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Professor(a)

O material desta seção pretende atender suas necessidades diárias e práticas da sala de aula.
Ao selecionar o material, considere o Projeto Pedagógico de sua escola.
Corte, recorte, monte, copie, cole... Enfim, adapte-o à sua realidade!

FIGURAS DE LINGUAGEM NA CONSTRUÇÃO DE TEXTOS

Quando construímos um texto, podemos explorar determinadas construções lingüísticas ou


criarmos certas imagens, muitas vezes afastando-nos da língua padrão da gramática normativa, com o
objetivo de reforçar algum conteúdo da nossa mensagem. A esses desvios e novos sentidos adquiridos
pelas palavras, damos o nome de figuras de linguagem. As figuras são recursos estilísticos
disponíveis na linguagem, tanto literária quanto não-literária, para aprimorar nossos enunciados,
tornando-os mais eficientes.
Observe a sugestão de um leitor do jornal O Estado de São Paulo (30 de dezembro, 1994) para
a Campanha de Combate à Miséria:

"Feliz ano-novo e pás na terra


aos homens de boa vontade."

A parte do versículo bíblico "Paz na terra aos homens de boa vontade" é bastante popular na
nossa cultura, por isso o leitor pode associar a palavra "pás" ao vocábulo "paz". O trocadilho feito com
duas palavras de sons idênticos (paz e pás) carrega de expressividade o enunciado, demonstrando que
a paz no Brasil só acontecerá depois de resolvido o problema da desigualdade na distribuição de terras
destinadas ao plantio e, conseqüentemente, de riquezas. A frase é, portanto, construída a partir de
processo metafórico, porque, no contexto, "paz" traduz-se em "pás nas terras produtivas". Há ainda
metonímia, pois a palavra "pás" representa os trabalhadores rurais, ou seja, o instrumento substitui a
pessoa que o utiliza.

É importante distinguir o emprego das figuras de linguagem em diferentes situações. Na


propaganda, o objetivo é chamar a atenção para o produto anunciado; na imprensa, tem a finalidade de
aguçar a curiosidade sobre a notícia; em textos argumentativos, são usadas para convencer o leitor da
legitimidade dos argumentos; a linguagem figurada das gírias contribui para a diferenciação de grupos
sociais; na música e na literatura, a finalidade principal é estar a serviço da expressividade do autor.

Figuras de palavras: resultam da substituição de uma palavra por outra, devido a uma relação
semântica de associação, proximidade (contigüidade), dependência, comparação ou similaridade. São
elas metáfora e metonímia.

Figuras de construção ou sintaxe: exploram a construção gramatical da frase. Destacam-se as


figuras elipse, zeugma, polissíndeto, assíndeto, pleonasmo, repetição, anáfora, anacoluto, hipérbato e
silepse.

Figuras de pensamento: exploram jogos conceituais. Destacam-se as figuras antítese, paradoxo,


eufemismo, hipérbole, ironia, gradação e prosopopéia.

Figuras de efeito sonoro: exploram a sonoridade das palavras para obter maior expressividade.
Destacam-se as figuras aliteração, onomatopéia, assonância e paronomásia.

O texto abaixo trabalha liricamente um problema social bastante discutido na nossa sociedade,
causador de conseqüências “cruéis” para o Brasil:

APETITE SEM ESPERANÇA

Mãe, eu tô morrendo de fome.


Eu dizia eu gritava eu mugia
Minha vó zangada respondia
Você não está morrendo e nem tem fome
Você tem é apetite
Você sabe que vai comer, aonde comer, o que comer;
Fome não! A fome, minha neta,
a fome, meu irmão,
a fome, minha criança,
é um apetite sem esperança.
Quando há certeza de cereais, toalhas americanas, guardanapos e alegrias
da coca-colândia,
não há fome de verdade.
Minha vó já dizia pra mim um futuro de Brasil.
Minha vó nem viu nascer edifício no lugar do pão
no lugar do trigo
nem viu criança com infância de semáforo
vendendo mariola barata, criança que mata
porque seu quintal tá sempre no vermelho
criança cujo ralado do joelho
dói menos do que o não morar, não existir, não contar
com a fome tenaz
não há tenaz na escola
há só a cola de descolar uma vida, uma efemeridade, uma saída
há só a cola de se cheirar a dor doída de um
monstro estômago a roncar
um animal doido dentro do corpo a uivar
todo dia, sem véspera sem quarta, na esquina
um animal sem boa vista e sem quinta zoológica onde morar
Com a fome das crianças brasileiras
Forra-se a mesa, arma-se o banquete
dos que sempre tiveram apenas apetite
a faminta criança foi apenas o álibi, o cardápio, o convite.
Desmamada ela cresce procurando o peito da pátria amada
Uma banana, uma manga, uma feijoada
e a mãe pátria diz nada
tem ela apenas o horror, o descalor, a calçada
um ódio a todos os tênis de todos os meninos nutridos,
um ódio a mochilas, a saudáveis barrigas
um contínuo furor de assaltar relógios
um deter o tempo que é o seu verdadeiro balão
um cai-cai balão que só cai à mão armada
A fome gera a cilada de uma pátria de não irmãos.
A gente podia ter gripe, asma, catapora, bronquite
A gente podia ter apetite mas fome não.
Minha vó bem que me disse sem errança:
Fome é uma apetite sem esperança.

(Elisa Lucinda. Em Sósias dos Sonhos. Rio de Janeiro: Impressora Velha Lapa, 1993)

EXPLORANDO O TEXTO

1. Utilizamos bastante, no cotidiano, a expressão “morrendo de fome”. O sentido dela é conotativo.


Qual figura de linguagem contribui para a significação desse enunciado? Explique. (4 linhas)

2. O poema “Apetite sem esperança”, através de um jogo estilístico, aproxima duas palavras de
significações semelhantes, mas não idênticas. Quais são elas? Qual a intenção da escritora ao
aproximar tais palavras?

3. O título do poema de Elisa Lucinda é metafórico. Justifique essa afirmativa, destacando do texto um
verso que comprove a existência da metáfora.

4. “Minha vó nem viu nascer edifício no lugar do pão


no lugar do trigo
nem viu criança com infância de semáforo
vendendo mariola barata, criança que mata
porque seu quintal tá sempre no vermelho”

Destaque as metonímias presentes no trecho acima. Relacione-as ao sentido dessa parte do poema.

5. Reescreva o trecho em que o Brasil é personificado. Como é representada a nossa “pátria amada!”?

6. Tanto o poema de Elisa Lucinda quanto a frase do leitor da Folha de São Paulo parecem sugerir a
necessidade de urgência na resolução dos problemas sociais. Como você, cidadão brasileiro, se
posicionaria face a essa questão? Redija um parágrafo que discuta a problemática da desigualdade
social no Brasil. O seu parágrafo deverá possuir, pelo menos, uma metáfora criada por você.

Professor, você poderá propor que os alunos produzam uma crônica a partir da metáfora “fome é um
apetite sem esperança” ou de outras construções metafóricas.

Pode-se fazer, também, um seminário sobre figuras de linguagem a partir de letras da Música Popular
Brasileira. Cada grupo de alunos deverá pesquisar letras e mostrar à turma as figuras de palavras
presentes nos textos, explicando a importância delas para o sentido global do texto.

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