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DA
Educação Física, Saúde e
Qualidade de Vida
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou
transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo
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Ilustração: Wictor Bernardo

dos Santos, Ana Lúcia Padrão


Educação Física, Saúde e Qualidade de Vida, Guia de Estudo: Recife: Grupo Ser Educacional, 2018.
Educação Física, Saúde e Qualidade de Vida
ISBN: 9788527734820
Apresentação do autor

Ana Lúcia Padrão dos Santos

Docente do Departamento de Esporte da Escola de Educação Física e Esporte da


Universidade de São Paulo, onde atualmente é responsável pela disciplina Dimensões
Sociológicas da Educação Física e Esporte. Graduada em Educação Física pela Escola de
Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo, mestre e doutora na área de
Pedagogia do Movimento Humano pela mesma instituição. Desenvolveu pesquisas nas
áreas de qualidade de vida e atividade física em adultos, qualidade de vida e condições
de vida de atletas profissionais, semiprofissionais e amadores, e qualidade de vida em
atletas infanto juvenis. P
­ ossui experiência profissional em escolas, clubes, organização
não governamental e instituições de ensino superior pública e privada.
Sumário

Unidade 1 – Conceitos Fundamentais de Qualidade de Vida e Saúde

1.1 Qualidade de Vida e Saúde

1.2 Conceitos Fundamentais da Saúde e da Qualidade de Vida

1.3 Indicadores de Qualidade de Vida

Unidade 2 – Estilo de Vida e Condições de Vida

2.1 Estilo de Vida e Saúde

2.2 Carta de Ottawa

2.3 Promoção da Saúde | Uma Abordagem para a Qualidade de Vida

2.4 Estilo de Vida e sua Importância | Condições e Modo de Vida

Unidade 3 – Qualidade de Vida no Trabalho

3.1 Qualidade de Vida e Trabalho

3.2 Conceito de Qualidade de Vida no Trabalho

3.3 Estrutura de Programas e Promoção de Saúde

3.4 Ações Pedagógicas dentro da Empresa

Unidade 4 – Princípios e Aplicações da Atividade Física

4.1 Exercício Físico e Funções Cognitivas, Sociais e Afetivas

4.2 Exercício Físico | Princípios, Formas de Execução e Prevenção de Condições de Risco

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Carta de boas-vindas ao estudante
Prezado(a) estudante,

Dentro da área de atuação profissional em Educação Física, o conhecimento sobre as ati-


vidades físicas e esportivas, os exercícios físicos e as relações com a saúde e a qualidade
de vida é fundamental. Desse modo, para prestar serviços de qualidade, é essencial que o
profissional tenha embasamento teórico e saiba aplicar esse conhecimento na prática.

Esta disciplina foi elaborada considerando três elementos básicos:

l As Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Educação Física, ou seja, a


legislação que esclarece os conhecimentos que o aluno deve adquirir durante a sua
formação no ensino superior
l Os documentos fundamentais do Conselho Federal de Educação Física que orientam a
atuação do profissional de Educação Física, em especial a Carta Brasileira de Preven-
ção Integrada na Área da Saúde
l A literatura acadêmica e científica sobre o assunto.

Este é o nosso desafio com esse tema: apresentar a você, estudante, conceitos e refle-
xões para que compreenda a relação entre a Educação Física, a saúde e a qualidade de
vida. Por isso, oferecemos elementos para que você possa identificar esses conceitos,
refletir criticamente sobre a sua prática e atuar com qualidade em diferentes contextos.

Aproveite a disciplina! Acompanhe o conteúdo básico que será apresentado e avance em


seus estudos explorando as literaturas sugeridas e tantas outras que surgem constante-
mente!

Enfim, Educação Física, saúde e qualidade de vida são assuntos em evolução perma-
nente.

Bons estudos!
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Objetivos gerais da disciplina
Ao final desta disciplina, esperamos que você seja capaz de:

• Compreender a diferença entre o senso comum do conhecimento científico e refletir


criticamente sobre os conceitos de qualidade de vida e atividade física
• Compreender e analisar os aspectos relacionados ao estilo de vida e promoção de
saúde
• Desenvolver projetos de qualidade de vida em diferentes contextos de trabalho
• Compreender a aplicação de conceitos sobre a promoção da saúde de modo a
intervir profissionalmente de acordo com a especificidade profissional em Educação
Física.

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Unidade 1
Conceitos Fundamentais
de Qualidade de
Vida e Saúde
Unidade 1
Objetivos da Unidade
• Conhecer os conceitos fundamentais da qualidade de vida relacionados à prática
de atividades motoras
• Apontar os principais indicadores da qualidade de vida e sua utilização na Educa-
ção Física.

Contextualizando
Imagine a seguinte situação: você é professor em uma academia e recebe um aluno novo
para treinar. Na entrevista inicial, ele afirma que está ali em busca de qualidade de vida.
Afinal, o que exatamente ele quer dizer com isso?

A expressão “qualidade de vida” é utilizada diariamente pelas pessoas nos mais diver-
sos contextos da sociedade. É comum que tal expressão seja relacionada à melhoria
de algum aspecto da vida e que em alguns casos signifique que uma pessoa está mais
próxima da felicidade ou tinha um problema específico que foi superado. O uso dessa
expressão na vida das pessoas faz parte do senso comum. O senso comum pode ser
caracterizado por um conjunto de opiniões, ideias e concepções em um determinado
contexto social, as quais se impõem como naturais e necessárias, não exigindo profundas
reflexões ou questionamentos. Nesse sentido, esse tipo de conhecimento é diferente do
conhecimento científico, que é um conhecimento que tem origem em um método de
pesquisa e pressupõe o uso de rigor científico e reflexão crítica.

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De olho

Pensando na diferença entre o senso comum e o conhecimento científico, vale des-


tacar que o Código de Ética do Profissional de Educação Física (Conselho Federal de
­Educação Física, 2015), em seu artigo 6º, descreve quais são as responsabilidades e
deveres do profissional de Educação Física, dentre as quais:
I – Promover a Educação Física no sentido de que se constitua em meio efetivo para a
conquista de um estilo de vida ativo dos seus beneficiários, através de uma educação
efetiva, para promoção da saúde e ocupação saudável do tempo de lazer;
VIII – Manter-se informado sobre pesquisas e descobertas técnicas, científicas e cultu-
rais com o objetivo de prestar melhores serviços e contribuir para o desenvolvimento
da profissão;
XII – Manter-se atualizado quanto aos conhecimentos técnicos, científicos e culturais.

Considerando a importância que a ciência tem para o exercício profissional de qualidade,


a análise do tema Educação Física, saúde e qualidade de vida será feita considerando
alguns princípios básicos, a saber:

1. A ciência é a busca pela verdade e, portanto, a análise deverá ser feita sem concep-
ções previamente determinadas, ou seja, uma vez que tenham sidos respeitados os
princípios teóricos e metodológicos adequados para o estudo do tema, as evidên-
cias encontradas devem ser respeitadas
2. Boas evidências não precisam de ajuda, ou seja, o fato de existir uma hipótese não
significa que se deve forçar um cenário para que a hipótese seja confirmada
3. Escolher um recorte muito específico, um tratamento estatístico limitado ou qual-
quer “jeitinho” que ajude na comprovação da hipótese da pessoa que se propõe a
entender mais sobre um assunto não torna o estudo mais científico ou verdadeiro.
A ideia principal é aprender mais sobre o tema em questão.

No exercício profissional é importante que a atuação seja pautada nos conhecimentos


com fundamentação teórica e metodológica e, portanto, inicialmente se deve estabe-
lecer a terminologia sobre o tema, ou seja, a identificação e a delimitação de conceitos
próprios da área que se pretende compreender. Estudos sobre a qualidade de vida de
indivíduos, grupos e da própria sociedade estão no centro das questões científicas atuais,
e das respostas que a própria sociedade espera da ciência. Logo, é importante com-
preender melhor os conceitos e a relação entre atividade física e qualidade de vida, e
entender como esse tema está colocado no âmbito da Educação Física, seja por meio da
atuação profissional, seja na própria produção de conhecimento sobre o assunto.

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Partindo da análise da atuação profissional em Educação Física ou de documentos que
orientam essa atuação, parece que o tema qualidade de vida já é um problema resolvido.
Após a regulamentação da Educação Física como profissão, alguns documentos surgiram
para nortear tanto a prática profissional quanto a formação profissional, e em alguns
casos o tema qualidade de vida é mencionado. De certa forma, tais documentos e seus
autores se tornam referências para a sociedade contemporânea.

A Carta Brasileira de Educação Física define o objeto da Educação Física da seguinte


forma:
“A Educação Física no Brasil, que invariavelmente deve constituir-se numa
Educação Física de Qualidade, sem distinção de qualquer condição humana
e sem perder de vista a formação integral das pessoas, sejam crianças,
jovens, adultos ou idosos, terá que ser conduzida pelos Profissionais de
Educação Física como um caminho de desenvolvimento de estilos de vida
ativos nos brasileiros, para que possa contribuir para a Qualidade de Vida
da população” (Conselho Federal de Educação Física, 2000, p. 4).
Essa convicção é reiterada na Resolução CONFEF nº 46/2002, que dispõe sobre a inter-
venção do profissional de Educação Física. Em seu artigo 1º, essa resolução afirma que
o profissional de Educação Física deve ter competências para atuar nas mais diversas
manifestações de atividade física e, com isso, atuar para o bem-estar e a qualidade de
vida das pessoas.

Em outro documento referencial para a atuação profissional – o Código de Ética dos


Profissionais de Educação Física –, a relação entre Educação Física e qualidade de vida é
expressa de maneira ainda mais intensa, não só porque reafirma as citações anteriores,
mas porque menciona o meio científico: “A Educação Física afirma-se, segundo as mais
atualizadas pesquisas científicas, como atividade imprescindível à promoção e à pre-
servação da saúde e à conquista de uma boa qualidade de vida” (Conselho Federal de
­Educação Física, 2015).

Se tais referências aparecem de maneira tão consistente nos documentos que fornecem
parâmetros para a atuação profissional, é coerente que também nas Diretrizes Curricula-
res Nacionais para a Educação Física essa relação seja explicitada, pois orienta a estrutura
curricular na formação de profissionais.

A Resolução do Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Superior (CNE/CES)


nº 7/2004, que instituiu as diretrizes, afirma no seu artigo 4º, parágrafo 1º, que:
“O graduado em Educação Física deverá estar qualificado para analisar cri-
ticamente a realidade social, para nela intervir acadêmica e profissional-
mente por meio das diferentes manifestações e expressões do movimento
humano, visando à formação, a ampliação e o enriquecimento cultural das
pessoas, para aumentar as possibilidades de adoção de um estilo de vida
fisicamente ativo e saudável” (Brasil, 2004).
Sendo assim, o estudante de Educação Física deve compreender todos os aspectos
específicos da profissão e também ter uma formação ampliada que lhe permita entender
as relações biológicas, psicológicas e sociais do ser humano, o que contempla múltiplas

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v­ ariáveis que compõem o conceito de qualidade de vida. Franulovic (2005) alega que,
quanto maior a capacitação do profissional, ou seja, quanto mais conhecimentos um
profissional tem sobre sua atuação, mais recursos ele terá para promover a adesão dos
indivíduos a um estilo de vida ativo. Este aspecto é importante, pois permite ao profis-
sional ter uma gama de possibilidades que permite atender ao cliente, aluno, atleta ou
paciente, de maneira específica e adequada. Imagine a seguinte situação, um indivíduo
quer começar a fazer exercícios físicos, mas acha que caminhar na esteira ergométrica
é monótono. Um profissional capacitado pode pensar em diferentes atividades que do
ponto de vista biológico promovam os mesmos benefícios, e do ponto de vista psicoló-
gico e social sejam mais atrativas a este indivíduo, o que pode promover uma adesão
consistente e permanente a um estilo de vida ativo.

A Carta Brasileira de Prevenção Integrada na Área da Saúde evidencia que


“A Profissão Educação Física, com seus conhecimentos específicos sobre as
diferentes condições, conceitos e possibilidades metodológicas de promo-
ver programas de atividades físicas e esportivas para a sociedade, conside-
rada por essa razão de forma contundente como elemento imprescindível
para a consecução dos objetivos de saúde e qualidade de vida da popu-
lação, quando aplicada de forma qualificada, competente, responsável e
ética, certamente poderá contribuir significativamente para a melhoria da
qualidade de vida da comunidade e fortalecimento dos anseios e dos direi-
tos de cidadania” (Conselho Federal de Educação Física, 2005).
Ratificando tais pressupostos encontra-se o Manifesto Mundial da Educação Física, o
qual declara que “há um reconhecimento histórico e universal de que a Educação Física
é um dos meios mais eficazes para a condução das pessoas a uma melhor qualidade de
vida” (Féderation Internationale D’education Physique, 2000).

Essas afirmações tão contundentes sobre o assunto podem criar algumas dificuldades
de compreensão, inicialmente porque não estão apresentados os conceitos científicos
adotados para os termos qualidade de vida e atividade física, e ainda podem causar a
impressão de que a promoção da atividade física por si só pode melhorar a qualidade de
vida de uma sociedade, e no caso a Educação Física teria essa incumbência e responsa-
bilidade. Para alcançar um objetivo tão grandioso, seria necessário um conjunto consis-
tente de conhecimentos.

Deve-se considerar que a atuação profissional depende da produção de conhecimentos


de seu interesse, e a princípio é necessário que essa preocupação advenha da própria
área. Para Manoel (1999), é preciso superar os desafios de integrar conhecimentos de
níveis e áreas diferentes e analisar fenômenos complexos de maneira integrada e ainda
vencer a dicotomia entre a teoria e a prática. Para Santos (2008), a legitimidade de uma
profissão está atrelada à capacidade do profissional de usar um conhecimento especiali-
zado para solucionar problemas importantes à sociedade de maneira ética e eficaz.

Assim, o estudo científico sobre qualidade de vida, atividade física e suas relações ainda
é um grande desafio. Thomas e Nelson (2002) lembram que a ciência tem a intenção de
compreender e explicar fatos e situações; portanto, o processo investigativo deve ser
sistemático e cauteloso. Nesse caso, particularmente dois aspectos são essenciais: esta-
belecer os conceitos de qualidade de vida e atividade física e procurar compreender
sua interação.
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1.1 Qualidade de vida e saúde
A preocupação com a qualidade de vida, seu significado e os mais variados aspectos
relacionados ao tema é tão antiga quanto a própria civilização. Reflexões sobre o que
constitui a satisfação dos indivíduos têm permeado a trajetória da humanidade ao
longo dos séculos. Uma das referências históricas mais conhecidas sobre o conceito de
qualidade de vida é a obra Moral de Aristóteles que menciona a relação entre a boa vida
e a virtude. Aristóteles profere que a perfeita finalidade do homem não pode ser outra
senão a felicidade. Ao longo do tempo, os conceitos de qualidade de vida, bem-estar e
felicidade estiveram entrelaçados e muitas vezes foram tratados como sinônimos por
fazer parte de um mesmo universo semântico e ideológico. Desde então, políticos e
pensadores têm refletido sobre o tema e assim se destaca a importância da saúde nesse
debate. Um marco histórico nessa trajetória de estudos foi em 1960, quando o então
presidente dos Estados Unidos, Dwight D. Eisenhower, estabeleceu uma política de
bem-estar para o país. Em um documento intitulado Memorando Relativo à Comissão
dos Objetivos N­ acionais, foi declarado que

“a Comissão também deve considerar como nossas instituições educa-


cionais e outras instituições sociais podem ser mais bem formadas para
desenvolver mente e espírito; como o bem-estar individual, a saúde e a ini-
ciativa podem ser nutridos sem a indesejável centralização de autoridade e
responsabilidade; e como os vários níveis de nosso governo podem contri-
buir melhor para o bem-estar da nação” (Eisenhower, 1960).

Na área da saúde, as discussões sobre a qualidade de vida surgiram nos séculos XVIII e
XIX com o aparecimento da medicina social, período em que estudos específicos come­
çaram a fornecer subsídios para a elaboração de movimentos sociais e políticas públicas.
As pesquisadoras Seidl e Zannon (2004) explicam que existem evidências de que o con-
ceito surgiu na literatura médica na década de 1930, período em que havia a finalidade
da definição do conceito relativo à avaliação da qualidade de vida. O tema passou a
ser tratado cientificamente a partir da década de 1970, a princípio com um forte viés
político, e foi responsável por um aumento significativo da produção literária na área
durante esse período. Contudo, é a partir da década de 1980 que o conceito sobre a
qualidade de vida começou a ser abordado considerando-se diferentes dimensões.
Para compreender melhor o fenômeno, estudos empíricos foram feitos e destacava-se
a tendência de definições focalizadas e específicas que auxiliassem na formação de uma
base conceitual consistente para o avanço da ciência. A década de 1990 foi caracterizada
pela concordância entre os especialistas de que o conceito de qualidade de vida remetia
inevitavelmente a dois aspectos centrais: a subjetividade e a multidimensionalidade,
sendo, portanto, um conceito complexo. A análise da literatura produzida até 1995
revela que ainda havia muitos problemas teóricos e metodológicos a serem solucio­
nados.
Segundo Pino (2003), existem várias formas de conceituar a qualidade de
vida:
A. Como qualidade das condições de vida (seria um componente objetivo)

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B. Como a satisfação pessoal com as condições de vida (seria um compo-
nente subjetivo)
C. Combinação das condições de vida com a satisfação
D. Combinação das condições de vida com a satisfação pessoal, segundo
o que considera o próprio sujeito em função da sua escala de valores e
aspirações pessoais.
Os pesquisadores Ros et al. (1992) constataram que a maioria dos autores ressalta a
necessidade de conceituação para poder determinar o que é uma boa ou má qualidade
de vida, que parâmetros a definem e que importância têm seus componentes objetivos
e subjetivos. Cada um dos componentes da qualidade de vida se refere a certas áreas
relevantes de avaliação e recebem denominações ligeiramente diferentes segundo os
autores, mas para Pino (2003) esses componentes poderiam ser agrupados da seguinte
forma:

l Bem-estar físico
l Bem-estar material
l Bem-estar social
l Desenvolvimento e atividade
l Bem-estar emocional.

Apesar dessa ampla variedade de conceitos, parece que o denominador comum é a


concordância de que é um tema central para a sociedade moderna, valendo a pena o
esforço de ser investigado. Nesse sentido, o surgimento de conceitos tem influenciado
até grandes organizações internacionais e há algum tempo essas organizações demons-
tram esforço para encontrar uma abordagem mais adequada sobre o tema. Se há alguns
anos os indicadores econômicos eram os mais usados para avaliar as condições de vida
dos povos, como é o caso do produto interno bruto (PIB), atualmente a Organização das
Nações Unidas (ONU) procura ampliar esse conceito, usando o Índice de Desenvolvi-
mento Humano (IDH).

A partir de 1990, a ONU passou a adotar o conceito de desenvolvimento humano sus-


tentável, que utiliza o IDH como referência. “O Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH) é uma medida resumida do progresso a longo prazo em três dimensões
básicas do desenvolvimento humano: renda, educação e saúde” (Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento, 2018). O IDH foi elaborado pelo economista
Amartya Sen, ganhador do Prêmio Nobel de 1998, e considera, além de indicadores
econômicos, índices de educação e longevidade. Atualmente o relatório de desenvolvi-
mento humano, baseado no IDH, é publicado em mais de 100 países. No B ­ rasil, o rela-
tório oferece dados socioeconômicos sobre 5.507 municípios, de 26 estados e o distrito
federal (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, 2004). Outro exemplo
interessante nessa área é revelado por Santos et al. (2007), que assinalam sua preocupa-
ção com a qualidade de vida urbana e o desenvolvimento das cidades modernas. Nova-
mente os autores citam os impactos de fatores sociais e econômicos, mas acrescentam
o impacto da tecnologia na vida moderna no âmbito da organização das cidades. Para
avaliar esse conceito, os autores propõem indicadores objetivos específicos de centros

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urbanos, por meio de dados estatísticos e também opiniões dos cidadãos que moram
nas cidades, o que caracteriza os dados subjetivos. A combinação das duas abordagens,
objetiva e subjetiva, seria uma perspectiva promissora de avaliar a qualidade de vida da
maneira mais completa possível.

Parece ser claro então que a abordagem da qualidade de vida é tão variada quanto as
áreas que decidem estudá-la. Farquhar (1995) alega que essa falta de consenso pro-
vavelmente existe por ser uma área de estudo amplamente multifacetada e de grande
relevância atual.

Além disso, mesmo em uma única área, qualquer termo contempla diversos significa-
dos que expressam valores, experiências e conhecimentos individuais e coletivos que
se encontram em contextos, épocas e espaços distintos, o que imprime aos conceitos
a marca da relatividade cultural e sua característica de construção social. Tal relativi-
dade resulta na abordagem do tema no âmbito individual, balizado por pelo menos três
­parâmetros: o parâmetro histórico, que remete à análise do desenvolvimento econô-
mico, tecnológico e social de uma sociedade; o parâmetro cultural, no qual estão inse-
ridas as crenças, tradições e identidade de um povo; e o parâmetro das classes sociais,
no qual pesam os padrões e referências de bem-estar e condições de vida (Minayo et al.
2000).

Iglesias (2002) explica que os indivíduos têm percepções particulares sobre seus obje-
tivos e planos de vida; portanto, a cada um cabe julgar o quanto as suas expectativas
foram alcançadas, a despeito de todos os problemas encontrados. Assim, a medida de
qualidade de vida deve considerar a satisfação dos indivíduos em relação aos aspectos
considerados importantes para esses mesmos indivíduos.

Para refletir

Reflita sobre as situações a seguir, baseadas em fatos reais:


l Em uma propaganda para venda de terrenos para moradia uma construtora utilizou
a seguinte frase” “Reserva morada: qualidade de vida em qualquer fase da vida”
l Em uma propaganda sobre os benefícios do consumo de soja, uma empresa de
produtos alimentícios utilizou a seguinte frase: “Mais uma importante propriedade
da soja: aumentar a qualidade de vida”
l Uma empresa de cosméticos desenvolveu um produto que cobre marcas na pele,
e segundo essa empresa “o produto foi desenvolvido para melhorar a qualidade
de vida de pessoas que de alguma forma sofrem com alterações estéticas na pele”
l Em um festival de rock, a empresa organizadora do evento estimulou o público
a chegar no local do festival utilizando carona, o que segundo os organizadores
“melhora a qualidade de vida” do público, sendo este um dos objetivos do festival

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l Em uma placa informativa sobre uma obra governamental para a ampliação de
um cemitério municipal, o governo incluiu a expressão “mais qualidade de vida”
(Figura 1.1).

Figura 1.1 Anúncio de obra governamental associada a mais qualidade de vida.

l Você acha que todas as vezes que a expressão qualidade de vida foi utilizada, o
significado da expressão era a mesmo?
l Você pensa que é cientificamente possível que ações tão distintas possam promo-
ver o mesmo resultado, ou seja, a melhoria da qualidade de vida?
l Para você o que é qualidade de vida?
l O que você acha que significa qualidade de vida para a sociedade?

Uma das interpretações frequentes do senso comum é associar os termos qualidade de


vida, condições de vida e estilo de vida indiscriminadamente (Figura 1.2). As condições
de vida dizem respeito a aspectos objetivos e geralmente estão relacionadas a fatores
externos ao indivíduo; o estilo de vida está relacionado às escolhas que o indivíduo faz,
considerando o contexto em que vive; por fim, a qualidade de vida está relacionada à
satisfação do indivíduo com aspectos importantes para ele.

Por exemplo, uma pessoa pode morar em uma região em que há espaços e equipa-
mentos públicos para realizar caminhadas e exercícios, ou seja, existem condições para
que ela seja fisicamente ativa. Contudo, se a pessoa vai ou não utilizar esses espaços
de maneira regular e adotar um estilo de vida ativo é uma opção pessoal. Em outro
exemplo, um indivíduo reside em um local e trabalha em um ambiente que não possui
nenhuma condição para a prática de exercícios físicos. Nesse caso, mesmo que ele dese-
jasse ser fisicamente ativo, as condições de vida lhe imporiam uma restrição.

19
Figura 1.2 Relações entre qualidade de vida, condições de vida e estilo de vida.

A diferenciação entre condições de vida, estilo de vida e qualidade de vida é importante


para que se possa compreender e pesquisar as potencialidades e restrições de cada indi-
víduo nas escolhas que faz cotidianamente. “O trabalho em saúde é fortemente influen-
ciado e comandado pelas relações entre sujeitos” (Brasil, 2010, p. 35).

1.2 Conceitos fundamentais da saúde


e da qualidade de vida

Para alcançar algum consenso entre as diversas áreas sobre o cuidado com a saúde, além
de analisar a vasta produção sobre o tema, é fundamental fazer uma distinção precisa
entre o termo qualidade de vida e outros temas naturalmente relacionados a esse
­conceito e que são facilmente confundidos, como saúde, sintomas, estado de humor,
estado funcional e estados particulares de saúde (Anderson e Burckhardt, 1999).
O surgimento de novos paradigmas nos encaminha para a compreensão da doença e
saúde como um continuum, no qual também estão inseridos aspectos sociais, culturais,
econômicos e estilos de vida e experiências pessoais (Seidl e Zannon, 2004). A importân-
cia da definição apropriada de um conceito implica a escolha de um melhor processo de
estudo, segundo seus propósitos e contexto.

Neste atual contexto histórico, o conceito de qualidade de vida que será adotado nesta
disciplina é “o senso de bem-estar e da satisfação ou insatisfação de um indivíduo em
áreas da vida que são importantes para ele”. Trata-se de um conceito desenvolvido por
Ferrans e Powers (1996), que também desenvolveram um instrumento de pesquisa
a partir desse conceito que é utilizado mundialmente. A pesquisadora Iglesias (2002)
explica que os indivíduos têm percepções particulares sobre seus objetivos e planos de
vida; portanto, a cada um cabe julgar o quanto as suas expectativas foram alcançadas, a
despeito de todos os problemas encontrados. Assim, a medida de qualidade de vida deve
considerar a satisfação dos indivíduos em relação aos aspectos considerados importantes
por esses mesmos indivíduos.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) é uma agência especializada em saúde, ligada


à Organização das Nações Unidas (ONU), que tem por intuito desenvolver ao máximo
possível o nível de saúde de todos os povos, sendo encarregada por avaliar o contexto
internacional e recomendar orientações para a elaboração de políticas públicas aos esta-
dos integrantes da OMS.

20
“Para analisar qualidade de vida, a Organização Mundial da Saúde (OMS)
considera os domínios físico, psicológico, nível de independência, relações
sociais, ambiente e espiritualidade. Consideram-se aspectos subjetivos:
bem-estar, felicidade, amor, prazer, realização pessoal, entre outros; e aspec-
tos­objetivos: renda, escolaridade, fatores relacionados ao desenvolvimento
econômico e social, entre outros” (Brasil, 2018, p. 103).
Outros termos importantes relacionados à saúde são apresentados pelo Ministério da
Saúde (Brasil, 2018) em uma publicação que tem por objetivo esclarecer a terminologia
utilizada para as práticas integrativas e complementares em saúde. Segundo o Ministério
da Saúde (Brasil, 2018), é importante
“identificar os termos próprios da área técnica; fornecer referências para
a compreensão de termos e conceitos; proporcionar a exatidão conceitual
e definir a atuação de cada termo em seus diferentes contextos institu-
cionais; eliminar ambiguidades para facilitar a comunicação interna; con-
tribuir para a tradução especializada; permitir a elaboração da linguagem
documentária do Tesauro do Ministério da Saúde; organizar e divulgar
informações técnicas, científicas e profissionais; e constituir-se em instru-
mento para representação e transmissão do conhecimento especializado”
(Brasil, 2018, p. 7).
Dentre os termos descritos no glossário do documento elaborado pelo Ministério da
Saúde (Brasil, 2018) estão:

l Doença: estado de desequilíbrio do indivíduo em que há uma ruptura da harmonia


entre as dimensões física, energética, psicológica, espiritual, social e cultural (p. 43)
l Educação em saúde: conjunto de práticas que envolve processos educativos, trabalho
social, aumentando a autonomia das pessoas no cuidado e no debate com os profis-
sionais e gestores da saúde (nota: potencializa o exercício do controle social sobre as
políticas e os serviços de saúde, contribuindo para a qualificação do cuidado (p. 47)
l Atenção básica à saúde: conjunto de ações voltadas à promoção, à proteção, à pre-
venção de agravos, ao diagnóstico, ao tratamento, à reabilitação, à redução de danos
e à manutenção da saúde individual e coletiva. (Notas: i) A atenção básica à saúde é a
principal porta de entrada e coordenadora do cuidado na Rede de Atenção à Saúde;
ii) Orienta-se pelos princípios da universalidade, da acessibilidade, do vínculo, da con-
tinuidade do cuidado, da integralidade da atenção, da responsabilização, da humani-
zação, da equidade e da participação social; iii) Desenvolvida por meio do exercício de
práticas gerenciais e sanitárias democráticas e participativas, sob forma de trabalho
em equipe, dirigidas a populações de territórios bem delimitados, pelas quais assume
a responsabilidade sanitária; iv) Considera a dinamicidade existente no território em
que vivem essas populações; v) Busca desenvolver uma atenção integral que impacte
na situação de saúde e autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes
de saúde das coletividades (p. 27)
l Holístico: abordagem que considera a relação entre os sintomas no organismo, o
ambiente e os hábitos de vida, os aspectos físicos, energéticos e emocionais, em
busca de um entendimento do ser em sua totalidade (p. 58).
A terminologia relacionada à saúde também pode ser encontrada na Pesquisa Nacional
de Saúde: ciclos da vida – Brasil e Grandes Regiões, realizada pelo Ministério da Saúde

21
(Brasil, 2013). No glossário desse relatório de pesquisa é possível encontrar algumas
definições que auxiliam o entendimento sobre termos usualmente empregados na área
da saúde e que estão relacionados à Educação Física:

l Atividades de vida diária: tarefas que a pessoa realiza para cuidar de si, como comer,
tomar banho, ir ao banheiro, vestir-se, andar em casa, deitar -se ou levantar da cama,
sentar -se ou levantar da cadeira, entre outras
l Atividades habituais: hábitos diários, como ir à escola, brincar, trabalhar, entre
outras
l Grau de limitação das atividades habituais: grau em que a deficiência limita as
atividades habituais, classificado em: não limita – a pessoa consegue realizar suas
atividades sem esforço; um pouco – a pessoa normalmente só consegue realizar algu-
mas atividades à custa de algum esforço, sendo que, em pelo menos uma delas, tem
pequena dificuldade; moderadamente – a pessoa normalmente só consegue realizar
algumas atividades à custa de um esforço mediano; intensamente – a pessoa nor-
malmente, por problema de saúde, só consegue realizar algumas atividades à custa
de muito esforço; muito intensamente – a pessoa, normalmente, por problema de
saúde, não consegue ou tem muita dificuldade para realizar suas atividade habituais
l Limitação funcional: alteração em uma ou mais funções que a pessoa desempenha
(comer, tomar banho, vestir-se, tomar remédios sozinho(a), fazer compras, adminis-
trar finanças, entre outras), tendo pequena ou grande dificuldade em realizá-las. As
limitações funcionais são consideradas como processos que antecedem a condição de
incapacidade
l Mobilidade física: capacidade que uma pessoa tem de desempenhar atividades coti-
dianas relacionadas ao movimento, tais como andar, mover-se ou sentar. Os seis tipos
de mobilidade física selecionados foram agrupados em: alimentar-se, tomar banho ou
ir ao banheiro sem ajuda; correr, levantar objetos pesados, praticar esportes ou reali-
zar trabalhos pesados; empurrar mesa ou realizar consertos domésticos; subir ladeira
ou escada; abaixar-se, ajoelhar-se ou curvar-se; ou andar mais de um quilômetro
l Pessoa com mobilidade reduzida: pessoa que, não se enquadrando no conceito de
portadora de deficiência, tem, por qualquer motivo, dificuldade de movimentar-se,
permanente ou temporariamente, gerando redução efetiva da mobilidade, flexibili-
dade, coordenação motora e percepção.

Deve-se destacar que a Constituição Federal do Brasil de 1988 criou o Sistema Único de
Saúde (SUS) com o objetivo de assegurar a assistência à saúde a todos os cidadãos.
Esse sistema é composto pelos governos federal, estaduais e municiais, bem como
estabelecimentos privados, com o intuito de atender à população. O Ministério da Saúde
(Brasil, 2009, p. 18-19), em documento destinado a estabelecer as diretrizes do Núcleo
de Apoio à Saúde da Família, adota ainda outras terminologias que são relevantes para o
entendimento amplo do assunto.

l Promoção de saúde: é uma das estratégias de organização da gestão e das práticas


em saúde e não deve ser compreendida apenas como um conjunto de procedimen-
tos que informam e capacitam indivíduos e organizações, ou que buscam controlar
as condições de saúde em grupos populacionais específicos. Sua maior contribuição
a profissionais e equipes é a compreensão de que os modos de viver de homens e

22
mulheres são produtos e produtores de transformações econômicas, políticas, sociais
e culturais. Dessa maneira, as condições econômicas, sociais e políticas do existir não
devem ser tomadas, tão somente, como meros contextos – para conhecimento e
possível intervenção na realidade –, e sim como práticas sociais em transformação,
exigindo constante reflexão das práticas do setor de saúde. Para a promoção desta,
é fundamental organizar o trabalho vinculado à garantia de direitos de cidadania e
à produção de autonomia de sujeitos e coletividades. Trata-se de desenvolver ações
cotidianas que preservem e aumentem o potencial individual e social de eleger
formas de vida mais saudáveis. Ações que ocorrerão tanto no nível da clínica quanto
na realização e/ou condução de grupos participativos sobre as suas necessidades
específicas ou na comunidade
l Interdisciplinaridade: é o trabalho em que as diversas ações, saberes e práticas se
complementam. Disciplinas implicam condutas, valores, crenças, modos de relacio-
namento que incluem tanto os modos de relacionamento humano quanto de modos
de relação entre sujeito e conhecimento. O prefixo “inter” indica movimento ou
processo instalado tanto “entre” quanto “dentro” das disciplinas. A interdisciplina-
ridade envolve relações de interação dinâmica entre saberes. “No projeto interdis-
ciplinar não se ensina, nem se aprende: vive-se, exerce-se.” Ela deve ser entendida
também como uma atitude de permeabilidade aos diferentes conhecimentos que
podem auxiliar o processo de trabalho e a efetividade do cuidado num determinado
momento e espaço
l Intersetorialidade: o conceito ampliado de saúde e o reconhecimento de uma
complexa rede de condicionantes e determinantes sociais da saúde e da qualidade
de vida exigem dos profissionais e equipes trabalho articulado com redes/instituições
que estão fora do seu próprio setor. A intersetorialidade é essa articulação entre
sujeitos de setores sociais diversos e, portanto, de saberes, poderes e vontades diver-
sos, a fim de abordar um tema ou situação em conjunto. Essa forma de trabalhar,
governar e construir políticas públicas favorece a superação da fragmentação dos
conhecimentos e das estruturas sociais para produzir efeitos mais significativos na
saúde da população.

Levando-se em consideração que a Educação Física é


“um campo profissional legalmente organizado, integrado à área da saúde
e da educação [...] e em função da notória importância da Educação Física,
no encaminhamento de soluções para problemas sociais, educacionais e
de promoção da saúde, a atividade física e o desporto constituem fenô-
meno educativo e sociocultural de valor inquestionável, desde que atenda
ao requisito de ser conduzido, orientado e ministrado por profissionais qua-
lificados e habilitados” (Conselho Federal de Educação Física, 2002, p. 2).
é fundamental que o profissional de Educação Física esteja familiarizado com a termino-
logia e os documentos norteadores da área da saúde.

A qualidade em saúde é um conceito elaborado a partir de parâmetros técnico-científi-


cos particulares, das demandas de saúde da população, considerando a evolução histó-
rica e as características culturais específicas de cada sociedade. Desse modo, a qualidade
em saúde pode ser considerada em uma perspectiva subjetiva, que se altera de acordo
com a variação dos critérios que a compõem. Consequentemente, devem-se considerar
os direitos de cada cidadão brasileiro ao acesso à saúde de qualidade (Quadro 1.1).

23
Quadro 1.1 Carta dos direitos dos usuários da saúde.
1. Todo cidadão tem direito ao acesso ordenado e organizado aos sistemas de saúde.

2. Todo cidadão tem direito a tratamento adequado e efetivo para seu problema.

3. Todo cidadão tem direito ao atendimento humanizado, acolhedor e livre de qualquer


­discriminação.

4. Todo cidadão tem direito a atendimento que respeite a sua pessoa, seus valores e seus
direitos.

5. Todo cidadão também tem responsabilidades para que seu tratamento aconteça da forma
adequada.

6. Todo cidadão tem direito ao comprometimento dos gestores da saúde para que os princí-
pios anteriores sejam cumpridos.

Fonte: Brasil, 2010, p. 14.

A avaliação de desempenho da qualidade dos serviços de saúde no país tornou-se um


consenso na área acadêmica. Para conseguir identificar e analisar os fatores que impac-
tam eficiência, efetividade e igualdade do Sistema Único de Saúde (SUS), surgiu o Projeto
de Avaliação de Desempenho de Sistemas de Saúde (Proadess). O objetivo de atuação
do Proadess é contribuir para a identificação de elementos que se inter-relacionam na
prestação de serviços de saúde.

Com essa finalidade, o Proadess elaborou um quadro teórico-conceitual para assessorar


a elaboração de políticas para saúde e monitorar a qualidade dos serviços ofertados à
população.
“Conceitualmente, considera-se que o desempenho do sistema de saúde
brasileiro deva ser analisado em um contexto político, social e econômico
que traduza a sua história e a sua conformação atual, seus objetivos e suas
prioridades. Assim, precisam ser identificados os determinantes associados
aos problemas de saúde tidos como prioritários, evitáveis e passíveis de
intervenção, cuja apreciação necessita considerar os impactos em diferen-
tes grupos sociais. A caracterização das condições de saúde em termos de
morbidade, mortalidade, limitação de atividade física e qualidade de vida,
conforma uma segunda dimensão da avaliação, que permite conhecer a
magnitude dos problemas e a sua expressão em diferentes regiões geográ-
ficas e grupos sociais” (Proadess, 2018).
A matriz de dimensões da avaliação de desempenho do Sistema de Saúde pode ser
observada na Figura 1.3.

“As definições de qualidade que abordam pontos de vista mais comuns, de modo geral,
incluem aspectos de excelência, expectativas ou objetivos que devem ser alcançados,
ausência de defeitos, adequação para uso, que, de certa forma, definem características
das ações e/ou serviços de saúde” (Brasil, 2010, p. 18). A avaliação da qualidade em
saúde parte de parâmetros ou atributos que vão servir de referência para a definição de
qualidade e a construção dos instrumentos a serem utilizados na avaliação. A abordagem

24
Figura 1.3 Matriz de dimensões da avaliação de desempenho do Sistema de Saúde.
(Adaptada de Proadess, 2018.)

baseada no modelo sistêmico é observada nos aspectos de estrutura, processo e resul-


tado. Estes podem ser assim definidos:

l Estrutura: representa características relativamente estáveis no sistema (recursos


humanos, físicos, materiais, financeiros, insumos e normatização do serviço)
l Processo: determina como o sistema realmente funciona (atividades realizadas pelos
serviços de saúde)
l Resultado: mudanças observadas no estado de saúde, comportamentos da popula-
ção-alvo etc.

O Ministério da Saúde (Brasil, 2010, p. 29) propõe alguns critérios para etapas de avalia-
ção para programas voltados à saúde. Na avaliação é necessário que algumas questões
iniciais estejam bem claras, por exemplo:

l Para quem será realizada a avaliação?


l O que avaliar?
l Como avaliar?
l Para que avaliar?
l Por que avaliar?

25
A partir dessas perguntas é possível refletir sobre os elementos que orientam as fases
essenciais de avaliação de programas relacionados à saúde, como demonstram os
­Quadros 1.2 a 1.5 a seguir.

Quadro 1.2 Fase inicial da avaliação de programas relacionados à saúde.


Fase 1: Envolver os interessados na avaliação significa
l Identificar os envolvidos na avaliação
l Entender interesses e expectativas
l Obter participação no processo
l Discutir sobre pontos de vista, preocupações, apoio, interesses e necessidades
l Negociar possíveis conflitos de interesses.

Realizar essa etapa é importante na medida em que visa:

l Estabelecer ambiente favorável para a avaliação


l Esclarecer o objetivo da avaliação (por que avaliar?)
l Tornar o processo pedagógico e participativo
l Promover a diversidade de pontos de vista sobre o programa
l Aumentar a possibilidade do uso dos resultados da avaliação (utilidade)
l Aumentar a ética e a credibilidade da avaliação.

Adaptado de Brasil, 2010, p. 29.

Quadro 1.3 Fase secundária da avaliação de programas


relacionados à saúde.
Fase 2: Coleta e análise dos dados significa
l Construir o consenso sobre os indicadores, critérios e padrões para avaliação
l Escolher métodos e técnicas de coleta e análise de dados para medir os critérios e indicado-
res selecionados
l Apresentar resultados mais significativos.

Adaptado de Brasil, 2010, p. 29.

Quadro 1.4 Fase terciária da avaliação de programas


relacionados à saúde.
Fase 3: Julgamento das conclusões significa
l Distinguir os aspectos envolvidos no julgamento da intervenção
l Justificar as conclusões da avaliação, ou seja, pactuar os padrões a serem utilizados no jul-
gamento de valor
l Apresentar as recomendações aos interessados/envolvidos
l Tomar decisão sobre a intervenção.

Adaptado de Brasil, 2010, p. 29.

26
Quadro 1.5 Fase final da avaliação de programas relacionados à saúde.
Fase 4: Comunicação e uso das lições aprendidas significa
l Identificar estratégias para compartilhar as lições aprendidas com a avaliação (no início,
durante o desenvolvimento e finalização)
l Identificar os aspectos centrais para a elaboração de relatórios de avaliação com fins de
divulgação das informações com os setores envolvidos.

Adaptado de Brasil, 2010, p. 29.

A adoção de um processo avaliativo e a elaboração de um plano de ação a partir dos


resultados obtidos são importantes para aprimorar a qualidade dos serviços prestados
aos cidadãos. Ao utilizar tais indicadores de qualidade em programas de promoção da
saúde, é possível verificar novas reflexões e possibilidades de ação. Para um profissional
de Educação Física é importante ter conhecimento desses aspectos, bem como conhecer
os princípios norteadores da qualidade em serviços de saúde especificamente, pois como
afirma o Documento de intervenção profissional de Educação Física, dentre os locais de
intervenção profissional da área estão instituições e órgãos de saúde, centros de saúde,
hospitais, clínicas, centros de laboratórios e pesquisas, podendo atuar nas esferas pública
ou privada (Conselho Federal de Educação Física, 2002, p. 3). Assim, a adoção desses
indicadores de qualidade também se aplica a programas de exercícios físicos e aumento
dos níveis de atividade física da população integrados aos programas de promoção de
saúde.

1.3 Indicadores de qualidade de vida

Em sua tese de livre-docência, a prof.ª Miako Kimura afirma que


“delinear fenômenos, estabelecer e desenvolver conceitos são processos
fundamentais para o desenvolvimento de qualquer área de conhecimento.
A criação de uma linguagem comum que deriva desses processos facilita
a comunicação e reduz a possibilidade de interpretações diferenciadas e
as repercussões negativas na pesquisa e na prática profissional” (Kimura,
1999, p. 10).
Além da clareza conceitual, ao estudar um tema é importante que o instrumento utili-
zado para medir o fenômeno que se quer investigar seja adequado. Por exemplo, se você
pretende medir a circunferência da cabeça de uma pessoa, uma fita métrica será um
instrumento válido. Porém, se você quiser medir a intensidade de dor de cabeça de uma
pessoa, a fita métrica não será um bom instrumento. Pode-se descrever o processo de
análise da qualidade de instrumento de medida da seguinte forma:

1. Clareza conceitual do que se quer medir


2. Uso do conceito na construção do instrumento
3. Uso dos preceitos científicos para garantir a qualidade das propriedades de medida
do instrumento

27
4. Análise das fragilidades e potencialidades do instrumento em relação ao contexto
estudado
5. Análise dos resultados obtidos
6. Uso dos resultados para atividades de intervenção, determinação de políticas públi-
cas e iniciativas privadas no uso desse instrumento.

Pasquali (2003) reconhece a medida como uma maneira importante e vantajosa de


se compreender a realidade e que, historicamente, o avanço científico sempre esteve
relacionado ao uso de medidas. Machado (2000) comenta que, apesar da vasta literatura
internacional, ainda há muito por ser feito, especialmente na realidade brasileira, e que
saber aplicar esses conhecimentos para determinação de políticas públicas é um desafio
ainda maior no estudo sobre a qualidade de vida.

Apesar da complexidade conceitual e metodológica de aprofundar e produzir conhecimen-


tos a respeito da qualidade de vida, é fundamental que sejam feitos estudos que consigam
se adequar ao estudo do tema na realidade brasileira (Machado, 2000) (Figura 1.4).

Figura 1.4 Número de instrumentos para avaliação de qualidade de vida registrados por
década no diretório Cummins.
Adaptada de Seidl e Zannon, 2004.

Segundo Seidl e Zannon (2004), duas tendências surgiram para analisar qualidade de vida
na área da saúde: a abordagem genérica e a abordagem de qualidade de vida relacio-
nada à saúde. No primeiro caso, há a influência de aspectos sociológicos, a abordagem
é ampla e não são mencionadas as doenças. No segundo caso, o enfoque é voltado às
enfermidades e sintomas. Minayo et al. (2000) reforçam essa ideia sobre a aplicação dos
instrumentos e esclarecem que alguns deles são considerados como genéricos e outros
como específicos. Os instrumentos genéricos são usados na população em geral e não
distinguem nenhum tipo de patologia, além de serem mais adequados ao uso em estu-
dos de planejamento e avaliação do sistema de saúde; os instrumentos específicos estão
relacionados a alguma situação de agravo de saúde ou enfermidade específica.

Atualmente a construção de novos instrumentos vem sendo desencorajada pelos espe-


cialistas da área. Já existe ampla gama de possibilidades para medir qualidade de vida
e a elaboração de um instrumento demanda um enorme gasto intelectual e financeiro
(Dantas et al. 2003). A escolha de um instrumento de medida deve levar em consideração

28
alguns critérios, mais particularmente suas propriedades psicométricas, ou seja, a con-
fiabilidade e a validade dos instrumentos. Lorh et al. (1996) consideram que os atributos
relacionados à escolha do instrumento são os seguintes:

l Modelo conceitual e de medida


l Confiabilidade
l Validade
l Responsividade
l Interpretabilidade
l Aplicabilidade
l Possibilidade de uso de formas alternativas
l Capacidade de adaptação cultural e linguística.

Inicialmente é importante lembrar que não é a medida que define o método ou o objeto
de estudo, assim o primeiro atributo a ser considerado é o modelo conceitual e de
medida. O modelo conceitual compreende a lógica de raciocínio que sustenta a descri-
ção dos conceitos que se pretende avaliar e a interação desses conceitos. O modelo de
medida é refletido na estrutura da escala e subescalas do instrumento e nos procedi-
mentos adotados para atribuir valores (Lohr et al., 1996). Pasquali (2003) explica que os
comportamentos medidos representam o traço latente, porém essa suposição só é ver-
dadeira se a representação comportamental for legítima, fundamentada em uma teoria
que sustente a hipótese da representação comportamental.

O segundo aspecto diz respeito à confiabilidade, que significa o quanto o instrumento


está livre de erros aleatórios. Pode-se averiguar o grau de confiabilidade levando-se em
conta sua consistência interna e a reprodutibilidade (Lohr et al., 1996). Pasquali (2003)
esclarece que essa característica, também chamada de precisão ou fidedignidade, signi-
fica que ao medir os mesmos indivíduos em ocasiões distintas ou usar testes equivalen-
tes, aplicados na mesma ocasião, os mesmos sujeitos devem produzir resultados iguais,
ou seja, uma correlação próxima a um.

Outro atributo fundamental é a validade, a qual tem por definição clássica o grau em que
um instrumento mede o que se propõe a medir. Podem-se considerar então três formas
de validade: a validade de conteúdo, a validade de critério e a validade de construto
(Lohr et al., 1996).

Hyland (2003) afirma que os autores de escalas de qualidade de vida normalmente


fornecem dados variados das propriedades psicométricas. Em geral é utilizada a análise
fatorial para demonstrar a unidimensionalidade da escala ou subescala. O autor também
declara que a confiabilidade da escala geralmente é demonstrada por meio de teste-re-
teste e análise de consistência interna do instrumento. A responsividade de um instru-
mento relaciona-se à sensibilidade do instrumento para detectar mudanças nos resulta-
dos que são significativas para os indivíduos, como as condições de saúde. Algumas vezes
essa característica é associada à validade de construto (Lohr et al., 1996). A interpretabi-
lidade é o grau que possibilita acessar o significado qualitativo dos resultados por meio
dos dados quantitativos (Lohr et al., 1996).

29
Outro atributo importante, muitas vezes desconsiderado pelos pesquisadores, é a
aplicabilidade do teste. Nesse atributo levam-se em consideração o tempo, a energia e
os recursos humanos e financeiros para aplicação do teste, tanto do ponto de vista do
pesquisador quanto da população estudada.

Ainda em relação à aplicação do teste, Pasquali (2003) ressalta a importância da padro-


nização ou uniformização nos procedimentos de uso do teste, e nesse processo deve-se
considerar a igualdade das condições em que se realiza o teste, a padronização das
informações oferecidas aos sujeitos de pesquisa, o controle do grupo que está sendo
testado e ainda os procedimentos após a aplicação do teste, ou seja, critérios e parâme-
tros na interpretação dos dados obtidos. Mesmo que um teste seja de boa qualidade,
os resultados obtidos por meio de procedimentos inadequados invalidam os resultados
obtidos. Para prevenir possíveis problemas durante a coleta de dados, é necessário ter a
consciência exata do que se quer avaliar, conhecer detalhadamente o instrumento, suas
potencialidades e restrições, e usá-lo de maneira isenta, sem mudanças de procedimento
durante todo o processo para que interferências nos resultados sejam evitadas. Lohr et
al. (1996) lembram que também é preciso considerar as potencialidades do instrumento,
ou seja, se é possível o uso de formas alternativas do próprio instrumento para adaptação
a um determinado contexto sem descaracterizar suas propriedades de medida.

Finalmente, o último atributo refere-se à adaptação transcultural do instrumento. Nesse


caso considera-se a capacidade original do instrumento de ser adaptado a novas línguas e
a facilidade com que se pode estabelecer a equivalência semântica, conceitual, idiomá-
tica e cultural do instrumento (Lohr et al., 1996). Dantas et al. (2003) destacam que entre
os instrumentos genéricos mais frequentemente utilizados pelos estudiosos no Brasil
estão o Medical Outcomes Studies 36 – Item Short Form (MOS SF-36), o Índice de Quali-
dade de Vida de Ferrans e Powers e o WHOQOL-100.

Uma pesquisa feita por Bakas et al. (2012) procurou fazer uma revisão sistemática da lite-
ratura para identificar os instrumentos de pesquisa de qualidade de vida mais utilizados e
realizou uma análise crítica desses instrumentos. Os pesquisadores identificaram mais de
100 artigos de 21 países diferentes. Dentre os três modelos conceituais mais utilizados,
eles encontraram: (1) o modelo de Wilson e Cleary; (2) o modelo de Ferrans e colabora-
dores; (3) o WHOQOL, que é o modelo da Organização Mundial da Saúde.

Os pesquisadores chegaram à conclusão de que, entre os três modelos mais utilizados,


o mais completo, incluindo conceito e instrumento, é o modelo desenvolvido por Ferrans
e colaboradores. De acordo com esses autores, a utilização desse instrumento pode pro-
mover o acúmulo de conhecimento sobre o tema de maneira rápida e é o instrumento
que melhor aborda o tema de qualidade de vida.

Diferentes versões do índice de qualidade de vida de Ferrans e Powers foram desenvolvi-


das para o uso com grupos específicos e a população em geral, e seu uso foi relatado em
mais de duzentos estudos publicados. Um grupo de itens comuns forma a base de todas
as versões, e itens pertinentes a cada doença foram adicionados para criar as versões de
doenças específicas. A contagem dos itens varia de zero a trinta, o que facilita a compa-
ração dos resultados encontrados em diferentes versões. As propriedades psicométricas
do instrumento também foram estudadas. Foram comprovadas a consistência interna,
a confiabilidade, a validade de conteúdo, a validade de construto e a responsividade do
instrumento.

30
O índice de qualidade de vida de Ferrans e Powers é amplamente usado e a opção por
utilizá-lo é justificável pela coerência conceitual que fundamentou a sua construção, pela
possibilidade de aplicação tanto na população em geral quanto em grupos com condi-
ções específicas de saúde, e por suas propriedades psicométricas já comprovadas em
diversos estudos. Seu diferencial, entretanto, está em avaliar a satisfação com diversos
domínios da vida e combinar essa avaliação com a importância que os próprios indiví-
duos atribuem a esses itens e domínios (Tabela 1.1).

Considerando tal diversidade de conceitos e a complexidade do tema, torna-se neces-


sário estabelecer a convergência de ideias a respeito do assunto. Parece haver um
consenso que tal tema envolve uma gama de componentes que determinam o grau de
satisfação do indivíduo com a sua própria vida. Cabe ainda destacar que tais componen-
tes se alternam no decorrer da vida e proporcionam uma infinita e dinâmica possibili-
dade de relações. Assim, medir e avaliar qualidade de vida de um indivíduo ou popula-
ção é um trabalho árduo e, consequentemente, interferir de maneira precisa e efetiva
também parece ser complicado. No entanto, após tais considerações, é inevitável refletir
sobre qual é o papel da atividade física nesse conceito e qual é a provável relação entre a
atividade física e a qualidade de vida das pessoas.

Saiba mais

Em 1984, as pesquisadoras Carol Estwing Ferrans e Marjorie Powers iniciaram uma


série de estudos para medir qualidade de vida em termos de satisfação com a vida.
A ideia inicial era que a qualidade de vida é um tema crucial na área da saúde e a
clareza conceitual é extremamente importante, porque as diferenças dos significados
podem levar a profundas diferenças nos resultados de pesquisas em práticas clínicas
e na alocação de recursos na área da saúde. As pesquisadoras definem qualidade de
vida de uma pessoa como o senso de bem-estar e de satisfação ou insatisfação em
áreas da vida que são importantes para ela. As autoras consideram que os próprios
indivíduos são os juízes mais adequados para julgar sua qualidade de vida, já que as
pessoas diferem de opiniões e valores, ou seja, indivíduos diferentes valorizam coisas
diferentes. As autoras fizeram uma extensa revisão de literatura para delinear o con-
ceito, depois determinaram o conteúdo dos domínios, por meio de um estudo qua-
litativo em que os indivíduos elegeram o que significava qualidade de vida para eles.
Ao analisar e combinar os resultados do estudo qualitativo e a revisão bibliográfica, as
autoras chegaram à lista de elementos que compõem o instrumento. Cada elemento
foi usado para compor as duas partes do instrumento. A primeira parte avalia

31
a satisfação, e a segunda parte avalia a importância do mesmo item para a pessoa. A
análise fatorial foi usada para selecionar e agrupar elementos relacionados em quatro
domínios:

1. Saúde e funcionamento
2. Psicológico e espiritual
3. Social e econômico
4. Familiar.

Coerentemente com o conceito adotado, a fórmula de cálculo usa uma estrutura que
pressupõe que pessoas que estão altamente satisfeitas com áreas da vida que elas mais
valorizam têm melhor qualidade de vida do que aquelas que estão insatisfeitas com
as áreas que elas valorizam. A ideia de medir a importância dos vários elementos foi
realizada com fundamentação na literatura.

Na prática

Considerando o instrumento de pesquisa índice de qualidade de vida de Ferrans e


Powers, faça uma reflexão sobre a sua vida:

l O quanto você está satisfeito com a sua saúde?


l Quão importante é para você a sua saúde?
l O quanto você está satisfeito com a sua escolaridade?
l Quão importante é para você a sua escolaridade?
l O quanto você está satisfeito com a realização dos seus objetivos pessoais?
l Quão importante é para você a realização dos seus objetivos pessoais?
l O quanto você está satisfeito com a felicidade da família?
l Quão importante é para você a felicidade de sua família?

Caso você tenha interesse em conhecer o instrumento de pesquisa índice de qualidade


de vida de Ferrans e Powers, você pode procurar o artigo dos pesquisadores Miako
Kimura e José Vitor da Silva, publicado em 2009 (Kimura e Silva, 2009). Nesse artigo
você poderá responder e calcular o seu índice de qualidade de vida.

32
Tabela 1.1 Fatores que compõem as dimensões de qualidade de vida
segundo Ferrans e Powers.
Satisfação/Importância
Saúde

Assistência à saúde

Dor
SAÚDE E FUNCIONAMENTO
Energia

Independência física
DIMENSÃO

Controle sobre a própria vida

Vida sexual

Responsabilidade familiar

Ser útil às outras pessoas

Estresse e preocupação
ÍNDICE DE QUALIDADE DE VIDA DE FERRANS E POWERS

Atividades de lazer

Disposição para passear

Possibilidade de velhice feliz

Amigos

Apoio aos amigos


SOCIOECONÔMICA

Lar
DIMENSÃO

Vizinhança

Nível socioeconômico

Trabalho/não ter um trabalho

Escolaridade

Independência financeira

Paz de espírito
PSICOLÓGICA E ESPIRITUAL

Fé em Deus

Objetivos
DIMENSÃO

Felicidade

Satisfação

Aparência pessoal

Bem-estar consigo mesmo

Saúde da família
DIMENSÃO

FAMILIAR

Filhos

Felicidade da família

Cônjuge

Adaptada de Kimura e Silva, 2009.

33
É importante que o profissional de Educação Física tenha clareza dos conceitos e ins-
trumentos de qualidade de vida, pois a atividade física é amplamente difundida como
um fator que melhora a qualidade de vida da população. Porém, sem a conceituação
adequada dos termos qualidade de vida, atividade física, exercício físico e saúde, essas
premissas podem não ser exatas. Então, é preciso refletir sobre qual é a delimitação
conceitual do que se quer estudar. Por exemplo, analisando a Tabela 1.1, pode-se notar
que a saúde faz parte da qualidade de vida, mas os dois termos não são sinônimos;
outros componentes importantes interferem na qualidade de vida das pessoas. Outra
associação que merece reflexão é o conceito utilizado para atividade física e saúde; não
se pode dizer que toda atividade física promova saúde, ou que os termos podem ser
usados como sinônimos. Por exemplo, um trabalhador que atua como cortador manual
de cana-de-açúcar no campo tem um alto nível de atividade física, mas isso não significa
dizer que essa prática extenuante promova melhoria da sua saúde. Nesse momento, vale
lembrar a distinção entre os conceitos de atividade física, exercício físico e esporte, que
são elementos essenciais à prática profissional em Educação Física.

Importante
No documento de intervenção do profissional de Educação Física, do Conselho Federal
de Educação Física, há a conceituação dos termos referentes à área. São eles:

l Atividade física: é todo movimento corporal voluntário humano, que resulta num
gasto energético acima dos níveis de repouso, caracterizado pela atividade do
cotidiano e pelos exercícios físicos. Trata-se de comportamento inerente ao ser
humano com características biológicas e socioculturais. No âmbito da intervenção
do profissional de Educação Física, a atividade física compreende a totalidade de
movimentos corporais, executados no contexto de diversas práticas: ginásticas,
exercícios físicos, desportos, jogos, lutas, capoeira, artes marciais, danças, ativida-
des rítmicas, expressivas e acrobáticas, musculação, lazer, recreação, reabilitação,
ergonomia, relaxamento corporal, ioga, exercícios compensatórios à atividade
laboral e do cotidiano e outras práticas corporais
l Exercício físico: sequência sistematizada de movimentos de diferentes segmentos
corporais, executados de forma planejada, segundo um determinado objetivo a se
atingir. Uma forma de atividade física planejada, estruturada e repetitiva, que tem
como objetivo o desenvolvimento da aptidão física, do condicionamento físico, de
habilidades motoras ou reabilitação orgânico-funcional, definido de acordo com o
diagnóstico de necessidade ou carências específicas de seus praticantes, em con-
textos sociais diferenciados
l Esporte: atividade competitiva, institucionalizada, realizada conforme técnicas,
habilidades e objetivos definidos pelas modalidades desportivas, determinada
por regras preestabelecidas que lhe dão forma, significado e identidade, podendo

34
t­ ambém, ser praticada com liberdade e finalidade lúdica estabelecida por seus pra-
ticantes, realizada em ambiente diferenciado, inclusive na natureza (jogos da natu-
reza, radicais, orientação, aventura e outros). A atividade esportiva aplica-se, ainda,
na promoção da saúde e em âmbito educacional, de acordo com diagnóstico e/ou
conhecimento especializado, em complementação a interesses voluntários e/ou
organização comunitária de indivíduos e grupos não especializados.

Considerando tais conceitos, é possível compreender que todo exercício físico é uma
atividade física, mas nem toda atividade física é um exercício físico. Quando não se
distinguem tais conceitos, os resultados de pesquisas e a própria compreensão do tema
podem ser equivocados. Ao associar tais conceitos apresentados e a qualidade de vida,
cabe refletir criticamente em que medida tais elementos – atividade física, exercício
físico e esporte – se relacionam com a qualidade de vida da população.

Figura 1.5 Relação entre qualidade de vida e suas dimensões e os conceitos de


atividades físicas, exercícios físicos e atividades esportivas. (Adaptada de Santos e
Simões, 2012.)

Uma vez estabelecidos os conceitos científicos dos termos em questão, deve-se então
pensar em como um profissional de Educação Física pode atuar, considerando-se
a especificidade da sua área, para melhorar a qualidade de vida de indivíduos e da
população, pois para compreender um fenômeno é crucial que seus conceitos sejam
adequadamente estabelecidos. No entender de Hoffman e Harris (2002, p. 20), “denomi-
nações técnicas asseguram uma compreensão comum às pessoas que trabalham em um
ambiente científico e profissional”.

Atualmente, constata-se que houve um declínio no nível de atividade física habitual e do


gasto energético em sociedades cuja economia é desenvolvida ou está em desenvolvi-
mento. Nas duas últimas gerações, o ritmo do desenvolvimento cultural foi acelerado e
tem exacerbado a dissonância entre biologia e cultura, o que contribui para o aumento
do sedentarismo, particularmente em uma situação de fácil acesso aos alimentos e ao

35
suprimento de energia. Essas condições contradizem o passado evolucionário do ser
humano, que tinha uma base regular de atividades físicas moderadas e intensas. Em
outras palavras, embora o ser humano esteja biologicamente equipado para um estilo
de vida ativo, as circunstâncias atuais permitem e reforçam a falta de atividade (Malina e
Little, 2008). A espécie humana utilizou sua capacidade de movimentar-se para conseguir
feitos extraordinários ao longo do seu processo evolutivo, porém hoje os indivíduos igno-
ram essa capacidade e passam a adotar um estilo de vida sedentário, o que causa sérias
consequências de modo geral e em particular na área da saúde.

A atividade física é um tema central na atuação em saúde pública e no meio científico,


contudo são inúmeros os desafios teóricos e metodológicos para abordar o tema. Para
combater o sedentarismo, o estilo de vida ativo vem sendo cada vez mais valorizado pela
sociedade em geral e a mídia tem salientado a importância do combate à inatividade
na prevenção de doenças e na promoção de saúde. Organizações profissionais interna-
cionais têm promovido significativas contribuições para a saúde pública ao defender a
importância da atividade física para combater fatores de risco à saúde, ao desenvolver
medidas internacionais de impacto global sobre a inatividade e uma agenda de interven-
ção (Bauman e Craig, 2005). Programas e campanhas de grande abrangência populacio-
nal incentivando a prática de atividade física são concebidos como essenciais na área de
saúde pública (Ferreira e Najar, 2005). A sociedade deve ter consciência da necessidade
de incorporar em seus hábitos e na educação básica aqueles conhecimentos, destrezas
e capacidades relacionados ao corpo e à atividade física como fator que contribui para o
desenvolvimento pessoal de maneira geral.

Nesse sentido, pode-se afirmar que assuntos relacionados à atividade física, de maneira
geral, tomaram uma nova dimensão no cotidiano dos indivíduos; e os valores relativos a
tais práticas passaram a ter uma importância vital, a ponto de se tornarem condicionan-
tes da própria evolução humana. Miles (2007) complementa que a atividade física é um
comportamento complexo e multidimensional. Muitas formas de atividade contribuem
para o total de atividade física, o que inclui atividades ocupacionais, cuidados com a casa,
atividades de transporte e atividades realizadas em momentos de lazer. De acordo com
Malina e Little (2008), as atividades físicas envolvem uma série de comportamentos que
podem ser abordados por meio de diversas perspectivas. Hoffman (2013) assinala que
experiências passadas têm uma influência significativa sobre a maneira pela qual um
indivíduo desenvolve o hábito de realizar atividades físicas de modo regular e determi-
nam o engajamento em experiências futuras. O movimento está presente na vida de uma
pessoa em diferentes experiências cotidianas.

Na atualidade, a área de saúde pública e a biomedicina tendem a conceber a atividade


física em termos de gasto energético. Bize et al. (2007) sugerem que é consistente a asso-
ciação positiva entre qualidade de vida e atividade física, porém uma afirmação definitiva
sobre o assunto ainda tem evidências limitadas. Há indícios consistentes de que altos
níveis de atividade física estão relacionados a indicadores mais altos e melhores em algu-
mas dimensões da qualidade de vida. Contudo, essa associação apresenta variação e não
é possível explicá-la por uma lógica causal. Os autores também afirmam que determina-
das formas de atividade física parecem ter uma relação mais positiva com a qualidade
de vida do que outras, e ressaltam a necessidade premente de aprimorar os métodos de
pesquisa nessa área.
Apesar da consciência de que os conceitos atividade física e qualidade de vida são com-
plexos, estudos sobre esses temas são necessários para tentar evitar a banalização de tais

36
Figura 1.6 Manifestações da atividade física na vida de um indivíduo.
(Adaptada de Hoffman, 2013.)

termos, bem como assegurar que as propostas de intervenção fundamentadas nessas


teorias sejam eficazes.

Ferreira e Najar (2005) indicam a importância do tema e que o acúmulo de conhecimento


na área ainda é pequeno. Muitos profissionais de diversas áreas como Educação Física,
Psicologia, Medicina, entre outras têm se dedicado a essa temática. Contudo, há ainda
muitas dúvidas a serem esclarecidas. Esses autores, apesar de apontarem a relação entre
saúde e prática regular de exercícios físicos, questionam se as pessoas que fazem exer-
cícios físicos adquirem melhor condição de saúde ou se ocorre o contrário: pessoas que
gozam de melhores condições de saúde são mais propensas à prática de exercícios físicos.

Considerando a importância que o movimento tem no cotidiano das ações humanas,


é importante aprofundar os conhecimentos sobre as condições ideais para promover
a prática de exercícios físicos e pesquisar fatores como espaço físico, organização de
atividades e disponibilidade de tempo no cotidiano dos indivíduos para que se possam
proporcionar experiências que atendam às necessidades das pessoas e principalmente
lhes tragam prazer e satisfação na própria atividade.

Parágrafo de conclusão da unidade

Os conceitos apresentados nesta unidade sobre qualidade de vida e saúde buscam dife-
renciar o conhecimento do senso comum do que efetivamente a literatura acadêmica tem
produzido a respeito do assunto, e ainda relacioná-lo à prática profissional em Educação
Física. Somente a partir desses conceitos pode-se compreender como é possível analisar a
condição de vida e estilo de vida de indivíduos, grupos e da própria sociedade, de modo a
ofertar um serviço de qualidade à população e intervir, utilizando a especificidade da área
para beneficiar os indivíduos aos quais o profissional de Educação Física presta serviços.

37
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41
42
Unidade 2
Estilo de Vida e
Condições de Vida
Unidade 2
Objetivos da Unidade
• Identificar a importância do estilo e modo de vida da população como fator de
qualidade de vida
• Interpretar os aspectos que compõem a promoção da saúde para a qualidade
de vida
• Reconhecer os conceitos de atividade física, exercício físico e esporte e sua
­relação com a qualidade de vida.

Contextualizando
Vamos imaginar esta situação: você acessa uma de suas redes sociais e lá aparece, na
timeline, a sugestão de um perfil para você seguir recheado de fotos de um corpo sarado,
pratos saudáveis e muita atividade física tanto indoor como outdoor, participação
em corridas de rua, caminhadas e pedaladas nos momentos de lazer. O grande número
de seguidores não surpreende, talvez seja o que muita gente gostaria de ver no seu
dia a dia.

Um estilo de vida ativo tem sido amplamente valorizado pela mídia e sociedade em geral
como uma forma de melhorar a qualidade de vida dos indivíduos, premissa que conti-
nuamente serve como estímulo para a prática de atividade física. Todavia, na área de
Educação Física, ainda há carência de estudos científicos que definam mais precisamente
conceitos, apresentem resultados provenientes do uso de instrumentos de pesquisa
específicos sobre qualidade de vida e demonstrem uma identidade própria ao abordar
a relação entre a atividade física e a qualidade de vida. Consequentemente, uma contri-
buição significativa nessa área poderá ser feita por profissionais da Educação Física por
meio da observação e investigação dessa relação. De maneira genérica, estudos nessa
área poderão contribuir para o refinamento dos conceitos de atividade física e qualidade

44
de vida e, particularmente, para a ampliação do entendimento das potencialidades e
limitações dessa associação.

Em um passado relativamente recente, houve uma considerável evolução no corpo de


conhecimento teórico-prático aplicado ao esporte, à atividade física e, nos mais varia-
dos aspectos, ao movimento do corpo humano. Essa transformação histórica promoveu
o surgimento de inúmeras subdisciplinas de caráter científico como a biomecânica do
esporte, a fisiologia do exercício, a medicina do esporte, entre outras, em cada uma das
quais foram produzidos conhecimentos específicos de grande importância para a área
de Educação Física. Nesse sentido, é bastante comum encontrar estudos que investigam
um aspecto muito particular do movimento e concluem que tal fator aprimorado leva à
melhoria da qualidade de vida das pessoas; contudo, essa concepção significa uma frag-
mentação metodológica. Deve-se considerar que não é prudente fazer uma suposição
tão determinista, pois o conceito de qualidade de vida é subjetivo, complexo e multidi-
mensional.

Uma das concepções amplamente difundidas é a de que um estilo ativo de vida é uma
variável importante na melhoria da qualidade de vida dos indivíduos, porém é necessário
determinar conceitos e metodologias que respeitem os preceitos científicos. Mais do que
reproduzir conhecimentos na área médica, biológica ou das ciências sociais, é preciso
identificar a contribuição que a própria Educação Física pode oferecer nessa área e inte-
ragir com os conhecimentos provenientes de outras áreas de maneira segura, responsá-
vel e confiável.

2.1 Estilo de vida e saúde


A sociedade atual tem apresentado crescente interesse pelos exercícios físicos com fina-
lidades estéticas, de promoção de saúde e prevenção de doenças. Essa tendência teve
importantes consequências para a Educação Física, principalmente na esfera biológica.
Nesse contexto, multiplicaram-se locais de prática e modelos de treinamento que ante-
riormente eram dedicados apenas a atletas. Assim também, proliferaram estudos sobre
os benefícios físicos do aumento dos níveis de atividade física. Mesmo assim, na prática
não é fácil convencer os indivíduos a manter um nível de atividade física adequado e
constante ao longo da vida, e que efetivamente possa contribuir para a saúde.
Essa situação decorre do fato de que adotar um estilo de vida ativo depende de vários
fatores relacionados entre si e complexos.

Nesse sentido, vale destacar que o contexto deve oferecer ao indivíduo diversas e
variadas possibilidades de práticas, mas cabe também ao profissional de Educação Física
promover a autonomia do indivíduo para que em seu ambiente e contexto, ele possa
fazer escolhas pessoais que realmente sejam significativas, de modo que ele possa aderir
às práticas de atividades físicas, exercícios físicos e atividades esportivas que realmente
importem para o próprio indivíduo. Afinal, sob os mais diversos aspectos, a escolha sobre
estilo de vida é algo pessoal.

45
Para Martins e Petroski (2000), a prática de atividade física é fortemente influenciada
por fatores como a disponibilidade de recursos ambientais, econômicos e materiais, bem
como gênero, idade, disponibilidade de tempo, crenças pessoais e autoconceito. Tais
fatores teriam a capacidade de influenciar o tipo de exercício físico escolhido pelo indiví-
duo, assim como a intensidade e a regularidade em que a atividade é executada. Nesse
sentido, existiriam fatores positivos, também chamados de facilitadores, e fatores nega-
tivos, chamados de barreiras, que influenciariam de modo decisivo o comportamento
dos indivíduos durante um determinado período. Franulovic (2005) acrescenta que as
experiências nas primeiras fases da vida podem influenciar a aquisição ou não de um
estilo de vida ativo, bem como o exemplo de comportamento e incentivo dos pais; por-
tanto, qualquer programa de intervenção deve considerar o histórico de vida do indivíduo
para que haja êxito na aquisição dos objetivos propostos. Nesse sentido, a educação física
escolar de qualidade pode ser considerada um elemento fundamental para aquisição
de hábitos relacionados à atividade física e motora desde os primeiros anos de vida, não
só como fator de saúde, mas como meio de promover o potencial de desenvolvimento
humano para o movimento.

Miles (2007) destaca ainda que as intervenções que têm como meta o comportamento
dos indivíduos dentro de suas próprias comunidades são eficazes em aumentar a ativi-
dade física e apresentam a probabilidade de produzir mudanças a médio e longo prazos
relacionadas à atividade física. Ao elaborar um projeto de intervenção devem-se consi-
derar as teorias de mudança comportamental e oferecer uma gama de atividades físicas.
Os projetos devem ter um formato que atinja indivíduos inativos, que forneça acesso
e contato regular com a equipe de profissionais que devem aconselhar e supervisionar
o próprio projeto e seus participantes, que promova atividades físicas de intensidade
moderada e que respeite a escolha de oportunidades locais de ser ativo. Há uma série
de barreiras psicológicas, e compreender como esses fatores funcionam é crucial para
encontrar formas efetivas de promover a atividade física.

Intervenções de atividade física de estilo de vida são consideradas um problema de saúde


pública em vários países que buscam promover práticas regulares de atividade física para
a maioria dos adultos, que permanece inadequada ou completamente inativa. Essas
intervenções no estilo de vida permitem que uma pessoa individualize seus programas de
atividade física para incluir uma ampla variedade de atividades que sejam pelo menos de
intensidade moderada e para realizar essas atividades de maneira condizente com suas
circunstâncias de vida (Dunn et al. 1998).

As principais questões relacionadas aos programas de intervenções para a promoção de


um estilo de vida fisicamente ativo são: (1) testar sua capacidade de ser implementada
em larga escala; (2) examinar custo-efetividade para diferentes modos de implementa-
ção; e (3) pesquisar a eficácia em populações como idosos, minorias, economicamente
desfavorecidos e indivíduos com doenças específicas. Novos estudos destinados a alterar
o ambiente para aumentar a atividade física precisam ser testados durante períodos de
longa duração. Todas essas abordagens recomendadas devem utilizar medidas válidas e
confiáveis de atividade física e devem examinar os efeitos sobre a saúde, particularmente
a longo prazo (Dunn et al. 1998).

46
Nesse sentido, a atuação profissional é fundamental, como destaca a Carta Brasileira de
Educação Física (2000, p. 3), ao afirmar que para uma Educação Física de qualidade é
preciso “prover os seus beneficiários com o desenvolvimento de habilidades motoras,
atitudes, valores e conhecimentos, procurando levá-los a uma participação ativa e volun-
tária em atividades físicas e esportivas ao longo de suas vidas”.

2.2 Carta de Ottawa


A primeira Conferência Internacional sobre promoção da saúde foi realizada em Ottawa,
Canadá, em 1986, e resultou na elaboração de uma carta de intenções para que todos
tivessem o direito à saúde no ano 2000 e nos anos seguintes. Esse evento respondeu a
uma demanda crescente da comunidade internacional sobre uma nova forma de tratar
a saúde pública, que naquele período era presente em diversos países. As reflexões
promovidas nesse encontro tinham como tema central a saúde nos países desenvolvi-
dos, porém incorporaram também as necessidades de países diversos, incluindo ações
intersetoriais para a saúde.

De olho

A Carta de Ottawa define o termo promoção da saúde como o processo de capacita-


ção da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo
maior participação no controle desse processo. Para alcançar um estado de completo
bem-estar físico, mental e social, os indivíduos e grupos devem saber identificar
­aspirações, satisfazer necessidades e modificar favoravelmente o meio ambiente.
A saúde deve ser vista como um recurso para a vida, e não como objetivo de viver.
Nesse sentido, a saúde é um conceito positivo, que enfatiza os recursos sociais e
­pessoais, bem como as capacidades físicas. Assim, a promoção da saúde não é respon-
sabilidade exclusiva do setor de saúde, e vai para além de um estilo de vida saudável,
na direção de um bem-estar global.

Dentre os tópicos descritos na Carta de Ottawa estão os pré-requisitos para saúde, a


importância da saúde para o desenvolvimento em diferentes áreas, a capacitação dos
indivíduos para alcançar uma condição plena de saúde, as organizações e instituições
responsáveis por mediar as relações dos indivíduos e a saúde, o desenvolvimento de
políticas públicas voltadas à saúde, a criação de ambientes favoráveis à saúde e o desen-
volvimento de ações comunitárias para a saúde. Os pré-requisitos para a saúde estão
expressos na Figura 2.1.

47
Figura 2.1 Representação gráfica dos pré-requisitos para a saúde.
(Adaptada de WHO, 1986.)

A Organização Mundial da Saúde (WHO, 2008) lançou um documento que propõe


uma estratégia global para a promoção de dietas saudáveis, atividade física e saúde.
Os objetivos desse documento são:

1. Fornecer orientação aos Estados-membros sobre monitoramento e avaliação de


políticas e planos nacionais relacionados a dieta e atividade física, em coordenação
com iniciativas contínuas de monitoramento e vigilância
2. Ajudar os Estados-membros a identificar indicadores específicos e relevantes para
medir a implementação de políticas e planos relacionados a dietas e atividade física
em nível nacional (WHO, 2008, p. 4).

As Tabelas 2.1 e 2.2 detalham alguns aspectos dessa proposta, considerando os elemen-
tos essenciais dos processos e resultados esperados.

48
Tabela 2.1 Recomendações sobre a liderança estratégica nacional
para nutrição e atividade física.

ÁREA DE Resumo das ações recomendadas para os Estados-membros incluídos na Estratégia


AÇÃO Global para Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde

l Promover a formulação e a promoção de políticas, estratégias e planos de ação nacionais


para melhorar a dieta e incentivar a atividade física
l O apoio deve ser assegurado por legislação eficaz, infraestrutura apropriada, implemen-
tação de programas, financiamento adequado, monitoramento e avaliação, e pesquisa
contínua

Indicadores essenciais relacionados com as ações recomendadas para os


Estados-membros incluídos na Estratégia Global para Alimentação Saudável,
Atividade Física e Saúde
LIDERANÇA ESTRATÉGICA NACIONAL

Dieta e atividade física

l Estratégia nacional de dieta e atividade física publicada, ou dieta e atividade física identifi-
cadas como prioridades nos planos nacionais existentes
l Plano nacional de ação sobre dieta e atividade física publicado

Indicadores expandidos relacionados com as ações recomendadas para os


Estados-membros

Dieta e atividade física

l Metas específicas e mensuráveis para a ação publicada

l Documento publicado com fontes de financiamento especificadas e cronograma para


cada ação
l Existência de orientação para diferentes partes interessadas sobre como implementar
atividades consistentes com as políticas nacionais para a promoção de dietas saudáveis e
atividade física

Dieta Atividade física

l Existência de legislação para apoiar a l Existência de legislação para apoiar o


disponibilidade e o acesso a alimentos acesso à atividade física
saudáveis

Adaptada de WHO, 2008, p. 12.

49
Tabela 2.2 Indicadores essenciais de processos e resultados relacionados
à sociedade civil e às organizações não governamentais.

ÁREA DE Resumo das ações recomendadas para os Estados-membros incluídos na Estratégia


AÇÃO Global para Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde

A sociedade civil e as organizações não governamentais (ONG) têm um papel importante de


influenciar tanto o comportamento individual como as organizações e instituições envolvidas
na alimentação saudável e atividade física. Elas podem ajudar a garantir que os consumidores
peçam aos governos que ofereçam apoio a estilos de vida saudáveis e à indústria de alimentos
para fornecer produtos saudáveis
Organizações não governamentais podem apoiar uma estratégia governamental de maneira
eficaz se estiverem envolvidas no processo de desenvolvimento e implementação das políticas
e programas nacionais para promover dietas saudáveis e atividade física, colaborando com
parceiros nacionais e internacionais

Principais indicadores relacionados com as ações recomendadas para a sociedade


civil e ONG

Dieta e atividade física


AMBIENTES DE APOIO

l Número de ONG que trabalham com dieta e/ou atividade física

l Participação ativa de ONG na implementação da política nacional de alimentação e ativi-


dade física
l Número de atividades de conscientização para consumidores realizadas por ONG

l ONG representadas no mecanismo de coordenação nacional ou conselho consultivo espe-


cializado para desenvolver e implementar políticas e planos de dieta e atividade física
l Número de reuniões do mecanismo de coordenação nacional ou conselho consultivo
especializado assistido por ONG relevantes

Indicadores expandidos relacionados com as ações recomendadas para os Estados-


-membros

Dieta Atividade física

l Existência de redes e grupos de ação para l Existência de redes e grupos de ação


promover a disponibilidade de alimentos formados por ONG para promover a
saudáveis formados por ONG atividade física
l Eventos organizados por ONG para
promover a dieta e/ou atividade física
(por exemplo, organização de um dia de
mobilização em prol da saúde)

Adaptada de WHO, 2008, p. 16.

Considerando tais pré-requisitos, deve-se destacar a importância da Educação Física


nesse cenário, pois é a única profissão da área da saúde que tem inserção na educação
básica como disciplina obrigatória. Essa condição oferece ao profissional a oportunidade
de educar os indivíduos para que conheçam e adotem um estilo de vida saudável e
tenham maior autonomia e controle sobre a sua própria saúde. A educação é um fator
indis­pensável para que todos tenham conhecimento sobre seu direito à saúde e que tal
condição seja igualitária a toda a população. Apesar do potencial da Educação Física em
abordar esse assunto como um dos temas possíveis dentro do sistema educacional, é pre-
ciso considerar que a educação no Brasil também encontra dificuldades no cenário atual.

50
Em um censo realizado pelo Ministério da Educação (Brasil, 2018) sobre a educação
no Brasil, observa-se que há uma grande diminuição de alunos matriculados no Ensino
Médio, indicando um alto índice de jovens que não estudam e não trabalham (Figura 2.2).

Apesar dos problemas apontados, um dado importante desse censo é o diagnóstico de


professores que atuam na educação básica. Segundo o censo, há mais de 2,2 milhões
de professores atuando na educação básica, e considerando os dados gerais, a disciplina
que tem o melhor percentual de professores com formação adequada para a disciplina
que lecionam é Educação Física, com 69,8%. Ou seja, apesar dos problemas de acesso e
qualidade do sistema de ensino, o professor de Educação Física pode atuar para a pro-
moção da saúde e para educar os alunos sobre as vantagens de adotar um estilo de vida
ativo das mais variadas formas e nos diversos contextos nacionais.

Nas Figuras 2.3 a 2.5, o indicador de adequação da formação docente mostra a coerência
entre a formação inicial dos professores que atuam no ensino básico e a disciplina que
eles lecionam.

Figura 2.2 Número de escolas por etapa de ensino no Brasil em 2017. (Adaptada de
Brasil, 2018.) Nota: a mesma escola pode ofertar mais de uma etapa de ensino.

51
Figura 2.3 Indicador de adequação da formação docente dos anos iniciais do Ensino
Fundamental por disciplina no Brasil em 2017. (Adaptada de Brasil, 2018, p. 20.)

Figura 2.4 Indicador de adequação da formação docente dos anos finais do Ensino
Fundamental por disciplina no Brasil em 2017. (Adaptada de Brasil, 2018, p. 20.)

52
Figura 2.5 Indicador de adequação da formação docente do Ensino Médio por disciplina
no Brasil em 2017. (Adaptada de Brasil, 2018, p. 22.)

Considerando os dados apresentados pelo Ministério da Educação (Brasil, 2018) e a


legislação brasileira sobre a formação profissional em Educação Física, é plausível afirmar
que o Brasil se encontra em uma situação privilegiada em relação aos outros países,
­conforme indica o documento Diretrizes em Educação Física de qualidade produzido
pela United Nations Educational, Scientific, and Cultural Organization (Unesco, 2015).

Como única disciplina do currículo que combina competências físicas com valores
associados à aprendizagem, a Educação Física possibilita uma oportunidade de desenvol-
vimento de habilidades, a melhoria da performance acadêmica e pode promover estilo
de vida ativo. A Unesco (2017) desenvolveu várias diretrizes para gestores de políticas
públicas que pretendem promover a Educação Física de qualidade, incluindo materiais
que argumentam a favor da importância da disciplina nas escolas.

53
Saiba mais

“A Educação Física de Qualidade inclui a aprendizagem de uma ampla variedade de


habilidades motoras que são projetadas para aumentar o desenvolvimento físico,
mental, social e emocional de todas as crianças. De um lado, a participação na edu-
cação física deve apoiar o desenvolvimento da instrução física e, por outro, contribuir
para a cidadania mundial, por meio da promoção de habilidades e valores para a vida.
O resultado da Educação Física de Qualidade é um jovem instruído fisicamente, com
habilidades, confiança e compreensão para continuar participando de atividades físicas
ao longo de toda a vida. Assim, a educação física deve ser reconhecida como a base de
uma participação cívica inclusiva e contínua ao longo da vida. O currículo de Educação
Física de Qualidade promove competência de movimento para estruturar o pensa-
mento, expressar sentimentos e enriquecer a compreensão. Por meio da competição e
da cooperação, os alunos apreciam o papel de regras, convenções, valores, critérios de
desempenho e jogo limpo (fair play), celebram as várias contribuições de cada um, e
apreciam demandas e benefícios do trabalho em equipe. Além disso, o aluno compre-
ende como reconhecer e administrar riscos, cumprir as tarefas designadas e aceitar a
responsabilidade para com seu próprio comportamento. Os alunos aprendem formas
de lidar com o sucesso e com o fracasso e, além disso, como avaliar o desempenho
diante de suas realizações anteriores e as de outros. É por meio dessas experiências
de aprendizagem que a Educação Física de Qualidade oferece exposição a valores
claros e consistentes, e reforça o comportamento pró-social por meio da participação
e do desempenho. Pesquisas recentes também percebem a ligação entre a juven-
tude fisicamente ativa e o sucesso acadêmico. O desempenho acadêmico é influen-
ciado por outros fatores, mas as evidências mostram a pressuposição de que se os
jovens conseguem atingir pelo menos a quantidade diária recomendada de atividade
física, há ganhos sociais e acadêmicos potencialmente amplos. Para muitas crianças,
­especialmente aquelas menos favorecidas, a educação física oferece as únicas sessões
regulares de atividade física. Isso enfatiza ainda mais a necessidade de as crianças
receberem a Educação Física de Qualidade a que têm direito nos currículos escola-
res. A Educação Física de Qualidade deve capacitar crianças e jovens a se tornarem

54
­indivíduos instruídos fisicamente, e essa oferta deve estar presente desde os primeiros
anos de vida e ao longo de toda a jornada escolar, até a educação secundária.
As habilidades fundamentais de movimento são um aspecto essencial da instru-
ção física e, também, do desenvolvimento de cidadãos saudáveis, capazes e ativos.
­Considerando sua importância para o desenvolvimento humano equilibrado, gestores
de políticas devem dar ênfase nesse aspecto, apoiando a instrução física por meio
de programas de educação infantil, que encorajem exercícios ativos todos os dias”
(Unesco, 2015, p. 20-21).

Para Hoffman (2013) é possível educar fisicamente os indivíduos. O autor descreve as


características de indivíduos fisicamente educados como aqueles que:

l Demonstram competência em habilidades motoras e padrões de movimento neces-


sários para realizar uma variedade de atividades físicas
l Demonstram compreensão de conceitos, princípios, estratégias e táticas de movi-
mento, conforme se aplicam ao aprendizado e desempenho de atividades físicas
l Participam regularmente em atividade física
l Alcançam e mantêm um nível de melhoria da saúde física
l Exibem comportamentos pessoal e social responsáveis, respeitam a si mesmos e aos
outros em contextos de atividade física
l Reconhecem valores da atividade física para saúde, prazer, desafio, autoexpressão e
interação social.

A Organização Mundial da Saúde (WHO, 2008) aponta como indicadores essenciais para
a promoção de atividade física, dieta e saúde no ambiente escolar os itens descritos na
Tabela 2.3.

55
Tabela 2.3 Indicadores essenciais de processos e resultados relacionados
ao ambiente escolar.
ÁREA DE Resumo das ações recomendadas para o setor privado incluídas na Estratégia Global
AÇÃO para Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde

l Políticas e programas escolares devem apoiar a adoção de dietas saudáveis e atividade física
l As políticas e programas devem proteger a saúde das crianças, fornecendo informações
sobre saúde, melhorando a alfabetização em saúde, e promover dietas saudáveis, atividade
física e outros comportamentos saudáveis
l As escolas são incentivadas a fornecer educação física diária aos alunos
l Os governos são encorajados a adotar políticas que apoiem dietas saudáveis na escola e
limitem a disponibilidade de produtos ricos em sal, açúcar e gorduras

Os indicadores principais relacionados com as ações recomendadas para os


Estados-membros

Dieta e atividade física

l Existência de padrões curriculares para educação em saúde com foco em dieta e atividade
física
l Existência de envolvimento entre Ministério da Saúde ou Educação e Ministério dos Transpor-
tes para melhorar as rotas de caminhada e ciclismo para as escolas
l Número total de sessões de educação em saúde com foco em dieta saudável e atividade
física por ano dentro do currículo nacional
l Total de horas de escola alocadas para atividade física nos níveis primário e secundário
l Porcentagem de escolas monitorando a altura e o peso das crianças
AMBIENTES DE APOIO

Dieta Atividade física

l Existência de política alimentar escolar l Existência de política escolar nacional de


nacional atividade física e/ou educação física
l Existência de padrões nutricionais para as
refeições escolares consistentes com as
diretrizes de dieta nacional

Indicadores expandidos relacionados com as ações recomendadas para os


Estados-membros incluído na Estratégia Global para Alimentação Saudável,
Atividade Física e Saúde

Dieta Atividade física

l Porcentagem de escolas com uma política l Porcentagem de escolas com publicação


alimentar escolar sobre a política escolar para a atividade
l Porcentagem de escolas que oferecem física
refeições escolares consistentes com as l Porcentagem de escolas que oferecem o
orientações dietéticas mínimo de uma hora de atividade física
l Existência de educação nutricional e pro- diária
gramas de conscientização nas escolas l Porcentagem de escolas que oferecem
l Porcentagem de escolas que oferecem cursos extracurriculares relacionados à
opções de alimentos saudáveis atividade física
l Porcentagem de escolas com rotas seguras
l Porcentagem de escolas que restringem
produtos com altos valores de gordura, para o deslocamento do aluno até a escola
sal e açúcar de maneira fisicamente ativa
l Porcentagem de escolas que usam instala-
l Porcentagem de escolas que oferecem
frutas e vegetais ções de recreação da comunidade
l Consciência da existência de programas de
l Porcentagem de professores que frequen-
tam cursos sobre dieta saudável atividade física
l Porcentagem de professores que têm for-
mação adequada para a atividade física

Adaptada de WHO, 2008, p. 19.

56
Para a Unesco (2015) é fundamental que a disciplina Educação Física, como componente
curricular, tenha a mesma importância das outras disciplinas ofertadas no sistema de
ensino, e tal concepção deve ser compartilhada pelos gestores educacionais e demais
integrantes da comunidade escolar. Além disso, o professor de Educação Física deve ser
motivado, e sua relevância não deve ser subestimada no ambiente de ensino. Tal concep-
ção é tratada pela Unesco como uma responsabilidade governamental.

Dentre os aspectos relacionados pela Unesco (2015, p. 47) para o desenvolvimento de


políticas e práticas para a implementação da Educação Física de qualidade estão:

l Estratégias nacionais para educação física devem estar presentes nos níveis primá-
rio/elementar e secundário; além disso, devem tratar de lacunas importantes entre
a retórica política e a real implementação, para garantir que a legislação relativa à
oferta da Educação Física esteja sendo aplicada de forma consistente
l Estratégias nacionais para a Educação Física devem recomendar a atribuição de
tempo no currículo, e aqueles responsáveis pela oferta de Educação Física de
qualidade devem ter a responsabilidade de garantir que essa atribuição de tempo
recomendada para a disciplina seja implementada
l Estratégias nacionais devem garantir que diretores, familiares e outras pessoas
envolvidas estejam cientes dos benefícios da Educação Física; da mesma maneira, os
requisitos curriculares devem estabelecer tempo suficiente para a oferta de Educação
Física de qualidade, de modo a alcançar esses objetivos
l As estratégias nacionais e seus orçamentos relativos devem promover a coordenação
entre escolas e comunidades, e caminhos ligados à participação nas atividades físicas,
bem como tratar de problemas atuais de comunicação entre os diferentes órgãos
l A relevância e a qualidade do currículo de educação física devem ser revistas,
especialmente no que se refere a predisposição para competições esportivas e para
atividades relacionadas ao desempenho. A oferta de Educação Física de qualidade
deve ser desenvolvida com a participação dos jovens, pessoalmente significativa e
socialmente relevante, assim como deve estar em harmonia com os estilos de vida
fora da escola.

O diagnóstico e as sugestões para implementação da Educação Física de qualidade são


apresentados no Quadro 2.1.

57
Quadro 2.1 Fatores de análise que devem ser considerados para destacar
a importância da participação da Educação Física de qualidade (EFQ)
como um todo.
Questões políticas Lacunas identificadas Ações sugeridas
1. A importância da EFQ é defendida e Não existem estratégias estabe- Criar estratégias de comunicação para
disseminada para toda a sociedade? lecidas para transmitir os valores conscientizar sobre os valores intrínse-
intrínsecos e extrínsecos da cos e extrínsecos da educação física.
2. As estratégias de comunicação exis-
educação física para um público
tentes promovem os valores intrínsecos Disseminar os resultados das pesquisas
mais amplo e diverso.
e extrínsecos da educação física, tanto relativas à EFQ, por meio de iniciativas
em âmbito local quanto nacional? da mídia local e nacional, em uma
linguagem que tenha significado para
diversos grupos populacionais.

3. A educação física tem o mesmo À educação física não é dado Desenvolver iniciativas que visem
status de outras disciplinas? o mesmo status de outras persuadir tomadores de decisão,
disciplinas. diretores de escola, professores de
4. Os diretores de escola, professores
outras disciplinas e familiares sobre a
de outras disciplinas, familiares e mem- Os diretores de escola não veem
autenticidade educacional da EFQ.
bros da comunidade veem a educação a educação física como uma
física no mesmo nível de importância prioridade que tenha impacto
que as outras disciplinas? direto na oferta da EFQ.

5. As estratégias de comunicação Preconceitos sociais em relação Implementar uma campanha de infor-


destacam a importância da inclusão de a deficiências podem causar a mação que promova a importância da
todos os alunos na educação física? redução da participação nas educação física para todos os jovens,
aulas de educação física. incluindo meninas, pessoas com defi­
ciências e de grupos minoritários.

6. Existe uma associação de educação Não existe uma associação Desenvolver e fornecer apoio contínuo
física nacional ou regional? nacional ou regional de educação para uma associação de educação
física para exercer um papel na física nacional ou regional.
defesa e no processo de desen-
volvimento profissional.

7. Existem programas financiados de Os programas de pesquisa são Garantir que os programas de pesquisa
pesquisa, planejados para elaborar financiados de maneira deficiente sejam financiados adequadamente,
estratégias baseadas em evidências e não enfocam as prioridades- bem como estabelecidos para desen-
para a oferta de EFQ? -chave da educação física. volver bases de evidências sobre as
tendências atuais na educação física.
8. As prioridades de pesquisa enfocam
as tendências atuais da educação
física, visando ao desenvolvimento da
base de evidências para temas como
educação em cidadania mundial,
promoção de valores, efetividade das
parcerias comunitárias e capacidade
da educação física de contribuir para o
bem-estar físico, mental e social?

Adaptado de Unesco, 2015, p. 72.

Assim, o caminho para que uma população tenha acesso à saúde, como propõe a Carta
de Ottawa, está diretamente relacionado à educação, especificamente quando se trata da
questão da equidade em saúde, e a Educação Física de qualidade pode ser um elemento
central nesse processo.

“A promoção da saúde apoia o desenvolvimento pessoal e social através


da divulgação e informação, educação para a saúde e intensificação das
habilidades vitais. Com isso, aumentam as opções disponíveis para que
as populações possam exercer maior controle sobre sua própria saúde
e sobre o meio ambiente, bem como fazer opções que conduzam a uma

58
saúde melhor. É essencial capacitar as pessoas para aprender durante toda
a vida, preparando-as para as diversas fases da existência, o que inclui o
enfrentamento das doenças crônicas e causas externas. Esta tarefa deve
ser realizada nas escolas, nos lares, nos locais de trabalho e em outros
espaços comunitários. As ações devem se realizar através de organizações
educacionais, profissionais, comerciais e voluntárias, bem como pelas ins-
tituições governamentais” (WHO, 1986, p. 3).

Além da Carta de Ottawa, vale lembrar que a relação entre Educação Física, saúde,
educação e qualidade de vida é mencionada nos documentos fundamentais do Conselho
Federal de Educação Física:

l Carta brasileira de prevenção integrada na área da saúde


l Código de ética dos profissionais de Educação Física
l Carta brasileira de Educação Física
l Documento de intervenção do profissional de Educação Física
l Guia de princípios de conduta ética do estudante de Educação Física.

Importante
De acordo com o Conselho Federal de Educação Física (2004),

“Na década de 1980, começaram as ações efetivas internacionais e nacionais relati-


vas a pesquisas biológicas e estudos sobre o meio ambiente, estilos de vida e gestão/
planejamento da Saúde. A definição da Organização Mundial de Saúde: Um estado
de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou
enfermidade. RELATANDO que, a partir de 1986, foram desenvolvidos vários encontros/
conferências internacionais sobre a Saúde, os quais legaram documentos importantes
sob a forma de Declarações, Cartas, Conclusões e Agendas, sendo que os principais
foram: A Carta de Ottawa (1986), publicada durante a I Conferência Internacional sobre
a Promoção da Saúde, na qual a Saúde foi considerada o maior recurso para o desen-
volvimento social, econômico e pessoal, como também uma importante dimensão da
‘Qualidade de Vida’, que pode ser afetada ou favorecida por fatores políticos, econô-
micos, sociais, culturais, ambientais, comportamentais e biológicos; A Carta de Bogotá
(1992), publicada sob patrocínio da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS),
propôs para a promoção da Saúde na América Latina a busca permanente da criação
de condições que garantam o bem-estar geral como produto do desenvolvimento.

59
Esta Carta reitera a necessidade de países da América Latina optarem por novas
alternativas na ação da Saúde pública para fazer frente às enfermidades geradas pela
pobreza, atraso, urbanização e industrialização. Nesta perspectiva a promoção da
Saúde destaca a importância da participação ativa das pessoas nas mudanças das con-
dições sanitárias e no modo de viver, que deve ser condizente com a criação de uma
renovada cultura de Saúde; A Carta de Jacarta (1997), emitida durante a IV Conferên-
cia Internacional sobre Promoção da Saúde, reconheceu a promoção e prevenção da
Saúde como elementos essenciais para o desenvolvimento desta área, identificando-os
como pré-requisitos neste sentido. A pobreza foi identificada como a maior ameaça à
Saúde. DESTACANDO que a Organização Mundial de Saúde (WHO/OMS) afirma que as
doenças chamadas ‘não comunicáveis’ (cardiovasculares, câncer, diabetes e doenças
crônicas respiratórias) estão aumentando quantitativamente, causando mais morbi-
dade e deficiências, num quadro de projeções negativas para o ano 2020”.

2.3 Promoção da saúde | Uma abordagem


para a qualidade de vida
A promoção da saúde é provavelmente a abordagem mais ética, eficaz, eficiente e sus-
tentável para alcançar a boa saúde da população. Essa concepção foi apresentada inicial-
mente pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1986, mas desde então a definição
foi aperfeiçoada para levar em conta novos desafios de saúde e melhor compreensão dos
determinantes econômicos, ambientais e sociais da saúde e da doença. A definição mais
amplamente aceita e utilizada de promoção da saúde é enquanto “processo de capacitar
as pessoas a aumentar o controle sobre os determinantes da saúde e, assim, melhorar
sua saúde” (James, 2006, p. 7).

Para os pesquisadores Kottke et al. (2016), a Carta de Ottawa da OMS para a promoção
da saúde enfatizou bem-estar como ponto final, declarando que “a saúde é, portanto,
vista como um recurso para a vida cotidiana, não o objetivo de viver”. Outros autores
também têm concebido a saúde como uma variável instrumental, como meio para a
finalidade do bem-estar. Essa perspectiva é consistente com a dos psicólogos sociais con-
temporâneos. Enquanto isso, nos círculos de saúde, o reconhecimento da importância
dos ­determinantes sociais da saúde está aumentando, ainda com a saúde descrita como
objetivo final.

Conforme os conceitos apresentados anteriormente, a saúde é um componente da


qualidade de vida, mas a qualidade de vida não está restrita à saúde. Conforme ilus-
tra a Figura 2.6, vários componentes se relacionam às questões de saúde, doença e
­bem-estar, o que não necessariamente está associado de modo linear ao conceito cien-
tífico de qualidade de vida.

60
Figura 2.6 Tradução e adaptação do modelo publicado por Evans e Stoddart (1990), que
ilustra os múltiplos fatores associados à doença e à saúde. (Adaptada de Kottke et al.,
2016.)

No entanto, não se pode desconsiderar a prática de exercícios físicos regulares como


forma de aumentar o nível de atividade física dos indivíduos, que de maneira adequada
pode prevenir doenças e promover a saúde, além de contribuir para aspectos psicológi-
cos e sociais benéficos, quando realizada de maneira adequada.

2.4 Estilo de vida e sua importância |


Condições e modo de vida

Os pesquisadores Foster et al. (2006) ponderam que qualquer definição de ambiente


deve reconhecer seus múltiplos aspectos e as diferentes influências potenciais que
podem promover ou desestimular a atividade física. Nesse caso, o ambiente pode ser
definido como qualquer aspecto físico natural ou construído pelo homem que cons-
ciente ou inconscientemente se relaciona com o indivíduo e seu comportamento no que
diz respeito à atividade física. Ferreira e Najar (2005) comentam que a organização do
entorno social, o desenvolvimento da consciência coletiva sobre a importância da ativi-
dade física, a organização do tempo dedicado ao trabalho e ao lazer, bem como a infra-
estrutura do espaço público – desde o transporte até a disponibilidade de equipamentos
esportivos e espaços destinados à prática de atividade física – estão diretamente rela-
cionados à probabilidade de um determinado grupo social aderir à prática de atividade
física. Jones-Palm e Palm (2005) relatam que espaços e instalações para atividade física,
jogos e esportes em vilas, comunidades e cidades devem ser prioridade. As comunida-
des devem ter acesso a locais seguros para realizar caminhadas e atividades familiares.
Jogos e festivais familiares devem ser promovidos por comunidades e cidades. Uma rede
de projetos orientados para atividades para crianças e jovens deve ser desenvolvida em
escolas, clubes, organizações religiosas, centros recreativos, entre outros. Tais projetos
podem ter âmbito local ou nacional e devem definir atividades adequadas

61
a cada faixa etária. Além disso um programa integrado de mídia utilizando histórias,
revistas, jogos e eventos esportivos para cada grupo etário deve acompanhar o projeto.
Foster et al. (2006) também propõem que os comportamentos resultam de uma mistura
e integração de componentes do contexto e função e podem promover ou desencora-
jar um comportamento em particular. Por exemplo, uma ciclovia, um campo esportivo
ou um ­playground podem promover um comportamento ativo, enquanto uma avenida
congestionada pode desencorajar um comportamento ativo.

Bauman e Craig (2005) realizaram uma revisão qualitativa na qual consultaram diversos
indivíduos e grupos sobre o assunto. Essa consulta incluiu organismos políticos de vários
países, um fórum público na web e organizações não governamentais. O objetivo desse
estudo foi descrever como são vistos mundialmente aspectos relacionados à atividade
física e sua importância, por meio de uma perspectiva de estratégia global. Para os auto-
res, a consulta regional foi um importante mecanismo para o desenvolvimento de uma
estratégia global. Foi reafirmada a relevância da atividade física na maioria das regiões
em que a Organização Mundial da Saúde atua, e a consulta local desempenhou uma
função essencial para orientar a agenda de promoção de atividade física.

Os temas centrais para a atividade física e a sua relevância para o desenvolvimento de


uma estratégia global são:

• A necessidade de políticas nacionais para a atividade física e diretrizes nacionais


específicas para atividade física
• A importância de parcerias multissetoriais para implementar programas e estra-
tégias que promovam a atividade física
• O desenvolvimento de mensagens e recomendações consistentes sobre ativi-
dade física e que também sejam culturalmente adequadas
• A importância de um sistema de monitoramento comparável em nível nacio-
nal para acessar mudanças nos níveis de atividade física e a participação da
população
• O desenvolvimento de uma abordagem que defenda, perante governos e agên-
cias, o aumento da consciência da importância da atividade física
• A consideração do impacto da globalização e outras influências internacionais
sobre a inatividade e o comportamento sedentário
• O desenvolvimento de opções de atividade física que sejam economicamente
viáveis e acessíveis e que reconheçam as diferenças culturais e a igualdade de
gênero
• A necessidade de criar um ambiente físico e social que dê suporte à atividade
física e facilite oportunidades de uma participação regular reforçada por políti-
cas, legislação e regulação
• A implementação do monitoramento dos elementos da atividade física como
estratégia global em diversos países e regiões
• A promoção de informações baseadas em evidências, sustentadas pela Orga-
nização Mundial da Saúde e grupos acadêmicos de especialistas, nas melhores
práticas para a promoção da atividade física em âmbito mundial em países
desenvolvidos e em desenvolvimento.

62
Cortez (2008) reitera tais afirmações e esclarece que os aspectos que contribuem para
a adesão a um estilo de vida ativo devem ser considerados, tais como o tempo disponí-
vel, o acesso a instalações apropriadas, o apoio do entorno social, o histórico de vida do
indivíduo em relação aos seus hábitos de atividade física, a motivação e a percepção de
autoeficácia do indivíduo, a atitude perante a atividade física e a ênfase dos profissionais
de saúde na indicação de programas específicos de atividade física. Em contrapartida, os
elementos que dificultam a adesão à atividade física são a falta de tempo, as obrigações
familiares e profissionais, a ausência de experiências anteriores de atividade física, sobre-
peso e o hábito de fumar, altas expectativas em relação aos resultados que se quer alcan-
çar e rotina de trabalhos manuais. Bauman e Craig (2005) complementam ainda que é
amplamente reconhecido pela população que a promoção da atividade física necessita
da colaboração entre instituições e do estabelecimento de parcerias. Esse esforço requer
o desenvolvimento que vai além de organizações ligadas à saúde, mas também departa-
mentos de transporte, de planejamento urbano, educação e esporte que sejam capazes
de realizar ações efetivas. Para os pesquisadores Jones-Palm e Palm (2005), comissões
nacionais devem estabelecer projetos e políticas que promovam a melhoria das con-
dições para a prática de atividade física na vida das crianças e desenvolver campanhas
nacionais direcionadas para a infância e a juventude. Essas comissões devem envolver
pais, políticos, professores, médicos, arquitetos, urbanistas, organizadores esportivos,
assistentes sociais, organizações religiosas, além dos próprios jovens. Contudo, Foster
et al. (2006) alertam que o impacto da organização do ambiente para promover ativi-
dade física necessita ser mais bem explorado e precisa conseguir identificar que tipos
de pessoas são atraídos por determinados tipos de ambiente e atividades, e quais as
razões dessas relações. Pode ser que pessoas já ativas procurem ambientes que propor-
cionem atividades ou que somente ambientes específicos atraiam determinado perfil de
usuários. Investigações futuras devem procurar compreender a interação dos indivíduos,
seus comportamentos relacionados à atividade física e sua percepção em relação ao
ambiente, priorizando o desenvolvimento de futuras intervenções no ambiente.

O potencial das intervenções no ambiente para influenciar a prática de atividade física


não será esclarecido para aqueles que advogam em favor da promoção da atividade física
sem respostas para as questões apresentadas. A atividade física requer intervenções
em todos os níveis, bem como diminuir os estados negativos de humor, minimizando
desconfortos físicos e psíquicos, porém ainda são necessárias maiores evidências sobre
o tema para que tais teorias possam ser confirmadas (Mello et al., 2005). Miles (2007)
também acrescenta que nem sempre a relação entre estado psicológico e atividade física
é positiva, pois são muitas as barreiras psicológicas para a atividade física, incluindo fato-
res relacionados a autoimagem, baixa confiança e falta de resultados imediatos.
Essas barreiras são características frequentes de pessoas obesas e que precisam perder
peso. Franulovic (2005) destaca que a adesão a programas de atividade física está rela-
cionada a fatores intrínsecos de indivíduos que gostam de fazer exercícios e são cons-
cientes dos benefícios desse tipo de atividade, o que aumenta o nível motivacional para
a adoção desse hábito. Além desses aspectos, a autora destaca que tal motivação está
associada ao apoio do cônjuge, dos profissionais de saúde em geral e particularmente do
profissional de Educação Física.

Nesse sentido, a qualidade do serviço prestado pelo profissional de Educação Física é


fundamental, pois a orientação adequada deve considerar diagnósticos, controle das ati-
vidades e avaliação de resultados como forma de adequar os programas às necessidades
dos indivíduos a quem os profissionais prestam serviços.

63
A Organização Mundial da Saúde (WHO, 2004) reforçou a importância desse tema ao
desenvolver um documento específico denominado Global strategy on diet, physi-
cal activity and health (Estratégia global para alimentação saudável, atividade física
e saúde), no qual reconhece o desafio de controlar doenças crônicas e o cenário que
oferece a oportunidade única para formular e implementar uma estratégia efetiva para
reduzir as mortes e doenças em todo o mundo, melhorando os hábitos alimentares e
promovendo atividade física, especialmente em países desenvolvidos e em desenvol-
vimento. Tal fato parece um contrassenso, pois seria plausível esperar que países mais
desenvolvidos tivessem maior nível de atividade física.

Miles (2007) reforça a concepção de que a atividade física exerce uma influência bené-
fica ao longo de toda a vida. Na infância ela é importante para manutenção do equilíbrio
energético, fortalecimento dos ossos e prevenção de doenças futuras. Há também um
importante papel na interação social, no bem-estar e na aquisição de hábitos saudáveis.
Paine e Dorea (2004) acrescentam que a promoção da saúde implica uma concepção
global de bem-estar, voltada diretamente ao estilo de vida, e ressaltam a importância de
fatores como a percepção, o conhecimento, o contexto e o comportamento, relacionan-
do-os ao conceito de saúde. Cortez (2008) lembra que mesmo com grande incentivo, os
indivíduos tentam justificar a ausência de adesão à prática regular de atividade física, pois
mudar hábitos ao longo da vida não é simples, especialmente quando fatores complica-
dores estão envolvidos, como distâncias para a prática de atividade física, disponibilidade
de estacionamento, aspectos de segurança pessoal, custos e identificação de um profis-
sional qualificado capaz de realizar diagnósticos e prescrever atividades adequadas a cada
indivíduo. Contudo, a oposição à inatividade deve ser feita com critério, cuidando para
que definições, instrumentos e resultados realmente tenham clareza conceitual e possam
beneficiar efetivamente os indivíduos e a sociedade.

Para refletir

Malina e Little (2008) consideram que esse cenário demanda uma série de reflexões
relevantes para a biologia humana contemporânea:

l Por quanto tempo é possível manter o equilíbrio entre a mudança cultural e a


natureza biológica que está sendo comprometida cada vez mais pela falta de ativi-
dade física, sobrepeso e obesidade?
l Como o estilo de vida sedentário afeta a capacidade de adaptação à maior
demanda de atividade física durante infância, adolescência, juventude, idade
adulta e velhice?
l Como a atividade física promove a longevidade ou pessoas propensas a maior
longevidade são naturalmente mais ativas?
l Qual é o papel genético na adaptação à atividade física e na inatividade física?

64
Bolman et al. (2007) lembram que é preciso levar em consideração que as pessoas nem
sempre têm uma noção real do seu nível de atividade física. As pessoas frequentemente
subestimam ou superestimam seus comportamentos, e esse fato pode ter consequên-
cias adversas sobre a capacidade dos indivíduos de modificar seus comportamentos em
relação aos aspectos de saúde. As pessoas geralmente supõem que seus comportamen-
tos são adequados mesmo quando não seguem as orientações para uma vida saudável,
e isso as torna menos receptivas à educação para a saúde e para a transformação de
seus hábitos. Porém, Bauman e Craig (2005) atestam a importância desse tipo de estudo
quando destacam que alguns esforços têm sido feitos em âmbito mundial para medir a
atividade física. Os desafios de pesquisas internacionais são mais complexos e vastos do
que pesquisas mais restritas geograficamente, mais controladas em termos de população
e amostras em países desenvolvidos. A avaliação e a comparação do impacto de progra-
mas de promoção de atividade física em países com uma política voltada para essa fina-
lidade e que dispõem de recursos só podem acontecer em relação a outro país com as
mesmas características socioeconômicas e demográficas. Talvez estudos de caso sejam
uma forma de solução viável para o problema, desde que os detalhes e as evidências do
estudo sejam minuciosamente descritos. Apesar de tais dificuldades, uma abordagem
séria em relação à saúde pública remete ao aumento da atividade física, o que é um
esforço mundial que ainda deve ser realizado.

Os diferentes métodos para estimar atividade física têm vantagens e desvantagens e


também são mais ou menos adequados em função do tipo de estudo a ser realizado.
Apesar disso, é difícil comparar medidas por meio de resultados provenientes de diferen-
tes estimativas. Medidas objetivas incluem monitores de frequência cardíaca, acelerô-
metros e pedômetros (Figura 2.7). Esses equipamentos têm seu uso frequentemente
limitado em virtude do custo e do rigor dos procedimentos de uso, e também pelo fato
de não serem sensíveis a todos os tipos de atividade física. Medidas subjetivas como
questionários, diários e entrevistas são mais comumente usados em estudos epidemioló-
gicos, porém são limitados em termos de confiabilidade e parcialidade. Um instrumento
perfeito que possa efetivamente quantificar os níveis e padrões de atividade física ainda
não existe. O erro resultante da mensuração enfraquece o poder da observação da rela-
ção entre atividade física e saúde, e fragiliza os efeitos de intervenção (Miles, 2007).

Benedetti et al. (2007) consideram que os questionários são formas viáveis e econômi-
cas, apesar da dificuldade de se estabelecer a fidedignidade dos resultados. É fundamen-
tal que sejam preparadas estratégias e ações a favor da saúde coletiva que contemplem
a atividade física e de uma maneira que possam ser obtidos resultados objetivos a esse
respeito. A atividade física é um elemento fundamental para o estabelecimento de um
estilo de vida saudável.

65
Figura 2.7 Procedimentos para medir atividade física em estudos epidemiológicos.
(Adaptada de Reis et al., 2000.)

Na prática

Você sabe o seu nível de atividade física?

Em 2003, os pesquisadores Aadahl e Jorgensen desenvolveram um questionário


denominado Escala de atividade, que foi traduzido e validado transculturalmente
por Santos e Simões (2009). O instrumento original foi elaborado com a finalidade de
desenvolver e validar uma escala para medir a atividade física total em um período de
24 horas durante um dia útil da semana incluindo atividades de trabalho, lazer e espor-
tes. A concepção adotada pelos autores foi a de que a atividade física é qualquer movi-
mento corporal produzido por uma contração dos músculos esqueléticos que resulta
em um gasto energético. Os autores do estudo concluíram que a escala de atividade
física desenvolvida parece ser uma alternativa simples, válida, de fácil aplicação para
ser usada como instrumento de medida da atividade física de adultos e que oferece
informações detalhadas sobre diferentes níveis de atividade física. O tempo em horas
descrito pelos sujeitos em cada nível de atividade física foi multiplicado pelo valor de
equivalentes metabólicos (MET) correspondente, ou seja, A = 0,9 MET, B = 1,0 MET, C =
1,5 MET, D = 2,0 MET, E = 3,0 MET, F = 4,0 MET, G = 5,0 MET, H = 6,0 MET e I = 7,0 MET.

66
A soma de cada nível de cada indivíduo foi feita e assim chegou-se ao valor final de
nível de atividade física individual em um dia de semana normal. O MET significa o
equivalente metabólico que permite estimar a energia gasta em atividades específicas.
Assim, quanto maior o valor do MET, maior o nível de atividade física (Santos e Simões,
2009). Verifique o seu nível de atividade física respondendo o questionário a seguir.

Qual é o seu nível de atividade física em um dia normal de semana? Na escala de


atividade física há alguns exemplos de diferentes níveis de atividade física (Figura 2.8).
Tente estipular quanto tempo você gasta em cada nível em um dia normal de semana.
Comece a partir do nível A e continue descendo. Se você normalmente dorme 7 horas,
você deve marcar o quadrado 7-h do nível A. Se você assiste TV por uma hora e meia,
você deve marcar o quadrado de 30-min e o quadrado de 1-h do nível B. Se você não
for ativo em todos os níveis de atividade, deixe níveis sem marcar. Por favor, note que
o número total de minutos e horas deve somar 24 = um dia e uma noite de semana
normal. A coluna da direita poderá auxiliá-lo a somar os minutos e as horas.

Figura 2.8 Escala de atividade física.

67
Para os pesquisadores Aadahl e Jorgensen (2003), os questionários autoadministrados
são viáveis e fáceis de serem utilizados e podem ser usados em estudos epidemiológi-
cos em larga escala. Muitos questionários registram frequência, duração e intensidade
das atividades relacionadas ao trabalho, esporte e lazer. Outros questionários registram
atividades cotidianas específicas como subir escadas, andar de bicicleta ou caminhar.
Os questionários diferem na maneira como são aplicados, a população-alvo em que o
estudo é realizado, a organização temporal na qual a atividade física é estimada, o tipo
de atividade que é medido e a escala utilizada para os dados. Uma abordagem possível
para investigar atividade física por meio de questionários é organizá-los de acordo com
o Compendium of Physical Activities (Ainsworth et al., 2000). Essa abordagem é baseada
no conceito de que a intensidade de cada atividade específica pode ser expressa em MET,
ou seja, equivalente metabólico, o qual permite estimar a energia gasta em atividades
específicas.

Em relação a frequência, duração e intensidade, Miles (2007) explica que a frequência


e a duração dizem respeito a quantas vezes e por quanto tempo a atividade é realizada.
A intensidade refere-se ao vigor com que o indivíduo realiza a atividade e a demanda de
gasto energético da atividade. A intensidade absoluta de uma atividade é a taxa de gasto
energético associada a essa atividade, o que é comumente medido em kcal-kg-min, o
MET (o que significa equivalente metabólico). O MET é uma unidade usada para estimar
o custo metabólico (gasto energético ou consumo de oxigênio) da atividade física. MET
são frequentemente usados para definir categorias como baixa, moderada e alta intensi-
dade de atividade física.

Parágrafo de conclusão da unidade

Os conceitos e as reflexões abordados nesta unidade mostram que a promoção da saúde


por meio da prática de atividade física é um desafio grandioso, seja em escala local ou
mundial. É preciso reconhecer a importância da atividade física e esportiva nos primeiros
anos de vida ainda no ambiente escolar, dando-se oportunidade aos alunos para que
conheçam inúmeras possibilidades de movimento e seus benefícios. Uma vez compre-
endida a importância da atividade física e das opções de prática, o indivíduo deve ter
autonomia para suas escolhas e condições de vida que lhe permitam efetuar suas prefe-
rências. Para isso, é preciso que lhe sejam apresentadas alternativas de exercícios físicos
e prática esportiva ao longo da vida, e que os profissionais possam organizar o ambiente
e providenciar meios para que tais práticas aconteçam de forma efetiva, inclusive no
ambiente de trabalho.

68
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71
72
Unidade 3
Qualidade de Vida
no Trabalho

73
Unidade 3
Objetivos da Unidade
• Conhecer a especificidade de atuação do profissional de Educação Física em
programas de atividade física
• Desenvolver projetos de qualidade de vida no trabalho
• Analisar criticamente programas de promoção de qualidade de vida por meio da
atividade física e esportiva.

Contextualizando
Pense nesta cena: seu amigo acaba de acordar e resolve dar uma olhada nos compro-
missos agendados em seu smartphone antes de se levantar: de casa para o trabalho, do
trabalho para o curso de idioma e do curso para casa. Parece uma agenda simples, sem
tomar muito tempo, não é? Mas calculemos as horas gastas nesse dia nada extraordiná-
rio: 8 horas de sono, 8 horas de trabalho diárias, 1 de almoço, 2 de trânsito para ir e vol-
tar, mais 1 hora e meia para as demais refeições do dia e outra 1 hora e meia para o curso
que está fazendo, sem deixar de fora 1 hora para se deslocar do trabalho para a escola e
da escola para casa, e 1 hora de gastos com higiene pessoal ao longo do dia. Pronto: lá se
foram as 24 horas. Fica fácil compreender por que ele recusou o convite para jantar, não
é mesmo? Afinal, você entende também como falta tempo nos dias de hoje.

Existem fatores que facilitam o aumento no nível de atividade física, e fatores que funcio-
nam como barreiras para a adoção de um estilo de vida ativo. Um dos motivos menciona-
dos frequentemente para a inatividade física no cotidiano das pessoas é a falta de tempo.
Uma parte significativa da população possui inúmeras tarefas obrigatórias que impedem
a organização do tempo de modo a adequar na agenda diária um tempo para a prática de
exercícios físicos.

74
As pessoas gastam uma parte substancial de seu tempo no trabalho, e trabalham durante
uma parte significativa de sua vida. Portanto, o trabalho representa uma parte relevante
na vida das pessoas. Em algumas situações pode-se considerar que o fato de ter um
emprego já é motivo para ter melhor qualidade de vida, porém essa concepção pode
ser ampliada, na medida em que se observa o quanto as pessoas estão satisfeitas com o
emprego que possuem e com sua rotina de trabalho.

Do ponto de vista empresarial, a satisfação dos funcionários e a qualidade de vida no


trabalho afetam diretamente a capacidade da empresa em atender seus clientes.
A tentativa de compreender melhor a qualidade de vida no trabalho ajuda na alocação
eficiente e eficaz de recursos para aumentar a produtividade e a estabilidade da força de
trabalho. Por outro lado, os funcionários devem estar satisfeitos e felizes com o trabalho,
sua própria capacidade e a disponibilidade de recursos para atender as expectativas
das tarefas que devem desempenhar. Trata-se de considerar o grau de satisfação no
­trabalho, que é uma resposta emocional ao próprio trabalho e ao local de trabalho
(Jaiswal, 2014).

No ambiente corporativo, um dos aspectos que podem ser explorados para a melhoria
da qualidade de vida no trabalho são ações voltadas para a promoção da atividade física
dos colaboradores de uma empresa. Os programas de bem-estar no local de trabalho
podem melhorar a saúde dos funcionários, reduzindo os custos de assistência médica
dos empregadores, e melhorar a produtividade do trabalhador. No ambiente de traba-
lho, as iniciativas de bem-estar podem incluir programas, políticas, benefícios, apoios
ambientais e associações comunitárias que promovem a saúde e a segurança de todos
os funcionários. Os programas de bem-estar no local de trabalho podem favorecer as
mudanças voluntárias de comportamento dos funcionários para a obtenção de uma
saúde melhor (CDC, s/d). Além dos aspectos físicos, deve-se considerar ainda a possibili-
dade da implementação de programas de atividades físicas e esportivas para melhorar o
clima organizacional no ambiente de trabalho.

3.1 Qualidade de vida e trabalho


Nos últimos anos, a qualidade de vida no trabalho (QVT) tornou-se uma ferramenta
importante na luta pelos melhores funcionários. As organizações estão buscando
maneiras de aumentar a QVT para reter os melhores funcionários e atrair os funcioná-
rios mais talentosos. As recompensas financeiras usadas tradicionalmente podem não
ter atrativos suficientes para obter e reter os melhores talentos, especialmente na eco-
nomia baseada no conhecimento. Essa é a principal razão pela qual muitas corporações
tentam encontrar métodos apropriados para aumentar a qualidade de vida no trabalho
(Sojka, 2014).

A literatura acadêmica indica que um requisito básico de qualidade de vida no trabalho


é a satisfação dos recursos humanos dentro da organização. A obtenção de alto nível de
qualidade de vida no trabalho é possível por meio de aspectos como boas condições de
trabalho, adequação e honestidade nas relações pessoais, segurança no emprego,
apoio organizacional, oportunidades de progresso, equilíbrio entre trabalho e vida

75
pessoal, ambiente de trabalho seguro e saudável, participação dos trabalhadores nas
decisões e mecanismos de comunicação aberta e solidária. A presença desses fatores
influencia o nível motivacional da força de trabalho, o que, por sua vez, leva a um melhor
desempenho e à eficácia geral da organização. Sem dúvida, a remuneração financeira
tem um papel fundamental na satisfação dos funcionários com a organização e seus
empregos; no entanto, ignorar o bem-estar psicológico dos funcionários pode levar
ao fracasso da organização e, portanto, requer igual consideração (Randhawa e
Arora, 2016).

Embora estudos sobre qualidade de vida no trabalho (QVT) tenham sido realizados desde
o início do século XX, não há consenso sobre o significado real desse termo. Nos últimos
anos, a QVT tem sido entendida como a gestão dinâmica e abrangente de fatores físicos,
tecnológicos, sociais e psicológicos que afetam a cultura e renovam o ambiente organi-
zacional. A QVT e a satisfação dos funcionários no trabalho estão sendo cada vez mais
identificadas como indicadores relacionados à função e à sustentabilidade das organiza-
ções empresariais (Jaiswal, 2014).

O sucesso de qualquer organização é altamente dependente de como atrai, motiva e


mantém uma força de trabalho de alto desempenho. Explicar os fatores que influen-
ciam o desempenho dos funcionários continua sendo uma questão fundamental para
os ­profissionais de gerenciamento de recursos humanos (Muindi e K’obonyo, 2015).
­Atualmente a qualidade de vida no trabalho está ganhando mais importância em nível
global, as organizações estão enfrentando muitos problemas relacionados a recursos
humanos, dentre os quais a estabilidade dos funcionários é um dos maiores problemas, e
abordá-los é prioridade. Entre várias razões para a estabilidade do empregado, a quali-
dade de vida no trabalho é uma delas. Trata-se de um construto multidimensional e tem
sido influenciado por muitas variáveis (Swamy et al., 2015). No ambiente de negócios,
as organizações devem ser flexíveis e implementar estratégias para melhorar a qualidade
de vida no trabalho dos funcionários, a fim de conciliar os objetivos da organização às
necessidades dos funcionários.

A qualidade de vida no trabalho está relacionada ao nível de felicidade ou satisfação de


uma pessoa em seu local de trabalho. As organizações que valorizam a qualidade de vida
no trabalho veem o funcionário como uma parte valiosa do sistema na organização e não
como uma despesa. Essa abordagem motiva os funcionários que, além de aspectos eco-
nômicos, estão em busca de satisfazer suas necessidades sociais e psicológicas. Mudan-
ças radicais no mundo dos negócios, como a globalização, a tecnologia da informação, a
concorrência global de negócios e a escassez de recursos naturais causaram mudanças
em relação aos funcionários quanto à definição de boa empresa. A tendência do passado
era definir a imagem da empresa com base em seus indicadores financeiros; hoje, a ética
e a satisfação no trabalho dos próprios trabalhadores são os principais pré-requisitos para
a sustentabilidade das organizações empresariais (Cvetic et al., 2016). Por outro lado, a
insatisfação com a vida profissional decorre do descompasso entre a expectativa e a reali-
dade dos funcionários, o que pode afetar seu desempenho na organização
(Rubel e Kee, 2014).

Para Srivastava e Kampur (2014), deve-se abordar o trabalho de maneira humanizada.


Nessa concepção, deve-se readequar as tarefas para ter os atributos desejados pelas
pessoas e redesenhar as organizações para ter o ambiente desejado pelas pessoas.

76
Essa abordagem procura melhorar a qualidade de vida no trabalho. Nesse contexto, a
organização deve tentar atender tanto as necessidades básicas quanto as necessidades
de ordem superior dos trabalhadores. Procura-se empregar as habilidades mais com-
plexas dos trabalhadores e proporcionar um ambiente que os incentive a melhorar suas
habilidades. A ideia é que os recursos humanos sejam desenvolvidos e não simplesmente
usados. Além disso, procura-se minimizar os aspectos negativos do trabalho, particular-
mente o estresse indevido. Trata-se de não degradar o indivíduo na perspectiva humana.
Por fim, o trabalho não deve ser um empecilho para que o indivíduo desempenhe outros
papéis na vida, como cidadão, cônjuge e pai/mãe, ou seja, o trabalho deve contribuir
para o avanço social geral.

Essa concepção remete à complexidade da identificação das medidas de qualidade de


vida no trabalho, embora haja algum consenso sobre seu conceito de bem-estar dos
funcionários. Evidentemente, existem fatores objetivos (ambientes físico e estrutural)
que proporcionam um local de trabalho e fatores intervenientes que afetam os processos
de trabalho dos funcionários. No que diz respeito aos fatores de resultado, os efeitos
imediatos sobre os aspectos psicológicos dos funcionários (atitudes positivas, compro-
metimento e satisfação) e efeitos finais sobre o desempenho da organização estão sendo
investigados pelos pesquisadores.

Em decorrência da relevância do tema, vários esforços têm sido feitos para elaborar
um conceito preciso e desenvolver instrumentos de avaliação de qualidade de vida no
trabalho. Em um instrumento de pesquisa desenvolvido por Easton e Van Laar (2018),
denominado Escala de qualidade de vida relacionada com o trabalho, foram identifi-
cados fatores essenciais que compõem o questionário e que foram agrupados em seis
subescalas:

l Bem-estar geral: o bem-estar psicológico pode afetar o desempenho de um indiví-


duo no trabalho para melhor ou para pior. Quando as pessoas se sentem bem, elas
podem estar mais propensas a trabalhar bem e aproveitar mais o tempo dedicado
ao trabalho. No entanto, quando as pessoas se sentem mal, ansiosas ou pouco à
vontade, independentemente do fato de que o sofrimento provenha de seu trabalho
ou de dificuldades em casa, seu trabalho provavelmente será afetado negativamente.
Quando as pessoas são afetadas por problemas físicos, seu desempenho no trabalho
pode ser afetado e, por sua vez, seu senso de bem-estar psicológico pode ser redu-
zido. Portanto, pode-se argumentar que o bem-estar geral das pessoas no trabalho
precisa ser abordado positivamente, com especial atenção à prevenção e à promoção
do bem-estar, em vez de simplesmente ajudar apenas quando surgem problemas
(Easton e Van Laar, 2018, p. 16)

l Interface entre o trabalho e a vida pessoal: o equilíbrio entre vida pessoal e profis-
sional avalia o grau em que os funcionários sentem que têm controle sobre quando,
onde e como eles funcionam. Pode refletir a percepção de um indivíduo de que ele
ou ela tenha uma vida plena dentro e fora do trabalho remunerado, para o benefício
comum do indivíduo, dos negócios e da sociedade. As demandas da vida pessoal
podem significar que alguém acha difícil estar no trabalho quando precisa estar, e
isso pode significar menor dedicação quando se está no trabalho. As tensões de
­trabalho podem, da mesma maneira, significar que um indivíduo se sente incapaz,

77
l deixar o trabalho para depois e não se recuperar depois, nem sentir que
pode ­investir como desejaria nos outros aspectos de suas vidas (Easton e Van Laar,
2018, p. 17)
l Satisfação com o trabalho e a carreira: a satisfação com o trabalho e a carreira repre-
senta o senso de bem-estar que o local de trabalho oferece a uma pessoa, ofertando
as melhores condições no trabalho. Essa subescala busca medir o nível em que o
entrevistado sente que seu local de trabalho oferece senso de realização, de elevada
autoestima e realização de seu potencial (Easton e Van Laar, 2018, p. 18)
l Controle no trabalho: esta subescala reflete o nível em que um funcionário sente que
pode exercer o que ele considera ser um nível adequado de controle dentro de seu
ambiente de trabalho. Essa percepção de controle pode estar ligada a vários aspectos
do trabalho, incluindo a oportunidade de contribuir para o processo de tomada de
decisão que o afeta. Os principais estudiosos nessa área sugerem que a percepção do
controle pessoal pode afetar fortemente a experiência de um indivíduo em relação ao
estresse e sua saúde (Easton e Van Laar, 2018, p. 20)
l Condições de trabalho: esta subescala avalia em que medida o indivíduo está feliz
com as condições em que trabalha, ou seja, busca-se avaliar até que ponto o empre-
gado está satisfeito com os recursos fundamentais, condições de trabalho e segurança
necessárias para fazer seu trabalho de forma eficaz. A insatisfação com condições físi-
cas de trabalho, como saúde, segurança e higiene no trabalho, por exemplo, pode ter
efeitos adversos significativos na percepção de qualidade de vida no trabalho (Easton
e Van Laar, 2018, p. 21)
l Estresse no trabalho: esta subescala avalia de que maneira um indivíduo percebe
que tem pressões excessivas e/ou sente níveis indevidos de estresse no trabalho, o
qual pode causar uma resposta física e emocional prejudicial que ocorre quando os
requisitos de trabalho não se ajustam a capacidades, recursos ou necessidades do
funcionário (Easton e Van Laar, 2018, p. 23).

A boa qualidade de vida no trabalho leva a uma atmosfera de boas relações pessoais
e funcionários altamente motivados que se esforçam para o seu desenvolvimento.
Embora os benefícios monetários ainda sejam o fator essencial em relação à percepção
do trabalho, elementos como condições físicas de trabalho, a reestruturação de empre-
gos, o incremento do desenvolvimento de empregos, o desenvolvimento de carreira, as
oportunidades promocionais, entre outros fatores, compõem um cenário no qual os tra-
balhadores esperam que a gestão organizacional se dedique a aprimorar e, consequen-
temente, melhore assim a qualidade de vida no trabalho. Quando é assegurada a boa
qualidade de vida no trabalho, os funcionários se concentram mais no desenvolvimento
individual e de grupo, o que, por sua vez, leva ao desenvolvimento geral (Srivastava e
Kampur, 2014).

Srivastava e Kampur (2014, p. 56) destacam ainda que as iniciativas para melhorar a
­qualidade de vida no trabalho têm como objetivo:

l Aumentar a produtividade individual, a responsabilidade e o compromisso dos


­colaboradores
l Melhorar o trabalho em equipe e a comunicação

78
l Melhorar o moral dos funcionários
l Reduzir o estresse organizacional
l Melhorar as relações dentro e fora do trabalho
l Melhorar as condições de segurança no trabalho
l Fornecer programas de desenvolvimento de recursos humanos adequados
l Melhorar a satisfação dos funcionários
l Fortalecer a aprendizagem no local de trabalho
l Gerenciar melhor mudanças e transições em andamento no ambiente de trabalho
l Participar da gestão em todos os níveis na formação da organização.

Dentre os benefícios apontados para as empresas e para os funcionários que um pro-


grama de qualidade de vida no trabalho pode oferecer estão os aspectos apresentados
no Quadro 3.1.

Quadro 3.1 Benefícios para a organização e para o indivíduo da melhoria


de qualidade de vida no trabalho.
Equilíbrio entre vida e trabalho Equilíbrio entre vida e trabalho
Benefícios à organização Benefícios ao indivíduo
l Aumento real na produtividade individual, res- l Mais valor e equilíbrio na sua vida diária
ponsabilidade e comprometimento
l Melhor compreensão de qual é o seu melhor
l Melhor trabalho em equipe e comunicação equilíbrio entre vida profissional e individual
l Sensação de moral elevada l Produtividade aumentada

l Estresse organizacional menos negativo l Relacionamentos aprimorados dentro e fora do


trabalho
l Estresse reduzido

Adaptado de Srivastava e Kampur, 2014.

Para refletir

No instrumento Índice de qualidade de vida, de Ferrans e Powers (1985), existe uma


questão relacionada ao trabalho. No questionário é p
­ erguntado o quanto você está
satisfeito com o fato de ter (ou não) um trabalho,
e o quanto ter um trabalho (ou não) é importante para você.

Ao pensar no ambiente de trabalho existem novas questões que podem ser avaliadas
de modo mais específico. Considerando o instrumento de pesquisa Escala de

79
­qualidade de vida relacionada com o trabalho, faça uma reflexão sobre a sua satisfa-
ção com o seu trabalho.
l Você tem oportunidade de usar as suas competências no seu local de trabalho?
l Quando você faz um bom trabalho, o seu superior hierárquico reconhece?
l Você se sente capaz de expressar suas opiniões e influenciar mudanças na sua área
de atividade?
l No local onde você trabalha há flexibilidade para que você equilibre sua vida pessoal
e profissional?
l Frequentemente você tem níveis de estresse excessivos no local de trabalho?
l De modo geral, você está satisfeito com a qualidade da sua vida profissional?

Essas questões estão contempladas no instrumento de pesquisa desenvolvido pelos


pesquisadores Simon A. Easton e Darren L. Van Laar (2018), que publicaram um livro
sobre o tema e desenvolveram versões em várias línguas para a avaliação da qualidade
de vida no trabalho, inclusive em português (Easton e Van Laar, 2018, p. 75).

3.2 Conceito de qualidade de vida no trabalho

De acordo com Reddy e Reddy (2010), a preocupação com a qualidade de vida no traba-
lho surgiu com a legislação promulgada no início do século XX para proteger os funcio-
nários de acidentes no trabalho e para eliminar condições de trabalho perigosas. Em
seguida, ocorreram os movimentos de sindicalização nas décadas de 1930 e 1940, que
deram início à preocupação com os trabalhadores. Nessa época foi dada ênfase à segu-
rança no emprego e aos ganhos econômicos para os trabalhadores. Os anos 1950 e 1960
viram o desenvolvimento de diferentes teorias de psicólogos propondo uma “relação
positiva entre moral e produtividade”, e a possibilidade de que melhores relações huma-
nas levariam ao desenvolvimento de ambos. Tentativas de reforma para adquirir igual-
dade de oportunidades de emprego e maneiras de enriquecimento no emprego também
foram introduzidas. Finalmente, na década de 1970, concebeu-se o ideal de qualidade de
vida no trabalho, que é mais amplo do que esses desenvolvimentos anteriores e é algo
que deve considerar os valores que estavam no centro desses movimentos de reforma
anteriores e das necessidades humanas e aspirações.

As teorias de motivação e liderança forneceram uma base sólida para o conceito de


­qualidade de vida no trabalho. A premissa era de que se as necessidades de ordem infe-
rior são satisfeitas, as pessoas buscam satisfação para as necessidades de ordem superior.
O tema de qualidade de vida no trabalho ganhou importância entre 1969 e 1974,
quando um amplo grupo de pesquisadores, acadêmicos, líderes sindicais e membros

80
governamentais de diferentes países desenvolveram interesse em como melhorar a
qualidade de vida de um indivíduo por meio da experiência de trabalho. O Departamento
de Saúde, Educação e Bem-estar dos Estados Unidos patrocinou um estudo sobre essa
questão, o que levou à publicação de mais estudos sobre o assunto.

Segundo Erdem (2014), não existe um consenso completo sobre o conceito de qualidade
de vida no trabalho, pois trata-se de um conceito amplo que oferece muitas percepções
diferentes e, portanto, é difícil defini-lo. Muitos autores acreditam que a qualidade de
vida no trabalho seja baseada em um sentimento subjetivo dos funcionários da organi-
zação, enquanto a maioria dos psicólogos concorda que o termo qualidade de vida no
trabalho esteja relacionado ao bem-estar dos funcionários (Cvetic et al., 2016).

Para os pesquisadores Van Laar et al. (2018), a qualidade de vida no trabalho (QVT) é
afetada pela interação complexa de muitos fatores, como a personalidade do indivíduo, a
vida pessoal, a capacidade de um indivíduo fazer o seu trabalho, o apoio que o indivíduo
recebe de colegas e gestores, e de que modo esse indivíduo é solicitado a fazer o seu
trabalho (Figura 3.1). Swamy et al. (2015) propõem que a qualidade de vida no trabalho
seja definida como em que medida um funcionário está satisfeito com as necessida-
des pessoais e de trabalho, participando do local de trabalho e atingindo os objetivos
da organização. Qualidade de vida no trabalho é um construto multidimensional. No
entanto, existem muitos outros fatores críticos que contribuem para a QVT, o que inclui
fatores físicos, psicológicos e sociais.

Figura 3.1 Fatores que compõem a qualidade de vida no trabalho.


(Adaptada de Swamy et al., 2015.)

81
Para Srivastava e Kampur (2014), as melhorias na qualidade de vida no trabalho são
definidas como qualquer atividade que ocorra em todos os níveis de uma organização
que busque maior eficácia organizacional pelo aumento da dignidade humana e do
crescimento. Um processo por meio do qual os detentores do estado na organização,
gestão, sindicatos e funcionários aprendem a trabalhar melhor juntos para determinar
por si mesmos quais ações, mudanças e melhorias são desejáveis e viáveis para alcançar
a vitória e objetivos simultâneos de melhor qualidade de vida no trabalho para todos
os membros da organização e maior eficácia para a empresa e os sindicatos. Trata-se de
considerar o modo como uma organização pode garantir o bem-estar holístico de um
funcionário, em vez de se concentrar apenas nos aspectos relacionados ao trabalho.

3.3 Estrutura de programas e promoção de saúde

Conforme mencionado previamente, vários fatores contribuem para a qualidade de vida


no trabalho, o que inclui fatores físicos, psicológicos e sociais. No contexto da abordagem
holística para a satisfação e bem-estar dos colaboradores que trabalham em uma organi-
zação, um dos fatores mencionados é a atenção à saúde dos indivíduos.

Alguns países têm diretrizes para que programas de promoção de saúde e prevenção de
doenças sejam implementados nos locais de trabalho, por exemplo:

l Passos para o bem-estar: um guia para implementar as diretrizes de atividade


física de 2008 para norte-americanos no local de trabalho (Steps to wellness: a
guide to implementing the 2008 physical activity guidelines for Americans in the
workplace), elaborado pelo Centers for Disease Control and Prevention, nos Estados
Unidos
l Atividade física no local de trabalho: um guia (Physical activity in the workplace: a
guide), elaborado pelo Exercise & Sport Science Australia – ESSA, na Austrália
l Guia de atividade física no trabalho (Physical activity workplace guide), elaborado
pelo Durham Region Health Department, no Canadá
l De maneira mais abrangente, com intuito de orientar todos os países, a Organização
Mundial da Saúde (WHO, 2008) também difunde a importância de ações de saúde
no local de trabalho, como apresentado na Estratégia global para dieta, atividade
física e saúde (A framework to monitor and evaluate implementation: WHO global
strategy on diet, physical activity and health).

No Brasil, apesar de não haver um programa governamental específico para o tema, vale
destacar que apenas os profissionais de Educação Física podem orientar a prática de
exercícios físicos e atividades esportivas; portanto, esse tipo de iniciativa deve estar sob a
responsabilidade de um profissional de Educação Física, que tenha a devida formação no
Ensino Superior e disponha de conhecimentos, competências e habilidades adequadas
para planejar tais programas, os quais pressupõem uma abordagem mais abrangente do
que a abordagem médica.

82
De olho

De acordo com a Lei nº 9.696, de 1º de setembro de 1998, que dispõe sobre a regula-
mentação da Profissão de Educação Física:

Art. 1º O exercício das atividades de Educação Física e a designação de Profissional de


Educação Física é prerrogativa dos profissionais regularmente registrados nos Conse-
lhos Regionais de Educação Física.

Art. 2º Apenas serão inscritos nos quadros dos Conselhos Regionais de Educação Física
os seguintes profissionais:

I – os possuidores de diploma obtido em curso de Educação Física, oficialmente autori-


zado ou reconhecido;

[...]

Art. 3º Compete ao Profissional de Educação Física coordenar, planejar, programar,


supervisionar, dinamizar, dirigir, organizar, avaliar e executar trabalhos, programas,
planos e projetos, bem como prestar serviços de auditoria, consultoria e assessoria,
realizar treinamentos especializados, participar de equipes multidisciplinares e interdis-
ciplinares e elaborar informes técnicos, científicos e pedagógicos, todos nas áreas de
atividades físicas e do desporto.

A construção de um programa de saúde no local de trabalho deve envolver uma abor-


dagem coordenada, sistemática e abrangente. Uma ação coordenada para promoção da
saúde no local de trabalho resulta em um conjunto planejado, organizado e amplo de
programas, políticas, benefícios e apoios ambientais projetados para atender às necessi-
dades de saúde e segurança de todos os funcionários. Uma concepção extensa procura
implementar intervenções que abordem múltiplos fatores de risco e condições de saúde
simultaneamente e reconhece que as intervenções e estratégias escolhidas influenciam
vários níveis da organização, incluindo o funcionário individualmente e a organização
como um todo (CDC, s/d).

Ao reconhecer a importância de programas de promoção de saúde em locais de trabalho,


a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2008) estabeleceu indicadores e processos que
podem ajudar os países e seus respectivos Ministérios da Saúde, bem como outras agên-
cias governamentais e organizações interessadas no monitoramento do progresso de suas
atividades na área de promoção de alimentação saudável e atividade física em ambientes
de trabalho, conforme descrevem as Tabelas 3.1 e 3.2.

83
Tabela 3.1 Indicadores essenciais de processos e resultados relacionados
às indústrias e empresas.
ÁREA DE Resumo das ações recomendadas para os Estados-membros incluídos na Estratégia
AÇÃO Global para Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde

l A indústria alimentar, empresas de catering, fabricantes de artigos desportivos, publicidade,


empresas de recreação, grupos bancários e de seguros, empresas farmacêuticas e a mídia,
todos têm papéis importantes a desempenhar como empregadores responsáveis e como
defensores de estilos de vida saudáveis
l Todos podem se tornar parceiros de governos e organizações não governamentais na imple-
mentação de medidas destinadas a enviar mensagens positivas e consistentes para facilitar
e possibilitar esforços a fim de incentivar uma alimentação saudável e a prática de atividade
física
l As iniciativas da indústria alimentícia podem acelerar os ganhos em saúde nacional e glo-
balmente: reduzindo gordura, teor de açúcar e sal dos alimentos processados; redução do
tamanho das porções; introdução crescente de escolhas inovadoras, saudáveis e nutritivas;
fornecer aos consumidores produtos adequados e informações compreensíveis sobre produ-
tos e nutrição; e revisando as práticas de marketing atuais

Indicadores essenciais relacionados com as ações recomendadas para os


Estados-membros incluídos na Estratégia Global para Alimentação Saudável,
Atividade Física e Saúde

Dieta e atividade física

l Número de empresas envolvidas em atividades relacionadas a dieta e/ou atividade física com
os setores governamentais relevantes
AMBIENTES DE APOIO

l Percentagem de empresas envolvidas em campanhas de educação sobre dieta e atividade


física em conformidade com as orientações nacionais
l Número de projetos nacionais que promovem alimentação saudável e atividade física finan-
ciada pela indústria
l Número de parcerias público-privadas que promovem dietas saudáveis e atividade física

Dieta Atividade física

l Porcentagem de alimentos fabricados nacionalmente


que fornecem rotulagem nutricional completa
l Existência de um código autorregulador ou outro me-
canismo regulatório de comercialização de alimentos e
bebidas não alcoólicas para crianças l Percentagem de empresas
privadas que apoiam campa-
l Porcentagem de alimentos e bebidas não alcoólicas de nhas de promoção de ativida-
empresas nacionais e/ou internacionais com políticas de física nacionalmente
de nutrição
l Percentual de empresas alimentícias e não alcoólicas
com uma política publicada sobre o fornecimento de
escolhas nutritivas para os consumidores

Indicadores expandidos relacionados com as ações recomendadas para os


Estados-membros

Dieta Atividade física

l Número de alimentos e/ou bebidas não alcoólicas dis-


ponível aos consumidores em nível nacional, com níveis
limitados de gorduras saturadas e/ou gorduras trans, l Porcentagem de empresas
ácidos e/ou livres de açúcares e/ou sal de alimentos e bebidas não
alcoólicas patrocinadoras de
l Número de empresas alimentícias e bebidas não alco- eventos esportivos
ólicas com uma política publicada sobre redução de
tamanhos oferecidos aos consumidores

Adaptada de WHO, 2008, p. 18.

84
Tabela 3.2 Indicadores essenciais de processos e resultados relacionados
ao ambiente de trabalho.
ÁREA DE Resumo das ações recomendadas para os Estados-membros incluídos na Estratégia
AÇÃO Global para Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde

l Os locais de trabalho são organizações importantes para a promoção da saúde e prevenção


de doenças
l É necessário oferecer às pessoas a oportunidade de fazer escolhas saudáveis no local de
trabalho, a fim de reduzir sua exposição aos riscos
l Os locais de trabalho devem tornar possível a escolha de alimentos saudáveis e apoiar e
incentivar a atividade física

Indicadores essenciais relacionados com as ações recomendadas para os


Estados-membros incluídos na Estratégia Global para Alimentação Saudável,
­Atividade Física e Saúde

Dieta e atividade física

l Número de locais de trabalho com políticas ou programas para promover dietas saudáveis
e/ou atividades físicas no local de trabalho
AMBIENTES DE APOIO

l Número de locais de trabalho que monitoram e/ou avaliam suas políticas e/ou programas
sobre dieta e atividade física no local de trabalho
l Porcentagem de locais de trabalho realizando avaliações de risco à saúde de funcionários
e coletando informações relacionadas a dieta, padrões de atividade física, índice de massa
corporal e pressão arterial

Indicadores expandidos relacionados com as ações recomendadas para os


Estados-membros

Dieta Atividade física

l Porcentagem de locais de trabalho que l Porcentagem de locais de trabalho com


servem refeições consistentes com as chuveiros e vestiários
orientações dietéticas nacionais
l Porcentagem de locais de trabalho com
l Porcentagem de locais de trabalho que instalações para praticar atividade física
oferecem opções de lanches saudáveis
l Porcentagem de locais de trabalho que
l Porcentagem de locais de trabalho com oferecem programas de atividade física
instalações disponíveis para funcionários para funcionários
para conservação de alimentos e simples
preparação de alimentos
l Porcentagem de locais no trabalho ven-
dendo frutas e vegetais
l Porcentagem de locais no trabalho
oferecendo frutas e legumes para os
funcionários

Adaptada de WHO, 2008, p. 18.

Por exemplo, o Guia de atividade física no trabalho, do Departamento de Saúde da


região de Durham, no Canadá, faz várias sugestões, dentre elas:

l Proporcionar um espaço para atividade física para incentivar os funcionários a serem


ativos, como usar uma sala de reunião para programas de fitness ou atividade física
l Fornecer instalações para a atividade física, como vestiários, armários e chuveiros

85
l Fornecer equipamento para uso, como empréstimo de bicicletas, bicicletários, tape-
tes de ioga, cordas, entre outros
l Promover uma rota de caminhada interna/externa segura, que seja bem iluminada,
livre de perigos e tráfego
l Manter ou melhorar as escadas de segurança para promover o uso de escadas no
trabalho em vez de elevadores
l Oferecer incentivos para a participação dos funcionários na atividade física
l Associar-se a uma academia local ou centro de recreação para fornecer afiliação
recreativa subsidiada, desconto ou pacotes especiais para os funcionários
l Incentivar as pausas durante o dia e nas reuniões
l Promover oportunidades recreativas para estar ativo fora do trabalho
l Promover e apoiar o transporte ativo de e para o trabalho.

Para o Centers for Disease Control and Prevention existe um processo sistemático de
construção de um programa de promoção da saúde no local de trabalho que enfatiza
quatro etapas principais (Quadros 3.2 a 3.5).

Quadro 3.2 Fase 1 de avaliação de um programa de promoção de saúde


no local de trabalho.
Fase 1 – Avaliação da saúde no local de trabalho
Um programa bem-sucedido de saúde no local de trabalho é aquele voltado para a população específica de
funcionários, adaptando-se ao local de trabalho, às necessidades dos funcionários e às metas de saúde pessoal e
organizacional. Essa informação pode ser obtida por meio da primeira etapa do processo – uma avaliação de saúde
no local de trabalho. A avaliação deve ter como objetivo capturar um quadro dos diversos fatores que influenciam a
saúde do funcionário, incluindo: fatores individuais como opções de estilo de vida, ambiente de trabalho (por exem-
plo, condições físicas de trabalho e apoio social) e nível organizacional (cultura, políticas e práticas). Essa avaliação
pode ocorrer informalmente por meio de conversas, uma chamada para sugestões/opiniões (como um quadro de
avisos, caixa de opinião, e-mail solicitando ideias) ou mais formalmente, usando instrumentos como uma pesquisa
de saúde do funcionário ou auditoria ambiental. Tanto os atuais problemas de saúde como os interesses dos fun-
cionários devem ser considerados ao priorizar intervenções de programas e políticas, bem como avaliar e melhorar
continuamente o programa de saúde no local de trabalho. Envolver os funcionários desde o início reforçará a res-
ponsabilidade compartilhada e o compromisso que o funcionário e a organização têm com a saúde dos funcionários
e o sucesso geral do programa de saúde no local de trabalho. O módulo de avaliação fornece diretrizes, ferramentas
e recursos para conduzir uma avaliação de saúde no local de trabalho.

Adaptado de CDC, s/d.

86
Quadro 3.3 Fase 2 de planejamento de um programa de promoção de
saúde no local de trabalho.
Fase 2 – Planejamento do programa
Em seguida, um estágio de planejamento cuidadoso deve preceder qualquer implementação de programas, políti-
cas, benefícios ou suportes ambientais no local de trabalho. O programa geral requer uma estrutura de governança
básica ou infraestrutura para administrar e gerenciar atividades de promoção de saúde que podem ser iniciadas du-
rante a fase de planejamento e deve reconhecer que o tamanho e o escopo de cada etapa podem ser influenciados
por fatores como tamanho, setor ou localização geográfica da empresa.
A estrutura de governança corporativa fornece a orientação estratégica, a liderança e a organização necessárias para
operacionalizar os elementos do programa. As estratégias organizacionais fornecem a infraestrutura para garantir
que os objetivos do programa sejam alcançados, os riscos à saúde dos funcionários sejam gerenciados de forma
adequada e os recursos da empresa sejam usados com responsabilidade. Estratégias organizacionais incluem:
l Dedicação e apoio da liderança sênior para servir como modelo

l Identificação de um coordenador, conselho ou comitê de saúde no local de trabalho para supervisionar o


programa
l Desenvolvimento de um plano de melhoria da saúde no local de trabalho com recursos suficientes para articular
e executar metas e estratégias
l Estabelecimento de uma comunicação clara e consistente com todos os funcionários

l Estabelecimento de sistemas de informática em saúde no local de trabalho para coletar e usar dados para plane-
jamento e avaliação.
É importante lembrar que um programa de sucesso não inclui necessariamente todas as estratégias potenciais
de saúde no local de trabalho. Um programa verdadeiramente bem-sucedido é aquele cujos componentes são
cuidadosamente selecionados, implementados de maneira eficiente e adequados à população de funcionários. Pode
ser mais prudente concentrar-se em uma ou duas políticas/programas no início e basear-se nos sucessos iniciais, em
vez de implementar mal várias intervenções no início. Os programas de saúde no local de trabalho também não
precisam custar quantias significativas de recursos financeiros. Muitas intervenções efetivas, como mudanças na po-
lítica relacionadas à saúde, existem com baixo custo, o que é especialmente importante para os pequenos e médios
empregadores que podem não ter muitos recursos para dedicar à saúde dos funcionários.

Adaptado de CDC, s/d.

Quadro 3.4 Fase 3 de implementação de um programa de promoção de


saúde no local de trabalho.
Fase 3 – Implementação do programa
A maioria dos empregadores, quando pensa em melhorar a saúde do trabalhador, pensa em ações que os indivíduos
podem tomar. Perder peso, parar de fumar e se exercitar mais são exemplos de ações individuais que podem resultar
em melhor saúde. É importante perceber, no entanto, que melhorar a saúde requer uma perspectiva ampla que
inclua também os ambientes em que as pessoas trabalham, vivem e brincam. A saúde de uma pessoa é resultado de
ações individuais e do contexto ou ambiente em que essas ações são tomadas. Empregadores e empregados têm
muitas oportunidades de influenciar o ambiente de trabalho para promover a saúde e prevenir doenças. Mudar o
ambiente afeta simultaneamente grandes grupos de trabalhadores e torna a adoção de comportamentos saudáveis
muito mais fácil se houver normas e políticas de apoio no local de trabalho. Portanto, é importante que o programa
geral de saúde no local de trabalho contenha uma combinação de estratégias e intervenções individuais e orga-
nizacionais para influenciar a saúde. As estratégias e intervenções disponíveis se enquadram em quatro categorias
principais:
l Programas relacionados à saúde: oportunidades disponíveis para os funcionários no local de trabalho ou por
meio de organizações externas para iniciar, alterar ou manter comportamentos de saúde
l Políticas relacionadas à saúde: declaração formal/informal por escrito que visa proteger ou promover a saúde dos
funcionários, afetando grandes grupos de empregados simultaneamente
l Benefícios de saúde: parte de um pacote de remuneração global, incluindo cobertura de seguro de saúde e
outros serviços ou descontos em relação à saúde
l Suportes ambientais: referem-se aos fatores físicos no local de trabalho e nas proximidades que ajudam a prote-
ger e melhorar a saúde do funcionário.

Adaptado de CDC, s/d.

87
Quadro 3.5 Fase 4 de determinação do impacto de um programa de
promoção de saúde no local de trabalho.
Fase 4 – Determinação do impacto de um programa por meio de avaliação
Por fim, os locais de trabalho devem planejar a avaliação dos programas, políticas, benefícios ou mudanças ambien-
tais implementados. É importante avaliar quão bem o programa de saúde no local de trabalho pode ser sustentado
ao longo do tempo, como ele é recebido pelos funcionários e pela gerência e seu retorno sobre o investimento.
Embora a avaliação do programa seja amplamente reconhecida como uma função essencial da saúde pública, as
diferenças na definição de “boa prática de avaliação” muitas vezes levam a avaliações demoradas e caras e, mais
importante, produzem descobertas que não são empregadas para a melhoria do programa. A avaliação deve se
concentrar em questões que sejam relevantes e úteis para aqueles que usarão as informações e que o processo de
avaliação seja alimentado em um ciclo contínuo de melhoria da qualidade do programa e para fortalecer as ativida-
des existentes; identificar possíveis lacunas nas atividades existentes; e descrever a eficiência e eficácia dos recursos
investidos.

Adaptado de CDC, s/d.

O uso desse processo de quatro etapas permitirá que os empregadores desenvolvam o


conhecimento e as habilidades necessárias para iniciar um programa de saúde no local
de trabalho ou melhorar um existente.

Em relação ao comportamento dos indivíduos em relação à saúde, deve-se considerar


que há múltiplas influências em um indivíduo que podem agir para apoiar (facilitadores)
ou dificultar (barreiras) seus comportamentos de atividade física (ESSA, s/d). Barreiras
para aumentar a atividade física em indivíduos podem ser divididas em quatro categorias:
(1) intrapessoais; (2) interpessoais; (3) ambientais; (4) organizacionais. A natureza ampla
dessas características permite que uma organização identifique de que modo, conside-
rando suas possibilidades, pode ajudar seus funcionários a aumentar ou manter seus
níveis de atividade física. As estratégias apropriadas para cada categoria de barreiras são
descritas a seguir:

l Barreiras intrapessoais: as questões psicossociais, físicas e culturais são abordadas


de maneira mais eficaz por meio de aconselhamento individual e/ou abordagens de
aconselhamento em grupo
l Barreiras interpessoais: aconselhamento individual e/ou abordagens de aconselha-
mento em grupo também podem ajudar a lidar com as barreiras que surgem das
relações de um indivíduo com os outros. As organizações também devem procurar
desempenhar um papel direto na abordagem das barreiras interpessoais que surgem
no local de trabalho (por exemplo, gerenciamento inadequado, horas de trabalho
inflexíveis) para apoiar os funcionários
l Barreiras ambientais: as organizações devem fornecer o ambiente físico ideal (e
infraestrutura) para apoiar a atividade física entre seus funcionários. Sempre que
possível, isso deve considerar também as barreiras decorrentes do clima
l Barreiras organizacionais: todas as barreiras potenciais decorrentes de eventos ou
atividades organizadas ou coordenadas pelo local de trabalho devem ser considera-
das e abordadas. Por exemplo, subsidiar parte ou todos os custos de uma atividade
supera as barreiras associadas à acessibilidade. Aconselhamento individual e/ou abor-
dagens de aconselhamento em grupo também podem ajudar a minimizar as barreiras
organizacionais, trabalhando com os funcionários para determinar opções alternati-
vas e mais viáveis, dadas as suas restrições exclusivas.

88
Na prática

Em um estudo realizado com o objetivo de caracterizar as práticas de qualidade de


vida no trabalho (QVT) em dez órgãos públicos federais no Brasil, Ferreira et al. (2009)
encontraram várias atividades para a promoção de QVT, que foram classificadas em três
tipos, conforme a Tabela 3.3. Nos resultados encontrados pelos pesquisadores, é possí-
vel observar várias atividades físico-corporais, torneios e competições esportivas.

Tabela 3.3 Tipos de atividades relacionadas à promoção da qualidade


de vida no trabalho nos órgãos públicos federais.
Academia
Aiquidô
Alongamento
Atividades posturais
FÍSICO-CORPORAIS

Caminhada
Capoeira
Dança de salão
Ginástica laboral
Ginástica localizada
Hidroginástica
Jump fit
Medicina preventiva e saúde bucal
Natação
Reeducação alimentar
Ioga
Apresentações artísticas dos servidores
EVENTOS COLETIVOS

Campanhas assistenciais
Coral
Feiras
Festas
Palestras
Semana de qualidade de vida
Semana do servidor
Torneios e competições
Acolhimento das pessoas afastadas (reabilitação/adaptação)
Acompanhamento psicossocial
Curso de pintura
PSICOSSOCIAL

Curso de línguas
SUPORTE

Grupos de apoio
Incentivo ao estudo
Inclusão digital
Orientações e ambientação do servidor na instituição
Preparação para a aposentadoria
Readaptação e reabilitação funcional
Adaptada de Ferreira et al., 2009, p. 323.

89
Importante

Apesar de programas voltados para a promoção da saúde no ambiente de trabalho


serem um fator relevante para a qualidade de vida do colaborador da empresa, é
importante lembrar que se outros fatores mencionados não forem adequadamente
­tratados pela empresa, um programa de saúde isoladamente não contribuirá para
suprir outros problemas que a organização possa vir a ter. É preciso considerar os
programas de promoção de saúde no trabalho como parte integrante da cultura
­organizacional, considerando a satisfação de seus colaboradores de maneira holística e
não apenas adotando medidas paliativas.

3.4 Ações pedagógicas dentro da empresa


Hoje, a educação em saúde pode ser encontrada em quase toda parte. As configurações
para educação em saúde são importantes porque fornecem canais para a implementa-
ção de programas, fornecem acesso a populações específicas, geralmente têm sistemas
de comunicação para difusão de programas e facilitam o desenvolvimento de políticas e
mudança organizacional para apoiar práticas positivas de saúde. Alguns ambientes são
particularmente relevantes para a educação em saúde contemporânea: escolas, comuni-
dades, locais de trabalho, ambientes de cuidados de saúde, lares, ambientes de consumo
e o ambiente de comunicações. Desde o seu surgimento em meados dos anos 1970, a
promoção da saúde no local de trabalho gerou novas ferramentas para educadores de
saúde. Como as pessoas passam muito tempo trabalhando, o local de trabalho é uma
fonte de estresse e ao mesmo tempo uma fonte de apoio social. Programas eficazes no
local de trabalho podem aproveitar o apoio social para evidenciar as práticas de melhoria
de saúde em geral, e particularmente a saúde do trabalhador.

Para que a educação em saúde seja eficaz, ela deve ser projetada com a compreensão
dos destinatários, ou seja, o públicos-alvo, considerando suas características sociais e de
saúde, crenças, atitudes, valores, habilidades e comportamentos passados. Esses públicos
consistem em pessoas que podem ser alcançadas como indivíduos, em grupos, por meio
de organizações, como comunidades ou organizações sociopolíticas, entidades, ou por
meio de uma combinação desses ambientes (Granz et al., 2008).

Estabelecer estratégias bem fundamentadas de mudança de comportamento é essen-


cial para a melhoria da saúde e do bem-estar, proporcionando maior produtividade e
redução do risco à saúde a longo prazo. As estratégias mais eficazes para engajar indi-
víduos são a educação em saúde e o aumento da conscientização. Isso ocorre porque
dois estados psicológicos contribuem para a prontidão de um indivíduo para mudanças:
importância percebida e confiança na capacidade de mudar (ou autoeficácia). A mudança
de comportamento pode ser medida em uma escala de mudança de consciência para um
comportamento constante (ESSA, s/d).

90
Existem vários modelos que buscam aliar a teoria, a pesquisa científica e a prática de
ações em educação para a saúde e comportamentos saudáveis (Granz et al., 2008).

Dentre vários modelos, pode-se mencionar o modelo transteórico (ou etapas de pron-
tidão), o qual propõe uma mudança global no comportamento de saúde de um indiví-
duo e que envolve a progressão em cinco estágios bem definidos: pré-contemplação,
contemplação, preparação, ação e manutenção (Figura 3.2). A premissa do modelo é
que cada estágio de prontidão requer uma estratégia de apoio e abordagem específica
para fazer com que um indivíduo avance para o próximo estágio, com o objetivo final
de progredir para a ação ou manutenção. Portanto, é importante avaliar o estágio de
­prontidão para a atividade física de cada indivíduo dentro de uma organização antes
que seja proposto o desafio de mudança de comportamento (ESSA, s/d; Granz et al.,
2008).

Figura 3.2 Representação gráfica das etapas de prontidão do modelo transteórico.


(Adaptada de ESSA, s/d, p. 11.)

Os estágios do modelo transteórico estão descritos a seguir:

1. Pré-contemplação: indivíduos no estágio de pré-contemplação não estão pen-


sando ou pretendendo mudar um comportamento problemático (ou iniciar um
comportamento saudável) em um futuro próximo – geralmente quantificado como
os próximos seis meses. Os pré-contempladores geralmente não estão convenci-
dos a respeito dos fatos sobre os riscos associados ao seu comportamento atual
(inatividade) e, em muitos casos, podem não perceber que isso é um problema.
Além disso, muitas pessoas fazem tentativas sem sucesso de mudar, desanimando
e regredindo de volta ao estágio de pré-contemplação. É importante averiguar
por que os indivíduos neste estágio são resistentes e/ou desmotivados, em vez de
ignorá-los.

2. Contemplação: um indivíduo entra no estágio de contemplação quando se torna


consciente de um desejo de mudar um comportamento específico, que é tipi-
camente definido como nos próximos seis meses. Nesse estágio, os indivíduos
avaliam os prós e contras de mudar seu comportamento, que é um processo
conhecido como equilíbrio decisório. Tipicamente, essa reflexão inclui experiên-
cias passadas (por exemplo, desconforto pode ser uma desvantagem; redução de
estresse e mais energia podem ser um argumento a favor), motivação (por exem

91
plo, perder peso), conhecimento de exercício, conveniência do programa, custo finan-
ceiro ou alocação de tempo. Os contempladores também representam uma grande
proporção de indivíduos com relação aos comportamentos de atividade física, pois
a ambivalência entre os prós e os contras da mudança mantém muitas pessoas
imobilizadas nesse estágio. Resolver essa ambivalência é uma maneira de ajudar os
indivíduos a progredir na atitude de mudar seu comportamento.
3. Preparação: no momento em que os indivíduos entram no estágio de preparação,
os fatores a favor da mudança de um comportamento prejudicial à saúde superam
os contras, e a ação é planejada em um futuro próximo, normalmente nos próximos
30 dias. Muitas pessoas nesta fase fizeram uma tentativa de mudar seu comporta-
mento no passado recente, mas não tiveram sucesso em manter essa mudança.
Os indivíduos em preparação geralmente têm um plano de ação, mas não são total-
mente comprometidos com o plano. Os programas tradicionais de mudança
de comportamento orientados para a ação são apropriados para os indivíduos
nesse estágio.
4. Ação: o estágio de ação marca o início da mudança real no comportamento
e­ specífico, que normalmente abrange os últimos seis meses. Nesse ponto, em que
muitas teorias de mudança de comportamento começam, um indivíduo está na
metade do processo de mudança de comportamento. Esse também é o ponto em
que a recaída e, subsequentemente, a regressão a um estágio anterior são mais
prováveis. Se um indivíduo não estiver suficientemente preparado para a mudança
e não estiver comprometido com o plano de ação escolhido, a recaída para o com-
portamento sedentário tem considerável probabilidade de ocorrer.
5. Manutenção: acredita-se que os indivíduos estejam no estágio de manutenção
quando alcançaram e mantiveram com sucesso a mudança de comportamento por
pelo menos 6 meses. Embora o risco de recaída ainda seja presente neste estágio,
é menor e, como tal, os indivíduos precisam se esforçar menos para se engajar em
processos de mudança.

Apesar da importância do modelo transteórico, a respeito dessa abordagem Prochaska et


al. (2008) lembram que:

1. Nenhuma teoria isoladamente pode explicar todas as complexidades da mudança


de comportamento. Por mais abrangente que seja um modelo, é mais provável que
o entendimento sobre a mudança de comportamentos resulte da integração entre
as principais teorias.
2. A mudança de comportamento é um processo que se desdobra ao longo do tempo
por meio de uma sequência de estágios.
3. Estágios são ao mesmo tempo estáveis e abertos a mudanças, assim como fatores
de risco comportamentais crônicos são concomitantemente estáveis e abertos a
mudanças.
4. A maioria das populações em risco não está preparada para a ação, e programas
tradicionais de mudança de comportamento nem sempre serão adequados.
5. Processos específicos e princípios de mudança devem ser enfatizados em estágios
específicos para maximizar a eficácia.

92
Conforme recomenda o Centers for Disease Control and Prevention, os programas de
saúde no local de trabalho podem levar a mudanças nos níveis individual (ou seja, funcio-
nário) e organizacional. Para os indivíduos, os programas de saúde no local de trabalho
têm o potencial de afetar a saúde de um funcionário, como seus comportamentos de
saúde, riscos para doenças e estado de saúde atual. Para as organizações, os programas
de saúde no local de trabalho têm o potencial de impactar áreas como custos de assis-
tência médica, absenteísmo, produtividade, recrutamento/retenção, cultura e moral dos
funcionários. Empregadores, trabalhadores, suas famílias e comunidades se beneficiam
de programas de apoio para a prevenção de doenças e promoção de saúde.

A abordagem de educação em saúde incluída em programas de promoção de atividades


físicas pode incluir:

l Organizar um workshop de atividade física para funcionários, por exemplo, ensinar


os funcionários sobre a definição de metas, planejamento e acompanhamento da
atividade física
l Fornecer e promover oportunidades de educação em atividade física
l Convidar parceiros da comunidade local (por exemplo, centro de recreação) para
fornecer educação sobre atividade física
l Promover informação sobre atividade física e/ou vida sedentária
l Enviar mensagens de atividade física por meio da intranet do local de trabalho ou por
e-mail
l Enviar mensagens de atividade física em quadros de avisos e em boletins informativos
l Promover um concurso, sorteio e/ou teste sobre atividade física
l Informar sobre oportunidades de atividades físicas disponíveis na comunidade.

Um programa de atividade física no local de trabalho deve fornecer aos funcionários


conhecimentos e habilidades para iniciar e manter a atividade física. O programa tam-
bém precisa promover uma atitude positiva em relação à atividade física. O conheci-
mento inclui o que as pessoas sabem sobre os benefícios da atividade física e como obter
esses benefícios. Um programa de informação de atividade física adequada e específica
pode ser conduzido por meio de seminários educativos e materiais.

A atitude refere-se a como as pessoas se sentem em relação à atividade física.


­Consideram a atividade física importante? Elas se sentem capazes de ser ativas (ou seja,
autoeficácia)? Elas querem ser ativas? As habilidades são as ferramentas que as pessoas
precisam para começar e manter-se fisicamente ativas. Essas habilidades podem ir além
da capacidade de realizar atividades físicas específicas para incluir estratégias de geren-
ciamento do tempo e capacidade de tornar a atividade física uma prioridade durante a
jornada de trabalho (ESSA, s/d).

Deve-se destacar que os programas de promoção para a atividade física devem ser ava-
liados periodicamente para o aprimoramento da sua qualidade, e para isso é importante
que os responsáveis pela implementação desses programas conheçam os processos de
avaliação de qualidade. No Brasil, o documento Melhoria contínua da

93
qualidade na atenção primária à saúde (Brasil, 2010) traz um conteúdo relevante para o
­acompanhamento e a avaliação de programas relacionados à saúde, com enfoque na qua-
lidade desses programas. Parte desse conteúdo pode ser adaptado para estruturação de
programas de promoção de saúde relacionados ao exercício físico e práticas esportivas.

Existem muitas definições e termos para designar o processo de implantação e implemen-


tação de programas de qualidade em organizações. Elas decorrem de processos criados
por vários de seus idealizadores ao longo da história. As necessidades e as expectativas
dos usuários são o ponto de partida para a melhoria da qualidade, não havendo sentido
em propor melhorias se não agregarem valor ao usuário do serviço. As organizações
têm que criar um movimento contínuo de melhorias no qual o objetivo não é somente
alcançar padrões de atenção à saúde, ou vê-los como um limite a ser atingido, mas sim
ultrapassar esses padrões. Assim, no caso de programas voltados para o incentivo ao
­exercício físico relacionados à qualidade de vida e saúde, é possível utilizar os atributos de
qualidade propostos pelo Ministério da Saúde (Brasil, 2010, p. 21) para avaliação,
os quais são:

l Eficácia: capacidade de produzir o efeito desejado quando o serviço é colocado em


“condições ideais de uso”, isto é, ele pode funcionar?
l Efetividade: capacidade de produzir o efeito desejado quando “em uso rotineiro” é a
relação entre o impacto real e o potencial, isto é, o programa ou serviço funciona?
l Eficiência: relação entre o impacto real e o custo das ações, ou seja, vale a pena
implementar o programa ou serviço considerando os recursos empregados?
l Equidade: distribuição dos serviços de acordo com as necessidades da população.
Tratar desigualmente os desiguais e priorizar para intervenção os grupos sociais com
maiores necessidades de saúde
l Acesso: remoção de obstáculos à utilização dos serviços disponíveis. Relação entre os
recursos de poder dos usuários e os obstáculos colocados pelos serviços de saúde
l Adequação/cobertura: suprimento de número suficiente de serviços em relação
às necessidades e à demanda. Mede a proporção da população que se beneficia do
programa
l Aceitação: fornecimento de serviços de acordo com as normas culturais e sociais e as
expectativas dos usuários e familiares
l Legitimidade: grau de aceitabilidade por parte da comunidade ou da sociedade como
um todo dos serviços ofertados
l Otimização: máximo cuidado efetivo obtido pelo programa, ou seja, uma vez
atingido determinado estágio de efetividade do cuidado, melhorias adicionais seriam
pequenas diante da elevação dos custos
l Qualidade técnico-científica: aplicação das ações de acordo com o conhecimento e a
tecnologia disponível.

Dentre as propostas do Ministério da Saúde (Brasil, 2010) para avaliação contínua da


­qualidade de programas de promoção da saúde está a técnica 5W2H, que é uma das
técnicas relevantes para a condução de ações em um processo de melhoria contínua da

94
­ ualidade. Trata-se de uma técnica em que o grupo que implementa o programa analisa
q
cada aspecto do programa por meio de questionamentos específicos de cada ponto do
5W2H com relação aos problemas elencados nas etapas anteriores do ciclo de melhoria
da qualidade. O acrônimo 5W2H está detalhado na Tabela 3.4.

Tabela 3.4 Representação das questões que formam o método de


avaliação de qualidade 5W2H.
What? O quê? Quais ações devem ser realizadas para alcançar cada meta?

Por qual razão cada ação será desenvolvida?


Why? Por quê?
Qual a contribuição de cada ação para o alcance das metas?
5W
Who? Quem? Quem será o responsável por cada atividade?

When? Quando? Qual será o cronograma de execução das atividades?

Where? Onde? Quais serão os locais de execução das ações?

Quais serão as estratégias utilizadas para a execução do plano?


How? Como?
Quais serão as metodologias utilizadas para a execução de cada
2H ação?

Quais serão os recursos financeiros, materiais, humanos e técnicos


How much? Quanto?
necessários para a execução do plano?

Adaptada de Brasil, 2010, p. 110.

Entre os principais objetivos da técnica 5W2H, podemos citar:

l Planejar e padronizar as ações a serem executadas na solução de determinados


problemas
l Definir e distribuir as tarefas por todos os integrantes do grupo de melhoria da quali-
dade
l Iniciar o processo de análise de viabilidade de uma intervenção
l Monitorar o processo de planejamento e implantação das intervenções.

95
Saiba mais

O documento Melhoria contínua da qualidade na atenção primária à saúde (Brasil,


2010) traz um conteúdo relevante para o acompanhamento e a avaliação de progra-
mas relacionados à saúde, com enfoque na qualidade desses programas. A concepção
adotada nesse documento de melhoria contínua de qualidade “pressupõe que nada é
tão bom que não possa ser melhorado e que sempre é possível aprimorar a qualidade
por meio de determinados processos de melhoria”.
São descritas ferramentas que podem ajudar a definir, mensurar, analisar e propor solu-
ções para as dificuldades no desenvolvimento do trabalho (Brasil, 2010, p. 78). São elas:

l Ferramenta 1: Brainstorming, chuva ou tempestade de ideias


l Ferramenta 2: Grupo nominal
l Ferramenta 3: Matriz de prioridades
l Ferramenta 4: Histograma
l Ferramenta 5: Diagrama de afinidade
l Ferramenta 6: Fluxograma
l Ferramenta 7: Análise SWOT (strengths, weaknesses, opportunities and threats –
forças, fraquezas, oportunidades e ameaças)
l Ferramenta 8: Diagrama de causa e efeito
l Ferramenta 9: Folha de verificação
l Ferramenta 10: Diagrama de Pareto
l Ferramenta 11: Diagrama em árvore
l Ferramenta 12: 5W2H
l Ferramenta 13: Benchmarking
l Ferramenta 14: Análise de viabilidade
l Ferraenta 15: Matriz de intervenção AMQ (Avaliação para Melhoria da Qualidade)
l Ferramenta 16: Carta de controle
l Ferramenta 17: Gráfico de tendências
l Ferramenta 18: Diagrama de dispersão
l Ferramenta 19: Mural da qualidade.

Para conhecer mais sobre cada uma delas, acesse o documento Melhoria contínua da
qualidade na atenção primária à saúde (Brasil, 2010).

96
Do ponto de vista científico, apesar da proposição teórica razoável sobre a associação
entre o nível de atividade física e o índice de qualidade de vida, a comprovação científica
desse fato encontra desafios conceituais, teóricos e metodológicos. Para a produção de
conhecimento consistente desse tema é preciso considerar que:

l Oportunidades para ser ativo existem em várias atividades da vida cotidiana como
tarefas domésticas, atividades de trabalho, atividades de transporte e atividades
realizadas em tempo livre
l É importante definir o conceito de atividade física que se utiliza antes de promo-
ver alguma pesquisa e determinar o critério para comparar os resultados entre os
estudos, pois não está suficientemente esclarecido que tipo de atividade cotidiana
influencia qual dimensão da qualidade de vida. Deve-se considerar como atividades
ocupacionais e atividades de tempo livre afetam de modo diferente a relação entre
qualidade de vida e qualidade de vida no trabalho
l Os objetivos relacionados a atividade física e qualidade de vida podem ser distintos
ao longo dos ciclos da vida de um indivíduo
l A natureza da relação entre atividade física e qualidade de vida no trabalho também
pode divergir em relação ao gênero, pois em algumas culturas os papéis sociais de
homens e mulheres são bastante distintos

Parágrafo de conclusão da unidade

l Esta unidade tratou de temas complexos, com plausível relação entre si, mas que não
ocorrem de maneira linear. A qualidade de vida no trabalho, a promoção de saúde
de funcionários e os programas de promoção de aumento dos níveis de atividade
física nos locais de trabalho podem ter relação entre si, desde que a análise desse
tema seja feita de modo abrangente. Por mais que se queira evitar doenças, é mais
atraente motivar as pessoas pelos aspectos positivos da prática de exercícios físicos e
esportivos do que por medo das doenças. O papel do profissional de Educação Física
é fazer um diagnóstico adequado do local em que se propõe a atuar, considerando
que cada contexto é único. A partir do seu repertório de conhecimentos e efetividade
do seu trabalho, o profissional terá credibilidade para desenvolver programas de
promoção de saúde para a melhoria da qualidade de vida no trabalho.

97
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99
100
Unidade 4
Princípios e Aplicações
da Atividade Física
Unidade 4
Objetivos da Unidade
• Conhecer os benefícios da atividade física, exercício físico e práticas esportivas
ao longo da vida
• Analisar criticamente programas de promoção da saúde e sua aplicação no
­âmbito da Educação Física.

Contextualizando
Pense nesta situação: você está preenchendo um relatório mensal na escola de natação
onde trabalha. Nas fichas de alunos novos, observa que todos eles alegaram procurar a
prática de exercícios físicos por recomendação: especialistas das mais diversas áreas de
saúde solicitaram aos pacientes que buscassem a prática de exercícios físicos semanal-
mente como forma de promoção de saúde ao longo da vida. É possível imaginar que essa
justificativa faça parte da escolha de praticantes de exercícios físicos em todo o mundo.

Como visto nos módulos anteriores, a saúde é um tema central na sociedade contempo-
rânea no âmbito internacional. A Organização Mundial da Saúde lançou em 2018 o Plano
de ação global para a atividade física 2018-2030. Nesse documento é reafirmada a
importância da prática regular de exercícios físicos para a prevenção de doenças crônicas
não transmissíveis, bem como a influência benéfica que as práticas de exercícios podem
exercer em relação ao controle e tratamento de tais doenças. Ressalta-se ainda nesse
documento que as mudanças nos meios de transporte, as novas tecnologias, a urbaniza-
ção e a própria cultura podem provocar um aumento de inatividade física que em países
desenvolvidos pode chegar a 70% da população (WHO, 2018).

As informações apresentadas nesse relatório remetem a duas reflexões básicas.


A primeira é a de que, se os países desenvolvidos podem ser considerados países com
melhor divulgação de informações sobre a importância da atividade física e programas

102
de promoção de saúde, quais seriam as razões que promovem o aumento da inatividade
física na população? Outra consideração importante é que o primeiro passo para analisar
criticamente programas de promoção da saúde por meio de exercícios físicos, práticas
esportivas e aumento nos níveis de atividade física, particularmente na área da Educação
Física, é ter um diagnóstico do contexto no qual se pretende intervir.

No Brasil, o estudo mais recente sobre os hábitos da população sobre a prática de


­atividade física e esportiva no Brasil foi realizado pelo Ministério do Esporte (Brasil, 2015)
e resultou em um relatório denominado Diagnóstico nacional do esporte (Diesporte).
Nesse ­do­cumento são apresentados dados sobre os hábitos dos brasileiros relaciona-
dos à prática esportiva, aos exercícios físicos e sobre o comportamento dos indivíduos
considerados sedentários, o que contribui para traçar um perfil da população a respeito
do tema.

A partir do conhecimento da situação atual no país e das propostas feitas pela


­Organização Mundial da Saúde, torna-se possível analisar os programas de promoção
da saúde relacionados à área de Educação Física a partir do conhecimento sobre os
­benefícios da atividade física, do exercício físico e das práticas esportivas ao longo
da vida.

Entendendo os conceitos

A saúde global está sendo influenciada significativamente por três tendências: o envelhe-
cimento da população, a rápida urbanização não planejada e a globalização, que resul-
tam em ambientes e comportamentos pouco saudáveis. Além disso, a inatividade física é
atualmente identificada como o quarto fator de risco para a mortalidade global. Os níveis
de inatividade física estão aumentando em muitos países, com importantes implicações
para a prevalência de doenças não transmissíveis (DNT) e a saúde geral da população
em todo o mundo. Estima-se atualmente que de cada 10 mortes, 6 sejam atribuíveis a
condições não transmissíveis (WHO, 2010).

Para a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2018), o progresso global para aumentar a
atividade física tem sido lento, em grande parte em virtude da falta de conscientização e
investimento. Em todo o mundo, 1 em 4 adultos e 3 em 4 adolescentes (com idade entre
11 e 17 anos) atualmente não atendem às r­ ecomendações globais de atividade física
estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde.

Malina e Little (2008) alertam que o descompasso entre o aspecto biológico e a cultura é
evidente em uma série de problemas de adaptação ao recente estilo de vida sedentário
adotado pelo ser humano; entre eles estão a diminuição da saúde, da capacidade car-
diovascular e do metabolismo, o aumento da prevalência de osteoporose, a diminuição
da força e endurance, o aumento do sobrepeso e da obesidade, o aumento do risco de
doenças, da morbidade e da mortalidade. Miles (2007) relaciona uma série de benefícios
da atividade física em relação aos aspectos biológicos do ser humano. O efeito total da
atividade física no gasto energético total vai além do gasto de energia da atividade física
em si. A longo prazo, a atividade física pode aumentar a taxa metabólica de repouso em

103
virtude do aumento da massa magra do corpo. Há também um aumento na taxa metabó-
lica de repouso em função do consumo adicional do oxigênio que é detectado imediata-
mente depois do exercício.

Malina e Little (2008) enfatizam que a redução dos níveis de atividade física comumente
é um dos principais fatores que contribuíram para o aumento da prevalência de doenças
degenerativas nos últimos 50 anos, bem como a epidemia de obesidade nos últimos
25 anos.

No Brasil, de acordo com o Diagnóstico do esporte (Brasil, 2015), a maior parte da


população compreende as consequências de ter um estilo de vida inativo. Detalhes desse
diagnóstico estão representados nas Figuras 4.1 e 4.2, e na Tabela 4.1.

Figura 4.1 As pessoas que não praticam atividade física têm consciência dos riscos da
vida sedentária? (Adaptada de Brasil, 2015.)

104
Figura 4.2 Principal motivo para o abandono da prática de esportes e/ou atividades
físicas por gênero. (Adaptada de Brasil, 2015.)

105
Tabela 4.1 As pessoas que não praticam atividade física e têm consciência
dos riscos da vida sedentária, por regiões do país.

Opções Regiões Total


Norte Sul (%) Sudeste Nordeste Centro-­ (%)
(%) (%) (%) Oeste (%)

Sim, mas não demonstram 36,1 22,4 41,5 34,8 30,7 35,7
esforço para a prática

Sim, mas afirmam que não têm 24,5 28,9 27,7 27,3 23,4 27,2
tempo para a prática

Sim, mas dizem que não têm 5,3 6,1 4,2 6,1 10,2 5,5
condições financeiras para a
prática

Sim, mas não gostam de prati- 11,7 22,8 8,8 11,4 12,3 12,0
car esporte e/ou atividade física

Não, não têm consciência e por 17,5 18,5 15,5 18,2 16,6 16,9
isso não praticam

Não responderam 4,9 1,4 2,4 2,2 6,8 2,7

TOTAL 100 100 100 100 100 100

Adaptada de Brasil, 2015.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2018), uma ação nacional eficaz para
reverter as tendências atuais e reduzir as disparidades na atividade física requer uma
abordagem “baseada em sistemas” com uma combinação estratégica de ações políticas
destinadas a melhorar os fatores sociais, culturais, econômicos e ambientais que apoiem
o aumento dos níveis de atividade física da população, e abordagens dedicadas ao enfo-
que individual, o que remete a ações educacionais e informativas.

As recomendações respaldadas por estudos científicos, com um escopo global, sobre


os benefícios, tipo, quantidade, frequência, intensidade, duração e quantidade total de
atividade física necessária para benefícios à saúde são informações fundamentais para os
formuladores de políticas que desejam abordar a atividade física em nível populacional
e que estão envolvidos no desenvolvimento de diretrizes e políticas nos níveis regional e
nacional sobre prevenção e controle de doenças não transmissíveis (DNT) (WHO, 2010).

O desenvolvimento e a publicação de diretrizes de atividade física nacionais ou regionais


baseadas na ciência podem:

l Informar as políticas nacionais de atividade física e outras intervenções de saúde


pública
l Estabelecer o ponto de partida para o estabelecimento de metas e objetivos para a
promoção da atividade física em nível nacional

106
l Promover a colaboração intersetorial e contribuir para o estabelecimento de metas e
objetivos nacionais relacionados à promoção da atividade física
l Proporcionar uma base para iniciativas de promoção de atividade física
l Justificar a alocação de recursos para intervenções de promoção de atividade física
l Criar um quadro de ação conjunta para todos os outros atores relevantes em torno
do mesmo objetivo
l Elaborar um documento baseado em evidências que permita que todas as partes
interessadas relevantes transformem a política em ação com a alocação dos recursos
apropriados
l Facilitar mecanismos nacionais de vigilância e monitoramento dos níveis populacio-
nais de atividade física.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2018), as diferenças nos níveis
de atividade física também são explicadas por iniquidades significativas nas oportunida-
des de atividade física por gênero e posição social, tanto na comparação entre países,
quanto na comparação de uma população de um mesmo país. Meninas, mulheres,
idosos, pessoas com situação socioeconômica menos favorecida, pessoas com defici-
ências e doenças crônicas, populações marginalizadas, povos indígenas e habitantes de
comunidades rurais geralmente têm menos acesso a espaços e locais seguros, acessíveis
e adequados para que possam ser ativos fisicamente. Abordar essas disparidades na
participação é uma prioridade política e um princípio subjacente do plano de ação global
para a promoção do aumento dos níveis de atividade física.

Considerando-se a faixa etária dos indivíduos, a Organização Mundial da Saúde (WHO,


2010) recomenda os níveis de atividade física específicos, visando à promoção da saúde
das populações descritas nos Quadros 4.1 a 4.3.

Quadro 4.1 Recomendações de níveis de atividade física para a


população segundo faixa etária.
Faixa etária: 5 a 17 anos
Para crianças e jovens desta faixa etária, a atividade física inclui brincadeiras, jogos, esportes, atividades de
locomoção, recreação, educação física ou exercícios planejados, no contexto de atividades familiares, escolares e
comunitárias. A fim de melhorar o condicionamento cardiorrespiratório e muscular, a saúde óssea, os biomarcado-
res cardiovasculares e metabólicos e reduzir os sintomas de ansiedade e depressão, recomenda-se o seguinte:

1. Crianças e jovens com idade entre 5 e 17 anos devem acumular pelo menos 60 minutos de atividade física mode-
rada a vigorosa diariamente.
2. A atividade física de quantidades superiores a 60 minutos por dia proporcionará benefícios adicionais à saúde.
3. A maior parte da atividade física diária deve ser aeróbica. Atividades de intensidade vigorosa devem ser incorpo-
radas, incluindo aquelas que fortalecem músculos e ossos, pelo menos 3 vezes por semana.

Adaptado de WHO, 2010, p. 17.

107
Quadro 4.2 Recomendações de níveis de atividade física para a
população segundo faixa etária.
Faixa etária: 18 a 64 anos
Para adultos desta faixa etária, a atividade física inclui atividade física recreativa ou de lazer, locomoção (por exemplo,
caminhada ou ciclismo), ocupacional (trabalho), tarefas domésticas, brincadeiras, jogos, esportes ou exercícios pla-
nejados, no contexto diário, familiar e comunitário. Para melhorar a aptidão cardiorrespiratória e muscular, a saúde
óssea e reduzir o risco de doenças não transmissíveis (DNT) e depressão, recomenda-se o seguinte:

1. Adultos com idade entre 18 e 64 anos devem fazer pelo menos 150 minutos de atividade física aeróbica de inten-
sidade moderada durante a semana, ou fazer pelo menos 75 minutos de atividade física aeróbica de intensidade
vigorosa durante a semana, ou uma combinação equivalente de atividade de intensidade moderada e vigorosa.
2. A atividade aeróbica deve ser realizada em períodos de pelo menos 10 minutos de duração.
3. Para benefícios adicionais à saúde, os adultos devem aumentar sua atividade física aeróbica de intensidade mode-
rada para 300 minutos por semana ou praticar 150 minutos de atividade física aeróbica de intensidade vigorosa por
semana ou uma combinação equivalente de atividade de intensidade moderada e vigorosa.
4. As atividades de fortalecimento muscular devem ser realizadas envolvendo os principais grupos musculares em
2 ou mais dias por semana.

Adaptado de WHO, 2010, p. 23.

Quadro 4.3 Recomendações de níveis de atividade física para a


população segundo faixa etária.
Faixa etária: 65 anos e acima
Para adultos dessa faixa etária, a atividade física inclui atividade física recreativa ou de lazer, transporte (por exemplo,
caminhada ou ciclismo), ocupacional (se a pessoa ainda estiver trabalhando), tarefas domésticas, brincadeiras, jogos,
esportes ou exercícios planejados. no contexto de atividades cotidianas, familiares e comunitárias.
A fim de melhorar a aptidão cardiorrespiratória e muscular, a saúde óssea e funcional e reduzir o risco de doenças
não transmissíveis (DNT), depressão e declínio cognitivo, recomenda-se o seguinte:

1. Adultos com 65 anos ou mais devem fazer pelo menos 150 minutos de atividade física aeróbica de intensidade
moderada durante a semana, ou fazer pelo menos 75 minutos de atividade física aeróbica de intensidade vigorosa
durante a semana, ou uma combinação equivalente de atividade moderada e de intensidade vigorosa.
2. A atividade aeróbica deve ser realizada em períodos de pelo menos 10 minutos de duração.
3. Para benefícios adicionais à saúde, adultos com 65 anos ou mais devem aumentar sua atividade física aeróbica de
intensidade moderada para 300 minutos por semana, ou praticar 150 minutos de atividade física aeróbica de intensi-
dade vigorosa por semana ou uma combinação equivalente de exercícios moderados e vigorosos.
4. Os adultos desta faixa etária com mobilidade reduzida devem realizar atividades físicas para melhorar o equilíbrio
e evitar quedas em 3 ou mais dias por semana.
5. As atividades de fortalecimento muscular devem ser realizadas envolvendo os principais grupos musculares, em
2 ou mais dias por semana.
6. Quando adultos desta faixa etária não puderem fazer a quantidade recomendada de atividade física em decorrên-
cia de condições de saúde, eles devem ser tão ativos fisicamente quanto suas habilidades e condições permitirem.

Adaptado de WHO, 2010, p. 29.

Deve-se recomendar que os indivíduos iniciem a prática de atividade física ou esportiva


com uma intensidade moderada e que a progressão das atividades realizadas seja feita
de maneira gradual. Esse princípio é válido para todas as faixas etárias que podem se
beneficiar das atividades quando realizadas adequada e preferencialmente orientadas
por um profissional de Educação Física qualificado.

108
De olho

Para seguir adequadamente as recomendações, vale a pena recordar a terminologia


relacionada à atividade física:

– Atividade aeróbica: neste tipo de atividade física (também chamada de atividade de


resistência ou atividade cardiovascular), os grandes músculos do corpo se movem de
maneira rítmica por um período prolongado de tempo. Andar rápido, correr, andar de
bicicleta, pular corda e nadar são exemplos. A atividade aeróbica faz com que o coração
de uma pessoa bata mais rápido que o normal. A atividade física aeróbica tem três
componentes:

l Intensidade ou o quanto uma pessoa trabalha para fazer a atividade. As intensida-


des mais frequentemente examinadas são intensidade moderada (equivalente em
esforço para caminhada rápida) e intensidade vigorosa (equivalente em esforço
para correr)

l Frequência ou com que regularidade uma pessoa faz atividade aeróbica

l Duração ou por quanto tempo uma pessoa faz uma atividade em qualquer sessão.

– Atividade de fortalecimento muscular: este tipo de atividade, que inclui treinamento


de resistência e levantamento de pesos, faz com que os músculos do corpo trabalhem
ou se mantenham contra uma força ou peso aplicado. Essas atividades geralmente
envolvem objetos relativamente pesados, como pesos, que são levantados várias
vezes para treinar vários grupos musculares. Os efeitos da atividade de fortalecimento
muscular são limitados aos músculos que realizam o trabalho. É importante trabalhar
todos os principais grupos musculares do corpo: pernas, quadris, costas, abdome,
peito, ombros e braços. A atividade de fortalecimento muscular também pode ser feita
usando bandas elásticas ou peso corporal para resistência. A atividade de fortaleci-
mento muscular também possui três componentes:

l Intensidade ou quanto peso ou força é usado em relação a quanto uma pessoa é


capaz de levantar

l Frequência ou quantas vezes uma pessoa faz atividade de fortalecimento muscular

l Repetições ou quantas vezes uma pessoa levanta um peso (análogo à duração da


atividade aeróbica).

109
– Atividade de fortalecimento ósseo: este tipo de atividade produz uma força nos
ossos que promove o crescimento e a força óssea. Essa força é comumente ­produzida
por impacto com o solo. Exemplos de atividade de fortalecimento dos ossos incluem
saltos, corrida, caminhada rápida e exercícios de levantamento de peso. Como esses
exemplos ilustram, as atividades de fortalecimento dos ossos também podem ser asso-
ciadas ao treinamento aeróbico e muscular.

Os efeitos benéficos do aumento da atividade física estão associados a sobrecarga,


progressão e especificidade. Sobrecarga é o estresse físico colocado no corpo
quando a atividade física é maior em quantidade ou intensidade do que o habi-
tual. As estruturas e funções do corpo respondem e se adaptam a essas tensões.
Por exemplo, a atividade física aeróbica enfatiza o sistema cardiorrespiratório e os
músculos, exigindo que os pulmões movimentem mais ar e que o coração bombeie
mais sangue e o e­ ntregue aos músculos em atividade. Esse aumento na demanda
aumenta a eficiência e a capacidade dos pulmões, coração, sistema circulatório e
exercita os músculos. Da mesma maneira, as atividades de fortalecimento muscular e
fortalecimento dos ossos sobrecarregam músculos e ossos, tornando-os mais fortes.
A progressão está intimamente ligada à sobrecarga. Quando uma pessoa atinge um
certo nível de aptidão física, ela progride para níveis mais altos de atividade física
por sobrecarga e adaptação contínuas. Pequenas mudanças progressivas na sobre-
carga ajudam o corpo a se adaptar às tensões adicionais, minimizando o risco de
lesões. A especificidade significa que os benefícios da atividade física são especí-
ficos dos sistemas do corpo que estão realizando o trabalho. Por exemplo, a ativi-
dade física aeróbica beneficia em grande parte o sistema cardiovascular do corpo
(USDHHS, 2008).

Nesse sentido, deve-se destacar a responsabilidade do profissional de Educação


Física, considerando-se as atribuições dos profissionais da área, conforme destaca o
Quadro 4.4.

110
Quadro 4.4 Responsabilidade social no exercício profissional em
Educação Física.
Documento de intervenção do profissional de educação física
A intervenção profissional é a aplicação dos conhecimentos científicos, pedagógicos e
técnicos sobre a atividade física, com responsabilidade ética.

A intervenção dos profissionais de Educação Física é dirigida a indivíduos e/ou grupos-


alvo de diferentes faixas etárias, portadores de diferentes condições corporais e/ou
com necessidades de atendimentos especiais e desenvolve-se de forma individualizada
e/ou em equipe multiprofissional, podendo, para isso, considerar e/ou solicitar avalia-
ção de outros profissionais, prestar assessoria e consultoria.

O profissional de Educação Física utiliza diagnóstico, define procedimentos, ministra,


orienta, desenvolve, identifica, planeja, coordena, supervisiona, leciona, assessora,
organiza, dirige e avalia as atividades físicas, desportivas e similares, sendo especialista
no conhecimento da atividade física/motricidade humana nas suas diversas mani-
festações e objetivos, de modo a atender às diferentes expressões do movimento
humano presentes na sociedade, considerando o contexto social e histórico-cultural,
as características regionais e os distintos interesses e necessidades, com competências
e capacidades de identificar, planejar, programar, coordenar, supervisionar, asses-
sorar, organizar, lecionar, desenvolver, dirigir, dinamizar, executar e avaliar serviços,
­programas, planos e projetos, bem como realizar auditorias, consultorias, treinamentos
especializados, participar de equipes multidisciplinares e interdisciplinares, informes
técnicos, científicos e pedagógicos, todos nas áreas das atividades físicas, do desporto
e afins.
Adaptado de Conselho Federal de Educação Física, 2002, p. 3.

Assim, cabe ao profissional de Educação Física encontrar meios para articular o conheci-
mento teórico a sua atuação profissional, de modo a beneficiar os indivíduos e a popu-
lação dos mais diversos grupos sociais. Para realizar essa tarefa é necessário conhecer
o contexto em que se está atuando, tanto em uma perspectiva microssocial quanto
macrossocial.

As recomendações feitas pela Organização Mundial da Saúde (WHO, 2010) podem ser
comparadas com os dados populacionais no Brasil, conforme a pesquisa publicada pelo
Ministério do Esporte em 2015. As Tabelas 4.2 e 4.3 permitem uma comparação entre as
recomendações por faixa etária apresentadas anteriormente e o que se constatou como
hábitos da população brasileira. Mesmo considerando que as metodologias para aferir
os níveis de atividade física de uma população não sejam consensuais do ponto de vista
científico, ainda assim é possível fazer uma análise da situação atual a partir dos dados
que são apresentados a seguir, particularmente associada às faixas etárias, como aponta
a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2010).

111
Tabela 4.2 Idade em que os indivíduos começaram a praticar esporte por
faixa etária e gênero.
Até 5 6 a 10 11 a 14 15 a 17 18 a 25 26 a 40 41 a 60 Acima de
anos (%) anos (%) anos (%) anos (%) anos (%) anos (%) anos (%) 60 anos (%)
      
Média
6,8 37,9 31,4 11,8 7,7 3,2 1,1 0,2
nacional

Respostas
7,1 41,6 31,3 10,9 6,7 2,1 0,3 0,0
masculinas

Respostas
6,0 29,7 31,5 13,8 9,8 5,8 2,8 0,5
femininas

Adaptada de Brasil, 2015.

Tabela 4.3 Idade de início de prática esportiva por região do país.


Faixa etária Regiões Total
Norte (%) Sul (%) Sudeste (%) Nordeste (%) Centro-Oeste (%) (%)
Até 5 anos 4,3 6,1 6,2 7,4 10,7 6,8

6 a 10 anos 38,4 59,9 33,7 31,2 35,5 37,9

11 a 14 anos 37,8 21,6 32,5 32,9 33,1 31,4

15 a 17 anos 11,1 6,5 10,8 15,4 12,1 11,8

18 a 25 anos 5,6 3,7 9,4 8,9 6,9 7,7

26 a 40 anos 1,7 1,6 6,0 2,3 1,8 3,2

41 a 60 anos 0,9 0,4 1,5 1,4 – 1,1

Acima de 60 anos 0,3 0,2 – 0,4 – 0,2

TOTAL 100 100 100 100 100 100

Adaptada de Brasil, 2015.

De acordo com os dados da Tabela 4.3, à média nacional observa-se que 69,3% dos
brasileiros iniciaram a prática esportiva entre 6 e 14 anos, o que parecer ser um número
positivo, porém poderia ser melhorado, principalmente porque nessa faixa etária existe
a possibilidade de prática nas escolas que deveria ser proporcionada à totalidade da
população. Mesmo assim é preciso considerar que não se pode afirmar que tal prática
seja de 60 minutos diários de atividade física moderada ou intensa, como recomenda a
Organização Mundial da Saúde (WHO, 2010). Em relação às regiões do país, destaca-se
que em todas elas o início da prática esportiva aconteceu majoritariamente antes dos 14
anos de idade, com valores acima de 70% em todas as regiões, sendo 80,5% na região
Norte, 87,6% na região Sul, 72,4% na região Sudeste, 71,5% na região Nordeste e 79,2%
na região Centro-Oeste.

Deve-se ressalvar também que o esporte é uma prática subutilizada, mas importante
para a atividade física de pessoas de todas as idades, além de proporcionar significativos
benefícios sociais e culturais às comunidades. O esporte pode ser um catalisador e uma

112
inspiração para a participação física. O esporte e a recreação ativa também podem con-
tribuir como parte de programas humanitários voltados para as necessidades sociais e
de saúde, bem como para o desenvolvimento e a integração da comunidade. O fortaleci-
mento do acesso e promoção da participação em esportes e recreação ativa, em todas as
idades e habilidades, é um elemento importante do aumento dos níveis populacionais de
atividade física (WHO, 2018).

As Tabelas 4.4 e 4.5 revelam dados que podem ser analisados de acordo com as reco-
mendações sobre o tempo mínimo para a prática de atividades físicas e os dados da
população brasileira por idade.

Tabela 4.4 Número de indivíduos que durante seu tempo livre praticaram
alguma atividade física, por faixa etária.
Faixa etária Sim (%) Não (%) Total (%)
15 a 19 anos 53,6 46,4 100

20 a 24 anos 52,0 48,0 100

25 a 34 anos 48,4 51,6 100

35 a 44 anos 45,8 54,2 100

45 a 54 anos 41,9 58,1 100

55 a 64 anos 40,7 59,3 100

65 a 74 anos 34,9 65,1 100

TOTAL 46,2 53,8 100

Adaptada de Brasil, 2015.

Tabela 4.5 Classificação da prática de atividade física e esportiva,


por faixa etária.
Classificação Faixa etária do entrevistado TOTAL
15 a 19 20 a 24 25 a 34 35 a 44 45 a 54 55 a 64 65 a 74
anos (%) anos (%) anos (%) anos (%) anos (%) anos (%) anos (%)
Esportistas 44,9 38,6 31,7 22,2 16,4 9,6 5,1 25,6

Praticantes de
22,4 23,3 27,6 31,3 30,1 33,9 30,5 28,5
atividade física

Sedentários 32,7 38,1 40,7 46,4 53,5 56,5 64,4 45,9

TOTAL 100 100 100 100 100 100 100 100

Adaptada de Brasil, 2015.

Em relação à prática de atividades físicas no momento da pesquisa, observa-se uma dimi-


nuição das atividades físicas no tempo livre conforme o avanço da idade dos entrevista-
dos. Essa informação é particularmente preocupante, pois segundo o Instituto B­ rasileiro
de Geografia e Estatística (2018), a população total estimada em 2018 é de 208,5
milhões. O aumento da população brasileira deverá ocorrer até 2047, com a projeção de
alcançar 233,2 milhões de pessoas. A partir de 2047, a população deve começar a

113
diminuir e o número de brasileiros com 65 anos ou mais chegará a 25,5% da população,
ou seja, 58,2 milhões de idosos. Atualmente o Brasil tem 9,2% de idosos, ou seja, 19,2
milhões de pessoas. O envelhecimento da população deve ser um fator importante na
análise que constata a diminuição da prática de atividades físicas ao longo da vida, como
mostra a Tabela 4.5, e iniciativas deverão ser tomadas para que esses dados se modifi-
quem e pessoas com mais idade continuem sendo ativas por meio da promoção de ativi-
dades atrativas para essa população. Observa-se ainda que em faixas etárias mais jovens
o esporte é a atividade mais procurada, mas tem a redução mais acentuada ao longo da
vida. Nesse sentido, falta investigar se ocorre desinteresse dos indivíduos pesquisados ou
falta de oportunidade para continuar as práticas esportivas.

As Tabelas 4.6 e 4.7 retratam a frequência em que as atividades físicas ocorrem por
faixa etária. Mesmo havendo algumas limitações de análise, é possível verificar por meio
desses dados se a população brasileira atende às recomendações propostas pela Organi-
zação Mundial da Saúde (WHO, 2010).

Tabela 4.6 Tempo médio na prática das atividades físicas, por faixa etária.
Tempo Faixa etária do entrevistado Total
15 a 19 20 a 24 25 a 34 35 a 44 45 a 54 55 a 64 65 a 74 (%)
anos (%) anos (%) anos (%) anos (%) anos (%) anos (%) anos (%)
Menos de 20 min 5,2 2,9 3,4 3,7 3,3 2,6 7,8 3,8

Entre 21 e 40 min 16,4 16,7 15,8 16,9 26,8 25,6 24,8 19,2

Entre 41 min e 1 h 25,1 24,0 29,9 33,1 36,6 38,8 36,9 31,3

Mais de 1 h 53,4 56,4 51,0 46,2 33,3 33,0 30,5 45,8

TOTAL 100 100 100 100 100 100 100 100

Adaptada de Brasil, 2015.

Tabela 4.7 Frequência da prática das atividades físicas (média anual) por
faixa etária.
Opções Frequência %
Menos de 1 vez por semana (1 a 11 vezes por ano) 3.156 4,7

1 a 3 vezes por semana 5.274 7,8

1 vez por semana 8.034 11,9

2 vezes por semana 15.826 23,4

3 a 4 vezes por semana 19.609 28,9

5 vezes ou mais por semana 15.875 23,4

TOTAL 67.773 100,0

Adaptada de Brasil, 2015.

Considerando os dados populacionais sobre a prática de exercícios físicos, esportivos


e os níveis de atividade física, é esperado que o profissional de Educação Física con-
siga analisar tal contexto para além do senso comum. Torna-se necessário identificar e

114
analisar padrões de mudança e estabilidade na atividade física dos indivíduos, grupos e a
sociedade de modo geral.

Os profissionais de Educação Física aplicam teorias, conceitos e métodos selecionados


de disciplinas básicas, e concomitantemente desenvolvem teorias, conceitos e métodos
para criar conhecimento exclusivo sobre o movimento humano. Cabe também ao pro-
fissional de Educação Física criticar programas de atividade física para identificar proble-
mas e recomendar a melhoria da igualdade e do bem-estar humano, e para realizar tal
tarefa é preciso que o profissional utilize o conhecimento científico de diferentes áreas,
o que significa uma compreensão holística da área de estudo e intervenção profissional
­(Hoffman, 2013).

Importante

Várias disciplinas contribuem para a atuação do profissional de Educação Física.


­Atualmente, pode-se encontrar conhecimentos em diversas áreas e talvez abordagens
específicas. No entanto, é importante entender que a atividade física é essencialmente
holística. O holismo refere-se à interdependência de mente, emoções e corpo.
Nesse sentido, as disciplinas se integram e contribuem para uma compreensão apurada
do padrão de comportamento dos indivíduos em relação às práticas de atividades
­físicas e esportivas. Para Hoffman (2013), o estudo acadêmico da atividade física
engloba conhecimentos advindos de variadas áreas, como mostra a Figura 4.3.

Figura 4.3 Esferas das áreas de estudo da atividade física.


(Adaptada de Hoffman, 2013, p. 24.)

115
A legislação brasileira corrobora a importância da utilização do conhecimento de várias
áreas, pois segundo a Resolução nº 7, de 2004 (Brasil, 2004, p. 18), que institui as Diretri-
zes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Educação Física, a formação
no Ensino Superior deve contemplar:
§ 1º A Formação Ampliada deve abranger as seguintes dimensões do
conhecimento:
a) Relação ser humano-sociedade;
b) Biológica do corpo humano;
c) Produção do conhecimento científico e tecnológico.
§ 2º A Formação Específica, que abrange os conhecimentos identificadores
da Educação Física, deve contemplar as seguintes dimensões:
a) Culturais do movimento humano;
b) Técnico-instrumental;
c) Didático-pedagógico.

Saiba mais
No site do Conselho Federal de Educação Física existe uma seção de livros destinados
aos profissionais de Educação Física e que são de acesso público, ou seja, é possível
fazer download do livro sem custo nenhum em formato pdf. Tais livros podem ser aces-
sados em <http://www.confef.org.br/confef/comunicacao/publicacoes>.

Entre os títulos disponíveis nessa seção estão:

l A ética e a bioética
l Ginástica laboral: prerrogativa do profissional de Educação Física
l Intervenção profissional e formação superior em Educação Física: articulação
necessária para a qualidade do exercício profissional
l Estudos brasileiros sobre o esporte: ênfase no esporte-educação
l Recomendações para a Educação Física escolar
l Recomendações sobre condutas e procedimentos do profissional de Educação
Física na atenção básica à saúde.

Além disso, vários Conselhos Regionais de Educação Física promovem ao longo do ano
atividades que visam fomentar a atualização do conhecimento de estudantes e profis-
sionais de Educação Física. Por exemplo, em alguns conselhos são feitos os Ciclos de
Conhecimentos com a inscrição gratuita dos interessados.

116
4.1 Exercício físico e funções cognitivas,
sociais e afetivas

Ao considerar a intervenção profissional em Educação Física, é preciso considerar a


adoção de hábitos de atividade física para a vida toda. É possível abordar o tema de dife-
rentes maneiras. A primeira é observar se as características psicológicas e sociais de um
indivíduo o tornam mais propenso a desenvolver o hábito de realizar exercícios físicos
e práticas esportivas. A segunda abordagem é identificar o efeito da prática de exercí-
cios físicos nos aspectos psicológicos e sociais. Em ambos os casos, quanto maior for o
conhecimento científico sobre o assunto, melhor será a compreensão do tema. Berger
(1996) ressalta que há uma intensa contradição na sociedade, já que o exercício físico
está associado a muitos benefícios para a saúde, mas apenas uma pequena parcela da
população se exercita o suficiente para alcançar esses benefícios. As evidências sugerem
que, para a população em geral, a atividade física planejada e estruturada é associada a
benefícios psicológicos como a melhora do humor, a redução no nível de estresse e um
autoconceito mais positivo.

Wankel (1993) indica que a ênfase no prazer da atividade física pode ter resultados
positivos significativos, facilitando o envolvimento contínuo na atividade, combatendo o
estresse e facilitando a saúde psicológica positiva. Prazer e adesão estão relacionados
ao alcance dos objetivos de exercício, à interação social, e ao desafio e à percepção
de competência do indivíduo. O prazer e os benefícios psicológicos são considerados
com relação a fatores atitudinais e de personalidade, motivação intrínseca e atenção
plena.

O envelhecimento da população impacta não só os aspectos econômicos, sociais e de


saúde do país, mas também remete à reflexão sobre como deverá ocorrer a orientação
da prática de atividades físicas e esportes de acordo com as faixas etárias. Nesse sentido,
entender os motivos pelos quais cada grupo social procura se manter fisicamente ativo
pode orientar políticas públicas e sociais para implementação de programas de tais prá-
ticas ao longo da vida. Além disso, é fundamental que o profissional de Educação Física
compreenda o contexto em que está intervindo. O cenário atual sobre a motivação dos
indivíduos por gênero e grupos etários está apresentado nas Tabelas 4.8 e 4.9 e na
Figura 4.4.

117
Tabela 4.8 Motivo para a prática de atividade física por gênero e faixa etária.
Respostas Respostas       
masculinas femininas 15 a 19 20 a 24 25 a 34 35 a 44 45 a 54 55 a 64 65 a 74
(%) (%) anos anos anos anos (%) anos anos
(%) (%) (%) (%) (%) (%)
Para melhoria no 41,5 34,1 43,7 45,4 38,0 38,8 33,5 30,5 22,0
desempenho físico

Para minha qualidade 38,1 44,6 30,3 35,9 45,1 40,8 47,9 42,8 48,3
de vida e bem-estar

Para relaxar no meu 6,7 6,0 11,2 7,0 5,9 6,4 3,3 5,0 5,1
tempo livre

Para melhoria na 2,9 3,9 6,6 3,5 3,2 2,9 2,3 2,3 3,0
harmonia corporal
(corpo/mente)

Para me relacionar 2,6 1,8 5,7 2,9 2,2 1,3 1,1 0,6 1,0
com os meus amigos
e/ou fazer amizades

Para competir com 0,8 0,5 1,1 0,6 0,4 1,1 0,6 – 0,8
outros e comigo
mesmo

Outros (indicação 7,4 9,0 1,4 4,8 5,2 8,7 11,3 18,8 19,8
médica, prêmios,
bolsas)

Adaptada de Brasil, 2015.

Tabela 4.9 Motivo para a prática de esportes por gênero e faixa etária.
Respostas Respostas       
masculinas femininas 15 a 19 20 a 24 25 a 34 35 a 44 45 a 54 55 a 64 65 a 74
(%) (%) anos anos anos anos anos anos anos
(%) (%) (%) (%) (%) (%) (%)
Para minha 45,3 50,5 40,0 45,5 49,1 47,9 50,2 53,4 65,1
qualidade de vida e
bem-estar

Para melhoria no 38,9 35,6 38,6 33,7 40,3 37,3 37,9 41,8 23,0
desempenho físico

Para relaxar no meu 17,5 10,6 17,9 18,3 14,1 14,3 13,3 12,1 9,1
tempo livre

Para me relacionar 12,4 10,4 15,1 13,3 12,2 8,3 10,1 7,2 1,9
com os meus amigos
e/ou fazer amizades

Para melhoria na 5,9 8,7 7,8 8,3 5,3 7,2 7,9 2,5 3,6
harmonia corporal
(corpo/mente)

Para competir com 4,8 4,4 6,9 3,8 3,2 6,2 3,6 5,3 0,0
outros e comigo
mesmo

Outros (indicação 4,6 8,5 3,8 2,9 3,6 7,5 8,8 18,7 40,3
médica, prêmios,
bolsas)

Adaptada de Brasil, 2015.

118
Figura 4.4 Sedentarismo por faixa etária. (Adaptada de Brasil, 2015, p. 10.)

Segundo Gallahue e Ozmun (2003), as atividades relacionadas ao movimento humano


interagem de diferentes modos com os aspectos psicológicos dos adultos, o que inclui
aspectos de bem-estar, autoimagem e estados de depressão. A atividade física sempre
envolve a mente e o corpo (Hoffman, 2013). Do ponto de vista social, é importante
considerar que conforme os indivíduos envelhecem, pode ocorrer um isolamento, e é
necessário que as pessoas tenham oportunidades de interagir com outras, o que pode
acontecer por meio da oportunidade de realizar sessões de exercícios físicos e práticas
esportivas em grupos.

As pesquisas sobre os benefícios da atividade física em relação aos aspectos psico-


lógicos e sociais ainda carecem de uma produção científica mais robusta, em que os
estudos complementem seus resultados. A dificuldade de obter um resultado definitivo
é que tais aspectos podem ser influenciados por muitas variáveis, inclusive alheias aos
propósitos dos estudos. Segundo uma revisão sistemática de literatura realizada por
Rebar et al. (2015), existem efeitos da atividade física na diminuição dos sintomas de
depressão e ansiedade em uma população não clínica. No entanto, algumas revisões
de literatura sistemática apontam para a necessidade de novos estudos para dimensio-
nar o real impacto dos exercícios físicos e esportivos na vida dos indivíduos. Segundo
o U.S. Department of Health and Human Services (2008), os adultos fisicamente ativos
têm menor risco de depressão e declínio cognitivo (diminui com o envelhecimento nas
habilidades de raciocínio, aprendizagem e julgamento). A atividade física também pode
melhorar a qualidade do sono. Se a atividade física reduz o estresse ou a ansiedade,
atualmente não está claro. Os benefícios para a saúde mental foram encontrados em
pessoas que fazem exercícios aeróbicos ou uma combinação de atividades aeróbicas
e de fortalecimento muscular 3 a 5 dias por semana, durante 30 a 60 minutos de cada
vez. Algumas pesquisas mostraram que mesmo os níveis mais baixos de atividade física
também podem trazer alguns benefícios. A atividade física regular parece reduzir os
­sintomas de ansiedade e depressão em crianças e adolescentes; contudo, ainda não
está claro se a atividade física melhora a autoestima.

Kretchmar (2005) faz considerações importantes a respeito do tema, ao mencionar que o


grande desafio para o profissional de Educação Física pode estar relacionado à motivação
e à mudança comportamental. Como é possível motivar os indivíduos em uma cultura

119
sedentária? Deve-se adotar o reforço positivo? Deve-se relembrar sempre que um estilo
de vida sedentário representa uma ameaça à saúde? Deve-se investir em programas de
educação? Para analisar tais aspectos, Kretchmar (2005) menciona a abordagem holística.

Duas perspectivas holísticas parecem ser relevantes para compreender a motivação e


a mudança de comportamento sobre a prática de exercícios físicos a longo prazo. A pri-
meira perspectiva defende que é importante que a atividade física tenha um significado
pessoal para o praticante. A segunda perspectiva tem o foco na mudança e no desenvol-
vimento de novos hábitos.

A perspectiva holística motivacional referente à motivação alega que não é provável que as
pessoas sejam ativas se a atividade não for pessoalmente significativa. Consequentemente,
o desafio está em fazer com que o indivíduo reconheça um significado para a prática.
Provavelmente a melhor forma de alcançar esse objetivo é começar cedo, mesmo antes
de o indivíduo iniciar a educação formal. Os significados com maior potencial para mudar
comportamentos aparecem quando os indivíduos se tornam membros de uma subcultura
de atividade específica. Os profissionais de Educação Física não devem atuar apenas como
técnicos especializados, e sim como promotores de subculturas de movimento.

A perspectiva holística de mudança de comportamento enfoca os resultados. Bons


hábitos fornecem uma base para nossas atividades mais consolidados. Se os indivíduos
se sentem familiarizados com a prática, a tendência é que haja a repetição do que foi
aprendido. Essa premissa defende que, desde a bioquímica ou os caminhos neurais até
os sentimentos positivos relacionados à familiaridade preparam os seres humanos para
desenvolver hábitos.

Lubans et al. (2016) desenvolveram um modelo conceitual que busca retratar os efeitos da
atividade física na saúde mental de crianças e adolescentes, apresentado na Figura 4.5.

Efeitos
Exposição Mecanismos propostos Resultados de saúde mental
moderadores

Hipótese neurobiológica
Funções cognitivas
Exemplos incluem:
Processos mentais que
Frequência, intensidade, tempo, tipo, contexto

• Neurotrofina e atuação de proteínas


• Volume da massa cinzenta e ativação contribuem para a percepção,
Atividade memória, intelectualidade e ação
física • Liberação de opioides endógenos

Autoestima global
Hipótese psicossocial
Bem-estar

Bem-estar subjetivo
Exemplos incluem: e psicológico
Características • Autopercepção física
individuais • Conectividade social Qualidade de vida
Exemplos: • Humor e emoções
• Gênero Resiliência
• Idade
• Composição
corporal Hipótese comportamental Distúrbios
Mal-estar

• Nível de aptidão Exemplos incluem: internalizantes


física • Qualidade e volume do sono
• Histórico de Distúrbios
• Conectividade social
atividade física externalizantes
• Habilidades de autorregulação e lidar com situações

Figura 4.5 Modelo conceitual para os efeitos da atividade física na saúde mental em crianças e
adolescentes. (Adaptada de Lubans et al., 2019, p. 2.)

120
Para refletir

Como profissional de Educação Física que pretende incentivar as pessoas a manter um


estilo de vida fisicamente ativo. Você acha que a maneira mais eficaz é:

1. Ensinar de maneira reiterada e enfática os riscos de uma vida sedentária


2. Ensinar de maneira reiterada e enfática os benefícios de uma vida fisicamente
ativa
3. Explicar o funcionamento do corpo humano e como o movimento acontece em
atividades como exercícios físicos, jogos e esportes
4. Promover ambientes e experiências de práticas corporais em que os indivíduos se
sintam habilidosos
5. Promover ambientes e experiências de práticas corporais em que os indivíduos se
divirtam e sintam prazer.

Quais desses itens você considera mais relevantes para o êxito do seu trabalho?
Como você atribuiria valor para tais itens? Pessoalmente, que abordagem funciona
melhor para você?

Assim, para obter êxito na promoção de regularidade em que indivíduos e grupos ade-
rem a práticas de exercícios físicos e práticas esportivas é necessário um contínuo pro-
cesso de avaliação de todas as variáveis que podem interferir na adoção ou não de um
estilo de vida ativo, considerando um espectro de conhecimentos que inclui os aspectos
biológicos, psicológicos, sociais e todas as suas interfaces e nuances.

4.2 Exercício físico | Princípios, formas de


execução e prevenção de condições de risco
Diante da complexidade do tema abordado durante toda esta disciplina, pode-se consta-
tar que não existem “fórmulas prontas” para promover o aumento dos níveis de ativi-
dade física, práticas de exercícios físicos e práticas esportivas. O que pode ser feito pelo
profissional é diagnosticar quais são as necessidades do indivíduo ou grupo, e os fatores
intervenientes que podem ser considerados facilitadores ou barreiras para a adoção de
um estilo de vida saudável.

121
De acordo com o Ministério da Educação, o graduado em Educação Física deverá estar
qualificado para
“diagnosticar os interesses, as expectativas e as necessidades das pessoas
(crianças, jovens, adultos, idosos, pessoas portadoras de deficiência, de gru-
pos e comunidades especiais) de modo a planejar, prescrever, ensinar, orien-
tar, assessorar, supervisionar, controlar e avaliar projetos e programas de
atividades físicas, recreativas e esportivas nas perspectivas da prevenção, pro-
moção, proteção e reabilitação da saúde, da formação cultural, da educação
e reeducação motora, do rendimento físico-esportivo, do lazer e de outros
campos que oportunizem ou venham a oportunizar a prática de atividades
físicas, recreativas e esportivas” (Brasil, 2004, p. 18).
Lamentavelmente, o Diagnóstico do esporte no Brasil (Brasil, 2015) revela que nem toda
a população teve acesso à orientação para a prática de atividade física, exercício físico e
esporte, como mostram as Tabelas 4.10 a 4.13 e a Figura 4.6.

Tabela 4.10 Orientação de atividade física e esportiva por faixa etária.


      
15 a 19 20 a 24 25 a 34 35 a 44 45 a 54 55 a 64 65 a 74
anos (%) anos (%) anos (%) anos (%) anos (%) anos (%) anos (%)

ü 16,3 11,6 7,4 6,6 6,0 7,3 6,9


Esportes
û 83,7 88,4 92,6 93,4 94,0 92,7 93,1

ü 32,8 35,1 33,3 25,4 19,9 20,8 24,2


Atividades
físicas
û 67,2 64,9 66,7 74,6 80,1 79,2 75,8

Adaptada de Brasil, 2015.

Figura 4.6 Prática de esporte com instrução. (Adaptada de Brasil, 2013, p. 38.)

122
Tabela 4.11 Orientação para praticar esporte em espaços públicos por região.
Média
Opções Regiões nacional
Norte Sul Sudeste Nordeste Centro-Oeste (%)
(%) (%) (%) (%) (%)
Sim, sempre 16,2 7,8 7,2 18,7 11,7 11,5

Sim, mas ocasionalmente 14,3 9,2 10,4 14,4 10,8 11,7

Não 69,5 82,9 82,4 66,9 77,5 76,8

Adaptada de Brasil, 2013, p. 38.

Tabela 4.12 Orientação para praticar esporte com orientação profissional,


por faixa etária.
Faixa etária (anos) Sim (%) Não (%) Total (%)
15 a 19 16,3 83,7 100,0

20 a 24 11,6 88,4 100,0

25 a 34 7,4 92,6 100,0

35 a 44 6,6 93,4 100,0

45 a 54 6,0 94,0 100,0

55 a 64 7,3 92,7 100,0

65 a 74 6,9 93,1 100,0

TOTAL 9,7 90,3 100,0

Adaptada de Brasil, 2015.

Tabela 4.13 Resposta dos indíviduos quando perguntados se receberam


orientação de um instrutor na realização das atividades físicas, por faixa etária.
Tempo Faixa etária do entrevistado Total
15 a 19 20 a 24 25 a 34 35 a 44 45 a 54 55 a 64 65 a 74 (%)
anos (%) anos (%) anos (%) anos (%) anos (%) anos (%) anos (%)

Sim 32,8 35,1 33,3 25,4 19,9 20,8 24,2 28,3

Não 67,2 64,9 66,7 74,6 80,1 79,2 75,8 71,7

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Adaptada de Brasil, 2015.

123
Ao mesmo tempo que tais dados apresentam um cenário preocupante, também revelam
um vasto campo de atuação profissional que ainda não foi devidamente explorado pelos
profissionais de Educação Física. Deve-se ressaltar que a execução inadequada de práti-
cas de exercícios físicos e esportivos pode conter uma série de riscos aos praticantes. No
guia de atividade física desenvolvido pelo U.S. Department of Health and Human Services
(2008), nos Estados Unidos, há a preocupação em ressaltar a importância da prática de
atividade física segura, como mostra o Quadro 4.5.

Quadro 4.5 Diretrizes para a atividade física segura.


Para fazer atividade física com segurança e reduzir o risco de lesões e outros eventos adversos, a pessoa deve:

l Compreender os riscos e assegurar-se de que a atividade física seja segura para todos

l Escolher tipos de exercício físico que sejam apropriados para seu atual nível de aptidão física e metas de saúde,
pensando em atividades que sejam mais seguras
l Aumentar o nível de atividade física gradualmente ao longo do tempo sempre que necessário para atingir orien-
tações ou metas de saúde
l Pessoas inativas devem começar devagar, aumentando gradualmente a frequência e o tempo das atividades re-
alizadas
l Proteger-se usando equipamento apropriado ao exercício físico ou atividade esportiva, procurando ambientes
seguros, seguindo as regras e políticas adequadas, e fazendo escolhas sobre quando, onde e como estar ativo
l Estar sob os cuidados de um profissional de saúde no caso de doenças ou sintomas crônicos. Pessoas com doenças
e sintomas crônicos devem consultar o profissional sobre os tipos e frequência de atividades apropriadas para elas.

Adaptado deUSDHHS, 2008, p. viii.

Como declara a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2018), para aumentar os níveis
de atividade física da população, é necessária uma ação integrada e sistêmica que tenha
como concepção a interligação e a interação dinâmica de variadas influências em diversos
níveis para a promoção do aumento do nível de atividade física. Portanto, deve-se reiterar
a importância da compreensão do ambiente em que as pessoas vivem, trabalham e têm
atividades de lazer e posteriormente agir coerentemente com tais cenários. A descrição
mais detalhada dessa concepção está representada na Figura 4.7 e na Tabela 4.14.

124
Figura 4.7 Iniciativas para reduzir a inatividade física. (Adaptada de WHO, 2018, p. 3.)

Tabela 4.14 Soluções governamentais integradas para combater a


inatividade física.
1.1 Implementar campanhas de marketing social

1.2 Promover benefícios partilhados


CRIAR SOCIEDADES ATIVAS
1.3 Realizar eventos de participação em massa

1.4 Fomentar a capacitação dos profissionais

2.1 Integrar políticas de transporte urbano

2.2 Melhorar os percursos para pedestres e ciclovias

CRIAR AMBIENTES ATIVOS 2.3 Reforçar a segurança rodoviária

2.4 Melhorar o acesso aos espaços públicos ao ar livre

2.5 Implementar políticas de construção de infraestrutura proativas

3.1 Reforçar a educação física e a promoção da atividade física na escola

3.2 Incorporar a atividade física nos serviços de saúde e serviços sociais

3.3 Oferecer programas em múltiplos contextos


CRIAR PESSOAS ATIVAS
3.4 Melhorar a oferta para a população sênior

3.5 Dar prioridade a programas para os menos ativos

3.6 Implementar iniciativas em nível comunitário

4.1 Reforçar as políticas, a liderança e a governança

4.2 Melhorar e integrar sistemas de dados e vigilância

CRIAR SISTEMAS ATIVOS 4.3 Reforçar a investigação e o desenvolvimento

4.4 Expandir a advocacia

4.5 Desenvolver mecanismos financeiros inovadores


Adaptada de WHO, 2018, p. 6-7.

125
Na prática
A Organização Mundial da Saúde (OMS) (WHO, 2018) faz a descrição do que os sta-
ckholders, tais como organizações não governamentais (ONG), organizações da socie-
dade civil, comunidade acadêmica e de pesquisa, doadores, organizações de desenvol-
vimento internacional e regional, cidades e municípios e entidades do setor privado,
podem fazer a respeito de implementar a proposta da OMS. São elas:

l Todas as partes interessadas devem liderar e/ou contribuir para a ampliação de


campanhas promocionais nacionais, regionais e globais regulares destinadas a
promover a atividade física e reduzir o comportamento sedentário, incluindo, mas
não se limitando a, caminhadas, ciclismo, recreação ativa, esportes, jogos e espor-
tes tradicionais
l ONG internacionais e nacionais devem identificar oportunidades para incluir ou ali-
nhar a promoção da atividade física com as suas campanhas e outras campanhas
de defesa de direitos dos cidadãos. Os exemplos incluem o Dia Mundial do Cora-
ção, o Dia Mundial do Diabetes e o Dia do Ciclismo na Cidade
l Todas as partes interessadas devem liderar e apoiar a implementação nacional e
regional de campanhas de comunicação para promover a conscientização sobre a
contribuição da atividade física, particularmente a caminhada, ciclismo e uso do
transporte público, e o setor esportivo pode contribuir para as agendas de susten-
tabilidade social, econômica e ambiental
l Os pesquisadores devem desenvolver e avaliar diferentes métodos de comunica-
ção e mensagens sobre os benefícios adicionais da atividade física (por exemplo, ar
mais limpo, estradas mais seguras, economias locais mais fortes, melhores resulta-
dos educacionais) que sejam mais eficazes para engajar formuladores de políticas,
a sociedade civil e comunidades de base em diferentes regiões e contextos
l O setor privado deve fazer parcerias e apoiar iniciativas lideradas pela comunidade
para promover a atividade física em parques e outros espaços públicos abertos,
desde que a promoção de qualquer marca ou produto seja consistente com as
recomendações da OMS sobre as restrições de comercialização de alimentos não
saudáveis e bebidas alcoólicas
l Agências de pesquisa e desenvolvimento e a área acadêmica devem fazer parce-
rias para realizar avaliações de eventos de participação em massa para identificar o
impacto dos eventos, incluindo o impacto econômico
l Todas as partes interessadas devem fortalecer o conhecimento, a capacidade e
as habilidades na promoção de atividades físicas e redução do comportamento
sedentário para seus membros e constituintes por meio da implementação de
programas e oportunidades de treinamento, tais como conferências, webinars,
seminários, workshops, aprendizado on-line, boletins informativos, websites, fichas
informativas, podcasts etc.

126
l Todas as partes interessadas, particularmente aquelas na educação, formação e
desenvolvimento curricular, devem identificar e apoiar mecanismos para facilitar
a partilha e adaptação dos recursos existentes de ensino e aprendizagem para
públicos profissionais específicos, em particular, mas não limitados a médicos e
profissionais de saúde, prestadores de cuidados infantis, professores e setores
desportivos, em particular para os contextos com menos recursos
l Instituições de Ensino Superior devem fortalecer a implementação de iniciativas
como as Universidades Promotoras de Saúde da OMS ou similares, para demons-
trar abordagens de todo o campus para a promoção de atividade física e redução
do comportamento sedentário a todos os alunos, funcionários e visitantes
l Os empregadores dos setores público e privado devem implementar programas no
local de trabalho que promovam a atividade física e a redução do comportamento
sedentário e aumentem a atividade incidental durante a jornada de trabalho,
adaptada à cultura e ao contexto.

Parágrafo de conclusão da unidade

Nesta unidade você pôde conhecer o diagnóstico nacional sobre o nível de atividade
física e os hábitos de prática esportiva da população brasileira, além das principais dire-
trizes internacionais sobre a promoção de atividade física como um hábito benéfico ao
longo da vida. Nesse sentido, ao profissional de Educação Física cabe refletir criticamente
sobre a complexa combinação de variáveis que podem influenciar indivíduos, grupos,
comunidades e sociedade em seu cotidiano. A partir da combinação de diversas áreas do
conhecimento e disciplinas acadêmicas, considerando os aspectos biológicos, comporta-
mentais e sociais, o profissional deve detectar as oportunidades de atuação e identificar
as possíveis restrições ao êxito da sua atuação. Desse modo, deve planejar, executar,
monitorar e avaliar periodicamente sua atuação e o funcionamento de programas em
que está envolvido para alcançar os resultados planejados.

127
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129
Síntese da disciplina

Nesta disciplina foram apresentados e discutidos os temas saúde, qualidade de vida,


trabalho, educação física, atividade física, exercícios físicos, práticas esportivas e educa-
ção. Tais temas foram tratados de acordo com conhecimentos científicos, diretrizes de
agências nacionais e internacionais e documentos que orientam a prática do profissional
em Educação Física. Contudo, é importante lembrar que nenhum conhecimento em si
é uma verdade absoluta, pois a produção acadêmica evolui constantemente e qualquer
tema é passível de diversas abordagens. Nesse sentido, é fundamental que o profissional
se atualize sempre, ao longo da vida.

Cabe destacar ainda que a reflexão sobre os temas tratados nesta disciplina deve ser
feita pelo próprio leitor, ou seja, é preciso ter uma postura ativa para que a compreensão
dos temas elencados seja proveitosa para o cotidiano da prática profissional. Além disso,
foram indicadas várias referências e fontes de informação que podem levar o leitor a
expandir e aprofundar seus conhecimentos nos aspectos que forem mais úteis para o seu
exercício profissional.

Ao final desta jornada, a expectativa é que a apresentação deste conteúdo faça o aluno
refletir sobre as possibilidades que a Educação Física pode oferecer aos indivíduos e à
sociedade para melhorar a qualidade de vida. Concomitantemente, são reconhecidas
as variáveis que podem interferir na qualidade de vida das pessoas e que não estão sob
o controle da área. Assim, o educador físico poderá verdadeiramente contribuir com a
sociedade nos aspectos que efetivamente estão associados à sua atuação.

130

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