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FACULDADE DE BELAS-ARTES
ABC
Uma fonte que auxilia o aprendizado da escrita na infância
Dissertação
Mestrado em Práticas Tipográficas e Editorias Contemporâneas
2016
ii
Declaração de Autoria
O Candidato
________________________
[assinatura]
Agradecimentos
Aos meus pais, sem eles eu não poderia ser quem sou, nem continuar em
busca da minha realização pessoal e profissional. Muito obrigada pela ajuda e
pelo apoio que sempre me deram.
Ao Tiago Loureiro, o motivador de tantas mudanças na minha vida, obri-
gada por mudar junto comigo, que continuemos mudando juntos por muitos e
muitos anos. Obrigada por ser meu companheiro de vida.
A todos os meus amigos e familiares que me apoiaram e transmitiram
amor, mesmo estando distantes.
Aos meus orientadores, Jorge dos Reis e Sara Bahia, obrigada pelos co-
nhecimentos transmitidos, pelo apoio e pelo incentivo. Conseguir terminar um
trabalho acadêmico não é fácil e vocês nunca me deixaram desanimar.
Ao Emerson Eller, doutorando que me auxiliou na otimização do traçado
das letras, obrigada pelo tempo dispendido e pelas dicas valiosas.
A todas as educadoras que me ajudaram a concretizar esse estudo, pro-
fessoras, diretoras, funcionárias, obrigada por permitirem minha presença na es-
cola e em sala de aula e por acreditarem no projeto.
iv
Notas Iniciais
Resumo
Por fim, foi feito um trabalho de campo no qual a fonte criada foi aplicada
em duas salas de aula com a intenção de avaliar sua eficácia no terreno. Além
disso, também foram feitas perguntas às crianças e às professoras, perguntas
estas que servirão de base para que a fonte seja adaptada de acordo com as
necessidades observadas e estudadas.
Palavras-Chave
Abstract
With the wide spread of technological artifacts, that started with typewriter
machines and reached computers, tablets and smartphones, the teaching of writ-
ing in primary schools has been treated, each time more, with disdain. Therefore,
questions about how it would be possible to encourage the teaching of writing in
schools and how to make it attractive and not repetitive for children and teachers
formed the basis for the development of this study, which aims to design a type-
face as a didactic tool that is adequate for nowadays and to contribute to the
improvement of child writing education.
For this, and in order to better understand the current situation of teaching
handwriting, this study starts with a theoretical context of what has been produced
in this area in order to corroborate choices that were made and to promote a
temporal placement of the subject. Names linked to calligraphy / typography such
as Manuel Barata, Andrade de Figueiredo, Jacinto de Araújo and Ventura da
Silva will be present at the past background, and others like Rosemary Sassoon,
Nan Jay Barchowsky and Paul Heitlinger will be facing the contemporaneity.
Also in this sense, there is a brief analysis of studies, works and projects
that have already been made regarding the creation and use of typographic fonts
made specifically for children who are having their first contact with the letters
and which are in the process of developing their fine motor skills through writing.
Finally, a fieldwork was done in which the font designed was applied in
classrooms to evaluate its effectiveness. In addition, questions to the children
and to the teachers were asked, which will serve as basis to the font be adapted
in accordance to perceived and studied needs.
viii
Key Words
Índice Geral
1. Introdução ...................................................................................................... 1
2. A caligrafia em Portugal do século XVI ao XIX ........................................... 6
3. A tipografia no auxílio do ensino da escrita - estado da arte ................. 14
4. O desenvolvimento cognitivo da criança ................................................. 22
4.1 As capacidades cognitivas do aluno de primeiro ciclo ............................ 26
4.2 A motivação na aprendizagem ................................................................ 27
5. A aprendizagem da escrita ......................................................................... 33
5.1 Metas curriculares de Portugal para o ensino da escrita ......................... 35
6. A matriz tipográfica Abc ............................................................................. 39
6.1 O processo de desenho ........................................................................... 40
6.2 Validação da fonte: aplicação prática ...................................................... 45
6.2.1 Descrição do exercício desenvolvido e objetivos .............................. 46
6.2.2 Variáveis do estudo ........................................................................... 48
6.2.3 Constatações Gerais do exercício aplicado ...................................... 49
6.2.4 Resumo dos resultados do exercício aplicado .................................. 50
6.2.5 Inferências do exercício .................................................................... 53
6.3 Descrição do questionário feito com as professoras ............................... 60
6.3.1 Conclusão do questionário feito com as professoras ....................... 61
7. Conclusão .................................................................................................... 63
8. Referências Bibliográficas ......................................................................... 65
9. Bibliografia ................................................................................................... 69
x
Anexos ............................................................................................................. 75
Glossário ........................................................................................................ 75
Trabalho de Campo ....................................................................................... 79
Relatório Trabalho de Campo Escolas A e B ............................................. 79
Transcrição dos questionários realizados com as professoras ................. 83
Figuras-Anexo ............................................................................................... 93
Modelo de Termo de Autorização .................................................................. 98
Modelo de Termo de Consentimento ............................................................ 99
Modelo de Autorização para os Encarregados de Educação ...................... 100
xi
Índice de Figuras
1. Introdução
1
Definição no Glossário.
2
Idem.
2
Problema de Investigação
Objetivos
Geral
Específicos
3
Definição no Glossário.
4
Definição no Glossário.
3
Justificativa
Metodologia e métodos
Estrutura
Organograma
CAMPO ÁREA
Design Tipografia
TEMA
Tipografia para crianças
PROBLEMA
Desenvolver uma fonte tipográfica adequada às necessidades atuais das crianças
que auxilie e facilite o processo de aprendizagem da escrita por crianças.
QUESTÕES DE INVESTIGAÇÃO
• Como tornar o ensino da escrita atrativo para as crianças e para os professores?
• É possível desenvolver uma fonte adequada às necessidades
das crianças e que facilite o aprendizado da escrita?
METODOLOGIA
Contributo ESTADO DA ARTE
Revisão da literatura
ARGUMENTO
Estudos de caso
DESENVOLVIMENTO PROJETUAL
INVESTIGAÇÃO ATIVA
Trabalho de Campo, Análise de Resultados, Validação
PRÉ-CONCLUSÕES
CONCLUSÕES
6
5
Nota sobre o livro, consultado em microfilme na Biblioteca Nacional de Portugal: “Esta é a supposta ordem das folhas
deste volume, que não póde ser reputado exacto por não haver exemplar completo com as respectivas assignaturas e
reclames.” Novembro de 1906.
6
“Nas estampas de Barata podemos observar vários estilos de Cancellarescas: modelos mais elementares reservados
a uma prática cotidiana, lado-a-lado com modelos mais adequados a uma utilização profissional da caligrafia.” (Reis,
2012, p.118)
7
Em seu livro, “Nova Escola para Aprender a Ler, Escrever e Contar, Offe-
recida á Augusta Magestade do Senhor D. João V, Rey de Portugal. Prymeira
parte. Por Manoel de Andrade de Figueyredo, Mestre desta Arte nas cidades de
Lisboa, Ocidental & Oriental”, Andrade de Figueiredo (1722) primeiramente ela-
bora um manual de conduta para professores sobre como devem lidar com os
alunos na escola para atingir a perfeição.
8
“... aos Pais o summo cuidado, que devem ter na eleição dos Mestres para
seus filhos, de cujo acerto (como diz Aristóteles) pende todo o bem da
Juventude: aos Mestres a dignidade de seu officio, as obrigações, e cir-
cumstancias, que lhe incumbem; e aos Discipulos o seu comportamento
nas Aulas, o respeito, e veneração, que devem tributar a seus Mestres, e
activa aplicação ás lições, para assim poderem tirar fructo de seus estu-
dos, e chegarem a ser uteis a si, a seus maiores, e á Pátria.”(Ventura da
Silva, 1819, p. 34)
A postura que a criança deve seguir quando vai escrever é citada por vá-
rios autores, (Andrade de Figueiredo, 1722; Jacintho de Araujo, 1794; Sousa,
1784; Ventura da Silva, 1819), como parte do objetivo de atingir uma boa escrita,
mas também como forma de manutenção da boa saúde. Portanto, o corpo deve
estar ereto, os braços devem estar abertos, mas próximos ao tronco, com os
cotovelos para fora e a cabeça levemente inclinada para que a vista fique direita.
7
Definição no Glossário.
8
Idem.
11
Figura 4. Letras escritas com um mesmo ângulo. (Andrade de Figueiredo, 1722, p 93)
12
Consenso entre os calígrafos é o fato das letras, por mais que variem em
aspecto, serem todas compostas por linhas retas e por curvas, sendo esses os
movimentos básicos que devem ser masterizados nos primeiros contatos do
aprendiz com a caligrafia. Conceitos mais técnicos, relativos ao espaçamento,
também devem ser introduzidos ao ensinar a arte de escrever, Além do espaça-
mento entre letras e palavras, em linguagem tipográfica chamados de kerning e
tracking, a largura das letras, deve ser sempre a mesma para uma escrita equi-
librada, com exceção para as letras compostas apenas por linha reta, como é o
caso do f, i, j, l e t.
9
Os rasgos daõ-se com toda a maõ sem mover os dedos, fazendo descanso sobre o mínimo, com o braço levantado
algum tanto do bosete...” (Sousa, 1784, p.141)
13
A escrita manual, assim como tudo no mundo, teve que se adaptar à me-
dida que ocorriam mudanças sociais, econômicas e culturais. Cada vez mais era
necessário adicionar agilidade e velocidade à escrita, como consequência disso,
as rígidas regras que deviam ser seguidas com rigor na caligrafia e os requinta-
dos adornos começaram a cair em desuso, abrindo espaço para uma letra muito
mais simplificada em sua forma. A caligrafia deixou de ser uma arte e passou a
ser a letra cursiva, que não tinha mais o objetivo de embelezar, seu único objetivo
era comunicar.
14
10
Juntamente a isso, tem que ser aplicadas didáticas pedagógicas coerentes e exercícios lúdicos que estimulem e cap-
tem a atenção da criança. No entanto, esse estudo, em sua fase inicial, não tem como intenção, e nem pretende, adentrar
em métodos educacionais.
15
Chile, uma otimização do TCl Lila, desenhado por Tono Rojas e Kote Soto. Na
Alemanha, após análise de prós e contras, chegaram a conclusão que era me-
lhor treinar a criança com um tipo de letra próximo ao que ela vê impresso na
maioria dos livros escolares, retas e sem ligações, as NormSchrift, no entanto,
as tradicionais letras de escola, Schulschriften, existem em três versões, todas
inclinadas e com ligações: Lateinische Ausgangsschrift, Schulausgangsschrift e
Vereinfachte Ausgangsschrift (Figura 8). (Heitlinger, 2009).
Figura 6. Bê-a-bá, Tony Marco. Estúdio Just In Type. Fonte: < http://www.justintype.com/be-a-ba.html >
Figura 10. Le modele Écriture A e B, Marion Andrews. Fonte: Document d’accompagnement pour la mise
en place de modèles d’écriture scolaire. < http://luc.devroye.org/ModelesDEcritureScolaire-2013.pdf >
Figura 11. School Fonts: a ZWriting Cursive e algumas de suas variações. Fonte: < http://www.school-
fonts.com/zaner-bloser-manuscript-writing/zaner-bloser_manuscript_writing_XP_Windows_Vista.html >
11
Definição no Glossário.
18
Em 1997, com reedição em 2008, Nan Jay Barchowsky publicou seu pri-
meiro manual de ensino da escrita, Barchowsky Fluent Handwriting (BFT). O
conteúdo do livro foi baseado em seus anos de experiência de ensino e na ob-
servação do desenvolvimento físico e cognitivo de crianças de 4 anos até ado-
lescentes. (Barchowsky, [s.d.]; Heitlinger, [s.d.]-b)
Cada uma das fontes apresentadas acima foi concebida com o mesmo
intuito: facilitar o aprendizado da escrita por crianças. No entanto, é perceptível
que todas diferem entre si, ou por estarem adaptadas à cultura e realidade do
país para o qual foram desenhadas, ou por se basearem em estudos distintos,
ou em apenas observação empírica, o que resulta em falta de consenso entre
os designers, como ocorre com o fato da letra ser direita ou inclinada, ser de
fôrma ou cursiva e etc.
12
Definição no Glossário.
13
Idem.
14
Idem.
23
Uma vez que grande parte das ações não são resultado de uma resposta
a um estímulo, mas sim tomadas livremente, o condicionamento operante é o
tipo de condicionamento que mais ocorre. Nele, as consequências do comporta-
mento fazem a resposta ser mais (reforço positivo ou negativo15) ou menos (pu-
nição positiva ou negativa16) provável de acontecer novamente. Nesta situação,
em um âmbito educativo, o professor deve focar as atividades de acordo com o
desempenho observável do aluno, assegurando-se de que ele consegue execu-
tar as tarefas que são pré-requisito, e deve, ainda, utilizar consequências apro-
priadas às respostas que obteve. (Rafael, 2005a)
15
Definições no Glossário.
16
Idem.
24
De acordo com Dweck, 1999, referido por Pereira (2013), quando o as-
sunto é inteligência, existem duas visões em sua forma de percepção: como uma
entidade estática ou um processo dinâmico. Na primeira forma, os obstáculos
revelam a falta de capacidade, é uma percepção que atribui aos fracassos cau-
sas internas e estáveis, não controláveis, e aos sucessos causas externas, su-
bestimando suas conquistas, isso resulta em uma baixa motivação e na tendên-
cia de fácil desistência. Já a segunda forma de percepção pode ser alterada,
então o aluno acredita que a realização da tarefa depende do esforço e da es-
tratégia utilizada, aqui, o fracasso é atribuído a causas instáveis e o sucesso a
causas internas, resultando em uma alta motivação, que valoriza o esforço em
detrimento dos resultados e das capacidades. (Pereira, 2013)
5. A aprendizagem da escrita
Antes de entrar na escola, a criança pode ser capaz de fazer uma escrita
logográfica ou simbólica, em que desenha uma forma gráfica, isto acontece mui-
tas vezes com o seu nome próprio, esta é a primeira fase, a da escrita pré-foné-
tica. Quando a criança entra na escola, geralmente aprende as letras, a escrita
de palavras mais frequentes e algumas correspondências de segmentos sonoros
com letras ou sequências de letras (sílabas), esta é a fase da escrita fonética, na
qual a criança escreve fazendo a transcrição fonética da fala e, por isso, são
frequentes os erros ortográficos de segmentação, sendo comum faltar partes das
palavras. A terceira fase é a da escrita hábil, na qual as correspondências foné-
ticas e escritas são aprendidas pela criança e ditadas pelas regras de contexto
e pela morfologia. (Festas & Castro, 2013)
34
17
Definição no Glossário.
35
ocasionada pelo seu “modo de produção”, impressa ou manual, pelo estilo tipo-
gráfico, diferenças formais dentro de um mesmo modo de produção, ou ainda
pela diferenciação de minúsculas e maiúsculas. (“Aprendizagem da leitura e da
escrita.”, [s.d.])
O primeiro objetivo, que deve ser cumprido até o final do 1º período, dire-
tamente ligado à escrita é conhecer o alfabeto e os grafemas. Não se pode exigir
a nomeação de todas as letras, mas se espera que o aluno seja capaz de nomear
18 das 26 letras que constituem o nosso alfabeto. Entretanto, é importante res-
saltar que saber os nomes das letras é útil, mas não permite ler nem garante a
conscientização dos fonemas, a compreensão do princípio alfabético, que é o
que está em causa nesse início da aprendizagem. (“Aprendizagem da leitura e
da escrita.”, [s.d.])
18
Definição no Glossário.
19
Idem.
38
Após a aquisição da escrita, a fala do aluno passa a ser moldada por ela,
pois afeta a cognição, gerando em quem a produz uma maior compreensão da
língua, pela reflexão (metacognição ou tomada de consciência) que obriga. (Niza
et al., 2011) Portanto, o Guião de Implementação, (Niza et al., 2011) recomenda
aos educadores de infância e, posteriormente, aos professores que não esperem
pelo pleno domínio do desenho das letras para colocar os estudantes a escrever.
20
Definição no Glossário.
39
Antigamente, a escrita era vista como arte e era ensinada como um ofício
que despendia tempo, paciência e mestria, uma simples carta podia levar horas
para ser, cuidadosamente, escrita. Segundo Sassoon (1990), individualmente, a
escrita reflete parcialmente o que a criança foi ensinada (ou não) e parte do que
ela é, coletivamente, reflete a política educacional e história social de uma época.
Por isso é comum ouvir das pessoas o questionamento do porquê não escreve-
mos tão bonito quanto nossos avós ou bisavós, Rosemary responde a isso afir-
mando que: “The answer reflects a difference in both our social requirements and
our writing implements between then and now.” (Sassoon, 1990, p.3) Hoje, a
escrita faz parte do cotidiano de todos e, principalmente no ambiente escolar,
com o avançar dos anos, ela demanda cada vez mais rapidez, sem deixar de
lado a legibilidade.
Para que isso ocorra sem deixar sequelas ou traumas para a criança, o
educador desempenha um papel fundamental no ensino do método da escrita.
Rosemary Sassoon corrobora esse fato quando diz que “A model in itself does
not teach handwriting. The method is more important than any model, and the
teacher who teaches is most important of all.” (Sassoon, 1987, p.128). Por muito
tempo, a nitidez das letras era a principal preocupação quando se ensinava uma
criança a escrever, negligenciando o ensino do movimento correto do traçado,
um aspecto básico para obtenção da habilidade de junção das letras, o que con-
ferirá, posteriormente, fluidez e agilidade.
do traçado são imprescindíveis para que compreendam que uma letra aprendida
com o movimento incorreto será dificilmente alterada depois, mas uma letra
aprendida com o movimento correto, quando este se tornar automático, pode ser
alterada em sua estética e legibilidade de várias formas. É crucial que todos os
envolvidos na aprendizagem saibam que “(...) neat letters with an incorrect mo-
vement will prevent joining and cause faster writing to become illegible.”
(Sassoon, 1990b, p.12), isto para que o método de ensino seja partilhado por
todos os envolvidos e reforçado de forma unânime, afinal, “The more thoroughly
handwriting is taught at the beginning the less time will be necessary later on.”
(Sassoon, 1990b, p.1)
gina. Diz-se, ainda, que a escrita angular deixou de ser utilizada por estar cau-
sando problemas de postura nos alunos, o que não chegou a ser confirmado, e
que pode facilmente ser refutado quando adentramos uma sala de aula e obser-
vamos os alunos que aprenderam a escrita direita com falta de postura. Tendo
esse mito da postura caído por terra, a matriz Abc optou pelo regresso à letra
angular pois, além da escrita inclinada tender a conferir mais agilidade, ela tam-
bém permite um movimento mais fluido e relaxado da mão.
21
Definição no Glossário.
42
Figura 19. Exemplo da vetorização em seu início (a esquerda), após alterações (ao centro)
e para comparação das letras sobrepostas (a direita).
A abc é uma letra inovadora em vários sentidos, além dos já citados, ela
é uma versão híbrida, porém equilibrada, das letras cursivas e das letras de im-
prensa. Foi planejada para que as maiúsculas se assemelhassem às letras de
imprensa, contanto que continuassem com a fluidez da escrita à mão. Já as mi-
núsculas foram desenhadas para que o traçado fosse simples, direto e contínuo,
e para que uma letra funcionasse tanto isoladamente quanto em conjunto, nas
palavras, permanecendo com o mesmo desenho. (Figura 22)
44
22
As Escolas serão referenciadas com as letras A e B para que o anonimato seja mantido.
46
Amostra
• Outra constatação feita foi acerca do desenho do x, o qual não foi feito
em traçado contínuo, o que por vezes, fazia as partes ficarem tão separadas que
mais pareciam duas letras, o s e o c. Isso pode ser devido à falta de enfoque
e/ou orientação no movimento e traçado correto das letras. Curiosamente, houve
um aluno que fez o Q de uma só vez, o que foi “esperto”, mas que acarretaria
futuros problemas na continuidade da escrita. Algumas crianças também não
seguiam as linhas guia dos exercícios, sempre as desenhando em um tamanho
menor que o especificado, o que pode ser interpretado como falta de fluidez e
controle na movimentação do pulso, dificuldade em realizar movimentos amplos.
B: não houve dificuldade significativa para fazer essa letra, o resultado foi
bom e, com mais tempo de treino, sairia perfeita. Por vezes parece a letra R.
(Figura 28)
b: teve opiniões divididas entre o fácil e o difícil, mas sua execução foi
bastante satisfatória. Por vezes parece a letra f. (Figura 29)
S: foi considerada difícil, e sua execução não foi boa. Eles apresentam
dificuldade em fazer a distinção das curvas superior e inferior, fazendo com que
a letra ficasse parecida com um L.
x: é uma letra fácil, embora sua execução não faça parte das melhores
pelo fato de ser feita como duas letras separadas, e não como uma letra única.
51
A partir dos exercícios aplicados nas duas turmas das Escolas Básicas A
e B, fez-se uma análise dos dados coletados através dos cadernos e uma série
de induções foram feitas acerca da psicologia da instrução das crianças do 1º
ano e de sua escrita. A primeira observação pertinente a ser feita constitui no
lembrete de que turmas distintas, em escolas distintas e que possuem educado-
ras distintas possuem dinâmicas distintas. A dinâmica da turma tem grande po-
der de influência no desempenho de alguns alunos, por exemplo, uma turma
agitada que possui uma educadora também agitada, provavelmente será uma
turma mais dinâmica, na qual crianças mais tímidas se sintam reprimidas e até
mesmo incomodadas, e na qual crianças mais extrovertidas se sintam mais à
vontade e talvez até desleixadas. Certamente essas características não são fixas
e a personalidade de cada criança e o papel dos pais possui um grande peso no
desempenho do aluno.
54
A maior parte das crianças não seguia as linhas guia dos exercícios, sem-
pre as desenhando em um tamanho menor que o especificado, o que pode ser
interpretado como falta de fluidez e controle na movimentação do pulso, e que
reflete a dificuldade em realizar movimentos amplos. (Figura 37) Ainda pode ser
interpretado como falta de treino suficiente ou mesmo falta de conhecimento por
parte das crianças em saber o que as linhas determinam. Transmitir conheci-
mentos básicos sobre a função das letras é importante, e igualmente o é apre-
58
Uma vez que optei por não dar instruções detalhadas dos exercícios, pois
parti do princípio que as crianças no fim do primeiro ano do ensino básico já
compreenderiam os exercícios em questão, elas ficaram bastante livres durante
sua execução, e cada uma pode concluir o exercício segundo suas próprias es-
colhas, explorando possibilidades de traçado advindas delas mesmas.
Questões Objetivos
• O que você acha das letras que são Saber a opinião dos profissionais de
ensinadas nos manuais atuais? São educação sobre as letras ensinadas;
adequadas para as crianças? E para
os dias atuais? Confirmar a relevância do tema/projeto
do estudo.
atualmente já é obsoleto e deveria ser adaptado. Apesar disso, uma das profes-
soras afirmou que os professores perdem muito tempo ensinando as crianças a
desenhar letras e que isso não acarreta nenhuma função propriamente criativa
ou de aprendizagem da leitura e da escrita, com tal afirmação se pode depreen-
der que a importância do correto traçado para o desenvolvimento de caracterís-
ticas motoras e até mesmo sociais quando se aprende a escrever não é algo
enfatizado, ou mesmo dito, aos professores.
O alfabeto abc foi aparentemente bem aceito pelas professoras por ser
uma alternativa funcional ao que é ensinado atualmente e por apresentar traços
simples e, consequentemente, possibilitar uma maior personalização da letra por
parte do aluno.
63
7. Conclusão
Muitos acreditam que o ensino da escrita tem data de validade, sem entrar
em méritos de previsão do futuro, o que se constata efetivamente é que seu
ensino está muito aquém do desejado para os dias atuais, desatualizado, e que
a temática tem sido tratada com indigência, principalmente pelas escolas e edu-
cadores, que pecam mesmo em conceitos simples acerca desse conteúdo. Além
disso, é importante enfatizar a importância do questionamento sobre o modelo
utilizado atualmente: ele é adequado? Quais são as dificuldades que os alunos
sentem? Como posso ajuda-los? A sequência de ensino das letras utilizada hoje
é a melhor? Nota-se que existe o desejo de ensinar o que é mais fácil para o
aluno, mas existe a preocupação se isso vai ser o que é melhor para ele no
futuro?
A escrita manual ativa áreas do cérebro que são também ativadas durante
a leitura, mas que não são durante a digitação, o que é somente mais um argu-
mento a favor da valorização da escrita cursiva. A escrita cursiva não morreu e
não desaparecerá por muito tempo e agora é o momento ideal para a reflexão,
discussão e mudança sugeridas no decorrer deste estudo, em um tempo de di-
gitalização constante e geral, a escrita não deve ser menosprezada, o avanço
da tecnologia, o aprimoramento de técnicas e a adaptação aos ambientes digi-
tais existem em todas as áreas, não poderia ser diferente com a escrita.
65
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cação. Recuperado de http://www.dge.mec.pt/sites/default/files/Basico/Me-
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Niza, I., Segura, J., & Mota, I. (2011). Guião de implementação do programa de
português do ensino básico. Escrita. Lisboa, Portugal: Ministério da Educa-
ção e Direção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular. Recu-
perado de http://www.dge.mec.pt/sites/default/files/Basico/Metas/Portu-
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Veiga, F. H., Simão, A. M. V., Pereira, A., Carvalho, C., Oliveira, E., Sorome-
nho, G., … Caldeira, S. N. (2012). Psicologia da Educação: Teoria, Investi-
gação e Aplicação. Lisboa, Portugal: Santillana.
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Anexos
Glossário
Estímulo Neutro – É todo estímulo do meio que não causa a resposta es-
perada nos seres.
acordo com os parâmetros traçados para seu uso. Os estudos sobre o assunto
geralmente são relacionados à tipografia mais adequada para as crianças lerem,
envolvendo conceitos de legibilidade, mas neste trabalho o foco foi a tipografia
para crianças escreverem, o que não exclui a legibilidade, mas que dá destaque
ao traçado e, principalmente à contemporaneidade da letra.
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Trabalho de Campo
• A Escola A
• A Escola B
• 12 de abril 2016
Após isso, ela me apresentou duas professoras do 1º ano, junto das quais
desenvolveria meu projeto no decorrer de 4 semanas aproximadamente. A co-
ordenadora ainda sugeriu em qual turma o alfabeto seria aplicado, 1º A, e qual
turma seria de controle, 1º B, para efeitos comparativos. Com isso, foi marcada
uma reunião com elas para o dia seguinte. A Escola A possui 3 turmas de 1º ano
do 1º ciclo, no entanto, como uma das professoras é de contrato temporário, a
coordenadora sugeriu que eu desenvolvesse a pesquisa com as outras duas,
integrantes do quadro efetivo.
• 13 de abril 2016
Isto sendo posto, eu disse que conversaria com meus orientadores para
desenvolvermos uma forma alternativa de testar a matriz em questão, mas que
nesse tempo ser-me-ia muito útil entender melhor o processo de ensino da es-
crita em sala de aula, e que isso poderia ser feito em conversas/entrevistas com
as mesmas, consultando materiais de ensino e assistindo algumas aulas de por-
tuguês. A professora do 1º A, então, mostrou-me os livros didáticos que elas
usam como guias na alfabetização e também as letras que ela utiliza, expostas
na ordem de aprendizado, e não na ordem do abecedário (Figura 3 do anexo).
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• 14 de abril 2016
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Tentei contato por email e telefone, nenhuma das editoras forneceu resposta ao que foi questionado.
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• 15 de abril 2016
• 18 de abril 2016
• 28 de abril 2016
• 29 de abril 2016
• Escola A
Eu: Para começar gostaria que me falasse o que acha das letras que são
ensinadas nos manuais atualmente. Acha que são adequadas para as crianças,
para os dias atuais ou são obsoletas?
Prof: Pois, realmente pode-se dizer obsoletas porque estas mesmas le-
tras, e eu dou aulas há muitos anos, já posso falar com algum conhecimento de
causa, foram sempre as que eu dei, foram as que eu aprendi, e foram sempre
dois tipos de letra, uma letra impressa e uma letra manuscrita. Ou seja, é isso
que está aqui a ver, do lado direito estão as letras impressas, maiúsculas e mi-
núsculas e do lado esquerdo são as manuscritas. E de há longo tempo, de há
muitos anos atrás, e eu dou aulas há 36 anos, e foi sempre assim, foi sempre
este tipo de letra: direita, sempre as manuscritas de um lado, as impressas do
outro, os meninos têm que perceber que não podem fazer, pelo menos nesta
iniciação, nunca podem fazer as letras impressas, têm que saber identificar as
letras impressas e fazê-las manuscritas, mas é sempre esse tipo de letra já há
algumas décadas, pelo menos.
como por exemplo ao escrever Ilda, se não estiverem atentos, escrevem com
dois L no começo, eles misturam a impressa com a cursiva. Esses cartazes aqui
são fotocópias da editora, e o que eu fiz para eles entenderem qual é o “i” mai-
úsculo e o “l” minúsculo foi colocar aqui no “i” maiúsculo uns travessões para
identificarem a diferença. Pronto, isso é um dos casos que mais detecto nos me-
ninos, até porque o “i” é a primeira letra que se dá. Agora o abecedário já está
em ordem alfabética aqui, mas no começo fica na ordem em que aprendem,
como estava quando a menina (eu) veio aqui na vez passada, e isto tem a ver
com o exercício mais fácil para eles. Quanto mais difícil é a letra para fazer, mais
tarde são dadas.
Prof: Sim, não novas, antes não eram dadas, são letras que aparecem
com a vinda dos meninos estrangeiros. No meu tempo e durante muitos e muitos
anos, essas letras não faziam parte do alfabeto português, que era constituído
por apenas 23 letras. Atualmente este livro que já o dei há 3 anos atrás, mas que
para o ano vai mudar, e naquele ano já apareciam. Tem a ver muito com os
imigrantes, com as pessoas que recebemos aqui em Portugal.
Eu: Uma coisa que reparei nesse manual que vocês usam aqui é que, na
versão dos professores, no início do livro eles explicam todas as escolhas, o
porquê esse manual é bom, que eles prezam pela interatividade, colocam alguns
links, multimédia, e isso é muito importante para as crianças.
Prof: Sim sim, só que nós aqui não temos capacidade de trabalhar em
computador, se é isso que vai me perguntar.
Eu: Não, não é isso, o que eu ia falar é que, por mais que eles prezem e
já tenham ido para essa parte tecnológica, tem como contraponto a letra conti-
nuar sendo a mesma de há anos atrás, não houve atualização nesse sentido.
Prof: Não, não houve mesmo, houve essas pequenas nuâncias, da per-
ninha ser mais para cima ou mais para baixo, mas o resto é tudo mesmo igual.
O “Z” eventualmente há também quem o faça com uma voltinha, pronto, estou a
falar nos manuscritos, todas as outras letras são exatamente o mesmo. Aqui nós
ensinamos o “m” e o “n “mais compridinho, não a começar aqui, tão curto. Todo
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Prof: Se calhar era uma mais valia haver uma letra uniforme, em vez de
haver duas letras distintas (impressa e manuscrita), para os meninos é compli-
cado. Eu tenho alunos que têm problemas cognitivos, de aprendizagem, outros
problemas associados, e que chegam lá, mas demoram, eu tenho ainda alunos
que misturam letra impressa com manuscrita, porque não distinguem, não é fácil
para elas. Dentro da mesma palavra juntam os dois tipos, e algumas chegam
ainda a misturar maiúsculas com minúsculas no meio da palavra, é complicado,
porque no fundo eles acabam por ter de memorizar quatro tipos de letras, as
duas minúsculas e as duas maiúsculas. Se houvesse uma uniformização da gra-
fia, como esse alfabeto que está aqui a apresentar, uma mistura que tenta con-
ciliar a letra à máquina com a letra à mão, só se ensinaria uma como maiúscula
e outra como minúscula.
Eu: E em todos esses anos que você dá aula, qual você acha que é a
maior dificuldade que as crianças têm quando estão aprendendo as letras? É a
complexidade dos traçados?
Eu: Uma outra característica dessa letra que eu desenvolvi é ela que ela
tem as partes de cima (ascendentes) e de baixo (descendentes) bem compridas
para facilitar também no traçado e no movimento da mão. Outra coisa é que
quando começam a aprender a juntar uma letrinha na outra, juntar o bracinho,
dar a mão, essa letra (abc) tem um grande diferencial que é aprendendo a letra
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individual basta fazer uma seguida da outra que elas já ficam “automaticamente”
juntas, porque foi desenvolvida para encaixarem sem ter que adicionar traços.
Eu: É, foi intencional para facilitar o traçado, deixando ele simples, sem
ornamentos desnecessários, e também para permitir a liberdade própria do aluno
depois, de adicionar o que quiser, e colocar a personalidade dele na letra. As
letras também foram desenvolvidas para que se tenha que tirar a caneta/lápis do
papel o menos possível, são todas basicamente feitas em um traçado só. Você
acha que esse tipo de movimento estudado e todas as características que te falei
são úteis, são boas para as crianças, fariam diferença?
Prof: Sim, são úteis, até porque eu lhes digo sempre, não se interrompe
aqui a letra, começa-se numa ponta e vai se acabar exatamente no mesmo, às
vezes tenho alunos que começam em cima e fazem não sei quantas voltas, e
com o passar do tempo, com o aprender de mais letras, passam a começar al-
gumas letras de baixo para cima, e eu sempre digo, se começa de cima para
baixo. Como acontece com o “f”, há imensos adultos que fazem o “f” para a es-
querda, e o “f” é para a direita, e tem meninos que aprenderam a fazer para a
direita, mas que aprenderam a fazer para a esquerda com os pais. Mas aqui pelo
menos eu tento ensinar como está nos manuais.
Eu: E para terminar, foi uma coisa que eu reparei quando fui estudar os
manuais na sala dos professores, é que não apareciam os números.
• Escola B
Eu: O que você acha das letras que são ensinadas nos manuais de hoje
em dia? Acha que são adequadas, que são obsoletas? Qual sua opinião sobre
isso?
Prof: Eu acho que podem ser úteis para treinar a destreza porque nem
todas as crianças tem o mesmo ponto de partida, nem todas chegam ao primeiro
ano de escolaridade com a motricidade fina desenvolvida e aquele tipo de letras
foi criado com uma função, que foi fazer com que elas treinassem o mais possível
a motricidade fina. É possível que nestes tempos elas estejam um pouco desa-
tualizadas, desatualizadas na medida em que, como a escolaridade começa
cada vez mais cedo, isso quer dizer que cada vez mais crianças mais cedo de-
senvolvem a motricidade fina e não necessitam tanto de ter aquele tipo de letra
para desempenhar essa função.
Prof: Há 19 anos.
Eu: Nesses anos todos você viu alguma atualização das letras ou foi sem-
pre igual?
Prof: Nos manuais é sempre a mesma, difere o tipo de letra nos métodos
que os professores utilizam.
Prof: Não, aqui em Portugal não, no primeiro ciclo não há essa discussão
porque os professores cingem-se muito ao manual, se os professores não se
cingissem tanto ao manual talvez existisse espaço para a liberdade de escrita e
de criação de texto e a letra não fosse assim tão decisiva, tão importante. O que
acontece é que no primeiro ano, acho que essa é uma crítica que nós professo-
res fazemos, e temos que fazer a nós próprios, é que perdemos muito tempo a
ensinar a desenhar as letras e isso não está a ter uma função propriamente cri-
ativa ou de aprendizagem da leitura e da escrita.
Prof: Facilita porque eles (as crianças) deixariam de estar tão presos ao
que pensam que é aprender a escrever. Para eles aprender a escrever é fazer
igualzinho, não é eles próprios autonomamente criarem, querem ter igual ao do
colega, ao do livro, ao que a professora faz no quadro. Muitas vezes fazem aque-
las observações tipo “ih, eu não consigo fazer esta letra”, “experimenta, faz,
tenta”. Então os manuais, neste aspecto, e o método analítico sintético não aju-
dam.
mas a letra já havia mudado para a vertical, e eu quis retornar à inclinação pelo
fator da velocidade e facilita o aprendizado do traçado. E, por ela ser tão simples
(a letra abc), facilita no fator criatividade, eles aprendem o simples e depois co-
locam a personalidade deles em cada letra. Uma coisa que percebi nas crianças
quando faziam o exercício foi que em algumas letras que aparentavam ser mais
difíceis, quando eu mostrava como era o movimento adequado a ser feito, de
onde começar, de onde terminar, ficava mais fácil de fazer, e isso é um aspecto
que eu acho que não é tão enfatizado em sala de aula atualmente.
Prof: Exato, não é enfatizado, mas neste tipo de letra eles tem regras e
instruções, as duas principais são que as minúsculas começam por baixo e as
maiúsculas, regra geral, por cima. Elas existem, mas com o tempo foi se per-
dendo, quando eu comecei a dar aulas era muito mais utilizada que agora, que
é mais enfatizada a rapidez para poder cumprir o programa, o que faz com que
não haja muito tempo para eles desenharem as letras.
Eu: E você acha que que a lógica do alfabeto abc facilitaria o aprendi-
zado?
Prof: Sim, facilitaria sem dúvida, se permite que eles tenham mais leveza
no traço eu acho que facilita sempre. É o que no fundo nós queremos, que as
letras não sejam um obstáculo porque muitas vezes alguns (alunos) bloqueiam
por um período de tempo no obstáculo que é o desenho das letras, por exemplo
o “H” maiúsculo, o “Q” maiúsculo, a questão das confusões entre o “b” e o “d”,
que tem a ver com a lateralidade, quando eles não têm a lateralidade muito bem
definida.
Prof: Olha, isso é uma questão que tem a ver com psicologia, agora nem
eu me lembro e sei explicar muito bem, mas no método analítico sintético, o dos
manuais, e tem a ver com os sons, com a fonética, para agrupar sons, primeiro
vem as vogais, “i”, “o”, “u”, “e” “a”, depois as consoantes “p”, “t”, “d”, e por aí fora.
Prof: É fácil, são poucas linhas e eles aprendem desde muito pequenos.
Figuras-Anexo
Eu, ______________________________________________________,
_________________________ (cargo) da Escola Básica do 1º Ciclo _________
_______________, portador(a) do Bilhete de Identidade nº ________________,
declaro, para os devidos efeitos, que autorizo a estudante de Mestrado em Prá-
ticas Tipográficas e Editoriais Contemporâneas da Universidade de Lisboa, Ca-
roline Figueiredo Torres, brasileira, portadora de passaporte nº XXXXXX, a fre-
quentar a EB1 _____________ e suas turmas de 1º ano durante _____________
de 2016 posteriormente acordados a fim de realizar o trabalho necessário para
desenvolver seu projeto de Mestrado intitulado “ABC: uma fonte que auxilia o
aprendizado da escrita na infância”, que tem por objetivo primário o desenvolvi-
mento de uma matriz tipográfica para crianças que estão em processo de apren-
dizagem da escrita.
____________________________
Assinatura
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Eu, ______________________________________________________,
_________________________ (cargo) da EB1 _________________________,
portador(a) do Bilhete de Identidade nº __________________, declaro, para os
devidos efeitos, que autorizo a estudante de Mestrado em Práticas Tipográficas
e Editoriais Contemporâneas da Universidade de Lisboa, Caroline Figueiredo
Torres, a gravar e fazer anotações durante entrevistas/conversas conduzidas por
ela sobre o processo educativo, assim como, quando necessário, participar como
ouvinte das aulas que ministro e aplicar sua matriz tipográfica sob minha super-
visão e mediante combinação prévia.
____________________________
Assinatura
100
CONSENTIMENTO INFORMADO
___________________________
(Assinatura)