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LINHA DE PESQUISA:
Metafísica, Ciência e Linguagem
Guarulhos
2015
Resumo
Gottlob Frege desenvolveu, durante toda sua vida, o projeto logicista, projeto este que
Posteriormente, Frege recua em sua posição, reconhecendo que a aritmética seja sintética a
priori. Nosso objetivo é demonstrar como o pensamento fregiano utiliza a generalidade como
eixo que favorece essa ruptura e busca preservar as características essenciais do logicismo. A
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Justificativa Filosófica e Desenvolvimento do Tema
princípio das obras de Frege (na Conceitografia, de 1879, Frege já apresenta um quantificador
aplicado à variável para expressar generalidade), o tema evolui junto com o pensamento do
medida em que Frege empreende uma grande mudança em suas concepções a respeito da
considerava sintéticas a priori. Tomando esse princípio como base, Frege empreendeu um
Todavia, em seus escritos póstumos, Frege redefine sua posição e realiza uma
priori. Essa situação, entretanto, não significou a total descaracterização do logicismo, pois as
suas investigações.
que a mudança paradigmática de Frege, explicitamente assumida nesses textos, indicam que
são enunciados de maturidade, frutos de um processo reflexivo intenso, e que não surgiram
apenas em seus últimos anos de vida. Frege desenvolve um conjunto de reflexões a partir das
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Leis Básicas da Aritmética (1902) que lentamente conduzem para as concepções de ruptura
com sua ideia da aritmética ser analítica, fundamentada na lógica e ser estruturada pela teoria
generalidade torna-se protagonista das reflexões fregianas. Como um eixo fixo que torna
possível sua guinada para o campo do conhecimento sintético a priori sem, entretanto,
O ponto de tensão inicial que identificamos é evidenciado por Klement (2004), em seu
artigo intitulado Putting Form Before Function: Logical Grammar in Frege, Russell and
Wittgenstein, que sinaliza dois movimentos contrários no pensamento fregiano e, até certo
(composicionalidade); e, por outro lado, a ideia oposta de que o significado das palavras só
Quando consideramos os textos nos quais essa dicotomia aparece, surgem inúmeras
Como o princípio de contexto aparece ainda muito cedo nas obras de Frege, em 1884,
unicidade entre esses elementos. No referido caso, encontramos uma distinção na qual,
quando Frege afirmaria o princípio de contexto, estaria fazendo com relação aos fragmentos
conciliação dos dois elementos, entretanto, percebemos uma balança pendendo para a
composicionalidade do pensamento.
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Haddock (2006) apresenta um cenário complementar, no qual, embora o princípio de
contexto ainda apareça em seus textos maduros, surgiria de forma restrita, aplicando-se
apenas a variáveis.
pg. 75.)
sentença; pois para o sentido da sentença somente importa o sentido desta parte, e
nome "Ulisses" tem referência ou não. O fato de que nos preocupamos com a
referência de uma parte da sentença indica que admitimos e exigimos uma referência
para a própria sentença. O pensamento perde valor para nós tão logo reconhecemos
que a referência de uma de suas partes está faltando. (FREGE, G. Sobre o Sentido e a
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Aqui temos uma preocupação de Frege em identificar as referências das partes de uma
sentença completa, pois “exigimos uma referência para a própria sentença”. A ideia que
permeia a passagem é a de que as partes de uma sentença, bem como seus sentidos e
(...) “Étna é mais alto que Vesúvio”. Com esta sentença nós associamos um sentido,
sentido, nós temos o nome próprio “Étna” que contribui para o sentido da sentença
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comparação feita por Frege é a de que não é uma soma agregativa que nos fornece a
compreensão de um dado número. Segundo Frege: “isto não prova que os números se formem
números são representações de objetos empíricos e que, portanto, o número dois represente
duas coisas, como duas pedras, por exemplo, ao invés de representar duplicação. O número
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um representa uma coisa, e não unidade. E assim por diante. A mesma crítica ocorre no que
diz respeito à linguagem. Para Frege, uma palavra isolada não pode ser totalmente conhecida.
Somente no contexto seu significado pode aparecer. Isso significa que uma proposição é mais,
em termos de significado, do que a simples soma (agregação) de seus termos isolados. Ela
O que percebemos, por essa oposição, é que o princípio de contexto possui uma
proximidade com a generalidade, pois nos apresenta um sentido geral da proposição que
evidencia-se que, qualquer que seja o número dado, suas propriedades compreendem uma
definição de generalidade que permite com que ele caia sob uma função que o solicite, como
Essa passagem corrobora a ideia de Frege, onde dizer que o princípio de contexto se
sobrepõe ao caráter agregativo de elementos isolados somados para gerar uma proposição é
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equivalente a dizer que a generalidade quantificacional é generalidade sobre uma
multiplicidade de distintos.
no trabalho tardio de Frege, mas ainda é determinante do contexto lógico de identidade dos
objetos.
como recurso próprio da linguagem, mas sim do pensamento. De acordo com Frege:
Dessa maneira, Frege concebe a linguagem como “uma ponte do perceptível para o
imperceptível” (Idem). É a partir dessa ponte perceptível que podemos chegar ao pensamento,
em geral presente na linguagem. Como a parte visível aos sentidos consiste nas sentenças, a
partir delas podemos, como que por um espelho, chegar até o próprio pensamento. Acerca
G. Idem).
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A generalidade lógica, parte presente nos pensamentos, pode ser expressa na linguagem
por meio de diferentes quantificadores, como todos, todo, nenhum, etc., e também por
forma de linguagem-objetiva.
Percebemos que Frege, nesse e em outros registros do mesmo período, parece traçar
juízo: “Segue-se do que foi dito que as sentenças da linguagem-objetiva nunca conferem força
não apresenta nomes próprios e nem pode atuar como premissa para inferência. Isso é
relativamente importante para indicar que sentenças que contém ou expressam generalidade
na forma de linguagem-objetiva não possuem valor de verdade, mas conferem condição para
A força assertórica referenciada nesse artigo não consiste em uma novidade em Frege.
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acrescentar o termo “é verdadeiro” a uma sentença, pois o pensamento expresso continua
sendo apenas um pensamento expresso, e não pensamento asserido. No referido texto, lemos:
primo”.
No presente caso, a força assertiva reside no fato de que uma sentença deve possuir
referência. Na voz de um ator de palco, onde tudo o que se diz é ficção, não existe força
assertiva. Mas também não existe essa mesma força assertiva na generalidade lógica. Os
motivos, entretanto, seguem de maneira diferente. No primeiro caso, o motivo deve-se ao fato
da ficção, da simulação, da representação que não investiga a verdade das proposições e nem
tampouco se ocupa das referências que poderiam ou não possuir. O segundo caso deve-se ao
fato de a generalidade lógica tornar indistinta a identidade, mas prescrever condições para que
essa identidade seja asserida por um processo de inferência e reconhecida em seu valor de
verdade pelo juízo, embora, em sua forma de generalidade, não possua força assertórica e,
portanto, valor de verdade. Essa força assertórica que aqui mencionamos e que nada tem de
relação com a adição da expressão “é verdadeiro” à sentença, tem relação com outro elemento
dinâmica presente em Função e Conceito (1891) e Sobre Conceito e Objeto (1892). Esse
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esta, ao se particularizar, abre a entrada para a multiplicidade, sem a qual não pode haver uma
referência.
generalidade para a particularidade? Essa teoria que parece divergir da concepção da tradição
de comentadores de Frege, como Dummet e Haddock, que partem das estruturas inanalisáveis
no eixo dessa lógica que origina os critérios de verdade para o juízo, uma vez que é no núcleo
intrínseco a essa lógica de extensionalidade entre conceitos e objetos que obtemos os valores
Esse pensamento, presente nas obras mais difundidas do autor, desde Os Fundamentos
da Aritmética, de 1884, até Sobre o Sentido e a Referência, de 1892, entram em contraste com
seus trabalhos mais tardios e maduros, expressos pelos arcos de cartas e textos que delimitam
o que ficou conhecido como Os Fundamentos da Geometria, a partir de 1904, e seus textos
segundo nível, nos quantificadores universais e no conceito de existência e, como foi indicado
relações de segundo nível, de subordinação entre conceitos, pois elas estabelecem as marcas,
notas desses conceitos que se tornarão, nas relações de subsunção, propriedades dos objetos,
que observamos sugere, por um lado, um condicionamento lógico de significado por contexto,
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uma vez que as relações de generalidade, dentre as quais as de existência, criam os contextos
condicionantes dos significados dos objetos e conceitos de primeiro nível, o que reflete na
Por outro lado, parece haver duas orientações em rota de colisão onde, de um lado,
por uma teoria da generalidade que condiciona os significados dessa construção ao próprio
Essa questão se reflete diretamente sobre o sentido e a referência atribuído aos nomes
afirma que tanto o nome próprio quanto o termo conceitual possuem, cada qual, sentido e
referência é um objeto. O mesmo vale para o termo conceitual, que refere um conceito. Se
partirmos do princípio que cada objeto e conceito são referências passíveis de muitos modos
de cada nome próprio e termo conceitual não será dado por aquilo que eles referem, em
primeira instância. Isso porque seus significados são dados a partir de uma relação de segundo
nível, entre conceitos de primeiro nível e conceitos superordenantes. Por essa relação,
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preserva sua significatividade enquanto conceito de segundo nível, mas torna-se vazio quando
surge como conceito de primeira ordem. A subordinação desses conceitos sobre os demais é
que definirá as características desses conceitos de primeiro nível em sua estrutura insaturada e
conceitos e objetos ou, em outros termos, os contextos que definirão os significados possíveis
Frege e que, tanto quanto o paradoxo de Russell, tenham contribuído para a mudança de
não pode ser encontrado na forma lógica do pensamento, dada a generalidade lógica presente,
que não possui força assertórica (um movimento ampliativo ao que foi apresentado em Sobre
o Sentido e Referência), onde o que é verdadeiro pode ser encontrado? Onde residiria a força
e objeto? Ele, o verdadeiro, ainda é asserido no juízo, mas esses movimentos estabelecidos
por Frege não sinalizariam um deslocamento do verdadeiro que não seria mais evidenciado
generalidade poderia ter contribuído para que Frege referenciasse o juízo sintético para o
interior da aritmética?
consiste em:
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1. Identificar as principais tensões oriundas das concepções do princípio de contexto e
composicionalidade;
logicismo;
Cronograma
Referência Bibliográfica
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FREGE, Gottlob. Posthumous Writings. University of Chicago Press, 1979.
FREGE, Gottlob. Sobre o Sentido e a Referência in Lógica e Filosofia da
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TEXTOR, M. Frege On Sense and Reference. London: Ed.: Routledge, 2006.
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