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PROCESSOS ORGANIZACIONAIS E

GESTÃO DO CONHECIMENTO
AULA 7 - A EDUCAÇÃO
AMBIENTAL E OS
PROCESSOS
ORGANIZACIONAIS

Olá!

As organizações foram afetadas em muitos aspectos após a globalização da


consciência ecológica. Alguns exemplos são referentes à tecnologia, à mão-de-
obra, aos seus processos produtivos e em especial às práticas de educação
ambiental.
No meio empresarial são cada vez mais difundidos os conceitos referentes
ao desenvolvimento sustentável, produção mais limpa, gestão ambiental,
certificações ambientais etc., são conceitos que procuram incluir as questões
ambientais na pauta das questões organizacionais.
A Educação Ambiental, nesse contexto, vem ganhando progressivamente
mais espaço nas empresas, uma vez que é essencial não somente trabalhar nas
questões de produção e consumo do setor produtivo da empresa, mas também
incitar a participação permanente dos colaboradores das organizações para que se
engajem ativamente em questões ambientais intraorganizacionais.
7 O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

A questão ambiental nas organizações modernas ocupa hoje grande parcela


dos esforços dos administradores, exigindo um novo perfil do profissional que consiga
articular e organizar uma estrutura administrativa, que comporte uma efetiva condução
de todos os setores das organizações rumo à responsabilidade social e ambiental.
Para que isso aconteça, é importante trabalhar com uma mudança de valores e de
postura, de forma que os mesmos possam contribuir para a resolução dos
desequilíbrios socioambientais que estamos vivendo (TEIXEIRA e TEIXEIRA, 2006).
Essa situação de desequilíbrio é consequência da ação racional do próprio ser
humano (aquecimento global, desmatamento, derretimento de geleiras, poluição,
ameaça de extinção de animais e dos recursos naturais, entre outros) e para ser
revertido é necessário que os seres humanos, em especial os que desempenham o
papel de gestores organizacionais, além de tomarem consciência dos resultados que
suas escolhas causam ao meio ambiente, possam implementar ações que consigam
superar os prejuízos e danos causados. Ao inserir na formação dos administradores
o debate sobre as questões ambientais, reafirma-se seu papel como agente de
transformação desse cenário.
Tendo em vista que o administrador é um profissional que atua diretamente nas
questões do cotidiano das organizações, e que muitas vezes desempenha papéis
decisórios dentro das mesmas, torna-se necessário abrir na sua formação um espaço
para que sejam discutidos, levantados e analisados todos os riscos e impactos
ambientais do modo de vida das sociedades industriais modernas. É importante
trabalhar com uma mudança de valores e de postura, de forma que os mesmos
possam contribuir de modo mais efetivo para a resolução de questões
socioambientais.
Sob essa perspectiva, as atividades a serem desenvolvidas pelos
administradores ficam cada vez mais abstratas, mais intelectualizadas, coletivas e
complexas. Vivemos tempos em que a busca de soluções adequadas para um
desenvolvimento equilibrado nos campos econômico e social tem sido alvo de
constantes e inadiáveis discussões dentro de um ambiente de crescente
complexidade e permanente mudança. Para enfrentar tal desafio, um importante papel
é destinado à área empresarial e, por consequência, às instituições de educação
superior.
Kruglianskas (1993, p. 3) destaca que “[...] o administrador moderno cada vez
mais terá que ser um solucionador de problemas ambientais ao invés de gerador de
impactos adversos ao meio ambiente [...]”. Segundo o autor, um dos desafios mais
relevantes dos educadores é capacitar esses graduandos para implementarem as
mudanças necessárias com o intuito de se reduzirem os problemas socioambientais.
Na formação para o exercício da gestão, vários são os apelos para se introduzirem as
discussões ambientais nos conteúdos programáticos dos cursos de graduação em
Administração.
Jacobi (2005) também ressalta que vivemos, no início do século XXI, uma
emergência que, mais que ecológica, é uma crise do estilo de pensamento, dos
imaginários sociais, dos pressupostos epistemológicos e do conhecimento que
sustentaram a modernidade. Uma crise do ser no mundo que se manifesta em toda
sua plenitude: nos espaços internos do sujeito, nas condutas sociais autodestrutivas;
e nos espaços externos, na degradação da natureza e da qualidade de vida das
pessoas.
A qualificação real dos administradores é muito mais difícil de ser observada e
se constitui mais no “saber ser" do que no "saber fazer". O conjunto de competências
que os cursos de administração terão que colocar em ação através da articulação dos
vários saberes oriundos de diferentes esferas (formais, informais, teóricos, práticos,
tácitos) para resolver problemas e enfrentar situações de imprevisibilidade, constituem
características desta qualificação real.
Freire (1996) destaca justamente a importância da práxis (ação/reflexão/ação),
pois não adianta somente o reconhecimento dos motivos que ocasionam a crise
socioambiental, é necessário agir de forma a superá-la. Quando se sabe e nada se
faz, estamos apenas contemplando a crise e permitindo a continuidade da mesma.
Para Pase et al. (2013), o maior desafio atribuído a gestão empresarial hoje é
a dificuldade de conciliar a produtividade com fatores relacionados à competitividade
e sustentabilidade. O novo gestor acumulará pressões de todos os lados e essas
pressões não estão relacionadas apenas aos órgãos regulamentadores, mas também
ao próprio cliente que, cada vez mais exigente, busca por produtos que reduzam a
degradação do meio ambiente, fazendo com que as empresas pensem em novas
formas de adaptação, sem que ocorra uma queda na produtividade das mesmas.
Segundo Alvarez, Philippi Jr. e Alvarenga (2010), a problemática ambiental
ocupa na atualidade lugar privilegiado para as discussões do avanço do
conhecimento, considerando os desafios teórico-metodológicos que encerra, assim
como os desafios para soluções de problemas gerados pela forma como o capitalismo
se desenvolve, articulado a uma tecnociência que o sustenta em detrimento dos
benefícios para as relações homem-natureza.
Além das dificuldades de implementação da EA (Educação Ambiental),
considerando um contexto geral, a sua inserção na formação dos administradores
descerra um debate relevante devido a aspectos específicos desse processo,
principalmente se considerarmos que os administradores são avaliados justamente
pela sua capacidade de gerenciarem recursos, multiplicarem riquezas e gerarem
desenvolvimento. Fazer com que a EA faça parte do processo de formação dos
administradores é uma tarefa desafiadora, uma vez que o debate ambiental propõe
uma discussão pautada pela necessidade de reflexão acerca da ideia do
desenvolvimento que é obtido a qualquer custo.
Segundo Leff (2000, p. 22), “da concepção de uma Educação Ambiental
fundada na articulação interdisciplinar das ciências naturais e sociais, se avançou para
uma visão da complexidade ambiental aberta a diversas interpretações do ambiente
e a um diálogo de saberes”. A Educação Ambiental apresenta-se como um dos meios
fundamentais na percepção dos problemas ambientais, pois é capaz de estimular a
tomada de consciência e possibilita a mudança de atitudes, além de viabilizar
formação e capacitação dos futuros administradores.
Assim, de acordo com Gonçalves-Dias, Teodósio e Carvalho (2009), a
formação de administradores é um dos campos da educação nos quais os desafios
de mudança do comportamento ambiental se apresentam de maneira mais decisiva.
Esses desafios não são só relativos à compreensão do comportamento e da dinâmica
de construção da consciência ambiental entre os futuros administradores, mas
também quanto ao desenvolvimento de propostas didático-pedagógicas que possam
fazer avançar o ensino-aprendizagem em gestão.
Então, podemos dizer que o desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento
que “responde às necessidades atuais sem prejudicar a capacidade das próximas
gerações de atender às suas próprias necessidades” (CMMAD, 1988, p. 6). De acordo
com Phillipi Jr e Pelicioni (2005), para alcançar o desenvolvimento sustentável é
fundamental educar a população para que ela se conscientize sobre o meio ambiente,
participe e exija a participação das empresas, do poder público e da sociedade nas
mudanças gerais que afetam o ser humano objetos da própria sustentabilidade.
Para fins educacionais, essas organizações propõem a EA como um
procedimento pelo qual, em consonância com a primeira orientação da Conferência
de Tbilisi (feita em 1977), os seguintes conceitos:

“o resultado de uma reorientação e articulação de diversas disciplinas e


experiências educativas que facilitam a percepção integrada do meio
ambiente, tornando possível uma ação mais racional e capaz de responder
às necessidades sociais” (DIAS, 2010, p. 107).

Em geral, é um método de transformação, conscientização e intervenção nos


hábitos e atitudes da sociedade como um todo, cujas orientações auxiliam o homem
a compreender e utilizar os recursos naturais de forma correta para atender às suas
necessidades (DIAS, 2010). Além da consciência ambiental, deve-se destacar o
impacto das suas ações sobre o meio ambiente e os outros.
A educação ambiental nas organizações possibilita que os funcionários
entendam as práticas organizacionais e se posicionem de jeito que não seja apenas
solidária, mas que desempenhe um papel ativo, não só dentro da empresa, mas
também fora dela. A formação dessa consciência exige um compromisso educativo
porque a educação para a cidadania responsável requer novas estratégias para
fortalecer a consciência crítica que permita a ação social de grupos de pressão
dedicados à reforma do sistema capitalista (PHILLIPI JR; PELICIONI, 2005).
A EA habilita os indivíduos para reivindicar direitos e cumprir obrigações,
mobilizar a participação social e a representação de grupos no cenário das políticas
públicas, lutando por melhorias e investimentos para uma cidadania ativa e igualitária.
O intuito é modificar a realidade para melhorar a qualidade de vida e atestar a
sustentabilidade.

7.1 A educação ambiental nas organizações

As empresas devem ser socialmente responsáveis e agir de forma sustentável.


O que antes não passava de um discurso de conveniência agora pertencem as
estratégias de muitas empresas para entender como alcançar a sustentabilidade nos
negócios. Além disso, não basta mais as empresas adequarem seus meios e
processos produtivos, mas também educar os funcionários sobre esse novo modo de
produção e trabalho que integra as esferas econômica, social e ambiental.
De acordo com esta nova concepção, a EA tem um papel social com o objetivo
de sensibilizar e melhor compreender os problemas que afetam o meio ambiente,
devendo também centrar-se nas pessoas de diferentes idades e níveis e capacitá-los
para desenvolver comportamentos positivos relacionados com o meio ambiente e a
utilização dos recursos existentes (SANTOS, 2007). Como tal, torna-se um auxílio à
implementação de políticas voltadas para o desenvolvimento sustentável.
A Lei nº 9.795/99 recomenda a atuação da EA no mundo organizacional,
exposto no Artigo. 3º, alínea V:

[...] às empresas, entidades de classe, instituições públicas e privadas,


promover programas destinados à capacitação dos trabalhadores, visando à
melhoria e ao controle efetivo sobre o ambiente de trabalho, bem como sobre
as repercussões do processo produtivo no meio ambiente (BRASIL, 1999).

A sustentabilidade era vista anteriormente como um processo alternativo,


embora fosse caro e altamente desvantajoso. No início, poucas empresas acreditaram
em seu propósito. Outros aproveitaram o estilo e o entenderam como uma maneira
fácil de melhorar sua imagem externa. Hoje, ainda existem alguns gestores de
grandes empresas que só entendem o desenvolvimento sustentável como um bom
método de mascarar a organização, para que outros possam ver.
Entretanto, outras organizações as têm como uma nova oportunidade de
negócio devido ao aumento da valorização e importância das questões ambientais na
organização, a empresa então, percebe que esta atividade não só acarretará
prejuízos, mas também será uma grande oportunidade de redução de custos
(DONAIRE, 1999).
A situação vivida por organizações altamente competitivas confirma a
capacidade de inovar, ou seja, de buscar novas e originais perspectivas para velhos
problemas, pois questões ambientais, antes considerados um sinal de prejuízo,
passaram a gerar preocupações nos consumidores e atração por aqueles que se
interessam pelo tema.

A questão ambiental galvaniza os segmentos mais conscientes da sociedade


civil, portanto pessoas com alto grau de influência pública. Esta, em
sociedade midiática, como a atual, pode promover ou abalar a reputação
organizacional. Impõe-se, pois, atenção visando modificar o paradigma da
produção em detrimento da qualidade de vida (SANTOS, 2007, p. 17).

Inúmeras empresas têm adotado esse novo paradigma de produção


sustentável. No entanto, pouco tem sido feito para conscientizar os funcionários. O
desafio de organizar o desenvolvimento sustentável no mundo é promover a EA no
ambiente interno da empresa. Não basta interferir na produção. É fácil mudar os
processos de produção, mas as pessoas não.
Conscientizar os integrantes da organização é fundamental para a
sustentabilidade da empresa. As mudanças em seus valores e cultura organizacional,
bem como no clima organizacional e nos mecanismos que influenciam os sentimentos
de seus integrantes, formam a base do processo de EA na empresa.
Esses fatores formam a base para entender como as empresas e seus
procedimentos administrativos afetam os interesses e o comportamento dos
envolvidos e afetados por elas. O valor do clima organizacional reside na sua
capacidade de motivar o comportamento das pessoas, neste caso o valor ambiental
(SANTOS, 2007).
É importante mudar hábitos. É importante mostrar às pessoas seus
comportamentos e atitudes erradas para encorajar a mudança. As atitudes de
algumas pessoas devem ser vistas como algo que as estão prejudicando agora e
certamente as prejudicarão no futuro próximo. Deve haver uma mudança de cultura e
valores pessoais internos. Não basta a empresa mudar o que os outros veem por fora.

Educado ambientalmente, o colaborador dispõe de motivação, conceituada,


neste caso, como combinação das tendências herdadas pela pessoa e do
ambiente que a influencia; é o impulso para a ação, combinando essas duas
forças, sustentando a atividade humana. [...] mantendo-se inspirada
ambientalmente, a organização contará com corpo funcional executor das
normas ecológicas, a par disso implementado maior produtividade por se
sentir intensamente motivada pelo que efetua (SANTOS, 2007, p. 17).

Compreender a educação ambiental não é importante apenas para as


organizações, mas sobretudo para a sociedade. Houveram muitas mudanças na
forma como os homens representam e usam os recursos naturais e o que eles
representam. Mais atenção precisa ser dada à conservação, que está redefinindo
drasticamente os padrões de consumo e produção para melhorar a qualidade de vida
das gerações atuais e futuras.
Em geral, as organizações estão cientes disso e estão prontas para a mudança.
Mas é preciso mudar, antes de tudo, a mentalidade dos gestores que dirigem as
empresas, para não se tornarem “maquiagens verdes”, sob pena de se perder o
principal objetivo do trabalho sustentável.
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