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1. Introdução
Lembre-se, por exemplo, dos recursos que envolveram o art. 1.790, III, do Código Civil
(LGL\2002\400), que estabeleceu regimes sucessórios distintos para cônjuges e
companheiros. Nesse caso, a diferenciação dos regimes sucessórios, realizada pelo art.
1.790, III, foi analisada em face do art. 226, § 3º, da Constituição. Antes de o Supremo
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Tribunal Federal admitir repercussão geral no Recurso Extraordinário 878.694/MG ,
várias decisões monocráticas da Corte deixaram de admitir recurso extraordinário sob o
fundamento de que a alegação de violação do art. 226, § 3º, da Constituição, em vista
da interpretação conferida ao art. 1.790, III, do Código Civil (LGL\2002\400), era
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indireta .
As decisões das duas Cortes demonstram que nem uma nem outra têm claro quem deve
definir a interpretação da lei conforme à Constituição. Portanto, a identificação da Corte
incumbida dessa tarefa é indispensável para outorgar racionalidade à distribuição da
justiça, já que ao advogado, atualmente, falta critério para escolher o recurso destinado
a impugnar as decisões dos Tribunais e as duas Cortes Supremas estão situadas em
meio de decisões que não justificam coerentemente a não admissão dos recursos
especial e extraordinário.
Existe, nessa dimensão, uma zona de penumbra que recai sobre as funções do Superior
Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal, a exigir urgente e adequada
elaboração teórica destinada a evitar maior desgaste ao Poder Judiciário. Essa zona de
penumbra constitui o resultado da falta de percepção de que todos os juízes têm o dever
de interpretar a lei conforme à Constituição, de que a construção democrática dos
precedentes pressupõe ampla discussão e debate sobre a interpretação da lei, e de que
as funções das duas Cortes jamais poderão ser desempenhadas com racionalidade e
efetividade, em proveito do desenvolvimento do direito, da segurança jurídica e da
coerência do direito, enquanto estiverem sobrepostas.
O presente texto objetiva evidenciar que não há razão para o Supremo Tribunal Federal
decidir sobre a constitucionalidade da interpretação de uma lei enquanto não exaurido o
debate interpretativo no Superior de Tribunal de Justiça mediante a fixação de
precedente capaz de espelhar a “norma” que deve orientar a sociedade e regular os
casos futuros. Em outras palavras, pretende-se demonstrar que, ao Supremo Tribunal
Federal, não cabe interferir sobre a interpretação da lei, ainda que nos termos da
Constituição, mas apenas controlar a constitucionalidade da interpretação delineada e
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A definição da interpretação da lei pelo STJ como
requisito para a atuação do STF
da lei com a Constituição é do Supremo Tribunal Federal. Para admitir que cabe a essa
Corte definir o sentido da lei em face da Constituição, seria preciso ignorar a função
constitucionalmente atribuída ao Superior Tribunal de Justiça e que interpretar a lei
também significa dimensioná-la à luz da Constituição. Interpretar a lei nos termos da
Constituição é, antes de tudo, conferir sentido à lei, já que a Constituição, ainda que
também seja compreendida e vista com determinado significado, no processo
interpretativo, se coloca como parâmetro e não como o objeto a que a atividade de
interpretação busca atribuir sentido.
A função de interpretar a lei não pode se separar da função de interpretar a lei nos
termos da Constituição. Não há como dizer que uma Corte tem poder para atribuir
sentido a um dispositivo legal, mas não tem poder para atribuir ao mesmo dispositivo
sentido conforme à Constituição. Chega a ser absurdo imaginar que o Superior Tribunal
de Justiça, ao interpretar a lei, deve parar nos critérios tradicionais de interpretação, não
podendo invocar a Constituição como parâmetro ou critério interpretativo. Com efeito,
como nenhum juiz pode deixar de ter a Constituição como parâmetro para a
interpretação, inevitavelmente cabe ao Superior Tribunal de Justiça definir a
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interpretação da lei adequada à Constituição .
É verdade que, quando a decisão recorrida fixa o precedente – e não apenas reitera a
sua aplicação –, é possível supor que a decisão também interpreta a lei. Porém, não há
como deixar de ver que, nessa hipótese, a interpretação assume outro significado, dando
conteúdo a uma ordem jurídica de maior amplitude, preenchida pela legislação e pelos
precedentes das Cortes Supremas.
Um precedente que define a interpretação da lei ou lhe atribui sentido integra uma
ordem jurídica mais ampla exatamente porque revela o “direito judicial” ou a “norma
vivente” que deve regular a vida em sociedade e guiar a solução dos casos iguais ou
similares que estão por vir. Essa norma, por ser autônoma em relação à interpretação
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que culminou na decisão , permite que se veja de forma diferente a interpretação e a
norma, ou melhor, abre oportunidade para que a “norma-precedente” seja considerada
um algo mais em face da interpretação, ensejando recurso extraordinário com base em
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violação direta à Constituição .
A Corte Costituzionale, embora tenha admitido que o respeito ao diritto vivente lhe
permitiria estabelecer uma relação de colaboração com a Cassação, nem sempre se
portou da mesma maneira diante da situação. O respeito ao diritto vivente deveria
permitir à Corte apenas confrontar a interpretação definida pela Cassação com a
Constituição. Em síntese, a Corte Constitucional estaria vinculada à interpretação
delineada pela Corte de Cassação. No entanto, essa tese a princípio não foi encampada
pela Corte Constitucional, que não renunciou ao seu poder de autonomamente
interpretar a lei e a Constituição.
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A definição da interpretação da lei pelo STJ como
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A doutrina italiana reconhece que a Corte Constitucional apenas deu sinal de que
estaria vinculada ao diritto vivente quando, mediante a Sentenza 129, de 1975, afirmou
que a interpretação da lei “é essencialmente tarefa do juiz em todos os níveis, tendo a
Corte Constitucional, ao contrário, a função de colocar a lei, no significado que lhe é
comumente atribuído, em confronto com as disposições da Constituição, para daí ter em
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conta eventuais contrastes e retirar as suas consequências no plano constitucional” .
Nesse caso, a Corte, ao confessar que a função de interpretar a lei é do juiz e da
Cassação, advertiu que esta tarefa deve ser cumprida “ con l'ausilio dei comuni canoni
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ermeneutici, e alla luce dei principi costituzionali” .
Essa última sentenza da Corte Costituzionale frisa dois pontos que devem ser
ressaltados. Ao sublinhar que o juiz e a Cassação devem interpretar a lei “à luz dos
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princípios constitucionais” , a Corte reconhece que a função de definir a interpretação
da lei nos termos da Constituição é da Cassação, e, ao dizer que a sua própria tarefa
exige a análise da lei “ no significado que lhe é comumente atribuído ” em face da
Constituição, esclarece que a sua função é controlara constitucionalidade da
interpretação outorgada à lei pela Cassação. Ao assim decidir, a Corte Constitucional
renuncia a eventual poder de interpretar a lei para se ater ao controle da
constitucionalidade da norma extraída do texto legal pela jurisprudência constante e
uniforme da Cassação.
Aliás, nos últimos anos assistiu-se a uma relativização do vínculo da Corte Constitucional
ao diritto vivente com base na ideia de que a “interpretação conforme”, enquanto valor
substancial ancorado na supremacia hierárquica e axiológica da Constituição,
sobrepõe-se ao diritto vivente, visto como valor processual destinado à coordenação de
duas esferas de competência, ou seja, das funções da Cassação e da jurisdição
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constitucional . Assim, admitiu-se um redimensionamento do valor – no passado
cogente – do diritto vivente, considerando-se a natureza residual da declaração de
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inconstitucionalidade .
No entanto, desse mal o direito brasileiro não padece, e, assim, o problema que dificulta
o exercício do controle de constitucionalidade do diritto vivente (no caso brasileiro da
interpretação firmada em precedente do Superior Tribunal de Justiça) aqui não existe.
O art. 927, ao descrever espécies do que supõe ser precedentes obrigatórios, elenca
uma série de decisões que obviamente não têm essa natureza, chegando ao absurdo de
confundir a eficácia da decisão proferida em controle concentrado com precedente (art.
927, I, do CPC (LGL\2015\1656)) e de não considerar a possibilidade de o Superior
Tribunal de Justiça e de o Supremo Tribunal Federal firmarem precedentes em recurso
especial e recurso extraordinário que não sejam repetitivos.
Como está claro, toda a confusão deriva da falsa suposição de que o precedente serve
para facilitar a administração dos casos judiciais, como se fosse um antídoto contra a
necessidade de processamento e de julgamento dos inúmeros casos que, versando uma
mesma questão, podem se repetir, enquanto a sua verdadeira função é a de, diante da
resolução de uma questão federal infraconstitucional ou constitucional relevantes,
expressar o Direito que deve orientar a sociedade e regular os casos concretos,
favorecendo-se a segurança jurídica.
diretamente ao Supremo Tribunal Federal contra decisão de Tribunal que interpreta a lei,
cabe ainda lembrar que o art. 105, III, c, da Constituição, estabelece o cabimento do
recurso especial quando a decisão do Tribunal dá à lei federal “interpretação divergente
da que lhe haja atribuído outro Tribunal”.
Caso a decisão que interpreta a lei pudesse ser objeto de recurso extraordinário,
bastando para tanto se alegar que a decisão interpretativa da lei contrariou a
Constituição, a discussão da interpretação da lei teria dois locus simultâneos para a
discussão da interpretação da lei e para a formação de precedente a esse respeito.
Note-se que, mesmo que o recurso especial pudesse ser substituído pelo extraordinário
sob a equivocada alegação de que teria ocorrido contrariedade a dispositivo da
Constituição e não contrariedade à lei, o recurso especial poderia ser admitido ao se
alegar confronto entre uma interpretação X e outra nos termos da Constituição e,
sempre que julgado em qualquer hipótese de divergência jurisprudencial, poderia
resultar numa interpretação conforme à Constituição por parte do Superior Tribunal de
Justiça. Como se vê, a simultaneidade da realização da mesma função seria flagrante.
Seria até mesmo possível – como rotineiramente ocorre – ao Supremo Tribunal Federal
decidir sobre a interpretação da lei nos termos da Constituição antes ou depois de o
Superior Tribunal de Justiça ter definido a interpretação da lei federal mediante
precedente, sem discuti-lo ou sem considerar as suas razões. Isso, como é fácil
perceber, além de fazer pouco das fronteiras entre o Superior Tribunal de Justiça e as do
Supremo Tribunal Federal e da lógica do sistema constitucional recursal, permite que
uma Corte se sobreponha à outra sem qualquer racionalidade. Retenha-se o ponto: ao
se admitir recurso extraordinário contra decisão que interpreta a lei, nega-se razão de
ser para o Superior Tribunal de Justiça.
Admitir que o Supremo Tribunal Federal pode conhecer de recurso extraordinário contra
decisão interpretativa de Tribunal conspira contra a necessidade de discussão da questão
perante os vários Tribunais do país e, finalmente, na Corte incumbida pela Constituição
de atribuir sentido à lei federal. Se o Supremo Tribunal Federal pode julgar questão
constitucional em sede de repercussão geral a despeito do lugar em que foi proferida a
decisão recorrida, resta-lhe a possibilidade de julgar caso debatido num único Tribunal e
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requisito para a atuação do STF
antes de ter sido aplicado o permissivo constitucional que abre oportunidade para
recurso especial em caso de divergência jurisprudencial, quando, como já lembrado,
mesmo que nenhuma das decisões em confronto tenha interpretado a lei à luz da
Constituição, pode o Superior Tribunal de Justiça fixar terceira interpretação, essa
conforme à Constituição. Porém, quando se entende que a decisão que interpretou a lei,
mesmo quando dita em desconformidade com a Constituição, só pode ser impugnada
mediante recurso especial, concentra-se a atividade interpretativa na Corte
constitucionalmente incumbida de definir a interpretação da lei, ou seja, no lugar
adequado.
Ocorre que a Constituição obviamente não criou duas Cortes revisoras das decisões dos
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Tribunais , mas duas Cortes voltadas a exercer a função de atribuir sentido e unidade
ao Direito, a qual é incondicionalmente atrelada à de instituir precedentes capazes de
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garantir a sua autoridade .
Uma Corte de precedentes, ao contrário do que se pode imaginar, não é uma simples
opção dogmática, como se tanto uma Corte de correção (de revisão ou de cassação)
quanto uma Corte de precedentes fossem compatíveis com os valores do Estado
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constitucional. Não há Estado de Direito sem ordem jurídica coerente . A uniformidade
das decisões judiciais, aspecto fundamental da coerência do direito, concorre para que o
Estado se apresente como garante da unidade do direito. Um Estado que produz
decisões variadas para casos que exigem o mesmo tratamento falha diante do seu
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compromisso de garantir uma ordem jurídica única .
De outra parte, se a função do Supremo Tribunal Federal é decidir para atribuir sentido e
unidade ao direito constitucional, obviamente não lhe cabe decidir todo e qualquer
recurso em que se alega que o Direito foi contrariado. Uma questão constitucional só
deve ser reconhecida como de repercussão geral quando se apresenta madura para ser
decidida, ou seja, quando não mais existe motivo para aguardar o debate e a discussão
entre os Juízes e os Tribunais.
cumprindo o seu dever de definir a interpretação da lei. Pelo mesmo motivo, não haveria
racionalidade em admitir que o Supremo Tribunal Federal pudesse decidir antes de o
Superior Tribunal de Justiça ter se desincumbindo da sua função, estabelecendo
precedente.
9. O Supremo Tribunal Federal não é uma Corte revisora das decisões do Superior
Tribunal de Justiça
Entretanto, se já parece óbvio que o Supremo Tribunal Federal não deve admitir recurso
extraordinário antes de o Superior Tribunal de Justiça ter decidido, alguma dúvida ainda
poderia pairar sobre a oportunidade de o Supremo Tribunal Federal conhecer de recurso
extraordinário contra qualquer decisão do Superior Tribunal de Justiça.
Mais claramente, seria possível supor que, diante de qualquer decisão do Superior
Tribunal de Justiça, seria possível interpor recurso extraordinário sob o fundamento de
violação da Constituição. Essa seria uma conclusão baseada, ainda que
inconscientemente, na ideia de que o Supremo Tribunal Federal, ao se sobrepor ao
Superior Tribunal de Justiça, teria incorporada à sua função a de rever as decisões desse
último.
Trata-se, no entanto, de um erro ainda mais evidente do que aquele que justificaria ver
o Supremo Tribunal Federal como Corte de revisão das decisões dos Tribunais estaduais
e regionais federais. Isso porque, caso o Supremo Tribunal Federal pudesse analisar a
constitucionalidade de qualquer decisão do Superior Tribunal de Justiça, estaria
implicitamente negada a função de Corte Suprema de ambas as Cortes. Não apenas o
Superior Tribunal de Justiça seria uma Corte cujas decisões estariam sujeitas a uma
constante revisão por parte do Supremo Tribunal Federal, como esse estaria assumindo
a função de Corte de revisão das decisões do Superior Tribunal de Justiça.
Deve ser assim porque não cabe ao Supremo Tribunal Federal definir a interpretação da
lei, mas apenas atribuir sentido à lei para preservá-la, evitando a declaração da sua
invalidade. Se a lei comporta, além da interpretação escolhida pelo Superior Tribunal de
Justiça, outras interpretações possíveis, deve a Corte se comportar de forma
minimalista, deixando de decidir (com eficácia obrigatória ou vinculante) o que não é
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necessário ou o que não lhe cabe decidir .
De lado essa particularidade, o Supremo Tribunal Federal, sempre que se defronta com
interpretação inserta em precedente do Superior Tribunal de Justiça, está atuando para
evitar a difusão de uma norma jurídica inconstitucional. Essa é a função do Supremo
Tribunal Federal: zelar pela tutela da Constituição quando, posteriormente à discussão
entre os Juízes e Tribunais na análise dos diversos casos concretos, define-se a
interpretação da lei mediante precedente.
Ademais, a norma inserta no precedente pode ser impugnada não apenas pelo recurso
extraordinário cabível contra a decisão que o firmou, mas também, desde que
preenchidos os pressupostos para tanto, pelo recurso extraordinário que pode ser
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interposto contra a decisão que, no Superior Tribunal de Justiça, aplica o precedente .
Quando se está diante de decisão do Superior Tribunal de Justiça que não configura
precedente – por não haver, por exemplo, maioria sobre o fundamento que revelaria a
interpretação correta, existindo, ao contrário, decisão plural, apta a propiciar resultado
favorável a partir de dois ou mais fundamentos, nenhum deles contando com o respaldo
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da maioria –, inexiste requisito para a configuração de repercussão geral,
precisamente a transcendência.
12. Conclusão
Não há como corroborar que tanto o Superior Tribunal de Justiça quanto o Supremo
Tribunal Federal podem admitir recurso para cuidar da interpretação da lei conforme à
Constituição, sob pena não só de prejuízo ao debate interpretativo em torno do
significado da lei, como de sobreposição das funções das duas Cortes. Se existem duas
Cortes de precedentes, uma para a atribuição de sentido à lei e outra para a tutela da
Constituição, a Corte constitucional obviamente não pode servir para resolver os vários
recursos em que se alega a inconstitucionalidade da interpretação dos tribunais.
Portanto, o recurso extraordinário deve ser admitido, com base no art. 102, III, a, da
Constituição, apenas quando a decisão viola diretamente dispositivo da Constituição e
diante de decisão do Superior Tribunal de Justiça que define a interpretação da lei
mediante precedente ou de decisão da mesma Corte que, invocando precedente, não
admite recurso especial. Abandona-se, desta forma, o modo operacional que por muito
tempo dificultou a individualização do cabimento dos recursos às Cortes Supremas, fruto
de uma inadequada compreensão da distribuição dos pressupostos do pretérito recurso
extraordinário entre os recursos especial e extraordinário na Constituição de 1988.
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A definição da interpretação da lei pelo STJ como
requisito para a atuação do STF
8 Na Sentenza 356/1996, a Corte Constitucional italiana declarou que as leis não são
declaradas constitucionalmente ilegítimas porque é possível dar-lhes interpretações
inconstitucionais, mas porque é impossível dar-lhes interpretações constitucionais.
significado que, a princípio, deriva da lei, ou melhor, fazem surgir uma norma que,
considerado o dispositivo legal na sua origem, não existiria. Portanto, não podem ser
confundidas com aquelas que interpretam a lei conforme à Constituição. Eis o que diz
Zagrebelsky: “Se ha qui a che fare con un insieme di tecniche di decisione che si sonno
dette manipolative, per sottolineare che il loro scopo è la trasformazione del significato
della legge, piuttosto che la sua eliminazione o la sua mera interpretazione conforme alla
Costituzione.” (ZAGREBELSKY, Gustavo. Processo costituzionale. Enciclopedia del Diritto,
v. 36, p. 654). Ver também ROMBOLI, Roberto; ROSSI, Emanuele. Giudizio di legittimità
costituzionale delle leggi. Enciclopedia del Diritto, v. 18, p. 531.
11 MARINONI, Luiz Guilherme. A Zona de Penumbra entre o STJ e o STF. São Paulo: Ed.
RT, 2019. p. 74 e ss.; p. 80-83.
12 MARINONI, Luiz Guilherme. A Zona de Penumbra entre o STJ e o STF, cit., p. 96-117.
13 Em outra coisa se pensa quando se faz a distinção entre texto e norma. Essa
separação almeja demonstrar a distinção entre o dispositivo legal e a
interpretação-resultado, assumindo importância quando se quer esclarecer que um
dispositivo pode abrir oportunidade para várias interpretações ou normas. Assim,
Riccardo Guastini: “molte disposizioni – quase tutte le disposizioni, in verità – hanno un
contenuto di significato complesso: esprimono non già una sola norma, bensì una
molteplicità di norme congiunte. Ad un’única disposizione possono dunque corrispondere
più norme congiuntamente.” (GUASTINI, Riccardo. Interpretare e argomentare. Milano:
Giuffrè, 2011. p. 65-66.)
18 “La questione non è fondata. I termini usati dal legislatore esprimono concetti
sufficientemente precisi per evitare erronee applicazioni. La faticosa elaborazione della
dottrina e della giurisprudenza ha già da tempo conferito a quei termini un contenuto
che può considerarsi delimitato in modo soddisfacente: inoltre, non è escluso che
l'interprete, con l'ausilio dei comuni canoni ermeneutici, e alla luce dei principi
costituzionali, riesca a dar loro contorni ancora più netti e maggiore aderenza alla
molteplice varietà dei casi che possano presentarsi nell'esperienza. Ma questo é
essenzialmente compito del giudice, a tutti i livelli; avendo invece la Corte la funzione di
porre a confronto la norma, nel significato comunemente ad essa attribuito, con le
disposizioni della Costituzione, per rilevarne eventuali contrasti e trarne le conseguenze
sul piano costituzionale.” (Corte Costituzionale, Sentenza 129/75.)
25 BICKEL, Alexander. The Least Dangerous Branch. 2. ed. New Haven: Yale University
Press, 1986. p. 113 e ss.; BICKEL, Alexander. The passive virtues, Harvard Law Review,
1961.
29 MACCORMICK, Neil. Rhetoric and the rule of law – A theory of legal reasoning. New
York: Oxford University Press, 2005. p. 176 e ss.
33 SUNSTEIN, Cass. One case at a Time: Judicial Minimalism on the Supreme Court.
Cambridge: Harvard University Press, 1999; SUNSTEIN, Cass. Incompletely Theorized
Agreements in Constitutional Law. John M. Olin Law & Economics, Working Paper, n.
322, University of Chicago, 2007; SUNSTEIN, Cass. Foreword: Leaving Things
Undecided. Harvard Law Review, v. 110, p. 96 e ss., 1996; SUNSTEIN, Cass. Problems
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A definição da interpretação da lei pelo STJ como
requisito para a atuação do STF
with Minimalism. Stanford Law Review, v. 58, p. 1899 e ss., 2006; SUNSTEIN, Cass.
Beyond Judicial Minimalism. Tulsa Law Review, v. 43, p. 825 e ss., 2008.
35 MARINONI, Luiz Guilherme. Julgamento nas Cortes Supremas. 2. ed. São Paulo: Ed.
RT, 2017. p. 48 e ss.
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