Você está na página 1de 7

TDAH NO ADULTO – ESTUDOS RECENTES

Publicado por ABDA | abr 27, 2016 | Textos |

TDAH NO ADULTO – O QUE DIZEM OS ESTUDOS RECENTES


Apesar do TDAH ter sido descrito pela primeira vez há mais de
um século, estudos científicos ganharam força a partir dos anos
de 1960, a exemplo de todas as questões médicas relativas ao
funcionamento cerebral.
Sabe-se que no princípio, o TDAH era atribuído a uma disfunção
da infância, portanto, ao longo dos anos as pesquisas
científicas se debruçavam sobre esta população. Porém, nos
últimos anos uma grande quantidade de estudos sobre TDAH
têm sido focados na população adulta.
Este artigo resume os principais achados científicos sobre o
TDAH no adulto (preferencialmente não diagnosticado e ou não
tratado), em pesquisas e estudos recentes feitos no mundo
todo.

ESTATÍSTICAS
Sabe-se que cerca de 2/3 das crianças com TDAH, seguem com
os sintomas do transtorno na vida adulta. Nesta população, a
taxa de agregação familiar (pais e/ou filhos que também têm o
transtorno) é maior do que naqueles que entram em remissão.

Estudos apontam que 4,4% dos adultos, em todo o mundo, têm


TDAH com quadro completo de sintomas.
Na questão de gênero, ao contrário dos relatos clínicos do
TDAH em crianças, a relação de homens / mulheres com TDAH é
de 1:1.

QUADRO CLÍNICO
O tripé ‘Desatenção, impulsividade, hiperatividade’ também está
presente nos adultos, embora se apresente de maneira
diferente. Na maioria dos adultos a desatenção é predominante
em relação à hiperatividade.
A maioria dos adultos acabam por desenvolver estratégias
compensatórias para lidar com seus déficits e os prejuízos por
eles acarretados, especialmente os adultos que tem QI mais
alto, condição socioeconômica estável e/ou outros fatores de
resiliência.
Como os adultos em geral, têm mais autonomia do que as
crianças, podendo optar por atividades de sua preferência, é
comum que estes relatem dificuldade de foco em situações ou
ambientes específicos e não em tudo.
A desatenção, tanto no adulto quanto na criança, é um sintoma
e não a ‘causa’, como pode parecer. O comprometimento das

funções executivas é o centro do problema, afetando a


atenção, mas não só a atenção. Este comprometimento afeta a
capacidade de planejamento, execução de tarefas, organização,
manejo do tempo, memória de trabalho, regulação emocional,
iniciação de tarefas e persistência ao alvo. Nos adultos este
comprometimento frequentemente aparece como dificuldade
em terminar tarefas no prazo determinado, atrasos frequentes,
esquecimento de tarefas planejadas, etc.

Infelizmente, este conjunto de dificuldades, costuma ser julgado


pelos colegas de trabalho e ou familiares próximos, como
‘preguiça’, ‘desleixo’, ‘desinteresse’, etc. Esta percepção, faz
com que adultos com TDAH não diagnosticados, enxerguem tais
dificuldades como parte de sua própria personalidade, inibindo
a busca por uma avaliação diagnóstica e acarretando sérios
problemas na autoestima e autoconfiança.
A hiperatividade no adulto, é descrita como dificuldade em
permanecer parado, comumente em situações específicas. Esta
dificuldade em geral afeta o sono e atividades que exijam que
fiquem parados por longos períodos, especialmente se tais
atividades forem ‘obrigatórias’ ou algo que não os interesse em
absoluto.
Vale ressaltar, que tanto crianças como adultos com TDAH, são
capazes de ficar horas focados em uma mesma coisa, se esta
coisa for prazerosa, estimulante e/ou cheia de novidades. É
fundamental compreender que isto não se trata de uma livre e
leviana ‘escolha’. Pessoas com TDAH têm uma deficiência
químico-cerebral; quando estão diante de coisas ou atividades
prazerosas, estimulantes e cheias de novidade, esta circuitaria
cerebral é ativada. Em outras palavras, prazer e estímulo
constantes, aumentam a produção química no cérebro de quem
tem TDAH, compensando as deficiências.
Este ponto vale especial atenção, principalmente por duas
razões: Primeiro, entender até que ponto existe liberdade de
escolha diante de questões neurobiofisiológicas e, em segundo,
o quão graves podem ser os prejuízos acarretados por esta
necessidade orgânica em buscar prazer e estímulo
constantemente.
Todos os seres humanos têm seu leque de escolhas na vida
margeadas por questões sociais e biológicas. Grosseiramente
comparando, a título de ilustração, quando estamos com sono,
queremos deitar e dormir; quando sentimos fome, queremos
comer; quando estamos com a pressão arterial muito baixa,
sentimos necessidade de comer algo salgado. Estes são
exemplo simples, que ocorrem com todo ser humano, e nem
sequer questionamos. Mas, se pararmos para pensar, são
‘limitações’ orgânicas, contra as quais é muito difícil lutar, e às
vezes impossível. O cérebro do TDAH não produz certas
substâncias químicas na quantidade e velocidade necessárias
para garantir o funcionamento equilibrado de certas atividades
(funções executivas), por esta razão é ‘natural’, até óbvio, que o
próprio corpo peça por atividades que compensem esta
deficiência. Atividades que dão prazer ou estimulantes,
aumentam esta produção química, trazendo esta sensação de
equilíbrio ao cérebro.
Antes que uma pessoa desavisada julgue isto como algo ‘muito
conveniente’, vamos lembrar que a busca constante por
atividades prazerosas e/ou estimulantes, na maioria das vezes,
acarreta mais prejuízos à vida do indivíduo do que benefícios.
Sentar horas para jogar videogame pode ser uma atividade
muito estimulante, entretanto, a dificuldade de controlar seu
impulso, pode levá-lo a ser visto como preguiçoso, irresponsável
e até mesmo perder o emprego, por exemplo. Mas existem
atividades estimulantes que podem acarretar prejuízos ainda
maiores e mais graves como abuso de álcool e drogas, busca
desenfreada e impensada por sexo, compulsão alimentar, dirigir
em alta velocidade, atividades de alto risco físico (participar de
rachas de carro, sair com pessoas desconhecidas, ‘brincar’ com
armas de fogo e objetos perigosos sem o devido preparo,
praticar esportes radicais sem o devido preparo e aparato de
segurança, etc.) e ou moral (mentir, entrar em lugares proibidos,
transgressão da lei, etc.). Essas coisas aumentam o nível de
adrenalina, causando uma sensação de equilíbrio ao cérebro do
TDAH, podendo se tornar quase ‘compulsivo’. Ainda que saibam
claramente o que é ‘certo e o que é errado’, muitas vezes, a
necessidade de estimulação cerebral pode tornar quase
impossível a um TDAH deixar de buscar o estímulo.
Um dos maiores prejuízos acumulados na vida do adulto com
TDAH, está na necessidade frequente da troca de estímulos, se
traduzindo em: troca incessante de empregos, términos
abruptos de relacionamentos, dificuldade em terminar cursos
universitários e falta de controle financeiro.

COMORBIDADES
Estudos informam que cerca de 75% dos adultos com TDAH
apresentam mais de uma comorbidade, entre as mais comuns,
depressão, ansiedade, compulsão alimentar, distúrbios do sono,
drogadição e alcoolismo e dislexia.
Devido ao comprometimento em múltiplas esferas da vida,
adultos com TDAH, apresentam baixa autoestima crônica e
frequentemente quadros depressivos e ansiosos.

QUESTÕES LABORATIVAS / OCUPACIONAIS


O TDAH no adulto frequentemente apresenta um importante
comprometimento nas esferas ocupacionais e laborativas a
longo prazo.

Menor produtividade, maior número de faltas, maior número


de acidentes de trabalho e maior número de demissões. As
maiores queixas dos colegas de trabalho e patrões, se referem
a baixa produtividade e procrastinação, falar demais ou falar na
hora errada, não cumprir prazos, cometer erros por distração,
dificuldade em priorizar, dificuldades em seguir regras,
esquecer o que foi planejado ou combinado com a equipe. A
dificuldade de regulação do humor, também aparece como
queixa de humor instável.

VIOLÊNCIA E CRIME
Um dos quadros mais dramáticos de possíveis consequências
para um adulto com TDAH não diagnosticado, é o
desenvolvimento de comportamentos antissociais. Infelizmente,
existe uma ligação, ainda que remota, entre TDAH em adultos e
violência. Adultos com TDAH têm maior risco de se envolver em
atos criminosos e agressões com potencial de transgressão da
lei, denominados ‘acidentes críticos’.
Estudos revelaram que crianças com TDAH e TOD (transtorno
opositivo desafiante), têm mais chances de desenvolver
transtorno de personalidade antissocial quando adultos, no
entanto, atos antissociais em adultos com TDAH, independem
da presença de um transtorno de personalidade antissocial ou
de abuso de drogas.
Estudos também relataram taxas entre 25% a 45% de pessoas
com TDAH em populações carcerárias.
O ADULTO COM TDAH ALTAMENTE FUNCIONAL

Como foi dito no começo deste artigo, existem adultos com


TDAH, que não tiveram diagnóstico e que, no entanto, tem uma
vida bem desenvolvida; começam e terminam cursos
universitários, desenvolvem carreiras e casamentos sólidos,
tem filhos e qualidade financeira estável. Estes adultos foram
capazes de desenvolver estratégias para compensar suas
dificuldades, porém convém lembrar que esta capacidade
para driblar o seu TDAH com estratégias de compensação, é
oriunda de fatores de resiliência como alto QI, situação
socioeconômica privilegiada, possibilidade de ganhar a vida
com atividades dinâmicas e estimulantes, entre outros. Ainda
assim, é comum que tais adultos relatem ‘se sentir aquém’ do
que poderiam.

HÁ LUZ NO FIM DO TÚNEL


Infelizmente, o TDAH pode trazer consequências mais sérias e
graves do que as pessoas costumam perceber a priori.
O primeiro passo para evitar desfechos mais graves do TDAH na
vida adulta, é o diagnóstico precoce, e o consequente
tratamento. O segundo passo é garantir uma transição do
tratamento da adolescência para a fase adulta. Avaliar se o
TDAH pode ou não ter entrado em remissão e traçar estratégias
para esta nova fase da vida.
Para adultos com diagnóstico tardio, ou seja, aqueles que nunca
tiveram diagnóstico durante a infância e adolescência e que,
portanto, já acumularam muitos prejuízos, a primeira coisa a
saber é que suas dificuldades têm um nome e têm tratamento. A
terapia cognitivo-comportamental é fundamental para ajudar a
desfazer as crenças que já se instalaram em seu sistema de
crenças, quanto às suas habilidades e capacidades. Conhecer
tudo sobre o transtorno é outra ferramenta para lidar melhor
com ele. Tratar os sintomas das comorbidades, que em geral
acompanham adultos com TDAH.
O grande problema do TDAH é colocar as pessoas em um grupo
de maior suscetibilidade a uma série de consequências de leves
a graves ao longo da vida. Porém o diagnóstico, tratamento e
manejo adequados do transtorno, podem reduzir esta
suscetibilidade, ao menos, para as mesmas proporções que
qualquer indivíduo sem TDAH.

Você também pode gostar