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BRINCANDO, APRENDENDO - O LUGAR DO FAZ DE CONTA

NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Almira¹, Caio Fernandes¹, Regina¹, Jaqueline²1

Introdução

Cada criança em suas brincadeiras comporta-se como um poeta,


enquanto cria seu mundo próprio ou, dizendo melhor, enquanto transpõe
os elementos formadores de seu mundo para uma nova ordem, mais
agradável e conveniente para ela. Freud (apud Bomtempo).

Na disciplina Linguagem Corporal na Educação Infantil fomos convidados a realizar uma


atividade relacionada ao brincar e o faz de conta na educação infantil, como elemento avaliativo
da aprendizagem dos conteúdos trabalhados durante o semestre 2014.1. Nossa atividade foi
realizada na Escola Peixinho Dourado no bairro Dois Irmãos, em uma turma contendo 18
crianças, sendo 8 meninos e 10 meninas, com idades entre 2 ano e dois mêses e 3 anos e 4 mêses.

Objetivos
Realizar em uma sala de aula de educação infantil, uma brincadeira de faz de conta. Fazer uma
observação qualificada do brincar na educação infantil. Elaborar uma analise a partir do relato
das brincadeiras e do brincar das crianças durante a atividade proposta.

Metodologia
Preparamos o ambiente, em uma mesa dispomos utensílios diversos, nenhum dos itens era
brinquedo propriamente dito. Sendo: 1 capacete e 2 luvas de ciclista, 1 lanterna, 1 lupa, 1 estojo
de maquiagem - só com espelho, 1 creme de pele, 1 escova de cabelo, 3 pregadores de roupa, 3
fitas coloridas, 1 barbante, 1 capa com dvd, 1 régua, 1 alicate de artesanato/jacaré - sem ponta e
sem corte, 1 chapéu de tecido, 1 nariz de palhaço, 2 casinhas de madeira, 1 bacia de alumínio

1
Autores são acadêmicos do curso de Pedagogia, Departamento de Educação, UFRPE; ² Autora é
Orientadora, professora adjunta do Depertamento de Educação, UFRPE, Campus Dois Irmãos,
Recife-PE.
com tampa, 1 prato plastico, 1 celular quebrado, 1 controle remoto, 1 utensilio plastico para
massagem, 2 vasilhames vazios - de creme, 2 maracás, 1 apito, 3 colares de sementes, 1 bolsa de
crochê, 1 bolsa de algodão, 1 sacola de tnt, 1 buzio médio - de praia, 1 copo de pilar tempero - em
madeira, 1 folhetim de cordel, 1 revista infantil, 1 vasilhame vazio - de tic tac, 1 bobina de
esparadrapo, 1 óculos escuro, 8 cartões de visita- diversos e 2 cartas de baralho. Todos os itens
foram organizados sobre uma mesa no canto da sala. A professora convidou as crianças para irem
até a mesa e pegarem o que quisessem para brincar livremente. A equipe formada por três
acadêmicos de Pedagogia, um ficou dentro da sala fazendo os registros - filmagem, e duas
ficaram fora da sala observando e anotando as impressões. A presença da professora em sala
auxiliando na mediação.

Resultados e Discussão
Várias crianças foram logo escolher seu brinquedo, primeiro tocavam e iam percebendo os
detalhes, o que daria para fazer com aquilo, a maioria pegou mais de um item, alguns retornaram
para a mesa onde estavam e vários permaneceram em torno da mesa dos utensílios. Os primeiros
a retornarem para carteira, foram menino-A que pegou a lupa e menino-B que pegou uma casinha
de madeira. Uma menina-A pegou os cartões de visita e começou a perceber que alguns eram
repetidos e outros diferentes, segurou um maracá e seguiu para sua mesa, lá estava a menina-B
que não se dirigiu à mesa, a menina-A começou a distribuir os cartões com o fundo para cima,
como um caça figurinhas, tentou inserir a coleguinha B. Outra menina-C retornou para a mesma
carteira onde estavam A e B, levando a bacia com o prato e a tampa, o óculos escuro e o controle
remoto. C, colocou o prato dentro da bacia e tampou, em seguida abriu e falou que iria guardar o
celular - controle remoto, tampou novamente; colocou o óculos escuro, abriu a tampa, pegou o
celular e ficou teclando, recriando algum cenário vivido por ela, possivelmente a mãe ou alguém
próximo a ela.
Apenas 4 crianças ficaram receosas e demoraram um pouco a interagir, no entanto os colegas
inseriam elas no brincar. Uma menina-G pegou o creme de pele, colocou na mão, levantou a
camisa e passou na propria barriga, depois foi passar em uma colega-I, que prontamente pegou o
creme, passou em si mesma, e entregou para colega-J que repetiu a brincadeira. Estas três
meninas em seguida, tentaram utilizar uma fita de cetim, azul, como cinto. Em outra situação, a
menina-G pegou o buzio e começou a brincar, veio ate mim, mostrou o objeto, segurei e coloquei
no meu ouvido, não falei nada e devolvi, ela prontamente colocou no ouvido, percebeu o que
ocorria, e começou a mostrar a diversos coleguinhas e aos demais (professora e observadores -
equipe do trabalho). Em diversas ocasiões, percebemos que a menina-G fez papel de lider, por ter
começado uma brincadeira e ter inserido outras crianças na proposta dela. A Menina-A tamém
teve papel de líder, ao fazer o jogo achar figurinhas inserindo outras colegas. Ambas as meninas
estavam sempre pegando objetos, dando significado a eles, e repassando para outras crianças. Em
outra situação, a menina-G brincou com o pente, repassou para um menino-J, que prontamente
pegou o creme de pele, passou no cabelo de um menino-H, e começou a pentear, dizendo que
precisava se arrumar para ir pra escola, representando o pai e em outras situações, de lider,
quando ele chegava em outras crianças para pentear o cabelo, passando creme, inserindo na
brincadeira que ele começou e ele fazia o papel "principal".
Reconhecer o lúdico é reconhecer a especificidade da infância : permitir que as
crianças sejam crianças e vivam como crianças; é ocupar-se do presente, porque
o futuro dele decorre; é esquecer o discurso que fala da criança e ouvir as
crianças falarem por si mesmas; (Olivier, 1999)
A brincadeira de faz-de-conta, a representação, o simbólico, o imaginário, elementos que
naturalmente surgem no universo infantil no seu processo de desenvolvimento, recriando o
mundo, dando sentido aos papeis e dinâmicas da própria vida e seu entorno. Para Piaget, o jogo
simbólico implica a representação de um objeto por outro, a atribuição de novos significados a
vários objetos, adoção de papeis sociais e ou familiares etc. Vygostky (apud Bomtempo), afirma
que a definição do brincar está relacionada com a situação imaginária criada pela criança. A
idade e as necessidades particulares que modificam com a maturação, a satisfação de desejos,
tendo um paradigma conceitual neste aspecto, quando ele afirma que a imaginação é uma
atividade consciente que não está presente na criança muito pequena. Ao afirmar que "é
"praticamente impossível a uma criança com menos de 3 anos envolver-se em uma situação
imaginária, porque ao passar do concreto para o abstrato não há continuidade, mas uma
descontinuidade". A criança não vê o objeto como ele é, ela dá um novo sentido a este. Nesta
perspectiva, podemos dizer que existe um paradigma conceitual neste aspecto, nossa atividade foi
desenvolvida em uma turma com crianças de 2 até 3 anos, sem levar brinquedos, tendo vários
objetos, e elas brincaram atribuindo novos significados a estes objetos ou representaram papeis
com estes objetos no brincar de faz de conta.
Algumas situações demonstraram a importância do acompanhamento do professor em sala. Uma
criança queria tomar o brinquedo da outra, uma briga iria passar do verbal ao físico, prontamente
a professora se dirigiu a eles e perguntou quem pegou primeiro o brinquedo, e como estava com
este a um tempo, que ele poderia dividir com o colega e aproveitar para pegar outro brinquedo.
No final da atividade, foi possível perceber que não era a primeira vez que eles tinham contato
com o lúdico, o brincar na sala, quando falamos que estavamos terminando a atividade, e
pedimos para sentarem em circulo para podemos conversar e nos despedir, de uma a um, foram
pegando os utensílios e trazendo para colocar nas sacolas que havíamos levado, por ultimo,
perguntamos se estava faltando algum brinquedo, a menina-G estava com um colar no pescoço, e
ainda não tinha percebido de fato, ela não tinha a intenção de ficar com o brinquedo, as outras
crianças apontaram pro colar e disseram, falta este brinquedo, ela prontamente tirou e colocou na
bolsa ,sorrindo. Perguntamos o que acharam da brincadeira, se poderíamos voltar lá para brincar
com eles, todos estavam alegres e bem animados, demonstraram interesse em nosso retorno,
alguns pensavam que iriamos continuar logo em seguida. Explicamos para eles que aquela
atividade tinha sido uma professora que pediu para fazer como tarefa de casa da nossa escola, e
nos comprometemos com a professora em retornarmos para repassar o trabalho pronto.

Considerações Finais

Portanto, se a finalidade é trazer a dimensão lúdica para o interior da escola,


devemos propiciar uma intervenção didático-pedagógica que ofereça aos alunos
experiencias de aprendizagem prazerozas e alegres que possam leva-los a
conhecer “o mundo”, o outro e a si mesmos, questionando, criando e vivenciando
culturas crítica e criativamente. (Bustamante, 2004)
O que define o brincar é a situação imaginária criada pela criança, Vygotisky (apud, Bomtempo).
No jogo simbólico as crianças constroem uma ponte entre a fantasia e a realidade, Freud. As
crianças são capazes de lidar com complexas dificuldades psicológicas através do brincar,
Bettelheim (apud, Bomtempo).
Foi muito interessante desenvolver a atividade na pratica, extremamento instrutivo e oportuno,
contextualizar os conteúdos na vivência da escola, saindo do papel, da literatura, para a
materialização, percebendo os detalhes e minucias do brincar, e como o lúdico proporciona
aprendizado, alegria e interação no cenário infatil. Em cada situação que remetia aos conteúdos
trabalhados na disciplina, olhavamos uns para os outros da equipe, alegremente, ao perceber que
tudo fazia sentido na pratica de sala, na natureza do brincar e as percepções
teorico-metodologicas compartilhadas nos seminários e nas aulas.

Agradecimentos
Em primeiro lugar agradecemos à harmonia cósmica que tem nos conduzido até aqui.
Especialmente à professora Jaqueline que trouxe essa proposta, e a Escola Peixinho Dourado que
permitiu a nossa observação-participante (Edilene, Eunice e aos alunos).

Referencias
- BOMTEMPO, E. A brincadeira de faz de conta: lugar do simbolismo, da representação, do
imaginário. In. KISHIMOTO, T. M. (org.) Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. 5. ed.
São Paulo, SP: Cortez, 2001.
- BUSTAMANTE, G. O. Por uma vivência escolar lúdica. In. SCHWARTZ, G. M. (org.)
Dinâmica lúdica: novos olhares. Barueri, SP: Manole, 2004.
- OLIVIER, G. G. F. Lúdico e Escola entre a Obrigação e o Prazer. In Lúdico Educação e
Educação Física. 2. ed. Ijuí: Unijuí, 1999.
Mesa com utensílios para brincar

Sala de Aula - Professora Eunice explicando sobre a atividade.


Área de lazer da Escola Peixinho Dourado (tem outros espaços, e uma quadra).

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