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Diversidade Genética
Termos
Diversidade alélica, aloenzima,
A diversidade genética é necessária para as populações se
polimorfismo de tamanho de adaptarem às mudanças ambientais. Populações grandes de
fragmentos amplificados (AFLP), espécies naturalmente exogâmicas geralmente têm ampla
fingerprint de DNA, eletroforese, diversidade genética, mas esta é tipicamente reduzida nas espécies
valor adaptativo, genoma, equilíbrio em perigo.
de Hardy-Weinberg, herdabilidade,
hermafrodita, heterozigosidade,
íntrons, loco, microssatélite,
DNA mitocondrial (DNAmt),
monomórfico, carga genética,
exogamia, reação em cadeia da
polimerase (PCR), polimorfismo,
sonda, caráter quantitativo,
variação genética quantitativa, locos
de caracteres quantitativos (QTL),
polimorfismo de DNA amplificado
ao acaso (RAPD), polimorfismo
de tamanho em fragmento de
restrição (RFLP), substituição
silenciosa, polimorfismo de
substituição em um único
nucleotídeo (SNP), substituições
sinônimas
Um jabuti de Galápagos e
um eletroferograma de um
sequenciador de DNA ilustrando
a diversidade genética em um loco
de microssatélite entre indivíduos
dessa espécie
IMPORTÂNCIA DA DIVERSIDADE GENÉTICA 13
O cálculo no Exemplo 2.1 mostra que 73% dos alelos neste loco corres-
pondem ao alelo R e 27% ao L.
Diversidade Alélica
O número médio de alelos por loco (diversidade alélica) também é
A diversidade alélica também
é usada para caracterizar a usado para caracterizar o nível de diversidade genética. Por exemplo,
diversidade genética existem dois alelos no loco determinando diferenças na proteína da
clara do ovo nos patos-eider e três alelos num loco de microssatélite em
tendilhões-de-Laysan, descrito abaixo no Exemplo 2.2. Quando mais de
um loco é estudado, a diversidade alélica (A) é a média do número de
alelos de todos os locos (Tabela 2.1). Por exemplo, o leão Africano tem
um total de 33 alelos em 26 locos de aloenzimas amostrados, então
A = 33/26 = 1,27.
Examinemos agora os fatores que influenciam as freqüências dos
alelos e genótipos em uma população, e a relação entre as freqüências
alélicas e genótipicas sob o pressuposto de união aleatória dos gametas
(equivalente ao cruzamento ao acaso).
Equilíbrio de Hardy-Weinberg
Em populações grandes onde a
Vamos iniciar com o caso mais simples – o de uma população gran-
reprodução ocorre ao acaso, as de onde o cruzamento é ao acaso e não existe mutação, migração ou
freqüências alélicas e genotípicas seleção. Neste caso, a freqüência dos alelos e genótipos atinge um
em um loco autossômico equilíbrio depois de apenas uma geração. O equilíbrio é chamado de
atingem o equilíbrio após uma equilíbrio de Hardy-Weinberg, em homenagem a seus propositores.
geração quando não existe Embora simples, o equilíbrio de Hardy-Weinberg é crucial na genéti-
a atuação de nenhuma força ca da conservação e genética evolutiva. Ele proporciona a base para
(ausência de mutação, migração detectar desvios do acasalamento ao acaso, para testar a ocorrência
ou seleção)
de seleção, modelar os efeitos da endogamia e seleção, e estimar as
freqüências alélicas em locos que mostram dominância.
Este caso simples pode ser apresentado como um modelo matemá-
tico que mostra as relações entre as freqüências dos alelos e genóti-
pos. Assuma que estamos trabalhando com um loco com dois alelos
A1 e A2 com freqüências relativas de p e q (p + q = 1) numa população
grande onde os cruzamentos ocorrem ao acaso. Imagine organismos
marinhos hermafroditas (no qual cada indivíduo libera esperma e
ovos) espalhando seus gametas na água, de maneira que espermatozói-
des e ovos unem-se ao acaso (Tabela 2.3). Uma vez que a freqüência do
alelo A1 na população é p, a freqüência dos espermatozóides ou ovos
carregando este alelo também é p. A probabilidade de um espermato-
zóide carregando A1 unir-se com um ovo carregando o mesmo alelo e
produzir um zigoto A1A1 é, portanto, p x p = p2, e a probabilidade de
um espermatozóide A2 fertilizar um ovo A2, para produzir um zigoto
A2A2 é, da mesma forma, q x q = q2. Zigotos heterozigotos podem ser
produzidos de duas formas, não interessando qual gameta contribui
EQUILÍBRIO DE HARDY-WEINBERG 17
Tabela 2.3 |
Freqüências genotípicas resultante da união ao acaso de
gametas para um loco autossômico.
Ovo
A1 A2
p q
2
A1 p p pq
Espermatozóide A1A1 A1A2
A2 q pq q2
A2A1 A2A2
As freqüências dos dois alelos não mudaram, indicando que as fre- 1,00 A 2A 2 A1A1
Genotype frequency
Tabela 2.4 | Comparação das freqüências genotípicas observadas com as esperadas no equilíbrio de Hardy-
Weinberg, para o loco da proteína da clara do ovo do pato-eider.
Genótipos
RR RL LL Total
Números observados (O) 37 24 6 67
Freqüências esperadas p2 2pq q2 1,0
2 2
0,73 2 x 0,73 x 0,27 0,27 1,0
0,5329 0,3942 0,0729 1,0
Números esperados (E) (freqüências esperadas x 67) 35,7 26,4 4,9 67
Heterozigosidade esperada
A diversidade genética num loco é caracterizada pela heterozigosidade
esperada, heterozigosidade observada e diversidade alélica. Para um
EQUILÍBRIO DE HARDY-WEINBERG 19
então o alelo recessivo que causa esta condição tem uma freqüência
estimada de √0,03 = 0,17. Esta é uma freqüência surpreendentemente
alta para um alelo recess ivo letal, mas não é incomum em outras po-
pulações derivadas de muito poucos indivíduos fundadores, incluindo
populações de outras espécies em perigo.
Uma vez que existem vários pressupostos na base deste método de
estimativa de q (acasalamento ao acaso, ausência de seleção ou migra-
ção), esse nunca deve ser usado para locos onde todos os genótipos
podem ser distinguidos.
traduzir
Variação quantitativa
Os caracteres de maior importância na conservação são aqueles que Os caracteres quantitativos são
determinam a saúde e o sucesso reprodutivo dos organismos. Estes in- os de maior importância para a
cluem atributos como número de descendentes produzidos, produção conservação
de sementes nas plantas, habilidade de acasalamento, longevidade,
taxa de crescimento, comportamentos para evitar predadores, peso
corporal, altura, força, etc. Coletivamente, esses tipos de característi-
cas são chamados de caracteres quantitativos. Virtualmente todos os
caracteres quantitativos numa espécie exogâmica exibem diversidade
genética. Por exemplo, diversidade genética tem sido encontrada para
caracteres reprodutivos (produção de ovos nas galinhas, número de
descendentes em carneiros, camundongos, porcos e moscas de frutas,
produção de sementes em plantas, etc.), para taxa de crescimento no
tamanho (em gado, porcos, camundongos, galinhas, moscas de fruta e
plantas), para composição química (conteúdo de gordura em animais,
níveis de proteína e de óleo no arroz), para comportamento (em insetos
e mamíferos) e para resistência a doenças em plantas e animais. Carac-
terísticas quantitativas são determinadas por muitos locos (locos de
caracteres quantitativos, ou QTL).
A diversidade genética para um caráter quantitativo é geralmente
determinada medindo-se as similaridades do caráter entre muitos
indivíduos relacionados e determinando a proporção da variação
fenotípica que é herdável (herdabilidade). Discutiremos isto no Ca-
pítulo 3.
Alelos deletérios
A amplitude da diversidade encontrada nas populações que é atribu- Todas as populações exogâmicas
ível a alelos deletérios é critico em biologia da conservação porque possuem uma ‘carga’ de alelos
esses alelos reduzem a viabilidade e o sucesso reprodutivo quando deletérios raros que podem ser
ocorrem em homozigose devido ao endocruzamento. Alelos deletérios expostos pela endogamia
são constantemente gerados por mutações e removidos pela seleção.
Conseqüentemente, todas as populações exogâmicas contêm alelos
raros deletérios (carga genética). Geralmente eles ocorrem em freqü-
ência menor que 1%. São exemplos as síndromes genéticas humanas
raras, tais como fenilcetonúria, albinismo e doença de Huntington.
Síndromes equivalentes existem nas populações selvagens de plantas
e animais. Por exemplo, mutações que levam a ausência de clorofila
são encontradas em muitas espécies de plantas. Uma gama de defeitos
com bases genéticas têm sido descritas em muitos animais que estão
em perigo (nanismo no condor da Califórnia, má absorção de vitamina
E no cavalo-de-Przewalski, criptorquidismo e defeitos cardíacos fatais
na pantera da Florida, ausência de testículos em coalas e ausência de
pelagem nos lêmures vermelho-com-colar (red-ruffed lemur).
22 DIVERSIDADE GENÉTICA
Proteínas
Muitas informações sobre a A primeira medida de diversidade genética molecular foi feita em 1966
diversidade genética têm sido pelo estudo da variação alélica em locos que codificam para proteínas
obtidas usando-se eletroforese solúveis. A técnica usada para distinguir as variantes é a eletrofore-
para separação de proteínas se, a qual separa as moléculas de acordo com a sua carga elétrica e
massa molecular em um gradiente de potencial elétrico (Quadro 2.1).
Entretanto, somente cerca de 30% das mudanças no DNA resultam em
mudanças nas cargas das proteínas, de maneira que essa técnica subes-
tima significativamente a medida total da diversidade genética.
A eletroforese de proteínas é tipicamente realizada usando-se amos-
tras de sangue, fígado ou rim em animais, ou folhas e pontas de raízes
nas plantas, uma vez que estes contêm ampla quantidade e variedades de
proteínas solúveis. Conseqüentemente, os animais devem ser capturados
para obterem-se amostras de sangue, ou mortos para obterem-se amostras
de fígado ou rim. Estas práticas são indesejáveis para espécies em perigo.
Proteínas solúveis são moléculas relativamente frágeis e as técnicas para
o seu estudo, ao contrário das técnicas para estudo do DNA, requerem
amostras frescas ou recém-congeladas logo após sua obtenção.
As primeiras análises de variações eletroforéticas, em humanos e
Existe extensiva diversidade
genética em locos que codificam
moscas de frutas, surpreendentemente revelaram altos níveis de di-
para proteínas na maioria das versidade genética. Resultados similares são encontrados para muitas
populações grandes de espécies espécies que possuem tamanhos populacionais grandes. Por exemplo,
exogâmicas. Através da análise em humanos (baseado em 104 locos) 32% dos locos são polimórficos
em eletroforese verifica-se com uma heterozigosidade média de 6%. A Tabela 2.5 sumariza as
que, em média, 28% dos locos heterozigosidades de aloenzimas para vários grupos taxonômicos
são polimórficos e 7% são principais. A heterozigosidade média (H) dentro das espécies é menor
heterozigotos nos vertebrados (6,4%) do que nos invertebrados (11,3%), possivelmente
devido ao menor tamanho populacional nos vertebrados.
Negative pole
Power Buffer
supply Initial positions
of proteins
S Positions of
F proteins after
migration
Gel
Buffer traduzir
Positive pole
DNA
Coleta de amostras de DNA para medidas de diversidade genética
Qualquer material biológico contendo DNA pode ser usado para medir
a diversidade genética com técnicas moleculares modernas. São apro-
priados, por exemplo, pêlos soltos, pele, penas, fezes, urina, cascas de
ovos, sangue, tecidos, saliva e sêmen. Peles de museu e tecidos preser-
vados proporcionam material adequado e até mesmo fósseis podem
ser genotipados. Os únicos requisitos são que as amostras contenham
algum DNA não degradado e que não exista contaminação com DNA
de outros indivíduos ou espécies proximamente relacionadas.
traduzir
SEQÜENCIAMENTO DE DNA
A maneira mais direta para medir a diversidade genética é determinar a seqüência
de bases do DNA. Isto é geralmente feito usando-se seqüenciadores de DNA.
O seqüenciamento ainda é relativamente demorado e caro, e tem sido usado
primariamente para propósitos taxonômicos, onde o DNAmt e/ou locos nucleares
são seqüenciados para um pequeno número de indivíduos. Entretanto, melhorias
técnicas têm reduzido marcadamente os custos e o tempo para o seqüenciamento
de DNA, como é evidente no Projeto Genoma do DNA Humano e em esforços
similares para outras espécies.
OUTROS MÉTODOS
Outros métodos, incluindo polimorfismo de tamanho em fragmento de restrição
(RFLP), polimorfismo de DNA amplificado ao acaso (RAPD), polimorfismo de
tamanho em fragmento amplificado (AFLP), polimorfismo de conformação em fita
simples (SSCP) e polimorfismo de um único nucleotídeo (SNP) são detalhados em
Frankham et al. (2002).
Tabela 2.7 | Níveis de diversidade genética de microssatélites numa série de espécies ameaçadas e espécies
relacionadas não ameaçadas. O número médio de alelos por loco (A) e heterozigosidade (H) são dados
para os locos polimórficos. As espécies globalmente ameaçadas, ou previamente ameaçadas, são colocadas
adjacentes às espécies não ameaçadas mais relacionadas para as quais existem dados disponíveis.
Espécies ameaçadas A H Espécies não ameaçadas A H
Rinoceronte preto 4,2 0,69 Búfalo Africano 8,6 0,73
Lobo mexicano 2,7 0,42 Lobo cinza 4,5 0,62
Lobo da Etiópia 2,4 0,21 Coiote 5,9 0,68
Cachorro selvagem Africano 3,5 0,56 Cachorro doméstico 6,4 0,73
Gueopardo 3,4 0,39 Leão Africano 4,3 0,66
Corvo Mariana 1,8 0,16 Corvo Africano 6,0 0,68
Falcão-de-Mauritius 1,4 0,10 Falcão Europeu 5,5 0,68
Falcão-de-Seychelles 1,3 0,12 Falcão Maior 4,5 0,59
Falcão peregrino 4,1 0,48 Falcão Menor 5,4 0,70
Coala 8,0 0,81
Lasirhinus krefftii do norte 2,1 0,32 Lasirhinus krefftii do sul 5,9 0,71
Marsupial Potorous de pata-longa 3,7 0,56 Wallaby Petrogale assimilis 12,0 0,86
Wallaby Onychogalea fraenata 11,6 0,83
Dragão-de-Komodo 4,0 0,31 Jacaré Americano 8,3 0,67
Mogno 9,7 0,55 Mogno Real 9,3 0,67
Fonte: Frankham et al. (2002).
LEITURAS SUGERIDAS
'Frankham, R., J. D. Ballou & D. A. Briscoe. 2002. Introduction to Conservation
Genetics. Cambridge University Press, Cambridge, UK. Chapters 3--5
have extended treatments of these topics, plus references.
Avise, J. C. & J. Hamrick. (eds.) 1996. Conservation Genetics: Case Histories
from Nature. Chapman & Hall, New York. Advanced scientific reviews
on the conservation of major groups of animals and plants, including
considerable information on genetic diversity.
Smith, T. B. & R. K. Wayne. (eds.) 1996. Molecular Genetic Approaches in
Conservation. Oxford University Press, New York. Contains information
on genetic diversity in threatened species and the diverse molecular
Cheetah methods for measuring it. Advanced.