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Tributação dos Investimentos Brasileiros no Exterior

& Penalidades

DICAS PARA O EXAME

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O material contido neste capítulo é de suma cobrados nos últimos exames foram:
importância. Especificamente a parte de tributação de dividendos no Brasil e de
investimentos no exterior por pessoa física e ADRs, tributação sobre ganho de variação
jurídica. Nas últimas provas foram cobrados cambial (conta não remunerada) no
os benefícios para uma pessoa física que exterior, tributação sobre ganho de capital
investe no exterior através de uma empresa no exterior, etc. Este material
offshore e como estes recursos são provavelmente será cobrado nas próximas
tributados no Brasil. Outros tópicos provas.
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7. Tributação dos Investimentos Realizados por Brasileiros no Exterior

7.1. Regime de tributação de rendimentos auferidos no exterior

É garantia fundamental, assegurada no inciso XV do artigo 5° da CF “a livre locomoção no


território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar,
permanecer ou dele sair com seus bens”. Trata-se da liberdade de ir e vir, que alcança não
apenas as pessoas, mas também seus bens.

Entretanto, aquela norma constitucional não é autoaplicável, de modo que entre 1988 (ano da
promulgação da CF) e os dias que correm foram editadas e revogadas diversas regulamentações
no âmbito do Conselho Monetário Nacional e do Banco Central do Brasil que ora facilitaram, ora
restringiram o fluxo de capitais para o exterior.

Pode-se dizer que a legislação hoje em vigor é a que impôs menos obstáculos para a remessa de
recursos ao exterior por residentes no Brasil, desde a Constituição Federal de 1988.

Atualmente, os residentes no Brasil podem investir no exterior sob duas modalidades:


• Investimentos realizados diretamente por pessoas físicas;
• Investimentos realizados por intermédio de pessoas jurídicas.

É preciso notar que, tanto no caso dos rendimentos como no caso dos ganhos de capital, a
incidência do IRPF não depende da transferência dos recursos financeiros para o Brasil.
Basta, nos termos da legislação em vigor, que tenha havido disponibilidade em favor da pessoa
física, ainda que essa disponibilidade tenha se materializado mediante depósito em conta
corrente no exterior.

Os rendimentos e ganhos de capital auferidos pela pessoa física no exterior não podem ser
compensados com as eventuais perdas incorridas no mesmo período, também no exterior.

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Uma alternativa muito utilizada para reduzir as eventuais distorções criadas por esta “disfunção
tributária” é a estruturação de investimentos de pessoas físicas no exterior por intermédio de
pessoas jurídicas estabelecidas em Paraísos Fiscais (Private Investment Companies - PIC).

7.1.1. Impactos tributários da utilização de empresas ou estruturas fiduciárias no


exterior

A interposição de uma pessoa jurídica no exterior, entre o investidor pessoa física, e seus
investimentos no exterior, gera pelo menos dois importantes benefícios tributários:
1. Permite a consolidação dos investimentos e a decorrente compensação entre
rendimentos, ganhos e perdas sob a pessoa jurídica, de forma que a pessoa física apenas
receba (e tribute) o efetivo resultado positivo líquido de suas aplicações;

2. Permite a postergação do fato gerador do IRPF para o momento em que a pessoa


jurídica disponibilizar lucros ou dividendos para a pessoa física no Brasil, evitando, entre
outros problemas, a tributação de ganhos cambiais não realizados financeiramente.

Importa dizer que existem ferramentas de planejamento tributário que possibilitam reduzir a
carga tributária incidente sobre rendimentos auferidos no exterior por intermédio de uma
offshore. O mais simples e natural é agregar valor a uma offshore mediante a realização de
diferentes investimentos (bem-sucedidos) para, posteriormente, vendê-la a um terceiro
interessado. Ou seja, nessa hipótese, os rendimentos acumulados na offshore não chegam a ser
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disponibilizados e, portanto, não chegam a ser tributados no Brasil. Antes de sua
disponibilização, com a venda da empresa, a pessoa física realiza um ganho de capital, o qual é
tributado no Brasil à alíquota de 15% a 22,5% dependendo do valor do ganho auferido:

Ainda acerca dos investimentos realizados por pessoas físicas no exterior, um último ponto a ser
destacado diz respeito às mudanças introduzidas pela Medida Provisória n° 1.991-12/1999. Essa
medida instituiu um novo tratamento tributário para os ganhos de capital (não houve mudança
para os rendimentos) auferidos na alienação de bens ou direitos e na liquidação ou resgate de
aplicações financeiras no exterior, quando esses bens, direitos ou aplicações financeiras tiverem
sido adquiridos com rendimentos auferidos originariamente em moeda estrangeira. Para a
tributação destes ganhos de capital, passou a ser desconsiderado o efeito da variação
cambial do dólar dos EUA em relação ao real.

O uso de empresas offshore entre a pessoa física e os investimentos no exterior gera algumas
importantes vantagens tributárias para a pessoa física residente no Brasil:

(i) diferimento da tributação, pois o lucro fica na offshore e somente é tributado no Brasil
quando houver disponibilização efetiva dos rendimentos (regime de caixa);

(ii) consolidação de lucros e perdas obtidos em vários investimentos, possibilitando uma


“compensação” entre diversos investimentos que a pessoa física, se investisse diretamente, não
poderia usufruir.

Além disso, é possível, em algumas situações, reduzir a alíquota de 27,5% para 15% a
22,5% (e.g. com a venda das ações da própria offshore).

Variação Cambial: Se os fundos forem mantidos em conta corrente (sem correção ou


rendimento), a variação cambial é isenta no Brasil. Se os fundos estiverem numa aplicação
financeira qualquer, aí sim, haverá tributação da variação cambial. A variação cambial é
acessório que, portanto, segue a tributação do principal:
• Se tratar de rendimento, a tributação (também sobre o ganho de capital) é de 27,5%.
• Se tratar de ganho de capital, a tributação é de 15% a 22,5% dependendo do valor do ganho
auferido.

A interposição de offshore, portanto, não é recomendável para um único investimento no


exterior, e especialmente quando o investidor brasileiro pretende acessar imediatamente os
rendimentos produzidos por tal investimento, porque neste caso há uma elevação de
alíquota de IR e não redução. No entanto, o que se cuida de abordar não é o caso de um
investimento único, mas da estruturação de vários investimentos no exterior. É essa a ideia
de uma PIC. Outro ponto a destacar: quando a offshore aplica em títulos que geram
rendimentos no exterior (dividendos de ações, cupons etc.) não há elevação de alíquota
(já seria 27,5% de qualquer forma), não havendo, portanto, qualquer aspecto negativo.

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Rendimentos do exterior são tributados no Brasil pelo IRPF calculado conforme a tabela
progressiva.

Exemplo: Um imóvel pertence à offshore, a qual cobra e recebe o aluguel (não o investidor
brasileiro). Os aluguéis, portanto, são reconhecidos como receitas da offshore, compondo, assim,
seu resultado. Quando o resultado da offshore é positivo, ela pode distribuir lucros para seus
sócios. O lucro da offshore, uma vez distribuído para o investidor brasileiro, é tributado pelo
IRPF calculado conforme a tabela progressiva. Ainda que o imóvel fosse de propriedade da
pessoa física brasileira, diretamente, sem offshore envolvida, a tributação seria a mesma (tabela
progressiva). A offshore, no caso, pode trazer como vantagens o diferimento desta tributação e a
compensação de lucros com prejuízos.

É fundamental lembrar, por fim, que as pessoas físicas residentes no Brasil que possuem
participação em offshores devem informá-la, na forma da lei, à Receita Federal do Brasil e ao
Banco Central do Brasil, sendo obrigatória a sua declaração na Declaração de Ajuste Anual da
Pessoa Física e na Declaração de Capitais Brasileiros no Exterior (DCBE).

Importante: O manual do Banco Central, divulgado em fevereiro de 2013, prevê a declaração


dos ativos no exterior pelo valor de mercado. Já a declaração de IR não exige a atualização do
valor dos bens, de modo que estes são sempre declarados pelo seu custo de aquisição.

7.2. Ganhos ou perdas de capital auferido em investimentos no exterior

Os ganhos de capital auferidos pela pessoa física na alienação de bens e direitos e na


liquidação ou resgate de outros investimentos no exterior sujeitam-se ao IRPF/definitivo à
alíquota de 15% a 22,5%. Os ganhos de capital, ao contrário dos rendimentos, não afetam a
apuração do IRPF na Declaração de Ajuste Anual, sendo meramente informados no campo de
rendimentos sujeitos à tributação definitiva.

Para apuração do valor tributável no Brasil, é preciso fazer a conversão do valor recebido pela
pessoa física para reais, apurando-se, então a base de cálculo do IRPF.
• No caso dos rendimentos, o valor de alienação, resgate ou liquidação deve ser convertido
para reais pela cotação do último dia da primeira quinzena do mês anterior ao do
recebimento.
• No caso dos ganhos de capitais, a conversão para reais é realizada pela cotação do dia
do recebimento.

Tanto no caso de rendimentos como no caso dos ganhos de capital, o imposto eventualmente
pago no exterior pela pessoa física, incidente sobre a mesma operação, pode ser
compensado com o IRPF brasileiro. Esta regra aplica-se a países com que o Brasil mantém
Tratado e a países que concedem o mesmo tratamento ao imposto pago no Brasil por residentes
naquele país (e.g. os EUA).

7.2.1. Bens ou direitos adquiridos e aplicações financeiras realizadas com


rendimentos auferidos originariamente em reais.

A origem dos recursos utilizados para a aquisição dos bens, direitos e aplicações financeiras no
exterior ganhou fundamental importância. Quando tais recursos são provenientes de fontes
brasileiras, considera-se que são “rendimentos auferidos originariamente em reais”, de
modo que os bens, direitos ou aplicações financeiras no exterior, adquiridos com estes recursos,
são sempre considerados, para fins tributários no Brasil, pelo seu custo de aquisição em reais.
Assim, na sua alienação, resgate ou liquidação, o ganho de capital tributável é igual à diferença
entre o valor de alienação, resgate ou liquidação, em reais27, e o valor da aquisição,
também em reais. Para maiores explicações, veja item 3.4.6 desta apostila.

7.2.2. Bens e direitos adquiridos e aplicações financeiras realizadas com


rendimentos auferidos originariamente em moeda estrangeira

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Convertido pela cotação do dia do recebimento, conforme mencionado acima.
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Por outro lado, recursos provenientes de fontes no exterior são considerados “rendimentos
auferidos originariamente em moeda estrangeira” e, nesta hipótese, os bens, direitos ou
aplicações financeiras no exterior, adquiridos com estes recursos, são sempre considerados pelo
seu custo de aquisição em dólares dos EUA. Ou seja, na sua alienação, resgate ou liquidação, o
ganho de capital tributável é igual à diferença entre o valor de alienação, resgate ou
liquidação, em dólares, e o valor de aquisição, também em dólares28.

De forma bem objetiva, pode-se dizer que a MP n° 1.991-12/1999 trouxe uma isenção do IRPF
sobre a variação cambial do dólar dos EUA29 em relação ao real, relativamente aos bens, direitos
e aplicações financeiras realizados no exterior com recursos provenientes de fontes situadas no
exterior. Para maiores explicações, veja item 3.4.6 desta apostila.

7.2.3. Alienação de moeda estrangeira mantida em espécie

É preciso ressalvar que, no que se refere à moeda estrangeira eventualmente mantida em


espécie, no Brasil e no exterior, pouco importa sua origem. Para fins de apuração do ganho de
capital tributável em eventual alienação deste numerário, considera-se o valor
correspondente em reais, tanto na aquisição como na alienação.

7.2.4. Tributação de aplicação financeira mantida no exterior

7.2.4.1. Juros recebidos em conta remunerada no exterior

Somente os depósitos mantidos em instituições financeiras no exterior, em conta não


remunerada, são isentos de tributação em eventual variação cambial positiva em relação ao
real. Trata-se de regra específica para este tipo de “aplicação”, que consta do artigo 25 da Lei
n° 9.250/95.

Já crédito da renda relativa a depósito remunerado realizado em moeda estrangeira, por


pessoa física residente no Brasil, implicará a apuração de ganho de capital tributável, desde
que o valor creditado seja passível de saque pelo beneficiário (disponibilidade).

A tributação da variação cambial (ganho de capital) nas aplicações financeiras realizadas em


moeda estrangeira com rendimentos auferidos originariamente em reais só ocorrerá no
momento efetivo da liquidação ou resgate (parcial ou total) da aplicação financeira.

Sobre o valor dos juros creditados e passíveis de saque pelo beneficiário, incide o imposto sobre
a renda sobre o ganho de capital (alíquota entre 15% a 22,5%). Neste caso, o custo de
aquisição deverá ser considerado igual a zero.

Os juros decorrentes da aplicação com rendimentos auferidos originariamente em reais, quando


não sacados, configuram, uma nova aplicação e são considerados rendimentos auferidos
originariamente em moeda estrangeira, sendo o custo de aquisição destes juros o próprio valor
reaplicado.

7.3. Declaração obrigatória para o Banco Central e a Receita Federal

DCBE – Banco Central

A Declaração de Capitais Brasileiros no Exterior (DCBE) tem a finalidade de coletar informações


sobre o ativo externo do país, sendo obrigatória a residentes no Brasil que possuam ativos
externos (participação no capital de empresas, títulos de renda fixa, ações, depósitos, imóveis,
dentre outros) em montante superior a US$ 100 mil.

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Se a aquisição e/ou a alienação, resgate ou liquidação forem realizadas em moeda diversa do dólar dos EUA, faz-se
necessário converter os valores para dólares dos EUA.
29
Se os bens são adquiridos e alienados em euro e há variação cambial positiva do euro em relação ao dólar, há tributação
pelo IRPF dessa variação. A isenção somente alcança a variação cambial do dólar.
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O detentor dos ativos poderá ser pessoa física ou jurídica, desde que residente brasileiro, e a
declaração deverá ser feita pela: (i) modalidade anual: ativos em montante superior a US$
100 mil no ano-base declarado; ou (ii) modalidade trimestral: ativos em montante superior a
US$ 100 milhões no trimestre-base declarado.

Os estoques de ativos externos devem ser declarados pelo valor de valor de mercado.
A data-base da declaração é a data de referência para os ativos detidos pelo declarante fora do
país (tais como saldo de depósitos, cotação de títulos e valor de mercado ou patrimônio líquido
de empresas). As datas-base são: 31/março para o 1° trimestre, 30/junho para o 2°
trimestre, 30/setembro para o 3° trimestre e 31/dezembro para a declaração anual.

O não-fornecimento de informações regulamentares exigidas pelo Banco Central relativas a


capitais brasileiros no exterior (DCBE), bem como a prestação de informações falsas,
incompletas, incorretas ou fora dos prazos e das condições previstas na regulamentação em
vigor constituem infrações sujeitas à multa de até R$ 250.000,00 (valor máximo), sem prejuízo
de eventuais implicações criminais.

DAA e DBD – Receita Federal

A Declaração de Ajuste Anual (DAA) tem por objetivo acompanhar a evolução patrimonial do
contribuinte e apurar o que foi antecipado e aquilo que ainda é devido a título de imposto de
renda, tratando-se, portanto, de um verdadeiro ajuste de contas.

A declaração de ajuste levará em conta a somatória dos rendimentos percebidos pelo


contribuinte durante o ano-base anterior (1º de janeiro a 31 de dezembro), comparando-os com
o imposto recolhido durante o ano, a título de antecipação, decorrendo desta apuração a
necessidade de: (a) Complementação anual obrigatória: constatação da existência de uma
quantia de imposto pago a menor durante o ano, que deverá ser complementada pelo
contribuinte; ou (b) Restituição: constatação da existência de uma quantia de imposto pago a
maior durante o ano, que deverá ser restituída ao contribuinte.

O contribuinte deverá informar, ainda, junto à sua declaração de ajuste, uma “Declaração de
Bens e Direitos” (DBD), onde apresentará a relação de todos os bens e direitos que constituem
o patrimônio do declarante e de seus dependentes, no Brasil ou no exterior, no dia 31 de
dezembro do ano-base, bem como todas as operações ocorridas neste período que reflitam a
variação positiva ou negativa do seu patrimônio (ou seja, todos aqueles bens e direitos
adquiridos ou alienados durante o ano).

Os bens e direitos devem ser declarados pelo valor de custo de aquisição.


Os saldos de depósitos mantidos no exterior, em como as dívidas e ônus reais assumidos fora
do Brasil deverão ser convertidos em reais pela cotação fixada pelo Banco Central do Brasil em
31 de dezembro.

Bens e direitos adquiridos no exterior devem ser declarados de uma maneira específica. No
campo “discriminação” devem ser informados: (a) o valor de aquisição em moeda estrangeira,
constante nos instrumentos de transferência de propriedade, bem como (b) o montante de
rendimentos auferidos originariamente em reais e/ou em moeda estrangeira utilizados na
aquisição. Observação: o custo de aquisição, quando expresso em moeda estrangeira, deve ser
primeiro convertido em dólares dos Estados Unidos da América pelo valor fixado pela autoridade
monetária do país emissor da moeda para a data da aquisição e, em seguida, em reais pela
cotação do dólar fixada, para venda, pelo Banco Central do Brasil, para a data da aquisição.

Multa por Atraso na Entrega da Declaração (Maed): multa de 1% ao mês-calendário ou


fração de atraso, calculada sobre o total do imposto devido apurado na declaração, ainda que
integralmente pago, sendo que o valor mínimo é de R$ 165,74 e o valor máximo é de 20% do
imposto sobre a renda devido. O termo inicial será o primeiro dia subsequente ao fixado para a
entrega da declaração, e o termo final, o mês da entrega ou, no caso de não apresentação, do
lançamento de ofício.

Consistência das informações fornecidas

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As informações fornecidas à Receita Federal e ao Banco Central do Brasil devem guardar estrita
consistência entre si. Caso as informações prestadas ao Bacen divergirem daquelas prestadas à
Receita Federal, poderá ainda haver a caracterização daquilo que se conhece tradicionalmente
como “sonegação fiscal”, sem prejuízo da cobrança da diferença do tributo devido, bem como de
eventuais obrigações acessórias, acrescidos de multas e juros aplicáveis à espécie.

É necessário esclarecer que, embora este nome já não seja mais utilizado pela legislação pátria,
a atividade de sonegação se refere, genericamente, a crimes contra a ordem tributária que têm
em comum entre si não a falta de pagamento do tributo propriamente, mas sim a declaração
falsa, a omissão, a falsificação de dados (falso ideal) e de documentos (falso material). Em
outros termos, a sonegação se refere a tipos específicos de fraude e de falsidade.

Observe-se, ainda, que comete crime de evasão de divisas aquele que mantiver depósitos fora
do Brasil não declarados à repartição federal competente, seja o Banco Central ou a Receita
Federal. Não obstante, manter em depósito, movimentar, transferir ativos ilícitos poderá
configurar o crime de lavagem de dinheiro (“money laundering”).

8. Penalidades pelo Descumprimento de Obrigações perante a Receita Federal e o


Banco Central

8.1. Penalidades da legislação de Imposto de Renda

O capítulo das penalidades ou sanções tributárias desperta inúmeros debates doutrinários e


jurisprudenciais. Abaixo se resumem as principais modalidades de maneira esquemática.

Multa por Atraso na Entrega da Declaração (Maed)


Multa de 1% ao mês-calendário ou fração de atraso, calculada sobre o total do imposto devido
apurado na declaração, ainda que integralmente pago, sendo que o valor mínimo é de R$ 165,74
e o valor máximo é de 20% do imposto sobre a renda devido. O termo inicial será o primeiro dia
subsequente ao fixado para a entrega da declaração, e o termo final, o mês da entrega ou, no
caso de não apresentação, do lançamento de ofício.

Acréscimos legais – Multa de mora


É aplicada sobre o tributo não recolhido. Calcula-se o percentual da multa de mora a ser aplicado
em 0,33% por dia de atraso, limitada a 20%. O número dos dias em atraso é calculado
somando-se os dias, iniciando-se a contagem no primeiro dia útil a seguir do vencimento do
tributo, e finalizando-a no dia em que ocorrer o seu pagamento. Se o percentual encontrado for
maior que 20%, deve-se abandoná-lo e utilizar 20% como multa de mora. O percentual da
multa de mora encontrado deve ser aplicado sobre o valor do tributo ou contribuição devido.

Acréscimos legais – Juros de mora


Calcula-se a alíquota do juro de mora mediante a soma da taxa Selic desde a do mês seguinte
ao do vencimento do tributo ou contribuição até a do mês anterior ao do pagamento, e
acrescenta-se a esta soma 1% referente ao mês de pagamento. Observe que não há cobrança
de juros de mora para pagamentos feitos dentro do próprio mês de vencimento, por exemplo: se
um determinado tributo vence em 08/01, se for pago pelo contribuinte até o dia 30/01, não
pagará juros de mora, apenas a multa de mora. Por fim, a taxa de juro de mora encontrada será
aplicada sobre o valor do tributo ou contribuição devido.

Multa de ofício
Será aplicada a multa de 75% nos casos de lançamento de ofício por (i) falta de pagamento ou
recolhimento, (ii) pagamento ou recolhimento após o vencimento do prazo, sem o acréscimo de
multa de mora, (iii) de falta de declaração e (iv) nos casos de declaração inexata.

Multa de ofício qualificada


Será aplicada a multa de ofício de 150% (percentual duplicado da multa de ofício simples) nos
casos de evidente intuito de fraude, assim entendido como qualquer ação ou omissão dolosa
tentente a impedir ou retardar o fato gerador ou modificar as suas características essenciais em
prejuízo do Fisco.

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Multa de ofício agravada
Nos casos em que o contribuinte não atende à fiscalização e não presta os esclarecimentos
devidos, os percentuais da multa de ofício poderão ser aumentados da metade. Desta forma: (i)
uma multa de ofício simples poderá ser agravada, atingindo 112,5%; (ii) já no caso da
constatação de fraude, caso o contribuinte se negue a prestar os esclarecimentos solicitados pela
autoridade fiscalizadora, a multa de ofício qualificada poderá ser agravada, alcançando 225%.

Existe, ainda, a previsão da chamada multa isolada quando a autoridade fiscal constatar o não-
recolhimento ou o recolhimento apenas parcial das estimativas mensais (antecipações), de 50%
sobre o valor do pagamento mensal. A aplicação desta multa em conjunto (concomitantemente)
com a multa de ofício é objeto de debate na jurisprudência, pois configuraria uma dupla
penalidade ao contribuinte (50% sobre as antecipações, mais 75% sobre o lançamento de
ofício).

Observação 01: os casos de lançamento de ofício, além da exigência da multa de ofício,


incidirão juros de mora sobre os valores apurados como devidos.

Observação 02: na hipótese de lançamento de ofício, não poderá haver exigência


concomitantemente (simultânea) de multa de mora, tendo em vista que esta incide sobre os
recolhimentos efetuados espontaneamente pelo contribuinte.

8.2. Penalidades da legislação do Banco Central quanto a investimentos brasileiros


no exterior

O não-fornecimento de informações regulamentares exigidas pelo Banco Central relativas a


capitais brasileiros no exterior (DCBE), bem como a prestação de informações falsas,
incompletas, incorretas ou fora dos prazos e das condições previstas na regulamentação em
vigor constituem infrações sujeitas à multa de até R$ 250.000,00 (valor máximo), a ser
aplicada segundo os seguintes critérios:

• Prestação de declaração fora do prazo: 1% do valor sujeito a declaração ou 10% do valor


máximo, o que for menor;
• Prestação de declaração contendo informação incorreta ou incompleta: 2% do valor sujeito a
declaração ou 20% do valor máximo, o que for menor;
• Não prestação da declaração ou não apresentação da documentação comprobatória ao Banco
Central das informações fornecidas: 5% do valor sujeito a declaração ou 50% do valor
máximo, o que for menor;
• Prestação de declaração falsa ou de informação falsa sobre os valores sujeitos à declaração:
10% do valor sujeito a declaração ou 100% do valor máximo o que for menor.

Exclusivamente a multa por prestação de declaração fora do prazo será reduzida se: (a) o
atraso de for de apenas 1 a 30 dias na prestação da declaração, hipótese em que a multa
corresponderá a 10% do valor originalmente previsto; ou (b) o atraso for de 31 a 60 dias na
prestação da declaração, hipótese em que a multa corresponderá a 50% do valor originalmente
previsto.

Observe-se que a multa prevista, a ser recolhida ao Banco Central, aplica-se às pessoas físicas
ou jurídicas residentes, domiciliadas ou com sede no País que detenham, a partir de 5 de
setembro de 2001, “capitais brasileiros no exterior”, ou seja, os ativos em moeda, os bens e
direitos ou aqueles valores de qualquer natureza, detidos fora do território nacional por pessoas
físicas ou jurídicas residentes, domiciliadas ou com sede no Brasil, assim conceituadas na
legislação tributária, em valor superior a US$ 100.000,00.

8.3. Consequências criminais do descumprimento das obrigações perante o Banco


Central e a Receita Federal

8.3.1. Crimes contra a ordem tributária

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Constitui crime contra a ordem tributária, com pena de reclusão de 2 a 5 anos mais multa,
suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e qualquer acessório, mediante as seguintes
condutas:

• Omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias;


• Fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo operação de
qualquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal;
• Falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ou qualquer outro
documento relativo à operação tributável;
• Elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba ou deva saber falso ou
inexato;
• Negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou documento equivalente,
relativa a venda de mercadoria ou prestação de serviço, efetivamente realizada, ou fornecê-
la em desacordo com a legislação.

Também se caracteriza como crime, igualmente punível com reclusão de 2 a 5 anos mais multa,
a redução ou supressão das contribuições previdenciárias devidas ao INSS, mediante as
seguintes condutas:

• Omitir de folha de pagamento da empresa ou de documento de informações previsto pela


legislação previdenciária segurados empregados, empresário, trabalhador avulso ou
trabalhador autônomo ou a este equiparado que lhe prestem serviços;
• Deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da contabilidade da empresa as quantias
descontadas dos segurados ou as devidas pelo empregador ou pelo tomador de serviços;
• Omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos, remunerações pagas ou creditadas
e demais fatos geradores de contribuições sociais previdenciárias:

Na mesma pena incidirá aquele que deixar de repassar à previdência social as contribuições
recolhidas dos contribuintes no prazo e na forma da lei.

O entendimento atual da jurisprudência é no sentido de que somente haverá o crime quando


concluída a discussão administrativa sobre o lançamento tributário.

Extinção da punibilidade

O pagamento integral do tributo devido extingue a punibilidade criminal, independentemente da


data em que venha a ser realizado.

Caso o contribuinte opte por realizar o parcelamento do débito, ficará suspensa a pretensão
punitiva do Estado enquanto durarem as prestações, desde que o pedido de parcelamento tenha
sido formalizado antes do recebimento da denúncia criminal.

Observe-se que a prescrição criminal não corre durante o período de suspensão da pretensão
punitiva; em outras palavras, o crime não prescreve enquanto durar o parcelamento. Contudo,
ao final do pagamento das prestações devidas, estará extinto não somente o crédito tributário
como também a pretensão punitiva do Estado.

8.3.2. Declaração ao Bacen e consequências criminais

Sonegação

A não declaração ou prestação de declaração falsa ao Banco Central no tocante a capitais


brasileiros mantidos no exterior poderá acarretar consequências criminais, além da multa de até
R$ 250.000,00 descrita no item 8.2 acima nesta apostila.

Caso as informações prestadas ao Bacen divergirem daquelas prestadas à Receita Federal,


poderá ainda haver a caracterização daquilo que se conhece tradicionalmente como “sonegação
fiscal”, sem prejuízo da cobrança da diferença do tributo devido, bem como de eventuais
obrigações acessórias, acrescidos de multas e juros aplicáveis à espécie.

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É necessário esclarecer que, apesar de este nome não ser mais utilizado pela legislação pátria, a
atividade de sonegação se refere, genericamente, a crimes contra a ordem tributária que têm
em comum entre si não a falta de pagamento do tributo propriamente, mas sim a declaração
falsa, a omissão, a falsificação de dados e de documentos. Em outros termos, a sonegação se
refere a tipos específicos de fraude e de falsidade.

Evasão de divisas e lavagem de dinheiro (“money laundering”)

Da mesma forma, a declaração ao Banco Central de capitais brasileiros mantidos no exterior


poderá levar a consequências criminais caso os recursos tenham saído de maneira ilícita do país
com dolo (intenção consciente) do agente que pratica o fato criminoso.

Observe-se que comete crime de evasão de divisas, punível com reclusão de 2 a 6 anos mais
multa, aquele que promove, sem autorização legal, a saída de moeda ou divisa para o exterior,
ou que mantiver depósitos fora do Brasil não declarados à repartição federal competente, seja o
Banco Central ou a Receita Federal.

Por sua vez, converter em ativos lícitos, receber, guardar, manter em depósito, movimentar,
transferir, ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou
propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração
penal, por sua vez, constitui crime de lavagem de dinheiro, punível com reclusão de 3 a 10
anos, mais multa.

O que se busca com a caracterização deste tipo penal é evitar que recursos com origem ilícita
(não tributados ou declarados) venham a ser incorporados ao sistema financeiro nacional.

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