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TÉCNICAS DE ASPIRAÇÃO TRAQUEAL:

Sistema aberto vs Sistema fechado

Fga. Camila C. Pereira CRFa. 5-3110-6


Doutoranda em Neuropsicologia
Mestre em Fonoaudiologia
Especialista em Motricidade Orofacial, Fonoaudiologia Hospitalar e Disfagia
SISTEMA RESPIRATÓRIO X POTENTE SISTEMA DE PROTEÇÃO

▪ O sistema respiratório, dentre as suas diversas funções, atua como potente sistema de proteção ao organismo e
determinante mantenedor da vida
▪ A ação mucociliar e o ato da tosse são alguns desses recursos que quando íntegros, possibilitam a eliminação de
agentes nocivos ao organismo, minimizando riscos de infecções respiratórias e reduzindo consequentemente, estados
de morbidade e mortalidade do indivíduo
▪ Em condições normais, a quantidade de muco produzida varia entre 10 a 100 ml por dia
▪ A hipersecreção relaciona-se à sobreposição da concentração de muco com propriedades alteradas, sobre a ação ciliar
▪ Quando a tosse está comprometida ou quando a espessura ou quantidade de secreção está alterada torna-se
necessário realizar técnica específica para higiene brônquica que auxilie na eliminação de secreções e melhora da
função pulmonar (VAN DER SCHANS, 1999)
SISTEMA DE DEFESA

AÇÃO MUCOCILIAR
▪ Membranas epiteliais (numerosos pelos finos – cílios) especializadas
que revestem toda a via aérea juntamente com células produtoras de
muco que recobrem os cílios em uma fina camada de fluido
▪ O muco aprisiona as partículas quando elas entram nas VA e os cílios
transportam o material com segurança antes que ele entre nos
pulmões
▪ Em alguns casos (p. ex. fibrose cística) os pacientes produzem muito
muco, entupindo as VA prejudicando o movimento mucociliar
▪ Se os cílios entupirem, se o ambiente ficar muito seco, o movimento
dos cílios diminuírem, as pessoas correm mais risco de infecções
QUANDO REALIZAR A ASPIRAÇÃO?

▪ A aspiração das vias aéreas é geralmente utilizada em pacientes


ventilados mecanicamente de maneira invasiva ou não-invasiva ou
sob ventilação espontânea que tenham obtido insucesso na
eliminação de secreção através da aplicação de recursos
desobstrutivos. Consiste na sucção de secreção por sonda
previamente escolhida pelo terapeuta, introduzida na via aérea
fisiológica ou artificial (PRYOR, et al., 2002)

▪ A técnica aspirativa não deve ser feita em intervalos regulares, mas


sim, em situações que o paciente realmente necessite
QUAIS SERIAM AS INDICAÇÕES PARA REALIZAR A ASPIRAÇÃO?

▪ As alterações que tornam, indiscutivelmente, necessária a instituição da aspiração são: ineficiência da tosse e
obstrução por rolhas de muco

▪ Muitos são os critérios de indicação da aspiração: queda da saturação de oxigênio, tosse ineficaz, diminuição da
ausculta pulmonar, presença de roncos e desconforto respiratório e aumento da frequência cardíaca

IMPORTANTE: A redução do fluxo aéreo decorrente do aumento da resistência das vias


aéreas possibilita redução do volume pulmonar e consequentemente reduz a
ventilação alveolar, favorecendo aumento na pressão arterial de gás carbônico e
redução na pressão arterial de oxigênio. Consequentemente, a saturação parcial de
oxigênio tende a assumir valores inferiores a 90%
POSSÍVEIS COMPLICAÇÕES DURANTE A ASPIRAÇÃO?

▪ A aspiração da secreção pode proporcionar grandes benefícios ao paciente por otimizar a mecânica respiratória e as
concentrações gasosas, reduzindo o trabalho respiratório e o gasto energético
▪ Entretanto, a possibilidade de ocorrerem complicações como: arritmias, hipóxia, elevação da pressão intracraniana,
infecção e traumas de mucosa traqueal associadas à técnica, impõem necessidade de avaliação contínua e criteriosa
no que se refere à indicação e aos cuidados que devem ser considerados e respeitados ao se eleger e realizar tal
procedimento
CUIDADOS PREVENTIVOS À LESÃO E COMPLICAÇÕES
DECORRENTE DA ASPIRAÇÃO

▪ Escolha do no. das sondas de aspiração,

▪ Tempo médio de permanência da sonda na via aérea

(duração do procedimento),

▪ Medida da pressão do vácuo (vacuômetro),

▪ Suspensão da dieta

▪ Posicionamento do paciente

▪ Estabelecer pré-medida de comprimento da sonda

▪ Adentrar com a sonda fechada


ANTES DE COMEÇAR...

▪ Explicar o procedimento ao paciente, através disso observa-se redução nos níveis de estresse e ansiedade do
paciente, fato que minimiza complicações durante a técnica

▪ POSICIONAMENTO DO PACIENTE: a aspiração na posição fowler


favorece à maior expansão torácica e menor chance de
broncoaspiração
ANTES DE COMEÇAR...

▪ Escolher o número da sonda é um fator importante por interferir na


saturação de oxigênio e ainda facilitar o manuseio do profissional. Day
et al 2002 relataram que cateteres de grande calibre podem ocasionar
trauma na mucosa traqueal devido ao grande contato com a parede
brônquica
DURANTE O PROCEDIMENTO

▪ Realizar a pré-medida de introdução da sonda de aspiração, tal fato


visa favorecer a minimização dos traumas de mucosa e dos estímulos
exacerbados da tosse (DAY et al. 2001)

▪ O tempo que a sonda deve estar aberta na via aérea do paciente


deve corresponder a um tempo máximo de 10 a 15 segundos, uma
vez que períodos maiores aumentam o risco de trauma na mucosa,
hipoxemia e descompensação hemodinâmica (DAY et al., 2002)
DURANTE O PROCEDIMENTO

▪ Pressão do vácuo: a excessiva pressão negativa gerada na aspiração


reduz a oferta de oxigênio aos pulmões e ocasiona
microatelectasias, com conseqüente hipoxemia. DAY et al., 2002,
ainda cita prejuízos como trauma de mucosa, ulcerações e necrose
traqueal. O valor estimado para o procedimento é entre 80mmHg
SINAIS CLÍNICOS DA NECESSIDADE DE ASPIRAÇÃO

▪ Incapacidade de remover secreção tossindo

▪ Hipersecretivo

▪ Frequência cardíaca aumentada

▪ Baixa saturação de oxigênio

▪ Cianose

▪ Comportamento respiratório anormal ou dispneia (WOB)


TIPOS DE PROCEDIMENTOS DE ASPIRAÇÃO

▪ Sistema aberto ▪ Sistema fechado


SISTEMA ABERTO X SISTEMA FECHADO

▪ Quando usar um ou o outro?

▪ SISTEMA FECHADO: usado geralmente em pacientes na VM que não podem ser desconectados do

ventilador ou evitar a dispersão das partículas e a contaminação do ambiente por aerossóis


AMBOS PROCEDIMENTOS

▪ É ideal que o paciente esteja na posição de Fowler

▪ Devemos estar paramentados

▪ Procedimento não deve ultrapassar 10 segundos

▪ Existe uma sequência correta (tqt – nariz – boca)

▪ Sistema aberto deve-se obrigatoriamente usar luva estéril

▪ Ambos devemos entrar com a sonda fechada, sem vácuo “correndo”, ao sentir a resistência (carina traqueal) deve-
se voltar de 1 a 2 cm e a partir dai abrir o vácuo e começar a aspirar
▪ Tamanho da sonda de aspiração: DI ÷ 2 e multiplicar o resultado por 3. Ex.: cânula DI 8.0mm ÷ 2 = 4 x 3 = 12 (Day et
al, 2002)
TÉCNICA DE ASPIRAÇÃO / TRAQUEOSTOMO

▪ SEQUÊNCIA CORRETA:

1. Aspirar traqueostomo

2. Aspirar nariz

3. Aspirar boca
PROCEDIMENTO

1º) Separar os EPIs (máscara, óculos, capote e luva de procedimento)

2º) Selecionar a sonda de aspiração compatível ao paciente, assim como

a luva estéril

3º) Explicar o procedimento e a finalidade ao paciente

4º) Posicionar o paciente numa posição de fowler

5º) Remover máscara de hudson do paciente e proteger seu tórax com

uma toalha
PROCEDIMENTO

6º) Conectar o cateter de aspiração na borracha do aspirador mantendo a

esterilidade do cateter

7º) Ajustar a pressão do aspirador em 80mmHg

8º) Calçar luva estéril na mão dominante

9º) Deve-se introduzir o cateter de aspiração sem sucção (com orifício

aberto) e só depois ocluir o furo, prevenindo assim o traumatismo da

mucosa e/ou barotrauma OU entrar com a sonda fechada


PROCEDIMENTO

10º) Tocar a sonda com a mão estéril e com a outra mão fechar a sonda para

iniciar a introdução da mesma no traqueostomo

11º) Entrar com a sonda fechada por cerca de 10 a 12cm (caso sinta

resistência (carina), voltar um pouco a sonda, dai deve abri-la, para evitar

sangramento)

12º) Retirar o cateter com movimentos rotativos ao mesmo tempo em que

aspira as secreções

13º) Em cada etapa de aspiração utilizar 5 a 10 segundos

14º) Repetir o procedimento da aspiração se julgar necessário


PROCEDIMENTO

15º) Se forem necessárias aspirações adicionais, propiciar um tempo adequado entre as aspirações para

oxigenação, encorajando o paciente a tossir e respirar profundamente

16º) Se houver necessidade, proceder à aspiração da naso e em seguida da orofaringe com a mesma sonda

17º) Desconectar a sonda da extensão do aspirador. Enrolar a sonda em torno dos dedos da mão dominante,

puxar a luva para fora, pelo lado de dentro de modo que a sonda permaneça dentro da luva

18º) Promover a limpeza da borracha do aspirador, aspirando água para lavar a extensão e proteger a ponta

distal da borracha com a embalagem da sonda


SECREÇÃO ESPESSA E/OU ROLHA

▪ Caso não seja possível entrar com a sonda de aspiração


(secreção espessa e/ou rolha), usar de forma moderada e
controlada, ampolas de solução fisiológica 0,9%. O ideal é
fazer em duas pessoas: um instila o soro e o outro aspira
A solução salina tem sido amplamente utilizada durante o procedimento de aspiração. Os profissionais usam soro fisiológico
acreditando que isso facilita a entrada do cateter de sucção, aumenta a tosse, quebra as secreções e ajuda na remoção
durante a aspiração, especialmente na presença de secreções espessas (Ridling et al., 2003)

Embora instilar soro fisiológico durante a aspiração tenha sido usado por anos, este estudo aponta que a evidência mostra
que tal instilação é controversa.

De acordo com Day et al. (2002) o muco e água são como óleo e água, não podem ser misturados, mesmo após agitação
vigorosa

Em vez de usar solução salina normal para diminuir a viscosidade das secreções antes da sucção, esforços deve ser feito
para garantir a hidratação adequada, umidificação adequada, uso de agentes mucolíticos e mobilização eficaz
TRAQUEOSTOMIA COM VIA DE ASPIRAÇÃO SUBGLÓTICA

▪ Para aspirar a via subglótica deve-se apenas conectar a mangueira


da subglótica com o extensor do aspirador, estando o vácuo ainda
fechado

▪ Não precisa calçar a luva estéril

▪ Ligar o vácuo e manter a mangueira da subglótica fechada (pressionada com os dedos) e ir bem
lentamente liberando o fluxo, até sugar toda a secreção

▪ Caso a secreção não venha, dar uma leve tracionada na traqueostomia (desobstrua a saída rente ao cuff)
TRAQUEOSTOMIA COM VIA DE ASPIRAÇÃO SUBGLÓTICA

▪ Caso haja acúmulo de sangue ou secreção aderida na mangueira

da subglótica, deve-se aferir pressão do cuff (para garantir que

não caia solução no pulmão – 35mmHg) e em seguida destilar

solução (água destilada)

▪ Assim que destilar solução, imediatamente conectar a mangueira da subglótica à extensão do aspirador
SISTEMA FECHADO DE ASPIRAÇÃO/TRACH CARE

▪ Menor risco de contaminação

▪ Tempo recomendado para troca é de 72 horas

▪ Vem com uma etiqueta colorida para sinalizar o dia de troca


PASSO A PASSO DO SISTEMA FECHADO/TRACH CARE

▪ Explicar procedimento ao paciente e posicioná-lo adequadamente


▪ Estar paramentado, não precisa usar luva estéril!
▪ Ejetar soro fisiológico numa seringa de 20ml para limpar a sonda após realizar a aspiração
▪ Destravar a válvula de segurança do trach care e na sequência conectar a extensão (mangueira) do aspirador no trach care
▪ Ligar o vácuo
▪ Iniciar a introdução da sonda no traqueostomo (estabelecer a pré-medida: retrair de 1 a 2 cm para somente assim liberar o vácuo
apertando a válvula do sistema)
▪ Realizar movimentos lentos de vai e vem e retirar lentamente a sonda. Este passo não deve ultrapassar 10 seg!!!
▪ Se necessário, repetir o processo
▪ Ejetar o soro no orifício lateral do trach care, visando limpar a sonda, ao mesmo tempo deve apertar a válvula e sugar. Tomar
cuidado para o soro não entrar pela cânula
▪ Travar a válvula de segurança. Desconectar o vácuo do sistema. Colocar a tampa protetora do trach care
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