Você está na página 1de 268

Copyright © 2023 Jaque AXT

Capa: Vicdesign
Revisão: Sônia Carvalho
Leitura Beta/Crítica: Ariel @leiturasdaariel e Bia Carvalho.
Ilustradora: Mery Ribeiro
Diagramação: Jaque Axt Autora

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos


são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.
Todos os direitos reservados.
É proibido o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de
quaisquer meios (tangível ou intangível) sem o consentimento escrito da autora. A violação dos
direitos autorais é crime estabelecido na lei nº. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código
Penal.2018.
CAPA
SINOPSE
DEDICATÓRIA
AVISO
NOTA DA AUTORA
PLAYLIST
ESTRUTURA HIERÁRQUICA
ILUSTRAÇÃO
PRÓLOGO
CAPÍTULO UM
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO TRÊS
CAPÍTULO QUATRO
CAPÍTULO CINCO
CAPÍTULO SEIS
CAPÍTULO SETE
CAPÍTULO OITO
CAPÍTULO NOVE
CAPÍTULO DEZ
CAPÍTULO ONZE
CAPÍTULO DOZE
CAPÍTULO TREZE
CAPÍTULO QUATORZE
CAPÍTULO QUINZE
CAPÍTULO DEZESSEIS
CAPÍTULO DEZESSETE
CAPÍTULO DEZOITO
CAPÍTULO DEZENOVE
CAPÍTULO VINTE
CAPÍTULO VINTE E UM
CAPÍTULO VINTE E DOIS
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
CAPÍTULO VINTE E CINCO
CAPÍTULO VINTE E SEIS
CAPÍTULO VINTE E SETE
CAPÍTULO VINTE E OITO
CAPÍTULO VINTE E NOVE
CAPÍTULO TRINTA
CAPÍTULO TRINTA E UM
CAPÍTULO TRINTA E DOIS
CAPÍTULO TRINTA E TRÊS
CAPÍTULO TRINTA E QUATRO
CAPÍTULO TRINTA E CINCO
CAPÍTULO TRINTA E SEIS
CAPÍTULO TRINTA E SETE
CAPÍTULO TRINTA E OITO
CAPÍTULO TRINTA E NOVE
CAPÍTULO QUARENTA
CAPÍTULO QUARENTA E UM
CAPÍTULO QUARENTA E DOIS
CAPÍTULO QUARENTA E TRÊS
CAPÍTULO QUARENTA E QUATRO
CAPÍTULO QUARENTA E CINCO
CAPÍTULO QUARENTA E SEIS
CAPÍTULO QUARENTA E SETE
CAPÍTULO QUARENTA E OITO
CAPÍTULO QUARENTA E NOVE
CAPÍTULO CINQUENTA
CAPÍTULO CINQUENTA E UM
CAPÍTULO CINQUENTA E DOIS
CAPÍTULO CINQUENTA E TRÊS
CAPÍTULO CINQUENTA E QUATRO
EPILOGO:
RECADINHO DA AUTORA
Aleksey Ivanovich cresceu vivendo nas ruas junto ao pai, um
homem atormentado pela vida, viu ceifarem a vida dele, bem à sua frente,
ainda quando era um adolescente e precisou desde muito jovem aprender a
sobreviver diante daqueles que queriam se aproveitar dele.
Um homem assombrado por seus demônios, que entrou na máfia
sedento por vingança, se tornando o melhor amigo e braço direito do
Pakhan.
Ele ficou poderoso perante todos, construiu através de seus
tormentos a sua forteza, se transformando em um homem frio e sádico.
Yesfir Alkaev, uma jovem que cresceu em um internato de freiras,
largada pelo pai que a abandonou lá, nunca soube o que era ser amada e
decidiu se tornar noviça apenas para nunca mais voltar para a máfia da qual
seu pai fazia parte.
Isso até o mafioso surgir no internato solicitando que ela fosse
para a sede, a fim de assumir o papel de primeira-dama do Pakhan, tudo
para sanar uma vingança entre os homens.
Porém, o Pakhan não a quis, entregando-a para o seu braço direito
diabólico.
Yesfir tinha a pureza que Aleksey nunca teve.
Uma noviça linda e ingênua, um mafioso louco e cruel.
Qual a possibilidade desse casamento por vingança fazer um deles
se apaixonar?
Aleksey movera mundos pela mulher que lhe foi ofertada,
querendo fazer dela a sua submissa, mas ele só não contava que o gênio
inocente dela poderia mexer com todas as suas estruturas sombrias.
“Aos corações abandonados, as pessoas que nunca se sentiram amadas,
Aleksey Ivanovich é a prova que todas merecemos esse sentimento”
Este é um romance Dark contemporâneo, nada tradicional.
Ele contém assuntos polêmicos, incluindo temas de consentimento
questionável, agressão física e verbal, linguagem imprópria e conteúdo
sexual gráfico.
Esta é uma obra de ficção destinada a maiores de 18 anos.
A autora não apoia e nem tolera esse tipo de comportamento.
SÉRIE HOMENS DO PECADO é uma série e seus livros podem
ser lidos separadamente, porém a leitura na sequência é recomendada:
1. DESEJO OBSCURO
GOSTA DE LER
OUVINDO MÚSICA?
DESEJO PROIBIDO tem playlist no spotify

CLIQUE AQUI
ESTRUTURA HIERÁRQUICA
Pakhan: Ele é o líder do grupo. Ele detém todos os poderes
dentro da organização e todas as decisões importantes são dele.
Obshchak: (Conselheiro) Ele é o braço direito do Pakhan. É ele
quem decide quando o chefe não está presente.
Sovietnik: (Subchefe) Ele é o supervisor de negócios no clã, ele
lidera os Brigadier e os Boyevik.
Brigadier: são familiares de confiança. Eles provaram seu valor e
agora têm equipes de Boyevik sob seu comando. Eles são responsáveis por
garantir que seu Boyevik funcione corretamente, respeite as regras da
família e distribua os bens para eles.
Boyevik: São os soldados e seguranças dos cargos altos. São
novos membros da família e obrigados a participarem ativamente das
atividades familiares.
Shestyorka: São membros separados. Na verdade, eles não fazem
parte da organização. Os Shestyorka buscam lucro em atividades ilegais.
São chamados de Shestyorka porque escolheram se associar à família para
participarem de seus negócios. Eles poderão ser notados por Boyevik, que
os tomará como capangas. O Boyevik pode então falar com os Brigadeiros,
que comunicarão ao Sovietnik e assim por diante. Se o Pakhan encontrar
um Shestyorka fazendo um bom trabalho, ele pode optar por recrutá-lo
como um Boyevik para a organização.
PRÓLOGO

17 anos antes...
Abracei minhas pernas, a calça jeans surrada em meus joelhos, o
frio rigoroso de Moscou atingindo cada furo das minhas roupas, olhei
assustado à minha volta.
— Olha, a putinha do filho do Alik. — Ergui meus olhos para
aquele homem alto.
— Não sou uma puta! — brandei mesmo diante do meu frio.
Os dois soltaram uma gargalhada alta, ecoando naquele beco sem
saída, aquele som preencheu meu cérebro me fazendo apertar ainda mais as
minhas pernas.
— O seu pai está onde? — Recebi um cutucão no canto da minha
costela com o calçado de um deles, ato que me fez pigarrear para o lado,
soltando minhas pernas.
Segurei-me ao chão, passando a mão em meu cabelo, jogando-o
para trás. Levantei-me, minhas pernas cambaleando à junção do frio, com a
fome tomando conta de mim.
Não respondi à pergunta deles pois não sabia onde estava o meu
pai, ele saiu cedo naquele dia, disse que iria atrás de comida para nós, mas
não voltou, toda vez que papai demorava ficava com medo, muito medo
dele não retornar e me deixar sozinho, eu não tinha ninguém, a não ser ele.
— Deve estar no vício dele... — Um deles voltou a falar dando
um passo na minha direção, instintivamente dei um passo para trás, minhas
costas tocando a parede de tijolos.
— Meu pai vai voltar — grunhi movendo minha mão
disfarçadamente, colocando-a em meu bolso, sentindo ali o meu canivete.
Deslizei os dedos, abrindo-o dentro do bolso, ficando pronto para
usá-lo caso fosse necessário, meu pai sempre me dizia para andar prestando
atenção em tudo, afinal nunca se sabia quem estaria disposto a enfrentar
naquele dia, a vida era uma luta diária, onde vencia o melhor, e eu era o
melhor!
— Seu pai merecia morrer — zombou me dando um sorriso.
— Você merecia morrer — rugi entre dentes.
— Para uma criança, é bem corajoso, será uma ótima putinha
para nós quando alguém finalmente acabar com o seu pai... — tirei aquele
canivete do meu bolso, apontando-o para ele.
— Ninguém vai matar meu pai. — Sem pensar, desferi o canivete
na barriga do homem.
A raiva estava tomando conta de mim, meus olhos se arregalando,
puxando novamente o meu canivete, o homem levou a mão no corte, ele
grunhiu diante da dor, o espanto me pegando desprevenido, nunca havia
feito aquilo, mas foi necessário, precisava me defender, foi isso que eu
tentei colocar na minha mente, mas no fundo gostei da sensação.
— Seu maldito. — Nem ao menos tive tempo de virar o rosto
quando o reflexo de uma mão o atingiu, me jogando para trás, tropeçando
nos meus próprios pés.
— Mate esse moleque — o homem ferido pediu com a voz
entrecortada pelo ferimento que eu causei.
A mão de um dos homens segurou meu cabelo, erguendo-o para
cima, fazendo com que meus pés saíssem do chão, a dor no meu couro
cabeludo fez um uivo de dor escapar por meus lábios, o homem me ergueu
na altura dos seus olhos, sua barba suja, maior do que o normal, os olhos
fundos, o rosto cheio de hematomas.
Morar nas ruas de Moscou era um teste de sobrevivência onde
vencia apenas o melhor.
— Quer dizer que a putinha além de tudo é corajosa... —
acumulei saliva na minha boca interrompendo a fala dele quando a joguei
em seu rosto.
Aquilo fez o homem me atirar no chão, caí sobre uma poça de
água gelada, impulsionando o meu corpo para trás, me movendo com as
mãos, e me arrastando.
Um chute em meu estômago me fez contorcer, levando a mão
sobre o lugar onde me haviam chutado, ergui meus olhos avistando meu pai
vindo cambaleando.
Essa não, ele estava chapado, fechei meus olhos quando ele me
viu naquela situação.
— Larguem o meu garoto — falou entre dentes, segurando em
uma das paredes, os olhos vermelhos, sem comida aparente em seu braço, o
único dinheiro que eu tinha conseguido pedindo nas ruas ele usara em
drogas.
— Seu garoto esfaqueou um dos nossos — o homem na minha
frente falou voltando a me chutar —, mais um chute meu e eu arrebento
esse saco de ossos...
Meu pai que nem ao menos se aguentava em pé tentou empurrar o
homem que me chutava, enquanto o outro que eu havia esfaqueado estava
no chão com a mão no ferimento tentando estancar o sangue.
Passos pesados se fizeram presentes, três homens vestidos de
preto, olhando para todos os moradores de rua que estavam ali.
— Qual dos imundos é Alik Ivanovich? — perguntou com a voz
imponente, suas vestimentas em nada se pareciam com as nossas.
O que eles queriam com meu pai? Diante da dor que estava
sentindo, um arrepio percorreu o meu corpo. Aquilo não era bom, esses
homens não pareciam coisa boa.
— Esse viciado aqui. — O homem que me chutou apontou a mão
para o meu pai.
— Quem pensa que é para querer enganar meus homens com
notas falsas? — nem ao menos esperou o meu pai responder puxando uma
arma.
Estendeu-a em direção ao meu pai, engatilhando-a rapidamente,
atirando nele, que caiu ao chão, longe de mim, um tiro certeiro.
— Não — sussurrei vendo que o homem atirou mais uma vez
para ter certeza de que papai havia morrido.
Os três homens se viraram, deixando claro que foram ali apenas
para matar meu pai, apoiei meu corpo sobre minhas pernas, levantando-me
em meio a um arrasto, parei ao lado do meu pai, seus olhos se fechando,
encontrando-se com os meus.
— Desculpa, Alek... — sua voz falhou quando o sangue começou
a escapar por sua boca, se engasgando com ele. — Fuja, meu filho...
— Não, pai...
— Vá... — papai fechou seus olhos, o engasgo cessando quando o
sangue começou a escorrer por sua bochecha.
Alik não era um pai ruim, era um viciado, mas não me rejeitou
quando minha mãe o fez. Apesar de muitas vezes dar preferência para os
seus vícios, ele era a única pessoa que eu tinha, e haviam me tirado ele.
— Agora será a sua vez, vamos te usar e deixar que apodreça
junto ao seu pai — pelo canto dos olhos avistei o homem falando.
Não podia confrontar esse homem, com quatorze anos nunca ia
conseguir enfrentar um homem formado. Levantei-me, buscando força não
sei de onde e comecei a correr, correr em meio às minhas pernas fracas, o
frio se chocando sobre mim.
— Não vai conseguir fugir — o homem não desistiu.
Entrei em outro beco sem saída. Vendo que ele tinha grades,
passei a correr mais rápido, a ardência percorrendo todo o meu músculo, me
agarrei àquela grade, meus pés pequenos entraram com facilidade sobre as
frestas, conseguindo escalar sobre ela. Olhei para trás, o homem cada vez
mais próximo, até que cheguei ao topo me jogando ao outro lado.
— Maldito. — Ele bateu na grade que nos dividia.
Não falei nada, a morte do meu pai ecoava na minha mente. Eu o
perdi, estou sozinho nesse mundo, com fome e sem roupas de inverno. Não
chorei, não ia chorar, eu ia sobreviver em meio ao caos que era essa vida,
nem que para isso eu precisasse matar quem se colocasse na minha frente.
CAPÍTULO UM

17 anos depois...
Toquei o vidro da janela, vendo a neve cair pela divisão pequena
dela, as grades de ferro grossas, a construção antiga, o quarto pequeno e
solitário, um longo suspiro escapou por entre os meus lábios, uma batida na
porta me fez erguer os olhos.
O rangido alto da porta revelou que estava sendo aberta, saí do
parapeito da janela ao avistar a freira Irina me olhando com aqueles olhos
de águia, como sempre o fazia quando se tratava de mim.
Coloquei-me em pé, minhas mãos contraídas ao lado da minha
túnica.
— Venha, Yesfir — apenas falou isso se virando.
— Vamos aonde? — perguntei sabendo o quão errado era
questionar, mas o medo de ser aquele mesmo homem que veio da última
vez em busca de informações minhas me tomando.
— Vieram buscá-la...
— Vieram? — questionei correndo atrás dela, querendo respostas
claras, mas não tendo nenhuma.
— Sim. — A freira nem ao menos olhou no meu rosto, andando
altiva.
— Por Deus, me diga, quem? — pedi em uma súplica.
— Não chame o nome dele em vão — levei uma reprimenda com
um olhar de canto, como se fosse capaz de me furar com ele.
— Desculpa — sussurrei abaixando minha cabeça.
Sou uma boa garota, sempre tento fazer tudo corretamente para
não ficar de castigo, decidi que começaria o estudo para ser freira, fazer isso
me daria uma vida estável aqui, sem riscos de me casar com um homem
odiável.
Levar reprimendas de uma freira em nada se comparava a apanhar
de um homem, assim como meu pai batia em minha mãe.
— Irmã Irina, apenas me diga que não é aquele homem
novamente? — perguntei ao perceber que estávamos nos aproximando da
sala da Madre superiora.
— Sim...
— Não! Não podem me dar a ele, não posso ir com esses homens,
eles vão me casar com um deles. — Meus olhos passaram a se encher de
lágrimas, parei de andar.
A irmã continuou a caminhar na minha frente. Ao perceber que eu
parei, ela se virou, seus olhos se semicerrando na minha direção.
— Venha, Yesfir, eles têm o poder sobre esse internato e podem
levar quais de vocês exigirem...
— Não, não podem, eles são cruéis, assim como meu pai era com
a minha mãe — implorei vendo a mulher caminhar na minha direção.
Seus passos decididos, parando na minha frente.
— Não vamos arrumar problemas, você virá junto, agora mesmo!
— Sua mão agressiva segurou no meu pulso.
— Por favor, eu lhe imploro, não — clamei com um soluço
escapando do fundo da minha garganta.
Não queria ir, sei que os homens dessa máfia eram cruéis, eu
cresci vendo um pai bater em sua esposa, Bóris apenas não me batia, pois
eu era uma criança e de acordo com ele carregava o seu sangue, uma
Alkaev de sangue não merecia apanhar, por esse motivo ele me jogou nesse
lugar quando eu tinha sete anos.
Tudo de que me lembrava era da minha mãe pedindo o divórcio, e
no outro dia ela já não estava mais em casa. Eu nunca mais a vi. Sendo
colocada aos cuidados das irmãs do internato, cresci junto com elas, com
muitas meninas à minha volta, embora a maioria delas tinha ido embora ao
completar os estudos. Eu fiquei, pois quis seguir a vocação que eu não
possuía, mas naquele lugar me sentia segura, e não precisava me preocupar
com desejos da vida adulta. Se ali não os tinha, não queria sair daquelas
masmorras.
Irmã Irina puxou meu braço com força me carregando contra a
minha vontade.
— Não... — pedi em meio às lágrimas que escorriam
copiosamente sobre a minha bochecha, esse deveria ser o meu refúgio, não
um lugar de ameaça.
— Vamos, garota tola, não vai colocar todas nós em perigo
porque o Pakhan da Bratva a quer. — A mulher me puxou rosnando
furiosamente.
O Pakhan me queria? O chefe de todos? Ele me queria? Por que
eu seria importante para eles, quando o meu pai era um membro aposentado
daquele clã odioso? Nunca entendi o motivo de o internato ser devoto a
eles, como se a Bratva tivesse domínio ali.
A máfia russa dominava a maior parte de Moscou, eles eram
considerados como os deuses do submundo, possuindo influência sobre a
religião católica, assim como o apoio da Madre superiora.
Tudo fazia parte do mesmo círculo, o que chegava a ser ridículo,
como Deus aprovava homens endemoniados que matavam pessoas?
A irmã passou a mão sobre a maçaneta de ferro, abrindo a porta
que foi empurrada com força para me puxar pelo braço.
— Não... — clamei uma última vez, em vão, pois a freira me
puxou com tamanha força que me empurrou para dentro me fazendo
tropeçar sobre meus pés caindo ao chão.
Meus olhos focaram sobre o tapete da sala da Madre superiora.
Quando ergui minha vista, avistei um sapato preto, lustrado, com pequenos
rastros de água que deveriam ser da neve, meus olhos foram se levantando,
notando a calça social cinza chumbo, passando pelo paletó que tinha um
colete preto por baixo dele, uma vestimenta toda escura, acima, as feições
de um homem, ele tinha a cabeça baixa, uma barba espessa negra cobrindo
o seu rosto, não grande, os olhos escuros como uma noite sem estrelas, sem
vida me olhando com repulsa.
— Levante-se, Yesfir. — Irmã Irina puxou a manga da minha
túnica, me fazendo levantar desajeitada.
Em meio ao meu tombo um cacho saiu de baixo do meu hábito[1],
tentei escondê-lo, mas não consegui.
Dei um passo para trás ao sentir aqueles olhos sombrios sobre
mim, ele não expressou nenhuma reação. Quem era esse homem? Junto
dele havia outro, mais baixo, com cabelos grisalhos. Será que algum deles
era o Pakhan?
— Senhor Ivanovich, essa é Yesfir Alkaev. — Virei meus olhos
para a Madre superiora.
— Madre, não — implorei para a senhora que me olhou com
pesar, lógico que ninguém tinha o que fazer por mim.
Eu que pensei que estava atingindo a idade adulta, sem delongas,
ia conseguir passar despercebida por carregar o fardo de ser a filha de um
mafioso: saber que podiam me casar com qualquer homem apenas por ser a
filha de um deles.
— Pode levá-la com você — a senhora falou e eu arregalei meus
olhos ainda mais.
— Me matem, mas não façam isso — implorei caminhando em
direção à Madre. — Me matem, façam isso ou eu mesma farei...
— Yesfir, quem tira a própria vida não irá para encontro do nosso
Deus — a senhora quis pregar a sabedoria.
— Está me entregando para os braços do demônio, acha que está
me poupando uma passagem para o céu? Quando estou tendo uma
passagem para o inferno — brandei passando a mão sobre as lágrimas que
caíam em minhas bochechas.
A senhora não falou nada, direcionando os olhos para os homens
ali presentes.
— Podem levar ela — bateu a minha sentença.
Não olhei para o homem, minhas pernas me guiando para a porta,
em vão, querendo fugir, sendo impedida por um braço que circulou o meu
pulso, dedos masculinos, cobrindo toda a extensão dele.
— O único lugar que irá é para a sede da Bratva — lentamente
virei meu rosto diante daquele timbre masculino rouco, baixo, como se
falasse ordenando.
— Não vou a lugar nenhum com um demônio como você — rugi
tentando puxar o meu braço, mas o homem de olhos negros nem ao menos
falou mais nada com a madre.
Soluços raivosos escapavam pela minha boca, o homem de toque
agressivo me puxava com facilidade. Ele era muitos centímetros mais alto
que eu, nunca ia conseguir ser páreo para ele.
CAPÍTULO DOIS

O homem seguiu me puxando, sem nem ao menos me deixar


pegar minhas roupas, apenas me carregando como se eu não fosse nada. O
toque dele era agressivo, os dedos circulando meu pulso com força.
A porta foi aberta quando nos aproximamos da saída, uma neve
fraca caía, todos os pelos do meu corpo se eriçaram com aquele vento frio,
ninguém tinha piedade de mim, me arrastando para aquele tempo horrível.
Meus pés tocavam a escada feita de pedras. Estava molhada,
escorregadia, até que diante do puxão daquele homem, meus pés resvalaram
no chão liso e o homem se virou rapidamente.
— Ai. — Um gritinho escapou da minha garganta quando senti
uma mão forte tocando a minha cintura impedindo-me de cair ao chão.
Ergui meus olhos lentamente, encontrando aquela imensidão de
olhos sombrios sobre mim. Ele os tinha semicerrados.
O homem nem ao menos falou nada, me colocando de pé, sem
soltar o meu pulso com a outra mão.
— Me solta! — Reagi imediatamente com aquela mão que me
tocava onde antes nenhum homem havia tocado.
— A sua sorte é que o Pakhan a quer intacta — sussurrou com um
sopro da sua boca de onde saía uma leve cortina de fumaça diante do frio, o
hálito mentolado tocando o meu rosto, soltando a minha cintura.
— Pois eu preferia a morte. — Quis puxar minha mão, mas ele
me fez perder o controle dos meus pés quando me moveu para perto de si.
— Ah...
Minha mão livre segurou no antebraço dele buscando apoio em
algo, não foi proposital, foi sem pensar, precisando de algo para me
equilibrar, aqueles olhos negros a me observarem de canto, primeiro
focando na minha mão que segurava em seu antebraço, logo retornando
para mim, ele não falou mais nada, voltando a caminhar.
Soltei o seu braço, sendo carregada em direção ao carro que
estava ali, a porta foi aberta quando nos aproximamos, não tive tempo de
pestanejar, pois o homem praticamente me jogou dentro daquele automóvel.
Segurei no banco de couro, sentindo em meus dedos a fricção,
então ele se sentou ao meu lado, virei meu rosto apavorada, esperando que
fosse fazer algo comigo, mas não o fez, sentando-se silenciosamente, a
porta foi fechada e no banco da frente dois homens se sentaram, dando a
partida naquele carro.
Passei a mão no bolso da minha túnica sentindo ali o meu terço,
ao menos algo eu trouxe comigo.
O que eles queriam comigo? Por que eu? Por que uma garota
desinteressante ao olhar de qualquer mero mortal? Sou uma noviça, noviças
eram quietas e sempre passavam despercebidas por onde se movimentavam.
Embora nesse momento estivesse desejando ardentemente socar
aquele homem, tinha o olhar dele que me causava medo. Nunca me olharam
daquela forma, na verdade, eu nunca tive contato com homens, o máximo
que eu tive foi com meu pai quando tinha sete anos, depois que me colocou
naquele internato, se esquecera de mim e eram mais de dez anos vivendo
uma vida religiosa, me castigando quando tinha pensamentos libidinosos.
— Obshchak[2] deseja fazer alguma parada? — O motorista
perguntou ao homem ao meu lado.
— Não, vamos direto para a sede — o timbre grosso dele ecoou
no automóvel.
Obshchak, era dessa forma que chamavam o meu pai, ele era o
homem que sempre estava ao lado do Pakhan desse clã odioso, meu pai era
o conselheiro do chefe, e chamaram esse homem do mesmo modo.
Virei meu rosto, olhando aquele homem de cabelo negros. Ele os
usava úmidos, como se tivesse passado algo para deixá-los penteados para
trás.
— Meu pai, você o conhece? — perguntei sem receber uma
resposta, ele nem me olhou, como se eu não tivesse falado nada. — Estou
fazendo uma pergunta!
Ele apenas virou os olhos na minha direção, nem ao menos
movimentou o rosto, voltando a olhar para a frente, me fazendo parecer a
louca que falava sozinha.
— Lembro que chamavam meu pai desse mesmo nome...
— Cala a sua maldita boca — ele me cortou sem nem olhar na
minha direção.
— Então responde a minha pergunta! — Já tinha sido tantas vezes
repreendida que aquilo não me causava medo.
Podia ter construído uma imagem de boa moça para as irmãs do
internato, mas foi tudo em vão. Estava aqui, pois queriam fazer algo comigo
que eu não fazia ideia do que se tratava, algo no meu interior me fazia
acreditar que boa coisa não era.
— Apenas fique quieta, pois a sua boca calada é a melhor coisa
que pode fazer — voltou a grunhir.
— Demônio — sussurrei vendo nesse momento que o lábio dele
se puxou para o lado, aquilo não poderia ser chamado de sorriso, não era e
não seria um sorriso em lugar algum.
O tal voltou a se calar. Ele não falava, ninguém falava nada, o
carro se movia rapidamente pelas ruas asfaltadas, uma neve fraca se
chocava com o vidro; era como se estivessem indo rápido pra fugir da nova
nevasca que estava se formando.
Perdi-me na visão esbranquiçada que era o tempo naquela época
do ano, meus olhos se forçando para não chorar, as lágrimas que caíam
copiosamente no internato agora cessaram e tudo que eu queria era o
conforto do internato, lá, foi onde eu passei a maior parte da minha vida,
onde fui jogada e esquecida, ninguém se lembrava da minha existência.
Minha mãe eu nunca soube para onde fora, nem ao menos se havia morrido.
Nunca houve esperança de ela sobreviver, pois um homem como
Bóris Alkaev nunca pouparia a vida de uma mulher. Quando era uma
criança eu queria acreditar que ela podia estar viva, mas esses sonhos foram
ficando cada vez mais distantes quando fui aprendendo com a idade
conforme avançava que os homens podiam ser ruins e que meu pai
provavelmente tinha matado a minha mãe.
Apenas fui poupada por ser a sua filha, uma filha que ele jogou
em uma escola sozinha, sendo sempre maltratada pelas garotas, sabendo
desde o princípio que meu pai não ia voltar para me pegar. Mas voltaram,
homens que eu não conhecia, homens que nunca fizeram parte da minha
vida. O que afinal queriam comigo?
Levei a mão ao meu bolso novamente, segurando aquele terço em
meus dedos, circulando as bolinhas delicadas feitas de madeira, logo o carro
passou a diminuir a velocidade avistando uma enorme mansão. Não, um
castelo, por Deus!
Desculpe por chamar o nome do senhor em vão, me repreendi.
Reconheci aquele lugar, reconheci o lugar que meu pai me
trouxera quando era criança, aquela era a sede da máfia, onde vivia o chefe
de todos eles. Meu pai estava ali? Algo me fazia acreditar que não, pois ele
sempre falava que me queria longe do círculo da máfia. Mas aqui estava,
me trouxeram para as raízes que eu não queria para mim.
CAPÍTULO TRÊS

A porta do carro foi aberta, dei a volta nele, esperando a garota


sair, mas isso não aconteceu. Soltei um longo suspiro, fazendo um
movimento com a mão para um dos meus homens que segurava a porta se
afastasse. Abaixei meus olhos vendo a pequena garota sentada com os
braços cruzados e um bico enorme em seu lábio. Como uma menina levada
ela deixou bem explícito que não ia sair dali.
— Vamos, garota! — brandei um tanto sem paciência.
— Me obrigue. — Ela não me encarou, seus olhos ficaram para a
frente.
Se era assim que ela queria, assim seria, passei a mão em seu
braço, pegando-a de surpresa quando a puxei para fora.
O tempo estava frio, mas eu era tão frio por dentro que nem ao
menos sentia o meu corpo reagir à temperatura, a pequena mulher caiu aos
meus pés quando a puxei, seus dedos finos se seguraram no chão, um
pigarro escapando da sua boca.
Voltei a puxar o seu braço, erguendo-a, sua visão se levantando e
encontrando a minha, aquela maldita mecha de cabelo ainda caída para fora
daquela coisa horrenda que ela usava em sua cabeça, a tonalidade do olhar
de um castanho-claro, sem traços de outra pigmentação, apenas um
marrom, contrastando com a pupila negra que se dilatava ao focar os olhos
em mim, o lábio carnudo se entreabriu permitindo que uma lufada de ar
escapasse por eles. Tombei minha cabeça para o lado rosnando
instintivamente para amedrontar a menina que arregalou aqueles olhos
expressivos demais para mim.
— Saiba que se não o fizer por bem, fará por mal — grunhi,
puxando-a.
Sequer dei ouvido às reclamações dela, caminhando em direção à
sede, precisando de um pouco de força para puxar a imitação de noviça,
pois ela forçava o corpo para trás, sem titubear nem um momento, como se
deixasse claro que lutaria até o seu último suspiro.
Subi os poucos degraus da escada, Yesfir tropeçou mais de uma
vez – se ela não se negasse a me acompanhar, não ia estar tropeçando. A
sede da Bratva era uma das maiores de todas, ela era enorme, com uma
tonalidade em vermelho, seu exterior com detalhes em branco, quem
observava a fachada pelo lado de fora achava aquilo lindo e se enganava
quando olhava por dentro.
A porta foi aberta para mim ao me aproximar, e eu ouvi um
soluço da garota que voltou a chorar. Mulheres que choravam me deixavam
agoniado, irritado, com vontade de esbofetear o rosto delas. Eram lágrimas
de desespero, lágrimas mentirosas, como se quisessem se mostrar
vulneráveis por estarem chorando, um sexo considerado frágil, não para
mim, pois elas eram a personificação da espécie mais mentirosa. Mulheres
não serviam de nada na vida de um homem, nem mesmo para gerar um
filho.
Meus passos ecoaram no assoalho da sede, segui puxando a
garota, adentrando a sala onde encontrei o Pakhan, que direcionou o olhar
para mim e eu movi a noviça, empurrando-a para o meio da sala onde caiu
de cabeça baixa.
— Essa coisinha estranha é que será a minha futura noiva? —
Sergey torceu os lábios olhando com seus frios olhos azuis.
— Um ótimo bálsamo para irritar Bóris. — Dei de ombros.
A menina levantou os olhos, percebi que ela tremia ao olhar para
Sergey. Não a culpava. Não existia uma alma que não tremesse ao olhar
para o Pakhan.
Bóris, o pai de Yesfir, era o antigo Obshchak da Bratva, ele se
tornou inimigo de Sergey quando fez um complô com o pai dele para matar
a filha do antigo Pakhan, também irmã de Sergey. O chefe da máfia nunca
foi um homem confiável para quem ele não era leal, cresceu odiando o pai
pelas atrocidades que o progenitor o obrigava a fazer e Sergey ajudou na
morte de Nikolai Petrov, se tornando o novo Pakhan da Bratva.
O chefe precisava de uma esposa para gerar o seu novo herdeiro.
Quem melhor do que a filha do homem que ele detestava para tocar no
ponto fraco do maldito do Bóris, homem que ajudava o pai de Sergey a
atormentá-lo?
— O que querem de mim? — a menina perguntou, levantando-se
do chão, e abaixando os olhos quando inclinou a cabeça.
— Levem ela para qualquer cômodo longe de mim — Sergey
ordenou.
— Por que ninguém responde alguma pergunta minha? — A
menina corajosa falou um pouco mais alto.
Troquei um breve olhar com o Pakhan, assim como eu, ele não
tinha paciência com mulheres que faziam birra, e nesse momento apenas
por abrir a boca Yesfir me irritou.
— Não olhe para mim, já fiz o sacrifício de trazer essa coisinha,
não vou bancar a babá também — resmunguei movendo meus pés, na
direção oposta da garota.
Virei o rosto encontrando sobre mim os olhos tons de chocolate,
ela me parecia tão doce quanto.
— Senhora Burlak. — A governanta apareceu bem nesse
momento, ela trabalhava ali há poucos dias. Desde que recebemos a visita
das garotas suíças nessa sede o meu amigo mudou.
Como se mesmo elas não estando mais aqui ele fizesse tudo que
elas pediam, incluindo contratar uma governanta.
— Sim, Pakhan? — Ela foi solícita.
— Leve essa criatura para qualquer cômodo — Sergey pediu e a
mulher olhou para a pequena mulher que parecia amedrontada.
Slava fez um sinal para Yesfir a acompanhar e pela primeira vez
em poucas horas que estava com aquela coisinha ela obedeceu a alguém.
Yesfir a seguiu, seus pés pequenos dentro de uma sapatilha sem graça e
preta, sendo mostrados apenas quando os movia para a frente e eles ficavam
de fora daquela túnica horrível.
Yesfir era uma menina pequena, talvez a sua estatura batesse rente
ao meu peito, seus lábios eram pequenos e carnudos, sempre comprimidos
em algo que estava pensando.
Fiquei observando a menina subir a escada até sumir da minha
vista, me fazendo questionar se seus cabelos por debaixo daquele véu
horrendo eram cacheados assim como o fio que estava para fora dele.
— Ela não veio de bom grado, não é mesmo? — Sergey
perguntou me tirando do meu devaneio.
— Parece ter vindo? — questionei arqueando uma sobrancelha
sendo irônico.
— Vai se foder, Aleksey, essa garota é baixa, com olhos
inocentes, sem sal, não a quero. — Sergey se virou olhando para a janela da
sede.
— Isso porque quer as garotas suíças. Todas se tornaram sem sal
aos seus olhos, pois por algum motivo mudou depois que aqueles furacões
foram embora. — Meu amigo semicerrou os olhos na minha direção,
tínhamos liberdade para falar o que bem entendêssemos um para o outro.
Desde que entrei na Bratva, foi Sergey que se tornou meu amigo,
ele era um Brigadier[3], e eu um dos seus Boyevik[4], foi um treinamento
difícil para ser aceito no clã, cheguei a pensar que ia morrer, mas não era
qualquer coisa que ia me derrubar depois de tudo que eu passei, na rua.
Sergey, assim como Dmitry sempre fomos unidos, nós três, os três
fodidos na vida. Dmitry era o Sovietnik[5] da Bratva, era ele quem cuidava
de tudo, e repassava todos os relatórios para Sergey.
— Cala a porra da sua boca, Aleksey — Sergey voltou a falar.
— Então, assuma que precisa se casar com aquela garota, gerar
herdeiros e dar continuidade ao seu legado — fui duro sabendo que o meu
amigo estava assim pois se encontrava dividido entre duas mulheres que
não podiam pertencer a ele.
CAPÍTULO QUATRO

— Quem é a senhora? — perguntei quando a mulher abriu a porta


para mim.
— A governanta da casa — a mulher respondeu solicitamente.
— O que eles querem comigo? — questionei olhando aquele
aposento.
Era o maior quarto que eu já vira até hoje. Estava acostumada
com o meu quartinho no internato, onde apenas possuía uma cama de
solteiro e ao lado um pequeno móvel. Aquele era diferente, grande, com
uma cama de casal ao centro, duas portas ao lado. Será que havia um
banheiro ali dentro? Tinha até mesmo uma penteadeira.
Meus pés se arrastaram ao chão, a mulher parou na porta.
— Não vai me responder também, não é mesmo? — Suspirei
recebendo o olhar de pesar daquela senhora.
— Quaisquer necessidades, é só tocar a campainha — apenas
assenti.
A governanta fechou a porta me deixando ali sozinha, segui em
direção à janela, uma vaga esperança me fazendo crer que eu podia pular
por ela. Meus dedos colocaram a cortina para o lado, vendo grades nas
janelas.
Lógico que não iam me deixar ficar em um quarto onde não havia
segurança, onde eu pudesse fugir.
Voltei a me virar, arrastando a minha sapatilha pelo quarto. Eles
nem ao menos me pediram para tirá-la. Talvez eu não quisesse tirá-la.
Sentei-me naquele colchão, olhando para a parede branca, ainda segurando
o meu terço, passando meus dedos sobre as pedrinhas, me perguntando
infinitas vezes: o que queriam comigo?
Aquele homem loiro com expressão repugnante ia ser o meu
futuro marido? Seus olhos azuis frios me analisando me fizeram sentir
amedrontada, ele não me fez perguntas, apenas me esnobou. Assim como
todos ali.
Meu pai? Onde ele estava? Como Bóris se envolveu nisso tudo?
Não tinha informações sobre o meu pai, nunca soube nada dele, e agora
estava aqui.
Perdi-me em meio aos minutos, talvez até mesmo horas, pois o
quarto foi ficando escuro, e eu não tinha saído daquela posição. Para onde
devia ir? O que devia fazer? Recusava-me a fazer qualquer coisa.
Uma batida se fez presente. Nem ao menos virei o rosto, a porta
se abrira, ao contrário das portas do internato, aquela dobradiça não
rangera, apenas descobri que ela se moveu, pois a luz foi acesa fazendo
meus olhos que não estavam adaptados à luz piscarem rapidamente, mas o
que me fez virar o rosto foram os passos que pareciam masculinos.
Levantei-me da cama encontrando com o homem loiro, que era o
Pakhan, aquele que desejava ser o meu marido, mas eu não o desejava, tudo
nele era odioso, até mesmo o olhar me lembrava o de um demônio, assim
como aquele amigo dele.
— Está nessa posição há quanto tempo? — Tirou a mão do seu
bolso, revelando longos dedos tatuados.
— Demônio — rugi dando um passo para trás quando um sorriso
amedrontador se formou no lábio dele.
Aquele homem tinha movimentos lentos, similares aos de um
robô, não parou de caminhar na minha direção, meus olhos se arregalando
sobre a presença dele.
— O que foi que falou? — declarou calmamente,
ameaçadoramente.
— Demônio — repeti, sem medo, o que eu podia temer?
Entregaram-me para esses homens cruéis, pior do que eles era
saber que tinha que carregar o filho de um deles, e o maior dos problemas
nem estava aí, e sim na possibilidade de me deitar com ele.
Juntei toda a saliva que tinha em minha boca.
— Se fizer isso pode se considerar uma mulher morta — brandou
tombando a cabeça para o lado percebendo o que eu estava fazendo pelos
movimentos da minha boca.
— A morte é melhor do que ficar ao lado de pessoas como você
— grunhi cuspindo na face dele.
Meus olhos se fecharam. Nem ao menos sabia se o tinha acertado,
pois o estralo que se ecoou no quarto me fez cair ao chão, seu tapa foi tão
forte que senti a lateral do meu rosto arder como se estivesse em chamas.
— Sua puta imunda, nunca mais pense que pode cuspir no
Pakhan — rugiu.
Com seu timbre me fazendo encolher, eu apertei a minha barriga,
o medo me tomando quando pensei que ele me chutaria. O homem alto se
abaixou, seus longos dedos tocando o meu pescoço e apertando-o com
força.
— Entenda uma coisa, sua ninfeta insignificante, está aqui apenas
porque quero me vingar do seu pai, e a sua boceta é o preço a ser pago. —
Senti o ar começar a me faltar, tamanha a força com que ele o apertou.
Não consegui nem ao menos pronunciar nada, e ele não parou de
apertar, como se estivesse me levando ao limite.
O Pakhan revelou um sorriso sombrio, e largando o meu pescoço,
levantou-se, fiquei vendo os seus pés se afastarem do quarto, a porta se
fechando, e eu ficando ali sozinha.
Lágrimas voltaram a queimar os meus olhos, eu as senti descendo
por minha face, as palavras daquele homem ecoando na minha mente “está
aqui porque quero me vingar do seu pai”. Por que queriam essa vingança se
pensei que meu pai fosse membro deles? O que papai tinha feito que me
fazia ser a moeda de troca?
Apenas pretendia seguir minha vida no internato, virar uma freira
e nunca mais me incomodar com nada.
Podia não ter a vocação, mas realmente não me importava, tudo
pela minha paz, mas que paz era essa vivendo naquele lugar? Sem saber ao
certo o que queriam de mim?
Deixei que as lágrimas caíssem e o cansaço me dominasse,
levando-me a um sono profundo, naquele chão mesmo, sem força para me
mover.
***
Apertei minhas pálpebras, era como se estivesse flutuando. Estava
no ar, devia ser um sonho. Puxei a respiração, sentindo uma essência
desconhecida, como se fosse amadeirada, o cheiro de nicotina junto àquele
perfume. Minhas costas tocaram um colchão fofinho.
— Huum... — suspirei ao sentir aquele acolchoado fofo.
Logo algo me cobriu. Não estava sonhando; tinha alguém ali, e o
que me fez abrir os olhos foi o barulho de passos. Virei meu rosto, a luz
estava apagada e tinha apenas uma outra, do abajur, ligada ao lado da cama.
— Ei? — chamei vendo um homem de costas caminhando em
direção à porta.
Ele não se virou, mas eu o reconheci, era aquele mesmo homem
que me pegara no internato, seus cabelos penteados para trás o entregaram,
o homem saiu do quarto sem me olhar, como se não quisesse ser revelado.
Sentei-me na cama, sentindo meus dedos roçarem no colchão, ele
tirou os meus sapatos? Olhei por baixo do edredom notando meus pés
descalços.
Um tremor percorreu minha espinha, como ele pôde fazer isso?
Como eu não o percebi me tirando do chão?
Voltei a puxar o ar com força, sentindo o cheiro da refeição da
casa tocando o meu olfato, virei meu rosto vendo sobre o móvel ao lado da
cama uma bandeja.
Ele me trouxera comida?
Quem era aquele homem? Melhor, quem eram aqueles homens?
Nem ao menos sabia o nome deles.
Não queria comer, talvez fosse melhor morrer de fome, mas
aquele cheiro estava mexendo comigo. Eu estava faminta, mas comer ia
fazer com que eu ficasse fortalecida. Por esse motivo apenas me virei,
ignorando aquele cheiro gostoso.
CAPÍTULO CINCO

Peguei o charuto que Dmitry estendera para mim. Nem ao menos


adormecemos e o dia já começou a raiar do lado de fora da janela do
escritório do Pakhan, Sergey estava sentado em sua cadeira com os
pensamentos distantes, o que me fez ficar analisando as suas reações
esperando pelo primeiro momento em que ele ia pigarrear ou demonstrar
alguma pequena reação que fosse para me fazer descobrir o que ele
escondia.
Seus olhos se viraram encontrando com os meus.
— Aleksey? — Arqueou uma sobrancelha diante da minha
avaliação.
— Está com a cabeça distante, meu amigo.
— Impressão sua, a propósito, vamos para a Suíça, temos o
convite de casamento de um dos Zornickel...
— Hoje? — Dmitry o cortou se mostrando impaciente com isso.
— Sim, esqueci de avisar antes. — Deu de ombros.
— Ou não queria ouvir o quão errado era deixarmos a Rússia —
declarei levando o charuto á minha boca, dando uma puxada suave,
sentindo o frescor em minha boca.
— O perigo já passou, estamos com tudo sob controle agora —
Sergey voltou a falar.
— E quanto à sua nova esposa? — perguntei, lembrando-me da
garota.
— Deixe-a, não a quero do meu lado, olhar para aquela coisa me
causa repulsa, ainda mais pelo fato de ela sempre estar com aquele terço na
sua mão.
Calei-me, pois sabia que existia algo de errado com Sergey. Ele
nunca recusava uma mulher, era um maldito depravado. Ter uma boceta no
meio das pernas para ele era o que importava, mas era aí que existia o erro:
Sergey estava rejeitando a garota falando que ela era sem sal.
Yesfir era inocente, mas sem sal não era, ou ao menos eu deveria
julgar que era, mas não, pois tudo nela me fazia querer ficar olhando-a.
Entrei em seu quarto por pura curiosidade, achando que ela podia estar
dormindo na cama, até encontrá-la deitada no chão, me lembrando que não
comera. Saí do seu quarto, indo até a cozinha onde coloquei algumas coisas
em uma bandeja para a garota se alimentar, voltando e a encontrando na
mesma posição.
Tirei os sapatos dos seus pés. Pés pequenos envoltos em uma
meia fina, eu a peguei em meu colo, com cuidado deitando-a na cama, seu
corpo leve como uma pluma, os olhos fechados, os lábios entreabertos. Ela
gemeu suavemente quando a deitei sobre o colchão como se estivesse
gostando disso.
Soltei-a, puxei a coberta cobrindo o seu corpo, aquela túnica
horrível, o véu ainda em seus cabelos, queria vê-los sem aquilo, sentir a
maciez deles, inferno!
Precisei sair às pressas daquele maldito quarto antes que eu
desflorasse a virgem futura esposa do meu amigo. Yesfir não era para mim,
por mais que eu tivesse um maldito tesão por ela.
Eu era um maldito sádico, gostava de causar dor nos outros, e
queria ver lágrimas banhando as feições dela enquanto eu a chicoteava,
deixando seu corpo no ápice do precipício para mim. Garotas inocentes
sempre zombaram de mim, e era por isso que eu queria aquela maldita
garota.
Ninguém soube que eu fui até ela, ninguém precisava saber. Eu ia
manter minhas mãos calejadas pelo caralho de vida que eu tive longe
daquela noviça, pois qualquer deslize meu, ia me fazer perder o controle.
— Vamos nos alimentar e depois vamos para Suíça, o jatinho já
está à nossa espera — Sergey declarou levantando-se da sua cadeira.
— Olha só, ele até mesmo mandou preparar o jatinho — Dmitry
zombou levantando-se da sua cadeira.
— Sergey cheio de segredinhos, até parece uma mulherzinha
apaixonada. — Revirei meus olhos indo em direção à porta.
— Vão os dois se foder, não têm nada melhor para fazer das suas
fodidas vidas?
Troquei um rápido olhar com Dmitry sabendo que ele também
percebera o que estava acontecendo com Sergey. Assim que saímos do
escritório olhei em direção ao corredor onde estava o quarto da noviça.
— Por que não vai ver como está a sua futura noiva? — perguntei
olhando para o meu amigo.
— E correr o risco de sair daquele quarto rezando uma Ave
Maria? Não, deixa aquela coisinha apodrecer de fome — declarou com
desdém.
— Sergey... — meu amigo me olhou.
— Pegue ela então, pois eu não vou, se eu entrar naquele quarto
giro o pescoço daquele filhote da virgindade até ela morrer, vou apenas
tocar aquela coisa quando me casar, colocar um filho dentro dela e só. —
Sergey semicerrou seus olhos, e naquele momento eu soube que tinha uma
outra mulher na jogada.
— Tudo bem, vou trazer a garota — eu me prontifiquei muito
rápido, mas nenhum deles percebeu a minha inclinação de ir até ela.
Afastei-me dos dois, ambos desceram as escadas, segui ao quarto
da noviça, sem nem bater na porta e a abri. O quarto estava iluminado pela
luz do dia, a menina se encontrava sentada sobre a cama, os pés tocando a
ponta do chão, aquele véu em sua cabeça, em seus dedos, o terço e ela
sussurrava algo que eu fui entender quando me aproximei.
Ela estava rezando? Sequer ergueu os olhos na minha direção, sua
atenção estava fixa naquele terço, meus olhos captaram a bandeja de
comida intacta do jeito que eu deixara. Ela não comeu?
— Venha tomar o desjejum — minha voz ecoou naquele quarto
silencioso. A menina ergueu os olhos, mas não parou de sussurrar. — Ae,
eu vou repetir mais uma vez e se você não vier, saiba que será levada à
força.
Yesfir me afrontou com seus olhos castanhos, semicerrando-os,
deixando explícito que não iria se mover. Ela tinha um rosto delicado, meio
oval, bochechas que pareciam duas almofadas, a pele negra dela me
fazendo querer senti-la em meus dedos, saber se era tão macia quanto
parecia.
Rosnei quando ela nem ao menos piscou os olhos, dei um passo
na sua direção com facilidade, peguei-a pela sua cintura, erguendo-a em
meu ombro, colocando-a ali.
— Maldito! — A mulher finalmente falara algo, sua mão socando
as minhas costas.
— Sabe falar, não é mesmo? — brandei saindo do seu quarto,
minha mão apertando firme a coxa dela, sentindo-a em meus dedos. Ela
tinha uma coxa mediana, nem muito grande, nem muito pequena.
— Demônio! — A noviça não parou de socar as minhas costas.
Seus socos mais se assemelhavam a tapas inofensivos, desci as
escadas encontrando Sergey e Dmitry sentados em suas cadeiras, puxei
uma, tirando a garota do meu ombro, obrigando-a a se sentar.
Nem a tendo assim em meu colo fez aquele maldito véu cair ao
chão e eu conseguir ver os seus cabelos.
— Vejo que não sou apenas eu que perco a paciência com essa
coisinha — Sergey falou despreocupadamente.
A menina me olhou com seus olhos ferozes, mas nem mesmo
tendo-os assim fazia com que perdesse a sua aura inocente.
— Vai comer — rosnei.
— Me obrigue, eu prefiro morrer de fome a conviver com
qualquer um de vocês...
Ela estava sem comer, queria morrer de fome? A bandeja intocada
revelou que ela estava há um dia sem comer provavelmente.
— Saiba que eu vou obrigá-la — brandei apertando minhas mãos
em punhos cerrados.
— Faça-o, porque a boca é minha e por ela passa apenas o que eu
quiser — sua afronta fez o meu sangue ferver.
Olhei aquela mesa farta e com as mãos afundei os dedos sobre um
bolo de chocolate, segurando-o, a menina me olhou com seus olhos ainda
mais arregalados.
— Eu falei que vai comer! — Rugi segurando em seu queixo,
meus dedos agressivos o puxaram para baixo.
— Monstro, cape... — sua fala morreu quando inseri aquele bolo
em sua boca.
— Coma, sua maldita — grunhi vendo as lágrimas escorrerem por
suas bochechas.
Ela não quis comer, mas eu enfiei tudo aquilo segurando em sua
boca, impedindo-a de vomitar. Yesfir quis se debater, mas a minha mão sob
o seu rosto a apertava com tamanha força que nada a faria sair dali.
— Vai engolir tudo. — Seus olhos não se desviaram dos meus.
— Aleksey — Dmitry me chamou —, deixa a noviça, deixa que
ela morra de fome, é somente mais uma mulher insignificante.
— De fome ela não vai morrer! — rugi ao perceber que ela
engolira tudo, tirei minha mão da sua boca, notando o seu rosto sujo pelo
bolo de chocolate.
— DEMÔNIO — a noviça gritou querendo fugir da mesa, mas foi
em vão pois a puxei pelo braço, obrigando-a a sentar.
— Se não se sentar na porra dessa cadeira e comer, vou amarrá-la
e somente tirá-la quando tiver certeza de que se alimentou. — Bati minha
mão sobre a mesa, a raiva me tomando por completo.
— Deixe que a senhora Burlak cuide dela, estamos atrasados,
Aleksey — Sergey me chamou fazendo com que eu olhasse de canto para
ele.
Voltei minha atenção para a garota, ela se encolheu mais sobre a
cadeira, um rosnado escapou da minha boca, ainda assim a deixei.
Sabendo que a governanta ia fazer de uma forma mais fácil aquela
coisinha se alimentar.
CAPÍTULO SEIS

Os homens saíram da casa me deixando ali sozinha com a


governanta, podia sentir os restos dos farelos do bolo sobre a minha boca. A
mão agressiva do homem me apertando no queixo, o desespero me
tomando, era por esse motivo que eu preferia viver no internato, lá ninguém
me obrigava a nada, a morte era melhor do que viver à mercê desses
monstros.
— Querida? — Ergui meus olhos vendo a governanta se
aproximar.
— Sim? — sussurrei pegando o lenço que ela me estendera,
passando-o em minha boca.
— Você precisa se alimentar — ela falou com a voz calma.
— Não, eu não quero viver nesse inferno, a morte é melhor que
isso. — Meu estômago roncou nesse momento, deixando explícito que
estava com fome.
— Meu anjo não vai ser assim que seus problemas vão se
resolver...
— E como eles vão se resolver? Não tem solução, aparentemente
esses homens detestam o meu pai, e eu vou me casar com aquele
abominável loiro, mas pior que ele, é esse tal de Aleksey, foi ele que foi
atrás de mim no internato, ele que me trouxe aqui, ele que me carregou
como se eu fosse algum lixo, ele que enfiou comida na minha boca.
Abomino tudo que essa máfia representa, mas abomino ainda mais esse tal
de Aleksey — declarei sabendo o seu nome porque o ouvi sendo chamado
assim.
Só de pronunciar seu nome, meu corpo tremia, minha mente
ficava em colapso, o medo me tomava, aqueles olhos negros como a
escuridão, um vazio toda vez que me olhava, como se não houvesse nada
dentro dele.
— Seu nome é Yesfir, não é mesmo? — a senhora perguntou.
— Sim.
— Vamos fazer um acordo? Você se alimenta e eu te conto o que
eu sei sobre eles, e o que o seu pai tem em comum com eles. Mas precisa
manter segredo, tudo bem?
Balancei minha cabeça concordando com a senhora, afinal, o que
eu tinha a perder? Tudo que eu possuía de mais significante era a minha
vida, e até mesmo ela estava sendo jogada aos leões.
— Estou aqui há pouco tempo, mas sempre escuto os três
conversando, eles não são bons, quando eu falo para a senhorita se
alimentar e não enfrentar algum deles não é por besteira — a senhora parou
de falar me observando para ver se eu pegava a comida.
Soltei um longo suspiro, pegando uma fatia de bolo, não o mesmo
bolo que estava despedaçado diante daquele louco que enfiou a mão dentro
dele. A senhora encheu uma xícara de café, colocando-a na minha frente.
— Enquanto eu vou explicando, espero que a senhorita vá se
alimentando — apenas assenti e ela voltou a falar. — Meu marido foi um
dos membros da Bratva, ele é aposentado, pois foi ferido em combate. O
pai do atual Pakhan era um homem cruel, e quando ele morreu houve uma
pequena rebelião, alguns acusaram Sergey de ter matado o próprio e
sabemos que isso dentro da máfia é proibido, mas não foi comprovado
nada, e no final acabou que Sergey foi coroado o novo Pakhan e todos o
admiram.
— Mas o que o meu pai tem em comum com isso? — perguntei
levando uma fatia de bolo à minha boca.
— Seu pai era o antigo Obshchak, meu marido não falava muito
sobre o que acontecia aqui dentro, pois ele era apenas um brigadier, porém,
ouvi eles conversando que querem se vingar do seu pai por tudo que fez ao
atual Pakhan. Pelo que entendi o seu pai maltratava o Sergey, assim como
fazia com Dmitry e Aleksey, mas o que mais sofreu nas mãos dele foi
Sergey que cresceu nesse meio — a senhora falou aquilo me fazendo ficar
calada.
Absorvi tudo que me falara, levando uma nova fatia de bolo à
boca, mastigando-a.
— Então é isso? O meu pai judiou deles, agora serei eu a judiada?
O que eu tenho a ver com isso? O que eu tenho em comum com tudo isso?
— Senti as lágrimas queimando meus olhos, lágrimas de raiva, rancor,
repulsa.
— Você carrega o sangue do seu pai, isso é o suficiente para eles
— a senhora falou o óbvio.
— Meu pai nunca quis saber de mim, ele me abandonou naquele
internato, tudo para eu passar despercebida, pois não queria que algum
homem me tomasse como esposa — declarei o que eu sabia.
— Sinto muito, meu anjo...
— A única pessoa que me queria, meu pai deu o fim, nunca
entendi por que ele não me entregou junto com ela, se ela morreu que me
deixasse morrer junto dela, até que ponto o sangue fala mais alto? —
Suspirei me sentindo satisfeita.
— Não vai mais comer, minha querida? — perguntou.
— Estou satisfeita. — Empurrei a cadeira para trás levantando-me
dela.
— Senhorita...
— Por favor, me chame apenas de Yesfir — pedi solicitamente
tentando sorrir para a senhora, mas nem mesmo isso estava conseguindo
fazer.
— Yesfir, deseja tomar um banho? Notei que está com as mesmas
vestimentas que chegara aqui...
— Não quero outra roupa — eu a cortei de repente.
— Tome um banho, deixa que eu lavo as suas roupas, seco e trago
novamente para você usar, o que acha? — Ela lançou um pequeno sorriso
de canto.
— E se eles voltarem? — questionei prestes a negar o pedido da
senhora.
— O Pakhan informou que eles voltarão apenas amanhã, assim
dará tempo de a senhorita se banhar com tranquilidade — a senhora
explicou e nesse momento me vi assentindo.
— Um banho não seria nada mal — concluí finalmente.
A governanta me acompanhou até o meu quarto, adentrei-o vendo
que a bandeja de comida tinha sido retirada dali.
— Senhora Burlak, você tirou a bandeja de comida dali?
— Sim, afinal, quem a trouxe para você? Todos foram instruídos
pelo Pakhan a não a alimentar. — Fiquei olhando para o móvel que não
havia mais o alimento ali, me lembrando do homem que me tirara do chão,
os cabelos escorridos para trás.
— Eu não sei ao certo, quando vi, a bandeja já estava ali, o
homem já estava saindo do quarto, mas de uma coisa eu tenho certeza, não
foi o Pakhan, pois o homem que deixara aquilo tinha cabelo escuros.
Poderia jurar que foi aquele Aleksey, mas duvido que possa existir algo de
bom dentro dele. — Ainda sentia como se estivesse flutuando quando ele
me levantara do chão.
— Que coisa estranha. — A senhora franziu a testa confusa. —
De qualquer forma eu a tirei antes que o pakhan a visse e quisesse fazer
algum mal a você.
— Obrigada, senhora Burlak. — Olhei em volta indo em direção
a uma das portas que eu sabia que era o banheiro.
— Tire a sua roupa e a jogue para fora, pode usar um dos roupões
que tem ali, quando eu terminar com as roupas as trago novamente.
Assenti entrando no banheiro.
CAPÍTULO SETE

Sergey devia ter batido a cabeça na parede para ter perdido todo o
juízo que ainda restava dentro dele. Meus olhos encontraram Dmitry
sentado na cadeira do jatinho na frente da minha.
— Devemos nos preocupar com isso? — ele perguntou, pois
assim como eu ficou incomodado.
Estamos voltando da Suíça após ficar uma noite lá, fomos
convidados para o casamento de um dos membros deles, mas esse fato era o
menor dos problemas, sendo que ele trouxe as duas garotas suíças com ele,
e estava nesse momento transando com as duas no quarto do jatinho.
— Só espero que esteja usando camisinhas, apenas isso, pois já é
loucura demais levar duas mulheres para o mesmo teto que ele, sendo que
lá tem sua noiva. Sabia que tinha algo de errado com ele, só não esperava
por isso. — Levei a mão na minha testa, coçando a minha têmpora.
— Ele não quer se casar com a noviça — Dmitry declarou o
óbvio.
— Sim, mas precisa fazê-lo, precisa de herdeiros, e quem melhor
que aquela noviça para isso? — Abaixei meus olhos analisando o meu anel
com um rubi vermelho refletindo conforme o virava.
Aquele foi o primeiro anel que eu furtei em uma joalheria, poderia
tê-lo vendido, mas fiquei tão orgulhoso de mim que nem ao menos me
desfiz dele, optando por ficar sem comer apenas para ter aquilo. Até realizar
o meu próximo furto.
Tinha recém-completado dezesseis anos, antes disso eu fazia
pequenos furtos, apenas para me alimentar. Após perceber que eu podia
assaltar coisas maiores, passei a fazê-lo, saindo inclusive mesmo da rua,
ficando em hotéis, isso até eu descobrir a Bratva, a maior máfia da Rússia.
Foi difícil para chegar até eles, mas não desisti, pois eu queria fazer parte
daquilo.
Com dezoito anos fui oficialmente declarado um membro da
Bratva, entrei para o treinamento com dezessete, nunca descobri quem
matou o meu pai, mas por aqueles que tentaram me matar eu voltei,
pegando um por um, ceifando suas vidas com meus próprios punhos, sem
usar arma de fogo, tudo com meus braços, o grito de desespero deles me
fazia sentir vingado pelos anos que fiquei na rua, por terem entregado o
meu pai.
— Pode me interpretar errado, mas acho que Sergey está
cometendo um grave erro levando essas mulheres para lá — Dmitry
quebrou o meu devaneio.
— Acha? Eu tenho certeza disso. O que Sergey quer será
impossível de se concretizar, queria que fosse apenas tesão, mas viu o modo
que ele olha para aquelas duas? É como se fosse capaz de cometer um
homicídio por elas — resmunguei passando a mão em meu cabelo.
— Espero que ele não pense apenas com o pau. — Dmitry torceu
o lábio ouvindo o gemido que veio do quarto do jatinho. — Ainda sou
obrigado a isso...
— Ele vai pagar por nos fazer ouvir esse pornô. — Cruzei minha
perna revirando meus olhos.
Dmitry pegou as cartas sobre a mesa do jatinho, embaralhando-as.
***
Finalmente o jatinho pousou em Moscou, segui andando na frente
junto com Dmitry, Sergey que ficasse para trás com as suas convidadas, não
gosto delas, no meu ponto de vista eram mulheres muito liberais, assim
como boa parte das mulheres dessa família.
As duas eram bonitas, embora não fossem o tipo de beleza que eu
apreciava, estavam sempre olhando tudo à sua volta, como se estivessem
prestes a atacar a qualquer momento. Eu gostava era das submissas, olhares
baixos, a inocência explícita para deflorar, lágrimas nos olhos diante do que
eu gostava de fazer quando estavam amarradas para o meu prazer, era por
esse motivo que dificilmente me relacionava com alguém, pois sexo para
mim só funcionava se eu estivesse sentindo prazer com a dor dela, isso
podia soar doentio, mas já sentiram tanto prazer com a minha dor que tinha
chegado a minha vez.
A porta foi aberta quando nos aproximamos dela, fui logo
passando a mão em meus braços tirando o meu sobretudo. Dmitry fez o
mesmo, e eu virei o rosto vendo as duas mulheres entrando. Sofie era a loira
alta, sempre com roupas claras, a outra era a Rubi, morena, com botas
sempre de salto alto. Ao contrário da outra essa usava mais roupas escuras,
como se fossem opostos. Na verdade, elas eram isso mesmo. A última vez
que estiveram aqui foi um caos nessa sede, não sou a favor da presença
delas, mas se Sergey as queria aqui, quem era eu para questionar?
Sergey apresentou as duas para a governanta, Dmitry se
prontificou falando:
— Bom, vou para o meu quarto, preciso de um merecido
descanso. — Dmitry se afastou, indo para as escadas.
— Seguirei os passos de Dmitry, mas antes passarei no quarto da
noviça para ver se ela está viva...
— Não será necessário — Sofie me cortou.
— Como? — Fiz-me de desentendido semicerrando meus olhos
para aquela mulher loira.
— Não estamos lidando com uma criança, não é mesmo? — dessa
vez quem falou foi a morena com a sua voz sempre impaciente. — Não
existe a necessidade de você se aproximar da garota, ainda mais sendo um
homem, ficou maluco?
A convidada de Sergey cruzou os braços para mim, demonstrando
aquele pequeno indício de zombaria.
— Só pode ser brincadeira. — Uma risada forçada escapou da
minha boca.
— Tenho cara de quem está brincando? — Rubi deu um passo na
minha direção, querendo me enfrentar deixando explícito que não tinha
medo de mim.
— Para uma mulher, você é bem corajosa. — Se ela achava que ia
ceder apenas porque era uma mulher estava enganada.
— O problema é que não sou somente uma mulher, mas “a”
mulher. Se não quer mexer em um ninho de vespeiros, ficará longe da
garota, ela não é da sua conta, estamos aqui com o propósito de ensiná-la a
lidar com a vida, e a sua presença não é bem-vinda!
Rubi seguiu me olhando, que porra Sergey queria fazer? Moldar
Yesfir àquelas malucas? Só podia estar louco, ou perdendo o sentindo da
vida, Yesfir não era, e nunca seria igual àquelas duas.
— Sergey, presumo que está de acordo com isso? — Virei meu
rosto olhando para o meu amigo.
— Sim — o Pakhan assentiu conforme falou.
— Ótimo, não vejo a hora das duas irem embora — resmunguei
me afastando deles.
Subi os degraus da escada, olhei em direção à porta da garota,
curioso para ir até ela, curioso para ver se ainda usava aquele véu horrível
na sua cabeça, porra! Ela não era para mim, era a futura esposa do Pakhan
da Bratva.
CAPÍTULO OITO

Passar aquele tempo sozinha na casa era bom. Slava lavou minhas
roupas e as trouxe assim como prometera, não as tirei novamente, o medo
de eles voltarem e irem atrás de mim permaneceu vivo dentro de mim.
Nem ao menos existia uma possibilidade de fugir deles. A casa
era repleta de guardas, ou ao menos foi o que eu notei, se ao menos eu
soubesse quando eles trocavam de turno...
Uma batida se fez presente na porta, levei um sobressalto,
colocando a cortina que eu segurava para o lado, mantendo na minha outra
mão o meu terço. Virei meu corpo e arregalei meus olhos quando avistei a
porta ser aberta, ficando um pouco mais tranquila quando vi que eram duas
mulheres.
— Olá — a mulher alta, loira, falou com um sorriso em seus
lábios. — Sou Sofie Weber, essa é minha amiga Rubi Zornickel.
— So... sou Yesfir Alkaev, quem são vocês? — gaguejei sem
saber quem eram aquelas duas, vendo a morena fechar a porta, ficando as
duas ali dentro
— Amigas de Sergey Petrov — A mulher de botas pretas falou,
ela falava o meu idioma meio puxado, como se não soubesse pronunciá-lo
corretamente.
— Aquele monstro não tem amigos — declarei balançando a
minha cabeça — Ele e seus capachos são servos do diabo.
As duas trocaram um olhar demorado, e eu fiquei mexendo no
meu terço impaciente. Quem eram elas? O que queriam de mim? Se eram
amigas daquele mostro, boa coisa não deviam ser. A mulher morena de bota
passou a andar pelo quarto, seu salto ecoando por onde passava.
— Ser um servo do diabo seria problemático? Porque somos
todos tementes a Deus, ao menos eu e Sofie somos. — Aquela que eu ainda
não sabia o nome parou na minha frente mostrando uma tatuagem em seu
pescoço, uma cruz, e nela tinha algo escrito em alemão, que eu não
entendera — Acima da In Ergänzung, somente Deus, está escrito em
alemão, nossa máfia acredita e confia somente em um Deus, o que fazemos
não nos torna menos cristãos, mas talvez não vamos para o céu,
consequências da vida.
Ela deu de ombros deixando que seus cabelos pretos tampassem a
tatuagem novamente.
— Mas eu pensei que aqui era a Bratva. — Aquilo me deixava
mais confusa, pois acreditei que essa máfia era apenas a russa.
— É, mas não somos daqui, moramos na Suíça. Sergey é apenas
um amigo. Sou subchefe da máfia aliada a Bratva.
Movi minha cabeça em recusa, novamente elas estavam falando
que eram amigas daquele monstro. Eles eram aliados? Como podiam falar
dele com tamanha tranquilidade?
— Querem-no aqui comigo? Ele as mandou aqui? — perguntei
tentando entender algo, mas nada ali fazia sentido, tudo parou de fazer
sentido quando aquele homem odioso foi atrás de mim no internato.
— Não, ninguém nos mandou aqui, queremos conhecê-la melhor.
— Dei um passo para trás ao perceber que a garota loira que se chamava
Sofie se aproximara de mim.
— Não quero conhecê-las, nem ao menos quero estar aqui, prefiro
a morte a me deitar com um amigo do diabo. — Apertei o terço em minha
mão.
As duas voltaram a trocar um olhar, a morena dando de ombros
como se estivessem falando algo entre elas.
— Tudo bem, apenas queríamos ajudá-la — a voz da mulher de
bota preta ecoou despreocupadamente, então ela se virou, fazendo um sinal
de que estava indo para fora.
— Me ajudar? Sua ajuda só seria bem-vinda se o fizessem me
mandar para o internato outra vez. — A mulher que havia se virado voltou a
olhar para mim.
— Seu pai é membro da Bratva, certo? — Balancei minha cabeça
afirmando. — Então, mesmo morando em um internato, deveria saber que
sendo seu pai um membro oficial, obrigatoriamente esse seria o seu destino,
existem leis machistas em alguns clãs que não mudam, infelizmente, não
temos como te ajudar sobre isso, você nasceu da pessoa errada.
— Essa seria a ajuda que me dariam? Jogando na minha cara que
me casaria com um homem que nem ao menos desejava? Sou uma noviça,
lá eu me sentia segura, mesmo não tendo a vocação para ser freira, eu faria
o juramento, só para me ver longe disso — falei vendo as duas me olharem
admiradas.
— Então é tão pecadora quanto qualquer um de nós? Que bela
trapaceira é! — A morena me lançou um sorriso um tanto debochado.
— Bóris, meu pai, expulsou a minha mãe de casa quando eu tinha
sete anos, nunca mais a vi, tudo porque mamãe queria ir embora e me levar
junto com ela, e para não sair por baixo, não ser o homem que foi
abandonado pela esposa, ele sumiu com a mamãe, nunca mais soube nada
sobre ela, não sei se está viva. Depois do dia que acordei sem ela me
chamando, tudo mudou, fui jogada no internato de freiras, e ali eu me senti
segura. O problema não são vocês, me desculpem se fui rude, os castigos
das freiras eram horríveis, mas eu sempre fui uma boa garota, afinal queria
saber o que é se sentir bem-vinda em algum lugar, mas eles apareceram, me
tiraram de lá, e agora estou aqui, vivendo nesse lugar odioso, com homens
que abomino. Todos os homens que estiveram na minha vida arruinaram
comigo, meu pai, agora eles. Não quero me casar, não... não... não... —
balancei minha cabeça, inconformada, irritada com aquilo tudo.
— A maioria das mulheres que vivem na máfia são injustiçadas, é
por isso que sempre luto por nós, Yesfir, e tentarei fazer o máximo para
auxiliar você, mas infelizmente confrontar a decisão de um Pakhan é forte
demais. Ele tem razão, é ele quem manda aqui, e se Sergey decidiu que será
a futura esposa, o máximo que pode fazer para tornar a situação “menos
pior” é acatar suas decisões, não é o que eu falaria para uma mulher no meu
clã, pois nossos homens foram criados para serem maleáveis com mulheres,
o que não é esse caso... — A mulher morena concluiu soltando um longo
suspiro.
— E se eu fugir? — pedi em meio ao meu desespero, elas se
entreolharam rapidamente, me direcionando um breve olhar de pesar.
— Sabe os riscos que correrá, não é mesmo? — Sofie perguntou,
sem negar o meu plano.
— Sofie, não! — A morena a cortou.
— Sim, eu sei...
— Não! Não vamos nos prejudicar para ajudá-la — A morena me
cortou respondendo a sua amiga.
— Pois farei o que eu julgo ser melhor. — As duas ficaram se
olhando por longos segundos.
Fiquei analisando a interação delas, mas não as interrompi, até
que a mulher morena passou a mão nos braços da loira levando-a para fora
do quarto me deixando ali, sozinha.
Soltei um longo suspiro, óbvio que elas não podiam me ajudar,
não iam colocar suas vidas em risco por uma desconhecida. E naquele
momento era isso que eu era: uma completa desconhecida.
Fiquei olhando para a porta. Se ela tivesse chave para a trancar e
me deixar na privacidade, mas nem isso eu podia fazer, correr o risco de
qualquer um entrar ali, até mesmo aquele homem de olhar vazio.
CAPÍTULO NOVE

Cheguei na sala de jantar, onde a mesa já estava servida, notei


meu amigo sentado. Levei a mão à minha cabeça, jogando meus cabelos
para trás sentindo o gel molhado ainda. Tinha os fios grossos e não os
queria cortar, por esse motivo sempre passava gel assim mantinha meus
cabelos para trás.
Tive um dia horrível, não consegui parar de pensar naquela
maldita garota e todas as atrocidades que eu queria fazer com ela.
Puxei uma cadeira, meus pensamentos distantes, encontrando os
olhos de Sergey sobre mim.
— Algum problema, Aleksey? — Sergey me perguntou.
— Ah, nada... — Dei de ombros sem saber o assunto que ele
queria mencionar.
— Algo o incomoda? — Ele voltou a perguntar como se soubesse
que eu estava pensando na sua futura esposa, ato que me fez olhar em volta
procurando por aquela maldita noviça.
— Não. Sua noiva, cadê? — Sentei-me ao lado de Dmitry que não
estava prestando atenção na nossa conversa.
— Quer ela, Aleksey? — Meu amigo não desviou os olhos de
mim, como se estivesse buscando sobre a minha reação à resposta para a
sua pergunta.
— Ficou louco? — talvez a minha reação diante da resposta que
eu dera tivesse me entregado.
Sergey não era um homem de ficar especulando essas coisas,
devia ter o bedelho daquelas duas garotas, até o momento ninguém havia
percebido, como isso foi acontecer?
— Tem certeza do que está falando, não é mesmo? — ele insistiu
no assunto, mas eu sabia do meu lugar na Bratva, e um deles era não desejar
a futura esposa do meu amigo.
— Sim, eu tenho, meu destino é servir a você e a Bratva, por isso
tenho total certeza sobre isso, sinto-me ofendido com tudo isso. — Me fiz
de ofendido, ninguém iria descobrir que eu queria aquela ninfetinha vestida
de noviça, esse era um segredo que pretendia levar para o meu túmulo.
Um leve arrastar de pé me fez erguer os olhos e ver aquela
coisinha entrando na sala, dessa vez ela o fez sem armar um escândalo.
Yesfir se sentou à minha frente, meus olhos não se desviaram dela,
querendo observar qualquer detalhe, ver alguma mania boba que ela
possuía, só podia estar parecendo um maldito lunático para fazer isso.
Virei meu rosto encontrando os olhos de Sergey sobre mim.
Pronto, se antes ele tinha dúvidas sobre as minhas intenções com a sua
futura esposa, agora ele podia ter certeza diante da analisada que dei nela.
Não falei nada, nem ao menos foi necessário, pois os dois
furacões suíços entraram nesse momento na sala. Elas faziam barulho com
seus saltos por onde passavam, eram altivas, sempre com o queixo erguido,
o nariz arrebitado, se julgando as donas do mundo. Fico me perguntando
como Sergey conseguiu se deitar com essas duas? Elas não paravam de
brigar na última vez que estiveram aqui, agora os três estavam juntos, isso
os tornava o quê? Um trisal? Isso era uma completa loucura até mesmo para
o meu amigo.
Comecei a me alimentar. Por sorte a noviça estava bem na minha
frente, assim podia ficar analisando-a discretamente para constar que estava
se alimentando.
Yesfir comeu pouco, mas ao menos comeu, seus movimentos
eram lentos, calmos, como se fosse um passarinho delicado, um anjo
querubim em formato de mulher. Inferno, não devia estar olhando para
aquela pequena coisa.
Yesfir foi a primeira a terminar de comer, assim como entrara na
sala quieta, saiu quieta, logo em seguida me levantei da cadeira
acompanhado de Dmitry. Ambos fomos juntos em direção à sala, indo por
trás da casa, saindo pelo pátio. A neve caía suavemente, os flocos se
chocando ao chão, mas não foi isso que chamou a minha atenção, e sim a
garota com aquela túnica horrenda e fina ao lado de fora da sede, parada no
final do pátio olhando para o nada.
— Deixa eu ver se adivinho, vai lá tocar a noviça para dentro —
Dmitry zombou ao meu lado.
— Acertou em cheio — rosnei deixando-o para trás sabendo que
ele ia seguir para o pátio aberto e encontrar com seus homens.
Meus passos nada silenciosos fizeram a menina virar o rosto, seus
olhos puxados para o lado se encontrando com o meu calçado, logo
erguendo aquelas esferas amarronzadas na minha direção.
— Vai entrar agora — brandei com a menina.
— Não vou fugir, até porque não tem nem como — ela arfou
cruzando os braços diante do frio.
— Está frio e não veste roupas apropriadas para estar aqui —
voltei a falar.
— Como se você se preocupasse...
— Me preocupo pela linhagem do Pakhan que dará sequência,
agora, entre! — ordenei.
— Me obrigue! — Um bico se formou nos lábios dela.
— Já teve provas o suficiente para saber que sou capaz disso. —
Dei um passo na sua direção, um rosnado escapou da minha boca, apertei
minhas mãos em punhos cerrados me controlando para não a agarrar e levá-
la para dentro contra a sua vontade.
— Demônio — Yesfir murmurou dando um passo para trás sem
nem ao menos perceber que estava na ponta do pátio, seus pés tocando na
neve escorregadia, fazendo-a perder o equilíbrio e cair com as mãos
apoiadas na neve.
Poderia tê-la ajudado, mas ver o seu tombo me fez ficar
incrivelmente satisfeito por ela não ter me obedecido da primeira vez.
A menina resmungou, tentando se levantar, mas resvalando
novamente, seus dedos delicados tocando na neve outra vez. Perdi a
paciência indo em sua direção, segurando-a pela cintura, sua cintura fina,
pequena, delicada como eu já esperava.
Com facilidade a ergui trazendo a garota para o pátio novamente.
Ela estava batendo os dentes diante da neve fria, seus olhos se ergueram
sobre os meus, até que ela se deu conta de que eu ainda a segurava pela
cintura.
Começou a se debater, fazendo com que eu a soltasse, a menina
me olhou uma última vez como se estivesse atordoada. Sentindo o meu
toque, ela se virou e saiu dali praticamente correndo.
Fiquei observando aquela pequena criatura ir embora, entrando na
casa em meio à sua corrida. Ainda podia sentir como se estivesse
segurando-a pela cintura, seu corpo miúdo, leve feito pluma, deixando claro
tudo o que eu podia fazer com aquela pequena coisinha.
Inferno!
Precisava parar de pensar nas coisas que podia fazer com a futura
esposa do Pakhan da máfia.
CAPÍTULO DEZ

Tranquei-me no quarto ou ao menos era o que eu queria fazer,


pois a porta não tinha chave. Sentei-me na cama impaciente, balançando
meus pés de um lado para o outro, me lembrando daquele homem, como se
ainda pudesse sentir as mãos dele sobre mim.
Seu aperto forte, me erguendo daquela neve, como se eu não
pesasse nada, me colocando de pé, seus olhos negros como uma noite
escura sobre mim. Mesmo sendo tarde, as luzes do pátio estavam acesas e
eu pude notar cada detalhe duro das suas feições.
Tinha medo daquele homem, medo de tudo que ele representava,
medo de quando ele me tocava, e ele nem ao menos era o meu futuro
marido, mas mesmo assim, seu olhar sobre mim fazia com que eu tivesse a
impressão de que ia me dar ordens.
Preferia a morte a ter que viver naquele lugar, a morte era melhor
do que ter aqueles olhos negros sempre sobre mim, como se estivessem me
analisando, esperando pelo meu deslize.
Sentia-me a caça e Aleksey o caçador, ele era amedrontador, tinha
um aperto firme, era alto, foi o primeiro homem a me tocar onde antes
ninguém tinha tocado, aquele toque me deixou desconcertada,
desestabilizada. E eu o odiava, odiava Aleksey, odiava tudo o que aquela
droga de máfia representava.
Levantei-me da cama decidida a pôr um fim nessa dor que me
corroía por dentro, querendo que tirassem a minha vida ao invés de viver
todos os dias sendo tocada por um homem que eu não desejava.
Passei a mão sobre a maçaneta, abrindo a porta abruptamente,
devia existir alguma forma de acabar com isso, alguma forma que me
fizesse sair desse desespero que me destroçava a alma.
Andando pelo corredor me deparei com o Pakhan; ele parecia
desestabilizado, perdido em seus pensamentos, a pessoa ideal para me tirar
daquela agonia.
Seus olhos se depararam com alguém parado na sua frente,
semicerrando-os na minha direção, me analisando de cima a baixo, com
repúdio, ódio em seu olhar.
— Me mate — pedi finalmente. — Me mate, a morte é melhor do
que viver ao lado de um monstro como você!
— Saia agora — seu tom de voz era ameaçador, um sussurrar em
meio a um grunhido.
— Não, por favor, me mate... — implorei, se aquele fosse o meu
futuro marido, que a morte fosse o meu destino.
Ouvi passos vindo de trás dele, avistando as duas mulheres que se
aproximavam de nós, elas estavam atordoadas assim como ele, tudo
explícito em seus olhares.
— Saia da minha frente, agora — Sergey voltou a grunhir para
mim, mas estava decidida, não queria me tornar a esposa dele.
— Não, eu não saio, mate-me, mas me recuso a me casar com um
monstro como você — afrontei o Pakhan.
Sabia que aquele era o momento ideal, se eu quisesse que tudo
aquilo acabasse, precisava ser naquele momento. Sergey parecia estar fora
de si, algo acontecera com ele, algo que envolvia aquelas meninas que se
diziam amigas dele.
Meus olhos se concentraram nos punhos cerrados, ele ia me
atingir, de repente um medo me tomou, não era assim que eu desejava a
morte, eu a queria rápida, queria apenas ir embora.
A mulher morena de repente se moveu, indo com rapidez em
direção ao Pakhan, segurando no braço dele, aquele mesmo que estava com
os punhos cerrados, como se quisesse impedi-lo de fazer o que ia fazer, o
homem loiro abaixou os olhos para a garota ao seu lado, os dois ficaram se
entreolhando, como se existisse uma conexão entre eles, algo que os
fizessem mais íntimos, ali ficou claro, não era necessário ser nenhum perito
no assunto, o Pakhan estava se envolvendo com aquela garota, se eles
estavam tendo um caso, onde eu entrava naquele somatório?
— Some daqui, Yesfir — a morena declarou sem olhar na minha
direção. — Agora não é o momento da sua morte.
— Sim, esse é momento. — Não queria desistir.
— Some, não me irrite, garota ingênua, eu falei some, agora! —
Sergey rosnou, de uma forma que eu nunca tinha visto antes, me fazendo
até mesmo temer a morte, tremendo diante do timbre da voz dele.
Sabendo que aquele não era o momento da minha morte, me virei,
lágrimas de ódio se formando em meus olhos, nem ao menos isso fui capaz
de fazer.
Empurrei a porta do meu quarto, olhando aquele cômodo, um
lugar confortável, há muitos anos eu não dormia em uma cama tão
confortável em minha vida, segui em direção à janela, colocando a cortina
para o lado, vendo a neve cair suavemente do lado de fora.
Cruzei meus braços, sabendo que aquele era somente mais um
dia, mais uma noite. Ao lado da cama um pequeno aparelho que mostrava
as horas, eu não me dera conta da quantidade de horas que havia passado, já
era meia noite.
— Feliz aniversário, Yesfir — sussurrei para mim mesma,
mordendo o meu lábio.
Apenas mais uma data, mais um ano de vida. Ao menos no
internato eu tinha algumas freiras que ficavam felizes por essa data,
cantando até mesmo uma canção em comemoração, ali eu tinha o quê?
Nada!
Por que faziam aquilo comigo?
O que eu tinha feito para merecer um casamento com um homem
que eu não suportava nem olhar nos olhos, homens não passavam de um
mero pensamento para mim, em vários momentos me peguei pensando
como seria ter uma família, um lugar para onde eu fosse e quisessem a
minha presença, que me desejassem, mas isso nunca aconteceu, meu pai me
abandonou naquele internato, minha mãe nunca soube se estava viva ou
morta.
No internato eu era apenas uma dentre várias.
Eu nasci carregando uma cruz mais pesada do que eu, cresci em
uma família que eu não queria, agora eu precisava carregar a minha cruz, e
de quebra, ter o fardo de levar a do meu pai, tudo por culpa dele!
Levei um susto ao ver a porta ser aberta, virando o meu corpo,
passando a mão rapidamente embaixo dos meus olhos, limpando as
lágrimas que caíam quando estava sozinha.
O homem alto de olhar predominante estava ali, seu cabelo como
sempre para trás.
— O que quer aqui? — perguntei em meio ao meu desespero,
olhando em volta.
— Deixou cair isso na neve. — Ele tirou a mão do seu bolso
segurando em seus dedos o meu terço.
Aleksey o estendeu para mim, mas eu não me movi, ficando
parada no mesmo lugar.
— Venha pegar, noviça — sussurrou, mas balancei a cabeça
negativamente.
— Deixe sobre o móvel — pedi.
— Ou pega aqui, ou ficará sem. — Tombou a cabeça
lentamente para o lado.
— Fique para você, não vou me aproximar de um demônio como
o senhor! — Cuspi as palavras.
Um meio sorriso se fez presente nos lábios dele, Aleksey se
divertia quando o chamava daquele jeito. Ele tinha um olhar sádico, como
se fosse o próprio capeta incorporado nele.
O homem levou a mão ao seu bolso, ele realmente não ia devolver
o meu terço.
— Tudo bem, talvez eu possa fazer alguma magia maligna com
ele — com aquele timbre debochado Aleksey seguiu em direção à porta
parando no parapeito dela e me olhando novamente. — A propósito, feliz
aniversário, pequeno querubim...
— Co... como sabe? — eu o cortei espantada, gaguejando.
— Eu sei tudo sobre você. — Não sorriu, não houve deboche, e
sim um tom de voz possessivo, me fazendo tremer com aquela afronta.
Aleksey se virou indo embora, fechando a porta, me deixando ali
sozinha.
CAPÍTULO ONZE

Naquele dia, saí tarde do meu quarto, no relógio marcava duas


horas da tarde, ninguém veio até mim, senti falta do meu terço por diversas
vezes, mas aquele monstro não voltou para devolver.
Decidi sair do aposento quando pela décima vez meu estômago
roncou, se morrer de fome não era uma opção, não ia ficar me privando,
podia ser besteira da minha parte, mas estava sentindo que não estavam
cuidando da minha segurança, como se eu fosse algo insignificante para
aqueles homens.
A casa estava silenciosa. Aquelas mulheres tinham ido embora?
Passei pela sala de jantar encontrando-a vazia, segui em direção à cozinha,
encontrando-a vazia também, parei em frente à ilha de pedra, vendo ali um
papel dobrado, desdobrei-o, lendo o que estava escrito:
“Amanhã à noite às 3:00 da madrugada esteja na saída sul da
sede, vai ter um carro à sua espera... Seu pai. Bóris.”
Olhei em volta, como aquilo era possível? Como podia ter um
bilhete direcionado para mim ali? Quem foi que o deixou? Como sabiam
que eu ia estar aqui?
E se fosse uma armação? E se estivessem me testando? Guardei o
papel no meu bolso ouvindo passos e vendo a senhora Slava entrando na
cozinha.
— Está com fome, criança? — ela perguntou com carinho.
— Agora eu tenho dezoito anos, não sou mais uma criança. —
Sorri orgulhosa.
— Não me diga que é seu aniversário — assenti com a cabeça. —
Fica ainda mais linda quando sorri, Yesfir...
Ambas levamos um susto quando ouvimos os passos dos dois
homens adentrando o lugar, me virei, o sorriso se esvaindo dos meus lábios
quando vi de quem se tratava. Aleksey ao lado daquele outro homem que
sempre estava junto dele, Dmitry, assim como o ouvi chamarem já que me
apresentar ninguém quis.
— Senhores, desejam algo? — Slava perguntou.
— Uma faca de cozinha — Aleksey falou dando a volta na ilha.
— Irmão, isso é loucura — Dmitry declarou para o outro.
Fiquei olhando a interação deles, eles pareciam ser bem próximos.
— Onde tem faca de serrinha, Slava? — Aleksey nem ao menos
parecia se importar com o que o amigo disse.
— Quer que eu faça algo, senhor Ivanovich? — Esse era o
sobrenome dele?
Diferente, algo grande, talvez não o que eu esperava para ele.
— Sim, quero uma faca — ele voltou a pedir.
— Irmão, acredito que devemos ter uma lá na sala sul...
— Muito longe, até lá já vou ter perdido a oportunidade — fiquei
atenta quando eles falaram a palavra sul, mas não voltaram a mencionar.
— Se Sergey descobrir...
— Cala a boca, Dmitry! Com Sergey eu lido depois.
Slava abriu uma gaveta mostrando as facas para o homem.
— Ótimo. — Passou a mão pegando todas elas.
— Senhor...
— Mande comprar outras, essas vão sujar. — Ele ergueu uma
como se estivesse mirando em algo. — Vamos, Dmitry, vou mostrar como
fazer um tiro ao alvo humano.
Abri minha boca assustada, vendo os dois homens saírem dali.
Aleksey nem olhou na minha direção, não senti aquela escuridão de olhos
negros sobre mim. Assim como os dois entraram, eles saíram.
— Senhora Slava, será que eles vão fazer o que eu estou
pensando? — sussurrei ainda aterrorizada.
— Yesfir, meu anjo, esses homens são todos vazios por dentro,
duvido que até mesmo tenham uma alma, falo isso, pois meu marido era um
deles, só foi mudar depois que se aposentou — a mulher murmurou para
não ser ouvida.
— Seu casamento, foi por amor? — perguntei.
— Não, meu casamento foi arranjado por família de mafiosos, eu
cresci nesse meio, sempre soube que pertenceria a ele. — A senhora sorriu
com pesar.
— Conheceu o meu pai?
— De vista, sim — ela assentiu enquanto falou.
— Minha mãe? — perguntei ainda mais curiosa.
— Sim, meu anjo, nunca falei com ela, mas a vi em alguns
eventos ao lado do seu pai, ninguém nunca soube o que aconteceu com ela,
assim como você, ela era linda... — a senhora caminhou na minha direção,
segurando em meus dedos, sorrindo com pesar.
Um grito ecoou do lado de fora da casa, me fazendo arrepiar de
medo.
— O que foi isso? — Olhei em volta na cozinha sabendo que o
barulho vinha de fora.
Soltei a mão da senhora indo em direção àquele barulho que foi
seguido de outro grito.
— Querida, é melhor não... — Slava tentou me parar, mas eu não
parei.
Encontrei a porta dos fundos aberta, parando ao lado dela,
olhando para fora, a neve naquele momento não caía mais, dei um novo
passo para fora, parando e vendo os três homens ali, incluindo o Pakhan.
Aleksey tinha um sorriso em seu lábio, um sorriso que me causou medo,
pois a maldade estava explícita sobre ele, na frente deles havia um homem
amarrado a uma madeira, a cabeça tombada para o lado e sangue
escorrendo da sua boca, meus olhos captaram o peito dele cheio de facas
enterradas.
Aquele homem que antes gritava já se encontrava sem vida.
Quem eles pensavam que eram para fazerem aquilo com alguém?
Era uma vida, meu olhar aterrorizado se voltou para os três homens, dando
um passo para trás quando encontrei os olhos de Aleksey sobre mim, em
seu dedo uma faca, ele a segurava com facilidade, girando-a em seus dedos,
como se fosse bom naquilo que fazia.
Engoli em seco, aquele homem me causando tanto medo que foi
como se eu pudesse senti-lo em cada célula do meu corpo.
Aleksey sorriu de canto, aquele sorriso que me colocava medo,
passou a mão no seu bolso tirando de dentro o meu terço, segurando-o em
seus dedos, quando com a outra mão atirou a faca naquele homem.
Um gritinho ecoou do fundo da minha garganta, levei a mão sobre
a minha boca, os outros dois homens olharam na minha direção, notando a
minha presença.
Não falei nada, apavorada com a visão dos três que estavam
“brincando” com uma vida como se fossem os donos do mundo. Minhas
pernas trêmulas me guiaram para dentro da casa, correndo em direção à
escada, sabendo que se surgisse um pingo de esperança que fosse para fugir
daquele lugar eu iria fazer.
O que eu tenho a perder? Nada!
Se aqueles demônios faziam aquilo com uma vida, imagina o que
podiam fazer comigo? Se fosse uma emboscada não tinha importância, se
eu fosse ou ficasse, não ia fazer diferença.
No fundo eu desejava que fosse verdade, pela primeira vez queria
que meu pai fizesse algo por mim que não fosse me abandonar em um
colégio interno.
CAPÍTULO DOZE

— Me decidi já. — Olhei para Sergey que saiu após a menina


correr dali.
— Decidiu sobre o quê? — Dmitry perguntou com uma
sobrancelha arqueada.
— Os documentos do meu casamento com aquela coisinha
chegaram após Sofie e Rubi irem embora, aquele contrato não é para mim,
não quando vejo o meu amigo olhando com esses olhos possessivos para a
minha futura esposa. — Joguei a faca que eu tinha em minha mão no chão.
— Já disse, Sergey, não quero aquela garota! — brandei cruzando
os meus braços.
— Sério, Aleksey? Eu vi o modo como olha para ela, é como se
fosse o dono dela. — O Pakhan semicerrou os olhos na minha direção.
— Sei dos meus deveres...
— Não me venha com essa fala de novo, posso encontrar outra
noiva para mim, não tenho pressa, vou ter o meu herdeiro, mas não com
aquela noviça, mandei alterar os documentos, a noviça é sua, Aleksey.
Aquelas palavras ecoaram na minha mente, a noviça era minha?
O fato de poder fazer o que bem entendesse com ela, levá-la para
a minha casa, amarrá-la em todos os cômodos, até mesmo no lustre que
tinha no meio da sala. Porra, isso era sadismo demais até mesmo para
mim...
— Aleksey? — Sergey voltou a me chamar.
— Não quero me casar, nunca tive esse intuito na minha vida —
declarei voltando à minha realidade.
— Pois irá, aquela garota vai se casar, nossa vingança para com o
pai dela só estará completa quando a casarmos com algum de nós — seu
tom de voz foi aquele típico tom de ordem.
— Sergey, não sirvo para ser marido, nem ao menos para colocar
um mini monstrinho na terra — falei direcionando meus olhos para o
maldito morto sobre o tronco de uma madeira.
— Então é melhor que use preservativo, pois eu duvido que
conseguirá manter seu pau longe daquela garota. — Foi impossível não
sorrir, um meio sorriso sádico se fazendo presente em meus lábios.
— É errado demais eu querer amarrar ela no lustre da minha casa?
— Tombei a minha cabeça para o lado imaginando a cena ouvindo meus
dois amigos soltarem uma enorme gargalhada.
— Então está assumindo que quer a garota? — Dmitry perguntou.
— Nem eu sei por que, mas quero aquela coisinha, desde o
primeiro dia que preguei meus olhos nela, foi como se naquele momento ela
estivesse assinando a sua sentença de morte com o diabo, mas eu sei dos
meus deveres, nunca encostaria um dedo nela sabendo que pertence ao meu
amigo...
— Pertencia, pois agora não pertence mais — Sergey fez questão
de frisar.
— Posso mandar alguém tirar aquele corpo dali? — Dmitry
perguntou.
— Pode sim, a propósito gostei de tiro ao alvo, podemos adotar
essa tática mais vezes — Sergey zombou fazendo Dmitry revirar os olhos.
— Falei que ele não iria achar problemas. — Dei um soco no
ombro de Dmitry que se esquivou.
Meu amigo se afastou, Sergey não viu problema, pelo contrário,
descontou a sua raiva sobre as facas que jogava naquele desgraçado que
achou que podia comprar armamento da Bratva, repassar apenas uma parte
do dinheiro e enrolar para pagar o restante, esse serviço era coisa de
Brigadier, mas como no momento que estavam levando-o para a sala de
tortura eu estava passando, pedi que o amarrassem sobre o tronco, precisava
descontar a minha raiva em algo e foi ali que o fiz.
Quem devia para a Bratva ou não pagava no dia, ou no dia
seguinte não acordava mais, não éramos conhecidos por sermos favoráveis,
éramos a pior máfia, não existia piedade nem clemência, existia a morte.
Dmitry ordenou aos seus homens que limpassem aquela bagunça
e junto com Sergey adentrei a sede, sentindo o calor ambiente dali, passei a
mão em meus braços tirando o meu sobretudo, ergui meus olhos em direção
à senhora Slava que se aproximava.
— Senhores — ela pediu a nossa atenção fazendo ambos olharem
para ela. — Hoje é o aniversário da garota Yesfir, gostaria de saber se posso
fazer um bolo para ela?
Sergey olhou para mim, ambos trocamos um olhar, aquilo devia
ser uma piada, bolo?
— Deseja mais o quê. senhora Slava? Que cantemos parabéns
para ela também? — O Pakhan foi irônico com a senhora, e ela percebeu a
ironia.
— Desculpa, Pakhan, apenas pensei...
— Pensou demais, aquela coisinha não merece isso — meu amigo
foi direto virando o seu corpo, indo em direção à sala.
Fiquei ali sozinho com a senhora, Sergey podia não querer porque
a garota era indiferente para ele, assim como era para mim também, mas
sem compreender por que estava fazendo aquilo, sussurrei com a
governanta:
— Faça, Slava, faça e leve no quarto dela, sem que o Pakhan
veja. — A senhora quis disfarçar o sorriso, mas o fez.
Não demostrei nenhuma reação, apenas indo em direção aonde o
meu amigo fora.
Sergey se encontrava sentado em sua poltrona, seus pensamentos
distantes, deixando claro que nem ao menos prestava atenção no que
acontecia à sua volta.
— Desde o momento em que aquelas garotas vieram para essa
sede, você mudou, não é mais o mesmo, vive aéreo, e desmarcou o
casamento julgando que a razão era eu, quando ambos sabemos que a razão
explícita são elas, qual o seu problema, Sergey? — Cruzei meus braços
olhando para ele.
Além de ser o líder da Bratva, Sergey era como um irmão para
mim. Ele passou a mão em seus cabelos, como se pudesse arrancar o couro
cabeludo fora.
— Porra! Eu já não sei mais o que fazer, me sinto na maior parte
do tempo perdido, é possível amar duas mulheres? É possível um amor sem
medidas? Amo as duas, e é impossível ter que escolher entre elas, por isso
que elas se foram, foram embora porque não podemos viver juntos, mas eu
estou aqui, longe delas, vivendo esse martírio, pensando naqueles dois
furacões a todo momento, caralho! Eu que sempre fui centrado estou
sofrendo por amor? — Ele ergueu os olhos para mim.
Balancei minha cabeça, a versão do Sergey apaixonado era
estranha, pois ele conseguia ficar ainda mais calado, ou talvez se devesse ao
fato dele não poder viver aquilo.
— Isso só comprova que monstros também sabem amar... —
zombei vendo-o se controlar para não soltar uma risada.
— Ou como diz aquela loira doce, talvez eu não tenha uma pedra
no lugar do meu coração. Caralho, Aleksey, eu preciso parar de pensar
nelas. — Ele se levantou indo em direção à escada subindo dois degraus por
vez.
Fiquei ali sozinho, olhando para o nada, amar nunca foi uma
opção na minha vida, como podia oferecer um sentimento que nunca
tiveram comigo?
Não desejava esse sentimento, o amor deixava a pessoa tola, e
esse reflexo percebia vendo em Sergey, meu amigo na maior parte do tempo
se encontrava aéreo, sabia que isso ia passar, mas provavelmente ainda ia
levar um tempo.
CAPÍTULO TREZE

Caminhei silenciosamente no corredor, parando ao lado de uma


porta entreaberta quando ouvi as vozes dos três homens, eles não falavam
exaltados, estavam falando entre si, mas em um bom tom que dava para
compreender.
Tapei minha boca como se quisesse me manter em silêncio sem
ouvir barulho da minha respiração para me entregar.
— ... vamos para Nova York amanhã, preciso resolver alguns
assuntos com um associado importante por lá e quando voltarmos realizará
o seu casamento — reconheci esse timbre sabendo que era o de Sergey,
peguei a conversa pela metade sem saber do que estavam falando.
Mas algo nesse quesito fez sentido, minha fuga foi programada
para amanhã, então a pessoa que o fez provavelmente sabia dessa saída.
Porém, ele falou sobre casamento, como se estivesse falando de uma outra
pessoa, quando todos sabiam que o meu casamento com ele seria em breve,
sequer sabia quando, pois ninguém naquele maldito lugar falava nada.
Voltei a me concentrar na conversa deles porque Aleksey estava falando
algo:
— Ainda não acho certo você não se casar com a garota. — Um
misto de alívio me percorreu, será que iam me devolver? Será que o Pakhan
desistiu dessa ideia?
— Não quero aquela coisinha, quando voltarmos quero que tire
ela da sede e leve para a sua casa, durante a noite fique com ela, mas de dia
o quero aqui. — Arregalei meus olhos.
Como?
Meu corpo inteiro ficou tenso, como se tivessem tirado o chão dos
meus pés, sem conseguir piscar, encostei minhas costas na parede, levando
a minha outra mão ao meu coração, sentindo cada batida desesperada que
ele dava, me perguntando se eu realmente tinha ouvido aquilo.
Vou me casar com Aleksey? O mesmo homem que eu vi atirar
aquela faca, o mesmo homem que me forçou a comer aquele bolo, uma
lágrima solitária escorreu pela minha face, se ter a visão de um casamento
com Sergey já era ruim, imagina um casamento com aquele homem que me
arrastou para essa sede, que tinha um sorriso diabólico e um olhar vazio
como uma noite sem estrelas.
— O que faz aqui? — Soltei um grito quando senti uma mão
apertar o meu antebraço, me tirando daquele devaneio.
Virei o rosto encontrando com aqueles três loucos, puxei o meu
braço, Aleksey o soltou e dei um passo para trás.
— Não vou me casar com você — sussurrei entre dentes.
— Quer dizer que estava ouvindo atrás da porta? — Arqueou uma
sobrancelha.
— Bom, esse problema não é meu. — Não ouvi quem falou
aquilo, apenas, vi os dois homens se afastando e me deixando sozinha com
aquele monstro.
Olhei para o lado, tentando ir para o meu quarto, qualquer lugar
longe daquele homem, porém, ele foi mais rápido, me puxando pelos
braços. Um gritinho ficou preso na minha garganta, a mão dele apertando o
meu pulso, não virei o meu rosto, mas pude sentir a respiração dele próxima
ao meu ouvido, Aleksey não falou nada, ficou acariciando a minha pele
com a sua respiração sem me tocar.
— Será minha — sussurrou próximo ao meu ouvido —, meu
pequeno querubim, minha de todas as formas que possa imaginar...
Ele me chamara de querubim pela segunda vez, como se eu
pudesse ser o anjo que ia iluminar a vida daquele demônio.
— Se for como eu imagino, nunca serei sua, nunca serei de
nenhum homem — brandei tentando me afastar dele.
Queria dar um passo de distância, mas Aleksey manteve a sua
mão firme em meu pulso.
— Me olhe nos olhos — pediu.
— Não olho nos olhos do demônio — alterei, querendo puxar o
meu braço, mas ele não me soltou.
Aleksey deixou escapar um rosnado baixo, libertando o meu
braço e com brutalidade segurou na lateral do meu rosto, seu aperto forte o
ergueu para cima, fechei meus olhos.
— Abra seus olhos agora — gritou.
— Me obrigue — declarei entre dentes.
Aleksey me empurrou contra uma parede, minhas costas se
chocando com força, um gemido de dor escapou da minha boca, suas
pernas apertaram as minhas, soltando o meu rosto, o homem segurou as
minhas pálpebras, me forçando a abrir meus olhos.
— Quando eu ordenar algo, você vai obedecer, entendeu? —
rosnou aproximando o rosto do meu.
— Me mate, mas não serei submissa do diabo! — Juntei saliva
em minha boca, prestes a cuspir nele, sendo interrompida quando a mão
dele cobriu a minha boca.
— Engula agora, pois se cuspir em mim, saiba que vou fazer algo
dez vezes pior. — Seus olhos estavam próximos de mim.
Aleksey não os desviou, ele moveu o dedo trancando a minha
respiração do nariz, fazendo assim meu nariz e boca ficarem tampados.
O mafioso tinha aqueles olhos negros sobre mim, seus cílios
negros nem ao menos piscavam, como se não pudesse perder nenhum
deslize meu, o ar começou a faltar, comecei a me debater, o desespero
tomando conta de mim.
— Pensei que queria a morte, por que não sentir o gosto dela
agora? — sussurrou com aquele tom de voz diabólico.
Arregalei meus olhos, movi minhas pernas no desespero, ergui
minha mão tocando o braço dele, eu que sempre quis a morte, naquele
momento passei a não cogitar a ideia como boa, minha boca abafada pela
mão dele tentava a todo custo puxar o ar em vão.
Podia sentir cada batida do meu coração, ele batia tão alto que era
como se estivesse fora do meu peito.
Meus olhos foram se fechando, tudo se tornando turvo. Aleksey ia
me matar, ia fazer o que eu sempre pedi, até que de repente me soltou.
Ele simplesmente me soltou, caí ao chão, minhas pernas que
estavam moles feito uma gelatina se dobrando, meu rosto abaixado, meus
olhos se abrindo, puxei a respiração com força, alto, como se aquele fosse o
meu primeiro suspiro pós-morte, abri e fechei minhas mãos sentindo meus
dedos amortecidos onde antes apertava o paletó dele.
— No fundo, você é uma covarde, pois quando teve a chance de
morrer titubeou. — Ergui meus olhos encontrando o homem debochado ali
parado me observando.
— Demônio — murmurei com a minha garganta seca.
— Quando eu falar, você vai me olhar nos olhos e assentir,
entendeu? — Aleksey deu um passo na minha direção, parando diante de
mim, se abaixando fazendo com que seu rosto ficasse rente ao meu.
— Quando você falar eu vou me odiar ainda mais por ter nascido
mulher e precisar pertencer a um homem demoníaco como você — grunhi
entre dentes.
Voltei a me assustar quando a mão dele se moveu rápido
segurando o meu pescoço, ele era sempre rápido, como se eu nunca
conseguisse premeditar os seus movimentos.
— Acha que estou blefando? — sussurrou aproximando o rosto
de mim.
— Longe disso...
Minha voz morreu quando Aleksey levantou me puxando junto a
ele pelo pescoço, fazendo com que eu ficasse de pé.
— A primeira coisa que vou fazer é tirar essa coisa horrível da
sua cabeça. — Sua mão quis tocar o meu véu, mas bem nesse momento, a
senhora Slava subiu a escada e ambos viramos o rosto.
Nas mãos da senhora tinha um pequeno bolo de chocolate.
Aleksey me soltou de repente, passando a mão em seu paletó como se
quisesse desamassá-lo.
O homem seguiu em direção à governanta, pegando das mãos da
senhora aquele bolo.
— Ela não merece isso, o que ela merece é apodrecer naquele
quarto, se depender de mim passará o resto dos seus aniversários
trancafiada em algum quarto. — Aleksey nem ao menos olhou na minha
direção descendo com o bolo, me deixando sozinha com a governanta.
— Me desculpe, querida — a senhora sussurrou e uma lágrima
desceu pela minha face.
— Tudo bem, senhora Slava, eu nunca serei submissa para aquele
monstro. — Passei a mão sobre a minha bochecha secando a lágrima que
caía, indo para o meu quarto querendo ignorar o olhar de pesar de Slava.
Ainda podia sentir a mão dele apertando a minha respiração, o ar
me faltando, tudo ficando turvo, ele fez aquilo para me testar e eu caí.
CAPÍTULO QUATORZE

A casa estava silenciosa, era meio da madrugada, não tinha


ninguém ali, ao menos não dentro da sede, passei aquele dia trancada em
meu quarto, quieta em meus pensamentos, fazendo algumas perguntas para
Slava quando vinha ao meu quarto, investigando onde a ala sul se
encontrava.
Como eu ouvira na conversa deles, os três foram viajar, a
governanta não permanecia na casa durante as noites, o plano estava
perfeito.
Assim como dizia no bilhete, estava saindo às três horas da
madrugada, caminhando suavemente na ponta dos pés, seguindo o único
caminho que eu conhecia para sair daquele lugar.
Minha segurança não devia ser importante para eles, pois nunca
fizeram questão de trancar o quarto, de colocar alguém à minha espreita,
talvez se devesse ao fato de eu nunca ter tentado fugir dali, mas sempre
soube que sobre as muralhas daquela sede tinha muitos homens protegendo
a Bratva, ainda não sabia como fariam para me tirar dali, se aquele plano ia
dar certo, e quem estava por trás dele.
Cuidadosamente, abri a porta da casa, olhei para fora, sem
encontrar ninguém, segui andando, sentia como se meu coração fosse sair
pela boca, ele batia tão forte em meu peito, como se fossem marteladas
duras e pesadas.
As luzes do pátio estavam apagadas, eu apenas caminhava, sem
saber para onde ia. Não enxergava nada, meus dedos se arrastando na
parede assim tendo certeza de que ainda estava caminhando ao lado, virei
algumas curvas, não encontrei ninguém em meu caminho o que era muito
estranho, estava sendo tudo muito fácil. Será que quando o Pakhan não
estava em casa não havia segurança ali?
Ao virar uma nova curva daquela enorme sede, avistei o fim do
pátio, um pequeno portão de ferro, uma luz fraca sobre um poste
iluminando-o, piscando várias vezes como se fosse velha demais para se
manter acesa.
Acelerei meus passos, indo com sede ao pote, meus dedos
tocando aquele portão de ferro, empurrando-o, olhando para fora. Será que
era essa a minha liberdade?
Engoli em seco ao ver um carro preto estacionado um pouco
distante dali. Apenas o vi, pois a luz piscou como se quisesse me alertar.
Passei a correr em direção a ele, meus passos tocando a neve
úmida, em alguns momentos quase caindo diante do gelo escorregadio sob
a minha sandália que não era antiaderente. Não parecia, mas aquele carro
estava longe.
Comecei a ficar ofegante, o ar faltando em meus pulmões, até que
finalmente me aproximei do carro, a porta foi aberta por alguém de dentro,
ali era tão escuro quanto lá dentro da sede. Sem pensar entrei naquele
automóvel, sem saber quem estava ali dentro, confiando nos meus instintos,
até que virei o rosto e o reconheci, meu pai.
— Pai? — sussurrei ofegante.
Apenas o reconheci pela luz fraca de dentro do carro acesa.
— Vamos, o tempo é curto, os seguranças estão voltando para os
seus postos... — Bóris falou para o motorista que deu a partida no carro,
entrando em uma rua no sentido oposto da sede.
Meu pai finalmente olhou para mim, soltando um longo suspiro,
me fazendo lembrar da minha infância quando ele perdia a paciência com a
minha mãe, ou até mesmo comigo. Foi pouco tempo ao lado dele, mas esse
pouco tempo fez nascer dentro de mim lembranças amargas e dolorosas.
— Tão burra quanto a sua mãe — Bóris rosnou me fazendo
tremer.
— Pai... — Sussurrei sem entender.
— Apenas a tirei de lá, pois ninguém encosta em um Alkaev e se
acha no direito de tomá-lo para si. — Fiquei olhando para aquele homem
que se intitulava o meu pai. — Foi fácil tirá-la daqueles idiotas, nem ao
menos fizeram questão de colocar uma guarda com você, talvez não seja
assim tão importante para o Pakhan.
— Não sou — confirmei —, não sou importante para ele, meu
casamento não seria com o Pakhan, e sim com o Obshchak...
— Com aquele bastardo do Ivanovich? Nem ao menos é um puro
sangue, é um bastardo que veio de fora, não acredito que o Pakhan faria
isso...
— O Pakhan está apaixonado por outra mulher, ele me entregaria
àquele... àquele... monstro — gaguejei, conforme me vinham à mente
aqueles olhos como a escuridão, meu último olhar quando estava fechando
os meus para a morte e ele trancou a minha respiração.
Bóris soltou um longo suspiro. Mesmo estando noite, percebi que
não mudara nada, o cinto da sua calça apertando o meio da sua barriga
avantajada.
— Vou colocá-la bem longe deles, pensei que a deixando naquele
internato passaria despercebida do olhar de todos, mas obviamente, aqueles
malditos a encontraram, somos uma família antiga na Bratva, somos a elite
da máfia russa, mesmo que o novo Pakhan seja um traiçoeiro, aquele garoto
tolo que eu deveria ter matado quando tive chance, agora me tem como seu
inimigo, porém, na minha filha, eles não vão encostar, um sangue do meu
sangue não vai ficar na mão deles, ainda mais de um bastardo como aquele
Ivanovich.
Fiquei em silêncio percebendo que não passava de uma questão
sanguínea, ele não me amava, nunca me amou, apenas me resgatou, pois era
sangue do sangue dele.
— Para onde vou? — perguntei ainda temendo a resposta dele.
— Vai ficar na Rússia, não vou mandá-la para outro país, pois a
sua saída daqui pode ser algo que chegue aos ouvidos deles, foi fácil tirá-la
de lá, afinal, quem iria se importar com uma coisinha insignificante como
você? Se não fosse por mim, eles nem ao menos saberiam da sua existência.
— Encolhi-me ainda mais no banco daquele carro. — Vão me deixar
próximo à minha casa, porque preciso estar lá, pois tenho certeza de que
vão suspeitar que fui eu que a raptei, assim sendo, preciso estar presente em
minha casa a todo momento. Você vai para a casa de um Shestyorka[6]
aposentado da Bratva, ele me deve uma, então, ficará com você, a viagem
até Perm durará em torno de vinte horas, o que importa é que estará bem
longe desses malditos, eles não podem me fazer mal diretamente, pois
existe uma lei que deixa bem claro que não podemos matar uns aos outros.
Perm? Eu iria para essa cidade? Não sabia muito sobre ela, apenas
que era muito distante de Moscou.
O carro foi diminuindo a velocidade até que finalmente parou.
— Espera — chamei meu pai antes que ele saísse do automóvel
—, minha mãe, o que fez com ela?
— Sua mãe? Uma covarde inútil, quando a expulsei de casa
dando a ela a liberdade, sem que pudesse levar você, é claro, resolveu tirar a
própria vida se matando com um tiro na cabeça.
Bóris não falou mais nada, nem um adeus, nem um se cuide,
minha filha. Ele não me via como uma filha, apenas como a garota
insignificante que carregava o seu sangue.
Uma lágrima escorreu pelos meus olhos. Até quando eu teria que
aguentar aquilo? Sendo jogada de um lado para o outro, sem que ninguém
se importasse comigo.
Afundei-me no banco solitário daquele carro, deixando que as
lágrimas silenciosas caíssem pelos meus olhos.
CAPÍTULO QUINZE

Pela primeira vez, fiquei ansioso para chegar naquela sede, toda a
viagem me deixou tenso, e nem sei o motivo, ou era isso que queria colocar
na minha mente.
Aquela garota de língua afiada ia me pagar por cada afronta. Suas
palavras tinham um preço alto para tudo que proferiu para mim.
Descemos do jatinho, não quis me mostrar enérgico para essa
chegada, passamos rapidamente pela área da frente da sede onde tinha um
heliporto, o calçamento estava liso, porém, não tinha neve. Virei meu
relógio vendo que passava de uma hora da tarde.
Subi os poucos lances da escada, a porta foi aberta para nós pela
senhora Burlak, ela tinha um semblante estranho.
— Aconteceu algo, senhora Slava? — foi Sergey quem
perguntou.
— Senhores, hoje quando cheguei pela manhã, notei que a
senhorita Yesfir não desceu nenhuma vez, achei que ela poderia estar
dormindo, mas acabei de subir ao quarto dela e não a encontrei em lugar
nenhum, perguntei aos homens que estavam por perto da sede se alguém a
tinha visto, mas nada, ela desapareceu. — Apertei minhas mãos em punhos
cerrados diante daquela afirmação da mulher.
Todos olharam em minha direção como se eu tivesse algo a ver
com aquilo.
— Porra, por que me olham? — rosnei irritado.
— Não tem nada a ver com isso, não é mesmo?
— Por que diabos eu teria, estou tão chocado quanto vocês, como
ninguém viu aquela coisinha fugindo? — Entrei na sede sem sequer tirar o
meu sobretudo.
Logo dois brigadier entraram na sala, suas cabeças baixas
esperando a autorização de um dos seus superiores para erguê-las.
— Espero que tenham uma boa desculpa para essa falha. —
Sergey entrou na sala, falando alto com os dois homens. — Ergam o seu
rosto, me falem o que sabem!
Os dois levantaram, engolindo em seco como se já previssem a
reprimenda que viria do Pakhan.
— Mandei que os Boyevik que cuidam dos sistemas das câmeras
olhassem como a garota fugiu, Pakhan, eles já estão analisando as câmeras,
ninguém a viu saindo, a única conclusão que temos até o momento é que ela
saiu às três da manhã quando os Boyevik estavam trocando o posto da
guarda da sede, mas como ela saiu ninguém sabe, ela precisou de ajuda de
alguém...
A fala do Brigadier morreu diante do meu rosnado, porra!
— Caralho, quanta incompetência, é uma garota, uma noviça
tola, como que ela conseguiu dobrar tantos homens assim? — Soltei uma
gargalhada alta sendo sarcástico, batendo as mãos ao lado da minha cintura.
Adentrou a sala um Boyevik. Ele tinha os passos apressados,
parando ao lado dos Brigadier olhando para o Pakhan como se estivesse
pedindo permissão para falar. Sergey assentiu e ele começou a falar:
— Senhores, a garota aparece nas câmeras caminhando às três
horas da manhã, bem no momento em que estávamos fazendo toda a troca.
Não dá para vê-la direito nas câmeras, pois caminhou bem ao canto da
parede ficando na parte escura. Saiu pela ala sul, onde correu em direção a
algo, não sabemos onde, pois ela sumiu. A pessoa deve ter parado o carro
no ponto cego onde nenhuma câmera pega. Quem fez isso sabia todo o
sistema de câmeras, sabia os horários de troca de plantão — o Boyevik
passou o relatório me fazendo levar a mão em meus cabelos.
— Bóris! Tenho quase certeza de que tem dedo dele nisso tudo —
rugi olhando para Sergey que tinha aquela expressão indecifrável.
— Chame-o aqui — Sergey solicitou.
— Não, eu mesmo vou na casa daquele verme...
— Aleksey, você, sozinho não vai, pode acabar fazendo uma
loucura e sabemos que aquele velho sempre tem uma carta embaixo da
manga — o Pakhan declarou.
— Não vou fazer nenhuma loucura, apenas quero ter uma
conversa cara a cara com aquele homem, sei que se ele souber de algo vai
mentir, preciso estar lá e analisar cada maldita reação dele — rosnei
olhando para Sergey.
— Tudo bem, vou com você — Dmitry se prontificou.
— Vão os dois, levem homens com vocês. Aleksey, essa garota
não é mais problema meu, mas se quiser mandamos uma equipe de busca
atrás dela.
— Não vai ser necessário, eu vou encontrar aquela pequena
coisinha em qualquer lugar que esteja... — rugi indo para a porta.
Ouvi os passos de Dmitry atrás dos meus, um carro parado ali, à
nossa espera, abrindo a porta para ambos entrarem nos bancos de trás.
Ainda estava com as minhas mãos apertadas em punhos cerrados,
sentindo cada músculo do meu corpo tenso, o carro deu a partida, nem ao
menos me atentando ao que acontecia à minha volta.
Fui passado para trás, aquela coisinha se foi, achando que podia
se ver livre de mim.
Ela não foi sequestrada, foi de livre e espontânea vontade, isso só
ia aumentar o seu castigo quando a encontrasse. Yesfir foi designada para
mim quando fui a primeira vez naquele internato para saber mais sobre ela,
vendo-a de longe, o olhar baixo, meio puxado para o lado, a pele negra
contrastando com seus lábios carnudos, seus olhos se erguendo, olhando
para o nada, a inocência explícita nela, a porra da inocência que eu queria
tirar.
Aquela noviça se tornou minha quando cruzou o seu caminho
com o meu.
A casa de Bóris não era longe da sede, logo o carro estava
estacionando na frente da residência, e sequer esperei que abrissem a minha
porta, saindo do automóvel indo diretamente à grade do portão,
empurrando-a, fazendo o estrondo ser alto.
Meus passos me levaram até a escada da casa, a porta da casa foi
aberta quando me aproximei da varanda, meus olhos ferozes se encontrando
com o antigo Obshchak da Bratva.
— Onde está a porra da Yesfir? — Fui logo falando segurando no
colarinho da sua camisa, olhando para baixo para aquele velho
rechonchudo.
— Como vou saber? — Ele ainda sorriu de forma sarcástica.
Aproximei meus olhos dos dele. Bóris não se afastou, não moveu
a sua mão, em sua testa escorria uma pequena gota de suor.
— Vai falar onde está a sua filha ou eu te mato — rosnei sentindo
a presença de Dmitry ao meu lado.
— Vai, garoto, já é um bastardo na Bratva. Um imundo de sangue
impuro nunca mereceria ser o Obshchak, em pensar que o meu lugar foi
passado para um inútil como você. — Empurrei-o para trás, sentindo a mão
de Dmitry quando quis pegar a minha arma. — Eu não sei onde está a
minha filha, e mesmo se soubesse nunca falaria para vocês. Uma Alkaev
tem uma linhagem pura para estar com um bastardo como você.
Rosnei alto quando ele fechou a porta na minha cara, meu sangue
ferveu, meus punhos fechados foram em direção a uma parede, socando-a
diante da minha força.
— Não podemos matá-lo, não assim explicitamente, Aleksey, mas
esse imundo vai para o inferno mais rápido do que ele espera. — Dmitry
praticamente me puxou pelo braço.
— Vou descobrir onde essa maldita está, nem que isso seja a
última coisa que eu faça — brandei puxando o meu braço, fazendo Dmitry
me soltar.
Amaldiçoada fosse a lei que dizia que não podíamos matar um
dos nossos sem rações explícitas, não existiam provas contra Bóris, mas
ficou bem claro que ele sabia onde a filha estava.
Eu ia buscar aquela noviça, e matar Bóris tinha se tornado uma
questão de honra! Ia mostrar para aquele maldito rechonchudo quem era o
bastardo imundo.
CAPÍTULO DEZESSEIS

Dois meses depois...


Outro dia, outra tortura, meus olhos não queriam mais abrir, não
queria mais viver. Se pedir a morte fosse sinal de covardia, eu preferia ser
covarde.
Meu pai me abandonou em Perm, nunca mais deu qualquer sinal
de vida, me fez acreditar que eu estava fugindo daqueles homens para viver
algo melhor, mas os Pavlov eram piores do que tudo que eu já passei em
minha vida.
Eles achavam que apenas por me darem o que comer precisava
ser uma criada para eles, aquele chão duro, apenas forrado por uma manta,
todas as noites passava frio, não podia mais usar as minhas roupas, meus
cabelos estavam sempre bagunçados, pois banho era liberado apenas uma
vez por semana, meu corpo imundo, tudo em mim gritava sujeira, lágrimas
não existiam mais dentro de mim, era como se eu estivesse me tornando
uma pessoa vazia, e Bóris nem ao menos se importava para fazer sequer
uma ligação.
Sentei-me naquele chão, passando a mão em meus cabelos,
sentindo-os cheios de nós em meus dedos, ergui o vestido revelando meus
joelhos com os ralados que começavam a cicatrizar – eu os consegui no dia
em que a senhora Aglaii me obrigou a tirar todas as pedras da sua calçada
com as mãos. A temporada de neve estava amenizando, e por isso ela quis
organizar a sua cerca de madeira, pedindo para tirar aquelas pedras de lugar,
me permitindo cair diversas vezes quando algumas pedras eram grandes.
Os dois eram sozinhos, nunca tiveram filhos, e não demorei a
entender a razão para nunca terem, eram pessoas cruéis.
Não queria me levantar daquele chão, não queria descobrir qual
atividade horrível iam me obrigar a fazer. Abaixei meus olhos olhando em
meu tornozelo uma corrente com a qual o senhor Fedya me amarrava
durante o dia. Ele dizia que aquilo era uma medida protetiva para ajudar o
seu amigo Bóris.
Durante a noite não a usava, pois ficava trancada naquele quarto.
Se quisesse ir ao banheiro precisava usar o penico, sempre me segurava
para ir ao banheiro ao amanhecer.
A casa dos Pavlov ficava longe de tudo, por esse motivo ninguém
podia me escutar gritar, nem me tiravam daquele lugar. Levantei da cama, o
cômodo vazio, apenas o penico e a coberta para me deitar ao meio daquele
lugar.
Aproximei-me da porta quando ouvi o senhor Fedya falar com
alguém; ele parecia estar ao telefone. Segurei na parede vendo a junta dos
meus dedos com pequenos ralados – um que adquiri no dia anterior quando
me obrigaram a cortar a lenha para a lareira deles, um calor que nem ao
menos podia sentir.
— Bóris, estou tratando a garota da forma que mandou, sem
muita significância — o homem falou do outro lado da porta —, não que
seja muito difícil, se a sua raiva por ela é pela mãe dela, estamos fazendo
um ótimo trabalho. Ela pode ser uma sangue do seu sangue, mas nunca terá
a sua garra...
Aquelas palavras me deixaram abismada: ele falava com meu pai?
Bóris sabia tudo que eu passava? Ele tinha raiva de mim, tudo por culpa da
minha mãe?
Minhas costas se encostaram naquela parede, meus pés se
arrastando ao chão, me sentando ali, me encolhendo na solidão dos meus
pensamentos.
Quando eu cheguei naquele lugar pensei que finalmente viveria a
minha liberdade, mas talvez liberdade nunca tivesse sido algo que eu
poderia vivenciar. Isso seria tudo que eu teria? Tudo que eu poderia ter?
Apenas dor, apenas sofrimento.
Ao chegar naquela casa há dois meses, quando percebi o que
fariam comigo eu quis fugir, por diversas vezes fui levada para dentro sendo
puxada pelos cabelos. Senhor Fedya era um homem de idade, mas tinha um
bom porte físico, mãos grandes com um tapa forte que sempre estalava na
minha face, me fazendo sentir cada ardência percorrer meu corpo.
Ouvi o barulho da chave sobre a fechadura da porta, meu
coração naquele momento começando a bater forte, meus olhos abaixados
reconheceram o sapato da senhora Aglaii.
— Vamos, garota! Se levanta desse chão, eu com quarenta anos,
tenho uma disposição melhor que a sua. — A ponta da sua sapatilha
fechada tocou meu braço, como se não quisesse colocar as mãos em mim.
Eu não tinha mais forças para argumentar, para brigar, bater de
frente, até mesmo aquele homem de olhos negros poderia ser menos ruim
que eles, isso por eu ter fugido dele, pois nunca o conheci mais
profundamente, e mesmo que pensasse em Aleksey todos os dias, não
desejava encontrá-lo outra vez. Aquele homem era o demônio em forma de
pessoa, e eu vi isso com meus próprios olhos.
Lentamente fui me levantando do chão; meus joelhos doíam
quando andava, minhas costas queimavam por causa das noites dormidas
naquele chão.
Ficava me perguntando o que eu tinha feito de tão ruim para Deus
me colocar numa provatória como aquela? Devia ter jogado pedra na cruz
em uma outra vida, pois eu não aguentava mais.
— Ai! — Choraminguei ao sentir o meu couro cabeludo ser
puxado, a mulher me levou para fora do quarto, a mesa de café da manhã
não estava mais servida e mesmo que o cheiro da cafeína tivesse passado
por baixo da porta do quarto, eles não deixaram nada para mim.
— Leve-a para fora, vamos amarrar ela e mandar que suba no
telhado para limpar a chaminé...
— Hãn? Não... — os dois me olharam como se eu fosse uma
louca por questionar algo que falavam.
Senhor Fedya segurou no meu pulso me levando para fora.
— Preciso usar o banheiro...
— Teve a noite inteira para fazer isso. — Ele soltou o meu pulso
segurando de qualquer forma em meu cabelo, como se eu fosse um
cachorro que ele puxasse pelo rabo.
Pegou a corrente que ficava lá fora, passando o gancho na coleira
no meu tornozelo. Aquela corrente era enorme, me permitindo andar por
toda parte, como se eu fosse literalmente um cão.
Senhor Fedya me puxou pelo cabelo me levando para a lateral da
casa, onde tinha uma escada para eu subir. Engoli em seco, pois limpar uma
chaminé era demais para mim; subir em um telhado que podia me fazer
cair.
— Que estranho, não iríamos receber visitas — o homem falou,
mas eu não pude ver o que ele olhava, porque suas mãos apertavam meu
cabelo na direção oposta.
Até que seu aperto se tornou mais suave, me fazendo virar o rosto.
Três carros estacionados em frente à casa, a porta de um deles se abrindo, e
como se tudo estivesse em câmera lenta o vi saindo de dentro do carro, o
meu maior pesadelo, mas naquele momento ele parecia o meu anjo da
guarda vestido de preto.
Aleksey nem ao menos esperou por seus homens, avistando-nos
ao lado da casa, seus olhos fixos em mim. Aqueles olhos negros como uma
noite sem estrelas continuavam os mesmos, mas daquela vez pareciam
raivosos.
— Quem são eles? Os conhece? — Fedya perguntou em um
sussurro, ele não conhecia a nova geração da Bratva pelo visto, e não seria
eu a falar, por esse motivo apenas neguei com a cabeça.
Os passos de Aleksey se tornando cada vez mais próximos, seu
sobretudo indo para trás conforme caminhava, atrás dele vinham mais
alguns homens, seus cabelos como da última vez que eu o vi, ainda da
mesma forma, para trás, parecendo molhados, a barba bem-cortada
marcando suas feições.
O mafioso parou na nossa frente, meus olhos assustados focaram
no olhar dele que se fixou na mão de Fedya, que puxava os meus fios de
cabelo.
— Apenas uma pessoa pode tocar nessa coisinha e esse alguém
sou eu — ele rosnou de uma forma que eu nunca vira antes, suas mãos
apertadas em punhos cerrados.
O medo e o alívio tomando conta, mesmo sem saber o que
aconteceria comigo a partir daquele momento.
CAPÍTULO DEZESSETE

O carro parou em meio a uma freada em frente àquela casa. Foi


difícil ter notícias de Yesfir, foi como se ela tivesse sumido da face da terra,
nada simplesmente nada, há mais de um mês vinha tentando colocar uma
escuta no celular de Bóris, pois se havia alguém que sabia de algo, esse
alguém era ele, mas como me aproximar do homem que tinha como inimigo
declarado?
Foi em meio a um dos homens dele, que subornei, que consegui
fazer isso. Havia decidido com Sergey que não faríamos uma grande
comoção sobre a busca, agindo por baixo dos panos, procurando por
pequenas pistas. Quando a escuta foi colocada no celular dele foi difícil
conseguir descobrir o lugar onde ela estava, pois os celulares que aquele
homem usava eram descartáveis, sem acesso à localização dele, até que
Bóris falou em uma das ligações seu nome completo, e para a nossa
surpresa, Fedya Pavlov era um dos Shestyorka da Bratva, um ex-associado.
Nem mesmo esperei pelos meus homens, não quando ao longe
avistei a minha pequena coisinha. Porra, mesmo à distância eu tinha certeza
de que era ela.
Meus passos me guiaram decididos até aquele homem; a cada
nova passada que eu dava, a cena ficava mais nítida na minha mente, a
garota que eu sempre quis ver sem aquele véu estava sem ele, mas não foi
assim que eu a imaginei, não daquela forma, não com um maldito a
puxando por seus fios capilares, tocando na garota que devia ser tocada
apenas por mim!
Apertei minhas mãos tão forte que consegui sentir os nós dos
meus dedos se contorcerem diante da dor que causava em mim mesmo.
Sabia que não estava sozinho, pois tinha meus homens atrás de
mim, seus passos audíveis mesmo que eu estivesse tão concentrado na visão
à minha frente.
Aproximei-me deles, meus olhos focando na garota, no meu
pequeno anjo querubim, ela tinha aqueles olhos cor de chocolate
arregalados, a pele lisa, as bochechas mais magras do que a última vez que
a vira, os lábios continuavam carnudos, a beleza e a inocência ainda
prevaleciam nela, mas abaixo dos olhos existiam olheiras fundas, um
arranhão na lateral do seu rosto, seus cabelos estavam revoltos, como se não
o lavasse há dias. Yesfir parecia mais uma gata borralheira do que a noviça
que eu vi a última vez. O que aqueles malditos desgraçados fizeram com a
minha garota?
Porra! Eles a estavam maltratando como eu já sabia e não queria
acreditar pelas ligações de Bóris que eu ouvira.
— Apenas uma pessoa pode tocar nessa coisinha e esse alguém
sou eu — rosnei focando meus olhos nas mãos dele que apertavam os
cabelos dela.
— Quem é você? — Fedya puxou a menina para trás, fazendo-a
gemer diante da dor.
— Solte ela agora — rugi dando um passo na direção dele, vendo
Dmitry parar ao meu lado.
— O que está acontecendo aqui, quem são vocês? — A mulher
dele veio correndo de dentro da casa, Dmitry foi mais rápido fazendo uma
chave de braço no pescoço dela.
Estávamos longe de tudo ali, então nada iria me impedir de fazer
aqueles desgraçados passarem pelo que a minha garota passou.
Meus olhos desceram quando ouvi o barulho do metal ao chão,
vendo uma corrente que levava até os pés dela, presa ao seu tornozelo.
Fechei meus olhos lentamente, abrindo-os logo em seguida, me abaixando,
segurando naquilo, meus dedos sentindo o metal. Pensar que Yesfir estava
sendo tratada como um cachorro fez algo dentro de mim rugir. Levantei-me
sem soltar a corrente ouvindo a mulher que estava nos braços de Dmitry
blasfemar vários palavrões, puxei aquela corrente, fazendo com que Yesfir
desse um passo para a frente, o homem não soltou os cabelos dela, o que me
fez dar dois passos na direção dele, tirando a arma das minhas costas,
colocando-a sobre a testa dele.
A garota se encontrava a um passo de mim, ela não tinha visão do
que acontecia, soltei aquela corrente, pressionei o cano da arma com mais
força sobre a cabeça do homem.
— Solte ela agora — rosnei e diante do medo, ele a solou.
Fedya era um homem alto como eu, porém estava em
desvantagem, sozinho e desarmado.
— Agora vai se ajoelhar e soltar os pés dela — ordenei. Ele me
olhou de canto, comecei a ver uma gota de suor se formar na sua cabeça, o
nervosismo tomando conta dele.
— Quem são vocês e o que querem com essa garota? Foi o pai
dela que a deu para nós, ela não tem significância alguma...
— Ela tem significância, sim, ela é a porra da minha noiva, agora
você vai se ajoelhar e soltar a corrente do pé dela. — Bati com o cano da
arma em sua cabeça.
Fedya olhou para a esposa que nesse momento chorava, enquanto
Dmitry a apertava em seus braços.
O homem se ajoelhou lentamente, tirando do seu bolso uma
chave, aproximando o rosto do pé de Yesfir, a mão tocando aquela corrente.
Um rugido escapou da minha boca, me fazendo erguer o meu pé, pressionar
sobre a sua nuca, pegando o homem desprevenido quando forcei sua cabeça
naquele chão de barro duro.
— Era isso que vocês faziam com ela, a reduziam a nada. —
Apertei com mais força meu pé na nuca dele, seu nariz sendo esfregado no
chão. Um estalo de osso sendo quebrado deixou óbvio o seu nariz sendo
deslocado, ou até mesmo quebrado.
— Oh, meu Deus — a esposa dele soltou um gritinho
— Agora a solte dessa corrente — rosnei tirando o meu pé.
Fedya ergueu o seu rosto, vi o sangue pingando em excesso, suas
mãos trêmulas levando a chave até a fechadura, abrindo a corrente,
libertando a minha garota.
Estiquei a minha mão pegando o pulso dela, a puxando para trás
de mim, querendo ser a rocha que a protegia de todo o mal.
— Não! — Apontei minha arma para o homem, deixando claro
que não era para ele se levantar, ainda não tinha tido tempo de olhar a
minha garota. Naquele momento a raiva estava tomando conta de mim. —
Gostavam de torturá-la, não é mesmo? Gostavam de deixá-la sem comer,
não é mesmo?
— Não sei do que está falando — Ele abaixou a cabeça sendo o
covarde que todos eram quando estavam em uma situação como essa.
— Sim! Você sabe, eu sei, todos sabemos, ouvi cada ligação sua
com o maldito do Bóris, cada palavra como uma faca sendo cravada em
meu peito.
Fiz um gesto com a mão para dois dos meus homens se
aproximarem. Diante do meu gesto, já sabiam o que eu queria, pegando os
braços dele, esticando-os ao chão, Fedya começou a se debater, meus
homens pisaram sobre os dois pulsos dele tendo os seus dedos ao meu
dispor.
Virei meu rosto, abaixando meus olhos, vendo aquele olhar
apavorado da garota, ela estava assustada.
— Vai segurar na lateral da minha calça e se eu sentir que seus
dedos me soltaram, saiba que o seu castigo será maior, tenho homens a
observando, não pode mais fugir, pois agora ninguém mais tira meus olhos
de você — sussurrei para ela, peguei a sua mão, colocando-a sobre a lateral
da minha calça, seus dedos segurando no lugar onde passava o cinto.
Yesfir não falou nada, estava assustada demais para pronunciar
um aí.
Ergui meus pés pisando com força sobre os dedos do maldito,
ouvindo-o soltar um rugido alto de dor.
— Saiba, Fedya Pavlov, que na arte de torturar, eu sou mestre, sou
como um gato que gosta de brincar com a comida antes de matá-la —
declarei em meio à minha vontade de ouvir os berros dele.
Senti a mão de Yesfir apertar o meu braço, sobre o tecido da
camisa, virei meu rosto vendo-a de olhos fechados.
— Vai abrir os seus olhos e ver o que eu faço com quem acha que
pode tocar no que é meu — rosnei e ela abriu seus olhos, se fixando em
mim.
— Eu não quero ver — sussurrou.
— Mas vai — rugi para com ela. — Peguem essa corrente e ao
invés de colocar no tornozelo, coloquem no pescoço da esposa dele...
— Não, isso vai matar ela asfixiada, é muito curto — o
desgraçado ainda achou que podia argumentar.
— Então talvez a morte dela seja mais rápida que a sua... — um
sorriso se formou em meus lábios.
Eu queria ouvir cada grito de dor deles, queria ver o sangue
saindo por cada parte dos seus corpos. A dor daqueles dois me faria sentir
vingado pela minha garota, por mais que ela fosse boa demais para ver
aquilo, eu era ruim, eu me alimentava da dor alheia, eu ia matar aqueles
malditos lentamente, assim como ia fazer com qualquer um que se
colocasse no caminho de Yesfir Alkaev, a garota que foi sentenciada para
ser minha.
CAPÍTULO DEZOITO

Apertei o braço daquele homem, mesmo pegando na lateral da sua


calça, não consegui ficar sem segurar nada, podia sentir cada dor pelo meu
corpo, podia sentir cada tortura que Fedya e sua esposa fizeram comigo,
mas não conseguia ser maldosa como Aleksey, não conseguia olhar para o
nariz quebrado de Fedya que não parava de sangrar sem sentir pena, muito
menos ver os seus dedos esmagados pelos pés de Aleksey.
Como ele conseguia? Como podia ser tão frio a esse ponto?
Vi os homens de Aleksey pegando aquela coleira, levando-a para
a mulher que estava aos braços de Dmitry, eles iam mesmo fazer isso, iam
colocá-la no pescoço dela.
— Não! Tenham piedade de mim — a senhora pediu.
— Você teve piedade dela quando a mandou arrastar pedras? Teve
piedade quando a deixou sem comida? — Aleksey rosnou querendo ir até
Aglaii, mas segurei com força em seu braço, com medo do que ele podia
fazer.
O homem alto voltou a abaixar os olhos negros na minha direção,
seu semblante indecifrável, como se não houvesse razão para ele sorrir, para
viver.
— Por favor — implorei buscando saliva para falar diante da
minha garganta seca —, eu preciso ir ao banheiro.
Falei sabendo que era verdade, e assim me esquivando de vê-lo
matando aqueles dois. Aleksey franziu a sua sobrancelha, como se buscasse
por mentiras.
— Tudo bem, mas não queira fugir, vai ter um homem atrás da
janela e outro na porta te esperando — assenti soltando a roupa dele.
Caminhei em direção à casa, podendo ouvir os passos do homem
atrás de mim, meus pés trêmulos. Novamente eu ia estar nas mãos daquele
homem. Entrei na pequena residência, uma casa que ficava sobre um morro
não muito grande e segui em direção ao banheiro, empurrando a porta,
ficando sozinha ali dentro, parei em frente ao espelho, meu reflexo quase
irreconhecível na frente dele, meus cachos que eu sempre cuidei mesmo
usando véu, eram definidos e lindos, mas estavam bagunçados, nem ao
menos se notava algum cacho definido, olheiras fundas marcando minhas
feições, sobre a lateral do meu rosto um corte superficial.
Suspirei saindo da frente do espelho fazendo o que eu tinha que
fazer ali. Ao finalizar, voltei diante do espelho e enquanto lavava a minha
mão ouvi um grito de agonia vindo do lado de fora. Era a senhora Aglaii,
ela gritava como se estivesse sendo sufocada.
Fiquei ali, não tinha coragem de sair. Desliguei a torneira, saindo
do banheiro lentamente, o homem ainda parado ali, à minha espera, o
ignorei indo na direção oposta, onde foi meu quarto por dois meses.
Entrei nele, olhando aquela manta, a mesma que nunca fora
trocada. Ela já não tinha mais cheiro de lavanda, nem ao menos as minhas
roupas eles trocavam, apenas me davam outra quando a atual rasgava, a
janela que estava fechada por madeira para eu não fugir, a claridade vinda
pelas frestas dela.
Pensando nas inúmeras vezes que eu passei noites chorando,
esperando que meu pai viesse me buscar quando ele sempre soube de tudo,
Bóris me odiava por ser filha dele, mas não me queria na sede pelo simples
motivo de ser uma Alkaev.
— Era aqui que você ficava? — Levei um susto quando ouvi a
voz atrás de mim, virei o meu corpo, encontrando com o homem.
— Sim era — confirmei vendo-o torcer o lábio, olhando tudo à
sua volta, fazendo uma careta diante do cheiro.
— Sem colchão? — Seus olhos se voltaram para mim.
— Bem... hum...
— Porra! — Aleksey passou a mão em seu cabelo que nem se
movera, fechou seus olhos apertando as pálpebras. — Seu pai está por trás
disso?
Ele perguntou como se já soubesse a verdade, mas gostaria de
saber de mim, queria que eu falasse, ouvir da minha boca o que eu tinha a
contar.
— Eu... eu... — gaguejei, Bóris era meu pai e eu sabia que se
falasse que sim, eles iriam atrás dele, mas eu desejava estar na frente dele,
olhar nos seus olhos e saber o motivo para me odiar tanto.
— Yesfir — Aleksey rosnou o meu nome como se esperasse uma
resposta minha.
— Bem... hãn. — Mordi o canto do meu lábio levando um susto
quando ele deu apenas um passo na minha direção segurando os dois lados
do meu rosto com força.
— Me responda, porra! Por que ainda defende o maldito homem
que te colocou nessa situação?
— Como se você fosse melhor! Com qual convicção fala isso?
Como pode deduzir que ele é pior que você? Por onde eu vou só tem
homens que querem o meu mal — declarei com os olhos dele muito
próximos aos meus, a ponta do seu nariz tocando o meu.
— Então afirma que preferia estar aqui? — ele sussurrou muito
baixo.
— Queria estar em um lugar muito longe daqui, muito longe de
você, pois o homem que eu vejo na minha frente está longe de ser um herói.
— Ergui minha mão tocando a sua camisa social, sentindo roçar em meus
dedos o seu peito firme, aquela sendo a primeira vez que encostava em um
homem daquela forma.
— Pois saiba que dessa vez nada tirará você de perto de mim,
estou pouco me fodendo se quer ou não estar ao meu lado, você é minha e
será vigiada 24 horas por dia, em cada hora do seu dia terá olhos meus
sobre você, o que é meu nunca deixa de ser. E adivinha só? Você é minha
— ele murmurou. Mesmo que eu quisesse empurrar o seu peito firme, não
conseguia.
Sua força em nada se comparava a minha, senti seu lábio roçar no
meu, quis virar o meu rosto, mas suas mãos que apertavam a minha
bochecha não permitiram.
— Nunca serei sua, você pode ter o meu corpo, mas o que existe
dentro de mim nunca será seu, nunca vou esquecer o homem que quis me
matar — eu o afrontei com seu lábio ainda grudado ao meu.
Nunca beijei um homem, nunca fui tocada por um, e por mais que
eu pensasse em Aleksey por todos esses dias, com suas mãos tocando-me
com possessividade, sabia o quão monstruoso ele era.
— Um obrigado, por ora, seria o suficiente vindo de você. — Ele
se afastou, soltando o meu rosto.
— Obrigado? Estou saindo de um inferno para entrar em outro,
quando isso for bom terá o meu obrigado, por ora tudo que tem de mim é
desgosto, raiva. Eu o odeio, Aleksey, por ter me tirado do internato, por
transformar a minha vida em um inferno. — Senti meus olhos se encherem
de lágrimas.
Lá fora os gritos começaram, dessa vez vindos de Fedya, a esposa
dele já não gritava mais, meus olhos se encontrando com Aleksey, ele deu
um passo na minha direção.
— Não! Se tem algum pingo de piedade de mim, não me fará
presenciar a morte deles, já tenho na minha mente a imagem do demônio
que é, não quero vê-lo em ação mais uma vez — pedi vendo-o puxar a
minha mão mesmo que eu tivesse pedido que não.
Aleksey não falou nada apenas saindo da casa. Olhei na direção
oposta ao ouvir o sussurrar da senhora Aglaii, ela não estava morta, mas
gemia de dor.
— Dmitry, estou indo, fique com alguns homens... — Aleksey
falou parando ao lado da situação de caos.
Segui sem olhar, Aleksey e Dmitry trocaram uma rápida palavra
quando Aleksey voltou a me puxar para o carro.
— O que eles vão fazer? — perguntei sentindo os dedos dele me
puxando, não com força, mas seus passos rápidos me fazendo quase correr.
— Matá-los lentamente com tortura, assim como a torturavam,
mas para eles não terá um final feliz como o seu — em seu tom de voz tinha
ironia.
— Nossa, me lembre de agradecê-lo — resmunguei sendo
praticamente jogada dentro daquele carro que estava com a porta aberta à
nossa espera.
CAPÍTULO DEZENOVE

O carro diminuiu a velocidade quando adentrou a cidade, parando


em frente a um hotel. Ainda estávamos em Perm, afinal, nem ao menos
andamos muito de carro.
— Por que paramos? — perguntei virando finalmente meu rosto
para Aleksey que guardou o seu celular na parte de dentro do seu paletó.
— Estou cansado, foram vinte horas de viagem, você também
deve estar cansada, não comeu e precisa de um banho. — Arregalei meus
olhos.
— Está me chamando de fedida? — Arqueei minha sobrancelha
ultrajada.
— Cheirosa não está.
— Ótimo, agora preciso ouvi-lo me chamando de fedida —
resmunguei abrindo a porta do carro.
Logo apareceu um dos homens de Aleksey na minha cola,
deixando explícito que não poderia fugir. Ergui meus olhos vendo Aleksey
parar atrás do carro, pegando no porta-malas duas bagagens de mão. Veio
na minha direção, parando na minha frente e rispidamente segurou minha
mão esquerda, deixando as malas sobre as mãos de um dos seus homens.
Fiquei vendo a sua mão grande segurando a minha, praticamente
cobrindo-a por inteiro. Eu o vi tirar do seu bolso um anel.
— Ei! — Quis puxar a minha mão, mas em vão, pois com
facilidade colocou um anel ali.
— Vai usar isso, vão pensar que somos casados — sua ordem me
fez bufar.
— Demônio. — Puxei minha mão sentindo o peso da aliança.
— Estou começando a achar que isso é um apelido carinhoso —
até mesmo quando ele zombava não esboçava sorrisos. — Vamos
descansar, Dmitry virá com os outros homens em breve, ele é quem vai
dividir vocês.
Ordenou aos homens que estavam ali conosco. Segurando na
minha mão, a sua cobrindo a minha, segurando em sua outra mão as duas
malas, podia sentir a forma como a minha mão se perdia dentro da dele.
— Vai mais devagar — reclamei tentando acompanhar os passos
dele. — Um passo seu equivale a dois dos meus, agora soma isso a essas
passadas longas e rápidas.
Resmunguei vendo-o me olhar por sobre o seu ombro. Aleksey
diminuiu o seu passo, esperando para que eu o acompanhasse.
— Existe uma versão sua que só sabe reclamar e isso é
extremamente irritante — ele declarou conforme caminhávamos pela
passagem, nos aproximando da porta de entrada.
— Existe uma parte minha que te acha um doente lunático, nem
por isso estou extremamente irritada. — Dei de ombros, observando uma
das suas sobrancelhas arquearem sutilmente.
Aleksey não falou mais nada, paramos em frente à recepção, ele
pediu um quarto, eu quis argumentar em vários momentos, mas em todos
eles recebi um olhar de reprimenda, me calando, sabendo que precisava
dividi-lo com o próprio diabo.
O mafioso pegou a chave do quarto, observando as orientações da
recepcionista logo voltando a me puxar. O hotel era um lugar pequeno com
apenas três andares, subimos os degraus, soltei muitas bufadas diante do
homem que caminhava rápido sempre me puxando. Fomos até o fim do
corredor, ele abriu a porta fazendo um gesto para eu entrar primeiro.
— Quando estivermos falando com alguém vai manter a sua boca
calada — declarou trancando a porta.
— Quando estivermos andando juntos vai parar de ficar me
puxando como se eu fosse um cachorro rebelde. — Bati meu pé, vendo-o
virar o corpo na minha direção.
— Está muito soltinha se acha que vai ditar alguma regra aqui —
rosnou, caminhando na minha direção.
Fui dando passos para trás, o medo me tomando, o fato de
estarmos sozinhos naquele quarto me fez engolir em seco, ele percebeu o
meu medo, esboçou um pequeno sorriso de canto.
— Ainda quer dar ordens? Me parece bem amedrontada nesse
momento — zombou da minha reação. — Tem medo de mim, Yesfir?
— Tenho nojo, o que é bem diferente. Medo eu tenho de muitas
coisas, menos de um diabo como você. — Arregalei ainda mais meus olhos
quando encostei minhas costas em um móvel me vendo encurralada.
— Te julgo bem corajosa por falar isso, quando de você exala o
odor do medo. Está assustada, pequeno querubim, e isso está claro em cada
pequeno poro que escapa de você. — Aleksey ergueu o seu dedo, tocando
com a ponta dele a minha bochecha.
Fechei meus olhos instintivamente, sentindo o seu roçar em minha
pele, tão suave, delicado, nem parecia o mesmo monstro.
— Vá se banhar, garota, seu cheiro não está agradável para
nenhum ser humano digno de ser cheirado. — Abri meus olhos.
— Demônio — resmunguei vendo-o estender uma mala para
mim.
— Slava pediu que entregasse para você essa mala caso a
encontrássemos, aí tem os seus xampus, mudas de roupas e calçados.
— Obrigada. — Foi impossível não sorrir quando ele mencionou
o nome de Slava, ela se importava comigo como ninguém nunca antes
fizera.
— Qual o motivo do seu sorriso? — Meu sorriso sumiu quando
olhei para o mafioso.
— Você que não é — retruquei, vendo-o soltar um rosnado
conforme se afastava de mim.
Segui em direção à única porta que tinha ali. Certificando-me de
que era o banheiro mesmo, trancando-me após estar dentro dele, primeiro
abri a porta vendo que dentro da mala tinha um vestido e os meus produtos
de higiene, a mesma marca que usara quando estava na sede. Slava pensou
até mesmo nisso. Além do xampu, tinha creme de hidratação para os meus
fios, creme para tirar o nó, até mesmo creme para o corpo, muitos produtos.
Peguei o único vestido que tinha ali, um tecido bordô. Parecia
longo e com um decote recatado, deixei-o sobre o gancho, colocando para
dentro do box todos os produtos que eu ia usar ali dentro.
Como ela também colocara um sapato novo, tirei o que eu estava
usando deixando-o ao lado da lata de lixo, junto com o vestido que me
encarreguei de jogar fora. Slava deixou uma calcinha e um sutiã também,
me olhei no espelho, usando apenas aquela lingerie por dois meses. Meu
corpo que antes tinha várias curvas estava mais magro, meus seios ainda
continuavam medianos, porém, eu não me importava de ter uma
barriguinha, nunca me importei.
Tirei aquela lingerie velha, notando alguns hematomas em meu
corpo, o joelho ralado, tentei não olhar muito, entrando no box, fechando a
porta de vidro, ligando aquela ducha forte, fechando meus olhos quando
permiti que a água tocasse os meus fios capilares.
Aquilo era como estar no paraíso mesmo que para isso tivesse que
suportar a presença daquele homem horripilante ao meu lado.
CAPÍTULO VINTE

Aleksey foi tomar banho enquanto fiquei sobre à penteadeira, me


analisando diante do espelho, passando o creme em meu cabelo, sentindo
como se um peso tivesse sido tirado de dentro de mim depois desse banho,
meus cachos finalmente tomando forma, por sorte o mafioso estava
demorando no banho.
Um tempo para ficar sozinha não era de todo mal, ruim.
O vestido que Slava deixara para mim era perfeito, manteve o
meu decote discreto, ficando bem acima da linha dos seios, a manga
comprida, o comprimento na altura do meu tornozelo, terminei de arrumar
meus cabelos quando a porta do banheiro se abriu.
O cheiro masculino predominava o ambiente, não virei meu rosto,
mas vendo através do espelho o homem, ele estava usando apenas uma
calça social, as costas nuas, meus olhos se fixando na quantidade de feridas
cicatrizadas que ele possuía, uma delas começava na ponta das suas costas
próximo ao ombro, terminando na lateral da sua cintura, na horizontal,
aquilo era horrível, como se alguém tivesse rasgado a pele dele, fora os
outros pequenos cortes que ele tinha.
Como se soubesse que o estava olhando, se virou abruptamente,
segurando a camisa de botões que estava sob a cama, seus olhos encarando
fixamente os meus, sobre o espelho.
Ele estava com o cabelo úmido, mas dessa vez era pela água do
seu banho, não pelo gel, os fios negros jogados para trás, desalinhados,
deixando-o com um vislumbre mais selvagem.
— Suas costas — sussurrei ainda horrorizada.
— Nem tudo que reluz é ouro, já te falaram isso? — Aleksey
começou a andar na minha direção.
— Você está bem longe de ser ouro, muito menos de reluzir —
declarei vendo-o parar atrás de mim.
Aleksey apenas vestiu as mangas da sua camisa, deixando-a
aberta, seu peito logo atrás de mim, ele não tem pelos, tem um peitoral liso,
aquela aproximação me deixando tensa, nem ao menos consigo manter
meus olhos sob ele, nunca sequer vi um homem sem camisa e agora tem um
bem atrás de mim.
Fechei meus olhos com força quando Aleksey se abaixou
passando os seus dedos em meus cabelos, colocando-os para trás,
aproximando o seu lábio do meu ouvido, conseguia sentir a sua respiração
acariciar a minha pele.
— Algum homem já te tocou? — neguei com a cabeça sem abrir
meus olhos. — O que sabe sobre homens?
— Que são todos uns demônios? — sussurrei ouvindo a sua
risada fraca próximo ao meu ouvido.
Abri meus olhos lentamente, Aleksey não olhava para o espelho
seus olhos estavam sob mim, sobre a minha pele, analisando meus cabelos,
pegando em sua mão um cacho, enrolando-o em seus dedos, o cabelo dele
era maior do que eu imaginava, não chegava a ser comprido, mas quando
estava sem o gel ele ficava mais solto, caindo para o lado, ou sob a sua
testa.
— Não, pequeno querubim, isso eu já sei, quero saber o que sabe
sobre um homem e uma mulher?
Seus olhos se desviaram para o espelho, mordi o meu lábio, pois
não sabia nada, me peguei pensando no que o Padre sempre falava nas
missas de domingo, sobre a carne ser fraca, mas nada me veio à mente,
nunca tive um celular, os livros da biblioteca eram todos religiosos, as
freiras que davam aulas nunca explicaram.
Seus métodos sempre foram muito restritos por ser uma escola
apenas de meninas.
Tudo que eu sabia é que homens engravidavam as mulheres,
como o faziam eu não sabia, por Deus, eu devia saber isso!
O homem atrás de mim semicerrou os olhos como se estivesse
interpretando a minha falta de resposta como um “eu não sei nada” o que
não deixava de ser verdade.
— Yesfir? — chamou pelo meu nome, me fazendo encolher um
pouco.
— Eu... eu... ai! — Dei um gritinho quando Aleksey segurou os
dois lados da cadeira me fazendo ficar de frente para ele.
— Não sabe nada? — Rosnou como se eu fosse alguma
aberração.
Suas mãos estavam apoiadas no encosto de mãos da cadeira, o
rosto se aproximando do meu.
— Não... não é como se eu pretendesse ter um marido, nunca tive
interesse por algo que eu sabia que não teria — sussurrei vendo-o tombar a
cabeça para o lado.
— Nunca sentiu nada, nada estranho com você?
— Como assim? — murmurei ainda com os olhos arregalados
com a aproximação dele.
— No meio das suas pernas? Formigamentos, umidade... — sua
frase morreu quando percebeu que estava pensando sobre o que estava
falando.
Nem foi necessário parar para me concentrar, pois eu sentia isso
que ele falava, de uma forma estranha sentia o ponto no meio das minhas
pernas sempre ficar úmido quando pensava nele, quando ele me tocava nas
poucas vezes que não era agressivo, nunca me explicaram o que era essa
sensação, será que não era normal?
— Por que acontece isso? — não respondi à pergunta dele,
fazendo outra por cima.
— Quer dizer que sente? — Balancei minha cabeça confirmando
— isso acontece, pois o seu corpo reage aos toques masculinos, e eu vou
ficar muito possesso se me falar que sentiu isso com outro homem.
— Não, eu não senti — sussurrei como se estivesse sendo
hipnotizada por aqueles olhos negros, me perguntando se tudo aquilo não
passava de uma loucura.
— Você é minha, pequeno anjo querubim — ele falou com o lábio
praticamente roçando no meu, fechei meus olhos como se estivesse
esperando por mais, e estranhamente gostando.
Mas de repente me vinha a imagem dele apertando a minha boca,
me fazendo quase apagar, virei meu rosto abruptamente, ofegante,
precisando puxar a minha respiração com força, Aleksey bufou, me
pegando desprevenida quando segurou em minha cintura, erguendo-me da
cadeira, nem ao menos encostei meus pés no chão.
— Ei, o que está fazendo? — perguntei balançando meus pés
enquanto ele me levava em direção à cama, comecei a entrar em desespero
quando Aleksey me deitou sobre o colchão, segurando nos meus dois
pulsos levando-os em direção à minha cabeça, seu corpo grande cobrindo o
meu.
— Sabe o significado da palavra sádico? — perguntou, neguei
com a cabeça. — Aquele que sente prazer com a dor alheia, eu sou um
sádico, eu gosto de ver os outros sofrendo, eu gozo com mulheres que
sofrem em meus braços, e eu vou fazer isso com você, sei que vai gozar nos
meus braços, meu anjo querubim.
Engoli em seco com aquelas palavras, do que ele estava falando, o
que era isso? Por Deus! Esse homem era louco, como eu ia gostar de ser
torturada, comecei a entrar em desespero, outra vez tortura não.
— Não sofra por antecedência, Yesfir, quando chegar o momento
deixe pra surtar, agora vamos nos alimentar que Dmitry está à minha espera
— Aleksey previu a minha reação.
Saindo de cima de mim, sem arrumar os seus cabelos dessa vez,
apenas abotoando sua camisa e fazendo um sinal para ir junto dele.
CAPÍTULO VINTE E UM

Aleksey segurou na minha mão puxando-me pelo corredor, me


fazendo tropeçar várias vezes em meus pés.
— Será que consegue parar de tropeçar. — Ele me olhou por
sobre o ombro.
— Sim, conseguiria se ao menos andasse mais devagar —
resmunguei.
O mafioso diminuiu a velocidade do seu passo, assim permitindo
que eu o alcançasse.
— Não precisa segurar minha mão dessa forma, como se estivesse
sempre me puxando — murmurei em meio ao meu péssimo humor.
Aleksey não falou nada, apenas desceu a escada ao meu lado,
dessa vez fomos devagar, indo por trás do hotel e entrando no restaurante
do estabelecimento, onde avistei Dmitry sentado sozinho em uma das
cadeiras sob uma mesa de quatro lugares. Ao se aproximar, Aleksey puxou
uma cadeira para eu me sentar, estranhei esse gesto pois na maior parte do
tempo era um grosso.
Sentei-me, ergui meus olhos avistando ali o outro homem, ele
deixou o seu celular sobre a mesa, Aleksey se sentou ao meu lado.
— Olhando assim passo a entender o seu fascínio, Aleks —
Dmitry tinha um tom debochado em sua voz, seus olhos sobre o meu rosto,
me analisando, chamando o nome Aleksey de uma forma zombeteira.
— Vai se foder, Dmitry, e vire seus malditos olhos para o lado —
Aleksey rosnou ao meu lado, como sempre fazia quando algo saía do seu
controle.
Virei meu rosto vendo Aleksey passar a mão em seus fios
jogando-os para trás, talvez fosse por isso que sempre o mantinha no gel,
assim não caía no seu rosto.
— Precisava sempre falar essas palavras feias? — Arqueei uma
sobrancelha vendo-o revirar os olhos e me ignorar totalmente dando
atenção para Dmitry.
— Como foi? — perguntou ao homem, sendo interrompido por
um garçom. — Queremos três pratos do que vocês têm para o dia.
Ele apenas respondeu.
— Duas doses do uísque mais forte que possuem — Dmitry
completou.
Fiquei olhando de um para o outro, eles nem ao menos
perguntaram o que possuía no prato do dia.
— Um copo de qualquer suco que tiverem — Aleksey declarou,
ao menos ele pensara no que eu beberia.
O garçom anotou tudo, sem nem ao menos fazer perguntas, se
virando, nos deixando sozinhos.
— E se não gostarem do que vem no prato? — perguntei
admirada.
— Vamos gostar — Dmitry foi quem respondeu.
— Mas...
— Calada! — Aleksey me cortou me fazendo olhar para aquelas
feições duras. — Agora me conte o que ia falar antes de sermos
interrompidos?
— Correu tudo bem, deixamos eles com vida, não por muito
tempo...
— Co... como assim? — gaguejei cortando Dmitry.
— Simples, eles vão morrer, mas vão sentir tudo, cada dor que
causamos aos seus corpos, uma morte lenta — Dmitry falou de uma forma
que me assustava diante da tranquilidade, como se fosse mais uma coisa
que fazia em um dia qualquer.
— Como conseguem? — sussurrei amedrontada.
— Eu que te faço essa pergunta, como consegue perdoar as
pessoas que te fizeram mal? — Dmitry arqueou uma sobrancelha para mim.
— Não sou Deus para julgar quem deve ou não viver, no juízo
final, cada um pagará a sua penitência...
— Se esse seu Deus fosse assim como fala, ele não te deixaria
passar por tudo que passou, garota burra, caia na real, isso aqui não é um
conto de fadas, ou são eles ou é você, nesse mundo vence o mais esperto,
ou o mais rápido — Aleksey tem aquele sussurrar que me assusta.
— Não acredita em Deus? — Olhei para o homem ao meu lado.
Aleksey não me respondeu, desviando seus olhos, ele não queria
falar sobre esse assunto comigo, por isso olhei para Dmitry que tinha sua
atenção sobre nós.
— Aleksey tem a teoria de que se Deus existisse ele não teria
passado pelo que passou — Dmitry foi quem respondeu.
O homem ao meu lado rosnou, o que ele passou? Por que ele era
assim? Porque sempre tão fechado, os poucos sorrisos que dava ou eram
forçados ou com alguma malícia, ele não era um homem normal, talvez um
homem que foi muito judiado pela vida, e por esse motivo descontava em
todos à sua volta.
Mas ele estava enganado se achava que eu seria somente mais um
a ser seu saco de pancadas.
— Cada um...
— Cala a sua maldita boca, não me venha com esse papo para
perto de mim — Aleksey rugiu ao meu lado me fazendo levar um susto
quando a sua mão apertou a minha coxa.
Abaixei meus olhos encontrando seus dedos sob o tecido do meu
vestido, a mão apertando com força, ergui minha vista avistando seus olhos
sob os meus.
— É bom que esse seu Deus exista mesmo, pois você vai
precisar... — ali estava o sorriso carregado de malícia, maldade que ele
dava.
Isso era tudo que Aleksey dava, maldade, ele era um homem
mau.
Fiquei em silêncio, nossos pratos de comida chegaram, foi
colocado à minha frente um prato com muitas coisas, nem ao menos me
lembrava quando tinha sido a última vez que comera tão bem, o cheiro
tocando o meu olfato me fez suspirar.
Nem ao menos me atentei ao que aqueles homens falavam,
comendo aquilo rapidamente, me enchendo de comida, passando
despercebida por eles.
Comi em uma velocidade tão rápida que quando dei a última
garfada senti uma dor desconfortável em meu estômago, talvez o meu corpo
estivesse desacostumado com tamanha quantidade de comida.
— Ai — murmurei alisando a minha barriga, a minha queixa fez
os dois olharem para mim.
— Aconteceu algo? — Aleksey franziu a testa confuso.
— Nada, podem continuar a conversar e fingir que não existo, foi
apenas um reflexo, falei sem pensar, acho que comi rápido demais, meu
estômago não está mais acostumado a ver tanta comida. — O homem ao
meu lado não desviou os olhos como se estivesse se amaldiçoando por
algo.
— Da próxima vez se lembre, não adianta querer fugir de mim,
sempre voltará a ficar com o seu dono! — Pontuou de uma forma bem
obsessiva.
— Não venha querer me colocar como culpada — eu o
confrontei.
— Sempre será culpada por todos os seus atos! Fugiu, Yesfir, e
vai pagar por cada dia que me fez ir atrás de você...
— Nunca pedi isso a você, entre viver lá e viver ao seu lado fica
difícil escolher qual é pior — eu o cortei, percebendo que o homem
semicerrou os olhos na minha direção. — E além do mais como sabem tudo
sobre mim? Como sabem o que eu passei?
— Porque Aleksey conseguiu comprar um dos homens do seu pai
para grampear o celular dele, e assim começamos a monitorar todas as
ligações que Bóris dava, demorou até ele revelar algo sobre Fedya, mas o
fez — quem me respondeu foi Dmitry.
— Por quê? Por que fez tudo isso para ir atrás de mim quando
explicitamente sou uma pessoa insignificante para o senhor? — inqueri sem
desviar os olhos de Aleksey.
— Pode ser insignificante, para qualquer outra pessoa, menos
para mim, é minha, e ninguém tira de mim o meu brinquedinho, eu vou até
o inferno se for necessário para encontrá-la. — Mesmo que seja da forma
doentia dele, ninguém antes mostrou interesse por mim, ninguém nunca
quis o meu melhor, bem, essa parte nem ao menos o louco do Aleksey fez.
Eu acreditei nele, pois Aleksey não fazia o tipo que falava da boca
pra fora.
CAPÍTULO VINTE E DOIS

O carro foi diminuindo a velocidade parando em frente à sede,


pretendia levar a garota para a minha casa, mas mandei que instalassem
câmeras em todos os cômodos, por dentro e por fora, ia monitorar Yesfir 24
horas do dia, cada passo dela não ia passar despercebido por mim, se ela
fugiu uma vez não cometeria o mesmo erro outra vez, essa garota era
minha.
Os homens ainda estavam na minha casa fazendo a instalação,
provavelmente iam finalizar o trabalho apenas amanhã, não podia deixar a
minha futura esposa dentro da minha casa com homens dentro dela.
Yesfir nunca mais ia andar sozinha, pois ia vigiar seus passos até
mesmo quando fosse ao banheiro.
Foram longas horas de viagem, ela veio dormindo na maior parte
dela, encolhida no canto da porta, sem falar nada e após o nosso almoço no
restaurante decidi que deveríamos voltar.
O automóvel parou em frente à sede, aproximei meu rosto da
mulher, ela tinha as feições serenas, olhos fechados tranquilamente,
nitidamente estava em um sono profundo, ergui meu dedo acariciando a sua
bochecha, tocando com a ponta em sua pele aveludada, tão incrivelmente
perfeita, e minha.
Encontrá-la na situação que eu a encontrei me fez ficar possesso,
com raiva daqueles homens, eu quis matá-los com minhas próprias mãos,
mas não o fiz, precisei tirar Yesfir de lá, ela estava fragilizada demais, não
era o tipo que sentia pena, mas por aquela mulher eu senti, senti como se
pegassem uma parte minha e depositassem sobre ela, tudo que eu passei vi
refletido nos olhos inocentes da minha garota, e eu quis tirar, arrancar toda a
dor dela.
Ela contraiu seus cílios negros, apertando as pálpebras,
suavemente abrindo seus lindos olhos cor de chocolate se encontraram com
os meus.
— Chegamos, bela adormecida — sussurrei.
— Para ser uma bela adormecida eu precisaria de um príncipe, e
você está longe de ser um — Yesfir foi logo se recompondo, erguendo todas
as suas barreiras fazendo como sempre, se esquivando de mim.
Abriram nossas portas, dei a volta ao automóvel parando ao lado
da garota que olhou em volta, soltando um longo suspiro.
— Voltei à estaca zero — murmurou.
— Lugar de onde nunca deveria ter saído — respondi a
reclamação dela segurando em sua mão.
Comecei a andar, puxando-a comigo, ouvindo seus suspiros de
reclamação. Nem ao menos me concentrei neles, os outros dois carros que
estavam junto conosco também pararam ali, Dmitry ordenando algo aos
seus homens, ao contrário de mim, ele tinha a função de cuidar dos
brigadier, e monitorar os Boyevik. Eu era o braço direito do Pakhan, sempre
era eu que estava ao seu lado, auxiliando-o em tudo.
Isso quando uma das suas esposas não estava se envolvendo em
assuntos de homens, maldito o dia em que Sergey resolveu se casar com
duas mulheres, e ainda por cima, colocar uma criança em cada uma delas.
A porta se abriu quando eu me aproximei, trazendo comigo a
noviça, estávamos sem sobretudo, por isso fui direto para a sala onde
encontrei Sergey, Rubi e Sofie, a primeira a se manifestar foi Sofie, a loira
que sempre tinha aquele sorriso doce em seus lábios, ao contrário da outra
morena que na maioria das vezes estava com as feições fechadas ou
persuadindo Sergey a ir contra algo que eu falei, por sorte meu amigo não
se deixava levar facilmente.
— Chegaram — Sofie declarou me olhando de cara feia quando
percebeu que eu praticamente puxava a garota. — Qual a necessidade de
puxar ela assim?
— Acredite, quando descobrir me fale — Yesfir resmungou
querendo puxar o braço do meu.
— Quando aprender a andar mais rápido descobrirá — retruquei
abaixando meus olhos para aquela coisinha linda.
— Só se eu nascer de novo e com dois metros de perna, ou se
andar correndo ao seu lado, é você que precisa se adaptar aos meus passos.
— A petulância de Yesfir era praticamente sem limites.
— Acredite, eu não me adapto a nada — rosnei direcionando
meus olhos para os três à nossa frente.
— Como foi a viagem? — Sofie perguntou.
— Um mar de rosas — Yesfir resmungou sendo irônica.
— Fez algo com ela, Aleksey? — Rubi perguntou.
— Não é como se eu tivesse muitas coisas para fazer com esse
pequeno pingo de gente — falei.
— Então ela continua intocada? — Rubi voltou a perguntar.
— Sobre o que estão falando? — Yesfir percebeu que o assunto
era ela olhando-nos desconfiada.
As duas esposas de Sergey olharam para Yesfir sem entender
sobre o que ela estava falando, pois quem em sã consciência não sabia
daquele assunto.
— Ela está assim pois nem ao menos sabe como os bebês são
feitos, talvez aquelas freiras malucas devam ter falado para ela que eles vêm
da cegonha, ou num passe de mágica aparecem na sua barriga ou quem sabe
era comendo uma semente. — Sofie arregalou os olhos diante do meu
deboche.
— Espera, você não sabe nada sobre o ato sexual, Yesfir? — A
loira foi quem perguntou.
— Para ser noviça isso era a última das minhas preocupações. —
Ela se encolheu ao meu lado.
Odiava quando ela se encolhia, odiava quando ela mostrava suas
fragilidades, eu gostava dela de nariz em pé, sendo altiva, me retrucando,
essa versão sensível da minha noiva me fazia querer protegê-la
descontroladamente.
— Não explicou nada, não é mesmo, Aleksey? — Sofie quis
saber.
— Posso fazer agora se quiser.
— Não! Você é louco, um insensível, eu vou contar para ela — a
mulher se mostrou interessada.
— Pretende ficar até quando aqui, Aleksey? Já deixei preparados
os papéis do casamento, amanhã vem um mestre de cerimônia oficializar.
— Mestre de cerimônia? Eu quero um padre! — Yesfir me fez
olhar para ela. — Se eu vou me casar com um demônio eu quero um padre
para oficializar isso.
— Só pode estar louca! — Retruquei.
— Não, ela não está, vamos fazer isso, vamos chamar um padre,
vamos ver um vestido para ela, arrumar o seu guarda-roupa, pois Slava
falou que você não tinha nada de roupa, Aleksey só pensa nele mesmo. —
Sofie revirou seus olhos.
Ótimo, agora Yesfir tinha uma aliada por ela, se não bastasse a
morena se envolvendo nos assuntos da máfia, agora ia ter a loira se
envolvendo com a minha esposa.
Nesses dois meses que se passaram, Sergey descobriu que tinha
engravidado as duas mulheres suíças, e as trouxe para Moscou, dando a
Rubi o livre acesso sob os assuntos da Bratva, tudo para persuadi-la a ficar
ao seu lado e deixar o seu antigo clã, Sofie sempre ia aonde os dois
estavam, de uma forma assustadora esses três se encaixavam, era muito
louco, viver um trisal, duas mulheres cheias de hormônio, e por incrível que
parecesse Sergey gostava disso, desde que elas vieram para esse lugar ele
mudara e havia se tornado o meu amigo de sempre.
Eles eram casados, uma união abençoada pelo padre, assumidos
perante a todos e o Pakhan não permitia que ninguém fizesse piadinhas.
— Ótimo, pode levar ela daqui, Sofie, preciso ter uma palavra a
sós com Aleksey — Sergey me fez sair do meu devaneio.
A loira sorriu vendo em Yesfir uma forma de transformá-la em
sua bonequinha, que essa mulher não fizesse nenhuma loucura com a minha
garota.
CAPÍTULO VINTE E TRÊS

Ainda não estava entendendo, como aquelas duas mulheres se


encontravam ali novamente? O que aconteceu quando eu estive fora?
Elas me acompanharam até o antigo cômodo que foi o meu
quarto, as duas vindo junto comigo, adentrei o cômodo, olhando de uma
para outra.
— Estou confusa — sussurrei para elas.
— Quer saber o que estamos fazendo aqui, certo? — A loira
sempre sendo a mais solícita.
— É — concordei.
— Somos as esposas de Sergey — a morena respondeu
despreocupadamente, me fazendo arregalar os olhos.
— Como?
— Somos esposas de Sergey, somos um trisal, nós nos amamos, e
resolvemos deixar esse amor falar mais alto — Sofie tinha carinho em seu
tom de voz.
— Trisal? — Aquilo tava começando a fazer fumaça sair da
minha cabeça.
— É, nós nos pegamos, simples assim, eu pego Sofie, Sofie me
pega, pegamos Sergey, Sergey nos pega...
— Tá... nossa... uau... acredito que em algum momento vou
entender sobre isso, só espero não precisar fazer o mesmo. — Fiz uma
careta vendo-as sorrir do meu desespero.
— Com o homem que terá como marido? Eu duvido, aquele louco
tem ciúmes até da própria sombra...
— Rubi! — Sofie repreendeu a morena que estava se sentando na
cama naquele exato momento.
— Agora vamos mudar o foco, como você está? — Sofie
caminhou na minha direção, aquela mulher era alta, seus cabelos eram de
um loiro escorrido, contrastando com seus olhos azuis.
— Bem... eu acho — pigarreei, pois, como ficar bem sabendo que
vou me casar com aquele mafioso?
Tudo que eu fiz para fugir acabou me trazendo para ele outra vez.
— Não sabe realmente nada sobre sexo? — virei meu rosto para
Rubi, que era sempre mais direta.
— Não — sussurrei me sentindo constrangida.
— Não precisa sentir vergonha, vem, vamos nos sentar ali na
cama. — Ela apontou para a cama, onde me guiou.
Sentei-me sobre o colchão, as duas me olhando como se eu fosse
uma espécie de aberração.
— Qual a sua idade? — Rubi perguntou.
— Dezoito anos — respondi.
— Menos mal — Sofie falou em meio a um suspiro de alívio.
— Sejam diretas comigo, não quero me casar com aquele monstro
e ser pega desprevenida, sei que terei que me casar, não existe escapatória,
não tenho mais escolha, fugi uma vez dele e acabei indo para a mão de
pessoas piores, se eu vou me casar que eu saiba onde estou me envolvendo
— pedi olhando de uma à outra.
— Então, tudo que sabemos sobre Aleksey é que ele cresceu na
rua, foi abandonado pela mãe quando era praticamente um bebê, o pai foi
morto na frente dele, precisou matar várias pessoas para sobreviver, entrou
na máfia quando era um adolescente, isso foi tudo que Sergey falou, disse
que não entraria em detalhes, pois esse assunto não condiz a ele. O
Obshchak da Bratva é um homem que para nós é uma incógnita, nesse
tempo que vivemos aqui, ele praticamente não revelou nada sobre ele, não é
de falar muito, e o que fala é sempre com propriedade, sabendo o que falar
na hora certa, esperto, porém meio sádico...
— Ele falou essa palavra para mim — cortei a fala de Rubi, ela
assentiu.
— Isso porque ele deve sentir prazer em ver a dor dos outros, a
maioria dos homens da máfia são assim, eles criam suas barreiras, pelos
traumas do passado, se Aleksey passou por tudo que passou ele busca sobre
os outros o que fizeram ele passar. — Ela estava falando exatamente o que
o homem falara para mim.
— Vou ser o instrumento de vingança, pelo passado dele com o
qual eu não tenho nada em comum? — Suspirei tentando manter o controle
e não surtar.
— Provavelmente... sim — Sofie foi quem respondeu, seu tom de
voz contendo aquele misto de pena.
— Agora me contém, como funciona? O que vou precisar saber
para quando estiver casada com ele? — perguntei vendo as mulheres
trocarem um olhar.
— Bom, tudo que eu posso falar em primeira mão é que vai doer,
mas tudo vai depender dele, a minha primeira vez doeu, mas como foi com
um amigo ele fez ser prazeroso — Sofie declarou.
— Então, o Pakhan? — não soube como falar.
— Sergey não foi nosso primeiro homem — Rubi foi quem
respondeu, as duas sempre completavam a frase uma da outra — Yesfir, ele
vai te tocar, você vai ficar nua para ele, ele vai ficar nu na sua frente, vai ver
a anatomia completa dele, inclusive a do pênis, que é aí que entramos no
assunto, sendo bem direta, os homens ejaculam dentro da mulher e assim
corremos o risco de engravidar, o pênis dele vai te penetrar, até ele se sentir
saciado e gozar, mas não será apenas ele, se o Obshchak souber como fazer
você também sentirá o prazer. Como saber se está sentindo prazer, você
ficará molhada, quando uma mulher está excitada ela fica úmida, um leve
incômodo delicioso no meio das pernas. Esse é o ato sexual, o pênis dele te
penetra, sobre a sua boceta, mas ele não te tocará apenas lá, e sim em todo o
seu corpo incluindo seus seios.
Ouvi aquilo horrorizada, mas curiosa, a forma como ela relatou, a
parte de se sentir molhada, aquele incômodo no meio das pernas, era assim
que me sentia em alguns momentos com Aleksey, isso quando ele não
estava sendo um completo idiota. Será que eu desejava Aleksey Ivanovich?
— Nossa, Rubi, precisava ser tão direta? — Sofie olhou para a
outra.
— Ué? Estamos entre mulheres, ela quis saber como funcionava,
não vou ficar usando palavras delicadas, Yesfir precisa chegar sabendo que
o pênis do homem machuca quando é a primeira vez da mulher...
— Machuca? Ele vai me machucar? — Murchei meus ombros.
— Sim, querida, a primeira vez dói, pois ele vai romper o seu
hímen, vai sangrar um pouco, mas existe a possibilidade de ser bom...
— Nos braços daquele monstro? Eu duvido. — Suspirei cortando
a frase de Sofie — Então é isso? Isso que é o sexo? É por tudo isso que vou
passar quando me casar com ele? Pois eu vou resistir e não vou me
entregar...
— Bom, quanto mais resistente for, será pior, pois um homem
como Aleksey não sabe ouvir a palavra não e eu tenho medo por isso, não
tem escapatória, foi destinada para ser dele, e Aleksey pode forçar o ato
sexual — Sofie tinha em sua voz o pesar.
— Está querendo insinuar que devo me entregar de bom grado?
— declarei admirada.
— Viemos de uma família entre muitos casamentos forçados,
onde tivemos mulheres que resistiram e acabaram sendo tomadas contra a
sua vontade, acredito que no momento certo saberá o que fazer, isso é uma
atitude que apenas você pode tomar. — Sofie se levantou da cama,
colocando um sorriso em seu rosto — Slava falou sobre as suas roupas, e
como sabíamos que estava vindo, pedi a uma loja que mandasse vários
vestidos e todos os utensílios que você precisa, agora vamos parar de pensar
nisso, e ter um dia só das garotas.
Sofie bateu palminhas fazendo Rubi revirar os olhos.
— Tenham sozinhas, pois eu vou atrás de Sergey, ver o que
aqueles dois estão fazendo. — Rubi se levantou da cama indo até a mulher
loira, dando um beijo no lábio dela e saindo.
As duas trocaram um beijo rápido, o que me deixou bem
espantada, elas se beijaram? Então isso era real, tipo tudo aquilo que ela
falou para mim, eles faziam entre os três?
Pensar nisso me fez ficar ainda mais angustiada para o meu
casamento.
CAPÍTULO VINTE E QUATRO

Estava parada em frente ao espelho, o vestido branco cobria o


meu corpo, no decote tinha alguns detalhes em renda, a manga era
comprida, em meu cabelo coloquei uma pequena coroa de pedrinhas apenas
para deixar meus cachos um pouco para trás.
Optei por não fazer maquiagem.
Essa noite praticamente nem ao menos dormi, pensando que logo
estaria na casa dele, que íamos viver sob o mesmo teto. O medo me
tomando, pois não sabia o que esperar, depois de tudo que Rubi e Sofie
falaram, fiquei me perguntando como ia ser quando ele me tocar? Vou
gostar? Será que ia doer? Ele ia ser sempre agressivo?
Fechei meus olhos me sentindo inútil diante dos meus
pensamentos.
Quando pensava no meu futuro não era exatamente assim que eu
me via, embora sempre quisesse um marido, uma família, filhos, mas
Aleksey nem de longe era o que eu pensava para um marido.
Uma batida se fez presente na minha porta, virei o meu corpo
encontrando com Sofie, a mulher linda sempre em seu porte altivo.
— Está pronta, querida? — Sorriu para mim.
— Preciso estar pronta. — Murchei um pouco meus ombros.
— Está linda, Yesfir, tudo que eu puder fazer, farei para ajudá-la.
— Sofie entrou no quarto, seu salto ecoando no assoalho, sua mão
segurando a minha. — Vai dar tudo certo...
— E mesmo se não der, não tem o que eu possa fazer, estou
pagando um preço caro tudo por ser filha de um homem que nunca se
importou comigo, primeiro me abandonou naquele internato, depois me
jogou para aquelas pessoas horríveis, fico me perguntando o que eu fiz para
merecer isso? — Passei a mão embaixo dos meus olhos, limpando a lágrima
que caiu.
— Oh, minha querida. — Sofie sorriu com pesar me puxando
para os seus braços me dando um abraço forte, seu cheiro doce tocando
meu olfato.
Ficamos assim por longos segundos, há muito tempo ninguém me
abraçava dessa forma, como se eu fosse importante em sua vida.
— Obrigada — sussurrei em meio ao abraço. — Obrigada pelo
abraço...
— Não precisa agradecer, querida. — Sofie se afastou limpando
as poucas lágrimas que ainda banhavam a minha fase. — Agora vamos, que
o padre já está à nossa espera.
Assenti, Sofie não largou a minha mão, saindo do quarto junto
comigo, foi preparada no salão de festa uma pequena cerimônia, apenas
para membros próximos do clã, nem ao menos conhecia nenhum deles,
descemos um degrau por vez, o medo tomando conta de mim, foi fácil deles
encontrarem um padre, pois até mesmo a máfia tinha um a seu dispor.
Seguimos para o lado parando em frente à porta do salão de
festas.
— Está pronta? — ela pediu ao meu lado.
— Entra comigo, Sofie? — Ela sorriu, um dos seus sorrisos de
canto.
— Claro que sim. — Entrelaçou o seu braço ao meu.
As portas duplas se abriram, uma música suave tocou, senti meu
corpo ainda mais tenso do que já estava, poucas cadeiras foram colocadas,
algumas pessoas presentes, passei por um tapete vermelho, Sofie
transmitindo tranquilidade, ao meu lado, isso até pararmos em frente ao
homem que seria o meu marido.
Aleksey deu um passo na minha direção, estendeu a mão, olhei
para Sofie, ela sorriu querendo me acalentar, mas naquele momento nada
conseguiria.
Soltei a minha mão da dela, segurando nos dedos estendidos dele,
Sofie se afastou, o toque dele era quente fazendo como se um curto-circuito
percorresse o meu corpo frio, demos um passo parando em frente ao padre.
O padre fez uma cerimônia rápida, abençoando o nosso
casamento para que durasse toda uma vida, isso se ele não acabasse comigo
antes.
Os votos foram trocados, tentei ao máximo ignorar os olhos
negros como uma noite sem estrelas, mas foi impossível, ele me manteve
fixa neles o tempo inteiro, fiquei olhando-o, analisando todos os traços
duros do homem que seria o meu marido, o mesmo homem que já me quis
morta, que já me salvou, Aleksey e toda a sua loucura me deixava
extremamente louca.
Sem nem perguntar se alguém era contra esse casamento, ou se
aceitávamos essa união, deixando bem explícito que algumas partes foram
cortadas, provavelmente porque o meu amado marido exigiu.
— Eu vos declaro marido e mulher, o noivo pode beijar a noiva.
— E aquilo encerrou um ciclo, um ciclo da minha vida onde eu era apenas a
Yesfir Alkaev, a noviça.
Agora eu era uma esposa, uma senhora Ivanovich, a esposa de
Aleksey, um homem odioso.
Ele deu um passo na minha direção, sua mão apertando a minha
cintura, não com força, um toque suave, me puxando para perto dele,
nossos corpos se aproximando um do outro, ergui meu rosto, encontrando
os olhos dele fixos nos meus. Aleksey era um homem bonito, intrigante, ele
tinha feições duras, um queixo reto, a boca aparente através dos fios baixos
da sua barba que a circulavam.
Os cabelos dessa vez estavam para trás, sem falar nada ele
aproximou o rosto do meu, não desviei, apenas fiquei imóvel aceitando o
beijo dele.
Seu lábio tocou o meu, a barba que eu julguei que poderia ser
incômoda não foi, era macia e acariciava o meu rosto, meu lábio se
encaixou ao dele, logo se afastando.
— Não sabe beijar, não é mesmo? — sussurrou ao se afastar e eu
neguei com a cabeça. — Da próxima vez abra a sua boca...
— Espero que não tenha próxima — murmurei vendo o sorriso
zombeteiro em seus lábios.
— Agora que é minha, terei todos os seus beijos, todos os seus
suspiros, não me contento com pouco, eu quero tudo de você, pequeno anjo
querubim. — Seu dedo se ergueu tocando com propriedade a lateral da
minha bochecha, fazendo a aliança do nosso casamento brilhar em sua
mão.
Ainda podia sentir o peso da aliança que ele colocara ali, aquela
falsa que usei, em nada se parecia com essa, pois essa era real, e isso era o
que ela simbolizava.
Nós nos viramos recebendo os aplausos, Aleksey não puxara a
minha mão, entrelaçando seus dedos aos meus, me guiando em direção à
mesa onde seria servido o jantar, o qual ficaríamos todos juntos, jantando e
comemorando a ocasião, que em momento nenhum era algo bom para
mim.
Não sabia o que esperar, não sabia se devia ceder, não sabia de
nada, e isso estava me confundindo, me enlouquecendo, as palavras de Rubi
a todo momento ecoando na minha mente “ele vai te tocar, você ficará nua
para ele, ele ficará nu na sua frente” e eu estava a ponto de ter um colapso
nervoso, passei a transpirar demais, e com a minha outra mão segurei no
braço de Aleksey quando tudo começou a girar à minha volta e eu
simplesmente apaguei, com meu corpo se tornando leve feito uma pluma.
CAPÍTULO VINTE E CINCO

Rapidamente me virei, segurando a garota em meus braços, seus


olhos se fechando, ela estava desmaiada. Avistei Sofie vindo na minha
direção, parando ao meu lado.
— Aconteceu algo? — uma das esposas do meu amigo perguntou
preocupada.
— Ela aparentemente, desmaiou — declarei com facilidade
segurando a pequena mulher em meu colo.
— Venha, vamos sentá-la na cadeira — assenti acompanhando a
mulher até as cadeiras.
Sofie colocou uma cadeira de frente para outra onde sentei Yesfir,
Sofie foi logo esticando os pés dela sobre a cadeira da frente, e eu segurei a
cabeça de Yesfir.
— Me dê um daquele copo com gelo — pedi e ela o fez, logo
notei Dmitry e Sergey ao meu lado.
— Nem ao menos se casou direito e já está fazendo a garota
desmaiar por amores? — Dmitry não podia deixar de fazer uma piada.
Sofie estendeu o copo para mim, deixei-o no chão, pegando uma
pedra de gelo, levando-a em direção à nuca da minha esposa, passando
suavemente.
— Yesfir? — sussurrei vendo-a abrir os olhos lentamente,
focando em mim que estava ao seu lado.
— O que aconteceu? — perguntou um tanto admirada, como se
estivesse voltando à terra.
— Você desmaiou — sussurrei.
— Ah...
Voltei a colocar aquele gelo no copo, auxiliando a mulher a
colocar seus pés no chão, ergui minha mão tocando a sua testa apenas por
um desencargo de consciência, sentindo em meus dedos que não existia
febre.
— Fique sentada — ordenei vendo que a garota pretendia
levantar-se.
— Estou bem, foi apenas um desmaio. — Mesmo diante da minha
ordem ela quis levantar-se, segurei em suas pernas, forçando-a a ficar
sentada.
— Eu falei para ficar sentada, porra! — Rosnei, pois ela podia
desmaiar novamente se levantasse.
— Por que é sempre tão mandão? — Fez um pequeno bico
cruzando os seus braços.
— Porque eu mando, e você obedece. — Levantei-me de onde
estava agachado, ainda analisando o bico enorme da garota.
Virei-me para os meus dois amigos pegando o copo de uísque que
estenderam para mim. Levei aquele líquido na minha boca, vendo pelo
canto dos meus olhos Sofie se abaixando e conversando com Yesfir.
— Qual a sensação de ser um homem casado? — Dmitry
perguntou.
— Só vou saber quando estiver no meio das pernas dela. — Dei
de ombros tomando todo aquele líquido, sentindo-o queimar pela minha
garganta.
Ambos soltaram uma risada debochada, a outra mulher de Sergey
se aproximou de nós, Rubi geralmente estava no meio dos homens, parando
ao lado do marido, ele passou a mão sob o ombro dela, trazendo-a para
perto dele, a mulher me direcionou um olhar acusador.
— Não falou nada que a fizesse ficar naquele estado, não é
mesmo? — Revirei meus olhos.
— Dessa vez sou inocente — respondi.
— Espero que ao menos na primeira vez dela você seja solícito.
— Ela tinha aqueles olhos verdes parecendo uma felina prestes a atacar.
— Rubi, às vezes você me deixa louco por falar sobre isso com
meus amigos — Sergey a repreendeu, mas a mulher nem ao menos desviou
os olhos de mim, como se esperasse a minha resposta.
— Vai, Aleksey, quero a sua resposta — insistiu a mulher.
— Caralho, se uma já é chata, imagina duas — retruquei vendo-a
dar um passo na minha direção, fazendo com que Sergey a puxasse de volta
controlando a esposa.
— Aleksey. — Sergey me olhou com aquele claro pedido de
súplica para não irritar uma das esposas grávidas dele.
— Tá, tá — apenas falei isso vendo a loira se juntar a nós,
trazendo a minha esposa junto dela.
Yesfir estava usando um vestido branco que se adaptava bem ao
seu corpo, não chegava a ser um vestido de noiva, mas aquilo ficou perfeito
nela, seus cabelos soltos em seus ombros, o tecido se apertando nos lugares
certos da sua pele, o decote era delicado, sem revelar muito, mas pelo
dobrar dos seus seios que eu avistei de cima era nítido que ela tinha o que
eu apertar com força, seu olhar se ergueu na minha direção, mordeu o canto
do seu lábio carnudo, porra de mulher deliciosa.
Toda essa inocência dela me levava ao meu limite, Yesfir era a
personificação da mulher que eu nunca pude ter, linda, delicada, inocente,
vinha de uma linhagem importante da máfia, uma boneca, e minha, eu era o
seu dono, e por mais que ela ousasse sempre me confrontar, isso não fazia
dela menos delicada, e sim com que eu desejasse deflorá-la ainda mais.
— Podemos jantar agora? — Sergey declarou querendo que todos
saíssem dali.
— Não sem antes ele me prometer. — Voltei o meu olhar para
Rubi que tinha os braços cruzados para mim.
— Aleksey, é somente a primeira vez, promete para ela, estou
com fome — Dmitry resmungou para mim.
— Porra, como você é chata...
— Nunca disse que era legal. — Deu de ombros, arqueando uma
sobrancelha esperando a minha resposta.
Troquei um rápido olhar com Sergey, ele bateu levemente seus
ombros, deixando explícito que não ia julgar o pedido da mulher dele.
— Tudo bem, eu prometo. — Rubi deu o seu melhor sorriso
vitorioso me fazendo soltar um suspiro de raiva, não era bem assim que eu
imaginava a minha primeira vez com aquela noviça.
Eu queria um sexo duro, sem me importar se fosse doer ou não,
ela ia pagar por ter fugido de mim, mas agora acabei de prometer que ia
fazer um sexo estilo papai e mamãe, apenas para não doer pra ela.
— O que está acontecendo? — Sofie perguntou.
— Aleksey acabou de prometer que será um cavalheiro na sua
primeira vez, e se eu souber que não foi, eu vou te infernizar o resto da sua
vida — a morena sempre com o seu modo altivo de falar.
— Ah, eu gostei. — A loira sorriu indo do outro lado do marido
que segurou nos dedos dela.
Já estava se tornando normal ver os três juntos, no começo era
estranho, mas agora era como se os três fossem um só.
Estiquei minha mão, trazendo a minha pequena esposa para perto
de mim, ela levou um susto inicialmente, mas ficou calada ao meu lado,
todos fomos para a mesa sentar-nos sobre as cadeiras.
— Está melhor? — perguntei em um sussurro para a minha
esposa.
— Sim, foi apenas um desmaio, muitos acontecimentos em pouco
tempo. — Apenas balancei a minha cabeça, sentando-me ao seu lado.
Não queria nada daquilo, para mim apenas assinaríamos os papéis
e seríamos casados, mas Yesfir queria a bênção de um padre. E agora estava
nessa mesa de jantar, quando tudo que eu queria era estar indo para a minha
casa, tirando esse vestido dela, alisando cada pedaço do seu corpo, como se
ela fosse uma deliciosa fruta, sem contar nos seus gemidos, no seu prazer.
Porra! Precisava parar de pensar na minha esposa nua.
CAPÍTULO VINTE E SEIS

O carro parou em frente a uma casa de dois andares, próxima à


sede, ela era bonita, mesmo estando à noite era possível ver as luzes da
residência acesas, a porta ao meu lado foi aberta, saí do carro segurando na
mão estendida de Aleksey, o vento noturno atingindo meus braços, mesmo
cobertos pelo tecido do vestido me fez sentir frio.
Olhei em volta, hoje estava nevando um pouco, tivemos alguns
dias de um clima ameno, mesmo estando nublado não tinha neve, avistei
um jardim na frente, pequeno, sem muito colorido, pois a neve estragava
tudo.
Aleksey passou a mão nas minhas costas, empurrando-me
sutilmente, passamos por uma pequena passagem, a casa era em estilo
vitoriano, uma tonalidade de um marrom-claro, ao canto havia uma
garagem.
Paramos em frente à porta que tinha um pequeno telhado, eu o
avistei tirar do seu bolso um molho de chaves, indo em direção à chave
certa, abrindo a porta, entrei primeiro, admirada ao observar todos os
detalhes, era incrivelmente lindo.
As cores claras predominavam sobre luzes quentes, no meio da
sala tinha um enorme lustre de cristais, um sofá em tons caramelos, uma
sala grande, há quanto tempo ele possuía essa casa, esse lar me lembrava
muito a casa dos meus pais.
Olhei para o outro lado, a sala de jantar com uma mesa para seis
lugares, ao lado dela uma outra porta, ali devia ser a cozinha.
A escada fazia uma curvatura sobre o topo dela e no fim, um
corrimão em tons dourados. Ainda estava admirada vendo tudo quando
senti a mão forte de Aleksey me puxar pela cintura fazendo as minhas
costas se chocarem no seu peito.
— Você morava aqui sozinho? — perguntei querendo me afastar
dele, mas a sua mão me puxou para o seu corpo com força.
— Sim, faz uns cinco anos que comprei essa casa, mas nos
últimos tempos a pedido de Sergey morava na sede.
Aleksey me virou rapidamente, segurando-me em seu colo, soltei
um gritinho empurrando o seu peito.
— O que está fazendo? — Soquei o seu peito.
— Levando-a para o nosso quarto — falou como se aquilo fosse o
óbvio.
— Nosso? Não quero nada que seja nosso — resmunguei me
debatendo conforme ele subia a escada.
Aleksey me apertou com força em seu colo, sem nem ao menos
sentir dificuldade de me carregar em seus braços, seguindo para um
corredor, passando por algumas portas entrando na última do corredor onde
me colocou ao chão.
Esquivei-me dele dando vários passos para trás, visualizando o
quarto de casal à minha volta, ali tinha uma cama enorme. A cama que eu ia
dividir com ele, o meu marido, agora eu era uma mulher casada, precisava
cumprir com o meu papel de mulher casada, mas não queria, sentia que
tinha vontade de me entregar a ele, mas toda vez que pensava na mão dele
me apertando com força, trancando a respiração, fazendo com que eu
perdesse a consciência, me batia um medo, um tremor.
E se Aleksey me machucasse, e se ele quisesse me ferir
novamente.
Meu marido começou a caminhar na minha direção.
— Vou te dar duas opções, primeira: vamos ter a sua primeira vez
suavemente, vou tentar fazer o máximo para tirar o seu hímen, agora
segunda: pode se negar para mim, relutar e falar que não, se fizer isso eu
vou te comer com força, sem pudor, sem me importar com o seu prazer,
apenas me alimentando com a sua dor. — Um sorriso monstruoso brilhou
em seus lábios, quando parou na minha frente, a mão segurando no canto do
meu vestido, puxando-o para perto dele.
— Pois saiba que eu vou lutar, não vou me entregar de bandeja
para um demônio como você, pode fazer, falar o que quiser. — Dei um
passo em sua direção, meu corpo colado ao seu. — Não vou me entregar a
você, Aleksey, me tome contra a minha vontade, faça com que eu te odeie
mais...
Minha frase morreu diante do rosnado que ele deu, Aleksey
ergueu a sua mão, passando-a por baixo dos meus cabelos, espalmando-a
em minha nuca, apertando com força, seus olhos raivosos na minha
direção.
Ele puxou meu rosto para trás, o seu se aproximando do meu,
senti todo o meu corpo ficar em estado de alerta, minha face enrubescendo,
seu nariz tocando o meu, engoli em seco quando sem mover um centímetro
do seu rosto ele bradou:
— Pode tentar fugir, Yesfir, pode querer negar os meus toques,
mas no fundo, nós dois sabemos que você quer isso, deseja ser tocada,
deseja que alguém cuide de você, deseja ser aceita em algum lugar, por toda
a sua vida sempre viveu jogada, e saiba que nada mudará, vai se tornar a
minha prisioneira de agora em diante, esse quarto será o seu único lar, o
meu rosto será o único que verá, vai se tornar como um animal domado, ou
faz o que eu mando, ou não terá seu biscoito — ele terminou de falar
soltando a minha nuca.
Virou-se abruptamente indo para a porta do seu quarto.
— Ei, vai me deixar aqui mesmo? — Corri atrás dele.
— Mudou de ideia? — Arqueou uma sobrancelha.
— Não! — Cruzei meus braços como se continuasse sentindo a
mão dele sobre a minha nuca, meu corpo ainda arrepiado pelo toque dele.
Diante da minha resposta Aleksey fechou a porta, me deixando
ali, soltei um longo suspiro, me sentindo sozinha, outra vez, Aleksey não
me bateu, mas também não tomou nenhuma atitude.
Por um lado, eu agradeci, pois a falta de atitude dele me manteve
intacta, ainda era virgem, mas era uma mulher casada, e não tinha como
viver fugindo disso, em algum momento precisava me entregar a ele.
Virei-me indo em direção a uma das portas, empurrei-a para o
lado encontrando ali um armário. Sofie disse que teria um closet para mim,
seria isso um closet?
De um lado tinha roupas minhas e do outro as roupas dele, as do
meu marido, muitos ternos, roupas todas em tons escuros.
Do meu lado, roupas coloridas, a maior quantidade de vestimentas
era minha, talvez se devesse ao fato de ter mais apetrechos. Sofie pensara
em tudo até mesmo nas roupas de dormir, a maioria no estilo que não estava
acostumada a usar, muitas camisolas curtas.
Soltei um suspiro indo até as calças de moletom, pegando uma,
junto com um casaco fino, estava cansada, o dia foi exaustivo, e talvez
estivesse terminando melhor do que eu esperava.
CAPÍTULO VINTE E SETE

Segui em direção ao meu bar, minha mão ainda em punho


cerrado, como se eu estivesse me controlando para não voltar lá e tomá-la à
força, existia algo dentro de mim que lutava, lutava contra todos os meus
demônios, Yesfir era virgem e eu seria um monstro pior do que eu já era se
a tomasse sem o seu consentimento.
Peguei uma garrafa de uísque enchendo um copo, parando atrás
do balcão. Deixei o copo sobre o mogno do bar, pegando o celular no meu
bolso abrindo o aplicativo das câmeras, em meu quarto, vendo com nitidez
ela tirando o seu vestido branco.
Porra, não era isso que eu esperava ver, as curvas dela, a cintura
fina, os seios apertados por aquele sutiã, meus olhos vidrados na visão da
minha esposa.
Ela passou os dedos sobre as costas tirando o sutiã, revelando seus
seios, caralho, mil vezes porra!
Senti meu pênis começar a endurecer dentro da minha calça, os
bicos dos seios dela estavam firmes, talvez devido ao frio, Yesfir era ainda
mais linda sem roupa, sua bunda fazendo uma curvatura perfeita.
Prendi-me na visão da minha esposa se trocando, não era o tipo de
homem que ficava excitado fácil, eu demorava, eu precisava na maior parte
das vezes fazer as mulheres sentirem dor para me excitar, mas com ela até
isso precisava ser diferente, porque o seu corpo intocável me fazia ficar
duro como rocha.
Franzi a minha sobrancelha ao avistá-la colocando uma calça de
moletom e um casaco, mas que porra?
Se ela pensava que ia usar aquelas coisas horríveis estava muito
enganada, eu a queria com seu corpo belo à mostra todos os dias para mim.
Revirei meus olhos percebendo que o meu nudismo acabou, o que
eu queria ver mesmo não vi, Yesfir não sabia sobre as câmeras, e nem ao
menos precisava saber, pois se soubesse não teria meu programa particular.
Peguei o copo de uísque tomando tudo em um único gole, deixei-
o sobre o balcão, dando a volta nele, indo em direção à escada, passei a mão
sobre a minha calça e meu pau ainda estava duro por causa daquela maldita
noviça.
Segui em direção ao meu quarto, o mesmo quarto do dela,
destrancando a porta, entrando no aposento e pegando a menina
desprevenida ao erguer os olhos me olhando confusa.
— O que quer? Não mudei de ideia — ela foi logo respondendo
na defensiva.
— Minha cama. — Indiquei a cama que ela arrumava para
dormir.
— E eu vou dormir onde? — a garota perguntou em meio à sua
confusão.
— Ali. — Indiquei ao lado da cama.
— Vamos dormir juntos? — Ela voltou a arregalar seus olhos
confusos.
— Acertou. — Dei de ombros trancando a porta do quarto.
— Não vou dormir com você!
— Vai, e não estou pedindo, estou ordenando, vai dormir todos os
dias dessa noite em diante, até o resto das nossas vidas — brandei indo ao
banheiro, fechando a porta para não ouvir a reclamação dela.
Comecei a tirar minhas roupas, disposto a tomar um banho, tudo
para acalmar os meus ânimos, acalentar a minha vontade de ir naquele
maldito quarto, arrancar aquelas roupas dela e foder com aquela bocetinha
que podia apostar que era tão deliciosa quanto o seu corpo.
Só de pensar no corpo nu de Yesfir voltei a ficar duro, e sem as
minhas roupas, fui em direção ao box, abrindo a porta de vidro, adentrei,
ligando a ducha, deixando que a água caísse sobre meus cabelos, descendo
a mão sobre meu pau, estimulando-o, fazendo movimentos suaves,
encostei-me na parede, pensando na maldita da minha esposa.
Seus cabelos cacheados, o lábio carnudo, seus dentes o mordendo,
os olhos sempre inocentes, ou raivosos, a pele negra que me fazia salivar
toda vez que a via, Yesfir era a mulher mais linda que eu vi até hoje, e tudo
que eu conseguia pensar era em seu corpo nu que eu vi por aquela câmera.
Como seria se a sua mão pequena e delicada tocasse o meu corpo,
como seria se fosse ela aqui nesse banho comigo, seus olhos se revirando,
os suspiros escapando por eles.
Passei a aumentar a pressão das minhas estocadas, fechando meus
olhos quando gozei, porra!
Ejaculei sobre o azulejo do banheiro, abrindo meus olhos
finalmente tomando o meu banho.
Fiquei por longos minutos ali, tendo certeza de que estava mais
calmo, desliguei o chuveiro, peguei a minha toalha, secando
superficialmente o meu corpo, enrolando-a na minha cintura, saindo do
banheiro.
Meus olhos curiosos foram logo em direção à cama onde avistei a
minha esposa sentada com as mãos juntas, o olhar baixo sussurrando algo.
Era só o que me faltava, ela estava rezando?
— É bom que peça por um milagre divino — zombei, vendo-a
erguer os olhos, se deparando com o meu peito nu, olhando curiosamente
por todo ele.
— Vai se ferrar...
— É isso que fala quando está falando com o seu Deus? —
Revirei meus olhos entrando no closet.
Tirei a toalha da minha cintura pegando uma cueca, vestindo-a
depois pegando uma calça de pijama preta. Fiquei olhando para as roupas
dela vendo que tinha muitas camisolas ali, talvez eu devesse deixar só
aquilo para ela usar, assim era obrigada a usar apenas camisolas.
Saí do closet, Yesfir me olhou de novo.
— Não tem camisa na sua parte do closet? — ela perguntou
analisando meu peito outra vez, se concentrando em minhas cicatrizes,
sabia que tinha muitas e para quem não me conhecia podia achar horríveis.
— Durmo na maioria das vezes sem roupa, agradeça por estar de
calça — zombei puxando a coberta, me deitando embaixo delas.
Ela se deitou também, desliguei a luz ao meu lado da cama,
ficando tudo escuro.
— Aleksey? — ela me chamou parecendo estar com medo,
dificilmente ela me chamava pelo meu nome.
— Fala?
— Nesse lado da cama tem um abajur, poderia deixar ele ligado?
— Por qual motivo faria isso?
— Bem... eu... hum... tenho medo do escuro. — Ela pigarreou
várias vezes.
— Está ao meu lado, vivendo com o demônio, e está com medo
do escuro? — perguntei em meio ao meu deboche.
— Por favor? — seu timbre de voz tinha súplica.
— Com apenas uma exceção...
— Qual? — ela me cortou ofegante.
— Primeiro aceite...
— Não vou ficar nua na sua frente!
— Aceite, Yesfir...
— Tá, tá, sim, eu aceito, por favor eu tenho medo de escuro —
ela não me deixou completar a frase.
Virei-me acendendo a luz do abajur, me voltando para o lado dela
encontrando-me com o temor explícito em seus olhos inocentes, porra! Ela
não estava brincando quando disse que tinha medo, caralho!
Eu queria tirar essa dor de dentro dela, mas pensar dessa forma,
não me fazia menos monstro.
CAPÍTULO VINTE E OITO

A luz clareou o quarto, meus olhos se acostumando à claridade,


encontrando o homem deitado ao meu lado, seus olhos negros me
analisando.
— Pensei que não tinha medo de nada — ele falou de forma
zombeteira.
— E eu tinha perdido o meu medo de escuro, ou achava, já que no
internato sempre dormia de luz acesa, mas quando fiquei os dois meses na
casa dos Pavlov, tudo voltou quando dormia no escuro sozinha, e por
dormir no chão sempre vinham bichos em mim — sussurrei, lembrando-me
da vez que acordei com um pequeno ratinho caminhando sob as minhas
pernas me fazendo tremer com os pensamentos.
Aleksey não falou nada ficando em silêncio, perdido em seus
pensamentos.
— O que vai querer de mim? — questionei temerosa.
— Vire-se. — Arqueei uma sobrancelha.
— Não vou ficar de costas para você!
— Tudo bem, vou desligar a luz — Ele fez menção de se virar,
rapidamente o segurei no pulso.
— Tá, tá... — mesmo diante do meu medo, me virei.
Ficando de costas para o meu marido, meu corpo ficou tenso
quando senti o dele tocar o meu, sua mão deslizando pela minha cintura, me
puxando para junto dele.
— O que está fazendo? — sussurrei ofegante.
— Nada — seu timbre estava bem próximo ao meu ouvido.
Os dedos dele colocaram o meu cabelo para o lado, nem ao menos
conseguia me mexer diante do meu nervosismo. Fechei meus olhos quando
o lábio de Aleksey roçou em minha nuca, a barba resvalando por meu
pescoço.
— Está sentindo, Yesfir — ele sussurrou com a sua outra mão
tocando a minha barriga quando ergueu o meu casaco.
— Sentindo o quê? — Mesmo com a voz ofegante não vou dar o
braço a torcer.
— Seu corpo, sinta ele, Yesfir. — O hálito de Aleksey roçou o
canto da minha boca, abri meus olhos quando ele mexeu no elástico da
minha calça.
— O que está fazendo? — virei meu rosto, alarmada, encontrando
com os olhos intensos dele.
— Sabe o que é um orgasmo? — perguntou e eu fiz que não. —
Então me deixa te proporcionar um, apenas precisa me deixar tocar ali, não
vou vê-la nua, apenas me deixe deslizar meus dedos...
Como se estivesse sendo hipnotizada pela sua voz, os dedos
resvalando pela minha pele, passando pela linha da calça, indo para dentro
da minha calcinha.
Fechei meus olhos quando com medo senti o seu dedo tocar a
minha fenda, onde ninguém antes tocara, seus dedos não estavam sendo
agressivos, e sim suaves.
Estranhamente estava gostando de ter o dedo dele ali. Aleksey
não parou, um dos seus dedos, roçando o meio da minha boceta, mordi o
meu lábio ao perceber que seu dedo deslizou como se estivesse deslizando
sob um mel.
— Tão molhadinha — sussurrou me virando, fazendo com que eu
ficasse de barriga para cima.
Ele não tirou o dedo de dentro da minha calça, ficando deitado ao
meu lado, virado para mim, seu peito nu muito perto de mim, ali as muitas
cicatrizes.
— O que está fazendo? — perguntei.
— Schii, não pense — sussurrou, quando com a outra mão
colocou o meu cabelo para o lado.
Os dedos em minha boceta, desceram por toda a extensão dela,
engoli em seco, as carícias dele ali eram suaves, seus olhos não se
desviavam dos meus, como se estivesse querendo captar cada momento
meu.
Arregalei meus olhos quando senti a pressão de um dedo dele
entrando em mim.
— Vai ser aqui que eu vou te tomar para mim — Aleksey
sussurrou pressionando o dedo — Porra, se meu dedo entra apertado assim,
imagina quando for o meu pau...
Aquilo me deixou com medo, Aleksey passou a respirar de forma
ofegante, enfiando um segundo dedo sem aviso prévio, de uma forma
brusca que me fez retesar.
— Ai! — o que estava sendo prazeroso se tornou preocupante.
Um sorriso devasso escapou por seus lábios.
— Choramingue, peça para parar — ele falou de maneira abrupta,
tirando e colocando os dois dedos, passando a ir cada vez mais fundo.
— Aleksey, por favor — choraminguei vendo a forma como ele
mudou de repente.
Parecia que quanto mais eu me contorcia, mas ele gostava, meus
gemidos de dor, o motivavam a continuar.
— Não! — brandei. — Não vai ter nada de mim dessa forma! Isso
não é prazeroso.
Meu tom de voz firme o fez parar, seus olhos se fixando em mim,
como se voltasse à realidade. Seus dedos rapidamente saíram de dentro da
minha boceta, como se ele fosse o homem do começo daquilo tudo.
— Porra! — Aleksey fechou os olhos como se estivesse se
repreendendo internamente.
— Não pare... — sussurrei.
— Não sei fazer de outra forma. — Ele parecia estar perdido em
uma realidade paralela.
Ergui minha mão, tocando a face do meu marido, meus dedos
roçando a sua bochecha, alisando sua barba negra, aos poucos Aleksey
passou a deslizar seus dedos pela minha boceta novamente, voltou a me
penetrar apenas com um dedo, de forma suave, seus lábios vindo em
direção aos meus.
Suavemente o lábio dele tocou o meu e guiando os movimentos
dele, abri minha boca, sentindo a língua dele resvalar sob a minha, o beijo
foi lento, Aleksey não tirava o dedo, enquanto o polegar acariciando minhas
dobras.
Um gemido escapou da minha boca, sendo engolido pelos lábios
dele.
— Sinta, pequeno anjo querubim — ele sussurrou em meio ao
beijo. — Sinta isso que está dentro de você e se entregue a ele.
Meu marido chupou meu lábio inferior, aprofundando mais o
beijo, que iniciara suavemente, mas se tornou um beijo urgente. Ergui
minha mão tocando os cabelos úmidos dele, sentindo sua maciez, Aleksey
passou a me penetrar um pouco mais rápido, mas não um ato ruim, e sim
bom, apertei seus cabelos, algo crescendo dentro de mim.
Vários gemidos sendo engolidos por seus beijos, sem parar, me
entreguei àquela sensação, como se estivesse pulando de um avião, caindo
em queda livre, uma coisa boa, maravilhosa, meu corpo leve.
Aleksey não cessou o beijo, até perceber que eu estava totalmente
recomposta daquilo, ele se afastou, tirando o dedo de dentro da minha calça,
olhando os dedos dele, ali brilhando o prazer que ele pegara de mim.
Arregalei meus olhos quando os levou aos seus lábios, sugando-os
fechando os olhos brevemente como se estivesse saboreando o meu gosto.
— Gostosa como eu já previa. — Estava olhando a cena ainda
abismada como se aquilo fosse coisa de outro mundo.
— Isso é um orgasmo? — perguntei.
— Sim, e eu posso proporcioná-lo de várias formas, não vai
pensar que será sempre assim, pois a maneira que me faz sentir prazer é
bem diferente dessa...
— Por quê? Por que não pode ser diferente? — eu o cortei
confusa.
— Porque esse sou eu. — Deitou-se ao meu lado, me virando, me
puxando, fazendo minhas costas encostarem o seu peito, sentindo algo
tateando minhas costas.
— Oh... — arfei, aquilo era o membro dele?
— Isso mesmo, nesse momento estou duro como uma maldita
rocha, e eu queria muito foder a sua boceta.
Tudo que eu conseguia pensar, era que seus dois dedos quase me
machucaram, imagina aquilo?
— Não precisa ficar tensa, pequeno querubim, seu corpo vai se
adaptar a ele — sussurrou próximo ao meu ouvido —, mas não agora,
durma antes que eu mude de ideia...
Não falei nada, me encolhendo sob o peito duro dele, como se
estivesse sendo protegida de tudo quando estou ao lado desse homem
louco.
CAPÍTULO VINTE E NOVE

Ainda estou olhando para o teto, enquanto a garota dormia ao meu


lado, não consegui dormir, não fui capaz de me desligar, ela se mexeu
várias vezes enquanto dormia.
Parecia que Yesfir tinha pulga embaixo da bunda, não parava,
mesmo dormindo, se virava enlouquecidamente.
Levei um sobressalto quando a menina passou a mão por meu
peito, sua pequena mão sob a minha pele, abaixei meus olhos vendo-a
contrair a mão, pressionando com força o meu peito.
— Não... — ela sussurrou em meio ao seu sonho, aquela não era a
primeira vez que ela falara, eram sempre palavras, nada mais que isso —
não me deixe, papai...
A garota parecia estar tendo um pesadelo, olhei para os seus olhos
que estavam apertados com força.
— Cadê a mamãe? Eu quero a minha mãe... — ela começou a
falar, parecendo uma garotinha, como se fosse uma criança implorando pela
mãe. — Não quero ficar sozinha, não me deixe...
A mão que apertava o meu peito passou a apertar com mais força,
podendo sentir suas unhas se fincarem em minha pele, não sabia o que
fazer, não sabia se a acordava, se a fazia perceber que isso era apenas um
pesadelo.
Estava prestes a acordá-la quando fui barrado pelo meu nome que
saiu pelos seus lábios trêmulos:
— Aleksey... não... me — fiquei olhando, como se algo se
apertasse dentro de mim, uma necessidade desenfreada de proteger aquela
pequena coisinha de fazê-la entender o quão necessária era a presença dela
na minha vida — deixe...
Fiz uma careta diante da unha dela que apertava o meu abdômen,
ela podia ser pequena, mas tinha muita força sob as suas mãos.
— Não... não... sozinha não...
Quando percebi que ela não iria acordar, passei a mão para o lado,
abraçando-a por cima do seu braço, trazendo seu corpo miúdo para perto de
mim, apenas nesse momento me dando conta de que ela estava encharcada
de suor.
— Meu anjo querubim — sussurrei chamando-a.
Seu aperto se tornou mais suave, fui percebendo que ela estava
acordando.
— Marido?
Porra, não sabia que desejava isso até tê-la me chamando dessa
forma. Apertei-a ainda mais sob o meu peito.
— Sim, estou aqui — sussurrei abaixando o meu rosto
encontrando seus olhos perdidos sobre os meus.
— Eu tive um pesadelo — ela sussurrou.
— Sim, foi apenas um pesadelo. — Passei a minha mão em suas
costas, sentindo a camisa molhada, ela se deu conta de que estava sob o
meu peito.
Yesfir se sentou na cama, fiquei olhando a minha esposa, ela
segurou na barra da sua camisa, sentindo-a molhada, nitidamente parecia
estar dormindo ainda, aparentava estar no seu sonho, como se estivesse
embriagada por ele.
Foi impossível não me espantar quando ela ergueu a sua camisa,
passando-a pela sua cabeça mostrando seus seios bem ali, pontudos,
redondinhos, o que essa garota estava fazendo?
— Yesfir? — chamei por ela, mas nada a fez parar, segurando no
elástico da calça, tirando a peça, jogando-a ao chão ficando apenas de
calcinha diante de mim.
Se aquela era a minha esposa inocente, provavelmente ela estava
possuída.
— Eu... eu... tive um pesadelo — ela voltou a sussurrar.
— Sim, quer falar sobre?
Com todo o meu autocontrole me inclinei segurando na sua
cintura, trazendo o seu corpo para perto do meu, só não esperava que ela
fosse montar em mim, sentando-se sobre o meu abdômen, fechei minha
mão, soltei um suspiro, vendo aquele seio empinado,
— Vo-você... me deixando jogada na rua, assim como todos
fizeram comigo me abandonando, por que eu não sirvo nem para ser uma
boa esposa... se isso vai doer acaba com isso de uma vez, preciso ser boa
em algo. — Seus olhos se encheram de lágrimas.
Naquele momento eu notei que ela não estava sonhando, e sim
querendo provar para si mesma que poderia ser uma boa esposa.
— Pequena. — Ergui minha mão, limpando uma lágrima que
descera por suas bochechas.
Ela desviou os olhos se movendo sobre mim, indo para baixo,
desajeitadamente querendo pegar no meu pau, desesperada para fazer
aquilo.
Óbvio que eu estava duro, a forma como ela me segurou por
baixo me fez arquear de dor, pois as suas unhas fincaram sob as minhas
bolas.
— Caralho — reclamei pegando o seu pulso, trazendo-o para
mim, ela me olhou sem entender.
— Não era isso? Não é o que quer? Vamos acabar com isso,
Aleksey, não fui boa no internato, não fui boa como filha, eu preciso ser boa
em algo. — Puxei seu pulso fazendo-a se deitar sob o meu peito.
— Você é boa, é perfeita, esqueceu que o monstro aqui sou eu? —
Seus olhos estavam sob os meus, ela não desistiu.
— O que eu tenho que fazer, me diga? Por que não faz isso logo?
O que tem de errado comigo, vai Aleksey, vamos — Yesfir passou a pedir
desesperadamente.
Virei-me deitando-a ao meu lado, meu corpo cobrindo o dela,
apertei meu pau duro sob a calcinha dela.
— Não vamos fazer sexo, não com você fora de si, chorando
como se fosse uma criancinha — quando falei aquilo ela começou a chorar
copiosamente.
— Eu não sou boa, eu não sou boa em nada, todo mundo me
abandona, e você vai fazer o mesmo quando perceber que não sou boa
como esposa também...
Caralho, não acreditava que estava tendo que lidar com isso,
fiquei observando o desespero dela, deitando-me ao seu lado, puxando a sua
cabeça para deitar-se sob o meu peito.
— Pare de chorar por favor, não suporto ver mulheres chorando,
não por esse motivo, não quando não são lágrimas de prazer, vamos fazer
um combinado? — ela se calou dando uma fungada erguendo os olhos para
mim, querendo ouvir o que eu tinha a falar. — Amanhã? Amanhã quando
não estiver chorando vamos fazer sexo? Eu te quero, pequeno querubim,
mas não assim, não chorando, não depois de ter um pesadelo e julgar que eu
vou te deixar, não quando estou disposto a ir até mesmo para o inferno atrás
de você.
— Promete? Promete que fará amanhã? — Que porra de mulher
confusa, do nada ela resolveu que precisava ser uma esposa?
O que se passava na cabeça dela? Será que todas as mulheres
eram confusas assim, ou isso era uma exceção da minha?
— Sim, minha esposa, eu prometo, agora nos resta saber se você
vai se lembrar amanhã dessa promessa...
— Sim, eu vou — Yesfir assentiu abraçando o meu peito.
Fiquei em silêncio, vendo os olhos dela se concentrarem em um
ponto fixo, fechando os olhos lentamente, a respiração se tornando suave e
assim eu percebi que ela adormecera rapidamente.
Podia ter tirado a virgindade dela ali, podia tê-la para mim por
completo naquele momento, mas senti como se estivesse tirando algo dela
que não era para ser meu naquele momento, Yesfir era boa, tinha o coração
doce mesmo depois de tudo o que aconteceu com ela.
E era minha, mesmo que ela achasse que iria deixá-la, isso nunca
ia acontecer.
CAPÍTULO TRINTA

Apertei minhas pálpebras, abrindo meus olhos lentamente,


passando a mão ao lado da cama encontrando-a vazia.
Flashes da noite passada vindo na minha mente, a forma como
acordei, como tirei minhas roupas, implorando para que Aleksey me tocasse
e mesmo assim ele não o fez.
Sentei-me imediatamente na cama, puxando o lençol, sentindo
vergonha do meu ato, como eu fui fazer aquilo? Como fui me humilhar
daquela forma?
E ele nem ao menos foi adiante, talvez no fundo ele não me
quisesse, fiquei ali sentada, olhando para o nada, sentindo que ainda estava
sem roupa e naquele quarto sozinha, virei o rosto e a porta estava aberta, ele
a deixou aberta, ao lado da cama, tinha um relógio, o que me fez arregalar
os olhos ao notar que já era meio-dia, como consegui dormir tanto?
Coloquei a coberta para o lado, sabendo que estava sozinha,
procurei pela minha calça e casaco e não os encontrei, segui para o closet
para pegar outra roupa.
Entrei estranhando ao ver que não tinha mais roupas minhas ali,
com exceção de baby-dolls, cadê minhas roupas, o que Aleksey fez com
elas?
Virei meu corpo vendo que as roupas dele estavam todas ali, bom,
se as minhas não estavam, ia pegar uma dele.
Não ia passar o dia usando aquela roupa vulgar!
Toquei as camisas dele ouvindo uma voz, que me fez dar um
pulo:
— Se pegar uma roupa minha, essa noite não vai se sentar de
tanto que darei na sua bunda! — Olhei para cima procurando por aquela
voz
Onde ele estava? Como ele falava comigo?
Rapidamente me dei conta de que estava nua, tapando meus seios,
girando o meu corpo sem encontrar nada.
— Tarde demais, pequeno querubim, eu já te vi nua de tantas
formas que nem poderia imaginar a quantidade — voltou a falar.
— Onde você está? — sussurrei apavorada.
— Eu disse que não ficaria longe de mim, e não vai ficar, cada
passo seu será monitorado por mim — Aleksey falou, e eu fiquei ali
olhando para o nada.
Sem saber o que fazer, sem saber como pegar uma roupa sem
ficar nua, o que era uma grande besteira sendo que esse louco já me viu
nua, por Deus!
Segui em direção aos baby-dolls, segurei meus seios com uma das
mãos, pegando a primeira camisola que me vinha à mão, nem ao menos
sutiã tinha ali, com muita dificuldade passei o tecido em minha cabeça sem
revelar mais do meu corpo.
Por fim, vesti a camisola que ficou no meio da minha coxa,
parando em frente ao espelho, me perguntando se ele colocou câmeras ali,
pois outra explicação não podia ter.
Saí do closet, olhando para cima, procurando por elas, mas não as
encontrei, se ele fez isso, fez um trabalho bem-feito, entrei no banheiro, até
mesmo no banheiro estava com medo de entrar.
— Está me vendo aqui? — perguntei olhando para o teto do
banheiro.
— Sim — ele respondeu de qualquer lugar que estivesse.
— No banheiro? E a minha privacidade? — cruzei meus braços.
— Pra que privacidade? É minha, Yesfir, todos os seus momentos
são meus, até mesmo a sua privacidade.
— Não vou fazer xixi com você me olhando — resmunguei.
— Boa sorte, então — ele parecia estar se divertindo.
Minha bexiga apertou, talvez se eu tivesse ido ao banheiro antes
de entrar no closet eu tivesse ido normalmente, mas agora, com ele me
olhando era diferente.
Aproximei-me da privada, abaixei minha calcinha sem erguer a
camisola, tampei minha intimidade com a mão, sentando-me envergonhada,
nunca fiz um xixi tão rápido em toda a minha vida, levantando a minha
calcinha rezando para que eu não tivesse mostrado a minha intimidade para
ele.
Lavei minhas mãos, saindo do banheiro, vendo a porta aberta,
passando por ela, segui calmamente pelo corredor, descendo um lance de
degrau por vez, querendo olhar em volta se tinha alguma câmera, será que
ali também havia?
— Em todos os cômodos consegue me monitorar? — perguntei
entrando na cozinha.
— Sim, todos os seus passos são meus. — Lógico que até mesmo
ali ele estava me monitorando.
— Isso é loucura demais, até mesmo para você, Aleksey
Ivanovich! — Bati meu pé indo em direção à geladeira.
— Engraçado, pois essa madrugada eu era o marido — até
mesmo ali ele estava zombando de mim.
Bufei, abrindo a geladeira, vendo-a repleta de alimentos, avistei
alguns para fazer um almoço para mim, eu sabia cozinhar, pois no internato
uma das atividades que tínhamos era culinária.

Passei o dia sozinha, conhecendo toda a casa, ela era maior do que
eu esperava, três quartos de visita, ficava me perguntando se ali também
tinha câmeras, havia uma academia em uma sala ao lado de uma piscina,
enorme, e toda coberta por vidro, encontrei uma biblioteca, não tinha
muitos livros, parecia até bem abandonada, estava entediada.
Aleksey não falou mais comigo, nem ao menos respondeu quando
fiz algumas perguntas para ele, mas isso não me fazia desacreditar que não
estava me olhando.
Entrei na área da piscina indo em direção à borda, onde me sentei
colocando meus pés sobre a água, sentindo a temperatura morna, uma
delícia para tomar banho.
— Sabe nadar, Yesfir? — Ouvi a voz dele, não respondi, pois ele
também não respondeu nenhuma das minhas perguntas — eu sei que me
ouviu, olhou para o lado buscando a minha voz.
Continuei ignorando a voz dele balançando meus pés na água.
— Yesfir Ivanovich, estou falando com você! — Revirei meus
olhos diante do sobrenome, não era mais uma Alkaev, agora era Ivanovich,
a esposa de Aleksey Ivanovich.
— Não sei nadar, mas nada me impede de ficar aqui — declarei
finalmente.
— Quero que saia de perto dessa piscina agora! — ordenou na
forma Aleksey de falar.
— Estou bem, não vou cair na piscina...
— Yesfir, não brinque com a porra do perigo, estou longe de casa
para ir te salvar, essa piscina dá duas vezes o seu tamanho, saia daí,
maldição! — ele rosnou me fazendo levantar.
— Tá... — resmunguei.
Levantei-me indo para longe dela, caminhando em direção à
porta.
— Está melhor agora?
Perguntei, mas obviamente ele não me respondeu, agora eu já
sabia o que fazer para chamar a atenção desse louco, era só me colocar em
alguma situação de perigo.
CAPÍTULO TRINTA E UM

Tampei todo o box de vidro com toalhas, afinal a câmera devia


estar em algum lugar de fora escondida, pois era impossível que estivesse
ali dentro, não tinha como, as paredes eram lisas, como ele colocaria algo
ali?
Tirei minha roupa, abrindo apenas um pouco o box, jogando-as
para fora. Deixei ali também o roupão.
Se Aleksey achava que era inteligente, eu era mais, aproveitei
para fazer hidratação em meus cabelos, alisando meu corpo com o sabonete
que tinha ali.
Fiquei por longos minutos apreciando a água do banheiro, até que
finalmente deliguei a ducha.
— Já te falaram que pode ser a perdição de qualquer homem? —
sua voz ecoou ali abrindo abruptamente a porta do banheiro, levei um susto
levando as mãos sob a minha intimidade.
Aleksey pegou o seu celular, virando a tela para mim, mostrando
que a câmera me filmou nitidamente, tomando banho, que grande burra eu
era, claro que não era mais esperta que ele, parecia que estava sempre a um
passo na minha frente.
Ele guardou o seu celular no bolso, me pegando desprevenida
quando segurou na minha cintura tirando-me ali de dentro.
Estava com o corpo úmido, mas aquilo não o impediu, de descer
as mãos pelas minhas costas apertando minha bunda com força.
— Ei, seu louco, me larga! — quis segurar no seu peito para o
afastar, mas se fizesse isso ia tirar uma das mãos do meu seio, e a outra da
minha intimidade.
— Espero que não tenha se esquecido da promessa, pois eu tive
um longo dia, entre prestar atenção nos meus afazeres com a máfia e ficar
monitorando a minha esposa...
— Eu não esqueci, mas você não quis ontem, então hoje não tem
mais. — Virei meu rosto.
— De alguma forma sempre precisa ir contra mim, não é
mesmo?
— Ah! — Arfei quando me ergueu pela bunda, fazendo minhas
pernas se entrelaçarem em sua cintura.
Aleksey saiu do banheiro me carregando para fora, arregalei meus
olhos quando me deitou sobre a cama.
— Estou molhada, meu cabelo está molhado...
— Que se foda, eu vou te foder, agora — rosnou, ainda estava
tampando a minha intimidade.
Estava com medo, mas sabia que se em algum momento tinha que
me entregar para ele, que fosse assim, pois se eu lutasse, ia ser pior, ele ia
abusar de mim, mas quando o vi tirando a camisa, jogando-a no chão,
tirando o seu sapato, abrindo o cinto em seguida da calça, descendo o
tecido, revelando a sua cueca preta, com o membro bem-marcado, grande,
firme e duro.
Aquilo me assustou, fazendo com que empurrasse meus pés para
trás saindo da cama.
— Não! Eu não vou fazer isso, vai me machucar. — Balancei
veementemente a minha cabeça.
A cama nos dividindo, Aleksey foi até a porta do quarto,
trancando-a, olhando para mim com um sorriso perverso em seu lábio.
— Não tem como a sua primeira vez não doer...
Ele começou a dar a volta na cama, indo na minha direção, um
homem grande, encorpado, e com aquele membro assustador, engoli em
seco, pulando em cima da cama prestes a ir para o outro lado, até que senti
algo me puxar pelo tornozelo me fazendo cair na cama, com a bunda
empinada para cima, um estalo ecoou quando sua mão grande desferiu um
tapa nela.
— Ah!
— Não tem para onde fugir, é minha! — rosnou me virando pelos
tornozelos — se destampe agora!
— Não!
— Foi você quem pediu. — Sem soltar o meu pulso ele abriu a
gaveta ao lado da cama, tirando de dentro uma gravata.
Aleksey veio por cima do meu corpo, tirando a mão da minha
boceta, em seguida dos meus seios, levando-a em direção à minha cabeça,
ele tinha uma perna em cada lado do meu corpo, abaixei meus olhos vendo
o membro dele, bem perto dos meus olhos, nitidamente ele era grande.
— O que está fazendo? — Quis puxar o meu braço em vão, pois
ele apertou quando o amarrou com aquela gravata.
Aleksey foi para baixo, seus olhos descendo por cada parte do
meu corpo, demorando tempo demais nos meus seios, nem ao menos
respondeu a minha pergunta, erguendo a sua mão os apertando, beliscando
a ponta do meu mamilo com força.
— Ai! — soltei um gritinho e ele sorriu com o meu grito,
apertando o outro mamilo com mais força — Aleksey, para...
Choraminguei, mas ele não parou, mexi meu corpo e ele não
parou, até que abaixou o rosto, me fazendo arregalar os olhos tomando o
bico dos meus seios em sua boca, podia sentir a sua língua circulando toda a
extensão do meu seio.
— Ah! — Outro grito escapou pela minha boca, no momento em
que Aleksey passou a morder os meus mamilos, com força, me fazendo
soltar gritinhos, ele intercalava mordida com lambida, fazendo aquele ponto
no meio das minhas pernas ficarem úmidos.
Seus dedos baixaram quando os senti tocando a minha boceta, a
língua ainda sob os meus seios, as meninas não falaram nada sobre isso,
nada sobre os homens nos tomarem no seio e eu pensei que era apenas
penetrar, mas Aleksey parecia estar fazendo mais que isso.
Seu dedo me penetrou, fazendo com que eu mexesse o meu
quadril.
Ele ergueu a sua cabeça, os olhos se fixaram em mim.
— Sente o meu dedo? Sente como ele desliza dentro da sua
bocetinha? Você quer isso, se não quisesse estaria seca, e está molhada,
muito molhadinha... caralho — Aleksey praguejou quando fixou os olhos
na minha boceta — tão pequena, delicada, pronta para ser arrombada por
mim.
Sua voz tinha um timbre rouco, ele ficou olhando o seu dedo
saindo e entrando da minha boceta até que aproximou o rosto dali, que me
fez arfar querendo me esquivar, mas Aleksey me segurou ali.
Seu nariz roçando a minha fenda, a língua deslizando pelas
minhas dobras.
— O que está fazendo? — Soltei o ar com dificuldade pois aquilo
era incrivelmente bom.
— Chupando a sua boceta, esposa — ele falou soprando a minha
pele sensível.
Como podia estar daquela forma? Era como se estivesse mole,
entregue a ele.
Aleksey se afastou, meus olhos se fecharam quando vi que ele iria
tirar a cueca, ouvi o roçar do tecido sendo jogado ao chão.
— Abra os olhos, Yesfir — timidamente abri meus olhos, me
deparando com o membro dele, tocando a ponta da sua barriga, tão duro,
veias saltavam dele, a ponta estava brilhando por um líquido que parecia
estar saindo. — Está vendo? Esse sou eu com a porra do meu pau duro,
completamente duro por você... abra suas pernas...
Eu as abri timidamente, ele veio para o meio delas, seu corpo
cobrindo o meu, senti o momento em que o pênis fez a pressão sob a minha
boceta, indo mais forte, até que senti a ponta adentrando as minhas paredes
e mordi a ponta do meu lábio.
— Ah! — um gemido escapou pela minha boca quando ele me
tomou por completo.
— Vai doer, meu anjo, não tem como amenizar isso, mas se não se
concentrar nisso...
Assenti com a cabeça, o lábio dele grudou no meu, um beijo
lento, seus lábios me fazendo dissipar da dor que sentia lá embaixo,
sentindo-o fazer movimento de vai e vem entrando e saindo, a dor inicial
daquela invasão, passando, começando a se tornar prazeroso, queria poder
tocá-lo, mas isso era impossível quando estava amarrada daquela forma.
Aleksey espalmou a mão sob a minha nuca, senti-me ser tomada
por completo, ele deu umas estocadas duras, que me fizeram arfar, em meio
àquele vai e vem, sua língua deslizando sob a minha, os lábios chupando os
meus.
Tudo que eu pensava sobre o sexo indo pelo ralo, pois aquilo era
bom, o prazer, o revirar dos olhos, suas mãos sobre o meu corpo causando
pequenos calafrios.
— Marido... — choraminguei me contorcendo embaixo dele, me
entregando àquela mesma sensação da noite anterior, como se eu pulasse de
um avião, fechando minhas mãos presas naquela gravata, apertando meus
dedos dos pés.
— Ah, isso... isso... — com uma última estocada senti algo ser
jorrado dentro de mim, não precisava ser nenhum expert, para saber que era
isso que engravidava uma mulher.
Aleksey caiu sobre mim, seu corpo grande cobrindo o meu, o que
me fez ficar sem ar.
— Está me sufocando — reclamei e ele rapidamente saiu de cima
de mim, caindo ao meu lado.
CAPÍTULO TRINTA E DOIS

Deitei-me ao lado de Yesfir, podia ouvir a respiração dela


ofegante se tornando suave, porra, por incrível que parecesse eu gostei de
fazer sexo com ela daquela forma, mas ainda era como se faltasse algo,
como se estivessem faltando os gritos de prazer e a tortura.
— Isso é tudo? — Virei meu rosto, vendo seus olhos presos aos
meus. — Solte os meus braços.
— Espera... — levantei, indo ao banheiro, peguei uma toalha
sobre a bancada embaixo da pia, molhando a ponta, tirei o excesso da água,
voltando para o quarto.
Yesfir se sentou na cama, seus olhos se encontraram com os meus.
— O que vai fazer? — ficou assustada.
— Calma, vou apenas limpar você — declarei, passando a mão
em seus joelhos, abrindo suas pernas para mim, concentrei minha atenção
na sua bocetinha.
Tão pequena, pensei que fosse ser sufocado quando a penetrei,
não de uma forma ruim, pois, foi gostoso pra cacete.
Deslizei a toalha pelas dobras dela, a fenda pequena, o rastro da
minha porra escorrendo de dentro dela, um fio de sangue revelando o seu
hímen rompido.
Passei a toalha por toda a sua boceta, limpando-a.
— Por que tirou todas as minhas roupas? — ela perguntou me
fazendo olhar em sua direção.
— Para evitar que use aquelas coisas horríveis que estava usando
ontem...
— Era uma calça e um casaco — declarou abismada.
Deixei a toalha no chão do quarto, pegando os dois pulsos dela,
soltando-a.
— Se mais uma vez se tampar para mim, vai andar algemada,
entendeu? — declarei antes que ela se tampasse.
— Responde a minha pergunta! — ela quis dar uma ordem.
— Não quero você tampada e a quero com roupas que mostrem
seu corpo...
— Não vou fazer isso!
— Vai fazer o que eu ordenar — levantei-me da cama pegando a
minha cueca no chão.
Eu a vesti, assim como peguei minha calça vestindo-a, saindo do
quarto enquanto a fechava, desci as escadas, indo para o meu bar, pegando
uma boa dose de uísque do meu mais forte.
Sentei-me na banqueta, passando a mão em meus cabelos,
pensando na imagem da minha esposa se banhando, a água deslizando pelo
seu corpo, porra, eu senti inveja até mesmo daquela água que a tocava,
estava na sede quando ela tentou tampar o box de vidro achando que não
tinha câmera dentro, mas tinha, o único lugar em que não havia era na
privada, ela podia fazer suas necessidades em paz, mas também não
precisava saber disso, senão era capaz de ficar sentada ali só para eu não a
ver.
Saí às presas da sede sem ninguém entender o motivo quando
havia passado o dia inteiro olhando-a pelas câmeras, ficando duro na
maioria das vezes, e já não aguentava mais, precisava vir, precisava sentir
como era foder uma virgem.
O tipo de mulher que nunca seria destinada a um homem como
eu, inocente, linda, delicada e de uma família de sangue de ouro, agora uma
ralé, se assim podia se dizer, ou não, pois os Ivanovich eram a nova família
de ouro, nós que estaríamos sempre ao lado do Pakhan.
Levei o copo com o líquido cor de âmbar na minha boca, vendo
pelo canto dos meus olhos a minha esposa descer a escada, estava usando
uma camisola, o decote generoso, mostrando perfeitamente a curvatura dos
seus seios, ela tinha os cabelos soltos, parecia que passara algum creme
neles e vinha caminhando descalça na minha direção.
— Será que ao menos poderia me dar calcinhas? — pediu
cruzando os braços.
Desci meus olhos ao meio da sua camisola, imaginando aquela
bocetinha lisinha, sem pelos, com aquela pequena fenda, sem nada,
caralho!
Estava virando um maldito lunático quando se tratava dela.
— Não é necessário. — Dei de ombros deixando o copo sobre o
balcão.
Dei a volta no bar, parando na sua frente, a garota ergueu os olhos
na minha direção, abaixei minha mão, puxando a sua camisola, precisando
sentir em meus dedos como era a bocetinha dela sem nada.
— Ei, o que está fazendo? — Minha esposa quis dar um passo
para trás, o que me fez ficar irado.
— Fique parada, porra! — rosnei.
— Não, eu não vou ficar parada toda vez que mandar, meu corpo
não é monumento para ficar tocando quando achar que pode — ela me
enfrentou, rosnei diante das suas palavras.
— Sou o seu dono, e sempre quando eu dou uma ordem, vai
obedecer como uma boa cadelinha que é... — Tudo aconteceu muito rápido
e quando vi já estava recebendo uma bofetada em meu rosto.
A mulher arregalou os olhos, rosnei com o ar escapando
ruidosamente por meu nariz. Fechei minhas mãos em punhos cerrados,
sabendo que naquele momento nada me faria parar.
— Marido... me... me... desculpe — nem se ela me chamasse de
“meu amor” naquele momento ia funcionar, foi como se aquela pequena
coisinha desativasse em mim o descontrole, a vontade de agarrar os seus
cabelos, de torturar vindo à tona.
— Vou te dar dez segundos, corre e se esconde, porque eu vou te
caçar, Yesfir e quando eu te encontrar, nunca mais vai ousar fazer isso, vai
pedir clemência e eu só vou parar quando estiver saciado de tanto te foder
— ela não falou nada. — Um... dois...
Comecei a contar e quando ela se deu conta de que eu não estava
brincando, passou a correr.
Estava tentando me controlar, mas sabia que naquele momento
nada ia me acalmar, ninguém tocava em mim como ela fez, ninguém me
batia e saía com vida, eu era Aleksey Ivanovich, muitos me subjugaram e
foram mortos, não ia ser a porra de uma boceta virgem que ia me parar,
muito menos aqueles olhos inocentes.
Rosnei indo atrás daquela garota petulante.
CAPÍTULO TRINTA E TRÊS

Estava ofegante quando entrei em um dos quartos, parecendo uma


sala de visitas no segundo andar, dois sofás na lateral, no centro dele um
lustre que parecia pesado demais, podendo até mesmo encostar nele se
erguesse minha mão, mas o que mais me surpreendeu foi que ele tinha uma
corrente conectada a ele sobre o encaixe no teto, ligado a uma alavanca na
parede.
— Parece que não é tão esperta quanto parece — a voz
assustadora dele me fez dar um pulo.
Virei meu corpo apavorada, olhando nos olhos perversos do meu
marido, ele ainda estava com aquele semblante matador, como se quisesse
arrancar de dentro de mim toda a minha essência.
Meus passos foram indo para trás, quando minhas costas se
chocaram na parede, sentindo-me uma presa prestes a ser abatida.
— Como pode cair bem na cova do lobo? — murmurou passando
a mão em seu bolso tirando de dentro uma corda.
— O que é isso? — sussurrei apavorada.
— Mais conhecido como corda, ou no seu caso o objeto a ser
amarado nos seus pulsos — nem ao menos tive tempo de me esquivar, falar
que não, pois Aleksey já estava na minha frente, com brusquidão segurando
meus dois pulsos.
— Não... — passei a me debater, mas tudo em vão, quando ele
com facilidade amarrou meus dois pulsos, como se tivesse prática naquilo.
Segurando no meio da corrente me trouxe agressivamente para o
meio da sala, parando embaixo daquele lustre, me fazendo arregalar ainda
mais meus olhos quando ergueu seu braço, puxando a corrente presa sobre
ele.
Sem falar nada, apenas agindo como um sádico louco, passou
aquela corrente que de alguma forma, prensou bem sobre a corda, eu virei
meu corpo no momento em que Aleksey se afastou, vendo-o ir em direção à
alavanca que eu vira antes, passando a girá-la, ergui meu rosto quando
começou a subir, meus braços se levantando, suando frio.
Meus braços se ergueram, meus pés ainda alcançando o chão
apenas na ponta dos dedos.
Aleksey soltou a manivela, seguindo pela sala, parando em frente
a uma cristaleira de vidro, abrindo-a pegando em seus dedos o que parecia
um voal de seda, deslizando-o por eles.
— Que sala é essa? — murmurei apavorada.
— Apenas uma sala, mas ao que parece o antigo dono tinha um
modo muito entranho de ter lustres, esse eu não mudei, os outros da casa
foram todos reformados, mas esse em especial ficou para algo que eu vou
fazer agora com a minha noviça...
— Não sou sua — brandei passando a me debater naquele chão,
mexendo meus braços, mas nada me impedia de ser solta dali.
Aleksey me deu um dos seus sorrisos perversos, pequeno, sem
nenhum sentimento bom exalando dele, a ponta dos seus dedos tocando a
minha cintura, tão sutilmente que quase não o senti, abaixei meu rosto
vendo-o se ajoelhar, aquela corda de tecido leve no meu tornozelo, mesmo
que eu tentasse me mexer, ele já o tinha bem firme nas suas mãos,
amarrando-os com força, os dois juntos.
Erguendo a ponta do tecido, o qual ainda tinha um pedaço
enorme, se levantou, puxando meu tornozelo, fazendo minha perna ficar
dobrada para trás, passando o tecido sobre o meu pescoço, dando a volta,
descendo e amarrando-o em meu tornozelo.
Não a ponto de me enforcar, apenas como se quisesse tirar as
minhas pernas do chão, mantendo-as dobradas.
Meu marido se colocou na minha frente, seus olhos percorrendo o
meu corpo, com desejo, com luxúria, como se naquele momento eu fosse o
prato mais apetitoso.
— Agora está da forma que eu sempre almejei — declarou com
convicção, segurando-o sobre o tecido da minha camisola, erguendo-o e
fazendo com que parasse sobre a minha boca, de alguma forma ele o
amarrou nela.
Deixando com que eu respirasse apenas pelo nariz, o medo por
estar tão vulnerável àquele louco passando a me deixar ainda mais nervosa.
— Calada, você é uma santa — falou de forma zombeteira.
Quis gritar quando seus dedos dedilharam a minha boceta, seu
rosto próximo ao meu, sem parar de me estimular, como se toda aquela
junção de medo mexesse comigo.
— Sabe, querubim, no final disso tudo é apenas prazer, quero te
foder, bem simples, e você pode gostar como eu sei que vai. — Seu hálito
se chocando na minha boca quando falava bem próximo à minha face.
Quis gritar, quis xingá-lo, espernear, mas nada adiantou, e quando
me dei conta, seus dedos passaram a deslizar vagarosamente sobre o mel
traiçoeiro que meu corpo entregava a ele.
Era estranho, porque Aleksey representava tudo de horrível, mas
como se fosse a minha maçã proibida, seus toques me faziam amolecer por
ele, querendo aquele prazer carnal, exigindo que seus toques firmes me
fizessem delirar.
A outra mão passou a apertar meus mamilos com força, o rosto se
abaixando, tocando o meu pescoço deixando beijos demorados por onde
passava, até que senti a mão dele soltar o meu mamilo, a outra soltando a
minha boceta, e segurando sua calça, ele a abriu, apenas liberando seu
membro, que estava duro como uma rocha, tão absurdamente duro, e eu que
tinha recém-perdido a minha virgindade sabia que seria tomada por ele uma
nova vez.
Aleksey segurou em minha cintura, seus dedos se erguendo,
espalmando-se em meu cabelo, um gemido escapando por minha boca
quando puxou meu cabelo com força para trás.
— Agora sabe quem é o seu dono? Quem faz isso com você, que
não seja o seu dono? — grunhiu enfiando seu membro abruptamente dentro
da minha boceta, fazendo um arfar de dor passar por todo o meu corpo.
Gemi alto, pois o modo como ele me havia possuído inicialmente
foi muito repentino, mas Aleksey não parou, apenas diminuiu a estocada,
indo fundo, tocando minhas paredes com as dele, me reivindicando para ser
sua.
Senti um dos seus dedos dedilhando as minhas dobras, aquela
agonia querendo fazer com que eu me mexesse, contudo, sendo
impossibilitada, queria gritar, gemer, mas não podia, o que me deixava mais
frustrada.
— Tão calma quando está com a boca calada, tão submissa —
zombou me fodendo, sabendo que estava molhada, que gostava dos dedos
dele que deslizavam pela minha boceta.
Cada toque dele me levando a picos de prazer nunca conhecidos
antes, talvez fosse isso quando falavam sobre o prazer carnal nos levar à
loucura.
Sua boca em meu pescoço deixava mordidas fortes, me fazendo
gemer com o pano em minha boca, estava a ponto de explodir diante
daquela sensação crescente que exalava dentro de mim. Aleksey sentiu
aquilo, passando a estocar mais forte, rugindo em gemidos altos, resvalando
o pênis na minha boceta.
Senti meu corpo se tornar tenso, de repente leve, mole como uma
pluma me entregando ao prazer, sentindo os jatos quentes dele dentro de
mim.
Ficamos assim por longos segundos, até que ele se afastou de
mim. Voltando para a manivela enquanto fechava o botão da sua calça,
abaixando-a, voltando-se para mim, soltando-me de todas aquelas amarras,
meus pés tocando o chão, a raiva de antes voltando a me consumir.
Afinal não seria um sexo que faria com que eu abaixasse a minha
guarda, ainda mais com um marido que nem ao menos olhou nos meus
olhos, vendo a porta aberta, pegando-o desprevenido, comecei a correr.
CAPÍTULO TRINTA E QUATRO

Estava ofegante quando entrei em um segundo quarto, corri em


direção à janela, vendo que ela tinha sacada, abri a porta, saindo, sentindo
como se estivesse brincando em uma brincadeira onde um se escondia e o
outro procurava, mas nesse caso as consequências dessa brincadeira, eram
horríveis, segui pelo canto da sacada, deixando a porta fechada, sentando-
me no chão, encolhendo minhas pernas e abraçando meus joelhos.
Aleksey me chamou de cachorra, como se eu fosse uma mera
garota com quem ele apenas transava, não era isso, não que ele me fazia
parecer ser.
Talvez me esconder ali não tivesse sido uma boa ideia, o frio
estava rigoroso, começava a sentir flocos de neve caindo em mim.
Mas não me levantei, permanecer no frio era melhor do que
enfrentar o que o meu marido tinha em mente, não sabia o que esperar, mas
no curto prazo que estava com ele já o vi perder o controle várias vezes,
mas como naquele minuto não, como se fosse uma outra pessoa que tivesse
se apossado dele.
Ouvi passos naquele quarto, me encolhi ainda mais, colocando o
meu nariz nas minhas pernas para assim trancar a minha respiração. Os
passos pareceram se tornar distantes, ou ao menos foi o que eu pensei, meu
corpo se arrepiou quando um frio intenso o percorreu, ergui meu rosto,
quem sabe ele já tinha saído dali, mas ao fazer esse ato encontrei com o
próprio demônio a me analisar, assustada me levantei do chão indo em
direção ao parapeito da sacada.
Aleksey abriu a porta.
— Não! Se você se aproximar de mim eu pulo. — Meu corpo
estava trêmulo do frio.
— Pula, então — sua voz me fez arrepiar ainda mais.
Ele estava duvidando de mim, até mesmo eu estava, senti minhas
costas tocando a sacada, Aleksey ainda permanecia parado no mesmo lugar
e quando percebi que ele começava a caminhar na minha direção, agindo
pela emoção do momento, passei para o outro lado da sacada.
— Yesfir, não é nem louca de fazer isso — rosnou querendo dar
mais alguns passos na minha direção.
— Mais um passo seu e eu pulo — Aleksey duvidou e eu pulei do
segundo andar.
A neve que estava acumulada ali me fez ter uma queda
amortecida, mas eu caí de mau jeito por cima dos meus pés e mordendo o
meu lábio diante da dor, olhei para cima ele não estava mais ali,
desajeitadamente coloquei o peso na minha perna boa, correndo mancando
para o lado da casa, não me lembrava de ter nevado tanto naquele dia, a
neve cobria todo o quintal ao lado da casa.
Estava escuro, não sabia para onde ir, a dor no meu pé começava
a se tornar dez vezes pior diante do frio.
Ouvi passos atrás de mim, virei o meu rosto.
— Por favor, Aleksey, não — choraminguei quando o meu marido
me alcançou.
Suas mãos agarrando meus cabelos pela nuca, movendo o meu
rosto para olhar para cima, mordi meu lábio diante do aperto forte dele.
— Caralho, você ficou maluca? — Rosnou colando o seu corpo
no meu.
— Eu não quero mais ser tortura...
— Mas vai, vai ser agora quando vou foder a sua boceta aqui
nessa neve, com seus joelhos esfolando nesse...
— Marido — implorei em vão.
Pois Aleksey me virou.
— Vamos, Yesfir, como uma boa esposa submissa vai se ajoelhar
no chão, agora! — ordenou.
Mesmo com o meu joelho doendo, eu o fiz, sem falar que o tinha
machucado, meus joelhos tocando a neve fria.
— Apoie as mãos sob a neve, encoste a sua bochecha ao chão,
mantendo a bunda empinada para mim.
Assim como ele mandou, não questionei, pois a dor em meu
joelho estava me matando por dentro, como se fossem marteladas nele.
Ouvi o barulho do cinto dele, a calça sendo arrastada para baixo.
Seus dedos tocaram a minha boceta.
— Como uma boa esposa, sempre molhadinha para mim... —
seus dedos habilidosos se melaram sob o meu mel.
Mas isso não era de agora, era de antes, eu não estava úmida,
lágrimas começaram a banhar meu rosto, fechei meus olhos com força,
prevendo o momento que ele ia me penetrar, um soluço escapou da minha
boca, seguido por outro.
Ele nem ao menos chegou a me penetrar quando ouvi o barulho
da sua calça sendo arrastada novamente. Sua mão espalmando em meus
cabelos, me puxando para trás, Aleksey estava sob os seus joelhos, mas ao
contrário de mim, ele estava de calça.
— Por que está chorando, porra? — Abri meus olhos, meu joelho
doendo tanto que apenas me joguei em seus braços, diante do meu impulso,
ele caiu para trás se sentando na neve. — Caralho, pequena, o que está
havendo?
Apertei seu peito com força, mesmo estando no frio ele tinha o
peito quente, minhas lágrimas de dor banhando o peito nu dele.
— Eu acho que torci minha perna, dói. — A dor não parava.
— E não pretendia me falar isso? Eu ia te foder no frio com a sua
maldita perna torcida? — Rosnou, enquanto me recusava a olhar nos seus
olhos.
— Porque você é um monstro, um demônio que quer ter o prazer
em cima da minha dor, o teria, não é isso que quer? — Apertei seu peito
com tanta força que ele até mesmo retesou.
— Não é assim que funciona, tem a parte da dor, mas tem o
prazer, você vai sentir prazer comigo te batendo, vai gozar quando eu te
comer com força, agressivamente, mas não assim com a sua perna
machucada, porra, eu sou sádico, mas não a ponto de te foder machucada
— Aleksey rugiu, passando a mão nas minhas costas.
Ergueu-se com facilidade sem me colocar no chão, me levantando
junto com ele. Segurei-me ao seu peito, as lágrimas ainda caindo por meus
olhos.
— Vou chamar o doutor Ross — assenti, pois tudo que eu queria
para aquele momento era cessar aquela dor.
Finalmente saímos do frio, me levando junto com ele, assim que
entramos na casa sem nem ao menos me tirar do seu colo pegou o celular
em seu bolso, desbloqueando o aparelho, buscando por algo, fazendo uma
ligação, deixou o celular sobre o ombro e a cabeça, me segurando com as
duas mãos novamente, subindo a escada, me carregando para o nosso
quarto.
— Ross? — ele falou com o doutor ao telefone. — Preciso que
venha até a minha casa, aconteceu um acidente com a minha esposa.
Ele ouviu o que a outra pessoa falou do outro lado, encerrando a
ligação.
Aleksey me deitou sobre a nossa cama. Era estranho ouvi-lo me
chamando de sua esposa, nunca o ouvi falando dessa forma com alguém, ou
se ouvi, não me lembro.
— Vou pegar outra roupa, não vou deixar um homem ver a minha
esposa com roupas assim. — Aleksey se virou me deixando ali sozinha.
A dor ainda era forte, latente em meu joelho.
CAPÍTULO TRINTA E CINCO

Aleksey acompanhou o tal do doutor Ross até a porta, ele me deu


alguns remédios, que já começaram a fazer efeito, porque senti a dor aliviar.
Ele colocou um imobilizador de joelho sobre a minha perna esquerda,
lógico que Aleksey não permitiu que o homem colocasse aquilo em mim,
foi o meu marido que o fez, passando a tala em volta dos meus joelhos, que
pegava na altura da minha coxa, ficando no meio da minha canela,
mantendo meu pé imóvel.
Estava sozinha no quarto, mas pelo menos a dor aliviou.
Virei meu rosto vendo o meu marido entrar no quarto, ele não
estava mais sem camisa, assim que o doutor chegou aqui na casa ele
colocou uma camisa de botões.
— Como está se sentindo? — perguntou preocupado.
— Estou melhor. — Apoiei meu peso em minhas mãos, sentando-
se na cama. — Minhas roupas estão aqui nessa casa?
— Nunca deixaram de estar, eu apenas as mantenho longe do seu
alcance. — Deu de ombros indo em direção ao banheiro.
Ignorando-me completamente, adentrou o banheiro, fiquei ali
sozinha novamente, virei o rosto encontrando a porta fechada,
provavelmente ele a trancou.
Estava usando um vestido mais longo, com um decote quadrado e
discreto, Aleksey tinha uma mania de julgar que todos deviam se ajoelhar
perante uma ordem dele, talvez isso se devesse ao fato de ser o braço direito
do Pakhan, tinha apenas um homem que ele parava e escutava e esse
homem era Sergey.
Nem ao menos sabia nada sobre o meu marido, nem sobre a
origem dele, o que era uma completa loucura, quem era Aleksey Ivanovich?
Quem era o homem de quem eu carregava o sobrenome, porque ele era
sempre tão possessivo e controlador, da mesma forma que sempre se
mostrava preocupado comigo.
Droga, isso me deixava tão confusa, tão loucamente confusa.
Tudo que eu sabia eram informações supérfluas, foi abandonado
pela mãe, viveu na rua, viu o pai ser morto, ao menos foi isso que Sofie e
Rubi confidenciaram.
A porta do banheiro se abriu, virei o rosto encontrando o meu
marido saindo do banheiro, a toalha presa em sua cintura, muitas gotículas
de água descendo pelo seu peitoral, ele tinha um peito firme, com algumas
definições, mas o que mais possuía eram cicatrizes, Aleksey tinha muitas,
como se fossem remendos, pontos feitos por agulhas, um pouco abaixo do
seu peito havia uma pequena mancha de queimadura, com alguns pingos
como se tivessem jogado sobre ele algo quente que o queimara.
Quem era esse homem? Quem se escondia por detrás dessas
cicatrizes?
Ele foi para o closet, não sabia o que estava me levando a não
conseguir parar de pensar nele, talvez tivessem sido as suas palavras, “Não
é assim que funciona, tem a parte da dor, mas tem o prazer, você vai sentir
prazer comigo te batendo”, quem é que sentia prazer ao apanhar?
Ia sentir prazer com ele me batendo?
Estava tão dispersa em meus pensamentos que nem o vi se
aproximando, meus olhos indo na direção dele, vendo-o de cueca preta, o
tecido apertando as suas coxas, parou ao meu lado, ergui meus olhos,
encontrando os seus, negros como uma noite sem estrelas.
Aleksey se abaixou, seu rosto próximo do meu, sussurrando me
fazendo ficar com medo.
— Ainda não me esqueci do tapa que me deu...
A mão dele espalmou em minha nuca, apertando-a com força,
trazendo a minha cabeça para trás.
— Me desculpe — sussurrei com medo do que ele podia fazer,
querendo evitar conflitos naquele momento em que eu queria apenas
descansar.
— Suas desculpas não me convenceram. — Sorriu de canto,
aquele tipo de sorriso maligno dele.
— Não sou sua cachorra, eu sou uma mulher, e talvez eu não
queira me desculpar verdadeiramente — falei sem pensar vendo o seu
sorriso aumentar.
— Isso, é isso que eu quero de você, a verdade, não queira bancar
a boa moça para mim, quando ambos sabemos que não é. — Meu marido
aproximou o seu rosto ainda mais do meu, nossos lábios roçando um no
outro.
— Eu sou uma boa moça — murmurei sem desviar meus olhos
dos seus.
— Talvez fosse, antes de me conhecer, antes de vir para os braços
do diabo, a minha presença extrai de você o seu lado pior, se fosse tão boa
quanto diz ser, tinha abaixado a cabeça para mim desde o primeiro
momento, assuma, Yesfir, você gosta de me afrontar, gosta de me ter te
tocando, pode negar, mas no fundo ambos sabemos que tudo que uma boa
garota quer, é uma trepada sacana. — Seus lábios grudaram nos meus,
deslizando a língua em volta do meu. — Segure no meu pau!
Ele não pediu, e sim ordenou, afastando os lábios do meus, sem
desviar os olhos dos meus.
— Segure o meu pau por cima da minha cueca e veja como eu
fico toda vez que penso na possibilidade de fodê-la...
Arregalei meus olhos quando os desci e vendo o membro que
marcava o tecido, ele pegou minha mão, levando-a ao membro.
— Abra a sua pequena mão, sinta-o. — Fiz o que ele mandou.
Apertando o pênis dele, sentindo-o em minha mão.
— Agora abaixe a minha cueca. — Curiosa segurei nos lados do
elástico da cueca, descendo o tecido, minhas mãos trêmulas. — Segure-o,
pequena...
Ergui meus olhos encontrando os dele fixos em meu ato, seu
membro tocava a sua barriga e da ponta dele saía uma gota de um líquido
que o deixa brilhoso, as veias saltavam por ele.
— Toque a porra do meu pau, Yesfir — voltou a pedir, poderia
negar, mas a curiosidade me fez ir além.
Segurando-o, meus dedos circulando, nem ao menos consegui
fechar toda a minha mão na grossura, eu a abri, acariciando aquilo.
— Sem carícias, isso não é um urso de pelúcia, segure como se
fosse um bastão, aperte-o, deslize a mão para cima e para baixo. — Ele
segurou a minha mão, mostrando como fazer.
Fiquei olhando, sentindo cada pedaço dele em minhas mãos.
Aleksey tirou a mão de cima da minha, deixando que eu continuasse o ato
sozinha, fiquei descendo e subindo a mão, podendo ouvir a respiração dele
se tornar pesada.
— Agora o que está fazendo com a sua mão, vai substituir com a
boca...
— Ah. — Ergui meus olhos admirada.
— Vamos, Yesfir, coloque o meu pau na sua boca, assim como eu
já chupei a sua boceta, vai levar o meu pau à sua boca...
Curiosa com aquilo, ele aproximou o pau da minha boca, abri
meus lábios, sentindo a ponta dele tocá-los.
— Abra esses lábios gostosos, use-os, somente não use os dentes
— instruiu. — Chupa meu cacete...
A voz dele morreu quando seu pênis entrou na minha boca, fiz
como mandou, chupando-o, fazendo a minha sucção travar seu pênis, isso
era tão íntimo, o pênis sob a minha boca, segurei a base com a minha mão.
Não consegui colocá-lo por inteiro na minha boca, meu marido
espalmou a mão em meu cabelo, socando mais ao fundo, me fazendo
engasgar.
— Erga seus olhos, pequena, me deixe ver as lágrimas que vão
escorrer deles. — Ergui meus olhos.
Aleksey estocou mais uma vez profundamente, tocando a minha
garganta, meus olhos se enchendo de lágrimas, quis empurrá-lo para trás e
tirar o membro da minha boca.
— Não vai vomitar, pequena, apenas vai senti-lo tocando a sua
garganta, quanto mais engasgar, mais lágrimas e eu fico duro de tesão por
você, tome a porra do meu cacete. — Aleksey se tornou um homem
extremamente dominador.
Ele segurava em meu cabelo, fazia movimentos de vai e vem em
minha boca, tirava o membro dos meus lábios, batendo-o em meu rosto e
esfregando-o ali.
— Agora entendeu, pequeno querubim, quem é seu dono? Eu sou
a porra do homem que comanda a sua vida, assim como a tenho
inteiramente para mim, agora e para sempre — rosnou voltando a introduzir
o seu pênis na minha boca.
Lágrimas escorriam por meus olhos, ele rugia em meio aos meus
lábios que o chupavam, sem parar, me tomando como dele pela minha boca,
quando me falaram sobre sexo, não especificaram essas partes, e por Deus
eu estava gostando disso, Aleksey achava que era ele que estava no
controle, mas quem lhe provia o seu prazer nesse momento era eu.
— Vou gozar e vai tomar toda a minha porra — rosnou e quando
eu menos esperava, ele segurou o membro no fundo da minha garganta,
jorrando o seu líquido quente, sem escolha, me fazendo engolir tudo.
Engasguei-me, tentei tossir, mas as mãos dele não permitiram
conforme seguravam a minha cabeça, me soltando logo em seguida quando
se aliviou por completo.
Passei a mão em minha face, limpando as lágrimas, meu marido
ergueu a sua cueca se abaixando na minha direção, olhando no fundo dos
meus olhos como se pudesse penetrar a minha alma.
— Agora responda para mim o que ambos já sabemos, quem é
seu dono? — grunhiu em um tom sombrio.
— Você, Aleksey Ivanovich — murmurei quando o seu lábio
atacou o meu ferozmente.
CAPÍTULO TRINTA E SEIS

Devorei os lábios carnudos dela, deitando-a na cama, cobrindo


seu corpo com o meu, ela era tão pequena, que podia segurá-la com apenas
um dos meus braços, pequena a ponto de conseguir protegê-la de todo mal
que a circulava.
A minha pequena esposa de língua afiada.
Senti seus dedos passando por minha nuca, deslizando-os pela
minha pele, me fazendo arrepiar, porra, eu não me arrepiava, nenhuma
mulher fazia com que eu me arrepiasse, assim como nenhuma mulher me
fazia gozar apenas com uma chupada, precisava sempre de muito para me
aliviar.
E essa pequena ex-noviça me fizera jorrar no fundo da sua goela
sem muito esforço, e agora estava me deixando arrepiado com seus dedos
que arranhavam a minha nuca.
Abruptamente me afastei dela, a garota me olhou sem entender o
que estava acontecendo.
Levantei-me da cama, passando a mão em meus fios úmidos,
olhando para ela, meu peito subindo e descendo ferozmente, podia sentir
meu pênis duro novamente, exigindo que a fodesse mais uma vez.
Mas naquele meu momento de transtorno, como se fosse um
garotinho circulando essa mulher sem parar, percebendo o quão obcecado
por ela estava, de 24 horas do meu dia, 23, pensava nela.
Inferno!
Virei minhas costas, indo em direção à porta, girando a chave que
estava sob a fechadura, precisava sair dali para respirar um ar que não
contivesse aquela garota que me deixava louco. Desci os degraus, indo em
direção ao meu bar, pegando um copo de uísque, enchendo-o do meu
líquido mais forte, tomando tudo em um único gole.
Segurei no mogno do balcão, fechando meus olhos, me vindo à
mente o lábio carnudo dela em volta do meu pênis, circulando-o, levando-o
ao seu limite, os seus engasgos, as lágrimas que escorriam, os cabelos ao
redor do seu rosto, a inocência sendo substituída pela devassidão, caralho
de mulher linda e gostosa, era como se ela tivesse o pacote completo para
me tirar de toda a minha zona de conforto.
Barulhos de pegadas vindas do andar de cima me tiraram do meu
devaneio, ergui meu rosto percebendo que a minha esposa pretendia descer
a escada.
Soltei um suspiro pesado indo em sua direção, parando ao
perceber que ela estava com a sua camisola de antes, tirou o vestido e usava
a que marcava suas curvas e deixava suas pernas expostas.
— Não pode ficar parada em uma cama? — brandei subindo a
escada, indo em sua direção.
— Estou com fome. — Fez um bico.
Ela pedir alimento era sempre uma novidade, sendo que no
primeiro dia dela na sede queria ficar sem se alimentar para morrer. Nunca
ia permitir que essa pequena coisinha morresse.
Com facilidade passei a mão na cintura dela, pegando-a em meu
colo, sentindo seus dedos roçarem em minha pele, abaixei o rosto quando
ela deslizou o dedo sob uma cicatriz.
— O que é isso? — inqueriu.
— Uma cicatriz? — fui vago em minha resposta.
— Isso eu sei, quero saber como ela surgiu. — Entrei na cozinha,
indo até uma das banquetas, puxei-a, sentando-a sobre ela.
Abaixei meus olhos, vendo aquela marca, pensando no dia em que
eu a adquiri.
— Foi logo após a morte do meu pai, me envolvi em uma briga, e
não esperava que um deles estivesse com um canivete, parece que foi um
corte profundo, mas foi o menos doloroso, foi nesse dia que eu aprendia a
costurar. — Dei de ombros indo em direção à dispensa.
Entrei lá, olhando à minha volta, pensando no que fazer, sendo
que não sabia fazer praticamente nada.
— Qual era sua idade? — ela perguntou um pouco alto para que
eu a ouvisse.
— Quinze anos, eu acho. — Voltei para a cozinha, seus olhos em
mim. — Temos um problema.
Passei a mão em meu cabelo, fazendo uma careta.
— Eu sei comer, agora fazer a comida. — Minha esposa esboçou
um sorriso, aquela foi a primeira vez que a vi sorrindo, a primeira vez que
ela sorriu para mim.
Um sorriso inocente, tímido, lindo como ela, me perdi olhando-o,
quase pedindo, implorando que ela nunca deixasse de fazer isso para mim,
que porra! O que estava acontecendo comigo?
— Pode fazer um ovo mexido? — Arqueou uma sobrancelha. —
Não é tão difícil, apenas pegue uma panela, jogue o ovo dentro dela e
mexa...
— Com casca? — Yesfir soltou uma risada, uma risada fraca,
porém, gravei o som dela.
Foi algo espontâneo, algo que ela fez por vontade própria,
caralho, e eu fiquei fascinado, vidrado outra vez nela, aquilo estava se
tornando uma loucura.
— Claro que não, Aleksey. — A garota balançou a cabeça me
fazendo ter outra ideia.
— Bom, vou resolver nosso problema...
Segui em direção à sala, peguei meu celular que deixei em cima
da bancada do bar, buscando pelo número de Dmitry e com apenas duas
chamadas, ele atendeu.
— Espero que não esteja ligando para informar um homicídio —
meu amigo foi logo falando.
— Não, mas foi quase, outra hora eu conto, quero que peçam para
entregar dois pratos de comida aqui. Yesfir está com fome e ela não está
podendo caminhar para fazer a sua comida. — Dmitry soltou uma
gargalhada sabendo que algo eu tinha aprontado.
— Estou curioso para saber o que aprontou com a noviça...
— Ex — eu o cortei.
— Certo, vou pedir para entregarem, e cuide para não matar a sua
esposa — zombou encerrando a ligação.
Voltei para a cozinha, onde encontrei a minha esposa ainda
sentada da mesma forma que a deixei, seus olhos se erguendo aos meus.
— Problema resolvido, vão entregar comida aqui.
— Poxa, só porque pensei que teria a visão do Obshchak da
Bratva cozinhando — em sua voz tinha um misto de deboche.
— Infelizmente, não será dessa vez que terá a visão da minha
humilhação. — Segui em sua direção virando a sua banqueta para ficar de
frente para mim.
— E existe a possibilidade de alguém como Aleksey Ivanovich se
humilhar por alguém? — perguntou subindo a mão tocando o meu peito.
Seu toque suave, delicioso, me fazendo soltar um suspiro com
dificuldade.
— Talvez exista — respondi a sua pergunta, espalmando minha
mão em seu cabelo, puxando-o para trás, vendo o seu lábio se contrair, o
maldito lábio que circulou o meu pau.
Sem conseguir manter minha boca longe dela, eu a devorei
novamente, sabendo que podia estar entrando em uma rua sem saída, talvez
querendo permanecer nela. Querendo senti-la todos os dias.
CAPÍTULO TRINTA E SETE

Seus dedos percorreram a minha nuca, deslizando por meu


ombro, um suspiro escapando pela minha boca, o que estava acontecendo
comigo? Era como se tudo que eu quisesse para esse momento e para todos
os restantes fosse estar ao lado dele.
Uma batida se fez presente na porta, fazendo Aleksey se afastar
um pouco, seu lábio puxando o meu conforme saía.
— Vou lá em cima pegar uma calça. — Ele foi em direção à
escada.
Voltaram a bater na porta, talvez se eu atendesse não fizesse mal,
devia ser apenas alguém trazendo a comida, tudo que eu precisava era
apoiar o meu peso na minha perna boa. Segurei-me na bancada, descendo
da banqueta, querendo dar o primeiro passo, meus movimentos eram lentos,
vendo o meu marido voltar, vestindo uma calça e passando a camisa pela
sua cabeça.
Mesmo lá fora estando um gelo dentro da casa o aquecedor estava
ligado mantendo o ambiente bem quente.
— De novo, Yesfir? Difícil demais para você manter a sua bunda
naquela maldita banqueta? — Rugiu me deixando ali indo em direção à
porta.
Revirei meus olhos, pois tudo que eu odiava era ficar parada. A
porta foi aberta, estava parada ao lado da cozinha, voltei a caminhar,
ouvindo a voz de Aleksey que falava com alguém do lado de fora.
Logo reconheci o timbre da voz de Dmitry, ele parecia estar
entrando na casa, parei ao lado da mesa de jantar, vendo os dois homens
entrarem.
— Viu, ela está inteira. — Aleksey apontou o dedo para mim.
Dmitry desceu os olhos pelo meu corpo fazendo meu marido
rosnar para ele.
— Calma, Aleks, não quero a sua garota não, irmão, prefiro viver
a vida sozinho, sem dever satisfação para ninguém, apenas não aguentava
mais a chata da Sofie mandando eu verificar se ela estava viva. — Seus
olhos pararam no meu joelho. — Ou quase...
Tombou a cabeça para o lado.
— Acidente, do tipo tropeçou enquanto andava? — Dmitry olhou
para o amigo.
— Não, essa louca pulou da sacada — meu marido falou
despreocupadamente.
— A culpa é sua, porque duvidou de mim...
— Ah, claro, a culpa é minha. — Aleksey revirou os olhos,
direcionando-se para olhar o amigo.
— Vocês são loucos, e disso eu não duvido. — Dmitry levou a
mão ao seu bolso.
— Verificou o que queria? — meu marido falou um pouco
impaciente.
— Sim, já ia me esquecendo. Sergey disse que precisa de você
essa madrugada na sede, está chegando uma carga grande no porto, vai ser
descarregada para os nossos homens, é uma peça do armamento que
estamos produzindo em Murmansky, eles vão chegar na sede, de
madrugada, vão passar a noite ali, e depois seguir viagem — Dmitry falou
fazendo o meu marido assentir, como se tivesse esquecido que ia acontecer
isso.
— Certo, vou sim — assentiu olhando para mim. — E você vai
comigo, ainda tenho o meu quarto lá, não vou deixá-la sozinha aqui para
cometer suicídio.
— Essa é a minha oportunidade para ir embora. — Dmitry deixou
com Aleksey uma bolsa com a nossa comida.
Ficamos sozinhos, Aleksey foi até a cozinha colocando a bolsa
sobre a mesa, voltando ao meu alcance, soltando um longo suspiro como se
estivesse lidando com uma criança levada.
— Eu juro que vou colar a sua bunda em uma cadeira se não parar
de ficar forçando o seu joelho, ouviu o que o doutor disse, não é mesmo?
— Qual das vezes? Pois a maioria você o interrompia. — Com
facilidade Aleksey me sentou na baqueta.
— Sim, porque o hematoma estava em seu joelho...
— Ele só queria se certificar de que estava apenas com a perna
machucada, analisar o resto do meu corpo, ele é um médico, Aleksey. —
Meu marido se sentou na minha frente e nos acomodamos na ilha que tinha
no meio da cozinha.
— Eu verifico o resto do seu corpo se esse for o problema. —
Pegou a bolsa com cuidado tirando de dentro dois pratos tampados.
Destampou um colocando-o na minha frente, entregando talheres
para mim.
— Você é sempre assim? — perguntei pegando os talheres da sua
mão.
— Assim como?
— Possessivo, controlador, com câmeras pela casa inteira, não
deixando o doutor me consultar — falei o óbvio.
Aleksey ficou em silêncio me olhando por longos segundos.
— Já te perdi uma vez, sou precavido, não vou deixar que suma
uma segunda vez...
— Mas existem outras maneiras de me manter ao seu lado, e uma
delas é não espelhando câmeras pela casa inteira, violando toda a minha
privacidade, eu nem ao menos posso ir ao banheiro. — O cheiro do
alimento tocou o meu olfato, me fazendo salivar de fome.
— Essa é a minha maneira, esse sou eu, e de onde veio isso pode
vir coisa pior...
— Impossível, só se colocar um microchip em mim — minha fala
fez seus olhos brilharem, percebi que acabei dando para ele uma ideia. —
Ah, não...
— Pequena, você já tem um microchip, isso foi a primeira coisa
que eu pensei. — Aleksey levou uma colher de comida à sua boca.
— Como? Como isso? — falei admirada.
— Come, Yesfir, um dos microchips está na sua aliança, toda
mulher de mafioso usa uma, até mesmo as esposas do Sergey, estou falando
isso, pois sei que não será louca de fugir, não tem ninguém, nem o seu pai a
quer — foi direto em suas palavras me fazendo ficar em silêncio.
Levei uma colher à minha boca, mastigando dispersa em meus
pensamentos.
— Yesfir? — Ergui meus olhos para Aleksey. — Eu quero você, e
nada irá te tirar do meu lado, sei que sou sádico, e sinto falta disso quando
estamos juntos, pois sempre existirá uma parte minha que voltará para as
minhas raízes, mas em hipótese alguma permitirei que você saia do meu
lado, sou protetor ao extremo, e tudo que estiver ao meu alcance farei para a
sua proteção.
Não falei nada, ficando a olhar para ele, aqueles olhos negros,
sendo tocada no fundo da minha alma.
— Promete? — sussurrei finalmente.
— Sim, pequeno anjo querubim, eu prometo pela minha vida, que
sempre estarei ao seu lado. — Ele nem ao menos pensou, apenas
respondendo.
— Por que querubim? — Eu sabia o significado, mas queria a
versão dele.
— Uma senhora quando morava na rua, ela estava ao meu lado
torrando a minha paciência com a palavra do todo poderoso. — Revirou
seus olhos lembrando-se do dia. — Estava quieto, apenas ouvindo aquela
velha louca, isso para não afogar ela naquele rio gelado que estávamos
sentados perto, até que ela falou para mim: “Um dia uma mulher sorridente
vai entrar na sua vida, iluminando os seus dias, transmitindo alegria, como
um mensageiro de Deus, ela será o anjo querubim na sua vida”. Bom, eu
nunca acreditei nessas bagaceiras de Deus, até encontrar você naquele
internato.
Deu de ombros, ele falou aquilo como se não fosse nada, mas
desde o começo sempre me chamando dessa forma, ele sempre soube, mas
nunca havia revelado.
— Aleksey, isso é loucura, me chamar dessa forma é loucura,
como essa mulher sabia que íamos nos encontrar...
— Bom, eu também sempre achei, mas você está sentada, aqui na
minha frente, como se fosse um castigo para mim, ou ao contrário disso,
sendo que eu sempre falava que se Deus existisse ele não teria me deixado
passar pelo que passei, mas de um jeito torto ele me mandou você. E é por
isso que eu vou protegê-la, pois nem mesmo uma garota linda como você
pode mudar o diabo que eu sou por dentro, se ele ousar tirá-la de mim eu
vou até aquele todo poderoso e dou um murro na cara dele, se você está
aqui, nada irá tirá-la de mim, e por medo de que algo aconteça a você, vou
protegê-la, nem que para isso eu viole toda a sua privacidade.
Meu marido desviou seus olhos de mim, voltando a se alimentar,
aquilo era loucura, como podia algo assim acontecer?
Como se fôssemos feitos um para o outro, eu sendo destinada para
ser dele.
CAPÍTULO TRINTA E OITO

O carro parou em frente à sede, Aleksey saiu primeiro como


sempre ordenando que eu o esperasse dentro do carro. Deu a volta ao
automóvel, um dos seus homens abriu a porta, meu marido apareceu se
abaixando, me ajudando a sair do carro.
— Aleksey eu posso andar — declarei segurando no paletó dele.
Ele estava usando o terno completo, apenas sem a gravata, devo
confessar que ele trajado todo de terno ficava muito lindo, seu cheiro
masculino impregnando o meu olfato.
O vento frio se chocou em meu rosto, ele acelerou os passos
seguindo para a porta de entrada da sede, a qual logo se abriu quando nos
aproximamos, sendo recebidos pelo calor ambiente.
Meu marido com cuidado me pôs no chão tirando o meu
sobretudo, deixando-o sob o gancho ao lado da porta.
Estava com um vestido de manga comprida com um decote
discreto em V, sob meus pés uma sapatilha, o máximo que usávamos no
internato eram saltos médios e quadrados, nada comparado ao que Sofie e
Rubi usavam, até pareciam que apoiavam seus pés na ponta de uma agulha.
Aleksey tirou o seu paletó ficando apenas com o colete que estava
por cima da sua camisa preta de botões.
Sua mão passou na minha cintura, me erguendo suavemente,
assim fazendo com que eu não caminhasse.
— Aleksey. — Suspirei quando entramos na sala, encontrando
com as duas esposas de Sergey. Sofie foi a primeira a se levantar, vindo
rapidamente na nossa direção.
— O que você fez com ela? Por que ela está usando isso? — a
mulher alta foi logo dando dedada no rosto do meu marido fazendo Aleksey
soltar um suspiro irritado, olhando para o lado do seu amigo.
— Sofie, querida — Sergey se levantou indo em direção à
esposa.
— Sai, Sergey, nesse momento tudo que eu quero é esfolar a
maldita cara do seu Obshchak. — Arregalei meus olhos diante da ousadia
dela, estava admirada, pois essa era a primeira vez que via uma mulher
confrontar um homem a esse nível, e tudo por minha causa.
— Tira a sua maldita esposa da minha frente, Sergey — Aleksey
rosnou perdendo a paciência.
Eu já o vi perder a paciência e não foi bonito de se presenciar, a
respiração do meu marido começou a ficar ofegante, apoiei meu pé bom no
chão, segurando em seu colete empurrando-o para trás.
— Sofie, estou irritado por ele a chamar de maldita, mas eu
conheço o Obshchak que tenho, ele é pavio curto, deixa a garota se explicar.
— Ouvi a voz de Sergey tentando acalmar a esposa.
— Pois eu posso ser dez vezes pior que ele. — Aleksey deu um
dos seus sorrisos perversos diante da fala da mulher.
Ergui minha mão tocando a face do meu marido, vendo-o abaixar
os olhos na minha direção.
— Se você fizer algo com ela eu vou ficar muito chateada com
você. — Meu marido tombou a cabeça para o lado, como se nada pudesse
fazer com que eu ficasse com raiva dele. — Aleksey!
— Então fale para ela o que aconteceu, Yesfir, eu sei que sou
culpado, mas é a porra do nosso casamento — meu marido rosnou, me
fazendo perceber que ele odiava que se intrometessem na nossa vida
juntos.
Virei-me para a mulher que ainda estava sendo segurada pelo seu
marido, atrás de mim estava Aleksey, sorri para a mulher loira, pois ela me
defendeu, foram poucas as vezes que alguém fez isso por mim.
— Sofie — sussurrei seu nome. — Obrigada por me defender,
obrigada por fazer por mim o que há muito tempo ninguém faz, eu confesso
que um tapa na cara dele seria uma alegria para mim, mas vai por mim, eu
fiz isso e não acabou nada bem, eu pulei da sacada, não foi ele que me
jogou, fui eu que pulei, em parte ele tem culpa, mas ambos erramos, não a
parte que eu bati na cara dele, pois disso eu não me arrependo.
Dei de ombros, sentindo a mão do meu marido apertar a minha
cintura.
— Essa parte do tapa eu não sabia — Dmitry falou sentado no
sofá.
— Tá, tá, pode me soltar, Sergey, não vou fazer nada, mas apenas
porque ela pediu, não por ele, saiba que ainda estou de olho em você. — A
mulher apontou para o meu marido.
— Acredito inclusive que ela sabe lidar muito bem com o marido
dela — Sergey praticamente empurrou a esposa dali.
Era tarde, estava cansada, tudo que eu queria para aquele
momento era me deitar e dormir.
— Está tarde, estou cansada, quero dormir — Sofie nem ao
menos se sentou no sofá enquanto falava, passando a mão na sua barriga,
apenas naquele momento percebi que ela estava grávida, uma pequena
barriga se formando.
— Vou fazer o mesmo, pois hoje tudo que eu queria era esfolar a
cara de Sergey na neve por colocar um bebê dentro de mim. — Rubi
levantou junto me fazendo olhar para as duas e perceber que ambas estavam
grávidas.
Aquilo me fez ficar confusa, será que ele era pai dos dois bebês?
— São somente mais alguns meses. — o Pakhan sorriu de uma
forma que nunca o vi fazendo antes.
— Alguns meses dessas mudanças de hormônio que estão me
enlouquecendo, vamos, Sofie. — Ela entrelaçou a sua mão na mulher e a
loira se voltou para mim.
— Amanhã vamos conversar. — Sorriu com carinho e se foi.
Fiquei ali com os três homens.
— O que você tinha exatamente na mente para engravidar duas
mulheres? — Dmitry revirou seus olhos.
— E pior se casar com as duas — meu marido completou.
— Aleksey, quero me deitar — sussurrei para ele.
Meu marido assentiu, falando aos dois homens que em breve
voltaria, me pegou em seu colo dessa vez, segurei em seu colete, erguendo
meus olhos por seu pescoço, notando os pelos que se erguiam da barba
próximo ao queixo dele.
Entramos em um quarto, ele foi logo em direção à cama, me
deixando sentada ali, indo ao que parecia um closet, voltando com uma
peça de roupa.
— Use essa minha camisa para dormir se achar melhor. —
Deixou-a ao meu lado.
— O Pakhan engravidou as duas mulheres? — perguntei mesmo
sabendo a resposta.
— Sim, e no mesmo dia ainda, acredita? — Balançou a cabeça
como se achasse aquilo loucura, o que exatamente era.
— Eles são três, eles os três... — minha frase ficou incompleta
pois não sabia como completar.
— Sim, eles se pegam, nada convencional, mas parece que se
amam. — Deu de ombros.
— Isso é algo só deles, né? Tipo nada que casais fazem. —
Arqueei uma sobrancelha confusa.
— Quer saber se vamos introduzir uma terceira pessoa no nosso
casamento? Nem fodendo eu faria isso. — Ele se abaixou aproximando o
rosto do meu. — Entenda, Yesfir, você é minha e eu não te divido com
absolutamente ninguém.
Meu marido me deu um beijo, endireitando seu corpo.
— Precisa de algo? — inquiriu.
— Não, pode ir ficar com seus amigos, tudo que eu quero agora é
dormir. — Sorri diante do meu cansaço.
Aleksey ficou olhando para o meu rosto por longos segundos, até
que balançou a cabeça saindo do quarto
CAPÍTULO TRINTA E NOVE

Virei o relógio em meu pulso pela décima vez, impaciente pela


espera dos homens que estavam chegando com a carga, não era algo grande,
apenas dois caixotes que iam vir no porta-malas de um carro.
— Cara, se você olhar mais uma vez para esse relógio, juro que
tiro ele do seu pulso e o jogo para longe — Dmitry declarou em meio aos
meus movimentos.
— Já são duas horas da manhã e nada desse povo chegar. — Não
era o tipo de homem que vivia reclamando, mas naquele caso estava, porra,
queria estar deitado com a minha esposa agora, sentindo-a em meus braços,
e mesmo que ela estivesse com a perna machucada nada me impedia de
ouvir seus gemidos.
— Nunca pensei que fosse viver para ver Aleksey apaixonado —
Dmitry zombou.
— Quem disse que estou apaixonado? — Arqueei uma
sobrancelha para o meu amigo.
— Engana outro, Aleks, está doido para ir se deitar com a sua
esposa — ele voltou a insistir.
— Isso é apenas tesão. — Dei de ombros.
— É? Então me diga, todos sabemos, desde que entrou na máfia,
sempre fodeu as mulheres através da tortura, quantas vezes já fez isso com
ela? — Dmitry cruzou seus braços conforme me olhava.
— Ela era virgem, não iria foder ela com força logo na primeira
vez dela — arrumei um pretexto para ver se ele saía daquele assunto.
— É aí que se engana, se fosse qualquer outra mulher você a teria
comido com força, sem ter pena se ela é ou não uma virgenzinha, existe
algo na noviça que tá fazendo você mudar, afinal, são anos de convivência e
nunca o vimos tratar ninguém assim — como sempre Dmitry não se dava
por vencido e seguia insistindo no assunto.
Direcionei meus olhos para Sergey vendo-o dar de ombros, pois
claramente estava de acordo com Dmitry também.
Porra, não estava me apaixonando por Yesfir, era apenas proteção,
uma necessidade de cuidar dela como se fosse a minha boneca frágil que
podia quebrar a qualquer momento, ela era minha, e nunca tive algo tão
belo quanto ela, isso não era amor, era possessividade.
— Quem cala consente — Dmitry voltou a falar.
— Não estou apaixonado, eu a quero, simples assim — declarei
com os dois me olhando como se não acreditassem em um “a” do que eu
falei.
— Tudo bem. — Dmitry deu de ombros.
Fomos interrompidos por um Boyevik avisando que a carga tinha
chegado, levantamo-nos indo em direção à porta dos fundos, pois o carro
foi levado para lá, sendo vistoriado pelos Boyevik e logo que nos
aproximamos a porta foi aberta, ali na neve fraca, os dois homens o estavam
vistoriando, assim como o carro deles, estávamos todos ali para cumprir o
dever para o nosso clã.
Os dois foram liberados podendo vir na nossa direção.
— Ryan Lyons e Bruce Lyons, são irmãos — sussurrei aos meus
amigos ali.
Lógico que antes de escolhê-los para fazer esse transporte
pesquisei tudo sobre suas vidas, iam passar essa noite aqui, e amanhã após o
café iam embora.
Os dois se aproximaram, eram jovens e deviam ter na casa dos
vinte anos. Cumprimentaram primeiro o Pakhan levando a mão dele à sua
testa, se afastando e cumprimentando a mim e Dmitry, ambos eram filhos
de membros do clã, não faziam parte diretamente da Bratva, mas prestavam
serviço quando solicitado.
Logo de cara não fui com a fuça daqueles dois, o tipo que gostava
de se gabar não fazia o meu estilo, entramos na sede.
— Espero que tenham algumas mulheres à nossa espera — um
deles falou.
— A sorte é que estão fazendo esse transporte certo, porque isso
não é um bordel, é a sede da Bratva — Sergey respondeu prontamente.
Mesmo que tivessem dado com a língua nos dentes, Sergey os
convidou para um copo de uísque e assim como eu, Sergey estava olhando
meio de lado para os irmãos Lyons, tudo que pesquisei sobre os dois era
bom, porém, ali presente, na nossa frente, pareciam dois cabeças de vento
que só pensavam em mulher, estava vendo que Sergey ia querer mudar os
motoristas desse transporte.
— Bom, estamos cansados, não tem mulher, onde vamos dormir?
— um deles perguntou.
— Segundo andar, terceira porta à direita — Dmitry foi quem
respondeu. — Levo os dois lá.
Fez um sinal para eles o acompanharem, logo depois Dmitry
voltou sozinho.
— Deixei as crianças no quarto, tem certeza de que eles são bons?
Essas peças são muito valiosas para estarem sob as mãos de dois cabeças-
ocas — Dmitry foi logo falando ao se aproximar.
— Pensei o mesmo — Sergey falou me olhando.
— Mostrei para vocês a ficha deles, lá não tinha como
característica deles cabeça de pipa avoada. — Dei de ombros. — Podemos
encontrar dois novos motoristas, não é difícil é só despachar esses dois
amanhã pela manhã.
— Faz isso então — Sergey ordenou e eu assenti.
— Fazendo isso será mais seguro para esse carregamento, vou
procurar um quesito básico, não pensar apenas em boceta. — Revirei meus
olhos pegando o meu celular no bolso da minha calça.
— Deixe para fazer isso amanhã, agora vamos dormir, estou louco
para ficar com as minhas garotas. — Sergey deu de ombros indo para a
escada.
— Bom, posso fazer isso da cama do meu quarto.
Segui os passos dele, subindo um degrau por vez, o meu quarto
fica no mesmo sentido que o quarto de Sergey e Dmitry.
— Estranho a porta do meu quarto estar aberta — declarei com o
frio percorrendo todo o meu corpo.
Logo entrei em desespero praticamente correndo em direção a ele,
empurrando a porta e vendo a cena a seguir me fazendo perder o ar dos
pulmões como se me arrancassem a alma de dentro de mim.
Os dois inúteis forçando um travesseiro sobre a cabeça de Yesfir,
os pés dela se debatendo, seus suspiros de dor, como se quisesse berrar,
como se estivesse agindo em meio àquele momento louco.
Peguei minha arma na cintura, sem nem ao menos ver onde mirei
e apenas atirei.
Porra, ninguém tinha o direito de tirar a minha garota de mim.
CAPÍTULO QUARENTA

Bati minha perna que não tinha a tala, aquela coisa sufocando a
minha respiração, tentando gritar em vão, o ar começando a me faltar, o
desespero tomando conta de mim, tudo abafado, escuro, nem ao menos
sabia de onde estava vindo esse aperto.
Onde estava Aleksey? No fundo ele não conseguiu me proteger de
tudo, tentei em vão puxar a respiração mais de uma vez.
Até que meus olhos foram se fechando, um estalo se fez presente,
tão alto que até mesmo com aquele travesseiro sob a minha cabeça eu ouvi.
Rapidamente me debati, buscando forças não sei de onde, olhando
à minha volta, quando tiraram o travesseiro abruptamente, puxando o ar
como se estivesse com ele preso em algum lugar dentro de mim. Mas o que
me fez parar, foi ver o homem caído ao meu lado, meu marido rosnando
indo na outra direção da cama, virei o rosto percebendo um segundo
homem se ajoelhar, erguendo as mãos.
— Me rendo por favor, não me mate — ele falou pedindo
clemência ao meu marido.
— Vamos, me fale, a mando de quem está aqui? — Aleksey
rosnou pressionando a arma na cabeça daquele homem.
— Meu pai devia um favor para ele, o interesse dele não era na
carga, era apenas na garota, naquela garota, ele a quer morta... — o garoto
começou a chorar, implorando para que Aleksey abaixasse a arma.
— Me dê um nome. — Meu marido abaixou a arma em direção à
boca daquele homem ajoelhado.
— Bóris Alk... — ele nem terminou de falar quando Aleksey
enfiou a arma dentro da boca do homem disparando a bala que atravessou
sua boca.
Um grito escapou da minha boca, fazendo-me tampar meus olhos
com as minhas mãos, a visão do meu marido matando um homem me
assustou, um homem que implorou pela vida e ele a tirou, como se fosse
digno de decidir quem devia morrer ou não.
— Precisamos acabar com isso! — Sem nem ao menos tirar as
mãos dos meus olhos, meu marido bradou.
Senti a cama afundar, as mãos dele segurando o meu pulso,
tirando a mão do meu rosto, seus olhos ali perto de mim, empurrei meu
corpo para trás vendo uma gota de sangue escorrer pelo canto da sua
bochecha.
Sei que não era dele, e sim, sangue que respingou daquele homem
que ele matou.
— Como está, pequena? — ele sussurrou parecendo preocupado.
— Vo... você... o... matou... — gaguejei sem conseguir falar
direito, sem sequer conseguir olhar nos olhos de um assassino.
— Ele quis matar você, Yesfir — Aleksey falou um tanto
admirado.
— Mas ele estava falando tudo que você queria ouvir, como
pôde? Não é Deus, não é você quem decide quem deve viver ou morrer. —
Empurrei seu peito para longe quando ele quis me tocar. — Não me toque,
monstro, você é um monstro!
Nesse momento as duas mulheres entraram no quarto, querendo
saber o que estava acontecendo, vendo caídos no chão, dois corpos, que
meu marido matara já que ele era o único com uma arma na mão.
— Não me toque seu demônio — brandei com repúdio, querendo
que ele se mantivesse longe de mim.
— Deixa de loucura, Yesfir, ele tentou te matar, como pode ficar a
favor dele e contra mim? — Aleksey rosnou impaciente, querendo me
pegar em seu colo novamente.
— NÃO! — gritei me debatendo fazendo com que ele me
colocasse na cama novamente. — Ele tentou me matar, mas não conseguiu,
você me salvou, mas ele pediu clemência, e mesmo assim o matou!
Soquei o peito do meu marido sentindo as lágrimas começarem a
banhar a minha face, vendo o Pakhan aparecer colocando a mão no ombro
de Aleksey, como se quisesse acalmar os ânimos.
— Vem, Aleksey, deixa que Sofie tire ela daqui. — Sergey pediu
ao meu marido.
— Saiba, Yesfir que eu não me arrependo, ceifaria qualquer vida
que queira tirá-la de mim, não me arrependo, mataria mais mil vidas
inocentes ou culpadas apenas por cogitar que poderiam tirá-la do meu lado
— Aleksey rosnou sem desviar seus olhos negros dos meus.
Ele se levantou, passando o seu antebraço sobre a sua bochecha
limpando aquela gota de sangue, deu uma última olhada na minha direção
como se esperasse que eu pudesse mudar de ideia.
Abaixei meus olhos deixando explícito que não o queria na minha
frente naquele momento.
Seus passos se tornaram distantes, ao meu lado vi a mulher parar,
ergui meus olhos encontrando com Sofie.
— Ele não tinha o direito de decidir isso — sussurrei para a
mulher que se sentou ao meu lado, me ajudando a levantar.
Dmitry ainda estava ali na porta por causa dos dois corpos caídos,
com a perna boa apoiada no chão. Sofie segurava na minha cintura e saímos
do quarto indo na direção oposta de Aleksey e Sergey, entrando em um
outro cômodo.
Sentamo-nos as duas sobre a cama daquele quarto, a mulher
segurando o meu braço.
— Como está, querida? — ela quis saber.
— Eu acabei de ver o meu marido tirando a vida de um homem
que pediu clemência... — um soluço escapou pela minha boca.
— Yesfir, você cresceu em um lugar onde os bons atos eram
sempre prioridade, mas aqui não, principalmente para os russos, não queira
que eles mudem, eu cheguei a brigar com Sergey pela forma que eles
matam os homens, nos afastamos e tudo mais, porém, estou de volta, eu
amo aquele homem, e sei que meu amor por ele é maior do que a forma
sádica com que eles levam esse clã, os russos matam, eles não têm pena, e
Aleksey mataria mil homens por você.
— Está me dizendo que perdoou o que o seu marido faz? —
declarei um tanto admirada.
— Assim como eu, Rubi detesta isso, somos duas que insistiram
para ele fazer de forma diferente e ele não para, não adianta, essa é a
essência deles, eles foram treinados para matar e fazem isso da pior forma,
até pior que o meu antigo clã.
— Não dá, a imagem dele matando o homem não sai da minha
mente — sussurrei cansada dos acontecimentos das últimas 24 horas.
— Aleksey ama você e isso é nítido nele, um amor bem repentino
e eu que pensava que aquele doido não poderia amar — Sofie falou me
fazendo manear a cabeça negativamente.
— Isso não é amor, que espécie louca de amar é essa? Isso não é
amor, amor não é assim, amar é ter sentimentos bons dentro do coração, e
não assim... — Minha frase morreu quando passei a chorar copiosamente.
Como tudo isso pôde cair sobre mim?
Era como se eu carregasse em minhas costas um alvo, e a todo
momento alguém tentasse acertar uma flecha em mim.
— Vem aqui, querida. — Ela afagou meus cabelos acalentando o
meu choro.
Fiquei sobre o ombro de Sofie chorando por muitos minutos.
CAPÍTULO QUARENTA E UM

Apertei minhas pálpebras, sentindo ao meu lado uma cama vazia,


flashes da noite passada vindo na minha mente, Sofie ficando ao meu lado
até eu adormecer.
A imagem do meu marido atirando naquele homem, as lágrimas
dele pedindo clemência, mas nada o fazendo parar. Aleksey estava
decidido, esse era meu marido, um homem que foi treinado para matar.
Abri meus olhos, apoiando-me em meus braços para sentar-me na
cama. Levantei-me, fazendo uma careta, vi ali ao pé da cama o meu vestido,
ainda estava usando a camisa do meu marido, olhei para a porta quando a vi
abrir.
Revelando o semblante cansado de Aleksey, ignorei a presença
dele indo para o banheiro, sentindo uma dor um pouco maior naquela
manhã, talvez porque não tivesse tomado os meus remédios.
— Deixa que eu a ajudo — ouvi a voz dele caminhando na minha
direção.
— Não preciso nada de você — brandei sem olhar para ele,
batendo na sua mão que tentou segurar na minha cintura.
— Pequena — ele sussurrou me fazendo olhar na sua direção.
— Não, não o quero me tocando. — Meus olhos se encontraram
com os dele.
Aleksey tinha uma pequena mancha embaixo dos seus olhos,
marcas de uma noite que possivelmente não dormiu.
— Se esse é você, eu prefiro a morte — rosnei tocando o seu
peito.
Levei um susto quando ele segurou sobre os meus braços, um
pouco abaixo dos meus ombros, empurrando-me até a parede, me
pressionando com força ali, me direcionando seus olhos semicerrados.
— Esse sou eu, Yesfir, nunca, em momento nenhum foi falado
para você que eu era o último romântico da terra, não existe nada de bom
em mim, eu sou podre por dentro, minha podridão é tamanha que ela reflete
em todos os meus atos, não queira extrair algo de bom dentro de mim, pois
não existe nada — rosnou me deixando imóvel naquela parede.
— Existem dois tipos de pessoas, as que são ruins, e as que se
esforçam para ser... — Sussurrei quando a minha frase morreu com seu
rosto se aproximando do meu.
— E qual delas eu sou? — murmurou com aquele timbre
assustador, fazendo todos os pelos do meu corpo se eriçarem.
— Você se esforça para ser ruim. — Uma gargalhada forçada saiu
da boca do meu marido, ele me desencostou da parede me batendo com
força novamente ali.
— Me esforço? Em qual porra de mundo cor de rosa que você
mora? — Aleksey começou a me dar medo, eram poucas as coisas que me
colocavam medo, e o transtorno dele estava me deixando temerosa.
Não ia chorar, ele não ia me fazer chorar novamente, não ia
permitir isso!
— Aleksey, para — pedi, mas não surtiu efeito, sua mão
apertando com força o meu braço, o semblante dele amedrontador, me
deixando com ainda mais medo. — Aleksey, está me machucando.
— Me diga, estou me esforçando para ser ruim agora?
— Sim, está! — Mesmo com medo o afrontei. — Não ache que
eu vou falar o que você quer ouvir.
— Nunca deveria ter abaixado a minha guarda para você, deveria
desde o começo ser com você o que sou para todas as outras mulheres, um
sádico! — ele queria me pôr medo e está conseguindo.
— Pois seja, Aleksey, seja tudo isso, não precisa mudar por mim,
nunca exigi isso de você, apenas estou conhecendo realmente o homem
com quem eu me casei e tudo que eu falava era verdade, é um demônio! —
falei tão rapidamente que chegaram a sair gotículas de saliva da minha
boca. — Me machuque, me machuque, me torture, faça o que tem vontade,
mas saiba que no final disso tudo o que existe dentro de você não vai
mudar, um alívio momentâneo, não te fará feliz muito menos realizado...
— Nunca busquei por felicidade — ele rosnou.
— Até porque monstros não sabem o que é ser feliz, talvez eu
tenha errado sobre o homem doente que é, você é sim, ruim, tão podre por
dentro que o seu odor apodrece todos à sua volta. — Eu queria feri-lo,
queria tocar o ego dele, fazê-lo sentir tudo que me fez passar, mesmo que eu
não tivesse força física para fazer isso faria por palavras.
Aleksey rugiu, apertando meu braço com força, me largando e
dando um passo para trás.
— Talvez seja tudo verdade — ele sussurrou como se estivesse
falando com seus pensamentos.
— Verdade?
Arqueei uma sobrancelha apoiando meu pé no chão, depois que
ele me soltou, e meus pés voltaram a tocar o chão, minha dor percorrendo o
joelho, se estendendo por toda a minha perna.
Um gemido de dor escapou por minha boca, o que atraiu a
atenção dele que direcionou o olhar para o meu joelho.
— Vamos, Aleksey, verdade o quê? — Voltei a pressioná-lo
querendo que me falasse, talvez eu quisesse que meu marido me ferisse,
queria sentir ódio dele.
Queria que o meu corpo compreendesse que esse homem era
ruim, queria que meu coração entendesse que não devíamos gostar dele,
mas sempre quando olhava para o seu rosto, tudo que eu via era um homem
quebrado, um homem que nunca teve atenção, que construiu suas próprias
barreiras em cima da sua dor.
Devia odiar Aleksey Ivanovich, mas não conseguia, não
conseguia, pois existia uma parte dentro de mim que insistia em me sabotar,
querendo me fazer entender que amávamos ele. Mesmo ele sendo um
monstro, me agarrando nas pequenas coisas que ele oferecia.
— Está com dor? — ele perguntou mudando drasticamente o seu
tom de voz e feições.
— Não mude de assunto! — Rosnei diante da minha dor
precisando sentar-me sem saber onde deixei meus remédios.
— Pensei alto, e não vou falar sobre isso — declarou, dando um
passo na minha direção.
— Não me toque! — Grunhi querendo bater na mão dele, mas
daquela vez ele foi mais rápido, me pegando em seus braços, mesmo
comigo lhe batendo, me levou para a cama, onde fez com que eu me
sentasse. — Eu disse para não me tocar!
— É a porra da minha esposa, pode pensar o que quiser de mim,
mas não deixará de ser a minha esposa, e eu me importo com você! —
Rugiu ferozmente.
— Deixe para se importar com outra coisa... — fui interrompida
quando ele pegou meus pés levantando-os sobre a cama me deixando com a
perna esticada.
— Cala a porra da sua boca, Yesfir, de agora em diante vou ser eu
que darei a última palavra, você vai apenas obedecer. — Seus olhos
raivosos se encontraram com os meus.
— Claro...
— Calada, caralho, eu falei calada! — rosnou me deixando até
mesmo assustada. — Tomou seus remédios?
— Devo responder?
— Se eu te fizer uma pergunta, sim! — Talvez eu tenha
conseguido tirá-lo do sério, mas não me importava.
— Não, eu não sei onde está — respondi.
— Fique sentada nessa cama, se eu voltar e não estiver nela vai
levar palmadas igual a uma criança levada!
Aleksey saiu me deixando ali sozinha com os braços cruzados.
CAPÍTULO QUARENTA E DOIS

Desci a escada da sede, sabendo onde estava o remédio de Yesfir,


me aproximei do meu paletó, passando a mão no bolso de dentro, pegando
ali a cartela de comprimido.
Soltei um longo suspiro voltando para o quarto, a imagem dela se
negando aos meus toques ainda martelando na minha mente, seus olhos de
repúdio, querendo que eu fosse o homem que a salvasse de todo o mal,
quando eu mesmo era o próprio mal. Não existia nada de bom em mim, mas
existia Yesfir Ivanovich que era como uma peça de quebra-cabeça que
insistia em se encaixar na minha vida, que teimava em querer extrair algo
de bom em mim, eu não era bom. E não precisava que ficassem frisando
isso para mim.
Voltei a subir a escada, entrando no quarto vendo a cama vazia,
óbvio que ela não ia me obedecer, virei o rosto notando a porta do banheiro
fechada, sabendo que ela devia estar ali.
Fechei a porta do quarto, passando a chave, segui em direção da
cama, sentando-me sobre o colchão esperando por qualquer indício dela.
Ainda não havia dormido nada, era como se flashes se jogassem
em minha mente toda vez que meus olhos se fechavam, aqueles homens
com o travesseiro sobre a cabeça dela, seus pés parando de se debater,
minha arma atirando sem nem ao menos saber se era o tiro certo, apenas
agindo por impulso, com medo, desde que Yesfir entrou na minha vida, o
sentimento de medo passou a fazer parte com mais frequência em minha
rotina, que porra de mulher que só atraía problemas.
Ninguém mexia com a minha esposa e saía ileso, nunca, nem se
eu nascesse em outra vida ia permitir que esse homem saísse ileso, podia
não ser Deus, mas ninguém tocava no que era meu, e Yesfir, era minha!
A porra da minha esposa, nunca protegi tanto alguém como a ela,
nem que para isso eu tivesse que colocar mais um chip rastreador nela.
Ouvi o movimento dos pés dela, meus olhos se fixando na porta
do banheiro, esperando que ela o abrisse, um suspiro pesado escapou da sua
boca quando abriu a porta, nossos olhos se encontrando, quando apareceu
totalmente no meu ponto de vista, ela não estava mais usando a minha
camisa.
Eu queria ter tirado aquela camisa, ter colocado o vestido, mas
óbvio que Yesfir não ia me esperar, não ia acatar uma ordem minha, pois se
o fizesse, não seria a minha Yesfir, ela podia até querer falar que era
conivente, que se calaria, mas nunca ia conseguir tal feito.
Levantei-me da cama, seguindo em sua direção, parando na sua
frente, meus olhos se abaixando na sua direção.
— Difícil acatar uma ordem minha, não é mesmo? — grunhi com
ela.
— Não ia te esperar, posso estar com dor, mas o meu amor-
próprio é maior que ficar nua na sua frente e vê-lo me olhando com esses
olhos possessivos, como sempre faz — sua afronta foi a mesma, e eu já
estava acostumado vindo dela.
— Te olho da maneira que sempre olhei — declarei arqueando
uma sobrancelha.
— Então quer dizer que sempre me olhou com desejo?
— Talvez sim, eu a quis desde o primeiro momento, até mesmo
quando não era minha, o meu desejo proibido pela noviça daquele internato
me fez querer cometer loucuras.
— Louco, é isso que é. — Minha esposa quis passar ao meu lado,
mesmo com a tala em seu pé, e a dor que estava sentindo, quis se mostrar
indiferente, mas não comigo, não dessa forma.
Pegando-a desprevenida, passei a mão em sua cintura, segurando-
a em meu peito, mantendo-a deitada sobre os meus braços.
— É tão pequena que não existe dificuldade em pegá-la em meus
braços — zombei sem esboçar um sorriso, levando-a para a cama onde
sentei minha pequena esposa. — Não vai pensar que só porque está com
esse negócio no seu pé será poupada do seu castigo.
Peguei no bolso da minha calça o comprimido dela, vendo-a olhar
em volta.
— Não tem água. — Fez um bico naturalmente.
— Tudo bem, vamos descer e tomar café, pois você precisa se
alimentar — declarei querendo me abaixar para pegá-la novamente, mas a
garota teimosa quis se esquivar, porém, nada que fizesse me faria mudar de
ideia.
Com um pouco mais de agressividade segurei seu corpo em meu
colo novamente.
— Que droga. — Minha esposa segurou em minha camisa com
força, propositalmente para arranhar o meu peito.
— Eu cuido do que é meu, e adivinha só, você é minha, meu
pequeno anjo querubim...
— Não quero mais que me chame assim, pois se eu fosse tudo
isso que fala, não teria matado aquele homem, não ceifaria vidas apenas
pelo seu benefício, como posso ser algo bom na vida de uma pessoa cruel?
Isso faz de mim algo ruim, e eu não sou ruim — Yesfir declarou com os
olhos fixos aos meus.
— Não é ruim, e não quero que seja, foi a única coisa boa que me
aconteceu, em meus 31 anos nunca soube o que era algo bom, e você me
faz acreditar em algo bom, mesmo que eu seja ruim, mesmo que dentro de
mim habite o lado obscuro e dentro de você a bondade, nunca deixará de ser
o anjo que veio para iluminar a minha vida, mas não espere que fará de
mim um homem bom, pois nunca fui e nunca serei, aqueles homens
queriam te matar e mesmo que me pedissem perdão com barras de ouro em
suas mãos eu os mataria de qualquer forma, assim como farei com qualquer
outro homem que cruzar o seu caminho, entenda, Yesfir de uma vez por
todas, foi a única coisa boa que aconteceu na minha vida e eu vou ao
inferno, por você enfrento meus piores demônios, queria alguém que se
importasse com o seu melhor, e agora me tem, mesmo que meio
atravessado, sou a porra do seu marido, e ninguém tocará um dedo na
minha esposa!
Fui rude, aquela foi a primeira vez que ela se calou
completamente, me fazendo soltar um suspiro aliviado, saindo do quarto,
levando-a comigo, descendo a escada, chegando na sala de jantar
encontrando todos ali, facilmente puxei uma cadeira sem precisar soltar a
minha esposa, sentando-a nela.
Todos nos olhando, Sofie direcionou um olhar de pesar para a
minha esposa, meus olhos se encontraram com Sergey, ele assentiu,
deixando explícito que o nosso plano para pegar o maldito do Bóris Alkaev
já estava em ação.
Vou acabar com aquele imundo, por tudo que ele fez a minha
esposa passar, por cada lágrima derrubada por seus olhos, por nunca ter
cuidado dela como um pai devia cuidar, não podíamos matar um dos
nossos.
Mas temos provas de que ele tentou contra um membro da máfia,
contra a esposa do Obshchak. Por esse motivo a morte dele seria decidida
em um parlamento com os membros mais influentes do nosso clã, e como
em nosso atual parlamento todos abominavam Bóris, a morte dele era
certa.
CAPÍTULO QUARENTA E TRÊS

Todos olharam na nossa direção sem entender a razão da loucura


do meu marido, até mesmo quando tentava ser submissa aos atos dele algo
dentro de mim se fazia presente a ponto de perder todo o ar de submissa.
— Tome — Aleksey estendeu para mim o comprimido.
Olhei para os dois comprimidos na mão dele enquanto estava
sentada, com dois dedos os peguei da mão dele, vendo-o apanhar sobre a
mesa um copo de água.
Levei os comprimidos à minha boca, pegando a água da mão de
Aleksey, tomando o líquido, fazendo aquilo descer, fazendo uma careta
quando o comprimido desceu pela minha garganta.
— Está melhor, Yesfir? — Sofie direcionou a pergunta para mim.
— Sim, estou um pouco melhor — declarei sem querer mencionar
que estava com dor ainda, não quero mais holofotes sobre mim, eu que
sempre quis pessoas que se importassem comigo agora estou achando tudo
em grande excesso.
— Desculpe não ter passado a noite ao seu lado. — Ela sorriu
como se estivesse se sentindo culpada.
— Tudo bem, eu realmente estou bem. — Tentei sorrir, mas a
presença do meu marido ao meu lado me deixava tensa.
O celular sobre a mesa vibrou atraindo meus olhos para aquele
barulho, vendo que era o do meu marido.
“Já estamos com ele”
Uma frase única brilhou, fazendo Aleksey pegar o aparelho.
— Estão com quem? — inqueri sendo invasiva.
A sala de jantar ficou em completo silêncio, sabendo naquele
momento que todos sabiam e eu não. Busquei por Sofie, a única ali presente
que faria algo para o meu bem maior.
Segurei no braço de Aleksey que estava ao meu lado, fazendo os
olhos negros do meu marido se encontrarem com os meus.
Ele não falou nada, voltando a sua atenção para o celular, como
sempre eu sendo ignorada.
— Ela merece saber, é algo que diz respeito a ela, se vocês não
contarem eu conto — Sofie entrou em minha defesa.
Lógico que ninguém declarou nada, todos ficando em completo
silêncio, como se eu não fosse nada, não merecesse saber o que estava
acontecendo.
— Aleksey? — Chamei o nome do meu marido.
— Isso não te diz respeito! — Brandou o mafioso
— Então, por que Sofie deu a entender que sim? Se não souber
pela sua boca ficarei ainda mais irritada com você e toda vez que me tocar
vou gritar, gritar tão alto a ponto de ficar sem voz — seus olhos
semicerraram na minha direção.
— Faça isso, talvez você sem voz seja menos irritante — meu
marido declarou me deixando perplexa.
— Tudo bem, eu vou contar, então — Sofie se intrometeu fazendo
Aleksey rosnar ao meu lado.
— Sofie, isso não é assunto seu — o Pakhan tentou barrar uma
das suas esposas.
— Pode não ser, mas se fosse eu no lugar dela gostaria que me
falassem. — Ela não desviou os olhos de mim, Sofie era um tipo de pessoa
que se colocava ao lugar do outro, sentindo como seria se fosse ela no lugar
daquela pessoa.
— Come, Yesfir, encha a sua boca de comida e depois eu conto o
que está acontecendo — meu marido mais uma vez ordenou.
Sei que ele não ia contar nada, conhecia a peça que eu tinha como
marido, sei que ele acima de qualquer coisa sabia persuadir os outros com
medo.
— Me obrigue então, não fez isso antes? Vai, Aleksey, enfie
comida na minha boca, pois por vontade própria não farei nada — declarei
confrontando-o.
— Sabe melhor que ninguém que eu não fujo de uma afronta —
ele rugiu entredentes, sem nem ao menos mover direito a sua mandíbula.
— Faça, Aleksey, isso é uma afronta declarada. — Pude ver o
momento que ele fechou suas mãos, apertando-as com tamanha força que
seus nós dos dedos se tornaram brancos.
— Já chega eu não vou ver ele machucar ela na minha frente e
não fazer nada, eles estão com o seu pai, Yesfir — Sofie me fez olhar
lentamente para ela.
— Co-como? — gaguejei ao falar.
— Sim, isso mesmo, seu pai vai para julgamento, existem provas
de que ele foi contra um membro do clã, precisam apenas da aprovação de
todos no parlamento, e a palavra final do Pakhan sentencia a morte dele.
Arregalei meus olhos, sabendo que a prova que eles tinham era o
nome proferido pela boca daquele homem que tentou me matar.
— Sou eu? A pessoa que ele tentou contra, sou eu? — sussurrei
direcionando meu olhar para Aleksey.
— É por isso que mulheres não servem para a máfia. — Aleksey
não desviou os olhos de mim.
— Mesmo eu estando com raiva de você por ter matado uma
pessoa, vai fazer de novo? — murmurei perplexa.
— Vou fazer, com prazer, lentamente, fazendo aquele velho
desgraçado sentir por tudo que você passou...
— Para! Para de tomar minhas dores quando nem ao menos pedi
isso, para de querer brincar de Deus, não é você quem decide quem deve
viver ou morrer...
— Acertou, não sou eu, é o Pakhan que decide e como ele quer a
morte daquele imundo, vamos os dois nos divertir e brincar de Deus — meu
marido estava falando para me atingir, e estava conseguindo.
— Se fizer isso nunca mais olharei nos seus olhos — sussurrei.
— Não olhe, Yesfir, para ter o que eu quero de você não preciso
dos seus olhos. — Arregalei meus olhos, sentindo lágrimas brotarem neles.
Não era por amor ao meu pai, não sentia nada por ele, apenas não
queria que meu marido carregasse em suas mãos mais uma morte, se ele era
tão frio a ponto de ceifar uma vida, o que ele podia fazer comigo? O que
podia acontecer se ele julgasse que não era mais importante para ele?
Empurrei minha cadeira para trás, sentindo a mão de Aleksey
segurar com força em minha coxa barrando o meu movimento.
— Vai comer — rosnou em meio a sua ordem.
— Não, eu não vou! — bradei olhando na direção dele.
— Estou mandando — grunhiu.
— Me obrigue — afrontei.
Todos ficaram em silêncio, vi o momento em que ele pegou uma
fatia de torrada sobre a mesa, que ia me obrigar a comer.
— Vou comer com uma condição. — Aleksey freou seus atos me
olhando.
— E qual seria?
— Quero acompanhar tudo, quero ver o julgamento e quero ver a
morte, quero saber o homem que eu tenho ao meu lado — falei decidida.
— Querida, não... — o sussurro de Sofie se fez presente em toda a
mesa.
— Se ela quiser ver, vai ver, mas depois não diga que não foi
alertada, pois eu sou sádico em tudo na minha vida. — Meu marido me deu
um dos seus sorrisos pequenos e cheios de maldade.
— Tudo bem, eu quero ver!
Decidi sabendo que no fundo eu estava com medo, medo de
conhecer explicitamente a outra face de Aleksey, uma face que talvez eu
não quisesse conhecer.
CAPÍTULO QUARENTA E QUATRO

Yesfir quis estar presente durante o julgamento de Bóris, mas se


havia um lugar em que ela não podia estar era aqui, na ponta da mesa estava
Sergey, em seu dedo segurava um charuto, eu estava sentado ao seu lado,
em minha frente Dmitry. Segurando no ombro do Pakhan estava a sua
esposa Rubi, ela sempre ficava ao lado dele, essa foi a condição dela para
sair da sua antiga máfia, e vir para a Bratva.
Rubi era a subchefe da máfia suíça, e quando engravidou de
Sergey, ele a pediu em casamento trazendo as duas para a Rússia, agora a
mulher suíça estava sempre ao lado do Pakhan, ao contrário da outra que
praticamente não se envolvia em assuntos do clã.
Era uma mesa com doze lugares, dentre eles os brigadier mais
influentes na Bratva, sendo escolhidos a dedo por Dmitry.
Bóris não estava presente ainda, ele ia vir em breve, se sentando
na outra ponta da mesa.
Todos os doze homens votavam, incluindo a esposa de Sergey que
estava entre os doze, ao lado do Pakhan, Rubi parecia até mesmo uma
estátua, quase não piscava, observando tudo à sua volta, ela era boa, por
mais que odiasse mulheres na máfia, essa em questão não se deixava
intimidar em nenhum momento.
Estava em silêncio apenas observando os homens conversando,
sabendo que a qualquer momento aquele imbecil ia estar presente, o homem
que devia ser o meu sogro, que na verdade, era meu sogro, um idiota que
possuía uma filha incrível e que sempre a deixou largada.
O coração gigante de Yesfir nunca ia permitir que eu matasse
sequer um inseto quem diria uma pessoa, não me arrependia de nada que
fazia, mas talvez eu me arrependesse de ter deixado que ela presenciasse a
morte do seu pai, minha garota não necessariamente precisava ter o seu
coração bondoso manchado pela imagem do seu marido monstro.
Um movimento se fez presente na porta, não foi necessário nem
ao menos virar o rosto para saber de quem se tratava, era ele.
Sergey me passou o seu charuto, tudo porque queria me manter
quieto em meu lugar. Mas foi apenas virar o meu rosto e encontrar com os
olhos claros daquele monte de merda que meu sangue ferveu, levantando-
me da cadeira, indo em direção ao verme.
Três dos homens que o levavam, o fizeram se sentar na cadeira,
algemando os pulsos dele sobre o encosto.
— Então quer dizer que honra tanto a sua linhagem que mandou
que matassem a sua filha? — perguntei me colocando ao seu lado.
— Ela deixou de ser uma Alkaev quando se casou com um
imundo como você, um mero Ivanovich. — Seus olhos nem ao menos se
encontraram com os meus.
— Ao menos pode agradecer, pois foi esse Ivanovich que trouxe
um pouco de importância para a vida dela. — Virei-me prestes a voltar para
a minha cadeira.
— Isso porque ela tem uma boceta virgem, aposto que se não
tivesse já teria matado ela — a frase dele me fez virar, semicerrando os
olhos, soltando um rosnado pela minha boca.
Naquele momento sei que nada me faria parar, ninguém se referia
a Yesfir dessa forma, ninguém falava das partes do corpo dela com tamanho
desprezo, na verdade, ninguém nem devia pensar em mencionar o que ela
tinha em seu corpo.
Segurando aquele charuto na minha mão, ergui meus dedos,
agindo em meio ao meu impulso, pressionando a ponta do charuto na
bochecha dele.
Apertando com força ali, ouvindo o grito do velho estremecer na
sala, um sorriso cruel brotando no meu lábio.
— Nunca mais pense em falar da minha esposa dessa forma! —
Rosnei aproximando meu rosto do dele, vendo os olhos do velho ficarem
esbugalhados, o sangue começar a escorrer em meio à queimadura que
causei.
— Aleksey — Sergey me chamou fazendo com que eu tirasse o
charuto do rosto do velho. — Estragou um charuto de qualidade...
— Vocês são todos loucos, a Bratva nunca esteve em mãos piores
que essa! — Bóris declarou em meio ao seu choramingo de dor.
— Isso porque não tem mais domínio sobre nada, pois quando um
doente como você e meu pai que judiavam de crianças, que faziam garotos
matarem pessoas, o clã estava em boas mãos, se depender de mim, vou
ensinar aos meus filhos como pisar e esmagar vermes como você, e não a
matar pessoas inocentes — Sergey rosnou, pois, Bóris sempre esteve ao
lado do antigo Pakhan, o pai de Sergey.
Sergey matou a sua mãe quando era criança, uma mulher inocente
que o pai o obrigou a matar, isso porque Sergey amava a mãe e um futuro
Pakhan não podia saber o que era amar, Nikolai deve ter se revirado no
caixão quando o filho se casou com duas mulheres, amando as duas.
Voltei para a minha cadeira, me sentando sobre ela, olhando para
a ponta da mesa onde estava sentado Bóris, o sangue escorrendo por sua
bochecha, sem nem ter como limpar aquilo, pois estava sentado com as
mãos atadas.
Sergey começou a falar todas as provas que tínhamos contra Bóris
Alkaev, sobre a parede, um televisor com a prova em vídeo do homem
pronunciando antes que o matássemos quem estava por trás do atentado
deles.
As mensagens que eu tinha do infeliz quando rastreei o seu
celular.
Estava tudo ali, explícito, escancarado, o atentado que ele tentou
ao clã, quando julgou que podia matar a esposa de um membro da máfia.
Um silêncio se fez presente quando Sergey parou de falar, apenas
os gemidos de Bóris ecoavam na sala.
— Isso é tudo, iniciaremos agora a votação, os que estão a favor
de manter Bóris Alkaev vivo, julgando que ele não é uma ameaça ao nosso
clã, levantem suas mãos — o Pakhan falou.
Bem nesse momento, a porta voltou a chacoalhar, não deveria ter
alguém ali, pois estavam todos presentes. Meus olhos se viraram na direção
quando vi a minha pequena coisinha passar pela porta.
— Mereço estar presente, pois é sobre mim isso aqui! — Seus
olhos olharam em volta, um suspiro escapou pela minha boca, levantei-me
da minha cadeira.
Yesfir fez uma careta com a dor em seu pé machucado, seus olhos
indo em direção ao seu pai algemado na cadeira. A preocupação explícita
quando viu o sangue escorrer pela face do pai.
— Por que fez isso? Por quê? — Yesfir fez menção de ir em
direção ao pai.
— Porque nunca tive interesse em você, nunca quis uma filha
mulher e foi isso que aquela imprestável da sua mãe fez, me deu uma
mulher, uma coisinha estranha, sempre acuada, com medo de tudo, no
fundo sua mãe fez uma coisa certa, se matou, quem sabe não faça o mesmo,
se mate como ela, não fará diferença para ninguém, nunca foi uma Alkaev,
alguém como você nasceu para ser algo insignificante como um Ivanovich!
— o homem destilou todo o seu ódio.
Estava prestes a ir em direção à minha garota quando seus olhos
semicerraram para ele, falando entre dentes, se contendo para não cairem
lágrimas.
— Pois a melhor coisa que aconteceu na minha vida foi quando
me abandonou naquele internato, você tirou de mim o que uma garota
precisava ter, o amor de uma mãe, por egoísmo próprio não me deixou ir
com ela, ser uma Ivanovich é mil vezes melhor que ser uma Alkaev, se
depender de mim, o senhor pode morrer, nunca desejei tanto a morte de
alguém como desejo a sua. — Ela passou a mão embaixo dos olhos
limpando a lágrima que caíra.
Ela foi forte, foi altiva, a minha pequena esposa tomando uma
decisão sensata.
— Acho que podemos dar continuidade, Pakhan — falei ao meu
amigo.
Segui até Yesfir, passando a mão na sua cintura para trazê-la para
a cadeira onde podia se sentar sussurrando em seu ouvido:
— Sempre será importante para mim.
A votação deu continuidade, com a filha de Bóris presente, até
mesmo ela deu o seu voto.
A minha vontade de matar Bóris não cessara, eu queria aquele
velho desgraçado, ceifado, picotado, queria que sentisse cada tortura que ia
fazer com ele, quer sua filha quisesse, ou não.
Bóris Alkaev ia ter um fim lento, uma morte sofrida e sentida por
cada músculo dele.
CAPÍTULO QUARENTA E CINCO

Levaram o meu pai da sala, não sei para onde o estavam levando,
mas tudo que eu queria para aquele momento era não ver o meu marido
envolvido naquilo, me virei na cadeira, sendo uma das últimas a sair da
sala. Aleksey estendeu a sua mão, segurei-a, vendo a minha se perder no
meio da dele.
Levantei-me da cadeira com o seu auxílio. Meus olhos se
erguendo da escuridão que eram os dele.
— Aleksey, por favor, não vá — pedi em uma súplica.
— Pequena, nada que falar me fará mudar de ideia, eu vou matar
o seu pai...
Fechei meus olhos com força, fazendo as palavras dele se
perderem no ar, senti seu dedo roçar em meu rosto, abri meus olhos
delicadamente, encontrando sua atenção fixa em mim.
— Pelo menos uma vez faça o que eu peço — sussurrei vendo
suas irises seguirem os traços do meu rosto.
— Me peça qualquer coisa, menos isso. — Seu rosto se abaixou,
percebi que seu lábio tocaria o meu, queria sentir a maciez deles, mas ao
mesmo tempo a minha raiva por ele querer ceifar uma vida falou mais alto,
fazendo com que eu virasse o meu rosto.
Aleksey soltou um longo suspiro, seus dedos descendo pelo meu
pescoço, agarrando a minha nuca, apertando-a com força, sua mão guiou
meu rosto a se virar, meus olhos encontrando os dele, seu nariz roçando o
meu com agressividade.
— Nunca me negue um beijo — rosnou colando o lábio ao meu.
Não retribui o beijo, mantendo minha boca fechada como se fosse
uma cerra.
— Não! — brandei entredentes.
— Faço tudo por você, pequena, será que não percebe isso? — ele
declarou, afastando um pouco o rosto.
— Faz, Aleksey? Então por que não deixa outro acabar com isso?
— perguntei.
— Pois preciso sentir em meus dedos a dor do desespero daquele
homem que te fez sofrer — meu marido falou aquilo em tom de vingança.
— Aleksey... — suspirei seu nome.
— Eu faço o que você quiser dentro das minhas normalidades, eu
deixo você fazer o que quiser, menos ficar longe de mim, agora não me
peça para mudar o que é impossível, pois esse sou eu, um monstro por
dentro. — Pisquei várias vezes.
Tudo isso era ridículo, sem sentido, como ele dizia que fazia tudo
que eu queria, mas nada que eu pedi a ele se dispôs a fazer.
— Tudo bem, você disse que faz tudo que eu quero, não me
toque, solte a mão de mim, e eu vou junto, preciso saber o quão doente é o
homem que eu tenho ao meu lado — declarei com altivez. — Não desejo o
bem do meu progenitor, mas não queria que você decidisse o futuro dele,
não queria que o meu marido carregasse em suas mãos a morte do meu pai,
o que vou falar um dia aos meus filhos?
— Não pretendo ter filhos...
— Não precisa ser nenhum expert no assunto, para saber que eu
posso estar grávida de um monstro como você! — exclamei, querendo me
desviar dele.
— Se estiver grávida não terá essa criança, não quero colocar ao
mundo um mini monstro... — ele segurou no meu ombro me fazendo virar,
e o olhar por sobre o meu ombro.
— Deveria ter pensado nisso antes de jogar seu líquido dentro de
mim, o bom nisso tudo é que sabe o quão monstro é, seu demônio! —
brandei em meio à minha raiva.
Aleksey rosnou saindo da sala me deixando ali sozinha. Por sorte
ele não tentou me pegar em seu colo para me tirar dali, senti meus olhos se
encherem de lágrimas, saí daquela sala sozinha, sentindo escorrerem por
minha face as lágrimas grossas.
Tudo que eu queria era que Aleksey deixasse outro fazer isso, sei
que o fim de Bóris já estava premeditado, mas não precisava ser pelas mãos
do meu marido.
Encontrei com Sofie do lado de fora, tentei limpar rapidamente
minhas lágrimas o que foi em vão, pois ela viu.
— Ele a machucou? — perguntou parando na minha frente.
— Meu marido é um demônio, eu pedi, implorei para que ele não
fizesse isso com meu pai, mas mesmo assim vai fazer — minha voz saiu em
meio a um sussurro embargado.
— Querida, lembra o que te falei?
— Nada muda a cabeça de um mafioso. — Suspirei aceitando o
braço que ela estendeu para mim. — Quero ir até eles, quero ver o monstro
que é o meu marido.
— Não sei se seria a melhor ideia...
— Por favor, eu quero Sofie — pedi e em silêncio ela assentiu,
me guiando para fora da sede.
Passamos pelo pátio, ela sabia por onde passava, parecendo que
conhecia até mesmo como a palma da mão aquele lugar, nem mesmo se
notava que ela morava ali há tão pouco tempo.
Nós nos aproximamos de uma porta, Sofie parou, me olhando em
meio a um suspiro.
— É aqui, querida, mas eu não vejo essas coisas, eu não vejo o
meu marido em ação, a última vez que vi Sergey e seus homens agindo eu
quase quis matar cada um deles, por esse motivo, pelo bem do meu
casamento, e pelo filho que carrego em meu ventre, não vou entrar —
assenti quando ela deu um passo para trás. — Vou estar aqui fora te
esperando.
Voltei a concordar com a minha cabeça, passando a mão na
maçaneta da porta dupla, empurrando-a com suavidade, pelo que eu vi
ninguém notou a minha presença, estava em um canto escuro da sala,
apertando minhas mãos no tecido da minha camisa.
Os três estavam ali, circulados por outros homens, por uma brecha
entre os homens pude ver com clareza o meu marido, ele tinha em sua mão
um alicate, um dos homens esticava a mão de Bóris, e foi necessário levar a
mão na minha boca para reprimir o meu grito.
Aleksey começou a puxar cada unha, arrancando da mão dele sem
piedade, meu pai gritando, gritando tão alto que chegava a ecoar naquela
sala, fiquei ali parada, olhando atordoada, me segurando na parede para não
cair.
Ali, eu realmente conheci a face demoníaca do meu marido, o
monstro que o dominava, ele fazia aquilo com um sorriso em seus lábios,
torturou Bóris, arrancou cada um dos seus dentes e quando percebi que eles
começariam a esquartejar Bóris vivo, foi como se me revirasse o estômago
e eu não pudesse mais presenciar calada.
Se meu marido julgou que seria uma vingança, que faria seu
coração se sentir mais leve, isso apenas o deixava mais enganado, pois essa
morte apenas ia fazer com que carregasse mais um fardo dentro de si.
Sei que nunca ia conseguir mudar o marido que tinha, mas a visão
desse lado doentio dele me deixou apavorada, com medo, saí daquela sala
do mesmo jeito que entrei, em silêncio, me encontrando com Sofie e me
jogando nos braços dela.
— Meu marido é um monstro, por favor me tire daqui — implorei
em meio ao abraço.
— Oh, minha querida, sinto muito, vem, vamos para um lugar
longe dele, em uma ala mais distante da sede...
CAPÍTULO QUARENTA E SEIS

Fiquei olhando a água cair sobre a minha mão, o líquido se


misturando com o sangue que carregava sobre a minha pele, lavando as
mãos, esfregando-as, tirando qualquer resquício de Bóris Alkaev, o homem
que eu tive o prazer de presenciar o último suspiro agonizante de vida,
nesse momento ele devia estar entrando nas portas do inferno, se era que
esse lugar existia, se era que já não vivíamos no próprio inferno.
Pelo canto dos olhos vi a esposa de Sergey se aproximar,
estávamos ao lado de fora da sala enquanto limpavam a sala e desovavam
as partes do corpo daquele imundo, podiam até ser dado como um indigente
de tanto que o desconfiguramos, éramos os mestres na tortura, e a mesma
raiva que eu carregava Sergey e Dmitry carregavam também, eles por serem
judiados por Bóris quando eram crianças.
Dmitry não tinha mais os pais vivos, ambos morreram
envenenados quando ele ainda era um moleque, houve boatos de que foi o
filho que fez isso com os pais, mas Dmitry nunca entrava nesse assunto, ele
cresceu junto com a sua avó a única pessoa por quem ele tinha apreço.
Dmitry Ustinov veio de uma longa linhagem de mafiosos. Seu
lugar na máfia sempre esteve guardado, mas assim como todos os outros ele
precisou passar por testes para entrar, ao contrário de mim, Dmitry sempre
soube o que queria, ser um mafioso, em partes teve influência da sua avó,
pois aquela velha maluca era leal ao clã até seu último fio de cabelo.
Meu amigo era tão louco quanto eu, como se a loucura já
estivesse em seu sangue desde que nasceu, ele não tinha piedade nem
mesmo com mulheres, já o vi até mesmo matando uma em um ato sexual,
era sádico, mas ele era pior que eu. O que chegava a ser uma ironia, pois
mais doido que eu, só dois de mim.
— Não sei se os bonitos sabiam. — Afastei-me da torneira,
segurando a toalha que me jogaram.
Sergey fez o mesmo olhando para a sua esposa que nem ao menos
estava suja de sangue, ela apenas presenciou, não sujou suas mãos.
— Sabem o quê, querida? — toda vez que Sergey chamava uma
das suas esposas de alguma forma carinhosa, chegava a parecer cômico,
pois o Pakhan não tinha muitas palavras, era sempre silencioso, e as poucas
vezes que abria a boca para chamá-las de forma carinhosa, parecia o boneco
Chuck querendo ser delicado.
— Tivemos uma convidada, mas ela não ficou por muito tempo.
— Nesse momento, meu coração estranhamente bateu pesado em meu
peito.
— De quem está falando? — perguntei com a voz ríspida.
— Ué, pensei que você tinha falado que ela podia ver tudo. — A
morena cruzou seus braços.
— Yesfir estava presente e você não avisou? — Rosnei para a
esposa do Pakhan.
— Quem sou eu para interferir em algo que não me diz respeito, a
garota é problema seu, você disse que ela poderia presenciar, e ela o viu,
não falei, pois louco do modo que é, faria a menina presenciar do início ao
fim, e pelo modo que a vi saindo, estava desolada, talvez ela tenha
percebido que nada muda a cabeça de mafiosos sádicos como vocês. — Dei
um passo na direção dela, querendo segurar aquela mulher pelo pescoço.
Sergey se colocou na minha frente, meu amigo assim como eu era
alto, Rubi não tinha medo de ninguém, por isso ela batia de frente mesmo.
— Aleksey, se contenha — o Pakhan brandou para mim.
— Porra! Ela deveria ter me falado que Yesfir estava lá!
— No que isso mudaria? Quem deixou a menina presenciar foi
você, em nenhum momento falou que não era para ela ver, assume que se
importa com ela mais do que o essencial, assume que não queria que ela
visse o seu lado sádico, se não assumir os seus sentimentos, não seremos
nós a adivinharmos, então arque com as consequências das suas palavras
jogadas ao vento, a sua esposa o viu matando o pai dela, um ato aprovado
por você perante a todos, agora não venha colocar a culpa na minha esposa,
enquanto não assumir o que sente por ela, vai continuar pisando em ovos
com a garota. — Sergey jogou verdades nuas e cruas na minha cara.
Ele estava certo, eu quis colocar a culpa na mulher que não tinha
nada a ver com isso. Porra, não sei até qual ponto Yesfir viu tudo, sei que
extrapolei em todos os sentidos, deixei a raiva me dominar quando estava
naquela sala, eu quis fazer aquele homem sofrer e sentir tudo que a filha
passou, e agora ela estava ainda mais magoada comigo.
Caralho, no fundo eu não queria que Yesfir presenciasse a morte
do seu pai, não queria que a minha esposa me visse daquela forma, por mais
que eu tivesse falado que não me importava, no fundo eu me importei.
Pois tudo que diz respeito àquela pequena coisinha me deixava
preocupado e confuso, por que fico dessa forma? Por que Yesfir me
desestabilizava?
— Onde ela está? — perguntei sabendo que a esposa de Sergey
sabia me informar.
— Sofie me disse que as duas estão juntas, e que a sua esposa está
aos prantos, não quer vê-lo, então não serei eu a contar. — A morena deu de
ombros despreocupadamente.
— Se não falar onde a minha esposa está, será pior para ela —
rosnei.
— Rubi, fala onde está a garota — Sergey pediu para a esposa.
— Não, eu não vou falar, e se ele fizer algum mal a ela se verá
comigo, deixa aquela pobre mulher em paz, você diz se importar com ela,
mas nunca para para pensar ou ouvir o que ela te pede — lógico que Rubi
não falaria.
Assim como Sofie, Rubi entrava sempre em defesa de mulheres, e
não adiantava pressionar, pois a mulher não falaria nada, e isso só faria com
que o Pakhan ficasse em defesa da sua esposa.
Soltei um longo suspiro.
— Vou para o meu quarto tomar um banho e tirar o resto desse
sangue que está na minha roupa, mas saibam que depois vou atrás dela, e
Yesfir vai voltar comigo para casa — não esperei pela resposta deles, indo
em direção à porta da sede.
Talvez um banho, tirar essas roupas ensanguentadas seja uma
forma melhor de chegar na minha esposa que nesse momento deve estar me
odiando.
A frustração me toma toda vez que paro para pensar o motivo e a
razão para me importar com o que Yesfir pensa sobre mim.
Nunca me importei com a opinião de ninguém, mas a da garota eu
me importo, que porra!
CAPÍTULO QUARENTA E SETE

Aos poucos minhas lágrimas foram cessando, Sofie estava


sentada ao meu lado naquela sala. Nunca tinha vindo para esse lado da sede,
nem ao menos sabia que existia uma sala tão aconchegante ali.
Esse lugar era tão enorme que facilmente alguém conseguia se
esconder por dias sem ser encontrado. Estava sentada, com uma perna
esticada ao chão, ao meu lado podia ouvir o estômago de Sofie roncar,
estávamos há algumas horas ali, nem ao menos me atentei que ela poderia
estar com fome.
— Pode voltar Sofie, estou melhor — sussurrei sentindo a mão
dela em meu braço.
— Estou bem...
— Deve estar com fome, pode ir — declarei virando o meu rosto
sorrindo para ela, ou ao menos tentando.
— Acho que estar grávida me faz ter fome com mais frequência,
quer mesmo ficar aqui sozinha? Estamos longe de todos, tenho medo de
deixá-la aqui. — Ela estava preocupada comigo.
— Estou bem, ninguém vai me encontrar aqui.
Sofie se levantou, se despedindo, deixando explícito que iria
comer e tentaria voltar depois.
Fiquei ali sozinha, olhando à minha volta, notando os móveis
mais rústicos naquele lado da sede, aquilo parecia uma sala de chá, quando
as senhoras se encontravam para tomar o seu chazinho da tarde.
Soltei um longo suspiro, virando meu corpo, me deitando sobre
uma almofada, me encolhendo, fechando meus olhos, imagens do meu
marido vindo à minha mente, o modo como ele agiu, o prazer em seu olhar,
a devoção por aquele ato, deixando bem claro que ele estava gostando.
Aquele era o homem com quem me casei?
Aleksey mostrou o que eu já sabia e não queria assumir, meu
marido era o diabo escancarado, e nem mesmo se ele me considerasse o
anjo em sua vida, ia fazer com que ele mudasse de ideia, Aleksey nunca ia
mudar, e não ia ser eu a fazê-lo mudar.
Ou o aceitava dessa forma, ou seguia odiando-o.
Mas como odiar a pessoa que mesmo querendo nutrir sentimentos
de ódio ou desejo ao meu lado, eu não parava de pensar em seus olhos, em
sua boca quando tocava a minha, em seus dedos que me seguravam com
possessividade.
De uma forma só dele, sei que o meu marido cuidava de mim, sei
que podia confiar nele.
Estava tão absorta em meus pensamentos que ao sentir algo tocar
a minha face, levei um susto, batendo naquilo achando que era um bicho.
Abri meus olhos em meio ao meu movimento notando parado ali o meu
marido. Aleksey estava ajoelhado ao lado do sofá. Sua boca franzida em
uma linha reta, há quanto tempo ele estava me observando?
— O que faz aqui? — Esquivei-me dele querendo me sentar no
sofá.
Porém foi tudo em vão, pois o homem se moveu mais rápido,
segurando em ambos os lados do meu ombro. Mantendo-me firme naquele
sofá, deitada, imóvel pela mão dele que me apertava.
Seus olhos estavam semicerrados na minha direção, os cabelos
úmidos e revoltos, sinal de que tomou banho, e que não era apenas o gel.
— Acha mesmo que vai ficar longe de mim? — rosnou com o
timbre rouco.
— Eu o vi — cuspi as palavras.
— Nunca dei a entender que era diferente, desde o princípio
soube a índole do marido com quem estava se casando — seu modo de falar
era suave, baixo, como se quisesse me amedrontar com a fala mansa.
— Mas não me deram escolha, eu não pude escolher qual o meu
destino, me obrigaram a me casar e aceitar um homem que sempre
abominei como marido — brandei querendo empurrar o peito dele em vão.
Meu marido tombou seu rosto para o lado, aproximando-se de
mim, sussurrando enquanto assoprava em meu ouvido:
— Não sei se te falaram, mas o seu maior defeito, é existir, e ter a
sua existência cruzada ao meu caminho, é, minha pequena, e se existe algo
que não abro mão é da minha esposa...
Meu corpo se arrepiou, e ele percebeu, eu senti algo se aquecer no
meio das minhas pernas, algo que me fez gostar daquilo, o que era uma
tremenda loucura.
— Vire seu rosto, esposa. — Fiz o que ele mandou, nossos olhos
se encontrando. — Vai vir comigo para casa, lá onde ninguém pode
protegê-la de mim, onde será somente a minha esposa.
— Não quero ser somente a sua esposa, não quero mais andar
somente de pijama, ser vigiada como se tivesse um telespectador a todo
momento...
— Mas vai, vai andar de camisola, mostrar seu corpo delicioso
toda vez que eu quiser, e quando eu exigir, cumprirá o seu papel de esposa e
se sentará no meu pau — seu tom de voz calmo me deixou apreensiva.
Não sou como ele, não sou adepta a essas coisas, por mais que a
minha primeira vez tenha sido boa, quem garante que a terceira será?
Sem mencionar o fato dele quase ter feito aquela atrocidade
comigo na neve, ou da fez que jogou seu líquido na minha garganta, sem
mencionar o fato do sexo naquele lustre.
— Monstro — grunhi começando a me debater embaixo dele.
— Posso ser um monstro, mas posso apostar que no meio das suas
pernas, bem no meio da sua bocetinha, existe bem nesse momento, um
melzinho, um líquido... — Aleksey soltou um dos meus ombros, os dedos
descendo, arrastando-se pela minha cintura.
Puxando o tecido do meu vestido, como se estivesse me
hipnotizando, ao sentir que ele ia tocar a minha intimidade, movi o meu
braço que não tinha mais o dele segurando em meu ombro, agindo no
reflexo, erguendo a mão, prestes a dar um tapa em seu rosto, porém, a mão
que ia tocar a minha intimidade, segurou em meu pulso.
— Não toque suas mãos imundas em mim — grunhi sentindo a
dor que ele estava me causando com o aperto.
— É bem corajosa para uma coisinha pequena, depois de quase
comê-la na neve, não aprendeu e faria novamente? — Aleksey rugiu para
mim.
— Vai a merda, suas mãos estão sujas, você é um monstro, um
homem sem alma, pois somente uma pessoa sem alma faz o que você faz,
eu vi o prazer em seus olhos, o frescor da vitória de acabar com a vida de
um homem — grunhi em meio ao meu desespero, por medo, medo do que
ele podia fazer comigo. — Como posso dormir tranquila sabendo que tenho
um marido que mata?
— Não deveria ter medo de mim, pois eu nunca faria mal a você,
se tem uma pessoa que eu protejo mais que a mim mesmo esse alguém é
você, pequena, sou e sempre serei um monstro, existem coisas que nunca
serão capazes de mudar, e eu já matei cinco pessoas que se envolveram no
seu caminho, e matarei mais dez se for o caso, pois ninguém toca no que é
meu e sai com vida. Sou a porra de um matador, eu sou o demônio
escancarado, mas até mesmo o pior dos monstros tem algo de bom dentro
de si, tem um ponto fraco, e o meu ponto fraco é você, pequena, não queira
falar de vidas, pois eu ceifarei cada uma que julgar que pode se meter com
você, até mesmo uma alma solitária é capaz de abrir brecha para outra
entrar, até mesmo algo como eu pode amar, e ser devoto a alguém...
Suas palavras morreram quando percebi as lágrimas se
acumularem em seus olhos, Aleksey se levantou de cima de mim, sem me
dar oportunidade de falar e saiu daquela sala, me deixando sozinha depois
dele se declarar, depois daquele mafioso louco falar que me amava, será que
até mesmo pessoas desalmadas podiam amar?
Que espécie de amor doentio era esse?
CAPÍTULO QUARENTA E OITO

Quinze dias depois


Mais um dia que Aleksey não apareceu em nossa casa, como se
ele estivesse fugindo das palavras que falara para mim.
Deixou-me aqui e voltou para a sede, mas sei que ele me via pelas
câmeras, sei que estava sempre à espreita, olhando tudo que eu fazia, me
deixando apenas com essas camisolas, a única coisa que me havia deixado.
Já não usava mais a tala em meu pé, não sentia mais dor, o doutor
falara que eram necessários uns dez dias, e que só o chamasse se a dor
persistisse, mas ela passou, me sentia em uma casa de vidro, como se
estivesse sendo observada a todo tempo, já nem ligava mais em ficar nua
para tomar banho, já não ligava para mais nada.
Estava solitária, queria conversar, às vezes me pegava cantando
sozinha.
Hoje especificamente acordei decidida a não ficar mais sozinha, já
notei que me colocar em situações de perigo fazia com que o louco do meu
marido aparecesse.
Ir na piscina seria uma ótima escolha, mas Aleksey trancou a
porta, dei um giro dentro da sala, levando a ponta do meu dedo na boca. E
se por um acaso eu saísse? Ia passar um frio tremendo pois não tenho outras
roupas.
Bom, mas se eu quiser chamar a atenção dele, terei que fazer algo
bem ousado, do tipo sair de camisola na rua, podia ficar quieta em casa,
mas não aguentava mais.
Não aguentava ficar falando com as paredes, quando sabia que ele
estava me observando.
— Aleksey — eu o chamei, olhando para o teto, pois sei que em
algum lugar essas câmeras estavam escondidas, já até tentei procurar por
elas e nunca as encontrei. — Vou sair por essa porta, agora.
Declarei em bom tom indo em direção à porta, soltei um longo
suspiro ao perceber que ninguém me respondeu, talvez ele achasse que eu
estava blefando, por esse motivo segui com o meu plano louco, segurando
na maçaneta, girando-a, percebendo que estava trancada, como assim?
Verifiquei ontem e estava aberta. Droga!
Isso só fazia eu crer que ele devia estar vindo nessa casa e eu nem
ao menos percebi.
— O que exatamente quer fazer lá fora? — levei um susto pois
aquela voz não veio de fora, e sim ali de dentro.
Virei-me rapidamente, vendo o meu marido martirizado ao lado
do seu bar, segurando um copo com o líquido cor de âmbar, seus olhos
intensos fixos em mim, ele estava ali o tempo todo?
Aleksey estava com uma calça social preta, a camisa no mesmo
tom tendo os primeiros botões abertos.
Meu marido estava verdadeiramente lindo, se tinha algo que não
podia como negar era sobre a beleza desse homem.
— Pequena? — Ele deixou o copo sobre o balcão do bar, vindo
na minha direção, meus pés pareciam fixos ao chão, estava com medo.
Não era um medo ruim, era mais para uma onda louca que
percorria todo o meu corpo, essa loucura que ele fazia o meu corpo passar
toda vez que me olhava desse jeito.
Meu marido se colocou na minha frente, ergui meu rosto
sutilmente, seu rosto perfeito, a barba marcando suas feições, o cabelo
estava para trás, deixando nítido que ele usara o gel.
— Há... há... há quanto tempo está aí? — gaguejei ao falar.
— Tempo o suficiente para notar seu dedo delicioso sendo
mordido por esses lábios — sussurrou erguendo a sua mão traçando o meu
lábio com o seu dedo. — Não respondeu a minha pergunta, o que quer lá
fora?
Não consegui desviar meus olhos dos dele, ainda sentindo o seu
dedo tocar a minha boca.
— Queria chamar a sua atenção, não quero mais ficar sozinha —
sussurrei percebendo que os olhos deles não desfocaram do meu lábio.
— Então está assumindo que quer o diabo na sua vida?
— Talvez a companhia do diabo seja melhor do que ficar sozinha
— murmurei quando o dedo dele adentrou a minha boca, fazendo a minha
língua tocar a sua pele.
— Então chupa o meu dedo, e sente em sua boca a mão de um
matador. — Engoli em seco, Aleksey pressionou mais os dedos. — Chupa,
querubim, chupa o meu dedo.
Fechei meus olhos, comprimindo meus lábios em seu dedo, abri
os olhos lentamente, nossa atenção se fixava uma na outra.
— Agora responda, a quem esse anjo pertence? — perguntou
tirando o dedo da minha boca, esperando pela minha resposta.
— Ao diabo — sussurrei com o pequeno sorriso que se formou
em seu lábio.
— E o que quer, querubim? — Deu um passo na minha direção,
segurando na minha cintura, apertando-a com precisão.
— Quero a sua companhia...
— Mesmo eu sendo um sádico, um matador, um homem que não
vai mudar mesmo por amar você? — ele voltou a falar aquilo, com
naturalidade, sem se importar em falar a palavra amor.
— Quem ama, abre exceções pela outra pessoa, isso não é amor...
— Talvez a minha forma de amar seja diferente dos outros, talvez
a minha forma de amar seja querer ter pose em tudo que existe em você,
nunca fui normal, e não seria agora que iria ser.
Aleksey colou seu corpo no meu, descendo a mão pela minha
coxa, seu toque me deixando arrepiada.
— Eu o quero, desejo a sua companhia, mas não desejo esse seu
lado matador, que mata e ceifa vidas sem se importar, talvez eu queira ser
como Sofie, vendar meus olhos ao marido matador que eu tenho — declarei
deixando que um arfar escapasse da minha boca quando ele me pegou com
brutalidade em seu colo.
— Bom, essa estratégia é boa, ambos sairíamos vencendo, eu com
uma esposa deliciosa e sempre pronta, podendo chegar em casa e ter o seu
corpinho inteiramente para mim... — Ele seguiu em direção à porta.
— Somente isso? Eu quero mais. — Minha mão passou pelo
ombro dele, tocando a sua nuca.
— Quer o quê, pequena? — Aleksey parecia disposto a ouvir o
que eu tinha a falar.
— Quero um marido que converse comigo, que me conte como
foi seu dia, claro, podendo omitir as partes relacionadas a isso...
— Então quer a visão de um marido bonzinho que ambos
sabemos que não sou? — Aleksey subiu os degraus com facilidade.
— Quero um marido que converse comigo, e não apenas me trate
como um objeto.
Ele não falou nada imediatamente, entrando em seu quarto em
silêncio, na verdade, o nosso quarto, me colocando sobre a cama, se
abaixando tocando o canto da minha bochecha.
— Vou tentar, mas tem algo que eu não abro mão, é do sexo à
minha maneira — um gritinho escapou da minha garganta quando ele me
virou sobre a cama.
CAPÍTULO QUARENTA E NOVE

— Fique parada e não se mexa — ordenei, deixando-a deitada de


bruços na cama.
Segui para o closet, parei em frente a uma prateleira, estendendo a
mão pegando sobre a minha parte de roupas, sabendo que ali ao alto eu
guardava algumas fitas de amarração, segurei em minha mão o rolo com a
corda vermelha, senti ao apalpar também o chicote, mas esse eu não peguei,
deixando-o ali.
Junto da corda, peguei a fita de seda vermelha também, voltei
para o quarto, vendo-a se levantar, querendo sentar-se na cama.
— Ordenei que se levantasse? — Arqueei minha sobrancelha ao
me aproximar.
— Você saiu e me deixou aqui...
— Tire a sua roupa — nem ao menos deixei-a terminar a frase
quando dei uma ordem para ela.
— Não! — Yesfir se levantou da cama vendo aquilo em minha
mão arregalando seus olhos. — O que vai fazer?
— Nada do que está surgindo na sua mente...
— Vai me matar? — Ela engoliu em seco movimentando o seu
pescoço em meio ao ato.
— Lógico que não, pequena, vai me aturar para o resto da sua
vida. — Deixei sobre a cama a corda, prestes a ir até ela para tirar a sua
camisola.
— Então, por que isso? — Minha esposa deu um passo para trás
quando me aproximei dela.
— Se não tirar a sua roupa, eu mesmo tirarei...
— Responde a minha pergunta. — A pequena mulher bateu o pé
cruzando o braço.
— O que precisa saber é que eu não vou te matar, meu anjo
querubim, agora tira a sua roupa! — finalizei rosnando para ela.
— Não se não falar o que vai fazer — Yesfir não tinha medo de
me afrontar o que me fez perder a paciência, dando um passo na sua direção
segurando aquele tecido de seda com as duas mãos o puxando-o com força,
rasgando-o.
— Quando eu ordeno, você obedece — brandei sem desviar meus
olhos da minha esposa.
— Você é muito idiota se acha que eu vou te obedecer apenas
porque pedi a sua presença. — Yesfir nem ao menos se tampou na minha
frente.
Talvez se devesse pelas muitas vezes que precisava se banhar na
frente das câmeras, já perdi as contas de quantas vezes me estimulei
presenciando o banho dela, no começo ela ficava retraída, depois passou a
fazer tudo sem pudor, se banhando, esfregando suas curvas.
Meus olhos desceram para aquele corpo curvilíneo, pequena, os
seios médios com mamilos pontudos, sem calcinha, pois ela não tinha peças
íntimas, a bocetinha lisinha que eu a vi depilar, caralho, Yesfir não tinha
privacidade, pois até mesmo isso pertencia a mim.
— Pequena, se você não obedece por vontade própria, eu a obrigo
— sussurrei segurando em seu pescoço, sem apertar, apenas sentindo o
calor da sua pele, da respiração que se tornava ofegante. — Agora vai se
ajoelhar na cama, colocar as mãos para trás...
Falei guiando-a para a cama, a minha esposa se sentou sobre a
cama, ordenei que ela ficasse de costas para mim, meus olhos analisando a
sua bundinha avantajada, redonda, me fazendo ficar ainda mais duro de
prazer apenas em vê-la nua.
— Vai ficar quietinha. — Peguei a corda em minha mão,
desenrolando uma parte dela. — Deixe seu pulso um encostado no outro.
— Se não falar o que vai fazer...
Agi rapidamente, colando o meu corpo nas costas dela, passando
minha mão pela frente do seu ombro, segurando em seu pescoço.
— Vai fazer o que estou mandando como uma boa garota
obediente, se não o fizer será pior para você — rosnei próximo ao seu
ouvido vendo-a se arrepiar por completo. — Agora responda, sim, senhor.
— Si-sim, senhor — ela gaguejou, mas fez o que eu mandei.
Fiz um nó em seus dois pulsos, apertando-o, não muito, pois o
intuito não era ela sentir dor ali, passei a circular a corda, passando pelos
dois braços dela, erguendo-a, fazendo a amarração, parando próximo ao seu
ombro, tendo os dois braços da minha esposa amarrados para trás.
Peguei o laço em minha mão, me aproximei por trás dela,
passando o tecido em seus olhos, amarrando-o na parte de trás dos seus
cabelos, Yesfir respirava pesadamente, seu peito subindo e descendo
descontroladamente.
— Está com medo, pequena? — sussurrei próximo ao seu
ouvido.
— Si-sim...
— Pois não devia, pois eu sou o único que pode garantir a sua
segurança.
Afastei-me um pouco dela, abrindo a gaveta ao lado da cama,
procurando ali o óleo que eu sabia que tinha ali, segurando em minha mão,
dei a volta na cama vendo de frente a minha esposa, abri a minha calça,
tirando-a junto com a cueca, porque nesse momento tudo que eu menos
queria era sentir a porra do meu pau preso.
Fiquei sobre os meus joelhos, indo até ela, peguei o óleo
colocando pequenas gotas em seus seios, vendo o líquido deslizar pela pele
dela, aproximei minha boca, pegando aquele óleo que escorria, guiando-o
ao seu mamilo, mordendo-o com força, ouvindo o grito que escapou da sua
boca, Yesfir foi pega desprevenida.
— Aleksey! — quis me repreender.
Mas não parei, mordendo o seu mamilo, apertando o outro com a
minha mão. Minha esposa tentou se mexer, tentou se soltar, mas nada
conseguiu.
— Seu maldito. — Sorri diante da recusa dela, pingando o óleo
pela sua barriga.
Vendo o líquido escorrer até aquela pequena fenda, deslizando
pela sua boceta, toquei a sua pele, meu dedo adentrando o centro da sua
fenda, sentindo-a quente para mim, pulsante, molhada, pronta.
— No fundo a noviça rebelde só queria um pau para ser comida
— zombei fazendo-a arfar quando a deitei na cama com os braços
comprimidos debaixo das suas costas.
Abri suas pernas vendo a imagem gloriosa da sua bocetinha. Ela
respirava tão rápido que em seu corpo começavam a se formar pequenas
gotas de suor.
Peguei o óleo lubrificante, pingando em sua boceta, deixando que
fosse até o meio no seu cuzinho, o qual eu ia comer, aproximei minha boca
da sua boceta, lambendo toda a sua extensão.
— Aleksey. — Eu a senti apertar a boceta contra a minha boca,
claramente estava gostando.
— Agora entende quando eu falo que tudo em você pertence a
mim, olha como essa bocetinha clama pelos meus toques — brandi
chupando-a com força, descendo meus dedos para baixo, tocando a ponta
do seu orifício.
Passei mais lubrificante ali, sem parar de chupar a sua boceta,
deslizando a minha língua por todas as suas dobras, pressionei meu dedo
em seu cuzinho, adentrando-a.
— Ah! — Yesfir gritou. — O que está fazendo?
Passou a rebolar em minha boca, meu dedo entrando e saindo do
seu cuzinho.
— Eu posso comer você pela frente e por trás, por trás dói mais,
mas eu gosto da dor alheia, por isso eu quero foder o seu cuzinho também
— rosnei me alimentando dos gritos de Yesfir.
Ela não parava de gemer, se contorcer, sei que agonizava por
causa das mãos atadas, ela estava gostando caso contrário não estaria cada
vez mais molhada em minha boca.
Estava fazendo sem parar, chupando a sua bocetinha, querendo o
seu mel na minha boca, introduzindo um novo dedo em seu cuzinho,
ouvindo seus gemidos se tornarem mais intensos, até que quando
finalmente ela se entregou, introduzi minha língua bem dentro dela,
sentindo seu mel em minha boca sugando tudo.
Sabendo que nesse momento ela ainda estava se recuperando dos
espasmos, querendo me aproveitar desse momento, eu a virei de costas.
— Empine a sua bunda, vou te comer de quatro, me responda com
um “Sim, senhor” — ordenei e ela precisou do meu auxílio, as mãos ainda
amarradas para trás o rosto para o lado no colchão.
A bundinha empinadinha para mim, a falta da resposta me
fazendo desferir um tapa com força na sua bunda, estalando em meio ao
quarto.
— Responda!
— Sim, senhor — Yesfir choramingou.
Aproximei meu pau da sua bocetinha, pressionando-o com força,
adentrando as suas paredes latejantes, eu vou comer o cuzinho dela com o
meu pau, mas não hoje, não quando ainda não usufruí de toda a sua
bocetinha.
Ela não parava de respirar ofegante, era tão apertada que
abraçava meu pênis como se o fizesse com força, inicialmente fiz os
movimentos vagarosos para ela ir se adaptando, depois fui intensificando,
ouvindo-a gemer alto, me concentrando em seus gemidos, apertando a sua
bunda com força, tendo a visão do meu pênis entrando e saindo das suas
paredes.
Caralho de mulher gostosa.
Não me arrependi de ter falado que a amo, talvez assumir meus
sentimentos fosse o melhor, nunca amei ninguém, nunca senti isso que
sentia por ela, toda essa possessividade, vontade de controlar cada passo
dela, sei que é amor, pois não imaginava um mundo onde essa pequena
coisinha de língua afiada não estivesse.
Fiquei esses dias longe, pois queria me controlar, queria ser um
pouco menos sádico perto dela, mas cheguei à conclusão de que isso era
impossível, eu apenas precisava dessa mulher.
Não paramos, deslizei minha mão por baixo estimulando sua
boceta, querendo o prazer dela mais uma nova vez, estocando fundo,
comendo a minha garota com agressividade.
— Aleksey...
— Vai, minha noviça safada, goza no meu pau... — urrei sabendo
que eu ia gozar, me aliviando dentro dela em uma última estocada.
Yesfir veio junto, sua boceta que já era apertada e se comprimiu
ainda mais ao meu membro.
Grunhi quando me aliviei por completo.
CAPÍTULO CINQUENTA

Aleksey soltou meus braços, sentindo o alívio de tê-los na minha


frente outra vez. Fiquei observando-o sair de cima da cama, ele estava nu da
cintura para baixo, usando apenas a camisa que não tirara, mas que naquele
momento começava a desabotoar os botões dela.
Meu marido seguiu em direção ao banheiro, mordi o canto da
minha boca quando ele tirara a sua camisa, jogando-a no canto, Aleksey era
um homem alto, de porte altivo, seus cabelos estavam bagunçados, mesmo
que estivesse usando o gel.
Ele se virou me pegando no flagra ao analisar suas curvas.
— Perdeu algo? — perguntou arqueando uma sobrancelha.
— Bom, você me olha todos os dias pela câmera, acredito que eu
não esteja fazendo nada demais. — Dei de ombros.
— Vou tomar um banho, quer vir junto?
— Nos banharmos juntos? — Achei aquilo íntimo demais por
esse motivo estranhei.
— É, sempre te vejo pelas câmeras, quero ver ao vivo agora. —
Estendeu a mão para mim.
Sem dizer nada, levantei-me da cama, depois de tomar banho
tantas vezes sabendo que estava sendo vigiada pelo meu marido louco, foi
como se eu tivesse perdido a timidez de ficar nua na frente dele.
— Então assume que me vê se banhando? — perguntei segurando
na mão estendida dele.
— Nunca neguei, você é meu passatempo favorito. — Aleksey
me guiou ao banheiro, entrando primeiro que eu, ligando a ducha.
Fiquei ao canto deixando que ele regulasse a água, encolhida, ele
estendendo a mão quando a temperatura estava boa, segurei em sua mão,
meu marido me puxou para seu peito, onde encostei a minha cabeça, a água
não estava caindo sobre mim, e sim somente nas suas costas, passei minha
mão sentindo os relevos das muitas cicatrizes em sua pele.
— Se sou seu passatempo favorito porque sempre fica longe? —
sussurrei erguendo o meu rosto.
— Porque eu queria ser melhor para você, mas não consigo —
murmurou colocando meu cabelo para trás.
— Você é o melhor para mim, de uma forma muito estranha, mas
é. — Sorri percebendo que ele focou os olhos em meu sorriso.
— Eu morreria por cada lindo sorriso seu, me dê todos eles, Yesfir
— pediu delineando o meu lábio com seu dedo.
— São todos seus, marido. — Sorri passando a mão na sua
cintura, abraçando-o
Aleksey abaixou o rosto, colando o seu lábio ao meu, iniciando
um beijo suave, lento, fazendo com que as minhas pernas se tornassem
leves.
— Precisamos falar sobre algo — sussurrei erguendo a minha
mão, afastando-o pelo ombro.
— Sobre? — Meu marido se afastou me olhando interrogativo.
— Meu pai...
— Quer mesmo falar sobre ele?
— Sim, preciso saber o que fizeram com o corpo — pedi mesmo
sendo temerosa.
— Foi entregue para os Alkaev de algum lugar de Moscou, eles
que se virem com aquele imundo — meu marido não poupou para falar mal
do meu pai.
— Aleksey? — Ele ficou me olhando ternamente. — Não consigo
tirar da minha mente o seu semblante de prazer ao acabar com uma vida, eu
sonho com isso, tenho pesadelos todas as noites e sempre acordo mal, pois
sei que estou sozinha e morro de medo de que esse seu prazer por matar
passe para mim, que queira me matar também...
— Schii... não fale uma besteira dessas, pequeno querubim, eu
nunca mataria você, eu mato pessoas que vão contra o meu clã, mato quem
pensa que pode se envolver com a minha esposa, eu nunca tive nada nessa
vida, sempre fui sozinho, por mais que eu tenha meus amigos, no fim da
noite era sozinho que eu acabava, e agora eu tenho você, estranhamente, é
como se tivesse encontrado uma pessoa para mim, sempre quando vou
dormir coloco meu celular ao meu lado e fico te vendo, assim como quando
acordo, a primeira pessoa que vejo é você, não queria que tivesse visto
aquilo, mas aconteceu, e eu nunca volto atrás de nada que eu falo, ou faço,
isso com exceção a você, pois com você sempre foi diferente, desculpa
pelos seus sonhos. — Ele segurou em meu rosto, meus olhos se fechando e
abrindo lentamente, sentindo a presença do meu marido ao meu lado.
— Então passe a dormir comigo todas as noites, e não com uma
tela de celular — pedi fazendo um bico.
— Está me chamando para dormir com você, esposa? — ele falou
de forma debochada.
— Um lugar que não deveria ter saído...
— Se voltássemos no tempo e te perguntasse isso, aposto que
falaria outra coisa — declarou de forma zombeteira.
— Bom, eu te chamaria de demônio. — Dei de ombros. — Não
que não seja...
— Então ainda sou o demônio?
— Um demônio em forma de pecado — sussurrei descendo meus
olhos pelo seu peitoral, ouvindo a sua gargalhada ecoar ao banheiro.
Dessa vez fui eu que me concentrei na sua risada, eram tão poucas
vezes que ele gargalhava dessa forma que me deixava até mesmo abismada.
Tomamos banho em um clima descontraído, Aleksey passou
sabão por cada curva minha, cuidando para não molhar meus cabelos, me
fazendo arrepiar muitas vezes, ainda podia sentir a ardência onde o seu
dedo entrou e saiu várias vezes, e pior eu gostei daquilo, foi uma dor que
me fez sentir prazer, uma loucura completa.
Saímos os dois do banheiro, me enrolei em uma toalha
analisando-o ir para o closet, fui atrás dele, parando perto da porta, notando
que estava pegando um terno.
— Vai sair? — perguntei.
— Sim, na verdade, eu tinha apenas vindo aqui para avisar que
temos um evento pra comparecermos essa noite com o Pakhan e suas
esposas — declarou vestindo a sua cueca.
— Então vou ficar sozinha outra vez? — murchei um pouco.
— Preciso voltar para a sede, Sergey quer a minha presença. —
Aleksey nem ao menos olha na minha direção e segue vestindo a sua
roupa.
— Então me deixa ir junto —- parei de falar quando os olhos dele
se ergueram aos meus. — Tem a Sofie lá, ela gosta de conversar comigo,
não me deixe outra vez sozinha, Aleksey.
Pedi me sentindo isolada de tudo ali sozinha.
— Tá, tudo bem, pode ir junto, mas vamos primeiro pegar uma
roupa para você no outro quarto — nem tive tempo de falar nada, indo em
direção dele com um enorme sorriso em meus lábios, me jogando em seus
braços.
— Obrigada, marido. — Ergui meu rosto dando um selinho
demorado em seu lábio.
— Então se eu fizer isso mais vezes ganho uma reação dessas? —
Aleksey estava com uma feição de admiração.
— Sim. — Sorri em meio à minha felicidade por não ficar
sozinha.
CAPÍTULO CINQUENTA E UM

Aleksey me deixou junto com Sofie passando o resto do seu dia


longe, nem ao menos no almoço o vi.
— É normal eles não almoçarem aqui? — perguntei enquanto
almoçava sozinha com Sofie.
— Sim, eles devem estar resolvendo algo sobre o clã, esses
homens parecem que são treinados para não terem fome, Rubi fica junto
deles e está sempre com barras de cereal com ela, pois se depender de
Sergey, Dmitry e Aleksey eles passam facilmente um dia inteiro sem comer
— ela me respondeu.
Ficar ao lado de Sofie me fazia compreender muito sobre o clã, a
forma como ela via as coisas era muito semelhante à minha, e assim como
eu, ela não aprovava o comportamento do seu marido, mas por amá-lo,
Sofie vendava seus olhos e o aceitava.
Mas eu ficava me perguntando, eu amava Aleksey?
— Como soube que amava Sergey e Rubi? — perguntei para ela.
— Eu apenas soube. — Deu de ombros. — Quando penso em um
futuro, são eles que estão ao meu lado, é como se eu não conseguisse viver
em um mundo no qual aqueles dois não estejam, nos encaixamos, nos
completamos, sou feliz ao lado deles, por mais que às vezes tenhamos
nossas desavenças, sempre tem um que acaba cedendo. Quando estive
longe de Sergey, vivendo apenas junto da Rubi, era como se faltasse algo,
não estávamos completas, é e sempre será ele o nosso homem, eu sinto falta
quando estou longe de Rubi ou Sergey, meus pensamentos sempre estão
neles, sabe como se sua mente fosse dominada apenas por uma pessoa? No
caso a minha é por duas.
Sofie soltou uma risada fraca pensando em suas duas pessoas.
— Parece tão fácil quando você fala, mas quando paro para
pensar fica tão complicado. — Suspirei olhando para a comida sentindo a
falta de apetite desde que acordei.
— Querida, na hora certa você vai saber, Sergey falou que ele
teve uma conversa séria com Aleksey, e o obrigou a aceitar os sentimentos
dele, pois ninguém é obrigado a adivinhar o que ele pensa, não te julgo, seu
marido é muito complicado. — Ela me deu um sorriso fraco.
— Complicado? Aleksey é confuso, contraditório, e me deixa
extremamente furiosa em vários momentos, eu sinto que deveria o odiar,
por ele ser exatamente tudo que eu mais odiei nessa vida, mas me sinto
extremamente atraída por cada toque dele, é como se ele fosse a minha
maçã proibida, não deveria gostar, não deveria almejar, mas quero tudo
isso, quero o meu marido, mas preciso querer ele por completo, com aquela
carga emocional que ele carrega junto dele. Aceitar ele até mesmo pelos
seus defeitos sórdidos que vão contra tudo que eu prego sobre a vida...
Levei um susto quando senti algo tocar o meu ombro, fazendo até
mesmo que eu desse um pulo sobre a cadeira. Temerosa ergui meu rosto
vendo o meu marido martirizado ao meu lado, junto dele os outros, todos
me olhando, droga, até que ponto ele me ouviu?
— Venha, Yesfir — a voz rouca do meu marido me fez arrepiar.
Assim como eu, Sofie foi pega desprevenida pela presença deles.
— Ela nem ao menos comeu ainda. — Sofie entrou na minha
defesa.
Aleksey olhou para o meu prato de comida, em seguida para
mim.
— Coma, então...
— Estou sem fome — eu o cortei, vendo-o semicerrar os olhos
para mim.
— Precisa comer — voltou a frisar.
— Estou sem fome, não acordei muito bem do estômago hoje,
acho que estou enjoada. — Dei de ombros querendo levantar recebendo
outro olhar de reprimenda do meu marido.
— Tem cheiro de bebê no ar — Rubi falou de forma debochada,
passando atrás do meu marido indo em direção à sua esposa. — Não é por
nada não, mas nos primeiros dias da minha gravidez eu senti muito enjoo.
Virei meu rosto abruptamente, não sabia do que ela estava
falando, quer dizer, na verdade, eu sabia, mas não imaginava como uma
mulher descobria uma gravidez, nunca me ensinaram nada sobre isso, até
uma parte da minha vida já havia se conformado com a hipótese de que
seria apenas uma mulher sozinha, mas agora eu tinha um marido, e
possivelmente um bebê que pode estar crescendo dentro de mim.
— Yesfir? — Aleksey me chamou, ele quer uma resposta minha,
mas vou falar o quê?
— Eu não sei, tá legal? Ninguém nunca me fala nada, todos
esquecem que eu vivi praticamente dezoito anos da minha vida reclusa de
tudo, eu não tenho acesso a essas coisas que vocês têm, eu não sei quais são
os sintomas de uma mulher grávida, eu não sei nada, então não me venha
perguntar ou exigir algo, pois eu não sei. — Virei-me, levantando-me da
cadeira, olhando para ele, fazendo meu marido dar um passo para trás.
— Podemos começar com: você tem seu ciclo menstrual
regulado? Quando foi a última vez que veio para você? — Virei meu rosto
para Sofie que como sempre falou carinhosamente comigo.
— Não, eu não tenho regulado. — Senti minhas bochechas se
esquentarem diante daquele assunto. — Não sei quando foi a última vez que
aconteceu isso, foi quando eu estava no cativeiro...
— Bom, o ciclo de uma mulher é em torno de 21 dias, e depois
desce, faz aproximadamente 18 dias que estão casados, lembra se foi muito
antes de Aleksey te encontrar? — Sofie parecia estar fazendo contas em sua
cabeça.
— Sim, não me lembro a quantidade de dias, talvez uma semana,
duas, não quero me lembrar desse período. — Balancei minha cabeça
recordando daqueles dois que me deixavam sozinha naquele chão frio.
Senti a mão do meu marido me puxar pela cintura, ele percebeu o
meu tremor de medo.
— Tudo bem, querida, já tenho a informação que eu queria, e
acredito que podemos chamar a doutora Linck, pois provavelmente está em
atraso, e pode sim, estar grávida. — Arregalei meus olhos, o aperto de
Aleksey se tornou mais forte em minha cintura.
— Devemos te parabenizar? — Ouvi o som do deboche de
Dmitry.
— Deve calar a porra da sua boca, até que eu não veja algo por
escrito, ninguém vai parabenizar porra nenhuma — meu marido rosnou me
puxando pelo braço.
Não sabia para onde Aleksey estava me levando, estávamos
saindo daquele lado da sede, logo entrando em uma área mais restrita, ele
respirava tão pesadamente que me fez ter medo do que ele planejava fazer,
caminhamos por vários corredores até entrarmos em uma porta, o ambiente
era escuro e um grito escapou da minha boca quando meu marido me
empurrou ali para dentro no escuro, não sentia mais o corpo dele perto do
meu, olhei em volta sem enxergar nada, o tremor percorrendo cada parte de
mim.
— Aleksey, eu tenho medo de escuro — sussurrei sem saber o que
ele planejava fazer.
CAPÍTULO CINQUENTA E DOIS

Passei a mão na cortina pesada, abrindo-a fazendo clarear o


quarto, ainda estava confuso, precisava tirar Yesfir daquele lugar, precisava
ficar sozinho com ela, me virei olhando para o semblante que se tornava
sereno da minha esposa.
— Aleksey, o que está acontecendo, por que me tirou daquela
forma da sala de jantar? — perguntou nitidamente confusa.
— Não pode ter esse bebê — declarei transtornado. — Não
podemos ter um filho.
Senti todo o meu corpo se arrepiar diante dessa possibilidade, era
um burro, um completo idiota, o que se passava na minha cabeça para gozar
dentro dela e julgar que não teria um filho.
— Por quê? — minha esposa sussurrou me olhando com pesar.
— Ainda pergunta por quê? Yesfir, eu sou um monstro, venho de
uma família igual a mim, sem sentimentos bons, essa criança será igual, e
se eu quiser abandoná-la como a minha mãe fez comigo? Por que trazer
para esse mundo um pequeno ser indefeso quando podemos poupá-lo disso?
— Passei a mão exasperado em meus cabelos.
Quando falaram que Yesfir podia estar grávida foi como se diante
dos meus pés se abrisse um buraco, agora que pensava que passar meus dias
ao lado dela, que estava começando a aceitar as piadas sem graça dos meus
amigos, por me tornar um marido que amava a sua mulher, vem essa? Um
bebê?
— Mas e quanto a mim, a minha opinião? — Sua fala me fez
parar de andar, olhando para ela.
— Quer esse filho? Quer colocar no mundo uma pequena coisa
minha, logo eu? Que tenho o gênio que você odeia? Ou não foi isso que
falou naquela sala, para todos ouvirem? Existe a porra de um lado meu que
é sadomasoquista, um lado que ninguém nunca conseguirá mudar, e se essa
criança vier com esse meu lado obscuro? — rosnei para aquela mulher.
Yesfir não se deixou intimidar pela minha fala, vindo na minha
direção, parando na minha frente, seus lindos olhos cor de chocolate se
tornando turvos.
— Eu não me importo, pois eu vou sempre estar ao lado do nosso
filho e ao seu lado, nada vai acontecer com ele, pois eu conheço o marido
protetor que eu tenho, sei que assim como ele me protege ele também vai
proteger o nosso filho. — Yesfir ergueu sua mão tocando o canto da minha
face.
Senti seus dedos deslizarem pela minha pele, a palavra proteger
ecoando na minha mente.
Foi como se meus olhos começassem a ardem, queimar, e quando
eu vi, lágrimas ruidosas rolavam pelo meu rosto, porra! Eu estava chorando,
Yesfir não falou nada apenas me abraçou com seus braços pequenos, a mão
resvalando na minha nuca.
A cabeça dela no meu peito, pousei minha mão em seus cabelos,
apertando-a sobre mim.
— Assim como você, eu nunca tive um alguém que se importasse
comigo, minha mãe não me quis quando eu tinha dois anos, me dando para
o meu pai que morava na rua, eu cresci em meio aos andarilhos, eu não
vivi, eu aprendi a sobreviver, quando era um adolescente vi matarem o meu
pai, fiquei sozinho até entrar no clã, eu tenho amigos, mas você, é a minha
pessoa, a minha pessoa pequenina e frágil, eu morro de medo de perder
você, querubim, nessa vida não tenho medo de nada, apenas de perder você
— sussurrei em meio a um soluço reprimido.
As malditas lágrimas não paravam de descer por meus olhos, foi
como se uma avalanche de sentimentos tivesse vindo à tona, tudo que eu
segurei dentro de mim por anos, sendo descarregado.
Minhas pernas fraquejaram, meu corpo se tornando mole, fui
caindo aos poucos, me ajoelhando, minha esposa veio junto comigo, ela se
ajoelhou ali na minha frente, segurando em meu rosto, passando seus dedos
em minha face.
— Eu sou a sua pessoa, Aleksey, e eu sempre estarei aqui por
você, por mais que eu tenha falado o que falei, que eu tenha dito que era um
demônio, sei que no fundo é um bom homem, um homem que precisa ser
amado... — sua frase morreu quando ela se sentou no chão.
Com cuidado, Yesfir me puxou, me fazendo deitar em seu colo,
seu cheiro adentrando o meu olfato, passei minha mão na cintura dela,
apertando-a em meu nariz sentindo o tecido do vestido roçar no meu rosto,
fechando meus olhos com as carícias dos seus dedos em meus cabelos, me
sentindo um garotinho indefeso pela primeira vez em meus 31 anos.
Fiquei encolhido naquele chão, sabendo o quão necessária na
minha vida era aquela mulher, por mais que eu fizesse tudo que fazia com
ela, não era porque a desejava longe de mim, muito pelo contrário, e sim
porque ela era minha.
Em nenhum momento Yesfir parou de acariciar o meu cabelo,
como se fosse uma mãe ajudando um filho, me fazendo parar para pensar
como ela seria maravilhosa como a mãe dos nossos filhos.
Pequenas coisinhas de cabelos cacheados olhos cor de chocolate,
com a língua afiada e ao mesmo tempo amorosa da sua mãe.
Por mais que fosse egoísmo da minha parte, por mais que eu
pudesse estar permitindo colocar uma criança errada ao mundo, eu o queria,
queria um filho, nunca quis um filho, mas nesse momento eu o queria, com
essa mulher, só se fosse ela, pois ela era a única que conseguiu de mim o
que ninguém nunca conseguiu. O meu coração.
Virei-me naquele chão, ela parou de acariciar o meu cabelo
quando me viu sentar, recuperando a minha postura, passei a mão na sua
cintura, trazendo-a para o meu colo, ela se sentou de lado, seus olhos se
encontrando com o meu sem entender.
— Eu quero esse filho, minha esposa — sussurrei erguendo a
minha mão, acariciando a sua pele delicada.
— Sério? — ela murmurou com a voz rouca, como se não
estivesse acreditando no que estava ouvindo.
— Sim, nunca quis tanto algo como quero uma família com você.
— Aproximei meu lábio da sua testa, beijando-a ali demoradamente.
— Não tenho dúvidas que será o melhor pai...
— Eu sei que serei bem controlador com ele, assim como sou
com a mãe dele. Yesfir?
— Sim, marido?
— Promete que nunca me deixará fazer nada que possa ferir o
nosso filho? — pedi com medo pelos meus antecedentes.
— Sim, eu prometo que eu me jogo na frente dele se acaso você
quiser fazer algo, mas eu duvido que isso possa acontecer, pois eu sei que
será um pai protetor assim como é um marido. — Ela me deu um dos seus
sorrisos de canto me fazendo derreter aos poucos.
Porra, eu estava me derretendo? Estava me tornando maleável,
como se ela me tivesse na palma das suas mãos, mas a quem eu queria
enganar? Ela me tinha na palma das suas mãos.
CAPÍTULO CINQUENTA E TRÊS

Uma semana depois...


O carro reduziu a velocidade parando em frente à clínica
recomendada por Rubi e Sofie, elas faziam o pré-natal delas nesse mesmo
lugar, estava nervosa, pelo teste de sangue que fizeram quando foram na
nossa casa foi diagnosticada gravidez, mas mesmo assim, o nervosismo
estava ali.
Existia um pequeno serzinho crescendo dentro de mim, um bebê
que além de me deixar enjoada, me deixava com muito sono, dormia a
maior parte do dia, e à noite adormecia como se nem ao menos tivesse
dormido durante o dia.
Aleksey vivia me chamando pelas câmeras, tudo para me obrigar
ao menos a comer um pouco, se Aleksey já era um marido protetor ele
conseguiu se tornar o dobro disso ao ver o meu exame de sangue positivo,
ao menos com a gravidez veio algo benéfico, meu marido passava mais
tempo em casa, dialogando mais comigo, algo que tinha me surpreendido
muito, pois a versão faladeira dele me deixava admirada.
Só tinha apenas uma coisa que ele não fazia, era tirar aquelas
câmeras, cheguei a pedir um pouco de privacidade, mas ele falou que não
precisava disso, ao menos confidenciou que no canto do banheiro, onde
ficava a privada não tinha câmeras, e as minhas roupas voltaram para o
closet.
Isso porque agora ele disse que me ter todas as noites em seus
braços valia mais que uma imagem de camisola.
— Está quieta — ouvi a voz dele ao meu lado quando o carro
estacionou em frente à clínica.
— Estou nervosa — sussurrei vendo-o sair do carro, a minha
porta foi aberta pelo motorista, logo o meu marido apareceu estendendo a
sua mão.
Segurei em seus dedos que cobriram os meus.
— Não precisa ficar nervosa — Aleksey declarou com sutileza.
— E se não estiver tudo bem? — Meu marido fez um gesto para
que os seus homens o aguardassem ali do lado de fora.
Eu podia ter vindo sozinha, mas ele insistiu que viesse junto,
Aleksey pode até mesmo tentar se mostrar indiferente com a gravidez, mas
no fundo ele estava tão ansioso quanto eu, e com medo, medo de fazer
como a sua mãe fez com ele, mas conhecendo o gênio protetor do homem
que tinha como marido, duvidava muito que ele ia fazer uma coisa dessas.
— Vai estar, querubim. — Ele piscou um olho me fazendo
derreter um pouco por dentro.
Decidi fazer como Sofie, me manter inerte a alguns fatos do meu
marido, e sabia que ele era um matador, sei que nada ia fazê-lo parar, mas
eu não tinha mais nada a perder nessa vida, não tinha mais parentes, não
tinha mais ninguém que não fosse o meu marido, então quem mais ele ia
matar para me proteger? Ninguém, por esse motivo, o que ele fazia dentro
da Bratva não me dizia respeito.
Agora eu tinha uma família, um marido, que por mais que fosse
louco, sempre se importava comigo, perguntava como estava, era como se
eu pedisse o mundo para ele e ele desse um jeito de trazê-lo para mim.
Tinha duas amigas que se importavam comigo, tinha a governanta
da sede, a senhora Slava, que sempre falava comigo quando ia à sede.
Eu tinha pessoas, não era mais sozinha e principalmente não
andava mais sozinha, eu possuía algo dentro de mim, um segundo coração
que batia.
Adentramos a clínica, senti vários olhares sobre nós, ou melhor
sobre o homem alto ao meu lado, segui em direção à recepção a garota que
mantinha os olhos baixados no seu notebook os ergueu olhando em nossa
direção.
— Olá, em que posso ajudá-los?
— Tenho uma consulta com a doutora Lorraine Alkiv — declarei
ainda apreensiva, a mulher engoliu em seco ao ver o homem ao meu lado.
— Sim, qual o seu nome? — perguntou olhando para o visor na
sua frente, mexendo em algo.
— Yesfir Ivanovich. — Foi mais fácil do que eu esperava me
adaptar a esse sobrenome.
— Preciso apenas preencher alguns dados seus — assenti
respondendo às suas perguntas fazendo-a arregalar os olhos em alguns
momentos quando perguntou a minha idade e estado civil.
Para algumas pessoas era estranho, pois eu tinha dezoito anos,
casada com um homem que tinha um semblante fechado na maioria das
vezes, sem contar a parte intimidadora dele.
Conhecia o passado obscuro que Aleksey tinha, e sabia também
que não ia largar esse homem por nada, mesmo ainda não tendo assumido o
meu amor por ele.
Aleksey não me pressionava e parecia que nem ligava, pois em
sua mente eu sendo dele mais nada importava.
Fomos autorizados a aguardarmos na recepção, várias pessoas nos
olhando, sentei-me em uma cadeira, meu marido se sentou ao meu lado.
— Será que esse povo doido quer levar um tiro na testa? — ele
sussurrou ao meu lado.
— Talvez se você não fosse tão sério e não usasse sempre essas
roupas pretas...
— Jura, está falando para eu andar sorrindo? — Virei o rosto
vendo-o arquear uma sobrancelha.
— Talvez? — Sorri com carinho vendo seus olhos focarem no
meu rosto, o polegar se erguendo tocando o canto da minha bochecha.
— Pequena, meus sorrisos são apenas para você, os outros que se
fodam. — Revirei meus olhos ouvindo o meu nome ser chamado em uma
das salas.
Fui acompanhada por Aleksey, entrando no consultório da
senhora Lorraine Alkiv, ela parecia ter na casa dos trinta anos, uma mulher
loira, de olhar estonteante, sentamo-nos na cadeira instruída por ela.
Por incrível que parecesse ela não se intimidou com Aleksey.
— É um prazer tê-la aqui, Yesfir. — Seus olhos se direcionaram
ao meu marido. — Aleksey.
— Lorraine — o modo como ele a chamou me fez olhar
rapidamente para ele, subitamente algo dentro de mim esquentou, a raiva
tomando conta de mim, o que era isso, ciúmes?
— Vocês se conhecem? — Semicerrei meus olhos, pois se a
conhecesse da forma que estou pensando isso me deixaria extremamente
irritada, pois ele soube o nome da doutora antes de chegarmos aqui.
— Sim, ela é esposa de um dos brigadier do clã, um dos homens
que está sempre ao lado de Dmitry. — Ele arqueou uma sobrancelha para
mim, percebendo o meu desconforto se controlando para não sorrir do meu
breve surto de ciúmes.
Lorraine deu continuidade na consulta, ela se mostrou muito
solícita, fazendo várias perguntas, querendo saber como estava sendo a
minha rotina nesses primeiros dias. Até que finalmente falou para me deitar
na maca, auxiliando que eu erguesse a minha camisa, passando em minha
barriga um gel gelado.
Meus olhos se concentraram no visor, vendo um monte de borrão
aparecer quando ela colocou sobre a minha barriga aquele negócio que
parecia um cano.
Senti a mão de Aleksey segurando a minha, seus dedos pela
primeira vez gelados.
— Aqui. — Ela apontou com a seta que aparecia no visor. — É o
feto...
Senti meus olhos queimando, tentando controlar as lágrimas, mas
era praticamente impossível, Lorraine foi tirando algumas medidas pelo
ultrassom que aparecia no visor.
— Pelo tempo gestacional, é um bebê que está nas medidas
certas, vamos acompanhando com o decorrer das consultas, querem que eu
tente ouvir o coração? É muito recente a gestação, mas posso tentar...
— Sim, eu quero — nem a deixei terminar de falar quando
autorizei.
Lorraine ficou por alguns segundos tentando até que finalmente
um ritmo acelerado começou a ecoar na sala, o coração do meu filho, um
coração que batia dentro de mim.
As lágrimas transbordaram o meu rosto, um filho, eu ia ter um
filho, algo que julguei que nunca teria, e agora o tinha.
Uma família, um marido, um filho...
Senti o dedo de Aleksey passar sobre a minha bochecha, ergui
meus olhos, vendo que ele tinha seus olhos em mim e naquele visor, como
se estivesse fascinado com o que via.
Tudo isso se tornando cada vez mais real, e me fazendo ver o
quanto amava esse homem ao meu lado, era como se a loucura dele
completasse com a minha inocência perante o mundo real, não precisava de
mais nada, nem mesmo que me falassem que ele era um louco, pois eu
sabia o quão doente por controle era o marido que tinha, mas era o meu
marido, o único que ia até o fim do mundo se fosse necessário por mim.
CAPÍTULO CINQUENTA E QUATRO

Passei a mão em meu cabelo úmido do meu pós-banho, deitei


sobre o travesseiro, ouvindo o barulho da água cessar, Yesfir estava
desligando a ducha.
Peguei-me pensando naquele ultrassom, naquela pequena coisinha
que crescia dentro dela, porra, era um bebê, uma criatura inofensiva que não
tinha culpa de nada, que estava vindo ao mundo, um filho meu, meu e dela.
Era quase que inevitável me pegar imaginando como será o nosso
filho, e se fosse uma menina? Com certeza não ia deixar nenhum outro
homem chegar perto dela, não ia permitir que acontecesse o mesmo que
aconteceu com a mãe dela.
Ergui meus olhos ao ouvir o barulho da porta sendo aberta. Yesfir
estava usando o roupão, soltando os seus cabelos que estavam presos. Seus
olhos vindo na minha direção quando estava indo para o closet.
— Vem aqui. — Fiz um movimento com a mão para ela vir até
mim sem se trocar.
Timidamente minha esposa veio, ela era tão delicada,
perfeitamente pequena a ponto de se encaixar em meus braços, encostei
minhas costas no encosto da cama, segurando na mão dela puxando-a para
perto de mim, fazendo com que se desequilibrasse e caísse sobre minhas
pernas.
— Foi impressão minha ou você ficou com ciúmes hoje durante a
consulta? — perguntei encontrando com seus olhos, sentindo sua mão
segurar em meu peito.
— Impressão sua. — Deu de ombros como se não quisesse dar o
braço a torcer.
— Yesfir? Não me faça querer dar umas palmadas na sua bunda
— declarei segurando no roupão dela.
— Você disse que não seria agressivo enquanto carregava o nosso
filho. — Um bico se formou no lábio dela.
— Saiba que eu sou vingativo, vou anotar cada vez que me
afrontou durante esses nove meses, e depois descontar cada uma delas. —
Seus olhos cor de chocolate se arregalaram em direção à minha ameaça.
— Eu apenas fiquei chocada...
— Nada de raiva?
— Bom, eu quis socar você inicialmente, como poderia me levar
até o consultório de alguém com quem teve um caso? — Senti a mão dela
que estava em meu peito apertar cada vez mais forte. — Tá, tá, legal, eu
acho que fiquei com ciúmes, eu nunca senti ciúmes de ninguém e a minha
primeira reação foi querer socar você...
— Me socar? — eu a cortei achando a reação dela um tanto
hilária.
— Sim, pois se você tinha me levado até uma mulher com quem
teve um caso, o culpado era você, estou errada? — concordei com o que ela
falara, querendo que ela continuasse a falar. — Isso é estranho, tudo isso é
muito frustrante, eu nunca tinha reagido dessa forma, eu... eu... só não
consigo pensar na hipótese de você estar com outra pessoa.
Ela gaguejou, ergui minha mão tocando a sua face, sentindo a pele
delicada da minha esposa em minha mão.
— Não pense nisso, pequena, pois desde que entrou na minha
vida não almejo outra mulher que não seja você — sussurrei descendo a
minha mão pela sua perna fazendo com que se sentasse sobre a minha
cintura.
— Mas mesmo assim, esteve com outras mulheres. — Fez
novamente um bico em seu lábio.
— Sim, eu estive, mas com nenhuma outra eu me importei, você é
única, pequena, a minha esposa, a única com quem eu poderia me casar, se
não fosse você não seria mais ninguém, eu não sou o tipo de homem que se
importa com outras pessoas, sempre fui sozinho, e com você eu me abro
sem nem ao menos perceber que estou fazendo isso, é fácil, apenas
precisava me permitir a sentir isso — declarei desfazendo o nó do roupão
dela, abrindo o tecido, vendo o peito dela começar a respirar mais
pesadamente.
— Aleksey — sussurrou o meu nome como se estivesse clamando
por mim.
— Fala, pequeno anjo querubim. — Deslizei a ponta do meu dedo
ao meio dos seios dela.
Nunca tive tanta vontade de sempre voltar para a casa todo fim de
tarde, ou até mesmo resolver os assuntos de casa para poder ver essa
pequena mulher caminhando pela nossa casa, quando estávamos de bem
tudo se tornava fácil, tínhamos bons diálogos, nos encaixávamos na cama,
ela não negava a nada, tão quente e sensual.
— É errado demais amar o homem que matou o meu pai? — ela
falou de repente fazendo o meu movimento cessar olhando no fundo dos
seus olhos.
— Acha errado? — fiz a mesma pergunta para ela.
— Às vezes me sinto culpada por não ter nenhum sentimento
sobre isso, eu deveria me sentir, mas não sinto, não sinto absolutamente
nada quando penso em Bóris. — Seus olhos se encheram de lágrimas a
tristeza por uma vida jogada naquele internato. — Ele nunca me viu como
uma filha, apenas como uma pessoa que era sangue do sangue dele, eu
precisei me adaptar a uma vida que não gostava, mais para me encaixar em
algo, para não sofrer igual às outras meninas sofriam, eu apenas fazia o que
era mandado, me tornaria uma freira para me sentir membro de algo, mas
elas nunca me viam como uma delas, eu só queria fazer parte de algo, só
queria que me amassem, e meu pai nunca demonstrou isso...
— Schii — Puxei seu rosto para perto do meu, meu lábio roçando
o dela, sentindo as lágrimas salgadas resvalando a minha boca.
Deslizei minha língua para dentro da sua boca, sentindo a dela
entrelaçar a minha, a minha pequena esposa que chegou sem saber sequer
beijar nesse momento estava esfregando a sua bocetinha na calça de
moletom.
— Querubim. — Segurei em ambos os lados do seu rosto, ela
piscou várias vezes me olhando com ternura. — Você é minha, e eu vou até
o caralho do inferno por você, mas como eu sei que a sua alma é bondosa
comparada à minha eu bateria nas portas dos céus apenas para ter a minha
esposa de volta, eu a amo, meu anjo querubim, amo a ponto de cometer
loucuras por você, minha alma pode ser ruim, mas se existe algo bom
dentro de mim, esse algo é você, e em breve a nossa pequena coisinha...
Deslizei minha mão para a barriga lisinha dela, imaginando como
seria Yesfir com uma barriga saliente pelo nosso filho.
— Talvez eu tenha assinado a minha sentença quando me casei
com o homem odioso que testa todos os meus limites — minha esposa
sussurrou dando um sorriso ladino.
— Não tem medo de estar ao lado do diabo?
— Não quando ele me dá a sua proteção e todo o seu amor, eu o
amo Aleksey, amo tanto como nunca amei ninguém antes, não queria
assumir, nem falar em voz alta, pois você não me prometeu ser o marido
perfeito, fez coisas desastrosas, eu deveria odiá-lo, mas o amo, amo demais,
mesmo não prometendo nada, me entregou tudo que eu mais desejava em
toda a minha vida, proteção e carinho...
Porra! Não sabia que precisava ouvir de sua boca a palavra “eu te
amo” até a ouvir sussurrar isso.
— Caralho, repete Yesfir? — pedi segurando em ambos os lados
da sua cintura.
— Te amo, Aleksey Ivanovich, meu mafioso extremamente
arrogante e protetor — sussurrou com um sorriso lindo em seu lábio.
— Eu que nunca acreditei nas coisas boas da vida, ganhei o que
um homem sempre sonhou ter, o amor da mulher mais linda de todas, porra
se algum dia eu disse que não acreditava no todo poderoso lá de cima, eu
retiro o que eu disse, pois ele me mandou um dos seus anjos mais lindos.
— Aleksey! — Recebi um soquinho seguido de uma gargalhada
quando a deitei ao meu lado cobrindo o seu corpo com o meu.
— Vou comer esse anjo lentamente agora, apreciar todas as curvas
dele, e depois deixar que se deite em meu peito e relaxe — sussurrei
beijando a sua testa com carinho.
— Por favor, marido, me ame apenas como você sabe fazer, tudo
que eu preciso para a minha vida se tornar completa é do seu amor, me ame,
Aleksey — sussurrou puxando o meu rosto para o dela.
Eu me apaixonei por uma pessoa que era proibida para mim, eu
quis desde o primeiro momento aquela garota de olhar perdido e mente
sempre distante, Yesfir surgiu na minha vida quando eu não acreditava em
mais nada.
Ela me fez ver a vida com outros olhos, como se fosse a flor
colorida que coloria todos os meus dias.
Porra, eu me apaixonei por uma noviça e agora a queria para
sempre na minha vida, nem que para isso eu precisasse matar qualquer
maldito desgraçado que se colocasse no meu caminho.
EPILOGO:

Oito anos depois...


Meu celular tocou sobre a mesa, me aproximei vendo o nome do
meu marido piscando sobre o visor, não tinha muitos contatos, na verdade,
nem ao menos me importava muito com tecnologia, apenas tinha o meu
para conversar com minhas amigas, ou tirar fotos dos meus filhos.
— Aleksey? — chamei por ele estranhando o fato dele ter me
ligado a essa hora.
— A sede está um caos, uma família de membros da Bratva foi
atacada, e trouxemos para a sede os dois únicos sobreviventes uma mulher
e o irmão dela, ou ao menos é o que ela fala. — Meu marido parecia
ofegante. — Vou mandar o motorista trazer vocês três para a sede, preciso
de vocês aqui até descobrirmos se isso foi um ataque direto ao clã, ou algo
referente apenas a essa família.
— Tudo bem, vou arrumar as crianças e estamos indo.
Despedi-me do meu marido, indo em direção à escada, tinha
acabado de colocar os nossos filhos para se banharem, do jeito que os dois
eram enrolados aposto que nem ao menos se banharam ainda.
Na sede, tínhamos quarto para nós quatro, sendo que quando
precisávamos dormir lá, as crianças sempre ficavam no mesmo quarto,
Lyov vivia grudado em Demyan, o filho de Sergey com Sofie e Alena, que
era apenas dois anos mais jovem que Zoya, a filha de Sergey com Rubi as
duas meninas viviam sempre juntas.
Nosso filho mais velho Lyov tem dois anos de diferença de Alena,
eu queria mais um filho e Aleksey topou achando que ia ser bom o
suficiente ter outro menino, mas acabamos tendo uma menina.
Alena era diferente do irmão, dengosa, amorosa, vivia pedindo
carinho, amava atenção e não podia ver o pai dela dando bobeira que ela já
ia logo na direção dele, tudo isso em parte era culpa de Aleksey pois desde
bebê ele a tratava como uma princesinha e continuava fazendo isso.
Eu amava meus dois filhos, se fosse imaginar filhos, nunca ia ter
chegado a crianças tão perfeitas, assim como eu, meu marido não deixava
faltar carinho e atenção aos dois, mas os tratando com uma pequena
diferença, pois planejava inserir na máfia o nosso menino o que me deixava
sempre apreensiva só de pensar.

— Mamãe, vamos poder dormir aqui hoje? — minha filha


perguntou assim que o carro estacionou em frente à sede.
Saí primeiro que ele, arrumando o gorro na cabeça de Alena,
Lyov nem ao menos esperou por mim, saindo correndo pela outra porta,
ficava me perguntando como eles conseguiam ter tanta estabilidade nesse
chão escorregadio.
— Vamos ver com o seu pai, minha linda. — Sorri colocando um
cachinho para o lado, segurando na sua mãozinha levando-a em direção à
sede.
Minha filha era uma mistura minha e do pai dela, seus olhos
escuros eram de Aleksey, mas o tom da sua pele era meu, assim como os
cabelos cacheados, talvez ela até seja mais parecida comigo, nada mais
justo sendo que Lyov era a cara do pai.
Adentramos a sede, avistei o sobretudo de Lyov jogado ao chão,
me abaixei pegando-o e o colocando sobre o suporte, Alena precisou do
meu auxílio para tirar o dela.
Assim que tirei o sobretudo dela a garotinha já saiu correndo, tirei
o meu, caminhando no assoalho do hall de entrada entrando na sala onde
estavam todos, sorri ao ver Aleksey segurando em seus braços a nossa filha,
talvez eu nunca me acostumasse ao fato de ver esse homem enorme se
rendendo para as garotas dele.
— Alena. — Zoya entrou gritando na sala. — Vem, eu ganhei
uma nova Barbie da mamãe Sofie.
Minha filha deu um gritinho e foi correndo com ela, ambas
subindo as escadas correndo.
Sergey, Rubi e Sofie tratavam os filhos como sendo dos três,
mesmo que cada um tivesse uma mãe, eles chamavam as duas de mãe, e
não existia diferença entre elas.
Segui em direção ao meu marido, meus olhos encontrando os
dele, seu cabelo meio bagunçado, com o passar dos anos Aleksey foi
mudando o corte de cabelo, e agora os tinha mais curtos.
Sua mão tocou a minha cintura, ergui meu rosto tocando o seu
lábio em um selinho rápido.
— É algo assim tão urgente para ter a nossa presença aqui? —
perguntei me virando vendo ali presentes, Sergey, Rubi, Sofie e Dmitry.
— Tecnicamente não, pois eu tenho quase certeza de que isso não
é um ataque ao clã, e sim àquela família, mas você sabe o marido que tem
não é mesmo? — foi Rubi quem me respondeu.
Não é novidade para ninguém o fato de Aleksey ser um tanto
protetor quando se trata da sua família.
— Prefiro eles aqui até termos certeza — meu marido declarou
com sua voz imponente.
Ambos nos aproximamos dos sofás.
— Por que ao telefone você deu a entender que achavam que a tal
mulher estava mentindo? — perguntei curiosa.
— Não sabemos ainda, mas o menino é novo demais para ser
filho dos pais dela, que eram dois velhos, ou é dela ou da irmã dela, que
veio a falecer também, só não entendemos a razão para ela estar mentindo
— Sofie respondeu pensativa.
— Independentemente de qualquer coisa, quero que Dmitry fique
longe dela, você já feriu aquela mulher no passado, agora apenas fique
longe dela. — Rubi direcionou seus olhos de águia ao Sovietnik da máfia.
Dmitry nem ao menos falou nada, parecia estar perdido em seus
pensamentos, o que era muito raro, pois ele sempre tinha a resposta na
ponta da língua.
— Bom, vamos para o escritório, preciso ver as provas que
recolhemos. — Sergey se levantou do sofá.
Antes do meu marido se afastar de mim, virei o meu rosto,
notando que ele tinha a testa franzida.
— Qual o problema, marido?
— Dmitry, um pouco antes de você vir para a sede se envolveu
com as duas irmãs, e aquele garoto é assustadoramente a cara de Dmitry,
estamos achando que pode ser o filho dele com a irmã que morreu no
atentado, ou até mesmo filho dele com a mulher que está aqui na sede, isso
que está deixando todos confusos. — Ele ergueu a mão tocando a minha
bochecha ao terminar de sussurrar.
— Vamos passar essa noite aqui, então? — perguntei ainda
admirada com o que ele falou.
— Sim, minha pequena, preciso terminar essa noite logo para me
deitar em seu corpo relaxante, estou exausto da loucura que está sendo esse
dia — murmurou.
Fiquei na ponta do meu pé, dei um beijo nos seus lábios.
— Vou acalentar o meu marido cansado. — Sorri de forma
maliciosa.
Sempre com ele era tudo tão intenso, existiam correntes, algemas,
tudo que meu marido sádico gostava, mas tinha o sexo suave, aquele dos
dias que ele apenas queria deitar-se, relaxar e deixar que eu fizesse o
trabalho.
Ainda estávamos longe de sermos o casal perfeito, sempre evitava
assuntos que condiziam com ele matando alguém, algo que eu sabia que ele
fazia, mas por amar Aleksey demais eu o aceitava assim, cheio das suas
imperfeições.
Pois era nesses braços fortes que todas as noites adormecia e
acordava protegida, ele me tinha como a sua joia mais preciosa, me amava
como ninguém, eu era dele, assim como ele era meu.
Amava o meu mafioso louco e extremamente protetor.

FIM.
CONTINUA EM
DESEJO ATROZ – DMITRY USTINOV
(EM BREVE NA AMAZON)
RECADINHO DA AUTORA
Querida leitora, gostaria de pedir que deixasse uma avaliação, é muito importante
saber sua opinião.

Ainda pode haver alguns erros no texto, que já estão sendo corrigidos. Então, peço que
deixem a opção de Atualização Automática — existente na sua página Dispositivos e Conteúdo,
no site da Amazon — LIGADA, ou deem uma olhada lá de vez em quando para terem sempre a
versão atualizada do livro.

Obrigado, por terem lido meu livro, ficarei muito feliz em encontrá-los(as) em minhas
redes sociais.

Instagram: @jaqueaxtautora

Página Amazon: Todos os livros na Amazon

Wattpad: @JaqueAxt

Grupo de leitores WhatsApp: CLIQUE AQUI PARA ENTRAR

Agora fiquem por dentro de alguns dos meus lançamentos.


Beijos da Jaque Axt.
PROTEGIDA PELO DON

SERÍE HERDEIROS MAFIA IN ERGÄNZUNG: LIVRO UM

CLIQUE AQUI

Yan Zornickel é o novo chefe da máfia In Ergänzung, um homem que sempre teve o rumo da
sua vida moldado pelo seu pai. Centrado e reservado, falava com propriedade que se casaria com a
sua prometida, teria herdeiros e nunca se envolveria sentimentalmente com ninguém.
Isso até um pequeno furacão de cabelos negros e olhos azuis intensos cruzar o caminho dele.
Em uma noite atípica de Nova Iorque, Yan quase atropela uma desconhecida, uma garota que
estava fugindo.
Luna Rivera foi mantida em cativeiro por dez anos. Quando estava sendo transportada para o
seu comprador, ela conseguiu fugir.
Ela correu. Correu sem destino. Precisava apenas fugir, até quase ser atropelada por um
homem misterioso e todo tatuado. Yan imediatamente sai em proteção da garota, ceifando a vida
daqueles que vinham atrás dela.
Luna pensou que havia encontrado um herói, o que ela não imaginava é que ele estava longe
de ser um. Uma garota inocente, que passou dez anos da sua vida sendo maltratada, sem ver a luz do
dia.
Um homem que pretende proteger a garota, mas que não será nem um pouco amistoso com
ela.
Será que Luna encontrou o herói? Ou será que Yan terminará de quebrar a garota que surgiu
em sua frente?
Ele não busca amor.
Ela busca uma nova chance de viver.
Será que, em meio aos seus próprios demônios, eles vão se apaixonar?
A PERDIÇÃO DO MAFIOSO

TRILOGIA FILHOS DA MÁFIA: LIVRO UM

CLIQUE AQUI

Enrico Ferrari é o subchefe da Cosa Nostra. Um homem que traçou o seu destino optando
pela vida solitária com mulheres em sua cama sem precisar assumir um compromisso.
Pietra Vacchiano, a princesinha da máfia, filha do chefe da Cosa Nostra, sempre nutriu um
amor platônico, que ela escondia de todos, pelo subchefe.
Enrico viu Pietra crescer e a tem como uma sobrinha, mas ela o ama, ama de todas as
formas.
O destino acaba fazendo os dois precisarem dividir a mesma casa. A garota, que sempre
escondeu os seus desejos pelo subchefe, acaba fazendo eles aflorarem ao provocá-lo.
Um romance proibido: ele não pode desejá-la por ser filha do seu chefe e melhor amigo.
Ela quer que ele a deseje.
Enrico fará de tudo para a garota não o ver como um príncipe, mas parece que a garota
ama o errado, o anti-herói.
Pietra se tornará a perdição do subchefe da máfia, e, quando ele menos esperar, não
conseguirá escapar das teias de sedução em que a garota o colocou.
Um dark romance em que o príncipe não existe, e o anti-herói é quem conquista a cena.
HEINZ – COMPRADA PELO MAFIOSO

MAFIA IN ERGÄNZUNG: LIVRO UM

CLIQUE AQUI
Heinz Zornickel, está sendo pressionado a gerar herdeiros para seu clã, sendo um dos Don
mais temido, o problema é que nenhuma mulher o atrai o suficiente para querer tê-la todas as noites
em sua cama e por isso segue sua vida sem se importar com casamento ou com um futuro sem filhos.
O que muda quando ele para em uma boate, onde o dono lhe deve uma alta quantidade de dinheiro.
Lá ele conhece a doce Zara Dixon, filha do proprietário, que será uma bela recompensa pela dívida
do pai dela.
Zara Dixon cresceu em um meio conturbado, porém nunca deixou que isso a impedisse de ser
uma garota sonhadora e iniciar seu curso de literatura inglesa. Até o dia que o mafioso mais temido
aparece na boate do seu pai, querendo tomá-la como pagamento de uma dívida.
Zara não vê escolha, pois a vida do seu pai está em jogo. E Heinz quer a garota e fará de tudo
para tê-la.
Será que Zara será solícita ao homem?
Em um mundo onde o machismo predomina, a jovem terá que ter altivez para poder ser
ouvida pelo homem que quer tomá-la para si.
AVISO: Este é um romance Dark contemporâneo, nada tradicional.
Ele contém assuntos polêmicos, incluindo temas de consentimento questionável, agressão
física e verbal, linguagem imprópria e conteúdo sexual gráfico.
Esta é uma obra de ficção destinada a maiores de 18 anos.
A autora não apoia e nem tolera esse tipo de comportamento.
Não leia se não se sente confortável com isso. Se você quer um príncipe encantado, essa
leitura não é para você.
KLAUS – RAPTADO POR ELA
MAFIA IN ERGÄNZUNG: LIVRO DOIS

CLIQUE AQUI
Klaus Zornickel desde criança seguiu seu caminho sozinho, passando de um internato para
outro, até descobrir que fugir era a melhor escolha, o que o leva ao mundo do tráfico.
Tudo muda quando, já adulto, sua família de sangue vem atrás dele e ele descobre pertencer a
uma família de mafiosos.
Por ser irmão do Don é nomeado subchefe da máfia In Ergänzung.
Vivendo na sombra do seu irmão, acaba sendo confundido e raptado no lugar do chefe.
Edvige Vogel nutre um sentimento de raiva pelo Don da In Ergänzung, seu plano de vingança
foi arquitetado por anos e tinha tudo para dar certo, isso se não tivessem raptado a pessoa errada.
A mulher se encontra num beco sem saída quando vê a pessoa errada na sua frente e ele em
nada se parece com o Don.
O homem na sua frente é sedutor e tem um sorriso fácil.
Duas pessoas destinadas a se odiar, mas com um desejo mútuo entre eles.
Ela será capaz de resistir ao subchefe?
Será que sua mágoa por esse clã conseguirá unir mundos opostos?
Será que pela primeira vez, a In Ergänzung poderá unir um homem e uma mulher?
OTTO – PROMETIDA AO SUBCHEFE
MAFIA IN ERGÄNZUNG: LIVRO TRÊS

CLIQUE AQUI
Otto Zornickel, o subchefe da In Ergänzung que está à frente dos negócios em Nova Iorque,
desde jovem soube que seu destino estava traçado com a doce Astrid Lehmann, devido um contrato
firmado enquanto ela ainda era um bebê.
Com o passar dos anos ele virou um mulherengo, colocando na sua cabeça que nunca
tomaria essa mulher como sua, inclusive decide que não irá consumar a união após o casamento.
Porém, ele não imagina que aquela criaturinha havia crescido e se tornado uma linda
mulher.
Astrid é a personificação da mulher perfeita, mas a sua língua afiada tira qualquer homem
do eixo. Ela foi criada para ser a mulher perfeita para ele, o problema é que quando ela saiu do
colégio interno descobriu a liberdade e não quer ser mandada por um homem.
Será que eles conseguirão se entender?
Será que Otto não cairá em tentação se entregando a doce ruiva?
Será que Astrid deixará seu gênio indomável de lado e se entregará a essa paixão ardente que ambos
negam que existe entre eles?
VERENA – VENDIDA AO CHEFE
MAFIA IN ERGÄNZUNG: LIVRO QUATRO

CLIQUE AQUI
Verena Zornickel foi treinada para servir a um único homem, seu futuro marido.
Aos treze anos descobre que foi prometida ao Don da Cosa Nostra.
Tommaso Vacchiano é um dos Dons mais temidos. Chefe sarcástico, sem meias palavras,
ninguém consegue parar o homem.
Ele deseja firmar uma aliança com a In Ergänzung e obtém isso através de um jogo sujo. Em
um momento de fragilidade do Don da máfia Suíça, Heinz, o convence a selar o casamento da sua
irmã, Verena, com ele.
Dois clãs de poder...
Pessoas influentes.
Em um mundo onde o machismo reina, uma mulher de coração bondoso entra para a família
italiana.
O casamento sela a união de dois clãs, algo que tem tudo para se tornar um tormento na vida
da jovem menina.
Um homem atormentado por um passado obscuro, prestes a descobrir que na sua vida só
precisa de uma luz no fim do túnel.
Verena será capaz de tocar o coração de Tommaso?
Mas afinal, ele tem coração?
A SENTENÇA: A ENTEADA VIRGEM DO CONSIGLIERE
MAFIA IN ERGÄNZUNG: SPIN-OFF

CLIQUE AQUI
Angelina Vacek, ainda quando criança viu sua mãe se suicidar.
Anos depois deste acontecimento, que a marcou profundamente, encontra o diário da mãe e
descobre o real motivo dela ter cometido tal ato. Diferente do que todos pensavam, a mãe não tirou a
vida por causa do marido, mas por ter sido rejeitada por seu amante, o conselheiro da máfia.
Angelina quer se vingar, mas o que ela não sabe é que o homem em questão é uma incógnita.
Ela não pode falar para ninguém sobre o caso da mãe, pois, o pai, que ainda é vivo, não quer que essa
história venha à tona.
Decidida, ela vai atrás do consigliere, travando assim uma guerra entre o desejo e a vingança.
Jordan Weber é o consigliere da In Ergänzung, um homem discreto e observador.
Sua vida pessoal é uma incógnita para todos.
Um homem frio e rude, será capaz de fazer de tudo para calar a garota que sabe algo sobre sua
vida.
Ele odeia a garota, mas se sente atraído pela garra que ela tem.
Angelina deveria ser proibida para ele, mas a deseja mesmo assim.
Diante desse impasse, se vê obrigado a lutar contra seus demônios, pois se vê entre a razão e a
emoção.
Ele se vê dominado por sentimentos que o deixam desestabilizado, perdendo totalmente o
controle com a jovem que é apenas uma isca no seu mundo de devassidão.
Angelina vai descobrir segredos que ninguém antes pôde imaginar sobre o consigliere da In
Ergänzung.
Desejo e vingança podem andar juntos?
O fato dela ainda ser virgem pode despertar algum sentimento de posse dentro dele?
UMA BABÁ ESPECIAL PARA A FILHA DO CEO
(LIVRO ÚNICO)

CLIQUE AQUI
Tiziano Vitale é um CEO cafajeste que vive a vida regada a luxo.

Ambicioso, transformou sua empresa de perfumes em um império.

Sempre negou o fato de ter uma filha, escondendo de todos a sua existência.

Porém, tudo muda quando a mãe da garota sofre um grave acidente e ele se vê obrigado a
assumir a guarda da menina de cinco anos.

Uma criança que vem se recusando a ter uma babá...

Um pai que nega a existência da menina em sua casa.

Pai e filha não se entendem.

Monalisa Sartori, foi demitida devido a uma injustiça da sua ex-patroa, e sem poder se dar ao
luxo de ficar desempregada aceita a proposta para trabalhar na casa de um milionário.

Ao ver a situação de tristeza que a menina se encontra devido à falta da mãe, Monalisa decide
conquistar seu coraçãozinho.

O que ninguém esperava é que a mulher não conquistaria somente a menina, mas o milionário
também.

Tiziano se vê envolvido em uma teia de sedução e decide ter a babá em sua cama, mas ela se
nega, dando prioridade ao coração da garotinha.

Monalisa conseguirá resistir às investidas do patrão?

No jogo do prazer e sedução, eles deixarão os sentimentos de fora?


MEU DJ ARROGANTE: UMA NOIVA PARA HECTOR
(LIVRO ÚNICO)

CLIQUE AQUI
Ela é uma garota comum, que sempre acaba falando demais, ele é um homem famoso e
discreto. Tudo está para mudar quando ela fala em um jantar que eles estão noivos.

FAKE DATING.

UM CONTRATO DE 30 DIAS.

ELA TEM UM CRUSH NELE.

ELE ODEIA SE ENVOLVER COM FÃS.

UMA SÓ CAMA

Juan Hector Zimmerman, conhecido no mundo dos famosos como DJ Hector City, um
homem que tem um passado discreto que odeia cavoucar sua história nada orgulhosa.

Ele que vem de uma longa linhagem de ouro, a ovelha perdida da família, o único que não
seguiu os passos dos Zimmerman, não querendo acabar em uma sala de escritório, bancando o
empresário de terno e gravata.

Juan abandonou tudo, tornando-se um grande DJ, o homem mais bem pago da atualidade,
com isso, tem uma extensa fila de mulheres ao seu redor.

Kelsey Pierce, trabalha como assistente em uma rádio.

Ela é fã dele, desastrada, e sempre acaba falando demais ou cometendo loucuras quando está
bêbada.

Eles se conhecem pessoalmente em uma entrevista para a rádio.


Um jantar é marcado.

E no calor do momento ela acaba falando que eles são noivos.

Ele tem uma imagem a zelar, odeia que seu nome esteja entre os holofotes.

Ela é o oposto do que ele procura em uma mulher, a começar pelo fato de ser uma fã dele.

Pessoalmente eles vão se odiar tanto a ponto de se desejarem.

Uma cláusula é certa, eles não podem se relacionar fisicamente, mas será que conseguirão
resistir aos prazeres de seus corpos?
O SHEIK CONTROLADOR – LIVRO UM

TRILOGIA SHEIKS PROTETORES

CLIQUE AQUI
Fazza Bin Khalifa Ahmad Al-Sabbah é o emir de Agu Dhami, um sheik controlador que tem
todos em suas mãos.

Helena Simões é apaixonada pelos Emirados Árabes Unidos. Seu sonho sempre foi conhecer
um sheik, por isso envia e-mails ao emir de Agu Dhami que infelizmente não são respondidos.

Isso muda quando um e-mail que não era para ser enviado é lido pelo sheik.

Fazza fica encantado pela brasileira, imediatamente, dá um jeito de trazê-la ao seu encontro e
usando seu poder de persuasão faz Helena assinar um contrato de casamento.

O que ela não sabe é que o contrato não pode ser quebrado, a menos que pague uma alta
quantia.

Helena se vê nas garras do sheik e é obrigada a se casar com ele.

Mas há um porém, ela precisará dividi-lo com suas duas outras esposas.

Uma mulher disposta a ter o sheik só para si...

Um homem que quer controlar tudo à sua volta, principalmente sua nova esposa…

Um relacionamento que começou da forma mais errada possível.


Isso poderá dar certo?
O SHEIK OPRESSOR – LIVRO DOIS

TRILOGIA SHEIKS PROTETORES

CLIQUE AQUI

Hassan Amin Hussain Al-Bughdadi é o governante de Budai, um dos emirados mais rico entre
os sete emirados árabes. Um Emir centrado, sem pretensões de gerar um herdeiro, ou até mesmo de
ter uma esposa.

Isso até conhecer um joalheiro, e descobrir que a dona da inspiração para aquele colar é a linda
filha daquele senhor.

O Sheik ficou fascinado pelo colar, propondo o casamento sem nem ao menos conhecê-la.

Malika Ali Al-Makki é a filha do joalheiro, sempre quis se casar por amor, apaixonada pelo
Sheik Khalil, julgou que ele seria o seu marido.

Isso até um dos maiores homens a querer.

Hassan quer a jovem.

E usará de todo o seu poder para tê-la.

Mas será que Malika conseguirá se entregar ao seu novo marido, mesmo sabendo que seu
coração em pedaços pode pertencer a outro?

Hassan pode ser um Sheik Opressor, mas fará de tudo para proteger a sua nova esposa, mesmo
que para isso precise controlar a vida da garota.
A VIRGEM DO CEO

- DUOLOGIA CANALHAS E STRIPPERS –

DISPONIVEL NA AMAZON

CLIQUE AQUI

- Uma tia que busca o pai do seu sobrinho...

- Um pai cafajeste que não sabe que tem um filho...

- Um primeiro encontro desastroso...

- Um homem que se pergunta como uma maluca e, além de tudo, virgem foi parar na sala da
sua casa...

Zion Clifford é CEO da Enterprises Holdings Clifford, vive uma vida regada de luxo, além
de ter sempre belas mulheres ao seu lado e não tem vergonha de esbanjar toda a luxúria que seu
dinheiro pode proporcionar.

Tem na vida uma única paixão, sua boate, onde ele reina ao lado do seu amigo e sócio, Alex
Carter.

Um lugar onde nada é proibido, um mundo onde as mulheres podem tudo.

Hattie Parker, uma jovem estudante que passa a cuidar do sobrinho rebelde depois que a mãe
do menino morre em um acidente de carro.

Devido a rebeldia do sobrinho, ela decide procurar o então pai do garoto para quem sabe ele
ter uma figura paterna em que possa se espelhar.
O que ela não esperava era que o pai em questão é um grande monumento, uma beldade em
pessoa. Só tem um porém, ele é um completo cafajeste, arrogante e não dá atenção a ninguém que
não tenha pelo menos um metro e setenta de altura e peitos de fora.

Hattie faz de tudo para atrair a atenção do "intocável", como Zion é conhecido, até que
consegue invadir a casa dele.

O que ela não esperava era um primeiro encontro desastroso.

Zion nunca se deparou com mulher mais desastrada, de língua afiada e linda, muito linda. Já
Hattie se vê diante de um dos maiores pegadores de Los Angeles.

O propósito desse encontro será apenas unir pai e filho?

Como a atração que surgiu logo de imediato, será negada diante de uma mulher inocente que
odeia homens convencidos?

Como a tensão que existe entre os dois será escondida debaixo do tapete se não param de se
alfinetar a todo momento?

Uma mocinha que pode ser virgem, mas que não se intimida diante da grandiosidade de
riquezas que tem o CEO.

Um romance "cão e gato" que vai enlouquecer a cabeça do leitor.


UM CONTRATO COM O MILIONÁRIO
A PROSTITUTA E O SUGAR DADDY
LIVRO ÚNICO

CLIQUE AQUI
Otávio Mancini, CEO de uma rede de academias, vive uma vida perfeita, é casado, pai de dois
filhos adultos, com o terceiro neto a caminho.
Tem uma rotina sólida, com uma família invejável da alta sociedade. Isso até sua mulher pedir o
divórcio.
Diante disso, Otávio se vê sem escolha e a tristeza o assola.
Davi, seu amigo, vendo sua tristeza e desanimo, contrata uma garota de programa para alegrar a
noite de Otávio, lhe dando boas-vindas a nova vida de solteiro.
Paola Garcia, uma jovem ambiciosa que usa do seu charme para conseguir todos os luxos que
almeja.
O que ela não esperava era encontrar um cliente atraente e que a tratasse como uma princesa,
nem que fosse apenas por uma noite.
Ele se encanta pela beleza da garota e se sente atraído por cada detalhe do seu corpo, tanto que
decide fazer uma proposta a ela, manter exclusividade, sendo sua garota de programa particular.
Será que eles conseguirão manter apenas o profissionalismo?
Será apenas desejo carnal que existe entre os dois?
Isso é o que vamos descobrir em Um contrato com o milionário.
[1]
Véu que usam na cabeça.
[2]
Conselheiro do Pakhan, braço direito dele.
[3]
Eles provaram seu valor e agora têm equipes de Boyevik sob seu comando. Eles são responsáveis
por garantir que seu Boyevik funcione corretamente, respeite as regras da família e distribua os bens
para eles.
[4]
São os soldados e seguranças dos cargos altos. Eles são novos membros da família. Eles são
obrigados a participar ativamente das atividades familiares.
[5]
Ele é o supervisor de negócios no clã, ele lidera os Brigadier e os Boyevik.
[6]
Eles são membros separados. Na verdade, eles não fazem parte da organização. Os Shestyorka
buscam lucro em atividades ilegais. Eles são chamados de Shestyorka porque escolheram se associar
à família para participar de seus negócios.

Você também pode gostar