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DA
Educação Física, Saúde e
Qualidade de Vida
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou
transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo
fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão
de informação, sem prévia autorização, por escrito, do Grupo Ser Educacional.
5
Carta de boas-vindas ao estudante
Prezado(a) estudante,
Este é o nosso desafio com esse tema: apresentar a você, estudante, conceitos e refle-
xões para que compreenda a relação entre a Educação Física, a saúde e a qualidade de
vida. Por isso, oferecemos elementos para que você possa identificar esses conceitos,
refletir criticamente sobre a sua prática e atuar com qualidade em diferentes contextos.
Enfim, Educação Física, saúde e qualidade de vida são assuntos em evolução perma-
nente.
Bons estudos!
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Objetivos gerais da disciplina
Ao final desta disciplina, esperamos que você seja capaz de:
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Unidade 1
Conceitos Fundamentais
de Qualidade de
Vida e Saúde
Unidade 1
Objetivos da Unidade
• Conhecer os conceitos fundamentais da qualidade de vida relacionados à prática
de atividades motoras
• Apontar os principais indicadores da qualidade de vida e sua utilização na Educa-
ção Física.
Contextualizando
Imagine a seguinte situação: você é professor em uma academia e recebe um aluno novo
para treinar. Na entrevista inicial, ele afirma que está ali em busca de qualidade de vida.
Afinal, o que exatamente ele quer dizer com isso?
A expressão “qualidade de vida” é utilizada diariamente pelas pessoas nos mais diver-
sos contextos da sociedade. É comum que tal expressão seja relacionada à melhoria
de algum aspecto da vida e que em alguns casos signifique que uma pessoa está mais
próxima da felicidade ou tinha um problema específico que foi superado. O uso dessa
expressão na vida das pessoas faz parte do senso comum. O senso comum pode ser
caracterizado por um conjunto de opiniões, ideias e concepções em um determinado
contexto social, as quais se impõem como naturais e necessárias, não exigindo profundas
reflexões ou questionamentos. Nesse sentido, esse tipo de conhecimento é diferente do
conhecimento científico, que é um conhecimento que tem origem em um método de
pesquisa e pressupõe o uso de rigor científico e reflexão crítica.
12
De olho
1. A ciência é a busca pela verdade e, portanto, a análise deverá ser feita sem concep-
ções previamente determinadas, ou seja, uma vez que tenham sidos respeitados os
princípios teóricos e metodológicos adequados para o estudo do tema, as evidên-
cias encontradas devem ser respeitadas
2. Boas evidências não precisam de ajuda, ou seja, o fato de existir uma hipótese não
significa que se deve forçar um cenário para que a hipótese seja confirmada
3. Escolher um recorte muito específico, um tratamento estatístico limitado ou qual-
quer “jeitinho” que ajude na comprovação da hipótese da pessoa que se propõe a
entender mais sobre um assunto não torna o estudo mais científico ou verdadeiro.
A ideia principal é aprender mais sobre o tema em questão.
13
Partindo da análise da atuação profissional em Educação Física ou de documentos que
orientam essa atuação, parece que o tema qualidade de vida já é um problema resolvido.
Após a regulamentação da Educação Física como profissão, alguns documentos surgiram
para nortear tanto a prática profissional quanto a formação profissional, e em alguns
casos o tema qualidade de vida é mencionado. De certa forma, tais documentos e seus
autores se tornam referências para a sociedade contemporânea.
Se tais referências aparecem de maneira tão consistente nos documentos que fornecem
parâmetros para a atuação profissional, é coerente que também nas Diretrizes Curricula-
res Nacionais para a Educação Física essa relação seja explicitada, pois orienta a estrutura
curricular na formação de profissionais.
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v ariáveis que compõem o conceito de qualidade de vida. Franulovic (2005) alega que,
quanto maior a capacitação do profissional, ou seja, quanto mais conhecimentos um
profissional tem sobre sua atuação, mais recursos ele terá para promover a adesão dos
indivíduos a um estilo de vida ativo. Este aspecto é importante, pois permite ao profis-
sional ter uma gama de possibilidades que permite atender ao cliente, aluno, atleta ou
paciente, de maneira específica e adequada. Imagine a seguinte situação, um indivíduo
quer começar a fazer exercícios físicos, mas acha que caminhar na esteira ergométrica
é monótono. Um profissional capacitado pode pensar em diferentes atividades que do
ponto de vista biológico promovam os mesmos benefícios, e do ponto de vista psicoló-
gico e social sejam mais atrativas a este indivíduo, o que pode promover uma adesão
consistente e permanente a um estilo de vida ativo.
Essas afirmações tão contundentes sobre o assunto podem criar algumas dificuldades
de compreensão, inicialmente porque não estão apresentados os conceitos científicos
adotados para os termos qualidade de vida e atividade física, e ainda podem causar a
impressão de que a promoção da atividade física por si só pode melhorar a qualidade de
vida de uma sociedade, e no caso a Educação Física teria essa incumbência e responsa-
bilidade. Para alcançar um objetivo tão grandioso, seria necessário um conjunto consis-
tente de conhecimentos.
Assim, o estudo científico sobre qualidade de vida, atividade física e suas relações ainda
é um grande desafio. Thomas e Nelson (2002) lembram que a ciência tem a intenção de
compreender e explicar fatos e situações; portanto, o processo investigativo deve ser
sistemático e cauteloso. Nesse caso, particularmente dois aspectos são essenciais: esta-
belecer os conceitos de qualidade de vida e atividade física e procurar compreender
sua interação.
15
1.1 Qualidade de vida e saúde
A preocupação com a qualidade de vida, seu significado e os mais variados aspectos
relacionados ao tema é tão antiga quanto a própria civilização. Reflexões sobre o que
constitui a satisfação dos indivíduos têm permeado a trajetória da humanidade ao
longo dos séculos. Uma das referências históricas mais conhecidas sobre o conceito de
qualidade de vida é a obra Moral de Aristóteles que menciona a relação entre a boa vida
e a virtude. Aristóteles profere que a perfeita finalidade do homem não pode ser outra
senão a felicidade. Ao longo do tempo, os conceitos de qualidade de vida, bem-estar e
felicidade estiveram entrelaçados e muitas vezes foram tratados como sinônimos por
fazer parte de um mesmo universo semântico e ideológico. Desde então, políticos e
pensadores têm refletido sobre o tema e assim se destaca a importância da saúde nesse
debate. Um marco histórico nessa trajetória de estudos foi em 1960, quando o então
presidente dos Estados Unidos, Dwight D. Eisenhower, estabeleceu uma política de
bem-estar para o país. Em um documento intitulado Memorando Relativo à Comissão
dos Objetivos N acionais, foi declarado que
Na área da saúde, as discussões sobre a qualidade de vida surgiram nos séculos XVIII e
XIX com o aparecimento da medicina social, período em que estudos específicos come
çaram a fornecer subsídios para a elaboração de movimentos sociais e políticas públicas.
As pesquisadoras Seidl e Zannon (2004) explicam que existem evidências de que o con-
ceito surgiu na literatura médica na década de 1930, período em que havia a finalidade
da definição do conceito relativo à avaliação da qualidade de vida. O tema passou a
ser tratado cientificamente a partir da década de 1970, a princípio com um forte viés
político, e foi responsável por um aumento significativo da produção literária na área
durante esse período. Contudo, é a partir da década de 1980 que o conceito sobre a
qualidade de vida começou a ser abordado considerando-se diferentes dimensões.
Para compreender melhor o fenômeno, estudos empíricos foram feitos e destacava-se
a tendência de definições focalizadas e específicas que auxiliassem na formação de uma
base conceitual consistente para o avanço da ciência. A década de 1990 foi caracterizada
pela concordância entre os especialistas de que o conceito de qualidade de vida remetia
inevitavelmente a dois aspectos centrais: a subjetividade e a multidimensionalidade,
sendo, portanto, um conceito complexo. A análise da literatura produzida até 1995
revela que ainda havia muitos problemas teóricos e metodológicos a serem solucio
nados.
Segundo Pino (2003), existem várias formas de conceituar a qualidade de
vida:
A. Como qualidade das condições de vida (seria um componente objetivo)
16
B. Como a satisfação pessoal com as condições de vida (seria um compo-
nente subjetivo)
C. Combinação das condições de vida com a satisfação
D. Combinação das condições de vida com a satisfação pessoal, segundo
o que considera o próprio sujeito em função da sua escala de valores e
aspirações pessoais.
Os pesquisadores Ros et al. (1992) constataram que a maioria dos autores ressalta a
necessidade de conceituação para poder determinar o que é uma boa ou má qualidade
de vida, que parâmetros a definem e que importância têm seus componentes objetivos
e subjetivos. Cada um dos componentes da qualidade de vida se refere a certas áreas
relevantes de avaliação e recebem denominações ligeiramente diferentes segundo os
autores, mas para Pino (2003) esses componentes poderiam ser agrupados da seguinte
forma:
l Bem-estar físico
l Bem-estar material
l Bem-estar social
l Desenvolvimento e atividade
l Bem-estar emocional.
17
urbanos, por meio de dados estatísticos e também opiniões dos cidadãos que moram
nas cidades, o que caracteriza os dados subjetivos. A combinação das duas abordagens,
objetiva e subjetiva, seria uma perspectiva promissora de avaliar a qualidade de vida da
maneira mais completa possível.
Parece ser claro então que a abordagem da qualidade de vida é tão variada quanto as
áreas que decidem estudá-la. Farquhar (1995) alega que essa falta de consenso pro-
vavelmente existe por ser uma área de estudo amplamente multifacetada e de grande
relevância atual.
Além disso, mesmo em uma única área, qualquer termo contempla diversos significa-
dos que expressam valores, experiências e conhecimentos individuais e coletivos que
se encontram em contextos, épocas e espaços distintos, o que imprime aos conceitos
a marca da relatividade cultural e sua característica de construção social. Tal relativi-
dade resulta na abordagem do tema no âmbito individual, balizado por pelo menos três
parâmetros: o parâmetro histórico, que remete à análise do desenvolvimento econô-
mico, tecnológico e social de uma sociedade; o parâmetro cultural, no qual estão inse-
ridas as crenças, tradições e identidade de um povo; e o parâmetro das classes sociais,
no qual pesam os padrões e referências de bem-estar e condições de vida (Minayo et al.
2000).
Iglesias (2002) explica que os indivíduos têm percepções particulares sobre seus obje-
tivos e planos de vida; portanto, a cada um cabe julgar o quanto as suas expectativas
foram alcançadas, a despeito de todos os problemas encontrados. Assim, a medida de
qualidade de vida deve considerar a satisfação dos indivíduos em relação aos aspectos
considerados importantes para esses mesmos indivíduos.
Para refletir
18
l Em uma placa informativa sobre uma obra governamental para a ampliação de
um cemitério municipal, o governo incluiu a expressão “mais qualidade de vida”
(Figura 1.1).
l Você acha que todas as vezes que a expressão qualidade de vida foi utilizada, o
significado da expressão era a mesmo?
l Você pensa que é cientificamente possível que ações tão distintas possam promo-
ver o mesmo resultado, ou seja, a melhoria da qualidade de vida?
l Para você o que é qualidade de vida?
l O que você acha que significa qualidade de vida para a sociedade?
Por exemplo, uma pessoa pode morar em uma região em que há espaços e equipa-
mentos públicos para realizar caminhadas e exercícios, ou seja, existem condições para
que ela seja fisicamente ativa. Contudo, se a pessoa vai ou não utilizar esses espaços
de maneira regular e adotar um estilo de vida ativo é uma opção pessoal. Em outro
exemplo, um indivíduo reside em um local e trabalha em um ambiente que não possui
nenhuma condição para a prática de exercícios físicos. Nesse caso, mesmo que ele dese-
jasse ser fisicamente ativo, as condições de vida lhe imporiam uma restrição.
19
Figura 1.2 Relações entre qualidade de vida, condições de vida e estilo de vida.
Para alcançar algum consenso entre as diversas áreas sobre o cuidado com a saúde, além
de analisar a vasta produção sobre o tema, é fundamental fazer uma distinção precisa
entre o termo qualidade de vida e outros temas naturalmente relacionados a esse
conceito e que são facilmente confundidos, como saúde, sintomas, estado de humor,
estado funcional e estados particulares de saúde (Anderson e Burckhardt, 1999).
O surgimento de novos paradigmas nos encaminha para a compreensão da doença e
saúde como um continuum, no qual também estão inseridos aspectos sociais, culturais,
econômicos e estilos de vida e experiências pessoais (Seidl e Zannon, 2004). A importân-
cia da definição apropriada de um conceito implica a escolha de um melhor processo de
estudo, segundo seus propósitos e contexto.
Neste atual contexto histórico, o conceito de qualidade de vida que será adotado nesta
disciplina é “o senso de bem-estar e da satisfação ou insatisfação de um indivíduo em
áreas da vida que são importantes para ele”. Trata-se de um conceito desenvolvido por
Ferrans e Powers (1996), que também desenvolveram um instrumento de pesquisa
a partir desse conceito que é utilizado mundialmente. A pesquisadora Iglesias (2002)
explica que os indivíduos têm percepções particulares sobre seus objetivos e planos de
vida; portanto, a cada um cabe julgar o quanto as suas expectativas foram alcançadas, a
despeito de todos os problemas encontrados. Assim, a medida de qualidade de vida deve
considerar a satisfação dos indivíduos em relação aos aspectos considerados importantes
por esses mesmos indivíduos.
20
“Para analisar qualidade de vida, a Organização Mundial da Saúde (OMS)
considera os domínios físico, psicológico, nível de independência, relações
sociais, ambiente e espiritualidade. Consideram-se aspectos subjetivos:
bem-estar, felicidade, amor, prazer, realização pessoal, entre outros; e aspec-
tosobjetivos: renda, escolaridade, fatores relacionados ao desenvolvimento
econômico e social, entre outros” (Brasil, 2018, p. 103).
Outros termos importantes relacionados à saúde são apresentados pelo Ministério da
Saúde (Brasil, 2018) em uma publicação que tem por objetivo esclarecer a terminologia
utilizada para as práticas integrativas e complementares em saúde. Segundo o Ministério
da Saúde (Brasil, 2018), é importante
“identificar os termos próprios da área técnica; fornecer referências para
a compreensão de termos e conceitos; proporcionar a exatidão conceitual
e definir a atuação de cada termo em seus diferentes contextos institu-
cionais; eliminar ambiguidades para facilitar a comunicação interna; con-
tribuir para a tradução especializada; permitir a elaboração da linguagem
documentária do Tesauro do Ministério da Saúde; organizar e divulgar
informações técnicas, científicas e profissionais; e constituir-se em instru-
mento para representação e transmissão do conhecimento especializado”
(Brasil, 2018, p. 7).
Dentre os termos descritos no glossário do documento elaborado pelo Ministério da
Saúde (Brasil, 2018) estão:
21
(Brasil, 2013). No glossário desse relatório de pesquisa é possível encontrar algumas
definições que auxiliam o entendimento sobre termos usualmente empregados na área
da saúde e que estão relacionados à Educação Física:
l Atividades de vida diária: tarefas que a pessoa realiza para cuidar de si, como comer,
tomar banho, ir ao banheiro, vestir-se, andar em casa, deitar -se ou levantar da cama,
sentar -se ou levantar da cadeira, entre outras
l Atividades habituais: hábitos diários, como ir à escola, brincar, trabalhar, entre
outras
l Grau de limitação das atividades habituais: grau em que a deficiência limita as
atividades habituais, classificado em: não limita – a pessoa consegue realizar suas
atividades sem esforço; um pouco – a pessoa normalmente só consegue realizar algu-
mas atividades à custa de algum esforço, sendo que, em pelo menos uma delas, tem
pequena dificuldade; moderadamente – a pessoa normalmente só consegue realizar
algumas atividades à custa de um esforço mediano; intensamente – a pessoa nor-
malmente, por problema de saúde, só consegue realizar algumas atividades à custa
de muito esforço; muito intensamente – a pessoa, normalmente, por problema de
saúde, não consegue ou tem muita dificuldade para realizar suas atividade habituais
l Limitação funcional: alteração em uma ou mais funções que a pessoa desempenha
(comer, tomar banho, vestir-se, tomar remédios sozinho(a), fazer compras, adminis-
trar finanças, entre outras), tendo pequena ou grande dificuldade em realizá-las. As
limitações funcionais são consideradas como processos que antecedem a condição de
incapacidade
l Mobilidade física: capacidade que uma pessoa tem de desempenhar atividades coti-
dianas relacionadas ao movimento, tais como andar, mover-se ou sentar. Os seis tipos
de mobilidade física selecionados foram agrupados em: alimentar-se, tomar banho ou
ir ao banheiro sem ajuda; correr, levantar objetos pesados, praticar esportes ou reali-
zar trabalhos pesados; empurrar mesa ou realizar consertos domésticos; subir ladeira
ou escada; abaixar-se, ajoelhar-se ou curvar-se; ou andar mais de um quilômetro
l Pessoa com mobilidade reduzida: pessoa que, não se enquadrando no conceito de
portadora de deficiência, tem, por qualquer motivo, dificuldade de movimentar-se,
permanente ou temporariamente, gerando redução efetiva da mobilidade, flexibili-
dade, coordenação motora e percepção.
Deve-se destacar que a Constituição Federal do Brasil de 1988 criou o Sistema Único de
Saúde (SUS) com o objetivo de assegurar a assistência à saúde a todos os cidadãos.
Esse sistema é composto pelos governos federal, estaduais e municiais, bem como
estabelecimentos privados, com o intuito de atender à população. O Ministério da Saúde
(Brasil, 2009, p. 18-19), em documento destinado a estabelecer as diretrizes do Núcleo
de Apoio à Saúde da Família, adota ainda outras terminologias que são relevantes para o
entendimento amplo do assunto.
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mulheres são produtos e produtores de transformações econômicas, políticas, sociais
e culturais. Dessa maneira, as condições econômicas, sociais e políticas do existir não
devem ser tomadas, tão somente, como meros contextos – para conhecimento e
possível intervenção na realidade –, e sim como práticas sociais em transformação,
exigindo constante reflexão das práticas do setor de saúde. Para a promoção desta,
é fundamental organizar o trabalho vinculado à garantia de direitos de cidadania e
à produção de autonomia de sujeitos e coletividades. Trata-se de desenvolver ações
cotidianas que preservem e aumentem o potencial individual e social de eleger
formas de vida mais saudáveis. Ações que ocorrerão tanto no nível da clínica quanto
na realização e/ou condução de grupos participativos sobre as suas necessidades
específicas ou na comunidade
l Interdisciplinaridade: é o trabalho em que as diversas ações, saberes e práticas se
complementam. Disciplinas implicam condutas, valores, crenças, modos de relacio-
namento que incluem tanto os modos de relacionamento humano quanto de modos
de relação entre sujeito e conhecimento. O prefixo “inter” indica movimento ou
processo instalado tanto “entre” quanto “dentro” das disciplinas. A interdisciplina-
ridade envolve relações de interação dinâmica entre saberes. “No projeto interdis-
ciplinar não se ensina, nem se aprende: vive-se, exerce-se.” Ela deve ser entendida
também como uma atitude de permeabilidade aos diferentes conhecimentos que
podem auxiliar o processo de trabalho e a efetividade do cuidado num determinado
momento e espaço
l Intersetorialidade: o conceito ampliado de saúde e o reconhecimento de uma
complexa rede de condicionantes e determinantes sociais da saúde e da qualidade
de vida exigem dos profissionais e equipes trabalho articulado com redes/instituições
que estão fora do seu próprio setor. A intersetorialidade é essa articulação entre
sujeitos de setores sociais diversos e, portanto, de saberes, poderes e vontades diver-
sos, a fim de abordar um tema ou situação em conjunto. Essa forma de trabalhar,
governar e construir políticas públicas favorece a superação da fragmentação dos
conhecimentos e das estruturas sociais para produzir efeitos mais significativos na
saúde da população.
23
Quadro 1.1 Carta dos direitos dos usuários da saúde.
1. Todo cidadão tem direito ao acesso ordenado e organizado aos sistemas de saúde.
2. Todo cidadão tem direito a tratamento adequado e efetivo para seu problema.
4. Todo cidadão tem direito a atendimento que respeite a sua pessoa, seus valores e seus
direitos.
5. Todo cidadão também tem responsabilidades para que seu tratamento aconteça da forma
adequada.
6. Todo cidadão tem direito ao comprometimento dos gestores da saúde para que os princí-
pios anteriores sejam cumpridos.
“As definições de qualidade que abordam pontos de vista mais comuns, de modo geral,
incluem aspectos de excelência, expectativas ou objetivos que devem ser alcançados,
ausência de defeitos, adequação para uso, que, de certa forma, definem características
das ações e/ou serviços de saúde” (Brasil, 2010, p. 18). A avaliação da qualidade em
saúde parte de parâmetros ou atributos que vão servir de referência para a definição de
qualidade e a construção dos instrumentos a serem utilizados na avaliação. A abordagem
24
Figura 1.3 Matriz de dimensões da avaliação de desempenho do Sistema de Saúde.
(Adaptada de Proadess, 2018.)
O Ministério da Saúde (Brasil, 2010, p. 29) propõe alguns critérios para etapas de avalia-
ção para programas voltados à saúde. Na avaliação é necessário que algumas questões
iniciais estejam bem claras, por exemplo:
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A partir dessas perguntas é possível refletir sobre os elementos que orientam as fases
essenciais de avaliação de programas relacionados à saúde, como demonstram os
Quadros 1.2 a 1.5 a seguir.
26
Quadro 1.5 Fase final da avaliação de programas relacionados à saúde.
Fase 4: Comunicação e uso das lições aprendidas significa
l Identificar estratégias para compartilhar as lições aprendidas com a avaliação (no início,
durante o desenvolvimento e finalização)
l Identificar os aspectos centrais para a elaboração de relatórios de avaliação com fins de
divulgação das informações com os setores envolvidos.
27
4. Análise das fragilidades e potencialidades do instrumento em relação ao contexto
estudado
5. Análise dos resultados obtidos
6. Uso dos resultados para atividades de intervenção, determinação de políticas públi-
cas e iniciativas privadas no uso desse instrumento.
Figura 1.4 Número de instrumentos para avaliação de qualidade de vida registrados por
década no diretório Cummins.
Adaptada de Seidl e Zannon, 2004.
Segundo Seidl e Zannon (2004), duas tendências surgiram para analisar qualidade de vida
na área da saúde: a abordagem genérica e a abordagem de qualidade de vida relacio-
nada à saúde. No primeiro caso, há a influência de aspectos sociológicos, a abordagem
é ampla e não são mencionadas as doenças. No segundo caso, o enfoque é voltado às
enfermidades e sintomas. Minayo et al. (2000) reforçam essa ideia sobre a aplicação dos
instrumentos e esclarecem que alguns deles são considerados como genéricos e outros
como específicos. Os instrumentos genéricos são usados na população em geral e não
distinguem nenhum tipo de patologia, além de serem mais adequados ao uso em estu-
dos de planejamento e avaliação do sistema de saúde; os instrumentos específicos estão
relacionados a alguma situação de agravo de saúde ou enfermidade específica.
28
alguns critérios, mais particularmente suas propriedades psicométricas, ou seja, a con-
fiabilidade e a validade dos instrumentos. Lorh et al. (1996) consideram que os atributos
relacionados à escolha do instrumento são os seguintes:
Inicialmente é importante lembrar que não é a medida que define o método ou o objeto
de estudo, assim o primeiro atributo a ser considerado é o modelo conceitual e de
medida. O modelo conceitual compreende a lógica de raciocínio que sustenta a descri-
ção dos conceitos que se pretende avaliar e a interação desses conceitos. O modelo de
medida é refletido na estrutura da escala e subescalas do instrumento e nos procedi-
mentos adotados para atribuir valores (Lohr et al., 1996). Pasquali (2003) explica que os
comportamentos medidos representam o traço latente, porém essa suposição só é ver-
dadeira se a representação comportamental for legítima, fundamentada em uma teoria
que sustente a hipótese da representação comportamental.
Outro atributo fundamental é a validade, a qual tem por definição clássica o grau em que
um instrumento mede o que se propõe a medir. Podem-se considerar então três formas
de validade: a validade de conteúdo, a validade de critério e a validade de construto
(Lohr et al., 1996).
29
Outro atributo importante, muitas vezes desconsiderado pelos pesquisadores, é a
aplicabilidade do teste. Nesse atributo levam-se em consideração o tempo, a energia e
os recursos humanos e financeiros para aplicação do teste, tanto do ponto de vista do
pesquisador quanto da população estudada.
Uma pesquisa feita por Bakas et al. (2012) procurou fazer uma revisão sistemática da lite-
ratura para identificar os instrumentos de pesquisa de qualidade de vida mais utilizados e
realizou uma análise crítica desses instrumentos. Os pesquisadores identificaram mais de
100 artigos de 21 países diferentes. Dentre os três modelos conceituais mais utilizados,
eles encontraram: (1) o modelo de Wilson e Cleary; (2) o modelo de Ferrans e colabora-
dores; (3) o WHOQOL, que é o modelo da Organização Mundial da Saúde.
30
O índice de qualidade de vida de Ferrans e Powers é amplamente usado e a opção por
utilizá-lo é justificável pela coerência conceitual que fundamentou a sua construção, pela
possibilidade de aplicação tanto na população em geral quanto em grupos com condi-
ções específicas de saúde, e por suas propriedades psicométricas já comprovadas em
diversos estudos. Seu diferencial, entretanto, está em avaliar a satisfação com diversos
domínios da vida e combinar essa avaliação com a importância que os próprios indiví-
duos atribuem a esses itens e domínios (Tabela 1.1).
Saiba mais
31
a satisfação, e a segunda parte avalia a importância do mesmo item para a pessoa. A
análise fatorial foi usada para selecionar e agrupar elementos relacionados em quatro
domínios:
1. Saúde e funcionamento
2. Psicológico e espiritual
3. Social e econômico
4. Familiar.
Coerentemente com o conceito adotado, a fórmula de cálculo usa uma estrutura que
pressupõe que pessoas que estão altamente satisfeitas com áreas da vida que elas mais
valorizam têm melhor qualidade de vida do que aquelas que estão insatisfeitas com
as áreas que elas valorizam. A ideia de medir a importância dos vários elementos foi
realizada com fundamentação na literatura.
Na prática
32
Tabela 1.1 Fatores que compõem as dimensões de qualidade de vida
segundo Ferrans e Powers.
Satisfação/Importância
Saúde
Assistência à saúde
Dor
SAÚDE E FUNCIONAMENTO
Energia
Independência física
DIMENSÃO
Vida sexual
Responsabilidade familiar
Estresse e preocupação
ÍNDICE DE QUALIDADE DE VIDA DE FERRANS E POWERS
Atividades de lazer
Amigos
Lar
DIMENSÃO
Vizinhança
Nível socioeconômico
Escolaridade
Independência financeira
Paz de espírito
PSICOLÓGICA E ESPIRITUAL
Fé em Deus
Objetivos
DIMENSÃO
Felicidade
Satisfação
Aparência pessoal
Saúde da família
DIMENSÃO
FAMILIAR
Filhos
Felicidade da família
Cônjuge
33
É importante que o profissional de Educação Física tenha clareza dos conceitos e ins-
trumentos de qualidade de vida, pois a atividade física é amplamente difundida como
um fator que melhora a qualidade de vida da população. Porém, sem a conceituação
adequada dos termos qualidade de vida, atividade física, exercício físico e saúde, essas
premissas podem não ser exatas. Então, é preciso refletir sobre qual é a delimitação
conceitual do que se quer estudar. Por exemplo, analisando a Tabela 1.1, pode-se notar
que a saúde faz parte da qualidade de vida, mas os dois termos não são sinônimos;
outros componentes importantes interferem na qualidade de vida das pessoas. Outra
associação que merece reflexão é o conceito utilizado para atividade física e saúde; não
se pode dizer que toda atividade física promova saúde, ou que os termos podem ser
usados como sinônimos. Por exemplo, um trabalhador que atua como cortador manual
de cana-de-açúcar no campo tem um alto nível de atividade física, mas isso não significa
dizer que essa prática extenuante promova melhoria da sua saúde. Nesse momento, vale
lembrar a distinção entre os conceitos de atividade física, exercício físico e esporte, que
são elementos essenciais à prática profissional em Educação Física.
Importante
No documento de intervenção do profissional de Educação Física, do Conselho Federal
de Educação Física, há a conceituação dos termos referentes à área. São eles:
l Atividade física: é todo movimento corporal voluntário humano, que resulta num
gasto energético acima dos níveis de repouso, caracterizado pela atividade do
cotidiano e pelos exercícios físicos. Trata-se de comportamento inerente ao ser
humano com características biológicas e socioculturais. No âmbito da intervenção
do profissional de Educação Física, a atividade física compreende a totalidade de
movimentos corporais, executados no contexto de diversas práticas: ginásticas,
exercícios físicos, desportos, jogos, lutas, capoeira, artes marciais, danças, ativida-
des rítmicas, expressivas e acrobáticas, musculação, lazer, recreação, reabilitação,
ergonomia, relaxamento corporal, ioga, exercícios compensatórios à atividade
laboral e do cotidiano e outras práticas corporais
l Exercício físico: sequência sistematizada de movimentos de diferentes segmentos
corporais, executados de forma planejada, segundo um determinado objetivo a se
atingir. Uma forma de atividade física planejada, estruturada e repetitiva, que tem
como objetivo o desenvolvimento da aptidão física, do condicionamento físico, de
habilidades motoras ou reabilitação orgânico-funcional, definido de acordo com o
diagnóstico de necessidade ou carências específicas de seus praticantes, em con-
textos sociais diferenciados
l Esporte: atividade competitiva, institucionalizada, realizada conforme técnicas,
habilidades e objetivos definidos pelas modalidades desportivas, determinada
por regras preestabelecidas que lhe dão forma, significado e identidade, podendo
34
t ambém, ser praticada com liberdade e finalidade lúdica estabelecida por seus pra-
ticantes, realizada em ambiente diferenciado, inclusive na natureza (jogos da natu-
reza, radicais, orientação, aventura e outros). A atividade esportiva aplica-se, ainda,
na promoção da saúde e em âmbito educacional, de acordo com diagnóstico e/ou
conhecimento especializado, em complementação a interesses voluntários e/ou
organização comunitária de indivíduos e grupos não especializados.
Considerando tais conceitos, é possível compreender que todo exercício físico é uma
atividade física, mas nem toda atividade física é um exercício físico. Quando não se
distinguem tais conceitos, os resultados de pesquisas e a própria compreensão do tema
podem ser equivocados. Ao associar tais conceitos apresentados e a qualidade de vida,
cabe refletir criticamente em que medida tais elementos – atividade física, exercício
físico e esporte – se relacionam com a qualidade de vida da população.
Uma vez estabelecidos os conceitos científicos dos termos em questão, deve-se então
pensar em como um profissional de Educação Física pode atuar, considerando-se
a especificidade da sua área, para melhorar a qualidade de vida de indivíduos e da
população, pois para compreender um fenômeno é crucial que seus conceitos sejam
adequadamente estabelecidos. No entender de Hoffman e Harris (2002, p. 20), “denomi-
nações técnicas asseguram uma compreensão comum às pessoas que trabalham em um
ambiente científico e profissional”.
35
suprimento de energia. Essas condições contradizem o passado evolucionário do ser
humano, que tinha uma base regular de atividades físicas moderadas e intensas. Em
outras palavras, embora o ser humano esteja biologicamente equipado para um estilo
de vida ativo, as circunstâncias atuais permitem e reforçam a falta de atividade (Malina e
Little, 2008). A espécie humana utilizou sua capacidade de movimentar-se para conseguir
feitos extraordinários ao longo do seu processo evolutivo, porém hoje os indivíduos igno-
ram essa capacidade e passam a adotar um estilo de vida sedentário, o que causa sérias
consequências de modo geral e em particular na área da saúde.
Nesse sentido, pode-se afirmar que assuntos relacionados à atividade física, de maneira
geral, tomaram uma nova dimensão no cotidiano dos indivíduos; e os valores relativos a
tais práticas passaram a ter uma importância vital, a ponto de se tornarem condicionan-
tes da própria evolução humana. Miles (2007) complementa que a atividade física é um
comportamento complexo e multidimensional. Muitas formas de atividade contribuem
para o total de atividade física, o que inclui atividades ocupacionais, cuidados com a casa,
atividades de transporte e atividades realizadas em momentos de lazer. De acordo com
Malina e Little (2008), as atividades físicas envolvem uma série de comportamentos que
podem ser abordados por meio de diversas perspectivas. Hoffman (2013) assinala que
experiências passadas têm uma influência significativa sobre a maneira pela qual um
indivíduo desenvolve o hábito de realizar atividades físicas de modo regular e determi-
nam o engajamento em experiências futuras. O movimento está presente na vida de uma
pessoa em diferentes experiências cotidianas.
36
Figura 1.6 Manifestações da atividade física na vida de um indivíduo.
(Adaptada de Hoffman, 2013.)
Os conceitos apresentados nesta unidade sobre qualidade de vida e saúde buscam dife-
renciar o conhecimento do senso comum do que efetivamente a literatura acadêmica tem
produzido a respeito do assunto, e ainda relacioná-lo à prática profissional em Educação
Física. Somente a partir desses conceitos pode-se compreender como é possível analisar a
condição de vida e estilo de vida de indivíduos, grupos e da própria sociedade, de modo a
ofertar um serviço de qualidade à população e intervir, utilizando a especificidade da área
para beneficiar os indivíduos aos quais o profissional de Educação Física presta serviços.
37
Referências bibliográficas
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quality of life outcomes, v. 10, n. 1, p. 134-146, 2012.
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41
42
Unidade 2
Estilo de Vida e
Condições de Vida
Unidade 2
Objetivos da Unidade
• Identificar a importância do estilo e modo de vida da população como fator de
qualidade de vida
• Interpretar os aspectos que compõem a promoção da saúde para a qualidade
de vida
• Reconhecer os conceitos de atividade física, exercício físico e esporte e sua
relação com a qualidade de vida.
Contextualizando
Vamos imaginar esta situação: você acessa uma de suas redes sociais e lá aparece, na
timeline, a sugestão de um perfil para você seguir recheado de fotos de um corpo sarado,
pratos saudáveis e muita atividade física tanto indoor como outdoor, participação
em corridas de rua, caminhadas e pedaladas nos momentos de lazer. O grande número
de seguidores não surpreende, talvez seja o que muita gente gostaria de ver no seu
dia a dia.
Um estilo de vida ativo tem sido amplamente valorizado pela mídia e sociedade em geral
como uma forma de melhorar a qualidade de vida dos indivíduos, premissa que conti-
nuamente serve como estímulo para a prática de atividade física. Todavia, na área de
Educação Física, ainda há carência de estudos científicos que definam mais precisamente
conceitos, apresentem resultados provenientes do uso de instrumentos de pesquisa
específicos sobre qualidade de vida e demonstrem uma identidade própria ao abordar
a relação entre a atividade física e a qualidade de vida. Consequentemente, uma contri-
buição significativa nessa área poderá ser feita por profissionais da Educação Física por
meio da observação e investigação dessa relação. De maneira genérica, estudos nessa
área poderão contribuir para o refinamento dos conceitos de atividade física e qualidade
44
de vida e, particularmente, para a ampliação do entendimento das potencialidades e
limitações dessa associação.
Uma das concepções amplamente difundidas é a de que um estilo ativo de vida é uma
variável importante na melhoria da qualidade de vida dos indivíduos, porém é necessário
determinar conceitos e metodologias que respeitem os preceitos científicos. Mais do que
reproduzir conhecimentos na área médica, biológica ou das ciências sociais, é preciso
identificar a contribuição que a própria Educação Física pode oferecer nessa área e inte-
ragir com os conhecimentos provenientes de outras áreas de maneira segura, responsá-
vel e confiável.
Nesse sentido, vale destacar que o contexto deve oferecer ao indivíduo diversas e
variadas possibilidades de práticas, mas cabe também ao profissional de Educação Física
promover a autonomia do indivíduo para que em seu ambiente e contexto, ele possa
fazer escolhas pessoais que realmente sejam significativas, de modo que ele possa aderir
às práticas de atividades físicas, exercícios físicos e atividades esportivas que realmente
importem para o próprio indivíduo. Afinal, sob os mais diversos aspectos, a escolha sobre
estilo de vida é algo pessoal.
45
Para Martins e Petroski (2000), a prática de atividade física é fortemente influenciada
por fatores como a disponibilidade de recursos ambientais, econômicos e materiais, bem
como gênero, idade, disponibilidade de tempo, crenças pessoais e autoconceito. Tais
fatores teriam a capacidade de influenciar o tipo de exercício físico escolhido pelo indiví-
duo, assim como a intensidade e a regularidade em que a atividade é executada. Nesse
sentido, existiriam fatores positivos, também chamados de facilitadores, e fatores nega-
tivos, chamados de barreiras, que influenciariam de modo decisivo o comportamento
dos indivíduos durante um determinado período. Franulovic (2005) acrescenta que as
experiências nas primeiras fases da vida podem influenciar a aquisição ou não de um
estilo de vida ativo, bem como o exemplo de comportamento e incentivo dos pais; por-
tanto, qualquer programa de intervenção deve considerar o histórico de vida do indivíduo
para que haja êxito na aquisição dos objetivos propostos. Nesse sentido, a educação física
escolar de qualidade pode ser considerada um elemento fundamental para aquisição
de hábitos relacionados à atividade física e motora desde os primeiros anos de vida, não
só como fator de saúde, mas como meio de promover o potencial de desenvolvimento
humano para o movimento.
Miles (2007) destaca ainda que as intervenções que têm como meta o comportamento
dos indivíduos dentro de suas próprias comunidades são eficazes em aumentar a ativi-
dade física e apresentam a probabilidade de produzir mudanças a médio e longo prazos
relacionadas à atividade física. Ao elaborar um projeto de intervenção devem-se consi-
derar as teorias de mudança comportamental e oferecer uma gama de atividades físicas.
Os projetos devem ter um formato que atinja indivíduos inativos, que forneça acesso
e contato regular com a equipe de profissionais que devem aconselhar e supervisionar
o próprio projeto e seus participantes, que promova atividades físicas de intensidade
moderada e que respeite a escolha de oportunidades locais de ser ativo. Há uma série
de barreiras psicológicas, e compreender como esses fatores funcionam é crucial para
encontrar formas efetivas de promover a atividade física.
46
Nesse sentido, a atuação profissional é fundamental, como destaca a Carta Brasileira de
Educação Física (2000, p. 3), ao afirmar que para uma Educação Física de qualidade é
preciso “prover os seus beneficiários com o desenvolvimento de habilidades motoras,
atitudes, valores e conhecimentos, procurando levá-los a uma participação ativa e volun-
tária em atividades físicas e esportivas ao longo de suas vidas”.
De olho
47
Figura 2.1 Representação gráfica dos pré-requisitos para a saúde.
(Adaptada de WHO, 1986.)
As Tabelas 2.1 e 2.2 detalham alguns aspectos dessa proposta, considerando os elemen-
tos essenciais dos processos e resultados esperados.
48
Tabela 2.1 Recomendações sobre a liderança estratégica nacional
para nutrição e atividade física.
l Estratégia nacional de dieta e atividade física publicada, ou dieta e atividade física identifi-
cadas como prioridades nos planos nacionais existentes
l Plano nacional de ação sobre dieta e atividade física publicado
49
Tabela 2.2 Indicadores essenciais de processos e resultados relacionados
à sociedade civil e às organizações não governamentais.
50
Em um censo realizado pelo Ministério da Educação (Brasil, 2018) sobre a educação
no Brasil, observa-se que há uma grande diminuição de alunos matriculados no Ensino
Médio, indicando um alto índice de jovens que não estudam e não trabalham (Figura 2.2).
Nas Figuras 2.3 a 2.5, o indicador de adequação da formação docente mostra a coerência
entre a formação inicial dos professores que atuam no ensino básico e a disciplina que
eles lecionam.
Figura 2.2 Número de escolas por etapa de ensino no Brasil em 2017. (Adaptada de
Brasil, 2018.) Nota: a mesma escola pode ofertar mais de uma etapa de ensino.
51
Figura 2.3 Indicador de adequação da formação docente dos anos iniciais do Ensino
Fundamental por disciplina no Brasil em 2017. (Adaptada de Brasil, 2018, p. 20.)
Figura 2.4 Indicador de adequação da formação docente dos anos finais do Ensino
Fundamental por disciplina no Brasil em 2017. (Adaptada de Brasil, 2018, p. 20.)
52
Figura 2.5 Indicador de adequação da formação docente do Ensino Médio por disciplina
no Brasil em 2017. (Adaptada de Brasil, 2018, p. 22.)
Como única disciplina do currículo que combina competências físicas com valores
associados à aprendizagem, a Educação Física possibilita uma oportunidade de desenvol-
vimento de habilidades, a melhoria da performance acadêmica e pode promover estilo
de vida ativo. A Unesco (2017) desenvolveu várias diretrizes para gestores de políticas
públicas que pretendem promover a Educação Física de qualidade, incluindo materiais
que argumentam a favor da importância da disciplina nas escolas.
53
Saiba mais
54
indivíduos instruídos fisicamente, e essa oferta deve estar presente desde os primeiros
anos de vida e ao longo de toda a jornada escolar, até a educação secundária.
As habilidades fundamentais de movimento são um aspecto essencial da instru-
ção física e, também, do desenvolvimento de cidadãos saudáveis, capazes e ativos.
Considerando sua importância para o desenvolvimento humano equilibrado, gestores
de políticas devem dar ênfase nesse aspecto, apoiando a instrução física por meio
de programas de educação infantil, que encorajem exercícios ativos todos os dias”
(Unesco, 2015, p. 20-21).
A Organização Mundial da Saúde (WHO, 2008) aponta como indicadores essenciais para
a promoção de atividade física, dieta e saúde no ambiente escolar os itens descritos na
Tabela 2.3.
55
Tabela 2.3 Indicadores essenciais de processos e resultados relacionados
ao ambiente escolar.
ÁREA DE Resumo das ações recomendadas para o setor privado incluídas na Estratégia Global
AÇÃO para Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde
l Políticas e programas escolares devem apoiar a adoção de dietas saudáveis e atividade física
l As políticas e programas devem proteger a saúde das crianças, fornecendo informações
sobre saúde, melhorando a alfabetização em saúde, e promover dietas saudáveis, atividade
física e outros comportamentos saudáveis
l As escolas são incentivadas a fornecer educação física diária aos alunos
l Os governos são encorajados a adotar políticas que apoiem dietas saudáveis na escola e
limitem a disponibilidade de produtos ricos em sal, açúcar e gorduras
l Existência de padrões curriculares para educação em saúde com foco em dieta e atividade
física
l Existência de envolvimento entre Ministério da Saúde ou Educação e Ministério dos Transpor-
tes para melhorar as rotas de caminhada e ciclismo para as escolas
l Número total de sessões de educação em saúde com foco em dieta saudável e atividade
física por ano dentro do currículo nacional
l Total de horas de escola alocadas para atividade física nos níveis primário e secundário
l Porcentagem de escolas monitorando a altura e o peso das crianças
AMBIENTES DE APOIO
56
Para a Unesco (2015) é fundamental que a disciplina Educação Física, como componente
curricular, tenha a mesma importância das outras disciplinas ofertadas no sistema de
ensino, e tal concepção deve ser compartilhada pelos gestores educacionais e demais
integrantes da comunidade escolar. Além disso, o professor de Educação Física deve ser
motivado, e sua relevância não deve ser subestimada no ambiente de ensino. Tal concep-
ção é tratada pela Unesco como uma responsabilidade governamental.
l Estratégias nacionais para educação física devem estar presentes nos níveis primá-
rio/elementar e secundário; além disso, devem tratar de lacunas importantes entre
a retórica política e a real implementação, para garantir que a legislação relativa à
oferta da Educação Física esteja sendo aplicada de forma consistente
l Estratégias nacionais para a Educação Física devem recomendar a atribuição de
tempo no currículo, e aqueles responsáveis pela oferta de Educação Física de
qualidade devem ter a responsabilidade de garantir que essa atribuição de tempo
recomendada para a disciplina seja implementada
l Estratégias nacionais devem garantir que diretores, familiares e outras pessoas
envolvidas estejam cientes dos benefícios da Educação Física; da mesma maneira, os
requisitos curriculares devem estabelecer tempo suficiente para a oferta de Educação
Física de qualidade, de modo a alcançar esses objetivos
l As estratégias nacionais e seus orçamentos relativos devem promover a coordenação
entre escolas e comunidades, e caminhos ligados à participação nas atividades físicas,
bem como tratar de problemas atuais de comunicação entre os diferentes órgãos
l A relevância e a qualidade do currículo de educação física devem ser revistas,
especialmente no que se refere a predisposição para competições esportivas e para
atividades relacionadas ao desempenho. A oferta de Educação Física de qualidade
deve ser desenvolvida com a participação dos jovens, pessoalmente significativa e
socialmente relevante, assim como deve estar em harmonia com os estilos de vida
fora da escola.
57
Quadro 2.1 Fatores de análise que devem ser considerados para destacar
a importância da participação da Educação Física de qualidade (EFQ)
como um todo.
Questões políticas Lacunas identificadas Ações sugeridas
1. A importância da EFQ é defendida e Não existem estratégias estabe- Criar estratégias de comunicação para
disseminada para toda a sociedade? lecidas para transmitir os valores conscientizar sobre os valores intrínse-
intrínsecos e extrínsecos da cos e extrínsecos da educação física.
2. As estratégias de comunicação exis-
educação física para um público
tentes promovem os valores intrínsecos Disseminar os resultados das pesquisas
mais amplo e diverso.
e extrínsecos da educação física, tanto relativas à EFQ, por meio de iniciativas
em âmbito local quanto nacional? da mídia local e nacional, em uma
linguagem que tenha significado para
diversos grupos populacionais.
3. A educação física tem o mesmo À educação física não é dado Desenvolver iniciativas que visem
status de outras disciplinas? o mesmo status de outras persuadir tomadores de decisão,
disciplinas. diretores de escola, professores de
4. Os diretores de escola, professores
outras disciplinas e familiares sobre a
de outras disciplinas, familiares e mem- Os diretores de escola não veem
autenticidade educacional da EFQ.
bros da comunidade veem a educação a educação física como uma
física no mesmo nível de importância prioridade que tenha impacto
que as outras disciplinas? direto na oferta da EFQ.
6. Existe uma associação de educação Não existe uma associação Desenvolver e fornecer apoio contínuo
física nacional ou regional? nacional ou regional de educação para uma associação de educação
física para exercer um papel na física nacional ou regional.
defesa e no processo de desen-
volvimento profissional.
7. Existem programas financiados de Os programas de pesquisa são Garantir que os programas de pesquisa
pesquisa, planejados para elaborar financiados de maneira deficiente sejam financiados adequadamente,
estratégias baseadas em evidências e não enfocam as prioridades- bem como estabelecidos para desen-
para a oferta de EFQ? -chave da educação física. volver bases de evidências sobre as
tendências atuais na educação física.
8. As prioridades de pesquisa enfocam
as tendências atuais da educação
física, visando ao desenvolvimento da
base de evidências para temas como
educação em cidadania mundial,
promoção de valores, efetividade das
parcerias comunitárias e capacidade
da educação física de contribuir para o
bem-estar físico, mental e social?
Assim, o caminho para que uma população tenha acesso à saúde, como propõe a Carta
de Ottawa, está diretamente relacionado à educação, especificamente quando se trata da
questão da equidade em saúde, e a Educação Física de qualidade pode ser um elemento
central nesse processo.
58
saúde melhor. É essencial capacitar as pessoas para aprender durante toda
a vida, preparando-as para as diversas fases da existência, o que inclui o
enfrentamento das doenças crônicas e causas externas. Esta tarefa deve
ser realizada nas escolas, nos lares, nos locais de trabalho e em outros
espaços comunitários. As ações devem se realizar através de organizações
educacionais, profissionais, comerciais e voluntárias, bem como pelas ins-
tituições governamentais” (WHO, 1986, p. 3).
Além da Carta de Ottawa, vale lembrar que a relação entre Educação Física, saúde,
educação e qualidade de vida é mencionada nos documentos fundamentais do Conselho
Federal de Educação Física:
Importante
De acordo com o Conselho Federal de Educação Física (2004),
59
Esta Carta reitera a necessidade de países da América Latina optarem por novas
alternativas na ação da Saúde pública para fazer frente às enfermidades geradas pela
pobreza, atraso, urbanização e industrialização. Nesta perspectiva a promoção da
Saúde destaca a importância da participação ativa das pessoas nas mudanças das con-
dições sanitárias e no modo de viver, que deve ser condizente com a criação de uma
renovada cultura de Saúde; A Carta de Jacarta (1997), emitida durante a IV Conferên-
cia Internacional sobre Promoção da Saúde, reconheceu a promoção e prevenção da
Saúde como elementos essenciais para o desenvolvimento desta área, identificando-os
como pré-requisitos neste sentido. A pobreza foi identificada como a maior ameaça à
Saúde. DESTACANDO que a Organização Mundial de Saúde (WHO/OMS) afirma que as
doenças chamadas ‘não comunicáveis’ (cardiovasculares, câncer, diabetes e doenças
crônicas respiratórias) estão aumentando quantitativamente, causando mais morbi-
dade e deficiências, num quadro de projeções negativas para o ano 2020”.
Para os pesquisadores Kottke et al. (2016), a Carta de Ottawa da OMS para a promoção
da saúde enfatizou bem-estar como ponto final, declarando que “a saúde é, portanto,
vista como um recurso para a vida cotidiana, não o objetivo de viver”. Outros autores
também têm concebido a saúde como uma variável instrumental, como meio para a
finalidade do bem-estar. Essa perspectiva é consistente com a dos psicólogos sociais con-
temporâneos. Enquanto isso, nos círculos de saúde, o reconhecimento da importância
dos determinantes sociais da saúde está aumentando, ainda com a saúde descrita como
objetivo final.
60
Figura 2.6 Tradução e adaptação do modelo publicado por Evans e Stoddart (1990), que
ilustra os múltiplos fatores associados à doença e à saúde. (Adaptada de Kottke et al.,
2016.)
61
a cada faixa etária. Além disso um programa integrado de mídia utilizando histórias,
revistas, jogos e eventos esportivos para cada grupo etário deve acompanhar o projeto.
Foster et al. (2006) também propõem que os comportamentos resultam de uma mistura
e integração de componentes do contexto e função e podem promover ou desencora-
jar um comportamento em particular. Por exemplo, uma ciclovia, um campo esportivo
ou um playground podem promover um comportamento ativo, enquanto uma avenida
congestionada pode desencorajar um comportamento ativo.
Bauman e Craig (2005) realizaram uma revisão qualitativa na qual consultaram diversos
indivíduos e grupos sobre o assunto. Essa consulta incluiu organismos políticos de vários
países, um fórum público na web e organizações não governamentais. O objetivo desse
estudo foi descrever como são vistos mundialmente aspectos relacionados à atividade
física e sua importância, por meio de uma perspectiva de estratégia global. Para os auto-
res, a consulta regional foi um importante mecanismo para o desenvolvimento de uma
estratégia global. Foi reafirmada a relevância da atividade física na maioria das regiões
em que a Organização Mundial da Saúde atua, e a consulta local desempenhou uma
função essencial para orientar a agenda de promoção de atividade física.
62
Cortez (2008) reitera tais afirmações e esclarece que os aspectos que contribuem para
a adesão a um estilo de vida ativo devem ser considerados, tais como o tempo disponí-
vel, o acesso a instalações apropriadas, o apoio do entorno social, o histórico de vida do
indivíduo em relação aos seus hábitos de atividade física, a motivação e a percepção de
autoeficácia do indivíduo, a atitude perante a atividade física e a ênfase dos profissionais
de saúde na indicação de programas específicos de atividade física. Em contrapartida, os
elementos que dificultam a adesão à atividade física são a falta de tempo, as obrigações
familiares e profissionais, a ausência de experiências anteriores de atividade física, sobre-
peso e o hábito de fumar, altas expectativas em relação aos resultados que se quer alcan-
çar e rotina de trabalhos manuais. Bauman e Craig (2005) complementam ainda que é
amplamente reconhecido pela população que a promoção da atividade física necessita
da colaboração entre instituições e do estabelecimento de parcerias. Esse esforço requer
o desenvolvimento que vai além de organizações ligadas à saúde, mas também departa-
mentos de transporte, de planejamento urbano, educação e esporte que sejam capazes
de realizar ações efetivas. Para os pesquisadores Jones-Palm e Palm (2005), comissões
nacionais devem estabelecer projetos e políticas que promovam a melhoria das con-
dições para a prática de atividade física na vida das crianças e desenvolver campanhas
nacionais direcionadas para a infância e a juventude. Essas comissões devem envolver
pais, políticos, professores, médicos, arquitetos, urbanistas, organizadores esportivos,
assistentes sociais, organizações religiosas, além dos próprios jovens. Contudo, Foster
et al. (2006) alertam que o impacto da organização do ambiente para promover ativi-
dade física necessita ser mais bem explorado e precisa conseguir identificar que tipos
de pessoas são atraídos por determinados tipos de ambiente e atividades, e quais as
razões dessas relações. Pode ser que pessoas já ativas procurem ambientes que propor-
cionem atividades ou que somente ambientes específicos atraiam determinado perfil de
usuários. Investigações futuras devem procurar compreender a interação dos indivíduos,
seus comportamentos relacionados à atividade física e sua percepção em relação ao
ambiente, priorizando o desenvolvimento de futuras intervenções no ambiente.
63
A Organização Mundial da Saúde (WHO, 2004) reforçou a importância desse tema ao
desenvolver um documento específico denominado Global strategy on diet, physi-
cal activity and health (Estratégia global para alimentação saudável, atividade física
e saúde), no qual reconhece o desafio de controlar doenças crônicas e o cenário que
oferece a oportunidade única para formular e implementar uma estratégia efetiva para
reduzir as mortes e doenças em todo o mundo, melhorando os hábitos alimentares e
promovendo atividade física, especialmente em países desenvolvidos e em desenvol-
vimento. Tal fato parece um contrassenso, pois seria plausível esperar que países mais
desenvolvidos tivessem maior nível de atividade física.
Miles (2007) reforça a concepção de que a atividade física exerce uma influência bené-
fica ao longo de toda a vida. Na infância ela é importante para manutenção do equilíbrio
energético, fortalecimento dos ossos e prevenção de doenças futuras. Há também um
importante papel na interação social, no bem-estar e na aquisição de hábitos saudáveis.
Paine e Dorea (2004) acrescentam que a promoção da saúde implica uma concepção
global de bem-estar, voltada diretamente ao estilo de vida, e ressaltam a importância de
fatores como a percepção, o conhecimento, o contexto e o comportamento, relacionan-
do-os ao conceito de saúde. Cortez (2008) lembra que mesmo com grande incentivo, os
indivíduos tentam justificar a ausência de adesão à prática regular de atividade física, pois
mudar hábitos ao longo da vida não é simples, especialmente quando fatores complica-
dores estão envolvidos, como distâncias para a prática de atividade física, disponibilidade
de estacionamento, aspectos de segurança pessoal, custos e identificação de um profis-
sional qualificado capaz de realizar diagnósticos e prescrever atividades adequadas a cada
indivíduo. Contudo, a oposição à inatividade deve ser feita com critério, cuidando para
que definições, instrumentos e resultados realmente tenham clareza conceitual e possam
beneficiar efetivamente os indivíduos e a sociedade.
Para refletir
Malina e Little (2008) consideram que esse cenário demanda uma série de reflexões
relevantes para a biologia humana contemporânea:
64
Bolman et al. (2007) lembram que é preciso levar em consideração que as pessoas nem
sempre têm uma noção real do seu nível de atividade física. As pessoas frequentemente
subestimam ou superestimam seus comportamentos, e esse fato pode ter consequên-
cias adversas sobre a capacidade dos indivíduos de modificar seus comportamentos em
relação aos aspectos de saúde. As pessoas geralmente supõem que seus comportamen-
tos são adequados mesmo quando não seguem as orientações para uma vida saudável,
e isso as torna menos receptivas à educação para a saúde e para a transformação de
seus hábitos. Porém, Bauman e Craig (2005) atestam a importância desse tipo de estudo
quando destacam que alguns esforços têm sido feitos em âmbito mundial para medir a
atividade física. Os desafios de pesquisas internacionais são mais complexos e vastos do
que pesquisas mais restritas geograficamente, mais controladas em termos de população
e amostras em países desenvolvidos. A avaliação e a comparação do impacto de progra-
mas de promoção de atividade física em países com uma política voltada para essa fina-
lidade e que dispõem de recursos só podem acontecer em relação a outro país com as
mesmas características socioeconômicas e demográficas. Talvez estudos de caso sejam
uma forma de solução viável para o problema, desde que os detalhes e as evidências do
estudo sejam minuciosamente descritos. Apesar de tais dificuldades, uma abordagem
séria em relação à saúde pública remete ao aumento da atividade física, o que é um
esforço mundial que ainda deve ser realizado.
Benedetti et al. (2007) consideram que os questionários são formas viáveis e econômi-
cas, apesar da dificuldade de se estabelecer a fidedignidade dos resultados. É fundamen-
tal que sejam preparadas estratégias e ações a favor da saúde coletiva que contemplem
a atividade física e de uma maneira que possam ser obtidos resultados objetivos a esse
respeito. A atividade física é um elemento fundamental para o estabelecimento de um
estilo de vida saudável.
65
Figura 2.7 Procedimentos para medir atividade física em estudos epidemiológicos.
(Adaptada de Reis et al., 2000.)
Na prática
66
A soma de cada nível de cada indivíduo foi feita e assim chegou-se ao valor final de
nível de atividade física individual em um dia de semana normal. O MET significa o
equivalente metabólico que permite estimar a energia gasta em atividades específicas.
Assim, quanto maior o valor do MET, maior o nível de atividade física (Santos e Simões,
2009). Verifique o seu nível de atividade física respondendo o questionário a seguir.
67
Para os pesquisadores Aadahl e Jorgensen (2003), os questionários autoadministrados
são viáveis e fáceis de serem utilizados e podem ser usados em estudos epidemiológi-
cos em larga escala. Muitos questionários registram frequência, duração e intensidade
das atividades relacionadas ao trabalho, esporte e lazer. Outros questionários registram
atividades cotidianas específicas como subir escadas, andar de bicicleta ou caminhar.
Os questionários diferem na maneira como são aplicados, a população-alvo em que o
estudo é realizado, a organização temporal na qual a atividade física é estimada, o tipo
de atividade que é medido e a escala utilizada para os dados. Uma abordagem possível
para investigar atividade física por meio de questionários é organizá-los de acordo com
o Compendium of Physical Activities (Ainsworth et al., 2000). Essa abordagem é baseada
no conceito de que a intensidade de cada atividade específica pode ser expressa em MET,
ou seja, equivalente metabólico, o qual permite estimar a energia gasta em atividades
específicas.
68
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71
72
Unidade 3
Qualidade de Vida
no Trabalho
73
Unidade 3
Objetivos da Unidade
• Conhecer a especificidade de atuação do profissional de Educação Física em
programas de atividade física
• Desenvolver projetos de qualidade de vida no trabalho
• Analisar criticamente programas de promoção de qualidade de vida por meio da
atividade física e esportiva.
Contextualizando
Pense nesta cena: seu amigo acaba de acordar e resolve dar uma olhada nos compro-
missos agendados em seu smartphone antes de se levantar: de casa para o trabalho, do
trabalho para o curso de idioma e do curso para casa. Parece uma agenda simples, sem
tomar muito tempo, não é? Mas calculemos as horas gastas nesse dia nada extraordiná-
rio: 8 horas de sono, 8 horas de trabalho diárias, 1 de almoço, 2 de trânsito para ir e vol-
tar, mais 1 hora e meia para as demais refeições do dia e outra 1 hora e meia para o curso
que está fazendo, sem deixar de fora 1 hora para se deslocar do trabalho para a escola e
da escola para casa, e 1 hora de gastos com higiene pessoal ao longo do dia. Pronto: lá se
foram as 24 horas. Fica fácil compreender por que ele recusou o convite para jantar, não
é mesmo? Afinal, você entende também como falta tempo nos dias de hoje.
Existem fatores que facilitam o aumento no nível de atividade física, e fatores que funcio-
nam como barreiras para a adoção de um estilo de vida ativo. Um dos motivos menciona-
dos frequentemente para a inatividade física no cotidiano das pessoas é a falta de tempo.
Uma parte significativa da população possui inúmeras tarefas obrigatórias que impedem
a organização do tempo de modo a adequar na agenda diária um tempo para a prática de
exercícios físicos.
74
As pessoas gastam uma parte substancial de seu tempo no trabalho, e trabalham durante
uma parte significativa de sua vida. Portanto, o trabalho representa uma parte relevante
na vida das pessoas. Em algumas situações pode-se considerar que o fato de ter um
emprego já é motivo para ter melhor qualidade de vida, porém essa concepção pode
ser ampliada, na medida em que se observa o quanto as pessoas estão satisfeitas com o
emprego que possuem e com sua rotina de trabalho.
No ambiente corporativo, um dos aspectos que podem ser explorados para a melhoria
da qualidade de vida no trabalho são ações voltadas para a promoção da atividade física
dos colaboradores de uma empresa. Os programas de bem-estar no local de trabalho
podem melhorar a saúde dos funcionários, reduzindo os custos de assistência médica
dos empregadores, e melhorar a produtividade do trabalhador. No ambiente de traba-
lho, as iniciativas de bem-estar podem incluir programas, políticas, benefícios, apoios
ambientais e associações comunitárias que promovem a saúde e a segurança de todos
os funcionários. Os programas de bem-estar no local de trabalho podem favorecer as
mudanças voluntárias de comportamento dos funcionários para a obtenção de uma
saúde melhor (CDC, s/d). Além dos aspectos físicos, deve-se considerar ainda a possibili-
dade da implementação de programas de atividades físicas e esportivas para melhorar o
clima organizacional no ambiente de trabalho.
75
pessoal, ambiente de trabalho seguro e saudável, participação dos trabalhadores nas
decisões e mecanismos de comunicação aberta e solidária. A presença desses fatores
influencia o nível motivacional da força de trabalho, o que, por sua vez, leva a um melhor
desempenho e à eficácia geral da organização. Sem dúvida, a remuneração financeira
tem um papel fundamental na satisfação dos funcionários com a organização e seus
empregos; no entanto, ignorar o bem-estar psicológico dos funcionários pode levar
ao fracasso da organização e, portanto, requer igual consideração (Randhawa e
Arora, 2016).
Embora estudos sobre qualidade de vida no trabalho (QVT) tenham sido realizados desde
o início do século XX, não há consenso sobre o significado real desse termo. Nos últimos
anos, a QVT tem sido entendida como a gestão dinâmica e abrangente de fatores físicos,
tecnológicos, sociais e psicológicos que afetam a cultura e renovam o ambiente organi-
zacional. A QVT e a satisfação dos funcionários no trabalho estão sendo cada vez mais
identificadas como indicadores relacionados à função e à sustentabilidade das organiza-
ções empresariais (Jaiswal, 2014).
76
Essa abordagem procura melhorar a qualidade de vida no trabalho. Nesse contexto, a
organização deve tentar atender tanto as necessidades básicas quanto as necessidades
de ordem superior dos trabalhadores. Procura-se empregar as habilidades mais com-
plexas dos trabalhadores e proporcionar um ambiente que os incentive a melhorar suas
habilidades. A ideia é que os recursos humanos sejam desenvolvidos e não simplesmente
usados. Além disso, procura-se minimizar os aspectos negativos do trabalho, particular-
mente o estresse indevido. Trata-se de não degradar o indivíduo na perspectiva humana.
Por fim, o trabalho não deve ser um empecilho para que o indivíduo desempenhe outros
papéis na vida, como cidadão, cônjuge e pai/mãe, ou seja, o trabalho deve contribuir
para o avanço social geral.
Em decorrência da relevância do tema, vários esforços têm sido feitos para elaborar
um conceito preciso e desenvolver instrumentos de avaliação de qualidade de vida no
trabalho. Em um instrumento de pesquisa desenvolvido por Easton e Van Laar (2018),
denominado Escala de qualidade de vida relacionada com o trabalho, foram identifi-
cados fatores essenciais que compõem o questionário e que foram agrupados em seis
subescalas:
l Interface entre o trabalho e a vida pessoal: o equilíbrio entre vida pessoal e profis-
sional avalia o grau em que os funcionários sentem que têm controle sobre quando,
onde e como eles funcionam. Pode refletir a percepção de um indivíduo de que ele
ou ela tenha uma vida plena dentro e fora do trabalho remunerado, para o benefício
comum do indivíduo, dos negócios e da sociedade. As demandas da vida pessoal
podem significar que alguém acha difícil estar no trabalho quando precisa estar, e
isso pode significar menor dedicação quando se está no trabalho. As tensões de
trabalho podem, da mesma maneira, significar que um indivíduo se sente incapaz,
77
l deixar o trabalho para depois e não se recuperar depois, nem sentir que
pode investir como desejaria nos outros aspectos de suas vidas (Easton e Van Laar,
2018, p. 17)
l Satisfação com o trabalho e a carreira: a satisfação com o trabalho e a carreira repre-
senta o senso de bem-estar que o local de trabalho oferece a uma pessoa, ofertando
as melhores condições no trabalho. Essa subescala busca medir o nível em que o
entrevistado sente que seu local de trabalho oferece senso de realização, de elevada
autoestima e realização de seu potencial (Easton e Van Laar, 2018, p. 18)
l Controle no trabalho: esta subescala reflete o nível em que um funcionário sente que
pode exercer o que ele considera ser um nível adequado de controle dentro de seu
ambiente de trabalho. Essa percepção de controle pode estar ligada a vários aspectos
do trabalho, incluindo a oportunidade de contribuir para o processo de tomada de
decisão que o afeta. Os principais estudiosos nessa área sugerem que a percepção do
controle pessoal pode afetar fortemente a experiência de um indivíduo em relação ao
estresse e sua saúde (Easton e Van Laar, 2018, p. 20)
l Condições de trabalho: esta subescala avalia em que medida o indivíduo está feliz
com as condições em que trabalha, ou seja, busca-se avaliar até que ponto o empre-
gado está satisfeito com os recursos fundamentais, condições de trabalho e segurança
necessárias para fazer seu trabalho de forma eficaz. A insatisfação com condições físi-
cas de trabalho, como saúde, segurança e higiene no trabalho, por exemplo, pode ter
efeitos adversos significativos na percepção de qualidade de vida no trabalho (Easton
e Van Laar, 2018, p. 21)
l Estresse no trabalho: esta subescala avalia de que maneira um indivíduo percebe
que tem pressões excessivas e/ou sente níveis indevidos de estresse no trabalho, o
qual pode causar uma resposta física e emocional prejudicial que ocorre quando os
requisitos de trabalho não se ajustam a capacidades, recursos ou necessidades do
funcionário (Easton e Van Laar, 2018, p. 23).
A boa qualidade de vida no trabalho leva a uma atmosfera de boas relações pessoais
e funcionários altamente motivados que se esforçam para o seu desenvolvimento.
Embora os benefícios monetários ainda sejam o fator essencial em relação à percepção
do trabalho, elementos como condições físicas de trabalho, a reestruturação de empre-
gos, o incremento do desenvolvimento de empregos, o desenvolvimento de carreira, as
oportunidades promocionais, entre outros fatores, compõem um cenário no qual os tra-
balhadores esperam que a gestão organizacional se dedique a aprimorar e, consequen-
temente, melhore assim a qualidade de vida no trabalho. Quando é assegurada a boa
qualidade de vida no trabalho, os funcionários se concentram mais no desenvolvimento
individual e de grupo, o que, por sua vez, leva ao desenvolvimento geral (Srivastava e
Kampur, 2014).
Srivastava e Kampur (2014, p. 56) destacam ainda que as iniciativas para melhorar a
qualidade de vida no trabalho têm como objetivo:
78
l Melhorar o moral dos funcionários
l Reduzir o estresse organizacional
l Melhorar as relações dentro e fora do trabalho
l Melhorar as condições de segurança no trabalho
l Fornecer programas de desenvolvimento de recursos humanos adequados
l Melhorar a satisfação dos funcionários
l Fortalecer a aprendizagem no local de trabalho
l Gerenciar melhor mudanças e transições em andamento no ambiente de trabalho
l Participar da gestão em todos os níveis na formação da organização.
Para refletir
Ao pensar no ambiente de trabalho existem novas questões que podem ser avaliadas
de modo mais específico. Considerando o instrumento de pesquisa Escala de
79
qualidade de vida relacionada com o trabalho, faça uma reflexão sobre a sua satisfa-
ção com o seu trabalho.
l Você tem oportunidade de usar as suas competências no seu local de trabalho?
l Quando você faz um bom trabalho, o seu superior hierárquico reconhece?
l Você se sente capaz de expressar suas opiniões e influenciar mudanças na sua área
de atividade?
l No local onde você trabalha há flexibilidade para que você equilibre sua vida pessoal
e profissional?
l Frequentemente você tem níveis de estresse excessivos no local de trabalho?
l De modo geral, você está satisfeito com a qualidade da sua vida profissional?
De acordo com Reddy e Reddy (2010), a preocupação com a qualidade de vida no traba-
lho surgiu com a legislação promulgada no início do século XX para proteger os funcio-
nários de acidentes no trabalho e para eliminar condições de trabalho perigosas. Em
seguida, ocorreram os movimentos de sindicalização nas décadas de 1930 e 1940, que
deram início à preocupação com os trabalhadores. Nessa época foi dada ênfase à segu-
rança no emprego e aos ganhos econômicos para os trabalhadores. Os anos 1950 e 1960
viram o desenvolvimento de diferentes teorias de psicólogos propondo uma “relação
positiva entre moral e produtividade”, e a possibilidade de que melhores relações huma-
nas levariam ao desenvolvimento de ambos. Tentativas de reforma para adquirir igual-
dade de oportunidades de emprego e maneiras de enriquecimento no emprego também
foram introduzidas. Finalmente, na década de 1970, concebeu-se o ideal de qualidade de
vida no trabalho, que é mais amplo do que esses desenvolvimentos anteriores e é algo
que deve considerar os valores que estavam no centro desses movimentos de reforma
anteriores e das necessidades humanas e aspirações.
80
governamentais de diferentes países desenvolveram interesse em como melhorar a
qualidade de vida de um indivíduo por meio da experiência de trabalho. O Departamento
de Saúde, Educação e Bem-estar dos Estados Unidos patrocinou um estudo sobre essa
questão, o que levou à publicação de mais estudos sobre o assunto.
Segundo Erdem (2014), não existe um consenso completo sobre o conceito de qualidade
de vida no trabalho, pois trata-se de um conceito amplo que oferece muitas percepções
diferentes e, portanto, é difícil defini-lo. Muitos autores acreditam que a qualidade de
vida no trabalho seja baseada em um sentimento subjetivo dos funcionários da organi-
zação, enquanto a maioria dos psicólogos concorda que o termo qualidade de vida no
trabalho esteja relacionado ao bem-estar dos funcionários (Cvetic et al., 2016).
Para os pesquisadores Van Laar et al. (2018), a qualidade de vida no trabalho (QVT) é
afetada pela interação complexa de muitos fatores, como a personalidade do indivíduo, a
vida pessoal, a capacidade de um indivíduo fazer o seu trabalho, o apoio que o indivíduo
recebe de colegas e gestores, e de que modo esse indivíduo é solicitado a fazer o seu
trabalho (Figura 3.1). Swamy et al. (2015) propõem que a qualidade de vida no trabalho
seja definida como em que medida um funcionário está satisfeito com as necessida-
des pessoais e de trabalho, participando do local de trabalho e atingindo os objetivos
da organização. Qualidade de vida no trabalho é um construto multidimensional. No
entanto, existem muitos outros fatores críticos que contribuem para a QVT, o que inclui
fatores físicos, psicológicos e sociais.
81
Para Srivastava e Kampur (2014), as melhorias na qualidade de vida no trabalho são
definidas como qualquer atividade que ocorra em todos os níveis de uma organização
que busque maior eficácia organizacional pelo aumento da dignidade humana e do
crescimento. Um processo por meio do qual os detentores do estado na organização,
gestão, sindicatos e funcionários aprendem a trabalhar melhor juntos para determinar
por si mesmos quais ações, mudanças e melhorias são desejáveis e viáveis para alcançar
a vitória e objetivos simultâneos de melhor qualidade de vida no trabalho para todos
os membros da organização e maior eficácia para a empresa e os sindicatos. Trata-se de
considerar o modo como uma organização pode garantir o bem-estar holístico de um
funcionário, em vez de se concentrar apenas nos aspectos relacionados ao trabalho.
Alguns países têm diretrizes para que programas de promoção de saúde e prevenção de
doenças sejam implementados nos locais de trabalho, por exemplo:
No Brasil, apesar de não haver um programa governamental específico para o tema, vale
destacar que apenas os profissionais de Educação Física podem orientar a prática de
exercícios físicos e atividades esportivas; portanto, esse tipo de iniciativa deve estar sob a
responsabilidade de um profissional de Educação Física, que tenha a devida formação no
Ensino Superior e disponha de conhecimentos, competências e habilidades adequadas
para planejar tais programas, os quais pressupõem uma abordagem mais abrangente do
que a abordagem médica.
82
De olho
De acordo com a Lei nº 9.696, de 1º de setembro de 1998, que dispõe sobre a regula-
mentação da Profissão de Educação Física:
Art. 2º Apenas serão inscritos nos quadros dos Conselhos Regionais de Educação Física
os seguintes profissionais:
[...]
83
Tabela 3.1 Indicadores essenciais de processos e resultados relacionados
às indústrias e empresas.
ÁREA DE Resumo das ações recomendadas para os Estados-membros incluídos na Estratégia
AÇÃO Global para Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde
l Número de empresas envolvidas em atividades relacionadas a dieta e/ou atividade física com
os setores governamentais relevantes
AMBIENTES DE APOIO
84
Tabela 3.2 Indicadores essenciais de processos e resultados relacionados
ao ambiente de trabalho.
ÁREA DE Resumo das ações recomendadas para os Estados-membros incluídos na Estratégia
AÇÃO Global para Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde
l Número de locais de trabalho com políticas ou programas para promover dietas saudáveis
e/ou atividades físicas no local de trabalho
AMBIENTES DE APOIO
l Número de locais de trabalho que monitoram e/ou avaliam suas políticas e/ou programas
sobre dieta e atividade física no local de trabalho
l Porcentagem de locais de trabalho realizando avaliações de risco à saúde de funcionários
e coletando informações relacionadas a dieta, padrões de atividade física, índice de massa
corporal e pressão arterial
85
l Fornecer equipamento para uso, como empréstimo de bicicletas, bicicletários, tape-
tes de ioga, cordas, entre outros
l Promover uma rota de caminhada interna/externa segura, que seja bem iluminada,
livre de perigos e tráfego
l Manter ou melhorar as escadas de segurança para promover o uso de escadas no
trabalho em vez de elevadores
l Oferecer incentivos para a participação dos funcionários na atividade física
l Associar-se a uma academia local ou centro de recreação para fornecer afiliação
recreativa subsidiada, desconto ou pacotes especiais para os funcionários
l Incentivar as pausas durante o dia e nas reuniões
l Promover oportunidades recreativas para estar ativo fora do trabalho
l Promover e apoiar o transporte ativo de e para o trabalho.
Para o Centers for Disease Control and Prevention existe um processo sistemático de
construção de um programa de promoção da saúde no local de trabalho que enfatiza
quatro etapas principais (Quadros 3.2 a 3.5).
86
Quadro 3.3 Fase 2 de planejamento de um programa de promoção de
saúde no local de trabalho.
Fase 2 – Planejamento do programa
Em seguida, um estágio de planejamento cuidadoso deve preceder qualquer implementação de programas, políti-
cas, benefícios ou suportes ambientais no local de trabalho. O programa geral requer uma estrutura de governança
básica ou infraestrutura para administrar e gerenciar atividades de promoção de saúde que podem ser iniciadas du-
rante a fase de planejamento e deve reconhecer que o tamanho e o escopo de cada etapa podem ser influenciados
por fatores como tamanho, setor ou localização geográfica da empresa.
A estrutura de governança corporativa fornece a orientação estratégica, a liderança e a organização necessárias para
operacionalizar os elementos do programa. As estratégias organizacionais fornecem a infraestrutura para garantir
que os objetivos do programa sejam alcançados, os riscos à saúde dos funcionários sejam gerenciados de forma
adequada e os recursos da empresa sejam usados com responsabilidade. Estratégias organizacionais incluem:
l Dedicação e apoio da liderança sênior para servir como modelo
l Estabelecimento de sistemas de informática em saúde no local de trabalho para coletar e usar dados para plane-
jamento e avaliação.
É importante lembrar que um programa de sucesso não inclui necessariamente todas as estratégias potenciais
de saúde no local de trabalho. Um programa verdadeiramente bem-sucedido é aquele cujos componentes são
cuidadosamente selecionados, implementados de maneira eficiente e adequados à população de funcionários. Pode
ser mais prudente concentrar-se em uma ou duas políticas/programas no início e basear-se nos sucessos iniciais, em
vez de implementar mal várias intervenções no início. Os programas de saúde no local de trabalho também não
precisam custar quantias significativas de recursos financeiros. Muitas intervenções efetivas, como mudanças na po-
lítica relacionadas à saúde, existem com baixo custo, o que é especialmente importante para os pequenos e médios
empregadores que podem não ter muitos recursos para dedicar à saúde dos funcionários.
87
Quadro 3.5 Fase 4 de determinação do impacto de um programa de
promoção de saúde no local de trabalho.
Fase 4 – Determinação do impacto de um programa por meio de avaliação
Por fim, os locais de trabalho devem planejar a avaliação dos programas, políticas, benefícios ou mudanças ambien-
tais implementados. É importante avaliar quão bem o programa de saúde no local de trabalho pode ser sustentado
ao longo do tempo, como ele é recebido pelos funcionários e pela gerência e seu retorno sobre o investimento.
Embora a avaliação do programa seja amplamente reconhecida como uma função essencial da saúde pública, as
diferenças na definição de “boa prática de avaliação” muitas vezes levam a avaliações demoradas e caras e, mais
importante, produzem descobertas que não são empregadas para a melhoria do programa. A avaliação deve se
concentrar em questões que sejam relevantes e úteis para aqueles que usarão as informações e que o processo de
avaliação seja alimentado em um ciclo contínuo de melhoria da qualidade do programa e para fortalecer as ativida-
des existentes; identificar possíveis lacunas nas atividades existentes; e descrever a eficiência e eficácia dos recursos
investidos.
88
Na prática
Caminhada
Capoeira
Dança de salão
Ginástica laboral
Ginástica localizada
Hidroginástica
Jump fit
Medicina preventiva e saúde bucal
Natação
Reeducação alimentar
Ioga
Apresentações artísticas dos servidores
EVENTOS COLETIVOS
Campanhas assistenciais
Coral
Feiras
Festas
Palestras
Semana de qualidade de vida
Semana do servidor
Torneios e competições
Acolhimento das pessoas afastadas (reabilitação/adaptação)
Acompanhamento psicossocial
Curso de pintura
PSICOSSOCIAL
Curso de línguas
SUPORTE
Grupos de apoio
Incentivo ao estudo
Inclusão digital
Orientações e ambientação do servidor na instituição
Preparação para a aposentadoria
Readaptação e reabilitação funcional
Adaptada de Ferreira et al., 2009, p. 323.
89
Importante
Para que a educação em saúde seja eficaz, ela deve ser projetada com a compreensão
dos destinatários, ou seja, o públicos-alvo, considerando suas características sociais e de
saúde, crenças, atitudes, valores, habilidades e comportamentos passados. Esses públicos
consistem em pessoas que podem ser alcançadas como indivíduos, em grupos, por meio
de organizações, como comunidades ou organizações sociopolíticas, entidades, ou por
meio de uma combinação desses ambientes (Granz et al., 2008).
90
Existem vários modelos que buscam aliar a teoria, a pesquisa científica e a prática de
ações em educação para a saúde e comportamentos saudáveis (Granz et al., 2008).
Dentre vários modelos, pode-se mencionar o modelo transteórico (ou etapas de pron-
tidão), o qual propõe uma mudança global no comportamento de saúde de um indiví-
duo e que envolve a progressão em cinco estágios bem definidos: pré-contemplação,
contemplação, preparação, ação e manutenção (Figura 3.2). A premissa do modelo é
que cada estágio de prontidão requer uma estratégia de apoio e abordagem específica
para fazer com que um indivíduo avance para o próximo estágio, com o objetivo final
de progredir para a ação ou manutenção. Portanto, é importante avaliar o estágio de
prontidão para a atividade física de cada indivíduo dentro de uma organização antes
que seja proposto o desafio de mudança de comportamento (ESSA, s/d; Granz et al.,
2008).
91
plo, perder peso), conhecimento de exercício, conveniência do programa, custo finan-
ceiro ou alocação de tempo. Os contempladores também representam uma grande
proporção de indivíduos com relação aos comportamentos de atividade física, pois
a ambivalência entre os prós e os contras da mudança mantém muitas pessoas
imobilizadas nesse estágio. Resolver essa ambivalência é uma maneira de ajudar os
indivíduos a progredir na atitude de mudar seu comportamento.
3. Preparação: no momento em que os indivíduos entram no estágio de preparação,
os fatores a favor da mudança de um comportamento prejudicial à saúde superam
os contras, e a ação é planejada em um futuro próximo, normalmente nos próximos
30 dias. Muitas pessoas nesta fase fizeram uma tentativa de mudar seu comporta-
mento no passado recente, mas não tiveram sucesso em manter essa mudança.
Os indivíduos em preparação geralmente têm um plano de ação, mas não são total-
mente comprometidos com o plano. Os programas tradicionais de mudança
de comportamento orientados para a ação são apropriados para os indivíduos
nesse estágio.
4. Ação: o estágio de ação marca o início da mudança real no comportamento
e specífico, que normalmente abrange os últimos seis meses. Nesse ponto, em que
muitas teorias de mudança de comportamento começam, um indivíduo está na
metade do processo de mudança de comportamento. Esse também é o ponto em
que a recaída e, subsequentemente, a regressão a um estágio anterior são mais
prováveis. Se um indivíduo não estiver suficientemente preparado para a mudança
e não estiver comprometido com o plano de ação escolhido, a recaída para o com-
portamento sedentário tem considerável probabilidade de ocorrer.
5. Manutenção: acredita-se que os indivíduos estejam no estágio de manutenção
quando alcançaram e mantiveram com sucesso a mudança de comportamento por
pelo menos 6 meses. Embora o risco de recaída ainda seja presente neste estágio,
é menor e, como tal, os indivíduos precisam se esforçar menos para se engajar em
processos de mudança.
92
Conforme recomenda o Centers for Disease Control and Prevention, os programas de
saúde no local de trabalho podem levar a mudanças nos níveis individual (ou seja, funcio-
nário) e organizacional. Para os indivíduos, os programas de saúde no local de trabalho
têm o potencial de afetar a saúde de um funcionário, como seus comportamentos de
saúde, riscos para doenças e estado de saúde atual. Para as organizações, os programas
de saúde no local de trabalho têm o potencial de impactar áreas como custos de assis-
tência médica, absenteísmo, produtividade, recrutamento/retenção, cultura e moral dos
funcionários. Empregadores, trabalhadores, suas famílias e comunidades se beneficiam
de programas de apoio para a prevenção de doenças e promoção de saúde.
Deve-se destacar que os programas de promoção para a atividade física devem ser ava-
liados periodicamente para o aprimoramento da sua qualidade, e para isso é importante
que os responsáveis pela implementação desses programas conheçam os processos de
avaliação de qualidade. No Brasil, o documento Melhoria contínua da
93
qualidade na atenção primária à saúde (Brasil, 2010) traz um conteúdo relevante para o
acompanhamento e a avaliação de programas relacionados à saúde, com enfoque na qua-
lidade desses programas. Parte desse conteúdo pode ser adaptado para estruturação de
programas de promoção de saúde relacionados ao exercício físico e práticas esportivas.
94
ualidade. Trata-se de uma técnica em que o grupo que implementa o programa analisa
q
cada aspecto do programa por meio de questionamentos específicos de cada ponto do
5W2H com relação aos problemas elencados nas etapas anteriores do ciclo de melhoria
da qualidade. O acrônimo 5W2H está detalhado na Tabela 3.4.
95
Saiba mais
Para conhecer mais sobre cada uma delas, acesse o documento Melhoria contínua da
qualidade na atenção primária à saúde (Brasil, 2010).
96
Do ponto de vista científico, apesar da proposição teórica razoável sobre a associação
entre o nível de atividade física e o índice de qualidade de vida, a comprovação científica
desse fato encontra desafios conceituais, teóricos e metodológicos. Para a produção de
conhecimento consistente desse tema é preciso considerar que:
l Oportunidades para ser ativo existem em várias atividades da vida cotidiana como
tarefas domésticas, atividades de trabalho, atividades de transporte e atividades
realizadas em tempo livre
l É importante definir o conceito de atividade física que se utiliza antes de promo-
ver alguma pesquisa e determinar o critério para comparar os resultados entre os
estudos, pois não está suficientemente esclarecido que tipo de atividade cotidiana
influencia qual dimensão da qualidade de vida. Deve-se considerar como atividades
ocupacionais e atividades de tempo livre afetam de modo diferente a relação entre
qualidade de vida e qualidade de vida no trabalho
l Os objetivos relacionados a atividade física e qualidade de vida podem ser distintos
ao longo dos ciclos da vida de um indivíduo
l A natureza da relação entre atividade física e qualidade de vida no trabalho também
pode divergir em relação ao gênero, pois em algumas culturas os papéis sociais de
homens e mulheres são bastante distintos
l Esta unidade tratou de temas complexos, com plausível relação entre si, mas que não
ocorrem de maneira linear. A qualidade de vida no trabalho, a promoção de saúde
de funcionários e os programas de promoção de aumento dos níveis de atividade
física nos locais de trabalho podem ter relação entre si, desde que a análise desse
tema seja feita de modo abrangente. Por mais que se queira evitar doenças, é mais
atraente motivar as pessoas pelos aspectos positivos da prática de exercícios físicos e
esportivos do que por medo das doenças. O papel do profissional de Educação Física
é fazer um diagnóstico adequado do local em que se propõe a atuar, considerando
que cada contexto é único. A partir do seu repertório de conhecimentos e efetividade
do seu trabalho, o profissional terá credibilidade para desenvolver programas de
promoção de saúde para a melhoria da qualidade de vida no trabalho.
97
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99
100
Unidade 4
Princípios e Aplicações
da Atividade Física
Unidade 4
Objetivos da Unidade
• Conhecer os benefícios da atividade física, exercício físico e práticas esportivas
ao longo da vida
• Analisar criticamente programas de promoção da saúde e sua aplicação no
âmbito da Educação Física.
Contextualizando
Pense nesta situação: você está preenchendo um relatório mensal na escola de natação
onde trabalha. Nas fichas de alunos novos, observa que todos eles alegaram procurar a
prática de exercícios físicos por recomendação: especialistas das mais diversas áreas de
saúde solicitaram aos pacientes que buscassem a prática de exercícios físicos semanal-
mente como forma de promoção de saúde ao longo da vida. É possível imaginar que essa
justificativa faça parte da escolha de praticantes de exercícios físicos em todo o mundo.
Como visto nos módulos anteriores, a saúde é um tema central na sociedade contempo-
rânea no âmbito internacional. A Organização Mundial da Saúde lançou em 2018 o Plano
de ação global para a atividade física 2018-2030. Nesse documento é reafirmada a
importância da prática regular de exercícios físicos para a prevenção de doenças crônicas
não transmissíveis, bem como a influência benéfica que as práticas de exercícios podem
exercer em relação ao controle e tratamento de tais doenças. Ressalta-se ainda nesse
documento que as mudanças nos meios de transporte, as novas tecnologias, a urbaniza-
ção e a própria cultura podem provocar um aumento de inatividade física que em países
desenvolvidos pode chegar a 70% da população (WHO, 2018).
102
de promoção de saúde, quais seriam as razões que promovem o aumento da inatividade
física na população? Outra consideração importante é que o primeiro passo para analisar
criticamente programas de promoção da saúde por meio de exercícios físicos, práticas
esportivas e aumento nos níveis de atividade física, particularmente na área da Educação
Física, é ter um diagnóstico do contexto no qual se pretende intervir.
Entendendo os conceitos
A saúde global está sendo influenciada significativamente por três tendências: o envelhe-
cimento da população, a rápida urbanização não planejada e a globalização, que resul-
tam em ambientes e comportamentos pouco saudáveis. Além disso, a inatividade física é
atualmente identificada como o quarto fator de risco para a mortalidade global. Os níveis
de inatividade física estão aumentando em muitos países, com importantes implicações
para a prevalência de doenças não transmissíveis (DNT) e a saúde geral da população
em todo o mundo. Estima-se atualmente que de cada 10 mortes, 6 sejam atribuíveis a
condições não transmissíveis (WHO, 2010).
Para a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2018), o progresso global para aumentar a
atividade física tem sido lento, em grande parte em virtude da falta de conscientização e
investimento. Em todo o mundo, 1 em 4 adultos e 3 em 4 adolescentes (com idade entre
11 e 17 anos) atualmente não atendem às r ecomendações globais de atividade física
estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde.
Malina e Little (2008) alertam que o descompasso entre o aspecto biológico e a cultura é
evidente em uma série de problemas de adaptação ao recente estilo de vida sedentário
adotado pelo ser humano; entre eles estão a diminuição da saúde, da capacidade car-
diovascular e do metabolismo, o aumento da prevalência de osteoporose, a diminuição
da força e endurance, o aumento do sobrepeso e da obesidade, o aumento do risco de
doenças, da morbidade e da mortalidade. Miles (2007) relaciona uma série de benefícios
da atividade física em relação aos aspectos biológicos do ser humano. O efeito total da
atividade física no gasto energético total vai além do gasto de energia da atividade física
em si. A longo prazo, a atividade física pode aumentar a taxa metabólica de repouso em
103
virtude do aumento da massa magra do corpo. Há também um aumento na taxa metabó-
lica de repouso em função do consumo adicional do oxigênio que é detectado imediata-
mente depois do exercício.
Malina e Little (2008) enfatizam que a redução dos níveis de atividade física comumente
é um dos principais fatores que contribuíram para o aumento da prevalência de doenças
degenerativas nos últimos 50 anos, bem como a epidemia de obesidade nos últimos
25 anos.
Figura 4.1 As pessoas que não praticam atividade física têm consciência dos riscos da
vida sedentária? (Adaptada de Brasil, 2015.)
104
Figura 4.2 Principal motivo para o abandono da prática de esportes e/ou atividades
físicas por gênero. (Adaptada de Brasil, 2015.)
105
Tabela 4.1 As pessoas que não praticam atividade física e têm consciência
dos riscos da vida sedentária, por regiões do país.
Sim, mas não demonstram 36,1 22,4 41,5 34,8 30,7 35,7
esforço para a prática
Sim, mas afirmam que não têm 24,5 28,9 27,7 27,3 23,4 27,2
tempo para a prática
Sim, mas dizem que não têm 5,3 6,1 4,2 6,1 10,2 5,5
condições financeiras para a
prática
Sim, mas não gostam de prati- 11,7 22,8 8,8 11,4 12,3 12,0
car esporte e/ou atividade física
Não, não têm consciência e por 17,5 18,5 15,5 18,2 16,6 16,9
isso não praticam
Segundo a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2018), uma ação nacional eficaz para
reverter as tendências atuais e reduzir as disparidades na atividade física requer uma
abordagem “baseada em sistemas” com uma combinação estratégica de ações políticas
destinadas a melhorar os fatores sociais, culturais, econômicos e ambientais que apoiem
o aumento dos níveis de atividade física da população, e abordagens dedicadas ao enfo-
que individual, o que remete a ações educacionais e informativas.
106
l Promover a colaboração intersetorial e contribuir para o estabelecimento de metas e
objetivos nacionais relacionados à promoção da atividade física
l Proporcionar uma base para iniciativas de promoção de atividade física
l Justificar a alocação de recursos para intervenções de promoção de atividade física
l Criar um quadro de ação conjunta para todos os outros atores relevantes em torno
do mesmo objetivo
l Elaborar um documento baseado em evidências que permita que todas as partes
interessadas relevantes transformem a política em ação com a alocação dos recursos
apropriados
l Facilitar mecanismos nacionais de vigilância e monitoramento dos níveis populacio-
nais de atividade física.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2018), as diferenças nos níveis
de atividade física também são explicadas por iniquidades significativas nas oportunida-
des de atividade física por gênero e posição social, tanto na comparação entre países,
quanto na comparação de uma população de um mesmo país. Meninas, mulheres,
idosos, pessoas com situação socioeconômica menos favorecida, pessoas com defici-
ências e doenças crônicas, populações marginalizadas, povos indígenas e habitantes de
comunidades rurais geralmente têm menos acesso a espaços e locais seguros, acessíveis
e adequados para que possam ser ativos fisicamente. Abordar essas disparidades na
participação é uma prioridade política e um princípio subjacente do plano de ação global
para a promoção do aumento dos níveis de atividade física.
1. Crianças e jovens com idade entre 5 e 17 anos devem acumular pelo menos 60 minutos de atividade física mode-
rada a vigorosa diariamente.
2. A atividade física de quantidades superiores a 60 minutos por dia proporcionará benefícios adicionais à saúde.
3. A maior parte da atividade física diária deve ser aeróbica. Atividades de intensidade vigorosa devem ser incorpo-
radas, incluindo aquelas que fortalecem músculos e ossos, pelo menos 3 vezes por semana.
107
Quadro 4.2 Recomendações de níveis de atividade física para a
população segundo faixa etária.
Faixa etária: 18 a 64 anos
Para adultos desta faixa etária, a atividade física inclui atividade física recreativa ou de lazer, locomoção (por exemplo,
caminhada ou ciclismo), ocupacional (trabalho), tarefas domésticas, brincadeiras, jogos, esportes ou exercícios pla-
nejados, no contexto diário, familiar e comunitário. Para melhorar a aptidão cardiorrespiratória e muscular, a saúde
óssea e reduzir o risco de doenças não transmissíveis (DNT) e depressão, recomenda-se o seguinte:
1. Adultos com idade entre 18 e 64 anos devem fazer pelo menos 150 minutos de atividade física aeróbica de inten-
sidade moderada durante a semana, ou fazer pelo menos 75 minutos de atividade física aeróbica de intensidade
vigorosa durante a semana, ou uma combinação equivalente de atividade de intensidade moderada e vigorosa.
2. A atividade aeróbica deve ser realizada em períodos de pelo menos 10 minutos de duração.
3. Para benefícios adicionais à saúde, os adultos devem aumentar sua atividade física aeróbica de intensidade mode-
rada para 300 minutos por semana ou praticar 150 minutos de atividade física aeróbica de intensidade vigorosa por
semana ou uma combinação equivalente de atividade de intensidade moderada e vigorosa.
4. As atividades de fortalecimento muscular devem ser realizadas envolvendo os principais grupos musculares em
2 ou mais dias por semana.
1. Adultos com 65 anos ou mais devem fazer pelo menos 150 minutos de atividade física aeróbica de intensidade
moderada durante a semana, ou fazer pelo menos 75 minutos de atividade física aeróbica de intensidade vigorosa
durante a semana, ou uma combinação equivalente de atividade moderada e de intensidade vigorosa.
2. A atividade aeróbica deve ser realizada em períodos de pelo menos 10 minutos de duração.
3. Para benefícios adicionais à saúde, adultos com 65 anos ou mais devem aumentar sua atividade física aeróbica de
intensidade moderada para 300 minutos por semana, ou praticar 150 minutos de atividade física aeróbica de intensi-
dade vigorosa por semana ou uma combinação equivalente de exercícios moderados e vigorosos.
4. Os adultos desta faixa etária com mobilidade reduzida devem realizar atividades físicas para melhorar o equilíbrio
e evitar quedas em 3 ou mais dias por semana.
5. As atividades de fortalecimento muscular devem ser realizadas envolvendo os principais grupos musculares, em
2 ou mais dias por semana.
6. Quando adultos desta faixa etária não puderem fazer a quantidade recomendada de atividade física em decorrên-
cia de condições de saúde, eles devem ser tão ativos fisicamente quanto suas habilidades e condições permitirem.
108
De olho
l Duração ou por quanto tempo uma pessoa faz uma atividade em qualquer sessão.
109
– Atividade de fortalecimento ósseo: este tipo de atividade produz uma força nos
ossos que promove o crescimento e a força óssea. Essa força é comumente produzida
por impacto com o solo. Exemplos de atividade de fortalecimento dos ossos incluem
saltos, corrida, caminhada rápida e exercícios de levantamento de peso. Como esses
exemplos ilustram, as atividades de fortalecimento dos ossos também podem ser asso-
ciadas ao treinamento aeróbico e muscular.
110
Quadro 4.4 Responsabilidade social no exercício profissional em
Educação Física.
Documento de intervenção do profissional de educação física
A intervenção profissional é a aplicação dos conhecimentos científicos, pedagógicos e
técnicos sobre a atividade física, com responsabilidade ética.
Assim, cabe ao profissional de Educação Física encontrar meios para articular o conheci-
mento teórico a sua atuação profissional, de modo a beneficiar os indivíduos e a popu-
lação dos mais diversos grupos sociais. Para realizar essa tarefa é necessário conhecer
o contexto em que se está atuando, tanto em uma perspectiva microssocial quanto
macrossocial.
As recomendações feitas pela Organização Mundial da Saúde (WHO, 2010) podem ser
comparadas com os dados populacionais no Brasil, conforme a pesquisa publicada pelo
Ministério do Esporte em 2015. As Tabelas 4.2 e 4.3 permitem uma comparação entre as
recomendações por faixa etária apresentadas anteriormente e o que se constatou como
hábitos da população brasileira. Mesmo considerando que as metodologias para aferir
os níveis de atividade física de uma população não sejam consensuais do ponto de vista
científico, ainda assim é possível fazer uma análise da situação atual a partir dos dados
que são apresentados a seguir, particularmente associada às faixas etárias, como aponta
a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2010).
111
Tabela 4.2 Idade em que os indivíduos começaram a praticar esporte por
faixa etária e gênero.
Até 5 6 a 10 11 a 14 15 a 17 18 a 25 26 a 40 41 a 60 Acima de
anos (%) anos (%) anos (%) anos (%) anos (%) anos (%) anos (%) 60 anos (%)
Média
6,8 37,9 31,4 11,8 7,7 3,2 1,1 0,2
nacional
Respostas
7,1 41,6 31,3 10,9 6,7 2,1 0,3 0,0
masculinas
Respostas
6,0 29,7 31,5 13,8 9,8 5,8 2,8 0,5
femininas
De acordo com os dados da Tabela 4.3, à média nacional observa-se que 69,3% dos
brasileiros iniciaram a prática esportiva entre 6 e 14 anos, o que parecer ser um número
positivo, porém poderia ser melhorado, principalmente porque nessa faixa etária existe
a possibilidade de prática nas escolas que deveria ser proporcionada à totalidade da
população. Mesmo assim é preciso considerar que não se pode afirmar que tal prática
seja de 60 minutos diários de atividade física moderada ou intensa, como recomenda a
Organização Mundial da Saúde (WHO, 2010). Em relação às regiões do país, destaca-se
que em todas elas o início da prática esportiva aconteceu majoritariamente antes dos 14
anos de idade, com valores acima de 70% em todas as regiões, sendo 80,5% na região
Norte, 87,6% na região Sul, 72,4% na região Sudeste, 71,5% na região Nordeste e 79,2%
na região Centro-Oeste.
Deve-se ressalvar também que o esporte é uma prática subutilizada, mas importante
para a atividade física de pessoas de todas as idades, além de proporcionar significativos
benefícios sociais e culturais às comunidades. O esporte pode ser um catalisador e uma
112
inspiração para a participação física. O esporte e a recreação ativa também podem con-
tribuir como parte de programas humanitários voltados para as necessidades sociais e
de saúde, bem como para o desenvolvimento e a integração da comunidade. O fortaleci-
mento do acesso e promoção da participação em esportes e recreação ativa, em todas as
idades e habilidades, é um elemento importante do aumento dos níveis populacionais de
atividade física (WHO, 2018).
As Tabelas 4.4 e 4.5 revelam dados que podem ser analisados de acordo com as reco-
mendações sobre o tempo mínimo para a prática de atividades físicas e os dados da
população brasileira por idade.
Tabela 4.4 Número de indivíduos que durante seu tempo livre praticaram
alguma atividade física, por faixa etária.
Faixa etária Sim (%) Não (%) Total (%)
15 a 19 anos 53,6 46,4 100
Praticantes de
22,4 23,3 27,6 31,3 30,1 33,9 30,5 28,5
atividade física
113
diminuir e o número de brasileiros com 65 anos ou mais chegará a 25,5% da população,
ou seja, 58,2 milhões de idosos. Atualmente o Brasil tem 9,2% de idosos, ou seja, 19,2
milhões de pessoas. O envelhecimento da população deve ser um fator importante na
análise que constata a diminuição da prática de atividades físicas ao longo da vida, como
mostra a Tabela 4.5, e iniciativas deverão ser tomadas para que esses dados se modifi-
quem e pessoas com mais idade continuem sendo ativas por meio da promoção de ativi-
dades atrativas para essa população. Observa-se ainda que em faixas etárias mais jovens
o esporte é a atividade mais procurada, mas tem a redução mais acentuada ao longo da
vida. Nesse sentido, falta investigar se ocorre desinteresse dos indivíduos pesquisados ou
falta de oportunidade para continuar as práticas esportivas.
As Tabelas 4.6 e 4.7 retratam a frequência em que as atividades físicas ocorrem por
faixa etária. Mesmo havendo algumas limitações de análise, é possível verificar por meio
desses dados se a população brasileira atende às recomendações propostas pela Organi-
zação Mundial da Saúde (WHO, 2010).
Tabela 4.6 Tempo médio na prática das atividades físicas, por faixa etária.
Tempo Faixa etária do entrevistado Total
15 a 19 20 a 24 25 a 34 35 a 44 45 a 54 55 a 64 65 a 74 (%)
anos (%) anos (%) anos (%) anos (%) anos (%) anos (%) anos (%)
Menos de 20 min 5,2 2,9 3,4 3,7 3,3 2,6 7,8 3,8
Entre 21 e 40 min 16,4 16,7 15,8 16,9 26,8 25,6 24,8 19,2
Entre 41 min e 1 h 25,1 24,0 29,9 33,1 36,6 38,8 36,9 31,3
Tabela 4.7 Frequência da prática das atividades físicas (média anual) por
faixa etária.
Opções Frequência %
Menos de 1 vez por semana (1 a 11 vezes por ano) 3.156 4,7
114
analisar padrões de mudança e estabilidade na atividade física dos indivíduos, grupos e a
sociedade de modo geral.
Importante
115
A legislação brasileira corrobora a importância da utilização do conhecimento de várias
áreas, pois segundo a Resolução nº 7, de 2004 (Brasil, 2004, p. 18), que institui as Diretri-
zes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Educação Física, a formação
no Ensino Superior deve contemplar:
§ 1º A Formação Ampliada deve abranger as seguintes dimensões do
conhecimento:
a) Relação ser humano-sociedade;
b) Biológica do corpo humano;
c) Produção do conhecimento científico e tecnológico.
§ 2º A Formação Específica, que abrange os conhecimentos identificadores
da Educação Física, deve contemplar as seguintes dimensões:
a) Culturais do movimento humano;
b) Técnico-instrumental;
c) Didático-pedagógico.
Saiba mais
No site do Conselho Federal de Educação Física existe uma seção de livros destinados
aos profissionais de Educação Física e que são de acesso público, ou seja, é possível
fazer download do livro sem custo nenhum em formato pdf. Tais livros podem ser aces-
sados em <http://www.confef.org.br/confef/comunicacao/publicacoes>.
l A ética e a bioética
l Ginástica laboral: prerrogativa do profissional de Educação Física
l Intervenção profissional e formação superior em Educação Física: articulação
necessária para a qualidade do exercício profissional
l Estudos brasileiros sobre o esporte: ênfase no esporte-educação
l Recomendações para a Educação Física escolar
l Recomendações sobre condutas e procedimentos do profissional de Educação
Física na atenção básica à saúde.
Além disso, vários Conselhos Regionais de Educação Física promovem ao longo do ano
atividades que visam fomentar a atualização do conhecimento de estudantes e profis-
sionais de Educação Física. Por exemplo, em alguns conselhos são feitos os Ciclos de
Conhecimentos com a inscrição gratuita dos interessados.
116
4.1 Exercício físico e funções cognitivas,
sociais e afetivas
Wankel (1993) indica que a ênfase no prazer da atividade física pode ter resultados
positivos significativos, facilitando o envolvimento contínuo na atividade, combatendo o
estresse e facilitando a saúde psicológica positiva. Prazer e adesão estão relacionados
ao alcance dos objetivos de exercício, à interação social, e ao desafio e à percepção
de competência do indivíduo. O prazer e os benefícios psicológicos são considerados
com relação a fatores atitudinais e de personalidade, motivação intrínseca e atenção
plena.
117
Tabela 4.8 Motivo para a prática de atividade física por gênero e faixa etária.
Respostas Respostas
masculinas femininas 15 a 19 20 a 24 25 a 34 35 a 44 45 a 54 55 a 64 65 a 74
(%) (%) anos anos anos anos (%) anos anos
(%) (%) (%) (%) (%) (%)
Para melhoria no 41,5 34,1 43,7 45,4 38,0 38,8 33,5 30,5 22,0
desempenho físico
Para minha qualidade 38,1 44,6 30,3 35,9 45,1 40,8 47,9 42,8 48,3
de vida e bem-estar
Para relaxar no meu 6,7 6,0 11,2 7,0 5,9 6,4 3,3 5,0 5,1
tempo livre
Para melhoria na 2,9 3,9 6,6 3,5 3,2 2,9 2,3 2,3 3,0
harmonia corporal
(corpo/mente)
Para me relacionar 2,6 1,8 5,7 2,9 2,2 1,3 1,1 0,6 1,0
com os meus amigos
e/ou fazer amizades
Para competir com 0,8 0,5 1,1 0,6 0,4 1,1 0,6 – 0,8
outros e comigo
mesmo
Outros (indicação 7,4 9,0 1,4 4,8 5,2 8,7 11,3 18,8 19,8
médica, prêmios,
bolsas)
Tabela 4.9 Motivo para a prática de esportes por gênero e faixa etária.
Respostas Respostas
masculinas femininas 15 a 19 20 a 24 25 a 34 35 a 44 45 a 54 55 a 64 65 a 74
(%) (%) anos anos anos anos anos anos anos
(%) (%) (%) (%) (%) (%) (%)
Para minha 45,3 50,5 40,0 45,5 49,1 47,9 50,2 53,4 65,1
qualidade de vida e
bem-estar
Para melhoria no 38,9 35,6 38,6 33,7 40,3 37,3 37,9 41,8 23,0
desempenho físico
Para relaxar no meu 17,5 10,6 17,9 18,3 14,1 14,3 13,3 12,1 9,1
tempo livre
Para me relacionar 12,4 10,4 15,1 13,3 12,2 8,3 10,1 7,2 1,9
com os meus amigos
e/ou fazer amizades
Para melhoria na 5,9 8,7 7,8 8,3 5,3 7,2 7,9 2,5 3,6
harmonia corporal
(corpo/mente)
Para competir com 4,8 4,4 6,9 3,8 3,2 6,2 3,6 5,3 0,0
outros e comigo
mesmo
Outros (indicação 4,6 8,5 3,8 2,9 3,6 7,5 8,8 18,7 40,3
médica, prêmios,
bolsas)
118
Figura 4.4 Sedentarismo por faixa etária. (Adaptada de Brasil, 2015, p. 10.)
119
sedentária? Deve-se adotar o reforço positivo? Deve-se relembrar sempre que um estilo
de vida sedentário representa uma ameaça à saúde? Deve-se investir em programas de
educação? Para analisar tais aspectos, Kretchmar (2005) menciona a abordagem holística.
A perspectiva holística motivacional referente à motivação alega que não é provável que as
pessoas sejam ativas se a atividade não for pessoalmente significativa. Consequentemente,
o desafio está em fazer com que o indivíduo reconheça um significado para a prática.
Provavelmente a melhor forma de alcançar esse objetivo é começar cedo, mesmo antes
de o indivíduo iniciar a educação formal. Os significados com maior potencial para mudar
comportamentos aparecem quando os indivíduos se tornam membros de uma subcultura
de atividade específica. Os profissionais de Educação Física não devem atuar apenas como
técnicos especializados, e sim como promotores de subculturas de movimento.
Lubans et al. (2016) desenvolveram um modelo conceitual que busca retratar os efeitos da
atividade física na saúde mental de crianças e adolescentes, apresentado na Figura 4.5.
Efeitos
Exposição Mecanismos propostos Resultados de saúde mental
moderadores
Hipótese neurobiológica
Funções cognitivas
Exemplos incluem:
Processos mentais que
Frequência, intensidade, tempo, tipo, contexto
Autoestima global
Hipótese psicossocial
Bem-estar
Bem-estar subjetivo
Exemplos incluem: e psicológico
Características • Autopercepção física
individuais • Conectividade social Qualidade de vida
Exemplos: • Humor e emoções
• Gênero Resiliência
• Idade
• Composição
corporal Hipótese comportamental Distúrbios
Mal-estar
Figura 4.5 Modelo conceitual para os efeitos da atividade física na saúde mental em crianças e
adolescentes. (Adaptada de Lubans et al., 2019, p. 2.)
120
Para refletir
Quais desses itens você considera mais relevantes para o êxito do seu trabalho?
Como você atribuiria valor para tais itens? Pessoalmente, que abordagem funciona
melhor para você?
Assim, para obter êxito na promoção de regularidade em que indivíduos e grupos ade-
rem a práticas de exercícios físicos e práticas esportivas é necessário um contínuo pro-
cesso de avaliação de todas as variáveis que podem interferir na adoção ou não de um
estilo de vida ativo, considerando um espectro de conhecimentos que inclui os aspectos
biológicos, psicológicos, sociais e todas as suas interfaces e nuances.
121
De acordo com o Ministério da Educação, o graduado em Educação Física deverá estar
qualificado para
“diagnosticar os interesses, as expectativas e as necessidades das pessoas
(crianças, jovens, adultos, idosos, pessoas portadoras de deficiência, de gru-
pos e comunidades especiais) de modo a planejar, prescrever, ensinar, orien-
tar, assessorar, supervisionar, controlar e avaliar projetos e programas de
atividades físicas, recreativas e esportivas nas perspectivas da prevenção, pro-
moção, proteção e reabilitação da saúde, da formação cultural, da educação
e reeducação motora, do rendimento físico-esportivo, do lazer e de outros
campos que oportunizem ou venham a oportunizar a prática de atividades
físicas, recreativas e esportivas” (Brasil, 2004, p. 18).
Lamentavelmente, o Diagnóstico do esporte no Brasil (Brasil, 2015) revela que nem toda
a população teve acesso à orientação para a prática de atividade física, exercício físico e
esporte, como mostram as Tabelas 4.10 a 4.13 e a Figura 4.6.
Figura 4.6 Prática de esporte com instrução. (Adaptada de Brasil, 2013, p. 38.)
122
Tabela 4.11 Orientação para praticar esporte em espaços públicos por região.
Média
Opções Regiões nacional
Norte Sul Sudeste Nordeste Centro-Oeste (%)
(%) (%) (%) (%) (%)
Sim, sempre 16,2 7,8 7,2 18,7 11,7 11,5
123
Ao mesmo tempo que tais dados apresentam um cenário preocupante, também revelam
um vasto campo de atuação profissional que ainda não foi devidamente explorado pelos
profissionais de Educação Física. Deve-se ressaltar que a execução inadequada de práti-
cas de exercícios físicos e esportivos pode conter uma série de riscos aos praticantes. No
guia de atividade física desenvolvido pelo U.S. Department of Health and Human Services
(2008), nos Estados Unidos, há a preocupação em ressaltar a importância da prática de
atividade física segura, como mostra o Quadro 4.5.
l Compreender os riscos e assegurar-se de que a atividade física seja segura para todos
l Escolher tipos de exercício físico que sejam apropriados para seu atual nível de aptidão física e metas de saúde,
pensando em atividades que sejam mais seguras
l Aumentar o nível de atividade física gradualmente ao longo do tempo sempre que necessário para atingir orien-
tações ou metas de saúde
l Pessoas inativas devem começar devagar, aumentando gradualmente a frequência e o tempo das atividades re-
alizadas
l Proteger-se usando equipamento apropriado ao exercício físico ou atividade esportiva, procurando ambientes
seguros, seguindo as regras e políticas adequadas, e fazendo escolhas sobre quando, onde e como estar ativo
l Estar sob os cuidados de um profissional de saúde no caso de doenças ou sintomas crônicos. Pessoas com doenças
e sintomas crônicos devem consultar o profissional sobre os tipos e frequência de atividades apropriadas para elas.
Como declara a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2018), para aumentar os níveis
de atividade física da população, é necessária uma ação integrada e sistêmica que tenha
como concepção a interligação e a interação dinâmica de variadas influências em diversos
níveis para a promoção do aumento do nível de atividade física. Portanto, deve-se reiterar
a importância da compreensão do ambiente em que as pessoas vivem, trabalham e têm
atividades de lazer e posteriormente agir coerentemente com tais cenários. A descrição
mais detalhada dessa concepção está representada na Figura 4.7 e na Tabela 4.14.
124
Figura 4.7 Iniciativas para reduzir a inatividade física. (Adaptada de WHO, 2018, p. 3.)
125
Na prática
A Organização Mundial da Saúde (OMS) (WHO, 2018) faz a descrição do que os sta-
ckholders, tais como organizações não governamentais (ONG), organizações da socie-
dade civil, comunidade acadêmica e de pesquisa, doadores, organizações de desenvol-
vimento internacional e regional, cidades e municípios e entidades do setor privado,
podem fazer a respeito de implementar a proposta da OMS. São elas:
126
l Todas as partes interessadas, particularmente aquelas na educação, formação e
desenvolvimento curricular, devem identificar e apoiar mecanismos para facilitar
a partilha e adaptação dos recursos existentes de ensino e aprendizagem para
públicos profissionais específicos, em particular, mas não limitados a médicos e
profissionais de saúde, prestadores de cuidados infantis, professores e setores
desportivos, em particular para os contextos com menos recursos
l Instituições de Ensino Superior devem fortalecer a implementação de iniciativas
como as Universidades Promotoras de Saúde da OMS ou similares, para demons-
trar abordagens de todo o campus para a promoção de atividade física e redução
do comportamento sedentário a todos os alunos, funcionários e visitantes
l Os empregadores dos setores público e privado devem implementar programas no
local de trabalho que promovam a atividade física e a redução do comportamento
sedentário e aumentem a atividade incidental durante a jornada de trabalho,
adaptada à cultura e ao contexto.
Nesta unidade você pôde conhecer o diagnóstico nacional sobre o nível de atividade
física e os hábitos de prática esportiva da população brasileira, além das principais dire-
trizes internacionais sobre a promoção de atividade física como um hábito benéfico ao
longo da vida. Nesse sentido, ao profissional de Educação Física cabe refletir criticamente
sobre a complexa combinação de variáveis que podem influenciar indivíduos, grupos,
comunidades e sociedade em seu cotidiano. A partir da combinação de diversas áreas do
conhecimento e disciplinas acadêmicas, considerando os aspectos biológicos, comporta-
mentais e sociais, o profissional deve detectar as oportunidades de atuação e identificar
as possíveis restrições ao êxito da sua atuação. Desse modo, deve planejar, executar,
monitorar e avaliar periodicamente sua atuação e o funcionamento de programas em
que está envolvido para alcançar os resultados planejados.
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who.int/ncds/prevention/physical-activity/global-action-plan-2018-2030/en/>.
Acesso em: 11 set. 2018.
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Síntese da disciplina
Cabe destacar ainda que a reflexão sobre os temas tratados nesta disciplina deve ser
feita pelo próprio leitor, ou seja, é preciso ter uma postura ativa para que a compreensão
dos temas elencados seja proveitosa para o cotidiano da prática profissional. Além disso,
foram indicadas várias referências e fontes de informação que podem levar o leitor a
expandir e aprofundar seus conhecimentos nos aspectos que forem mais úteis para o seu
exercício profissional.
Ao final desta jornada, a expectativa é que a apresentação deste conteúdo faça o aluno
refletir sobre as possibilidades que a Educação Física pode oferecer aos indivíduos e à
sociedade para melhorar a qualidade de vida. Concomitantemente, são reconhecidas
as variáveis que podem interferir na qualidade de vida das pessoas e que não estão sob
o controle da área. Assim, o educador físico poderá verdadeiramente contribuir com a
sociedade nos aspectos que efetivamente estão associados à sua atuação.
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