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CONTABILIDADE DE GESTÃO

Capítulo 3.1 - O MODELO CVR E A TOMADA DE DECISÃO

COMPORTAMENTO DOS CUSTOS


Numa perspetiva de médio e longo prazo, todos os custos variam em função do nível de
atividade, embora se possam identificar padrões de variação diferenciados. Os custos
diretamente associados a um determinado nível de capacidade instalada de uma empresa,
mantêm-se inalteráveis face a variações do nível de atividade que não excedam a capacidade
instalada. Existem outros custos que variam em função do nível de atividade e que no médio
prazo decrescem com o aumento desse mesmo nível de atividade, por efeito da curva de
experiência e da curva de economia de escala.

Comportamento dos custos globais a curto prazo / Comportamento dos custos globais a
médio e longo prazo

Comportamento dos custos unitários

Comportamento dos réditos


A médio/longo prazo o preço de venda (pv) tende a decrescer, pelo aumento do n.º de
concorrentes.
Ø Réditos globais com incrementos progressivamente decrescentes, pois aumenta
o n.º de unidades vendidas mas baixa o pv.
A curto prazo o pv tende a manter-se inalterado, pelo que os réditos globais variam
proporcionalmente ao nível de atividade.
BASE DA ANÁLISE CVR: Sistema de Custeio Variável ou Direct Costing
Característica fundamental deste Sistema:
— Devem incluir-se no custo de produção todos os custos variáveis industriais e, por
conseguinte, também a parte variável dos custos semivariáveis.
— Os custos fixos são considerados como custos do período a que se reporta o
apuramento dos resultados.

INTERVALO RELEVANTE
A análise Custos-Volume-Resultados (CVR) assenta unicamente na perspetiva do curto
prazo. Sendo válida apenas para decisões, cujos efeitos se materializam neste horizonte
temporal, no qual é possível individualizar um intervalo, expresso em n.º de unidades de
produto ou de tempo.
Pressupostos deste intervalo de nível de atividade:
* O pv mantém-se constante originando réditos globais proporcionais ao nível de atividade
(Réditos = Q * pv);
* O custo variável unitário mantém-se constante (KV = Q * cv), originando custos variáveis
globais proporcionais ao nível de atividade;
* Os custos fixos totais mantêm-se inalterados (KF);
* A quantidade produzida é igual à quantidade vendida, não havendo Ei nem Ef.

Dentro do intervalo relevante o resultado é dado pela seguinte equação:

RO = V – KV - KF

Q*pv = V Q*cv = KV

MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO OU DE COBERTURA


Dentro do intervalo relevante, cada nível de atividade Q proporciona uma margem global
Q*(pv–cv) que contribui para a cobertura dos custos fixos (KF) e, ainda, gera lucro.

Margem de cobertura unitária (mc) = pv - cv

Margem de cobertura total (MC) = Q * mc

Assim, a equação CVR do resultado pode ser apresentada:

RO = Q * (pv – cv) – KF RO = Q * mc - KF RO = MC - KF

A margem de contribuição pode também ser expressa em percentagem das vendas:


— Pode ser calculada a partir dos valores globais

%MC = (V – KV) / V

— Ou a partir dos valores unitários

%MC = (pv – cv) / pv


A margem de contribuição global é também dada pelo produto do volume de vendas V pela
%Mc :

MC = V * %MC

Modelo de DR

Vendas V

- Custos variáveis - KV

Industriais

Não industriais

Margem de contribuição MC

- Custos fixos - KF

Industriais

Não industriais

= Resultado RO

Ponto Crítico das Vendas


O conceito de ponto crítico é importante para o planeamento e para a projeção de cenários. O
Ponto Crítico das vendas (ponto morto, limiar de rendibilidade ou breakeven point) é o nível
de atividade (expresso em vendas, quantidade ou valor) que proporciona um resultado nulo.

Ponto crítico em quantidade:

Ponto crítico em valor:

Níveis de atividade superiores proporcionam resultados positivos e níveis de atividade


inferiores dão origem a prejuízos.
Tem os seguintes pressupostos:
1. Os custos podem separar-se em variáveis e fixos;
2. Não há variação dos preços dos fatores de produção;
3. Não há variação dos preços de venda.
No caso de não ser conhecido o preço de venda (pv) e o custo variável unitário (cv), deve-se
trabalhar com o custo variável em percentagem – através da Margem de Comercialização em
percentagem:

REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DE RELAÇÃO ENTRE CUSTOS, ATIVIDADE E


RESULTADOS

MARGEM DE SEGURANÇA
A Margem de Segurança (Ms) é um indicador de risco que mede a proximidade ou
afastamento de um determinado nível de vendas V (Q) relativamente ao Ponto Crítico V *
(Q*).
Quanto maior (menor) a Margem de Segurança menor (maior) o risco operacional da
empresa.
A margem de segurança em valor absoluto é representada pelas vendas diferenciais ao
ponto crítico (V – V*).
Em regra a margem de segurança expressa-se em termos relativos (em %), segundo 2
óticas:
1 - Em relação ao ponto crítico:

O que significa que este indicador nos informa quanto a empresa está a laborar acima do
ponto crítico.
2 – Em relação às vendas:
O que significa que a margem de segurança, assim definida, nos informa (em percentagem)
quanto as vendas podem baixar sem que a empresa tenha resultados operacionais
negativos.

LIMITAÇÕES DA ANÁLISE CVR


Apesar das suas limitações a análise CVR permite a tomada de decisão de forma muito mais
consistente do que com a utilização do custeio total.
As limitações do CVR derivam da simplificação do modelo:
 Estabilidade dos custos fixos
 Proporcionalidade dos custos variáveis
 Separação entre custos fixos e variáveis
 Constância do pv no período em análise
Apesar das limitações, o ponto crítico e o custeio variável constituem instrumentos
fundamentais no processo decisório otimizados com a utilização do conceito de “custo
diferencial médio”:
• Determinar o volume de vendas necessário para obter um resultado pré-fixado.
• Determinar o resultado para vários volumes de vendas, em que V pode assumir
as várias hipóteses do volume de vendas.

Vn = (KF + Res. Pretendido) / % MC

RO = (V – V’) * % MC
ESTIMATIVA DE RESULTADO CONHECENDO O PONTO CRÍTICO
O ponto crítico, determinado em quantidades ou em valor é um indicador estático, apenas
informa as quantidades a produzir e vender ou o volume de vendas para que se atinja o limiar
de rendibilidade (Resultado zero).
Contudo a teoria do CVR permite uma análise dinâmica em termos de rendibilidade e risco
numa perspetiva de curto prazo. A partir do modelo é possível deduzir uma equação para
estimar resultados de diferentes cenários.
Se Q* representa as quantidades a vender e produzir para que o resultado seja zero, então
podemos afirmar que os lucros têm a ver com a margem de contribuição proporcionada pelas
quantidades a produzir e a vender para além do ponto crítico (quantidades diferenciais),
então:

— Generalizando, o resultado proporcionado por qualquer nível de vendas (Q),


conhecido que seja o Ponto Crítico (Q*), é dado por:

RO = (Q – Q*) * mc
(Q – Q*) - número de unidades vendidas a mais (ou menos, se Q < Q*) do que o Ponto
Crítico.

 O mesmo planeamento pode ser feito a partir dos dados expressos em valor, através da
seguinte expressão:

RO = (V – V*) * %mc
(V – V*) - o volume de vendas acima (ou abaixo) do Ponto Crítico

IMPACTO DAS DECISÕES NOS CUSTOS E RÉDITOS


A tomada de decisão envolve quase sempre, no curto prazo, alterações no nível dos custos,
dos réditos, dos resultados e do nível de atividade. A análise CVR, embora sendo um modelo
muito simplificado da realidade, fornece uma razoável base de análise do comportamento
dos custos e dos resultados face a variações no nível de atividade, numa perspetiva de curto
prazo; como tal, pode constituir uma ferramenta importante na preparação de decisões de
gestão.
Uma decisão de gestão envolve, na maioria dos casos, a opção por uma nova situação a que
está associada uma nova estrutura de custos e/ou réditos e resultados, diferente da existente
na situação anterior à decisão. Contudo, na maioria das situações, uma determinada decisão
apenas implica a alteração de alguns custos/réditos da empresa e não a sua totalidade.
Custos irrelevantes – são os custos que não se alteram com uma determinada decisão de
gestão e que, por isso, são irrelevantes para essa tomada de decisão.

Custos, Réditos e Resultados Diferenciais


O cálculo dos custos, dos réditos e dos resultados diferenciais permite avaliar o impacto de
uma decisão recorrendo apenas à avaliação do impacto nos custos e réditos relevantes para a
tomada de decisão.

Capítulo 3.2 – Rendibilidade e Risco: Alavancagem

Para efeitos da análise CVR, importa distinguir risco operacional e risco fianceiro.
Risco operacional tem a ver com a probabilidade do resultado operacional se afastar do
valor estimado.
Decompõe-se em:
 Risco Comercial (volatilidade dos proveitos decorrentes das vendas);
 Risco Tecnológico (volatilidade dos custos relacionados com os processos)

O Risco financeiro pode ser analisado segundo 3 perspetivas:


— A perspetiva de tesouraria de curto prazo (probabilidade dos recebimentos
operacionais não serem suficientes para fazer face aos pagamentos operacionais);
— A perspetiva da solvabilidade a médio/longo prazo (probabilidade da empresa no
M/L prazo não solver os seus passivos); e
— A perspetiva da cobertura dos custos financeiros pelos resultados operacionais
(probabilidade dos resultados operacionais não serem suficientes para fazer face aos
custos financeiros de financiamento).
Os custos fixos e os custos variáveis evoluem de forma distinta em face de alterações no
nível de atividade.
Diferentes estruturas de custos, determinam que os custos totais não evoluam de igual forma
com o nível de atividade.
Quanto maiores forem as vendas diferenciais ao ponto crítico (V – V ’), menor é a
probabilidade de ocorrência de resultados operacionais negativos, em consequência dum
eventual decréscimo das vendas, ou seja: menor é o risco operacional.
Trata-se do conceito de MARGEM DE SEGURANÇA, que nos permite utilizar o modelo
CVR na análise do risco operacional. Quanto maior a margem de segurança, menor é o
risco operacional da empresa.
O ponto crítico e o Grau de Alavanca Operacional são os outros indicadores do risco
operacional da empresa.
GRAU DE ALAVANCA OPERACIONAL
Mede a variação percentual dos resultados operacionais em função de uma dada variação
percentual no volume de vendas, tendo em conta um determinado nível de atividade, isto é,
avalia o efeito multiplicador dessa variação.

RO - resultado operacional GAO = Margem de cobertura / RO


∆R - variação dos resultados
V - volume de vendas atual
∆V - variação das vendas. GAO = ∆% Resultados / ∆ % Vendas

GAO = 1/%MS em relação às vendas

Quando a empresa tem um peso elevado de KF diz-se que a empresa tem um elevado grau de
alavanca operacional (económico), isto é, um elevado risco económico/operacional.
Quanto maior for este indicador maior é o risco da entidade, pois significa que grande parte
da MC é absorvida por custos independentes da entidade
Um elevado grau de alavanca operacional significa que:
ü uma variação nas vendas tem um impacto mais que proporcional nos resultados
operacionais:
v Isto é, se a tendência das vendas for para crescer a alavanca operacional é favorável,
ou seja, um crescimento das vendas implica um crescimento mais que proporcional
nos RO.
v Mas se as vendas caírem a alavanca operacional é desfavorável, pois uma descida das
vendas arrasta um decréscimo mais do que proporcional nos RO.

GRAU DE ALAVANCA FINANCEIRO


A análise do risco financeiro não se pode ficar pela análise do balanço: uma empresa pode
ter uma estrutura financeira aparentemente equilibrada, mas com rendibilidade insuficiente
para lhe permitir pagar os gastos de financiamento resultantes da dívida.
O GAF mede a variação dos resultados antes de impostos face a uma dada variação dos
resultados operacionais.

GAF = %RAI / %RO

GAF = RO / RAI

GRAU DE ALAVANCA COMBINADO


Trata-se de medir o efeito combinado das duas alavancas, isto é, a capacidade da
empresa em usar Kf tanto operacionais como financeiros, para aumentar o efeito da variação
das Vendas no lucro por ação.
GAC - Mede a sensibilidade do RAI à variação das Vendas.
Limitação – Tal como os outros graus é aceitável para pequenas oscilações do volume de
vendas.

GAC = GAO X GAF

GAC = MC / RAI

Capítulo 3.3 - O CUSTO MARGINAL E OS CUSTOS E RÉDITOS DIFERENCIAIS.

CUSTO MARGINAL
• Em termos económicos é o custo de uma unidade adicional.
• Representa-se normalmente por c’. Esta representação c’ é também usada para o custo
diferencial médio.

CUSTO DIFERENCIAL MÉDIO


Chamam-se custos diferenciais aos acréscimos experimentados pelos custos anteriores
quando a produção (e vendas) é incrementada. Pode representar-se por ∆ K.

Todavia, este conceito não é operacional se não for relacionado com o acréscimo
quantitativo da produção. ∆ K = Kn+p - Kn

Assim, o custo diferencial médio resulta do quociente entre o acréscimo de custo suportado
pela produção de uma quantidade superior à inicial e o acréscimo dessas quantidades

c’ = ∆ K / ∆ Q

RÉDITO DIFERENCIAL MÉDIO


Resulta do quociente entre o acréscimo de réditos resultante da venda dessas unidades
adicionais e a sua quantificação.

p’ = ∆ P / ∆ Q

O acréscimo dos resultados será dado por:

∆R=∆P–∆K

Ou
∆ R = ∆ Q (p’ – c’)

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