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SIMULADO DE QUESTÕES INÉDITAS – DPE PR

Direito Administrativo e Financeiro


Profª Mayara Rossales Machado

1) Maria procurou a Defensoria Pública porque precisa trabalhar e não tem com
quem deixar sua filha de 2 anos, uma vez que não há vagas na creche municipal.
Relatou que a Secretaria Municipal colocou sua filha na fila de espera. Com base na
situação hipotética relatada e no entendimento do STF sobre o tema, marque a
alternativa correta:

a) Não cabe ao Poder Judiciário interferir nas questões orçamentárias da municipalidade,


porque não é possível impor aos órgãos públicos obrigações que importem gastos, sem
que estejam previstos valores no orçamento para atender à determinação.

b) No caso narrado, não houve uma negativa definitiva da municipalidade, uma vez que
a criança está na fila de espera regular, não havendo motivos para ajuizamento de ação.

c) A educação infantil compreende creche (de zero a 3 anos) e a pré-escola (de 4 a 5 anos)
e sua oferta pelo Poder Público pode ser exigida individualmente, como no caso narrado.

d) A situação narrada exige uma atuação coletiva, a fim de identificar quantas vagas o
Município dispõe e qual a demanda pela educação infantil, afastando a possibilidade de
uma demanda individual, já que envolve uma política pública ineficiente.

e) A educação básica em todas as suas fases — educação infantil, ensino fundamental e


ensino médio — constitui direito fundamental de todas as crianças e jovens, assegurado
por normas constitucionais de eficácia limitada, atualmente regulamentada pela Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96).

Gabarito: C

Comentários que elucidam a questão:

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1
A educação infantil é direito subjetivo assegurado no próprio texto
constitucional, mediante norma de aplicabilidade direta e eficácia plena, isto é, sem a
necessidade de regulamentação pelo Poder Legislativo. Nesse contexto, os entes
municipais, por meio de políticas públicas eficientes, são primariamente responsáveis por
proporcionar a concretização da educação infantil mediante a adoção de políticas públicas
eficientes, que devem alcançar especialmente a população mais vulnerável.
Eventual omissão estatal na matéria revela uma violação direta ao texto
constitucional, não se podendo considerar que o oferecimento da educação infantil seja
algo que está sujeito a avaliações meramente discricionárias da Administração Pública.
Existe, portanto, um dever constitucional de assegurar o atendimento em creche e pré-
escola às crianças de zero a cinco anos de idade (art. 208, IV), de sorte que eventual
inércia administrativa inaugura a possibilidade de proteção desse direito na via judicial.
Extrai-se da jurisprudência a possibilidade de intervenção do Poder Judiciário mediante
determinações à Administração Pública para que efetue a matrícula de crianças em
creches e pré-escolas, a fim de realizar a promessa constitucional de prestação
universalizada de educação infantil. A jurisprudência do STF firmou-se pela
possibilidade de se exigir judicialmente do Estado uma determinada prestação material
com o objetivo de concretizar um direito fundamental..

Teses fixadas

1. A educação básica em todas as suas fases — educação infantil, ensino


fundamental e ensino médio — constitui direito fundamental de todas as
crianças e jovens, assegurado por normas constitucionais de eficácia plena
e aplicabilidade direta e imediata.
2. A educação infantil compreende creche (de zero a 3 anos) e a pré-escola
(de 4 a 5 anos). Sua oferta pelo Poder Público pode ser exigida
individualmente, como no caso examinado neste processo.
3. O Poder Público tem o dever jurídico de dar efetividade integral às
normas constitucionais sobre acesso à educação básica.
STF. Plenário. RE 1008166/SC, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 22/9/2022
(Repercussão Geral – Tema 548) (Info 1069).

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2) Sobre a responsabilidade civil do Estado em caso de pessoa atingida por bala
perdida durante confronto entre policiais e supostos criminosos, marque a
alternativa correta de acordo com o entendimento do STF:

a) O Estado deverá ser condenado a indenizar, mesmo que a parte autora não consiga
provar que a bala partiu das armas dos policiais.

b) A responsabilidade civil do Estado será afastada caso não seja provado que a bala
partiu das armas dos policiais, uma vez que ausente nexo de causalidade.

c) No caso de vítima atingida por projétil de arma de fogo durante operação policial,
caberá a ela ou seus familiares, no caso de morte, comprovar a existência do nexo de
causalidade, pois ele não pode ser presumido.

d) A ocorrência de ataque de criminosos durante a operação policial é circunstância a ser


sopesada, uma vez que evidencia o fato de terceiro que exclui a responsabilidade civil do
Estado.

e) Se a perícia foi inconclusiva sobre a origem do disparo, estará afastada a


responsabilidade civil do Estado, uma vez que apenas a comprovação da incursão policial
não é suficiente para a responsabilização.

Gabarito: A

Comentários que elucidam a questão:


A responsabilidade civil do Estado depende, para a configuração da ocorrência,
do preenchidos dos seguintes pressupostos:
a) a conduta (ação ou omissão); b o dano sofrido; e c) o nexo de causalidade
entre o evento danoso e a ação ou omissão do agente público. No contexto de incursões
policiais, o Estado deverá ser condenado a indenizar se ficar comprovado: a) o confronto
armado entre agentes estatais e criminosos (isso é a “ação”); b) a lesão ou morte de

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cidadão (dano); c) e que esse dano foi causado por disparo de arma de fogo (nexo de
causalidade). Preenchidos os pressupostos acima, é dever do Poder Público indenizar,
salvo se o Estado comprovar a ocorrência de hipóteses excludentes da relação de
causalidade.

A ação de agentes estatais — munidos de armamento letal, em área urbana


densamente povoada, deflagrando ou reagindo a confronto com criminosos — impõe ao
ente estatal a demonstração da conformidade da intervenção das forças de segurança
pública, visto que possui condições de elucidar as causas e circunstâncias do evento
danoso. A atribuição desse ônus probatório é decorrência lógica do monopólio estatal do
uso da força e dos meios de investigação. O Estado possui os meios para tanto — como
câmeras corporais e peritos oficiais —, cabendo-lhe averiguar as externalidades negativas
de sua ação armada, coligindo evidências e elaborando os laudos que permitam a
identificação das reais circunstâncias da morte de civis desarmados dentro de sua própria
residência.

EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO.


REVOLVIMENTO DE MATÉRIA FÁTICA. DESNECESSIDADE.
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. OPERAÇÃO POLICIAL EM
COMUNIDADE DO RIO DE JANEIRO. MORTE DE CIVIL DESARMADO
NO INTERIOR DE SUA RESIDÊNCIA. TEORIA DO RISCO
ADMINISTRATIVO. COMPROVAÇÃO DA AÇÃO ESTATAL, NEXO
CAUSAL E DANO. ÔNUS DO ESTADO DEMONSTRAR A
CONFORMIDADE DA AÇÃO DE SEUS AGENTES. AGRAVO INTERNO
E RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO PROVIDOS. 1. O
objeto deste recurso extraordinário consiste em definir se estão
configurados os requisitos para responsabilização civil do Estado pela
morte de cidadão – especialmente o nexo causal quando, embora
comprovados o dano e a realização de operação policial no momento do
disparo fatal, não é demonstrado que o projétil que atingiu a vítima foi
deflagrado por agente estatal. 2. As operações policiais no Brasil são
desproporcionalmente letais e desacompanhadas de medidas aptas a assegurar
a conformidade fática e jurídica da ação estatal, conforme assentado pela Corte
Interamericana de Direitos Humanos no caso Favela Nova Brasília e pelo
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Supremo Tribunal Federal na ADPF 635 (Tribunal Pleno, Rel. Min. Edson
Fachin, DJe de 2.6.2022). O Estado brasileiro, a propósito de conter atividades
ilícitas, fere e mata diariamente seus cidadãos, especialmente em comunidades
carentes. A definição da responsabilidade civil do Estado não pode ignorar esse
cenário, sob pena de ressuscitar, por via transversa, o paradigma da
irresponsabilidade estatal. 3. É necessário estruturar o nexo causal entre
dano e ações estatais armadas de modo a contemplar essas circunstâncias
específicas e efetivamente reparar as lesões, restaurar o primado da
igualdade e induzir a adoção pelo Estado de protocolos de atuação de seus
agentes. Isso significa que, no contexto de incursões policiais, comprovado
o confronto armado entre agentes estatais e criminosos (ação), bem como
a lesão ou morte de cidadão (dano) por disparo de arma de fogo (nexo),
cabe ao Estado comprovar a ocorrência de hipóteses interruptivas da
relação de causalidade. 4. O Estado, que possui os meios para tanto – como
câmeras corporais e peritos oficiais –, deve averiguar as externalidades
negativas de sua ação armada, coligindo evidências e elaborando os laudos que
permitam a identificação das reais circunstâncias da morte de civis desarmados
dentro de sua própria residência. 5. Portanto, se o cidadão demonstra a causa
da morte – disparo de arma de fogo – e evidencia a incursão estatal
armada no momento do dano, estão configurados elementos da
responsabilidade objetiva do Estado, de modo que cabe a este comprovar
a interrupção do nexo causal, evidenciando (i) que os agentes estatais não
provocaram as lesões, seja porque, por exemplo, não dispararam arma de
fogo ou engajaram em confronto em local diverso do dano; ou (ii) a culpa
exclusiva da vítima ou fato de terceiro. A mera negativa de ação estatal
ilícita, sem a demonstração da interrupção do nexo causal e da conformidade
da incursão armada de agentes de segurança pública, com o esclarecimento da
dinâmica factual, não é suficiente para afastar a responsabilidade civil do
Estado. 6. Agravo interno e recurso extraordinário com agravo providos para
julgar procedentes em parte os pedidos e condenar o Estado do Rio de Janeiro
ao pagamento de (i) compensação por danos morais a Jurema Rangel Bento
Paz, no valor de R$ 100.000,00; (ii) compensação por danos morais a Ana Julia
Rangel Donaly, no valor de R$ 50.000,00; e (iii) compensação por danos
morais a Camila Rangel Bento Paz, no valor de R$ 50.000,00. STF. 2ª Turma.
ARE 1.382.159 AgR/RJ, Rel. Min. Nunes Marques, redator do acórdão
Min. Gilmar Mendes, julgado em 28/03/2023 (Info 1089).

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3) Sobre as finanças públicas e as previsões na Constituição Federal, marque a
alternativa correta:

a) O plano plurianual compreenderá as metas e prioridades da administração pública


federal, estabelecerá as diretrizes de política fiscal e respectivas metas, em consonância
com trajetória sustentável da dívida pública.

b) A lei que instituir o plano plurianual estabelecerá, de forma regionalizada, as diretrizes,


objetivos e metas da administração pública federal para as despesas de capital e outras
delas decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada.

c) A lei de diretrizes orçamentárias poderá conter previsões de despesas para exercícios


seguintes, com a especificação dos investimentos plurianuais e daqueles em andamento.

d) A lei de diretrizes orçamentárias não conterá dispositivo estranho à previsão da receita


e à fixação da despesa, não se incluindo na proibição a autorização para abertura de
créditos suplementares e contratação de operações de crédito, ainda que por antecipação
de receita, nos termos da lei.

e) Os recursos correspondentes às dotações orçamentárias, compreendidos os créditos


suplementares e especiais, destinados aos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, do
Ministério Público e da Defensoria Pública, ser-lhes-ão entregues até o dia 30 de cada
mês, em duodécimos, na forma da lei complementar.

Gabarito: B
Comentários que elucidam a questão:
Alternativa A – incorreta: Art. 165. § 2º A lei de diretrizes orçamentárias
compreenderá as metas e prioridades da administração pública federal, estabelecerá as
diretrizes de política fiscal e respectivas metas, em consonância com trajetória sustentável
da dívida pública, orientará a elaboração da lei orçamentária anual, disporá sobre as
alterações na legislação tributária e estabelecerá a política de aplicação das agências

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financeiras oficiais de fomento. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 109, de
2021)
Alternativa B correta, corresponde à previsão do art. 165, §1º, da Constituição
Federal.
Alternativa C, incorreta. Art. 165, § 14. A lei orçamentária anual poderá conter
previsões de despesas para exercícios seguintes, com a especificação dos investimentos
plurianuais e daqueles em andamento. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 102, de
2019)
Alternativa D, incorreta. Art. 165, § 8º A lei orçamentária anual não conterá
dispositivo estranho à previsão da receita e à fixação da despesa, não se incluindo na
proibição a autorização para abertura de créditos suplementares e contratação de
operações de crédito, ainda que por antecipação de receita, nos termos da lei.
Alternativa E, incorreta. Art. 168. Os recursos correspondentes às dotações
orçamentárias, compreendidos os créditos suplementares e especiais, destinados aos
órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria
Pública, ser-lhes-ão entregues até o dia 20 de cada mês, em duodécimos, na forma da
lei complementar a que se refere o art. 165, § 9º.

4) Os princípios orçamentários são aquelas regras fundamentais que funcionam


como norteadoras da prática orçamentária. Marque a alternativa que apresenta de
forma correta um princípio orçamentário com seu respectivo conceito:

a) Pelo princípio da clareza, a lei orçamentária não poderá conter matéria estranha à
fixação das despesas e à previsão das receitas

b) Pelo princípio da exclusividade, nenhuma parcela da receita poderá ser reservada ou


comprometida para atender a certos ou determinados gastos.

c) O princípio da unidade orçamentária diz que o orçamento é uno, ou seja, todas as


receitas e despesas devem estar contidas numa só lei orçamentária.

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d) Pelo princípio da anualidade, todas as receitas e todas as despesas devem constar da
lei orçamentária, não podendo haver omissão.

e) O princípio do equilíbrio estabelece que a elaboração do orçamento deve observar as


limitações legais em relação aos gastos e às receitas.

Gabarito: C

Comentários que elucidam a questão:


Alternativa A, incorreta. No princípio da exclusividade, verifica-se que a lei
orçamentária não poderá conter matéria estranha à fixação das despesas e à previsão das
receitas. Esse princípio está previsto no art. 165, § 8º, da Constituição, incluindo, ainda,
sua exceção, haja vista que a LOA poderá conter autorizações para abertura de créditos
suplementares e a contratação de operações de crédito, inclusive por antecipação de
receita orçamentária.
Alternativa B, incorreta. Segundo o princípio da não-afetação (não-vinculação)
das receitas, nenhuma parcela da receita poderá ser reservada ou comprometida para
atender a certos ou determinados gastos. Trata-se de dotar o administrador público de
margem de manobra para alocar os recursos de acordo com suas prioridades. Em termos
legais, a Constituição Federal, em seu art. 167, inciso IV, veda a vinculação de receita de
impostos a uma determinada despesa, as exceções previstas referem-se à repartição de
receitas em razão dos fundos de participação dos estados e municípios, bem como aqueles
direcionados às ações e serviços públicos de saúde, manutenção e desenvolvimento do
ensino, realização de atividades da administração tributária e prestação de garantias às
operações de crédito por antecipação de receita.
Alternativa C, correta.
Alternativa D, incorreta. Pelo princípio da universalidade, todas as receitas e
todas as despesas devem constar da lei orçamentária, não podendo haver omissão.
Alternativa E, incorreta. O princípio da legalidade estabelece que a elaboração
do orçamento deve observar as limitações legais em relação aos gastos e às receitas e, em

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especial, ao que se segue quanto às vedações impostas pela Constituição Federal à União,
estados, Distrito Federal e municípios.

5) A concessão de uso especial para fins de moradia constitui importante


instrumento de regularização fundiária na medida em que permite a regularização
da posse exercida por particulares em áreas de domínio público, além de possibilitar
o acesso à moradia. Marque a alternativa correta de acordo com as disposições legais
sobre o tema:

a) A concessão de uso especial para fins de moradia será conferida de forma gratuita ao
homem ou à mulher, ou a ambos, caso comprovado casamento ou união estável.

b) O possuidor pode, para o fim de contar o prazo exigido por este artigo, acrescentar sua
posse à de seu antecessor, mesmo que não sejam contínuas.

c) É facultado ao poder público competente conceder autorização de uso àquele que,


possuiu como seu, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, até duzentos e
cinquenta metros quadrados de imóvel público situado em área com características e
finalidade urbanas para fins comerciais

d) O direito de concessão de uso especial para fins de moradia não é transferível por ato
inter vivos ou causa mortis.

e) O título de concessão de uso especial para fins de moradia será obtido pela via
administrativa perante o órgão competente da Administração Pública ou, em caso de
recusa ou omissão deste, pela via judicial.

Gabarito: E

Comentários que elucidam a questão de acordo com o disposto na MP


2220/2001:
Alternativa A, incorreta.

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Art. 1º, § 1º A concessão de uso especial para fins de moradia será conferida de
forma gratuita ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.
Alternativa B, incorreta. Art. 2º, § 2º O possuidor pode, para o fim de contar o
prazo exigido por este artigo, acrescentar sua posse à de seu antecessor, contanto que
ambas sejam contínuas.
Alternativa C, incorreta. Art. 1o Aquele que, até 22 de dezembro de 2016,
possuiu como seu, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, até duzentos e
cinquenta metros quadrados de imóvel público situado em área com características e
finalidade urbanas, e que o utilize para sua moradia ou de sua família, tem o direito à
concessão de uso especial para fins de moradia em relação ao bem objeto da posse, desde
que não seja proprietário ou concessionário, a qualquer título, de outro imóvel urbano ou
rural.
Alternativa D, incorreta. Art. 7º O direito de concessão de uso especial para fins
de moradia é transferível por ato inter vivos ou causa mortis.
Alternativa E, correta. Art. 6º da Medida Provisória 2.220/2001.

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