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PERTURBAÇÃO DE ANSIEDADE
GENERALIZADA
Aulas Teórico-Práticas nº 13 e 14 (3/04/2024)
A estruturação da ansiedade no decurso da
trajetória de desenvolvimento
O caso Rui
O Rui tem 10 anos e frequenta o 5º ano. Vive com a mãe e o irmão mais velho, Tomás,
de 16 anos, desde o divórcio dos pais, que teve lugar há três anos.
Desde uma fase precoce da sua trajetória desenvolvimental, são identificáveis inúmeros
indicadores de ansiedade, como medo do escuro, de ladrões de incêndios, ou explosões, que
se mantêm atualmente. Contudo, a partir do divórcio dos pais, a sua ansiedade intensificou-
se de forma clara. O processo de separação foi marcadamente perturbador para o Rui,
uma vez que foi pautado por um intenso litígio, a que foi, reiteradamente, exposto. Desde
então, exige que a mãe e o irmão mais velho o adormeçam e durmam consigo. Deixou,
também, de tolerar ficar sozinho em casa, ou em qualquer local que percecione como
potencialmente ameaçador. Apresenta, também, insónia inicial e uma atitude de
hipervigilância permanente, mostrando-se, constantemente, preocupado.
O caso Rui
Domínio Efeitos
Cognição • Os diversos contextos vivenciais tendem a ser
percecionados como ameçadores.
• Hipervigilância, que se reflete na procura permanente
de potenciais ameaças ao bem-estar.
• Pensamentos catastrofistas sobre situações irrelevantes
do quotidiano.
Afeto • Nível contínuo e moderadamente elevado de ansiedade.
Somático • Hipervigilância contínua
• Alterações do sono
Comportamento • À medida que a preocupação se intensifica, as
atividades sociais da criança/adolescente tornam-se
mais restritas.
Ajustamento • Potencial deterioração das relações com os pares
interpessoal • Potencial impacto negativo no desempenho escolar.
Fonte: Carr, 2014, pp. 453-456
Métodos e Técnicas de Intervenção Clínica em Crianças e Adolescentes Mestrado em Psicologia Clínica
Critérios de diagnóstico (Diagnostic and Statistical
Manual of Mental Disorders, 5ª ed.; DSM–5–TR;
American Psychiatric Association [APA], 2022)
A. Excessive anxiety and worry (apprehensive expectation), occurring more days than
not for at least 6 months, about a number of events or activities (such as work or
school performance).
C. The anxiety and worry are associated with three (or more) of the following
six symptoms (with at least some symptoms having been present for more
days than not for the past 6 months):
Note: Only one item is required in children.
F. The disturbance is not better explained by another mental disorder (e.g., anxiety or
worry about having panic attacks in panic disorder, negative evaluation in social
anxiety disorder, contamination or other obsessions in obsessive-compulsive disorder,
separation from attachment figures in separation anxiety disorder, reminders of
traumatic events in posttraumatic stress disorder, gaining weight in anorexia nervosa,
physical complaints in somatic symptom disorder, perceived appearance flaws in body
dysmorphic disorder, having a serious illness in illness anxiety disorder, or the content
of delusional beliefs in schizophrenia or delusional disorder).
• Other conditions that may be associated with stress (e.g., irritable bowel
syndrome, headaches) frequently accompany generalized anxiety disorder.
• The mean 12-month prevalence for the disorder around the world is 1.3%,
with a range of 0.2% to 4.3%.
• Women and adolescent girls are at least twice as likely as men and
adolescent boys to experience generalized anxiety disorder.
• Individuals of European descent tend to have symptoms that meet criteria for
generalized anxiety disorder more frequently than do individuals of Asian
and African descent.
• The mean age at onset for generalized anxiety disorder in North America is 35
years, later than that for the other anxiety disorders; the disorder rarely occurs
prior to adolescence.
• However, age at onset is spread over a very broad range and tends to be older in
lower-income countries worldwide.
• The symptoms of excessive worry and anxiety may occur early in life but are then
manifested as an anxious temperament.
• The earlier in life individuals have symptoms that meet criteria for generalized
anxiety disorder, the more comorbidity and impairment they tend to have.
• The primary difference across age groups is in the content of the individual’s worry;
thus, the content of an individual’s worry tends to be age appropriate.
• In children and adolescents with generalized anxiety disorder, the anxieties and
worries often concern the quality of their performance or competence at school
or in sporting events, even when their performance is not being evaluated by
others.
• They may also worry about catastrophic events, such as earthquakes or nuclear
war.
• In the elderly, the advent of chronic physical disease can be a potent issue for
excessive worry.
• In the frail elderly, worries about safety—and especially about falling—may limit
activities.
Psicoeducação
• Os pais e a criança são ajudados a identificar e compreender os efeitos
fisiológicos, emocionais, cognitivos e comportamentais da ansiedade.
Automonitorização
• A monitorização dos aspetos cognitivos, emocionais, somáticos e das
estratégias de coping mobilizadas nas situações geradoras de ansiedade
permite que os progressos da intervenção sejam acompanhados pela
criança, pelos pais e pelo/a psicólogo/a.
Automonitorização
• O comportamento de aproximação/evitamento nas situações geradoras de
ansiedade pode ser monitorizado pela criança e pelos pais.
• Exemplo
Se uma criança muito ansiosa face ao desempenho escolar estiver a tentar
desenvolver atividades agradáveis, durante o serão, em lugar de estar
permanentemente a estudar, poderá fazer um registo diário das atividades
desenvolvidas diariamente e o seu impacto nos domínios cognitivo,
emocional e somático.
Automonitorização
• Nestes registos, podem constar as estratégias de coping mobilizadas, como:
• técnicas de relaxamento,
• autorreforço,
• apoio dos pais, dos professores e/ou dos pares,
• reforços associados aos comportamentos de aproximação.
Automonitorização
‘O Termómetro do Medo’/’Medómetro’
• O Termómetro do Medo consiste numa tarefa de
automonitorização, que requer que a criança avalie a
intensidade do seu medo.
Reestruturação cognitiva
• A/O terapeuta ajuda a/o criança/adolescente a identificar e desconstruir as
crenças disfuncionais associadas à ansiedade.
Reestruturação cognitiva
• A reestruturação cognitiva ou as estratégias de coping de autoinstrução são
necessárias para:
• a reintrepretação de situações ambíguas de uma forma menos ameaçadora,
• testar a validade das interpretações alternativas e para o uso do autorreforço,
depois deste teste.
Reestruturação cognitiva
Exemplo:
Terapeuta: Hoje, percebemos qe o medo te enfia pensamentos maus e
mentirosos na cabeça. Quando sentes medo de responder às perguntas dos
professores, pensas que eles vão achar que és burro e que os teus pais vão ficar
desiludidos contigo. Ficas aflito que todos percebam como estás atrapalhado.
O medo obriga-te a fazer o que ele quer. Parece que está a provocar-te e quer
mandar em ti. Por isso, hoje vamos pensar como é que lhe podes responder,
para ele nunca conseguir convencer-te das mentiras que te faz pensar.
Criança: O medo disse-me que eu não ia conseguir responder ao teste de
Matemática, porque sou demasiado burro.
Reestruturação cognitiva
Exemplo:
Terapeuta: O que achas que podes responder-lhe?
Criança: Sou mais forte do que tu e só estás a tentar convencer-me das
mentiras que inventas. Se respirar fundo, vou fazer o teste e tirar uma boa
nota, porque me fartei de estudar. Além disso, sempre consegui tirar boas notas
nos testes, mesmo quando eram um bocado mais difíceis. Se me empenhar e
afastar estes pensamentos maus, vou conseguir!
Reestruturação cognitiva
• Exemplo de disputa racional:
Adolescente: As minhas colegas estão sempre a incomodar-me. Estou sempre a
pensar sobre o que elas pensam sobre mim.
Terapeuta: Que coisas é que te incomoda que elas digam?
Adolescente: Gozam a minha maneira de falar e de vestir.
Terapeuta: Não te sentes nada bem com essas colegas. Quando estás com elas,
que ideias vêm à tua cabeça?
Adolescente: Elas acham que sou um cromo, que não sou tão boa como elas.
Que não me sei vestir, nem maquilhar…Que sou completamente fora…
Terapeuta: Pensas que vão criticar-te e gozar contigo. Conheces bem estas
raparigas?
(Adaptado de Friedberg & McClure, 2004)
Reestruturação cognitiva
• Exemplo de disputa racional
Adolescente: São da minha turma.
Terapeuta: Costumas estar com elas durante os intervalos?
Adolescente: Não.
Terapeuta: E ir a casa delas?
Adolescente: Nunca fui.
Terapeuta: E elas, já foram a tua casa, ou já saíram juntas?
Adolescente: Também não.
Terapeuta: É curioso como atribuis a estas raparigas, que praticamente não
conheces e que não te conhecem a ti, um conjunto de pensamentos negativos sobre
ti. Ficas presa a estes pensamentos, que te atormentam. É certo que estas raparigas
fizeram comentários desagradáveis. Contudo, parece-me que podes estar a
distorcer e exagerar o teor negativo destes comentários. O que te parece?
(Adaptado de Friedberg & McClure, 2004)
Treino de relaxamento
• Com crianças mais agitadas, pode ser mais exigente a aplicação desta
técnica, podendo ser útil:
• recorrer a metáforas, como a de um atleta a fazer exercícios de
relaxamento muscular,
• simplificar o procedimento, iniciando o treino com um ou dois grupos
musculares, acrescentando outros grupos musculares, à medida que a
criança conquista maior destreza na realização dos exercícios.
Treino de relaxamento
• O treino de relaxamento implica que a criança se centre na sua respiração e
tensão muscular.
Treino de relaxamento
Terapeuta: Pareces estar pouco confortável, Joana.
Criança: Fico preocupada por não estar a conseguir controlar a respiração.
Terapeuta: Percebo o teu receio. Vamos treinar para perceberes que, à medida
que repetes os exercícios, vais controlando, cada vez melhor, a tua respiração?
Criança: Sim…Mas, se eu não conseguir controlar a respiração, podemos parar?
Terapeuta: Claro, Joana. Vais ser tu a dizer quanto tempo vamos fazer este
exercício. De quanto tempo achas que precisaremos?
Criança: Hum…Dois minutos?
Terapeuta: Ok. Vamos fazer os exercícios durante dois minutos, mas podemos
parar antes disso, se te sentires desconfortável, ou prolongar mais um bocadinho,
se estiveres bem.
Treino de relaxamento
A estátua
• A/O terapeuta diz “Já!” e a criança começa a movimentar-se (caminhar,
dançar, brincar, etc.).
• Quando a/o terapeuta diz “Estátua!”, a criança deve parar o mais rápido
que puder, ficando imóvel, no lugar em que parou.
Treino de relaxamento
A estátua
• Depois de a criança conseguir identificar os sinais corporais da tensão
muscular, esta técnica pode ser utilizada de duas formas distintas:
1) ajudar a criança a comparar as sensações da experiência de estátua com
as sensações da experiência do medo, através da identificação dos sinais
de ansiedade.
2) a/o terapeuta pode aproveitar a posição de estátua, para ajudar a
criança a desenvolver técnicas de imaginação ativa, que a ajudem a
diminuir a tensão.
Dessensibilização sistemática
• Com o suporte da/o terapeuta, a criança é, gradualmente, confrontada com
as situações ansiogénicas.
Dessensibilização sistemática
• É crucial combinar esta técnica com:
• treino de relaxamento,
• estratégias de coping,
• prevenção de resposta inadequada.
Dessensibilização sistemática
Exemplo:
• O Bruno é um jovem de 17 anos, que frequenta o 12º ano, e está extremamente
ansioso com os exames nacionais.
• Para lidar com a ansiedade, constrói com o seu terapeuta uma hierarquia de
situações, para iniciar o processo de dessensibilização.
Dessensibilização sistemática
Classificação Situação
Uma semana antes dos exames, faz vários testes para simular os exames. Os
5 pais estão sempre a falar nos exames.
Um mês antes, fala com os colegas sobre os exames. Vê a sua nota no teste
4 que as/os professoras/es fizeram para simular o exame.
Alguns meses antes dos exames, sentado na sala de aula, ouve as histórias
3 que as/os professoras/es contam sobre alunos que tiveram negativa nos
exames, por não se terem preparado devidamente.
2 Seis meses antes, começa a estudar para os exames.
Durante as férias de verão, lê um artigo sobre os exames. Fala com as/os
1 amigas/os sobre isso.
Dessensibilização sistemática
Classificação Situação
No dia do exame, está sentado na sala de aula, à espera que a/o
10 professor/a distribua os enunciados.
O Bruno caminha para a escola, preocupado com o exame. Encontra
9 algumas/ns colegas que falam sobre o exame, na entrada da escola.
8 Na véspera do exame, está deitado na cama, muito preocupado.
Três dias antes, as/os professoras/es estão agitadas/os e tensas/os,
7 enquanto fazem revisões para os exames.
Cinco ou seis dias antes, está preocupado com o exame. Não consegue
6 recordar-se da matéria que estudou. As/Os professores estão sempre a
falar nos exames e a fazer perguntas. Os pais estão preocupados.
Reforço/Economia de fichas
• A/O terapeuta recompensa a/o criança/adolescente pelas suas conquistas.