Você está na página 1de 34

CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTÁCIO DE RIO BRANCO - ESTÁCIO UNIMETA

DISCIPLINA: MÉTODOS ADEQUADOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS

ARBITRAGEM
DOCENTE: FLÁVIO HENRIQUE BARROS D'OLIVEIRA

Flávio Henrique Barros D'Oliveira


RIO BRANCO, ACRE
2023
CARACTERÍSTICAS DA ARBITRAGEM

Como indicado, alguns meios de resolução de


conflitos buscam a autocomposição das partes. A
maneira mais elementar de se resolver qualquer
disputa, no sentido de não requerer a participação
de terceiros, é por meio da negociação direta entre
as partes.
Contudo, muitas partes não conseguem ― ou não
querem ― conversar diretamente ou avançar em
tratativas que procurem uma solução mutuamente
aceitável. É para facilitar a construção do consenso
e propiciar uma negociação mais assertiva, por
exemplo, que atuam o mediador e o conciliador.
Por isso, mediação e conciliação são técnicas de
negociação assistida
CARACTERÍSTICAS DA ARBITRAGEM

A arbitragem, contudo, funciona em outra lógica.


Na arbitragem, a vontade das partes é importante
para a opção por sua utilização, mas o mecanismo
se desenvolve em um processo jurisdicional no qual
o árbitro prolatará uma sentença, decisão final e
vinculante, não sujeita a recursos, que é um título
executivo judicial.
CARACTERÍSTICAS DA ARBITRAGEM

Por isso, a arbitragem é o que guarda maior


similitude com o processo civil estatal, justamente
por ser um método heterocompositivo e
jurisdicional. As partes têm a liberdade de optar por
usar – ou não – a arbitragem, e podem também
convencionar sobre aspectos importantes do
procedimento (o que igualmente é possível, em boa
medida, para o processo judicial, por intermédio
dos negócios processuais), mas a solução do
conflito é dada por um terceiro imparcial, o árbitro.
As partes se submetem ao julgamento outorgado
pelo árbitro.
CARACTERÍSTICAS DA ARBITRAGEM

Conceito

Arbitragem consiste, então, em um mecanismo


privado de resolução de disputas no qual as partes
escolhem, por meio de um negócio jurídico, um
terceiro imparcial para julgar causa relativa a
direitos patrimoniais disponíveis de maneira
definitiva e vinculante, após o desenvolvimento de
um processo em contraditório e observando as
garantias do devido processo legal.
CARACTERÍSTICAS DA ARBITRAGEM

A arbitragem decorre de um negócio jurídico –


chamado genericamente de convenção de
arbitragem –, mas desenvolve-se em um processo.
A solução do conflito não é negociada, mas
adjudicada pelo árbitro. As partes concordam,
previamente, em se vincular e cumprir aquilo que
venha a ser decidido pelo árbitro, nos limites dos
pedidos que forem formulados.
CARACTERÍSTICAS DA ARBITRAGEM

O árbitro detém jurisdição, ou seja, a possibilidade


de julgar o conflito, aplicando o direito (ou até
mesmo equidade, conforme o caso) à espécie
(CARMONA, 1990). Nessa medida, a figura do
árbitro aproxima-se da do juiz. Não por acaso, a Lei
de Arbitragem, em seu artigo 18, indica que o
árbitro é juiz de fato e de direito da causa. O
árbitro, assim, deve atuar de maneira imparcial e
desinteressada na condução do procedimento e no
julgamento da controvérsia, conduzindo o
procedimento e primando pelas garantias
decorrentes do devido processo legal.
CARACTERÍSTICAS DA ARBITRAGEM

A arbitragem, então, a depender do momento em


que se considere, poderá ser compreendida como
um fenômeno eminentemente:

Contratual: Tendo como foco a convenção de


arbitragem e semelhantemente a aceitação pelo
árbitro do encargo de julgar a causa.

Jurisdicional: Considerando o processo arbitral em


si, permeado pela garantia de participação em
contraditório pelas partes e prolação de uma
sentença jurisdicional.
CARACTERÍSTICAS DA ARBITRAGEM

Como jurisdição privada que é, a opção pela


utilização da arbitragem implica para as partes uma
renúncia à utilização da jurisdição estatal.

Algumas características do instituto o tornam


atraente para os usuários:

Especialidade
Flexibilidade
Maior facilidade de execução internacional
Confidencialidade
Celeridade
Melhor custo-benefício
CARACTERÍSTICAS DA ARBITRAGEM

Como jurisdição privada que é, a opção pela


utilização da arbitragem implica para as partes uma
renúncia à utilização da jurisdição estatal.

Algumas características do instituto o tornam


atraente para os usuários:

Especialidade
Flexibilidade
Maior facilidade de execução internacional
Confidencialidade
Celeridade
Melhor custo-benefício
CARACTERÍSTICAS DA ARBITRAGEM

Possibilidade de escolha do árbitro

Uma inegável vantagem da arbitragem é a


possibilidade de escolha de um especialista na
questão discutida para a resolução dela. Os juízes
estatais possuem, em decorrência da própria
conformação de sua carreira, uma vocação
generalista, atuando em diversos temas e cuidando
de diferentes assuntos.
CARACTERÍSTICAS DA ARBITRAGEM

Possibilidade de escolha do árbitro

Além disso, sua expertise técnica está restrita ao


conhecimento jurídico. Não há, também,
possibilidade de as partes escolherem o seu juiz,
isso porque a designação do caso no âmbito
judiciário se submete às regras de competência e a
sorteio por distribuição livre, de maneira a garantir
o chamado juiz natural.
CARACTERÍSTICAS DA ARBITRAGEM

Possibilidade de escolha do árbitro

O árbitro não precisa ser advogado ou formado em


Direito, o requisito legal é apenas que seja capaz e
que tenha a confiança das partes (art. 13 da Lei de
Arbitragem). Por isso, é possível que as partes se
valham de um especialista na matéria em questão,
inclusive, mas não apenas, nas regras aplicáveis ou
em certo ramo do Direito. Podem, também,
escolher alguém que conheça do setor da indústria
(por exemplo, alguém com atuação no ramo de
franquias ou na indústria aeronáutica) ou outra
formação acadêmica (um contador, economista,
engenheiro, por exemplo).
CARACTERÍSTICAS DA ARBITRAGEM

A própria liberdade de escolha dos árbitros é um


exemplo de sua flexibilidade. Mas a flexibilidade da
arbitragem se faz notar, também, em outros
aspectos.

Não é exagero dizer que as partes podem moldar,


adequar o procedimento e as regras atinentes ao
mérito de sua controvérsia com uma largueza de
atuação ímpar.
CARACTERÍSTICAS DA ARBITRAGEM

É possível que as partes escolham se o caso será


julgado pela lei (e qual será a lei aplicável),
escolhendo as regras de direito que serão
aplicadas, tendo como limite apenas os bons
costumes e a ordem pública (art. 2º, § 1º, da Lei de
Arbitragem), ou se os árbitros deverão decidir com
base na equidade (art. 2º da Lei de Arbitragem), ou,
ainda, poderão convencionar que a arbitragem se
realize com base nos princípios gerais do Direito,
nos usos e costumes e nas regras internacionais do
comércio.
CARACTERÍSTICAS DA ARBITRAGEM

OBS: Apenas nos casos que envolvam a


administração pública é que a arbitragem deverá,
necessariamente, ser de Direito (art. 2º, § 3º, da Lei
de Arbitragem).
Outra manifestação da flexibilidade da arbitragem
está na possibilidade de delineação e escolha do
procedimento arbitral, para que atenda aos
interesses das partes. Elas podem fazê-lo com a
escolha do regulamento de alguma instituição
arbitral ou por meio de livre contratação do
procedimento, sendo possível a utilização de algum
regulamento modelo de arbitragem, como o
ofertado pela Uncitral (Comissão das Nações
Unidas para o Comércio Internacional).
CARACTERÍSTICAS DA ARBITRAGEM

OBS: Apenas nos casos que envolvam a


administração pública é que a arbitragem deverá,
necessariamente, ser de Direito (art. 2º, § 3º, da Lei
de Arbitragem).
Outra manifestação da flexibilidade da arbitragem
está na possibilidade de delineação e escolha do
procedimento arbitral, para que atenda aos
interesses das partes. Elas podem fazê-lo com a
escolha do regulamento de alguma instituição
arbitral ou por meio de livre contratação do
procedimento, sendo possível a utilização de algum
regulamento modelo de arbitragem, como o
ofertado pela Uncitral (Comissão das Nações
Unidas para o Comércio Internacional).
CARACTERÍSTICAS DA ARBITRAGEM

Facilidade de execução da sentença arbitral e


celeridade procedimental

Outra característica e fator de atratividade da


arbitragem é a maior facilidade para execução da
sentença arbitral no plano internacional. Não
existem critérios amplamente compartilhados pela
generalidade dos países para que a sentença (ou
acórdão) judicial seja executada em um país
estrangeiro. Isso significa que poderão existir
dificuldades para executar uma decisão judicial no
exterior, já que a matéria dependerá de algum
tratado específico entre os países envolvidos ou
mesmo a aplicação de reciprocidade internacional.
CARACTERÍSTICAS DA ARBITRAGEM

Facilidade de execução da sentença arbitral e


celeridade procedimental

Outra característica e fator de atratividade da


arbitragem é a maior facilidade para execução da
sentença arbitral no plano internacional. Não
existem critérios amplamente compartilhados pela
generalidade dos países para que a sentença (ou
acórdão) judicial seja executada em um país
estrangeiro. Isso significa que poderão existir
dificuldades para executar uma decisão judicial no
exterior, já que a matéria dependerá de algum
tratado específico entre os países envolvidos ou
mesmo a aplicação de reciprocidade internacional.
CARACTERÍSTICAS DA ARBITRAGEM

Sob os auspícios das Nações Unidas (Uncitral), em


1958, foi elaborada a Convenção de Nova York
sobre o Reconhecimento e Execução de Sentenças
Arbitrais Estrangeiras. Trata-se de uma convenção
amplamente adotada, contando com mais de 160
países signatários.
CARACTERÍSTICAS DA ARBITRAGEM

O Brasil promulgou internamente a convenção pelo


Decreto nº 4.311, de 23 de julho de 2002, sendo ela
parte do ordenamento jurídico brasileiro. Isso
significa que as regras e os critérios para
reconhecimento e execução de uma sentença
arbitral prolatada em outro país são bem
conhecidos e claros, facilitando o comércio
internacional e tornando a arbitragem uma
ferramenta importante para a gestão de riscos em
contratos internacionais.
CARACTERÍSTICAS DA ARBITRAGEM

OBS: Embora a Lei de Arbitragem não estabeleça


que a arbitragem será confidencial, é comum que
as partes estipulem nesse sentido, o que é previsto
nos regulamentos de diversas instituições ou de
centros de arbitragem.
O Código de Processo Civil estabelece que o
processo judicial que cuide de algum tema
relacionado à arbitragem será confidencial se a
arbitragem também o for (art. 189, IV, do CPC).
A confidencialidade é importante por permitir que o
contencioso se dê sem exposição ao público, sem
revelação ou vazamento de informações
importantes, sensíveis ou estratégicas para as
partes, preservando-as.
CARACTERÍSTICAS DA ARBITRAGEM

A arbitragem é um mecanismo mais célere e


eficiente que o processo judicial. Um processo
arbitral tende a durar bem menos tempo que uma
demanda no judiciário, seja pela ausência de
mecanismos recursais, que prolongariam a
litispendência do conflito, seja pela maior
disponibilidade de tempo dos árbitros para
conduzir a causa. Quem tem um conflito pretende
vê-lo dirimido no menor tempo e com a melhor
qualidade possível.
CARACTERÍSTICAS DA ARBITRAGEM

A arbitragem, como qualquer atividade e prestação


de serviços, envolve custos. As partes têm que
pagar os honorários dos árbitros, da instituição que
administre o procedimento, do perito e outros
profissionais, além de arcar com outras despesas
inerentes ao procedimento (locação de espaço,
despesas postais, traduções, estenotipistas). Não
existe, adicionalmente, a possibilidade de
gratuidade da justiça ou assistência judiciária.
ÂMBITO DE APLICAÇÃO DA ARBITRAGEM

A arbitragem pode ser utilizada para a solução de


conflitos que envolvam direitos patrimoniais
disponíveis, podendo ser contratada por pessoas,
físicas ou jurídicas, capazes (art. 1º da Lei de
Arbitragem).

Isso significa que não é possível arbitragem sobre


direitos indisponíveis, que são irrenunciáveis e
inalienáveis, como o direito à vida, à liberdade, à
saúde ou à dignidade.
ÂMBITO DE APLICAÇÃO DA ARBITRAGEM

A patrimonialidade é, também, característica


essencial delimitadora do âmbito de atuação da
arbitragem, que se volta para direitos que tenham
uma apreciação econômica. Os direitos submetidos
à arbitragem devem ser passíveis de apreciação
patrimonial.
Além disso, apenas pessoas capazes podem
contratar a arbitragem. Incapazes não podem
utilizar do instituto, nem ter a sua vontade suprida
com essa finalidade. Durante algum tempo se
discutiu (com grande atraso do tema no Brasil) se o
Estado, a administração pública em sentido amplo,
poderia se submeter à arbitragem para resolver
seus conflitos de cunho patrimonial e disponíveis.
ÂMBITO DE APLICAÇÃO DA ARBITRAGEM

OBS: Tanto a administração pública direta quanto a


indireta podem se valer do instituto para dirimir
disputas sobre direitos patrimoniais disponíveis.

A autoridade ou o órgão competente da


administração pública direta para a celebração da
convenção de arbitragem é o mesmo para a
realização de acordos ou transações, na forma da
lei (art. 1º, §§ 2º e 3º, da Lei de Arbitragem).
ÂMBITO DE APLICAÇÃO DA ARBITRAGEM

Considerando esses limites subjetivos e objetivos, é


a convenção de arbitragem (um contrato) que irá,
efetivamente, delimitar quais matérias deverão ser
julgadas arbitralmente.

Isso significa que há sempre um âmbito para a


utilização da arbitragem no contexto de certa
relação jurídica. Já não é preciso que a opção pela
arbitragem se dê em face de um conflito já
existente, sendo plenamente possível a opção pelo
mecanismo para disputas futuras e eventuais.
O ÁRBITRO E AS INSTITUIÇÕES ARBITRAIS

O árbitro é um profissional independente escolhido


pelas partes para julgar a causa. Pode atuar como
árbitro qualquer pessoa capaz, que goze da
confiança das partes, tendo o dever de agir de
maneira neutra na condução e no julgamento da
causa.
No desempenho de suas funções, o árbitro deverá
agir com imparcialidade, independência,
competência, diligência e discrição, competindo ao
árbitro os mesmos deveres e responsabilidades dos
magistrados estatais. Ele se equipara aos
funcionários públicos para efeitos de aplicação da
legislação penal pelos atos ou omissões incorridas
(art. 17 da Lei de Arbitragem).
O ÁRBITRO E AS INSTITUIÇÕES ARBITRAIS

O simples fato de as partes indicarem alguém como


árbitro não traz para o escolhido a obrigação de
atuar, que é uma faculdade sua. Essa aceitação do
árbitro ou dos membros do tribunal arbitral é um
momento muito importante, marcando a instituição
da arbitragem e o início, propriamente, da
jurisdição arbitral.

Isso significa que, a partir da aceitação do encargo


de julgar a causa, com a válida instituição da
arbitragem, o árbitro assume seus poderes
jurisdicionais.
O ÁRBITRO E AS INSTITUIÇÕES ARBITRAIS

Estão impedidos de atuar como árbitro aqueles


que tenham para com as partes ou com o litígio
quaisquer das situações que caracterizam os
casos de impedimento e suspeição dos juízes,
consoante disposto no Código de Processo Civil.
As partes têm o direito de serem informadas
sobre quaisquer circunstâncias que,
razoavelmente, possam colocar em dúvida a
imparcialidade e independência do árbitro para
julgar a causa.
O ÁRBITRO E AS INSTITUIÇÕES ARBITRAIS

Por isso, o árbitro possui o dever de revelação, que


deve ser atendido antes de aceitar a função e de
iniciar sua atuação como árbitro e que perdura
durante todo procedimento.

O dever de revelação significa que qualquer fato


que denote razoável e justificada dúvida sobre
sua independência ou imparcialidade deverá ser
levado prontamente ao conhecimento das
partes. O não cumprimento do dever de
revelação representa quebra da confiança pelo
árbitro e poderá, inclusive, levar à anulação da
sentença arbitral.
O ÁRBITRO E AS INSTITUIÇÕES ARBITRAIS

Cumprido o dever de revelação, as partes não


podem recusar a atuação do árbitro, ressalvado,
evidentemente, o conhecimento superveniente do
fato. A parte que queira arguir a recusa do árbitro
apresentará exceção sobre a matéria, diretamente
ao árbitro ou ao presidente do tribunal arbitral,
deduzindo justificadamente suas razões para a
arguição e apresentando provas.

As partes nomearão os árbitros sempre em número


ímpar. Caso as partes nomeiem um número par de
árbitros, eles estarão, desde logo, autorizados a
nomear mais um, para garantir formação ímpar ao
tribunal (art. 13, § 2º, da Lei de Arbitragem).
O ÁRBITRO E AS INSTITUIÇÕES ARBITRAIS

O árbitro ou tribunal arbitral, normalmente por seu


presidente, pode se valer do apoio de um
secretário. O secretário cuidará dos aspectos
formais do procedimento da seguinte maneira:

Facilitando a comunicação entre os envolvidos;


Zelando pela organização de documentos;
Registrando os atos do procedimento.

Você também pode gostar