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Questão 17 (UNESP)
Jamais um homem fez algo apenas para outros e sem qualquer
motivo pessoal. E como poderia fazer algo que fosse sem referência
a ele próprio, ou seja, sem uma necessidade interna? Como poderia
o ego agir sem ego? Se um homem desejasse ser todo amor como
aquele Deus, fazer e querer tudo para os outros e nada para si, isto
“A igualdade inata, quer dizer, a independência que consiste em não pressupõe que o outro seja egoísta o bastante para sempre aceitar
se ser obrigado por outros a mais do que, reciprocamente, os esse sacrifício, esse viver para ele: de modo que os homens do amor
podemos obrigar; por conseguinte, a qualidade do homem de ser seu e do sacrifício têm interesse em que continuem existindo os egoístas
próprio senhor (sui iuris), ao mesmo tempo a de ser um homem sem amor e incapazes de sacrifício, e a suprema moralidade, para
íntegro (iustus), porque não cometeu ilícito algum com anterioridade a poder subsistir, teria de requerer a existência da imoralidade, com o
qualquer acto jurídico; por último, também a faculdade de fazer aos que, então, suprimiria a si mesma.
outros aquilo que os não prejudica no que é seu, se eles não (Friedrich Nietzsche. Humano, demasiado humano, 2005. Adaptado.)
quiserem tomar como tal; como por exemplo, comunicar aos outros o
próprio pensamento, contar-lhes ou prometer-lhes algo, seja A reflexão do filósofo sobre a condição humana apresenta
verdadeiro e sincero ou falso e dúplice (veriloquium aut falsiloquium), pressupostos
pois que é unicamente sobre eles que recai o facto de querer ou não a psicológicos, baseados na crítica da inconsistência subjetiva da
acreditar no interlocutor – todas estas faculdades encontram-se já moral cristã.
ínsitas no princípio da liberdade inata e não se distinguem b cartesianos, baseados na ideia inata da existência de Deus na
verdadeiramente dela (como elementos de uma divisão com base substância pensante.
num conceito superior de Direito)”.
c estoicistas, exaltadores da apatia emocional como ideal de uma
(KANT, 2004, p. 56-57).
vida sábia.
Considerando a charge e o texto acima, assinale a alternativa
CORRETA: d éticos, defensores de princípios universais para orientar a
conduta humana.
a O atentado ao periódico francês Charlie Hebdo deveu-se à
insatisfação generalizada com os resultados das eleições para o e metafísicos, uma vez que é alicerçada no mundo inteligível
parlamento da França, com o crescimento dos partidos platônico.
conservadores. Questão 18 (UNICENTRO)
b O necessário respeito à liberdade e subjetividade tornam matéria
Para o filósofo Immanuel Kant (1724-1804), maior expoente do
indiscutível, em termos de política pública estatal, as ações de
Iluminismo, a ação moral é
cunho religioso de quaisquer matizes ou denominações, por mais
diferentes que possam parecer ao parâmetro cultural dominante. a hedonista, pois considera que a felicidade consiste no
aperfeiçoamento da crítica à razão estabelecida.
c O parâmetro apresentado no pensamento kantiano consiste na
aplicação do entendimento iluminista do século XVIII, o qual b autônoma, pois o homem é o único ser capaz de se determinar
atribui uma função central para a autonomia do sujeito de modo a segundo leis que a própria razão estabelece.
exigir-lhe a responsabilidade pelo seu próprio processo de c categórica e crítica, acentua o caráter racional do indivíduo e seu
conhecimento da realidade. poder de contestação.
d A concepção de que haja uma competição entre culturas com o d ascética, mas laica (não-religiosa), porque, embora admita que os
foco na construção de hegemonia tem seu ponto culminante valores morais não se encontram em Deus, nega ao homem o
dentro da prática do multiculturalismo europeu do fim do século XX e direito de escolha (livre-arbítrio), o qual está nas mãos do Estado.
início do século XXI. e inata, assim como o sentimento do dever, ambos são a “voz da
e O atentado contra a publicação semanal do Charlie Hebdo não se natureza” em nosso coração; o dever racional simplesmente nos
configura como negação da condição de subjetividade e força a recordar nossa natureza originária.
individualidade necessárias à coexistência cultural, mas, outrossim,
uma resposta à agressão praticada pelos jornalistas contra a religião
islâmica.
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As informações apresentadas na notícia acima podem ser pensadas O fragmento evoca uma reflexão sobre a condição humana e a
filosoficamente tomando-se por base elaboração de um mecanismo distintivo entre homens e animais,
marcado pelo(a)
I. Foucault e sua teoria dos dispositivos disciplinares do poder. a racionalidade científica.
II. Marx e sua teoria do Estado como instrumento da classe b determinismo biológico.
dominante.
III. Maquiavel e sua teoria do poder do príncipe. c degradação da natureza.
IV. Aristóteles e seu conceito de justiça distributiva. d domínio da contingência.
e consciência da existência.
Estão corretas somente as complementações contidas em
a I e II. Questão 24 (UFU)
b II e III. Leia atentamente o texto abaixo e assinale a alternativa que indica
com qual teoria filosófica ele se relaciona.
c III e IV.
d I e IV. “É possível afirmar que a sociedade se constitui a partir de condições
materiais de produção e da divisão social do trabalho, que as
Questão 21 (ENEM)
mudanças históricas são determinadas pelas modificações naquelas
Até hoje admitia-se que nosso conhecimento se devia regular pelos condições materiais e naquela divisão do trabalho e que a
objetos; porém, todas as tentativas para descobrir, mediante consciência humana é determinada a pensar as idéias que pensa por
conceitos, algo que ampliasse nosso conhecimento, malogravam-se causa das condições materiais instituídas pela sociedade.”
com esse pressuposto. Tentemos, pois, uma vez, experimentar se CHAUÍ, M. Filosofia. São Paulo: Ática, 2007.
não se resolverão melhor as tarefas da metafísica, admitindo que os Este texto descreve
objetos se deveriam regular pelo nosso conhecimento. a a concepção de Marx, que escreveu obras como Contribuição à
Economia Política e O Capital.
KANT, I. Crítica da razão pura. Lisboa: Calouste-Gulbenkian, 1994 (adaptado)
O trecho em questão é uma referência ao que ficou conhecido como b a concepção de Nicolau Maquiavel, que escreveu, dentre outras
obras, O Príncipe.
revolução copernicana na filosofia. Nele, confrontam-se duas
posições filosóficas que c a concepção de Thomas Hobbes, autor do Leviatã.
a assumem pontos de vista opostos acerca da natureza do d a concepção de Jean Jacques Rousseau, autor de O Contrato
conhecimento. Social.
b defendem que o conhecimento é impossível, restando-nos
somente o ceticismo.
c revelam a relação de interdependência entre os dados da
experiência e a reflexão filosófica.
d apostam, no que diz respeito às tarefas da filosofia, na primazia
das ideias em relação aos objetos.
e refutam-se mutuamente quanto à natureza do nosso
conhecimento e são ambas recusadas por Kant.
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Os seres humanos, escreveram Marx e Engels, distinguem-se dos Em 1848, Karl Marx e Friedrich Engels publicaram o Manifesto
animais não porque sejam dotados de consciência – animais Comunista. Segundo seus autores, “a burguesia desempenhou na
racionais-, nem porque sejam naturalmente sociáveis e políticos – História um papel iminentemente revolucionário. Onde quer que
animais políticos -, mas porque são capazes de produzir as tenha conquistado o poder, a burguesia destruiu as relações feudais,
condições de sua existência material e intelectual. patriarcais e idílicas. Rasgou todos os complexos e variados laços
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1996, p. 412. que prendiam ao homem feudal e seus superiores naturais, para só
deixar subsistir, de homem para homem, o laço do frio interesse. [...]
Fez da dignidade pessoal um simples valor de troca; substituiu as
numerosas liberdades, conquistadas duramente, por uma única
liberdade sem escrúpulos: a do comércio. Em uma palavra, em lugar
da exploração dissimulada por ilusões religiosas e políticas, a
burguesia colocou uma exploração aberta, direta, despudorada e
brutal. [...] Tudo o que era sólido e estável se desmancha no ar, tudo
o que era sagrado é profanado e os homens são obrigados
finalmente a encarar sem ilusões a sua posição social e as suas
relações com outros homens”.
(MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. O manifesto comunista. São Paulo: Boitempo,
2001, p. 42-43.)
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Questão 45 (UNICENTRO)
A Filosofia, em determinado momento de sua história, formulou a
ideia de que, apesar de todo conhecimento começar com a
Manipulando as palavras, é possível construir falácias e sofismas a
experiência, ele não se resumiria a essa experiência. A experiência
fim de superar nossos adversários no campo da argumentação.
revelaria uma matéria, advinda de si mesma, e uma forma oriunda do
Adotando certas atitudes que desestabilizam emocionalmente nossos
entendimento.
antagonistas, parecemos estar cobertos de razão. São expedientes
Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, a qual corrente
que muitas vezes, até por instinto, acabamos por utilizar em
filosófica pertence essa tese.
conversas e discussões. Por uma questão de honestidade intelectual,
a Realismo. porém, precisamos tomar consciência de que somos algozes e
b Racionalismo. vítimas nesse jogo sujo.
c Empirismo. O pensador alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860), apoiando-se
d Criticismo. em sua observação e inspirando-se nas lições de Aristóteles,
denunciou várias estratégias que, com maior ou menor brilhantismo,
e Ceticismo.
nós empregamos todos os dias, não propriamente para descobrir e
divulgar a verdade, mas neutralizar e desmerecer o discurso do
nosso interlocutor.
O que Maquiavel (1469-1527) pretendeu com O Príncipe, ao
descrever o que se deve fazer para conquistar e preservar o poder
político, assim Schopenhauer fez com relação às disputas verbais. O
objetivo é defender-se das ameaças externas e ganhar a briga na
base da palavra e da instauração de um clima emocional perturbador,
deixando claro quem tem a mente mais arguta e a língua mais afiada,
mesmo que seja necessário atropelar os escrúpulos e esmagar a
ética.
(...)
(Gabriel Perissé, prof. da Universidade Católica de Santos,
revista Língua, set.2014)
Depreende-se do texto que:
a manipular palavras é a forma mais racional para derrotar o
adversário num debate ou discussão.
b usar falácias e sofismas passa necessariamente pela
manipulação de palavras o que compensaria a falta de
argumentação convincente.
c utilizar-se de falácias e sofismas seria um instrumento válido para
provocar raiva no adversário e desestabilizá-lo numa discussão.
d lançar mão de sofismas e falácias é um jogo desonesto que
vitima as pessoas sem idoneidade.
e desestabilizar o adversário emocionalmente é um recurso
instintivo que acaba ganhando âmbitos de honestidade
intelectual.
Questão 47 (UnB)
PARA RESPONDER A QUESTÃO, LEIA O TEXTO BASE 1
Da frase “O ser humano não pode não ser livre”, de Sartre, conclui-se
que toda existência livre é um ser humano, à luz da filosofia sartriana.
a Certo
b Errado
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Questão 52 (UnB)
PARA RESPONDER A QUESTÃO, LEIA O TEXTO BASE 3
Para Nietzsche, “a morte covarde” decorreria de uma tentativa de se
atribuir sentido à vida, independentemente do contexto, contrariando-
se e negando-se sua natureza trágica, caótica e desprovida de
certezas e de segurança.
a Certa
b Errada
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Questão 55 (UNICENTRO)
Segundo Immanuel kant (1724-1804), a moral “não é propriamente
dita a doutrina que nos ensina como devemos nos tornar felizes, mas
como devemos nos tornar dignos da felicidade” (KANT, Crítica da Razão
Prática. Apud CHAUÍ (org.), Primeira Filosofia. São Paulo: Editora Brasilienses,
1987 – p. 261). De acordo com a teoria moral kantiana, em que sentido
devemos entender a noção de dever?
a A razão prática, para Kant, tem o poder para criar normas e fins
morais e, por isso, tem também o poder para impô-los a si
mesma. Essa imposição que a razão prática faz a si mesma daquilo
que ela própria criou é o dever. Por dever, damos a nós mesmos os
valores, os fins e as leis de nossa ação moral e por isso somos
autônomos.
b O dever, afirma kant, se apresenta através de um conjunto de
conteúdos fixos, que define a essência de cada virtude e diz que
atos devem ser praticados e evitados em cada circunstância
específica de nossas vidas. Por isso, o dever é um imperativo
categórico: ordena incondicionalmente embora não seja uma lei
moral interior.
c O dever é uma imposição externa feita a nossa vontade. Não
precisamos dele para nos tornar seres morais, precisamos, isto
sim, da dignidade, livre-arbítrio e liberdade para agirmos de acordo
com nossa consciência, que é a manifestação mais alta da
humanidade em nós.
d Kant procura conciliar o dever e a idéia de uma natureza humana
que não precisa ser obrigada à moral. Por natureza, diz Kant,
somos seres morais, ou seja, a razão prática e a verdadeira liberdade
não precisam nos impor nosso ser moral.
e Para Kant, a ética exige seres autônomos e a idéia de dever
introduz a heteronomia, isto é, o domínio de nossa vontade e de
nossa consciência por um poder estranho a nós.
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Questão 68 (UEA)
PARA RESPONDER A QUESTÃO, LEIA O TEXTO BASE 4
Na perspectiva kantiana, o conhecimento possível do cavalo revela
que
a a razão, atribuída ao homem por um Deus bom e justo, é
ilimitada.
b o espaço e o tempo são as condições do conhecimento da coisa-
em-si.
c a mente limita-se a receber passivamente as marcas dos objetos
empíricos.
d as categorias do entendimento permitem o conhecimento do
mundo inteligível.
e os princípios do entendimento são aplicados ao mundo sensível.
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Questão 71 (FACISA) dos livros. E com isso haviam perdido a capacidade de pensar por si
mesmos. “Se não estão virando as páginas de um livro, eles não
SOBRE OS PERIGOS DA LEITURA conseguem pensar. Sempre que se dizem pensando, eles estão, na
(Rubem Alves) realidade, simplesmente respondendo a um estímulo — o
pensamento que leram... Na verdade eles não pensam; eles reagem.
Nos tempos em que eu era professor da Unicamp, fui designado (...). Vi isso com meus próprios olhos: pessoas bemdotadas que, aos
presidente da comissão encarregada da seleção dos candidatos ao 30 anos, haviam se arruinado de tanto ler. De manhã cedo, quando o
doutoramento, o que é um sofrimento. dia nasce, quando tudo está nascendo, ler um livro é simplesmente
Dizer “esse entra, esse não entra” é uma responsabilidade dolorida algo depravado...”.
da qual não se sai sem sentimentos de culpa. Como, em 20 minutos E, no entanto, eu me daria por feliz se as nossas
de conversa, decidir sobre a vida de uma pessoa amedrontada? Mas escolas ensinassem uma única coisa: o prazer de ler! Sobre
não havia alternativas. Essa era a regra. isso falaremos...
Os candidatos amontoavam-se no corredor recordando o Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/ult1063
que haviam lido da imensa lista de livros cuja leitura era exigida. Aí u687.shtml. Acesso em 05/11/2013.
tive uma ideia que julguei brilhante. Combinei com os meus colegas Ao incluir em seu texto afirmações sobre a leitura retirada de obras
que faríamos a todos os candidatos uma única pergunta, a mesma dos filósofos Nietzsche e Shopenhauer, Rubem Alves fez uso do(a)
pergunta. Assim, quando o candidato entrava trêmulo e se
a argumento de autoridade.
esforçando por parecer confiante, eu lhe fazia a pergunta, a mais
deliciosa de todas: “Fale-nos sobre aquilo que você gostaria de b teoria da contracultura.
falar!”. c estilização parodística.
Pois é claro! Não nos interessávamos por aquilo que ele d filosofia niilista.
havia memorizado dos livros. Muitos idiotas têm boa e teoria da arte pela arte.
memória. Interessávamo-nos por aquilo que ele pensava. O
candidato poderia falar sobre o que quisesse, desde que fosse aquilo Questão 72 (UNICENTRO)
sobre o que gostaria de falar. Procurávamos as ideias que corriam
O fragmento de texto, logo abaixo, é de Friedrich Nietzsche (1844-
no seu sangue!
1900). Analise-o, tendo como referência seus conhecimentos sobre o
A reação dos candidatos, no entanto, não foi a
tema, e julgue as assertivas que o seguem, apontando a(s)
esperada. Aconteceu o oposto: pânico. Foi como se esse campo,
correta(s).
aquilo sobre que eles gostariam de falar, lhes fosse
“Todo filosofar moderno está política e policialmente limitado à
totalmente desconhecido, um vazio imenso. Papaguear os
aparência erudita, por governos, igrejas, academias, costumes,
pensamentos dos outros, tudo bem. Para isso, eles haviam sido
modas, covardias dos homens: ele permanece no suspiro: ‘mas se...’
treinados durante toda a sua carreira escolar, a partir da infância.
ou no reconhecimento: ‘era uma vez...’ A filosofia não tem direitos;
Mas falar sobre os próprios pensamentos — ah, isso não lhes
por isso, o homem moderno, se pelo menos fosse corajoso e
tinha sido ensinado!
consciencioso, teria de repudiá-la e bani-la. Mas a ela poderia restar
Na verdade, nunca lhes havia passado pela cabeça que
uma réplica e dizer: ‘Povo miserável! É culpa minha se em vosso
alguém pudesse se interessar por aquilo que estavam pensando.
meio vagueio como uma cigana pelos campos e tenho de me
Nunca lhes havia passado pela cabeça que os seus
esconder e disfarçar, como se eu fosse a pecadora e vós, meus
pensamentos pudessem ser importantes.
juízes? Vede minha irmã, a arte! Ela está como eu: caímos entre
Uma candidata teve um surto e começou a
bárbaros e não sabemos mais nos salvar.” (NIETZSCHE, F. A Filosofia
papaguear compulsivamente a teoria de um autor marxista. Acho que
na época trágica dos gregos. – aforismo 3. São Paulo: Abril Cultural, 1978, p.
ela pensou que aquela pergunta não era para valer. Não era
32 (Col. Os Pensadores).
possível que estivéssemos falando a sério. Deveria ser uma
I. Nietzsche critica a filosofia de sua época, afirmando que ela
dessas “pegadinhas” sádicas cujo objetivo é confundir o candidato.
afastou-se da vida, refugiando-se num universo de abstração e
Por vias das dúvidas, ela optou pelo caminho tradicional e tratou de
deduções lógicas, criando falsos dualismos, como o de corpo e alma,
demonstrar que havia lido a bibliografia. Aí eu a interrompi e lhe
mundo e Deus, mundo aparente e mundo verdadeiro.
disse: “Eu já li esse livro. Eu sei o que está escrito nele. E você está
II. Em Sócrates, Nietzsche encontra o ideal de humanismo que irá
repetindo direitinho. Mas nós não queremos ouvir o que já sabemos.
definir sua filosofia como “estética de si”. O par conceitual, dionisíaco
Queremos ouvir o que não sabemos. Queremos que você nos conte
(Dionísio é o Deus da embriaguez da música e do caos) e apolíneo
o que você está pensando, os pensamentos que a ocupam...”. Ela
(Apolo é o Deus da luz, da forma, da harmonia e da ordem), mostra a
não conseguiu. O excesso de leitura a havia feito esquecer e
herança socrática. Da luta e do equilíbrio final desses dois elementos
desaprender a arte de pensar.
opostos, surge o pensamente nietzschiano como saber da vida e da
Parece que esse processo de destruição do pensamento individual
morte, como expressão do enigma da existência.
é consequência natural das nossas práticas educativas. Quanto mais
III. Kant e sua moral são alvos do “filosofar com o martelo”
se é obrigado a ler, menos se pensa. Schopenhauer tomou
nietzschiano: o “imperativo categórico”, isto é, a lei universal que
consciência disso e o disse de maneira muito simples em alguns
deve guiar as ações humanas, é para Nietzsche uma ficção que
textos sobre livros e leitura.
provém do domínio da razão sobre os instintos humanos, sendo a lei
O que se toma por óbvio e evidente é que o pensamento
de um homem descarnado e cristianizado.
está diretamente ligado ao número de livros lidos. Tanto assim que se
IV. A vontade de potência é um conceito-chave na obra de Nietzsche.
criaram técnicas de leitura dinâmica que permitem ler “Grande
Indica-nos as relações de força que se desenrolam em todo
Sertão: Veredas” em pouco mais de três horas. Ler dinamicamente,
acontecer, assinalando seu método histórico. Assim, Nietzsche pensa
como se sabe, é essencial para se preparar para o vestibular e para
o tempo de acordo com uma concepção própria, um tempo não-
fazer os clássicos “fichamentos” exigidos pelos professores.
linear, que se desenvolve em ciclos que se repetem – é o
Schopenhauer pensa o contrário: “É por isso que, no que se refere a
pensamento do eterno retorno, outro conceito-chave de sua obra.
nossas leituras, a arte de não ler é sumamente importante”.
Isso contraria tudo o que se tem como verdadeiro, e é a Apenas IV.
preciso seguir o seu pensamento. Diz ele: “Quando lemos, outra b Apenas II e III.
pessoa pensa por nós: só repetimos o seu processo mental”. c Apenas II, III e IV.
Quanto a isso, não há dúvidas: se pensamos os nossos d Apenas I, II e IV.
pensamentos enquanto lemos, na verdade não lemos. Nossa atenção
e Apenas I, III e IV.
não está no texto. Ele continua: “Durante a leitura, nossa cabeça é
apenas o campo de batalha de pensamentos alheios. Quando
esses, finalmente, se retiram, o que resta? Daí se segue que
aquele que lê muito e quase o dia inteiro perde, paulatinamente,
a capacidade de pensar por conta própria. Esse, no entanto, é o caso
de muitos eruditos: leram até ficar estúpidos. Porque a leitura
contínua, retomada a todo instante, paralisa o espírito ainda mais que
um trabalho manual contínuo”.
Nietzsche pensava o mesmo e chegou a afirmar que, nos
seus dias, os eruditos só faziam uma coisa: passar as páginas
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