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MÓDULO

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CAPÍTULO 8 – CONTROLE DAS VIAS AÉREAS

Garantir a permeabilidade das vias aéreas no doente traumatizado é prioridade inicial na fase pré-hospitalar,
uma vez que a ventilação prejudicada pode levar o indivíduo rapidamente à morte, o que torna necessária uma
abordagem rápida com dispositivos ventilatórios alternativos.

Breve anatomia e fisiologia


• O sistema respiratório, é formado pelas vias aéreas superiores e inferiores.
• Um adulto médio, inspira cerca de 500ml de ar mais somente 350ml de ar faz a troca gasosa, sendo que
150ml de ar fica aprisionado no espaço morto não fazendo parte da troca gasosa.
• Durante uma ventilação normal, numa frequência respiratória de 14 v/m temos, um volume minuto de
7.000ml ou 7 litros de ar dentro dos pulmões.

Constituição das vias aéreas

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A troca gasosa ou Hematose é feita por compensação de pressão.

Fisiopatologia
O trauma pode comprometer o sistema respiratório de fornecer oxigênio adequado e eliminar dióxido de
carbono das seguintes formas:
1- Hipoventilação
2- Hipoxemia
3- Hipóxia

As três formas envolvem hipoventilação decorrente da redução do volume /minuto. Se não tratada, a
hipoventilação causa acúmulo de dióxido de carbono, acidose e, por fim, morte.

Avaliação da via aérea e ventilação


A avaliação necessária para seu tratamento eficaz. Um doente que está alerta e conversa conosco, apresenta
via aérea aberta e desobstruída. Mas quando o nível de consciência do doente é reduzido, é essencial avaliar, forma
minuciosa, a via aérea antes das demais lesões.

Posicionamento da via aérea e do doente


• Quando você tiver contato visual com o doente, observe seu posicionamento. Os doentes com posição
supina são suscetíveis à obstrução da via aérea pela queda da língua.
• Qualquer doente que apresenta queda do nível de consciência deve ser reavaliado constantemente até a
chegada ao hospital.
• Indivíduos com trauma de face com hemorragias ativas devem ser cuidadosamente tratados para evitar a
bronco aspiração.

Sons e ruído de via aérea superior


Sons e ruídos da via aérea superior nunca é bom sinal, estes sons frequentemente podem ser ouvidos ao se
aproximar do doente e tendem a ser causados pela obstrução parcial, seja pela língua, pelo sangue ou corpos
estranhos.

Exame de via aérea para detectar obstrução


Procure, na cavidade bucal do doente, qualquer material estranho ou malformação anatômica, secreção ou
sangue. Remova os corpos estranho encontrados e aspire com sonda ponta rígida os conteúdos encontrados como
sangue e secreções.

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Tratamento
O tratamento das vias aéreas em acidentes com trauma é uma condição essencial, uma que sem uma via aérea
adequada, não é possível atingir um resultado positivo na ressuscitação de uma paciente traumatizado. O tratamento
da via aérea pode ser um desafio, mas na maioria dos pacientes, os procedimentos manuais e simples, uma ves que
estes, dependendo da situação, podem levar a um melhor resultado para o paciente. Os socorristas pré-hospitalares
sempre precisam avaliar os riscos e benefícios de se realizar procedimentos complexos e altamente invasivos. Tais
procedimentos requerem um alto grau de proficiência e supervisão do diretor médico. Jamais devem ser iniciados sem
necessidade.

Técnicas específicas
• Manual: Métodos de abertura de via aérea são os mais fáceis e não requerem equipamentos, além das mão
do socorrista. A via aérea pode ser mantida com esses métodos, ainda que o paciente apresente reflexo de vomito.
Não há contraindicações para o uso das técnicas manuais no tratamento do paciente traumatizado. Exemplos deste
tipo incluem elevação do mento (Chin Lift) e a tração de mandíbula (Jaw Thurust). (Instruções encontram-se
nas páginas 108 e 109 do cap. 9).

• Simples: método que envolve o uso de dispositivos auxiliares que requerem apenas um equipamento, e a
técnica para a inserção deste dispositivo requer treinamento mínimo. Os riscos associados com o uso são
extremamente baixos comparados com o potencial beneficio da manutenção da via aérea do paciente. O
posicionamento incorreto é facilmente reconhecido e corrigido.

Cânula Orofaríngea Cânula Nasofaringea

• Complexa: Incluem aqueles métodos que requerem treinamento inicial significativo e uma educação
continuada para assegurar a continua proficiência. Requerem vario tipos de equipamentos e o possível uso de drogas
farmacêuticas. Sendo assim de responsabilidade Médica.

Cânula de traqueostomia Máscara laríngea (ML) Combitube Tubo endotraqueal

Laringoscópio
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Equipamentos
• Cânula orofaríngea
• Cânula nasofaringea
• Tubo endotraqueal
• Máscara laríngea
• Tubo esofágico traqueal / Tubo supraglótico (Combitube)
• Ventilação percutânea
• Cânula de traqueostomia

CÂNULA OROFARÍNGEA (GUEDEL)


• O recurso artificial mais comumente utilizado é a cânula orofaríngea (COF).
• A COF, pode ser inserida de forma direta ou invertida.

Contraindicações e Complicações da COF


• Doentes conscientes ou semiconscientes é contra indicado.
• Complicações: pode estimular reflexo de vômito e laringospasmo em paciente consciente.

Técnica para introdução da COF


• Um socorrista mantém a cabeça e o pescoço do doente, alinhados em posição neutra enquanto abre a via
área com a manobra da tração da mandíbula no trauma.
• Um segundo socorrista escolhe e mede apropriadamente a COF. A distância da comissura labial até o lóbulo
da orelha é uma boa estimativa do tamanho adequado.

CÂNULA NASOFARÍNGEA
A cânula nasofaringea (CNF) é um dispositivo flexível, de látex, que é inserido através de uma das narinas e ao
longo da curvatura da parede posterior da nasofaringe e orofaringe.
• Indicada: em doentes incapazes de manter a via aérea permeável.

Contraindicações e Complicações da CNF


• Em doentes que não tenha necessidades de acessório para via aérea.
• A introdução da cânula pode provocar hemorragias

Técnica de introdução da CNF


• O primeiro socorrista posiciona a cabeça e o pescoço do doente alinhados em posição neutra e mantém a
estabilização em quanto abre a via aérea com a manobra da tração da mandíbula no trauma. O segundo socorrista
examina as narinas do doente com uma lanterna e escolhe a que for mais larga e menos desviada ou obstruída.
Escolhe o tamanho da CNF adequado à narina, um tamanho com diâmetro um pouco menor que o tamanho da
abertura da narina.
• A CNF deve ser longa o bastante para proporcionar uma passagem de ar entre a língua e a parte posterior
da faringe. A distância entre o nariz e o lóbulo da orelha é uma boa estimativa do tamanho adequado.
• A ponta da CNF deve ser lubrificada com xilocaína gel, a introdução deve seguir o formato anatômico da
CNF, se encontrar resistência deve fazer um movimento para frente e para traz cuidadosamente com a CNF entre os
dedos, se persistir a resistência a CNF deve ser retirada, e introduzida na outra narina.
• O segundo socorrista continua a introdução até que a extremidade com abas da CNF esteja próxima à
entrada da narina ou que o doente apresente reflexo de vômito. Se o doente apresentar reflexo de vômito, a CNF é
retirada parcialmente.

INTUBAÇÃO OROTRAQUEAL
É o método preferível para se conseguir o controle máximo da via aérea em doentes traumatizados que estejam
tanto apneicos quanto necessitando de ventilação assistida.

Indicação
• Este procedimento é de total competência médica
• Indicações: doente incapaz de proteger a via aérea, problemas graves de oxigenação que necessita de
administração de altas concentrações de oxigênio, ventilação assistida e rebaixamento do nível de consciência, escala
de Glasgow igual ou menor que 8.

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TUBO ESOFÁGICO TRAQUEAL (COMBITUBE)
Consiste num dispositivo composto de 2 tubos em paralelo. O tubo número 1, com cuff proximal, e um tubo
número 2, com cuff distal. A intubação ocorre às cegas. Com isso, na maioria dos casos (mais de 90% dos casos),
intuba-se o esôfago. Após a inserção do tubo, insufla-se primeiro o cuff proximal com 85ml de ar e, após, o cuff distal
com 12ml de ar. Conecta-se o dispositivo bolsa-válvula-máscara ao tubo número 1 e realiza-se a ventilação dos
pulmões.
Caso haja a expansão do tórax, o tubo foi inserido no esôfago e, portanto, deve-se manter a ventilação por
este tubo. Caso não haja expansão do tórax ao ventilar pelo tubo número 1, o tubo foi para a traqueia; e, portanto,
deve-se ventilar o paciente pelo tubo número 2 e observar a expansão do tórax.
Como observado na abaixo, quando se intuba o esôfago, ocorre um isolamento deste e o ar passa pelas
fenestrações do tubo, ventilando os pulmões.

MÁSCARA LARÍNGEA
• A máscara laríngea é mais uma alternativa para controle da via aérea em doentes infantis e adultos
inconscientes ou com depressão acentuada do nível de consciência. O dispositivo consiste em um tubo de silicone.
Quando em posição, o anel proporciona uma vedação de baixa pressão entre a ML e a abertura da glote sem que haja
a inserção direta do dispositivo na laringe.
• Este procedimento é realizado pelos profissionais médicos e enfermeiros habilitados.

Indicações
• Usar quando não for possível fazer a Intubação traqueal e o doente não puder ser ventilado com bolsa-
valva-máscara.

Vantagens da ML
• O dispositivo foi desenvolvido para introdução às cegas. Não é necessária a visão direta da traqueia ou das
cordas vocais.
• Com limpeza e conservação adequadas, a ML pode ser reutilizada várias vezes e já estão disponíveis ML
descartáveis.
• A ML está disponível em vários tamanhos, o que permite que sirva tanto para doentes pediátricos quantos
para adultos.

Contraindicações e Complicações da ML
• Possibilidade de fazer Intubação traqueal ou se o profissional não for habilitado.
• Bronco aspiração, pois ela não protege a traqueia e laringospasmo.

VENTILAÇÃO PERCUTÂNEA TRAQUEAL


A ventilação percutânea traqueal é um método usado em raras situações, usando um cateter percutâneo
transtraqueal, de fácil utilização e que requer poucos equipamentos, além de não serem necessárias incisões e ser
mínima a necessidade de treinamento, porém é um procedimento que só um profissional médico é habilitado a fazer.

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TRAQUEOSTOMIA
• A traqueostomia é um procedimento cirúrgico, mais conhecida como via aérea cirúrgica, onde é feito uma
abertura na traqueia do doente e é instalado uma cânula de traqueostomia, permitindo a passagem do ar. Este
procedimento é feito pelo profissional médico habilitado.

Equipamentos para ventilação


• Máscara com reservatório
• Bolsa-válvula-máscara

MÁSCARA COM RESERVATÓRIO


Uma máscara com reservatório de oxigênio é o dispositivo de oferta de escolha quando altas concentrações de
oxigênio são necessárias a um doente respirando espontaneamente. Dependendo do padrão respiratório do doente,
concentração de oxigênio de até 100% pode ser ofertada quando é usado o fluxo de oxigênio tipicamente de 10 a 15
L/min, o que previne o colabamento completo da bolsa de reservatório na inspiração.

Vantagens e desvantagens da máscara com reservatório


• Vantagens: oferta uma concentração de oxigênio maior que o cateter nasal, fácil manuseio, o oxigênio
inspirado não mistura com o ar ambiente.
• Desvantagens: só pode ser usada em doentes com respiração espontânea, não é bem aceita em doente
com dispneia grave, dificulta escutar o que o doente está falando, deve ser ajustar-se confortavelmente na face do
doente para previne que o ar ambiente se misture com o oxigênio.

BOLSA-VALVA-MÁSCARA
Um dispositivo BVM consiste em uma bolsa auto inflável; uma valva unidirecional sem reinalação com um
adaptador que pode ser acoplado à máscara, tubo traqueal ou outro dispositivo invasivo de via aérea; e uma valva de
entrada de oxigênio. Conhecido popularmente entre os profissionais da saúde como (AMBU).

Vantagens e desvantagens da BVM


• Vantagens: oferece mistura enriquecida com oxigênio, o socorrista tem uma noção da complacência
pulmonar do doente, suporte ventilatório imediato, pode ser usado em doentes com respiração espontânea.
• Desvantagens: requer pratica para o uso efetivo, fadiga do socorrista, distensão gástrica.

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ANOTAÇÕES

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CAPÍTULO 9 - OBSTRUÇÃO DAS VIAS AÉREAS POR CORPO ESTRANHO (OVACE)

No meio médico, engasgo ou obstrução de vias aéreas por corpo estranho (OVACE) é o bloqueio da traqueia
de uma pessoa por um objeto estranho, vômito, sangue ou outros fluidos.
Engasgo é considerado uma emergência médica. Em casos severos, o engasgo pode levar a pessoa à morte por
asfixia ou deixá-la semiconsciente ou inconsciente por um tempo. Nessa situação, deve-se agir rápida e precisamente
para evitar complicações. Em casos mais graves, deve-se chamar uma ambulância rapidamente, para uma
intervenção médica de emergência. Na maioria dos casos, no entanto, aconselha-se proceder conforme abaixo.

Causas de Obstrução das Vias Aéreas


• No bebê: principalmente líquidos
• Na criança: objetos sólidos (alimentos, pequenos objetos, peças de brinquedos, etc.)

Definições
• Bebê (lactente): < 1 ano
• Criança: de 1 ano até início da puberdade - menina: broto mamário - menino: pelos axilares
• Início súbito de angústia respiratória
Tosse
• Restrição para falar
• Respiração ruidosa (estridor)
Chiado

Início súbito de grave dificuldade respiratória, na ausência de febre ou sintomas respiratórios, sugere OVACE.

Como reconhecer a OVACE?


Classificação da obstrução
• Leve: vítima ainda consegue tossir e emitir alguns sons.
• Grave: vítima não consegue tossir ou emitir qualquer som.

Perguntar: “Você está engasgado?”


Procedimentos:
• Não interferir
• Acalmar a vítima
Incentivar tosse vigorosa
Observar atenta e constantemente
• Se evoluir para obstrução grave: intervir

Manobra de Heimlich
A Manobra de Heimlich é o melhor método pré-hospitalar de desobstrução das vias aéreas superiores por
corpo estranho. Essa manobra foi descrita pela primeira vez pelo médico estadunidense Henry Heimlich em 1974 e
induz uma tosse artificial. Também é conhecida como compressão abdominal, que consiste em se colocar atrás da
vítima engasgada e provocar a expulsão do objeto da traqueia da vítima efetuando uma forte pressão na boca do
estomago.
Em maio de 2012, 6 meses antes de falecer, Dr. Henry aos seus 86 anos, salvou a vida de uma colega de
residência de idosos utilizando a sua famosa “manobra”.

Obstrução Leve: criança responsiva Sinais e Sintomas:


• Não consegue tossir (tosse silenciosa ou não efetiva)
• Não emite qualquer som
• Início súbito de grave dificuldade respiratória
• Sinal de angústia (sinal universal da asfixia): leva a mão ao pescoço

Criança responsiva com Obstrução Grave Procedimentos


• Abaixar-se, posicionando-se atrás da criança;

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• Fechar uma das mãos em punho e posicioná-la no abdome da vítima, na linha média, acima do umbigo e
abaixo do apêndice xifoide sem toca-lo, com o polegar voltado para o abdome, colocando a outra mão sobre esta;
• Aplicar compressões rápidas, pressionando para dentro e para cima, na região acima da cicatriz umbilical;
• Realizar as manobras até a saída do objeto ou até a criança tornar-se não responsiva;
• Dosar a força aplicada.

Criança responsiva com Obstrução Grave Procedimentos


• Checar responsividade: não responsiva;
• Checar respiração: respiração ausente ou anormal (gasping);
Pedir ajuda: acionamento do 192 ou 193;
Checar pulso, (se ausente)
Iniciar RCP

Procedimentos
• Colocar a criança sobre superfície rígida;
• Realizar 30 compressões torácicas (1 profissional) ou 15 (2 profissionais);
• Abrir as vias aéreas (com inclinação da cabeça e elevação do queixo);
• Antes de oferecer ventilações:
• Inspecionar a cavidade oral, retirando o objeto, se visível e facilmente alcançável;

Obstrução Grave: criança torna-se não responsiva


Procedimentos
• Ventilar uma vez e se o ar não passar (ou seja, o tórax não expandir)
• Reposicionar a cabeça;
• Abrir as vias aéreas;
• Ventilar novamente e se o ar não passar.

Bebê responsivo com obstrução grave - Sinais:


• Início súbito de grave dificuldade respiratória;
Choro fraco ou silencioso;
• Tosse silenciosa ou não efetiva.

Procedimentos
• Realizar ciclos repetidos de 5 golpes no dorso (entre as escápulas) seguidos de 5 compressões torácicas
(logo abaixo da linha intermamilar), até que o objeto seja expelido ou a vítima tornar-se não responsiva.
• Bebê responsivo com obstrução grave
• Checar a responsividade: não responsivo;
• Checar a respiração: ausente ou anormal (gasping);
Pedir ajuda: acionamento do 192 ou 193;
Checar pulso, (se ausente)
Iniciar RCP.

Bebê não responsivo com obstrução grave


Procedimentos
• Colocar o bebê sobre superfície rígida;
• Realizar 30 compressões torácicas (1 profissional) ou 15 (2 profissionais); sobre o esterno, logo abaixo da
linha intermamilar;
• Abrir as vias aéreas (com inclinação da cabeça e elevação do queixo);
• Antes de oferecer ventilações:
• Inspecionar a cavidade oral, retirando o objeto, se visível e facilmente alcançável;

Bebê não responsivo com obstrução grave


Procedimentos
• Ventilar uma vez e se o ar não passar (ou seja, o tórax não expandir)
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• Reposicionar a cabeça;
• Abrir as vias aéreas;
• Ventilar novamente e se o ar não passar...
• Realizar 30 compressões torácicas (1 profissional) ou 15 compressões (2 profissionais);
• Repetir ciclos de compressões e ventilações até que o objeto seja expelido;

Manobra de Desobstrução em Bebês (tapotagem)

Manobra de Heimlich em Crianças Manobra de Heimlich em Adulto

Manobra de Heimlich com vitima deitada

Manobra de Heimlich sozinho

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ANOTAÇÕES

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CAPÍTULO 10 – CHOQUE

“Um desarranjo grosseiro da maquinaria da vida”. (Samuel Gross)


“Uma pausa momentânea no ato da morte”. (John Collins)

Definição
• Estado de colapso e falência do sistema cardiovascular;
• Leva a uma circulação inadequada;
• Sem fluxo adequado de sangue, as células não podem realizar seu metabolismo;

Como resultado da hipoperfusão, há falência de células, órgãos e sistemas.

CHOQUE é a ausência de perfusão tecidual (oxigenação) em nível celular.


Progressão do Choque:
Choque compensado: Quando o corpo compensa a perda de sangue.
• Choque descompensado: Um estado tardio de choque quando a pressão sanguínea está caindo.
• Choque irreversível: O estado terminal.

Objetivos
• Revisar a anatomia e fisiologia do sistema circulatório;
• Definir perfusão e a sua importância para a sobrevida da vítima;
• Reconhecer os tipos de ferimentos e as formas de controle de hemorragia;
• Conhecer os tipos de choque e os tratamentos para cada um deles
• Reconhecer a vítima em choque e definir seu tratamento.

Anatomia e Fisiologia
• Anatomia do Sistema Cardiovascular
• O sistema cardiovascular é responsável por suprir e manter o fluxo adequado de suprimento sanguíneo.

Consiste em três partes:


• Coração (bomba);
• Vasos sanguíneos (container);
• Sangue e fluidos corpóreos (fluídos).

Sistema Cardiovascular

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Fisiologia
Metabolismo: o motor humano.
• Metabolismo aeróbico.
• Metabolismo anaeróbico.
• Princípio de Fick.
• Carregamento de oxigênio pelas hemácias no pulmão;
• Distribuição de hemácias pelas células teciduais;
• Descarregamento de oxigênio das hemácias para as células teciduais.

Coração

Vasos Sanguíneos

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Principais Artérias e Veias

Veias Artérias

Hemorragias

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Sangue

O sangue contem:

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Perfusão
• Circulação entre tecidos em quantidade adequada para suprir as necessidades celulares de oxigênio e
nutrientes e remover o resíduo;
• Alguns tecidos e órgãos precisam de um suprimento constante de sangue enquanto outros podem
sobreviver com pouco sangue quando em repouso;
• O coração demanda um suprimento constante de sangue;
• O cérebro e a coluna espinhal podem ficar de 4 a 6 minutos sem perfusão;
Os rins podem sobreviver 45 minutos;
• Os músculos esqueléticos podem durar 2 horas.

Triângulo da Perfusão

• Coração (função de bomba) Danos ao coração causados por doenças ou ferimentos. Não pode mover o
sangue adequadamente para perfusão adequada.
• Vasos Sanguíneos (função de container) Se todos os vasos se dilatam ao mesmo tempo, o volume médio
normal de sangue não é suficiente para encher o sistema e prover perfusão adequada para o corpo.
• Sangue (função de preenchimento) Se sangue ou plasma é perdido, o volume não será suficiente para a
perfusão necessária no corpo.

Esfíncter Capilar
• Regula o fluxo sanguíneo pelos capilares;
• Os esfíncteres estão sob o comando do sistema nervoso autônomo;
• A regulação do fluxo sanguíneo é determinada pelas necessidades celulares.

Tolerância Orgânica à Isquemia.


Isquemia – ausência de oxigênio.

Regra de 3 da sobrevivência:
▪ 3 minutos sem O2
▪ 3 horas em exposição a frio/calor extremo
▪ 3 dias sem água
▪ 3 semanas sem comida
▪ 3 meses se convívio com outro ser humano
▪ 3 segundos para responder a um perigo imediato

TIPOS DE CHOQUE

CHOQUE CARDIOGÊNICO (Função inadequada do coração ou falência da bomba)


Causas Intrínsecas (lesão direta do próprio coração):
• Lesão do músculo cardíaco – infarto;
Arritmia;
• Disfunção valvular: pancada súbita e forte que comprima o tórax ou o abdome.

Causas Extrínsecas (problemas fora do coração):


• Tamponamento pericárdico;
• Pneumotórax hipertensivo.

Tratando o Choque Cardiogênico


• O paciente pode respirar melhor na posição sentado ou semi-sentado;

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• Administre fluxo alto de oxigênio;
• Ventile se necessário;
• Tenha aparelho de sucção caso o paciente vomite;
Transporte prontamente.

CHOQUE HIPOVOLÊMICO (Falência do conteúdo sanguíneo):


Resulta da perda de fluidos ou sangue;
• O sangue é perdido por hemorragia externa ou interna;
Queimaduras severas por calor causam perda de plasma;
• Mais comum no pré-hospitalar;
• Desidratação agrava o choque.

Tratando Choque Hipovolêmico


• Controle hemorragia óbvia;
• Reposição volêmica;
• Imobilize qualquer fratura óssea ou ferimento em juntas;
• Compressão de hemorragias externas;
• Assegure e mantenhas as vias aéreas;
• Assim que você suspeitar de choque, dê oxigênio;
Transporte rapidamente;
• Elevação das pernas já não é mais recomendada (órgãos abdominais comprimem o diafragma, prejudicando
a respiração).

Classificação do CHOQUE HEMORRÁGICO

CHOQUE DISTRIBUTIVO: O espaço vascular é maior do que normal (Disfunção dos vasos)

CHOQUE NEUROGÊNICO
• Danos a coluna cervical podem afetar o controle do tamanho e tônus muscular dos vasos sanguíneos;
• O sistema vascular aumenta (o sangue presente no corpo não pode preencher o sistema aumentado e
ocorre choque neurogênico);
• Caracterizado pela diminuição das pressões sistólica e diastólica.

Tratando o Choque Neurogênico


• Mantenha as vias aéreas e assista a respiração se necessário;
Mantenha o paciente quente;
Transporte prontamente.

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CHOQUE SÉPTICO
Combinação de disfunção dos vasos e perda de conteúdo (choque séptico):
• Alguns pacientes com infecções bacterianas severas, toxinas ou tecidos infectados contraem choque séptico;
• As toxinas causam danos as paredes dos vasos, causando perda da habilidade de contração;
• A perda da dilatação dos vasos e a perda de plasma causam choque.

Tratando o Choque Séptico


• Transporte o mais rápido possível e dê todo suporte disponível;
• Assegure alta taxa de oxigenação durante o transporte;
Use cobertores para conservar a temperatura do corpo.

CHOQUE ANAFILÁTICO
• Ocorre quando uma pessoa reage violentamente a uma substância;
• É uma grave reação alérgica;
• Quatro categorias de causas comuns: injeção, picada, ingestão e inalação.

Tratando Choque Anafilático


Administre adrenalina;
Providencie transporte prontamente;
• Providencie todas as possibilidades de suporte (oxigênio e assistência ventilatória).

CHOQUE PSICOGÊNICO (VASOVAGAL)


• Causado por uma reação súbita do sistema nervoso que produz uma dilatação vascular temporária e
generalizada;
• A estimulação do décimo nervo craniano (o Vago) provoca bradicardia.
• Comumente associado a síncope (desmaio);
• Pode ser causada por casos sérios de: batimento irregular do coração, aneurisma cerebral.

Tratando Choque Psicogênico


• Normalmente é resolvido pela própria pessoa;
Procure por ferimentos por queda;
• Se o paciente continua a ter dificuldades mesmo após retornar a consciência, suspeite de outro problema.

SINAIS E SINTOMAS DA PROGREÇÂO DO CHOQUE

Choque Compensado:
• Agitação;
Ansiedade;
• Agitação;
Sentimento de desmaio iminente;
Estado mental alterado;
Pulso fino;
• Pele úmida;
Palidez;
• Respiração rápida, rasa;
• Respiração curta;
• Náusea ou vômito;
Demora de preenchimento capilar.

Choque Descompensado:
• Diminuição da pressão sanguínea (< 90 mmHg em um adulto);
• Respiração irregular;
• Pele cinza, cianótica;
Pulso fraco ou ausente;
Olhos sem movimento, pupilas dilatadas;
• Pequeno volume urinário.

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Choque Irreversível:
• É o estado terminal do choque;
• Uma transfusão de qualquer tipo pode não ser suficiente para salvar a vida do paciente.

Sinais associados aos tipos de Choque

TRATAMENTO PARA CHOQUE

As seguintes etapas compõem o tratamento de choque:


• Garantia da oxigenação (via aérea e ventilação adequadas);
• Identificação de hemorragias (controle de hemorragias externas);
• Administração de fluídos durante o transporte;
• Compressão direta no local da hemorragia;
• Torniquetes;
• Agentes hemostáticos tópicos;
• Vestimenta pneumática antichoque – PASG;
• Transporte ao centro de atendimento definitivo.

Hemorragia Externa / Interna


Hemorragia = Escoamento de sangue para fora dos vasos.
• A hemorragia externa é aquela em que o sangue se espalha pelo exterior do corpo;
• A hemorragia interna é aquela em que o sangue se espalha nos tecidos ou nas cavidades naturais do
corpo;
O corpo não pode tolerar mais de 40% de perda do volume sanguíneo, em adulto equivale cerca de 2.000 ml. A
maioria dos doentes nesse caso não consegue compensar a perda de volume e ocorre hipotensão e demais sinais
choque hipovolêmico.
• Em um adulto típico, 20% correspondem a 1 litro;
• Uma criança de 1 ano normalmente tem 800 ml de sangue. A perda de 200 ml é significante.

Coagulação Sanguínea
• O sangramento normalmente finaliza dentro de 10 minutos;
• Alguns medicamentos interferem na coagulação;
• Alguns ferimentos podem ser incapazes de coagular;
• Pacientes com hemofilia têm deficiência em fatores de coagulação.

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ANOTAÇÕES

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CAPÍTULO 11 – LESÕES ESPECÍFICAS

Lesões em Tecidos Moles

Anatomia E Fisiologia Do Sistema Tegumentar

Principais funções do sistema tegumentar:


• Proteção mecânica;
• Recepção de estímulos externos;
• Regulação da temperatura;
• Respiração;
• Excreção;
• Identificação sexual;
• Favorece a síntese de vitamina D com significante exposição à luz solar

Epiderme:
É a camada mais superficial da pele, ou seja, a que está diretamente em contato com o exterior.
• Anexos da epiderme: Dentes; Unhas e Pelos.
A epiderme penetra na derme e origina os folículos pilosos, glândulas sebáceas e glândulas sudoríparas.

Derme:
Localizada imediatamente sob a epiderme, é um tecido conjuntivo que contém fibras proteicas, vasos
sanguíneos, terminações nervosas, órgãos sensoriais e glândulas.
• Na derme encontramos ainda: músculo eretor de pelo, fibras elásticas (elasticidade), fibras colágenas
(resistência), vasos sanguíneos e nervos.

Tecido subcutâneo:
Sob a pele, há uma camada de tecido conjuntivo frouxo, o tecido subcutâneo, rico em fibras e em células que
armazenam gordura (células adiposas).
• A camada subcutânea, denominada hipoderme, atua como reserva energética, proteção contra choques
mecânicos e isolantes térmicos.

Unhas e pelos
• Unhas e pelos são constituídos por células epidérmicas queratinizadas, mortas e compactadas.
• Na base da unha ou do pelo há células que se multiplicam constantemente, empurrando as células mais
velhas para cima. Estas, ao acumular queratina, morrem e se compactam, originando a unha ou o pelo.
Cada pelo está ligado a um pequeno músculo eretor, que permite sua movimentação, e a uma ou mais
glândulas sebáceas, que se encarregam de sua lubrificação.

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Ferimentos fechados (contusos):
- Tecidos moles se rompem abaixo da pele.
• Contusão
Resultado de golpe incisivo lesionando o tecido

• Hematoma
Região de sangue que foi coletada no tecido.

Ferimentos abertos (penetrantes):


- Injúria na superfície da pele.
• Abrasões
Causadas por fricção: Ex: Queda de moto.

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• Laceração
Corte profundo.

• Ferimento por Esmagamentos


Ocorre quando uma grande quantidade de força é aplicada ao corpo.

• Ferimento por Esmagadura Aberto


Pode envolver órgãos internos danificados ou ossos internos fraturados.

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• Avulsão
É a extração de um órgão ou parte dele com violência.
• Imobilize a amputação parcial com chumaço e tala.
• Enrole a parte extraída completamente em curativo seco e estéril e coloque em bolsa plástica.
• Transporte a parte amputada com paciente.

Amputações
É a remoção de uma extremidade do corpo mediante cirurgias ou acidentes.
Em acidentes, comum em fábricas, fazendas e em acidentes de automóveis, existem várias complicações
decorrentes;
Quando um membro é amputado parcialmente, podem ainda existir partes de tecido mole para uma eventual
reparação. De modo geral muitos membros podem ficar presos em um local, se não possível a retirada do objeto que
esteja sobre o membro e a vitima apresentar grande risco a vida, a amputação deve ser realizada no local por um
médico cirurgião.
• Imobilize a amputação parcial com chumaço e tala.
• Enrole a amputação completamente em curativo seco e estéril e coloque em bolsa plástica.
• Transporte a parte amputada com paciente.

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• Ferimento por Penetração
Resultados de um objeto fino e pontiagudo.

Objetos Encravados
• Não tente mover ou remover o objeto;
• Controle o sangramento e estabilize o objeto.
• Enrole com fita um item em volta do objeto para prevenir movimentação.
• Transporte ao hospital cuidadosamente.

• Ferimentos por Arma de Fogo (FAF)


Ferimentos por armas de fogo têm características únicas.

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• Controlando Hemorragia Externa
Siga as precauções:
• Assegure que o paciente tem vias aéreas abertas e respiração adequada;
• Supra com oxigênio se necessário;
• Existem diferentes métodos para controlar uma hemorragia;
• Combine os métodos para uma melhor eficiência.
• Pressão direta é o meio mais comum e mais efetivo para controlar hemorragia;
• Aplique pressão com os dedos ou a mão protegidos por luva;
• Aplique um pano tecido estéril para fazer pressão.

Aplicação de Gelo
• Diminui o sangramento por vasoconstrição;
• Previne a equimose;
• Evitar a aplicação direta de forma prolongada.

Aplicando um Torniquete
• Utilize uma bandagem triangular dobrada;
• Envolva o braço com a bandagem;
• Use um graveto como alavanca para torcer e segurar o graveto;
• Escreva o horário. Coloque no paciente.

Precauções com Torniquete


• Coloque o mais próximo possível da ferida, mas não próximo a articulações;
• Use acolchoamento abaixo do torniquete;
• Nunca cubra um torniquete com bandagem;
• Uma vez aplicado, não afrouxe o torniquete.

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Ferimentos Abdominais
• Ferimento aberto no abdômen pode expor os órgãos.
• Órgão saindo pelo abdômen é denominado evisceração.

Tratamento de Ferimento Abdominal


• Não toque órgãos expostos.
• Cubra os órgãos com um curativo estéril e úmido.
• Transporte imediatamente.

• Hemorragia Interna
Hemorragia interna pode não aparecer imediatamente.

Avalie:
• Mecanismos de ferimento;
• Natureza da doença.

Sinais e Sintomas de Hemorragia Interna:


• Equimose: extravasamento de sangue para a pele;
• Hematoma: sangramento sob a pele;
• Hematêmese: sangue no vômito;
• Melena: fezes negras, como piche;
• Hemoptise: expectoração sanguínea através da tosse;
• Dor, torção, elevação abdominal;
• Costelas quebradas, distensão abdominal

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Sinais de Hipoperfusão
• Mudanças no estado mental;
• Taquicardia;
• Fraqueza;
• Sede;
• Náusea ou vômito;
• Pele fria, úmida;
• Respiração rápida, rasa;
• Olhos inertes;
• Pupilas dilatadas;
• Pulso rápido, debilitado;
• Diminuição da pressão sanguínea;
• Nível de consciência alterado.

Condições com Possíveis Hemorragias Severas


• Mecanismo de ferimento importante;
• Aparência geral do paciente crítica;
• Atendimento revela sinais de choque;
• É notada perda significante de sangue;
• A perda de sangue é rápida.

Tratamento de Emergência
• Siga as precauções;
• Mantenhas as vias aéreas e administre oxigênio;
• Controle hemorragia externa e fique atento a qualquer sangramento interno;
• Monitore os sinais vitais;
• Peça auxílio do suporte avançado, se necessário;
• Transporte imediatamente.

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ANOTAÇÕES

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