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01/06/2022

 Unidade de Ensino 2: Carboidratos

● Seção 2.2: Digestão e absorção de carboidratos. Glicólise


e a oxidação do piruvato. Glicogênese. Gliconeogênese e o
controle da glicemia.

Bioquímica Aplicada à Saúde

Prof. MSc. André B. da Silveira

 A glicose (um monossacarídeo) é a principal fonte de  Uma vez que a glicose, o principal carboidrato
energia na natureza e utilizada por todos os absorvido pelo organismo, encontra-se na circulação
organismos, por isso, o conhecimento das reações sanguínea, como essa molécula polar atravessa a
químicas que retiram a energia da glicose é tão barreira lipídica da membrana plasmática?
importante (sem contar as implicações desses processos
metabólicos na fisiopatologia de muitas doenças.  Como o organismo regula a concentração plasmática
de glicose ou glicemia?
 Assim, nesta seção, serão estudados a digestão e
absorção de carboidratos obtidos por meio da  Há alguma relação com a diabetes mellitus?
alimentação.
 Finalmente, veremos as vias metabólicas que
 Como carboidratos complexos, tais como o glicogênio o utilizam a glicose para a produção e o armazena-
e amido, são digeridos? mento de energia.

 Por que não conseguimos digerir a celulose?

 Como se forma a nossa reserva de glicose (o glicogênio)  Em um centro oncológico sabe-se que, em parte dos
nas células? pacientes é comum que os mesmos apresentem
quadros de hipoglicemia e de acidose metabólica.
 Como essas células mobilizam a glicose a partir do
glicogênio?
 A taxa de crescimento do número de células
 As vias metabólicas dos carboidratos só servem para a cancerígenas é muito alta, maior que a taxa de
vascularização do tumor em crescimento.
produção de energia?
└ dessa maneira, a maior parte das células do
 Somos capazes de produzir glicose? tumor cresce em condições de hipóxia, pois essas células
estão afastadas dos vasos sanguíneos formados no tumor
 Esses são conceitos mais complexos, porém com grandes e, portanto, recebem pouco gás oxigênio.
implicações na área da Saúde, pois estão relacionados a
muitos processos fisiopatológicos.

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 Ao mesmo tempo, essas células tumorais têm grande


atividade metabólica devido ao grande número de
mitoses para o crescimento do tumor, e essa atividade
metabólica alta demanda maior quantidade de energia.

 Nesse momento, você se questiona em relação aos


aspectos bioquímicos do crescimento do tumor:
└ você sabe que, em situação de hipóxia, as células
utilizam a fermentação para a manutenção da glicólise, porém
essa via metabólica gera pouca energia quando comparada à
oxidação completa da glicose.

 Como explicar então a relação entre essa situação


metabólica das células tumorais e o quadro
clínico de hipoglicemia e acidose metabólica?

 Nesta seção 2.2, iniciamos os nossos estudos das vias


metabólicas produtoras de energia, que também
fornecem intermediários para várias vias de
biossíntese no organismo.

 As primeiras etapas da oxidação da glicose (a


fermentação, a glicogênese, a glicogenólise e a
gliconeogênese) são as vias metabólicas que estão
presentes nesta seção 2.2.

 Serão abordados, também, a digestão e absorção dos


carboidratos, bem como o transporte transmembrana
da glicose.

 O metabolismo é o conjunto das reações químicas  As vias catabólicas ou catabolismo envolvem as


que ocorrem nos seres vivos, porém essas reações reações químicas que decompõem moléculas
químicas estão encadeadas, sendo que o produto de complexas em moléculas mais simples.
uma reação será o substrato de outra reação
química, portanto:
 Como exemplo, podem-se citar:
└ as reações químicas que ocorrem nos organismos
- a digestão dos carboidratos e a oxidação da glicose.
são interdependentes e coordenadas.

 As vias metabólicas podem ser divididas em


catabólicas e anabólicas.

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 As vias anabólicas ou anabolismo envolvem as


reações que sintetizam moléculas mais complexas a
partir de moléculas mais simples, com utilização de
energia no processo.

 Como exemplo de anabolismo, pode-se citar:


- a síntese de peptídeos e proteínas a partir dos
aminoácidos, como visto na unidade 1. VIAS CATABÓLICAS

VIAS CATABÓLICAS VIAS CATABÓLICAS


 A nossa primeira via catabólica é a digestão dos  Alguns carboidratos estão presentes na nossa alimen-
carboidratos que ocorre no trato gastrintestinal. tação, tais como:
- o amido e a celulose, presentes nos vegetais;
 A glicose é a principal fonte de energia para a maioria - o glicogênio, presente nas carnes;
das células, sendo substrato para as reações oxidativas, - a lactose, presente no leite e derivados;
resultando em produção de energia, mas, agora, a - e, a sacarose, presente no açúcar de cana e de beterraba.
questão é: como obtemos a glicose?

 Esses carboidratos sofrem hidrólise catalisada


 Bom, a resposta é: por glicosidases específicas, principalmente na
└ pelos alimentos que serão processados no trato boca e no duodeno, e essas glicosidases catalisam
gastrintestinal a hidrólise das ligações glicosídicas entre os
monossacarídeos.

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 Na boca, inicia-se a digestão do amido e do glicogênio


pela ação da enzima alfa-amilase salivar (ou ptialina)
presente na saliva; essa enzima catalisa a hidrólise das
ligações glicosídicas do tipo (alfa 1 –> 4), ou seja, as
ligações entre o carbono 1 da alfa-D-glicose e o carbono
4 de outra alfa-D-glicose.

 Esse tipo de ligação está presente tanto no amido


quanto no glicogênio.

 A celulose, também presente nos vegetais, é composta


por moléculas de D-glicose ligadas entre si por ligações
do tipo (beta 1 –> 4), que não são reconhecidas pelas
enzimas alfa-glicosidases, como a alfa-amilase salivar e
alfa-amilase pancreática, portanto, a celulose não é
digerida por nós e nem por outros animais.

SISTEMA
DIGESTÓRIO

 A celulose e outras substâncias que resistem à digestão  Há animais que conseguem digerir a celulose, como os
enzimática são chamadas de fibras. ruminantes (como exemplo, temos os bois, as vacas, os
cavalos e as ovelhas) e os cupins, pois possuem nos seus
 As bactérias da microbiota intestinal podem realizar a tratos gastrintestinais bactérias que produzem uma enzima
fermentação dessas fibras, resultando em ácidos graxos de específica, a celulase, que catalisa a hidrólise das ligações do
cadeia curta. tipo (beta 1 –> 4) presentes na celulose.

 Esses ácidos graxos e as fibras não fermentadas aumentam


o volume fecal, o que estimula o peristaltismo intestinal e,
consequentemente, melhora a motilidade intestinal, por
isso, a ingestão de celulose e de outras fibras é importante
para regular a função do intestino e as evacuações.

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 Após a digestão parcial do amido e do glicogênio na SISTEMA


boca, os oligossacarídeos resultantes, além de
DIGESTÓRIO
dissacarídeos sacarose e lactose, resistentes à ação da
alfa-amilase salivar, são direcionados para o estômago;
nesse órgão, não ocorre a digestão enzimática dos
carboidratos, pois a acidez do meio desnatura a alfa-
amilase salivar deglutida com os alimentos.

 Em seguida, os carboidratos, presentes no quimo,


alcançam o duodeno, onde ocorrem as etapas finais da
digestão dos carboidratos, além da absorção dos
monossacarídeos pela mucosa duodenal.

 No duodeno, a enzima alfa-amilase pancreática  As enzimas presentes no epitélio duodenal (alfa-


continua com a digestão enzimática dos oligossa- dextrinase, maltase, isomaltase, sacarase e lactase)
carídeos, originando, principalmente, os dissacarídeos terminam a digestão dos carboidratos:
maltose e isomaltose, o trissacarídeo maltotriose, bem
como, pequenos polímeros de D-glicose: as chamadas *a alfa-dextrinase catalisa a hidrólise das alfa-dextrinas,
alfa-dextrinas. liberando as unidades de glicose;

*a maltase catalisa a hidrólise da maltose e da


maltotriose, enquanto a isomaltase catalisa a hidrólise
da isomaltose, liberando as unidades de glicose;

*a sacarase catalisa a clivagem hidrolítica da sacarose,


liberando glicose e frutose;

*e, finalmente, a hidrólise da lactose é catalisada pela


lactase, resultando na liberação de glicose e galactose.

 No duodeno e na parte inicial do jejuno, ocorre a


absorção dos monossacarídeos resultantes da digestão
dos carboidratos, especialmente a glicose, que
corresponde a mais de 80% de todos os monossacarídeos
absorvidos.

 O transporte da glicose e da galactose para o interior


das células da mucosa intestinal é concomitante à
entrada de íons sódio com o auxílio de uma proteína
transportadora: o cotransportador de glicose dependente
de sódio tipo 1 (SGLT-1), e a frutose entra nas células da
mucosa intestinal com o auxílio de uma proteína
transportadora de glicose tipo (ou isoforma) 5, GLUT-5.

 Já digestão dos carboidratos e a absorção dos


monossacarídeos no duodeno estão representados na
figura a seguir.

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 Podem ocorrer deficiências das glicosidases, o que resulta


em digestão anormal dos carboidratos, e podemos destacar
duas delas:
- a intolerância à sacarose e,
- a intolerância à lactose.

 A intolerância à sacarose é devido à deficiência da


enzima sacarase e, traz como suas consequências: diarreia,
distensão abdominal, flatulência e meteorismo.

 Há maior prevalência de casos na população de inuítes


(esquimós) da Groenlândia, do Alasca e do Canadá.

 Já a intolerância à lactose é mais comum, atingindo até


70% da população adulta no mundo, sendo predominante
nos indivíduos negros e asiáticos.

 A enzima lactase tem a sua atividade reduzida devido à


diminuição da sua quantidade, geralmente, a partir dos dois
anos de idade.

 Pode haver outras formas de deficiência da lactase, como a


congênita e a secundária às doenças e lesões no intestino
delgado (como a doença celíaca e a doença de Crohn).

 O tratamento é reduzir o consumo de leite e derivados,


assegurar a ingestão adequada de cálcio por meio de  No duodeno e na parte inicial do jejuno, ocorre a
vegetais e, a depender de indicações médicas, fazer uso de absorção dos monossacarídeos resultantes da digestão
lactase em cápsulas. dos carboidratos, especialmente a glicose, que
corresponde a mais de 80% de todos os
 Entre as manifestações clínicas, podemos destacar: monossacarídeos absorvidos.
- dor abdominal,
- distensão abdominal,
- flatulência,
- meteorismo (acúmulo de gases no trato digestivo, o que pode
acontecer devido à deglutição inconsciente de ar ao comer ou beber
algo rapidamente, levando ao aparecimento de alguns sintomas
como sensação de inchaço, desconforto e distensão abdominal);
- diarreia.

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 Já digestão dos carboidratos e a absorção dos


monossacarídeos no duodeno estão representados a
 O transporte da glicose e da galactose para o interior
figura a seguir.
das células da mucosa intestinal é concomitante à
entrada de íons sódio com o auxílio de uma proteína
transportadora: o cotransportador de glicose depen-
dente de sódio tipo 1 (SGLT-1).

 E, a frutose entra nas células da mucosa intestinal com


o auxílio de uma proteína transportadora de glicose
tipo (ou isoforma) 5, GLUT-5.

 A glicose 6-fosfato pode ser utilizada por várias  O glicogênio é a reserva de glicose das células
vias metabólicas, tais como: animais, sendo que os hepatócitos e as fibras
musculares esqueléticas possuem as maiores concen-
1) a glicogênese (formação do glicogênio); trações de glicogênio.
2) a oxidação pela via da pentose-fosfato para a síntese
de ribose 5-fosfato (carboidrato essencial para a síntese  Nas fibras musculares, o glicogênio fornece as
das pentoses que compõem os nucletídeos, isto é, os moléculas de glicose para a via glicolítica para a
monômeros formadores dos ácidos nucleicos RNA e DNA); produção de energia, visto que essas células consomem
muita energia nos processos de contração muscular.
3) a oxidação pela glicólise para produção de energia.

 No caso dos hepatócitos, o glicogênio é usado para a


1) GLICOGÊNESE - é a síntese do glicogênio

manutenção da glicemia, pois são as únicas células que


possuem a enzima glicose 6-fosfatase, que catalisa a
clivagem do grupo fosfato da glicose 6-fosfato, o que
resulta na formação da glicose livre, que interage com
GLUT e consegue sair da célula.

 Dessa forma, os hepatócitos conseguem liberar a


glicose dos seus estoques de glicogênio para a corrente
sanguínea, mantendo a normoglicemia nos períodos
entre refeições e jejum.

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GLICOGENÓLISE  O metabolismo do glicogênio depende de um equilíbrio


entre as atividades das enzimas glicogênio sintase e
 A degradação do glicogênio é chamada de glicogênio fosforilase, sendo que ambas as ativi-
glicogenólise, que permite mobilizar a glicose dades enzimáticas são reguladas por hormônios.
armazenada para a produção de energia ou, no caso
dos hepatócitos, liberar para a corrente sanguínea  A insulina estimula a atividade da enzima glicogênio
para manutenção da glicemia. sintase e, portanto, estimula a glicogênese.

 A enzima glicogênio fosforilase catalisa a clivagem  E, a adrenalina e o glucagon estimulam a atividade da


das unidades de glicose do glicogênio, liberando a enzima glicogênio fosforilase e, consequentemente,
glicose 1-fosfato, que, em seguida sofre a ação da aumentam a taxa de glicogenólise.
enzima fosfoglicomutase para ser convertida em
glicose 6-fosfato.

GLICOGENÓLISE  Oxidorredução (redox ou oxi-redução) é a reação


química de transferência de elétrons entre as espécies
químicas (átomos, moléculas e íons) participantes.

 Essa reação química é composta por dois processos que


ocorrem simultaneamente e acoplados:
- a oxidação e,
- a redução.

 A oxidação é o processo em que uma espécie química


perde elétrons, enquanto a redução é um processo em
que uma espécie química ganha elétrons.

 Portanto, enquanto uma espécie química sofre oxidação,


a outra sofre redução, e, assim, ocorre a transferência de
elétrons entre essas espécies químicas.

2) OXIDAÇÃO PELA VIA DA PENTOSE-FOSFATO


PARA A SÍNTESE DE RIBOSE 5-FOSFATO

• Os nucleotídeos são formados por:


base nitrogenada + açúcar (pentose) + grupo fosfato

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3) GLICÓLISE
 Uma outra via metabólica de destino da glicose 6-
fosfato é a glicólise e, com a posterior oxidação do
piruvato.

 A glicólise é a primeira etapa da oxidação completa da


glicose, sendo as duas outras etapas a oxidação do
piruvato e o ciclo do ácido cítrico (ou ciclo de Krebs).

 No final da oxidação, a glicose é convertida em gás


carbônico com produção de energia.

 A glicólise tem duas fases:  A segunda molécula de ATP é utilizada para fosforilar a
- a preparatória e, frutose 6-fosfato em uma reação catalisada pela enzima
- a de pagamento. fosfofrutocinase-1, resultando em frutose 1,6-bifosfato;
a seguir, ocorre a reação que dá nome à via metabólica,
 Na fase preparatória, são necessárias duas moléculas ou seja, a glicólise.
de ATP, por isso, é uma fase em que há consumo de
energia.  A reação é a clivagem da frutose 1,6-bifosfato, uma
molécula com seis carbonos, resultando em duas
 Uma molécula de ATP é utilizada na fosforilação da moléculas de três carbonos, gliceraldeído-3-fosfato e di-
glicose para a formação da glicose 6-fosfato; em seguida, hidroxiacetonafosfato.
a glicose 6-fosfato é convertida em frutose 6-fosfato, em
uma reação catalisada pela enzima fosfo-hexose-
isomerase.  Essa reação química é catalisada pela enzima aldolase
e, assim, encerramos a primeira fase da glicólise: a
 Fase preparatória: consumo de duas moléculas de ATP. preparatória, que se encontra esquematizada, para
melhor compreensão
 Fase de pagamento: formação de quatro moléculas de
ATP e duas moléculas de NADH.

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FASE FASE DE
PREPARATÓRIA PAGAMENTO DA
DA GLICÓLISE GLICÓLISE

OXIDAÇÃO DO
PIRUVATO

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 Dessa maneira, existe um ciclo de reciclagem de NAD,


 Em situações de hipóxia e anóxia, não há gás oxigênio porém na ausência ou insuficiência de gás oxigênio,
suficiente para manter a oxidação completa da glicose. essa reciclagem é interrompida, havendo um acúmulo
de NADH e uma redução da quantidade de NAD+ nas
 Apesar de a primeira etapa da oxidação da glicose células.
(glicólise) ser anaeróbica, as outras etapas dependem da
presença de gás oxigênio na mitocôndria, portanto,  A consequência é que, sem NAD+ disponível, não é
nessas situações, apenas a glicólise continua possível ocorrer a única reação de oxidação da glicólise,
funcionando, porém há uma limitação. isto é, a conversão de gliceraldeído-3-fosfato em 1,3-
bifosfoglicerato, portanto, a glicólise, a única via
produtora de energia em condições anaeróbicas, tem as
 Durante a glicólise, NAD+ é reduzido para formar
suas reações interrompidas.
NADH, que, por sua vez, deixa os elétrons na cadeia
respiratória da mitocôndria, oxidando-se e retornando à
 Para evitar que isso ocorra, as células dispõem de uma
forma NAD+.
via metabólica que permite regenerar NAD+:
└ a fermentação.

Gliconeogênese
 Apesar dos estoques de glicogênio no fígado, o
suprimento de glicose para as demandas metabólicas do
organismo durante o jejum ou período entre refeições
pode não ser o suficiente.

 Isso pode ocorrer em jejuns prolongados ou em


- FERMENTAÇÃO LÁCTICA (ACIMA); atividades físicas muito intensas e/ou prolongadas.
- FERMENTAÇÃO ALCOÓLICA (ABAIXO)
 Para atender a essa demanda, as células possuem uma
via metabólica que é capaz de sintetizar novas
moléculas de glicose a partir de aminoácidos,
lactato e glicerol (molécula liberada da hidrólise dos
triacilgliceróis),:
└ e essa via metabólica é a gliconeogênese,
ocorrendo principalmente no fígado, responsável por até
90% da gliconeogênese, e em menor proporção, nos rins.

 A glicólise e a gliconeogênese não são vias  As reações químicas que relacionam a produção de
metabólicas idênticas que ocorrem em sentido lactato pela fermentação e sua posterior conversão em
contrário, apesar de compartilharem muitas reações glicose pela gliconeogênese fazem parte do ciclo de Cori.
químicas (7 no total de 10 reações).
 A gliconeogênese é regulada por hormônios, sendo
 O glicerol, um dos produtos da hidrólise dos que o glucagon estimula a gliconeogênese por
triacilgliceróis (lipídeos que atuam como reservas de meio do aumento da atividade e da quantidade
energia e que serão estudados na Unidade 3), após das enzimas participantes dessa via metabólica.
algumas reações químicas catalisadas por enzimas, é
convertido em dihidroxiacetona-fosfato, que, por sua  Já a insulina inibe a gliconeogênese, reduzindo a
vez, é convertido em gliceraldeído-3-fosfato, um oferta de glicose para a corrente sanguínea.
intermediário da gliconeogênese.

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 Em situações em que há oferta inadequada de O2 para


os músculos esqueléticos durante atividades físicas mais
intensas, as fibras musculares utilizam os seus estoques
de glicogênio e produzem energia principalmente por
GLICONEOGÊNESE glicólise.

 Para manter a glicólise funcionando em uma situação


com oferta insuficiente de O2, é necessária a via de
fermentação, o que resulta na produção de grande
quantidade de lactato (ou ácido láctico).

 No período de descanso ou de recuperação, a


fermentação láctica muscular cessa, pois, com menor CICLO DE CORI
atividade muscular, a oferta de O2 se torna adequada
para as necessidades metabólicas, porém há uma
grande quantidade de lactato que é removida da
circulação sanguínea para o fígado, onde é substrato
para a via da gliconeogênese, dessa maneira, o excesso
de lactato é convertido em novas moléculas de glicose
que são usadas para repor os estoques de glicogênio das
fibras musculares esqueléticas.

 O controle da glicemia depende do equilíbrio das ações


de dois hormônios pancreáticos: o glucagon e a insulina.

 O glucagon tem efeito hiperglicemiante, atuando


no fígado, nos períodos entre refeições e de jejum, para
estimular a glicogenólise e a gliconeogênese, disponibi-
lizando maior oferta de glicose para a corrente
sanguínea.

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 A insulina apresenta efeito hipoglicemiante,  A situação-problema se refere aos conhecimentos de


atuando após as refeições e em situações em que há Bioquímica que podem ser aplicados na prática clínica
aumento da glicemia (como no estresse, com a liberação no caso de oncologia.
de glicocorticoides que apresentam efeito
hiperglicemiante).  Apesar da aparente simplicidade da questão, ela revela
a necessidade de conhecimentos básicos do metabolismo
da glicose para explicar a ocorrência de um quadro
 Ela atua no fígado para inibir a gliconeogênese e para clínico de hipoglicemia e acidose metabólica.
estimular a glicogênese; já nas fibras musculares e nos
adipócitos, a insulina aumenta a quantidade de GLUT-  A taxa de crescimento tumoral é muito alta, não
4, permitindo que essas células captem grande sendo acompanhada pela formação de vasos
quantidade de glicose do sangue, o que leva à redução sanguíneos suficientes para irrigar adequada-
da glicemia. mente o tumor.

 Dessa maneira, muitas células tumorais estão  Com o tempo, ocorre acúmulo de NADH e redução do
localizadas distantes das redes capilares tumorais, o nível intracelular de NAD+, o que resulta em
que torna o suprimento de gás oxigênio insuficiente interrupção da glicólise, a única via produtora de
para essas células. energia em condições anaeróbicas.

 Sem o aporte adequado de gás oxigênio, a  Para evitar a interrupção da glicólise, as células
oxidação da glicose se torna parcial, pois a tumorais utilizam a via metabólica de regeneração de
oxidação do piruvato, o ciclo do ácido cítrico e a NADH: a fermentação.
fosforilação oxidativa são prejudicados pela menor
disponibilidade de gás oxigênio.  Nessa via metabólica de redução, o piruvato é
convertido em lactato ou ácido láctico, enquanto
 Além disso, as moléculas de NADH não são NADH cede seus elétrons para a reação química,
regeneradas à NAD+ na cadeia respiratória mito- tornando-se NAD+.
condrial, devido à redução da quantidade de aceptor
final de elétrons: o gás oxigênio.

 Com o aumento da disponibilidade de NAD+, devido à  Para compensar o baixo rendimento energético da
fermentação, a glicólise continua funcionando para a glicólise, as células tumorais precisam aumentar a taxa
produção de energia, ao mesmo tempo, as células de glicólise, o que requer maior consumo de glicose;
tumorais, devido à alta taxa de crescimento do tumor, para isso, ocorre o aumento das quantidades de GLUT-
necessitam de muita energia para atender às elevadas 1, GLUT-3 e de enzimas da via glicolítica nas células
demandas metabólicas. tumorais,em resposta ao fator de transcrição induzido
por hipóxia tipo 1 (HIF-1).
 Como a maior parte dessas células, em situação de
hipóxia, só consegue oxidar parcialmente a glicose, a  A consequência é a maior captação de glicose do
produção de energia é pequena. sangue, sem reposição compensatória da dieta e
da gliconeogênese hepática, o que leva a um quadro
de hipoglicemia.

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 Quanto mais agressivo for o tumor, maiores serão


a taxa de glicólise e a captação de glicose do meio.

 Com o aumento da taxa de glicólise, em situação de


hipóxia, também ocorre o aumento da taxa de
fermentação e, consequentemente, o aumento da
quantidade de lactato, e como o lactato é ácido, ocorre a
liberação de prótons, o que reduz o pH do meio, com isso, VIAS ANABÓLICAS
estabelece-se um quadro de acidemia decorrente da
acidose metabólica, visto que a causa primária é o
consumo de íons bicarbonato pelo excesso de prótons
derivados da grande quantidade de lactato produzida
pelo tumor.

 As vias anabólicas ou anabolismo envolvem as  Nesta seção iniciamos o estudo das vias metabólicas da
reações que sintetizam moléculas mais complexas a glicose, em especial, a glicólise e a oxidação do piruvato,
partir de moléculas mais simples, com utilização de ambas envolvendo reações do tipo redox, nas quais
energia no processo. elétrons são transferidos para as moléculas NAD
(nicotinamida adenina dinucleotídeo).
 Como exemplo de anabolismo, pode-se citar:
- a síntese de peptídeos e proteínas a partir dos
aminoácidos, como visto na unidade 1.

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