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NÃO PODE FALTAR

PROCESSOS
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s e õ ç at o n a r e V
METABÓLICOS DOS
CARBOIDRATOS
Christian Grassl

Fonte: Shutterstock.

PRATICAR PARA APRENDER


Caro aluno, chegamos à Seção 2 da Unidade 2, na qual abordaremos
importantes vias metabólicas relacionadas com a produção de energia a
partir dos carboidratos. De fato, a glicose, um monossacarídeo estudado
na seção anterior, é a principal fonte de energia na natureza e utilizada

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por todos os organismos, por isso, o conhecimento das reações químicas

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que retiram a energia da glicose é tão importante para nós, sem contar as
implicações desses processos metabólicos na fisiopatologia de muitas
doenças.

Nesta seção, estudaremos a digestão e absorção de carboidratos obtidos


por meio da alimentação. Como esses carboidratos complexos, como
glicogênio e amido, são digeridos? Por que não conseguimos digerir a
celulose? Uma vez que a glicose, o principal carboidrato absorvido pelo
organismo, encontra-se na circulação sanguínea, como essa molécula
polar atravessa a barreira lipídica da membrana plasmática? Como o
organismo regula a concentração plasmática de glicose ou glicemia? Há
alguma relação com a diabetes mellitus? Essas são questões importantes
que serão respondidas no desenvolvimento dos conteúdos.

Finalmente, veremos as vias metabólicas que utilizam a glicose para a


produção e o armazenamento de energia. Como se forma a nossa reserva
de glicose (o glicogênio) nas células? Como essas células mobilizam a
glicose a partir do glicogênio? As vias metabólicas dos carboidratos só
servem para a produção de energia? Somos capazes de produzir glicose?
Esses conceitos são mais complexos, porém com grandes implicações na
área da Saúde, pois estão relacionados a muitos processos
fisiopatológicos, como veremos nos exemplos expostos nesta seção. Os
assuntos que serão abordados são relevantes para a sua formação
profissional, bem como para compreensão, análise e resolução de várias
situações que podem ocorrer na área da Saúde.
Para que compreenda os conceitos abordados nesta seção, além das
possíveis atividades do contexto profissional, acompanharemos o
trabalho de um profissional da saúde, recém-contratado por um centro
de atendimento e de pesquisas na área oncológica.

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Há muitos desafios que a oncologia apresenta em relação aos

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conhecimentos dos mecanismos bioquímicos, fisiopatológicos e
farmacológicos; diante disso, será que os conceitos que serão aprendidos
nesta seção serão úteis nesse tipo de segmento de atuação? Pois bem,
teremos um vislumbre disso na situação-problema deste material.

Para contextualizar sua aprendizagem, imagine que você trabalha em um


centro oncológico em que pesquisas são desenvolvidas e que oferece
tratamento aos pacientes com câncer. Nesse trabalho, você tem contato
com muitas informações sobre o câncer, desde os mecanismos
moleculares envolvidos na fisiopatologia até os de ação farmacológica de
muitos fármacos usados na quimioterapia. Diante dessas experiências,
você acabou ficando curioso em relação a um detalhe que percebeu nos
pacientes com câncer: parte deles apresentava hipoglicemia e acidose
metabólica.

Como você é uma pessoa curiosa e tem desejo por novos aprendizados,
resolveu pesquisar sobre o assunto. A taxa de crescimento do número de
células cancerígenas é muito alta, maior que a taxa de vascularização do
tumor em crescimento, dessa maneira, a maior parte das células do
tumor cresce em condições de hipóxia, pois essas células estão afastadas
dos vasos sanguíneos formados no tumor e, portanto, recebem pouco
gás oxigênio. Ao mesmo tempo, essas células tumorais têm grande
atividade metabólica devido ao grande número de mitoses para o
crescimento do tumor, e essa atividade metabólica alta demanda maior
quantidade de energia. Nesse momento, você se questiona em relação
aos aspectos bioquímicos do crescimento do tumor; você sabe que, em
situação de hipóxia, as células utilizam a fermentação para a manutenção
da glicólise, porém essa via metabólica gera pouca energia quando
comparada à oxidação completa da glicose.

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Como você explica a relação entre essa situação metabólica das células
tumorais e o quadro clínico de hipoglicemia e acidose metabólica?

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Essa questão é apenas o ponto de partida para mais questionamentos e
para estimular a sua procura por mais conhecimentos. A situação-
problema proposta é uma pequena amostra da importância das vias
metabólicas na prática clínica e nas pesquisas na área da Saúde.

A responsabilidade de um profissional da Saúde é muito grande, o que


exige conhecimentos, técnica e ética, por isso, é muito importante que
você se dedique com afinco aos estudos, para ter uma formação
acadêmica à altura de suas futuras responsabilidades profissionais. Seja o
protagonista da sua história de conquistas acadêmicas e profissionais.
Então, aos estudos!

CONCEITO-CHAVE
Nesta seção, iniciamos os nossos estudos das vias metabólicas
produtoras de energia, que também fornecem intermediários para várias
vias de biossíntese no organismo. As primeiras etapas da oxidação da
glicose (a fermentação, a glicogênese, a glicogenólise e a gliconeogênese)
são as vias metabólicas que estão presentes nesta seção. Vamos abordar,
também, a digestão e absorção dos carboidratos, bem como o transporte
transmembrana da glicose.

Inicialmente, vamos definir o metabolismo e a importância da energia


para o organismo. O metabolismo é o conjunto das reações químicas que
ocorrem nos seres vivos, porém essas reações químicas estão
encadeadas, sendo que o produto de uma reação será o substrato de
outra reação química, portanto, as reações químicas que ocorrem nos
organismos são interdependentes e coordenadas.

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As vias metabólicas podem ser divididas em catabólicas e anabólicas. As
vias catabólicas ou catabolismo envolvem as reações químicas que

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decompõem moléculas complexas em moléculas mais simples. Como
exemplo, podemos citar a digestão dos carboidratos e a oxidação da
glicose, e ambas serão vistas nesta seção. As reações catabólicas são
importantes para a produção de energia. Já as vias anabólicas ou
anabolismo envolvem as reações que sintetizam moléculas mais
complexas a partir de moléculas mais simples, com utilização de energia
no processo. Como exemplo de anabolismo, podemos citar a síntese de
peptídeos e proteínas a partir dos aminoácidos, como vimos na unidade
anterior.

Agora que já definimos metabolismo, catabolismo e anabolismo, vamos


para a nossa primeira via catabólica: a digestão dos carboidratos que
ocorre no trato gastrintestinal. A glicose é a principal fonte de energia
para a maioria das células, sendo substrato para as reações oxidativas,
resultando em produção de energia, mas, agora, a questão é: como
obtemos a glicose? Bom, a resposta é pelos alimentos que serão
processados no trato gastrintestinal.

Como vimos na seção anterior, alguns carboidratos estão presentes na


nossa alimentação, como o amido e a celulose, presentes nos vegetais; o
glicogênio, presente nas carnes; a lactose, presente no leite e derivados; e
a sacarose, presente no açúcar de cana e de beterraba. Esses
carboidratos sofrem hidrólise catalisada por glicosidases específicas,
principalmente na boca e no duodeno, e essas glicosidases catalisam a
hidrólise das ligações glicosídicas entre os monossacarídeos.
Na boca, inicia-se a digestão do amido e do glicogênio pela ação da
enzima alfa-amilase salivar (ou ptialina) presente na saliva; essa enzima
catalisa a hidrólise das ligações glicosídicas do tipo (alfa 1 –> 4), ou seja, as
ligações entre o carbono 1 da alfa-D-glicose e o carbono 4 de outra alfa-D-

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glicose. Esse tipo de ligação está presente tanto no amido quanto no

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glicogênio. A celulose, também presente nos vegetais, é composta por
moléculas de D-glicose ligadas entre si por ligações do tipo (beta 1 –> 4),
que não são reconhecidas pelas enzimas alfa-glicosidases, como a alfa-
amilase salivar e alfa-amilase pancreática, portanto, a celulose não é
digerida por nós e nem por outros animais.

EXEMPLIFICANDO

A celulose e outras substâncias que resistem à digestão


enzimática são chamadas de fibras. As bactérias da microbiota
intestinal podem realizar a fermentação dessas fibras,
resultando em ácidos graxos de cadeia curta. Esses ácidos
graxos e as fibras não fermentadas aumentam o volume fecal,
o que estimula o peristaltismo intestinal e, consequentemente,
melhora a motilidade intestinal, por isso, a ingestão de celulose
e de outras fibras é importante para regular a função do
intestino e as evacuações. Há animais que conseguem digerir a
celulose, como os ruminantes (como exemplo, temos os bois,
as vacas, os cavalos e as ovelhas) e os cupins, pois possuem
nos seus tratos gastrintestinais bactérias que produzem uma
enzima específica, a celulase, que catalisa a hidrólise das
ligações do tipo (beta 1 –> 4) presentes na celulose.

Após a digestão parcial do amido e do glicogênio na boca, os


oligossacarídeos resultantes, além de dissacarídeos sacarose e lactose,
resistentes à ação da alfa-amilase salivar, são direcionados para o
estômago; nesse órgão, não ocorre a digestão enzimática dos
carboidratos, pois a acidez do meio desnatura a alfa-amilase salivar
deglutida com os alimentos. Em seguida, os carboidratos, presentes no
quimo, alcançam o duodeno, onde ocorrem as etapas finais da digestão

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dos carboidratos, além da absorção dos monossacarídeos pela mucosa

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duodenal.

No duodeno, a enzima alfa-amilase pancreática continua com a digestão


enzimática dos oligossacarídeos, originando, principalmente, os
dissacarídeos maltose e isomaltose, o trissacarídeo maltotriose, bem
como pequenos polímeros de D-glicose: as alfa-dextrinas.

As enzimas presentes no epitélio duodenal (alfa-dextrinase, maltase,


isomaltase, sacarase e lactase) terminam a digestão dos carboidratos; a
alfa-dextrinase catalisa a hidrólise das alfa-dextrinas, liberando as
unidades de glicose; a maltase catalisa a hidrólise da maltose e da
maltotriose, enquanto a isomaltase catalisa a hidrólise da isomaltose,
liberando as unidades de glicose; a sacarase catalisa a clivagem hidrolítica
da sacarose, liberando glicose e frutose; e, finalmente, a hidrólise da
lactose é catalisada pela lactase, resultando na liberação de glicose e
galactose.

Podemos visualizar melhor a digestão dos carboidratos na boca no


esquema representado na Figura 2.10, bem como a digestão dos
carboidratos no duodeno na Figura 2.11.

Figura 2.10 | Esquema representativo da digestão dos carboidratos na boca


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Fonte: elaborada pelo autor.

EXEMPLIFICANDO

Podem ocorrer deficiências das glicosidases, o que resulta em


digestão anormal dos carboidratos, e podemos destacar duas
delas: a intolerância à sacarose e a intolerância à lactose. A
primeira delas é decorrente da deficiência da enzima sacarase,
e as consequências são: diarreia, distensão abdominal,
flatulência e meteorismo. Há maior prevalência de casos na
população de inuítes (esquimós) da Groenlândia, do Alasca e
do Canadá. Já a intolerância à lactose é mais comum, atingindo
até 70% da população adulta no mundo, sendo predominante
nos indivíduos negros e asiáticos. A enzima lactase tem a sua
atividade reduzida devido à diminuição da sua quantidade,
geralmente, a partir dos dois anos de idade. Pode haver outras
formas de deficiência da lactase, como a congênita e a
secundária às doenças e lesões no intestino delgado (como a
doença celíaca e a doença de Crohn). O tratamento é reduzir o
consumo de leite e derivados, assegurar a ingestão adequada
de cálcio por meio de vegetais e, a depender de indicações
médicas, fazer uso de lactase em cápsulas. Entre as
manifestações clínicas, podemos destacar dor abdominal,
distensão abdominal, flatulência, meteorismo e diarreia.

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No duodeno e na parte inicial do jejuno, ocorre a absorção dos
monossacarídeos resultantes da digestão dos carboidratos,
especialmente a glicose, que corresponde a mais de 80% de todos os
monossacarídeos absorvidos. O transporte da glicose e da galactose para
o interior das células da mucosa intestinal é concomitante à entrada de
íons sódio com o auxílio de uma proteína transportadora: o
cotransportador de glicose dependente de sódio tipo 1 (SGLT-1), e a
frutose entra nas células da mucosa intestinal com o auxílio de uma
proteína transportadora de glicose tipo (ou isoforma) 5, GLUT-5. Já
digestão dos carboidratos e a absorção dos monossacarídeos no
duodeno estão representados no esquema da Figura 2.11.

Figura 2.11 | Esquema representativo da digestão dos carboidratos e a absorção dos


monossacarídeos no duodeno
Fonte: elaborada pelo autor.

Após a absorção pela mucosa intestinal, a glicose está presente na


circulação sanguínea e precisa entrar nas células para a reserva e

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produção de energia, além de atuar como substrato de outras vias

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metabólicas, como a via da pentose-fosfato. O problema é que a glicose é
uma molécula polar e, portanto, não consegue atravessar a barreira
lipídica da membrana plasmática. Então, para entrar na célula, a glicose
necessita do auxílio de uma família de proteínas transmembranas,
chamadas de transportadores de glicose ou GLUT (do inglês glucose
transporter). Muitas isoformas de GLUT já foram identificadas, mas cinco
delas têm importância fisiológica melhor descrita. As isoformas GLUT-1 e
GLUT-3 estão presentes em quase todas as células e são responsáveis
pela captação basal de glicose, independentemente da ação da insulina. A
isoforma GLUT-2 está presente nos hepatócitos e nas células beta-
pancreáticas, e diferentemente das outras isoformas, ela possui um valor
de Km (constante de Michaelis, visto na Seção 3 da Unidade 1) muito alto
para a glicose, ou seja, é necessária uma concentração muito alta de
glicose para ocupar a metade dos sítios ativos das proteínas GLUT-2.
Devido à essa baixa afinidade de GLUT-2 pela glicose, essa isoforma só
capta glicose em quantidade significativa em situação de hiperglicemia,
como ocorre logo após as refeições.

Nos hepatócitos, GLUT-2 permite a entrada de glicose, após as refeições,


para que seja armazenada na forma de glicogênio, um polímero
ramificado formado por unidades de glicose. Entre refeições ou em jejum,
os hepatócitos, sob a ação do hormônio glucagon (mais adiante,
abordaremos esse hormônio e a insulina), liberam o seu estoque de
glicose para a corrente sanguínea, permitindo a manutenção da
normoglicemia, portanto, o fígado tem função primordial na homeostase
glicêmica.
Nas células beta-pancreáticas, GLUT-2 atua como um sensor de glicemia
para a liberação de insulina, então, logo após as refeições, quando há
hiperglicemia, GLUT-2 permite a entrada de quantidade significativa de
glicose nas células beta-pancreáticas, aumentando a taxa de oxidação da

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glicose, o que resulta em maior produção de energia armazenada nas

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moléculas ATP (trifosfato de adenosina). Nas membranas plasmáticas
dessas células, existem os canais de potássio (K+) que são sensíveis ao
ATP, permitindo a saída (ou efluxo) dos íons potássio das células, e na
presença de maior quantidade de ATP na célula, os canais de K+ sensíveis
ao ATP assumem uma conformação fechada, impedindo a saída de íons
potássio da célula. A consequência disso é o acúmulo de cargas positivas
na célula beta-pancreática, o que leva à despolarização dessa célula, logo,
os canais cálcio-voltagem dependentes são ativados, permitindo a
entrada (ou influxo) de íons cálcio na célula. O aumento da concentração
intracelular de íons cálcio resulta na exocitose das vesículas que contêm
as moléculas de insulina, dessa forma, a insulina é liberada para a
corrente sanguínea para exercer seus efeitos hipoglicemiantes, como será
visto adiante. Na figura 2.12, podemos ver um esquema ilustrativo do
mecanismo de secreção da insulina pelas células beta-pancreáticas

Figura 2.12 | Esquema representativo do mecanismo de secreção da insulina


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Fonte: elaborada pelo autor.

Nos adipócitos e nas fibras musculares, temos a isoforma GLUT- 4, a


única dependente de insulina, que permite a captação de glicose por
essas células. Nos adipócitos, a glicose é substrato para a síntese de
ácidos graxos, que são armazenados como triacilgliceróis, e nas fibras
musculares, a glicose é utilizada como fonte de energia e também
armazenada na forma de glicogênio. Na presença do hormônio insulina,
ocorre o aumento da quantidade de GLUT- 4 na membrana plasmática
das fibras musculares e adipócitos, com isso, essas células conseguem
captar uma grande quantidade de glicose do meio extracelular, reduzindo
a glicemia. Dessa forma, a insulina, atuando por meio das fibras
musculares e adipócitos, consegue exercer seu efeito hipoglicemiante, e
as atividades físicas também aumentam a quantidade de GLUT- 4 nos
músculos esqueléticos, disponibilizando mais glicose para a produção de
energia nos músculos.
Uma vez dentro da célula, a glicose, em uma reação catalisada pela
enzima hexocinase, adquire um grupo fosfato do ATP, ou seja, é
fosforilada, resultando na formação de glicose 6-fosfato (grupo fosfato
ligado ao carbono 6 da glicose), portanto, é uma reação química que

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consome energia. A etapa da fosforilação é essencial para reter a glicose

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dentro da célula, pois a glicose fosforilada não interage com GLUT,
portanto, não tem como sair da célula. Além disso, a fosforilação
desestabiliza a estrutura da glicose, facilitando as outras reações químicas
que utilizam a glicose como substrato.

A glicose 6-fosfato pode ser utilizada por várias vias metabólicas, como a
glicogênese (formação do glicogênio), a oxidação pela via da pentose-
fosfato para a síntese de ribose 5-fosfato (carboidrato essencial para a
síntese dos ácidos nucleicos RNA e DNA) e a oxidação pela glicólise para
produção de energia.

Na figura 2.13, podemos visualizar, em forma de esquema, esses


conceitos.

Figura 2.13 | Esquema representativo da fosforilação da glicose e seus destinos metabólicos

Fonte: elaborada pelo autor.


O glicogênio é a reserva de glicose das células animais, sendo que os
hepatócitos e as fibras musculares esqueléticas possuem as maiores
concentrações de glicogênio. Nas fibras musculares, o glicogênio fornece
as moléculas de glicose para a via glicolítica para a produção de energia,

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visto que essas células consomem muita energia nos processos de

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contração muscular. No caso dos hepatócitos, o glicogênio é usado para a
manutenção da glicemia, pois são as únicas células que possuem a
enzima glicose 6-fosfatase, que catalisa a clivagem do grupo fosfato da
glicose 6-fosfato, o que resulta na formação da glicose livre, que interage
com GLUT e consegue sair da célula. Dessa forma, os hepatócitos
conseguem liberar a glicose dos seus estoques de glicogênio para a
corrente sanguínea, mantendo a normoglicemia nos períodos entre
refeições e jejum.

REFLITA

Em casos de lesão hepática grave, as várias funções do fígado


ficam prejudicadas. Os pacientes com essas lesões,
geralmente, apresentam hipoglicemia. Você seria capaz de
relacionar a hipoglicemia com o prejuízo da função hepática?

Como visto na seção anterior, o glicogênio é um homopolissacarídeo


ramificado formado por moléculas de D-glicose, sendo que, na cadeia
principal, as moléculas de D-glicose estão ligadas entre si por ligações do
tipo (alfa 1 –> 4), enquanto que, nas ramificações, as ligações são do tipo
(alfa 1 –> 6). A síntese de glicogênio é chamada de glicogênese, uma via
metabólica que ocorre no citosol e requer energia fornecida pelo ATP.
Inicialmente, a glicose 6-fosfato é convertida em glicose 1-fosfato, em
uma reação química catalisada pela enzima fosfoglicomutase; em
seguida, a glicose 1-fosfato reage com UTP (trifosfato de uridina) para
formar UDP-glicose (difosfato de uridina-glicose), em uma reação
catalisada pela enzima UDP-glicose pirofosforilase. A molécula UDP-
glicose fornece a D-glicose para a enzima glicogênio sintase catalisar a
formação das ligações do tipo (alfa 1 –> 4) entre as moléculas D-glicose
para formar o glicogênio; a enzima glicogênio sintase só consegue alongar

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uma cadeia de glicose já existente, podendo ser um fragmento de

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glicogênio ou a proteína glicogenina. Essa proteína catalisa a formação de
uma pequena cadeia de glicose a partir das moléculas de glicose
fornecidas por UDP-glicose, assim, a associação entre a glicogenina e a
curta cadeia de glicose serve como um iniciador de glicogênio para a ação
da enzima glicogênio sintase. As ramificações do glicogênio são
catalisadas pela enzima ramificadora e, depois, alongadas pela enzima
glicogênio sintase.

Na figura 2.14, podemos ver um esquema da glicogênese.

Figura 2.14 | Esquema representativo da glicogênese

Fonte: elaborada pelo autor.


A degradação do glicogênio é chamada de glicogenólise, que permite
mobilizar a glicose armazenada para a produção de energia ou, no caso
dos hepatócitos, liberar para a corrente sanguínea para manutenção da
glicemia. A enzima glicogênio fosforilase catalisa a clivagem das unidades

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de glicose do glicogênio, liberando a glicose 1-fosfato, que, em seguida,

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sofre a ação da enzima fosfoglicomutase para ser convertida em glicose 6-
fosfato. O metabolismo do glicogênio depende de um equilíbrio entre as
atividades das enzimas glicogênio sintase e glicogênio fosforilase, sendo
que ambas as atividades enzimáticas são reguladas por hormônios. A
insulina estimula a atividade da enzima glicogênio sintase e, portanto,
estimula a glicogênese, enquanto a adrenalina e o glucagon estimulam a
atividade da enzima glicogênio fosforilase e, consequentemente,
aumentam a taxa de glicogenólise. Podemos ver na figura 2.15 o esquema
da glicogenólise.

Figura 2.15 | Esquema representativo da glicogenólise

Fonte: elaborada pelo autor.


A outra via metabólica de destino da glicose 6-fosfato é a glicólise e
posterior oxidação do piruvato. O termo glicólise significa quebra da
glicose, e, de fato, é um conjunto das reações químicas que degradam a
glicose, uma molécula com seis carbonos em duas moléculas de três

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carbonos, o piruvato. Essa via catabólica ocorre no citosol, fazendo parte

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da respiração celular anaeróbica, isto é, reações oxidativas que produzem
energia na ausência do gás oxigênio.

ASSIMILE

Oxidorredução (redox ou oxi-redução) é a reação química de


transferência de elétrons entre as espécies químicas (átomos,
moléculas e íons) participantes. Essa reação química é
composta por dois processos que ocorrem simultaneamente e
acoplados: a oxidação e a redução. A oxidação é o processo em
que uma espécie química perde elétrons, enquanto a redução
é um processo em que uma espécie química ganha elétrons.
Portanto, enquanto uma espécie química sofre oxidação, a
outra sofre redução, e, assim, ocorre a transferência de
elétrons entre essas espécies químicas.

A glicólise é a primeira etapa da oxidação completa da glicose, sendo as


duas outras etapas a oxidação do piruvato e o ciclo do ácido cítrico (ou
ciclo de Krebs). No final da oxidação, a glicose é convertida em gás
carbônico com produção de energia. A glicólise tem duas fases, a
preparatória e a de pagamento. Na fase preparatória, são necessárias
duas moléculas de ATP, por isso, é uma fase em que há consumo de
energia. Uma molécula de ATP é utilizada na fosforilação da glicose para a
formação da glicose 6-fosfato; em seguida, a glicose 6-fosfato é convertida
em frutose 6-fosfato, em uma reação catalisada pela enzima fosfo-
hexose-isomerase. A segunda molécula de ATP é utilizada para fosforilar a
frutose 6-fosfato em uma reação catalisada pela enzima fosfofrutocinase-
1, resultando em frutose 1,6-bifosfato; a seguir, ocorre a reação que dá
nome à via metabólica, ou seja, a glicólise. A reação é a clivagem da
frutose 1,6-bifosfato, uma molécula com seis carbonos, resultando em

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duas moléculas de três carbonos, gliceraldeído-3-fosfato e di-

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hidroxiacetona-fosfato. Essa reação química é catalisada pela enzima
aldolase e, assim, encerramos a primeira fase da glicólise: a preparatória,
que se encontra esquematizada, para melhor compreensão, na Figura
2.16.

Figura 2.16 | Esquema da fase preparatória da glicólise

Fonte: elaborada pelo autor.


A segunda fase da glicólise é a de pagamento, em que ocorre a oxidação
de um intermediário metabólico e a produção de ATP. No fim da fase
preparatória, a glicose é degradada, originando duas moléculas,
gliceraldeído-3-fosfato e di-hidroxiacetona-fosfato. Essa última, em uma

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reação catalisada pela enzima triose-fosfato-isomerase, é convertida em

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gliceraldeído-3-fosfato, portanto, na fase de pagamento, temos duas vias
metabólicas acontecendo em paralelo, ambas iniciando com
gliceraldeído-3-fosfato. A primeira reação química da fase de pagamento
é justamente a de oxidorredução. Nessa reação catalisada pela enzima
gliceraldeído-3-fosfato-desidrogenase, o gliceraldeído-3-fosfato é oxidado,
resultando em 1,3-bifosfoglicerato; os elétrons resultantes da oxidação
são transferidos para NAD+ (nicotinamida adenina dinucleotídeo), uma
molécula carreadora de elétrons, originando a forma reduzida dessa
molécula: NADH, que transporta os elétrons para a cadeia respiratória da
mitocôndria para o processo de fosforilação oxidativa (conceito que será
desenvolvido na próxima seção).

A próxima reação da glicólise é a conversão de 1,3-bifosfoglicerato em 3-


fosfoglicerato, catalisada pela enzima fosfoglicerato-cinase, resultando na
produção da primeira molécula de ATP; em seguida, em uma reação
catalisada pela enzima fosfoglicerato mutase, 3-fosfoglicerato é
convertido em 2-fosfoglicerato; esse último, em uma reação de
desidratação catalisada pela enzima enolase, é convertido em
fosfoenolpiruvato e ocorre a formação de uma molécula de água; por fim,
a última reação da via glicolítica é a conversão do fosfoenolpiruvato em
piruvato, catalisada pela enzima piruvato-cinase, resultando na produção
da segunda molécula de ATP. Na Figura 2.17, podemos visualizar a fase de
pagamento esquematizada para melhor compreensão das reações
químicas envolvidas. Como são duas vias ocorrendo em paralelo, temos o
dobro dos produtos formados na fase de pagamento. Assim, podemos
considerar o seguinte balanço:
Fase preparatória: consumo de duas moléculas de ATP.

Fase de pagamento: formação de quatro moléculas de ATP e duas


moléculas de NADH.

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Figura 2.17 | Esquema da fase de pagamento da glicólise

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Fonte: elaborada pelo autor.

Após a glicólise, as duas moléculas de piruvato podem seguir destinos


alternativos: oxidação à acetil-CoA, fermentação para formação de lactato
ou etanol e formação de oxaloacetato (molécula essencial para dar início
às reações químicas do ciclo do ácido cítrico). Dando continuidade à
oxidação completa da glicose para produção de energia, seguimos para a
segunda etapa: a oxidação do piruvato. Em primeiro lugar, o piruvato é
transportado por uma proteína específica para a matriz mitocondrial, a
parte interna dessa organela, para ser substrato de um complexo
enzimático chamado de complexo da piruvato desidrogenase. Esse
complexo enzimático catalisa a descarboxilação oxidativa do piruvato,
removendo um carbono do piruvato na forma de gás carbônico, assim, o
piruvato, uma molécula de três carbonos, é convertido em acetil-CoA,

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uma molécula de dois carbonos. Nessa reação química também ocorre a

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transferência de elétrons para uma molécula NAD+, formando NADH,
que, em seguida, transporta esses elétrons para a cadeia respiratória
para o processo de fosforilação oxidativa. Na Figura 2.18, temos um
esquema representativo da oxidação do piruvato.

Figura 2.18 | Esquema representativo da oxidação do piruvato

Fonte: elaborada pelo autor.

Em situações de hipóxia e anóxia, não há gás oxigênio suficiente para


manter a oxidação completa da glicose. Apesar de a primeira etapa da
oxidação da glicose (glicólise) ser anaeróbica, as outras etapas dependem
da presença de gás oxigênio na mitocôndria, portanto, nessas situações,
apenas a glicólise continua funcionando, porém há uma limitação.
Durante a glicólise, NAD+ é reduzido para formar NADH, que, por sua vez,
deixa os elétrons na cadeia respiratória da mitocôndria, oxidando-se e
retornando à forma NAD+. Dessa maneira, existe um ciclo de reciclagem
de NAD, porém na ausência ou insuficiência de gás oxigênio, essa
reciclagem é interrompida, havendo um acúmulo de NADH e uma
redução da quantidade de NAD+ nas células. A consequência é que, sem
NAD+ disponível, não é possível ocorrer a única reação de oxidação da
glicólise, isto é, a conversão de gliceraldeído-3-fosfato em 1,3-
bifosfoglicerato, portanto, a glicólise, a única via produtora de energia em
condições anaeróbicas, tem as suas reações interrompidas. Para evitar
que isso ocorra, as células dispõem de uma via metabólica que permite

0
regenerar NAD+: a fermentação.

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Na fermentação, o piruvato é reduzido à lactato em uma reação
catalisada pela enzima lactato desidrogenase. Os elétrons, para a redução
do piruvato, são provenientes de NADH, que, por sua vez, sofre oxidação,
tomando a forma de NAD+. Dessa maneira, a fermentação permite que a
glicólise continue funcionando em situações de anóxia ou hipóxia, por
meio da regeneração da forma NADH à forma NAD+. A maioria dos
organismos realizam a fermentação láctica, porém existem espécies de
fungos e bactérias que são capazes de realizar a fermentação alcoólica. A
finalidade da fermentação alcoólica é a mesma, ou seja, regenerar NAD
para manter a glicólise funcionando. Nesse tipo de fermentação, há duas
reações químicas, sendo a primeira a conversão do piruvato em
acetaldeído (reação catalisada pela enzima piruvato-descarboxilase e com
a produção de uma molécula de CO ); na segunda reação, ocorre a
2

transferência de elétrons de NADH para a redução de acetaldeído a


etanol, em uma reação catalisada pela enzima álcool-desidrogenase. Com
isso, NADH é oxidado a NAD+, mantendo a glicólise. Os dois tipos de
fermentação, a láctica e a alcoólica (apenas em algumas espécies de
bactérias e de leveduras), estão representadas na Figura 2.19.

Figura 2.19 | Esquema representativo das fermentações láctica e alcoólica


0
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Fonte: elaborada pelo autor.

Apesar dos estoques de glicogênio no fígado, o suprimento de glicose


para as demandas metabólicas do organismo durante o jejum ou período
entre refeições pode não ser o suficiente. Isso pode ocorrer em jejuns
prolongados ou em atividades físicas muito intensas e/ou prolongadas.
Para atender a essa demanda, as células possuem uma via metabólica
que é capaz de sintetizar novas moléculas de glicose a partir de
aminoácidos, lactato e glicerol (molécula liberada da hidrólise dos
triacilgliceróis), e essa via metabólica é a gliconeogênese, ocorrendo
principalmente no fígado, responsável por até 90% da gliconeogênese, e
em menor proporção nos rins.

A glicólise e a gliconeogênese não são vias metabólicas idênticas que


ocorrem em sentido contrário, apesar de compartilharem muitas reações
químicas (7 no total de 10 reações). O glicerol, um dos produtos da
hidrólise dos triacilgliceróis (lipídeos que atuam como reservas de energia
e que serão estudados na Unidade 3), após algumas reações químicas
catalisadas por enzimas, é convertido em di-hidroxiacetona-fosfato, que,
por sua vez, é convertido em gliceraldeído-3-fosfato, um intermediário da
gliconeogênese.

0
Os aminoácidos, antes de serem utilizados em várias vias metabólicas,

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têm os seus grupos amino removidos, resultando em alfa-cetoácidos,
como alfa-cetoglutarato, e muitos desses alfa-cetoácidos são precursores
de intermediários do ciclo do ácido cítrico e originam as moléculas de
oxaloacetato, que é precursor do fosfoenolpiruvato, um dos
intermediários da gliconeogênese, e o lactato, que é convertido em
piruvato, outro intermediário da gliconeogênese.

As reações químicas que relacionam a produção de lactato pela


fermentação e sua posterior conversão em glicose pela gliconeogênese
fazem parte do ciclo de Cori. A gliconeogênese é regulada por hormônios,
sendo que o glucagon estimula a gliconeogênese por meio do aumento
da atividade e da quantidade das enzimas participantes dessa via
metabólica. Já a insulina inibe a gliconeogênese, reduzindo a oferta de
glicose para a corrente sanguínea.

Figura 2.20 | Esquema representativo da gliconeogênese


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Fonte: elaborada pelo autor.

Em situações em que há oferta inadequada de O para os músculos


2

esqueléticos durante atividades físicas mais intensas, as fibras musculares


utilizam os seus estoques de glicogênio e produzem energia
principalmente por glicólise. Para manter a glicólise funcionando em uma
situação com oferta insuficiente de O , é necessária a via de
2

fermentação, o que resulta na produção de grande quantidade de lactato


(ou ácido láctico). No período de descanso ou de recuperação, a
fermentação láctica muscular cessa, pois, com menor atividade muscular,
a oferta de O se torna adequada para as necessidades metabólicas,
2

porém há uma grande quantidade de lactato que é removida da


circulação sanguínea para o fígado, onde é substrato para a via da
gliconeogênese, dessa maneira, o excesso de lactato é convertido em
novas moléculas de glicose que são usadas para repor os estoques de
glicogênio das fibras musculares esqueléticas.

0
O ciclo de Cori está representado na Figura 2.21.

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Figura 2.21 | Esquema representativo do ciclo de Cori

Fonte: elaborada pelo autor.

EXEMPLIFICANDO

O ácido láctico ou lactato, apesar de ser um ácido, atua como


um agente neutralizador de prótons ( H ). Podemos ver isso
+

em algumas situações. Por muito tempo, o lactato produzido


nos músculos esqueléticos foi considerado o grande
responsável pelas dores musculares e cãibras nos praticantes
de exercícios físicos, porém novas pesquisas estão
desmitificando o papel de vilão do lactato. Atualmente, ele é
visto como um agente neutralizador de outros ácidos
produzidos durante os exercícios físicos, apesar de não ser um
sistema-tampão como o do íon bicarbonato. Pessoas com
deficiência da enzima lactato desidrogenase muscular não
produzem lactato nos músculos esqueléticos, portanto, a
consequência disso é uma maior resistência à fadiga muscular,
porém não foi isso o observado nessas pessoas, pelo contrário,
essas pessoas apresentavam intolerância ao esforço físico.
Outra situação é o uso da solução de Ringer lactato para
corrigir acidemias leves, geralmente no pós-cirúrgico. Essa
solução aquosa é composta por vários íons (sódio, cloreto,
potássio e cálcio) e pelo lactato. Uma explicação bioquímica

0
para esse paradoxo da ação do lactato está na reação química

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da fermentação láctica, que é reversível e catalisada pela
enzima lactato desidrogenase.

Vimos o sentido da reação em que o piruvato é convertido em


lactato, porém também ocorre o sentido inverso da reação, ou
seja, o lactato é convertido em piruvato. Essa última reação
ocorre quando a oxigenação dos tecidos é suficiente para
atender a sua demanda metabólica. Então, quando o lactato é
convertido em piruvato, ocorre uma reação de redução, em
que NAD+ recebe elétrons, tornando-se NADH. Porém, para
que essa redução aconteça, é necessária a participação de um
próton, portanto, para cada lactato convertido em piruvato,
ocorre a retirada de um próton do meio, o que neutraliza a
acidez e eleva o pH.

O controle da glicemia depende do equilíbrio das ações de dois


hormônios pancreáticos: o glucagon e a insulina. O glucagon tem efeito
hiperglicemiante, atuando no fígado, nos períodos entre refeições e de
jejum, para estimular a glicogenólise e a gliconeogênese, disponibilizando
maior oferta de glicose para a corrente sanguínea. A insulina apresenta
efeito hipoglicemiante, atuando após as refeições e em situações em que
há aumento da glicemia (como no estresse, com a liberação de
glicocorticoides que apresentam efeito hiperglicemiante). Ela atua no
fígado para inibir a gliconeogênese e para estimular a glicogênese; já nas
fibras musculares e nos adipócitos, a insulina aumenta a quantidade de
GLUT-4, permitindo que essas células captem grande quantidade de
glicose do sangue, o que leva à redução da glicemia.

0
Aqui terminamos esta seção dedicada ao estudo da digestão e absorção
de carboidratos, bem como das vias metabólicas glicólise, oxidação do

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piruvato, fermentação, glicogênese, glicogenólise e gliconeogênese. Na
próxima seção, estudaremos a bioenergética, destacando os conceitos de
função e síntese de ATP, fosforilação oxidativa e via da pentose-fosfato.

FAÇA A VALER A PENA


Questão 1
Os dissacarídeos obtidos da alimentação ou derivados da digestão do
amido são substratos para a hidrólise enzimática no duodeno, resultando
em monossacarídeos que são absorvidos pela mucosa duodenal. Os
dissacarídeos mais importantes na digestão de carboidratos são:
sacarose, lactose e maltose.

Considerando esses dissacarídeos, as glicosidases responsáveis pelas


suas hidrólises e os produtos resultantes dessas hidrólises enzimáticas,
assinale a alternativa correta.

a. A sacarose é hidrolisada em uma reação catalisada pela sacarase, resultando na liberação de


duas unidades de glicose.

b. A enzima lactase, presente na mucosa bucal, catalisa a hidrólise da lactose, resultando na


liberação de frutose e galactose.

c. A maltose é produto da digestão do amido pelas alfa-amilases salivar e pancreática, na boca e


no duodeno, respectivamente.

d. A enzima maltase catalisa a hidrólise da maltose no duodeno, resultando na liberação de


frutose e galactose.

e. A hidrólise do amido é catalisada pela maltase, originando a maltose, que, em seguida, é


degradada em glicose com a participação da alfa-amilase.

Questão 2
A glicose é uma molécula polar e, portanto, não consegue atravessar a
barreira lipídica da membrana plasmática, logo, para entrar na célula, ela
necessita do auxílio de uma família de proteínas transmembranas,
chamadas de transportadores de glicose (GLUT). Existem várias isoformas

0
de GLUT com diferenças espaciais, físico-químicas e funcionais.

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Em relação às diferentes isoformas de GLUT, assinale a alternativa
correta.

a. As isoformas GLUT-1 e GLUT-3 estão presentes em quase todas as células e são responsáveis
pela captação basal de glicose. A quantidade e a atividade dessas isoformas de GLUT dependem
da ação da insulina.

b. GLUT-2 das células beta pancreáticas serve como sensor de glicemia; só é ativo em casos de
hiperglicemia, como ocorre logo após as refeições, e sua ativação leva à liberação de insulina
pelas células beta pancreáticas.

c. Em situações de hipoglicemia, o glucagon, um hormônio pancreático, estimula o aumento da


quantidade de GLUT-2 hepático, com isso, os hepatócitos podem liberar muito mais glicose para
a corrente sanguínea e aumentar a glicemia.

d. A isoforma GLUT-4 está presente nas fibras musculares e adipócitos, permitindo a captação
basal de glicose por essas células. A quantidade dessa isoforma nas células não depende da
ação da insulina.

e. A ação hipoglicemiante da insulina ocorre por meio do estímulo ao aumento da quantidade


da isoforma GLUT-2 nos hepatócitos, assim, essas células conseguem captar mais glicose da
circulação sanguínea, abaixando a glicemia.

Questão 3
Em caso de parada cardíaca, cessa o fluxo sanguíneo aos tecidos e,
portanto, estabelece-se uma situação de anóxia ou hipóxia. Após a
ressuscitação cardiopulmonar (RCP), a função cardiovascular é retomada,
permitindo o retorno da circulação sanguínea e, portanto, da oferta de
gás oxigênio aos tecidos. Porém, verifica-se que o paciente apresenta
acidose metabólica pós-RCP.

Considerando as informações do texto e seus conhecimentos de


Bioquímica, assinale a alternativa correta.

a. Em situação de insuficiência de gás oxigênio, as células aumentam a taxa de glicólise,


resultando na produção de energia e piruvato. O excesso de piruvato formado é o responsável
pela acidemia do paciente.

b. Em situação de anóxia ou hipóxia, a oxidação completa da glicose ocorre em altas taxas,


fornecendo muita energia e lactato. Com o excesso de lactato, o pH do sangue diminui, o que
caracteriza a acidose metabólica.

0
c. O gás oxigênio não é importante para a produção de energia, pois a respiração anaeróbica,
representada pela glicólise, é a principal fornecedora de ATPs para as necessidades das células.

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d. Na parada cardíaca, ocorre aumento das taxas de glicogenólise e gliconeogênese, o que
possibilita maior oferta de glicose para a fermentação. Nessa via metabólica, a glicose é
convertida em lactato, que, em excesso, provoca acidose metabólica.

e. Na parada cardíaca, a fermentação é essencial para a manutenção da glicólise e a


continuação da produção de energia em condições anaeróbicas, porém o produto da
fermentação é o lactato, que, em excesso, provoca acidemia.

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