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Gisele Barros e Kamilla Garcez | MED XXVIII

Prestar assistência a um feto cefálico fletido em uma Mecanismo do parto fisiológico, que é aquele de
bacia ginecoide, isso é o parto do dia a dia que apresentação cefálica fletida em bacia ginecoide,
acontece na maior parte das ações, as anômalas fica todo médico tem obrigação de saber prestar sua
a cargo do obstetra. assistência independente de ser obstetra.
De uma forma didática o obstetra Fernando
Magalhães, o mais importante que aconteceu o
brasil, antecedendo o prof. Jorge de Resende que
escreveu a bíblia obstétrica. Ele dividiu o parto em
tempos, insinuação, descida e desprendimento.

Objetivo Insinuação

Obstetrícia é uma especialidade eminentemente de É a passagem da maior circunferência da


urgência, não se tem obstetrícia de hora marcada, apresentação através do anel do estreito superior
muitas vezes numa urgência você tocara uma biparietal quando cefálica, bitrocantérica quando
gestante e o bebê estará em apresentação pélvica e pélvica.
não dá tempo encaminhar a um obstetra. É preciso
conhecer e saber os tempos do mecanismo de parto
nas apresentações: Cefálica fletida e Pélvica.

Mecanismo do parto

É o conjunto de movimentos que o feto é forçado a


realizar na sua passagem pruo canal do parto. Esses
movimentos são todos passivos e compulsórios,
independem da vitalidade fetal e são resultantes de
forças – contração uterina e abdominal – são
Tem o púbis, o promontório e uma linha tracejada que
movimentos passivos realizados pelo feto ao longo do
liga os estreitos. Quando isso acontece o bebê
trajeto onde os diâmetros fetais se reduzem e se
encosta o queixo no peito para atingir diâmetros
amoldam aos pélvicos
menores, então em Tempo acessório, ele flete a
cabeça e tem-se a apresentação cefálica fletida.
Porque independe da vitalidade fetal, porque não é
o feto que faz esses movimentos procurando uma
Pergunta: mesmo que antes ele assumisse outra
saída, estando o feto vivo ou morto, ele irá apresentar
posição na hora do parto ele assume a posição
esse mecanismo do parto para poder nascer, isso
fletida?
acontece desses resultante de força da contração
Quando ele deflete a cabeça é outro mecanismo de
uterina e prensa abdominal que a mãe faz na hora
parto, precisa-se tocar os pontos de referência para
do expulsivo
identificar, felizmente aquilo são as raridades, na

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maior parte do tempo ele se apresenta para a bacia Visão da posição ginecológica e de frente. Quando o
fletindo a cabeça. bebê flete a cabeça ele esconde a fontanela anterior
e mostra a posterior, é visível a apresentação
Descida cefálica, occipto esquerdo anterior, ele roda a
cabeça internamente e roda as espaduas e mostra no
estreito superior e no último tempo é possível
O segundo tempo como diz Fernando Magalhães é
visualizar os movimentos contrários a insinuação.
o de decida que é uma continuidade da insinuação
na qual a cabeça penetra mais e preenche
completamente a escalva pélvica no tempo principal
e no tempo acessório ele faz uma rotação interna da
apresentação fetal e concomitantemente a
apresentação das espaduas no estreito superior da
bacia.

Desprendimento

E por último tem o desprendimento em tempo


principal o tempo define o desprendimento fetal, são
Aqui é o desprendimento, nasceu a cabeça. Defletiu,
movimentos contrários ao da insinuação ele deflete a
ombro anterior, posterior, mecanismo do parto em
cabeça e tem uma rotação externa da cabeça.
occipto esquerdo anterior.
Rotação interna das espaduas, desprende uma
espadua anterior uma espadua posterior e nasce.

Se ele se insinuar em occipto esquerdo transverso,


quando desce na escava ele desce fletindo a cabeça,
ele insinua e desce com movimentos de assinclitismo e
depois no desprendimento ele faz rotação interna e
desprendimento cefálico da mesma forma

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OEA

Mostra a forma de apresentar diâmetros menores e


maiores.

Considerações importantes

A orientação ocorrera de acordo com o diâmetro da


bacia materna que é mais facilmente acessível

Ou esquerda anterior, que vai apresentar flexão


encostando o queixo no peito escola americana ou
esquerda transversa flexões laterais ou assinclitismo
escola francesa.

Insinuação pelo diâmetro biparietal, oblíquo


Resumo esquerdo d abacia flexão continua e descida, rotação
internamente a cabeça, pra occiptopúbico completa-
Os tempos de mecanismo do parto são três, se a descida e dá-se o desprendimento cefálico.
insinuação, descida e desprendimento, dois tipos caso
ele esteja com a cabeça fletida, será em esquerda
anterior ou esquerda transversa, o que diferencia uma
da outra, depende da forma da bacia, lembrem que
tem a bacia ginecoide que tem estreito superior
arredondado, bacia platipeloide que soa mais
achatadas que o feto se amolda mais em esquerda
transversa e tem bacias ruins para o parto a androide
a masculina, que é rara.
No primeiro tempo, flete a cabeça para apresentar
diâmetros menores, na descida é a continuidade da
apresentação e a cabeça entra na escava pélvica e
apresenta rotação interna e concomitante apresenta O, movimento de restituição da cabeça ou rotação
as espaduas no estrito superior e o desprendimento externa respectivamente. O desprendimento do
define a saída do feto, os movimentos contrários da ombro anterior e do posterior.
insinuação.

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Cabeça flutuando no final da gravidez, no início do


trabalho de parto insinua, desce na escava pélvica, Mecanismo do parto para apresentação pélvica
passa pelo estreito superior, flete a cabeça, desce,
roda internamente, OEA vai para quarenta e cinco
graus anti-horário e fica occiptopúbico,
desprendimento e deflexão, roda de novo, em
movimentos involuntários e passivos, os parteiros só
direcionam isso, roda de novo para occipto esquerdo
anterior, aí nasce ombro anterior e depois ombro
posterior.

OET

É um tipo de parto diferente da cabeça fletida, aqui


mais assiste do que intervém e as vezes obstrui um
pouco o parto, para que o feto se amolde na bacia
materna, aqui para tornar didático é como se
dividisse o parto em três, lembrem que o mais difícil
de nascer é o polo cefálico, pois apresentam
diâmetros maiores e são mais irredutíveis. Esse tipo de
parto trás de uma forma popular medo, por ser
intuitivamente mais difícil, requer mais cuidado, já que
o polo cefálico fica por último, primeiro tem o
mecanismo do parto da cintura pélvica, depois
A insinuação e a descida cabeça por movimentos de mecanismo do parto da cintura escapular e por último
assinclitismo. A rotação interna e o desprendimento. mecanismo do parto da cabeça derradeira, podendo
essa ficar presa e acontecer algo denominado
Assinclitismo anterior, sinclitismo e assinclitismo cabeça derradeira que é o tipo de situação que o
posterior tempo passa e há chance de hipóxia cerebral.
Obliquidade de Nagele e obliquidade de Litzman
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O feto em apresentação pélvica, primeiro apresenta


a bacia, quando isso acontece, iremos proteger o
períneo e orientar a mãe a despeito das contrações
e do puxo abdominal, no momento que ele sai coloca-
se o dedo para fazer nascer a cintura pélvica, depois
que nasce a pélvica, nasce a escapular, puxa-se o
cordão fazer um alça, pois ate a parede abdominal
pode interromper o fluxo sanguíneo para esse feto, e
assim o sangue pelos vasos umbilicais continuam a
fluir, ajuda-se a rodar lateralmente e fazer nascer um
Então a necessidade de uso desse fórceps é uma
ombro, depois roda para o outro lado e faz nascer o
situação que requer um especialista.
outro ombro, a mão do obstetra vai na prega cubital
pra fazer rotacionar esse ombro, para evitar a
quebra, roda para o outro lado, para fazer nascer o
PERGUNTA: Professor, já vi que se adota a posição
outro ombro, e por ultimo a cabeça derradeira, o polo
de quatro apoios pra facilitar essa saída Por quê?
cefálico, é feita uma pressão suprapúbica para o feto
Na verdade, é o seguinte: existem posições em que
fletir a cabeça e apresentar diâmetros anteriores, se
você flete as pernas da mãe ao longo do tronco dela
ele deflete, o cóccix vai funcionar como uma
e isso favorece a abertura da pelve. Então qualquer
fechadura e dará o que é chamado de cabeça
posição que tome e ganhe espaço na bacia da mãe
derradeira. Isso é uma situação extremamente
é sempre bem vinda, não necessariamente essa de
dramática do ponto de vista obstétrico.
quatro apoios é a única a ser feita. Na própria mesa
obstétrica, na sala de parto, pode fazer isso com a
Quando a cabeça derradeira se instala, falando de
paciente em decúbito dorsal também. O grande
feto a termo (depois de 37 semanas), pois o feto
problema do decúbito dorsal é que o feto fica em
prematuro, pequeno é mais fácil para nascer.
cima da cava da mãe e isso dificulta o retorno venoso
Apresentando cabeça derradeira, usa-se o fórceps.
então se ela ficar muito tempo naquela posição, se o
Se a apresentação derradeira se apresenta, existe
período expulsivo se prolongar isso pode levar a
esse instrumento eminentemente obstétrico chamado
sofrimento. Por isso é importante saber todos esses
fórceps de – existem vários tipos de fórceps – esse é
tempos para que se coloque a paciente no momento
o fórceps que tem uma angulação que permite ele
adequado para ela parir. As posições verticalizadas
locar, são duas as “colheres”, uma de cada lado para
sempre são preferíveis porque facilitam o parto.
que então se faça flexão e faça nascer essa cabeça.
Entretanto precisa respeitar a individualidade de
Esse é instrumento isento de tocotraumatismo? Não.
cada paciente. Vai ter paciente que vai querer parir
Entretanto o tocotraumatismo diminui com um
de cócoras porque vai se sentir melhor assim, outras
treinamento do obstetra. Observar que essa é uma
de lado, outras deitada, então tem que respeitar isso.
situação que não da mais para fazer cesariana. E isso
pode acontecer de chegar. Nada impede que um
PERGUNTA: Professor, quais são os erros mais
paciente chegue já dessa forma da ambulância do
cometidos no momento do mecanismo do parto? Para
SAMU.
serem evitados.
A mais básica é você internar a paciente quando ela
está na fase ativa do trabalho de parto, é o maior
“erro” que se vê nas maternidades. É preciso ter
cuidado como a gente chama de erro, não
necessariamente é um erro médico. Muitas pacientes

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têm dificuldade de locomoção, o Piauí é um estado


pobre. Então muitas vezes a paciente, principalmente
se for primigesta, 18 anos, gravidez na adolescência
mal planejada, com assistência para Natal que deixou
a desejar, sente uma dor (ela não foi orientada da
forma adequada) a primeira coisa que faz é chamar
o SAMU. Aí ele vem, busca, leva ela lá para a
maternidade e deixa ela lá. No momento em que não
interna a paciente, ela vai ter que voltar pra casa de
outra forma. Então muitas internações são
desnecessárias até no ponto de vista social: “Ah, mas
ela vai entrar em trabalho de parto daqui a pouco
então vamos deixar ela internada”, a consequência
disso é que o trabalho de parto ainda está muito no
início, vai demorar ainda e começam as ligações de
familiares, causa todo um estresse emocional na
parturiente e na equipe que está conduzindo a
paciente.
Então o primeiro erro é isso: internar
desnecessariamente essa paciente. Há trabalhos a
respeito, relatando que aumenta inclusive o número
de cesarianas quando interna precocemente a
paciente.
O ideal é que, principalmente se for primigesta –
lembrar que primeiro o colo apaga para depois
dilatar – que já esteja no período de dilatação, com
contrações efetivas (2 contrações em 10 min), aí sim
interna.
Segundo maior erro: findado o período de dilatação
(com os 10cm), tirar ela da cama e colocar logo pra
mesa do parto, principalmente se for partejar a
paciente em decúbito dorsal. Ela teve todo o período
de dilatação com batimentos normais, mas quando
coloca ela muito tempo naquela posição, leva a
sofrimento sendo que poderiam ter sido respeitados o
tempo do feto e da mãe.

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É o último e mais importante dos componentes. Não Isso não é feito na prática, é fisiologia pura pra
existe trabalho de parto se o útero não estiver entender como se dá o início das contrações uterinas,
contraindo. que é o que se chama de Tríplice Gradiente
Descendente, tem nos cornos uterinos o início das
• É o fenômeno mais importante do trabalho de ondas contráteis, nesse sentido sempre do fundo
parto; uterino para o colo do útero com o intuito de fazer
com que o útero funcione como uma mola propulsora
• Indispensável para fazer dilatar o colo e impulsionando esse feto através da escava pélvica.
expulsar o concepto; Se isso não acontece de forma coordenada, esse
parto não vai pra frente
• Tocometria (registro em gráfico da CU) =
serve ao diagnóstico e ao tratamento dos
desvios dinâmicos da matriz uterina;

• Os principais procedimentos tocométricos:


® Pressão amniótica
® Pressão intramiometrial
® Pressão placentária
® Pressão intrauterina puerperal

Tocometria da pressão amniótica Legenda: método para registrar a pressão a minha óptica com
balão, pela via transcervical. o balão é colocado, pela face
anterior do útero, de preferência no espaço extraovular,
profundamente, de modo a ultrapassar a apresentação fetal

Então são colocados transdutores para registrar a


pressão amniótica com um balãozinho via
transcervical;

Tocometria no secundamento

Legenda: método para registrar a pressão amniótica (via


transabdominal) e a pressão intramiometrial. A pressão
amniótica é obtida por cateter induzido na cavidade amniótica
e conectado a um eletromanômetro nº3. a pressão
intramiometrial é registrada simultaneamente no fundo uterino,
na porção média do corpo e no segmento inferior, por meio de
3 micro balões introduzidos no meu mestre, cada um ligado aos
eletromanômetros restantes, nº 1, 2 e 4. Abaixo e à esquerda é
mostrado em detalhe um microbalão inserido no miométrio.

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Legenda: Método para registrar a pressão intrauterina no Contratilidade uterina


secundamento

• A evolução da contratilidade uterina no ciclo


Um outro para registrar a pressão intrauterina no
gestatório:
secundamendo. Então foi através disso, colocando
® Gravidez
esses transdutores, que se conseguiu estudar todas
® Pré-parto
essas pressões vindas para que se possa entender
® Parto
como isso acontece.
® Secundamento

® Puerpério
Análise da atividade uterina
Observar que o útero não se mante inerte durante a
gestação, o útero se contrai durante a gestação. Só
que não sai contrações coordenadas, por isso a
gestante não entra em trabalho de parto. Pelo
bloqueio progestogênico, da progesterona (hormônio
pro-gestação).

Se tem níveis adequados de progesterona essa fibra


miometrial vai ficar praticamente em repouso, mas ele
(útero) apresenta alguma contração durante a
gestação para fazer com que haja a circulação do
sangue fetal. Esse é o objetivo da contração na
gestação.
Legenda: análise quantitativa da pressão amniótica de acordo
com a escala de Montevidéu. o esquema mostra como se mede
o tônus uterino, intensidade e a frequência das contrações e No pré-parto o objetivo é preparar o colo pro parto,
atividade uterina. o nível zero corresponde à pressão abdominal. em que o início do trabalho de parto efetivamente vai
haver o apagamento e a dilatação; depois a
O que vem a ser a atividade uterina? Ela é dada em contratilidade uterina vai ser responsável também
unidade de Montevidéu e é a intensidade x pelo secundamento, ou seja, pela expulsão da
frequência. A frequência o número de contrações e a placenta e por fim é ele quem vai causas o
unidade de tempo é sempre em 10 minutos, ou seja, colabamento dos vasos na saída da placenta para
estuda-se as contrações uterinas numa unidade de 10 evitar que essa paciente inevitavelmente morra de
minutos: quantas contrações e a duração dessas choque hipovolêmico se o útero não contrai também
contrações. no puerpério, tanto é que pacientes que entram em
atonia uterina morrem com choque hipovolêmico.
Então se teve 3 contrações no período de 10 minutos
com a intensidade de 40mmHg, significa que teve A propagação da onda contrátil no
120 unidades de Montevidéu. Observar que o útero útero gravídico
tem o tônus, que é aquela pressãozinha sustentada e
a partir daí a intensidade dessas contrações. • As funções da contratilidade uterina
® Manutenção da gravidez

® Dilatação do istmo e do colo uterino

® Descida e expulsão do feto

® Descolamento da placenta

® Hemóstase puerperal

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Vai ser visto como se dá a propagação da onda Legenda: contratilidade uterina em gestação de 30 semanas. o
contrátil, a função da contratilidade uterina – que são registro da pressão amniótica mostra pequenas contrações na
gravidez (intensidade de 2 mmHg e frequência de 1 contração
essas citadas acima.
por minuto). No traçado, apenas se vê uma grande contração
de Braxton-Hicks. O tônus uterino oscila suavemente.

Quando a gestação chega por volta de 30 semanas,


iniciam o que se chama de contrações de Braxton-
Hicks, que são contrações de treinamento. Vai ser
observado que durante a gestação as pacientes vão
referir uma/duas/três contrações dessas a partir de
30 semanas, contrações maiores, que incomodam
elas.
Precisa entender isso como um processo fisiológico,
orientar essa paciente adequadamente que isso
acontece fisiologicamente, que não é anormal.

GRÁFICO: EVOLUÇÃO DA CONTRATILIDADE UTERINA NO CICLO GESTATÓRIO

Legenda: evolução da contratilidade uterina no ciclo gestatório. uterina aumenta progressivamente após 30 semanas,
a área em vermelho indica atividade uterina espontânea normal especialmente ao se aproximar o término. durante o parto, o
(valores médios em unidade de Montevidéu). Registro típicos e acréscimo é acelerado e atinge o máximo no período expulsivo.
esquemáticos da pressão amniótica ilustram a contratilidade nas secundamento e no puerpério, são expressivas as quedas da
diversas fases; a atividade uterina, correspondente a cada atividade uterina.
traçado, está indicada na curva por um círculo. A atividade

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Então na gravidez tem as contrações de Braxton- acontece com ou sem a vontade da mãe, mas o puxo
Hicks, no pré-parto essas contrações começam a abdominal que a mãe faz no período expulsivo na
apresentar uma frequência (na gravidez, como mostra saída do feto é voluntário, ela faz pra ajudar.
a imagem, elas não têm frequência ao longo do dia).
No pré-parto começam a apresentar uma frequência, Depois tem-se o secundamento, o feto nasceu. E na
que fica maior, até o ponto de quando inicia o hora que o feto nasce a paciente instantaneamente a
trabalho de parto, que elas têm uma intensidade e paciente apresenta um alívio, mas logo em seguida
uma frequência bem maior. quando a placenta começa a sair a paciente começa
a ter outro quadro álgico novamente. Nasce a
Acompanhando a imagem: No pré-parto tem cerca placenta e depois da saída da placenta o útero fica
de três contrações, já quando inicia o trabalho de se contraindo pra evitar o choque hipovolêmico. Isso
parto essas contrações vão aumentando de porque quando essa placenta sai, aquela parede
intensidade, alcançam intensidade máxima no uterina onde a paciente estava aderida é cheia de
período expulsivo, essa intensidade é somada ao puxo vasos, é preciso que o miométrio se contraia para
abdominal (força que a própria paciente faz). Não se colabar todas aquelas paredes dos vasos.
pode esquecer que essas contrações uterinas são de
músculo liso, são contrações involuntárias, isso

Influência do decúbito na contratilidade do parto

tomar uma certa posição. Entretanto a posição que s


Durante o trabalho de parto: observe que essas desencoraja que ela fique é em decúbito dorsal, com
contrações sofrem influencia inclusive na posição da a barriga para cima porque isso vai tornar as
paciente. Esse gráfico mostra a influência do decúbito contrações dela incoordenadas. “Felizmente”, como
na contratilidade do parto. Quando a paciente troca diminui o retorno venoso, a própria gestante não
(ela que está em decúbito dorsal e a equipe a coloca consegue ficar muito dessa forma porque começa a
em decúbito lateral esquerdo) as contrações que sentir faltar o ar.
tinha uma frequência aumentada, mas a intensidade
não era tão boa, quando a coloca em decúbito Algumas pacientes não entendem isso e ficam
receosas, então é dever orientar: "Olha, a senhora
lateral é como se pudesse coordenar essa frequência fique de ladinho que suas contrações vão melhorar
e a intensidade. Elas ficam muito mais intensas e com muito mais em qualidade, e essa dor que você está
isso o parto se dá em um intervalo de tempo menor sentindo ela vai se tornar mais coordenada e efetiva,
porque vai dilatar com mais eficiência. vai ser melhor para o seu trabalho de parto”. Aí ela
Durante o trabalho de parto a paciente vai ficar na entende isso e toma essa postura. Mas se ela quiser
posição que melhor lhe convir, cada paciente vai
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deambular, ficar de cócoras, não tem problema; ela Propagação da onda contrátil no útero
quem vai decidir. gravídico

No período expulsivo, observar que tem as Como se dá a propagação da onda contrátil no útero
contrações uterinas somadas às contrações do gravídico? Na imagem, no útero grande à esquerda
musculo abdominal e isso aumenta a intensidade da estão assinalados o ponto em que a pressão
contração, torna ela mais efetiva. Então é só pedir pra intramiometrial foi registrada. O que se observa? As
mãe desde o começo a fazer os puxos e isso vai ondas contráteis se iniciam nos cornos uterinos e vai
diminuir o tempo de trabalho de parto? Não. Isso não invadindo e se propagando no sentido craniocaudal,
é uma boa prática. ou seja, do fundo uterino para o colo do útero, se
propagando dessa forma. Só assim vai fazer o neném
A boa prática orienta que a própria paciente, no nascer. Se essa onda contrátil não representa isso que
momento que ela está no período expulsivo ela vai chamamos de Tríplice Gradiente Descendente, esse
inevitavelmente referir uma vontade de defecar muito trabalho de parto não vai acontecer corretamente e
maior, quando isso acontece significa que o neném já muitas vezes não vai ocorrer por via vaginal. Teria
está lá preenchendo toda a escava e comprimindo o que intervir com fórceps, vácuo extrator ou mesmo
reto. Nesse momento, em que o polo cefálico está com uma cesariana.
entreabrindo a vulva, é o momento que, caso ela não
esteja fazendo isso ainda, orienta a fazer força. As funções da contratilidade uterina
Obs.: não chamar as parturientes de “mãezinha”,
chamar pelo nome.

Hoje não se entende mais o acompanhamento do


trabalho de parto como era antes, hoje tem mais uma
conotação multidisciplinar. É necessário que toda a
equipe converse entre si e saiba orientar essa
paciente adequadamente; é o obstetra, a O mecanismo da dilatação do colo no parto normal.
enfermeira, a fisioterapia, a psicológica. Tudo isso vai Os 4 úteros esquematizados correspondem a
fazer com que a equipe ajude. estágios sucessivos que vão do início ao ápice da
contração (A a D). O pontilhado indica a zona
contraída, e a densidade representa a intensidade da
contração.

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Observar que vai se dando nesse sentido


craniocaudal fazendo com que haja a dilatação,
como o útero é fixado por ligamentos ele vai se retrair
pra expulsar esse feto. Que ligamentos são esses?

Depois que o feto nasce há a matriz placentária, que


também precisa ser expulsa. Se isso não acontecer,
tem que retirar manualmente ou cirurgicamente essa
Ligamento redondo e ligamento uterossacro. Eles que placenta se não a paciente vai morrer sangrando. Isso
vão permitir a estática dessa matriz uterina e com a também pode acontecer, o útero parar de contrair
contração acontecendo e respeitando esse Tríplice com a placenta ainda dentro aí precisa fazer um
Gradiente Descendente isso vai formar um vetor procedimento chamado CURAGEM, não é
nesse feto que vai ser possível expulsar ele por essa curetagem (curetagem é a raspagem do útero), a
escava pélvica. curagem é a extração manual da placenta.
Obviamente é um procedimento extremamente
doloroso e tem que ser feito com a paciente
anestesiada.

Contrações no ciclo gravídico-


puerperal

Durante a gestação: até 30 semanas é do tipo A e


após isso é tipo B (Braxton Hicks) em virtude do
bloqueio progestogênico. Tem como principal função
nesse período é estimular a circulação fetal;

Contrações uterinas durante o parto: apresenta


Aqui é pra mostrar o que já foi falado anteriormente.
contrações efetivas respeitando o Tríplice Gradiente
No pré-parto as contrações de Braxton-Hicks que se
Descendente caracterizado pelo sentido
iniciam por volta de 30 semanas, no pré-parto
descendente de propagação das contrações
começam a apresentar intensidade maior, no período
uterinas, com maior duração no seu ponto de origem
de dilatação uma intensidade e frequência que
e intensidade decrescente à medida que se aproxima
alcança o máximo de intensidade no período
do segmento inferior, ou seja, no sentido do colo do
expulsivo porque são somados a maior intensidade da
útero;
contração uterina aos puxos (esforços expulsivos da
prensa abdominal materna).
Contrações uterinas no puerpério contrações
indolores com função de propiciar a dequitação (ou
secundamento) e a ligadura viva de Pinard

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(colabamento dos vasos naquele sítio onde a placenta É aquele outro gráfico numa outra perspectiva.
estava inserida).
PERGUNTA: Essa evolução das contrações acontece
Correlação clínica num parto fisiológico. No caso de um parto normal
induzido, essas contrações evoluem de forma
diferente?

Na indução do parto você vai provocar


artificialmente um parto. Existem mecanismos
mecânicos e farmacológicos de induzir esse parto. Aí
existem as prostaglandinas e a ocitocina que é o que
vai fazer o útero contrair artificialmente porque
depois que desencadeia o trabalho de parto há uma
liberação endógena de ocitocina, só que tem algumas
pacientes que não tem isso fisiologicamente. As vezes
elas ate entra em trabalho de parto, mas as
contrações são muito pouco efetivas, são com
intensidades menores e pra essas pacientes precisa,
Legenda: correlação entre os dados clínicos e o registro da não só na indução como também às vezes no
pressão amniótica. A contração a inicialmente indolor e não
intraparto, dar motor (ocitocina sintética).
percebida ao palpar. Sua duração clínica à palpação é de 70s,
mais curta que a duração real (200s) e mais longa que a Mas o gráfico, depois que entra em trabalho de
permanência da dor (60s) parto, é a mesma coisa. Só que não aconteceu
naturalmente, foi induzido.
Aqui é mais um gráfico daqueles já mostrados.
PERGUNTA: Quão perto as ondas de contração
Contratilidade uterina no ciclo precisam estar para considerar que a paciente está
gestatório e o sintoma da dor em trabalho de parto?

Isso vai ser mais bem abordado na próxima aula, mas


para você dizer que uma paciente está em trabalho
de parto ela tem que ter no mínimo 2 contrações
efetivas em 10 minutos. o que são contrações
efetivas? é aquela que faz apagar e dilatar o colo,
isso você vai ver durante o toque obstétrico.
Nossa unidade de tempo é de 10 minutos, então você
vai palpar o fundo do útero e ficar la segurando esse
fundo do útero em 10 minutos. Durante esses 10
minutos vamos ver quantas vezes ele contrai
(frequência, número de contrações) e por quanto
tempo ele fica contraído (duração dessas contrações).

Legenda: contratilidade uterina no ciclo gestatório e PERGUNTA: esse colo apagado que o senhor fala é
o sintoma da dor. as contrações do secundariamente aquele colo que quando a gente toca tá bem
do puerpério, embora muito intensas, são indolores molinho?
porque não distendem o canal de parto.
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Ali o amolecimento se dá pelos hormônios da


gravidez. O colo do útero da grávida é um colo
amolecido e é diferente do colo da mulher não
grávida pela embebição progestogênica. O que
chama de apagamento é aquela elevaçãozinha do
colo em que ele se apaga inteiro, aquela figura
mostrada na aula anterior, em que a primípara
primeiro apaga o colo para depois dilatar e a
multípara apaga e dilata ao mesmo tempo.

Obstetrícia | Aula 4 | Prof. Arimatea Santos 48


Mecanismo Do Parto
Contratilidade Uterina

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