Você está na página 1de 383

Elena Lawson

Isso não deveria acontecer. Eu deveria passar despercebida


pelo último ano e cavalgar até o pôr do sol na conta bancária
inflacionada da minha tia. Eu deveria estar no controle.
Agora eles estão.
Os testes durarão 60 dias. Eles podem acontecer a
qualquer hora, em qualquer lugar, e qualquer um ou qualquer
coisa pode acontecer. Eu não vou vê-los chegando. Precisarei
estar pronta o tempo todo. Preparada para lutar, roubar, salvar
e matar sob o comando de Diesel St. Crow.
E enquanto estou de prontidão, ele ordenou que seus filhos
ficassem de olho em mim, e eles então se tornaram meus
guardas pessoais.
Corvus, Rook e Grey. Seus olhares atentos farão com que
os destruir por dentro seja mais difícil do que planejei.
Mas à medida que novas verdades são arrancadas das
sombras e novos perigos emergem, posso ser forçada a aceitar
que eles são mais do que obstáculos armados no meu caminho.
Eles também podem ser minha única esperança de
sobrevivência.
Wicked Trials é um romance sombrio de harém reverso
entre inimigos e amantes, o que significa que a personagem
principal terá mais de um interesse amoroso. É o segundo livro
da série Boys of Briar Hall e deve ser lido depois de Crooked
Crows.
Aviso: Este é um romance sombrio de gangues. Contém
linguagem chula, conteúdo sexual explícito, representações
gráficas de violência de gangues, dubcon e temas
ciumentos/possessivos. Recomendado para leitores a partir de
dezoito anos. Por favor, leia com responsabilidade.
ROOK

Ava Jade estava parada ali, como um fantasma em meu


quarto, banhada de luz. Sua silhueta ágil observava com
expectativa do pé da minha cama.
O que ela estava fazendo aqui? Grey estava trocando a
fechadura da porta do quarto de hóspedes quando fiz meu
caminho para minha própria cama.
Ela estava dormindo lá dentro, de bruços no travesseiro.
Apagada.
Eles a estavam trancando.
Eu não duvidava que ela não teria problemas para se
libertar, mas não esperava que fosse tão cedo. Nenhuma luz
vazava pelas bordas das minhas cortinas opacas, o que
significava que mal fazia uma ou duas horas desde que ela
desmaiou.
“Ava Jade?”
Minha voz soou oca. Abafada, como se falada através de
um pano.
Seus lábios se inclinaram em um sorriso afiado e unilateral
quando ela ergueu uma lâmina, o brilho do aço lançando-se em
meus olhos quando captou a luz do corredor atrás dela. Ela a
girou em seus dedos.
Meu pau endureceu.
“Veio para se vingar?” Perguntei, lentamente chutando o
cobertor grosso que cobria meu corpo nu. Coloquei minhas
mãos atrás da cabeça no travesseiro para me sustentar.
Obtendo uma visão melhor dela.
“Vá em frente, Fantasma,” eu a atraí, ajustando meus
quadris no colchão para dar a ela uma visão desobstruída do
meu pau.
Seu olhar baixou, absorvendo-o. Observando-me como se
ela estivesse consumindo cada centímetro.
Ela jogou a lâmina.
E eu fechei os olhos.
Sua ponta bateu na madeira da minha cabeceira, e a
ardência do ar em um corte recente me trouxe de volta à vida.
Eu levantei dois dedos para minha bochecha, e eles saíram
molhados.
Eu gemi, mordendo meu piercing no lábio, o movimento
fazendo a dor se aprofundar.
“Venha, então,” eu a instiguei, feliz por aceitar o castigo
pelas ações de meus irmãos se ela fosse minha executora.
“Estou pronto.”
Seus olhos brilharam quando ela saltou sobre o estribo, e
então estava em cima de mim em um instante, uma nova
lâmina em minha garganta. Eu estremeci, inclinando minha
cabeça para trás para dar a ela um ângulo melhor.
Ela se inclinou, seu hálito quente roçando sob minha
orelha. “Se eu quisesse te matar, você já estaria morto.”
“Então o que você quer?”
Seu punho se fechou em volta do meu pau, e eu enrijeci,
meu corpo reagindo ao seu toque de uma forma que nunca tinha
reagido antes.
Minhas terminações nervosas queimaram.
Quente.
Tão fodidamente quente.
Mas eu queimaria até virar cinzas por ela. Ela só tinha que
acender o fósforo.
Ava Jade passou a lâmina em minha garganta até minha
clavícula, deslizando-a sobre meu peito e meu estômago, em
direção ao meu pau duro como rocha ainda agarrado em seu
punho.
Seus dedos, apertados em volta da minha cintura,
deslizaram um pouco, e a pequena quantidade de fricção me fez
gemer, meus quadris doendo para empurrar em sua palma
enquanto a borda afiada da lâmina patinava ao redor da base
da minha masculinidade.
Maldito inferno.
“Diga-me o que você quer...” Ela persuadiu, seu tom era
uma combinação perversa de desejo e ódio.
Meus lábios se separaram em um suspiro ofegante.
“Me corte. Me queime. Faça-me sangrar. Sou seu.”
Ela mudou seu peso, e eu endureci quando sua boca se
fechou sobre a cabeça do meu pau, quente, molhada e...
“Rook!”
A voz de Corvus ecoou pelo corredor, e eu cerrei os dentes,
inalando bruscamente enquanto Ava Jade enrolava sua língua
ao redor da ponta.
Agora não, Corvus.
“Rook, levante-se.”
Eu me movi, mergulhando minhas mãos em seu cabelo
para segurá-la lá, meus dedos torcendo nas mechas sedosas
enquanto meus quadris empurravam para cima, fodendo sua
boca enquanto ela segurava sua lâmina em cima da minha
artéria femoral, pressionando firme o suficiente para me deixar
saber quem realmente estava no comando aqui.
Algo bateu em meu peito e eu acordei com uma maldição
em meus lábios, lutando para me sentar, minha cabeça
girando, ainda bêbado com a sensação dela.
“Porra, Corv?”
“Saia da cama,” ele ordenou, teimoso como sempre com um
sorriso amargo nos lábios. Porra, só porque ele não conseguia
dormir não significava que ele tinha que estragar tudo para o
resto de nós. Acontece que eu estava tendo a porra do melhor
sonho que tive em anos.
O único sonho que tive em anos. Tão raro e tão real que
pensei…
“Você tem uma prova de Sociologia hoje,” Corv resmungou,
fechando a porta do meu quarto atrás dele enquanto saía.
“Estamos saindo em dez,” ele gritou do lado de fora.
Eu caí de volta no meu travesseiro, deixando minha mão
cair no meu peito coberto de suor.
Eu não sonhava.
Não desde que eu era criança.
Quando o sono me reivindicava, era uma coisa escura.
Uma coisa entorpecida.
E quando acordava, era como se não tivesse passado
tempo algum entre a noite e a manhã. A única evidência disso
era a luz do novo dia, meus músculos doloridos e a ereção
matinal de sempre.
Eu levantei o cobertor para olhar para a cabeça inchada do
meu pau, ansiando por uma liberação. A imagem de Ava Jade
na minha cabeça, tão nítida apenas alguns segundos atrás, já
estava começando a desaparecer. Agarrei-me a ela, desejando
permanecer com os olhos bem fechados.
Mas foi breve, desapareceu antes que eu pudesse prendê-
la em minha memória.
“Droga,” eu gemi, rolando para o lado para pegar meu
telefone da mesa de cabeceira. Estremeci quando a tela ganhou
vida, cegando-me por um segundo antes que meus olhos
pudessem se ajustar.
Enviei uma mensagem e forcei-me a sair da cama.
Rook: Capela.
Sua resposta veio quando terminei de vestir meu jeans e
um par de meias.
Número Desconhecido: Encontro você lá em quinze
minutos.
Eu balancei minha cabeça com um sorriso, enfiando
minha ereção no cós da minha calça jeans com um grunhido
enquanto colocava uma camiseta e passava minhas mãos pelo
meu cabelo para arrumá-lo.
Um banho poderia ter sido bom, mas foda-se. A Sra. June
não se importaria.
Parei no corredor quando saí do meu quarto, meus olhos
ainda queimando com a luz.
Com dois dedos, testei a maçaneta do quarto onde Grey
colocou Ava Jade para descansar na noite passada. Estava bem
trancado. Escutando, eu podia até ouvir o som fraco dela
respirando lá dentro.
Grey subiu as escadas no final do corredor, parando
quando me viu do lado de fora da porta dela.
Apontei para a porta trancada, levantando uma
sobrancelha para fazer a pergunta sem falar.
Ele suspirou, vindo me pegar no corredor e me arrastar
escada abaixo com ele.
Olhei para trás, minha garganta repentinamente seca,
antes que a porta desaparecesse de vista e saíssemos para a
cozinha.
“Deixe-a dormir,” disse Grey. “Eu a verifiquei meia hora
atrás e ela nem se mexeu. Está exausta.”
“Vamos deixá-la aqui?”
“A porta está trancada,” disse Corvus, entrando pelo outro
lado da cozinha e abrindo a porta da geladeira para pegar um
Gatorade. “Grey vai voltar e pegá-la na hora do almoço.”
Eu ri, balançando a cabeça para ele enquanto corria meu
polegar sobre meu lábio inferior, esboçando um sorriso
malicioso.
“E se ela acordar antes disso?” Perguntei.
Corvus girou, puxando a garrafa de seus lábios para
passar as costas de sua mão sobre a boca. “Então ela saberá
seu lugar.”
Eu balancei minha cabeça, mordendo meu piercing no
lábio para não sorrir. Isso só o deixaria ainda mais rabugento
do que já estava, e eu não estava com vontade de cutucar a
besta agora. Talvez mais tarde.
“Ela não vai acordar,” Grey me assegurou. “Ela estava
morta para o mundo quando verifiquei. Vinte dólares que
quando eu voltar para buscá-la na hora do almoço, ela ainda
será um cadáver.”
Meus lábios pressionaram em uma linha reta.
“Será o seu funeral,” eu murmurei, passando por Grey
para pegar uma garrafa de água da geladeira ainda entreaberta.
“Vamos embora ou o quê? Eu tenho um lugar para estar.”

Ela correu pelas portas da capela como uma ladra, girando


rapidamente para trancar a grande vidraça de madeira atrás
dela, estremecendo quando a fechadura travou com um clique
audível.
“Caroline,” eu a cumprimentei, encostado no banco de trás
com um sorriso.
Suas sobrancelhas baixaram quando ela se virou e me
olhou, confusa com o estado das minhas roupas e com algo no
meu pescoço. Sujeira, presumi pela sensação áspera. De cavar
a sepultura do Ace ontem à noite.
“Algum problema?” Perguntei a ela.
Ela rapidamente balançou a cabeça, umedecendo os lábios
enquanto se aproximava de mim. Quadris balançando,
bochechas cor-de-rosa sob a maquiagem.
A Sra. June estendeu a mão para mim, querendo um beijo,
mas meu estômago revirou, e eu a parei, meus dedos ásperos
em torno de sua garganta. Eu balancei minha cabeça.
“Não,” falei em um rosnado ofegante. “Ajoelhe-se.”
Seus olhos brilharam com seu sorriso quando ela caiu de
joelhos, dedos finos desabotoando minha calça jeans enquanto
ela molhava os lábios novamente.
Eu movi minha mão para a cabeça dela, bagunçando seu
pequeno coque loiro enquanto ela libertava meu pau da minha
calça jeans. Inclinei minha cabeça para trás enquanto ela me
levava em sua boca.
Sua língua lambeu meu pau flácido e ela acrescentou uma
mão para bombear sua base quando isso não o devolveu ao
estado duro de antes.
Ela fez aquela coisa que eu gosto com as minhas bolas e
redobrou seus esforços com a língua, batendo duas vezes com
o punho agora.
Minha paciência se esgotou e eu agarrei um punhado de
seu cabelo e enfiei meu pau profundamente em sua boca,
fazendo-a engasgar com ele.
Mas ela engasgou e gemeu, feliz por se abrir e me deixar
fazer o que eu queria.
Exceto que... Não era isso.
A imagem de Ava Jade passou pela névoa dos meus
pensamentos como um fantasma e eu fiz uma careta, zombando
enquanto a Sra. June lutava para respirar. Em seguida, uma
imagem mais vívida. A imagem dela embaixo de mim,
pressionada entre as minhas coxas e a calçada na noite da luta,
quando eu a segurei. O olhar em seus olhos.
O pânico.
“Foda-se,” eu assobiei, rangendo os dentes enquanto me
afastava dos lábios estalados de Caroline.
Ela olhou para mim, seus olhos molhados com lágrimas
por engasgar, seu rímel borrado e escorrendo por sua bochecha
esquerda.
Uma semana atrás, eu teria fodido sua garganta em carne
viva.
Uma semana atrás, eu teria ficado duro com a simples
visão de seus olhos cheios de lágrimas e rímel borrado.
Uma semana atrás, eu não estava sendo assombrado por
Ava Jade Mason.
“O que foi?” Caroline perguntou, sem fôlego. “Você quer
minha bunda? Você pode...”
“Saia.”
Seu rosto quebrou. “O quê?”
“Dá o fora.”
Ela não se mexeu, então eu me inclinei, afastando sua mão
do meu pau ainda flácido, agarrando-a pela garganta no
processo para forçá-la a ficar de pé. Ela fez um som estridente
e se afastou, agarrando minha mão e meu pulso enquanto
tentava se afastar. “Mas...” ela resmungou, suas palavras
cortadas enquanto eu apertava.
Meu monstro ergueu sua cabeça feia, solidificando meu
corpo, ampliando minha postura. O baque ecoou no abismo
vazio do meu peito.
“Caroline,” eu avisei, jogando-a longe, fazendo-a engasgar
e tossir com a pressão em sua traqueia. Ela engasgou,
recuperando o fôlego enquanto girava instavelmente sobre os
calcanhares para sair. Ela não olhou para trás.
Passei a palma da mão no queixo quando a porta da capela
se fechou atrás dela.
Puxei minha calça jeans para cima e forcei o monstro de
volta para sua jaula com um gole de uísque da garrafa de meu
bolso de trás.
Este era um maldito problema.
Uísque podia fazer apenas o mínimo para domar minha
besta.
Acendi um cigarro e traguei profundamente, soprando a
fumaça em direção ao altar.
Cigarros podiam ajudar a aliviar o estresse.
Mas sexo…
Era um remédio igualmente importante para a minha
crescente escuridão interior.
Droga.
Eu sorri com o ridículo disso. Com o ridículo dela e o que
ela estava fazendo com todos nós.
Ponto para a fantasma.
Zero para os Crows.
AVA JADE

Minha boca tinha gosto de chumbo e uísque.


Essa foi a primeira coisa que notei quando abri os olhos na
manhã de terça-feira. A segunda foi a porta trancada.
Realmente?
Uma porta trancada.
O que eles achavam que eu era, uma amadora?
Revirei os olhos depois de tentar a maçaneta pela segunda
vez, meus dedos dormentes e o corpo pesado com os efeitos
posteriores do uísque de Rook e o pavor persistente. Eu deixei
Grey me levar para este quarto vago em algum momento nas
primeiras horas da manhã. Eu estava atordoada, ainda me
recuperando de tudo o que havia acontecido e de tudo o que
aconteceria agora que fui forçada a participar dos testes.
“Ei,” eu gritei através da porta de madeira, o som rouco,
cordas vocais exigindo café antes de funcionarem corretamente.
Bati com o punho fechado na madeira, gritando pela segunda
vez. “Grey?”
Escutei atentamente, fechando os olhos para ouvir o som
de passos, mas nenhum veio. Os únicos sons no Ninho do Corvo
eram os barulhos sinistros que as casas faziam quando
ninguém estava em casa. O zumbido e o shhh do ar-
condicionado. O arranhar dos galhos nas vidraças. O rangido e
o gemido das tábuas do assoalho se flexionando.
Falando nisso, não havia janelas neste maldito armário
chamado de quarto.
Pelo que eu sabia, era um armário. Um que eles
converteram em uma atrocidade dez por dez de um quarto de
hóspedes. Com uma única cama empurrada contra a parede e
uma mesa de cabeceira bamba e não muito mais. Estava limpo,
porém, sem uma partícula de poeira no ar ou cobrindo qualquer
superfície.
Honestamente, era mais do que eu tinha em Lennox, mas
me acostumei com a grandeza da minha suíte compartilhada
com Becca em Briar Hall. E aquele chuveiro...
Mmmm, eu poderia usar um desses agora mesmo. Eu podia
sentir a sujeira sob as minhas unhas. Detritos da floresta no
meu cabelo. Suor velho deixando minha pele pegajosa.
“Ou você abre esta porta, ou eu mesma abro,” eu tentei
uma última vez, inclinando minha cabeça para o lado para me
alongar enquanto rolava meus ombros para trás e inalava
profundamente para forçar meus membros pesados a acordar.
“Tudo bem,” eu rosnei. “Faremos do seu jeito.”
Eu ainda tinha minhas lâminas comigo, mas nada
pequeno o suficiente para tentar abrir a porra da coisa, e era
uma fechadura externa. Do tipo com chave. Instalada com o
lado da chave para dentro. Uma nova pelo que parecia. Eu tive
que me perguntar se eles de alguma forma conseguiram instalá-
la enquanto eu estava dormindo. Eu não conseguia me lembrar
de ter notado fechaduras tão fortes, e eu teria notado algo
assim. Ou pelo menos, é o que estou dizendo a mim mesma.
Eu estava um verdadeiro desastre ontem à noite.
Aparentemente, eu também não havia notado a falta de saídas
alternativas na sala.
Esses Crows seriam a minha morte.
Pelo menos adormecer em minhas roupas também
significou desmaiar em meus sapatos. Os tênis não fariam o
trabalho tão bem quanto se eu estivesse usando minhas botas,
mas serviriam.
Eu me preparei, alongando meus quadris, panturrilhas e
rolando meus tornozelos.
Eu só precisava da quantidade certa de pressão no lugar
certo e...
Meu pé bateu na porta, um centímetro a mais, mas ainda
assim ela chacoalhou, as travas de metal começando a se
desfazer. Se fosse uma porta mais resistente, eu poderia estar
ferrada, mas, para minha sorte, era do tipo de madeira que
podia ser quebrada.
O segundo chute ricocheteou na minha perna e eu fiz uma
careta, amaldiçoando cada um dos abutres a cada chute
subsequente.
“Fodam-se.”
“Vocês.”
“Todos.”
A fechadura de metal sibilou ao bater no chão e a porta se
abriu, quebrada em uma confusão de madeira mastigada ao
redor da fechadura e pendurada agora por apenas uma
dobradiça.
“Bastardos,” eu soltei, recuperando o fôlego enquanto
caminhava para fora. Fui até a janela no final do corredor,
agarrando-me ao parapeito para espiar o caminho de cascalho.
O Rover não estava à vista.
Que dia era hoje mesmo?
Terça-feira.
Certo.
Ainda de manhã, pelo que parecia. Eles realmente me
trancaram em um quarto sem banheiro e foram para a aula?
Eles me disseram que tinham que ficar de olho em mim.
Lembrava-me dessa parte da conversa. Algo sobre Diesel me
tornando sua responsabilidade, e então havia a parte sobre ele
não confiar em mim. E por que ele deveria? Eu também não
confiaria em mim.
Eu encontrei o caminho para a sala de estar, examinando
a mesa de café baixa e o sofá até que vi meu telefone. Apertei o
botão lateral, mas a tela permaneceu escura. Descarregado.
Ótimo.
Resumidamente, pensei em fazer alguns cortes no sofá de
aparência cara antes de decidir que não valia a pena ter que
afiar minhas lâminas mais tarde. Mas eu não podia deixá-los
escapar impunes por me prender, eles tinham que saber que eu
não era um animal de estimação para ser enjaulado. Não
importa o que eles pensavam. Não importa suas ordens.
Levei cerca de dez minutos para encontrar uma chave de
fenda Phillips escondida em um pequeno kit de ferramentas no
armário do corredor no andar de cima. Levei mais quinze para
remover as maçanetas de todos os quartos e banheiros da casa
e colocá-las em uma fronha para pendurar no ombro.
Não pude deixar de notar as diferenças em seus quartos e
minha capacidade de dizer o dono de cada um com apenas um
único olhar.
Essa parte me surpreendeu, fez algo tremer
desconfortavelmente sob minha pele. Eu não queria conhecê-
los, mas lá estava. Gostando ou não, eles se incorporaram à
minha vida. Fizeram uma casa em minha mente. Empoleirada
na gaiola dos meus ossos.
Corvus: Um espaço limpo e moderno com tecidos escuros
e macios e madeira com acabamento expresso. Nem um único
item fora do lugar. Nenhuma personalidade também. Não havia
cartazes nas paredes. Nada de livros ou CDs. Nada que me
dissesse com certeza que pertencia a ele além da sensação
estéril de página de revista.
O item revelador de Grey era sua mesa.
A cama amarrotada poderia ser de Rook, mas aquela
escrivaninha era toda Grey. Uma lâmpada de estudo
empoleirada em um canto, textos escolares perfeitamente
alinhados contra a parede. Blocos de notas em abundância e...
um caderno de desenho. Inesperado, mas também não
surpreendente. Eu me perguntei se ele era bom.
Eu não consegui ver muito do quarto de Rook. Ele tinha
cortinas opacas em uma janela e apenas um vislumbre de luz
natural se filtrava no espaço. A luz do teto estava queimada, ou
talvez tenha sido removida propositalmente. Mas eu podia
sentir o cheiro dele. Uísque e tabaco e aquele cheiro
almiscarado de homem que fez coisas dentro de mim. E eu não
precisava de luz para ver o que pareciam ser maços de cigarros
vazios, roupas e garrafas espalhadas pelo chão e um cobertor
de pele caindo ao lado de uma cama grande. Uma fodida pele.
E já que estávamos falando de Rook, tive que me perguntar se
era real. Parecia que poderia ter pertencido a um urso negro,
talvez. Ou alguns ursos negros a julgar pelo tamanho.
Boa sorte dormindo em sua caverna escura sem maçaneta,
idiota.
Boa sorte ao cagar também.
Eu desci as escadas com meus prêmios, sentindo-me mais
leve mesmo com os cinco quilos de metal inútil adicionados ao
meu corpo. Saí pela porta da frente e girei, apontando o dedo
médio para a câmera acima da porta antes de dar a volta no
Ninho do Corvo até os fundos. E então mais longe, através das
árvores esparsas, subindo uma pequena encosta rochosa e até
a beira do penhasco para olhar abaixo.
Levantando a fronha sobre a borda, observei com alegria
enquanto os globos de metal caíam como pequenos sinos,
batendo contra as rochas até que finalmente pousaram nas
ondas brancas, enterrando-se na areia.
Suspirei, olhando para o horizonte enquanto o sol
espreitava por trás de uma nebulosa nuvem rosa, aquecendo
minhas bochechas. Por um minuto eu quase consegui fingir que
toda a minha vida não tinha ido para a merda nas últimas vinte
e quatro horas.
Mas o minuto passou e meu sorriso vitorioso diminuiu.
Porra.
Eu me virei e comecei uma corrida lenta passando pelo
Ninho do Corvo e pelas árvores, fazendo meu caminho para
Briar Hall. Minhas pernas protestaram quase a cada passo,
mas consegui, entrando despercebida pela porta dos fundos e
subindo para o meu quarto.
Por um momento de parar o coração, eu não tinha certeza
se estava com a chave, mas lembrei que a guardei com
segurança naquele bolso minúsculo e praticamente inútil no
interior da minha calça.
“Becks?” Eu chamei, apertando os olhos para ver o relógio
na cozinha. Já passava das onze. Ainda não era hora do almoço,
então ela ainda estava na aula de química e eu deveria estar em
matemática avançada. Eu mal podia esperar pela inevitável
mensagem de tia Humphrey depois que ela recebesse outra
ligação da secretaria para relatar minha ausência. Que maldita
alegria.
O café teria que esperar. Um banho era absolutamente
obrigatório antes de qualquer outra coisa. Meu suor estava
demais, e eu tinha uma leve suspeita de que o cheiro azedo
entupindo minhas narinas era meu.
Coloquei meu telefone para carregar no caminho,
prometendo a mim mesma que faria algo sobre minha vida
assim que estivesse cheia de cafeína e não cheirasse a mula
morta.
CORVUS

“Qual é?” Rook perguntou quando chegamos ao topo da


escada, enviando um trio de garotas fugindo na direção oposta,
sussurrando enquanto avançavam.
“Aquele,” eu rosnei, minhas costas ficando tensas de
frustração enquanto apontava um dedo na direção do quarto
dela. O número três prateado marcando a porta de forma
simples.
Rook experimentou a maçaneta. “Trancado.”
Eu bati na madeira duas vezes, o som surdo ecoando de
volta para nós no longo corredor de dormitórios e apartamentos
femininos.
Ela não veio abrir.
Eu passei uma mão pelo meu cabelo, um rosnado audível
vibrando na minha garganta. Cristo, por que ela não poderia ter
ficado no quarto em nossa casa? Grey iria deixá-la sair para
almoçar e acompanhá-la de volta ao campus no final do dia.
Porra, foi ideia dele deixá-la lá em primeiro lugar, para que
ela pudesse dormir. Só concordei depois que ele trocou a
maçaneta da porta e a trancou, e só porque duvidei que ela
fosse acordar tão cedo.
Ela estava morta para o mundo quando a vi. Esparramada
de bruços com uma perna pendurada para fora do colchão,
como se tivesse caído e nem se incomodado em se mover para
ficar confortável.
Eu mataria para conseguir dormir assim. Só uma vez.
“Grey,” eu chamei, recuando para que ele pudesse passar.
Ele caiu de joelhos e puxou a carteira, tirando dois alfinetes
para arrombar a fechadura.
Ele a abriu em menos de quinze segundos, e nós entramos.
Seu apartamento compartilhado se estendia diante de nós.
Um espaço amplo que teria sido brilhante com toda a luz
natural das longas janelas, se não fosse por todo o preto
sugando a vida dele. Sofás pretos. Mesas pretas. Armários
pretos na cozinha. Até tapetes pretos sob nossos pés.
“AJ?” Grey chamou, mas eu já estava me movendo. Eu
podia ouvir o chuveiro ligado no quarto à direita, e me dirigi
para a porta, entrando no quarto dela. Seu cheiro permeou o
ar, como frutas cítricas e caramelo salgado, fazendo minha
mandíbula apertar.
Eu empurrei a porta do banheiro bem a tempo de ver seu
braço serpenteando para fora do chuveiro e seus olhos
selvagens brilhando através do cabelo escuro molhado
enquanto ela jogava uma lâmina em mim com um grito.
Eu consegui desviar, dando um passo para a esquerda
quando a lâmina se cravou na porta onde a porra da minha
cabeça estava um segundo antes. Um maldito tiro mortal.
“Foda-se, Pardal!” Amaldiçoei, olhando entre ela e a
lâmina.
“Foda-se?” Ela uivou, saindo do chuveiro nua e pingando,
fazendo minha fúria esquentar em algo mais potente. “Foda-se
você!”
Ela pegou com raiva uma toalha do gancho para se cobrir,
e eu abri minha boca para dizer algo, mas ela olhou para mim
como se fosse me matar se eu ousasse. Ela não sabia o quanto
eu gostaria de vê-la tentar.
Rook apareceu atrás de mim com Grey apenas um passo
atrás dele.
“Ótimo, agora é a porra de uma festa,” ela sibilou, enfiando
a ponta da toalha entre seus peitinhos empinados.
“Podemos voltar a cena?” Rook perguntou, mordendo o
piercing no lábio enquanto seus olhos se estreitavam em seu
corpo. “Acho que perdi o show.”
Ava Jade revirou os olhos. “Eu deveria arrancar cada um
dos seus olhos estúpidos,” ela disse, mas eu poderia dizer que
ela estava perdendo força rapidamente. A exaustão arrastava os
cantos de seus olhos, fodendo com a cor geralmente brilhante e
amarelada de sua pele.
Não pude deixar de notar os hematomas.
E as cicatrizes...
Sua toalha curta não fazia quase nada para escondê-las.
Pequenas linhas perfeitas de pele branca levantada em fileiras
na parte superior de suas coxas.
Ferimentos auto infligidos.
Meu lábio superior se contraiu em uma carranca,
querendo um vilão para culpar. Um rosto para esmagar. Uma
vida para eliminar por seu sofrimento.
Mas eu me parei. Cortei os pensamentos com os dentes
cerrados.
“Eu não posso acreditar que vocês me trancaram naquele
quartinho minúsculo,” ela disse, empurrando uma pesada
massa de cabelo molhado para longe de seu rosto enquanto se
aproximava de nós. Parecendo estar completamente
despreocupada por eu ter visto cada centímetro de seu corpo
nu.
“Uh, mova-se ou eu vou mover você,” ela rosnou para mim,
passando por todos nós e entrando em seu quarto.
“Quero dizer, que porra vocês pensaram que eu ia fazer?
Ficar ali como uma boa putinha? Talvez mastigar um pouco a
sua mobília se eu ficasse com fome? Mijar no chão? Abanar meu
rabinho quando chegassem em casa?”
Rook bufou.
“Eu ia buscar você na hora do almoço,” Grey disse em
defesa, e ela se virou para ele com um olhar capaz de reduzi-lo
a cinzas. Eu não sei como não vi isso nela desde o início.
Seu poder.
Teria que ser domado se quiséssemos fazê-la sobreviver.
Belisquei a ponta do meu nariz enquanto Rook se
acomodava para se encostar na parede, cruzando os braços
sobre o peito enquanto ela vasculhava as roupas no armário.
Ele a observava como um leão faminto antes de um banquete.
Paralisado. Como se ele não fosse parar apenas no sangue e no
osso quando finalmente se inclinasse para matar, mas como se
ele também fosse para o coração dela. Sua alma. Eu nunca
tinha visto esse tipo de obsessão nele antes, nem mesmo em
seus dias com as drogas, e isso fez meu próprio sangue gelar
em minhas veias.
A ponta de uma mochila escura apareceu por trás de uma
pilha de jeans dobrados ao acaso e eu agarrei-a, empurrando-a
para Grey. “Faça uma mala para ela. Vamos levá-la de volta ao
Ninho.”
Suas costas enrijeceram, mas ela não se virou enquanto
caminhava até a beira da cama, deixando cair a toalha para nos
dar uma visão desobstruída de sua bunda.
Jesus fodido Cristo.
“Eu tomei um banho muito bom, acho que depois do meu
rude despertar esta manhã…”
Meu pau engrossou quando ela se abaixou para vestir uma
calcinha e depois um par de jeans, pulando no local para
prendê-los sobre sua bunda cor de pêssego. O desejo ardente
de amarrá-la e fodê-la até que ela gritasse e ficasse rouca fez
meus músculos se contraírem e minha ereção empurrar
insistentemente na perna da minha calça jeans.
“Eu decidi que essa coisa toda é um saco. Eu não estou
fazendo isso.”
“Fazendo o quê?” Perguntei com os dentes cerrados
enquanto ela puxava uma regata justa sobre a cabeça, sem
sutiã por baixo do fino tecido azul-marinho.
“Os julgamentos,” ela retrucou, me lançando um olhar de
sobrancelha erguida por cima do ombro. “Não estou interessada
em ser introduzida na porra do seu culto.”
“Culto?” Rook perguntou, apertando os olhos e acenando
com a cabeça como se pudesse concordar com a avaliação.
“Seita,” ela tentou novamente, rolando a palavra em sua
boca. “Ou seja lá como você chama um grupo de pecadores
vestidos de santos.”
“É tarde demais para isso, AJ,” disse Grey, empoleirando-
se na beirada de sua mesa. A crescente luz do dia aprofundou
as sombras sob seus olhos. Nossos papéis se inverteram no
momento. Ele também não dormiu ontem à noite. Eu o ouvi
andando em seu quarto. Folheando páginas até bem depois do
amanhecer. “Já falamos sobre isso.”
Ela realmente achava que isso era opcional? A frustração
aquecendo meu sangue me deixou instável em meus pés, e eu
tive que cerrar os dentes para evitar que meu corpo vacilasse.
A noite passada não foi a única que eu não dormi. Fazia dias.
Meus ossos estavam pesados de fadiga, músculos tensos pelo
uso excessivo sem descanso.
“Já começou,” eu entoei, minha voz monótona. Morta. “Seu
primeiro julgamento pode ser hoje. Não estamos por dentro de
todos eles. Eles podem acontecer a qualquer momento.
Qualquer lugar.”
“Sim. Sim. E qualquer um ou qualquer coisa é um jogo
justo. Se eu não cumprir, eu morro. Se eu falhar, eu morro. E
se eu, de alguma forma, conseguir sobreviver a toda essa
merda, estarei tão envolvida que seu querido e velho pai será o
dono de mim pelo resto da minha vida. Eu lembro.”
“Você deveria ser grata, Pardal. Se Grey não tivesse feito o
que fez, você estaria a sete palmos do chão agora.”
“Há!” Ela zombou, seu rosto se contorcendo de raiva
quando ela se aproximou de mim, enfiando dois dedos em meu
peito, cutucando a besta aqui dentro. “Se eu não tivesse feito o
que fiz, seria a sua bunda enterrada a seis pés abaixo de nós.”
Um músculo em minha mandíbula se contraiu, e ela deve
ter visto algo em meu olhar, porque ela recuou um passo,
deixando cair o braço com uma careta.
“Não há como escapar disso,” Rook disse, juntando-se à
conversa com um encolher de ombros arrogante.
Ava Jade fechou a boca, e eu sabia que ela já estava
pensando em maneiras de fazer exatamente isso. Embora eu
duvidasse que ela estivesse prestes a compartilhar qualquer
uma delas conosco.
“Ava?” Becca chamou de fora da sala, a porta da frente do
apartamento se fechando atrás dela com um clique. “Você está
aqui?”
Ava Jade inclinou a cabeça para o teto com um suspiro e
fechou os olhos antes de jogar a toalha no chão do banheiro e
sair do quarto.
“Querida, onde você estava? Eu mandei uma mensagem,
mas você não…”
As palavras de Rebecca Hart se transformaram em silêncio
chocado enquanto seguíamos Ava Jade para fora de seu quarto.
“Desculpe, Becks,” Ava Jade disse, sua frustração evidente
em sua voz. “Fui retida.”
Ela lançou um olhar aguçado em nossa direção enquanto
pegava o café no balcão, tentando despejar café expresso
demais no porta-filtro.
“Hum,” disse Rebecca, engolindo em seco enquanto olhava
entre nós e sua colega de quarto, caminhando cuidadosamente
em direção à cozinha. “Aqui,” ela ofereceu, tomando
cuidadosamente o porta-filtro das mãos trêmulas de Ava Jade.
“Me deixe fazer isso.”
Ela se abaixou para sussurrar algo para Ava Jade, que
balançou a cabeça levemente.
“Desculpe-nos pela invasão, Becks,” falei. “Viemos buscar
Ava Jade e depois seguiremos nosso caminho.”
Sua boca se abriu em um pequeno 'o' de surpresa quando
a cor sumiu de seu rosto. Ela não respondeu para mim, em vez
disso, olhou para sua colega de quarto para confirmação.
Ava Jade se apoiou pesadamente contra o balcão com um
gemido suave, observando o café pingar continuamente do
porta-filtro em uma caneca em forma de tigela.
“Grey,” eu rosnei, e ele se virou, voltando para o quarto
dela para começar a arrumar a mochila ainda apertada em seu
punho.
“Ava?” Rebecca perguntou, seu sussurro em pânico
destinado apenas ao meu pardal. “Você realmente vai com
eles?”
“Não,” ela respondeu, me encarando do outro lado da sala.
“Eu não vou.”
“Sim,” argumentei, dando mais um passo em direção à
cozinha. “Você vai.”
Becca desligou a cafeteira e bateu a jarra de metal com leite
quente em cima do balcão de mármore, fazendo um pouco de
respingo quando ela se virou para nos encarar.
“Olha, eu não sei o que diabos vocês estão fazendo aqui,”
disse ela, seus olhos escuros brilhando com medo e o desejo
equivocado de proteger sua amiga. “Mas se Ava Jade diz que
não vai com vocês, então ela não vai com vocês. Vocês deveriam
ir embora.”
Eu levantei uma sobrancelha, tentando associar esta
Becca com aquela que eu pensei ter classificado como uma dócil
não-ameaça.
Quando olhei para Ava Jade, ela estava olhando para mim,
fazendo uma análise própria.
“Está tudo bem, Becca,” ela decidiu, estendendo a mão
para apertar o braço de sua colega de quarto, para tranquilizá-
la. “Corvus sabe que não vou com ele. Ele é esperto o suficiente
para saber que não importa quantas vezes ele me arraste de
volta ao Ninho do Corvo, eu vou continuar escapando. E que
talvez eu decida cortar algumas gargantas ao sair da próxima
vez.”
“Mmmm,” Rook gemeu quase inaudivelmente.
O calor percorreu minha nuca com seu desafio, fazendo
minhas mãos se curvarem e endurecerem, meu maxilar cerrar.
Touché, pequeno Pardal.
Becca acenou com a cabeça para sua colega de quarto,
ocupando-se em derramar o leite espumado na xícara com o
expresso antes de entregá-lo a Ava Jade, que parecia que
poderia gozar ao primeiro gole. Uma onda de ciúme perverso
envolveu seus dedos verdes em volta do meu estômago.
Ela me olhou por cima da borda de sua xícara, esperando
que eu jogasse a próxima carta.
“Aww, deixe-a ficar,” disse Rook, passeando em direção à
cozinha. Ele parou entre Ava Jade e Becca, pegando uma
caneca de cima da máquina de café expresso com o mindinho.
Ele estendeu a caneca para Becca com um sorriso, ignorando
Ava Jade completamente. “Posso pegar um desses, amor?”
Aturdida, Rebecca limpou a garganta e pegou a xícara
oferecida com um pequeno aceno de cabeça, começando a
trabalhar fazendo outro café com leite.
Enviei a Rook um olhar aguçado, dizendo a ele sem a
necessidade de palavras que falaríamos sobre sua idiotice mais
tarde.
“Tudo bem,” falei assim que Grey saiu do quarto de Pardal
com uma mochila cheia de roupas, minha pele praticamente
coçando de irritação. Se ela continuasse me empurrando assim,
eu ia explodir.
Como ela fazia isso?
Nada nunca me afetou assim.
Eu me certifiquei disso.
De sempre estar calmo.
Sempre composto.
Exceto com ela.
“Ela fica,” anunciei, voltando minha atenção para Pardal,
fixando-a com um olhar duro. “Mas um de nós fica com você.
Um de nós ficará com você o tempo todo.”
Ela faz uma pausa, seu café com leite congelado no ar com
uma careta.
Tirei meu telefone do bolso e digitei o número dela, meus
golpes raivosos falhando duas vezes antes de acertar. Foi uma
das primeiras coisas que memorizei do arquivo dela.
Enviei a ela Rook, Grey e eu como contatos por mensagem
de texto. “Acabei de enviar todos os nossos números. Se eu te
mandar uma mensagem, você responde. Se eu ligar, você
atende.”
Sua expressão azedou.
“E se eu não fizer isso?”
Minha espinha formigou.
“Se você não fizer isso, eu vou arrastar sua bunda de volta
para o Ninho e construir para você sua própria maldita cela de
prisão,” eu avisei, a imagem dela trancada atrás de barras de
ferro, acorrentada e tão nua quanto apenas alguns minutos
atrás fez meu pau engrossar mais uma vez.
“E não pense que não vou fazer isso,” acrescentei. “Nada
me faria mais feliz.”
AVA JADE

Maldito. Idiota.
Eu resmunguei sem palavras para mim mesma durante as
duas últimas aulas do dia, mal conseguindo me concentrar em
qualquer coisa. Pelo menos cinquenta vezes o pensamento de
apenas fugir passou pela minha cabeça.
Mas mesmo nas duas aulas que não compartilhei com
nenhum dos Crows, a autoridade deles sempre esteve presente.
Eu não tinha dúvidas de que, se desse um passo para fora
da sala de aula, alguém enviaria meus movimentos a Corvus.
Eu já tinha pegado dois veteranos me observando. Caras que
pareciam estar a caminho de conseguir papéis na gangue algum
dia, se passassem pelos testes.
Se Diesel os considerasse dignos o suficiente.
Eu poderia fugir. Eu sabia que podia.
Mas eu queria?
Eu queria arriscar ter que passar o resto da minha vida,
ou pelo menos, os próximos anos consecutivos verificando
constantemente o retrovisor? Apenas para possivelmente
morrer antes mesmo de atingir a idade legal para beber?
Foda-se. Isso.
Disseram que não havia saída para mim, mas eu conhecia
pelo menos uma. Se eu derrubasse todos eles, não poderiam me
possuir. Eu poderia trocar seus segredos pela minha liberdade.
Arruiná-los por dentro.
Eu tinha uma carta para jogar, e ela estava aninhada com
segurança atrás de uma tábua de madeira em um recanto
escuro e infestado de teias de aranha em meu armário. O oficial
Vick ficaria feliz em me ajudar se eu decidisse aceitar sua oferta.
Meu telefone tocou audivelmente no meu bolso alguns
minutos antes do final da última aula do dia, e eu cerrei os
dentes, olhando para cima das minhas planilhas em branco
para o professor.
O olhar do Sr. William encontrou o meu por um instante
antes que ele desviasse o olhar, ignorando o som.
Hum.
Peguei meu telefone à vista, curiosa agora.
Um texto brilhou na tela.
Imbecil: Grey estará do lado de fora da sua classe
esperando por você. Não torne isso difícil.
Revirei os olhos, sem me preocupar em responder antes de
colocar o telefone de volta no bolso.
O Sr. William encontrou meu olhar novamente, seus lábios
franzidos antes de voltar a ler seu livro.
Não é coincidência então.
Ele realmente não ia pegar meu telefone ou mesmo me
repreender.
Benefícios da proximidade forçada com os infames Crows.
Eu os aceitaria.
Eu levaria tudo que pudesse.
Enfiei minhas páginas em branco no livro quando a
campainha tocou e fui direto para a porta, ansiosa para voltar
para o meu quarto antes que Grey pudesse me escoltar até lá.
Eu não precisava cimentar na mente das pessoas que eles me
possuíam. Corvus já fazia um bom trabalho fazendo todos
pensarem isso sem a minha ajuda.
“AJ,” Grey disse enquanto eu passava pela porta, fazendo-
me parar, um tremor de aborrecimento percorrendo meus
braços, fazendo meus punhos cerrarem.
“Ah, que bom,” falei sem fôlego, não deixando transparecer
minha frustração. “Você está aqui. Bem no horário. Vamos
correr.”
“O quê?”
“Correr,” eu enunciei, dando a ele um olhar duvidoso. “Você
sabe, como andar, mas mais rápido.”
“Estou morrendo de fome. Achei que talvez pudéssemos…”
“Você pensou errado. Nós vamos comer depois. Espero que
você tenha sapatos melhores com você.”
Olhei para suas botas de couro marrom, cadarços soltos.
Ele nunca seria capaz de acompanhar com isso. Não que eu me
importasse. Eu precisava correr. Agora. Antes de explodir com
toda essa energia reprimida e raiva. Se Grey não queria estar
no raio da explosão, então era melhor ele calar a boca e jogar
junto.
Grey abriu a boca para argumentar, mas fechou-a
novamente, apertando os lábios enquanto estendia um braço
sarcástico em direção ao salão. “Certo. Vamos dar uma corrida.
Lidere o caminho.”
Nós não falamos enquanto eu o levava de volta ao meu
apartamento compartilhado, me trocava e amarrava meus
tênis. Nem mesmo enquanto caminhávamos de volta pelos
corredores e saíamos para os jardins em direção à trilha nos
fundos do campus, nossos sapatos raspando no ladrilho e na
pedra e, eventualmente, na grama.
Um pequeno tremor de inquietação deslizou pelas minhas
costas, lembrando das mensagens sinistras do meu suposto
perseguidor ainda ocupando espaço no disco rígido do meu
telefone. Fazia semanas que eu não percorria esse caminho,
mas agora, com Grey me acompanhando, acho que era mais
seguro.
As vantagens.
Enfiei meus fones de ouvido no momento em que ele abriu
a boca para dizer algo. Eu apontei para eles com um falso
pedido de desculpas, curvando meus lábios em uma carranca.
“Desculpe. Não consigo ouvir você,” falei a ele enquanto
apertava o play e começava a correr, o ar fresco na sombra das
árvores já fazendo pequenos milagres em meus nervos.
Ele manteve o ritmo mais fácil do que eu pensei que faria
com aquelas botas. Com os cadarços amarrados apertados
agora, eu suponho que eles não eram completamente inúteis.
Mantive meus olhos à frente depois disso, tentando ao
máximo ignorar o fato de que ele estava ali enquanto deixava o
esforço, o vento e os cheiros da floresta me engolirem.
Os sons de Angry Too, de Lola Blanc, berravam em meus
ouvidos, distraindo-me o suficiente para impedir que minha
mente vagasse para um território mais sombrio novamente.
Um sorriso curvou meus lábios quando me lembrei que a
qualquer momento, Rook e Corvus poderiam notar a falta das
maçanetas das portas. Eu mantive esse pequeno petisco de
alegria, deixando-o me impulsionar para frente. Eu tinha
certeza de que eles receberam uma notificação da câmera
quando saí mais cedo. Provavelmente foi por isso que eles
vieram me procurar, mas eles não sabiam que a fronha
pendurada no meu ombro continha quase todas as maçanetas
da casa inteira.
“AJ,” Grey disse algum tempo depois, sua voz quase
inaudível acima da música em meus ouvidos.
Talvez se eu não respondesse ele calaria a boca e pararia
de estragar minha corrida. Era melhor ele não estar cansado já.
Eu não estava nem perto de terminar.
“AJ!”
Porra.
Momento arruinado.
Eu parei, arrancando um fone de ouvido do meu ouvido,
arfando enquanto o suor escorria pelas minhas costas. “O quê?”
“Olha, podemos apenas…” Grey parou, um pouco sem
fôlego, sua camiseta verde escura manchada de suor ao redor
do decote. Seu rosto se comprimiu.
“Quem é esse?” Ele perguntou, apontando para o fone de
ouvido preso entre meus dedos e os sons de Anthem of the
Broken do Primal Ethos ressoando através dele.
Revirei os olhos. Claro que ele não saberia quem é Primal
Ethos. Ele provavelmente ouvia apenas as 40 melhores músicas
e o que quer que estivesse tocando na rádio Virgin, como a vadia
insípida de sua ex-namorada ou ex-companheira ou o que quer
que ela fosse.
Meu estômago azedou e eu me xinguei pela onda de ciúme
que se afundou na medula dos meus ossos.
“Você não saberia,” eu lati, fungando enquanto recuperava
o fôlego, saltando de um pé para o outro para não estragar
minha corrida. “Isso exigiria que você tivesse um gosto musical
real.”
Seus olhos se arregalaram, os lábios se abrindo em uma
resposta que ele não se preocupou em dar.
“O que você quer, Winters?” Perguntei depois de outro
silêncio. “Você está meio que arruinando meu momento agora.”
Ele sacudiu a cabeça para trás em direção a trilha. “Vamos,
podemos conversar e correr.”
Eu rosnei, chateada porque ele fodeu com a minha euforia,
mas estava feliz por começar a me mexer de novo, pelo menos.
A contragosto, tirei meu outro fone de ouvido e enfiei os dois no
bolso do meu short de corrida.
“Eu queria me desculpar,” disse ele, a cabeça inclinada
para a terra, a mandíbula tensa.
Isso me surpreendeu o suficiente para que meu próprio
maxilar se contraísse em resposta. Eu não queria ouvir isso. Eu
não queria um pedido de desculpas. Eu queria minha maldita
liberdade de volta.
Se eu não mantivesse minha raiva, não teria mais nada
para me proteger e precisaria de um escudo e tanto para o que
estava por vir.
“Pelo quê?” Eu exigi. “Por tirar minha liberdade? Por tentar
me possuir? Por me trancar naquele...”
“Por tudo isso,” ele interrompeu, suas sobrancelhas se
juntando enquanto ele olhava para mim.
Eu desviei o olhar. “Você não está arrependido,” eu
murmurei. “Suas 'desculpas' não são para mim. São para você.
Para amenizar sua culpa. Assuma suas merdas, Grey.”
“Isso não é...”
“Não importa. O que está feito está feito.”
“AJ...”
“Apenas pare, ok?” Parei na trilha, forçando-o a parar
comigo. “Eu não me importo se você está arrependido.
Desculpas não me ajudam, porra.”
Um músculo em sua têmpora se contraiu e o céu acima de
nós retumbou, acentuando minha raiva. Sob a sombra das
árvores, não notei como o céu começou a escurecer. Nuvens de
tempestade rolaram acima, lançando Thorn Valley em uma
escuridão manchada.
“Além disso,” continuei, suspirando, minha corrida
oficialmente morta agora. “Tenho a sensação de que não foi você
quem me trancou naquela porra de quarto.”
Ele estremeceu.
“Seu irmão tem um sério problema de controle.”
Ele apertou os lábios.
“Ou mais como um problema de personalidade horrível,”
eu murmurei, mais para mim do que para Grey.
Ele passou a mão pelo cabelo loiro úmido. “Você
simplesmente não o conhece como nós,” disse ele, sua voz mais
suave agora. “Ele parece um idiota controlador e, bem, ele meio
que é, eu acho, mas ele também é ferozmente protetor conosco.
Ele é...”
“Eu não me importo,” eu o interrompi, girando nos
calcanhares para começar a lenta caminhada de volta para
Briar Hall, sentindo o cheiro de chuva no ar.
“Espere,” Grey começou, agarrando meu pulso e me
puxando para uma parada. “Apenas dê uma chance a ele.
Conheça-o. Eu sei que ele quer conhecer você.”
Eu ri, uma coisa alta e uivante.
“O bastardo jogou minha lâmina fora,” eu comecei,
puxando meu pulso, mas me aproximando, deixando-o ver a
determinação em meus olhos. “Uma que ele ainda não
substituiu, aliás. Ele tentou me chantagear. Tentou me possuir.
E isso sem contar o fato de que ele é insuportavelmente
controlador e um idiota rude. Eu não dou a mínima se ele quer
me conhecer. Eu não quero conhecê-lo.”
Era mentira, percebi quando as palavras finais saíram
cheias de veneno dos meus lábios, e isso só me deixou ainda
mais furiosa do que já estava.
Eu joguei minhas mãos para cima, exasperada.
“Não foi só ele,” Grey disse calmamente depois de um
momento. “Nós... Rook e eu, fizemos muitas dessas coisas
também.”
Ele estava certo, é claro. A culpa não era toda de Corvus,
mas por algum motivo ele era o mais fácil de odiar, e eu não
estava pronta para abrir mão disso.
Inclinei minha cabeça para trás, respirando
profundamente para acalmar a minga escuridão interior. “Quer
saber, vamos voltar.”
Meu telefone tocou audivelmente no meu bolso, e eu cerrei
os dentes. “Falando no diabo,” eu rosnei, antecipando outra
mensagem de Corvus. Furiosa por ter que lidar com suas
mensagens de texto de merda e, sem dúvida, telefonemas, no
meu futuro próximo.
Mas não era ele.
Desconhecido: Que bagunça você fez, Ava Jade. Pensei
que você fosse mais esperta do que isso.
Minha respiração ficou presa na garganta e imediatamente
minha cabeça se ergueu, examinando a floresta por todos os
lados, mas não havia nada. Nada exceto ervas daninhas e
árvores crescidas.
Meu telefone vibrou novamente na minha mão.
Desconhecido: Primeiro o loiro. Eu sabia que era
apenas um erro. Mas então você deixou aquele idiota te
tocar por trás da cortina, e até pareceu que você gostou.
Nojento. E agora você está exatamente onde Diesel quer e
você não tem ninguém para culpar além de si mesma.
“O que é?” Grey perguntou, aproximando-se.
Dei um passo para trás, afastando-me dele quando outras
duas mensagens apareceram na tela.
Desconhecido: Você só está confusa, eu sei, mas isso
não é desculpa.
Desconhecido: Não se preocupe, meu amor, eu vou te
ajudar.... Mas se você deixar que eles toquem em você de
novo, não terei escolha a não ser puni-la.
Peguei você, seu IDIOTA do caralho.
Era ele. Era ele o tempo todo. Provocando-me. Tentando me
assustar.
O bastardo.
Ninguém sabia que estávamos atrás daquela cortina na
noite da luta. Ninguém seria capaz de nos ver. A fenda na borda
da cortina era minúscula. Não tinha jeito…
Era Corvus.
Estive certa desde o início.
“Eu vou matá-lo,” eu rosnei, correndo para as árvores,
abrindo um caminho diretamente para o Ninho do Corvo com
Grey ficando para trás, gritando para eu esperar, para contar a
ele o que estava acontecendo.
Ao longe, ouvi um grunhido quando ele tropeçou. Bom.
Agora não havia chance de ele me alcançar.
A escuridão que eu estava trabalhando para suprimir
voltou correndo, jorrando de dentro de mim como um gêiser.
Desde o início, tive a sensação de que era ele. Eu deveria
ter confiado no meu instinto. Agora não havia dúvida.
Era engraçado como, embora essa não fosse a rota regular
que eu fazia para o Ninho do Corvo, eu ainda sabia exatamente
para onde estava indo. Sua localização estava ancorada em
minha memória, um ímã para minha bússola. Me atraía como
se eu tivesse ido para lá toda a minha vida.
Meu foco se estreitou e o som de Grey na floresta
desapareceu, nada além de um zumbido distante em meus
ouvidos agora.
Eu não podia acreditar na coragem de Corvus.
Este era um novo ponto baixo, mesmo para ele. Eu
entendia o fato dele ter me prendido. Eu até conseguia entender
ele tentando me controlar e me atacar quando pensava que eu
era uma ameaça. Mas isso era simplesmente cruel. Qual era o
propósito disso?
O que ele estava tentando aqui? Ele queria que eu fugisse?
Ele estava tentando me assustar? Para que Diesel me matasse?
E assim ele não teria que sujar as mãos?
Tinha que ser isso. Eu não conseguia ver nenhuma outra
razão para ele fazer isso. A menos que ele gostasse de fazer as
garotas se sentirem desconfortáveis. O que, pelo que eu
conhecia dele, era inteiramente possível.
De qualquer maneira, ele não iria se safar dessa. E se Rook
e Grey estivessem nisso com ele, eles cairiam também. Mas algo
me disse que não. Isso tinha Corvus escrito por toda parte. Meu
peito começou a doer ao mesmo tempo em que a queimação em
minhas pernas atingiu o ponto mais alto de todos os tempos.
Até que eu não passava de um inferno de dor e fúria
ardente.
A verdade doeu como uma traição. Mas isso era ridículo,
como eu poderia me sentir traída se nunca houve confiança
para começar?
Atravessei as árvores para o caminho de cascalho que
levava ao Ninho do Corvo.
A porta da frente estava entreaberta, e o Rover estava
estacionado na entrada, a tampa traseira levantada para revelar
várias sacolas de compras e uma garrafa de água. Parecia que
tinham acabado de voltar para casa.
Corvus apareceu na porta, saindo da casa para pegar as
últimas compras do Rover.
Eu vi vermelho.
Minhas mãos tremiam enquanto eu avançava em direção
a ele.
“Filho da puta.”
Seu olhar distante me encontrou, as sobrancelhas se
juntando. Seus lábios se separaram, pego de surpresa ao me
ver.
“Pardal?”
Eu o ataquei. Surpresa registrada em seus olhos azuis
gelados, um segundo tarde demais.
Eu o empurrei para trás, com meu telefone ainda preso em
meu punho, o outro batendo contra seu peito largo.
Ele tropeçou três passos para trás, torcendo os lábios em
um sorriso de escárnio.
“Qual é a porra do seu problema?” Eu exigi.
“AJ!” Grey gritou, ofegante enquanto subia o caminho.
Eu o ignorei.
Uma sombra se moveu atrás de Corvus dentro do Ninho, e
Rook apareceu no corredor, casualmente encostado na parede
como se não houvesse um dragão fervendo em sua porta.
“Suponho que temos que agradecer a você por nossa nova
política de portas abertas?” Ele perguntou com um sorriso torto.
“O quê?” Corvus estalou para ele, seu olhar chocado entre
a postura serena de Rook e minhas narinas dilatadas, sua
própria frustração subindo para encontrar a minha.
O triunfo sobre meu sucesso com meu pequeno truque de
maçaneta teria que esperar. Eu tinha assuntos mais urgentes
para resolver.
“Há quanto tempo você está me perseguindo, idiota?”
Corvus fingiu confusão.
Foi quando isso clicou.
Tempo pra caralho.
O perseguidor me viu naquela noite nos trilhos do trem. O
perseguidor conhecia meu segredo mais sombrio e sujo.
Corvus sabia o que eu fiz naquela noite.
Merda.
Não não não.
“Vou perguntar de novo,” disse Corvus, inalando
profundamente para se controlar. “Do que diabos você está
falando?”
Um pavor frio encheu minhas veias, apagando o fogo que
queimava ali apenas um momento antes. Eu não percebi que
ainda estava segurando meu telefone na minha mão até que
Grey o pegou.
“Não!”
O fogo rugiu de volta em um instante, e me lancei contra
Grey para recuperá-lo.
“Segure-a,” Grey rosnou, e Corvus foi capaz de colocar seus
braços em volta da minha cintura, prendendo-me a ele como se
fôssemos soldados juntos com aço.
“Que porra é essa,” eu gritei, me contorcendo. “Solte-me!”
“O que você está fazendo?” Rook perguntou a Grey com
tanta calma que só me enfureceu ainda mais.
“Era algo no telefone dela,” Grey meditou. “Ela leu alguma
coisa e depois saiu como um morcego do inferno.”
“Merda,” ele amaldiçoou. “Está trancado. Qual é a sua
senha?”
Continuei lutando contra o aperto de Corvus, mas do jeito
que ele tinha meus braços apertados contra os meus lados, ficar
livre estava provando ser uma tarefa difícil. Os músculos dos
meus bíceps e antebraços queimaram com o esforço enquanto
ele grunhia durante as minhas tentativas de fuga, seu cheiro
dominando meus sentidos, pregando peças em minha mente.
“Foda-se!” Eu cuspi em Grey. “Eu não estou te dizendo
merda nenhuma.”
“Pardal…” Corvus alertou, sua respiração quente contra
minha orelha.
Certo. Eles queriam jogar assim? Eles poderiam fazer do
jeito deles.
Pisei o mais forte que pude no pé de Corvus. Quando seu
aperto afrouxou, eu balancei minha perna para frente e lancei
meu calcanhar de volta em sua rótula.
Seu domínio sobre mim quebrou o suficiente para eu me
contorcer enquanto ele caía de joelhos no caminho de cascalho.
Ele xingou alto e com dedos longos e grossos tentando me
agarrar novamente, mas era tarde demais. Eu já estava em cima
de Grey, lutando para tirar meu telefone de seu alcance.
Eu não queria machucá-lo, pelo menos não tanto, então o
derrubei gentilmente. Minha versão de gentilmente.
Meu telefone caiu de sua mão. O vento jorrou por seus
lábios com o impacto com o cascalho. Peguei meu telefone e me
levantei, olhando para todos eles. Corvus de joelhos. Grey em
suas costas. Rook encostado no batente da porta com um
sorriso orgulhoso na boca.
Filho da puta esperto, não entrando na briga. Eu não teria
pegado leve com ele, e duvido que ele tivesse pegado leve comigo
também. Teria sido glorioso.
Muito daquele vento quente e raivoso em minhas velas
diminuiu conforme a compreensão do que Corvus realmente
sabia. Eu ainda estava chateada, mas também muito cautelosa
para que ele não contasse aos outros... Isto é, se eles já não
soubessem.
“AJ, podemos parar por um segundo?” Grey perguntou,
uma nota de impaciência em seu tom quando ele se levantou e
limpou a poeira de cascalho de sua bunda. “Você poderia
apenas nos dizer o que está acontecendo?”
Apontei um dedo acusador para Corvus, meu peito
arfando.
“Por que você não pergunta a ele?”
Os olhos de Grey deslizaram para seu irmão adotivo.
“Não olhe para mim, porra,” disse ele, levantando o braço
em um encolher de ombros. “Eu não faço ideia. Talvez seja
aquela época do mês.”
Maldito idiota.
Eu ri sombriamente para mim mesma, o som beirando a
loucura enquanto os músculos da minha mandíbula se
contraiam novamente. Eu realmente não tinha percebido o
quão estressada e assustada as mensagens estavam me
deixando com tudo o mais que estava acontecendo, mas agora,
pelo menos, estava acabado.
Com os dedos rígidos, eu cutuquei a tela do telefone até
que uma das mensagens mais recentes do número
desconhecido apareceu. Aquele detalhando o que Corvus e eu
fizemos atrás daquela cortina na noite da luta. Fechei a
pequena distância entre nós assim que ele terminou de se
levantar, mal conseguindo colocar peso na perna direita.
Eu empurrei o telefone para ele, forçando-o a olhar.
“Então, você está me dizendo que não foi você?”
As narinas de Corvus dilataram, seu rosto ficando
vermelho enquanto ele apertava os olhos para ler a mensagem
na tela. Inclinando-se, seu escárnio se transformou
rapidamente em uma carranca.
“Pardal, eu não mandei isso.”
“Ah, e suponho que você também não enviou nenhuma das
outras?”
“Outras? Quantas mensagens como esta você tem?”
A preocupação beliscou a pele entre seus olhos e os
músculos ao redor de sua boca. Certamente aumentou o efeito
de sua alegada inocência. Eu tive que dizer, eu quase acreditei
nele.
“Você é tão cheio de merda.”
“Ava Jade,” Corvus pressionou, endireitando-se em toda a
sua altura, e por algum motivo, o olhar em seu rosto combinado
com a forma sucinta como ele falou meu nome me fez parar.
“Eu não mandei isso.”
Rook, curioso agora, mudou-se de sua postura encostada
no batente da porta para ficar ao lado de Corvus. “O que é?”
“Mas...” Eu parei, sem quebrar o contato visual com
Corvus, mesmo quando o meu próprio começou a queimar por
não piscar. Não havia mentira em seu olhar. Ou ele era um
ótimo mentiroso, ou não estava mentindo para mim. “Tem que
ser você.”
Ele balançou a cabeça uma vez.
“Corv não mente,” Grey afirmou por seu irmão. “Ele é dono
de sua merda. Se ele faz algo, ele o faz com propósito. Sem
desculpas.”
Corv deu a Grey um aceno agradecido, e eu pude ver.
Fazia sentido.
Se fosse ele, não teria mentido sobre isso. Ele teria me dado
aquele sorriso irritante dele com um brilho satisfeito em seus
olhos brilhantes.
“Deixe-me ver as outras mensagens,” disse Corvus, não um
pedido, mas uma exigência.
Eu vacilei um passo para trás, engolindo em seco. “Não,”
eu murmurei, piscando enquanto enfiava meu telefone de volta
no meu bolso. “Não. Não é nada.”
Eu me amaldiçoei por não deletar todas as outras
mensagens antes. Aquela sobre o que eu tinha feito nos trilhos
do trem, especialmente. Agora as palavras desse perseguidor
pareciam estar abrindo um buraco no meu bolso.
Meu alívio por saber que não era Corvus, afinal, foi
ofuscado por um novo tipo de pavor.
Essa pessoa, quem quer que fosse, estava me observando
mais de perto do que eu pensava. Ele estava lá, de alguma
forma, na noite da luta, e menos de vinte e quatro horas atrás,
naquele pátio atrás do prédio abandonado.
A pior parte era que eu não tinha percebido isso. Se eu
tivesse um perseguidor, já deveria ter notado. Por que eu não
tinha notado?
Oh, sim, provavelmente porque eu estive fodidamente
distraída por três abutres empenhados em tornar minha vida
um inferno desde o momento em que cheguei aqui.
Talvez Corvus não fosse o Sr. Número Desconhecido, mas a
porra da culpa era dele mesmo assim.
“Se não é nada, deixe-me ver,” continuou Corvus.
“AJ, apenas dê a ele o telefone.”
“Apenas esqueça isso,” eu retruquei, prometendo a mim
mesma que apagaria todas as mensagens desse idiota assim
que eu voltasse para Briar Hall e tivesse um momento a sós.
“Eu contei a Becca sobre a noite da luta. Eu esqueci.
Provavelmente foi ela sendo estúpida,” eu menti.
“O que tem a noite da luta?” Rook perguntou, seus dentes
deslizando pelo seu piercing no lábio.
Merda. OK. Apenas cale a boca, Ava Jade.
Pela maneira como Corvus estava olhando Grey dos dedos
dos pés até o cabelo loiro, eu sabia que ele estava juntando essa
parte da mensagem neste exato momento.
Não era isso que eu procurava quando vim para cá.
Preparando-me, cerrei os dentes e girei sobre os
calcanhares, agarrando o pulso de Grey enquanto avançava.
“Vamos, estou com fome. Vamos sair daqui.”
Grey deu de ombros para seus irmãos, e eu peguei Rook
saudando-o com o canto do meu olho antes de começarmos a
lenta caminhada de volta colina abaixo.
“Quer me contar o que foi aquilo?” Grey questionou, uma
aura escura ao redor dele, sombreando sua luz.
Atrás de nós, ouvi Corvus perguntar o que Rook estava
dizendo sobre uma política de portas abertas e endureci.
“Continue,” falei a Grey, soltando-o. Eu peguei meu ritmo,
empurrando minhas pernas doloridas em uma corrida rápida
para escapar antes que a precipitação nuclear chegasse.
GREY

Quando voltamos para o quarto de AJ na academia,


encontramos Becca saindo.
Eu estava prestes a perguntar a ela mais sobre o que
aconteceu no Ninho, mas a aparição de sua amiga me silenciou
por um momento. Posso não ter sido tão perspicaz quanto os
outros, mas tive a sensação de que AJ não estava nos contando
tudo. Ela estava minimizando a mensagem, ou mensagens, já
que disse que havia outras.
A culpa persistiu muito depois da briga de curta duração
com Corvus. Eu não deveria ter pegado o telefone dela, ou dito
a Corvus para segurá-la enquanto eu tentava ler as mensagens.
Mas…
A angústia, a fúria em seus olhos quando ela lia o que quer
que estivesse em seu telefone era demais para ignorar. Eu
precisava saber o que era. O que poderia levá-la a esse nível de
raiva tão rapidamente. Eu queria esmagá-lo. Destruí-lo.
Queimar até as cinzas.
Eu queria pedir a ela que me contasse, agora que os outros
não estavam conosco, o que ela tinha lido. Claro, eu poderia
perguntar a Corvus, mas pelo jeito que ele estava olhando para
mim antes de sairmos, tive a sensação de que fiz algo para
irritá-lo.
Ele já estava no limite. Melhor deixá-lo sozinho até que ele
conseguisse fechar os olhos. Mas eles também não estavam
deixando isso passar. Meu telefone tocou sem parar durante
toda a corrida de volta para a academia, e eu sabia que eram
eles.
“Ei, garota!” Becca vibrou inquieta, olhando entre nós
quando quase esbarramos nela saindo de seu apartamento
compartilhado.
“Ei,” AJ resmungou, colando o fantasma de um sorriso
para sua amiga.
“Eu estava saindo,” continuou Becca, apontando o polegar
para trás em direção à porta. “Mas,” ela fez uma pausa, os olhos
deslizando em minha direção. “Eu posso ficar se você quiser.”
AJ acenou para ela, tirando os sapatos para entrar na sala
de estar. “Não. Estou bem. Vá em frente.”
“Quando você estará de volta?” Perguntei, ganhando um
olhar confuso de Becca e um olhar penetrante de AJ, que parou
no limiar da cozinha.
O nariz de AJ enrugou. “Deixe-a em paz, Grey.”
“Eu só quero saber quando esperá-la de volta,” expliquei,
não permitindo que AJ me anulasse sobre isso. Ela não
entendia o que estava em jogo aqui. O que exatamente iria
acontecer com ela nos próximos sessenta dias. Suas provações
poderiam acontecer em qualquer lugar, a qualquer hora.
Alguém entrando no apartamento poderia facilmente ser um
membro dos Saints, vindo atacá-la na cama. Testando sua
capacidade de reagir no calor do momento.
Se eu ouvisse um intruso durante a noite, poderia pelo
menos dar a ela alguns segundos de vantagem. Acordá-la. Dizer
a ela para estar pronta para o ataque. E talvez para não matar
quem quer que fosse.
Eles estavam preparados para isso, no entanto. Eu teria
matado aquele que me atacou de surpresa durante meus testes
se ele não estivesse usando um colete e equipamento tático.
“Hum,” Becca respondeu, desconfortável agora. “Não sei...”
“Você não precisa responder a isso,” AJ disse a sua amiga.
“Está tudo bem,” respondeu Becca com um pequeno aceno
de mão.
“Não sei exatamente quando,” ela me disse. “Mas vai ser
tarde. Meia-noite, talvez. Uma, o mais tardar.”
Inclinei minha cabeça para ela. Eu não esperava essa
resposta. Isso era tarde. Muito tarde. Onde ela estava indo?
Não é da minha conta.
“Obrigado,” falei com um aceno da minha cabeça. “Eu
tenho o seu número. Vou te mandar uma mensagem para que
você tenha o meu. Se você não se importasse de enviar uma
mensagem de texto antes de voltar, seria ótimo.”
“Você tem meu número?” Ela perguntou, surpresa
empalidecendo seu bronzeado de qualidade de salão.
“Tenha uma boa noite,” eu respondi, minhas palavras
pontuadas por um gemido alto de AJ na cozinha, seguido por
maldições murmuradas quando ela começou a mexer em
panelas e frigideiras no armário.
“Uh, sim,” respondeu Becca, um pouco atordoada. “Você
também.”
Ela saiu sem dizer mais nada, e eu me inclinei para trancar
a porta atrás dela, me curvando para desamarrar minhas botas.
Um estalo precedeu uma leve picada na minha testa, e eu
levantei minha cabeça, encontrando um elástico no chão aos
meus pés e AJ atirando punhais mentais em mim da cozinha.
“Não perturbe minha amiga ou a próxima coisa que lançarei em
sua direção não será tão legal.”
A panela de ferro fundido apertada frouxamente em sua
mão acentuou seu ponto. Suspirei.
“É para o seu próprio bem,” tentei, vendo que não chegaria
a lugar nenhum com ela esta noite. Não enquanto ela estava
irritada e ainda nervosa sobre o que quer que estivesse
acontecendo em seu telefone.
“É para o seu próprio bem,” ela zombou, ligando o fogão a
gás e deixando cair a panela pesada sobre ele com um grande
estrondo. “Se você está comendo aqui, então você pode pelo
menos me ajudar a cozinhar. Venha aqui e descasque as
cebolas.”
Ia ser uma longa noite.

Meu osso do quadril e ombro doíam, pressionados contra


o chão do quarto dela.
Eu me mexi, tentando ficar confortável com apenas um
travesseiro para trabalhar e sem cobertor.
Expliquei depois do jantar que precisava dormir no quarto
dela. As ordens de Diesel significavam o mínimo possível de
separação dela. Se eu dormisse na sala, ela poderia facilmente
escapar pela janela do quarto sem que eu percebesse. Eu
verifiquei antes, não seria tão difícil descer.
Do jeito que estava, comigo no chão entre a cama dela e a
janela, escapar por aquele caminho não seria possível. Ela
poderia escapar pela porta da frente, mas eu tinha sono leve. A
menos que ela fosse uma ninja quieta, eu a ouviria.
Não era como se eu estivesse dormindo, de qualquer
maneira. Embora nem ela estivesse.
Ela se revirava na cama a meio metro de altura e a um
metro e meio de distância de mim. Agitada. Suspirando
pesadamente a cada poucos minutos.
Eu não tinha dúvidas de que era obra minha. O fato de eu
estar aqui, em seu espaço pessoal. Corvus era da mesma forma.
A única vez que ele conseguia dormir era sozinho em seu quarto
com a porta trancada. Seu telefone bem ao lado de sua cabeça.
A luz do armário permanecia acesa caso ele precisasse ver
alguma coisa quando acordasse.
Eu me perguntei no que ela estava pensando antes,
quando a fiz sentar no banheiro comigo enquanto eu tomava
banho para tirar o suor da nossa corrida. Eu pensei que ela
poderia se afastar. Não olhar quando me despi e entrei no box
de vidro do chuveiro.
Mas ela cruzou os braços sobre o peito e olhou
abertamente, sua expressão não revelando nada enquanto ela
me observava entrar e depois me lavar meticulosamente de
cima a baixo.
Era quase impossível não ficar excitado com ela me
olhando daquele jeito, mesmo que fosse um tipo de olhar frio.
Um olhar que dizia, você não me afeta, embora o leve aperto de
suas coxas traísse o sentimento que ela escondia sob sua
máscara.
Ava Jade gemeu ligeiramente antes de se sentar na cama.
Eu escutei enquanto ela suspirava novamente, checando seu
telefone para ver as horas.
Passava um pouco das onze e já havia várias outras
mensagens esperando lá dos caras no chat em grupo.
Corvus: Ela te contou mais alguma coisa?
Corvus: Se ela não confessar, podemos invadir o
telefone dela? Precisamos ver o que mais ela está
escondendo de nós. Aquelas mensagens pareciam
ameaçadoras. Acho que ela está mentindo sobre ser Becca.
Rook: De acordo. Algo está errado. Eu não gosto disso.
Inclinando meu telefone para que ela não pudesse ver,
digitei uma resposta rápida, sabendo que nenhum dos meus
irmãos dormiria até que eu respondesse. Ava Jade afastou
minhas perguntas a noite toda sobre as mensagens que ela
alegou serem de Becca, me deixando ainda mais nervoso.
Precisei de todo o meu controle para não reagir, mas apenas
porque sabia que descobriríamos, ela querendo nos contar ou
não.
Grey: Vou dar uma olhada nisso. Não deve ser muito
difícil.
A resposta de Corvus foi imediata.
Corvus: Bom.
Ava Jade se levantou de sua cama e caminhou até a porta,
saindo para a sala de estar, e mesmo cansado como eu estava,
eu estava grato por ter que me levantar do chão sólido.
Corv gostava de sua cama dura, o colchão tão firme que
era desconfortável até para sentar. Mas eu não. Eu gostava de
uma boa cama macia. Espuma superior adicional. Pelúcia. Mais
como a de Rook, embora pele e algodão egípcio não fossem
realmente a minha praia.
Eu aceitaria qualquer uma das duas, no entanto. Este chão
ia me deixar com malditas contusões.
Eu estiquei as dobras em meus ossos e fui até a porta,
apertando os olhos para o espaço iluminado pela lua. AJ estava
na área rebaixada perto dos sofás, procurando alguma coisa
debaixo da mesa de centro. Quando ela não encontrou, ela
bufou, movendo-se para o manto da lareira e, eventualmente, o
pequeno armário embaixo dela. Ficando cada vez mais irritada
enquanto ela procurava.
O que ela estava procurando?
AJ fez uma pausa enquanto puxava algo da parte de trás
do armário, inclinando a caixa em direção à luz.
Ela apertou um botão e a coisa ganhou vida enquanto se
inclinava para trás, pegando algo em cima da mesa de centro.
A televisão montada acima da estreita lareira ligou, a luz
azul se expandindo até cobrir a sala com seu brilho misterioso,
fazendo AJ recuar por um momento com seu brilho.
Ficou claro o que ela estava fazendo quando mudou a
entrada e tirou o que era inequivocamente um controle da parte
de trás do gabinete. Ela limpou a poeira do controle com a
camisa e depois trocou para os jogos baixados enquanto o
console começava a ganhar vida.
Ela escolheu um jogo de tiro em primeira pessoa. Um jogo
de zumbi do qual eu nunca tinha ouvido falar. Não havia uma
grande variedade de opções. Ela também não era tão ruim.
Levou algumas rodadas, algumas mortes virtuais, antes que ela
atingisse seu ritmo, cortando zumbis e seus descendentes com
facilidade, passando por desafios e vários níveis.
Seu cabelo continuou caindo em seu rosto enquanto ela
jogava, e ela o afastou para trás entre as mortes de zumbis. A
vontade de segurá-lo para ela, de puxá-lo em um rabo de cavalo
para fora de seu caminho tomou conta de mim, e eu fiz uma
careta.
Era um pensamento estranho. O que me importava se o
cabelo dela estava esbarrando em seus olhos?
Sentada como estava, de pernas cruzadas no chão,
iluminada por trás em azul, ela parecia meu poltergeist pessoal.
Perturbando minha rotina, jogando minha vida no caos.
E ainda, assim como antes, eu não poderia dizer que queria
que ela fosse embora.
Ou que eu desejava que ela nunca tivesse vindo aqui.
Pelo contrário, eu a queria mais.
Mesmo sabendo o que ela estava tentando fazer conosco
antes da noite no armazém, isso não mudou nada. Se eu
estivesse no lugar dela, teria feito o mesmo. Inferno, eu poderia
ter feito pior.
A alça de sua camisa escorregou de seu ombro direito, e
ela jogou o cabelo para trás novamente, jogando-o para o lado,
longe de seu pescoço esguio. Tão bonita pra caralho.
Meu pau engrossou na minha cueca, e eu o apalpei,
tentando me reajustar.
Eu disse que queria falar com ela, mas talvez falar não
resolvesse nada. Pedir desculpas a ela com as palavras de antes
não significaria nada. Mas talvez eu pudesse mostrar a ela de
outras maneiras.
Eu estava pensando com meu pau novamente, uma falha
que Corvus constantemente me lembrava que eu precisava
consertar, mas agora, eu não dava a mínima se isso era uma
boa ideia. Ou se ela me esfaquearia por tentar.
“Eu sei que você está aí,” ela disse baixinho, sua atenção
ainda totalmente focada no jogo. Seu pescoço esticado para
cima para vê-lo. “Eu não vou a lugar nenhum, então você pode
simplesmente voltar a dormir.”
“Eu não estava dormindo,” respondi, minha voz mais rouca
do que o pretendido.
Seus ombros deram um leve estremecimento que eu
interpretei como significando que eu estava no caminho certo,
minha ereção pressionando mais forte contra a frente da minha
boxer agora, mas não era eu quem estaria gozando.
Ainda não, de qualquer maneira, afinal, isso era um pedido
de desculpas.
Ajoelhei-me atrás dela e ela vacilou, sendo atacada por um
zumbi, sua saúde diminuindo um pouco antes que seu avatar
virtual conseguisse se defender dele.
“O que você está fazendo?” Ela perguntou, uma nota de
impaciência em seu tom enquanto apertava o botão de ataque
no controle, grunhindo enquanto derrubava outros três deles
na tela.
Inclinei-me, inalando seu perfume, meu nariz roçando a
pele macia logo abaixo de sua orelha direita. “Pedindo
desculpas,” respondi.
AJ se esquivou como se eu tivesse feito cócegas nela, e me
perguntei se ela sentia cócegas. Algo para explorar em outra
oportunidade. Eu deslizei a mão em torno de sua cintura,
acariciando suas costelas antes de meus dedos se espalharem
sobre sua barriga.
Ela me deixou, pelo menos no início.
O controle ficou frouxo em suas mãos, uma horda de
zumbis se aproveitando de sua distração, e ela agarrou minha
mão, parando sua trajetória descendente.
“Apenas deixe-me tocar em você,” eu sussurrei, e seu
aperto em mim continuou por mais alguns segundos até que
cedeu.
“Por que eu deveria?”
“Chame isso de um pedido de desculpas. Você sabe, já que
palavras não vão ajudar. Eu pensei que isso poderia.”
Ela hesitou por mais um segundo, os músculos de seus
braços inchando quando ela agarrou o controle com força e
então o largou.
“Não,” eu soltei. “Continue jogando.”
“O quê?”
“Aposto que você não consegue manter o foco,” eu
provoquei, tornando isso um jogo. Um desafio.
Tinha a sensação de que ela não recuava de um com
frequência.
Eu juro que quase pude ouvi-la sorrindo de minha posição
atrás dela enquanto ela pegava o controle novamente bem a
tempo de outro zumbi atacar. Coloquei minha mão de volta em
seu estômago, e ela soltou um pequeno suspiro quando
mergulhei abaixo do cós de seu short de pijama.
“Foco,” eu a lembrei enquanto meus dedos acariciavam seu
clitóris, fazendo seus quadris se inclinarem ligeiramente para
frente, pressionando sua boceta doce em meus dedos, ansiando
por mais. Descansei meu queixo em seu ombro, sentando com
minhas pernas pressionadas contra ela, envolvendo-a em meu
cheiro. Marcando-a como minha.
Estremeci por dentro, a necessidade dela fazendo a minha
subir. Meu pau doía dentro da cueca, pulsando no ritmo da
minha pulsação quando comecei um lento movimento circular
com meus dedos, leve e provocador.
Ela fez um pequeno som de gemido, e eu cerrei os dentes
para me impedir de pular nela ali mesmo no chão. De jogar o
controle fora de seu alcance e forçá-la a ficar de costas.
Não. Isso era sobre ela. Não eu.
Hoje não.
Eu empurrei através de suas dobras lisas, encontrando o
calor de seu centro enquanto deslizava primeiro um dedo,
depois dois.
Seus tiros na tela foram amplos e ela parou completamente
quando eu adicionei meu polegar à mistura, esfregando seu
clitóris enquanto eu a fodia com meus dedos.
“Uh, Uh,” eu avisei com um sorriso tenso em meus lábios,
pressionando-os levemente contra seu pescoço. Meu pau doía
dentro dos limites da minha boxer. Diminuí a velocidade, quase
parando, e ela continuou jogando. Redobrando seus esforços
para se concentrar no jogo. “Você para, eu paro,” murmurei em
seu ouvido, lambendo os dedos da minha outra mão antes de
envolvê-la para se juntar à primeira abaixo do cós de seu short.
Eu esfreguei seu clitóris impiedosamente com uma mão
enquanto bombeava meus dedos dentro e fora com a outra,
ganhando velocidade. Mas não foi o suficiente. Eu queria mais.
Eu a queria gritando.
Eu queria que ela gozasse com o meu nome em seus lábios.
AJ soltou um pequeno gemido enquanto eu retirava
minhas duas mãos e me movia para me ajoelhar. Eu agarrei
sua cintura, levantando-a e movendo-a até que ela estivesse
sentada na beirada da mesa de café.
Meus joelhos roçaram o tapete macio quando encontrei
meu lugar na frente dela e coloquei meus dedos no cós de seu
short para puxá-lo. Ela obedeceu, balançando os quadris com
um nó entre as sobrancelhas enquanto continuava seu jogo.
Ela abriu a boca para falar, mas eu a calei. “Isso não
significa nada,” falei por ela, um eco do nosso último encontro
no banheiro. Estava escrito em sua expressão: o quanto ela
queria isso, precisava da liberação, e o quanto ela odiava querer
isso.
Eu odiava desejá-la também.
Antes.
Agora?
Agora acho que não havia nada que eu pudesse odiar nela.
Nem mesmo se eu tentasse, porra.
Abri suas pernas e enterrei meu rosto em sua boceta antes
que ela pudesse mudar de ideia e me afastar. Seu calor doce
revestiu minha língua e foda-se, ela era deliciosa.
Suas coxas se apertaram, os músculos se contraíram com
o ataque da minha língua, pequenos gemidos ofegantes saindo
de seus lábios.
Eu era bom nisso, eu sabia. Ela experimentou no banheiro,
mas hoje teria a experiência completa.
Com uma mão apertando seu quadril para mantê-la no
lugar, deslizei a outra entre suas pernas, deslizando-a sob meu
queixo para juntar minha língua. Eu empurrei para dentro,
nunca cessando os movimentos rápidos com a minha língua,
mesmo quando eu comecei a fodê-la violentamente com os
dedos.
AJ se moveu, contorcendo-se de prazer. Você quase
pensaria que ela estava tentando fugir com o quanto ela se
contorcia, mas meu aperto forte em sua cintura a manteve
firme. Forçou-a a sentir tudo.
Ela parou de lutar um minuto depois, em vez disso,
esfregando-se contra mim. AJ fodeu meu rosto como uma
mulher faminta, e eu aproveitei cada maldito segundo disso,
aumentando o ritmo com os dedos para acompanhá-la. Nós nos
movemos juntos, cada movimento de seus quadris, cada
movimento da minha língua, cada toque dos meus dedos,
perfeitamente sincronizados até que o controle caiu no chão e
seus dedos mergulharam no meu cabelo, agarrando com força,
me segurando lá com um grito quando ela gozou em meus
lábios.
Continuei com seu orgasmo, forçando-o a se alongar,
fazendo-a estremecer e se contorcer, tentando se afastar, mas
não deixei. Não até que o puxão violento de seus dedos no meu
cabelo começou a suavizar e, eventualmente, cessar.
Só então parei, olhando para ela com sua umidade
brilhando em meus lábios. Ela olhou para mim com algo que
não consegui identificar em seus olhos. Calor, mas não ódio. O
nó nunca deixou o espaço entre suas sobrancelhas, nem
mesmo quando ela caiu de volta na mesa de café, as mãos indo
para o peito enquanto arfava. Totalmente gasta.
Eu me levantei desconfortavelmente com uma careta, meu
pau tão repugnantemente sensibilizado que até o roçar dele
contra minha cueca era como o toque fantasma de seus dedos.
Seus olhos estavam com as pálpebras pesadas, o rosto
corado e frouxo.
Ela estava tão cansada.
“Vamos,” sussurrei, inclinando-me para levantá-la da
mesa, deslizando meus antebraços sob seus joelhos e em volta
de seus ombros.
Ela não protestou enquanto eu a carregava de volta para a
cama, colocando-a no colchão macio e puxando o cobertor até
seu peito.
“Durma,” eu ordenei, e seus olhos se fecharam apesar de
seus esforços para mantê-los fixos em mim.
Ela estava desconfortável, mas talvez não fosse por minha
causa, afinal. Talvez fosse porque ela sabia tão bem quanto eu
que alguém poderia vir até aqui para seu primeiro julgamento
a qualquer momento. Ou talvez fosse outra coisa que eu nem
sabia.
“Eu fico de vigia, se você quiser,” acrescentei por capricho,
e ela me olhou de forma estranha. Quase doída.
Seu olhar voou para o outro lado da cama e por um
momento de parar o coração pensei que ela poderia puxar as
cobertas, me convidar para dormir ali com ela na cama. Mas
então ela se virou, juntando os joelhos ao peito sem dizer uma
palavra.
Para uma garota que sempre tinha algo a dizer, seu silêncio
era desconcertante. Eu não sabia o que significava. Enquanto
limpava as evidências do que havíamos feito na sala, tentei
analisá-la, desejando ser tão perspicaz quanto meus irmãos.
Uma chave escorregou na fechadura enquanto eu
desligava a TV e pegava o short molhado de AJ no chão. Eu
congelei, correndo para a beira da lareira enquanto o intruso
entrava.
Eu seria amaldiçoado se fosse deixá-lo arruinar seu sono.
Depois do quanto trabalhei para fazê-la dormir.
Entrei na ampla entrada, ajustando meus ombros largos
enquanto erguia minha cabeça. “Não esta noite, idiota. Deixe-
a.”
“Hum,” guinchou uma voz muito feminina. “Eu só quero ir
para a cama.”
A pequena luz da entrada acendeu, e eu cambaleei para
trás com seu brilho, observando todos os 1,80 de Rebecca Hart
em um par de saltos pretos de tiras, seu cabelo em desordem.
Seus olhos arregalados se concentraram no short de AJ na
minha mão e na ereção ao lado dele.
Meu rosto esquentou enquanto eu a cobria com o short,
limpando a garganta.
“Merda,” eu murmurei, tentando manter minha voz baixa
para não acordar AJ. “Desculpe, Becca.”
“Eu mandei uma mensagem,” disse ela, defendendo-se.
“Exatamente como você pediu.”
Certo. Exceto que deixei meu telefone no quarto de AJ.
“Tudo bem,” respondi, já me afastando. “Meu erro.”
“Quem...” Becca parou, com as sobrancelhas franzidas.
“Quem você pensou que eu era?”
Mais uma vez, meu erro. Obviamente, AJ não havia
contado a ela sobre os julgamentos. Ainda que ela devesse
contar. Afinal, todo mundo era um jogo justo, mas não era
minha função fazer isso por ela.
“Ninguém,” falei a ela. “Não se preocupe com isso.”
Apontei o polegar na direção do quarto de AJ. “Eu
provavelmente deveria…”
Os olhos castanhos de Becca desceram para minha ereção
e depois para longe. “Sim. Vocês dois se divirtam. Boa noite.”
AJ ia me matar.
Parei depois de apenas um passo, um formigamento
rastejando na parte de trás do meu pescoço. “Na verdade,” falei
enquanto me virava para encará-la, mantendo minha voz o
mais baixa que pude. “Se eu te perguntar uma coisa, você
poderia manter isso entre nós?”
O olhar de Becca deslizou para a porta do quarto de sua
amiga e voltou para mim novamente, se estreitando. Sua
mandíbula apertada.
“É importante,” insisti.
A contragosto, ela franziu os lábios. “Depende do que é.”
Contive a vontade de gritar, lembrando-me do rosto
contorcido de AJ na floresta.
“Você mandou uma mensagem para AJ hoje cedo? Um
pouco depois do último período?”
Ela franziu a testa. “Porquê?”
“Responda à pergunta.”
Sua garganta balançou. “Não,” ela finalmente disse depois
de alguns momentos de silêncio tenso. “Não, eu não mandei
nenhuma mensagem para ela.”
Porra.
“Obrigado. Isso é tudo que eu precisava saber.”
AVA JADE

Grey tornou-se meu guardião pessoal durante toda a


semana. Ninguém disse isso, mas eu suspeitava que era porque
Corvus estava muito bravo para ficar perto de mim por qualquer
período de tempo, e eles não confiavam em Rook para não me
comer.
Essa foi a vibração que senti, facilmente presumida pelo
fato de que Corvus não falava comigo desde terça-feira à noite
por telefone, e quando Rook se ofereceu para substituir Grey
ontem depois da aula, Corvus e Grey responderam um
retumbante não no momento exato e ao mesmo tempo.
Rook deu de ombros revirando os olhos e piscando na
minha direção, mas algo me disse que isso o incomodava mais
do que ele estava deixando transparecer.
“E agora?” Perguntei depois do último período na sexta-
feira, mal olhando para cima para verificar se Grey estava
esperando fora da sala de aula quando saí, indo para o meu
quarto. Seus passos distintos seguiam ao meu lado. Eu tinha
me acostumado a eles nos últimos dias.
“Corv disse que tínhamos…”
Os cabelos da minha nuca se arrepiaram quando o
elevador no corredor sibilou fracamente, as portas se abrindo.
A frase de Grey sumiu quando seus irmãos saíram, enervando
os alunos que ainda permaneciam no corredor.
“Temos um trabalho fora da cidade,” anunciou Corvus.
Grey endureceu. “Todos nós?” Ele perguntou. “E ela?”
Ele apontou o polegar em minha direção e tentei não deixar
o calor da minha raiva aumentar. Eu odiava quando falavam de
mim como se eu nem estivesse aqui. Como se eu fosse um
estorvo. Um obstáculo. Como se eu não tivesse escolha.
Os frios olhos azuis de Corvus deslizaram para mim e
depois para longe. “Ela virá conosco. Diesel quer nós três no
trabalho.”
“E ele quer que a levemos?” Grey desafiou, uma nota
duvidosa de sarcasmo em seu tom.
Corvus ficou visivelmente tenso, aborrecimento no nó entre
suas sobrancelhas. “Ele se ofereceu para deixá-la no Sanctum
com ele,” ele quase rosnou, observando Grey cuidadosamente
por sua reação negativa.
“Foi o que eu pensei,” continuou ele. “Então, ela virá
conosco. Quando estivermos perto, vamos vendá-la. E ela pode
esperar no carro.”
“Vocês poderiam parar de falar sobre mim como se eu não
estivesse aqui, porra?”
“Algum problema, Pardal?”
“Sim, na verdade. Tenho planos para esta noite.”
“Cancele-os,” Corvus rosnou, um músculo flexionando em
sua mandíbula. “E no futuro você pode querer verificar comigo
antes de fazer planos.”
“Idiota.”
Rook riu, seus dentes puxando levemente seu piercing no
lábio enquanto ele me observava. “Vamos lá, Fantasma,” ele
disse. “Vou te pagar um sorvete.”
Fantasma?
Corvus se virou para erguer uma sobrancelha para ele,
mas não disse nada.
“É melhor ser um sorvete e tanto,” eu suspirei. “Estou
perdendo a noite de cinema por causa dessa merda.”
“Confie em mim,” Rook respondeu, um brilho em seus
olhos escuros. “Vai valer a pena.”
Peguei meu telefone e ignorei a mensagem mais recente de
tia Humphrey enquanto digitava uma mensagem rápida para
Becca, dizendo a ela que sentia muito, mas que não sabia
quando estaria de volta.
Eu poderia bater meu pé no chão. Recusar-me a ir. Mas
percebi que era exatamente isso que Corvus queria. Ele
adoraria isso. Uma oportunidade para flexionar seus músculos
de controle sobre mim. Para tentar me jogar por cima do ombro
dele novamente, chutando e gritando pelos corredores da
academia enquanto ele me arrastava para o carro deles.
Eu não daria isso a ele.
Além disso, esse missão continha exatamente o tipo de
informação de que eu precisava para derrubá-los. E o sorvete
era só a cereja no topo do bolo.
Corvus apertou o botão do elevador novamente e entrou
quando as portas reabriram, Rook seguindo e Grey me
conduzindo atrás deles.
“Substituíram as maçanetas?” Perguntei inocentemente,
quebrando o silêncio na lenta descida para o andar principal,
desfrutando do meu triunfo pela primeira vez. Deus, era bom.
O ar no elevador pareceu esquentar na fração de segundo
antes de Corvus responder.
“Não,” ele rosnou. “Eram importadas.”
“Temos mais duas semanas de nossa nova política de
portas abertas antes que elas cheguem,” Rook disse, parecendo
quase tão presunçoso quanto eu me sentia, até que seu olhar
escuro caiu de volta para Corvus e seu sorriso desapareceu.
“Que pena,” eu suspirei, voltando-me para as portas,
injetando algum drama nas palavras.
O ping do elevador tocou como um sino de jantar no
silêncio quente, e fui arrastada para trás quando a porta se
abriu, o punho na parte de trás da minha camisa me jogando
contra a parede. O ar saiu de meus pulmões quando Corvus me
pressionou ali, seu antebraço como uma barra contra minha
garganta. Mas eu estava pronta para ele desta vez, minha
lâmina pressionada firmemente contra seu lado, logo abaixo
das costelas, inclinada para cima.
Sem se incomodar com a lâmina, ele pressionou contra
minha garganta, seus olhos azuis queimando com o calor de mil
sóis. As veias vermelhas brilhando como sangue fresco contra
o branco.
“Você acha que isso é engraçado, porra?” Ele demandou.
“Hum?”
“Na verdade, sim,” eu cuspi de volta, minha voz tensa em
seu braço. “Eu acho.”
Corvus engasgou com uma resposta quando Grey o
agarrou pelo ombro e o puxou de volta com um grunhido.
“Pare.” A voz de Grey ressoou no elevador. “Apenas pare,”
ele repetiu enquanto eu respirava fundo, ainda mantendo um
olho cauteloso em Corvus. Grey estava dando a seu irmão o
mesmo olhar, embora o dele estivesse manchado de
preocupação e outra coisa que eu não poderia nomear. Tinha a
sensação de que Corvus não costumava mostrar sua raiva de
forma física. Ele reservava esse nível de animosidade só para
mim. “Quando foi a última vez que você dormiu?”
“Não comece, porra,” Corvus zombou. “Tente dormir sem a
porcaria da maçaneta da porta, veja se gosta.”
“Certo, porque o chão é muito mais confortável.”
Corvus olhou entre Grey e eu, sua sobrancelha direita
baixando em questão. Ele não esperava isso. Ele realmente
achava que eu estava deixando Grey se aninhar em mim todas
as noites? Mesmo depois de seu pedido de desculpas na noite
de terça-feira, eu não iria amolecer. Era uma liberação que eu
precisava, e eu já podia sentir aquela pressão crescendo
novamente, mas não mudou nada.
Eles ainda eram meus inimigos.
“Quer trocar?” Grey pressionou, desafiando seu irmão. “Eu
vou aceitar não ter maçaneta na porta em vez de piso sólido
como pedra em qualquer dia.”
Rook levantou a mão, um sorriso malicioso puxando um
canto de sua boca. “Eu troco,” ele sussurrou, me olhando de
cima a baixo. O caminho de seus olhos deixando um calor
escaldante em todos os lugares que tocou, fazendo minhas
entranhas apertarem. “A qualquer momento.”
Corvus esfregou a palma da mão trêmula sobre o rosto
enquanto suspirava. “Foda-se,” ele disse finalmente, deixando
cair a cabeça enquanto a balançava, inalando profundamente.
Era como se eu nem estivesse mais ali e percebi que ele tinha
voltado a me ignorar. Fingir que eu não estava lá era mais fácil
do que admitir que o estava afetando. Que eu estava sempre
chegando até ele.
Ficando sob sua pele.
Em sua cabeça.
Eu podia ver isso.
E eu fodidamente me deleitei com isso.
“Vamos fazer esse trabalho. Quanto mais cedo acabar,
mais cedo ela estará fora da minha vista.”
Meu peito apertou e eu engoli em seco para esmagar a
sensação indesejável, saindo do elevador como se não tivesse
nenhuma preocupação no mundo quando as portas se abriram.
“Parece ótimo para mim.”

Achei que tinha alguma ideia de para onde estávamos indo,


pelo menos durante a primeira hora de viagem. Mas agora,
quase duas horas dirigindo, e eu precisava admitir que não
tinha a menor ideia. O fato de eles ainda não terem me vendado
me disse que ainda havia uma quantidade razoável de terreno
a percorrer. Tanto para tentar voltar a tempo para assistir os
filmes noturnos com Becca.
Eu resmunguei sem palavras para mim mesma, o som
soando quase tão alto quanto o rosnado na minha barriga,
enquanto verificava o aplicativo de mapa no meu telefone
novamente. Ainda indo para o sul. Estávamos basicamente no
meio de uma merda de lugar nenhum. Esta estrada do condado
parecia levar a um pequeno lugar chamado Eugine, mas, até
onde eu sabia, não havia presença de Saints tão longe de Thorn
Valley. E eu vinha fazendo minha pesquisa muito bem.
O olhar de Grey passou para mim no retrovisor, seus olhos
refletidos caindo para o dispositivo na minha mão antes de se
afastar novamente. Não foi a primeira vez que o peguei me
observando, ou melhor, observando meu telefone e minha
reação ao que estou olhando na tela.
Ele não estava convencido de que minha pequena explosão
no início da semana não era nada. Não pensei que nenhum
deles estivesse, mas Grey parecia o mais suspeito. Os outros,
pelo menos no nível da superfície, pareciam ansiosos para
deixar tudo de lado.
Achei melhor enviar uma resposta rápida às mensagens
anteriores de Becca, já que provavelmente pegariam meu
telefone e o colocariam no modo avião na mesma hora em que
me vendassem.
Becca: Ei garota, onde você está?
Becca: Que horas você volta mais tarde?
Ava Jade: Não tenho certeza. Desculpe. Mas avisarei
quando estivermos a caminho.
Outro texto foi enviado antes que eu pudesse guardar meu
telefone.
Becca: Todos os caras estão com você?
Ava Jade: Sim. Porquê? Tudo certo?
Ela demorou tanto para responder dessa vez que quase
liguei para ela, me perguntando por que ela iria querer saber
onde todos eles estavam. Se ela estava em algum tipo de
problema. Problema do tamanho de Diesel. Eu não duvidaria
que ele a usasse contra mim nos testes, mas se o fizesse, seria
um grande erro.
Meu dedo pairou sobre o botão de discagem quando a
resposta dela chegou.
Becca: Está tudo bem! Desculpe, acabei de receber uma
ligação do meu namorado. Estou saindo para vê-lo. Não
espere por mim, ok?
Ava Jade: Divirta-se!
Rook se mexeu, esticando a perna ainda mais enquanto se
recostava no banco de trás ao meu lado. Uma carranca
apareceu nos cantos de sua boca enquanto ele também olhava
para o dispositivo em minhas mãos. Desliguei e limpei a
garganta, guardando-o no bolso com um suspiro.
Eu apaguei todos os vestígios do chamado perseguidor
dele, mas sabia que havia maneiras de recuperar essas
mensagens. Grey parecia ser do tipo que sabia exatamente
como fazer isso, então eu precisava ter certeza de não dar a ele
uma oportunidade. Dormi com ele debaixo do travesseiro a
semana toda, recusando-me a dar a ele qualquer oportunidade
de arrancá-lo da minha mesa de cabeceira.
Fora aquela primeira noite, eu mal tinha dormido mais de
uma hora de cada vez, toda vez que ele se mexia contra o chão
duro, suspirando, eu acordava, pronta para sufocá-lo com um
travesseiro em frustração insone. Era uma maravilha que ele
ainda respirasse.
“Quanto tempo mais?” Perguntei, falando sobre o zumbido
baixo do rádio pela primeira vez.
“O tempo que for preciso,” Corvus resmungou em resposta
do assento na minha frente, seu cotovelo descansando no
parapeito da janela, seus dedos grossos sustentando sua
cabeça pesada em sua têmpora.
Revirei os olhos e o peguei me dando um olhar rancoroso
no espelho retrovisor. Ao que eu mostrei o dedo do meio para
ele e ele desviou o olhar, parecendo entediado, mas a veia
latejando fortemente em seu pescoço contava uma história
diferente.
“Estou fodidamente faminto,” Rook reclamou, deslizando a
língua sobre o lábio inferior. “Vamos parar para comer, sim?”
“Não,” Corvus brincou.
Meu estômago roncou com a menção de comida, e Rook
me lançou um sorriso malicioso.
“Aw, vamos lá, cara. Prometi um sorvete para a garota.”
Ele piscou para mim e caramba se meus dedos do pé não
se contorceram.
“Eu não ligo.”
“São cinco agora,” Grey acrescentou. “Quando voltarmos,
já passará das oito. Devemos comer.”
Rook estendeu a mão tatuada ao redor do encosto de
cabeça para apertar o ombro de seu irmão com um sorriso
triunfante. “A maioria ganha,” disse ele, presunçoso pra
caralho.
“Certo. Mas seja rápido.”
“Há uma lanchonete à frente,” Rook disse, seus dentes
girando o piercing no canto de sua boca. “Pare lá.”
Corvus fez um som descontente e afundou mais em seu
assento, olhos azuis injetados de sangue fixos no horizonte.
A lanchonete apareceu quando chegamos ao topo de uma
colina baixa. Um prédio baixo e atarracado que parecia não ter
sido reformado desde os anos oitenta. Apenas três carros
estavam estacionados no estacionamento da frente e através
das janelas de vidro embaçadas, eu só conseguia ver um
punhado de pessoas sentadas em cabines revestidas de couro
roxo.
Eu já comi em lugares piores. Papai sempre brincou que
eu tinha um estômago de ferro. Forjado no abastecimento de
água do estacionamento de trailers e cachorros-quentes de rua
de cinquenta centavos para o jantar. Eu poderia comer o que
diabos eu quisesse aqui e ficar bem amanhã, mas esses caras?
Eu duvidava que eles pudessem dizer o mesmo.
“Estacione,” Rook instruiu enquanto Grey desacelerava, os
pneus do Rover movendo-se do pavimento irregular para a terra
e cascalho da lanchonete.
Grey lançou um olhar para Rook pelo retrovisor, mas fez o
que seu irmão pediu, nos levando até a parte de trás do prédio
para estacionar ao lado de uma velha van preta enferrujada que
presumi pertencer ao proprietário ou a um funcionário.
“Quem vai entrar?” Grey perguntou. “Devemos pegar algo
pra viagem. Quero estar de volta antes de escurecer.”
Rook acenou com a cabeça, seu olhar brilhante se
desviando em minha direção.
“Vamos mandá-la,” ele decidiu, ainda girando seu piercing
no lábio. “Vou querer o hambúrguer mais gorduroso deles,” ele
me disse, lambendo os lábios. “Com fritas e um shake.
Chocolate.”
“Oh, então agora eu sou a porra do seu mordomo
também?”
“Ela não vai sozinha,” Corvus bufou, como se estivesse
explicando algo pela décima vez para um bando de idiotas. Isso
também não passou despercebido por seus irmãos.
A mandíbula de Grey ficou tensa quando ele desligou a
ignição. “Onde diabos ela estaria indo?” Ele perguntou, e era
estranho ver esse lado dele. Desde aquela noite no armazém,
algo mudou em Grey. Endureceu. Ele não era quem eu
originalmente pensei que fosse.
Não era o elo mais fraco deles.
Embora seja isso que ele gostaria que você pensasse.
Corvus ergueu a cabeça descansando sobre os nós dos
dedos para dar a Grey um olhar avaliador.
“Ela não deve ficar fora da nossa vista.”
“Não há nada em quilômetros,” Rook entrou na conversa.
“Ela poderia correr o quanto quisesse em qualquer direção e nós
a encontraríamos em meio minuto.”
Ele não estava errado. O terreno aqui era desértico. Uma
extensão plana de terra dura e quente com um arbusto
estranho ou uma árvore atrofiada projetando-se da terra
rachada. Nenhum lugar para se esconder. Nenhum lugar para
onde correr.
A mandíbula de Corv flexionou, mas ele não respondeu.
Acho que isso significava que eu estava bancando a serva.
Embora a perspectiva de ficar sozinha sem nenhum deles
para me seguir, mesmo por cinco minutos, parecesse tudo
menos um castigo.
Grey tirou o cinto de segurança com um suspiro. “Eu irei
com ela.”
“Você não vai,” Rook rebateu, lançando um olhar
significativo para seu irmão antes de sua expressão voltar ao
normal. “Ela consegue. O que vai querer, irmão? Hambúrguer
duplo?”
As sobrancelhas de Grey baixaram, seus lábios se
estreitando enquanto ele considerava seu irmão.
Eu estava perdendo alguma coisa?
“Sim,” respondeu Grey. “Com fritas e molho.”
“Corvus?” Rook perguntou, na expectativa.
“Não estou com fome.”
“Ele vai querer o que parecer menos gorduroso.”
“Eu disse que não estou com fome, porra.”
“Ignore-o. Ele vai ficar menos rabugento assim que eu
enfiar o jantar em sua garganta.”
Eu segurei uma risada quando Corvus rosnou baixinho
para si mesmo, sua mandíbula rangendo.
Eu deslizei para a porta, mas Rook me parou. Seus dedos
ásperos em volta do meu pulso, me fazendo estremecer por
dentro. “Não se esqueça do seu sorvete, Fantasma.”
Ele colocou um pequeno maço de notas em minha mão e
me soltou. “Ah, e vou precisar que você deixe seu telefone
comigo.”
Um raio de gelo atingiu meu estômago. “Porquê?
Provavelmente nem tem serviço aqui.”
Uma mentira. Eu tinha serviço e pretendia fazer uma
ligação enquanto estivesse sozinha lá dentro. Eu precisava de
uma escuta melhor. A que plantei na madeira nodosa sob a
janela da cozinha no Ninho foi um maldito fracasso. Mal durou
mais de vinte e quatro horas após a segunda carga. Inútil. Eu
precisava daquelas boas de verdade. O tipo que Kit poderia
conseguir para mim. Se eu fizesse valer a pena, estava disposta
a apostar que poderia até mesmo convencê-lo a levar isso para
mim em Briar Hall.
O sorriso diabólico de Rook me disse que ele sabia
exatamente o que eu estava tramando. Ou pelo menos, que eu
estava planejando algo.
Ele manteve sua mão estendida, o couro de sua palma
plano e duro.
Minha mandíbula apertou enquanto eu deslizava o telefone
do meu bolso e o deixava cair em sua mão.
“Certo.”
Ele fechou os dedos em torno dele e assentiu. Eu me
assegurei de que não havia nada que eles pudessem fazer com
ele aqui no meio do nada, sem um computador e os cabos
adequados para burlar minha senha e invadir as unidades de
backup do dispositivo.
Minha ligação para Kit teria que esperar. Pelo menos por
agora.
Fechei a porta atrás de mim, talvez com um pouco de força
demais, pois podia sentir os olhos de Corvus queimando um
buraco na parte de trás do meu crânio enquanto eu andava pelo
prédio em direção à entrada da frente. Os cheiros de bacon
gorduroso e canja de galinha caseira me atraíram, e meu
estômago revirou de fome.
Eu deveria ter comido mais no almoço, mas Becca tinha
cerca de um milhão de perguntas e acabei saindo com o prato
ainda meio cheio. Um desperdício de comida perfeitamente boa.
O suficiente para ter alimentado mamãe, papai e eu de uma vez
só.
Eu queria contar a ela a verdade sobre tudo o que estava
acontecendo, mas não tinha certeza de quais eram exatamente
as regras. Não que eu fosse avessa a quebrá-las... Era mais
como se eu simplesmente não quisesse lidar com as besteiras
de Corvus se o fizesse.
O sino em cima da porta de vidro amarelado tilintou
quando entrei na lanchonete, a umidade aumentou um pouco
em relação ao calor seco lá fora. Eu inalei profundamente,
deleitando-me com o cheiro gorduroso. Eu me perguntei se eu
poderia comer um hambúrguer rápido o suficiente antes que
meu sorvete derretesse.
Parecia o meu tipo de desafio.
Eu ignorei os olhares sujos de um casal mais velho sentado
em uma mesa à minha direita e me aproximei do balcão,
deslizando entre dois bancos altos revestidos de couro para
sinalizar para a garçonete do outro lado.
Ela me viu e deu um sorriso de desculpas para o homem
com quem ela estava conversando no final do balcão. Ele
parecia estar a um minuto de pedi-la em casamento. E pelo
olhar em seu rosto quando ela se afastou dele, ela sabia disso
também.
Se ele olhasse além da quantidade de maquiagem em seu
rosto e seus seios grandes, ele teria notado a leve protuberância
de sua barriga sob o avental. A maneira como suas pupilas
estavam mais dilatadas do que deveriam.
Ela tinha um corpo bonito, eu daria isso a ela. Mas em
menos de, talvez cerca de seis meses, ela perderia a barriga e a
trocaria pelo bebê que crescia dentro dela. Se ela fizesse o que
queria, porém, ela também teria um pai para o bebê.
Pobre coitado.
Os homens podem ser tão idiotas. Só vendo o que queriam.
Não se preocupando em arranhar mais fundo do que a
superfície. Desejei que os três idiotas lá atrás fossem tão
estúpidos quanto o homem de camisa xadrez do outro lado do
balcão.
“Posso pegar algo para você, querida?” A garçonete
perguntou enquanto se aproximava, seus passos arrastados
revelando pés doloridos.
“Sim. Eu preciso de algumas coisas pra viagem.”
“Você precisa de um cardápio?”
Eu balancei minha cabeça quando ela mergulhou os dedos
no avental de seu uniforme rosa desbotado e tirou um bloco de
notas e uma caneta. “Nome?”
“Evangeline.” A resposta veio automaticamente, meu nom
de guerre1 rolando dos meus lábios quase mais fácil do que o
meu. Outra coisa que meu pai me ensinou. Se eles não
precisam saber seu nome, não dê a eles. Todo mundo pode ser
um alvo algum dia. Não dê nada. Pegue tudo.
“Bonito. O que vai ser, então?”
“Um hambúrguer duplo com batatas fritas e molho.”
Ela assentiu.
“Dois dos seus melhores hambúrgueres, com batatas fritas
e um milk-shake de chocolate. Uma salada. Não importa o tipo.
E um sorvete, que sabores você tem?”

1 Nome de guerra, em francês.


O sino tocou atrás de mim, e eu não precisei me virar para
saber que era Rook. Seus passos o delataram, e eu me encolhi
por dentro ao saber como eu de alguma forma já havia
memorizado o jeito de cada um deles. Seus maneirismos. Foda-
se, eles até respiravam de forma diferente.
Como se o ar não fosse uma coisa necessária para eles.
Como se fosse uma sorte entrar em seus pulmões.
Revirei os olhos. Eles não podiam me deixar sozinha nem
por cinco malditos minutos.
A garçonete ergueu a cabeça antes de anotar meu pedido.
“Temos chocolate, morango e bau...”
Suas palavras sufocaram, olhos arregalados para Rook
logo atrás de mim com um suspiro.
Sim... Ele tinha esse efeito.
Um grito assustado de um dos clientes na porta afundou
meu estômago.
Talvez não fosse Rook, talvez fosse...
Eu cuidadosamente corri meus dedos pela lateral da
minha perna, pronta para agarrar minha lâmina.
Mas antes que eu pudesse girar, ele me pegou.
O cano de uma arma pressionou minha têmpora. Sua mão
enluvada serpenteou em volta da minha cintura, me prendendo
a ele, envolvendo-me no cheiro dele.
Rook.
Que porra é essa?
“Todo mundo no chão, com as mãos atrás da cabeça,” ele
gritou. “Agora!”
Sua imagem distorcida refletiu de volta para mim no
espelho antigo do outro lado do balcão. Olhos inconfundíveis,
até distorcidos, mas o resto do rosto estava escondido sob uma
máscara de esqui preta.
Um tiro abafado sibilou em meu ouvido, e eu levantei
minha cabeça para ver que ele havia disparado na cozinha, um
silenciador no cano de sua arma. Não foi um tiro mortal, mas
um aviso que fez o cozinheiro com um bveigode de Kurt Russell,
brandindo uma faca, largá-la e erguer as mãos em sinal de
derrota.
“Algum outro herói quer se arriscar?” Rook sibilou, e eu
pude ouvir o sorriso em suas palavras.
A arma pressionou contra minha têmpora, e eu percebi o
que estava acontecendo e tive que manter o sorriso longe do
meu rosto, usando um olhar de horror.
Era uma farsa.
Uma maldita farsa.
A adrenalina inundou minhas veias, fazendo meus dedos
tremerem e minha respiração ficar pesada. Meu rosto
esquentou e minha visão nublou. Provavelmente só
aumentando o efeito de feita refém de um ladrão armado.
“Não,” eu chorei. “Não, por favor! Por favor, não me mate.”
Era fácil convocar as lágrimas, elas sempre estavam lá,
retidas por uma barragem forte que eu tinha desde que era
apenas uma adolescente. Elas derramaram livremente agora,
molhando meu rosto.
Rook enfiou um pano branco em minha mão e eu o peguei,
com as mãos tremendo.
“Abra,” ele me ordenou, e eu desajeitadamente encontrei a
abertura da fronha.
Ele deu um pequeno aperto na minha cintura que eu senti
até a minha boceta gananciosa.
Porra.
“Você,” ele sibilou, apontando momentaneamente sua
arma para a garçonete deitada no chão murmurando orações
para si mesma. “Levante.”
Ela cambaleou ao se levantar, tropeçando no balcão.
“Apenas faça o que ele diz, Cher,” seu herói vestindo xadrez
chamou de onde ele estava deitado de bruços no chão de linóleo
sujo ao lado de seu banquinho. “Está tudo bem, boneca. Tudo
vai ficar...”
“Oh, cale a boca,” Rook gemeu quando Cher se levantou.
“Encha,” ele ordenou a ela, o cano de aço frio de volta na minha
têmpora.
Quando ela hesitou, ele engatilhou a arma e senti o clique
até a medula dos meus ossos. Como uma corrente de
eletricidade conectada diretamente à minha carne. Eu agarrei a
bancada, uma respiração forte saiu dos meus lábios com a
sensação de estar viva.
Curiosamente, olhei para a arma. Poucas armas
precisavam de engatilhamento manual. Eu não era especialista,
preferia minhas lâminas, mas papai me mostrou uma coisa ou
duas.
Era uma Browning Hi Power. Semiautomática. Um
elegante modelo preto com um punho de mogno gasto. Ele a
segurava como uma extensão de seu braço.
Por que aquilo era tão malditamente quente?
Cher rapidamente esvaziou a caixa registradora, tirando
maços de notas de cinco e dez e algumas notas de vinte. Nada
para ficar animado, mas agora, eu não me importava, isso foi o
mais divertido que eu tive em anos.
Forcei um gemido quando ela cuidadosamente esticou os
braços sobre o balcão e jogou as notas na fronha.
“Você também quer o dinheiro do cofre?” Ela perguntou,
sua voz um lamento manso.
Essa vadia estava falando sério?
Eu ouço o cozinheiro xingar para si mesmo na cozinha e
Cher percebeu seu erro, ficando mais branca do que a fronha
entre meus punhos.
“Que complacente,” Rook respondeu, puxando-me para
mais perto dele, deixando-me sentir a leve protuberância de sua
ereção contra a parte inferior das minhas costas.
Eu empurrei contra ela, mordendo meu lábio, fazendo-o
grunhir e se afastar.
“Ei!” Ele gritou, nos virando para encarar o homem que
estava na cabine perto da porta. Aquele com o celular na mão.
“Uh, uh, uh,” Rook arrulhou e rudemente me empurrou para o
homem, forçando-me a ficar de joelhos ao seu lado. Ele agarrou
um punhado do meu cabelo, puxando até meu couro cabeludo
doer e eu tremer.
“Na bolsa, herói,” ele disse com os dentes cerrados, e eu
abri a bolsa para o homem colocar o telefone dentro dela para
se juntar ao dinheiro. Ele não estava me olhando feio agora,
estava?
Idiota.
“Você também,” Rook ordenou a sua esposa. “Seu telefone.
Na bolsa. Todos os telefones! coloque-os ao seu lado. Agora!”
Fingi estar machucada quando Rook me levantou e me
forçou a contornar a lanchonete, recolhendo os telefones do
chão. “Sinto muito,” eu choraminguei enquanto pegava cada
um, depositando-os na bolsa até que voltássemos para o balcão.
“Pegue o telefone dele,” Rook rosnou para Cher,
gesticulando para o cozinheiro na cozinha com sua arma
enquanto eu pegava o telefone de Cher do balcão e o jogava com
os outros.
“Eu não tenho telefone,” o cozinheiro respondeu pela janela
de passagem.
Cher prendeu a respiração, revelando sua mentira.
Os dedos ásperos de Rook moveram-se do meu cabelo para
a minha garganta, o couro de suas luvas flexionando enquanto
ele apertava. Eu fiz um show de engasgo, deixando meus olhos
saltarem da minha cabeça.
“Por favor,” eu implorei.
“Você quer o sangue dela em suas mãos?” Rook berrou,
sua voz ecoando na lanchonete. “Hum?”
“Tudo bem, tudo bem!” O cozinheiro disse, com as mãos
levantadas em um gesto de parada.
Engoli em seco quando Rook afrouxou seu aperto em
minha garganta, mas manteve seus dedos lá, roçando a pele
sensível na lateral do meu pescoço.
O cozinheiro enfiou a mão bem devagar no bolso da frente
do avental manchado e jogou o telefone pela abertura da janela.
Cher o agarrou um segundo depois que ele caiu no chão e
o atirou para mim.
“Agora, que tal abrirmos aquele cofre que você mencionou,
Cher?”
Ela lançou um olhar de desculpas ao cozinheiro de rosto
vermelho antes de cair de joelhos e abrir um pequeno armário
sob o registro. O som revelador de uma trava sendo girada me
deu arrepios.
Cher apareceu com uma braçada de dinheiro. Pilhas de
notas elásticas juntas com pequenos recibos no topo de cada
uma que denotavam os valores contidos. Meu sangue fervia com
uma euforia que beirava a loucura enquanto ela as enfiava
trêmula na bolsa pesada apertada entre minhas mãos.
“Isso é tudo,” Cher disse a Rook. “Agora... agora apenas
deixe a garota ir e...”
“Uma casquinha de sorvete,” interrompeu Rook. “Com
todos os sabores. Empilhe bem alto.”
Suas sobrancelhas se juntaram.
“Eu gaguejei, porra?”
Ela pulou e entrou em ação, correndo até o final do balcão
para colocar sorvete em uma casquinha de waffle.
Borboletas.
Esse psicopata me deu borboletas no estômago.
Minhas coxas apertaram e ele deve ter sentido onde minha
mente foi, porque ele deixou seus dedos deslizarem para baixo,
acariciando minha clavícula, e abaixou um pouco mais até
acariciar o topo dos meus seios.
Um gemido suave escapou dos meus lábios pouco antes de
Cher correr de volta com um sorvete monstruoso na mão.
“Seja uma boa menina e pegue isso para mim, sim, amor?”
Fechei o saco de dinheiro e telefones em um punho e
peguei o sorvete com o outro.
“Todo mundo fica abaixado até aquele relógio ali bater seis.
Se você se levantar, você morre. Se você chamar a polícia, ela
morre.”
“A garota!” O cozinheiro gritou da cozinha quando Rook
começou a me arrastar de volta para a porta. “Você disse que a
deixaria ir.”
“Eu fiz?” Perguntou Rook. “Hum. Não acho.”
“Por favor!” Eu implorei. “Por favor, deixe-me ir!”
“Se essas boas pessoas aqui esquecerem o que viram, você
terá sua liberdade.”
“Por favor,” eu grasnei, meu apelo dirigido aos clientes no
restaurante agora enquanto Rook me arrastava para fora da
porta e ao redor do prédio.
Uma vez que estávamos fora da vista das janelas, seu braço
caiu em volta de mim e eu soltei uma pequena risada, incapaz
de segurá-la por mais um segundo.
“Isso foi o mais...”
Ele arrancou a máscara com uma mão enquanto me
empurrava com a outra, minhas costas batendo na parede
áspera atrás de nós. Seus lábios se separaram enquanto ele
olhava abertamente para mim, seus olhos escuros correndo
entre os meus olhos claros. Tentando encontrar algo em suas
profundezas.
“Rook?”
Eu mal consegui pronunciar seu nome antes que ele o
roubasse de meus lábios com um beijo brutal que rasgou cada
centímetro do meu corpo como uma onda de choque. Eu
engasguei contra sua boca quando uma sensação que beirava
a dor torceu como uma faca em minha barriga. As borboletas
ali se transformando em ferro, suas bordas mais afiadas do que
aço.
A língua de Rook deslizou entre meus lábios, e eu o deixei
me levar. Perdida na sensação dele enquanto suas mãos me
agarravam rudemente, os dedos empurrando a carne como
ferros de marcar em brasa.
Quando seus lábios deixaram os meus, pisquei em meio a
uma névoa tonta, incapaz de respirar.
Seus dedos agarraram meu queixo, forçando meus olhos a
encontrar os dele. “Você fez bem, Fantasma.”
“O quê?” Eu respirei, lutando para me concentrar.
“Você acabou de passar pelo seu primeiro julgamento.”
CORVUS

“Aquele é…?” Grey parou quando Rook emergiu dos fundos


da lanchonete, arrastando Ava Jade pelo pulso. Ambos sorrindo
como tolos enquanto o sorvete escorria dos dedos dela, até o
cotovelo, e um saco pesado balançava no punho de Rook.
Eles correram para o Rover, rostos corados e olhos
brilhantes.
Porra.
“Ligue o carro!” Rook falou antes mesmo de entrarem,
apressadamente abrindo a porta de trás para ajudar Ava Jade
a entrar no banco de trás antes de deslizar para dentro.
“Eu disse vá, cara,” ele repetiu, dando um empurrão no
braço de Grey. “A menos que você queira que todos nós sejamos
identificados e presos.”
Ela riu, recostando-se na cadeira com estrelas nos olhos
enquanto recuperava o fôlego. Eu nunca a tinha visto assim, e
algo dentro de mim se mexeu, lutando contra os limites que
estabeleci para mim quando menino.
“Que porra você fez?” Eu rosnei quando Grey ligou a
ignição.
“Direto, irmão,” Rook disse quando Grey tentou colocar o
Rover em marcha à ré.
“Mas...”
“Apenas faça isso, não precisamos que eles vejam o Rover.”
Grey murmurou algo para si mesmo, mas fez o que Rook
exigiu, passando por cima da barreira de cimento e saindo para
a terra compactada do terreno desértico. Ele encontraria uma
maneira de evitar a estrada o máximo que pudesse antes de
voltar para ela.
“O que. Você. Fez?” Perguntei novamente, girando em meu
assento enquanto o Rover sacudia em terreno irregular.
Rook se recostou e passou um braço em volta do meu
pardal, sorrindo para ela de uma forma que fez meus dentes
cerrarem. Ela se inclinou para ele, enxugando uma lágrima pela
força de sua risada. “Foda-se,” disse ela em uma respiração.
“Foi divertido.”
“Nossa pequena desajustada aqui acabou de passar por
seu primeiro julgamento,” Rook disse com um sorriso torto, e
eu fiz uma careta.
“Que porra você acabou de dizer?”
“Diesel estava ocupado,” Rook explicou com um encolher
de ombros. “Ele disse que eu deveria inventar algo para o
primeiro julgamento dela até que ele pudesse preparar algo.”
Suas palavras foram como um soco no estômago.
Diesel pediu ajuda a Rook com seu julgamento, mas ele
nem me contou. Ele sempre me contava.
Ele nunca me manteve no escuro.
Ele não iria...
Ele iria, eu percebi, os nós no meu estômago apertando por
uma razão totalmente diferente agora.
Droga.
Diesel pediu a Rook especificamente para organizar seu
primeiro julgamento porque achava que Rook iria assustá-la.
Ele seria o mais provável. E o menos provável de nós três a se
importar com o que acontecia com ela.
Só que Diesel estava errado.
Sobre Rook.
Sobre Ava Jade.
Ele estava errado sobre um monte de coisas.
Ele não sabia que o sangue de Billy, o Açougueiro, estava
nas mãos dela. Grey nos informou sobre as imagens que
encontrou no telefone dela. Imagens que ele apagou para
sempre. Ela estava lá, nos observando, e não apenas não fez
nada para tentar nos impedir de avisar Billy, como decidiu que
isso não era bom o suficiente.
Ela não apenas se escondeu silenciosamente enquanto o
torturamos, mas também acabou com ele depois que saímos.
Mesmo eu ainda não sabia o que fazer com isso. Minha natureza
controladora me disse que ela deveria ser punida por sua
insubordinação. Nós tínhamos um sistema. Uma maneira de
fazer as coisas, e ela estava perturbando isso. Fodendo com
tudo além do reparo.
E minha curiosidade me fez implorar para saber se era a
primeira vez que ela matava. Eu não acho que era. Ela não era
assombrada por isso. Eu a tinha visto no dia seguinte, e ela
parecia descansada. Feliz, mesmo.
Como Rook depois de matar. Como se algo dentro dela
tivesse sido saciado.
Ela nos surpreendeu de todas as maneiras possíveis. Ela
continuava a nos surpreender. Ela continuaria a surpreender
Diesel também, até que o conquistasse. Eu tinha certeza disso.
Contanto que ela vivesse o suficiente para isso.
“Devíamos nos livrar dos telefones,” disse ela, lambendo a
base da casquinha de sorvete para limpar as gotas de baunilha
de uma forma que me deixou absolutamente louco.
Eu balancei minha cabeça, a situação voltando ao foco
quando Grey dirigiu sobre um buraco profundo no terreno e eu
saltei em meu assento, batendo minha cabeça no teto com uma
maldição.
“Telefones?”
“Pegamos seus telefones,” explicou. “Devemos descartá-los
antes que cheguemos muito longe para que não possam traçar
nossa rota.”
Estreitei meu olhar para Rook, que deu de ombros.
“Você assaltou a lanchonete?” Perguntei
redundantemente. “Com ela?”
“Você deveria tê-la visto, cara.” Ele mordeu o piercing no
lábio enquanto olhava para ela comendo seu sorvete, mais feliz
do que um porco na merda. “Ela não sabia merda nenhuma,
mas quando eu coloquei a arma na cabeça dela, ela entendeu.
Poderia ter tido uma carreira como atriz. Eu assistiria seus
filmes repetidamente.”
Ela soltou uma risadinha, ainda chapada pelo trabalho, as
pupilas dilatadas e escuras.
“Você colocou a porra de uma arma na cabeça dela?” Grey
exigiu, fazendo a pardal semicerrar os olhos na parte de trás de
sua cabeça no banco da frente enquanto Rook começava a tirar
os celulares de uma bolsa de dinheiro e jogá-los pela janela
traseira, imperturbável.
“Ela ainda está viva, não está?” Rook perguntou com uma
sobrancelha levantada e Grey balançou a cabeça, sua
mandíbula flexionada pelo que pude ver de seu perfil lateral.
Meu rosto esquentou de raiva e me virei para encarar a
paisagem em movimento ao nosso redor, tentando manter a
calma. “Foi estúpido organizar isso sozinho,” eu disse. “Você
deveria ter vindo até mim. E se você deixasse passar alguma
coisa?”
“Eu não deixei.”
“E se...”
“Eu sei como administrar a porra de um trabalho, Corv.
Não havia câmeras de segurança lá fora. Estacionamos nos
fundos. Ninguém viu o Rover. Ninguém viu meu rosto. Minhas
mãos. Sem tatuagens. Pegamos os telefones. Sem impressões
digitais. Está tudo bem.”
“Eles a viram,” eu o corrigi.
“Eles viram o rosto de uma vítima. Uma refém.”
“E quando a refém nunca é libertada? Quando a refém
nunca vai à polícia? Quando sua refém começa a parecer uma
cúmplice?”
E lá estava. A isca.
Era metade do objetivo dos julgamentos, não era? Eles
viram o rosto dela. Mas contanto que ela fizesse o que lhe foi
dito e não traísse os Saints, nós a apoiaríamos. Ela sempre teria
um álibi sólido. Ela teria acesso aos melhores advogados que o
dinheiro pudesse comprar. Ela se apresentaria diante de um
juiz que já havia sido bem pago pelo resultado de seu
julgamento.
Desde que ela fosse uma de nós.
Ava Jade colocou o rosto no vento quente e empoeirado que
soprava pela janela e sorriu, não dando a mínima para a
discussão acontecendo ao lado dela. Eu duvidava até que ela
estivesse ouvindo.
Rook, ignorando meu comentário, vasculhou as notas na
sacola antes de tirar duas pilhas grandes e jogá-las no colo de
Ava Jade. Ela se assustou. Olhando para o dinheiro e de volta
para Rook.
“Sua parte,” explicou ele, piscando para ela. “Você
mereceu.”
O jeito que ela sorriu para ele...
Ela nunca sorriu para mim assim. Nunca sorriu para mim,
ponto.
“Você ainda me deve,” ela respondeu, presunçosa
enquanto lambia o sorvete. “Apostei sete mil em você.”
“Um investimento sólido. Pena que você perdeu na
segunda aposta, Fantasma.”
Ela franziu os lábios, mas nem isso conseguiu esconder o
sorriso ainda tentando abrir caminho em seus lábios. Tive a
sensação de que estava perdendo alguma piada particular entre
eles e o ciúme revirou na boca do meu estômago.
Eu me virei ao mesmo tempo em que Rook estendeu a mão
e apertou o botão auxiliar, conectando seu telefone aos alto-
falantes do carro. As notas iniciais de We Are the Champions do
Queen foram tocadas baixas antes que ele estendesse a mão
novamente para aumentar o volume. Eu assisti no espelho
enquanto ele cantava junto, colocando o braço em volta de Ava
Jade. Rook balançou de um lado para o outro enquanto o refrão
principal tocava, até que ela cantou com ele.
Ele deu um empurrão em Grey no banco da frente. Em
seguida, chutou a parte de trás do assento até que Grey cantou
com eles também, levando-nos para fora do terreno desértico
irregular e de volta para uma estrada lateral, levando ao nosso
próximo destino.
“Vamos lá, Corv,” Rook gritou sobre a música entre os
versos. “We are the champions...”
“We are the champions,” ecoaram Pardal e Grey. A nuvem
escura que pairava sobre Grey há dias pareceu se dissipar, seus
olhos brilhando enquanto ele se entregava a um segundo refrão
alto.
Tão fácil para ele esquecer seus fardos. Livrar-se do peso
de sua realidade.
Eu gostaria que fosse pelo menos metade tão fácil para
mim.
ROOK

A lua lançava um brilho sinistro sobre a estrada quando


saímos da rodovia e entramos em Thorn Valley às nove e meia.
Ava Jade ainda comia batatas fritas velhas e frias de nossa
parada em um fast food duas horas antes. Ela parecia
determinada a terminar cada uma, embora estivesse cheia
depois do enorme hambúrguer de dois andares que pediu.
Ela suspirou enquanto comia a última e colocou o
recipiente de papel de volta na sacola a seus pés, colocando a
mão em seu estômago. Ela cooperou bem com o trabalho após
nossa pequena proeza na lanchonete, parecendo quase ansiosa
quando coloquei a venda em volta de seus olhos, puxando-a
com força contra sua cabeça.
Eu duvidava que isso ajudaria muito a diminuir o quão
letal ela era, mas fez o trabalho de esconder a localização do
ponto de compra e os rostos de nossos traficantes de armas.
Meu fantasma checou seu telefone novamente, folheando
as notificações com uma carranca. Eu peguei o nome de
Rebecca Hart antes que ela o descartasse com outro suspiro
pesado.
Enganá-la parecia errado.
Meus irmãos também não pareciam particularmente em
paz com isso, mas todos concordamos que era necessário.
Depois que Grey nos disse que Becca não tinha nada a ver com
as mensagens que deixaram Ava Jade tão tensa, concordamos
com a necessidade de saber quem tinha.
Sempre fez parte do plano fazer uma parada. Fazer Ava
Jade sair do Rover e deixar seu telefone para trás.
Grey estava com seu laptop, o software que ele precisaria
carregado e preparado para uso, junto com um cabo micro-usb
para conectá-lo. Estava tudo embaixo do banco do passageiro.
Ele levaria algum tempo para descriptografar as
mensagens deletadas e recuperá-las do drive do telefone dela,
mas ele tinha o que precisava agora, então era apenas uma
questão de tempo.
Ela ainda não sabia, mas quem estava tentando foder com
ela era um homem morto. Ninguém fode com os Crows.
Ninguém fode com a nossa garota.
Estremeci quando meu piercing no lábio rasgou a pele, o
cheiro acobreado de sangue enchendo minha boca. Eu não
tinha notado que o estava mordendo.
“Acha que ainda consegue ver um filme?” Grey quebrou o
silêncio, virando na orla enquanto saía da estrada principal e
subia em direção a Briar Hall.
Ava Jade deu de ombros. “Talvez. Mas Becca saiu porque
eu não vinha, então…”
Ela deu de ombros novamente.
Meu telefone tocou no meu bolso ao mesmo tempo que o
de Grey e o de Corvus. Significava apenas uma de duas coisas
e meu sangue cantava na esperança de uma.
Por favor, seja Julia.
Diesel: Corv, eu preciso de você. Grey, Alicia precisa de
ajuda com a merda do mês de setembro. Vá ajudá-la antes
que ela tenha a porra de um aneurisma.
Foi enviado por meio de nosso bate-papo em grupo e
apertei o botão lateral do meu telefone depois de lê-la,
desapontado. Teria sido divertido levar meu fantasma a um
strike dois.
Oooooh, ou um strike três.
Eu me perguntei se ela se juntaria a mim no galpão, assim
como Corvus fazia. Observando por cima do meu ombro
enquanto eu trabalhava.
Olhei para ela com o canto do olho, tentando julgar se ela
ficaria ou se fugiria. Se isso a deixaria doente... ou se ela
gostaria de ajudar.
A perspectiva do último fez meu pau endurecer em meu
jeans e eu revirei meus quadris, saboreando o prazer que aquela
imagem me trouxe.
“Dies precisa de nós,” disse Corvus da frente.
Grey se mexeu. “Para o quê?”
“Você, os livros,” ele respondeu. “Aquele novo cara que ele
contratou é inútil.”
Grey não discordou. “Para que ele quer vocês?”
Corv balançou a cabeça. “Só eu, e não sei por quê.”
Corvus enviou uma mensagem para Diesel e meu telefone
vibrou novamente quando foi recebida no chat em grupo.
Ava Jade, não olhando mais pela janela, endireitou-se em
seu assento.
“Devemos trazê-la para o Sanctum conosco?” Grey
perguntou e eu bufei, rolando a janela para descansar meu
braço nela, sentindo a brisa fresca em meu pescoço enquanto
eu enfiava a mão no bolso para pegar os cigarros, acendendo
um.
“Ele não precisa de mim,” falei, soprando meu cigarro para
fora da janela enquanto eles trocavam um olhar.
“Eu não a quero perto de Dies. Não agora,” disse Corvus
para Grey. Eu poderia muito bem ter ficado quieto para a
importância que ele deu para a minha fala. Não que eu me
importasse, no entanto.
“Rook não pode ficar comigo em Briar Hall esta noite?” Ava
Jade perguntou, e eu inclinei minha cabeça para um lado,
considerando-a sob o luar. Era uma pergunta bastante simples,
mas não uma que eu jamais esperaria que ela fizesse.
Ela me viu amarrar Billy. Me viu nocauteá-lo. Cortá-lo.
Ela estava lá na noite do galpão com Frank também. Grey
não havia admitido, mas não precisava. Corvus e eu sabíamos
onde ele conseguiu aquele corte perfeito demais no braço.
Sabíamos quem tinha dado a ele. Quem estava observando das
sombras enquanto descarregamos o pobre Frank, fedendo a
mijo e cerveja velha, e o arrastamos para o meu galpão.
Ela sabia o que eu era, e mesmo assim perguntou.
Seus olhos encontraram os meus no escuro, e neles eu vi
uma determinação que poucos dos homens mais fortes que eu
conhecia possuíam.
Meu fantasma queria saber se ela poderia lidar comigo
sozinha.
Talvez quase tanto quanto eu queria saber.
“Nah,” falei, meus lábios se curvando por conta própria.
“Volte para o Ninho comigo. Tome uma bebida. Um dos outros
a levará de volta a Briar Hall mais tarde.”
“Porquê?”
“Você tem uísque no seu quarto?”
Ela balançou a cabeça.
“Eu tenho.”
Ela franziu os lábios como se dissesse não posso discutir
com isso, dando um pequeno encolher de ombros. “Ok, mas eu
não vou dormir naquele quarto de armário. Ou você me leva de
volta mais tarde ou eu mesmo volto a pé.”
“Está resolvido então. Vou ficar de olho nela. Vai ser
divertido, não é, Fantasma?”
A mão de Grey ficou tensa no volante, e Corvus endureceu
com minhas palavras, sua mandíbula rangendo pelo espelho
retrovisor enquanto eu terminava de fumar.
Ava Jade deu uma risada baixa, recostando-se em seu
assento enquanto Grey dirigia passando pela saída de Briar Hall
e contornando a estrada paralela ao seu terreno, subindo a
encosta da montanha.
A viagem de cinco minutos foi tensa, mas quando
chegamos ao Ninho, a tensão se dissipou quando Ava Jade
saltou do Rover. Como se ela fosse visitar um velho amigo, não
passar algumas horas com um homem que perdeu a conta de
quantos outros ele matou.
Essa garota…
Balancei a cabeça enquanto saía do Rover. As coisas que
eu queria fazer com ela... O que seria necessário para fazê-la
gritar? Para fazê-la implorar?
Ela alguma vez o faria?
Ou ela morreria silenciosamente? Resoluta em seu desejo
de não ceder?
Mmmm…
Porra.
“Rook,” Grey chamou de sua janela, e eu parei quando Ava
Jade foi até a porta da frente.
“Sim, irmão?”
Ele lutou com o que dizer, mas eu vi a verdade do que ele
gostaria de poder dizer escrita em seu rosto. Não a machuque.
Não. Pior que isso.
Se você machucá-la, estará me machucando.
Doeu.
Tanto quanto o olhar atento de Corvus do assento oposto.
Um olhar de advertência.
Onde estava a confiança?
Admito que não a mereço, pelo menos não a esse respeito,
mas ainda assim.
Ela estava fazendo os testes. Para ser uma Saint. Uma
Crow em roupas de menina.
Nós não matamos os nossos.
Eles deveriam saber melhor.
Eles deveriam me conhecer melhor.
Machuquei mulheres, claro, mas apenas aquelas que
queriam ser machucadas. Elas sabiam do risco. Elas gostaram
do risco. Só porque aquela quase sangrou até a morte no ano
passado não significava que eu iria tão longe com Ava Jade. Eu
não faria isso.
Faria?
Eu dei um sorriso. “Não se preocupe, irmão,” eu sussurrei.
“Seu lindo rosto estará exatamente como você o deixou quando
chegar em casa.”
... embora eu não pudesse dizer o mesmo de sua boceta.
Ele assentiu com a cabeça, sua garganta balançando
enquanto engatava a marcha à ré e virava o Rover. Observei as
lanternas traseiras vermelhas balançarem sobre o caminho de
cascalho por um momento antes de desviar o olhar.
Ava Jade esperava na porta, com os braços cruzados sobre
o peito. Ela levantou uma sobrancelha. “O que foi aquilo?”
Eu andei em sua direção, e ela se moveu para o lado,
deixando-me passar para destrancar a porta da frente. Pelo
menos ela havia deixado aquela maçaneta e a da porta dos
fundos. Entrei e ela me seguiu, tirando os sapatos e me
arrastando até a cozinha.
“Eu te fiz uma pergunta,” ela pressionou enquanto eu
puxava dois copos de um armário e servi dois uísques, um
menor que o outro. Ela pegou o mais cheio antes que eu
pudesse entregar a ela o outro e eu sorri.
Bem rápida, ela era.
“Meus irmãos se preocupam demais.”
“Sobre você?”
“Sobre outras coisas.”
“E eu, devo me preocupar?” Ela perguntou, encostando-se
no balcão perto do fogão para tomar um gole de uísque, seus
lábios se contraindo em uma leve careta com o gosto, embora
isso não a impedisse de tomar outro gole. Um maior.
Eu não respondi a ela, virando meu uísque em um gole
para servir outro.
Ela interpretou minha falta de resposta pelo que realmente
era: A verdade incerta.
Eu não poderia dizer a ela de uma forma ou de outra se ela
deveria estar preocupada. Essa noite? Não.
No futuro? Possivelmente.
Havia muitos fatores envolvidos.
Haviam muitas noites sobre as quais eu não me lembrava
de nada, onde simplesmente acordava coberto de vermelho.
Mas isso foi antes de eu ficar limpo. Agora, lembrava das
minhas mortes. Agora, tenho mais controle.
Mais do que meus irmãos pensavam que eu tinha.
“Eles deveriam confiar mais em você,” disse ela depois de
alguns minutos passados em silêncio fácil, bebendo uísque.
“Você é da família. O irmão deles. Família significa confiança.
Ou pelo menos deveria.”
Seu rosto escureceu e eu senti algo em mim escurecer com
a visão. Seus olhos baixaram, inquietos enquanto seus dedos
apertavam o copo um pouco mais.
“Quem machucou você?” Perguntei, as palavras
despejadas do lugar mais escuro aqui dentro. A decisão de falá-
las totalmente inconsciente.
Ava Jade olhou para cima, seus lábios se separaram e
então se fecharam. Ela limpou a garganta. “Ninguém.”
Ela chutou o chão e então sorriu. “Você quer foder com
eles?”
“O quê? Com quem?”
Seus olhos brilharam com malícia, e eu lambi os meus
lábios.
“Os outros. Eles não confiam em você como deveriam. Eu
digo que devemos foder com eles por causa disso. Olho por
olho.”
Ela observou minha língua viajar ao longo do meu lábio
inferior, sua respiração ficando mais pesada enquanto ela
mudava de posição.
Como eu poderia dizer não a isso? Como eu poderia dizer
não a ela?
Eu sorri.
“O que você tem em mente?”
AVA JADE

Eu ficaria pegajosa por dias depois disso, mas valeria a


pena ao ver seus rostos.
“Apresse-se,” eu insisti com Rook, eles podiam voltar a
qualquer minuto.
Ele derramou mais do líquido vermelho da tigela de metal
no meu estômago, deixando-o pingar e formar uma poça no
chão da cozinha.
“Parece real?” Perguntei, tentando organizar meus
membros de uma forma não natural. Do jeito que eu teria caído
se estivesse morta.
“Merda,” Rook sibilou, dando um passo para trás para
admirar nossa obra. Ele mordeu o piercing no lábio, sugando
uma respiração barulhenta por entre os dentes. Isso o estava
excitando, eu podia ver em seus olhos escuros.
Foi fácil misturar alguns litros de sangue falso. Você só
precisava de alguns ingredientes domésticos. Inferno, tínhamos
todos aqueles ingredientes no trailer e isso dizia algo, já que
nossos armários sempre eram cronicamente vazios. Mas com o
xarope de milho como ingrediente principal, seria preciso
apenas um pouco de trabalho duro e um frasco cheio de xampu
para tirar tudo do meu cabelo e da minha pele.
Valeria a pena.
A menos que eles matassem Rook, mas eu esperava que
isso não acontecesse. Eles provavelmente diriam algo como eu
sabia que isso aconteceria, ou eu avisei, e então se ofereceriam
para ajudar a se livrar do meu corpo.
Era quando eu pularia e gritaria surpresa, filhos da puta, e
com sorte os assustaria pra caralho.
Plano sólido.
Definitivamente um plano sólido.
Rook derramou mais sangue no chão e acenou com a
cabeça para si mesmo. “Você é uma obra-prima,” disse ele.
Eu sorri. “Depressa, deixe-me ver antes que eles voltem.
Tire uma foto.”
Coloquei minha cara de garota morta e prendi a respiração
enquanto Rook pegava seu telefone e tirava uma foto,
ajoelhando-se no sangue falso depois para me deixar ver.
Droga.
“Parece tão real,” falei com uma risada. Deixar minha pele
tão pálida não foi fácil, mas os círculos roxo-avermelhados mais
escuros ao redor dos meus olhos não eram falsos. Eles eram au
naturel, cortesia da ordem do cão de guarda de Diesel. Dormir
com outra pessoa no meu quarto não era um bom presságio
para o conforto.
O sangue, porém... Parecia super realista. Acumulou-se na
minha barriga até escurecer, escondendo o fato de que não
havia realmente uma ferida ali. Derramando-se no chão,
reunindo-se em torno do meu 'cadáver' até que encharcou as
pontas do meu cabelo escuro, espalhando-se pelo chão.
Uma das minhas lâminas no chão ao meu lado, fora do
alcance dos meus dedos ensanguentados.
Tão fodidamente dramático.
Pneus sobre cascalho fizeram Rook embolsar seu telefone.
“São eles. Eles voltaram.”
“Vai!” Eu assobiei. “Como planejamos. Você entra da outra
sala quando eles chegarem à cozinha.”
Os lábios de Rook se apertaram em um sorriso enquanto
ele balançava a cabeça. “Isso é tão fodidamente cruel.”
“Eles merecem,” eu sussurrei, ouvindo a porta de um carro
se abrir do lado de fora. “Agora dê o fora daqui.”
Ele ergueu a mão para coçar a nuca, o primeiro e único
sinal de que poderia ter pensado que não era uma ideia tão boa
quanto eu.
Mas ele veria. Foi uma ótima ideia.
Eu devia a Corvus uma montanha de vingança pela
maneira como ele estava me tratando. Eu estava apenas
começando.
Tomei algumas respirações lentas e superficiais quando a
porta da frente se abriu, desejando que meu corpo ficasse
quieto. Eu estou morta.
Eu estou morta.
Garotas mortas não respiram.
Garotas mortas não se mexem.
Meu corpo ficou mais pesado, cada membro forçado a um
estado de relaxamento. Dormente. Eu me preparei para me
permitir apenas a respiração mais superficial e mínima.
“Eu preciso de uma cama de verdade,” ouvi Grey
murmurar da porta, continuando a conversa abafada do lado
de fora. “Tenho hematomas em cima de hematomas daquele
chão.”
“Então compre um colchão.”
Uma pausa.
Claramente Grey não tinha considerado isso como uma
opção.
Corvus suspirou. “Certo. Ficarei em Briar Hall com ela esta
noite. Amanhã vamos conseguir a porra de uma cama ou algo
assim. Parece bom?”
“Sim. Obrigado, cara.”
“Ainda digo que seria mais fácil acorrentá-la aqui.”
Grey riu e uma sensação perversa de satisfação correu
através de mim.
Meu sangue cantava com antecipação, tornando quase
impossível ficar parada enquanto seus passos ecoavam pelo
corredor, chegando mais perto.
Oh meu Deus.
Isso seria fodidamente inestimável.
Eles entraram na cozinha.
Não respire.
“Boa sorte com isso...”
As palavras de Grey foram cortadas abruptamente, junto
com o som de seus passos.
“AJ…” A voz de Grey não era mais que um sussurro. Uma
exalação áspera de ar.
Ele entrou em ação uma fração de segundo depois. Passos
descoordenados batendo no chão enquanto ele corria para mim.
“AJ!”
Eu podia senti-lo ao meu lado, meu coração batendo tão
alto em meus ouvidos que era uma maravilha que ele não
pudesse ouvi-lo enquanto suas mãos pairavam sobre mim,
roçando a superfície da minha pele, minhas roupas, como se
ele estivesse com muito medo para me tocar.
Uma música assobiada brincalhona soou na sala, junto
com o som de plástico enrugado quando Rook arrastou uma
lona para a cozinha como planejamos.
Mas, ao contrário do planejado, sua música assobiada
parou. Assim como o som da lona arrastando sobre o piso de
ladrilho. Levou tudo dentro de mim para não abrir os olhos e
ver o que o fez parar.
“Corvus…” Rook parou, o nome de seu irmão em seus
lábios quase uma pergunta. Confusão evidente em seu tom.
“O que...” Corvus rosnou, parando enquanto lutava para
inalar. “O que você fez?”
“Vamos lá, cara, ela era um risco e você sabe disso.”
“Que porra você fez!”
Algo caiu e houve cinco passos fortes que sacudiram o chão
quando Corvus foi atrás de Rook.
Outro estrondo, o som de algo caindo sobre a lona plástica.
“Parem!” Grey chamou, sua voz soando estranhamente
quebrada, totalmente errada. Mas ele não foi ajudar Rook ou
parar Corvus; ele ficou comigo, suas mãos menos trêmulas
agora, mas insistentes enquanto lutavam através do sangue
pegajoso para encontrar o vão sob meu queixo, procurando por
um pulso enquanto entrelaçava os dedos de sua outra mão na
minha, apertando com força.
Isso... Isso não parecia mais tão engraçado.
Rook tossiu quando um baque alto ressoou na cozinha. A
tosse se transformando em risada. O filho da puta sabia que
isso iria acontecer. Ele provavelmente estava apostando nisso.
Eu duvidava que ele estivesse lutando de volta. Pelo contrário,
estava se divertindo com a dor, assim como eu estava antes.
Outro baque, e eu estremeci. Isso não era o que eu queria.
“Ela era uma de nós!” Corvus rugiu, e eu ouvi Rook lutando
para respirar.
É o suficiente.
Grey encontrou meu pulso.
“Ela ainda está viva,” ele gritou, mas Corvus estava além
de ouvi-lo.
Eu abri um olho, estremecendo ao ver seu rosto, sem cor,
frenético. “Peguei vocês?” Eu disse, mordendo meu lábio para
desviar a atenção do sentimento que se contorcia em meu
estômago.
Ele caiu para trás, piscando como se estivesse me vendo
pela primeira vez. A realidade da situação foi registrada
lentamente quando Corvus jogou Rook contra uma parede do
outro lado da cozinha.
“Cristo,” disse Grey em um suspiro, lutando para ficar de
pé, escorregando no sangue. Ele se segurou na ilha da cozinha,
recuperando o equilíbrio enquanto chamava seus irmãos.
“Corv, pare!”
As mãos de Corvus estavam em volta da garganta de Rook.
Suas costas tensas e bíceps flexionados a ponto de estourar.
Grey agarrou-o. “Eu disse para parar!”
Mas Corvus o arremessou, cego para tudo, menos para seu
alvo.
Merda.
“Foi uma piada,” eu soltei, levantando. “Corvus.”
Nenhuma resposta e o rosto de Rook estava ficando
assustadoramente vermelho, embora isso não diminuísse o
brilho em seus olhos. Assim como eu pensei, ele nem estava
lutando, não realmente. Ele segurou os braços de Corvus,
encarando seu irmão bem no rosto. Desafiando-o a terminar o
que começou. Seu lábio pingava sangue. Um novo olho roxo
inchando na borda de sua sobrancelha esquerda.
Doeu assistir.
Me aproximei, afastando as mãos de Grey quando ele
tentou me impedir de avançar. “Corvus,” sibilei.
Eu coloquei minha mão em seu braço perto do pulso,
segurando-o. Forçando-o a me ver.
Ele se encolheu, seu olhar ardente me encontrando através
de sua raiva. Seu rosto contraído se contorceu, um nó se
formando entre suas sobrancelhas enquanto seus brilhantes
olhos azuis piscaram com reconhecimento.
“Deixe ele ir.”
Suas mãos se soltaram e Rook lutou para respirar,
curvando-se até que ele pudesse respirar novamente.
“Você poderia tê-lo matado,” falei, as palavras venenosas.
Não como eu pretendia.
“Pardal?”
Seus dedos roçaram minha bochecha e eu me afastei,
ficando quente.
“Foi uma piada,” eu repeti, com raiva, embora eu não
conseguisse descobrir o motivo. “Apenas uma maldita piada
estúpida.”
Lambi meus dedos violentamente para provar o ponto. “Vê?
Xarope de milho.”
Seus lábios se separaram em um suspiro, uma veia
latejando em sua têmpora quando ele apertou sua mandíbula
novamente. “Uma piada?”
“Sim.”
“Você acha que isso foi engraçado?”
Ele balançou a cabeça antes de passar por mim, a batida
de seu corpo firme no meu ombro me fazendo recuar um passo.
Eu senti o golpe todo pelo caminho até a boca do meu estômago.
Infeccionou lá, a dor se espalhando pelo meu peito.
A porta da frente bateu um segundo depois. Em seguida,
outra porta. A garagem do lado de fora.
Todos nós ouvimos com o pano de fundo da respiração
tensa de Rook quando um motor ligou. Uma motocicleta. E
então ele se foi. O gemido do motor e do escapamento alto
enquanto ele acelerava para longe do Ninho.
Rook encontrou o caminho até a pia, ligando a água fria e
colocando-a na boca com a mão, para cuspir água avermelhada
pelo ralo. Ele passou as costas da mão na boca quando
terminou, pegando o uísque no balcão para tomar um gole.
As mãos de Grey se fecharam em punhos cerrados ao lado
do corpo, sua expressão escurecendo a cada segundo.
“Grey?” Eu chamei. “Eu não quis...”
“Eu preciso de um minuto,” ele interrompeu, indo embora
antes que eu pudesse terminar. Seguindo o caminho de Corvus
para fora da porta, para o Rover e descendo a estrada.
Eu pressionei a mão no meu estômago, odiando a culpa
que eu sentia pesando ali. “Isso foi muito menos engraçado do
que eu pensei que seria,” eu murmurei.
Rook deu de ombros, deixando o uísque de lado. “Achei
muito engraçado.”
“Você é um idiota.”
“Foi o que me disseram.”
Ele riu e estremeceu, tossindo.
“Você está ferido.”
Ele lambeu o sangue do lábio e desviou o olhar.
Fui até ele, levantando a barra de sua camisa para ver seu
peito. Ele ergueu uma sobrancelha, mas não me impediu
enquanto eu corri meus dedos sobre seu abdômen bronzeado e
musculoso. Sobre a tatuagem em seu quadril e mais alto, até o
hematoma que escurecia rapidamente em suas costelas. Eu
pressionei suavemente sobre cada costela até que ele assobiou
ao meu toque na quinta.
“Pode estar quebrada.”
“Não seria a primeira vez.”
Inclinei minha cabeça para ele. “Vocês costumam tentar
matar uns aos outros?”
“Somos irmãos. É o que fazemos. Ele não teria me matado.
Ele sentiria muito a minha falta.”
“Com certeza parecia que ele estava fazendo o seu melhor
para te matar,” eu zombei.
“Você não o conhece como nós.”
Um silêncio se estendeu entre nós enquanto eu continuei
a traçar levemente a borda da tatuagem curvando-se sobre o
osso do quadril e desaparecendo na cintura baixa de seu jeans
escuro.
“O que aconteceu com você?” Perguntei, realmente curiosa.
Precisando saber o que o forjou. Se ele nasceu ou se fez assim.
Eu gostava de pensar que nasci boa. Feliz. Saudável. Sem
sequer um toque de loucura.
Eu também odiava pensar nisso, porque isso significaria
que a escuridão se enraizou mais tarde. Depois que minha mãe
fez o que ela fez. Depois que aquele homem sangrou perto dos
trilhos do trem em Lennox. Isso significaria que eu a deixei criar
raízes.
A escuridão de Rook se enterrou profundamente dentro
dele depois de um trauma? Ou estava lá o tempo todo? E a
minha?
Nossa escuridão se escondia lá no fundo desde que
respiramos pela primeira vez? Esperando que cedêssemos…
“Eu vou te mostrar o meu se você me mostrar o seu,” disse
ele em um sussurro.
Engoli em seco.
“A pessoa que te machucou...” Rook parou, pegando minha
mão enquanto ela traçava um caminho através de seu abdome
inferior, prendendo-a em seu aperto de ferro. Fazendo-me olhar
para ele. Fazendo-me lembrar do homem nos trilhos do trem. O
peso dele pressionado contra o meu corpo, me segurando. A
sensação dele entre minhas pernas. De seu sangue espirrando
sobre meu rosto e peito nu. “Qual era o nome dele?”
Eu balancei minha cabeça. “Não importa.”
“Sim.”
“Não importa porque ele está morto.”
Ele não pareceu surpreso. Um pouco decepcionado, talvez,
como se estivesse triste por não ter a chance de brincar com
quem quer que fosse em seu galpão de tortura.
Realmente era uma pena. Eu teria gostado de assistir.
“Você?” Ele perguntou simplesmente, e o gelo floresceu no
meu peito. Um suor frio escorreu pelo meu peito e testa. Eu
nunca falei disso com ninguém desde o dia em que aconteceu e
aquele velho medo voltou correndo. A imagem de uma cela fria,
com grades de ferro e um banheiro no canto passou por minhas
pálpebras enquanto eu estremecia, fechando os olhos.
Mas o homem nos trilhos não era o único homem que eu
matei agora. Havia Billy também. Podia-se até dizer que
participei da morte do Ace no armazém. E eu não perdi o sono
por causa deles como fiz naquela primeira morte.
Eu era mais esperta agora, mais cuidadosa.
E eles mereciam.
Eu balancei a cabeça.
Coloquei a mão não agarrada nos dedos tatuados de Rook
em seu estômago novamente, deslizando minha mão ao longo
dos músculos de suas costas, encontrando o cume enrugado de
uma queimadura escondida sob suas tatuagens. “E a pessoa
que fez isso?”
Ele não se mexeu enquanto eu tocava uma cicatriz, depois
outra, olhando para mim como se estivesse procurando por algo
que não poderia encontrar facilmente. “Virou churrasco.”
Um sorriso apareceu em meus lábios, e suas sobrancelhas
franziram com a minha reação.
“Bom.”
Rook deu um pulo para frente, pegando-me pelo pescoço
para me prender contra a ilha central. A bancada de mármore
duro bateu na base da minha espinha, e eu engasguei,
levantando meu calcanhar para pegar uma lâmina. Ele poderia,
mas não tentou me impedir enquanto eu a puxava e
pressionava entre nós, no zíper de sua calça jeans.
Seu aperto na minha garganta não vacilou.
“Diga-me para soltar,” ele desafiou, inclinando-se até que
seu hálito quente era uma promessa em meus lábios. Seu
próprio lábio superior erguendo-se em um rosnado silencioso.
Ele apertou e eu gemi.
Porra, eu gemi quando ele se inclinou cada vez mais perto,
um sorriso malicioso em seus lábios.
“Vá em frente e me corte, Fantasma. Deixe sua marca. Pode
ter certeza que eu vou.”
“Você pode tentar,” eu resmunguei antes de empurrar meu
braço para cima, pegando-o de surpresa. Seu aperto em minha
garganta foi quebrado e eu me abaixei, rolando para fora de seu
alcance, minha lâmina desembainhada enquanto eu tomava
minha posição, uma emoção passando por mim.
Ele passou a língua sobre os dentes como um lobo antes
de matar e minha respiração falhou.
“Você vai me matar?” Perguntei seriamente, a dor entre
minhas coxas implorando para ser reprimida da maneira que
eu pensei que apenas este Crow poderia saciá-la.
“Quer descobrir?”
Minhas narinas dilataram.
Eu queria?
Eu vi a loucura nele quase desde o começo, mas era uma
coisa familiar. Um tipo inteligente de insanidade. Outros não
confiavam nele. Achavam que não tinha autocontrole. Eu
estava disposta a apostar que era o oposto completo. Ele tinha
todo o controle do mundo, ele apenas decidia deixá-lo ir às
vezes.
Eu estava disposta a apostar minha vida nisso?
Rook disparou para frente, e eu pulei para a direita,
contornando a ilha da cozinha para colocá-la entre nós, pisando
com cuidado para evitar as manchas pegajosas de sangue falso
no chão.
Ele me observou com os olhos de um predador, imóvel e
calmo. Esperando sua abertura.
Eu balancei minha cabeça, rindo para mim mesma. Pela
idiotice de tentar o diabo.
Mas era exatamente isso que eu ia fazer.
Desde o primeiro momento em que o vi, eu o quis. Ele era
o fruto proibido e eu estava morrendo de fome.
“Foda-se,” eu murmurei, largando minha lâmina.
Deixando-a se juntar a sua prima no chão enquanto eu saltava
sobre a ilha da cozinha, atacando Rook até que ele se
espatifasse na bancada. Ele me pegou como se fosse ele quem
estivesse morrendo de fome. Contaminando minha boca com
sua língua perversa.
Um som baixo em sua garganta fez meus joelhos tremerem
quando ele pegou um punhado do meu cabelo pegajoso e me
segurou lá, roubando todo o ar dos meus pulmões.
Machucando meus lábios com seu beijo. Seu piercing no lábio
me cortando até que eu provei sangue.
Seu pau duro pressionou insistentemente contra minha
barriga, e coloquei meus dedos entre nós para acariciá-lo
através de seu jeans, fazendo-o gemer. Pequenas
protuberâncias duras marcavam seu pênis, e ele estremeceu
quando meus dedos roçaram cada uma delas. Seus dentes
encontraram meu lábio inferior para morder com força, a dor
aumentando a erupção de sensações fazendo meu corpo
estremecer e tremer.
Desabotoei sua calça jeans, correndo para abaixar o zíper.
Querendo ver o que eu podia sentir através de seu jeans.
O pau de Rook saltou livre, cutucando minha palma.
Quente, grosso e mais duro que o aço. Forrado com uma fileira
de piercings subindo a base como uma escada. Eu contei onze.
Onze para formar a Escada de Jacó2. Eu sempre quis ser fodida
por um pau perfurado, e lambi meus lábios ao vê-lo. Eu o
empurrei com força, fazendo-o saltar para frente ao meu puxão.

2 Aqui faz referência a escada retratada na bíblia, que Jacó viu em um sonho, onde os anjos subiam e desciam do céu

prometendo bênçãos e prosperidade.


Ele riu contra a minha boca. “Você quer jogar duro,
Fantasma?”
Seu punho no meu cabelo me empurrou para baixo,
forçando-me a ficar de joelhos. “Podemos jogar duro.”
Eu sabia o que ele pretendia fazer. Forçar seu caminho em
meus lábios, mas eu já estava dois passos à frente dele,
levando-o profundamente em minha boca, fazendo-o xingar.
Eu o levei ainda mais fundo, querendo senti-lo no fundo da
minha garganta. Os piercings em escada passaram pela minha
língua, empurrando-me para trás até eu engasgar. Rook olhou
para mim incrédulo enquanto eu abria minha boca para ele,
segurando-o lá até que eu mal pudesse respirar.
“Foda-se…”
Eu o queria. Eu o queria tanto que doía.
Eu precisava que ele me mostrasse sua escuridão, porque
então talvez...
Talvez eu pudesse mostrar a ele a minha.
Ele se afastou depois de outro segundo e eu engasguei em
busca de ar.
“Foda minha boca,” eu exigi. “Não se segure.”
O medo cintilou em sua feição, desaparecendo tão
rapidamente que questionei se o vi quando ele voltou para
minha boca, usando o punho em meu cabelo para segurar meus
lábios ao redor da base de seu pênis.
E então, ele fez o que eu pedi.
Ele fodeu minha pequena garganta apertada até que
queimou, até que eu estava ofegante e com lágrimas em meus
olhos. Até que minha calcinha foi arruinada pela minha própria
umidade. Minha boceta latejando com uma dor cruel, exigindo
ser tocada.
Estendi minha mão para baixo, tentando colocar meus
dedos abaixo do cós da minha calça enquanto Rook continuava
a bater em minha boca, grunhidos baixos e ásperos saindo de
seus lábios.
“Não,” ele rosnou, saindo de entre meus lábios, deixando-
me ofegante. Ele me pegou pela garganta novamente, e eu
estava além de lutar nesse momento, me entregando a qualquer
coisa que ele quisesse. Feliz por não estar no controle pela
primeira vez. Mesmo que isso significasse meu fim.
Minhas costas encontraram a bancada da ilha central. O
ar saiu de meus pulmões quando Rook me arrastou para sua
borda, liberando minha garganta para rasgar minhas calças.
Elas ainda estavam penduradas inutilmente em uma
perna quando ele empurrou entre elas e deslizou dois dedos
contra o meu calor úmido, fazendo-me soltar um grito súbito
com a sensação violenta.
Minhas costas arquearam e eu me aproximei dele,
desejando que ele me tomasse.
Um puxão em meu tornozelo e percebi que ele havia tirado
minha última lâmina de sua bainha. Eu resisti novamente
quando ele colocou a borda plana dela contra o meu estômago.
Observei enquanto ele traçava uma linha com ela para
baixo, virando-a lentamente até sua borda recém-afiada.
Ele me observou cuidadosamente enquanto movia a
lâmina, mordendo o piercing no lábio, respirando com
dificuldade.
Seu pênis estava quase alinhado com a minha abertura,
projetando-se para fora dela, pulsando no ritmo de seu
batimento cardíaco. As bolinhas prateadas captando a luz.
Ameaçador, glorioso e todo meu.
“Faça isso,” falei a ele. “Faça tudo.”
Ele sacudiu a lâmina logo abaixo do osso do meu quadril,
e eu respirei fundo quando o novo corte atingiu o ar. Ele
mostrou os dentes, respirando fundo enquanto seus músculos
se contraíam. Observando paralisado enquanto o sangue se
derramava pelo meu quadril, rolando sobre o balcão.
Foi raso. Eu já havia me cortado mais fundo do que isso.
“Mais,” eu sibilei, a sensação de estar viva, de sentir,
despertando algo dentro de mim que eu pensava estar morta há
muito tempo. “Mais.”
Desta vez, quando ele pressionou a faca na minha carne
no lado oposto do meu quadril, eu empurrei a lâmina, meus
olhos rolando para trás com a doce, doce liberação da dor.
Rook recuou e a lâmina escorregou, deixando um novo
rastro vermelho sobre o balcão. Ele piscou, saindo de tudo o
que o mantinha como refém e jogou a lâmina, enterrando-a em
um armário. Foi um bom arremesso, e eu semicerrei os olhos
para ele.
“Você não é a única que sabe usar uma lâmina, Fantasma.”
Ele sorriu, dedos ásperos curvando-se em torno de minhas
coxas, lábios brilhando enquanto observava os fluxos de
carmesim fluir para fora das feridas como fitas envolvendo
meus quadris e cintura.
Ele recuou ao mesmo tempo que empurrava, enterrando-
se dentro de mim até o fim em um só movimento.
Eu cambaleei quando ele atingiu algo dentro de mim,
choramingando enquanto se acomodava lá. Não houve tempo
para se ajustar ao seu tamanho antes que ele estivesse saindo,
sua Escada de Jacó esfregando da maneira mais deliciosa antes
de empurrar novamente. Mais duro. Suas coxas bateram
ruidosamente contra o balcão. Meu corpo arfando contra o
mármore frio.
Eu gritei, e ele inclinou a cabeça para trás, sua mandíbula
tensa enquanto ele soltava sons de seu próprio êxtase.
“Foda-se, você está tão molhada para mim,” ele gemeu
enquanto empurrava novamente, a mistura de dor e prazer de
sua foda já me enviando para perigosamente perto da borda.
“Rook!” Eu soltei em seu próximo impulso, arreganhando
os dentes para sua força contundente.
“Isso dói?” Ele perguntou, sem parar.
“Sim.”
“Você gosta disso?”
Ele dobrou sua velocidade até que eu quiquei na bancada,
seus dedos cavando profundamente na carne das minhas coxas
enquanto ele me fodia.
“Sim,” eu gemi, mordendo meu lábio para não gritar
enquanto meu orgasmo crescia.
Ele mudou o ângulo, lançando-se para a frente, e eu gritei
com a perda do que ele estava construindo golpe por golpe. Mas
então seus dedos deixaram minha coxa para envolver minha
garganta e meus olhos se abriram para encontrar os dele.
Quando sua outra mão agarrou meu clitóris dolorido, eu
arqueei novamente, incapaz de gritar desta vez para a represa
bloqueando meu suprimento de ar. Ele apertou com força e eu
cedi, então ele aliviou a dor com movimentos circulares mais
suaves, nunca mudando o ritmo de seu pênis entre minhas
pernas.
“Puta merda,” eu choraminguei quando seu aperto na
minha garganta afrouxou apenas o tempo suficiente para eu
respirar.
Ele começou a diminuir a velocidade e eu rosnei. “Se você
parar, eu te mato.”
Ele sorriu, curvando-se para colocar um mamilo em sua
boca através da minha camisa, eu agarrei sua cabeça com um
grito de surpresa quando ele o mordeu, meus dedos
emaranhados em seu cabelo, segurando com tanta força que
ficaria chocada se não arrancasse um monte.
“Oh, Deus,” falei em uma respiração, sentindo meu clímax
crescer.
Rook, sentindo isso, apertou novamente minha garganta,
rolando meu mamilo entre os dentes, forçando-me a pular
daquela saliência.
Ele grunhiu, dolorido e estremecendo, chegando à sua
própria liberação, e foi esse conhecimento que me quebrou.
Gozei com força em seu pênis, agarrando-o como se fosse o
único bote salva-vidas em um mar turbulento. Estrelas
explodiram na parte de trás das minhas pálpebras enquanto eu
lutava para respirar.
Ele terminou de gozar com um som selvagem saindo de
seus lábios. Quando sua mão em volta da minha garganta se
afrouxou, eu gritei, enquanto o orgasmo continuava a rasgar
através de mim, fazendo meus músculos apertarem e
espasmarem, pernas tremendo, boceta latejando.
Rook permaneceu lá, parado dentro de mim, sacudindo
levemente meu clitóris inchado para manter o orgasmo rolando,
mesmo quando eu tentei lutar contra ele, quando tentei me
esquivar, incapaz de aguentar mais.
Seu pênis deslizou para fora, as mãos arrastando para
baixo do meu corpo até que ele estivesse de pé novamente,
respirando pesadamente.
A porta da frente se abriu e eu dobrei meus joelhos, rolando
da bancada para pegar uma lâmina do chão enquanto Grey
corria para a cozinha, com olhos selvagens.
Fechei minha boca escancarada, parecendo como uma
criança pega com a mão no pote de biscoitos.
Rook recostou-se no balcão da pia, totalmente
despreocupado. Seu pênis ainda duro, mas amolecendo
lentamente.
Grey levou um momento para perceber que não havia
ameaça. O aperto da arma em sua mão direita afrouxou quando
ele engoliu em seco, recolocando-a na parte de trás da calça
jeans.
“Se você tivesse voltado um pouco mais cedo, poderia ter
se juntado a nós,” Rook disse, curvando-se para pegar seu maço
de cigarros do chão, puxando um para colocá-lo entre os lábios.
Grey franziu a testa.
“Você sabe como Corvus se sente sobre você fumar em
casa,” Grey disse, seus ombros tensos enquanto ele valsava pela
cozinha passando por nós e indo para as escadas. “Vá lá para
fora.”
“Grey,” eu me esquivei e ele parou no patamar, seus dedos
ficando brancos por causa de seu aperto no corrimão.
“Fique aqui esta noite,” disse ele sem se virar. “Se você não
quiser dormir no quarto de hóspedes, tenho certeza de que Rook
não vai se importar em deixar você dividir a cama com ele.”
Com isso, ele nos deixou, subindo as escadas. Seus passos
ecoaram no silêncio, mas nenhuma porta foi batida. Apenas o
leve toque de madeira na madeira. De uma porta se fechando
sem uma maçaneta para mantê-la devidamente fechada.
Eu estremeci, deixando cair minha cabeça com um
suspiro.
“Quer um cigarro?” Rook ofereceu, e eu me virei para
encontrá-lo acendendo o cigarro entre os lábios enquanto
segurava outro para mim.
Em vez disso, roubei o de seus lábios, inalando a fumaça
de alcatrão e exalando-a com um suspiro. Eu não era uma
fumante, mas havia algo sobre uma boa fumada depois de uma
boa trepada que era entorpecedor.
Dei outra tragada antes de passá-lo de volta. “Você se
conteve,” eu o acusei. Eu me senti quase enganada. A verdade
é que eu poderia dizer que ele estava se segurando muito. O fato
de que ele poderia se conter era um bom presságio para a minha
sobrevivência, mas eu disse a ele para não fazer isso. Eu queria
tudo. Cada parte escura e depravada dele, mas ele me negou
isso. Porquê?
O olhar presunçoso caiu de seu rosto. “Eu…”
“Você o quê?”
Ele sacudiu a cabeça para as escadas. “Vamos, Fantasma.
Você precisa de bandagens... E um banho.”
GREY

Eu não podia acreditar nos dois. Como qualquer um deles


pensou por um segundo que sua pequena brincadeira seria
engraçada estava além da porra da minha capacidade de
entender. O que senti naquele momento horrível quando a vi ali
no chão, pálida e ensanguentada e imóvel...
Foi diferente de tudo que eu já havia sentido antes.
A perda.
O terror.
A maldita dor.
Tudo sentido através de uma peneira de dormência. Como
se eu estivesse em um pesadelo. Como se não fosse real. Não
poderia ser real. Como se eu estivesse fora de mim, não mais
dentro da gaiola dos meus ossos, mas forçado a testemunhar
como um espectador fantasma. Capaz de sentir toda a dor, mas
incapaz de fazer qualquer coisa para fazê-la parar.
Uma pegadinha.
Uma maldita pegadinha.
Mais como um tapa na cara, mas talvez um que eu
merecesse por não confiar em meu irmão. Ele rastejou e
arranhou seu caminho para se tornar o homem que era agora
desde o Barrettes Home for Boys e os anos sobre os quais não
falamos que vieram depois.
Meu bíceps doía e queimava quando levantei o haltere para
a última repetição da série, fazendo uma careta ao abaixá-lo no
chão por um momento antes de mudar de lado. Do outro lado
da academia que construímos em metade da garagem no ano
passado, Rook esmurrava um saco pesado, dançando em volta
dele como se não houvesse ninguém ou qualquer outra coisa na
sala.
Eu cerrei os dentes quando comecei as repetições no lado
esquerdo, observando seu corpo ágil atacar golpe após golpe,
abaixando-se, mantendo o rosto protegido.
Curiosamente, a brincadeira deles não foi o que me
manteve acordado metade da noite.
Eu realmente não sabia se queria dar um soco na cara dele
ou dar um tapinha em suas costas. Eu estava vacilando entre
os dois desde que os encontrei ontem à noite na cozinha.
Como se meu irmão soubesse exatamente onde estava
minha cabeça, não tinha falado comigo desde que veio treinar
vinte minutos atrás. Ele apenas me deu um aceno de cabeça e
foi cuidar das suas próprias coisas. Esperando pacientemente
que eu me decidisse entre aquele soco ou aquele tapinha. Feliz
em aceitar o que quer que eu decidisse.
Ela é boa para ele, argumentou a parte lógica da minha
mente. Eu já havia notado algumas mudanças positivas nele
nas últimas semanas. A coceira por violência que ele
normalmente tinha agora não era tão proeminente. Ele estava
bebendo um pouco menos. Ele parecia feliz. E não o eu acabei
de matar alguém feliz, mas realmente feliz. Rook também nunca
treinava de manhã. Ele reservava as manhãs para acordar
tarde, tomar suco de laranja e ouvir os inevitáveis gritos de Corv
para que ele mexesse sua bunda.
Eu queria ficar feliz por ele, mas havia a outra parte de
mim, aquela que sussurrava com os dentes cerrados que ela
era minha.
Eu a tive primeiro, afinal.
Ela gostou mais de mim, não foi?
Mas ela também não gostava de Rook? E até mesmo em
algum nível, de Corvus também?
Nós compartilhamos antes. Uma ou duas vezes. Mas
aquelas garotas não importavam. Não como AJ.
Dentro do Ninho, ouvi passos pesados descendo as
escadas e suspirei, deixando o haltere de volta no tatame para
um alongamento e uma pausa antes da minha próxima série.
O que quer que ele viesse dizer, eu não queria um haltere na
mão quando ele dissesse. Como estava agora, eu poderia jogá-
lo nele.
Ele voltou para casa nas primeiras horas da manhã, sem
se preocupar em fazer silêncio enquanto estacionava sua Ducati
e entrava em casa. Ele passou as horas que antecederam o
amanhecer andando de um lado para o outro em seu quarto ou
vasculhando a cozinha. Eu já estava tendo dificuldade para
dormir sem o barulho dele me mantendo acordado, porra.
Corvus entrou pela porta aberta da garagem, as costas
erguidas e o queixo tenso. “Por que você não está cuidando
dela?” Ele exigiu de Rook, seus olhos azuis injetados de sangue
focados em meu irmão.
Rook recuou um passo, enxugando o suor do lábio
superior antes de abaixar os punhos cerrados. Ele apontou dois
dedos para si mesmo. “Eu?”
As sobrancelhas de Corvus baixaram, suas maçãs do rosto
queimando.
“Ela está dormindo,” Rook defendeu. “Além disso cara, ela
não vai a lugar nenhum.”
“Se ela fizer isso, cabe a você explicar essa merda para
Dies.”
“Certo.”
Mas Corvus não havia terminado, seus ombros tremiam
tão levemente que se você não o conhecesse bem o suficiente
para saber os sinais de sua raiva, você nunca notaria. E agora,
Corvus estava furioso, e ele tinha algo mais a dizer.
“Tudo bem,” ele rosnou. “Talvez você queira me explicar por
que ela está nua na sua cama, então?”
... Apenas acho que não iremos falar sobre a pegadinha
deles ontem à noite, então.
Rook levantou uma sobrancelha escura para ele. “Você é
inteligente o suficiente para descobrir isso.”
Suas narinas dilataram por um momento antes de ele virar
sua raiva para mim. “E você?” Ele pressionou. “Você fodeu com
ela também, não foi? E não minta para mim, porra.”
Eu alonguei minha coluna, ficando de pé para colocar o
haltere de volta no suporte com um suspiro.
“Eu fiz,” eu admiti, meu tom cheio de mais animosidade do
que eu pretendia. Eu nunca menti para ele. Eu nunca menti
para nenhum deles. Exceto por ela. Para protegê-la.
Quando me virei, cruzando os braços enquanto me apoiava
no suporte, ele ainda estava me observando. Aquele brilho
animalesco em seus olhos me dizia que ele estava à beira do
precipício de seu controle. Eu nunca o tinha visto ficar tão mal
com tanta frequência. Talvez ele estivesse certo. AJ era uma
ameaça. Ela podia ser a nossa morte.
Mas, oh, que doce morte seria.
Quando comecei a pensar em maneiras de contê-lo se ele
realmente se tornasse selvagem, algo em seu olhar mudou e os
músculos perto de suas maçãs do rosto se contraíram quando
ele começou a se acalmar e eventualmente a ceder, suspirando
pesadamente.
Ele passou a palma da mão sobre a boca, cobrindo
parcialmente uma respiração instável.
“Eu não entendo,” ele disse finalmente, não mais olhando
para nenhum de nós, mas procurando nos tapetes a seus pés
em vez disso, como se eles pudessem conter a resposta que ele
estava procurando. “Por que...” ele começou, mas parou.
“Porque não você?” Rook forneceu, e eu olhei para ele,
confuso.
Não era isso que eu pensava que Corvus queria dizer, mas
eu podia ver agora. O aperto entre seus olhos. Os seus ombros
tensos. Ele estava com raiva, sim, mas também com ciúmes.
Quando Corvus não respondeu, revelando a verdade, Rook
impediu que o saco de pancada balançasse suavemente para
frente e para trás e começou a desembrulhar as mãos,
agachando-se para se sentar em um banco baixo de
levantamento de peso. “Porque você é um idiota completo e
absoluto.”
Limpei a garganta para disfarçar uma risada. “Ele está
certo,” eu concordei. “E um idiota controlador pra caramba.”
“Quando se trata de Ava Jade, pelo menos,” Rook
acrescentou, e eu bufei.
“Nomeie alguém com quem ele não é um idiota
controlador?”
“Não me empurre agora,” alertou Corvus, rolando os
ombros para trás. “Só sou assim com ela porque...”
“Ela gosta de apertar seus botões?” Rook interrompeu com
um sorriso malicioso.
“Porque ela se recusa a ser controlada?” Eu adicionei.
“Oh!” Rook deixou escapar. “Eu sei, porque você a quer só
para você e não pode suportar a ideia de ela nos querer mais do
que ela quer você. É isso?”
Eu fiz uma careta.
“Golpe baixo, irmão,” eu deixei escapar através de outra
careta.
O rosto de Corvus ficou vermelho por um segundo antes
do sangue escorrer de volta.
“Eu já quero te esfolar vivo por aquela porra de merda que
você fez ontem à noite, Rook. Não. Me. Empurre.” Ele beliscou a
ponta do nariz. “Não é por causa disso,” disse ele. “Não apenas
isso, de qualquer maneira. Isso é…”
“É porque você se importa com ela?”
Eu podia ver agora e não tinha certeza de como não tinha
visto isso claramente antes. Corvus se preocupava com Ava
Jade. Semelhante a como ele se importava conosco. Não era
apenas controle pelo controle. Ele não dava a mínima para o
que acontecia com qualquer outra garota, ou com muitos dos
homens de Diesel. Ele não tentava controlá-los porque não se
importava com eles.
Ele era um idiota controlador conosco porque se
importava. Ele exigia uma resposta quando mandava uma
mensagem porque se importava. Ele não deixaria Ava Jade fora
de vista pela mesma razão. Eu duvidava que tivesse algo a ver
com as ordens de Diesel.
Ele simplesmente não a entendia, as coisas de que ela
precisava. O que ela toleraria e não toleraria ou compreenderia.
Ela não o conhecia. Como ela poderia quando ele estava sempre
tão ocupado erguendo paredes para se enjaular?
“Admitir isso não te torna fraco,” eu continuei. “Todos nós
nos importamos com ela.”
Corvus abriu a boca com uma refutação, mas eu o calei
com um olhar. “Não minta para mim,” falei, virando suas
próprias palavras contra ele. “Minta para si mesmo se quiser,
mas não minta para nós.”
“Se você estivesse certo, o que não estou dizendo que você
está...” Ele parou, e eu peguei Rook revirando os olhos quando
Corv não estava olhando. “Como eu... você sabe... chego até
ela?”
“Pare de ser tão idiota, para começar,” Rook interveio,
voltando-se para o saco de pancada com os punhos nus para
mais alguns golpes.
“Você poderia tentar dar a ela um pouco de confiança.
Alguma liberdade.”
Seu lábio superior se curvou.
“Ou... Você poderia tentar flores?”
Ele piscou para mim como se eu tivesse dito a coisa mais
estúpida do mundo. “Tudo bem, sim, isso não vai funcionar com
AJ.” Eu pensei sobre isso. “Você deve uma lâmina a ela, não é?”
“Eu digo para comprar um lança-chamas,” Rook grunhiu
entre os golpes.
“Você não vai conseguir um lança-chamas,” falei a ele.
“Não é para mim, é para ela,” argumentou ele, fazendo uma
pausa.
“Claro que é.”
“Você realmente acha que eu posso consertar isso?” Corvus
perguntou, parando a pequena discussão lateral minha e de
Rook. “Ela me odeia.”
Eu balancei minha cabeça. “Não tanto quanto você pensa.”
“Ela é uma de nós,” Rook disse a Corvus, sua respiração
ofegante enquanto ele fungava e pegava sua garrafa de água.
Ele fixou em Corvus um olhar duro enquanto tomava um gole e
colocava a garrafa de volta na mesa, seu olhar nunca vacilando.
“Você mesmo disse isso ontem à noite. Lembra?”
“Eu não...”
“Você fez,” Rook latiu. “Ela é uma Crow e você sabe disso.
Ela nos pertence... e nós pertencemos a ela. Quanto mais cedo
vocês dois pararem de lutar contra isso, mais cedo todos nós
poderemos ser exatamente o que devemos ser.”
AVA JADE

Meu estômago roncou quando rolei para a beirada da cama


de Rook e me forcei a sentar com um suspiro. Olhei para as
cobertas de pele desgrenhadas, os lençóis e travesseiros pretos
e sedosos, mas ele não estava lá. Minhas coxas se apertaram,
boceta doendo enquanto eu me lembrava de imagens vívidas
dele entre minhas coxas ontem à noite. De seu pau grosso e
quente na minha boca.
Eu tracei a linha do pequeno corte de duas polegadas
transversalmente abaixo do osso do meu quadril e estremeci,
todos os meus pelos em pé.
Eu me mexi contra os lençóis macios e procurei no chão
por minhas roupas, mas não consegui encontrá-las, mesmo
com a luz do corredor entrando pela porta entreaberta.
O cheiro de bacon cozinhando que me acordou me deixou
com água na boca quando roubei um tecido preto do chão.
Parecia ser um lençol que presumo que uma governanta
colocou em sua cama na primeira noite em que esteve lá.
Uma casa cheia de meninos não ficava tão limpa sem uma
ajudinha, embora em todas as vezes que os espionei aqui ou
escutei, nunca ouvi ou vi uma faxineira perto do Ninho.
Dobrei o lençol no sentido do comprimento e enrolei nas
costas, cruzando as pontas na frente para amarrar na nuca.
Era a toga mais feia que você já viu, mas era macia pra caralho
e teria que servir por enquanto. Eu desceria nua para pegar o
bacon se fosse preciso, mas a manhã trouxe um friozinho e o
vestido improvisado fez apenas o suficiente para afastá-lo.
O Ninho ficava mais quente quanto mais longe do quarto
de Rook eu ficava, e me perguntei se ele o mantinha
propositadamente mais frio do que o resto da casa. Se ele
realmente dormia com aquelas peles pesadas cobrindo-o a noite
toda, porque não havia como eu dormir embaixo delas sem suar
pra caramba. E eu tinha dormido embaixo delas, como a porra
de um bebê.
O melhor sono que tive em semanas, na verdade.
Eu não conseguia nem me lembrar da sensação dele
deitado ao meu lado, o que me fez questionar se ele tinha
dormido ao meu lado. Ou se depois que eu me deitei na cama,
ainda úmida do banho, ele colocou as cobertas pesadas em
mim, e simplesmente saiu.
Desci as escadas seguindo meu nariz, salivando enquanto
o cheiro do café da manhã ficava mais forte a cada passo. Fiz
uma pausa no patamar, encontrando Corvus mexendo uma
panela de batatas pequenas brilhando com óleo.
Ele habilmente se revezou entre três panelas diferentes e
verificou o bacon no forno, puxando-o para colocá-lo em cima
de uma grade de resfriamento no balcão.
Suas costas enrijeceram um pouco antes de ele se virar,
talvez sentindo meus olhos nele. Seus lábios se separaram
enquanto eles pegavam a faixa de tecido preto de seda cobrindo
meu corpo nu, antes de ele se virar, a tensão nunca deixando
seus ombros.
“Bom dia,” disse ele secamente.
“Uh... Bom dia.”
Fui até a pia, procurando nos armários um copo para
encher com água antes de me sentar em um banquinho na ilha
da cozinha, o mais distante de Corvus.
“Com fome?”
“Morrendo de fome.”
Espiei pela beirada da porta que dava para a sala de estar,
mas não consegui ver os outros. Para onde eles foram?
“Então,” eu disse, brincando com a condensação no meu
copo. “Você ainda não está com raiva de ontem à noite, então?”
Uma risada zombeteira me disse tudo o que eu precisava
saber, mas ele respondeu mesmo assim. “Oh, estou com raiva,
mas eu disse a Rook que o esfolaria vivo se ele fizesse algo assim
novamente.”
Apertei os lábios, notando pela primeira vez como a
cozinha estava limpa. Eu desmaiei depois do meu banho, então
quem...
“Você...” Eu parei. “Você limpou a, hum, a bagunça?”
“Foda-se não. Estava impecável quando voltei.”
Rook, então. Eu sorri. Eu devia uma a ele por isso.
“Você não lhe dá crédito suficiente, sabe. Ele não é o louco
que você pensa que ele é.”
“Você não o conhece muito bem.”
“... bem o suficiente, no entanto,” eu murmurei para mim
mesma, me contorcendo na minha cadeira ao lado do local na
ilha da cozinha onde nós...
Melhor não pensar nisso ou eu sujaria seus lindos lençóis.
Corvus grunhiu, voltando a se concentrar no fogão. Ele
virou os ovos antes de pegar dois pratos e começar a enchê-los
com bacon crocante, espinafre refogado, batatas fritas e ovos.
Talvez os outros não estivessem aqui, então, ou talvez tenha
sido presunçoso da minha parte presumir que me ofereceriam
um café da manhã quente.
Uma vez que ele terminou de arrumar tudo como queria,
ele se virou, empurrando um prato ao longo do balcão de
mármore para mim.
Eu devo ter dado uma olhada estranha porque ele franziu
a testa. “Pensei que você disse que estava com fome?”
“Eu estou,” eu admiti, engolindo em seco para limpar a
saliva da minha boca.
“Coma,” ele ordenou. “Você perdeu pelo menos cinco quilos
na última semana. Você precisa manter sua força.”
Eu ignorei a forma como soou como um comando porque,
na verdade, eu planejei aniquilar tudo neste prato e lambê-lo
até limpá-lo. Até o espinafre, e eu nem gostava de espinafre.
Mas ele fez algo para fazê-lo cheirar a ouro verde.
Os ovos estavam perfeitamente cozidos. Amanteigados e
macios com a gema ligeiramente escorrendo. A torrada era uma
mistura de grãos recém-assados que tinha gosto de ter vindo
direto de 1892.
Incapaz de me ajudar, eu gemi enquanto mordia um
pedaço de bacon e peguei Corvus me observando enquanto ele
estava do outro lado do balcão, comendo seu próprio café da
manhã lentamente. O menor sorriso surgiu na borda de seus
lábios, antes de seu rosto voltar à sua habitual cautela hostil,
fazendo-me desacelerar para que meu estômago não estivesse
doendo quando eu terminasse.
Eu não conseguia me lembrar da última vez que alguém
me preparou uma refeição. Eu devia ser muito jovem. Uma
criança.
“Então, quem está comigo hoje?” Perguntei quando estava
chegando ao fim do meu café da manhã, resistindo ao desejo
tentador de correr meus dedos sobre os restos do meu prato e
lambê-los até limpá-los. Eu não queria dar a ele mais satisfação
do que já tinha. Aquela brincadeira na noite passada foi muito
menos do que ele merecia depois de toda a merda que ele fez
nas últimas semanas. “Tenho uma redação para escrever e
quero trocar de roupa. Também preciso correr.”
Corvus refletiu sobre meu pedido, mastigando sua comida
dolorosamente devagar enquanto pensava.
Eu pulei quando a voz eletrônica truncada de um homem
gritou da entrada da frente.
“Porta!” Ele gritou. “Porta!”
“Esse é o maldito som da campainha?” Perguntei, meu
coração batendo forte.
Ele estava realmente sorrindo agora, e tentando esconder
isso.
“Rook escolheu,” ele disse como explicação antes de sair da
cozinha para atender, enxugando as mãos no pano de prato
pendurado no ombro.
Aproveitei a oportunidade enquanto ele saía da sala para
descer e pegar mais dois pedaços de bacon da bandeja no
balcão, enfiando-os rapidamente na boca antes de voltar a
sentar e mastigar furiosamente, revirando os olhos com o gosto
bom.
Ele deve ter feito algo diferente para torná-lo tão bom.
Ouvi uma conversa abafada na porta e me deixei relaxar.
Eu meio que esperava que fosse um intruso. Talvez meu
pretenso perseguidor. Ou um Saint que veio me dar outro
julgamento.
A porta se fechou e Corvus voltou para a cozinha assim
que terminei de engolir o pedaço de bacon na boca.
“Quem era?”
Foi quando notei a longa e fina caixa preta em sua mão.
Eu levantei uma sobrancelha para isso.
“É, uh... é para você, na verdade.”
Que porra ele acabou de dizer?
Corvus se reposicionou, encostando-se no balcão perto de
sua refeição pela metade e deslizou a caixa ao longo da bancada
de mármore, fazendo-me ter que impedir que caísse da borda.
A caixa bateu na palma da minha mão e algo dentro dela
se mexeu. Algo mais pesado do que qualquer coisa desse
tamanho deveria ser.
“Estou bem,” respondi tensa. “Seja o que for, eu não
quero.”
“Você vai querer isto. Além do mais, não é um presente,
então não fique tão desconfortável.”
Era tão óbvio?
“É o pagamento do que eu devia.”
Segurei a caixa entre as pontas dos dedos, um músculo
sob meu olho se contraindo.
“Continue,” Corvus cutucou. “Abra.”
Suspirei, mas fiz o que ele pediu, levantando a tampa da
caixa... E engasguei.
Era uma lâmina. Semelhante a minha, preta com bordas
de metal brilhantes afiadas com perfeição. Embora seja aí que
as semelhanças terminam. Um corvo prateado em vôo adornava
o cabo, gravado no metal revestido de preto de forma que
brilhava prateado na luz. Uma pequena pedra preciosa azul
colocada no lugar onde deveria estar o olho.
Não precisei perguntar para saber que era uma safira.
“Eu sei que não é a mesma coisa, mas...”
Tirei a lâmina da caixa, passando cuidadosamente um
dedo pela borda. Virando-a na palma da mão para sentir a
distribuição uniforme do peso. Encontrando as asas do corvo
enroladas ao redor do cabo para o outro lado.
Era um belo artesanato.
Mas o que isso significava?
Uma emoção sem nome se agitou em minhas entranhas
como um punho cerrado. Ele estava tentando me dizer que eu
também era uma Crow?
Ou isso significava afirmar que eu pertencia a eles. Uma
arma a ser afiada à imagem deles, a ser empunhada quando
Diesel me possuir.
Eu cerrei os dentes com as possibilidades conflitantes.
Tentando fingir que odiava ambas as opções, mas a dor
esperançosa em meu estômago me disse a verdade que minha
mente racional tentou negar.
Coloquei a lâmina de volta na caixa e olhei para cima, não
encontrando nenhuma evidência nos olhos azuis de Corvus.
“Você gostou?”
Engoli em seco antes de responder, para garantir que
minha voz saísse sem qualquer indicação do que estava
acontecendo aqui dentro. “Vai servir.”
Ele assentiu.
Eu limpei minha garganta. “Então, sobre quem deveria
estar comigo hoje...”
“Vá quando quiser. Eu vou te buscar mais tarde.”
Inclinei minha cabeça para ele.
“Tenho algumas coisas para resolver aqui e Dies precisa
dos outros esta noite. Se você não se importar.” Ele cerrou os
dentes e eu me perguntei o quão difícil era me perguntar algo
em vez de exigir. “Você poderia ficar aqui mais uma noite? Há
um loft acima da garagem que você pode usar. Está mobiliado
e tem janelas e portas que prometo que não estarão trancadas
quando você acordar. Ou você pode dormir em qualquer cama
da casa que desejar. Ninguém vai usá-las esta noite.”
Isso foi... Estranho.
Abri a boca para responder, mas fechei novamente. Eu
queria apenas discutir por discutir. Gostava da maneira como
seu rosto azedava quando eu dizia não, mas isso era diferente.
Ele estava me dando algo. Confiança. Minha liberdade,
mesmo que fosse por apenas algumas horas. Em troca, ele
pediu um pequeno favor. Com toda a honestidade, eu dormiria
mal, não importava onde eu colocasse minha cabeça esta noite
de qualquer maneira.
“Tudo bem,” eu respondi. “Só essa noite.”
O fantasma de um sorriso passou por seus lábios antes
que desaparecesse, e ele assentiu. “Bom. Vou mandar uma
mensagem quando estiver a caminho.”
“Tudo bem,” falei, pulando do banquinho e lembrando o
que eu estava vestindo. Eu não estaria correndo para lugar
nenhum na porra de um lençol, obviamente.
“Você não saberia onde estão minhas roupas, não é?”
Ele sacudiu a cabeça em direção à entrada. “Elas estão
lavadas e na secadora. A lavanderia fica na porta no final do
corredor, mas acho que você já sabe disso desde que removeu
a maçaneta de lá.”
Mordi a língua, saindo correndo da cozinha para pegar
minhas roupas limpas antes que dissesse algo que pudesse
arruinar minhas chances de algumas horas de liberdade.
Minha coluna ficou reta como uma vareta quando entrei
na lavanderia, encontrando meu telefone em cima da secadora.
Foda-se.
O que estava errado comigo?
Uma boa pegadinha e um bom pau e eu perdi toda a porra
do meu bom senso.
Esta não era eu.
Eu disse isso a mim mesma uma vez e continuaria dizendo;
esses Crows literalmente seriam a minha morte um dia. Pelo
menos enquanto vivessem.
Peguei meu telefone e verifiquei se havia alguma
mensagem que eles pudessem ter lido de alguma forma. Eu
tinha três mensagens perdidas, mas mudei minhas
configurações para que a tela de bloqueio não mostrasse mais
visualizações de mensagens, apenas o remetente.
Uma mensagem era de minha tia Humphrey, outra era de
Kit. A última dizia apenas desconhecido.
Eu enrijeci, recostando-me contra a parede enquanto
desbloqueava o celular e rolava para lê-las.
Rolei para a que eu mais temia primeiro, lendo apenas a
primeira linha do texto antes de deslizar para excluir a
mensagem sem ler o resto.
Desconhecido: Eu te avisei…
Quem quer que fosse, poderia me avisar o quanto quisesse.
Assim que ele quisesse parar de falar merda e fazer alguma
coisa, eu estaria pronta. Venha para mim, filho da puta. Atreva-
se.
Em seguida na lista de mensagens a que eu menos queria
ler: Querida e velha tia Humphrey.
Tia Humphrey: Se você não retornar minhas ligações,
não terei escolha a não ser revogar minha oferta. Como você
espera terminar o ano com as notas necessárias para entrar
em uma faculdade meio decente está além de mim. Você
tem que realmente assistir às aulas para...
Eu parei de ler. Isso foi o suficiente.
Kit: Dom está preocupada com você. Se você não vai
me ligar de volta, você deveria pelo menos ligar para ela.
Sinto sua falta.
Ignorei a mensagem de Kit e folheei minha conversa
anterior com Dom, digitando um rápido pedido de desculpas.
Ava Jade: Desculpe, garota. Vou tentar ligar esta
semana. A merda aqui tem sido uma loucura. Estou bem,
então não se preocupe, ok?
Eu era uma péssima amiga.
Vesti-me rapidamente, correndo para meus cinco
segundos de liberdade. Espiei a cozinha para dizer a Corvus que
estava indo embora, mas ele não estava mais lá quando passei.
“Tchau, idiota,” murmurei baixinho para mim mesma
enquanto colocava meus sapatos e ia colocar minha mais nova
lâmina na bainha em meu tornozelo, mas pensei melhor,
decidindo mantê-la comigo.
Minha pele formigou quando saí para o calor crescente do
início da tarde e examinei as árvores ao redor do Ninho
enquanto me espreguiçava para correr. Procurando por
qualquer coisa fora do lugar. Por olhos que não deveriam estar
lá.
Havia alguém me observando, isso era certo, mas ele
estava me observando agora? Ele estava lá fora neste exato
minuto, esperando por uma oportunidade para atacar?
Ele viu o que Rook e eu fizemos ontem à noite? Olhei para
trás, vendo pela janela a cozinha além dela. Uma visão clara e
desobstruída da ilha da cozinha.
Eu estremeci.
“Foda-se,” eu sibilei. Se quem quer que fosse queria me
atacar, então que viesse. Eu tinha uma nova lâmina, e prometi
cortar seus globos oculares. Eu não poderia fazer isso se
continuasse me escondendo lá dentro, poderia?
Sem música para a minha corrida hoje. Eu precisava de
todos os meus sentidos aguçados e prontos. Apenas no caso.
Uma pequena pontada me surpreendeu quando o
pensamento inconsciente de que eu desejava que Grey estivesse
correndo comigo passou pela minha cabeça.
Eu me afastei e comecei a descer lentamente o caminho de
cascalho, ganhando velocidade conforme a gravidade da colina
me puxava para baixo. Logo, o vento chicoteou meu cabelo,
levantando os fios molhados de suor e esfriando a umidade que
começava a cobrir meu peito.
Mas ainda assim a adrenalina da corrida não veio e meu
humor azedou, odiando uma pessoa sem nome e sem rosto.
Odiando o Sr. Desconhecido por arruinar a única coisa que eu
tinha que era minha.
À distância, os sons da floresta, meus sons favoritos,
tornaram-se coisas sinistras.
O estalo de um galho poderia facilmente ser um coelho ou
o Sr. Desconhecido.
O farfalhar das folhas: Um pássaro ou um homem?
Adotei a postura de autopreservação que sempre assumia
quando havia uma ameaça. Quando minha adrenalina batia no
limiar de minhas veias, esperando para ser liberada.
Como se o mundo tivesse passado de baixa para alta
definição em um piscar de olhos. Minha visão mais nítida. Meus
ouvidos captando até os menores sons. Eu não conseguia
aproveitar o bater de meus pés na terra ou a sensação de voar
enquanto corria por quilômetros de florestas e estradas. Não
com essa sensação de coceira arranhando a parte de trás do
meu crânio.
“Porra,” eu gemi para mim mesma, diminuindo para uma
caminhada enquanto saía da estrada e entrava nas árvores em
direção ao início da trilha na parte de trás de Briar Hall. Se eu
continuasse na estrada, teria que dar a volta inteira. Dessa
forma, eu poderia cortar e economizar quinze minutos. Eu
adoraria ter aqueles quinze minutos antes, mas agora? Qual era
o ponto?
Pulei um arbusto baixo de amoras vermelhas e entrei na
trilha, vendo a abertura iluminada nas árvores à frente que me
colocaria nos jardins dos fundos da academia.
Eu o vi antes mesmo que ele se movesse. Uma forma
escura à espreita na sombra atrás de uma velha sequóia. Meus
pés cravaram no chão enquanto ele contornava a árvore, e eu
preparei minha nova lâmina para lançar, me amaldiçoando por
não me armar com uma de minhas próprias lâminas. Meu
arremesso pode não ser tão perfeito com esta ainda. Não
tínhamos nos conhecido direito. Mas eu a segurei do mesmo
jeito, a sujeira sob os meus pés amontoando-se sob as laterais
do meu tênis enquanto eu deslizava até parar.
“Uau,” uma voz familiar falou, levantando as mãos para
retirar cuidadosamente o capuz de seu blusão escuro,
revelando seu rosto.
“Oficial Vick?”
“Abaixe a faca, garota.”
Hesitantemente, abaixei-a, mas não a guardei nem me
aproximei.
“Você não deveria estar aqui.”
Ele bufou zombeteiramente. “Você sabe o quão difícil tem
sido chegar até você? Nos últimos dias você esteve com pelo
menos um deles a cada maldita hora do dia e da noite.”
Meu rosto apertou. “O que você quer?”
“O que eu quero? Achei que queríamos a mesma coisa...
Você não ligou.”
“Porque eu não tinha o suficiente para te dar ainda.”
O policial Vick estreitou os olhos para mim, enfiando os
punhos nos bolsos do blusão. “É verdade o que eu ouvi então,”
ele disse, um olhar de desgosto torcendo suas feições. “Você
está fazendo os testes. Eles transformaram você, não é?”
Eu fiz uma careta, um sorriso de escárnio curvando meu
lábio superior. “Nunca.”
Ele bufou e meu rosto ficou quente, as mãos apertadas.
“Eu não pedi por isso,” eu retruquei. “Eram os julgamentos
ou a morte.”
Ele inclinou a cabeça para mim, interessado agora. “Você
viu alguma coisa, não viu? Algo que você não deveria. Diga-me.
Diga-me e tudo isso pode acabar.”
Minha respiração ficou presa na minha garganta. Os
vídeos foram apagados do meu disco rígido, mas ainda havia
um corpo. O corpo de um Ace morto no chão atrás daquele velho
armazém com uma das balas de Diesel no crânio. O corpo seria
suficiente?
“Você precisaria de um testemunho?”
O olhar duro do policial Vick vacilou, ele não esperava essa
pergunta. “Depende de que tipo de evidência você tem.”
“E se eu não tivesse nada além da minha palavra e um
corpo enterrado no chão…”
Ele cerrou os dentes, considerando a melhor maneira de
responder, e eu já sabia qual seria sua resposta. Se o tribunal
pudesse fazer alguma coisa com as evidências, meu
testemunho seria fundamental. E um julgamento podia levar
semanas. Meses, até. E nenhuma quantidade de proteção
policial seria capaz de impedir Diesel St. Crow de cortar minha
garganta antes que chegasse a uma condenação.
Meu estômago azedou. Os caras estariam envolvidos nisso
ou apenas Diesel? Eu poderia mantê-los fora disso?
Eu queria?
“Como eu disse,” eu continuei antes que o policial Vick
pudesse dizer uma palavra, querendo interromper essa
conversa antes que eu dissesse algo que eu não pudesse retirar.
“Ainda não tenho o suficiente.”
“Quando?”
“Eu não sei, porra.”
Ele assentiu. “Os julgamentos podem ser bem…”
“Eu sei.”
“Se você nos ajudar, existe a possibilidade de podermos
oferecer imunidade para quaisquer crimes cometidos no
processo de obtenção das informações de que precisamos.”
“Caramba, valeu.”
Vick passou a mão pelo cabelo curto, olhando entre mim e
o final da trilha uns bons seis metros atrás dele. Meu peito gelou
com a ideia de alguém nos ver aqui, assim. Oficial Vick e eu em
campo aberto.
“Nós realmente precisamos...”
Levantei a mão para impedi-lo de defender seu caso mais
do que já havia feito. “Estou trabalhando nisso,” eu resmunguei.
“Mas você não pode se aproximar de mim novamente. Nunca.
Se alguém visse...”
Eu estremeci.
“Mas...”
“Não posso te dar nada se estiver morta.”
Fixei-o com um olhar duro antes de começar a correr
lentamente. “Mova-se,” eu rosnei e ele deu um passo para o lado
enquanto eu passava por ele.
“Precisamos de você, Ava Jade,” ele chamou quando eu saí
do caminho. “Não me decepcione.”
CORVUS

Havia algumas coisas em que eu era bom que não


envolviam violência. Cozinhar sendo uma delas.
Coloquei o molho de mel e vinho branco Dijon sobre o
frango assado e as batatas, colocando pequenos ramos de
tomilho. Enxuguei minhas mãos no pano de prato, suspirando
enquanto hesitava em levar o prato de Ava Jade para ela.
A televisão na sala de estar permaneceu silenciosa
enquanto ela passava pelas opções de um dos serviços de
streaming que Grey havia conectado à TV. Ela estava tentando
decidir por quase vinte minutos já. Nesse ritmo, eu não tinha
certeza se ela encontraria alguma coisa.
Coloquei o pano de prato no balcão e peguei os pratos,
levando-os para a sala. Quebrando minhas próprias regras.
Nunca comíamos na sala. Os jantares, pelo menos quando eu
os preparava, eram comidos na ilha da cozinha.
Não era a única regra que eu teria que quebrar se quisesse
que Ava Jade me considerasse da mesma forma que ela fazia
com meus irmãos. Se eu quisesse que ela parasse de me odiar.
Eu queria que ela parasse de me odiar?
Balancei a cabeça, o lábio superior tremendo com a idiotice
da minha pergunta interna. É claro que eu não queria que ela
me odiasse. Era apenas mais fácil assim... No começo.
“Ei,” falei rispidamente enquanto caminhava para a sala de
estar, os pratos queimando em minhas mãos. “Você está com
fome?”
Ela não se virou de onde estava sentada de pernas
cruzadas no longo sofá à direita da sala, seu perfil lateral
voltado para a televisão. Mostrando a forma real de seu rosto.
“Eu já jantei,” ela murmurou, mudando de posição na almofada
quando finalmente decidiu algo para assistir, um filme da
Marvel.
Meu aperto nos pratos aumentou. “Eu não te perguntei
isso. Perguntei se você estava com fome.”
Eu não pude evitar o tom ácido em minha voz e limpei
minha garganta para me livrar dele, me segurando para me
controlar, me livrando dos pensamentos raivosos que
competiam pelo domínio em minha mente.
Ela colocou o controle remoto sobre a mesa e olhou para
mim, avistando os pratos em minhas mãos. Empilhados com
frango e batatas perfeitamente assados e cenouras com
manteiga.
“Touché,” ela respondeu, o menor sorriso em seus lábios.
“Estou sempre com fome.”
“Assim como Grey.”
“Por que?” Ela perguntou enquanto eu reduzia a distância
entre nós e lhe entregava um prato.
“Você vai ter que perguntar a ele. Não é minha história para
contar.”
“Qual é a sua história então?” Ela empurrou quando fui me
sentar na poltrona do outro lado da mesa de centro. Meus
músculos das costas ficaram tensos e a cabeça esquentando
enquanto as memórias horríveis inundavam meu crânio.
Um pequeno resmungo escapou da minha garganta
enquanto eu lutava contra elas e minha pardal franziu a testa,
deixando cair a cabeça em seu prato. “Desculpe, não é da minha
conta.”
“Não, não é.”
Porra. Lá fui eu de novo, mas não pude evitar.
Com o apetite totalmente arruinado, coloquei meu prato na
mesinha de centro e me recostei na poltrona para assistir ao
filme, tentando limpar o veneno que estava se infiltrando em
mim.
O pop pop de tiros. A sensação de seu sangue, quente a
princípio, e depois, pegajoso, frio e fedorento. O sangue de tudo.
A dormência. A escuridão. Os sussurros…
Nem mesmo Rook e Grey sabiam o que me levou a ser
trazido para a tutela do estado, deixado sem um único parente
de sangue para cuidar de mim. O único que o fez foi Diesel. Eu
tinha um nome diferente, então. Diesel queria que
mantivéssemos nossos sobrenomes quando ele nos adotou, até
sermos adultos, com idade suficiente para tomar a decisão por
nós mesmos. O nome St. Crow era perigoso para chamar de
seu. Ele queria que tivéssemos certeza de que queríamos usá-
lo.
Todos planejamos adotar o sobrenome após a formatura,
tornando-nos os Crows que sempre fomos na prática no papel.
James não era meu sobrenome, no entanto. Era meu nome
do meio. Eu nunca admitiria meu sobrenome verdadeiro.
Nunca. Eu mal podia esperar para mudá-lo. Eu implorei a
Diesel quando era mais jovem, mas ele me disse que era
importante lembrar de onde eu vim. Que eu não precisava usar
o nome, mas que tinha que carregá-lo até a maioridade.
Atingi a maioridade no ano passado e Grey sugeriu que
esperássemos até a formatura para oficializá-lo. O que era mais
um ano sendo forçado a carregá-lo quando o fiz por mais de
dez?
Mudei para assistir meu pardal quando o filme fez pouco
para ajudar a me distrair. Já na metade de sua refeição, ela
fechou os olhos brevemente a cada mordida, incapaz de
esconder o quanto gostou.
Seus penetrantes olhos azul-acinzentados me pegaram
olhando e ela puxou o garfo entre os lábios com um pequeno
rubor. “Onde você aprendeu a cozinhar?”
“Diesel me ensinou algumas coisas,” respondi, e ela baixou
as sobrancelhas como se não esperasse aquela resposta.
“O quê? Está surpresa por um líder de gangue ser um bom
cozinheiro?”
“Bem, mais ou menos, sim.”
Eu dei uma risada curta. “Bem, ele só me fez começar. Me
mostrou algumas das receitas que sua esposa fazia antes de
falecer. O resto eu aprendi sozinho. Eu gosto de comida boa.”
“O que aconteceu com ela?”
Eu resisti ao impulso de atacá-la. A dor secundária da
perda que eu tive que sentir do meu pai substituto desde o dia
em que ele me adotou inchando no meu peito.
“Ela morreu,” falei simplesmente, percebendo como meus
dedos estavam se curvando no braço da poltrona. Eu os
afrouxei e tossi para limpar a garganta, levantando meu prato
novamente para tentar me forçar a comer. Se eu não fosse
dormir, sabia que precisava pelo menos comer bem.
“Eu deduzi isso,” ela murmurou, mas não pressionou a
questão.
De qualquer forma, eu só sabia a essência de tudo, ouvi
dos outros Saints, mas nunca do próprio Diesel. Ele foi ferido
em um tiroteio, hospitalizado e ficou à beira da morte.
Sua esposa, a mulher mais forte de quem já ouvi falar,
liderou o ataque à gangue infratora. Ela planejou tudo
habilmente. Nem um único Saint perdeu a vida naquela noite,
mas havia uma razão para você nunca mais ter ouvido o nome
Viper em qualquer lugar da Califórnia depois disso. Ela os
limpou da face da terra. Em vingança por seu amante.
Todos os Vipers mortos, exceto um.
O filho do líder, que escondeu-se como um covarde da luta.
Foi a bala dele que acabou com ela assim que a luta acabou.
Os Saints o prenderam até que Diesel estivesse pronto para
lidar com ele. Estremeci ao pensar no que foi feito com ele, mas
sei que se fosse comigo, ele teria sofrido por dias antes de eu
permitir que ele morresse. Semanas mesmo.
Observei Ava Jade terminar sua refeição e colocar o prato
na mesa, inclinando-me para trás para colocar a mão em sua
barriga. O que eu faria se alguém a tirasse de mim?
Ela era minha.
Nossa.
Grey precisava se apressar em descriptografar aquelas
mensagens de seu telefone. Diesel precisou dele novamente esta
noite, para ajudar com algumas merdas de impostos que
estavam atrasados. Mas Grey prometeu que trabalharia nisso
assim que terminasse. Rook foi junto com ele, feliz por beber no
Sanctum para me dar algum tempo para tentar consertar o que
eu havia quebrado com Ava Jade.
Ela me pegou olhando para ela novamente e estremeceu,
mudando de posição desajeitadamente. “Você também é um
bom padeiro?” Ela perguntou, mudando de assunto.
“Porquê?”
Ela deu de ombros. “Eu gosto de bolo.”
Eu bufei.
“Eu não sou ruim,” falei a ela. “O aniversário de Rook é em
breve. Ele não gosta de comemorar, mas eu costumo fazer um
bolo mesmo assim. Nada de velas nem nada disso. Apenas um
grande bolo de chocolate.”
“Chocolate é o meu favorito também.”
“Claro que é.”
Ela inclinou a cabeça para o lado, me considerando antes
de voltar a assistir ao filme.
Eu meio que esperava que ela tivesse fugido quando fui
buscá-la algumas horas atrás, mas lá estava ela na porta,
pronta para ir quando bati. Apenas um pouco mal-humorada.
Afinal, Rook estava certo. Ela não iria a lugar nenhum.
Ela sabia no que se meteu e assumiria as consequências.
Terminei de enviar um e-mail para Max do meu telefone,
resolvendo os detalhes de última hora antes do próximo show.
Mais tarde esta noite, eu teria que terminar a nova música em
que estava trabalhando se planejasse revelá-la em Lodi. E eu
precisava que os outros me ajudassem assim que terminasse.
Rook era muito bom em sincronizar tudo para mim e Grey era
o único em quem eu confiava para fazer a letra realmente bater.
Embora mostrar a eles a música significasse admitir para
eles o que eu só consegui admitir para mim mesmo...
“Então,” eu perguntei depois que Ava Jade clicou para
começar outro filme assim que os créditos rolaram. “Você
decidiu onde quer dormir?”
Ela deu de ombros. “Estou bem aqui. Eu provavelmente
não vou dormir de qualquer maneira.”
Eu bufei. Você e eu.
Meu telefone vibrou na minha mão e olhei para baixo para
ver uma resposta de Max e uma mensagem de Grey.
Grey: Como vai tudo? Vocês já se mataram?
Discretamente, tirei uma foto dela do outro lado da sala,
iluminada apenas pela luz azulada da TV na sala escura. Eu
enviei.
Corvus: Ainda viva.
Grey: Por que você está sentado tão longe? Vá e sente-
se com ela.
Meus dentes cerraram.
Olhei para as duas almofadas vazias ao lado de Ava Jade e
pressionei meus lábios em uma linha apertada. Minha atenção
se prendeu na tomada na parede em uma extremidade do sofá
e no cabo do carregador saindo dela.
Meu telefone ainda tinha vinte por cento de bateria, mas
poderia usar uma carga.
Limpando a garganta, levantei-me, atravessando a sala
para cair casualmente na almofada na extremidade do sofá,
alcançando o fio para conectar meu telefone.
Pardal ergueu uma sobrancelha para mim quando coloquei
o telefone no apoio de braço e voltei para a TV.
“Precisa de uma carga,” expliquei, recostando-me para
assistir ao próximo filme da Marvel na fila.
Corvus: Alguma coisa do telefone dela?
Grey: Eu não tive chance de ver ainda. Diesel precisa
das coisas resolvidas aqui antes do início do dia útil de
amanhã. Trabalharei nisso assim que terminar.
Corvus: Isso precisa ter prioridade. Estou a cerca de
três segundos de amarrá-la e forçá-la a me contar ela
mesma.
Grey: Porque isso vai te dar todos os pontos do
mundo...
Corvus: Foda-se. Você sabe que algo não está certo
sobre essa merda. Becca disse que não enviou as mensagens
a Ava Jade. Fizemos um acordo. Eu permaneço legal, desde
que você nos envie essas mensagens para que possamos ver
o que diabos está acontecendo por nós mesmos.
Grey: Eu sei. Não se preocupe cara, eu vou fazer isso.
Desliguei o telefone com um suspiro e peguei Ava Jade
olhando furtivamente para mim com o canto do olho, curiosa
sobre a conversa de texto rápida que acabei de ter, mas não
curiosa o suficiente para perguntar. Não o suficiente para
querer parecer que se importava.
Eu não tinha certeza de quanto tempo ficamos sentados
assim, assistindo silenciosamente a filmes da Marvel até que
meus olhos queimassem como o fogo de mil sóis e os músculos
ao redor do meu olho direito começassem a se contrair. Até que
minha pardal desabou no sofá, enrolando-se em uma bola
apertada nas duas almofadas entre mim e a outra ponta do
sofá, fazendo o possível para não me tocar.
Não demorou muito até que ela adormecesse, embora seu
rosto nunca se suavizasse completamente. Um aperto
permaneceu em torno de seus olhos, embora sua respiração se
igualasse e sua boca se suavizasse. Livre de qualquer uma das
bordas afiadas que eu estava acostumado a ver.
Instintivamente, estendi a mão para afastar levemente
uma mecha de cabelo de sua bochecha e ela se mexeu, fazendo
um pequeno som de descontentamento enquanto tentava
esticar as pernas e foi impedida pelo braço do sofá.
Sem pensar conscientemente sobre isso, eu a guiei para o
meu colo, levantando suavemente sua cabeça enquanto ela
fazia todo o trabalho de subir com os pés apoiados e se
esticando contra o apoio de braço.
Seus olhos se abriram por um segundo e eu prendi a
respiração, tirando minhas mãos de seus ombros, mas ela não
acordou totalmente, apenas o suficiente para se aconchegar,
suspirando enquanto voltava a dormir.
Sua mão roçou meu pau, e se ela não parasse de acariciá-
lo, ela teria um despertar muito rude quando ele endurecesse
completamente. Eu cerrei os dentes, multiplicando equações
matemáticas na minha cabeça até que ela se acalmou e eu pude
respirar novamente.
Com cuidado extra desta vez, escovei seu cabelo para trás,
estudando a curva de seu rosto. Ela estremeceu ao meu toque.
Eu puxei o cobertor do topo do encosto e coloquei sobre ela,
colocando um braço sobre seu ombro para segurá-la lá.
A tensão ao redor de seus olhos afrouxou quando ela caiu
em um estado de sono mais profundo, sua respiração ficando
mais lenta. Seus lábios perfeitos se separando ligeiramente. Ela
realmente era a garota mais bonita que eu já tinha visto. Eu
posso não ter pensado assim no começo, mas agora... Eu não
poderia imaginar desejar alguém mais do que a ela.
Meu peito apertou e cerrei os dentes contra a dor. Eu já
tinha muitas pessoas para manter vivas, e eu me despedaçaria
se algum deles fosse tirado de mim. Eu não poderia perder mais
ninguém com quem me importava. Eu não podia me importar
com mais ninguém.
Relaxei quando a compreensão se estabeleceu e uma
espécie de desesperança tomou conta de mim.
Não importava.
Era tarde demais.
Ela já era minha pardal.
E eu já era o corvo3 dela.

3 Crow.
AVA JADE

Eu me mexi na cama, meu pescoço rígido e as pernas


irremediavelmente emaranhadas em cobertores.
Não. Cama não.
O couro rangeu audivelmente embaixo de mim. O jeans sob
minha bochecha mudou quando eu enrijeci.
Fechei os olhos com força, calor rastejando em minhas
bochechas enquanto eu cuidadosamente levantei minha
cabeça, virando apenas o suficiente para ver se minhas
suspeitas estavam corretas.
Piscando para tirar o sono dos meus olhos, eu olhei para
ele, pronta para um comentário sarcástico sair dos meus lábios
sobre como ele era o pior travesseiro do mundo.
Mas... Eu mal o reconheci.
Sentei-me ereta, afastando o cabelo escuro do rosto.
Corvus estava dormindo. Seu corpo estava caído no sofá e
sua cabeça estava inclinada para trás contra o encosto de
cabeça, ligeiramente virada para o lado. Seu cabelo loiro sujo
formava uma auréola despenteada em sua cabeça, inclinada
para a frente para sombrear um olho. Sem seu desdém
habitual, ele parecia tão diferente. Ele ainda tinha maçãs do
rosto duras e uma mandíbula mais afiada do que o fio de uma
navalha, mas agora não parecia sinistro ou ameaçador.
Ele parecia um santo.
Ou talvez um anjo. Só faltavam-lhe as asas.
Se recomponha, Ava Jade, eu me repreendi internamente,
sacudindo um pouco a cabeça. Não importava como o idiota
parecia quando ele estava dormindo. Tudo o que importava era
como ele agia quando estava acordado.
Uma lâmina nova e algumas refeições não eram suficientes
para consertar nada. Embora, eu tinha que admitir, se ele
continuasse me alimentando, eu poderia ter que perdoá-lo
eventualmente. Eu já havia passado por muito pior do que
Corvus James para conseguir uma refeição meio decente e a
dele era divina.
Cuidado, AJ, meu eu mais esperto alertou. Você está se
aproximando demais deles.
E eu estava. Minhas paredes estavam desmoronando a
cada dia que passava, isso desde o início. Eu não podia permitir
que isso acontecesse. Eu precisava mantê-los à distância.
Deixando-os chegar muito perto assim, eu estava com medo de
apenas querer mais. Que eu não seria capaz de empurrá-los
para longe novamente.
Isso só levaria à dor no final. Quando o empurrão chegasse,
eu sabia onde estariam suas verdadeiras lealdades. E eu não
podia fazer nada quanto a isso.
Cuidadosamente, sem mover o sofá, eu me desvencilhei do
cobertor azul marinho preso em minhas pernas e levantei do
sofá, me alongando até minha coluna e pescoço estalarem. Eu
estremeci com a dor no meu pescoço, me perguntando como
diabos eu consegui rastejar para seu fodido colo durante a
noite. Eu nem tinha a intenção de adormecer. Não pensei que
conseguiria, mesmo que tentasse.
Mas lá estávamos nós dois, dormindo. Ele, ao lado de
alguém com lâminas suficientes para garantir o máximo de
sangramento e eu, no colo de alguém que jurei odiar por toda a
eternidade.
A porra do par perfeito.
Sim, eles seriam a minha morte, com certeza.
Depois de mais um alongamento, saí da sala na ponta dos
pés, decidida a aproveitar a oportunidade de estar totalmente
sem supervisão no Ninho para dar outra boa bisbilhotada. Se
eu tivesse sido inteligente, teria feito isso dias atrás, quando saí
do armário sem janelas, mas eu só tinha vingança em mente
naquela manhã e a névoa do uísque da noite anterior.
Não era uma ótima combinação para conseguir uma boa
produtividade.
A escada rangeu enquanto eu subia e parei, esperando
para ver se o barulho acordava Corvus, mas depois de mais
alguns segundos sem o som dele acordando, continuei. Prendi-
me nas partes externas da escada em vez do meio, espalhando
meu peso para evitar mais ruídos indesejados.
Eu não tinha certeza do que estava procurando, mas
saberia quando encontrasse. Tinha que haver algo aqui que eu
pudesse usar como garantia. Ou como prova dos crimes que os
colocariam atrás das grades. Meu estômago se rebelou contra a
ideia e pressionei a palma da mão contra ele, estremecendo.
Poderia ser sensato usar o banheiro antes de Corvus
acordar também, já que não havia maçaneta e eu tinha certeza
que ele ficaria na porta aberta enquanto eu fazia xixi, apenas
por despeito.
A primeira porta pertencia ao quarto de Corvus e parecia
um bom lugar para começar. Perfeito, na verdade. Sua oferta
para eu dormir em qualquer quarto que eu quisesse me fez
pensar que era possível que eu não encontrasse absolutamente
nada. Se eu fosse encontrar alguma coisa, estava disposta a
apostar que estaria aqui, no entanto. Eu nunca teria escolhido
seu quarto para dormir, e ele sabia disso.
Abri a porta e entrei, encontrando-o exatamente como da
última vez que o vi.
Uma cama, arrumada com lençóis e cobertores retos o
suficiente para fazer ricochetear uma moeda, encostada na
parede oposta entre duas janelas retangulares cobertas por
persianas modernas.
Contra a parede à minha direita havia uma cômoda alta de
mogno, com o tampo limpo de poeira. A única coisa que
estragava sua superfície espelhada era um abajur fino que na
verdade era apenas uma fina coluna de aço com uma barra de
luz correndo de um lado.
Além das mesinhas de cabeceira de cada lado de sua cama,
havia apenas uma escrivaninha. Baixa e comprida, ela
dominava o espaço ao longo da parede esquerda. Três
monitores empoleirados em sua superfície junto com alguns
outros equipamentos. Uma cadeira dobrável encostada na
mesa, pronta para ser aberta e usada quando necessário. Uma
coisa temporária, eu tinha que assumir. Pareciam nossas
cadeiras da sala de jantar em Lennox. Corvus James não seria
pego sentado em algo tão barato. Não quando o resto de seu
quarto gritava luxo moderno.
Resolvi começar com o computador, caminhando para
tocar no teclado, dando-lhe vida. Tateei sob os monitores,
procurando os botões de volume e os encontrando antes que
pudesse fazer qualquer som.
A tela de senha apareceu e eu xinguei baixinho, mas minha
atenção se prendeu em vários cabos correndo ao longo do chão
abaixo da mesa. Inclinei minha cabeça, seguindo-os até onde
eles desapareceram na parede ao lado de uma porta de armário.
Que porra?
Eu respirei. Vem cá, neném. Dê algo bom para a mamãe.
Abri a porta com um floreio e parei ao ver o que encontrei
no quarto escuro.
Meus dedos deslizaram ao longo da parede interna,
procurando por um interruptor. Em vez disso, encontrei um
dimmer4 e empurrei-o para cima, iluminando lentamente o
armário.
Não. Não um armário.
Todo o espaço de seis por oito havia sido modificado. As
paredes eram cobertas de isolamento acústico escuro e
irregular em toda a volta. Os cabos se projetavam da parede,
serpenteando por um poste de metal até o microfone quadrado
apoiado em seu ápice.
Uma risada saiu de meus lábios antes que eu pudesse
segurá-la.
Eu não tinha nenhuma porra de ideia do que eu estava
esperando, mas com certeza não era isso.
Corvus se considerava uma estrela do rock?
Ou... Que merda... Ele fazia rap?
Pretendendo ser o próximo Slim Shady5. Corvus James,
por favor, apresente-se.

4 Controlador digital de iluminação.


5 Referência ao alter ego do Eminem.
Eu ri para mim mesma, inconscientemente entrando no
armário para tocar o microfone, assim como Corvus devia fazer.
Mordi meu lábio inferior, dedo no botão para ligá-lo, um
abismo escuro se abrindo em meu estômago. Meu coração
martelava em minhas costelas, e eu engoli a onda de emoção
que ameaçou me arrastar para baixo.
Eu não conseguia me lembrar da última vez que cantei.
Não. Isso não era verdade. eu conseguia me lembrar.
Houve apenas uma pessoa para quem cantei. O meu pai. A
última vez que cantei foi quatro dias antes de ele ser
assassinado. Ele tocou seu violão e eu cantei uma de suas
canções favoritas. Quando terminei, ele sorriu para mim e
colocou o violão de lado.
Naquela noite, ele fez o que sempre fazia. Ele deu um
aperto no meu queixo antes de se preparar para sair. Calçou as
botas de trabalho e vestiu o suéter xadrez azul-marinho. Ele
embolsou o dinheiro para pagar o aluguel e prometeu voltar
logo. Prometeu ainda que desta vez ganharia dinheiro suficiente
para nos tirar do 'buraco'.
Eu não lutei com ele sobre isso. Eu sabia por experiência
própria que não adiantava e ele iria de qualquer jeito. Não
importava o que eu dissesse ou fizesse.
Ele disse algo diferente naquela noite, no entanto. Ele me
disse que se alguma coisa acontecesse com ele, eu deveria ir
embora e nunca mais voltar.
Eu não perguntei a ele por quê. Eu sabia por quê. Mesmo
que ele mesmo nunca tenha me contado.
Você não ensina sua filha a atirar facas e executar tarefas
porque anda com o tipo certo de pessoa. Pessoas boas. Você
ensina essas coisas à sua filha e diz a ela para fugir porque você
anda com o tipo errado de pessoa.
Aprendi a lição com minha mãe. Foi a dívida dela que
quase me matou naquela noite nos trilhos. Isso foi o que aquela
imundície disse.
Sua mãe viciada não podia pagar, então você vai pagar por
ela.
Nunca tive coragem de perguntar a ela se havia me
oferecido ou se o lixo de homem simplesmente decidiu pegar o
que lhe era devido em carne em vez de notas de dólar.
Ela teve seu colapso apenas uma semana depois e então
se foi. Se eu a visse novamente, prometi a mim mesma que
perguntaria.
Mas eu esperava nunca mais vê-la.
O microfone parecia frio contra meus dedos e, quando o
liguei, o zumbido eletrônico dele encheu o ar, fazendo os
minúsculos pelos dos meus braços se arrepiarem.
Lambendo meus lábios, fechei a porta, isolando-me na
pequena caixa à prova de som e limpei minha garganta. Cantei
algumas notas; elas soaram ásperas. Como eu disse, já fazia
um tempo, mas nunca tinha cantado em um microfone antes e
gostei de como minha voz soava. Falei mais alto, testando a
qualidade do isolamento acústico, depois parei e abri a porta
silenciosamente para ouvir Corvus.
Nada.
Huh. Nada mal.
Quando fechei a porta pela segunda vez, aquela mesma
sensação avassaladora de dor se enraizou em meu estômago
novamente. Acariciei o microfone na palma da mão e fechei os
olhos, respirando fundo, lembrando-me de estar sentada com
papai no velho sofá laranja-ferrugem em nossa sala de estar.
Lembrando como ele caiu no assento ao meu lado e
arrastou o violão para o colo.
“Cante uma música para mim, minha garota,” ele disse,
dedilhando algumas cordas para me deixar saber qual ele
queria.
Revirei os olhos como se ele fosse o ser humano mais chato
que já existiu, mas isso era a coisa mais distante da verdade.
Eu adorava cantar e adorava quando ele me pedia para cantar
para ele. Foi uma das poucas coisas que fizemos juntos que não
envolveu objetos pontiagudos ou atividades criminosas.
Nos momentos em que eu cantava e ele tocava seu violão
surrado, éramos uma família normal. Um pai e sua filha,
fazendo coisas de pai e filha.
Meus olhos ardiam quando comecei a cantarolar as
primeiras notas de sua música favorita, mas não consegui. Eu
não poderia cantar isso, não sem ele lá para me ouvir. Eu nunca
mais cantaria aquela música. A dor atrás do meu esterno
diminuiu quando uma emoção mais familiar cresceu para
substituí-la.
Como ele pôde me deixar assim?
Depois de tudo que ele me ensinou, foi ele quem não
conseguiu.
Eu não me importava mais com o que prometi a ele. Deixei
Lennox como ele pediu, mas voltaria... Pelo menos com um
único propósito: Encontrar quem o matou e garantir que ele
soubesse o real significado da dor antes de morrer.
Não importava que não houvesse provas. Sempre havia
alguma coisa. Sussurros. Pessoas que sabiam. Foi um dos
Kings, tinha que ser. Eu só precisava descobrir qual.
A promessa silenciosa tornou a minha respiração mais
fácil. Tornou-se um bálsamo para minha alma quebrada.
E então eu sabia o que queria cantar.
Anthem of the Broken do Primal Ethos passou por meus
lábios, baixo a princípio, não mais do que um sussurro. Senti a
letra em meus ossos, preenchendo as rachaduras e fissuras,
consertando-me enquanto deixava a música me levar para
longe de todas as coisas sombrias e horríveis que giravam fora
de alcance em minha mente.
Havia apenas eu e essa música. Este momento e as
palavras.
Saber que havia pelo menos mais uma pessoa neste
mundo que sabia como era ter esse buraco oco dentro de si, tão
profundo que não havia esperança de que fosse preenchido, me
fez sentir como se não estivesse sozinha.
Em algum lugar lá fora, alguém entendia.
Alguém sentiu a traição. A perda. A mágoa. A confusão. A
porra da dor que eu sentia, e ele fez essa música.
Minha voz começou a falhar quando a letra final vazou da
minha voz, minha garganta queimando com o uso e o
reconhecimento que eu não tinha me permitido fazer isso desde
o dia em que tudo aconteceu.
Ele realmente se foi.
E ele não voltaria desta vez.
A represa que eu estava lutando para segurar todas essas
últimas semanas desabou em um instante, e eu não fui rápida
o suficiente para prender a respiração antes que as ondas de
minha raiva e dor caíssem sobre minha cabeça. Encheu meus
pulmões até engasgar. Até que eu estava tão cheia que vazou,
pingando pelo meu rosto, no chão enquanto eu me agachava,
segurando meu crânio entre minhas mãos rígidas.
Eu nunca mais cantaria para o papai.
Ele nunca tropeçaria em casa bêbado com a pressa de uma
vitória e declararia Ava Jade Day às cinco da manhã e exigiria
que eu me vestisse porque íamos tomar sorvete.
Nunca mais.
Pode ter sido apenas alguns minutos, mas pareceram
horas quando chorei pela primeira vez em... Não conseguia nem
lembrar quanto tempo. No momento em que as lágrimas
diminuíram e depois pararam, meus olhos queimavam e meu
nariz estava tão entupido que provavelmente não respiraria
direito por dias. Mas eu me senti de alguma forma melhor, como
se um peso tivesse saído do meu peito, e voltar a ficar de pé
parecesse um pouco mais fácil do que antes.
Desliguei o microfone e usei a bainha da camisa para secar
as lágrimas ainda em meu rosto, e saí do armário.
Corvus estava sentado a menos de um metro e meio de
distância, uma cadeira dobrável de frente para a porta do
armário. Seu corpo curvado, cotovelos sobre os joelhos, dedos
pressionados na frente de seus lábios como uma oração. Seus
olhos, sombreados pela mecha de cabelo pendendo de sua
testa, encontraram-me na escuridão. Sua mandíbula se
contraiu, apertando enquanto ele me olhava.
Meu estômago revirou.
“Quanto você ouviu?” Eu exigi, minha voz ainda meio
quebrada de tanto chorar.
Ele baixou as mãos e desviou o olhar. “O suficiente.”
Virei minha cabeça, encontrando as telas do computador
ao longo da mesa todas ligadas, uma pequena luz vermelha do
microfone no software que ele tinha aberto piscando agora que
o microfone estava desligado.
Minhas mãos se fecharam em punhos.
“Você é uma cantora incrível,” disse ele, encontrando meu
olhar rancoroso novamente. “Alguém já te disse isso?”
“E você é um idiota odioso,” eu sibilei, odiando como meus
pulmões estavam se contraindo em meu peito. Como meu
estômago caiu até os dedos dos pés. “Alguém já te disse isso?”
Ele não respondeu. Nem parecia zangado com a minha
farpa.
“Para que você usa esse quarto de qualquer maneira,
hmmm? Você se considera a porra de um deus do rock ou algo
assim? Ou o som da sua própria voz te excita tanto que você
tem que gravar...”
“Eu desliguei,” ele interrompeu, ignorando completamente
cada palavra que eu disse. “Quando você começou... Eu
desliguei. Eu não ouvi.”
“Oh, então eu deveria te agradecer?”
“Pardal...”
“Eu não sou a porra do seu pardal!” Eu gritei, minhas
narinas queimando quando um calor perverso crepitou em
minha espinha.
Ele me ouviu. Ele me ouviu quebrar. Ninguém nunca…
Ninguém nunca o fez.
Eu me movi para passar por ele, e ele agarrou meu pulso.
Incapaz de me parar, eu golpeei reflexivamente. A palma da
minha mão estalando alto contra sua bochecha.
Mas ele não me soltou. Nem mesmo quando começou a
ficar vermelho.
“Você não precisa esconder sua dor de mim.”
Meus olhos arderam de novo, e eu não aguentei. Eu não
poderia aguentar mais disso.
Arranquei meu braço de suas mãos e corri para a porta,
descendo os degraus de dois em dois até que de alguma forma
consegui sair e o ar fresco encheu meus pulmões doloridos.
Forcei as lágrimas a obedecer, engolindo-as até sentir apenas
calor e fúria.
“Ava Jade,” Corvus chamou de dentro do Ninho, mas eu já
tinha ido embora, correndo descalça por entre as árvores.
ROOK

Joguei uma moeda nos nós dos dedos, suspirando


enquanto Ava Jade e Becca conversavam na sala enquanto a
música tocava ao fundo em um alto-falante Bluetooth. Inclinei-
me contra a bancada de mármore preto, tomando um gole do
café com bourbon que Becca fez para mim, olhando para o meu
telefone a cada poucos segundos.
Estava ficando tarde, mas nenhuma das duas parecia
pronta para encerrar a noite, felizes em conversar a noite toda
e fingir que eu não estava aqui.
Ava Jade mal falou comigo desde que Corvus me deixou
em sua porta horas atrás. Ela abriu, deu uma olhada em mim
e foi embora, deixando a porta aberta para mim.
Eu estava supondo que as coisas não correram bem entre
ela e Corv. A julgar pelo leve hematoma em sua bochecha, ela
realmente o atingiu. E de alguma forma, ele não retaliou.
Corvus era um monumento do autocontrole, mas você não o
tocava. Você o toca, você morre.
Mas ele deixou que ela batesse nele e não fez
absolutamente nada.
Eu não sabia o que fazer com isso.
Mas o que quer que ele tenha feito não tinha nada a ver
comigo. Nós nos divertimos na outra noite, não é? Eu sabia que
sim.
Minha mandíbula apertou quando me lembrei da tensão
de tocá-la. O tremor em meus dedos que eu esperava que ela
não tivesse notado.
A necessidade dolorosa de sufocá-la um pouco mais, cortar
um pouco mais fundo, fodê-la mais forte...
E ser incapaz de fazê-lo.
A ideia de assustá-la para longe de mim...
De ir longe demais e...
Toquei meu telefone impacientemente pela terceira vez em
poucos minutos, me distraindo enquanto a tela se iluminava
para não mostrar novas mensagens ou chamadas perdidas.
Grey se ofereceu para ficar com a fantasma esta noite, mas
precisávamos que essas mensagens fossem decodificadas para
ontem.
Todos queríamos pensar que estávamos exagerando, mas
acho que cada um de nós sabia que não era o caso. Eu tinha
um mau pressentimento. Um buraco oco e feio que estava
escancarado desde aquele dia em que ela acusou Corvus.
Algo estava muito errado e precisávamos saber o que era.
Se alguém a estivesse ameaçando...
Eu agarrei a moeda na minha mão, um tremor percorrendo
minha espinha, fazendo minhas costas esquentarem.
Ele não seria alguém quando eu terminasse. Ele seria um
nada. Uma pilha de cinzas aos meus pés.
Becca e Ava Jade se viraram para mim, e percebi que tinha
começado a bater o pé e parei, acabando com meu café e uísque
antes de passar a palma da mão sobre os lábios e encher minha
caneca com o frasco do bolso de trás.
“Tem coca na geladeira,” Becca ofereceu. “Se você quiser
misturar.”
Eu balancei minha cabeça. “Muito doce.”
“Como quiser.”
Elas voltaram a falar sobre algum evento que iriam em
breve. Becca estava perguntando a Ava Jade se elas teriam que
trazer uma de suas sombras com elas porque só tinham dois
ingressos. Meu fantasma disse foda-se, não, mas ela estava
errada se pensou que Corvus iria deixá-la ir a qualquer lugar,
muito menos para fora da porra da cidade, sem um de nós com
ela.
Era fofo que ela pensasse que poderia se safar disso, na
verdade.
“Você quer me dizer o que está acontecendo?” Becca
perguntou em um tom abafado que eu não deveria ouvir, seus
olhos castanhos escuros deslizando em minha direção antes de
cair de volta em sua amiga enquanto ela se inclinava. “Eles não
te deixam em paz há semanas.”
Ava Jade recuou de sua amiga, o desconforto evidente no
aperto ao redor de seus olhos enquanto ela lutava com o que
dizer. “Você vai me contar o que está acontecendo?” Ela
perguntou, respondendo à pergunta de sua amiga com uma
própria, destinada a desviar a conversa para águas mais
seguras.
Eu conhecia a tática. Grey fazia isso o tempo todo.
“Você tem estado muito aqui ultimamente,” Ava Jade
cutucou. “Você só saiu, o que, uma ou duas vezes na última
semana para ver o seu...” ela balançou os ombros. “Amigo.”
“Ele só... tem estado ocupado.” Becca franziu a testa,
empurrando o cabelo liso para trás da orelha. “Sério, Ava, por
que eles estão aqui? Você sabe que pode falar comigo, certo?”
Ela baixou a voz, e eu peguei seus olhos castanhos se voltando
para mim na minha periferia. “Talvez eu possa te ajudar.”
Merda. Se ela estava decidida a ficar aqui, Fantasma
realmente precisaria ser sincera com sua melhor amiga. Antes
que as coisas ficassem realmente confusas.
Eu me ocupei com meu telefone, tentando dar a elas o
mínimo de privacidade para conversar. Além disso, eu estava
totalmente desinteressado em qualquer coisa que Becca Hart
ingenuamente pensasse que poderia fazer para ajudar Ava Jade
a sair dessa situação inescapável ou em suas escapadas
sexuais com seu namorado.
Uma vez eu tentei levá-la para a cama, mas ela não
chegava aos pés de Ava Jade. Ninguém o fazia. Ela me recusou,
de qualquer maneira. Garota esperta. As coisas que eu teria
feito com aquele corpinho apertado...
Ela nunca teria se recuperado.
Eu fui até o bate-papo em grupo com os caras e escrevi
uma mensagem rápida.
Rook: Por que diabos está demorando tanto?
Sua resposta veio depois de um minuto.
Grey: Estou com elas.
Meus dentes cerraram.
Grey: No telefone com Corv. Um segundo.
Porra?
Rook: Quero entrar também.
Meu telefone tocou um segundo depois e eu o atendi, a
caneca em minha mão fazendo barulho quando a coloquei na
mesa com mais força do que pretendia. Senti os olhos de Ava
Jade e Becca me seguindo até o quarto dela.
“Você está aí?” Grey perguntou.
“Sim. Fale.”
Eu me tranquei no banheiro.
“É pior do que pensávamos.”
“Foda-se,” Corvus sibilou.
“Leia-as,” eu ordenei. “Leia todas.”
A voz de Grey oscilou entre um grunhido e um sussurro
áspero enquanto ele lia uma série de mensagens de texto do
perseguidor de Ava Jade.
Isso era exatamente o que esse filho da puta era.
A cada mensagem que ele lia em voz alta para nós, a tensão
na linha crescia, enrolando-se tão fortemente quanto o nó de
ira se formando em meu estômago. Minha pele arrepiou com o
desejo de matar, mas eu não tinha saída aqui. Nada para
esmagar, quebrar, queimar ou enterrar.
Eu agarrei a borda do balcão, curvando minha cabeça
enquanto respirava forte pelo nariz.
“Do que ele está falando? Os trilhos do trem? O que isso
significa?” Corvus rugiu pela linha.
Eu tinha uma ideia, mas era a história da Fantasma para
contar.
“E o escuro,” acrescentou Grey. “Isso foi enviado na noite
da luta. Quem quer que seja, ele está falando sobre Rook.”
“Isso acaba agora. Podemos rastrear esse cara?” Corvus
perguntou.
Eu me importava pouco com a ameaça à minha vida, mas
sabia que meus irmãos levariam isso a sério.
O que mais me preocupava era a ameaça à Fantasma.
Vou ter que te punir, disse esse merda.
Por estar conosco. Por nos deixar tocá-la. Como se ela
pertencesse a este... Este covarde que se esconde atrás de um
conjunto de chaves eletrônicas e a máscara de ser
desconhecido.
“Ele enviou a maioria delas de números diferentes. Todos
telefones descartáveis. Não consigo rastrear nada. É por isso
que demorou tanto para descriptografá-las em primeiro lugar.”
“Precisamos falar com Ava Jade,” eu resmunguei na linha,
aquele desejo sombrio ainda azedando na boca do meu
estômago. Coçando a parte de trás do meu crânio.
Abri a tampa do meu cantil e bebi profundamente até que
a queimadura do álcool afastou parte da escuridão,
entorpecendo os lugares onde ela costumava estar.
“Precisamos atrair esse bastardo para fora da toca,”
acrescentei enquanto pousava o frasco no balcão.
Uma pausa antes de qualquer um dos meus irmãos
responder. Um músculo sob meu olho se contraiu.
“Ele está certo,” disse Grey. “Ela deveria ter nos contado.
Especialmente depois que quem quer que seja ameaçou Rook.”
Eu quase podia ouvir Corvus balançando a cabeça do outro
lado do telefone enquanto bolava um plano. “Amanhã,” disse
ele. “Leve-a para a capela em vez da sala de aula. Nos
encontraremos lá.”
Eu não fui capaz de segurar meu rosnado. Eu queria isso
feito agora. Eu queria sangue agora.
“Fique tranquilo.” Grey falou calmamente, deixando
escapar um suspiro trêmulo. “Esse cara, quem quer que seja, é
claramente um covarde. Ele só está falando. Ameaçando-a.
Tentando assustá-la. Na verdade, ele não fez efetivamente
nada.”
“Você acha que ele só será um falador?” Corvus perguntou.
“Talvez.”
O que importava? Minha visão escureceu.
Eu ofeguei, minha respiração ficando mais pesada, fazendo
minha voz sair rouca e áspera. “Eu não dou a mínima! Ninguém
ameaça nossa garota.”
“Ninguém ameaça nossa garota,” Grey concordou.
Corvus grunhiu seu consentimento. “Grey, em quanto
tempo você pode acabar com essa merda que Diesel mandou
você cuidar?”
“Algumas horas, talvez. E você? Ele não precisava que você
resolvesse uma disputa lá em cima, no Sanctum?”
“É onde estou agora.”
“E?”
“Vai demorar um minuto. Algum filho da puta deu um tapa
em uma de nossas garotas e fugiu com um iPad. Estou
rastreando agora, e então Tiny e eu vamos cuidar disso. Rook,
você pode ficar aí até de manhã sem dizer nada? Se você
confrontá-la sobre isso, ela vai perder a cabeça.”
“Qual é a diferença se ela perder a cabeça agora ou amanhã
na capela?”
“Grey,” Corvus forneceu. “Grey é a diferença.”
Ficou claro que doía para ele admitir, mas ele continuou
de qualquer maneira. “Ela confia nele. Você vê como ela fica
perto dele. Menos no limite. Relaxada. Ele pode ser o único de
nós que ela não vai esfaquear primeiro e fazer perguntas
depois.”
Ela me ouviria.
Eu não disse isso, porque mesmo pensando que era
verdade, eu sabia que não conseguiria falar com calma se ela
tentasse negar as mensagens ou continuasse tentando
escondê-las ou minimizá-las.
Grey poderia.
“Eu posso esperar.”
“Bom,” respondeu Corvus. “E Rook?”
“O que?”
“Eu ouvi Dies planejando outro julgamento para ela hoje à
noite, quando eu estava no bar.”
“Quando?” Grey perguntou. “Qual deles?”
Corvus suspirou. “Não sei. Ele parou de falar quando me
viu. Ele parece determinado a nos manter fora disso, agora que
tem tempo para administrar o resto sozinho. Achei que você
deveria saber caso isso aconteça enquanto você estiver com
ela.”
“Não mate ninguém, cara.” Grey me avisou. “Não vale a
pena.”
“Eu sei.”
“Dies vai cagar um tijolo se você fizer isso, e ela pode cuidar
de si mesma.”
“Eu disse que eu sei, porra.”
“Desculpe,” Grey murmurou.
“De manhã, então?” Corvus confirmou.
“Sim,” falei, e desliguei, jogando meu telefone no balcão
antes de passar a palma da mão pelo rosto, tentando suavizar
as linhas de raiva que ainda podia sentir apertadas como cordas
puxadas na minha testa e nas bordas dos meus olhos.
Duas batidas suaves soaram na porta.
“Rook?” Fantasma perguntou suavemente. “Tudo certo?”
Meu peito doía.
Por que ela pensou que tinha que suportar esse tipo de
merda sozinha quando ela nos tinha? Eu queria estrangulá-la
e envolvê-la em meus braços ao mesmo tempo. Mas eu não
poderia fazer nenhum dos dois.
Alguém a estava ameaçando, e ela agiu como se não
estivesse nem um pouco incomodada quando sua reação com
Corvus provou que isso era tudo menos verdade. Pressionei a
palma da mão na porta e suspirei, a raiva desaparecendo quase
tão rápido quanto veio. Estremeci ao perdê-la, confuso com a
facilidade com que ela poderia tirá-la de mim, como sangue
retirado de uma ferida.
O que essa garota estava fazendo comigo?
“Rook?” Ela perguntou uma segunda vez, e eu engoli,
guardando meu telefone e o frasco no bolso novamente antes
de abrir a porta.
“E aí, Fantasma?”
Ela estudou meu rosto, seus frios olhos azul-acinzentados
indo de um lado para o outro entre os meus olhos escuros. Ela
não encontraria nada lá, no entanto. Eu era um mestre no que
Grey chamava carinhosamente de olhar morto.
Suas sobrancelhas se franziram. “Quem era no telefone?”
“Corv e Grey,” eu respondi. “Porquê?”
O nó entre suas sobrancelhas suavizou e ela encolheu os
ombros indiferentemente, como se não se importasse. “Sem
razão.”
Inclinei minha cabeça para ela, meu olhar prendendo na
forma de seu telefone no bolso da frente. Calor queimou minha
carne, fazendo-a formigar enquanto eu me perguntava que
outras mensagens poderiam estar lá que ela não tinha nos
contado. Quão piores elas poderiam ser do que as que já
havíamos lido.
Amanhã.
Vamos todos sentar e bater um papo legal sobre essa merda
amanhã.
“Vou para a cama,” ela anunciou, pegando uma camiseta
branca puída da prateleira do armário do lado de fora do
banheiro e jogando-a na cama antes de pegar um cobertor que
estava jogado ao acaso sobre o topo de sua roupa de cama roxa.
“Aqui,” disse ela, empurrando-o em minhas mãos.
“Você vai me fazer dormir no chão?”
“Você pode, se quiser,” ela respondeu docemente. “Mas eu
não vou a lugar nenhum. Pegue o sofá. Você ficará mais
confortável lá.”
Suas palavras não combinavam com a falta de sinceridade
em seu tom. Eu vi isso pelo que realmente era. Suas paredes
estavam finalmente começando a cair, e ela não sabia como
lidar com isso. Então, como a Ava Jade que conhecíamos, ela
iria lutar com tudo o que tinha.
Mas essa era uma luta que ela perderia.
“Eu fiz alguma coisa?” Perguntei. “Porque, tanto quanto eu
poderia dizer, você se divertiu muito na outra noite.”
“Eu não durmo com outras pessoas.”
“Bom. Aparentemente, eu também não.”
Ela franziu o nariz com isso, confusa com o duplo
significado.
“Não. Eu quis dizer que não durmo com outras pessoas.
Não consigo dormir quando tem alguém na cama ao meu lado.”
“Você se saiu muito bem dormindo na minha cama.”
Ela abriu a boca para responder, fechou-a e ferveu. “Foi
diferente.”
“Foi?” Eu desafiei, passando por ela enquanto deixava seu
quarto. “Durma bem, Fantasma. Talvez se você tiver sorte, serei
eu quem assombrará seus sonhos esta noite.”
Um rosnado fofo precedeu a batida da porta dela atrás de
mim, e eu ri para mim mesmo, sem me preocupar em tentar
esconder o som.
Becca olhou para mim da cozinha, parando depois que ela
terminou de encher um copo de água.
“O que?” Perguntei.
“Nada,” ela murmurou, balançando a cabeça enquanto
caminhava para seu próprio quarto, mas eu peguei seu olhar
cair para o meu pau debaixo do meu jeans, e eu sabia por que
ela estava olhando. Procurando o contorno dos meus acessórios
de aço inoxidável.
Ava Jade disse a ela. Eu me perguntei o exatamente que
ela disse. Olhei para a porta de Ava Jade e sorri, pegando o
maço de cigarros do meu bolso de trás sem pensar.
“Você poderia, hum, não fumar isso aqui?”
Pisquei, voltando a mim antes que pudesse puxar um
cigarro do maço para encontrar Becca hesitando em sua porta.
“Eu odeio o cheiro.”
“Você fuma maconha aqui.”
“É diferente.”
Eu levantei minhas sobrancelhas, e ela baixou o olhar,
limpando a garganta enquanto se fechava em seu quarto. Ela
não iria forçar o assunto, mas eu nunca ouviria o fim disso de
Ava Jade.
Ela disse que não ia a lugar nenhum. Acho que agora era
um momento tão bom quanto qualquer outro para testar isso.
Corvus a deixou por conta própria por horas ontem, e ela não
tinha corrido, o que era mais uma hora? Eu poderia respirar
um pouco de ar fresco. Era tarde, mas depois de ouvir aquelas
mensagens, eu não estava nem um pouco cansado.
Pela primeira vez, sentia um gostinho de como era ser
Corvus. Estava exausto, mas incapaz de fechar os olhos.
Larguei o cobertor no sofá e deslizei um dedo sob a gola da
minha jaqueta de couro pendurada nas costas de um
banquinho na cozinha e a vesti. Meus dentes cerraram quando
envolvi meu punho em torno da maçaneta da porta, hesitando
em sair.
Quem estava mandando mensagens de texto para ela havia
enviado ameaças. Talvez Corvus estivesse certo e fosse tudo
conversa fiada, mas e se não fosse?
Por capricho, mergulhei meus dedos no bolso da jaqueta
de Ava Jade no gancho perto da porta, procurando as chaves.
Empurrei um pedaço grosso de papel para o lado e ouvi o
tilintar. Puxando-as para fora, joguei-as no ar e as peguei,
saindo do apartamento compartilhado e trancando a porta
atrás de mim.
Coloquei as chaves no bolso e digitei uma mensagem
rápida para Ava Jade.
Rook: Saindo para fumar. Se você ouvir a porta, sou só
eu voltando. Eu a tranquei atrás de mim.
Ela não respondeu, mas a mensagem apareceu como lida
depois de um segundo e isso foi bom o suficiente para mim.
Desci as escadas e saí pela porta dos fundos, caminhando
em direção à quadra de basquete que se projetava na parte de
trás da academia. As luzes automáticas se acenderam e eu fiz
uma careta com seu brilho ridículo, acendendo meu cigarro
para uma longa tragada enquanto me inclinava contra o tijolo
áspero sob a rede de basquete.
O terreno da academia estava quieto à noite e em todos os
lugares fora do anel de luzes brancas de segurança parecia tão
escuro que eu não conseguia ver mais do que alguns metros
dentro dele. Franzindo a testa, me afastei das luzes e me
acomodei fora do alcance de onde elas me detectariam.
A escuridão me engoliu novamente, e esperei que meus
olhos se ajustassem, o brilho laranja do meu cigarro agora era
a única luz até onde eu podia ver em direção ao gramado e
jardins ao norte.
Examinei as árvores, meus dedos se contorcendo em
direção à faca em minha bota direita. Corvus não me deixou
trazer uma arma, e talvez isso fosse o melhor. Especialmente se
Diesel escolhesse esta noite para o próximo julgamento dela.
Normalmente eles eram mais espaçados, apenas o tempo
suficiente para fazer você começar a ficar confortável. Começar
a ficar complacente. Mas ele era conhecido por fazer alguns
consecutivos, apenas para misturar as coisas.
Meu Fantasma passaria pelo ataque surpresa com louvor.
Porra, ela quase me pegou naquela noite atrás dos prédios de
apartamentos. Se ela não tivesse entrado em pânico, eu não
tinha dúvidas de que ela também teria se livrado de mim.
Esfreguei meu cigarro no tijolo e voltei para a porta,
satisfeito por não ter visto nenhuma ameaça pairando nas
árvores do lado de fora.
As chaves tilintaram no meu bolso e eu as peguei de volta
quando me aproximei da porta dos fundos da academia, mas
meu braço estremeceu quando tentei abrir a porta.
Tentei de novo, mas não deu certo. Trancada.
Alguém trancou.
Rook: Você me trancou do lado de fora? Realmente?
Sem resposta. Sem aviso de leitura.
Meu estômago revirou.
Diesel.
Foi a porra do Diesel.
Ou melhor, quem quer que ele tenha enviado atrás dela.
Eles sabiam que eu era um louco na melhor das hipóteses. Eles
não iriam querer que eu interrompesse o julgamento dela, e eu
dei a eles a oportunidade perfeita para trancar minha bunda
longe dela.
Eu ri sombriamente para mim mesmo, o calor tornando
minha jaqueta de couro insuportável. Tirei-a, jogando-a no
concreto enquanto contornava o prédio, ganhando velocidade.
Ela pode cuidar de si mesma.
Eu acreditava nisso. Realmente, acreditava. Mas eu não
gostava de ser bloqueado. Acorrentado. Retido.
Eu queria ver meu fantasma virar poltergeist e chutar
algumas bundas. Eu queria assistir. Eu precisava estar lá
apenas no caso.
Se ela de alguma forma falhasse no julgamento e fosse
eliminada, Corvus e Grey iriam me culpar. Com razão, porra.
Levei apenas um minuto para encontrar o que procurava;
a fina janela na base do prédio no lado oeste, levando a um
antigo depósito de arquivos no porão da academia. Um ponto
de encontro regular para a Sra. June e para mim antes que
fosse limpo e tivessem adicionado um espaço para a reflexão
silenciosa dos professores.
Inclinei-me e joguei meu cotovelo no vidro, inspirando com
a ardência do ar em um corte recente. Lambendo meus lábios,
eu me torci, chutando o resto do vidro com a sola da minha bota
antes de passar pela janela.
Eu empurrei a porta trancada para a sala de arquivo e
caminhei pelo corredor, subindo as escadas até o andar
principal de três em três.
“Ei!” Mick, o guarda de segurança barrigudo que era um
merda absoluto em seu trabalho gritou quando eu dobrei a
esquina para o saguão principal, indo para as escadas. Fiquei
surpreso por ele ter saído de seu escritório, mas pela aparência
desgrenhada dele eu tinha acordado sua bunda de seu cochilo
da madrugada com a janela quebrada.
O facho de sua lanterna me pegou, e eu dei a ele meio
segundo de tempo. Um único olhar que o fez largar a lanterna.
“Ah, porra. Desculpe, Sr. Clayton. Eu pensei que era...”
Eu tinha ido embora antes que ele pudesse terminar. Subi
a escada em curva e atravessei o corredor, chaves na mão,
metal deslizando na fechadura, mas já estava aberta. Porra.
Entrei e Becca apareceu em sua porta, com os olhos
arregalados e selvagens e o rosto pálido ao luar enquanto ela
me observava, confusa. Sua camisola toda torcida.
Um estrondo ecoou pelo apartamento e Becca gritou, sua
atenção voltando-se para a porta fechada de Ava Jade. Soou
como algo duro batendo em uma superfície ainda mais dura.
Cerrei os dentes e os punhos, o desejo de ir direto para
aquela porta e derrubar quem quer que estivesse atrás dela era
mais forte do que qualquer desejo que já me possuiu.
“AJ,” Becca respirou quando os sons de uma luta
chegaram mais alto pela porta de sua amiga. Ela atravessou o
apartamento e eu a afastei, segurando-a pela cintura, um pouco
surpreso com sua disposição de correr perigo por sua amiga.
Eu a julguei mal.
“Você não pode ajudá-la,” murmurei no ouvido de Becca, o
cheiro de seu perfume de óleo essencial enchendo meu nariz.
Ela lutou para se livrar e me empurrou, me fazendo dar
um passo para trás. “Você não tem uma arma ou algo assim?”
Ela deixou escapar, e eu suspirei, meus músculos das costas
ficando tensos quando o som de algo mais quebrando no quarto
de Ava Jade ecoou ao nosso redor.
Agarrei o pulso de Becca e puxei-a para trás quando ela fez
outra tentativa de ir para a porta de Ava Jade.
“Volte para o seu quarto,” eu ordenei a ela. “Eu cuido
disso.”
Ela olhou freneticamente entre mim e a porta de Ava Jade,
seus olhos brilhando com lágrimas frustradas e confusas. Não
era justo que Fantasma não tivesse contado nada à amiga.
“Ela está fazendo os julgamentos para se tornar uma
Saint,” expliquei simplesmente. “Este é um deles. Ela vai ficar
bem.”
As sobrancelhas de Becca se juntaram, mas depois de uma
batida, seus ombros abaixaram ligeiramente, e ela fechou a
boca em uma respiração ofegante. “Não parece.”
Ava Jade gritou e um tremor de ira percorreu minha
espinha como um raio.
“Apenas vá para o seu quarto,” eu rosnei para Becca antes
de virar para a porta oposta, minha visão escurecendo nas
bordas. O ar quente saiu de meus pulmões enquanto eu
esperava do lado de fora, ouvindo atentamente os sons lá
dentro.
Um grunhido masculino.
Um duro golpe.
Um grito de fúria que só poderia ser do meu fantasma.
Eu estava lá dentro em um instante, esquivando-me de um
cotovelo quando Ava Jade derrubou o homem mascarado alto
em sua cama. Eles rolaram para o chão, e ela engasgou
enquanto eles lutavam.
Ela pode com isso.
Ele vai recuar a qualquer segundo. Dizendo a ela que ela
passou.
Ela conseguiu ficar em cima dele, e eu caminhei mais para
dentro da sala, observando-a enquanto seu punho acertava sua
mandíbula, derrubando sua cabeça violentamente para o lado.
Sim. Vamos, Fantasma.
Eu gemi com a violência disso. Com o olhar em seu rosto
quando ela bateu nele novamente. Uma fúria silenciosa e
determinada se transformando em algo mais duro.
Espere…
Ela não estava indiferente como naquela noite com Bri nas
docas. Ela estava no limite. Algo sobre este ataque a assustou.
Eu não gostei disso.
Nem um pouco.
Quem era esse cara? Ele estava com uma máscara para o
julgamento, mas ainda assim, eu deveria tê-lo reconhecido. Ele
era alto. Largo nos ombros. Crowley? Não, talvez Derrik?
Os olhos do meu fantasma pousaram em mim por um
instante e foi a abertura que o Saint precisava para virar o jogo.
Ele a virou de costas, e eu vi um flash de algo prateado ao luar.
Ava Jade gritou, parando o que quer que fosse com um
antebraço, os dentes à mostra.
Eu não poderia ajudá-la.
Isso tornaria o julgamento nulo, ou pior, resultaria em uma
falha imediata.
Ela teria que passar por algo assim novamente, ou suas
provações estariam no fim, e estremeci ao pensar no que isso
poderia significar.
Merda.
“Não,” ela sussurrou, e então freneticamente, ela gritou.
“Rook!”
Minha besta respondeu. Não importava mais quem ele era.
Eu nem registrei o que eu tinha feito até que ele estava
longe dela e eu tivesse derrubado o que quer que estivesse em
sua mão no chão antes de dar uma cotovelada em seu rosto. A
janela quebrou e ele passou por ela. Jogado fora como lixo pelos
dois andares até o chão abaixo da janela de Ava Jade.
O baque de seu corpo contra a terra foi seguido por silêncio
apenas quebrado pelo som da tosse de Ava Jade e sua
respiração tensa.
Eu fui até a parede e acendi a luz, encontrando-a
segurando a garganta onde um anel de hematomas que
escurecia rapidamente subia à superfície de sua pele. Calor
queimou minha nuca, e eu me arrepiei, as narinas queimando
quando me ajoelhei e a puxei contra mim. Ela lutou contra o
meu aperto, sua voz rouca e quebradiça, fazendo-a tossir
enquanto tentava falar.
“Ele... “ ela conseguiu dizer com voz rouca, recuperando a
voz. “...entrou...”
Corri para o banheiro e enchi um copo com água, voltando
para me ajoelhar mais uma vez e colocando em seus lábios.
Ela bebeu avidamente, sentando-se ereta e estremecendo
enquanto a água fria serpenteava por sua garganta. “Ele estava
tentando injetar algo em mim,” disse ela depois de outra tosse
aquosa.
“O que?”
Sua boca se abriu em surpresa quando ela disparou para
frente, quase me derrubando enquanto pegava algo debaixo de
sua cama. Ela olhou para o objeto em sua mão, mal respirando.
Uma seringa de plástico fina com uma ponta curta e
pontiaguda estava presa ali. Uma substância clara nela.
Peguei-a dela, virando-a em meus dedos antes de procurar
por marcas de injeção nela. “Ele conseguiu?”
“Não,” ela respirou. “Não, eu acho que não.”
Ela tossiu de novo, esfregando e massageando a traqueia.
“Que porra ele iria me injetar? Eu não me inscrevi para ser
drogada.”
Eu balancei minha cabeça, meu estômago revirando. Isso
não estava certo.
Houve apenas um julgamento que envolveu a ingestão de
uma substância, mas não de drogas. Nunca drogas. Ele não
ousaria. Não depois do que passei. Do que muitos Saints
passaram, as vidas de onde vieram e deixaram antes de se
juntar à gangue.
Corri de volta para a janela, inclinando-me para fora,
pronto para descer e exigir respostas do que provavelmente era
um cadáver, mas... não havia ninguém lá. Nenhum corpo, vivo
ou morto. Ergui a cabeça, procurando entre as árvores à
esquerda e a beira do estacionamento e a estrada curva que
levava à cidade à minha direita.
Nada.
“Foda-se,” sibilei, embolsando a seringa e pegando meu
telefone.
Corvus atendeu no primeiro toque.
“O que é?”
“Nós temos um problema.”
“Diga-me.”
“Venha aqui agora. Traga Grey. Ou Diesel perdeu a cabeça
ou há um problema maior.”
“Saia,” ouvi Corvus rosnar, e Tiny começou a protestar
quando ouvi a porta do Rover fechar e o motor acelerar.
“Estarei aí em dez minutos,” ele disparou um segundo
depois, e a linha caiu.
Ava Jade se levantou, sua camiseta branca folgada rasgada
para expor parte de um seio. Manchada de vermelho do sangue
pingando de um corte raso na testa. “Você quer me dizer o que
diabos está acontecendo?”
“Depende,” eu respondi, a fúria ainda fazendo minha visão
borrar com manchas de escuridão não tão facilmente
apaziguadas desta vez. “Você tem alguma coisa que queira me
dizer?”
Um músculo em sua mandíbula se apertou.
Corri minhas mãos pelo meu cabelo e respirei fundo,
tentando obter alguma ilusão de controle. Curvando-me para a
frente, plantei as palmas das mãos nos joelhos e me inclinei
contra a parede até minha visão clarear.
“Rook?” Ava Jade se esquivou e eu não aguentei mais.
Empurrei a porta do quarto dela aberta, fazendo-a bater
ruidosamente contra a parede oposta enquanto eu saía.
O que Diesel estava pensando?
Se fosse Diesel...
E se não fosse Diesel…
Alguém iria pagar por isso. Só precisávamos descobrir
quem.
CORVUS

Os pneus derraparam quando nos dirigimos para o


estacionamento, não rápido o suficiente para cortar a roda
antes de nos fazer bater em uma pilha baixa de cimento. Grey
e eu pulamos para fora, batendo as portas atrás de nós. Eu
poderia inspecionar os danos ao Rover mais tarde. Eu tinha um
pressentimento de que o que quer que eu estivesse prestes a
enfrentar iria envergonhar aquele estrago.
Rook raramente falava ao telefone como fez exatamente
nove minutos atrás.
Eu me preparei para o que quer que fosse ruim o suficiente
para fazê-lo agir assim, os músculos dos meus braços
flexionando e relaxando com o cerrar dos meus punhos
enquanto encontrávamos nosso caminho para Briar Hall pela
porta da frente. Eu já havia ligado antes e dito ao segurança
para abrir a porta.
“Ela está bem, certo?” Grey perguntou em tom solene
enquanto passávamos pelas portas da frente sem impedimentos
e subíamos as escadas.
“Não sei.”
“Foi um julgamento?”
“Não sei.”
“Bem, Rook disse alguma coisa sobre...”
“Eu não sei de nada,” eu rosnei para ele, puxando meu
cabelo para trás enquanto nos aproximávamos de sua porta.
Eu não tinha visto meu pardal ou ouvido falar dela desde
esta manhã. Eu não sabia como lidaria com tudo isso se ela me
pedisse para sair.
Vê-la quebrar esta manhã abriu algumas feridas há muito
esquecidas lá no fundo de mim. Eu senti pela primeira vez em
muito tempo. Senti a dor dela tão agudamente quanto senti a
minha antes de aprender a bloqueá-la.
Eu nunca quis tanto ser alguém que tinha a habilidade de
confortar alguém. E aquela música. Minha música.
Eu não consegui tirar o som da voz dela cantando minhas
palavras da minha cabeça o dia todo. E eu finalmente entendi
porque Rook começou a chamá-la de Fantasma. Ela também
estava me assombrando.
A porta estava aberta quando chegamos a ela, e abrimos
caminho para dentro com facilidade, minha mão indo
inconscientemente para a coronha da arma enfiada
ordenadamente na parte de trás da minha calça jeans.
Rook estava sentado, cotovelo sobre os joelhos no sofá,
seus dedos unidos contra seus lábios. Ava Jade e Becca
sentavam-se no sofá em frente a ele, e parecia que tínhamos
interrompido alguma conversa silenciosa entre eles. Becca
estava mortalmente pálida. Seus olhos injetados de sangue e
com a testa tensa.
Eu não deveria ter ficado surpreso ao vê-la ali, mas fiquei.
Isso tinha algo a ver com ela?
Foi quando notei os hematomas. Um anel de carne roxa ao
redor da garganta de Ava Jade. O sangue incrustado na linha
do cabelo e o corte raso de onde veio. Como ela estava pálida
também.
“AJ,” disse Grey em um suspiro e seus olhos se voltaram
para os meus por um instante antes de caírem quando Grey se
aproximou dela, ajoelhando-se diante dela no sofá para
estender a mão e tocar suavemente o hematoma em seu
pescoço.
Eu queria quebrar as mãos do responsável. Saint ou não.
“O julgamento do ataque?” Grey perguntou, e eu limpei
minha garganta, atraindo seu olhar. Olhei incisivamente para
Becca.
“Ela sabe,” Rook disse, finalmente deixando cair as mãos e
sentando-se ereto. “Devíamos ter contado a ela desde o início.”
Minha mandíbula estalou, mas discutir não iria ajudar em
qualquer que fosse a situação agora.
Rook ficou de pé e deu uma cutucada em Grey com a bota
antes de passar por mim em direção ao quarto de Ava Jade. Seu
rosto traiu uma nuvem de emoção sombria que ele estava
trabalhando duro para manter sob controle. “Uma palavra,” ele
murmurou enquanto passava, e eu olhei entre Ava Jade e ele,
sacudindo minha cabeça para dizer a Grey para nos seguir.
Becca se aconchegou ao lado de sua amiga, evitando as
lâminas amarradas na coxa de Ava Jade e a que ela segurava
em sua mão. Aquela com o corvo gravado no cabo.
Obriguei-me a deixá-la lá; precisei de tudo em mim para
não exigir respostas ali mesmo. Eu queria sacudir Rook.
Sacudir a ela. Fazê-los me dizer exatamente o que diabos
aconteceu e por que diabos ela achou que estava tudo bem
mentir para nós sobre suas mensagens de texto misteriosas por
tanto tempo.
Mas isso não me daria a porra de nenhum ponto agora,
não é? E com o som de sua música quebrada ainda em meus
ouvidos, descobri que simplesmente não conseguiria.
Rook fechou a porta atrás de nós e tirou algo do bolso.
Levei um segundo para registrar o que era.
“Que porra é essa?” Perguntei, embora fosse óbvio. Minha
pele formigou, queimando como se minhas bordas tivessem
sido incendiadas e eu não passasse de papel. “Ela está
drogada?”
Os olhos escuros de Rook encontraram os meus, e ele
balançou a cabeça uma vez.
Notei a janela quebrada atrás dele e fiz uma careta.
“Ela foi atacada,” explicou. “E quem a atacou tentou injetar
isso nela.”
Ele estava fodidamente brincando comigo. Não tinha jeito
de...
Grey pegou a seringa de Rook e pressionou o êmbolo o
suficiente para deixar uma gota do líquido escapar do topo da
cabeça curta da agulha. Esfregou-o entre os dedos e cheirou.
Um cheiro de limão fez cócegas em meu nariz.
Familiarmente misturado com o cheiro de alcatrão e pinho.
Inclinei-me para a substância que revestia as pontas dos dedos
de Grey, mas não era o que quer que fosse o líquido na seringa.
Isso era inodoro, era outra coisa. Tão fraco que mal pude
detectá-lo, mas estava lá do mesmo jeito. Tão familiar que dava
nos meus nervos que eu não conseguia identificar onde eu tinha
cheirado antes.
“Você sabe o que é isso?” Perguntou Rook.
Grey balançou a cabeça, mas já estava com o telefone na
mão. Ele discou um número. Desligou e ligou novamente. Na
terceira tentativa, a linha conectou. “Preciso que você
identifique uma substância para mim.”
Uma pausa.
“Greyson Winters.”
Uma exclamação do outro lado.
“Eu preciso que você venha buscá-la em Briar Hall. Estará
esperando por você com segurança. Preciso saber o que é dentro
de uma hora.”
Outra pausa.
“Não conte a ninguém sobre isso. Você deve apenas dar a
informação para mim ou para os meus irmãos. Ninguém mais.”
Ele encerrou a ligação e guardou o telefone no bolso.
Eu não sabia quem era, mas não me importava, minha
mente ainda estava girando. Olhei abertamente para a seringa,
meu sangue esfriando. “Diesel não…”
“Se não foi Diesel, então só consigo pensar em uma outra
alternativa,” Rook acrescentou, sua raiva queimando em suas
maçãs do rosto.
“Seu perseguidor,” Grey proferiu, curvando seus dedos
apertados ao redor da seringa.
“Conte-nos o resto,” eu exigi, e Rook explicou a coisa toda
da frente para trás, me olhando cada vez que eu pedia clareza.
Ele a deixou sozinha, como um idiota, mas era tarde
demais para consertar isso. E a falta de qualquer coisa útil em
sua história me levou à beira da loucura.
“Você não sabia quem ele era?” Perguntei pela terceira vez.
“Tem certeza?”
Rook beliscou a ponta do nariz. “Eu disse a você, não
consigo dizer. Estava escuro. Ele estava mascarado. Podia ser
um Saint. Podia não ser.”
“Poderia ter sido um Saint e ainda assim você o jogou por
uma janela dois andares acima do solo?” Grey perguntou,
levantando uma sobrancelha como se isso fosse surpreendente.
“Você teria conseguido ficar lá e deixado alguém
estrangular nossa garota?” Ele desafiou Grey e isso o calou. Ele
baixou o olhar, pensativo enquanto considerava as implicações
de sua resposta.
Comecei a andar pela estreita faixa de carpete entre o
quarto e o banheiro, pensando. Conectando. Formulando uma
maneira de seguir em frente.
“Tudo bem,” falei depois de um minuto. “Ok, então não
podemos perguntar a Diesel se era ele porque ele saberá que
algo está acontecendo, e não tenho certeza se queremos que ele
saiba se isso foi algo diferente de um julgamento. Pelo menos
por agora. Ele não precisa de mais motivos para querer que ela
vá embora.”
“Podemos descobrir nós mesmos se um Saint foi ferido,”
Rook sugeriu, e eu estava chegando nesse ponto. “Ele estaria
muito fodido depois daquela queda. Não seria difícil identificá-
lo.”
Eu balancei a cabeça.
“Isso não pode ter sido Diesel,” disse Grey, repetindo o que
todos nós estávamos pensando, e eu me senti um pedaço de
merda absoluto por sequer considerar isso.
Mas ele deixou claro seu óbvio desgosto por ela. Ele não a
queria perto de nós. Ele não confiava nela.
“Até onde você iria para proteger sua família se pensasse
que há uma ameaça perto dela?” Perguntei, encontrando cada
um de seus olhares duros, balançando a cabeça quando
nenhum respondeu. “Não podemos descartá-lo, mas não acho
que foi ele. Se fosse um julgamento, ele estaria torcendo seu
pescoço agora por interrompê-lo,” falei a Rook, e seu lábio
superior se curvou.
“Não se ele se sentisse culpado por tentar alterar os
resultados com o que quer que estivesse naquela seringa.”
“Precisamos explorar a outra opção,” disse Grey, com os
olhos fixos na porta e na pardal além dela.
Ele estava certo. Isso não ia ser bonito, mas precisava ser
tratado. Depois desta noite, não havia como ela ser deixada
sozinha novamente. Nem mesmo por um segundo. Ela
precisava saber por quê. Ela precisava saber que sabíamos o
que ela tinha trabalhado tanto para esconder de nós.
Segui Grey pela porta e voltei para a sala onde Ava Jade
estava colocando uma caneca quente de chá nas mãos de sua
amiga. Confie nela para confortar sua amiga depois que ela
mesma foi atacada.
“Ela não precisa estar aqui para isso,” falei antes que
pudesse suavizar meu tom, indicando Becca. “Você tem algum
lugar para onde possa ir?”
Pardal enrolou a mão no pulso de sua amiga para impedi-
la de se levantar. “Ela fica. Não quero que ela vá a lugar nenhum
sozinha agora. Quem quer que seja aquele filho da puta ainda
pode estar lá fora em algum lugar.”
Becca estremeceu e permaneceu sentada.
“Tudo bem,” consegui dizer, resistindo ao impulso de
insistir no meu argumento.
Grey entrou na sala, sentando-se na beirada da mesa de
centro de frente para Ava Jade, de modo que havia apenas uma
polegada de espaço entre seus joelhos. Ele se inclinou e eu
podia imaginar a expressão gentil que ele usaria ao falar com
ela.
“Nós sabemos sobre o seu perseguidor,” ele disse, seu tom
de alguma forma conseguindo soar duro e gentil ao mesmo
tempo. Não abrindo espaço para discussão. Ele estava
afirmando um fato e dando a ela uma abertura para lhe dizer a
verdade.
Sua boca pressionou em uma linha dura. “Eu não sei do
que você está...”
“Você deveria ter matado o Escuro enquanto teve chance,
mas agora vejo que terei que fazer isso por você. Ninguém toca
no que é meu,” disse Grey, repetindo a mensagem de texto que
está gravada em sua memória.
Suas sobrancelhas se juntaram e um flash de fúria quente
dançou em seus olhos.
“Não se preocupe, meu amor, eu vou te ajudar... Mas se você
deixar que eles toquem em você de novo, não terei escolha a não
ser puni-la.”
“Pare,” ela rosnou em resposta, e eu vi como Becca estava
segurando sua amiga agora, preocupação nas linhas apertadas
ao redor de seus olhos.
“Ava?” Becca cutucou. “Por que você não me contou?”
“Eu estava lidando com isso,” ela sibilou em resposta,
fixando seu olhar em Grey. “Você mexeu no meu telefone?”
Ele assentiu lentamente. “O, uh... o dia na lanchonete. Foi
tudo planejado. Eu tinha o laptop pronto quando você saiu.
Demorou um pouco para descriptografar os arquivos, no
entanto.”
Seu rosto ficou vermelho e ela abriu a boca para falar, mas
eu fui mais rápido.
“Você deveria ter nos contado,” falei o mais gentilmente que
pude, dada a situação. “Especialmente depois que esse palhaço
ameaçou Rook. Definitivamente depois que ele te ameaçou.”
Um pouco de sua raiva pareceu se dissipar com isso, e eu
me acalmei sabendo que ela claramente sabia que o que eu
estava dizendo era verdade, mesmo que ela não quisesse
admitir isso para nós ou para si mesma.
Eu sabia como era difícil pedir ajuda. Admitir que você
podia não ser capaz de lidar com algo sozinho. Uma vez escolhi
o caminho mais difícil, mas se pudesse voltar atrás e mudar
essa escolha, as coisas poderiam ter sido diferentes para mim.
Eu poderia ter sido diferente.
“Ele enviou mais alguma coisa desde as mensagens sobre
a noite da luta?”
Seu olhar gelado se enterrou em mim. “Eu não li,” ela
admitiu. “Ele mandou alguma coisa, mas eu só li a primeira
linha. Eu avisei... Depois apaguei a mensagem.”
“Você pode recuperá-la?” Perguntei a Grey.
Ele assentiu. “Sim.”
“Dê a ele seu telefone.”
Ava Jade recusou o comando, e eu cerrei os dentes. Eu
queria puni-la por isso. Eu queria dobrá-la sobre meu joelho e
colocar minha mão em sua bunda nua até que ficasse vermelho
cereja. Eu queria fazê-la admitir seu erro e pedir desculpas por
colocar a si mesma e a meus irmãos em perigo.
Mas o que eu queria não importava agora. O que importava
era manter todos nós seguros, e a única maneira de fazer isso
era não assustá-la e fazê-la correr ou fazê-la se afastar ainda
mais de mim.
“Por favor,” eu mal consegui pronunciar a palavra, e senti
Rook endurecer ao meu lado com o pedido, seus olhos
perfurando o lado do meu rosto. “Precisamos saber o que ele
disse.”
“Você acha que era ele, não é?” Ela perguntou. “Não
poderia ser o seu perfeito papai gangster,” ela zombou.
Eu balancei minha cabeça. “Não estamos descartando
nada.”
Ela ficou surpresa com isso e pensou baixinho por um
segundo antes de pegar o telefone do bolso e entregá-lo a Grey.
“Você tem alguma ideia de quem é essa pessoa?” Grey
perguntou, pegando a mão dela na dele. Ele deu um aperto
tranquilizador antes que ela se afastasse.
Ela balançou a cabeça.
“Alguém do seu passado, talvez?” Grey perguntou. “Um
amante rejeitado?”
O que?
Olhei para a parte de trás da cabeça de Grey, imaginando
quais outras mensagens ele recuperou junto com as do
aparente perseguidor. Claramente mais do que sabíamos.
Ava Jade olhou para ele. “Não. Não é Kit.”
“Porque você não quer que seja ou...”
“Só não é ele. Confie em mim.”
Ele assentiu. A conversa acabando por hora, mas eu já
tinha memorizado o nome, pronto para vasculhar cada
centímetro de Lennox em busca desse cara.
“Vou levar isso lá para baixo,” disse Grey e ergueu a seringa
enquanto se levantava, deixando o apartamento para levar a
seringa para quem estava esperando por ele.
Rook caminhou de volta para a sala e caiu no sofá em
frente às meninas com um suspiro profundo. “Até descobrirmos
isso, você não pode ficar aqui,” ele disse a Ava Jade. “A janela
vai demorar para ser consertada e o Ninho é mais seguro.”
“Não. Já te disse que não vou ficar lá. Além disso, não vou
deixar Becca aqui sozinha. E se ele voltar?”
Rook assentiu. “Ok. Certo. Ela vem também. Vocês duas
podem ficar no sótão acima da garagem.”
Surpresa brilhou nos olhos de Pardal, e eu imitei o
sentimento. Que porra ele estava pensando? Mas se Ava Jade
concordasse em ficar conosco, eu lidaria com isso.
“Uh, eu estou bem,” Becca resmungou, falando pela
primeira vez. “Eu realmente não quero...”
“Pelo menos até que a janela esteja consertada e você possa
fazer seu pai instalar um sistema de segurança,” Ava Jade a
interrompeu, de repente gostando da ideia se isso significasse
que ela poderia garantir a segurança de sua amiga. Claramente
isso era mais importante para ela do que seu orgulho. “Por
favor? Não posso deixar você aqui.”
Becca cedeu. “Certo. Sim, acho que não seria tão ruim.”
Honestamente, eu esperava que ela lutasse mais ou
pedisse para ficar em outro lugar. Eu tinha certeza de que seu
pai milionário ficaria feliz em hospedá-la no The Vandermark,
nos arredores da cidade. Eu preferiria isso, mas se eu quisesse
ficar do lado bom de Ava Jade, eu poderia permitir isso. Pelo
menos temporariamente.
“Façam as malas,” falei, plantando minhas mãos nas
costas do sofá de cada lado da cabeça de Rook. “Esta é a última
noite de vocês em Briar Hall por um tempo.”
GREY

Diazepam.
Sally, da farmácia 24 horas da cidade, demorou mais do
que eu havia pedido, mas pelo menos ela conseguiu identificar
o que havia na seringa. Diazepam suficiente para sedar alguém
por horas. Teria entrado em ação em quinze segundos.
Rook estava batendo no saco de pancadas sem parar desde
que contei a ele e a Corvus na noite de segunda-feira, depois de
deixar as meninas no sótão. Rook conhecia aquela droga melhor
do que a maioria jamais poderia. Foi o que usaram nele no
hospital psiquiátrico em Stockton. Aquele para o qual Barrettes
Home for Boys o mandou depois que encontraram um dos
líderes do grupo com uma vassoura enfiada no traseiro no
armário do zelador. As palavras Rook esteve aqui esculpidas na
carne carnuda acima de seu cóccix enquanto ele chorava contra
um pano sujo em sua boca.
Eu nunca perguntei por que ele fez isso, e ele nunca me
disse. Era apenas uma daquelas coisas que eu sabia que estava
fora dos limites para discussão, mas minha imaginação surgiu
com as piores coisas. Foi por isso que, depois que Diesel nos
adotou e nos transformou no que somos agora, fiz uma visita
ao líder do grupo. Também não perguntei o que aconteceu.
Coloquei dois pedaços de chumbo entre seus olhos e nunca
disse uma palavra a ninguém sobre isso.
Ajudou-me a dormir melhor saber que o que quer que ele
tenha feito ao meu irmão, ele nunca seria capaz de fazer
novamente.
Rook esteve no hospital psiquiátrico por dois meses antes
de retornar, e ele nunca mais foi o mesmo depois. O taciturno
e zangado Rook que eu conhecia voltou indiferente daquele
lugar. Sem se importar com nada ou com ninguém, exceto
comigo. E isso o tornou mais perigoso do que nunca.
Ele só me falou sobre seu tempo lá uma vez, quando estava
completamente bêbado e todas as suas palavras eram
arrastadas. Por um mês direto eles injetaram diazepam nele
para derrubá-lo por não seguir ordens como tomar seus
remédios, pintar uma árvore ou esperar sua vez. Eles ficavam
felizes em espetá-lo com aquela agulha mesmo na menor
infração.
“Rook,” eu interrompi, entrando na garagem para uma
onda de calor e o cheiro inebriante de suor e loção pós-barba.
Arfando, ele fez uma pausa, piscando enquanto seus olhos
focavam no meu rosto. Ele baixou os punhos, sacudindo-os
enquanto saltava de um pé para o outro.
Ele estava ficando super nervoso. Precisaríamos encontrar
algum tempo para abrir sua tampa e soltar um pouco de sua
energia logo. Julia ainda não tinha nada para nós, mas mantive
a esperança de que ela teria em breve.
Sempre poderíamos ampliar nossa rede, como Rook
sugeriu vários meses atrás. Publicar os panfletos da linha de
apoio nas cidades e vilas vizinhas, mas então poderíamos
acabar com o problema oposto. Muito trabalho para lidar em
vez de não ser suficiente. Se deixássemos uma criança em uma
situação letal...
Se pelo menos uma morresse porque não chegamos a ela a
tempo depois que ligasse para a linha direta…
Seria demais.
“Sim?” Rook perguntou, limpando a umidade de seu lábio
superior.
“Está quase na hora de ir. Você vem?” Perguntei, mas não
era realmente uma pergunta. Diesel nos enviou a mensagem no
chat em grupo na noite de segunda-feira, depois que as
meninas se instalaram.
Diesel: Sábado à noite. Sanctum. Tragam a garota.
Bem, agora era sábado e estava escurecendo. Dies não
havia dado uma hora específica, mas nove era uma aposta
segura e já eram quase oito e meia agora.
Rook tirou as luvas e metodicamente tirou um pouco da
fita dos nós dos dedos. “Ainda não sabemos do que se trata?”
Ele perguntou, seu olhar semicerrado encontrando meu rosto.
Eu balancei minha cabeça. “Não. Temos que assumir que
é outro julgamento.”
“Tão cedo?”
Dei de ombros. “Não é tão cedo se ele não teve nada a ver
com o ataque no fim de semana passado.”
Os lábios de Rook se apertaram em uma linha.
Não encontramos nada que indicasse que o ataque foi a
pedido de Diesel. Nenhum dos Saints foi ferido ou desapareceu.
Diesel não tinha vindo torcer o pescoço de Rook por interferir
ou interceder por Ava Jade.
Não havia impressões digitais na seringa.
Nenhuma em qualquer lugar no quarto de Ava Jade.
Rook ainda estava cético, mas acredito que não tinha sido
Diesel. Era o perseguidor dela. Tinha que ser.
“Mais alguma coisa no telefone dela, então?” Rook
cutucou, flexionando os dedos antes de tomar um longo gole do
copo de uísque que havia empoleirado em cima de um
banquinho de madeira perto da parede.
“Nada.”
Ele bateu o copo de volta para baixo e um músculo na
minha mandíbula estalou.
O perseguidor de Ava Jade estava estranhamente
silencioso desde o ataque no fim de semana passado. Ela não
tinha recebido uma única mensagem. Ou nós o assustamos ou
ele estava ganhando tempo. Ou talvez ele estivesse apenas se
recuperando da queda de dois andares da janela do quarto dela.
Não havia como ele ter escapado ileso daquela queda. Nós
checamos os hospitais, no entanto. Cada um dentro de oitenta
milhas. Dos poucos pacientes admitidos com ferimentos que
teriam sido consistentes com a queda, nenhum se encaixava em
sua descrição.
Alto. A mesma altura de Rook, talvez dois centímetros a
menos. Forte com uma estrutura esbelta e sólida, com
músculos. Nem Rook nem AJ achavam que ele era muito velho.
Talvez mais velho que eles, mas não muito. Certamente menos
de trinta e cinco.
Apenas um homem se encaixava nessa descrição. E ele
encontrou o cano frio da arma de Corvus e se molhou dois dias
atrás, quando teve alta do hospital. Não era o cara. Ele recebeu
o suficiente para comprar um novo par de calças de grife e foi
mandado embora com um aviso.
Rook lambeu os lábios, e eu pude ver a faísca de loucura
em seus olhos quando eles brilharam para as luzes do teto.
“Nós vamos encontrar esse filho da puta,” eu assegurei a
ele. “Nós vamos encontrá-lo e então você vai desmontá-lo
pedaço por pedaço. E eu vou te ajudar nisso.”
Seu olhar se estreitou em mim, uma curiosa ruga em sua
testa. A pergunta não dita em seus lábios. Você irá?
Eu balancei a cabeça.
Rook acenou de volta.
“Vou subir para pegar as meninas. Corv está quase
pronto.”
Quando eu disse isso, nós dois ouvimos a porta da frente
da casa se fechar além da porta da garagem e o motor do Rover
ligar na entrada. Estava frio pra caralho lá fora esta noite, e as
chances eram de que ele estava apenas aquecendo, mas ele não
gostaria de ficar esperando por muito tempo.
Rook terminou sua bebida e entrou, indo direto para o
chuveiro.
Peguei a antiga entrada até o sótão. Aquela que exigia o
uso da escada estreita no canto de trás da garagem.
Corvus chamou alguns dos caras de Diesel na segunda-
feira, enquanto o resto de nós estava nas aulas. Eles
terminaram a pequena reforma em seis horas conforme
solicitado e, quando voltamos após a última aula, havia uma
nova entrada para o loft, acessível pela outra extremidade do
banheiro do andar de cima.
Corv não gostou da minha ideia de loft, mas em vez de
discutir sobre isso, pela primeira vez ele apenas calou a boca e
encontrou uma solução silenciosa. Uma que eu estava com
raiva por não ter pensado.
Se ele não tivesse feito a nova entrada, elas teriam sido
isoladas de nós. Levaria muito tempo para chegar até elas em
caso de emergência e as deixaria com apenas uma rota de
entrada e saída, e foi por isso que Ava Jade também gostou da
ideia.
Bati duas vezes na porta e esperei um pouco antes de ouvir
Becca me chamar para entrar.
O loft se abriu diante de mim quando subi os últimos
degraus, passando pela soleira e entrando no pequeno estúdio
que nunca usamos.
Becca estava empoleirada na beirada de uma cadeira
enorme, parando de pintar as unhas para inspecioná-las em
busca de imperfeições antes de deslizar a mão sob uma cúpula
de luz ultravioleta.
“O que? Às vezes, elas precisam de uma correção entre as
consultas,” explicou ela. “E não consegui ir ao salão a semana
toda.”
Eu não ia perguntar, e não estava perguntando, mas
assenti do mesmo jeito. “Onde está AJ?”
Ela apontou com a cabeça para o outro lado do sótão.
“Banho.”
Comecei a entrar no sótão, mas a próxima pergunta de
Becca me parou. “Já tem reposição para aquelas maçanetas?
Por mais que eu adore tomar banho com a porta aberta em uma
casa cheia de caras... ah não, espere... na verdade não amo
isso.”
Justo. “Corv disse que elas estarão aqui na segunda-feira.”
“Obrigada por isso.”
“Alguma coisa nova que devemos saber?” Perguntei a
Becca, baixando minha voz. “Mensagens, ou…”
Ela me olhou como se tivesse brotado outra cabeça em
mim. “Pergunte a AJ,” disse ela com um suspiro pesado. “Você
realmente acha que ela ainda vai mentir para você sobre isso
depois daquela merda no fim de semana passado?”
A verdade? Eu não tinha certeza.
Caminhei até a porta do banheiro, batendo levemente no
painel de madeira para que não abrisse com meu toque. “AJ?
Temos que ir.”
“O que?”
O chuveiro estava desligado por dentro, mas o exaustor
provavelmente dificultava a audição.
“Hora de ir,” eu chamei mais alto, e ela rosnou por dentro.
A única resposta que eu provavelmente obteria.
Sentei-me pesadamente no pequeno baú aconchegado no
final da cama que Ava Jade e Becca compartilhavam. O loft não
era nada de especial, mas era o suficiente para as duas
temporariamente.
A cama era queen, o colchão e a roupa de cama eram
novos. Tinha uma pequena cozinha no canto mais distante da
porta e uma seção voltada para a parede no canto oposto com
uma modesta TV de trinta polegadas montada na parede. E a
mesa, é claro, de inde Becca me observava com cautela
enquanto esperávamos por AJ.
O espaço foi concebido como um presente para Corvus.
Rook e eu pensamos que iria ajudá-lo a obter a paz e o sono que
ele tanto precisava, mas ele nunca se mudou para cá. Agora
que havia um acesso mais fácil ao resto do Ninho, me perguntei
se ele o faria quando as meninas fossem embora.
Senti uma pontada no peito e limpei a garganta quando
Ava Jade saiu do banheiro com jeans rasgados e uma regata
justa e curta sem sutiã por baixo. Seus mamilos como pequenos
beijos sob o tecido escuro.
Sua maquiagem estava pronta, mas seu cabelo ainda
estava úmido do banho, caindo sobre seus ombros e costas em
ondas suaves e molhadas.
“Você tem um secador de cabelo?” Ela perguntou.
Eu balancei minha cabeça. “Não. Sem tempo também.
Acho que Corv já está esperando no carro.”
Bem na hora, uma buzina longa e estridente soou do lado
de fora.
“Você vai ficar bem aqui sozinha, Becca?” Perguntei, e ela
abriu a boca para responder, mas foi Ava Jade quem falou em
seu lugar.
“Você disse que era seguro,” ela cuspiu de volta
acusadoramente.
“E é.”
“É melhor ser. É definitivamente mais seguro do que
envolvê-la mais nas minhas merdas do que ela já está. A última
coisa que quero fazer é exibi-la na frente de Diesel.”
Inclinei a cabeça para o lado, franzindo os lábios. Ela tinha
um ponto aí.
“Além disso, ela não estará aqui sozinha de qualquer
maneira. Você tem planos para esta noite, não tem, Becks?”
Becca sorriu para AJ humildemente antes de balançar a
cabeça. “Não. Não, eu vou ficar aqui.”
AJ cruzou a sala para sua amiga, baixando a voz como se
eu ainda não pudesse ouvi-la claramente. “Você não saiu
nenhuma vez esta semana. Aconteceu alguma coisa entre você
e seu cara misterioso?”
Becca deu de ombros, suspirando novamente. “Foda-se se
eu sei. Acho que ele está me evitando. Ele faz isso às vezes,” ela
deu de ombros. “Me dá tempo para colocar em dia alguns
deveres de casa de bioquímica, então tanto faz. Eu não preciso
dele.”
AJ apertou o ombro da amiga. “Você com certeza não
precisa, querida, mas ninguém ignora minha melhor amiga e
sai impune. Quer que eu o localize? Arraste-o até aqui para uma
conversinha?”
Becca deu uma risada que rapidamente morreu em sua
garganta quando ela viu a expressão de AJ e percebeu que sua
amiga não estava brincando nem um pouco.
“Uh,” ela disse, rindo por um motivo diferente agora. “Eu
vou deixar você saber, ok?”
AJ assentiu. “Acho que não vamos demorar,” ela se virou
para mim. “Não vamos demorar, certo?”
“Desculpe. Não fomos informados. Não faço ideia do que
está acontecendo. Pode levar vinte minutos. Pode ser a noite
toda.”
Eu odiava admitir, mas aí estava, estávamos levando Ava
Jade para o Sanctum sem nenhuma ideia do que estaria
esperando por nós quando chegássemos lá. Não foi por falta de
tentar descobrir. Bisbilhotamos o Sanctum e o armazém, e eu
até dei uma desculpa para ir buscar algo na casa de Diesel só
para dar uma espiada lá também. Perguntar diretamente a ele
também não nos levou a lugar nenhum. Então, aqui estávamos
nós.
“É outro julgamento?” Becca perguntou, e AJ visivelmente
ficou tensa.
Ela não teve escolha a não ser confessar tudo a sua amiga
depois da merda que aconteceu em Briar Hall. Já estava na
hora, realmente. E por mais que não gostássemos disso, não
seria justo deixá-la no escuro, especialmente se ela continuaria
aqui com AJ, o que parecia ser o caso.
AJ levantou seu olhar duro para mim, e eu suspirei.
“Não sabemos,” ela admitiu, ecoando os meus
pensamentos.
“Você vai cuidar dela, certo?” Becca me perguntou,
fixando-me um olhar venenoso que me fez parar. Eu entendi
que ela estava chateada com o que aconteceu em Briar Hall, e
que AJ estava sendo arrastada por tudo isso, estando em
perigo, mas havia mais do que preocupação ali. Havia ódio.
E então se foi, o olhar apagado com a risada curta de Ava
Jade com a demanda de sua amiga.
“Eles cuidam de mim?” Ela disse, sorrindo para a amiga.
“Não se preocupe, Becks. Não preciso de ninguém para cuidar
de mim. Estarei de volta antes que você perceba.”
A expressão de Becca escureceu, mas ela assentiu. Ela
realmente estava de mau humor. Eu esperava que o namorado
dela ligasse de volta em breve. Caso contrário, eu estava com
medo de que suas garras só ficassem mais longas. E sua
mordida, mais forte.
“Tudo bem, então,” disse AJ, pegando uma jaqueta jeans
desbotada da parte de trás da cadeira em que Becca estava
sentada, sentindo a tensão no ar e querendo sair antes que
ficasse mais intensa. “Não espere acordada. Mantenha tudo
trancado. Você se lembra de como usar aquela lâmina que
deixei para você?”
“Aponte com a parte pontiaguda,” Becca respondeu,
imitando um gesto de facada que ainda precisava de muito
trabalho para ser considerado um gesto. AJ riu disso.
“E a outra parte?”
“Apunhalar primeiro, fazer perguntas depois.”
“Você vai se tornar uma profissional em pouco tempo.”
Becca nos dispensou depois que Corvus buzinou pela
segunda vez. “Vão embora antes que ele queime a porra de um
fusível.”
Ava Jade verificou a porta duas vezes antes de sairmos
para ter certeza de que estava trancada e segura. Ela verificou
a porta da garagem e a porta da frente também,
melancolicamente inclinando a cabeça para a pequena janela
iluminada colocada acima das portas da garagem, a
preocupação marcando sua testa.
“Ela vai ficar bem. Corv instalou todas aquelas câmeras
novas. Se quiser coloco o app no seu celular no caminho até lá.
Dessa forma, você pode consultá-las sempre que quiser.”
Ela sorriu para mim com a mão na maçaneta da porta do
banco de trás. O primeiro sorriso que eu via nela em uma
semana. “Você pode?”
“Sim,” falei e segurei a porta quando ela deslizou para o
assento ao lado de Rook, que estava olhando pela janela como
se as próprias árvores pudessem criar garras e presas e vir
pegar sua garota.
Limpei a garganta, cutucando a parte de trás do banco do
passageiro. “Corv, você pode dirigir?”
“Por que diabos?” Ele rosnou.
“Vou colocar o aplicativo das câmeras no telefone de AJ.”
Ele grunhiu. “Dá aqui,” disse ele, estendendo a mão para
o telefone de AJ sem se virar. “Farei isso por ela.”
Ela hesitou, mas relutantemente desbloqueou o telefone e
o colocou na mão dele, sentando-se ereta em seu assento para
vigiar por cima do ombro dele.
Ou ela tinha algo a esconder ou queria ver se ele tentaria
bisbilhotar para que ela pudesse infernizá-lo.
Minha pele se arrepiou com a primeira opção, me
perguntando se havia alguma nova mensagem entre ela e Kit.
Eu apertei minha mandíbula enquanto circulava o Rover e
pulava no banco do motorista, puxando-nos para a estrada.
“Nada mais do perseguidor?” Corvus perguntou em um
tom que eu sabia que estava tentando soar casual e não
exigente, mas ele falhou em todos os aspectos.
“Não,” AJ respondeu, estalando o o.
Acontece que a última mensagem que Ava Jade excluiu
antes de ler tudo foi apenas a primeira linha. Recuperá-la e
descriptografá-la foi uma total perda de tempo.
Mas ver as três palavras por mim mesmo foi o suficiente
para fazer meu sangue ferver novamente.
Eu te avisei…
Ele a avisou? Ha! Esse filho da puta era um homem morto
andando.
Nós consideramos a opção de que ele poderia ter rastejado
para algum lugar e morrido devido aos ferimentos, mas de
alguma forma eu duvidava disso. Seria um desperdício. Havia
uma parte profunda e sombria de mim que queria que ele ainda
estivesse vivo para que eu pudesse ajudar a matá-lo eu mesmo.
“Grey,” Corvus disse, fazendo uma pergunta com o meu
nome, e eu percebi o quão forte eu estava segurando o volante
e forcei meus dedos rígidos a relaxar. Obriguei-me a diminuir a
velocidade do Rover quando entramos no estacionamento dos
fundos do Sanctum e Corvus devolveu o telefone de AJ.
Ela foi a primeira a pular, parecendo não estar nem um
pouco preocupada com o que poderia esperá-la lá dentro.
Suspirei depois que a porta dela se fechou e estremeci
quando Corvus agarrou meu braço em um gesto
extraordinariamente gentil. “Você está bem, cara?”
Engoli em seco e dei a ele um aceno rápido. “Sim. Estou
bem, só…”
“Eu sei,” ele respondeu antes que eu pudesse articular
adequadamente o que eu queria dizer. “Está no papo. Ela vai
ficar bem.”
O Rover roncou até parar quando eu girei a chave de volta
e saí para o ar fresco da noite, inalando profundamente pelas
narinas.
Comida.
Eu precisava de algo para comer. A banana que comi no
café da manhã e a pizza que esquentei no almoço não eram nem
uma fração do que comia normalmente. Não era à toa que eu
estava tão fodidamente irritado. Não era à toa que minhas mãos
pareciam estar tremendo.
AJ folheou os feeds das câmeras recém-instaladas por
meio do aplicativo em seu telefone enquanto entrávamos,
aparentemente satisfeita por não encontrar nada além das
sombras trêmulas das árvores se movendo ao vento e a casa
silenciosa nas telas.
“Tudo limpo?” Perguntei a ela com o meu melhor sorriso
encorajador.
“Sim. Parece tudo bem. Ela vai ligar se ouvir ou ver alguma
coisa. Ela vai ficar bem.”
Eu não tinha certeza se ela estava me convencendo ou a si
mesma, mas de qualquer forma, eu concordei quando entramos
no andar principal do Sanctum e a música de dentro nos
invadiu junto com o cheiro de cerveja e uísque.
Acenei com a cabeça para Sasha quando entramos e, ao
nos ver, ela pegou o bourbon favorito de Rook e serviu-lhe um
copo sem perguntar.
“Ei, queridos,” ela chamou, atraindo a atenção dos outros.
Sasha colocou o uísque no bar para Rook que fez uma careta
antes de pegá-lo com um aceno de cabeça agradecido. “Alguém
mais quer alguma coisa?”
“Não,” Corv rosnou, seu olhar percorrendo o pub em busca
de Diesel.
“Vou tomar uma água,” AJ pediu, e eu peguei seu olhar
mergulhando para o peito de Sasha. Era difícil não olhar, com
o jeito que ela usava, seus peitos quase saindo de sua camisa.
Eles eram seios bonitos, também. Falsos, mas às vezes esses
eram ainda melhores do que os verdadeiros.
“Claro, querida,” respondeu Sasha e encheu um copo com
gelo e água, mergulhando um canudo preto fino antes de
entregá-lo a AJ.
“Você, Grey?”
“Nah, estou bem,” respondi quando comecei a procurar por
Diesel também.
Estava cheio o suficiente para uma noite de sábado e
Sasha foi rapidamente chamada para ajudar o outro barman a
preparar as bebidas do outro lado do bar. A maioria dos Saints
e suas namoradas ou fodas enfeitavam o bar e as mesas. Bolas
de bilhar batiam ruidosamente umas nas outras na área dos
fundos. Alguns moradores afogavam suas mágoas em cerveja
barata no bar e um punhado de garotas em vestidos muito
curtos olhava para os Saints vestidos de couro ainda não
reclamados de uma cabine perto da porta. Rindo enquanto
ajustavam o decote e o cabelo.
Mas eu não consegui ver Diesel em lugar nenhum.
O que significava que ele ainda não estava aqui ou estava
na sala privada do outro lado do bar, fora de vista.
“Diesel já chegou?” Fui perguntar a uma das garçonetes,
uma garota chamada Cat.
Ela balançou a cabeça. “Não o vi, mas os outros chegaram
aqui cerca de uma hora atrás. Quem é a sua amiga?”
Eu olhei de volta para AJ. “Essa é a nossa garota,” falei
antes que pudesse mudar de ideia. “Dê a ela o que ela quiser e
se alguém olhar para ela engraçado, eu quero saber sobre isso.”
Seus lábios se contraíram em um sorriso desajeitado
quando ela respondeu. “Certo. Vou garantir que todos saibam.”
Rook rosnou atrás de mim, e eu me virei para vê-lo olhando
para um idiota bêbado tropeçando, deixando-me imaginar se o
cara acidentalmente esbarrou nele. Ele bebeu seu uísque e foi
atrás do cara.
“Rook!” Chamei, mas ele já tinha ido embora, perdido na
multidão.
“Ele murmurou algo sobre ir ao banheiro,” disse Corvus,
dando-me um olhar estranho. Obviamente ele não tinha visto a
expressão no rosto de Rook. Ou talvez eu só estivesse pensando
demais.
Eu grunhi, dando um aceno de cabeça.
“Eu vou dar uma volta,” Corvus ofereceu, ele e Ava Jade se
posicionando atrás de mim. “Pegue uma mesa e espere.”
“Não, eu vou,” falei, parando-o. “Eu preciso parar na
cozinha e pegar algo para comer.”
Parecia que ele poderia argumentar, mas ao estudar meu
rosto, deu um passo para trás para permitir que eu fosse. Eu
devo ter parecido uma merda, tanto como me sentia.
Eles encontraram o caminho para uma cabine vazia perto
das mesas de bilhar, Corvus deslizando para o assento da
cabine em frente a Ava Jade.
“E aí, cara!” Axel gritou por cima da música, batendo nas
minhas costas enquanto eu abria caminho no meio da
multidão. Seus olhos azuis semicerrados e vidrados de
embriaguez. “Onde está seu pai? Eu queria...”
“Não sei, Axe. Ele deve estar aqui em breve,” eu interrompi,
não deixando espaço para mais conversa, mas isso não o
impediu.
“Ei! Ei, Grey, cara, eu só queria que você soubesse que está
tudo configurado como ele pediu. Eu não comecei a beber até
terminar, você sabe. Eles estão prontos para ele na parte de
trás.”
O que? Eu queria fazer a pergunta, mas não o fiz. Então ele
saberia que eu não tinha a menor ideia do que ele estava
falando.
“Onde?” Perguntei em vez disso. “Eu preciso verificar.”
Seu rosto se contorceu em confusão, e eu me preocupei em
dizer a coisa errada, mas me mantive firme, esperando. “Bem?”
Eu empurrei. “Onde eles estão?”
“Cozinha,” ele disse quando outro Saint começou a puxar
seu braço. “Prateleira inferior do refrigerador. Eu fiz exatamente
como ele pediu, cara. Como sempre.”
Como sempre?
Porra.
“Tenho certeza que sim, cara. Obrigado.”
Deixei Axel com seus amigos e corri pelos fundos do bar,
entrando na cozinha. A essa hora, estava fechada e todas as
superfícies de aço inoxidável brilhavam. Satisfeito por estar
vazia, fui até o refrigerador e o abri, uma rajada de ar frio
flutuando em meu rosto quando olhei para dentro.
No fundo da prateleira à minha esquerda havia dois cálices
feitos de prata pesada, o emblema dos Saints de uma flor-de-lis
com uma adaga projetando-se do fundo em relevo nas laterais
de cada copo. Dentro de cada um, um líquido dourado refletia
o horror em meu rosto.
Passei a palma da mão no rosto e comecei a andar pela
estreita faixa de piso de concreto, examinando as opções
limitadas para evitar o que estava para acontecer.
AVA JADE

“Eu disse a você,” eu gemi quando Corvus empurrou o taco


de sinuca na minha mão. “Não sei jogar.”
“É fácil,” ele me disse, pegando um taco do suporte para si
mesmo. “É tudo sobre ângulos e cálculo de força. Grey me disse
que você está à frente dele na aula de matemática. Você vai
pegar rapidamente.”
Eu fumeguei silenciosamente na beirada da mesa de
bilhar, cujos jogadores Corvus acabou de expulsar com um
único olhar. Meus dentes cerraram quando ele juntou todas as
bolas coloridas na mesa e as colocou em uma moldura
triangular, arrancando algumas para movê-las para os lugares
certos.
Eu odiava o fato de que ainda mal conseguia olhar para ele
depois da outra manhã. Havia apenas um punhado de pessoas
que já me viram assim, bem, talvez punhado nem fosse a
palavra certa. Meu pai foi a única outra pessoa que já me viu
chorar. E agora havia Corvus.
Isso tinha feito algo entre nós, e eu não tinha certeza se
gostava disso. Ele estava sendo legal. Cauteloso. Como se ele
estivesse com medo de que se dissesse a coisa errada, eu
quebraria novamente. Isso estava me deixando louca pra
caralho.
Eu chorei. E daí, porra? Ele precisava superar isso. Eu
precisava superar isso.
Se ele continuasse me tratando como se eu fosse feita de
porcelana, eu mostraria a ele o quão afiadas minhas arestas
quebradas podiam ser.
Grey apareceu atrás de mim na mesa de bilhar, roçando
levemente meu cotovelo com algo frio e úmido. Eu girei para ele
com um rosnado para encontrá-lo segurando uma bebida
gelada com um fino canudo preto. Cheirava a refrigerante
escuro com um toque de... Rum, talvez?
“Aqui,” disse ele, empurrando-a para mim. “Eu trouxe uma
bebida para você.”
“Não, obrigada, estou bem.”
Seu rosto caiu, os lábios se abrindo como se eu tivesse
acabado de recusar a porra de uma proposta de casamento em
vez de uma maldita bebida.
“Jesus,” eu disse com uma risada. “Não é como se eu
tivesse chutado seu cachorro. Eu só quero manter a minha
cabeça limpa.”
Ele limpou a garganta. “Certo. Sem problemas. Vou
apenas, uh, segurá-la caso você mude de ideia.”
Eu levantei minhas sobrancelhas. “Ok, então. Faça isso,
Super-Homem.”
O rosto de Grey se apertou, seus lábios se curvando em um
pequeno sorriso antes de ele passar por mim para ir e se sentar
na mesa ao lado das mesas de bilhar. Rook deslizou nela um
segundo depois dele, aparecendo do nada. Ele se recostou na
cabine, pegando um guardanapo do dispensador de prata na
mesa para limpar de seus dedos algo que parecia
suspeitosamente com sangue.
“O que?” Corvus perguntou e seguiu minha linha de visão
para onde Rook estava agora descartando o guardanapo em
cima da mesa e sinalizando para Sasha por outra bebida.
“Pelo amor de Deus,” ele xingou, e eu o segui de volta para
a cabine a tempo de ouvir Grey sibilando sobre a mesa para
Rook.
“Que diabos você fez?”
Rook deu de ombros, seus olhos parecendo mais claros do
que nunca. “Ele a chamou de prostituta,” Rook disse
despreocupadamente, seu olhar perverso voando para mim e
para longe novamente.
Ele estava falando de mim?
Corvus se inclinou sobre a mesa, seus dedos espalhados
sobre a madeira gasta. “Quem?”
“Algum idiota.”
“Rook?” Grey empurrou. “Onde ele está?”
Rook suspirou, aceitando graciosamente um uísque fresco
de Sasha com uma piscadela. “Ele está vivo.”
Ele não parecia particularmente entusiasmado com isso.
“Ele simplesmente não vai mais falar merda nenhuma sobre a
nossa garota. Ou... Falar muito, eu imagino.”
Oh, meu Deus. “Você cortou a língua dele.”
Não era uma pergunta. Eu sabia disso, e ele adorou que eu
soubesse, sorrindo para mim descontroladamente.
“Bingo.”
Isso... isso foi meio fofo. De uma forma super fodida,
totalmente psicopata, mas fofo. Mordi o lábio, esperando que a
dor diminuísse o calor na minha corrente sanguínea.
“Puta merda, Rook. Você conhece as regras. Nenhum
derramamento de sangue no Sanctum. Diesel vai pirar,” disse
Corvus, com o rosto ficando vermelho.
“Relaxe, irmão.” Rook revirou os olhos. “Eu o levei para
fora. Conheço as regras.”
Grey relaxou um pouco, assentindo distraidamente. “O
filho da puta meio que mereceu isso,” ele murmurou, fazendo
algo vibrar na minha barriga. Corvus não discordou, mas
gemeu, ficando de pé enquanto beliscava a ponta do nariz.
“Pelo menos ele não o matou,” Grey disse a Corvus.
“Progresso.”
Corvus balançou a cabeça, fixando seu olhar em Rook, que
estava bebendo seu uísque como se não tivesse nenhuma
preocupação no mundo. “Tudo bem. Apenas... apenas se limpe.
Tem sangue na sua jaqueta.”
Corvus agarrou meu cotovelo e me guiou de volta para a
mesa de bilhar, longe da situação que era seu irmão.
“Você quer quebrar?” Corvus perguntou, indicando o
triângulo perfeito de bolas coloridas na mesa.
Eu sabia o suficiente sobre bilhar para saber o que ele
queria dizer, mas era só isso. Além disso, eu ainda estava me
recuperando da demonstração sanguinária de afeto de Rook.
“Uh, eu nem sei como fazer uma tacada.”
“Venha aqui,” ele ofereceu. “Eu vou te mostrar.”
Eu bufei, imaginando isso. Imaginando Corvus ajustando
minhas mãos no taco. Ele me dizendo para me curvar e obter
uma boa linha de visão do taco para a bola enquanto ele se
posicionava atrás de mim. Seu corpo quente envolvendo o meu.
Seu hálito quente na lateral do meu pescoço enquanto ele
guiava meu taco para a posição com as mãos em cima das
minhas.
Provavelmente era a fantasia de qualquer garota nesta
sala, e eu estaria mentindo se dissesse que não era tentador.
Mas eu não queria reencenar cenas clichês de comédias
românticas. Além disso, eu poderia descobrir isso sozinha.
Assim que me livrasse desse sentimento, ainda aquecendo
minhas bochechas e deixando meus joelhos fracos.
“Bem, agora,” uma voz áspera gritou sobre o riso estridente
e a música no pub. “Vocês não me contaram que ela sabia jogar
sinuca.”
“Diesel,” disse Corvus, sua mandíbula flexionando
enquanto ele olhava para algum lugar por cima do meu ombro
direito.
Eu me virei, escondendo qualquer traço de desconforto em
minha expressão. Eu não mostraria a ele nenhum medo.
Homens como ele podiam sentir o cheiro no ar. Eles
prosperavam com isso. Se banhavam nele. Eu não daria a ele
essa satisfação.
“Eu não sei,” falei. “Seu filho só ia me ensinar.”
Não pude deixar de enfatizar um pouco, que seus filhos me
escolheram. Tinham escolhido me deixar viver apesar do que
Diesel poderia ter preferido. Que eles gostavam de mim o
suficiente para me ensinar a jogar sinuca, ou para cortar a
língua de um homem por me chamar de prostituta.
Era estúpido e talvez um pouco infantil, mas não me
importava. Eu não pedi por nada disso e não cairia tão fácil.
“É mesmo?” A pergunta de Diesel foi para Corvus, e eu me
virei para ele com expectativa.
“Sim. Passando o tempo até você chegar aqui. Demorou
bastante.”
“Nós nos atrasamos,” Diesel respondeu, e eu o observei
tirar uma velha jaqueta de couro arrebentada e passá-la para
um cara enorme à sua esquerda. Eu o reconheci como Tiny. O
segurança do ringue de boxe ilegal lá embaixo.
Tiny pendurou cuidadosamente a jaqueta de couro de seu
chefe nas costas de uma cadeira alta, como se temesse que
muita força pudesse rasgá-la em duas. Ele não estava errado.
A coisa parecia estar se segurando por fios e uma oração. Não
é o tipo de coisa que eu esperava que o líder de uma das maiores
gangues de Cali usasse.
“Se você não se importa, filho. Eu adoraria tentar,” Diesel
disse, cruzando o salão para estender a mão para a deixa de
Corvus.
O nível de som no Sanctum caiu exponencialmente desde
a chegada de Diesel e enquanto eu girava em um círculo lento,
notei quantos dos Saints que estavam bebendo alegremente
cinco minutos atrás agora estavam assistindo. Arrebatados com
a troca entre Diesel e seus filhos.
Entre Diesel e sua nova recruta em potencial.
Porra.
Corvus relutantemente entregou o taco e Diesel o virou,
segurando-o até a ponta se voltar para baixo.
Eu deveria ter feito isso?
“O que você diz, princesa?” Ele perguntou, sua voz ecoando
no pub quando ele colocou o taco na mesa e me encarou com
um olhar seguro. “Me agracia com um jogo?”
“Eu disse a você, eu não sei jogar. E não me chame de
princesa.”
Ele inclinou a cabeça, me estudando da cabeça aos pés.
Aproveitei para fazer o mesmo. Esta era apenas a segunda
vez que via Diesel St. Crow em carne e osso e na primeira vez,
eu estava mais do que um pouco preocupada.
O homem era mais alto do que eu me lembrava. Bonito,
para um cara mais velho, com uma figura esguia, mas
musculosa e olhos brilhantes que eu sabia que viam mais do
que deixavam transparecer. Eu normalmente não gostava de
barba, mas de alguma forma a dele combinava com ele, longa e
afunilada, quase toda reta e bem cuidada. Eu não poderia
imaginá-lo sem ela. Ele tinha um tipo relaxado de poder. Como
um leão em repouso. Ele poderia se levantar e atacar sempre
que quisesse, mas porque faria isso quando tinha um orgulho
em suas costas pronto para fazer o trabalho por ele?
“Muito bem. Corv? Estamos atrasados para um jogo, eu
acho. Por que você não pega o taco de Ava Jade? Ou devemos
apenas começar com o verdadeiro motivo de estarmos todos
aqui?”
“Quer me dizer o que seria?”
Diesel sorriu. “Por que a pressa?”
Corvus hesitou antes de vir até mim. “A menos que você
prefira acabar logo com isso?” Ele murmurou, estendendo a
mão para o taco.
Eu abri minha boca para responder que sim, porque droga,
eu só queria voltar para casa, mas Corvus agarrou o taco antes
que eu pudesse responder, tomando minha fração de segundo
de silêncio como uma não resposta. Ou talvez ele simplesmente
não estivesse pronto para o que quer que fosse começar.
Grey me chamou para a cabine, e eu fui enquanto Corvus
se inclinava sobre a borda elevada da mesa de bilhar e quebrava
o triângulo de bolas com um estalo alto.
“Que tal aquela bebida?” Grey perguntou, deslizando o rum
e a Pepsi para mim.
Por que ele insistia tanto para que eu bebesse? Não era
uma alegria estar sóbria, mas se começasse a beber, poderia
esfaquear alguém.
“Não tem muito rum nele,” disse ele. “É só uma dose.”
Encontrei seu olhar, encontrando uma ruga preocupada
entre suas sobrancelhas.
“Acho que você precisa mais do que eu,” brinquei, mas
peguei a bebida oferecida, girando o canudo antes de removê-lo
e engolir a bebida gelada em dois longos goles. O gelo fez meus
dentes doerem.
Grey relaxou visivelmente, e eu olhei para o fundo do copo.
“Se isso foi batizado ou alguma merda assim, eu vou te matar.”
Rook sorriu maliciosamente com isso porque é claro que
Grey não iria me dar algo batizado, mas com o quanto ele queria
que eu bebesse a maldita coisa, era um comentário válido.
Percebi que ele não se preocupou em limpar os respingos
de sangue de sua jaqueta, usando-os como uma medalha de
honra. A cor até que combinava com ele.
O jogo de Corvus e Diesel acabou em questão de minutos,
com Diesel saindo vitorioso.
Ele foi até o filho adotivo e apertou seu ombro. “Você está
distraído,” eu mal o ouvi dizer a Corvus. “Vamos ter outra
rodada mais tarde, certo?”
“Sim,” Corvus murmurou.
“Bom.” Ele deu um tapinha nas costas de Corv. “Vamos
acabar logo com isso. Pegue a garota e nos encontre na sala dos
fundos. O segundo julgamento dela é esta noite.”
Corvus enrijeceu.
Os olhos de Diesel me cortaram como cacos de gelo antes
de se desviarem e ele voltou sua atenção para Tiny e outro
homem atrás dele. Juntos, eles desapareceram na multidão.
“Você tem alguma ideia do que será?” Perguntei a Corvus
quando ele chegou perto o suficiente para que eu não precisasse
levantar a voz.
Ele balançou sua cabeça. “Algumas ideias, mas não
exatamente.”
Eu olhei para os outros. Rook e Grey estavam impassíveis
e silenciosos na cabine.
Ótimo.
“Os julgamentos são sempre diferentes para cada pessoa.
Existem alguns que se repetem, como uma espécie de tradição,
mas quase nunca são dados exatamente da mesma maneira,”
explicou Corvus.
Ele estendeu a mão para mim e eu me levantei sem sua
ajuda, o pouco de rum que eu tinha acabado de engolir subindo
à minha cabeça. Ignorei sua mão e ele a deixou cair,
aparentemente despreocupado. “Se você precisar de um
minuto,” ele ofereceu, mas eu já estava balançando a cabeça.
“Não. Eu quero voltar logo para casa. Vamos, vamos fazer
isso.”
Rook e Grey deslizaram para fora da cabine e ficaram atrás
de Corvus e de mim enquanto ziguezagueávamos pelo pub,
chegando a um conjunto de portas duplas ao redor do lado mais
silencioso do bar na parte de trás do prédio. Passamos por elas
para uma sala escura. À frente havia portas de vaivém com
janelas no topo que mostravam uma cozinha reluzente. À direita
havia uma placa para banheiros e à esquerda um longo
corredor que levava a uma única porta pintada de preto com
uma maçaneta de prata polida.
Foi para lá que nos dirigimos.
Eu me preparei, acenando para a minha escuridão quando
ela começou a inchar, ganhando vida em minhas entranhas.
Corvus segurou a porta aberta e Grey deu um passo à
minha frente para entrar primeiro. Rook seguiu logo atrás de
mim. A iluminação dentro da grande sala era fraca, lançando
um brilho misterioso sobre o espaço.
À minha esquerda, um banco de sofás seccionais de
aparência cara continha alguns Saints, descansando em
silêncio, bebidas empoleiradas entre os dedos. À minha direita
havia uma grande mesa retangular feita do que parecia ser
vidro preto polido a princípio. Mas quando nos aproximamos, vi
que não era vidro, mas algum tipo de epóxi tingido, uma flor-
de-lis dourada transformada em adaga cravada no meio.
Diesel St. Crow sentava-se na extremidade oposta mais
próxima da parede, e apenas uma outra cadeira esperava na
outra extremidade da mesa. Não era ciência de foguete
descobrir para quem ela estava destinada.
Sem que ninguém me dissesse, passei por Grey e me
encostei na cadeira, sentando-me ereta enquanto me
empurrava para a borda da mesa. Com a parte inferior do meu
corpo escondida, foi fácil pegar uma lâmina da minha coxa
através do grande rasgo no jeans. Estilo e acessibilidade. Esses
eram meus jeans favoritos.
Coloquei a lâmina na minha coxa e levantei minhas mãos
para o topo da mesa, sentindo-me mais confiante sabendo que
ela estava a apenas alguns centímetros de distância se eu
precisasse.
O olhar mordaz de Diesel me observou cuidadosamente,
sua linha de visão voando baixo antes de subir de volta para o
meu rosto. Ou ele sabia o que eu tinha acabado de fazer ou
adivinhou. Eu não dava a mínima de qualquer maneira. Ele
realmente não esperava que eu fosse a qualquer lugar
desarmada, não é?
Eu sabia que ele estava armado. Eu tinha visto isso no
pub. E eu também sabia que todos os seus filhos estavam
armados também. O que era uma lâmina em comparação com
armas? Nas mãos de alguém menos habilidoso, nada. Mas em
minhas mãos...
Talvez um dia Diesel descobrisse isso.
“Isso é um concurso de encarar?” Perguntei depois de mais
um minuto de silêncio conciso. “Porque se for...”
Nesse momento a porta se abriu novamente e Tiny entrou
com dois cálices de prata em uma bandeja. Ele foi direto para
Diesel e se curvou, sussurrando algo em seu ouvido antes de
colocar a bandeja para baixo e sair da sala.
Corvus amaldiçoou e Rook soltou um grunhido tão baixo
que me perguntei se o havia imaginado.
Isso não era bom.
“Podemos ficar a sós?” Disse Diesel, seus olhos brilhantes
passando rapidamente sobre os muitos rostos ansiosos para
assistir o que diabos estava prestes a acontecer.
Os Saints saíram um por um, e eu virei minha cabeça para
ver Grey, Rook e Corvus ainda de pé apenas alguns metros
atrás da minha cadeira.
“Preciso me repetir?” A mandíbula de Diesel flexionou.
“Vocês podem esperar lá fora,” ele ofereceu a eles. “Eu vou
deixar vocês saberem quando puderem voltar. Eu gostaria de
falar com nossa nova iniciada em particular.”
“Isso é realmente necessário?” Corvus perguntou, e Diesel
estreitou seu olhar sobre ele. “É uma tradição antiquada.
Deveríamos...”
“Isso não está em discussão.”
Lentamente, eu me virei para encarar Diesel, sem dizer
nada.
Uma pontada de mal-estar deslizou pela minha espinha,
fazendo meu estômago revirar de pavor, mas não demonstrei.
Nem mesmo quando os filhos de Diesel obedientemente
deixaram a sala como foram solicitados.
Algo que eu não acho que eles teriam feito se algum deles
realmente acreditasse que ele era o responsável pelo homem
que tentou me injetar a porra do Diazepam.
Isso foi o suficiente para reprimir a escuridão crescente em
mim, pelo menos um pouco. Embora todos nós soubéssemos
que Diesel não estava interessado em me tornar uma Saint. Que
ele não confiava em mim e faria qualquer coisa ao seu alcance
para garantir que eu falhasse. Então, talvez a escuridão
pudesse durar um pouco mais, caso eu precisasse.
“Ava Jade Mason,” Diesel entoou, recostando-se em sua
cadeira de couro com encosto alto, como um rei em seu trono.
“Dezoito anos de idade. Pai falecido. Mãe viciada. Viveu em
Lennox toda a sua vida até recentemente ficar sob os cuidados
de sua tia e se mudar para Thorn Valley. Até agora correto?”
Não respondi, mas meus dedos coçaram para pegar a
lâmina em meu colo.
“Foi difícil encontrar muitas informações além disso, no
entanto, dada a sua esperteza e habilidade com uma lâmina,
aposto que você teve uma infância difícil. Isso está certo?”
“O que isso tem a ver com alguma coisa?”
Ele encolheu os ombros. “Gosto de saber que tipo de cobras
estou convidando para entrar em minha casa.”
“E?”
Ele bateu os dedos distraidamente na mesa. “E eu gosto de
saber quem meus filhos convidaram para a deles.”
“Bem, agora você sabe.”
Ele franziu os lábios. “Não o suficiente.”
“Se há algo que você quer perguntar, é só perguntar.”
Ele inclinou a cabeça para o lado, me considerando sob
uma nova luz. “Eu não confio em você, Ava Jade. Acho que você
é uma víbora. Toda escamas brilhantes e olhos sedutores.
Embalando meus meninos com uma sensação de falsa
segurança enquanto você espera o momento perfeito para
atacar.”
O policial Vicky cruzou meus pensamentos, mas eu o
afastei, com medo de que Diesel fosse capaz de ver a verdade
escondida logo abaixo da minha carne e dos meus ossos.
“Então por que concordar em me deixar fazer os
julgamentos?” Perguntei em vez disso.
Ele não gostou dessa pergunta. Ficou claro na forma como
sua expressão azedou. “Meu filho me pediu esse favor,” ele me
disse, surpreendendo-me com a verdade. “Greyson nunca me
pediu nada. Não desde o dia em que o acolhi. Nem uma única
coisa.”
Seus olhos encontraram os meus, segurando-me lá com
uma intensidade quente. “E então ele me pediu algo por você.”
“E você acha que ele cometeu um erro?”
“Eu sei que ele fez. Só espero que todos vejam isso antes
que seja tarde demais. Há algumas lições que não posso ensinar
a eles. Algumas eles terão que aprender sozinhos.”
Algo em meu peito quebrou em sua admissão e no olhar
assombrado escurecendo seus olhos.
Ele acordou depois de um segundo, sentando-se ereto na
cadeira para cruzar as mãos sobre a mesa.
“Eu quero que você saiba, Ava Jade, que se você trair meus
meninos, se você os machucar, eu vou te caçar até os confins
da terra. Você pode pensar que sabe o significado da dor, mas
está errada. Você vai sentir dor e vai sangrar. E quando eu
terminar com você... Você vai morrer.”
Eu deixei isso afundar, sua promessa gravada em meus
ossos.
Foi violento e uma clara ameaça e ainda...
Eu o respeitava por isso.
Uma dor se formou atrás do meu esterno, e eu engoli uma
queimação na minha garganta. A lembrança de meu próprio pai
ressurgindo das profundezas de onde eu o havia banido. Eu
tinha que admirar Diesel por sua disposição de fazer o que fosse
necessário para proteger seus filhos.
Eu amava meu pai, mas se eu tivesse tido um pai tão
ferozmente protetor quanto Diesel, eu poderia não ser do jeito
que sou hoje.
“Eu entendo,” respondi com um aceno de cabeça.
“Bom.”
Ele se levantou da mesa e ergueu os dois cálices da bandeja
ao seu lado, levando-os para mim.
Ele os colocou à minha frente na mesa, um ao lado do
outro.
“Ambos têm duas doses de bom uísque,” ele fez uma
pausa. “Em um deles há um veneno de ação rápida.”
Meu pulso acelerou.
“Você decide qual quer beber. Eu vou beber o outro.”
“Você se envenenaria?” Perguntei duvidosamente, minha
mente correndo.
Ele me olhou com olhos de gato. “Sim. Se você escolher
corretamente. O veneno é forte. Os efeitos colaterais...
Desagradáveis. Mas a probabilidade de ser letal é baixa.”
Baixa, mas não zero. Fodidamente incrível.
“O que diabos isso deveria provar?” Perguntei, incapaz de
me ajudar. “Obediência cega?”
“Às vezes a obediência é necessária, mesmo que represente
um grande risco para você. Se você passar por esses
julgamentos, preciso saber que fará o que for pedido, não
importando se não concordar. Mesmo sabendo que poderia
causar danos corporais. Apenas para o bem de muitos.”
“E como isso seria para o bem de muitos? É veneno. Isso é
uma merda idiota saída de um filme, tipo Princess Bride6.”
Ele sorriu com isso, mas eu não estava brincando.
“É tradição,” acrescentou antes de indicar novamente os
cálices. “Escolha.”
Estreitei meu olhar nos cálices, rangendo os dentes.
Isso é estúpido pra caralho.
Mas... Eu percebi um pouco tarde, ele tinha acabado de me
dizer o que este julgamento deveria provar. Se eu não bebesse,
era reprovada no julgamento. Minha recusa provaria minha
incapacidade de seguir uma ordem.
Se eu não bebesse, Diesel ganharia.
Não poderíamos deixar que isso acontecesse, poderíamos?
Eu me acomodei sabendo que se Diesel me matasse, seus
filhos nunca o perdoariam. Pelo menos, Grey não o faria.
Também não achei que Rook ficaria muito feliz. Corvus
provavelmente superaria isso.
Eu poderia lidar com um pouco de cólicas estomacais,
certo?
“Posso verificá-los?” Perguntei e Diesel assentiu.

6 Filme Princesa Prometida, no Brasil.


Levei cada um ao nariz, sentindo o cheiro de uísque forte
em cada um, mas nada mais. Eu os girei, inclinando os cálices
para a luz para verificar se havia redemoinhos de um líquido
que pudesse ter uma viscosidade diferente ou resíduo de pó no
fundo. Ambos pareciam limpos.
Talvez não houvesse veneno algum.
Talvez fosse apenas um teste de obediência e tudo que eu
precisava fazer era beber para passar.
Muitos talvezs. Muito pouco tempo.
Suspirei, decidindo pelo cálice à minha esquerda, o mais
distante de Diesel. Eu o levantei, a prata fria úmida com a
condensação. “À sua saúde,” falei com um sorriso irônico, e ele
sorriu de volta, espalhafatoso enquanto levantava o outro cálice
e o batia contra o meu.
Engoli a bebida em dois goles ardentes e passei as costas
da mão nos lábios, derrubando o cálice de metal pesado de volta
na mesa.
“Garotos,” Diesel chamou em voz alta, dando-me um
sorriso conhecedor enquanto fazia seu caminho de volta ao
longo da mesa para seu assento na extremidade oposta. Com
ele fora do meu lado, enfiei minha lâmina de volta em sua
bainha.
Os caras voltaram um segundo depois, seus rostos
sombreados enquanto observavam os cálices vazios na minha
frente.
Uma dor aguda atravessou meu estômago e lutei contra a
vontade de me dobrar, agarrando a parte de baixo da mesa.
Foda-se.
“Vão, rapazes. Tirem-na daqui. Não quero que ela faça
bagunça no meu chão.”
ROOK

Ava Jade não fez bagunça em lugar nenhum, como Diesel


sugeriu que ela faria. Nós a trouxemos direto para casa, todos
nós tensos enquanto esperávamos pela dor inevitável.
Mas nunca veio. Nada mais do que o nó entre as
sobrancelhas para provar que ela estava com algum
desconforto. Eu não sabia o que diabos fazer com isso.
Lembrei-me da noite depois do meu julgamento de
envenenamento e não desejaria isso a ninguém. Exceto, talvez,
ao filho da puta a perseguindo. As cólicas eram fortes, mas não
eram nada comparadas à dor de cabeça latejante que durava
dias, ou meu estômago expelindo cada grama de seu conteúdo
e mais um pouco. E não me fale sobre o quanto eu destruí o
banheiro.
Estremeci, colocando a enorme garrafa de água no meu
ombro para subir as escadas até o sótão para substituir a que
Ava Jade e Becca haviam esvaziado.
Bati duas vezes na porta e Becca atendeu, afastando-se
para que eu entrasse. Ela quase não saiu do loft desde que elas
se mudaram, e eu estava curioso para saber se ela estava com
muito medo. Eu não a culparia. O medo era uma forma
poderosa de autopreservação natural, ou pelo menos era isso
que Diesel estava sempre tentando me lembrar.
“Fantasma?” Perguntei enquanto colocava o jarro no
bebedor, abrindo o selo para que a água pudesse fluir para
dentro da câmara.
“Banheiro,” ela respondeu com um suspiro, e meu
estômago apertou. Será que finalmente começou? Ava Jade foi
direto para o loft quando voltamos ontem à noite, e não ouvimos
falar dela ou a vimos desde então. Todos nós concordamos em
ficar longe do banheiro do andar de cima para dar a ela um
pouco de privacidade enquanto ela estava doente, mas eu
nunca ouvi um pio.
Mesmo sendo meu quarto o mais próximo. Não houve sons
de vômito. Sem choros de dor. Eu teria trazido água para ela.
Uma toalha fria.
“Há quanto tempo ela está lá?” Perguntei, olhando para a
porta fechada do outro lado da sala.
Becca levantou uma de suas sobrancelhas escuras com a
minha pergunta, hesitando antes de sua resposta. “Hum, por
quê?” Ela perguntou, como se fosse a pergunta mais ridícula e
ela não pudesse por sua vida descobrir por que eu iria querer
saber.
Eu considerei isso. “Ela não está passando mal?”
“Passando mal?”
A porta se abriu e Ava Jade voltou para o sótão, prendendo
o cabelo. Meu pau pulou no meu jeans ao vê-la, minha boca
ficando seca.
Ela definitivamente não estava doente.
Parecendo mais um espectro do que um fantasma em preto
com uma saia de couro e uma camisa preta apertada com
pequenos recortes subindo de ambos os lados da cintura até as
axilas, expondo mais do que deveria. Maquiagem escura nas
pálpebras com traços perversos de delineador preto fazendo
com que parecessem asas.
“Rook?” Ela perguntou, e eu percebi que ainda estava
olhando.
Dei uma última olhada em sua roupa toda preta antes de
controlar minha expressão. “De quem é o funeral?” Perguntei,
meus lábios puxando para cima de um lado.
“Ainda não decidi,” ela brincou, sorrindo de volta com uma
piscadela.
Ela realmente não estava doente. Diesel não a envenenou?
Isso não parecia provável. Ele sempre envenenava os dois
cálices. Ele havia feito aquele julgamento de uma forma ou de
outra para todos os membros dos Saints. Ele estava
acostumado com o veneno, porque desenvolveu uma tolerância
ao longo dos anos que lhe permitia sobreviver sem muito
desconforto. Além disso, havia o antídoto sempre pronto para o
caso de ele precisar.
O antídoto…
Meu cérebro trabalhou para resolver a equação, tentando
descobrir como ela escapou ilesa.
Grey. Aquele filho da puta sorrateiro.
Eu deveria ter visto isso antes. Ele saiu para dar uma volta
pelo bar, disse que estava indo para a cozinha. O veneno
precisava ser mantido refrigerado. Ele teria o encontrado no
refrigerador. Mas como ele conseguiu o antídoto tão rápido? Foi
uma jogada ousada, mas não posso dizer que não teria feito isso
sozinho se tivesse a oportunidade.
Teríamos que contar a Ava Jade eventualmente. Diesel
gostaria de saber que ela sofreu. A única maneira de funcionar
era se ela mentisse. Um problema para outra hora.
“Você está quase pronta, Ava?” Becca perguntou,
inclinando-se sobre a mesa para olhar em um pequeno espelho
circular enquanto aplicava batom cereja escuro. “Devemos ir.”
“Ir?”
“Temos um show para ir hoje à noite,” Ava disse
despreocupadamente. “Pensei que já tinha contado a vocês.”
“Não, não contou.”
“Oh. Que pena. Mas se você estiver ocupado esta noite, não
há problema, Becca e eu ficaremos bem sem você.”
Filha da puta desonesta.
Por que seu desafio apenas me deixou ainda mais duro?
Lambi meus lábios, respirando fundo enquanto mordia
meu piercing no lábio. Até que percebi o que aconteceria hoje e
minha diversão aumentou.
“Acho que não, Fantasma,” respondi sem margem para
discussão, sem me preocupar em explicar. Ela sabia por que
não podíamos deixá-la ir a lugar nenhum sozinha. Era mais do
que apenas as ordens de Diesel agora. Havia alguém lá fora que
tentou derrubá-la com um sedativo. Eu poderia imaginar
vividamente mil razões para ele querer fazer isso e nenhuma
delas jamais aconteceria se eu tivesse alguma opinião sobre
isso.
“Sempre um estraga prazeres,” Ava Jade murmurou e eu
levantei minhas sobrancelhas.
“Não. Esse é Corvus. Não eu.”
Ela inclinou a cabeça para um lado e para o outro,
franzindo os lábios para mostrar que concordava.
“Para que show você vai?” Perguntei em um tom
desinteressado, encostado na viga de apoio no centro do chão.
“Alguém que eu conheça?”
“Duvido,” ela respondeu com uma espécie de desdém
altivo.
“Surpreenda-me.”
Ela me olhou de cima a baixo enquanto se sentava na beira
da cama para calçar um par de botas até a panturrilha,
fechando o zíper bem apertado. “Primal Ethos,” ela disse
finalmente, observando-me em busca de qualquer traço de
reconhecimento.
“Ele é bom,” falei, ansioso para arrancar mais detalhes de
seus lábios. “Não incrível, mas é bom.”
Uma piada interna que ela não entenderia, mas por dentro,
eu estava rindo.
Claro que ela seria uma fã do Primal Ethos. Eu deveria ter
adivinhado, mas isso? Ela realmente vai a um de seus shows?
Um raio de antecipação selvagem rasgou minha espinha.
“Ah!” Ela se indignou. “Ele é a porra de um deus e nada
menos.”
“Amém,” acrescentou Becca, fazendo um perverso sinal da
cruz enquanto balançava os ombros.
Eu não pude evitar que a diversão se espalhasse pelo meu
rosto desta vez, e meu fantasma olhou para mim como se eu
tivesse perdido meu parafuso restante.
“O que é tão engraçado?” Ela exigiu, e eu limpei minha
garganta, engolindo meu sorriso.
“Nada.”
Ela revirou os olhos, pegando algum dinheiro e o que
parecia ser uma identidade falsa de seu criado-mudo. “Pronta,
Becks?”
“Sim, deixe-me usar o banheiro primeiro.”
A porta se fechou atrás de Becca, e Ava Jade ajustou seus
seios enquanto caminhava em minha direção. Deixei escapar
um grunhido, alto o suficiente para ela ouvir. Ela sorriu com a
minha reação, inclinando-se para perto para sussurrar em meu
ouvido. “Então, você vai se juntar a nós?”
Seu cheiro encheu meu nariz, e eu torci um punho em seu
cabelo, segurando-o em meus dedos na parte de trás de seu
crânio para segurá-la lá, a centímetros de mim.
Verdade seja dita, eu queria estar lá para ver o rosto dela...
Mas eu tinha planos para esta noite. Um pequeno
reconhecimento meu. Fora dos registros. Todos nós estávamos
ganhando tempo para tentar encontrar o bastardo que atacou
Ava Jade, mas até agora não encontramos nada. Eu não podia
aceitar isso. Eu precisava de seu sangue cobrindo minhas
mãos. Espalhado pelo meu rosto. Eu precisava ouvir seus gritos
e ver a luz deixar seus olhos para que eu pudesse dormir à
noite.
Esta noite, eu tinha um trabalho. Encontrá-lo. Ou, pelo
menos, encontrar a porra de uma pista.
“Não posso, infelizmente,” murmurei a um suspiro de
distância de seus lábios. “Mas tenho certeza de que Grey ficaria
feliz em acompanhá-la.”
“Muito ocupado para mim?” Ela perguntou, seus olhos
azul-acinzentados de aço voando para os meus lábios e
voltando para cima novamente.
Inclinei meu queixo para baixo, o desejo como uma lâmina
cortante enquanto respondia. “Nunca.”
Sua respiração saiu em um suspiro silencioso enquanto eu
prendia meu punho em seu cabelo, fazendo seus olhos se
apertarem com a pontada de dor. Ela fechou os olhos e gemeu,
mas quando a porta do banheiro se abriu, eu a soltei, me
afastando como se o momento entre nós nunca tivesse
acontecido. Ela deu um passo à frente, corada e sem fôlego,
piscando para mim de pé a um metro de distância, como se ela
não pudesse entender como eu tinha me movido tão rápido.
“Ava?” Becca perguntou, olhando para as costas de sua
amiga. “Você está bem?”
Ela balançou a cabeça para mim, a ameaça de retribuir
minha provocação dez vezes mais, clara em seus olhos.
“Fodidamente fabulosa,” ela respondeu. “Vamos encontrar
Grey.”
Ela passou por mim, e eu sorri para ela. Eu agarrei a mão
dela antes que ela pudesse desaparecer escada abaixo para a
garagem, puxando-a para cima.
Ela olhou para minha mão segurando-a com força e ergueu
o queixo com uma pergunta em seu olhar duro. Mas eu não
queria impedi-la de ir. “Você está armada?”
Ela visivelmente relaxou e levantou a bainha de sua saia
de couro, mostrando-me as lâminas gêmeas amarradas em
cada lado de suas coxas e uma visão muito boa de sua calcinha
preta. Eu apertei minha mandíbula, balançando a cabeça.
“Bom.”
Eu a soltei.
“Tome cuidado.”
“Fantasmas não podem morrer, Rook,” ela me disse em um
tom leve. “Já estamos mortos.”
GREY

Grey: Atenda a porra do seu telefone, idiota.


Disparei a mensagem para Corvus. A sétima mensagem
que enviei a ele em poucos minutos.
“Você poderia mover seu assento para frente?” Eu lati,
gritando sobre Gravedigger do Primal Ethos, enquanto Becca
cantava junto.
AJ girou em seu assento no carro, seus olhos brilhando
nas luzes neon do painel. “Ninguém pediu para você vir,” ela me
lembrou. “E eu não estou contraindo minhas pernas para que
você possa se esticar aí atrás. Vire de lado ou algo assim. E pare
de ser tão ranzinza. Você está matando a vibe toda.”
“Aw, vamos lá, Grey,” Becca acrescentou uma vez que Ava
Jade terminou, abaixando a música um pouco. “Você está
preocupado que não sejamos capazes de pagar uma multa?
Tenho certeza de que nós…”
“Não,” eu a interrompi. “Eu não estou preocupado.”
Becca recuou como se tivesse levado um tapa e aumentou
o volume da música, inclinando-se para sussurrar para AJ. “O
que rastejou para a bunda dele?”
“Nenhuma ideia.”
“Ah, eu amo essa aqui!” Becca gritou animadamente,
aumentando o volume para níveis absurdos agora que pegamos
a saída para Lodi. “Vamos, Ava. Cante comigo!”
AJ sorriu, abaixando a cabeça quando Becca começou a
cantar, mas ela não se juntou a ela.
“Vamos, querida,” Becca continuou a cutucar. “Esta é a
minha parte favorita!”
Voltei ao meu telefone, folheando os números não salvos
até encontrar o que esperava ser de Maxine. O dela era um
número que eu ainda não tinha memorizado.
Grey: Max. Nós temos um problema. Mande Corvus me
ligar assim que receber isso.
Porra. Seria um desastre se AJ o reconhecesse. Ou pior, se
ele visse AJ no meio da multidão e soubesse que eu não tinha
feito nada para impedi-la de vir. Mas se ele pensasse
racionalmente, o que eu duvidava que ele faria, perceberia que
nada que eu pudesse ter dito ou feito a teria impedido de ir.
Se eu tivesse dito não, ela teria encontrado outro jeito. Se
eu tivesse tirado o fusível da bomba de combustível do carro,
elas teriam apenas pedido um táxi, ou consertado, pelo que eu
sabia. Se eu tentasse trancá-las, AJ poderia quebrar uma
parede para se libertar e me matar ao sair.
Aparentemente, Becca e Ava Jade estavam esperando e
planejando esse show há semanas. Mais de um mês. Não havia
nada que pudesse detê-las a não ser ferimentos fatais, e eu não
iria tão longe. Eu não poderia ir tão longe.
Se tivéssemos sorte, as táticas que usávamos para
esconder sua identidade das massas também funcionariam em
Ava Jade. Mas quando foi que tivemos sorte? E quando AJ foi
enganada por qualquer coisa que já fizemos ou dissemos?
Não passou despercebido por mim que, se eu não tivesse
dado a ela o antídoto para o veneno, ela estaria doente demais
para ir. Acho que isso foi o karma voltando para me morder na
porra da bunda.
Porra. Porra. Porra.
Em um último esforço, tentei enviar uma mensagem de
texto para Rook.
Grey: Alguma ideia brilhante? Eu agradeceria a ajuda.
O bastardo tinha acabado de passar por mim sorrindo
quando AJ anunciou para onde elas estavam indo e disse que
eu tinha cinco minutos para entrar no carro ou iriam embora
sem mim.
Sua resposta veio um segundo depois.
Rook: Aproveite o show.
Idiota.
Ele estava gostando disso.
Becca deu uma cotovelada em AJ na frente, e ela começou
a cantar o refrão da próxima música com sua amiga, sua voz
subindo no Audi de Becca como uma onda rebelde. Levei um
minuto para processar o quão incrível ela parecia. A voz dela
entrelaçando-se quase habilmente com a voz dele enquanto se
espalhava pelos alto-falantes. Eu queria dizer a Becca para
parar de cantar, só para que eu pudesse ouvi-la melhor.
Ela deve ter percebido que eu a observava porque, depois
do refrão, ela parou de cantar abruptamente e afundou na
cadeira enquanto Becca gritava animadamente.
“Merda, garota!” Becca disse, empurrando AJ levemente.
“Você não me disse que sabia cantar.”
AJ encolheu os ombros, olhando para a frente no escuro,
mas o menor sorriso brincou no canto de sua boca. Em
desacordo com a tristeza em seus olhos que eu podia ver pelo
retrovisor lateral.
O local do show apareceu à frente e enxames de
espectadores se aglomeraram em ambos os lados da rua,
fazendo seu caminho para a entrada principal do
estacionamento em que estávamos entrando.
Grey: AJ está aqui. Desculpe cara, não consegui pará-
la.
As noites de show eram as únicas em que Corvus deixava
o telefone de lado para colocar a cabeça no jogo. A única ocasião
em que ele ignoraria uma ligação ou uma mensagem de texto.
Max, sua empresária, geralmente guardava o celular para ele
até mais tarde, mas mesmo aquela cadela não estava
respondendo minhas malditas mensagens.
Era igualmente provável que ela as tivesse lido, visto que o
conteúdo poderia desviá-lo do show, e decidido não contar a ele.
Ele teria sua cabeça por isso, mas pelo menos o show não seria
arruinado. Maxine só se importava com o dinheiro e quando
Corvus concordava em fazer um show, era sempre uma casa
lotada garantida. Eu não duvidaria se o lote promocional que
pedimos no último minuto tivesse acabado antes mesmo de ele
subir no palco.
O misterioso Primal Ethos. O homem dos ossos, como
alguns começaram a chamá-lo. Todo mundo gostava de um
bom mistério. Maxine estava certa sobre isso, pelo menos. A
necessidade de anonimato de Corvus era parte da razão pela
qual ele cresceu em popularidade tão rapidamente. A sinistra
pintura facial de caveira acrescentou um toque de horror a toda
a farsa que combinava perfeitamente com sua marca.
Para uma mulher morta andando, até eu tinha que admitir
que Maxine era fodidamente fantástica em seu trabalho. Seria
uma pena perdê-la. Posso até sentir falta de seu tom mandão e
sua atitude sem filtro.
Meu telefone vibrou quando saímos do carro e quase o
deixei cair na pressa de arrancá-lo do bolso.
Número Desconhecido: Não sei o que está acontecendo,
mas guarde para o pós-show, certo? Ele já está estressado o
suficiente com a nova música, ele não precisa de qualquer
merda que você esteja prestes a trazer para a mesa, ok. Até.
Max.
“Grey, vamos! Temos que encontrar um ingresso para você
antes do show começar!” Becca acenou, trancando seu Audi e
acenando com a mão para mim.
“Só um segundo,” respondi, afastando-me mais do carro
enquanto ligava para Maxine.
Vamos.
Tocou, tocou e tocou, porra.
“Ei!”
“Maxine, oh, obrigado, porra...”
“Você ligou para a Max. Eu odeio mensagens de voz, então
é melhor que isso seja importante pra caralho. Se for, seja
rápido, caso contrário, envie-me um e-mail para...”
Terminei a ligação com um suspiro profundo e quase
quebrei meu telefone de tanta frustração.
“Grey!” AJ gritou, e eu girei para encontrar as duas
esperando na calçada com expectativa.
Quer saber... Foda-se.
Tentei.
O próprio Corvus disse que AJ era uma de nós. Se ele quis
dizer isso, então não havia razão para querer arrancar a porra
da minha cabeça. Se ele não quis... Bem, isso seria problema
dele, porque eu não poderia ir caçá-lo nos bastidores e sair do
lado de Ava Jade. Não com a possibilidade de seu perseguidor
ainda estar por aí.
Ele poderia estar aqui agora. Pelas mensagens de texto,
parecia que ele estava sempre à espreita. Não, eu ficaria com
ela e lidaria com as consequências mais tarde.
“Estou indo,” eu gritei, correndo até elas enquanto
guardava meu telefone no bolso, alcançando o baseado
pendurado nos dedos de Becca ao seu lado. Levei-o aos lábios
para um longo trago e exalei profundamente, tossindo um
pouco enquanto a fumaça subia pelos meus pulmões. Era uma
merda da boa.
“Greyson Winters,” Becca vibrou, pegando seu baseado de
volta com um olhar de aprovação. “Bem-vindo à festa, bonitão.
Vamos encontrar um ingresso para você.”
AVA JADE

Atrevo-me a dizer?
Enquanto Becca me arrastava pelas portas lascadas de
tinta do local subterrâneo, empurrada de ambos os lados por
outros fãs ansiosos, eu tinha que admitir... Eu estava me
divertindo.
Nós nem estávamos no palco principal ainda, e eu já podia
sentir isso, uma bolha de emoção em meu peito prestes a
explodir. Enquanto éramos conduzidos pelo corredor estreito
até o salão, um sorriso surgiu em meus lábios e ergueu os
cantos dos meus olhos. Olhos que deviam estar brilhando com
o cintilar das luzes de néon pulsando acima no ritmo da música.
A banda atualmente no palco era uma que eu não conhecia
muito bem, mas gostava de ouvir mesmo assim. Eu deixei Becca
me puxar para o centro de tudo, roçando os ombros com ela e
Grey em cerca de seis outras pessoas enquanto dançávamos.
Becca riu quando a música chegou ao fim e aqueles ao
nosso redor aplaudiram, eu inclinei minha cabeça para trás
para soltar um uivo, levantando minhas mãos para bater
palmas com aqueles ao meu redor.
Eu peguei Grey me olhando e qualquer pedaço de gelo que
permaneceu em volta do meu coração começou a derreter com
o olhar em seu rosto.
Era como se eu pudesse ler sua mente com aquele único
olhar. Estou feliz por você estar feliz, ele parecia dizer, mas mais
do que isso. Havia alívio também. Tão profundo que doía olhar.
Eu estava assim tão retraída ultimamente?
Pensando na noite do ataque, percebi que sim. Eu quase
não saía do loft a não ser para as aulas e uma refeição estranha
com os rapazes. E eles me deixaram processar tudo sozinha,
apenas aparecendo de vez em quando para fazer perguntas,
mostrando que eles estavam trabalhando para caçar meu
perseguidor tanto quanto eu.
Eles não gostariam do que eu planejei para quando
finalmente pegasse o filho da puta, mas se tudo desse certo,
quem quer que fosse já estaria morto e então nenhum de nós
teria que se preocupar mais.
Se ele já não estivesse morto. Meu telefone estava
estranhamente vazio de mensagens ameaçadoras desde a
semana passada, e eu estava começando a pensar que a queda
realmente tinha sido demais para o bastardo se recuperar
depois de tudo.
Isso tornaria as coisas mais fáceis para mim, com certeza,
mas verdade seja dita, eu queria ser a única a acabar com ele,
com as minhas próprias mãos, e talvez uma lâmina ou duas.
Foi um desperdício para um filho da puta sádico como ele
morrer sem que eu tivesse feito parte disso.
Teria sido muito fácil.
“Ei,” Grey gritou enquanto a banda no palco anunciava que
tocariam uma última música antes de dar as boas-vindas ao
Primal Ethos no palco. “Para onde você foi agora?”
“Hum?”
“Volte,” ele me pediu com um sorriso encorajador,
deslizando sua mão na minha. Mas algo doloroso cintilou por
trás de seus olhos âmbar e eu vi uma preocupação que não
tinha notado antes. Algo estava acontecendo, mas o que quer
que fosse, Grey parecia decidido a não me deixar carregar nada
disso. Preferindo ser um resmungão por todo o caminho até
aqui, ou pelo menos até agora.
“Aproveite este momento, AJ. Você merece isso.”
Algo vibrou em meu peito, e dei um aperto na mão dele,
concordando, mesmo que uma parte de mim pensasse que eu
merecia toda a miséria que o mundo poderia reunir para me
dar. Eu perguntaria a ele o que o estava incomodando mais
tarde. Para ajudá-lo, se pudesse.
“Vamos, Ava!” Becca gritou, girando quando a última
música da banda de abertura começou a tocar, estendendo as
mãos para mim quando ela parou. “Dance comigo, amor!”
Como diabos eu poderia dizer não para aquilo?
Grey ficou perto de nós enquanto Becca e eu dançamos e
meus olhos se abriram quando ela furtivamente tirou uma
pequena garrafa de Jack de entre seus seios. Peguei dela e olhei
em volta, certificando-me de que ninguém viu. “Você está
tentando nos expulsar?”
Ela riu. “Olhe em volta, querida! Você vê algum
segurança?”
Eu fiz o que ela pediu e no fundo do salão, não havia
segurança algum e, de fato, notei vários outros bebendo sua
bebida contrabandeada e ri.
“É para você,” ela gritou, ainda balançando no ritmo
enquanto a música começava a diminuir para o fim. “Eu tenho
que dirigir.”
Eu não comentei sobre o fato de que ela parecia totalmente
em paz em dirigir chapada, balançando minha cabeça para ela
enquanto eu segurava a pequena garrafa para Grey. “Quer um
pouco?” Eu ofereci.
Ele gesticulou para mim em resposta. “Todo seu.”
Tudo bem então... Por que não?
Eu estava lidando com minha bebida muito bem nas
últimas semanas e isso dizia algo desde que minha vida foi
reduzida a uma pilha de cinzas fumegantes.
“Beba tudo,” Becca se animou enquanto eu bebia a
pequena garrafa de uma só vez e passava a garrafa vazia para
Grey quando ele a pediu. Isso abriu um caminho até a minha
barriga, e um calor formigante floresceu pelo resto do meu
corpo, me fazendo tremer.
Mas…
“Nojento,” falei, balançando a cabeça enquanto minha
língua recuava com o sabor.
Becca riu. “Vamos tentar Crown7 na próxima vez. Esse é o
meu favorito.”
Eu não tinha ideia do que ela estava falando, mas eu
balancei a cabeça, uma sensação de relaxamento se enraizando
em mim. “O que você disser, chefe.”
A multidão explodiu em aplausos e nos viramos para voltar
nossa atenção para a banda de abertura, gritando e batendo
palmas junto com os outros.
“Isso é tudo por hoje, Lodi!” O cantor principal falou. “Nós
nos divertimos muito esta noite e estamos arrasados por ter que
deixar vocês, mas é hora do próximo ato.”

7 Crown Royal é uma marca de uísque canadense.


O nível de decibéis enquanto a multidão enlouquecia
atingiu um recorde histórico em antecipação ao Primal Ethos.
Percebi como Grey se posicionou atrás de Becca e de mim
e estava bloqueando vários frequentadores de shows
excessivamente desordeiros de esbarrar em nós ou nos
empurrar. Eu sorri para ele com gratidão. Não que eu não
pudesse lidar com isso, mas era bom tê-lo cuidando de Becca
também.
“Vamos recebê-lo de volta ao palco pela primeira vez em
mais de um ano! Por quem você está aqui, Lodi?”
“Primal Ethos!” A multidão respondeu e, lentamente, um
cântico começou a crescer, ecoando por todo o espaço apertado.
“Homem dos ossos, Homem dos ossos, Homem dos ossos!”
Becca e eu nos juntamos enquanto Grey permanecia em
silêncio atrás de nós, tenso e tão pensativo que quase perguntei
o que havia de errado, mas então todas as luzes se apagaram,
mergulhando o salão em uma escuridão tão profunda que eu
não conseguia nem ver Becca ao lado, a não ser seu contorno
fraco. Eu agarrei seu braço, estendendo a mão para trás para
emaranhar meus dedos com os de Grey por instinto enquanto
a multidão silenciava.
Uma luz negra cintilou no palco apenas um momento
depois, dando-nos uma visão afetada e fechada de um rosto de
esqueleto branco como osso olhando friamente para o nada.
Becca gritou, sua voz subindo com as outras quando a luz
negra piscou pela última vez, agora florescendo para lançar seu
brilho misterioso no homem de pé no centro do palco.
Enquanto os outros ao meu redor gritavam e berravam,
dando as boas-vindas ao Primal Ethos no palco, eu só
conseguia olhar, uma emoção profundamente enraizada
crescendo de dentro para agarrar minha garganta, me
silenciando.
Ele realmente era uma pessoa real. Este homem que
cantava coisas que poucos poderiam realmente entender. Não
da maneira que ele fazia. Não do jeito que eu fazia.
Uma batida começou e a multidão começou uma nova
onda de aplausos quando o homem com o rosto de esqueleto no
palco levou um microfone aos lábios. Ele cantarolou as
primeiras notas com a batida, sua voz de fumaça e mel
reverberando em meu peito tanto quanto no dele enquanto ele
sentia a música, deixando seu corpo fluir com ela também.
Ele parecia o diabo encarnado. O Homem dos ossos, eles o
chamavam, e eu podia ver como isso se encaixava. Vestido todo
de preto com cabelos escuros penteados para trás e lentes de
contato brancas cobrindo os olhos, tudo o que era claramente
visível dele era seu tamanho, alto e musculoso, mas ágil. E seu
rosto maquiado, feito em um forte contraste de preto e branco
que conseguia parecer tão real que você quase se perguntava se
era.
Sua voz se elevou com a primeira letra de Anthem of the
Broken e minha respiração ficou presa na garganta, detida lá,
retida por uma represa em chamas.
“Subimos esta montanha sozinhos.
Cansados e quebrados, seguimos em frente.
Um pé. Outro. Faça tudo mais uma vez.
Nós rachamos e quebramos enquanto eles passam
correndo,
Sobre picos irregulares com asas de aço...
…enquanto as nossas são de porcelana.”
A voz de Becca se elevou para encontrar a do Homem dos
Ossos, erguendo-se e preenchendo o espaço com centenas de
outros, todos cantando seu hino. Mas quantos deles realmente
entendiam suas palavras? Quantos foram esmagados sob as
botas dos poderosos? Forçados ao silêncio? Quantos poderiam
se identificar enquanto ele cantava o verso sobre encontrar suas
mãos vermelhas de sangue e se perguntar o que você fez?
Sobre não lamentar, mas ter medo de se encontrar imóvel,
trancado atrás das grades, acorrentado e tendo apenas a voz
em sua própria cabeça como companhia. Sobre o quão louco
isso deixa você. Sobre como essa vida sem propósito não apenas
quebra suas asas já desmoronadas, mas também despedaça
sua alma.
À medida que a música crescia em força até o refrão, senti
algo em minha alma se elevar.
“Encontre sua equipe quebrada,
Porque eles são os únicos que podem te salvar.”
Minha pele arrepiou quando uma nova voz se juntou a dele
no palco e a multidão absolutamente se revoltou com a nova
adição. A voz feminina entrelaçada com a do homem no palco,
misturando-se com a dele de uma forma que não poderia ser
descrita em meras palavras. Procurei o outro cantor, esperando
que um convidado tivesse se juntado a ele, mas ele cantava
sozinho, como sempre fazia.
Não deveria ter demorado tanto para perceber por que a
voz despertou algo dentro de mim, mas quando o fiz, quase bati
na porra do chão.
Como?
Como era possível…
Tremores de medo e mal-estar correram para cima e para
baixo na minha espinha e um pavor frio me encheu até os dedos
dos pés.
“Oh meu Deus, ela é incrível!” Becca gritou, com os olhos
marejados e gritando enquanto balançava ao som do refrão. Ela
não tinha notado.
Eu me virei para encontrar Grey olhando além de mim em
direção ao palco, seus lábios entreabertos e sobrancelhas
franzidas.
Oh, Deus.
Eu me virei e segui seu olhar, ficando na ponta dos pés
para ver.
Alto e magro, ombros largos. Você nunca saberia disso se
não tivesse passado semanas imaginando como seria sentir a
trituração de seus ossos nasais sob seu punho.
Não.
O refrão terminou, seguindo para o final da música e a
multidão rugiu. Não apenas para ele, mas para ela.
Para a nova voz.
Para a porra da minha voz.
Minha voz que Corvus não só ouviu em seu pequeno
estúdio improvisado, mas gravou. Que ele editou e adicionou a
sua música como se fosse seu direito usar o que bem
entendesse. Porque ele era o Homem dos Ossos.
Primal Ethos.
Aquele era Corvus James no palco, o filho da puta.
Meu estômago revirou e eu me empurrei para longe da
multidão, passando por Grey, afastando-me de suas mãos
estendidas enquanto empurrava as pessoas ao meu redor,
ansiosa para usar minha lâmina quando alguns resistiam.
Finalmente, encontrei um ar mais limpo e caí para a frente,
apoiando-me nos joelhos para tentar respirar enquanto minha
cabeça girava.
“AJ!” Grey gritou, e um segundo depois senti suas mãos
em mim, envolvendo meus ombros, ajudando-me a levantar.
“AJ, o que há de errado?”
Eu me afastei e girei sobre ele, um pouco desequilibrada,
meu estômago ainda embrulhado, a ameaça de vomitar um
perigo real e imediato.
“O que está errado?” Eu ecoei, olhando para ele.
Sua expressão escureceu, confirmando meu pior pesadelo.
“Jesus Cristo,” eu cuspi, levantando-me em toda a minha
altura para empurrar meu cabelo para longe do meu rosto e
encontrar um lugar para sentar, sem me preocupar em verificar
se Grey estava me seguindo.
Corvus... Maldito Corvus começou outra música. Outra
das minhas favoritas e minha pele se arrepiou, cada pequeno
cabelo em pé.
Caí em um assento em uma fileira vazia na extremidade
direita do andar, um nível acima.
“AJ, escute...”
“Não.”
“Apenas me ouça...”
“Se você disser mais uma maldita palavra, eu vou cortar
você.”
Misericordiosamente, Grey ficou em silêncio e eu me
inclinei sobre os joelhos, a cabeça entre as palmas das mãos
suadas.
Minha mente correu em um milhão de direções diferentes,
tentando chegar a um acordo com essa nova informação. Ficou
claro que ninguém mais sabia. Eu duvidava que até mesmo seu
querido pai o fizesse. Eu duvidava que ele aprovasse os
holofotes, ou que seu precioso segundo em comando fizesse
qualquer coisa que pudesse prejudicar os negócios da gangue.
Essas não eram as perguntas importantes, no entanto.
Aquelas sobre as quais eu realmente me perguntava, eu lutei
mais contra.
O que isso significava?
Eu segui o Primal Ethos por anos. Eu amei sua música por
anos.
Saber que havia até mesmo uma única outra alma lá fora
que me entendia me fez passar por tanta coisa. Sua música me
fez passar por tanta coisa.
As músicas eram de Corvus.
Porra.
Eu queria odiá-lo, era mais fácil odiá-lo, mas...
Como eu poderia quando…
“Eu vou vomitar.”
Grey colocou a palma da mão nas minhas costas e eu me
encolhi, fazendo-o removê-la imediatamente. “Vou pegar um
pouco de água para você, ok, só... Só não se mexa.”
Como se eu pudesse.
“Becca, aí está você. Você pode sentar com ela por um
segundo?” Grey disse, e eu desejei poder desaparecer em mim
mesma quando Becca correu para mim, ajoelhando-se na
minha frente, bem na linha de fogo se meu estômago ganhasse
a batalha com minha mente.
Engoli minha bile de volta quando ela colocou as mãos nos
meus joelhos. “Merda garota, você parece um fantasma.”
Eu quase ri.
“Foi o uísque? Nós realmente não comemos nada, talvez
tenha sido isso. Você se sente mal?”
Eu balancei minha cabeça e fiz o meu melhor para me
sentar, deixando o encosto da cadeira me segurar, mas então
ele estava totalmente à vista novamente. A um nível acima, eu
podia vê-lo claramente do outro lado da sala de concertos,
acima das cabeças balançando em um oceano de corpos no
chão.
Eu já tinha me perguntado antes se ele já havia realmente
experimentado os sentimentos sobre os quais cantava, mas não
precisava mais me perguntar. Não enquanto ele cantava sobre
cavar covas rasas. Sobre o som que uma bala fazia ao sair da
câmara de uma arma. Sobre como o sangue esfria depois de um
tempo, mas ainda mancha você para sempre, e não importa
quantas vezes você tente lavá-lo, ele permanecerá, como uma
tatuagem invisível que só você pode ver.
Até que você seja apenas vermelho. Nada além de vermelho
pintado sobre tons de cinza enquanto você cava suas
sepulturas.
“Incrível, certo?” Becca gritou, e meu coração apertou
dolorosamente no meu peito.
Eu não conseguia conciliá-los. Corvus e o Homem dos
Ossos.
Eu o odiava por não ter me contado. Por usar minha voz.
Por todas as coisas horríveis que ele tinha feito e dito. Por cada
vez que ele tentou me controlar.
Mas como eu poderia odiá-lo completamente quando
agora, através de sua música, eu o entendia?
Sua música, Protector, me mostrou por que ele precisava
de controle. Como ele não poderia sobreviver sem ele.
E as outras me mostraram... Mais do que eu queria saber
sobre ele.
Fiquei sentada lá por tanto tempo, contemplativa e
entorpecida que não percebi quando Becca voltou para a
multidão, deixando-me sozinha, sentada lá com Grey a pedido
dele para que pelo menos ela pudesse aproveitar o resto do
show.
Eu disse a ela para ir, ou pelo menos, pensei que disse.
De alguma forma, ficamos lá por uma hora ou mais, porque
de repente Primal Ethos estava anunciando sua última música
da noite.
Sua voz, sua voz não cantante, expandiu-se para o
cavernoso espaço subterrâneo, e eu a reconheceria em qualquer
lugar, mesmo que ele estivesse acrescentando um nível extra de
grosseria a ela para tentar mascará-la.
“Eu tenho uma última música para vocês,” ele disse e
aceitou um pedestal de microfone de uma mulher em leggings
de couro preto quando ela caminhou até o palco e recuou com
um rápido beijo de lábios vermelhos soprado para a multidão.
Corvus colocou o microfone no suporte e olhou para a luz
negra. Algo em seu rosto de esqueleto nitidamente definido se
abrandou.
“Vocês não conhecem. É algo novo em que venho
trabalhando. É... é um pouco diferente do meu habitual, mas
acho que vocês vão gostar.”
Alguns gritos exclamativos de Foda-se e Uau! subiram.
Ele exalou, o som como uma oração sussurrada
eletrizando o ar. Ele se acomodou quando uma batida um pouco
mais lenta do que seu ritmo normal começou a ser filtrada pelos
alto-falantes. Todas as teclas assombrosas do piano se
fundiram intermitentemente com os sons sinistros da sua
respiração e uma batida ecoada. Isso fez minha pele se arrepiar
de novo.
“Esta se chama Sparrow8.”
Voltei minha atenção para Grey, a coluna ficando rígida.
Ele me ofereceu um pequeno sorriso travesso, balançando
a cabeça levemente. Apenas escute, ele murmurou, como se eu
pudesse fazer qualquer outra coisa.
“Ela me deixa louco
Ela me faz mal
Ela assombra meus sonhos

8 Pardal.
Eu a chamo de Pardal.
Algo estalou em meu peito e me levantei abruptamente,
deixando meus pés me arrastarem para frente.
“AJ!” Grey chamou, mas eu já tinha ido embora, saltando
sobre o parapeito e na multidão, mergulhando, ziguezagueando
e empurrando para a frente.
Aquele filho da puta.
Como ele ousa?
Depois de tudo…
A multidão recuou, não me permitindo passar enquanto eu
continuava a encontrar um caminho a seguir, percebendo
tardiamente que deveria ter apenas contornado. Haveria apenas
alguns guardas de segurança para lidar se eu tivesse, teria sido
mais fácil do que passar por isso.
“Perversa como eles vêm,
Estou me desfazendo.
Ódio, medo, dor, amor
Você não sabe o que você fez?
Pardal.”
Um cara tentou me agarrar quando eu criei um espaço
para mim contra a grade frontal na frente do palco, mas um
único olhar meu o fez se afastar.
E agora? Uma voz raivosa perguntou em minha cabeça, o
sussurro da minha escuridão ganhando vida na boca do
estômago, aquecendo o sangue gelado em minhas veias. Eu
queria pular essa porra de corrimão, subir no palco e bater meu
punho super familiarizado com a mandíbula dele, mas também
não queria que ele parasse de cantar.
Pega entre desejos conflitantes, fiquei ali, esmagada contra
o corrimão, espremida em ambos os lados por garotas gritando,
cujo pior dia provavelmente parecia algo como um salto
quebrado e um cartão de crédito recusado, incapaz de fazer
absolutamente nada enquanto ele cantava sua Pardal.
Minha.
Nessa voz.
Aquela que eu deveria ter reconhecido no primeiro
momento em que ele falou algo para mim. E talvez eu tivesse,
mas neguei assim como estava tentando me convencer de que
não era verdade. Exceto que havia uma parte de mim, por
menor que fosse, que queria que fosse verdade agora também.
Por mais impossível que parecesse.
Também parecia certo, de uma forma tão errada.
Confusa nem começava a descrever essa situação.
Talvez fosse minha falta de entusiasmo. Ou minha falta de
movimento que me diferenciava dos outros, mas algo chamou
sua atenção para mim, e eu vi o momento em que ele me
reconheceu.
Um músculo em minha mandíbula se contraiu com o
choque em seu rosto, e minha raiva se dissipou quando alguma
emoção muito mais forte brilhou em seus olhos brancos.
Ele cantou a última linha, seus olhos nunca deixando os
meus.
“Ela é a faísca,
estou encharcado de gasolina
…Mal posso esperar…
... Mal posso esperar para queimar.
Ele se afastou do microfone, da luz negra para uma
estridente zombaria de aplausos, até que desapareceu na
escuridão dos bastidores.
Ele não escaparia tão facilmente.
Não havia nenhuma porra de chance de isso acontecer.
Pulei o corrimão e me mantive agachada, correndo pela
base do palco até o corredor estreito que conduzia a onde
presumi que ficavam os camarins.
“Ei!” Um guarda de segurança berrou em algum lugar atrás
de mim, mas não parei, me esquivando de uma barreira de
corda de veludo.
Outro guarda à frente moveu-se para o meio do corredor,
bloqueando meu caminho.
“Agora vire-se, você não quer ser presa...”
Eu corri os últimos três passos, fingindo ir para a direita
para que eu pudesse atingi-lo em sua têmpora esquerda,
derrubando-o em uma pilha inútil de músculos pagos em
excesso.
Nada iria me parar.
Corvus James tinha algumas explicações a dar.
CORVUS

A tela do meu telefone brilhou com mensagens de texto e


chamadas perdidas, deixado no camarim privado por Maxine
em algum momento durante o show. Ela tinha sorte de não
estar aqui ou eu poderia muito bem ter matado alguém esta
noite.
Bati o telefone na mesa, estremecendo quando ouvi o som
distinto da tela quebrando.
Não era isso que eu queria?
Eu sabia que escrever aquela música com a ajuda dos
caras e decidir tocá-la significaria ter que contar a verdade a ela
eventualmente. Eventualmente sendo a porra da palavra chave.
Ainda não. Não agora.
Eu pensei que tinha pelo menos até que fosse gravada e
lançada para ter certeza de que esta era a decisão certa. Eu
tinha que saber que podia confiar nela primeiro. Isso não era
segredo de gangue. Este era o meu segredo. Um que meus
irmãos me ajudaram a manter.
Ela me ajudaria a mantê-lo ou o usaria contra mim? Eu
odiava não saber a resposta.
Uma porta no final do corredor se abriu, batendo em uma
parede.
“Corvus!” Ava Jade rugiu, sua voz abafada pela pesada
porta de aço da sala, quase abafada pelos fãs ainda gritando no
chão do local do show.
Outra porta se abriu. Outro rugido. “Corvus!”
Porra.
Fui até a porta, sem outra escolha. Se ela continuasse
chamando meu nome, a porra do meu nome verdadeiro, ela iria
estragar meu maldito disfarce. Mas quando cheguei à minha
porta, a maçaneta foi arrancada de meus dedos e o painel de
aço se abriu.
“Você!” Ela fervia, respirando pesadamente. Seu rímel
borrado ao redor dos olhos. Seus dentes à mostra.
Tantas emoções turbulentas em seus olhos que eu não
conseguia identificar nenhuma em particular. Era como se ela
estivesse se forçando a olhar para mim contra sua própria
vontade. Fazendo-se ver através da maquiagem de esqueleto
ainda quase intacta em meu rosto. Através das lentes de
contato brancas que cobrem meus olhos azul-gelo e a pintura
de cabelo escuro fazendo meu cabelo parecer preto.
Meu estômago se apertou, punhos cerrados enquanto nos
encarávamos em um impasse silencioso pelo que poderia ter
sido apenas alguns segundos, mas que pareceu ser minutos.
Ou mesmo horas.
Esperei pelo ataque que eu sabia que viria, resignando-me
a ficar lá e aguentá-lo, confiante de que ela não me mataria.
Talvez essa confiança fosse equivocada, mas a letra soou
verdadeira. Se eu queimasse por alguém, seria por ela. Eu
queimaria só para ela renascer das minhas cinzas.
Quando ela veio atrás de mim, enrijeci, fechando os olhos
para aceitar meu castigo por roubar sua voz. Por mentir e
esconder essa parte de mim dela. Por tudo.
Mas, quando suas garras cravaram na pele da minha nuca,
puxando-me para ela, não houve golpe mortal. Ela esmagou sua
boca na minha em um beijo selvagem, unhas afiadas cravando
na carne macia tão profundamente que eu senti o sangue
brotando dos cortes em meia-lua que ela estava cavando em
mim. Mas eu não estava focado nisso. Se alguma coisa, essa
dor só aumentou a perfeição do momento.
De seus lábios nos meus.
Um grunhido subiu em minha garganta e ela gemeu em
resposta, fazendo algo se soltar em meu peito. O rosnado mais
alto agora enquanto eu a agarrava pela cintura, levantando-a à
minha altura. Suas pernas envolveram meus quadris e ela
segurou meu cabelo com a mão livre, puxando e torcendo
fortemente contra meu couro cabeludo.
Quando sua língua empurrou entre meus lábios, não
consegui devorá-la rápido o suficiente.
Eu não tinha beijado uma garota, ou sido beijado por uma
garota, em anos.
Fodido, claro.
Sugado, muitas vezes.
Mas esta era uma linha que eu não cruzava.
Não queria.
Até agora.
Minha língua guerreou com a dela e seu próximo gemido
quase me levou ao limite do controle. Sua camisa rasgou nas
costas, rasgada por minhas mãos. Ela engasgou e eu engoli o
som, devorando-a, corpo e alma.
“Você é um idiota do caralho,” ela sussurrou asperamente
entre beijos, redobrando seus esforços para me cortar com suas
garras.
Eu grunhi, torcendo meu pescoço para empurrar mais
suas unhas.
“Nunca aleguei ser outra coisa,” eu murmurei, e ela me
beijou novamente antes que eu pudesse terminar, inclinando
seus quadris para frente para que meu pau duro pressionasse
contra seu calor. Muitas camadas de tecido entre nós.
“Te odeio.”
“Eu te odeio de volta.”
Mas isso não era mais verdade. Eu odiava querer ela. Eu
odiava ter reconhecido nela alguém que não apenas poderia me
enfrentar, mas se encaixar em mim, para formar algo novo.
Melhor.
Duas vezes mais letal e duas vezes mais forte.
Tinha estado lá desde o início, sua centelha. Achei que
seria o nosso fim, mas me enganei. Ela era a brasa que nos
incendiaria, levando-nos a um incêndio na floresta que
consumiria todos os nossos inimigos, transformando-os em
cinzas. Queimaríamos juntos.
Ela era o catalisador que esperávamos.
Meu pardal estendeu a mão entre nós, puxando e rasgando
meu jeans escuro, tentando liberar meu pau e falhando
miseravelmente. Mas mesmo apenas o roçar de seus dedos me
fez convulsionar com a necessidade.
Eu a empurrei contra a parede, não, o espelho, e rachou.
A prateleira estreita abaixo estava coberta de potes de
maquiagem escura e clara e eu me inclinei, agarrando-a a mim
para jogar tudo no chão antes de soltá-la na borda da prateleira
alta, puxando sua camisa o resto do caminho para revelar um
sutiã puído por baixo.
Teríamos que consertar isso.
Eu enrolei meu dedo indicador sob o pedaço de pano entre
seus seios e rasguei com força, a coisa toda saindo com quase
nenhuma força.
Seus mamilos estavam tão duros para mim. Seios
inchados e empinados e implorando para serem adorados.
“Você vai pagar por isso,” ela sibilou, agarrando a borda da
prateleira para não ser puxada. Minha maquiagem escura
borrava suas bochechas e descia pelo nariz.
“Esse é o plano.”
Um sorriso hesitante brincou no canto de sua boca, e eu a
beijei, respirando seu perfume. Tão doce, mas com uma borda
suave como fumaça de tabaco fresco ou almíscar. Eu não
conseguia o suficiente daquele cheiro. Era por isso que eu
mantinha uma de suas camisas na gaveta de cima da minha
cômoda, o desejo de roubá-la tomando conta de mim de uma
forma que eu nunca tinha experimentado antes. Eu só sabia
que queria algo dela. Para tocar quando eu quisesse. Para
cheirar quando eu quisesse. Uma parte dela que eu podia
controlar.
Suspirei quando o cheiro dela se instalou em minhas veias,
me deixando chapado.
Nada superava a coisa real.
Seus dedos estavam mais seguros agora quando
alcançaram a frente do meu jeans, puxando-me para mais
perto. O botão superior abriu facilmente agora. O zíper correndo
para baixo.
Porra.
Segurei a mão dela, parando-a, e seus lábios congelaram
nos meus antes de se afastarem.
“Não haverá volta depois disso,” eu a avisei, incapaz de
olhá-la nos olhos. Era a verdade, e ela merecia poder fazer essa
escolha.
Se cruzássemos essa linha, ela me pertenceria, e eu nunca
a deixaria ir.
Eu podia sentir a fera dentro de mim crescer, assumindo o
controle. Prometendo uma possessão tão feroz que não havia
nenhuma maneira de eu jamais deixá-la. Não adiantava nem
lutar contra isso. Ela seria minha.
Nossa.
Ela estendeu a mão e agarrou meu queixo, arrastando meu
olhar até o dela. Minhas narinas dilataram quando eu a deixei
ver a agonia ali. A dor que eu mantinha pressionada tão
profundamente aqui dentro que às vezes eu poderia até
esquecer que estava lá.
Estava, no entanto. Sempre tinha estado. E eu nunca achei
que poderia haver alguém com quem eu pudesse compartilhar
isso. Nem qualquer outra pessoa por quem eu poderia querer
ser responsável além da minha família escolhida.
Mas eu faria isso por ela. Se ela me aceitasse.
Por favor, fique comigo.
Sua mandíbula apertou e eu me preparei para a rejeição,
puxando meu rosto de sua mão, mas ela não me soltou tão
facilmente.
“Não faço promessas que não posso cumprir,” disse ela. “E
uma grande parte de mim ainda quer cortar sua garganta…”
Eu bufei.
“Mas há uma parte maior que...” Ela parou, e a esperança
se enraizando em meu peito, doía mais do que qualquer dor
jamais poderia.
“Eu entendo agora,” ela disse em vez de terminar o
pensamento, entrando em um território mais seguro. “Eu não
gosto disso e não te perdoei.”
Apesar de tudo, eu me encolhi, meus dentes rangendo.
“Eu quero, no entanto.”
“Você quer?”
“Eu acho que sim.”
Deixei escapar um suspiro trêmulo e coloquei minha testa
na dela, observando suas pálpebras se fecharem com o contato.
“Não posso prometer ser melhor. Estou quebrado, Pardal.”
“Eu também estou.”
“Não, você não entendeu. Eu sempre estarei quebrado.”
Houve apenas silêncio em resposta, e eu vi tudo o que eu
queria desaparecer na parte de trás das minhas pálpebras, mas
então ela falou.
“Se isso é estar quebrado, então não quero ser consertada.”
Ela terminou de liberar meu pau com um movimento de
seus dedos, e eu gemi quando ela o pegou em suas mãos,
acariciando o comprimento sedoso dele gentilmente no início,
então ela agarrou-o com força, e eu grunhi novamente, com os
olhos abertos.
“Agora, foda-me, Homem dos Ossos, ou eu vou encontrar
alguém que possa.”
Minha besta rosnou com possessividade em sua ameaça,
mas ela não tinha que me perguntar duas vezes. Ela tomou sua
decisão. Agora, ela era minha.
Eu empurrei em sua palma, empurrando meus dedos em
seu cabelo para puxar sua cabeça para o lado, colocando meus
dentes em sua garganta. Eu os raspei por todo o comprimento
até a nuca e mordi, provando-a na minha língua, marcando-a
para que todos pudessem ver. Ela estremeceu com a dor, e eu
pressionei entre suas pernas, empurrando-as para o lado para
colocar meu pau contra sua calcinha.
Sua calcinha molhada. Ela estava encharcada.
Praticamente pingando para mim, e eu estremeci quando sua
umidade me encharcou, fazendo o deslizamento do meu pau
parecer a porra de um sonho.
“Calcinha,” ela ofegou, as unhas cavando em minhas
costas, a palavra um apelo.
Eu a mordi novamente, resistindo ao impulso de amarrá-
la. Forçá-la a ficar de joelhos e dizer que ela era uma boa
menina enquanto eu empurrava meu pau em sua garganta.
Mas ainda não. Não dessa vez.
Não na nossa primeira vez.
“Paciência.”
“Foda-se isso.”
Ela estendeu a mão entre nós e rasgou sua própria
calcinha, apertando as pernas em volta da minha cintura para
se empalar em mim. Meus glúteos apertaram, empurrando-me
mais fundo apenas por instinto enquanto Ava Jade se mantinha
lá, ajustando-se a mim. E foi um ajuste apertado. Havia uma
razão para as poucas garotas que levei para a cama em Thorn
Valley gostarem de me chamar de Monte Everest. Uma foda que
poderia facilmente terminar em vitória ou em lágrimas.
“Caramba,” ela disse ofegante contra a pele abaixo da
minha orelha, respirando pesadamente, e eu sorri em seu
cabelo.
Comecei a me mover, ansioso para senti-la apertar em
volta de mim enquanto eu me retirava e empurrava de volta,
mas ela choramingou, arranhando minhas costas.
“Eu posso parar.”
“Não se atreva, porra.”
Meu sorriso se alargou.
O tipo de sorriso que só ela sabia arrancar de mim.
“Como quiser,” eu provoquei e espalhei a palma da mão
contra seu peito, forçando-a a retrair suas garras e voltar a
agarrar a borda da prateleira. Eu queria observá-la.
Meu pardal se contorceu quando agarrei suas coxas,
abrindo-a mais para mim enquanto me retirava e empurrava de
volta com um gemido.
Ela jogou a cabeça para trás, deixando-se consumir pelas
sensações, gemendo de um jeito que estava me levando
lentamente à loucura.
Ela era tão fodidamente apertada.
“Assim,” disse ela em uma respiração quando peguei o
ritmo, bombeando nela com força suficiente para balançar toda
a prateleira em que ela estava sentada. Para fazer as
rachaduras no espelho atrás de sua cabeça aumentarem,
apagando a imagem refletida de mim de vista.
“É isso que você quer?” Perguntei, meu lábio superior se
curvando enquanto eu a fodia com mais força.
“Sim.”
Ela inclinou os quadris para mim, permitindo-me ir ainda
mais fundo. Tão fundo que ela mal conseguia recuperar o fôlego
o suficiente.
“Essa é uma boa menina,” eu murmurei, liberando uma
coxa para segurar o lado de seu rosto, forçando-a a olhar para
mim. Eu queria ver seu êxtase. Precisava que ela soubesse que
isso significava o fim de tudo. E o começo.
“Foda-se, Corvus,” ela choramingou, soltando uma mão da
borda da prateleira para esfregar seu pequeno clitóris
ganancioso, olhos perfurando os meus. A visão dela se tocando
enquanto eu entrava nela quase me levou ao limite, e eu tive
que fechar os meus olhos, diminuir minha respiração.
O que ela estava fazendo comigo?
Eu realmente estava desmoronando. Todas as minhas
paredes cuidadosamente erguidas caindo. Os blocos de cimento
do meu controle desmoronando em pó.
Perigoso.
Incrível.
Aterrorizante.
“Foda-se, eu vou gozar,” ela anunciou, e eu quebrei, meu
próprio orgasmo estremecendo o comprimento do meu pau.
Eu abaixei minha cabeça e puxei um mamilo em minha
boca, fazendo suas costas arquearem enquanto eu o mordia,
forçando-a a chegar ao cume antes que eu o alcançasse
primeiro.
Ela gritou quando seu orgasmo a tomou, suas convulsões
ordenhando meu pau de tudo que ele tinha para dar. O som da
minha própria liberação se misturando com a dela.
Um tilintar alto foi o único aviso de que a prateleira estava
caindo, e eu não demorei muito para pegá-la antes que ela
caísse, rolando para aguentar o peso da queda com meu jeans
enrolado em meus tornozelos para que ela pudesse pousar no
meu peito, meu pau estalando livre de sua boceta.
Um pequeno guincho deixou seus lábios quando ela
pousou com força no meu peito, tirando o ar dos meus pulmões.
Potes de maquiagem e pincéis encravados nas minhas costas, e
eu gemi, tossindo para conseguir respirar fundo.
Ela rolou e nossos olhares se encontraram.
Então, ela riu.
Uma risada que começou no fundo de sua barriga e
reverberou pela garganta, enchendo toda a sala com seu som
musical.
Eu ri também, o som estranho quando passou por meus
lábios. Profundo e rico.
Ela chutou minha perna como se fosse minha culpa termos
quebrado a porra da prateleira, e eu a chutei de volta, rindo
ainda mais.
Ela enxugou uma lágrima de seu olho e sentou-se, olhando
ao redor para o estado da sala. O nosso estado.
“Estamos uma bagunça do caralho,” ela disse.
“Vocês estão.” Grey anunciou, e como um, nossas cabeças
giraram para a porta, encontrando Grey parado ali encostado
no batente da porta com Becca ao lado dele, cobrindo a boca
com as duas mãos, os olhos arregalados enquanto ela
observava sua amiga.
“Desculpe!” Becca gorjeou e se virou, afastando-se da
porta. Achei que ela era mais uma pessoa para adicionar à lista
daqueles que agora conheciam meu segredo mais bem
guardado. Isso era um problema. Eu olhei para Grey, decidindo
lidar com ele mais tarde.
“Eu estava me perguntando quando você iria aparecer,”
Ava Jade disse para Grey. “Dez minutos atrás e você poderia ter
se juntado a nós.”
AVA JADE

“Uh, Ava...” Becca parou, e eu gemi sonolenta, recusando-


me a abrir os olhos, embora a luz estivesse queimando a parte
de trás das minhas pálpebras. “Acorde, garota. Acho que
alguém deixou um presente para você.”
Isso atraiu minha atenção, mas ainda assim minhas
articulações rígidas protestaram contra o movimento quando
rolei na cama para encontrar Becca parada na porta que dava
para a garagem. Ela ergueu uma caixa preta lisa com um
pedaço de papel colado no topo. Rabiscada em caneta preta
havia uma única palavra: Pardal.
Puxei meu travesseiro sobre minha cabeça, a coisa toda
voltando para mim agora.
O show. Os bastidores do show.
Eu recuperando a noção e dizendo a Corvus que precisava
de tempo para processar tudo. Que eu queria espaço.
Tanto esforço para nada. Ele já estava trazendo presentes
para a porra da minha porta.
Babaca.
Minha boceta latejava com a lembrança dele dentro de
mim, e eu apertei, sentindo uma dor agradável ainda lá por
causa de seu tamanho.
“Você quer que eu abra?” Becca perguntou. “Ou devemos
enviá-lo de volta?”
Eu gemi em resposta, não gostando de ambas as opções.
“Eu voto para abri-lo e, como você não está em condições
de tomar decisões de vida antes de conseguir um pouco de
cafeína, meu voto também conta para você.”
Eu puxei o travesseiro. “Não, espere...”
Mas ela já havia tirado a tampa da caixa e estava olhando
animadamente para o que quer que estivesse dentro. “Oh. Meu.
Deus.”
Sentei-me, os últimos resquícios de sono rolando pelos
meus ombros como uma vibração ruim. “O que é?”
Ela foi na ponta dos pés até a minha cama como uma louca
e largou a caixa na minha frente. O papel de seda preto se
espalhou, revelando algo em uma impressionante cor magenta.
Usei meu mindinho para levantar a delicada tira de tecido de
renda e fiquei boquiaberta.
Era uma calcinha. Uma calcinha de renda.
“Olhe!” Becca vibrou, batendo palmas antes de pegar outra
coisa da caixa. “É um sutiã combinando! Olhe para esta coisa!”
Ela o segurou contra os próprios seios por cima da camisa,
como se verificasse se poderia pegá-lo emprestado.
Agarrei-o e joguei junto com a calcinha fio dental de volta
na caixa, cobrindo-os com o papel de seda, meu coração
disparado.
Becca se acalmou quase imediatamente, sentando-se na
cama com as pernas cruzadas. “Eu sei que não conversamos
sobre isso ontem à noite, mas estou, tipo, muito curiosa para
saber o que diabos aconteceu e...”
Ela percebeu meu olhar e parou de tagarelar.
“Ok, então eu sei o que aconteceu. Eu só... pensei que você
não gostasse dele. Na verdade, pensei que você o odiasse. É só
porque ele acabou por ser você sabe quem? Porque eu não vi
essa porra vindo. Corvus James: idiota de coração frio, membro
de gangue, psicopata em tempo parcial e estrela do rock? Você
simplesmente não pode inventar essa merda. Acho que todas
as teorias dos fãs estavam erradas então.”
Ela estava errada. Tão errada, mas eu não consegui corrigi-
la. Eu não tinha fodido Corvus porque ele era o Homem dos
Ossos. Eu fodi Corvus porque quando coloquei os olhos nele
naquele camarim... Eu o vi como ele realmente era. Não a
máscara que ele usava.
Eu vi sua alma. Exposta. Nua.
E eu queria reivindicá-lo.
Becca colocou sua mão na minha, e eu pisquei de volta
para mim mesma, percebendo que tinha ficado quieta. “Ei,” ela
disse. “Você não precisa falar sobre isso se não quiser. Eu meio
que posso estar tentando viver indiretamente através de você.
Quer dizer, desde que…”
Ela não terminou a frase, e novamente me lembrei que em
algum lugar lá fora havia um idiota que a atraiu e depois a
transformou em um espectro. Se ele não voltasse e se
desculpasse, eu não tinha nada contra encontrar sua bunda e
forçá-lo a se desculpar.
“Está tudo bem,” falei a ela com um sorriso forçado. “Eu
realmente não sei como me sinto sobre isso ainda. Eu o odeio.
Ou eu o odiava. Não sei. Eu estou apenas...”
“Confusa?”
“Você nem imagina.”
Ela riu. “Bem, com um pau tão grande, eu levaria meu
tempo considerando minhas opções.”
Inclinei a cabeça para ela, as bochechas ficando vermelhas
quando algo se desenrolou na minha barriga.
Ele não é seu para ficar com ciúmes, Ava Jade. Acalme-se.
Ela levantou as mãos em um gesto apaziguador. “Não, só
quero dizer que era um belo pau, só isso. Acho que vou ficar
com os de plástico por um tempo. A coisa real simplesmente
não vale a pena às vezes.”
“E não é essa a porra da verdade?”
Meu telefone vibrou na mesa de cabeceira, e eu o peguei,
notando a empolgação mal disfarçada de Becca com o som.
“É ele?” Ela perguntou, chegando mais perto.
Eu balancei minha cabeça. “É apenas um e-mail.”
Eu quase baixei meu telefone antes de perceber de quem
era o e-mail. Vicky. Eu não conhecia uma Vicky. Eu cliquei nele.

Para: Ava Jade Mason


De: Vicky Doyle
Assunto: Notas de troca
Olá, Ava Jade, é a Vicky da English Lit9. Eu esperava que
pudéssemos trocar notas para o próximo projeto, como falamos.
Podemos nos encontrar? Eu estava pensando talvez no domingo
de manhã. Não vou poder te ajudar se você não me ajudar.
Última chance. Te mando o endereço depois! Obrigada.

9 Literatura inglesa.
Meu estômago caiu.
Vicky.
Oficial Vick. Ele estava tentando secretamente marcar uma
reunião sem levantar suspeitas.
Filho da puta esperto, e talvez um pouco mais esperto do
que eu imaginava. Eu não tinha ideia de como ele conseguiu
meu endereço de e-mail. Ele estava me dando exatamente uma
semana para tomar minha decisão.
Uma decisão impossível, mas uma que acho que já tinha
tomado.
“Você está bem?” Becca perguntou. “É a sua tia bruxa de
novo?”
Desliguei o telefone e balancei a cabeça. “Não, apenas um
e-mail de golpe estúpido.”
“Ugh, eu odeio essas coisas.”
Becca pulou da cama para verificar seu rosto no pequeno
espelho sobre a mesa, esfregando uma mancha de rímel
embaixo do olho.
Seu telefone tocou e ela o ergueu ansiosamente, apenas
para franzir a testa para o que quer que estivesse na tela.
“Tudo certo?” Perguntei.
“Sim. Apenas meu pai. Perguntando se estou indo para
casa no Dia de Ação de Graças.”
“Sua mãe estará lá?” Perguntei, percebendo que ela só
falava sobre seu pai, nunca sobre sua mãe. Presumi que eles
estivessem separados, mas sinceramente não fazia ideia.
Becca enrijeceu, engolindo em seco quando se virou para
mim, uma tristeza em seus olhos castanhos. “Não.”
“Oh, vocês não se dão bem?”
“Nós dávamos,” ela disse com um sorriso sombrio. “Antes
de ela morrer.”
Meu coração se contorceu.
“Acho que temos isso em comum,” ela apontou, e era fácil
dizer que ela estava tentando fingir que não era grande coisa
quando era. Ela imediatamente começou a roer as unhas, um
ato que percebi ser uma de suas reações ao estresse. “Você tem
um pai morto. Eu tenho uma mãe morta. E nossos outros pais
são principalmente inexistentes, exceto quando querem alguma
coisa.”
Eu não tinha contado muito a ela sobre minha mãe. Só que
eu não a via há anos e só ouvi falar dela exatamente uma vez.
Durante um telefonema de um telefone público me pedindo
para tirá-la da prisão sob fiança.
“O que aconteceu?” Perguntei, sentindo um aperto no
estômago.
Becca apertou as mãos. “Foi um acidente. Um grave. O
lugar errado e a hora errada.”
Seus lábios se apertaram em um sorriso, e seu olhar
encontrou o meu antes de se desviar rapidamente. Ela
suspirou.
“Sinto muito, querida. Você quer falar sobre isso?”
Deus, eu era uma merda nesse tipo de coisa. Como você
deveria confortar seus amigos se não pudesse matar seus
demônios por eles?
“Foi há muito tempo.” Ela deu de ombros e seus olhos se
iluminaram, abrindo as mãos em seu colo enquanto ela se
animava.
“Ei! Você sabe quando é o aniversário de Corvus?” Ela
perguntou depois de um segundo, virando-se um pouco para
levantar uma sobrancelha curiosa em minha direção.
Um... Fale sobre um giro de cento e oitenta graus...
“Porquê?”
“Eu não tenho mais certeza se eu o vi direito, sabe? Sempre
pensei que ele fosse de Escorpião, mas agora estou pensando
que talvez seja de Gêmeos?”
Então, nós estávamos mudando de assunto. Entendi. Mas
eu ri de verdade dessa vez. Ela realmente não desistiria dessa
coisa de horóscopo.
“Não, eu não sei quando é. O de Rook é no próximo fim de
semana, no entanto.”
Ela engasgou. “Sem chance! Eu tinha certeza que ele era
Áries, mas é claro que ele é Escorpião! Deveria ter notado isso.”
Eu esperava que ele gostasse de seu presente. Não era
muito, mas tive a sensação de que poderia significar algo para
ele. Algo mais do que bolo de chocolate ou qualquer coisa
comprada na Amazon. E eu não consideraria isso de muita
importância, já que Corvus me disse que ele não gostava de
comemorar.
Eu balancei minha cabeça para Becca.
“Você já me decifrou?” Perguntei com um tom de desafio, e
ela franziu os lábios para mim.
“Você é difícil. Mas acho que quase peguei você.”
Ela voltou para a cama. “Você tem que me ajudar a
entender os outros caras. Eles nunca tiveram uma festa de
aniversário nem nada em todos os anos em que estive em Briar
Hall com eles. Estou começando a me perguntar se eles foram
feitos em vez de nascerem. Como robôs gangster malucos.”
Nós duas caímos na gargalhada, e foi difícil não imaginar
isso. O que só tornava tudo ainda mais engraçado.
Suspirei, limpando uma lágrima do meu olho enquanto me
acalmava. “Foda-se, acho que precisamos sair mais. Estamos
rindo sobre robôs gângsteres fictícios.”
Becca se interrompeu no meio da risada e enfiou a mão
debaixo da nossa cama compartilhada, tirando dois pacotes
encaroçados com o endereço do Ninho do Corvo neles. “Não diga
mais nada,” ela anunciou e começou a abrir o primeiro e depois
o segundo.
Ela esperou pela minha reação, mas eu apenas olhei, me
perguntando o que diabos eu estava vendo aqui.
“Para a festa da lua cheia!” Ela disse quando eu não
entendi. “Faltam poucos dias para o Halloween, então todo
mundo vai se fantasiar. Comprei fantasias para nós!”
Na verdade, eu estava planejando encontrar uma maneira
de evitar isso, mas não podia fazer isso agora, não com Becca
parecendo tão animada. Embora, se os rumores fossem
verdadeiros, Bianca, a cadela, vinha falando merda em Briar
Hall sobre 'me derrubar'. Portanto, a noite podia não ser um
fracasso total. Talvez eu pegasse emprestado o aparador
debaixo da pia e fizesse um novo penteado para ela. A ideia me
fez sorrir.
Eu levantei um tecido preto de seda de um pacote, notando
a etiqueta Prada no vestido tipo bainha, e o que pareciam ser
tiaras com chifres do outro lado.
“Você entendeu?” Ela pressionou, e eu estremeci, olhando
entre os dois itens com confusão.
“O Diabo Veste Prada,” disse ela, perdendo um pouco de
sua animação. “Sabe, você gosta do filme? Ou do livro, quero
dizer, ambos são fodidamente fenomenais.”
Meus lábios se apertaram e ela engasgou.
“Você nunca viu? Você está me sacaneando?”
“Desculpe.”
Ela empurrou todas as roupas e chifres para fora do
caminho e pegou minhas duas mãos, puxando-me para fora da
cama. “Estamos consertando isso agora.”
Ela me puxou pelo banheiro, para o corredor do andar de
cima da casa principal. Eu me afastei, não querendo enfrentar
ninguém ainda, mas ela só puxou com mais força. “É apenas
Grey, e ele está trabalhando em algo em seu quarto, viu?” Ela
acenou com o braço para a porta aberta. “Ninguém mais está
aqui.”
Grey baixou os fones de ouvido até os ombros e girou na
cadeira do escritório. “E aí, como vão? Vocês precisam de
alguma coisa?”
“Só pegar sua TV emprestada,” disse Becca. “E ser
deixadas sozinhas por no mínimo duas horas.”
Grey piscou, claramente tão confuso quanto eu, mas
acenou para que continuássemos. “Nossa TV é a sua TV. Vão
em frente.”
“Vamos, garota. Miranda Priestly é a porra do meu espírito
animal, mal posso esperar para você ver isso!”
“Os caras já estão no carro,” disse Becca, espiando pela
pequena janela octogonal na frente do loft.
“Eles podem esperar mais um segundo. Estou quase
terminando minha maquiagem.”
Balancei o tubo, forçando os últimos restos do delineador
líquido preto a saturar a ponta do pincel. “Droga,” eu xinguei
quando um pouco respingou no meu vestido Prada preto que
eu definitivamente pagaria a Becca algum dia.
“Desculpe,” eu murmurei, tentando limpá-lo, mas só
conseguindo fazer uma bagunça.
Becca riu da minha atitude, vindo me ajudar. “Você nem
consegue ver. Aqui, me dê isso antes que você acabe parecendo
um guaxinim.”
Passei o delineador para ela e peguei um lenço removedor
de maquiagem, limpando as manchas pretas dos meus dedos
enquanto ela olhava para os meus olhos, dando uma olhada no
material. “Tudo bem,” disse ela, principalmente para si mesma
enquanto se ajoelhava e se inclinava. “Feche os olhos.”
Fechei os olhos, sentindo a pressão suave de seus dedos
nas bordas dos meus olhos e, em seguida, o toque frio do
produto líquido sobre a linha dos meus cílios. Ela arrumou o
outro lado para combinar e deu um passo para trás.
“Abra.”
Ela sorriu. “Pronto. Dê uma olhada. Talvez um pouco mais
ousado do que o normal, mas é Halloween, então acho que você
pode se safar.”
Eu verifiquei meu reflexo, surpresa em como a ligeira
mudança no meu delineador poderia fazer meus olhos
parecerem muito mais brilhantes do que normalmente. E foda-
se se esse traçado não é perfeito. Combinado com o batom
escuro, chifres e mega contorno, eu realmente parecia um
demônio ressuscitado das profundezas do inferno. Um bem
sexy.
“Você está contratada,” eu brinquei, tentando injetar
alguma emoção real em meu tom.
Ela colocou as mãos nos meus joelhos e eu a encontrei
olhando curiosamente para mim. “Você está bem, querida?”
Eu balancei a cabeça. “Sim. Claro que estou.”
O rosto de Becca caiu um pouco, mas ela se recuperou
rapidamente, e me lembrei porque eu a amava demais. Ela não
se intromete. Nunca empurra. Mas eu sabia que ela estaria lá
sempre que eu precisasse. Isso me fez sentir culpada por nunca
permitir que Dom chegasse tão perto de mim. Me fez pensar se
ela e eu poderíamos ter isso. Não importava muito agora, no
entanto. Depois de uma rápida conversa esta semana, ficou
claro que Dom havia seguido em frente com sua vida em
Lennox, e eu não podia culpá-la.
Você só poderia aguentar seus não-amigos por um certo
tempo.
Kit ainda estava tentando. Ele chegou ao ponto de se
oferecer para vir até aqui para uma visita desde que eu disse a
ele que não poderia, mais como não iria, ir para Lennox.
“Bem, você sabe que estou aqui se precisar de mim,” disse
Becca, levantando-se com um suspiro enquanto ajustava os
seios, fazendo-os parecer ainda mais cheios por cima do bustiê
preto.
Eu sorri para isso, um sorriso de verdade, e fiquei ao seu
lado, verificando novamente se tudo o que eu tinha estava no
lugar também. Decidindo sacudir minha bunda deprimida.
Só porque todos os três caras estavam sendo bastardos
mal-humorados que mal deixaram seus quartos esta semana,
não significava que minha diversão tinha que ser arruinada.
Era óbvio, não era? O filho da puta que estava me
mandando mensagens se arrastou para um buraco em algum
lugar e morreu como o roedor que era. Foi triste não ter a
chance de mutilá-lo eu mesma, mas eu superei. Por que eles
não conseguiam superar isso também?
Desci as escadas com Becca e saí para a frente, onde os
caras esperavam ao lado do Rover sob o luar. Corvus, com os
braços cruzados encostado no capô. Rook fumando um cigarro
como se fosse a porra do seu trabalho, e Grey mandando
mensagens furiosamente em seu telefone.
Meu estômago doeu de desconforto quando Grey, ao me
ver se aproximar, rapidamente enfiou o telefone de volta no
bolso, os músculos de sua mandíbula cerrados.
Eu não pude deixar de me perguntar para quem ele estava
mandando mensagens. Se era para Bianca.
Meus punhos cerraram.
“Deixe-me adivinhar,” disse Grey, dando um sorriso
forçado. “O Diabo Veste Prada.”
Becca colocou a mão no peito e sorriu amplamente para
ele. “Um homem segundo o meu coração.” Ela piscou para mim.
“Ele é um bom partido, Ava.”
“Bom filme,” acrescentou Grey, apontando para a bolsa
que Becca estava carregando. “O que diabos você está trazendo
nisso?”
Eu pensei que ela só tinha sua bolsa preta com ela, mas
percebi agora que era mais como uma mini mochila.
“Tive a sensação de que vocês três seriam idiotas e não se
incomodariam em se vestir para sua própria festa de Halloween,
então comprei isso para vocês.”
Ela largou a mochila no capô do Rover, ganhando um olhar
de Corvus enquanto abria o zíper da bolsa.
“Uma para você,” ela disse, entregando uma para Grey.
“E você, Rook.”
“E você também, Homem dos ossos.”
“Becca,” alertou Corvus.
“Eu sei, eu sei. Apenas em particular, ó poderoso príncipe
das trevas.”
“Que diabos é isso?” Rook perguntou, aparentemente
irritado enquanto apagava os restos de seu cigarro sob a bota.
Mas era óbvio, não era? A forma as denunciava, mesmo
sob a luz mínima que se derramava sobre a entrada dianteira.
“Máscaras de corvo,” falei, nem mesmo percebendo que
tinha dito as palavras em voz alta.
“Vamos,” Becca pediu-lhes, plantando as mãos nos
quadris. “Pelo menos experimentem. Mandei fazer sob medida.”
As narinas de Corvus dilataram, e Rook ergueu uma
sobrancelha para ela.
“Ela disse para experimentá-las,” repeti, acrescentando um
tom de violência a minha voz que foi apenas o suficiente para
incentivá-los a ouvir.
“Elas não são ótimas?” Becca gritou quando os caras
terminaram de amarrá-las com os cadarços pretos oleados.
Elas cobriam metade de seus rostos da testa até logo
abaixo do nariz e eram pretas brilhantes e foscas com um azul
iridescente em algumas partes. Os bicos se estendiam, mas não
tanto que parecessem volumosos ou tolos. Eles pareciam
durões. Tipo, saídos direto de um filme de terror.
“Como é que se diz, rapazes?” Eu pressionei. “Becca se
esforçou para mandar fazer isso para vocês…”
Grey limpou a garganta. “Obrigado, Becca. Elas são
ótimas.” Ele deu uma cotovelada em Rook.
“Sim. Tanto faz. Elas são legais.”
“E você já está acostumado a usar uma máscara, então vou
assumir que combina com você, Corv.” Becca deu um tapinha
no peito dele. “Embora eu goste mais de você com a maquiagem
de esqueleto.”
Ele rosnou levemente, e eu conduzi Becca para o banco de
trás. “OK. É o bastante. Vamos.”
Mal saímos dos limites da cidade quando Becca puxou um
baseado da bolsa menor que ela havia escondido na mochila e
acendeu, soprando a fumaça pela janela traseira enquanto ela
cantarolava junto com Boy Epic, a música saindo dos alto-
falantes.
“Aqui,” disse ela, passando-me ele. “Você precisa disso
mais do que eu. Solte-se um pouco. Esta noite vai ser divertida
e é minha última noite no loft.”
Peguei o baseado com um suspiro. “Eu realmente gostaria
que você reconsiderasse ficar um pouco mais.”
“Porquê? A janela foi consertada em Briar Hall e, além
disso, você quase não dorme comigo lá.”
Abri a boca para argumentar, mas ela ergueu a mão e, em
vez disso, dei outra tragada.
“Não estou me ofendendo,” disse ela. “Portanto, espero que
você também não o faça quando eu lhe disser que, quando você
está realmente dormindo, você é uma péssima companheira de
sono.”
“O que?”
“Sério, tipo, tenho certeza que tenho hematomas de você
me chutando a noite toda.”
Eu bufei. “Mentirosa.” Quase não me movia durante o
sono.
“Tudo bem, eu só sinto falta da minha cama. Feliz?”
Eu balancei minha cabeça, e quando fui passar o baseado
de volta para Becca, Rook o roubou de meus dedos, levando-o
aos lábios.
“Você se importa?” Ele perguntou a Becca, e ela ergueu as
sobrancelhas.
“De jeito nenhum.”
Ele fumou até a ponta e tentou devolvê-lo, mas Becca
apenas deu a ele um olhar indiferente. “Você pode muito bem
terminar agora.”
Estremeci quando o ar frio da noite entrou no banco de
trás vindo das janelas abertas e da maconha trabalhando em
meus músculos e fazendo-os formigar. Era mais forte do que o
normal, e eu cantarolava contente para mim mesma, inclinando
a cabeça para trás contra o assento enquanto saíamos da
estrada principal e descíamos em direção a Thorn Valley e ao
lago.
“É boa,” eu murmurei, deixando a euforia afundar
profundamente em meus ossos.
“A melhor,” ela concordou. “Eu estava guardando para...”
Suas palavras foram interrompidas abruptamente, e eu fui
quase muita lenta para me apoiar nos bancos da frente quando
um sedã preto disparou na nossa frente, forçando Grey a sair
da estrada.
Becca gritou enquanto desviávamos, os movimentos do
Rover espasmódicos e fazendo meu estômago se encher com o
tipo ruim de borboletas.
“Foda-se,” eu gritei enquanto derrapamos no cascalho na
beira da estrada, parando a poucos metros de bater na vala.
Agarrei meu estômago, o coração disparado quando as
portas do carro se abriram ao redor e Becca gritou quando mãos
enluvadas pretas a arrastaram para fora do Rover.
Seus olhos ficaram arregalados e selvagens quando seu
corpo caiu do assento mais rápido do que eu poderia pegá-la de
volta. Meus dedos dopados se atrapalharam com meu cinto de
segurança enquanto eu gritava. “Becca! Alguém ajude a Becca!”
Eu me livrei e pulei do carro a tempo de ouvir um grunhido
grosseiro. Faróis me cegaram quando me virei para descobrir o
que fez o som, pegando uma lâmina.
“Ava!”
Eu girei, mas era tarde demais. A lâmina foi derrubada da
minha mão e um saco preto foi puxado sobre minha cabeça, os
braços fortemente puxados para trás e amarrados com força.
Eu chutei e lutei de volta, mas minha perna só foi presa
por quem quer que tenha nos atacado, me fazendo cair de cara
no cascalho. O gosto de cobre terroso do meu próprio sangue
encheu minha boca, e eu engasguei quando o engoli de volta,
rolando para voltar a ficar de pé.
“Becca!”
Alguém tentou agarrar meu braço e eu dobrei meus
joelhos, jogando todo o meu corpo no chute circular. Acertei
quem quer que fosse pra caralho, mas sem meus braços para
contrabalançar, só acabei no chão de novo, meu ombro doendo
por causa da queda.
“Pardal, pare de lutar,” Corvus berrou, e eu hesitei quando
me levantei novamente, tentando ver através do saco preto
sobre minha cabeça, mas havia apenas luz e sombras.
“Que porra está acontecendo?”
As mãos vieram para mim novamente, e eu me debati, mas
desta vez eu não lutei, escolhendo, talvez muito estupidamente,
confiar em Corvus.
“Aw, não estrague o jogo, filho,” a voz distinta de Diesel se
ergueu logo após a porta de um carro se abrir em algum lugar
distante à minha direita.
“Apenas deixe-a ir!” Becca gritou, e eu podia ouvir a luta
em sua voz. Alguém a estava segurando. Alguém estava
segurando meus caras também? Ou eles estavam assistindo
isso acontecer e não fazendo nada?
Meu peito doeu por um instante antes que eu percebesse
o que era.
Outro maldito julgamento.
Claro.
Forcei minha respiração a se equilibrar e endireitei minhas
costas.
“Está tudo bem, Becks.”
“O que está acontecendo? O que é isso?” Ela exigiu, e eu
não queria nada mais do que ver ela longe deste lugar. Longe de
Diesel St. Crow e seus homens.
“Levem-na embora,” falei, sem nenhuma direção em
particular, a ordem era para os caras. “Tirem ela daqui.”
“Vocês ouviram a garota,” disse Diesel. “Tire a amiguinha
dela daqui.”
“O que você está fazendo?” Grey exigiu, e eu podia imaginar
sua expressão em minha mente apenas por seu tom. A tensão
que estaria entre suas sobrancelhas. A curva azeda de seu lábio
superior.
Uma pausa antes de Diesel responder. “Eu não queria
estragar a surpresa, mas a expectativa às vezes torna tudo
ainda mais doce. Estamos caçando.”
“Caçando?” Rook perguntou, sua voz em um tom letal.
“Sim. Como fizemos com Foley alguns anos atrás.”
“Foley morreu na caçada,” Corvus rosnou, e minha boca
ficou seca.
“O que?” Becca quase gritou, e eu podia ouvir o barulho de
saltos contra a calçada enquanto ela lutava um pouco mais,
fazendo meu coração apertar no meu peito.
Um arrastar de pés e eu vi o que pensei ser a sombra de
Diesel se aproximando de seus meninos. Suas três sombras
estavam cercadas por muitas outras em frente aos faróis.
“Sim, bem, Foley tinha intenções questionáveis e, no final,
ele simplesmente não era bom o suficiente. Ele teria sido uma
responsabilidade. Um risco.”
A maneira como Diesel disse risco me disse exatamente
como ele se sentia sobre. Tal pai, tal filho. Corvus era igual.
“Nós vamos levar a Becca conosco,” Rook disse, e eu o ouvi
dar um passo à frente, vi as sombras se aproximarem, e então
nada. Nenhum movimento.
“Se você interferir, ela falha,” disse Diesel ao filho. “Você
conhece as regras. Já abri uma exceção. Eu não vou abrir
outra.”
“Vocês, meninos, têm uma festa para ir,” o homem que me
segurava acrescentou, apertando meu braço com mais força. “É
melhor vocês irem. Vocês sabem como está a merda com os
Aces agora. Se quiserem manter suas docas, vocês devem estar
prontos para defendê-las.”
“Diesel,” disse Corvus, o nome de seu pai em seus lábios
como um apelo.
Não houve resposta para seu filho, mas uma ordem sibilou
de seus lábios. “Levem ela.”
Eu não lutei enquanto eles me levavam, já tentando chegar
a uma solução por conta própria, mas meus pensamentos eram
lentos. Confusos pelo terço de um baseado que fumei na porra
do Rover.
“Espere!” Becca gritou quando passamos por ela, e suas
mãos agarraram meu braço, tentando me manter lá enquanto
os homens que nos seguravam lutavam para nos manter
separadas.
Eu respirei fundo e engoli. “Eu vou ficar bem,” falei, em
uma voz que soava tão certa que eu mesma quase acreditei.
“Não se preocupe comigo, ok? Vejo você mais tarde.”
“Promete?”
“Prometo.”
Suas unhas arranharam meu braço quando ela foi puxada
para longe, e eu a ouvi suspirar quando passei por ela.
“Estou com você,” disse Grey. “Tudo bem. Ela vai ficar
bem.”
“Tem certeza?” Becca perguntou, o som aquoso de sua voz
fazendo meus olhos arderem.
“Positivo,” respondeu Corvus em vez de Grey, fazendo-me
sentir mais forte.
“Mas e se ela não ficar?”
Fui arrastada de mãos quentes para mãos frias e um porta-
malas se abriu. Eu cerrei os dentes quando eles empurraram
minha cabeça para baixo, me dobrando para o espaço escuro e
fresco e me trancando. Meu telefone foi tirado do meu bolso de
trás pouco antes de o porta-malas fechar.
A resposta de Rook foi a última coisa que ouvi antes de o
motor ligar e a ameaça em sua voz despertou as partes sombrias
de mim à vida. Acendendo meu fogo, queimando-me de volta a
uma sensação de sobriedade.
“Ela tem que ficar.”
GREY

O baixo forte vibrou pelo chão frágil das Docas,


reverberando pelos meus pés. Deixando meus malditos dentes
no limite. Becca sentou-se conosco em nosso palco
improvisado, cutucando as unhas na extremidade do sofá de
couro gasto, seu olhar distante, pensativo.
Eu estalei meus dedos, e um iniciado veio correndo. Fiz um
gesto para Becca. “Pegue uma bebida para ela.”
“O que devo trazer para ela?”
“Eu não sei,” eu rebati, o calor subindo em meu núcleo.
“Por que você não pergunta a ela, porra?”
Ele acenou com a cabeça antes de correr para fazer
exatamente isso, e eu pressionei minhas palmas em meus
olhos, tentando afastar a dor que se formava atrás deles.
Rook jogou seu frasco no cara agora implorando a Becca
para pedir algo para beber para que ele pudesse ir buscar.
“Reabasteça,” Rook estalou enquanto o iniciado se curvava
para recuperar seu frasco do chão. “Agora.”
O cara saiu correndo e eu me virei para onde Corvus estava
sentado ao meu lado, curvado sobre os joelhos, dedos unidos
perto de seus lábios, completamente parado. Em silêncio total.
“Precisamos nos livrar desse idiota. Ele é inútil.”
Corvus grunhiu em resposta, e tive a sensação de que ele
nem tinha me ouvido.
“Corv, você está ouvindo?”
“Hum?”
Minha cabeça latejava, tornando quase impossível não
estrangulá-lo. Como ele podia estar tão fodidamente calmo
agora? Como ele não estava pirando?
A caçada foi a pior ideia para um julgamento que Diesel já
havia tido. E ele só pensou nisso porque decidiu que não queria
que Foley passasse pelos julgamentos. E Foley, o jovem de 25
anos que abandonou a faculdade, já sabia demais para ser
deixado de lado.
Diesel estava certo, é claro, como quase sempre estava.
Descobriu-se que ele estava sendo manipulado por um policial.
E Foley, sendo o elo fraco que Diesel estava começando a pensar
que era, estava perto de desistir. Perto de se tornar um
informante. E também perto de ser formalmente introduzido em
nossas fileiras, onde teria acesso a informações ainda mais
confidenciais.
A caçada foi projetada para um único propósito, matar a
caça.
Meu estômago azedou e eu me levantei, precisando me
mexer. Fazer algo. Mas manchas pretas encheram minha visão
e uma onda de vertigem me mandou de volta para o sofá com
um gemido. “Puta merda.”
“O que há de errado com você?” Rook perguntou,
levantando a voz para ser ouvido sobre a música e a conversa
da multidão diante de nós.
Afastei a sensação estranha. “Nada.”
Mas quando levantei minha cabeça para a pista de dança
estroboscópica, os rostos ficaram borrados dentro e fora de foco,
tornando minha dor de cabeça latejante muito pior.
Demônios, bruxas, Barbies e todas as outras fantasias de
Halloween que poderiam ser usadas com um conjunto de
lingerie com saltos desfilavam. Giravam e pulavam.
Balançavam e caiam.
Mas nenhuma delas era AJ.
Quando o iniciado voltou, eu rosnei para ele me trazer
alguns analgésicos, odiando minha incapacidade de controlar a
raiva que sentia crescer dentro de mim.
O rosto de Bianca passou junto com os outros, tentando
desesperadamente chamar minha atenção, suas orelhas de
coelho balançando enquanto ela passava pelo palco elevado,
mordendo o lábio inferior.
Eu não sabia que parte de parar de me mandar mensagens
de texto ela não entendia, mas obviamente não estava entrando
na sua cabeça.
Ela deu um passo em direção ao palco, e algo em meu rosto
deve tê-la feito reconsiderar. Mágoa brilhou em seus olhos
quando ela deu um passo para trás, caindo de volta na
multidão.
Bom. Eu não poderia lidar com as merdas dela esta noite.
“O encontro com os Aces está chegando,” disse Corvus, sua
voz tão baixa e profunda que era quase impossível distingui-la
do baixo gutural. “Eu não acho que seja uma boa ideia. Algo
está acontecendo.”
Eu não poderia manter o choque fora do meu rosto. “Como
diabos você está pensando nisso agora?”
Rook olhou para a multidão, mas pela pequena torção de
seus lábios, eu sabia que ele estava ouvindo também.
“Diesel nos quer com ele para o encontro. Estou tentando
encontrar a melhor maneira de agir.”
“Agora?”
Eu sabia o que ele estava fazendo, mas eu não estava
fodidamente aceitando isso. Ele estava desviando da situação.
Não pensando no que não podia controlar, pensando em algo
que podia. Um mecanismo de defesa que não salvaria nossa
garota.
Ele tinha acabado de foder com ela, o mínimo que se
esperava era que ele poderia agir como se ele se importasse se
Ava Jade vivia ou morria por talvez cinco malditos segundos.
“Eu tenho uma ideia,” Rook disse, escorregando do braço
do sofá para cair na almofada ao lado de Corvus. “Mate todos.
Problema resolvido. Perigo evitado. Fator de risco? Reduzido a
um grande e gordo zero.”
Seus olhos escuros brilhavam com bebida e malícia sob as
luzes vermelhas. “Podemos começar hoje à noite.”
Corvus finalmente quebrou sua pose, os dedos deixando
seus lábios enquanto ele se contorcia para colocar seus olhos
em Rook. “Você não pode simplesmente matar todas as pessoas
com quem tem problemas, Rook,” ele repreendeu nosso irmão.
“Existem maneiras melhores de lidar com as coisas.”
“Formas mais inteligentes,” acrescentei, sem saber por que
estava me incomodando em acrescentar algo a essa conversa
sem sentido agora.
Rook deu de ombros. “Mas não são as mais fáceis.”
O iniciado voltou com alguns comprimidos brancos e uma
garrafa de água, e eu engoli os dois, engolindo o frasco inteiro
antes de jogá-lo de volta para ele. “Saia.”
Rook e Corvus me olharam com as sobrancelhas
levantadas combinando, e eu fiz uma careta. “Porra de dor de
cabeça,” eu expliquei. “Deixem pra lá, ok?”
Nunca tomava analgésicos. Nunca. Mas se eu não fizesse
algo sobre a dor latejante atrás das minhas órbitas, eu iria
explodir.
Uma garota de cabelos claros em uma fantasia de anjo
subiu no palco, balançando os quadris enquanto se aproximava
de Rook, curvando-se ao nível dos olhos dele com os seios para
fora. Eu não pude ouvir o que ela sussurrou para ele, mas eu
vi o jeito que seu olhar seguiu para a porta do Quarto Vermelho
e de volta e como ela mordeu o lábio inferior.
Rook olhou para ela com um desdém altivo, dando-lhe uma
resposta de uma palavra.
Quando ela redobrou seus esforços, colocando as mãos em
suas coxas, seu corpo inteiro ficou tenso, e ele a empurrou para
trás, fazendo-a cair de bunda com um grito quando suas
narinas dilataram.
Ele a agarrou como um animal selvagem enquanto ela se
levantava, fazendo-a correr de volta para a multidão, com o
rosto vermelho e tremendo.
Sua rejeição só fez Ava Jade voltar correndo para a minha
mente.
Belisquei a ponta do nariz, empurrando o polegar e o
indicador nos cantos carnudos dos olhos. “Ela vai ficar bem,
certo?” Perguntei, sentindo algo crescer e apertar atrás da
minha caixa torácica.
“Eu não sei,” Corvus respondeu, e soltei um suspiro
trêmulo.
“Diesel não iria...” Rook parou, sentando-se no sofá, mas
não conseguiu terminar a frase e havia uma razão para isso.
Diesel iria se soubesse algo que nós não sabíamos.
Ele o faria se acreditasse, sem sombra de dúvida, que ela
seria nossa ruína.
“Não há nada que possamos fazer a não ser esperar,”
Corvus sibilou.
“Não é bom o suficiente.”
“Você acha que eu não sei disso, porra?”
“Mesmo se ela viver, Diesel não vai terminar com ela,” Rook
meditou, girando seu uísque no frasco, olhando para o gargalo
como se o líquido âmbar lá dentro pudesse guardar algum
segredo que consertasse toda essa bagunça fodida.
Em um movimento tão rápido que mal vi chegando, Corvus
se levantou e virou a mesinha de centro baixa, jogando-a na
multidão desavisada com um rugido.
Becca gritou, e ouvi o barulho de seus saltos sobre a
música enquanto ela se afastava do palco.
Corvus girou para Rook. “O que gostaria que eu fizesse?”
Ele exigiu de Rook, seus olhos como brasas ardentes. Seus
dentes à mostra. “Se pararmos o julgamento, ela falha e morre.
Se a salvarmos, interferimos e ela falha e morre.”
“Podemos ir embora,” falei, nem mesmo percebendo que
tinha falado em voz alta até que o olhar ardente de Corvus
encontrou o meu, suas narinas queimando. “Poderíamos salvá-
la e depois partir.”
Ele empalideceu, e eu senti o sangue drenar do meu
próprio rosto também, dando um pulso à enxaqueca que
causava estragos em meu crânio.
“Não,” Corvus disse depois de um minuto, dizendo em voz
alta o que eu desejava que não fosse verdade. “Não podemos.”
“Vocês disseram que ela ia ficar bem,” disse Becca, e nós
três nos viramos ao mesmo tempo para vê-la de pé atrás do
sofá, os braços tensos com os punhos cerrados e tremendo ao
lado do corpo. “Vocês sabiam que ela ia morrer e simplesmente
a deixaram ir. Seus mentirosos de merda! Seus malditos
pedaços de merda!”
Levantei-me, pulando para trás do sofá para agarrá-la. Ela
só precisava entender, não tínhamos escolha. Mas Becca puxou
o braço antes que eu pudesse agarrá-la e cuspiu aos meus pés.
“Se ela morrer, vou atrás de vocês.”
Ela passou por mim, batendo no meu ombro, o golpe me
sacudindo até o âmago. Mas ela não precisava se preocupar
com retribuição. Se Ava Jade morresse esta noite, eu mesmo
faria isso.
AVA JADE

A viagem não foi longa. Não mais de cinco minutos e o carro


em cujo porta-malas eu estava dobrada começou a desacelerar
e depois parou.
A julgar pelo caminho sinuoso que tomaram e pela
inclinação constante da estrada, imaginei que não estivéssemos
a mais do que alguns quilômetros das docas. Talvez três.
Quatro no máximo.
Eu não sabia se saber onde estava me ajudaria, mas
pegaria qualquer informação que pudesse e guardaria no fundo
da minha mente caso precisasse.
Como o fato de que havia pelo menos cinco deles, mas não
mais do que sete. Em dois veículos. Um era um sedã, em cujo
porta-malas eu estava no momento, e o outro, o SUV escuro
que nos tirou da estrada.
Eu sabia que Diesel estava aqui. E Tiny. Os outros eu não
tinha certeza.
Eu também sabia que estava alta, e eu desejava como o
inferno não ter fumado aquele baseado, mas em cerca de mais
três segundos, eu teria as cordas que prendiam meus pulsos
nas minhas costas completamente cortadas.
Um, a ignição do sedã parou completamente.
Dois, as portas se abriram.
Três, uma chave deslizou na fechadura do porta-malas e o
trinco abriu.
As cordas se separaram, mas mantive meus braços atrás
de mim enquanto o porta-malas se abria, a escuridão quase
total iluminando um pouco sob a luz manchada da lua cheia
através da bolsa preta.
Grosseiramente, alguém agarrou meu braço e eu agarrei
meu pulso para evitar que meus braços se abrissem enquanto
ele me puxava do porta-malas e me jogava contra o para-lama
traseiro. Eu grunhi quando o golpe na parte de trás dos meus
joelhos quase me jogou no chão, dando-me a oportunidade
perfeita para aproveitar o ferimento e me curvar, gemendo para
que eu pudesse deslizar dois dedos por baixo da parte de trás
do meu vestido e pegar uma lâmina da liga na minha coxa.
Eu me perguntei se eu poderia matá-los.
Quero dizer, isso seria quebrar as regras?
Os caras falaram pra tentar não fazer, mas se fosse
necessário? Se eles ativamente tentassem me matar? Se matá-
los fosse a única maneira de 'passar' no julgamento?
O outro veículo parou nas proximidades e os faróis
piscaram sobre mim antes de apagarem quando a ignição foi
desligada.
Senti mais do que vi quando Diesel St. Crow saiu do outro
carro, como uma mudança no ar. Semelhante a como me sentia
quando um de seus filhos entrava em uma sala. Como se
perturbassem o tecido do universo, ocupando espaço demais
para seres de seu tamanho.
Eu levantei meu queixo, esperando.
Um segundo depois, a bolsa preta foi puxada da minha
cabeça e eu pisquei, desorientada e um pouco enjoada por
causa da viagem esburacada no porta-malas.
Meus lábios se separaram e um tremor de pavor percorreu
minha espinha como a ponta de um dedo gelado. Diante de mim
estavam seis homens, mas não reconheci nenhum deles. Era
muito difícil dizer com as máscaras.
Um lobo. Um urso. Um veado. Uma pantera. Uma cobra. E
um corvo.
Seus rostos estavam totalmente cobertos por suas
máscaras animalescas, cavidades escuras onde deveriam estar
seus olhos. E em cada uma de suas mãos, uma besta.
Bestas, porra.
Eu avaliei meus arredores, encontrando-me abrigada na
escuridão manchada, cercada inteiramente por árvores. A
estrada em que havíamos entrado era de terra. O ar cheirava a
terra fria e madeira ainda quente com um toque desagradável,
como cobertura morta... Ou cadáveres em decomposição.
“Desamarre-a,” alguém disse, mas quando o urso, Tiny,
deu um passo à frente, eu afrouxei minhas mãos, mostrando-
lhe as mãos vazias. Não havia necessidade de deixá-los saber
que eu estava armada ainda.
“Hmm,” alguém grunhiu, um som de aprovação surpresa
que eu pensei que poderia ter vindo de Diesel.
“O que é isso?” Perguntei, dobrando a lâmina na minha
mão para que ela ficasse plana contra o meu pulso, escondida
da vista, mas fácil de jogar com pressa se eu precisasse.
“Fuja ou fique viva até o amanhecer e você terá passado no
julgamento,” a cobra disse em uma voz que eu não reconheci.
“É isso? Não há regras?”
O urso e o lobo trocaram um olhar, mas ninguém
respondeu, e eu entendi que eles não esperavam que eu durasse
muito.
“Você tem um minuto de vantagem,” disse Diesel, sua voz
soando verdadeira mesmo através da máscara de corvo que
usava. Eu odiava que parecesse semelhante as que Becca tinha
feito sob medida para os rapazes. “Não desperdice.”
“Cinquenta e nove,” disse a cobra animadamente,
levantando as pernas para se agitar para a perseguição.
“Cinquenta e oito.”
“Cinquenta e sete,” o veado juntou-se à contagem
regressiva, ajustando seu aperto em sua besta.
Enviei um último olhar na direção de Diesel, deixando-o
ver que eu não iria fodidamente quieta, antes de me curvar,
rasgando a barra do meu vestido e tirando meus saltos. E então
eu estava correndo. Despertando a parte de mim que eu
precisaria para sobreviver. Minha escuridão floresceu para a
vida, estimulada a acordar pela adrenalina bombeando em
minhas veias. Tornando minha visão mais clara. Meus sentidos
mais aguçados.
Foi a escuridão que sussurrou palavras doces em meu
ouvido quando uma pedra afiada cortou profundamente a parte
inferior carnuda do meu pé esquerdo. E quando um galho de
árvore atingiu meu rosto, deixando uma ardência forte em meu
olho direito que o forçou a fechar.
A velocidade era a chave aqui.
A fuga era o objetivo. Eu não tinha dúvidas de que eles me
encontrariam se eu tentasse me esconder.
Mas primeiro eu precisava ultrapassar a distância que
suas flechas de besta poderiam percorrer, e então eu precisava
encontrar meu caminho para fora da floresta, para uma
estrada, para algum lugar onde houvesse casas que eu pudesse
arrombar ou carros que eu pudesse roubar.
Se não houvesse regras, isso significava que eu poderia
usar qualquer meio para escapar. Eu só precisava encontrar
esses meios, e agora parecia que tudo o que havia por
quilômetros, até onde eu podia ver, eram árvores e escuridão.
Vinte e dois, vinte e um, vinte...
A contagem regressiva continuou na minha cabeça e eu
virei à direita por capricho. Eles esperariam que eu corresse
para a frente, para colocar a maior distância possível entre mim
e eles em sessenta segundos. Eles podiam não estar esperando
um desvio.
Quatro, três, dois…
O resto da contagem regressiva terminou em minha
cabeça, e uma explosão renovada de energia queimou como um
raio quente e branco por toda a extensão do meu corpo,
impulsionando-me mais rápido até que eu estivesse correndo
sobre a terra irregular, lançando-me sobre os destroços da
floresta caída e esquivando-me de galhos como se fosse a porra
do meu trabalho.
Apenas fique à frente deles. Se eles não podem alcançá-la,
eles não podem atirar em você.
Tinha que ser uma tática de medo. Os caras deixaram claro
que se importavam com o que acontecia comigo, o que eu ainda
estava processando, então os Saints não iriam... Eles não iriam
realmente atirar em mim, certo? Pelo menos, não tiros mortais?
Talvez fosse por isso que eles estavam usando bestas. Gostava
muito mais das minhas chances contra uma besta do que
contra uma arma.
Uma flecha acertou a árvore diretamente ao lado da minha
cabeça, e eu bati no chão com um suspiro, meus olhos
arregalados.
Errado.
Eu estava tão errada.
Eu também estava de pé e correndo de novo em um
milésimo de segundo, ouvindo ao longe o roçar de botas no chão
atrás de mim. Alguém gritando ao longe, à minha esquerda.
Alguém gritando de volta, também distante.
Quem quer que estivesse atrás de mim, porém, estava se
aproximando.
Era uma ilusão esperar que fosse apenas um? Que os
outros se espalharam em outras cinco direções?
Cerrando os dentes, continuei correndo, e o próximo galho
baixo que encontrei, agarrei em vez de deslizar por baixo,
puxando-me para o próximo galho e o próximo. Até que eu
estivesse a pelo menos quinze pés do chão e estaria
absolutamente fodida se houvesse mais do que alguns deles me
seguindo.
Ou com uma vantagem muito boa se fosse apenas um.
Estendi minha lâmina, olhando para baixo através das
folhas esparsas do velho carvalho, respirando calmamente. Eu
me estabilizei com minha mão livre plantada contra a casca
áspera do tronco do carvalho.
Ele veio menos de vinte segundos depois, com a besta
erguida e pronta enquanto se movia furtivamente entre os
arbustos. A cobra.
Inclinei-me para a frente na ponta dos pés, tentando obter
um ângulo melhor enquanto ele se aproximava e o galho em que
eu me empoleirava rangeu sob meu peso.
A cobra ergueu a cabeça, ergueu a besta e atirou. Desviei
por um fio da flecha, caindo, e arremessei, tendo que curvar a
lâmina para dar conta do galho mais baixo.
Procurei um ponto de apoio, mas meus dedos não se
agarravam a nada, apenas ao ar vazio enquanto a gravidade
trabalhava contra mim, puxando-me de volta à terra. Com um
grunhido, enganchei uma perna, agarrando-me no galho abaixo
de mim para me pendurar de cabeça para baixo. Rasgando
brutalmente algo no meu joelho.
Droga.
Saquei a segunda lâmina enquanto saltava do galho mais
baixo e rezava para pousar em qualquer lugar que não fosse
meu rosto. Foi uma surpresa cair de pé, embora a dor no joelho
me fizesse dobrar para o lado para compensar.
No entanto, isso surpreendeu meu atacante ainda mais.
Seus olhos se arregalaram ao me ver, mais ou menos ilesa
enquanto ele apertava as mãos ao redor da lâmina que se
projetava de seu estômago. Mãos escorregadias de vermelho.
Sua besta foi descartada no chão, duas flechas espalhadas
ao redor.
Ele foi para o cabo da lâmina, mas levantei outra e ela
brilhou ao luar, chamando sua atenção. “Tanto quanto eu
adoraria ter isso de volta,” eu assobiei, tomando cuidado para
manter minha voz baixa. “Se você tirar, vai morrer, e não tenho
muita certeza do que isso significa para mim.”
Eu não tinha certeza do que esperava, talvez que ele
aguentasse e aceitasse sua derrota como um campeão, saindo
dessa caçada estúpida como o réptil inofensivo que fingia ser,
mas não foi isso que ele fez. Nem de longe.
“Ela está aqui!” Ele chamou, sua voz ecoando na noite, e
minha pele congelou com uma nova camada de suor frio.
Eu cambaleei para trás e chutei-o com força no joelho,
satisfeita em ouvi-lo gritar de dor quando ele caiu no chão em
meu rastro. Eu pisei em sua besta também para garantir.
Corra, cadela, eu me repreendi. Você consegue.
Mas meu joelho estava doendo, e cada passo parecia outro
ligamento rasgado no que quer que estivesse segurando toda a
maldita coisa junta. Eu empurrei a dor para longe de qualquer
maneira, decidindo dar o fora daqui.
Parei, apenas por um instante para ouvir sons de
perseguição, mas em vez disso ouvi outra coisa. Fraco. Super
distante, mas estava lá.
Música.
Música de dança. Uma festa em casa?
Ou era…
Poderia ser…
Corri naquela direção, tentando ouvir o som distante do
baixo para me guiar.
Era quase impossível ouvi-lo sobre o som da minha própria
respiração. E a batida do meu pulso batendo em meus ouvidos
tornava difícil distinguir um do outro.
Merda.
Contornei uma pedra, agachei-me atrás dela para ouvir de
novo, prendendo a respiração, embora isso fizesse meu peito
arder. Lá.
Mais a leste.
Eu pulei de pé e fui jogada para frente, um assobio foi o
único som antes de atingir o chão, o ar deixando meus pulmões
em um suspiro dolorido. Sujeira e sangue encheram minha
boca e a dor veio de uma só vez. Uma pressão e dor crescente
em meu ombro que estava atingindo um ponto de ruptura
rapidamente.
Ainda ofegante, virei a cabeça e fiquei cara a cara com a
ponta da flecha projetando-se do pedaço carnudo de pele que
conectava meu ombro direito ao meu torso. O sangue escorria
da ponta de metal preto e, com uma revirada no estômago, olhei
para trás e vi o resto, saindo do outro lado. Madeira e penas
salpicadas.
Puta merda.
Eles atiraram em mim.
Ainda bem que eu era canhota.
Os passos do atirador se aproximaram e mesmo que fosse
contra todos os meus instintos gritando em minhas
terminações nervosas, rolei para me defender, quebrando a
parte de trás de madeira da flecha no chão enquanto jogava
minha lâmina, sem nenhuma porra de misericórdia.
A ferida em meu ombro protestou em agonia ardente e
manchas brancas brilharam sobre meus olhos quando me
levantei.
A lâmina cravou-se no olho do cervo e ele caiu, debatendo-
se violentamente no chão. A máscara o salvou da polegada extra
da lâmina que teria sido sua morte. Pena que eu teria que
desperdiçar outra porque ele estava fazendo muito barulho.
Fui sacar minha última lâmina, mas minha mão saiu
vazia, e xinguei, procurando por ela no chão, mas não vi
nenhum brilho de aço no solo escuro e coberto de palha.
“Quer calar a boca?” Sibilei, procurando o último recurso.
A lâmina que Corvus me deu. Aquela com a qual eu ainda não
estava totalmente confortável. Acho que agora era um momento
tão bom quanto qualquer outro para consagrá-la, a menos que
eu quisesse arrancar a lâmina de seu olho e arriscar que ele
gritasse antes que eu pudesse cortar sua garganta.
Uma batida forte me fez pular, e eu girei para encontrar o
filho da puta nocauteado pela pedra, seu corpo flácido e sangue
escorrendo por sua máscara. Ele se debateu com tanta força
que desmaiou. Eu resisti ao desejo maníaco de rir, bufando em
vez disso, me perguntando de improviso se minha própria perda
de sangue estava me afetando, porque essa deve ser a merda
mais engraçada que eu já vi em algum tempo.
Isso havia me deixado louca?
Acho que não importava.
“Tudo bem, então,” falei, e antes que pudesse pensar muito
sobre isso, agarrei a ponta de flecha de metal e a forcei para
fora do meu ombro com um grunhido. A náusea revirou em meu
estômago e eu engoli a bile, ajoelhada no meu joelho menos
dolorido para rasgar outra tira da bainha do meu vestido Prada
esfarrapado.
Becca ia me matar por arruiná-lo.
Usei a faixa de tecido caro para amarrar firmemente em
torno da ferida, enrolando-a sob a axila e apertando-a com os
dentes. Não era o meu melhor trabalho de remendo, mas teria
que servir.
Hesitei antes de deixar o cervo meio morto, os dedos
coçando para recuperar a lâmina saindo de seu olho. Estranho,
como não senti absolutamente nenhum remorso por cegá-lo
permanentemente, e em vez disso, toda a culpa do mundo por
deixar aquela lâmina onde estava.
Ele parecia jovem. Forte. E se ele fosse como os meus
caras?
Ele podia ter seus motivos.
Assim como eu tive os meus.
Tente não matá-los, Grey me disse.
Não fiz promessas, mas isso era eu tentando como ele
pediu. Era melhor o filho da puta apreciar isso porque meu
ombro doía como uma cadela e minha mão esquerda estava feliz
em distribuir vingança por aí.
Com um último gemido, parti de novo, mais devagar desta
vez. Metódica. Concentrando-me mais em ficar quieta e
escondida do que cobrir o terreno, já que o último não parecia
estar funcionando para mim.
Uma lâmina restante. Eu teria que usá-la sabiamente com
os outros quatro capangas na floresta procurando por mim.
Segui o som da música subindo, o que me pareceu
estranho, pois pensei que a estrada era na direção contrária. A
menos que meu senso de direção estivesse completamente
ferrado neste ponto.
As árvores à frente diminuíram e mais luar entrou nos
troncos, fazendo suas sombras se inclinarem sobre o solo como
barras pretas em uma jaula fantasmagórica.
Eu estremeci e minha boca se abriu quando a visão à frente
clareou.
Eu sabia exatamente onde estava.
Tomada por um pressentimento, empurrei minhas pernas
doloridas para mover-me o resto do caminho até a borda e olhei
para o lago.
O luar beijava a água negra ondulante vinte metros abaixo
de mim e, à minha direita, talvez a um quilômetro e meio em
linha reta, as Docas empoleiradas em palafitas de madeira
sobre o lago. Pulsando com música, luz e vida.
Tão perto.
Tão fodidamente longe.
O som de uma flecha sendo encaixada em um arco me fez
cair no chão, agachando-me para encontrar meu atacante, a
lâmina com cabo de corvo levantada, presa entre o polegar e o
indicador.
Ele saiu das sombras das árvores à minha direita,
desdobrando-se em toda a sua altura como se estivesse lá o
tempo todo. Esperando. Como se Diesel St. Crow soubesse que
chegaria a isso. A esse lugar. Agora mesmo.
“Você não jogou,” ele sussurrou, inclinando sua cabeça
mascarada para a lâmina em meus dedos.
“Você não atirou,” eu respondi, engolindo em seco.
“Ainda não.”
Nada na minha periferia. Ninguém mais estava aqui, mas
eles estariam em breve. Este lado do penhasco contornava o
lago, não havia outro lugar para eles irem.
Diesel, movendo-se lentamente, tirou a máscara do rosto e
a jogou no chão, respirando fundo como se ela o sufocasse.
“Você sabe quantos corpos eu enterrei nesta floresta?” Ele
perguntou, levantando a besta de uma forma que me disse que
ele sabia muito bem como usá-la. Talvez quase tão bem quanto
eu poderia usar uma lâmina.
Eu nivelei minha respiração, decidindo não jogar seu
joguinho de intimidação. Ele ia atirar em mim ou não, o resto
não importava. Eu precisava manter meu olho treinado em seu
dedo no gatilho. Se ele se encolhesse, eu jogaria.
E não seria uma espécie de ironia se Diesel St. Crow fosse
morto por uma lâmina que seu próprio filho colocou em minhas
mãos?
“Eu perdi a conta,” Diesel admitiu depois de outro
momento, deslocando-se um pouco para a esquerda, fazendo-
me reajustar minha posição para contra-atacar.
Ele sorriu com os meus movimentos, interesse despertado.
“Mas há um,” continuou ele. “Enterrado bem ali.”
Seu olhar indicou um ponto a poucos metros de onde eu
estava. “O nome dele era Foley e ele implorou por uma vaga na
minha equipe. Eu dei a ele uma chance, e você quer saber como
ele me pagou?”
“Na verdade, não.”
Seus lábios se torceram em um sorriso cruel. “Ele quis nos
trair. Quis derrubar meu filho.”
Algo em meu estômago vibrou, e eu trabalhei para reprimi-
lo.
“Você quer saber como ele morreu?”
“Deixe-me adivinhar. Sua besta?”
Diesel balançou a cabeça. “Não. Quando peguei Foley
nesta floresta, lutei com ele homem a homem. Sem armas.
Apenas punhos. Foi pessoal, sabe. Ninguém machuca minha
família.”
Uma pontada em meu peito com suas palavras fez minhas
sobrancelhas se juntarem e meu aperto vacilar por um segundo
antes que eu pudesse me recuperar.
“Eu não sou o que você pensa que eu sou,” falei em um
sussurro baixo, encontrando seu olhar de pedra, mas as
palavras soaram como uma mentira até para meus próprios
ouvidos. E o rosto do oficial Vick brilhou em minha mente,
fazendo minha garganta apertar.
Quando ele não disse nada, e ouvi os sons abafados de
movimento se aproximando, arrisquei olhar para longe de
Diesel e para as árvores, tentando julgar quanto tempo me
restava antes de estar totalmente cercada.
Eu estava fodida.
Esse era o plano dele o tempo todo? Manter-me presa aqui
até que seus capangas chegassem até nós? Para que ele
pudesse mandar um deles me matar? Para ele poder manter as
mãos limpas da minha morte?
Idiota. Eu deveria ter corrido.
Eu ainda poderia se...
“Uh, uh, uh,” Diesel repreendeu, vendo o que eu tinha
planejado nos movimentos bruscos do meu olhar. “Eles estarão
aqui a qualquer segundo. Só há uma saída desta rocha que
pode acabar com a sua sobrevivência.”
Seu olhar frio seguiu para a água abaixo e para trás de
mim.
“Por que não apenas atirar em mim?” Perguntei, meu
estômago já revirando com a perspectiva da longa queda. Havia
pedras lá embaixo também. Grandes. E menores. Seria um
pequeno milagre não atingir nenhuma delas.
Ele hesitou, suas mãos apertando a besta.
Ele não podia, eu percebi. Ele não arriscaria afastar seus
filhos para sempre. Ele poderia deixar alguém fazer isso, no
entanto. Ou ele poderia me deixar pular e esperar que as rochas
abaixo fizessem o trabalho por ele.
Eles poderiam perdoá-lo por isso, com o tempo.
“Faça sua escolha, garota,” Diesel rosnou, sua tensão
aumentando conforme os outros se aproximavam. “Faça agora.”
Aproximei-me da borda e um pedaço de pedra lascou sob
meu pé, caindo para se chocar contra outra rocha que se
projetava das ondas abaixo.
“E se eu sobreviver?” Perguntei, engolindo em seco, meu
sangue cantando com o que eu estava prestes a fazer.
Diesel inclinou a cabeça para o lado, sem entender.
“Se eu sobreviver, você vai parar de tentar me matar? Você
me dará uma chance real de passar nesses julgamentos?”
Ele franziu a testa, considerando meu pedido e, talvez,
minhas chances de sobrevivência.
“Talvez.”
Porra.
Teria que ser bom o suficiente. Não havia mais tempo.
“Lá!” Alguém gritou, e eu embainhei a lâmina, recuei, dei
três passos correndo e me lancei da beira do penhasco.
O chão desapareceu e meu corpo caiu como uma pedra,
arremessado pelo ar frio da noite, meu cabelo jogado para trás
do meu rosto. Eu tentei me endireitar, sabendo que os pés
primeiro eram a única maneira de não resultar em ferimentos,
mas no último segundo, o vento mudou e eu virei, girando até
ficar de cara para baixo, olhando para a rocha e a água e minha
morte iminente.
ROOK

Durante o último julgamento de caça, Foley morreu em


trinta e cinco minutos.
Apertei o botão lateral do meu telefone, exibindo a hora e
uma mensagem de texto de um dos meus contatos em Lennox.
Um traficante de drogas que vendia para mim quando todos em
Thorn Valley foram ameaçados por meus irmãos.
Dan the Man: Desculpe cara, ninguém com essa
descrição ou ferimentos parecidos. Eu vou manter meus
ouvidos por aí, no entanto. Posso pegar alguma coisa? Eu
tenho uma boa merda colombiana. Pura.
Minha boca secou com a oferta e levei um minuto inteiro
antes de me forçar a deletar a mensagem sem responder.
Guardando a informação para se Ava Jade…
Não.
Já passava da meia-noite. Ela estava lá há mais de duas
horas.
Ou era um sinal muito bom ou muito ruim.
Feliz aniversário pra mim. Enterrá-la no dia em que nasci
seria apenas a cereja do bolo de merda da minha vida. Eu já
queria apagar esta data da existência. Apagá-la completamente
do calendário e fingir que nunca existiu. Achei que não poderia
ficar pior.
Como de costume, porém, eu estava errado.
Corvus tinha uma bebida na frente dele, e embora ele não
a tivesse tocado, foi o mais perto que eu o vi chegar de beber em
anos.
Grey estava um caco, levantando-se a cada poucos
minutos, apenas para se sentar novamente. Eu conhecia o
sentimento. A sensação de ser absolutamente inútil cavou
fundo na medula dos meus ossos. Infeccionando.
Corvus estava certo. Não havia nada que pudéssemos fazer
a não ser esperar.
Ava Jade precisava provar a si mesma, assim como todos
os outros Cavaleiros. Assim como nós tivemos que fazer. Eu
dificilmente poderia culpar Diesel por ser mais duro com ela
devido a sua história, mas eu o culparia se algo acontecesse
com ela. Se ela não voltasse...
Eu não conseguia nem imaginar.
Não podia me deixar levar por isso, senão perderia o
controle.
Ninguém estaria seguro até que eu visse como ela estava
com os meus próprios olhos.
Outra bebida. Outro minuto de entorpecimento feliz.
Esperar. E beber. E esperar mais um pouco.
Eu não tinha me preocupado com ela nas provas
anteriores, mas isso era algo diferente. Ela estava em
desvantagem numérica. Provavelmente desarmada. Eu tinha
toda a confiança nela, mas com essas probabilidades?
Eu nem tinha certeza se algum de nós sairia vivo do outro
lado, e nós tínhamos muito mais experiência do que ela, sem
falar no poder de fogo, onde ela só tinha lâminas.
O resto do uísque em meu cantil escorreu pela minha
garganta e acendi um cigarro, o último do maço, e dei uma
risada de escárnio. “Você vai beber isso ou apenas olhar para
ela?”
Os pálidos olhos azuis de Corvus deslizaram para mim com
um olhar assassino antes que ele levantasse o copo curto da
mesa de centro agora semi-quebrada e o colocasse em seus
lábios.
Ele fez uma pausa e eu bufei, até que vi por que ele não
estava bebendo. Algo chamou sua atenção e eu segui sua linha
de visão, procurando, a coisa preta enrugada em meu peito
apertando cada vez mais.
“Fantasma?”
Ava Jade estava a menos de cinco metros de distância e,
por um segundo, pensei que estava alucinando. Pensei que ela
era um fantasma voltando dos mortos para me assombrar.
Pálida. Ela estava tão pálida. Seu longo cabelo escuro
pingando e caindo em seu rosto. Rímel escorrendo até o queixo.
Uma ferida sangrando em seu ombro. Todo o seu peso na perna
esquerda. Seu vestido em farrapos encharcados.
Era a melhor fantasia aqui, mas não era uma fantasia.
Eu vi isso em seu rosto pouco antes de acontecer e corri da
minha cadeira, desequilibrado por causa da bebida, mas nem
isso me impediu. Eu a peguei enquanto ela desmaiava, os dedos
se curvando sobre a parte de trás de seu crânio apenas um
segundo antes de se conectar com as tábuas de madeira sob
nossos pés.
“Fantasma!” Eu gritei, empurrando as mechas molhadas
de cabelo para longe de seu rosto. “Ei. Ei, fique comigo.”
Uma mão pousou em meu ombro e eu girei, meu lábio
superior se curvando para Corvus.
“Sou eu,” ele disse, e Grey também estava lá, parecendo
branco como papel.
Corvus tentou tirá-la de mim, mas eu a segurei com mais
força, minha mente em uma névoa cheia de luzes piscando.
“Ok,” Grey gritou, puxando Corvus de mim para que ele
pudesse se aproximar.
Ao nosso redor, uma multidão de espectadores estava se
reunindo, e eu olhei para eles, minha visão vacilando de modo
que seus rostos fantasiados pareciam que eu os estava vendo
através de um espelho de uma casa de parque de diversões.
“Precisamos tirá-la daqui,” Grey estava dizendo e eu me
concentrei, piscando para limpar a névoa dos meus olhos.
“Leve-a para a sala dos fundos.”
Fora daqui. Sim.
Eu a levantei no meu peito, quase perdendo o equilíbrio até
que Corvus me endireitou. “Depressa. Ela perdeu muito
sangue, Rook.”
Não. Ela estava bem.
Ela ficaria bem.
Sua umidade penetrou em minhas roupas, me
encharcando com um frio brutal, quase tão frio quanto onde
minhas mãos seguravam seus braços nus. Ela estava muito
fria. Ela precisava ser aquecida.
Grey correu na minha frente, abrindo a porta da sala dos
fundos. Ele desligou o disjuntor e a música e as luzes atrás de
nós morreram quando a pesada porta se fechou. Os festeiros
gritaram seu protesto, mas seus passos já pareciam estar
recuando, deixando as docas. Bom.
Corvus derrubou garrafas e copos do topo do pequeno bar
preto onde mantínhamos nosso estoque, fazendo-os se espatifar
no chão, o cheiro inebriante de bom bourbon e uísque caro
enchendo meus pulmões.
“Deite-a,” Corvus ordenou, e eu relutantemente a coloquei
no bar úmido.
“Ela está com frio,” consegui dizer, voltando a mim, a
influência do uísque ainda revirando meu estômago,
diminuindo diante da minha Fantasma ferida.
Aquecida. Ela precisava ser aquecida.
Tirei minha jaqueta de couro e coloquei sobre seu peito
enquanto Grey trabalhava para desamarrar a tira de pano preto
em volta de seu ombro. O nó se soltou, revelando uma ferida
enrugada pela água. Muito difusa para ter sido uma bala.
“Diesel,” eu rosnei, imaginando a flecha da besta que teria
atravessado ela. Entrando por um lado e saindo do outro.
Invadindo sua carne, corrompendo sua perfeição.
Eu o mataria.
Eu mataria quem atirou nela.
Não importava quem tivesse sido.
“Rook,” alguém disse, mas sua voz estava tão distante que
eu não podia ter certeza de que não estava apenas na minha
cabeça.
“Rook!”
Encontrei os olhos azuis de Corvus e estremeci quando ele
agarrou os meus braços, me sacudindo. “Ei. Fique com a gente
aqui. Ela está bem. Ela está viva. Ela escapou.”
“Ela passou no julgamento,” acrescentou Grey, usando os
dentes para rasgar um pacote de gaze e enfiá-lo na ferida.
Ava Jade tossiu, contorcendo-se enquanto Grey cobria seu
ferimento com a gaze, seus olhos se arregalando. “Foda-se,” ela
resmungou, mal conseguindo manter a consciência.
Seus dedos se curvaram em minha jaqueta de couro sobre
seu estômago, puxando-a mais apertada para ela.
“Pardal?” Corvus gritou, contornando o outro lado do bar
para avaliá-la. Ele levantou a lanterna do telefone bem alto e
baixou as pálpebras dela, verificando a dilatação.
Ela o afastou fracamente, seu rosto franzido em uma
carranca azeda. “Pare,” ela gaguejou, seus dentes começando a
bater.
“O que aconteceu, AJ?” Grey perguntou, enrolando um
curativo limpo em torno de sua ferida.
Ela piscou, seus olhos entrando mais em foco e focando
em mim.
Fui até ela e, quando ela pegou minha mão, deixei-a pegá-
la, segurando seus dedos úmidos com força até que um pouco
de cor voltasse a suas bochechas.
“Eu pulei,” ela disse, e Corvus e eu trocamos um olhar.
“Espere,” Grey murmurou, correndo para o sofá na outra
extremidade da nossa pequena área de bar privada e o arsenal
de armas trancado contra a parede. Ele rasgou o estandarte
trançado dos Saints pendurado na parede ali e trouxe-o de
volta, colocando-o sobre minha jaqueta e todo o corpo dela. Ela
estremeceu, dando-lhe um olhar agradecido.
“Você pulou de onde?” Corvus perguntou, seu olhar
letalmente firme enquanto esperava que ela respondesse.
“Os penhascos. A uma milha daqui.”
“Você nadou uma milha ferida?” Grey perguntou,
incrédulo.
“Uma milha...” Corvus parou, a percepção à que eu tinha
acabado de chegar, em seu rosto. Diesel a levou para o mesmo
lugar que ele levou Foley. Deadwood. Onde enterramos
traidores e inimigos por anos. O que significava…
“É uma queda de 22 metros. Pelo menos.”
“Que diabos você estava pensando, Pardal? Você poderia
ter morrido.”
Seus olhos brilharam com malícia. “Eu teria morrido se
não tivesse saltado.”
O calor subiu pela minha espinha e aqueceu meu rosto.
Isso foi longe demais.
Os julgamentos eram para ser um desafio e mais do que
alguns morreram antes que pudessem ganhar uma vaga em
nossa tripulação, mas as provas sempre foram justas. Um
desafio, feito para empurrar aquele que o aceita aos limites do
que poderia sobreviver, mas justo. Havia cinco Saints com
Diesel. Seis no total, contra um.
Mesmo com a vantagem que eu tinha certeza que ele teria
dado a ela, onde estava a justiça nisso?
“Quem atirou em você?” A pergunta passou por meus
lábios sem pensamento consciente. “Eu quero um nome.”
“Rook,” Grey alertou, e eu lancei um olhar que o desafiou
a me desafiar novamente.
Fantasma sorriu, uma pequena risada interrompida por
sua boca fechada que se transformou em uma tosse. “O veado,”
disse ela e minhas sobrancelhas franziram em confusão. “Mas
não se preocupe, tirei um dos olhos dele.”
Foi a minha vez de sorrir agora, e dei um aperto nas mãos
dela. “Claro que você fez.”
“Vocês realmente acharam que eu não ia conseguir?” Ela
tossiu de novo, todo o seu corpo latejando. “Fico feliz em saber
que vocês têm tanta fé em mim.”
Seu olhar deslizou de nós para inspecionar a sala mal
iluminada, um nó se formando entre suas sobrancelhas. “Onde
está Becca?”
Grey largou os pacotes vazios que segurava e coçou a nuca.
“Ela uh... Ela ficou meio chateada com a gente e foi embora.”
Ava Jade sentou-se ereta, a cor drenando de seu rosto
novamente. Seus olhos ficaram desfocados quando o
movimento repentino a deixou tonta. “Bem, vá e encontre-a,” ela
repreendeu, já de volta ao seu eu ardente.
Corv deu um aceno de cabeça para Grey, e ele se inclinou
para beijar Ava Jade em sua cabeça antes de sair. “Eu volto já.”
“Você deveria se deitar,” disse Corvus, mas Ava Jade
apenas olhou para ele como se tivesse crescido uma segunda
cabeça em seu pescoço.
“Estou bem.” Ela estremeceu quando tentou mover o braço
ferido e olhou para mim através de seus cílios. “Eu poderia
tomar uma bebida, no entanto.”
Contornei o bar e puxei uma garrafa de água da pequena
geladeira abaixo, entregando a ela.
“Isso definitivamente não é o que eu quis dizer,” ela disse
revirando os olhos, mas pegou a garrafa e bebeu metade,
tremendo de novo. “Acho que bebi água do lago suficiente para
me hidratar pelo próximo ano.”
Os nós dos dedos de Corvus ficaram brancos onde ele
segurava o balcão, mas ele relaxou quando me pegou olhando.
Ele estava fazendo um trabalho de merda fingindo que não
se importava.
Grey me disse que ele e Ava Jade finalmente transaram.
Não era exatamente o tipo de notícia que eu queria ouvir
depois de procurar por horas intermináveis e sair de mãos
vazias na busca pelo perseguidor de Ava Jade, mas era a vida.
E Corvus merecia esse tipo de felicidade tanto quanto
qualquer um de nós. Mais do que eu, com certeza.
Ava Jade me passou a outra metade de sua água. “Beba,”
ela exigiu. “Você parece uma merda e cheira a uma destilaria.”
“Devo pegar um espelho para você?” Eu brinquei,
ganhando um olhar furioso, mas peguei a água, sabendo que
uma cabeça fria poderia evitar algumas mortes esta noite.
A porta se abriu atrás de nós, e Grey voltou, um pouco sem
fôlego. “Todo o lugar está limpo,” disse ele. “Não vejo Becca em
lugar nenhum.”
“O que?” Ava Jade exigiu, rosnando quando desceu do bar
e quase caiu de cara no chão, fazendo uma careta enquanto
agarrava o joelho direito.
“Você precisa se sentar,” Corvus rosnou, pulando no bar
para agarrá-la por trás, levantando-a apesar de seus protestos.
“Solte-me!”
“Não. Se acalme e sente-se, e então eu vou deixá-la ir.”
Ava Jade, cansada demais para lutar contra ele, caiu,
derrotada em seus braços enquanto ele a carregava para o sofá
e puxava o telefone do bolso de trás. “Aqui,” disse ele e entregou
a Ava Jade. “Ligue.”
“Já tentei isso,” disse Grey, e Corvus lançou-lhe um olhar
mordaz.
Ava Jade discou para sua amiga, ficando tensa com cada
toque sem resposta. Ela não deixou uma mensagem de voz, em
vez disso, desligou para mudar para uma mensagem de texto.
Ela escreveu uma mensagem para a amiga e esperou.
Corvus se agachou ao nível dos olhos dela. “Podemos...”
“Shh.”
“Ela provavelmente só...”
“Shh.”
O telefone tocou na mão de Ava Jade um segundo depois,
e ela suspirou enquanto liam a mensagem na tela.
“Ela está bem,” disse ela, digitando uma mensagem menos
apressada. “Ela está com o namorado.”
“Ela tem um namorado?” Eu me peguei perguntando,
duvidoso. Um amigo de foda, talvez. Rebecca Hart não parecia
o tipo que poderia ser enlaçada.
“Algo assim,” respondeu, encerrando a mensagem. “Ele a
está ignorando por um tempo. Acho que ele finalmente caiu em
si e percebeu o que tinha. Ainda bem, porque eu levaria cerca
de 24 horas para rastreá-lo e forçar um pedido de desculpas
para fora de seu traseiro arrependido.”
Ela suspirou, entregando o telefone de volta para Corvus.
Eu li a resposta de Becca por cima do ombro dele antes que a
tela escurecesse.
Rebecca: Eu estava tão preocupada. Que bom que você
está bem. Não se preocupe comigo, estou apenas com você
sabe quem. Acho que vou ficar aqui esta noite, então não
me espere, ok? Xx”
Minha mandíbula se apertou, a falta de pontuação me
lembrando de como as mensagens de outra pessoa costumavam
chegar ao meu telefone.
Apenas uma coincidência. Tinha que ser.
Eu fui para a porta.
“Onde você está indo?” Ava Jade perguntou, me parando.
“Bater um papo com Diesel.”
Para a minha surpresa, nenhum dos meus irmãos
protestou, mas meu fantasma sim.
“Podemos ficar juntos?” Ela perguntou, e quando vi a
incerteza em seus olhos, não consegui dizer não.
“Se é o que você quer.”
Ela pareceu pensar nisso por um momento, então ergueu
a cabeça e se levantou trêmula. “Me leva para casa?”
AVA JADE

De jeito nenhum eu tomaria analgésicos, com muito medo


de que eles me derrubassem a ponto de ficar totalmente
inconsciente. Então, dormir não era uma coisa provável de
acontecer.
Suspirando, puxei minha bunda dolorida para fora da
cama, tocando cuidadosamente o curativo em meu ombro. As
bordas afiadas dos pontos que Rook costurou em minha pele
me cutucaram através da gaze, e eu estremeci, mas continuei a
cutucar a área, testando minha habilidade motora com o novo
ferimento. Meu joelho estava melhor depois de um pouco de gelo
e uma joelheira emprestada de Grey. Mas o ombro ia demorar
mais um pouco.
Eu poderia levantá-lo até que estivesse nivelado com meu
rosto, mas não mais alto. Pelo menos a flecha não perfurou
nada muito importante. Ou pelo menos eu esperava que não,
só o tempo diria, já que ir para o hospital estava fora de questão.
Acendi o interruptor de luz e manquei silenciosamente até
o banheiro, tentando não fazer muito barulho enquanto jogava
água fria no rosto e no pescoço para impedir que o calor febril
ficasse mais forte. Honestamente? Eu meio que esperava
encontrar Corvus aqui.
Ou Grey. Foda-se, até mesmo Rook.
Cada um deles insistiu que eu dormisse com eles ou pelo
menos no sofá onde eles poderiam cuidar de mim. Eu disse não,
por estar absolutamente exausta e querendo realmente dormir,
o que eu não faria com uma plateia ou um companheiro de
cama. Acabou que não importava de qualquer maneira. Dormir
era impossível, independentemente de eu estar sozinha em meu
quarto escuro ou não.
Abri a porta do outro lado do banheiro e espiei o corredor
escuro, iluminado apenas pela luz do amanhecer que entrava
pela janela do outro lado.
As portas de Corvus e Grey estavam fechadas, mas a de
Rook estava aberta, uma corrente de ar assobiando até onde eu
estava.
Eu mordi minha bochecha, correndo de volta para o sótão
para recuperar o que eu tinha roubado dele um tempo atrás.
Eu me perguntei se ele tinha notado que tinha sumido, mas
vendo como eu o encontrei escondido atrás de uma foto antiga
em sua cômoda, eu podia ver por que ele não notaria.
Inferno, isso me fez pensar se minha brilhante ideia para
um presente era mesmo boa se ele o mantinha escondido.
Ah, bem. Não havia como voltar atrás agora, e eu tinha que
devolver a ele eventualmente.
Quando voltei para a porta dele, empurrei-a, enfiando a
cabeça para dentro. “Rook?” Eu sussurrei, apertando os olhos
para ver na escuridão enquanto o cheiro que era
exclusivamente de Rook enchia meus pulmões, me fazendo
sorrir.
“Aqui fora,” foi sua resposta sussurrada, e segui sua voz
até a janela aberta ao lado de sua cama, a cortina escura
ondulando para dentro com a brisa.
A forma escura dele estava sentada no telhado, um
cobertor frouxamente enrolado em seus ombros.
“Não conseguiu dormir?” Ele perguntou enquanto eu
rastejava pela janela para me juntar a ele, o frio do ar da manhã
roçando a pele nua dos meus braços e pernas.
“Não. E você?”
Ele balançou a cabeça e levantou um lado do cobertor,
segurando-o aberto para mim.
Um músculo em minha mandíbula se contraiu, mas a
hesitação durou apenas um segundo antes de me enrolar ao
lado dele, deixando-o colocar o grande cobertor peludo sobre
meus ombros. O calor de seu corpo me envolveu enquanto eu
me enrolava no cobertor, me aconchegando mais perto dele.
Seus dedos envolveram a depressão acima do osso do meu
quadril, me puxando contra ele com um pequeno grunhido.
“Você está congelando.”
“Está frio aqui fora.”
“Bom, não é?”
Eu não poderia discordar. Era agradável. A névoa que se
apegava ao meu cérebro enquanto estava deitada no sótão
abafado foi dissipada, substituída por uma clareza obtida
apenas pela inalação de ar limpo e fresco.
Parecia afetar Rook da mesma maneira. Embora ele ainda
estivesse tenso, esse era o maior nível de tranquilidade que vi
nele em dias. Talvez até uma semana.
Eu me perguntei se o ar puro era o único culpado ou se
alguma outra coisa havia contribuído.
Nós não falamos por um tempo, contentes por ficar
sentados lá, olhando para o céu que se iluminava lentamente
no calor e na companhia um do outro, mas eu vim aqui por um
motivo.
“Então, hum…”
“Hum?” Rook disse, saindo de qualquer pensamento que o
tivesse levado. Ele se virou para mim, seus olhos escuros
procurando meu rosto.
“Eu não vou dizer nada porque Corvus meio que me disse
que você não gosta de comemorar.”
Suas sobrancelhas se juntaram.
Talvez isso tenha sido um grande erro.
“Todo mundo sempre esqueceu meu aniversário enquanto
eu crescia. Quero dizer, eu não me importava muito porque
quando eles se lembravam, tudo o que conseguia era um muffin
de posto de gasolina com um fósforo aceso como uma vela,
mas... Acho que pensei que talvez…”
“O que você fez, Fantasma?”
Lambi meus lábios repentinamente muito secos e enfiei a
mão no bolso da minha calça, uma sensação de mal-estar
rastejando pelo meu estômago.
“Encontrei no seu quarto,” expliquei enquanto puxava sua
mão para perto de mim por baixo do cobertor e abria seus
dedos. “Estava quebrado e pensei que poderia significar algo
para você, então eu... Bem, eu meio que dei para uma garota da
minha aula de literatura inglesa cujo pai é dono de uma
joalheria na cidade, e ele consertou.”
Coloquei o colar em sua palma e o senti estremecer ao
senti-lo, sua expressão escurecendo.
Merda.
Ele não falou por um longo momento, segurando o colar
sob o cobertor enquanto olhava para as sombras das árvores do
outro lado do caminho.
“Foda-se, me desculpe,” eu gaguejei, o calor crescendo em
minhas bochechas e no topo das minhas orelhas. “Eu nem sei
o que eu estava pensando. Eu deveria ter deixado para lá como
Corvus disse e...”
Sua mão larga se fechou sobre minha boca, abafando
minhas próximas palavras. “Pare de falar,” ele disse, uma
tensão em sua voz enquanto lentamente voltava sua atenção
para mim e deixava cair seu lado do cobertor para olhar para
baixo em sua palma.
Sua mão quente se afastou do meu rosto e eu também olhei
para o colar. Parecia tão pequeno em sua mão grande. Tão
delicado.
O diamante negro captava a luz rosa do sol nascente, e o
broche novinho em folha que o joalheiro mandou fazer brilhava
como se fosse feito de pura luz das estrelas na fina corrente de
ouro branco.
Também estava quebrada. Dobrada e torcida como se
tivesse sido arrancada do pescoço de quem usava o colar.
Eu estava morrendo de vontade de perguntar, mas estava
claro que eu já havia passado dos limites, então apenas esperei,
torcendo para que ele não estivesse muito chateado comigo.
“Era da minha mãe,” ele disse finalmente, justo quando o
silêncio estava começando a ficar pesado demais para suportar.
“O que aconteceu com ela?” Perguntei antes que pudesse
me conter, então acrescentei rapidamente. “Você não precisa
responder se não quiser.”
Seus lábios se curvaram ligeiramente, fazendo com que a
tensão atrás do meu esterno diminuísse o suficiente para
respirar.
“Ela morreu,” ele explicou em uma voz áspera. “No parto.”
Meu estômago revirou.
“Ela ia ficar famosa, sabe? Julia Clayton. A estrela em
ascensão, era assim que a chamavam.”
“Ela é a mulher na fotografia?”
Ele acenou com a cabeça, e eu me lembrei da beleza de
cabelos pretos do porta-retratos em sua cômoda. Eu
honestamente pensei que a foto tinha vindo com o quadro. A
mulher na foto era linda demais para não ter sido retocada e
editada até o limite de sua vida, com certeza.
Mas fazia sentido, se Rook era seu filho. Lindo, letal, Rook.
“Sinto muito,” eu sussurrei. “Foi assim que você acabou no
Barrettes Home for Boys?”
Algo em seu olhar mudou e sua mão se curvou ao redor do
colar até que os nós dos dedos ficaram brancos.
“Você fez algumas pesquisas.”
Dei de ombros. “E você, não?”
“Eu? Não. Mas não posso dizer o mesmo dos meus irmãos.”
Eu esperei.
“Sim,” disse ele em uma respiração. “Mas eu não acabei lá
imediatamente. Eu fui colocado sob os cuidados de minha tia
por anos antes disso. Ela nunca perdia uma oportunidade de
me lembrar que arruinei sua irmã. Que ela morreu para que um
merdinha como eu pudesse viver. Ela não piscou quando o
namorado descarregou seu tipo muito particular de violência
em mim. Acho que parte dela queria que ele fizesse isso. Para
me punir por tirar minha mãe deste mundo.”
“Foi ele quem te deu isso?” Eu cuidadosamente passei um
dedo sobre as cicatrizes em seu braço, aquelas escondidas por
toda a tinta que cobria sua pele.
Seu lábio superior se curvou e meu fogo interior queimou,
querendo retribuição em seu nome, com a vontade de marcar o
filho da puta exatamente nos mesmos lugares e da mesma
maneira que ele marcou Rook antes de matá-lo lentamente.
“Achei que merecia.”
“Não foi sua culpa ela ter morrido.”
“Eu sei. Eu não sabia naquela época, mas sei agora.
Encontrei um diário que ela escreveu pouco antes de minha tia
finalmente se cansar das minhas merdas e me mandar para o
lar adotivo. Todo mundo dizia a ela que me ter destruiria sua
carreira. Que ela deveria me abortar e nunca contar ao pai. Ela
nunca contou a ele, porque aparentemente ele era a porra de
um monstro, mas escreveu que ela me queria. Ela me queria
mais do que jamais quis qualquer outra coisa em sua vida.”
“Ela parecia uma mulher incrível.”
Ele deu um sorriso triste. “Eu gosto de imaginar que ela
era. Não sei o que teria acontecido se eu não tivesse encontrado
aquele diário, mas logo depois que fui para o Barrettes Home
for Boys, conheci Grey. E não muito depois disso, voltei para a
casa da minha tia na Sycamore Street e a queimei. Com meu
tio dentro.”
“Bom.”
Seus olhos encontraram os meus e algo não dito passou
entre nós antes que ele se movesse, virando-se ligeiramente
para me encarar. Rook ergueu o colar entre nós, seu rosto
endurecendo. “Você vai usar?”
Meu estômago revirou e meus lábios se abriram de
surpresa, mas ele não disse mais nada, apenas esperou pela
minha resposta quando os primeiros raios do sol da manhã
apareceram no horizonte, pintando-o em ouro brilhante.
Todos pensavam que ele era o diabo, mas eu podia ver
agora. Sob a luz certa, ele não era um demônio, mas um anjo
da justiça. Meu príncipe sombrio.
Sem dizer nada, eu me virei, usando meu braço bom para
tirar todo o meu cabelo do caminho, segurando-o no pescoço.
Suas mãos roçaram meu colarinho, fazendo-me tremer
enquanto ele envolvia a corrente delicada em volta do meu
pescoço, o diamante negro caindo pesadamente na depressão
da minha clavícula.
Uma vez que ele terminou com o fecho, ele passou o polegar
sobre a corrente contra a minha nuca, guiando-me de volta para
encará-lo.
Suas maçãs do rosto se dilataram enquanto ele me
observava na luz do amanhecer, os olhos passando entre o colar
e meu rosto. Ele sorriu.
“Combina com você.”
Toquei a pedra com a ponta dos dedos, uma sensação de
pertencimento tomando conta de mim com tanta força que
doeu. Misturando-se com uma culpa pesada tão esmagadora
que tirou todo o fôlego do meu corpo.
Em menos de vinte e quatro horas eu iria me encontrar
com o oficial Vick. E graças às admissões de Diesel no
Deadwood, eu realmente tinha algo que poderia dar a ele. Se
Diesel matou Foley com as próprias mãos e o enterrou na beira
daquele penhasco, seu DNA estaria por todo o corpo. Eu poderia
derrubá-lo. Eu poderia derrubar todos.
Mas quando olhei nos olhos de Rook...
Seus olhos de coração sangrando confiança...
Como no mundo eu poderia traí-lo?
Como eu poderia traí-los?
Valia a pena minha liberdade?
Eu ainda queria ser livre?
Rook levantou a mão para traçar a linha da minha
bochecha, empurrando meu cabelo para trás da minha orelha
em um movimento tão gentil que causou arrepios até nos dedos
dos meus pés.
“O que foi?”
Eu controlei meu rosto, piscando para afastar o que
definitivamente não eram lágrimas.
“Eu não mereço isso.”
A diversão cruzou seus olhos, tornando-os brincalhões
enquanto ele se inclinava para sussurrar contra os meus lábios.
“Você nos pertence, Fantasma. E nós pertencemos a você.”
CORVUS

A batida veio na porta apenas algumas horas depois do


amanhecer. A distinta cadência de três batidas revelando quem
estava do outro lado, fazendo minha irritabilidade disparar.
Eu coloquei o batedor de lado e limpei os dedos cobertos
de farinha no meu jeans. O céu podia estar caindo ao nosso
redor, mas eu nunca pulei um só aniversário. Rook teria seu
bolo, e ele iria se divertir. Ava Jade também iria gostar. Ela
merecia depois daquela merda toda da noite passada.
A porta bateu ruidosamente na parede quando eu a abri,
encontrando Diesel parado a alguns metros de distância,
olhando para cima em direção à janela octogonal para o sótão
acima da garagem. O calor floresceu na minha nuca, mas eu o
controlei. Eu não tinha dúvidas de que ele sabia que ela estaria
aqui, mas não gostei da expressão em seu rosto.
“O que você está fazendo aqui?” Perguntei, incapaz de
manter toda a acusação fora do meu tom.
Diesel baixou o olhar para o meu, a dor apertando a ponta
do nariz.
“Eu vim devolver as coisas da garota para ela,” ele
respondeu, me entregando duas lâminas limpas e o celular
dela.
“Onde está a outra?” Perguntei, sabendo que ela tinha
perdido todas as três lâminas. Ela ficaria chateada se outra se
fosse para sempre.
Diesel deu de ombros, indicando a lâmina na minha mão
esquerda. “Tirei essa do olho de Galen.”
Então foi Galen quem atirou nela.
“E essa do estômago de Dimitri.”
“Ela disse que você não deu a ela nenhuma regra básica,”
eu o lembrei, meus dentes no limite.
“Um erro que não cometerei uma segunda vez. Eu a
subestimei.”
Uma onda de orgulho me fez erguer o queixo. Eu mesmo a
subestimei uma ou duas vezes. Mas eu também não cometeria
esse erro novamente.
O olhar de Diesel voltou para a janela acima da garagem e
minha mandíbula apertou. “Ela está dormindo,” falei a ele. “E
eu não vou acordá-la.”
Ele ergueu a mão para me parar. “Eu não vim falar com
ela. Eu vim falar com você.”
“Sobre?”
Ele sacudiu a cabeça em direção ao caminho atrás dele,
onde seu carro estava estacionado ao lado do Rover. Coloquei
as coisas de Ava Jade lá dentro e segui Diesel para fora,
palavras que eu queria lançar para ele batendo na barreira
fechada dos meus lábios.
Quando saímos do Ninho, ele parou, encostado na traseira
do Rover e, antes que pudesse falar, parte do que eu queria
dizer veio à tona.
“O que foi aquela merda ontem à noite?”
A surpresa iluminou seus olhos, seguida pelo abaixamento
de suas sobrancelhas.
“Seis?” Eu pressionei quando ele não respondeu. “Seis
homens com bestas contra apenas ela?”
Eu espetei um dedo no ar, apontando para onde ela estava
agora, segura em nosso ninho. Uma parte de mim gostaria de
poder mantê-la lá, trancá-la e garantir sua segurança para
sempre.
“Ela sobreviveu, não é?”
Meus punhos cerraram.
“Os julgamentos deveriam ser justos,” eu resmunguei.
“Para testar lealdade, força e inteligência. O que aconteceu
ontem foi um maldito massacre do qual Ava Jade de alguma
forma conseguiu escapar e você sabe muito bem disso.”
Um pouco da raiva que Diesel manteve sob controle veio à
tona, e minha própria fúria lutou para se libertar ao vê-la. Se
ele podia perder o controle, então eu também poderia.
“Então ela não disse a você que eu cheguei a ter vantagem
sobre ela?” Ele perguntou, sua voz como um chicote, quebrando
minhas defesas. “Eu poderia tê-la matado. Teria sido uma
morte justa. Só ela e eu na beira daquele precipício.”
Eu ouvi o que ele estava dizendo sem a necessidade de ele
falar, reunindo tudo em minha mente.
... Ele a deixou pular, sua morte nas mãos do destino.
Isso não o absolvia de nada, mas suavizou um pouco o
golpe.
Ele deixou de fora a parte em que Ava Jade poderia
facilmente ter acabado com ele com um arremesso de sua
lâmina naquele penhasco. E ela não o fez.
Houve moderação de ambos os lados.
“Eu não vim aqui para discutir sobre um julgamento a que
eu tinha todo o direito de submetê-la como líder de nossa
gangue,” ele sibilou, passando os dentes sobre os lábios
inferiores. “Vim avisar vocês.”
Eu me preparei, minha besta rugindo agora de uma forma
que fez minha caixa torácica chacoalhar.
“Sobre?”
Seu olhar caiu no chão, onde ele enfiou a ponta da bota no
cascalho e apertou sua mandíbula. “Vai ser feio,” disse ele
depois de um minuto. “Eu sei que você não concorda comigo,
filho, mas é meu trabalho como seu pai cuidar de você.”
Meu estômago revirou.
“Você não quer ouvir isso, mas vou dizer mesmo assim,”
ele continuou, desta vez me olhando bem nos olhos. “Ela não é
quem você pensa que ela é.” Como diabos ele saberia quem ela
é? Ele nem tentou conhecê-la, e ele só saberia as mesmas coisas
que eu sabia ao olhar para o passado dela. Não havia muito o
que encontrar. A menos que ele tenha encontrado algo que eu
não tinha? Ou sabia algo que eu não sabia? Mas se fosse esse
o caso, por que ele não tinha falado nada?
“Não diga nada.” Diesel me cortou antes que eu pudesse
dizer uma palavra. “Apenas ouça. Ela está enganando você. Ela
é uma mentirosa e uma vigarista e você, meu filho, todos os
meus filhos, são as presas dela.”
“Você não sabe o que está dizendo,” eu argumentei, minhas
narinas queimando quando a fúria abriu caminho para a minha
cabeça, enchendo-a com vapor.
Ava Jade não...
Meu pardal não.
Ele estava errado sobre ela. Ele veria isso eventualmente,
mas eu não podia deixá-lo matá-la no processo.
“Eu vou te mostrar quem ela realmente é,” ele prometeu.
“Quantos julgamentos mais você planejou?”
Ele foi pego de surpresa pela pergunta, mas respondeu
honestamente. “Um, embora existam vários outros que eu
ainda considero...”
“Não,” eu o interrompi. “Um. Você pode ter mais um, mas
não mais. Se ela passar, é isso. Acabou. Você a aceita como
uma Saint e a torna uma de nós.”
Seu lábio superior tremeu, mas eu poderia dizer que ele
estava considerando meu pedido não tão sutil. Ele sabia que
aquela merda no Deadwood ontem à noite levou tudo isso aos
limites do que seria considerado um teste justo de habilidade.
Pela expressão em seu rosto, ele estava disposto a negociar se
isso significasse paz entre nós. Como uma forma de admitir seu
erro sem realmente admiti-lo.
“E quando ela falhar?”
Um calafrio se insinuou em minha barriga, alcançando
dedos gelados para apertar meus pulmões e formar uma crosta
sobre a coisa que batia atrás de minha caixa torácica. “Se ela
falhar... Se ela realmente for o que você diz que ela é, então nós
mesmos cuidaremos dela.”
A expressão de Diesel se igualou e ele suspirou, aplacado
pela minha resposta. Ele fechou a distância entre nós para
colocar a mão no meu ombro, apertando de uma forma que me
dizia que sentia muito sem a necessidade de palavras. “Tudo
bem, filho. Tudo bem. Uma tentativa e nada mais.”
“Quando?” Perguntei quando sua mão deslizou do meu
ombro. “Ela está ferida. Ela precisa de tempo para se curar.”
Diesel assentiu solenemente. “Eu não faço promessas.”
AVA JADE

Verifiquei meu telefone pela quinta vez desde que mandei


uma mensagem para Becca há duas horas, encontrando apenas
outra mensagem passivamente agressiva de tia Humphrey.
Hitler feminina: Finalmente consegui falar com vários
de seus professores na semana passada. Parece que todas as
suas notas estão bem acima da média, mas isso não justifica
a sua falta de assiduidade.
Essa era a sua maneira de se desculpar?
Outra mensagem chegou antes que eu pudesse apagá-la.
Hitler feminina: Além disso, o jantar será às 7 horas em
ponto na mansão no Dia de Ação de Graças. Se você for
trazer alguém, por favor me avise com antecedência para
que eu possa tomar as providências necessárias.
Hum, sim... Vou passar, porra.
“Alguma coisa?” Eu pulei da minha cadeira na mesa e
estremeci quando o ligamento rompido no meu joelho esticou
demais.
“Puta merda, porra,” xinguei, curvando-me para aliviar a
dor.
“Desculpe,” disse Grey, levantando as mãos em desculpas.
“Não queria assustar você.”
Suspirei pesadamente, caindo para trás na cadeira da
escrivaninha e empurrando minhas anotações de história para
fora do caminho para que eu pudesse descansar meu braço lá.
“Não, nada. Ela não respondeu nenhuma mensagem de texto e
não atende minhas ligações.”
A carranca de Grey se aprofundou. “Você está
preocupada?”
Dei de ombros. “Um pouco? Não sei. Ela sempre demora
para me responder quando está com ele, mas não assim.”
“Sim, ela normalmente não passa a noite toda,” Grey
meditou em voz alta, e ele estava certo. Becca sempre voltava
para o apartamento em Briar Hall em algum momento nas
primeiras horas da manhã. Ela nunca ficava fora por tanto
tempo.
Mudei minhas anotações sobre a mesa, empilhando-as em
uma pilha organizada em cima do meu livro, oficialmente
terminando de estudar para o teste desta semana. Eu duvidava
que algo estivesse grudando na minha cabeça mesmo.
Eu ouvi Diesel lá fora com Corvus esta manhã. Não entendi
tudo, mas ouvi algo sobre as coisas ficarem feias e um
julgamento. Esperançosamente, isso significava que restava
apenas um. Eu não conseguia decidir se isso era bom ou ruim,
já que Diesel St. Crow parecia determinado a não deixar eu
sobreviver até o fim.
“Ei,” Grey se esquivou, entrando no sótão. “Se ela não
voltar à tempo da aula amanhã de manhã, então iremos
procurá-la, ok?”
Eu não tinha certeza de como a encontraríamos, já que não
tinha absolutamente nenhuma porra de ideia de onde ela foi
para encontrá-la, mas...
Era isso! Ela foi encontrar seu amigo ontem à noite nas
docas, não foi com o carro dela. Ele ainda estava estacionado
no estacionamento da escola. Eu andei até lá com Rook mais
cedo para verificar e esticar a merda toda torcida do meu joelho.
“Você acha que o GPS do carro dela tem rastreamento
passivo? Tipo, para ver as rotas anteriores?”
O canto da boca de Grey levantou. “Sim. Acho que
provavelmente sim. Só é preciso hackear, e sorte sua...” Ele
esfregou os nós dos dedos sobre o peito, presunçoso pra
caralho. “Acontece que você está dividindo uma casa com
alguém que sabe como.”
Eu sorri de volta. “Obrigada, Grey.”
Seu olhar suavizou e um pouco daquela presunção
desapareceu, fazendo a transição para algo mais difícil de
nomear. Ele limpou a garganta. “Posso, uh, pegar alguma coisa
para você? Como está o ombro? Provavelmente deveríamos
enfaixá-lo.”
Eu balancei minha cabeça. “Já foi feito. E está bem.”
Rolei para mostrar a ele, incapaz de esconder todo o
desconforto no meu rosto, mas de alguma forma,
misericordiosamente, a flecha não atingiu nada importante.
Então, embora doesse como o cu do diabo, logo estaria tudo
bem.
“Certo. Bom. Isso é bom.”
Ele estava enrolando, e por meio minuto pensei em pedir
para ele ficar. Eu estive me isolando deles desde o show do
Primal Ethos, e eu sabia que eles estavam incertos sobre o que
a mudança significava. Inferno, eu também, mas isso não
mudou as coisas. Mesmo que Rook e eu tivéssemos tido um
momento na manhã passada. Mesmo que uma parte de mim
quisesse rasgar cada pedacinho do moletom escuro de Grey em
pedaços e fodê-lo até que eu não pudesse respirar. E mesmo
que eu não conseguisse parar de lembrar da sensação de
liberdade absoluta que veio ao me deixar sentir algo diferente
de ódio por Corvus.
Um fragmento de dúvida incomodou a parte de trás do meu
crânio.
Não foi para isso que vim aqui. Eu vim aqui para um novo
começo. Uma chance de uma nova vida livre de violência. Livre
de gangues, armas e ódio.
A cada dia, aquela imagem do que eu queria quando pus
os pés em Thorn Valley mudava. Cada dia passado com os
Crows era outra barra soldada em uma gaiola da qual eu nunca
poderia escapar se não tomasse cuidado.
E essa jaula me prenderia na vida que jurei deixar para
trás quando aceitei a oferta de minha tia.
Eu não sabia mais o que diabos eu queria, e esse era um
pensamento aterrorizante. Mas eu precisava descobrir antes
que fosse tarde demais.
“Obrigada,” eu murmurei, mas ele ainda hesitou. Será que
queria dizer algo mais? Se sentir útil? Era difícil dizer, mas eu
sabia que todos eles se culpavam parcialmente pela caçada. Por
deixar acontecer, embora não tivessem escolha. Ou, pelo
menos, era nisso que eu estava tentando acreditar.
“Talvez, se você não se importar, poderia pegar outro
pedaço do bolo de Rook?” Eu disse com um encolher de ombros,
e seus olhos se iluminaram.
“Sim,” disse ele com um suspiro de alívio. “Eu posso fazer
isso. Volto logo. Vou fazer um chá para você. Tenho esta
mistura de Rooibos10 que vai ficar muito bem com o bolo. Pode
ajudar você a dormir também.”
Ele se foi antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. Tipo,
o que diabos era Rooibos? Eu não o considerei um cara do tipo
chá de ervas, e a nova informação fez uma pequena risada
escapar dos meus lábios enquanto eu balançava minha cabeça.
Eu poderia ter um pouco de ajuda para dormir, no entanto. Já
eram dez e meia e eu não estava nem remotamente cansada
ainda. Provavelmente tinha algo a ver com a minha soneca
matinal de três horas na cama de Rook. Com Rook.
Eu não tinha planejado dormir lá. Eu só queria sentar com
ele um pouco mais depois que o sol ofuscante ficou muito
brilhante para os nossos olhos cansados. A próxima coisa que
eu sabia era que estava babando em seu travesseiro, não pela
primeira vez.
Afundei na cadeira, mas sentei-me ereta novamente
enquanto meu telefone tocava violentamente com uma nova
mensagem. O nome de Becca brilhou na tela.
Já estava na hora.
Levantando meu celular, vi que não era uma mensagem,
mas um vídeo. Eu desbloqueei e apertei o play e senti a porra
do meu mundo desmoronar ao meu redor.
Becca gritava através da fita prateada cobrindo sua boca,
sua maquiagem preta escorrendo pelo rosto. Cordões de
correntes de metal pendiam em círculos pesados ao redor de
seu pescoço esguio, a pele abaixo vermelha de sua luta.

10 Rooibos é uma planta medicinal nativa da África do Sul cujo nome científico é Aspalathus linearis. Conhecida
também como arbusto vermelho, trata-se de uma planta cujas folhas são usadas para preparar um chá de ervas com
benefícios incríveis para a saúde, pois é rica em antioxidantes.
O vídeo tinha apenas quatro segundos de duração e tocou
novamente quando terminou, iniciando um loop de horror.
Eu pulei de pé, correndo para o banheiro para gritar para
os caras quando outra mensagem chegou, desta vez, um texto.
Fazendo meu pulso acelerado parar no meu peito.
Becca: Ela está no armazém na terra de ninguém.
Venha sozinha. Seu julgamento começa agora. Você tem
trinta minutos. D.
O que?
Eu repassei o vídeo horrível de Becca, minhas mãos
tremendo, estômago em nós.
Havia um brilho vermelho sobre seu ombro direito. Pausei
o vídeo. Estava embaçado, mas estava claro o que era. Um
temporizador. Os números vermelhos 29:32 me dizendo que a
contagem regressiva já havia começado.
As correntes em seu pescoço...
Ele não iria.
Mas as palavras dos caras ecoaram claramente em minha
mente, e eu tive que agarrar a borda da mesa para não desmaiar
com a onda de adrenalina indo direto para a minha cabeça.
Qualquer um ou qualquer coisa era um jogo justo.
Venha sozinha.
Eu não conseguia nem me lembrar de ter amarrado
minhas lâminas, ou de ter colocado meus sapatos, mas de
repente as chaves do Rover estavam em minhas mãos e eu
estava saindo furtivamente pela porta da garagem, rolando sob
o vão de sete polegadas para evitar fazer muito barulho. Pelo
menos até que fosse tarde demais para eles me impedirem.
“AJ,” eu ouvi Grey chamar lá de cima no sótão assim que
me levantei.
Porra.
O Rover apitou quando destranquei a porta e entrei, e vi o
rosto de Grey na janela octogonal quando liguei a ignição. Sua
boca se abriu enquanto ele gritava algo que não consegui ouvir.
Algo não destinado aos meus ouvidos.
Mas eu já tinha ido embora, saindo do caminho de
cascalho e tropeçando na estrada, o Ninho piscando até o nada
no brilho vermelho das lanternas traseiras no espelho
retrovisor.
Becca.
Claro que Diesel usaria a única amiga que eu tinha aqui
contra mim.
Ela nunca mais iria querer me ver depois disso. Ela
correria para as malditas colinas sem olhar para trás. Ela me
culparia? Me odiaria?
Meu estômago azedou e eu gemi quando o asfalto irregular
mudou para um asfalto limpo e liso com um solavanco forte na
estrada.
Se Diesel a machucasse...
Todas as apostas seriam canceladas.
Eu prometi tentar não matar nenhum Cavaleiro durante os
julgamentos, mas eu teria a porra da cabeça dele se ela
morresse. E as cabeças de quaisquer outros envolvidos.
Os minutos corriam enquanto eu dirigia, disparando por
estradas secundárias até chegar à periferia da cidade, à
fronteira da terra de ninguém. Eles continuaram passando até
que dez já tinham ido. Então quinze. Equilibrando-me em vinte,
mesmo enquanto empurrava o Rover até o limite de quão rápido
ele poderia ir, quase perdendo o controle mais de uma vez
quando o pavimento irregular que descia para a antiga área
industrial tentava me retardar com buracos e detritos
espalhados.
Os pneus cantaram e o fedor de borracha queimada
encheu meu nariz quando o Rover deslizou até parar, batendo
contra uma barreira de cimento. O vidro da janela do passageiro
quebrou, caindo sobre o assento e meu colo enquanto abri a
porta e corria para a noite, indo direto para o armazém.
Minha visão periférica se expandiu ao redor, rastreando o
movimento enquanto eu deslizava uma lâmina entre meus dois
primeiros dedos, segurando-a frouxamente ao meu lado.
Agachei-me, contornando a borda do armazém, ouvindo
atentamente enquanto me aproximava das portas abertas na
frente.
Um gemido suave torceu minhas entranhas e fiz uma
careta, levantando a lâmina para arremessar enquanto saía das
sombras e entrava na porta escancarada do armazém
abandonado, minha boca aberta.
Becca se debateu quando me viu, a fita cobrindo sua boca
abafando um grito de medo enquanto seus olhos se
arregalavam.
Um zumbido mecânico soou do lado de fora e um holofote
ganhou vida, cegando Becca, pintando-a em um halo de branco.
Ela estava em cima de um palete velho e frágil com mais
de seis metros de altura, na outra extremidade do armazém. As
correntes de metal em volta do pescoço estavam presas a uma
polia de metal enferrujada pendurada nas vigas acima. A outra
ponta da corrente se estendia em direção ao chão onde presumi
que estava amarrada, mas não consegui ver onde por causa de
todas as paredes e escombros bloqueando minha visão através
do espaço.
Não parecia o mesmo que naquela noite, semanas atrás.
Havia pilhas de pneus e paletes velhos e paredes divisórias
em ruínas como antes, mas eles foram movidos. As pilhas
baixas de terra e pedras soltas no chão de cimento em linhas
ao longo da sala denunciavam.
Era um percurso, percebi.
Diesel montou uma pista de obstáculos e eu precisava
passar para o outro lado a tempo de salvar Becca.
O movimento de mudança dentro do labirinto revelou pelo
menos a posição de um Cavaleiro lá dentro. Olhando para cima,
vi Becca ansiosamente olhando para o labirinto e de volta para
mim, me dando sua posição em algum lugar próximo à
esquerda.
Um gorjeio me fez virar meu olhar para cima, para os
números vermelhos no cronômetro perto da cabeça de Becca
diminuindo.
Eu tinha um pouco menos de dez minutos para passar por
isso, mas desta vez, eu não iria me segurar.
Uma luz vermelha piscando chamou minha atenção e me
vi olhando para a lente de uma câmera de vigilância colocada
no canto esquerdo do armazém.
Becca gemeu e rosnou contra a fita que cobria sua boca, e
então bruscamente, ela respirou fundo quando a fita se soltou,
arrancada com sua língua. Um lado caiu de seus lábios e ela
soluçou.
“Está tudo bem, Becks,” falei a ela. “Vou tirar você de...”
“Sinto muito,” ela chorou, as lágrimas caindo de suas
bochechas, pegando os holofotes como estrelas cadentes. “Sinto
muito, Ava.”
O que?
O que ela poderia ter para se desculpar? Isso foi minha
culpa. Se eu não tivesse feito amizade com ela, se eu não a
tivesse trazido para isso, ela não estaria aqui agora.
Ela estava aqui porque eu me importava com ela e Diesel
queria usar isso contra mim. Para ver até onde eu estava
disposta a ir por alguém cuja vida era importante para mim.
Ele estava prestes a descobrir, porra.
“Apenas espere, Becks!” Eu chamei, mantendo-me
agachada enquanto avançava, pronta com uma lâmina para
atirar no Saint que esperava logo na fileira de pneus à minha
esquerda. Uma armadilha afiada estalou em volta do meu
tornozelo, cortando a pele enquanto a armadilha grosseira me
arrastava para cima. Minha cabeça batendo contra o concreto
enquanto eu era erguida no ar de cabeça para baixo. Meu joelho
fodido protestando contra o puxão da corda fina.
Manchas escuras encheram minha visão, e eu trabalhei
furiosamente para afastá-las, minha cabeça latejando.
Eu gemi, vendo o atacante vindo apenas um segundo antes
que fosse tarde demais. Ele avançou de seu esconderijo, de
cabeça para baixo, uma faca erguida bem alto em sua mão
enluvada.
Lâminas contra lâminas desta vez. Diesel estava tentando
ser justo.
Joguei minha lâmina e ela afundou em seu coração,
fazendo-o cambalear para trás com um grunhido.
Exceto, não atingiu seu coração em tudo.
O Saint ergueu a cabeça com um sorriso largo nos lábios,
segurando o cabo da minha lâmina para arrancá-la do colete à
prova de balas.
Filho da puta.
Estendi a mão para outra, o movimento também me salvou
de minha própria lâmina quando ela foi arremessada de volta
para mim para bater em uma parede de paletes a dois metros
de distância, mais fundo no labirinto.
Desta vez, minha mira foi mais baixa e a lâmina encontrou
um lugar na carne carnuda da parte interna de sua coxa.
Levantei meu corpo para cima, subindo ao longo de minha
perna para alcançar a lâmina em meu tornozelo.
Desembainhando-a e cortando a corda que me segurava em um
movimento fluido.
O ar jorrou de meus pulmões quando bati no chão de
cimento, e eu resmunguei enquanto rolava, ficando de pé.
Avancei furiosa, ofegante enquanto o Saint trabalhava
febrilmente para estancar o fluxo de sangue ao redor da lâmina
que se projetava de sua coxa.
Seus olhos se arregalaram, brilhando de terror sob o brilho
ambiente dos holofotes.
“Desista!” Ele sibilou com os dentes cerrados, se afastando
de mim. Ele liberou a pressão sobre a ferida jorrando o sangue
sobre o cimento para puxar outras duas facas de seu cinto e
jogá-las no chão. “Renda-se,” ele repetiu enquanto se ajoelhava,
abaixando a cabeça.
Os músculos do meu rosto se contraíram enquanto eu
lutava para colocar ar em meus pulmões, minha mão esquerda
apertando o cabo da minha lâmina enquanto a escuridão rugia
dentro de mim, acenando para mim.
Mate.
“Por favor,” ele murmurou, e eu rosnei enquanto corria os
últimos quatro passos para ele, cambaleando para trás para
chutá-lo na cabeça, mandando-o para a terra dos sonhos.
Agarrei suas lâminas desequilibradas do chão e as joguei para
o alto, encaixando-as em uma estante de madeira a seis metros
do chão, onde ninguém seria capaz de usá-las. Elas não seriam
boas para mim. Eu queria minha lâmina de volta.
Arranquei-a da perna do filho da puta, não querendo me
separar permanentemente de outra das minhas bebês. Ele
poderia sangrar por tudo que eu me importava.
“Sim,” disse Becca, mas sua voz explodiu ao meu redor, e
eu olhei para cima para encontrá-la em seu bloco pendurado,
cabeça baixa enquanto ela soluçava. “Um deles vai ficar com ela
esta noite em Briar Hall.”
Uma gravação. Procurei e encontrei os alto-falantes
colocados no alto de outras prateleiras de paletes ao redor do
armazém.
“Qual?” Uma voz masculina perguntou, e um arrepio
percorreu minha espinha, fazendo meus dedos dos pés se
curvarem.
“Grey.”
“E os outros?”
“Eu não sei.”
“Acha que pode descobrir para mim, querida?”
O que…
Que porra foi essa?
A fita pulou e uma nova gravação tocou.
“Eles saíram da cidade para fazer alguma coisa,” disse
Becca na gravação, enquanto minha melhor amiga fungava pelo
armazém, incapaz de olhar para mim.
“Para quê?” O homem perguntou.
“Não sei. Ela apenas disse que eles voltariam mais tarde.”
“Você sabe quando?”
Uma pausa.
“Eu poderia mandar uma mensagem para ela para
descobrir.”
Meu estômago azedou e eu segurei a vontade violenta de
vomitar, o calor queimando meu peito.
Lembrei-me do cronômetro e olhei para cima para
descobrir que tinha menos de seis minutos agora. Comecei a
avançar de novo, puxando minha outra lâmina do palete e
guardando-a para segurar apenas uma em cada mão.
O que quer que Diesel pensasse que ela tinha feito, ele
estava errado.
Ele tinha que estar errado.
Ela estava contando a alguém coisas sobre mim e os caras,
mas e daí? Provavelmente não era o que parecia. Ou se fosse,
então ela... ela estava sendo manipulada. Talvez até
chantageada. Talvez…
A gravação começou de novo, e eu parei, meus pulmões se
contorcendo por ar no meu peito.
“Ouça, baby,” disse a voz masculina. “Você sabe que eles
são monstros. Assassinos. Eles mataram um dos nossos homens
na semana passada. Diesel colocou uma bala entre seus olhos.”
Minha boca se abriu quando tudo começou a se encaixar
em minha mente, as peças irregulares se encaixando
perfeitamente onde eu desejava que não.
Becca estava namorando um Ace. Era por isso que ela
mantinha tanto segredo sobre ele. Não era porque era um
professor ou um cara mais velho ou qualquer um dos tabus que
eu poderia ter presumido. Era porque ele não tinha permissão
para entrar em Thorn Valley. E se os caras descobrissem que
ela estava com alguém de uma gangue rival, sua vida em Briar
Hall teria acabado.
O som de algo se movendo na gravação aludiu ao
movimento que eu tinha que presumir ser Becca.
“Se minha equipe tomar Thorn Valley, será mais seguro,
você verá. E se os Saints forem embora, seu pai poderá
finalmente voltar. Se Diesel não estiver aqui para continuar
comprando todas as propriedades vagas, ele não terá motivos
para continuar comprando mais ao sul.”
“Eu só...” Becca parou. “Eu simplesmente não vejo como
fornecer informações sobre minha amiga pode ajudá-lo a fazer
tudo isso.”
Uma risada condescendente do Ace. “Você não vê? Ela é um
deles agora. Os Crows são a melhor arma de Diesel. Retire-os e
ele é apenas um velho com uma arma.”
Não. Não, Becca, por quê?
“Eu não...”
“Ouça-me!” O Ace trovejou e algo bateu alto, desmoronando
enquanto Becca engasgava na fita, fazendo minha pele arrepiar.
“Você está me assustando!”
Respiração pesada. “Sinto muito. Eu sinto muito, querida.
Eu não queria assustar você. Eu só preciso que você me ouça.”
“Mas eles não são como você pensa. Eles são bons rapazes.
Ava Jade é minha amiga.”
“Você é tão ingênua. Você não tem ideia de como o mundo
realmente é. Você sabe que os Saints são a razão pela qual sua
mãe morreu. De que mais incentivo você precisa?”
Outra pausa. Tanto tempo que pensei que a fita tinha
acabado, mas então Becca falou novamente, uma determinação
em seu tom que não existia antes.
“Se eu te ajudar,” dizia a gravação, fazendo meu sangue
gelar nas veias. “Você promete deixar Ava Jade fora disso?”
Becca chorou mais forte, seus soluços ecoando pelo
armazém, mas desta vez, eu não consegui sentir empatia por
sua dor.
“Tudo bem. Certo. Agora, conte-me sobre os julgamentos. E
eu quero saber onde eles estão o tempo todo. Você pode fazer
isso por mim?”
“Eu…”
“Isto é para nós. Por nós. Assim poderemos ficar juntos. Não
é isso que você quer? Você não confia em mim?”
Oh, Deus. A traição doeu mais do que eu poderia ter
pensado ser possível e meus olhos queimaram com lágrimas
quentes e raivosas.
“Sim.”
“Eu não fiz isso!” Becca disse através de seus soluços,
gritando do topo da plataforma. “Eu não poderia. Eu vi como
você era com eles. Como eles eram com você e eu... Eu não
podia. Eu odeio os Saints. Eu odeio que se não fosse por eles
minha mãe ainda estaria viva, mas eu não faria isso com você!
Você tem que acreditar em mim!”
Mas ele abandonou você, pensei comigo mesma.
Este Ace, quem quer que fosse, tinha cortado Becca. Parou
de enviar mensagens de texto para ela. Parou de vê-la.
Se ele não a tivesse abandonado, ela teria contado a ele as
coisas que ele queria saber? Becca teria causado a morte dos
meus Crows?
“Quando ele me mandou uma mensagem daquele número
desconhecido,” ela disse entre soluços. “Quero dizer, quando
Diesel me mandou uma mensagem fingindo ser ele querendo
me encontrar, eu ia acabar com tudo de vez, Ava.”
Eu me forcei a olhar para ela, meu peito uma concha oca
cheia de escuridão.
Não havia mentiras em seu rosto. Ela tinha fodido tudo.
Ela cometeu um erro. Ela se envolveu com o cara errado. Becca
era inteligente, mas mesmo as mulheres mais inteligentes
podiam ser enganadas pelo mais vil dos homens.
Uma sensação miserável de mau presságio torceu o ar
enquanto eu me perguntava o que exatamente Diesel e os
Saints fariam com essa nova informação. Um Ace estava
tentando se infiltrar em Thorn Valley, reunir informações
privilegiadas e acabar com todos eles. Diesel estava certo em
não confiar nos Aces. Eles estavam trabalhando contra ele em
segredo todo esse tempo. Era assim que começavam as guerras
de gangues.
Guerras que quase sempre resultavam em baixas
inocentes. Provavelmente o que aconteceu com a mãe de Becca.
E eu lembrei.
Lembrei-me de porque odiava os Saints. Porque eu odiava
todas as gangues.
Eles levaram a mãe de Becca.
Eles também levaram meu pai.
Eu não teria feito a mesma coisa se estivesse no lugar dela?
Não prometi a mim mesma que voltaria a Lennox e cobraria a
dívida de sangue pela vida de meu pai?
E então tudo clicou.
Este julgamento nunca foi sobre eu conseguir salvar Becca.
Era sobre se eu iria salvá-la.
O que significava que eu já tinha falhado.
O cronômetro começou a apitar quando a contagem
regressiva chegou a 59 segundos e Becca começou a chorar de
novo, todo o seu corpo tremendo.
“Oh, Deus,” ela resmungou em meio às lágrimas.
“Diga onde estão!” Eu gritei para ela, correndo em volta dos
paletes. “Becca!”
Um suspiro, e então ela gritou: “À sua direita!” E fui
derrapando de joelhos, atirando uma lâmina no pescoço do
Saint. Ela cortou a lateral de seu pescoço enquanto ele se
esquivava do arremesso, fazendo um jorro de sangue escorrer
em um arco pelo chão. Ele imediatamente caiu de joelhos,
engasgando enquanto tentava balbuciar um rendimento de seus
lábios.
Não havia tempo para desarmá-lo ou garantir que ele não
voltasse, então segui em frente, a lâmina com cabo de corvo e
minha outra lâmina pronta em cada mão.
Contornei uma torre de pneus e Becca gritou: “Cuidado!”
Eu me abaixei bem a tempo de desviar de um machado
vindo direto para minha cabeça, usando o impulso do Saint
contra ele para enfiar uma cotovelada em sua nuca, ouvindo o
estalo satisfatório do osso quando ele caiu. Ficando imóvel.
“Espere, Becks!” Eu chamei enquanto ela trabalhava
furiosamente para tirar as mãos das amarras, mantendo-as nas
costas.
O cronômetro marcou vinte e sete segundos e minha
garganta fechou enquanto eu corria pelo último labirinto, cada
músculo do meu corpo queimando. A ferida em meu ombro e o
rasgo em meu joelho implorando para que eu parasse, mas não
ousei.
Contornei a última parede de paletes e levantei minha
lâmina, sem hesitar desta vez quando Diesel entrou em meu
campo de visão. Ele jogou um machado, mas eu desviei, rolando
e levantando novamente antes que ele pudesse pegar uma arma
alternativa. Eu joguei uma lâmina e ela encontrou um lar
confortável em seu tendão de Aquiles, fazendo-o cair de joelhos
com uma expressão de choque total em seu rosto.
Ele estendeu a mão atrás de si para a arma em que meus
dedos já estavam. Puxei-a da parte de trás de sua calça jeans e
apontei para sua cabeça.
“Ela te traiu!” Ele sibilou assim que a campainha soou e
dois homens, não mais do que sombras fora do alcance do
holofote, empurraram a base do porta-paletes, tentando
derrubá-lo debaixo dos pés de Becca.
Ela gritou e eu dei dois tiros nas sombras. Eu acho que
nenhum dos dois acertou, porque eu era uma atiradora de
merda, mas os sons ensurdecedores foram suficientes para
detê-los.
“Toque naquela porra de novo e eu vou matá-lo,” sibilei,
apontando a arma mais para baixo, nivelada com a cabeça de
Diesel.
“Chefe?” Um deles gritou.
“Está tudo bem, rapazes,” Diesel disse em resposta, sua
voz tensa enquanto seu sangue se acumulava ao redor de seu
tornozelo no chão de cimento.
Eu descobri onde a corrente estava conectada a uma viga
de metal contra a parede e me aproximei dela, mantendo um
olho e a arma em Diesel enquanto liberava a corrente.
“Becca,” eu chamei. “Você pode descer?”
“Minhas mãos!” Ela gritou, com um nó na voz.
“São apenas cordas de plástico,” falei, supondo que eles
usaram a mesma coisa para amarrar minhas mãos para o
julgamento de caça. “Afaste os pulsos para colocar tensão nelas
e, em seguida, estique os braços para trás o máximo que puder.”
“Ok.”
“Ok, agora o mais forte e rápido que puder, puxe em
direção ao seu corpo e separe. Vai doer, mas deve separá-las.”
Ela grunhiu. “Não funcionou!”
“Está tudo bem, querida. Tente novamente. Você
consegue.”
Mais dois grunhidos e ouvi o estalo satisfatório do plástico.
“Eu consegui!”
“Eu sabia que você podia. Agora é só descer.”
“Você está cometendo um erro,” disse Diesel,
aparentemente imperturbável por toda essa provação. Ele
apenas permaneceu ajoelhado lá, sombrio e zangado no chão
de cimento, olhando para mim.
Cerrei os dentes, com tanta raiva que queria espancá-lo até
a morte com a porra de sua própria arma. “Não.” Eu fervi. “Você
cometeu um erro. Ela é uma garota inocente cuja mãe você
roubou. Ela foi manipulada. E esta noite ela quase morreu por
sua causa.”
“Ela estava alimentando um Ace com informações sobre os
meus filhos.”
“E daí? Você pensou, ei, dois pássaros uma cajadada só?
Seus homens poderiam ter me cercado de uma vez, mas não o
fizeram. Você queria que eu a salvasse, para que eu fosse
reprovada no julgamento. Para que você pudesse se virar e
matar nós duas.”
Ele não negou e isso só me deixou ainda mais irritada.
Mas mesmo eu não era estúpida o suficiente para pensar
que poderia matar Diesel St. Crow e me safar. Se eu atirasse
nele, seus homens atirariam em mim. Eles matariam Becca
também. Eu precisava nos tirar daqui. Agora.
O porta-paletes rangeu e tremeu enquanto Becca descia
lentamente, segurando o metal enferrujado para salvar sua vida
até que ela estivesse de volta em terra firme. Ela suspirou
quando seus pés bateram no concreto, mas quando viu os
Saints do outro lado da plataforma, ela gritou e correu para o
meu lado, colocando-se atrás de mim.
“Eu realmente não ia contar nada a ele,” disse Becca a
Diesel. “Eu juro que não. Eu só estava...”
“Você não tem que se explicar para ele,” eu rebati, cortando
o que quer que Becca estivesse prestes a dizer a seguir. “Você
não deve nada a ele.”
Ela ficou quieta, e eu vi seu queixo tremer na minha
periferia enquanto ela segurava a vontade de chorar. “Sinto
muito,” ela sussurrou. “Isso é tudo minha culpa. Eu deveria ter
contado a você sobre ele desde o início.”
Ela e eu teríamos uma boa e longa conversa assim que eu
a tirasse daqui. “Vamos, Becca. Estamos indo embora.”
Olhei para os dois capangas que ainda esperavam nas
sombras. “E se alguém tentar nos seguir, eu o matarei.”
Nós recuamos pela saída traseira, e eu mantive Becca
apertada ao meu lado enquanto fazíamos nosso caminho para
a frente. Para o Rover que eu esperava que ainda ligasse depois
do que eu fiz.
“Fique perto de mim,” eu lembrei a Becca, e ela correu para
me acompanhar quando entramos na estrada. Faróis brilharam
e o rugido de um motor me fez acelerar o ritmo, agarrando Becca
pelo pulso com a mão da lâmina.
Ela estremeceu quando acidentalmente a cortei, mas ela
não se afastou, deixando-me guiá-la até o Rover. “Entre!”
“AJ!”
Girei, parando com a mão na maçaneta da porta enquanto
o carro derrapava até parar e os três saltavam.
“Pardal, você está ferida?” Corvus exigiu, correndo para
diminuir a distância entre nós enquanto Rook colocava um
pente em sua arma e a engatilhava, olhando para o armazém
como se desafiasse alguém a sair de lá.
“Nós vimos o que aconteceu,” Grey correu para dizer, seu
olhar deslizando para onde Becca estava hesitando em entrar
no banco de trás do Rover. Sua mandíbula apertou.
A câmera de vigilância. Diesel havia enviado a transmissão
ao vivo. E a propósito, eles estavam olhando para Becca agora...
Apontei a arma para Corvus, fazendo-o diminuir seu
avanço. Suas sobrancelhas se juntaram quando ele finalmente
parou.
“AJ, o que você está fazendo?” Grey perguntou, parando
também, enquanto Rook continuava a observar minhas mãos,
seu olhar se movendo cautelosamente entre minha arma e o
armazém às nossas costas.
“Voltem para o carro e saiam,” eu assobiei.
“Pardal…”
“Não.” Eu balancei minha cabeça. “Esta noite eu não sou
a porra do seu pardal, Corvus James. Eu sou a garota que
quase viu sua melhor amiga morrer. Por sua causa. Por causa
de todos vocês. Saints. Malditos sádicos.”
“Podemos resolver isso,” disse Grey, aproximando-se.
“Não faça isso.”
Atirei no chão a apenas trinta centímetros da bota de
Corvus, mas nenhum deles sequer se encolheu. Todos eles
assistiram com indisfarçável mágoa e horror ao que estavam
vendo, mas eu não conseguia parar.
Eles não estavam dizendo que Diesel estava errado. Eles
não estavam se desculpando. Eles queriam resolver isso.
Resolver como?
Eu não queria descobrir.
“Se vocês não irão embora, então saiam do meu caminho.”
Corvus encontrou meu olhar e algo dentro de mim
quebrou, torcendo e estilhaçando até que minha próxima
respiração pareceu quase impossível.
“Fantasma?” Rook perguntou, abaixando sua arma agora,
e eu não podia suportar olhar para ele, porque eu já havia
decidido o que precisava fazer a seguir. “Isso não está certo.
Deixe-me ir com você.”
O colar ainda em volta da minha garganta pesava muito
contra o meu esterno, tornando ainda mais difícil colocar o ar
em meus pulmões. Mas, por mais que eu soubesse que deveria,
não consegui removê-lo. Ainda não. “Eu não posso fazer isso,
Rook.”
“Apenas espere,” Grey quase implorou. “Vamos falar com
Diesel. Talvez... talvez tudo isso seja um mal-entendido.
Podemos consertar isso.”
Meus dentes rangeram juntos, osso rangendo contra osso.
“Você não pode.”
Não era algo que pudesse ser consertado. Não por nada
que eles pudessem dizer. Apenas por algo que eu poderia fazer.
Algo que poderia garantir que isso nunca mais acontecesse.
Que nenhuma mãe ou pai precisavam morrer mortes sem
sentido pelos caprichos de um chefão impiedoso. Os Saints de
Thorn Valley, Os Iron Aces de Edgewood ou os Kings de
Lennox... Eram todos iguais.
Eu só precisava ser lembrada disso.
“Deixe-a ir,” disse Corvus, seu tom de voz o mesmo que eu
lembrava de quando nos conhecemos. Frio e desapegado. Sem
emoção.
“Corv,” Grey tentou argumentar.
“Movam-se,” respondeu Corvus. “Deixem elas irem.”
Becca entrou no Rover, não precisando de mais nenhum
incentivo, e eu sentei no banco do motorista, ligando o motor.
Ligou na segunda tentativa, e a barreira de cimento raspou ao
longo do lado quando eu o coloquei em marcha à ré e me virei
assim que Diesel saiu do armazém, os dois capangas ajudando-
o a sair. Os outros Saints feridos mancavam e faziam caretas
atrás deles. Um a menos do que havia lá dentro.
Pelo menos um estava morto, então.
Eu não conseguia nem me importar.
“Mantenha sua cabeça baixa,” eu rosnei para Becca e pisei
no acelerador, levando-nos para longe da terra de ninguém.
Deixando os Crows e tudo de que eles faziam parte para trás,
antes que eu pudesse mudar de ideia.
Minha garganta queimava enquanto eu dirigia, até que eu
não consegui mais segurar a dor e ela transbordou, traçando
caminhos quentes em minhas bochechas, o espaço vazio no
meu peito onde eles costumavam estar.
“Onde estamos indo?” Becca perguntou baixinho atrás de
mim, e eu engoli o nó na minha garganta.
Eu parei do lado da estrada, os pneus do Rover batendo
em terreno irregular, e puxei meu telefone do bolso lateral da
minha calça. Minhas mãos tremiam quando encontrei o e-mail
que estava procurando.
Para: Vicky Doyle
De: Ava Jade Mason
Assunto: RE: Troca de Notas
Eu tenho o que você precisa. Dê-me uma localização. Eu
estarei lá.

“Ava?” Becca pressionou e eu desliguei meu telefone,


calculando as horas restantes até o amanhecer.
“Preciso fazer uma coisa.”

Você também pode gostar