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Processo: 5283116-81.2021.8.09.

0029

Usuário: WILLIAM ESTRELA SILVA - Data: 13/07/2022 11:12:14


CATALÃO - VARA DE FAMÍLIA E SUCESSÕES
PROCESSO CÍVEL E DO TRABALHO -> Processo de Conhecimento -> Procedimento de Conhecimento -> Procedimentos Especiais -> Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenci
Valor: R$ 1.100,00
Juízo de Direito da Comarca de Catalão - Vara de Família e Sucessões
PROJUDI - Protocolo n° 5283116-81.2021.8.09.0029
Requerente: José Mathias da Silveira
Requerido: Luciana de Kássia Rabelo Camargo Mathias
Natureza: Divórcio Litigioso

Meritíssimo Juiz,

O Ministério Público do Estado de Goiás, no exercício de suas atribuições


constitucionais (art. 127 CF/88), exercendo a função constitucional de Fiscal
da Ordem Jurídica, como determina o art. 176 e art. 178, II, ambos do Código
de Processo Civil, por seu Promotor de Justiça que esta subscreve,
manifesta-se nos seguintes termos:

Trata-se de Ação de Divórcio litigioso proposta por José Mathias da


Silveira em face de Luciana de Kássia Rabelo Camargo.

Conforme narrado na inicial, o requerente casou-se com a requerida em


13.09.2002, sob o regime de comunhão parcial de bens, sendo que da
relação adveio o nascimento de duas filhas, Isadora de Camargo Mathias
(12.05.2006) e Lavínia de Camargo Mathias (30.11.2009).

O requerente propôs a dispensa de alimentos ao cônjuge virago,

Tribunal de Justiça do Estado de Goiás


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determinação da guarda compartilhada das filhas e ofertou alimentos às
menores na proporção de 50% do salário mínimo para cada filha, propondo
arcar também com metade das despesas médicas e escolares.

Assim, afirmando que o casal encontra-se separado de fato, pugnou pela


decretação do divórcio em caráter de antecipação dos efeitos da tutela de
evidência.

A inicial constou do evento 01 e veio acompanhada de documentos.

Sentença parcial de mérito no evento 08 deferindo a decretação liminar do


divórcio do casal:

“(…) Uma vez comprovada a vigência do casamento entre o requerente


e a requerida através da juntada de cópia de Certidão de Casamento,
não vejo impedimentos para a decretação do divórcio requerido de
forma liminar.
Quanto à natureza da presente decisão, entendo tratar-se de sentença
parcial de mérito, nos termos do art. 356, I e II do Código de Processo
Civil.
Diante do exposto:
1. Resolvo parcialmente o mérito, nos termos dos artigos 356, II e
487, I, do Código de Processo Civil, JULGANDO PROCEDENTE o
pedido de decretação de divórcio. Em consequência, DECRETO o
divórcio de JOSÉ MATHIAS DA SILVEIRA e LUCIANA DE KÁSSIA
RABELO CAMARGO MATHIAS, dissolvendo a sociedade conjugal,
com base no artigo 226, §6º da Constituição Federal e Legislação
pertinente, para que surta seus jurídicos e legais efeitos,
resolvendo parcialmente o mérito.
2. Após o trânsito em julgado da presente decisão, expeça-se mandado
de averbação ao ofício competente para os devidos fins, bem como os
demais expedientes necessários para conservação dos direitos das
partes. (...)”

A demandada requereu habilitação nos autos (evento 14) e, designada

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audiência de conciliação, esta se realizou no evento 18, não havendo acordo
entre as partes.

Certidão de trânsito em julgado da decisão que decretou o divórcio no evento


19.

Contestação com pedido de reconvenção apresentada no evento 21 pela


requerida, pugnando, em síntese, pela fixação de alimentos provisórios intuito
familiae, em sede de tutela de urgência, inaudita altera pars, em patamar não
inferior a 10 salário-mínimos para cada, ou, subsidiariamente, pelo patamar
de 10 salários-mínimos, acrescidos do pagamento in natura das despesas
escolares, com saúde, educação, lazer, transporte e moradia da menor
Isadora em Goiânia/GO; deferimento de tutela de urgência de natureza
cautelar consistente no bloqueio de sacas de cereais negociadas entre a
empresa COCARI e o irmão do autor Lourival Mathias Filho até o deslinde do
divórcio, em razão de possível ocultação de bens e, incidentalmente, a
desconsideração da personalidade física do autor; improcedência dos pedidos
do autor. Pugnou, também, pela procedência da reconvenção para fixação do
lar materno como residência principal das menores, independente do regime
de guarda a ser determinado, sugerindo que as visitas ocorram em finais de
semana alternados com eventual flexibilização da rotina respeitada a vontade
das adolescentes; fixação de alimentos em favor da Ré, com fulcro no art.
1.566, III da CC, 3º, I da CF e art. 4º, §único da Lei de Alimentos, em patamar
não inferior a cinco salários mínimos, permitindo a Ré que atenda suas
necessidades básicas por período suficiente para que se reinsira no mercado
de trabalho, bem como para atenuar o desequilíbrio socioeconômico
decorrente da separação e indenizá-la pelas duas décadas de esforços
revertidos em prol do Autor e de sua família; seja determinado o repasse, à
Reconvinte, do valor de um salário-mínimo, em razão dos aluguéis dos bens
comuns, bem como pelo uso dos veículos automotores de propriedade das
partes no ramo de atividade de agropecuária que exerce; e a partilha dos
bens havidos durante a constância do casamento, respeitando-se o direito de
meação da Reconvinte. Juntou documentos no evento 22.

Decisão no evento 26 deferindo a liminar pleiteada em reconvenção para


determinar que o genitor pague a cada uma das menores o valor de 10
salários mínimos.

Embargos de declaração apresentados pelo autor no evento 29 objetivando a


revogação da justiça gratuita deferida e para reconsideração da decisão que
fixou os alimentos. Quanto ao mérito recursal, o embargante expôs a
motivação do cônjuge varão para propositura da ação de divórcio em desfavor
da requerida, alegando relacionamento extraconjugal. Sustentou, na

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oportunidade, que uma das filhas reside em Goiânia, às custas do pai e da
avó paterna, e a outra filha do casal residiria com o pai na residência da avó
paterna. Alegou, mais, que a requerida possui condições de se recolocar no
trabalho e que ainda ostentaria uma vida de luxo com recente viagem ao
exterior. Sobre o relacionamento da mãe com as filhas, o embargante afirma
que a mãe tem feito “terror” com as menores com único intuito de obter
dinheiro do pai das crianças e que desde que a genitora viajou as crianças
estariam sob os cuidados do pai. Afirma, ao final que a requerida omitiu que
herdou de seu pai uma fazenda (atualmente arrendada) e um apartamento.
Documentos juntados no evento 30.

Impugnação à contestação apresentada no evento 31 requerendo que: “1)


Seja revisto o deferimento da justiça gratuita, determinando que a mesma
recolha as custas da reconvenção; 2) Seja determinado a readequação do
valor da causa atribuída na reconvenção, pois mesmo que não tenha direito
aos bens ali descritos, foi pedido e deve servir de parâmetro para
recolhimento de custas e fixação de honorários sucumbências.3) sejam
indeferidos os demais pedidos formulados pela requerida em sua
contestação. 4) Ante ao que tudo foi exposto na RECONVENÇÃO requer
sejam indeferidos todos os pedidos formulados na reconvenção, nos termos
das fundamentações acima. 5) Por ficar provado que a reconvinte faltou com
a verdade tentando levar Vossa Excelência a erro, requer seja condenado, a
mesma, nas sanções de litigância de má-fé, pois não aplicar no presente caso
é virar as costas para o instituto, bem como não coibir tal conduta no
judiciário”.

Manifestação ministerial requerendo estudo psicossocial no evento 35.

Decisão liminar da segunda instância indeferindo pedido suspensivo ao


agravo de instrumento interposto pelo autor, evento 38.

Decisão revogando a gratuidade de justiça da requerida e saneando o


processo, assim como determinando a intimação das partes para
especificação de provas, evento 40.

Embargos de declaração opostos pelo autor, evento 43.

Decisão proferida no Evento 44.

A parte requerida especificou provas e requereu oitiva de testemunhas,

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evento 45.

Certidão da contadoria informando não haver custas a serem recolhidas,


evento 46.

A parte requerida pugnou pela condenação do autor por litigância de má-fé


em razão de ter alegado não possuir capacidade financeira e que as menores
estariam sob sua responsabilidade, assim como informou haver a existência
de alienação parental, evento 47.

Decisão monocrática negando provimento ao agravo de instrumento


interposto pela requerida contra decisão que lhe revogou a assistência
judiciária, evento 48.

Petição informando haver embargos de declaração pendentes de julgamento,


evento 51.

Despacho determinando intimação do embargado, ora requerida, evento 53.

A requerida apresentou contrarrazões de embargos de declaração, evento 55.

Pedido liminar de guarda provisória em sede de tutela de urgência,


apresentado pela parte requerida no evento 58.

Após, vieram os autos ao Ministério Público.

É o relato do essencial.

Analisando os autos, neste momento processual, o Ministério Público


manifestar-se-á somente em relação ao pedido de tutela de urgência
para fixação da guarda das menores, juntado no Evento 58.

Quanto ao pedido de tutela de urgência constante no evento 58, cumpre citar


a doutrina dos festejados autores Fredie Didier Jr., Paula Sarno Braga e

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Rafael Alexandria de Oliveira em sua consagrada obra Curso de Direito
Processual Civil, volume 2, Editora JusPODIVM, 15ª Edição, Salvador
(BA), 2020:

- Páginas 691 e ss:


2. Tutela provisória: Antecipação provisória dos efeitos da tutela
definitiva
2.1 Generalidades
A entrega de todo tipo de tutela definitiva demora, necessariamente. O
processo exige tempo.

Em situação de urgência, o tempo necessário para a obtenção da tutela
definitiva (satisfativa ou cautelar) pode colocar em risco sua efetividade.
Este é um dos males do tempo do processo.
...
No intuito de abrandar os efeitos perniciosos do tempo do processo, o
legislador instituiu uma importante técnica processual: a antecipação
provisória dos efeitos finais da tutela definitiva, que permite o gozo
antecipado e imediato dos efeitos próprios da tutela definitiva pretendida
(seja satisfativa, seja cautelar).
A principal finalidade da tutela provisória é abrandar os males do tempo e
garantir a efetividade da jurisdição (os efeitos da tutela). Serve, então, para
redistribuir, em homenagem ao princípio da igualdade, o ônus do tempo do
processo, conforme célebre imagem de Luiz Guilherme Marinoni. Se é
inexorável que o processo demore, é preciso que o peso do tempo seja
repartido entre as partes, e não somente o demandante arque com ele.
Esta é a tutela antecipada, denominada no CPC como “tutela provisória”. A
tutela provisória confere a pronta satisfação ou a pronta asseguração.
A decisão que concede tutela provisória é baseada em cognição sumária
e dá eficácia à tutela definitiva pretendida (satisfativa ou cautelar).
Por ser provisória, será substituída por uma tutela definitiva, que a
confirme, revogue ou modifique.
...
A tutela provisória satisfativa antecipa os efeitos da tutela definitiva
satisfativa, conferindo eficácia imediata ao direito afirmado. Adianta-se,
assim, a satisfação do direito, com a atribuição do bem da vida. Esta é a
espécie de tutela provisória que o legislador resolveu denominar de “tutela
antecipada”, terminologia inadequada, mas que não será desconsiderada
ao longo deste capítulo.

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Página 702:
3.2. Fundamento: urgência ou evidência
Na forma do art. 294, CPC, a tutela provisória pode fundamentar-se em
urgência ou evidência.
As tutelas provisórias de urgência (satisfativa ou cautelar) pressupõem a
demonstração de “probabilidade do direito” e do “perigo da demora” (art.
300, CPC).
Página 727 e ss:
4. TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA
4.1. Considerações iniciais
A tutela provisória de urgência pode ser cautelar ou satisfativa
(antecipada).
Em ambos os casos, a sua concessão pressupõe, genericamente, a
demonstração da probabilidade do direito (tradicionalmente conhecida
como “fumus bonis iuris”) e, junto a isso, a demonstração do perigo de
dano ou de ilícito, ou ainda do comprometimento da utilidade do resultado
final que a demora do processo representa (tradicionalmente conhecido
como “periculum in mora) (art. 300, CPC).
Percebe-se, assim, que “a redação do art. 300, caput, superou a distinção
entre os requisitos da concessão para a tutela cautelar e para a tutela
satisfativa de urgência, erigindo a probabilidade e o perigo na demora a
requisitos comuns para a prestação de ambas as tutelas de forma
antecipada” (enunciado n. 143 do Fórum Permanente de Processualistas
Civis).
A tutela provisória de urgência satisfativa (ou antecipada) exige também o
preenchimento de pressuposto específico, consistente na reversibilidade
dos efeitos da decisão antecipatória (art. 300, § 3º, CPC), como adiante se
abordará.
A tutela provisória de urgência pode ser requerida e concedida em caráter
incidental ou antecedente.
A tutela provisória de urgência incidental se processa de acordo com as
regras gerais vistas no item anterior. Já a tutela provisória de urgência
antecedente segue regras específicas, que exigem análise própria e
apartada a ser realizada em itens seguintes.
4.2. Pressupostos gerais
4.2.1. Probabilidade do direito
A probabilidade do direito a ser provisoriamente satisfeito/realizado ou
acautelado é a plausibilidade de existência desse mesmo direito. O bem
conhecido fumus boni iuris (ou fumaça do bom direito).

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O magistrado precisa avaliar se há “elementos que evidenciem” a
probabilidade de ter acontecido o que foi narrado e quais as chances de
êxito do demandante (art. 300, CPC).
Inicialmente, é necessária a verossimilhança fática, com a constatação de
que já um considerável grau de plausibilidade em torno da narrativa dos
fatos trazida pelo autor. É preciso que se visualize, nessa narrativa, uma
verdade provável sobre os fatos, independentemente da produção de
prova.
Junto a isso, deve haver uma plausibilidade jurídica, com a verificação de
que é provável a subsunção dos fatos à norma invocada, conduzindo aos
efeitos pretendidos.

Fazer uma mensuração exata da intensidade da verossimilhança
necessária para concessão de tutela provisória de urgência do CPC e da
liminar em mandado de segurança – dizendo, por exemplo, que aquela é
menos intensa e esta última, mais intensa -, parece artificial, tal como era
artificial a diferenciação que se fazia, no regime do CPC-1973, entre a
plausibilidade exigida para o deferimento da tutela cautelar e a
verossimilhança exigida para o deferimento da tutela antecipada. O juiz
não dispõe de um termômetro ou medidor preciso. Sua análise é cas
uística. O que importa é que, de uma forma geral, o juiz se convença
suficientemente de que são prováveis as chances de vitória da parte e
apresente claramente as razões da formação de seu convencimento.
4.2.2. Perigo da demora
A tutela provisória de urgência pressupõe, também, a existência de
elementos que evidenciem o perigo que a demora no oferecimento da
prestação jurisdicional (periculum in mora) representa para a efetividade da
jurisdição e a eficaz realização do direito.
O perigo da demora é definido pelo legislador como o perigo que a demora
processual representa de “dano ou risco ao resultado útil do processo” (art.
300, CPC). A redação é ruim. Nem sempre há necessidade de risco de
dano (art. 497, par.ún., CPC), muito menos a tutela de urgência serve para
resguardar o resultado útil do processo – na verdade, como examinado, a
tutela cautelar serve para tutelar o próprio direito material. Mas simples e
correto compreender o disposto no art. 300 como “perigo da demora”.
Importante é registrar que o que justifica a tutela provisória de urgência é
aquele perigo de dano: i) concreto (certo), e, não, hipotético ou eventual,
decorrente de mero temor subjetivo da parte; ii) atual, que está na
iminência de ocorrer; ou esteja acontecendo; e, enfim, iii) grave, que seja
de grande ou média intensidade e tenha aptidão para prejudicar ou impedir
a fruição do direito.
Além de tudo, o dano deve ser irreparável ou de difícil reparação.
Dano irreparável é aquele cujas consequências são irreversíveis.

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Dano irreparável pode decorrer de violação: i) a direito não
patrimonial (direito à honra ou à imagem, por exemplo); ii) a direito
patrimonial com função não patrimonial (ex.: direito à indenização por
acidente de trabalho, cuja realização é necessária para que o
trabalhador restabeleça condições mínimas de saúde); iii) a direito
patrimonial que não pode ser reparado de forma específica – com o
retorno ao status quo ante -, mas só por equivalente em pecúnia; iv)
ou a direito patrimonial que pode ser efetivamente atendido através
de simples prestação pecuniária – como um simples direito de
crédito não adimplido -, mas a manutenção do bem ou capital
necessário para a sua satisfação no patrimônio do réu, no curso do
processo, implica dano grave ou irreparável para o autor - que
demanda, por exemplo, sua satisfação imediata para manter a
sanidade financeira da empresa.
Dano de difícil reparação é aquele que provavelmente não será ressarcido,
seja porque as condições financeiras do réu autorizam supor que não será
compensado ou restabelecido, seja porque, por sua própria natureza, é
complexa sua individualização ou quantificação precisa – ex.: dano
decorrente de desvio de clientela.
Enfim, o deferimento da tutela provisória somente se justifica quando não
for possível aguardar pelo término do processo para entregar a tutela
jurisdicional, porque a demora do processo pode causar à parte um dano
irreversível ou de difícil reversibilidade.

4.3. Pressuposto específico: reversibilidade da tutela provisória
satisfativa
De acordo com o art. 300, § 3º, CPC, “a tutela de urgência de natureza
antecipada não será concedida quando houver perigo de irreversibilidade
dos efeitos da decisão”.
Cumulativamente com o preenchimento dos pressupostos vistos no item
anterior, exige-se que os efeitos da tutela provisória satisfativa (ou
antecipada) sejam reversíveis, que seja possível retornar-se ao status quo
ante caso se constate, no curso do processo, que deve ser alterada ou
revogada. Essa é a marca da provisoriedade/precariedade da referida
tutela.
Já que a tutela provisória satisfativa (antecipada) é concedida com base
em cognição sumária, em juízo de verossimilhança – sendo passível de
revogação ou modificação -, é prudente que seus efeitos sejam
reversíveis. Afinal, caso ela não seja confirmada ao final do processo, o
ideal é que se retorne ao status quo ante, sem prejuízo para a parte
adversária.

Mas essa exigência legal deve ser lida com temperamentos, pois, se
levada às últimas consequências, pode conduzir à inutilização da tutela

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provisória satisfativa (antecipada). Deve ser abrandada, de forma a que se
preserve o instituto.
Isso porque, em muitos casos, mesmo sendo irreversível a tutela provisória
satisfativa – ex.: cirurgia em paciente terminal, despoluição de águas
pluviais etc. -, o seu deferimento é essencial para que se evite um “mal
maior” para a parte/requerente. Se o seu deferimento é fadado à produção
de efeitos irreversíveis desfavoráveis ao requerido, o seu indeferimento
também implica consequências irreversíveis em desfavor do requerente.
Nesse contexto, existe, pois, o perigo da irreversibilidade decorrente da
não concessão da medida. Não conceder a tutela provisória satisfativa
(antecipada) para a efetivação do direito à saúde pode, por exemplo,
muitas vezes, implicar a consequencia irreversível da morte do
demandante.
Existe, em tais situações, um conflito de interesses.
Em razão da urgência e da probabilidade do direito da parte/requerente, é
imprescindível que se conceda a tutela provisória satisfativa (antecipada),
entregando-lhe, de imediato, o bem da vida, de forma a resguardar seu
direito fundamental à efetividade da jurisdição.
Diante desses direitos fundamentais em choque – efetividade versus
segurança -, deve-se invocar a proporcionalidade, para que sejam
devidamente compatibilizados.
Como regra, sempre que forem constatados a probabilidade do direito e o
perigo da demora da prestação jurisdicional resultantes da sua não
satisfação imediata, deve-se privilegiar o direito provável, adiantando sua
fruição, em detrimento do direito improvável da contraparte. Deve-se dar
primazia à efetividade da tutela com sua antecipação, em prejuízo da
segurança jurídica da parte adversária, que deverá suportar sua
irreversibilidade e contentar-se, quando possível, com uma reparação pelo
equivalente em pecúnia.
Em tais situações, cabe ao juiz ponderar os valores em jogo, dando
proteção àquele que, no caso concreto, tenha maior relevo. A decisão
deve ser motivada nos termos do § 2º do art. 489 do CPC.

Não se trata, portanto, de pressuposto cuja obediência é inexorável.

Portanto, impende notar que somente quando presentes os pressupostos


legais deve ocorrer o deferimento do pedido de tutela de urgência. Nesse
sentido transcrevemos as seguintes decisões:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE


INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO E
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. TUTELA DE URGÊNCIA

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PROCESSO CÍVEL E DO TRABALHO -> Processo de Conhecimento -> Procedimento de Conhecimento -> Procedimentos Especiais -> Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenci
Valor: R$ 1.100,00
DEFERIDA. DESCONTOS DE RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL.
SUPOSTO DÉBITO COM CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO.
PRESENÇA DOS REQUISITOS LEGAIS. LIVRE CONVENCIMENTO
MOTIVADO. DECISÃO MANTIDA. 1. O agravo de instrumento é um
recurso secundum eventum litis, de modo que se limita a aferir o acerto ou
o desacerto do que foi decidido, não autorizando à instância recursal
pronunciar-se sobre pontos não decididos no juízo inicial, inclusive de
ordem pública, sob pena de supressão de instância. 2. O deferimento, ou
não, da tutela antecipada, reside no poder discricionário do julgador,
consoante requisitos do art. 300 do CPC (probabilidade do direito e
perigo de dano, ou risco ao resultado útil do processo), devendo ser
reformada, se manifestamente ilegal, ou abusiva, o que não se
verifica, na hipótese. 3. Necessária a manutenção da decisão, que
suspendeu os descontos realizados a título de “EMPRÉSTIMO SOBRE A
RMC" e "RESERVA DE MARGEM CONSIGNAVEL (RMC)”, do benefício
previdenciário da agravada, já que presente a probabilidade do direito,
considerando a possibilidade de o débito já ter sido quitado, e a
continuidade dos abatimentos, no benefício previdenciário dela,
prejudicando a sua subsistência, o que configura o perigo da demora,
na prestação jurisdicional. Recurso conhecido e desprovido. (TJGO,
Agravo de Instrumento 5208091-04.2022.8.09.0134, Rel. Des(a).
Gilberto Marques Filho, 3ª Câmara Cível, julgado em 29/06/2022, DJe
de 29/06/2022);

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AGRAVO INTERNO.


PREJUDICIALIDADE. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE ATO
ADMINISTRATIVO C/C NULIDADE DE ESCRITURA PÚBLICA C/C
CANCELAMENTO DE AVERBAÇÕES DE REGISTROS PÚBLICOS.
TUTELA DE URGÊNCIA. AVERBAÇÃO DA EXISTÊNCIA DA AÇÃO NA
MATRÍCULA DO IMÓVEL. POSSIBILIDADE. CONTRADIÇÃO.
INOCORRÊNCIA. 1. Estando apto a julgamento o instrumental, tem-se por
prejudicado o exame do agravo interno. 2. O deferimento da tutela de
urgência depende da comprovação da plausibilidade do direito
alegado, da existência de perigo de dano ou de inefetividade do
processo, e que a medida seja reversível. Presentes os requisitos,
impõe-se a manutenção da tutela provisória. 3. Descabe falar em
contradição com outra decisão, nesse sentido, proferida em autos
apartados, cuja eficácia fora afastada, já que lá o processo havia
alcançado o seu desiderato, o que não se dá na hipótese em comento,
onde ainda se percorrem os primeiros passos, como bem ponderou a
julgadora primeva. 4. A determinação de averbação da existência de ação
judicial na matrícula imobiliária, na qual se discute a validade da
negociação de compra e venda de imóvel, visa resguardar eventual direito
das partes, além de dar ciência da demanda a terceiros de boa-fé.
AGRAVO DE INSTRUMENTO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJGO,
Agravo de Instrumento 5565747-32.2021.8.09.0051, Rel. Des(a).
Fernando de Castro Mesquita, 1ª Câmara Cível, julgado em
29/06/2022, DJe de 29/06/2022).

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Pois bem. Em que pese as alegações da requerida em sua petição juntada no
Evento 58, o MP manifesta-se pela antecipação da tutela de urgência e
consequente fixação da guarda das menores, porém, não nos moldes
pleiteados pela parte.

No que se refere à guarda, extrai-se dos parágrafos 1º e 2º do art. 1.583 do


Código Civil que a guarda unilateral será a “atribuída a um só dos genitores
ou a alguém que o substitua” e a guarda compartilhada será “a
responsabilização conjunta e o exercício de direitos e deveres do pai e da
mãe que não vivam sob o mesmo teto”. Ressalta-se que na guarda
compartilhada “o tempo de convívio com os filhos deve ser dividido de forma
equilibrada com a mãe e com o pai, sempre tendo em vista as condições
fáticas e os interesses dos filhos”.

De acordo com o direito posto, a regra é a guarda compartilhada, sendo


exceção a regra unilateral.

No caso dos autos, verifica-se que não houve consenso entre os pais quanto
à guarda das filhas, não restando demonstrado nenhuma condição impeditiva
para o exercício da guarda compartilhada. Nesse sentido citamos decisão do
STJ:

RECURSO ESPECIAL. CIVIL. FAMÍLIA. GUARDA


COMPARTILHADA. OBRIGATORIEDADE. PRINCÍPIOS DA
PROTEÇÃO INTEGRAL E DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA E
DO ADOLESCENTE. GUARDA ALTERNADA. DISTINÇÃO. GUARDA
COMPARTILHADA. RESIDÊNCIA DOS GENITORES EM CIDADES
DIVERSAS. POSSIBILIDADE. 1- Recurso especial interposto em
22/7/2019 e concluso ao gabinete em 14/3/2021. 2- O propósito
recursal consiste em dizer se: a) a fixação da guarda compartilhada é
obrigatória no sistema jurídico brasileiro; b) o fato de os genitores
possuírem domicílio em cidades distintas representa óbice à fixação da
guarda compartilhada; e c) a guarda compartilhada deve ser fixada
mesmo quando inexistente acordo entre os genitores. 3- O termo "será"
contido no § 2º do art. 1.584 não deixa margem a debates periféricos,
fixando a presunção relativa de que se houver interesse na guarda
compartilhada por um dos ascendentes, será esse o sistema eleito,
salvo se um dos genitores declarar ao magistrado que não deseja a
guarda do menor. 4- Apenas duas condições podem impedir a
aplicação obrigatória da guarda compartilhada, a saber: a) a
inexistência de interesse de um dos cônjuges; e b) a incapacidade
de um dos genitores de exercer o poder familiar. 5- Os únicos
mecanismos admitidos em lei para se afastar a imposição da guarda
compartilhada são a suspensão ou a perda do poder familiar, situações
que evidenciam a absoluta inaptidão para o exercício da guarda e que

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exigem, pela relevância da posição jurídica atingida, prévia decretação
judicial. 6- A guarda compartilhada não se confunde com a guarda
alternada e não demanda custódia física conjunta, tampouco tempo de
convívio igualitário dos filhos com os pais, sendo certo, ademais, que,
dada sua flexibilidade, esta modalidade de guarda comporta as
fórmulas mais diversas para sua implementação concreta, notadamente
para o regime de convivência ou de visitas, a serem fixadas pelo juiz ou
por acordo entre as partes em atenção às circunstâncias fáticas de
cada família individualmente considerada. 7- É admissível a fixação
da guarda compartilhada na hipótese em que os genitores residem
em cidades, estados, ou, até mesmo, países diferentes, máxime
tendo em vista que, com o avanço tecnológico, é plenamente
possível que, à distância, os pais compartilhem a responsabilidade
sobre a prole, participando ativamente das decisões acerca da vida
dos filhos. 8- Recurso especial provido. (REsp n. 1.878.041/SP,
relatora Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em
25/5/2021, DJe de 31/5/2021.) (negrito e grifo nosso);

CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. DIVÓRCIO.


GUARDA COMPARTILHADA. NÃO DECRETAÇÃO.
POSSIBILIDADES. Diploma legal incidente: Código Civil de 2002 (art.
1.584, com a redação dada pela Lei 13.058/2014). Controvérsia: dizer
em que hipóteses a guarda compartilhada poderá deixar de ser
implementada, à luz da nova redação do art. 1.584 do Código Civil. A
nova redação do art. 1.584 do Código Civil irradia, com força
vinculante, a peremptoriedade da guarda compartilhada. O termo
"será" não deixa margem a debates periféricos, fixando a
presunção - jure tantum - de que se houver interesse na guarda
compartilhada por um dos ascendentes, será esse o sistema eleito,
salvo se um dos genitores [ascendentes] declarar ao magistrado
que não deseja a guarda do menor (art. 1.584, § 2º, in fine, do CC).
IV. A guarda compartilhada somente deixará de ser aplicada, quando
houver inaptidão de um dos ascendentes para o exercício do poder
familiar, fato que deverá ser declarado prévia ou incidentalmente à ação
de guarda, por meio de decisão judicial, no sentido da suspensão ou da
perda do Poder Familiar. Recurso conhecido e provido. (REsp n.
1.629.994/RJ, relatora Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma,
julgado em 6/12/2016, DJe de 15/12/2016.)

Portanto, visando garantir o melhor interesse das menores, apesar de


compartilhada a guarda entre os genitores, mostra-se importante que o lar de
referência das infantes seja fixado na residência da genitora, ora requerida,
para preservar ao máximo a condição, rotina e os laços afetivos
preexistentes à separação dos genitores. Nada há nos autos que obrigue uma
decisão diversa da guarda compartilhada e da residência materna como lar
fixo das menores.

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Ainda, a título de complementação, importante também fazer destaque à
matéria alienação parental, suscitada no feito pela parte requerida no Evento
47. De acordo com a melhor doutrina de Anderson Schreiber em sua obra
Manual de Direito Civil Contemporâneo, Editora Saraiva Jur, 2ª Edição,
ano de 2019, p. 909:

"a alienação parental é a situação em que o filho passa a ser indiferente


ao genitor em virtude de ação intencionalmente excludente do outro
genitor."

No caso destes autos, o tema foi levantado pela requerida e genitora das
menores, de sorte que o indício de sua prática deverá ser elucidado
mediante a realização de perícia psicológica ou biopsicossocial para
confirmação ou não da ocorrência de alienação parental, nos termos do
artigo 5º da Lei 12.318/2010, providência desde já, requerida pelo
Parquet.

Em razão disso, é de suma importância ressaltar que, na ocorrência


comprovada de alienação parental, é possível que seja objeto de outra lide,
porém deve ser invocado com muita cautela, para evitar que haja desgaste na
relação, uma vez que pode impactar na rotina de vida das menores, afetando
os seus vínculos afetivos e produzindo abalo emocional.

Sobre o tema, importante colacionar a seguinte decisão do TJGO por nós


grifada:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE


ALIENAÇÃO PARENTAL. RECURSO SECUNDUM EVENTUM LITIS.
ALTERAÇÃO DA GUARDA UNILATERAL. REJEITADA.
FLEXIBILIZAÇÃO DO CONTATO TELEFÔNICO. MELHOR
INTERESSE DAS CRIANÇAS. DECISÃO REFORMADA
PARCIALMENTE. 1. O agravo de instrumento é um recurso
secundum eventum litis, de modo que se limita a aferir o acerto ou o
desacerto do que foi decidido, não autorizando à instância recursal
pronunciar-se sobre pontos não decididos no juízo inicial, inclusive de
ordem pública, sob pena de supressão de instância. 2. A alteração da
guarda de crianças e adolescentes é medida excepcional, devendo
ser evitada sempre que possível pois modifica sua rotina de vida,
afetando os seus vínculos afetivos e produzindo abalo emocional
. 3. É de se confirmar o indeferimento do pedido liminar
consubstanciada na alteração da guarda das crianças, pois inexistem
provas concretas e inequívocas de que a genitora das infantes tenha
praticado atos de alienação parental. 4. Por outro lado, entende-se
pela plausabilidade em permitir ao agravante a ampliação dos

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horários em que este poderá conversar com suas filhas por
telefone ou outro meio de comunicação, respeitando as rotinas
das infantes. RECURSO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO
CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. (TJGO, Agravo de
Instrumento 5235858-65.2021.8.09.0000, Rel. Des(a).
DESEMBARGADOR ANDERSON MÁXIMO DE HOLANDA, 3ª
Câmara Cível, julgado em 16/08/2021, DJe de 16/08/2021).

Considerando as acusações recíprocas das partes no presente feito, o MP


entende como presentes os requisitos da tutela de urgência para a definição
da guarda, visando com isso conferir maior estabilidade e segurança às
menores, e, também, às partes envolvidas, evitando-se desconfianças como a
suposta intenção do autor alegada pela requerida no convite à viagem:

“(…) Ocorre que com a chegada das férias


escolares, a menor Lavínia foi convidada
pelo Genitor para uma viagem longa, porem o
intuito desta viagem, como revelado pela
própria Lavínia, é levá-la para morar na
capital, sendo que o genitor já vem sondando
até imóveis para alugar. (…)”

O periculum in mora está evidenciado pelo prejuízo a ser suportado pelas


menores com a indefinição da guarda entre os genitores, prejudicando
inclusive, o desfrute de lazer em momentos de férias diante da suposta
intenção de um dos genitores. Um simples convite de viagem de férias se
transforma em dúvida. Logo, a definição, ainda que em sede de tutela de
urgência, passível de modificação ao final do feito por ocasião do mérito do
processo, da guarda compartilhada das menores preserva os direitos das
filhas na sua plenitude.

O fumus boni irus está comprovado como decorrência do exercício do poder


familiar pelos genitores, resultando inconteste que no exercício desse poder-
dever está a criação e educação dos filhos, o que abarca também o exercício
da guarda.

Em face ao exposto, o Ministério Público opina pelo parcial deferimento


do pedido de tutela de urgência apresentado no Evento 58, devendo a
guarda das menores Isadora e Lavínia serem fixadas na modalidade
compartilhada entre os genitores José Mathias e Luciana, estabelecido como
residência fixa das menores, o lar materno.

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Catalão (GO), 11 de julho de 2022.

-assinatura digital-
Roni Alvacir Vargas
Promotor de Justiça

1Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado,
incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais
indisponíveis.

2Art. 176. O Ministério Público atuará na defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos
interesses e direitos sociais e individuais indisponíveis.

3Art. 178. O Ministério Público será intimado para, no prazo de 30 (trinta) dias, intervir como fiscal da
ordem jurídica nas hipóteses previstas em lei ou na Constituição Federal e nos processos que
envolvam:

(…)

II – interesse de incapaz;

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