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Tudo para Dar Errado 2 - Brenda Paiva
Tudo para Dar Errado 2 - Brenda Paiva
REVISÃO
Stephany Cardozo Gomes
CAPA
Giulia Design
DIAGRAMAÇÃO
Camila Cocenza
Colin Scott
Madison Jensen
1. Meditar.
2. Beber um chá quentinho.
3. Enviar mais currículos.
4. Enviar solicitações de estágios.
5. Dizer um elogio a alguém.
6. Sorrir para pessoas desconhecidas.
7. Não pensar coisas negativas sobre as pessoas. Por mais que
elas sejam negativas.
8. Não perder a paciência com Colin.
9. Fingir que não percebi que ele estava me espionando hoje
de manhã.
10. Não brigar com Colin hoje.
11. Não pensar em Colin.
12. Não deixar Colin dominar minha lista.
Colin Scott
Madison Jensen
Eu: Oi.
Eu: Cheguei já.
Me encostei em uma parede e alisei o meu vestido azul, que estava um
pouco amassado. Ele já estava um pouco velho, contudo continuava lindo.
Era relativamente curto, chegava até o meio das minhas coxas, soltinho
em um estilo bem romântico, mas preso pelo pescoço, de um jeito que
valorizava os meus seios. Coloquei também um salto, só para não parecer
muito baixa e esperava mesmo que não estivesse arrumada demais.
Estava nervosa? Sim. Se fosse um encontro com as pessoas do meu
curso, eu não falava muito com quase ninguém e ficaria deslocada.
Se fosse um encontro só com Derek... bem, eu tinha dado um tempo
nos encontros desde o dia em que fiz o ritual fracassado com a minha vela.
Não queria mais criar expectativa para outra frustração e que a verdade seja
dita: estava ficando caro sair toda sexta-feira.
Hoje mesmo ia gastar o resto do dinheiro que tinha guardado para o
mês. Minha situação financeira nunca foi fácil, o momento mais
“confortável” da minha vida estava sendo aquele. Eu vivia de um dinheiro
reservado para mim, ele era bem pouco, porém eu era bolsista e sempre
aprendi a viver com o mínimo, então dava conta.
Até ser expulsa da fraternidade com as meninas no início do semestre.
Meu novo aluguel não era nada barato e isso me obrigou a enviar meu
currículo para vários lugares semana passada.
— Ei, você está linda.
Levantei o olhar depressa e encontrei Derek parado na minha frente,
vestindo uma camisa xadrez e calça jeans.
— Você também. — Sorri para ele e olhei em volta, procurando as
outras pessoas.
É, era um encontro.
— Demorei muito? Eu deveria ter pego você, mas fiquei preso na aula
até agora.
— Ah, sem problema. — Coloquei minha bolsa no ombro, um pouco
nervosa. — Você tem aula de noite também?
— Tenho algumas, esse semestre está puxado. — Derek seguiu para a
fila em que comprava os ingressos e o acompanhei logo atrás.
— Eu imagino, o último deve ser o mais difícil.
— O último é o que você menos se esforça. — Derek entrou na fila e
virou de frente para mim.
Ele desceu o olhar pelo meu vestido de um jeito discreto e acabou
focando no meu decote por mais tempo do que deveria. Joguei suavemente
o meu cabelo para a frente, querendo tampar a visão e olhei para o cartaz de
filmes ao nosso lado, um pouco desconcertada.
— Você gosta dos filmes da Marvel? — ele perguntou.
— Gosto sim — respondi sorrindo.
A fila andou e seguimos mais para frente.
— Não achei que fizesse o seu estilo — comentou, se aproximando um
pouco mais de mim.
Eu poderia reagir, incentivar ou recuar a investida dele, no entanto
paralisei no lugar logo que vi, por cima do seu ombro, Colin Scott
caminhando em nossa direção como se fosse o dono do lugar.
Ele tinha a postura descontraída, as mãos dentro dos bolsos da sua
calça preta, vestindo uma camiseta branca e deixando os braços fortes à
mostra. O seu maldito colar prata deixava tudo pior, parecia que tudo nele
era sexy.
O jeito de andar, como arqueava a sobrancelha em ironia, a curva que
seus lábios faziam quando sorria, os dentes brancos, os olhos azuis... até
mesmo a sua barba por fazer era atraente, com alguns fios castanhos e
outros loiros. Se ele não fosse altamente insuportável, eu até poderia me
sentir atraída por ele.
A maioria das pessoas ali eram universitárias e o reconheceram, as
garotas na nossa frente na fila o avaliaram de cima a baixo e eu odiava o
fato de ele ser tão aclamado assim.
— Isso só pode ser brincadeira — murmurei frustrada e Derek virou
para trás, procurando o que tinha chamado a minha atenção.
— Colin Scott — foi tudo o que Derek disse.
— Sim — concordei de má vontade. — É ele.
Colin estava olhando em volta, como se procurasse alguma coisa. E
assim que seus olhos pousaram em mim, ele abriu um sorriso felino.
Ele desceu o olhar pelas minhas pernas e subiu lentamente sua avalição
pelas minhas coxas, saboreando cada parte do meu corpo, sem deixar nada
de fora. Ele me encarava como se eu estivesse... nua, eu quase me senti
acariciada por onde os seus olhos passaram. Prendi a respiração e soltei o ar
quente devagar pela boca quando minha pele se arrepiou.
Era terrível ficar assim só com o jeito sujo que o cretino me olhava.
Quando finalmente ele chegou ao meu rosto Colin fez um “O” com a
boca, como se estivesse em choque por me ver ali.
— Madison! Você aqui! — Colin comentou surpreso e veio até nós. —
Quanta coincidência!
— Eu diria azar — corrigi seca.
Sinceramente, eu tinha que verificar o meu horóscopo. Sempre que ia a
algum encontro esse infeliz tinha que sair justo para o mesmo lugar?
— Que coisa, hein? — Colin balançou a cabeça abismado. — Parece
que toda vez que tenho um encontro você aparece.
— Olha só, eu ia dizer a mesma coisa — debochei, forçando um
sorriso.
— Eu poderia até pensar que você anda me seguindo... — jogou a
indireta no ar.
Mas era muita cara de pau.
— Eu tenho mais o que fazer da minha vida — disse afiada. — Pra
falar a verdade, eu acho que é você que anda me seguindo — atirei de volta,
lembrando das vezes em que ele me espionou pela janela da sua casa.
— Eu? — Colocou a mão no peito, horrorizado com a ideia. — Por
que faria uma coisa dessas? Em um dia de semana, que poderia estar em
casa estudando... O que ganharia com isso?
— Infernizar a minha vida, que é só isso que você sabe fazer.
Colin revirou os olhos.
— Nem tudo é sobre você, Madison. Eu vim assistir um filme com
Scarlett.
— Scar? — Franzi a testa sem acreditar naquela coincidência, até ver
minha amiga caminhando em nossa direção, fazendo algumas cabeças a
secarem por trás.
Ela pareceu quase aliviada por nos encontrar ali.
Minha amiga era gata. Do tipo que realmente chamava atenção. Ela
tinha o cabelo castanho escuro, longo e liso. Um corpo espetacular, a pele
levemente bronzeada e cheia de tatuagens. Entretanto, o que a fazia exótica
eram os seus olhos de tom lilás raro.
— Eu sou Derek — meu encontro se apresentou e eu fiquei
mortificada ao perceber que tinha esquecido completamente dele.
— Prazer — Colin disse em um tom seco e apertou a mão dele.
— Graças a Deus — Scar disse ao nos alcançar. —, já estava cansada
de rodar em cinemas.
— Oi, querida. — Me inclinei para beijar o seu rosto. — Como assim
rodar pelos cinemas? — perguntei sem entender e Colin estreitou os olhos
para ela.
— Eu vou comprar a pipoca — Scar avisou do nada com um olhar
provocativo, me dando outro beijo antes de sair.
— Vocês estão em um encontro também? — questionou Derek e senti
uma pontada no meio do peito.
Baixei o olhar depressa, encarando os meus saltos gastos. Eles eram
amigos, nunca tinha percebido qualquer coisa nesse sentido entre os dois.
Será que...
— Não — esclareceu Colin e ergui o olhar para ele. — A gente é
amigo, só viemos assistir um filme.
Estranhamente, me senti bem com aquilo.
— Então, que filme vamos assistir? — Colin perguntou animado.
Vamos?
— Algum da Marvel — respondeu Derek.
— E você vai assistir com a gente? — Ergui uma sobrancelha em
desafio.
Eu não iria ficar trancada em uma sala por horas com ele, já era
obrigada a morar ao seu lado. E ainda não tinha certeza se ele estava aqui
como stalker ou se era só coincidência.
Colin adotou um olhar magoado nitidamente fingido.
— Bem... — Suspirou Colin. — Se estamos atrapalhando vocês assim,
é melhor vermos outra sessão.
Como era cínico.
— Eu concordo — afirmei satisfeita, sem cair no seu joguinho.
— Nunca foi minha intenção forçar a minha presença aqui —
continuou o seu drama.
— Pois não force. — Sorri tranquila para ele.
— Nunca fui tão insultado em toda a minha vida — declarou e Derek o
olhou um pouco desconcertado.
— Você pode assistir com a gente, cara. Sem problemas — decidiu o
meu encontro e quis matá-lo ali.
— Oh! Obrigado, Derek! — Colin agradeceu e deu dois tapas nas
costas de Derek, acho que era para ser de um jeito amigável, mas acabou
saindo um pouco forte demais. — Entretanto, eu não ficaria mais aqui nem
se me implorassem, tenho orgulho.
Maravilha!
— Só vou aceitar o convite — continuou ele, acabando com toda a
minha alegria —, em respeito à Scarlett. — Ele apontou para Scar que tinha
chegado com as pipocas.
Ela revirou os olhos e chegou nossa vez de comprar os ingressos. Para
meu total desgosto, Colin escolheu as poltronas ao lado das nossas para
assistir “Capitão América”.
Seguimos pela sala do cinema em silêncio. Entrei na nossa fileira e
sentei na poltrona que escolhi, quando olhei para o lado vi que Colin tinha
passado na frente de Derek. Ele sentou na maior cara de pau no lugar do
meu encontro, ao meu lado. Meu colega de curso não viu outra opção,
sentou na poltrona que era do Colin, ficando ao lado da Scarlett.
— Você sentou no lugar dele — avisei a Colin.
— Ah, não! — Colin arregalou os olhos em susto. — Perdão, cara!
Esperamos ele se levantar para trocar de lugar, mas não aconteceu.
— Não acha melhor a gente trocar de lugar? — Derek ofereceu,
apontando para a cadeira dele.
— Não precisa — Colin o dispensou com um aceno. — Vai atrapalhar
as pessoas de trás.
— O filme não começou — lembrei-o.
— Pois é, só que eu não posso ficar me levantando assim — inventou
Colin, esticando as pernas de um jeito relaxado no assento. — Eu tive uma
lesão no joelho hoje no treino. — Ele massageou o local fazendo uma
expressão de dor que não acreditei nem por um segundo.
— Eu não sei se você notou, mas vim ao cinema com ele — sussurrei
perto do ouvido do idiota para Derek não escutar. — Vamos querer
conversar.
— Podem conversar. — Colin se sentou de uma forma em que eu
podia enxergar Derek perfeitamente.
Olhei para meu encontro, pedindo desculpas silenciosamente pelo meu
vizinho inconveniente. Derek deu de ombros, dizendo que estava tudo bem.
Scarlett apenas balançou a cabeça em negação sem tirar os olhos da
tela.
— Então, de onde vocês se conhecem mesmo? — Derek puxou
assunto.
— Somos vizinhos — respondeu Colin.
— Infelizmente — resmunguei baixinho, porém acabou saindo alto
demais.
— Não entendo porque tanto desprezo. — Colin olhou para Derek
arrasado. — Nunca fiz nada a ela.
Faça-me o favor.
— Eu posso listar uma série de coisas que você já me fez. — Se era
para lavar a roupa suja, eu podia fazer isso com gosto. — A começar por
me bisbilhotar com o binóculo.
O louco até já desconfiou que eu estava escondendo um corpo e um dia
a polícia apareceu na minha casa achando estranho a elevação no meu
gramado. Sabe o pior de tudo? Ele disse para os policiais que eu tinha um
metro e quarenta. Fiquei tão revoltada que joguei um saco de farinha de
trigo nele.
— Com um binóculo? — Derek arregalou os olhos surpreso.
— Sim! — confirmei, feliz por ter alguém do meu lado ali.
— Pelo amor de Deus, Madison, conte a história direito pra ele. Podem
pensar que sou um stalker louco — reclamou Colin, decepcionado comigo.
— E não é? — atirei de volta.
— Não, eu estava apenas cumprindo um dever que me foi dado —
afirmou.
— Que dever? — Ergui a sobrancelha.
— Eu não sei se vocês sabem, mas eu sou o líder da associação de
moradores da nossa rua — comentou Colin com orgulho.
Que história era essa?
— Que associação? — questionei.
— Da nossa rua — Colin respondeu como se fosse óbvio.
— E por que eu nunca soube dela?
— Porque só aceitam membros acima de um metro e sessenta. — O
babaca deu de ombros.
— Que absurdo! — declarou Derek, revoltado pela minha exclusão e
Scarlett apenas bufou em seu assento.
— A questão é que eu sou o líder — continuou Colin. — Ganhei por
votação democrática.
— O descaso do século — fiz questão de debochar, porém Colin me
ignorou.
— Cabe a mim a defesa e bem-estar de todos os moradores, por isso
comprei o binóculo, é por mera precaução. Vocês não têm ideia do que eu já
tive que enfrentar naquela rua, é um lugar bastante perigoso.
— Nisso eu tenho que concordar — ironizei balançando a cabeça para
ele.
— Tiveram muitos assaltos por lá? — Derek se inclinou na nossa
direção, interessado.
— Não muito — falou Colin. —, mas soube de uma vez em que a
polícia estava desconfiada que alguém da vizinhança escondia um corpo.
Olha, é cada uma que eu tenho que aguentar.
— Que isso não saia daqui — avisou Colin cauteloso e revirei os
olhos.
— E era verdade? — Derek perguntou.
— Parece que não — Colin informou e todos suspiraram aliviados, até
mesmo o pessoal da fileira de trás, que parecia estar escutando atentamente
aquele absurdo. — No entanto, ainda tenho um pé atrás com a elevação de
um certo gramado. Algo parece ter sido enterrado ali.
— Não foi — afirmei, estreitando os olhos para Colin. — Mas pode
ser.
— Que horror! — exclamou alguém da fileira da frente, prestando
atenção na nossa conversa.
— E onde fica essa elevação? — Derek indagou curioso.
Colin ficou um momento em silêncio, deixando o suspense no ar e
podia sentir que algumas pessoas estavam comendo as suas pipocas mais
devagar para ouvir a mentira que ele iria soltar a seguir.
— No gramado da casa da Madison — soltou de uma vez, fazendo
graça e várias cabeças giraram na minha direção.
Scarlett riu e fiquei feliz que ao menos alguém estava se divertindo.
— É bom você se mudar — Derek aconselhou.
— Acredite, se eu pudesse já estava bem longe — garanti a ele,
entediada. — Aquele lugar tem de tudo, até pervertidos — joguei a indireta.
— Pervertidos? — Colin ergueu a sobrancelha.
— Sim, você não se lembra? — Sorri, animada para também fazê-lo
passar vergonha. — Daquele vizinho que estava olhando os meus peitos
pela janela.
— Não me lembro disso. — Colin deu de ombros, só que eu podia ver
que ele queria rir.
— Eu me lembro, suspeito que todos os dias ele ainda me espiona.
Colin revirou os olhos.
— De onde você tira essas coisas? — Colin disse abismado.
— E a história da elevação no seu gramado? — questionou Derek,
preocupado. — A polícia foi investigar?
— Foi sim — Colin contou. — Passaram o dia procurando um fugitivo
de um metro e quarenta.
Meu deus, que ódio!
— Um metro e quarenta? — repetiu Derek, incrédulo.
Ouvi um ruído estranho e vi que era Scar prendendo o riso.
— Sim, era tão pequeno que ninguém conseguia pegar. Eu soube que
ele entrava nas casas pra pegar farinha de trigo.
O quê?
— Farinha de trigo? — Franzi a testa sem acreditar no rumo daquela
conversa.
— Sim — concordou Colin, triste. — Era viciado.
— Oh, Deus! — Alguém da fileira da frente murchou triste.
— Essa situação é terrível mesmo — concordou Derek, apiedado.
— Viciado em farinha de trigo? — ironizei e Colin me repreendeu com
o olhar.
— Não é bonito debochar do vício das pessoas, Madison — disse o
babaca.
— Também não é bonito inventar histórias sem pé nem cabeça —
pontuei.
O filme começou e todas as luzes se apagaram. Me encostei melhor na
poltrona, não querendo mais estender a conversa, mas não pude deixar de
alfinetar.
— Eu jamais vi tamanha mentira contada em uma só história —
murmurei baixinho e Colin sorriu.
— Eu sou bem informado dos babados da rua pois eu sou líder da
associação. — Piscou para mim e estalou a língua.
— Só se for a associação dos loucos.
— Maddie — chamou Derek e tentei vê-lo por cima de Colin. — Se
você quiser, a gente pode passar na sua casa depois, pra falar daquele
quadro.
Senti meu rosto esquentar, pois sabia o que aquilo significava, e ele
falou bem na frente do Colin e da Scar. Eu não queria estender, ele poderia
pensar que eu estava disposta a algo mais se fôssemos para o meu quarto.
— Pode ser. — Sorri e sentei direito no assento, fugindo do olhar dele.
— A gente combina depois — Derek garantiu e Colin esticou mais as
pernas grandes, parecendo incomodado com a sua posição, estralou o
pescoço e cruzou os braços na frente do peito.
Permaneci em silêncio e tentei me concentrar no filme por um tempo,
porém senti o meu verdadeiro problema com cinemas: frio.
Abracei o meu corpo e me encolhi no assento, coloquei o meu cabelo
espalhado para frente, querendo produzir calor de qualquer jeito. Senti o
braço musculoso de Colin roçando no meu e foi um alívio.
Me inclinei mais para ele, só um pouquinho, no entanto o suficiente
para sentir o calor do seu corpo. Não deveria ter feito isso, pois fiquei
praticamente colada ao seu corpo. Quis muito que nossas poltronas
tivessem aquele braço no meio, mas não tinham, e eu estava próxima
demais.
Colin tinha um cheiro gostoso. Era até difícil resistir encostar o nariz
na sua camiseta, além disso ele era quentinho. A sala estava gelada
demais... não tinha problema em me aproximar um pouco mais.
Sabíamos que nos odiávamos e não queríamos ficar perto um do outro.
Então, se eu me aproximasse dele, com toda certeza, não era com segunda
intenção. Tudo o que eu queria era calor...
Ah, tudo bem.
Encostei a cabeça no ombro dele bem devagar e Colin ficou
imediatamente tenso quando sentiu que estava deitando no seu ombro. Meu
coração acelerou em nervosismo e fiquei morrendo de medo de ele entender
aquilo errado.
Eu não estava dando em cima dele. Imediatamente me afastei e fiquei
ereta no lugar.
— Eu só estava com frio, não entenda errado... — sussurrei baixinho,
constrangida.
Ele não me respondeu. Tomei um susto no momento em que o braço
forte dele me envolveu e me puxou para o seu corpo.
— Pode me agarrar vai — provocou de brincadeira —, eu sei que é um
sonho seu.
— Até parece — murmurei e mirei Derek do outro lado olhando para
nós de um jeito estranho. — Eu estou morrendo de frio — expliquei, não
querendo que ele pensasse que Colin e eu tínhamos alguma coisa. — A
gente se odeia — completei, só para deixar bem claro.
Derek estreitou os olhos desconfiado, mas depois acenou com a
cabeça.
— Se não quiser ir pra sua casa — jogou meu encontro. —, a gente
pode fazer outra coisa.
— Claro. — Sorri para ele.
Era o mínimo, nem tivemos a oportunidade de conversar direito. E me
dava a saída para não ter que voltar para casa com ele.
Colin ficou calado, nos dando espaço, porém o seu braço começou a
me apertar com um pouco mais de força. Senti a sua mão na minha cintura,
ela era quente, como todo o corpo dele. O seu polegar foi acariciando meu
quadril e eu tive que respirar fundo.
De repente senti uma vontade de apertar as pernas uma na outra, e foi
exatamente o que fiz. Ele suspirou do meu lado, quase satisfeito e passou a
acariciar minha cintura, causando arrepios no meu corpo.
Fechei os olhos tentando controlar meu próprio corpo, respirei fundo, e
quando os abri de novo, peguei Colin me olhando atentamente. Ficamos nos
encarando até ele entreabrir os lábios e colocar a ponta da língua para fora.
Respirei fundo, sentindo minha própria boca ficar seca ao vê-lo
lambendo os lábios, molhando-os sem tirar os olhos de mim.
Não consegui desviar daquele gesto, fiquei quase hipnotizada pela sua
língua. Ela parecia travessa, assim como ele. Sem perceber, acabei me
pegando entreabrindo os meus lábios, sentindo um calor que vinha de
dentro.
A pegada dele ficou mais firme, sua mão desceu pelo meu quadril em
uma carícia que estava me deixando levemente trêmula.
Sabe aquele frio? Passou. Estava tão quente que eu poderia me abanar
ali.
A mão dele chegou na minha coxa nua, descansando ali. Não me atrevi
a me mexer, fiquei ali sentindo o peso da sua mão na minha perna. O
contato das peles.
E ele era tão cheiroso... desci o olhar pelo seu pescoço. Tudo nele era
masculino, ele tinha músculos até nas laterais do pescoço e as veias
pulsantes eram excitantes.
E eu não deveria estar prestando atenção nisso ali.
Ou em qualquer outro momento.
Subi o olhar depressa e o encontrei com a sobrancelha arqueada,
daquele jeito cafajeste dele e o odiei com todas as minhas forças para
compensar essa atração que eu sentia subir pelo meu corpo.
Ele me deu um sorriso sexy e o seu polegar girou em círculos em volta
da minha coxa. Me arrepiei toda e torci, com tudo de mim, para que ele não
percebesse.
— Com frio, pequena? — perguntou, passando o polegar de leve pelos
pelinhos arrepiados da minha coxa.
Estávamos próximos, de um jeito que o hálito quente e gostoso dele
atingiu minha boca.
— Uhum — confirmei, sem conseguir dizer uma palavra coerente.
O sorriso diabólico do cretino cresceu, como se soubesse que meu
arrepio não tinha nada a ver com o frio, e ele subiu o carinho até chegar no
limite do meu vestido. Seu dedo passeou bem onde o tecido terminava,
como se quisesse subi-lo um pouco mais.
Ok, estava excitada. Podia sentir a minha calcinha úmida. Isso era
muito, mas muito ruim.
Ele estava mesmo tentando subir mais o meu vestido no meio do
cinema? Do lado do meu encontro?
Colin com certeza achava que eu era boba e tudo bem, estava sentindo
meu rosto esquentar. Ele deveria estar se vangloriando disso, só que eu não
o deixaria saber que eu tinha uma leve atração por ele.
Leve. Que fique claro.
Sem tirar os olhos dele, toquei com a ponta do dedo a sua mão e Colin
ficou um pouco tenso quando nossos dedos se tocaram. Você também sente
esse atrito? Pode ser química. Ou ódio.
— Cuidado com a mão — sussurrei baixinho e fiquei orgulhosa de
mim mesma por ter conseguido soar de um jeito firme.
Colin não podia brincar comigo.
Seria uma jogada perigosa, e eu garantiria que não sairia perdendo.
Colin Scott
Madison Jensen
Colin Scott
— Todo mundo do campus está falando que vai rolar alguma coisa
aqui hoje — avisou Sienna, entrando na nossa casa com uma roupa de
ginástica rosa.
Sorri sem tirar a concentração do vídeo game que estava jogando com
Drake na sala.
— De onde você tirou isso? — perguntei cinicamente.
— Alguém andou dizendo por aí. — Ela deu de ombros e se sentou na
nossa poltrona. Senti o seu olhar sobre nós. — Algum fofoqueiro.
— Esse pessoal inventa cada coisa... — Drake estalou a língua para ela
em provocação, sem desviar da tela.
— Eu não estou sabendo de nada — mentiu Taylor deitado no outro
sofá, apenas assistindo nosso jogo.
— Vocês não têm vergonha na cara — ela murmurou. — Espero que
chamem a polícia.
— Não vão chamar — garanti, quase fazendo um ponto no jogo. — E
se formos presos, você vem junto — brinquei.
— Pode ficar na cela com a gente — Drake ironizou e vi de canto que
ela revirou os olhos.
Jogamos um pouco em silêncio até ouvirmos Johnny e Amber
descerem pelas escadas. O casal carregava duas malas grandes, parecia que
iam passar um mês fora.
— Vão passar mais de uma noite? — Sienna perguntou, indo ajudar a
amiga.
— Não, eu só fiquei em dúvida do que vestir hoje. — Amber deu de
ombros.
— Então resolveu levar tudo — completou Sienna, pegando uma bolsa
da mão de Amber.
Saímos do jogo e nos levantamos para ajudá-los também. Já tinha um
carro parado esperando por eles, então colocamos as malas no banco de
trás.
— Oh, que prestativo da parte de vocês — agradeceu Amber, sorrindo
para nós.
— Por nada. — Sorri de volta.
— Boa viagem! — Drake piscou para eles.
— Se divirtam! — Taylor desejou.
— Se eu souber...
— Ora, deixa disso. — Bufei interrompendo o capitão e bati nas suas
costas. — Relaxa! Eu cuido de tudo aqui — garanti.
— Não esqueçam de levarem os cachorros pra passear.
— Vamos levar — prometi e o empurrei para dentro do carro.
Ele entrou e Amber foi logo em seguida, empolgada, fazendo Johnny
ficar preso entre a namorada e as malas. Sienna jogou beijinhos para eles.
— Aproveitem a noite. — Ela acenou.
— Vocês também. — Amber acenou de volta.
— Vamos passar a noite estudando — avisei e quando Johnny se
inclinou para falar mais alguma coisa, Drake fechou a porta do carro na
cara dele.
— Atendam a minha ligação — Johnny mandou, apontando o dedo
para nós.
— Certo. Vá com Deus. — Dei dois tapinhas no vidro da janela,
avisando ao motorista que ele já podia ir.
Ficamos na calçada, acenando harmonicamente para eles enquanto o
carro seguia pela rua. E durante todo o caminho Johnny ficou olhando para
trás, tentando nos ver até o carro virar a esquina, como um maníaco.
Parecia um louco.
Assim que ele sumiu da nossa vista, um caminhão enorme dobrou a
outra esquina da nossa rua, seguido por uma quantidade incontável de
carros, buzinando para nós.
— Vão passar a noite estudando — Sienna balançou a cabeça em
repreensão.
Eu não disse qual seria o estudo.
— Vou deixar os cachorros dormirem no quarto do Johnny — avisei.
— Não é melhor eles ficarem no gramado? — sugeriu Sienna.
— Jennifer Aniston iria cagar tudo. — Dei de ombros.
Ainda era estranho falar aquilo em voz alta, mas a verdade era que
Jennifer Aniston era uma cagona. Amber tinha talento nato para nomes de
cachorros, Jennifer Aniston, Brad Pitt e Angelina Jolie viviam um triângulo
amoroso canino. Ou um trisal, ainda não tinha tirado uma conclusão.
— Pergunta importante. — Taylor se virou do nada para mim. — Tyler
está convidado? — perguntou sobre o irmão gêmeo.
Drake e Sienna ficaram em silêncio, observando a minha reação. Não
gostava nem de mencionar a última festa, pois sentia toda a minha raiva e
frustração voltando com força.
Sabia que Tyler deveria estar por perto. Olhei por cima do ombro e vi
que o gêmeo traiçoeiro estava encostado na porta da casa.
Tyler Hunt era idêntico ao seu irmão, a diferença estava na quantidade
de maconha que usava e na raiva que me fazia passar.
Não respondi Taylor, apenas segui para dentro de casa em silêncio.
Tyler abriu espaço para não esbarrar comigo e segui para o meu quarto sem
olhar para ele.
Eu sei que todos pensavam que toda aquela bosta podia ser deixada de
lado. Mas doeu. Não foi brincadeira. Eu ainda sentia aquela pontada no meu
peito. Não queria sentir aquilo nunca mais.
Foi sério.
Passei o dedo pela minha corrente no pescoço, minha eterna
companheira, e desci até alcançar o pingente. Era aquilo que me fazia
lembrar do perigo.
Era aquilo que me alertava que eu deveria parar.
Nada de binóculo. Nada de ficar olhando para ela da minha janela.
Nada de persegui-la nos seus encontros.
Eu não gostava dela. Não a suportava.
Madison Jensen
Malditas covinhas.
Eu deveria ter mais força de vontade. Era só ela falar com jeitinho que
me derretia? Deveria ser o líder da associação dos idiotas.
Segurei meu aspirador de pó sobre o ombro e me aproximei novamente
dos calouros revolucionários. Sorri para eles e apontei o cano do meu
aspirador na direção deles.
— Pessoal, infelizmente vão ter que apagar a fogueira.
— Por quê? — perguntou um deles, decepcionado por não ter o
símbolo do seu protesto aceso.
— Parece que o líder da associação dos moradores não gostou muito
disso — menti.
— Ora, quem é esse idiota? — questionou o calouro.
Um pobre coitado manipulado por uma ruiva de um metro e meio.
— Eu poderia dizer que isso é perigoso — apontei para a fogueira —,
mas a verdade é que tem um gnomo que está enchendo o meu saco.
— Como é? — perguntou o calouro com a testa franzida.
— Só apaguem isso — mandei firme e já iria fazer mais considerações,
quando um par de pernas torneadas desviou minha atenção dos
revolucionários.
— Colin! — A dona das pernas acenou para mim.
Era a mesma garota do refeitório, a que Madison me pediu para
responder.
— Olá. — Sorri para ela.
— Saudades! Você não me respondeu — falou decepcionada enquanto
o calouro tirou a própria camiseta e começou a abanar o fogo, fazendo-o
subir mais ainda.
— Mas o que é isso? — perguntei para o idiota que estava atiçando o
fogo.
— Estou apagando o fogo — esclareceu confuso.
— Você não vai apagar o fogo, abanando-o — informei com toda a
paciência do mundo. — É bom buscar água, uma torneira, sei lá, qualquer
coisa.
— Tá bom — ele saiu zangado.
Me virei para a garota novamente, só que ela sumiu para trás da
fogueira e tirou uns fogos de artifício de dentro de uma sacola.
Que porra era essa?
— O que é isso? — perguntei para ela, e a garota gesticulou com a
mão para eu repetir.
— O QUE É ISSO NA SACOLA? — gritei.
— FOGOS DE ARTIFÍCIO — respondeu um dos revolucionários que
estava a ajudando.
— Cuidado — avisei. — Não joguem isso na fogueira!
Várias cabeças se viraram na minha direção, sem ouvir direito pelo
som alto da música.
— OS FOGOS DE ARTIFÍCIO — gritei para eles e apontei para o
fogo. — NA FOGUEIRA.
Todos eles deram um passo para trás ao mesmo tempo.
— TEM CERTEZA? — perguntou a garota, temerosa.
— ÓBVIO — gritei de volta para os idiotas e eles arregalaram os
olhos, perplexos.
Que gente maluca.
O que eles queriam fazer? Jogar os fogos de artifício na fogueira?
Acenei para eles e já ia me virando quando vi os loucos jogando todos
os fogos na fogueira de uma vez. Corri na direção deles tentando impedir,
contudo já era tarde.
P.O.R.R.A.
MAS QUE PORRA.
— MAS QUE PORRA — xinguei para os jumentos e ouvi algumas
pessoas gritarem.
Todo mundo correu ao mesmo tempo, logo que começou o show de
luzes dos fogos saindo da fogueira. Larguei meu aspirador de pó e gritei que
era tiroteio para todos abaixarem a cabeça.
Tudo bem que os fogos pareciam fracos e a maioria estava saltando
para cima, no entanto algum deles poderia muito bem pegar em alguém.
Uma multidão começou a correr para todos os lados e tinha um milhão
de coisas com que me preocupar ali, mas só pensei em uma: meu gnomo.
Passei pelas pessoas procurando um vestígio de cabelo ruivo, e a cada
segundo que não encontrava ficava mais preocupado. Alguém podia ter
esbarrado nela. Podia tê-la machucado.
Os fogos não paravam, os gritos estavam por todo lado. Todo mundo
correndo, luzes de todas as cores, e nada da minha pequena.
— Maddie! — gritei, começando a sentir meu coração palpitar na
garganta e minhas mãos suarem.
Olhei para cada canto até finalmente achá-la.
Assim que nossos olhos se encontraram, nós dois paramos no lugar.
Ela estava assustada e puta ao mesmo tempo, porém correu na minha
direção mesmo assim. E eu corri na dela.
Não sei se ela ia me bater ou me abraçar, talvez os dois. Não esperei
para saber. Passei meu braço pelas suas pernas e a coloquei em cima do
meu ombro com cuidado.
— Colin! O que você tá fazendo? — perguntou ela, tentando se erguer
no meu ombro.
Não respondi, apenas caminhei o mais rápido possível até a minha
casa. Quando cheguei na varanda vi que o último fogo de artifício atingiu o
telhado da casa das meninas. Que merda do caralho!
O fogo não chegou a se espalhar, logo apagou, só que o telhado já era.
— Meu Deus! E os cachorros? — Madison tentou se virar para
enxergar melhor e esfregou a sua bunda na minha cara no processo.
— Estão na minha casa — tranquilizei, tentando desviar do seu
traseiro. — Dá pra parar de se mexer?
— Se você me colocar no chão — condicionou e não obedeci.
Pelo que podia ver da minha varanda, os fogos tinham acabado e
ninguém se machucou. Suspirei aliviado.
— Bem... — disse, tentando ser otimista. — Até que não teve um
estrago tão grande assim.
Ela ficou um segundo em silêncio.
— Não — comentou Madison, abismada. — Você não acabou de dizer
isso, Colin.
— Ninguém se machucou — assegurei, tentando ver se alguém tinha
se ferido, mas pelo jeito todo mundo só parecia querer voltar para a festa de
novo.
— E a casa? — O gnomo fez questão de apontar.
— Vamos dar um jeito — afirmei tranquilo e podia sentir os seus olhos
se revirando atrás de mim.
Desci da varanda e caminhei um pouco pela calçada, tentando
encontrar o pessoal.
— E quando você pretende me soltar? — resmungou Madison.
— Quando eu achar que você não vai me atacar assim que colocar os
pés no chão.
— Pois pode me manter aqui pelo resto da vida — se acomodou
melhor em mim, quase me abraçando para se segurar.
Era tão pequena que eu só precisava segurar com um braço para
mantê-la no lugar.
— Que merda! — xinguei do nada ao lembrar de uma coisa.
— O que foi? — perguntou ela, preocupada.
— Deixei meu aspirador de pó pra trás.
— Veja pelo lado positivo — falou irônica. — Você tem uma desculpa
pra não limpar a rua.
— Uma ótima desculpa — debochei e parei no lugar quando
finalmente enxerguei Drake.
Ele estava andando ao lado de Scarlett, Sienna, Tyler e Taylor. Assim
que eles nos viram, nossos olhares disseram tudo: “É, estamos fodidos”.
— Colin — chamou Madison.
— Oi, pequena.
— E agora? O que a gente vai fazer? — Suspirou preocupada.
— Não precisa se preocupar — avisei relaxado. — Somos todos
adultos prudentes aqui, vamos assumir a responsabilidade pelo que fizemos.
— Eu acho que a culpa disso tudo é sua. — Apontei para Tyler, logo
que todos se sentaram na sala da nossa casa.
Ele ergueu os olhos assustado.
— Minha? — Colocou a mão no próprio peito, incrédulo.
— Sim — afirmei. — Você conhecia aquele pessoal da maconha,
poderia muito bem ter me avisado que eram loucos. — Coloquei as mãos
no quadril.
— Eu estava morto. — Tyler alegou, caindo no sofá. — Pra falar a
verdade, a culpa disso é do Drake! — Apontou para Drake, que levou um
susto.
— O quê? E o que eu fiz? — perguntou Drake, confuso.
— Me embebedou!
— Você só bebeu três cervejas. — Drake mostrou para ele os seus três
dedos.
— O que foi suficiente, ainda estou querendo vomitar. — Tyler apertou
a barriga e Scarlett saiu de perto dele imediatamente.
— Eu acho que a culpa disso é do Taylor — Drake acusou, olhando
desconfiado para Taylor.
E todos fizeram o mesmo. Taylor estava mesmo com o comportamento
muito suspeito.
— Eu nem estava com vocês! — se defendeu Taylor, indignado.
— E é por isso mesmo. Onde você estava quando deveria cuidar de
tudo? — questionou Drake, cruzando os braços em frente ao peito.
— Não sou babá. — Taylor tirou o corpo fora. — E Colin? A ideia
disso tudo não foi dele?
Olhei em choque para o meu amigo.
— Que feio, Taylor — murmurei em negação para ele. — Que feio!
Querendo sair fora acusando um inocente!
— Um inocente? — Madison virou para mim em deboche.
Aquele gnomo manipulador...
— Agora finalmente chegamos na causadora de toda a confusão aqui.
— Levantei da poltrona e abri os braços, pronto para defender minha tese.
— Madison que começou tudo, foi ela que quis interromper o protesto.
— Que protesto? — questionou Scarlett, curiosa.
— O protesto contra a paz que eles queriam fazer — informei.
— Contra a paz? — Taylor enfatizou em dúvida e ergueu a
sobrancelha.
— Não sei se era contra ou a favor — Dei de ombros. — Porém,
Madison fez questão que eu fosse interromper a revolução deles.
A ruiva cruzou os braços e adotou uma expressão entediada, esperando
mais do meu discurso.
— E eu tenho testemunhas. — Estalei os dedos, chamando a atenção
de todos. — Sienna, Drake, Scarlett e Tyler estão de prova em como
Madison me seguiu mesmo quando eu implorei pra ela me deixar em paz.
Depois disso a mesma ficou enchendo o meu saco até eu ir interromper um
protesto importantíssimo.
— Bem... — Drake pediu desculpas para Madison com o olhar. — Eu
vi você indo atrás dele, bruxinha.
Me virei para Sienna, esperando ouvir o que ela tinha a dizer sobre
aquilo.
— Meu namorado não encontrou o meu clitóris — ela disse e virou o
copo de bebida que estava segurando.
Todos a olhamos em choque com aquela revelação, sem saber o que
dizer.
— Bem... — Cocei a nuca um pouco desconsertado. — Isso é
realmente terrível.
— Isso foi no momento da explosão? — perguntou Taylor, tentando
entender qual a conexão daquele fato com o assunto discutido.
— Não, foi antes — contou Sienna. — E em todos os outros momentos
da minha vida.
É, o que poderíamos falar?
— É lamentável — ajudou Tyler, apiedado e Madison alisou as costas
da amiga em consolo.
— Talvez ele seja escondido demais — ela continuou e acho que nunca
fiquei tão sem palavras em uma conversa como estava naquela ocasião. —
O meu clitóris — ela explicou quando ninguém disse nada.
— Nós entendemos, querida — falou Scarlett.
— Se você quiser que eu procure... — ofereceu Drake, descaradamente
e todos o olhamos em repreensão.
Ele ergueu as mãos em rendição, sabendo que não era uma boa hora
para dar em cima da bailarina.
— E você, Scarlett? — perguntou Taylor, querendo mudar de assunto.
— Qual o seu depoimento?
Scarlett suspirou.
— Eu estava dançando e minutos depois tudo o que vi foi uma
explosão. Todo mundo começou a correr e Tyler disse que estava tendo uma
premonição.
— E estava — confirmou Tyler, convicto.
— Não era o filme que você assistiu na semana passada, não? —
Madison sugeriu.
— Pode ser, ou eu estava tendo uma visão — respondeu.
— Sim — continuou Scarlett. — Depois disso só vi Colin passando
correndo agarrado com a Maddie.
— Opa! — alertei indignado.
— Espera aí! — Madison se levantou revoltada.
— Não estávamos agarrados — eu e a ruiva falamos ao mesmo tempo.
— Eu vou tomar nota disso — garantiu Taylor, anotando tudo no seu
celular. — Alguém tem mais alguma coisa a dizer? — Ele ergueu o olhar
para todos os presentes.
— Eu tenho. — Madison levantou a mãozinha. — Colin estava no
local da explosão, ele foi pra lá querendo resolver tudo e o que aconteceu
logo em seguida? Quase todo mundo morreu.
— “Quase todo mundo morreu” — repeti em deboche. — Não seja
dramática...
— Eu senti a premonição — interrompeu Tyler.
— Pouco me importa — murmurei. — A questão aqui é que
deveríamos todos culpar a Madison.
— Ora e por quê? — A ruiva colocou as mãos no quadril.
— Por que você é a mais fofa aqui, e quando Johnny chegar... —
joguei o suspense no ar e engolimos em seco ao mesmo tempo.
— Ele vai ficar puto — constatou Drake, nervoso.
— Ele pensa que nesse momento estamos estudando, não que
acabamos de botar fogo na casa — falei em um suspiro.
— Acabamos? — repetiu Madison. — Quem quase botou fogo em
tudo aqui foi você.
— Não chegamos nessa conclusão ainda. — Apontei meu dedo para
ela.
— Eu cheguei — disse a pequena.
— Quão grave é a nossa situação? — perguntou Scarlett para mim.
Suspirei e me sentei na poltrona.
— Eu conversei com os bombeiros sobre a casa de vocês — revelei. —
Tenho tudo sob controle, não foi nada muito grave.
Todos suspiraram aliviados, até Sienna ficou mais animada, sentando
direito no sofá para me ouvir.
— O que aconteceu foi que o fogo de artifício explodiu no telhado,
destruindo a metade do teto. Alguns canos também estouraram e por isso
molharam a casa, que infelizmente é feita de uma madeira de péssima
qualidade. — Eles foram murchando à medida que fui falando. — Mas —
Tentei animá-los. — O lado bom disso tudo é que a madeira já estava bem
gasta, então a água apenas terminou de acabar com ela, deixando a casa
inabitada.
Eles me encararam em silêncio.
— Esse é o lado bom? — Madison perguntou murcha.
— Exatamente — confirmei, dando de ombros. — A casa já estava
horrível mesmo, a qualquer momento ela ia cair sobre as suas cabeças.
Então, de certa forma, eu acabei salvando a vida de todo mundo. — Abri os
braços. — Eu sei, podem me agradecer.
Ninguém falou nada.
— Estão muito emocionados, eu entendo. — Dispensei eles com um
aceno.
— Então... — murmurou Sienna, em choque. — Estamos sem casa?
De novo?
— Dentro do mesmo semestre — lembrou Scarlett. — Acho que nosso
destino é ficarmos sem teto.
— Não precisam se desesperar — garanti. — Vocês podem morar aqui
enquanto a casa entra em reforma.
— A casa entra em reforma? — repetiu Madison. — E quem vai pagar
por isso?
— É nesse momento que vocês agradecem a Deus, porque além de
lindo, gostoso e talentoso, ele ainda me fez rico. — Pisquei para elas, que
apenas viraram os olhos.
— E onde a gente vai ficar aqui? — questionou Scarlett, olhando ao
redor da nossa casa.
— Tem cinco quartos, a gente se organiza. — Drake deu de ombros. —
Um fica com o Johnny e a Amber.
— E é aqui que vamos focar a nossa energia — chamei a atenção deles
para o meu plano. — Quando Johnny chegar vai querer matar todos nós.
— Ou só você — alfinetou o gnomo cínico e a ignorei.
— O fato é que sei como vamos sair dessa — continuei. — Usaremos a
loira como escudo, assim que Johnny souber que Amber vai ter que morar
com ele, ficará imediatamente satisfeito.
— Isso até ele lembrar que vai dividir a casa com mais sete pessoas. —
Riu Drake, já prevendo a confusão.
— Ele não é tão terrível assim... — Não terminei de falar, pois o meu
celular começou a tocar.
Era uma videochamada de Johnny. Cada um ali arregalou os olhos e se
agarrou ao assento, assustado.
— Todos fiquem calmos — mandei, atendendo com um sorriso falso
no rosto. — Olá, capitão.
A cara rabugenta de Johnny surgiu na tela, olhando tudo ao redor com
desconfiança. Amber apareceu ao fundo, acenando alegremente para mim.
— Onde você está? — ele perguntou.
— Nem um “boa noite” primeiro? — repreendi de brincadeira, mas ele
apenas revirou os olhos.
— Boa noite — desejou Amber, atrasada.
— Boa noite — devolvi, piscando para ela. — Estou na sala. — Dei de
ombros, mostrando mais um pouco da nossa sala.
— Cadê todo mundo?
Rá! Ele estava crente que estávamos dando uma festa. Era ótimo ver
essa cara de surpresa.
Ok. Estávamos, porém ela já tinha acabado.
— Já foram dormir. Fui o único que fiquei acordado, estava estudando
— menti coçando a nuca, fingindo cansaço.
Todos começaram a acenar positivamente para mim, aprovando minha
atuação. Nem pude agradecer de volta pois Johnny estava olhando para
tudo em volta.
— Pode virar a câmera? Queria ver se vocês não botaram fogo na casa.
— Ele estreitou os olhos e Amber bocejou ao seu lado.
Drake e Taylor começaram a fazer movimentos com a cabeça, dizendo
para negar.
— Botar fogo na casa? — Forcei uma risada. — Você acha que somos
crianças? Está tudo bem aqui — disse, gesticulando com o braço para eles
se abaixarem.
Seria cômico, se já não fosse trágico. As meninas foram para trás do
sofá, se escondendo. Drake e Taylor se jogaram no chão de uma vez e Tyler
olhou em volta, perdido, até resolver se agachar.
Virei a câmera achando que estavam escondidos, entretanto o gnomo
tinha sido lento. Madison ainda estava passando as pernas pelo sofá e
quando olhou o celular na sua direção, parou no lugar.
— Maddie? — chamou Amber, sem acreditar e ela abriu a boca sem
saber o que dizer.
— Oi. — A ruiva acenou debilmente. — Eu... eu...
Balancei a cabeça negativamente para ela.
— Ela veio pedir uma xícara de chá — esclareci, aparecendo na tela.
— Você sabe como Madison é, adora arranjar uma desculpa pra passar um
tempo comigo.
Madison fez uma cara de escárnio.
— Eu só vim falar com os meninos — o gnomo desconversou, vindo
para o meu lado.
— Eles não estavam dormindo? — perguntou Amber, confusa.
Perfeito.
— E estão — continuei a mentira. —, estávamos meditando.
— A essa hora? — Johnny franziu a testa estranhando e Madison
apenas confirmou com um aceno de cabeça, sem conseguir mentir em voz
alta.
— Sim, a concentração é melhor — expliquei.
— Vocês dois... estão sozinhos... — Amber comentou, sem filtro como
sempre.
Eles olharam para o meu peito nu e depois para Madison, que estava
com o cabelo um pouco bagunçado por ter sido carregada em cima do meu
ombro.
— Ah meu Deus, não é isso que vocês estão pensando — ela se
apressou a esclarecer.
Preferi permanecer em silêncio.
— Certo... — Johnny disse desconcertado e Amber deixou o queixo
cair, chocada. — Acho melhor deixar vocês dois sozinhos.
A ruiva cobriu o rosto com as mãos, tampando as bochechas vermelhas
com uma expressão de horror.
— Eu já estava indo pra casa! — ela disse, morta de vergonha.
A casa que está sem teto?
— Ora, vocês não precisam parar só porque a gente ligou —
argumentou Amber, abismada e se virou para o namorado. — Amor, deixa
eles em paz.
— Sim — Bocejei, colocando meu braço em volta dos ombros do
gnomo. — Estamos mortos.
Ela ficou tensa, provavelmente querendo chutar as minhas bolas. E eu
estava fazendo de tudo para não rir da sua cara enfezada.
— É melhor a gente ir — cedeu Johnny. — Boa noite.
— Boa noite pra vocês. — Amber piscou sugestivamente. — Maddie,
Maddie... — zombou ela. — Quem diria, hein?
Madison estava com a cara de quem queria se esconder para sempre.
— Boa noite. — Sorri e desliguei na cara deles.
Gargalhei e o gnomo revoltado me empurrou.
— Ai que ódio! — ela disse.
— Pelo menos, funcionou — Scarlett pontuou se levantando.
— Em que quartos vamos ficar? — perguntou Sienna se
espreguiçando.
— Pode ficar no meu — cedeu Taylor para ela. — Eu sou o único
inofensivo aqui.
Sienna enlaçou o braço no dele depressa, já ocupando a vaga.
— Eu não vou dormir no mesmo quarto que vocês. — Scarlett apontou
para mim, Tyler e Drake.
— Pode ficar com o meu quarto, eu durmo com um dos meninos —
cedeu Tyler.
— Obrigada! — agradeceu ela.
Todos olhamos ao mesmo tempo para a ruiva, esperando ela falar em
que quarto queria ficar, mas Madison estava me encarando e só então a
ficha caiu para mim.
Nós dois.
Morando na mesma casa.
Iríamos nos matar em um dia.
E todos na sala pareciam pensar a mesma coisa, pois o silêncio reinou.
— Infelizmente, eu não posso dividir o meu quarto com ninguém.
Terei que ficar sozinha — informou Scarlett do nada.
— Eu também não, já vou ficar com o Taylor — Sienna puxou Taylor
para a escada.
— E Tyler terá que ficar no meu quarto, já que Colin não está falando
com ele — Drake revelou, também subindo para os quartos.
— Ora, de onde você tirou isso? — perguntei em desespero. — Já
fizemos as pazes! Lógico que ele pode ficar no meu quarto!
— Eu ainda não me sinto preparado pra essa intimidade, Colin —
Tyler me dispensou. — Não vamos dividir a cama logo depois da
reconciliação.
— Assim não sobra espaço — disse Madison, nervosa, entendendo a
mensagem deles. — Não posso dormir com Colin!
A ruiva riu de tão absurda e louca que era a ideia. Eu tive que rir junto,
porque eles só podiam estar de brincadeira, porém a piada acabou quando
todos subiram apressadamente as escadas.
— Boa noite — se despediu Drake.
— Isso só pode ser brincadeira! — Madison correu atrás deles. — Eu
não vou ficar no mesmo quarto que Colin.
— Lamento, querida. — Sienna se virou para jogar um beijo por cima
do ombro.
— Eu não posso ficar com a Madison — avisei, nervoso. — Ela vai
encher o quarto de incenso, pode me matar asfixiado.
— Tadinho — murmurou Scarlett em ironia e eles sumiram da minha
vista.
Madison foi atrás deles apressadamente e a segui.
— Alguém pode trocar de lugar comigo? — tentou Madison.
— Todos estamos muito felizes com as nossas acomodações — Tyler
comentou satisfeito.
— Eu não estou feliz — lembrei-os, entretanto eles bateram as portas
dos seus quartos e nos deixaram sozinhos no corredor. Quase pude ouvir os
risos de cada um. Desgraçados.
Que inferno. Eu não ia dormir com a ruiva, ficaria de pau duro a noite
toda.
Ela suspirou do meu lado e a olhei de canto. Estava cansada e
nitidamente com vergonha. E eu não sabia lidar com o seu lado tímido e
doce, ficava mais suscetível a fazer tudo o que ela quisesse. Mais do que já
era normalmente.
E não queria ficar perto demais de alguém tão perigosa assim.
— Você pode ficar com o quarto — avisei, entrando no meu quarto
para usar o banheiro. — Vou só tomar um banho e depois vou pro sofá da
sala.
— Não precisa...
— Não tem problema — interrompi-a, fechando a porta do banheiro.
Que porra!
Ela ia dormir na minha cama? Deixar seu cheiro no meu quarto? Iria
tê-la andando de pijama pela casa? O que era isso? Tortura?
Definitivamente, o lugar mais seguro para mim era a sala.
Madison Jensen
Abri os olhos percebendo que tinha acordado bem cedo. Virei de lado e
vi que meu gnomo já não estava mais ali, mas todo o quarto estava com o
seu cheiro de cereja.
Sorri ao lembrar do jeito que ela ficou irritada na noite anterior, ou
como foi até a sala me chamar, toda acanhada e vermelha. Tinha uma queda
por essa garota quando ficava corada, era linda demais para sanidade de
qualquer um.
O seu lado da cama estava arrumado, e eu notei na noite anterior que
ela dormia encolhidinha e agarrada ao travesseiro. Senti ciúme do objeto,
queria que ela me procurasse assim que sentisse frio, eu resolveria o seu
problema.
Resolveria todos os seus problemas, faria qualquer coisa que me
pedisse se ela me deixasse abraçá-la à noite.
— O som da sua respiração é tranquilo — a voz meiga de Madison
soou atrás de mim e me virei surpreso para ver que a garota estava sentada
na minha janela.
A ruiva ainda estava com o mesmo pijama da noite passada, sentada na
janela aberta, olhando para o céu e segurando uma xícara de chá. Do
mesmo jeito que a encontrava de manhã enquanto espiava pelo binóculo.
Era estranho finalmente ver aquela imagem de perto, a luz do sol
refletia no seu rosto de um jeito que o iluminava todo. Ela tinha o cabelo
preso em um choque bagunçado e alguns cachos desciam suavemente por
seu pescoço.
— Que horas são? — perguntei ao perceber que era cedo demais.
— Cedo. — Deu de ombros. — Eu acho que devo ter acordado você
quando fui fazer meu chá — disse em um tom de desculpas.
— Sem problemas. — Sentei na cama e espreguicei meu corpo.
Pela manhã a luz do sol entrava no meu quarto de um jeito que batia de
frente para a minha cama, então fiquei cego por uns alguns segundos até
caminhar ao seu encontro. Sentei na outra ponta da janela, de frente para a
pequena, e assim que meus olhos se acostumaram com o brilho consegui
ver melhor seu rosto de perto.
Madison estava olhando para mim admirada, e me dei conta de que
estava com o peitoral nu. Ela corou e desviou o olhar para encarar o céu de
novo.
— Fiz chá pra você também — falou desconcertada, tirando um cacho
ruivo da frente do rosto.
— Eu não tomo chá — respondi um pouco hipnotizado pela imagem à
minha frente.
Que porra.
Ela era linda demais. As sardas salpicadas na ponta do nariz, a boca
rosada carnuda, os cachos caindo ao redor do seu rosto, os olhos cor
esmeralda em um tom vivo, vistos pela luz da manhã... era tão perfeita que
me senti em um momento precioso, só por poder olhá-la de perto.
Madison também parecia hipnotizada, porém olhando para sua própria
paisagem no céu. Ela respirou fundo e fechou os olhos, feliz.
— Não é lindo? — perguntou distraída, jogando levemente a cabeça
para trás, deixando-se ser banhada pela luz. — Quase uma obra de arte.
— Tenho que concordar — comentei sem conseguir desviar do seu
rosto.
Ela sorriu discretamente, relaxada, ainda com os olhos fechados.
— O som da sua respiração... — disse, aproximando a xícara de chá da
sua boca. — É tranquilo.
— Tranquilo?
— Sim, e isso quer dizer que você teve um sonho bom — contou com
convicção.
— Não costumo lembrar dos meus sonhos — revelei e ela abriu os
olhos, intrigada.
— Eu sempre lembro dos meus, às vezes anoto. Podem ser cheios de
significados. É bom sonhar.
Quando olho pra você é quase como se eu estivesse dentro de um.
— Não me diga que você passou a noite acordada só me ouvindo
respirar, isso é meio bizarro — provoquei e ela sorriu de um jeito que as
suas covinhas apareceram.
Madison inclinou a cabeça um pouco mais para o lado, a luz do sol
banhou o seu pescoço, e eu quis muito dar um beijo ali ou sentir o seu
cheiro vindo diretamente daquela pele sedosa.
— Como você mesmo sabe — Ela inclinou a xícara na minha direção.
—, eu gosto de ver o sol nascer às vezes.
— É algum tipo de ritual?
— Não, eu só acho o ar da manhã puro. — Ela respirou
profundamente, como se demonstrasse o que dizia. — É limpo, o som dos
pássaros, o clima... a energia nesse horário é limpa, entende?
— Acho que sim.
Eu sentia aquilo, ficar olhando-a se banhar da luz do sol me dava uma
certa paz.
— E é uma visão linda de se apreciar também. — A ruiva deu de
ombros.
— É uma beleza única — me peguei dizendo sem perceber e admirei o
jeito que os lábios dela se entreabriram para ela soprar o chá. — Algo que
eu poderia me acostumar a ver todos os dias.
Madison ergueu o olhar para mim e aquilo, de alguma forma, me
atingiu no meio do peito. Seus olhos estavam mais iluminados, acho que
alegres, e eu não entendi o motivo.
— Você pode... — começou um pouco envergonhada, e suas
bochechas ficaram coradas. — Você pode me acompanhar se quiser, nunca
tive companhia pra fazer isso — falou de uma vez, parecendo tomar
coragem.
Uma sensação estranha fez meu coração apertar. Era uma ânsia de
puxá-la para meu colo e enterrar o rosto naquele cabelo cheio de cachos.
Respirei fundo e cocei a barba por fazer.
— Se eu conseguir acordar no horário...
— Eu acordo você. — Ela piscou para mim, deixando claro que teria
muito prazer em atormentar meu sono.
— Já estou vendo que não terei muitos benefícios nisso — brinquei.
— Eu faço chá pra você — barganhou.
— Não sei se você me escutou, mas não bebo chá. — Ergui a
sobrancelha para ela. — Agora se você quiser me dar outro tipo de chá...
Madison revirou os olhos.
— Tem muitos benefícios pra alma acordar esse horário — insistiu. —
Você vai se sentir mais leve durante o dia, garanto. E não é todos os dias, só
às vezes.
A ruiva me olhou um pouco ansiosa, ela queria companhia para
aqueles momentos.
— Se é realmente tão bom assim, pode me acordar — acabei cedendo
e ela tentou esconder o sorriso atrás da sua xícara.
Nunca tinha me passado pela cabeça que talvez ela se sentisse sozinha
quando fazia essas coisas. Era estranho que quisesse até mesmo minha
companhia, nos odiávamos.
— Você pegou tudo ontem à noite? — perguntei, me lembrando que
entramos na sua casa na noite passada para tirar o essencial das meninas de
lá.
— Ainda faltam algumas coisas.
— Eu pego pra você — ofereci me levantando e não consegui ficar
sem provocá-la. — Já trouxe seus vibradores?
Madison virou para mim mortificada.
— Como você sabe que tenho um vibrador? — questionou com os
olhos arregalados.
— Pode usá-lo como se eu não estivesse aqui, não vou me incomodar.
— Caminhei até o banheiro vendo que ela ia pegar um travesseiro para
jogar em mim. — Sinta-se em casa.
— Seu cretino. — Ela jogou o travesseiro, mas consegui fechar a porta
do banheiro antes.
— Lembre-se que você fica leve depois de ver o sol nascer —
cantarolei pra ela.
— Não tem como ficar muito tempo assim se vou dormir com você.
Claro que eu não podia deixar passar essa escolha de palavras.
— Isso é verdade, se dormisse comigo realmente, sairia assada e
gozada — provoquei e tinha quase certeza que ela estava toda vermelha
naquele momento.
— Você não tem vergonha na cara? — perguntou.
— Olha que engraçado — comentei. — Essa é uma pergunta que
minhas professoras sempre me faziam na escola.
— Eu não vou ficar discutindo pela porta do banheiro — resmungou,
mesmo que fosse exatamente isso que estávamos fazendo.
— É interessante, levando em conta que estou pelado nesse momento.
Baixei minha calça moletom e meu pau saltou com uma puta ereção
matinal. E a causa disso tinha um metro e cinquenta e cinco de altura, e
estava do outro lado da porta tomando chá.
— Não preciso saber dessas coisas — respondeu desconsertada.
— Claro que precisa, somos colegas de quarto agora.
— O fato de termos passado cinco minutos em uma conversa sem
brigar não faz de nós “colegas”.
— Se queria ser mais do que isso era só ter falado, pequena. — Sorri e
entrei no chuveiro.
— Meu Deus, você se acha tanto. — Quase podia senti-la revirando os
olhos.
— Só interpreto suas indiretas. — Deixei a água me molhar e segurei o
meu pau entre os dedos, dando bombeadas certeiras nele.
Estava totalmente grosso e duro. Salivei quando imaginei as pernas da
ruiva em volta da minha cintura, me pressionando.
— Acho incrível a sua capacidade de transformar qualquer conversa
em algo sujo — ela continuou reclamando.
Isso, continua falando, minha gostosa.
— É um talento meu — murmurei, tentando não gemer.
Senti minhas bolas pesarem e o líquido do pré gozo já estava se
formando na cabeça do meu pau. Imaginei que socava e saía da sua boceta
apertada e meladinha, enquanto minha pequena arranhava minhas costas.
Deslizando pelo meu pau, o deixando alargá-la toda.
— Ah — falou como se tivesse acabado de lembrar de algo. — Tenha
cuidado com as minhas telas e o meu telescópio.
— Pode deixar — garanti ofegante, batendo punheta em um ritmo mais
rápido. — E as suas calcinhas? Já pegou?
Sorri, sabendo que ela ficaria enfezada.
— Eu não vou nem responder isso. — Suspirou resmungando. —
Nunca deixaria você pegar nas minhas calcinhas.
Imaginei aquela voz gostosa dela sussurrando baixinho no meu ouvido,
me pedindo para fazê-la gozar. Mordi o lábio inferior para segurar um
gemido e acelerei a punheta, tendo a imagem viva dos seus seios
balançando, roçando os bicos endurecidos no meu peito.
— Já disse... — provoquei jogando a cabeça para trás, deixando a água
molhar meu rosto e peitoral, escorrendo até meu pau. — Nunca é uma
palavra muito forte.
— Têm coisas na vida que temos certeza, como: amanhã o sol vai
nascer...
— “Eu nunca darei pra você”? — sugeri em rima. — Está vendo?
Deveria mesmo dar pra mim, faço até poesia.
Sorri e passei o polegar na cabeça do meu pau, fazendo movimentos
circulares para depois acelerar mais. Dessa vez não resisti, soltei um
gemido rouco preso no fundo da garganta.
Lambi meu lábio inferior molhado e me imaginei chupando aqueles
peitos deliciosos enquanto comia a bocetinha da ruiva. Tinha quase certeza
que se metesse nela iria ficar me melando, sufocando meu pau...
Isso foi o suficiente para sentir minha porra chegando a qualquer
momento.
— Colin? Está bem? — perguntou ela preocupada, e a imaginei
gemendo meu nome baixinho.
— Melhor impossível — ironizei, sem conseguir deixar de me divertir
com a inocência dela.
Madison ficou um instante em silêncio.
— Desculpa — pediu envergonhada. — Eu vou sair do quarto, você
deve estar em um momento íntimo.
— Você não faz ideia do quanto — provoquei ofegante e o orgasmo
veio.
A porra saiu espirrando para todo lado, e senti o alívio gostoso para
caralho de gozar logo pela manhã. Renovado, era como tomar um bom café
da manhã. Para ser melhor mesmo, só se eu gozasse dentro dela.
— Ah meu Deus — ela sussurrou alto demais ao se dar conta do que
eu estava fazendo. — Você... eu... — gaguejou.
Passei o sabonete e terminei de tomar banho rapidamente, pois queria
pegar sua cara em choque. Enrolei a toalha na cintura e abri a porta do
banheiro bagunçando meu cabelo, tirando o excesso de água.
— Sim? — Sorri ao vê-la paralisada no meio do quarto, com a boca
aberta e segurando sua xícara de chá. — Se quiser me oferecer aquele chá
agora, eu aceito — flertei descaradamente.
Ela fechou a cara e jogou o chá no meu peito, mas o líquido nem
estava mais quente.
— Seu filho da mãe! — Virou para sair do quarto, toda vermelha. —
Eu não vou dividir o quarto com você!
— É uma necessidade humana — justifiquei de maneira inocente,
seguindo-a. — Você também precisa disso.
— Não preciso, não — Ela desceu as escadas, zangada e eu a segui só
de toalha.
— Veja, alguma hora você também vai ter que gozar — me defendi,
ela entrou na cozinha e eu fui atrás. — Você goza de um lado e eu do outro,
podemos até marcar os horários pra ficar algo mais organizado —
aconselhei, porém não percebi que Sienna e Tyler estavam lá naquele
momento.
Sienna estava cozinhando o nosso café da manhã e parou com a
frigideira na mão ao ouvir o que eu tinha falado. Tyler estava levando sua
maconha à boca, entretanto também paralisou no lugar ao me escutar.
— Isso não vai dar certo — avisou Madison para eles. — Eu não posso
ficar no mesmo quarto que ele.
— O que ele fez, querida? — perguntou Sienna, deixando a frigideira
de lado.
— Gozei — respondi, dando de ombros. — Agora sou proibido até
disso nessa casa?
— É — Tyler concordou comigo tragando a sua maconha. —, proibir a
gente até de gozar é foda.
— Mas não quando eu estiver dentro do quarto! — avisou Madison,
puta.
— Meu Deus, foi na sua frente? — Sienna se virou para a amiga,
horrorizada.
— Não — Madison se apressou a explicar. — Ele estava no banheiro.
— E em que lugar você quer que eu me masturbe agora? — perguntei
colocando as mãos no quadril, só que a toalha quase caiu.
Peguei-a antes que mostrasse meu pau.
— A gente estava conversando! — informou Madison, concentrada na
trilha de poucos pelos que tinha no meu abdômen.
— Vocês estavam conversando enquanto se masturbavam no banheiro?
— perguntou Tyler, confuso.
— O quê? Não! — negou Madison, contudo estreitei o olhar para
Tyler, desconfiado.
— E se for? O que você tem a ver com isso? — Me virei para ele,
ciumento e Tyler ergueu as mãos.
— Nada — disse temeroso. — Só estava curioso.
— Espero que esteja lembrado da nossa conversa de ontem. —
Apontei o dedo para ele em tom de ameaça.
— Jamais esquecerei! — garantiu Tyler, engolindo em seco e relaxei
um pouco.
Não queria ser cuzão, mas era foda. Acabava me lembrando que ele
pegou a minha pequena e isso me atormentaria para sempre, inferno.
— Que conversa? — Madison se intrometeu, curiosa.
— Sobre áreas proibidas — respondi.
— Áreas proibidas? — Sienna alternou o olhar entre nós, um pouco
perdida.
Eu ia inventar alguma coisa, porém uma voz, que conhecia bem,
assustou todo mundo na cozinha.
— COLINNNNNNNN!
Cada um de nós estremeceu e adotou uma cara diferente de espanto.
Estávamos fodidos. Ou só eu, levando em conta que nessas horas Johnny só
lembrava do meu nome.
— SEU FILHO DE UMA...
— A coitada da minha mãe não tem nada a ver com isso — lembrei,
me virando para Johnny, que estava puto da vida atrás de mim. — Você
chegou cedo! — Sorri para ele.
— EU NÃO POSSO SAIR UM DIA QUE VOCÊS BOTAM FOGO
NA CASA! — Johnny avançou para cima de mim, no entanto fui rápido e
rodeei a bancada da cozinha, segurando minha toalha.
— Que história é essa? — perguntei, me fazendo de desentendido. —
A casa está impecável, veja. — Apontei para nossa própria casa.
— E a casa das meninas, seu merda? — Johnny rodeou a bancada,
pronto para me matar, e eu corri para a sala, enquanto as meninas e Tyler
tentavam se meter entre nós.
— Você não pode querer que eu dê conta de todas as casas da
vizinhança — me justifiquei.
— VOCÊ DEU UMA FESTA! — berrou Johnny.
— Foi uma pequena reunião — corrigi, indo para a área da piscina.
— Foi um acidente, Johnny — Sienna tentou ajudar, indo atrás de nós.
— Não precisamos de violência — aconselhou Madison.
— Onde é que deixei meu celular? — Tyler procurou o celular pela
sala, provavelmente querendo gravar tudo.
— Como é que você destruiu a casa? — Johnny veio para cima de mim
e tentei fugir, mas ele agarrou minha toalha, e acabou puxando-a com força,
me deixando nu.
Cobri meu pau com as mãos, só que era tarde, todo mundo já tinha
visto meu material. Madison e Sienna estavam chocadas, de queixos caídos,
e Tyler me encarou abismado.
— Cara, você tem um pauzão — falou Tyler.
— Obrigado. Eu acho — disse sem saber se deveria agradecer ou não.
— Eu vou matar você — ameaçou Johnny com uma voz fatal e
comecei a rodear a piscina, segurando o meu pau.
— Não quer esperar ao menos eu me vestir? — provoquei, mas pelo
olhar dele, era um péssimo momento para piadas. — Pense nos meus filhos
— tentei apelar para o seu lado sensível.
— Que filhos? — perguntou Madison, assustada.
— Os que eu ainda terei — avisei fugindo.
— O que é isso? — Drake gritou de algum lugar e olhei para cima,
vendo que o fofoqueiro estava em uma das janelas do segundo andar,
olhando tudo.
— Johnny chegou e quer matar Colin — informou Sienna.
— E por que ele está nu? — Drake questionou.
— Parece que ele e Maddie estavam juntos no banheiro antes — Tyler
contou e Madison ficou vermelha como uma pimenta.
— Isso é mentira! — disse a ruiva, revoltada.
— Você vai pagar pela reforma! — Johnny avisou, possesso.
— Eu vou pagar — garanti, escapando dele. — Os cachorros estão
bem! Está todo mundo bem! Só maravilha.
— Só maravilha! — debochou Johnny sem paciência.
Entrei na sala de novo e Johnny veio logo atrás, achei que ele ia
conseguir me alcançar, porém meu gnomo entrou no meio de nós dois.
Era engraçado vê-la tão pequena entre nós dois tentando me defender,
sendo que era a pessoa que mais queria me matar minutos antes.
— Pense no lado positivo! — Madison ficou na frente do capitão, e ele
parou para ouvi-la. — Amber vai morar aqui!
A expressão de Johnny mudou imediatamente e suspirei aliviado, pois
já estava ficando cansado de correr. O louco que me perseguia colocou as
mãos no quadril e pensou um pouco sobre aquilo.
Resolvi ajudar.
— Vocês serão obrigados a morarem juntos — contribuí, falando
exatamente o que ele queria ouvir.
— Humm — resmungou Johnny, mais calmo.
Peguei minha toalha e enrolei na minha cintura sem sair da mira de
Johnny.
— As meninas vão ficar aqui e estão todos muito felizes — avisei.
— Eu não estou feliz — lembrou Madison.
— Nem eu — Dei de ombros. — No entanto, é o que restou pra nós.
— Como assim? — Johnny olhou para mim e Madison com interesse.
— Estamos no mesmo quarto — avisei como se isso explicasse tudo,
esperando que pelo menos ao ver minha infelicidade ele ficasse um pouco
satisfeito.
E foi o que aconteceu, um sorriso diabólico cresceu no rosto do
cretino.
— Então, você vai ter que dormir com a Maddie — Johnny disse
contente.
— Sim, veja. — Suspirei para ele. — Não tem penitência pior.
— É recíproco, acredite — avisou Madison.
— Bem... — Johnny bateu as mãos, muito bem resolvido com a vida.
— Parece que tudo se ajeitou, não é mesmo?
Não para mim.
— Exatamente — concordei falsamente.
— Ótimo. — Johnny veio até mim e deu dois tapinhas fortes demais
nas minhas costas. — Você tem tudo sob controle, Colin.
— É o que eu sempre digo. — Pisquei para nosso capitão.
— Espero que essa reforma demore o máximo de tempo possível —
desejou o Johnny, alegre.
— Ora, não vamos ser pessimistas também — reclamei, desejando que
a obra terminasse naquele minuto.
— E espero que nenhum de vocês esteja de ressaca — avisou
ameaçadoramente, olhando as horas no celular. — Temos jogo daqui a
algumas horas.
— Em recompensa, garanto todos os gols — prometi e Johnny
suspirou aliviado.
Ele sabia que eu podia ser irresponsável, cínico, cara de pau nas horas
vagas, festeiro, cafajeste e safado, mas no hóquei... eu me garantia.
Madison Jensen
Colin Scott
Madison Jensen
Madison Jensen
O sol não tinha nascido ainda, contudo estava quase lá. Desci as
escadas ainda de pijama e fui fazer o meu chá. Assim que peguei a xícara
quente caminhei até a sala da casa, procurando por Colin.
Parei em choque em frente ao sofá ao ver que ele realmente dormiu só
de cueca. Meu deus, Colin era tão grande que ocupava quase todo o sofá.
Seu corpo era todo musculoso, desde as pernas torneadas até o pescoço, de
um jeito que fiquei tentada a imaginar coisas indecentes.
Era tão bonito... seu cabelo macio e castanho estava um pouco
bagunçado, a barba por fazer com alguns fios loiros só dava um charme a
mais. Tentei não olhar para a corrente no seu peitoral, que subia e descia em
movimentos tranquilos pela sua respiração, como se estivesse em um sonho
bom.
Tinha vontade de saber com o que ele sonhava. Sonhos eram
importantes demais para serem esquecidos logo que se acordava. O céu já
estava começando a ficar mais claro, o azul estava mudando para um tom
suave, então não perdi tempo.
— Colin — chamei, o cutucando.
Nada.
Não deveria, mas ele estava tão lindo dormindo que não resisti a tocá-
lo no rosto. Me agachei na altura do seu rosto, passei os dedos por seu
maxilar e o senti relaxar ao receber o meu carinho. Ele se inclinou na
direção da minha mão e seus olhos mexiam de um lado para o outro,
fechados.
Ele estava em outro mundo, em um sonho bom. Eu podia sentir aquilo,
a vibração chegava em mim, como a magia em que ele não acreditava.
— Colin. — Usei um tom mais manso e ele suspirou. — Acorda.
Ele abriu os olhos, quase como se eu comandasse o seu corpo.
Esfregou os olhos e observou ao redor, para ter certeza que eu estava
mesmo ali.
— Levanta, a gente vai perder o sol nascendo — avisei ficando de pé
na frente dele.
— E não estávamos brigados? — perguntou com uma voz rouca e se
sentou no sofá, me olhando de cima a baixo de um jeito engraçado.
— Sempre estamos brigados, não é por isso que eu vou te deixar
escapar das obrigações — alertei, bebendo o meu chá.
Ele continuou a observar o meu pijama com um sorriso tranquilo.
— Estou tentando entender o que é isso que você está usando. — Ele
riu, passando a mão no cabelo bagunçado.
— Um pijama. — Dei de ombros e segui para a área da piscina,
esperando-o vir logo atrás.
Ainda não tinha usado os meus pijamas na frente dele, porém estava
perdendo a vergonha. Gostava de pijamas com capuz, tinha uns com
coelhos, outros com pandas, o que eu estava usando naquele momento era
um de elefante. Me deixava com as orelhas de elefante, eles eram
quentinhos e macios, e eu me sentia abraçada por um urso de pelúcia.
Colin demorou um pouco a vir, tinha ido ao banheiro, provavelmente
para escovar os dentes. Quando chegou na área externa já estava vestido
com uma calça moletom.
— Isso não é pra ser usado em crianças? — provocou, sentando
justamente na espreguiçadeira em que eu estava, próximo demais.
— Como serve em mim, não vejo problema — disse, tentando não
prestar atenção no jeito em que ele se aproximava, aos poucos, de mim.
— Como quiser, Julieta — brincou e virei para ele com um olhar
vingativo.
— O lado bom é que se tiver um balcão, eu vou te empurrar de lá.
— Eu não duvido disso. — Ele se aproximou mais, de um jeito que sua
coxa musculosa encostava na minha. — Me conta uma coisa, você além de
dormir com as minhas cuecas também curte me observar dormir? Estou
começando a me sentir intimidado.
Revirei os olhos e bebi o meu chá.
— Você tem sonhos bons, é uma pena que não lembre deles —
lamentei, olhando para cima.
O sol ainda não tinha aparecido, mas as cores em borrões já eram
visíveis. Nuvens perfeitas já banhavam o céu, a imagem me fazia lembrar
de um conto de fadas.
— Como pode ter certeza, pequena? — perguntou suavemente e senti
seu olhar em mim.
— Já disse, o som da sua respiração. — Dei de ombros. — E também
consigo sentir a tranquilidade. É triste que eles sejam perdidos.
— O lado bom é que não tenho pesadelos. — Ele estralou o pescoço,
se espreguiçando. — Nunca senti aquela sensação que as pessoas tem “de
cair” no sonho.
Virei para ele curiosa.
— Então não sabe como é cair?
Ele sorriu de lado.
— Eu caí em cima de você, não foi? — Piscou. — E também já pulei
de paraquedas.
— Já? — Arregalei os olhos. — E como foi?
Ele pensou um pouco.
— Não pensei muito na hora, só me joguei — falou e acreditei
completamente. Conseguia imaginá-lo fazendo esse tipo de loucura sem
pensar duas vezes. — Aproveitei a sensação, senti uma adrenalina da porra,
depois calmaria. Quando cheguei no chão fiquei energizado, quis ir de
novo.
— E foi?
— Não, a moeda não deixou — disse, pegando na corrente em seu
peito e fiquei satisfeita que ele ouviu a moeda.
— Sem desvios?
— Sem desvios. — Sorriu de um jeito que seus olhos se inclinaram
para baixo, o deixando mais charmoso.
Assim que percebi que estava olhando-o demais, virei para frente,
vendo o sol chegar. Joguei o meu capuz de elefante para trás, deixando meu
cabelo pegar um pouco da luz do sol.
— Obrigado por ter me acordado — agradeceu e eu assenti para ele,
sem encará-lo.
Estava muito hipnotizada pela obra de arte acima de nós. Fechei um
olho e coloquei minha mão na frente do rosto, imaginei que estava
segurando um pincel e o céu era a tela. Tentei capturar as cores.
— Você conhece William Turner? — perguntei a ele enquanto fingia
pintar.
— Do Piratas do Caribe?
Eu ri, sabia que ele diria aquilo.
— Não, o artista. Ele era um artista impressionista, o meu favorito.
Não é tão conhecido, mas ele tentava capturar a luz do sol nas suas pinturas.
— Virei para ele. — Os quadros dele podem parecer um borrão de cores pra
maioria das pessoas, porém era a luz do sol que ele tentava eternizar.
Colin inclinou a cabeça de lado.
— A luz do sol já não está eternizada?
— Não, a luz do sol é um momento — expliquei. — Um momento que
não se repete, como esse. — Apontei para o espaço entre nós. — É único,
nunca mais veremos outro nascer do sol como esse, amanhã ele será outro.
Turner tentava pegar essa luz, quando olho pros quadros dele consigo
perceber a sua vontade de transformar um acontecimento em arte, ele fazia
pinceladas rápidas, tentava pintar o quadro antes que o sol desaparecesse.
Era único.
Ele me olhou de um jeito diferente. Talvez admirado, como se seus
olhos estivessem sorrindo.
— Seus quadros são um pouco assim — contou e fiquei surpresa que
ele tivesse prestado atenção nisso. — Você tenta pegar o nascer do sol
também?
— Não — neguei, assoprando o meu chá. — Eu não tento capturar a
luz, tento capturar a sensação e colocar isso no quadro. Acho que é nisso
que somos diferentes.
Sorri para ele e coloquei um cacho rebelde atrás da orelha.
— Se alguém te pintasse agora... seria melhor do que qualquer nascer
do sol — revelou sem tirar os olhos de mim e um sorriso involuntário
cresceu no meu rosto. — Acho que se você fosse pintada em todas as fases,
inclusive quando está brava, ainda seria perfeita.
Meu coração acelerou, estava sentindo minhas bochechas esquentarem,
entretanto não desviei o olhar.
— Eu não sou perfeita — lembrei-o um pouco acanhada.
— Pra mim, você é.
Colin pegou minha mão entre as suas com carinho, tocou levemente
nas minhas marcas e as beijou. Acho que ele tinha gostado de fazer aquilo,
e eu também gostei.
— Quem fez isso com você? — perguntou sem tirar os olhos de mim.
Ele me tocava com ternura, cuidado, proteção, contudo o seu olhar
entregava que estava um pouco zangado. Percebi esse mesmo olhar logo
que ele as notou pela primeira vez.
Colin tentava não demonstrar que estava bravo com aquilo, no entanto
era possível perceber.
— Quem fez isso com você, meu amor? — repetiu quando não
respondi.
Fechei os olhos, sentindo o peso daquelas palavras.
— A vida. — Sorri tristemente, olhando para ele. Colin respirou fundo,
talvez um pouco angustiado. — Eu estou bem — garanti, sentindo uma
pontada de alegria no peito por ouvir o “meu amor”.
Só as meninas usam termos carinhosos comigo. De alguma forma
aquilo vindo dele, era especial.
— Não vai mais acontecer — garantiu seguro. — Nunca mais.
Era uma promessa estranha de se fazer. O olhei com carinho e apertei
minha mão na dele.
— Como pode ter certeza? — questionei com um sorriso suave.
— Eu nunca deixaria qualquer coisa te machucar. — Deu outro beijo
na minha mão. — Sou seu inimigo, só eu posso te irritar, pequena.
Sorri para aquela lógica dele.
— E só você pode me machucar?
Ele negou com a cabeça, sério.
— Eu posso te provocar, fazer você perder a paciência e ficar
brevemente irritada. Mas machucar? Nunca espere isso de mim. — Apertou
mais minha mão entre as suas.
Assenti tranquilamente para ele. Sabia disso.
— Você não me deixa brevemente irritada — avisei de brincadeira,
tentando falar seriamente. — Você me deixa muito irritada.
— Eu só sei fazer as coisas bem feitas. — Piscou e olhou em volta. —
Acho que nosso momento passou.
Olhei para o céu e vi que o sol já estava ali, tinha nascido. Acabou.
— Passou — concordei um pouco triste.
— Foi único — concluiu, ainda segurando minha mão.
Me virei para ele e sorri em despedida. Levantei e minha mão deslizou
com pesar na dele, Colin fez uma careta, quase como se sentisse uma dor
física pela separação.
— Tenho uma entrevista daqui a pouco — revelei, bebendo o que
restou do meu chá.
— De emprego? — questionou surpreso.
— Sim — confirmei e segui para a sala.
— Não sabia que estava procurando emprego — disse atrás de mim.
— Eu enviei uns currículos e me responderam esses dias — avisei,
indo deixar a xícara na cozinha. Colin veio me seguindo, parecendo querer
saber do meu dia. — É em um café perto do campus.
— Perto do seu prédio?
Pensei um pouco.
— Não, fica meio distante.
— E como vai ir todos os dias? — Ele se encostou na bancada da
cozinha em uma posição tranquila, porém tinha um tom de preocupação na
sua voz que não conseguiu disfarçar.
— Eu vou me preocupar com isso se eles me contratarem — brinquei,
dando de ombros.
— Eu te deixo lá agora — ofereceu. — Tenho prova hoje e vou passar
a manhã na biblioteca.
Me virei para ele surpresa.
— Obrigada. — Sorri em agradecimento, ajeitando meu capuz na
cabeça. Ia subindo as escadas quando me virei e apontei o dedo para ele. —
Não pense que não estou zangada, ainda vai ter volta.
Ele colocou as mãos nos bolsos da calça moletom preta e me olhou
com um sorriso travesso no rosto. Estava tão gato, com o peito de fora, a
corrente brilhante, os olhos azuis. Ele tinha que ser tão lindo?
— Ansioso por isso — avisou, mordendo o lábio inferior. — Adoro
quando você fica vingativa.
Revirei os olhos e dei as costas para ele.
Estava com pressa, tinha um emprego para conquistar. Questão de
necessidade, todo o dinheiro que vovó conseguiu me deixar, tudo o que eu
já juntei com os trabalhos que fiz no passado, estava no fim. Precisava
voltar a ser adulta.
A questão era que eu sempre fui adulta, até mesmo quando era uma
criança.
Colin Scott
Deixei minha pequena no lugar que ela ia ter a entrevista sabendo que
a vaga já era sua. Tudo o que Madison se propunha a fazer, fazia bem. Isso
indicava que eu teria que descobrir os horários em que ela iria entrar e sair,
apareceria por “acidente” ali todos os dias e a levaria para casa.
Que desculpa teria para aquilo? Não fazia a menor ideia.
Meu coração quase foi parar na boca no instante em que vi que ela
tinha me acordado. Não gostava quando meu gnomo se distanciava. Pensei
que fosse ficar uns três dias sem falar comigo e aquilo era o mesmo que me
ferir. Preferia que ela me atirasse pedras, a me ignorar.
Senti vontade de pegá-la nos braços assim que a vi tão perto de mim.
Só que eu não podia, tudo o que me foi dado até agora foi beijar sua mão.
Suas preciosas mãos. Não iria mais insistir para saber o que aconteceu, ela
não se sentia à vontade, era nítido.
No entanto, se algum dia eu encontrasse a pessoa que fez aquilo com
ela, essa pessoa estaria morta. Nunca senti tanta raiva na vida, era um
sentimento pesado de proteção que vinha do fundo do meu peito, me
torturava saber que alguém machucou meu bem precioso.
Segui para a biblioteca da universidade querendo estudar antes da
prova de Relações Internacionais. Sim, eu cursava Ciências Políticas, tinha
que usar a minha lábia para alguma coisa útil na vida.
Estacionei o carro e caminhei até a biblioteca. Me sentia... leve.
Acordar cedo para ver o nascer do sol realmente melhorava o dia. Minha
pequena tinha razão.
Ou talvez fosse por vê-la feliz, falando sobre as coisas que gosta. Isso
me deixava satisfeito.
Logo que entrei no ambiente percebi alguns olhares na minha direção,
acenei para alguns conhecidos que me parabenizaram pelo jogo e avistei, à
distância, umas duas garotas com quem já tinha transado. Era engraçado,
um semestre atrás eu estaria indo até lá e jogaria conversa fora.
Naquele momento eu não sentia qualquer vontade, mesmo estando em
uma seca terrível há meses. Tudo o que eu queria era esperar, nem que
fossem mil anos, só para poder beijar sardas na ponta de um nariz.
Sentei em um canto e senti o meu celular vibrar. Tirei-o do bolso para
ver a mensagem.
Benjamin: Lembrado que dia é hoje?
Eu: Dia de prova?
Benjamin: Não. Aniversário do Peter, os caras estão marcando uma
surpresa hoje.
Benjamin: Mandaram te avisar, certeza que não se lembrou.
Eu: Lógico que lembrei.
Não tinha lembrado, mas não admitiria.
Eu: Onde vai ser?
Benjamin: Vamos sair hoje pra boate que aquela sua amiga trabalha.
Peter tá tentando pegar ela, quem sabe ela não se sensibiliza quando
descobrir que é aniversário dele.
Eu ri alto. Várias pessoas olharam feio para mim e pedi desculpas
baixinho.
Eu: Scarlett?
Benjamin: Exato, a do cabelo preto liso e tatuada.
Eu: E o que ele quer fazer? Implorar por um presente de aniversário
dela?
Benjamin: Sim.
Eu: Me diga o horário, jamais perderia esse fora épico. Vou até avisar
pro Drake fazer a cobertura completa.
Benjamin: Colin, se ele levar um fora, não fique enchendo o saco dele.
É o aniversário do cara.
Eu: Eu? Jamais faria uma coisa dessas.
Benjamin: Apareça às 21hrs! É surpresa, não pode atrasar.
Saí da conversa dele e entrei no grupo da nossa casa. Sabia que como
não tinha treino hoje, provavelmente os babacas também não iriam se
lembrar do aniversário do Peter.
Eu: FESTA HOJE.
Johnny: Nem por cima do meu cadáver.
Amber: Onde???
Drake: Onde??
Sienna: Pra mim, não dá.
Tyler: Pode levar maconha?
Taylor: Vou encaminhar essa mensagem pra mamãe.
Tyler: Tomar no cu.
Taylor: Eu já como alguns.
Eu: Fico feliz em saber que anda bem alimentado, Taylor. Mas eu só
passei pra avisar que vamos pro trabalho da Scar hoje.
Eu: 21hrs.
Scar: Tenho até medo.
Amber: Vamos nos comportar. Prometo.
Johnny: É SEGUNDA-FEIRA.
Eu: Sim, papai, mas hoje é aniversário do Peter. Esqueceu?
Ninguém digitou nada. Ele tinha esquecido.
Johnny: Claro que não. Estava lembrado.
Johnny: Todo mundo vai hoje às 21hrs.
Taylor: Sim, capitão.
Drake: Sim, capitão.
Tyler: Sim, capitão.
Amber: Sim, mozão.
Eu: Sim, papai.
Sienna: Eu não vou poder ir hoje! Combinei de sair com Michael.
Scar: Já estarei lá de toda forma.
Esperei meu gnomo digitar alguma coisa, só que talvez ela ainda
estivesse na entrevista. De toda maneira, eu faria minha especialidade:
encheria o saco dela até topar.
Colin Scott
Madison Jensen
Colin Scott
Madison Jensen
1. Elogiar a Amber.
2. Abraçar a Scar quando ela não estiver esperando.
3. Dizer que amo a Sienna.
4. Agradecer pelas coisas boas da minha vida.
5. Olhar o céu.
6. Rir por qualquer besteira.
7. Encontrar o amor da minha vida.
8. Fazer carinho nos cachorros.
9. Não ser grosseira com ninguém (Abre uma exceção para
Colin).
10. Não odiar tanto assim o Colin Scott.
11. Não pensar em Colin Scott.
12. Não deixar que Colin Scott domine minha lista.
Contudo, ele sempre dominava. Olhei as minhas outras listas no
bloquinho e constatei abismada que todas tinham esse maldito tópico. Até
mesmo a lista de exigências para o amor da minha vida era meio que
descrevendo uma pessoa totalmente oposta a ele!
Suspirei frustrada e olhei para cima. O céu estava limpo, sem nuvens,
as estrelas bem à vista. Eu queria esquecer aquilo, mas mesmo depois de
anos, as palavras ainda sopravam vivas na minha mente.
— Não precisa procurar pelas estrelas, elas simplesmente vêm até você
toda noite — sussurrei para elas.
Colin Scott
Colin Scott
Colin Scott
Quando saí da cama hoje de manhã senti uma leve dor no meio das pernas,
mas era uma sensação gostosa. Meu corpo estava satisfeito, leve e energizado.
Para falar a verdade eu já podia esquecer a meditação, os abraços, o chá ou
respirar o ar puro da manhã, tudo o que eu precisava para começar bem o dia
era ter Colin Scott dentro de mim.
Isso melhorou tanto meu humor que passei o dia sorrindo para qualquer
pessoa. O que me rendeu olhares estranhos, talvez o porteiro do meu prédio
tenha pensado que eu estava dando em cima dele, só que nem me importei.
Estava feliz. Tinha para quem voltar e abraçar quando chegasse em casa.
Dizer que estava com saudades e sentir o seu cheiro. Estava contando as
horas para vê-lo de novo, provavelmente o atacaria. Colin me pareceu bem
carinhoso, porém não sei se estava preparado para ver o quanto eu era pegajosa.
E também queria outras coisas...
Queria tirar a sua camiseta, tocar o corpo definido, colocá-lo na boca de
novo... Meu Deus, será que eu tinha me tornado uma safada? Corei só de
lembrar de como me ajoelhei na sua frente e olhei ao redor só para conferir se
alguém estava prestando atenção em mim.
Para meu alívio, todos estavam concentrados nos próprios textos. Como eu
deveria estar no meu próprio trabalho, afinal, estava sendo paga. Tinha recebido
hoje o pagamento adiantado pela ajuda na peça, e por mais que a quantia me
ajudasse, também fazia me sentir culpada.
O que me confortava era saber que eu estava mesmo fazendo um trabalho
para ele. O Sr. Stone não estava mentindo quando disse que não teria tempo de
organizar tudo, fiquei responsável pelo figurino, cenário, analisar falhas no
roteiro, verificar se cada um estava conseguindo decorar as falas e ver como
andavam as atuações. A parte que mais me deixava insegura era sobre a minha
própria atuação, tinha passado a manhã vendo vídeos de outras peças para
imitar expressões, decorando minha parte e ensaiando em frente ao espelho.
Até que não fiquei tão ridícula quanto achei que ficaria. Meu lado otimista
me dizia que tudo daria certo. Por mais que fosse muito trabalho e ainda tivesse
minhas aulas, eu precisava daquela renda e ainda me daria oportunidades de
ouro.
Meu celular apitou no bolso e vi que estava na hora da minha última aula,
daria tempo só de passar no refeitório para comer alguma coisa. Peguei minha
bolsa e acenei em despedida para o pessoal que estava ensaiando em cima do
palco do teatro.
Quando ia passando pela porta da saída esbarrei em um corpo grande que
me fez tombar para trás.
— Desculpa — pedi, me equilibrando e olhando para a pessoa.
Era Derek. Ele sorriu abertamente ao me reconhecer.
— Ei, pensei que você estivesse aqui mesmo — cumprimentou.
Coloquei minha bolsa no ombro e sorri de volta em simpatia para ele,
ainda que me sentisse um pouco acanhada. Derek tinha se convidado para jantar
comigo pensando que eu estava disposta a alguma coisa, mas não estava. E
ainda foi praticamente posto para fora por Colin.
— Pois é, eu estou ajudando o Sr. Stone — contei sem jeito, sem saber
como me desculpar. — Derek, eu deveria me desculpar pelo jantar, Colin foi
um pouco grosseiro e...
— Ele sempre é — interrompeu Derek, dando de ombros.
Senti uma pontada estranha no peito, era incômodo misturado com
proteção. Quis defender meu maluco. Colin não é grosseiro, pelo contrário,
quase todo mundo o adorava por ser simpático até demais.
— Ele não é sempre assim — expliquei, entretanto Derek ergueu a
sobrancelha ironicamente.
— Comigo ele é, mas eu até entendo — ele colocou as mãos no bolso da
calça e me olhou de cima a baixo. — Eu entendi tudo errado, não sabia que
vocês estavam juntos.
Pisquei debilmente e meu coração deu uma acelerada. Tínhamos alguma
coisa, eu não sabia se era um relacionamento, contudo significava muito para
mim.
— Então... — Derek coçou a nuca quando eu não disse nada e olhou para
mim um pouco ansioso. — Vocês são exclusivos? Ou podem ver outras
pessoas?
Arregalei os olhos em choque com a pergunta. Se bem que era um bom
questionamento. Eu abri e fechei a boca algumas vezes, sem saber o que dizer.
Acreditava que sim. Ele tinha dito que me esperou por meses, isso tinha que
valer de algo.
Será que Colin era do tipo que gostava de relacionamentos abertos? Ou
pior, será que não tínhamos nada sério e eu estava me iludindo?
— Somos exclusivos — respondi com uma confiança que não sentia e
passei por ele. — Eu já estou atrasada, a gente de se vê depois. — Sorri e
acenei.
Derek murchou decepcionado e acenou de volta, entrando no teatro logo
em seguida. Segui para o refeitório me sentindo insegura. Colin me deu a
entender que o que estávamos construindo era algo só nosso, e eu sentia
verdade nisso.
Só que ninguém falou nada sobre exclusividade, e me dava uma dor física
pensar nele com outra pessoa. Era bom tirar a pedra do caminho. Em um
impulso peguei o celular e mandei uma mensagem a ele.
Eu: Podemos ficar com outras pessoas?
Colin respondeu imediatamente.
Ódio da minha vida: Como é???
Mordi o canto da unha sem saber como começar, não ia perguntar se
estávamos tendo um relacionamento. Era muito cedo e ainda poderia parecer
que estava forçando a barra.
Meu celular tremeu com outra mensagem dele.
Ódio da minha vida: Que papo é esse??
Eu: Eu só queria saber se o que temos envolve outras pessoas ou não.
Ódio da minha vida: Não envolve.
Ódio da minha vida: Nunca.
Ódio da minha vida: Em hipótese nenhuma.
Ódio da minha vida: Você anda querendo sair com alguém?
Eu: Não!
Eu: Eu só não sabia se era exclusivo.
Ódio da minha vida: Onde você está?
Franzi a testa com a pergunta aleatória e respondi que estava chegando no
refeitório. Ele só mandou um “Tá” e depois não falou mais nada. Ok... pelo
menos eu sabia que Colin era só meu por enquanto.
Revirei os olhos para a minha própria tolice e assim que entrei no refeitório
encontrei uma cena inédita que jamais pensei em ver na vida: Amber estava
sentada em uma mesa junto com Bethany e Scarlett.
Chocante. Parei no lugar de tão incrédula que fiquei. Não era ilusão, elas
estavam sentadas juntas amigavelmente.
Bethany é a líder da nossa antiga fraternidade e ela sempre foi horrível
com Scar. As duas viviam se alfinetando e passaram os anos em que vivemos
juntas brigando. Nunca gostei muito da Bethany, já perdi a conta de quantas
vezes desejei que o seu cabelo caísse... o que não aconteceu, todos os seus fios
loiros e lisos pareciam fixos na cabeça.
A única de nós que era amiga dela era a Amber, o que era compreensível.
De quem Amber não gostava? As meninas me falaram que elas tinham
conversado e que Bethany estava tentando mudar. Achei fofo, mas nunca pensei
que as encontraria juntas como se fossem amigas. Ainda era algo estranho de se
ver, não consegui disfarçar a surpresa.
Comprei o meu sanduíche vegetariano e caminhei até a mesa delas. Logo
que Bethany me viu chegar ergueu a sobrancelha em divertimento.
— Surpresa, não é? — provocou e tive que rir ao olhar para as três
sentadas ali.
— Em estado de choque — corrigi, sentando ao lado da Scar.
— Estamos fingindo nos suportar — Scar brincou.
— E até estão indo bem — elogiou Amber para as duas.
— Quem ver de longe pode até pensar que somos civilizadas. — Piscou
Scar para Bethany.
— Já está indo pra casa? — Amber perguntou para mim, ansiosa, com a
cara de quem queria alguma coisa.
— Não, vim só comer alguma coisa, ainda tenho mais uma aula —
respondi, mordendo o meu sanduíche e ela enrugou a ponta do nariz em
desapontamento. — No entanto, não vai demorar, quer fazer alguma coisa hoje?
O rosto de Amber se iluminou e ela quase pulou da cadeira.
— Eu estou tão entediada! — ela resmungou. — Faz séculos que a gente
não sai.
— O aniversário do Peter não foi um dia desses? — lembrei e Amber
revirou os olhos.
— Não conta... todo mundo foi embora cedo naquele dia — retrucou.
— Só foi emocionante pra você, querida. — Scar apontou para mim. —
Que saiu de lá carregada.
Minhas bochechas esquentaram ao lembrar daquele dia e Amber começou
a gargalhar muito alto, chamando a atenção das pessoas ao redor.
— Ai... — Amber limpou o canto dos olhos. — Foi tão engraçado!
— Eu soube dessa história. — Bethany estreitou os olhos para mim com
um sorriso no rosto. — Quem diria, hein, Maddie? Você e Colin Scott...
Eu ainda não tinha falado para as meninas que fiquei com ele e não queria
contar ali. Baixei os olhos constrangida e pensei em um jeito de fugir do
assunto.
— Falando no diabo... — comentou Scar, olhando por cima do meu
ombro.
Não era possível! Olhei para trás em susto e vi não só Colin, como a
maioria do time de hóquei caminhando em nossa direção. Ele tinha os olhos
azuis fixos em mim e estava vestindo o moletom do time, que só o deixava
mais atraente.
Eles chamavam atenção de longe por serem enormes, percebi que nem
todos os meninos estavam ali. Só encontrei Johnny, Drake e Peter, o resto dos
jogadores deveriam ser reservas pois eu não lembrava dos seus nomes, por mais
que já tenha os visto.
Todos os gigantes sentaram à nossa mesa como se tivessem sido
convidados. Colin puxou uma cadeira do meu lado e passou o braço atrás da
minha em um gesto possessivo. Um movimento que não passou despercebido
por ninguém.
— É... — Bethany balançou a cabeça em aprovação. — Isso explica muita
coisa.
Johnny e Drake trocaram um olhar intrigado, enquanto Amber e Scar
sorriram convencidas, sem nenhuma surpresa. Contudo, os olhares delas diziam
que iam me encher de perguntas depois.
Eu só queria sumir. Me encolhi mais na cadeira e isso fez com que me
aconchegasse mais no corpo firme de Colin, ele estava tão cheiro. Era tão bom
ficar perto, e eu já estava com saudade...
Me aproximei um pouco do seu rosto para falar perto do seu ouvido.
— Eu senti a sua falta — falei baixinho para ninguém mais ouvir.
Colin me puxou para si, dando um beijo demorado na minha testa. Ele
inspirou profundamente, percebi que estava sentindo o meu cheiro e aquilo deu
uma acalmada no meu coração.
— Se você continuar me dizendo essas coisas eu vou ter que te sequestrar,
meu amor — murmurou e não me importei mais se tinha alguém olhando, só
sorri e descansei a cabeça no seu ombro.
Nunca dispensaria carinho gratuito. Escondi o rosto no seu pescoço pois
sabia que estávamos sendo alvo de atenção e ainda me sentia desconsertada.
Colin me segurou mais apertado, protetoramente e ficou dando beijos no meu
cabelo.
— OOOOW QUE LINDOS! — falou Amber alto demais, toda derretida.
— Eles não são lindos, amor? — perguntou.
— São, princesa — respondeu Johnny a ela.
Colin riu e eu revirei os olhos, mas ainda me recusando a olhá-los. Queria
ficar naquele casulo que o pescoço dele me oferecia, um lugar perfeito e só
meu.
Eles começaram uma conversa sobre hóquei e senti que já não estavam nos
observando tão atentamente. No entanto, Colin continuava a fazer carinho em
mim, ele levou a mão ao meu cabelo, enterrando os dedos nos meus cachos e
alisando a minha nuca.
— Não tem mais aula hoje? — perguntou, beijando a minha testa.
Me afastei só o suficiente para vê-lo. Encarei os seus olhos azuis lindos e
suspirei.
— Tenho sim.
Ele ficou olhando para as minhas sardas no nariz, parecendo contá-las. Já
tinha pegado Colin fazendo isso algumas vezes e era engraçado.
— Eu vou ficar te esperando — disse, tirando o meu cabelo da frente do
rosto. — Que papo foi esse de ficar com outras pessoas?
Mordi o lábio inferior para conter o riso e balancei a cabeça.
— Alguém me perguntou se o que tínhamos era exclusivo e eu fiquei sem
saber o que dizer — confessei.
Seus olhos me consumiram, me encarando com intensidade.
— Quem perguntou isso?
Respirei fundo, sabendo como isso soaria estranho.
— Derek.
Colin apenas levantou a sobrancelha cinicamente e sabia que estava
zangado. Não comigo, para falar a verdade nunca o vi realmente zangado
comigo.
— Você é ciumento — brinquei. — Isso vem do seu signo.
O canto da sua boca se ergueu.
— Que bom que eu sempre posso colocar a culpa nele. — Colin se
aproximou mais. — Vamos fazer um trato?
O olhei desconfiada, porém assenti.
— Eu sou ciumento com você — admitiu, dando de ombros. — Confesso
que sempre fui bem tranquilo, só que desde que te conheci eu quero tudo só pra
mim — explicou, alisando o meu pescoço e o olhei sem saber o que dizer,
sentindo a minha respiração ficar mais pesada. E quente.
— E qual é o trato? — perguntei, esquecendo que estávamos em um lugar
público e nem ligando para a conversa paralela que acontecia na mesa.
— Se algum dia isso te incomodar você me avisa e eu paro imediatamente.
E se algum dia eu perceber que isso está te machucando, eu vou embora —
sussurrou para mim.
Meu coração doeu ao ouvir isso, não o queria distante de mim. E o ciúme
dele não me incomodava, pelo contrário, tinham momentos em que até era
excitante.
— Você não vai a lugar nenhum — determinei, enlaçando o seu pescoço e
sorrindo para ele. — Eu não deixo.
Colin sorriu de volta e encostou a testa na minha.
— Ótimo — respondeu baixinho. — Porque ainda quero cuidar de
qualquer parte sua que me oferecer.
E se for o meu coração todo?
Suspirei e encostei a cabeça no seu ombro. Colin beijou o meu cabelo e
ficamos prestando atenção na conversa do pessoal. Bethany estava convidando
todo mundo para fazerem uma festa na nossa antiga fraternidade. Olhei de
canto para Scar, esperando a sua reação e ela parecia tranquila em ir, por mais
que tenha sido muito rejeitada pelas meninas de lá.
— Se não tiver nada de casas pegando fogo dessa vez... — Johnny jogou a
indireta para Colin, que bufou do meu lado.
— Em minha defesa, eu nunca dei uma festa pra uma casa pegar fogo. —
Colin colocou a mão no peito. — Aquela foi a primeira vez.
— Agora você é um homem comprometido. — Drake lançou um olhar
satisfeito para nós. — Não pode mais ficar metido nessas festas de caráter
duvidoso.
Aquilo era tão absurdo que eu ri. Não conseguia imaginar Colin longe de
festas, pessoas ou até mesmo de confusão. Ele me olhou de canto, fingindo
estar ofendido.
— Pode rir à vontade. — Colin se encostou relaxadamente na cadeira. —
Mas de agora em diante eu só ando acompanhado.
Revirei os olhos, entretanto quando o olhei, percebi que estava falando
sério mesmo.
— Ah, Maddie... — Suspirou Johnny, parecendo que alguém havia tirado o
peso do mundo das suas costas. — Você não tem ideia do quanto sempre serei
grato.
— Você sabe que ele ainda vai te dar trabalho, não é? — Pisquei para o
capitão.
— Cara... logo você entrou pra coleira. — Um dos jogadores que eu não
lembrava o nome balançou a cabeça em negação para ele.
— Não teve jeito. — Colin lhe lançou um olhar resignado e beijou a minha
testa.
— Como foi que isso aconteceu mesmo? — perguntou Peter, curioso.
Colin se inclinou na direção dele com um sorriso convencido.
— Se você soubesse as cantadas que joguei nela...
Bufei revirando os olhos, Scar riu e Peter deu o dedo do meio para Colin.
— Então, vamos mesmo dar uma festa hoje? — perguntou Bethany para
nós.
Colin me puxou para si e beijou o meu ombro.
— Vamos — determinou ele por todos nós. — Se você quiser deixar por
minha conta... — sugeriu a ela.
Bethany deu de ombros.
— Contanto que não bote fogo lá também — provocou Drake e Bethany
lançou um olhar para ele.
Drake tinha sentado bem longe dela, parecia quase estar fugindo da loira.
Eu podia estar criando coisas na minha cabeça, só que ele parecia
desconfortável na presença dela. E Bethany estava se divertindo, talvez
percebendo o mesmo que eu.
— Tem extintor de incêndio? — Colin perguntou à líder da fraternidade.
— Tem — ela respondeu rindo.
— Ótimo, então estamos todos seguros — confirmou Colin, tranquilo.
— Da próxima vez me escuta — afrontei, erguendo a sobrancelha para ele.
— Se alguém acender uma fogueira, a apague a tempo.
Colin aproximou o rosto do meu.
— Você está disposta a apagar a minha? — perguntou com um meio
sorriso e revirei os olhos.
Meu Deus, essas cantadas são perigosas mesmo. Você começa rindo e
quando menos percebe já está nua e abrindo as pernas.
Colin Scott
Madison Jensen
A vaga era minha! Sim, a vaga era minha! Não sabia quando o Sr.
Stone iria me dizer oficialmente, estava até com medo de comemorar e ele
mudar de ideia depois, no entanto meu coração foi a mil assim que Colin
me contou exatamente tudo o que meu professor havia dito.
Podia respirar melhor agora, no próximo semestre teria uma renda fixa
e um trabalho que seria na minha área. Ainda para completar, os ovinhos
chocaram.
— Acha que vai demorar muito pra eles voarem? — perguntou Scarlett
do meu lado.
A abracei pela cintura e descansei a cabeça no seu ombro.
— Nadinha — murmurei em resposta.
Todos nós nos reunimos no telhado para vermos os passarinhos. O que
foi um pouco decepcionante, já que não era possível enxerga-los de noite
pois estavam dormindo. Só dava para ver a mamãe fofa que dormia em
cima do ninho. Subimos no telhado, em silêncio, apenas para observá-los.
A verdade é que esperamos tanto esses ovos chocarem que quando
aconteceu virou um evento. Amber saiu correndo da aula, Tyler tentou tirar
foto deles e Taylor até se emocionou.
— Precisamos comemorar — determinou Amber empolgada, tentando
falar baixo para não os acordar. — Tanto pelos passarinhos quanto pela
Maddie.
— Verdade — concordou Colin, passando o braço pela minha cintura e
me puxando para si. — Minha namorada de um metro e quarenta agora é
uma artista de renome.
Belisquei o abdômen do idiota.
— Eu tenho um metro e quarenta e você é solteiro — retruquei afiada.
Ele riu e enterrou o rosto no meu pescoço.
— Um e quarenta? — perguntou, se fazendo de desentendido. — Disse
um metro e setenta.
— Dia de semana — cantarolou Sienna.
— Desde quando isso nos impediu? — Scar ergueu a sobrancelha para
ela.
— Pois vamos descer logo, já está escuro demais — disse Johnny,
pegando a mão da namorada. — Cuidado onde pisam — alertou, apontando
para o telhado destruído.
Colin segurou a minha também e me guiou para descermos juntos. Eu
vi que alguns vizinhos passaram estranhando ao nos verem reunidos no
telhado, mas não questionaram. Talvez já estivessem acostumados.
As únicas três crianças que moravam na nossa rua passaram mais de
uma vez de bicicleta tentando descobrir o que fazíamos. Colin gritou para
eles que estávamos vendo os ovos chocarem e creio que isso só os deixou
mais confusos. Eram fofos. Três irmãos que deveriam ter em torno de dez a
doze anos.
O triste era que pareciam ter meu namorado como um ídolo. Tudo o
que Colin dizia, os pobres coitados acreditavam. Ou seja, iriam dar muita
dor de cabeça para os pais.
Fomos para casa e me arrumei depressa. Coloquei um vestido preto
tomara que caia, curtinho e colado ao corpo. Calcei uns saltos e pus brincos
prata para completar. Meus cachos estavam ajudando hoje, ainda assim
trancei as duas mechas da frente e depois as amarrei juntas atrás, deixando-
as caírem em uma cascata no resto do cabelo solto.
Quando saí do banheiro tomei um susto ao ver que o quarto estava
cheio de sacolas. Caminhei até elas sentindo meu coração acelerar.
Vi as compras no carro logo que voltamos, no entanto, achei que eram
de Sienna, nem cheguei a cogitar que eram presentes para mim.
Tinha macacões, material de pintura, algumas velas aromáticas,
incensos, um telescópio, dentre outras coisas. Eram tantos presentes que
nem consegui abrir tudo. Sentei na cama e peguei uma sacolinha vermelha
específica porque tinha um cartãozinho pendurado nela. E eu conhecia bem
aquela letra.
“És, para mim, como o alimento para a vida. Ou a chuva amena para
o solo no tórrido verão”.
— Shakespeare. — Sorri ao reconhecer o soneto.
— O próprio.
Ergui o olhar e encontrei Colin encostado na porta com os braços
cruzados em frente ao peito. Ele desceu o olhar pelo meu vestido, secando
cada curva do meu corpo de um jeito que fazia com que eu me sentisse tão
bonita...
— Talvez devêssemos comemorar aqui mesmo — sugeriu caminhando
na minha direção com uma expressão predadora.
Prendi a respiração, ansiosa. Ele parou na minha frente e me estendeu a
mão com calma, a postura totalmente diferente do seu olhar, que parecia
querer me devorar. Peguei a sua mão e Colin me puxou para ficar em pé.
Como eu estava de salto, fiquei na altura da sua boca. O seu aroma era
tão bom, passei a mão pela sua barba por fazer que arranhava de leve, mas
de um jeito gostoso. Os músculos contraindo à medida que eu descia o
carinho pelo seu pescoço. Não consegui desviar dos seus olhos nem por um
minuto.
— Você ainda tem o verdinho? — perguntou com a voz rouca e o
encarei confusa. — O vibrador — esclareceu.
Fiquei surpresa com a pergunta e mais ainda com o apelido que ele
tinha dado para o meu vibrador. Respirei fundo sentindo o meu rosto
esquentar, porém não desviei. Engoli em seco, excitada e acenei
confirmando.
— Abre o presente — pediu e só então me lembrei que ainda segurava
a sacola vermelha.
Meu Deus, nem tinha agradecido!
— Eu amei a citação — disse, sorrindo na sua direção. — Amei tudo.
— Apontei para os presentes. — Obrigada de verdade, você não precisava
ter me dado essas coisas.
Colin passou as mãos na minha cintura e me pressionou junto ao seu
corpo, tanto que meus seios ficaram sufocados contra o seu peitoral. Sua
perna entrou no meio das minhas, levantando um pouco o meu vestido.
Apoiei as mãos no seu peito para me equilibrar e de repente todo o ar do
mundo sumiu.
Ele se inclinou na minha direção e achei que fosse me beijar. Aguardei
ansiosa, só que não foi isso que Colin fez. Ele desceu o nariz pelo meu
pescoço e inspirou profundamente na minha pele até descer pelo decote do
tomara que caia.
Me arrepiei, quis fechar as pernas, porém não pude, a dele ainda estava
no meio das minhas.
— Abre — mandou naquele tom de comando que me deixava
molhada.
Achei que estivesse falando das pernas e obedeci. A coxa dele entrou
mais e roçou na minha boceta, fazendo o meu corpo todo vibrar. Colin me
segurou mais no lugar e subiu para falar perto do meu ouvido, soprando a
minha pele no caminho.
— Eu quis dizer a sacola — provocou, tocando com a língua na minha
orelha.
Torci o pescoço desejosa. Peguei a sacola e a abri, tirando o que tinha
dentro. Eu não acredito... Era uma calcinha vibratória. Ele tinha colocado
uma citação fofa de Shakespeare do lado de um vibrador? A calcinha
parecia um fio dental preto na parte da bunda, mas quando chegava na
frente tinha um vibrador embutido, daqueles que apenas massageava o
clitóris, roçando em cima.
— É da cor do seu vestido — comentou Colin, descendo o olhar pelo
meu vestido como se eu estivesse nua.
— É — concordei debilmente.
Ele pegou a calcinha da minha mão e desceu as mãos pesadas pela
minha bunda até chegar no limite do vestido. Colin entrou na roupa,
tocando a minha calcinha. Ofeguei quando senti o seu dedo alisando o
tecido úmido. Senti a sua ereção contra a minha barriga, pesada e dura.
Para minha surpresa, ele se agachou na minha frente e puxou, com
cuidado, a calcinha que eu estava usando para baixo, fazendo-a deslizar
pelas minhas pernas até chegar nos saltos. Colin a tirou de mim e colocou a
nova, fazendo eu ficar cada vez mais excitada só por sentir o tecido subindo
pelas minhas pernas e a sua mão roçando em mim. Ele ergueu um pouco
meu vestido, encaixou a calcinha na minha bunda, metendo o fio dental
nela e deu uma lambida na minha boceta antes de voltar a ficar em pé.
Eu já estava melada e ofegante. O puxei para um beijo assim que se
levantou, chupei aquela língua sentindo o meu gosto e quis mesmo passar a
noite toda ali, comemorando só nós dois.
No entanto, o destino não estava ajudando.
— Gente, vamos!
Gemi frustrada ao escutar Amber. Colin soltou um palavrão e ajustou o
meu vestido no lugar protetoramente, para ninguém me ver caso entrassem
no quarto. Peguei a minha bolsa em cima da cama e nos encaramos uma
última vez.
Se passássemos mais um segundo no cômodo, não sairíamos nunca
mais. Por isso o puxei logo para o corredor.
Seria uma noite longa, passaria todos os minutos querendo sentar nele.
A boate era bem escura e tinha aquelas luzes neons que faziam quem
estava de branco brilhar no meio da multidão. Pena que meu vestido era
preto. Mas para o meu consolo, eles entregaram para todo mundo, na
entrada, uma pulseira que brilhava no escuro.
Ficamos no andar de baixo e achamos uma mesa no canto, onde dava
para todos se sentarem no sofá em formato de L que tinha em volta.
Contudo, talvez Colin não tivesse entendido aquilo, já que não me deixou
sair do seu colo.
— Hum... tem poste de pole dance ali — murmurou Sienna
interessada, apontando para o poste no centro da boate.
Michael passou o braço pelos ombros dela e sussurrou algo no seu
ouvido. Para a nossa infelicidade, o namorado da minha amiga tinha
resolvido vir junto, ele quase não interagia com ninguém e ficava grudado
em Sienna de um jeito sufocante. Por mais que fosse sutil, conseguia
perceber o incômodo dela.
Amber até tentou conversar com ele para não o excluir, porém desistiu
de lhe dar atenção depois que viu o seu desinteresse.
— Você sabe dançar pole dance? — perguntou Scar curiosa.
— Sei... faz um tempo que não treino, mas sei. — Sienna deu de
ombros e ficou olhando para o poste.
— Eu queria aprender — murmurou Amber, virando a sua décima
garrafa de bebida. — Vamos pegar mais um pouco? — chamou e era a
minha vez de ir com ela.
Levantei do colo do Colin e ele ficou secando descaradamente a minha
bunda. A minha sorte era a escuridão do local ou todo mundo perceberia.
— Você não fica com dor no corpo? — ele perguntou para mim e o
encarei confusa. — Por carregar toda a beleza do mundo nas costas.
Ri e balancei a cabeça em negação para ele.
— Essa até que não foi tão horrível assim — elogiei antes de lhe dar
um beijo.
— Estou sempre melhorando — argumentou e Amber me puxou para
segui-la.
Senti os olhos dele em mim, nas minhas costas, na bunda, nas pernas...
era quase palpável. Entramos no meio da pista de dança, passando pelas
pessoas até chegarmos no bar.
— Você está tão gata! — elogiou Amber se inclinando no balcão,
querendo chamar a atenção do barman.
— Você também — devolvi, vendo o quanto a loira estava linda.
Ela se virou para mim empolgada, como se tivesse acabado de ter uma
ideia fantástica.
— Vamos tomar tequila hoje?
Opa! Tequila era a única bebida que conseguia deixá-la bêbada mesmo.
E aquela bolinha de energia alcoolizada era engraçada demais para
dispensar.
— Tem certeza? — perguntei com calma e ela balançou a cabeça
positivamente. — Eu sou fraca pra essas coisas, mas a Scar consegue te
acompanhar...
— Perfeito! — Sorriu sem me deixar terminar, se virou para o barman
e fez o pedido.
— Ei, cachaceira! — uma voz familiar chamou atrás de nós.
Era Nelly, colega de curso da Amber. Ela estava com um vestido
branco e acabava se destacando pela luz neon.
— Ah, você veio! — cumprimentei a abraçando.
— Parabéns pelo estágio. — Ela sorriu para mim.
Meu Deus, tinham contado para todo mundo?
— Ainda não é oficial — expliquei depressa. — Entretanto, acho que
vou conseguir.
— Ansiosa pra assistir à peça.
— O pessoal está arrasando — contei com orgulho. — E Colin... você
sabe como é, não leva nada a sério.
Nelly arregalou os olhos, parecendo se lembrar de algo e seu rosto
perdeu todo o sangue. Olhei em volta sem saber o que tinha causado essa
reação nela.
— Eu fiquei em choque quando soube de vocês! — exclamou,
entrando no seu modo agitado. — Menina, você está bem servida!
Eu ri e confirmei apenas com um aceno, ficando um pouco vermelha.
Estava mesmo. Olhei por cima do ombro, sentindo falta de Amber, e vi que
a trapaceira já estava prestes a virar a segunda dose de tequila. Meu Deus,
que tragédia.
— Querida! — Corri para tirar o copo da sua mão. — Por que não
ficamos só com uma, hein?
— Essa outra é pra Scar — explicou cinicamente, piscando para mim
como se não estivesse prestes a beber a dose.
— Vamos. — Nelly pegou a mão de Amber e a minha, nos puxando
para dentro da multidão de novo. — Benny já chegou também, está com os
meninos.
Nelly nos arrastou de volta à nossa mesa e não sei o que aconteceu em
um período tão curto de tempo. Quando saímos estava um clima harmônico,
agora Drake apontava furiosamente o dedo para Tyler, que tentava se
esconder atrás do Taylor. Johnny apenas abanava as mãos entre os dois,
tentando controlá-los, Benny assistia a confusão assustado do seu lado e
Colin...
Bem, estava encostado no sofá querendo rir.
— O que aconteceu? — perguntei ao meu namorado e ele me puxou de
volta para o seu colo assim que me viu.
— Senti sua falta. — Enterrou o rosto no meu pescoço, beijando a
região.
Passei o braço pelos seus ombros e apontei para a confusão à nossa
frente. Colin abraçou a minha cintura e ficou olhando para os meninos.
— Algum sem noção inventou de brincar de verdade e desafio,
perguntaram pro Tyler como foi pegar a irmã do Drake — contou a fofoca.
É, não foi uma boa ideia.
— Quem perguntou isso? — perguntou Nelly, passando por nós para se
sentar no outro canto do sofá, ao lado de Benny.
— Colin — respondeu Scar como se fosse óbvio e nem fiquei surpresa.
— No dia em que ela foi nos visitar! — Drake apontou o dedo para
Tyler, revoltado. — De baixo do meu nariz. — Drake balançou a cabeça em
negação.
— Podemos esquecer essa história? — implorou Johnny e Amber se
jogou no colo dele, virando o segundo copo de tequila que ela estava
“guardando para a Scar”.
— Com você dormindo logo ao lado... — contribuiu Colin,
incentivando o caos.
— Foi muita sacanagem mesmo — apoiou Amber, apontando o seu
copo para Colin.
Ai quando esses dois se juntavam...
— O que você queria que eu fizesse? — se defendeu Tyler, se
escondendo atrás de Taylor, o usando como escudo.
— Resistisse — respondeu Drake e Tyler bufou.
— Ora, eu duvido que se uma garota entrasse no seu quarto e tirasse a
roupa...
Ah, Tyler! Você não se ajuda também. Drake se levantou, mas Johnny e
Taylor se colocaram na frente dele para empurrá-lo de volta para o sofá.
Amber se levantou junto, já que estava no colo de Johnny, e bem na hora
um garçom chegou na nossa mesa.
— Os camarões chegaram — anunciou o garçom, trazendo uma
bandeja e Sienna foi pegar o prato.
— Olha só! Eu pedi camarão — falou Sienna animada demais,
tentando distrair a atenção do pessoal.
— Ah, eu adoro camarão! — Amber empurrou Johnny para o sofá de
novo e sentou nas pernas dele.
Drake continuou a direcionar olhares cortantes na direção de Tyler, até
ele suspirar e decidir se defender.
— Olha, depois desse dia eu prometi a mim mesmo que nunca mais
faria isso — Tyler jurou e Drake relaxou um pouco.
— Hum... — murmurou Amber, comendo um camarão. — Mas logo
depois você já estava se agarrando com a Maddie.
Fechei os olhos em derrota. Colin ficou imediatamente tenso e suspirei,
sabendo que a confusão estava feita.
— Isso é verdade — concordou Colin, apontando o dedo para o
coitado.
— Eu fui a vítima. — Tyler apontou para o próprio peito e eu ri só de
lembrar do momento.
— A vítima — repetiu Colin em deboche, apertando os braços na
minha cintura.
— É verdade — concordei. — Eu que ataquei ele — falei em tom de
desculpas para Tyler.
E ele deu de ombros.
— Não tem problema — me dispensou com um aceno. — Foi ótimo.
Bati a mão na minha própria testa, massageando-a só em imaginar a
reação do louco que me segurava no colo. Colin abriu a boca, em choque
com a cara de pau, e se levantou para ir para cima dele.
Tyler se levantou em susto e começou a dar a volta na mesa, Johnny e
Taylor tentaram ficar entre eles e Drake apenas estendeu a perna na direção
do Tyler, fazendo-o cair em cima do namorado da Sienna.
— Que porra! — Michael se levantou todo sujo de cerveja,
derramando o próprio copo em si.
Sienna apenas pegou a bandeja de camarão e foi sentar longe deles, do
lado da Scar. Me levantei junto e puxei Colin para se sentar de volta no
sofá.
— Por que não esquecemos isso? — sugeri para todo mundo e me
sentei em cima do meu namorado, o impedindo de ir atrás de Tyler outra
vez.
Ele me abraçou, se acalmando.
— Ainda teve a cara de pau de dizer que foi “ótimo” — Colin
resmungou e beijei a sua testa.
— Isso é porque eu beijo muito bem — brinquei e ele suspirou,
olhando para mim.
— Foi horrível — corrigiu Tyler, indo se sentar bem distante de nós.
Colin se sentiu melhor com aquilo e revirei os olhos.
— Quem quer pegar mais tequila? — perguntou Amber, animada.
— Princesa, você não quer parar já? — Johnny se virou para ela,
carinhoso.
— Verdade, amor — concordou sensata, o abraçando. — Por que não
continuamos com a brincadeira?
— Eu acho melhor parar — aconselhou Scar.
— Ah, eu tenho um babado fortíssimo pra contar — Amber falou e
Drake imediatamente se inclinou na sua direção para ouvir. — Soube que o
Colin colocou um piercing no pau.
O quê?
— O quê? — Nelly fez a pergunta por mim, horrorizada.
Todo mundo olhou na nossa direção, assustados e só balancei a cabeça
negativamente, em choque.
— Isso é mentira — foi tudo o que consegui dizer. — Eu vejo todo dia.
Assim que fechei a boca me dei conta do que disse. Senti meu rosto
esquentar de vergonha e Colin riu.
— Eu não tenho — ele informou para Amber. — Mas já quis botar.
Amber se virou para Johnny, batendo no seu ombro.
— Você me disse que ele tinha.
— Eu disse que achava que tinha — se defendeu.
— Como o meu pau virou o assunto? — perguntou Colin, curioso.
Me virei para ele abismada.
— Você já quis botar? — perguntei e ele deu de ombros.
— Sim.
Apenas o encarei firme.
— Não — determinei e ele estreitou os olhos em divertimento para
mim.
— Ia ser a cereja do bolo, gnomo — justificou. — Vamos pegar o que
já é perfeito e deixar ainda mais bonito.
— Não tem cereja do bolo — neguei. — Você não vai fazer isso,
Colin!
— Eu pensei que o pau fosse meu — brincou em provocação.
— Mas quem senta nele sou eu. — Apontei para o meu próprio peito.
— Boa! — elogiou Sienna e só então percebi que todos ali estavam
prestando atenção na nossa conversa.
— Eu já conheci uma cara com um piercing nos ovos — disse Scar,
assustando todo mundo.
— Nos ovos?! — Drake cobriu a própria região como se estivesse
sentindo dor.
— Meu Deus — disse Benny chocado, ajeitando os óculos no rosto.
— Que coisa... — Taylor tentou buscar uma palavra para aquilo. —
Inovadora.
— Sim — concordou Scar e eles continuaram a falar sobre o homem
com o piercing nos ovos enquanto eu me virava para Colin, agora que tinha
privacidade.
— Você ia mesmo colocar um piercing? — questionei uma última vez,
só para confirmar tamanha loucura.
Ele não iria colocar piercing algum. Não tinha negociação. Nem hoje,
nem amanhã, nem nunca.
Madison Jensen
Colin se aproximou de mim, me segurando mais perto do seu corpo.
— Sim — sussurrou, me puxando mais para perto. — Pense no quanto
seria gostoso sentir lá dentro.
Senti um arrepio passar pelo meu corpo e toquei o rosto do maluco,
alisando o canto dos seus olhos.
— Você não vai furar o seu pênis — determinei e ele sorriu.
— Fica tão sexy mandona assim — disse, beijando a curva do meu
decote exposto pelo vestido.
Quase no limite do tomara que caia, ofeguei e olhei em volta, com
medo de alguém ter visto. Porém, para o meu alívio, estávamos na
penumbra, o lugar era muito escuro e o pessoal estava entretido na conversa
sobre piercing.
As mãos pesadas de Colin subiram e desceram pela minha cintura, em
uma carícia que me deixou tensa. Suspirei devagar, o ar de repente ficou
mais pesado. Quente. Virei para ele com calma e peguei Colin secando o
meu pescoço, quase como se fosse algo que ele quisesse lamber.
Quando o seu olhar encontrou com o meu percebi o quanto ele estava
excitado.
— Você quase beijou o meu peito — avisei e Colin não demonstrou
qualquer arrependimento, apenas continuou me olhando e se aproximou
mais.
Fiquei parada com os braços em volta do seu pescoço, o esperando vir.
Ele encostou o nariz perto do meu ouvido, respirando fundo ali, para depois
soprar na minha pele.
— Oh, foi mesmo? — perguntou cinicamente e entreabri os lábios,
sentindo-os secos.
Passei a língua devagar pelo lábio inferior, molhando-o, com medo de
apenas encarar ele e perder a cabeça. Colin desceu a mão, que alisava
minha cintura, para acariciar minha coxa. Assim que os seus dedos tocaram
a minha pele eu espremi as pernas, nervosa. Trêmula.
Senti a umidade da minha boceta molhando a calcinha. Ele apertou a
minha coxa ao mesmo tempo que encostou levemente os lábios no meu
pescoço, em um beijo suave e... me arrepiei inteira.
Joguei o pescoço mais para o lado, querendo que ele beijasse tudo
mesmo. Colin lambeu a região, sua língua gelada da bebida que estava
tomando fez todo o meu corpo estremecer. Ela passou tão devagar no meu
pescoço, de um jeito tão sugestivo, a saliva gostosa dele me melando de
uma forma que me fez cravar as unhas nos seus ombros para conter meu
gemido.
Juntei as pernas uma na outra e ele percebeu. Colin me abraçou mais,
colocando meu corpo em um casulo protetor. Ele continuou a deixar beijos
demorados no meu pescoço e ombro nu. Mordiscando de leve e inspirando
o meu aroma.
Eu apenas fechei os olhos, querendo muito sentir tudo, ficando sedenta.
Adorei a sensação de me sentir toda lambida, o ar da boate deixando minha
pele mais arrepiada. Ele arranhou a região com a sua barba por fazer e ali
foi o meu limite.
Precisava dele. Olhei em volta e todos continuavam conversando sem
prestar atenção em nós.
— Não podemos fazer essas coisas em público. — Tentei acordar meu
lado racional e bem nesse momento senti o seu pau duro na minha bunda.
Ah, que coisa gostosa... Fiquei com vontade de afastar a minha
calcinha e senti-lo.
— Quem disse? — provocou, roçando de leve o pau em mim e me
fazendo contorcer todo o corpo no seu colo.
— Colin — gemi, enterrando o rosto na curva do seu pescoço,
querendo sumir e pedir para ele continuar ao mesmo tempo.
Senti o seu cheiro bom, os seus músculos tensos, o jeito que ele era
gostoso... Colin me apertou mais com carinho, alisou o meu braço nu,
sentindo a pele toda arrepiada, e beijou a minha cabeça com calma.
— Eu cuido de você, meu amor — prometeu, passando o dedo
sugestivamente pelo meu braço, me fazendo querer arrancar toda a roupa
que estava entre nós.
Ergui os olhos para o pessoal novamente, mas para mim, tudo estava
escuro demais, não sabia se era da excitação ou do próprio ambiente. Colin
mexeu um pouco a perna para colocar a mão no bolso da calça e seu pau
duro roçou em mim no processo. Eu precisava...
Algo vibrou na minha boceta, fazendo-a ficar ainda mais melada! Todo
o meu corpo se contraiu, me fazendo soltar um gemido agudo bem alto.
Apoiei as mãos na mesa, assustando todo mundo, e fazendo vários pares de
olhos se virarem na minha direção.
A DROGA DA CALCINHA.
Eu esqueci que estava usando, podia sentir que ela estava vibrando
bem em cima do meu clitóris como uma tortura.
— Querida? — perguntou Sienna, preocupada.
— Você está bem? — Nelly estreitou os olhos para mim, tentando
enxergar o que acontecia.
Não. Tem algo vibrando na minha calcinha.
— Estou. — Forcei um sorriso e senti outra vibração apertando mais o
clitóris. QUE INFERNO. — Meu Deus!
Os braços de Colin me apertaram, me trazendo de volta para o conforto
do seu corpo e percebi que o cretino estava querendo rir. Mordi o lábio
inferior, contendo um gemido e respirei fundo, acalmando o meu coração
acelerado.
O pior de tudo era que eu queria que o vibrador apertasse mais. Queria
o pau duro, que cutucava a minha bunda, entrando em mim. Queria a boca
dele na minha, mas não podia ser ali.
O vibrador começou a girar e meu Deus... cravei as unhas com força
nos braços do Colin, quase arrancando um pedaço da sua pele. Fechei os
olhos e tentei controlar o meu corpo.
— É o camarão — explicou Colin para o pessoal. — Ela é alérgica —
mentiu.
— Meu Deus, eu esqueci! — Sienna murmurou, mortificada.
— Tirem o camarão de perto dela! — Drake começou a tirar o camarão
da mesa e todo mundo se levantou para tirar a bandeja de perto.
— Eu vou leva-la pra tomar um ar. — Colin se levantou comigo, me
mantendo junto ao seu corpo e suspirei de alívio quando minhas pernas
esticaram.
Ainda estavam bambas e ao levantar rocei ainda mais no vibrador. No
entanto, pelo menos, Colin me tiraria dali. Se ele não me desse um orgasmo
nesse minuto seria caso de morte. Dele, no caso.
— Não! — mandou Taylor e quase chorei. — Temos que levá-la pro
hospital.
Todos assentiram em concordância e as meninas começaram a pegar as
bolsas em cima do sofá para irem embora.
— Não é necessário, eu cuido disso...
— Ela está vermelha — Amber cortou Colin, apontando para o meu
rosto.
Deveria estar mesmo, me sentia sufocada, precisava da pessoa que
estava me abraçando, dentro de mim. Senti o vibrador aumentar a
velocidade e mordi o lábio com força para reprimir o gemido. Cravei as
unhas no abraço de Colin, avisando silenciosamente para ele pegar a
oportunidade e fugir.
— É o camarão — falei, espremendo as pernas e apontando para a
bandeja, meu dedo tremendo de tanto tesão acumulado. — Tem... tem... —
PELO AMOR DE DEUS. — Tem alguma coisa nele, não comam!
Eles olharam para a bandeja que Drake segurava e deram um passo
para trás, assustados. Colin me segurou mais firme e acenou em despedida
para eles.
— Estamos indo. — Apontou para a bandeja e pegou minha bolsa em
cima do sofá. — Não comam o camarão!
Ele saiu comigo pela boate, passando pelas pessoas enquanto eu me
contorcia no caminho, abraçando o seu corpo como se fosse o meu bote
salva-vidas. Colin entrou em um banheiro e trancou a porta atrás de si.
Me soltei dele e assim que meu namorado se virou, com um olhar
sedento e ao mesmo tempo divertido, na minha direção, eu perdi a
paciência. Empurrei-o contra a porta com toda a minha força e o puxei pela
camiseta para um beijo, quase rasgando o tecido no processo.
— Porra... — Ele gemeu ao sentir minha língua deslizando para dentro
da sua boca gostosa.
O maldito vibrador continuava a girar no meu clitóris, fazendo eu me
molhar toda ao ponto de sentir que estava toda melada até na coxa. Gemi
sufocada no beijo, chupando a língua dele.
Colin me puxou para o seu corpo, sabendo que eu precisava de tudo
naquele momento. Ele me ergueu nos braços e enrolei as pernas na sua
cintura depressa, ficando louca ao sentir o seu pau duro roçando na minha
virilha toda lambuzada. Colin nos mudou de posição, me colocando contra
a porta e dando uma esfregada na minha boceta, bem onde a calcinha já
estava fazendo um ótimo trabalho.
Gemi enlouquecida, jogando minha cabeça para trás e rebolando
descontroladamente nele, girando meu quadril para ter mais contato. Colin
abaixou o meu vestido tomara que caia até a cintura e meus seios saltaram
para fora, livres, balançando no ar à medida que eu me esfregava mais na
sua calça jeans.
Ele os abocanhou, chupando com força o mamilo, babando bem a
região e os deixando duros de excitação. Senti a sua barba por fazer me
arranhar e segurei o seu cabelo, cravando os dedos para não tirá-lo dali.
Porém, Colin se afastou para chupar o outro, deixou o seio inchado e
babado. Assim que senti a sua boca sugando o outro bico arrepiado, o quis
em cada parte do meu corpo.
— Preciso de você — pedi manhosa, rebolando no seu jeans e sentindo
o seu pau pular de tão duro.
Estocou em mim, pressionando o quadril bem em cima da minha
boceta. Gemi tão alto que o som preencheu todo o banheiro pequeno.
— Ocupado? — Escutei alguém bater à porta atrás de mim, mas por
nada nesse mundo sairia dali.
Colin subiu as lambidas até chegar na minha boca, já aberta para
receber a sua língua.
— Sim! — Colin gritou e abriu mais as minhas pernas para girar o seu
pau bem na minha virilha.
Gemi sem consegui me conter, segurando os seus ombros para me
manter no lugar. Ouvi a pessoa se desculpar e talvez tenha ido embora. Ou
talvez não, pouco me importei.
— Colin, já chega — sussurrei implorando, meu coração batendo tanto
que o sentia na garganta.
Ele mordiscou o meu lábio inferior inchado e me empurrou com mais
força contra a porta, fazendo o seu pau me cutucar e que inferno... queria
rasgar a sua roupa e colocá-lo dentro de mim.
— Olha pra mim — mandou e obedeci imediatamente, faria qualquer
coisa que ele me pedisse.
Ficamos nos encarando enquanto eu enterrei os dedos no seu cabelo,
precisando do contato. Meu clitóris pulsou tanto que senti minha boceta
escorrer de tão melada.
— Agora, Colin — pedi e ele levou uma mão entre nós, até o zíper da
sua calça. Sem desviar de mim.
Quando o senti colocar o pau para fora quase chorei de alívio. Abri as
pernas ansiosa e ele afastou a minha calcinha ensopada com o polegar, só a
parte que ficava na entrada, deixando o vibrador brincando com o meu
clitóris. Colin passou a cabeça do pau na minha boceta e gemeu ao sentir o
quanto estava lambuzada.
— Puta merda, pequena. — Ele trincou os dentes como se estivesse
sentindo dor e o abracei, empurrando o quadril na sua direção para senti-lo
entrar.
Ele gemeu na minha boca e o beijei, segurando o seu pescoço. Minha
língua duelava com a dele enquanto seu pau deslizava para dentro, me
alargando completamente, abrindo caminho.
— Melada pra caralho — murmurou na minha boca, descendo para
mordiscar o meu pescoço. Senti os seus dentes mordendo a minha pele e
minhas pernas tremeram por senti-lo começar a roçar.
— Eu amo sentir entrar gostoso assim — falei, sentindo-o meter até
entrar todo.
Colin empurrou com força, bombeando de uma vez e fazendo o seu
pau ficar enterrado até o talo na minha boceta. Estocou com tanta vontade
que meu corpo bateu contra a porta.
Estremeci dos pés à cabeça de tanto tesão. Comecei a rebolar
desesperada, sentindo o pau sair todo melado e entrar de novo em mim.
Colin continuou metendo com força e senti meu corpo inteiro vibrar. As
suas mãos fortes desceram para minha bunda até chegarem perto da boceta
e ele abriu minhas pernas até o limite, sentindo o tanto que lambuzei tudo
ao redor.
Separou bem minhas coxas e passou a meter o pau até eu senti-lo lá
dentro. Abracei os seus ombros e beijei aquela boca gostosa, que estava tão
próxima da minha. O vibrador girou no meu clitóris, tremendo e
aumentando a pressão. Foi o meu fim.
Gozei, nunca me senti tão melada como naquele momento. Colin não
parou e eu gemi alto. Minha boceta contraiu, esfregando e esmagando o seu
pau. A senti escorrer de tanto gozo.
Colin segurou o meu rosto com uma mão e passou a alisar a minha
bochecha, sem deixar de estocar em mim. Olhei nos seus olhos azuis e vi
tudo ali. Tesão. Vontade. Carinho. Amor.
O puxei para mais um beijo, só porque não conseguia deixar de beijá-
lo. Minhas pernas estavam para cederem, fracas depois do orgasmo. E ele
percebeu, pois me soltou e tirou o pau duro de dentro de mim.
O senti sair erguido e totalmente lambuzado, tanto que o vi brilhar sob
a luz do banheiro. Inchado, grosso e cheio de veias.
Colin deixou que eu me equilibrasse no chão antes de me colocar de
frente para a pia pequena que havia no local, onde tinha um espelho bem
em cima. Apoiei minhas mãos na louça e empinei minha bunda para trás,
pronta para senti-lo entrar em mim de novo.
Seu corpo surgiu atrás do meu, grande e forte. O seu braço passou pela
minha barriga, me segurando no lugar quando meteu novamente o pau na
entrada da minha boceta. Joguei a cabeça para trás, gemendo e descansando
ela no seu peitoral.
Olhei para frente e ficamos nos encarando enquanto ele empurrava
dando uma rebolada no caminho, tocando o meu ponto G. Precisei me
segurar na pia e inclinar o tronco para frente, meu corpo inteiro tremeu e
joguei a bunda para trás, querendo mais. Seu pau deslizou pela minha
boceta gozada, me fazendo contrair e sentir outro orgasmo chegar. Achei
que estivesse esgotada, mas não.
Nos olhamos e vi ele descer a mão que me segurava para dentro da
minha calcinha minúscula, a afastando de lado e ele mesmo passou a
massagear o meu clitóris com o polegar. Já estava tão pulsante... inchado.
Torci as pernas e fechei os olhos com força, rebolando enlouquecidamente
de novo.
Quando voltei a abrir os olhos ele puxou mais a minha bunda para trás
e olhou fixamente para mim, para os meus seios balançando, para os meus
olhos e minha boca. E só pela sua expressão de puro prazer e tesão eu senti
minha respiração falhar.
Apertei tanto as mãos na pia que os meus dedos ficaram brancos. Meu
coração acelerou e ele meteu fundo, me fazendo gemer alto, o som saindo
cortante pelas estocadas violentas. Contraí e mais uma vez gozei. Meu
Deus, ia infartar.
Colin enfiou uma última vez em mim, gozando dentro.
Os seus braços me apertaram e suspirei em derrota. Estava me sentindo
saciada, senti o seu pau contraindo dentro de mim, derramando mais gozo,
até a última gota e quis absorver tudo. Ele travou o maxilar em alívio, tirou
o meu cabelo da nuca e passou a beijar a pele com carinho.
O sêmen quente escorreu pelas minhas coxas assim que o pênis
deslizou para fora, mas daquela vez acho que era tanto meu quanto dele.
Colin me virou de frente e o abracei, morta.
Estava sem equilíbrio, manhosa e ofegante. Ele me encostou na porta
novamente e descansou a testa na minha. Estávamos ofegantes e ficamos
ali, respirando o mesmo ar, esperando nossos corações se acalmarem.
— Sente meu coração. — Peguei a sua mão e a coloquei entre os meus
seios, bem onde estava a minha corrente de ouro.
Colin passou a mão delicadamente pelos meus seios, alisando os bicos
e dando um beijo carinhoso em cada um antes de cobri-los, erguendo o meu
vestido.
Me deixei ser cuidada. Era bom.
Ele ajeitou a própria calça, depois se abaixou para me limpar e tirar a
calcinha de mim, passando-a pelas minhas pernas. Toda molhada e pesada.
Quando passei os meus saltos por ela Colin a levou até o nariz, cheirando e
guardando no bolso da calça.
— Eu fico com isso — informou e me mostrou o controle da calcinha,
que estava guardado no bolso da sua calça.
Balancei a cabeça em negação para ele, ainda encostada na porta.
Morta. Minha cara com certeza assustaria qualquer pessoa naquele
momento. Estendi a mão para Colin e ele se levantou, me abraçando.
Beijou a minha testa e eu só deitei a cabeça no seu ombro, alisando as
suas costas perfeitas. Me sentia acolhida, amada, só queria ficar assim com
ele a vida toda.
— Eu te amo — declarei beijando o seu queixo, que era onde
alcançava com os saltos, e sentindo o seu cheiro bom.
Colin me apertou mais, tão forte que conseguiu até acalmar o meu
coração.
— Amor da minha vida — sussurrou pertinho do meu ouvido, beijando
a minha bochecha. — Amor da minha vida — repetiu ao segurar o meu
rosto com proteção.
Me aproximei dele e ficamos roçando os narizes, suspirando um para o
outro e dando beijos despreocupados.
Alguém tentou abrir a porta de novo, nos assustando. Abracei Colin e
ele só gritou para a pessoa que estava ocupado.
Peguei a minha bolsa jogado no banheiro, sem nem me lembrar de
quando a larguei no chão, e saímos de lá com a maior cara limpa. Tinha
uma garota esperando para entrar. Ela nos olhou de cima a baixo, deixando
claro que sabia o que estávamos fazendo.
Fiquei um pouco envergonhada, mas o bom humor venceu. Enterrei o
rosto no peito do Colin e ri.
E fui para a casa com o amor da minha vida.
E fiz amor com ele a noite toda.
Madison Jensen
Arte não é uma forma de expressar só sentimentos, mas também
magia. Ela se comunica, fala por você, ela se pinta, desenha, constrói,
expressa e cria vida.
O poder que se concentra nas mãos de um artista é gigante. Ele cria
algo novo, coloca no mundo uma coisa que não existia antes. Ela nasce,
cresce e nunca morre. Pode até ser que se deteriore com o tempo, no
entanto se chegou a tocar alguém algum dia, tem o seu lugar no mundo.
Talvez os sonhos de Colin sejam assim. Eles se perdem no mundo no
instante em que o seu corpo acorda. Eles morrem quando a realidade chega.
Somem do seu alcance, não o permitindo capturá-los. E tudo o que eu
queria era poder dá-los a ele. Seria um presente, a minha maior prova de
amor.
Lhe devolver o que foi perdido, lhe dar o que ele nem sabe que é seu. E
deixar que se eternize, como William Turner tentava fazer com a luz do sol.
Sempre senti que ele a amava de alguma forma, que acordava e
pensava que a luz seria o seu guia. Sempre achei que ele a queria para si,
capturá-la e conseguir fazer com que ela fizesse parte do mundo.
Observei Colin respirar tranquilamente, seu peito subindo e descendo
enquanto o ar entrava e saía do seu corpo. Tão bonito... Ajustei o caderno
de desenho nas minhas pernas e continuei a rabiscar na folha.
Alguns artistas tinham o sol como inspiração, o amanhecer, as flores, o
mar, as estrelas e a própria vida. Eu tinha Colin. Passei a tornar o meu ritual
favorito observá-lo despertar de manhã.
Quando o canto da sua boca se ergueu em um sorriso eu percebi que
ele tinha voltado. Acordou. E era como o momento em que o sol nascia de
manhã, iluminando o quarto.
— Eu sinto os seus olhos em mim — ele murmurou, abrindo os olhos
para me encarar.
Sorri para ele de volta e coloquei um cacho, que estava atrapalhando
minha visão, atrás da orelha.
— Você virou o meu sol — justifiquei e ficamos nos olhando em
silêncio.
Não precisei explicar mais, ele entendeu. Sempre compreendia. Eu não
precisava me esconder dele, ou ter vergonha de compartilhar meus
interesses e crenças. Ele nunca tentava me ridicularizar, apenas me aceitava
como eu era, me amava por completo.
— Você sempre foi o meu — sussurrou e fiquei com vontade de pintá-
lo exatamente como estava. Cansado depois de ter passado quase a noite
toda dentro de mim, não paramos depois do episódio do banheiro. — Desde
o dia em que caí em cima de você.
Meu sorriso se tornou mais pleno, tranquilo.
— A vela — brinquei e ele me entregou um olhar divertido.
— A maldita vela.
Fechei o meu caderno de desenho e o deixei em um canto para ir até a
cama ficar com ele. Colin abriu os braços, pronto para me colocar no seu
casulo, como fazia todas as noites. Porém, dessa vez eu apenas me sentei na
sua frente. Ele se ergueu, encostando as costas na cabeceira para me olhar
mais de perto.
— Vou te contar uma história. — Ergui a sobrancelha e Colin me olhou
atento, me puxando mais para perto.
— Qual história?
— De uma menina que descumpriu uma regra — contei e seus olhos
suavizarem. Ele tocou o meu queixo com carinho, alisando a minha pele.
— Que regra ela quebrou?
Peguei a sua mão na minha e a beijei, como ele costumava fazer
comigo. Abri a sua palma entre nós e fiquei traçando as marcas da sua mão,
bem em cima da linha da vida.
— Ela pediu respostas — continuei passando o dedo pela sua palma,
onde alguns acreditavam que se escondia todo o destino de uma pessoa. —
Ela pediu a outra parte.
Ele franziu a testa, buscando entender. Coloquei a minha mão do lado
da sua, bem onde começava a minha linha do coração, exatamente onde a
sua terminava. E elas juntas, uma do lado da outra, seguiram um mesmo
caminho. Ele compreendeu, tocou o meu dedo mindinho com o seu e os
entrelaçou, como no dia em que fizemos nossa promessa de estarmos
sempre um com o outro.
— Exatamente. — Sorri, erguendo o olhar para ele. — A outra parte.
Colin levou os nossos dedos unidos até ele e beijou o meu, com
carinho e reverência.
— Que resposta ela teve? — perguntou, me olhando de um jeito tão
amoroso que senti meu coração apertar.
— Não precisa procurar pelas estrelas, elas simplesmente vêm até você
toda noite — recitei e ele beijou mais uma vez a minha mão. — Elas estão
te procurando também e por isso brilham. O que respira o mesmo ar —
Apontei para o espaço entre nós. —, está fadado a se encontrar.
Colin ficou me olhando e se aproximou aos poucos. Suspirei em
expectativa quando ele segurou o meu rosto nas suas mãos e ficou olhando
meus olhos como se fossem a coisa mais fascinante do mundo.
— A vela era pra isso, luz da minha vida? — perguntou e gostei tanto
daquele nome carinhoso, que me peguei sorrindo.
Confirmei assentindo e Colin beijou demoradamente a ponta do meu
nariz.
— Você ilumina o meu mundo — declarou tão sincero que meu corpo
inteiro se acalmou ao ouvir aquilo. — É a pessoa mais preciosa do mundo
pra mim, não há nada que eu não faria por você. Nunca pensei que seria
possível amar alguém tanto assim. — Tocou o canto da minha bochecha,
onde formava a minha covinha. — Obrigado por trazer essa paz pro meu
coração.
Olhei para cada canto dele. O formato charmoso da sua boca, o jeito
que ela se curvava quando ele sorria, os seus olhos perfeitos, seu nariz e
cada detalhe. Quis gravar tudo.
— Passei tanto tempo pensando em cada característica sua... —
revelei, beijando o seu queixo e o sentindo suspirar de satisfação por me ter
perto. — Eu ficava na janela do meu quarto olhando as estrelas e pensando
se você estaria vendo a mesma que eu.
Ele me abraçou. Passou os braços pela minha cintura e me puxou para
o seu colo. Encostamos a testa um no outro e Colin roçou o nariz no meu.
— Onde você morava, pequena? — Ele já tinha me feito essa pergunta
antes.
E eu tinha me esquivado. Não por vergonha, apenas por sentir que não
era o momento.
— Eu não tenho pais — falei de novo, mesmo sabendo que ele já
sabia. Colin engoliu em seco e me deu espaço para continuar. — Fui
abandonada ainda bebê em um abrigo... não era ruim — me apressei a dizer
quando enxerguei a dor no seu olhar. — Gostava de lá.
E era verdade, fui bem cuidada por um tempo. Colin olhou para as
minhas mãos, tocando cada cicatriz e pedindo, silenciosamente, uma
explicação.
— Eu mataria a pessoa que fez isso com você — murmurou com uma
raiva que eu desconhecia. — Nunca teria a deixado se sentir sozinha, nem
por um segundo. Eu sei que você não sente ódio por ninguém, nem pelas
piores pessoas do mundo, mas eu sinto por você.
Sorri tristemente para ele e balancei a cabeça negativamente.
— Não precisa sentir ódio por mim — disse e ele beijou com calma
cada cicatriz das minhas mãos. — Um dia chegou uma funcionária nova —
continuei e ele me deu toda a sua atenção. — Ela era rígida demais, batia
nas mãos das crianças com uma palmatória, por qualquer coisa. Se não
arrumássemos a cama na hora certa, se não chegássemos no café no
momento em que ela chamava...
Colin fechou os olhos e parecia sentir a dor que eu já não sentia mais.
Quis apagar aquilo dele, eu estava bem.
— Ela ficou lá por pouco tempo — expliquei. — Alguns meses, logo
descobriram que estava machucando as crianças.
— Ficou tempo o bastante pra te ferir — murmurou com ódio, tocando
em mim com cuidado, como se estivesse com medo de me machucar.
— Ficou — concordei, olhando as minhas mãos. — No começo
formaram bolhas, depois pensei que fossem sumir, só que aí cicatrizou...
— Elas são perfeitas — me interrompeu, entrelaçando os dedos com os
meus. — Perfeitas — repetiu me encarando firme.
Obrigada por isso. Suspirei para ele e Colin me encarou, esperando-
me continuar. Parecia ansioso para saber como era cada passo da minha
infância, infelizmente eu não tinha nada de muito emocionante para contar.
— Quando eu tinha seis anos uma senhora pediu a minha guarda. —
Não consegui terminar de falar sem sentir um sorriso se abrir no meu rosto.
Era bom falar dela com alguém, poder compartilhar lembranças
gostosas que tivemos.
— A sua vó? — perguntou curioso e assenti.
— Era como eu a via — expliquei com cuidado. — Ela não era a
minha vó mesmo. Todos a chamavam de Ney, mas para mim ela era vovó.
Ele me entregou um olhar gentil e seu rosto relaxou em quase um
sorriso, por saber que eu tive alguém por mim.
— Eu consigo te imaginar criança... — comentou relaxadamente. —
Pequena, sonhadora, esperançosa e cheia de ideias românticas sobre o
mundo. — Sorri, tirando um cacho do meu rosto.
— Exatamente. — Tinha boas lembranças e aquela pontada de
saudade, que sempre vinha logo que pensava nela. — Vovó veio de uma
família de cultura cigana, ela era um espírito livre, como gostava de dizer.
Vivia viajando, nunca conseguia ficar muito tempo no mesmo lugar.
Colin estreitou os olhos surpreso, mas intrigado, vi uma preocupação
passar pelo seu rosto.
— Com quem ela te deixava? — perguntou e dei de ombros.
— Sozinha.
O julgamento estava ali, aquele que sempre vinha quando eu explicava
a nossa dinâmica. Ela viajava por algum tempo e eu me virava com as
coisas de casa. Ney me ensinou a cozinhar, a ir à escola só, a me virar, e a
esperar na nossa casa pelo seu retorno. Éramos felizes com essa rotina, por
mais que no fundo eu me sentisse só.
Colin franziu a testa não gostando daquilo e dei um beijo bem entre as
suas sobrancelhas, para acalmá-lo.
— Não a veja assim — implorei baixinho. — Era o seu jeito de viver,
ela me amou profundamente, nunca duvidei disso nem por um dia. Ela me
ensinou sobre magia, destino, as estrelas e o universo. Tudo o que sou hoje
teve início nela.
Colin se encostou melhor na cabeceira e me encarou pensativo.
— Qualquer pessoa que tenha conseguido conviver com você, não
importa o tempo que tenha sido, é alguém de muita sorte — disse e me
emocionei.
Eu que tive sorte por tê-la na minha vida.
— O que aconteceu com ela? — questionou, porém pelo seu olhar, já
sabia.
Olhei para a janela do quarto, onde a luz do sol já adentrava,
iluminando o ambiente. O dia estava lindo e o ar puro. O ar. Sempre ele.
— Ela foi respirar um ar diferente — sussurrei, contando aquele
segredo. — Um dia ela viajou e não voltou mais.
Já estava tão velhinha que não chegou a ser uma surpresa, no entanto
eu senti a dor na época. Como já era maior de idade não precisei ir para um
lar e para a minha surpresa, ela tinha deixado uma quantia de dinheiro para
mim. Era pouco, entretanto foi o suficiente para me sustentar na faculdade
até agora.
— Foi respirar um ar diferente — repetiu Colin e quando o olhei
percebi que estava pensativo, como se testasse as palavras. — Gostei desse
ponto de vista — disse e sorri para ele.
— Tudo no mundo é sobre pontos de vistas — expliquei, alisando o
seu pescoço. — Até o jeito que encaramos a morte.
Você já conseguiu se livrar da dor do seu luto?
— Eu não sou tão positivo como você — explicou, quase como se
tivesse ouvido os meus pensamentos. — Não consigo perdoar tão fácil
assim.
Entendi ali que o seu luto não era sobre o seu pai. Era sobre a sua mãe.
Eram quase duas mortes, uma por uma pessoa que realmente faleceu e outra
por alguém que ele decidiu se afastar.
— Ainda sente raiva? — perguntei com cuidado e ele me encarou.
Ficou me olhando com uma pontada de tristeza. Colin engoliu em seco
e balançou a cabeça negativamente. Tinha uma culpa dentro de si, era
possível vê-la.
— Eu nunca consegui odiá-la — confessou como se estivesse tirando
um peso das costas ao colocar para fora. — Nem por um dia. — Ao dizer
aquilo, ele baixou o canto da boca em derrota.
— Sua mãe... — comecei insegura, sem saber se ele queria falar dela
comigo. — Você não fala mais com ela? Nem por ligação?
Colin suspirou devagar e senti a dor que carregava no corpo. Ele queria
odiá-la, entretanto não conseguia.
— Ela me liga, eu não atendo. Ela me dá parabéns no meu aniversário
e eu sou breve... ela tenta me ver no natal, e eu invento uma desculpa —
disse apreensivo e senti um aperto no peito. — Dói saber que eu a machuco.
Nunca a tratei mal ou fui grosseiro com ela, respondo rapidamente as suas
mensagens, mas nunca dou abertura.
— Não consigo te imaginar tratando mal qualquer mulher, Colin —
falei e ele esboçou um sorriso.
— Me acho cruel por afastá-la, só que se não o fizer, acabo sendo
desleal com o meu pai... alguém precisa odiá-la.
— Por quê? — perguntei com carinho. — Se nem ele a odiou.
Ele ficou me encarando, perdido.
— Talvez tenha odiado — murmurou. — Eu não sei, de verdade.
Assenti, concordando e peguei o meu pingente no peito, o abri e peguei
a nossa moeda. Coloquei-a na mão dele, fechando em punho e beijando os
seus dedos.
— Você pode decidir se atende ou não na próxima vez que ela ligar —
aconselhei, deixando nas mãos do destino.
Ele concordou e ficou olhando para a moeda como se ainda tivesse
mais uma pergunta a fazer.
— Você não me disse onde morava — pontuou. — Com a sua vó.
— Em um conjunto de trailer bem precário. — Enruguei a ponta do
nariz, sabendo que cara ele faria.
E lá estava. Revolta. Ele parecia querer me pegar e voltar no tempo
para mudar a minha vida. Só que não podíamos mais lamentar por essas
coisas.
— Não passei necessidade — esclareci, sentindo-o se acalmar um
pouco. — Só era muito apertado — brinquei. — Eu gostava de ficar na
janela do meu quarto e a vista do céu de lá era privilegiada.
Ele me deu um sorriso suave, satisfeito por me ver feliz.
— Era lá que cantava os seus parabéns? — perguntou e confirmei.
— Todos os anos.
Colin pegou o meu rosto entre as mãos e beijou com carinho a minha
testa, demoradamente. Inspirou de um jeito profundo e quando se afastou
quis por a moeda de volta no pingente, mas neguei com um movimento.
— Você vai carregar o nosso destino. — Empurrei a moeda na sua
direção. — Precisa mais dele do que eu.
Ele ficou me olhando por um momento, porém aquiesceu com uma
nítida satisfação no olhar que não entendi.
— Nosso destino — concordou, pegando com cuidado a moeda e só
então notei o que tinha falado. — Eu quero compartilhar tudo com você...
um dia vai ser a nossa casa, a nossa cama, os nossos cachorros, até os
nossos passarinhos — disse com um olhar divertido e me peguei sorrindo,
por mais que o meu coração estivesse a mil. — Um dia vão ser os nossos
filhos e a nossa vida.
Eu quero tudo isso. Suspirei e sorri para ele.
— No nosso futuro eu vou encontrar tudo isso. — Aproximei o meu
rosto do dele.
— Ansioso por todos os nossos momentos. — Roçou o nariz no meu.
Eu também, Colin. Eu também.
Mordi o último pedaço da maçã antes de jogá-la no lixo e ir até o carro
da Sienna. Ela e Scar estavam no gramado ajustando as coleiras dos
cachorros.
— Olha, Brad Pitt, eu juro que se você mijar de novo na minha calça,
eu vou te castrar — prometeu Sienna, apontando o dedo ameaçadoramente
para ele.
O coitado apenas balançou o rabo e a encarou com um olhar
apaixonado.
— Tadinho. — Caminhei na direção deles e acariciei a orelha dele.
— Colin não vai te deixar hoje? — perguntou Scar, estranhando.
Balancei a cabeça negativamente com um sorriso.
— Ele está de castigo — contei.
Colin ia passar a manhã ensaiando o seu Romeu, até insistiu para me
deixar no campus, mas neguei. Ele às vezes decorava o texto em casa e
como já estava chegando perto da estreia da peça, era bom que ficasse mais
afiado com o roteiro. Apesar da gente sempre ensaiar em casa e no palco
quando conseguíamos conciliar o horário, combinamos de fazer mais um
ensaio no teatro hoje, só nós dois, depois de todas as aulas.
— Muito bem. — Scar piscou para mim com um meio sorriso.
— Bom dia, pessoas lindas! — desejou Amber, abrindo a porta da casa
e Johnny vinha seguindo-a logo atrás.
— Bom dia — falei de volta.
Eles pegaram os cachorros nas guias, preparados para levá-los para
passear um pouco.
— Já vão? — perguntou Johnny e Sienna assentiu. — Eu vi que o
nosso Romeu já está ensaiando lá em cima — provocou com um sorriso.
— Quem ele escolheu como Julieta dessa vez? — perguntei curiosa.
— Tyler — contou Amber, rindo. Ela se despediu de nós, puxando o
namorado junto com os cachorros. — Beijinhos, meninas!
Sienna mandou um beijo para eles e assim que viramos para irmos até
o carro, demos de cara com três criaturinhas. Ou três crianças. Os garotos
que moravam na nossa rua estavam nas suas bicicletas, parados na nossa
calçada e nos olhando com desconfiança.
Eu os conhecia. Zach e Miguel deveriam ter uns 12 anos e eram
gêmeos, a única diferença entre eles era que Miguel usava óculos. O
terceiro era Ozzy, muito fofo, deveria ter uns 10.
— Bom dia! — Sorri para eles.
Contudo, não me retribuíram, continuaram de cara fechada.
— Eu sei o que vocês estão aprontando — falou Zach, o mais velho,
apontando para nós.
— Oh é mesmo? — perguntou Scar, se encostando no carro da Sienna
e dando corda.
— Sim — confirmou Miguel. — Eu vi o que vocês fizeram ontem à
noite.
Franzi a testa sem entender e quando olhei para as meninas, vi que elas
estavam tão perdidas quanto eu.
— Você tem namorado? — o garoto gordinho, Ozzy, perguntou para
mim.
— Eu? — Apontei para o meu próprio peito, só para confirmar que ele
estava mesmo falando comigo. O garoto balançou a cabeça positivamente.
— Tenho sim.
Ele murchou triste. Meu Deus, as crianças estavam cada vez mais
precoces.
— Não viemos aqui pra você dar em cima dela — brigou Zach, se
inclinando na sua bicicleta ameaçadoramente. — Viemos aqui pra dizer que
vimos tudo ontem.
— E temos provas! — Miguel levantou o dedo, convicto.
— Do que exatamente? — questionou Sienna, intrigada.
Os gêmeos bufaram cinicamente e o Ozzy me olhou com ansiedade.
— Onde está o seu namorado? — insistiu e eu tive que rir daquilo.
— Agora? Sendo o Romeu. — Apontei para a casa atrás de nós.
Nesse momento a porta da casa se abriu novamente e Colin saiu de lá
apenas de calça moletom. Me fazendo suspirar só por encarar aquele
tanquinho. Ele veio caminhando na nossa direção e logo passou o braço
pelos meus ombros.
— Ei, Alvin e os esquilos — Colin cumprimentou os meninos sorrindo
e olhei para ele sem acreditar naquele apelido.
— Alvin e os esquilos? — repetiu Scar debilmente.
— Eles parecem, admita. — Sorriu para ela, e ela apenas balançou a
cabeça em negação para ele.
Os garotos acharam o máximo, o encararam com o olhar admirado,
apoiando tudo o que saía da boca dele.
— Ei, Colin! — Zach estendeu o punho fechado ao meu namorado. —
Como vai, cara?
— Vou bem. — Colin bateu no punho dele, em parceria. — O que
vocês estão fazendo?
— Estamos investigando — informou o outro com orgulho.
— Muito bem — elogiou Colin em aprovação. — Essa é uma rua
perigosa, fiquem de olho em tudo. Talvez encontrem até gnomos
escondidos nos jardins.
Revirei os olhos, suspirando profundamente. Ele riu e beijou a minha
cabeça.
— Vocês não deveriam estar na escola? — Sienna ergueu a
sobrancelha para eles em divertimento.
— É feriado — mentiu Miguel e os outros dois apenas balançaram a
cabeça, em apoio ao irmão.
— Estávamos jogando beisebol — contou Zach com uma careta. —
Mas acabamos atingindo a janela da outra casa.
— Tivemos que sair fugidos, pedalamos logo pra cá — completou
Miguel.
— Pelo menos pediram desculpas? — perguntei e eles olharam para
Colin.
— Fizemos do jeito que você ensinou. — Zach piscou para o meu
namorado e Colin sorriu orgulhoso.
— Muito bem — elogiou e nos viramos para Colin com a pergunta
implícita no ar. — A regra básica quando se quebra algo dos vizinhos... —
Ele balançou a mão para os garotos, esperando-os continuarem.
— Fugir e fingir que não fomos nós — repetiram os três com
propriedade.
Apostava que decoravam mais os ensinamentos dele do que qualquer
coisa que viam na escola. Me virei para Colin e o encarei em repreensão.
— Sinceramente eu não sei quem é pior, você ou as crianças.
— Ele — respondeu Scar por mim.
— E você? — Ozzy se virou para Scarlett, ficando todo vermelho de
vergonha. — Tem namorado?
O menino estava mesmo procurando uma namorada. Ela sorriu com
carinho para ele.
— Não, meu bem.
O rosto de Ozzy se iluminou.
— Se quiser dicas pra conquistar garotas, eu tenho uma cantadas
ótimas. — Colin apontou para ele e belisquei o seu abdômen.
— Não escute ele, querido. — Me virei para Ozzy com cuidado. — Pra
falar a verdade, nenhum de vocês. — Apontei para todos. — Ignorem tudo
o que ele disser.
— Eu conquistei a ruiva aqui só com um bom papo — se gabou Colin
para eles. — Tanto que ela botou fogo na própria casa só pra ficar perto de
mim.
Ah Deus, dei-me paciência. Os garotos olharam para mim chocados e
revirei os olhos.
— Não levem nada do que ele disser a sério — relembrei.
— Vimos vocês ontem lá em cima. — Miguel apontou para o teto da
casa em reforma.
O esperamos completar o raciocínio. Estava curiosa.
— Eu sei o que estão fazendo. — Zach estreitou os olhos. — Estão
escondendo um corpo ali.
Ok. Colin estava mesmo fazendo escola.
— Intrigante — pontuou Colin. — A elevação desse gramado sempre
me deixou com uma pulga atrás da orelha.
Sienna ergueu a sobrancelha para os meninos.
— Estávamos vendo um ninho de passarinho — explicou querendo rir.
— Os ovinhos chocaram e fomos ver.
Eles ficaram olhando para ela com nítida decepção.
— Ainda não sei se acredito nisso — resmungou Zach, frustrado.
— Pois continue investigando. — Scar deu um tapinha incentivador no
seu ombro e eles suspiraram cansados, desistindo da nossa presença.
— Vamos andar mais um pouco — informou Zach, chamando os
outros. — Ainda tem muito o que verificar por aqui.
— Isso é verdade — concordou Colin, piscando para eles.
Os garotos acenaram para nós e saíram pedalando pela rua. Me virei
para Colin e apontei para o meio do seu peito.
— Você vai ensaiar — mandei e ele suspirou, beijando o meu rosto
com carinho.
— Está difícil olhar pro Tyler e dizer pra ele que o amo
profundamente.
Eu daria tudo para ver isso.
— Por favor, diga pra Drake filmar tudo — pediu Sienna, abrindo a
porta do carro.
Ela e Scar entraram e ficaram apenas me esperando.
— Até mais tarde. — Me ergui na ponta dos pés e o beijei. — No
teatro.
— No teatro — repetiu, suspirando ao me largar. — Amo você.
Sorri para ele.
— Eu te amo — disse entrando logo no carro ou ele não me deixaria ir
nunca.
Fiquei o olhando parado com as mãos no bolso do moletom vendo o
carro se distanciar, como se já estivesse com saudade. Senti que de alguma
forma fiquei mais ligada a ele ao saber sobre a falta que sentia da sua mãe,
assim como ele ficou mais ligado a mim depois de lhe contar sobre a minha
história.
Era um “eu te amo” mais vivo, mais pleno. Era um “eu te amo” que eu
sentia se espalhar pelo meu corpo de um jeito que me deixava letárgica.
Me encostei no banco do carro e vi as meninas me olhando pelo
retrovisor com um sorriso no rosto.
— Vocês são fofos demais — murmurou Scar.
Fiquei um pouco em silêncio antes de contar a elas.
— Eu falei pra ele — disse de uma vez e isso chamou a atenção delas.
— Sobre as minhas mãos. — Mostrei as palmas para elas. — Contei da
vovó... e que era sozinha.
Até encontrar vocês.
— Era — corrigiu Sienna com delicadeza e sorri para elas.
— Era — concordei, olhando para as minhas irmãs de vida.
Toquei as cicatrizes, alisando as dobras com a ponta do dedo. Sempre
as considerei feias, mas ele disse que elas eram perfeitas.
— Ele disse que as minhas mãos são perfeitas. — Suspirei apaixonada
e vi o sorriso discreto de Scar pelo retrovisor.
— Tudo em você é perfeito, meu bem — elogiou ela, piscando para
mim e me inclinei para beijar o seu rosto.
— Tudo em você é perfeito também — devolvi.
Ela me deu um olhar triste e permaneceu em silêncio, como se não
acreditasse naquilo. Sienna e eu nos entreolhamos sabendo que a camada
dela era bem mais profunda do que a minha, embora não falasse sobre.
Eu só desejava, do fundo do meu coração, que um dia alguém beijasse
todas as suas cicatrizes como Colin fazia com as minhas.
Sendo elas visíveis ou não.
Colin Scott
Girei a moeda sobre a mesa da sala, ela ficou rodando na minha frente
e fiquei apenas observando suas faces passarem. Cara e coroa. Quando ela
finalmente caiu, parando com um lado para cima, eu fechei os olhos.
Fiquei com medo do que veria.
Podia ligar para ela... ou afastá-la mais, como fazia a cada dia. Ela
merecia essa punição pelo que tinha feito, todos os dias eu repetia isso para
mim mesmo. Porém, ainda continuava sendo a minha mãe. E, infelizmente,
meu coração nunca foi frio.
Senti minha respiração se alterar de ansiedade, queria a minha pequena
ali comigo. Sentia falta da presença do seu corpo no meu. Queria passar os
braços pela sua cintura e a apertar contra meu peito, beijar os seus cachos,
dizer que a amava e segurar as suas mãos nas minhas com cuidado.
Ela parecia mais preciosa do que nunca para mim agora. Assim que me
contou do seu passado, senti no fundo do meu peito um instinto primitivo
de proteção, de nunca deixar nada feri-la ou machuca-la e sempre preservar
aquela bondade.
Seus pais a deixaram. Foi machucada quando era uma criança, sem ter
como se defender. Madison foi deixada sozinha. E o lado bom nisso foi que
alguém pegou aquela preciosidade para amar, parecia que tinha lhe dado o
carinho que merecia.
Queria voltar no tempo e fazer tudo diferente. Queria lhe avisar que ela
seria muito amada, queria impedir que a machucassem. Queria dizer a ela
que era o amor da vida de alguém, que preenche o meu coração de um jeito
único, como se ele tivesse sido feito apenas para ela.
Queria abraça-la e não soltar nunca mais.
Não podia fazer nada pelo seu passado, mas o futuro dela seria
diferente. Seria comigo. Madison não comemoraria o seu aniversário
sozinha. E eu não passaria mais o meu em reclusão.
Abri os olhos e vi o resultado da moeda.
Coroa.
— Foda-se — bufei, guardando a moeda no bolso em frustração.
— Vamos, Romeu!
Olhei por cima do ombro e encontrei Tyler descendo as escadas, pronto
para ensaiar comigo novamente. Minha nova Julieta não era nada atraente,
ignorava todas as minhas juras de amor e ficava pedindo a cada dois
minutos para largarmos aquilo e irmos jogar vídeo game.
— Sem reclamações dessa vez. — Apontei o dedo para ele e joguei o
roteiro no seu colo assim que Tyler se deitou no sofá.
— Não sei pra quê isso, você já sabe esse texto todo — resmungou, se
apoiando no cotovelo e lendo as falas outra vez.
Eu já tinha decorado tudo. Sabia exatamente todas as minhas falas,
entretanto Madison queria que eu treinasse mais o último ato, não estava me
saindo bem no momento em que todo mundo morria. O que era
compreensível, como iria fazer aquilo sem rir?
— Já, só que preciso me manter sério na última parte — respondi, me
levantando.
— Os dois estão morrendo, o que tem de engraçado nisso? — Ele abriu
os braços sem entender.
— Não sei. — Encolhi os ombros.
Realmente não sabia. A pessoa que conseguia permanecer séria deveria
levar o Oscar, nos ensaios todo mundo ficava com cara de enterro nos
bastidores enquanto via Madison se fingir de morta. Eu até conseguia me
controlar, porém quando chegava o meu momento de morrer... explodia em
risadas.
Tyler se sentou, imponente e ficou lendo o roteiro até chegar na parte
em que paramos. Aqui Romeu tinha sonhado com Julieta, sonhado que ela
o encontrava morto, e era nessa cena que ele descobria a sua morte.
— Quinto ato — avisou Tyler, se encostando no sofá e cruzando os
braços em frente ao peito.
— Meus sonhos auguram uma novidade prazerosa que não tarda —
recitei reflexivo, como se estivesse falando sozinho.
Continuei as falas até chegar na vez de Tyler. Ele informou, de um jeito
bem tedioso e sem emoção, o momento em que Romeu era avisado da
morte de Julieta.
— Me perdoe por lhe trazer essa má notícia — murmurou o pior ator
do mundo em um bocejo.
Ignorei o idiota e tentei me concentrar na situação do personagem. Ele
estava encarando o luto naquela ocasião e disso eu entendia. Era como se o
mundo abrisse sobre os seus pés, como se não existisse mais equilíbrio. Era
perda. Negação. Raiva. Dor. E depois... aceitação.
Perdão.
Peguei a moeda no bolso e fiquei olhando para ela. “Coroa” era sempre
não ou tinham momentos em que podia ser um talvez?
Você me perdoa, pai? Se eu disser que sinto falta da minha mãe?
Madison Jensen
Sienna estava atrasada para a sua aula, então só nos deixou no campus
e seguiu para o seu prédio. Scar e eu passamos um tempo na biblioteca
estudando, e fofocando também. Quando começou a ficar tarde seguimos
para os nossos prédios, que eram um pouco longe dali.
A parte ruim de ser universitária era a de caminhar demais, para quem
não tinha carro e estudava nos prédios mais distantes, como eu. Brown
parecia uma cidade, milhares de estudantes e setores, sempre tinha que ficar
rodando de um lado para o outro.
— Vai ficar até tarde hoje? — perguntou Scar, quase chegando perto de
onde seria a sua próxima aula.
— Combinei de encontrar Colin no teatro à noite — contei, passando o
meu braço pelo dela. — E você?
— Também. — Suspirou, encostando a cabeça na minha. — Tudo o
que eu quero são férias...
— Está pertinho — incentivei.
Scar ergueu a cabeça e endireitou a postura do nada, como se tivesse
visto algo.
— Chernobyl — murmurou baixinho e inclinou a cabeça na direção de
dois garotos conversando.
Estavam meio longe, mas os reconheci. Michael e Charles Moore. Era
incrível como o namorado da minha amiga continuava falando com Charles
mesmo depois de tudo o que ele fez. E isso contando que Charles ainda
andou falando da Sienna!
— O namorado do ano. — Scar estalou a língua em escárnio.
— Um dia ela vai terminar. — Tentei ser otimista.
— E nesse dia eu vou soltar foguete — Scar respondeu. — E esses, só
vão destruir o teto da casa dele.
Ri e balancei a cabeça em negação para ela. Passamos perto deles e
assim que nos viram, se afastaram um do outro. Michael baixou a cabeça e
continuou andando como se não quisesse ser pego na presença do outro.
Charles, no entanto, ficou parado no lugar.
Ele se encostou na parede e ficou nos observando de um jeito sinistro,
tanto que senti um arrepio passar pelo meu corpo.
— Scar...
— Continua andando — ela mandou sem se abalar. — Ele só quer
intimidar.
Assenti e tentei não olhar na sua direção. Só que sentia que ele estava
nos encarando, acompanhando cada passo e foi involuntário olhar de canto
para ele.
Charles tinha se afastado da parede e estava caminhando na nossa
direção. Entretanto, ele andava com dificuldade, como se estivesse manco.
Lembrei do jogo e como quase quebrou a perna. Subi a minha avaliação e
nossos olhares se encontraram.
Ele estava com ódio. E aquilo me deu medo.
Virei para frente depressa e continuei a caminhar como se não ligasse
para a sua presença.
— Ele está manco — avisei para Scar. — Por pouco não quebrou a
perna no último jogo.
— Uma pena, de fato — ela comentou com um sorriso suave.
Fiz uma careta ao lembrar do lance, foi horrível de assistir, foi quase
um milagre o osso não ter se partido no meio.
— O corpo dele foi jogado no gelo como se fosse um saco de lixo.
— Que bosta — resmungou em frustração. — Agora estou arrependida
de não ter assistido.
Revirei os olhos e soltei uma risada, esquecendo por um segundo, que
havia um louco atrás de nós. Esperava que ele arranjasse algo melhor para
fazer do que ficar nos seguindo.
Caí no chão, aliviada por tudo ter ido divinamente bem até agora.
Julieta tinha acabado de adormecer, fingindo a sua morte. Essa era a parte
mais tranquila da peça para mim, tinha apenas que ficar imóvel, ter
respirações leves e controladas. Como fazia meditação, conseguia me
desligar completamente do mundo exterior assim.
A peça seguiu normalmente e só consegui me atentar ao que acontecia
ao redor quando senti aquele cheiro bom de canela se aproximando de mim.
Meu Romeu se ajoelhou ao meu lado, tocando o meu rosto com
carinho.
— Ah, meu amor... — recitou, próximo demais do meu rosto. — Por
que continuas tão linda? — perguntou, parecendo sincero.
Ele se inclinou um pouco mais para me beijar. Seus lábios encostaram
nos meus e quis muito corresponder, suspirei na sua boca e ele se afastou,
continuando a seguir o roteiro. Não podia abrir os olhos para vê-lo, mas
senti que me observava.
Colin se aproximou novamente de mim, dando um último beijo na
minha testa. Um beijo demorado. Meio que não gostava de encenar essas
cenas de despedidas com ele. Odiava vê-lo se despedir, mesmo que não
passasse de teatro.
— Ficarei para sempre contigo — prometeu, vindo alisar a minha
bochecha e o público estava tão silencioso, que até a sensação era a mesma
de quando ensaiávamos apenas nós dois.
Ele se distanciou de mim e pareceu estar “bebendo o veneno”. Fiquei
apreensiva, porque sabia que era ali que Colin começava a rir. Percebi que
sua respiração se alterou assim que ele fingiu a morte e eu pressionei os
lábios para me impedir de soltar uma risada.
Colin caiu depressa do meu lado, quase querendo acabar logo com
aquilo. Abri um único olho para vê-lo ao meu lado e vi que o meu Romeu
estava respirando fundo para controlar a risada.
Os outros personagens entraram em cena e tiveram um breve diálogo.
Então foi a minha vez de acordar novamente.
De fato, essa coisa de morrer, dormir, levantar, morrer de novo,
acabava me deixando zonza.
— Onde está o meu Romeu? — perguntei, olhando em volta com o
cenho franzido.
E não sei para quê, fui olhar na direção da plateia. Foram apenas uns
segundos. Olhei na direção do pessoal, eles estavam na primeira fileira. E
Amber... seu rosto estava todo vermelho e logo que nossos olhares se
encontraram, ela começou a rir.
Johnny a puxou para o seu peito depressa, querendo abafar a sua risada
e algumas pessoas lhe repreenderam. Continuei procurando o meu Romeu
como se não soubesse que ele estava do meu lado, se fingindo de morto e
fazendo de tudo para permanecer sério.
Virei para ele e coloquei a mão no meu peito, simulando um susto.
— O que é isso que segura em sua mão, meu verdadeiro amor? —
questionei, tocando o seu rosto.
Percebi que ele ia soltar uma risada e coloquei a mão em cima da sua
boca, impedindo que o som saísse. Para quem estava assistindo até parecia
que a Julieta tentava matar o Romeu pela segunda vez, sufocado.
— Um cálice! — falei alto demais, querendo me sobressair a qualquer
som que Colin fosse soltar. Belisquei o seu pescoço, o mandando parar com
aquilo. — Um veneno...
O corpo do idiota tremeu de leve ao ouvir a gargalhada abafada de
Amber e o beijei logo. Colando a minha boca na dele de uma vez, do jeito
que estava no roteiro. Julieta acabou ingerindo o resquício do veneno no
beijo com o Romeu e morreu outra vez.
Caí em cima do corpo de Colin, me jogando ao lado do seu pescoço.
Os outros atores começaram a chegar, para dar passagem à próxima cena,
que era com os familiares deles.
— Você não podia ficar parado por um minuto? — reclamei baixinho,
perto do seu ouvido, ainda jogada em cima dele. — Qual a dificuldade de se
fingir de morto?
— Eu não consegui — sussurrou abrindo um único olho, o seu rosto
estava coberto pelo meu corpo e não tinha como o público ver. — É
engraçado... admita.
— Não é — menti.
— Prestou atenção em uma coisa? — perguntou enquanto ouvíamos os
outros atores continuarem a peça. — Tem uma verdade muito crua nessa
cena.
— Qual é? — perguntei curiosa.
— Meus beijos são de matar.
Meu Deus, a cada dia piorava. Ri baixinho e torci para ninguém pensar
que a Julieta estava voltando à vida mais uma vez.
— Você é ridículo.
— Eu tenho uma coisa importante pra falar... — disse, o ato já quase
no final.
— Não pode esperar?
— É sobre o nosso casamento. — Pelo amor de Deus, ele queria falar
disso agora? — Se você for mesmo até o fim, eu juro que te faço esquecer
o Mário.
Franzi a testa. Mário?
— Quem é Mário? — sussurrei confusa.
— Está vendo? Já esqueceu. — Ele riu e graças aos céus a cortina
fechou bem nesse momento.
Belisquei o ombro dele e o idiota me virou, para ficar por cima de
mim.
— Eu te amo — declarou, me beijando.
Nem tive tempo de responder, pois Colin me pegou como se estivesse
com fome. Passei os braços pelo seu pescoço e ele acariciou todo o meu
rosto, metendo a língua na minha boca. Gemi, já sentindo vontade de
aproximar mais o seu corpo do meu.
— Pessoal... — Escutei alguém nos chamar e me afastei um pouco,
apenas para poder ver quem era.
Rebecca nos olhava com divertimento, ela apontou para o elenco se
reunindo no palco para receber os aplausos. Empurrei Colin para o lado, me
recompondo para juntar a dignidade que ainda me restava.
Levantei, forçando um sorriso sem graça na direção de todo mundo.
Colin passou o braço pela minha cintura e me puxou para frente do palco
quando as cortinas se abriram de novo. Óbvio que ele amou receber toda a
aclamação, eu apenas acenei timidamente para as pessoas.
Assim que as cortinas se fecharam, dando fim ao espetáculo, uma mão
tocou o meu ombro. Olhei para o lado e vi o meu professor nos encarando
com orgulho.
— Sr. Stone — cumprimentei com um sorriso. — Como o senhor está?
— Ótimo. — Ele piscou para mim e Colin deu um último beijo no meu
rosto antes de se afastar, nos dando privacidade. — Podemos conversar um
pouco?
Assenti nervosa e caminhamos para os fundos. O Sr. Stone me levou
para o canto dos bastidores e se virou para mim com um sorriso no rosto.
— Você fez um trabalho excelente aqui. — Piscou para mim e pegou
algum documento na pasta que carregava consigo.
Me senti em paz ao saber que pude ajudá-lo. Porém, algo pesava na
minha consciência, quando o vi tirar um papel para me entregar, abaixei a
cabeça.
— Eu preciso contar uma coisa — falei, sentindo minha garganta secar.
— Menti pro senhor — soltei de uma vez.
Ergui o olhar temendo o que encontraria, contudo o meu professor
apenas me encarava confuso.
— Colin... — Apontei para o palco. — Aquele dia em que ele falou
que eu era uma “ótima atriz” foi só uma brincadeira. Era pra me provocar.
Na verdade, eu não tinha experiência. — Torci o nariz e o seu olhar
suavizou. — Quando me ofereceu a proposta não consegui recusar,
precisava do dinheiro. — Encolhi os ombros em sinal de impotência.
— Você nunca tinha participado de um evento assim? — questionou e
confirmei. — Tenho uma pergunta pra lhe fazer e espero que seja sincera,
ok?
Assenti, engolindo em seco.
— Quem pinta aqueles quadros? — perguntou e arregalei os olhos. —
Os que você me entrega na aula.
— Eu — respondi imediatamente, receando que ele pensasse que não
eram meus.
— Então, é apenas isso que preciso saber. — Piscou para mim,
estendendo o documento. — A vaga é sua.
Fiquei parada, olhando para ele durante um minuto inteiro. Estava na
minha frente. Eu me esforcei e a recompensa veio. Peguei o papel da mão
dele e olhei para a proposta de estágio. Era minha.
— Mais uma pergunta — ele disse, curioso.
— Respondo qualquer pergunta — me apressei a dizer e o homem riu.
— É só uma curiosidade. — Deu de ombros. — É ele, não é? Na
última pintura.
Meu corpo relaxou. Todos os músculos do meu corpo descansaram,
porque quando lembrava daquele quadro, isso acontecia comigo. Era uma
das coisas mais lindas que eu já tinha pintado.
— É — contei. — Ele dormindo.
Se tornou o meu sol.
— Nada inspira mais um artista do que um amor genuíno. — Sr. Stone
piscou para mim e apertou o meu ombro antes de ir embora.
É, ele tinha razão.
Colin Scott
— Comprei um anel pra ela — contei, caminhando ao lado de
Cameron pela parte de trás do teatro.
— Eu vi. — Ele colocou as mãos nos bolsos. — Ela parecia um pouco
machucada no queixo.
Fechei os olhos por um momento, sentia uma dor sempre que via
aquelas manchas. Iriam sair, mas ainda me causava náusea saber que
alguém a tocou.
— Estou metido em muitos problemas? — questionei, me virando na
sua direção e ele sorriu ironicamente.
— Você vai voltar pro time no próximo semestre. — Piscou para mim.
— Sem danos, só um jogo perdido.
— E ele? — perguntei, porque sabia que Cameron tinha vindo para
Providence apenas para conversar com o reitor.
— Vai ser expulso, tanto do time quanto da universidade — declarou,
me fazendo relaxar mais.
— Pensei que eles não fossem o expulsar...
— Teve um preço — ponderou, estralando o pescoço e o olhei com
desconfiança.
— Você pagou pra eles?
Cameron negou.
— Eles concordaram em manter o cara longe, só que em troca eu tenho
que me transferir para cá e cursar o último semestre aqui — contou e parei
no lugar. — Ah, e entrar pro time de vocês também — completou.
Que merda. Não queria que aquilo o afetasse. O reitor não foi idiota,
com Cameron se formando aqui, daria um reconhecimento a mais para a
universidade e também com ele no time, era quase uma certeza que
ganharíamos o campeonato de hóquei.
— Você não precisa...
— Eu já concordei — me cortou, dando de ombros. — Já ia me mudar
de todo jeito.
Fiquei o encarando por um tempo, sem acreditar.
— Obrigado, irmão — agradeci, sabendo que aquilo era só mais uma
coisa que ele fazia por mim.
Cameron piscou e sorriu para mim antes de caminhar na minha frente.
— Quem disse que fiz por você? — debochou e revirei os olhos, rindo
daquela mentira. — Gosto de conhecer novos lugares. Estava pensando em
uma universidade nova mesmo.
O acompanhei até chegarmos no estacionamento, indo na direção de
um carro. Provavelmente o mais caro dali. Ele parou um momento, quando
ia abrindo a porta, para olhar o céu, ficou fitando uma estrela e a pergunta
estava presa no fundo da minha garganta.
— É por ela, não é? — perguntei, no entanto Cameron não se virou
para me olhar, continuou admirando a noite.
Vi a sua mão apertar mais a porta do carro, deixando claro que tinha
me ouvido.
— Tudo isso — continuei. — Os apartamentos espalhados, as
mudanças... — Deixei a frase morrer, esperando por algum sinal seu de que
estava prestando atenção.
Ele se virou para mim e me deu um sorriso sem humor.
— Não se meta mais em problemas, Colin. — Entrou no carro e baixou
o vidro para me olhar uma última vez. — A sua garota sabe... peça pra ela
não comentar com ninguém.
Dei um passo para trás e fiquei o encarando, sem entender. Não tinha
falado para ela.
— Os olhos — esclareceu antes de sair com o carro pelo
estacionamento.
Respirei fundo, apertando a nuca. Nunca tinham nos reconhecido pelos
olhos, nem mesmo quando éramos crianças, por mais que fôssemos bem
próximos. Andei um pouco pelo local até achá-la, estava em um canto
escuro e distante com Scar.
As duas estavam tão na sombra que só consegui reconhecê-las quando
me aproximei mais. Assim que o meu amor me viu, se afastou de Scar e
veio na minha direção com uma pergunta silenciosa no rosto.
Segurei o seu rosto entre as mãos assim que ela ficou na minha frente e
beijei a ponta do seu nariz, sentindo aquele cheiro tão bom que me
acalmava.
— Ele já foi embora? — perguntou e assenti, me afastando só o
suficiente para olha-la. Ela tocou o canto dos meus olhos, alisando a região.
— Por que ninguém sabe disso?
Beijei o seu nariz de novo e suspirei baixinho.
— Os pais de Cameron eram casados — contei do começo, para ela
entender. — E amigos dos meus pais, os quatro tinham uma relação boa, ou
era o que me contavam.
Ela escutou atenta.
— Vocês são irmãos por parte de mãe? — perguntou e neguei, minha
mãe era bem amorosa. Totalmente diferente do que a dele foi.
— Por parte de pai — comentei, sentindo um gosto agridoce por saber
que meu pai de sangue era alguém que eu não cheguei a conhecer bem e
nem fazia a mínima questão. — O pai do Cameron teve um caso com a
minha mãe enquanto ainda era casado, e então ela me teve.
Madison me deu um olhar triste e me abraçou bem apertado.
— Ela traiu o meu pai na época — o verdadeiro. — E ele a perdoou.
Ela suspirou no meu peito.
— Eu entendo.
— Ela errou demais com ele. — Apertei o meu amor precioso nos
meus braços.
— Por que ninguém sabe do parentesco de vocês? — perguntou e
beijei a sua cabeça.
— Isso não é sobre mim — sussurrei. —, essa parte da história é dele.
Tudo o que precisa saber é que cresci com meu irmão, estudamos nas
mesmas escolas. Nos víamos quase sempre e ele sempre esteve ali pra mim
assim como eu sempre estive pra ele.
— Mas ninguém pode saber disso — ela concluiu.
— Foi a única coisa que ele já me pediu na vida. — Abracei o seu
corpo pequeno. — Então vamos manter esse segredo.
— Tudo bem — concordou, beijando o meu peito. — É mais uma
coisa que virou nossa.
Sorri para a garota perfeita.
— Exatamente.
— É bom você saber que Charles me falou sobre isso naquele dia —
contou e ergui a sobrancelha. — Parece que ele também sabe.
Ok... não sabia como o filho da puta tinha ouvido sobre. Porém,
avisaria a Cameron. Nem mesmo eu entendia o porquê era preciso esconder
isso, só que era importante para ele. Então sempre cumpri a minha parte.
— Ele foi expulso. Do time e da faculdade — contei, sentindo aquele
peso a menos. — Não vai mais chegar perto de você.
Sorriu para mim.
— Não estou preocupada com isso. — Deu de ombros. — Depois que
Scar quebrou a perna dele, era bom que Charles tomasse cuidado.
Balancei a cabeça em negação para ela, de brincadeira e peguei a sua
mão, que estava com o anel, na minha, entrelaçando os nossos dedos.
— Julieta — provoquei e ela estreitou os olhos para mim. — Tarde
demais a conheci, por fim. Cedo demais, sem conhecê-la, amei-a
profundamente — recitei um trecho da peça e Madison levantou a
sobrancelha em divertimento.
— Só Shakespeare pra salvar as suas cantadas.
A cada dia elas melhoravam.
Colin Scott
Entrei no vestiário com uma tranquilidade que me espantou. Ser
cortado do jogo dói, ainda mais do jogo da final do campeonato, mas ser
cortado sabendo que vou voltar no outro semestre com tudo e por um
motivo que não me arrependia... não tinha aquela frustração.
Apenas o sentimento de torcer para que ganhássemos essa, por mais
que fosse bem difícil.
Iríamos jogar contra a Universidade da Dakota do Norte, no espaço
deles. Então nossos torcedores estavam bem escassos, podia-se ouvir a
gritaria dos adversários do lado de fora. A galera ali levava hóquei à sério,
assim como era na Brown, um jogo das finais no território deles era um
evento.
Assim que chegamos só vimos uma multidão de pessoas com
camisetas do time e bandeiras balançando no ar. Lógico que considerava as
comemorações da nossa universidade bem mais animadas, barulho era com
a gente. No entanto, eles também não ficavam para trás.
Passei pelos armários vendo os caras indo para o rinque de patinação.
O treinador optou por deixar mais jogadores defensivos dessa vez, os
atacantes do outro time eram tão bons quantos os nossos e precisavam de
reforço. Então ficariam Drake, Taylor e Benjamin atrás enquanto Johnny e
outro jogador atacante ficariam prontos para fazerem os gols.
Encontrei o treinador analisando uma pasta, quando me aproximei dele
vi que era a ficha com os nossos nomes, lances, jogos, faltas e expulsões.
— Como vai ser coordenar um jogo sem mim? — provoquei, ouvindo
Oscar Green suspirar antes de baixar a pasta e se virar para mim.
— Pelo menos um jogo que não vou infartar — resmungou, indo para
a entrada do rinque e se encostando na parede do corredor, observando os
jogadores ajeitarem o uniforme.
O acompanhei, me encostando na parede paralela a dele, vendo Johnny
falar a estratégia de jogo para Drake.
— Eu disse pra você não se meter mais em confusão — alfinetou o
treinador depois de um tempo em silêncio, mas notei que não tinha uma real
repreensão no seu tom de voz.
— Foi necessário. — Dei de ombros.
Ele suspirou, coçando a sobrancelha grossa.
— Não estou confiante que vamos ganhar hoje — ele soltou e eu
também não estava.
Seria um jogo acirrado e Johnny não me teria para lhe passar o disco.
Contudo, o que me intrigou foi que o Sr. Green não parecia decepcionado
com isso.
— Eles vão dar um jeito — incentivei e o treinador cruzou os braços
em frente ao peito, parecendo tranquilo.
— Cameron Payne vem pro nosso time no próximo semestre —
comentou erguendo a pasta que segurava.
Ah, agora eu entendi esse seu bom humor. Com Cameron no time era
quase uma certeza que ganharíamos o próximo Frozen Four. Nossa equipe
era uma das melhores da liga universitária do país atualmente, com esse
bônus poderíamos ser draftados com honra.
— Esse jogo ainda não está perdido — ponderei e o treinador deu de
ombros.
— Não estou colocando pressão neles, se perdermos ficamos em
segundo — disse tão despreocupado que fiquei com vontade de rir.
— O senhor anda fazendo terapia? — perguntei intrigado. — Está tão
calmo que estou assustado.
Ele apenas negou com um movimento relaxado.
— Estou calmo por causa daquela garota ruiva bem ali. — Ele apontou
para a minha ruiva, sentada toda linda e fofa nas arquibancadas. — Você
está apaixonado e isso significa que não vai mais se envolver em orgias
com atores pornôs.
Definitivamente. Eu era só dela e ela só minha.
— Agora sou um homem de responsabilidade. — Estalei a língua em
provocação e ele bufou cinicamente.
— Nem quando você estiver casado e com filhos — ele debochou e eu
ri.
— Pretendo ter tudo isso — revelei, o surpreendendo. — Com ela.
Sr. Green se virou novamente para Madison, como se estivesse vendo-
a pela primeira vez.
— Garoto, ela te pegou de jeito, não foi?
Suspirei a observando sorrir para Amber, mostrando aquela covinha
perfeita.
— Pegou — concordei.
Os jogadores começaram a entrar no gelo e pisquei para Johnny
quando ele me olhou, desejando boa sorte. Ele se posicionou junto com os
outros, a tensão e ansiedade estavam no ar. Assim que o juiz apitou, o
pessoal da Dakota do Norte se levantou dos assentos para aplaudir os seus
jogadores.
Era bonito de se ver, amava essa energia quando jogávamos em casa. O
capitão do time deles conseguiu tomar posse do disco primeiro e correu
para o nosso gol. O cara era rápido, não no mesmo nível que Johnny, porém
era muito difícil alcançá-lo.
Tentou fazer uma jogada arriscada, arremessando o disco por cima do
nosso goleiro e por sorte, não deu certo. Só que essa sorte talvez não
durasse, eles tinham atacantes fortes e rápidos, logo iriam furar a nossa
barreira. E não tinha ninguém para passar o disco para o nosso capitão
relâmpago.
— Odeio admitir — falou Sr. Green do meu lado. — Mas você faz
falta.
— Eu faço falta pra todo mundo. — Suspirei cansado e ele revirou os
olhos.
Ri e dei um tapinha no seu ombro antes de sair novamente para sentar
ao lado do meu gnomo. Estava lotado demais e normalmente ficava com
medo de alguém machucá-la, se desse alguma briga na torcida.
O que era engraçado de analisar. Ela sempre foi a minha prioridade,
mesmo quando ainda negava isso para mim mesmo.
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