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Química Analítica

Aplicada à Farmácia
Material Teórico
Introdução a Química Analítica

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Me. Aline Androwiki

Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
Introdução a Química Analítica

• O Processo Analítico;
• A Importância e os Objetivos da Química Analítica;
• Métodos Clássicos para Análise Química;
• Etapas Gerais de uma Análise Química;
• Amostragem, Principais Escalas e Unidades;
• Ensaios Químicos Via Úmida e Via Seca.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Compreender os conceitos básicos de Química Analítica, as principais etapas de uma
análise química, seus principais íons de interesse e suas reações de identificação.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de
aprendizagem.
UNIDADE Introdução a Química Analítica

O Processo Analítico
A química analítica é a ciência de medição que consiste em estudar os princípios
e métodos teóricos da análise química. Já a análise química consiste em um con-
junto de técnicas que permite identificar quais os componentes que se encontram
presentes em uma determinada amostra e sua quantidade.

A química analítica possui duas subdivisões, classificadas de acordo com o tipo


de análise realizada. São elas:
• Análise qualitativa: consiste em identificar os componentes de uma amostra;
• Análise quantitativa: permite determinar a quantidade dos componentes de
uma amostra.

As substâncias identificadas e quantificadas são chamadas de analitos e os locais


de onde foram retiradas essas amostras são chamados de matriz.

A Importância e os
Objetivos da Química Analítica
A química analítica tem uma importância científica e prática enorme, já que
representa um conjunto de métodos de investigação das substâncias e das suas
transformações. A análise química tem grande valor na economia nacional, pois,
sem sua ajuda, não seria possível realizar o controle químico da produção em im-
portantíssimos campos da medicina e da indústria, como a alimentícia, petrolífera
e de medicamentos (Figura 1).
Alguns exemplos interessantes de aplicação da química analítica na indústria são:
• A determinação das concentrações de oxigênio e de dióxido de carbono em
amostras de sangue usadas para diagnosticar e tratar doenças;
• A avaliação da eficiência dos dispositivos de controle da poluição do ar através
da quantificação das quantidades de hidrocarbonetos, óxidos de nitrogênio e
monóxido de carbono presentes nos gases de descarga veiculares;
• A análise do aço durante sua produção, o que permite o ajuste nas concentra-
ções de elementos, como o carbono, níquel e cromo, para que se possa atingir
a resistência física, resistência à corrosão e a flexibilidade desejadas;
• A identificação da fonte de vidros vulcânicos (obsidiana), por arqueólogos, pe-
las medidas de concentração de elementos minoritários em amostras de vários
locais, o que torna possível rastrear as rotas de comércio pré-históricas de fer-
ramentas e armas confeccionadas a partir da obsidiana.

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QUÍMICA
Bioquímica
Química Inorgânica
Química Orgânica
BIOLOGIA
Físico-química FÍSICA
Botânica
Genética Astrofísica
Microbiologia Astronomia
Biologia Molecular Biofísica
Zoologia

GEOLOGIA ENGENHARIA
Geofísica Civil
Geoquímica Química
Paleontologia Elétrica
Paleobiologia Mecânica

Química
Analítica
CIÊNCIAS DO MEDICINA
MEIO AMBIENTE Química Clínica
Ecologia Quîmica Medicinal
Meteorologia Farmácia
Oceanografia Toxicologia

AGRICULTURA
Agroniomia
Ciência dos Animais CIÊNCIA DOS MATERIAIS
Ciência da Produção Metalurgia
Ciência dos Alimentos Polímeros
Horticultura Estado Sólido
Ciência dos Solos CIÊNCIAS SOCIAIS
Arqueologia
Antropologia
Forense

Figura 1 – Relações entre a química analítica, outras áreas da química e outras ciências
A localização central da química analítica no diagrama representa sua im-
portância e a abrangência de sua interação com muitas outras disciplinas.

Em 4 de julho de 1997, um fato muito interessante que ilustra o potencial e a importân-


Explor

cia da química analítica ocorreu quando a nave espacial Pathfinder quicou várias vezes até
estacionar no Ares Vallis, em Marte, e liberou o robô Sojourner com seu corpo tetraédrico
para a superfície marciana. O mundo ficou fascinado pela missão Pathfinder. Como resultado,
inúmeros sites que acompanhavam a missão ficaram congestionados pelos milhões de na-
vegadores da rede mundial de computadores que monitoravam com atenção os progressos
do Sojourner em sua busca por informações relacionadas à natureza do planeta vermelho.
O experimento-chave do Sojourner utilizou o APXS, ou espectrômetro de raios X por prótons
alfa, que combina três técnicas instrumentais avançadas: 1) A espectroscopia retrodispersiva
de Rutherford; 2) A espectroscopia de emissão de prótons; e 3) A fluorescência de raios X.
Os dados de APXS foram coletados pela Pathfinder e transmitidos para a Terra para análises
posteriores, visando determinar a identidade e concentração da maioria dos elementos da
tabela periódica.

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Explor
A determinação da composição elementar das rochas marcianas permitiu que geólogos as
identificassem e comparassem com rochas terrestres. A missão Pathfinder é um exemplo
excelente que ilustra uma aplicação da química analítica a problemas práticos. Os experi-
mentos realizados pela nave espacial e os dados gerados pela missão também ilustram como
a química analítica recorre à ciência e à tecnologia para identificar e determinar as quantida-
des relativas das substâncias em amostras de matéria (SKOOG et. al., 2005).

Figura 2 – Robô Sojourner


Fonte: photojournal.jpl.nasa.gov

Figura 3 – Nave Pathfinder


Fonte: Wikimedia Commons

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Métodos Clássicos para Análise Química
Para atingir suas finalidades, na análise qualitativa e quantitativa, recorre-se a
vários métodos: químicos, físicos e físico-químicos.
Nos métodos químicos de análise qualitativa, o elemento ou íon pesquisado é trans-
formado em um composto que possua determinadas propriedades características
que permitam ter a certeza de que foi esse o composto obtido. Essa transformação
química é chamada de reação analítica e a substância que a provoca é chamada
de reagente.
Os métodos de análise qualitativa são classificados de acordo com a quantidade
de substância com a qual se opera para realizar as reações analíticas. Dividem-se
em macroanálise, microanálise, semimicroanálise e ultramicroanálise.
A macroanálise utiliza quantidades relativamente grandes de analito, de 0,5 a 1
g ou, no caso de solução, de 20 a 50 mL, e, considerando uma tomada de ensaio
maior, pode representar resultados mais precisos em análises de solo ou combustí-
veis fósseis, por exemplo.
Na microanálise, são empregadas quantidades bem menores de substância,
cerca de alguns miligramas de substância sólida ou uns décimos de mililitros de
solução. Como as quantidades de amostra são bem menores, há a necessidade de
utilização de reagentes de grande sensibilidade, que permitem identificar a presença
de vários componentes, mesmo que existam somente vestígios de alguns.
As semimicroanálises ocupam um lugar intermediário entre a macro e a micro-
análise. Nelas são utilizadas quantidades de substâncias da ordem de 1/20 ou 1/25
das usadas na macroanálise, ou seja, cerca de 50 mg de substância sólida ou 1 ml
de solução. A semimicroanálise apresenta inúmeras vantagens sobre a macroaná-
lise, já que, mesmo com a diminuição da escala de amostragem, é possível obter
resultados tão precisos quanto os da macroanálise.
Para as ultramicroanálises, é feito o uso de quantidades de substâncias inferio-
res a 1 mg. Essas são comumente empregadas em análises toxicológicas e micros-
cópicas de amostras de origem biológica, como sangue, saliva ou urina.

A cada ano são descobertas novas substâncias que poderão ser usadas como medicamentos ou
Explor

suplementos nutricionais. Na procura de uma melhoria no desempenho atlético, alguns espor-


tistas não têm dúvidas em abusar dessas novas substâncias. Com o objetivo de minimizar o risco
de acidentes e tornar a competição esportiva mais justa, as análises antidopagem demonstra-
ram, ao longo dos anos, a sua eficácia na detecção dessas substâncias nas amostras dos atletas.
A procura de meios ou substâncias químicas capazes de alterar artificialmente o desempenho
em uma atividade física ou intelectual faz parte da cultura do ser humano. Essa tentativa de
obter um rendimento por meios não naturais é denominada dopagem. A ocorrência da do-
pagem foi demonstrada em vários segmentos da sociedade: estudantes, artistas, intelectuais,
militares, desportistas e trabalhadores. Contudo, é no meio desportivo que ela se destaca.
Os primeiros casos registrados de dopagem ocorreram com o uso da estricnina (uma substân-
cia alcaloide encontrada em plantas do gênero Strychnos) como estimulante e de cogumelos
alucinógenos para reforçar o estado psicológico dos atletas antes dos jogos olímpicos na Grécia.

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UNIDADE Introdução a Química Analítica

DOPING

Figura 4 – Atleta
Fonte: Getty Images
Explor

Estricnina: http://bit.ly/345xAti

A estricnina é um alcaloide cristalino muito tóxico. Foi muito usada como pesticida, princi-
Explor

palmente para matar ratos. Porém, devido à sua alta toxicidade, não só em ratos, mas em
vários animais e também no homem, o seu uso é proibido em muitos países.
A análise do controle de dopagem no esporte associa diversos conhecimentos que vão desde
a Química Analítica e a Química Orgânica até as áreas da Farmacologia, Bioquímica e Fisiolo-
gia Humana. Esteroides anabólicos androgênicos (EAA), por exemplo, são um grupo de subs-
tâncias que mimetizam a ação da testosterona (hormônio tipicamente masculino) produzida
no organismo humano. Sua detecção, no contexto do controle de dopagem no esporte, é
realizada pela técnica de Cromatografia Gasosa de Alta Resolução acoplada a Espectrometria
de Massas (CGAR-EM). Essa técnica é amplamente usada em laboratórios de pesquisa e no
controle de qualidade, possui alta sensibilidade, sendo extremamente útil e empregada no
estudo de matrizes muito complexas, como as de alimentos e de fluidos biológicos.

Etapas Gerais de uma Análise Química


Uma análise química envolve várias etapas que deverão ser consideradas para a
realização das analises, ou seja, a sequência analítica. Uma análise química típica
envolve uma sequência de etapas, mostrada no fluxograma da Figura 5. Em alguns
casos, uma ou mais dessas etapas podem ser desconsideradas.

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Seleção do
método

Obtenção
da amostra

Processamento
da amostra

A amostra Realização da
é solúvel? dissolução química

Mudança da Propriedade
forma química mensurável?

Eliminação das
interferências

Medida da
propriedade X

Cálculo dos
resultados

Estimativa da confiabilidade
dos resultados

Figura 5 – Etapas envolvidas em uma análise quantitativa


Existe grande número de caminhos possíveis para percorrer as etapas em
uma análise quantitativa. No exemplo mais simples, representado pela sequ-
ência vertical central, selecionamos um método, adquirimos e processamos
a amostra, dissolvemos a amostra em um solvente apropriado, medimos
uma propriedade do analito e estimamos a confiabilidade dos resultados.
Dependendo da complexidade da amostra e do método escolhido, várias
outras etapas podem ser necessárias.

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UNIDADE Introdução a Química Analítica

A escolha do método
A primeira etapa essencial de uma análise química é a seleção do método de
análise, algumas vezes a escolha é difícil e requer experiência, assim como intuição.
Uma das primeiras questões a ser considerada no processo de seleção de um méto-
do analítico é o objetivo, ou seja, o que de fato se deseja analisar, e assim é possível
definir o nível de exatidão da informação desejada.

Outra questão importante a ser considerada, após a definição do objetivo e mé-


todo de análise, é a seleção da amostra, ou amostragem. A quantidade requerida,
a natureza química, a complexidade e o número de componentes presentes na
amostra sempre influenciam fortemente na escolha do método de análise.

Amostragem, Principais Escalas e Unidades


A escolha da amostra que será analisada é uma etapa muito importante e que
influencia o resultado a ser obtido. Em muitos casos, a escolha da amostra que será
submetida à análise química é uma tarefa complicada, envolvendo diversas etapas.

A amostragem é o conjunto de operações que permite chegar a uma pequena


porção representativa da composição média do todo, a partir de uma grande quan-
tidade de material.

A amostragem de grandes lotes de materiais envolve duas etapas:


• Coleta da amostra bruta;
• Preparação da amostra de laboratório (redução da amostra bruta);
• Análise do material coletado.

Amostra
É uma porção de material tomada do universo e de tal modo selecionada que
possua as características essenciais do conjunto que está representando. O universo
poderá ser um meio homogêneo e qualquer amostra irá representá-lo; ou hetero-
gêneo. Se o universo a ser representado for um meio heterogêneo, a amostragem
pode ter por objetivo conhecer as particularidades dos componentes ou estabelecer
a composição média do universo.

Exemplo de meio heterogêneo: material sólido, cuja composição pode variar


com o diâmetro das partículas. Usualmente, quanto maior o tamanho das partí-
culas, maior deve ser o tamanho da amostra – por exemplo, no carvão moído, a
fração fina é rica em cinzas. Em ligas metálicas há a segregação em função dos
diferentes produtos de solubilidade.

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A natureza física do universo conferirá características específicas à etapa da
amostragem:
• Amostragem de sólidos: é mais difícil do que a de líquidos e gases, pois há
maior probabilidade de ter-se um meio heterogêneo. Para obter amostras con-
fiáveis, é aconselhado que o tamanho da amostra esteja entre 1/50 e 1/100
do tamanho do universo, coletada preferencialmente enquanto o sólido estiver
em movimento;
• Amostragem de líquidos: os líquidos misturam-se lentamente por difusão e,
para obter maior homogeneidade, os líquidos devem ser agitados. Para mis-
tura homogênea de líquidos, uma amostra aleatória representará o todo; para
universos de tamanho grande, a amostra deve ser coletada enquanto o líquido
estiver em movimento, preferencialmente logo após o bombeamento;
• Amostragem de gases: é feita criando uma zona de baixa pressão que obriga
o gás a deslocar-se para o interior do recipiente coletor. O uso de uma bomba
de vácuo ou o deslocamento de um líquido no qual o gás seja pouco solúvel
é adequado para criar o vácuo. É importante lembrar que a temperatura e a
pressão têm grande influência no volume dos gases e, por conseguinte, na
amostra coletada.

A conservação da amostra até o momento da análise é uma etapa de vital impor-


tância, sob o risco de contaminar, perder, decompor ou alterar a matriz da amostra
e consequentemente perder a representatividade do universo que representa.

Coleta da amostra bruta


A amostra bruta é a primeira amostra retirada de um lote total do produto. Ela é
obtida ao juntar-se um determinado número de porções do mesmo lote do material
analisado, coletadas sistematicamente de locais diferentes. O número de porções
requeridas é determinado pela precisão da amostragem e pelo nível de homogenei-
dade do lote.

A amostragem de materiais homogêneos, como gases devidamente mistura-


dos, líquidos miscíveis e soluções, por exemplo, é mais simples, sendo necessário
somente tomar uma porção de volume adequado para analisar. Para sistemas he-
terogêneos, ou seja, amostras normalmente sólidas com diferentes tamanhos de
partículas e texturas, a amostragem é uma operação mais complexa.

Coleta de materiais gasosos


Se o gás está contido em um recipiente, como um botijão de gás de cozinha,
por exemplo, deixa-se o gás homogeneizar-se por difusão e coleta-se uma porção
do mesmo.

Se a mistura gasosa é heterogênea e está fluindo através de uma tubulação, a


exemplo do gás natural, pode-se recolher uma amostra continuamente durante um
longo tempo; ou então, coleta-se um determinado número de porções a intervalos
de tempo especificados.

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UNIDADE Introdução a Química Analítica

Figura 6 – Amostragem de gás natural encanado


Fonte: Getty Images

O material utilizado para fazer a coleta de gases pode ser de vidro, metal ou
porcelana. Deve-se levar em consideração a natureza e a temperatura do gás na
escolha do material.

Coleta de materiais líquidos


A exemplo dos gases, se o líquido é homogêneo, a amostragem é feita tomando-
-se simplesmente uma pequena quantidade. A forma de amostragem de líquidos
homogêneos se dá pelo recolhimento de porções iguais de cima, do meio e do
fundo do montante total do líquido.

A amostragem de líquidos heterogêneos, como, por exemplo, líquidos imiscíveis


(água + óleo) ou que contenham material em suspensão, pode ser feita da mesma
forma, só que antes é preciso misturar bem a solução.

Figura 7 – Amostragem em tanque de fermentação de cerveja


Fonte: Getty Images

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Coleta de materiais sólidos
Para sólidos na forma de fragmentos grosseiros, como em uma carga de minério,
formada por partículas de tamanhos variados e composição diversa, a amostragem
pode ser feita dividindo o material total em seções e retirando de cada seção um
determinado número de amostras de diferentes posições, e de diferentes tamanhos
(Figura 9), para que a amostragem seja representativa do montante do material.

Figura 8 – Coleta de amostras Figura 9 – Amostragem de


de minério de ferro diferentes tamanhos de amianto
Fonte: Getty Images Fonte: Getty Images

Preparação da amostra de laboratório


Visando obter maior facilidade na dissolução da amostra, é necessário reduzir o
tamanho das partículas da amostra. Quando o material é muito duro, ele deve ser
triturado utilizando-se um gral de ágata ou de porcelana (Figura 10). A operação
deve ser feita com movimentos circulares do pistilo sobre o material contido no
gral e imprimindo-se certa pressão. Depois de triturada, a amostra está finalmente
pronta para a análise.

Figura 10 – Gral ou almofariz – utilizado para triturar e homogeneizar amostras sólidas


Fonte: Getty Images

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UNIDADE Introdução a Química Analítica

Ensaios Químicos Via Úmida e Via Seca


O principal objetivo da análise química é identificar (análise qualitativa) e mensu-
rar (análise quantitativa) os componentes de uma amostra. As análises de identifica-
ção, ou seja, qualitativas, podem ser feitas de dois modos clássicos:
• Análise por via seca: As reações químicas ocorrem sem necessidade de dis-
solver a amostra e acontecem normalmente com a participação do calor;
• Análise por via úmida: As reações ocorrem entre íons de uma amostra em
solução aquosa.

Já para a quantificação dos componentes encontrados nas amostras, são utili-


zados outros métodos, como por exemplo: cromatografia, espectroscopia, polaro-
grafia etc.

Análise por via seca


Os ensaios por via seca são efetuados antes da análise por via úmida e dão uma
orientação bastante segura sobre a natureza da amostra e o caminho a seguir na
escolha do método de análise preciso para a amostra analisada. Esses então podem
ser classificados como pré-ensaios ou análises preliminares.

Para realizar esses ensaios, é necessária a chama de um bico de gás, ou bico de


Bunsen. Os ensaios por via seca, também chamados de ensaios de chama, devem
ser feitos com uma chama quase incolor a azul (Figura 11), que permaneça na boca
do queimador, e deve-se distinguir a formação de dois cones na chama.

Figura 11 – Queimador de bico de Bunsen


com chama em condições ideais de uso
Fonte: Getty Images

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A luminosidade da chama é dividida em zonas, sendo cada uma mais adequa-
da dependendo da composição da amostra a ser analisada. As principais zonas de
uma chama do Bico de Bunsen diferem entre si quanto à distribuição do calor, e
são as seguintes:
• Base da chama ou zona de temperatura mais baixa: Isso ocorre porque o
gás que está sendo queimado é resfriado pelo gás que está subindo pelo corpo
do queimador. Essa zona é utilizada na análise de compostos muito voláteis
e que são reconhecidos pelas cores características que emprestam à chama
(Figura 12);

Figura 12 – Teste de chama para diferentes sais. A composição


salina das amostras interfere na coloração da chama
Fonte: Getty Images

• Zona de fusão: É a parte mais quente da chama. Localiza-se a cerca de um


terço da altura da chama, entre o cone interno e o cone externo, exatamente
na parte mais larga da chama. Nessa zona, a temperatura alcança 1200 –
15000 C e é muito utilizada para os ensaios de fusão de substâncias pouco
voláteis e ensaios na pérola;
• Zona oxidante inferior: Situa-se na altura da zona de fusão, na periferia do
cone externo. É apropriada para oxidar compostos dissolvidos em fundentes
vítreos, tais como bórax ou carbonato de sódio;
• Zona oxidante superior: É o vértice superior do cone externo. Aí ocorre a
maior oxidação no queimador, pois há um grande excesso de oxigênio. A chama
não é muito quente. É utilizada nas operações de oxidação que não necessitam
de uma temperatura muito alta;
• Zona redutora superior: É o vértice do cone interno. É o maior poder redutor
que se pode obter da chama, porém, só é luminosa e de alto poder redutor
quando se diminui a entrada de ar. É utilizada na redução enérgica dos óxidos
metálicos (ensaios sobre carvão);
• Zona redutora inferior: Situa-se na mesma altura da zona oxidante inferior.
O poder redutor é menor do que na zona redutora superior. É utilizada para
reduzir óxidos dissolvidos em substâncias vítreas.

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UNIDADE Introdução a Química Analítica

Análise por via úmida


Na análise por via úmida, a amostra a ser analisada é inicialmente dissolvida.
A solução da amostra é submetida à ação de reagentes específicos para que ocor-
ram reações que permitam a identificação de um íon ou grupo de íons presentes
na amostra.

A forma como a amostra deve ser dissolvida dependerá da natureza da mesma


e do método que será utilizado na identificação. Os seguintes requisitos devem ser
considerados na escolha do método de dissolução da amostra. O método deve:
ser eficiente, simples e rápido; não atacar o recipiente de reação; não introduzir o
constituinte ou outra substância interferente; não introduzir quantidade excessiva de
sais mesmo que inertes.

Os solventes mais utilizados na dissolução de amostras são: água, ácidos inorgâ-


nicos ou mistura de ácidos. Os ácidos inorgânicos mais utilizados são:
• Ácido Fluorídrico: É utilizado na decomposição de rochas e minerais à base
de silicatos;
• Ácido clorídrico: Dissolve muitas substâncias inorgânicas que são insolúveis
em água. Os íons que se dissolvem com esse ácido são transformados em clo-
retos, que são facilmente voláteis, o que favorece a sua identificação na chama.
Os cloretos de prata, chumbo e mercúrio I são os únicos insolúveis em água,
mas são solúveis em excesso de ácido clorídrico;
• Ácido Sulfúrico: Quando aquecido, desidrata e oxida compostos orgânicos.
Muitos metais e ligas são atacados pelo ácido sulfúrico quente. O ácido sulfú-
rico não é muito utilizado como solvente porque muitos sulfatos formados são
insolúveis ou parcialmente solúveis em água, ou no próprio ácido;
• Ácido Perclórico: Na forma concentrada, o ácido perclórico é um poderoso
agente oxidante que ataca ligas de ferro e aços inoxidáveis que não são dissol-
vidos por outros ácidos inorgânicos;
• Ácido nítrico: É um reagente oxidante que, quando concentrado a quente,
dissolve todos os metais, exceto Alumínio (Al) e Cromo (Cr);
• Água régia: É uma mistura de ácido clorídrico concentrado (3 volumes) e áci-
do nítrico concentrado (1 volume). A água régia dissolve a maioria dos metais,
exceto chumbo (Pb).

A escolha do solvente que deve ser utilizado na dissolução da amostra depende


do tipo de amostra.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Química Orgânica
MCMURRY, J. Química Orgânica. vol. 1 e 2. 6. ed. São Paulo: Cengage
Learning, 2005.
Físico-Química: fundamentos
ATKINS, P. W. Físico-Química: fundamentos. 3. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2003.
Físico-Química: para as ciências químicas e biológicas
CHANG, R. Físico-Química: para as ciências químicas e biológicas. vol. 1 e 2. 4. ed.
Porto Alegre: AMGH, 2009. [e-book]
Iniciação à química analítica quantitativa não instrumental
MERCÊ, A. L. R. Iniciação à química analítica quantitativa não instrumental.
Curitiba: Intersaberes, 2012. [e-book]

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UNIDADE Introdução a Química Analítica

Referências
ATKINS, P. W.; JONES, L. Princípios de química: questionando a vida moderna
e o meio ambiente. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006.

BARBOSA, G. P. Química analítica: uma abordagem qualitativa e quantitativa. 1.


ed. São Paulo: Editora Érica, 2014. [e-book]

DENARO, A. R. Fundamentos de Eletroquímica. São Paulo: Edgar Blücher


Ltda., 1974.

DIAS, S. L. P. Química analítica: teoria e prática essenciais. São Paulo: Bookman,


2016. [e-book]

HAGE, D. S.; CARR, J. D. Química Analítica e Análise Quantitativa. São Paulo:


Pearson Prentice Hall, 2011. [e-book]

LEE, J. D. Química Inorgânica não tão concisa. 1. ed. São Paulo: Edgard
Blucher, 2003.

LIMA, K. M. G. L.; NEVES, L. S. Princípios de Química Analítica Quantitativa.


Rio de Janeiro: Interciência, 2015. [e-book]

MERCE, A. L. R. Iniciação à química analítica quantitativa não instrumental.


1. ed. Curitiba: Editora Intersaberes, 2012. [e-book]

SILVERSTEIN, R. et. al. Identificação espectrométrica de compostos orgânicos.


7. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2006.

SKOOG, D. A. et. al. Fundamentos de Química Analítica. 9. ed. São Paulo:


Cengage Learning, 2014. [e-book]

________. et. al. Fundamentos de Química Analítica. 1. ed. São Paulo: Cengage
learning, 2005.

VOGEL, A. I. et. al. Análise Química Quantitativa. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC,
2002. [e-book]

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