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Metodologia do Ensino

DOS ESPORTES
INDIVIDUAIS
Metodologia do Ensino
DOS ESPORTES
INDIVIDUAIS
UNIVERSIDADE LA SALLE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO
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1ª Edição
Atualizada em:
Agosto de 2022

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APRESENTAÇÃO
Prezado estudante,
A equipe da EaD La Salle sente-se honrada em entregar a você este material didático. Ele
foi produzido com muito cuidado para que cada Unidade de estudos possa contribuir com seu
aprendizado da maneira mais adequada possível à modalidade que você escolheu para estudar: a
modalidade a distância. Temos certeza de que o conteúdo apresentado será uma excelente base
para o seu conhecimento e para sua formação. Por isso, indicamos que, conforme as orientações de
seus professores e tutores, você reserve tempo semanalmente para realizar a leitura detalhada dos
textos deste livro, buscando sempre realizar as atividades com esmero a fim de alcançar o melhor
resultado possível em seus estudos. Destacamos também a importância de questionar, de participar
de todas as atividades propostas no ambiente virtual e de buscar, para além de todo o conteúdo aqui
disponibilizado, o conhecimento relacionado a esta disciplina que está disponível por meio de outras
bibliografias e por meio da navegação online.
Desejamos a você um excelente módulo e um produtivo ano letivo. Bons estudos!
Sumário
UNIDADE 1
Introdução aos Esportes Individuais..........................................................................................................................7
Objetivo Geral..............................................................................................................................................................7
Parte 1
Prática Docente nos Esportes Individuais.............................................................................................................................9
Parte 2
Introdução ao Atletismo.....................................................................................................................................................23
Parte 3
Exercícios Educativos Para Corrida....................................................................................................................................47

UNIDADE 2
Esportes Individuais: Corridas..................................................................................................................................63
Objetivo Geral............................................................................................................................................................63
Parte 1
Corridas de Velocidade......................................................................................................................................................65
Parte 2
Corridas de Resistência.....................................................................................................................................................83
Parte 3
Corridas com Barreiras e Corridas de Revezamento..........................................................................................................99
UNIDADE 3
Esportes Individuais: Saltos, Arremesso e Lançamentos......................................................................................119
Objetivo Geral..........................................................................................................................................................119
Parte 1
Saltos Verticais: Altura e com Vara...................................................................................................................................121
Parte 2
Saltos Horizontais: Distância e Triplo................................................................................................................................ 141
Parte 3
Lançamentos: Disco, Martelo e Dardo..............................................................................................................................159
Parte 4
Arremesso de Peso.........................................................................................................................................................181

UNIDADE 4
Esportes Individuais: Lutas e Esportes de Combate..............................................................................................201
Objetivo Geral..........................................................................................................................................................201
Parte 1
Modalidades Olímpicas de Combate................................................................................................................................203
Parte 2
Metodologia das Lutas....................................................................................................................................................227
Parte 3
Potencial Pedagógico das Lutas......................................................................................................................................245
unidade

1
V.1 | 2022

Introdução aos Esportes Individuais


Prezado estudante,

Estamos começando uma unidade desta disciplina. Os textos que a compõem foram organizados com
cuidado e atenção, para que você tenha contato com um conteúdo completo e atualizado tanto quanto
possível. Leia com dedicação, realize as atividades e tire suas dúvidas com os tutores. Dessa forma, você,
com certeza, alcançará os objetivos propostos para essa disciplina.

Objetivo Geral
Compreender a estruturas dos esportes individuais e sua presença na sociedade.
unidade

1
V.1 | 2022

Parte 1
Prática Docente nos
Esportes Individuais

O conteúdo deste livro


é disponibilizado
por SAGAH.
10 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS

Prática docente nos


esportes individuais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„ Discutir a natureza dos jogos esportivos individuais.


„ Descrever a metodologia do ensino-aprendizagem nos esportes
individuais.
„ Reconhecer o papel dos esportes individuais na investigação da cultura
corporal do movimento.

Introdução
Embora tenham menos destaque nas aulas de educação física, os esportes
individuais são importantes conteúdos da disciplina, já que promovem
benefícios fundamentais para os seus praticantes, como autonomia,
maior concentração e desenvolvimento intrapessoal.
Por serem bastante diversificados e com especificidades distintas,
esses esportes exigem uma atenção específica do professor no processo
de ensino-aprendizagem, a partir de uma metodologia adequada que
permita vivências em sala de aula capazes de dar ao aluno um importante
instrumento da cultura corporal do movimento.
Neste capítulo, você identificará a natureza dos esportes individuais,
analisará a metodologia do ensino-aprendizagem nos esportes individuais
e reconhecerá o papel dos esportes individuais na investigação da cultura
corporal do movimento.
Introdução aos Esportes Individuais | UNIDADE 1
2 Prática docente nos esportes individuais
Prática Docente nos Esportes Individuais | PARTE 1 11

Natureza dos esportes individuais


Inicialmente, abordaremos a natureza que envolve as características das moda-
lidades esportivas individuais. Como o próprio nome sugere, esses esportes são
marcados pela atuação isolada do aluno/atleta, sem a colaboração de um colega,
durante toda a ação esportiva, ou seja, um adversário compete contra outro.
Segundo Ferreira (2010), o esporte escolar individual se caracteriza por
um aluno atuando sozinho para alcançar o objetivo proposto, dependendo
unicamente de si para atingir a meta proposta pela atividade, o que incide, a
partir das experiências vividas de vitórias e derrotas, no desenvolvimento da
personalidade, no aumento da autoestima e na preparação psicológica desses
estudantes.

Como exemplos de esportes individuais, temos o atletismo, o tênis, o badminton, o


judô, o tênis de mesa, a esgrima, o boxe e o ciclismo.

Gonzales (2004) aponta que esses esportes podem ser classificados em


dois grupos (Quadro 1):

„ jogos individuais sem interação com o oponente — atividades motoras


em que a atuação do sujeito não é condicionada diretamente pela ne-
cessidade de colaboração do colega nem pela ação direta do oponente;
„ jogos individuais em que há a interação com o oponente — aqueles em
que os sujeitos se enfrentam diretamente, tentando em cada ato alcançar
os objetivos do jogo e evitando, concomitantemente, que o adversário
o faça, porém sem a colaboração de um companheiro.
12 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS
Prática docente nos esportes individuais 3

Quadro 1. Relação dos esportes com e sem interação

Esportes com interação Esportes sem interação

Badminton Atletismo (saltos, arremessos e lançamentos)

Judô Ginástica artística

Peteca Natação

Tênis Saltos ornamentais (classe individual)

Squash Skate

Esgrima Arco e flecha

Tênis de mesa Surf

Boxe Halterofilismo

Luta greco-romana Iatismo (classe Finn)

Ciclismo

Canoagem

Fonte: Adaptado de Monteiro (2011).

Nessa classificação, Monteiro (2011) ainda aponta outra subcategorização


em função dos objetivos que se busca atingir pela prática dos jogos individuais:

Para as modalidades em que há interação com o adversário, normalmente,


utiliza-se como critério o objetivo tático da ação, isto é, o propósito final
da prática esportiva (ponto, menor tempo). Para as modalidades sem inte-
ração com o adversário, adota-se como critério o desempenho motor para
estabelecer marcas e, dessa forma, designar o vencedor da prática esportiva
(MONTEIRO, 2011, p. 30).

Dessa maneira, as modalidades que não há interação podem ser chamadas


de esportes de marca (quando o vencedor é designado a partir do melhor tempo,
da distância atingida ou do peso levantado), estéticos (quando definidos pelos
padrões estéticos previamente definidos, como o halterofilismo) ou, ainda, de
precisão (quando o resultado é definido pela capacidade de atingir um alvo,
como o arco).
Introdução aos Esportes Individuais | UNIDADE 1
4 Prática docente nos esportes individuais Prática Docente nos Esportes Individuais | PARTE 1 13

A classificação dos esportes em que há interação pode se dar a partir de


esportes de combate ou luta (quando o adversário deve ser subjugado), de
campo e taco (quando a ideia é colocar a bola longe do adversário) e de rede
(quando o objetivo é fazer com que o objeto em que se joga a partida caia na
quadra do adversário, como no caso do tênis, tênis de mesa e badminton).

Deve-se ter cuidado nos casos dos esportes de rede citados, pois o voleibol é igual-
mente um esporte desse perfil e com o mesmo objetivo, porém o que o diferencia
são os números de jogadores, fazendo com que seja considerado um esporte coletivo.

Greco et al. (2012) afirmam que os jogos individuais apresentam inúmeras


vantagens para aqueles que os praticam, pois os alunos que vivenciarão essa
modalidades, em situações em que forem exigidos, saberão trabalhar sob
pressão, maximizando os acertos e diminuindo a probabilidade de erros e
frustrações.
De acordo com Benvegnú Junior (2011), além de proporcionarem inúmeros
desenvolvimentos, como o intrapessoal dos alunos, as modalidades esportivas
individuais estabelecem os componentes estratégicos e táticos, aumentando
a complexidade das atividades e unindo as capacidades motoras, cognitivas
e técnicas para superar as dificuldades estabelecidas.
Outro elemento importante desenvolvido a partir dessas modalidades é
o poder de concentração, já que os praticantes terão um poder maior quanto
à capacidade em vista do foco exigido por um jogo que depende apenas de
si para obter sucesso. Ainda, há o fator autocontrole, que requer bastante
aprimoramento para esse tipo de prática (GRECO et al., 2012).
Cabe dizer também que as modalidades individuais são mais fáceis de
praticar, visto, que ao contrário dos esportes coletivos, necessitam de um
número menor de pessoas; no caso da corrida, da ginástica, da natação, do
ciclismo, do skate e do surf, o praticante tampouco precisa de um adversário,
podendo realiza-lo sozinho (GRECO et al., 2012).
Até agora, você conheceu a natureza dos esportes individuais a partir de
suas características e classificação, mas, a seguir, acompanhará como se dá
a metodologia de ensino dessas modalidades.
14 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS
Prática docente nos esportes individuais 5

Metodologia de ensino-aprendizagem
dos esportes individuais
Como vimos anteriormente, os esportes individuais têm estruturas bastante di-
ferenciadas, podendo ser classificados conforme suas interações e/ou objetivos,
características que, segundo Vancini et al. (2015), particularizam o processo
pedagógico e metodológico do ensino-aprendizagem, visto a dificuldade de
haver um método generalizante que abranja todos esses esportes.
Sobre as características que devem ser consideradas na hora da aprendi-
zagem, os autores ainda descrevem:

No que tange às características das modalidades individuais temos, em geral,


que as mesmas não exigem ações cooperativas. Além disso, são centradas em
provas, podem ter um caráter mais previsível das ações motoras dependendo
da modalidade, proporcionam pouca interação entre sujeitos, apresentam
uma diversidade de perspectivas e contextos e possuem particularidades e
especificidades técnicas (VANCINI et al., 2015, p. 148).

Como podemos ver, nesses esportes a ideia da cooperação, interação e


trabalho em equipe ficará reduzida, bem como outra característica comum
às modalidades coletivas, a imprevisibilidade das ações.
A partir desses parâmetros, o foco do ensino das modalidades esportivas
individuais passa a ser o rendimento do aluno/atleta a partir da técnica, dando
ênfase aos gestos motores relacionados aos fundamentos e às habilidades
específicas motoras do esporte em questão. Contudo, isso não quer dizer que
tais modalidades não necessitam de estratégia e tática, mas que estas ganham
um destaque menor do que a técnica.
Como vimos até aqui, não há um único método-padrão para o ensino
dessas modalidades, pelo fato de terem peculiaridades distintas, o que nos
leva a abordar a metodologia para o ensino dos esportes individuais a partir
de dois esportes com gestos motores-base para todos as demais: o atletismo
e a ginástica.
Segundo Vancini et al. (2015), a ginástica tem como base motora os ele-
mentos corporais chamados deslocamentos, saltos, saltitos, giros, rolamentos,
balanços, suspensões, equilíbrios e apoios, derivados tanto da ginástica artística
quanto da rítmica, além dos esportes acrobáticos, a ginástica trampolim, a
aeróbica e a geral. Essas manifestações se diferenciam pelo tipo de aparelho
utilizado, pela execução ou não da música durante a atividade e pela disposição
dos praticantes.
Introdução aos Esportes Individuais | UNIDADE 1
6 Prática docente nos esportes individuais Prática Docente nos Esportes Individuais | PARTE 1 15

O ensino dessa modalidade pode ocorrer tanto no âmbito educacional


quanto esportivo. Na primeira modalidade, os exercícios são mais formativos,
com o objetivo de que todos pratiquem com a aula desenvolvida no período
de educação física como preparação corpórea, sem exigir um alto padrão
técnico no movimento (VANCINI et al., 2015). No caso da ginástica para
fins esportivos, os exercícios buscam o caráter competitivo a partir de atletas
devidamente selecionados com as aulas, visando a treinos específicos para
cada modalidade conforme as regras que exigem o movimento perfeito.
Sobre a metodologia de ensino, Nista-Picollo (2004, p. 32) sugere a partir
do método desenvolvimentista:

A GA é composta por elementos considerados fundamentais para o desenvolvi-


mento motor do ser humano, tais como o rolar, o equilibrar-se, o saltar, o girar,
entre muitos outros. Aprender a executá-los, combinando-os em sequência de
movimentos, facilita o aprimoramento das capacidades físicas mais complexas
e amplia as possibilidades de desempenho de habilidades motoras.

O autor ainda aponta que o professor deve se atentar ao que o aluno já


conhece sobre o movimento, saber o que ele faz com maior facilidade, o seu
nível de motivação para realizar a tarefa, proporcionar um ambiente favorável
e conhecer os métodos facilitadores para o ensino da aprendizagem técnica,
podendo fazer uso do lúdico (NISTA-PICOLLO, 2004). Também é importante
que, após aprender um movimento, o aluno consiga associá-lo a um novo.
Vancini et al. (2015) sugerem que os padrões básicos de movimento são
excelentes formas de ensinar a ginástica artística, pois promovem o desen-
volvimento de habilidades para as demais práticas motoras, no esporte e no
cotidiano, estimulando o domínio do próprio corpo. Por esse método, o con-
teúdo se divide em aterrisagens, deslocamentos, saltos e balanços. Os autores
sugerem que as atividades com maior grau de dificuldade sejam ensinadas por
partes, por questões de segurança, incentivando o aluno para que ele tenha
uma preparação psicológica para realizar a tarefa.
O atletismo compreende uma modalidade que, durante o ensino-aprendi-
zagem, precisa ser adequada pelo professor, pois são raras as pistas para sua
realização no Brasil, o que não deve, entretanto, desestimular a sua prática.
Entre as possibilidades de metodologia para o ensino do atletismo, Mat-
thiesen (2005) apresenta a proposta da divisão por provas, em que o professor
começaria pelas corridas rasas, meio fundo e fundo, seguindo com as barreiras,
os saltos (distância, triplo, vara e altura), os lançamentos (dardo, martelo e
disco) e o arremesso de peso.
16 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS

Prática docente nos esportes individuais 7

Cabe lembrar, que, embora a maioria de suas provas seja individual, o atletismo também
abrange uma prova coletiva: as corridas de revezamento, nas quais cada atleta corre
determinado trecho da prova e entrega o bastão para que o colega siga na competição.

Matthiesen (2005) afirma que o professor de educação física também


pode trabalhar a partir de atividades recreativas, a partir do conhecimento
geral sobre as habilidades motoras e o conhecimento específico das provas
oficiais. Em consonância com a idade dos estudantes, Pierre e Huber (2013)
apontam que o atletismo deve ser trabalhado dentro da escola de maneira lúdica
fazendo com que as crianças conheçam e adquiram gosto pela modalidade,
que contribuirá para a aquisição de gestos e habilidades motoras fundamentais
para o desenvolvimento das crianças.
Oliveira (2006) sugere que uma das formas de ensinar o atletismo desde as
séries iniciais se dá pelo uso do jogo adaptado, que promove a compreensão do
esporte, com a possibilidade de adaptar materiais, modificar regras, reduzir a
distância, diminuir alturas, variar pesos e usar brincadeiras, a fim de permitir
a realização do atletismo por todas as faixas etárias.
A autora ainda sugere que caso o professor, caso não disponha dos materiais
necessários, construa materiais alternativos, com produtos recicláveis e da
natureza como matéria-prima: dardos podem ser feitos a partir de cabos de
vassoura; blocos de partida a partir de tocos de madeira; o peso de bolas de
areia; os discos com tampas de panela; os saltos podem ser feitos em colchões;
etc. Cabe ressaltar que o atletismo pode ser trabalhado a partir de brincadeiras,
como estafeta, pega-pega e histórias que estimulem os alunos a saltar e lançar.
A seguir, analisaremos o esporte individual e seu papel na cultura corporal
de movimento.

Esportes individuais e a cultura corporal


de movimento
Neste último tópico, abordaremos o papel dos esportes individuais na inves-
tigação da cultura corporal do movimento, contudo cabe ressaltar que muitas
vezes esses esportes ganham espaço menor nas aulas de educação física pelo
Introdução aos Esportes Individuais | UNIDADE 1
8 Prática docente nos esportes individuais Prática Docente nos Esportes Individuais | PARTE 1 17

fato de envolverem menos participantes, o que não deve desencorajar o seu


ensino, pois promoverão benefícios importantes aos praticantes.
Segundo Betti e Zuliani (2002), as aulas de educação física devem oferecer
conteúdos e organizar estratégias que permitam a participação de todos os
alunos, já que, diferentemente do esporte profissional, seu objetivo consiste
em fazer com que os alunos desenvolvam todas as suas potencialidades.
Esses conteúdos devem ter relação com a cultura corporal do movimento:

A cultura corporal enquanto fenômeno educativo vai relacionar os valores e


finalidades que se visualizam na Educação Física, onde os objetivos dela se
orientarão não diretamente para o corpo, mas indiretamente, por meio da ação
sobre a personalidade (os motivos, as atitudes, o comportamento, intelecto,
vontade e emoção). Assim formaremos cidadãos mais críticos que vão usufruir,
partilhar, produzir, reproduzir e transformar as formas culturais da atividade
física (ALEXANDRE; KOFAHL; SANTANA, 2009, documento on-line).

Os esportes individuais apresentam elementos que os diversificam e pos-


sibilitam trabalhar essa cultura corporal de modo diferente, até mesmo sobre
a própria visão da individualidade, a partir da promoção de discussões e
confrontações com os aspectos do esporte coletivo, como o trabalho em equipe
e a cooperação, sem necessariamente apontar que um é melhor que o outro
ou reforçar suas características, mas sim propor aquilo de que cada atleta
necessita para obter sucesso na modalidade.
Nos esportes individuais, o professor pode explorar a idade da cultura
corporal a partir da visão dos alunos, que têm estruturas diferenciadas. Fon-
seca (2014) aponta que o atletismo traz, em sua essência, movimentos básicos
presentes na vida do homem desde a pré-história até os tempos atuais, como
correr, saltar, lançar, arremessar, etc.
Dessa maneira, apresentar a evolução histórica dessas ações e como foram
modificadas pelo tempo e pelas regras do próprio esporte pode levar a impor-
tantes reflexões críticas ao aluno sobre a constituição histórico-cultural pela
qual passaram os povos e a influência sofrida pelo esporte com novas regras
e maneiras de praticar a modalidade.
Por exemplo, podemos considerar as mudanças ocorridas no salto em altura,
que começou com a técnica chamada tesoura, depois a técnica rolo ventral
até chegar ao fosbury flop utilizada hoje, as quais afetaram a modalidade em
busca de preciosos centímetros para vencer a prova.
18 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS
Prática docente nos esportes individuais 9

Fonseca (2014) afirma que aprender as técnicas do atletismo desenvolve no


aluno capacidades motoras como força, velocidade, resistência, coordenação
motora e flexibilidade, a partir da promoção da saúde e do desenvolvimento
da personalidade, do sistema cardiovascular e nervoso, além de superar o apelo
ao rendimento esportivo. Visto desse modo, esse esporte promove benefícios
práticos, cuja discussão s pode se tornar um importante elemento da cultura
corporal.
A ginástica também compreende um esporte que permite uma expressiva
análise sobre a cultura corporal do movimento, visto que sua ligação com esse
conteúdo é significativa desde o período pré-histórico, tal como o atletismo.
Essa modalidade permite uma ampla reflexão, pois está presente em vários
momentos da aula, como aquecimento, alongamento, consciência corporal e,
evidentemente, nos elementos corporais já descritos nesta unidade, os quais
têm funções diferentes quando abordados na ginástica artística e na rítmica.

Conheça um pouco mais sobre as ginásticas artística e rítmica acessando o link a seguir.

https://qrgo.page.link/Lk8Nh

Fonseca (2014) descreve outros esportes individuais como parte da cultura


corporal de movimento, como o tênis, que favorece o desenvolvimento de:

[...] habilidades como correr, saltar, arremessar, receber, equilibrar objetos,


equilibrar-se, desequilibrar-se, quicar bolas, bater e rebater, além de ter acesso
aos objetos como bolas, cordas, alvos, bastões, raquetes sendo vivenciados
em situações não competitivas que garantam espaço e tempo para o trabalho
individual [...] (FONSECA, 2014, p. 24).

O tênis também é um esporte histórico, incialmente praticado apenas


pela elite até ganhar apelos mais populares, o que permite analisar a cultura
que o envolve e suas transformações ao longo do tempo. Igualmente, o tênis
de mesa desenvolve a destreza, a coordenação, a precisão gestual e a veloci-
dade de execução e reação, e, no domínio cognitivo, a tomada de decisão, a
antecipação, a apreciação de trajetórias, a análise do jogo e a elaboração de
Introdução aos Esportes Individuais | UNIDADE 1
10 Prática docente nos esportes individuais Prática Docente nos Esportes Individuais | PARTE 1 19

uma estratégia (COSTA, 2013 apud FONSECA, 2014). Essa modalidade é


bastante motivadora por ser simples e de fácil aprendizado, além de passível
de improvisação nas aulas.
Seguindo a linha de esportes com rede, temos o badminton, igualmente
rápido e que exige agilidade na execução de movimentos, além de trabalhar
a percepção temporal e espacial. Esse esporte pode ser analisado a partir de
um esporte tipicamente nacional, criado pelos indígenas: a peteca. Comparar
essas duas modalidades e como elas influenciam a cultura representa um
dever das aulas de educação física, fazendo com que o aluno compreenda
esse processo histórico-cultural.
Para terminar essa breve análise de esportes individuais com a cultura
corporal de movimento, podemos pensar em uma das modalidades mais
populares atualmente, o ciclismo, que, além dos benefícios supracitados,
pode ser analisado em relação às questões ambientais e à sustentabilidade,
já que o incentivo a essa prática visa a reduzir o efeito poluentes de veículos
de passeio. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), o tema
meio ambiente é considerado transversal, devendo ser trabalhado por todas
as disciplinas, incluindo a educação física.
Sobre os esportes individuais na escola, podemos refletir que:

Existe consciência de que a principal fonte dos recursos humanos para o


desporto está na Escola, daí a necessidade de que a Escola ofereça um grande
número de atividades e alternativas de esportes. Devemos pensar que cada
uma das diferentes modalidades possui características próprias, com exigên-
cias específicas para seus praticantes. Isso significa que os atributos para ser
bem-sucedido numa modalidade esportiva podem ser encontrados na própria
vivência e não na prática, já que quem pratica definiu a sua modalidade, e
podem existir poucas chances que possua os atributos necessários para ser bem
sucedido nela (PÉREZ GALLARDO, 2003, p. 9 apud FONSECA, 2014, p. 25).

Em resumo, os esportes individuais são marcados pela atuação isolada do


aluno/atleta, sem a colaboração de um colega, durante toda a ação esportiva,
podendo ser classificados em jogos individuais em que não há interação com o
oponente (esportes de marca, estéticos ou de precisão) e em que há a interação
com o oponente (esportes de combate ou luta, de campo e taco ou de rede).
20 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Prática docente nos esportes individuais 11

Do ponto de vista metodológico, em razão de suas especificidades, trata-


-se de um processo de ensino-aprendizagem diferenciado, por não haver um
método generalizante que os abranja integralmente, estando voltado, nesse
caso, ao rendimento do aluno/atleta a partir da técnica, com ênfase nos gestos
motores relacionados aos fundamentos e às habilidades específicas motoras
da modalidade em questão.
Desse modo, os elementos dos esportes individuais possibilitam trabalhar
essa cultura corporal de modo diferente, com a abordagem de temas como
a própria visão da individualidade, a partir de discussões e confrontações
com os aspectos do esporte coletivo, como trabalho em equipe e cooperação,
além da exploração da idade de cultura corporal sob a visão de cada um dos
alunos. Entre esses esportes, como já visto, estão os movimentos básicos do
atletismo, o tênis e suas transformações ao longo do tempo, a relação entre o
badminton e a peteca e o ciclismo como um meio sustentável.

ALEXANDRE, A. A.; KOFAHL, A. L. C.; SANTANA, B. E. Esportes coletivos na perspectiva


da cultura corporal: uma proposta pedagógica. EFDeportes.com: Revista Digital, Buenos
Aires, 14, n. 137, 2009. Disponível em: https://www.efdeportes.com/efd137/esportes-
-coletivos-na-perpectiva-da-cultura-corporal.htm. Acesso em: 06 jan. 2020.
BETTI, M.; ZULIANI, L. R. Educação Física escolar: uma proposta de diretrizes pedagó-
gicas. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 73–81, 2002.
FERREIRA, V. Educação física: recreação, jogos e desporto. 3. ed. Rio de Janeiro: Sprint,
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FONSECA, S. S. Educação física escolar e os esportes individuais: entre a realidade e as
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Disponível em: http://sites.uem.br/crv/educacao-fisica/trabalhos-de-conclusao-de-
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GREGO, P.; ROMERO, R.; FERNANDEZ, J. Manual de handebol: da iniciação ao alto nível.
São Paulo: Phorte, 2012.
MATTHIESEN, S. Q. Atletismo se aprende na escola. Jundiaí: Fontoura, 2005.
Introdução aos Esportes Individuais | UNIDADE 1
Prática Docente nos Esportes Individuais | PARTE 1 21
12 Prática docente nos esportes individuais

MONTEIRO, A. As modalidades esportivas e os jogos no âmbito escolar. 2011. Disponível


em: http://www.saosebastiao.sp.gov.br/ef/pages/cultura/esportes/esportes_indivi-
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Acesso em: 06 jan. 2020.
NISTA-PICCOLO, V. L. Pedagogia da ginástica artística. In: NUNOMURA, M.; NISTA-
-PICCOLO, V. L. (org.). Compreendendo a ginástica artística. São Paulo: Phorte, 2004.
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PIERI, A.; HUBER, M. P. A utilização do atletismo na educação física escolar como base
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-fisica-escolar.htm. Acesso em: 06 jan. 2020.
VANCINI, R. et al. A pedagogia do ensino das modalidades esportivas coletivas e indi-
viduais: um ensaio teórico. Conexões, Campinas, v. 13, n. 4, p. 137–154, 2015. Disponível
em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/conexoes/article/view/8643437.
Acesos em 18 dez. 2019.

Leituras recomendadas
BENVEGNÚ JÚNIOR, A. E. Educação física escolar no Brasil e seus resquícios históricos.
Revista de Educação do IDEAU, [s. l.], v. 6, n. 13, 2011. Disponível em: https://www.bage.
ideau.com.br/wp-content/files_mf/c6c2c313da7798b65af08ed1f95e79de151_1.pdf.
Acesso em: 06 jan. 2020.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros
curriculares nacionais: educação física. Brasília: MEC, 1997.
TUBINO, M. J. G. Dimensões sociais do esporte. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2001.

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cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a
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unidade

1
V.1 | 2022

Parte 2
Introdução ao Atletismo

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24 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS

Introdução ao atletismo
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Descrever a origem e a evolução do atletismo enquanto modalidade


esportiva.
 Identificar as diferentes modalidades que compõem o escopo do
atletismo.
 Relacionar a exigência física e os gestos motores do atletismo com
as diferentes modalidades esportivas.

Introdução

O atletismo é uma das modalidades esportivas mais antigas de que se tem co-
nhecimento. Essa modalidade evoluiu de movimentos que estavam associados
à própria sobrevivência do ser humano, como se locomover de um lugar para
outro, fugir, subir em árvores e saltar ou lançar objetos para caçar, resultando
em práticas como correr, saltar, lançar e arremessar.
O atletismo como esporte tem como objetivo avaliar as ações motoras de
correr, saltar, lançar e arremessar, verificando quais são os melhores atletas
para cada ação. Normalmente, o melhor corredor não será o melhor saltador,
uma vez que essas ações motoras específicas também acabam exigindo ca-
pacidades físicas específicas. Os resultados das competições são dados por
medidas de tempo e distância, sendo campeões o mais rápido, quem dá o
maior salto e quem lança mais longe.
Neste capítulo, você vai estudar as principais características históricas
e evolutivas do atletismo, as diversas modalidades, tanto em pista como em
campo, bem como as principais capacidades físicas que são exigidas e que
podem ser desenvolvidas nessa modalidade.
Introdução aos Esportes Individuais | UNIDADE 1
Introdução ao Atletismo | PARTE 2 25
2 Introdução ao atletismo

Origem e evolução do atletismo enquanto


modalidade esportiva
O atletismo é um dos esportes mais antigos e populares de que se tem co-
nhecimento, e a sua história se confunde com a dos próprios jogos olímpicos.
O homem, ao contar sua história, primeiro com as pinturas em cavernas e
depois com a escrita, deixou registros das primeiras competições. Há registros
de disputas que remontam há, pelo menos, 5 mil anos, segundo a Confederação
Brasileira de Atletismo (CBAt) (CONFEDERAÇÃO..., c2019).
Ainda conforme a CBAt (c2019), nos Jogos Olímpicos da Antiguidade,
mais especificamente na Grécia, em 776 a.C., foi disputada uma única prova
chamada de stadium, que consistia em uma corrida de aproximadamente
200 metros. Outras provas do atletismo foram sendo acrescentadas, como
o lançamento do disco, o lançamento do dardo, o salto em distância e, mais
tarde, as lutas e provas equestres. As corridas de rua ou pedestrianismo são
provas que ocorrem fora do estádio de atletismo, e há registros delas desde a
Antiguidade, com provas na China, no Egito e na Grécia.
No final do século XIX, o pedagogo francês Pierre de Coubertin, também
conhecido como Barão de Coubertin, recebeu do governo a tarefa de criar
um programa educacional para as escolas, momento em que percebeu a im-
portância de também desenvolver o corpo e o espírito, associando o esporte
à educação. Ele viu florescerem as corridas cross country, eventos de pista
e campo, tornando-se um dos principais responsáveis pelo surgimento dos
jogos olímpicos da atualidade.
A primeira olimpíada da era contemporânea foi realizada em Atenas,
na Grécia, em uma tentativa de resgate dos jogos antigos. Participaram dos
jogos 313 atletas, mas apenas homens, dos quais aproximadamente um terço
eram do atletismo, demonstrando, assim, a importância da modalidade. O
atletismo contou com um programa composto por 12 provas: 100, 400, 800 e
1.500 metros rasos, 110 metros com barreiras, maratona, salto em distância e
triplo, salto em altura e com vara, arremesso de peso e lançamento do disco.
As mulheres estrearam no atletismo apenas nos Jogos de Amsterdã, em 1928.
Com o passar dos anos, outras provas foram sendo incorporadas às com-
petições de atletismo, assim como algumas técnicas foram evoluindo, para
trazer também mais segurança aos participantes. Por exemplo, as provas de
saltos verticais (salto em altura e distância) não possuíam colchões para a queda
após o salto — os atletas caíam na caixa de areia ou na grama. Nas provas
de velocidade, não havia blocos de partidas — os atletas, com o uso de uma
26 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Introdução ao atletismo 3

pequena pá, cavavam um buraco na pista para apoiar os pés. Mais tarde, as
pistas passaram a ser de piso emborrachado, e surgiram os blocos de partida.

Muitos heróis do atletismo surgiram ao longo dos anos, como: Paavo Nurmi, que
dominou as provas de 1.500 a 10.000 metros; Emil Zatopek, conhecido como a loco-
motiva humana, que venceu os 5.000 e 10.000 metros e a maratona em uma mesma
edição dos Jogos; e Jesse Owens, que ganhou quatro medalhas de ouro nos Jogos
de Berlim em 1936, derrubando o mito da superioridade da raça ariana, entre outros
(CONFEDERAÇÃO..., c2019).

Segundo Matthiesen (2007), os primeiros registros de competições no


Brasil remontam a 1910. Em 1912, foi criada a Associação Internacional de
Federações de Atletismo, que regulamenta as regras do esporte no mundo.
A primeira participação de uma equipe brasileira em olimpíadas ocorreu em
1924, nos Jogos de Paris, na França. A Corrida de São Silvestre, uma das
provas de pedestrianismo (corrida de rua) mais importantes do país, surgiu em
1925. A CBAt, que regulamenta e rege o esporte no Brasil, surgiu em 1977.
Os primeiros brasileiros a ganharem medalhas no atletismo nas olimpíadas
foram Adhemar Ferreira da Silva, que ganhou ouro no salto triplo, e José
Telles da Conceição, que foi bronze no salto em altura, ambos em 1952, em
Helsinque, na Finlândia. Adhemar voltou a ganhar a prova do salto triplo em
Melbourne, quatro anos depois. Nelson Prudêncio foi prata no México, em
1968, e bronze em Munique, em 1972, também na prova de salto triplo. João
Carlos de Oliveira, conhecido como “João do Pulo”, foi bronze em Montreal,
em 1976, e em Moscou, em 1980. Dessa forma, o Brasil se tornou uma das
referências mundiais no salto triplo.
Os eventos mais conhecidos do atletismo são as olimpíadas e o campeonato
mundial de atletismo. No entanto, provas de pedestrianismo, como marato-
nas, também se destacam. Algumas regulamentações foram ajustadas para
garantir a igualdade entre os competidores e dar segurança aos participantes,
possibilitando a homologação de recordes. Assim, quando um atleta compete
em determinado lugar do planeta, seu resultado pode ser comparado com
outros. Por exemplo, as dimensões da pista passaram a ser padronizadas,
Introdução aos Esportes Individuais | UNIDADE 1
4 Introdução ao atletismo Introdução ao Atletismo | PARTE 2 27

como a largura das raias, o raio da curva, assim como a forma de medição
tanto de tempo como de distância. Além disso, questões ambientais, como
a velocidade do vento, podem influenciar um recorde mundial, por isso são
controlados. Ainda, os atletas devem manter condutas esportivas, sem que
prejudiquem o desempenho de outros competidores.
O atletismo é um esporte importante para a formação básica na escola,
visto que seus gestos contribuem para a construção motora de diversos movi-
mentos esportivos. Além disso, é um esporte composto por regras simples, o
que facilita sua compreensão e participação. É classificado como um esporte
de marcas, pois são realizadas medidas de tempo e distância; assim, vence
quem corre mais rápido, salta mais longe ou mais alto, lança ou arremessa
mais longe. Essa simplicidade pode ser também percebida pela necessidade
de poucos acessórios ou equipamentos para sua prática, muitos deles podendo
ser improvisados para sua iniciação. Além disso, para correr, basta um simples
par de tênis, o que colabora ainda mais para a popularidade do esporte.

No link a seguir, você encontra uma breve evolução histórica das provas de atletismo
tanto masculinas quanto femininas.

https://qrgo.page.link/Q1J41

Como visto, o atletismo se desenvolveu desde os primórdios do homem


pré-histórico até os tempos atuais, sofrendo uma série de mudanças e variações
em suas estruturas até a organização complexa que se tem hoje. É sobre as
provas que compõem o atletismo atualmente que vamos tratar na próxima seção.

As diferentes modalidades que compõem


o escopo do atletismo
Segundo a CBAt (c2019), o atletismo está basicamente dividido em provas de
campo, que são formadas pelas provas de saltos, arremessos e lançamentos, e
provas de pista, que são as provas de corridas. Existem as provas combina-
28 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Introdução ao atletismo 5

das, que são formadas tanto por provas de campo como por provas de pista.
Também existem as provas de pedestrianismo, que ocorrem nas ruas, entre
elas a maratona (42,195 km), e as provas de marcha atlética de 20 km, para
homens e mulheres, e de 50 km, apenas para homens.
O Quadro 1 apresenta um resumo das provas oficiais de pista, de campo
e combinadas.

Quadro 1. Provas oficiais de atletismo

Provas de pista

Rasas 100 m, 200 m e 400 m Velocidade

800 m e 1.500 m Meio-fundo

5.000 m e 10.000 m Fundo

Barreiras 100 m (feminino), 110 m (masculino) e 400 m

Obstáculos 3.000 m

Revezamentos 4 × 100 m e 4 × 400 m

Provas de campo

Saltos Saltos em distância, triplo, em altura e com vara

Arremessos Arremesso de peso

Lançamentos Disco, martelo e dardo

Provas combinadas

Decathlon Dia 1: 100 metros rasos, salto em distância,


arremesso de peso, salto em altura e 400 metros
rasos
Dia 2: 110 metros com barreiras, lançamento do
disco, salto com vara, lançamento do dardo e 1.500
metros rasos

Heptathlon Dia 1: 100 metros com barreiras, salto em altura,


arremesso de peso e 200 metros rasos
Dia 2: salto em distância, lançamento do dardo
e 800 metros rasos

Fonte: Adaptado de Confederação... (c2019).


Introdução aos Esportes Individuais | UNIDADE 1
6 Introdução ao atletismo Introdução ao Atletismo | PARTE 2 29

Provas de pista
As provas de pista ocorrem no estádio de atletismo, na pista de corrida, que
possui a distância de 400 metros medidos na raia interna e é formada nor-
malmente por oito raias. Algumas provas ocorrem na reta, como é o caso dos
100 metros rasos e dos 110 metros com barreiras. Já outras provas ocorrem
utilizando as curvas. Nesse caso, para compensar a diferença entre quem
larga na raia interna e quem larga na raia externa, são utilizadas as largadas
escalonadas; assim, o atleta que está na raia externa larga um pouco à frente
para compensar a corrida na curva e realizar o mesmo percurso de quem está
na raia interna, conforme descreve a CBAt (CBAT; IAFF, 2017).
As provas de corrida no atletismo são diferentes não apenas pela distância
a ser percorrida, mas também por possuírem particularidades, podendo variar
nos seguintes aspectos:

 ser individual ou coletiva;


 ser balizada ou não;
 tipo de saída;
 ser rasa ou com obstáculo;
 ritmo executado.

As provas balizadas, em sua definição segundo Fernandes (2003), são aquelas


provas em que o atleta larga em uma raia predeterminada, mas não necessa-
riamente permanece naquela raia até o fim da prova. Portanto, algumas provas
podem ser consideradas totalmente balizadas, em que o atleta inicia e termina
a prova na mesma raia, ou parcialmente balizadas, em que o atleta apenas inicia
na raia predeterminada, mas não termina necessariamente na mesma. Normal-
mente, as provas balizadas possuem um percurso mais curto. São exemplos de
provas totalmente balizadas: 100, 200 e 400 metros rasos, 100, 110 e 400 metros
com barreiras e revezamento 4 × 100 metros rasos. São exemplos de provas
parcialmente balizadas: 800 metros rasos e revezamento 4 × 400 metros rasos.
Já as provas não balizadas, também segundo Fernandes (2003), são aquelas
em que o atleta corre sem se preocupar com as raias e normalmente se posiciona
na raia interna; é comum encontrar mais de um atleta na mesma raia. Essas
provas também possuem um percurso mais longo. São exemplos de provas não
balizadas: 1.500, 5.000 e 10.000 metros rasos e 3.000 metros com obstáculos.
As provas também podem se diferenciar entre rasas ou com obstáculos. Nas
provas rasas, o atleta não tem nenhum obstáculo à sua frente. Já as provas com
obstáculos podem ser do tipo com barreira ou com obstáculos. As provas com
30 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Introdução ao atletismo 7

barreiras apresentam um percurso mais curto, como as provas de velocidade,


em que são posicionadas 10 barreiras ao longo do percurso; essas barreiras
variam de altura, de acordo com a prova e o sexo. Já as provas de obstáculos
possuem distâncias maiores; são posicionados quatro obstáculos e um fosso
de água, e a altura desses obstáculos também varia entre homens (0,91 m) e
mulheres (0,76 m), conforme aponta a CBAt (CBAT; IAFF, 2017). A Figura
1 mostra as diferenças entre as provas com obstáculos.

Figura 1. Nas figuras, é possível observar a diferença entre (a) barreira, (b) fosso e (c) obstá-
culo. As alturas das barreiras variam de acordo com a prova: 110 metros (1,07 m), 400 metros
masculino (0,91 m), 100 metros (0,84 m) e 400 metros feminino (0,76 m).
Fonte: (a) CWG 14... (2014, documento on-line); (b) The daily dose (2017, document on-line); (c) Pecher
(2007, documento on-line).

O tipo de saída também é diferente, dependendo do tipo de prova, sendo


classificadas como saídas do tipo baixa ou alta. As saídas altas são utilizadas
em provas com percursos mais longos, como 800 m, 1500 m, 5.000 m e 10.000
m rasos e 3.000 m com obstáculos. Já as saídas baixas são realizadas em quatro
apoios, com auxílio do bloco de partida; são utilizadas nas provas com percurso
mais curto, como 100 m, 200 m e 400 m rasos, provas de barreiras e revezamentos.
Introdução aos Esportes Individuais | UNIDADE 1
8 Introdução ao atletismo Introdução ao Atletismo | PARTE 2 31

Provas de campo
As provas de campo ocorrem normalmente na parte interna da pista de corrida,
principalmente as provas de arremessos e lançamentos, podendo algumas
provas ocorrer no entorno da pista, como é o caso do salto em distância e triplo,
mas tudo isso depende do estádio de atletismo. Os locais possuem algumas
características específicas, segundo as regras da CBAt (CBAT, IAFF, 2017).

 Salto em distância: tem como objetivo atingir a maior distância com


apenas uma impulsão. Para tanto, o atleta tem uma área para realizar
uma corrida para ganhar velocidade, denominada corrida de aceleração,
e depois, utilizando uma tábua de madeira posicionada no nível do solo,
realiza um impulso com apenas um dos pés, aterrissando em uma área
de areia. Cada atleta tem direito a três saltos; caso avance para a final,
terá direito a mais três saltos, sendo válido o melhor dos seis saltos para
a sua classificação final.
 Salto triplo: tem como objetivo atingir a maior distância com três im-
pulsões com as pernas direita, direita e esquerda ou esquerda, esquerda
e direita. Para tanto, o atleta tem uma área para realizar a corrida de
aceleração; depois, utilizando uma tábua de madeira posicionada no
nível do solo, realiza a primeira impulsão. Há uma área maior para
serem realizadas as outras duas impulsões, antes de o atleta aterrissar
na área de areia. Cada atleta tem direito a três saltos; caso avance para
a final, terá direito a mais três saltos, sendo válido o melhor dos seis
saltos para a sua classificação final.
 Salto em altura: tem como objetivo atingir a maior altura com apenas
uma impulsão, sendo a mesma realizada apenas com uma perna. Possui
uma área semicircular para realizar a corrida de aceleração; durante a
prova, os atletas acabam utilizando também uma parte da pista de corrida
para iniciar a corrida de aceleração. O salto é realizado sobre uma haste,
denominada sarrafo, que é posicionada em uma altura predeterminada,
o qual pode ser tocado, mas não pode ser derrubado. O sarrafo vai
sendo elevado a cada rodada, sendo que o atleta pode recusar-se a saltar
qualquer rodada; porém, três saltos sem êxito consecutivos eliminam
o atleta da prova.
 Salto com vara: tem como objetivo realizar o salto com auxílio de
uma vara, normalmente de fibra de vidro. Para tanto, o atleta realiza
uma corrida de aceleração e encaixa a vara no solo. Assim como no
salto em altura, o salto é realizado sobre o sarrafo, que é posicionado
32 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS
Introdução ao atletismo 9

em uma altura predeterminada, sendo elevado a cada rodada. O atleta


pode recusar-se a saltar qualquer rodada, porém, três saltos sem êxito
consecutivos eliminam o atleta da prova.
 Lançamento do disco: tem como objetivo lançar um disco (Figura 2a) de
2 kg, para homens, e 1 kg, para mulheres. O atleta tem uma área circular
de 2,5 metros de diâmetro, onde pode realizar um deslocamento para criar
uma aceleração e depois lançar o disco, utilizando apenas uma das mãos.
Em torno desse círculo, há uma grade de proteção, para segurança. O disco
normalmente é lançado em um gramado. A distância é considerada onde
o disco tocar o solo primeiro. Cada atleta tem direito a três lançamentos;
caso avance para a final, terá direito a mais três, sendo válido o melhor
dos seis lançamentos para a sua classificação final.
 Lançamento do dardo: tem como objetivo lançar um dardo (Figura
2b) de 800 g, para homens, e 600 g, para mulheres. O atleta tem uma
área para correr, onde pode realizar um deslocamento para criar uma
aceleração e depois lançar o dardo, utilizando apenas uma das mãos.
Essa área também acaba utilizando uma parte da pista de corrida.
O dardo é lançado no gramado, não precisando fincar, apenas tocar
o solo com a ponta. A distância é considerada onde a ponta do dardo
tocar o solo primeiro. Cada atleta tem direito a três lançamentos; caso
avance para a final, terá direito a mais três, sendo válido o melhor dos
seis lançamentos para a sua classificação final.
 Lançamento do martelo: tem como objetivo lançar um martelo (Figura
2c), que é formado por uma bola de ferro de 7,26 kg, para homens, e de
4 kg, para mulheres, seguido de uma haste metálica e uma manopla,
onde o atleta apoia as duas mãos. O atleta tem uma área circular de
2,13 metros de diâmetro, onde pode realizar um deslocamento para
criar uma aceleração e, depois, lançar o martelo, utilizando as duas
mãos. Em torno desse círculo, assim como no lançamento do disco,
há uma grade de proteção, para segurança. O martelo normalmente é
lançado em um gramado. A distância é considerada onde o martelo
tocar o solo primeiro. Cada atleta tem direito a três lançamentos; caso
avance para a final terá direito a mais três, sendo válido o melhor dos
seis lançamentos para a sua classificação final.
 Arremesso de peso: tem como objetivo arremessar um peso (Figura 2d),
que é uma bola de metal com 7,2 kg, para homens, e 4 kg, para mulheres.
O atleta tem uma área circular de 2,13 metros de diâmetro, onde pode
realizar um deslocamento para criar uma aceleração e depois arremessar
o peso, utilizando apenas uma das mãos. Há também um pequeno degrau
Introdução aos Esportes Individuais | UNIDADE 1
10 Introdução ao atletismo Introdução ao Atletismo | PARTE 2 33

que separa a área de aceleração da área de queda, denominado anteparo.


O peso normalmente é arremessado em um gramado, e a distância é
medida até o local onde o peso tocar o solo primeiro. Cada atleta tem
direito a três arremessos; caso avance para a final, terá direito a mais três,
sendo válido o melhor dos seis arremessos para a sua classificação final.

Figura 2. Nas figuras, é possível observar os quatro implementos utilizados nas provas de
arremessos e lançamentos: (a) discos; (b) dardo; (c) martelo; (d) peso. Os pesos dos objetos
variam entre homens e mulheres.
Fonte: (a) wavebreakmedia/Shutterstock.com; (b) Papa Annur/Shutterstock.com (c); Jim Parkin/Shut-
terstock.com; (d) Mark Herreid/Shutterstock.com.

O programa de provas olímpicas atual conta com 47 provas de atletismo, sendo 24


provas masculinas e 23 provas femininas. Portanto, cada competição de atletismo possui
um programa de provas específico. Algumas provas não constam no programa de
provas olímpicas, como é o caso da milha (1.605 m), mas possuem recordes mundiais.
As provas de pedestrianismo, como a maratona, são chamadas de melhor marca, pois,
como ocorrem com condições variadas na altimetria do percurso, algumas provas
possuem um percurso favorável para a obtenção dessas melhores marcas. No entanto,
para que essas marcas sejam homologadas, é necessário que o responsável pela prova
solicite o permit junto à CBAt, no caso das provas realizadas no Brasil.
34 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS
Introdução ao atletismo 11

Provas combinadas
Essas provas combinam tanto provas de pista como provas de campo. Nas
provas combinadas, o atleta realiza diversas provas e, após o resultado de
cada prova, recebe uma pontuação, de acordo com a marca obtida; existe
uma tabela de pontos que regulamenta isso. Vence o atleta que obtiver a
maior pontuação; portanto, uma regularidade nos resultados contribui
muito para o resultado.
Assim, um atleta de provas combinadas deve possuir qualidades que
o destaquem em diversas provas. No entanto, isso acaba sendo difícil de
obter, pois, devido às especificidades de cada prova, várias capacidades
físicas são exigidas. O exemplo mais claro pode ser demonstrado ao se
comparar um atleta de velocidade com um atleta de resistência; são ca-
pacidades físicas totalmente diferentes que precisam ser desenvolvidas.
Portanto, o atleta de provas combinadas acaba sendo conhecido como o
atleta mais completo.

Normalmente, o estádio de atletismo é um local amplo e aberto, sofrendo, assim,


influências climáticas e sendo considerado um ambiente com provas outdoor. Existem
algumas provas que ocorrem em locais menores e fechados — dessa forma, não
sofrem influências ambientais. Essas competições são consideradas indoor. Uma pista
de atletismo indoor possui 200 metros de comprimento; assim, algumas distâncias são
reduzidas em competições indoor. Por exemplo, não temos a prova de 100 metros rasos,
mas, sim, a prova de 60 metros rasos. Algumas provas de campo não são realizadas
indoor devido ao espaço reduzido, como os lançamentos de disco, martelo e dardo.

Como visto, o atletismo possui provas de pista, campo e combinadas, que


apresentam diversas características que as diferenciam. Dessa forma, acabam
exigindo habilidades diferentes, que também podem ser aproveitadas em outros
esportes; esse é o tema que vamos discutir na próxima seção.
Introdução aos Esportes Individuais | UNIDADE 1
12 Introdução ao atletismo
Introdução ao Atletismo | PARTE 2 35

Relação entre a exigência física e os gestos


motores do atletismo e as diferentes
modalidades esportivas
As principais capacidades físicas do atletismo, segundo Rius Sant (1989),
são força, resistência e velocidade, capacidades essas que são amplamente
necessárias em diversos esportes. Assim, atividades para o treinamento ou a
iniciação no atletismo também podem ser aproveitadas em outros esportes.
Por exemplo, para o desenvolvimento da velocidade, pode-se realizar cor-
ridas em curtas distâncias; já para a resistência, usamos corridas com longas
distâncias. Vários esportes, como handebol e futebol, usam essas atividades
com a mesma finalidade: desenvolver velocidade e resistência.
As ações motoras de correr, saltar, lançar ou arremessar também são
amplamente observadas em outros esportes. Por exemplo, durante um jogo
de basquete, um atleta corre atrás da bola, ou salta para pegar a bola no ar ou
bloquear um ataque, em um deslocamento de ataque e defesa, além de precisar
ter percepção espacial para saltar e realizar uma bandeja ou, simplesmente,
arremessar a bola na cesta. Perceba que são todas ações primárias que derivam
do atletismo: correr, saltar e arremessar. Assim, pode-se dizer que o atletismo
é a base para muitos esportes.
Portanto, pode-se analisar que, ao correr, essa corrida pode equivaler a
uma corrida em velocidade ou de resistência, dependendo da intensidade e
duração empregadas. Muitas atividades de iniciação trabalham essa corrida
com deslocamentos curtos; além disso, a corrida é amplamente utilizada para
melhorar a condição cardiorrespiratória e, consequentemente, a resistência
aeróbia. Quando um atleta salta para pegar uma bola ou bloquear um ataque,
pode-se relacionar tal ato a um salto em distância, em que ele realiza a im-
pulsão também com apenas um dos pés, aproveitando, assim, sua velocidade
de deslocamento. Além disso, uma das formas de se desenvolver a potência
no salto em distância é por meio de exercícios pliométricos, que também
são utilizados em outros esportes durante o processo de treinamento, com a
mesma finalidade.
A percepção espacial de saltar até a bandeja também pode ser relacionada
à percepção durante o salto em altura: se o atleta se aproximar demais do
sarrafo, derruba ele na subida; se acabar se afastando demais, acaba não che-
gando até o sarrafo ou derrubando ele na descida. Portanto, o atleta precisa
ter a percepção do ponto certo para fazer a impulsão e passar sem derrubar o
sarrafo. O mesmo ocorre na bandeja: se ele fizer a impulsão antes, acaba não
chegando próximo ao aro da tabela; se fizer a impulsão depois, acaba entrando
36 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Introdução ao atletismo 13

muito embaixo do aro e não conseguindo finalizar o movimento. Assim, o ponto


correto para a impulsão também deve ser percebido. O gesto de arremessar
equivale ao gesto de empurrar algo; assim, quando o atleta faz o arremesso
de peso no atletismo, realiza um gesto semelhante a empurrar a bola.
Assim, o atletismo acaba sendo um esporte que exige diversas capacidades
físicas, o que permite associá-lo a diversos esportes. Assim como em diversos
esportes o biótipo e determinadas capacidades físicas são importantes para o
sucesso e a ótima performance, algumas provas do atletismo também requerem
certas condições físicas, além de contribuírem para o desenvolvimento de
algumas capacidades físicas.

Pode-se observar que, de acordo com a prova realizada, a compleição corporal do


atleta pode ajudar na performance. Por exemplo, em uma prova de 110 metros com
barreiras, o atleta precisa passar por 10 barreiras de 1,07 m cada; se esse atleta tiver
uma estatura de 1,70 m, provavelmente a barreira vai bater quase em seu peito, o que
significa que ele terá que fazer um esforço grande para passar pelas barreiras. Já um
atleta que tenha 1,85 m de altura provavelmente terá mais facilidade para passar a
barreira, devido à sua altura. No entanto, devemos ficar atentos ao comprimento das
pernas, pois algumas pessoas possuem pernas mais compridas e, de certa forma, até
desproporcionais em relação ao tronco, o que favorece o desempenho nessa prática.
Assim, além das capacidades físicas, como força, velocidade e resistência, a constituição
física também favorecerá o desempenho em determinadas provas.

Na sequência, são apresentados alguns atributos físicos necessários para


algumas provas, bem como atributos que podem ser desenvolvidos por meio delas.

Lançamento do disco
Dentre os principais atributos físicos necessários para a prova de lançamento
do disco estão a força e a velocidade, que resultarão na potência do lançamento,
para lançar o disco o mais longe possível. As forças em membros inferiores,
tronco e membros superiores são bem importantes, pois, devido à acelera-
ção na parte final do lançamento, com o disco vindo atrasado em relação à
linha dos ombros e sendo lançado lateralmente, o tronco contribui tanto na
aceleração como na estabilidade do movimento. A falta de estabilidade em
Introdução aos Esportes Individuais | UNIDADE 1
14 Introdução ao atletismo Introdução ao Atletismo | PARTE 2 37

membros inferiores pode desequilibrar o lançamento, prejudicando o ângulo


de saída. Além disso, como o espaço para o deslocamento é restrito, uma
boa mobilidade e agilidade são fundamentais para acelerar o disco antes do
lançamento. Segundo Schmolinsky (1982), uma estatura adequada para iniciar
os treinos seria de 1,75 m para as mulheres e 1,85 m para os homens. O peso,
devido ao volume muscular, pode ficar entre 70 e 75 kg para as mulheres e
entre 95 e 100 kg para os homens.

Gestos como a reposição da bola rapidamente por um goleiro, no futebol, ou o


lançamento com a pegada inglesa, no polo, são muito semelhantes ao gesto do
lançamento do disco.

Lançamento do dardo
No lançamento do dardo, não há um limite máximo para a corrida de aceleração;
dessa forma, há uma área maior para acelerar o dardo antes de ser lançado,
diferentemente dos outros lançamentos. Segundo Barros e Dezem (1990), essa
corrida deve ser progressiva e veloz, mas sem que atrapalhe a coordenação
durante o lançamento. São necessárias uma força explosiva (potência) para o
lançamento, uma boa velocidade para a corrida de aproximação e, principal-
mente, uma boa aceleração nos 30 metros iniciais.
A agilidade é bem importante na mudança da posição do corpo da fase
de aproximação para a fase preparatória, mantendo a velocidade adquirida.
Uma boa mobilidade de ombro permite ao atleta aumentar o tempo da fase de
aceleração antes de lançar o dardo. Os lançadores, de acordo com Schmolinsky
(1982), possuem, de certa forma, uma estatura mediana, com alturas próximas
a 1,75 m para as mulheres e 1,80 m para os homens, com peso aproximado de
70 kg e 90 kg para mulheres e homens, respectivamente.
38 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS

Introdução ao atletismo 15

O lançamento de uma bola ao gol, durante um jogo de handebol, ou um lançamento


no beisebol aproximam-se do gesto de lançar o dardo. A percepção rítmica e a agili-
dade também são fundamentais durante a aproximação e o consequente drible no
adversário.

Lançamento do martelo
A velocidade de aceleração do martelo, de acordo com Schmolinsky (1982), é
fundamental para um bom lançamento, podendo chegar a 27 m/s no momento
do lançamento. Além disso, é uma prova que, devido ao peso do martelo, exige
uma grande força, principalmente nos membros inferiores, bem como uma boa
força explosiva. A força é importante devido à fase final do lançamento, em que
o atleta tem que suportar uma grande carga devido à força centrífuga; por isso,
uma boa força em membros inferiores, costas e mãos é essencial nessa fase.
Essa prova exige uma grande agilidade específica, devido ao complexo
movimento de deslocamento, podendo ser considerada uma das provas mais
difíceis, pois a aceleração de três voltas exige um grande equilíbrio e sentido
de orientação. Também é exigida uma boa mobilidade de ombros, quadril e
coluna vertebral, devido aos movimentos iniciais de aceleração do martelo.

Ao conduzir o martelo com as duas mãos, o gesto fica muito próximo a um passe
no rúgbi; as capacidades físicas de força também contribuem. O equilíbrio adquirido
com os giros contribui nas ações de drible e mudanças de direção rápidas do corpo
em diversos esportes.
Introdução aos Esportes Individuais | UNIDADE 1
16 Introdução ao atletismo Introdução ao Atletismo | PARTE 2 39

Arremesso do peso
Segundo Fernandes (1978), entre as capacidades físicas mais importantes
do arremessador de peso estão a força e a velocidade. Dessa forma, a força
máxima é algo a ser trabalhado durante os treinamentos. Devido à técnica, a
estatura é um fator que pode facilitar o arremesso. A velocidade é outro fator
importante, no intuito de acelerar o peso a ser lançado, facilitando, assim, a
aplicação da força — afinal, a área de aceleração é bem restrita. A velocidade
do peso no momento da saída, segundo Schmolinsky (1982), pode chegar a
aproximadamente 12 m/s. A estatura dos arremessadores está em torno de
1,92 m para os homens e 1,77 m para as mulheres, já o peso, entre 120 kg para
os homens e 86 kg para as mulheres.

O gesto do arremesso, como já exemplificado, assemelha-se ao arremesso no basquete,


que necessita, além de força, também de precisão, pois o peso deve cair dentro da área
de queda; caso contrário, o arremesso não é válido. A precisão pode ser estimulada
durante a iniciação ao arremesso, ao se posicionar alvos para serem atingidos.

Salto em distância
O salto em distância, segundo Barros e Dezzem (1990), é uma das habilidades
mais naturais do ser humano, sendo comumente observada em diversas brin-
cadeiras infantis. Os saltadores em distância precisam de uma boa velocidade.
Segundo Schmolinsky (1982), os saltadores na marca de 8 metros correm os 100
metros rasos em 10,5 segundos, enquanto as mulheres que saltam mais de 6,5
metros correm os mesmos 100 metros em menos de 12 segundos. Dessa forma,
percebe-se que a velocidade é um fator importante para o salto em distância
— não somente a velocidade, mas também a capacidade de aceleração nos
metros iniciais. Uma boa percepção rítmica é importante para a aproximação
até a tábua de impulsão, para que o atleta não perca velocidade e chegue com
o pé corretamente posicionado para o salto. Além disso, é necessário boa
agilidade para conduzir o corpo durante a fase de voo.
40 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Introdução ao atletismo 17

Salto triplo
O salto triplo, segundo Fernandes (1984), tem características parecidas
com as do salto em distância, já que também exige uma boa velocidade
de aproximação dos atletas, mas, principalmente, necessita de uma boa
transferência de energia para os próximos saltos — dessa forma, exige uma
boa força reativa. Portanto, os saltadores precisam de uma força específica,
principalmente na transição do primeiro salto para o segundo, no local onde
o atleta aterrissou e vai gerar o novo impulso, com a mesma perna. Além
disso, é necessário boa coordenação e agilidade, para realizar as trocas de
pernas sem perda de velocidade para realizar o terceiro salto, assim como
uma boa sensibilidade rítmica.
Assim como no salto em distância, esportes que necessitam de percep-
ção rítmica fazem uso dos saltos. Exercícios que desenvolvem a potência
são amplamente utilizados, como saltos sequenciais, estimulando a força
reativa.

Salto em altura
O salto em altura apresentou uma evolução técnica nítida, segundo Barros
e Dezem (1990), pois a passagem sobre o sarrafo inicialmente era realizada
na posição sentada, com o movimento do salto tesoura, e depois evoluiu
para a posição deitada de costas, conhecida como Fosbury fl op, atingindo,
assim, maiores alturas. Entre as capacidades físicas do salto em altura está
a boa capacidade de saltar, ou seja, transformar a energia horizontal em
vertical, para passar determinada altura. Assim, segundo Schmolinsky
(1982), uma boa estatura associada principalmente com um bom compri-
mento de pernas facilita a execução do salto, com os homens chegando
a aproximadamente 1,90 m, e as mulheres, 1,79 m, com pesos de 80 kg,
para os homens, e 66 kg, para as mulheres. A agilidade é fundamental
na coordenação dos movimentos; após a impulsão, ela dará continuidade
ao movimento. Uma boa percepção espaçotemporal vai contribuir para
a aproximação, para realizar a impulsão em um ponto adequado para a
realização do salto e a transposição do sarrafo.
Introdução aos Esportes Individuais | UNIDADE 1
Introdução ao Atletismo | PARTE 2 41
18 Introdução ao atletismo

Assim como nos saltos horizontais, a percepção espacial e rítmica é bem desenvolvida
no salto em altura. Portanto, esportes ou gestos que necessitam dessa habilidade
podem ser estimulados, como o tempo de aproximação para fazer uma bandeja ou
cabecear uma bola.

Salto com vara


Segundo Barros e Dezem (1990), o surgimento e a utilização da vara de fibra
trouxeram mudanças técnicas para o salto, bem como uma grande evolução
nos resultados. Entre as capacidades físicas do saltador, muitas são adquiridas
com o treinamento; no entanto, a pegada é uma capacidade que não tem como
alterar — é o ponto em que o atleta, com os braços estendidos, alcança a vara.
A velocidade de aproximação, em conjunto com o poder de chamada, são
capacidades bem importantes, pois vão converter a velocidade horizontal em
altura ao conseguir uma boa transferência de energia, sendo necessária essa
velocidade para a vara vergar. A chamada é o último impulso antes de deixar
o solo; assim, uma corrida estável e um bom encaixe da vara darão sequência
às próximas fases com sucesso. Na continuação do salto, outra capacidade
importante é a força em membros superiores e no tronco, para a projeção
dos membros inferiores em direção ao sarrafo. Toda essa movimentação do
corpo sobre a vara exige muita agilidade, destreza e equilíbrio. A estatura
média dos saltadores, segundo Schmolinsky (1982), é de cerca de 1,81m, e o
peso, cerca de 73 kg.

O salto com vara é um esporte bastante complexo, com diversas fases que necessitam
de muito equilíbrio e força em membros superiores. Portanto, esportes ginásticos são
amplamente utilizados na preparação física.
42 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Introdução ao atletismo 19

Corridas
As provas de corrida apresentam algumas particularidades fisiológicas rela-
cionadas ao tempo de realização da prova. A velocidade com que uma prova é
concluída está relacionada com o tempo que o atleta demora em sua conclusão.
Porém, de acordo com o tempo de execução de uma determinada prova, as vias
energéticas começam a se esgotar; assim, um atleta não tem a capacidade de
sustentar uma determinada velocidade por muito tempo, devido ao esgotamento
de seus recursos energéticos. Por isso, segundo Schmolinsky (1982), cada prova
tem uma determinada característica de ritmo, que vai priorizar determinada
via energética; conforme o aumento do tempo de duração da prova, há uma
maior contribuição do sistema aeróbio (oxidativo).

Corridas de velocidade
Força, velocidade e resistência de velocidade são atributos físicos importantes
para o desenvolvimento da performance nas corridas de velocidade, sendo
desenvolvidos com exercícios de força gerais e específicos ao gesto em asso-
ciação à velocidade. Segundo Schmolinsky (1982), a força contribui para a
aceleração. A velocidade está associada à rapidez na execução dos movimentos,
que exige uma grande coordenação. A resistência de velocidade é fundamental,
devido à capacidade de sustentar a velocidade, criando adaptações fisiológicas
e atendendo à demanda energética necessária.
Algumas provas são classificadas como velocidade pura, segundo Fer-
nandes (2003), como é o caso dos 100 e 200 metros rasos. Nessas provas,
o objetivo é atingir a velocidade máxima o mais rápido possível e tentar
sustentá-la o máximo possível também. Como são provas mais curtas, usam
predominantemente como via energética o sistema ATP-CP. Portanto, atletas
que tenham um predomínio de fibras do tipo II acabam tendo certa vantagem
nesses tipos de provas; o objetivo com o treino é melhorar as reservas de
ATP-CP. As provas de 100 e 110 metros com barreiras também possuem essa
característica. Além disso, os atletas que competem nessas provas têm como
característica pernas compridas, o que facilita a passagem das barreiras.
Nas provas classificadas como velocidade prolongada, como é o caso dos
400 metros rasos, o atleta tenta sustentar a velocidade máxima por um período
maior; como chegam próximos à velocidade máxima e devido à duração da
prova, acabam priorizando o sistema glicolítico. Portanto, atletas que tenham
um predomínio de fibras do tipo II também acabam tendo certa vantagem
nesses tipos de provas, mas começam a ser mais leves do que os atletas de
Introdução aos Esportes Individuais | UNIDADE 1
20 Introdução ao atletismo Introdução ao Atletismo | PARTE 2 43

velocidade pura. O objetivo com o treino é melhorar o aproveitamento das


reservas glicolíticas, ou seja, tanto o glicogênio muscular como o hepático.
A prova de 400 metros com barreiras também possui essa característica.

Estímulos de corridas curtas são amplamente utilizados no desenvolvimento da veloci-


dade, assim como corridas com sobrecarga também são usadas para o desenvolvimento
específico. Consequentemente, esse tipo de corrida pode ser visto na preparação
física de diversos esportes que envolvem corrida, como futebol, handebol e futebol
americano, principalmente para os atletas que recebem as bolas.

Corridas de resistência
A resistência está relacionada à duração da corrida; quanto maior essa
duração, maior deve ser a resistência ou a capacidade de sustentar um tra-
balho. Cada distância exige um certo grau de intensidade relativa, segundo
Schmolinsky (1982). Assim, quanto maior a distância, maior a contribuição
do sistema aeróbio, e quanto menor a distância, maior a contribuição do
sistema anaeróbio.
Assim, nas provas de meio-fundo, como é o caso dos 800 e 1.500 metros
rasos, ocorre uma cadência no ritmo, mas ainda há estímulos de velocidade,
ocorrendo um equilíbrio entre a resistência e a velocidade. Portanto, ocorre
também um equilíbrio entre o sistema glicolítico e o oxidativo. Assim, atletas
que tenham um equilíbrio de fibras do tipo I e II acabam tendo certa van-
tagem nesses tipos de provas, pois elas também necessitam de velocidade.
O objetivo com o treino é melhorar o aproveitamento das reservas glicolíticas
e oxidativas, melhorando principalmente a capacidade de manter a velocidade
alta usando o sistema oxidativo.
Nas provas de fundo, como é o caso dos 5.000 e 10.000 metros rasos, há
uma exigência maior de resistência; assim, o ritmo também é mais caden-
ciado. Devido à duração da prova, há um predomínio do sistema oxidativo.
Portanto, atletas que tenham um predomínio de fibras do tipo I acabam tendo
certa vantagem nesses tipos de provas. Os objetivos do treino são melhorar
o aproveitamento das reservas oxidativas e aumentar o número de mitocôn-
drias, para maximizar a produção energética com o sistema oxidativo, além
44 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS
Introdução ao atletismo 21

de melhorar a capilarização muscular, permitindo, assim, o fornecimento de


oxigênio às fibras musculares. Os atletas que correm os 3.000 metros com
obstáculos também possuem essas características.

As corridas de resistência, como o próprio nome sugere, acabam sendo utilizadas na


preparação física de outros esportes, para melhorar a condição cardiorrespiratória.
Muitos tentam ainda adaptar as relações de esforço-pausa, para estimular tanto o
condicionamento aeróbio quanto o anaeróbio.

Como foi observado neste capítulo, o atletismo é um dos esportes mais


antigos e está relacionado a capacidades físicas naturais do ser humano. Evoluiu
em suas competições ao longo dos anos com regras que permitiram difundir
o esporte e tornar a disputa mais justa. Além disso, sua aplicação na iniciação
esportiva para o desenvolvimento das capacidades motoras é bem relevante.
Podemos concluir que o atletismo é formado por diversas provas que apre-
sentam características físicas específicas, o que permite a participação de um
público diversificado. Assim, uma pessoa pode experimentar o atletismo e ver
em qual prova ela tem maior destaque ou facilidade, principalmente devido
às suas características físicas.

BARROS, N.; DEZEM, R. O atletismo. 2. ed. São Paulo: Apoio, 1990.


CBAT; IAFF. Atletismo: regras oficiais de competição 2016-2017. 1. ed. São Paulo: Phorte,
2017. Disponível em: https://issuu.com/phorteeditora/docs/atletismo. Acesso em: 1
maio 2019.
CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE ATLETISMO. Atletismo: história. c2019. Disponível em:
http://www.cbat.org.br/acbat/historico.asp. Acesso em: 1 maio 2019.
CWG 14: atletismo. Sportbucks, [s. l.], 3 jul. 2014. Disponível em: https://sportbucks.
wordpress.com/2014/07/03/cwg-14-atletismo. Acesso em: 1 maio 2019.
FERNANDES, J. L. Atletismo: arremessos. São Paulo: EPU, 1978.
Introdução aos Esportes Individuais | UNIDADE 1
Introdução ao Atletismo | PARTE 2 45
22 Introdução ao atletismo

FERNANDES, J. L. Atletismo: corridas. 3. ed. São Paulo: EPU, 2003.


FERNANDES, J. L. Atletismo: os saltos: técnica, iniciação, treinamento. 2. ed. São Paulo:
EPU, 1984.
MATTHIESEN, S. Q. Fundamentos de educação física no ensino superior atletismo: teoria
e prática. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.
PECHER, E. Ficheiro: Osaka07 D1M W3000M Steeplechase Heat.jpg. Wikipedia, [s. l.],
25 ago. 2007. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Osaka07_D1M_
W3000M_Steeplechase_Heat.jpg. Acesso em: 1 maio 2019.
RIUS SANT, J. Metodología del atletismo. Barcelona: Paidotribo, 1989.
SCHMOLINSKY, G. Atletismo. Lisboa: Estampa, 1982.
THE DAILY DOSE. Steeplechase is the coolest Olympic event you’ve never heard of. 2017.
Disponível em: http://dailydsports.com/steeplechase/. Acesso em: 20 maio 2019.
Leituras recomendadas
RIBEIRO, B. Z. et al. Evolução histórica das mulheres nos jogos olímpicos. Efdeportes,
Buenos Aires, v. 18, n. 179, abr. 2013. Disponível em: https://www.efdeportes.com/
efd179/mulheres-nos-jogos-olimpicos.htm. Acesso em: 1 maio 2019.
TURCO, B. (ed.). Atletismo rumo ao futuro: nova gestão, novos desafios. São Paulo: CBAt,
2013. Disponível em: http://www.cbat.org.br/publicacoes/livro_cbat_atletismo_rumo_
ao_futuro_2013.pdf. Acesso em: 1 maio 2019.
PREZADO ESTUDANTE

ENCERRA AQUI O TRECHO DO LIVRO DISPONIBILIZADO


PELA SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE.
unidade

1
V.1 | 2022

Parte 3
Exercícios Educativos
Para Corrida

O conteúdo deste livro


é disponibilizado
por SAGAH.
48 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS

Exercícios educativos
para corridas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Descrever a importância do aquecimento prévio às sessões de


exercício.
 Identificar os principais erros técnicos durante as provas de corridas
do atletismo.
 Elaborar um programa de aprimoramento da técnica de corrida.

Introdução
A corrida está entre os movimentos naturais do ser humano, utilizada
por nossos antepassados desde a Pré-história e praticada desde os pri-
meiros anos de nossas vidas. A corrida é realizada em diversas situações;
podemos citar como exemplos uma corrida recreativa executada em
um parque, uma corrida competitiva, utilizada em diversos esportes,
ou, ainda, uma corrida realizada em alguma emergência, em que nos
vemos forçados a correr.
A corrida é um dos esportes que mais têm ganhado notoriedade nos
últimos anos, principalmente devido aos seus resultados positivos para a
saúde. No entanto, quando pensamos em saúde e exercícios, precisamos
tomar alguns cuidados; afinal, um exercício feito sem a orientação de um
profissional pode trazer problemas para a saúde, em vez de benefícios.
Um profissional capacitado deve orientar a prática de corrida desde seu
aquecimento até a correção técnica, para a melhora do desempenho e
a prevenção de lesões.
Neste capítulo, você vai estudar sobre a importância do aquecimento
para as sessões de treinamento. Você também vai identificar os principais
erros técnicos que ocorrem durante a corrida, bem como suas formas
de correção.
Introdução aos Esportes Individuais | UNIDADE 1
2 Exercícios educativos para corridas Exercícios Educativos para Corrida | PARTE 3 49

A importância do aquecimento prévio


às sessões de exercício
As sessões de treino são divididas normalmente em parte inicial ou prepa-
ratória, parte principal e parte final. Na parte inicial do treino, é realizado o
trabalho de aquecimento, sendo essa uma parte indispensável, pois prepara o
atleta para o resto da sessão de treinamento, conforme leciona Schmolinsky
(1982). O aquecimento é a atividade realizada de forma gradual, com o obje-
tivo de elevar a temperatura corporal e preparar o corpo para exercícios mais
intensos, de modo a prevenir lesões. O aquecimento, segundo Dantas (2014),
deve atuar nos âmbitos orgânico, muscular, articular e psicológico.
Ainda conforme Dantas (2014), o aquecimento pode ser dividido nas quatro
categorias mostradas a seguir.

1. Aquecimento mental: esse aquecimento pode ser considerado um trei-


namento mental, em que o atleta se imagina realizando os movimentos.
2. Aquecimento passivo: realizado de maneira passiva, não atuando de
modo sistêmico; pode envolver massagens ou fricção.
3. Aquecimento ativo: consiste na execução de exercícios e movimentos
com objetivos gerais e específicos.
4. Aquecimento combinado: quando se utiliza mais de um tipo de
aquecimento.

Existem dois tipos de aquecimento ativo, o geral e o específico. O aqueci-


mento geral utiliza exercícios que envolvem grandes grupos musculares, tendo
como objetivo aumentar o metabolismo do indivíduo. Ele pode estar dividido
em aquecimento orgânico, que visa a preparar o sistema cardiopulmonar,
e aquecimento neuromuscular, que objetiva a preparação da musculatura
e das articulações. O aquecimento orgânico contribui para a liberação dos
hormônios, acelera as reações bioquímicas, além de aumentar o consumo
de oxigênio, reduzindo a dependência dos processos anaeróbios, conforme
leciona Dantas (2014).
Já o aquecimento específico envolve a musculatura, com gestos e esforços
específicos que serão utilizados durante a atividade principal, conforme apon-
tam Lope e Benejam (1998). Segundo Dantas (2014), o aquecimento específico
contribui para aumentar a velocidade de contração e relaxamento do músculo,
aumentando a eficiência mecânica da contração muscular e melhorando o
recrutamento das unidades motoras que serão utilizadas.
50 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Exercícios educativos para corridas 3

Segundo Schmolinsky (1982), a preparação específica já inicia o desen-


volvimento das capacidades que serão treinadas na parte principal. Portanto,
deve ser sempre pensada em função dos objetivos da parte principal. Assim,
se a parte principal será executada em intensidade alta, a parte final do aque-
cimento já deve se aproximar à intensidade que será desenvolvida na parte
principal. O aquecimento não possui uma duração específica, podendo chegar
à duração de um quarto ou um quinto do total da sessão.
Para as corridas, o aquecimento geral pode ser realizado por meio de uma
caminhada acelerada ou uma corrida leve, segundo Brown (2005). Gradativa-
mente, o organismo vai entrando em um estado de equilíbrio, estabilizando
tanto a temperatura corporal como as frequências cardíaca e respiratória,
assim como a mobilização energética necessária.
Assim, o aquecimento permite o ajuste das demandas cardiovasculares.
Em repouso, os músculos recebem aproximadamente 15 a 20% do sangue
bombeado pelo coração; porém, com o aumento da intensidade, esse valor
aumenta, podendo chegar a 70% em exercícios moderados. Além disso, o
exercício deve ir progredindo até os níveis esperados na parte principal. As-
sim, o exercício deve ser pensado em função da tarefa que será executada,
porém não deve ser extenuante ao ponto de causar fadiga, conforme lecionam
Plowman e Smith (2010).
Segundo Plowman e Smith (2010), o aquecimento pode trazer benefícios
sobre o sistema cardiovascular, como:

 aumento do fluxo sanguíneo aos músculos utilizados;


 aumento do fluxo sanguíneo para o miocárdio;
 acelera a dissociação da oxiemoglobina;
 induz a sudorese, que permite a regulação térmica do corpo.

Segundo Fuziki (2012), o aquecimento específico para as corridas não


deve apenas envolver a preparação muscular, mas também propor esfor-
ços suficientes para estimular o aumento da temperatura e aquecer os
músculos, os tendões e o tecido conectivo. Além disso, deve estimular o
sistema circulatório, com o aumento da frequência cardíaca e respiratória,
bem como melhorar a coordenação e promover movimentos mais livres e
facilitados, permitindo, dessa forma, a execução de gestos tecnicamente
corretos e eficientes.
Um estado estável é obtido após os primeiros 10 minutos de atividade,
conforme descrevem Brown (2005) e Fuziki (2012), principalmente em rela-
Introdução aos Esportes Individuais | UNIDADE 1
4 Exercícios educativos para corridas Exercícios Educativos para Corrida | PARTE 3 51

ção à temperatura corporal. Porém, nos exercícios realizados em dias mais


quentes, esse tempo pode ser menor, e pela manhã e em dias mais frios, esse
tempo pode ser maior.
Além disso, o aquecimento deverá estimular a via energética que será exi-
gida durante o treinamento. Exercícios com intensidade mais baixa estimulam
o sistema aeróbio, proporcionando, assim, uma vasodilatação e um maior
suprimento de oxigênio aos músculos. Já os estímulos mais curtos acabam
estimulando as vias anaeróbias.
Portanto, segundo Lope e Benejam (1998), o aquecimento deve ser:

 total — ao envolver vários órgãos, músculos e articulações;


 dinâmico — pois envolve uma movimentação, no caso, a corrida;
 metódico — busca-se uma repetição metódica dos exercícios, adaptando
o corpo a responder àquela sequência de estímulos; assim, normalmente,
uma rotina de exercícios é criada e utilizada frequentemente nas sessões
de treinamento;
 proporcional — deve estar equilibrado em relação ao esforço que será
executado na atividade principal.

Segundo Brown (2005), o alongamento pode fazer parte do aquecimento,


buscando-se um ganho na amplitude articular, principalmente para a execução
dos movimentos com mais naturalidade e conforto. Para tanto, o alongamento
pode ser executado até o ponto de desconforto, sem chegar a doer. Após o
aquecimento, pode ser realizado o alongamento, pois os músculos, após serem
aquecidos, apresentam-se mais extensíveis e, portanto, com uma flexibilidade
maior. A Figura 1 apresenta alguns exercícios que podem ser utilizados como
alongamento antes da corrida.

Figura 1. Alongamentos que podem ser utilizados antes de sessões de corrida.


Fonte: Lio putra/Shutterstock.com.
52 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS

Exercícios educativos para corridas 5

No link a seguir, é possível encontrar uma reflexão sobre os diferentes tipos de aque-
cimento e seus efeitos sobre a força.

https://qrgo.page.link/vDdCS

Os atletas de alto rendimento, segundo Dantas (2014), realizam o aqueci-


mento também por questões psicológicas, já que ele possibilita o controle da
ansiedade e eleva o nível de ativação emocional.
Agora que você já entendeu a importância do aquecimento e como ele pode
ser estruturado, nos próximos parágrafos você vai identificar os principais
erros que podem ocorrer durante a corrida e como é possível corrigi-los.

Os principais erros técnicos


Antes de identificar os erros presentes na corrida, é necessário entender a mecâ-
nica da corrida. A corrida está dividida em duas fases, segundo Machado (2011):
uma aérea, em que não ocorre nenhum contato com o solo, e outra terrestre, em
que ocorre o contato com o solo. A fase aérea, ou fase de voo, inicia quando
as duas pernas deixam de ter contato com o solo e encerra quando uma das
pernas toca o solo. Já a fase terrestre tem duas subfases, uma chamada fase de
aterrissagem e outra, fase de impulso. Os braços acompanham o movimento
das pernas, mas de maneira oposta, determinando o ritmo da corrida (Figura 2).

Figura 2. Fases da corrida: (1) e (5) fase aérea da passada; (2) e (3) fase de
aterrissagem; (4) fase de impulso da passada.
Fonte: Olga Bolbot/Shutterstock.com.
Introdução aos Esportes Individuais | UNIDADE 1
6 Exercícios educativos para corridas Exercícios Educativos para Corrida | PARTE 3 53

A velocidade é dependente da relação entre a frequência e a amplitude


da passada. Assim, o indivíduo passa da caminhada para a corrida devido à
amplitude e à frequência da passada. A amplitude é a distância percorrida a
cada passada, enquanto a frequência é a quantidade de passadas realizadas
em uma unidade de tempo ou distância.
A amplitude da passada, segundo Machado (2011), está diretamente re-
lacionada à economia de energia, pois, com passadas maiores, é necessário
um número menor de passadas para percorrer um percurso. Também há uma
relação entre a estatura e o comprimento dos membros inferiores. Portanto,
indivíduos com membros inferiores maiores tendem a ter uma amplitude de
passada maior. A massa corporal também está relacionada com a economia
de energia; assim, indivíduos com menor massa corporal apresentam maior
economia de energia, pois acabam tendo que transportar na corrida uma
massa menor. Logo, indivíduos com membros inferiores longos e baixa massa
corporal apresentam um biótipo mais econômico e, consequentemente, um
melhor desempenho para corridas de longas distâncias.
A postura é outro fator importante para a economia de energia, podendo
ser aprimorada com os exercícios educativos, que, além da função de correção
técnica, também podem ser usados como forma de aquecimento. Machado
(2011) descreve três pontos importantes para a postura durante a corrida,
apresentados a seguir.

 Amplitude: deve se ajustar ao tamanho do indivíduo; assim, indiví-


duos mais altos apresentam uma tendência a terem membros inferiores
maiores, o que resulta em uma amplitude de passada maior, que, con-
sequentemente, resulta em um menor número de passadas para cobrir
determinada distância. Além disso, a amplitude deve ser ajustada de
acordo com a velocidade e o conforto da corrida, de forma natural.
 Tronco: deve ser posicionado de forma ereta e para a frente, evitando
oscilações ou uma inclinação exagerada à frente, o que pode causar
um desequilíbrio no movimento.
 Tensão: deve-se manter o corpo descontraído, realizando os movimen-
tos suavemente, para que haja coordenação e perfeita interação entre
os músculos agonistas, antagonistas e estabilizadores. A contração
excessiva gera um gasto energético desnecessário.

Além disso, deve-se distribuir toda a energia ao longo dos pés. Segundo
Brown (2005) e Machado (2011), o tornozelo deve estar relaxado para diminuir o
impacto, os joelhos devem ser projetados para cima, para um melhor movimento
54 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Exercícios educativos para corridas 7

de pêndulo, e braços e pernas devem se movimentar de forma coordenada,


determinando o ritmo da corrida. Segundo Brown (2005), a postura deve se
ajustar ao ritmo da corrida. Assim, quanto maior a velocidade, mais o atleta
se apoiará sobre os dedos, e quanto mais devagar, mais curta será a passada,
e os braços se movimentarão com menos vigor.
O impulso para o deslocamento, segundo Schmolinsky (1982), vem da
força aplicada ao solo com a perna de apoio na fase de impulso, em que, ao
estender as articulações do quadril, do joelho e do tornozelo, é gerado esse
impulso. Porém, a perna de balanço contribui para essa amplitude de deslo-
camento, ao elevar o joelho da frente e projetá-lo para a frente.

Erros e correções
Após entender a mecânica da corrida, podemos analisar a corrida e identifi-
car alguns erros que podem ser solucionados de forma simples, com alguns
exercícios, segundo Schmolinsky (1982).
O fato de o atleta produzir um barulho muito grande enquanto corre,
devido ao impacto dos pés no solo ao longo das passadas, está associado a
dois problemas: a amplitude da passada deve estar muito grande e/ou o atleta
deve estar aterrissando com os joelhos travados (estendidos). Assim, deve-se
evitar a aterrissagem com o joelho estendido, o que traz como consequência um
grande impacto na articulação do joelho. Deve-se orientar o atleta a encurtar
a passada e a tentar flexionar o joelho na aterrissagem, buscando uma corrida
mais suave, com a aterrissagem feita sobre os calcanhares e o médio pé.
Uma insuficiente extensão da perna de impulso pode fazer com que o
indivíduo realize uma corrida meio sentada. Normalmente, isso ocorre de-
vido à falta de força para a finalização da passada. Portanto, exercícios como
saltito e corrida com saltos podem ajudar na correção. Pode também não estar
sendo realizada a flexão da perna de impulso após a impulsão, prejudicando
também a amplitude da passada, o que pode ser corrigido com o exercício de
elevação de calcanhares.
Correr com os pés afastados ou posicionados para fora pode fazer com que
o atleta oscile durante a corrida. Trata-se de uma estratégia compensatória
usada por indivíduos com osteoartrite no joelho. Esse erro pode ser corrigido
ao correr sobre uma risca ou se concentrar em manter os pés alinhados.
A corrida saltada ocorre quando é aplicada a força demasiadamente para
cima. Ela pode ser corrigida ao tentar alongar a passada. Assim, a projeção
dos joelhos à frente e um bom tracionamento do solo empurrando para trás e
para cima contribuem para um melhor posicionamento da passada.
Introdução aos Esportes Individuais | UNIDADE 1
8 Exercícios educativos para corridas Exercícios Educativos para Corrida | PARTE 3 55

Correr com o tronco inclinado para trás ou para a frente pode ser resultado
de músculos da coxa e do tronco fracos. Assim, esse problema pode ser cor-
rigido com o exercício de elevação de joelhos, em que o atleta busca manter
o tronco levemente inclinado para a frente, além da corrida em subida, em
escadaria ou tracionando uma resistência contrária. Já no início da fase de voo,
se não ocorre uma elevação adequada da perna da frente, pode ser devido à
falta de força nos flexores do quadril, que pode ser corrigida com exercícios
como a elevação de joelhos, o saltito e a corrida em subida ou degraus.
Se, durante a corrida, a amplitude da passada é reduzida e o indivíduo corre
quase arrastando os pés no chão, tal fato também pode ser devido à falta de
força nos flexores do quadril para elevar a perna da frente. Essa questão pode
ser corrigida com os exercícios de elevação de joelhos, o saltito, a corrida com
saltos ou degraus, a corrida passando por cima de bastões ou a escadinha de
agilidade. Com um feedback visual, o atleta é obrigado a elevar os pés do chão,
o que, gradativamente, vai fortalecendo a musculatura exigida.
Em corridas de velocidade, o ato de não realizar o toque com a ponta dos pés
na fase de aterrissagem, normalmente, é devido à falta de força para amortecer
o impacto. Essa questão pode ser trabalhada com os exercícios de elevação de
joelhos, de elevação de joelhos subindo escada, de repique e de pular cordas.
O toque no solo com a ponta dos pés ajuda a fortalecer a panturrilha, o que
vai ajudar também na finalização.
Outro problema é correr com os cotovelos flexionados e as mãos relaxadas
no prolongamento do antebraço. Pode ser corrigido ao movimentar o braço
alternadamente ao lado do corpo, cuidando para manter a posição correta.
Ainda, correr olhando para baixo altera a postura do tronco, causando um
desequilíbrio para a frente. Isso pode ser corrigido ao correr olhando cerca
de 20 ou 30 metros para a frente.

Lesões na corrida
Algumas das lesões ocorrem devido a uma sobrecarga de treinamento, sem
o atleta estar com a musculatura devidamente preparada. Assim, o fortaleci-
mento e o alongamento são fundamentais para evitar esses inconvenientes,
bem como uma progressão adequada das cargas de treinamento. Puleo e
Milroy (2011) sugerem não aumentar as cargas de treinamento mais do que
5 a 10% por semana.
A dor normalmente é o primeiro sinal para alertar sobre uma lesão; assim, o
corredor deve buscar identificar se a dor é proveniente do esforço do treino ou
um sinal de lesão. As regiões mais acometidas por lesões são a região lombar e
56 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Exercícios educativos para corridas 9

os joelhos. Normalmente, essas lesões são decorrentes de treinos repetitivos


e da falta de flexibilidade, acompanhados da tentativa de continuar a corrida
mesmo com a dor persistindo.
Os corredores estão mais suscetíveis à síndrome patelofemoral do que
a um rompimento de ligamento, como ocorre no futebol. Essa síndrome é
causada pela deficiência da patela em deslizar sobre o fêmur. Uma dor na
região inferior lateral da coxa pode estar relacionada à síndrome do trato
iliotibial, em que esse tecido conjuntivo sofre atrito com o côndilo lateral do
fêmur; a dor pode ser atenuada com alongamento.
Em relação ao pé, é comum ocorrer a metatarsalgia, que está associada
ao pé chato; essa dor pode ser atenuada com o fortalecimento dos músculos
intrínsecos do pé. A dor associada aos ossos é conhecida como fratura por
estresse, sendo a região medial da tíbia o local mais comum para essa lesão
surgir. Deve ser dada atenção para que ela não progrida para uma fratura
completa, conforme apontam Puleo e Milroy (2011).

Análises biomecânicas por meio de vídeos são realizadas há um bom tempo e podem
ajudar a identificar erros durante a corrida. Porém, com o avanço das tecnologias em
smartphones, atualmente já existem alguns aplicativos, como Coach’s Eye, Vip & Team
Coach’s Eye Members, Keelo Lift, iAnalyze, entre outros, que permitem filmar o atleta e
medir ângulos ou fazer marcações. Dessa forma, fica fácil e prático realizar o feedback
do movimento para o atleta.

Programa de aprimoramento da técnica


de corrida
Após identificar os principais erros e como eles podem ser corrigidos, é possível
elaborar programas de exercícios que trabalhem essas correções. Os exercícios
podem ser trabalhados no início das sessões de treinamento, inclusive como
forma de aquecimento. Nesse momento, o atleta está descansado e consegue
manter a concentração com mais facilidade para a execução deles; após o
treino, os atletas podem estar fadigados, o que prejudicaria a execução correta
do movimento.
Os exercícios podem ser executados em percursos de 20 a 30 metros, com
três a cinco repetições. Além disso, podem ser combinados com corridas
Introdução aos Esportes Individuais | UNIDADE 1
10 Exercícios educativos para corridas Exercícios Educativos para Corrida | PARTE 3 57

realizadas na sequência. Três exercícios são fundamentais para a correção e


a melhoria técnica da corrida: elevação de joelhos, calcanhares e saltito. Além
disso, outros exercícios podem ser associados para a melhora, principalmente,
da força específica e podem, segundo Fuziki (2012), contribuir para a economia
de energia, como correr em rampa, em escada, tracionando ou puxando uma
carga (Figura 3).

Figura 3. Tipos de treinamento que desenvolvem a força específica para a corrida: (a) corrida
em rampa; (b) corrida em escada; (c) corrida puxando uma carga; (d) corrida empurrando
uma carga.
Fonte: (a) Evolua... (2018, documento on-line); (b) Treino… (2018, documento on-line); (c) 3 exercícios...
(2017, documento on-line); (d) Miezio (2019, documento on-line).

Segundo Brown (2005), alguns músculos da perna acabam se desenvolvendo


mais do que outros, e podem ocorrer desequilíbrios musculares, que podem
resultar em lesões. Por isso, os exercícios de força são fundamentais para
buscar esse reequilíbrio muscular e não podem ficar de fora dos programas de
treinamento. Segundo Machado (2011), a corrida, assim como outros esportes,
exige vários tipos de força, como dinâmica, estática, força de resistência,
potência, entre outras. Portanto, um programa de treinamento deve contemplar
esses diferentes tipos de força. Para tanto, exercícios convencionais com
aparelhos de musculação também podem ser utilizados.
58 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS

Exercícios educativos para corridas 11

No planejamento dos treinos, além das sessões convencionais de treinos, em que


são trabalhadas habilidades específicas da corrida, também são utilizadas sessões
de treinos complementares, nas quais exercícios de musculação, por exemplo,
podem ser utilizados para o ganho de força. Ressalta-se que muitos desses treinos
têm como objetivo o ganho de força, e não a hipertrofia; é possível realizar um
aumento na força com um recrutamento maior de fibras musculares. Lembrando
que um ganho de hipertrofia pode gerar também um ganho de força, porém,
resulta, em um aumento na massa corporal (muscular), que, algumas vezes, não
é desejável para algumas modalidades. Por exemplo, se um corredor de provas
longas aumenta sua massa em 5 kg, isso implica em carregar 5 kg a mais durante
seu percurso. Portanto, o objetivo final a ser atingido deve ser bem planejado para
esses treinos complementares.

Treinamento da flexibilidade
A flexibilidade, segundo Dantas (2014), pode ser trabalhada de duas formas:
alongamento e flexionamento. O alongamento tem por objetivo mobilizar a
articulação em toda a sua amplitude, retirando-a de um estado mais enrijecido
e, normalmente, trabalhando dentro da faixa de normalidade da amplitude do
movimento, sem riscos de lesão. Assim, o alongamento pode ser realizado
por meio dos métodos descritos a seguir.

 Estiramento: equivale a um espreguiçamento, buscando alcançar os


arcos do movimento amplo.
 Suspensão: há um tracionamento das articulações por meio de ação
da gravidade.
 Soltura: consiste em balanceios dos membros, realizados por outra
pessoa.

Já o flexionamento visa ao aumento da flexibilidade, podendo ser:

 ativo ou dinâmico — realizado por meio de movimentos dinâmicos


ou balísticos, forçando amplitudes maiores;
 passivo ou estático — a postura deve ser mantida, relaxando-se a
musculatura até o limiar de dor e segurando por 10 a 15 segundos;
 facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP) — utiliza a influ-
ência recíproca do fuso muscular e dos órgãos tendinosos de Golgi.
Introdução aos Esportes Individuais | UNIDADE 1
12 Exercícios educativos para corridas Exercícios Educativos para Corrida | PARTE 3 59

A FNP sofreu algumas adaptações, dando origem ao método scientific


stretching of sports, ou 3S, que consiste em três passos, que podem ser repe-
tidos de três a seis vezes:

1. mobilização do segmento corporal até o seu limite;


2. realização da contração isométrica máxima por 8 segundos;
3. forçamento da musculatura após o relaxamento.

O super stretch, outro método derivado do 3S, também usa o princípio de


alongar o músculo a ser trabalhado, depois, realizar uma contração isométrica
e, ao relaxar, forçar o músculo até o máximo. Esse processo deve ser repetido
três vezes; depois, deve-se alongar e relaxar a musculatura trabalhada e realizar
15 minutos de forçamento estático.
Escolher o método mais eficiente é uma questão polêmica. Os estudos
ainda não estão claros com relação a isso, mas o importante é entender qual
método se adequa melhor à sua necessidade. Lembrando que o aumento da
flexibilidade é resultado da mobilidade articular e da elasticidade muscular.

Suponha que você é procurado por uma mulher de 30 anos, com leve sobrepeso, que
deseja realizar atividades de corrida. Inicialmente, deve ser realizada uma anamnese, em
que você vai identificar os objetivos da mulher, sendo esse objetivo realizar uma corrida
de 5 km. Além disso, você deve verificar os possíveis riscos que ela possa apresentar,
como histórico de hipertensão, problemas cardíacos ou lesões.
Uma avaliação postural ajuda a identificar alguns desvios posturais que podem
ser corrigidos com fortalecimento e alongamento. Um dos pontos identificados é
um encurtamento na região posterior da coxa, além de joelhos valgos. Portanto, é
recomendada a execução de exercícios de fortalecimento para a região lateral da
coxa, com uma rotina de exercícios que incluem adutores, agachamento, extensores
e flexores do joelho e da panturrilha. Também serão acrescentados exercícios para a
região do core, além de alongamentos para a região posterior de coxa, o tornozelo
(panturrilha) e o trato iliotibial.
Os treinos serão divididos em duas sessões de fortalecimento por semana, realizadas
na sala de musculação, e duas sessões de corrida, em que será trabalhada a iniciação
à corrida, intercalando-se percursos de corrida com caminhada e dando mais ênfase
à caminhada com um ritmo mais acelerado, devido ao leve sobrepeso que a iniciante
apresenta. Esse trabalho será mantido por quatro semanas e, na sequência, deve-se
buscar acrescentar mais uma sessão de corrida.
60 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Exercícios educativos para corridas 13

Ao longo deste capítulo, foi possível elucidar pontos obscuros em relação


à preparação complementar para a corrida, mostrando a importância tanto do
aquecimento quanto da flexibilidade no treinamento de corridas. Você pôde
identificar os principais erros envolvidos na corrida e como trabalhar para
melhorar o desempenho de corredores tanto de velocidade quanto de resistência.

3 EXERCÍCIOS de explosão para aumentar sua capacidade de aceleração. Feito de


Iridium, [s. l.], 11 mar. 2017. Disponível em: https://www.feitodeiridium.com.br/exercicios-
-aumentar-aceleracao/. Acesso em: 12 jun. 2019.
BROWN, R. L. Corrida como condicionamento físico. São Paulo: Roca, 2005.
DANTAS, E. H. M. A prática da preparação física. 6. ed. São Paulo: Roca, 2014.
EVOLUA na corrida com as subidas. Sua Corrida, [s. l.], 28 jun. 2018. Disponível em: http://
suacorrida.com.br/planilhas/evolua-na-corrida-com-as-subidas/. Acesso em: 12 jun. 2019.
FUZIKI, M. K. Corrida de rua: fisiologia, treinamento e lesões. São Paulo: Phorte Editora,
2012.
LOPE, M. V.; BENEJAM, J. C. Tratado de atletismo. Madrid: Esteban Sanz Martínez, 1998.
MACHADO, A. Bases científicas do treinamento de corridas. São Paulo: Icone Editora, 2011.
MIEZIO, A. Prowler vs. Sled: pushing a load of confusion out of the way. Fringe Sport, [s.
l.], 4 mar. 2019. Disponível em: https://www.fringesport.com/blogs/news/prowler-vs-
-sled-pushing-a-load-of-confusion-out-of-the-way. Acesso em: 12 jun. 2019.
PLOWMAN, S. A.; SMITH, D. L. Fisiologia do exercício para saúde, aptidão e desempenho.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.
PULEO, J.; MILROY, P. Anatomia da corrida: guia ilustrado de força, velocidade e resistência
para corrida. Barueri: Manole, 2011.
SCHMOLINSKY, G. Atletismo. Lisboa: Estampa, 1982.
TREINO em escada é aliado para queimar calorias e melhorar a corrida. Corrida Online,
[s. l.], 26 jan. 2018. Disponível em: http://corrida.online/v1/treino-em-escada-e-aliado-
-para-queimar-3 calorias-e-melhorar-a-corrida/. Acesso em: 12 jun. 2019.

Leitura recomendada
IAAF. Correr, saltar e lançar: guia oficial da IAAF de ensino do atletismo. [S. l.]: IAAF, 2018.
Disponível em: http://www.cbat.org.br/publicacoes/CorrerSaltarLancar_GuiaOffi-
cial_IAAF_deEnsinoDoAltetismo.pdf. Acesso em: 12 jun. 2019.
Introdução aos Esportes Individuais | UNIDADE 1
Exercícios Educativos para Corrida | PARTE 3 61

PREZADO ESTUDANTE

ENCERRA AQUI O TRECHO DO LIVRO DISPONIBILIZADO


PELA SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE.
62 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS
unidade

2
V.1 | 2022

Esportes Individuais: Corridas


Prezado estudante,

Estamos começando uma unidade desta disciplina. Os textos que a compõem foram organizados com
cuidado e atenção, para que você tenha contato com um conteúdo completo e atualizado tanto quanto
possível. Leia com dedicação, realize as atividades e tire suas dúvidas com os tutores. Dessa forma, você,
com certeza, alcançará os objetivos propostos para essa disciplina.

Objetivo Geral
Reconhecer as principais técnicas e regras das provas de corridas de velocidade.
unidade

2
V.1 | 2022

Parte 1
Corridas de Velocidade

O conteúdo deste livro


é disponibilizado
por SAGAH.
66 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS

Corridas de velocidade
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Descrever as diferentes provas de velocidade e as suas respectivas


características.
 Analisar as diferentes técnicas de corrida utilizadas nas provas de
velocidade.
 Identificar as demandas físicas e metabólicas nas diferentes provas
de velocidade.

Introdução
As provas de velocidade chamam a atenção em competições de atletismo
por, normalmente, intitularem o seu vencedor como “o atleta mais rápido
do mundo”. Elas estão presentes nos jogos olímpicos desde a Antiguidade,
quando eram denominadas stadium e os atletas corriam uma distância de
aproximadamente 200 metros. A provas de velocidade são mais curtas, e
detalhes fazem a diferença entre quem vence ou perde uma prova. Por
isso, a largada, a técnica de corrida e a chegada são etapas importantes
para atingir o máximo desempenho.
As provas de 100 metros rasos masculinos fazem parte do programa
olímpico desde 1896; já os 200 metros rasos masculinos foram incorpo-
rados em 1900. As mulheres começaram a correr as provas de velocidade
em 1928, com as provas de 100 metros rasos, depois, em 1948, os 200
metros rasos e, em 1964, os 400 metros rasos.
Neste capítulo, você vai estudar sobre as provas de velocidade e suas
características, identificando as formas de saída, os equipamentos, as
técnicas e a fisiologia envolvida nas provas. Você também vai analisar as
formas de treinamento e aprendizagem dessas corridas.
Esportes Individuais: Corridas | UNIDADE 2
2 Corridas de velocidade
Corridas de Velocidade | PARTE 1 67

Provas de velocidade
As provas de velocidade no atletismo, segundo Fernandes (2003), estão
divididas em provas de velocidade pura, que são as provas de 100 e 200
metros rasos, e de velocidade prolongada, que é a prova de 400 metros
rasos, sendo realizadas tanto por homens quanto por mulheres. Nas provas
de velocidade pura, não há um arranque no fi nal da prova; o objetivo é
atingir a velocidade máxima o mais rápido possível e sustentá-la até o fi m
da corrida. Essa tarefa não é fácil, tendo em vista que, com o passar do
tempo, o organismo sofre depleção, e as reservas energéticas e a quantidade
de fibras musculares envolvidas no trabalho vão diminuindo, ocasionando
a perda da velocidade.
Quanto à classificação das provas de velocidade, as provas podem ser:

 rasas, sem nenhum obstáculo no caminho, nas quais os atletas correm em


raias individualmente do início até o final e utilizam obrigatoriamente
as saídas do tipo baixa; ou
 com barreiras, nas quais são dispostas barreiras, as quais o atleta deve
perpassar durante toda a prova.

O Quadro 1 apresenta os recordes mundiais das provas de velocidade.

Quadro 1. Comparação entre os recordes mundiais nas provas de velocidade

Homens

Tempo Velocidade
Prova Atleta Ano
(segundos) média

100 metros rasos Usain Bolt 9”58 37,57 km/h 2009

200 metros rasos Usain Bolt 19”19 37,52 km/h 2009

Wayde
400 metros rasos 43”03 33,47 km/h 2016
Van Niekerk

(Continua)
68 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS
Corridas de velocidade 3

(Continuação)

Quadro 1. Comparação entre os recordes mundiais nas provas de velocidade

Mulheres

Tempo Velocidade
Prova Atleta Ano
(segundos) média

Florence
100 metros rasos 10”49 34,32 km/h 1988
Griffith-Joyner

Florence
200 metros rasos 21”34 33,74 km/h 1988
Griffith-Joyner

400 metros rasos Marita Kock 47”60 30,25 km/h 1985

Fonte: Adaptado de Senior... ([2019]).

Prova de 100 metros rasos


A prova de 100 metros rasos é a prova de atletismo mais curta e faz parte
dos jogos olímpicos desde a primeira edição, sendo considerada a prova mais
clássica, por seu vencedor ser considerado o homem ou a mulher mais rápido(a)
do mundo. Essa prova ocorre em uma reta na pista de atletismo, com os atletas
largando lado a lado, cada um na sua raia. Ela tem duração de aproximadamente
10 segundos para os homens e 11 segundos para as mulheres.
Nessa prova, os atletas buscam atingir a velocidade máxima o mais rápido
possível e sustentá-la até o final. Portanto, é usada a saída baixa; após o tiro de
partida, os atletas iniciam sua trajetória, criando a aceleração e atingindo a máxima
velocidade em torno de 50 a 60 metros. Após atingirem a velocidade máxima, eles
precisam sustentá-la o máximo possível até cruzar a linha de chegada.
Os Estados Unidos dominaram por muito tempo essa prova, sendo que,
de 28 finais olímpicas, ganharam 17. Um de seus ícones é Jesse Owens, que,
ao vencer essa prova em Berlim, em 1936, quando Adolf Hitler pregava a
superioridade da raça ariana, derrubou muitas atitudes de preconceito racial da
época. Dentre as mulheres, um grande destaque foi a americana Gail Devers,
com dois títulos olímpicos em 1992 e 1996. Atualmente, os jamaicanos estão
dominando tanto entre os homens quanto entre as mulheres, segundo a Asso-
ciação Internacional de Federações de Atletismo (CALDERÓN; SOUZA, 2010).
Esportes Individuais: Corridas | UNIDADE 2
Corridas de Velocidade | PARTE 1 69
4 Corridas de velocidade

O link abaixo apresenta um pouco da história de Jesse Owens, um atleta negro que de-
fendeu, além de seu país, a igualdade entre as raças, em um período de segregação racial.

https://qrgo.page.link/mkdte

Prova de 200 metros rasos


A prova de 200 metros rasos é considerada a prova mais antiga no atletismo,
estando presente nos jogos antigos; porém, apenas em 1900 começou a
fazer parte do programa atual para os homens, e em 1948 para as mulheres.
Nela, os atletas usam a saída baixa e largam em curva, percorrendo os
primeiros 100 metros; então, chegam em uma reta, percorrendo o segundo
trecho de 100 metros, dando, assim, meia volta na pista de atletismo, cada
um em sua raia.
A prova tem duração de aproximadamente 20 segundos para os homens
e 22 segundos para as mulheres, praticamente dobrando o tempo dos 100
metros rasos. Portanto, é comum os atletas correrem o segundo trecho de
100 metros mais rápido do que o primeiro, ou muito próximo. Segundo
Calderón e Souza (2010), quando Usain Bolt bateu o recorde mundial, ele
correu os primeiros 100 metros em 9,92 segundos e o segundo trecho em
9,27 segundos, totalizando 19,19 segundos. Isso se deve ao fato de os atletas
correrem a segunda parte da prova de maneira lançada, ou seja, eles já vêm
embalados da primeira parte e não precisam criar uma aceleração, apenas
manter a atual. Assim, a perda de velocidade na segunda metade da prova
acaba sendo compensada pelo tempo que levam na aceleração até atingir
a velocidade máxima na primeira metade da prova. Além disso, como a
primeira parte é em curva, isso também cria uma dificuldade, devido à
corrida em curva tender a jogar o atleta para fora da curva, com a ação
da força centrífuga.
Entre os atletas de destaque, ainda temos Michael Johnson, que foi
recordista mundial entre 1996 e 2008, além de campeão olímpico entre os
homens. Entre as mulheres, pode-se destacar a recordista mundial Florence
Griffth-Joyner, Gwen Torrence, campeã olímpica em 1992, e a jamaicana
Elaine Thompson (SENIOR..., [2019]).
70 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Corridas de velocidade 5

Prova de 400 metros rasos


A prova de 400 metros rasos é a prova de velocidade mais longa, estando
presente nos jogos modernos desde sua primeira edição; porém, apenas em
1964 as mulheres começaram a disputar essa distância. Nessa prova, os
atletas correm uma volta inteira na pista de atletismo, usando a saída baixa
e correndo em suas respectivas raias. Os melhores corredores do mundo
correm em aproximadamente 45/46 segundos, no caso dos homens, e 49/50
segundos, para as mulheres. Podemos observar pelo tempo de prova que
ocorre uma perda maior em relação aos 100 e 200 metros rasos; isso se deve
aos processos de fadiga ao longo da prova, o que torna mais difícil sustentar
a velocidade máxima adquirida.
Essa é uma das provas em que os homens americanos possuem um retros-
pecto bem favorável, possuindo 20 títulos olímpicos. Dentre os destaques
está Michael Johnson, que foi o primeiro homem a ganhar o bicampeonato
olímpico nessa prova, além de ser o único a ganhar os 200 e os 400 metros
em uma mesma edição de jogos olímpicos, tendo sido o recordista mundial
até 2016. Dentre as mulheres, destacam-se a australiana e primeira campeã
olímpica de origem aborígene Cathy Freeman, além de Marie-Jose Perec,
que, assim como Johnson, foi bicampeã olímpica, além de ganhar os 200 e
400 metros em uma mesma edição de jogos olímpicos.

Largadas e chegadas
Na prova de 100 metros rasos, os atletas largam alinhados lado a lado,
pois estão em uma reta. Já nas provas de 200 e 400 metros rasos, como as
largadas ocorrem em curva, para compensar a diferença entre quem corre
na raia interna e quem corre na raia externa, é utilizada a saída escalonada.
Portanto, quem larga na raia externa fica posicionado alguns metros à frente
de quem larga nas raias internas. Além disso, normalmente, nas partidas dos
200 e 400 metros rasos, o bloco é posicionado tangente à linha da trajetória,
um pouco mais próximo à linha externa da raia; assim, os primeiros passos
são dados em linha reta.
Em todas essas provas, os atletas utilizam o bloco de partida para a
largada (Figura 1a), sendo realizada obrigatoriamente a largada do tipo baixa.
Durante a prova, normalmente os atletas usam uma sapatilha específica
para corridas (Figura 1b), que contém pregos no solado, o que fornece uma
maior aderência, proporcionando um tracionamento melhor junto à pista.
Esportes Individuais: Corridas | UNIDADE 2
Corridas de Velocidade | PARTE 1 71
6 Corridas de velocidade

Figura 1. (a) Bloco de partida utilizado para as largadas e (b) sapatilha para corridas em
pista de atletismo.
Fonte: (a) Mezzotint/Shutterstock.com; (b) Vaclav Volrab/Shutterstock.com.

As sapatilhas são usadas especificamente para corridas em pistas de atletismo, por


causa dos pregos. Como essas pistas são feitas de uma espécie de borracha, os pregos
conseguem penetrar e dar maior aderência para realizar o impulso. Em pistas mais
simples, de carvão ou terra, elas também podem ser usadas. Porém, nada impede
que o atleta corra descalço.

Para que o atleta tenha uma boa largada, além do treinamento técnico do
movimento da saída, também é necessário desenvolver uma boa velocidade
de reação, que é a capacidade do atleta em responder o mais rápido possível
a um estímulo externo. Para o treinamento dessa velocidade de reação, são
utilizados os canais sensoriais da visão, da audição e do tato. Assim, normal-
mente, no momento de uma saída, o atleta responde aos estímulos auditivo,
quando escuta o tiro de partida, e visual, quando, com sua visão periférica,
percebe a movimentação dos demais competidores ao seu lado.
72 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS

Corridas de velocidade 7

Durante o processo de aprendizagem de crianças, pode-se estimulá-las a res-


ponder a diversos estímulos sensoriais, o que vai fazer com que melhorem sua
velocidade de reação. Por exemplo: a criança vai iniciar a corrida quando escutar
um apito — assim, estará usando o canal da audição; também poderá iniciar a
corrida quando o professor movimentar os braços, usando, assim, o canal da visão;
ou poderá iniciar a corrida quando receber o toque de alguém, usando, assim,
o canal do tato. Dessa forma, também é possível selecionar o estímulo, criando
uma complexidade maior de resposta. Por exemplo, a criança vai iniciar a corrida
com um sinal sonoro, mas você movimenta os braços; como foram movimentados
apenas os braços, ela deve permanecer parada e, só depois do apito, deve correr.
Com esse tipo de exercício, há uma seleção do estímulo utilizado.
Além disso, também devem ser trabalhadas as saídas em diversas posições,
criando, assim, uma adaptação motora a essas diferentes posições. Por exemplo,
a criança pode realizar uma saída ajoelhada e outra deitada, em decúbito ventral.
Assim, quando ela inicia a sua corrida, há uma adaptação motora da melhor forma
de sair da posição inicial e começar a correr. Isso é interessante, pois a criança
cria diversas formas de sair de uma posição para a outra e, observando os outros
colegas, acaba percebendo quais maneiras são mais rápidas e tenta reproduzi-
-las. Por isso, é interessante o professor deixar os alunos criarem suas próprias
posições, desenvolvendo, assim, a criatividade e, por experimentação, avaliando
quais posições são melhores.

No momento do impulso no bloco de partida, o atleta precisa estender


bem as articulações, impulsionando bem o bloco e coordenando os mo-
vimentos de braços e pernas, cuidando para que a perna posicionada no
bloco saia rapidamente e seja direcionada para realizar o primeiro contato
com o solo (Figura 2). A perna se apoia no solo, dando a primeira passada
e mantendo a inclinação do corpo. Nessas primeiras passadas, a panturri-
lha fica paralela ao solo; na fase de recuperação, o atleta gradativamente
aumenta a frequência e a amplitude da passada, endireitando o tronco
entre os 20 a 30 metros.
Esportes Individuais: Corridas | UNIDADE 2
Corridas de Velocidade | PARTE 1 73
8 Corridas de velocidade

Figura 2. Posição após a largada, com um impulso forte no bloco, estendendo bem as
articulações e coordenando o movimento de braços e pernas.
Fonte: MinDof/Shutterstock.com.

A chegada ocorre quando o atleta cruza a linha de chegada, sendo consi-


derada qualquer parte do tronco, desconsiderando a cabeça ou membros. Por
isso, os atletas normalmente realizam três tipos de chegadas. A primeira e mais
simples é apenas cruzando a linha de chegada. A segunda é projetando um
dos ombros à frente, sendo pouco usada, pois pode ocasionar um desequilíbrio
lateral. A terceira é com o atleta projetando o tronco à frente no momento
de passar a linha de chegada, sendo a mais utilizada por atletas experientes;
mesmo assim, estes podem se desequilibrar e acabar caindo durante a chegada.
Nas provas de velocidade em pista, a chegada ocorre sempre no mesmo
ponto da pista, e o que muda é o local da largada. Dessa forma, a estrutura de
chegada não precisa ser transportada ao longo da pista. O sistema de chegada,
denominado photo finish, é composto por uma câmera posicionada sobre a
linha de chegada, que produz uma combinação de imagens durante a passagem
dos atletas, podendo chegar a 1.000 imagens por segundo.
Nesta seção, foi possível identificar algumas características que são impor-
tantes para a corrida de velocidade e podem ser treináveis, como é o caso da
técnica de saída e da velocidade de reação. Na próxima seção, serão discutidas
as técnicas utilizadas nas corridas de velocidade.
74 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS
Corridas de velocidade 9

Técnicas de corrida utilizadas nas provas de


velocidade
Como nas corridas de velocidade o objetivo é manter os atletas na maior
velocidade pelo máximo de tempo possível, ter uma boa técnica contribui
para atingir mais rápido esse objetivo, que geralmente é alcançado entre os
50/60 metros da prova. Entre as variáveis cinemáticas observadas durante a
corrida estão a frequência da passada, a amplitude da passada e o tempo de
contato com o solo.
A frequência da passada (ou cadência) corresponde à repetição das pas-
sadas em uma unidade de tempo e à amplitude da passada, que corresponde à
distância percorrida em cada passada; juntos, esses fatores são importantes para
determinar a velocidade em uma corrida, segundo McNab (1983). A frequência
é mais difícil de melhorar, pois está relacionada à capacidade de transmissão
do estímulo nervoso e à contração da fibra muscular. Já a amplitude pode
ser melhorada com o aumento da força e a melhoria da técnica de corrida.
Segundo Barros e Dezem (1990), a amplitude da passada também pode ser
aumentada ao projetar o joelho para a frente e para cima.
Portanto, para melhorar a velocidade, segundo Schmolinsky (1982), um
velocista pode dar passos mais compridos ou mais rápidos, ou ambos. Porém,
há uma tendência em diminuir a frequência da passada ao longo da corrida,
enquanto o contrário ocorre com a amplitude da passada. A corrida pode ser
dividida em duas fases, considerando apenas um pé — ou seja, o movimento
se repete com a outra perna (CBAT; IAAF, 2017):

 a fase de apoio, na qual o pé do corredor encontra-se em contato com


o solo; e
 a fase de voo, na qual o pé do corredor está no ar.

Estas possuem ainda quatro subfases, que seriam:

 a fase de apoio anterior, na qual o pé toca o solo e o atleta absorve o


impacto;
 o impulso, em que o atleta empurra o solo para dar início à propulsão;
 a recuperação, em que inicia a fase de voo, e o atleta traz a perna para
a frente após empurrar o solo; e
 o balanceio anterior, em que ele projeta a perna para a frente antes de
tocar o solo.
Esportes Individuais: Corridas | UNIDADE 2
10 Corridas de velocidade Corridas de Velocidade | PARTE 1 75

Na fase de apoio anterior, ocorre uma desaceleração do atleta quando


toca o solo, que deve ser minimizada para evitar a perda de velocidade.
Na sequência, a fase de impulso tem por objetivo aplicar a maior força
possível no solo no menor tempo possível (Figura 3). Portanto, o tempo de
contato (TC) com o solo deve ser breve, diminuindo da mesma forma que a
velocidade aumenta. Por isso, o atleta de velocidade busca correr na ponta
dos pés. Observa-se que, quanto maior a velocidade, mais na ponta dos pés
acontece a corrida.

Figura 3. Descrição das fases da corrida. Nos momentos 1 e 3 ocorre a fase de apoio, e, no
momento 2, a fase de voo. No momento 1, ocorre a impulsão com a perna direita, enquanto
a perna esquerda realiza o balanceio anterior. No momento 3, podemos identificar a fase de
aterrissagem com a perna direita e a fase de recuperação com a perna esquerda.
Fonte: Adaptada de Michal Sanca/Shutterstock.com.

Dessa forma, a economia de energia é importante para a manutenção de


uma boa velocidade e está relacionada a uma boa técnica, a qual envolve
uma boa coordenação dos movimentos e o controle postural. O tronco é
a região que vai coordenar a interação da movimentação entre braços e
pernas, tendo uma leve inclinação para a frente, com a cabeça mantendo-
-se no prolongamento do tronco. Os braços têm a função de coordenar os
movimentos dos membros inferiores, tendo um aumento da amplitude do
76 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Corridas de velocidade 11

movimento com o aumento da velocidade e mantendo, um ângulo de apro-


ximadamente 80 a 100 graus na articulação do cotovelo. Esse movimento
ocorre de forma anteroposterior e aumenta com o aumento da frequência
da passada (CBAT; IAAF, 2017).
Portanto, o atleta, durante o movimento de corrida, deve (CBAT; IAAF,
2017):

 realizar um tracionamento ativo com o solo, o que permite que o atleta


tenha um impulso efetivo, contribuindo para a manutenção da amplitude
da passada;
 correr de forma descontraída, evitando um excesso de tensão muscular
e o consequente gasto energético desnecessário, o que pode prejudicar
a coordenação dos movimentos;
 olhar para a frente, mantendo, dessa forma, o tronco alinhado e posi-
cionado de forma ereta;
 manter os ombros relaxados, contribuindo, assim, para a movimentação
dos braços e a coordenação entre os membros inferiores, além de evitar
gastos desnecessários de energia;
 correr de forma uniforme, equilibrada e coordenando as fases de apoio
e voo, o que torna a corrida mais contínua, melhorando a aplicação das
forças, principalmente devido à inércia.

Após entender sobre as fases da corrida e suas referidas importâncias para


o ganho e a manutenção da velocidade, na próxima seção serão abordados os
aspectos fisiológicos das corridas de velocidade.

Segundo Weineck (1999), pode-se encontrar alguns tipos de velocidade pura, como:
 Velocidade de reação — capacidade de resposta a um estímulo no menor tempo
possível; por exemplo, iniciar uma corrida após um apito.
 Velocidade de ação — capacidade de realizar movimentos únicos ou acíclicos; por
exemplo, um salto, o impulso no bloco de partida, na largada da corrida, ou um
chute, em esportes de combate.
Esportes Individuais: Corridas | UNIDADE 2
Corridas de Velocidade | PARTE 1 77
12 Corridas de velocidade

 Velocidade de frequência — capacidade de realizar movimentos cíclicos com a


máxima velocidade; por exemplo, a passada se repete durante a corrida e, por isso,
é cíclica, e quanto mais rápida, maior será a velocidade.
Além disso, existem formas complexas de velocidade:
 Resistência de força rápida — capacidade de manutenção de movimentos ací-
clicos na máxima velocidade. Por exemplo, em uma sequência de saltos ou uma
sequência de chutes e socos em um esporte de combate, os movimentos não se
repetem ciclicamente, são aleatórios, mas executados com velocidade e, por isso,
precisam de força, para criar a aceleração e, assim, ter velocidade.
 Resistência de velocidade — capacidade de manutenção de movimentos cíclicos na
máxima velocidade. Por exemplo, a passada se repete durante a corrida e, por isso,
é cíclica e precisa de resistência para a manutenção da repetição desse movimento.

Demandas físicas e metabólicas nas diferentes


provas de velocidade
Segundo Weineck (1999), acredita-se que a velocidade é a capacidade física
menos treinável; isso está relacionado a fatores genéticos, principalmente
devido ao tipo de fibra muscular e sua inervação. Porém, a idade pré-escolar
e a pré-adolescência são épocas sensíveis à melhora da velocidade, e perdas
significativas ocorrem com o avanço da idade.
As fibras musculares do tipo II são as principais responsáveis por movimen-
tos de contração rápida; portanto, velocistas natos possuem um alto percentual
desse tipo de fibras. Além disso, a velocidade também depende das reservas
energéticas, bem como da mobilização dessas reservas energéticas. Assim, em
menos de 10 segundos, aproximadamente, as reservas de ATP-CP muscular são
consumidas, necessitando da produção de ATP pela via glicolítica (anaeróbia
lática). Isso resulta na produção de energia e na consequente formação e acú-
mulo de ácido lático, durando até aproximadamente 40 segundos, acionando,
em seguida, a produção de energia pela via aeróbia (oxidativa). Portanto, o
treinamento anaeróbio contribui para o aumento das reservas energéticas, e o
treino aeróbio contribuirá para a recuperação e ressíntese dos estoques de CP,
não devendo ser abandonado em função dos treinos anaeróbios.
Portanto, em uma corrida de 100 a 200 metros, estamos priorizando a
atuação do sistema ATP-CP, mas, para a manutenção da velocidade, o glico-
lítico começa a agir em conjunto. Já em uma prova de 400 metros, o sistema
priorizado é o glicolítico, ou seja, o sistema anaeróbio lático; assim, ao final de
uma prova como essa, o valor do lactato sanguíneo estará elevado, e o sistema
aeróbio (oxidativo) estará contribuindo para a produção de energia. Assim,
78 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Corridas de velocidade 13

durante o treinamento, os sistemas anaeróbios são priorizados, buscando-se


aumentar os seus estoques de energia.

A capacidade de aceleração é algo fundamental para corredores de 100 metros.


Os melhores velocistas conseguem atingir a velocidade máxima rapidamente, e o
sistema ATP-CP tem uma grande contribuição nessa etapa, conseguindo recrutar um
maior número de fibras musculares. Já a resistência de velocidade é uma capacidade
importante para os corredores de 200 e 400 metros. Portanto, podemos concluir que
as provas de velocidade necessitam prioritariamente do sistema anaeróbio.

Formas de treinamento da velocidade


As corridas de velocidade possuem basicamente três etapas: a largada, o desen-
volvimento e a chegada. Portanto, o treino pode ser aplicado especificamente
para cada uma dessas etapas.
Para a etapa de largada, é importante desenvolver uma boa velocidade de
reação, além da velocidade de ação, que acaba exigindo uma boa capacidade
de força rápida. Afinal, é necessário ter força para poder colocar o corpo em
movimento, tirando ele da inércia com velocidade. Para o desenvolvimento
da velocidade de reação, é possível trabalhar com diferentes posições e usar
diferentes estímulos sensoriais que contribuirão para o seu desenvolvimento,
além de realizar a saída em diferentes pisos, como grama ou areia. Também
podem ser adicionados exercícios de aceleração na sequência. Como men-
cionado, a força rápida tem um papel fundamental na fase de aceleração,
portanto, essa é uma das capacidades que devem ser desenvolvidas. Segundo
Weineck (1999), a combinação de saltos contribui para o desenvolvimento
dessa força rápida. Portanto, saltos simples, saltos sequenciais (triplo, quá-
druplo, quíntuplo) e corrida com saltos contribuem para o desenvolvimento
dessa força rápida. Os treinamentos de pliometria também contribuem para
o ganho de força rápida, além de trabalhos com pesos.
Corridas em subidas e descidas também podem ser usadas, com distâncias
curtas. Na subida, é trabalhada a resistência de velocidade, pois o deslocamento
vertical devido à subida gera uma sobrecarga; como é um movimento cíclico
em velocidade, acaba estimulando essa capacidade. Na descida, estimula-se
Esportes Individuais: Corridas | UNIDADE 2
14 Corridas de velocidade Corridas de Velocidade | PARTE 1 79

a velocidade, principalmente devido à coordenação do movimento. Devido à


aceleração criada na descida, há uma maior velocidade, inclusive devido à ação
da gravidade; assim, para coordenar os movimentos e manter a velocidade,
os mesmos devem ser mais rápidos, ou a velocidade acaba diminuindo. Além
das corridas em subida, para o desenvolvimento da resistência de velocidade,
podem ser usadas roupas com lastros, corridas em areia, corridas tracionando
algo como trenó ou exercícios de contrarresistência. No caso da corrida com
tração (Figura 4), sugere-se uma carga em torno de 5 a 8% do peso corporal.
Outro recurso amplamente usado é a corrida com paraquedas.

Figura 4. Treino de resistência de velocidade com o uso do trenó com carga. Normalmente,
sugere-se o uso de 5 a 8% do peso corporal como carga.
Fonte: WoodysPhotos/Shutterstock.com.

Segundo Weineck (1999), para um bom aproveitamento do treino de ve-


locidade, algumas orientações podem ser seguidas:

 iniciar os treinos em idade escolar, pois contribuem principalmente


para a formação das fibras musculares;
 deve ser executado no início de cada sessão de treinamento;
 sinais de fadiga sinalizam para a finalização do treino, para não preju-
dicar o atleta ao realizar o aprendizado de um movimento tecnicamente
inadequado;
80 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Corridas de velocidade 15

 para cada 10 metros percorridos, sugere-se 1 minuto de intervalo;


 deve ser realizado na velocidade máxima, por isso, deve-se dar ênfase
na velocidade;
 realizar um bom aquecimento para a prevenção de lesões;
 sugere-se estímulos de 8 a 10 segundos para desenvolver a velocidade.

Desenvolvimento da velocidade de forma lúdica


Como na idade escolar as crianças estão sensíveis ao desenvolvimento da
velocidade, sugere-se aplicar exercícios de forma lúdica, para que as crianças
sejam estimuladas brincando. Assim, as brincadeiras também são mais moti-
vadoras e atrativas. Podem ser usadas brincadeiras como pega-pega, corridas
de revezamento, corridas em roda e corridas com mudanças de direção.
Os jogos ou brincadeiras podem contribuir não apenas para a formação
motora da criança, mas também para desenvolver o raciocínio lógico, ou seja,
a capacidade cognitiva do aluno, ao envolver outras disciplinas escolares.

As corridas de velocidade podem ser amplamente utilizadas com as crianças, podendo


ser usados vários jogos. Um exemplo de jogo consiste em separar as crianças em quatro
colunas e posicionar um arco a aproximadamente 20 metros. A primeira criança deve
correr até o arco, entrar dentro dele e levá-lo até a cabeça; ao tirar o arco de sobre
a cabeça, deve retornar à sua coluna, e o próximo aluno corre até o arco e realiza o
mesmo movimento. É uma atividade simples, mas que estimula a velocidade, com a
corrida até o arco, a percepção corporal, ao passar o arco pelo corpo, e a velocidade
de reação, ao reagir aos estímulos para começar a correr. Pode-se variar a prática
aumentando o percurso ou colocando obstáculos até o arco.

Podemos concluir com este capítulo que as corridas de velocidade possuem


características diferentes, mas priorizam o sistema anaeróbio durante sua
execução, sendo necessário um amplo treinamento das capacidades físicas,
assim como de detalhes técnicos, para se obter um bom desempenho. De
certa forma, trata-se de uma atividade simples, que pode ser desenvolvida
com crianças.
Esportes Individuais: Corridas | UNIDADE 2
Corridas de Velocidade | PARTE 1 81
16 Corridas de velocidade

BARROS, N.; DEZEM, R. O atletismo. 2. ed. São Paulo: Apoio, 1990.


CALDERÓN, V. P.; SOUZA, M. M. Atuações dos atletas e países na prova de 100 metros
rasos em todas as edições do Campeonato Mundial de Atletismo. Efdeportes.com,
Buenos Aires, a. 15, n. 143, abr. 2010. Disponível em: https://www.efdeportes.com/
efd143/100-metros-rasos-campeonato-mundial-de-atletismo.htm. Acesso em: 4 jun.
2019.
CBAT; IAFF. Atletismo: regras oficiais de competição 2016-2017. São Paulo: Phorte, 2017.
FERNANDES, J. L. Atletismo: corridas. 3. ed., rev. São Paulo: EPU, 2003.
MCNAB, T. Corridas de velocidade, fundo e meio fundo. Porto: Talus, 1983.
SCHMOLINSKY, G. Atletismo. Lisboa: Estampa, 1982.
SENIOR outdoor: 100 metres men. IAAF, Estocolmo, [2019]. Disponível em: https://www.
iaaf.org/records/all-time-toplists/sprints/100-metres/outdoor/men/senior. Acesso em:
4 jun. 2019.
WEINECK, J. Treinamento ideal: instruções técnicas sobre o desempenho fisiológico,
incluindo considerações específicas de treinamento infantil e juvenil. 1. ed. Barueri:
Manole, 1999.

Leituras recomendadas
MATTHIESEN, S. Q. Atletismo se aprende na escola. 2. ed. Jundiaí: Fontoura, 2009.
MATTHIESEN, S. Q. Fundamentos de educação física no ensino superior atletismo: teoria
e prática. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.
PREZADO ESTUDANTE

ENCERRA AQUI O TRECHO DO LIVRO DISPONIBILIZADO


PELA SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE.
unidade

2
V.1 | 2022

Parte 2
Corridas de Resistência

O conteúdo deste livro


é disponibilizado
por SAGAH.
84 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS

Corridas de resistência
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Descrever as diferenças entre as provas de fundo e meio fundo e suas


particularidades estruturais.
 Discutir as técnicas empregadas nas mais diversas corridas de resis-
tência do atletismo.
 Identificar as demandas fisiológicas nas diferentes provas de resistência.

Introdução
A corrida é um movimento natural do ser humano; as crianças, por
exemplo, correm em diversas brincadeiras. Porém, alguns hábitos nada
saudáveis têm tornado o ser humano cada vez mais sedentário e, junto
com isso, têm aumentado a incidência de doenças provenientes desses
hábitos. Dessa forma, muitos adultos têm se tornado indivíduos seden-
tários, o que acaba aumentando o risco de diversas doenças silenciosas,
como a hipertensão e o diabetes.
A corrida de resistência surge como uma opção na tentativa de tornar
esse indivíduo mais ativo. Estudos iniciados pelo médico americano
Kenneth Cooper, na década de 1970, já mostravam resultados positivos
para a saúde com a prática de corridas em ritmo moderado. Assim, a
prática dessas corridas recebeu um grande estímulo, o que resultou em
um aumento significativo no número de praticantes. Esse aumento é
facilmente percebido devido ao aumento do número de assessorias que
surgiram para atender à demanda de novos corredores. Além do apelo
da melhora na saúde, as corridas de resistência geram grande motivação
pela superação de limites; nelas, o homem é motivado a correr cada
vez mais e mais rápido. Um exemplo de motivação é a atual busca dos
atletas pelo rompimento da barreira de 2 horas na maratona masculina.
Esportes Individuais: Corridas | UNIDADE 2
2 Corridas de resistência Corridas de Resistência | PARTE 2 85

Neste capítulo, você vai estudar as principais diferenças entre as provas


de resistência, assim como suas particularidades estruturais. Você também
vai identificar as técnicas utilizadas e as capacidades físicas necessárias
para essas provas.

As provas de fundo e meio fundo e suas


particularidades estruturais
As corridas de resistência podem ser praticadas tanto em pista como em outros
locais. Em pista, são conhecidas como provas de fundo, que são praticadas
em provas de 5 km e 10 km, e provas de meio fundo, que são praticadas em
provas de 800 e 1.500 metros. Fora da pista, as provas mais conhecidas são as
de pedestrianismo, que ocorrem em ruas ou estradas, normalmente asfaltadas.
A distância mais conhecida é a maratona, com a distância de 42,195 km, mas
também existem outras distâncias, como a meia maratona, com a distância de
21,097 km, além de provas de 5 km e 10 km, que são distâncias mais comuns,
e 15 km. Essas provas podem chegar a distâncias maiores, como 100 km ou
mais, que são as provas de ultramaratona, ou ultrarresistência.
As provas de pista ocorrem na pista de 400 metros; portanto, os atletas
acabam dando várias voltas e acabam não correndo em raias específicas,
normalmente se mantendo na raia interna. A prova de 800 metros é a única
prova mais longa em que os atletas largam na raia específica, mas, após a
primeira curva, já buscam se posicionar na raia interna. Já nas outras provas
(1.500, 5.000 e 10.000 metros rasos), os atletas correm livremente na pista e,
por isso, buscam se posicionar na raia interna desde o início.
A prova de 800 metros já era disputada desde os jogos antigos, em uma
distância de aproximadamente 740 metros, sendo chamada de “hippios”,
conforme aponta a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAT; IAFF, 2017).
Está presente nos jogos modernos desde a primeira edição. Nessa prova, o
atleta realiza duas voltas completas na pista. Um dos destaques brasileiros
foi Joaquim Cruz, que conquistou o título nos jogos de Los Angeles de 1984,
junto com o recorde olímpico e a prata em Seul, em 1988. A prova feminina
foi incluída pela primeira vez em Amsterdã, em 1928, mas, como algumas
86 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Corridas de resistência 3

mulheres acabaram passando mal após a prova devido ao esforço, ela foi
excluída, retornando apenas nos jogos de Roma, em 1960.
A prova de 1.500 metros está presente nos jogos também desde a primeira
edição; nela, os atletas realizam três voltas completas e ¾ de uma volta, sendo
essa prova equivalente à distância clássica da milha (1.609 metros), que era
uma corrida comum nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, devido ao sistema
métrico. As mulheres estrearam apenas nos jogos de Munique, em 1972,
conforme aponta a Associação Internacional de Federações de Atletismo
(CBAT; IAFF, 2017).
A prova de 5.000 metros também foi disputada desde a Antiguidade,
inspirada nos grandes feitos dos mensageiros militares, e chamava-se “doli-
chos”. Nessa prova, os atletas realizam 12 voltas e meia na pista (CBAT; IAFF,
2017). Ela está presente nos jogos modernos desde 1912, em Estocolmo. As
provas de resistência feminina são recentes; sua estreia ocorreu nos jogos de
Los Angeles, em 1984, na distância de 3.000 metros; nos jogos de Atlanta, foi
substituída para os atuais 5.000 metros.
A prova de 10.000 metros está presente nos jogos modernos desde 1912,
em Estocolmo. Nela, os atletas realizam 25 voltas completas na pista. As
corridas para fins de apostas eram muito populares na Grã-Bretanha e nos
Estados Unidos no século XIX. A versão feminina estreou apenas em Seul,
em 1988 (CBAT; IAFF, 2017).
As provas de 5.000 e 10.000 metros tiveram atletas finlandeses com grande
destaque internacional, como Paavo Nurmi e Lasse Viren, além do tcheco Emil
Zatopek, conhecido com a “locomotiva humana”. A partir dos anos 1980, os
etíopes e quenianos passaram a dominar os eventos masculinos, enquanto,
entre as mulheres, a China e a Etiópia se destacam.
Normalmente, fora da pista o percurso oferece alguns obstáculos relaciona-
dos à altimetria, que se refere às subidas com diferentes graus de inclinação.
Devido a essas variações, existem locais onde são realizadas essas provas que
favorecem a quebra de recordes, por possuírem um percurso favorável, ou seja,
uma altimetria baixa. Já outros percursos acabam ficando conhecidos por sua
dificuldade. Assim, torna-se difícil reproduzir em locais diferentes provas
com as mesmas características. O Quadro 1 apresenta as melhores marcas de
algumas provas de resistência, tanto em pista como em rua.
Esportes Individuais: Corridas | UNIDADE 2
Corridas de Resistência | PARTE 2 87
4 Corridas de resistência

Quadro 1. Comparação entre os recordes mundiais nas provas de resistência

Em pista

Prova Sexo Atleta Tempo Ano

800 Masculino David Lekuta Rudisha 1’40”91 2012


metros
Feminino Jarmila Kratochvilova 1’53”28 1983

1.500 Masculino Hicham El Guerrouj 3’26”00 1998


metros
Feminino Grezebe Dibaba 3’50”07 2015

5 km Masculino Kenenisa Bekele 12’37”35 2004

Feminino Tirunesh Dibaba 14’11”15 2008

10 km Masculino Kenenisa Bekele 26’17”53 2005

Feminino Almaz Ayana 29’17”45 2016

Na rua

Prova Sexo Atleta Tempo Ano

10 km Masculino Leonard Patrick Komon 26’44” 2010

Feminino Asmae Leghzaoui 30’29” 2002

Meia maratona Masculino Abraham Kiptum 58’18” 2018


(21 km)
Feminino Netsanet Gudeta 1h06’11” 2018

Maratona Masculino Eliud Kipchoge 2h01’39 2018


(42 km)
Feminino Paula Radcliffe 2h13’25 2003

Ultramaratona Masculino Takahiro Sunada 6h13’33” 1998


(100 km)
Feminino Tomoe Abe 6h33’11” 1998

Fonte: Adaptado de CBAt e IAF (2017).

É possível observar que as marcas obtidas em pista são melhores do que as


obtidas em rua — isso pode estar relacionado ao fato de o percurso em pista
ser totalmente plano. Além disso, na pista, os atletas usam a sapatilha com
pregos no solado, o que dá maior tração ao piso.
88 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS
Corridas de resistência 5

O tipo de piso também pode influenciar a corrida, principalmente por


causa do amortecimento do impacto. Assim, alguns pisos são mais favo-
ráveis e outros menos favoráveis para as corridas longas, conforme aponta
Machado (2011).

 Areia fofa: é um piso que possui uma capacidade de amortecimento


alta, porém, é mais recomendado para desenvolver a força e a resistência
específica.
 Asfalto: é um piso que possui uma capacidade de amortecimento baixa; é
o piso específico para as competições de rua e ideal para treinos de ritmo.
 Concreto: é um piso que possui uma capacidade de amortecimento
muito baixa; esse tipo de piso deve ser evitado.
 Grama: é um piso que possui uma capacidade de amortecimento alta,
ideal para treinos de ritmo e longos.
 Terra: é um piso que possui uma capacidade de amortecimento alta,
ideal para treinos de alta intensidade e longos.

Outra opção utilizada por alguns corredores é treinar em esteiras rolan-


tes, normalmente em academias. Algumas esteiras possuem um excelente
amortecimento, e elas podem ser utilizadas tanto por corredores iniciantes
como experientes, segundo Machado (2011). Porém, a mecânica da corrida
acaba sendo alterada, já que, na esteira, ocorre um deslocamento vertical
maior, pois a manta da esteira é que acaba se deslocando, o que também
afeta a propriocepção. Assim, normalmente, quando o atleta sai da esteira
após correr, sente uma sensação diferente ao andar, ou seja, ocorre um certo
desequilíbrio, pois muda o tipo de piso que ele está usando.
Já quando o atleta corre em solo, ele tem que empurrar ou tracionar o chão
para se deslocar e acaba também realizando um esforço maior, pois, além de
vencer a resistência do vento, dependendo do percurso, pode encontrar subidas.
Além disso, nesse tipo de local, ocorre a ativação dos músculos estabilizadores,
em função das imperfeições do terreno ou do tipo de piso.
Porém, segundo Machado (2011), existem algumas vantagens ao correr
na esteira, como uma menor resistência do vento e o controle da velocidade,
da distância e da inclinação. Além disso, com as esteiras posicionadas em
frente ao espelho, é possível corrigir a postura, além de facilitar o feedback do
professor. Por fim, trata-se de uma prática segura e que não sofre a influência
do ambiente, como frio, chuva ou calor excessivo.
Esportes Individuais: Corridas | UNIDADE 2
Corridas de Resistência | PARTE 2 89
6 Corridas de resistência

A maratona é a prova de pedestrianismo mais antiga, tendo sua origem na Grécia


Antiga, onde, segundo a lenda, o soldado Fidípedes correu aproximadamente 40 km
da planície de Maratona até Atenas, para levar a notícia da vitória dos gregos sobre
os persas. De acordo com a lenda, ao concluir a missão, ele morreu em seguida de
exaustão. A primeira maratona em jogos olímpicos ocorreu em 1896, com o percurso
original. Porém, a distância que conhecemos somente passou a ser percorrida nos
Jogos Olímpicos de Londres, em 1908. Para que a família real pudesse assistir ao início
da prova do jardim do castelo de Windsor, o comitê organizador alterou o percurso;
ao ser aferido, o percurso totalizou 42,195 km, distância usada até os dias atuais (CBAT;
IAFF, 2017).

Além das provas de pedestrianismo, existem provas do tipo cross coun-


try, ou corta-mato, e trail run, ou corridas de montanha, que possuem
percursos que, além da variação de altimetria com subidas e descidas,
também possuem obstáculos naturais, como trilhas, grama, entre outros
elementos.

Características de treinamento das corridas de


resistência
As capacidades físicas a serem trabalhadas, bem como os volumes de treino,
variam de acordo com o tipo de prova e o perfil do atleta, conforme aponta
Evangelista (2011). Assim, as corridas de 5 km exigem resistência anaeróbica
e aeróbica, potência aeróbica e velocidade, sendo sugerido para iniciantes
volumes de 15 a 20 km semanais, para intermediários, volumes entre 30 a 40
km, e para avançados, de 35 a 50 km. As corridas de 10 km também exigem
resistência anaeróbica e aeróbica, resistência de força e velocidade, sendo
sugerido para iniciantes volumes de 30 a 40 km semanais, para intermediários,
entre 40 a 60 km, e para avançados, de 60 a 80 km.
A meia maratona exige resistência aeróbica e resistência de força, sendo
sugerido para iniciantes volumes de 80 a 100 km semanais, para intermedi-
ários, entre 90 a 110 km, e para avançados, de 100 a 130 km. As maratonas
90 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS
Corridas de resistência 7

também exigem resistência aeróbica e resistência de força, sendo sugerido


para iniciantes volumes de 80 a 100 km semanais, para intermediários, entre
120 a 150 km, e para avançados, de 160 a 200 km.
Na próxima seção, serão discutidas as demandas fisiológicas para realizar
tais corridas. Em provas de resistência, segundo McNab (1983), a manutenção
do ritmo é um fator importante para o desempenho. Portanto, descobrir o seu
ritmo, ou pace, como é chamado entre os corredores, é algo que vai ajudar o
atleta a evitar processos de fadiga devido a um esforço excessivo.

Demandas fisiológicas nas diferentes provas de


resistência
Para que ocorra a contração muscular, segundo Gomes (2009), a fonte ener-
gética utilizada é a adenosina trifosfato (ATP). A ressíntese do ATP ocorre
devido a três mecanismos energéticos:

 Mecanismo aeróbio (oxidativo): ocorre por conta da oxidação, ou seja,


com a participação direta de O2, de hidratos de carbono e de gorduras
disponíveis no organismo.
 Mecanismo anaeróbio lático (glicolítico): ocorre a dissociação anaeróbia
(sem ou com pouca participação de O2) do glicogênio, com a formação
do lactato.
 Mecanismo anaeróbio alático (ATP-CP): está ligado à utilização de
fosfagênios presentes nos músculos em atividade, principalmente o
fosfato de creatina.

Nas provas de corrida de resistência, segundo Evangelista (2010), há um


predomínio do sistema aeróbio ou oxidativo, devendo ser estimulado com
prioridade durante os treinos. No entanto, os sistemas anaeróbios lático ou
alático, agindo de forma secundária, também devem ser estimulados durante
o processo de preparação. Os estímulos anaeróbios contribuem para a melhora
da velocidade e da capacidade aeróbia. O Quadro 2 apresenta a contribuição
dos sistemas aeróbios e anaeróbios durante as provas de corridas, conforme
aponta Machado (2011).
Esportes Individuais: Corridas | UNIDADE 2
Corridas de Resistência | PARTE 2 91
8 Corridas de resistência

Quadro 2. Comparação entre os sistemas energéticos aeróbio e anaeróbio nas diferentes


provas de corridas de resistência

Prova Sistema anaeróbio Sistema aeróbio

800 metros 95% 5%

1.500 metros 70% 30%

5 km 30% 70%

10 km 20% 80%

Maratona (42 km) 5% 95%

Fonte: Adaptado de Machado (2011).

Assim, é possível perceber que o sistema anaeróbio tem uma contribuição


maior em provas mais curtas, enquanto o sistema aeróbio tem uma contribuição
maior conforme o aumento da distância. Portanto, atletas de meio fundo ainda
possuem uma parcela de fibras de contração rápida, que vão contribuir de
acordo com o perfil da prova.
Em provas de 800 e 1.500 metros, o sistema aeróbio deve ser treinado;
porém, nas provas de 800 metros, deve haver uma prioridade sobre o sistema
anaeróbio, por ser mais exigido. Assim, atletas que tenham essa característica
de resistência à velocidade mais desenvolvida terão mais facilidade nesse
tipo de prova, pois, devido à sua dinâmica, essa prova acaba exigindo uma
aceleração final nos últimos 150 metros. Já a prova de 1.500 metros tem uma
exigência da capacidade anaeróbia um pouco menor, mas bem superior às
provas de fundo. Além disso, a dinâmica estratégica da prova acaba sendo
bem importante para a exigência da via metabólica. Uma prova que começa
mais cadenciada em seu ritmo terá uma exigência anaeróbia maior no final,
enquanto uma prova que já começa em um ritmo acelerado desde o início já
terá uma exigência anaeróbia no começo.
Segundo Evangelista (2010), o sistema aeróbio pode ser treinado com
estímulos superiores a 3 minutos, com três ou mais repetições. Já o sistema
anaeróbio lático pode ser basicamente trabalhado com estímulos de 30 segun-
dos a 3 minutos e repetições, que variam de uma a oito. O sistema anaeróbio
alático pode ser trabalhado com estímulos de 10 a 15 segundos de duração e
três a seis repetições.
92 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Corridas de resistência 9

O treinamento de corridas resulta em adaptações músculo esqueléticas,


com melhoras na coordenação muscular, aumentando, assim, a economia de
corrida e a velocidade. O recrutamento de fibras do tipo I, que têm por carac-
terísticas participarem do sistema oxidativo, sendo recrutadas em atividades de
longa duração, também é melhorado nesse treino, segundo Evangelista (2010).
Também podem ocorrer adaptações cardiovasculares, que envolvem a melhora
da capacidade cardíaca, pulmonar e dos vasos sanguíneos; essas adaptações
permitem um maior fornecimento de oxigênio aos tecidos musculares. Além
disso, ocorrem melhoras no volume máximo de oxigênio (VO2máx), que repre-
senta a capacidade máxima de o organismo captar, transportar e transformar
o oxigênio em energia durante o exercício.
Segundo Machado (2009), existem fatores limitantes para o VO2máx que
são genéticos, relacionados à hereditariedade, e outros relacionados ao sexo,
sendo observados maiores valores em homens. Também foi observada uma
melhora em torno de 15 a 20% com programas de treinamento. No entanto, essa
melhora pode estar limitada em indivíduos já treinados, pois a capacidade de
melhora acaba sendo reduzida, enquanto ocorrem melhoras mais expressivas
em indivíduos com um menor grau de treinamento.

Influência no desempenho
Entre os fatores que determinam o desempenho, segundo Evangelista (2010),
está a economia de corrida, que está relacionada à absorção de oxigênio pelo
corpo. Assim, atletas com os mesmos valores de VO2máx não necessariamente
correm na mesma velocidade; essa economia está relacionada à capacidade
de correr em velocidades maiores com menor gasto energético. Uma maior
quantidade de mitocôndrias está relacionada a uma menor produção de lactato,
a densidade de capilares está relacionada ao fornecimento de sangue com
oxigênio aos músculos, e uma maior capacidade cardíaca também vai fornecer
maior quantidade de sangue aos tecidos musculares.
Segundo Machado (2009), as corridas de resistência podem proporcionar
respostas agudas e crônicas. A melhora do desempenho com o treinamento
está relacionada com mudanças crônicas.
Esportes Individuais: Corridas | UNIDADE 2
Corridas de Resistência | PARTE 2 93
10 Corridas de resistência

A maratona exige uma grande capacidade de economia de energia; o recorde, de


aproximadamente 2 horas, foi obtido por Eliud Kipchoge em 2018. Um dos grandes
desafios do homem é correr a maratona abaixo de 2 horas; para isso, a combinação
de vários fatores é importante, como o percurso, a temperatura, a hidratação e os
corredores coelhos, que ditam o ritmo da prova, proporcionando, assim, uma excelente
economia de energia. Pensando nisso, a gigante dos materiais esportivos Nike, em
maio de 2017, tentou emplacar esse feito com três corredores, Eliud Kipchoge, Zersenay
Tadese e Lelisa Desisa, correndo um evento fechado, buscando as condições ideais.
Para isso, combinaram um percurso ideal no autódromo de Monza, na Itália. Porém,
por ser um percurso em circuito, essa marca não valeria como recorde mundial. Tam-
bém usaram uma equipe de coelhos, que se revezavam à frente dos três corredores
em uma formação em flecha, para tentar protegê-los da resistência do vento, e os
atletas usaram uma hidratação especial. Porém, a meta não foi atingida, e os atletas
ficaram a 26 segundos da tão esperada marca; Kipchoge conseguiu a incrível marca
de 2h00min25seg.

Mulheres e as corridas de resistência


A participação de mulheres em corridas é recente, e a primeira maratona
olímpica feminina foi realizada em Los Angeles, em 1984. As mulheres de-
mandam cuidados especiais durante o treinamento, principalmente devido ao
ciclo menstrual. Segundo Evangelista (2010), o débito cardíaco das mulheres
chega a ser 10% menor, o que resulta em: menos sangue oxigenado sendo
entregue aos músculos; menor quantidade de hemoglobina, que resulta em
menor transporte de oxigênio; e menor massa muscular e maior massa de
gordura, o que resulta em menor força; por isso, o cuidado com o impacto é
importante. Além disso, existem aspectos anatômicos, como um tendão de
Aquiles mais curto, que reduz a impulsão durante a corrida, e um quadril
mais largo, que resulta em joelhos mais próximos, alterando a mecânica da
corrida, o que resulta em um gasto energético maior.
Na próxima seção, serão discutidas as formas de trabalho das corridas de
resistência e suas possibilidades.
94 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS
Corridas de resistência 11

Técnicas empregadas nas diversas corridas de


resistência do atletismo
Segundo Fernandes (2003), normalmente os corredores de velocidade correm
sobre a ponta dos pés, enquanto os corredores de longa distância acabam
correndo tocando o calcanhar no chão. Além disso, a movimentação de bra-
ços é mais ampla nos corredores de velocidade, enquanto os corredores de
resistência mantêm os braços mais descontraídos e com uma movimentação
mais curta. A ação dos braços é muito importante nas subidas, em que o atleta
mantém a movimentação constante, o que contribui para manter a frequência
da passada; além disso, ele também acaba encurtando um pouco a passada,
de forma a não perder tanto rendimento nas subidas.
Nas provas de resistência, durante a fase de voo, a perna de balanço não
se eleva tanto quando projetada à frente, vindo quase paralela ao solo, assim
como a elevação do joelho à frente também é menor, o que contribui para a
redução da amplitude da passada. É diferente do que ocorre na corrida de
velocidade, em que o calcanhar é direcionado ao glúteo no início da fase de
voo, e o joelho é direcionado para cima e para a frente, aumentando, assim,
a amplitude da passada. Portanto, a amplitude da passada tende a ser menor,
assim como a frequência, em provas mais longas, pois nessas provas ocorre
uma preocupação maior com a economia de energia. Busca-se um equilíbrio
entre a frequência e a amplitude da passada, assim como uma postura adequada.
Segundo Machado (2009), um dos principais problemas da corrida diurna
é o sol, que pode causar aumento excessivo da temperatura corporal, influen-
ciando, assim, na termorregulação, que resulta em uma perda de rendimento.
Já o problema das corridas noturnas acaba sendo o elevado índice de monóxido
de carbono, o que prejudica a respiração, principalmente nos grandes centros,
além da segurança, que também é outro fator em função da baixa iluminação.

Aprendizagem das corridas de resistência


Antes de iniciar um programa de treinamento, são necessários alguns cuidados,
como uma anamnese, na qual são identificados os objetivos do atleta, além de
uma avaliação física e médica. A identificação do nível do atleta também é
importante, devendo-se classificá-lo como iniciante, intermediário ou avançado.
Isso vai facilitar na prescrição do treinamento.
Esportes Individuais: Corridas | UNIDADE 2
12 Corridas de resistência Corridas de Resistência | PARTE 2 95

Normalmente, como recomendação, os programas devem ter no mínimo


uma frequência de três treinos semanais e uma duração mínima de 20 minutos.
Um dos objetivos com os iniciantes é a iniciação à corrida; para tanto, são
usados pequenos percursos de corrida, alternados com percursos de caminhada
— a tendência é aumentar o percurso de corrida e diminuir o percurso de
caminhada aos poucos. Segundo Evangelista (2010), a prescrição dos progra-
mas de treinamento apresenta algumas variáveis, conforme listado a seguir.

 Volume de treino: está relacionado à quilometragem percorrida em


determinado período.
 Frequência: quantidade de treinos que o aluno treina por semana.
 Séries: estão presentes em trabalhos intervalados, sendo a quantidade
de blocos de repetições.
 Repetições: quantidade de vezes que a distância a ser trabalhada é
repetida, comumente chamadas de tiros.
 Intervalo: tempo de descanso entre as séries ou repetições (tiros).
 Intensidade: está relacionada à percepção do esforço ou à frequência
cardíaca durante a repetição ou tiro.

Corridas no ambiente aquático


Segundo Machado (2009), as corridas no meio líquido são normalmente
usadas para melhora do condicionamento, reabilitação e treino complementar,
principalmente em função do baixo impacto nas articulações. Basicamente,
estão divididas em corridas em águas rasas (water running), com água na
altura dos joelhos, e corridas em águas profundas (deep water running),
com auxílio ou não de coletes e águas acima da linha da cintura.
As propriedades físicas da água influenciam no treinamento; entre elas estão
a pressão hidrostática, que é maior de acordo com a profundidade e contribui
para o retorno venoso, a força do empuxo e a densidade, que contribuirão para
a redução da sobrecarga sobre as articulações, devido ao impacto.

Treino em altitude
Os treinos em altitudes acima de 1.800 metros podem acarretar melhoras
entre 1,8 a 2,5% na performance do atleta, segundo Evangelista (2010). Entre
as alterações encontradas, a permanência por no mínimo duas semanas em
elevadas altitudes pode gerar aumento no número de células vermelhas e,
entre 3 e 6 semanas, aumento da capacidade mitocondrial.
96 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS

Corridas de resistência 13

Durante as corridas de resistência, sempre surge a dúvida: “devo respirar pela boca ou
pelo nariz?” Normalmente, em repouso, respiramos pelo nariz, pois essa respiração
atende à nossa demanda de oxigênio. Além disso, o ar é aquecido e filtrado antes de
chegar aos pulmões. Porém, durante o exercício, a frequência respiratória aumenta,
devido à necessidade de mais oxigênio para manter o trabalho. Assim, com uma
frequência elevada, fica desconfortável respirar pelo nariz, além de a quantidade de
ar demandada ser insuficiente. Por isso, a respiração pela boca acaba sendo utilizada,
pois atende à demanda de oxigênio necessária para o exercício.

Como foi observado neste capítulo, existem vários tipos de corridas de


resistência, e cada prova tem uma determinada característica que precisa ser
desenvolvida. Porém, de maneira geral, são empregados os sistemas anaeróbio
e aeróbio para a produção energética — conforme se aumenta a distância ou o
tempo de duração, ocorre um predomínio do sistema aeróbio para a produção
de energia. Além disso, a mecânica da corrida acaba mudando, de acordo
com a velocidade.

CBAT; IAFF. Atletismo: regras oficiais de competição 2016-2017. São Paulo: Phorte, 2017.
EVANGELISTA, A. L. Treinamento de corrida de rua: uma abordagem metodológica e
fisiológica. São Paulo: Phorte, 2010.
FERNANDES, J. L. Atletismo: corridas. 3. ed. São Paulo: EPU, 2003.
GOMES, A. C. Treinamento desportivo. Porto Alegre: Artmed, 2009.
MACHADO, A. Bases científicas do treinamento de corridas. São Paulo: Icone, 2011.
MACHADO, A. Corrida: teoria e prática do treinamento. São Paulo: Icone, 2009.
MCNAB, T. Corridas de velocidade, fundo e meio fundo. Porto: Talus, 1983.

Leitura recomendada
BROWN, R. L. Corrida como condicionamento físico. São Paulo: ROCA, 2005.
Esportes Individuais: Corridas | UNIDADE 2
Corridas de Resistência | PARTE 2 97

PREZADO ESTUDANTE

ENCERRA AQUI O TRECHO DO LIVRO DISPONIBILIZADO


PELA SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE.
98 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS
unidade

2
V.1 | 2022

Parte 3
Corridas com Barreiras e
Corridas de Revezamento

O conteúdo deste livro


é disponibilizado
por SAGAH.
100 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS

Corridas com barreiras e


corridas de revezamento
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Diferenciar as provas de atletismo com barreiras das provas com


obstáculos.
 Descrever as particularidades das provas coletivas de revezamento
no atletismo.
 Elaborar intervenções para o desenvolvimento das técnicas específicas
das corridas de revezamento e barreiras.

Introdução
As provas de revezamentos se caracterizam por serem provas coletivas,
em que cada integrante da equipe corre uma parte do percurso. Existem
vários tipos de provas de revezamentos; por exemplo: provas realizadas
por influência cultural, como as provas indígenas; provas de pedestria-
nismo, como maratonas de revezamento; ou, ainda, desafios maiores,
como ultramaratonas de revezamento, que envolvem maiores distâncias.
Porém, em pista, as provas mais conhecidas são as de 4 × 100 metros e
de 4 × 400 metros, tanto masculinas quanto femininas, que envolvem
distâncias mais curtas e são caracterizadas como provas de velocidade.
Já as provas de barreiras são provas que envolvem tanto distâncias
curtas quanto distâncias longas, como é o caso das provas de obstácu-
los. Essas provas combinam a corrida com a passagem por obstáculos
específicos, que acabam exigindo do atleta não apenas velocidade ou
resistência, mas também outras habilidades físicas, como força e uma
boa percepção espaço-tempo.
Conhecer essas modalidades é importante para o futuro profissional
de educação física. Isso porque a combinação dos estímulos associados
a essas provas acaba contribuindo de forma importante não apenas
para a formação motora das crianças, mas também para a formação
Esportes Individuais: Corridas | UNIDADE 2
2 Corridas com barreiras e corridas de revezamentoCorridas com Barreiras e Corridas de Revezamento | PARTE 3 101

como pessoa. Afinal, essas provas dependem do trabalho em equipe,


desenvolvendo, assim, a cooperação, a responsabilidade, a comunicação,
a liderança, entre outras habilidades sociais.
Assim, neste capítulo, você vai estudar sobre as provas de atletismo
com barreiras e com obstáculos, bem como as particularidades das provas
de revezamentos. Você também vai verificar formas de desenvolver as
técnicas específicas das corridas de revezamentos e de barreiras.

As provas de atletismo com barreiras


e com obstáculos
A prova de 110 metros com barreiras surgiu na Inglaterra, em 1830, derivada
das corridas de 100 jardas, em que eram posicionadas barreiras de madeira
fincadas no chão. Atualmente, nas provas de corridas com barreiras, os
atletas utilizam a saída baixa e percorrem o percurso específico da prova
passando por 10 barreiras posicionadas em suas respectivas raias. As altu-
ras das barreiras são diferentes entre homens e mulheres, além de serem
diferentes também de acordo com a prova. O Quadro 1 apresenta a altura das
barreiras de acordo com as provas e o sexo, assim como as características do
posicionamento durante o percurso.

Quadro 1. Características para o posicionamento das barreiras de acordo com a prova

Barreiras

Distância da Distância Distância da


Prova Sexo Altura saída até a entre última barreira
primeira barreira barreiras até a chegada

110 m Masculino 1,07 m 13,72 m 9,14 m 14,02 m

100 m Feminino 0,84 m 13,00 m 8,50 m 10,50 m

400 m Masculino 0,91 m 45,00 m 35,00 m 40,00 m

Feminino 0,76 m 45,00 m 35,00 m 40,00 m

Fonte: Adaptado de CBAt; IAAF (2017).


102 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS
Corridas com barreiras e corridas de revezamento 3

O atleta deve permanecer em sua respectiva raia do início ao fim; caso saia
de sua raia, derrube alguma barreira voluntariamente ou não passe por alguma
barreira, será desclassificado, conforme aponta a Confederação Brasileira de
Atletismo (CBAT; IAAF, 2017). As barreiras derrubadas involuntariamente
não implicam em nenhuma penalização para o atleta.
Esse é um aspecto interessante dessas provas, pois, até 1935, os atletas
eram desclassificados por derrubarem três barreiras ou mais. Atualmente, o
critério para desqualificação do atleta é subjetivo e definido pelo árbitro, que
considera como ato voluntário se o atleta quis derrubar a barreira, porque a
atingiu no meio, atropelando-a, ou como ato involuntário, quando ele esbarra
sem querer e a barreira cai, conforme leciona a Associação Internacional de
Federações de Atletismo (IAAF, [2019]). O Quadro 2 apresenta os recordes
mundiais das provas de barreiras masculinas e femininas.

Quadro 2. Recordes mundiais nas provas de barreiras

Barreiras

Prova Sexo Atleta Tempo Ano

110 m Masculino Aries Merritt 12"80 2012

100 m Feminino Kendra Harrison 12"20 2016

400 m Masculino Kevin Young 46"78 1992

Feminino Yuliya Pechenkina 52"34 2003

Fonte: Adaptado de IAFF ([2019]).

100 metros com barreiras


Essa é uma prova exclusivamente feminina, que teve a sua estreia olímpica
em 1932 em Los Angeles, com a distância de 80 metros, conforme leciona
Matthiesen (2017). Segundo Barros e Dezem (1990), a prova de 80 metros já
não atendia mais as exigências devido à evolução técnica; ou seja, as meninas
mais altas e velozes já não conseguiam executar uma corrida fluente, tendo
que encurtar as passadas. Assim, houve a substituição da distância para os
Esportes Individuais: Corridas | UNIDADE 2
4 Corridas com barreiras e corridas de revezamentoCorridas com Barreiras e Corridas de Revezamento | PARTE 3 103

atuais 100 metros, assim como o aumento do número de barreiras para 10.
Em 1972, em Munique, a prova já ocorreu com a distância atual.
Entre os destaques dessa prova está Yordanka Donkova, atleta búlgara
que conquistou a medalha de ouro nas Olímpiadas de Seul, em 1988, e esta-
beleceu quatro recordes mundiais, o último com a marca de 12"21, em 1988.
Esse recorde foi superado pela americana Kendra Harrison apenas em 2016.
Entre os países mais fortes nessa categoria estão Estados Unidos, Alemanha,
Bulgária, Rússia, Suécia e Canadá, conforme a IAAF ([2019]).

110 metros com barreiras


Essa é uma prova exclusivamente masculina e teve sua origem na Ingla-
terra em corridas de 100 jardas, provavelmente derivando de competições
hípicas, em que eram posicionadas barreiras de madeira fi xas no chão, com
1,07 metros de altura (CBAT; IAAF, 2017). As universidades de Oxford e
Cambridge aumentaram a distância para 120 jardas (109,7 metros); pos-
teriormente, em 1888, essa distância foi arredondada para os 110 metros
pelos franceses, devido ao sistema métrico. Essa prova teve sua estreia
olímpica na primeira edição dos jogos modernos, em 1896, conforme aponta
a IAAF ([2019]).
Os Estados Unidos se destacam nessa prova; além do atual recordista
mundial, o país já ganhou 19 vezes o título olímpico. Entre os destaques está
Allen Johnson, que correu em sua carreira 11 vezes abaixo dos 13 segundos,
além de ter conquistado o ouro nas Olimpíadas de 1996. Cuba, Grã-Bretanha
e China também são países com excelentes atletas nessa prova, conforme a
IAAF ([2019]).

400 metros com barreiras


Nessa prova, os atletas correm uma volta completa em uma pista de 400
metros, onde são posicionadas 10 barreiras em suas respectivas raias. Essa
prova teve sua origem na universidade de Oxford, na Inglaterra, por volta de
1860, onde os atletas corriam uma prova de 440 jardas (402,33 metros), em
que eram fixadas no chão 12 barreiras de madeira com 1 metro de altura,
segundo a IAAF ([2019]).
A estreia olímpica dessa prova foi em 1900, em Paris. Já as mulheres estre-
aram apenas em 1984 em Los Angeles, conforme leciona Matthiesen (2017),
104 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Corridas com barreiras e corridas de revezamento 5

com a vitória de Nawal El Moutawakel, do Marrocos, que se tornou a primeira


campeã olímpica africana e de uma nação islâmica, segundo a IAAF ([2019]).
Os Estados Unidos são uma grande potência na modalidade, com 18 títulos
olímpicos, assim como Rússia e Jamaica. Um dos grandes destaques foi o
atleta Edwin Moses, que ficou invicto por 122 provas consecutivas entre 1977
e 1987, além de ter conquistado dois títulos olímpicos, tornando-se, assim, o
maior atleta de todos os tempos nessa prova. Entre as mulheres, a britânica
Sally Gunnell se destacou nessa prova entre os anos de 1992 e 1994, conforme
aponta a IAAF ([2019]).

3.000 metros com obstáculos


Nessa prova, os atletas usam a largada do tipo alta e não precisam se manter
nas raias. Eles devem completar o percurso de 3.000 metros, em que, em
cada volta, passam por quatro obstáculos e um fosso com água, totalizando
28 saltos sobre os obstáculos e sete sobre o fosso. A distância entre cada
obstáculo é de aproximadamente 80 metros. Os obstáculos para os homens
possuem 0,91 metros de altura e, para as mulheres, 0,76 metros (CBAT;
IAAF, 2017). Um dos grandes charmes dessa prova e que chama a atenção
é o salto do obstáculo sobre o fosso de água: após um dos obstáculos, há
um fosso de água que possui 3,66 metros de comprimento e 0,70 metros na
região mais funda (Figura 1).

Figura 1. Obstáculo do fosso na prova de 3.000 metros com obstáculos. Esse fosso é mais
fundo na região próxima ao obstáculo, depois vai ficando raso com a maior distância do
obstáculo.
Fonte: charnw/Shutterstock.com; 3000m… (2018, documento on-line).
Esportes Individuais: Corridas | UNIDADE 2
6 Corridas com barreiras e corridas de revezamentoCorridas com Barreiras e Corridas de Revezamento | PARTE 3 105

A corrida de obstáculos (steeplechase, em inglês) teve sua origem na


Grã-Bretanha, onde corredores corriam de uma cidade para outra, passando
obstáculos como riachos e paredes baixas. Um evento em pista foi realizado
em 1879, na universidade de Oxford. Essa prova tem estado presente nos jogos
olímpicos desde 1900, em Paris, mas com distâncias diferentes. A distância
atual de 3.000 metros foi padronizada em 1920, na Antuérpia. As mulheres
estrearam nessa prova apenas em 2008 (CBAT; IAAF, 2017).
Entre os homens, o Quênia é o país com mais títulos olímpicos; já entre
as mulheres, Rússia e Quênia são os países que dominam. Entre os homens,
podemos destacar Moses Kiptanui, que foi o principal competidor entre 1991
e 1995. Entre as mulheres, destaca-se a russa Gulnara Galkina, que foi re-
cordista mundial em 2003 e campeã olímpica em 2008, sendo a primeira
mulher a correr abaixo dos 9 minutos a distância, conforme aponta a IAAF
([2019]). O Quadro 3 apresenta os recordes mundiais das provas de obstáculos
masculinas e femininas.

Quadro 3. Comparação entre os recordes mundiais nas provas de obstáculos

Obstáculos

3.000 m Masculino Shaheen Saif Saaeed 7'53"63 2004

Feminino Beatrice Chepkoech 8'44"32 2018

Fonte: Adaptado de CBAt; IAAF (2017).

Após estudar o funcionamento das provas com barreiras e obstáculos,


nos próximos parágrafos você vai identificar as principais características das
provas de revezamentos.

Particularidades das provas coletivas


de revezamentos no atletismo
As corridas de revezamentos já eram conhecidas dos gregos na Antiguidade;
as panateneias, realizadas em homenagem à deusa Atena, incluíam uma
106 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Corridas com barreiras e corridas de revezamento 7

prova de revezamento chamada lampadodromia (“corrida das tochas”).


Era uma disputa entre cinco equipes compostas por 40 atletas cada; nela,
a chama era conduzida sem poder ser apagada, e vencia a equipe que
acendesse a fogueira no altar de Prometeu, localizado na chegada (CBAT;
IAAF, 2017). O conceito de revezamento também remete à Antiguidade,
advindo da prática em que um mensageiro transmitia a mensagem para
outro mensageiro, e este para outro, até ela chegar ao seu destino, segundo
a IAAF ([2019]).
As provas de revezamento atualmente são provas em equipe realizadas
em pista de atletismo e compostas por quatro atletas, sendo normalmente
realizadas nas distâncias de 4 × 100 metros e 4 × 400 metros. No Quadro 4
são apresentados os recordes mundiais masculino e feminino.

Quadro 4. Recordes mundiais nas provas de revezamentos

Prova Sexo Equipe Tempo Ano

4 × 100 m Masculino Jamaica 36"84 2012

Feminino Estados Unidos 40"82 2012

4 × 400 m Masculino Estados Unidos 2'54"29 1993

Feminino União Soviética 3'15"17 1988

Fonte: Adaptado de CBAt; IAAF (2017).

Revezamento 4 × 100 metros


Nessa prova, os quatro corredores correm na mesma raia, dando uma volta
completa na pista de atletismo. Cada atleta, durante o seu percurso, deve
conduzir um bastão, que deve ser passado para o próximo corredor em
uma área de 20 metros de comprimento, denominada zona de passagem
(Figura 2), estando ela dividida em 10 metros antes e 10 metros depois de
completar o percurso. Portanto, cada atleta pode receber o bastão e correr
entre 90 e 110 metros.
Esportes Individuais: Corridas | UNIDADE 2
8 Corridas com barreiras e corridas de revezamento
Corridas com Barreiras e Corridas de Revezamento | PARTE 3 107

Figura 2. A zona de passagem possui 20 metros de comprimento, iniciando no ponto A


e encerrando no ponto C. O ponto B indica o final do percurso de 100 metros; assim, o
ponto A está 10 metros atrás, na marca dos 90 metros, e o ponto C está 10 metros à frente,
na marca dos 110 metros. Essa é a área onde o atleta pode receber o bastão. Na prova de
4 x 100 metros, existem três zonas de passagem.
Fonte: (a) Adaptada de Bullstar/Shutterstock.com; (b) Adaptada de Remo_Designer/Shutterstock.com.

O primeiro revezamento olímpico ocorreu em 1908, em uma corrida de


1.600 metros; porém, o primeiro revezamento em jogos olímpicos de 4 ×
100 metros para homens foi realizado em 1912, em Estocolmo, enquanto
as mulheres estrearam em 1928, em Amsterdã, sendo a equipe canadense a
vencedora (CBAT; IAAF, 2017).
Entre os países de destaque estão os Estados Unidos, que dominaram por
muitos anos essa prova, sendo que, entre 1920 e 1976, os homens venceram todos
os eventos, exceto um título olímpico. O lendário velocista Carl Lewis correu como
último homem em cinco equipes diferentes que quebraram o recorde mundial entre
1983 e 1992. Já entre as mulheres, Evelyn Ashford obteve três títulos olímpicos
108 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Corridas com barreiras e corridas de revezamento 9

consecutivos nessa prova entre 1984 e 1992. Porém, os jamaicanos liderados por
Usain Bolt reescreveram os recordes, sendo a primeira equipe a correr abaixo dos
37 segundos. Em 2012, Bolt obteve a incrível marca de 8,70 segundos nos 100
metros finais. Nessa prova, o atleta já estava em uma corrida lançada para pegar
o bastão; assim, não perdeu tempo com a aceleração, mostrando que é possível
a busca por novas marcas, conforme aponta a IAAF ([2019]).
O Brasil obteve bons resultados, como a medalha de bronze nos Jogos
Olímpicos de Atlanta, em 1996, e a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de
Sydney, em 2000. Nessa oportunidade, foi conquistada a melhor marca do
Brasil; a equipe era composta por Vicente Lenílson, Edson Ribeiro, André
Domingos e Claudinei Quirino (CBAT; IAAF, 2017).

Revezamento 4 × 400 metros


Nessa prova, cada atleta completa uma volta de 400 metros na pista, sendo
que o primeiro atleta realiza sua volta completa na raia designada. O segundo
atleta corre apenas os primeiros 100 metros na raia designada e depois já pode
se direcionar para a raia interna. O terceiro e o quarto atletas correm na raia
interna. Os corredores conduzem o bastão em seu percurso e, após fechar cada
volta, passam para o próximo corredor dentro da zona de passagem, que fica
10 metros antes e 10 metros depois de fechar a volta. Assim, a passagem pode
ocorrer entre 390 e 410 metros.
O primeiro revezamento olímpico ocorreu em 1908, com distâncias diferen-
tes, sendo dois percursos de 200 m, seguido por um de 400 m e outro de 800
m. Assim como o revezamento 4 × 100 metros, o primeiro revezamento em
jogos olímpicos de 4 × 400 m para homens foi em 1912, nos Jogos Olímpicos
de Estocolmo, enquanto as mulheres estrearam apenas em 1972, nos Jogos
de Munique (CBAT; IAAF, 2017).
Os homens americanos dominam essa modalidade com 17 títulos olímpicos,
com astros como Michael Johnson, que, no mundial de 1993, fechou a prova
correndo os 400 metros em incríveis 42,91 segundos. Jeremy Wariner é outro
atleta de destaque, com dois títulos mundiais, e foi um dos principais membros
da equipe americana nos anos 2000; possui a segunda marca mais rápida
em revezamentos, com 42,93 segundos, obtida no campeonato mundial em
2007. Jamaica, Bahamas e Grã-Bretanha também aparecem como destaques
entre os homens. Entre as mulheres, as americanas também são destaque com
quatro títulos olímpicos; outros países de destaque são Rússia e Jamaica. A
jamaicana Sandie Richards participou de cinco finais olímpicas consecutivas,
segundo a IAAF ([2019]).
Esportes Individuais: Corridas | UNIDADE 2
Corridas com Barreiras e Corridas de Revezamento | PARTE 3 109
10 Corridas com barreiras e corridas de revezamento

No link a seguir você encontra um guia de mídia produzido pela Confederação Brasileira
de Atletismo (CBAt), que apresenta os atletas do revezamento brasileiro no campeonato
mundial de 2019, além de mostrar as principais marcas desses atletas.

https://qrgo.page.link/pQZLh

Passagem do bastão
A técnica de corrida empregada nas provas de revezamento, segundo Matthiesen
(2017), é muito semelhante às utilizadas em corridas de velocidade, até porque
os atletas que compõem os revezamentos competem individualmente em suas
respectivas provas. Uma das características que diferenciam os revezamentos
é a passagem do bastão, que, no revezamento 4 × 100 metros, é uma etapa
fundamental, por ser uma prova mais curta. Nos 4 × 400 metros, por ser uma
prova mais longa, a passagem do bastão precisa apenas ser bem executada.
Assim, podemos dizer que, na prova de 4 × 100 metros, a passagem é não
visual, pois os atletas não olham para o companheiro para receber o bastão.
Essa passagem precisa ser bem treinada, e os atletas precisam estar em sintonia.
A prova é executada em altíssima velocidade, e, no momento da passagem, os
atletas ficam quase lado a lado na mesma raia. Caso o atleta olhe para trás,
a chance de sair da raia é muito grande, o que faria com que a equipe fosse
desqualificada. Portanto, durante a passagem do bastão, o atleta olha para a
frente e mantém sua corrida em aceleração; quando se aproximar do recebedor,
deve emitir um sinal sonoro como “já” ou “vai”, para que o recebedor estenda
o braço para trás e receba o bastão.
Além disso, no momento da passagem, os atletas precisam estar em uma
velocidade similar. Por isso, quem vai receber precisa começar a correr antes
de entrar na zona de passagem, para quando entrar nessa área estar em uma
velocidade compatível. Assim, os atletas precisam estar bem entrosados,
para evitar que um dos atletas acelere antes e acabe não sendo alcançado
pelo companheiro na zona de passagem, tendo que desacelerar, ou que seja
atropelado pelo companheiro por não ter acelerado a tempo de receber o bastão
na mesma velocidade, exigindo a desaceleração e acarretando perda de tempo.
O bastão deve ficar posicionado na mão esquerda ou direita, dependendo
do percurso, isto é, se o atleta corre na reta ou na curva. Quem corre na curva
110 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Corridas com barreiras e corridas de revezamento 11

corre com o bastão na mão direita, para poder ficar na parte interna da raia;
já quem corre na reta segura o bastão na mão esquerda.
Os atletas também são posicionados de acordo com o percurso, possuindo
características diferentes. Veja-as a seguir.

 Primeiro corredor: deve ter uma excelente largada, com boa aceleração,
além de ser um excelente corredor de curva.
 Segundo corredor: deve ter uma boa habilidade para a passagem do
bastão e conseguir realizar uma boa corrida lançada.
 Terceiro corredor: deve ter uma boa habilidade para a passagem do
bastão, realizar uma boa corrida lançada e ser um excelente corredor
de curva.
 Quarto corredor: deve ter uma boa habilidade para a passagem do bastão
e, normalmente, é o melhor corredor da equipe.

Já a passagem visual é aquela em que o atleta olha para o companheiro para


receber o bastão. Nessa passagem, o atleta fica olhando para o companheiro e,
quando este se aproxima, o primeiro começa a correr para ganhar velocidade e
receber o bastão sem ser atropelado pelo companheiro. Assim, essa passagem
é usada na prova de 4 × 400 metros desde a primeira passagem, mas sendo
mais útil na segunda e na terceira trocas. Isso porque a segunda e a terceira
trocas não ocorrem na raia designada, mas livremente na pista; assim, quem
vai receber precisa ficar olhando, atento à trajetória do seu companheiro e das
outras equipes, para evitar algum choque entre os corredores.
Quem fica mais próximo à raia interna da pista acaba tendo vantagem, e
os atletas acabam se espremendo em direção à raia interna. O que determina
a ordem de quem fica na raia interna é a passagem dos 200 metros; assim, a
equipe que passa na frente tem a preferência de ficar na raia interna. Normal-
mente, a passagem ocorre da mão direita para a mão esquerda, e, ao longo
do percurso, os atletas passam o bastão da mão esquerda para a direita, para
poderem entregar na mão esquerda do próximo corredor.
A passagem pode ocorrer em um movimento ascendente, ou seja, ser
realizada de baixo para cima — quem recebe posiciona a palma da mão para
baixo —, ou pode ser em um movimento descendente, ou seja, realizada
de cima para baixo — quem recebe posiciona a palma da mão para cima
(Figura 3). Caso o corredor derrube o bastão, aquele que derrubou deve
juntar e continuar a corrida do ponto onde o bastão caiu.
Esportes Individuais: Corridas | UNIDADE 2
12 Corridas com barreiras e corridas de revezamento
Corridas com Barreiras e Corridas de Revezamento | PARTE 3 111

Figura 3. a) Passagem do bastão de forma ascendente, em que o movimento de quem


passa o bastão é de baixo para cima, e quem recebe posiciona a mão com a palma da
mão para baixo. b) Passagem do bastão de forma descendente, em que o movimento de
quem passa o bastão é de cima para baixo, e quem recebe posiciona a mão com a palma
da mão para cima.
Fonte: Alex Kravtsov/Shutterstock.com; wavebreakmedia/Shutterstock.com.

As provas de revezamentos podem ser praticadas em distâncias não convencionais,


sendo que as seguintes distâncias possuem recordes mundiais: 4 × 200 metros, 4 × 800
metros e 4 × 1.500 metros. Existe ainda o recorde para o revezamento de maratona,
com equipes formadas por seis atletas. Em algumas competições, ocorre também o
revezamento medley, composto por equipes mistas.

Desenvolvimento das técnicas específicas


das corridas de revezamento e barreiras
A corrida de revezamento permite uma atividade em grupo em uma moda-
lidade que é majoritariamente individual. Atividades em grupo contribuem
para a formação ampla da criança, uma vez que ela precisa interagir com os
outros, o que permite a socialização. Como a equipe depende do desempenho
dela, a criança assume uma responsabilidade com sua equipe; ou seja, ela
deve fazer o seu melhor pela equipe. Assim, quando a criança desiste, ela
não afeta somente ela mesma, mas toda a equipe. Além disso, a motivação
gerada pelo grupo pode criar um ambiente de aceitação e superação; os
companheiros podem criar um ambiente acolhedor e motivador, dando,
assim, segurança para a equipe.
112 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Corridas com barreiras e corridas de revezamento 13

Dentro da iniciação, as atividades de revezamento podem ser iniciadas


com corridas de estafetas, em que as crianças percorrem distâncias curtas se
revezando com outros colegas. O professor pode oferecer objetos como bolas,
arcos e cordas para a troca entre os companheiros antes da corrida, o que
estimula a capacidade de manipulação dos objetos. Além disso, pode-se inserir
variações no percurso, como obstáculos para serem saltados ou contornados,
desenvolvendo, assim, de forma ampla, as capacidades motoras.
Como exemplo de progressão didática para a passagem do bastão, segundo
Barros e Dezem (1990), primeiro inicia-se com os alunos posicionados
em fila e o bastão sendo passado de trás para a frente com a mesma mão,
preferencialmente usando a passagem ascendente. Depois, busca-se realizar
esse movimento andando e, depois, correndo. Após os alunos entenderem
essa passagem mais simples, podem ser executados pequenos percursos
realizando a passagem. Como variação, pode-se manter as filas e realizar a
passagem de trás para a frente: quando o bastão chegar no primeiro aluno
da fila, este deve correr um determinado percurso, ir para o fim da fila e
iniciar a passagem novamente, para que o próximo aluno corra; isso vai
acontecendo até todos correrem, e ganha a equipe que fizer a passagem com
todos os alunos mais rápido.
Entre as evoluções, pode ser trabalhada a passagem realizando a troca
de mãos, ou seja, o aluno passa o bastão com a mão direita e recebe com a
esquerda; então, ele precisa transferir o bastão para a mão direita antes de
passar. A passagem não visual pode ser trabalhada com as marcações das zonas
de passagem; nesse caso, o aluno exercitará a percepção espacial ao ter que
entrar na zona de passagem para poder receber o bastão. Feedbacks visuais
como cones ou arcos podem ser utilizados para identificar essa área. Como
pode-se perceber, o trabalho de revezamento apresenta diversas possibilidades
de desenvolvimento.

Técnica de passagem da barreira


Ainda que as corridas de barreiras sejam consideradas provas de velocidade,
algumas particularidades devem ser levadas em conta. A distância entre
barreiras e a altura são fatores que podem influenciar a técnica. Basica-
mente, o objetivo é passar pela barreira o mais próximo possível e com a
máxima velocidade. Dessa forma, podemos separar o movimento entre a
perna de ataque, que deve estar estendida no momento da passagem, e a
perna de passagem, que deve estar flexionada e com a abdução do quadril
no momento da passagem.
Esportes Individuais: Corridas | UNIDADE 2
14 Corridas com barreiras e corridas de revezamentoCorridas com Barreiras e Corridas de Revezamento | PARTE 3 113

Podemos separar a prova em três etapas:

1. saída até a primeira barreira;


2. entre barreiras;
3. da última barreira até a chegada.

Na prova de 100 ou 110 metros, após realizar a saída, o atleta deve buscar
posicionar a perna de ataque, com a qual executa o movimento com maior
facilidade, para iniciar as passagens. Além disso, devido à proximidade da
barreira, diferentemente da prova de 100 metros rasos, em que o atleta vai
assumindo a posição de corrida próximo aos 20 metros, na prova de barreiras,
ele deve assumir rapidamente a posição ereta, para se preparar para a passagem
da barreira. Normalmente, executa-se esse percurso com sete a oito passos.
Já na prova de 400 metros, há uma distância maior até a primeira barreira, e
o atleta executa em torno de 21 a 24 passos.
Após a passagem, o atleta mantém o número de passadas entre as barreiras,
para evitar a troca da perna de ataque. Portanto, a barreira deve ser atacada
estendendo-se a perna; para que isso ocorra, a impulsão deve ser feita a uma
distância suficiente para que o atleta consiga estender a perna de ataque mantendo
a velocidade e o ritmo. É muito comum que iniciantes façam a passagem muito
próximos à barreira, segundo Barros e Dezem (1990), e, com isso, acabam fazendo
um movimento de salto sobre a barreira, e não de passagem; assim, seu centro de
gravidade oscila muito, além de aumentar seu tempo de voo. Por isso, o ideal é
executar a impulsão para a passagem aproximadamente 6 a 8 pés antes da barreira,
possibilitando projetar a perna de ataque estendida para realizar a passagem.
Normalmente, nas provas de 100 e 110 metros, os atletas realizam três
passos completos — o quarto passo seria a passagem da barreira — ou quatro
tempos — quatro toques no chão entre cada barreira, o que permite manter
o ataque sempre com a mesma perna. Para isso, alguns pontos podem ser
observados, como os a seguir.

 Velocidade anterior à passagem da barreira: se o atleta não mantém a


velocidade, precisa fazer mais força para passar a barreira, o que pode
fazer também com que não execute o número de passos corretos e tenha
que inverter a perna de ataque.
 Eficácia da técnica da passagem: pode fazer com que tenha um de-
sequilíbrio e perca velocidade, prejudicando as próximas passagens.
 Recuperação após a passagem: deve ser o mais breve possível, para
voltar a acelerar por meio das passadas.
114 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Corridas com barreiras e corridas de revezamento 15

Já na prova de 400 metros, a distância entre as barreiras é maior; normal-


mente, os atletas executam 13 passadas ou 14 tempos mantendo a perna de
ataque. Porém, devido à fadiga no final da prova, os atletas podem diminuir o
número de passadas, mudando, assim, a perna de ataque; por isso, é importante
treinar a passagem com as duas pernas. Além disso, segundo Matthiesen (2017),
é muito comum esses atletas realizarem o ataque com a perna esquerda, pois
favorece a corrida em curva.
Segundo Lope e Benejam (1998), são erros comuns executados durante
a passagem das barreiras:

 desequilíbrio muito acentuado nas passadas iniciais da corrida — pode


causar perda de ritmo e velocidade;
 primeiro passo muito curto após a passagem sobre a barreira — pode
fazer com que tenha que executar um passo a mais, invertendo, assim,
a perna de ataque;
 fazer o ataque à barreira muito longe — pode ser que caia sobre a
barreira ou tenha que prolongar a fase aérea;
 fazer o ataque à barreira muito perto — não vai conseguir estender a
perna de ataque;
 utilização incorreta dos braços — pode descoordenar a corrida;
 flexão prematura do tronco ao nível dos quadris — pode não atingir a
altura suficiente para passar a barreira;
 desequilíbrio lateral do corpo após a passagem, no momento de tocar
o solo — pode causar desequilíbrio e sair da raia, além de perder ve-
locidade e ritmo.

Após a última barreira, em ambas as provas, o atleta deve se posicionar


como em uma prova de velocidade, tentando acelerar ao máximo no final da
prova e projetando o tronco à frente na linha de chegada.

Técnica de passagem do obstáculo


A técnica de corrida usada na prova de 3.000 metros é semelhante à usada
por corredores de meio fundo, segundo Barros e Dezem (1990). Para a
passagem dos obstáculos, é importante que o atleta seja capaz de executar o
movimento tanto com a perna esquerda quanto com a direita. A passagem é
semelhante à dos 400 metros com barreiras — já que os obstáculos possuem
a mesma altura —, mas com um pouco mais de altura para ter segurança
de que não vai tocar no obstáculo e, consequentemente, desequilibrar-se ou
Esportes Individuais: Corridas | UNIDADE 2
16 Corridas com barreiras e corridas de revezamentoCorridas com Barreiras e Corridas de Revezamento | PARTE 3 115

acabar caindo. Normalmente, o atleta acelera ao se aproximar do obstáculo,


para poder passá-lo sem perder velocidade e prejudicar o ritmo da corrida.
Como o obstáculo é mais pesado e permite o apoio sobre o mesmo, os
iniciantes acabam apoiando o pé sobre ele para executar a passagem, mas
isso faz com que percam ritmo na corrida.
Para a passagem sobre o fosso, normalmente o atleta acelera aproximada-
mente 15 metros antes e apoia a perna de ataque sobre o obstáculo, lançando
a perna de passagem para a frente e buscando cair o mais longe possível,
aterrissando na parte mais rasa do fosso.
Matthiesen (2017) sugere alguns erros comuns na passagem dos obstáculos:

 perda da velocidade de corrida depois da passagem do obstáculo;


 queda na parte mais funda do fosso;
 dificuldades para atacar o obstáculo.

De modo geral, devem ser usados exercícios que trabalhem a força e a


técnica, bem como a percepção da distância de aproximação do obstáculo.

Iniciação às provas de barreiras e obstáculos


Para a iniciação à passagem das barreiras e obstáculos, podem ser usadas
cordas, bastões, arcos ou cones; esses objetos devem ser leves para não ma-
chucarem ou derrubarem as crianças. É importante desenvolver uma boa
técnica e, principalmente, o ritmo.
Para uma boa passagem, a velocidade é importante. Quando se atinge uma
velocidade e se realiza a impulsão, a inércia faz com que você se mantenha
em movimento no ar. Portanto, quanto maior é a velocidade, mais fácil é
ultrapassar alturas.
Gradativamente, pode-se aumentar a altura dos obstáculos, cuidando
para que sejam compatíveis com a capacidade da turma, evitando-se aci-
dentes. Pode-se usar obstáculos posicionados em distâncias diferentes, o
que vai estimular a capacidade de adaptação temporal dos alunos, pois
terão que ajustar a velocidade e a passada para realizar o salto sobre os
obstáculos, ora aumentando o número de passos, ora encurtando o número
de passos.
116 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Corridas com barreiras e corridas de revezamento 17

A técnica pode ser trabalhada de forma parcial, trabalhando primeiro a perna


de passagem e depois a perna de ataque. Para isso, o aluno pode passar com
a pernas sobre cones posicionados em filas; para tanto, posicionam-se quatro
cones a uma distância de 8 metros, aproximadamente. O aluno pode caminhar e
executar o movimento de abdução do quadril e flexão do joelho ao passar sobre
o cone, posicionando a perna de ataque lateralmente ao cone; em seguida, pode
fazer isso com um pequeno trote e, depois, com uma corrida mais veloz, tentando
coordenar o movimento da perna de passagem. Depois, o aluno pode repetir os
movimentos para a perna de ataque: ele inicia caminhando e, quando se aproxima
do cone, estende a perna de ataque e passa sobre ele; em seguida, repetem-se os
movimentos trotando e, depois, correndo. Para finalizar, o aluno faz o movimento
completo da passagem.
A passagem sobre o fosso na corrida com obstáculos pode ser desenvolvida
pedagogicamente usando o banco sueco ou o plinto. Posiciona-se um colchão
após o plinto, utilizando uma altura mais baixa; o aluno pode vir correndo,
apoiar a perna de ataque sobre o plinto e lançar a perna de passagem sobre o
colchão, continuando com o movimento da corrida. Gradativamente, aumenta-
-se a altura do plinto, e o aluno executa o mesmo movimento.
Para desenvolver a percepção da fase de voo do salto, podem ser usados
arcos no chão. Pode-se formar três filas com cinco arcos, aproximadamente;
em cada fila, posicionam-se os arcos com distâncias diferentes. Na primeira
fila, pode-se deixar os arcos a cerca de 1 metro de distância um do outro; na
segunda, a cerca de 1,5 metros, e na terceira, a cerca de 2 metros de distância
(essas distâncias podem variar de acordo com os alunos). Os alunos devem
passar tocando com os pés dentro dos arcos. Pode-se iniciar pela primeira
fila, inicialmente sem corrida, depois com uma pequena corrida e, depois,
com uma corrida mais veloz; em seguida, passa-se para a próxima fila e se
repete a tentativa, e assim por diante. Os alunos devem perceber com isso
que, quando correm com mais velocidade, fica mais fácil saltar a distância
tocando dentro dos arcos. Assim, os iniciantes percebem a importância de
manter uma velocidade constante para passar as barreiras, sendo esse um dos
objetivos da corrida com barreiras.
Neste capítulo, você estudou sobre as principais características das cor-
ridas com barreiras e revezamentos, verificando as suas especificidades, as
possibilidades de iniciação e a sua contribuição na formação das crianças.
Esportes Individuais: Corridas | UNIDADE 2
Corridas com Barreiras e Corridas de Revezamento | PARTE 3 117
18 Corridas com barreiras e corridas de revezamento

3000M Steepleachase. Belarus, [s. l.], 25 jun. 2018. Disponível em: https://www.belarus.
by/en/press-center/photo/i_16586.html?page=6. Acesso em: 5 jun. 2019.
BARROS, N.; DEZEM, R. O atletismo. 2. ed. São Paulo: Apoio, 1990.
CBAT; IAAF. Atletismo: regras oficiais de competição 2016-2017. São Paulo: Phorte Edi-
tora, 2017.
IAAF. Disciplines. International Association of Athletics Federations, [s. l.], [2019]. Disponível
em: https://www.iaaf.org/disciplines. Acesso em: 5 jun. 2019.
LOPE, M. V.; BENEJAM, J. C. Tratado de atletismo. Madrid: Esteban Sanz Martínez, 1998.
MATTHIESEN, S. Q. Fundamentos de educação física no ensino superior atletismo: teoria
e prática. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.

Leitura recomendada
MATTHIESEN, S. Q. Atletismo se aprende na escola. 2. ed. Jundiaí: Fontoura, 2009.
PREZADO ESTUDANTE

ENCERRA AQUI O TRECHO DO LIVRO DISPONIBILIZADO


PELA SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE.
unidade

3
V.1 | 2022

Esportes Individuais: Saltos,


Arremesso e Lançamentos
Prezado estudante,

Estamos começando uma unidade desta disciplina. Os textos que a compõem foram organizados com
cuidado e atenção, para que você tenha contato com um conteúdo completo e atualizado tanto quanto
possível. Leia com dedicação, realize as atividades e tire suas dúvidas com os tutores. Dessa forma, você,
com certeza, alcançará os objetivos propostos para essa disciplina.

Objetivo Geral
Reconhecer as principais técnicas e regras das provas de arremesso, lançamentos e saltos.
unidade

3
V.1 | 2022

Parte 1
Saltos Verticais:
Altura e com Vara

O conteúdo deste livro


é disponibilizado
por SAGAH.
122 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS

Saltos verticais:
em altura e com vara
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar as diferenças entre as modalidades de salto em altura e


salto com vara.
 Descrever as regras e técnicas utilizadas nas disputas de salto em altura.
 Identificar as regras e técnicas utilizadas nas disputas de salto com vara.

Introdução
Os saltos na vertical, em que os atletas buscam atingir a maior altura
possível, fazem parte das provas de atletismo e, em competições oficiais,
são denominados salto em altura e salto com vara. Apesar da técnica
extremamente apurada e precisa, esses movimentos partem da incor-
poração e especialização da habilidade básica de saltar.
Neste capítulo, você vai estudar o processo evolutivo das provas
de saltos no atletismo, verificando desde a sua prática nos jogos da
Antiguidade até a sua inserção em práticas cotidianas. Você vai analisar
as mudanças na ação motora, nas regras e na forma de aprendizagem
e treinamento dos saltos verticais, com o intuito de ampliar seu conhe-
cimento sobre a modalidade e o seu histórico. O objetivo é conduzi-lo
a uma compreensão da prática de saltos verticais em diferentes níveis
(escolar ou de treinamento) e espaços (competitivos ou de participação).

História dos saltos em altura e com vara


Os saltos em altura e com vara surgiram na Antiguidade como forma de prepara-
ção atlética, com o intuito de eleger e preparar os indivíduos mais fortes e ágeis.
Desde aquela época os homens já saltavam grandes alturas, para comprovar o seu
desempenho e demonstrar o seu corpo saudável. A utilização de implementos
Esportes Individuais: Saltos, Arremesso e Lançamentos | UNIDADE 3
2 Saltos verticais: em altura e com vara Saltos Verticais: Altura e com Vara | PARTE 1 123

para a realização desses saltos também é registrada, estando a natureza inserida


nessas práticas, como na execução de saltos por cima de troncos de árvores,
grandes pedras, entre outros materiais.
O salto em altura é uma prática rotineira e uma habilidade básica desenvolvida
com naturalidade. A evolução desse movimento, até a constituição de uma técnica
esportiva, abrangeu a impulsão do salto com os dois pés, buscando-se atingir uma
grande altura. Passou-se a executar técnicas com elevação e trocas de pernas e
saltos com um ou dois pés, utilizando-se a complexidade do movimento do tronco,
dos braços e das pernas para ampliar o movimento de impulsão e atingir grandes
alturas. Dentre as técnicas mais utilizadas hoje para a realização do salto em
altura, estão as técnicas do salto tesoura, do rolo ventral e do estilo Fosbury flop.
Segundo Jonath, Haag e Krempel (1981), o salto tesoura (Figura 1) passou
a ser utilizado por um atleta em competições no ano de 1898, quando ele ultra-
passou o sarrafo em uma posição sentada, com a elevação e a alternância das
pernas no momento da passagem por cima da barra. No decorrer dos anos, foram
surgindo variações dessa mesma forma de saltar, como a colocação diferenciada
do tronco e dos braços durante o movimento.

Figura 1. Salto tesoura.


Fonte: Freitas (2009, documento on-line).

Jonath, Haag e Krempel (1981) ainda destacam que, no ano de 1936, passou a
ser executado um salto em que o atleta, a partir da corrida, faz a ultrapassagem
do sarrafo com o corpo na posição de decúbito ventral. Esse estilo de saltar foi
denominado rolamento ventral (Figura 2). Entre os anos de 1936 e 1960, essa
passou a ser a forma de saltar mais utilizada entre os atletas de elite, pois permitia
que a impulsão realizada ganhasse potência quando o tronco era estendido em
uma posição quase totalmente horizontal durante a passagem pela barra.
124 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS
Saltos verticais: em altura e com vara 3

Figura 2. Salto rolamento ventral.


Fonte: Freitas (2009, documento on-line).

Foi nos Jogos Olímpicos do México, em 1968, que o estilo flop passou a
ser conhecido. Conforme conta Jonath, Haag e Krempel (1981), esse estilo foi
criado a partir de um erro na execução do salto em tesoura. O atleta norte-
-americano Richard (Dick) Fosbury costumava ter muito sucesso em suas
tentativas de saltar em tesoura, inclusive tendo melhor performance do que
quando se utilizava do estilo rolamento ventral. Como sua equipe necessitava
de uma boa pontuação, o treinador e o atleta optaram pelo uso do salto tesoura.
Porém, durante uma das tentativas, um deslizamento da perna de impulsão
fez com que o atleta mudasse o movimento do corpo, com um resultado
surpreendente. Silva e Silva (2013, documento on-line) descrevem o seguinte:

Na tentativa de saltar uma altura que quebraria o seu recorde pessoal, o rapaz
ao fazer a corrida de aproximação muito mais rápida do que o normal perdeu
um pouco do equilíbrio para impulsão. Seu pé de impulsão deslizou um pouco
e, para não bater no sarrafo, ele fez um giro no ar e acabou passando de costas
de uma forma um tanto desengonçada para quem assistia. Ali começava a
nascer o flop ou o Fosbury flop como foi inicialmente chamado esse salto em
homenagem ao rapaz que o “inventou”, Richard (Dick) Fosbury (1947), que
viria a se sagrar campeão olímpico do salto em altura, no México, em 1968.

É possível perceber que o estilo Fosbury flop surgiu em decorrência da


liberdade com que o atleta executava suas tentativas. No salto em altura, sem-
pre se buscou garantir um melhor resultado por meio da forma de colocação
do corpo no movimento, conduzindo, assim, ao aperfeiçoamento dos estilos
Esportes Individuais: Saltos, Arremesso e Lançamentos | UNIDADE 3
4 Saltos verticais: em altura e com vara Saltos Verticais: Altura e com Vara | PARTE 1 125

de salto. O movimento do salto passou por transformações, alcançando-se


técnicas que refinaram a prática dessa modalidade e a colocaram em um
patamar de eficiência e qualidade. Essas transições e alterações na forma de
execução fizeram com que, entre as competições de 1968 e 1978, os atletas
se utilizassem tanto do rolamento ventral como do flop.
Já a história do salto com vara pode ser contada a partir de uma imagem
que registra um salto com vara sobre cavalos na Grécia Antiga, apresentada
na Figura 3. Ainda sem uma inspiração esportiva, o uso das varas ou cajados
foi identificado em diferentes situações históricas, em ações do cotidiano
na Antiguidade. Existem também registros do uso de varas por soldados,
para a transposição de obstáculos, quando havia a necessidade de corridas e
perseguições, conforme leciona Freitas (2009).

Figura 3. Salto com vara sobre cavalos.


Fonte: Freitas (2009, documento on-line).

De certo modo, o salto com vara, na Europa, manifestou-se de forma efetiva


com o surgimento dos métodos ginásticos, em meados do século XVIII e até
o fim do século XIX, idealizados por Johann Basedow e Johann Guts Muths.
Segundo Freitas (2009), Muths é reconhecido como o pai do salto com vara, já
que, em Ginástica para a juventude, há uma seção específica para a execução
de saltos com varas.
A partir dessa abordagem dos métodos ginásticos, as práticas de saltar com
a utilização das varas se propagaram e passaram a ser executadas em eventos
esportivos. Conforme registros, os movimentos eram realizados a partir do
escalar de varas, ou, ainda, com o impulso feito com a vara, seguido do ato
126 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Saltos verticais: em altura e com vara 5

de se jogar livremente por cima do sarrafo; executava-se também a ultrapas-


sagem do sarrafo por meio de um giro sagital do corpo. Contudo, a escalada
do implemento passou a ser proibida, e as variações de ultrapassagem pelo
sarrafo começaram a contar com técnicas mais específicas e eficientes. Um
exemplo é a realização dessa passagem em decúbito dorsal.
Entretanto, no salto com vara, o que mais impactou a forma de executar os
movimentos foram as transformações no uso dos implementos. As primeiras
varas empregadas nas competições modernas eram de madeira e, por isso,
eram pesadas, influenciando a empunhadura e a corrida de aproximação.
Nessa mesma época, segundo Doherty (1972), as varas de madeira dos atletas
ingleses tinham nas extremidades inferiores um tripé de ferro, que tinha por
finalidade firmar o encaixe no solo.
Porém, na edição dos Jogos Olímpicos de Paris de 1900, as varas utilizadas
por alguns atletas já eram de bambu. A história descrita no site da Confede-
ração Brasileira de Atletismo (CBAt) sobre o salto com varas afirma que, na
denominada “era dos bambus”, o atleta americano Cornelius Warmerdam
estabeleceu o recorde mundial no ano 1942, ao saltar 4,77 metros. Destaca-se
que, com esse tipo de implemento, esse recorde mundial nunca mais foi batido
(CBAT, [20--]). Atualmente, as varas são fabricadas com um composto de
fibra de vidro ou fibra de carbono.
O encaixe para as varas foi um dos equipamentos de competição que marcou
efetivamente a evolução dos saltos na primeira metade do século XX. Como as
varas escorregavam nos terrenos de execução dos saltos, causando acidentes,
foi inventado o encaixe, que consiste em uma caixa na qual a vara é cravada,
substituindo os antigos ponteiros, conforme leciona Freitas (2009). Os encaixes
evoluíram de simples buracos feitos no chão, passando por caixas feitas de
madeira, até chegar, finalmente, às atuais caixas metálicas com formato em
“V”, conforme leciona Doherty (1972).

No link a seguir, você tem acesso à dissertação de mestrado “Evidências tecnológicas


no universo do atletismo: uma análise dos materiais e equipamentos esportivos”, que
faz uma contextualização sobre as significativas mudanças dos implementos para a
realização dos saltos com vara.

https://qrgo.page.link/gNHix
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6 Saltos verticais: em altura e com vara Saltos Verticais: Altura e com Vara | PARTE 1 127

No complexo processo de evolução dos movimentos dos saltos verticais,


estão presentes as mudanças de regras e implementos. Contudo, não se pode
desconsiderar nesse processo a qualificação das formas de treinamento, que
abrangem as técnicas e a preparação do atleta como um todo.

Técnicas de execução e regras específicas


dos saltos em altura
Na execução do salto em altura, as técnicas que atualmente são mais utilizadas
são os estilos tesoura, rolo ventral e flop. Independentemente da técnica de
saltar propriamente dita, a técnica de base dos saltos em altura se organiza
da seguinte forma:

1. preparação;
2. corrida de aproximação;
3. salto, que se estabelece na impulsão;
4. elevação e transposição;
5. queda.

O estilo tesoura, segundo Matthiesen (2017), é o estilo que tem maior faci-
lidade para a aprendizagem e, de certa forma, é utilizado como um processo
educativo para o estilo flop. Contudo, o uso do salto tesoura limita a aquisição
de grandes alturas, pela fragilidade de seu processo de impulsão.
Nesse estilo, a corrida se dá em uma velocidade adequada para estimular
a impulsão, que é realizada pela perna externa em relação à posição lateral,
com base no sarrafo. Assim, dependendo de como será estabelecida a melhor
perna para essa impulsão, a corrida será iniciada pelo lado esquerdo ou pelo
lado direito. A perna que vai ser chutada para cima é aquela que está mais
próxima ao sarrafo, iniciando, assim, o movimento de troca de pernas.
Como a perna de impulsão terá uma ligeira flexão, o centro de gravidade
estará baixo. Porém, pelo movimento de extensão dessa mesma perna, o
corpo é projetado para cima, e, ao mesmo tempo, acontece o lançamento da
perna para cima, quase já ultrapassando o sarrafo. O braço sempre auxiliará
o movimento. Quando o sarrafo for ultrapassado, a primeira perna que foi
128 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Saltos verticais: em altura e com vara 7

elevada começa a realizar o movimento contrário, aproximando-se do solo;


de forma alternada, a perna que fez a impulsão é elevada estendida, dando
finalização à transposição total da barra.
A queda é geralmente realizada em pé, pois, na maioria das vezes, o salto
é executado em locais sem o uso de colchões. Quando no local houver caixa
de areia ou colchões, é possível que a retomada ao solo seja feita na posição
sentada. A Figura 4 representa a técnica do salto tesoura.

Figura 4. Salto tesoura.


Fonte: Manual... ([20--?], documento on-line).

Já no estilo rolo ventral, a corrida vai acontecer pelo lado contrário do estilo
tesoura; isto é, a perna de impulsão será aquela que estiver mais próxima ao
sarrafo, e a corrida se inicia por esse mesmo lado. Assim, a perna com que
será realizado o chute é aquela que se posiciona mais distante do sarrafo.
Ao iniciar o salto, há uma flexão com rápida extensão da perna de impulso.
Nesse momento, a perna do chute tem certo atraso com relação ao movimento.
Quando os braços se impulsionam para cima da cabeça, a perna do chute é
impulsionada também para cima. O tronco, que está no prolongamento do
movimento corporal, mantém-se em decúbito ventral, realizando um giro
longitudinal em relação à barra.
Nesse estilo, o amortecimento da queda é necessário; por isso, o uso
do colchão é sempre recomendado. A movimentação completa do corpo
faz com que o atleta caia de frente ou de costas, dependendo de como
Esportes Individuais: Saltos, Arremesso e Lançamentos | UNIDADE 3
8 Saltos verticais: em altura e com vara Saltos Verticais: Altura e com Vara | PARTE 1 129

o corpo ultrapassou o sarrafo. A Figura 5 representa a técnica do salto


rolo ventral.

Figura 5. Rolo ventral.


Fonte: Vidigal (2012, documento on-line).

Por fim, no estilo Fosbury flop, conhecido como flop, a corrida é mais
veloz do que nos outros estilos, realizando-se uma curva ao final da fase de
aproximação. Esse deslocamento provoca uma inclinação do tronco para dentro
nessa fase. A entrada para o salto se dá paralelamente ao sarrafo, e o impulso
é realizado com a perna externa, “[...] ao mesmo tempo em que realiza um
giro no momento da elevação. A transposição do sarrafo que virá a seguir é
decorrência de um arco pronunciado de costas que favorecerá o ‘chute’ das
pernas para cima”, conforme descreve Matthiesen (2017, p. 119).
O joelho da perna do chute deve permanecer alto nessa fase que an-
tecede a transposição. O arco que será executado faz com que os braços
e a cabeça estejam posicionados para trás. Na aproximação do colchão,
que acontece com as costas, o arco vai se desfazendo, mas é importante
ter cuidado para que o sarrafo não caia. A Figura 6 representa a técnica
do salto Fosbury flop.
130 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS
Saltos verticais: em altura e com vara 9

Figura 6. Fosbury flop.


Fonte: Manual... ([20--?], documento on-line).

Sobre as regras básicas dessa prova, o salto deve ser realizado utilizando-
-se da impulsão de um pé. Serão autorizadas três tentativas, e um salto é
considerado falho quando, após o salto, a barra não permanecer nos suportes,
devido à ação do atleta enquanto salta (CBAT; IAAF, 2018).
A escolha da altura em que as tentativas serão iniciadas é estabelecida de
forma livre pelo saltador, mas o sarrafo não poderá ser elevado menos de 2
cm. Ainda sobre as falhas, caso uma falha aconteça na primeira tentativa, o
atleta pode optar por não realizar o segundo e o terceiro saltos e passar para
o salto na altura subsequente.

Aprendizagem dos saltos em altura


Como o salto em altura é realizado a partir de uma corrida de aproxima-
ção, cabe a realização de exercícios que favoreçam essa movimentação. Por
exemplo, iniciar uma corrida definida por cordas estendidas no chão, ou subir
em um plinto, saltar por cima de um obstáculo (que pode ser uma caixa de
papelão) e cair no colchão. Esse tipo de atividade, que pode ter variação
nos materiais, na altura e na velocidade da corrida, também favorece o
entendimento e o controle sobre a escolha da melhor perna para realizar o
impulso em cada estilo.
A definição da perna de impulsão também é um fator importante no pro-
cesso de aprendizagem. A utilização de ambas as pernas deve ser estimulada;
porém, chegará o momento em que o aluno precisará identificar em qual das
Esportes Individuais: Saltos, Arremesso e Lançamentos | UNIDADE 3
10 Saltos verticais: em altura e com vara Saltos Verticais: Altura e com Vara | PARTE 1 131

pernas o movimento de impulsão se torna mais confortável e fácil, indicando


o lado do corpo em que o movimento será executado com mais proficiência,
atingindo melhores resultados.
Nessas situações, algumas ações podem ser propostas, como o uso de arcos
espalhados pelo chão, definindo passadas. O aluno deve colocar um pé dentro
de cada arco até se aproximar do sarrafo. Os arcos podem ser substituídos por
círculos desenhados no chão ou, até mesmo, espaços delimitados por cordas ou
cones. De forma alternada, também se pode executar o movimento de saltar,
para que o aluno vá compreendendo e percebendo a movimentação corporal
quando o salto é estimulado por uma corrida e quando ele é executado a partir
da posição estática.

Atividade para exercitar o salto em altura flop:


Coloque vários colchões ou colchonetes amontoados um em cima do outro. Peça
para o aluno correr e saltar por algum obstáculo, caindo livremente por cima dos
colchões. O foco das aprendizagens está na forma de cair. Então, a progressão da
atividade acontece quando se solicita ao aluno que ele mude a posição do corpo ao
cair nos colchões. É possível aumentar a altura do obstáculo e usar trampolins (mini
jump) para a realização do salto — essas variações vão criando outros cenários para
a queda. A queda de costas será estimulada depois que o aluno não apresentar mais
receio em saltar e cair. Nesse momento, pode ser inserida uma corda ou, até mesmo,
um sarrafo para a execução do salto propriamente dito.

De certo modo, o salto em distância se torna mais próximo dos alunos


iniciantes, pois é realizado em diferentes brincadeiras infantis, como pular
elástico, amarelinha ou sapata, ou ainda “pular a cobra”, atividade em que a
corda é segurada pelas extremidades e mexida de forma alternada para que o
aluno salte por cima. Essa aproximação faz com que os alunos executem com
mais facilidade as técnicas básicas do movimento.
132 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS
Saltos verticais: em altura e com vara 11

Técnicas de execução e regras específicas


do salto com vara
Independentemente do implemento utilizado (oficial ou adaptado), as etapas
do salto com vara são compostas por:

1. empunhadura;
2. corrida;
3. preparação para o encaixe;
4. salto, marcado por impulsão;
5. elevação, giro e transposição;
6. queda.

É comum o uso das varas de bambu em espaços de aprendizagem e iniciação


a essa prova. Sobre a empunhadura, é aconselhável que a vara seja mantida na
posição vertical, com uma pequena elevação na ponta; isto é, a ponta da vara
deve estar direcionada para cima. Segundo Matthiesen (2017), é importante
que o braço que segura o implemento esteja realizando uma flexão de 90°,
com a palma da mão voltada para cima. Já o outro braço também estará em
posição de flexão de 90°, auxiliando o movimento.
A corrida se dará com uma velocidade progressiva, sendo que, inicial-
mente, a vara estará posicionada do lado contrário da perna de impulsão. Ela
vai sendo baixada até o momento do encaixe. Há indicação de que a corrida
deve ter de 8 a 12 passadas, e a preparação do encaixe vai ocorrer durante a
realização das três últimas.
Na execução do salto em si, quando há o encaixe, o impulso acontece com
a perna correspondente à mão que está segurando a vara à frente; a outra perna
estará semiflexionada, fazendo uma projeção do joelho no início da elevação
das pernas e do quadril. Os movimentos posteriores a esse momento são:
inversão do corpo (pernas estendidas para cima), gerando uma “verticalização
invertida”, um giro de 180º e a transposição do sarrafo.
Depois, a vara será empurrada para a frente, para que ela caia sem que
possa comprometer a finalização do salto. O atleta realiza a queda em cima
de colchões, que se tornam obrigatórios pela altura que o corpo atinge no voo,
consequentemente exigindo cuidado na queda.
Esportes Individuais: Saltos, Arremesso e Lançamentos | UNIDADE 3
12 Saltos verticais: em altura e com vara Saltos Verticais: Altura e com Vara | PARTE 1 133

Como o salto com vara ainda é uma prova pouco praticada, devido a todas
as exigências de uso do implemento e à dificuldade de execução, ela também
é pouco disseminada no contexto escolar, e sua forma de execução passa a
ser evitada. Isso faz com que, na iniciação, vários erros sejam cometidos,
pela falta de experiência e vivências nesses movimentos por parte dos alunos.
Por isso, é preciso que, no momento da aprendizagem, sejam evitados alguns
erros comuns dessa prova, conforme mostra o Quadro 1 a seguir, organizado
por Matthiesen (2017).

Quadro 1. Erros mais comuns no salto com vara

Erros Correções

Inversão da perna de Repetir a corrida de aproximação, realizando, se for


impulsão no mo- o caso, uma marca de controle para a orientação do
mento do encaixe saltador

Dificuldade no mo- Realizar o movimento no solo ou com o auxílio de


mento da elevação cordas suspensas, que facilitem o movimento de
das pernas e do giro “verticalização invertida”

Diminuição da veloci- A velocidade da corrida de aproximação deverá ser


dade no momento do transferida para a verticalização do salto; o saltador
encaixe deverá realizar diferentes repetições, a fim de conquis-
tar uma harmonia entre esses movimentos

Alternância das mãos Realizar exercícios de empunhadura com e sem a


corrida, combinados com exercícios que antecedem o
encaixe e a elevação

Fonte: Adaptado de Matthiesen (2017).

Para a realização da prova, as regras definem que cada saltador poderá


executar três tentativas para ultrapassar o sarrafo em uma altura. Caso ele
não consiga, estará eliminado da competição. Sobre essa questão, o Livro de
Regras (2018/2019) indica que:

Um atleta informará ao árbitro responsável, antes do início da prova, a posição


que deseja para a barra na sua primeira tentativa e essa posição será registra-
da. Se posteriormente o atleta quiser fazer quaisquer alterações, ele deverá
informar imediatamente ao árbitro responsável antes de a barra ter sido fixada
de acordo com seu pedido inicial (CBAT; IAAF, 2018, documento on-line).
134 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Saltos verticais: em altura e com vara 13

Quando o sarrafo for derrubado por qualquer parte do corpo ou não per-
manecer na posição, a tentativa será considerada falha. Essa regra é básica
para que o atleta sempre esteja focado em como realizar seu movimento, pois
qualquer descuido, mesmo que seja após a transposição do sarrafo, pode causar
contato com a vara, e essa ação leva à realização de um salto falho.
Sobre as varas, as regras registram que elas podem ser feitas de qualquer
material, de qualquer comprimento ou diâmetro; contudo, a superfície deve
ser lisa. Não é permitido que um atleta use a vara de outro atleta sem o
consentimento deste; por isso, cada atleta deve se apresentar com sua própria
vara na área de competição.
Sobre essa utilização, é possível relembrar um fato ocorrido com a atleta
brasileira Fabiana Murer na Olimpíada de Pequim, em 2008, quando uma
de suas varas sumiu durante a competição, e ela teve que executar o salto
com outra de suas varas. Nessa competição, ela acabou não conquistando
nenhuma medalha.

Acesse o link a seguir e assista a reportagens sobre o ocorrido com Fabiana Murer,
atleta do salto com vara representante da Seleção Brasileira.

https://qrgo.page.link/ELrPH

Ainda sobre o salto com vara nas competições oficiais, é preciso relem-
brar a conquista olímpica do atleta brasileiro Tiago Braz, que se consagrou
campeão nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, saltando a altura
de 6,03 m. Nessa final, o atleta saltou pela primeira vez essa altura, em toda
sua carreira; como em uma tentativa única de superar um atleta francês, o
brasileiro superou seus limites e buscou com determinação o ouro olímpico.
Sempre é importante que os professores e treinadores conheçam as infor-
mações, a história e os recordes de atletas brasileiros, principalmente porque
são esses fatos que darão significado às aprendizagens, gerando interesse e
motivação em contextos escolares ou na iniciação esportiva. É preciso que
o professor compreenda todos os aspectos e conceitos da modalidade, pois
cabe a ele repassar essas informações, bem como usá-las nos processos de
ensino e aprendizagem.
Esportes Individuais: Saltos, Arremesso e Lançamentos | UNIDADE 3
14 Saltos verticais: em altura e com vara Saltos Verticais: Altura e com Vara | PARTE 1 135

Aprendizagem dos saltos com vara


Na aprendizagem desses saltos, é importante que a segurança seja um fator
determinante na escolha das estratégias. É comum que, para atingir alturas
maiores, os saltos, na fase da iniciação, sejam realizados de tal forma que
não haja, pelo aluno, uma preocupação com a queda. De qualquer modo, nas
técnicas de execução, geralmente a retomada do contato com o solo vai ser
realizada com as costas ou em queda livre. Isto é, deve-se ensinar o aluno a
cair; o movimento da queda vai estar diretamente relacionado com a posição
do corpo no momento de transposição do sarrafo.
Uma sugestão é que, antes mesmo de se iniciar as aprendizagens do salto
propriamente dito, o aluno iniciante seja estimulado a saltar de diferentes
formas, em alturas mais elevadas, para que a queda na área protegida (pre-
ferencialmente com colchões) faça com que o medo ou o receio com a queda
sejam eliminados. O entendimento de que o movimento não causará nenhum
acidente ou dor promove o entendimento de que o interessante na execução é
a superação de limites, ou seja, o desafio de saltar mais alto.
Contudo, para a realização do salto com vara, é preciso que haja uma fa-
miliarização com o implemento, que, nessa fase de aprendizagem, geralmente
são varas de bambu. Nesse processo, o movimento deve ser realizado com
o intuito de entender a empunhadura da vara e como é feito o seu contato
com o solo. Para essa conscientização, deve-se sempre marcar o local em
que a vara vai tocar o solo, seja com desenhos no chão, cones ou argolas; se
for executado na grama, deve-se fazer pequenos buracos, em que a ponta do
bambu possa ser encaixada.

O encaixe da vara no solo, durante a realização do salto, é o ponto mais complicado de


ser ensinado para o aluno. De certo modo, é preciso que o implemento (seja o oficial
ou o alternativo) seja posicionado firmemente no solo, para que a vara possa gerar
a impulsão necessária para a ultrapassagem do sarrafo. Caso o local de treinamento
não tenha o encaixe oficial da vara, este deve ser feito com um pequeno buraco no
solo de areia ou grama; ainda, pode ser feito em uma caixa de cimento fixada ao chão.
Essa preocupação também é prioritária para a segurança dos alunos durante esses
movimentos, uma vez que, sem o encaixe, há probabilidade de que a vara escorregue
pelo solo, causando, possivelmente, algum acidente.
136 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Saltos verticais: em altura e com vara 15

Em um processo pedagógico para o avanço do movimento de saltar, no sen-


tido de realizar a técnica do salto com vara propriamente dita, pode-se solicitar
ao aluno que ele ultrapasse obstáculos de alturas diferenciadas, como cordas,
bancos, plintos, mesas, steps, caixas, entre outros. Também é possível construir
postes de madeira ou canos de PVC, fixados ao solo, para serem utilizados com
um elástico, como um sarrafo. Pelo fato de o elástico ser flexível, ele vai se
moldar à altura que o aluno conseguir saltar, evitando acidentes. Mesmo assim,
pode-se colocar o elástico em alturas diferentes, estimulando a superação da
altura em cada salto realizado.
Em um local dedicado ao treinamento de atletas na fase de iniciação, os exer-
cícios a serem realizados passarão pela mesma lógica. Contudo, possivelmente,
o treinador terá à sua disposição equipamentos que não sejam adaptados; isto
é, mesmo que não seja possível adquirir os equipamentos utilizados em provas
oficiais, pode-se encontrar equipamentos alternativos e específicos para essa
fase da aprendizagem, como postes, sarrafos e colchões do miniatletismo.

Acesse o link a seguir e consulte o guia prático elaborado pela CBAt, que apresenta os
materiais a serem utilizados em uma proposta de miniatletismo.

https://qrgo.page.link/9QBs7

A aprendizagem dos conteúdos conceituais


e atitudinais dos saltos na vertical

Para além do aprender a saltar, segundo Matthiesen (2014), é preciso que o


aluno compreenda as dimensões conceituais dos saltos. Segundo a autora, o
resgate histórico, o entendimento de recordes e o reconhecimento de atletas no
cenário nacional aproxima o aluno da temática e gera maior interesse tanto pela
modalidade como pela própria aprendizagem do gesto motor.
Para essas situações, a autora indica o uso de estratégias que estejam relacio-
nadas e que complementem as ações práticas da aprendizagem. Para Matthiesen
(2014), aprender sobre os conceitos dos saltos de forma “vazia” faz com que os
conteúdos não tenham sentido para os alunos. Assim, tais temas devem ser debati-
dos em uma lógica de favorecimento e interesse sobre o que o aluno quer aprender.
Esportes Individuais: Saltos, Arremesso e Lançamentos | UNIDADE 3
Saltos Verticais: Altura e com Vara | PARTE 1 137
16 Saltos verticais: em altura e com vara

Leia o estudo de Otaviano Helene, “Alguma física dos saltos em altura e distância”,
disponível no link a seguir, e compreenda a influência dos princípios físicos na execução
dos saltos.

https://qrgo.page.link/EBdMb

No caso dos saltos verticais, os conhecimentos atitudinais estimulam o ato


de saltar, pois promovem no aluno a percepção de capacidade e superação dos
próprios limites corporais. Ao entender os sentimentos que estão envolvidos
em uma prova de salto em altura, o aluno se reconhece como capaz de superar
uma altura que, por ele, ainda não foi atingida.
A temática dos saltos verticais nos jogos paraolímpicos abrange, de uma
forma complexa e interessante, as três dimensões do conhecimento — atitu-
dinal, procedimental e conceitual. Nessa perspectiva, a aprendizagem se dá
pela transposição do que o aluno já aprendeu em uma prova sem limitação
para a compreensão de como executar o mesmo movimento, mas agora com
a limitação. No caso das provas para amputados de membros inferiores, é
importante perceber como se realiza a corrida, a impulsão e a queda sem
uma parte da perna.
No momento do salto propriamente dito, o movimento de execução dos
membros inferiores é compensado pela posição do tronco mais acentuada;
ainda, os braços estarão mais conectados ao movimento corporal, auxiliando
no processo de impulsão para o voo. Essas adaptações, ou, até mesmo, a
execução diferenciada do movimento, podem ser entendidas pelos alunos por
meio da aprendizagem dos conteúdos procedimentais.
Contudo, a compreensão desses movimentos limitados, que se revela no
entendimento dos movimentos compensatórios, se dá a partir de conteúdos
conceituais. Por exemplo, no movimento para amputados de membros supe-
riores, a corrida, o salto e a queda são muito parecidos com a movimentação
dos saltos não paraolímpicos.
138 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Saltos verticais: em altura e com vara 17

Especialmente para alunos não deficientes, o tema de provas paraolímpicas


traz uma reflexão sobre padrões construídos socialmente com o movimento
padronizado, sobre pessoas normais e deficientes, sobre quem é capaz ou
não, bem como sobre inclusão e exclusão. São temáticas debatidas e contex-
tualizadas pela dimensão atitudinal dos conteúdos. É nessa ampliação das
possibilidades de aprendizagem que o esporte passa a ser tratado para além
do simples saber fazer, potencializando o significado de aprendizagens do
saber ser e saber pensar sobre.
Nessa lógica de complexidade das aprendizagens, surgem temas transver-
sais, como a mulher no esporte, as questões de inclusão e racismo, bem como
os debates sobre as grandes potências mundiais na prática da modalidade. Isso
vai favorecer também a aquisição de uma consciência cidadã, estimulada pelo
ensino das provas competitivas do atletismo.
As provas de saltos verticais, que se organizam nos saltos em altura e com
vara, fazem parte da história competitiva do atletismo desde a oficialização
dessa modalidade esportiva. Por isso, essa modalidade se torna atrativa e
importante para ser desenvolvida em clubes e escolas. É importante destacar
que a técnica de execução de ambos os saltos exige dos saltadores movimentos
corporais complexos, mas, principalmente, desafiadores. De certa forma,
saltar mais alto já é uma motivação presente em brincadeiras infantis; assim,
a superação pode ser potencializada quando a meta é a conquista de títulos.
Este capítulo teve como base a reflexão sobre os saltos verticais, abrangendo
sua história, seus processos de aprendizagens e as técnicas e regras de provas
esportivas.

CBAT. Histórico das provas: masculino. CBAt, Bragança Paulista, [20--]. Disponível em:
http://www.cbat.org.br/provas/historico_masculino.asp. Acesso em: 14 maio 2019.
CBAT; IAAF. Regras oficiais de competições da IAAF 2018-2019: edição oficial para o Brasil.
São Paulo: CBAt, 2018. Disponível em: http://www.cbat.org.br/repositorio/cbat/do-
cumentos_oficiais/regras/regras_oficiais_2018_2019.pdf. Acesso em: 31 maio 2019.
Esportes Individuais: Saltos, Arremesso e Lançamentos | UNIDADE 3
Saltos Verticais: Altura e com Vara | PARTE 1 139
18 Saltos verticais: em altura e com vara

DOHERTY, J. K. Tratado moderno de pista y campo. México: Editores Associados, 1972.


FREITAS, F. P. R. O salto com vara na escola: subsídios para o seu ensino a partir de uma
perspectiva histórica. 2009. Dissertação (Mestrado em Ciências da Motricidade Humana)
— Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Rio
Claro, 2009. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/96108/
freitas_fpr_me_rcla.pdf;jsessionid=C8361C8AA57E7F16A0D163EBA21C28AA?seque
nce=1. Acesso em: 14 jun. 2019.
JONATH, U; HAAG, E.; KREMPEL, R. Atletismo: Corrida e salto. Lisboa: Casa do Livro
Editora, 1981.
MANUAL do treinador — nível I: salto em altura. [s. l.: s. n.], [20--?]. Disponível em:
http://files.efd321.webnode.com.br/200000033-4932a4a2ce/22%20-%20Altura.pdf.
Acesso em: 14 jun. 2019.
MATTHIESEN, S. Q. Atletismo na escola. Maringá: Eduem, 2014.
MATTHIESEN, S. Q. Atletismo: teoria e prática. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2017.
SILVA, S. A. P. S.; SILVA, T. A. F. (org.). Guia didático modalidades esportivas individuais
terrestres (Versão preliminar). São Paulo: Secretaria de Esportes, Lazer e Recreação, 2013.
Disponível em: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/esportes/
esportesindividuaisterrestres.pdf. Acesso em: 14 jun. 2019.
VIDIGAL, J. M. S. Provas de campo: saltos e lançamentos, fundamentos teóricos. Material
da disciplina de atletismo. Belo Horizonte: PUC Minas, 2012. Disponível em: http://files.
efd321.webnode.com.br/200000215-b2bbdb3b69/Apostila%202%20Provas%20de%20
Campo%20-%20Saltos%20e%20Lan%C3%A7amentos.pdf. Acesso em: 14 jun. 2019.
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unidade

3
V.1 | 2022

Parte 2
Saltos Horizontais:
Distância e Triplo

O conteúdo deste livro


é disponibilizado
por SAGAH.
142 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS

Saltos horizontais:
em distância e triplo
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Reconhecer a origem, a evolução e os espaços das provas de salto


em distância e triplo.
 Descrever as regras e técnicas utilizadas nas provas de salto em dis-
tância e triplo.
 Identificar as especificidades dos processos de ensino e de aprendi-
zagem das técnicas dos diferentes saltos em distância e triplo.

Introdução
O salto horizontal é uma ação motora fundamental que, ao longo do
tempo, evoluiu até incorporar as técnicas específicas utilizadas nas provas
competitivas do atletismo, passando a ser executada nas provas de salto
em distância e salto triplo. Além das competições olímpicas, o salto na
horizontal está presente em alguns testes que são referência na área da
educação física, para a classificação do desenvolvimento motor de crianças
ou como forma de mensuração da potência dos membros inferiores.
Esse tipo de salto é importante para o desenvolvimento motor em várias
idades e níveis escolares, e a exploração dessa tarefa motora qualifica a
execução do movimento em espaços competitivos.
Neste capítulo, você vai estudar a história dos saltos em distância, veri-
ficando as mudanças promovidas nas regras e nas técnicas de execução.
Você também vai identificar as técnicas mais utilizadas atualmente em
treinamentos e vai analisar como essas técnicas podem ser incorporadas
no ensino e na aprendizagem dos saltos horizontais.
Esportes Individuais: Saltos, Arremesso e Lançamentos | UNIDADE 3
2 Saltos horizontais: em distância e triplo Saltos Horizontais: Distância e Triplo | PARTE 2 143

História e evolução
Os saltos horizontais se originam de saltos que buscam atingir maiores dis-
tâncias com movimentos que impulsionam o corpo horizontalmente. A meta é
sempre saltar mais longe. O homem executa a forma básica desse movimento em
diferentes situações, como atravessar uma poça de água ou dar um passo largo
para subir em uma calçada, ou ainda ultrapassar algum obstáculo no caminho.
Na infância, entre as brincadeiras infantis, o saltar mais longe está presente
de forma significativa. Nas aulas de educação física, principalmente nos anos
iniciais, pular para além de cordas, arcos e caixas sempre é motivador. As
disputas entre os alunos para verificar quem salta mais longe, ou o desafio
de ultrapassar as próprias metas em distância dos saltos, são estratégias que
favorecem inúmeros aspectos do desenvolvimento infantil, como o próprio
aspecto motor, além de abranger questões como saber ganhar e perder, auto-
conhecimento e autossuperação.
Como uma prática esportiva, os saltos em distância surgem do refina-
mento de uma habilidade motora básica, da mesma forma que outras técnicas
esportivas. O saltar em extensão pode ser entendido como um movimento
culturalmente determinado que, ao longo de sua utilização como prática
corporal esportiva, foi ganhando exigências e sendo limitado por regras e
aperfeiçoado pela necessidade de uma eficácia na execução.

História do salto triplo


Como competição, a prova do salto triplo surgiu no século XIX, quando era
praticada pelos habitantes rurais da Escócia e da Irlanda. Nesse período, a
execução do movimento era marcada pela sequência de dois pulos e um salto,
ou, ainda, um pulo, um passo e outro pulo, conforme leciona Matthiesen (2003).
Segundo Matthiesen et al. (2011), as provas foram sendo disseminadas em
países como China, Estados Unidos e Rússia, até serem incluídas na primeira
edição dos Jogos Olímpicos de Atenas, em 1896. Quanto às provas femini-
nas, há registro do primeiro recorde mundial em 1990, e em 1996 ocorreu a
primeira disputa olímpica, vencida pela atleta da Ucrânia Inessa Kravet, que
saltou 15m33, conforme aponta Sibila (2011).
Sobre a técnica de execução do salto triplo, Sibila (2011) indica que, quando
praticado pelos escoceses, no início do século XIX, o movimento se pautava
em três saltos sobre a mesma perna. Quando os alemães iniciaram a prática,
estabeleceram outra técnica, em que alternavam as pernas no momento do
salto — direita, esquerda, direita ou vice-versa.
144 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Saltos horizontais: em distância e triplo 3

Cabe evidenciar que os atletas brasileiros ganham destaque no cenário


internacional. Em 1955, nos jogos Pan-Americanos do México, o recorde
mundial da modalidade foi conquistado pelo atleta Adhemar Ferreira da Silva.
Esse mesmo atleta foi campeão olímpico em 1952 e em 1956, saltando 16m22
e 16m35, respectivamente. Outro medalhista olímpico foi Nelson Prudêncio,
que recebeu a medalha de prata em 1968 e a de bronze em 1972, ao saltar
17m05, segundo Matthiesen (2007).
Outro nome que se destacou foi o de “João do Pulo”, João Carlos de Oliveira
(Figura 1), que, ao saltar 17m89, em 1975, alcançou o recorde mundial que
levou mais de 10 anos para ser ultrapassado. Esse saltador também conquistou
a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de 1980, em Moscou, conforme
aponta Matthiesen (2007).

Figura 1. O reconhecimento de João do Pulo como atleta de destaque no salto triplo.


Fonte: Craveira (1075, documento on-line).

No artigo intitulado “Relação entre as distâncias parciais no salto triplo e o desempenho


competitivo em atletas brasileiros”, disponível no link abaixo, você pode explorar a
evolução da eficácia dos saltos triplos de atletas brasileiros.

https://qrgo.page.link/7N2bi
Esportes Individuais: Saltos, Arremesso e Lançamentos | UNIDADE 3
4 Saltos horizontais: em distância e triplo Saltos Horizontais: Distância e Triplo | PARTE 2 145

Salto em distância ao longo da história


Sobre a história do salto em distância, Duarte (2019) descreve que ele fazia
parte das provas de pentatlo no ano de 708 a. C., sendo incluído como prova
específica nos Jogos Olímpicos de 1896. Conforme Matthiesen (2007), no
período entre os anos de 1922 e 1927, houve um grande aperfeiçoamento na
técnica do salto em distância, quando os atletas americanos William de Hart
Hubbard e Robert Legendre criaram um movimento de pernas durante o voo
do salto, que atualmente é conhecido como passada no ar. Quanto às provas
femininas, a mesma autora afirma que também foram nos Estados Unidos os
primeiros registros de provas competitivas femininas, em 1895. Contudo, o
primeiro recorde mundial feminino só foi homologado em 1928, e a primeira
competição olímpica foi em Londres, em 1948.
Para o cenário nacional, foi no salto em distância que o Brasil conquistou
pela primeira vez uma medalha de ouro Olímpico feminina em uma prova
individual, com a atleta Maurren Higa Maggi (Figura 2). Maurren saltou 7m04
nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, e entrou para a história do esporte
brasileiro, conforme leciona Duarte (2019).

Figura 2. Maurren Maggi, medalhista de ouro do salto em distância


em 2008.
Fonte: Maurrenmaggi_pequim2008_get_95 ([2012], documento on-line).

Os registros históricos apontam que, inicialmente, os saltos em distância


eram realizados com pesos nas mãos, espécies de halteres que serviam
146 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Saltos horizontais: em distância e triplo 5

para dificultar o movimento e detectar, de forma mais precisa, o atleta


mais forte e ágil.
Sobre os locais de prova para a realização dos saltos, tanto em distância
como o triplo, Sibila (2011, p. 15) cita Loyola (1940), apontando algumas
regras antigas utilizadas nas competições: “[...] os aparelhos utilizados
para a prática do salto triplo eram, e permanecem até os dias atuais, os
mesmos do salto em distância”. A autora destaca a forma de denominar
os equipamentos utilizados para a prova em outras regras antigas: “A
construção do picadeiro será de madeira e pintada de branco, [...] A pista
para correr deve ter 1 m de largura e 40 de comprimento e nunca menos
de 15m. [...] A caixa deverá ter as seguintes dimensões: comprimento, 6 m,
largura 4 m [...]”.
Uma curiosidade sobre a regra apontada por Loyola (1940, p. 11 apud
SIBILA, 2011, p. 15), é que a própria regra alertava para a segurança do atleta,
sugerindo o uso de uma esponja nos calcanhares. Diz a regra: “É bom usar
uma esponja de borracha nos calcanhares afim de evitar contusões”.
Assim, os saltos em distância e triplo podem ser considerados provas
que acompanham as competições de atletismo desde suas primeiras edições.
De certa forma, assumem uma posição de destaque entre as modalidades
esportivas no cenário nacional, pois apresentam atletas que são reconhecidos
por suas conquistas internacionalmente. Tais atletas são exemplos para jovens
que iniciam as aprendizagens sobre os saltos; são também utilizados como
referência por professores quando se utilizam do atletismo como conteúdo
de ensino.

Regras básicas das provas dos saltos horizontais


As regras do salto triplo e do salto em distância seguem as mesmas definições
quando se trata do corredor de corrida, local em que o atleta se prepara para
a execução do salto. O Livro de Regras (CBAT; IAAF, 2018, p. 49) descreve
que: “O comprimento mínimo do corredor, medido a partir da respectiva linha
de impulsão será de 40 m e onde as condições permitirem, 45 m. Ele dever
ter uma largura de 1,22 m ± 0,01 m e deve ser marcado por linhas brancas de
50 mm de largura”.
Para as competições desses saltos, a tábua de impulsão marca o local
onde o atleta tem seu impulso para o voo. A tábua tem como características
a forma retangular e a cor branca, sendo feita de madeira ou material rígido
que se adeque às necessidades dos sapatos dos saltadores. Deve medir 1,22
Esportes Individuais: Saltos, Arremesso e Lançamentos | UNIDADE 3
6 Saltos horizontais: em distância e triplo Saltos Horizontais: Distância e Triplo | PARTE 2 147

m ± 0,01 m de comprimento, 0,20 m ± 0,002 m de largura e não mais do que


0,10 m de profundidade. É importante que a tábua esteja enterrada no mesmo
nível do corredor de corrida e da área de queda. Ainda, imediatamente após
a linha de impulsão, na parte da tábua mais próxima à área de queda, deve
ser colocada uma placa indicativa de plasticina, para os árbitros da prova
realizarem as medições. A área de queda é o local onde os atletas retomam
o contato com o solo; deve ter largura mínima de 2,75 m e máxima de 3 m. A
superfície deve estar em alinhamento com a tábua de impulsão, e a área deve
ser preenchida por areia fofa e molhada.
De forma específica, o salto triplo tem por definição a execução de um
salto com impulso em um pé só, uma passada e um salto, sempre nessa ordem.
Essa impulsão em um pé só deve levar o saltador a cair no solo primeiro com
o pé que gerou a impulsão. Já no movimento da passada, a queda será com o
outro pé, que, por consequência, realiza o salto. A regra não prevê falha na
tentativa em que a perna passiva do atleta tocar o solo.
Ainda de forma específica para o salto triplo, a tábua de impulsão assume
detalhamentos como os apontados pelo Livro de Regras (CBAT; IAAF, 2018, p. 51):

A distância entre a linha de impulsão para homens e a borda mais distante da


caixa de areia deverá ser pelo menos 21 m. Em Competições Internacionais,
deve haver uma tábua de impulsão separada para homens e mulheres, que
a linha de impulsão não esteja a menos de 13 m para homens e 11 m para
mulheres a partir da borda mais próxima da caixa de areia.

Em outras competições, as exigências indicam que a distância deverá ser


adequada ao nível da competição. Há também o registro de que, entre a tábua
de impulsão e a área de queda, haverá uma área de impulsão de 1,22 m ± 0,01
m de largura, favorecendo a pisada uniforme e sólida e auxiliando a realização
das fases de passo e salto.
Sobre as regras dos saltos em distância, existem algumas ações que geram
falhas durante os saltos, como:

 ao dar a impulsão, tocar o solo além da linha de impulsão com qualquer


parte do corpo que não o pé;
 dar o impulso fora da área de impulsão;
 realizar alguma espécie de salto mortal em qualquer momento da prova;
 quando estiver correndo ou na execução do salto, depois da impulsão,
antes do primeiro contato com a área de queda, tocar o corredor ou o
solo fora do corredor ou fora da área de queda;
148 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Saltos horizontais: em distância e triplo 7

 tocar primeiro o solo fora da área de queda; ou


 no curso da aterrissagem, tocar a borda ou o solo fora da área de queda mais
próximo da linha de impulsão do que da marca mais próxima feita na areia.

Nessa prova, a tábua de impulsão também tem exigências específicas,


definidas pela distância entre a linha de impulsão e o final da caixa de areia,
que deve ser de, no mínimo, 10 m. A colocação da linha de impulsão deve ser
realizada entre 1 m e 3 m da borda mais próxima da linha de queda.

As técnicas de execução dos saltos em distância e triplo


A técnica de execução do salto triplo corresponde a três etapas:

1. a fase de preparação;
2. a realização dos três impulsos e do salto;
3. a queda.

A descrição que segue busca detalhar os movimentos e as ações que são


realizadas em cada etapa e que, de forma complexa, indicam a técnica de
execução desse tipo de salto.
Matthiesen (2017) descreve que a fase de preparação do salto acontece no
corredor de corrida, onde o atleta define a forma que a corrida será realizada
até a abordagem da impulsão e do salto propriamente dito. Geralmente, essa
corrida pode ser progressiva até o momento da impulsão, quando o atleta
estará em alta velocidade; há atletas que desenvolvem essa corrida de forma
ritmada e progressiva, com alteração do tamanho das últimas passadas. Ainda,
há corridas chamadas de “marca intermediária”, em que o movimento é refe-
renciado pela aproximação da tábua de impulsão com segurança, para que a
passagem pela tábua de impulsão tenha o apoio do pé de impulsão.
A distância a ser percorrida na corrida deve ser escolhida por cada sal-
tador, definindo a melhor forma para que a impulsão na tábua seja feita com
a perna de impulsão. A velocidade evidenciada na corrida vai encaminhar o
salto propriamente dito. É importante lembrar que esse deslocamento deve ser
calculado, a partir da velocidade, do número de passadas ideais para atingir
a tábua de impulsão e da exigência de percurso de aproximadamente 13 m,
para as provas oficiais masculinas, e 11 m, para as provas oficiais femininas,
em relação à caixa de saltos, conforme aponta Matthiesen (2005).
Os três impulsos definidos para o salto triplo são realizados primeira-
mente com a execução de dois impulsos com a mesma perna e, depois, mais
Esportes Individuais: Saltos, Arremesso e Lançamentos | UNIDADE 3
8 Saltos horizontais: em distância e triplo Saltos Horizontais: Distância e Triplo | PARTE 2 149

um impulso com a perna contrária. O primeiro desses impulsos se realiza na


sequência imediata da corrida. Partindo do contato da planta do pé com a tábua
de impulsão, a perna tem uma pequena flexão, estendendo imediatamente; essa
ação gera a impulsão, com elevação do joelho da perna contrária para cima e
para a frente. Nessa fase aérea, a perna que no primeiro impulso foi projetada
à frente se posiciona para trás, sendo que, no segundo impulso, a queda se
dá pela mesma perna da primeira impulsão. Essa perna realiza uma pequena
flexão e, logo, uma extensão, encaminhando-se para o terceiro impulso.
O terceiro impulso tem a queda com a perna livre ou perna contrária, que
exerce uma impulsão para a ação do voo. Durante essa progressão, os braços
realizam alternância de movimentos com relação às pernas; a partir do segundo
impulso, eles se colocam à frente e se movimentam para trás, para o auxílio da
impulsão e do deslocamento. A Figura 3 traz uma representação do salto triplo.

Figura 3. Técnica básica de movimento do salto triplo.


Fonte: Adaptada de Matthiesen (2017).

A queda do salto é realizada com preocupação, já que a medição é feita


a partir da marca na areia mais próxima da linha de impulsão. Dessa forma,
o atleta faz um prolongamento da fase de flutuação, projetando seu corpo o
mais para a frente possível, evitando que qualquer superfície do seu corpo
toque na caixa de areia para trás. Espera-se, assim, que o primeiro contato
com o solo seja feito pelos calcanhares.

O livro Atletismo: teoria e prática, além de descrever as técnicas dos movimentos


dos saltos em distância e triplo, também apresenta uma síntese organizada dos
erros mais comuns dessas práticas. Observe os erros e as correções do salto triplo
no Quadro 1.
150 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS
Saltos horizontais: em distância e triplo 9

Quadro 1. Erros e correções do salto triplo

Erros Correções

Impulsão lenta ou realizada Favorecer o amortecimento do


com impacto demasiadamente impacto realizando exercícios
acentuado do pé de impulso. (inicialmente) na grama, buscando
velocidade na impulsão.

Chegada na tábua de impulsão com Alterar a velocidade de aproximação;


a inversão da perna de impulsão, inverter a perna da saída; registrar
comprometendo os demais impulsos. uma marca intermediária; fazer a
marcação em passadas ou medição
da distância para o início da corrida
tão logo acerte o pé de impulsão.

Falta de força na perna de impulsão. Sobretudo na realização do segundo


impulso, que é realizado a partir de
um salto e não de uma corrida, o
saltador deverá realizar um trabalho
de fortalecimento específico
para os membros inferiores.

Dificuldade na realização do “duplo Realização de exercícios de


impulso” na mesma perna. saltos para o fortalecimento dos
membros inferiores; aumento na
amplitude na perna de balanço.

Fonte: Adaptado de Matthiesen (2017).

Segundo Matthiesen (2017), o salto em distância basicamente é realizado


a partir de três estilos: grupado, arco e passada no ar (hitch kick). Em uma
hipótese de progressão da técnica, a aprendizagem teria início pelo grupado,
evoluindo para o estilo arco, sendo este aperfeiçoado com o salto de passada
no ar, esse último mais utilizado no alto rendimento.
Nesses estilos, a diferenciação está na fase de flutuação; dessa forma, a
preparação se dá igualmente entre os estilos, e a queda e a fase de conclusão
também seguem as demandas impostas pela regra. As fases do salto em
distância são:

1. fase de preparação;
2. corrida de aproximação;
3. flutuação;
4. queda.
Esportes Individuais: Saltos, Arremesso e Lançamentos | UNIDADE 3
10 Saltos horizontais: em distância e triplo Saltos Horizontais: Distância e Triplo | PARTE 2 151

Sendo assim, a fase de preparação se realiza a partir da corrida, que


deve ser executada com a intenção de se utilizar a perna de impulsão (a
mais forte) no contato com a tábua. A velocidade imposta ao movimento
está relacionada ao número de passadas e à distância a ser percorrida, que,
com base na regra, vai depender do estilo de cada saltador, conforme aponta
Matthiesen (2005; 2017).
Com uma velocidade própria para que o impulso seja iniciado, a perna
de impulsão passa de uma semiflexão à extensão, para que a perna contrária
possa ser projetada para cima e para a frente. Na fase de elevação, quando o
joelho realiza uma flexão e os braços auxiliam o movimento, é importante a
realização prolongada desse movimento, para que a ação de flutuação aconteça
com base no estilo definido pelo atleta.
De certa forma, o estilo grupado é o mais utilizado na iniciação, por
ter uma execução facilitada, sem a complexidade de trocas de movimentos
durante o salto. Nesse estilo, após a fase de impulsão, há uma extensão dos
membros inferiores, com o atleta se inclinando para a frente, buscando uma
aproximação das mãos com os pés, favorecendo a ampliação da distância e a
queda com os dois pés no chão (Figura 4).

Figura 4. Técnica de movimento do salto em distância — estilo grupado.


Fonte: Adaptada de Matthiesen (2017).

Segundo Matthiesen (2005), outro estilo muito utilizado na iniciação


da aprendizagem do salto em distância, mas que apresenta uma evolução
técnica em relação ao salto grupado, é o estilo arco. A ação, aqui, começa
a ser desenvolvida após a elevação, em que o atleta provoca um atraso no
movimento das pernas e dos braços; por consequência, há um adiantamento
152 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Saltos horizontais: em distância e triplo 11

do quadril, ação que provoca no tronco a posição de um arco (como observado


na imagem D da Figura 5).

Figura 5. Técnica de movimento do salto em distância — estilo arco.


Fonte: Adaptada de Matthiesen (2017).

Matthiesen (2005) ainda descreve o estilo com passada no ar, que é


executado durante a flutuação por um movimento alternado das pernas e dos
braços após a impulsão (Figura 6). De certa forma, o saltador realiza no ar
uma passada e meia; dependendo do atleta, ocorrem duas passadas antes da
finalização do salto. Em alguns casos, a passada também é combinada com
a realização do movimento de arco do tronco.

Figura 6. Técnica de movimento do salto em distância — estilo passada no ar.


Fonte: Adaptada de Matthiesen (2017).

Contudo, cabe lembrar que esse estilo exige maior técnica e consciência
corporal e, por isso, geralmente se apresenta nos treinos de competidores.
Independentemente do estilo utilizado na queda, são os calcanhares que devem
fazer o primeiro contato com o solo.
Esportes Individuais: Saltos, Arremesso e Lançamentos | UNIDADE 3
12 Saltos horizontais: em distância e triplo
Saltos Horizontais: Distância e Triplo | PARTE 2 153

As aprendizagens para os saltos em distância


e triplo
No processo de ensino e aprendizagem dos saltos, Matthiesen (2017) defende
a importância de se trabalhar os conteúdos que envolvem essas provas a partir
das dimensões atitudinais, conceituais e procedimentais. Para a autora, essa
complexidade da aprendizagem dará mais sentido para a compreensão dos
saltos enquanto prática esportiva pautada em uma cultura que se renova e
reconstrói. Assim, além de saber executar o gesto motor dos saltos (dimensão
procedimental), é primordial conhecer os aspectos sociais que envolvem essa
prática (dimensão conceitual) e, ainda, perceber os sentidos e os significados
relacionados a essa modalidade esportiva (dimensão atitudinal).
Nessa lógica, no que tange à dimensão procedimental, a aprendizagem dos
conteúdos que estão presentes nos processos de execução do ato de saltar vai
ser pautada em uma prática explorada, isto é, o aluno vai executar de formas
diferentes o movimento de saltar, para que ele amplie o repertório de possibi-
lidades, estratégias e formas de perceber os saltos. Aqui, cabe a utilização de
materiais didáticos como caixas, plintos, arcos, cordas, cones, entre outros.
Como uma estratégia diferenciada, os saltos podem ser executados tendo os
próprios colegas como obstáculos (Figura 7). Essa atividade motiva e desafia
os aprendizes, já que estimula uma efetiva participação de todos.

Figura 7. Estratégia de aprendizagem dos saltos. A evolução e o aumento da dificuldade


podem ser trabalhados ao se ampliar a distância entre o corpo dos colegas ou, ainda, utili-
zar caixas e plintos, que exigem do aluno a preocupação de um salto longo na horizontal,
além da impulsão de um salto na vertical, para que consiga pular por cima das caixas.
Fonte: Adaptada de Matthiesen (2017).

Para os conteúdos atitudinais, Matthiesen (2014) reflete que estes devem


estar relacionados à percepção individualizada dos alunos sobre as temáticas
dos saltos, como por meio de um debate com questões do tipo: as distâncias
154 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Saltos horizontais: em distância e triplo 13

alcançadas nos saltos da turma são iguais? Por que? O que pode ser feito como
auxílio para que os resultados sejam melhorados de forma coletiva? Ou, ainda:
você consegue perceber a limitação de movimento para a realização do salto
em alunos/colegas com algum tipo de deficiência?
Essa proposta gera uma reflexão coletiva sobre as possibilidades e as
fragilidades de cada um em relação à execução dos saltos. Ainda, faz com que
temas como ganhar a qualquer custo, uso de substâncias ilícitas para melhorar
os resultados, mulheres nos esportes, condições de treinamentos, entre outros,
possam se tornar temas transversais, em um efetivo aprofundamento sobre os
conteúdos que envolvem os saltos.
No trabalho dos conteúdos conceituais, é possível destacar experiências
reais como referências para a aprendizagem do salto. Essa possibilidade é po-
tencializada pelo uso das histórias de saltadores como João do Pulo e Maurren
Maggi, atletas brasileiros que se destacaram no cenário internacional. Para
esse tipo de conteúdo, diferentes estratégias, como pesquisas, seminários,
construção de painéis e mostras culturais esportivas, levam os alunos à com-
preensão do que o esporte representa como fenômeno social. O Quadro 2 traz
um exemplo de atividades que podem ser propostas para o desenvolvimento
conceitual na aprendizagem dos saltos em distância e triplo.

Quadro 2. Exemplo de atividades para os conteúdos conceituais dos saltos em dis-


tância e triplo

Prova Questão Pesquisa Atividade

Salto Nelson Prudêncio foi um Identificar quem Executar o salto triplo,


triplo dos brasileiros a subir no foram os brasileiros identificando a distân-
pódio olímpico na prova que conquistaram cia correspondente
do salto triplo. Em que medalhas olímpi- às marcas dos atletas
olimpíada isso aconteceu? cas na prova do brasileiros que con-
salto triplo. quistaram medalhas
nos jogos olímpicos.
Salto em O salto em distância Identificar ima- Executar os diferen-
distância praticado pelos gregos era gens que retratem tes estilos de salto
executado com uma espé- os saltos em dis- em distância reali-
cie de halteres nas mãos. tância praticados zados ao longo da
Quais as implicâncias disso pelos gregos. história.
para a execução do salto
em distância?

Fonte: Adaptado de Matthiesen (2014).


Esportes Individuais: Saltos, Arremesso e Lançamentos | UNIDADE 3
14 Saltos horizontais: em distância e triplo Saltos Horizontais: Distância e Triplo | PARTE 2 155

É possível perceber que os exemplos utilizados para a reflexão no ensino


dos saltos partem de provas enquanto práticas competitivas. De fato, esse
tipo de referência deve ser utilizado para o trabalho com atletas em fase de
iniciação, pois é fundamental que, além dos treinos específicos, esse futuro
saltador reconheça na sua execução a história que fundamenta as regras, os
recordes, os grandes atletas e os estilos de técnicas.
Embora essa também seja uma referência para as aprendizagens no con-
texto escolar, não se pode transformar a escola em centro de treinamento e o
aluno em um miniatleta. É preciso que as diferenças entre as realidades sejam
respeitadas. Mesmo assim, o entendimento sobre as diferentes dimensões
do atletismo e dos saltos possibilita que as aprendizagens na escola sejam
mais críticas e reflexivas, abrangendo a busca por melhores condições de
ensino nesse espaço democrático e participativo. O estudo sobre os saltos em
distância e triplo possibilita a reflexão sobre as temáticas que circundam as
práticas esportivas ao longo da história, como cultura e aspectos econômicos,
políticos e sociais. Um exemplo é a análise das histórias de vida de João do
Pulo e Maurren Maggi.

Acesse o link a seguir e assista a um vídeo sobre a história da vida de João do Pulo e
algumas homenagens que o atleta recebeu.

https://qrgo.page.link/SjmwN

No link a seguir, você pode assistir à prova do salto em distância feminino nos Jogos
Olímpicos de Pequim em que Maurren Maggi foi consagrada campeã olímpica.

https://qrgo.page.link/xh5Pd

Neste capítulo, você pôde explorar um pouco da história dos saltos e a


importância da discussão de temas socioculturais na aprendizagem dos alu-
nos. Para além da apresentação de técnicas e regras dos saltos em distância e
triplo, a leitura favoreceu o entendimento de diferentes formas de se ensinar
os saltos, abrangendo tanto a sua execução como seus aspectos atitudinais e
conceituais. Com base em fatos importantes para o esporte brasileiro, esses
156 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Saltos horizontais: em distância e triplo 15

dois saltos emergem como referências para uma qualificação da educação


física escolar e uma reflexão sobre o impacto de fatos históricos e regras
anteriores nas práticas atuais.

CBAT; IAAF. Regras oficiais de competições da IAAF 2018-2019: edição oficial para o Brasil.
São Paulo: CBAt, 2018. Disponível em: http://www.cbat.org.br/repositorio/cbat/do-
cumentos_oficiais/regras/regras_oficiais_2018_2019.pdf. Acesso em: 27 maio 2019.
CRAVEIRA, N. João, 21 anos, um novo recordista mundial. O Estado de São Paulo, São Paulo,
14 out. 1975. Disponível em: https://acervo.estadao.com.br/imagens/105x65/1975._10.16.
jpg. Acesso em: 27 maio 2019.
DUARTE, O. História dos esportes. 6. ed. São Paulo: Senac, 2019.
MATTHIESEN, S. Q. (org.). Atletismo se aprende na escola. Jundiaí: Fontoura, 2005.
MATTHIESEN, S. Q. Atletismo na escola. Maringá: Eduem, 2014.
MATTHIESEN, S. Q. Atletismo: teoria e prática. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.
MATTHIESEN, S. Q. Atletismo: teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.
MATTHIESEN, S. Q. et al. A história do atletismo em aulas de educação física: sobre o
projeto “atletismo se aprende na escola V. Rio de Janeiro: Cultura Acadêmica, 2011.
MATTHIESEN, S. Q. Memórias do salto triplo: uma história que não se conta. In: ENCONTRO
FLUMINENSE DE EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR, 7., 2003, Niterói. Anais [...]. Rio de Janeiro,
2003. Disponível em http://cev.org.br/biblioteca/memorias-salto-triplo-registro-uma-
-historia-que-nao-se-conta/. Acesso em 24 de abril.
MAURRENMAGGI_PEQUIM2008_GET_95. [S. l.], [2012]. Largura: 402 pixels. Altura: 254
pixels. Formato: JPG Disponível em: http://s.glbimg.com/es/ge/f/original/2012/07/20/
maurrenmaggi_pequim2008_get_95.jpg. Acesso em: 27 maio 2019.
SIBILA, C. B. A história do salto triplo como subsídio para o seu ensino na escola. 2011.
Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Educação Física) — Instituto de
Biociências, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2011.

Leituras recomendadas
FERNANDES, J. L. Atletismo: os saltos. 2. ed. São Paulo: EPU, 2003.
RUBIO, K. Heróis olímpicos brasileiros. Porto Alegre: Zouk Editora, 2004.
RUBIO, K. Medalhistas olímpicos brasileiros: memórias, histórias e imaginário. São Paulo:
Casa do Psicólogo, 2006.
Esportes Individuais: Saltos, Arremesso e Lançamentos | UNIDADE 3
Saltos Horizontais: Distância e Triplo | PARTE 2 157

PREZADO ESTUDANTE

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158 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS
unidade

3
V.1 | 2022

Parte 3
Lançamentos: Disco,
Martelo e Dardo

O conteúdo deste livro


é disponibilizado
por SAGAH.
160 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS

Lançamentos: disco,
martelo e dardo
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar a origem, a evolução e os espaços das provas de lançamento.


 Descrever as regras e as técnicas utilizadas nas provas de lançamento
de dardo, disco e martelo.
 Analisar as especificidades dos processos de ensino e de aprendizagem
das técnicas dos diferentes lançamentos.

Introdução
Os lançamentos de dardo, martelo e disco, como provas oficiais do
atletismo e como tarefas motoras da iniciação esportiva, apresentam
características comuns, ao mesmo tempo que possuem especificidades
que devem ser respeitadas. Ao longo dos tempos, houve a evolução
dos implementos e das provas de lançamentos, e tais transformações
representaram também inovações nos treinamentos e nos processos
de iniciação ao esporte.
Assim, neste capítulo, você vai estudar os lançamentos de dardo,
martelo e disco, explorando tanto o treinamento desses movimentos
como a aprendizagem em contextos escolares. Além do histórico dessas
práticas, você vai analisar as estratégias de ensino, a construção de
materiais alternativos e as formas de execução dos movimentos.
Esportes Individuais: Saltos, Arremesso e Lançamentos | UNIDADE 3
2 Lançamentos: disco, martelo e dardo
Lançamentos: Disco, Martelo e Dardo | PARTE 3 161

Espaços e implementos das provas de


lançamentos de dardo, martelo e disco
Como nas demais provas do atletismo, os lançamentos fazem parte de compe-
tições esportivas desde a Grécia Antiga, nos jogos olímpicos da Antiguidade.
Segundo Matthiesen (2005), o disco foi um dos primeiros implementos uti-
lizados pelos gregos. Na época, os lançamentos eram realizados com pedras,
com metas variadas de altura ou, até mesmo, de distância. A autora ainda
revela que o movimento de lançamento do disco era realizado com as duas
mãos, o que não é mais permitido pelas regras oficiais. Um avanço na execução
técnica dessa prova é a implementação dos movimentos rotacionais na técnica,
especialmente entre os atletas de alto rendimento.
Já o lançamento do martelo, inicialmente, era praticado sem um setor
específico de lançamento. O implemento era preso a um cabo de madeira,
que influenciava na imprecisão dos movimentos, limitando os resultados.
Os lançamentos visavam a determinar o atleta que atingia melhores metas
no ato motor, que, na época, era baseado na impulsão, na força, na destreza e
na agilidade. Tais características sempre eram colocadas como desafios para
testar os homens ditos fortes e habilidosos. Assim, o ato de lançar diferentes
materiais, com características específicas, abrangia os ideais de complexidade
nas destrezas motoras, geralmente se somando às provas de corridas e saltos.
Esse cenário histórico justifica o uso dos atuais implementos, martelo, dardo
e disco, relacionados a uma só habilidade: o lançar.
O ato de lançar já faz parte da história do homem desde a Pré-História,
quando, para a sobrevivência por meio da caça, na busca por alimento, o homem
se utilizava de lanças (troncos de árvores pontiagudos). É possível, inclusive,
encontrar em figuras pré-históricas a imagem desse ato motor realizado por
cima do ombro, com uma extensão do braço, movimento muito semelhante
ao lançamento do dardo. Assim, o lançamento de lanças em direção a alvos
nas primeiras provas gregas se fundamenta nesse movimento pré-histórico e
dá origem ao movimento que hoje é realizado em provas oficiais (Figura 1).
Os registros indicam que as provas de lançamento de dardo faziam parte
das provas de pentatlo nos jogos olímpicos da Antiguidade. Atualmente, o
dardo é uma prova específica do atletismo, tendo sido aplicada desde os jogos
realizados em 1906, em Atenas. A evolução dessa prova também é marcada
pelas mudanças de regras, como a obrigatoriedade, nos tempos atuais, de se
utilizar estilos de lançamentos ortodoxos. Assim, os lançadores executam
seus movimentos com base na movimentação corporal técnica, construída e
analisada para uma melhor performance.
162 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS
Lançamentos: disco, martelo e dardo 3

Figura 1. O uso do lançamento ao longo da história.


Fonte: Drawlab19/Shutterstock.com; 0,,15317322-EX,00 ([20--], documento on-line).

A inserção da mulher nas provas olímpicas


Como nas demais modalidades esportivas e no atletismo em geral, as mulheres
foram autorizadas a participar de competições oficiais somente depois de
vários jogos dominados pela presença dos homens. No caso dos lançamentos,
a inserção da mulher aconteceu depois da participação feminina em outras
provas, como as de corrida.
Para atletas mulheres, o lançamento de disco foi incluído nos Jogos Olímpi-
cos de Amsterdã, em 1928. Porém, segundo o site da Confederação Brasileira
de Atletismo (CBAt), antes dessa primeira participação, já havia mulheres
competindo e registrando marcas significativas para os seus lançamentos. Por
exemplo, a primeira marca registrada no disco foi da alemã Anneliese Hensch,
que, em Berlim, em 1922, atingiu 24,90 metros. Com um disco oficial, os
registros indicam a marca de 27,39 m, alcançada pela atleta Yvonne Tembouret
no ano de 1923, em uma competição oficial em Paris.
Ainda segundo a CBAt, registros sobre o lançamento de dardo indicam que
foi na Finlândia que o lançamento de dardo feminino começou a ser praticado;
em 1916, a esportista finlandesa Martta Votila alcançou 30,45 m com o dardo
masculino (800 g). O recorde oficial com um dardo de 600 g foi executado pela
tcheca Bozena Sramková, em Praga, em 13 de agosto de 1922, com a marca de
25,235 m. Os Jogos Olímpicos de 1932 tiveram a primeira edição dessa prova
para mulheres. Já no Brasil, o primeiro recorde reconhecido foi de Lily Richter,
vencedora do I Campeonato Brasileiro em 1940, com a marca de 28,02 m.
Os registros sobre o martelo nos jogos olímpicos, segundo Matthiesen
(2014), demonstram que os homens disputam essa prova desde os Jogos Olím-
Esportes Individuais: Saltos, Arremesso e Lançamentos | UNIDADE 3
4 Lançamentos: disco, martelo e dardo Lançamentos: Disco, Martelo e Dardo | PARTE 3 163

picos de Paris, em 1900, e as mulheres somente começaram a participar desse


tipo de competição em 2000, nos jogos de Sidney. É importante destacar que a
evolução do implemento martelo representou uma significativa transformação
nessa prática por homens e mulheres. Quando esse implemento era conduzido
por um cabo de madeira, a sua execução era considerada muito difícil e exigia
do praticante uma força corporal intensa. Quando o cabo passou a ser de aço,
o movimento ganhou uma nova dimensão, e sua execução, de certa forma,
tornou-se mais viável e facilitada, exigindo, da mesma forma, a qualidade física
da força, porém agora aplicada a um movimento mais consciente e seguro.

A segurança na realização das provas


A preocupação com a segurança de atletas, árbitros e torcedores durante as
provas de lançamentos justifica mudanças significativas tanto nas característi-
cas dos implementos como nas áreas de execução do lançamento e de queda do
implemento. A gaiola de proteção, obrigatória para as provas de lançamento
de martelo e disco (Figura 2), é um exemplo dessas mudanças: ela se tornou
uma exigência, sendo imposta pelas regras oficiais. Cabe salientar que se o
implemento, no momento do lançamento, toca essa gaiola, a tentativa não é
invalidada. A preocupação é mesmo com a segurança.

Figura 2. Gaiola do martelo e disco.


Fonte: Uladzik Kryhin/Shutterstock.com.
164 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Lançamentos: disco, martelo e dardo 5

Portanto, em relação à segurança, no trabalho de iniciação ao lançamento, é


importante que a gaiola seja adaptada com outro tipo de material, como cordas,
que impeçam outros alunos de ficarem no espaço, ou até mesmo com redes,
que indiquem o local onde os implementos serão lançados. Assim, evita-se
quaisquer contatos com implementos que estão sendo lançados ou retirados
dessa área por outros alunos.

No link a seguir, você tem acesso a um estudo que trata do uso da tecnologia nos
implementos e equipamentos do atletismo. Entre as páginas 44 e 56 do estudo, o autor
faz uma análise detalhada sobre a construção e a utilização das gaiolas.

https://qrgo.page.link/Nwnhv

As regras e técnicas das provas de lançamentos


de disco, martelo e dardo
Para facilitar a compreensão sobre as técnicas mais utilizadas tanto para o
treinamento esportivo como para a iniciação da aprendizagem dos lançamen-
tos, as informações nesta seção estão organizadas separadamente por provas.
Entretanto, é importante destacar que todos os movimentos de exploração
do ato de lançar são cabíveis para que o atleta e o aluno se apropriem e se
conscientizem sobre a movimentação do corpo em todas as fases da execução.
O lançamento se caracteriza pela projeção de um implemento no ar. Con-
forme a técnica utilizada, os movimentos preparatórios para os lançamentos
podem incluir a realização de giros, como nas provas de disco e martelo, ou
o deslocamento linear, como no caso do dardo. Ainda, é possível classificar o
tipo de lançamento a partir da característica dos implementos — como pesado,
para o martelo, e leve, para o disco e o dardo.

Lançamento de disco
Para o lançamento de disco, é importante a execução de cinco etapas: balanceio,
giros, lançamento propriamente dito, recuperação do equilíbrio e finalização.
O atleta se posiciona de costas para o setor de lançamento e lateralmente à
Esportes Individuais: Saltos, Arremesso e Lançamentos | UNIDADE 3
6 Lançamentos: disco, martelo e dardo Lançamentos: Disco, Martelo e Dardo | PARTE 3 165

área de queda do implemento. A empunhadura deve ser feita pelo apoio das
falanges, e o polegar e a palma da mão fazem o apoio lateral do disco (Figura 3).

Figura 3. Empunhadura do disco.


Fonte: Matthiesen (2017, p. 146).

Na posição inicial do lançamento, as pernas estão ligeiramente afastadas.


Quando começa a etapa do balanceio, há uma movimentação de transferência do
peso do corpo de uma perna para outra por meio de uma semiflexão das pernas,
acompanhada pela rotação do tronco. A segunda etapa de giros acontece no
ponto mais baixo do balanceio, e a transferência do peso do corpo se concentra
até a ponta dos pés. No caso do atleta destro, quando ele se posiciona de frente
para o setor de lançamento, ele realiza um salto, que é finalizado com o apoio
do pé direito no centro do círculo. Já o pé esquerdo perde o contato com o solo
e retoma o apoio na parte anterior do círculo, conforme mostra a Figura 4.

Figura 4. Movimento do corpo no lançamento do disco.


Fonte: Manual... ([20--?], documento on-line).

O lançamento acontece quando há troca de peso e apoio do corpo nas


pernas, o tronco gira para a direção do lançamento e, simultaneamente, há
uma ação de tracionar o disco com o braço. Em uma linha ascendente, o braço
166 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Lançamentos: disco, martelo e dardo 7

é estendido até a altura do ombro, sendo que o implemento é impulsionado


pelo dedo indicador. A tendência, então, é que o atleta saia do círculo; assim,
nessa etapa, há uma continuidade do giro, com a troca de posição dos pés e a
retomada do equilíbrio. É obrigatório que o atleta deixe a área de lançamento
pela parte de trás do círculo, finalizando a última etapa.
As regras básicas dessa prova, segundo o Livro de Regras (CBAT; IAAF,
2018), estão elencadas a seguir.

 O corpo do disco pode ser sólido ou oco e será de madeira ou outro


material adequado, com um aro de metal cujas bordas sejam circulares.
A borda deve ser arredondada em um círculo perfeito, e o seu raio será
de 6 mm, aproximadamente. O disco deve ter placas metálicas circulares
cravadas no centro de suas faces.
 O disco, incluindo a superfície do aro, não deverá ter qualquer aspereza,
e sua superfície deverá ser lisa e completamente uniforme.
 Deve-se realizar o lançamento dentro do círculo de lançamento.
 Deve-se respeitar as especificações para cada categoria e para provas
masculinas e femininas, conforme o Quadro 1.

Quadro 1. Especificações do disco

Sub-18 Sub-20 Adulto


Disco Feminino
masculino masculino masculino

Peso mínimo para ser admitido em competição e homologação de recorde


1,000 kg 1,500 kg 1,750 kg 2,000 kg
Informação para fabricantes — variação para fornecer equipamento
de competição
1,005 kg 1,505kg 1,755 kg 2,005 kg
1,025 kg 1,525 kg 1,775 kg 2,025 kg
Diâmetro externo do aro de metal
Máximo 180 mm 200 mm 210 mm 219 mm
Mínimo 182 mm 202 mm 212 mm 221 mm
Diâmetro da placa de metal ou parte central plana
Máximo 50 mm 50 mm 50 mm 50 mm
Mínimo 57 mm 57 mm 57 mm 57 mm

(Continua)
Esportes Individuais: Saltos, Arremesso e Lançamentos | UNIDADE 3
Lançamentos: Disco, Martelo e Dardo | PARTE 3 167
8 Lançamentos: disco, martelo e dardo

(Continuação)

Quadro 1. Especificações do disco

Sub-18 Sub-20 Adulto


Disco Feminino
masculino masculino masculino

Espessura das placas de metal ou área central plana


Máximo 37 mm 38 mm 41 mm 44 mm
Mínimo 39 mm 40 mm 43 mm 46 mm
Espessura do aro de metal (6 mm da borda)
Máximo 12 mm 12 mm 12 mm 12 mm
Mínimo 13 mm 13 mm 13 mm 13 mm
Fonte: Adaptado de CBAt e IAAF (2018).

Lançamento de dardo
Para o lançamento de dardo, é possível utilizar três empunhaduras (Figura 5):

 tipo garfo, em que o apoio do implemento está entre o dedo médio e


o dedo indicador;
 empunhadura finlandesa, em que o implemento é apoiado pelo dedo
indicador; e
 empunhadura americana, em que o dardo é apoiado no dedo indicador
e no dedo polegar.

A partir de uma dessas empunhaduras, o dardo se mantém acima do ombro


da mão dominante e na altura da cabeça. A partir dessa posição, inicia-se a
corrida de aproximação dentro do corredor de lançamento, com o objetivo de
alcançar a velocidade necessária para o movimento de lançar.
A prova do lançamento do dardo é realizada a partir de um corredor de
lançamento, que deve ter, no mínimo, 30 m; quando as condições permitirem,
ele deverá ter 36,50 m. Com relação à área de queda, segundo o Livro de
Regras (CBAT; IAAF, 2018, documento on-line): “[...] o setor de queda deve
ser marcado com linhas brancas de 50 mm de largura formando um ângulo
de 34,92º, de tal modo que a borda mais interna das linhas, se prolongadas,
passariam pelo centro do círculo”.
168 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS
Lançamentos: disco, martelo e dardo 9

Figura 5. Tipos de empunhadura do dardo: (a) garfo; (b) finlandesa; (c) americana.
Fonte: Matthiesen (2017, p. 135).

Em uma transição da corrida frontal para passos laterais, inicia-se o cruza-


mento das pernas. O braço que está com o dardo é estendido para trás. No caso do
atleta destro, a perna esquerda dá início aos cruzamentos (dois cruzamentos) até
a posição para o lançamento propriamente dito. O duplo apoio acontece quando
ocorre certo bloqueio na velocidade, ponto de base para que o corpo lance o
implemento para a frente e para cima. Nesse momento, o pé esquerdo toca o solo,
iniciando pelo calcanhar. Aqui, há uma forte desaceleração do deslocamento
lateral. É nessa freada dos membros inferiores que os membros superiores
ganham impulso, e o dardo é puxado de trás para a frente, sendo projetado ao
voo, conforme mostra a Figura 6. Após essa fase, é necessário que o movimento
de deslocamento seja encerrado antes da linha final do setor de corrida.
Esportes Individuais: Saltos, Arremesso e Lançamentos | UNIDADE 3
Lançamentos: Disco, Martelo e Dardo | PARTE 3 169
10 Lançamentos: disco, martelo e dardo

Figura 6. Movimento corporal no lançamento do dardo.


Fonte: Matthiesen (2017, p. 135).

As principais regras dessa prova, segundo o Livro de Regras (CBAT; IAAF,


2018), estão descritas a seguir.

 O dardo deve ser segurado na empunhadura somente com uma das mãos.
Será lançado sobre o ombro ou acima da parte superior do braço de
lançamento e não deve ser lançado com movimentos rotatórios. Estilos
não ortodoxos não são permitidos.
 Um lançamento é válido somente se a cabeça metálica do dardo tocar
o solo antes de qualquer outra parte.
 Em nenhum momento durante o lançamento, e até que o dardo tenha
sido solto no ar, o atleta pode girar completamente, de modo que suas
costas fiquem na direção do arco de lançamento.
 O dardo consiste de três partes: o corpo, a cabeça e uma empunhadura
de corda. O corpo pode ser sólido ou oco e será construído de metal ou
outro material similar adequado, de maneira que se constitua fixado e
integrado perfeitamente. O corpo terá fixado a ele uma cabeça metálica,
terminando em uma ponta aguda.
 Deve-se respeitar as especificações para cada categoria e para provas
masculinas e femininas, conforme o Quadro 2.
170 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS
Lançamentos: disco, martelo e dardo 11

Quadro 2. Especificações do dardo

Sub-20/ Sub-20/
Sub-18 Sub-18
Dardo adulto adulto
feminino masculino
feminino masculino

Peso mínimo para ser admitido em competição e homologação


de um recorde (inclusive a empunhadura de corda)
500 g 600 g 700 g 800 g
Informação para fabricantes — variação para suprir equipamento
de competição
Mínimo 500 g 605 g 705 g 805 g
Máximo 525 g 625 g 725 g 825 g
Comprimento total (L0)
Mínimo 2,000 m 2,200 m 2,300 m 2,600 m
Máximo 2,100 m 2,300 m 2,400 m 2,700 m
Distância da ponta da cabeça metálica ao centro de gravidade (L1)
Mínimo 0,780 m 0,800 m 0,860 m 0,900 m
Máximo 0,880 m 0,920 m 1,000 m 1,060 m
Distância da cauda ao centro de gravidade (L2)
Mínimo 1,120 m 1,280 m 1,300 m 1,540 m
Máximo 1,320 m 1,500 m 1,540 m 1,800 m
Comprimento da cabeça metálica (L3)
Mínimo 0,220 m 0,250 m 0,250 m 0,250 m
Máximo 0,270 m 0,330 m 0,330 m 0,330 m

Fonte: Adaptado de CBAt e IAFF (2018).

Lançamento de martelo
Na empunhadura do martelo, a mão esquerda segura a manopla do martelo;
acima dela, posiciona-se a mão direita (Figura 7). Nesse momento, o lançador
está de costas para o setor de queda e na parte posterior do círculo, com as
pernas ligeiramente afastadas. Os balanceios iniciam quando o martelo é
elevado à direita e atrás, com o acompanhamento do movimento corporal. Nos
Esportes Individuais: Saltos, Arremesso e Lançamentos | UNIDADE 3
12 Lançamentos: disco, martelo e dardo Lançamentos: Disco, Martelo e Dardo | PARTE 3 171

molinetes (movimentos giratórios que são executados pelo martelo), que são
iniciados pelos balanceios, o martelo é impulsionado para a frente e para trás
do corpo, com posicionamento dos braços ora acima da cabeça, ora estendidos
à frente do corpo. Nesse movimento contínuo, há uma inclinação do tronco
para o lado contrário de onde se encontra o martelo (Figura 8).

Figura 7. Empunhadura do martelo.


Fonte: Matthiesen (2017, p. 156).

Figura 8. Movimento do corpo no lançamento do martelo.


Fonte: Manual... ([20--?], documento on-line).

A aceleração dos molinetes estimula o início dos giros, empregando-se a


perna esquerda como pivô para as rotações do corpo; o lançador é o eixo fixo
desse movimento rotatório. Geralmente, são executados três giros para que
se inicie o lançamento. O deslocamento dos giros leva o atleta até o limite
anterior do círculo, de costas para a direção do lançamento. A extensão total
do tronco, as pernas e a elevação dos braços estimulam o lançamento. Após, há
necessidade de uma troca de pés, para que se recupere o equilíbrio do corpo,
evitando que o atleta saia do círculo de lançamento.
Segundo o Livro de Regras (CBAT; IAFF, 2018), sobre as regras básicas
dessa prova, é necessário destacar o seguinte.
172 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Lançamentos: disco, martelo e dardo 13

 É permitido a um atleta, de sua posição inicial até seus balanços preli-


minares ou giros, colocar a cabeça do martelo no solo na parte interior
ou exterior do círculo.
 Não é considerada falha a tentativa em que a cabeça do martelo toca
o solo dentro ou fora do círculo ou a parte superior da borda do aro.
O atleta pode parar e começar seu lançamento novamente, desde que
nenhuma outra regra tenha sido quebrada.
 O martelo se compõe de três partes: cabeça de metal, cabo e empunhadura.
 A cabeça deve ser de ferro maciço ou outro metal que não seja mais
macio do que o latão, ou um invólucro de quaisquer desses metais,
cheio de chumbo ou de outro material sólido.
 Deve-se respeitar as especificações para cada categoria e para provas
masculinas e femininas, conforme o Quadro 3.

Quadro 3. Especificações do martelo

Sub-20/
Sub-18 Sub-18 Sub-20 Adulto
Peso adulto
feminino masculino masculino masculino
feminino

Peso mínimo para ser admitido em competição e homologação de recorde

3,000 kg 4,000 kg 5,000 kg 6,000 kg 7,260 kg

Informação para fabricantes — variação para fornecer equipamento


de competição

3,005 kg 4,005 kg 5,005 kg 6,005 kg 7,265 kg

3,025 kg 4,025 kg 5,025 kg 6,025 kg 7,285 kg

Comprimento do martelo a partir da parte interna da empunhadura

1.195 mm 1.195 mm 1.200 mm 1.215 mm 1.215 mm

Nenhuma outra tolerância se aplica ao comprimento máximo

Diâmetro da cabeça

Máximo 85 mm 95 mm 100 mm 105 mm 110 mm

Mínimo 110 mm 110 mm 120 mm 125 mm 130 mm

Fonte: Adaptado de CBAt e IAFF (2018).


Esportes Individuais: Saltos, Arremesso e Lançamentos | UNIDADE 3
14 Lançamentos: disco, martelo e dardo Lançamentos: Disco, Martelo e Dardo | PARTE 3 173

Conforme o Livro de Regras (CBAT; IAFF, 2018), o martelo é um imple-


mento composto por três partes, a cabeça de metal, o cabo e a empunhadura
(Figura 9). A parte da cabeça deve ser feita de ferro maciço ou outro metal que
respeite a rigidez necessária para essa parte. Ainda, é possível que a cabeça
seja composta por enchimento, que “[...] deve ser colocado de tal maneira que
fique fixo internamente e que o centro de gravidade não varie mais que 6 mm
em relação ao centro da esfera”, conforme aponta o Livro de Regras (CBAT;
IAFF, 2018, documento on-line).
Já o cabo é inteiriço de arame de aço. Na ponta desse cabo, pode ter uma
alça nas extremidades, que servirá de conexão entre as partes. A empunhadura
deverá ser rígida e sem qualquer tipo de conexão articulada. Ela vai estar
presa ao cabo por um anel que não vire na conexão nem aumente o cabo,
ampliando o comprimento do martelo. Como ele é composto por três partes,
há especificações para cada uma delas que devem ser consideradas.
Por ter essas características, o martelo não é um implemento que faz parte
da rotina de crianças e alunos. De certa forma, essa falta de familiaridade faz
com que, no início do trabalho com esse implemento, haja um momento muito
efetivo de reconhecimento das possíveis formas de lançá-lo, até se chegar à
técnica do movimento propriamente dito.

Figura 9. O implemento martelo.


Fonte: 0ed780de7db10ec4 ([20--?], documento on-line).
174 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS
Lançamentos: disco, martelo e dardo 15

A aprendizagem dos lançamentos


No processo de aprendizagem dos lançamentos, é preciso evidenciar a carac-
terística de cada tipo de prova e de implemento. Em uma fase de exploração,
qualquer movimento que estimule o ato de lançar será efetivo, quando o objetivo
for a experimentação. Contudo, quando o refinamento do movimento se tornar
o foco da aprendizagem, é preciso que as especificidades se manifestem nas
estratégias de ensino.
De certa forma, independentemente do lançamento, é possível definir uma
progressão para a aprendizagem, como vemos a seguir.

1. É preciso que o aluno “lance” o implemento de diferentes formas,


para reconhecer suas características, como seu peso, sua forma, entre
outros aspectos.
2. Em um determinado ponto da aprendizagem, as estratégias devem
prever lançamentos para cima e para a frente, uma situação que pode
ser estimulada por meio da indicação de alvos a serem atingidos.
3. O lançamento deve ser feito a partir de um deslocamento, uma corrida,
um giro ou um balanceio (nessa situação, a delimitação do deslocamento
e dos espaços pode ser estabelecida com o uso de cordas, arcos, círculos
ou retas desenhadas no chão.
4. Deve-se definir um objetivo — a distância deve ser compreen-
dida como meta, e o uso de bandeiras que definam a distância dos
lançamentos funciona como um desafio para que as metas sejam
ultrapassadas.

Essa progressão deve ser estabelecida para cada implemento, no mo-


mento em que o professor estiver elaborando seu planejamento. Também
é necessário identificar estratégias de ensino diferenciadas. É importante
compreender que o aluno não aprende somente executando, mas também
lendo, ouvindo, observando, descrevendo e pesquisando. Assim, o ensino
se potencializa por meio da criatividade e da diversificação das atividades,
o que também favorece uma aprendizagem mais completa e complexa
sobre os lançamentos.
Esportes Individuais: Saltos, Arremesso e Lançamentos | UNIDADE 3
Lançamentos: Disco, Martelo e Dardo | PARTE 3 175
16 Lançamentos: disco, martelo e dardo

Uma estratégia diferenciada para a aprendizagem dos lançamentos é a análise de


vídeos, nos quais os alunos podem observar as especificidades de cada movimento
e depois, na prática, buscar uma execução parecida, ou até mesmo fazer correções
nos movimentos dos colegas. A correção também se caracteriza como uma boa
estratégia de aprendizagem.

Geralmente, a aprendizagem se concentra na forma de executar os movimen-


tos, com exercícios práticos, individuais, em duplas, em pequenos grupos, etc.,
realizados com base na proposta de explorar as formas de lançar. Emprega-se
também uma diversidade de materiais e implementos que estejam associados
ou próximos das características dos implementos oficiais. Nessa lógica, é
sempre necessário criar um cenário próximo às exigências das regras, como
o círculo de lançamentos e o setor de quedas. A compreensão dos limites de
movimentações corporais impostos pelas regras estimula uma maior cons-
cientização sobre a forma como o corpo deve se colocar e se movimentar a
cada fase do lançamento.
Ainda, é possível que as aprendizagens atuem no campo conceitual dos
conteúdos, por meio do estudo das regras, da história, dos valores sociais,
dos atletas e recordes, das técnicas de execução, entre outros aspectos. Esse
tipo de conhecimento qualifica a aprendizagem e impacta de forma positiva
a motivação para a prática dos lançamentos, com uma base teórica. Contudo,
essa forma de pensar os conteúdos ainda não é disseminada entre as culturas
escolares. Os professores de educação física ainda assumem uma tendência
de ensino mais prática, com base no saber fazer, e discutem de forma sucinta
os conteúdos conceituais — o saber sobre — e os atitudinais — o sentir sobre
—, conforme aponta Matthiesen (2014).
Em uma perspectiva mais crítica sobre a aprendizagem dos lançamentos,
sugere-se uma dedicação aos conteúdos conceituais que justificam e expli-
cam as práticas atuais, como regras e comportamentos sociais relacionados
aos esportes.
176 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS
Lançamentos: disco, martelo e dardo 17

O quadro abaixo traz algumas possibilidades de planejamento para o ensino dos


conteúdos conceituais dos lançamentos.

Objetivo de Conteúdo
Estratégia de ensino
aprendizagem de ensino

Compreender valores Valores sociais: inclu- Solicitar aos alunos que tra-
sociais na prática dos são, gênero, racismo, gam para a aula reportagens
lançamentos entre outros de jornais, revistas e sites que
tratem sobre os lançamentos
praticados por mulheres, defi-
cientes, negros e outros e que
possibilitem um debate sobre
os valores sociais. É preciso que
os alunos manifestem opiniões,
bem como se interessem por
esse tema em outros contextos.
Após o debate, será constru-
ído um cartaz, para que os
temas sejam constantemente
debatidos.

Associar as regras Regras oficiais dos Depois de uma leitura sobre


oficiais das provas lançamentos de mar- as principais regras, os alunos
de lançamentos telo, dardo e disco podem assistir a um vídeo
com a execução do com provas oficiais, para que
movimento consigam perceber essas regras
em um cenário competitivo.
Depois, na prática, pode-se criar
um cenário de execução em
duplas, em que um colega é o
atleta, que vai executar o movi-
mento, e outro é o juiz, que vai
apontar as especificidades da
regra na execução.
Esportes Individuais: Saltos, Arremesso e Lançamentos | UNIDADE 3
18 Lançamentos: disco, martelo e dardo Lançamentos: Disco, Martelo e Dardo | PARTE 3 177

Vale destacar que atividades como a construção de implementos, a aná-


lise de vídeos, o contato com espaços reais de treinamento — por exemplo,
visitas a centros de treinamentos ou palestras com atletas — são sempre
instigantes, mesmo que essas situações sejam pontuais. Há alunos que tal-
vez não tenham acesso a esses locais e a essas experiências se não forem
ofertadas nos ambientes escolares e de iniciação esportiva. Para muitos, a
aproximação com o esporte se dá apenas por meio das mídias televisivas e
das redes tecnológicas.
Os festivais esportivos também são ações que envolvem um grande grupo
de alunos e, até mesmo, a comunidade escolar. No caso do atletismo e, em
especial, no caso dos lançamentos, o uso de parques, centros urbanos ou
praças comunitárias pode favorecer o reconhecimento pela comunidade das
aprendizagens realizadas na escola, ao mesmo tempo que faz com que o aluno
queira qualificar seu movimento para que sua representação e participação
nessas ações sejam apreciadas por todos.

O livro Os desafios da escola pública paranaense na perspectiva do professor PDE: pro-


duções didático-pedagógicas apresenta estratégias interessantes e diferenciadas
para a aprendizagem dos conteúdos da educação física. Acesse o link a seguir e
consulte o material.

https://qrgo.page.link/KT8M4

Os lançamentos são provas que partem do princípio de lançar um im-


plemento, mas que se tornam diferenciadas pelas características de cada
implemento. O ato de lançar é conduzido pela ação motora, mas a forma
como esse movimento é executado está intimamente relacionada à forma,
ao peso e à estrutura dos implementos. Este capítulo apresentou como es-
sas provas foram evoluindo ao longo da história e como essas alterações
influenciaram os estilos de lançamentos utilizados atualmente pelos atletas.
Ainda, evidenciou a aprendizagem desses estilos nas fases da iniciação,
com proposições para a utilização dessa prática esportiva como conteúdo
de ensino na educação física escolar.
178 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS

Lançamentos: disco, martelo e dardo 19

0,,15317322-EX,00. Globo Esporte, Rio de Janeiro [20--]. Largura: 212 pixels. Altura:
159 pixels. Formato: JPG. Disponível em: http://globoesporte.globo.com/Esportes/
foto/0,,15317322-EX,00.jpg. Acesso em: 1 maio 2019.
0ED780DE7DB10EC4. Nextews, [s. l.], [20--?]. Largura: 211 pixels. Altura: 158 pixels. For-
mato: JPG. Disponível em: http://nextews.com/images/0e/d7/0ed780de7db10ec4.
jpg. Acesso em: 1 maio 2019.
CBAT; IAAF. Regras oficiais de competições da IAAF 2018-2019: edição oficial para o Brasil.
São Paulo: CBAt, 2018. Disponível em: http://www.cbat.org.br/repositorio/cbat/do-
cumentos_oficiais/regras/regras_oficiais_2018_2019.pdf. Acesso em: 31 maio 2019.
MANUAL do Treinador — nível I: lançamentos em rotação. [S. l.: s. n.], [20--?]. Dispo-
nível em: http://files.efd321.webnode.com.br/200000029-8bddf8c5bd/19%20-%20
Lan%C3%A7amentos%20em%20Rota%C3%A7%C3%A3o.pdf. Acesso em: 31 maio 2019.
MATTHIESEN, S. Q. (org.). Atletismo se aprende na escola. Jundiaí: Fontoura, 2005.
MATTHIESEN, S. Q. Atletismo na escola. Maringá: Eduem, 2014.
MATTHIESEN, S. Q. Atletismo: teoria e prática. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.

Leituras recomendadas
CBAT. O atletismo: origens. Confederação Brasileira de Atletismo, Braganca Paulista, [2010?].
Disponível em: http://www.cbat.org.br/atletismo/origem.asp. Acesso em: 31 maio 2019.
DUARTE, O. História dos esportes. 6. ed. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2019.
FERNANDES, J. L. Atletismo: lançamentos e [arremesso]. 2. ed. São Paulo: EPU, 2003.
GUIMARÃES, V. D. Evidências tecnológicas no universo do atletismo: uma análise dos
materiais e equipamentos esportivos. 2013. Dissertação (Mestrado em Desenvol-
vimento humano e Tecnologias) — Instituto de Biociências, universidade Estadual
Paulista, Rio Claro, 2013. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/bitstream/han-
dle/11449/99074/000713950.pdf;jsessionid=13CFA5B2F6AFCBB12084A2497600F008?
sequence=1. Acesso em: 1 maio 2019.
IORA, J. A. et al. A Construção de materiais e a utilização de espaços alternativos para
o ensino do atletismo. Saúde e Desenvolvimento Humano, [s. l.], v. 4, n. 2, p. 79-88, 2016.
Disponível em: https://revistas.unilasalle.edu.br/index.php/saude_desenvolvimento/
article/view/2317-8582.16.32. Acesso em: 31 maio 2019.
RAVACHE, R. Atletismo paraolímpico: manual de orientação para professores de educação
física: Brasília: Comitê paraolímpico Brasileiro, 2006.
SIMONI, C. R.; TEIXEIRA, W. M. Atletismo em quadrinhos: história, regras, técnicas, glossário.
Porto Alegre. Editora Rigel, 2009.
Esportes Individuais: Saltos, Arremesso e Lançamentos | UNIDADE 3
Lançamentos: Disco, Martelo e Dardo | PARTE 3 179

PREZADO ESTUDANTE

ENCERRA AQUI O TRECHO DO LIVRO DISPONIBILIZADO


PELA SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE.
180 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS
unidade

3
V.1 | 2022

Parte 4
Arremesso de Peso

O conteúdo deste livro


é disponibilizado
por SAGAH.
182 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS

Arremesso de peso
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar a origem, a evolução e os espaços das provas de arremesso.


 Descrever as regras e técnicas utilizadas nas provas de arremesso de peso.
 Analisar os processos de ensino e de aprendizagem das técnicas de
arremesso de peso e as suas relações com outros esportes.

Introdução
A prática do arremesso de peso vem se transformando ao longo da his-
tória. Trata-se de uma prática que se baseia em um movimento básico do
ser humano e cujas finalidades foram se transformando, até culturalmente
ser compreendida como uma prova da modalidade esportiva atletismo.
É possível evidenciar diferentes propostas para o processo de ensino e
aprendizagem do movimento motor do arremesso, abrangendo adapta-
ções, processos pedagógicos e lúdicos, utilização de materiais alternativos
e a interlocução do ato de arremessar com outras práticas esportivas.
No entanto, na prática competitiva, o arremesso assume características
próprias definidas por regras e normas, que estabelecem desde a forma
correta da execução do movimento técnico até a configuração dos locais
de provas. Nesse sentido, os métodos de aprendizagem, desde a iniciação
até o treinamento do alto rendimento, também se tornam mais específicos.
Neste capítulo, você vai estudar a origem, a evolução e os espaços das
provas de arremesso. Você também vai identificar as regras e técnicas utiliza-
das nessas provas e vai analisar os processos de ensino e de aprendizagem das
técnicas de arremesso de peso, relacionando a prática com outros esportes.

O ato de arremessar ao longo da história


O arremesso é uma habilidade básica motora, que é classificada como uma
habilidade fundamental no desenvolvimento motor na infância. Os bebês
Esportes Individuais: Saltos, Arremesso e Lançamentos | UNIDADE 3
2 Arremesso de peso Arremesso de Peso | PARTE 4 183

arremessam coisas e o fazem de forma espontânea; contudo, essa exploração


cria estruturas mentais que favorecem a ampliação de experiências e do acervo
motor referente ao ato de arremessar. Nesse sentido, o movimento vai ganhando
dimensões estruturais que se pautam nas diferentes formas e objetos que
incentivam essa exploração, a partir da percepção de seus tamanhos, pesos,
formas e espessuras.
Assim, nesse processo de aprimorar o movimento, a criança passa a compre-
ender e incorporar diferentes formas de executar o arremesso. Na perspectiva
de movimento especializado de uma modalidade esportiva, como no atletismo,
essas formas recebem a denominação de técnicas de execução.
Nas variações da habilidade motora de arremessar, pode-se identificar os
arremessos por baixo, com uma ou duas mãos, os arremessos laterais, que
geralmente são realizados ao lado do corpo, com uma elevação do braço quase
estendido, e os arremessos por cima dos ombros, que, em geral, são executados
com as duas mãos — porém, no arremesso de peso, utiliza-se uma mão só,
conforme apontam Haywood e Getchell (2004).
De certa forma, as habilidades motoras dão fundamento para as moda-
lidades esportivas. Geralmente, os movimentos técnicos se originam como
habilidades culturalmente determinadas e assumem as especificidades
necessárias para a execução de movimentos mais eficazes. Por isso, o atle-
tismo é considerado o esporte de base, já que abrange muitas habilidades
básicas motoras. Sua prática favorece a exploração e a vivência desses
movimentos, que são utilizados e ressignificados quando executados em
outras modalidades esportivas, conforme afirma a Confederação Brasileira
de Atletismo (CBAT, [20--?]).
Quanto ao processo histórico, é importante lembrar que o arremesso já
se manifestava nas ações de sobrevivência na Pré-História como movimento
para a caça e alimentação. Nesse período, ainda de forma muito rudimen-
tar, o movimento se manifestava pela necessidade, sem preocupação com a
forma — o importante era atingir o alvo. Para isso, vários tipos de materiais
surgiram como implemento desse arremesso, como pedras, lanças de tronco
de árvores, entre outros.
Enquanto prática esportiva, segundo Matthiesen (2005), durante o século
XVII, no Reino Unido, o arremesso de peso passou a ser praticado por sol-
dados, em locais específicos para essas provas, utilizando balas de canhão
que pesavam entre 7 e 8 kg (essa variação ocorre porque o peso original
tinha 16 libras, unidade de medida inglesa). Contudo, já se evidenciava tal
prática entre os soldados gregos na Antiguidade, que arremessavam pedras
para identificar quem era o mais forte e hábil. São inúmeros os exemplos da
184 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Arremesso de peso 3

prática de arremessar implementos pesados ao longo dos diferentes momentos


da história da Educação Física, fato que reforça a importância dessa prova na
história dos esportes em geral.
As primeiras regras dessa prova foram estabelecidas em 1860 (MATTHIE-
SEN, 2005). Na época, o movimento deveria ser executado em um quadrado
com lados de 7 pés. Em 1906, uma significativa mudança foi registrada quanto
ao local de prova, que passou a ter especificações próximas ao modelo atual,
sendo o quadrado substituído por um círculo com 7 pés de diâmetro.
Nos registros sobre as competições com arremesso de peso, encontram-se os
Jogos Olímpicos de 1906, em Atenas, em que a disputa se dava pelo arremesso
de pedras que pesavam 6,4 kg. Segundo Duarte (2019), o vencedor dessa disputa
foi o grego Nikolaos Georgantas. Segundo o autor, em Estocolmo, no ano de
1912, a prova de arremesso era executada com ambas as mãos. Lançava-se
o implemento com uma mão e depois com a outra, e o resultado se baseava
na soma das distâncias dos arremessos executados com a mão direita e com
a mão esquerda. Nessa competição, o vencedor foi o americano Ralph Rose.

Os homens já disputavam a prova do arremesso em jogos olímpicos deste Atenas,


em 1896, mas somente em 1948, nos Jogos Olímpicos de Londres, foram organizadas
provas com a participação de mulheres, conforme leciona Matthiesen (2014).

De certo modo, a oficialização da prova nos jogos olímpicos favoreceu a


disseminação do ato de arremessar em uma dimensão técnica, pois a natu-
ralização do movimento preconiza uma prática sem a preocupação com suas
exigências e normas. Isso não significa que a aprendizagem do arremesso
não deva ser ofertada em outras condições que não as normatizadas, no que
tange ao local, às condições dos materiais e até mesmo à condição física do
praticante. O contexto escolar deve estimular e priorizar o desenvolvimento
das habilidades motoras e a iniciação às técnicas dos esportes. Porém, ao se
ter como objetivo o ensino do arremesso de peso enquanto prova estruturada
e sistematizada, deve-se ter o cuidado para que as regras, as técnicas de exe-
cução, o implemento e os locais de realização sejam aprendidos, utilizados
e minimamente respeitados no processo de aquisição desse conhecimento,
conforme apontam Iora et al. (2016).
Esportes Individuais: Saltos, Arremesso e Lançamentos | UNIDADE 3
4 Arremesso de peso Arremesso de Peso | PARTE 4 185

Dessa forma, existem demandas específicas da modalidade que merecem


atenção no trabalho de iniciação e treinamento. O local da prova do arremesso
deve conter um espaço amplo e aberto, sem obstáculos, que favoreça o voo
do implemento de forma livre. A questão com a segurança também deve
ser levada em conta, já que o peso é um material que, ao ser arremessado,
pode atingir outras pessoas, causando acidentes indesejados, conforme expõe
Matthiesen (2014).
Para as competições oficiais, há um lugar específico para o arremesso na
pista de atletismo, sendo ele um círculo de lançamentos com 2,135 metros
de diâmetro. Na frente desse círculo se posiciona um anteparo e um setor
de queda. Esse setor de queda possui uma abertura de 34,92°, que se origina
no centro do círculo de lançamento. A definição do local de prova delimita
o espaço de utilização do atleta ao executar o arremesso e do peso ao sair
da mão do atleta e atingir o solo, configurando arremessos válidos ou não
validos, conforme aponta a CBAt ([20--?]). A evolução do movimento e as
mudanças sofridas também estão associadas aos equipamentos utilizados para
a prova; por exemplo, a mudança da área do arremesso de um quadrado para
um círculo promoveu e facilitou a técnica de rotação do arremesso, conforme
leciona Fernandes (2003) e demonstra a Figura 1.

Figura 1. A evolução e as mudanças dos locais de provas do arremesso de


peso: (a) antigo local de prova do arremesso de peso; (b) local de prova do
arremesso de peso nas regras atuais.
Fonte: (a) File... (2015, documento on-line); (b) 250PX-REMIGIUS_MACHURA_SENIOR_CZ_
CHAMPIONSHIPS_IN_ATHLETICS_KLADNO_2005 (2005, documento on-line).

As provas de arremesso de peso


Durante muitos anos, a prova de arremesso de peso era praticada somente
por homens; como vimos, a participação das mulheres nessa prova teve início
186 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Arremesso de peso 5

em 1948. No decorrer dos anos, a prova vem sendo estabelecida com base em
características que respeitem os perfis masculino e feminino, principalmente
na definição de pesos específicos.
Atualmente, nas competições oficiais, há competidores de ambos os gê-
neros que disputam recordes e medalhas. Os resultados são definidos pela
maior distância em que o implemento é arremessado, sendo que os recordes
atingidos por homens em competições olímpicas ainda são maiores do que os
das mulheres. Por exemplo, o recorde olímpico dos homens é de 22,52 metros,
e o das mulheres é de 22,41 metros; já o recorde mundial se apresenta com as
seguintes distâncias: 23,12 metros, para os homens, e 22,63, para as mulheres.
Essas marcas foram atingidas em provas que respeitam as regras sobre o peso
do implemento para cada gênero, conforme mostra o Quadro 1.

Quadro 1. Peso do implemento para cada prova masculina e feminina de arremeso de


peso

Sub-20/
Sub-18 Sub-18 Sub-20 Adulto
Peso adulto
feminino masculino masculino masculino
feminino

Peso mínimo para ser admitido em competição e homologação de recorde:

3,000 kg 4,000 kg 5,000 kg 6,000 kg 7,260 kg

Informação para fabricantes — variação para fornecer equipamento de


competição:

3,005 kg 4,005 kg 5,005 kg 6,005 kg 7,265 kg


3,025 kg 4,025 kg 5,025 kg 6,025 kg 7,285 kg

Diâmetro

Máximo 85 mm 95 mm 100 mm 105 mm 110 mm

Mínimo 110 mm 110 mm 120 mm 125 mm 130 mm

Fonte: Adaptado de CBAt e IAAF (2017).

Vem crescendo nos últimos anos a prática do arremesso de peso entre indiví-
duos com deficiência. Conforme afirmam Resplandes e Barros (2017, documento
on-line), “O esporte adaptado abrange inúmeras modalidades, dentre as quais
se destaca o atletismo, que simula movimentos naturais do ser humano com
fácil adaptação”. Nessa proposta, o movimento técnico do esporte é adaptado
Esportes Individuais: Saltos, Arremesso e Lançamentos | UNIDADE 3
6 Arremesso de peso Arremesso de Peso | PARTE 4 187

às características individuais, e as regras que regem as provas também são


modificadas; por exemplo, o peso varia de 2 a 4 kg, conforme a classe funcional
e o sexo do praticante. Assim, é a classe funcional que estabelece um controle
sobre o grau de lesão ou deficiência apresentada pelos atletas, estabelecendo
padrões iguais entre os competidores, conforme leciona Ravache (2006).
As provas de arremesso do peso nas paraolimpíadas são realizadas por
atletas com deficiência física, visual ou intelectual. Para cada classe funcional,
há detalhamento da forma como esse esportista vai realizar o seu arremesso;
por exemplo, o deficiente visual pode ter auxílio de uma pessoa, denominada
guia. O guia pode orientar o atleta a qualquer momento da prova, posicionando
o atleta no setor de arremesso, orientando-o no sentido do espaço (de forma
tátil e por som) e colocando-o próximo aos implementos. Podem ser utilizadas
por ele a fala ou palmas, para indicar a direção do arremesso.
De certa forma, o arremesso de peso é uma prática esportiva popular, sendo
considerada base para outras modalidades esportivas, já que se origina de uma
habilidade motora. Mesmo com exigências próprias, a execução é facilitada,
pois o movimento pode ser adaptado às necessidades dos praticantes. No que
se refere ao alto nível, a qualidade física de força combinada com o equilíbrio
e o controle corporal são obrigatoriedades para um arremesso eficaz. Assim, a
técnica exigida na execução do movimento deve ser compreendida e utilizada
de forma a qualificar treinamentos, independentemente de que está praticando.

No link a seguir, você tem acesso ao vídeo que apresenta a prova de arremesso de
peso de Parry O’Brien nos jogos olímpicos de Helsinque.

https://qrgo.page.link/HDvu9

O arremesso de peso em competições


As competições de arremesso de peso são regidas pelas regulamentações
contidas em CBAt e IAAF (2017). As exigências para o implemento, o local
de prova e os arremessos válidos e inválidos dos atletas são descritas para que
sejam utilizadas adequadamente, garantindo uma competição justa. Algumas
dessas regras são estabelecidas de forma geral — ou seja, independentemente
188 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Arremesso de peso 7

da prova, o atleta deve cumpri-las. No entanto, há especificidades para a


prova de arremesso de peso que merecem destaque. Assim, nesta seção, tais
especificidades serão contextualizadas e detalhadas.
Para os locais de prova, há espaços definidos de lançamentos e quedas. Como
esses espaços também são utilizados para outras provas, como lançamento de
martelo ou disco, é preciso ter o cuidado para que as especificações de cada prova
sejam atendidas. O círculo de lançamento, como é chamado o local onde o atleta
se posiciona para fazer o seu arremesso, é definido por um aro feito de aço, ferro
ou material adequado que permita que a borda superior permaneça no mesmo
nível do terreno. Essa borda superior deve ser visível; por isso, indica-se uma
espessura de 6 mm, com pintura na cor branca. É definido no Livro de Regras
que o material do piso localizado na parte externa ao círculo deve ser de concreto,
material sintético, asfalto, madeira ou outro material apropriado. Na parte interna,
o material não pode ser escorregadio, isto é, deve ser firme, como concreto ou
asfalto. Nas regras específicas, CBAt e IAFF (2017, p. 55) indicam que: “No
Arremesso do Peso, permite-se um círculo portátil que reúna essas condições”.
De forma específica para os arremessos de peso, a regra ainda exige a
colocação de um anteparo ao redor do círculo, que pode ser feito de madeira
ou material similar, na cor branca. Ele deve ser fixado ao chão, e sua borda
interna deve coincidir com a borda interna do círculo. CBAt e IAFF (2017, p.
56) estabelecem o seguinte: “O anteparo medirá 11,2 cm a 30 cm de largura,
com uma corda de 1,21 m ± 0,01 m de comprimento do interior para um arco
igual ao círculo e 0,10 m ± 0,008 m de altura em relação ao nível do interior
do círculo adjacente ao anteparo”.
Sobre a área de queda do implemento, a indicação é que esta deve ser de
carvão ou grama, ou ainda de um material que defina uma marca visível quando
da queda do implemento. Esse setor também é definido por uma inclinação,
com linhas brancas de 50 mm de largura, que formam um ângulo de 34,92°.
A parte mais interna dessas linhas se prolongam até a parte central do círculo.
Há uma nota no Livro de Regras que define com clareza essa exigência.
As normas para o implemento — peso — definem que ele seja feito de
ferro maciço, latão ou outro metal que não seja maleável. É necessário que
a forma esférica seja garantida e que a superfície não tenha nenhum tipo de
aspereza. Os pesos que cada implemento deve ter são estabelecidos de forma
diferenciada para homens e mulheres e, ainda, por categorias de idade. Por
exemplo, as categorias sub-20 e adulto feminino utilizam um implemento de,
no mínimo, 4 kg; já na categoria masculino sub-20, o peso deve ter 6 kg, e no
masculino adulto, 7,260 kg. Esses pesos devem ser garantidos também para
a validação dos recordes nas diferentes competições.
Esportes Individuais: Saltos, Arremesso e Lançamentos | UNIDADE 3
8 Arremesso de peso Arremesso de Peso | PARTE 4 189

No momento da execução da prova, o atleta se posiciona dentro do círculo


para iniciar o movimento. No arremesso de peso, é permitido ao atleta tocar
a parte interna do anteparo, desde que as definições da regra 188.2 sejam
respeitadas. Conforme a execução do arremesso, ele pode ser considerado
válido ou falho. Os critérios observados em um arremesso falho são:

 soltar de forma imprópria o peso (largar o aparelho no chão ou deixá-lo


cair da mão);
 tocar com o corpo fora do círculo ou na parte superior do aro ou anteparo,
após ter iniciado a tentativa do arremesso;
 o peso cair fora dos limites da área de queda.

Ainda, é proibido que o atleta saia do círculo antes que o peso tenha tocado
o solo. Contudo, ele poderá abandonar a tentativa e reiniciá-la, desde que não
tenha cometido nenhuma infração sobre as regras do arremesso e esteja dentro
do tempo permitido de 1 minuto (esse tempo pode ser alterado conforme
regulamento específico da competição). Após a realização do arremesso, o
competidor deve deixar o círculo, passando de forma exclusiva pela metade
de trás do círculo de lançamento.
As competições de arremesso de peso são organizadas conforme o número
de competidores. A regra geral para as provas de campo prevê que, no caso
de mais de oito competidores inscritos, estes deverão cumprir três tentativas,
sendo que os atletas que tiverem atingido os oito melhores resultados válidos
terão mais três tentativas. No caso de competições com menos de oito ins-
critos, o atleta poderá executar seis tentativas. É importante destacar que os
regulamentos específicos de cada evento competitivo devem prever como será
desenvolvida essa forma de disputa e como será feito o sorteio para a ordem
de realização das tentativas de arremesso.
A ordem de classificação é dada a partir do resultado obtido em cada
tentativa, sendo declarado vencedor aquele atleta que conseguir arremessar
o peso na maior distância, respeitando todas as regras previstas pelo regula-
mento da competição. A medição da distância é realizada por árbitros, que
se pautam no primeiro ponto de contato com o solo quando da queda do peso,
seguindo uma linha até a parte interna do anteparo.
Atualmente, os campeonatos internacionais mundiais e olímpicos têm
provas específicas para homens e mulheres, em que os resultados são definidos
em cada uma das provas. Ainda, nas competições paraolímpicas, deve ser
respeitada a classificação funcional da deficiência apresentada pelo atleta.
190 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Arremesso de peso 9

Técnicas de arremesso de peso


Sobre a forma de arremessar, CBAt e IAFF (2017, p. 55) definem que:

O peso deve ser arremessado partindo do ombro com uma só mão. No momento
em que um atleta assumir uma posição no círculo para começar um arremesso,
o peso deverá tocar ou estar bem próximo ao pescoço ou ao queixo, e a mão
não deverá ser abaixada dessa posição durante a ação do arremesso. O peso
não deve ser arremessado detrás da linha dos ombros.

Nesse sentido, a execução do ato de arremessar deve atender às exigências


da regra, ao mesmo tempo que deve favorecer um arremesso mais eficaz e
de qualidade.
Segundo Matthiesen (2014), há algumas técnicas que atualmente são mais
utilizadas na aprendizagem do arremesso de peso:

1. ortodoxa-linear;
2. O’Brien ou linear de costas;
3. com giro ou rotacional.

Essas técnicas estabelecem semelhanças para a empunhadura, mas formas


diferenciadas da posição do corpo, do impulso, do próprio movimento de
arremessar e da finalização.

Estilo ortodoxo-linear

Nessa forma de arremessar, o atleta se coloca no círculo em uma posição


lateral em relação ao local para o qual vai arremessar. O peso do seu corpo
está sobre a perna que faz correspondência ao braço do arremesso, sendo que
o outro pé está posicionado atrás, tocando o solo com sua parte anterior. A
empunhadura é feita com o dedo mínimo e o polegar nas extremidades do
peso, e os demais dedos são colocados na parte mais central (o peso não tem
contato com a palma da mão). O outro braço é posicionado de forma elevada,
para auxiliar no impulso.
Na fase de arrasto, a perna livre executa um balanço e se projeta na direção
do setor de queda; a outra perna é movimentada de forma a se arrastar pelo
solo. Depois dessa fase, o pé da perna de apoio é posicionado semiflexionado
próximo ao centro do círculo, sofrendo o peso de todo o corpo. O pé da outra
Esportes Individuais: Saltos, Arremesso e Lançamentos | UNIDADE 3
10 Arremesso de peso Arremesso de Peso | PARTE 4 191

perna já está próximo à parte interna do anteparo. Inicia-se, então, a rotação


do tronco, para que o corpo fique de frente para a área de queda.
O movimento do arremesso vai acontecer logo após e por consequência
dessa rotação, com uma extensão completa das pernas e firmeza no braço
— o movimento todo se foca no braço, no antebraço, na mão e no peso. A
complexidade dessa ação levará o atleta a um desequilíbrio, momento em que
se realiza um passo de recuperação, em que a perna que faz correlação com
o arremesso se posiciona à frente, ligeiramente flexionada para amortecer o
impulso, e a outra perna, de certa forma, é jogada para trás.

Estilo O’Brien, ou linear de costas

Nessa técnica, o atleta se posiciona inicialmente de costas para a posição


do arremesso. A perna de apoio (do mesmo lado do braço de arremesso)
tem o peso do corpo e é posicionada levemente à frente. A parte anterior
do pé da outra perna fica em contato com o solo, posicionada um pouco
atrás do corpo. O outro braço é estendido e elevado. O tronco do atleta é
posicionado de forma grupada — a cabeça se aproxima do solo e os joelhos
ficam semiflexionados.
No arrasto dessa técnica, a perna que está livre executa um balanceio
brusco para trás e para baixo. Nesse movimento, o corpo se desloca para
trás, e o pé direito é posicionado rapidamente no centro do círculo, com
sua ponta assentada para a esquerda. Esse é um movimento constante e
interrupto, fazendo com que o outro pé se coloque próximo ao anteparo. Há
então um bloqueio do deslocamento, e o pé que está próximo ao anteparo
ultrapassa o eixo do deslocamento e é posicionado à direita do outro pé.
O movimento faz com que o quadril se desloque, gerando uma rotação
do tronco, que se posiciona para a frente, na direção para a qual o peso
será arremessado.
O impulso que é iniciado na perna passa por todo o corpo até dar impulso
ao peso; esse movimento complexo envolve elevação, avanço, rotação e
extensão de todo o corpo. O corpo assume uma elevação e é posicionado
verticalmente; a partir daí, o ombro e os quadris estão voltados para a frente,
e os segmentos do corpo que estavam flexionados realizam um movimento de
extensão que impacta o peso, em um processo de impulsão do implemento.
O desequilíbrio do corpo gerado depois do arremesso é estabilizado na troca
de pernas, que amortecem o impulso. A Figura 2 traz uma representação
dessa técnica.
192 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS
Arremesso de peso 11

Figura 2. Técnica O’Brien de arremesso de peso.


Fonte: Oliveira Filho (2013, documento on-line).

Estilo com giro, ou rotacional

Para iniciar essa técnica, o competidor se coloca de costas para o setor de


arremesso, no lado oposto ao anteparo. O movimento preparatório do arre-
messo é estabelecido pela transferência de peso do corpo para a perna (que
correlaciona ao braço do arremesso); esta é flexionada ao mesmo tempo que o
tronco realiza uma rotação. Um único balanceio já é suficiente para estimular
as sequências de giros do movimento.
Os giros são realizados a partir do ponto mais baixo do balanceio, com
transferência de uma perna para a outra, sempre realizados na ponta dos pés.
Ao se posicionar de frente para o arremesso, o competidor salta para a perna de
apoio, fazendo com que esse pé gire para dentro, procurando apoio no centro
do círculo. O outro pé, ao perder o contato com o solo, busca o contato com
o solo na parte anterior mais próxima ao anteparo. A partir daí, inicia-se o
arremesso propriamente dito.
O movimento das rotações promove efetivamente o impulso para o ar-
remesso, fazendo com que o tronco gire em direção à área de queda. A
ação de empurrar que é realizada pelo braço estendido à frente se finaliza
na palma da mão voltada para fora. As pernas são estendidas ao máximo,
fazendo com que o corpo realize um deslocamento para a frente. Após o
contato com o implemento, o atleta dá continuidade às rotações, até ficar
posicionado para a frente da área de queda. Na Figura 3, você pode observar
uma representação dessa técnica.
Todas as técnicas são eficazes para a realização do arremesso; cabe ao
treinador e ao atleta identificarem aquela que proporciona mais facilidade de
execução. É na naturalização do movimento que os indicativos de uso de força,
equilíbrio e ações motoras se configuram em um complexo de combinações
sistematizadas. A estrutura da técnica se reflete na forma de treinos e processos
pedagógicos, que são repetidos e treinados em busca de uma execução correta.
Esportes Individuais: Saltos, Arremesso e Lançamentos | UNIDADE 3
12 Arremesso de peso
Arremesso de Peso | PARTE 4 193

Figura 3. Técnica rotacional de arremesso de peso.


Fonte: Oliveira Filho (2013, documento on-line).

No artigo intitulado “Para além dos procedimentos técnicos: o atletismo em aulas de


Educação Física”, disponível no link abaixo, você encontra o processo histórico que
delineou as diferentes técnicas do arremesso de peso.

https://qrgo.page.link/wspUW

Acessando o link a seguir, você tem acesso a um vídeo que explica as técnicas de
O’Brien e rotacional de arremesso de peso.

https://qrgo.page.link/LvrLP

O processo de aprendizagem
do arremesso de peso
A partir do entendimento das técnicas do arremesso de peso, é possível iden-
tificar que o movimento, de forma geral, é estabelecido em cinco fases: a fase
preparatória, a aceleração, o arremesso propriamente dito, a recuperação e a
finalização. De certa forma, essas fases se estruturam em todas as provas que
envolvem o arremesso e o lançamento.
A fase preparatória é definida pela concentração que o atleta imprime ao
realizar o movimento, estando ele focado na forma correta de execução e em
toda a preparação feita até aquele momento. Aqui, o principal cuidado está na
empunhadura do implemento e na posição inicial de realização do arremesso.
Na fase de aceleração, o movimento é iniciado; independentemente da
técnica utilizada, após o atleta se movimentar, é importante que nenhum erro
194 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Arremesso de peso 13

seja cometido. São feitos os balanceios que iniciam os impulsos, o arrasto de


movimentação das pernas, as rotações de troncos e os giros. É importante ficar
atento a todos aqueles movimentos que podem levar a uma falha na tentativa.
A fase do arremesso propriamente dita se dá quando o implemento perde
o contato com a mão e é arremessado até tocar a área de queda. Enquanto o
peso está em deslocamento, o atleta está realizando a fase de recuperação,
já que todo o movimento de impulsão gera o desequilíbrio, e é necessário que
o corpo volte à posição estável respeitando as regras de permanecer dentro
do círculo. O arremesso só está finalizado quando o atleta sai da área de
competição, sempre pela parte de trás do círculo de lançamento.
Essa divisão do movimento completo em fases permite que a aprendizagem
seja realizada em partes, levando ao entendimento mais complexo do movimento
como um todo. Ao iniciar o trabalho com o peso, é fundamental uma etapa de
exploração do implemento, isto é, fazer com que o aluno reconheça o peso, sua
forma, sua espessura e sua dinâmica. Nessa etapa, é fundamental a realização
de atividades que estimulem os arremessos com uma mão só ou com as duas,
individuais ou em grupos, promovendo o movimento básico de lançar e recuperar.
Também existe a possibilidade de criar exercícios que estimulem a aprendiza-
gem de cada fase. Por exemplo: na fase de preparação, executar os movimentos
básicos com os olhos vendados, fator que exigirá maior concentração dos alunos;
na fase de aceleração, executar ações rotatórias do corpo, como giros completos
e meios giros, que darão uma nova conotação para a aprendizagem. O arremesso
propriamente dito pode ser estimulado nas brincadeiras de “acerte o alvo”.

É necessário que o aprendiz perca o medo do contato com o peso; ele deve se identificar
como capaz de jogar o peso para cima e, independentemente da forma como o peso
cai, recuperá-lo. Para estimular esse tipo de movimento, os implementos construídos
com materiais alternativos são sugestões que estimulam a execução da prática. Eles
podem ser construídos pelos próprios alunos e podem ser confeccionados com
diferentes materiais. Assim, a prática é estimulada pela capacidade criativa dos iniciantes,
ao mesmo tempo que facilita a exploração do implemento sob diferentes perspectivas.

A obrigatoriedade de o peso ser arremessado para a frente, e não para


cima, pode ser trabalhada nos exercícios de desafios, como acertar alvos em
diferentes distâncias, ou marcar metas que podem ser compartilhadas entre
Esportes Individuais: Saltos, Arremesso e Lançamentos | UNIDADE 3
14 Arremesso de peso Arremesso de Peso | PARTE 4 195

os estudantes, com objetivos a serem atingidos. Ainda, nesse momento da


aprendizagem, é importante a compreensão dos ângulos de posicionamento
do braço, para que o implemento atinja a distância e as alturas aceitáveis.
Os exercícios aqui devem ter objetivos combinados — uma sugestão é que o
arremesso ultrapasse cordas de diferentes alturas.
Nas fases de execução mais refinadas, é fundamental o uso de outras formas
de aprendizagem além do “só fazer”. Estratégias de ensino como observação de
imagens e vídeos, autocorreção e correção do colega são interessantes quando
se necessita que o aluno compreenda a execução. Ele passa a aprender também
pelo entendimento lógico de cada movimento e consegue estabelecer um controle
corporal mais complexo na realização dos movimentos próprios do arremesso.
A Confederação Brasileira de Atletismo apresenta, no seu site, um material
que promove o que é denominado miniatletismo. Nessa proposta, o arremesso
de peso pode ser desenvolvido em uma perspectiva lúdica, em que o aluno
aprende brincando. Além disso, são elaboradas propostas de eventos com-
petitivos diferenciados, em que a pontuação é feita coletivamente pela soma
de arremessos individuais da equipe, conforme lecionam Iora et al. (2016).
Ainda assim, para a boa execução de um arremesso de peso, é preciso um
trabalho paralelo de força de membros superiores. Não adianta que o praticante
entenda a execução do movimento sem ter a força necessária para segurar e
arremessar o peso. Nessas situações, atividades pedagógicas que promovam o
trabalho de força também são aconselháveis. Por exemplo, brincar de carrinho
de mão, cabo de guerra e de levantar e segurar diferentes objetos, como pneus,
pedras, sacos de areia, entre outros, vai estimular o desenvolvimento da força
de uma forma geral. Em um segundo momento, a força deve ser estimulada por
movimentos que se assemelhem aos executados no arremesso propriamente dito.

O arremesso aplicado em outros esportes


A tarefa de arremessar, que se origina de uma habilidade básica do ser humano,
é realizada de diferentes formas nas modalidades esportivas; ou seja, embora
o ato carregue o nome de “arremesso”, é realizado com técnicas e movimentos
diferentes. Por exemplo: no futebol, o arremesso lateral é executado com as
duas mãos por cima da cabeça; já no basquetebol, esse arremesso após a bola
sair pela lateral pode ser cobrado com uma ou duas mãos.
É possível encontrar arremessos com uma mão em modalidades como han-
debol e beisebol, que, em um primeiro momento, poderiam se aproximar das
especificidades do arremesso de peso. Porém, além do tamanho, da espessura
e do peso da bola serem diferentes, os movimentos também ocorrem de forma
196 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Arremesso de peso 15

diferente. No arremesso de peso, o movimento prioritário é de extensão do coto-


velo, associado a uma flexão horizontal e uma flexão do ombro; no handebol e
no beisebol, o movimento prioritário é de rotação interna do ombro, associado à
extensão do cotovelo. Ou seja, diferentes esportes exigem dos alunos a utilização
de diferentes estruturas mentais para a execução do arremesso.
No beisebol, os arremessos com uma só mão são realizados pelo arremes-
sador ou pitcher; eles são denominados da seguinte forma:

 bolas rápidas ( fastball) — arremessos de maior velocidade;


 offspeed — são os arremessos que enganam o rebatedor, pois perdem
velocidade no final da trajetória;
 breaking ball — bolas de efeito, em cuja execução há uma maior rota-
ção, com efeitos que fazem a bola “quebrar” e a trajetória ser alterada.

Já no handebol, a bola, quando é arremessada com uma mão só, pode


ter como objetivo um passe ou a execução de um gol. Nesses casos, Greco e
Romero (2011) classificam os arremessos como:

 com apoio — em que um ou dois pés do arremessador mantêm contato


com o solo;
 em suspensão — quando o arremesso é feito sem contato com o solo;
 com queda — realizado frequentemente pelos pivôs, em que, após a bola
deixar a mão, o atleta realiza uma queda na finalização do movimento;
 com rolamento — nesse movimento, a finalização se dá por meio de
um rolamento de ombro logo após a bola ser arremessada.

Em outros esportes, o arremesso surge como uma possibilidade de mo-


vimentação, como é o caso da ginástica rítmica, em que o nome oficial do
elemento técnico é “lançar e recuperar”; durante a execução de algumas
combinações, a bola é arremessada por trás dos ombros ou da cabeça. Ainda,
o arremesso está presente no jump do basquetebol, no momento em que o
atleta atinge a altura mais alta de seu salto e direciona com uma mão só a
bola para a cesta.
As variedades nas práticas corporais indicam que o arremesso está em
muitos esportes. Essa condição faz com que a tarefa motora do arremesso seja
explorada e experenciada em todas as fases do desenvolvimento infantil. As
aquisições dessa etapa da vida certamente vão garantir uma execução mais
qualificada do movimento, independentemente da necessidade ou da meta
proposta nas modalidades esportivas.
Esportes Individuais: Saltos, Arremesso e Lançamentos | UNIDADE 3
Arremesso de Peso | PARTE 4 197
16 Arremesso de peso

Você pode verificar as variações entre os arremessos de diferentes modalidades espor-


tivas construindo um cenário em um ambiente fechado, com a disposição de alvos no
chão e nas paredes, de vários tamanhos. Nesse mesmo ambiente, disponibilize bolas
com tamanhos e pesos variados e deixe as crianças brincarem livremente. Nas suas
observações, anote como elas executam os arremessos, cuidando o posicionamento
dos membros superiores, o apoio dos membros inferiores e a complexibilidade do uso
do corpo. Certamente serão observadas algumas posições diferenciadas; analise-as
e compare aos movimentos técnicos de modalidades esportivas. Você será capaz de
identificar como as crianças compreendem esses movimentos e avaliar as mudanças
necessárias para transformar o movimento livre em uma técnica esportiva.

Neste capítulo, foram apresentados os processos históricos do arremesso


de peso, bem como algumas modificações da prova oficial ao longo dos
tempos. Também foram apresentadas as regras básicas dessa prova para
homens e mulheres e nas competições paraolímpicas, além dos estilos de
técnicas utilizados tanto nos treinamentos de atletas como nos processos
de aprendizagem. Na lógica de como ensinar o arremesso, foram apre-
sentados exemplos de estratégias e ações que podem ser utilizadas pelo
professor para dinamizar e motivar os alunos durante a incorporação dos
novos conhecimentos.

250PX-REMIGIUS_MACHURA_SENIOR_CZ_CHAMPIONSHIPS_IN_ATHLETICS_
KLADNO_2005. Wikimedia, [s. l.], 2005. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/
wikipedia/commons/thumb/d/dc/Remigius_Machura_senior_CZ_championships_
in_athletics_Kladno_2005.jpg/250px-Remigius_Machura_senior_CZ_championships_
in_athletics_Kladno_2005.jpg. Acesso em: 21 maio 2019.
CBAT. O atletismo: origens. CBAt, São Paulo, [20--?]. Disponível em: http://www.cbat.
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CBAT; IAFF. Atletismo: regras oficiais de competição 2016-2017. São Paulo: Phorte Edi-
tora, 2017.
198 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS
Arremesso de peso 17

DUARTE, O. História dos esportes. 6. ed. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2019.
FERNANDES, J. L. Atletismo: lançamentos e [arremesso]. 2. ed. São Paulo: EPU, 2003.
FILE: Ralph Rose. Wikimedia Commons Contributors, [s. l.], 11 jan. 2015. Disponível em:
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Ralph_Rose.jpg. Acesso em: 4 jun. 2019.
GRECO, P. J.; ROMERO, J. J. F. (ed.). Manual de handebol: da iniciação ao alto nível. São
Paulo: Phorte Editora, 2011.
HAYWOOD, K. M.; GETCHELL, N. Desenvolvimento motor ao longo da vida. 3. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2004.
IORA, J. A. et al. A Construção de materiais e a utilização de espaços alternativos para
o ensino do atletismo. Revista Saúde e Desenvolvimento Humano, Canoas, v. 4, n. 2, p.
79-88, 2016. Disponível em: https://revistas.unilasalle.edu.br/index.php/saude_desen-
volvimento/article/view/2317-8582.16.32. Acesso em: 21 maio 2019.
MATTHIESEN, S. Q. Atletismo na escola. Maringá: Eduem, 2014.
MATTHIESEN, S. Q. (org.). Atletismo se aprende na escola. Jundiaí: Fontoura, 2005.
OLIVEIRA FILHO, M. A. I. Atletismo: arremesso de peso. Cooperativa do Fitness, Belo Ho-
rizonte, 18 maio 2013. Disponível em: http://www.cdof.com.br/atletism4.htm. Acesso
em: 21 maio 2019.
RAVACHE, R. Atletismo paraolímpico: manual de orientação para professores de educação
física: Brasília: Comitê paraolímpico Brasileiro, 2006.
RESPLANDES, J. R.; BARROS, R. F. Iniciação esportiva e suas influências para uma aluna
cadeirante. The Journal of the Latin American Socio-cultural Studies of Sport, [s. l.], v. 5,
n. 2, p. 30-43, 2015. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/alesde/article/view/45098.
Acesso em: 21 maio 2019.

Leituras recomendadas
MATTHIESEN, S. Q. et al. Atletismo para crianças e jovens: vivência e conhecimento.
Motriz, Rio Claro, v. 14, n. 3, p. 354-360, jul./set. 2008. Disponível em: https://cev.org.br/
arquivo/biblioteca/4026260.pdf. Acesso em: 21 maio 2019.
SANCHES, A. B. Estágios de desenvolvimento motor em estudantes universitários na
habilidade básica de arremessar. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, [s. l.], v. 6, n.
1, p. 14-22, 2008. Disponível em: https://portalrevistas.ucb.br/index.php/RBCM/article/
view/199/358. Acesso em: 21 maio 2019.
SILVA, S. B.; VILELA JUNIOR, G. B.; TOLOKA, R. E. Arremessar por cima do ombro e a
distância percorrida pelo implemento. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte,
São Paulo, v. 23, n. 4, p. 309-318, 2009. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbefe/
v23n4/v23n4a01.pdf. Acesso em: 21 maio 2019.
Esportes Individuais: Saltos, Arremesso e Lançamentos | UNIDADE 3
Arremesso de Peso | PARTE 4 199

PREZADO ESTUDANTE

ENCERRA AQUI O TRECHO DO LIVRO DISPONIBILIZADO


PELA SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE.
200 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS
unidade

4
V.1 | 2022

Esportes Individuais: Lutas


e Esportes de Combate
Prezado estudante,

Estamos começando uma unidade desta disciplina. Os textos que a compõem foram organizados com
cuidado e atenção, para que você tenha contato com um conteúdo completo e atualizado tanto quanto
possível. Leia com dedicação, realize as atividades e tire suas dúvidas com os tutores. Dessa forma, você,
com certeza, alcançará os objetivos propostos para essa disciplina.

Objetivo Geral
Identificar a presença das lutas como uma possibilidade nos esportes individuais.
unidade

4
V.1 | 2022

Parte 1
Modalidades Olímpicas de Combate

O conteúdo deste livro


é disponibilizado
por SAGAH.
204 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS

Modalidades olímpicas
de combate
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„ Identificar a história das lutas nos Jogos Olímpicos.


„ Caracterizar as modalidades de luta dos Jogos Olímpicos.
„ Reconhecer as modalidades de luta dos Jogos Paralímpicos.

Introdução
Os Jogos Olímpicos surgiram na Grécia Antiga e eram um grande evento
dessa civilização. Nessa época, destacavam-se, junto ao atletismo, algumas
modalidades que inspiraram várias das lutas que conhecemos hoje e que
são parte integrante do calendário dos Jogos Olímpicos da Era Moderna.
Neste capítulo, você conhecerá o histórico das modalidades de
combate no contexto dos Jogos Olímpicos. Além disso, conhecerá as
características das modalidades de luta dos Jogos Olímpicos e Paralím-
picos atuais.

1 A trajetória das lutas nos Jogos Olímpicos


A luta é uma das atividades esportivas mais antigas, embora ela nem sempre
tenha sido considerada um esporte, mas sim uma atividade de defesa e de
ataque, no sentido de demonstrar superioridade em um confronto. Existem
registros de lutas em praticamente todas as eras e culturas da humanidade,
passando por babilônicos, egípcios, japoneses, chineses, gregos e romanos,
desde milhares de anos antes de Cristo até hoje (REDE NACIONAL DO
ESPORTE, 2019). Sendo assim, não é de se espantar que a luta estivesse
presente também nas Olimpíadas desde a Antiguidade.

Identificação interna do documento 3ZW6YRI2SQ-B5C59Q1


Esportes Individuais: Lutas e Esportes de Combate | UNIDADE 4
2 Modalidades olímpicas de combate Modalidades Olímpicas de Combate | PARTE 1 205

Segundo a Confederação Brasileira de Wrestling (CBW, 2019), a luta é,


ao lado da maratona, um dos esportes mais antigos de que se tem registro.
Embora, inicialmente, as Olimpíadas tivessem uma única prova, por volta de
708 a.C., outras modalidades passaram a ser desenvolvidas nesse evento, tais
como as lutas e algumas modalidades do atletismo (DUPUIS; MOLITERNI,
1990; PEREDO, 1992; MARILLIER, 2000). Nessa época, todos os atletas
competiam nus, não possuindo nenhum equipamento de proteção ou roupa que
permitisse alguns movimentos, como a roupa do Judô, por exemplo. Portanto,
para que não fosse tão fácil que o adversário segurasse seu oponente, os atletas
passavam no corpo uma mistura de azeite com terra (CBW, 2019).
De acordo com Colli (2004), existiam três categorias de lutas nos Jogos
Olímpicos da Antiguidade: luta — que posteriormente ficou conhecida como
luta olímpica ou wrestling, devido à influência romana sobre a sociedade
grega, que culminou com o encerramento dos Jogos Olímpicos (CBW, 2019)
—, pancrácio e o pugilato, descritas em detalhes a seguir.

„ Luta: introduzida nos Jogos Olímpicos em 700 a.C., essa modalidade,


disputada em pé, tinha como objetivo derrubar o adversário no chão
três vezes. Era considerada uma queda quando o oponente tocava as
costas, o ombro ou o tórax no solo (CBW, 2019). Se o oponente caísse
no chão, mas não configurasse uma “queda”, a luta seguia no chão,
podendo ser utilizados apenas golpes com os membros superiores Para
essa modalidade, não havia limite de tempo, ou seja, ela ocorria até que
existisse um campeão (COLLI, 2004).
„ Pugilato: é considerado o “pai” do boxe, ainda que existam registros his-
tóricos que mostrem práticas corporais similares a essa no ano de 1500
a.C. O pugilato ganhou essa fama porque essa modalidade era pautada
em um combate em pé, utilizando apenas os membros superiores para
vencer o adversário. Inicialmente, os atletas não utilizavam nenhuma
bandagem ou proteção nas mãos, contudo, com o decorrer do tempo,
passaram a entrelaçar tiras de couro nos punhos, que ganharam pontas
de metal. Além disso, como nas demais modalidades, os competidores
lutavam nus, porém utilizavam uma proteção de couro na cabeça. Com
o tempo, o pugilato passou a ser extremamente agressivo, contando com
inúmeros ferimentos e até algumas mortes, devido à agressividade dos
competidores (COLLI, 2004).

Identificação interna do documento 3ZW6YRI2SQ-B5C59Q1


206 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Modalidades olímpicas de combate 3

„ Pancrácio: essa modalidade era uma mistura da luta com o pugilato,


porém sem a elegância dessas modalidades, sendo considerada o pri-
meiro “vale-tudo” da história — embora não valesse exatamente tudo,
uma vez que arranhões, mordidas, ferir os olhos do adversário e golpear
a região da genitália eram ações proibidas. Fora isso, eram utilizados
golpes pesados e violentos, lembrando mais um combate de guerra do
que um esporte. Saía vitorioso o atleta que terminasse a competição
consciente ou que forçasse a desistência do outro (COLLI, 2004).

Com a invasão romana ao território grego, os Jogos Olímpicos são abalados,


mas ainda ocorrem por alguns anos. Em 393 a.C., o incêndio do Templo de Zeus
causou uma perda muito maior do que apenas as construções arquitetônicas, mas
também o fim das tradições gregas, acarretando o término dos Jogos Olímpicos.
Séculos mais tarde, em 1896, Pierre de Coubertin, conhecido como Barão
de Coubertin, um estudioso especializado na cultura grega, é o principal
responsável pelo retorno das Olimpíadas, que ficam conhecidas como Jogos
Olímpicos Modernos, que se perpetuam até a atualidade (COLLI, 2004). Nesse
movimento de retorno dos Jogos Olímpicos, a luta olímpica foi apontada como
um dos elos entre passado e presente, estando presente nesse retorno olímpico
de 1896 (CBW, 2019).

Na preparação para os I Jogos Olímpicos da Era Moderna, que aconteceram em Atenas,


no ano de 1896, os organizadores consideraram a modalidade da luta olímpica de tal
significância, que ela se tornou o foco dessa edição. Além disso, foram relembradas
algumas situações da edição de 708 a.C., com lutadores usando óleo pelo corpo e
lutando na areia.

Todavia, nos Jogos Olímpicos de 1900, a luta olímpica (ou wrestling) ficou de
fora do cronograma, voltando nos Jogos Olímpicos de 1904, em Saint Louis. Essa
foi a primeira vez que a modalidade foi disputada por atletas americanos. Além
disso, essa Olimpíada ficou marcada pela primeira separação por categorias de peso
da modalidade. Embora as categorias tenham mudado, acompanhando a evolução
do esporte, a ideia de separar os atletas por categorias conforme a sua condição
física é perpetuada até hoje em diferentes modalidades de luta (CBW, 2019).

Identificação interna do documento 3ZW6YRI2SQ-B5C59Q1


Esportes Individuais: Lutas e Esportes de Combate | UNIDADE 4
4 Modalidades olímpicas de combate Modalidades Olímpicas de Combate | PARTE 1 207

Nas Olimpíadas de Londres, em 2012, a luta olímpica distribuiu o total de


18 medalhas de ouro. Os maiores vencedores foram a Rússia, o Irã e o Japão,
que contavam também com a participação feminina. Por muito tempo, esse
esporte foi dominado pelos russos, especificamente até o ano de 2000, quando
o americano Rulon Gardner ganhou a medalha de ouro na luta olímpica,
sendo esse um feito histórico. Nas Olimpíadas do Rio de janeiro, em 2016,
também foram distribuídas 18 medalhas, sendo, que nessa edição, a lutadora
japonesa Kaori Icho ganhou a sua quarta medalha de ouro seguida, desta vez,
na categoria até 58 kg (as anteriores foram na categoria até 63 kg).
Para as Olimpíadas de Tóquio (previstas inicialmente para 2020, porém
adiadas para 2021), o Comitê Olímpico Internacional cogitou a possibilidade
de que a luta olímpica saísse das Olimpíadas, por questões atreladas ao lucro
e ao número de espectadores, sem contar a história milenar da modalidade.
Após inúmeras discussões, a luta olímpica permanece dentro do calendário
olímpico (EXAME, 2013).
A seguir, serão apresentadas outras modalidades que foram incorporadas
ao principal evento esportivo do mundo: os Jogos Olímpicos.

2 Conhecendo as lutas presentes nos


Jogos Olímpicos
As lutas, também classificadas como jogos de combate, são uma das mani-
festações corporais mais antigas do homem, que utilizava diferentes técnicas
para a sua sobrevivência, busca de alimento, demonstração de poder e ganho de
território (FRANCHINI; DEL VECCHIO, 2011). Hoje, as lutas ocupam outro
patamar, apresentando um significado distinto daquele de nossos ancestrais,
uma vez que ganhou status de esporte competitivo ou de lazer e até mesmo
de conteúdo previsto para as aulas de educação física escolar.
Segundo o Comitê Olímpico Internacional (COI, 2020a), fazem parte da
grade de esportes olímpicos as seguintes lutas:

„ judô,
„ luta olímpica estilo livre;
„ luta olímpica greco-romana;
„ boxe;
„ esgrima;
„ taekwondo;
„ karatê.

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208 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Modalidades olímpicas de combate 5

A seguir, são apresentadas as especialidades de cada uma dessas


modalidades.

Judô
Com origem em 1882, no Japão, o judô apresenta como principal característica
o fato de que não são permitidos socos ou chutes. O objetivo dessa modalidade
é derrubar o adversário e imobilizá-lo. Os atletas utilizam uma indumentária
conhecida como judogi (STUBBS, 2012), tendo uma separação por cores para
permitir a melhor contagem de pontos e faltas — um atleta usa o judogi branco,
e o outro, azul (FRANCHINI; DELVECCHIO, 2011). Contudo, é apenas em
1972, nas Olimpíadas de Tóquio, que o esporte entra na agenda oficial dos
Jogos Olímpicos (COB, 2020a).
O judô conta com sete categorias de peso na modalidade masculina, são elas:

„ abaixo de 60 kg — peso ligeiro;


„ entre 60 e 66 kg — peso meio leve;
„ entre 66 e 73 kg — peso leve;
„ entre 73 e 81 kg — peso meio médio;
„ entre 81 kg e 90 kg — peso médio;
„ entre 90 kg e 100 kg — peso médio pesado;
„ acima de 100 kg — peso pesado.

E outras sete na modalidade feminina, sendo:

„ abaixo de 48 kg — peso ligeiro;


„ entre 48 kg e 52 kg — peso meio leve;
„ entre 52 kg e 57 kg — peso leve;
„ entre 57 kg e 63 kg — peso meio Médio;
„ entre 63 kg e 70 kg — peso médio;
„ entre 70 kg e 78 kg — peso médio pesado;
„ acima de 78 kg — peso pesado.

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Esportes Individuais: Lutas e Esportes de Combate | UNIDADE 4
6 Modalidades olímpicas de combate Modalidades Olímpicas de Combate | PARTE 1 209

Cada combate possui duração de quatro minutos, e o objetivo é projetar o


adversário de costas no solo, finalizar com chave de braço ou estrangulamento
ou imobilizar o oponente no solo. Existem duas pontuações possíveis no judô,
descritas a seguir (COB, 2020a).

„ Ippon: é a pontuação máxima do judô, alcançada quando o judoca


projeta o adversário com as costas no chão, aplicando golpes com força
e velocidade adequadas, além de controle do movimento até o término
da projeção, movimento este que deve ser sobre as costas do oponente
(Figura 1); ou quando o atleta consegue encaixar uma finalização por
chave de braço, estrangulamento ou imobilização no solo por, pelo
menos, 20 segundos.
„ Waza-ari: é a segunda maior pontuação do judô, alcançada quando
o adversário é projetado com metade das costas no chão; ou quando
os quatro critérios para o ippon não estiverem presentes ou quando o
atleta consegue encaixar uma imobilização no solo por um tempo de
15 a 19 segundos.

O Brasil é multicampeão olímpico no judô, sendo esse o esporte individual


que mais deu medalhas olímpicas para o País, com o total de 22 medalhas
(4 ouros, 3 pratas e 15 bronzes). A primeira medalha olímpica brasileira
veio em 1972, com o atleta japonês naturalizado brasileiro Chiaki Ishii, que
conquistou o bronze nos Jogos de Munique. Já a primeira medalha de ouro
foi do judoca Aurélio Miguel, nos Jogos de Seul, em 1988. O segundo ouro
olímpico veio na edição seguinte das Olimpíadas, em 1992, com Rogério
Sampaio, no meio leve. Já a modalidade feminina ganhou a sua primeira
medalha nos Jogos de Pequim, em 2008, com a atleta Ketleyn Quadros, que
ganhou o bronze, tornando-se a primeira brasileira a conquistar uma medalha
em um esporte individual.

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210 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS
Modalidades olímpicas de combate 7

Figura 1. Duas atletas lutando judô. A atleta de judogj azul está derrubando a adversária
com as costas voltadas para o chão, golpe conhecido como ippon, que possui a maior
pontuação da modalidade.
Fonte: Everyonephoto Studio/Shutterstock.com.

Boxe
O boxe aparece pela primeira vez nos Jogos Olímpicos da Era Moderna na
edição de 1904, em Saint-Louis, nos Estados Unidos. Essa modalidade possui
sete categorias de peso, e apenas em 2008 começou a ser disputada por mu-
lheres. O boxe requer grandes habilidades não apenas das mãos, mas também
dos pés, além de uma grande resistência física. Nesse esporte, os atletas usam
luvas para a proteção e buscam acertar os adversários com socos, porém os
pontos são alcançados apenas quando o adversário for acertado com a parte
frontal da luva de boxe (STUBBS, 2012). A Figura 2 apresenta o equipamento
de proteção completo que os boxeadores precisam utilizar nas Olimpíadas.
As lutas de boxe duram até três assaltos de três minutos cada, e a marcação
dos pontos ocorre pelo número de socos desferidos no adversário (STUBBS,
2012). A primeira medalha olímpica brasileira na modalidade foi adquirida
em 1968, quando o atleta Servílio de Oliveira conquistou o bronze. Já a pri-
meira medalha de ouro na modalidade ocorreu em solo brasileiro, nos Jogos
Olímpicos do Rio, em 2016, com o baiano Robson Conceição (CBB, 2020).
No naipe feminino, a única medalha brasileira no boxe foi conquistada pela
pugilista Adriana Araújo, medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos de Lon-
dres, em 2012.

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Esportes Individuais: Lutas e Esportes de Combate | UNIDADE 4
8 Modalidades olímpicas de combate Modalidades Olímpicas de Combate | PARTE 1 211

O boxe é disputado tanto por homens quanto por mulheres, com diferentes
modalidades para eles. Para os homens, existem oito categorias, listadas a
seguir:

„ Fly/Mosca (48–52 kg);


„ Feather/Pena (menos de 57 kg);
„ Light/Leve (menos de 63 kg);
„ Welter/Meio-médio (menos de 69 kg);
„ Middle/Médio (menos de 75 kg);
„ Light heavy/Meio-pesado (menos de 81 kg);
„ Heavy/Pesado (até 91 kg);
„ Super heavy/Superpesado (acima de 91 kg).

Já para as mulheres, existem apenas cinco categorias, são elas:

„ Fly/Mosca (48–51 kg);


„ Feather/Pena (menos de 57 kg);
„ Pena (menos de 60 kg);
„ Welter/Meio-médio (menos de 69 kg);
„ Middle/Médio (menos de 75 kg).

Figura 2. Dois boxeadores utilizando o equipamento completo exigido nas Olimpíadas:


coquilha, protetor bucal, sapatos, camisas, calções e luvas.
Fonte: A.RICARDO/Shutterstock.com.

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212 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Modalidades olímpicas de combate 9

Esgrima
A esgrima é um estilo de esporte de combate que remete à luta com espada.
Com origem na França, no século XVII, essa modalidade está presente desde
a primeira edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, em 1896 (nas mo-
dalidades de florete e sabre). Já a modalidade da espada entrou nos Jogos
Olímpicos em 1900 (CBE, 2020).
A esgrima ocorre em uma pista com 14 metros de comprimento, e o obje-
tivo é atingir o adversário em pontos-chave, sendo este um esporte bastante
ágil e dinâmico (CBE, 2020). Em 1939, foi implementado o uso da pontuação
eletrônica, que detecta quando a arma toca no oponente, o que faz a roupa
brilhar quando o alvo é acertado.
Existe a possibilidade de disputa por equipes, quando os times de três com-
petidores se enfrentam em nove séries de três minutos, vencendo aquele que
acumular mais pontos ou atingir o adversário 45 vezes. As disputas individuais,
em naipe masculino e feminino, têm duração de três rounds de três minutos
cada ou até que um dos esgrimistas toque 15 vezes o adversário (CBE, 2020).
Atualmente, existe apenas a esgrima esportiva, dividida em categorias
quanto à arma utilizada (Figura 3) (STUBBS, 2012), como descrito a seguir.

„ Espada: o objetivo é tocar ou golpear exclusivamente com a ponta da


arma sobre a superfície válida do adversário (qualquer parte do corpo).
Além disso, é possível marcar pontos simultâneos, sem que a partida
seja reiniciada. É a arma mais pesada e, por ter o corpo todo como
superfície de contato para pontuação, os atletas são mais conservadores
em seus movimentos e investidas (CBE, 2020).
„ Florete: é a base para a esgrima moderna em geral. Nessa forma,
o objetivo é fazer pontos exclusivamente através de golpes de ponta
sobre a superfície válida do adversário (apenas o tronco). É uma arma
leve e considerada a mais elegante e complexa das armas (CBE, 2020).
„ Sabre: é muito mais leve e rápida, validando o toque no adversário com
a ponta e a lateral da lâmina sobre a superfície válida do adversário
(cabeça, tronco e membros superiores, com exceção das mãos) (CBE,
2020).

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Esportes Individuais: Lutas e Esportes de Combate | UNIDADE 4
Modalidades Olímpicas de Combate | PARTE 1 213
10 Modalidades olímpicas de combate

(a)

(b)

Figura 3. Na ordem que aparecem: florete, espada e sabre, apresentando suas diferenças
de tamanho, forma e empunhadura.
Fonte: (a) CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE ESGRIMA (2020, documento on-line); (b) adaptada de Stubbs
(2012).

Taekwondo
O taekwondo é o esporte de combate mais novo, uma vez que o seu surgimento
data de 1955. De origem coreana, sua inclusão nas Olimpíadas foi bastante
conturbada, uma vez que, nas Olimpíadas de Seul, em 1988, e de Barcelona,
em 1992, o taekwondo participou como esporte de exibição. Essa modali-
dade ficou ausente dos Jogos de Atlanta, em 1996, e retornou em Sydney, em
2000, quando foi incluída no programa olímpico e passou a valer medalhas.

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214 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Modalidades olímpicas de combate 11

A primeira medalha brasileira para a modalidade foi conquistada em 2008,


em Pequim.
O tempo de duração da luta de taekwondo é de três rounds de dois minutos
cada, com um intervalo de um minuto entre cada round; caso haja empate
ao final do terceiro round, um quarto round de um minuto é disputado (COI,
2020). Para a sua prática, o atleta deve estar usando, obrigatoriamente: protetor
de cabeça, protetor de dorso, protetor de antebraço e protetor para a virilha
(Figura 4), visando a manter a integridade física do atleta. O taekwondo é
marcado pela rápida movimentação de pernas, que conta com vários chutes
e socos sequenciais. Vence o atleta que golpear mais vezes o adversário,
marcando consequentemente mais pontos (STUBBS, 2012).
Existem quatro categorias de disputa no taekwondo. Para a modalidade
masculina, as categorias são:

„ até 58 kg;
„ até 68 kg;
„ até 80 kg;
„ acima de 80 kg.

Já para a modalidade feminina, as categorias são:

„ até 49 kg;
„ até 57 kg;
„ até 67 kg;
„ acima de 67 kg.

O Brasil possui duas medalhas de bronze no taekwondo, uma conquistada


por Maicon de Andrade, nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, na catego-
ria acima de 87 kg, e a outra conquistada pela lutadora Natália Falavigna,
nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, enquanto disputava a categoria
acima de 67 kg.

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Esportes Individuais: Lutas e Esportes de Combate | UNIDADE 4
Modalidades Olímpicas de Combate | PARTE 1 215
12 Modalidades olímpicas de combate

Figura 4. Duas atletas de taekwondo com os aparelhos de proteção obrigatórios, desfe-


rindo chutes.
Fonte: Pratique Fitness (2019, documento on-line).

Luta olímpica ou wrestling


Essa modalidade, que possui um caráter tradicional muito forte, ficou de fora
de apenas um dos Jogos Olímpicos da Era Moderna. A Federação Internacional
de Lutas Associadas (FILA) propõe duas separações para a luta olímpica:
greco-romana e estilo livre. Embora existam algumas diferenças nessas mo-
dalidades, também existem semelhanças. Por exemplo, ambas ocorrem em
um espaço circular e requerem o uso obrigatório de tênis específico da mo-
dalidade, podendo ou não utilizar protetores de orelha. Além disso, as duas
modalidades visam a dominar o oponente, ou seja, o atleta se torna vitorioso
quando imobiliza seu adversário. Os atletas de luta olímpica combinam força
física com a estratégia de combate, e as lutas são disputadas em dois períodos
de três minutos cada (REDE NACIONAL DO ESPORTE, 2019).
Ao contrário do que ocorria na Grécia Antiga, o combate tem duração
de dois rounds de três minutos cada. É considerado o vencedor do combate
o lutador que mantiver o oponente com as costas presas ao chão dentro do
tempo regulamentar. Se não for possível imobilizar o oponente nesse período,
são contabilizados os pontos de cada atleta durante o combate. O combate é
observado por três juízes responsáveis pela marcação da pontuação, além de
um júri, que assegura que as regras da competição sejam seguidas. O combate
de ambas as modalidades ocorre em um espaço circular, com 9 metros de diâ-

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216 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Modalidades olímpicas de combate 13

metro e 1,5 metro de borda. Além disso, no centro do círculo, são desenhados
outros dois círculos perpendiculares, com distância de 40 centímetros entre
eles (REDE NACIONAL DO ESPORTE, 2019).

As modalidades greco-romana e estilo livre possuem poucas diferenças entre si, tanto
que os equipamentos, o espaço, o tempo e as categorias são comuns entre elas.
A principal característica que as difere é que, no estilo livre, é permitida a participação
de mulheres, o que não ocorre na luta greco-romana. Além disso, no estilo livre,
é permitido utilizar os membros inferiores para aplicar golpes, o que não é permitido
na lua olímpica greco-romana.

Na luta olímpica greco-romana, os atletas não utilizam equipamentos de


proteção (proteção de orelhas), por isso, não é permitido que sejam utilizados
golpes violentos, podendo utilizar apenas os braços e o tronco durante o com-
bate. Além disso, não é permitido segurar o adversário da cintura para baixo ou
utilizar as pernas para derrubá-lo (REDE NACIONAL DO ESPORTE, 2019).
A luta olímpica greco-romana possui sete categorias masculinas, são elas
(REDE NACIONAL DO ESPORTE, 2019):

„ até 55 kg;
„ até 60 kg;
„ até 66 kg;
„ até 74 kg;
„ até 84 kg;
„ até 96 kg;
„ até 120 kg.

Na luta olímpica de estilo livre, a principal diferença é que os atletas podem


utilizas os membros inferiores, além dos braços e do tronco, para imobilizar o
adversário, de modo que pode ser considerada uma modalidade mais intensa
e vigorosa (REDE NACIONAL DO ESPORTE, 2019).

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Esportes Individuais: Lutas e Esportes de Combate | UNIDADE 4
14 Modalidades olímpicas de combate Modalidades Olímpicas de Combate | PARTE 1 217

A luta olímpica de estilo livre possui sete categorias masculinas, são elas
(REDE NACIONAL DO ESPORTE, 2019):

„ até 55 kg;
„ até 60 kg;
„ até 66 kg;
„ até 74 kg;
„ até 84 kg;
„ até 96 kg; e
„ até 120 kg.

Além delas, possui quatro modalidades femininas (REDE NACIONAL


DO ESPORTE, 2019):

„ até 48 kg;
„ até 55 kg;
„ até 63 kg;
„ até 72 kg.

Karatê
O karatê teve origem em uma região que, na época, pertencia à China (pos-
teriormente passou a ser ocupada pelo Japão). Essa técnica, criada por um
monge, permitia uma forma de autodefesa sem armas e, por muito tempo, foi
ensinada de maneira secreta e clandestina. Somente no início do século XIX
é que o karatê passa a ser praticado não mais como uma ferramenta de luta e
defesa, mas sim como atividade física e desportiva. No Brasil, o primeiro dojô
foi inaugurado em 1956, na cidade de São Paulo (COB, 2020b).
O karatê fará sua estreia nos Jogos Olímpicos em 2020, e será dividido
em duas categorias: kumite (combate entre dois atletas) e kata (movimentos
realizados de maneira individual, tendo sua performance aprovada por juízes),
nas modalidades femininas e masculinas, separadas por peso. Cada categoria
contará com um total de dez atletas, sendo permitido apenas um atleta por
país (COI, 2020b).
No kumite (Figura 5), as lutas possuem duração de três minutos, e o cam-
peão é aquele que obtém uma clara vantagem de oito pontos ou o competidor
que tem o maior número de pontos no tempo limite. Em caso de empate,
o vencedor é determinado pela primeira vantagem de pontos sem oposição

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218 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Modalidades olímpicas de combate 15

ou por uma decisão majoritária dos juízes. Os pontos são somados conforme
a execução correta de técnicas de socos e chutes, sendo elas:

„ yuko (vale 1 ponto — soco com a mão fechada na parte de cabeça,


pescoço, barriga, lado, costas ou torso do oponente);
„ waza-ari (2 pontos — chute no corpo);
„ ippon (3 pontos — chute alto na cabeça ou soco em um oponente que
foi derrubado no chão após uma varredura ou queda; COI, 2020b).

Como equipamentos, são necessários o uso de kimono de karatê, luvas,


caneleira, capacete, protetor bucal, protetor de tórax, protetor genital e protetor
de seios (para competidores do sexo feminino).

Figura 5. Karatê na modalidade kumite.


Fonte: Olímpiada Todo Dia (2017, documento on-line).

Conhecer o mundo das lutas é realmente impressionante, uma vez que elas
possuem características, histórias e regras muito próprias. Até o momento,
foram abordadas apenas modalidades presentes nas Olimpíadas, contudo,
nas Paralimpíadas, também estão presentes diferentes modalidades de lutas,
as quais serão apresentadas a seguir.

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Esportes Individuais: Lutas e Esportes de Combate | UNIDADE 4
16 Modalidades olímpicas de combate
Modalidades Olímpicas de Combate | PARTE 1 219

3 Conhecendo as lutas presentes


nos Jogos Paralímpicos
A história do esporte paralímpico remonta à I Guerra Mundial e cresce bru-
talmente após a II Guerra Mundial e o enorme número de soldados mutilados
nesse evento histórico. Em 1948, em Stoke Mandeville, ocorreu a primeira
competição para atletas com deficiência, a qual coincidiu com as Olimpíadas,
que estavam ocorrendo em Londres. Quatro anos depois, os jogos para atle-
tas com deficiência ocorreram novamente na mesma cidade e na época das
Olimpíadas. Assim, a partir de 1960, os jogos para pessoas com deficiência
continuaram a ocorrer na mesma cidade das Olimpíadas, porém sempre após
os Jogos Olímpicos, de modo que a primeira Paralimpíada ocorreu em Roma,
no ano de 1960 (MACHADO, 2012).
O Comitê Paralímpico Internacional (2020) aponta as modificações a
serem realizadas, buscando atender às necessidades de cada deficiência com
a realização de diferentes categorias que englobam o tipo e o grau da defi-
ciência. Desse modo, os atletas disputam com competidores com a mesma
deficiência, mantendo a disputa igualitária. O esporte paralímpico cresce
exponencialmente, sendo que, nos Jogos de 2016, ultrapassou os 4.200 atletas
(COMITÊ PARALÍMPICO INTERNACIONAL, 2020).
Esse cenário promissor se repete na modalidade das lutas. Segundo o
Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB, 2020a), são modalidades paralímpicas:
parataekwondo, esgrima em cadeira de rodas e judô, descritas em detalhes
a seguir.

Parataekwondo
Em 2009, iniciou-se um movimento no cenário mundial do taekwondo sobre
a necessidade de se ampliar o esporte para pessoas com deficiência; essa nova
modalidade do esporte foi chamada de parataekwondo. O parataekwondo
teve a sua primeira participação (como exibição) em Paralimpíadas em 2015,
e foi anexado ao calendário olímpico oficial para as Paralimpíadas de 2020
(PATATAS, 2012).
O parataekwondo pode ser dividido em duas modalidades: poonse e kioru-
gui. A modalidade de poonse é disputada por atletas com deficiência visual,
deficiência intelectual, deficiência física e baixa estatura, e a classe KP60
é exclusiva dos surdos. Já a modalidade kiorugui é para deficientes físicos
(havendo a diferenciação entre deficiências físicas de membros superiores e
inferiores). É importante ressaltar que nem todas essas modalidades fazem

Identificação interna do documento 3ZW6YRI2SQ-B5C59Q1


220 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Modalidades olímpicas de combate 17

parte do programa paralímpico. Sendo assim, são classes do parataekwondo:


a classe K43, na qual competem atletas com amputação bilateral do cotovelo até
a articulação da mão; e a classe K44, na qual competem atletas com amputação
unilateral do cotovelo até a articulação da mão, monoplegia, hemiplegia leve
e diferença de tamanho nos membros inferiores. Além disso, são realizadas
categorizações por peso e sexo (CPB, 2020b).

A competição do parataekwondo em si é muito parecida com a modalidade olímpica,


devendo-se obedecer a regras, pontuações e equipamentos de proteção de maneira
muito semelhante. A principal alteração são as chamadas normas de segurança,
que impedem o ataque na altura da cabeça, e a diminuição do tempo de duração do
round, com um intervalo maior entre os rounds (PATATAS, 2012).

Esgrima em cadeira de rodas


Essa modalidade surgiu em 1953 e foi aplicada, originalmente, pelo médico
alemão Ludwig Guttmann, o pai do movimento paralímpico. A esgrima em
cadeira de rodas é destinada a atletas com deficiência locomotora e é uma
das modalidades paralímpicas mais tradicionais. A esgrima adaptada sur-
giu em 1953, e é disputada desde a primeira edição dos Jogos Paralímpicos,
em 1960 (CPB, 2020c).
Praticada por homens e mulheres com lesão medular, amputações ou
paralisia cerebral, a esgrima em cadeira de rodas é um esporte intenso e
muito rápido, em que o atleta utiliza muito raciocínio lógico e estratégia para
vencer seu adversário, realizando com maestria movimentos de defesa e
ataque (CPB, 2020c). Nessa modalidade, também são disputadas as provas de
florete, espada e sabre, seguindo as características e especificidades de cada
uma delas. A competição é conduzida de maneira muito similar à esgrima
olímpica, porém, neste caso, a cadeira de rodas fica presa ao solo e a pista
mede 4 m de comprimento por 1,5 m de largura (CPB, 2020c).

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Esportes Individuais: Lutas e Esportes de Combate | UNIDADE 4
Modalidades Olímpicas de Combate | PARTE 1 221
18 Modalidades olímpicas de combate

Nas Paralimpíadas do Rio, em 2016, a modalidade de esgrima em cadeira de rodas


contou um total de 88 atletas, sendo 52 homens e 36 mulheres. Nas Paralimpíadas de
Londres, em 2012, o gaúcho Jovane Guissone conquistou a primeira e única medalha
do Brasil em Jogos Paralímpicos, sendo esta uma medalha de ouro.

A classificação dos atletas ocorre quanto à mobilidade do tronco. Eles


podem ser classificados em três categorias: A, B e C, sendo a categoria C a
mais severa, e a A, a menos comprometida, além das separações por sexo.
O Quadro 1, a seguir, apresenta as características de cada classificação.

Quadro 1. Categorias da esgrima em cadeira de rodas

Categoria Características

A Atletas com bom equilíbrio sentado, sem suporte de pernas e


braço armado normal. Amputação abaixo do joelho ou lesões
incompletas, porém com manutenção do equilíbrio sentado.

B Atletas com total equilíbrio sentado, com braço armado normal.


Paraplegia ou tetraplegia incompleta com sequelas mínimas no
braço armado e bom equilíbrio sentado.

C Atletas sem equilíbrio sentado, com limitações no braço


armado, que detêm extensão funcional do cotovelo, mas
sem flexão dos dedos. Nesse caso, a arma é fixada com uma
bandagem.

Fonte: Adaptado de CPB (2020b).

Judô paralímpico
Esse esporte passa a fazer parte do calendário paralímpico oficial em 1998.
Ao contrário das demais modalidades de combate, o judô paralímpico é dispu-
tado por homens e mulheres com deficiência visual, divididos em categorias
de acordo com o peso corporal e o grau da deficiência (CPB, 2020d).

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222 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Modalidades olímpicas de combate 19

As lutas ocorrem com as mesmas regras utilizadas pela Federação


Internacional de Judô, apresentando pequenas diferenças. A principal delas
é que os atletas começam o combate segurando no judoji do oponente. Além
disso, o combate é interrompido sempre que os lutadores perdem o contato.
É importante citar que, ao contrário da modalidade olímpica, não são previstas
punições para quem sai da área de combate. O tempo de combate apresenta
variação, sendo de quatro minutos para as mulheres e de cinco minutos para
os homens (CPB, 2020d).

Atualmente, o judô é responsável por 22 medalhas que o Brasil possui ao longo da


história dos Jogos Paralímpicos, sendo quatro delas de ouro, todas conquistadas
pelo mesmo atleta — Antônio Tenório, o principal nome do esporte nacional —
em Atlanta, em 1996 (CPB, 2020d).

As classificações de acordo com o grau da deficiência visual utilizam a letra


B (do inglês blind, que significa cego), seguida de números de 1 a 3; em que o 1
é o mais grave, e o 3, o menos comprometido. A categoria B1 conta com cegos
totais ou com percepção de luz, mas sem reconhecer o formato de uma mão a
qualquer distância. Já a categoria B2 trata dos atletas com percepção de vultos.
Por fim, a categoria B3 refere-se aos atletas que conseguem definir imagens.

Com base neste capítulo, é possível compreender que as lutas acompanharam


a evolução não apenas das Olimpíadas, mas da sociedade como um todo,
retratando os valores, as características e as tecnologias inerentes de cada
período histórico. As lutas — principalmente a luta olímpica — possuem
uma carga cultural tradicional muito forte dentro dos Jogos Olímpicos e
Paralímpicos, possuindo modalidades que apareceram em todas as edições,
como a esgrima em cadeira de rodas nos Jogos Paralímpicos. Sendo assim,
embora cada modalidade tenha as suas próprias características, é inegável
que as lutas pertencem aos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de forma muito
tradicional e intensa.

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Esportes Individuais: Lutas e Esportes de Combate | UNIDADE 4
Modalidades Olímpicas de Combate | PARTE 1 223
20 Modalidades olímpicas de combate

CBB. História do boxe olímpico. [2020]. Disponível em: http://cbboxe.org.br/historia/.


Acesso em: 21 jul. 2020.
CBE. [Site]. 2020. Disponível em: http://cbesgrima.org.br/. Acesso em: 21 jul. 2020.
CBW. História da luta olímpica: CBW. [2019]. Disponível em: http://cbw.org.br/
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Identificação interna do documento 3ZW6YRI2SQ-B5C59Q1


224 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS
Modalidades olímpicas de combate 21

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STUBBS, R (org.). O livro dos esportes: os esportes, as regras, as táticas, as técnicas. Rio
de Janeiro: Harpercollins, 2012.

Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun-
cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a
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Esportes Individuais: Lutas e Esportes de Combate | UNIDADE 4
Modalidades Olímpicas de Combate | PARTE 1 225

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226 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS
unidade

4
V.1 | 2022

Parte 2
Metodologia das Lutas

O conteúdo deste livro


é disponibilizado
por SAGAH.
228 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS

Metodologia das lutas


Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar a origem e a classificação dos esportes de combate.


 Discutir estratégias e conteúdo para o desenvolvimento das lutas na
educação física escolar.
 Planejar aulas para o ensino dos esportes de combate nas diferentes
etapas escolares.

Introdução
Culturalmente, a luta sempre esteve presente na história. De uma forma
de sobrevivência dos povos primitivos à espetacularização como esporte
de combate, a luta nos traz ensinamentos que a tornam um tema valioso
para ser desenvolvido nas aulas de educação física escolar. No entanto,
ainda hoje, a luta é vista como um conteúdo tabu por muitos professores,
tendo, assim, bastante dificuldade de penetrar nos programas dessa
disciplina. Sendo assim, desenvolver metodologias adequadas para o
ensino de lutas é essencial para que o professor consiga trazer esse tema
para suas aulas, permitindo que os alunos entrem em contato com novos
aprendizados.
Neste capítulo, você vai estudar a origem e a classificação dos espor-
tes de combate. Você também vai conferir estratégias e conteúdo para
o desenvolvimento das lutas na educação física escolar e modelos de
planos de aulas para o ensino dos esportes de combate nas diferentes
etapas escolares.

1 Origem e classificação dos esportes de


combate
Segundo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), lutas são “[…] disputas
corporais nas quais os participantes empregam técnicas, táticas e estratégias
Esportes Individuais: Lutas e Esportes de Combate | UNIDADE 4
2 Metodologia das lutas Metodologia das Lutas | PARTE 2 229

específicas para imobilizar, desequilibrar, atingir ou excluir o oponente de


um determinado espaço, combinando ações de ataque e defesa dirigidas ao
corpo do adversário” (BRASIL, 2018, p. 218). Em consonância com essa ideia,
Pucineli (2004, p. 11) descreve a luta como:

[…] uma prática de oposição geralmente entre duas pessoas, na qual realize-
-se uma ação (toque ou agarre) com o objetivo de dominar a outra, dentro
das regras específicas. Duas condições são essenciais para considerarmos
atividade como luta: o alvo da ação ser a própria pessoa e a possibilidade de
finalização do ataque ser mútua, a qualquer momento, inclusive, simultânea.

Os esportes de combate são uma interface da luta, ou seja, são modalidades de luta que
foram esportivizadas com o objetivo de trazer mais adeptos para as lutas, aumentando
sua popularidade e garantindo sua sobrevivência, como no caso do judô, conforme
apontado por Del’Vecchio e Franchini (2006).

Segundo Rufino e Darido (2015), a luta sempre esteve culturalmente pre-


sente na história. Pinto et al. (2009) afirmam que, no período primitivo, as lutas
humanas se davam pela sobrevivência, para garantir alimento, travando-se
combates com outros seres humanos ou animais. Nos povos antigos orientais,
a luta também fazia parte da sociedade como treinamento militar ou como
defesa pessoal. Dessas civilizações vão surgir inúmeras lutas que conhece-
mos até hoje, como o jiu-jitsu, o caratê, o kung fu, o sumô, o boxe e, mais
recentemente, o judô.

De todas as lutas citadas, o judô é a única que não tem seu surgimento no período
da Antiguidade, pois foi criada no Japão, no ano de 1882, pelo professor de educação
física Jigoro Kano. Kano se inspirou nas técnicas do jiu-jitsu, inserindo alguns princípios
como equilíbrio, gravidade e sistema de alavancas nas execuções dos movimentos
(RUFINO; DARIDO, 2015).
230 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Metodologia das lutas 3

No Ocidente, as lutas também eram destaque, principalmente nas civili-


zações gregas e romanas. Nas primeiras edições dos jogos olímpicos, já havia
três tipos de lutas:

 a palé (o objetivo dessa luta era levar o adversário ao chão, tocando os


ombros para derrotá-lo);
 o pugilato (semelhante ao boxe atual, com o atleta tendo que envolver
seu dedo em uma tira de couro; a luta somente acabava quando alguém
desistia ou ficava inconsciente); e
 o pancrácio (uma luta livre em que se usava bastante violência, na qual
os únicos golpes que não eram permitidos era enfiar os dedos nos olhos,
atacar a região genital, arranhar ou morder).

Em Roma, as ações de luta eram mais espetacularizadas, como a disputa


entre os gladiadores, que levavam grandes públicos aos circos romanos. A
importância das civilizações gregas e romanas para a luta é tal que ainda hoje
existe uma luta trazendo seus nomes: a luta greco-romana. Segundo Duarte
(2004), essa luta possui esse nome por ser disputada tanto na posição em pé
(como era em Roma) quanto deitada (como ocorria na Grécia).
Como esportes de combate, as lutas começaram a vigorar a partir do período
moderno, quando passaram a ser organizadas competições. O ressurgimento
dos jogos olímpicos em 1896 trouxe algumas modalidades de luta para as
competições, dando boa evidência a esses esportes. Hoje, além dos jogos
olímpicos, há competições em todas as esferas — regional, nacional e mun-
dial —, com destaque para as artes marciais mistas (MMA, do inglês mixed
martial arts), que possuem enorme visibilidade na grande mídia (Figura 1).
Esportes Individuais: Lutas e Esportes de Combate | UNIDADE 4
Metodologia das Lutas | PARTE 2 231
4 Metodologia das lutas

Figura 1. Luta de MMA.


Fonte: Porto Filho (2019, documento on-line).

A luta oriunda do Brasil é a capoeira, provavelmente nativa dos quilombos


brasileiros, utilizada como meio de defesa dos escravos (VIDOR; REIS, 2013).
A ideia foi disfarçar a luta em forma de dança, para se defender das agressões
sofridas. Antes de virar uma expressão cultural, a capoeira foi duramente
perseguida pela polícia. No século XIX, no período imperial (1808–1889), a
capoeira era presença frequente nas páginas policiais dos jornais da Corte.
Silva (2007, p. 51) refere que, durante longo tempo, a capoeira foi “[…] estig-
matizada, estereotipada, marginalizada, criminalizada e objeto de controle
social, pelo Estado brasileiro, escravista e racista”.
A afirmação da capoeira ocorreu na Bahia, como um “jeito negro” de
praticá-la por meio de duas escolas: a capoeira regional, de mestre Bimba, e
a capoeira Angola, de mestre Pastinha.

O estilo Angola, mais tradicional e de origem africana, seria uma variação


da dança ritual chamada n'gol, praticada pelo povo Mucope, originário do
sul da África, em território pertencente hoje a Angola. Nesse estilo, os opo-
nentes se enfrentam com golpes de pés usando o apoio das mãos, cercado
por observadores que formam uma roda. Esse estilo caracteriza-se pela maior
valorização do gingado do corpo e por uma sequência de passos de chão. O
outro estilo é o Regional, criado no Brasil e fortemente difundido por mestre
Bimba. Esse estilo valoriza os movimentos acrobáticos e os grandes saltos.
232 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS
Metodologia das lutas 5

Nos dois casos o ritmo combate/jogo é marcado ao som de palmas e de ins-


trumentos musicais como o pandeiro, atabaque, caxixi, agogô e o principal
deles, o berimbau (TELLES; MELO, 2013, p. 21).

Entre os elementos do jogo se destaca a roda, que é o lugar em que acontece


o jogo e no qual os jogadores se expressam, sendo que jogam dois por vez.
O responsável pela roda é o mestre de capoeira, autoridade máxima do jogo
(VIDOR; REIS, 2013).
Algumas lutas se tornaram populares e tiveram desenvolvimento no país,
como é o caso do jiu-jitsu. Isso ocorreu principalmente devido à família Gracie,
que transformou essa luta em uma filosofia de vida, tornando-a mais letal e
competitiva, a partir do fortalecimento de técnicas como as alavancas e as
imobilizações, além de permitir que um lutador mais fraco vença a luta pelo
domínio da técnica (RUFINO; DARIDO, 2015).
Como vimos até aqui, as lutas são bastante distintas, uma vez que são
oriundas de regiões e culturas diferentes. Mesmo com suas regras e formas
de disputa peculiares, Rufino (2017) aponta que essas práticas corporais
apresentam características gerais, conhecidas como aspectos universais, que
são descritos a seguir.

 Enfrentamento físico: toda luta exige certo nível de enfrentamento e


contato entre as pessoas, que varia conforme a modalidade. O enfren-
tamento pode ser direto, quando se utiliza o corpo, como no jiu-jitsu,
ou indireto, quando se utilizam implementos — como espadas, no
caso da esgrima.
 Regras: as lutas vão possuir regras bem organizadas, que buscam manter
a segurança e o nível de disputa. As regras são o que diferenciam a luta
de uma briga, por exemplo. Por meio delas, sabe-se o que é proibido e
o que é permitido.
 Oposição: as lutas ocorrem em caráter de oposição, com objetivos
variáveis, conforme a modalidade. Os objetivos podem ser atingir
determinada parte do corpo para pontuar, como no caso do taekwondo,
ou segurar a pessoa para retirá-la de um determinado espaço, como
no caso do sumô.
 Objetivo centrado no corpo de outra pessoa: refere-se ao objetivo da
luta, que está centralizado no corpo da outra pessoa. Essa talvez seja
uma de suas maiores características, diferenciando-a das demais práticas
corporais. Na luta, o alvo das ações é a outra pessoa, que, diferentemente
das demais modalidades, é um alvo móvel.
Esportes Individuais: Lutas e Esportes de Combate | UNIDADE 4
6 Metodologia das lutas
Metodologia das Lutas | PARTE 2 233

 Ações de caráter simultâneo: nas lutas, realizam-se ações tanto de


defesa quanto de ataque de forma simultânea — não há diferenciação
no espaço e no tempo dessas ações. Ataque e defesa ocorrem a todo
instante e podem surgir tanto de uma pessoa quanto da outra, sendo
necessário sempre manter a atenção.
 Imprevisibilidade: a simultaneidade descrita acima traz a característica
da imprevisibilidade, sendo umas lutas mais imprevisíveis do que outras.
Uma prova disso é que algumas lutas podem encerrar antes do tempo
máximo permitido, como no caso do judô, quando ocorre um ippon,
ou no boxe e no MMA, quando ocorre um nocaute.

Além dessas características, as lutas podem ser classificadas, segundo


Rufino (2017), conforme as suas ações e a distância. Pode-se dividir as ações
em previsíveis e imprevisíveis. Nas ações previsíveis, temos movimentos
coreografados e repetitivos, utilizados em casos de demonstração. Nesse caso,
não há a oposição de forma direta. É o caso de mostras de armas do kung fu
ou modalidades como os katas.
As ações imprevisíveis são baseadas na oposição direta, em que há o alvo
móvel e ações motoras, como agarre e toque, com ou sem implementos. Esses
enfrentamentos físicos diretos podem ser divididos conforme a distância, pois
é ela que vai ser diferencial para as possíveis ações. Rufino (2017) apresenta
quatro níveis possíveis de distância.

 Distância curta: quando há maior proximidade entre os envolvidos,


com os movimentos de agarre se tornando mais evidentes. Essas lutas
exigem proximidade, para que seja possível realizar diferentes golpes,
técnicas, táticas, chaves, entre outras possibilidades. São exemplos de
lutas de curta distância o judô, o jiu-jitsu, o sumô e a luta greco-romana.
 Distância média: essas modalidades exigem maior distância entre os
indivíduos em comparação às lutas de curta distância. As ações desen-
volvidas nessa modalidade são mais propensas ao toque, como socos e
chutes. Alguns exemplos de modalidades são o caratê, o kung fu e o boxe.
 Distância longa: como o nome sugere, essas modalidades apresentam
uma distância maior entre os envolvidos. Para isso, é necessário algum
implemento no desenvolvimento das ações, como uma espada. Algumas
modalidades que podem ser classificadas como longas são a esgrima
e o kendo.
 Distâncias mistas: as lutas mistas são aquelas caracterizadas pela mistura
de duas ou mais distâncias, como curta com média, média com longa.
234 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Metodologia das lutas 7

Como exemplo, temos o MMA, que agrega ações de várias distâncias,


como agarres e finalizações (características de ações curtas) e socos,
chutes e joelhadas (ações de média distância).

2 A luta na educação física escolar


Neste tópico, apresentaremos estratégias para o ensino de lutas na educação
física escolar. Esse é um tema que ainda apresenta muitas dificuldades de
penetrar nas aulas, sendo geralmente ensinado quando o professor foi praticante
de alguma modalidade e possui um passado com os esportes de combate.
Rufino (2017) aponta que as dificuldades para o ensino de lutas se dão por
três motivos básicos:

 preconceito;
 falta de materiais;
 condições de infraestrutura e formação insuficientes.

O preconceito vem por meio do pensamento de que o ensino de lutas


estimularia a agressividade dos indivíduos. Na verdade, essas modalidades,
quando debatidas, apresentam exatamente a diferença de uma coisa para a
outra. A falta de materiais, como roupas apropriadas ou tatames, é outro
motivo dado pelos professores. Evidentemente, isso ocorre na maioria das
escolas brasileiras; porém, assim como em outras modalidades lecionadas,
a adaptação é uma estratégia a ser utilizada. Sobre a formação insuficiente,
Rufino (2017) aponta que os professores alegam ter pouca formação sobre
lutas no ensino superior. Porém, o autor aponta que o professor não necessita
ser um especialista em lutas, como também não precisa ser em futebol para
ministrar a aula. Buscar conhecimento além do campo acadêmico é sempre
uma necessidade profissional.
Mas, então, o que seria essencial no ensino de lutas na escola? Segundo
Rufino (2017), os conteúdos de luta na escola podem ser divididos nos se-
guintes eixos.

 História das lutas — contextos e transformações: o aluno precisa enten-


der que as lutas estão relacionadas com o ser humano desde os períodos
mais remotos e que foram modificadas até chegarem às modalidades
que temos hoje.
Esportes Individuais: Lutas e Esportes de Combate | UNIDADE 4
8 Metodologia das lutas Metodologia das Lutas | PARTE 2 235

 Lutas versus briga: esta é uma questão fundamental até para combater o
preconceito. É importante que o aluno tenha clareza de que luta e briga
são coisas distintas. A luta tem regras, respeito entre os praticantes e toda
uma organização social, enquanto as brigas constituem uma maneira
violenta de resolver conflitos sem regras e sem respeito.
 Práticas previsíveis e imprevisíveis: é importante que o aluno com-
preenda a diferença entre práticas demonstrativas e lutas de enfrenta-
mento, diferenciando suas características.
 Aspectos gerais das lutas: referem-se às características elementares,
como o enfrentamento físico, as regras, a oposição, o objetivo centrado
no corpo etc., relacionando esses aspectos com as demais práticas
corporais.
 Noção da distância das lutas: trata-se da compreensão entre as lutas de
distância curta, média e longa e o que as diferencia, sabendo qual é a
ação adequada para cada uma — toque ou agarre.
 Entendimento de algumas modalidades: embora existam muitas lutas
diferentes e um tempo não muito grande de aula, é importante que os
alunos possam desenvolver um entendimento mais profundo de algumas
modalidades, podendo-se utilizar aquelas que estão mais próximas do
aluno ou mais difundidas no país como exemplos.

Sobre os conteúdos referentes ao ensino da luta, a BNCC (BRASIL, 2018)


sugere que se comece a trabalhá-la a partir do 3º ano do ensino fundamental.
Isso não quer dizer que ela não possa ser trabalhada antes, na educação infantil.
Monteiro (2014) destaca que ela deve ser trabalhada a partir da ludicidade,
trazendo esse conteúdo em forma de brincadeiras que simulem a ação de
ataque e defesa, que trabalhem o contato e o desequilíbrio, que trazem os
princípios da luta. Oliver (2000 apud MONTEIRO, 2014) coloca que, nessa
fase, o professor deve estar atento para evitar machucados e que um colega
faça mal ao outro, além de cuidar e solicitar para que as crianças não tenham
nenhum objeto no bolso ou nas mãos. Sobre as atividades, deve-se buscar a
reflexão e enaltecer as regras. Essas atitudes e recomendações também vão
valer para os primeiros anos do ensino fundamental.
Do 3º ao 5º anos, a BNCC (BRASIL, 2018) põe como objetos de conheci-
mento as lutas no contexto regional e comunitário, além das lutas de matrizes
indígena e africana, sendo que os alunos devem experimentar, fruir e recriar
essas lutas respeitando o colega como oponente, as normas de segurança,
além de saber diferenciar lutas e brigas e lutas das demais práticas corporais.
Monteiro (2014) destaca que esse é um período em que a ludicidade ainda
236 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Metodologia das lutas 9

deve ser explorada, sendo as brincadeiras elementos essenciais para que as


aulas não se tornem tensas e enfadonhas. Também nessa fase deve-se dar mais
ênfase aos chamados jogos de luta, ou seja, pequenas adaptações aos esportes
de combate, com mudanças nas regras.
No período do 6º e 7º anos, a BNCC (BRASIL, 2018) sugere o ensino das
lutas do Brasil, como capoeira, huka-huka, luta marajoara etc. A capoeira é
uma luta que chama bastante atenção dos alunos, por ser a única luta que possui
música e dança em um só momento. Além disso, a partir da Lei nº. 10.639, de
09 de janeiro de 2003 (BRASIL, 2003), que obrigou o ensino da história e da
cultura africana nas escolas brasileiras, a capoeira passou a ser vista como
um recurso pedagógico importante para essa área e deve ser explorada nas
aulas de educação física. Segundo Silva (2016), entre os aspectos essenciais
a serem ensinados sobre a capoeira, estão a origem, o histórico, as vertentes,
os instrumentos, os elementos e a roda.
Assim, nessa fase, Monteiro (2014) propõe que a luta seja ensinada de jogos
mais simples para jogos mais complexos, ou seja, das lutas adaptadas até essas
práticas ficarem mais próximas à realidade. Nos jogos mais simples, as crianças
ora atacam ora defendem; nos mais complexos, já fazem ações simultâneas.

Conheça um pouco mais sobre a história da capoeira, acessando o link a seguir.

https://qrgo.page.link/u6Vje

Para finalizar o ensino fundamental, no 8º e no 9º anos, a BNCC (BRASIL,


2018) sugere que se trabalhem as lutas pelo mundo. Como vimos aqui, existe
uma multiplicidade de lutas, sendo impossível que todas sejam ensinadas.
Partindo das ideias de Rufino (2017), o professor pode abordar as lutas que
sejam mais próximas aos brasileiros, seguindo as mesmas estratégias utilizadas
no ciclo anterior. Como os alunos já conhecem as características das lutas, os
jogos mais complexos podem ser enfatizados desde o princípio.
Esportes Individuais: Lutas e Esportes de Combate | UNIDADE 4
10 Metodologia das lutas Metodologia das Lutas | PARTE 2 237

Dentro do contexto de lutas pelo mundo, indicado pela BNCC (BRASIL, 2018) como
conteúdo do 8º e 9º anos do ensino fundamental, podemos citar como luta de destaque
no país o judô (Figura 2), que é o esporte individual que mais trouxe medalhas ao Brasil
em jogos olímpicos, trazendo nomes de destaque como Aurélio Miguel, Rafaela Silva,
Rogério Sampaio, Tiago Camilo, entre outros.

Figura 2. O judô é uma luta com bastante representatividade no Brasil.


Fonte: CBDV (c2020, documento on-line).

No ensino médio, embora não exista uma documentação direcionada aos


conteúdos, Rufino (2017) sugere a ampliação dos movimentos e das com-
binações, o ensino da lógica das diferentes modalidades e a aprendizagem
de lutas com a característica de distância mista, como as práticas de MMA.
Ainda, é importante frisar que o ensino dos esportes de combate não deve
focalizar somente as ações procedimentais, que são as atividades práticas do
saber fazer. O professor deve explorar também os aspectos conceituais, como
a origem, a classificação, as regras, as modalidades olímpicas, a pesquisa de
lutas desconhecidas, as curiosidades e a trajetória de atletas.
238 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Metodologia das lutas 11

No aspecto atitudinal, as lutas servem para trazer uma grande disciplina


ao aluno praticante, bem como o respeito ao próximo e ao adversário, a dife-
renciação de luta e briga, o respeito à hierarquia e aos limites do seu próprio
corpo, o saber ganhar e perder etc. Trata-se de uma dimensão mais complexa, e
o professor deve pontuar regularmente esses temas em aula. Também é possível
mostrar exemplos, como filmes de lutas — por exemplo, Karatê Kid (que trata
sobre o bullying, indiretamente) e Kung Fu Panda (que aborda a inclusão).
Rufino (2017) ainda aponta dicas importantes para o ensino das lutas. Uma
delas é descontruir a ideia de que meninas não podem lutar; nesse caso, as
meninas devem participar da aula realizando as tarefas propostas de forma
igual. Uma boa maneira de realizar essa desconstrução é mostrar a história
de lutadoras que estão em alta e o filme Menina de Ouro (que aborda uma
mulher que se torna campeã de boxe). Além disso, a inclusão deve ser esten-
dida a todos os alunos, como as pessoas com deficiência. Deve-se ter especial
cuidado com a segurança, atentando-se para a qualidade dos materiais e o uso
de espaços apropriados para a prática, evitando que ocorra algum problema
ou machucado mais grave.

3 Modelos de aula em diferentes níveis


escolares
Neste último tópico, vamos abordar alguns modelos de aula, que servirão como
base para o preparo de aulas sobre lutas. Para que a aula obtenha sucesso, o
plano de aula necessita ter elementos básicos, como os objetivos, os conteúdos,
os recursos utilizados, a metodologia e outros elementos. Esse planejamento
evita a improvisação e mostra organização e cuidado do professor para com
seus alunos.
Como vimos anteriormente, as lutas são um conteúdo valioso para a edu-
cação física, extrapolando o simples saber fazer, mas também possibilitando
o ensino de regras, respeito e disciplina. A partir desse entendimento, serão
apresentados três planos de aula: um para a educação infantil, um para o ensino
fundamental e um para o ensino médio. Os planos são adaptados a partir das
ideias de Monteiro (2014) e Rufino (2017).
Na educação infantil, podemos trabalhar alguns princípios da luta, como
ataque e defesa e contato e desequilíbrio, a partir da ludicidade.

 Educação infantil
■ Turma: pré-escola.
Esportes Individuais: Lutas e Esportes de Combate | UNIDADE 4
12 Metodologia das lutas Metodologia das Lutas | PARTE 2 239

■ Conteúdo: ataque e defesa, contato e desequilíbrio.


■ Objetivos: estimular a prática dos princípios da luta por meio da
ludicidade.
■ Recursos: balões.
■ Sequência programática:
– Parte inicial: como aquecimento, aplica-se um jogo para ataque
e defesa. Os alunos são divididos em dupla, e um deles recebe
um balão, que será preso ao seu tornozelo. O que não está com o
balão deve tentar estourá-lo, e o outro, defendê-lo. Após, trocam-
-se as funções.
– Parte principal:
– Atividade 1 (conquista de territórios, estimula a oposição) — o
professor coloca uma criança dentro de um quadrado ou círculo e
uma do lado de fora, que deve tentar entrar. Depois, invertem-se
os papéis, e pode-se aumentar gradualmente as áreas e o número
de crianças.
– Atividade 2 (desequilíbrio) — em duplas, de frente para o colega,
o aluno deve ficar sentado com os pés encostados nos pés do
colega. Ao sinal do professor, ele deve tentar desestabilizar o
colega, empurrando-o com os pés.
– Parte final: conversa sobre a aula e sobre as atividades.
■ Metodologia: aula expositiva.

No ensino fundamental, a capoeira é uma ótima luta para se trabalhar, pois


contempla dois objetos de conhecimento da BNCC (BRASIL, 2018): lutas de
origem africana e luta brasileira. Veja um modelo a seguir.

 Ensino fundamental
■ Turma: 6º ano.
■ Conteúdo: capoeira.
■ Objetivos: desenvolver o estudo da história africana a partir da
capoeira.
■ Recursos: instrumentos de capoeira.
■ Sequência programática:
– Parte inicial: na parte inicial, o professor vai contar a história da
capoeira, a partir da chegada dos africanos escravizados no Brasil,
que desenvolveram uma luta em forma de dança.
– Parte principal: serão explorados movimentos básicos da capoeira,
como ginga (base do capoeirista), aú (estrelinha), cocorinha (defesa),
240 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS Metodologia das lutas 13

meia-lua de frente e queixada (ambos de ataque). Em duplas, os alu-


nos vão realizando o movimento conforme indicado pelo professor.
– Parte final: será formada a roda da capoeira, com os alunos co-
locando em prática os movimentos aprendidos.
■ Metodologia: aula expositiva.

No ensino médio, recomenda-se o aprimoramento das habilidades viven-


ciadas até esse período, além das práticas de lutas de distância mista.

 Ensino médio
■ Turma: 1º ano.
■ Conteúdo: MMA.
■ Objetivos: vivenciar a prática de uma luta de distância mista.
■ Recursos: rádio.
■ Sequência programática:
– Parte inicial: no começo da aula, o professor pode perguntar o
que os alunos conhecem do MMA, se acompanham pela mídia,
quais golpes são permitidos, quem são os principais lutadores e
quais são os eventos realizados. Também é importante esclarecer
a sigla e a classificação.
– Parte principal:
– Atividade 1 (ações com distância) — em duplas, um será o ata-
cante, e o outro, o defensor, com posterior inversão. Os exercícios
serão: sequência de jab, direto e chute.
– Atividade 2 (aproximação) — na mesma posição, porém mais
próximos, os alunos deverão trabalhar o clinch e simular joelhadas
no companheiro.
– Atividade 3 (ações no solo) — em duplas, um deverá estar no
chão, e o outro, em pé; o aluno de pé tentará passar pela guarda
do que está deitado.
– Parte final: executar todas as ações junto, simulando um confronto
em duplas.
■ Metodologia: aula expositiva.

Como se pôde observar, as lutas sempre fizeram parte da história. Elas são
consideradas disputas corporais, nas quais os participantes empregam técnicas,
táticas e estratégias específicas para imobilizar, desequilibrar, atingir ou excluir
o oponente de um determinado espaço, combinando ações de ataque e defesa
dirigidas ao corpo do adversário. A luta ainda tem dificuldade de se tornar,
Esportes Individuais: Lutas e Esportes de Combate | UNIDADE 4
14 Metodologia das lutas Metodologia das Lutas | PARTE 2 241

de fato, um conteúdo da educação física escolar. Assim, o professor deve


propor reflexões com seus alunos, trazendo temas como a história das lutas,
a diferença de luta e briga, os aspectos gerais e o entendimento de algumas
modalidades. A luta é um conteúdo bastante rico, que permite explorar as três
dimensões de ensino: conceitual, procedimental e atitudinal.

BRASIL. Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro


de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional [...]. Brasília, DF,
2003. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm.
Acesso em: 13 fev. 2020.
BRASIL. Ministério da Educação. Base nacional comum curricular. Brasília, DF, 2018. Dis-
ponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_ver-
saofinal_site.pdf. Acesso em: 11 fev. 2020.
CBDV. Divulgada a convocação do IBSA Judo Qualyfier e intercâmbio no Japão. São Paulo,
c2020. Disponível em: http://www.cbdv.org.br/competicoes/divulgada-a-convocao-
-do-ibsa-judo-qualyfier-e-intercmbio-no-japo. Acesso em: 13 fev. 2020.
DEL’VECCHIO, F. B.; FRANCHINI, E. Lutas, artes marciais e esportes de combate: possibi-
lidades, experiências e abordagens no currículo em educação física. In: SOUZA NETO,
S.; HUNGER, D. (org.). Formação profissional em educação física: estudos e pesquisas.
Rio Claro: Biblioética, 2006. p. 99-109.
DUARTE, O. História dos esportes. São Paulo: Senac, 2004.
MONTEIRO, F. As lutas e a ludicidade na educação física escolar. São Paulo: GPEF, 2014.
Disponível em: http://www.gpef.fe.usp.br/semef%202014/P%C3%B4ster%20Fabri-
cio%20Monteiro%20-%20AS%20LUTAS%20E%20A%20LUDICIDADE%20NA%20EF%20
ESCOLAR.pdf. Acesso em: 24 jan. 2020.
PINTO, D. C. C. et al. Judô: caminho suave ou caminho da vitória? Arte marcial que se
esportivizou ou esporte que se tornou arte marcial? In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL
PROCESSO CIVILIZADOR, 12., 2009, Recife. Anais [...]. Recife: UEL, 2009. Disponível em:
http://www.uel.br/grupo-estudo/processoscivilizadores/portugues/sitesanais/anais12/
artigos/pdfs/comunicacoes/C_Pinto.pdf. Acesso em: 24 jan. 2020.
PORTO FILHO, R. Lutas de MMA agitam sábado em Macaé. A Shama, 16 mar. 2019.
Disponível em: https://www.ashama.com.br/portal/lutas-de-mma-agitam-sabado-
-em-macae. Acesso em: 13 fev. 2020.
242 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS
Metodologia das lutas 15

PUCINELI, F. A. Sobre luta, arte marcial e esporte de combate: diálogos. 2004. Trabalho
de Conclusão de Curso – Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de
Campinas, Campinas, 2004.
RUFINO, L. Lutas. In: GONZÁLEZ, F. J.; DARIDO, S.; OLIVEIRA, A. (org.). Lutas, capoeira e
práticas corporais de aventura. 2. ed. Maringá: Eduem, 2017. p. 29-68.
RUFINO, L.; DARIDO, S. C. O ensino das lutas na escola: possibilidades para a educação
física. Porto Alegre: Penso, 2015.
SILVA, J. Capoeira e identidade: um olhar ascógeno do racismo e da identidade negra
através da capoeira. Dissertação (Mestrado) – Instituto Ecumênico de Pós-Graduação
Religião e Educação, Escola Superior de Teologia, São Leopoldo, 2007.
SILVA, J. Roda de capoeira: do controle social ao reconhecimento. In: QUEVEDO, J.;
ROCHA, A. C. (org.). Africanidades: reflexões afro sul-brasileiras. Porto Alegre: Martins
Livreiro, 2016.
TELLES, T. S.; MELO, M. Meu Brasil africano. 2. ed. São Paulo: IBEP, 2013.
VIDOR, E.; REIS, L. Capoeira: uma herança cultural afro-brasileira. São Paulo: Selo Negro,
013.

Leituras recomendadas
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Edu-
cação Física. Brasília, DF: MEC, 1998.
HUIZINGA, J. Homo ludens: o jogo como elemento de cultura. São Paulo: Perspectiva,
1971.

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cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a
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Metodologia das Lutas | PARTE 2 243

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244 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS
unidade

4
V.1 | 2022

Parte 3
Potencial Pedagógico das Lutas

O conteúdo deste livro


é disponibilizado
por SAGAH.
246 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS

Potencial pedagógico
das lutas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Analisar as potencialidades de ensino na dimensão atitudinal.


 Avaliar as potencialidades de ensino na dimensão procedimental.
 Indicar as potencialidades de ensino na dimensão conceitual.

Introdução
O esporte está presente na escola: na atual Base Nacional Comum Curri-
cular (BNCC) (BRASIL, 2017), consta a introdução dos esportes de combate,
que engloba as lutas como um todo e que tem o objetivo de permitir a
experiência de diferentes práticas corporais.
Dentro das lutas, ainda é possível observar diversas dimensões a
serem abordadas durante a aula, visando um entendimento integral e
completo das diversas modalidades que são embarcadas nessa categoria.
É importante que, durante uma aula de educação física, trabalhe-se
à luz das diferentes dimensões em que são separados os objetos de
conhecimento.
Neste capítulo, você vai compreender como é possível desenvolver
habilidades na dimensão atitudinal, como construir conhecimentos de
diferentes maneiras na dimensão procedimental e, por último, vai co-
nhecer as possibilidades da dimensão conceitual.

As lutas como estratégia educacional


Desde 2017, com a formulação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC),
aparecem, dentro do contexto das práticas corporais, os esportes de oposição
— incluindo as lutas — como um conteúdo obrigatório das aulas de educação
física. Deve-se destacar que cabe à educação física muito mais do que ensinar
Esportes Individuais: Lutas e Esportes de Combate | UNIDADE 4
2 O potencial pedagógico das lutas Potencial Pedagógico das Lutas | PARTE 3 247

o gesto motor correto: deve problematizar, interpretar, relacionar e analisar


com seus alunos as amplas manifestações da cultura corporal, de tal forma
que eles compreendam os sentidos e significados impregnados nas práticas
corporais (RUFINO; DARIDO, 2013).
As lutas estão dentro dos esportes de oposição, ou seja, são esportes nos
quais duas pessoas se opõem, sendo o movimento de uma determinante para
o movimento da outra, o que sempre é imprevisível. É importante frisar que,
dentro dessas modalidades, regras e códigos morais tendem a ser bastante
rígidos e minuciosos quanto ao uso de suas técnicas fora do cenário do es-
porte ou ainda como forma de vantagens pessoais. (GOZÁLEZ; DARIDO;
OLIVEIRA, 2014). Por exemplo, a filosofia existente no judô preza por um
movimento suave, em que a agressividade é reduzida para conseguir controlar
melhor seus movimentos, visando uma evolução espiritual. Essa filosofia
caminha de mãos dadas com o respeito mútuo, nunca visando a utilização da
modalidade para machucar outra pessoa ou ameaçá-la de qualquer maneira,
desbancando a ideia que as lutas tornam as pessoas que as praticam violentas.
Esse conteúdo sempre foi muito controverso dentro das aulas de educação
física, uma vez que as lutas ainda são vistas com caráter pejorativo, preconceitu-
oso, de incitação à violência. Esse preconceito às modalidades normalmente está
atrelado à falta de conhecimento sobre os esportes, ou ainda, à maneira como
alguns técnicos e professores o abordam. A verdade é que a luta pode ser um
aliado não apenas para o desenvolvimento motor daqueles que têm contato com
ela, mas, ainda, auxiliar no desenvolvimento cognitivo e social desses sujeitos.
No aspecto motor, podemos destacar a lateralidade, o controle e o tônus
muscular, o equilíbrio, a coordenação motora ampla, a percepção espaço-
-temporal, o esquema corporal e o tempo de reação. Já no aspecto cognitivo,
observa-se o aumento da atenção, a percepção, o raciocínio lógico; por fim,
nos aspectos atitudinais e sociais, são observáveis melhoras no desempenho
de posturas sociais, como respeito, perseverança, autocontrole, e a responsa-
bilidade (SOUSA, 2012).

Você pode aprofundar seu conhecimento sobre a maneira como as lutas aparecem
na Base Nacional Comum Curricular acessando o site no link a seguir.

https://qrgo.page.link/ZAZK3
248 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS O potencial pedagógico das lutas 3

Pensando no desenvolvimento cognitivo e social dos sujeitos é que vamos


compreender como as lutas podem auxiliar o professor na construção das três
dimensões de sua aula. Coll et al. (2000) pensaram em um formato no qual
o conteúdo teria três formas, permitindo, assim, que pudessem ser aborda-
das outras habilidades que não unicamente os “conteúdos” ou “disciplinas”,
ampliando o cenário de atuação do professor. As três partes do conteúdo,
segundo os autores, seriam:

 Dimensão conceitual: o que se deve saber?


 Dimensão procedimental: o que se deve fazer?
 Dimensão atitudinal: como se deve ser?

Deve-se destacar que, embora as dimensões sejam divididas, na prática


do processo de ensino e aprendizagem, elas devem estar interconectadas,
não sendo possível realizar o ensino das lutas na escola em cada dimensão
de forma separada — é preciso fazer com que interajam ente si, facilitando
a aprendizagem dessas práticas (RUFINO; DARIDO, 2015). A seguir, apro-
fundaremos os conhecimentos sobre a dimensão atitudinal.

A dimensão atitudinal das lutas


Esta dimensão fala sobre os valores, normas e atitudes que estão vinculados
com a prática educativa. A dimensão atitudinal se propõe a pensar a forma
como o sujeito pensa e sente durante a prática, levando em consideração
valores e a cultura a que ele pertence, assim como busca abranger as relações
pessoais que o indivíduo estabelece com o ambiente e com o outro, indo além
da atividade que está sendo proposta. Deve-se buscar responder à pergunta
“como se deve ser?”, partindo de reflexões e questionamentos, e não de normas
preestabelecidas.
Quando pensamos a aula de educação física dentro dessa dimensão, per-
cebemos que cabe ao professor de educação física problematizar, interpretar,
relacionar e analisar com seus alunos as amplas manifestações da cultura
corporal, de tal forma que eles compreendam os sentidos e significados que
estão dentro das práticas corporais e das lutas.
É importante sempre lembrar que a função da escola não é formar grandes
atletas, competidores ou ainda lutadores, mas, sim, buscar trazer novas vivên-
cias e possibilidades de práticas e manifestações sociais e culturais, prezando
pela formação da cidadania a partir da ética e da autonomia. Assim, segundo
Rufino e Darido (2015):
Esportes Individuais: Lutas e Esportes de Combate | UNIDADE 4
Potencial Pedagógico das Lutas | PARTE 3 249
4 O potencial pedagógico das lutas

[...] compreende-se que a temática das lutas, a partir do momento em que é


inserida na esfera da cultura corporal, também deve apresentar uma ampliação
no que corresponde a seu tratamento pedagógico dentro da escola. Não só
compreendendo os aspectos da dimensão procedimental, mas também tudo
aquilo que esteja relacionado às dimensões conceitual e atitudinal.

As lutas fazem parte da cultura de um povo e carregam consigo valores e


comportamentos inerentes à sua prática, como respeito, dedicação, confiança
e autoestima, visando o desenvolvimento integral do ser humano. Todavia,
se esses valores ficarem só na questão da tradição e se não são questionados
durante a prática pedagógica, a dimensão atitudinal no ensino das lutas corre
o risco de não ser abordada de maneira minimamente satisfatória — o sucesso
dessa prática depende muito da intencionalidade do professor e da sua maneira
de abordar os conteúdos (RUFINO; DARIDO, 2015).
Uma característica interessante que aparece em todas as modalidades de
lutas é que o objetivo central é o oponente, que deve ser observado e respeitado.
Por isso, o praticante é responsável por seus movimentos e cuidados, como, por
exemplo, não utilizar golpes que venham a trazer lesões graves a seu compa-
nheiro — nesse sentido, é preciso lembrar que não existe luta sem um oponente.
Aqui, cabe ressaltar a diferença entre adversário e inimigo. O adversário
refere-se à diferença de relação que há com o outro: com o adversário, não existe
a relação de ódio, agressão, mas, sim, interação. Durante o combate, cria-se
uma espécie de diálogo corporal, em que ambos atacam e ambos defendem,
mas, quando o combate termina, ambos voltam a ser colegas, sem que nenhum
dos dois tenha se sentido agredido ou ainda desrespeitado (SOUSA, 2012). Já
o inimigo se configura quando há uma relação de desrespeito com o outro e
se usa o combate como maneira de agredir e desrespeitar o outro.
Além disso, as lutas favorecem atividades nas quais seja necessário coo-
perar e trabalhar em pequenos grupos, buscando o cuidado com o seu colega.

O conteúdo das lutas oferece diversas possibilidades de abordar questões sobre


humanidade e respeito ao próximo, sobre conceitos como luta e briga, discutindo
suas diferenças e abrangendo diferente cenários nos quais ambas acontecem. Além
disso, é possível discutir sobre modelos hierárquicos propostos.
Ou seja, a luta permite discutir diversos assuntos, mostrando-se rica para ser tra-
balhada na escola.
250 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS O potencial pedagógico das lutas 5

As lutas, mesmo sendo conhecidas como esporte individuais, buscam a


cooperação e o trabalho em equipe em diferentes contextos. Ao desenvolver
esse conteúdo nas aulas de educação física, o professor deve buscar trabalhar
as habilidades que são importantes não só para o bom andamento das aulas,
mas para o desenvolvimento social do estudante, que poderá beneficiar-se
também na sua vida social com essas habilidades.
As lutas podem ser uma boa estratégia para melhorar aspectos como a
agressividade entre os estudantes e aquela dirigida ao docente durante a aula,
já que elas buscam a interação social e de responsabilidade com o adversário,
além de produzirem situações nas quais o estudante pode canalizar a sua raiva
para o movimento.
Aprender é muito mais do que reproduzir um gesto motor ou executá-lo
à exaustão. A aprendizagem deve ser significativa, isto é, deve-se sempre ter
condições para que determinada habilidade seja aperfeiçoada, permitindo que,
assim, os estudantes construam o seu eu crítico, emancipando-se e adquirindo
autonomia. Essa é, sem dúvida, a grande contribuição da dimensão atitudinal
que as lutas trazem ao ambiente escola.
Dessa maneira, essa dimensão pode auxiliar no desenvolvimento das
habilidades motoras, pois propicia um ambiente agradável. Nesse sentido, é
importante lembrar que os desenvolvimentos cognitivo, social e motor ocorrem
mutuamente, e um exerce influência sobre o outro. Desse modo, o professor
de educação física deve estar atento a todos os aspectos que englobam o
desenvolvimento dos seus alunos.

A dimensão procedimental nas lutas


As lutas podem ser entendidas como quaisquer práticas corporais que apresen-
tam características de enfrentamento físico com um oponente e são compostas
por fundamentos e características importantes para a sua prática.
Nesse contexto, está a dimensão procedimental do ensino, que é entendida
com um conjunto de ações ordenadas e destinadas à realização de um fim
predeterminado, tendo como característica o movimento em si, ou seja, a
aprendizagem de procedimentos implica a aprendizagem de ações, gestos
motores ou movimentos das atividades que se fundamentem em sua realização
(ZABALA, 1998). A dimensão procedimental busca responder à pergunta “o
que se deve fazer?”, que se refere não somente a realizar o movimento sem
sentido, mas também a compreender os sentidos que compõem esse movimento,
usando-o como as raízes que sustentam e dão força para as outras dimensões.
Esportes Individuais: Lutas e Esportes de Combate | UNIDADE 4
6 O potencial pedagógico das lutas Potencial Pedagógico das Lutas | PARTE 3 251

A dimensão procedimental pode, por vezes, ser vista como uma dimensão
rígida, o que de certa forma pode ser verdade, quando a aplicamos de maneira
isolada, sem englobá-la em um contexto. A técnica é um apoio que facilita o
desenvolvimento do sujeito. Ao longo dos anos, a educação física se dedicou
exclusivamente ao ensino exclusivo dessa dimensão, focando no saber fazer, e
não no saber sobre a cultura corporal ou sobre como se deve ser. É claro que a
forma como as técnicas são apresentadas as estudantes devem ser levadas em
consideração, pois não se pode pensar na “prática pela prática”, na repetição
infundada e vazia de sentido que resulta em alienação, mas, sim, buscar enaltecer
as diferenças individuais como forma de emancipação dos envolvidos no pro-
cesso. A prerrogativa que se abre não é mais se é possível ou não ensinar esses
conteúdos, e sim o que ensinar desses conteúdos (RUFINO; DARIDO, 2013).
Então, nesse aspecto, é possível utilizar os jogos como uma estratégia para
o ensino das lutas, desde que sejam respeitadas as suas características básicas,
quais sejam: enfrentamento físico direto, regras, oposição entre indivíduos,
objetivo centrado no corpo da outra pessoa, ações de caráter simultâneo e
imprevisibilidade. Veja, no Quadro 1, uma descrição de tais características.

Quadro 1. Características gerais das lutas

Enfrentamento As lutas exigem contato físico com outra pessoa, gerando


físico direto enfrentamentos.
Regras Cada modalidade possui regras rígidas e estabelecidas
sobre competição, conduta e graduação.
Oposição entre Os praticantes se enfrentam durante o combate, em
indivíduos caráter de oposição um ao outro, sempre com o objetivo
sobrepor o oponente, o que pode ser feito de diferentes
maneiras, dependendo da modalidade.
Objetivo centrado Durante um combate, toda a atenção está voltada para as
no corpo de ações e os movimentos do seu oponente, uma vez que
outra pessoa ele é o alvo e deve ser acertado.
Ações de caráter Ao mesmo tempo, acontecem movimentos de ataque e
simultâneo defesa, não havendo um momento específico para que
cada um aconteça, o que faz com que seja necessário
sempre estar atento.
Imprevisibilidade Por conta da simultaneidade, as lutas se tornam imprevisíveis,
pois não há como saber qual será o próximo movimento.

Fonte: Adaptado de Gonzálesz, Darido e Oliveira (2014).


252 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS O potencial pedagógico das lutas 7

Rufino e Darido (2015) exemplificam com maestria a maneira como essa


dimensão deve ser utilizada nas aulas de educação física:

A técnica deve estar relacionada com outras dimensões humanas, como os


nossos sentidos, os fatores subjetivos e as intencionalidades. Assim, podemos
ampliar as perspectivas de ensino da dimensão procedimental, permitindo
a ela ser significativamente importante, possibilitando o se movimentar dos
alunos de maneira singular e significativa, a que eles possam dar seus próprios
sentidos e gerar atitudes que sejam críticas e criativas sobre suas próprias
realidades. Mais do que isso, possibilitando que os alunos possam conhecer,
vivenciar, praticar e agir a partir de conhecimentos significativos sobre a
dimensão procedimental.

No livro Lutas, Capoeira e Práticas Corporais de Aventura, González,


Darido e Oliveira (2014) propõem que o ensino das lutas na escola aconteça
por meio de jogos e brincadeiras, acreditando no potencial pedagógico dos
jogos tanto para a compreensão dos aspectos mais fundamentais das lutas
quanto para o interesse e envolvimento dos alunos, contribuindo para a prática
do professor, que pode ter mais possibilidades de intervenção nos processos
de ensino e aprendizagem.

Uma brincadeira muito tradicional que pode ser usada no ensino dos esportes de
combate é o pega-pega, em que cada aluno possui um número determinado de
prendedores de roupa espalhados pelo corpo e o objetivo é recolher esses prendedores
de seus colegas, protegendo os seus. Esse jogo é uma excelente maneira de introduzir
a luta nas aulas de educação física, pois, com ele, é possível compreender diversos
fundamentos de várias modalidades.

A dimensão procedimental é extremamente importante para que o ensino da


modalidade em si seja alcançado, e é interessante lembrar que existem diversas
maneiras de trazer esse conhecimento aos estudantes e que vão muito além
de um modelo tradicional, em que os alunos aprendem a fazer os movimentos
com o companheiro. É possível utilizar jogos e brincadeiras, tendo o lúdico
sempre como um aliado da aprendizagem. Brincadeiras tradicionais, como
cabo de guerra ou até um pega-pega diferente (como apresentado no exemplo
anterior), são opções para essa finalidade.
Esportes Individuais: Lutas e Esportes de Combate | UNIDADE 4
8 O potencial pedagógico das lutas Potencial Pedagógico das Lutas | PARTE 3 253

Muitos são os movimentos básicos de lutas que podem ser utilizados na


educação física escolar. Dentre eles, pode-se citar a ginga da capoeira e os rola-
mentos, que são utilizados tanto no judô quanto no jiu-jítsu. Esses movimentos
são de esporte praticados em alto rendimento e trazem consigo um caráter
competitivo, mas é importante ressaltar que o gesto técnico especializado
não é o principal objetivo na escola, que deve ser o lúdico. A competição sob
forma de jogo sempre esteve presente, mas a sua manutenção não é justificável
(FREIRE, 2002 apud GERMANO; MOURA, 2011).
Diante disso, devemos pensar em como introduzir movimentos es-
pecíficos das lutas nas aulas de educação física, utilizando estratégias
lúdicas e buscando tirar o véu que cobre os olhos dos professores sobre o
movimento — e que tem por característica mostrar o gesto motor como
algo sem significado e importância. Cabe ao professor de educação física
perceber o sujeito que se movimenta, suas intenções e os sentimentos que
manifesta por meio do gesto motor. Isso significa ver o rumo do movimento,
sempre na direção de buscar, no mundo, as partes que faltam ao homem
para ser humano.
É importante frisar que, ao optar por utilizar essa estratégia, algumas
dificuldades ficam minimizadas, como o risco de lesões (que não devem
ser ignoradas quando falamos com crianças, pois uma queda equivocada
pode gerar uma lesão grave) ou, ainda, a insegurança do professor (que,
por vezes, não tem uma formação ou vivência suficiente no mundo das
lutas para ensiná-la aos estudantes) também quanto ao material, uma vez
que não são todas as escolas que, na realidade da educação brasileira,
tem à disposição todos os materiais para o ensino formal das lutas. Desse
modo, a utilização dos jogos parece uma opção viável para o ensino das
lutas na escola.
Germano e Moura trazem uma visão dura, mas realista, sobre a educação
física escolar na atualidade, destacando que ela:

[...] está se tornando palco de exclusões de alunos, por esses não possuírem
habilidades motoras adequadas para uma simples vivência motora durante a
aula. Nos dias atuais, na área escolar, os gestos motores estão cada vez mais
sendo cobrados pela ‘sociedade’ formada pelos alunos ditos como habilidosos,
na qual o não habilidoso é deixado de lado.

Embora a aula de educação física não seja instrumento para a formação


de atletas, tem o propósito de formar o cidadão e, nessa formação, o desen-
volvimento motor se mostra importante, uma vez que tem relação direta com
254 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS O potencial pedagógico das lutas 9

o desenvolvimento das habilidades sociais e cognitivas, das quais não pode


ser dissociado (FONTANA; KEMPER, 2015).
Todo ser humano nasce com uma habilidade motora, mas essa habilidade
somente irá florescer com uma estimulação motora adequada. Nesse sentido, a
luta surge como um facilitador do desenvolvimento. A prática das lutas, quando
vista na sua dimensão procedimental, traz inúmeros benefícios, destacando-
-se o desenvolvimento motor. Nesse aspecto, observamos o desenvolvimento
da lateralidade, o controle do tônus muscular, a melhora do equilíbrio e da
coordenação global, o aprimoramento da ideia de tempo e espaço.
Hattori, Lima e Fernandes (2015) verificaram que crianças que praticavam
a modalidade do jiu-jítsu apresentavam níveis de desenvolvimento acima do
esperado para a sua idade. Isso também pode ser verificado no estudo de
Melo et al. (2017), que testaram o desenvolvimento motor de 40 crianças
antes e depois de uma intervenção de 12 semanas de kung fu. As crianças
que participaram do estudo, em sua maioria, estavam abaixo do padrão de
desenvolvimento esperado para a idade, o que mudou significativamente
após as aulas de lutas, mostrando o potencial das lutas para propiciar um
desenvolvimento motor adequado.
A dimensão procedimental pode ser entendida como o “corpo” do ensino
das lutas durante as aulas de educação física, e o professor deve ter sempre
ter plena consciência dos objetivos (atitudinais, procedimentais e conceituais)
que pretende desenvolver com determinada atividade, cuidando sempre para
não manter o foco de sua atenção em ensinar fundamentos e técnicas, criando
um contexto para a prática que está sendo realizada.

A dimensão conceitual das lutas


A dimensão conceitual abrange, como o nome sugere, os conceitos específicos
da modalidade. Essa dimensão é considerada a mais importante de ser abor-
dada, pois requer estratégias didáticas diferenciadas, que tragam o estudante
para uma imersão dos conceitos que se deseja abordar. Além do mais, essa
dimensão exige leitura e estudo aprofundado constante por parte do professor.
Barros e Darido (2009) referem essa dimensão ao entendimento dos
significados, objetivos, princípios e possibilidades de conhecimentos re-
lacionados a anatomia, nutrição, habilidades motoras, fisiologia, saúde,
capacidades físicas, treinamento, aspectos históricos, sociais, econômicos,
políticos, estéticos, culturais, regras, técnicas, táticas das práticas integrantes
da cultura corporal.
Esportes Individuais: Lutas e Esportes de Combate | UNIDADE 4
10 O potencial pedagógico das lutas Potencial Pedagógico das Lutas | PARTE 3 255

A dimensão conceitual deve abranger os aspectos históricos, conceituais e


de regras sobre as modalidades que serão abordadas, já que, somente a partir
desse conhecimento, é possível entender as modalidades como um todo, seus
valores culturais e sua importância dentro da sociedade, inclusive a brasileira,
levando à reflexão crítica do mundo que nos cerca. Essa dimensão busca
contextualizar o gesto motor, ou seja, refere-se a fatos, conceitos, princípios
e o próprio contexto histórico da modalidade, a diferença de luta e briga,
como essas lutas são tratadas pela mídia, entre outras questões (CORSINO;
OLIVEIRA, 2008).
Mas, afinal, o que significa ensinar conceitos? Durante a prática pedagógica
das lutas, representa ensinar além das técnicas e dos golpes em si. É ampliar
a visão de mundo dos alunos acerca dos conteúdos e da prática educativa, de
maneira geral, ajudando-os a compreender conceitos, aspectos históricos,
como a história de determinado golpe ou, ainda, o motivo de cada modalidade
ter uma vestimenta específica.
A dimensão conceitual é a que dá o sentido à prática, ou seja, mostra para
o aluno o sentido e a função do movimento que ele está executando. Um bom
exemplo seria o rolamento: ao rolar, o aluno está executando a dimensão
procedimental, mas ele deve saber o que está fazendo, qual é o significado
de executar aquele movimento e para que serve o rolamento. Nesse sentido,
o aluno terá a possibilidade de apresentar um posicionamento crítico em
relação ao movimento executado, o que será possível com a inclusão da
dimensão conceitual.
Diversas estratégias podem ser utilizadas no tratamento dos conteúdos
dessa dimensão, como exposições, discussões, reflexões sobre a prática e
resolução de problemas, construção de materiais para exposição, brincadeiras
e jogos, sempre respeitando a faixa etária do estudante.
A ampliação da inserção do ensino da dimensão conceitual dos conteúdos
na educação física escolar favorece uma aprendizagem mais significativa para
o aluno, na medida em que ele poderá apropriar-se do conhecimento cientí-
fico, estabelecendo relações com seu conhecimento prévio, além de refletir e
contextualizar os fatos, podendo, assim, ser um importante instrumento para
o desenvolvimento de suas competências para a atuação autônoma na vida
social e no exercício da cidadania.
256 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS
O potencial pedagógico das lutas 11

Um exemplo para desenvolver a dimensão conceitual das lutas é uma brincadeira


bastante conhecida, o “jogo da memória”. O professor pode construir fichas com
imagens de diferentes modalidades de lutas ou, ainda, com curiosidades de uma
determinada modalidade. É interessante que, em uma turma de 20 alunos, o
professor tenha, pelo menos, 4 jogos da memória. O professor deve separar a turma
em equipes, tendo 1 jogo da memória para cada equipe. Cada aluno deve virar
duas peças por vez, recolhê-las se formarem um par ou devolvê-las para o lugar
caso não combinem. Vence a equipe que conseguir resolver mais rapidamente
o jogo da memória.
Nessa atividade, é possível desenvolver as três dimensões conceituais, uma vez que é
necessário trabalhar em equipe, desenvolver uma habilidade motora (já que os alunos
podem saltar, correr, rolar, antes de chegar no jogo da memória) e ainda conhecer o
conceito da modalidade esportiva que está sendo trabalhada.

É importante salientar que a dimensão conceitual não é “à parte” da aula,


deve estar presente em todos os momentos, sendo:

[...] parte integrante do processo de ensino e aprendizagem, o que sugere a


necessidade de valorização desta dimensão, ascendendo-a à condição de
importância que deve ter durante a prática educativa dos alunos. [...] é conte-
údo e precisa ser ensinado, ainda mais em uma prática corporal complexa e
plural como as lutas e que apresenta inúmeras relações possíveis sobre essa
dimensão (RUFINO; DARIDO, 2015).

Infelizmente, o uso da dimensão conceitual nas aulas de educação física


ainda é restrito a alguns conteúdos acerca de regras, técnicas e táticas es-
portivas, que são comumente transmitidos de forma mecânica e, portanto,
desvinculados de maiores reflexões.

Por outro lado, as propostas que valorizam a inserção ou ampliação da di-


mensão conceitual dos conteúdos nas aulas de Educação Física têm sido mal
interpretadas, gerando a ideia de que valorizar o ensino deste tipo de conte-
údo seria trocar a predominância do ensino de procedimentos, geralmente
desenvolvidos na quadra, pelo ensino de fatos e conceitos, através de aulas
teóricas, desenvolvidas em sala (BARROS, 2006, p. 7).
Esportes Individuais: Lutas e Esportes de Combate | UNIDADE 4
12 O potencial pedagógico das lutas Potencial Pedagógico das Lutas | PARTE 3 257

Esses desentendimentos quanto ao real sentido dessa dimensão geram


grande desvantagens à educação como um todo, uma vez que as lutas permitem
uma passibilidade de formação integral do sujeito de maneira ímpar durante
as aulas de educação física. A dimensão conceitual é que cria o “cenário”
e tem a capacidade de cativar o estudante para a modalidade, trazendo um
contexto de curiosidade e deleite.
Existem muitas dificuldades na execução da dimensão conceitual das lutas
na escola, destacando-se a formação deficiente dos docentes, o que pode acar-
retar preconceito quanto a ensinar as lutas na escola, por crençcas como as de
que não são seguras, necessitam de muitos materiais ou, ainda, que deixarão
os alunos mais violentos. É importante ressaltar que muitos profissionais de
educação física se formam sem ter nenhum contato com as lutas durante toda a
graduação (RUFINO; DARINO, 2013), mas não podemos ignorar que é dever do
professor ensinar as habilidades e competência de diversas lutas, não havendo a
necessidade de focar suas aulas em uma determinada modalidade. Sendo assim:

[...] não é necessário que o professor de educação física tenha profundos co-
nhecimentos das lutas para que elas possam ser tratadas na educação física
escolar, contanto que o professor tenha uma formação que o possibilite ter
contato com esses conteúdos, como [...] as formas de ensinar (LAÇANOVA,
2007 apud SOUSA, 2012, p.12).

Quando o professor entende que não irá formar atletas ou competidores,


é natural contextualizar as práticas educativas que traz para seus alunos
como forma de fazê-los conhecer diferentes realidades, mostrando que, no
contexto das lutas, o mais importante não é realizar uma mecânica perfeita
dos movimentos, mas vivenciar as mais diferentes práticas corporais que
farão parte da formação das suas memórias motoras, favorecendo a adesão
dos alunos às práticas corporais.
As lutas ainda sofrem muito com o preconceito das pessoas que as julgam
unicamente pelos seus movimentos, que é o que se vê quando se observa
qualquer uma delas. Por isso, o professor é tão importante e, com um movi-
mento de trazer os conceitos importantes dessa modalidade, pode, a partir
de debates e do conhecimento, trazer aceitação em relação a modalidades tão
ricas. Ensinar as lutas é ampliar a visão sobre elas, possibilitando que sejam
adquiridas novas perspectivas e novos olhares a seu respeito — e isso só é
possível por meio da ampliação dos conteúdos.
Dentro de uma perspectiva de educação, é fundamental considerar proce-
dimentos, fatos, conceitos, atitudes e valores como conteúdos, todos no mesmo
258 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS
O potencial pedagógico das lutas 13

nível de importância. Nesse sentido, o papel da educação física ultrapassa


ensinar esporte, ginástica, dança, jogos, atividades rítmicas, expressivas e
conhecimento sobre o próprio corpo para todos, em seus fundamentos e técnicas
(dimensão procedimental), e inclui, também, os seus valores subjacentes, ou
seja, as atitudes que os alunos devem ter nas e para as atividades corporais
(dimensão atitudinal). Finalmente, pode garantir o direito do aluno de saber
por que está realizando esse ou aquele movimento, isto é, quais conceitos
estão ligados a quais procedimentos (dimensão conceitual).

BARROS, A.; DARIDO, S. Práticas pedagógicas de dois professores mestres em educação


física escolar e o tratamento da dimensão conceitual dos conteúdos. Revista Brasileira
de Educação Física e Esporte, v. 23, n. 1, p. 61-75, mar. 2009. Disponível em: http://www.
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Leituras recomendadas
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MADURO, L. A. Considerações e sugestões para o ensino das lutas no ambiente esco-
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oldarchive.rbceonline.org.br/index.php/cadernos/article/view/2070/1160. Acesso em:
21 maio 2019.
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