Kant volta, na Crítica da faculdade de julgar, a compreender algum
dos assuntos abordados em suas duas outras críticas agora pelos olhos do juízo. Em seu cerne, o livro é pensado em duas principais partes, uma crítica da faculdade de julgar estética e uma teleológica.
Partirei de algumas passagens do texto para diferenciar e expor
algum dos princípios de outros dois juízos que servirão como tópico base para este texto, sendo esses o juízo reflexionante e determinante.
II
Para chegar a uma conclusão referente ao juízo reflexionante e
determinante, voltemos a entender alguns pontos centrais da filosofia de Kant. Primeiramente, como mostrado na Crítica da razão pura, para haver experiência é necessário que haja uma homogeneidade em algum grau entre os objetos dados, pois o entendimento o pensa de tal forma (KrV, 2018, B 681). Essa necessidade que torna possível um conhecimento empírico a partir da natureza.
A importância da homogeneidade nos objetos dados é crucial para
a reflexão, já que esta concatena estes objetos pensando eles em uma finalidade que seja adequada a um conhecimento possível, sejam em um caso (fenômeno) ou regra (conceito) (KdU, 211, p. 28). É importante ressaltar que a comparação é característica do juízo reflexionante, é esse juízo quem universaliza em leis casos dados.
É natural, então, do juízo reflexionante pensar direcionado a um
conceito de experiencia que sirva para um caso dado. Portanto, a partir de um caso, o juízo sempre pensará uma regra que incluirá na natureza esse caso, isso só é possível por conta da própria natureza permitir uma semelhança entre casos específicos, como vista na Crítica da razão pura. Kant diz que a reflexão toma essa técnica da natureza como princípio, esse seria um uso logico da faculdade de julgar, que não seria natural da faculdade de julgar, mas um processo mecânico da própria natureza, que permite a faculdade de julgar agir (KdU, 213, p. 29-30).
III
É natural do juízo reflexionante incluir casos em regras a partir de
uma homogeneidade encontrada na própria natureza. Isso torna o trabalho do juízo reflexionante próprio da natureza, que continua se universalizando pelo juízo humano. Kant classifica esse trabalho como puramente estético (KdU, 214, p.30).
A diferença, agora com o juízo determinante, é bem mais simples.
Enquanto o juízo reflexionante pensa o caso a partir de um conceito que se adeque melhor ao caso na experiencia (portanto não havendo criação como no reflexionante), o determinante dá a regra antes do caso, portanto, nesse juízo regra é quem determina o caso. O juízo quando determinante, é, a partir da reflexão, determinante. Ou seja, é reflexionante e determinante ao mesmo tempo, pois pensa e subsumi conceitos às intuições (KdU, 2012, p.29). Enquanto o juízo reflexionante pensa a experiência de maneira mais ampla, pretendendo partir de casos e os universalizando, o juízo determinante usa de uma regra para pensar e determinar um caso.
Concluindo, é de se notar que quando pensado o caso, a reflexão
pensa um conceito que se aplique unicamente ao caso, havendo, portanto, a criação de um conceito ao objeto. Por outro lado, ao ter por princípio regras já pensadas empiricamente, o juízo determinante os aplica na experiencia (KdU §69, p.280). Kant classifica esse momento como um direcionamento da reflexão ao conceito de uma natureza.