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Intenção de pesquisa para o Programa de Pós-Graduação em Informática

da UFRJ

Método de identificação e mitigação de adversidades em times diversos


remotos em Engenharia de Software

Wesley Mota de Oliveira Gomes

CONTEXTO DA PESQUISA

O desenvolvimento de software representa uma atividade


intrinsecamente colaborativa, considerando a crescente complexidade e a
intensidade de conhecimento e esforço envolvidos. Essa dinâmica se torna
ainda mais complexa em um cenário contemporâneo, no qual o trabalho
remoto se estabeleceu como a norma, resultando na dispersão geográfica das
equipes. O desenvolvimento de software remoto, também proporciona novas
oportunidades para a modularização do trabalho de desenvolvimento, o
potencial acesso a um pool de desenvolvedores maior e mais qualificado e a
possibilidade de maior inovação, aprendizado e transferência das melhores
práticas. No entanto, também introduz vários desafios relacionados à
comunicação, coordenação e controle do processo de desenvolvimento. Esses
desafios surgem devido às distâncias envolvidas em três dimensões -
geográfica, temporal e sócio-cultural (CONCHÚIR; 2009). Nesse contexto, a
implementação bem-sucedida de projetos de software requer uma abordagem
cuidadosa e adaptável para superar os desafios específicos apresentados pelo
trabalho remoto.

Tendo em vista esse conceito de colaboração dentro do


desenvolvimento do software, temos que dois conceitos essencias: o primeiro
é a maturidade do time que pode ser analisado com base no Modelo Integrado
de Desenvolvimento de Grupos (MIDG) criado por Wheelan (2005) em que se
entende que um grupo passe por 5 estágios sucessivos de desenvolvimento, a
saber, "Segurança e Inclusão", "Contra-dependência e Conflito", "Confiança e
Estrutura", "Produtividade e Trabalho" e "Terminação". A importância deste
modelo reside no fato de que ele propõe um instrumento estatisticamente
validado que mede a maturidade de um grupo em um determinado momento,
chamado Questionário de Desenvolvimento de Grupo (QDG).

Já o segundo é a questão de pertencimento efetivo dos membros dos


times de Engenharia de software (ES) que dentro da Psicologia Social é
abordado pela Teoria da Identidade Social (IS) que é um aspecto fundamental
para a coesão e eficácia dessas equipes. A IS, definida como a teoria da
pertença ao grupo e das relações intergrupais, emerge como um conceito
central para avaliar o ambiente social nas equipes de ES (Abrams; Hogg;
1990). Tendo sido recentemente explorada nesta área, estudos como o de
Bäckevik et al. (2019) evidenciando os impactos que a identidade social dos
indivíduos pode ter na eficácia do desenvolvimento de software.

PROBLEMA

Adversidades e conflitos enfrentados por membros sub-representados


em times remotos de engenharia de software.

JUSTIFICATIVA

Dado esse cenário complexo, temos que a formação de times de ES são


pouco diversos por conta da baixa diversidade da área que podem ser vistas
em formulários recentes da área[4][5], no entanto, há um movimento de
diversas empresas para que se tenha um aumento significativo da diversidades
dos seus times, em especial em ES [1][2][3], haja visto, que a diversidade de
raça, gênero, orientação sexual e idade, além de ser ética também auxilia na
solução problema a partir de diferentes perspectivas, tomada de decisão
aprimorada e fomenta a inovação (ROCK; 2016). Quando entramos dentro da
perspectiva de ES, temos que a diversidade aumenta eficiência de todos os
times analisados, mostrando que todos os tipos de diversidade abordadas no
artigo foram positivas para os times (ALTINER e AYHAN; 2018).

Quando abordamos as adversidades enfrentadas por equipes diversas, é


essencial considerar as descobertas de WICKRAMASINGHE (2015) que em
seu estudo sobre a relação entre a diversidade na composição da equipe,
conflitos interpessoais, apoio do líder da equipe e desempenho em projetos de
desenvolvimento de software globalmente distribuídos, os resultados
indicaram que equipes virtuais com membros diversos frequentemente
experimentam níveis significativos de conflito interpessoal. Além disso,
observou-se uma falta de apoio por parte dos líderes da equipe, enquanto o
desempenho da equipe foi avaliado de maneira moderada em termos de
cronogramas, orçamento, objetivos do projeto e reputação. A diversidade na
composição da equipe mostrou-se associada ao conflito interpessoal,
exercendo um impacto negativo no desempenho da equipe, conforme
respaldado por estudos anteriores. A pesquisa enfatizou a importância do
apoio do líder da equipe na mitigação dos efeitos prejudiciais do conflito
interpessoal no desempenho da equipe, especialmente em contextos de
trabalho globalmente distribuídos e colaboração virtual.

Entretanto, é crucial considerar que atributos cognitivos, como atitudes,


valores, crenças, conhecimento, habilidades e capacidades, desempenham um
papel mais relevante na eficácia das equipes de desenvolvimento de software
do que as semelhanças demográficas entre os membros da equipe, como
idade, tempo de serviço e gênero (KANG; YANG; ROWLEY, 2006).

Vale ressaltar que a performance de uma equipe de desenvolvimento de


software pode ser impactada por uma variedade de fatores não técnicos,
incluindo o clima do time, diversidade do time, competências e características
individuais dos membros, comportamento do líder e suporte da gestão
superior. Portanto, é essencial desenvolver a equipe em vários aspectos, com
especial atenção ao clima do time. Conforme Anderson e West (1998)
destacaram, o clima do time difere do ambiente organizacional e depende de
visão compartilhada, participação assegurada, orientação para tarefas e
suporte à inovação. Garantir que todos os membros do time possuam essas
condições é fundamental para criar um ambiente propício ao desenvolvimento
eficaz de tarefas (PURNA SUDHAKAR; FAROOQ; PATNAIK, 2015).

Contudo, apesar dos desafios associados ao desempenho e à diversidade


da equipe, Kohl (2018) fornece uma perspectiva positiva. Ao analisar a
percepção sobre diversidade em times brasileiros de desenvolvimento de
software, o estudo revelou que 78,8% dos participantes concordam ou
concordam fortemente com a importância da diversidade. Adicionalmente,
77,6% classificaram como positiva ou ocasionalmente positiva a experiência
de trabalhar em um grupo diversificado de ES. No entanto, é importante
destacar que alguns respondentes que não consideram a diversidade como
importante a enxergam como uma forma de preconceito, evidenciando
diferentes perspectivas dentro do contexto organizacional.

Além de todos esses aspectos, ainda temos os desafios ligados à


inclusão de membros de times diversos de desenvolvimento de software,
sendo os três principais desafios que esses membros passam: a tributação
cultural, interseccionalidade e síndrome do impostor. A tributação cultural
refere-se ao trabalho adicional imposto a acadêmicos etnicamente diversos,
que muitas vezes não é reconhecido pela instituição. A interseccionalidade
destaca como dimensões como gênero e raça não são exclusivas, mas
interligadas, tornando essencial abordar múltiplos aspectos da diversidade. E
por último a síndrome do impostor, experienciada principalmente por
mulheres e outros grupos minoritários, destaca a importância de considerar
como essas pessoas percebem suas próprias qualificações (ALBUSAYS;
2021).

PROPOSTA DE SOLUÇÃO/OBJETIVOS

Ao considerarmos o atual cenário de diversidade e seu impacto na


performance, conflitos e, principalmente, nos indivíduos sub-representados,
vislumbramos como propósito desta pesquisa a consecução dos seguintes
objetivos:

● Objetivo 1: Diagnóstico dos Desafios em Times Remotos de ES

A primeira etapa da pesquisa consistirá em realizar uma análise


aprofundada para identificar e compreender os desafios preeminentes
enfrentados por equipes diversas que atuam de forma remota no campo
da ES. Este objetivo visa não apenas reconhecer as dificuldades, mas
também compreender suas origens, considerando fatores como
diversidade cultural, demográfica, diferenças de fusos horários,
barreiras de comunicação e outros elementos que podem afetar a
dinâmica de equipes virtuais.

● Objetivo 2: Desenvolvimento de um Método de Detecção de


Adversidades

O segundo objetivo propõe a criação de um método para detectar


e mitigar adversidades em equipes diversas de ES. Este método buscará
identificar padrões de comportamento, comunicação e colaboração que
possam indicar a presença de conflitos, falta de inclusão ou outros
desafios específicos enfrentados por membros sub-representados.

● Objetivo 3: Desenvolvimento de Estratégias de Mitigação e


Inclusão

Com base na detecção de adversidades, a pesquisa também se


propõe a desenvolver estratégias práticas de mitigação e promoção da
inclusão em times diversificados de ES. Com base nos dados coletados
e nas análises realizadas, serão delineadas abordagens específicas para
superar os desafios identificados, fomentando um ambiente de trabalho
mais equitativo, colaborativo e produtivo.

● Objetivo 4: Criar um Sistema de Análise Situacional dos Times


com Sugestões de Melhorias para os Times Diversos

Com base nas informações e análises desenvolvidas, almeja-se a


criação de um sistema capaz de compreender a situação de cada time,
identificar e mensurar o grau de coesão entre os times, e propor
soluções para resolução e mitigação desses possíveis problemas. Este
sistema proporcionará insights valiosos, contribuindo para o
aprimoramento contínuo das dinâmicas de trabalho em equipes diversas
de ES.

MÉTODO DE PESQUISA E ETAPAS DE CONDUÇÃO DA PESQUISA

Metodologia de Pesquisa:

A pesquisa adotará uma abordagem mista, combinando métodos


qualitativos e quantitativos para obter uma compreensão abrangente dos
desafios enfrentados por equipes diversas remotas de ES e para validar as
estratégias propostas. Além disso, se baseará principalmente no MIDG e na
IS, para entender de que forma o grau maturidade dos times e de
pertencimento dos membros afetam os membros sub-representados.

Com base nessa abordagem, durante a disciplina de Aspectos


Sociotécnicos em ES, ministrada pelo professor Rafael Maiani de Mello ,
estou desenvolvendo em conjunto um artigo sobre o impacto da comunicação
em reuniões de retrospectiva na experiência de mulheres em times de
desenvolvimento de software remotos que visa entender e se debruçar sobre o
tema de comunicação entre o timee focando em um grupo subrepresentado
específico, para conseguirmos tangibilizar e analisar a percepção das mulheres
frente a comunicação dentro dos times de ES.

Etapas de Condução:

A pesquisa será dividida em 9 etapas:

Na primeira etapa, será realizada uma revisão abrangente da literatura


sobre diversidade em equipes remotas de ES, conflitos, inclusão e métodos de
análise situacional. Além disso, será desenvolvido um quadro conceitual para
fundamentar a pesquisa.

A segunda etapa envolverá a condução de entrevistas e surveys com


equipes remotas de ES para coletar dados iniciais. O objetivo é obter
informações sobre desafios percebidos, padrões de comportamento,
comunicação e colaboração, identificando casos específicos de adversidades.

Seguindo isso, a terceira etapa consistirá na análise qualitativa dos


dados coletados, utilizando métodos como análise de conteúdo. A intenção é
identificar padrões, temas e causas subjacentes aos desafios enfrentados pelas
equipes diversificadas.

Com base nos resultados da análise qualitativa, a quarta etapa buscará


desenvolver um método robusto para detectar adversidades em equipes
remotas. Isso incluirá a definição de indicadores de conflitos, falta de inclusão
e outros desafios específicos.

A quinta etapa envolverá a validação do método em equipes adicionais


para testar sua eficácia. O método será refinado com base no feedback e nos
resultados obtidos durante essa fase de validação.

Usando os dados coletados e o método de detecção desenvolvido, a


sexta etapa consistirá na criação de estratégias práticas para mitigar
adversidades e promover a inclusão em equipes remotas de ES.

A sétima etapa buscará coletar dados quantitativos para validar e


complementar as descobertas qualitativas. Além disso, será desenvolvido um
sistema de análise situacional considerando métricas de desempenho, coesão e
satisfação da equipe.

A oitava etapa envolverá a validação do sistema em diferentes times, a


avaliação de sua eficácia e a coleta de feedback para refinamento. Sugestões
específicas de melhorias serão geradas para cada time com base nos resultados
obtidos.

Finalmente, na nona etapa, os resultados das análises qualitativas e


quantitativas serão integrados. Um relatório final será elaborado, apresentando
os desafios identificados, o método de detecção desenvolvido, as estratégias de
mitigação e as sugestões de melhorias para as equipes diversas de ES.

CONTRIBUIÇÕES ESPERADAS DA PESQUISA

Compreensão Profunda dos Desafios em Equipes Remotas de ES:

Identificação e análise aprofundada dos desafios enfrentados por


equipes diversificadas que atuam remotamente, considerando fatores como
diversidade cultural, demográfica, diferenças de fusos horários e barreiras de
comunicação.

Desenvolvimento de um Método Inovador de Detecção de Adversidades:

Criação de um método robusto para detectar e mitigar adversidades em


equipes diversas de ES, baseado em padrões de comportamento, comunicação
e colaboração.

Estratégias Práticas de Mitigação e Promoção da Inclusão:

Desenvolvimento de estratégias direcionadas para superar desafios


identificados, promovendo um ambiente de trabalho mais equitativo,
colaborativo e produtivo em times diversificados.

Desenvolvimento de um Sistema Dinâmico de Análise:

Criação de um sistema efetivo para identificar e mitigar os desafios e


que possa ser adaptado a diferentes contextos organizacionais, oferecendo
uma análise situacional em tempo real das equipes remotas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Building a Sense of Belonging at Google and Beyond. Disponível


em: <https://about.google/belonging/>. Acesso em: 23 nov. 2023.
2. Global diversity, inclusion, and belonging at GitHub. Disponível
em: <https://github.com/about/diversity>. Acesso em: 23 nov. 2023.
3. Diversidade e inclusão. Disponível em:
<https://www.oracle.com/br/careers/diversity-inclusion/>. Acesso em:
23 nov. 2023.
4. Github open source survey 2017 Disponível em:
<http://opensourcesurvey.org/2017/>. Acesso em: 23 de nov. de 2023.
5. Stack overflow developer survey 2022. Disponível em:
<https://survey.stackoverflow.co/2022>. Acesso em: 23 nov. 2023.
6. Abrams, D., & Hogg, M. A. (Eds.). (1990). Social identity theory:
Constructive and critical advances. Springer-Verlag Publishing.
7. BACKEVIK, A.; THOLEN, E.; GREN, L. Social Identity in Software
Development. 2019 IEEE/ACM 12th International Workshop on
Cooperative and Human Aspects of Software Engineering
(CHASE), maio 2019.
8. CONCHÚIR, E. Ó. et al. Global software development: Where are the
benefits? Communications of the ACM, v. 52, n. 8, p. 127–131, 2009.
9. ROCK, D.; GRANT, H. Why Diverse Teams Are Smarter. Harvard
business review, 4 nov. 2016.
10.ALTINER, S.; AYHAN, M. B. An approach for the determination and
correlation of diversity and efficiency of software development teams.
South African Journal of Science, v. 114, n. 3/4, 27 mar. 2018.
11.WICKRAMASINGHE, V.; NANDULA, S. Diversity in team
composition, relationship conflict and team leader support on globally
distributed virtual software development team performance. Strategic
Outsourcing: An International Journal, v. 8, n. 2/3, p. 138–155, 15
jun. 2015.
12.PURNA SUDHAKAR, G.; FAROOQ, A.; PATNAIK, S. Soft factors
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Performance Management: An International Journal, v. 17, n. 3/4,
p. 187–205, 14 jun. 2011.
13.KANG, H.-R.; YANG, H.-D.; ROWLEY, C. Factors in team
effectiveness: Cognitive and demographic similarities of software
development team members. Human relations; studies towards the
integration of the social sciences, v. 59, n. 12, p. 1681–1710, 2006.
14.ALBUSAYS, K. et al. The Diversity Crisis in Software Development.
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