Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Tema 01
Introdução Fontes dos nossos slides: Novo Curso de Direito Civil e Manual de
Direito Civil – Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo P. Filho (Ed. Saraiva).
Isso porque se transmite a herança para os sucessores, uma vez que se foi
proprietário daqueles bens.
Há uma similitude com o direito alemão, na medida que o direito das sucessões
visa imprimir estabilidade patrimonial, para que o patrimônio daquele que
morre não fique sem dono, e que o direito à herança é um reflexo do próprio
direito à propriedade privada. Se alguém possui a propriedade de seus bens, a
consequência e que possa transmiti-los aos seus herdeiros.
Sistemas sucessórios
Art. 1.846. Pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade dos
bens da herança, constituindo a legítima.
Por exemplo, alguém que é casado e tem duas filhas não possui plena liberdade
para dispor de seu patrimônio para depois da morte. Mesmo em vida, não pode
doar violando a legítima das filhas, porque à luz do sistema brasileiro da divisão
necessária a liberdade é parcial. Essa pessoa só pode dispor de metade do
patrimônio, uma vez que tem herdeiros necessários que possuem direito à
legítima (metade do patrimônio).
Essa legítima, tão combatida por Le Play e seus sequazes, porque contrária à
ilimitada liberdade de testar, é fixa em face do nosso direito, ao inverso do que
ocorre em outras legislações como a francesa, a italiana e a portuguesa, em que
varia de acordo com o número das pessoas sucessíveis, e é sagrada, nesse
sentido de que não pode, sob pretexto algum, ser desfalcada ou reduzida pelo
testador. (Washington de Barros Monteiro, Curso de Direito Civil — Direito das
Sucessões, 3. ed., São Paulo: Saraiva)
Por exemplo, alguém chega aos 70 anos de idade, passou em concurso público,
criou três filhos, os quais estão na faixa dos 40 anos. Um é médico, outro
advogado e outro engenheiro. Essa pessoa resolve doar seu patrimônio para o
hospital do câncer. Isso não seria possível, embora os filhos sejam maiores e
aptos para o trabalho.
Herança
De acordo com a Parte Geral do Código Civil, (art. 80, II, CC), o direito à herança
(direito à sucessão aberta) tem natureza imobiliária.
Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais:
(...) II – o direito à sucessão aberta
Por exemplo, Pablo tem direito à herança de seu pai. Se ele pretender ceder ou
transferir esse direito para outrem, existem formalismos, como se ele estivesse
cedendo um imóvel.
Além disso, pode-se transferir o direito à herança para terceiros. Por exemplo,
alguém morre e deixa um patrimônio de 1 milhão. Essa pessoa possui 3 filhos.
Alguém pode ir até o filho Pablo e dizer que tem interesse na fazenda. Pablo
pode transferir o direito à herança do pai (cessão de direito hereditário).
STJ
HERANÇA x SEGURO VGBL
AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO EM
RECURSO ESPECIAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. INVENTÁRIO. VALORES
DEPOSITADOS EM PLANO DE PREVIDÊNCIA PRIVADA (VGBL). DISPENSA DE
COLAÇÃO. NATUREZA DE SEGURO DE VIDA. ACÓRDÃO DIVERGENTE DA
JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. A DECISÃO PROFERIDA NO JUÍZO
PRÉVIO DE ADMISSIBILIDADE NÃO VINCULA ESTA CORTE. AGRAVO
INTERNO DESPROVIDO. 1. Nos termos da jurisprudência desta Corte, o
Plano de Previdência Privada (VGBL), mantido pelo falecido, tem natureza
jurídica de contrato de seguro de vida e não pode ser enquadrado como
herança, inexistindo motivo para determinar a colação dos valores nele
depositados.
2. A decisão proferida no juízo prévio de admissibilidade não vincula esta
Corte, motivo pelo qual é desnecessária a justificação da não incidência
dos óbices apontados naquela decisão.
3. Razões recursais insuficientes para a revisão do julgado. 4. Agravo
interno desprovido. (AgInt nos EDcl no AREsp n. 1.832.714/SP, relator
Ministro Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, julgado em 13/12/2021,
DJe de 15/12/2021.)
2. A Segunda Turma desta Corte, nos autos dos REsp n. 1.961.488/RS, Rel.
Min. Assusete Magalhães, DJe 16/11/2021 e REsp n. 1.963.482/RS, Rel. Min.
Assusete Magalhães, DJe 18/11/2021, reiterou o entendimento no sentido
da natureza de seguro do plano VGBL, de modo que os valores a serem
recebidos pelo beneficiário, em decorrência da morte do segurado
contratante de plano VGBL, não se consideram herança, como prevê o
art. 794 do CC/2002.
3. Não integrando a herança, isto é, não se tratando de transmissão
causa mortis, está o VGBL excluído da base de cálculo do ITCMD.
4. Agravo interno não provido. (AgInt no AgInt no AREsp n. 1.766.626/RS,
relator Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em
26/4/2022, DJe de 29/4/2022.)
Sucessão hereditária – noções úteis
Porém, se ele morre sem deixar testamento ou fez testamento, mas esse foi
declarado inválido, as regras serão da sucessão legítima, isto é, aquela
disciplinada pela lei, não pelo testamento.
Por vezes, a pessoa faz um testamento que alcança parte dos bens do
patrimônio. Significa dizer que quanto aos bens que não foram alcançados pelo
testamento aplicam-se as regras da sucessão legítima.
A maioria dos brasileiros, quando falece, sequer deixa testamento, por vezes,
sequer tem patrimônio para aplicar as regras da sucessão legítima.
TEMA 2 -
PRINCIPIOLOGIA
PRINCIPIOLOGIA
Tema 02 – Principiologia
Fontes dos nossos slides: Novo Curso de Direito Civil e Manual de Direito Civil –
Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo P. Filho (Ed. Saraiva).
c) Princípio da Territorialidade;
d) Princípio Temporariedade;
Princípio da Saisine
“Na Idade Média, institui-se a praxe de ser devolvida a posse dos bens, por
morte do servo, ao seu senhor, que exigia dos herdeiros dele um pagamento
para autorizar a sua imissão. No propósito de defendê-lo dessa imposição, a
jurisprudência no velho direito costumeiro francês, especialmente no Costume
de Paris, veio a consagrar a transferência imediata dos haveres do servo aos
seus herdeiros (...)”
Caio Mário da Silva Pereira. Instituições de Direito Civil — Sucessões. 17. ed. Rio
de Janeiro: Forense.
A ideia de Saisine é muito difundida, de acordo com ela, com a morte do sujeito
— ou seja, abertura da sucessão — automaticamente a herança é transmitida
aos sucessores. É uma espécie de ficção jurídica.
No direito francês, na Idade Média, o servo possuía uma área de terra, era
vassalo de um senhor e, durante 40 anos, cultivava-a. Quando ele morria, seu
patrimônio não ia automaticamente para os herdeiros, mas voltava para o
nobre, de quem ele era vassalo. Os filhos do falecido tinham que pagar uma
taxa para o nobre devolver-lhes a posse dos bens.
Por isso, o direito francês criou uma regra no sentido de que, quando o sujeito
morresse, automaticamente o seu patrimônio passasse para os filhos, sem que
precisem pagar uma taxa ao senhor de seu falecido pai. Nasce, então, a ideia da
saisine hereditária, que é difundida em todo o mundo, ao menos nos estados
europeus do direito ocidental.
Quando se traduz essa frase para o português, ela fica sem sentido: “o morto
herda do vivo”. Por isso, não se pode utilizar simplesmente as expressões
estrangeiras sem entendê- -las (estrangeirismo indesejável).
Trata-se de uma ficção jurídica que visa a impedir que o patrimônio do falecido
fique sem titular.
O inventário irá descrever os bens, apurar o passivo, abatê-lo, pode ser que não
sobre nada.
Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros
legítimos e testamentários.
Nesse caso, não foi provada a posse exclusiva, mas se fosse, o herdeiro teria
que pagar. Isso é justo, porque o inventário pode levar anos. Dessa forma, não
se pode dizer que um herdeiro tem mais direitos do que outro. Todos têm
direitos iguais, por força do princípio da saisine, abstratamente considerados.
Por exemplo, enquanto o inventário corre, uma das fazendas deixadas pelo
falecido foi invadida. Qualquer dos herdeiros pode lançar mão de uma ação
possessória, pois é como se fossem coproprietários, condôminos, em frações
ideais daquela herança enquanto ela está sendo apurada no inventário.
Por exemplo, em um júri, foi julgado um caso grave de homicídio, em que um
zelador entrou em uma casa e tentou estuprar uma senhora. A senhora pegou
uma faca na cozinha, porém, o zelador conseguiu puxar a faca pelo fio,
esfaqueou e matou-a.
Na réplica, o promotor deixou o argumento mais forte para o final e disse que a
senhora tentava defender a sua honra, pois tinha um terço na bolsa. Além da
denúncia contra o réu por homicídio qualificado, ele requereu que ele fosse
denunciado por furto, porque depois de esfaquear a vítima, pegou a sua bolsa e
levou seus pertences.
Ele poderia ter furtado a vítima, estando ela morta? O furto é a subtração de
coisa alheia móvel de quem está vivo. No entanto, no momento em que ele leva
os pertences da vítima, à luz do princípio da saisine, se ela está morta,
automaticamente, todo o patrimônio pertence aos herdeiros.
Dessa forma, houve um crime patrimonial também. Não foi latrocínio, mas um
ato autônomo. Quando alguém retira bens de uma pessoa falecida, aqueles
bens já pertencem aos sucessores dela, por força do princípio da saisine.
Por exemplo, se a pessoa morre e só deixou dívidas ou deixou mais dívidas que
patrimônio ativo, os herdeiros não vão assumir débitos.
Traduz a ideia de que o sucessor não responderá por dívidas que ultrapassem
as forças da herança.
Art. 1.792. O herdeiro não responde por encargos superiores às forças da
herança; incumbe-lhe, porém, a prova do excesso, salvo se houver inventário
que a escuse, demostrando o valor dos bens herdados.
Por exemplo, um tio morreu e deixou apenas um herdeiro.O seu patrimônio era
de 500 mil reais e devia 1 milhão.
Quando se fizer o encontro de contas, haverá ainda 500 mil reais de débito. O
sobrinho irá assumir? Não, porque o herdeiro não responde “non ultra vires
hereditatis”. No final do século XIX e início do século XX, antes do Código de 1916,
quando a pessoa morria, a herança descia para o herdeiro inclusive se fosse só
dívidas ou mais dívidas do que crédito.
O princípio “non ultra vires hereditatis” não deve ser confundido com o princípio
“intra vires hereditatis”. Essa última significa dizer que, quando o sujeito morre, o
patrimônio responde pelas dívidas que ele deixou.
Por exemplo, uma pessoa morreu, deixou uma dívida de 100 mil.
Obs.: Por outro lado, o próprio patrimônio deixado pelo falecido deverá
responder pelas dívidas que foram deixadas, razão por que se diz que
responderá “intra vires hereditatis”.
STJ: 1. “O espólio sucede o de cujus nas suas relações fiscais e nos processos
que os contemplam como objeto mediato do pedido. Consequentemente,
espólio responde pelos débitos até a abertura da sucessão, segundo a regra
intra vires hereditatis”. (REsp 499147/PR)
Princípio da territorialidade (a lei sucessória no espaço)
Por exemplo, o último domicílio do falecido João foi a comarca de São Paulo. A
sucessão será aberta lá.
Por exemplo, se uma pessoa morreu em 10 de janeiro de 2000, qual será a lei
aplicável? Não se pode aplicar o Código Civil atual, de 2002, entrou em vigor em
11 de janeiro de 2003. Aplica-se o Código antigo, porque a lei sucessória aplicável
é a vigente ao tempo da morte. Reforçando a norma anterior, confira-se, ainda,
o seguinte dispositivo do CC/02:
Por exemplo, o testamento tem um rasgo na ponta, mas é compreensível, ele não
deve ser anulado.
Uma das hipóteses em que o herdeiro pode ser excluído da herança é quando
ele cooptar a vontade do testador de forma fraudulenta ou dolosa. Por exemplo,
o neto ameaça o avô para que teste em seu favor. Se isso ficar comprovado, ele
pode ser excluído da herança, porque violou o princípio da autonomia da
vontade.