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O Início de Tudo: Um Breve Contexto Histórico

Conteudista: Prof. Me. Edson Elias


Revisão Textual: Esp. Vinicius Oliveira

Objetivo da Unidade:

Conhecer a origem do termo e das primeiras aplicações práticas dos


procedimentos de primeiros socorros (PS).

ʪ Material Teórico

ʪ Material Complementar

ʪ Referências
1 /3

ʪ Material Teórico

Introdução
Quero iniciar fazendo uma pergunta simples: “Você, por acaso, já precisou aplicar, em algum
momento da sua vida, algum procedimento de primeiros socorros numa vítima de acidente ou
mal súbito?”. Se sim, então posso perguntar outra coisa: “E aí, foi fácil e tranquilo?”. Bom, a
resposta eu até posso imaginar...

Não, certamente não foi nada fácil nem tranquilo. Porém, se sua resposta à minha primeira
pergunta foi não, ou seja, se você nunca aplicou nenhum procedimento de primeiros socorros,
posso imaginar que você não teria conhecimento ou autoconfiança suficiente para atuar nessa
situação.

Num caso ou no outro, fique tranquilo. Esta disciplina vai lhe proporcionar conhecimentos
teóricos e práticos sobre algo tão importante, mas tão pouco difundido: os primeiros
atendimentos a vítimas de mal súbito ou de acidente. No final você vai estar bem preparado para
atuar nas mais diversas necessidades.

Vamos começar? Você sabe de onde surgiu o termo “primeiros socorros”? Desde quando
existem e são aplicados?

O termo “primeiros socorros” é comumente utilizado para definir diversos procedimentos que
visam à preservação da integridade física, do bem-estar ou da vida em situações de risco
iminente, ou seja, em circunstâncias de urgência ou emergência.

Com sua origem registrada em 1859, os primeiros socorros nasceram por iniciativa do
filantropo suíço Jean Henry Dunant, que ficou impressionado e inconformado com o que
presenciou após a Batalha de Solferino, ao observar os sofrimentos de milhares de soldados
feridos, abandonados à própria sorte e sem nenhuma assistência. A campanha de Dunant
sensibilizou vários nomes de influência da época, inclusive o imperador Napoleão III, que deu
todo apoio ao projeto do filantropo suíço.

Figura 1 – Soldados no campo de batalha de Solferino em


24 de junho de 1859: assim começaram os primeiros
socorros.
Fonte: Wikimedia Commons

#ParaTodosVerem. Ilustração colorida mostra um campo de batalha onde um


grupo de vários soldados fardados, a cavalos, portando armas de canos longos
tipo rifles e espadas nas cinturas, estão voltados para o lado esquerdo do
cenário, observam vários homens caídos ao solo aparentemente feridos, à
frente do grupo, ao longe, alguns focos de incêndio emanam fumaças. Fim da
descrição.

Se houve algo de positivo nas Guerras Napoleônicas, com certeza foi a sensibilização para o
horroroso sofrimento dos soldados feridos no front. Por causa dela, teve início a campanha pela
criação da Convenção de Genebra, que mais tarde culminaria com a fundação da Cruz Vermelha.

Você Sabia?
Jean Henry Dunant foi o fundador do Movimento Internacional da
Cruz Vermelha, instituição filantrópica criada, inicialmente, para dar
assistência aos soldados feridos em guerra. Mais tarde, passou a
prestar auxílio a toda e qualquer pessoa necessitada devido a eventos
provocados pelo ser humano ou pela natureza, como terremotos,
inundações, epidemias, furacões, tsunamis etc. O Comitê Internacional
da Cruz Vermelha, ou simplesmente Cruz Vermelha, nasceu em 1864. A
sede fica em Genebra, terra natal de Dunant.

Ora, os primeiros procedimentos de atendimento pré-hospitalar foram aplicados aos soldados


feridos nos campos de batalha. Já pensou em como eram transportados até os hospitais de
campanha? Bom, primeiro vamos falar dos conceitos e depois voltamos à questão do transporte,
tudo bem?

O que são os Primeiros Socorros?


Uma das definições mais lidas e conhecidas de primeiros socorros diz que se trata do
atendimento imediato e primário prestado à vítima no próprio local da emergência, com intuito
de amenizar as dores e o sofrimento, ou até mesmo evitar que venha a morrer, e preservá-la até
a chegada de socorro especializado, o qual deve, obviamente, ser solicitado o quanto antes, para
efetuar o transporte da vítima a um ambiente hospitalar onde possa receber o tratamento
adequado.

Na literatura especializada, emprega-se também o termo “atendimento pré-hospitalar” (APH)


para se referir aos primeiros socorros, o que, aliás, não deixa de ser adequado, concorda?

Os primeiros socorros vêm evoluindo em suas formas de aplicações por causa do avanço
tecnológico. Embora haja tantos recursos tecnológicos para nos auxiliar nos atendimentos de
emergência, não podemos nos esquecer de que a interferência e a atuação humana nos
primeiros momentos são imprescindíveis e insubstituíveis.

Antes se acreditava que prestar bem os primeiros socorros era fazer a vítima chegar o mais
rápido possível até um hospital, independentemente de como seria transportada até lá. Isso
porque os serviços de atendimento pré-hospitalar implantados há pelo menos quatro décadas
nos países mais desenvolvidos (entre eles, o Brasil) se baseavam nos procedimentos aplicados
nos atendimentos aos feridos em batalhas, os quais priorizavam a remoção e o transporte para o
hospital de campanha o mais rápido possível.

Ainda bem que hoje a mentalidade é diferente. Compreende-se que, muito mais importante que
levar a vítima o quanto antes para um hospital, é levar até a vítima o hospital ou, pelo menos, os
melhores recursos disponíveis e, após prestar os primeiros socorros a ela, conduzi-la da forma
mais adequada para um hospital. Sabe-se também que a prestação dos primeiros socorros no
local da ocorrência reduz o período de internação hospitalar da vítima, que volta mais rápido às
suas atividades profissionais, o que resulta em um menor impacto na economia de toda a cadeia
envolvida no processo.

Você deve estar se perguntando: afinal, como os feridos eram transportados até os hospitais de
campanha?

Bom, naquela época, a única opção de transporte era por tração animal (daí você já pode
imaginar em que estado a vítima chegava). Quem teve essa brilhante ideia?
Em 1792, um médico-cirurgião, aliás, não um médico qualquer, e sim o médico do imperador
Napoleão Bonaparte, o barão Dominique Jean Larrey, identificou a necessidade de resgatar e
remover com maior rapidez para um hospital os soldados feridos durante as batalhas e projetou
a primeira ambulância da história. Sabe como ela foi chamada? De ambulância voadora. Meio
estranho esse nome, não acha? Se eram de tração animal, então por que esse nome?
Simplesmente porque eram bem leves e rápidas para a época.

O mais incrível é que, desde o começo, havia duas versões, uma mais leve, coberta e com duas
rodas, que transportava até duas vítimas, e a outra um pouco mais pesada, com quatro rodas,
puxada por quatro cavalos, a qual chegava a transportar de duas a quatro pessoas.

Figura 2 – Primeiras ambulâncias utilizadas no transporte


de feridos de guerra.
Fonte: Wikimedia Commons

#ParaTodosVerem. Desenho de uma carroça em preto e branco. A carroça é


fechada, coberta com capota e possui duas rodas. É puxada por dois cavalos
sendo um deles com sela. Fim da descrição.
Você Sabia?
O médico cirurgião Dominique Jean Larrey é considerado o pai da
medicina militar, não só pela criação das primeiras ambulâncias, mas
também por uma história muito bizarra. Conta-se que, em uma
pequena batalha, ele conseguiu amputar mais de duzentos braços e
pernas de soldados feridos sem ajuda de nenhum outro profissional. A
amputação era a melhor solução para que as vítimas não morressem de
hemorragias severas ou infecções.

Leitura
História da Medicina: a Origem das Ambulâncias
Conheça mais sobre a história da medicina e a origem das
ambulâncias.

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ACESSE
Felizmente, as coisas mudaram para melhor. Hoje em dia os serviços de atendimentos pré-
hospitalares contam, por exemplo, com equipamentos mais leves de corte para, em casos de
acidente automobilístico, acesso rápido a vítimas presas em ferragens e extração segura delas,
com dispositivos eletrônicos que facilitam a localização de pessoas soterradas após um colapso
de estruturas (desabamento), com aeronaves não tripuladas (drones) que possibilitam uma
visão panorâmica de um local em chamas ou a localização de pessoas acidentadas em áreas de
difícil acesso, além de cães farejadores, de helicópteros que prestam serviço aeromédico para
agilizar a remoção da vítima até o ambiente hospitalar, do desfibrilador externo automático
(DEA), equipamento de suma importância em situações de emergências cardíacas, entre tantas
outras tecnologias que vieram tornar menos penosa a árdua missão de salvar vidas em risco.

Saiba Mais
Algumas cidades do país têm dois tipos de serviços públicos de
atendimento pré-hospitalar: o SAMU (192) e o Resgate (193).

Os serviços de atendimento pré-hospitalar móvel, denominados Serviços de Atendimento


Móvel de Urgência (SAMU), foram normatizados no Brasil a partir de 2004 pelo Decreto
Presidencial n. 5.055, de 27 de abril de 2004. Foi o primeiro produto do Plano Nacional de
Atenção às Urgências, criado pelo Governo Federal em 2003.

O SAMU pode ser acionado através do telefone 192. Por esse motivo, é também conhecido como
SAMU 192. Esse serviço geralmente é custeado por convênio firmado entre o Ministério da
Saúde e as Secretarias de Saúde dos estados e municípios. Atua sob responsabilidade das
Secretarias de Saúde, e as equipes são compostas por profissionais da área da saúde (médicos
nas Unidades Avançadas e auxiliares técnicos de enfermagem nas Unidades Básicas).

Já o Resgate do estado de São Paulo, inicialmente chamado Projeto Resgate, foi criado em 22 de
maio de 1989 através da Resolução Conjunta SS-SSP 042/89, assinada em parceria com a
Secretaria de Segurança Pública e a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. O serviço é
prestado pelo Corpo de Bombeiros, sendo efetivamente operacionalizado em 1990 na Grande
São Paulo e em mais 14 municípios de São Paulo. O acionamento é feito pelo telefone 193, da
Central de Operações do Corpo de Bombeiros (COBOM).

As viaturas são tripuladas por bombeiros militares com especialização técnica em emergências
médicas e profissionais da área da saúde. Também há Unidades Básicas e Avançadas com a
mesma composição de médicos e enfermeiros do SAMU.

Leitura
A Comunicação entre os Serviços Médicos de Emergência Pré-
hospitalar e Intra-hospitalar: Revisão de Literatura
No Brasil, o sistema de atendimento pré-hospitalar foi regulamentado
com a promulgação da Portaria 2048, de 25 de novembro de 2002. Leia
mais a respeito a seguir:

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ACESSE
Agora que você já sabe da existência desses serviços de atendimento, eu lhe pergunto: você sabe
quando solicitar o SAMU ou o Resgate? É o mesmo serviço?

Na verdade, normalmente, essa não é uma decisão tão fácil de tomar, por isso muitas pessoas
ficam na dúvida, e não bom ter dúvidas em situações de urgência ou emergência, não é mesmo?

Para decidir o serviço a ser acionado, é preciso estabelecer um critério para a avalição da
gravidade da situação. Resumidamente, em caso de vítima de mal súbito, solicitar o SAMU; se
houver suspeita de que a vítima tenha algum trauma, é melhor chamar o Resgate.

Figura 3 – A integração dos sistemas de atendimento pré-


hospitalar no estado de São Paulo
Fonte: Reprodução

#ParaTodosVerem: Fotografia colorida de duas ambulâncias e cinco pessoas


erguendo do asfalto uma pessoa deitada numa prancha de resgate. Na imagem
há duas ambulâncias, posicionadas de frente, formando a letra “V”. À esquerda
está a ambulância vermelha, com a porta lateral de correr aberta. Nas laterais há
duas faixas horizontais largas, de cor amarela. Abaixo das faixas está escrito
“193” em amarelo. Na parte superior da frente do veículo, acima do para-brisa,
está escrito, em amarelo e em letras grandes, “Resgate”. Na parte inferior da
frente do veículo, está escrito, em amarelo e letras grandes, “Bombeiros”. À
direita está a ambulância de cor branca, com uma faixa horizontal larga de cor
vermelha nas partes superior e inferior da lateral. Entre as duas faixas laterais há
um símbolo e, ao lado dele, está escrito em letras grandes amarelas “SAMU” e,
logo abaixo, “192” em vermelho. Na parte superior da frente do veículo, acima
do para-brisa, está escrito de branco “SAMU” e “192” de forma invertida. Na
frente dos dois veículos, estão dois homens com o uniforme do Corpo de
Bombeiros e três homens com macacões azul-escuros. Eles começam a levantar
do solo uma pessoa deitada em uma prancha de resgate. No asfalto, ao redor do
grupo, há três bolsas de primeiros socorros e um cilindro metálico em pé, de cor
cinza com uma faixa de cor verde na parte superior. Um pequeno frasco plástico
está acoplado na parte superior do cilindro, próximo a uma válvula de registro.
Fim da descrição.

Em geral, o SAMU consegue atender muito bem os casos em que a vítima não está em local de
difícil acesso nem há suspeitas de trauma, pois as ambulâncias do SAMU não dispõem de
recursos materiais apropriados para um atendimento seguro para as equipes, as quais também
não são treinadas para operações de busca e resgate, enquanto as viaturas de Resgate do Corpo
de Bombeiros, tanto as de Suporte Básico como as de Suporte Avançado, possuem, além da
equipe especializada, os materiais e equipamentos que possibilitam acessar, imobilizar, resgatar
e transportar vítimas de lesão com trauma severo ou, simplesmente, de mal súbito. Ficou bem
mais fácil decidir agora, né?

Você Sabia?
No município de São Caetano do Sul localizado na região
metropolitana de São Paulo, existe uma Central Única de Emergência
chamada S.O.S. Cidadão que atende 24 horas pelo telefone 156, pelo
qual o munícipe consegue acionar vários serviços públicos de
emergência como Ambulância, Polícia Militar, Guarda Civil (GCM),
Defesa Civil e Trânsito. Trata-se de um canal de comunicação bem
parecido com o 911 dos Estados Unidos. Aqui no Brasil outros
municípios, como Londrina no Paraná, também estão buscando
implantar esse modelo de central de serviços que funciona de modo
muito mais abrangente, pois pode receber e direcionar rapidamente as
solicitações de serviços públicos de emergência, reduzindo aquela
preocupação ou dúvida sobre para qual número ligar em caso de uma
emergência.

Leitura
Samu e Resgate Atuarão em Conjunto para Atender Urgências em SP
Leia mais a respeito da possível parceria entre o SAMU e o Resgate na
matéria indicada a seguir:

Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE
Tão importante quanto saber para onde ligar em caso de emergência é saber quais informações
dizer. Ao solicitar um serviço de emergência, é necessário:

Identificar-se;

Citar a natureza da ocorrência: acidente pessoal, acidente automobilístico (neste


caso, o tipo dos veículos envolvidos, como carro, ônibus, caminhão, moto),
atropelamento etc.;

Dizer o endereço da ocorrência: nome da rua, avenida ou rodovia, número ou km,


bairro ou município, se for o caso;

Mencionar um ponto de referência: comércio, indústria, igreja, praça, etc.;

Descrever as condições da(s) vítima(s): se está em local de difícil acesso, presa


entre ferragens ou embaixo de um veículo, em um ambiente com fogo, fumaça ou
algum produto químico, se está gritando, gemendo, inconsciente etc.;

Descrever leões, hemorragias, fraturas etc.

Durante instruções, muitas pessoas já me fizeram perguntas assim: “Se eu atender a uma vítima
e ela não achar que foi bem atendida, ela pode me processar?”, “Se eu não me sentir seguro para
prestar o atendimento, posso responder por omissão de socorro?”. Talvez você já tenha tido
uma dessas dúvidas.

Pode ficar tranquilo, porque, embora não sejam duas situações impossíveis, são muito raras de
ocorrer. Além disso, o próprio Código Penal Brasileiro, no artigo 135, define omissão de socorro
da seguinte maneira: “Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal,
à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, em desamparo ou em grave e
iminente perigo; não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública”.

Observe que, na parte final do artigo, está descrito que, se você solicitar o apoio de uma
autoridade pública, você descaracteriza a omissão de socorro. Assim, basta ligar para 192 ou 193
e passar todas as informações necessárias sobre o fato ocorrido e o que mais o atendente lhe
pedir.

Não podemos esquecer ainda que a vítima tem o direito à recusa de ser atendida por você, caso,
sendo adulta, esteja em suas perfeitas faculdades mentais e em condições para decidir sobre a
questão; se estiver consciente, lúcida e orientada, porém for menor de idade, a recusa só pode
ser declarada pelos pais ou responsáveis presentes no local dos fatos. Em casos assim é
importante arrolar, no mínimo, duas testemunhas que comprovem a recusa ao atendimento,
por precaução, entende?

Em relação ao consentimento implícito, considera-se que a vítima, não tendo condições de se


manifestar contrária ao atendimento, aceita ser atendida sem restrições.

Uma tomada de decisão em um momento de alta tensão e adrenalina pode ser decisiva para a
segurança ou a sobrevivência tanto da vítima quanto do socorrista. Ei, espera um pouco aí, mas o
que é um socorrista? Bem, imagino que você já tenha identificado quem é essa figura neste
nosso contexto, certo?

Nesta nossa conversa, há outros termos que ainda vão surgir e cuja definição é importante que
você conheça.

Socorrista: socorrista é quem possui treinamento e


conhecimentos mais amplos e detalhados sobre procedimentos
de atendimento pré-hospitalar que os uma pessoa leiga. Cabe
lembrar que essa atividade está regulamentada pelo Ministério
da Saúde, pela Portaria 824 de 24 de junho de 1999;

Urgência: é uma situação em que o tempo gasto entre o momento em que a vítima é
encontrada e seu encaminhamento ao hospital deve ser o mais breve possível;

Emergência: é uma situação também grave e que necessita de atendimento médico,


porém não é necessariamente urgente;
Incidente: fato ou evento desastroso que não provoca mortes ou ferimentos, mas
que futuramente pode oferecer riscos;

Acidente: circunstância da qual resultam pessoas feridas, que necessitam de


atendimento, e/ou mortas;

Sinal: é toda informação obtida sobre a vítima a partir da sua observação;

Sintoma: toda informação obtida a partir de um relato da vítima, não sendo possível
detectá-la apenas observando.

Agora, você já pensou como será o futuro?

Em um futuro não tão distante, chegaremos a um momento em que um dispositivo ou até


mesmo um aplicativo de celular fará uma análise do quadro clínico ou traumático da vítima,
definirá um diagnóstico e transmitirá as informações a uma central, que, de maneira remota,
orientará e monitorará o atendimento.

Basta lembrar que hoje já temos a telemedicina, que praticamente faz exatamente isso. Trata-se
de uma nova forma de atendimento à distância, com trocas de informações entre o paciente e a
equipe médica. A telemedicina agiliza o diagnóstico e possibilita até mesmo a emissão de laudos
de exames médicos.

Como a tecnologia poderia auxiliar o atendimento pré-hospitalar?

É muito simples... Imagine uma pulseira que hoje já nos informa a quantidade de passos dados
em 24 horas, a frequência dos batimentos cardíacos e da respiração, a temperatura corporal, o
índice de açúcar no sangue e o nível de oxigênio. Uma pulseira desse tipo poderá facilmente
transmitir todas essas informações para uma nuvem ou uma central, na qual esses dados
poderão ser acessados e avaliados, e os resultados permitirão traçar um roteiro de
procedimentos simples para o socorrista no local.
Atualmente, o DEA, utilizado em emergência cardíaca, uma das mais graves situações, já é
autoexplicativo e, interagindo com o operador, consegue orientá-lo, passo a passo, no
atendimento (também vamos falar mais sobre isso adiante).

Isso sem falar das outras tecnologias avançadas que já fazem parte do nosso cotidiano, como a
nanotecnologia, inteligência artificial, o sequenciamento genético, a impressora 3D que já
consegue reproduzir peças anatômicas e até alguns órgãos para transplantes, a tecnologia 5G e
a internet quântica.

E aí ficou interessado nas novas tecnologias? No material complementar, você vai encontrar um
link com mais conteúdo sobre o tema. Não deixe de acessá-lo.

Nada impede que essas tecnologias venham a ser implantadas e aplicadas nos serviços de
atendimento pré-hospitalar. Com elas, o tempo resposta, que é um ótimo indicador da qualidade
dos serviços prestados, poderá ser consideravelmente reduzido.

Você já ouviu falar a hora de ouro (golden hour) e da corrente da sobrevivência?

A hora de ouro é um conceito muito utilizado em situações com vítimas, principalmente de


traumas, nas quais cada minuto conta para a redução de sequelas e para a sobrevivência.

A hora de ouro é um conceito que também se refere ao pós-parto. Trata-se da primeira hora de
vida do bebê, que nesse momento está na adaptação ao ambiente externo. Em nossa disciplina,
no entanto, a hora de ouro se refere somente às vítimas de traumas, certo?

Uma vítima de trauma pode chegar a óbito em três momentos críticos após uma lesão
traumática. O primeiro momento, chamado morte súbita ou imediata, pode ocorrer em até 30
minutos após um trauma que comprometa o cérebro, o sistema medular, provoque lesões
cardíacas ou afete grandes vasos sanguíneos. O segundo momento crucial é chamado morte
precoce, a qual pode acontecer entre a primeira e a quarta hora após o trauma e, geralmente, está
relacionada com hemorragias severas internas ou externas, que podem levar a vítima a um
estado de choque hipovolêmico ou hemodinâmico. Calma que vamos esclarecer esses termos
nas próximas Unidades do nosso material didático.
É exatamente nessa fase que se enquadra o conceito da hora de ouro. De acordo com dados da
DATASUS, departamento de informática do Sistema Único de Saúde, aproximadamente 45% das
vítimas de acidente morrem durante o atendimento no próprio local da ocorrência ou no trajeto
até o hospital, ou poucas horas depois.

É por isso que a hora de ouro é considerada a contagem do tempo resposta a partir do momento
da ocorrência do acidente até a admissão da vítima em um hospital de referência.

O conceito da hora de ouro surgiu, infelizmente, em 1976, após um grave acidente aéreo com um
médico ortopedista de Nebraska chamado James Styner e sua família. O monomotor pilotado por
ele caiu em uma fazenda, em uma área de difícil acesso, em meio a árvores. A esposa de Styner
morreu na queda. Os quatro filhos do casal sofreram diversas lesões graves. As equipes de
socorro tiveram muitas dificuldades para chegar ao local e prestar os primeiros atendimentos.
Depois do episódio, Styner mudou a história do atendimento pré-hospitalar ao criar o suporte
avançado de vida no trauma (ATLS), cujos procedimentos são aplicados até hoje.

Leitura
Atendimento Pré-hospitalar no Trauma: a Importância da Hora de
Ouro na Recuperação e Sobrevivência da Vítima
Para você saber um pouco mais sobre o importante conceito de hora de
ouro (golden hour), indico aqui este artigo de Viviane R. Gomes, em que
a autora aborda o tema de forma simples e clara. Garanto que você vai
curtir a leitura!

Clique no botão para conferir o conteúdo.


ACESSE

O último momento crítico é denominado morte tardia. Pode ocorrer após a primeira semana de
ocorrência do fato, ocasionada geralmente por quadros infecciosos ou falência múltipla dos
órgãos.

Já a corrente da sobrevivência é uma sequência de manobras relativamente simples.


Estabelecidas pela Associação Americana de Cardiologia (em inglês, AHA) para atender a vítimas
de emergência cardíaca, podem ser aplicadas em quaisquer outras situações clínicas ou
traumáticas, pois visam à minimização de sequelas e à manutenção da vida. Consistem em um
conjunto de condutas que compõem cinco elos entrelaçados.

Para o atendimento de uma vítima de parada cardiorrespiratória ou, simplesmente, PCR, a


corrente da sobrevivência preconiza a seguinte sequência de etapas:

1 1º elo: representa o acionamento imediato de socorro


especializado, além do fornecimento das informações
necessárias para um bom atendimento, o que nós já
estudamos, certo?

2 2º elo: refere-se às manobras de reanimação cardiopulmonar, ou RCP. Vamos ver


esse procedimento em detalhes adiante. Por ora, é preciso ter em mente que sua
eficiência está diretamente relacionada com sua rápida aplicação;

3 3º elo: trata-se do tratamento elétrico com emprego de um DEA, o que também se


mostra muito eficiente se aplicado nos primeiros minutos após a confirmação da
parada cardíaca;

4 4º elo: a assistência médica pré ou intra-hospitalar precoce, por meio de um


suporte avançado de vida, que inclui assistência ventilatória adequada e acesso
venoso, administrando drogas, entre outros procedimentos;
5 5º elo: a AHA recomenda a inserção de cuidados após o retorno espontâneo da
circulação, por meio de um plano de tratamento abrangente.

É fato que um atendimento bem-sucedido depende de uma corrente forte em todos os elos. Uma
pessoa leiga, mas com conhecimento básico em atendimento pré-hospitalar, pode atuar nos
primeiros minutos e, assim, fortalecer os dois primeiros elos da corrente, aumentando,
sobremaneira, as chances de sobrevivência da vítima.

Agora que já viajamos no tempo e fizemos várias descobertas bem interessantes, posso dizer
que começamos muito bem a nossa conversa. Garanto que, nas próximas unidades da
disciplina, você vai ficar cada vez mais curioso e motivado para construir novos conhecimentos
sobre o atendimento pré-hospitalar (APH).

E só para deixar você com um pouco mais de vontade, já lanço aqui a primeira pergunta da
Unidade II: “Como você descreveria a localização das lesões que uma vítima apresenta?”.
Lembre-se de que a resposta pode fazer toda a diferença no atendimento que a vítima vai
receber.

Já percebeu que conhecer um pouco mais sobre a anatomia humana também faz parte dos
primeiros socorros, né?
2/3

ʪ Material Complementar

Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos

História do APH – Introdução ao Curso de APH 2.0


Neste vídeo você vai conhecer um pouco mais da história do atendimento pré-hospitalar (APH),
de sua origem e evolução, e também algumas informações adicionais de suma importância.
Posso garantir que o conteúdo vai agregar muito na sua formação.

História do APH - Introdução ao Curso de APH 2.0 Online (Link na …


20 Tecnologias que nos Esperam em 2030
Você vai navegar pelo tempo, mas para um futuro bem próximo e repleto de inovações
tecnológicas. Você vai se impressionar com as vinte tecnologias que se tornarão realidade até o
ano de 2030. Pois é... estamos bem perto, não é mesmo?

20 Tecnologias que nos esperam em 2030

Leitura

Atuação do Enfermeiro no Atendimento Pré-Hospitalar na


Cidade de São Paulo
Você quer saber como um profissional da área da enfermagem pode atuar no atendimento pré-
hospitalar, como deve ser seu perfil e quais sãos os aspectos éticos e legais de sua atuação? Leia
esse breve artigo de Rosimey Romero.

Clique no botão para conferir o conteúdo.


ACESSE

Portaria 2.048, de 5 de Novembro 2002


Conheça mais sobre a Regulamentação dos Serviços de Atendimento Pré-Hospitalar (APH) no
Brasil.

Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE
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ʪ Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção às Urgências. Brasília: Ministério da


Saúde, 2003.

CICONET, R. M. Tempo resposta de um serviço de atendimento móvel de urgência. 2015. Tese


(Doutorado em Enfermagem) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Rio Grande do Sul,
2015.

DE MOURA, J. S. G. et al. Primeiros socorros nas escolas: uma revisão integrativa. Revista
Portuguesa de Educação Contemporânea, v. 2, n. 1, p. 72-85, 2021.

GOMES, V. R. Atendimento pré-hospitalar no trauma: a importância da hora de ouro na


recuperação e sobrevivência da vítima. Anais do Conic-Semesp. Franca, SP: Universidade
Paulista (Unip), 2018. v. VI.

MACHADO, C. V.; SALVADOR, F. G. F.; O'DWYER, G. Serviço de Atendimento Móvel de Urgência:


análise da política brasileira. Revista de Saúde Pública, v. 45, n. 3, p. 519-528, 2011.

OLIVEIRA, A. C. de; SILVA, E. de S.; MARTUCHI, S. D. Manual do Socorrista. São Paulo: Martinari,
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PORTO, F.; CAMPOS, P. F. S.; OGUISSO, T. Cruz Vermelha Brasileira (filial São Paulo) na imprensa
(1916-1930). Escola Anna Nery, v. 13, p. 492-499, 2009.

SOARES, F. Suporte básico de vida. Instituto formação (Cursos técnicos profissionalizantes).


Técnico em enfermagem, 2013.
TAVEIRA, R. P. Costa et al. Atuação do enfermeiro no atendimento pré-hospitalar de emergência.
Global Academic Nursing Journal, v. 2, n. 3, p. e156-e156, 2021.

THOMAZ, R. R.; LIMA, F. V. Atuação do enfermeiro no atendimento pré-hospitalar na cidade de


São Paulo. Acta Paul Enferm., v. 13, n. 3, p. 59-65, 2000

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