho (2007) e a pedagogia da
participação; Ostetto (2000) e o planejamento tendo a criança como foco; Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil – DCNEI (2010); Angotti (2002) e Araújo,
Araújo (2007) sobre a pedagogia freinetiana.

Professor reflexivo
A criança é cidadã, e, portanto, de direitos. Tem direito de conviver com adultos e
crianças, de brincar, de participar do planejamento e avaliação, direito de explorar, de
expressar-se, de conhecer-se. A Educação Infantil de qualidade, pública e gratuita deve ser
ofertada pelo Estado.
As propostas pedagógicas elaboradas em um processo coletivo, com respeito aos
princípios éticos, políticos e estéticos em torno de dois eixos, as interações e a brincadeira,
precisam garantir que as crianças tenham experiências com diferentes linguagens e atividades
individuais e coletivas, nos mais variados espaços, com diferentes objetos, relações e
manifestações. As estratégias de transições, da família para a creche, desta para a pré-escola e
desta para o Ensino Fundamental, devem ser de tais formas planejadas que ocorram
naturalmente, sem rupturas.
Direções que estão presentes nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Infantil e podem ser materializadas em primeiro lugar por meio de professores bem formados,
conscientes de seu papel transformador, tão importante este que, segundo Araújo; Araújo,
2007, p.172 ao analisarem a pedagogia de Célestin Freinet afirmam que sua contribuição
“associa-se a uma idéia de renovação da escola, não a partir de cima ou de fora, mas a partir
dos próprios professores no seu trabalho diário com as crianças”. Afinal, “a criança é a chave
do futuro, é a esperança de realizações futuras em defesa do direito de todos, na
transformação da sociedade, no trabalho pela coletividade” (ANGOTTI, p.48).
Para tanto, não é necessário que a infância seja abreviada por meio da antecipação
exagerada dos conteúdos que só serão trabalhados no Ensino Fundamental, nem interromper a
criança transformando-a em aluno, ela não precisa perder-se em um emaranhado de papel e
lápis, mas construir uma relação de respeito e afetividade. Ouvir a criança e torná-la
participante.
A pesquisa realizada por Oliveira-Formosinho e Lino (2009) revela a compreensão
que as crianças têm dos papéis dos educadores em sala de aula, com uma competência maior
do que pressupõe a família e a escola, e que esta compreensão coincide tanto com os dados
científicos da pesquisa, quanto com a ideia que as próprias educadoras fazem de si mesmas,
evidenciando assim, a relevância em ouvir o que as crianças têm a dizer, observá-las, escutá-
las e incorporar as respostas às ações educativas e, por que não, nos projetos pedagógicos,
tornando-as cidadãs participativas, o que Oliveira-Formosinho (2007) conceitua de pedagogia
da participação. Nessa pesquisa, enquanto em uma das salas a educadora exerce uma
pedagogia do controle, na outra a educadora realiza uma pedagogia da colaboração, e as
crianças percebem o contraste entre as diferentes ações pedagógicas. A criança tem clareza do
papel do professor. Essa escuta e sua materialização na prática contribuem para o
“desenvolvimento cívico de cidadãos participativos desde os anos da infância” (OLIVEIRA-
FORMOSINHO; LINO, 2009, p. 25).
Para isso, é indispensável um bom planejamento, não cristalizado, inflexível ou até
mesmo improvisado, mas consistente com uma teoria que o fundamente e flexível, onde
contemple as vozes das crianças, que permita as inúmeras formas de interação. O professor
junto com a criança construindo relações. "Não é a atividade em si que ensina, mas a
possibilidade de interagir, de trocar experiências e partilhar significados é que possibilita às
crianças o acesso a novos conhecimentos" (MACHADO, 1996, p. 8 apud OSTETTO, 2000,
p. 191).
Por esse motivo que o educador precisa estar em observação permanente para exercer
um trabalho de qualidade e com intencionalidade pedagógica. Como bem afirma Ostetto
(2000), é atitude crítica frente ao seu trabalho docente e com o tempo, o professor torna-se
mais sensível às necessidades das crianças.

Considerações Finais

A educação como garantia de formação de um cidadão crítico, autônomo e


participativo, comprometido com a construção de si mesmo e envolvido na transformação da
sociedade é uma concepção teórica que permeia grande parte dos projetos políticos
pedagógicos das escolas, no entanto, o que se percebe na prática não é a totalidade da
concretização dessa concepção. Assim, a teoria que fundamenta os projetos corre o risco de
tornar-se esvaziada de sentido para os educadores, quando na verdade deveria amparar suas
ações em sala de aula.
O que se demonstrou no desenvolvimento desse trabalho foi que, para que o professor
seja crítico-reflexivo diante da sua prática é indispensável que retome as teorias, algumas aqui
apresentadas, mas que não se esgotam. Quando não se sabe o que fazer frente às dificuldades
em despertar na criança o interesse pelo espaço, pelos objetos, pelas relações, por sua própria
aprendizagem, o educador precisa saber onde buscar os subsídios que o instrumentalize a
mudar de direção.
Com essa apropriação o educador, seja nos espaços internos ou externos à escola, seja
sentado em uma cadeira ou no meio das brincadeiras interagindo com as crianças, seja em
uma atividade ou jogo dirigido ou no olhar da livre expressão, seja no momento do
planejamento ou nas reuniões com demais profissionais. Em todo o tempo, em qualquer
espaço, o olhar do educador precisa ser de observação crítica e reflexiva, os ouvidos dispostos
a escutar o que as crianças e a família dizem e levar em consideração em suas ações. O que
deu certo? O que não deu? É o momento de intervir? Ou de deixá-los livres? Qual o plano
alternativo caso o principal não funcione? O que despertou o interesse? Ou que os deixou
apáticos? O que as crianças têm a dizer?
É sempre possível ir mais além para garantir que as necessidades e interesses das
crianças sejam atendidos, em uma relação de respeito mútuo. O professor consciente do seu
papel forma um cidadão consciente do seu papel na sociedade.

Referências

ANGOTTI, Maristela. O Trabalho Docente na Pré-Escola: Revisitando Teorias,


Descortinando Práticas. São Paulo, SP: Pioneira, 2002, pp. 47-67.

BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília, DF: MEC,
SEB, 2010.

OLlVEIRA-FORMOSINHO, Júlia; KISHIMOTO, Tizuko Morchida; PINAZZA, Mônica


Apezzatto (Orgs). Pedagogia(s) da Infância: Dialogando com o Passado Construindo o
Futuro. Porto Alegre: Artmed, 2007.

OLIVEIRA-FORMOSINHO, Júlia de; LINO, Dalila Maria Brito da Cunha. Os papéis das
educadoras: as perspectivas das crianças. Revista Educação em Foco (online). Juiz de Fora,
MG: UFJF, v.13, n.2, p.9-29, set/2008-fev/2009. Disponível em:
<http://www.ufjf.br/revistaedufoco/files/2009/11/Artigo-01-13.2.pdf>.

OSTETTO, Luciana E. (Org.). Encontros e Encantamentos na Educação Infantil. 3 ed.


Campinas, SP: Papirus, 2000, pp. 175-200.

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