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Disciplina: Fundamentos Jurídicos

Professora: Flávia Campos


Monitora: Mayara Pires
Aula: Direito Administrativo

SUMÁRIO

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS ................................................................................................. 3


Regime Jurídico Administrativo .................................................................................................. 3
A) Princípio da Legalidade ........................................................................................................... 4
B) Princípio da Impessoalidade ................................................................................................... 9
C) Princípio da Moralidade ......................................................................................................... 14
D) Princípio da Publicidade ........................................................................................................ 14
E) Eficiência ................................................................................................................................ 19
Outros .......................................................................................................................................... 20
PRINCÍPIOS RECONHECIDOS ................................................................................................... 21
A) Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre o Interesse Privado ........................ 21
B) Princípio da Indisponibilidade do Interesse Público ........................................................... 23
C) Princípio da Autotutela .......................................................................................................... 25
D) Princípio da Segurança Jurídica ........................................................................................... 28
E) Princípios da Razoabilidade e da Proporcionalidade .......................................................... 31
F) Princípio da Continuidade dos Serviços Públicos ............................................................... 34
G) Princípio da Atualidade dos Serviços Públicos ................................................................... 35
H) Princípio da Generalidade/Universalidade dos Serviços Públicos .................................... 35
I) Princípio da Modicidade das Tarifas ...................................................................................... 36
J) Princípios da Segurança dos Usuários e da Corte............................................................... 36
J.2) Princípio da Isonomia .......................................................................................................... 36
K) Princípio da Vinculação ao Edital ......................................................................................... 38
L) Princípio do Julgamento Objetivo ......................................................................................... 39
M) Princípio da Competitividade ................................................................................................ 39
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P) Princípio da Segregação das Funções ................................................................................. 40
Q) Desenvolvimento Nacional Sustentável ............................................................................... 40

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PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

Regime Jurídico Administrativo


- No curso de fundamentos jurídicos, trabalha-se o chamado regime jurídico administrativo, que
nos traz os princípios aplicáveis à Administração Pública (AP).
- Esses princípios aplicáveis à Administração fundamentam e explicam diversos institutos do Direito
Administrativo.

- O Direito Administrativo é ramo autônomo do Direito Público, segundo a doutrina clássica.


- Os autores de Direito Administrativo vem defendendo a ideia de que essa divisão entre público e
privado não mais se justifica, pois, se analisarmos essa matéria com cuidado, em diversas
situações, tem-se aplicações do direito privado, ex: empresas públicas e sociedades de economia
mista, concessionárias e permissionárias de serviço público.
- No Direito Civil, a mesma coisa: ele está no âmbito do direito privado, porém, há regras e institutos
eu se baseiam no regime jurídico de direito público.
- Dessa forma, a ideia é que essa ideia de divisão está cada vez mais relativizada, principalmente
pela doutrina moderna.

- O Direito Administrativo normalmente traz regime jurídico de direito público. Em diversas situações,
traz uma posição acima da Administração, a colocando em uma relação de verticalidade com o
particular. Nem sempre isso ocorre, mas, em boa parte das atuações da Administração, ela se
encontra nessa posição acima.

- A doutrina do Direito Administrativo traz, inicialmente, os princípios chamados de constitucionais,


ou expressos na CF, que são aqueles que, pelo texto constitucional, são aplicados à Administração
Pública.
- Inicialmente, sempre devemos nos lembrar dos princípios do art. 37, caput, CF, sendo aplicáveis,
tanto à Administração Pública Direta (formada pelos entes federativos, quais sejam União, Estados,
DF e Municípios e seus órgãos) quanto à Administração Pública Indireta (determinada entidade que
foi criada pela AP direta, ex: autarquias, SEM, EP).
- Os princípios constitucionais, em geral, cada vez mais vem sendo importante para o Direito
Administrativo.
- Nos últimos tempos, tivemos o que podemos chamar de constitucionalização do Direito
Administrativo, o que significa que cada vez mais esses princípios (explícitos e implícitos) da CF
são importantes para fundamentar e orientar a atuação da AP.
• Isso faz com que esses princípios se tornem cada vez mais importantes para nós.

- Art. 37, caput, CF: A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União,

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dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (...)
• Legalidade
• Impessoalidade
• Moralidade
• Publicidade
• Eficiência

- Esses 5 princípios são expressamente, claramente, aplicáveis.

A) Princípio da Legalidade

- A primeira coisa que se deve entender é que o Princípio da Legalidade aplicável à AP é diferente
do Princípio da Legalidade aplicável aos particulares, previsto no art. 5º, II, CF: ninguém será
obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei, ou seja, o particular pode

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fazer o que quiser, apenas sendo proibido o que está em lei – a única coisa que não podemos
fazer, no fim das contas, é contrariar a lei.
• Para os particulares, temos uma ideia de não contradição à lei; se não tem uma lei que está
sendo contrariada.

- O particular pode fazer o que quiser: pode atuar secundo legem (de acordo com a lei), preter legem
(além da lei – se não tem previsão nenhuma). Só não pode atuar contra legem (contra a lei).

- Diferentemente, a legalidade aplicada à AP, segundo o princípio da legalidade, a AP só pode


atuar se houver previsão em lei.
• Se não existe previsão em lei, a AP não pode atuar; a ideia é que a AP fique parada até que
tenha uma lei que a mande atuar – ideia de subordinação à lei.
• A ideia para a AP é que se não tem uma lei determinando a sua atuação, a AP não pode
atuar, ex: tem um carro do particular e um da AP; o carro particular pode andar para onde
quiser, exceto contrariar a lei, como ultrapassar limite de velocidade; diferente o carro da
AP, que ficará parado até que a lei determine que ele ande, como se uma pessoa com uma
camisa escrita “lei” a mandasse andar – só atua se houver previsão em lei.

- A AP só pode atuar secundum legem (segundo a lei); ela não pode atuar preter legem (além da
lei, quando não tem uma previsão em lei)e também não pode conta legem (conta a lei), nesse ponto,
como o particular.
- Isso nos faz entender que, normalmente, uma omissão da AP não é uma omissão ilícita.
- Normalmente quando estamos estudando a responsabilidade civil do Estado (dever que a AP tem
de indenizar, caso cause danos a terceiros), costumamos dizer que a omissão (falta de conduta)
nem sempre é ilícita.
• Às vezes, a AP não tem que causar uma indenização por um prejuízo causado por omissão

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da AP, às vezes a omissão dela era lícita, já que somente atua quando a lei determinar que
assim ela o fara.

- A omissão da AP somente é ilícita quando há um dever da AP de atuar, um dever legal de agir e


ela fica parada. Se não tem lei (no sentido amplo) determinando sua atuação, ela, de fato, não pode
atuar.

- Particular tem uma maior liberdade de fazer o que quiser, a não ser o que contrarie a lei. Pensando
em um agente público, ele não pode fazer nada, a não ser que a lei determine a sua atuação.

- A lei tratada aqui é lei no sentido amplo, considerando como lei todo o ordenamento jurídico, e
não apenas lei em sentido estrito, o que chama lei, se não, estaríamos falando que a AP só poderia
atuar se houvesse previsão em lei ordinária, lei complementar ou lei delegada.
• O ordenamento jurídico/o direito como um todo determina a atuação da AP, respeitado o
princípio da legalidade, ex: um princípio expresso ou implícito na CF.

- A ideia de lei, hoje, é interpretada com base no princípio da juridicidade, o qual traz a ideia de
que a lei (da legalidade para a AP) é lei no sentido amplo, que considera tanto a lei em sentido
estrito quanto todo o ordenamento jurídico.
• Exemplo de previsão legal da ideia de juridicidade: Lei 9.784 (Lei do Processo Administrativo
Federal), art. 2º: A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da
legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla
defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência. Parágrafo Único: Nos
processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de: I - atuação
conforme a lei e o Direito – a ideia da lei para nós é no sentido amplo.

- Há muito tempo atrás, não exista nenhum tipo de regra que vedava o nepotismo, que é se
aproveitar de um cargo público que ocupa para colocar os parentes em cargo em comissão, função
de confiança – cargos de livre nomeação.
• O CNJ (que é órgão administrativo do Poder Judiciário – se submete ao princípio da
legalidade e a todos os outros) entendeu que isso de colocar parente e se beneficiar do
próprio cargo estava errado.
- Com isso, o CNJ expediu a Resolução nº 07: Disciplina o exercício de cargos, empregos e funções
por parentes, cônjuges e companheiros de magistrados e de servidores investidos em cargos de
direção e assessoramento, no âmbito dos órgãos do Poder Judiciário e dá outras providências.
• Essa resolução é no âmbito do Poder Judiciário, do qual ele tem competência, e proibiu o
nepotismo.

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- Alguns magistrados, não concordaram muito com essa Resolução, discutindo sua
constitucionalidade, ao argumento que já que é ato administrativo e que deveria se submeter ao
princípio da legalidade da AP, agindo apenas quando houver previsão em lei, de modo que seria
constitucional, já que não há lei proibindo o nepotismo.
- Propuseram, então a ADC 12 para discutir a constitucionalidade da Resolução 7, CNJ.
• O STF falou que a AP está submetida a lei em sentido amplo, que vai considerar todo o
ordenamento jurídico. Apesar de não haver nenhuma lei em sentido restrito proibindo o
nepotismo, o nepotismo fere princípios aplicáveis à AP, quais sejam:
o Moralidade: quando se aproveita do cargo para colocar os parentes, está atuando
de forma a ferir esse princípio, de forma imoral, sem ética e probidade.
o Impessoalidade: se coloca os parentes em cargo de submissão, está atuando de
forma pessoal e não impessoal.
o Eficiência: ao colocar o parente, não coloca uma pessoa que seria eficiente naquele
cargo, mas, o parente, que não necessariamente é o melhor servidor.
• Desse modo, o STF entendeu que essa Resolução é constitucional.

- Logo depois, o STF editou a súmula vinculante 13: A nomeação de cônjuge, companheiro ou
parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade
nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou
assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função
gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações
recíprocas, viola a Constituição Federal.
• Com isso, a vedação ao nepotismo passou a ser para toda a Administração Pública.
• Se alguém fere essa súmula hoje e coloca um parente em cargo , responderá, inclusive, por
improbidade administrativa.

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- Alguns alegavam que proibir o nepotismo estava ferindo a liberdade de nomeação de cargo em
comissão e função em confiança, o que o STF rechaçou.

- Celso Antônio Bandeira de Melo traz 3 exceções ao princípio da legalidade, em que a AP não
precisaria respeita-lo:
• Edição de Medida Provisória;
• Estado de Sítio;
• Estado de Defesa.

- A maioria dos autores não concordam com as exceções trazidas pelo autor, fundamentando que
essas atuações nessas situações são muito mais políticas que função administrativa de fato, de
modo que não seria uma exceção ao princípio da legalidade.
- Desse modo, a maioria da doutrina entende que não há exceção e que a AP só atua quando
houver lei determinando que ela atue.

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B) Princípio da Impessoalidade

- A ideia é muito simples: a AP tem que atuar de forma impessoal; os agentes públicos que exercem
sua função devem atuar de maneira impessoal, sem buscar interesses pessoais ou favorecer
pessoas específicas.

- Há três sentidos/três formas de enxergar o princípio da impessoalidade:


B.1) Princípio da Isonomia: é bem parecida com a ideia da isonomia no direito como um todo:
deve-se tratar todo mundo igual, mas, é possível tratamento desigual na medida de desigualdades.
• A AP deve tratar a todos de forma igual (ligação com o princípio da igualdade), sem pensar
apenas na igualdade formal, pois, na prática, pode haver desigualdades; desse modo,
isonomia ligada à igualdade material, uma ideia de que deve-se tratar as pessoas de forma
igual, mas, é possível que se dê um tratamento desigual para pessoas que se encontrem
em situação de desigualdade, diferente na prática.
- A AP, em regra, tem que prestar o serviço público a todos, da mesma maneira, mas, é possível
que haja tratamento desigual na medida das desigualdades, ex: cobra a mesma tarifa de todas as
pessoas que se utilizam do serviço público, mas, pode isentar algumas pessoas da tarifa, como os
idosos no transporte público.
• Ex: reserva de vaga para PCD em concurso público, assim como as cotas de negros.

- Informativo 1000, STF: o STF foi analisar critério de desempate previsto em um concurso público
que falava que ficaria na frente a pessoa que já fosse servidora pública do Estado.
• O STF entendeu que não tem proporcionalidade dar um tratamento desigual para a pessoa
que já era servidora pública do Estado, de modo que não se justificaria a aplicação da
isonomia nesse caso.

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- Art. 37, I e II: o cargo e o emprego público são acessíveis a todos os brasileiros que se enquadrem
nos requisitos legais e que forem aprovados em concurso público.

- Critérios que dê tratamento diferenciado a candidatos em concurso público tem que ser
proporcionais, razoáveis.

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- O Estado, nessa decisão, argumentou a ser favor que colocar pessoas que já eram servidoras
públicas era uma forma de colocar dentro do serviço pessoas que já eram mais experientes.
- STF decidiu, por fim, que não é critério aceitável, proporcional dizer que terá preferência no
concurso público só porque já é servidor do Estado.

B.2) Princípio da Finalidade: não são todos os autores que aplicam essa faceta ao princípio da
impessoalidade; Aury Lopes Meireles, por exemplo, faz isso.
- A atuação do agente público deve ser sempre o interesse público, interesse da coletividade. Se,
por algum motivo, deixa de buscar um interesse público e passa a buscar um interesse privado, do
agente ou de terceiros, fere o princípio da impessoalidade.

B.3) Proibição da Promoção Pessoal: quando um servidor atua na sua função, ele atua em nome
da PJ da qual ele faz parte – teoria do órgão. Ex: a professora é servidora de um órgão de MG,
quando ela atua, quem está atuando é o Estado de Minas Gerais, a manifestação de vontade é
imputada ao Estado de Minas Gerais.
- Se o agente público está atuando em nome da PJ que ele faz parte, ele não pode querer se
promover pessoalmente, porque, na verdade não é ele quem está atuando, mas, o Estado.
- Essa proibição da promoção pessoal também visa garantir o princípio da impessoalidade.

- Art. 37, §1º, CF: A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos
públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo
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constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou
servidores públicos.
• Ex: o Município faz a reforma na praça pública e o prefeito coloca uma faixa falando que ela
foi presente dele para a cidade; ele não pode colocar que foi ele que fez a reforma, já que
ela foi feita com o dinheiro do Município.

- RE 191. 668/RS: o servidor não colocava nome, símbolo ou imagem, mas, um slogan. O STF
entendeu que qualquer forma de identificação e promoção pessoal se enquadra nesse artigo, não
se limitando a nome, símbolo ou imagem.

- Informativo 1.017, STF (2021): a Lei Orgânica do DF passou a competência para os órgãos
públicos para que cada um deles pudesse regulamentar o que seria ou não proibição da promoção
pessoal.
- O STF entendeu que o art. 37, §1º não está aberto a interpretação para que cada órgão mencione
o que assim entenda ou não; promoção pessoal é fazer identificação, promover pessoalmente o
servidor ou a autoridade em virtude da atuação da AP. Qualquer atuação que venha a violar isso
fere o princípio da impessoalidade.

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- O art. 37, §1º, CF é norma autoaplicável, ele está ali posto, de modo que não tem que interpretar,
apenas aplicar.

- A ideia não é proibir de o agente público de informar quais as ações ele fez, mas, sim, proibir que
ele use uma atuação do órgão como se fosse dele.

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C) Princípio da Moralidade

- É extremamente simples: a ideia é que a atuação do agente público tem que ser moral, ética, de
boa fé, com probidade.
- Uma coisa é a moralidade administrativa e outra é a de cada pessoa; deve-se entender que a
atuação da AP deve seguir preceitos morais, com vistas a buscar uma boa administração pública,
garantir que a AP sempre busque a melhor forma de atuação.
- No Direito Administrativo, há diversos instrumentos para garantir a moralidade, por ex:
• Lei 8.429/92: é a Lei de Improbidade Administrativa; extremamente importante.
• Lei 7.247/85: Lei de Ação Civil Pública;
• Lei 4.717/65: Lei da Ação Popular.
• Lei 12.846/13: Lei Anticorrupção: visa aplicar penalidades às PJ que atuem de forma
contrária à moralidade, que pratiquem atos de corrupção em geral.

D) Princípio da Publicidade

- Vai nos trazer a ideia de que a atuação da AP deve ser pública, acessível a todos; a coletividade
tem que ter acesso às informações e atuações da AP para que possa efetivar o controle.
- Esse princípio é extremamente importante para efetivar o controle dos atos da AP. Se não se tem
informações sobre a atuação da administração, não há como controla-la.

- Informativo 552, STJ: Chegou ao STJ discussão se seria possível/obrigatório/necessário ou não


garantir o acesso da coletividade em geral do extrato do cartão de crédito coorporativo da

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Presidência da República. A Presidência negou esse acesso alegando que feriria o princípio da
intimidade, da vida privada, da imagem do Presidente.
- O STJ entendeu que tinha que divulgar sim, por ser cartão de crédito corporativo, e não pessoal,
já que quem paga é o dinheiro público; é cartão que deve ser utilizado para atuações voltadas ao
exercício da função. Desse modo, entendeu que era obrigatória o acesso a esse extrato para
garantir o princípio da publicidade, para, no fim das contas, garantir o controle dessas despesas
que eram exercidas pela função do Presidente.

- Não divulgar os extratos fere diretamente o princípio da publicidade.


- O STJ indeferiu a planilha apresentada, já que apresentava apenas gastos genéricos, sem
especificar como em um extrato.

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- Informativo 782, STF: possibilidade ou não da divulgação da remuneração dos servidores públicos.
Há muito tempo atrás, quando começou a ter os sites para divulgar as atuações da AP, os servidores
acharam ruim de ter o nome e remuneração nesses sites.
- Essa discussão chegou até o STF para que ele decidisse se era constitucional ou não a divulgação
desses dados. Os servidores que defendiam que não deviam ser divulgados argumentavam que
viola a intimidade, a vida privada deles (art. 5º, X, CF: são invioláveis a intimidade, a vida privada,
a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação).
- O STF decidiu que, nesse caso em concreto, deveria prevalecer o princípio da publicidade; é
necessário divulgar para garantir a publicidade, esse controle da atuação da administração.
- Atualmente, quase todos os órgãos da AP tem um portal de transparência.

- Essa servidora pediu danos morais pela divulgação.

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- Existiu, durante um tempo, grande discussão com relação a o que essa publicidade do ato
garantiria. Para alguns autores, seria um requisito da validade do ato administrativo, o que
significaria dizer que se o ato não recebesse a publicidade necessária, se ele não fosse divulgado,
ele não seria válido.
• Por outro lado, alguns autores defendiam que a publicidade do ato administrativo seria
requisito de eficácia, ou seja, ele estaria pronto, mas, não estaria apto a exercer seus efeitos.
- O entendimento a se levar para a prova é que a publicidade é um requisito de eficácia: se o ato
administrativo não recebeu a publicidade que lhe é devida, o ato é válido, porque se todos os
elementos dele estão de acordo com a lei ele é válido. Entretanto, ele não tem eficácia, ele não
pode produzir seus efeitos.

- A regra é a publicidade dos atos da administração, mas, é possível que no caso concreto haja
exceção em algumas hipóteses, que poderão prevalecer sobre a publicidade; mesmo nos casos
das exceções, o caso concreto deve ser analisado para ser se realmente as exceções prevalecerão.
• Art. 5º, X, CF: são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.
o Na questão da divulgação dos dados dos servidores públicos não houve prevalência
da exceção, de modo que em nome do princípio da publicidade hoje há portais da
transparência.
• Art. 5º, XXXIII, CF: todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
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interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei,
(princípio da publicidade) sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.
o Pode ser que, em determinadas situações, tem que se garantir o sigilo das
informações públicas para garantir a segurança da sociedade e do Estado. Mais uma
vez, deve ser analisado no caso concreto.

- Há normas que garantem e regulam o princípio da publicidade e o acesso às informações da AP,


de alguma maneira, são elas:
• Lei 12.527/11: Lei de Acesso à Informação: traz uma série de regras com relação a
publicidade e transparência, traz possibilidade de situações sigilosas e outras em que pode
haver relativização do princípio da publicidade.
o Esse sigilo não vai ser para sempre, mas, tem previsto na lei prazos que garantirá
esse sigilo a depender de sua classificação.
• Lei 13.709/18: Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD): foi editada para garantir a proteção
de dados em geral, seja pela AP ou seja por particulares que tenham acesso a dados
pessoais. A AP tem que ter cuidado ao administrar os dados pessoais dos seus
administrados.
o Normalmente tem mais ligação com o direito civil, mas, também o tem com a AP.
• Art. 5º, XXXIV, CF: que traz o exercício do direito de petição, a possibilidade de pedir
certidão, de ir na AP e pedir uma informação.
• Art. 37, §3º, CF: traz a possibilidade da participação do usuário do serviço público.

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E) Eficiência

- Não existia desde a origem da CF, sendo que era implícito, até 1998, com a EC 19/98 (fez uma
reforma administrativa), quando passou a ser expresso.
- EC 19/98: faz com que a AP deixe de ser burocrática (em que tudo era muito burocrático, tinha
que fazer uma série de processos internos, era muito demorada) e passe a ser gerencial, de
resultados (mais rápida, mais eficiente) – para isso foi inserido o princípio da eficiência, para garantir
que seja uma AP de resultados, rápida.
- Essa EC inseriu uma série de instrumentos que buscam essa eficiência, por exemplo:

• Avaliação especial de desempenho: art. 41, §4º, CF: é uma avaliação à qual o servidor vai
se submeter ao final do estágio probatório. É designada comissão especial para fazer essa
avaliação de desempenho. Ocorre apenas uma única vez, sendo que o servidor é avaliado
para saber se ele foi um bom servidor e merece ganhar a estabilidade.
o É um dos requisitos para adquirir a estabilidade, além do estágio probatório.

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• Avaliação periódica de desempenho: art. 41, §1º, CF: situações de perda do cargo do
servidor estável; uma dessas hipótese é quando ele é reprovado na avaliação periódica de
desempenho.
o Ainda que o servidor já tenha passado pela avaliação especial de desempenho,
deve-se garantir que o servidor continuará sendo eficiente, que ele continuará sendo
um bom servidor público.
o Se em uma dessas avaliações periódicas ele mostra que deixou de ser um bom
servidor público, ele perde o cargo.
o Essa avaliação depende da regulamentação por lei complementar, art. 41, §1º, III.
• Contrato de desempenho: art. 37, §8º, CF: por muito tempo foi chamado de contrato de
gestão (alguns autores ainda usam esse nome). Também visa garantir uma eficiência da
AP.
o É possível que se firme um contrato dentro da AP no qual serão estabelecidas metas
de desempenho. Se aquele órgão ou aquela entidade alcança aquelas metas, ele
recebe maior autonomia.
o É diferente do contrato de gestão do terceiro setor.
o Em dezembro de 2019 foi editada a Lei 13.934, a qual regulamenta o contrato de
desempenho – é lei de âmbito federal, servindo para União, autarquias e fundações
federais, que regulamenta esse contrato e traz um nome para ele.

Outros

- Normalmente, quando se fala de princípios expressos na CF para a AF, fala-se dos 5 que
acabamos de estudar: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
- Se dermos uma passada geral na CF, há outros princípios que também se aplicam no Direito
Administrativo:
• Princípio da Participação: visa garantir que os particulares tenham uma participação na
AP; cada vez mais a participação da sociedade é importante para a AP, ex: através de uma
consulta pública, através de direito de petição em que o particular pede uma informação.

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o Art. 37, §3º, CF.
• Princípio da Celeridade Processual: busca da razoável duração do processo.
o Art. 5º, LXXVIII, CF.

• Princípio do Devido Processo Legal: a AP também deve respeitar o devido processo legal
em sua atuação.
o Art. 5º, LIV, CF.
• Princípio do Contraditório e Ampla Defesa: se a AP vai aplicar uma penalidade, por
exemplo, a determinada pessoa, ela deve garantir o contraditório e a ampla defesa.
o Art. 5º, LV, CF.

PRINCÍPIOS RECONHECIDOS

- Chamados também de princípios implícitos, são aqueles que não estão expressos. Alguns
autores chama de implícitos para trazer o contrário dos expressos, que estão no art. 37, caput, CF.
• Outros autores preferem chamar de princípios reconhecidos, por não estarem expressos no
art. 37, mas, são reconhecidos por outras normas.

A) Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre o Interesse Privado

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- É extremamente importante, por ser com base nele que a AP recebe uma série de prerrogativas
que o particular não tem.
• A AP tem essas vantagens e está em uma posição acima dos particulares porque ela atua
buscando o interesse público; se assim ela não fizer, está errado.

- O interesse da coletividade tem supremacia sobre o interesse de uma pessoa, por isso, tem que
ter certas vantagens para atuar, para demonstrar essa supremacia.
- Diversos institutos só são possíveis por causa dessa supremacia, ex:
• Intervenção do estado na propriedade: a supremacia do interesse público sobre o privado
justifica essa intervenção, ex: se o Município quiser construir uma escola pública onde uma
pessoa tem uma casa, ele vai desapropriar aquela área, prevalecendo sobre o interesse do
particular de continuar morando ali.
• As cláusulas exorbitantes em um contrato administrativo: são poderes a mais que a Lei de
Licitação e Contratos Administrativos traz para a AP, de modo que existe uma relação de
verticalidade entre a AP e o particular.
• Exercício do poder de polícia: poder que a AP tem de limitar, de condicionar as atividades
dos particulares para garantir o interesse público, ex: se a vigilância sanitária chega em uma
lanchonete e vê que ela está vendendo produtos estragados e não está cumprindo as regras
de higiene, ela pode interditar aquele estabelecimento, já que o interesse do dono da
lanchonete de ela funcionar não vai se sobressair sobre o interesse coletivo da saúde.

- Normalmente, a doutrina, quando se aprofunda nesse princípio, nos chama atenção para o fato
de que se tem duas formas de enxergar esse interesse público:
• Primário: é, de fato, o interesse da coletividade; quando quer garantir o interesse público
da coletividade, está garantindo o interesse público primário.
o Esse é o interesse que terá supremacia sobre o privado.
• Secundário: é o interesse da AP como PJ, é o interesse patrimonial; interesse por
exemplo, do Município de ter sempre direito público guardado em seu caixa para satisfazer
suas despesas.
o Essa forma secundária de enxergar o interesse público não tem a supremacia que
tem nesse princípio. Se falasse que teria, poderia acontecer a seguinte situação: a
AP faz um contrato com uma empresa para construir um prédio; ao final dessa obra,
o Estado vira para essa empresa e fala que não a pagará por causa da supremacia
do interesse público, de modo que é superior o interesse do Estado de manter
dinheiro no caixa. Poderia acontecer, também, de o Estado não pagar os servidores
públicos, falar que eles vão trabalhar de forma voluntária, porque o interesse é
manter dinheiro no caixa.
- Desse modo, conclui-se que nem todo interesse público garante o interesse da coletividade; o
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interesse público secundário não está preocupado com o povo, mas, com o bolso dele.

- A doutrina mais moderna vem relativizando esse princípio; eles defendem que não se pode
pensar de forma absoluta nessa supremacia do interesse público sobre o privado, que, em certas
situações, estes tem que prevalecer, devendo ser analisado o caso concreto para saber se aplicará
ou não essa supremacia.
- Essa questão da relativização já caiu em provas.
- Exemplo de relativização: dona Maria mora sozinha, tem 110 anos, mal consegue andar e o
Município quer desapropriar sua casa para construir uma escola pública. Nesse caso, a doutrina
mais moderna vai discutir se realmente o interesse público deve sobressair sobre o privado, pensa
se é razoável fazer com que a dona Maria faça uma mudança na idade que ela está, nas condições
que ela está, já que mal consegue andar.
• No caso concreto, a obrigatoriedade de ter que fazer a mudança traria um desconforto para
dona Maria, incomodaria de forma desproporcional e desarrazoado. Desse modo, talvez
seria melhor o Município buscar um outro lugar para fazer essa escola.

- Esse é um dos princípios mais importantes, sendo que a doutrina até o chama de pedra de toque
do Direito Administrativo, mas, mesmo assim, deve-se pensar no caso concreto se ele tem mesmo
que ser absoluto ou se pode ser relativizado.

B) Princípio da Indisponibilidade do Interesse Público

- É importante para garantir limitações à AP, que um simples particular não tem.

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- A AP quando atua sempre tem que buscar o interesse público, da coletividade. Se ela tem que
buscar esse interesse, ela não pode abrir mão dele. Desse modo, para garantir que ela busque
sempre esse interesse, ela sofre determinadas limitações.
• Ex: a regra de licitação: o órgão público não pode simplesmente comprar algo, ele tem que
fazer licitação para garantir que está comprando o que precisa com a melhor proposta que
foi apresentada, não está comprando favorecendo ninguém e nem com o valor acima do
mercado.
• Ex: concurso público: a AP precisa garantir que não colocará naquele cargo público uma
pessoa que garantirá o interesse privado de alguém, mas, o melhor candidato naquele
cargo.
• Ex: necessidade da prestação de contas: os órgãos públicos e entidades que integram a
AP direta e indireta, as entidades que recebem ajuda para exercer, por exemplo, uma
função social, qualquer entidade que tenha, de alguma maneira, contato com o dinheiro
público.

- De um lado, a supremacia do interesse público sobre o privado trará prerrogativas, poderes e


vantagens a mais que um particular não tem e, por outro lado, a indisponibilidade do interesse
público traz algumas licitações que um mero particular não tem, mas, que a AP tem que ter para
garantir o interesse público sempre.

- A doutrina do Direito Administrativo, quando o estuda, vai nos dizer que quando olhamos de um
lado prerrogativas e do outro limitações, conseguimos enxergar o que eles chamam de
bipolaridade do Direito Administrativo ou binômio do Direito Administrativo.
• Binômio ou bipolaridade do Direito Administrativo é dizer que quando começa a estudar
os diversos institutos do Direito Administrativo se depara as vezes com prerrogativas,
poderes a mais que o particular (supremacia do interesse público) e as vezes com limitações
que o mero particular não tem (indisponibilidade) – de um lado dá poderes e vantagens e do

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outro tira poderes com limitações.
• Esses dois princípios, principalmente, fundamentam diversos institutos importantes. Por
isso, os autores costumam chamar esses dois princípios de pedras de toque do Direito
Administrativo, pois, seriam como se fosse as duas pedras fundamentais nas quais o Direito
Administrativo se constrói.
• Alguns autores chamam esses princípios, também, de supra princípios ou super
princípios.

- Alguns autores fazem uma ligação dessas limitações que a AP sofre com o princípio da legalidade,
falando que todas essas limitações que a AP vai sofrer se baseiam em nesse princípio, que fala que
a AP só atua quando a lei assim determina, e, por isso, é uma grande limitação.

C) Princípio da Autotutela

- Princípio que diz que a AP deve controlar seus próprios atos. A AP, quando atua, pode e deve
controlar seus próprios atos.
• Se o agente público editou algum ato administrativo e percebeu, depois, que aquele ato tem
algum tipo de defeito, ele mesmo pode extinguir aquele ato.

- É importante entender que a autotutela é um poder-dever da AP, pois, ela deve garantir que os
seus atos administrativos sejam sempre válidos, estejam sempre buscando o interesse público.
- Quando se pensa no exercício desse controle, deve-se pensar sempre em dois “defeitos” que a
AP pode perceber em seus próprios atos:
• Ilegalidade: ato editado contrário a lei – a AP, no exercício da autotutela, deverá anular os
atos que forem ilegais (salvo na hipótese de decadência administrativa).
o A anulação é forma de extinção do ato administrativo que pode se dar no exercício
da autotutela para extinguir ato que foi editado contrário à lei.

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• Inconveniência ou inoportunidade: é o ato que está de acordo com a lei, ele é legal, mas,
ele não tem mais conveniência ou oportunidade, ele não garante mais o interesse público,
não tem mais o porque daquele ato continuar existindo porque ele não tem mais o interesse
público. Se ele está de acordo com a lei, não tem como anular; desse modo, a solução é
revogar esse ato administrativo.
o Essa revogação deve acontecer no exercício da autotutela.

- Institutos que demonstram a atuação da AP no exercício da autotutela:


• Art. 53, Lei 9.784/99: A Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de
vício de legalidade, e pode revogá-los por motivo de conveniência ou oportunidade,
respeitados os direitos adquiridos.
o Ilegalidade: o ato deve ser anulado.
o Falta de conveniência ou oportunidade: o ato deve ser revogado.
• Súmula 346, STF: A administração pública pode declarar a nulidade dos seus próprios atos.
• Súmula 473, STF: A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de
vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por
motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada,
em todos os casos, a apreciação judicial.

OBS: Quando o art. 5, Lei 9.784, por ex, fala que a AP deve anular os atos que tenham vício de
ilegalidade, esse dever vai ser limitado, de alguma maneira, pela própria legislação.
- A própria Lei 9.784 traz uma limitação ao poder que a AP tem de anular seus próprios atos, que é
a decadência administrativa.
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• A decadência administrativa é uma forma de garantir um mínimo de segurança jurídica para
o particular que se relacione com a AP, ex: a AP editou ato que te traga determinada
vantagem: para você o ato administrativo está perfeito, você está de boa fé e se
beneficiando. Imagine que 20 anos depois a AP fala que vai anular aquele ato, porque ele
está em desacordo com a lei – isso geraria uma insegurança jurídica para todo mundo.
- A decadência administrativa são situações em que a AP perde o direito de anular o ato
administrativo.
- Está prevista no art. 54, Lei 9.784, com os requisitos:
• Efeitos favoráveis ao destinatário: se o ato prejudica o destinatário, ele pode ser anulado
a qualquer tempo, já que isso seria bom para ele;
• O destinatário deve estar de boa-fé.
• Tem que ter se passado um prazo de 5 anos de quando o ato foi editado.

- A decadência administrativa, desse modo, limita o princípio da autotutela para garantir a segurança
jurídica.

- Súmula 633, STJ e informativo 1.012, STF: trata da aplicação do art. 54, Lei 9.784 para os demais
entes federativos, já que ela trata do processo administrativo federal.
• De acordo com o STJ essa lei, especialmente no que trata de decadência administrativa,
deve ser aplicada para os demais entes federativos se eles não tiverem leis próprias que
tratem do processo administrativo.
• O STF entendeu que deve aplicar o prazo de 5 anos da decadência administrativa para
todos os entes.
• Súmula 633, STJ: A Lei nº 9.784/99, especialmente no que diz respeito ao prazo decadencial
para a revisão de atos administrativos no âmbito da Administração Pública federal, pode ser
aplicada, de forma subsidiária, aos estados e municípios, se inexistente norma local e
específica que regule a matéria.
• Informativo 1.012, STF: Em regra, o prazo decadencial para que a Administração Pública
anule atos administrativos inválidos é de 5 anos, aplicável a todos os entes federativos, por
força do princípio da isonomia.

- Quando se fala da decadência administrativa, o ato é ilegal. Quando se fala de ato manifestamente
inconstitucional, a AP pode anular a qualquer momento.

27
D) Princípio da Segurança Jurídica

- Traz a ideia de que a AP tem que garantir segurança para o particular quando ele lida com a AP;
quando liga com a AP, o mínimo que se espera é sentir uma segurança, não ser surpreendido por
ela. Pode-se pensar a segurança jurídica em dois aspectos:
• Objetivo: buscar uma estabilização do ordenamento jurídico, esperar que a AP tenha
relações estáveis com os particulares através de um ordenamento jurídico que tenha o
mínimo de estabilidade; a AP pode mudar formas de interpretar determinada situação, mas,
ela não pode aplicar essa nova interpretação de forma retroativa
o Art. 2º, Lei 9.784: A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios
da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade,
ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência;
o Pú, XII: interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta o
atendimento do fim público a que se dirige, vedada aplicação retroativa de nova
interpretação).
• Subjetivo: garantir o princípio da confiança legítima; é considerar que o particular, quando
se relaciona com a AP, ele está confiando naquela relação.

- Arts. 20 a 30, LINDB: traz regras tanto em decisões judiciais, decisões de controle e decisões
administrativas. A AP quando atua tem que buscar sempre a segurança jurídica, a confiança, a
estabilização do ordenamento jurídico.

Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá


com base em valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as
consequências práticas da decisão. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018).
Parágrafo único. A motivação demonstrará a necessidade e a adequação
da medida imposta ou da invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou
norma administrativa, inclusive em face das possíveis alternativas. (Incluído
28
pela Lei nº 13.655, de 2018)
Art. 21. A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial,
decretar a invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma
administrativa deverá indicar de modo expresso suas consequências
jurídicas e administrativas. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)
Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá,
quando for o caso, indicar as condições para que a regularização ocorra de
modo proporcional e equânime e sem prejuízo aos interesses gerais, não se
podendo impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função das
peculiaridades do caso, sejam anormais ou excessivos. (Incluído pela Lei nº
13.655, de 2018)
Art. 22. Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão
considerados os obstáculos e as dificuldades reais do gestor e as exigências
das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos direitos dos
administrados.
§ 1º Em decisão sobre regularidade de conduta ou validade de ato, contrato,
ajuste, processo ou norma administrativa, serão consideradas as
circunstâncias práticas que houverem imposto, limitado ou condicionado a
ação do agente. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)
§ 2º Na aplicação de sanções, serão consideradas a natureza e a gravidade
da infração cometida, os danos que dela provierem para a administração
pública, as circunstâncias agravantes ou atenuantes e os antecedentes do
agente. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)
§ 3º As sanções aplicadas ao agente serão levadas em conta na dosimetria
das demais sanções de mesma natureza e relativas ao mesmo fato.
(Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)
Art. 23. A decisão administrativa, controladora ou judicial que estabelecer
interpretação ou orientação nova sobre norma de conteúdo indeterminado,
impondo novo dever ou novo condicionamento de direito, deverá prever
regime de transição quando indispensável para que o novo dever ou
condicionamento de direito seja cumprido de modo proporcional, equânime
e eficiente e sem prejuízo aos interesses gerais.
Parágrafo único. (VETADO).
Art. 24. A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial,
quanto à validade de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa
cuja produção já se houver completado levará em conta as orientações
gerais da época, sendo vedado que, com base em mudança posterior de
orientação geral, se declarem inválidas situações plenamente constituídas.
29
(Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)
Parágrafo único. Consideram-se orientações gerais as interpretações e
especificações contidas em atos públicos de caráter geral ou em
jurisprudência judicial ou administrativa majoritária, e ainda as adotadas por
prática administrativa reiterada e de amplo conhecimento público. (Incluído
pela Lei nº 13.655, de 2018)
Art. 25. (VETADO).
Art. 26. Para eliminar irregularidade, incerteza jurídica ou situação
contenciosa na aplicação do direito público, inclusive no caso de expedição
de licença, a autoridade administrativa poderá, após oitiva do órgão jurídico
e, quando for o caso, após realização de consulta pública, e presentes
razões de relevante interesse geral, celebrar compromisso com os
interessados, observada a legislação aplicável, o qual só produzirá efeitos a
partir de sua publicação oficial. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)
§ 1º O compromisso referido no caput deste artigo: (Incluído pela Lei nº
13.655, de 2018)
I - buscará solução jurídica proporcional, equânime, eficiente e compatível
com os interesses gerais; (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)
II – (VETADO);
III - não poderá conferir desoneração permanente de dever ou
condicionamento de direito reconhecidos por orientação geral; (Incluído pela
Lei nº 13.655, de 2018)
IV - deverá prever com clareza as obrigações das partes, o prazo para seu
cumprimento e as sanções aplicáveis em caso de descumprimento. (Incluído
pela Lei nº 13.655, de 2018)
§ 2º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)
Art. 27. A decisão do processo, nas esferas administrativa, controladora ou
judicial, poderá impor compensação por benefícios indevidos ou prejuízos
anormais ou injustos resultantes do processo ou da conduta dos envolvidos.
(Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)
§ 1º A decisão sobre a compensação será motivada, ouvidas previamente
as partes sobre seu cabimento, sua forma e, se for o caso, seu valor.
(Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)
§ 2º Para prevenir ou regular a compensação, poderá ser celebrado
compromisso processual entre os envolvidos. (Incluído pela Lei nº 13.655,
de 2018)
Art. 28. O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou
opiniões técnicas em caso de dolo ou erro grosseiro. (Incluído pela Lei nº
30
13.655, de 2018)
§ 1º (VETADO).
§ 2º (VETADO).
§ 3º (VETADO).
Art. 29. Em qualquer órgão ou Poder, a edição de atos normativos por
autoridade administrativa, salvo os de mera organização interna, poderá ser
precedida de consulta pública para manifestação de interessados,
preferencialmente por meio eletrônico, a qual será considerada na decisão.
(Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)
§ 1º A convocação conterá a minuta do ato normativo e fixará o prazo e
demais condições da consulta pública, observadas as normas legais e
regulamentares específicas, se houver. (Incluído pela Lei nº 13.655, de
2018)
§ 2º (VETADO).
Art. 30. As autoridades públicas devem atuar para aumentar a segurança
jurídica na aplicação das normas, inclusive por meio de regulamentos,
súmulas administrativas e respostas a consultas.

E) Princípios da Razoabilidade e da Proporcionalidade

- Há uma tendência, na prática, de tratar esses princípios como se fossem fungíveis, a mesma coisa,
mas, na verdade, eles são diferentes.
- Primeira diferença: questão da origem, de onde surge cada um deles (já teve questão de prova
diferenciando esses dois princípios com base na origem): O princípio da razoabilidade surge no
direito norte americano, com a jurisprudência anglo saxônica. O princípio da razoabilidade é um
pouco mais subjetivo, é algo que se consegue analisar mais no caso concreto.
• A ideia da razoabilidade é que a AP sempre deve buscar uma atuação dentro de limites

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aceitáveis, uma atuação com equilíbrio, coerência, bom senso.
• Às vezes a AP atua o que está seguindo o que está na lei, mas, de forma excessiva, de
modo que fere o princípio da razoabilidade.
o Ex: licitação é procedimento que deve ser adotado, em regra, para firmar um contrato
administrativo; na licitação, há uma série de fases, sendo que uma delas é a
habilitação, na qual se observa se os documentos os licitantes estão de acordo com
o edital e a lei. Se um dos licitantes entrega um documento errado, ele será
considerado inabilitado, saindo da licitação. Aconteceu de um determinado órgão
público entregar um documento no qual o sócio assinou centímetros de onde deveria
assinar; a comissão de licitação declarou a inabilitação dessa empresa por causa
desse defeito, o resto do documento estava todo correto e de acordo. A empresa não
concordou, recorreu administrativamente e não conseguiu e impetrou um Mandado
de Segurança para discutir esse documento, que chegou até o STJ. O STJ entendeu
que a inabilitação não estava de acordo com o bom senso, que feria o princípio da
razoabilidade, anulou o ato e mandou a empresa voltar para a licitação.

- A análise de princípios também é análise de legalidade; desse modo, se a atuação da AP fere, de


alguma maneira, ainda que os princípios da razoabilidade ou da proporcionalidade, esse ato é ilegal
e deve ser anulado.

- Por sua vez, o princípio da proporcionalidade surge no direito alemão, sendo que alguns autores
citam, também, o direito suíço.
• Ele traz uma análise um pouco mais matemática da história, como se fosse um calculo
matemático para, no final, saber se é proporcional ou não a atuação.
- A ideia da proporcionalidade é analisar os meios adotados pela AP e os fins pretendidos por ela.

- Deve-se analisar em 3 passos o princípio da proporcionalidade, sendo que alguns autores chamam
os passos de subprincípios, sendo um seguido do outro, necessariamente:
• Adequação: analise se a medida adotada pela AP consegue levar ao fim pretendido; às
vezes adota determinado ato que não levará aos fins que a AP precisa, e, por isso, o ato
não é proporcional.
o Ex: “tapar o sol com a peneira”: quando se fala que alguém está tapando o sol com
a peneira, a pessoa está buscando tapar o sol, mas, o meio que ela está usando não
é proporcional, porque a peneira não consegue tapar o sol – essa ação é
desproporcional porque não consegue chegar ao fim que ela deseja.
o Ex: o prefeito de determinado Município edita decreto determinando que bares e
restaurantes devem fechar às 20h, com a finalidade do prefeito é evitar gravidez na
adolescência. O bar e o restaurante fecharem às 20h não é meio adequado para
32
prevenir o que o prefeito quer, porque quem for fazer filho vai fazer em qualquer
hora/local.
• Necessidade/exigibilidade: quando a AP tem mais de uma medida adequada, ela deve
adotar a medida menos excessiva, menos restritiva.
o Ex: a pessoa está com uma dor no joelho há muito tempo e vai ao médico buscar a
finalidade de parar de sentir a dor. O médico fala que tem duas opções para parar
de sentir a dor: uma cirurgia muito rápida no consultório ou cortar a perna, que aí não
vai mais ter joelho para sentir a dor – se decide cortar a perna, está sendo
desproporcional, porque está adotando a medida mais restritiva.
o Ex: o fiscal de um órgão ambiental vai a uma fábrica fiscalizá-la para ver se ela está
emitindo mais poluentes do que ela poderia. Quando ele chega lá, percebe que a
fábrica está emitindo poluentes acima do permitido em lei, de modo que ele tem que
fazer algo para alcançar a finalidade, que é emitir menos poluentes. Ele chama o
dono da fábrica e fala que ele poderá adotar duas medidas: ou determinar que ele
coloque um filtro na chaminé para segurar os poluentes ou interditar a fábrica; se ele
interditar direto a fábrica, ele adotará uma medida que não é necessária, já que
adotou a medida mais restritiva.
• Proporcionalidade em sentido estrito: fazer uma ponderação entre as vantagens e as
desvantagens no caso concreto, analisa até onde vale a pena ou não adotar aquela medida.

- CUIDADO: Há alguns autores que tratam esses princípios como se fossem a mesma coisa. A
professora já viu questão que falava da razoabilidade e a dividia nos três passos. É importante
lembrar que tecnicamente, o correto é dividir a proporcionalidade. Desse modo, tomar cuidado na
prova para ver se o examinador está diferenciando os dois princípios ou se está os tratando como
semelhantes.

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Princípios aplicados aos Serviços Públicos

F) Princípio da Continuidade dos Serviços Públicos

- Vai trazer a ideia de que o serviço público deve ser prestado de forma contínua, em regra; ele
deve ser prestado sem interrupções.
- É importante entender que se deve analisar no caso concreto o que é ou não a continuidade. Às
vezes algum serviço público não pode parar de forma alguma, deve funcionar 7 dias por semana,
24h por dia, enquanto outros podem fechar a noite – por isso deve-se observar o caso concreto.
• Ex: hospital público: não fecha o tempo todo, tem que manter a continuidade.
• Ex: museu público: fica tudo bem se fechar de 20h às 8h, não fere o interesse de coletividade
se ele fechar em algum momento.

- O serviço público tem que ter a possibilidade de ser interrompido em algumas situações, de modo
que a própria Lei 8987 vai nos trazer hipóteses de interrupção que não caracteriza a
descontinuidade do serviço público no art. 6º, §3º: Não se caracteriza como descontinuidade do
serviço a sua interrupção em situação de emergência ou após prévio aviso, quando: I - motivada
por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e, II - por inadimplemento do
usuário, considerado o interesse da coletividade.
• Emergência: se há, por exemplo, uma descarga elétrica que pode levar inclusive a morte
das pessoas que estão perto – ele tem que garantir a segurança de todo mundo.
o Não tem que avisar previamente o usuário, até porque nem tem como.
• Aviso prévio, o usuário tem que ficar sabendo previamente que o serviço será interrompido.
Ocorrerá por:
o Questões técnicas ou de insegurança nas instalações, ex: tem que fazer uma
manutenção na rede de esgoto, de modo que interromperá o abastecimento de água
naquele bairro.
o Inadimplemento do usuário: o usuário não está pagando a conta, de modo que o
serviço público pode ser interrompido.
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- Há um conflito entre a previsão desse artigo e o CDC, sendo que este dá a entender que, em caso
de serviços essenciais, não poderia haver a interrupção em caso de inadimplemento do usuário.
• No Direto Administrativo, entretanto, não há dúvida quanto a isso porque o STJ entendeu
que a Lei 8.987 é especial em relação ao CDC, sendo que este fala do usuário de serviços
de consumo em geral enquanto aquela trata do usuário de serviço público.

G) Princípio da Atualidade dos Serviços Públicos

- Art. 6º, 2º, Lei 8.987/95: A atualidade compreende a modernidade das técnicas, do equipamento
e das instalações e a sua conservação, bem como a melhoria e expansão do serviço.
- A ideia é pensar que o prestador do serviço público deve sempre prestar aquele serviço de forma
atual, devendo se manter atualizado com todas as inovações, sejam tecnológicas, sejam sociais,
de legislação, ele tem que prestar aquele serviço de forma atualizada, ex: o ônibus do transporte
público deve ser atual; ele não pode estar caindo aos pedaços, que não tem certas comodidades
dos usuários como elevador para PCD etc.

H) Princípio da Generalidade/Universalidade dos Serviços Públicos

- Com base nesse princípio, o serviço público deve ser prestado a todos, a todas as pessoas que
tem condições de utilizar aquele serviço, ex: o transporte público não pode ser prestado apenas
para um bairro, ele deve ser prestado a todos os bairros que tem condições de recebê-lo.
• Há alguns prestadores de serviços públicos que alegam que não podem prestar os serviços
em algum lugar porque coloca em risco a sua segurança, ex: em algumas comunidades do
RJ, os Correios não entram; desse modo, algum vizinho ou uma pessoa da comunidade vai
até a unidade dos Correios e pega as correspondências.

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I) Princípio da Modicidade das Tarifas

- Diz que a tarifa cobrada pela prestação dos serviços deve ter o valor mais baixo possível, para
garantir, inclusive, o princípio da generalidade/universalidade, para que todas as pessoas consigam
ter acesso, ex: se coloca um alto valor de tarifa no transporte público dentro da cidade, grande parte
da população do Brasil não tem condição de pagar para ir trabalhar.
- Art. 11, Lei 8.987: No atendimento às peculiaridades de cada serviço público, poderá o poder
concedente prever, em favor da concessionária, no edital de licitação, a possibilidade de outras
fontes provenientes de receitas alternativas, complementares, acessórias ou de projetos
associados, com ou sem exclusividade, com vistas a favorecer a modicidade das tarifas, observado
o disposto no art. 17 desta Lei.
• Traz as receitas alternativas, que são a possibilidade que a lei traz, desde que previsto no
edital, de outras fontes de renda para as concessionárias de serviço público, ex: o edital
permite que, além das passagens, a concessionária pode colocar um adesivo de
propaganda atrás do ônibus.
• No mundo ideal, se a concessionária está recebendo um lucro com a propaganda, como no
exemplo anterior, ela conseguiria colocar a tarifa a um valor mais baixo.
• As receitas alternativas devem estar previstas no edital e no contrato.

J) Princípios da Segurança dos Usuários e da Corte

- Segurança dos usuários: o prestador deve prestar o serviço público sempre visando o interesse
e a segurança do usuário.
- Cortesia: o prestador do serviço público deve tratar o usuário de forma cortês, educada.

J.2) Princípio da Isonomia

- Traz a ideia de que a AP, em regra, deve tratar os usuários dos serviços públicos de forma igual.

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- Importante lembrar que a isonomia possibilita tratamento igual e tratamento desigual a pessoas
que se encontram em situação de desigualdade, ex: gratuidade de transporte público para os idosos
e outras categorias que o Município coloque em lei.

- Lei 8.987/95: As tarifas poderão ser diferenciadas em função das características técnicas e dos
custos específicos provenientes do atendimento aos distintos segmentos de usuários – prevê a
possibilidade de cobrança de tarifas diferenciadas – possibilidade de cobrar um valor de tarifa para
uma categoria de usuários e um outro valor para outra categoria.

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Princípios aplicáveis às Licitações
- Licitações e contratos são tratados atualmente tratados tanto na Lei 8.666/93 quanto na Lei
14.133/21, que é a nova lei.
- A Lei 14.133 foi publicada e entrou em vigor em 1º/04/21. Essa lei não revogou completamente de
uma vez a Lei 8.666. Revogou, de início, a parte de crimes e determinou que, em 2 anos o restante
continuará sendo aplicado também.
- Os princípios aplicáveis à Lei 8.666/93 estão no art. 3º:
Art. 3º: A licitação destina-se a garantir a observância do princípio
constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a
administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável e
será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios
básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da
publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento
convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos.

- Na Lei 14.133, os princípios estão no art. 5º:


Art. 5º: Na aplicação desta Lei, serão observados os princípios da
legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade, da eficiência,
do interesse público, da probidade administrativa, da igualdade, do
planejamento, da transparência, da eficácia, da segregação de funções, da
motivação, da vinculação ao edital, do julgamento objetivo, da segurança
jurídica, da razoabilidade, da competitividade, da proporcionalidade, da
celeridade, da economicidade e do desenvolvimento nacional sustentável,
assim como as disposições do Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de
1942 (Lei de Introduções às Normas do Direito Brasileiro).

K) Princípio da Vinculação ao Edital

- No art. 3º, Lei 8.666, fala-se em vinculação ao instrumento convocatório e no art. 5º da nova Lei,
fala-se em vinculação ao edital. Isso porque naquela tem uma modalidade de licitação, que é a
convite, que não tem edital, sendo o seu instrumento convocatório a carta convite. Como na nova
lei esse instrumento não existe mais, todos os instrumentos possuem edital.

- Esse princípio traz que tanto a AP quanto os licitantes tem que respeitar as regras previstas no
edital, que deve estar de acordo com a lei, por sua vez.
- Se uma licitação acontece em desacordo com o que está no edital, em algum momento ela será

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anulada.

L) Princípio do Julgamento Objetivo

- Aparece nas duas leis.


- Traz a regra de que as propostas apresentadas na licitação devem ser julgadas de forma objetiva;
é necessário adotar critérios objetivos para decidir qual proposta vencerá aquela licitação.
- Esses critérios objetivos, que estarão previstos em lei e no edital, determinarão o vencedor da
licitação. Nem sempre ganhará o menor preço, a depender do que estiver previsto no edital.
- Nunca pode falar que vai vencer a licitação com base em critérios subjetivos, ex: o licitante mais
legal, mais engraçado, mais bonito.

M) Princípio da Competitividade

- Não aparece expressamente no art. 3º, caput, mas aparece no §1º, I: admitir, prever, incluir ou
tolerar, nos atos de convocação, cláusulas ou condições que comprometam, restrinjam ou frustrem
o seu caráter competitivo, inclusive nos casos de sociedades cooperativas, e estabeleçam
preferências ou distinções em razão da naturalidade, da sede ou domicílio dos licitantes ou de
qualquer outra circunstância impertinente ou irrelevante para o específico objeto do contrato,
ressalvado o disposto nos §§ 5o a 12 deste artigo e no art. 3o da Lei no 8.248, de 23 de outubro de
1991.
- Na Lei 14.133 ele aparece de forma expressa.

- A ideia da competitividade é entender que, em uma licitação, a AP não pode dar tratamento
diferente que prejudique a competitividade das propostas; ela nunca pode criar restrições para que
alguém participe que não tenha lógica ou justificativa.
• Ex: houve um Estado que queria comprar veículos e colocou no edital que somente poderiam
participar da licitação se o veículo fosse praticado no próprio estado. Quando chegou no
STJ, ele entendeu que isso feriu o princípio da competitividade.

- A Lei 14.133 também fala do princípio da competitividade quando fala que é possível o
parcelamento em certas licitações, ex: a AP precisa de uma quantidade enorme de cadeiras. Ela
poderá parcelar essa compra em várias menores para garantir a competitividade, para garantir que,
em cada uma dessas licitações haja empresas diferentes na licitação, para garantir o máximo de
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competição.
- A ideia é que quanto maior a competição, maior a chance de se obter uma proposta melhor.

N) Princípio do Procedimento Formal

- A licitação é procedimento que deve seguir as regras previstas em lei.


- É formalidade que pode ser relativizada, levando em conta a proporcionalidade e a razoabilidade.

O) Princípio do Planejamento

- É princípio da nova lei, enquanto que a Lei 8.666 não chamava atenção para essa ideia.
- A nova lei se preocupa muito com isso, de modo que ela traz diversos institutos que se preocupam
com o planejamento, com a AP se organizando. O que ocorre na prática é que o órgão não pensa
que terá que fazer uma licitação no próximo ano, ele só percebe na hora. Por isso, para evitar esse
tipo de surpresa, a nova lei traz instrumentos que possibilitem fazer um planejamento.
• Ex: relatório da previsão das contratações anuais.
• Ex: estudo técnico preliminar, que é feito antes de começar a licitação, para ver o que a AP
precisa comprar, qual a melhor forma de contratação.

P) Princípio da Segregação das Funções

- Também não existia na antiga; a lei nova traz esse princípio com a ideia de que é possível separar
as funções na licitação para garantir, muitas vezes, que evite que a mesma pessoa tenha diversas
atividades.
- Serve para evitar que, naquelas situações de maior risco de fraude a mesma pessoa sempre atue,
para que se tenha a possibilidade de controle maior do que pode ocorrer em uma licitação ou um
contrato administrativo.

Q) Desenvolvimento Nacional Sustentável

- Aparece em ambas as leis como objetivo da licitação, o que se busca alcançar com ela.
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- Na Lei 14.133, além de aparecer como objetivo, também aparece como princípio; a ideia é que
a licitação não serve apenas para buscar a melhor proposta, mas, é instrumento que serve para
garantir o desenvolvimento nacional sustentável, que o país consiga se desenvolver de alguma
forma.
- Em ambas as leis, há o que chamamos de margens de preferência, que é quando, em uma
licitação, se dá preferência a uma empresa brasileira ou que presta serviços com técnicas
brasileiras, ao invés de uma empresa estrangeira, porque aí garante o desenvolvimento nacional
sustentável, garantindo emprego, imposto etc.

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