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Copyright © 2022 por Brenda Paiva

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Proibida a reprodução, no todo ou em parte, através de quaisquer meios,
sem o consentimento do(a) autor(a) desta obra.

REVISÃO
Stephany Cardozo Gomes

CAPA
Giulia Design

DIAGRAMAÇÃO
Camila Cocenza

Esta é uma obra de ficção. Todos os nomes, lugares, acontecimentos e


descrições são fruto da mente da autora. Qualquer semelhança com a
realidade é mera coincidência.

Texto revisado conforme o Novo Acordo Ortográfico da Língua


Portuguesa.
Sumário
Atenção!
Dedicatória
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Epílogo
Nota da Autora
Agradecimentos
Ouça a trilha sonora oficial do livro no Spotify:
Oi, meus amores! Primeiro de tudo, eu gostaria de te agradecer por ter
escolhido esse livro dentre tantos para ler, espero muito que você goste, se
apaixone, se divirta e suspire com esse casal, assim como aconteceu
comigo.
Esse livro é o segundo de uma série, o primeiro se chama “Tudo Para
Dar Certo”. E por mais que possa ser lido de maneira independente, sugiro
que comece a leitura pelo primeiro, para não pegar spoiler.
Agora vamos aos alertas? “Tudo para dar Errado” é uma comédia
romântica leve que contém um toque místico sutil, mas que pode abordar
alguns temas sensíveis, como: maus tratos infantis, relacionamento abusivo,
luto, abuso de bebidas alcóolicas e drogas ilícitas, cenas explícitas de sexo e
violência.
Conheça seu limite. Caso se sinta desconfortável em algum momento,
pare imediatamente a leitura.

Desde já, boa leitura.


Para todas as garotas que já olharam as
estrelas e pediram por um amor. Eu espero, de
coração, que ele não seja tão louco quanto o
mocinho desse livro.
Madison Jensen
Alguns meses atrás

— Eu vou morrer sozinha — reclamei para ninguém em específico.


E não, não estava sendo dramática. A cada dia perdia ainda mais
minhas esperanças de encontrar o amor da minha vida. Minha cara metade.
Alma gêmea. Metade da laranja. A tampa da minha panela de pressão.
Minhas últimas apostas estavam naquela vela que achei na internet em
uma promoção imperdível! Não era todo dia que uma romântica como eu
conseguia achar justamente o objeto que lhe traria o seu amor.
— Querida, não é melhor fazer o ritual lá na nossa parte do gramado?
— perguntou Amber, parecendo achar graça das pétalas que espalhei em
formato de coração pela grama.
— Achei aqui melhor, senti uma energia diferente nesse lugar —
revelei sem perder a concentração na minha preciosa vela.
Ela não queria ficar em pé e a grama fofa também não ajudava. Sabia
que minhas amigas não estavam conseguindo levar todo o ritual a sério,
mas faziam tudo para me ajudar, sem questionar. Scar, Sienna e Amber
topavam qualquer coisa que eu inventava quando estava sem esperanças.
Por mais quantas dificuldades uma pessoa precisava passar para encontrar a
sua alma gêmea? Que coisa! Não deveria ser tão difícil.
Eu deveria esbarrar com ele na rua, e ele me pegaria no ar e nossos
olhos se encontrariam, suspiraríamos enfeitiçados um pelo outro.... E
então... E então... Bem, aqui eu o reconheceria e seríamos felizes para
sempre. Entretanto, a realidade era que todos os meus encontros, até agora,
foram um total fracasso.
Sempre tinha alguma coisa que atrapalhava. Ou o hálito era ruim, e
ninguém quer que o amor da sua vida tenha mau hálito. Tudo bem que um
creme dental resolveria, no entanto, e se ele não quisesse usar com
frequência? O que eu faria? Não, descartado.
O outro tinha a linha da vida muito curta. Ok, eu não deveria dispensar
uma pessoa só pelo fato de ela estar condenada a morrer cedo. Coitado, que
culpa tinha? Eu iria ao enterro dele com toda certeza, mas também não
queria ficar viúva logo e passar o resto da vida sofrendo.
Depois de todo o esforço que tive até agora, exigia no mínimo uns 50
anos de convivência. Não aceitava menos do que isso.
Teve até um que pareceu preencher todos os requisitos, só que ele era
de sagitário. Eu não tinha nada contra as pessoas de sagitário, porém não
éramos compatíveis. Isso era óbvio, comprovado cientificamente. Qualquer
site de compatibilidade de signos poderia me tirar essa dúvida, eu sou de
peixes e era impossível darmos certo. Descartado.
— E a senhorita? Onde dormiu mesmo? — Amber se voltou para Scar,
minha amiga morena linda.
Parecia que elas estavam em uma conversa com a Sienna e nem
mesmo notei.
— Relaxando — Scar respondeu se inclinando no gramado para pegar
mais sol.
— Durante dois dias? — brinquei, lembrando que ela sumiu por dois
dias para “relaxar” com algum cara.
Segurei o meu papel, com todos os requisitos de um homem perfeito
para mim, e tentei acender minha vela vermelha.
— Estava com muita tensão no corpo, precisava relaxar — Scar se
defendeu.
A vela finalmente acendeu! Dei um suspiro aliviada e sorri para as
minhas amigas que me olhavam confusas, sem entenderem nada do meu
ritual do amor. Eu sei que não deveria estar fazendo isso aqui debaixo da
janela dos nossos vizinhos, mas a energia estava tão boa que não resisti.
— Essa vela foi um achado — expliquei, sorrindo para elas. — Só
tinha sobrado uma no site, com certeza isso é um sinal.
— Querida, o que essa vela faz exatamente? — questionou Sienna,
comendo, com toda a elegância que possuía, a maçã que trouxe em uma
cestinha, acho que ela pensou que faríamos um piquenique.
— Ela vai atrair a energia dele para a minha — contei me sentindo
animada. — Depois do cara de sexta-feira, já estava perdendo as
esperanças.
— Qual era o problema dele? — perguntou Scar.
— Muito baixo. — Ajeitei as pétalas no lugar, para formar um coração
perfeito à nossa volta.
— O da semana passada não era muito alto? — Amber tentou lembrar
e confirmei com um aceno.
— Talvez você devesse deixar as coisas acontecerem — Sienna
aconselhou, porém eu nunca escutava esses conselhos. Não iria perder
tempo com alguém quando era óbvio que não era ele.
— Vocês não entendem... Uma alma gêmea reconhece a outra de
primeira. Você sente a conexão, e eu não sinto nada — resmunguei
frustrada. — Me sinto tão vazia. Acho que toparia sentir qualquer coisa, até
mesmo ódio.
— Dê uma chance pra esses caras com quem você sai, pelo menos os
conheça. Não pode esperar que a pessoa certa simplesmente caia do céu —
sugeriu Amber, mas assim que minha amiga loira fechou a boca, um
homem caiu quase em cima de mim!
UM HOMEM.
As meninas saíram gritando assustadas e eu o olhei sem entender de
onde ele tinha surgido. Ele caiu de cara no gramado, e eu só consegui ver as
costas musculosas sob a camiseta branca, enquanto ele se contorcia de dor.
Podia ser um sinal do universo? Tinha que ser!
— AI MEU PAU! — gritou o cara, agonizando na grama e
bagunçando todo o meu ritual no processo.
Quando ele se virou, consegui ver o rosto do sujeito. E bem... mesmo
com o rosto corado de dor, ele é perfeitamente lindo, de tirar o fôlego.
Estava próximo demais, e cheirava tão bem... à canela, um aroma
convidativo e suave. De repente senti um calor estranho subindo pelo meu
corpo.
Poderia ser ele... mas “ai meu pau”? Era assim que o amor da minha
vida se apresentaria para mim? Estava esperando algo mais romântico.
Olhei para cima procurando o lugar do qual ele tinha surgido e vi os vultos
de quatro cabeças saindo apressadas da janela que ficava acima de onde
estávamos sentadas.
— Colin? Como caiu aqui? — Amber riu ao reconhecê-lo.
Hum, Colin? Esse é o nome dele? É lindo, poderíamos colocar como
segundo nome do nosso primeiro filho.
— Maddie, onde você disse que comprou essa vela? — Scar
questionou relaxada.
Coloquei as mãos na boca em choque ao me lembrar da vela! Procurei
ela pelo gramado e a encontrei completamente amassada.
Ele caiu em cima da minha vela! Ah, se não fosse a minha alma gêmea
iria pagar caro, porque tinha acabado de arruinar toda a minha vida
amorosa.
Olhei para ele exigindo explicações e o idiota finalmente se dignou a
me encarar. Seus olhos me avaliaram de cima a baixo de um jeito bem
sugestivo e tentei, com tudo de mim, não corar, não queria parecer tola na
sua frente.
No entanto, o jeito sujo com que passou os olhos pelo meu decote e a
cara dele de quem não valia nada... não sei, repentinamente senti como se
todo o ar à minha volta tivesse esquentado.
— Olá... — Ele tentou me dar um sorriso sedutor e tive certeza que
era capaz de deixar muitas pernas bambas pelo caminho.
Os seus dentes eram muito brancos, os olhos azuis levemente caídos e
o cabelo de um tom castanho claro, com alguns fios dourados refletidos
pelo sol. Tinha um ar sarcástico de malandro, e o seu olhar entregava uma
confiança de quem parecia ter certeza que era capaz de seduzir qualquer
pessoa com aquele sorriso.
Definitivamente, alguém de quem eu deveria manter distância.
Ele seguiu o olhar para a vela amassada no chão e voltou a apertar o
pênis com a mão, parecendo se lembrar da dor.
— Essa vela amassou meu pau e minhas bolas — reclamou rouco.
Ora, era só o que me faltava.
— Seu pênis que amassou minha vela — corrigi e me levantei para
olhá-lo de cima. — E agora? O que vou fazer?
Ele me lançou um olhar divertido, do tipo que não dava a mínima e ali
eu soube que aquela criatura só podia ser de sagitário. Não era minha alma
gêmea coisa nenhuma. E se fosse, esse era o maior castigo que a vida
poderia me enviar.
A pessoa amassava minha vela, estragava o meu ritual, arruinava todas
as minhas chances de conhecer o amor da minha vida e ainda ficava de
deboche.
Eu estava reclamando de não sentir nada por ninguém? Pois bem, já
não era problema. Senti como se fogo escorresse pelas minhas veias, mas
não era o que eu estava procurando, não era amor.
Era algo mais forte e real.
Era ranço.

Colin Scott

— Se você quiser botar gelo no meu pau, eu aceito. — Pisquei para a


baixinha ruiva à minha frente.
Ela tinha se levantado, talvez na tentativa de parecer mais ameaçadora,
só que ela era uma coisinha fofa de um metro e cinquenta e cinco, no
máximo.
A ruiva vestia um macacão jeans que valorizava os seus seios cheios e
grandes, os culpados por eu ter caído no meio da festinha das minhas
vizinhas. Vou anotar essa regra para vida: Não se incline demais na janela
para ver os peitos deliciosos da sua vizinha se está a espiando.
Estreitei os olhos até conseguir ver a garota direito. A luz do sol
refletia no seu rosto e... foda-se, senti um aperto no peito porque não me
lembrava de ter visto algo tão lindo antes. Os cachos ruivos estavam meio
presos em um coque bagunçado, deixando alguns fios soltos emoldurando o
seu rosto angelical. A boca dela parecia um botão rosa, o nariz era
pequenininho e salpicado com algumas sardas, espalhadas estrategicamente
na ponta.
Ela era tão perfeita que parecia uma obra de arte em que o artista
decidiu dar uma última pincelada, colocando apenas poucas sardas ali. E os
seus olhos... porra! Senti meu coração errar uma batida, eram de um tom
esmeralda lindo.
A garota parecia tão enfezada por eu ter amassado sua maldita vela que
não resisti a olhá-la com divertimento, mostrando que estava pouco me
importando para aquilo. E foi naquele momento que a baixinha perdeu toda
a paciência comigo, ela avançou na minha direção, mas Sienna a alcançou
antes.
— Não se estresse com isso — sua amiga a consolou —, vamos achar
outra.
A pequena ia dizer mais alguma coisa quando apareceram os quatro
cretinos que também estavam espiando, junto comigo, da janela.
— O que vocês estavam fazendo? — perguntou Drake, olhando
curioso para as pétalas espalhadas no gramado.
Ele nem se dignou a verificar se eu não tinha quebrado algum osso, e
eu nem me dignei a ficar surpreso. Ele era o maior fofoqueiro do bairro,
jamais perderia um furo desses.
Benjamin e Peter ficaram mais distantes da confusão, e Johnny foi o
único que veio me ajudar a levantar.
— O que vocês estavam fazendo? — A ruiva se virou para Drake
exigindo explicações. — Nos espionando?
Eu negaria até a morte, mas os idiotas do Peter e Benjamin ficaram
envergonhados e nos entregaram.
— Não estávamos “espionando”. O que pensa que somos?
Pervertidos? — Tentei me fazer de ofendido enquanto me apoiava no
ombro de Johnny para ficar de pé, e senti uma dor bem na porra das minhas
bolas.
Vela dura do cacete.
— O que estavam fazendo então? — Ela olhou para mim convencida,
querendo ouvir a minha desculpa e Johnny me lançou aquele olhar que
dizia: “Pelo amor de Deus, não arrume confusão, Colin”.
— Não é você que deveria estar fazendo as perguntas aqui, baixinha —
afrontei, tentando, com tudo de mim, não sorrir ao ver a expressão de horror
que atravessou o seu rosto.
— Baixinha? — repetiu ofendida. — Quem você está chamando de
baixinha? — Ela ajeitou a coluna para parecer mais alta e senti uma
necessidade incontrolável de provocá-la.
— Tem outra aqui? — Olhei em volta, procurando outro gnomo
escondido no nosso gramado.
— Só tem uma coisa baixa aqui e não é a minha altura — ela atirou,
lançando um olhar para a minha virilha e os caras riram da alfinetada.
Ora, ora...
— Mas que pequena atrevida... — Sorri, achando graça. — Meu bem,
entre no meu quarto por 10 minutos que lhe mostro como não tem nada
baixo aqui.
O que me custava dar em cima dela, não é mesmo?
— Nem fodendo. — Ergueu a sobrancelha para mim, recusando se
mostrar afetada.
— Pena! Era fodendo mesmo. — Lhe dei o meu melhor sorriso e ela
corou. Foi involuntário, a cor tomou conta das suas bochechas, porém foi
uma das coisas mais lindas que já vi.
E sexy.
— Por que vocês não fodem depois? — sugeriu Drake. — Quero saber
o que estavam fazendo.
— Estávamos fazendo um ritual — explicou Amber, finalmente se
recuperando dos risos que minha queda lhe proporcionou.
— E um ritual muito sério, por sinal — enfatizou a ruiva.
Rá! Eu sabia!
— Eu disse! — Apontei para o meu próprio peito e olhei convencido
para todos eles. — Ela estava fazendo bruxaria!
— Bruxaria? — A baixinha começou a rir. — E você? O que estava
fazendo lá em cima? Isso ainda não ficou claro aqui.
— Estávamos investigando. — Dei de ombros sem querer lhe dar
explicações, era ela que estava se metendo nas nossas terras. — O que eu
estava fazendo não tem relevância aqui. É você que estava fazendo bruxaria
no nosso gramado.
— Seu gramado? Essa parte do gramado é nossa — a atrevida mentiu
com toda convicção que a sua altura podia proporcionar.
Não era, a parte do gramado era nossa.
— Essa parte do gramado é nossa — Drake saiu em defesa do nosso
território.
— Não é — a bruxinha continuou a mentir e Amber foi para o lado da
amiga, pronta para defendê-la.
— Claro que é nossa — afirmou Amber da maneira mais cínica
possível.
— Não é — Johnny se intrometeu também, já achando demais esse
assalto à nossa propriedade. — Vocês estão literalmente embaixo da janela
do Drake.
As duas olharam para cima como se estivessem vendo a janela pela
primeira vez. Ah, mas já era demais!
— Não há uma delimitação aqui que separe o gramado — Sienna
também veio ajudar suas amigas.
— Não tem como concluir qual parte é de vocês e qual não é — Scar
informou se sentando de novo no gramado, sem dar muita importância para
nossa discussão.
Amber e Johnny continuaram a trocar farpas, porém não prestei muita
atenção, estava intrigado. O que diabo elas estavam fazendo? Para que era a
vela? Estavam tentando nos enfeitiçar? Tomar nossa casa? Nossa sanidade?
— Olha só que atrevimento... — Balancei a cabeça negativamente para
elas. — Estão querendo tomar nossas terras.
Johnny se virou para mim sem entender.
— Nossas terras? — perguntou Drake, confuso.
— Sim! — Estalei os dedos na cara dos idiotas. — Essa garota aqui é
nitidamente perigosa. — Apontei para a baixinha cínica. — Tudo isso é
muito suspeito. Ela vem aqui, faz esses rituais na nossa janela, se nega a
dizer do que se trata, diz que o gramado é dela. Está armando alguma coisa,
vocês não veem?
Olhei para eles em busca de apoio, só que todos olharam para a ruiva e
ela lhes deu um sorriso cheio de covinhas. Ah, eu não ia cair naquilo.
Aquela garota não tinha nada de inocente e doce, era fachada. Ela estava
armando alguma coisa, podia sentir, e meu radar não falhava.
Tudo bem, na maioria das vezes falhava. Contudo, não iria confiar
naquele gnomo fofo.
— Oh, cara! — Drake suspirou encantado. — Ela é tão fofa.
— Não me parece perigosa. — Johnny Jackson sorriu para ela como se
quisesse apertá-la e revirei os olhos.
— Gostei da aura de vocês, meu nome é Madison, mas podem me
chamar de Maddie — se apresentou dando um sorriso simpático.
— Eu não gostei da sua — interferi antes que ela resolvesse manipular
todo mundo ali com as suas covinhas. — Você pode ter enganado eles, só
que vou descobrir exatamente o que você anda fazendo aqui. — Apontei
para todas aquelas coisas espalhadas no gramado.
— Boa sorte. — Ela me deu um olhar convencido, bem diferente do
inocente de uns segundo atrás.
— Estão vendo? Ela é cínica. — Me virei para conferir se todos viram
o mesmo que eu.
— Colin... — Johnny me chamou cansado, daquele jeito que implorava
para que eu calasse a boca.
— Não — interrompi-o. — O que essa vela que amassou meu pau
significa, hein? Vocês não podem estar querendo achar isso tudo normal.
Tem alguma coisa de muito errado com essa garota.
E tinha, como ninguém via?
— Colin... — Drake alertou, pedindo com o olhar para não criar
confusão com a vizinhança.
Vizinhança muito perigosa, por sinal. Coitados! Não sei o que seria
deles sem mim.
— Escutem — continuei tentando colocar juízo nas suas cabeças,
como era terrível ser o único sensato do grupo. — Ela estava fazendo algum
ritual no nosso gramado. Daqui a pouco estará entrando na nossa casa e
roubando nossas cuecas.
Se já não tivesse feito isso, estou me lembrando agora que senti falta
de duas cuecas na minha gaveta nessa manhã.
— Como é? — Benjamin olhou para mim parecendo achar que eu
tinha enlouquecido enquanto Peter prendia o riso.
— Sim, isso é perigoso — enfatizei apontando para a ruiva. — Não
devemos confiar nessa garota.
Tudo nela me cheirava a perigo, até a sua altura. Nunca conheci
alguém tão baixo e isso deveria significar alguma coisa também. Todos
olharam novamente para ela e o gnomo sorriu docemente.
— Oh! Você parece uma princesinha — elogiou Peter, suspirando.
Bufei, desistindo deles e fui caminhando até minha casa, mas decidi virar
uma última vez e olhá-la.
Ela tirou um cacho ruivo da frente do rosto e o colocou atrás da orelha,
o movimento chamou minha atenção para as sardas na ponta do seu nariz e
eu quis voltar para contar quantas tinham, passar os dedos na sua pele, saber
se era macia... Ela era daquele tipo de mulher que poderia facilmente te
seduzir.
Meu Deus, se não tomasse cuidado a ruiva ia mesmo enfeitiçar todo
mundo ali. Era bom lembrar que morava ao lado de uma garota
manipuladora, cheia de segredos e perigosa.
Altamente perigosa.
— Isso não acabou. Você não me engana, não importa o quão gostosa
seja — afirmei sem desviar o olhar dela e a cretina teve a audácia de sorrir
em desafio, como se me convidasse a entrar em um campo de batalha com
ela.
Ah, eu iria de muito bom grado.
Que comecem os jogos.
Colin Scott
Dias atuais

Me espreguicei na cama sabendo que já estava atrasado. Tinha


colocado o despertador para esperar mais uns cinco minutinhos.
O problema era que eu estava nesses cinco minutinhos a mais de uma
hora.
Levantei da cama sentindo uma dor de cabeça do caralho. Não era
recomendável sair e chegar às quatro da manhã em casa se tinha aula no dia
seguinte.
Também não era recomendável chegar no treino de ressaca. Mas é o
que temos pra hoje.
Tomei um banho demorado. Bati uma. Conferi as mensagens no meu
celular e sem surpresa nenhuma, vi convites para festas, fodas, nudes,
alguém falando de hóquei e trabalhos da faculdade. Nada de interessante.
Vesti uma calça jeans, passei perfume e mesmo assim ainda não sentia que
tinha acordado completamente.
Algumas pessoas precisavam de café para despertar, outras de um
alongamento, às vezes uma corrida ou até uma punheta resolvia o problema.
No meu caso, eu só diria que meu dia começava de fato depois de espionar
minha vizinha.
Não era como se eu fosse um stalker... só achava que era bom manter
os olhos nela.
Peguei meu binóculo e fui até a minha janela. A janela do quarto dela
já estava aberta. Madison sempre acordava primeiro que eu.
O gnomo estava tomando chá enquanto anotava alguma coisa no seu
bloquinho, sentada à escrivaninha. Ela vestia uma blusa listrada por dentro
do macacão jeans. Seu cabelo estava solto, e o rio de cachos ruivos
perfeitos descia pelos seus ombros, chegando até a cintura.
Me inclinei mais na janela e vi o jeito que ela assoprava o chá. Sua
boca linda se entreabria e soltava o ar devagar, espalhando a fumaça pelo
seu rosto corado. Madison colocou um cacho atrás da orelha e suspirou
enquanto continuava anotando no seu bloquinho.
O que deveria ser?
— Cara, você tá de ressaca... — Drake abriu a porta do meu quarto e
me pegou no flagra.
Ele parou no lugar, se encostou na porta e balançou a cabeça em
repreensão para mim.
— Eu não estou espionando ela — menti apontando o meu binóculo
para ele, que apenas ergueu a sobrancelha em deboche. — Não estou.
Estava vendo o telhado da casa das meninas — menti de novo.
— Oh, é mesmo? — Drake ironizou, se aproximando da janela.
— Sim, veja. — Dei o binóculo para ele. — O telhado da casa delas
está péssimo, a qualquer momento o teto pode desabar sobre a cabeça delas.
— Não sabia que você era engenheiro — Drake zombou vendo pelo
binóculo o telhado delas.
— Só sou um ótimo vizinho. — Dei de ombros, indo vestir a minha
camiseta.
— Queria saber o que tem de tão interessante em ficar olhando Maddie
o dia todo — comentou Drake, se inclinando para ver melhor a ruiva.
— Eu não fico olhando pra ela o dia todo — me defendi, tirando o
binóculo da mão dele. — Só acho a garota estranha. — Dei de ombros.
E era. Pura curiosidade.
— Uhum... — murmurou Drake.
— Você também não está atrasado? — perguntei querendo acabar com
aquela conversa.
— Estou — Drake cedeu e peguei a chave do carro antes de descer as
escadas da casa. — Você sabe que o treinador vai comer o nosso cu, não é?
Estalei a língua em provocação.
— Daqui pro fim da tarde a ressaca passa.
— Não vamos nunca mais beber assim em dia de semana — Drake
determinou apontando o dedo para mim.
— Nunca mais. — Pisquei para ele em companheirismo.
Drake sempre dizia isso. Entretanto, era só eu aparecer no seu quarto
chamando que ele se coçava para ir.
Era o famoso fogo no rabo.

Madison Jensen

Nada cheirava melhor do que tinta fresca.


Não era o melhor cheiro do mundo, mas quando isso representava arte,
eu sentia como se estivesse inspirando vida. O aroma me consumia e eu
conseguia visualizar todo o quadro, apenas por respirar esse cheiro.
Sentir o peso suave do pincel, se sujar de tinta, sentir o seu cheiro...
eram as melhores partes de pintar uma tela. Me faziam parte da obra. Por
um segundo eu era tão única e especial como ela.
Passei o pincel pelo contorno do esboço, manchando a tela branca.
Transformando o nada em tudo.
Sabia que o professor estava falando alguma coisa para a turma,
conseguia ouvir a sua voz ao fundo. Porém, quando eu pintava, minha
concentração era apenas naquele mundo.
Nas cores. Na sensação de prazer que aquilo me dava. Conseguia até
sentir o meu coração batendo no ritmo das ondas em que eu estava
desenhando. Em uma conexão.
Estávamos entrelaçados. Enquanto eu criava o quadro, ele me
desenhava também.
— Muito bonito — elogiou alguém atrás de mim.
Me assustei e acabei borrando o traço que estava fazendo. Que
porcaria. Borrou de um jeito que ficaria muito difícil retocar depois.
Suspirei frustrada e coloquei os pincéis de lado.
— Obrigada — agradeci erguendo o olhar e encontrando Derek Hard
com os braços cruzados analisando criticamente meu desenho.
Aquilo era novidade. Derek não costumava falar muito comigo. Olhei
em volta e vi que o professor já estava recolhendo o seu material, dando por
encerrada a aula.
— Por nada. — Derek se aproximou mais de mim, ficando ao meu
lado para ver a tela de outro ângulo. — Se eu fosse você não colocaria as
mesmas cores em um só quadro, acho que deveria variar um pouco.
Analisei minha tela com preocupação, mas não encontrei o mesmo tom
ali. Eram diferentes tipos de azul, e quando eu finalizasse o quadro seria
possível enxergar todos eles, seria interessante.
Não queria ser grosseira em dispensar o conselho dele, por isso apenas
sorri em agradecimento.
— Espero que fique bom, o Sr. Stone é exigente — falei citando o
nosso professor.
Eu morria de medo do homem e também era uma grande admiradora
do trabalho dele. Sr. Stone era conhecido no meio artístico por saber
coordenar o jogo de cores perfeitamente em uma tela, o que era justamente
o meu estilo de pintura.
— Eu posso ajudar — ofereceu Derek, ficando de frente para mim. —
Entendo dessa parte, estou nisso a mais tempo.
Derek estava no último semestre do curso de arte, já ia se formar, no
entanto tinha decidido cursar essa disciplina só agora. Era muito gentil da
parte dele me oferecer ajuda, só que quase não éramos próximos. Por que
isso agora?
Será que estava tão ruim assim que ele se sentiu na obrigação de me
ajudar?
— Obrigada, eu posso mostrar pra você quando finalizar — respondi,
limpando minhas mãos sujas no avental e me levantando do banquinho.
A aula tinha acabado mais cedo. O que eu agradeci, já que tínhamos
passado a tarde toda ali.
— Então... — Derek coçou a nuca, parecendo querer falar mais alguma
coisa comigo.
— Sim? — Ergui o olhar para ele enquanto guardava meu material.
— Você vai fazer alguma coisa hoje à noite? — soltou de uma vez.
— Hoje... — Franzi a testa tentando me lembrar se deixei alguma
atividade atrasada. — Não, nada planejado.
— Ótimo! O que acha de ir ao cinema? Você quase não sai com o
pessoal.
Senti minhas bochechas esquentarem e sabia que estava ficando
vermelha. Não sabia se ele estava só me chamando para sair com o pessoal
do curso ou se era um convite para um encontro.
— Ah, seria ótimo. — Coloquei minha bolsa no ombro para não ter
que ficar olhando para ele. — Quem vai junto?
— O pessoal de sempre — desconversou e me estendeu o seu celular.
— Pode me dar o seu número?
Acenei com a cabeça e digitei o meu número no celular dele, sem saber
se estava concordando em ir para um encontro ou não.
— Aqui. — Entreguei o celular para ele.
— Perfeito, eu falo com você. — Derek piscou para mim, se despediu
e saiu da sala junto com os outros alunos.
Suspirei confusa e segui pelo corredor até o refeitório.
Eu tinha acabado de topar ir a um encontro? Derek era bonito, tinha os
olhos e o cabelo castanho, a pele um pouco bronzeada, e eu podia admitir
que o achava interessante. Entretanto, não sabia dizer se era recíproco.
Ele ou qualquer outra pessoa do meu curso não falavam muito comigo.
Derek não mentiu quando disse que eu quase não socializava. Costumava
ficar mais sozinha no campus, mas isso era culpa da minha timidez.
Quase nunca eu iniciava uma conversa com alguém que estudava
comigo. Provavelmente, ele estava apenas sendo educado ao me convidar
para sair com eles.
Comprei meu sanduíche vegetariano e me sentei em uma mesa vazia
no canto do refeitório lotado. Tirei da minha bolsa meu bloquinho de notas,
querendo verificar minha lista do dia.

1. Meditar.
2. Beber um chá quentinho.
3. Enviar mais currículos.
4. Enviar solicitações de estágios.
5. Dizer um elogio a alguém.
6. Sorrir para pessoas desconhecidas.
7. Não pensar coisas negativas sobre as pessoas. Por mais que
elas sejam negativas.
8. Não perder a paciência com Colin.
9. Fingir que não percebi que ele estava me espionando hoje
de manhã.
10. Não brigar com Colin hoje.
11. Não pensar em Colin.
12. Não deixar Colin dominar minha lista.

— Ele até hoje não respondeu minhas mensagens — uma garota da


mesa ao lado falou para a amiga e percebi que elas estavam olhando para
alguém por cima do meu ombro.
Algumas pessoas no refeitório começaram a se virar na mesma direção
e eu já sabia quem tinha acabado de entrar ali. Meu corpo sentia.
Me considerava uma pessoa sensitiva. Sabia quando a energia de um
lugar estava boa, leve, pesada, ou... densa. Vibrante. Irritante. E era assim
que ficava logo que Colin Scott chegava em um ambiente. Eu conseguia
sentir a energia dele de longe.
Ou o atrito.
— Eu mandei duas mensagens e ele não respondeu — continuou a
garota da mesa, um pouco ansiosa.
— Ele tá olhando pra cá — a outra avisou.
— Eu acho que é pra mim. — A garota se inclinou na mesa e eu comi
o meu sanduíche, tentando não prestar atenção, mesmo que fosse inevitável.
— A gente se pegou no banheiro uma vez, foi no segundo ano. Será que ele
se lembra?
— Ele tá vindo — a outra informou em um tom que pedia para a amiga
parar de falar.
Fechei o meu bloquinho, porque se fosse Colin mesmo ele não perderia
a oportunidade de me espionar. E encher o meu saco.
Olhei discretamente por cima do ombro e encontrei Colin caminhando
ao lado de Drake até a minha mesa.
Odiava o fato de ele ser tão atraente... alto, musculoso e atlético.
Estava vestindo uma camiseta preta que desenhava bem o seu corpo e a sua
correntinha prata, que não tirava do pescoço, só o deixava mais charmoso.
Eu não podia descrevê-lo de outro jeito, ele era muito gato, em um nível
que seria até covardia compará-lo com qualquer outro homem.
Seus braços musculosos de fora e aquelas veias à mostra me deixavam
um pouco ofegante.
Assim que meus olhos encontraram com os dele o idiota piscou para
mim, como se soubesse que eu estava o secando. Ergui a sobrancelha em
desgosto e virei para frente de novo, mas podia sentir o sorriso dele atrás de
mim.
Ele sempre se divertia quando conseguia me irritar. E eu tinha que lhe
dar o devido crédito. Se tinha uma coisa que Colin Scott sabia fazer
divinamente bem era tirar a minha paciência.

Colin Scott

Era incrível como eu sempre conseguia enxergá-la de longe, parecia


que meus olhos acabavam procurando por um cabelo ruivo cacheado,
mesmo a quilômetros de distância.
E isso me dava bastante confiança na minha visão, levando em conta
que a garota tinha só um metro e meio de altura. Jamais ficaria míope.
— Olha só quem está aqui. — Drake bateu nas minhas costas e desviei
o olhar na mesma hora.
— Quem? — Virei-me como se tivesse a visto naquele momento. —
Ah, Madison! Não tinha visto ela — menti. — É tão pequena que às vezes
se perde na multidão, deveria vestir cores mais chamativas.
— Sei... — Drake ironizou. — Antes de você ir irritá-la saiba que o
nosso treino começa daqui a pouco.
— Eu não vou irritá-la — comentei caminhando em direção ao meu
gnomo. — Vou só dar um olá, é sempre bom manter uma relação saudável
com a vizinhança.
Percebi que a ruiva me deu uma secada e pisquei em atrevimento para
ela, que ficou um pouco vermelha e irritadinha.
Passei por trás da sua cadeira e sentei estrategicamente perto dela.
— Boa tarde — cumprimentei jogando o braço na sua cadeira, e
encostando sem querer no seu ombro.
Assim que encarei o seu rosto ela me olhou com desgosto, nitidamente
chateada por ter me encontrado nessa manhã.
Sorri para ela.
— Ora, Madison, desse jeito eu posso até pensar que não está feliz em
me ver — provoquei e a ruiva revirou os olhos.
— Não estou.
— Ei, baixinha. — Drake passou beijando a cabeça dela e sentou na
outra cadeira.
— Oi, Colin — uma garota da mesa ao lado da nossa me
cumprimentou.
Não fazia ideia de quem era.
— Oi. — Acenei de volta, sorrindo. — Como vai?
— Bem... eu estou esperando a sua resposta, viu? — ela murmurou de
brincadeira e franzi a testa sem entender.
— Pode deixar. — Pisquei, mesmo sem saber do que ela estava
falando.
— Ela te mandou mensagem — sussurrou Madison para mim. — E
você não respondeu.
— Como sabe disso? — sussurrei de volta, me inclinando mais na
direção dela, sentindo o seu cheiro de cereja. — Anda pior do que Drake na
fofoca?
Drake me deu o dedo do meio, mas ficou atento, querendo ouvir tudo
da nossa conversa.
— Como soube disso? — ele perguntou interessado.
— Elas estavam falando ainda agora. — Madison deu de ombros e
mordeu o último pedaço do seu sanduíche. — Ela disse que vocês... — Ela
apontou o dedo para mim e suas bochechas ficaram coradas.
Sorri sem conseguir me segurar.
— Que nós... — incentivei de provocação.
Adorava quando ela ficava desconcertada.
— Você sabe — ela resmungou.
— Não lembro dela — confessei.
E realmente, não lembrava.
— Isso é péssimo — Drake repreendeu e ergui a sobrancelha em ironia
para ele.
— Responda depois — mandou Madison. — Ela vai ficar magoada.
— Vou responder — menti e o celular dela, que estava em cima da
mesa, acendeu com uma mensagem de um número desconhecido.
Número desconhecido: Derek aqui, linda.
Número desconhecido: Então, confirmado, né? Cinema hoje.
Madison tentou travar a tela, só que eu já tinha lido.
Hum. Quem diabo era Derek?
Linda? Que intimidade era essa?
Senti um amargor na boca e tive que estralar o pescoço, pois de repente
meu corpo ficou tenso. Longe de mim me importar com quem ela saía, mas
quem era ele?
— Encontro hoje? — perguntei, tentando não soar interessado nos
planos dela. E não estava. Ela tinha a vida dela, não era da minha conta o
que fazia, com quem fodia...
A pequena corou envergonhada e colocou o celular no bolso do
macacão.
— Não é da sua conta — foi tudo o que disse.
— Você o conhece direito? — questionei direto e ela revirou os olhos.
— Não muito, mas ele é do meu curso.
— Como vai sair com um cara que nem conhece? — repreendi
tentando fazê-la desistir.
— E como você quer que eu o conheça sem sair com ele? — devolveu,
erguendo o ombro.
— Isso é perigoso, e se ele for um psicopata?
— Nem vou me abalar — ironizou, olhando para mim. —, eu já moro
ao lado de um.
Dei de ombros como se não me importasse porque Drake já estava
começando a me olhar de um jeito estranho. E não me importava, de
verdade, nem mesmo gostava dela.
— Bem, eu já vou indo. — Ela se levantou e deu um abraço em Drake.
Quando se virou para mim, apenas ergueu a sobrancelha como se
dissesse: “espero que não nos encontremos tão cedo”. Ergui a minha de
volta e ela balançou a cabeça.
O gnomo seguiu para fora do refeitório e fiquei observando-a até sumir
completamente da minha vista.
Nós vivíamos brigando, e eu curtia implicar com ela. No entanto, me
dava um aperto estranho no peito imaginar que ela iria sozinha encontrar
uma pessoa que não sabia quem era. Poderia ser um cara perigoso, alguém
que lhe fizesse mal.
E ela era tão pequena...
Fazia sentido? Talvez não, porém eu tinha que ver por mim mesmo
quem era esse cara.
— Colin! — Drake chamou do meu lado e pisquei, só então
percebendo que ele já estava de pé.
Me levantei e seguimos para o treino, torcendo silenciosamente que a
nossa cara de ressaca já tivesse passado.
— O que você acha de vizinhos que não se preocupam com o bem-
estar das suas vizinhas? — perguntei para Drake.
— Eu acho que de alguma forma você vai usar essa conversa pra me
convencer que é razoável ir no encontro da Maddie — respondeu meu
amigo. — Mas não é, deixe a garota em paz.
— Você não está entendendo nada. — O dispensei com um aceno. —
Não vou no encontro dela, não me interesso pelo que ela faz da vida.
— Tá bom. — Drake riu.
— Só estava comentando que isso é perigoso até pra gente.
— Oh, é mesmo? — ironizou me dando corda.
— É, e se ela levar esse cara pra casa depois? Ele pode ser perigoso, e
talvez você tenha esquecido que ela mora ao nosso lado. Ou seja, todos
corremos perigo.
— Essa foi a melhor desculpa que você arrumou pra persegui-la?
Achei que era mais criativo que isso.
Revirei os olhos.
— Não vou persegui-la, não me importo com ela — enfatizei, só que
ele pareceu não acreditar.
— Eu sei que você vai dar um jeito de aparecer lá pra estragar tudo —
ele concluiu e eu tive que rir daquilo.
— Não vou ficar perseguindo a Madison por aí. Só estava
comentando... — Dei de ombros. — Tenho mais o que fazer do que ficar
verificando com quem ela sai.
Só iria dar uma olhada nele.
Primeiro de tudo, quem era Derek? E por que nunca ouvi falar dele?
Ela nem tinha o número salvo, podia ser um stalker.
E de stalker na sua vida, já bastava eu.
Colin Scott

Madison já tinha saído para o seu encontro.


Ela estava com um vestido azul, que desenhava perfeitamente as suas
curvas. Os seus seios fartos eram segurados pela alcinha que estava
amarrada no seu pescoço.
Vi tudo pela janela do meu quarto, com o meu binóculo. Aquele tinha
sido o melhor investimento que já fiz. Sem ele eu não poderia ver cada
expressão do seu rosto do meu quarto, ou a cor do seu brinco, até mesmo as
sardas na ponta do nariz eu conseguia pegar com um bom zoom.
Assim que ela entrou no carro, eu desci as escadas depressa e fui até a
casa ao lado. Entrei na casa das minhas vizinhas e segui para o quarto da
pessoa que iria ao cinema comigo.
Podia chamar alguma garota que já fiquei, porém ficaria na obrigação
de dar atenção a ela. A solução perfeita era Scar. Poderia passar a noite toda
na minha perseguição e ela não estaria nem aí.
As vantagens de se ter uma amiga mulher.
— Scar? — Bati despretensiosamente na porta dela.
Mas não recebi resposta.
— Scar? — Bati novamente e quando não ouvi nada, decidi entrar.
Ela estava andando pelo quarto com fones de ouvido. Arrumava a
cama, já se preparando para dormir. Assim que me viu, tirou um fone e foi
logo me avisando:
— Eu estou morta. — Ela bocejou afofando o seu travesseiro. — Sem
condições de sair hoje.
— Está virada desde ontem? — perguntei me encostando na porta.
Scar confirmou com um aceno.
— Estava fazendo hora extra.
— Pro lugar que vamos você pode dormir à vontade — argumentei e
ela ergueu a sobrancelha em deboche.
— Tenho aula cedo amanhã. Nada nem ninguém vai me fazer sair
desse quarto — determinou me esperando ir embora.
— Você que sabe... — murmurei dando de ombros e passando pela
porta. — Eu iria te pagar o dobro da sua hora extra apenas pra assistir filme.
Fechei a porta, mas esperei no corredor.
Três.
Dois.
Um.
— Como é? — Scar saiu do quarto ansiosa, e estreitou os olhos em
desconfiança. — O dobro?
— Exatamente — confirmei.
— Por que não disse logo? — Scar foi procurar os sapatos e quando
voltou, parou no meio do caminho. — Espera — disse se virando para mim.
— Eu só vou se for cinco vezes a hora extra.
Pisquei perplexo.
— Cinco vezes? O que é isso? Um assalto? — reclamei, só que ela não
deu importância.
— Meu tempo é caro — avisou.
— Tá — resmunguei, olhando para o quarto de Madison.
Sorri ao imaginar a cara dela quando me visse. Ficaria puta.
— Que tara é essa de ir pro cinema hoje? — Scar perguntou, seguindo
o meu olhar.
— Tem um lançamento que quero ver — menti seguindo para as
escadas.
— Um minuto. — Scar foi até o quarto de Madison e abriu a porta de
uma vez. — Rá! Eu sabia. — Ela me deu um sorriso convencido. — Você
vai atrás da Maddie!
Balancei a cabeça em negação para ela.
— De onde você tira essas coisas? Nem sei onde ela está.
— Sei... — murmurou desconfiada.
E não sabia mesmo. Por isso não podia perder tempo, ainda tinha que
passar em todos os cinemas de Providence.

Madison Jensen

Eu: Oi.
Eu: Cheguei já.
Me encostei em uma parede e alisei o meu vestido azul, que estava um
pouco amassado. Ele já estava um pouco velho, contudo continuava lindo.
Era relativamente curto, chegava até o meio das minhas coxas, soltinho
em um estilo bem romântico, mas preso pelo pescoço, de um jeito que
valorizava os meus seios. Coloquei também um salto, só para não parecer
muito baixa e esperava mesmo que não estivesse arrumada demais.
Estava nervosa? Sim. Se fosse um encontro com as pessoas do meu
curso, eu não falava muito com quase ninguém e ficaria deslocada.
Se fosse um encontro só com Derek... bem, eu tinha dado um tempo
nos encontros desde o dia em que fiz o ritual fracassado com a minha vela.
Não queria mais criar expectativa para outra frustração e que a verdade seja
dita: estava ficando caro sair toda sexta-feira.
Hoje mesmo ia gastar o resto do dinheiro que tinha guardado para o
mês. Minha situação financeira nunca foi fácil, o momento mais
“confortável” da minha vida estava sendo aquele. Eu vivia de um dinheiro
reservado para mim, ele era bem pouco, porém eu era bolsista e sempre
aprendi a viver com o mínimo, então dava conta.
Até ser expulsa da fraternidade com as meninas no início do semestre.
Meu novo aluguel não era nada barato e isso me obrigou a enviar meu
currículo para vários lugares semana passada.
— Ei, você está linda.
Levantei o olhar depressa e encontrei Derek parado na minha frente,
vestindo uma camisa xadrez e calça jeans.
— Você também. — Sorri para ele e olhei em volta, procurando as
outras pessoas.
É, era um encontro.
— Demorei muito? Eu deveria ter pego você, mas fiquei preso na aula
até agora.
— Ah, sem problema. — Coloquei minha bolsa no ombro, um pouco
nervosa. — Você tem aula de noite também?
— Tenho algumas, esse semestre está puxado. — Derek seguiu para a
fila em que comprava os ingressos e o acompanhei logo atrás.
— Eu imagino, o último deve ser o mais difícil.
— O último é o que você menos se esforça. — Derek entrou na fila e
virou de frente para mim.
Ele desceu o olhar pelo meu vestido de um jeito discreto e acabou
focando no meu decote por mais tempo do que deveria. Joguei suavemente
o meu cabelo para a frente, querendo tampar a visão e olhei para o cartaz de
filmes ao nosso lado, um pouco desconcertada.
— Você gosta dos filmes da Marvel? — ele perguntou.
— Gosto sim — respondi sorrindo.
A fila andou e seguimos mais para frente.
— Não achei que fizesse o seu estilo — comentou, se aproximando um
pouco mais de mim.
Eu poderia reagir, incentivar ou recuar a investida dele, no entanto
paralisei no lugar logo que vi, por cima do seu ombro, Colin Scott
caminhando em nossa direção como se fosse o dono do lugar.
Ele tinha a postura descontraída, as mãos dentro dos bolsos da sua
calça preta, vestindo uma camiseta branca e deixando os braços fortes à
mostra. O seu maldito colar prata deixava tudo pior, parecia que tudo nele
era sexy.
O jeito de andar, como arqueava a sobrancelha em ironia, a curva que
seus lábios faziam quando sorria, os dentes brancos, os olhos azuis... até
mesmo a sua barba por fazer era atraente, com alguns fios castanhos e
outros loiros. Se ele não fosse altamente insuportável, eu até poderia me
sentir atraída por ele.
A maioria das pessoas ali eram universitárias e o reconheceram, as
garotas na nossa frente na fila o avaliaram de cima a baixo e eu odiava o
fato de ele ser tão aclamado assim.
— Isso só pode ser brincadeira — murmurei frustrada e Derek virou
para trás, procurando o que tinha chamado a minha atenção.
— Colin Scott — foi tudo o que Derek disse.
— Sim — concordei de má vontade. — É ele.
Colin estava olhando em volta, como se procurasse alguma coisa. E
assim que seus olhos pousaram em mim, ele abriu um sorriso felino.
Ele desceu o olhar pelas minhas pernas e subiu lentamente sua avalição
pelas minhas coxas, saboreando cada parte do meu corpo, sem deixar nada
de fora. Ele me encarava como se eu estivesse... nua, eu quase me senti
acariciada por onde os seus olhos passaram. Prendi a respiração e soltei o ar
quente devagar pela boca quando minha pele se arrepiou.
Era terrível ficar assim só com o jeito sujo que o cretino me olhava.
Quando finalmente ele chegou ao meu rosto Colin fez um “O” com a
boca, como se estivesse em choque por me ver ali.
— Madison! Você aqui! — Colin comentou surpreso e veio até nós. —
Quanta coincidência!
— Eu diria azar — corrigi seca.
Sinceramente, eu tinha que verificar o meu horóscopo. Sempre que ia a
algum encontro esse infeliz tinha que sair justo para o mesmo lugar?
— Que coisa, hein? — Colin balançou a cabeça abismado. — Parece
que toda vez que tenho um encontro você aparece.
— Olha só, eu ia dizer a mesma coisa — debochei, forçando um
sorriso.
— Eu poderia até pensar que você anda me seguindo... — jogou a
indireta no ar.
Mas era muita cara de pau.
— Eu tenho mais o que fazer da minha vida — disse afiada. — Pra
falar a verdade, eu acho que é você que anda me seguindo — atirei de volta,
lembrando das vezes em que ele me espionou pela janela da sua casa.
— Eu? — Colocou a mão no peito, horrorizado com a ideia. — Por
que faria uma coisa dessas? Em um dia de semana, que poderia estar em
casa estudando... O que ganharia com isso?
— Infernizar a minha vida, que é só isso que você sabe fazer.
Colin revirou os olhos.
— Nem tudo é sobre você, Madison. Eu vim assistir um filme com
Scarlett.
— Scar? — Franzi a testa sem acreditar naquela coincidência, até ver
minha amiga caminhando em nossa direção, fazendo algumas cabeças a
secarem por trás.
Ela pareceu quase aliviada por nos encontrar ali.
Minha amiga era gata. Do tipo que realmente chamava atenção. Ela
tinha o cabelo castanho escuro, longo e liso. Um corpo espetacular, a pele
levemente bronzeada e cheia de tatuagens. Entretanto, o que a fazia exótica
eram os seus olhos de tom lilás raro.
— Eu sou Derek — meu encontro se apresentou e eu fiquei
mortificada ao perceber que tinha esquecido completamente dele.
— Prazer — Colin disse em um tom seco e apertou a mão dele.
— Graças a Deus — Scar disse ao nos alcançar. —, já estava cansada
de rodar em cinemas.
— Oi, querida. — Me inclinei para beijar o seu rosto. — Como assim
rodar pelos cinemas? — perguntei sem entender e Colin estreitou os olhos
para ela.
— Eu vou comprar a pipoca — Scar avisou do nada com um olhar
provocativo, me dando outro beijo antes de sair.
— Vocês estão em um encontro também? — questionou Derek e senti
uma pontada no meio do peito.
Baixei o olhar depressa, encarando os meus saltos gastos. Eles eram
amigos, nunca tinha percebido qualquer coisa nesse sentido entre os dois.
Será que...
— Não — esclareceu Colin e ergui o olhar para ele. — A gente é
amigo, só viemos assistir um filme.
Estranhamente, me senti bem com aquilo.
— Então, que filme vamos assistir? — Colin perguntou animado.
Vamos?
— Algum da Marvel — respondeu Derek.
— E você vai assistir com a gente? — Ergui uma sobrancelha em
desafio.
Eu não iria ficar trancada em uma sala por horas com ele, já era
obrigada a morar ao seu lado. E ainda não tinha certeza se ele estava aqui
como stalker ou se era só coincidência.
Colin adotou um olhar magoado nitidamente fingido.
— Bem... — Suspirou Colin. — Se estamos atrapalhando vocês assim,
é melhor vermos outra sessão.
Como era cínico.
— Eu concordo — afirmei satisfeita, sem cair no seu joguinho.
— Nunca foi minha intenção forçar a minha presença aqui —
continuou o seu drama.
— Pois não force. — Sorri tranquila para ele.
— Nunca fui tão insultado em toda a minha vida — declarou e Derek o
olhou um pouco desconcertado.
— Você pode assistir com a gente, cara. Sem problemas — decidiu o
meu encontro e quis matá-lo ali.
— Oh! Obrigado, Derek! — Colin agradeceu e deu dois tapas nas
costas de Derek, acho que era para ser de um jeito amigável, mas acabou
saindo um pouco forte demais. — Entretanto, eu não ficaria mais aqui nem
se me implorassem, tenho orgulho.
Maravilha!
— Só vou aceitar o convite — continuou ele, acabando com toda a
minha alegria —, em respeito à Scarlett. — Ele apontou para Scar que tinha
chegado com as pipocas.
Ela revirou os olhos e chegou nossa vez de comprar os ingressos. Para
meu total desgosto, Colin escolheu as poltronas ao lado das nossas para
assistir “Capitão América”.
Seguimos pela sala do cinema em silêncio. Entrei na nossa fileira e
sentei na poltrona que escolhi, quando olhei para o lado vi que Colin tinha
passado na frente de Derek. Ele sentou na maior cara de pau no lugar do
meu encontro, ao meu lado. Meu colega de curso não viu outra opção,
sentou na poltrona que era do Colin, ficando ao lado da Scarlett.
— Você sentou no lugar dele — avisei a Colin.
— Ah, não! — Colin arregalou os olhos em susto. — Perdão, cara!
Esperamos ele se levantar para trocar de lugar, mas não aconteceu.
— Não acha melhor a gente trocar de lugar? — Derek ofereceu,
apontando para a cadeira dele.
— Não precisa — Colin o dispensou com um aceno. — Vai atrapalhar
as pessoas de trás.
— O filme não começou — lembrei-o.
— Pois é, só que eu não posso ficar me levantando assim — inventou
Colin, esticando as pernas de um jeito relaxado no assento. — Eu tive uma
lesão no joelho hoje no treino. — Ele massageou o local fazendo uma
expressão de dor que não acreditei nem por um segundo.
— Eu não sei se você notou, mas vim ao cinema com ele — sussurrei
perto do ouvido do idiota para Derek não escutar. — Vamos querer
conversar.
— Podem conversar. — Colin se sentou de uma forma em que eu
podia enxergar Derek perfeitamente.
Olhei para meu encontro, pedindo desculpas silenciosamente pelo meu
vizinho inconveniente. Derek deu de ombros, dizendo que estava tudo bem.
Scarlett apenas balançou a cabeça em negação sem tirar os olhos da
tela.
— Então, de onde vocês se conhecem mesmo? — Derek puxou
assunto.
— Somos vizinhos — respondeu Colin.
— Infelizmente — resmunguei baixinho, porém acabou saindo alto
demais.
— Não entendo porque tanto desprezo. — Colin olhou para Derek
arrasado. — Nunca fiz nada a ela.
Faça-me o favor.
— Eu posso listar uma série de coisas que você já me fez. — Se era
para lavar a roupa suja, eu podia fazer isso com gosto. — A começar por
me bisbilhotar com o binóculo.
O louco até já desconfiou que eu estava escondendo um corpo e um dia
a polícia apareceu na minha casa achando estranho a elevação no meu
gramado. Sabe o pior de tudo? Ele disse para os policiais que eu tinha um
metro e quarenta. Fiquei tão revoltada que joguei um saco de farinha de
trigo nele.
— Com um binóculo? — Derek arregalou os olhos surpreso.
— Sim! — confirmei, feliz por ter alguém do meu lado ali.
— Pelo amor de Deus, Madison, conte a história direito pra ele. Podem
pensar que sou um stalker louco — reclamou Colin, decepcionado comigo.
— E não é? — atirei de volta.
— Não, eu estava apenas cumprindo um dever que me foi dado —
afirmou.
— Que dever? — Ergui a sobrancelha.
— Eu não sei se vocês sabem, mas eu sou o líder da associação de
moradores da nossa rua — comentou Colin com orgulho.
Que história era essa?
— Que associação? — questionei.
— Da nossa rua — Colin respondeu como se fosse óbvio.
— E por que eu nunca soube dela?
— Porque só aceitam membros acima de um metro e sessenta. — O
babaca deu de ombros.
— Que absurdo! — declarou Derek, revoltado pela minha exclusão e
Scarlett apenas bufou em seu assento.
— A questão é que eu sou o líder — continuou Colin. — Ganhei por
votação democrática.
— O descaso do século — fiz questão de debochar, porém Colin me
ignorou.
— Cabe a mim a defesa e bem-estar de todos os moradores, por isso
comprei o binóculo, é por mera precaução. Vocês não têm ideia do que eu já
tive que enfrentar naquela rua, é um lugar bastante perigoso.
— Nisso eu tenho que concordar — ironizei balançando a cabeça para
ele.
— Tiveram muitos assaltos por lá? — Derek se inclinou na nossa
direção, interessado.
— Não muito — falou Colin. —, mas soube de uma vez em que a
polícia estava desconfiada que alguém da vizinhança escondia um corpo.
Olha, é cada uma que eu tenho que aguentar.
— Que isso não saia daqui — avisou Colin cauteloso e revirei os
olhos.
— E era verdade? — Derek perguntou.
— Parece que não — Colin informou e todos suspiraram aliviados, até
mesmo o pessoal da fileira de trás, que parecia estar escutando atentamente
aquele absurdo. — No entanto, ainda tenho um pé atrás com a elevação de
um certo gramado. Algo parece ter sido enterrado ali.
— Não foi — afirmei, estreitando os olhos para Colin. — Mas pode
ser.
— Que horror! — exclamou alguém da fileira da frente, prestando
atenção na nossa conversa.
— E onde fica essa elevação? — Derek indagou curioso.
Colin ficou um momento em silêncio, deixando o suspense no ar e
podia sentir que algumas pessoas estavam comendo as suas pipocas mais
devagar para ouvir a mentira que ele iria soltar a seguir.
— No gramado da casa da Madison — soltou de uma vez, fazendo
graça e várias cabeças giraram na minha direção.
Scarlett riu e fiquei feliz que ao menos alguém estava se divertindo.
— É bom você se mudar — Derek aconselhou.
— Acredite, se eu pudesse já estava bem longe — garanti a ele,
entediada. — Aquele lugar tem de tudo, até pervertidos — joguei a indireta.
— Pervertidos? — Colin ergueu a sobrancelha.
— Sim, você não se lembra? — Sorri, animada para também fazê-lo
passar vergonha. — Daquele vizinho que estava olhando os meus peitos
pela janela.
— Não me lembro disso. — Colin deu de ombros, só que eu podia ver
que ele queria rir.
— Eu me lembro, suspeito que todos os dias ele ainda me espiona.
Colin revirou os olhos.
— De onde você tira essas coisas? — Colin disse abismado.
— E a história da elevação no seu gramado? — questionou Derek,
preocupado. — A polícia foi investigar?
— Foi sim — Colin contou. — Passaram o dia procurando um fugitivo
de um metro e quarenta.
Meu deus, que ódio!
— Um metro e quarenta? — repetiu Derek, incrédulo.
Ouvi um ruído estranho e vi que era Scar prendendo o riso.
— Sim, era tão pequeno que ninguém conseguia pegar. Eu soube que
ele entrava nas casas pra pegar farinha de trigo.
O quê?
— Farinha de trigo? — Franzi a testa sem acreditar no rumo daquela
conversa.
— Sim — concordou Colin, triste. — Era viciado.
— Oh, Deus! — Alguém da fileira da frente murchou triste.
— Essa situação é terrível mesmo — concordou Derek, apiedado.
— Viciado em farinha de trigo? — ironizei e Colin me repreendeu com
o olhar.
— Não é bonito debochar do vício das pessoas, Madison — disse o
babaca.
— Também não é bonito inventar histórias sem pé nem cabeça —
pontuei.
O filme começou e todas as luzes se apagaram. Me encostei melhor na
poltrona, não querendo mais estender a conversa, mas não pude deixar de
alfinetar.
— Eu jamais vi tamanha mentira contada em uma só história —
murmurei baixinho e Colin sorriu.
— Eu sou bem informado dos babados da rua pois eu sou líder da
associação. — Piscou para mim e estalou a língua.
— Só se for a associação dos loucos.
— Maddie — chamou Derek e tentei vê-lo por cima de Colin. — Se
você quiser, a gente pode passar na sua casa depois, pra falar daquele
quadro.
Senti meu rosto esquentar, pois sabia o que aquilo significava, e ele
falou bem na frente do Colin e da Scar. Eu não queria estender, ele poderia
pensar que eu estava disposta a algo mais se fôssemos para o meu quarto.
— Pode ser. — Sorri e sentei direito no assento, fugindo do olhar dele.
— A gente combina depois — Derek garantiu e Colin esticou mais as
pernas grandes, parecendo incomodado com a sua posição, estralou o
pescoço e cruzou os braços na frente do peito.
Permaneci em silêncio e tentei me concentrar no filme por um tempo,
porém senti o meu verdadeiro problema com cinemas: frio.
Abracei o meu corpo e me encolhi no assento, coloquei o meu cabelo
espalhado para frente, querendo produzir calor de qualquer jeito. Senti o
braço musculoso de Colin roçando no meu e foi um alívio.
Me inclinei mais para ele, só um pouquinho, no entanto o suficiente
para sentir o calor do seu corpo. Não deveria ter feito isso, pois fiquei
praticamente colada ao seu corpo. Quis muito que nossas poltronas
tivessem aquele braço no meio, mas não tinham, e eu estava próxima
demais.
Colin tinha um cheiro gostoso. Era até difícil resistir encostar o nariz
na sua camiseta, além disso ele era quentinho. A sala estava gelada
demais... não tinha problema em me aproximar um pouco mais.
Sabíamos que nos odiávamos e não queríamos ficar perto um do outro.
Então, se eu me aproximasse dele, com toda certeza, não era com segunda
intenção. Tudo o que eu queria era calor...
Ah, tudo bem.
Encostei a cabeça no ombro dele bem devagar e Colin ficou
imediatamente tenso quando sentiu que estava deitando no seu ombro. Meu
coração acelerou em nervosismo e fiquei morrendo de medo de ele entender
aquilo errado.
Eu não estava dando em cima dele. Imediatamente me afastei e fiquei
ereta no lugar.
— Eu só estava com frio, não entenda errado... — sussurrei baixinho,
constrangida.
Ele não me respondeu. Tomei um susto no momento em que o braço
forte dele me envolveu e me puxou para o seu corpo.
— Pode me agarrar vai — provocou de brincadeira —, eu sei que é um
sonho seu.
— Até parece — murmurei e mirei Derek do outro lado olhando para
nós de um jeito estranho. — Eu estou morrendo de frio — expliquei, não
querendo que ele pensasse que Colin e eu tínhamos alguma coisa. — A
gente se odeia — completei, só para deixar bem claro.
Derek estreitou os olhos desconfiado, mas depois acenou com a
cabeça.
— Se não quiser ir pra sua casa — jogou meu encontro. —, a gente
pode fazer outra coisa.
— Claro. — Sorri para ele.
Era o mínimo, nem tivemos a oportunidade de conversar direito. E me
dava a saída para não ter que voltar para casa com ele.
Colin ficou calado, nos dando espaço, porém o seu braço começou a
me apertar com um pouco mais de força. Senti a sua mão na minha cintura,
ela era quente, como todo o corpo dele. O seu polegar foi acariciando meu
quadril e eu tive que respirar fundo.
De repente senti uma vontade de apertar as pernas uma na outra, e foi
exatamente o que fiz. Ele suspirou do meu lado, quase satisfeito e passou a
acariciar minha cintura, causando arrepios no meu corpo.
Fechei os olhos tentando controlar meu próprio corpo, respirei fundo, e
quando os abri de novo, peguei Colin me olhando atentamente. Ficamos nos
encarando até ele entreabrir os lábios e colocar a ponta da língua para fora.
Respirei fundo, sentindo minha própria boca ficar seca ao vê-lo
lambendo os lábios, molhando-os sem tirar os olhos de mim.
Não consegui desviar daquele gesto, fiquei quase hipnotizada pela sua
língua. Ela parecia travessa, assim como ele. Sem perceber, acabei me
pegando entreabrindo os meus lábios, sentindo um calor que vinha de
dentro.
A pegada dele ficou mais firme, sua mão desceu pelo meu quadril em
uma carícia que estava me deixando levemente trêmula.
Sabe aquele frio? Passou. Estava tão quente que eu poderia me abanar
ali.
A mão dele chegou na minha coxa nua, descansando ali. Não me atrevi
a me mexer, fiquei ali sentindo o peso da sua mão na minha perna. O
contato das peles.
E ele era tão cheiroso... desci o olhar pelo seu pescoço. Tudo nele era
masculino, ele tinha músculos até nas laterais do pescoço e as veias
pulsantes eram excitantes.
E eu não deveria estar prestando atenção nisso ali.
Ou em qualquer outro momento.
Subi o olhar depressa e o encontrei com a sobrancelha arqueada,
daquele jeito cafajeste dele e o odiei com todas as minhas forças para
compensar essa atração que eu sentia subir pelo meu corpo.
Ele me deu um sorriso sexy e o seu polegar girou em círculos em volta
da minha coxa. Me arrepiei toda e torci, com tudo de mim, para que ele não
percebesse.
— Com frio, pequena? — perguntou, passando o polegar de leve pelos
pelinhos arrepiados da minha coxa.
Estávamos próximos, de um jeito que o hálito quente e gostoso dele
atingiu minha boca.
— Uhum — confirmei, sem conseguir dizer uma palavra coerente.
O sorriso diabólico do cretino cresceu, como se soubesse que meu
arrepio não tinha nada a ver com o frio, e ele subiu o carinho até chegar no
limite do meu vestido. Seu dedo passeou bem onde o tecido terminava,
como se quisesse subi-lo um pouco mais.
Ok, estava excitada. Podia sentir a minha calcinha úmida. Isso era
muito, mas muito ruim.
Ele estava mesmo tentando subir mais o meu vestido no meio do
cinema? Do lado do meu encontro?
Colin com certeza achava que eu era boba e tudo bem, estava sentindo
meu rosto esquentar. Ele deveria estar se vangloriando disso, só que eu não
o deixaria saber que eu tinha uma leve atração por ele.
Leve. Que fique claro.
Sem tirar os olhos dele, toquei com a ponta do dedo a sua mão e Colin
ficou um pouco tenso quando nossos dedos se tocaram. Você também sente
esse atrito? Pode ser química. Ou ódio.
— Cuidado com a mão — sussurrei baixinho e fiquei orgulhosa de
mim mesma por ter conseguido soar de um jeito firme.
Colin não podia brincar comigo.
Seria uma jogada perigosa, e eu garantiria que não sairia perdendo.
Colin Scott

— Cuidado com a mão.


Seus dedos gelados apertaram a minha mão que estava em cima da sua
coxa macia e gostosa. Ela não desviou o olhar nem por um segundo e não
consegui evitar sorrir, convencido.
— Por quê? — sussurrei de volta, sentindo meu pau endurecer. — Ela
está te incomodando?
Apertei de leve sua coxa gostosa e Madison respirou fundo, deixando
um suspiro escapar entre os seus lábios e quis muito descobrir o gosto
deles. Queria chupar a sua língua atrevida e mordiscar o seu lábio inferior.
A pequena engoliu em seco e me lançou um olhar irritado. Ela estava
com raiva por se sentir atraída por mim, algo que eu compreendia bem.
Também sentia essa mesma irritação desde o maldito dia em que a conheci.
Meu maior prazer era irritá-la, mas admitia com tranquilidade que se
Madison me desse mole, eu a foderia até deixá-la assada. Era só sexo e não
era preciso gostar da pessoa para isso.
— Eu não estou com frio aí. — Ergueu uma sobrancelha ruiva em
afronta.
— Desculpe. — Alisei a pele dela uma última vez, quase me
despedindo, sabendo que provavelmente nunca mais teria outra
oportunidade de tocá-la ali de novo. Então, subi minha mão até a sua
cintura, sem conseguir soltá-la de vez. — Achei que como estava toda
arrepiada, só poderia ser de frio.
Claro que eu não podia deixar passar essa. Sorri para a pequena, e a vi
estreitar os olhos em ironia, sabendo que eu estava provocando-a.
— Às vezes tenho arrepios involuntários — mentiu, voltando a prestar
atenção no filme, dando por encerrada nossa interação.
Contudo, ela não saiu do meu abraço e eu continuei segurando-a.
Poderia ficar calado, deixá-la em paz, só que era algo mais forte do que eu.
— Deveria ir no médico ver isso — aconselhei, me divertindo ao ouvi-
la suspirar —, com certeza não é normal ter arrepios involuntários.
— Não acontece com muita frequência — inventou o gnomo.
— Então é só quando está comigo? — provoquei.
— Sim — afirmou, dando de ombros. — Acontece mais quando
encontro com pessoas desagradáveis.
Sorri e ela encostou mais a cabeça no meu peito, relaxada.
— Deveríamos ter escolhido O Batman — reclamou Derek, o cuzão.
Tudo bem, ele não era um psicopata, mas ainda assim podia ser
perigoso. Tudo indicava que Derek era um cara bacana e era nesses que
deveríamos ficar de olho.
Por esse motivo, e apenas esse, ainda me sentia na obrigação de
atrapalhar o seu encontro. Ser líder da associação inexistente de moradores
me dava deveres, e um deles era saber se os meus vizinhos não estavam se
envolvendo com quem não deveriam.
— Eu acho um pouco sombrio demais, porém também gosto. —
Madison se desencostou um pouco do meu peito para vê-lo melhor.
— Outro dia eu levo você pra assistir também — convidou e a ruiva
assentiu, dando um sorriso envergonhado para ele.
Apertei mais minha mão na cintura dela e respirei fundo. Como diabos
ele sabia que teriam outro encontro?!
Que cara pau no cu! Quem se convidava logo no primeiro encontro
para ir na casa da garota assim? Ok. Eu fazia isso, e para piorar no meu
caso nem mesmo encontro tinha.
— Como sabe que ele não é perigoso? — sussurrei no ouvido dela e
Madison se aconchegou de novo em mim para ouvir melhor.
— Por que eu acharia que ele é perigoso? — perguntou confusa.
— Ele me parece estranho — afirmei com o cenho franzido.
— Estranho? — Ela virou de frente para mim, sem entender. — Por
quê? O que ele fez?
— Sei lá. — Dei de ombros. — Ele não falou nada de errado até agora,
está se comportando muito bem e isso é suspeito.
— E por que isso deveria ser suspeito?
— Eu desconfio de pessoas normais demais.
— Isso não faz o menor sentido. — Ela revirou os olhos.
— Estou dizendo, Madison — afirmei convicto. — Tem algo de muito
errado com esse cara. E meu radar não falha.
— Ah, é? — debochou ela, rindo. — Do mesmo jeito que não falhou
quando achou que eu estava escondendo um corpo?
— Até hoje ainda desconfio daquela elevação do gramado.
— Então por que você não cava pra ver o que tem lá? — Ela riu. —
Seria uma cena impagável.
— Oh, vocês dois — reclamou alguém da fileira de trás. — Podem
falar mais baixo?
— Desculpe. — Madison olhou para trás arrependida e depois se
encolheu no meu braço.
Gostava daquilo e a apertei mais, protegendo-a do olhar assassino do
pessoal.
— Se eu fosse você, não sairia com ele de novo — aconselhei
baixinho.
— Se eu fosse você, cuidaria da própria vida — respondeu no mesmo
tom.
— Não me importo com o que você faz da sua vida — continuei,
porque realmente não me importava. — Só estou dando meu conselho
como um bom vizinho.
Ela revirou os olhos.
— Você não é um bom vizinho — lembrou ela. — É um péssimo
vizinho.
— Deveria dizer isso para todas as pessoas que votaram em mim para
líder da associação.
— Shhhhh! — alguém da fileira da frente chiou, incomodado com a
nossa conversa.
Madison olhou para mim e estreitou os olhos, desconfiada.
— Essa associação existe mesmo?
— Óbvio — menti, tentando manter o rosto o mais sério possível.
— Ninguém nunca falou disso, nunca teve uma reunião...
— Teve sim, na nossa sede principal. No entanto, você nunca foi
convidada. Tem uma placa enorme na entrada, informando: “Gnomos não
passarão”.
— Ah, seu idiota! — Madison me deu um tapa no braço e eu não me
aguentei mais, tive que rir.
— SHHHHHHHH!
Muitas cabeças se viraram na nossa direção e nos repreenderam com o
olhar. Eu ergui as mãos em rendição enquanto Madison saía tímida de perto
de mim e sentava direito na sua poltrona.
Me virei para o pessoal irritado do cinema.
— Desculpa, eu vou calar a boca agora — prometi a eles, baixando as
mãos.
— Está tudo bem aí? — perguntou Derek e Scar inclinou a cabeça para
nos olhar.
— Está sim — garantiu Madison, sorrindo para eles. — Desculpe pelo
barulho.
Ele assentiu com a cabeça e voltou a atenção para o filme. Scar me
olhou de um jeito que avisava que a sua hora estava ficando mais cara pela
conversa paralela. Apenas estreitei os olhos para aquela golpista.
É, estava difícil encontrar bons funcionários hoje em dia.
— Olha só o que você fez — sussurrou Madison, constrangida.
— Você pode, por favor, parar de atrapalhar? — repreendi a ruiva. —
Têm pessoas que pagaram por isso.
— Ora — resmungou zangada. — É você que não cala a boca um
minuto.
— Quem começou a querer se agarrar em mim aqui, foi você — acusei
tirando meu corpo fora.
Madison se virou irritada na minha direção e ergui os braços para me
defender do seu ataque.
— Vocês podem parar com isso?
Olhei para o lado e encontrei uma mulher muito irritada com a cabeça
inclinada entre as nossas poltronas.
— Perdão, senhora — Madison pediu, arrependida.
A mulher voltou a se sentar direito, mas se pudesse lançar facas com os
olhos, já estaríamos mortos.
— Me lembre de nunca mais vir ao cinema com você — avisei para a
ruiva, que me encarou irritada, quase implorando para eu calar a boca. —
Nunca passei tanta vergonha na vida.
— Colin... — ameaçou ela já sem paciência. — Se não calar a sua
boca, eu não respondo por mim.
— Veja só o caso dessa pobre senhora. — Apontei com o polegar para
a mulher atrás de nós. — Você está estragando a noite dela.
— E você a minha — revidou.
— Eu estava doido pra assistir esse filme — continuei, contrariado. —
Saí da minha casa achando que ia ter um pouco de paz, e você aparece aqui,
me perseguindo...
— Ah, por favor! — exclamou indignada.
— Shhhhhhh! — A senhora atrás de nós bateu o pé no chão enfezada.
— Depois de hoje eu nunca mais terei coragem de aparecer nesse
cinema de novo — constatei.
— Se você não calar a sua boca... — Madison deixou a frase morrer,
carregada de ódio.
— Eu? — Coloquei a mão no meu próprio peito. — Veja só o
transtorno que você está causando, espero que a sua entrada seja proibida
aqui...
— Ah, já chega!
Madison se levantou com tudo, puta da vida, mas bem naquele
momento um garoto de uns 9 anos passou na nossa fileira com um pote de
pipoca e um copo enorme de refrigerante. A ruiva acabou desequilibrando o
menino, que caiu de quatro no chão entre as minhas pernas e derramou a
sua pipoca e bebida em cima do Derek.
Alguém traga um Oscar pra esse garoto.
— Meu Deus do céu! — exclamou Madison, indo ajudar o garoto entre
as minhas pernas.
— Mas que porra! — Derek se levantou todo molhado de Coca-Cola.
Meu Deus, eu quis muito rir.
— Isso é um absurdo! — disse alguém que também tinha sido banhado
de refrigerante.
— Você está bem, querido? — Madison perguntou com carinho,
tentando levantar o garoto que estava de quatro.
O pobre coitado se levantou e ainda estava tentando entender o que
tinha acontecido. Assim que ele viu toda a sua pipoca espalhada pelo
cinema, começou a chorar.
— Ah, não! Não chore — consolou a ruiva, alisando as costas do
garoto.
— Olha só que confusão — lamentei levantando da poltrona e
colocando as mãos no quadril. — Que tragédia. — Balancei a cabeça em
negação ao ver toda a sujeira que Madison tinha feito no cinema.
— Isso tudo é culpa sua! — a ruiva acusou, apontando o dedo no meu
peito, porém depois disso ninguém conseguiu ouvir mais nada, pois todos
começaram a falar ao mesmo tempo.
Derek tentava torcer a sua camisa ensopada, Scar apenas cruzou as
pernas e continuou a comer a sua pipoca como se estivesse assistindo a um
show. O menino continuava chorando enquanto Madison me ameaçava de
morte e as pessoas do cinema pediam que fôssemos expulsos da sala. Era
tanta gritaria que não consegui ouvir ninguém.
Em algum momento um funcionário do cinema chegou na nossa fileira
e indicou que nos retirássemos. Fomos “convidados a sair”.
Dei graças a Deus, pois do jeito que estava logo iríamos ser linchados.
Puxei Madison pela mão e nos guiei pelo meio da confusão e gritaria até
chegar na porta da saída.
— Meu Deus, eu vou matar você! — afirmou a ruiva assim que
chegamos do lado de fora.
— Eu? Foi você que derrubou o coitado do garoto, não deixou
ninguém assistir ao filme, porque não ficava quieta um minuto — acusei.
Ela me olhou sem acreditar.
— Olha aqui. — Apontou o dedo perigosamente na minha cara e dei
um passo para trás, temeroso. — Você vai me levar pra casa, porque não
vou gastar dinheiro pedindo um carro. Quando eu chegar vou fazer uma
maldição pra você sumir da minha vida!
Encarei-a, abismado com o impacto daquela revelação.
— Que bosta! Se você podia fazer isso o tempo todo porque demorou
tanto? — perguntei chateado e ela não se dignou a me responder.
Madison virou as costas para mim e saiu caminhando até o meu carro,
sem dizer uma palavra. Puta da vida. Ah cara, como eu adorava vê-la
assim. Assim que ela chegou na porta da minha Lamborghini cruzou os
braços, esperando que eu destravasse.
— E eu queria mesmo assistir o “Capitão América” — reclamei
destravando o carro e ela me lançou um olhar mortal, mas não falou nada,
parecia que estava praticando um voto de silêncio.
Entramos e saí do estacionamento.
— Se ficar calada faz parte da sua bruxaria, continue, por favor —
incentivei e ela apenas encarou a janela para não me olhar. — Farei o que
precisar, se quiser eu até lhe dou minhas cuecas.
— O quê? — Ela girou a cabeça na minha direção.
— Eu disse que posso dar umas cuecas.
— E o que eu vou fazer com as suas cuecas? — perguntou sem
entender, com o cenho franzido.
— Suas bruxarias. — Dei de ombros, não entendia da mecânica dos
seus rituais.
Ela me olhou como se eu tivesse enlouquecido.
— A única coisa que me daria prazer em fazer com as suas cuecas
seria queimá-las.
— É um fetiche estranho — pontuei, dando de ombros. — Mas cada
um com seus gostos.
Madison se encostou direito no assento e respirou fundo.
— Quando eu chegar em casa — disse para si mesma. —, vou meditar.
A ruiva começou a inspirar e expirar devagar. Não entendia como uma
pessoa toda “zen” podia perder a paciência com tanta facilidade.
— Oh Deus! — exclamou do nada e quase bati o carro com o susto. —
A gente esqueceu da Scar! — Ela pegou o celular depressa e começou a
digitar. — Ela disse que vai ficar por lá e mandou te avisar que o cinema
fica cada vez mais caro.
Pilantra...
— O que isso quer dizer? — Madison perguntou, guardando o celular.
— A situação financeira dos cinemas. — Balancei a cabeça em revolta.
— Se soubesse quanto esses funcionários andam cobrando por hora extra...
— Ai meu Deus — ela disse do nada de novo, murchando triste com as
mãos no rosto. — Nunca mais vou ter coragem de olhar na cara do Derek.
— Fique tranquila, Derek uma hora dessas deve estar coberto de Coca-
Cola. — Ri ao lembrar dele torcendo a camisa todo molhado.
Não me segurei, gargalhei.
— Está feliz? — questionou emburrada. — Estragou meu encontro!
— Foi você que estragou seu encontro, e o meu filme — completei o
mais importante.
— Eu estou pouco me importando com seu filme, Colin.
— Pois deveria — avisei, olhando-a de lado. — Paguei caro, e aquele
pobre menino... Meu Deus, Madison! Como você dorme à noite fazendo
isso com crianças? — indaguei revoltado.
— Oh, tadinho — lembrou triste.
— Levando em conta todo o transtorno que ele sofreu, acho que vai
ficar traumatizado...
— Ah, já chega! — ela me interrompeu impaciente. — Tudo isso é
culpa sua!
— Sua meditação não anda funcionando — provoquei, virando o carro
em direção à nossa rua.
— Eu não aguento passar mais um minuto com você!
— Pois dê graças a Deus que chegamos em casa. — Sorri para ela
enquanto estacionava o carro em frente à minha casa.
Madison mal esperou as portas destravarem e já saiu do carro. Tirei a
chave da ignição e também saí, porém assim que fiquei de pé, um sapato foi
jogado em mim e desviei por pouco.
— Mas o que é isso? — perguntei divertido, vendo o gnomo tirar o
outro salto do pé.
Dei a volta no carro, querendo me proteger e ela correu atrás de mim
descalça, segurando seu salto alto como se fosse uma arma.
— E o papo da meditação? — Sorri sem conseguir parar de provocá-la.
— Você está se divertindo, não é? — Jogou com ódio o seu outro
sapato em mim.
Desviei de novo dando mais uma volta no carro, fugindo dela. Madison
pegou a sua bolsa do ombro e a arremessou com tudo na minha direção,
dessa vez quase me atingiu.
— Eu espero que o seu celular não esteja aí dentro — lembrei-a, mas o
gnomo estava possuído, deu a volta no carro de novo e eu tive que ir para o
gramado ou iríamos ser atropelados se ficássemos rodando na rua.
— Olha, se você vai tirar toda a sua roupa pra jogar em cima de mim,
sugiro que a gente suba pro meu quarto — flertei escolhendo um péssimo
momento para dar uma cantada.
— Eu nunca tiraria minha roupa pra você! — berrou a ruiva, indo
pegar os seus saltos do chão.
Preferi ficar seguro no meu gramado.
— Nunca diga nunca — alertei, estalando a língua. — Não sabemos o
dia de amanhã, hein.
— Eu sei o dia de amanhã. — Apontou para o próprio peito, convicta.
— Amanhã eu irei rezar pra que a gente não se encontre nunca mais —
afirmou, pegando a sua bolsa.
— Pois eu espero que o seu santo seja forte! Você reza daí — avisei,
indo para a porta da minha casa. —, que eu rezo daqui.
— Pode deixar — disse a enfezada caminhando até sua casa descalça.
Não deveria, porém reparei no jeito que a sua bunda gostosa rebolava a
cada passo. Esperei ela entrar na sua casa e só então abri a porta da minha.
Quando entrei, dei de cara com Drake, ele estava encostado na janela
da sala comendo uma banana.
— Eu devo perguntar o que vocês estavam fazendo correndo ao redor
do seu carro? — Ele se virou de frente para mim.
— Cara, eu sempre soube que você era fofoqueiro, mas não do tipo que
espiona a vizinhança pela janela. — Bati nas suas costas em
companheirismo.
— Ah, não. Essa função eu deixo pra você. — Ele piscou para mim.
— Nunca espionei ninguém na minha vida — menti e segui para a
cozinha, querendo tomar um energético.
— Qual foi a desculpa que deu? — perguntou Drake, curioso. — Pra
aparecer no encontro dela.
Ergui a sobrancelha, me fazendo de desentendido.
— Encontro? De quem? — Olhei em volta, perdido.
Drake revirou os olhos.
— Então me diga como a Maddie voltou pra casa contigo? — Ele
encostou o quadril na bancada e cruzou os braços.
— Foi uma coincidência. — O dispensei com um aceno. — Combinei
de ver um filme com a Scar, e acredita que Madison foi pro mesmo cinema?
— Balancei a cabeça abismado.
Drake riu.
— Você andou por toda a cidade procurando ela, não foi? — ele
concluiu, gargalhando.
— Sinceramente... não sei de onde você tira essas coisas. — Revirei os
olhos, indo para o meu quarto. — Se eu fosse você, procuraria um médico,
Drake — aconselhei.
— Se eu fosse você, também procuraria um — ele disse de volta.
Não o respondi. Subi para o meu quarto um pouco satisfeito ao
perceber que ainda estava com o cheiro da minha pequena na camiseta.
É, no fim das contas deu tudo certo.

Madison Jensen

— Deu tudo errado — choraminguei entrando no quarto da Sienna.


Scar tinha ficado no cinema, Amber provavelmente estava dormindo
com o Johnny, então me restava reclamar da vida para a minha dançarina
favorita.
Ela seria a vítima da vez.
— O encontro não foi bom? — perguntou Sienna, sentando na cama e
deixando o seu livro de lado.
— Eu o odeio — resmunguei me jogando em sua cama e abraçando o
seu travesseiro.
— Ele foi desagradável? — Ela tirou um cacho da frente do meu rosto
com carinho.
— Muito! — afirmei, me lembrando de como ele ficou enchendo meu
saco a noite toda.
— Tentou alguma coisa? — Sienna me olhou preocupada e pensei um
pouco.
Ele tentou, tentou subir o meu vestido, me deixou um pouco ofegante...
— Tentou — afirmei em um suspiro quente ao me lembrar do jeito
com que a mão dele apertou minha coxa.
— Mas você parece que gostou... — Sienna sorriu.
— Não gostei. — Balancei negativamente a cabeça, um pouco
ruborizada. — Não gosto dele, na verdade, não o suporto.
— E o que mais aconteceu? — Ela estreitou os olhos para mim.
— Ele me provocou a noite inteira, ficou inventando histórias sem
sentido e me fez perder a paciência de um jeito que eu joguei meus saltos
nele — contei, virando para olhar o teto do quarto da minha amiga.
Tudo ali era rosa. Cada parte do cômodo tinha um tom rosa claro e
branco, parecia perfeito e impecável. A cara da Sienna. Tudo nela era
assim. O seu corpo era como o de uma bailarina, esguio, delicado, magro e
firme. Ela tinha a postura impecável, o cabelo longo e ondulado, loiro
platinado, quase branco. Os olhos eram de um azul quase acinzentado.
Ela parecia uma Barbie.
— Querida, se não o suporta...
— Eu o odeio — corrigi possessa ao me lembrar da cara divertida do
idiota fugindo da minha perseguição. — Nunca encontrei uma pessoa na
minha vida de quem tivesse mais antipatia.
— Até mais que Colin? — questionou surpresa e a olhei confusa.
— Estamos falando dele mesmo.
— Mas e o seu encontro?
— Eu joguei um litro de Coca-Cola nele — revelei, me sentindo
péssima por ter deixado Derek todo sujo.
— Meu bem, essa história está ficando confusa — ela concluiu.
— Meu encontro foi por água abaixo e Colin é o culpado — resumi,
me sentando na cama dela. — Agora, depois de tudo o que aconteceu
comigo essa noite, o mínimo que você deveria fazer era me deixar dormir
aqui. — Sorri para Sienna mostrando minhas covinhas e ela revirou os
olhos.
— Pode dormir — cedeu em um suspiro —, só não me sufoque a noite
toda.
— Pode deixar. — Beijei o seu rosto e fui até o meu quarto pegar meu
pijama.
Sempre quando tinha um dia péssimo eu tentava subornar minhas
amigas para dormir com elas. Se pudesse faria isso todos os dias, mas nem
elas, que me amavam, aguentavam tantos abraços durante a noite.
Eu adorava dormir agarrada com alguém. Nunca tive isso na minha
vida e sempre fui muito carinhosa, então quando cheguei na faculdade e
consegui fazer amizade com as meninas, elas se tornaram minha primeira
família.
Torcia muito para que meu príncipe encantado também gostasse desse
meu lado.
Lembrando disso, fui até a minha janela e olhei as estrelas.
Elas foram minhas primeiras amigas da vida, minhas companheiras nos
meus momentos mais solitários e também minha salvação.
— Pode dizer pro amor da minha vida que eu já estou pronta? —
sussurrei para elas. — Ele já pode cair do céu.
Fechei a janela com um sorriso ao constatar um fato curioso: O ódio da
minha vida também caiu do céu.
Ou de uma janela.
Madison Jensen

Já tinha passado da hora de acordar.


O ruim de ser uma pessoa que naturalmente acordava cedo era que às
vezes você gostaria de dormir até tarde, mas o seu corpo não deixava. Ele já
sabia o momento de levantar.
Sentei na cama da Sienna e vi a bailarina dormindo do meu lado, toda
espalhada no colchão.
— Continue sonhando — desejei, dando um beijo suave na sua testa
sem acordá-la.
Sienna suspirou baixinho e abraçou ainda mais o seu travesseiro. Eu
podia sentir a sintonia dos seus sonhos daqui. Eles eram tranquilos, e ter
sonhos bons era o melhor remédio que alguém poderia ter.
Levantei da cama e fui para o meu quarto me preparar para uma boa
meditação. Estava precisando depois de jogar meus sapatos em Colin na
noite passada. Alguns minutos com ele eram suficientes para me desalinhar.
Abri a janela do meu quarto e vi que o dia estava lindo. Ensolarado,
quentinho, o ar estava puro. Geralmente eu fazia meditação dentro do
quarto mesmo, mas fiquei com vontade de sentir um pouco daquela energia.
Peguei meu cobertor que usava para meditação e desci para a nossa
varanda. Assim que abri a porta o ar da manhã me tocou. Sim, ele me tocou.
O senti dentro da minha alma, me acalmando como um feitiço.
Estendi o cobertor na varanda e sentei em cima dele, pronta para
manter aquela paz em mim quando percebi um movimento na casa ao lado.
Ajeitei a minha postura, tentando me concentrar, porém a curiosidade
venceu e olhei de canto para o gramado ao lado.
Sabe aquele ar puro da manhã? Pois é, ele sumiu. Virou vapor. Bem
quente, por sinal.
Colin Scott estava lavando o seu carro. Ele vestia apenas uma calça
preta de corrida.
Sim, estava com o seu tanquinho de fora.
— Oh Meu Deus... — murmurei, debilmente em choque, não
conseguindo desviar o olhar do seu peitoral suado.
Colin estava com a mangueira ligada, terminando de limpar o seu
carro. Tinha um pano na outra mão e passava estrategicamente pelo capô,
deixando-o brilhante. Observei o jeito que a sua mão era grande, grossa e
lembrei de como foi senti-la apertando minha coxa...
Subi a minha avaliação pelo seu peitoral até encontrar uma gota de
água que estava escorrendo pelo seu abdômen. Desenhando os músculos.
Fiquei com vontade de pintar aquilo. O tanquinho dele molhado era uma
obra de arte, só precisava de alguém para colocar na tela.
Senti minha boca ficar seca, molhei meus lábios um pouco ofegante e
quando finalmente cheguei no seu rosto, o peguei olhando para mim com o
sorriso convencido.
Mas que coisa! Não era possível nem secar o seu vizinho em paz mais?
— Se tudo o que você queria era me ver sem camisa, era só ter dito —
ele provocou.
Senti minhas bochechas esquentarem, contudo não desviei o olhar.
Mesmo que estivesse morta de vergonha.
— Você tem uma autoestima invejável — falei, tentando soar o mais
firme e desinteressada possível. — Eu só estava reparando no carro.
Virei de frente, sem conseguir continuar encarando-o.
— Sei... se você quiser, eu te empresto o meu binóculo. Dá pra olhar
bem algumas partes com um bom zoom — ele comentou
despretensiosamente e tive que virar mais uma vez para ver a sua cara de
pau.
Ele estava mesmo me contando que conseguia olhar partes do meu
corpo da sua janela?
— Você sabia que posso te denunciar por isso? — foi tudo o que
consegui dizer.
O canto da boca dele se ergueu.
— Pelo quê? — perguntou o cínico.
— Por me espionar todo dia. — Ergui a sobrancelha sem sair da minha
posição.
Não podia deixá-lo me desconcentrar. Balancei a cabeça e virei para
frente novamente. Coloquei cada mão em cima de um joelho e fechei os
olhos, tentando fingir que Colin não existia. Por mais que fosse quase
impossível.
— Não sei do que você está falando — se fez de desentendido e fiquei
com vontade de revirar os olhos, mas me contive. — Não sou eu quem
acorda cedo pra assediar meus vizinhos pela varanda... ainda mais usando a
desculpa de que está meditando.
Não iria cair naquilo.
Estava em paz. Ele não iria me estressar, não importava o que dissesse.
Inspirei e expirei profundamente, tentando me concentrar no ar da manhã.
— Sabe, eu acho isso demais — continuou e suspirei profundamente.
— Você é completamente obcecada por mim.
— Faça-me o favor. — Bufei em deboche e ri daquilo.
— Vive me perseguindo e me secando...
— Ai, Colin — o interrompi entredentes. — Você não tem nada
melhor pra fazer?
Ele pareceu pensar um pouco.
— Nada melhor do que isso.
Fiquei com vontade de olhá-lo, só que não o fiz. Meu coração meio
que acelerou. Odiava admitir, porém gostava de sentir seus olhos em mim.
Era quase como se minha alma estivesse sendo tocada.
Eu sentia essa sensação quando abria a minha janela pela manhã e ele
me observava, eu sentia um arrepio no corpo. Ansiedade, quase expectativa
de acidentalmente nossos olhares se cruzarem.
E foi essa mesma sensação que me alertou que ele estava bem
concentrado em mim naquele momento.
— Você sente prazer em irritar as pessoas? — perguntei, ajeitando
mais a minha postura e o ouvindo desligar a mangueira.
— Sinto... — Ele estava se aproximando. — Adoro quando você tenta
me bater.
Involuntariamente me peguei sorrindo daquilo.
— Eu nunca te bati — rebati, o sentindo cada vez mais perto.
— Não me importaria de receber uns arranhões. — Ele já estava na
minha varanda.
Podia sentir o seu corpo e o seu cheiro bom. Próximo demais.
— É sadomasoquista? — provoquei, sentindo o seu olhar atento sobre
mim.
— Não, você é? — A voz dele ficou mais grave, grossa.
Em que momento o dia tinha ficado tão quente assim? Senti o suor se
acumulando no meio dos meus seios e escorrendo entres eles. Assim como
estava em outras partes do meu corpo...
— Eu... eu... não vou falar com você sobre isso — gaguejei sabendo
que estava toda vermelha.
Baixei um pouco a minha cabeça, tentando esconder o meu rosto. Mas
o problema era que meus cachos estavam presos e ele podia ver tudo.
— Por que não? Esse é um ótimo papo para se ter entre vizinhos pela
manhã. — Podia sentir o seu sorriso de satisfação em me ver envergonhada.
— Por que você mesmo lava? — perguntei tentando mudar de assunto.
— O carro.
— Não gosto que ninguém passe a mão no que é meu — respondeu e
senti o ar ficar cada vez mais denso.
Engoli em seco.
— Eu estou tentando meditar — avisei baixinho para ele parar de me
atrapalhar.
— Perfeito, eu também estou precisando — falou e dessa vez eu abri
os olhos em susto.
— Como é? — perguntei o vendo dar a volta na minha varanda para se
sentar do meu lado, no chão.
— Eu também ando muito estressado ultimamente. — Passou a mão
no cabelo molhado e estreitei os olhos para ele.
— Você não sabe meditar — lembrei e Colin imitou a minha posição,
colocando as mãos em cima dos joelhos.
Ele ergueu a sobrancelha afrontosamente para mim e tive que sorrir
daquilo. Ele estava ridículo.
— Ajeita mais a postura — instruí tocando as suas costas com a ponta
do dedo.
Um erro. Ele tensionou os músculos e eu retirei a mão depressa.
— Respira fundo — mandei, me virando para frente e voltando a
fechar os olhos. — E tenta se concentrar.
— Em quê?
— Tenta pensar em algo que te acalme — aconselhei baixinho. — Às
vezes a gente passa tempo demais convivendo com os outros e esquecemos
como é se conectar consigo mesmo. É prazeroso esse momento. Apenas
escute a sua respiração, o seu peito subindo e descendo — sussurrei devagar
e podia senti-lo se acalmando. — Apenas sinta isso.
Ele respirou com calma. Podia sentir o som do ar indo embora do seu
corpo e retornando.
— É maravilhoso, não é? — perguntei para ele depois de um tempo.
— O quê?
— Essa energia — expliquei, sentindo o meu corpo realmente ceder,
meus músculos relaxando, mas bem consciente da presença dele. — É
palpável.
— Você não faz isso todo dia — falou e aquilo chamou a minha
atenção.
— Você realmente está por dentro da minha rotina — brinquei.
— Estou — admitiu e senti sua presença, como se estivéssemos
ligados.
— O que você fica vendo...
— Você acorda mais cedo do que eu — me interrompeu. — Às vezes
quando acordo cedo demais consigo te ver na janela, sentada pegando sol.
Me virei para ele, porém Colin estava com os olhos fechados, seguindo
na posição da meditação por mais que estivesse consciente da minha
atenção.
— Você se encosta na janela e abraça os joelhos enquanto olha pro céu
— contou em um suspiro e meu coração amoleceu. — Teve um dia que
você fechou um olho e colocou a mão em frente ao rosto, como se estivesse
pintando as nuvens.
Coloquei a mão no rosto em susto, um pouco acanhada, mas também
me sentindo... especial.
— Você fecha os olhos quando a luz do sol chega no seu rosto, e
suspira contente, como se alguém estivesse te entregando um presente —
ele continuou. Ah, Colin. — Têm dias que faz chá e leva pra janela.
Assopra e o vapor toca o seu rosto, bem em cima das sardas na ponta do
nariz.
Toquei as sardas em questão em um movimento involuntário. E senti
um sorriso bobo crescer no meu rosto ao escutar aquilo.
— Um cacho sempre escapa do seu coque, ele toca o canto da sua boca
e você o coloca atrás da orelha... — ele sussurrou, quase como se contasse
um segredo. — Nem todo dia você medita, às vezes pinta dentro do quarto
e seus macacões estão sempre sujos de tintas. Acende velas de cores
diferentes à noite e as cheira enrugando a ponta do nariz, isso faz com que
as suas covinhas apareçam.
Senti uma vontade estranha de abraçá-lo. Seria ridículo, e
provavelmente Colin ficaria sem graça, todavia quis tocá-lo.
— Colin... — chamei, ele abriu aqueles olhos azuis e me olhou sem
desviar. Não sei quanto tempo ficamos ali apenas nos olhando, mas respirei
fundo antes de perguntar. — Por quê?
Ele observou cada canto do meu rosto, e não consegui sustentar o
olhar. Foquei no seu queixo, sem ter coragem de encará-lo.
— Eu não sei — revelou perdido e pareceu sincero.
— Obrigada por isso — me peguei dizendo um pouco ansiosa.
— Pelo quê? — perguntou confuso.
Por fazer eu me sentir especial para alguém. Eu não sei se já fui
especial para alguém antes.
— Por ser um stalker atento — brinquei e ergui o olhar, encarando-o.
Colin sorriu e acabei dando um sorriso envergonhado de volta.
— Sempre à disposição — murmurou.
— Bom dia...
Viramos em susto para frente e encontramos Drake parado na entrada
da varanda. Ele alternou o olhar entre nós, parecendo estranhar estarmos
sentados um ao lado do outro harmonicamente.
— Bom dia — desejei e Drake estreitou os olhos, desconfiado.
— O que vocês estão fazendo?
— Meditando — respondeu Colin e Drake lhe lançou um olhar
incrédulo.
— Não quer tentar também? — convidei, afastando para o lado caso
ele quisesse se sentar com a gente.
— Oh, obrigado, mas acho que eu não ficaria bem com as pernas
cruzadas no jeans. — Drake sorriu e eu tive que concordar.
Seria engraçado colocá-lo sentado na nossa varanda. Drake era
enorme, perto de mim era uma vergonha. Ele tinha quase dois metros,
musculoso do tipo que chamava atenção. Além de ser muito bonito, claro.
Meu amigo tinha a pele negra, olhos verdes e um sorriso que conseguia
arrancar suspiros.
— Não é muito cedo pra mendigar comida? — provocou Colin e
Drake passou por nós com cuidado.
— Eu vim apenas desejar bom dia, caso tenha um café da manhã
pronto será uma mera coincidência — se defendeu Drake.
Ele ia entrando na casa, mas bem nesse momento Sienna abriu a porta
com uma cara de quem tinha acabado de acordar. Ela bocejou e olhou para
cada um de nós.
— O que estão fazendo? — ela perguntou, me vendo no chão com
Colin.
— Meditação — expliquei.
— Então não tem café pronto? — Drake deu uma boa olhada em
Sienna vestida na sua camisola rosa curtinha.
Ela apenas ergueu a sobrancelha em afronta.
— Só pelo atrevimento, vocês não vão comer antes de apararem o
gramado — ela mandou, apontando para a nossa grama.
— Por que eu fui incluso nisso? — reclamou Colin já se levantando.
— Porque sim — ela se espreguiçou e me levantei também,
percebendo que não iria mais meditar hoje.
— E aparem direito — mandei, antes de seguir minha amiga e fechar a
porta na cara deles.
— Você e Colin estavam meditando? Juntos? — Sienna ergueu o canto
da boca, achando graça.
— Nem chegamos a meditar mesmo. — Dei de ombros, tentando não
pensar nas coisas que ele me disse.
— Pensei que estivesse zangada com ele — ela pontuou.
— Estou sempre zangada com ele.
Sienna beijou a minha testa e prendeu o cabelo enquanto seguia para a
cozinha. Me inclinei na nossa janela da sala, vendo os dois indo aparar o
nosso gramado.
— Veja só como eles são eficientes — elogiei com um sorriso.
— Só fazem isso pela comida — retrucou Scarlett descendo as
escadas.
Assim que a vi lembrei imediatamente do meu encontro desastroso.
— Derek ficou com muita raiva ontem? — perguntei logo, ainda me
sentindo péssima por ter constrangido ele.
— Nadinha — ela ironizou, se jogando no nosso sofá. — Foi tanta
confusão que ninguém mais conseguiu assistir o filme.
— Ele deve estar com ódio. Nem sei como vou olhar pra cara dele na
aula — lamentei.
— Não olhe — aconselhou Scar, ligando a televisão. — Ele vai
superar.
— Eu espero... — Suspirei, pegando o meu celular na mesinha da sala.
Não sabia se ele queria falar comigo ou não, mas eu queria ao menos
pedir desculpas por tudo.
Eu: Oi, Derek.
Eu: Sinto muito por ontem, de verdade.
Eu: Foi uma confusão, eu não tive tempo de me despedir nem pedir
desculpas.
Me espantei quando o vi digitar imediatamente. Esperava mesmo que
não fosse me xingando.
Derek: Não fiquei com raiva.
Derek: Só não gostei que não conseguimos ficar sozinhos.
Derek: Depois vamos resolver isso.
Sentei no sofá ao lado da Scar, ainda sem curtir muito aquilo. Ficou
parecendo que ele só queria ficar sozinho comigo, não me conhecer.
— Ele disse que quer ficar sozinho comigo — comentei debilmente e
Scar estreitou os olhos.
— Eu o ouvi sugerindo isso ontem, mas... você quer? — ela perguntou
com cuidado e abri a boca sem saber o que dizer.
Eu não era virgem. Tinha transado com um cara que me levou a alguns
encontros no primeiro ano da faculdade. Queria saber como era e cheguei a
gostar bastante, ele foi atencioso e nos vimos por algum tempo depois
disso, entretanto descobri que não sou boa em manter uma relação com
alguém de maneira casual.
Eu precisava do romance também, por isso ele foi o meu único
parceiro. Ainda não tinha me aberto para outra pessoa nesse sentido.
— Eu queria conhecer ele primeiro. — Dei de ombros.
Scar me olhou com carinho e se sentou para ficar mais perto de mim.
— Se não se sentir à vontade é só avisar pra ele. — Ela piscou. — E se
ele te convidar pra outro encontro, só vá se realmente quiser, não porque
ficou com vergonha de recusar. — Scar apertou a ponta do meu nariz
sabendo que eu fazia muito isso.
— Depois de ontem, acho que ninguém mais vai me chamar pra sair.
— Ri em tom depreciativo.
— Não seja dramática...
Deitei a cabeça no ombro dela e ficamos assistindo televisão até ver o
casal mais lindo da vizinhança aparecer na sala abraçado. Amber estava
agarrada à Johnny pela cintura, enquanto ele a abraçava com um braço.
Era difícil ser solteira nessa casa.
— Café? — Amber se desvencilhou de Johnny e se inclinou na
bancada da cozinha.
— Quase pronto — avisou Sienna. — Já pode chamar os meninos.
— Ainda não vieram aqui? — perguntou Johnny surpreso, olhando em
volta.
— Estão aparando a grama. — Apontei para o nosso gramado.
Amber foi até a janela para chama-los. Scar e eu tampamos os ouvidos,
já prontas para os berros.
— GENTE, O CAFÉ ESTÁ PRONTO! — Amber gritou e com certeza
o aviso chegou até no outro bairro.
— Não tem jeito melhor de começar o dia — zombou Scar, coçando o
ouvido.
— Você deveria colocar como despertador do seu celular. — Piscou
Amber em provocação e foi abraçar o seu namorado por trás. — Como foi o
seu encontro ontem, querida? — Amber perguntou para mim, interessada.
— Foi... — Tentei buscar uma palavra que o definisse. — Único.
— O que aconteceu? — Johnny me olhou por cima do ombro.
Abri a boca para responder, mas Colin e Drake entraram na casa, sujos
de grama, bem na hora. Inclinei a cabeça na direção de Colin, como se
aquilo explicasse tudo.
E explicava, pois Johnny apenas balançou a cabeça em negação,
entendendo.

Colin Scott

Johnny suspirou cansado e se virou para beijar a cabeça da sua


namorada. Era triste ver como ele ficou rendido. Era um de nós. Nosso
capitão. Firme. Sério.
Agora? Se derretia só em olhar para a namorada.
— Veja isso. — Cutuquei Drake. — Pobre homem — comentei
apenado.
Drake suspirou tristemente em concordância.
— O que me consola é saber que nunca ficaremos assim. — Drake deu
tapinhas nas minhas costas em companheirismo.
— Jamais, irmão — afirmei convicto, indo me sentar à mesa.
Madison veio para a cozinha e se inclinou no balcão para pegar uma
fruta. Foi difícil não babar em cima da sua legging que desenhava a bunda
deliciosa e redonda dela. Fiquei com vontade de abaixar o tecido e passar a
mão na pele macia. Dar um tapinha só para ver a carne balançar na minha
cara...
— Colin. — Johnny estalou os dedos na minha cara, chamando a
minha atenção.
Pigarreei e todos já estavam se sentando à mesa.
— Sim? — Cocei a nuca, desviando o olhar da bunda da ruiva.
— A comida está aqui — Scar provocou apontando para a mesa.
— Obrigado por avisar. — Ergui a sobrancelha para ela.
— Aliás, sobre os honorários... — a pilantra jogou. — Eles tiveram um
aumento de preço pelo constrangimento incluído.
A cara nem tremia.
— Que honorários? — perguntou Amber, confusa e Madison se sentou
à minha frente.
— Era sobre uma pesquisa que estávamos fazendo — inventei, me
inclinando para me servir.
Amber ia perguntar mais alguma coisa, mas o seu celular começou a
tocar em cima da mesa.
— E os gêmeos? — questionou Johnny enquanto Amber atendia o
telefone.
— Dormindo até agora — Drake respondeu.
— Parabéns! — Amber desejou para a pessoa na linha. — Eu já ia
ligar... — Ela foi interrompida pela outra pessoa. — Mas está em cima da
hora — ela argumentou, olhando preocupada para Johnny.
Seu namorado ergueu a sobrancelha, sem saber sobre o que era a
ligação.
— A gente não pode ir — Amber se desculpou. — Temos aula, Johnny
tem treino e as passagens? — Era possível ouvir a pessoa falando. —
Compradas? Já? Ele tem jogo amanhã!
Ela conversou mais um pouco, nos deixando curiosos e depois desligou
a ligação, animada.
— Hoje é aniversário do papai — Amber explicou. — Ele não ia fazer
nada, porém resolveu dar uma festa hoje à noite! Já comprou as nossas
passagens...
— Eu tenho jogo amanhã — lembrou Johnny.
— Eu sei, vamos depois do seu treino e voltamos antes do jogo
amanhã. Você pode ir, amor? — ela suplicou com um sorriso grande e
Johnny suspirou passando a mão no cabelo.
Ele ia ceder...
— Posso — Johnny concedeu e um sorriso diabólico nasceu no meu
rosto.
Como um ímã, todos na mesa viraram lentamente as suas cabeças na
minha direção.
— Se divirta. — Apontei meu garfo para Johnny, que apenas estreitou
os olhos para mim. — Não se preocupe com nada, eu cuido de tudo aqui.
O silêncio na mesa foi tanto que era possível ouvir a respiração de cada
um ali.
— Colin... — Johnny rosnou ameaçadoramente.
— Amor, o seu olho esquerdo está tremendo. — Amber apontou para o
olho do namorado.
— Eu tenho tudo sob controle — garanti, me encostando
relaxadamente na cadeira. — Façam uma boa viagem.
— Vamos ficar bem. — Sienna sorriu para Johnny, tentando acalmá-lo.
— Se eu souber que você... — ele avisou e bufei o interrompendo.
— Não seja neurótico. — O dispensei com um aceno. — Quando você
voltar, vai encontrar tudo exatamente como deixou. Não precisa agir como
se fôssemos animais selvagens.
— E será só por uma noite — Drake tranquilizou Johnny. — O que
Colin pode fazer em um dia?
Madison abriu a boca para falar alguma coisa, mas logo a fechou,
achando melhor não dar sua opinião.
— Sim, capitão. — Pisquei para Johnny. — O que posso fazer em um
dia?
Johnny estreitou os olhos para mim e apertou a faca na sua mão, em
um aviso claro de que me cortaria no meio se eu fizesse besteira.
— Por favor — pediu Scar para o capitão. — Não demorem mais que o
necessário.
Revirei os olhos. Como eram dramáticos. Eu tinha tudo sob controle.
Colin Scott

Caminhei sorrateiramente até o armário de Drake. Tínhamos acabado


de sair do banho, Johnny e o resto do time ainda estavam no chuveiro. Era o
momento perfeito.
— Quero falar com você — falei, me encostando no armário ao lado
do dele e colocando a toalha em volta do meu pescoço.
Drake ergueu a sobrancelha desconfiado e se aproximou com um
brilho de animação no rosto.
— Você vai dar uma festa, não é? — ele perguntou.
Revirei os olhos.
— Lógico que não — neguei. — Pelo menos, não na nossa casa.
— Então na casa de quem? — Drake ergueu a sobrancelha curioso e vi
por cima do seu ombro o nosso japonês chegando no vestiário e nos
encarando com a cara de quem suspeitava de alguma coisa.
Taylor Hunt estava secando o seu cabelo preto liso na toalha, mas seus
olhos escuros de ascendência japonesa não desviaram de nós.
— Johnny vai viajar hoje... — soltou Taylor, como quem não queria
nada.
— Vai — confirmei, cruzando os braços em frente ao peito.
— E você não vai dar uma festa? — perguntou Taylor intrigado,
largando a toalha e indo se vestir.
— Não. — Dei de ombros.
Ele e Drake murcharam tristes.
— Porém... — continuei e o brilho deles voltou. — Vou fazer uma
pequena reunião para comemorarmos a despedida do Johnny.
— Despedida do Johnny? Ele só vai passar uma noite fora — Taylor
pontuou, confuso.
Drake olhou em volta, vendo se Johnny tinha voltado do banho.
Caminho livre. Fui até o meu armário e peguei as minhas roupas também.
Não dava para ser o único de toalha ali.
— Sim, contudo já é motivo pra celebrarmos — lembrei e Taylor
ergueu o ombro em concordância.
— Ele está sabendo dessa despedida? — Quis saber Drake.
— Claro que não, será surpresa. Só iremos chamar os íntimos —
avisei.
— E que horas começa? — Taylor perguntou.
— Depois que Johnny for embora — respondi e os dois se viraram
para mim em sincronia.
— Como é? — Drake franziu a testa sem entender. — A festa de
despedida é pra ele, e o próprio não estará presente?
Balancei a cabeça em negação. Eu tinha mesmo que pensar em tudo.
— Exatamente. — Pisquei para eles. — Vamos comemorar a
despedida dele. Assim que ele se despedir — concluí o óbvio.
— Isso está ficando confuso — constatou Taylor.
— Ainda bem que quem organiza as festas sou eu. — Me virei para os
dois e comecei a me vestir.
— E se der merda? — Drake questionou atrás de mim.
— Não seja pessimista — garanti despreocupado, fechando o zíper da
minha calça. — Eu tenho tudo sob controle, não vai ser como das outras
vezes.
Eles gemeram só em lembrar. Drake nem sei porque, ele sempre
achava um jeito de escapar na última hora. O cara sumia e só voltava
quando a merda tinha sido resolvida, sem ninguém saber por onde ele
andava.
Tudo bem. Johnny talvez tivesse alguns motivos para ficar nervoso...
tivemos pequenos incidentes nas minhas festas. Teve uma em que convidei
uma galera aleatória que conheci pelo campus.
Eles pareciam gente boa e foram para a festa. O problema era que eles
eram atores pornôs. Eu sabia que conhecia aquelas garotas de algum lugar!
A questão é que eles nos deram a ideia de fazer um filme no improviso.
Topei na hora, claro. Fiz questão de me sacrificar para ajudar na arte do
cinema.
O inconveniente foi que quase todo mundo quis se sacrificar junto
comigo, e acabou virando uma orgia. Alguém ligou para a polícia e foi todo
mundo preso. Johnny e o treinador do time tiveram que nos tirar de lá.
Aprendi muitas coisas nesse dia, mas nunca vou entender o que atores
pornôs estavam fazendo no nosso campus. Se era algum curso novo da
faculdade, eu gostaria de entrar.
A segunda festa foi do caralho! Colocamos um plástico gigante na rua
e jogamos um gel vermelho em cima para todos poderem deslizar com
roupas de banho. Foi foda. Tão foda que fomos parar na cadeia de novo.
Infelizmente trancamos a rua e gerou um engarrafamento.
Sobre a última festa? Foi a pior de todas. Também deu ruim, e talvez
eu jamais consiga esquecer aquele maldito dia.
No entanto... tudo era diferente agora. Éramos novos homens. Adultos.
Maduros. Que já passaram pela cadeia. Que conhecem os limites do bom
senso. Não existia mais espaço para problemas no nosso currículo.
— Drake... mais uma coisa — chamei, terminando de me calçar.
Drake se aproximou novamente e Johnny chegou bem na hora,
estreitando os olhos para nós. Travamos no lugar e ele apenas passou do
nosso lado, altamente desconfiado.
Nosso capitão abriu o armário, fingindo estar apenas trocando de
roupa, porém atento a tudo o que dizíamos.
— Estava pensando no que vamos assistir hoje à noite — comentei
para Drake.
— Algo leve, o treino hoje me deixou morto. — Drake apertou a nuca,
adotando uma cara de cansado. — Só quero passar a noite dormindo.
— Eu também. — Suspirou Taylor. — Depois que eu cair na cama
hoje, nada mais me tira.
— Eu tenho tanta coisa pra estudar ainda — contei para eles, que me
encararam apiedados. — Vou passar a madrugada inteira com a cara enfiada
nos livros.
Johnny apenas me olhou por cima do ombro com uma expressão de
tédio no rosto, de quem não acreditava naquilo.
— Então minha ligação será bem entediante — Johnny nos avisou,
fechando o seu armário. — Vou fazer uma videochamada à noite, só pra
saber como andam as coisas em casa.
Nos entreolhamos.
— Talvez a gente nem consiga atender. — Dei de ombros. — Todo
mundo tão cansado, vamos dormir cedo.
— Oh, vocês vão atender. — Johnny nos deu um sorrio convencido. —
Nem que eu ligue para cada aluno da universidade. Alguém atenderá.
Iria recolher os celulares de todos antes de entrarem.
— E se ninguém atender... — falou como se estivesse lendo os meus
pensamentos. — Vou chamar o treinador pra passar por lá, só pra conferir
se está tudo bem.
Bufei.
— Sua fé em nós é chocante. — Apontei o dedo para ele.
— Eu estou de olho em tudo — concluiu e lhe dei um sorriso tranquilo.
Depois eu que era o stalker.
— Não temos nada a esconder, capitão. — Peguei a minha mochila e
puxei Drake para fora comigo.
Assim que saímos do vestiário, eu o avisei:
— Drake, não saia espalhando por aí sobre isso.
— Claro que não — garantiu o fofoqueiro.
— Será apenas para os íntimos.
— Pode confiar. — Ele piscou para mim. — Ninguém irá saber de
nada por mim, sou um túmulo.
Acenei em paz. Sabia muito bem o que ele iria fazer.

— Todo mundo do campus está falando que vai rolar alguma coisa
aqui hoje — avisou Sienna, entrando na nossa casa com uma roupa de
ginástica rosa.
Sorri sem tirar a concentração do vídeo game que estava jogando com
Drake na sala.
— De onde você tirou isso? — perguntei cinicamente.
— Alguém andou dizendo por aí. — Ela deu de ombros e se sentou na
nossa poltrona. Senti o seu olhar sobre nós. — Algum fofoqueiro.
— Esse pessoal inventa cada coisa... — Drake estalou a língua para ela
em provocação, sem desviar da tela.
— Eu não estou sabendo de nada — mentiu Taylor deitado no outro
sofá, apenas assistindo nosso jogo.
— Vocês não têm vergonha na cara — ela murmurou. — Espero que
chamem a polícia.
— Não vão chamar — garanti, quase fazendo um ponto no jogo. — E
se formos presos, você vem junto — brinquei.
— Pode ficar na cela com a gente — Drake ironizou e vi de canto que
ela revirou os olhos.
Jogamos um pouco em silêncio até ouvirmos Johnny e Amber
descerem pelas escadas. O casal carregava duas malas grandes, parecia que
iam passar um mês fora.
— Vão passar mais de uma noite? — Sienna perguntou, indo ajudar a
amiga.
— Não, eu só fiquei em dúvida do que vestir hoje. — Amber deu de
ombros.
— Então resolveu levar tudo — completou Sienna, pegando uma bolsa
da mão de Amber.
Saímos do jogo e nos levantamos para ajudá-los também. Já tinha um
carro parado esperando por eles, então colocamos as malas no banco de
trás.
— Oh, que prestativo da parte de vocês — agradeceu Amber, sorrindo
para nós.
— Por nada. — Sorri de volta.
— Boa viagem! — Drake piscou para eles.
— Se divirtam! — Taylor desejou.
— Se eu souber...
— Ora, deixa disso. — Bufei interrompendo o capitão e bati nas suas
costas. — Relaxa! Eu cuido de tudo aqui — garanti.
— Não esqueçam de levarem os cachorros pra passear.
— Vamos levar — prometi e o empurrei para dentro do carro.
Ele entrou e Amber foi logo em seguida, empolgada, fazendo Johnny
ficar preso entre a namorada e as malas. Sienna jogou beijinhos para eles.
— Aproveitem a noite. — Ela acenou.
— Vocês também. — Amber acenou de volta.
— Vamos passar a noite estudando — avisei e quando Johnny se
inclinou para falar mais alguma coisa, Drake fechou a porta do carro na
cara dele.
— Atendam a minha ligação — Johnny mandou, apontando o dedo
para nós.
— Certo. Vá com Deus. — Dei dois tapinhas no vidro da janela,
avisando ao motorista que ele já podia ir.
Ficamos na calçada, acenando harmonicamente para eles enquanto o
carro seguia pela rua. E durante todo o caminho Johnny ficou olhando para
trás, tentando nos ver até o carro virar a esquina, como um maníaco.
Parecia um louco.
Assim que ele sumiu da nossa vista, um caminhão enorme dobrou a
outra esquina da nossa rua, seguido por uma quantidade incontável de
carros, buzinando para nós.
— Vão passar a noite estudando — Sienna balançou a cabeça em
repreensão.
Eu não disse qual seria o estudo.
— Vou deixar os cachorros dormirem no quarto do Johnny — avisei.
— Não é melhor eles ficarem no gramado? — sugeriu Sienna.
— Jennifer Aniston iria cagar tudo. — Dei de ombros.
Ainda era estranho falar aquilo em voz alta, mas a verdade era que
Jennifer Aniston era uma cagona. Amber tinha talento nato para nomes de
cachorros, Jennifer Aniston, Brad Pitt e Angelina Jolie viviam um triângulo
amoroso canino. Ou um trisal, ainda não tinha tirado uma conclusão.
— Pergunta importante. — Taylor se virou do nada para mim. — Tyler
está convidado? — perguntou sobre o irmão gêmeo.
Drake e Sienna ficaram em silêncio, observando a minha reação. Não
gostava nem de mencionar a última festa, pois sentia toda a minha raiva e
frustração voltando com força.
Sabia que Tyler deveria estar por perto. Olhei por cima do ombro e vi
que o gêmeo traiçoeiro estava encostado na porta da casa.
Tyler Hunt era idêntico ao seu irmão, a diferença estava na quantidade
de maconha que usava e na raiva que me fazia passar.
Não respondi Taylor, apenas segui para dentro de casa em silêncio.
Tyler abriu espaço para não esbarrar comigo e segui para o meu quarto sem
olhar para ele.
Eu sei que todos pensavam que toda aquela bosta podia ser deixada de
lado. Mas doeu. Não foi brincadeira. Eu ainda sentia aquela pontada no meu
peito. Não queria sentir aquilo nunca mais.
Foi sério.
Passei o dedo pela minha corrente no pescoço, minha eterna
companheira, e desci até alcançar o pingente. Era aquilo que me fazia
lembrar do perigo.
Era aquilo que me alertava que eu deveria parar.
Nada de binóculo. Nada de ficar olhando para ela da minha janela.
Nada de persegui-la nos seus encontros.
Eu não gostava dela. Não a suportava.

Um carrinho de golfe desgovernado caiu na piscina. Pessoas estavam


pulando das janelas do segundo andar direto na água. E ainda tinha um
pessoal em cima do telhado jogando golfe (Achei a ideia genial, por sinal).
Entretanto, ninguém morreu. Pelo menos, não que eu saiba.
— Adorei a sua roupa — elogiou a garota de biquíni ao meu lado.
Eu estava só com uma cueca e uma camisa social aberta.
— A sua também está ótima — brinquei, olhando para o seu corpo
completamente à mostra no biquíni minúsculo.
Ela não estava vestida a caráter. O tema da festa era “executivos
seminus”, por mais que a desculpa que inventei para o evento fosse o
aniversário da minha vizinha ruiva insuportável.
Até comprei um bolo para provar.
— Obrigada... só que ainda acho que você está muito vestido — ela
flertou e eu sorri para ela.
— Achei que se tirasse a camisa, seria muita humilhação pros outros
caras — provoquei e ela riu. — Vou pegar uma bebida — avisei, me
afastando dela.
Não estava a fim hoje. E se alongasse a conversa iria ser mais difícil
sair.
Rodeei a piscina passando pelas pessoas, já ia entrar na sala quando
vi algo que me fez paralisar no lugar. Foi como se o ar tivesse sumido do
mundo. Madison Jensen estava...
Puta que pariu, ela estava deslumbrante.
A ruiva estava usando um vestido branco colado ao corpo, tomara que
caia. Os seus seios grandes estavam sufocados, a pele sedosa balançava à
medida que ela caminhava. A baixinha estava usando um salto e todas as
suas curvas naquele corpo violão estavam em destaque.
O cabelo cacheado tinha sido preso em um coque desajeitado, fazendo
algumas mechas escaparem de um jeito sexy.
Tão linda que fiquei com vontade de guardá-la só para mim.
Minha boca ficou seca, de um jeito que água nenhuma no mundo
mataria a minha sede. Quis passar o braço por aquela cintura estreita e a
pressionar contra meu corpo. Foder com aquele corpo delicioso até
esquecer o meu próprio nome. Ouvir o seu suspiro no pé do meu ouvido...
que porra, senti meu pau endurecer.
Madison parou para conversar com Johnny, e eu não consegui me
mexer. Estava hipnotizado.
Percebi alguns caras a secando de longe e juro que se ninguém tinha
morrido ainda, agora era o momento. Enxerguei Tyler se aproximando dela
chapado, ele sorriu para a ruiva de brincadeira e para o meu total espanto
e desespero, Madison puxou Tyler pela camiseta do nada e o beijou.
Paralisei em choque no lugar. Não estava acreditando naquilo.
Tyler ficou um instante em choque também, mas logo passou a
corresponder. Ele enfiou a porcaria da língua na boca dela! NA MINHA
FRENTE.
As mãos do filho da puta desceram pela cintura de Madison e a
apertaram contra o peito dele, sentindo toda a textura do seu corpo.
Desgraçado do caralho!
Ainda tinha uma gota de sanidade no meu corpo. E foi isso que me
impediu de ir até lá e tirá-lo de cima dela, meter um murro na cara dele
pela ousadia e pegá-la para mim...
No entanto, aquilo era perigoso. A corrente prata pesou no meu
pescoço, me avisando que aquilo era um abismo e que se eu me permitisse
cair, a queda seria feia. Muito feia.
Senti no meio do peito uma pontada de dor. Foi uma dor estranha,
porém tão real, que se alastrou pelo meu corpo.
Desviei o olhar do beijo e saí pela casa, querendo acabar com tudo.
Cheguei no disjuntor de energia e o desliguei com tanta força que quase o
quebrei. Tudo ficou escuro.
Algumas pessoas acenderam as lanternas dos celulares e consegui ver
que Tyler e Madison tinham se separado em um susto. Ela ainda estava
com a boca borrada de batom, suas bochechas vermelhas de vergonha e
ela baixou o olhar um pouco tímida.
E não fui eu que fiz aquilo nela. Não era eu. Não foi comigo. Foi com
outra pessoa.
Apertei o pingente na minha mão sentindo meu coração acelerar.
Estava imune. Estava imune a isso. Não gostava dela. Eu sempre
soube aprender com os erros dos outros. Aquilo nunca aconteceria comigo.
E eu estava certo disso. Passei anos com essa certeza.
Nunca aconteceria comigo.
Colin Scott

— Eu estou convidado? — Tyler falou atrás de mim.


Ele tinha me seguido até o quarto. O que já achei bastante corajoso,
contando que vinha fugindo de mim como o diabo foge da cruz.
— Depende do que você pretende fazer nessa festa — joguei a indireta
em deboche, virando de frente para ele e o encontrando encostado na minha
porta.
Tyler ergueu as mãos em rendição.
— Eu não vou chegar perto dela — prometeu, engolindo em seco. —
Nem vou olhar na direção dela. Juro pelo amor que tenho pela minha vida.
Estreitei os olhos, desconfiado. Não curti como ele disse aquilo. Ficou
parecendo que eu tinha sentimentos pela garota, e não era o caso.
— Não tenho interesse algum na Maddie, eu fui a vítima — alegou
Tyler e bufei.
— Uma vítima muito ativa — ironizei.
— Mas é verdade! Ela que me atacou...
— Ela tem um metro e quarenta, como diabos ela te atacou? —
perguntei.
— Ela tem um pouco mais de um metro e quarenta — pontuou Tyler
com cuidado.
— Não me interessa o tamanho dela — disse, pouco me importando
com aquilo. — A questão é que você não me pareceu alguém que estava
sendo atacado.
— Só correspondi, o que queria que eu fizesse? — Ele abriu os braços.
— Você no meu lugar faria a mesma coisa.
Ah, se eu estivesse no seu lugar estaria a fodendo até hoje. Só que não
estava. Quem pegou ela foi ele. E pensar nisso foi suficiente para me fazer
perder a paciência.
— E por acaso você pretende fazer de novo? — perguntei caminhando
em sua direção.
Tyler deu um passo para trás, temeroso.
— Nunca mais! — garantiu Tyler, balançando negativamente a cabeça
para enfatizar. — Eu sei que você é a fim dela.
Dei um passo para trás em susto com aquele absurdo. Eu não era a fim
dela. Só curtia implicar com ela, era diferente.
— O quê?
— Eu sei que você é a fim dela — repetiu e tive a certeza que meu ex-
amigo tinha acabado de ficar louco.
— Tyler, eu acho que a sua maconha está vencida — avisei com
cuidado.
Ele revirou os olhos.
— Toda vez que alguém olha na direção da Maddie, você fica puto. —
Ele deu de ombros, como se fosse óbvio.
E eu ri. Gargalhei.
— Ai Deus... — Limpei o canto dos olhos. — Você entendeu tudo
errado.
Ele cruzou os braços em frente ao peito.
— E foi? — perguntou Tyler, entediado.
— Sim — disse em um suspiro, me recuperando do riso. — Ela é
minha inimiga. — Apontei para meu próprio peito. — É antiético os seus
amigos ficarem com as suas inimigas, todo mundo sabe disso.
— Eu não sabia disso.
— Pois agora sabe — afirmei duro, esquecendo o bom humor. —
Fique bem longe dela.
— Tá, tá. — Tyler me dispensou com a mão, pouco interessado no
meu ataque.
— Estou te fazendo um favor... — murmurei. — Ela é perigosa. Pode
levar um homem à loucura.
Tyler ergueu a sobrancelha para mim em divertimento.
— Isso eu posso ver.
Revirei os olhos, mas logo o silêncio pesou entre nós. Parecia que
faltava alguma coisa...
— Você quer jogar vídeo game? — perguntei e ele sorriu, concordando
com um movimento de cabeça.
Sorri de volta para o cretino e o segui para a sala.
— Sabe, a gente precisa se abraçar para selar a paz — ele jogou e lhe
dei o dedo do meio, me deitando no sofá.
Dava tempo de jogar uma partida antes da casa começar a encher de
gente. Acreditei quando Tyler disse que não queria nada com a pequena, ele
nunca tinha demonstrado interesse nela. Entretanto, era bom reforçar.
Madison era aquele tipo de garota que se você não tomasse cuidado,
poderia estar comendo na mão dela em pouco tempo.
Não desejava a minha inimiga nem para o meu pior inimigo.

Madison Jensen

Assim que vi mais cedo, pela janela do meu quarto, os carros


estacionando na nossa rua, pensei que realmente poderia ser apenas uma
breve reunião dos amigos do Colin. Mas não demorou para que o som
ficasse tão alto a ponto de a casa começar a tremer.
A cara de pau era tanta que eles tinham usado a desculpa de ser uma
despedida para Johnny. Tinha até uma faixa na entrada da casa que dizia:
“Johnny Jackson, vá em paz. Sentiremos a sua falta”.
Pelo jeito a pessoa que escreveu aquilo não mediu muito bem as
palavras, pois todo mundo que passava ali perguntava se tinha acontecido
alguma coisa e oferecia as suas condolências.
— Eu sinto muito. — Uma garota apareceu do meu lado e apertou o
meu ombro em conforto. — O talento dele era inestimável.
— Ele não morreu — esclareci depressa. — Talvez mate a pessoa que
escreveu aquilo, mas continua vivo.
A garota olhou confusa para a faixa e depois para mim. Ela abriu e
fechou a boca várias vezes, porém resolveu entrar sem dizer mais nada.
Não sei como ela conseguiu, pois a entrada da casa estava tão lotada
que eu não via como alguém poderia passar ali. Por isso tínhamos decidido
ficar do lado de fora, onde o show estava acontecendo.
Sim, eles tinham colocado um palco enorme no gramado e uma banda
universitária estava tocando. Tudo parecia profissional, tinha até led de
iluminação por todo lugar, simulando um show.
— Por que ninguém encontra o meu clitóris? — resmungou Sienna
perto do meu ouvido, revoltada.
A abracei pela cintura, temendo que ela fosse cair.
— O que eu tenho que fazer?! — perguntou ela para mim como se eu
tivesse mesmo a resposta.
— Querida, eu não sei...
— Devo colocar um GPS na minha vagina? — interrompeu-me
apontando para a própria vagina.
Sienna não esperou por uma resposta, ela apenas virou o seu drink de
uma vez. Estava bêbada, o que era engraçado, pois ela continuava
parecendo uma modelo sem um único fio de cabelo fora do lugar.
— Será que está faltando luz? — continuou a reclamar e a olhei
confusa.
— Luz? — Franzi a testa. — Na sua vagina?
— Isso! — Estalou os dedos animada por ter sido compreendida.
Sorri para a bêbada.
— Eu tenho certeza que a sua vagina é iluminada — gritei no seu
ouvido, tentando ser escutada em meio à música alta.
— Obrigada. — Ela sorriu. — E ela é mesmo! Abençoada!
— Quem? — perguntou Scar, chegando ao nosso lado com mais
bebidas.
— Minha vagina — respondeu Sienna, tirando um drink da mão dela.
— É sério, ela tem uma pintinha marrom bem em cima de onde fica o
clitóris — confidenciou Sienna e Scar engasgou.
Olhei em volta assustada, com medo das pessoas terem escutado
aquele detalhe sobre a vagina da minha amiga. Só que tinha tanta gente ali
que era impossível alguém estar prestando atenção à nossa conversa.
— Como é? — Scar tentou recuperar o fôlego.
— Tem um sinal em cima do meu clitóris. Eu nasci com um semáforo
e ainda assim ninguém encontra! — Sienna fungou e talvez ela tivesse
chegado naquela fase dos bêbados que só querem chorar.
Era fofo. A abracei apertado.
— Vai dar tudo certo, querida. — Dei tapinhas nas suas costas.
— “Ninguém encontra” ou só o seu namorado? — Scar jogou a
indireta com cara de deboche.
— Michael é míope — Sienna justificou enquanto me abraçava de
volta.
— E onde ele está mesmo? — Olhei em volta, procurando o namorado
dela, contudo era complicado encontrar qualquer pessoa ali.
Se alguém se perdesse, talvez eu nunca mais visse a pessoa na vida. A
festa se estendia pela rua de um jeito que não era possível ver o fim no mar
de universitários.
— Não sei. — A bailarina fungou no meu cabelo e deu de ombros de
um jeito delicado. — Provavelmente comprando uns óculos.
Eu ri e Sienna fez uma cara de reprimenda para mim, mas estava tão
engraçada que não consegui levar a sério. Fiquei na ponta do pé e beijei o
seu rosto.
— Como Colin vai se livrar desse pessoal antes do Johnny chegar? —
gritei para Scar.
Sabia que ela estava por dentro de tudo.
— Não faço a menor ideia. — Ela riu.
— Estou me sentindo culpada — revelei —, Johnny deve estar
preocupado uma hora dessas.
— Não está — Sienna determinou, bebendo mais um pouco da sua
bebida. — Nesse momento ele deve tá encontrando o clitóris da namorada
dele.
Era provável.
— MENINAS!
Olhamos as três para trás e vimos Drake caminhando em nossa
direção, abrindo caminho entre as pessoas. Ele estava sem camisa,
segurando um corpo sem vida em cima do ombro como se não pesasse
nada. E para ele deveria ser nada mesmo.
— O que é isso? — perguntou Scar, olhando para o corpo jogado em
cima do ombro dele.
Drake virou de costas e vimos que era Tyler, quase apagado.
— Meu Deus, Tyler. — Dei dois tapinhas no seu rosto até ele acordar.
— Você está bem? O que ele usou?
— Nada — respondeu Drake, rindo. — Ele é ótimo pra maconha e
péssimo pra bebida. Tomou três cervejas e apagou.
— Tyler, você está sentindo alguma coisa? — perguntei preocupada,
tentando abrir o olho dele.
— Não... — disse Tyler em um suspiro. — Eu morri.
— COLIN, TYLER MORREU! — gritou Drake por cima do ombro e
me ergui na ponta do pé, tentando ver Colin entre a multidão.
— JÁ ESTAVA NA HORA! — gritou Colin de volta e consegui vê-lo
vindo até nós.
Também estava sem camiseta, exibindo seus músculos. Colin vestia
apenas uma calça jeans, e seu cabelo castanho estava levemente bagunçado,
de um jeito charmoso.
Era incrível como as pessoas abriam espaço para ele passar, como se
fosse um rei carismático e amado.
À medida que ele foi chegando mais perto, consegui ver que o louco
estava segurando um aspirador de pó. Quando os nossos olhos se
encontraram, ele abriu um sorriso.
— Não lembro de tê-la convidado — Colin provocou, segurando o seu
aspirador.
— Não lembro de ter pedido sua permissão — devolvi.
— Mas a festa é minha. — Deu de ombros de um jeito relaxado, doido
para me ver perder a paciência.
— Se está incomodado, pode se retirar. — Pisquei em provocação.
Colin sorriu com o atrevimento e resolveu finalmente analisar Tyler,
jogado no ombro do amigo.
— Ele melhorou? — perguntou Colin a Drake.
— Não — negou Drake. — Ele morreu.
— Triste. — Suspirou Sienna bêbada, olhando apenada para Tyler.
— Pra quê o aspirador de pó? — perguntou Scar curiosa.
— Eu não faço a menor ideia. Um cara colocou isso no meu ombro e
depois sumiu. — Colin deu de ombros.
Quem levava um aspirador de pó a uma festa?
— Interessante — ironizou Scar, rindo.
— Espero que esteja planejando limpar tudo depois que eles forem
embora — avisei, apontando para a bagunça.
— Pode ficar tranquila, meu aspirador é muito potente — garantiu,
erguendo o cano do aspirador, porém o gesto me pareceu obsceno, como
tudo o que saía da boca dele.
— Certo. — Engoli em seco e temi que estivesse vermelha, por isso
mudei logo de assunto. — Você falou com alguma autoridade? Pra colocar
esse palco aqui?
— Claro — Colin afirmou e fiquei mais tranquila.
— Qual? — quis saber.
— Eu. — Colin abriu os braços e sorriu.
— Você sabe que isso pode dar problema, não é? — lembrei. —
Ninguém vai conseguir dormir com esse show.
— Não sei se você lembra, mas moramos em uma rua de universitários
— comentou despreocupado. — Está todo mundo aqui.
— E se alguém quiser dormir? — questionou Sienna curiosa, chupando
o canudo do seu drink.
— Será acordada — Drake respondeu rindo e ajeitando melhor Tyler
sobre seu ombro.
Sienna ergueu o ombro tranquila, só que logo em seguida ela pulou
animada, quando começou a tocar um rap pesado.
— Ah! Vamos dançar! — Ela puxou Scar e eu na direção do palco.
Drake e Colin nos seguiram, indo para o nosso lado, nos protegendo de
sermos esmagadas pela multidão. Várias pessoas os cumprimentavam com
tapinhas no ombro, algumas olhavam com estranheza para Tyler, porém não
questionavam nada. Eles eram tão estimados que poderiam até estar
carregando um corpo morto por aí e ninguém questionaria.
A minha altura não me permitia enxergar para onde Sienna estava nos
levando. Só sabia que era possível sentir o chão tremer de tanta gente
pulando ao som da música.
Senti uma mão quente tocando as minhas costas e vi, por cima do
ombro, que era Colin bem atrás de mim. Ele colocou o corpo ao lado do
meu, me poupando de ser empurrada sem querer.
O meu coração acelerou à medida que aquela mão me apertava mais.
Cada vez mais quente e pesada. Ele me puxou para mais perto, quase em
um abraço. E eu fui. Me esquecendo que ele estava sem camiseta.
Coloquei as mãos no abdômen nu de Colin. Era tão definido. Quando
ergui os olhos, o encontrei me olhando de volta com seu típico sorriso
sacana. Tirei as mãos imediatamente e tentei me distanciar, mas o cretino
não deixou.
Me manteve colada ao seu corpo até chegarmos onde Sienna queria,
perto do palco. Estava cheio, entretanto mesmo com as pessoas se
esbarrando, Sienna achou um jeito de soltar o seu lado dançarina. Ela
levantou o drink, rebolando e derramando a metade nas pessoas ao redor.
As luzes de led iluminavam praticamente toda a nossa rua e as pessoas
espalhadas por todo canto, fazia um efeito bonito. Olhei para cima,
encantada com as luzes e encontrei Colin ainda atrás de mim. Ele não tinha
tirado a mão das minhas costas.
Travei no lugar assim que nossos olhos se encontraram, e ele passou o
braço pela minha cintura, chegando até a minha barriga, sem tirar os olhos
de mim. Me puxou para o seu corpo e senti seu peito firme e quente nas
minhas costas.
— Você... — murmurei, engolindo em seco, nervosa.
Em um movimento involuntário toquei com a ponta dos dedos o seu
braço que me prendia. Tomei cuidado para que a palma da minha mão não
encostasse na sua pele, não queria que ele sentisse as minhas cicatrizes.
— Você... você está me segurando — avisei debilmente, como se ele
estivesse fazendo aquilo sem perceber.
O canto da sua boca se ergueu em um sorriso.
— Eu sei — respondeu, acariciando a minha cintura por cima da blusa.
Respirei fundo sem saber o que dizer. Senti meu rosto esquentar e
desviei o olhar, virando de frente para as meninas.
Senti os olhares de algumas pessoas em nós, umas curiosas, outras
estranhando. Parecíamos um casal, visto de longe.
— Vão pensar que temos alguma coisa — murmurei para ele.
— Hum? — Colin inclinou a cabeça na minha direção e sua respiração
soprou no meu rosto.
Você é muito cheiroso.
— Vão pensar que temos alguma coisa — repeti próxima do seu
ouvido.
— Por quê? — ele ironizou, podia sentir o seu sorriso.
— Por causa disso. — Apontei para o seu braço, e ele me apertou mais
ainda, quase como se temendo que eu saísse dali do nada.
— O que tem? Isso é algo que vizinhos fazem — provocou e ergui a
sobrancelha para ele. — Veja Drake carregando Tyler, é algo normal.
— Você não está me carregando — lembrei-o.
— Se é isso que você quer. — Ele deu de ombros me virando de frente,
pronto para me levantar, contudo desviei dele de última hora, dando um
passo para trás.
— Não se atreva. — Apontei o dedo para o louco, fazendo uma cara
séria, mesmo que estivesse com vontade de sorrir.
— Foi você que pediu. — Colin ergueu as mãos, segurando o seu
aspirador de pó no ombro.
As luzes de led ficaram brancas e começaram a piscar rapidamente,
fazendo os movimentos de todo mundo ali ficarem mais lentos, como se
estivessem em câmera lenta. Colin se aproveitou daquilo para se aproximar
em um passo.
Estávamos próximos demais. Uma pessoa dançando me empurrou sem
querer e Colin me pegou pelo braço de novo, me equilibrando no lugar.
— Acho interessante... — disse em um sorriso charmoso. — Como
você sempre arranja um jeito de se jogar em mim.
Revirei os olhos.
— Eu já fui bastante assediado na vida, mas você ultrapassa todos os
limites às vezes — ele provocou e ergui a sobrancelha cinicamente.
— Como você é iludido. — Balancei a cabeça em negação.
Ele ia falar mais alguma coisa, no entanto consegui enxergar, por cima
do seu ombro, uma chama, como se algo estivesse pegando fogo do outro
lado da rua.
— O que é aquilo? — Apontei para o local.
Colin ergueu a cabeça para ver melhor.
— Uma fogueira. Isso faz parte de algum ritual seu? — perguntou ele
para mim.
— Ritual meu? — Apontei para o meu próprio peito, confusa.
— Sim, depois daquela vela, eu espero de tudo — justificou e nem me
dignei a responder aquilo.
— Vou ver o que é isso — informou, me soltando. — Fica aqui —
mandou antes de se distanciar.
Era incrível como os homens nunca aprendiam. Quando eles
mandavam uma mulher fazer alguma coisa, era lógico que ela faria
justamente o contrário.
Me virei para as meninas, só que elas estavam distraídas dançando com
Drake e Tyler, que milagrosamente tinha recuperado o movimento das
pernas.
Segui Colin, passando pela multidão até chegar na fogueira. Se tratava
de um grupo que parecia ter um estilo meio hippie. Eles eram novos, podia
chutar que eram calouros.
— Ei, pessoal — Colin os cumprimentou. — O que vocês estão
fazendo aí?
— Uma revolução, cara... — respondeu um deles, de um jeito
relaxado. — Vamos implantar a luz na nossa geração, prezamos pela paz.
— Que ótimo! — Colin sorriu para ele. — Mas podem fazer isso sem a
fogueira?
— Ela é essencial para simbolizar a nossa libertação.
— Certo, certo — Colin disse, sem se importar com a liberdade deles.
— Só não queimem ninguém, ok?
— Pode deixar. — O outro acenou para Colin, feliz por ele ter
entendido a sua revolução.
— Pra quê é o aspirador de pó? — perguntou um deles, curioso.
— Pra aspirar toda a sujeira do mundo. — Colin ergueu o cano do
aspirador e todos que estavam ao redor da fogueira, fizeram um “O” com a
boca, em admiração.
Observei abismada Colin dar meia-volta, como se o problema estivesse
resolvido.
— Você vai deixar essa fogueira aí? — perguntei e ele parou no lugar
em susto.
— Não pedi pra você ficar lá? — Colocou as mãos no quadril.
— E quem te disse que eu iria obedecer? — debochei e consegui ver o
brilho de divertimento nos seus olhos.
— Você não consegue, não é? Ficar um segundo longe de mim.
Dai-me paciência.
— Você vai pedir pra eles apagarem a fogueira?
— Você viu o que ele disse. — Colin sorriu despreocupado. — É uma
revolução pela paz...
— Colin — interrompi entredentes, porém quando o seu sorriso
aumentou, vi que não conseguiria nada com aquilo.
Ele queria me estressar, da maneira mais lenta e maníaca possível. Por
isso respirei fundo e adotei outra tática.
— Colin... — chamei de um jeito manhoso e o jogador de hóquei
estreitou os olhos desconfiado, já alerta para a minha manipulação. — Você
pode, por favor, pedir para eles apagarem isso? É perigoso.
Ele olhou para a fogueira atrás de nós.
— Não seja exagerada.
— Colin — implorei, mostrando minhas covinhas —, por favor.
Ele olhou para mim e respirou fundo, passando a mão no cabelo,
zangado.
— Tá — resmungou e me deu as costas, indo conversar com o pessoal
da fogueira de novo.
Adorava quando ele ficava com raiva. Talvez fosse coisa de inimigo,
gostar de ver o outro bravo. Entretanto, Colin ficava... sexy, até mesmo com
um aspirador de pó pendurado no ombro.
Colin Scott

Malditas covinhas.
Eu deveria ter mais força de vontade. Era só ela falar com jeitinho que
me derretia? Deveria ser o líder da associação dos idiotas.
Segurei meu aspirador de pó sobre o ombro e me aproximei novamente
dos calouros revolucionários. Sorri para eles e apontei o cano do meu
aspirador na direção deles.
— Pessoal, infelizmente vão ter que apagar a fogueira.
— Por quê? — perguntou um deles, decepcionado por não ter o
símbolo do seu protesto aceso.
— Parece que o líder da associação dos moradores não gostou muito
disso — menti.
— Ora, quem é esse idiota? — questionou o calouro.
Um pobre coitado manipulado por uma ruiva de um metro e meio.
— Eu poderia dizer que isso é perigoso — apontei para a fogueira —,
mas a verdade é que tem um gnomo que está enchendo o meu saco.
— Como é? — perguntou o calouro com a testa franzida.
— Só apaguem isso — mandei firme e já iria fazer mais considerações,
quando um par de pernas torneadas desviou minha atenção dos
revolucionários.
— Colin! — A dona das pernas acenou para mim.
Era a mesma garota do refeitório, a que Madison me pediu para
responder.
— Olá. — Sorri para ela.
— Saudades! Você não me respondeu — falou decepcionada enquanto
o calouro tirou a própria camiseta e começou a abanar o fogo, fazendo-o
subir mais ainda.
— Mas o que é isso? — perguntei para o idiota que estava atiçando o
fogo.
— Estou apagando o fogo — esclareceu confuso.
— Você não vai apagar o fogo, abanando-o — informei com toda a
paciência do mundo. — É bom buscar água, uma torneira, sei lá, qualquer
coisa.
— Tá bom — ele saiu zangado.
Me virei para a garota novamente, só que ela sumiu para trás da
fogueira e tirou uns fogos de artifício de dentro de uma sacola.
Que porra era essa?
— O que é isso? — perguntei para ela, e a garota gesticulou com a
mão para eu repetir.
— O QUE É ISSO NA SACOLA? — gritei.
— FOGOS DE ARTIFÍCIO — respondeu um dos revolucionários que
estava a ajudando.
— Cuidado — avisei. — Não joguem isso na fogueira!
Várias cabeças se viraram na minha direção, sem ouvir direito pelo
som alto da música.
— OS FOGOS DE ARTIFÍCIO — gritei para eles e apontei para o
fogo. — NA FOGUEIRA.
Todos eles deram um passo para trás ao mesmo tempo.
— TEM CERTEZA? — perguntou a garota, temerosa.
— ÓBVIO — gritei de volta para os idiotas e eles arregalaram os
olhos, perplexos.
Que gente maluca.
O que eles queriam fazer? Jogar os fogos de artifício na fogueira?
Acenei para eles e já ia me virando quando vi os loucos jogando todos
os fogos na fogueira de uma vez. Corri na direção deles tentando impedir,
contudo já era tarde.
P.O.R.R.A.
MAS QUE PORRA.
— MAS QUE PORRA — xinguei para os jumentos e ouvi algumas
pessoas gritarem.
Todo mundo correu ao mesmo tempo, logo que começou o show de
luzes dos fogos saindo da fogueira. Larguei meu aspirador de pó e gritei que
era tiroteio para todos abaixarem a cabeça.
Tudo bem que os fogos pareciam fracos e a maioria estava saltando
para cima, no entanto algum deles poderia muito bem pegar em alguém.
Uma multidão começou a correr para todos os lados e tinha um milhão
de coisas com que me preocupar ali, mas só pensei em uma: meu gnomo.
Passei pelas pessoas procurando um vestígio de cabelo ruivo, e a cada
segundo que não encontrava ficava mais preocupado. Alguém podia ter
esbarrado nela. Podia tê-la machucado.
Os fogos não paravam, os gritos estavam por todo lado. Todo mundo
correndo, luzes de todas as cores, e nada da minha pequena.
— Maddie! — gritei, começando a sentir meu coração palpitar na
garganta e minhas mãos suarem.
Olhei para cada canto até finalmente achá-la.
Assim que nossos olhos se encontraram, nós dois paramos no lugar.
Ela estava assustada e puta ao mesmo tempo, porém correu na minha
direção mesmo assim. E eu corri na dela.
Não sei se ela ia me bater ou me abraçar, talvez os dois. Não esperei
para saber. Passei meu braço pelas suas pernas e a coloquei em cima do
meu ombro com cuidado.
— Colin! O que você tá fazendo? — perguntou ela, tentando se erguer
no meu ombro.
Não respondi, apenas caminhei o mais rápido possível até a minha
casa. Quando cheguei na varanda vi que o último fogo de artifício atingiu o
telhado da casa das meninas. Que merda do caralho!
O fogo não chegou a se espalhar, logo apagou, só que o telhado já era.
— Meu Deus! E os cachorros? — Madison tentou se virar para
enxergar melhor e esfregou a sua bunda na minha cara no processo.
— Estão na minha casa — tranquilizei, tentando desviar do seu
traseiro. — Dá pra parar de se mexer?
— Se você me colocar no chão — condicionou e não obedeci.
Pelo que podia ver da minha varanda, os fogos tinham acabado e
ninguém se machucou. Suspirei aliviado.
— Bem... — disse, tentando ser otimista. — Até que não teve um
estrago tão grande assim.
Ela ficou um segundo em silêncio.
— Não — comentou Madison, abismada. — Você não acabou de dizer
isso, Colin.
— Ninguém se machucou — assegurei, tentando ver se alguém tinha
se ferido, mas pelo jeito todo mundo só parecia querer voltar para a festa de
novo.
— E a casa? — O gnomo fez questão de apontar.
— Vamos dar um jeito — afirmei tranquilo e podia sentir os seus olhos
se revirando atrás de mim.
Desci da varanda e caminhei um pouco pela calçada, tentando
encontrar o pessoal.
— E quando você pretende me soltar? — resmungou Madison.
— Quando eu achar que você não vai me atacar assim que colocar os
pés no chão.
— Pois pode me manter aqui pelo resto da vida — se acomodou
melhor em mim, quase me abraçando para se segurar.
Era tão pequena que eu só precisava segurar com um braço para
mantê-la no lugar.
— Que merda! — xinguei do nada ao lembrar de uma coisa.
— O que foi? — perguntou ela, preocupada.
— Deixei meu aspirador de pó pra trás.
— Veja pelo lado positivo — falou irônica. — Você tem uma desculpa
pra não limpar a rua.
— Uma ótima desculpa — debochei e parei no lugar quando
finalmente enxerguei Drake.
Ele estava andando ao lado de Scarlett, Sienna, Tyler e Taylor. Assim
que eles nos viram, nossos olhares disseram tudo: “É, estamos fodidos”.
— Colin — chamou Madison.
— Oi, pequena.
— E agora? O que a gente vai fazer? — Suspirou preocupada.
— Não precisa se preocupar — avisei relaxado. — Somos todos
adultos prudentes aqui, vamos assumir a responsabilidade pelo que fizemos.

— Eu acho que a culpa disso tudo é sua. — Apontei para Tyler, logo
que todos se sentaram na sala da nossa casa.
Ele ergueu os olhos assustado.
— Minha? — Colocou a mão no próprio peito, incrédulo.
— Sim — afirmei. — Você conhecia aquele pessoal da maconha,
poderia muito bem ter me avisado que eram loucos. — Coloquei as mãos
no quadril.
— Eu estava morto. — Tyler alegou, caindo no sofá. — Pra falar a
verdade, a culpa disso é do Drake! — Apontou para Drake, que levou um
susto.
— O quê? E o que eu fiz? — perguntou Drake, confuso.
— Me embebedou!
— Você só bebeu três cervejas. — Drake mostrou para ele os seus três
dedos.
— O que foi suficiente, ainda estou querendo vomitar. — Tyler apertou
a barriga e Scarlett saiu de perto dele imediatamente.
— Eu acho que a culpa disso é do Taylor — Drake acusou, olhando
desconfiado para Taylor.
E todos fizeram o mesmo. Taylor estava mesmo com o comportamento
muito suspeito.
— Eu nem estava com vocês! — se defendeu Taylor, indignado.
— E é por isso mesmo. Onde você estava quando deveria cuidar de
tudo? — questionou Drake, cruzando os braços em frente ao peito.
— Não sou babá. — Taylor tirou o corpo fora. — E Colin? A ideia
disso tudo não foi dele?
Olhei em choque para o meu amigo.
— Que feio, Taylor — murmurei em negação para ele. — Que feio!
Querendo sair fora acusando um inocente!
— Um inocente? — Madison virou para mim em deboche.
Aquele gnomo manipulador...
— Agora finalmente chegamos na causadora de toda a confusão aqui.
— Levantei da poltrona e abri os braços, pronto para defender minha tese.
— Madison que começou tudo, foi ela que quis interromper o protesto.
— Que protesto? — questionou Scarlett, curiosa.
— O protesto contra a paz que eles queriam fazer — informei.
— Contra a paz? — Taylor enfatizou em dúvida e ergueu a
sobrancelha.
— Não sei se era contra ou a favor — Dei de ombros. — Porém,
Madison fez questão que eu fosse interromper a revolução deles.
A ruiva cruzou os braços e adotou uma expressão entediada, esperando
mais do meu discurso.
— E eu tenho testemunhas. — Estalei os dedos, chamando a atenção
de todos. — Sienna, Drake, Scarlett e Tyler estão de prova em como
Madison me seguiu mesmo quando eu implorei pra ela me deixar em paz.
Depois disso a mesma ficou enchendo o meu saco até eu ir interromper um
protesto importantíssimo.
— Bem... — Drake pediu desculpas para Madison com o olhar. — Eu
vi você indo atrás dele, bruxinha.
Me virei para Sienna, esperando ouvir o que ela tinha a dizer sobre
aquilo.
— Meu namorado não encontrou o meu clitóris — ela disse e virou o
copo de bebida que estava segurando.
Todos a olhamos em choque com aquela revelação, sem saber o que
dizer.
— Bem... — Cocei a nuca um pouco desconsertado. — Isso é
realmente terrível.
— Isso foi no momento da explosão? — perguntou Taylor, tentando
entender qual a conexão daquele fato com o assunto discutido.
— Não, foi antes — contou Sienna. — E em todos os outros momentos
da minha vida.
É, o que poderíamos falar?
— É lamentável — ajudou Tyler, apiedado e Madison alisou as costas
da amiga em consolo.
— Talvez ele seja escondido demais — ela continuou e acho que nunca
fiquei tão sem palavras em uma conversa como estava naquela ocasião. —
O meu clitóris — ela explicou quando ninguém disse nada.
— Nós entendemos, querida — falou Scarlett.
— Se você quiser que eu procure... — ofereceu Drake, descaradamente
e todos o olhamos em repreensão.
Ele ergueu as mãos em rendição, sabendo que não era uma boa hora
para dar em cima da bailarina.
— E você, Scarlett? — perguntou Taylor, querendo mudar de assunto.
— Qual o seu depoimento?
Scarlett suspirou.
— Eu estava dançando e minutos depois tudo o que vi foi uma
explosão. Todo mundo começou a correr e Tyler disse que estava tendo uma
premonição.
— E estava — confirmou Tyler, convicto.
— Não era o filme que você assistiu na semana passada, não? —
Madison sugeriu.
— Pode ser, ou eu estava tendo uma visão — respondeu.
— Sim — continuou Scarlett. — Depois disso só vi Colin passando
correndo agarrado com a Maddie.
— Opa! — alertei indignado.
— Espera aí! — Madison se levantou revoltada.
— Não estávamos agarrados — eu e a ruiva falamos ao mesmo tempo.
— Eu vou tomar nota disso — garantiu Taylor, anotando tudo no seu
celular. — Alguém tem mais alguma coisa a dizer? — Ele ergueu o olhar
para todos os presentes.
— Eu tenho. — Madison levantou a mãozinha. — Colin estava no
local da explosão, ele foi pra lá querendo resolver tudo e o que aconteceu
logo em seguida? Quase todo mundo morreu.
— “Quase todo mundo morreu” — repeti em deboche. — Não seja
dramática...
— Eu senti a premonição — interrompeu Tyler.
— Pouco me importa — murmurei. — A questão aqui é que
deveríamos todos culpar a Madison.
— Ora e por quê? — A ruiva colocou as mãos no quadril.
— Por que você é a mais fofa aqui, e quando Johnny chegar... —
joguei o suspense no ar e engolimos em seco ao mesmo tempo.
— Ele vai ficar puto — constatou Drake, nervoso.
— Ele pensa que nesse momento estamos estudando, não que
acabamos de botar fogo na casa — falei em um suspiro.
— Acabamos? — repetiu Madison. — Quem quase botou fogo em
tudo aqui foi você.
— Não chegamos nessa conclusão ainda. — Apontei meu dedo para
ela.
— Eu cheguei — disse a pequena.
— Quão grave é a nossa situação? — perguntou Scarlett para mim.
Suspirei e me sentei na poltrona.
— Eu conversei com os bombeiros sobre a casa de vocês — revelei. —
Tenho tudo sob controle, não foi nada muito grave.
Todos suspiraram aliviados, até Sienna ficou mais animada, sentando
direito no sofá para me ouvir.
— O que aconteceu foi que o fogo de artifício explodiu no telhado,
destruindo a metade do teto. Alguns canos também estouraram e por isso
molharam a casa, que infelizmente é feita de uma madeira de péssima
qualidade. — Eles foram murchando à medida que fui falando. — Mas —
Tentei animá-los. — O lado bom disso tudo é que a madeira já estava bem
gasta, então a água apenas terminou de acabar com ela, deixando a casa
inabitada.
Eles me encararam em silêncio.
— Esse é o lado bom? — Madison perguntou murcha.
— Exatamente — confirmei, dando de ombros. — A casa já estava
horrível mesmo, a qualquer momento ela ia cair sobre as suas cabeças.
Então, de certa forma, eu acabei salvando a vida de todo mundo. — Abri os
braços. — Eu sei, podem me agradecer.
Ninguém falou nada.
— Estão muito emocionados, eu entendo. — Dispensei eles com um
aceno.
— Então... — murmurou Sienna, em choque. — Estamos sem casa?
De novo?
— Dentro do mesmo semestre — lembrou Scarlett. — Acho que nosso
destino é ficarmos sem teto.
— Não precisam se desesperar — garanti. — Vocês podem morar aqui
enquanto a casa entra em reforma.
— A casa entra em reforma? — repetiu Madison. — E quem vai pagar
por isso?
— É nesse momento que vocês agradecem a Deus, porque além de
lindo, gostoso e talentoso, ele ainda me fez rico. — Pisquei para elas, que
apenas viraram os olhos.
— E onde a gente vai ficar aqui? — questionou Scarlett, olhando ao
redor da nossa casa.
— Tem cinco quartos, a gente se organiza. — Drake deu de ombros. —
Um fica com o Johnny e a Amber.
— E é aqui que vamos focar a nossa energia — chamei a atenção deles
para o meu plano. — Quando Johnny chegar vai querer matar todos nós.
— Ou só você — alfinetou o gnomo cínico e a ignorei.
— O fato é que sei como vamos sair dessa — continuei. — Usaremos a
loira como escudo, assim que Johnny souber que Amber vai ter que morar
com ele, ficará imediatamente satisfeito.
— Isso até ele lembrar que vai dividir a casa com mais sete pessoas. —
Riu Drake, já prevendo a confusão.
— Ele não é tão terrível assim... — Não terminei de falar, pois o meu
celular começou a tocar.
Era uma videochamada de Johnny. Cada um ali arregalou os olhos e se
agarrou ao assento, assustado.
— Todos fiquem calmos — mandei, atendendo com um sorriso falso
no rosto. — Olá, capitão.
A cara rabugenta de Johnny surgiu na tela, olhando tudo ao redor com
desconfiança. Amber apareceu ao fundo, acenando alegremente para mim.
— Onde você está? — ele perguntou.
— Nem um “boa noite” primeiro? — repreendi de brincadeira, mas ele
apenas revirou os olhos.
— Boa noite — desejou Amber, atrasada.
— Boa noite — devolvi, piscando para ela. — Estou na sala. — Dei de
ombros, mostrando mais um pouco da nossa sala.
— Cadê todo mundo?
Rá! Ele estava crente que estávamos dando uma festa. Era ótimo ver
essa cara de surpresa.
Ok. Estávamos, porém ela já tinha acabado.
— Já foram dormir. Fui o único que fiquei acordado, estava estudando
— menti coçando a nuca, fingindo cansaço.
Todos começaram a acenar positivamente para mim, aprovando minha
atuação. Nem pude agradecer de volta pois Johnny estava olhando para
tudo em volta.
— Pode virar a câmera? Queria ver se vocês não botaram fogo na casa.
— Ele estreitou os olhos e Amber bocejou ao seu lado.
Drake e Taylor começaram a fazer movimentos com a cabeça, dizendo
para negar.
— Botar fogo na casa? — Forcei uma risada. — Você acha que somos
crianças? Está tudo bem aqui — disse, gesticulando com o braço para eles
se abaixarem.
Seria cômico, se já não fosse trágico. As meninas foram para trás do
sofá, se escondendo. Drake e Taylor se jogaram no chão de uma vez e Tyler
olhou em volta, perdido, até resolver se agachar.
Virei a câmera achando que estavam escondidos, entretanto o gnomo
tinha sido lento. Madison ainda estava passando as pernas pelo sofá e
quando olhou o celular na sua direção, parou no lugar.
— Maddie? — chamou Amber, sem acreditar e ela abriu a boca sem
saber o que dizer.
— Oi. — A ruiva acenou debilmente. — Eu... eu...
Balancei a cabeça negativamente para ela.
— Ela veio pedir uma xícara de chá — esclareci, aparecendo na tela.
— Você sabe como Madison é, adora arranjar uma desculpa pra passar um
tempo comigo.
Madison fez uma cara de escárnio.
— Eu só vim falar com os meninos — o gnomo desconversou, vindo
para o meu lado.
— Eles não estavam dormindo? — perguntou Amber, confusa.
Perfeito.
— E estão — continuei a mentira. —, estávamos meditando.
— A essa hora? — Johnny franziu a testa estranhando e Madison
apenas confirmou com um aceno de cabeça, sem conseguir mentir em voz
alta.
— Sim, a concentração é melhor — expliquei.
— Vocês dois... estão sozinhos... — Amber comentou, sem filtro como
sempre.
Eles olharam para o meu peito nu e depois para Madison, que estava
com o cabelo um pouco bagunçado por ter sido carregada em cima do meu
ombro.
— Ah meu Deus, não é isso que vocês estão pensando — ela se
apressou a esclarecer.
Preferi permanecer em silêncio.
— Certo... — Johnny disse desconcertado e Amber deixou o queixo
cair, chocada. — Acho melhor deixar vocês dois sozinhos.
A ruiva cobriu o rosto com as mãos, tampando as bochechas vermelhas
com uma expressão de horror.
— Eu já estava indo pra casa! — ela disse, morta de vergonha.
A casa que está sem teto?
— Ora, vocês não precisam parar só porque a gente ligou —
argumentou Amber, abismada e se virou para o namorado. — Amor, deixa
eles em paz.
— Sim — Bocejei, colocando meu braço em volta dos ombros do
gnomo. — Estamos mortos.
Ela ficou tensa, provavelmente querendo chutar as minhas bolas. E eu
estava fazendo de tudo para não rir da sua cara enfezada.
— É melhor a gente ir — cedeu Johnny. — Boa noite.
— Boa noite pra vocês. — Amber piscou sugestivamente. — Maddie,
Maddie... — zombou ela. — Quem diria, hein?
Madison estava com a cara de quem queria se esconder para sempre.
— Boa noite. — Sorri e desliguei na cara deles.
Gargalhei e o gnomo revoltado me empurrou.
— Ai que ódio! — ela disse.
— Pelo menos, funcionou — Scarlett pontuou se levantando.
— Em que quartos vamos ficar? — perguntou Sienna se
espreguiçando.
— Pode ficar no meu — cedeu Taylor para ela. — Eu sou o único
inofensivo aqui.
Sienna enlaçou o braço no dele depressa, já ocupando a vaga.
— Eu não vou dormir no mesmo quarto que vocês. — Scarlett apontou
para mim, Tyler e Drake.
— Pode ficar com o meu quarto, eu durmo com um dos meninos —
cedeu Tyler.
— Obrigada! — agradeceu ela.
Todos olhamos ao mesmo tempo para a ruiva, esperando ela falar em
que quarto queria ficar, mas Madison estava me encarando e só então a
ficha caiu para mim.
Nós dois.
Morando na mesma casa.
Iríamos nos matar em um dia.
E todos na sala pareciam pensar a mesma coisa, pois o silêncio reinou.
— Infelizmente, eu não posso dividir o meu quarto com ninguém.
Terei que ficar sozinha — informou Scarlett do nada.
— Eu também não, já vou ficar com o Taylor — Sienna puxou Taylor
para a escada.
— E Tyler terá que ficar no meu quarto, já que Colin não está falando
com ele — Drake revelou, também subindo para os quartos.
— Ora, de onde você tirou isso? — perguntei em desespero. — Já
fizemos as pazes! Lógico que ele pode ficar no meu quarto!
— Eu ainda não me sinto preparado pra essa intimidade, Colin —
Tyler me dispensou. — Não vamos dividir a cama logo depois da
reconciliação.
— Assim não sobra espaço — disse Madison, nervosa, entendendo a
mensagem deles. — Não posso dormir com Colin!
A ruiva riu de tão absurda e louca que era a ideia. Eu tive que rir junto,
porque eles só podiam estar de brincadeira, porém a piada acabou quando
todos subiram apressadamente as escadas.
— Boa noite — se despediu Drake.
— Isso só pode ser brincadeira! — Madison correu atrás deles. — Eu
não vou ficar no mesmo quarto que Colin.
— Lamento, querida. — Sienna se virou para jogar um beijo por cima
do ombro.
— Eu não posso ficar com a Madison — avisei, nervoso. — Ela vai
encher o quarto de incenso, pode me matar asfixiado.
— Tadinho — murmurou Scarlett em ironia e eles sumiram da minha
vista.
Madison foi atrás deles apressadamente e a segui.
— Alguém pode trocar de lugar comigo? — tentou Madison.
— Todos estamos muito felizes com as nossas acomodações — Tyler
comentou satisfeito.
— Eu não estou feliz — lembrei-os, entretanto eles bateram as portas
dos seus quartos e nos deixaram sozinhos no corredor. Quase pude ouvir os
risos de cada um. Desgraçados.
Que inferno. Eu não ia dormir com a ruiva, ficaria de pau duro a noite
toda.
Ela suspirou do meu lado e a olhei de canto. Estava cansada e
nitidamente com vergonha. E eu não sabia lidar com o seu lado tímido e
doce, ficava mais suscetível a fazer tudo o que ela quisesse. Mais do que já
era normalmente.
E não queria ficar perto demais de alguém tão perigosa assim.
— Você pode ficar com o quarto — avisei, entrando no meu quarto
para usar o banheiro. — Vou só tomar um banho e depois vou pro sofá da
sala.
— Não precisa...
— Não tem problema — interrompi-a, fechando a porta do banheiro.
Que porra!
Ela ia dormir na minha cama? Deixar seu cheiro no meu quarto? Iria
tê-la andando de pijama pela casa? O que era isso? Tortura?
Definitivamente, o lugar mais seguro para mim era a sala.
Madison Jensen

Os lençóis tinham o cheiro bom de canela dele. Eram macios e limpos,


como tudo no quarto. Tinha muito espaço, acho que era um dos maiores
quartos da casa. A cama era enorme, com certeza cabia nós dois ou até três
pessoas. Ele não precisava dormir na sala...
Balancei a cabeça para afastar aquele pensamento. Não podia ficar com
pena dele, tinha que lembrar que se tratava de Colin Scott, a pessoa mais
insuportável que existia.
Mas o jeito que ele correu para me pegar quando os fogos
explodiram... meu coração bobo e emocionado quase parou, achando que
ele podia estar procurando por mim. O que era tolice, Colin nem gostava de
mim.
E era recíproco. Toda a minha compaixão naquele momento se baseava
exclusivamente em um dever moral, era o quarto dele, eu não podia chegar
e expulsá-lo assim.
Eu não o queria comigo, todavia, dormir no sofá? Nesse frio? Estava
frio para mim, pelo menos. Era confortável?
Que coisa!
Me levantei depressa, antes que mudasse de ideia, e fui até a sala na
ponta do pé. Colin estava acordado assistindo televisão, ele vestia apenas
uma calça moletom cinza, o peito nu. Achei desnecessário, para quê exibir
tantos músculos a essa hora da noite?
Me encostei na parede, sem me aproximar muito.
— Colin... — chamei baixinho, sem saber como falar.
Estava com receio de ele rir da minha preocupação boba. Colin ergueu
o olhar para mim, surpreso por me ver ali.
— O que foi, pequena?
Fiquei olhando para ele sem saber o que dizer. Não queria dar o braço a
torcer e revelar que estava com pena dele, nem podia convidá-lo para subir,
seria estranho.
— O que está assistindo? — perguntei, abraçando o meu próprio corpo
para me aquecer.
— Hóquei — respondeu sem tirar os olhos de mim. — Não está
conseguindo dormir?
— Não... quer dizer, estou — gaguejei e me calei para respirar fundo.
— Tudo certo, eu só queria dizer que você não precisa dormir aqui. —
Apontei para o sofá.
Ele demorou para entender que eu estava sugerindo que ele subisse,
contudo quando processou a informação, um sorriso foi crescendo
lentamente no seu rosto.
— Então, você está preocupada comigo, hein? — provocou de
propósito.
— Não! — me apressei a negar, desconcertada. — Só que não vejo
problema em dividir a cama. — Assim que fechei a boca, me dei conta do
duplo sentido e o sorriso dele ficou maior. — O espaço! Não vejo problema
em dividir o espaço.
Tinha certeza que estava toda vermelha e o babaca estava gostando de
me ver passar vergonha. Meu Deus, de quem tinha sido a ideia de ir até ali?
Minha, claro.
— Enfim, você entendeu. — Virei as costas para ele e subi as escadas
o mais rápido possível.
Burra, burra, burra.
Deitei na cama de novo e me cobri com o lençol dele, morrendo de
frio. Claro que ele ia zombar de mim, era só isso que sabia fazer da vida.
— Desculpa, pequena.
Olhei assustada para trás e o vi entrando no quarto. Colin fechou a
porta e veio deitar ao meu lado na cama.
— E eu aceito o convite, o sofá estava me matando. — Ele fez uma
cara de dor que não acreditei muito.
— Não me importo — menti, virando de costas para ele.
— Por que está toda embrulhada?
— Eu costumo sentir muito frio — revelei.
— Eu sou quente... — garantiu sugestivamente.
— Nunca — afirmei, agarrando mais o meu lençol para jamais ceder
àquela tentação.
— Você que sabe. — Bocejou. — Boa noite.
— Boa noite.
Tentei fechar os olhos e dormir, só que ainda estava incomodada por
ele ter ficado se achando quando fui chamá-lo.
— Eu não estava preocupada com você — soltei. — Só me senti
culpada.
— Sei... — debochou.
— Por mim, você poderia dormir debaixo de uma ponte que eu não me
importaria.
— Olha, se queria tanto dormir comigo, era só ter me falado antes —
provocou o cretino.
— Nem por todo o ouro do mundo, Colin.
— Não precisava ter botado fogo na própria casa pra isso...
— E se você continuar a querer tirar a minha paciência, vou botar fogo
na sua também — ameacei.
— Eu não duvido disso nem por um segundo.
— Que bom. — Puxei mais o meu lençol, pronta para não trocar mais
nenhuma palavra com ele. — Boa noite — desejei de má vontade.
— Eu só peço que você não se atire pra cima de mim, por favor.
— Pelo amor de Deus — murmurei, revirando os olhos.
— Eu sei que pode pensar que agora que vamos dividir o mesmo
quarto tem alguma chance comigo — continuou ele e respirei devagar,
tentando manter a paz dentro de mim. —, mas eu creio que sempre deixei
bem claro que nunca nos envolveremos.
— É cada uma. — Bufei.
— Às vezes fico cansado de toda essa perseguição. — Suspirou Colin
e eu tive que rir.
— Ai, Colin... — Limpei o canto dos olhos. — Tudo que eu quero de
você é distância.
E para provar meu ponto peguei dois travesseiros para formar uma
barreira entre nós. Quando o olhei, fiquei realmente tentada a matá-lo
asfixiado, porém não queria ir para a cadeia antes de conhecer o amor da
minha vida.
Terminei de ajeitar os travesseiros entre nós e voltei a me virar de
costas para ele, tentando esquecer que estávamos na mesma cama.
— Obrigado por isso — ele agradeceu, se referindo à barreira. — Me
sinto mais seguro agora.
— Fico feliz em saber disso — ironizei.
O pior de tudo era que ele estava certo mesmo, a barricada era para sua
proteção. Eu era excessivamente carinhosa e Colin tinha o corpo grande,
musculoso, quente, cheiroso e acolhedor. Eu não podia garantir que não
cederia à tentação e o agarraria no meio da noite, mesmo com todo o ódio
acumulado.
— Tenha uma péssima noite — sussurrei para ele e podia sentir o seu
sorriso mesmo sem vê-lo.
— Tenha uma péssima noite, gnomo.
Sorri comigo mesma e agradeci por ele não poder me ver. Achava
engraçado quando ele me chamava de gnomo, entretanto não podia deixar
que Colin soubesse disso, se não deixaria de usar o apelido.
Também sentia meu coração acelerar assim que ouvia “pequena”. Era
fofo. E fazia com que eu me sentisse especial.
Mesmo que não passasse de uma breve mentira.
Colin Scott

Abri os olhos percebendo que tinha acordado bem cedo. Virei de lado e
vi que meu gnomo já não estava mais ali, mas todo o quarto estava com o
seu cheiro de cereja.
Sorri ao lembrar do jeito que ela ficou irritada na noite anterior, ou
como foi até a sala me chamar, toda acanhada e vermelha. Tinha uma queda
por essa garota quando ficava corada, era linda demais para sanidade de
qualquer um.
O seu lado da cama estava arrumado, e eu notei na noite anterior que
ela dormia encolhidinha e agarrada ao travesseiro. Senti ciúme do objeto,
queria que ela me procurasse assim que sentisse frio, eu resolveria o seu
problema.
Resolveria todos os seus problemas, faria qualquer coisa que me
pedisse se ela me deixasse abraçá-la à noite.
— O som da sua respiração é tranquilo — a voz meiga de Madison
soou atrás de mim e me virei surpreso para ver que a garota estava sentada
na minha janela.
A ruiva ainda estava com o mesmo pijama da noite passada, sentada na
janela aberta, olhando para o céu e segurando uma xícara de chá. Do
mesmo jeito que a encontrava de manhã enquanto espiava pelo binóculo.
Era estranho finalmente ver aquela imagem de perto, a luz do sol
refletia no seu rosto de um jeito que o iluminava todo. Ela tinha o cabelo
preso em um choque bagunçado e alguns cachos desciam suavemente por
seu pescoço.
— Que horas são? — perguntei ao perceber que era cedo demais.
— Cedo. — Deu de ombros. — Eu acho que devo ter acordado você
quando fui fazer meu chá — disse em um tom de desculpas.
— Sem problemas. — Sentei na cama e espreguicei meu corpo.
Pela manhã a luz do sol entrava no meu quarto de um jeito que batia de
frente para a minha cama, então fiquei cego por uns alguns segundos até
caminhar ao seu encontro. Sentei na outra ponta da janela, de frente para a
pequena, e assim que meus olhos se acostumaram com o brilho consegui
ver melhor seu rosto de perto.
Madison estava olhando para mim admirada, e me dei conta de que
estava com o peitoral nu. Ela corou e desviou o olhar para encarar o céu de
novo.
— Fiz chá pra você também — falou desconcertada, tirando um cacho
ruivo da frente do rosto.
— Eu não tomo chá — respondi um pouco hipnotizado pela imagem à
minha frente.
Que porra.
Ela era linda demais. As sardas salpicadas na ponta do nariz, a boca
rosada carnuda, os cachos caindo ao redor do seu rosto, os olhos cor
esmeralda em um tom vivo, vistos pela luz da manhã... era tão perfeita que
me senti em um momento precioso, só por poder olhá-la de perto.
Madison também parecia hipnotizada, porém olhando para sua própria
paisagem no céu. Ela respirou fundo e fechou os olhos, feliz.
— Não é lindo? — perguntou distraída, jogando levemente a cabeça
para trás, deixando-se ser banhada pela luz. — Quase uma obra de arte.
— Tenho que concordar — comentei sem conseguir desviar do seu
rosto.
Ela sorriu discretamente, relaxada, ainda com os olhos fechados.
— O som da sua respiração... — disse, aproximando a xícara de chá da
sua boca. — É tranquilo.
— Tranquilo?
— Sim, e isso quer dizer que você teve um sonho bom — contou com
convicção.
— Não costumo lembrar dos meus sonhos — revelei e ela abriu os
olhos, intrigada.
— Eu sempre lembro dos meus, às vezes anoto. Podem ser cheios de
significados. É bom sonhar.
Quando olho pra você é quase como se eu estivesse dentro de um.
— Não me diga que você passou a noite acordada só me ouvindo
respirar, isso é meio bizarro — provoquei e ela sorriu de um jeito que as
suas covinhas apareceram.
Madison inclinou a cabeça um pouco mais para o lado, a luz do sol
banhou o seu pescoço, e eu quis muito dar um beijo ali ou sentir o seu
cheiro vindo diretamente daquela pele sedosa.
— Como você mesmo sabe — Ela inclinou a xícara na minha direção.
—, eu gosto de ver o sol nascer às vezes.
— É algum tipo de ritual?
— Não, eu só acho o ar da manhã puro. — Ela respirou
profundamente, como se demonstrasse o que dizia. — É limpo, o som dos
pássaros, o clima... a energia nesse horário é limpa, entende?
— Acho que sim.
Eu sentia aquilo, ficar olhando-a se banhar da luz do sol me dava uma
certa paz.
— E é uma visão linda de se apreciar também. — A ruiva deu de
ombros.
— É uma beleza única — me peguei dizendo sem perceber e admirei o
jeito que os lábios dela se entreabriram para ela soprar o chá. — Algo que
eu poderia me acostumar a ver todos os dias.
Madison ergueu o olhar para mim e aquilo, de alguma forma, me
atingiu no meio do peito. Seus olhos estavam mais iluminados, acho que
alegres, e eu não entendi o motivo.
— Você pode... — começou um pouco envergonhada, e suas
bochechas ficaram coradas. — Você pode me acompanhar se quiser, nunca
tive companhia pra fazer isso — falou de uma vez, parecendo tomar
coragem.
Uma sensação estranha fez meu coração apertar. Era uma ânsia de
puxá-la para meu colo e enterrar o rosto naquele cabelo cheio de cachos.
Respirei fundo e cocei a barba por fazer.
— Se eu conseguir acordar no horário...
— Eu acordo você. — Ela piscou para mim, deixando claro que teria
muito prazer em atormentar meu sono.
— Já estou vendo que não terei muitos benefícios nisso — brinquei.
— Eu faço chá pra você — barganhou.
— Não sei se você me escutou, mas não bebo chá. — Ergui a
sobrancelha para ela. — Agora se você quiser me dar outro tipo de chá...
Madison revirou os olhos.
— Tem muitos benefícios pra alma acordar esse horário — insistiu. —
Você vai se sentir mais leve durante o dia, garanto. E não é todos os dias, só
às vezes.
A ruiva me olhou um pouco ansiosa, ela queria companhia para
aqueles momentos.
— Se é realmente tão bom assim, pode me acordar — acabei cedendo
e ela tentou esconder o sorriso atrás da sua xícara.
Nunca tinha me passado pela cabeça que talvez ela se sentisse sozinha
quando fazia essas coisas. Era estranho que quisesse até mesmo minha
companhia, nos odiávamos.
— Você pegou tudo ontem à noite? — perguntei, me lembrando que
entramos na sua casa na noite passada para tirar o essencial das meninas de
lá.
— Ainda faltam algumas coisas.
— Eu pego pra você — ofereci me levantando e não consegui ficar
sem provocá-la. — Já trouxe seus vibradores?
Madison virou para mim mortificada.
— Como você sabe que tenho um vibrador? — questionou com os
olhos arregalados.
— Pode usá-lo como se eu não estivesse aqui, não vou me incomodar.
— Caminhei até o banheiro vendo que ela ia pegar um travesseiro para
jogar em mim. — Sinta-se em casa.
— Seu cretino. — Ela jogou o travesseiro, mas consegui fechar a porta
do banheiro antes.
— Lembre-se que você fica leve depois de ver o sol nascer —
cantarolei pra ela.
— Não tem como ficar muito tempo assim se vou dormir com você.
Claro que eu não podia deixar passar essa escolha de palavras.
— Isso é verdade, se dormisse comigo realmente, sairia assada e
gozada — provoquei e tinha quase certeza que ela estava toda vermelha
naquele momento.
— Você não tem vergonha na cara? — perguntou.
— Olha que engraçado — comentei. — Essa é uma pergunta que
minhas professoras sempre me faziam na escola.
— Eu não vou ficar discutindo pela porta do banheiro — resmungou,
mesmo que fosse exatamente isso que estávamos fazendo.
— É interessante, levando em conta que estou pelado nesse momento.
Baixei minha calça moletom e meu pau saltou com uma puta ereção
matinal. E a causa disso tinha um metro e cinquenta e cinco de altura, e
estava do outro lado da porta tomando chá.
— Não preciso saber dessas coisas — respondeu desconsertada.
— Claro que precisa, somos colegas de quarto agora.
— O fato de termos passado cinco minutos em uma conversa sem
brigar não faz de nós “colegas”.
— Se queria ser mais do que isso era só ter falado, pequena. — Sorri e
entrei no chuveiro.
— Meu Deus, você se acha tanto. — Quase podia senti-la revirando os
olhos.
— Só interpreto suas indiretas. — Deixei a água me molhar e segurei o
meu pau entre os dedos, dando bombeadas certeiras nele.
Estava totalmente grosso e duro. Salivei quando imaginei as pernas da
ruiva em volta da minha cintura, me pressionando.
— Acho incrível a sua capacidade de transformar qualquer conversa
em algo sujo — ela continuou reclamando.
Isso, continua falando, minha gostosa.
— É um talento meu — murmurei, tentando não gemer.
Senti minhas bolas pesarem e o líquido do pré gozo já estava se
formando na cabeça do meu pau. Imaginei que socava e saía da sua boceta
apertada e meladinha, enquanto minha pequena arranhava minhas costas.
Deslizando pelo meu pau, o deixando alargá-la toda.
— Ah — falou como se tivesse acabado de lembrar de algo. — Tenha
cuidado com as minhas telas e o meu telescópio.
— Pode deixar — garanti ofegante, batendo punheta em um ritmo mais
rápido. — E as suas calcinhas? Já pegou?
Sorri, sabendo que ela ficaria enfezada.
— Eu não vou nem responder isso. — Suspirou resmungando. —
Nunca deixaria você pegar nas minhas calcinhas.
Imaginei aquela voz gostosa dela sussurrando baixinho no meu ouvido,
me pedindo para fazê-la gozar. Mordi o lábio inferior para segurar um
gemido e acelerei a punheta, tendo a imagem viva dos seus seios
balançando, roçando os bicos endurecidos no meu peito.
— Já disse... — provoquei jogando a cabeça para trás, deixando a água
molhar meu rosto e peitoral, escorrendo até meu pau. — Nunca é uma
palavra muito forte.
— Têm coisas na vida que temos certeza, como: amanhã o sol vai
nascer...
— “Eu nunca darei pra você”? — sugeri em rima. — Está vendo?
Deveria mesmo dar pra mim, faço até poesia.
Sorri e passei o polegar na cabeça do meu pau, fazendo movimentos
circulares para depois acelerar mais. Dessa vez não resisti, soltei um
gemido rouco preso no fundo da garganta.
Lambi meu lábio inferior molhado e me imaginei chupando aqueles
peitos deliciosos enquanto comia a bocetinha da ruiva. Tinha quase certeza
que se metesse nela iria ficar me melando, sufocando meu pau...
Isso foi o suficiente para sentir minha porra chegando a qualquer
momento.
— Colin? Está bem? — perguntou ela preocupada, e a imaginei
gemendo meu nome baixinho.
— Melhor impossível — ironizei, sem conseguir deixar de me divertir
com a inocência dela.
Madison ficou um instante em silêncio.
— Desculpa — pediu envergonhada. — Eu vou sair do quarto, você
deve estar em um momento íntimo.
— Você não faz ideia do quanto — provoquei ofegante e o orgasmo
veio.
A porra saiu espirrando para todo lado, e senti o alívio gostoso para
caralho de gozar logo pela manhã. Renovado, era como tomar um bom café
da manhã. Para ser melhor mesmo, só se eu gozasse dentro dela.
— Ah meu Deus — ela sussurrou alto demais ao se dar conta do que
eu estava fazendo. — Você... eu... — gaguejou.
Passei o sabonete e terminei de tomar banho rapidamente, pois queria
pegar sua cara em choque. Enrolei a toalha na cintura e abri a porta do
banheiro bagunçando meu cabelo, tirando o excesso de água.
— Sim? — Sorri ao vê-la paralisada no meio do quarto, com a boca
aberta e segurando sua xícara de chá. — Se quiser me oferecer aquele chá
agora, eu aceito — flertei descaradamente.
Ela fechou a cara e jogou o chá no meu peito, mas o líquido nem
estava mais quente.
— Seu filho da mãe! — Virou para sair do quarto, toda vermelha. —
Eu não vou dividir o quarto com você!
— É uma necessidade humana — justifiquei de maneira inocente,
seguindo-a. — Você também precisa disso.
— Não preciso, não — Ela desceu as escadas, zangada e eu a segui só
de toalha.
— Veja, alguma hora você também vai ter que gozar — me defendi,
ela entrou na cozinha e eu fui atrás. — Você goza de um lado e eu do outro,
podemos até marcar os horários pra ficar algo mais organizado —
aconselhei, porém não percebi que Sienna e Tyler estavam lá naquele
momento.
Sienna estava cozinhando o nosso café da manhã e parou com a
frigideira na mão ao ouvir o que eu tinha falado. Tyler estava levando sua
maconha à boca, entretanto também paralisou no lugar ao me escutar.
— Isso não vai dar certo — avisou Madison para eles. — Eu não posso
ficar no mesmo quarto que ele.
— O que ele fez, querida? — perguntou Sienna, deixando a frigideira
de lado.
— Gozei — respondi, dando de ombros. — Agora sou proibido até
disso nessa casa?
— É — Tyler concordou comigo tragando a sua maconha. —, proibir a
gente até de gozar é foda.
— Mas não quando eu estiver dentro do quarto! — avisou Madison,
puta.
— Meu Deus, foi na sua frente? — Sienna se virou para a amiga,
horrorizada.
— Não — Madison se apressou a explicar. — Ele estava no banheiro.
— E em que lugar você quer que eu me masturbe agora? — perguntei
colocando as mãos no quadril, só que a toalha quase caiu.
Peguei-a antes que mostrasse meu pau.
— A gente estava conversando! — informou Madison, concentrada na
trilha de poucos pelos que tinha no meu abdômen.
— Vocês estavam conversando enquanto se masturbavam no banheiro?
— perguntou Tyler, confuso.
— O quê? Não! — negou Madison, contudo estreitei o olhar para
Tyler, desconfiado.
— E se for? O que você tem a ver com isso? — Me virei para ele,
ciumento e Tyler ergueu as mãos.
— Nada — disse temeroso. — Só estava curioso.
— Espero que esteja lembrado da nossa conversa de ontem. —
Apontei o dedo para ele em tom de ameaça.
— Jamais esquecerei! — garantiu Tyler, engolindo em seco e relaxei
um pouco.
Não queria ser cuzão, mas era foda. Acabava me lembrando que ele
pegou a minha pequena e isso me atormentaria para sempre, inferno.
— Que conversa? — Madison se intrometeu, curiosa.
— Sobre áreas proibidas — respondi.
— Áreas proibidas? — Sienna alternou o olhar entre nós, um pouco
perdida.
Eu ia inventar alguma coisa, porém uma voz, que conhecia bem,
assustou todo mundo na cozinha.
— COLINNNNNNNN!
Cada um de nós estremeceu e adotou uma cara diferente de espanto.
Estávamos fodidos. Ou só eu, levando em conta que nessas horas Johnny só
lembrava do meu nome.
— SEU FILHO DE UMA...
— A coitada da minha mãe não tem nada a ver com isso — lembrei,
me virando para Johnny, que estava puto da vida atrás de mim. — Você
chegou cedo! — Sorri para ele.
— EU NÃO POSSO SAIR UM DIA QUE VOCÊS BOTAM FOGO
NA CASA! — Johnny avançou para cima de mim, no entanto fui rápido e
rodeei a bancada da cozinha, segurando minha toalha.
— Que história é essa? — perguntei, me fazendo de desentendido. —
A casa está impecável, veja. — Apontei para nossa própria casa.
— E a casa das meninas, seu merda? — Johnny rodeou a bancada,
pronto para me matar, e eu corri para a sala, enquanto as meninas e Tyler
tentavam se meter entre nós.
— Você não pode querer que eu dê conta de todas as casas da
vizinhança — me justifiquei.
— VOCÊ DEU UMA FESTA! — berrou Johnny.
— Foi uma pequena reunião — corrigi, indo para a área da piscina.
— Foi um acidente, Johnny — Sienna tentou ajudar, indo atrás de nós.
— Não precisamos de violência — aconselhou Madison.
— Onde é que deixei meu celular? — Tyler procurou o celular pela
sala, provavelmente querendo gravar tudo.
— Como é que você destruiu a casa? — Johnny veio para cima de mim
e tentei fugir, mas ele agarrou minha toalha, e acabou puxando-a com força,
me deixando nu.
Cobri meu pau com as mãos, só que era tarde, todo mundo já tinha
visto meu material. Madison e Sienna estavam chocadas, de queixos caídos,
e Tyler me encarou abismado.
— Cara, você tem um pauzão — falou Tyler.
— Obrigado. Eu acho — disse sem saber se deveria agradecer ou não.
— Eu vou matar você — ameaçou Johnny com uma voz fatal e
comecei a rodear a piscina, segurando o meu pau.
— Não quer esperar ao menos eu me vestir? — provoquei, mas pelo
olhar dele, era um péssimo momento para piadas. — Pense nos meus filhos
— tentei apelar para o seu lado sensível.
— Que filhos? — perguntou Madison, assustada.
— Os que eu ainda terei — avisei fugindo.
— O que é isso? — Drake gritou de algum lugar e olhei para cima,
vendo que o fofoqueiro estava em uma das janelas do segundo andar,
olhando tudo.
— Johnny chegou e quer matar Colin — informou Sienna.
— E por que ele está nu? — Drake questionou.
— Parece que ele e Maddie estavam juntos no banheiro antes — Tyler
contou e Madison ficou vermelha como uma pimenta.
— Isso é mentira! — disse a ruiva, revoltada.
— Você vai pagar pela reforma! — Johnny avisou, possesso.
— Eu vou pagar — garanti, escapando dele. — Os cachorros estão
bem! Está todo mundo bem! Só maravilha.
— Só maravilha! — debochou Johnny sem paciência.
Entrei na sala de novo e Johnny veio logo atrás, achei que ele ia
conseguir me alcançar, porém meu gnomo entrou no meio de nós dois.
Era engraçado vê-la tão pequena entre nós dois tentando me defender,
sendo que era a pessoa que mais queria me matar minutos antes.
— Pense no lado positivo! — Madison ficou na frente do capitão, e ele
parou para ouvi-la. — Amber vai morar aqui!
A expressão de Johnny mudou imediatamente e suspirei aliviado, pois
já estava ficando cansado de correr. O louco que me perseguia colocou as
mãos no quadril e pensou um pouco sobre aquilo.
Resolvi ajudar.
— Vocês serão obrigados a morarem juntos — contribuí, falando
exatamente o que ele queria ouvir.
— Humm — resmungou Johnny, mais calmo.
Peguei minha toalha e enrolei na minha cintura sem sair da mira de
Johnny.
— As meninas vão ficar aqui e estão todos muito felizes — avisei.
— Eu não estou feliz — lembrou Madison.
— Nem eu — Dei de ombros. — No entanto, é o que restou pra nós.
— Como assim? — Johnny olhou para mim e Madison com interesse.
— Estamos no mesmo quarto — avisei como se isso explicasse tudo,
esperando que pelo menos ao ver minha infelicidade ele ficasse um pouco
satisfeito.
E foi o que aconteceu, um sorriso diabólico cresceu no rosto do
cretino.
— Então, você vai ter que dormir com a Maddie — Johnny disse
contente.
— Sim, veja. — Suspirei para ele. — Não tem penitência pior.
— É recíproco, acredite — avisou Madison.
— Bem... — Johnny bateu as mãos, muito bem resolvido com a vida.
— Parece que tudo se ajeitou, não é mesmo?
Não para mim.
— Exatamente — concordei falsamente.
— Ótimo. — Johnny veio até mim e deu dois tapinhas fortes demais
nas minhas costas. — Você tem tudo sob controle, Colin.
— É o que eu sempre digo. — Pisquei para nosso capitão.
— Espero que essa reforma demore o máximo de tempo possível —
desejou o Johnny, alegre.
— Ora, não vamos ser pessimistas também — reclamei, desejando que
a obra terminasse naquele minuto.
— E espero que nenhum de vocês esteja de ressaca — avisou
ameaçadoramente, olhando as horas no celular. — Temos jogo daqui a
algumas horas.
— Em recompensa, garanto todos os gols — prometi e Johnny
suspirou aliviado.
Ele sabia que eu podia ser irresponsável, cínico, cara de pau nas horas
vagas, festeiro, cafajeste e safado, mas no hóquei... eu me garantia.
Madison Jensen

— Depressa — cantarolou Amber provocativamente, nos lembrando


que estávamos atrasadas.
A loira andava na frente, nos guiando em uma corrente pelas fileiras
lotadas do estádio de hóquei da universidade. Eram tantos estudantes que
ficava difícil até caminhar entre os assentos.
Os jogos de hóquei em casa eram sagrados na Brown, todo mundo era
fã do esporte ali, deveria ser um dos requisitos para a admissão na
universidade. A aclamação dos meninos não era à toa.
— Não vamos achar lugar — avisou Sienna.
— Não estou vendo nenhuma cadeira vaga — concordei olhando ao
redor, se quiséssemos sentar teria que ser nas pernas de alguém.
— Relaxem. — Sorriu Amber e continuou a nos guiar justamente para
onde ficavam os melhores lugares, o pessoal fazia fila por aqueles assentos,
tínhamos que ter chegado antes do estádio abrir para sentar ali.
Olhei para o horário no celular um pouco apreensiva, estava bem perto
de começar a “recepção”, e se acontecesse enquanto ainda estivéssemos de
pé ficaríamos presas ali.
Era uma tradição dos torcedores, geralmente todas as luzes do estádio
se apagavam e eles chamavam os jogadores de hóquei para o gelo.
— Não é melhor a gente procurar um lugar mais pra cima? —
perguntou Scar olhando para o seu relógio de pulso, parecendo ter a mesma
preocupação que eu.
— Aqui! — Amber andou passando entre as pernas dos torcedores
sentados até chegar à quatro caras acomodados nos melhores lugares. —
Chegamos! — ela gritou para eles e os garotos estreitaram os olhos para
nós.
Assim que nos reconheceram, eles sorriram e se levantaram dos
assentos, cedendo-os como se estivessem sentados ali apenas para guardá-
los.
— OBRIGADA — Amber agradeceu a eles e acenou alegremente em
despedida.
Sentamos depressa antes que alguém pegasse os lugares, de onde
estávamos eu conseguia ver claramente o rinque de patinação. Sorri
animada para ver o jogo dali.
— Agradeça ao Johnny por isso. — Me virei para Amber, sabendo que
aquilo era um privilégio por ela ser namorada do capitão.
— Não só ele — ela respondeu. — Os meninos fazem questão de
acenarem pra gente daqui.
— Ow! — Sienna se derreteu com a consideração deles. — Eles são
uns fofos quando querem.
— É por isso que vão ganhar hoje — decidiu Scar, competitiva.
E eu também. Hóquei era um jogo violento e cheio de velocidade, mas
aprendi a amar. Torcer pelos nossos jogadores se tornou minha religião.
— Obrigado por me esperarem! — Tyler ironizou atrás de nós,
sentando em um assento bem atrás de Scar.
— Também recebeu tratamento privilegiado? — perguntou Scar, vendo
que ele também tinha conseguido um lugar.
— Sempre — respondeu, colocando um boné na cabeça.
— Como amiga do capitão, também tive privilégios — disse uma voz
que eu reconheci na hora.
Me virei para ver Nelly e Benny sentando ao lado de Tyler. Nelly era
amiga da Amber, elas faziam o mesmo curso juntas. A chamávamos de
Coca-Cola por ela ser muito acelerada.
— Você tem mais privilégios do que eu. — Amber jogou um beijo para
ela.
Nelly cumprimentou a todas nós e Benny apenas deu um aceno
distante, meio tímido. Ele também estudava com Amber e Nelly, era ruivo,
magro, usava óculos e eu desconfiava que ele já teve uma queda pela
Amber.
— Bem, se preparem pro barulho. — Amber abriu a sua bolsa e nos
mostrou a sua buzina à ar.
Cocei imediatamente meu ouvido.
— Ah, merda! — reclamou Tyler, sabendo que iria ficar surdo.
— Oh, Deus — suspirou Sienna, tampando involuntariamente as suas
orelhas.
— Você pode pelo menos gritar mais baixo hoje? — pediu Nelly.
— Claro. — Amber sorriu diabolicamente.
Descansei minha cabeça no ombro da Scar, porém bem nesse momento
todas as luzes se apagaram, deixando o estádio lotado totalmente escuro.
Todos os torcedores começaram a gritar loucamente e peguei a mão da Scar
ao meu lado.
Adorava sentir aquela vibração.
A maioria das pessoas ficaram em pé enquanto outras subiram em cima
dos seus assentos para conseguirem ver melhor o rinque de patinação, que
nesse momento estava na completa escuridão.
Eu e Amber subimos em cima das nossas cadeiras e ficamos esperando
os gritos se acalmarem, até que se fez um silêncio total.
Um silêncio de respeito.
Não era possível enxergar nada naquele escuro, mas podíamos ouvir
cada torcedor prendendo a respiração em ansiedade. Alguém em algum
lugar começou a bater o pé ritmadamente no chão do estádio, e o silêncio
era tanto que o som ecoou por todo o ambiente.
E isso foi suficiente para todos nós seguirmos o movimento.
Batemos o pé e as mãos em conjunto, fazendo um único som.
Começamos de maneira lenta até o barulho ficar tão alto ao ponto de sentir
a estrutura vibrar sobre os pés.
Estávamos em uma sintonia perfeita, chamando os jogadores para o
gelo.
— Vem! — alguém gritou, puxando o coro e o seguimos.
— VEM!
O telão do estádio acendeu com o número cinco. E era possível sentir a
ansiedade da multidão, passamos a acelerar o ritmo das batidas e
acompanhar a contagem regressiva do telão, o único brilho no escuro.
— VEM!
Quatro.
— VEMM!
Três.
— VEMMM!
Dois.
— VEMMMM!
Todos os torcedores prenderam a respiração e paralisaram no lugar.
Um.
Uma luz se acendeu rapidamente no rinque e os jogadores de hóquei
entraram correndo pelo gelo. O efeito que tinha era de estar vendo
relâmpagos voando sobre o gelo, pois as luzes na pista apagavam e
acendiam rapidamente.
A multidão se agitou e todo mundo começou a gritar e pular
loucamente. Pulei em cima do meu assento e me segurei em Amber para
não cair junto com ela.
A agitação era tanta que senti a estrutura do estádio vibrar e alguém
podia facilmente ficar surdo ali, algumas pessoas tiraram as camisas do
corpo para girá-las no ar e Amber apertou a sua buzina, só piorando a
confusão.
Scarlett pegou minha mão quando o som da buzina vibrou por todo o
estádio e várias pessoas começaram a usar as suas também. De repente as
luzes do rinque pararam de piscar e finalmente foi possível ver todos os
jogadores deslizando no gelo.
Os gritos aumentaram ainda mais assim que os meninos acenaram para
a multidão, e um único nome se sobressaiu em meio aos berros
descontrolados dos universitários.
Não era novidade para ninguém.
Ele era o jogador mais carismático.
O mais exibido.
E infelizmente, o mais aclamado ali.
Colin Scott.
Colin era de longe o jogador que chamava mais atenção, ele patinava
ao redor do rinque apontando o seu taco para a multidão, saudando todos
que gritavam loucamente por ele com um sorriso de derreter calcinhas.
Era impossível não ficar admirada com a maneira com que ele
conseguia encantar todo mundo assim, era um carisma quase magnético. Eu
mesma sempre tinha que me segurar para não gritar o seu nome junto com o
coro, meu papel ali era fingir estar sempre torcendo contra ele.
Era o que uma boa inimiga deveria fazer.
Se ele soubesse que na verdade eu assistia todos os jogos seguindo os
seus passos, torcendo para ele fazer gols, e com o coração apertado quando
algum jogador o machucava, me zoaria para sempre.
Colin já era convencido o suficiente sem a minha ajuda.
— Ele adora isso — gritei no ouvido da Scar, como eu ainda estava em
cima do assento, conseguimos ficar da mesma altura.
— Ele ama. — Scar sorriu, achando graça da aclamação que Colin
recebia.
Minha amiga tatuada me abraçou pela minha cintura com carinho, e eu
como não dispensava abraços, aproveitei para agarrá-la também.
— Tomara que não seja muito violento hoje — gritei no ouvido dela, e
Scar me olhou de um jeito que parecia achar fofo o que falei.
— Não se preocupe, meu bem. Ele não vai se machucar.
— Não estou preocupada com Colin — menti, constrangida por ela ter
percebido que minha atenção estava nele. — Só não gosto dessas partes do
jogo.
— Uhum — murmurou Scar divertida.
Abracei-a mais apertado e dei um beijo quentinho no seu rosto. Não
falei mais nada, pois ela poderia pensar que eu tinha algum tipo de
sentimento secreto por Colin.
O que não era verdade.
Voltei meu olhar para o rinque e vi que Colin já não estava mais
espalhando acenos para os torcedores, todos os jogadores da Brown
estavam reunidos em um canto, discutindo sobre o jogo.
Colin se encostou de maneira relaxada na estrutura, escutando com
cara de tédio o que Johnny dizia. Em algum momento ele desviou a atenção
do seu capitão e olhou diretamente para mim, me encontrando com muita
facilidade no estádio lotado.
Seu olhar era do tipo satisfeito e convencido por me pegar concentrada
apenas nele. Revirei os olhos, mas não resisti a sorrir diabolicamente em
sua direção e mover os lábios de um jeito que ele entendesse. “Espero que
tenha um péssimo jogo”.
Colin sorriu para mim e moveu os lábios de um jeito provocativo.
“Nem se você me desse aquele chá”.
Balancei a cabeça em repreensão para ele e tentei esconder meu
sorriso. Johnny o cutucou com o seu taco de hóquei, fazendo Colin voltar
sua atenção para a conversa deles.
Outro segredo que eu guardava em relação a Colin Scott: podia odiar
abertamente meu inimigo, porém torcia por ele em silêncio.

Colin Scott

O jogo estava zerado.


Johnny geralmente precisava de três jogadores o marcando direito ou
ele saía correndo como foguete. Como ele era muito marcado, minha
função ali, como atacante, costumava ser tentar fazer os pontos eu mesmo
ou passar o disco para ele.
Resumindo, toda a movimentação do jogo dependia de mim.
O problema daquela noite? Harvard só colocou a porra de um marcador
para Johnny. O cara parecia um armário e não deixava nada chegar no nosso
capitão, Johnny não conseguia nem ver a cor do disco.
Resolvendo assim, jogar toda a sua marcação para cima de mim, e eu
estava tão preso quanto Johnny. O lado bom era que os nossos defensores
também não deixavam os atacantes deles passarem.
Fazíamos pontos? Não, contudo eles também estavam na merda. Placar
zerado.
— Eles estão putos — murmurou Johnny do meu lado, bebendo na sua
garrafinha de água.
— Alguém aqui não está? — Passei a mão no meu cabelo,
bagunçando-o.
Todo mundo estava irritado, a cada um minuto rolava briga.
— Acabou o tempo — gritou nosso treinador atrás de nós, apontando
para o rinque de um jeito que indicava bem o quanto ele estava com raiva.
Deslizei para minha posição e a porra da minha marcação já se
preparou para seguir todos os meus passos. Tinha que dar o crédito a eles,
os caras eram bons no que faziam.
Esperei o juiz apitar e estralei o pescoço, pronto para queimar a
adrenalina dentro de mim. Ergui os olhos para a multidão que nos assistia e
foquei em uma certa ruiva que sempre conseguia roubar minha atenção nos
jogos.
Eu sabia onde ela se sentava em toda partida, costumava dar uma
olhada nela vez ou outra. Era quase um hábito. E sabe o mais engraçado?
Ela sempre estava olhando para mim de volta.
Nossos olhares se cruzaram e eu soube que ela estava preocupada,
porém a pequena ergueu um canto da boca, em um meio sorriso. Não era
um sorriso completo, todavia era o suficiente para aparecer uma covinha.
O suficiente para ela me dizer que estava tudo bem eu não conseguir
fazer o meu melhor hoje.
O suficiente para eu sentir o meu coração errar uma batida. Que merda,
ela precisava ser tão linda?
Sorri de volta para ela ficar tranquila, e o som do apito soou pelo
estádio. O discou deslizou no gelo sob o controle do atacante do outro time,
desviei dos dois caras que estavam me marcando, mas um deles me deu
uma ombrada que quase me desequilibrou. Me estabilizei e corri da
marcação, indo atrás do atacante de Harvard.
Prendi a respiração quando o filho da puta ia chegando no nosso
goleiro, só que Drake não deixou. Ele se chocou contra o outro jogador,
arremessando-o para longe. A nossa galera da Brown gritou em
comemoração pela jogada e eu peguei o disco, sem perder tempo.
Vi os dois caras que estavam me marcando correndo na minha direção
com tudo, prontos para me esmagarem. Sorri para eles, e fingi que ia para a
esquerda.
Esperei-os começarem a correr na direção para eu virar e seguir pela
direita, equilibrei o disco no taco e vi que outro jogador estava na minha
frente, pronto para me atrapalhar.
Joguei o disco entre as suas pernas abertas e ele virou de costas, um
pouco perdido com meu movimento. No entanto, enquanto o idiota
processava o lance, eu já tinha dado a volta nele e recuperado o disco
novamente.
Arriscado? Com toda certeza, podia ouvir meu treinador me chamando
de desgraçado, mas também podia escutar a plateia gritando meu nome.
Olhei para Johnny e vi que o capitão ainda estava trancado, seria um
tiro no escuro jogar para ele, então segui sozinho.
Eu estava bem próximo do goleiro de Harvard, e ele já se preparou
para me pegar. Entretanto, surpreendi todo mundo quando comecei a
deslizar para trás, quase brincando com a paciência deles.
— COLINNN! — Johnny gritou, pronto para me matar e não consegui
evitar rir do desespero dele.
Eu tenho tudo sob controle, capitão.
O goleiro saiu da sua posição, pensando que eu ia jogar o disco para
outro jogador perto de mim. Só que não foi isso que fiz, voltei na direção do
gol e aproveitei que o goleiro saiu da sua posição para driblá-lo com tanta
facilidade que chegou a ser ridículo.
Ouvi os gritos ansiosos da multidão e finalmente meti o disco com
tudo na rede.
O estádio tremeu com os pulos.
Abri os braços e deslizei lentamente pelo gelo. Olhei para Johnny e
sorri para ele.
— Vai pode admitir, eu deixo. — Pisquei para o capitão que quase
infartou com meu lance. — Eu sou foda.
Ele revirou os olhos.
— Só no gelo — cedeu, aliviado por termos feito o gol.
Eu era considerado um jogador um pouco polêmico? Sim. No entanto,
entregava resultado.
Me chamavam de debochado, provocador, exibicionista e que tinha o
terrível hábito de matar todos do coração com lances arriscados demais.
Uma difamação, lógico.
Minha mágica no hóquei era justamente essa, ninguém conseguia
prever o que eu faria. Nem os treinadores, torcedores, adversários ou meus
próprios companheiros de time. Só sabiam que no final dava certo.
Deslizei para minha posição inicial e esperei o disco entrar em
circulação de novo. Sabia que os caras de Harvard estavam putos comigo,
eles odiavam quando eu curtia com a cara deles assim no gelo.
E eu tinha que usar isso ao meu favor.
Assim que o juiz apitou novamente, os dois marcadores vieram me
trancar, mas corri deles. Desviei rapidamente e fui roubar o disco.
Consegui, só que sabia que não ia demorar muito para todos os
jogadores irem para cima de mim, eu tinha poucos segundos e não poderia
chegar ao goleiro. Não dava tempo.
Então patinei muito rápido, como se tivesse a intenção de seguir até o
gol. Ouvi os xingamentos desesperados dos nossos jogadores reservas, me
avisando que não era possível e os suspiros aflitos dos torcedores.
Quando senti que os jogadores de Harvard estavam chegando perto de
mim, prontos para me derrubarem e distraídos, corri mais rápido e joguei o
disco discretamente para a direita.
Continuei correndo, dando a impressão para quem via que ainda estava
com o disco, pois movia o meu taco de um lado para o outro rapidamente.
Assim que os caras me alcançaram, meteram seus tacos entre os meus
pés e só então se deram conta de que eu não estava mais com o disco. Não
estava comigo.
Estava com Johnny Jackson.
Sorri para o marcador de Johnny, que me olhou puto por ter caído na
minha distração. Todo mundo da torcida levantou das suas cadeiras em
gritos e Johnny correu.
Ou melhor, voou.
Ninguém pegava ele, os pobres coitados ainda tentaram, só que não
tinha como. Enquanto ainda piscávamos tentando processar onde estava o
vulto de Johnny, ele já tinha marcado o gol.
Uma buzina alta para caralho começou a soar pelo estádio e Johnny
sorriu, apontando o taco na direção da sua maluca. Ele veio até mim e bateu
nas minhas costas.
— Seu gênio filho da puta — murmurou em elogio.
— Louco — gritou Taylor para mim, com um sorriso de admiração no
rosto.
— Mas eficiente. — Apontei meu taco para ele e Taylor bateu o dele
no meu em comemoração.
Estava ganho. Só tínhamos que segurar o placar até acabar o tempo.
Olhei para a multidão e procurei por Madison. Não queria, ainda assim
era mais forte do que eu. Sempre procurava por ela. A pequena estava
sorrindo e me olhando admirada. Fiquei satisfeito por ela não estar sentada
tão longe como de costume, era bom poder vê-la de perto.
Me acalmava.
Valeu a pena pagar uma boa quantia para guardarem o lugar dela.
Colin Scott

O lado de fora do estádio estava um inferno. Geralmente, sempre que


saíamos do vestiário depois do jogo, os torcedores ficavam do lado de fora
esperando por nós. Recebíamos os parabéns, lamentações ou até mesmo
ameaças quando perdíamos e depois conseguíamos nos despedir deles.
Pois é, não foi o que aconteceu daquela vez.
Ganhamos como o esperado e assim que saímos, encontramos uma
multidão enlouquecida. Me perdi dos meninos no meio da confusão e não
consegui encontrar mais ninguém.
— Lembra de mim? — uma garota perguntou atrás mim, enquanto
outros estudantes batiam nas minhas costas em comemoração.
Virei para ver quem era e fiquei orgulhoso de mim mesmo por
reconhecê-la. Nós já tínhamos transado, foi no dia em que conheci Madison
e caí na sua maldita vela. Fiquei muito feliz em descobrir que meu pau
ainda funcionava depois de ter sido amassado, ele aguentou uma noite
inteira de sexo a três. Eu, ela e uma amiga sua fodemos por horas.
E quando digo por horas, quero dizer por horas mesmo. As duas saíram
de pernas bambas no dia seguinte.
— Claro que lembro, como poderia esquecer? — Sorri para ela
cinicamente.
Só não me peça pra lembrar o seu nome.
— Eu também não consegui esquecer. — Os olhos dela desceram pelo
meu corpo e pisquei sugestivamente para ela quando voltou a me encarar.
— Você tem planos hoje à noite?
A garota era gata e eu estava com tesão reprimido mesmo. Olhei para o
seu corpo em provocação, como ela tinha feito comigo. Poderia levá-la para
casa, resolver minhas bolas roxas.
Só que existia um empecilho: Meu tesão reprimido era por outra
pessoa.
— Hoje fiquei de sair com o pessoal. — Sorri para ela e nem estava
mentindo.
Olhei por cima das centenas de cabeças ali, tentando ver se encontrava
Johnny, Drake ou os gêmeos.
— Você nunca mais me procurou depois daquele dia — jogou a
indireta, erguendo a sobrancelha desconfiada. — Está saindo com alguém?
Namorando?
Não consegui me segurar. Ri alto.
— Não nessa vida.
— Estou te achando muito quietinho ultimamente, Colin Scott...
— Eu sempre fui. — Coloquei a mão no peito em inocência e ela me
lançou um olhar entediado.
— Odeio inflar o seu ego, mas tenho algo pra falar. — Passou a mão
no meu pescoço e se aproximou para conseguir falar perto do meu ouvido.
Me inclinei para ouvir. — Eu ainda lembro da sua pegada no meu corpo,
amei o jeito que me chupou e o seu pau é definitivamente o maior que já
sentei. — A língua dela lambeu de leve meu pescoço. — Colin, a gente se
encaixou tão bem que eu não consegui mais pensar em outra coisa. Fico
molhada só de lembrar... resolve o nosso problema.
Passei o braço pela sua cintura e aproximei minha boca do seu ouvido.
— Acredite, quem sai perdendo dessa sou eu — murmurei dando um
beijo casto no seu rosto, deixando claro que não ia rolar.
Soltei-a e a garota estreitou os olhos. Não com raiva, porém
estranhando minha resposta. Não julgava, se tinha algo que eu não
costumava fazer era dispensar sexo.
— Certo... — disse confusa. — Se mudar de ideia, é só me avisar.
— Pode deixar. — Pisquei em despedida.
Ok, eu estava com um problema e vinha ignorando isso a algum tempo
para o bem da minha própria sanidade.
Aquela tinha sido a última garota com quem transei. E isso foi a alguns
meses, exatamente no dia em que conheci minha pequena. Eu nunca fiquei
tanto tempo sem sexo desde que entrei em uma boceta pela primeira vez.
Não sabia explicar que merda tinha acontecido comigo.
As coisas tinham mudado. O que eu queria mudou.
Sentia vontade de tocar uma certa pele macia, beijar a curva de um
certo pescoço delicado e sentir um certo cheiro doce de cereja. Queria ouvir
o som de um certo gemido, beijar com calma uma certa mãozinha pequena,
ver covinhas na hora do sexo, bochechas coradas de vergonha quando me
ouvisse falar putaria. E queria, mais do que tudo, ver um certo cabelo ruivo
cacheado espalhado no meu peito depois de gozar...
Fodido. Essa era a minha definição, fodido.
Pensava nela. Podia admitir isso, eu só sentia vontade de transar com
uma única pessoa, de um jeito tão intenso que não conseguia entrar outra na
minha cabeça. Algo completamente novo para mim, nunca tinha passado
por esse tipo de problema antes.
Resultado? Alguns meses de punheta pensando em uma única pessoa.
Tinha virado um especialista em punhetas, ganharia com facilidade de
qualquer adolescente na puberdade.
Passei pela multidão procurando o pessoal, só que não consegui
encontrar ninguém. Peguei meu celular e vi que Drake avisou que eles
estavam em um bar. Os filhos da puta nem me esperaram, só enviaram a
localização dizendo que todo mundo já estava lá.
— Colin?
Bloqueei a tela e olhei para frente, encontrando meu gnomo parado
com as mãos em frente ao corpo e vestindo outra roupa, diferente da que a
vi quando estava na arquibancada. Madison usava agora um vestido branco
de alcinha um pouco curto e colado, sapatilhas rosa bebê e segurava uma
bolsa no ombro.
Como alguém conseguia ser extremamente adorável e sexy ao mesmo
tempo?
— O que ainda faz aqui? Pensei que estava com as meninas — falei,
me dando conta que ela estava sozinha.
— Eu fui trocar de roupa no banheiro e logo que saí de lá não encontrei
mais ninguém. Meu celular descarregou, já ia pedir o telefone de alguém
emprestado.
— Olha, se isso é uma tática sua pra ficar sozinha comigo... —
provoquei e ela revirou os olhos. — Vou logo avisando que não sou tão
fácil assim.
— Você pode me emprestar o seu celular? — Estendeu a mão pequena,
me ignorando.
— E o que eu ganho com isso?
— Sumo imediatamente da sua vista.
Entreguei o celular para ela.
— Você sabe negociar — murmurei em aprovação.
Madison digitou o número de alguém na tela e esperou a pessoa
atender.
— Alô? É a Maddie... — Consegui ouvir uma voz zangada do outra
lado da linha. — Desculpa! Eu estou bem, é que meu celular tinha
descarregado... — Ela se calou e a outra pessoa parecia estar brigando com
ela. Madison suspirou. — Tá bom, eu encontrei com o Colin, acho que
posso ir com ele.
Balancei a cabeça negativamente só para contrariá-la.
— Eu já chego aí, desculpa. Estou bem. — Ela pausou de novo para
escutar algo. — Prometo, não vou fazer mais isso. Eu já chego aí, beijo —
disse carinhosamente e desligou, devolvendo o celular para mim.
— Deixa eu adivinhar, era a Scar? — joguei o palpite.
— Exatamente. — Madison segurou melhor a sua bolsa. — Elas
acabaram indo pro bar com os meninos, achando que eu já tinha ido pra lá.
— Então vamos pra lá. — Indiquei o estacionamento à nossa frente e
fomos caminhando. — Por que trocou de roupa? — perguntei querendo
jogar conversa fora.
Ok, eu queria saber se ela estava se arrumando para alguém. Queria
saber quem era esse alguém. Nome e endereço de preferência. Era sempre
bom ficar de olho em quem cercava o gnomo.
— Estamos de protesto. — Deu de ombros e entrou no carro quando
destravei a porta. — Não vamos mais sair com vocês com as mesmas
roupas que vamos pro jogo.
— E as meninas não te esperaram sair do banheiro? — estranhei, pois
elas tinham aquela coisa de só irem ao banheiro juntas, sempre grudadas.
Tirei o carro do estacionamento e coloquei a localização que Drake me
passou no GPS.
— Eu fui depois, fiquei esperando ver... — Ela se interrompeu
envergonhada e olhou para a janela, escondendo o rosto de mim.
— Esperando ver...? — incentivei ao ver que ela não continuou.
— Nada — respondeu.
— Algum jogador sair? — arrisquei. — Do outro time?
Ela abraçou a bolsa que segurava e não respondeu. Fiquei desconfiado.
— É fã de algum deles? — Tentei lembrar se a peguei olhando para
alguém do outro time, mas se tinha, não percebi.
— O que é isso? Um interrogatório?
— Não — falei em um tom desinteressado. — Pouco me importo com
o que você faz.
— Igualmente — devolveu.
— Ou quem espera.
— Que bom — resmungou.
— Só tome cuidado... — alertei. — Jogadores de hóquei não prestam.
— Você mais que ninguém sabe disso, não é? — disse o gnomo,
afiada.
— Exatamente. — Balancei a cabeça em concordância. — Por isso
aconselho ficar longe deles.
— E como sabe que não quero apenas algo casual? — Ela se virou
para mim, afrontosa.
— Você não curte isso. — Dei de ombros, sem me importar.
Infelizmente. Se curtisse você não me escaparia tão fácil.
— Como pode ter tanta certeza? — Ela parecia ofendida. — Eu posso
gostar de sexo como todo mundo.
Olhei-a de lado, divertido e consegui ver que estava putinha por eu
pensar que ela não fazia sexo.
— Oh, é mesmo? — debochei, querendo dar corda para a conversa.
— Você não acredita — constatou zangada. —, mas eu não sou uma
santa.
Tentei com tudo de mim não rir.
— Hummm... — foi tudo o que consegui murmurar, só para atiçar.
— Já fiz de tudo — revelou, tentando sair por cima e olhei de relance
para ela.
— De tudo? — Ergui a sobrancelha em desafio.
— Sim — afirmou, mesmo que suas bochechas tenham ficado em tom
rosado. — Já experimentei muitas coisas.
— Já transou em um carro?
É, né... foi ela que começou, eu só estava terminando. Voltei a atenção
para a direção e a ouvi suspirar ao meu lado.
— Claro que já. — Deu de ombros, como se fizesse isso todos os dias.
— Madison... — cantarolei. — Quer dizer que um anjo casto como
você já deu umas sentadas em alguém no banco da frente?
Eu não deveria cutucar a onça assim, porém não aguentei.
Paramos em um sinal e eu percebi que o clima no carro mudou. Era
perigoso olhar para ela, só que foi isso que fiz.
A ruiva tinha cruzado as pernas e o movimento fez com que o seu
vestido meio curto subisse um pouco, mostrando as suas coxas gostosas.
Subi lentamente o olhar por seu corpo delicioso, os quadris largos, a cintura
estreita e os seios fartos.
Ela tinha soltado a bolsa nos pés e consegui ver todo o seu corpo no
vestido com calma. Quando meu olhar alcançou o seu rosto, ela já havia
virado para me encarar também e... Puta que me pariu.
Eu sabia que aquela criaturinha tinha um lado cínico e manipulador,
entretanto nada me preparou para a expressão dela naquele momento. A
garota olhava diretamente para mim, ela arqueou uma sobrancelha ruiva e
um canto da sua boca gostosa se ergueu, em um sorriso perigoso.
— Você acha... — sussurrou arrastado em tom muito safado, a voz dela
daquele jeito conseguiu deixar meu pau totalmente duro. —... que eu faria
uma coisa dessas?
A boca deliciosa acentuou mais o sorriso diabólico, deixando à mostra
a covinha. Quase me perguntando se eu acreditava que aquele ser tão
encantador conseguia pensar em putaria.
Engoli em seco e senti o meu pau endurecer, pulsando em tesão.
— Acho — afirmei, soltando o ar quente pela boca e apertando o
volante com força.
Ela não desviou o olhar.
— Mas você não disse que eu era um anjo casto? — a cínica sussurrou
com aquele sorriso que eu jamais esqueceria.
Estava mais para um demônio.
Desci o olhar pelo seu corpo novamente e a imaginei subindo e
descendo no meu pau, lambuzando-o, quicando em mim com aquela cara de
safada que estava agora.
— E um anjo como você sabe dar uma sentada? — perguntei baixinho,
usando o mesmo tom dela.
Sorri em provocação, apenas para irritá-la mais, doido para vê-la
revidar. Cheguei a pensar que ela fosse corar, só que não foi isso que
aconteceu. Ela queria me foder gostoso ali.
E estava tendo sucesso.
— Quem experimentou nunca reclamou — comentou com aquele
sorriso travesso e travei a mandíbula com força.
Senti vontade de dar uns tapas na sua bunda safada e marcá-la como
minha, para não deixar nunca ninguém pensar em encostar nela.
— E quem foi que experimentou? — perguntei ameaçadoramente,
sentindo algo amargo, que jamais senti na vida, escorrer pelas minhas veias.
— Você já quer informação demais. — Ergueu a sobrancelha e virou o
rosto para a frente, quebrando nosso contato.
Ela não estava conseguindo manter a pose comigo por muito tempo,
uma hora iria começar a ficar envergonhada. O recado foi dado, Madison
queria me avisar que se brincasse com ela eu iria me queimar também.
Pelo jeito era verdade, me queimei feio. Senti uma dor profunda, uma
pontada no meio do peito, a mesma que me atingiu quando vi Tyler
segurando sua cintura e enfiando a língua na boca que eu queria só para
mim.
Quis matá-lo por tocá-la, era complemente minha. E era aqui que o
problema crescia: ela não era minha. Nunca foi.
O sinal ficou verde e segui o caminho em silêncio, tentando não pensar
em quem comeu meu gnomo.
— Então, quer dizer que você anda se divertindo... — Estalei a língua
em provocação.
Tentei não demonstrar o quanto estava irritado por saber que alguém
estava passeando no seu parquinho. Madison respirou fundo e olhou para a
janela. Apostava com tudo de mim que ela estava toda vermelha.
— Você não é o único que pode — murmurou.
— Com toda certeza. — Balancei a cabeça em concordância. — Só
avise ao seu amigo Derek que está com outro, não engane o pobre rapaz —
avisei, querendo sondar quem era esse “outro”.
Ela virou para mim.
— Pensei que não gostasse dele.
— Passei a ter empatia pelo coitado agora que sei que é feito de trouxa
— alfinetei.
— Feito de trouxa? Eu só saí com ele uma vez — argumentou.
— Você deveria ter vergonha desse seu comportamento — repreendi.
— Ele com toda certeza criou expectativas de um relacionamento...
— Com um único encontro? — interrompeu cínica. — O qual você fez
questão de atrapalhar?
— Eu fiz questão de atrapalhar? — disse horrorizado. — Você que
anda me perseguindo em todos os lugares.
— Ai, Colin — resmungou zangada. — Eu tenho preguiça de você.
— Pois pode dormir. — Apontei para o banco de trás. — Aproveite pra
pensar nas pessoas que anda iludindo.
— Faça-me o favor — reclamou estressada. — Que moral você tem
pra falar isso?
— Eu não ando saindo com ninguém — alertei, apontando o dedo na
sua direção acusatoriamente.
Ela deu um tapa na minha mão, a tirando da frente do seu rosto.
— Com quem eu ando saindo não é da conta de ninguém.
— Muito menos da minha. — Dei de ombros, fingindo desinteresse. —
Só acho...
— Ai, pelo amor de Deus! — Se virou para mim tão estressada que
achei que começaria a arrancar os cabelos ali. — Você pode calar a boca
por um segundo?
— Você vai envelhecer antes da hora se continuar assim — comentei e
ela só me encarou em silêncio, possessa.
— Preciso sair desse carro — avisou olhando o GPS. — Falta muito?
Realmente, já estávamos rodando há um bom tempo e nada de chegar
no bar. Estávamos em uma avenida deserta, quase sem iluminação e aquela
não era a direção na qual universitários querendo encher o rabo de bebida
iriam.
Olhei para o destino que botei no GPS e não acreditei no que vi.
— Estamos bem longe de chegar — foi tudo o que respondi.
— Meu Deus, onde é esse lugar?
— No Canadá.
— O quê? — ela perguntou como se não tivesse ouvido bem.
— De acordo com o GPS estamos indo pro Canadá.
— E o que eles estão fazendo no Canadá? — Balançou a cabeça sem
entender.
Dei de ombros, sem saber o que diabos se passava na cabeça daqueles
loucos.
— Botei exatamente o endereço que Drake me mandou. — Dei meu
celular para ela ver a mensagem.
Fiz o retorno já querendo ir na direção oposta do Canadá. Não estava a
fim de passar frio.
— Acho que mandou sem querer, deve estar bêbado — constatou
Madison franzindo a testa ao ler as mensagens. — Ele tá dizendo que vai
morar na Tailândia.
— Que seja feliz.
— O lado bom é que podemos voltar logo pra casa. — Ela suspirou um
pouco cansada. — Vou dormir um pouco e...
O carro fez um barulho estranho, como se estivesse morrendo, o que
era quase impossível pois era um modelo zerado. Mirei o painel e mais uma
vez não acreditei no que estava vendo.
Que merda hein.
— O que foi agora? — questionou Madison.
Não era o nosso dia.
— Estamos sem gasolina. — Foi só o tempo de encostar o carro no
acostamento da avenida que ele apagou de vez.
— Como assim “estamos sem gasolina”? — ela repetiu debilmente. —
Você não botou?
— Pensei que dava pra chegar até o próximo posto — justifiquei,
erguendo as mãos em rendição.
A verdade? Nem tinha olhado para isso desde que entrei no carro.
Culpa exclusivamente dela, claro, que ficou me distraindo.
— Hoje não é meu dia. — Murchou triste. — Ou o seu — Ergueu o
indicador na minha direção, decidindo colocar toda a culpa em mim —,
pois o meu horóscopo não me deu a mínima dica disso.
— Se eu fosse você processaria o site — aconselhei em ironia e peguei
meu celular para avisar ao seguro, eles cobriam esse tipo de situação.
— Não é um site — ela explicou, se encostando no banco. — São as
estrelas. Tudo tem um significado na vida.
— Até ter uma noite bosta?
— Até isso — confirmou convicta.
— Pois eu acho que o significado disso é sermos assaltados. Veja que
emocionante. — Pisquei para ela e empurrei meu banco mais para trás.
— Não vamos ser assaltados.
— Como pode ter certeza?
— Não estava no meu horóscopo. — Deu de ombros, despreocupada.
Balancei a cabeça em negação para ela.
— Se você diz... — Fechei os olhos e descansei no assento, querendo
tirar um cochilo enquanto não chegavam. — Avisei o seguro, logo eles
vêm.
Quando ela não me respondeu virei para encará-la. Madison estava
olhando a janela do carro encantada. Ela mirava as estrelas do céu através
do vidro como se fosse uma criança em uma loja de doces.
A pequena parecia fascinada. Seu cheiro doce de cereja preencheu o
carro, ele era divinamente suave. Fresco. Inspirei profundamente e não
consegui desviar o olhar dela.
Madison virou o rosto na minha direção com um sorriso brilhante,
mostrando suas covinhas e eu suspirei, sabendo que faria tudo o que ela
quisesse.
Roubaria a lua, lhe daria as estrelas, pararia o tempo no momento em
que o sol fosse nascer só para vê-la feliz. Não existia uma única coisa nesse
mundo que eu não faria pela minha inimiga.
E isso que era um ódio de respeito.
Madison Jensen

Só podia ser um sinal do destino.


Tudo bem, eu não merecia um sinal do destino já que passei a noite
toda mentindo descaradamente.
A primeira nem foi uma mentira, só omissão. A pessoa que fiquei
esperando sair do vestiário era o idiota que esqueceu de botar gasolina no
carro. Isso que dava ser curiosa demais.
A segunda mentira foi bem mentirosa mesmo. Eu nunca tinha transado
dentro de um carro, ou em qualquer outro lugar mais inusitado. Talvez
devesse fazer uma lista sobre isso...
A questão era que Colin parecia tão convicto sobre a minha vida que
senti a necessidade de surpreendê-lo. Foi infantilidade, mas mesmo assim o
universo quis me presentear.
Toquei o vidro da janela do carro com a ponta dos dedos e olhei para o
brilho das estrelas acima de nós. Tudo o que fazemos na vida nos leva a
algum lugar, nem que seja apenas para apreciar as estrelas pela janela de um
carro. Era mágico.
Virei para Colin sorrindo e ele já estava olhando para mim. O tom azul
dos seus olhos me fazia ter vontade de pintá-los, podia sentir o pincel sob
meus dedos, sendo arrastado com cuidado por uma tela branca, manchando-
a. Eu queria pegar a sua beleza e transformá-la em arte.
Só que o engraçado naquele momento era que ele me olhava como se
eu fosse uma obra de arte.
E acho que nunca me senti tão apreciada na vida. Não queria deixar
aquilo passar, não podia desviar o olhar.
— Você consegue ver? — sussurrei e estava tão silencioso ao nosso
redor que era como se existisse só nós dois no mundo.
— O quê? — respondeu no mesmo tom, parecendo hipnotizado por
alguma coisa que via dentro de mim.
Sentia que ele conseguia enxergar minha alma.
— As estrelas — expliquei, tocando o vidro da janela com a ponta dos
dedos outra vez, sem tirar os olhos dele.
Colin desceu o olhar pelo meu nariz e senti que estava contando todas
as minhas sardas.
— Consigo. — Suspirou baixinho. — Elas são perfeitas.
Não sei quanto tempo ficamos parados ali. Ele traçou cada canto do
meu rosto, encarou minha boca e entreabri os lábios, deixando escapar uma
respiração pesada.
Tinha uma energia entre nós. Ela era carregada, eletrizante, vibrava
tanto que era quase palpável. Podia senti-la escorregar pelos meus dedos.
— Tem um significado — me peguei dizendo ao me lembrar que ele
não levou a sério antes. — Tudo tem um significado.
Colin olhou para as estrelas e as mirou em silêncio.
— É isso que me guia... — Encostei a testa no vidro da janela. — O
brilho delas.
Era uma noite bonita, e a avenida deserta tinha tão pouca iluminação
que permitia ver melhor as estrelas dali. Era um ótimo lugar para se
apreciar, um lugar que eu não conhecia.
Elas piscavam e as constelações estavam bem à vista. Não dava para
ver a lua, só o show de luzes brilhantes acima de nós.
— Eu também tenho um guia — Colin falou e me virei para ele,
curiosa.
Ele me deu um sorriso leve e apertou entre os dedos o pingente do
colar que sempre usava no pescoço. Fiquei intrigada, Colin abriu o pingente
com o polegar, me mostrando o que tinha dentro.
Era uma moeda.
Ela era prata como a corrente, antiga e gasta. Não deveria ter valor
monetário algum, mas parecia ser a coisa mais valiosa do mundo para
Colin. E eram esses os bens que eu mais admirava.
— Como ela te guia? — perguntei com curiosidade.
— Eu faço uma pergunta e ela me responde. “Cara” sempre é sim,
“coroa” é não — explicou, estendendo a moeda para mim. — Ela é meu
destino.
Olhei-o admirada, querendo tocar na moeda.
— Posso? — questionei, sem saber se podia tocar ou não.
Colin confirmou com um aceno de cabeça e me olhou com carinho.
Peguei a moeda com cuidado, com medo de tocar em um bem tão precioso.
Coloquei-a na palma da minha mão e pensei no que poderia perguntar a ela.
— Ela decidiu tudo por mim, das decisões mais bobas até as mais
importantes — continuou e deu de ombros. — Pode parecer tolice dar tanto
poder ao acaso, mas...
— Não é tolice — interrompi-o, séria. —, nem acaso. É destino.
Ele estreitou os olhos para mim, me encarando de um jeito diferente.
— E o que é destino pra você?
Observei o brilho azul dos seus olhos.
— A força que move tudo — sussurrei, apertando a moeda na minha
mão. — O caminho que seguimos, as decisões que tomamos... ele pode ser
até mesmo uma pequena moeda.
Colin ergueu o canto da boca em um sorriso satisfeito.
— Pode usar o meu. — Se encostou tranquilamente no banco, no
entanto parecia ansioso para saber aonde o seu destino me levaria.
Fechei os olhos e tentei pensar no que perguntar. Não queria perguntar
nada muito sério, nada que fosse para sempre. Eu só queria o agora. Estava
parada no meio de um lugar que não conhecia, onde era possível ver as
estrelas de um jeito diferente. Isso tinha que significar alguma coisa.
Abri os olhos e observei o céu de novo. Dali, não era possível ver a
lua, a noite estava linda para eu não a ver daquele lugar. Era o sensato a se
fazer? Não, podia ser perigoso sair do carro à procura da lua em um lugar
que era desconhecido. Porém, eu não queria o sensato, queria o que era
mágico.
— Devo ir atrás da lua?
Joguei a moeda para cima e a vi girar no ar. Foi rápido, entretanto
consegui visualizar o movimento até prendê-la entre as minhas mãos. Era
tão bom aquele sentimento de expectativa do que estava por vir, tirei a
palma de cima e vi o resultado.
Cara.
— “Cara” é sempre sim — repetiu Colin, ainda encostado no banco e
se divertindo com a minha interação com a sua moeda.
Sorri para ele. Amei aquilo.
— Então eu tenho que procurar a lua — avisei, abrindo a porta do
carro com empolgação.
Olhei para o céu noturno e admirei a beleza. Suspirei e fechei os olhos,
sentindo a vibração gostosa de ser banhada por aquele brilho.
— Aonde pensa que vai? — perguntou Colin, aparecendo ao meu lado.
— Eu tenho que procurar a lua — avisei caminhando pela rua,
tentando vê-la.
— Aqui?
— Sim. — Dei de ombros.
— Com toda a certeza vai dar pra ver do carro quando a gente voltar
pra casa — alertou, andando ao meu lado.
— No entanto, perderia toda a magia da coisa. — Sorri para ele.
— É perigoso...
— Você trancou o carro? — interrompi-o.
— Sim.
— Então não tem perigo — continuei a andar animadamente. — Foi
você mesmo que me disse que eu poderia ser guiada pelo destino.
Apertei mais a moeda entre os meus dedos, e Colin parecia relaxado
com isso, confiante de que eu cuidaria dela. Alguns poucos carros ainda
passavam ali, mas nada de pedestres.
Éramos só eu e ele.
— Deveria saber que ia inventar alguma coisa assim — resmungou, só
que eu podia perceber o humor em sua voz.
— Logo você tentando me convencer a fazer algo sensato? — Ergui a
sobrancelha para ele.
— Eu tenho os meus dias.
— Ah, eu estou me sentindo tão livre! — exclamei empolgada e
comecei a olhar ao redor do céu.
Colin balançou a cabeça e colocou as mãos nos bolsos da calça.
— Você é maluca.
— Você também. — Pisquei em sua direção. — Contudo, são
exatamente essas pessoas que sabem o que estão fazendo.
O carro foi ficando cada vez mais distante à medida que nós
andávamos. Tinham algumas árvores altas e prédios que nos impediam de
ver tudo completamente, e a lua deveria estar escondida entre eles.
— Ali! — Colin apontou para uma árvore e dei alguns passos para trás,
tentando ver a luz.
Ele não esperou, passou o braço forte pela minha bunda e me ergueu
com extrema facilidade. Me segurei nos seus ombros para me equilibrar
melhor e olhei para ele, um pouco ofegante com o movimento.
Que homem bonito. Admirei a sua boca, que parecia sempre ter um
sorriso, seu maxilar com a barba por fazer, o cabelo castanho macio, e
quando cheguei nos olhos, os encontrei em mim.
— Ela está ali. — Piscou em provocação e inclinou a cabeça na
direção da lua. Me virei para vê-la.
Lá estava ela. Brilhante, cheia e inchada. Era tão linda que suspirei
apaixonada. Apertei a moeda entre os dedos e a agradeci em silêncio.
— Eu adorei o seu destino — sussurrei para Colin, me segurando
melhor nele.
Era quase um abraço. Mas eu ainda podia usar a desculpa de que
precisava me equilibrar.
— Eu também gosto dele. — Os braços dele me apertaram mais
também, e pude senti-lo aproximar mais o seu rosto do meu cabelo.
Tinha a impressão de que ele estava me cheirando, pois respirava
profundamente. Fiquei um pouco arrepiada e nervosa, não lembrava de já
ter ficado tão próxima dele como estava naquele momento. Em todos os
sentidos.
Me concentrei no brilho da lua e bem entre a rua em que estávamos
parados consegui ver outro brilho mais distante. Ele se sobressaía sobre os
prédios e árvores.
Era uma roda gigante.
— Colin — chamei. — Tem um parque ali.
Apontei na direção e ele estreitou os olhos.
— Ah, não. — Negou com a cabeça. — Não vamos, já estamos bem
longe do carro.
— Esse é um momento único — argumentei e ele me colocou no chão.
— Garanto que esse parque vai estar aí todo dia.
— Mas nós estamos aqui agora. — Sorri, tentando convencê-lo e Colin
colocou as mãos no quadril.
— Esse lance das covinhas não funciona comigo.
Que mentira, funcionava sim.
— Que bom que não é você que decide. — Peguei a moeda e a joguei
para cima.
Quando a peguei entre as mãos e a coloquei em cima da minha palma,
não me surpreendi com o resultado.
— Cara. — Mostrei e ele balançou a cabeça negativamente para mim.
— Olha, ter te mostrado essa moeda está me custando caro.
— Foi você que não botou gasolina. — Dei de ombros e fui
caminhando em direção ao parque.
— O lado bom é que não vamos ser assaltados — lembrou em ironia,
me seguindo. — Não estava no horóscopo.
— Exatamente — confirmei. — E nós vamos andar na roda gigante —
avisei. — E você que vai pagar tudo.
— Esse horóscopo não acerta uma...
— Eu nunca andei na roda gigante antes — disse a vendo girar entre os
prédios, grande e brilhante.
— Nunca? — perguntou surpreso.
— Nem fui em um parque.
— Que tipo de infância você teve? — ele falou em tom de brincadeira.
A mais solitária que existe.
— Tinha um parque perto de onde eu morava — contei, sentindo uma
nostalgia ao lembrar daquela época. — Eu me lembro que à noite ia pra lá e
ficava vendo as outras crianças brincando. Lá tinha carrossel, montanha-
russa, roda gigante, maçã do amor. Tudo.
— E por que não entrava? — ele franziu a testa sem entender.
— Não tinha condição — expliquei, lhe dando um meio sorriso.
Talvez algumas pessoas sentissem vergonha de admitir isso, mas nunca
foi problema para mim.
— O que seus pais faziam? — Sondou com cuidado.
Percebi que estava curioso, porém tentava não ser invasivo.
— Eu não os conheci — respondi tranquilamente, aquilo não me
machucava mais.
Colin parou de andar e me olhou de um jeito muito estranho.
— Onde você morava, pequena? — perguntou com carinho, quase
como se quisesse me pegar nos braços e me apertar forte.
— Não sinta pena de mim, Colin. — Sorri e olhei para cima,
admirando aquela paisagem acima de nós. — Quem não tem teto, ganha o
céu. E as estrelas ainda vêm de brinde.
Assim que voltei meu olhar para Colin, ele ainda estava parado no
lugar, olhando para o meu rosto e parecendo um pouco perdido.
— Eu nunca poderia sentir pena de você — declarou com a voz rouca.
— Sinto pena de quem não é como você.
Continuei olhando-o, sentindo uma sensação boa no peito. Acho que
era acolhimento. Quis agradecê-lo por dizer aquilo, me aproximar e tocá-lo
de alguma forma.
Respirei fundo e estendi a mão para ele.
Minhas mãos eram feias. Elas tinham calos e cicatrizes que nunca
saíram com o tempo. Eu não gostava que ninguém tocasse nas palmas. E
quando deixava alguém pegá-las era porque essa pessoa tinha se tornado
importante para mim.
Era o momento em que eu oferecia uma das minhas maiores
inseguranças.
— Vem — chamei-o, querendo fazer com que ele seguisse nosso
caminho. Nosso destino.
Colin tirou a mão do bolso e pegou a minha. Logo que ele a segurou na
sua eu percebi que ele notou a textura diferente. Ela era áspera, ótima para
segurar um pincel e desenhar, porém não era agradável para se segurar entre
os dedos.
Colin não virou a minha mão para ver o que tinha nela ou perguntou o
que tinha acontecido. Ele a apertou mais na sua e a levou até os lábios,
beijando o torso em reverência.
Segurei a respiração e senti o hálito quente dele contra a minha pele.
Eu senti aquele gesto na alma.
— Pra qualquer lugar — disse e entrelaçou os dedos nos meus.
Minha mão era pequena em relação a dele, no entanto elas se
encaixaram de um jeito perfeito. Eu quase pude ouvir os nossos corações
batendo em sintonia.
Fiquei um pouco vermelha e virei para frente, não querendo que ele
visse o quanto estava tocada por ele ter beijado minha mão. Eu caminhei e
ele me seguiu, deixando ser guiado por mim.
Era estranho caminhar de mãos dadas com alguém, mas ao mesmo
tempo era bom. Não me sentia tão sozinha.
E não lembrava quando foi a última vez que me senti assim.
Colin Scott

Se ela estivesse me chamado para o inferno, eu iria com prazer.


Nesse instante, faria qualquer coisa por ela. Sua mãozinha áspera e
com calos era de longe o bem mais precioso que já segurei entre os dedos.
Passei o polegar pelo seu torso macio e a senti um pouco nervosa por estar
segurando minha mão.
Queria perguntar o que aconteceu com os seus pais, onde viveu, quem
a criou, se alguém lhe fez algum mal, como sua mão ficou assim. Queria
saber tudo. Só que esse não era o momento, eu só queria vê-la feliz.
— Então você nunca comeu maçã do amor?
— Não que me lembre. — Franziu a testa, parecendo tentar lembrar.
— Tem que perguntar pra moeda — brinquei e ela tentou puxar a mão
que segurava a minha para jogar.
Não deixei. Segurei-a com mais firmeza e estendi a outra mão, pedindo
pela moeda.
— Me dá aqui — pedi e Madison me entregou a moeda, confusa.
Joguei-a para cima e a peguei no ar com uma única mão facilmente.
Abri a palma e vi o resultado.
— Coroa — revelei e ela murchou. — Podemos fazer assim, eu
compro uma pra mim e você prova.
— Isso é trapaça.
— Não. — Estalei a língua, negando. — É apenas um pequeno desvio
do caminho.
— Acho que devemos seguir o destino à risca — aconselhou o gnomo.
— Eu às vezes faço algumas alterações lá e outras aqui. — Entrelacei
mais os nossos dedos. — Se temos um destino trilhado, é preciso fazer
alguns desvios ou perde a graça.
Ela suspirou.
— Será só um pequeno desvio.
— Exato — disse satisfeito, adorava corromper as pessoas.
Caminhei ao seu lado de mãos dadas até alcançarmos o parque.
Parecíamos um casal de namorados, quem nos visse naquele momento
jamais adivinharia que nos odiávamos.
Comprei as nossas entradas e entramos no parque. Estava lotado, cheio
de crianças e adultos circulando, o que me fez lembrar que não era tão tarde
assim.
— O que vai ser primeiro? — perguntei para ela e a ruiva pensou um
pouco.
— Andar de carrossel é muito infantil pra pessoas da nossa idade?
Sim.
— Claro que não — menti ofendido. — Quantos anos acha que eu
tenho?
Ela revirou os olhos.
— O suficiente para subir em cima de um cavalo de brinquedo. — Me
puxou na direção do brinquedo.
— Se faz tanta questão de dar uma cavalgada hoje...
— Sem piadas de duplo sentido — me interrompeu ameaçadoramente.
— Aqui está cheio de crianças.
— E a graça é justamente essa, podemos falar tudo que elas não vão
entender nada — avisei, entrando na fila junto com ela.
— Você que pensa.
Soltamos as mãos assim que ela entrou na minha frente na fila e isso
me deixou... frustrado. Quis continuar tocando-a. Motivo? Não fazia ideia,
só queria minha pequena perto de mim.
Fiquei atrás dela, bem próximo, o bastante para sentir o seu cheiro
suave. Esperamos as crianças com os pais entrarem e quando chegou nossa
vez ela quis ir para um lado diferente do meu, mas não deixei.
Passei o braço pela sua cintura e a trouxe comigo até o cavalo.
— O que está fazendo? — perguntou confusa.
— Não vou passar essa vergonha sozinho — avisei sentando no cavalo
de brinquedo e a puxando para coloca-la sentada de lado na minha frente,
quase no meu colo.
— Nem tem ninguém que a gente conheça aqui — disse, ajeitando a
saia do vestido que subiu com o movimento.
— Nunca se sabe. — Coloquei a mão na sua barriga e a pressionei
contra meu corpo, quase como um pedido para ela relaxar comigo.
Madison cedeu e encostou as costas no meu peitoral. Tentei não pensar
na sua bunda gostosa e redonda roçando no meu pau. Com certeza não era
bom ter uma ereção ali.
Apertei mais meu braço em volta da sua cintura e alisei a curva da sua
barriga com o polegar. Ela ficou tensa e eu podia sentir minha pele queimar
por tê-la tão perto assim. Baixei a cabeça um pouco e enterrei meu nariz
naqueles cachos ruivos. Não estava tão na cara que eu estava querendo
cheirá-la para quem visse de fora, porém era esse meu objetivo.
Sempre foi. Ela era uma droga e eu o viciado. Sempre queria um pouco
dela, um pouco do seu cheiro, sua voz, da pele, do seu lado romântico.
Queria só um pouco dela, acho que isso era o suficiente para me manter
vivo, como o ar que respirava.
— É a sua primeira vez no carrossel? — sussurrei perto do seu ouvido.
— É. — Ela suspirou e se agarrou no meu braço quando o brinquedo
começou a andar.
Ela respirou profundamente, apostava que estava afetada por nossa
proximidade. Trouxe o seu corpo um pouco mais para perto e ela descansou
a cabeça no meu peito conforme foi se adaptando ao andar do carrossel.
Do jeito que ela estava eu conseguia ver bem de frente os seus seios
sufocados dentro do vestido. Eles eram grandes, apostava que se eu os
segurasse nas mãos ainda escapariam. Já imaginei mais de uma vez como
seria colocá-los na boca, qual gosto teriam. Queria babá-los, passar a língua
bem devagar nos seus bicos até senti-los ficarem durinhos.
Meu pau ficou duro pela segunda vez só naquela noite. Que maravilha.
Lembrei do que ela falou no carro e senti raiva novamente ao me
lembrar que talvez algum verme desprezível esteja fazendo exatamente
aquilo com os seios dela.
Apertei meu abraço na sua cintura possessivamente e não aguentei.
Enterrei o rosto no seu pescoço e dei um beijo suave ali, querendo apagar a
lembrança de qualquer homem que a tenha tocado desse jeito na vida.
— Colin? — Ela virou para mim, confusa por eu ter dado um beijo no
seu pescoço do nada.
— Quem é ele?
Ela franziu a testa de um jeito fofo.
— Ele quem?
— O cara com quem está saindo — fui direto e dei outro beijo no seu
pescoço, sem me importar em como aquilo pareceria.
Sua pele era macia, fresca, cheirosa. Do tipo que eu tinha que me
esforçar para não ficar ali por muito tempo. Levantei o olhar para ela e
encontrei a ruiva toda envergonhada.
— O cara que estou saindo? — sussurrou desconsertada, quase com
medo de alguém ouvir nossa conversa.
— Sim — confirmei, alisando a sua cintura com o polegar. — Quem é
ele?
Ela abriu e fechou a boca várias vezes.
— Eu... não quero falar sobre isso. — Virou para frente e fiquei
incomodado.
Não afastei meu rosto do seu pescoço, pelo contrário, dei outro beijo
ali, dessa vez mais demorado e quente. Senti o seu corpo se arrepiar contra
o meu, e inspirei o seu cheiro mais uma vez.
— É alguém que eu conheço? — continuei com a minha investigação.
— Pra quê você quer saber? — perguntou sem entender. — Eu não
pergunto sobre as garotas com que você sai.
Não tem garota nenhuma, faz um bom tempo.
— Curiosidade. — Dei de ombros, fingindo não me importar. —
Nunca te vi com alguém fixo.
Ela virou o rosto para mim de novo e dessa vez ficamos muito
próximos. Nossos narizes quase se roçaram. Tentei não olhar para a sua
boca, mas foi involuntário. A boca rosada e os lábios brilhantes me
tentavam de um jeito que eu tinha que usar toda a força do meu corpo para
não beijá-la.
— É sério? — indaguei me aproximando mais, tão próximo que nossas
bocas estavam a centímetros uma da outra. — O que vocês têm, é sério?
Ela olhou no fundo dos meus olhos daquela vez.
— Não — negou suavemente. — Eu nunca tive nada sério com
ninguém.
Eu não sabia explicar o porquê, porém aquilo me acalmou. Ninguém
tinha pegado o seu coração ainda. Me abaixei e dessa vez beijei o seu
queixo.
Foi perto da boca, e senti que ela prendeu a respiração achando que eu
a beijaria. O engraçado foi que minha pequena não recuou, só me esperou.
Quis tanto subir, só pegar o lábio inferior dela entre os dentes, sugá-lo,
sentir aquela língua tímida entrar na minha boca...
Fechei os olhos com força e apertei mais o meu braço em torno dela.
Tinha que parar com aquilo. Dei um último beijo no seu queixo e voltei a
ficar ereto no lugar, só a segurando pelo braço.
Ela ficou um pouco ofegante e voltou a olhar para frente. Percebi que
alguns pais olhavam para nós em repreensão, talvez achando que estávamos
falando putaria no meio do brinquedo.
Passei meu outro braço pela cintura dela, colando-a completamente ao
meu corpo e a protegendo dos olhares deles. Madison veio e ficou
aconchegada comigo até nosso tempo ali acabar.
Descemos do cavalo e eu fui comprar a maçã do amor dela. Madison
ainda estava sem entender o meu interrogatório, só que também decidiu não
entrar mais no assunto.
— Ainda acho que é trapaça — avisou, pegando a maçã da minha mão.
— Um pequeno desvio — corrigi, seguindo para a fila da roda gigante.
— Você tem medo de altura? — perguntou, ficando ao meu lado.
— Não, você tem?
Ela olhou para cima e acompanhou até onde a roda gigante ia. Engoliu
em seco e percebi que a chance de ser vomitado naquela noite era grande.
— Talvez não. — Mordeu sua maçã meio temerosa.
— Eu conheci uma pessoa que morreu em uma roda gigante.
— Ela caiu de lá? — Ela virou para mim.
— Não, foi de ataque cardíaco fulminante.
Madison apenas me encarou.
— Eu não vou me estressar com você. Nada pode me tirar do sério
hoje — decidiu.
— Olha, estou me sentindo desafiado. — Pisquei para ela e chegou
nossa vez de entrar na cabine.
Me sentei logo e ela ficou parada do lado de fora, parecendo pensar se
entrava ou não.
— Deixa de besteira. — Estiquei minhas pernas de maneira relaxada
no assento. — É bem firme.
Ela entrou e a cabine começou a balançar para frente e para trás. A
ruiva se desequilibrou e caiu sentada no lugar ao lado do meu. Fechei a
trava antes que ela decidisse sair e o brinquedo começou a girar, a
impedindo de ir embora.
Madison olhou em volta, nervosa.
— Eu não vou morrer — repetiu para si mesma.
— Claro que não — confirmei. — Não estava no horóscopo.
— Não me faça te jogar daqui — ameaçou, se segurando nas laterais.
— Eu não morreria, ainda estamos muito baixo. — Subíamos
lentamente. — Deixe pra fazer isso quando estivermos lá em cima.
— Vou me lembrar disso. — Madison mordeu o último pedaço da sua
maçã e virou para mim. — Aliás, obrigada pela maçã.
— Por nada. — Sorri.
A ruiva fechou os olhos suavemente e respirou fundo. Era quase como
se estivesse meditando, eu consegui acompanhar o seu corpo se acalmando,
sua respiração regulando para um ritmo calmo, as pálpebras descansando
fechadas e o seu peito subindo e descendo lentamente.
É, talvez eu devesse praticar aquilo também.
Estiquei o meu braço atrás dela, me sentindo leve só por ver o seu
progresso de calmaria. Ela conseguiu ficar em paz apenas meditando,
mesmo morrendo de medo. Assim que abriu os olhos de novo, já estávamos
no topo da roda.
Os seus olhos esmeralda se arregalaram surpresos, e ela sorriu
maravilhada com a vista do céu dali. Maddie descansou no assento, e jogou
a cabeça levemente para trás, encostando no meu braço.
— Você sente isso? — perguntou com um sorriso no rosto, ainda
mirando as estrelas.
— O quê?
— A magia.
Sorri para ela.
— Você acredita mesmo nisso? — questionei curioso e ela virou para
mim. — Em magia. Acredita mesmo nisso? De verdade?
Ela observou cada traço do meu rosto.
— Você não acredita? — devolveu a pergunta.
Não acreditava. Achava que as coisas no mundo eram claras e reais.
— Não. — Sorri em um pedido de desculpas silencioso por não
compartilhar da sua visão de mundo.
Madison ficou alguns segundos apenas me olhando em silêncio,
pensativa. Fiquei esperando pela sua resposta e ela veio. A ruiva estendeu a
mão e tocou o meu rosto com calma, em uma carícia suave. Fui pego de
surpresa, só que não me mexi, fiquei com medo de ela se afastar.
Quis fechar os olhos, apreciar aquele carinho, mas também não queria
perder nada do que os seus olhos esmeralda me diziam.
— Você já olhou pro céu à noite em algum momento da sua vida? —
ela perguntou baixinho e eu esqueci até mesmo onde estávamos.
Eu podia ver as estrelas brilhantes atrás dela e naquele instante foi
como se estivéssemos perdidos no céu. Flutuando no espaço. Em um lugar
só meu e dela.
— Já — confirmei.
— Eu também. — Ela continuou a acariciar a minha barba por fazer.
— Já passou pela sua cabeça que talvez você tenha olhado para o céu no
mesmo dia e hora que eu olhei? Antes de nos conhecermos, em algum dia,
talvez você tenha admirado a mesma estrela que eu.
Respirei fundo, tocando a mão dela que descansava no meu rosto, a
pegando com a minha.
— Nunca pensei nisso — confessei.
— Isso é magia — afirmou com tanta certeza que aquilo me tocou. —
É conexão.
Apertei a sua mão na minha, queria roubá-la para mim, nem que fosse
só por um segundo. Eu entendia o que ela queria dizer, porém aquilo para
mim ainda não era magia.
— Isso não seria coincidência? — argumentei, preso ao olhar dela. —
Admirar o céu é uma coisa simples da vida, pensei que magia fosse algo
extraordinário.
— As coisas simples da vida são extraordinárias — explicou descendo
o carinho pelo meu pescoço e engoli em seco. — Você já sorriu hoje?
Confirmei sem conseguir deixar de sorrir com carinho para ela, e a
pequena sorriu timidamente de volta. Me aproximei mais, a aconchegando
no meu corpo e ela ficou tão próxima... tão próxima que nossas testas quase
se tocaram.
— Isso é mágico — continuou em um sussurro. — Sorrir, inspirar o ar
da manhã, sonhar, até chorar. Pra mim, magia é até mesmo a energia que
vibra entre nós. — Ela desceu o carinho até chegar no pingente no meu
pescoço e tocá-lo com carinho. — É até mesmo uma moeda antiga.
Não me importei com nada, só inclinei mais na sua direção e encostei
suavemente a minha testa na sua, roçando nossos narizes. Segurá-la assim
era tão bom, tão precioso, que eu não queria largar mais. Fiquei com medo
do maldito tempo da roda-gigante. Iria acabar, ela sairia de perto de mim, e
eu ficaria só com o seu cheiro como lembrança.
— Eu vou tentar adotar essa filosofia de vida — disse, respirando com
calma no mesmo ritmo dela.
— É incrível, não é? — Ela sorriu ainda segurando o meu pingente. —
Como a magia se esconde em coisas tão simples, acho que por isso ela é
preciosa. Não costumamos dar atenção para aquilo que vemos todos os dias.
Ela ergueu o olhar para me encarar e não consegui me mover. Um
cacho ruivo descia em ondas no meio do seu rosto, fiquei tentado a tirá-lo
da frente, uma desculpa para tocar na sua pele macia. Madison olhou para a
minha boca e um sorriso se desenhou em mim.
Respirei fundo, sentindo um peso estranho no meu peito. Eu ia me
inclinar mais na sua direção, mas a roda gigante parou de uma vez, dando
um susto na ruiva.
Passei meu braço pela sua cintura e a puxei para mim. E ela veio.
— Eles estão tirando o pessoal — avisei, apontando para baixo. —
Acabou nosso tempo.
Madison olhou para baixo, triste.
— Foi bom enquanto durou.
— Foi sim.
Virei para frente e fechei os olhos, tentando acalmar as batidas do meu
coração. Que merda! Isso não era nada bom. Eu deveria ficar longe dela,
não estar quase tentando beijá-la em um parque.
Tirei meu celular do bolso para ver as horas e vi que o seguro já tinha
resolvido o nosso problema, estavam esperando por nós.
— Já temos que ir. — Mostrei a mensagem a ela.
Chegou nossa vez de sair da cabine, eu saltei do assento e esperei por
ela. Nós caminhamos com uma certa distância um do outro até a saída do
parque. Estava sentindo aquela sensação de querer tocá-la, contudo
precisava me controlar.
— Tenho que fazer mais uma pergunta — ela avisou, estendendo a
mão para mim.
A olhei de lado e ergui o canto da boca em um sorriso enquanto lhe
entregava a moeda.
— Colin se arrepende de ter passado a noite em um parque ao invés de
ir a uma festa? — A ruiva jogou a moeda para cima e deu coroa.
— Essa moeda não sabe de nada. — Pisquei e continuei a caminhar.
— Ela sabe de muita coisa — provocou me acompanhando.
— Tome cuidado com ela — pedi, apontando para a ruiva.
— Ela está segura comigo — garantiu, segurando-a com cuidado na
mão.
Eu não precisava explicar a importância, ela entendia. Não precisava
contar quem me deu ou que história tinha por trás.
E eu confiava tanto na minha pequena que ela foi a única pessoa que já
deixei tocar naquela moeda. Era engraçado o contexto daquilo, no entanto
eu literalmente entreguei meu destino nas suas mãos cheias de marcas.
E não tinha lugar mais nobre para se estar.

Madison Jensen

Colin pegou o carro e seguimos para casa em silêncio. Em nenhum


momento ele pareceu querer voltar para encontrar o pessoal, só seguimos
em um silêncio agradável para casa.
Quando chegamos eu subi diretamente para o quarto, ainda estava com
a moeda dele. E sabia que Colin me pediria de volta. Abri minha mão e a vi
ali, estava dando cara, mesmo que eu não tivesse feito qualquer pergunta,
ela estava me dizendo sim.
Ouvi Colin abrindo a porta atrás de mim, e se aproximando aos
poucos. Podia sentir o seu calor, o aroma gostoso, o som da sua respiração.
Tudo. Ele ficou tão próximo que a sua respiração soprou no meu cabelo.
Me senti atraída, como se um ímã puxasse o meu corpo, e virei de
frente para ele. Olhei para aqueles olhos azuis e fiquei presa neles.
A mão dele veio até o meu pescoço em um toque suave e engoli em
seco, ansiosa. Colin não costumava encostar em mim assim, geralmente
sempre mantinha uma certa distância física. Não vinha e simplesmente me
acariciava do nada, ele tinha feito isso mais de uma vez só naquela noite.
Passou o polegar pela veia pulsante do meu pescoço e me arrepiei toda.
Meu coração acelerou e seus olhos me faziam querer me aproximar cada
vez mais.
A mão dele subiu mais, senti o seu polegar passear em torno da minha
bochecha. Tocando minha pele com cuidado, carinho, de uma forma que
nunca fui tocada antes. Colin parecia um pouco nervoso, como se quisesse
desesperadamente fazer algo, no entanto estivesse se segurando.
Seu polegar passou pela minha boca e minha respiração quente o
tocou, sua pele nos meus lábios. Colin respirou profundamente e sussurrou
para mim:
— Me dá, pequena — implorou sem desviar os olhos de mim. — A
moeda.
Eu deveria entregá-la, era dele, só que não consegui me mover. Não
lembrava de ter recebido carinho assim alguma vez na vida, era raro de
acontecer. Queria ficar ali só mais um pouco...
Colin se inclinou mais para mim, colando nossos corpos. Podia senti-lo
em todo lugar. Fechei os olhos e respirei fundo quando seu polegar
acariciou o meu rosto, suspirei me inclinando mais na sua mão, apreciando
o contato.
— É minha — disse com a voz um pouco rouca, e sua outra mão
também passou suavemente pela minha pele, colocando meu rosto entre
elas de um jeito cuidadoso. — Só minha — enfatizou baixinho. — Pra
cuidar, proteger, não deixar ninguém machucar... eu preciso dela. Assim que
a coloco no peito sinto o meu coração se acalmar, como se estivesse
completo.
Inclinei o rosto entre as mãos dele e suspirei, não queria abrir os olhos.
Se abrisse, voltaríamos a ser Colin e Maddie. Duas pessoas que não
deveriam estar quase se abraçando desse jeito.
— Preciso tê-la comigo — continuou e eu me arrepiei. Senti a
fragrância gostosa de canela entrar em mim. — Preciso carregá-la pra
minha vida de qualquer jeito. Preciso tocá-la, estar perto dela. Não tem um
único dia em que eu não a queira.
Senti um aperto no peito, queria me aproximar mais dele. Queria tocá-
lo, sentir mais o seu cheiro, escutar a sua voz... Abri os olhos e o encontrei
olhando diretamente para mim. Engoli em seco e coloquei a mão que estava
com a moeda em seu peito firme, bem em cima do pingente.
Senti o coração dele bater.
— É sua — confirmei, colocando a pequena moeda dentro do pingente.
Quando ia tirando minha mão do seu peito Colin foi mais rápido e a
segurou, ele a levou até os lábios e a beijou tão carinhosamente que meu
coração derreteu um pouco.
— Obrigado — agradeceu sem soltar minha mão.
Continuei olhando-o e percebi que seus dedos estavam massageando a
palma da minha mão, tocando nas marcas que tinham ali.
— Como foi que elas ficaram assim? — Ergueu a sobrancelha,
esperando pela minha resposta.
Baixei o olhar e me afastei dele. Sabia que não eram macias e bonitas,
mas ficava um pouco constrangida em ser analisada assim.
— Já vou dormir, Colin — avisei em tom ameno, pegando minhas
coisas que estavam espalhadas pelo seu quarto.
Entrei no banheiro, e no momento em que ia fechando a porta, ousei
olhar para ele de novo. Ainda estava parado no mesmo lugar e olhava para
mim com um sorriso carinhoso no rosto.
— Só pra você saber, eu nunca toquei em algo tão precioso na minha
vida. — Ele piscou para mim. — Obrigado pela honra.
Sorri e abaixei os olhos sem conseguir encará-lo, sentindo meu coração
apertar.
— Eu que agradeço — agradeci e fechei a porta do banheiro, me
encostando nela depressa.
Virei para o espelho e vi que estava toda vermelha, e ele nem tinha dito
nada demais. Era ridículo, Colin podia estar só brincando comigo.
Estava me sentindo extremamente tola, mas ainda assim fiquei com um
sorriso no rosto. Podia sentir o seu toque em mim, o beijo que deu no meu
queixo, como segurou a minha mão, podia sentir até o formato do seu
sorriso.
Logo que me troquei voltei ao quarto e ele não estava mais lá. Deitei
na cama um pouco apreensiva.
Colin Scott era marcante e eu não julgava todas as garotas que já
caíram na dele. Tê-lo tão perto assim era muito perigoso. Por isso peguei
minha lista de coisas a fazer do dia e rabisquei um tópico que não podia
faltar.
“Lembrar que odeio Colin Scott, mesmo quando ele não é tão odiável
assim”.
Colin Scott

— Vamos limpar a piscina, aparar a grama e ver como anda a


construção — informou Johnny em tom de comando.
Quase a beijei...
— As meninas sempre terão prioridade em usar o banheiro —
continuou o capitão.
Ela percebeu que eu estava falando dela no lugar da moeda?
— Colin.
Não precisava ter dito que pensava nela todos os dias. Uma vez na
semana já era suficiente.
— Colin!
— O quê? — Olhei assustado para Johnny, que estava parado no meio
da sala com as mãos no quadril.
— Você ouviu o que eu disse?
— Claro que sim — menti, me espreguiçando. — Já acabou a reunião
de condomínio?
Levantei do sofá, animado para o fim daquele inferno.
— Não — respondeu Tyler, frustrado.
— Pode se sentar — mandou Johnny, apontando para mim. — Você
que é o causador de tudo isso.
— Eu? — Coloquei a mão no peito em choque. — Saiba que já
discutimos isso aqui, e ainda não encontramos um culpado.
— Pois eu encontrei. — Johnny ergueu a sobrancelha cinicamente. —
Voltando às regras, também iremos colocar o lixo pra fora...
— Espere um momento. Eu quero saber por que só nós iremos fazer
tudo aqui? — interrompi o capitão ao me dar conta de que as meninas não
estavam naquela reunião.
— É verdade. — Drake se inclinou no sofá, parecendo, só naquele
instante, se dar conta de que estávamos sozinhos ali. — Por que só nós
temos que fazer tudo?
— Porque foram vocês que destruíram a casa delas. — Johnny deu de
ombros e eles suspiraram em um consentimento silencioso.
— Então quer dizer que foi isso que viramos? Pau-mandados? —
perguntei a eles e ninguém falou nada. — Elas nos fazem de escravos. E
isso é desde que se mudaram pra cá. — Levantei e fui para o centro da sala.
— Nós colocamos o lixo delas pra fora, aparamos o gramado da casa delas.
Até pegamos as bostas que os cachorros delas fazem na nossa porta.
— Os cachorros são meus também — lembrou Johnny.
— Não é sobre os cachorros — dispensei o comentário dele com um
aceno. — É sobre termos virado capachos.
— Eu concordo com isso — Taylor me apoiou da sua poltrona. — Por
que aparamos o gramado delas mesmo?
— É mesmo — disse Tyler, confuso. — Por que diabos fazemos isso?
— Porque somos idiotas — respondi por eles. — Elas nos manipulam,
vejam o que aconteceu com Johnny. — Apontei para o nosso capitão, que
tinha se sentado em um canto e me lançava um olhar entediado. — Vocês
querem ficar desse jeito? Completamente controlado por uma mulher?
Todos olharam para Johnny, que se limitou a revirar os olhos.
— No meu caso nunca vai acontecer — Taylor tirou o corpo fora e
para ele era fácil falar, não gostava de mulher.
— É triste — concordou Tyler.
— Elas entram na nossa cabeça — continuei meu discurso, e ele era
completamente verdadeiro. Eu já me sentia enlouquecido. — Chegam
mansas e quando menos esperamos estamos limpando as bostas dos
cachorros delas.
— Os cachorros não são...
— Não interessa de quem são os cachorros — interrompi o pau-
mandado. — Nós que limpamos as fezes deles.
— A gente faz tudo o que elas querem. — Drake cruzou os braços em
frente ao peito, reflexivo.
— Exatamente! — Estalei os dedos para eles, tentando acordá-los. —
Vamos, galera! Homens! — incentivei e eles se levantaram inspirados. —
Reajam.
Johnny balançou a cabeça em negação para nós, parecendo estar
sentindo uma profunda vergonha alheia.
— Mulher nenhuma manda em nós! — discursei.
— É isso mesmo! — disse Drake.
— Não vamos mais aparar grama nenhuma! — decidi.
— Exatamente! Não somos capachos — determinou Taylor.
— Mas e se elas pedirem? — perguntou Tyler, apreensivo. — O que
vamos dizer?
Eles se entreolharam sem saber o que fazer. Balancei a cabeça
negativamente para eles, eu tinha que fazer tudo ali.
— Vocês vão dizer não — expliquei o óbvio. — Elas não têm mais
controle sobre nós. De agora em diante não seremos mais moles! Não
iremos fazer tudo o que elas querem só porque pedem com jeitinho. Isso
chega a ser ridículo — enfatizei, colocando as mãos no quadril.
— Colin... — chamou meu gnomo, descendo as escadas e atrapalhando
toda a nossa revolução. Assim que ela nos viu reunidos no meio da sala nos
lançou um olhar curioso. — O que vocês estão fazendo?
— Um protesto — informou Taylor.
Ela estava suja de tinta. Usava um macacão jeans curto e uma blusa
listrada por baixo. Tão linda que tive que me segurar para não ir até ela e
pegá-la nos braços, beijar cada sarda na ponta do seu nariz, perguntar o que
ela queria e atender todos os seus pedidos.
Ainda bem que na noite passada dormi no sofá, precisava ficar longe.
Estava completamente fora de controle.
— Sim? — disse sem conseguir tirar os olhos dela.
— Você pode me ajudar a trazer o meu material de desenho pra cá? —
pediu, indicando a área externa da piscina. — Queria pintar aqui fora.
Não queria tirar as coisas dela do meu quarto, queria encontrar tudo
seu lá.
— Tem certeza? — perguntei, erguendo a sobrancelha.
— Sim, eu já sujei o chão, sua escrivaninha e a colcha da cama —
informou sem arrependimentos.
Pode sujar tudo de tinta, minhas roupas, os sapatos... não vou me
importar.
— Pelo jeito meu quarto irá receber uma nova decoração. — Suspirei,
fingindo frustração e a segui.
— E quanto à nossa revolução? — Tyler abriu os braços, abismado que
abandonei o movimento.
— Vai ter que esperar uns minutos — avisei, olhando-o por cima do
ombro.
— Continuando — Escutei Johnny falar em uma voz cansada enquanto
eu subia as escadas. —, vamos aparar o gramado delas...
Entrei no quarto e peguei todo o material da pequena. Ela ainda estava
meio acanhada comigo, a sentia um pouco tímida depois da noite passada, e
aquilo me causava um aperto no peito. Não queria que ela se distanciasse de
mim, deveria ter calado a minha maldita boca.
Fiquei tentando tocá-la, não resisti a beijar qualquer canto que me
cedesse, isso com toda certeza iria afastá-la. E só esse pensamento foi o
suficiente para me causar calafrios. Queria meu gnomo perto de mim,
mesmo que fosse me odiando.
Levei o seu material para a área da piscina e Madison agradeceu com
um sorriso acanhado.
— Pode voltar pro seu protesto — brincou sem olhar para mim,
concentrada na sua tela.
— O movimento agradece — ironizei e fiquei parado ali.
Deveria ir embora? Sim, porém eu queria ficar. Levei meus dedos até o
seu queixo e a obriguei, com delicadeza, a olhar para mim. Madison
prendeu a respiração, apreensiva.
Você continua sendo a coisa mais preciosa que já toquei na vida.
A luz do sol refletia no seu rosto, e consegui ver com clareza as suas
sardas na ponta do nariz. Ela olhou para cada canto do meu rosto, quase
tentando adivinhar o que eu iria fazer.
— Colin...?
Me aproximei e ela fechou os olhos em expectativa. Beijei o seu nariz,
bem em cima das suas sardas e ela soltou um suspiro em prazer. Senti sua
respiração e estava tão perto daquela boca...
Me afastei, deixando-a com um olhar confuso e ela tocou a ponta do
nariz um pouco perdida.
— Você acabou de beijar as minhas sardas?
— Elas são irresistíveis. — Sorri e peguei a sua outra mão, a levei até
os lábios e a beijei fazendo uma reverência.
Quando ergui o olhar, a peguei com as bochechas coradas de vergonha.
Ela tinha o olhar perdido e confuso, ainda com a mão no rosto, tocando o
lugar em que a beijei. Era uma imagem que iria guardar só para mim.
Soltei a sua mão e me virei, antes que ela exigisse explicações. Nem eu
mesmo sabia porque continuava a fazer essas coisas.
Fui para o lado de fora da casa e encontrei os pobres coitados aparando
o gramado das nossas vizinhas. Como não tinha utilidade contribuir com
aquela escravidão, passei para verificar como estava a obra.
Paguei uma boa quantia à empresa que estava reformando para que
trabalhassem até nos fins de semana. As meninas deveriam querer a casa
pronta o mais rápido possível.
Assim que entrei na casa, vi que a madeira do piso estava realmente
desgastada. O lado bom era que elas teriam uma reforma completa.
Cumprimentei os homens que estavam trabalhando ali e subi para os
quartos. O encanamento já tinha sido remendado, porém o teto continuava
fodido.
Sabia que Johnny era a criatura mais metódica da terra, ele iria querer
saber por que ainda não começaram a resolver o problema ali.
— Por que ainda não mexeram no teto? — perguntei ao Sr. Ferrari, o
empreiteiro responsável pela obra.
Recebi ótimas indicações dele, era experiente no ramo, e sua idade
entregava. Ele deveria ter uns 57 anos, tinha o cabelo e a barba bem
grisalhos.
— Ninho de passarinho — foi tudo o que o Sr. Ferrari respondeu.
Me inclinei em sua direção, provavelmente não tendo escutado direito.
— Como é?
— Parece que um passarinho fez um ninho bem embaixo do telhado, e
estamos proibidos de mexer lá até eles nascerem — ele explicou como se
aquilo fizesse sentido.
O encarei sem acreditar.
— Como sabe quando eles vão nascer? — perguntei e o homem
pareceu pensar.
— Não sei.
— E enquanto isso a casa fica sem teto? — Coloquei as mãos no
quadril.
Jamais vi tamanha loucura.
— Ordens das donas da casa — respondeu dando de ombros e eu já
sabia quem era a “dona” que deu aquela ordem ridícula. — Deixe-me
mostrar.
Ele foi em direção à uma escada que dava ao telhado, e eu o segui.
Quando chegamos pude ter uma visão de toda a rua ali de cima. Parte da
estrutura do telhado estava destruída e foi por cima dela que andamos.
— Aqui está. — O Sr. Ferrari apontou para o ninho de passarinho.
Realmente tinham ovos ali, não sabia como tinham sobrevivido aos
fogos de artifício, mas o ninho estava intacto.
— Esses ovos são mais resistentes que a madeira dessa casa — ironizei
abismado.
— A madeira dessa casa é péssima mesmo — ele concordou. —
Infelizmente não podemos mexer no telhado, a ordem veio de uma garota
ruiva, ela deveria ter em torno de um metro e cinquenta e cinco...
— É muita gentiliza sua dar pra ela um metro e cinquenta e cinco — o
elogiei, interrompendo o homem. — Sabemos que ela não tem nem um
metro e meio de altura, mas esse é um assunto delicado.
O Sr. Ferrari deu de ombros.
— Enfim, ela disse que não podemos mexer no ninho, nem mesmo
mudá-lo de lugar enquanto os passarinhos não nascerem e aprenderem a
voar.
Era muita ousadia.
— Aprenderem a voar? Meu Deus, isso vai demorar quanto tempo? —
Não consegui evitar rir daquele absurdo.
— Não faço ideia — resmungou frustrado. — Ela mandou ficar longe
deles, disse que qualquer interferência nossa prejudicaria todo o processo.
— Ela não entende nada disso. — Balancei a cabeça e olhei o ninho.
— Nem sabe reconhecer quando um passarinho está morto quem dirá
quando vão nascer.
— Como é? — perguntou o homem, sem entender.
— Eu vou conversar com ela — informei, olhando para a minha casa.
— Não podemos ficar de plantão esperando esses bichos voarem.
O homem suspirou aliviado.
— Ainda bem que tem alguém sensato nesse lugar, todos os jovens que
vieram aqui até agora me pareceram um pouco sem juízo — comentou.
— Eu sou o mais sensato deles, de fato — concordei com ele, olhando
para as janelas dos quartos da nossa casa.
Me aproximei mais da beirada do telhado e consegui enxergar Madison
perto da janela do meu quarto com ninguém menos do que Derek, o cuzão.
Filho da puta. De onde ele tinha surgido?
— Não faz vinte minutos que eu a beijei no nariz — disse zangado. —
E ela já estava com outro?
— Oh! — O empreiteiro olhou na mesma direção que eu. — Essa é a
garota dos pássaros!
— A própria — resmunguei, tentando ver melhor o que eles estavam
fazendo. — E eles ainda estão no meu quarto!
— Que desgosto. — Suspirou o Sr. Ferrari, indignado. — Mas você é
jovem — Ele bateu nas minhas costas em consolo. —, vai superar isso.
Ela riu de algo que o babaca falou. Ele se inclinou na janela e sorriu de
volta, depois eles foram para um canto que fugia do meu campo de visão.
Se meu binóculo estivesse comigo tudo poderia ser resolvido. Me
inclinei mais na beirada do telhado.
— Misericórdia! — O homem correu atrás de mim. — Você irá
encontrar outra moça! Isso não é o fim do mundo!
— Eu posso garantir que é! — afirmei, indo mais para o limite do
telhado e me inclinando o máximo que conseguia.
Consegui vê-los! O idiota estava mostrando algo no celular dele para
Madison, os dois estavam próximos demais. Com toda certeza era só uma
tática dele para se aproximar.
— E ela jogou um litro de refrigerante nele! — Me inclinei um pouco
mais e quase caí.
— DEUS DO CÉU — gritou o Sr. Ferrari atrás de mim. — VOCÊ
TEM A VIDA TODA PELA FRENTE!
Me coloquei de quatro na estrutura, tentando me equilibrar melhor.
Olhei para baixo e vi que os meninos e todos os trabalhadores da construção
estavam reunidos embaixo, olhando assustados para mim.
— O QUE DIABOS VOCÊ ESTÁ FAZENDO AÍ, SEU IDIOTA? —
gritou Johnny preocupado.
— VERIFICANDO O ANDAMENTO DA OBRA — gritei de volta
para manter a minha dignidade.
— Pense com cuidado em tudo o que está jogando fora por uma garota
— murmurou o empreiteiro louco, nervosamente e eu revirei os olhos. Que
homem dramático.
Drake não perdeu tempo, tirou o celular do bolso e começou a me
filmar.
— PODE GUARDAR ISSO — avisei a ele e voltei a olhar para janela
do meu quarto.
Madison olhava seriamente para o celular, concentrada e o desgraçado
estava secando a sua bunda sem ela perceber. Quis matá-lo ali mesmo. Me
levantei em um impulso e quase caí de novo.
— OH MEU DEUS — todos gritaram ao mesmo tempo, em tensão e
quando olhei novamente para baixo, vi que as meninas também chegaram
para ver o espetáculo.
Provavelmente Drake já tinha espalhado a notícia. Amber começou a
rir, Sienna estava genuinamente preocupada e Scar parecia estar dividida
entre ficar curiosa ou filmar também.
— VOCÊ VAI CONSERTAR ESSE TELHADO PESSOALMENTE?
— gritou Tyler, tentando entender o que eu fazia ali.
— SIM — confirmei, observando Madison sumir novamente do meu
campo de visão.
Não podia perder tempo. Passei pela estrutura quebrada do telhado
apressadamente, a cada passo que dava alguém gritava mais alto ainda, o
empreiteiro já estava perto de ter um infarto.
— PRA QUÊ ESSA PRESSA? ENLOUQUECEU? — perguntou
Taylor, confuso e nervoso.
— Preciso ir ao banheiro! — inventei, conseguindo finalmente sair do
telhado para as escadas.
Desci e consegui ouvir os suspiros de alívio deles. Assim que cheguei
no gramado, todo mundo veio tentar ver se eu estava bem.
— Estou ótimo e inteiro! — Pisquei e abri os braços. — Mas preciso
usar o banheiro agora, é urgente.
Entrei depressa na casa e passei direto pelas escadas, só que adivinha
quem estava descendo bem naquele momento?
— Meu grande amigo! — Dei um sorriso abertamente falso e fui
cumprimentar o cuzão. — Eu queria falar com você mesmo!
Derek me olhou surpreso e sorriu como um idiota.
— Comigo? — Colocou a mão no próprio peito, surpreso.
— Sim. — Comecei a empurrá-lo até a sala. — O que você estava
fazendo no meu quarto?
Ele se virou para mim assustado, provavelmente não sabia que o quarto
era meu.
— Eu... — Derek coçou a nuca desconsertado. — Eu não sabia que era
o seu quarto, queria só convidar a Maddie pra um evento...
— Ah, sim! — interrompi, empurrando-o mais na direção da porta. —
Que evento?
Ergui a sobrancelha, deixando claro que não ia sair dali até ele me
falar.
— Beneficente — contou. — Em prol dos animais.
— Perfeito! — disse cinicamente, abrindo a porta para ele ir embora.
— Como somos amigos, você pode contar com a minha presença com toda
certeza.
Derek não ficou feliz com aquilo.
— Claro — disse, forçando um sorriso.
Me encostei na porta e apontei para fora, indicando que ele não era
mais bem-vindo ali. O babaca passou sem se atrever a olhar para mim de
novo.
— E Derek? — chamei e ele se virou. — Cuidado pra onde você olha
— murmurei sério, em um tom ameaçador.
O idiota engoliu em seco e acenou com a cabeça, entendendo o recado.
Fechei a porta na cara dele e suspirei zangado. Filho da puta atrevido.
— Derek — chamou Madison, descendo as escadas. Ela olhou ao redor
confusa e parou no meio do caminho ao me ver parado na porta. — Colin,
você viu o Derek? Eu jurei que o escutei...
— Nosso pobre amigo Derek foi embora — lamentei para ela, indo
para a cozinha. Ela me seguiu. — Ele disse que estava com uma dor de
cabeça terrível, enxaqueca.
— Enxaqueca? Ele estava falando comigo ainda pouco, estava ótimo.
Estava mesmo, eu percebi pelo jeito que secou a sua bunda.
— Pois é, mas essas dores vêm e vão. — Forcei um sorriso e abri a
geladeira, tirando um energético dali. — Você não estava pintando lá fora?
— Estava, porém ele apareceu dizendo que queria dar uma olhada nos
meus quadros.
— Hummmm — murmurei balançando a cabeça. — Eu sei bem no que
ele quer dar uma olhada.
A ruiva franziu a testa, confusa.
— Quem era o cara que saiu daqui? Parecia nervoso — perguntou
Scarlett, entrando na cozinha.
— Eu acho que era meu colega de curso — respondeu Madison,
preocupada.
— Por que você o botou pra fora? — Drake chegou logo atrás,
dirigindo a pergunta para mim.
— Só estava ajudando-o, parece que ele estava com problemas de
estômago — informei, tomando meu energético e Madison virou para mim
desconfiada.
— Você disse que ele estava com enxaqueca.
— Enxaqueca, dores no estômago... — Dei de ombros. — Creio que
esteja com uma virose forte, pode até mesmo ser contagioso. Se eu fosse
você, manteria distância dele. — Apontei para ela, entretanto a ruiva
revirou os olhos.
— Ele estava ótimo. Me convidou pra um evento...
Arregalei os olhos para ela em choque.
— Não — eu disse perplexo, colocando o meu energético na bancada.
— O evento beneficente de hoje? Eu vou também!
— Você? — Madison ergueu a sobrancelha sem acreditar em mim.
— Que evento é esse? — perguntou Scarlett, curiosa.
— Em prol dos animais. — Lancei um olhar convencido para o
gnomo. — Derek convidou todos nós.
— Ah — disse Drake murcho, sem a mínima vontade de ir.
— E nós iremos, claro — afirmei, vendo Scarlett e Drake perderem o
brilho, provavelmente querendo inventar alguma desculpa. — Todos aqui
queremos contribuir com a causa animal, não é?
Scarlett me estrangulou com o olhar.
— Claro — respondeu a morena tatuada com um sorriso forçado.
— Sim — confirmou Drake sem muita vontade e Madison olhou para
eles com um sorriso no rosto.
— Vai ser muito importante qualquer doação, eu sei que vocês não
querem ir...
— Ora, lógico que queremos. — Abri os braços quando Johnny e
Amber entraram na cozinha. — Todo mundo aqui vai!
— Ah, pra onde? — perguntou Amber, empolgada.
— Pra um evento beneficente — resumiu Drake.
— O que diabos você estava fazendo em cima do telhado? — Johnny
questionou sem paciência.
— Consertando-o, lógico. — Suspirei cansado. — Parece que tenho
que fazer tudo aqui.
— O telhado? — Madison virou para mim preocupada. — Não pode
consertar ainda, tem ovos lá.
— E era sobre isso mesmo que eu ia falar. — Apontei para aquele
gnomo ambientalista. — Eu não vou barrar a obra até os seus passarinhos
aprenderem a voar.
— Do que vocês estão falando? — Johnny alternou o olhar entre nós.
— Lógico que vai — mandou Madison, revoltada. — Eles vão morrer
se mexer no ninho.
— Não é um assunto meu. — Dei de ombros, mas não ia matar os
bichos.
— O que você tem contra os pássaros, hein? — Madison se virou para
mim, zangada. — Quer matar todos eles.
— Nem cite aquele maldito ator — disse irritado.
— De novo a história daquele passarinho? — Drake tentou entender do
que estávamos falando.
— Eu não vou paralisar uma reforma pra esperar aqueles ovos
chocarem! — avisei para ela.
— Que ovos? — Amber olhou ao redor da cozinha, procurando os
ovos.
— Você não vai encostar naquele ninho! — ameaçou a ruiva. — Vai
atrapalhar todo o processo se o tirar do lugar.
— Não me interessa o processo deles, eu vou reformar aquele telhado.
— Apontei para o telhado, determinado.
Todos ali desistiram de entender a discussão, balançaram as cabeças,
confusos e saíram da cozinha, nos deixando com o dilema do ninho.
Madison estava puro ódio.
— Você vai esperar eles nascerem — ela determinou entredentes.
— Se você quiser abrir uma maternidade pra chocar ovos, fique à
vontade, porém não será naquele telhado — afirmei irredutível.
— O telhado não é seu.
— Só que eu sou o dono da reforma. — Apontei para meu próprio
peito. — E vou deixar aquela casa do jeito que a encontrei.
— Que ótimo. — Ela me lançou um olhar irônico. — Por que você a
encontrou com os ovos no lugar.
— E ainda quer que eu os espere aprender a voar. — Eu tive que rir.
Não, gargalhei daquela loucura. — O que quer que eu faça? Que comece a
dar aulas de voo a eles?
Ela não estava achando graça.
— Você não vai tirar aquele ninho dali — disse em tom determinado e
ameaçador. — Eu estou dormindo no mesmo quarto que você, vou
infernizar a sua vida!
Nem pisquei, isso ela já fazia.
— Arranje outro lugar pra aquele ninho, eu não vou ficar vigiando...
— A mãe deles não vai encontrar, seu idiota!
— Por quê? Ela é cega? — Coloquei as mãos no quadril.
— Você é tão sem coração assim? — perguntou.
— Pra quê você quer esse tanto de passarinho? — disse, abismado com
aquela obsessão dela. — Pra falar a verdade, acho que está tendo uma
infestação na vizinhança. Nunca vi um lugar com tanto pássaro.
— Eu não quero ficar com os passarinhos! Os quero livres.
— Ótimo — falei passando por ela. — Então os deixe em paz, já estou
me sentindo sufocado por eles.
— Colin — chamou e eu virei para ela.
Madison estendeu a mão, determinada e eu sabia o que aquela pilantra
iria pedir.
— A moeda — pediu decidida.
— Não preciso consultá-la, sei que aqueles ovos vão sair dali.
— Vão mesmo, mas voando e no tempo deles — ela continuou com a
mão estendida e eu suspirei derrotado.
Tirei a moeda do pingente e mostrei para ela.
— Eu faço — avisei, segurando a moeda. Respirei fundo e perguntei:
— Devo tirar a porcaria do ninho do telhado?
Joguei-a para cima, peguei-a no ar e coloquei a moeda no torso da
minha mão, quando tirei a palma de cima, suspirei com o resultado.
Coroa.
— Destino. — A ruiva diabólica deu um sorriso convencido. — Não se
preocupe, Colin. — Ela deu tapinhas no meu ombro. — Você pode verificar
todas as manhãs como anda o voo deles.
Sorri sem me dar por vencido.
— Ou posso fazer a reforma no telhado com eles lá mesmo. — Dei de
ombros. — Só perguntei se deveria tirá-los ou não.
— Então faça a outra pergunta. — Ergueu a sobrancelha em desafio.
Era melhor não fazer, aquela moeda só estava fodendo com a minha
vida ultimamente.
— Tá — cedi de má vontade. — Fique com o seu maldito ninho.
Ela me deu um sorriso verdadeiro e eu suspirei, pois era o meu ponto
fraco. Me virei, deixando-a ali sozinha com a sua vitória, ainda tinha que
estudar antes de ir ao evento infernal. Tinha prova no dia seguinte.
A que nível cheguei? Adiando uma reforma para esperar passarinhos,
que nem mesmo nasceram, voarem e gastando minhas noites em eventos
beneficentes dos quais nem sabia da existência.
Tudo para ver um certo sorriso verdadeiro direcionado para mim.
Aquelas covinhas ainda seriam a minha ruína.
Colin Scott

— Eu acho que isso é uma bunda — sussurrou Drake, apontando para


o quadro à nossa frente.
Olhei a pintura e podia admitir que estava na dúvida. Assim que vi
pensei que era mesmo uma bunda, mas depois de um tempo comecei a
achar que poderia ser outra coisa.
— Não sei. — Dei uns passos para trás, tentando ter uma outra
perspectiva da imagem. — Talvez seja um pedaço de pão.
— Um pedaço de pão? — Amber se inclinou mais para frente,
procurando ver melhor.
— Cortado no meio — expliquei a eles.
Era difícil entendermos o conceito daquelas artes, não éramos da área.
O lugar estava lotado do pessoal do curso de artes. Tinham quadros,
esculturas e performances por todo lado, parecia uma grande galeria, as
paredes eram extremamente brancas, mas possuíam umas partes mais
escuras, dependendo da arte apresentada. Se comprássemos qualquer coisa
ali estaríamos ajudando, todo o dinheiro arrecadado iria para ações que
favorecessem o meio ambiente.
Estava sendo uma experiência interessante, tinha de tudo. Pessoas nuas
fingindo serem animais selvagens, bundas pintadas em um quadro, ou um
pedaço de um pão. Ainda não tinha entrado em um consenso.
— Eu acho que vou comprar esse quadro — disse Amber, intrigada. —
Ele me instiga a pensar, sabe? Poderia ser uma bunda, mas também um
pedaço de pão.
— Profundo — concordei.
— Ele pode ser tudo. — Drake inclinou a cabeça para olhar a obra por
outro ponto de vista.
— Ou nada — completou Amber, querendo rir.
— Se eu fosse você compraria mesmo esse quadro. — Passei o braço
pelos ombros de Amber. — Eu fico pensando na reação do Johnny
encontrando ele no quarto de vocês.
— Seria impagável — provocou Amber com divertimento e olhou ao
redor procurando o namorado.
— Ele está no segundo andar com os gêmeos, vá em frente —
incentivei, ela piscou para mim e foi atrás da pessoa responsável pelo
pagamento das obras.
— O que eu compro aqui? — perguntou Drake, tentando achar algo do
seu interesse.
— Tem de tudo. — Literalmente.
Queria ter visto alguma obra da Madison, porém ela avisou que não se
inscreveu a tempo. Dava para perceber que ela não era muito conhecida
entre as pessoas do seu curso, ficava mais retraída. A ruiva só
cumprimentou algumas pessoas de longe e foi mostrar algumas obras para
Scarlett e Sienna.
Elas estavam no mesmo andar que nós, então eu conseguia vê-la,
mesmo de longe, explicando detalhadamente tudo para as meninas. Eu
conseguia perceber que elas escutavam e davam atenção a cada palavra que
o gnomo falava, mesmo que arte visual não fosse muito a praia delas.
Madison estava com uma blusa colorida listrada e uma saia jeans meio
curta. Ela tinha pegado as suas mechas da frente e as amarrado em um
penteado para trás, deixando uma cascata de cachos descendo até alcançar a
sua bunda empinada.
A ruiva não era totalmente magra, seu corpo tinha curvas que a
desenhavam perfeitamente. Ela era a peça que eu queria ali.
Fiquei satisfeito por ver o cuzão bem distante. Derek a cumprimentou
assim que chegamos, no entanto manteve distância. Não por interferência
minha, ele apenas pareceu preferir andar com seus amigos. Provavelmente a
teria deixado sozinha se não tivéssemos vindo.
Ele não sabia o quanto aquela garota era valiosa.
— Você precisa aprender a disfarçar melhor — aconselhou Drake ao
meu lado.
Olha quem fala. Virei para ele com a sobrancelha erguida.
— E você não? Não pense que não percebo pra onde olha — revelei a
ele, já tinha notado aquilo fazia um tempo.
Drake fechou a cara na mesma hora. Pensei que estivesse com raiva,
contudo depois soltou um suspiro derrotado.
— Vai passar — falou passando a mão no cabelo, um pouco tenso. —
Uma hora vai passar.
Apertei o seu ombro em companheirismo.
— Eu também sempre digo isso pra mim — contei baixinho, não
querendo que ninguém escutasse aquilo. — Mas a verdade é que só piora.
Drake estreitou os olhos para mim, parecendo satisfeito por me ver
admitir. Era desesperador, porém verdadeiro, a cada dia sentia que a queria
mais. De um jeito que eu logo não conseguiria mais disfarçar. Ou recuar.
— Pensei que não gostasse dela — zombou Drake.
— Vá a merda. — Dei o dedo do meio para ele e o mesmo riu.
Ela me tinha na mão e isso era irritante. Me via fazendo exatamente
tudo o que ela queria, pensando nela todos os dias, sentindo ciúme de quem
chegasse muito perto. Só que também adorava tirá-la do sério.
Ficava quase excitado quando Madison ficava putinha e direcionava
toda sua raiva para mim.
— Está difícil — alguém falou atrás de mim.
— Está mesmo — concordei, pensando no meu próprio problema.
— Você também percebeu a falta de interesse? — perguntou a pessoa
que estava reclamando e virei para ver quem era.
Encontrei um homem de meia idade atrás de mim, tinha cabelo preto e
pele negra. Ele olhava com decepção para os alunos do curso que estavam
expondo suas obras ali. Parecia ser o professor.
— Eles aceitam se exporem, até ficam nus, entretanto quando é pra
participar de uma atividade que só vai exigir uns minutos, fogem —
resmungou o homem.
— E qual seria a atividade? — Drake perguntou curioso.
Eu também fiquei. O negócio deveria ser bem entediante para fazer
pessoas que ficavam, tranquilamente nuas no meio de todo mundo, fugirem.
— Pensamos em fazer uma peça pequena, só uma breve apresentação,
no fim do período. Só que simplesmente ninguém quer pegar os papéis. —
Franziu a testa chateado. — Eu mesmo escrevi a adaptação do roteiro, tive
todo o trabalho. Cada arrecadação iria ser destinada para associações de
proteção aos animais.
— Ninguém se inscreveu? — Por um momento, tive pena do homem.
Era péssimo criar um projeto e não ter ninguém.
— Os alunos que se inscreveram só aceitaram pegar os papéis
pequenos, parece que quanto menos aparecerem, melhor.
Só podia ser uma peça muito vergonhosa.
— É sobre o quê? — questionou Drake pensando a mesma coisa.
— Romeu e Julieta — respondeu o homem. — Só que adaptado, uma
sátira curta.
Acenei com a cabeça para ele. Nem julgava o pessoal, me lembrava
que assisti à peça uma vez quando era criança e fiquei perdido. Era um
morrendo, depois acordando, o outro se matando, depois morrendo de novo.
No final, só entendi que todo mundo morreu.
Fiquei traumatizado.
— Vale ponto? — perguntei o principal.
— Não — ele respondeu.
Ninguém iria participar mesmo, o homem não sabia negociar. Se ele
queria fazer os alunos passarem vergonha, que pelo menos oferecesse algo
em troca.
— Com toda certeza vai surgir alguém — menti em consolo e já ia
seguindo para a próxima exposição quando vi Madison passar perto de nós,
explicando a próxima obra para Scarlett e Sienna.
Sorri diabolicamente. Que Deus me perdoasse, todavia não podia
deixar passar essa. Não depois de ela ter me obrigado a vigiar um ninho de
passarinho em cima do seu telhado.
— Olha aquela aluna ali. — Apontei para Madison. — Ela é uma
excelente atriz.
E nem estava mentindo.
— Oh, é mesmo? — O homem a observou, animado e Drake balançou
a cabeça em repreensão para mim.
— Sim — confirmei. — Eu já a vi atuar e posso garantir, é exemplar.
— É mesmo? Estou dando aula pra ela esse semestre — contou. —
Mas ela me parece ser tão tímida...
— Só fachada. — Dispensei o comentário com um aceno. — Eu
mesmo fico impressionado com a capacidade dela de atuação.
Drake colocou as mãos no quadril e ficou apenas me encarando, sem
acreditar naquilo.
— É tão apaixonada pela dramaturgia que os cachorros dela se
chamam Brad Pitt, Angelina Jolie e Jennifer Aniston — contei e o professor
ergueu as sobrancelhas, surpreso.
— Quais trabalhos ela já fez? — perguntou impressionado.
— Por que não pergunta a ela? — ofereci, vendo-a se aproximar mais
com as meninas. — Madison! — chamei e ela se virou para mim em susto.
Primeiro ela estreitou os olhos confusa, depois quando viu quem estava
ao meu lado ficou genuinamente zangada. E olha que nem sabia o que eu
estava fazendo.
— Sim? — Ela deixou as meninas para trás e se aproximou com um
falso sorriso no rosto. — Como vai, Sr. Stone? — cumprimentou o
professor com cautela.
— Muito bem. — Ele sorriu para ela. — Este jovem estava me
contando sobre o seu talento nas artes cênicas.
Ela me lançou um olhar afiado.
— Oh, é mesmo? — perguntou, tentando ser simpática com o
professor.
— Eu nem quero ver no que isso vai dar — Drake sussurrou para mim,
se distanciando de fininho. Covarde.
— Não sei se chegou a ver, mas estou tentando montar uma peça, com
a apresentação daqui a algumas semanas — comentou o professor e eu não
consegui decifrar a expressão dela. — Nada muito profissional, porém tudo
o que arrecadarmos será destinado aos animais.
— Estávamos aqui pensando se você não poderia ser a Julieta. — Sorri
e se ela pudesse, me mataria naquele momento.
Madison respirou fundo antes de olhar para seu professor.
— Muito nobre. — Sorriu para ele. — Só que infelizmente eu não acho
que exista uma Julieta ruiva.
— Nada que uma peruca não resolva — ajudei, dando de ombros e ela
me encarou com ódio. — Pense nos animais que irá ajudar, Madison. Logo
você, que estava implorando para esperarmos os seus pintos voarem.
— Como é? — perguntou o Sr. Stone, confuso.
— Pois vai esperar pra sempre — ela disse sem muita paciência. —
Pelo que eu saiba, pintos não voam.
— Passarinhos — corrigi sem dar muita importância para aquilo.
— Então — O professor se virou para ela, empolgado. —, o que acha?
Cocei a minha barba por fazer, tentando esconder o sorriso.
— Eu realmente...
— Só falta apenas você e o Romeu — implorou o homem.
Madison parou um momento e eu podia ver as engrenagens na sua
cabecinha. Ela estreitou os olhos para ele e sorriu malandramente.
— Oh, e falta um Romeu? — perguntou animada.
Animada demais para o meu gosto.
— Sim, ainda não apareceu ninguém para a vaga — ele revelou,
frustrado.
É, tinha dado minha hora. Tentei dar um passo para trás, no entanto o
gnomo vingativo não me deixou escapar.
— Meu Deus, Colin! — murmurou abismada e sorridente. — Você não
disse um dia desses que tinha um sonho de participar de uma peça?
Que safada.
— Pois é — Estreitei os olhos para ela. —, mas minha agenda anda tão
cheia...
— Não é problema — interrompeu a criatura cruel e se virou para o
professor. — Podemos ensaiar só alguns dias da semana?
— Claro! — concordou animado por ter resolvido todo o seu
problema.
— Eu realmente estou impossibilitado de...
— Meninas! — chamou Madison alto o bastante para chamar a atenção
de todos ali. Scarlett e Sienna se viraram para nós, curiosas. — Vocês
sabiam que Colin vai atuar como Romeu?
Que ser desprezível e baixo (literalmente). Ela se virou para mim e me
deu um olhar de pura satisfação. Várias pessoas me olharam, procurando
uma confirmação. Bem, eu não iria tomar no cu sozinho.
— Exatamente. — Sorri confirmando e passei o braço pelos ombros da
pequena. — E Madison será minha Julieta.
Ela ficou rígida. Provavelmente estava contente por me foder, só que
irritada por ter se fodido. Eu também estava dividido entre esses dois
estados de espírito.
Resumindo, nós nos fodemos.
E nem era do jeito que eu queria.

Madison Jensen

Nunca fui uma pessoa violenta. Sempre gostei de resolver os conflitos


de forma pacífica, porém estava sentindo vontade de matar Colin Scott. Que
cretino! Desgraçado, infeliz...
— Querida, quer falar sobre isso? — perguntou Sienna, dirigindo.
Foi difícil escutá-la entre os risos da Amber.
— Não — respondi emburrada.
— Pense no lado positivo — disse Amber, recuperando o fôlego. — O
Romeu morre no final.
— O lado ruim é que não é a Julieta que mata ele — comentou Scar
com divertimento do banco da frente.
Olhei com cara de tédio para as duas.
— Não acredito que você comprou o desenho de uma bunda pra botar
no nosso quarto — disse Johnny, balançando a cabeça para a namorada.
— Pode ser um pão. — Ela o abraçou e deitou a cabeça no peito dele.
— A gente tenta adivinhar toda noite antes de dormir.
Johnny revirou os olhos, mas abraçou de volta sua maluca.
— Você pode tentar sair dessa peça — aconselhou Johnny, olhando
para mim por cima do ombro.
— Já me comprometi. — Suspirei frustrada. — Nesse momento eu só
quero matar o Colin mesmo.
— Já estamos chegando — cantarolou Scarlett, ansiosa pela confusão.
Assim que o carro parou na porta de casa, eu desci e subi direto para o
quarto do babaca. Abri a porta determinada, peguei as cuecas dele da gaveta
e joguei todas em cima da cama, junto com algumas peças de roupas.
— Isso é um pouco estranho. — Ouvi a voz do infeliz atrás de mim.
Colin tinha ido no próprio carro e eu estava torcendo para que ele
demorasse séculos, não acreditava que tínhamos que dividir a mesma casa.
— Você vai usar as minhas cuecas agora?
Me virei para ele, possessa.
— Fora! — Apontei para fora e ele olhou para trás como se não tivesse
entendido, fazendo graça. — Você vai dormir no sofá!
Joguei as cuecas em cima do idiota, que as pegou no ar e se encostou
na entrada na porta relaxadamente.
— Você está me expulsando do meu próprio quarto? — perguntou
erguendo a sobrancelha, no entanto podia ver o brilho de divertimento nos
seus olhos.
— Estou — falei ameaçadoramente, jogando o resto das cuecas em
cima dele. — E se pudesse, te expulsava da casa, da faculdade, do país!
Ele continuou encostado na parede.
— Você quer que eu durma só de cueca?
Não tinha paciência. E eu era uma pessoa paciente, só que ele
conseguia extrair cada gota. Era um dom que só ele tinha.
— Você pode dormir como quiser. — Fui até ele e o empurrei para
fora. — Com tanto que seja no sofá. E bem longe de mim!
— Olha, você é muito cínica — disse, erguendo as mãos. — A culpa
disso tudo é sua. Se tivesse me deixado consertar o telhado...
— Foi você que explodiu o telhado!
— E foi você que me mandou apagar aquela fogueira — argumentou,
porém, fechei a porta na cara dele.
— Suma daqui! — gritei para a porta.
— Eu moro aqui! — ele gritou de volta.
— Pois desapareça!
— Se você tivesse me deixado consertar a porcaria do telhado...
— Por que você tá segurando essas cuecas? — perguntou Taylor para
Colin de algum lugar.
Peguei meus incensos e acendi três de uma vez. Precisava de paz,
meditação, autocontrole e distância de quilômetros de Colin Scott. Passei a
fumaça do incenso em todo quarto.
Precisava limpar o ambiente, escutar uma boa música, treinar a minha
respiração e assistir desenho animado. Porque sim, sempre que brigava com
Colin aquele era meu ritual para me acalmar.
Meu celular vibrou no bolso e o peguei, vendo que Colin tinha me
mandado mensagem.
Ódio da minha vida: Eu preciso do resto das minhas roupas.
Eu: Não.
Ódio da minha vida: Eu entendo que deve ser um sonho me ver
andando pela casa só de cueca, mas está um pouco frio.
Mordi o lábio inferior em dúvida. Não podia ficar com pena dele, era
um cretino. Tinha me colocado de propósito em uma peça, queria matar
meus passarinhos e ainda tinha destruído a minha casa.
Não, não iria ficar me sentindo culpada. Seria firme e dura.
Eu: Problema seu.
Ódio da minha vida: Pois tenha uma péssima noite.
Eu: Igualmente.
Ódio da minha vida: Espero que tenha pesadelos.
Eu: Pode deixar, sonharei com você.
Ódio da minha vida: Tire pelo menos minhas cuecas da cama, me
sentirei menos assediado.
Eu: Tenha uma péssima noite, Colin.
Ódio da minha vida: Tenha uma péssima noite, gnomo.
Bloqueei a tela do celular e suspirei derrotada. Me joguei na cama
grande e olhei para o lado, onde estavam jogadas suas cuecas. Lembrei de
quando ele beijou a ponta do meu nariz e me peguei sorrindo.
Gostava quando ele me tocava, gostava de senti-lo por perto, mesmo
quando o queria longe. Adorava vê-lo com raiva, amava ganhar as nossas
discussões, gostava até de ficar irritada com ele. E nunca senti tantos
sentimentos misturados e confusos por uma mesma pessoa.
Alisei o seu lado da cama e meu sorriso cresceu um pouco.
— Boa noite, seu idiota.
Levantei e acendi uma vela aromatizante, uma que me trouxesse bons
sonos. Assim que deitei na cama novamente vi a luz da chama dançar pelo
quarto. Fechei os olhos e pedi em silêncio para sonhar mesmo com ele.
Era melhor do que os meus sonhos de costume.
Madison Jensen

Noventa, noventa e um, noventa e dois...


Estava demorando demais. Olhei para trás e vi que as luzes ainda
estavam acesas dentro da tenda vermelha. Aquilo significava que eu ainda
não podia entrar.
Voltei minha atenção para as estrelas de novo e continuei a contá-las.
Não deveria ficar tão ansiosa assim, mas sentia muita falta dela. Vovó
ficava a maior parte do tempo longe, ela era um espírito livre, como
gostava de dizer.
Então era normal eu passar dias sozinha, semanas, e tiveram raras
situações em que cheguei a passar meses só. Quando ela chegava em casa,
tudo o que eu queria era abraçá-la até o momento em que partisse outra
vez.
— Charlatã! — alguém gritou e olhei para trás.
Era a mulher que vovó estava atendendo. Ela saiu da tenda
transtornada, chorava muito e eu me levantei do chão depressa, querendo
perguntar se ela estava bem.
— MENTIROSA! — Continuou a apontar para a tenda vermelha e
decidi não me aproximar.
Já vi pessoas saindo de todo jeito dali. Algumas não queriam aceitar o
futuro, passado ou até mesmo presente. Vovó costumava dizer que o destino
estava escrito, só que nem por isso deveríamos mexer com ele.
A mulher passou zangada e acabou esbarrando em mim. Tropecei,
quase caindo para trás. Assim que ela me viu, parou no lugar. Não sabia se
estava se preparando para pedir desculpas ou para me tornar o alvo do seu
ódio.
— Quantos anos você tem? — perguntou e percebi que o seu rosto
estava inchado de chorar.
Respirei fundo, apreensiva.
— Doze — respondi.
— Ela também te envolve nesse esquema?
Balancei a cabeça depressa, apreensiva.
— Bruxa — disse sem tirar os olhos de mim. — Bruxa mentirosa.
Dei um passo para trás, com medo e ela saiu andando, talvez sem
rumo, só querendo fugir. Olhei para a tenda novamente e a luz ainda estava
acesa.
Eu só podia entrar depois que se apagasse, era uma regra nossa. E eu
não quebrava as regras da vovó. Só que ela estava demorando tanto...
Respirei fundo e andei até a tenda. Senti um calafrio passar pelo meu
corpo quando passei pela cortina vermelha. Vovó estava paralisada atrás
da sua bola de cristal. O incenso espalhava uma fumaça suave no ambiente
e a vela brilhava em cima da mesa.
Me aproximei dela e vi que os seus olhos estavam em outro lugar.
Outra dimensão. Ela estava ali e ao mesmo tempo não estava. Se eu fizesse
qualquer pergunta, ela responderia. E talvez aquela fosse minha única
chance de saber.
Tremi com medo de ela acordar do seu transe e me pegar ali, mas
segui em sua direção e quando fiquei ao seu lado, ela virou a cabeça
lentamente para mim.
— O que quer saber? — perguntou em uma voz distante, sussurrada.
Ela estendeu a mão para mim e eu coloquei a minha sobre a dela. Seus
dedos passaram por cada linha que tinha, traçando cada cicatriz e calos
que conquistei.
Baixei o olhar, envergonhada, e falei baixinho aquilo que queria saber
do fundo do meu coração.
— Sobre o amor.
Não a encarei, olhei para o chão e esperei seus dedos passearem sobre
a minha mão feia. Era vergonhoso admitir, porém eu pensava em um
príncipe encantado. Assim como as pessoas que procuravam vovó, eu
também sonhava em encontrar o meu.
Eu não queria muito, não pedia por riquezas ou pelo mundo aos meus
pés, eu só queria ter alguém. Eu só não queria mais ser sozinha. Eu queria
que alguém lembrasse do meu aniversário, queria ter alguma pessoa para
contar como foi o meu dia, mesmo que tenha sido o mais entediante
possível.
Alguém que se importasse comigo. Eu prometia amá-lo profundamente
e dar o meu coração em troca. Faria presentes para ele, escreveria cartas,
lhe daria flores e o abraçaria todos os dias.
Ela suavizou o aperto na minha mão e senti a sua respiração
tranquilizar.
— Não precisa procurar pelas estrelas, elas simplesmente vêm até você
toda noite — contou. — Elas estão te procurando também e por isso
brilham. Elas querem que você as note, as veja, estão completamente
atraídas pela sua luz.
Senti meu coração acelerar e ela pegou minha outra mão, colocou as
duas uma do lado da outra e traçou a linha que tinha na mão esquerda e
seguia até a direita.
— O que respira o mesmo ar está fadado a se encontrar — revelou,
seguindo a linha das minhas mãos. — Porque está ligado, vivo e conectado.
Ela soltou as minhas mãos e dei um passo para trás. Não deveria ter
feito aquilo, ela me avisou e tudo o que foi dito ali só me deixou mais
confusa.
Me apressei a apagar a vela em cima da mesa antes que ela acordasse.
— Maddie? — perguntou confusa, assim que me distanciei da mesa. —
Entrou depois da luz se apagar? — Deu um sorriso cheio de rugas e aquilo
aqueceu meu coração.
Iria mentir para ela pela primeira vez na vida.
— Sim. — Fui até ela e beijei seu rosto cansado. — A senhora
demorou a acordar.
— Estou ficando velha — brincou, se levantando da cadeira com
dificuldade. Logo que ela ficou de pé eu a abracei pela cintura.
— Senti sua falta — falei, me sentindo um pouco emocionada.
— Eu também, meu bem. — Acariciou o meu cabelo. — Por que está
chorando?
Funguei e a apertei mais.
— A mulher que saiu daqui foi um pouco grossa — menti.
— Não pense mais nisso — aconselhou com carinho. — Esqueça essa
noite.
Mas não esqueci. Não estava mais sozinha. Tinha uma estrela, em
algum lugar do universo que estava brilhando apenas para mim. Ela estava
me procurando. E o que respira o mesmo ar está fadado a se encontrar.

O sol não tinha nascido ainda, contudo estava quase lá. Desci as
escadas ainda de pijama e fui fazer o meu chá. Assim que peguei a xícara
quente caminhei até a sala da casa, procurando por Colin.
Parei em choque em frente ao sofá ao ver que ele realmente dormiu só
de cueca. Meu deus, Colin era tão grande que ocupava quase todo o sofá.
Seu corpo era todo musculoso, desde as pernas torneadas até o pescoço, de
um jeito que fiquei tentada a imaginar coisas indecentes.
Era tão bonito... seu cabelo macio e castanho estava um pouco
bagunçado, a barba por fazer com alguns fios loiros só dava um charme a
mais. Tentei não olhar para a corrente no seu peitoral, que subia e descia em
movimentos tranquilos pela sua respiração, como se estivesse em um sonho
bom.
Tinha vontade de saber com o que ele sonhava. Sonhos eram
importantes demais para serem esquecidos logo que se acordava. O céu já
estava começando a ficar mais claro, o azul estava mudando para um tom
suave, então não perdi tempo.
— Colin — chamei, o cutucando.
Nada.
Não deveria, mas ele estava tão lindo dormindo que não resisti a tocá-
lo no rosto. Me agachei na altura do seu rosto, passei os dedos por seu
maxilar e o senti relaxar ao receber o meu carinho. Ele se inclinou na
direção da minha mão e seus olhos mexiam de um lado para o outro,
fechados.
Ele estava em outro mundo, em um sonho bom. Eu podia sentir aquilo,
a vibração chegava em mim, como a magia em que ele não acreditava.
— Colin. — Usei um tom mais manso e ele suspirou. — Acorda.
Ele abriu os olhos, quase como se eu comandasse o seu corpo.
Esfregou os olhos e observou ao redor, para ter certeza que eu estava
mesmo ali.
— Levanta, a gente vai perder o sol nascendo — avisei ficando de pé
na frente dele.
— E não estávamos brigados? — perguntou com uma voz rouca e se
sentou no sofá, me olhando de cima a baixo de um jeito engraçado.
— Sempre estamos brigados, não é por isso que eu vou te deixar
escapar das obrigações — alertei, bebendo o meu chá.
Ele continuou a observar o meu pijama com um sorriso tranquilo.
— Estou tentando entender o que é isso que você está usando. — Ele
riu, passando a mão no cabelo bagunçado.
— Um pijama. — Dei de ombros e segui para a área da piscina,
esperando-o vir logo atrás.
Ainda não tinha usado os meus pijamas na frente dele, porém estava
perdendo a vergonha. Gostava de pijamas com capuz, tinha uns com
coelhos, outros com pandas, o que eu estava usando naquele momento era
um de elefante. Me deixava com as orelhas de elefante, eles eram
quentinhos e macios, e eu me sentia abraçada por um urso de pelúcia.
Colin demorou um pouco a vir, tinha ido ao banheiro, provavelmente
para escovar os dentes. Quando chegou na área externa já estava vestido
com uma calça moletom.
— Isso não é pra ser usado em crianças? — provocou, sentando
justamente na espreguiçadeira em que eu estava, próximo demais.
— Como serve em mim, não vejo problema — disse, tentando não
prestar atenção no jeito em que ele se aproximava, aos poucos, de mim.
— Como quiser, Julieta — brincou e virei para ele com um olhar
vingativo.
— O lado bom é que se tiver um balcão, eu vou te empurrar de lá.
— Eu não duvido disso. — Ele se aproximou mais, de um jeito que sua
coxa musculosa encostava na minha. — Me conta uma coisa, você além de
dormir com as minhas cuecas também curte me observar dormir? Estou
começando a me sentir intimidado.
Revirei os olhos e bebi o meu chá.
— Você tem sonhos bons, é uma pena que não lembre deles —
lamentei, olhando para cima.
O sol ainda não tinha aparecido, mas as cores em borrões já eram
visíveis. Nuvens perfeitas já banhavam o céu, a imagem me fazia lembrar
de um conto de fadas.
— Como pode ter certeza, pequena? — perguntou suavemente e senti
seu olhar em mim.
— Já disse, o som da sua respiração. — Dei de ombros. — E também
consigo sentir a tranquilidade. É triste que eles sejam perdidos.
— O lado bom é que não tenho pesadelos. — Ele estralou o pescoço,
se espreguiçando. — Nunca senti aquela sensação que as pessoas tem “de
cair” no sonho.
Virei para ele curiosa.
— Então não sabe como é cair?
Ele sorriu de lado.
— Eu caí em cima de você, não foi? — Piscou. — E também já pulei
de paraquedas.
— Já? — Arregalei os olhos. — E como foi?
Ele pensou um pouco.
— Não pensei muito na hora, só me joguei — falou e acreditei
completamente. Conseguia imaginá-lo fazendo esse tipo de loucura sem
pensar duas vezes. — Aproveitei a sensação, senti uma adrenalina da porra,
depois calmaria. Quando cheguei no chão fiquei energizado, quis ir de
novo.
— E foi?
— Não, a moeda não deixou — disse, pegando na corrente em seu
peito e fiquei satisfeita que ele ouviu a moeda.
— Sem desvios?
— Sem desvios. — Sorriu de um jeito que seus olhos se inclinaram
para baixo, o deixando mais charmoso.
Assim que percebi que estava olhando-o demais, virei para frente,
vendo o sol chegar. Joguei o meu capuz de elefante para trás, deixando meu
cabelo pegar um pouco da luz do sol.
— Obrigado por ter me acordado — agradeceu e eu assenti para ele,
sem encará-lo.
Estava muito hipnotizada pela obra de arte acima de nós. Fechei um
olho e coloquei minha mão na frente do rosto, imaginei que estava
segurando um pincel e o céu era a tela. Tentei capturar as cores.
— Você conhece William Turner? — perguntei a ele enquanto fingia
pintar.
— Do Piratas do Caribe?
Eu ri, sabia que ele diria aquilo.
— Não, o artista. Ele era um artista impressionista, o meu favorito.
Não é tão conhecido, mas ele tentava capturar a luz do sol nas suas pinturas.
— Virei para ele. — Os quadros dele podem parecer um borrão de cores pra
maioria das pessoas, porém era a luz do sol que ele tentava eternizar.
Colin inclinou a cabeça de lado.
— A luz do sol já não está eternizada?
— Não, a luz do sol é um momento — expliquei. — Um momento que
não se repete, como esse. — Apontei para o espaço entre nós. — É único,
nunca mais veremos outro nascer do sol como esse, amanhã ele será outro.
Turner tentava pegar essa luz, quando olho pros quadros dele consigo
perceber a sua vontade de transformar um acontecimento em arte, ele fazia
pinceladas rápidas, tentava pintar o quadro antes que o sol desaparecesse.
Era único.
Ele me olhou de um jeito diferente. Talvez admirado, como se seus
olhos estivessem sorrindo.
— Seus quadros são um pouco assim — contou e fiquei surpresa que
ele tivesse prestado atenção nisso. — Você tenta pegar o nascer do sol
também?
— Não — neguei, assoprando o meu chá. — Eu não tento capturar a
luz, tento capturar a sensação e colocar isso no quadro. Acho que é nisso
que somos diferentes.
Sorri para ele e coloquei um cacho rebelde atrás da orelha.
— Se alguém te pintasse agora... seria melhor do que qualquer nascer
do sol — revelou sem tirar os olhos de mim e um sorriso involuntário
cresceu no meu rosto. — Acho que se você fosse pintada em todas as fases,
inclusive quando está brava, ainda seria perfeita.
Meu coração acelerou, estava sentindo minhas bochechas esquentarem,
entretanto não desviei o olhar.
— Eu não sou perfeita — lembrei-o um pouco acanhada.
— Pra mim, você é.
Colin pegou minha mão entre as suas com carinho, tocou levemente
nas minhas marcas e as beijou. Acho que ele tinha gostado de fazer aquilo,
e eu também gostei.
— Quem fez isso com você? — perguntou sem tirar os olhos de mim.
Ele me tocava com ternura, cuidado, proteção, contudo o seu olhar
entregava que estava um pouco zangado. Percebi esse mesmo olhar logo
que ele as notou pela primeira vez.
Colin tentava não demonstrar que estava bravo com aquilo, no entanto
era possível perceber.
— Quem fez isso com você, meu amor? — repetiu quando não
respondi.
Fechei os olhos, sentindo o peso daquelas palavras.
— A vida. — Sorri tristemente, olhando para ele. Colin respirou fundo,
talvez um pouco angustiado. — Eu estou bem — garanti, sentindo uma
pontada de alegria no peito por ouvir o “meu amor”.
Só as meninas usam termos carinhosos comigo. De alguma forma
aquilo vindo dele, era especial.
— Não vai mais acontecer — garantiu seguro. — Nunca mais.
Era uma promessa estranha de se fazer. O olhei com carinho e apertei
minha mão na dele.
— Como pode ter certeza? — questionei com um sorriso suave.
— Eu nunca deixaria qualquer coisa te machucar. — Deu outro beijo
na minha mão. — Sou seu inimigo, só eu posso te irritar, pequena.
Sorri para aquela lógica dele.
— E só você pode me machucar?
Ele negou com a cabeça, sério.
— Eu posso te provocar, fazer você perder a paciência e ficar
brevemente irritada. Mas machucar? Nunca espere isso de mim. — Apertou
mais minha mão entre as suas.
Assenti tranquilamente para ele. Sabia disso.
— Você não me deixa brevemente irritada — avisei de brincadeira,
tentando falar seriamente. — Você me deixa muito irritada.
— Eu só sei fazer as coisas bem feitas. — Piscou e olhou em volta. —
Acho que nosso momento passou.
Olhei para o céu e vi que o sol já estava ali, tinha nascido. Acabou.
— Passou — concordei um pouco triste.
— Foi único — concluiu, ainda segurando minha mão.
Me virei para ele e sorri em despedida. Levantei e minha mão deslizou
com pesar na dele, Colin fez uma careta, quase como se sentisse uma dor
física pela separação.
— Tenho uma entrevista daqui a pouco — revelei, bebendo o que
restou do meu chá.
— De emprego? — questionou surpreso.
— Sim — confirmei e segui para a sala.
— Não sabia que estava procurando emprego — disse atrás de mim.
— Eu enviei uns currículos e me responderam esses dias — avisei,
indo deixar a xícara na cozinha. Colin veio me seguindo, parecendo querer
saber do meu dia. — É em um café perto do campus.
— Perto do seu prédio?
Pensei um pouco.
— Não, fica meio distante.
— E como vai ir todos os dias? — Ele se encostou na bancada da
cozinha em uma posição tranquila, porém tinha um tom de preocupação na
sua voz que não conseguiu disfarçar.
— Eu vou me preocupar com isso se eles me contratarem — brinquei,
dando de ombros.
— Eu te deixo lá agora — ofereceu. — Tenho prova hoje e vou passar
a manhã na biblioteca.
Me virei para ele surpresa.
— Obrigada. — Sorri em agradecimento, ajeitando meu capuz na
cabeça. Ia subindo as escadas quando me virei e apontei o dedo para ele. —
Não pense que não estou zangada, ainda vai ter volta.
Ele colocou as mãos nos bolsos da calça moletom preta e me olhou
com um sorriso travesso no rosto. Estava tão gato, com o peito de fora, a
corrente brilhante, os olhos azuis. Ele tinha que ser tão lindo?
— Ansioso por isso — avisou, mordendo o lábio inferior. — Adoro
quando você fica vingativa.
Revirei os olhos e dei as costas para ele.
Estava com pressa, tinha um emprego para conquistar. Questão de
necessidade, todo o dinheiro que vovó conseguiu me deixar, tudo o que eu
já juntei com os trabalhos que fiz no passado, estava no fim. Precisava
voltar a ser adulta.
A questão era que eu sempre fui adulta, até mesmo quando era uma
criança.

Colin Scott

Deixei minha pequena no lugar que ela ia ter a entrevista sabendo que
a vaga já era sua. Tudo o que Madison se propunha a fazer, fazia bem. Isso
indicava que eu teria que descobrir os horários em que ela iria entrar e sair,
apareceria por “acidente” ali todos os dias e a levaria para casa.
Que desculpa teria para aquilo? Não fazia a menor ideia.
Meu coração quase foi parar na boca no instante em que vi que ela
tinha me acordado. Não gostava quando meu gnomo se distanciava. Pensei
que fosse ficar uns três dias sem falar comigo e aquilo era o mesmo que me
ferir. Preferia que ela me atirasse pedras, a me ignorar.
Senti vontade de pegá-la nos braços assim que a vi tão perto de mim.
Só que eu não podia, tudo o que me foi dado até agora foi beijar sua mão.
Suas preciosas mãos. Não iria mais insistir para saber o que aconteceu, ela
não se sentia à vontade, era nítido.
No entanto, se algum dia eu encontrasse a pessoa que fez aquilo com
ela, essa pessoa estaria morta. Nunca senti tanta raiva na vida, era um
sentimento pesado de proteção que vinha do fundo do meu peito, me
torturava saber que alguém machucou meu bem precioso.
Segui para a biblioteca da universidade querendo estudar antes da
prova de Relações Internacionais. Sim, eu cursava Ciências Políticas, tinha
que usar a minha lábia para alguma coisa útil na vida.
Estacionei o carro e caminhei até a biblioteca. Me sentia... leve.
Acordar cedo para ver o nascer do sol realmente melhorava o dia. Minha
pequena tinha razão.
Ou talvez fosse por vê-la feliz, falando sobre as coisas que gosta. Isso
me deixava satisfeito.
Logo que entrei no ambiente percebi alguns olhares na minha direção,
acenei para alguns conhecidos que me parabenizaram pelo jogo e avistei, à
distância, umas duas garotas com quem já tinha transado. Era engraçado,
um semestre atrás eu estaria indo até lá e jogaria conversa fora.
Naquele momento eu não sentia qualquer vontade, mesmo estando em
uma seca terrível há meses. Tudo o que eu queria era esperar, nem que
fossem mil anos, só para poder beijar sardas na ponta de um nariz.
Sentei em um canto e senti o meu celular vibrar. Tirei-o do bolso para
ver a mensagem.
Benjamin: Lembrado que dia é hoje?
Eu: Dia de prova?
Benjamin: Não. Aniversário do Peter, os caras estão marcando uma
surpresa hoje.
Benjamin: Mandaram te avisar, certeza que não se lembrou.
Eu: Lógico que lembrei.
Não tinha lembrado, mas não admitiria.
Eu: Onde vai ser?
Benjamin: Vamos sair hoje pra boate que aquela sua amiga trabalha.
Peter tá tentando pegar ela, quem sabe ela não se sensibiliza quando
descobrir que é aniversário dele.
Eu ri alto. Várias pessoas olharam feio para mim e pedi desculpas
baixinho.
Eu: Scarlett?
Benjamin: Exato, a do cabelo preto liso e tatuada.
Eu: E o que ele quer fazer? Implorar por um presente de aniversário
dela?
Benjamin: Sim.
Eu: Me diga o horário, jamais perderia esse fora épico. Vou até avisar
pro Drake fazer a cobertura completa.
Benjamin: Colin, se ele levar um fora, não fique enchendo o saco dele.
É o aniversário do cara.
Eu: Eu? Jamais faria uma coisa dessas.
Benjamin: Apareça às 21hrs! É surpresa, não pode atrasar.
Saí da conversa dele e entrei no grupo da nossa casa. Sabia que como
não tinha treino hoje, provavelmente os babacas também não iriam se
lembrar do aniversário do Peter.
Eu: FESTA HOJE.
Johnny: Nem por cima do meu cadáver.
Amber: Onde???
Drake: Onde??
Sienna: Pra mim, não dá.
Tyler: Pode levar maconha?
Taylor: Vou encaminhar essa mensagem pra mamãe.
Tyler: Tomar no cu.
Taylor: Eu já como alguns.
Eu: Fico feliz em saber que anda bem alimentado, Taylor. Mas eu só
passei pra avisar que vamos pro trabalho da Scar hoje.
Eu: 21hrs.
Scar: Tenho até medo.
Amber: Vamos nos comportar. Prometo.
Johnny: É SEGUNDA-FEIRA.
Eu: Sim, papai, mas hoje é aniversário do Peter. Esqueceu?
Ninguém digitou nada. Ele tinha esquecido.
Johnny: Claro que não. Estava lembrado.
Johnny: Todo mundo vai hoje às 21hrs.
Taylor: Sim, capitão.
Drake: Sim, capitão.
Tyler: Sim, capitão.
Amber: Sim, mozão.
Eu: Sim, papai.
Sienna: Eu não vou poder ir hoje! Combinei de sair com Michael.
Scar: Já estarei lá de toda forma.
Esperei meu gnomo digitar alguma coisa, só que talvez ela ainda
estivesse na entrevista. De toda maneira, eu faria minha especialidade:
encheria o saco dela até topar.
Colin Scott

Tinha gabaritado a prova.


Não saiu o resultado ainda, mas sabia que era dez. Sempre me saí
melhor nas provas discursivas, meus professores costumavam falar que eu
tinha uma ótima articulação e sabia usar as palavras.
Cheguei a sair cedo da prova, porém passei o dia no campus, assistindo
aula e estudando na biblioteca. Quando percebi já era tarde da noite e pelo
jeito ia chegar atrasado para o aniversário do Peter.
Abri a porta de casa apressado e encontrei Sienna descendo as escadas
com uma roupa elegante, colocando um brinco na orelha.
— Está atrasado — ela avisou, descendo.
Olhei ao redor procurando por Madison, só que não a vi ali. Nem sabia
se tinha dado certo a sua entrevista.
— Você disse que não conseguiria ir — lembrei, indo até a loira
platinada e dando um beijo na sua bochecha.
— Eu sei... — Suspirou frustrada e olhou para o seu vestido, meio
triste.
— Ei — chamei suavemente. — O que foi?
— Ele não vem — murmurou baixinho, alisando a roupa sem olhar
para mim.
— Por quê? — perguntei, por mais que não estivesse surpreso.
— Disse que tinha surgido um imprevisto. — Ela ergueu os olhos para
mim e me deu um sorriso autodepreciativo. — Mas eu vi que um dos
amigos dele postou uma foto deles em um bar.
Ah, querida. Michael é um grande pau no cu.
— E como você está um espetáculo hoje, não pode ficar em casa triste
— elogiei tentando arrancar um sorriso genuíno dela. E consegui.
— Eu não sei se estou com ânimo pra sair.
— Sabe, Si — joguei a ideia como quem não queria nada. — Se você
quiser que a gente bata nele por você, é só avisar.
Ela riu.
— Eu aviso. — Sienna enxugou o canto do olho, tentando não borrar a
maquiagem. — Obrigada por isso.
— Você merece mais. — Beijei a sua testa e ela me abraçou.
— Eu não sei se quero ir hoje... — falou e a abracei de volta.
— Está proibida de ficar em casa — avisei.
— Ele está com aquele cara que joga hóquei com vocês, o que eu não
gosto. Podem aparecer lá hoje e eu não quero esse encontro.
— Qual? — Franzi a testa, não sabendo daquilo.
— Charles Moore. — Ela se afastou com uma cara de desgosto.
E tinha sentido. Charles era um pé no saco, e eu sabia que ele era da
mesma fraternidade do namorado da Sienna. Contudo, ele não apareceria
hoje, quase não interagia com o pessoal do time.
— Garanto que ele não foi convidado — prometi, já subindo as
escadas. — Você vai, Sienna.
Ela me deu um sorriso suave.
— Eu vou — decidiu e piscou em provocação para mim. — E ela está
lá em cima.
— Quem? — Ergui a sobrancelha me fazendo de desentendido e
Sienna apenas revirou os olhos.
— Não a estresse — disse em comando. — Ela já passou a noite me
ajudando.
— Francamente, o que vocês pensam que eu sou? Uma criança de 5
anos? — Balancei a cabeça repreensivamente para a Sienna e subi as
escadas até o meu quarto. — Madison — cantarolei abrindo a porta, pronto
para estressá-la. — Madison, Madison...
Parei no lugar em choque com o que vi ali. Meu quarto tinha virado
uma floresta. Ele era grande, tinha espaço de sobra para caber umas quatro
pessoas ali, no entanto era tanta planta espalhada, que quase não consegui
caminhar dentro dele.
Ainda para completar, tinham vários incensos e velas aromatizantes
acesos ao redor das plantas. O que era aquilo? Ela queria incendiar aquela
casa também?
— O que é isso? — Coloquei as mãos no quadril, exigindo satisfação.
— Um velório? Um exorcismo?
Procurei meu gnomo pelo quarto e vi que a luz do banheiro estava
ligada.
— Olha aqui, essas plantas vão sumir daqui nesse exato momento —
avisei decidido.
Madison saiu do banheiro segurando um incenso e seguiu para apagar
as velas acesas, sem me dar atenção.
— Eu não vou dormir no meio dessa mata. — Caminhei em sua
direção. — O que diabos é isso?
— Estou harmonizando as plantas — respondeu se agachando entre
elas, pegando as folhas entres as mãos, parecendo sentir a textura delas. —
Elas acabaram de ser compradas e precisam ser purificadas.
Aquilo não fazia o mínimo sentido para mim.
— E isso tem que ser no meu quarto?
— Elas precisam de um lugar fechado que seja meio aberto pra
absorverem a energia — informou, tocando as folhas com carinho.
— Eu tenho certeza que tem outro lugar “meio fechado e meio aberto”
que não seja o meu quarto.
Ela estava muito enganada se achava que eu cederia às suas
maluquices.
— Já acabou. — Ela revirou os olhos e passou a verificar a próxima
planta. — Eram só duas horas, elas não podem ficar muito tempo aqui.
Precisam da luz do sol e de um ambiente tranquilo.
— Ótimo, pois as tire daqui.
— O quarto não é seu — lembrou e virou o rosto para mim. — Ele é
nosso.
Ele era. Nosso. E eu gostava para caralho de como aquilo soava na
boca dela. Me agachei também, para ficarmos na mesma altura, por mais
que fosse impossível.
— Ele é nosso — concordei. Tudo o que é meu, pode ser seu também.
Eu não me importo. — Contudo, não vou dormir com essas plantas.
— Ainda não decidi se você pode voltar pra cama. — Ergueu a
sobrancelha desafiadoramente e eu percebi que ela estava se divertindo.
— As minhas costas não aguentam mais aquele sofá — barganhei e ela
não pareceu sentir piedade.
— Tudo depende de como você vai se comportar. — Deu de ombros.
— E as plantas não são minhas, são da Sienna. Eu só estou purificando-as.
— Não me importo com isso, contanto que as tire logo daqui.
— Vou tirar — resmungou levantando.
Levantei junto e quando a vi limpando as mãos pequenas no macacão
jeans percebi que ela não conseguiria levar tantas plantas para o andar
debaixo sozinha.
— Você trouxe tudo isso pra cá sozinha? — perguntei, zangado por
ninguém ter vindo ajudá-la.
— Não, Drake e Sienna me ajudaram. — Ela se inclinou para pegar um
jarro, mas eu fui mais rápido.
Agarrei-a pela cintura e passei o braço pelas suas pernas, a erguendo.
Madison deu um gritinho de surpresa e se segurou nos meus ombros.
— O que é isso?
— Você vai atrasar todo mundo — avisei, levando-a até o banheiro. —
É aniversário do Peter hoje.
— Eu preciso acordar cedo amanhã...
— Deu certo a entrevista?
— Eles disseram que iam me ligar, porém acho que não ficaram muito
empolgados comigo — ela contou, murcha. — Vou continuar enviando
mais currículos.
Me inclinei e beijei seu rosto, pegando-a de surpresa.
— Quem perde são eles, pequena. — Pisquei e entrei no banheiro com
ela nos braços. — Eu te trago pra casa na hora que quiser ir embora.
— Eu nem sou muito amiga do Peter. — Ela tirou um cacho do meio
da face, um pouco vermelha por eu ter a beijado ali.
— Pois saiba que ele exigiu que você fosse — menti e ela me olhou
sem acreditar.
— Por quê? — perguntou cinicamente.
Porque eu não quero ir para nenhum lugar sem você.
— Estamos perdendo tempo. — A coloquei no chão e recuei um passo.
— Você está atrasando todo mundo.
Ela abriu a boca para falar mais alguma coisa, só que fechei a porta na
sua cara.
— Pare de atrasar — disse, antes de começar a carregar os malditos
vasos.
— Cuidado com as plantas! — mandou.
Revirei os olhos, mas levei as plantas com cuidado. Era importante
para ela. Então era para mim também.

— Parabéns, irmão. — Bati nas costas de Peter.


— Como presente você deveria me prometer que vai parar de me dar
susto no gelo — disse Peter, bêbado.
— Vai ter que se contentar com um relógio. — Dei um meio sorriso e
estendi o presente para ele.
Peter Roberts e Benjamin Nelson eram os jogadores do time mais
próximos de nós. Alguns dos caras ficavam meio intimidados de se
aproximarem da gente, muitos por conta do pedestal que nos botavam. Todo
mundo sabia que Johnny, Drake, Taylor e eu entraríamos para os
profissionais. Ou era o que os jornais esportivos apostavam.
Aquilo nos dava uma certa fama antecipada, todos do time eram muito
amigos, mas percebíamos um respeito a mais quando falavam com a gente.
Exemplo disso era hoje, em que todo o time estava sentado ao redor da
nossa mesa, entretanto mantinham um certo distanciamento, quase como se
com medo de invadirem nosso espaço.
— Será que eles pensam que a gente morde? — perguntei para Drake,
virando minha cerveja.
— Eu mordo — Taylor brincou do nosso lado.
— Você não anda mordendo ninguém — provoquei, me encostando na
poltrona e olhando em volta. — Está comportado demais ultimamente.
As meninas tinham ido dançar e eu não conseguia ver minha pequena
dali. O lugar estava lotado e era mal iluminado.
— E você não? — Taylor ergueu a sobrancelha ironicamente e senti
várias cabeças girando na minha direção.
— Agora querem um relatório das minhas fodas? — perguntei a eles
desafiadoramente.
— Não. — Drake deu de ombros, satisfeito por me provocar. — Só é
um pouco curioso.
— Realmente. — Benjamin amarrou seu cabelo loiro comprido em um
rabo de cavalo enquanto me analisava criticamente. — Quando foi a última
vez que te vi com uma garota mesmo?
— Eu nunca saí por aí contando com quem durmo — falei a verdade.
— Só estou em um período sabático — inventei e todos na mesa reviraram
os olhos.
— Tá bom. — Peter riu em deboche.
Procurei por um cabelo ruivo entre as garotas que estavam ali e não
achei Madison. Ela estava com uma saia curta de couro preta e um body
branco colado ao corpo, tão gostosa que senti meu pau endurecer assim que
a vi.
Gostosa e desaparecida.
— Combinou de encontrar alguém aqui? — perguntou Peter.
— Não — respondi e me virei para ele, querendo tirar o foco de mim.
— Quando vai tentar a sorte com a Scar?
— Agora mesmo — respondeu, encorajado pelo álcool.
— É isso aí! Quanto mais cedo for a humilhação, melhor — incentivei,
apontando para Drake. — Não esqueça de fazer a cobertura.
— Não vou levar um fora. — Peter se levantou convencido. — É meu
aniversário.
O encarei sem acreditar.
— De onde você tirou que as meninas vão se jogar aos seus pés só por
que é seu aniversário? — Ri alto e ele me deu o dedo do meio.
— Veja e aprenda — informou, indo atrás da minha amiga.
— Eu não perderei isso por nada na vida. — Me levantei, o seguindo e
Drake veio logo atrás, pronto para reportar a fofoca.
Peter seguiu até o bar, onde Scarlett estava no caixa. Ela trabalhava
como recepcionista, mas também ficava no caixa do bar quando a boate
estava muito cheia.
— Você quer um conselho de amigo? — Coloquei o braço em volta
dos ombros de Peter e segui em direção ao balcão. — Conheço uma cantada
que ela adora.
Peter me olhou um pouco desconfiado, sem saber se eu estava falando
sério ou não. Revirei os olhos.
— Sou seu amigo, cara, quero só ajudar — garanti com confiança e
Peter confirmou com a cabeça.
Sussurrei uma cantada certeira para ele e bati nas suas costas,
empurrando-o. Peter se inclinou no balcão e sorriu sedutoramente para
Scarlett.
Ela parou no lugar ao nos ver ali, e seu olhar dizia que sabia que
estávamos aprontando alguma coisa. Drake e eu sentamos nos bancos
disponíveis, preparados para assistir a cena.
— Oi, gata. — Peter piscou para Scarlett de um jeito convencido. —
Você não é um durex usado, mas eu te acho super descolada.
Drake riu e Scar encarou meu amigo perplexa, parecendo não
conseguir acreditar no que acabou de ouvir. Ela mediu Peter com o olhar, e
ele não era de se jogar fora. O aniversariante era alto, tinha a pele negra,
cabelo preto, e por mais que não fosse muito musculoso, como o resto do
time, tinha um perfil atlético. No entanto... ela não estava interessada.
— Como é? — Scar ergueu a sobrancelha e Peter se virou para mim
com ódio.
— Sempre funcionou comigo — me defendi, dando de ombros e Peter
voltou sua atenção para minha amiga, determinado.
— Eu não sei se você sabe, hoje é o meu aniversário.
Era melhor ter ficado com as minhas cantadas... Scar balançou a
cabeça para Peter, quase prendendo o riso.
— Parabéns. — Ela indicou o lugar cheio atrás de nós. — Quem sabe
você não consegue alguém disposto a te dar um presente em outro lugar,
hein?
Peter assentiu derrotado e bati nas costas dele em consolo.
— Tudo na vida é assim — citei sabiamente. — Um dia a gente perde
e no outro também.
Peter me deu o dedo do meio e Drake riu atrás de mim.
— Pelo menos você ganhou um “parabéns” — zombou Drake.
— O lado bom é que ela estava certa — Peter apontou animado para
outra garota que estava de olho nele.
— Dessa vez treine as cantadas direito — aconselhei.
— Você ainda me paga. — Peter apontou o dedo para mim e seguiu
atrás da garota que estava lhe secando.
— Que merda de cantada foi aquela, hein? — perguntou Drake, rindo.
— Tenho melhores. — Pisquei em ironia.
— O show vai começar. — Senti mãos baterem nas minhas costas e me
virei para encontrar Scar atrás de nós.
— Acabou o turno? — perguntou Drake a ela.
— Não, porém vocês vão me ver em ação pela primeira vez — ela
disse, desfazendo o coque do cabelo longo e liso.
— Meu Deus, não me diga que vai começar a tirar a roupa aqui —
brinquei e ela revirou os olhos.
— Não pense que não sei que você mandou o coitado me jogar aquela
cantada ridícula. — Ela pontuou e passou os dedos pelo seu próprio cabelo,
penteando.
Alguns caras que estavam ao redor secaram Scar descaradamente. Ela,
como todas as garotas que trabalhavam ali, estava de uniforme. Entretanto,
elas tinham que usar um estilo meio provocador. Scar estava com uma saia
curta preta, uma blusa decotada da mesma cor e saltos altos.
— Você é recepcionista, barman, caixa... o que mais vai fazer aqui? —
Drake olhou em volta, tentando saber qual era a outra função dela.
— Eles pagam mais pra quem é multitarefas. — Ela deu de ombros e
vimos uns caras subirem no palco da boate, instalando uns instrumentos.
Uma banda iria tocar. — Chegou minha hora — Scar avisou, se
distanciando.
Eu e Drake trocamos um olhar perdido. Ela passou pelas pessoas na
pista de dança e subiu no palco com agilidade. Alguém desligou o som e a
galera começou a gritar agitada pelo que viria.
— Mas o que ela vai...
Me calei quando Scar passou pela banda e pegou uma guitarra. Ela
segurou o instrumento com propriedade, o posicionou no corpo e passou a
dedilhar as cordas, fazendo o som se alastrar pelo lugar. As pessoas
gritaram empolgadas, e alguns funcionários pararam o que estavam fazendo
para vê-la.
Scar fechou os olhos e passou a tocar o instrumento, fazendo um som
do caralho. Não era coisa de amador, ela realmente tocava muito, muito
bem. Passava os dedos pelas cordas da guitarra rapidamente, porém de um
jeito delicado, o som que fazia me deixou impressionado.
Aquilo era talento.
— Você sabia disso? — Drake se virou pra mim tão abismado quanto
eu.
— Não. — Balancei a cabeça, sorrindo admirado.
Scar permanecia de olhos fechados e mexia a cabeça no ritmo da
música. Como se estivesse em um mundo só seu.
— Ela é foda, não é? — disse Sienna orgulhosa do nosso lado.
Nós viramos e encontramos Sienna e Madison um pouco ofegantes.
Elas pareciam estar dançando. Minha ruiva tinha desfeito o penteado, e seus
cachos estavam espalhados pelo corpo, de um jeito selvagem e sexy. Quis
saber se ela ficava desse jeito depois de gozar.
Desci o meu olhar lentamente, o seu body estava colado no corpo cheio
de curvas, e imaginei a sensação de ter aquelas pernas em volta da minha
cintura enquanto metia fundo nela.
Era horrível ficar babando em cima de algo que não podia ter. E ainda
considerar seu, mesmo que não fosse.
— Você está bem? — perguntou Madison olhando pra mim, talvez
vendo a tensão no meu corpo.
Estralei o pescoço e tentei controlar o tesão que se acumulava no meu
pau.
— Me pega no colo? — pedi e ela me olhou sem entender.
— O quê?
— Eu quero dizer que andei de avião hoje — completei e ela apenas
me olhou por um momento antes de prender o riso.
— Você está começando a se superar — disse Drake.
— Foi criativo — Sienna apoiou, erguendo o ombro.
— Eu não sou demaquilante — continuei sem desviar o olhar da ruiva.
— Mas adoraria tirar o seu batom.
Madison estava tentando, com tudo de si, não rir. E eu queria ver
aquelas covinhas nesse instante.
— Você não é um piso molhado — disse, me aproximando dela aos
poucos. — Mas eu estou pronto para te passar o rodo.
Ela mordeu o lábio inferior, segurando o riso. E eu me aproximei mais,
tirei o cabelo bagunçado dela da frente do rosto, revelando aquela pele
cheirosa e macia.
O decote dela, o pescoço um pouco suado. Eu queria chupá-la, beijar
aquela boca e fodê-la até sua boceta não aguentar mais.
— Acabou? — ela perguntou, erguendo a sobrancelha.
Pelo canto do olho vi que Sienna puxou Drake pela pista, querendo nos
deixar sozinhos. E ele se deixou ser levado, indo para longe com a loira. Te
devo uma, Si.
— Você tem um mapa? — Acariciei o pescoço da minha pequena e a
senti se inclinar mais na direção do meu corpo.
Estava excitada, podia apostar. Passei o braço pela sua cintura,
colando-a no meu peito. Consegui inspirar o seu cheiro gostoso para cacete
e ao olhar para baixo vi que seus mamilos estavam durinhos na roupa.
— Não — respondeu um pouco ofegante, e se segurou nos meus
braços. Percebi que ela estava sentindo a textura dos músculos.
— Uma pena, porque eu me perdi no brilho dos seus olhos.
Era para ter soado de um jeito tosco, porém acabei sendo sincero.
Levei minha mão, que alisava o seu pescoço, até a boca dela. Tracei com o
polegar os lábios carnudos e Madison os entreabriu para mim.
— Alguém já caiu nessas suas cantadas? — ela perguntou em ironia,
enlaçando os braços em volta do meu pescoço, em um meio abraço.
A apertei pela cintura, prendendo-a. Colando os seus seios no meu
peitoral. Não queria ninguém vendo aqueles bicos salientes, eles eram só
para mim.
— Sempre funciona — murmurei muito próximo, meu hálito soprou o
rosto dela. Apertei-a ainda mais e me inclinei perto do seu ouvido. — Você
não usa uma calcinha... — sussurrei e percebi que a pele dela arrepiou, eu
tinha elevado nossa brincadeira. — Usa um porta-joias.
Madison riu e se ergueu um pouco nos saltos. Ela respirou um pouco
perto da minha orelha e eu quase gemi em frustração. Segurei-a mais forte,
querendo me certificar de que ela não sairia dali tão cedo. Tinha certeza que
ela estava sentindo o meu pau duro, ele estava roçando na sua barriga.
— Você acertou — sussurrou em uma voz arrastada.
— É um porta-joias? — Tirei os cachos dela do pescoço e dei um beijo
bem demorado no seu rosto.
Ela derreteu um pouco nos meus braços.
— Não... sobre a calcinha — revelou e eu fiquei um pouco tenso. —
Não estou usando.
Puta que pariu, quer me foder?
— Só acredito vendo. — Desci a mão que descansava em suas costas e
a coloquei no seu quadril, bem próxima da curva da sua bunda gostosa.
Um lugar que eu desejava muito comer. Apertei-a mais, roçando mais
um pouco meu pau duro e ela conseguiu senti-lo com facilidade.
Madison ainda estava com o rosto enterrado na curva do meu pescoço,
e acho que aquilo a deixou mais corajosa.
— Vai ter que acreditar na minha palavra — sussurrou e desci mais
minha mão, até chegar na sua bunda.
Descansei ela ali, não apertei a bunda cheia e gostosa dela, apenas
alisei de leve, só o suficiente para excitá-la. E pela sua respiração ofegante
no meu pescoço, estava conseguindo.
— É difícil. — Beijei o seu ombro. — Sei que você mentiria só pra me
enlouquecer.
Ela se afastou um pouco, o bastante para nossos narizes se roçarem.
Descansei a testa na dela com carinho, sentindo a energia eletrizante entre
nós.
— Eu te enlouqueço? — perguntou tão próxima da minha boca, que eu
quase a peguei pelo pescoço e a beijei.
— Não teve um único dia em que você não me enlouqueceu —
respondi, sincero.
Ela levou a mãozinha até o meu peito e o alisou com calma. Deu uns
tapinhas ali em atrevimento.
— Isso é interessante, eu sempre pensei que você já fosse louco. — O
canto direito da sua boca se ergueu, mostrando uma covinha.
Me inclinei sobre ela e beijei aquele furinho charmoso no seu rosto.
— Tem mais alguma cantada ridícula guardada? — ela perguntou.
— Eu achei essa sua roupa péssima — comentei, deslizando minhas
mãos pela sua cintura esbelta.
— Achou? — Ela olhou para o próprio body, procurando um defeito.
— Achei. Se eu fosse você, o tiraria — aconselhei e ela ergueu a
sobrancelha em divertimento.
— Essa até foi boa.
Eu já ia enterrar o rosto no seu pescoço, mas senti uma mão forte bater
nas minhas costas. Me afastei um pouco da minha pequena e vi Drake
parado ao nosso lado.
— O que você quer? — resmunguei zangado por ele atrapalhar o meu
momento.
— Hora dos parabéns. — Ergueu as mãos em sinal de desculpa com
um sorriso no rosto.
Assenti e entrelacei os meus dedos com o da Madison. Drake olhou
surpreso para as nossas mãos unidas, porém não disse nada. Já ela, apenas
me deixou guiá-la.
Seguimos para a nossa mesa e deixei Madison ali. Todo mundo já tinha
voltado, olhei para Johnny em um aviso silencioso de que já estava na hora
e ele me seguiu até o palco.
Eu e Johnny tínhamos programado um bolo surpresa para Peter, e
iríamos fazer um pequeno discurso para o nosso goleiro. Havia falado com
o cara que estava no comando do som antes.
Scar já tinha parado de tocar quando subimos no palco, ela colocou a
guitarra de lado e nos deu espaço para falarmos no microfone. Assim que
peguei o microfone todo mundo se calou em expectativa. Tentei encontrar
Peter no meio da multidão, só que não consegui vê-lo.
— Boa noite, pessoal! — cumprimentei o público que gritou de volta.
A maioria ali eram universitários da Brown e já conheciam a gente. — Hoje
é o aniversário do nosso goleiro! O cara não sabe jogar uma cantada
decente, mas é uma ótima pessoa. Sempre me chama de filho da puta nos
jogos, pega todos os discos que deixamos passar e não perde uma festa
minha!
Algumas pessoas riram e finalmente Peter voltou para nossa mesa. Os
caras bateram nas costas dele em comemoração.
— Vou passar a palavra pro nosso capitão, que diferente de mim, tem
um ótimo discurso ensaiado. — Entreguei o microfone a Johnny, que
começou a falar sobre como Peter entrou para o time e sua trajetória no
hóquei.
Olhei para nossa mesa de novo e encontrei Madison em pé, junto com
Amber e Sienna. Estreitei os olhos e percebi que um cara estava bem atrás
dela, a secando.
Senti meu corpo todo ficar tenso, ainda assim tentei não prestar muita
atenção naquilo. Só que o desgraçado se inclinou para falar algo no ouvido
da minha pequena.
Em um impulso, peguei o microfone da mão de Johnny, no meio do
seu entediante discurso. Quase pude ouvir o suspiro de alívio do pessoal.
— Eu só queria acrescentar mais algumas palavras. — Sorri sem tirar
os olhos do cara que continuava dizendo alguma asneira no ouvido do meu
gnomo. — Eu acho que a característica que mais admiro em Peter é o seu
respeito.
Johnny olhou para mim com o cenho franzido, estranhando aquilo. O
cara colocou a mão nas costas da Madison e ela se distanciou gentilmente,
negando com a cabeça em um movimento educado.
Tomar no olho do cu, seu caralho!
— Colin! — Johnny me chamou e só então percebi que falei aquilo em
voz alta.
— Me desculpem — pedi, passando a mão no meu cabelo. — O que eu
estava dizendo, era que não vemos Peter dando em cima da mulher dos
outros! — murmurei puto da vida e todos olharam para Peter, desconfiados.
O aniversariante olhou em volta um pouco perdido.
— Não vemos Peter tentando passar a mão em garotas que já disseram
que não estão interessadas!
Várias cabeças se viraram repreensivamente em direção à Peter, que
estava perplexo.
— Colin, o que é isso? — Johnny tentou tirar o microfone da minha
mão, mas nesse momento o filho da puta se inclinou de novo para falar algo
no ouvido da minha ruiva, e botou de novo a mão na cintura dela.
Ele ia morrer.
— Olha, isso já está demais! — gritei revoltado. — Saiba que quando
eu chegar aí vou quebrar a porra da sua cara! — Apontei para a nossa mesa
e Peter colocou a mão no peito, nervoso. — Pode tirar as mãos de cima da
minha pequena!
Johnny tirou o microfone da minha mão depressa.
— Perdão por isso — o capitão pediu desculpas, e eu desci do palco
determinado a tirar o merda de perto dela.
As pessoas foram abrindo espaço para mim, querendo saber da
confusão. Logo que cheguei na nossa mesa todos me olharam assustados.
— O que foi isso? — perguntou Taylor, nervoso.
— Pelo amor de Deus! — Peter se aproximou de mim, erguendo as
mãos de um jeito temeroso. — Eu não sabia que você tinha alguma coisa
com aquela garota.
— Que garota? — Franzi a testa, tentando ver Madison por cima do
ombro dele.
— A que eu estava ficando ainda agora — ele explicou como se fosse
óbvio.
— Ela é ruiva e tem um metro e quarenta de altura? — Ergui a
sobrancelha para ele.
Peter pensou um pouco.
— Não.
— Então não tenho nada com ela — informei, passando por ele e indo
atrás do meu gnomo.
Ela estava do lado da Amber, ainda tentando se livrar do cara que
estava dando em cima dela. Senti vários olhares em mim, o pessoal
procurando entender o que estava acontecendo.
Cheguei perto da Madison e passei o braço possessivamente pela
cintura dela, a puxando para mim. A ruiva olhou assustada para a minha
mão na sua cintura.
— Colin... o que é isso? — sussurrou perto do meu ouvido.
— O que você quer aqui? — perguntei diretamente para o outro cara,
que acompanhou a minha mão na cintura dela e entendeu tudo.
— Colin! — Drake se aproximou tentando me chamar, mas o ignorei.
— Eu estava só conversando com ela...
— Por que não conversa comigo, então? — Ergui a sobrancelha
cinicamente.
— Bem, já deu nossa hora. — Madison tentou me puxar para longe
dele, forçando um sorriso. — Devíamos ir pra casa.
A apertei mais contra meu corpo.
— Olha, você não me disse que era comprometida — o cara falou para
Madison.
— E eu não sou. — Ela olhou em volta, perdida.
— Ela é — acrescentei por cima.
Madison ficou na minha frente e colocou as mãos no quadril, exigindo
uma explicação.
— Eu sou? — disse em deboche. — Com quem? — Ela ergueu a
sobrancelha.
— Gente... — murmurou Amber querendo rir. — Eu estou chocada!
— É, já deu nossa hora — informei passando o braço pelas pernas dela
e a pegando de surpresa.
Coloquei a ruiva por cima do meu ombro e minha mão ficou
estrategicamente na sua bunda, para ninguém conseguir ver a sua calcinha.
Se bem que ela disse que nem estava usando.
— Você ficou louco? — Madison perguntou por cima das minhas
costas.
Peguei a bolsa dela em cima da mesa e cada pessoa da boate nos olhou
perplexa. Quando me distanciei do pessoal, apenas vi eles acenando
debilmente em despedida, sem saberem o que estava acontecendo.
— Olha, você vai dormir no sofá hoje! — ela informou enquanto
passávamos pelas várias pessoas que nos olhavam.
Assim que chegamos do lado de fora da boate a coloquei no chão.
— O que foi isso? — exigiu saber apontando para dentro da boate,
puta da vida.
Um ataque de ciúme, só que não sei se cairia bem te explicar isso
agora.
— Você estava sendo perturbada e eu fui lá te ajudar. — Dei de
ombros. — Deveria me agradecer.
Ela colocou as mãos no quadril e estreitou os olhos.
— Sabe o que eu acho? — disse desconfiada. — Que você estava com
ciúme.
Coloquei a melhor expressão de choque que consegui no rosto.
— Eu? — Coloquei a mão no meu peito. — Com ciúmes? Não sou
ciumento.
— Você estava com raiva — pontuou.
— Eu estava pensando na situação do país — argumentei colocando a
mão nas costas dela e a guiando na direção do meu carro.
— Na situação do país — ela repetiu em tom de deboche.
— Sim, anda tudo muito caro ultimamente — continuei.
Ela parou no meio do caminho e apenas me olhou em silêncio.
— Na maioria do tempo eu não sei o que se passa na sua cabeça.
— E nem eu na sua, quem é que batiza plantas?
— Eu não estava batizando — corrigiu. —, era harmonizando.
Revirei os olhos e me senti satisfeito por saber que meu quarto já
estava livre daquela floresta. Falando nisso...
— Eu não posso dormir no sofá, minhas costas estão me matando —
menti, colocando as mãos nas costas.
— Pode dormir na cama — ela cedeu, virando de frente para mim. —
Mas vai ter que fazer uma coisa — disse em comando.
Olhei-a com desconfiança.
— O que pode ser pior do que esperar ovos de passarinho chocarem,
não é mesmo?
— Saiba que vai ter troco, Colin! — Ela apontou para a boate. —
Sempre terá troco.
— Estou ansioso por isso. Pode queimar todas as minhas cuecas se
quiser, contanto que você me deixe dormir na nossa cama. — Pisquei de
brincadeira e ela suspirou derrotada.
— Vamos, seu louco. — Ela estendeu sua mão, esperando que eu a
pegasse.
Tinha percebido que ela gostava quando andávamos de mãos dadas. O
que era perfeito, eu receberia qualquer migalha que ela me desse. E como
estava condenado a segui-la, apenas segurei sua mão e entrelacei nossos
dedos.
— Vamos, gnomo.
Eu iria para qualquer lugar com você.
Colin Scott

Madison me obrigou a assistir desenho animado para que eu pudesse


voltar para a cama.
Eu tentei barganhar, tentei colocar pelo menos “A Espada era a Lei”,
pelo bem da minha dignidade. Mas ela queria assistir “A Bela e a Fera”. Ou
seja, me restou sentar no sofá da sala e acompanhá-la.
— É cada humilhação que eu me submeto pra dormir na minha própria
cama... — me interrompi ao ver que ela tinha pegado no sono.
Sua cabeça estava inclinada no sofá, com os olhos fechados e a boca
entreaberta. Me levantei e fui até ela, me agachando na sua frente. Seus
cachos caíam suavemente pelo seu rosto, eles eram tão lindos que fiquei
tentado a cortar uma mecha daquele cabelo e carregá-la comigo. Ter um
pedaço seu.
Só que isso seria invasivo demais.
Tirei o cabelo da frente do seu rosto e o coloquei para trás, revelando a
pele sedosa do seu decote. Ela tinha escolhido um pijama de adulto daquela
vez e achei, por um segundo, que fosse para me provocar. Estava vestindo
um short curtinho e uma blusa de alcinha.
Nada de orelhas de elefante. O problema era que eu a achava sexy de
todo jeito.
— Ei, pequena — chamei baixinho e ela não acordou.
Desliguei a televisão antes de pegá-la nos braços. Ela se agitou por um
minuto e achei que fosse acordar, porém só suspirou contra meu peito.
Chegando no quarto a coloquei na cama, Madison se virou de lado e sua
bunda gostosa ficou bem à mostra.
Ia ser uma noite longa...
Tirei a camiseta e fiquei apenas de calça moletom. Deitei no meu lado
da cama e virei a cabeça para olhá-la. Sentiria falta daquilo quando a casa
delas fosse reformada. Senti o seu cheiro suave de cereja espalhado pelo
quarto e suspirei relaxado.
Fechei meus olhos pesados e em algum momento senti um corpo
quente se aproximando de mim. Abri os olhos e encontrei os seus abertos,
me fitando.
Ela estava acordada. E me abraçando. Madison abraçou meu abdômen
e estava deitando a cabeça no meu peito quando a peguei no flagra.
— Eu não estou dando em cima de você — disse apressada, com as
bochechas coradas. — É que gosto de dormir abraçada.
Sorri para ela.
— Vou fingir que acredito nisso.
Ela enrugou a ponta do nariz, entretanto não me soltou e eu a abracei
com ternura de volta. A senti relaxar contra meu corpo e enterrei o rosto no
seu cabelo enquanto fazia carinho nas suas costas.
Ouvi o seu suspiro satisfeito e ela se aconchegou mais em mim, quase
como um gato que é alisado.
— Minha vó costumava fazer carinho em mim antes de dormir —
contou e aquilo me pegou de surpresa.
Ela tinha dito que não conheceu os pais e por um segundo imaginei que
tivesse sido criada em alguma instituição ou orfanato. Temi que as marcas
nas suas mãos fossem de maus-tratos.
Fiquei aliviado em saber que tinha alguém por ela.
— Teve uma época em que eu estava com dificuldade pra dormir. Ela
vinha e cantava pra mim.
Suspirei, sentindo um aperto no peito ao imaginá-la criança.
— O que ela cantava? — perguntei e ela se levantou um pouco, só o
suficiente para eu poder ver o seu rosto.
— É uma canção em que ela pedia para a lua e as estrelas protegerem o
meu sonho. — O canto da sua boca se ergueu levemente. — Costumava
funcionar. Quer ouvir?
Assenti meio hipnotizado com o brilho dos seus olhos. Madison
respirou fundo e cantou sem desviar os olhos de mim.
— A Lua é minha protetora e amiga. Traz beleza aos meus sonhos e
vida. As Estrelas no alto são minha felicidade. Brilhando gentilmente e com
serenidade. Quando fecho os olhos, não vão me desapontar. Mantendo-me
segura até o Sol raiar.
Sua voz era suave, bonita e calma. Eu não resisti. Quando ela parou de
cantar eu segurei com calma o seu rosto entre as mãos e o aproximei do
meu. Descansei a testa na dela, rocei nossos narizes e ficamos ali.
Respirando o mesmo ar.
— Canta pra mim — pedi, próximo demais da boca dela, quase podia
senti-la. — Canta pra mim.
Ela não se afastou. Pelo contrário, me abraçou pelo pescoço e
descansou a testa perto da minha. A abracei, adorando tê-la em cima de
mim, sentindo seu corpo em todos os lugares.
E ela cantou. Ela cantou até eu sentir os meus olhos pesarem. Cantou
no meu ouvido até eu sentir meu coração se acalmar. Cantou até eu sentir
uma paz inexplicável me dominar. A abracei sem conseguir largá-la e tive
medo que no instante em que acordasse ela não estivesse mais ali. Que ela
não passasse de um fruto da minha imaginação. Que fosse sumir a qualquer
momento.
Eu não aguentaria, precisava tê-la comigo.
Logo que meu corpo cedeu e eu adormeci, ainda podia ouvi-la. No
fundo dos meus sonhos, eu podia escutá-la. A sua respiração foi a minha
companheira durante a noite.
E nunca me senti tão conectado a alguém na vida.
Eu só queria aquilo. Todos os dias da minha vida. Até meu último
suspiro.

Madison Jensen

Coloquei uma calça legging preta e um moletom. Iria bem cedo ao


campus hoje, Sr. Stone tinha avisado para a turma que a aula hoje seria no
auditório. Olhei para Colin deitado na cama, dormindo e caminhei até ele
silenciosamente.
Toquei com carinho o seu rosto, passei o polegar nos cantos dos seus
olhos e beijei a sua testa.
— Tenha um bom dia, meu maluco — desejei baixinho e saí do quarto.
Sorri comigo mesma, sentindo meu coração acelerar e minhas
bochechas um pouco quentes. Ainda podia sentir os braços fortes dele me
segurando, o calor do seu corpo. Quis ficar para sempre ali.
— Alguém acordou de bom humor...
Me virei assustada e vi Drake me olhando com um sorriso no rosto.
— Os benefícios do incenso e meditação. — Dei de ombros e ele fez
uma cara de quem não estava acreditando muito naquilo.
— Sei... — ele disse em provocação e desceu comigo até a cozinha.
Assim que chegamos, nos deparamos com Sienna cozinhando. Ela
ainda estava de pijama, usando um short branco muito curto e uma camiseta
rosa. Ela estava de costas para nós e dançava com os fones de ouvido.
Sienna sempre fazia isso em casa, desde quando morávamos na
fraternidade. Acabamos nos acostumando a vê-la passar pelos corredores
dançando.
— Ela não desliga a pilha nunca, não é? — perguntou Drake do meu
lado, sentando na bancada atrás dela.
— Nunca — respondi, achando graça por ela ainda não ter notado
nossa presença.
Parecia que a música tinha chegado no refrão, pois ela rebolou a bunda
de um jeito bem sensual. Desceu devagar, flexionando as coxas, todo o seu
corpo acompanhava o movimento, até o cabelo jogado para trás seguia o
passo.
Senti Drake um pouco tenso do meu lado e quis muito rir, pois ela não
fazia ideia que estava nos dando uma visão privilegiada da sua bunda.
Sienna subiu devagar, rebolando de um jeito que eu duvidei se suas nádegas
não tinham vida própria. Uma banda subia devagar e a outra ia logo em
seguida, ela controlava a velocidade.
— Que porra... — resmungou Drake baixinho, segurando a bancada
com tanta força que achei que fosse quebrá-la.
Eu estava para avisá-la da nossa presença quando ela virou de frente
para nós. Sienna parou no lugar com os olhos arregalados, ela tirou com
calma os fones da orelha.
— Bom dia — disse um pouco ofegante, alternando o olhar entre
Drake e eu.
— Bom dia — cumprimentei tentando não rir.
— Só se for pra vocês — Drake falou frustrado, passando a mão pelo
cabelo.
Sienna olhou para ele com a respiração ainda pesada, ela ergueu a
sobrancelha em ironia e Drake ergueu a dele de volta. Ok, tinha uma tensão
no ar.
— Bem, eu já vou indo. — Rodeei a bancada e dei um beijo na
bochecha de Sienna antes de pegar uma maçã.
— Não vai esperar pelo café? — ela perguntou.
— Não, não quero me atrasar — menti, acenando para eles.
A verdade era que achei aquela situação engraçada e não quis ficar ali
para atrapalhar. E também sempre era bom chegar adiantada.

O Sr. Stone não tinha marcado a aula no auditório, foi no teatro da


universidade. Por um segundo eu realmente esqueci daquela peça, a
vergonha me consumia só de imaginar me apresentar. Mas eu era estudante
de Artes Visuais, entendia um pouco de atuação, mesmo que fosse só na
teoria.
Entrei no teatro e me surpreendi ao encontrar todos os alunos da sala
sentados no chão do palco. Me aproximei um pouco acanhada e pelo que
conseguia ver, eles estavam lendo um roteiro.
— Ei, você veio!
Me virei e Derek apareceu ao meu lado com um sorriso no rosto. Não
tinha falado com ele desde o evento beneficente. Para falar a verdade, ele
mal falou comigo lá também.
— Oi. — Sorri educadamente.
— E aí? Estava sabendo da peça? Conseguiu uma vaga? — ele
perguntou se aproximando mais.
Ergui a sobrancelha surpresa.
— Eu pensei que ninguém quisesse participar. Eu sou a Julieta —
revelei, abrindo os braços de brincadeira.
— Agora que vale hora extracurricular, todo mundo quer. Você
conseguiu o melhor papel. — Ele balançou a cabeça em aprovação para
mim, abismado.
— Eu não passei por um teste... pra falar a verdade, não sou muito boa
em atuação — contei, segurando minha bolsa no ombro, me sentindo
insegura.
— Sério? Você me parece ótima. — Derek desceu o olhar para os meus
seios, como se aquilo fosse o suficiente para me fazer atriz.
Minhas bochechas coraram imediatamente.
— Eu vou tentar dar uma olhada no roteiro — falei baixando o olhar e
me distanciando dele.
Fui para as coxias do teatro para respirar melhor, distante de todo
mundo. Estava me sentindo nervosa. Iria matar Colin por me meter nisso.
Meu celular vibrou no bolso e o peguei para ver a mensagem que tinha
chegado. Falando no diabo...
Ódio da minha vida: Já está na aula?
Eu: Estou.
Ódio da minha vida: Eu poderia ter te deixado se tivesse me esperado.
Eu: Você estava dormindo, não quis atrapalhar.
Ele demorou a responder e bloqueei a tela, mas logo em seguida recebi
uma foto. Colin estava no vestiário de hóquei, ele tirou uma foto sua, com
um olho aberto e outro fechado, fazendo uma careta engraçada.
Meu Deus, que homem bonito...
Ele estava sentado em um banco, acho que trocando de roupa. Na foto
só aparecia até o peitoral nu e musculoso dele, a corrente brilhando, o
cabelo castanho iluminado. Fiquei distraída olhando para ele que nem vi
que estava digitando.
Ódio da minha vida: Essa sua obsessão por me ver dormindo é
assustadora, mas pode ficar com a foto.
Ódio da minha vida: Se quiser outras mostrando outras partes do
corpo também... posso fornecer.
Eu: O que eu faria com isso?
Ódio da minha vida: Quer mesmo que eu diga?
Eu: Melhor não.
Ódio da minha vida: Você poderia vender também, meus nudes valem
ouro.
Eu: Eu acho incrível como funciona a sua autoestima...
Eu: Ah, saiba que hoje você corre sérios riscos de dormir no sofá.
Ódio da minha vida: O que eu fiz agora?
Eu: Me colocou pra atuar nessa peça! Meu professor mandou todos os
alunos virem pro teatro hoje, e vou ter que passar vergonha na frente de
todo mundo.
Ódio da minha vida: Eu passo vergonha com você, quando sair do
treino posso passar aí.
Eu: Você não tem aula?
Ódio da minha vida: Tenho, até 18hrs, mas posso matar alguma.
Eu: Não tem problema, vem depois das 18hrs.
Ódio da minha vida: Vocês vão passar o dia todo atuando?
Eu: Na mensagem o professor dizia que a “atividade” iria até à noite.
Ódio da minha vida: Então apareço depois da aula. Prometo passar
vergonha também.
Sorri para o celular ao ler a mensagem.
Eu: Você sabe o que é isso? Pensei que não tivesse vergonha na cara.
Ódio da minha vida: Por você, eu arranjo um pouco.
Ah, Colin... como você diz coisas assim para uma pessoa romântica e
tola?
Eu: Você não tinha que estar no gelo já?
Ódio da minha vida: Tinha, já estão gritando por mim.
Ódio da minha vida: Até à noite.
Eu: Até.
Em um impulso abri a câmera do meu celular e tirei uma foto minha
fazendo bico. Saiu engraçada também, meu cabelo estava bonito naquele
dia e gostei da foto. Mandei para Colin de brincadeira, mas logo me
arrependi.
Ele visualizou e demorou a responder. Fiquei com vergonha, já ia
apagar quando ele mandou uma mensagem.
Ódio da minha vida: Você é a coisa mais linda que eu já vi na vida.
Ódio da minha vida: Eu vou guardar ela, meu amor.
Suspirei e desliguei o celular, assim que olhei meu reflexo na tela vi
que estava com uma cara de boba. E suspirando como idiota.
— Você já incorporou a Julieta.
Ergui o olhar em susto, vendo que o Sr. Stone estava parado na minha
frente com um sorriso acolhedor no rosto.
— Bom dia, professor — cumprimentei depressa.
— Ótimo dia — respondeu animado. — Madison Jensen, certo?
O observei em choque.
— Isso mesmo — confirmei, surpresa e lisonjeada.
Eu sempre ficava calada nas aulas, era estranho saber que o professor
sabia meu nome.
— Eu queria mesmo falar com você. Tenho uma proposta pra fazer —
disse com um sorriso e aquilo chamou minha atenção.
— Uma proposta... — repeti cautelosa.
— Sim! O nosso Romeu falou tanto do seu talento naquele dia que
achei que você poderia ser a pessoa que eu estava procurando.
Ah, Colin, você vai mesmo dormir no sofá.
— É mesmo? — Forcei um sorriso.
— Escute, eu sei que o que vou pedir é muito. No entanto, estou
disposto a dar uma oportunidade de ouro também — informou e fiquei em
silêncio querendo saber do que ele estava falando. — Vou precisar de uma
pessoa experiente em Teatro pra me ajudar. Preciso que venha em todos os
ensaios, veja como o pessoal está indo, como está o andamento, e até
mesmo ajudar nessa parte mais prática.
O encarei perplexa. Eu não entendia muito disso, era péssima.
— Vai ser um trabalho, eu sei que isso necessita tempo e dedicação —
ele continuou depressa, interpretando o meu silêncio como uma negativa. E
era, realmente. — Por isso será remunerado, você irá receber um salário e
quando passar a apresentação estou disposto a recomendar você pra vaga de
estágio na minha galeria.
MEU DEUS. Sim! Mil vezes sim! Colin, você acabou de voltar pra
cama!
— Eu aceito — falei automaticamente e o sorriso dele cresceu.
— Ah, isso é ótimo! Eu dei uma olhada nos seus quadros mais cedo e
posso dizer que gosto muito de como você coordena as cores na tela. Capta
realmente a sensação dos momentos. Tem muito talento.
Meu coração. Ele iria sair pela boca naquele momento.
— É... é... — gaguejei. — É uma honra saber que o senhor gostou.
— Eu agradeço demais por essa ajuda. — Ele deu tapinhas no meu
ombro ao passar por mim, dando o assunto por encerrado. — Confesso que
a maioria dos alunos não parece ter muita experiência, você vai ser de muita
ajuda na performance.
Ele foi andando para o palco e me deixou para trás com aquele
problema para lidar. Estava ferrada. “Você vai ser de muita ajuda”.
Que horrível. Meu Deus. Precisava contar a ele que não atuava, mas
também sentia uma dor no peito ao ter essa oportunidade jogada no lixo.
Precisava de um emprego e esse dinheiro resolveria o meu problema no
momento, depois talvez eu conseguisse um estágio, o que já estava nos
meus planos, para o próximo semestre.
E um estágio na galeria dele! Umas das mais renomadas. Isso poderia
me abrir portas quando me formasse. Só podia ser brincadeira.
O que fazer? Falar a verdade? Enganar um homem gentil e honesto que
me ofereceu uma oportunidade?
Que coisa!
Peguei o meu celular de novo e digitei mais uma mensagem para
Colin.
Eu: Estou com um dilema, preciso da moeda.
Eu: O dilema também é culpa sua.
Eu: Ainda não decidi se você vai ou não dormir no sofá.
Como ele estava no treino não iria me responder tão cedo. Guardei o
celular e me escondi atrás da parede sem saber o que fazer.
Se fosse aceitar aquilo, teria que estudar dia e noite. Eu conseguia. Só
precisava fingir alguns dias, depois disso nunca mais teria que ver nada de
artes cênicas na vida.
Era difícil coisas boas assim acontecerem comigo. Quase não tive
oportunidade nenhuma na vida, só eu sei como não foi fácil conseguir uma
bolsa na universidade. Não podia deixar isso passar.
Mas também não gostava de mentir.
Colin, como você se mete e me mete nessas coisas?

Colin Scott

Como eu me metia nessas coisas?


Assim que passei pela porta, todos que estavam no palco do teatro se
viraram para mim, alguns eu conhecia de festas. E só tinha uma explicação
para tanta gente ter se interessado de última hora, a palavra mágica de
qualquer universitário: valia ponto ou horas extras.
Procurei meu gnomo pelos assentos, entretanto não a encontrei.
Infelizmente acabei dando de cara com alguém que não queria mesmo ver.
— Você aqui? — Derek ergueu a sobrancelha para mim
afrontosamente.
O merdinha estava sentado ao lado de uma garota morena. Ele
levantou o olhar, surpreso e logo fechou a cara ao me ver.
— Sim. — Nem me dignei a virar na sua direção. — Estou procurando
a minha ruiva. Você a viu?
Não teria sido mais claro nem se eu tivesse mijado em cima dela.
— Não — respondeu em um resmungo. — Ela sumiu faz um tempo...
e eu não sabia que era a sua ruiva.
O encarei firme e ergui o canto da boca em ironia.
— Por que você precisaria saber?
A garota ao lado dele me olhou de cima a baixo.
— De quem vocês estão falando? — ela perguntou interessada.
— Madison Jensen — respondi.
— Ah, ela está lá dentro. — A morena apontou para os bastidores do
teatro. — Eu a vi estudando ali mais cedo.
— Obrigado. — Pisquei em agradecimento e não olhei mais para
Derek.
Subi no palco sem atrapalhar o pessoal que estava lá e passei por uma
parte mais escura, onde ficavam as cortinas e o controle do som e luzes. Era
uma estrutura bonita e antiga da universidade.
Depois de andar um pouco achei que Madison não estivesse por ali, foi
quando a vi sentada no chão em um canto escuro, lendo um livro.
Ah, mas que garota linda.
Madison estava com o livro aberto entre as pernas e com a cabeça
inclinada para frente, fazendo o cabelo ruivo cair em cachos perfeitos em
volta do seu rosto. Uma única luz iluminava o ambiente, deixando tudo
meio na sombra, porém permitindo enxergá-la perfeitamente.
Me aproximei assobiando em provocação, chamando a sua atenção.
— Você nasceu no dia 10 de outubro? — perguntei indo sentar no chão
com ela, na sua frente.
Ela ergueu o olhar para mim e me deu um sorriso alegre, contente por
me ver. E aquele sorriso fez o meu dia, iria guardá-lo só para mim.
— Não, por quê?
— Porque você é dez de dez — joguei e ela me encarou por um tempo,
perplexa.
— Se continuar assim, você vai morrer solteiro. — Ela balançou a
cabeça em divertimento.
— Eu vou te falar a verdade. — Me inclinei na sua direção e ela se
inclinou também, interessada em me ouvir. — Até poderia ficar comigo
mesmo, mas vou deixar essa oportunidade pra você.
Ela revirou os olhos, rindo.
— Ai, Colin... — Suspirou, me olhando. — Como você consegue me
fazer te odiar e rir ao mesmo tempo?
— Fácil, você nunca me odiou. — Dei de ombros, me encostando na
outra parede à sua frente e esticando as pernas.
— Não... — Ela me encarou pensativa. — Eu odeio principalmente
não conseguir te odiar. Nem mesmo por um segundo.
Conhecia aquela citação. A olhei com a mesma intensidade.
— Nem mesmo só por te odiar — completei e ela estreitou os olhos
surpresa.
— Você conhece? O filme “10 coisas que eu odeio em você”?
— Sou o Romeu — Pisquei para ela. —, preciso conhecer as
adaptações de Shakespeare.
— É uma das minhas favoritas — ela disse, passando as páginas do seu
livro. — Adoro como eles começam se odiando e depois descobrem que era
algo a mais.
— Ele não a odiava — me peguei dizendo, observando como o seu
dedo passava distraidamente pelas páginas. — Ela também nunca o odiou.
Ficamos olhando para o livro, quase hipnotizados pelas páginas. Talvez
eu estivesse com medo do que ia encontrar se a encarasse. E ela também.
— É Romeu e Julieta — ela contou baixinho, passando o dedo pelo
papel e eu assenti em silêncio.
— Estudando o personagem?
— Sim, precisamos fazer isso direito — ela disse, finalmente erguendo
os olhos e aquele verde esmeralda me atingiu. — Temos que fingir bem.
— Fingir bem... — repeti, inclinando a cabeça de lado sem conseguir
tirar os olhos dela, observando cada traço do seu rosto.
— Sim. — Ela engoliu em seco.
Observei a pele macia do seu pescoço e quis muito aproximar o nariz
dali, inspirar o cheiro dela e sentir os seus pelinhos se arrepiarem. Respirei
fundo para não ficar de pau duro só por estar perto dela.
Levantei em um impulso e estendi a mão para ela, a chamando para
ficar de pé.
— Então vamos começar — chamei e ela não tirou os olhos de mim,
presa.
Quando sua mão tocou a minha senti um arrepio passar pelo corpo,
uma energia que exalava dela. Era uma pureza que me fazia querer segurá-
la nos braços e não soltar nunca mais.
— Vamos — concordou com as bochechas coradas. Ela se levantou,
colocando o livro dentro da bolsa e puxando o roteiro impresso.
Seguimos para mais perto do palco, onde o pessoal ensaiava. Nós
ficamos no canto, atrás das cortinas grandes, onde ninguém poderia nos ver.
Sozinhos.
— Precisamos entender a história primeiro. — Madison deu uma
olhada no roteiro e foi para a minha frente.
Ela acabou ficando na mira do canhão de luz do teatro, que estava
apontando para os bastidores. Alguém deveria ter esquecido de desligar,
mas naquele momento não me importei em avisar. Eu perdi o fôlego por um
segundo.
Sempre achei os seus cachos perfeitos, porém ali, sob a luz, eles
brilhavam tanto que pareciam raios de sol. As suas sardas na ponta do nariz
me faziam querer apenas ficar parado, olhando para elas o dia todo.
Madison apertou os olhos por conta da luz e quando finalmente os abriu
completamente... puta que pariu! Aquele verde esmeralda ficou tão
iluminado que minhas mãos coçaram para segurar o seu rosto e beijar, em
reverência, cada pedaço dela.
— Podemos começar pela parte em que eles se viram pela primeira vez
— ela sussurrou para mim um pouco nervosa. — É onde começa a nossa
interação.
Apenas assenti debilmente, sem conseguir pronunciar uma palavra
coerente. Ela respirou fundo e olhou para o papel em suas mãos.
— Ele a viu à distância, e assim que botou os olhos nela...
— Ficou sem chão — interrompi-a, fazendo ela erguer os olhos para
mim. Me aproximei devagar, sem conseguir resistir. — Ele a quis... mais do
que qualquer coisa que já tenha pensado em querer na vida — sussurrei
como se contasse um segredo e ela entreabriu os lábios para deixar o ar
pesado sair. — Era como se um pedaço da sua alma estivesse solto pelo
mundo e ele nem soubesse que o tinha perdido.
Ela encarou cada canto do meu rosto e sua respiração ficou ansiosa,
apreensiva.
— Depois disso, ele ficou tão obcecado que a observou de longe —
continuei, dando mais um passo para frente.
Pensei que a pequena fosse dar um passo para trás, mas ela ficou
parada, apenas me esperando chegar. Madison ergueu o canto da boca, em
um meio sorriso.
— Ele a via pela varanda, procurando por ela — completou, colocando
um cacho ruivo atrás da orelha.
— Parecia que o coração dele só voltava a bater direito quando a via
— contei, sentindo um aperto no peito. Queria chegar mais perto, pegá-la
para mim e enterrar o rosto no seu pescoço macio. — Ficar olhando-a era
tão bom que ele jurou que aquilo pudesse ser o suficiente. Jurou de corpo e
alma que jamais iria querer mais.
— Ele quis tudo — ela continuou, ofegante.
Sim, ele quis tudo.
— Ela era tão perfeita... — murmurei tocando o seu rosto, ela fechou
os olhos e mordeu o lábio inferior, quase reprimindo o desejo de se deixar
ser acariciada. — Não tinha como resistir.
Madison engoliu em seco e acenou com a cabeça, sem abrir os olhos.
Ela soltou o lábio que prendia e ele pareceu brilhante pela luz do canhão.
Passei o polegar pela sua bochecha macia e quente, ela suspirou e nunca
fiquei tão hipnotizado por algo na vida.
Por que você tinha que fazer isso comigo, pequena? Por quê?
— O que ele fez? — perguntei, segurando o seu rosto com um cuidado
e zelo que eu nem sabia existir em mim. — Quando a conheceu.
Alisei o canto dos seus olhos, a incentivando a abri-los. E ela
obedeceu. Madison abriu aqueles olhos e eu soube ali, que talvez daqui a
dez anos ela não se lembraria nem mesmo do meu nome, só que eu
guardaria o jeito que a minha pequena me olhou naquele instante.
Seria uma lembrança que levaria comigo. Um pedaço dela. Poderia ser
o suficiente.
— Ele a beijou — ela pronunciou as palavras com calma.
Era demais. Não consegui. Me inclinei na sua direção com um medo
pesando no meu peito, sabendo que se fizesse aquilo não teria volta. A
corrente fria ao redor do meu pescoço avisava, porém eu não me importava
em cair. Estava me jogando do penhasco.
Então eu finalmente beijei Madison Jensen.
A puxei para mim e toquei os lábios nos seus sutilmente. Senti todo o
meu corpo se arrepiar, e o dela se derreter nos meus braços. Segurei o seu
pescoço, enterrando os dedos naqueles cachos e a trazendo para mais perto,
pressionando os seus seios no meu peitoral.
Madison entreabriu os lábios, quase me suplicando para experimentar a
sua boca. Passei a língua vagarosamente no seu lábio inferior, provando o
gosto delicioso dele, e o peguei entre os dentes, o sugando. Ela gemeu e
suas mãos foram para o meu pescoço, me puxando mais para si.
Desci minha mão pela sua cintura, sentindo as curvas do seu corpo e a
ergui com um único braço, a trazendo para ficar na minha altura. Madison
ofegou surpresa, e enfiei a língua na sua boca doce e quente.
Senti a sua língua tímida tocar a minha, e isso foi suficiente para fazer
o meu pau ficar muito duro, quase sufocado. A apertei mais e pelo jeito
como ela gemeu manhosa na minha boca, tinha certeza que estava melada.
Meu braço a segurava com tanta segurança e aquilo parecia tão certo,
quase doeu saber que teria que soltá-la em algum momento. Se pudesse, a
carregaria comigo assim.
Madison enterrou os dedos no meu cabelo e abri minha boca para
receber os seus gemidos e a sua língua, querendo tudo dela. A pequena
chupou o meu lábio, prendendo entre os seus, e a imaginei fazendo
exatamente aquilo com o meu pau.
Existiam beijos que te deixavam excitado, beijos que você sentia a
outra pessoa gostando, se derretendo, mas aquilo... Foda-se! Era a porra de
uma conexão.
Era a própria química exalando e se derramando à medida que eu me
aproximava mais.
Puxei o seu cabelo para segurá-la no lugar enquanto tirava e metia a
língua naquela boca gostosa, a fazendo ofegar e enlaçar as pernas ao redor
da minha cintura. Minha ereção roçou nela e isso a fez gemer mais ainda,
antes de me puxar para mais perto.
Segurei a sua bunda para mantê-la no lugar e isso parece que fez minha
pequena voltar à realidade. Eu percebi o seu corpo derreter nos meus
braços, ela me abraçou, sabendo que tínhamos que nos separar.
A abracei de volta, forte, a prendendo. Não iria soltá-la. Não iria. Me
recusava.
A beijei uma última vez antes de Madison encostar a testa na minha e
segurar o meu rosto entre suas mãos, ofegante. Rocei meu nariz no seu,
querendo qualquer contato. Minha respiração se misturando com a sua, e a
tensão no ar.
Quando ela se afastou, só o suficiente para me olhar, eu senti o tempo
parar. Tinha confusão nos seus olhos, ela estava perdida. Tinha dor, prazer,
ansiedade e algo a mais.
Se existia mesmo magia nesse mundo, ela estava nessa energia que
exalava entre nós.
— É isso... — ela falou meio triste e isso fez meu coração doer. — É
exatamente isso. — Continuou tocando o meu rosto com carinho.
Segurei a sua mãozinha calejada e perfeita que me acariciava e a beijei,
sem entender do que ela estava falando.
— “Isso” o quê? — perguntei a olhando atentamente, e ela me deu um
sorriso melancólico.
— O jeito que você está me olhando agora. — Seus olhos foram para o
meu peito, como se não estivesse com coragem de me encarar. — Você está
indo bem.
Teve algum dia em que eu não te olhei desse jeito?
— E como eu estou olhando? — perguntei, mesmo que estivesse com
medo da resposta.
Suas bochechas coraram e ela continuou sem me olhar, sem jeito e
envergonhada.
— Como se estivesse apaixonado por mim — sussurrou e eu senti uma
vontade absurda de abraçá-la.
Madison desenrolou as pernas da minha cintura, querendo que eu a
colocasse no chão, mas não o fiz.
— Por que você está triste? — perguntei com cuidado.
— É que você fez tão bem... por um segundo achei que fosse real. —
Ela fechou os olhos por um momento e uma única lágrima escorreu pelo
seu rosto. Aquilo me quebrou.
Queria lhe proteger, nunca deixar qualquer coisa machucá-la. Preferia
ser cortado ao meio do que vê-la chorar. Encostei a testa na dela como se
aquilo pudesse tirar tudo, o que ela estivesse sentindo, e transferir para
mim.
Não existe nada mais real do que a forma como te olho.
— Ah, meu amor, te ver chorar é o mesmo que me matar — revelei,
me sentindo estrangulado.
A apertei em um abraço e beijei a sua testa com carinho. Madison me
olhou surpresa.
— Eu gosto quando você me chama assim — contou, a ponta do seu
nariz estava vermelha, a deixando adoravelmente linda.
Sorri para ela.
— Vou sempre te chamar assim, meu amor — determinei, dando um
beijo na ponta do seu nariz e segurando o seu rosto.
Ela suspirou ao sentir o beijo.
— Desculpa por isso — pediu, encostando a cabeça no meu ombro,
como se quisesse esconder o rosto. A coloquei no chão, porém continuei a
abraçando. — Devo estar na TPM.
Beijei o seu cabelo e apertei o meu amor com cuidado. Se pudesse a
colocaria dentro de mim, em segurança.
— Por me agarrar? — brinquei, cheirando os seus cachos. — Não tem
que se desculpar, eu sempre soube que tinha uma queda por mim.
Ela ergueu o rosto para mim com uma cara de tédio.
— Você não tem jeito — repreendeu com bom humor e revirou os
olhos. Ela encarou a minha corrente e pegou o pingente, pedindo permissão.
— Preciso da moeda.
— Você pode usá-la sempre. — Beijei a sua testa uma última vez ao
me afastar.
Tirei a moeda do pingente e entreguei a ela. A pequena fechou os
olhos, parecendo fazer uma pergunta em silêncio e jogou a moeda para
cima. Ela a pegou no ar e colocou na sua outra palma. Deu cara.
— “Cara” é sempre sim — repeti e Madison suspirou.
— Seu destino está me metendo em uma confusão — ela confessou,
me devolvendo a moeda.
— Ele costuma fazer isso comigo também. Em que confusão ele te
meteu?
Madison me explicou a situação com o seu professor e eu não sabia se
ria ou se sentia pena dela.
— E isso tudo é culpa sua — acusou depois de contar tudo, indo pegar
a sua bolsa para irmos embora.
— Veja bem, você vai conseguir um estágio — lembrei o lado positivo.
— Mas eu não sei atuar...
— A gente aprende — provoquei com duplo sentido e percebi que ela
estava se lembrando do beijo, pois ficou quieta e caminhou em silêncio ao
meu lado.
Ela ainda pensava que eu estava atuando. O que foi aquilo para ela? Só
um momento? Madison não queria nada comigo, ela já tinha deixado isso
claro tantas vezes que já era para eu ter entendido.
— Colin Scott? — alguém me chamou e olhei por cima do ombro para
ver quem era.
O professor da Madison.
— Podemos falar por um segundo? — ele pediu, segurando uma pasta.
— Claro. — Puxei Maddie pela cintura e dei um beijo na sua testa
antes de me afastar. — Me espera aqui, pequena.
— Tá bem — ela murmurou debilmente, um pouco em choque pelo
gesto de carinho em público.
Revirei os olhos. Se ela soubesse que por mim só andaríamos de mãos
dadas...
Ah, pequena, o que você fez comigo?

Madison Jensen

O Sr. Stone provavelmente estava falando dos horários dos ensaios


para Colin. Observei os dois de longe e me encostei na parede, sentindo o
meu coração disparar.
Foi real? Era só encenação? Brincadeira?
— Ei, linda. Você sumiu.
Derek apareceu do meu lado e ergui os olhos para ele, sem saber de
onde ele tinha surgido. Logo atrás, o pessoal também já estava indo embora.
— Ah, eu estava lá dentro. — Apontei para os bastidores.
— Fiquei sabendo — ele murmurou em uma expressão um pouco
chateada. — Então, estava pensando em irmos comer alguma coisa agora.
Com fome?
Estava faminta, contudo, preferia comer em casa. Além disso, não
queria sair de novo com Derek, não sentia que tínhamos química. Como
não queria ser grosseira, inventei uma desculpa.
— Desculpa, é que a minha amiga está fazendo o jantar pra todo
mundo e seria uma desfeita comer em outro lugar. — Sorri para ele,
encolhendo os ombros.
— Oh, eu podia ir com você — se ofereceu. — Não iria atrapalhar, a
gente poderia dar uma olhada nas falas depois. Sr. Stone disse que você
ajudaria o pessoal.
Coloquei uma mecha atrás da orelha sem saber como sair daquela
situação. Foi meio inconveniente ele se convidar assim, e meio que eu já
estava obrigada a ajudá-lo com a peça.
— A casa está bem cheia, você sabe, com a reforma...
— Não me importo, eu só queria passar um tempo com você — me
interrompeu e aquilo parecia ser a coisa que toda a garota gostaria de ouvir.
Contudo, aquilo não me tocou em nada. Mesmo assim fiquei sem jeito
de inventar outra desculpa, ele poderia ficar magoado e eu não queria isso.
— Ah, claro. Vamos adorar te receber lá — convidei por educação.
— Receber aonde? — a voz de Colin se sobressaiu, zangada.
Virei para ele e senti uma vontade estranha de abraçá-lo. Eu gostava de
contato, entretanto não me lembrava de ter sentido essa necessidade de
tocar alguém só por estar perto.
— Derek vai lá pra casa — soltei de uma vez e a expressão de Colin
foi ininteligível.
Ele só levantou o olhar para Derek e fingiu um sorriso nada amigável.
— Perfeito — foi tudo o que ele disse antes de pegar minha mão e
entrelaçar nossos dedos.
Algumas pessoas olharam para o gesto com espanto. Eu também.
Parecia que estávamos juntos.
Ele não estava se importando. E eu também não me importaria.
Entrelacei os dedos nos dele e acenei para Derek em despedida, antes de ir
caminhando até o carro de Colin.
Gostei demais de sentir suas mãos, sua boca, sua língua... que inferno.
Por favor, Colin, não me machuca.
Madison Jensen

Assim que abri a porta da casa, encontrei Tyler jogado no sofá


tragando um baseado.
— Temos visita! — avisei para ele, indicando para esconder sua
maconha.
— Quem? — Tyler perguntou sem muito interesse.
— A polícia — debochou Colin mal-humorado, entrando na casa junto
comigo.
Tyler se levantou assustado e revirei os olhos.
— É um amigo meu — o acalmei e fui até a cozinha. — Si — chamei,
olhando em volta.
Sienna estava montando nossa mesa de jantar. Ela ergueu o olhar para
mim com um sorriso.
— Boa noite, meu bem.
— Mais uma pessoa vem comer aqui hoje — avisei em um tom de
desculpa e seu sorriso morreu.
— Aqui? — Ela apontou para a casa, alarmada.
— Sim — confirmei, entendendo a sua preocupação.
— Tyler, você escondeu...
— Não tem com o que se preocupar! — Tyler entrou na cozinha,
interrompendo Sienna. — Escondi os afrodisíacos no potinho de bombons
da sala.
Sienna lhe lançou um olhar cético, mas logo limpou as mãos na saia.
— Certo, então me ajuda aqui a arrumar a mesa — ela pediu e fomos
ajudá-la a pegar os pratos.
— Já está pronto? — Amber perguntou, colocando a cabeça para
dentro da cozinha. — Estou morrendo de fome...
— Prontinho. — Sienna piscou para ela. — Pode chamar o pessoal.
Amber sorriu empolgada.
— GENTEEE! O JANTAR ESTÁ PRONTOOOO! — gritou Amber,
tão alto que senti meus ouvidos coçarem um pouco.
Pouco tempo depois todos chegaram, ansiosos. Até poderia se pensar
que não viam comida há meses.
— Hummmm... — murmurou Taylor em aprovação, sentando-se. — O
que é hoje?
— Camarão — respondeu Sienna, sentando com elegância à ponta da
mesa. — Não vão se acostumando, quando a gente voltar pra casa eu não
vou ficar fazendo jantar pra vocês.
— Graças a Deus que estamos esperando os ovos chocarem —
lembrou Colin, já se inclinando para fazer seu prato, porém me curvei para
frente e espetei a sua mão com o meu garfo.
— Estamos esperando visita — o recordei e várias cabeças se viraram
para mim.
— Quem? — perguntou Scar.
— Quem? — Johnny franziu a testa, curioso.
— Quem? — Amber olhou em volta como se a pessoa estivesse
escondida em algum lugar.
— Eu não gosto de receber visita — resmungou Taylor.
— Eu não gosto de dividir comida — avisou Drake.
— Eu não gosto de ficar olhando pra comida sem poder comer. —
Tyler suspirou.
— Eu não gosto da visita — revelou Colin.
— É só um...
A campainha tocou, me interrompendo e me levantei para atender,
deixando-os curiosos. Abri a porta para Derek e ele me saudou com um
sorriso.
— Ei, você demorou um pouquinho — falei com simpatia, dando
espaço para ele entrar.
Derek estava segurando uma sacola.
— Eu trouxe alguns chocolates pra você. — Ele estendeu a sacola para
mim e eu sorri agradecida.
— Obrigada! — Indiquei o caminho e fechei a porta.
Chegamos na cozinha e vi que todos estavam com as cabeças
inclinadas, tentando ver quem era.
— Pessoal, esse é o Derek — apresentei e cada um o olhou de cima a
baixo. Colin só ergueu a sobrancelha cinicamente.
— Você é o cara que saiu correndo daqui naquele dia! — Scar se
lembrou, estalando os dedos.
— Sim, cara, você melhorou? — perguntou Drake, preocupado. —
Estava com um problema de estômago.
Sentei na cadeira e Derek se sentou ao meu lado, olhando para Drake
com confusão. Me senti péssima por não ter perguntado sobre a sua saúde,
entretanto suspeitava que isso não passava de uma invenção da criatura que
estava à minha frente.
— Como é? — perguntou Derek.
— Sim! Você saiu daqui correndo pra ir ao banheiro — Colin fez
questão de informar. — Espero que a comida não te faça mal — disse de
um jeito que era quase como se ele estivesse torcendo por isso.
— Oh! — Derek pegou na própria barriga, ainda um pouco perdido. —
Obrigado, eu acho.
— Podemos comer? — questionou Tyler, entediado.
— Sim — cedeu Sienna.
Eles se serviram e eu coloquei no meu prato carne de soja com purê de
batata. Minha amiga sabia da minha dieta vegetariana e tinha a gentileza de
sempre fazer algo para me incluir nas refeições. Ela não tinha nenhuma
obrigação, mas fazia, e isso me deixava com o coração quentinho.
— Então, Derek... — começou Colin, com um sorriso no rosto. — O
que você veio fazer aqui mesmo?
Arregalei os olhos para ele e quase me inclinei para espetá-lo de novo.
Que grosseria.
— Eu vim passar um tempo com a Maddie — Derek respondeu sem se
abalar, sorrindo para mim e estendendo o braço para descansá-lo atrás da
minha cadeira.
Me esquivei involuntariamente, tentando escapar do toque. Colin
apenas olhou o braço de Derek jogado atrás da cadeira e ergueu,
ameaçadoramente, a sobrancelha para ele.
— Eu estou me sentindo um pouco tonta. — Scar massageou a testa e a
analisei com preocupação.
— Eu também — Drake disse, meio zonzo.
— Meu Deus, será o camarão? — Sienna se virou para o prato,
nervosa.
— Eu estou bem — Johnny informou, colocando mais um pedaço na
boca.
— Eu também — disse Amber, dando de ombros.
— Talvez Derek tenha passado alguma coisa pra vocês. — Colin
apontou o garfo para o convidado e todos viraram para Derek com
desconfiança.
— Eu não tenho nada. — O pobre coitado ergueu as mãos.
— Não é bom você ficar muito próxima dele, Madison — Colin
aconselhou sorrateiramente.
Balancei a cabeça em negação para ele.
— Estou muito bem, Colin. Obrigada — disse entredentes, sabendo
muito bem que ele queria constranger Derek.
— Mas todos nós sabemos que você tem alergia a camarão — mentiu
Colin.
De onde ele tirava essas coisas?
— De onde você tirou...
— Querida! Eu não sabia disso. — Sienna estudou o meu rosto com
apreensão.
— É mentir...
— Ela já está começando a ficar vermelha. — Amber apontou para o
meu rosto.
Deveria estar vermelha mesmo, todavia era por que todo mundo estava
olhando para mim.
— Você está bem? — Derek se virou para mim atenciosamente,
querendo tocar o meu rosto.
— Não toque nela — ameaçou Colin zangado, dando um susto em
todos. Ele paralisou no lugar ao se dar conta de que estávamos olhando para
ele e se ajeitou calmamente na cadeira. — Madison já está passando mal,
pode ficar pior se pegar a sua doença.
— Que doença? — Derek balançou a cabeça, perdido.
— Nossa... — Scar murmurou debilmente.
— Nossa... — repetiu Drake no mesmo tom.
— Você chegou a comer o camarão? — perguntou Tyler para mim,
preocupado.
— Você não é vegetariana? — questionou Derek e eu abri a boca para
responder, só que Colin falou por cima.
— Deus, ela está ficando ainda mais vermelha! — Colin fez um alarde
e quis matá-lo.
— Eu estou bem, não sou alérgica a camarão — falei enfezada, sem
tirar os olhos do cínico à minha frente.
— Não brinque assim com a sua saúde — repreendeu Colin de um
jeito sério, que fez cada um ali acreditar nele.
— Meu Deus, devemos ir ao hospital? — Taylor já ia se levantando.
— Você está bem mesmo? — Johnny estreitou os olhos, me
observando.
— Claro que estou, isso é coisa do Colin. — Apontei para o louco.
— Nossa... — disse Drake de novo, com uma cara meio chapada.
— Você está muito perto do camarão — disse Colin com sabedoria. —
Vamos todos mudar de lugar. — Ele se levantou e pegou o seu prato,
forçando todos a pegarem o próprio prato e mudarem para a cadeira ao
lado.
— Isso é ridículo — tentei falar, mas Amber pegou o meu prato e o
colocou no lugar do dela, enquanto se mudava para a próxima cadeira.
— Com a saúde não se brinca — cantarolou Amber, parecendo se
divertir com aquele rodízio.
— Você está mesmo bem? — Johnny se inclinou, tentando me ver
melhor.
— Eu nem como camarão...
— Uma vez eu conheci uma pessoa que morreu comendo camarão —
Colin me interrompeu novamente e todos na mesa pararam com os garfos a
caminho da boca.
— Ela se engasgou? — Tyler perguntou, temeroso.
— Não — informou Colin. — Levou um tiro, só que estava comendo
camarão na hora.
O encaramos em silêncio.
— Chocante... — Drake murmurou meio distraído.
— Nossa... — disse Scarlett mais uma vez.
— Vocês têm certeza que estão bem mesmo? — Derek olhou para
Drake e Scar com preocupação.
— Deve ser a corrente de ar. — Colin apontou para a janela aberta.
— O quê? — Johnny franziu a testa.
— Corrente de ar? — repeti em deboche.
— Sim, eu soube que algumas pessoas no campus andaram ficando
adoecidas por conta disso — mentiu e apenas balancei a cabeça para ele.
Era inacreditável. Tão inacreditável que me perguntava como alguém
conseguiu acreditar. — Deveríamos mudar de lugar — aconselhou,
levantando da mesa com o seu prato e obrigando todos a seguirem a dança
da cadeira de novo.
— Meu Deus — murmurou Derek, carregando o seu prato para a
próxima cadeira. — Todos os dias os jantares são assim?
— Oh não! — respondeu Amber com bom humor. — Ontem nós
comemos lasanha.
Johnny riu e beijou a cabeça dela com carinho. Drake soltou um soluço
tão alto que nos assustou.
— Vocês são lindos... — Scarlett sorriu para nós.
— Vocês andaram usando alguma coisa? — Taylor perguntou para
eles.
— Não — Drake negou, enfiando o garfo na mão do Tyler.
— Ai! — Ele deu um pulo com a espetada.
— Oh... — Scarlett começou a rir.
É, eles tinham usado alguma coisa.
— É essa corrente de ar — insistiu Colin, convicto.
— Meu Deus do céu! — Olhei para ele sem acreditar que ia continuar
insistindo naquilo.
— Conheci pessoas que morreram disso — continuou Colin.
— Você conhece muitas pessoas que morreram, não? — zombei.
— Deveríamos mudar de lugar — Colin avisou, se levantando
novamente e Tyler o seguiu, forçando cada um a mudar de cadeira.
— Eu já estou tonto — disse Taylor, passando para a próxima cadeira
com o seu prato.
— Já chega disso! — Johnny resmungou para Colin, irritado.
Quando pensei que ia finalmente poder comer em paz, Drake jogou a
cabeça para trás e simplesmente dormiu. Nós o olhamos em choque. Tyler
deu dois tapinhas no rosto dele, mas parecia apagado.
— Tinha alguma coisa nos bombons da sala — disse Scar, relaxada
demais.
Me virei para Tyler e ele ergueu as mãos.
— Vai passar daqui a pouco — ele garantiu.
— Então, Derek... — Colin se virou para Derek, sem se importar com
o amigo morto. — O que você quer com o nosso gnomo?
Senti minhas bochechas corarem. Meu Deus, que pessoa
inconveniente!
— Gnomo? — Derek se virou para mim e me analisou, parecendo
medir minha altura. — Maddie não é tão baixa assim.
Ah, que gentileza... Sorri agradecida, porém Colin gargalhou e me virei
para frente com ódio. Alguém vai dormir no sofá hoje.
— Olha, você é engraçado. — Colin limpou o canto dos olhos e ergui
o dedo do meio para ele.
— Sério — insistiu Derek. — Você deve ter um metro e sessenta, no
mínimo.
Aquilo fez o meu dia.
— Ah, obrigada! — Sorri contente. — É bem próximo disso, na
verdade tenho um e cinquenta e sete.
Quando me virei para a frente percebi que todos à mesa se calaram,
concentrados nos próprios pratos. Colin respirou fundo, mas em algum
momento ele soltou outra gargalhada.
Mais alta dessa vez.
O pior de tudo foi Amber, que o acompanhou.
— O quê? Acham que eu estou mentindo? — perguntei, olhando para
cada um com raiva.
— Nunca... — Colin colocou a mão na barriga, se recuperando da
risada. — Tem dias que chego a achar que você tem um e oitenta.
Ele riu mais e Amber gargalhou descontroladamente.
— Pois saiba que é verdade! — aleguei, apontando meu garfo na sua
direção. — Eu me medi com Sienna, ela que viu a minha altura. — Todos
se viraram para Sienna, que estava olhando para o seu prato com muito
interesse. — E Sienna não mente — fiz questão de acrescentar.
Sienna ficou vermelha.
— Sienna, Sienna... — Colin estalou a língua provocativamente para
ela. — Que feio, hein.
Sienna estreitou os olhos para Colin, forçando um sorriso.
— Não sei do que você está falando — ela disse, o ignorando e
voltando a comer.
— Isso realmente não é importante... — Johnny tentou ajudar em
consolo.
— Sim — concordou Colin. — Todos sabemos que você mede um e
quarenta.
Aí já chega!
— Pegue a fita métrica — disse decidida, sem desviar o olhar daquele
cretino.
— Isso é mesmo necessário? — Sienna perguntou para nós dois.
— Podemos deixar isso de lado? — sugeriu Johnny de maneira
sensata.
— Não, Johnny. — Colin se levantou sério e imponente. — É bom
resolvermos de uma vez por todas essa questão.
Johnny revirou os olhos.
— Eu pego a fita métrica. — Amber se dispôs animada, levantando e
saindo da cozinha.
— Mas pra quê isso? — Derek perguntou sem entender.
— Ela tem um complexo de altura. — Scarlett apontou para mim com
o seu garfo e iria desculpá-la só porque não estava no seu normal.
— Eu não tenho um complexo de altura — neguei, me levantando
quando Amber voltou com a fita.
Colin rodeou a mesa e eu me coloquei de costas para a parede,
erguendo os ombros. O movimento fez com que os meus seios ficassem
mais à mostra e Colin os secou descaradamente.
— É a minha altura que você está medindo aqui — lembrei-o com
repreensão.
Colin piscou em divertimento e colocou a fita ao meu lado.
— Aqui está a resposta que todos queríamos saber — ele disse e todo
mundo correu, ansiosos para olhar minha altura.
Menos Drake, coitado, que continuava dormindo na cadeira.
— E então? — perguntei observando a cara que estavam fazendo.
— Bem... podemos atestar que Sienna mente sim — Amber provocou
e Sienna a beliscou.
— Você tem exatamente um e cinquenta e cinco — disse Tyler, ainda
comendo seu camarão. Ele tinha trazido o prato junto.
— Quero saber o que aconteceu com os dois centímetros a mais. —
Colin coçou a barba por fazer, abismado e arranquei a fita métrica da sua
mão.
— Você vai dormir no sofá! — decidi, saindo dali e seguindo para o
nosso quarto.
Ele veio atrás.
— De novo?
— Sim! — Abri a porta e fui direto para a sua gaveta de cuecas.
— Mas que culpa eu tenho se você perdeu dois centímetros? —
provocou com um sorriso inocente no rosto.
— Toda! — Comecei a jogar as cuecas nele e o empurrei para fora do
quarto.
— Olha, essa sua obsessão pelas minhas cuecas está ficando estranha.
Eu vou dar umas pra você de consolo.
Não ia cair naquilo. Ele queria que eu ficasse ali brigando, no entanto
respirei fundo, tentando me conectar com a minha paz interior. Passei por
um Colin coberto de cuecas e desci novamente para a cozinha.
— Eu nunca tive um jantar assim em toda a minha vida — contou
Derek assim que entrei.
— Sério? Nunca comeu camarão? — Amber franziu a testa,
impressionada.
— Eu me estressei à toa — falei, me sentando de novo à mesa,
arrependida por ter caído na provocação de Colin. — Não deveria ter dado
corda pra ele.
Colin entrou na cozinha carregado de cuecas.
— Vai dormir no sofá de novo? — perguntou Johnny com um sorriso
no rosto, achando graça.
— Parece que sim. — Colin se encostou na parede atrás de Derek,
cruzando os braços.
— Vocês dormem no mesmo quarto — Derek comentou, não como
uma pergunta, porém estranhando aquilo.
— Você foi lá em cima naquele dia — lembrei ele.
— Isso, nós dividimos a cama — enfatizou Colin e arregalei os olhos.
— Cada um do seu lado — esclareci depressa, antes que pensassem
outra coisa.
— Então... — Derek se levantou, passando a mão no cabelo. — Eu já
vou indo.
Suspirei aliviada.
— Não, Derek... — Colin balançou a cabeça, fingindo decepção. —
Estávamos esperando que ficasse até a sobremesa.
— Ah, se insiste... — Derek ia se sentando novamente, mas Colin o
puxou pela camisa de volta.
— Só que não é bom você ficar muito tempo aqui, pode passar alguma
coisa a alguém — informou Colin, levando Derek consigo até a porta.
Segui atrás deles.
— Até, Derek. — Acenei para ele em simpatia.
— Até. — Ele acenou de volta antes de Colin fechar a porta na sua
cara de uma vez.
— Que cara chato — murmurou Colin, se virando para mim. — Por
que você o convidou?
— Eu não o convidei, ele insistiu em vir. — Dei de ombros. — E você
não precisava ser grosseiro assim.
Ele parou na minha frente, zangado.
— Ele estava dando em cima de você — constatou, apontando para a
porta. — Teve o atrevimento até de colocar o braço atrás da sua cadeira!
— E o que você tem com isso? — perguntei erguendo a sobrancelha.
Eu não queria nada com Derek, já tinha decidido isso. Mas também
queria que Colin me falasse. Foi real? Senti um aperto no peito e minhas
mãos suaram. Precisava que ele dissesse alguma coisa. E nem sabia o que
era.
Ficamos nos olhando em um silêncio tenso.
— Tem razão, não tenho nada com isso. — Ele se virou chateado,
dando por encerrada a nossa conversa. — Vou ficar logo por aqui. —
Apontou para o sofá e aquilo, de alguma forma, doeu.
O que ele queria? Estava querendo brincar comigo? Era uma
provocação? Um jogo?
Baixei os olhos e fui para o quarto. Estava cansada, só queria dormir.
Tomei um banho demorado com direito a cabelo lavado, coloquei uma
camisola curta e abri a janela para me sentar nela.
Peguei meu bloquinho e preenchi minhas metas para o dia seguinte.

1. Elogiar a Amber.
2. Abraçar a Scar quando ela não estiver esperando.
3. Dizer que amo a Sienna.
4. Agradecer pelas coisas boas da minha vida.
5. Olhar o céu.
6. Rir por qualquer besteira.
7. Encontrar o amor da minha vida.
8. Fazer carinho nos cachorros.
9. Não ser grosseira com ninguém (Abre uma exceção para
Colin).
10. Não odiar tanto assim o Colin Scott.
11. Não pensar em Colin Scott.
12. Não deixar que Colin Scott domine minha lista.
Contudo, ele sempre dominava. Olhei as minhas outras listas no
bloquinho e constatei abismada que todas tinham esse maldito tópico. Até
mesmo a lista de exigências para o amor da minha vida era meio que
descrevendo uma pessoa totalmente oposta a ele!
Suspirei frustrada e olhei para cima. O céu estava limpo, sem nuvens,
as estrelas bem à vista. Eu queria esquecer aquilo, mas mesmo depois de
anos, as palavras ainda sopravam vivas na minha mente.
— Não precisa procurar pelas estrelas, elas simplesmente vêm até você
toda noite — sussurrei para elas.
Colin Scott

Todo mundo já tinha ido dormir.


Eu tirei minha camiseta e fiquei apenas de calça jeans no sofá da sala.
Encarei o teto e segurei o pingente que descansava no meio do meu peito.
— Obrigado por ter me levado até ela — agradeci sabendo que dentre
todos os caminhos, ele escolheu aquele para mim.
Ela ficou magoada. Foi aquilo, aquele breve brilho nos seus olhos que
me acendeu uma esperança. Um talvez. Um quase.
Olhei para as escadas e apertei mais o pingente na minha mão.
Desculpa, mas dessa vez eu vou ignorar de novo os seus conselhos.
Respirei fundo e me levantei. Caminhei até o quarto crendo que
provavelmente minha pequena deve estar dormindo. Abri a porta, porém
parei no lugar ao ver que ela estava sentada na janela com uma camisola
rosinha curta.
A luz do quarto estava apagada, só que era possível vê-la pela
claridade da noite que entrava no quarto através da janela aberta. Madison
olhou para mim e senti uma sensação estranha no fundo do meu peito.
Como se estivesse tendo um déjà vu.
— Eu acabei de ter um déjà vu — disse sem desviar o olhar e ela
inclinou a cabeça de lado, curiosa. O movimento fez com que um rio de
cachos ruivos deslizasse sobre os seus ombros. — Agora, você na janela
olhando as estrelas.
Ela estreitou os olhos para mim.
— Eu fico tão confusa quando isso acontece — confessou. — Sempre
tento lembrar de onde vem e nunca consigo.
— Falha na matrix. — Me encostei na porta.
— Ou apenas uma memória que não conseguimos lembrar. — Deu de
ombros suavemente.
— Não deveria estar dormindo? — perguntei me aproximando. — O
que está fazendo?
Ela desviou o olhar para o céu quando me sentei em sua frente na
janela.
— Procurando — respondeu distraída.
— Procurando o quê?
Ela ficou um momento em silêncio e cheguei a achar que ela não
responderia.
— Você já ouviu falar sobre a lenda chinesa do fio vermelho do
destino? — Ela suspirou, se encostando melhor na janela e voltando a me
encarar.
— Não — neguei e ela ergueu a sobrancelha, perguntando
silenciosamente se eu realmente queria ouvir. — Me conta — pedi e ela me
deu um sorriso suave.
— Tem uma versão diferente na China e no Japão. Diz que todos nós
nascemos ligados a alguém, através de uma fita que é amarrada no nosso
dedo mindinho. — Ela tocou o seu dedo mindinho com o meu para
demonstrar e eu os entrelacei, prendendo-a.
Apenas uma desculpa para tocá-la.
— E a fita não se parte? — perguntei olhando para nossos dedos.
— Não — ela murmurou baixinho. — Ela estica, emaranha, mas nunca
quebra. — Madison ficou um instante em silêncio. — Essa pessoa que está
segurando a outra metade da fita está por aí, em algum lugar. Ela não sabe
que você existe, não sabe o seu nome, qual a cor dos seus olhos, nem os
seus gostos ou defeitos. No entanto, ainda sonha com você.
— Como? — disse, sem conseguir separar os nossos dedos.
— Conexão — explicou e para exemplificar ela puxou o seu dedo para
si, como estava unido com o meu, eu fui junto, me aproximando do seu
rosto. Me aproximando perigosamente. — Um sempre leva o outro, eles se
atraem como ímã, se puxam mesmo sem saber. Está destinado que se
encontrem, que se topem. Um quer o outro, mesmo sem fazer ideia da sua
existência.
Abri minha mão e entrelacei todos os meus dedos nos dela. Era algo
que passei a gostar de fazer.
— Era isso que estava procurando aqui? — Apontei para as estrelas no
céu.
— Não, não preciso — ela respondeu pensativa, parecendo lembrar de
alguma coisa. — Não preciso procurar as estrelas, elas vêm até mim toda
noite.
Nunca conheci alguém tão apaixonada pela vida, alguém que
conseguisse ver a profundidade em tudo. Ela transformava coisas banais em
especiais apenas com um ponto de vista otimista.
Apertei sua mão delicada na minha e senti aquela vontade absurda de
me aproximar. Me inclinei para frente e ela veio na minha direção, como se
estivéssemos em sincronia.
Minha testa tocou a dela e fechei os olhos enquanto roçava o nariz no
seu.
— Era real — disse engolindo em seco, sentindo o seu cheiro de cereja
e ela suspirou, soprando o ar para mim. — Eu sempre te olhei daquele jeito.
Ela inclinou a cabeça de lado sem se afastar.
— Colin... — Ela respirou fundo, com medo.
— Eu não suporto mais ficar longe de você — contei, alisando o seu
pescoço.
Minha boca estava próxima a dela. A cada palavra que dizia, eu
conseguia sentir o seu hálito gostoso e só queria aquilo para mim. Se achei
que provando iria amenizar aquela obsessão por ela, estava muito
enganado. Só me deixou mais viciado.
— Não faz isso comigo — sussurrou em uma voz magoada e se
afastou um pouco, só o suficiente para poder olhar nos meus olhos.
Meu coração apertou no peito ao perceber que ela pensava que eu
estava tentando brincar com ela, machucá-la.
— Eu jamais machucaria você. — Olhei no fundo dos seus olhos. —
Morreria antes de fazer isso.
Ela mirou, perdida, cada canto do meu rosto.
— Não teve um único dia em que eu não te olhei desse jeito —
confessei e ela tocou o meu maxilar, alisando a minha barba por fazer com
carinho. — Não posso mais ficar longe.
Ela absorveu cada palavra que eu disse e voltou a descansar a testa na
minha.
— Então não fica. — Suspirou e foi como se tivesse injetado
adrenalina na minha veia.
— Nunca mais — garanti, agarrando sua cintura e a puxando para meu
colo de uma vez.
Maddie abraçou meu pescoço em susto, para se segurar no lugar e eu a
firmei pela cintura, pressionando-a contra o meu corpo. Ela se distanciou de
mim o bastante para eu poder ver o seu rosto e desceu as mãos lentamente
pelo meu pescoço, sentindo meus músculos tensionarem à medida que
recebia o seu toque.
Como se estivesse enfeitiçado, minha pele se arrepiou quando ela
passou aquelas mãos pequenas e quentes pelo meu peitoral.
Meu coração deu uma acelerada. Todo o quarto ficou quente. O corpo
dela era macio em cima do meu, cada curva gostosa se encaixava
perfeitamente. Meu pau pulsou apenas por senti-la perto, senti sua
respiração soprar nos meus lábios e os encarei. Ela colocou a língua para
fora e molhou o lábio inferior lentamente.
Cheio, rosado, brilhante e gostoso para caralho.
Assim que ergui os olhos para ela de novo, nos encontramos. Ela
estava me encarando com o mesmo desespero e desejo.
Toquei o seu rosto com carinho e ela fechou os olhos ao sentir o toque,
apreciando-o. Era como se meu corpo comandasse o seu, assim como ela
fazia com o meu. A porra da sintonia.
Enterrei os dedos nos seus cachos, sentindo-os roçarem na minha pele
e me aproximei dela com um aperto estranho no peito. Inspirei o seu aroma
doce e encostei o nariz no seu pescoço. Sua respiração estava pesada, sentia
o seu corpo ansioso, assim como o meu. Ela apertou mais o meu pescoço,
precisando de um suporte e eu coloquei minha outra mão nas suas costas, a
apertando contra o meu peitoral outra vez.
Os seus seios ficaram presos em mim. Eu os senti endurecerem,
pesados e meu pau ficou duro embaixo do seu corpo. Subi lentamente até a
sua boca, a beijando de um jeito quente e lento.
E foi como beber água depois de uma temporada no deserto.
Não entrei com tudo, segurei-a como se ela fosse a coisa mais preciosa
do mundo e provoquei, tirando a língua quando ela vinha na minha direção
querendo mais. Ela gemeu, abrindo mais a boca, e o som fez o meu pau se
erguer irritado, pedindo atenção.
Respirei fundo, a pegando mais forte e mordiscando o lábio inferior,
ele era macio, gostoso, quente. O chupei, molhando-o, deixando inchado e
logo que o soltei ela ofegou, enterrando os dedos no meu cabelo e me
puxando para perto em um desespero manhoso.
Sorri e deixei de provocação. Enfiei minha língua na sua boca gostosa.
Sua língua veio tocando a minha e o contato fez nós dois suspirarmos
excitados. Ela me beijou, mordeu meu lábio e colocou a língua deliciosa
dentro da minha boca. A chupei com vontade, sugando tudo.
Quando a soltei, tirei os seus cachos do caminho e segui para o seu
pescoço. Ela inclinou a cabeça de lado, o oferecendo para mim e vi a sua
boca toda marcada, vermelha e inchada. Não resisti, a beijei de novo antes
de descer para o seu pescoço. A pele quente tinha uma veia bem à vista,
tensa e pulsante.
Encostei o meu nariz ali, apenas respirando o seu cheiro e a sentindo
arrepiar. Ela se contorceu para frente, esfregando aqueles seios em mim. A
segurei no lugar e beijei com cuidado o seu pescoço, antes de abrir os lábios
para chupar a região.
Ela choramingou perto do meu ouvido e todo o meu corpo se arrepiou.
Rocei meu pau nela e a segurei com mais firmeza. Suguei o seu pescoço,
dando uma chupada para marcá-la. Queria deixar marcado, para quando
qualquer um a visse soubesse que ela era só minha.
Logo que soltei a pele inflamada, lambi o local, passei a língua com
calma, deixando o pescoço bem babado. Madison estava tão arrepiada que
senti seus mamilos duros roçando em mim. Desci as mãos pela sua bunda
redonda até chegar na sua coxa grossa.
Passei a mão nos pelinhos arrepiados da sua perna, apertando a coxa,
tentando tomar posse de tudo dela. Desci as lambidas pelo seu decote,
dando sugadas lentas no seu seio, deixando um rastro de saliva.
Assim que ergui o olhar para ela, a peguei olhando para mim com os
olhos zonzos de tesão. Sua boca estava aberta e ela respirava pesadamente,
ofegante. Deveria estar com a bocetinha toda melada, sufocada dentro da
calcinha. Imaginei o tecido roçando nas suas dobras lambuzadas e aquilo
fez com que a lambida que dava no seu decote ficasse mais intensa.
Quando cheguei no limite da camisola parei no lugar, não sabia se
podia ir mais além. Queria chupar aqueles peitos, colocá-los na boca, sentir
os mamilos endurecerem na minha língua, chupá-los, vê-los balançarem na
minha cara. Mas não sabia se era demais para ela.
Só que foi a pequena que decidiu por mim.
Madison abaixou um ombro e deixou a alça da camisola cair, expondo
o seio. Quase salivei. Puta merda!
Ele era grande, cheio, macio, com o mamilo rosado arrepiado e
marcado pelas minhas chupadas. Gemi em frustração e me enterrei entre
eles.
Todo o sangue do meu corpo estava no pau naquele momento, ele
estava tão duro que podia explodir na boxer. Puxei o meu amor para mim e
abocanhei o bico com tudo, chupei, molhando-o e passei a língua ao redor,
para provocá-la.
Aquilo a fez suspirar muito alto e se contorcer toda no meu colo. Os
gemidos dela eram manhosos e porra... aquilo era perfeito. Ela era perfeita.
E só minha.
— Geme pra mim — pedi entre as chupadas e ela enterrou os dedos no
meu cabelo, me impedindo de sair dali.
Suguei mais forte, dando mamadas curtas, até parar e seguir para o
outro. Baixei a outra alça da camisola e liberei o outro seio, abocanhando-o.
Passei a minha barba por fazer entre eles, arranhando de leve e ela rebolou
no meu colo.
Fiquei tenso com o movimento e estralei o pescoço, tentando aliviar o
tesão acumulado. Podia sentir cada veia do meu corpo pulsar, querendo
esfregar nela.
Subi os beijos até alcançar a boca dela de novo. E ela me recebeu
ansiosa, agarrou o meu rosto entre as suas mãos e me beijou gostoso. Meti a
língua nela como queria fazer na sua boceta e segurei os seus seios babados
nas mãos, massageando-os.
Ela ofegou na minha boca e aquele, definitivamente, virou o meu som
favorito do mundo. Melhor do que qualquer música.
Passei os polegares pelos mamilos inchados e melados, pressionando
de leve. Eles eram pesados e escapavam da minha mão, era uma delícia
segurá-los assim, fiquei imaginando passar o pau entre eles, sentir a cabeça
tocando naquela pele macia e sensível dela.
Cutuquei Madison com o meu pau outra vez, fazendo-a sentir o quanto
estava duro por ela.
— Colin... — choramingou e quem gemeu, dessa vez, fui eu.
Cacete, ela chamando meu nome desse jeito era tudo o que eu sempre
quis ouvir.
— Quer parar? — perguntei dolorosamente, já sentindo minhas bolas
pesarem.
Afastei do nosso beijo para poder olhá-la e Madison balançou a cabeça
em frustração.
— Não — respondeu, mordendo o lábio inferior e quando ela o soltou
eu a beijei novamente.
A puxei para o meu peito, escondendo seus seios nus no meu peitoral e
segurei o seu rosto com carinho. Ela rebolou de novo no meu pau, e eu
sabia que iria me foder se ficasse naquela posição. Tirando que estávamos
na janela, poderia passar uma pessoa de madrugada na rua e ninguém iria
vê-la nua.
Me levantei com ela no colo, a pequena ainda estava com os seios
chupados pressionados contra mim e agarrada ao meu pescoço. Madison
deu um gritinho surpreso e a levei até a nossa cama.
Sentei, me encostando na cabeceira, com ela ainda em meu colo, e a
ruiva não perdeu tempo. Colocou cada perna de um lado do meu quadril e
eu sabia que estava muito fodido. Ela queria dar umas esfregadas.
A puxei pelo quadril para mim, beijando-a enquanto descia as mãos
pelas suas coxas macias. Entrei por dentro da camisola e segurei a sua
bunda cheia na mão. Dei um tapinha ali e ela se inclinou para frente,
roçando no meu pau.
— Caralho... — murmurei estralando o meu pescoço, tenso.
Cada parte do meu corpo arrepiou e meu pau já estava erguido no
limite. Eu estava no limite.
— Quer parar? — ela devolveu a pergunta de brincadeira, ofegante,
alisando meu peito.
Fechei os olhos por um momento e adorei sentir aquela mão carinhosa
passando pelos meus braços. Apertei a bunda dela contra mim, fazendo-a
roçar no meu pau de novo. E a peguei pela cintura, segurando-a bem junto
do meu corpo. Mordi o seu lábio inferior e travei o maxilar ao sentir uma
necessidade de melar o meu pau nela.
Desse jeito eu ia gozar só com as reboladas que ela estava dando.
— Quero fazer você gozar — Madison disse, passando a mão pelo meu
abdômen, descendo cada vez mais e chegando perigosamente perto do meu
pau.
Ah, inferno.
Não sei quantas vezes a imaginei falando exatamente isso no meu
ouvido. Gemi em frustração. Era real. Eu a tinha, finalmente. Chupei a sua
língua, que ela colocou na minha boca, e alisei as suas costas, sentindo-a se
contorcer.
— Antes de qualquer coisa eu preciso da sua boceta — avisei,
passando o braço pelas suas costas macias e a pressionando contra o meu
corpo.
Estoquei mais uma vez meu pau nela, fazendo-a senti-lo duro e a
pequena abriu a boca para soltar um gemido desejoso, se agarrando no meu
pescoço.
Ela enterrou o rosto ali e me deu uma mordida, para conter o próprio
tesão. Adorei senti-la me babando, a saliva espalhada pela minha pele.
Apertei sua bunda entre os dedos e a sua boceta se esfregou no meu pau.
Passei a mão pelo seu cabelo, virando o rosto dela na minha direção
com ternura e a beijei. Desci os dedos pela curva da sua bunda cheia até
chegar perto da boceta, onde a calcinha dela estava totalmente úmida.
Desci os beijos pelo seu pescoço e Madison ofegou excitada, dando
uma esfregada involuntária em mim. A segurei no lugar, pelo meu próprio
bem, até finalmente empurrar a calcinha de lado e melar os meus dedos
naquela boceta deliciosa.
Puta merda.
Passei a língua devagar no seu pescoço, babando a pele como gostaria
de estar fazendo entre os lábios da sua boceta macia. Alisei os lábios
externos, fingindo que ia meter nela e a pequena cravou as unhas nos meus
ombros, ansiosa, querendo sentar em cima dos meus dedos de uma vez.
A abracei com um braço, protetoramente, e ela me abraçou de volta,
escondendo o rosto na curva do meu pescoço. Percebi que ela estava um
pouco envergonhada. Queria que eu estocasse logo e a alargasse, mas estava
acanhada demais para pedir.
E isso fez com que meu lado protetor falasse mais alto.
— Eu vou cuidar de você, meu amor — prometi, beijando o seu ombro
e sentindo o cheiro doce do seu cabelo.
Ela relaxou aos poucos e começou a espalhar beijos demorados pelo
meu ombro, descendo pelo peitoral. Suspirei trêmulo ao senti-la tão perto
de mim, me oferecendo tudo. Meu Deus, eu era tão louco por essa garota...
A beijei, segurando o seu corpo com carinho, e voltei a masturbá-la.
Tudo o que meu pau pedia naquele momento era para ser tocado,
porém me controlei e alisei a sua entrada melada, afastei os lábios externos
dela e lambuzei meus dedos antes de seguir para o clitóris. Quando o toquei
todo o seu corpo estremeceu, suas pernas flexionaram no meu colo e
Madison deu uma esfregada em cima do meu pau, enterrando mais o rosto
no meu pescoço e gemendo em agonia.
— Por favor... — implorou e massageei o seu clitóris com o polegar
enquanto finalmente metia dois dedos nela.
Era como eu imaginava. Deliciosa. Segurando a sua boceta na minha
mão, ela parecia ser gordinha, deveria ser boa de morder e dar uns tapinhas
com o pau. Ela tinha pelinhos curtos ao redor, macia, quente, muito melada,
apertada e minha.
Somente minha.
Tudo o que eu queria era enterrar o rosto ali e só sair no dia seguinte
quando ela me expulsasse.
Madison contraiu mais ao sentir meus dedos nela, se agarrou em mim e
eu a abracei de volta, a beijando enquanto metia os dois dedos na sua boceta
gostosa. Minha pequena apertava e sugava meus dedos, eu os tirava
sufocados e melados de dentro dela. Quando sentia os seus músculos
relaxando estocava de novo e com esse ritmo lento ela se desmanchava em
cima de mim.
A alarguei devagar para depois aumentar a velocidade, podia ouvir os
seus gemidos ofegantes pelo quarto, o som dos meus dedos lambuzados
entrando e saindo, o jeito que ela rebolava em cima de mim. Sentindo os
seus mamilos endurecidos roçando no meu peitoral.
— Colin... — Suspirou logo que acelerei a massagem no clitóris e
estoquei os dedos mais fundo, abrindo-a mais para mim.
— Isso — incentivei, acelerando tanto que ela começou a rebolar
desesperada em cima de mim. — Chama só o meu nome.
Madison quase chorou e continuou a se esfregar no meu colo como se
sua vida dependesse disso. A afastei um pouco de lado, tirando os dedos de
dentro e ela me olhou sem entender, frustrada. Passei os dedos melados pela
sua boceta nos seus mamilos e logo voltei a masturbá-la.
Minha pequena jogou o próprio cabelo para trás, me dando livre acesso
aos seus seios, mostrando-os melados da sua lubrificação para mim. Meu
pau pesado deu uma pulsada ao ver ela se exibindo assim.
A boceta dela contraiu nos meus dedos, fechando-os e eu passei a
comê-la com eles mais rapidamente. Madison subia e descia em desespero,
balançando aqueles mamilos na minha cara. Era tentação demais, minhas
bolas iriam explodir.
Ela parecia ter esquecido a vergonha e amei aquilo. Me inclinei e
passei a língua entre eles, bem devagar, totalmente diferente do jeito que ela
quicava em cima de mim.
Inspirei o cheiro dos bicos enrugados e lambuzados. Cerrei os dentes
para não pensar no quanto queria entrar dentro daquela boceta e abocanhei
o mamilo com vontade, sentindo seu gosto. Era deliciosa.
— Tão gostosa... — murmurei, saboreando a sua pele.
Minha ruiva desceu suas mãos até tocar o meu pau por cima da calça e
porra... Sacanagem, hein. Eu quase gozei com o jeito que ela o apertou. Era
um aperto suave, mas firme, querendo senti-lo e eu gemi, sugando o seu
seio.
Ela estava muito perto de gozar, podia sentir sua boceta melando toda a
minha mão, o jeito que esfregava o clitóris em agonia no meu polegar.
Estava para gozar, ainda assim conseguiu abrir o meu zíper.
Passei para o outro mamilo, passando a língua devagar ao redor dele,
provando aquele gosto da bocetinha dela. Quando a senti tocando a minha
cueca levantei o olhar para encará-la.
E ela me olhou de volta.
— Posso? — perguntou meio ofegante, sem deixar de rebolar toda
manhosa na minha mão.
— É tudo seu — respondi, passando a língua no mamilo e ela
acompanhou o movimento. Não desviei.
Ela entrou com a mão pequena na minha cueca e segurou o meu pau
duro para cacete. Prendi o seu bico entre os dedos para me conter e puni-la.
A sua mão era fria contra o pau que já estava erguido e quente, com todo o
sangue do corpo ali.
— Se machucar... — murmurou um pouco insegura e diminuiu a
velocidade com que descia e subia nos meus dedos. — Os calos da minha
mão... se machucar, você me diz.
Soltei o mamilo dela com uma última chupada, e ele saiu da minha
boca balançando um pouco, babado e vermelho. Segui dando beijos
carinhosos pelo seu colo até chegar na boca dela.
— Você é toda perfeita — sussurrei, beijando o seu queixo e ela o
inclinou para mim, gostando do jeito com que eu a estava tocando.
Esfreguei mais o seu clitóris e a pequena voltou a rebolar. — Tão linda que
meu coração chega a apertar quando te olho. — Beijei a sua boca com
calma e ela suspirou, abrindo-a e colocando a língua na minha.
Ela voltou a apertar meu pau com mais confiança e gemi no nosso
beijo.
— Você não precisa fazer nada — falei, a abraçando e masturbando a
sua boceta mais rápido. — Eu só te quero perto de mim. Só isso. — Era a
verdade.
Ela não precisava me tocar ou me agradar, eu só a queria ali. Abraçá-
la, sentir o seu cheiro. Acordar do seu lado, tê-la comigo. Estava
completamente obcecado.
— Eu quero te tocar — ela decidiu e me beijou mais enquanto tentava
fechar a mão ao redor do meu pau.
Não conseguiu. Sua mão era pequena, meu pau grosso. Ela fechou até
onde deu e passou a me masturbar. Meu coração deu uma acelerada e
involuntariamente esfreguei ele na sua mão gostosa, sentindo a lubrificação
sair pela cabeça.
Madison passou a contrair mais a boceta e soube que ia gozar. Estoquei
mais, tentando tocar lá no fundo e ela ofegou em desespero no nosso beijo,
liberando o seu orgasmo.
Minha mão ficou completamente enxarcada e ela sufocou os meus
dedos dentro dela. Quando senti seus músculos relaxaram tirei os dedos da
sua boceta, mas continuei a massagear o clitóris inchado com calma.
Ela continuou a me beijar e passou a se dedicar a bater uma punheta no
meu pau, passando o polegar pela cabeça, espalhando a lubrificação pela
região bem esticada da ereção.
A apertei mais em mim e tirei a minha mão da sua calcinha, querendo
cheirá-la. Chupei os meus próprios dedos, lambendo tudo dela.
Madison olhou o gesto e passou a aumentar a velocidade com que me
masturbava. Ela não conseguiu ir muito rápido porque o meu pau não
estava totalmente solto na cueca boxer.
No entanto, era o suficiente para gozar.
Vê-la ali, tentando me agradar, com os seios de fora, os cachos ruivos
ao redor do seu rosto, gozada. Olhando para o meu corpo com os olhos
zonzos de desejo. Foi o meu fim.
Senti a porra sair pelo meu pau, escorrendo entre os seus dedos
delicados. Queria ver, só que ela ainda estava no meu colo e não iria tirá-la
dali nunca.
Um alívio misturado com prazer e tesão se acumulou no meu corpo.
Meu coração disparou e respirei ofegante até sentir a última gota escorrer
pelo talo duro.
Encostei meu corpo satisfeito do orgasmo na cabeceira da cama e
Madison tirou a mão de dentro da minha cueca, toda melada. Ela a levou
até a boca e colocou a língua para fora, provando o gosto.
— Puta que pariu... — Passei a mão pelo cabelo me sentindo satisfeito
para caralho com aquela imagem.
— Eu queria sentir o gosto — explicou, cobrindo os seios com braço
de um jeito tímido, sem me olhar.
Sorri de lado.
— Ei, meu amor — chamei me erguendo e a abraçando bem apertado.
— Você é tão perfeita... — elogiei, beijando o seu ombro nu.
E só minha. Apenas minha. Nunca vou deixar ninguém te roubar de
mim.
Ela deitou a cabeça no meu ombro, suspirando.
— Você também.
Alisei as suas costas e beijei os seus cachos, até ela relaxar um pouco
mais. A segurei mais firme contra meu corpo e levantei, levando-a para o
banheiro.
— Colin — chamou em repreensão, enlaçando as pernas em volta da
minha cintura e abraçando o meu pescoço.
— Vamos entrar no chuveiro. — Beijei o seu rosto e a coloquei em
cima da pia.
— A gente não precisa ir juntos — ela pediu com as bochechas
vermelhas. — Eu prefiro sozinha — explicou em tom de desculpas.
Ela desviou o olhar e percebi que era demais para ela. Chegaria o dia
em que ficaria completamente nua na minha frente sem ter vergonha, porém
seria no tempo dela.
— Pode ir primeiro. — Pisquei e beijei a ponta do seu nariz, saindo do
banheiro. — E Madison?
Ela ergueu o olhar para mim, ainda sentada na pia.
— Você não é um pescoço... — comecei e ela franziu a testa sem
entender o rumo da conversa. — Mas mexeu com a minha cabeça.
Ela me olhou em silêncio antes de soltar uma risada.
— Isso é tão ridículo. — Limpou o canto dos olhos. — Nem acredito
que caí nessas cantadas de segunda.
— Eu avisei. — Estalei a língua, fechando a porta — Nunca diga
nunca.
Tinha certeza que ela tinha revirado os olhos.
Fui usar o outro banheiro da casa, no fim do corredor. Tomei banho e
voltei para cama me sentindo leve. Madison saiu do banheiro cheirando ao
seu perfume de cereja. Levantei o edredom que estava me cobrindo, em um
convite silencioso para entrar ali no casulo e ela veio, me abraçando.
Deitei de lado, a enlaçando de conchinha e enterrando o rosto nos seus
cachos. Me senti como se finalmente tivesse voltado para casa depois de um
longo dia cansativo. Entrelacei os dedos nos dela, e minha pequena virou
nossas mãos para beijar a minha.
Um sorriso se desenhou no meu rosto ao ver o jeito que ela era
amorosa.
— Eu não sei o que fiz pra merecer você — sussurrei no ouvido dela, a
apertando mais, com carinho. — No entanto, vou fazer valer a pena —
prometi.
Ela deu outro beijo na minha mão antes de cair no sono.
Eu também caí.
Mas foi de quatro por ela.
Madison Jensen

Senti um carinho suave no meu rosto, o que me fez suspirar e querer


dormir só mais um pouco.
— Ei, pequena.
Abri os olhos e a primeira coisa que vi foi Colin inclinado sobre mim
com um sorriso no rosto.
— Oi... — murmurei ainda sonolenta, me espreguiçando e ele se
aproximou para beijar o meu rosto. Senti o seu perfume gostoso de canela e
acariciei o cabelo dele. — Por que você acordou cedo?
Ele me deu outro beijo suave na bochecha.
— Eu fiz chá de camomila pra você — falou e virei meu rosto para ele,
surpresa.
— Você fez chá pra mim? — Ergui a sobrancelha.
— Fiz. — Deu de ombros.
Sorri agradecida.
— Isso foi gentil. — Acariciei o seu rosto e Colin pegou a minha mão
para beijá-la.
— Também trouxe umas frutas. — Ele saiu da cama e pegou uma
bandeja que estava em cima da mesinha do quarto. Nela tinha o chá e
algumas frutas, todas cortadas e arrumadas em um pratinho. — Não sei o
que vegetarianos podem ou não comer, então trouxe só isso.
Coloquei a mão no rosto um pouco espantada e um sorriso involuntário
cresceu no meu rosto. Ninguém nunca tinha feito isso para mim.
— Está perfeito, obrigada. — Me sentei na cama e peguei a xícara de
chá.
— Eu sou um fofo, não é? — Ele piscou em ironia e desceu o olhar
pelo meu corpo sob a camisola, me fazendo lembrar da noite passada.
Meus mamilos endureceram e minha respiração ficou mais pesada.
Nunca tinha me sentido tão atraída por alguém assim, podia me sentir
ficando excitada só por olhá-lo. Não sabia se haveria uma próxima vez, mas
queria que houvesse.
Adorei cada segundo que ele me tocou. Não quis que acabasse, queria
que o tempo parasse ali, no momento em que ele ainda me queria desse
jeito. Me abraçando à noite e dizendo coisas lindas no meu ouvido.
No entanto, não ficaria criando ilusões, sabia que Colin não gostava de
nada sério na vida dele. E não seria eu a pressionar aquilo ou tentar mudá-
lo. Para falar a verdade, não mudaria nada nele. Gostava do maluco
exatamente como era, até mesmo com todos os seus defeitos.
Só cuidaria do meu coração quando Colin seguisse em frente. Aquele
órgão tolo e emocionado estava cada dia mais cedendo mais um pedaço ao
meu inimigo.
— Está ótimo — elogiei o seu chá com um sorriso.
— Me tornarei um especialista em pouco tempo. — Ele se esticou,
deitando na cama e descansando a cabeça no punho fechado.
Observei o seu abdômen enquanto saboreava o chá. O vapor subiu pelo
meu rosto e aqueceu todo o ambiente. Os músculos se contraíam no seu
tanquinho a cada respiração dele, quando o toquei ontem senti que era duro.
Colin era muito gostoso, e eu não costumava usar essa palavra para definir
qualquer um.
Ele era algo para se admirar mesmo.
Desci minha análise pela sua calça jeans até chegar no zíper fechado.
Não cheguei a vê-lo completamente ontem à noite, apenas toquei. Sabia que
era bem grande, soube no dia que Johnny tirou a toalha dele. Fiquei um
pouco assustada quando não consegui fechar minha mão em volta do seu
pau.
E a dúvida ficou na minha cabeça.
Será que cabia?
— A gente tenta devagarinho até caber tudo — Colin respondeu e
arregalei os olhos, me dando conta de que falei aquilo em voz alta. — Eu
não vou te rasgar no meio, só vai ser deliciosamente apertado. — O canto
da boca dele se ergueu e coloquei a mão no rosto, mortificada de vergonha.
— Eu... eu... não sei do que você está falando — gaguejei, pegando
depressa uma maçã na bandeja. — Estava pensando nas frutas. — Mordi
um pedaço. — Elas parecem enormes.
Ele jogou a cabeça para trás e riu alto. Fechei a cara.
— Você quer dormir no sofá de novo hoje à noite? — perguntei
emburrada.
— Madison... — murmurou em tom provocativo. — Nunca pensei que
você fosse tão safada assim.
Soltei a maçã e ergui a sobrancelha cinicamente.
— Eu não estava falando do seu pênis.
— Nós dois sabemos que estava — ele continuou com aquele sorriso
irritante no rosto e quis muito cutucá-lo. — E é pau — pronunciou a
palavra de um jeito sujo. — Pode falar, não dói.
— Nem tem muito o que falar mesmo. — Dei de ombros de um jeito
afrontoso e desci o olhar pela sua calça. — Quase não o vejo — menti.
Ele arqueou a sobrancelha e estreitou os olhos para mim, em
divertimento.
— Quer ver? — perguntou de um jeito que fez um arrepio passar pelo
meu corpo.
— Obrigada pelo chá — agradeci bebendo o último gole, me levantei e
deixei a xícara em cima da mesinha antes de seguir até o banheiro.
Só que Colin foi mais rápido. Quando me dei conta ele já tinha passado
o braço musculoso pela minha cintura e me virado de frente para o seu
corpo.
— É sempre bom lembrar, se quiser me oferecer um chá também... —
ele disse, tirando o meu cabelo do caminho para beijar o meu pescoço.
Suspirei, percebendo minhas pernas ficarem fracas assim que senti a
sua boca na minha pele. Fiquei na ponta dos pés para falar perto do seu
ouvido.
—Você disse que não gostava de chá — brinquei e ele me segurou pelo
quadril, perigosamente perto da bunda, me fazendo sentir a sua grande
ereção.
— Passei a adorar.
— Dessa vez você precisa se esforçar mais — provoquei. — Já foi
olhar se os ovos chocaram?
Ele se afastou de mim só o suficiente para poder ver o meu rosto. Colin
ergueu a sobrancelha em desafio.
— Agora eu tenho que chocar os ovos dos seus passarinhos? — ele
disse balançando a cabeça em negação para mim.
— Exatamente. — Sorri e beijei o seu peito em um impulso, bem onde
ficava o pingente da corrente.
Ele estava tão cheiroso que o abracei também. Colin não perdeu tempo,
me prendeu nos braços e me apertou tanto que achei que queria me colocar
dentro de si. E eu o apertei de volta.
Colin enterrou o rosto no meu cabelo e ficamos ali, até eu me afastar
para beijar de novo o peito dele. Peguei a sua corrente entre os meus dedos.
Eu estava com a pergunta presa na garganta, mas não sabia se ele iria
ou não me falar sobre isso. Resolvi arriscar.
— Quem te deu? — Segurei o pingente entre as mãos e ele ficou um
tempo em silêncio.
Beijou a minha testa com calma.
— Alguém que não está mais aqui — contou baixinho.
Senti uma dor no meio do peito e o abracei pela cintura. Deitei a
cabeça no seu tórax, escutando o seu coração bater.
— Eu sinto muito — murmurei o apertando.
— Já faz um bom tempo — ele garantiu em consolo, beijando a minha
cabeça. — Eu agradeço pela moeda, ela me levou até você.
Suspirei contra ele e levantei a cabeça, olhando-o com carinho.
— Você pode conversar comigo, se quiser — ofereci, querendo que se
sentisse acolhido.
Colin pegou o meu rosto entre as suas mãos e encostou os lábios na
ponta do meu nariz.
— Eu sei disso, e um dia eu vou falar sobre isso — prometeu olhando
nos meus olhos. — Mas agora a gente precisa ir pro campus, eu vou te
deixar na aula. — Ele sorriu para quebrar o clima triste.
Confirmei com um aceno e entrei no banheiro.
Era estranho saber que Colin também tinha cicatrizes. Eu só esperava
poder beijá-las assim como ele fez com as minhas na palma da mão.

Colin Scott

— Você não é um GPS quebrado — flertei, virando a esquina. — Mas


me deixa sem rumo.
Madison riu alto.
— Você planeja isso ou só vem naturalmente? — perguntou quando
parei em frente ao prédio dela.
— Um pouco dos dois. — Pisquei para ela e tirei o cinto de segurança,
para me inclinar mais.
Toquei o seu rosto e me aproximei aos poucos. Meu gnomo prendeu a
respiração, ansiosa e eu a beijei com calma. Senti um aperto no coração por
poder fazer aquilo, me aproximar dela assim. Tê-la perto.
Inspirei o seu cheiro e a beijei com vontade. Meu pau inchou na calça
quando a senti chupando levemente minha língua, roçando com a dela.
Gemi em frustração e a puxei mais para mim, pela cintura.
Ela segurou o meu rosto, enterrando os dedos no meu cabelo e suspirou
ofegante durante o nosso beijo. Mordisquei o seu lábio inferior, passando a
língua nele antes de me afastar. Fiquei com vontade de avisá-la que estava
toda marcada, com a boca inchada e vermelha, porém apenas toquei a
região com carinho.
— Que horas você vai sair hoje?
— Não muito tarde, só que ficarei estudando na biblioteca — lembrou.
— Me espera à noite no campus, te levo pra casa — disse, beijando o
seu queixo.
— Mas o seu prédio é longe do meu. — Franziu a testa.
— Me espera lá — pedi, dando um último beijo na sua boca gostosa.
— Tá bom. — Ela colocou um cacho atrás da orelha e sorriu em
despedida.
Saiu do carro e algumas pessoas que passavam ali, olharam para nós
dois, surpresos. E como eu adorava fazê-la passar vergonha, buzinei, a
fazendo olhar para trás assustada.
— Seu nome é wi-fi? — gritei colocando o braço para fora do carro,
chamando atenção de quem passava.
Ela me olhou divertida e balançou a cabeça em negação para mim,
sabendo que já vinha outra cantada.
— Não — gritou de volta.
— Sério? Porque estou sentindo nossa conexão daqui. — Sorri e ela
soltou uma risada gostosa.
— Você é ridículo — constatou e quando percebeu que era alvo de
atenção, se encolheu. Ela acenou para mim em despedida. — Vou ficar te
esperando.
Acenei de volta e observei a sua bunda rebolar de um lado para o outro
até ela entrar, e só então segui para o meu prédio no campus.
Não admitiria a ela, entretanto me incomodava que estivesse tendo que
aprender sobre algo que não queria para poder se manter. Ficava com
vontade de perguntar se estava com dificuldade financeira, queria ajudá-la.
Cuidar dela. Contudo, sabia que não podia simplesmente oferecer dinheiro,
ela recusaria. E também tinha o lado positivo do estágio, iria ajudá-la.
Tudo o que podia fazer era estar ali apoiando, mesmo que tivesse que
encarnar a própria Meryl Streep.
Os cachorros das minhas vizinhas não tinham nomes de atores à toa.
Tinha chegado atrasado na aula de Relações Internacionais, mas só
pela cara de decepção coletiva do pessoal suspeitava que ninguém tinha ido
muito bem na prova.
— Já saiu a nota? — perguntou Charles Moore, sentando do meu lado
do nada.
— Já está no sistema. — Estiquei as pernas de um jeito relaxado.
— Vem bomba pra mim — Charles resmungou, jogando a cabeça para
trás em preocupação.
— Dá pra recuperar. — Dei de ombros, tentando não puxar muito
assunto com ele.
Charles Moore era do nosso time de hóquei e cursava o mesmo curso
que eu, mas não éramos próximos. Não tinha nada contra o cara...
Tá, eu tinha sim. Ele com certeza não era da associação dos “quem
come quieto, come mais”, ficava falando no vestiário de toda a garota que
pegava. Dava detalhes e chegava a ser cuzão.
Tirando o fato de que vivia brigando com o treinador. Ele era o jogador
reserva do Taylor, e estava sempre puto por ficar no banco. Além disso,
Charles era da mesma fraternidade do Michael, e só por Sienna não gostar
dele isso já seria motivo suficiente.
Qualquer pessoa que fosse amiga do pau no cu do namorado dela já
deveria ser olhada com desconfiança. Ou seja, eu gostava de manter
distância.
— Você acha que tirou quanto? — ele perguntou.
— Não faço ideia — menti para encurtar a conversa.
Já tinha olhado no sistema. Dez.
— Você é bom nas discursivas, né? — Charles continuou, porém só dei
de ombros. — Cara, não sei como você consegue dar conta. Tira nota boa,
joga bem, não falta treino, só anda em festa e ainda tem tempo de foder
todo mundo.
Não fodo há alguns meses, mas estou bem satisfeito com isso.
— Corte o último item. — Estalei a língua de brincadeira.
Charles riu e alguns alunos da frente olharam repreensivamente para
nós. Acenei com a cabeça, pedindo desculpas e uma garota suspirou para
mim.
— Comeu ela também? — questionou Charles, olhando a garota.
Pior de tudo? Comi. Em uma festa que estava mais parecendo uma
suruba. Senti um peso estranho no peito, nunca tinha pensado em como
meu passado poderia me prejudicar agora. Madison sabia que eu não valia
um centavo antes... talvez isso a fizesse pensar melhor.
E só esse pensamento foi o bastante para sentir um calafrio passar pelo
meu corpo.
— Não ando fazendo nada ultimamente — enfatizei. — Estou com
alguém.
Ele se virou para mim em choque e depois começou a rir de novo. A
professora ergueu a sobrancelha, incomodada. Eu ergui a minha de volta,
em silêncio, avisando que também estava.
O cara era a porra de um cu.
— Que conversa é essa? — Charles debochou, limpando os olhos. —
Nunca te vi nem andando com nenhuma garota... tirando as suas vizinhas.
— Ele terminou a frase e se virou para mim como se tivesse acabado de
fazer uma descoberta. — Puta que pariu, elas estão morando com vocês!
Está fodendo com alguma delas?!
Soltei o ar pelas narinas, tentando me controlar e virei lentamente para
ele.
— Onde eu meto a porra do meu pau não é da sua conta — falei baixo
e firme. — E se andar falando qualquer coisa das nossas garotas por aí... a
bomba não vai ser só nas notas.
Charles revirou os olhos, achando que eu não estava falando sério.
— Espero que não seja a namorada do Michael... eu bem que avisei pra
ele que não era confiável deixar aquela garota morando com vocês. Ela tem
cara de santinha, mas gosta de provocar, hein — continuou e eu apenas
ergui a sobrancelha, avisando silenciosamente que se ele continuasse não
iria falar mais por um bom tempo.
Charles percebeu que eu não estava de brincadeira e engoliu em seco.
Ele ergueu as mãos e virou para a frente. Tentei me acalmar, não me
estressaria com aquilo...
— Putz! — ele falou do nada, parecendo ter acabado de lembrar mais
alguma coisa. — O pessoal do time disse que você saiu com a ruiva
montada no ombro! Cara, eu nem acreditei nisso quando me falaram, ela é
bem gostosinha mesmo, só que das quatro eu acho a mais esquisita.
— Como é? — perguntei, vendo se ele tinha coragem de repetir aquilo.
— A garota fica corada por tudo, eu só a vejo andando sozinha pelo
campus. E os macacões que ela usa não são nada sexys. Só é conhecida
porque virou amiga de vocês mesmo. — Ele deu ombros. — No entanto,
confesso que comeria fácil. Deu uma olhada nos peitos dela já? Deve ser
ótimo meter a cara ali. Sempre achei que ela desse fácil mesmo...
Me levantei em um impulso, segurei a porra da sua camiseta com uma
mão e meti um murro na cara do merda. Charles caiu para trás na cadeira,
sem conseguir reagir.
Os alunos começaram a gritar assustados e a professora parou a aula
em choque. Peguei o filho da puta caído e enfiei mais um murro na cara
dele.
Charles caiu para trás de novo, mas dessa vez se levantou em um
impulso, fugindo. Ele saiu do meu alcance, passando depressa pela fileira
das cadeiras com a mão no nariz, que estava sangrando.
— Você ficou doido?! — Charles perguntou, tentando passar pelos
alunos que estavam se levantando, nervosos.
— Vamos, Charles! — Abri os braços para ele em deboche. — Você
não estava tão corajoso ainda agora? — ironizei, o alcançando em três
passos.
Vi pelo canto do olho que começaram a filmar, não me importei, dei
mais um murro nele.
— Fala dela de novo! — ameacei entredentes bem perto do rosto dele,
o segurando pela camiseta.
Alguns caras se aproximaram para tentar me tirar de cima dele, mas
ergui o olhar avisando para não se meterem. Eles recuaram.
— Se eu ver você falando, olhando ou ao menos pensando na minha
pequena de novo... — avisei o puxando para mais perto e Charles balançou
a cabeça de lado para o outro, tentando me dizer que não faria nada disso,
zonzo. — Mesmo que seja só uma breve secada, eu vou te pegar — alertei,
dando mais um soco nele e largando-o como um saco de lixo no chão.
Ele não iria mais falar sobre a minha pequena, não iria nunca mais citar
o nome dela em nenhum lugar. Zoar as suas roupas ou jeito. E muito menos
olharia para os seus seios, cacete.
Ergui as mãos em rendição para a plateia me assistindo, e dei um
sorriso a eles.
— Tivemos um pequeno desentendimento — expliquei, piscando em
provocação.
É, eu estava muito fodido.

Coloquei os meus patins e ajeitei a minha corrente no peito, indo vestir


a camiseta.
— O que ele fez? — a voz de Johnny soou atrás de mim, me fazendo
lembrar que a qualquer momento eu iria receber a minha punição.
Todos do time pararam de se vestir para me ouvirem, no vestiário.
Fofoca rolava rápido ali.
— Ele falou umas coisas das nossas garotas que eu não gostei —
revelei e Drake ergueu a sobrancelha, me pedindo para ser mais específico.
— Insinuou umas coisas sobre a Sienna e desrespeitou a minha ruiva —
expliquei, dando de ombros.
Sabia que iria ter consequências. Talvez eu ficasse no banco nos
próximos jogos ou fosse suspenso da temporada, porém não me arrependia.
— É... — Assobiou um calouro no canto, em provocação. — Depois
de ter saído com ela montada no ombro, eu não duvidava de mais nada
mesmo.
Os caras riram.
— Você deu quantos socos nele? — perguntou Johnny e virei para trás,
vendo que o capitão estava com o canto da boca erguido.
— Uns quatro, eu acho.
— Quebrou o nariz? — Drake questionou duro, o único que não estava
achando graça.
— O nariz dele ficou um pouco fodido — falei.
— Ótimo. — Johnny deu uns tapinhas nas minhas costas e fiquei um
minuto perdido.
Ele nunca falava só “ótimo”, sempre tinha um longo discurso sobre
bom comportamento e responsabilidade.
— Não vai me dar um sermão? — provoquei abrindo os braços,
esperando a bronca. — Sobre não se meter em confusões e ser um adulto
responsável?
Johnny me deu o dedo do meio antes de seguir para o rinque de gelo.
— Não abusa da sorte. — Peter apontou o dedo para mim. —
Treinador tá puto.
Estremeci, sabendo que ele iria me procurar daqui a pouco. Não era
legal esmurrar os seus companheiros de time, ainda mais em uma sala de
aula cheia.
Peguei a minha camiseta e a vesti, pronto para receber a minha
penitência. Os caras passaram dando tapinhas nas minhas costas em
consolo. Retribuí, só que uma coisa me chamou atenção.
Taylor.
Ele ficou encostado no seu armário o tempo todo, esperando todo
mundo ir para o rinque. Parecia que estava querendo conversar comigo.
— Você está bem? — Taylor perguntou olhando para a minha mão.
Ela tinha ficado um pouco marcada nas juntas, entretanto estava tudo
ok. Sem dor. Éramos jogadores de hóquei, não quebrávamos fácil.
— Sem dor. — Sorri de lado, mas quando ele não me acompanhou,
fiquei sério. — Quer me dizer alguma coisa, irmão?
Taylor suspirou cansado e veio sentar do meu lado.
— Eu vou ficar no banco no próximo jogo — ele soltou e franzi a testa
sem entender.
— Por quê?
— Tive uma lesão no joelho. — Taylor pegou no próprio joelho,
apertando. — Foi ontem, eu falei pro treinador e já tínhamos concordado
em deixar Charles assumir minha posição nos próximos jogos. Só queria te
avisar, caso vocês tenham que jogar juntos.
— Não acho que o treinador vá me deixar jogar. — Dei de ombros e
estreitei os olhos. — Quando foi essa sua lesão? Estava bem nos treinos.
— É uma dor que vem às vezes — ele desconversou e não sei porque,
aquilo me deixou desconfiado. Taylor não era de mentir.
— Tem certeza que está tudo bem? — perguntei apertando o seu
ombro, tentando passar confiança.
— Tenho, sim. — Ele me deu um sorriso e bateu nas minhas costas,
em consolo, quando se levantou. — O treinador não vai te suspender.
Não tinha tanta certeza.
— COLIN!
Estremeci ao ouvir os berros do nosso treinador. Oscar Green não era
um homem que pegava leve com os seus jogadores. “Colin” parecia ser o
nome favorito dele e de Johnny durante os jogos. E na vida. Eles sempre
queriam me matar nas jogadas arriscadas, porém davam o braço a torcer
assim que dava certo.
Troquei um olhar com Taylor em despedida e segui para a sala do Sr.
Green.
— Boa tarde, Sr. Green — cantarolei ao entrar na sala, tentando
melhorar o humor do homem.
Não funcionou.
— Seu merdinha do caralho! — Ele passou a mão na careca, talvez
buscando arrancar os cabelos que ele não tinha.
— Bem... — murmurei me sentando na cadeira em frente a dele,
cruzando os braços em frente ao peito. — Pelo jeito alguém está mal-
humorado hoje.
— Eu já tive que te tirar da cadeia, de festas sem noção com atores
pornôs...
— Eu não sabia que eram atores pornôs — pontuei, porque tudo tinha
que vir em minha defesa ali.
—...tive que aguentar as suas ressacas nos treinos, o jeito como
corrompeu todos os jogadores a participarem de orgias...
— Minha Nossa Senhora, até a vida sexual do time é minha culpa
agora? — perguntei abismado.
— E ainda aturo os seus deboches no gelo! — Ele ignorou a minha
pergunta. — Agora você deu pra esmurrar pessoas no meio da aula?
Estalei a língua.
— Sabe como é, a gente tem que inovar às vezes — provoquei e o Sr.
Green estava a um passo de me estrangular.
— Eu só não vou te suspender... — Ele tentou buscar uma justificativa.
— Por que eu sou insubstituível? — sugeri e ele estreitou os olhos para
mim, suspirando cansado.
— Sim — cedeu, se jogando na cadeira. — Precisamos de você nos
jogos. No entanto, vai passar o dia todo trancado na porra dessa sala
assistindo aulas sobre autocontrole.
Revirei os olhos.
— Eu não sou violento, nunca me meti em brigas antes — argumentei.
— É a sua punição — avisou. — Vai ficar aqui até as nove!
Aquilo fez meu pulso acelerar.
— Até as noves? — Arregalei os olhos. — Olha, eu não posso,
combinei de buscar uma pessoa.
— Vai ficar na merda dessa sala o dia todo — determinou firme.
Que porra!
— Eu posso pegar o meu celular?
— Não — ele negou e se levantou.
— Treinador. — Levantei junto, o seguindo até a porta. — Eu
combinei de pegar uma garota à noite, se eu não avisar que vou demorar,
ela vai ficar me esperando até ficar tarde...
— Sério? Você quase foi suspenso da temporada e está preocupado
com garotas?! — Ele balançou a cabeça em negação como se eu não tivesse
jeito.
— Não com garotas, mas com uma garota — expliquei.
— Eu não vou te dar o celular, Colin. Esse dia é pra você ficar
prestando atenção nas aulas que vou passar no slide.
Fala sério!
— Olha, meu histórico já não contribui muito ao meu favor e se eu não
avisar que vou demorar, ela vai ficar pensando que não me importo. —
Respirei fundo, tentando fazê-lo entender. — Só que eu me importo. Ela é
importante pra mim.
Sr. Green apenas ergueu a sobrancelha cinicamente, sem acreditar
naquilo.
— Estou falando sério! Eu sou louco por essa garota desde que a
conheci e ela finalmente me deu uma chance. Se eu falhar logo agora no
começo, tenho medo que não haja outra nunca mais. — Olhei para ele
deixando claro o meu desespero. — Eu nunca tive algo tão precioso assim
nas mãos, por favor, não me faça perder isso.
Ele me encarou durante um tempo e depois esfregou os olhos, cedendo.
— Vou pegar a porcaria do celular. Onde tá?
Suspirei aliviado.
— No vestiário.
Sr. Green saiu da sala e pouco tempo depois voltou com o meu celular.
Eu o peguei e assim que a tela acendeu apareceu a foto que Madison me
mandou. Tinha colocado como tela de fundo e bloqueio logo que ela me
enviou.
— Foi por causa dela? — o treinador perguntou. — A briga.
Alisei a tela do celular, bem onde ficavam as sardas na ponta do seu
nariz. Já sentindo uma saudade absurda dela.
— Foi.
Sr. Green suspirou ao meu lado.
— Você vai ser draftado na primeira rodada. Assim como Johnny,
Drake e Taylor. Contudo, você vai ser aquele jogador que os patrocinadores
mais vão buscar, vai ser aquele que os fãs mais vão querer ter perto e
provavelmente vai ser o que mais vai chamar a atenção da mídia. Tudo o
que faz aqui irá refletir na sua carreira. — O treinador apertou meu ombro.
— Então não saia esmurrando mais ninguém por aí.
Acenei positivamente, entendendo o recado.
— Vou voltar daqui a 10 minutos, e você vai assistir essas malditas
aulas — mandou.
— Obrigado, treinador — agradeci e ele fechou a porta, me deixando
sozinho.
Destravei a tela e entrei na conversa com Madison.
Eu: Tive um problema no treino, vou conseguir sair hoje só às 21hrs.
Meu gnomo: Aconteceu alguma coisa? Você tá bem?
Eu: Nada demais. Estou sim, meu amor.
Eu: Você ainda quer que eu te pegue? Pode esperar?
Meu gnomo: Posso sim, não tem problema.
Ela digitou, mas não enviou nada. Depois ela digitou de novo e mais
uma vez não enviou nada. Sorri porque sabia que provavelmente ela queria
dizer algo, porém estava com vergonha. Podia sentir dali as suas bochechas
corando.
Na terceira vez ela finalmente digitou e mandou.
Meu gnomo: Eu já estou com saudades de você.
Um sorriso involuntário cresceu no meu rosto e chegou até o coração.
Tive que me segurar para não ir até ela naquele momento e a abraçar bem
forte. Sentir o seu cheiro, dizer o quanto eu penso nela o tempo todo.
Eu: Eu sinto a sua falta todos os dias, em todos os momentos, minha
pequena.
Acho que é preciso de uma vida inteira pra suprir isso. Cheguei a
digitar, só que não enviei.
Como meu tempo estava curto, li as outras mensagens que recebi e
uma delas fez o meu sangue gelar.
Mãe: Feliz aniversário, querido! Que você aproveite o seu dia.
Mãe: Eu queria te ligar hoje... se tiver um tempo, me fala, ok?
Eu esqueci. Hoje era aquele dia. O dia mais triste do ano. Costumava
lembrar quando chegava perto, mas dessa vez esqueci.
Eu: Obrigado, mãe.
Abri a outra conversa. A conversa da outra pessoa, além da minha mãe,
que nunca esquecia aquele dia.
Cameron Payne: Feliz aniversário!
Ele sabia que eu não gostava desse dia, ainda assim todo ano me
mandava a mesma mensagem. Era curta, direta e fria. No entanto, era o
jeito que Cameron Payne achava de me dizer que se importava.
Agradeci a ele e entrei novamente na conversa com Madison. Era tolo,
porém eu queria que ela soubesse. Digitei e refleti se enviava ou não. Não
era um dia feliz. Entretanto, era um dia que eu queria passar com ela.
Eu: Hoje é o meu aniversário.
E você conseguiu tornar o dia mais triste do ano suportável, pequena.
Madison Jensen

Observei os slides passarem me sentindo um pouco ansiosa.


Já passava das nove horas. Não tinha quase ninguém no prédio, e eu
decidi ir para a sala exclusiva do pessoal do curso de artes. Era nela que
aconteciam as maiores exposições. Era gigante, toda branca e os slides
tinham uma resolução fantástica, era possível ver todos os detalhes das
imagens que colocávamos para refletirem nos telões.
Mandei mensagem para Colin avisando que estaria ali, mas ele não me
respondeu de volta. Sua última mensagem foi me dizendo que era seu
aniversário.
A primeira coisa que pensei foi que fazia sentido ele ser de escorpião.
A segunda foi que o seu ascendente deveria ser em sagitário. E a terceira foi
a mais racional: Por que ninguém sabia o dia do aniversário dele?
Aniversários eram importantes, eu passei todos os meus sozinha antes
de vir para a universidade. Quando conheci Amber, Scar e Sienna tudo
mudou, porém ainda doía lembrar que antes não tinha ninguém que se
importava com o dia em que nasci.
Por isso passei em uma lojinha mais cedo e comprei um presente. Era
sem valor, Colin com certeza podia comprar o que quisesse e eu não tinha
muito dinheiro, foi o que podia dar.
— É aquele artista?
Suspirei ao escutar aquela voz atrás de mim. Olhei por cima do ombro
e vi Colin caminhando na minha direção. Ele se sentou ao meu lado em
silêncio e ficou observando as imagens passarem nos slides.
Me encostei direito na cadeira e também analisei as obras à nossa
frente.
— É aquele artista? — repetiu depois de um tempo apenas olhando as
imagens.
— É — contei. — William Turner.
As obras dele que pus para passarem eram parecidas. Todas eram
pinturas do pôr do sol, o céu mesclado de cores, deixando claro as
pinceladas rápidas na tela.
— Você consegue perceber a pressa dele pra captar a luz? — Apontei
para os traços da pintura. — Ele misturava a tinta, e suspeito que nem
chegava a mudar de pincel enquanto pintava. Tinha poucas horas pra acabar
o quadro, tudo dependia do momento em que o sol decidisse desaparecer.
Colin encarou tudo um pouco pensativo.
— Pra mim parece só um quadro um pouco borrado — comentou e eu
ri.
— Pra mim é uma pessoa tentando colocar todas as cores do céu dentro
de uma tela. A mágica da arte é justamente essa — expliquei. — Pegar algo
simples e encher de significado. Poderia ser banal... Mas na verdade é
extraordinário. Depende de como a gente quer olhar. — Virei para ele e o
encontrei me olhando. — Como a sua moeda.
— Então, minha moeda é uma obra de arte? — perguntou com o canto
da boca erguido.
— Sim — confirmei com um aceno. — Arte é tudo o que pode ser
subjetivo e concreto ao mesmo tempo, assim como o seu destino. — Toquei
a sua corrente e peguei o pingente na minha mão.
Colin olhou para cada canto do meu rosto, quase como se quisesse
gravar meus detalhes.
— A sua moeda já foi de alguém antes de você tê-la — continuei,
alisando o seu pingente. — Ela já passou por outras mãos, já viu outras
histórias, ela já definiu outros destinos... e você carrega todos eles. Todas
Tudo isso pesa em um único objeto. — Apertei a moeda. — E isso é arte.
— E é mágico — ele completou, sabendo o que eu falaria, com um
meio sorriso.
— Exatamente. — Soltei o seu pingente e peguei a mão dele, a
guiando até descansá-la no meu colo. Colin me encarou curioso, esperando
para ver o que eu faria. — Magia vem das coisas mais simples da vida, tudo
depende do significado que atribuímos a elas. — Pisquei e peguei o seu
presente na minha bolsa.
Era uma pulseira da sorte. Custou bem pouco, comprei em uma lojinha
que costumava frequentar, era a única em Providence que vendia esses itens
místicos.
— É o seu presente — contei e percebi que Colin ficou emocionado.
— Ele é simples, mas extraordinário. — Abri a pulseira e coloquei em volta
do seu pulso. — É uma pulseira da sorte. Você pode precisar nos jogos.
Ele olhou a pulseira, amarrada no seu punho, em silêncio e engoliu em
seco.
— É perfeita. — Ergueu os olhos e vi que estavam marejados. — É o
presente mais especial que eu poderia ter ganhado, depois de você.
Alisei o seu maxilar e Colin fechou os olhos ao sentir o meu toque. Ele
pegou a minha mão e beijou a palma com tanto carinho que chegou a tocar
o meu coração.
— Feliz aniversário — desejei e peguei na minha bolsa uma caixinha.
Comprei um cupcake também, era o que dava para comprar com o
dinheiro. Ele era grande e veio embalado em uma caixinha bonita.
Abri a caixinha e mostrei para ele o doce.
— Você precisa fingir que tem uma vela nele e fazer um pedido —
mandei, olhando firme e Colin sorriu com ternura.
— Certo — concordou, pegando a caixinha.
Esperei ele fechar os olhos, porém Colin passou o braço pela minha
cintura e me pegou desprevenida ao me colocar no seu colo. Abracei o seu
pescoço e ele me olhou com um sorriso no rosto.
— Faz comigo — pediu e eu concordei.
Colin encostou a testa na minha e fechamos os olhos juntos, em
sintonia. Entrando em um mundo nosso. Rocei o nariz com o dele de leve,
sentindo a sua respiração. Ele colocou o cupcake entre nós e pensei em um
pedido.
Soprei a vela imaginária pedindo que Colin tivesse um aniversário
maravilhoso. Ele soprou ao mesmo tempo e nos olhamos com a pergunta
pesando entre nós.
— O que você pediu? — perguntei sem conseguir me segurar.
— Duas coisas — revelou, beijando a minha boca. — Que você fosse
sempre feliz.
— Mas o aniversário é seu...
— O segundo pedido foi que você nunca sumisse da minha vida.
Sorri e alisei a sua boca, fazendo carinho ali.
— Eu pedi pra que você tivesse um ótimo aniversário — revelei e
Colin me abraçou bem apertado, descansando o rosto no meu pescoço e
respirando ali.
— Foi maravilhoso — ele falou tão baixinho que eu quase não o ouvi.
— Só me promete que vai estar no próximo.
— Prometo. — O abracei de volta e ficamos em silêncio.
Estávamos tão unidos que por um momento eu pensei que poderíamos
ser um só.
— Por que ninguém sabe que é seu aniversário? — questionei alisando
as suas costas e Colin me apertou mais, dando um beijo demorado no meu
pescoço.
— Não é um dia feliz — sussurrou contra a minha pele.
— É o dia que você nasceu — murmurei, acariciando o seu braço até
chegar na sua mão para entrelaçar nossos dedos. — É um dia feliz pra mim.
Colin voltou a encostar a testa na minha, quase como se precisasse
desse contato íntimo.
— Poxa, e eu pensei que infernizasse a sua vida — brincou com um
sorriso.
— Inferniza — concordei provocativamente. — Só que sem você nela
tudo seria muito entediante.
Ele encostou a boca na minha em um beijo ansioso, entreabri os lábios
e a sua língua encontrou com a minha, roçando e me deixando ofegante.
Colin segurou a minha cintura com firmeza, me pressionando contra o seu
corpo.
— Você é tão preciosa... — disse, fazendo as palavras entrarem na
minha boca. — Tão linda e tão minha.
Ele se afastou só o suficiente para poder me olhar de perto.
— Me dá mais um presente? — perguntou observando as ondas dos
meus cabelos. Acenei confirmando sem nem saber o que ele queria. —
Queria um cacho, só uma mecha — falou segurando um cacho meu.
Respirei fundo e senti meu coração acelerar.
— Dou... — concordei, sentindo as minhas bochechas esquentarem. —
O que você vai fazer com isso?
— Guardar. — Deu de ombros suavemente. — Carregar comigo.
— Eu corto quando chegarmos em casa.
Colin soltou um suspiro satisfeito.
— Em casa. — Ele me deu um beijo e se levantou comigo. — Nossa
casa.
Peguei minhas coisas e segurei a mão dele, olhando nos seus olhos.
— Nossa — falei e ele guardou o cupcake antes de sairmos da sala.
Caminhamos pelo prédio até chegarmos ao gramado do campus.
Estava vazio. Era estranho passar por ali e não encontrar ninguém, sempre
tem estudantes sentados debaixo das árvores, se reunindo em grupos na
grama ou passando apressados com os seus livros.
Olhei para cima, para as estrelas brilhando acima de nós, piscando em
uma luz magnífica. Aquilo me deu uma nostalgia da minha infância, um
déjà vu.
— Acabei de ter um déjà vu — contei enquanto caminhávamos pelo
gramado.
— Consegue lembrar? — perguntou interessado. — De onde veio a
lembrança?
— Sim — comentei com um sorriso e ele me olhou de canto. —
Quando eu era criança comprava um cupcake no meu aniversário também.
Eu ia pra janela do meu quarto e cantava parabéns pra mim mesma. Fingia
que estava assoprando a vela imaginária, como a gente fez hoje, e fazia um
pedido.
Senti o seu olhar mais intenso, ele apertou mais a minha mão na sua.
— Quem comemorava com você? — questionou curioso.
— Ninguém. — Dei de ombros e olhei para o céu. — Eu olhava para
as estrelas da minha janela. E parecia que elas me olhavam de volta, me
desejando parabéns. Eu sentia que era observada por elas. — Me virei para
ele. — Era real.
Colin me encarou com ternura.
— Era sim. — Ele beijou a minha testa. — Você disse que tinha uma
avó... — sondou com cuidado.
Descansei a cabeça no seu peito.
— Um dia — disse, me referindo às dúvidas que ele tinha sobre o meu
passado.
— Um dia. — Colin me apertou com cuidado contra si, quase como
uma promessa de que também falaria do seu.
Caminhamos em silêncio e assim que chegamos perto do carro olhei
para o seu punho, onde estava a pulseira da sorte, e percebi uns machucados
leves nos seus dedos.
— O que foi isso? — Toquei as manchas e Colin suspirou cansado.
— Eu me meti em uma briga. — Passou a mão no cabelo. — Talvez
você veja uns vídeos meus circulando por aí, batendo em um cara no meio
da aula...
— O quê? — Virei para ele, assustada.
— Ele me provocou — justificou. — E não me arrependo.
Colin passou por mim e abriu a porta do carro para eu entrar. Sentei no
banco debilmente, tentando processar aquilo. Ele deu meia volta e entrou no
carro, um pouco apreensivo.
— Você levou suspensão dos jogos? — perguntei assim que ele ligou o
carro e saiu do estacionamento.
— Não — disse, me tranquilizando. — Minha punição foi assistir
umas aulas chatas sobre autocontrole. O ruim é que parece que vou ter que
jogar com ele...
— Ele é do time? Quem é?
— Charles Moore — respondeu com desgosto. — Por favor, me diga
que não o conhece.
Não conhecia.
— Não sei quem ele é — avisei.
— Ótimo — ele disse com raiva, parecendo lembrar do motivo da
briga. — Se ele chegar perto de você, me avise.
Franzi a testa com aquilo.
— Por que chegaria? Ele me conhece?
— Sabe quem você é — resmungou.
Não conhecia nenhum Charles Moore, só focava nos meninos quando
assistia os jogos, deveria saber quem eu era apenas por andar com eles. Será
que...
— Ele falou alguma coisa de mim? — sugeri e Colin estralou o
pescoço, respondendo implicitamente a minha pergunta. — O que ele disse?
Colin suspirou e pegou a minha mão sem tirar os olhos do trânsito. A
beijou com carinho.
— Nada demais. — Senti o seu hálito quente contra a minha pele.
— Você fez isso por mim? — perguntei, sentindo uma sensação
estranha no peito.
Sempre fui sozinha. Eu nasci sozinha, cresci sozinha e virei uma
mulher sozinha. Era sempre eu por mim. E mais ninguém. Não por escolha,
eu queria uma companhia, amigos, uma família... só não me foi dado. Era
um sentimento de estar jogada no mundo.
Era errado agredir alguém, sabia disso. No entanto, não consegui evitar
sentir que uma pessoa se importava comigo, estava ali por mim.
Colin parou no sinal e virou o rosto na minha direção, sério.
— Eu não consigo pensar em uma única coisa nesse mundo que eu não
faria por você — disse como se fosse uma certeza da vida que ele
simplesmente decidiu aceitar.
Olhei nos seus olhos e o meu coração bateu, por um segundo, em um
ritmo diferente. Talvez no mesmo ritmo do dele.
— Eu também sempre vou te proteger — prometi, por mais que fosse
ridículo.
E Colin me olhou... daquele jeito. O mesmo olhar que recebi no teatro,
o mesmo olhar que ele me dava quando achava que eu não estava vendo, o
mesmo olhar que me direcionava nos momentos em que me espiava.
Você sempre me olhou assim?
Ele pegou a minha mão e entrelaçou apenas os nossos dedos mínimos,
como tínhamos feito quando estávamos sentados na sua janela.
— Eu sempre vou estar com você — falou, segurando o meu
mindinho.
— Eu sempre vou estar com você — repeti como um juramento.
E de repente, depois de todo esse tempo, eu não estava mais sozinha.

Colin Scott

Me encostei no balcão da cozinha me permitindo respirar aliviado.


Senti o peso ir embora do meu peito logo que ela não ficou zangada ao
saber da briga.
Olhei minha pulseira da sorte sabendo que aquele tinha sido o
aniversário mais especial de todos os meus 23 anos. Não importavam todos
os outros que já tive, ou todos os presentes que já recebi, até mesmo os mais
caros.
Aquele tinha sido perfeito, só por poder sentir o cheiro dela enquanto
fazia um pedido e assoprava uma vela imaginária.
E eu estava fodidamente apaixonado por ela. Nunca fui bom em ouvir
conselhos mesmo. Não importa o quanto as coisas pudessem dar errado.
Não importa se amanhã ela decidir não ficar mais comigo. Não importa se
ela nunca conseguir sentir o mesmo. Ou se eu for me machucar em algum
momento.
Não importava. Eu estava entregando o meu coração e se ele fosse
quebrado no final, tudo bem. Estava em boas mãos. E pelo tempo que ela
decidisse ficar com ele, eu seria grato.
Toquei a minha corrente gelada no pescoço e senti o seu peso. Era
quase como se me prendesse, não permitindo que eu me jogasse
completamente. Respirei fundo e depois de muitos anos finalmente a tirei
do pescoço.
Passei-a pela cabeça e foi libertador. Senti o ar mudar, meu corpo mais
leve. Era uma corrente de um prisioneiro e eu tinha me libertado. Beijei o
pingente, onde estava a moeda, e a coloquei no bolso na calça.
Não tinha mais volta. Eu era completamente de Madison Jensen.
— Seu outro presente — aquela voz meiga falou atrás de mim e virei
para encontrar minha pequena encostada na entrada da cozinha.
Ela estava vestindo uma camisola preta curta, decotada, do tipo que
valorizava os seus seios e desenhava cada curva do corpo. A sequei
descaradamente, mas logo me obriguei a focar no que Madison segurava.
Era o cacho que pedi.
— Você cortou... — conclui me aproximando.
— É seu. — Ela me olhou com um sorriso no rosto.
O cacho estava amarrado na ponta, ele era pequeno e não faria
diferença entre os outros no seu cabelo enorme e cheio. Peguei o cacho e o
alisei com carinho. Senti um aperto no peito, como se ela estivesse me
entregando mais do que uma mecha, e eu tivesse que cuidar como nunca
cuidei de nada na minha vida antes.
— É meu — concordei, a olhando nos olhos e beijando o canto da sua
boca macia. — E eu vou ser digno disso.
Ela suspirou pesadamente e a beijei, puxando o seu corpo para mim.
Madison abraçou o meu pescoço, se erguendo na minha direção. Provei a
sua boca gostosa até deixá-la sem fôlego.
— Obrigado — agradeci, dando um último beijo na sua boca. — Eu
vou guardar com carinho.
Ela assentiu e se afastou para me olhar direito.
— O que você quer fazer? — perguntou com a sobrancelha erguida. —
Ainda é seu aniversário. Podemos acordar todo mundo...
— Não — neguei, encostando o nariz no dela. — Só eu e você hoje.
— Tudo bem — concordou, voltando a me abraçar. — E o que você
quer fazer? Tem que pensar com cuidado, você tem duas horas pra pedir o
que quiser.
Abracei-a apertado e lembrei do que Madison me disse mais cedo.
Doeu ouvir que comemorava o seu aniversário sozinha, imaginei uma
garotinha pequena e ruiva sentada na janela com um sorriso cheio de
covinhas. Aquilo me causava uma pontada no peito, e eu só queria tê-la
conhecido antes, queria poder ter estado lá com ela, dizer que nunca esteve
sozinha.
Afastei o seu cabelo e enterrei o rosto no seu pescoço cheiroso,
inspirando aquele aroma que exalava dela.
— A gente pode ver as estrelas no seu telescópio — sugeri e a ouvi
suspirar perto do meu ouvido.
— Você já usou um telescópio? — perguntou curiosa.
— Nunca, mas já usei um binóculo, conta? — brinquei e ela se afastou,
balançando a cabeça em negação para mim.
— Vem — chamou, segurando a minha mão. — Ele está lá fora.
Madison me guiou para a área externa da piscina, o seu telescópio
estava no gramado, na parte em que Sienna estava plantando para fazer o
jardim. Quando chegamos ali, me surpreendi ao encontrar uma certa cagona
deitada ao pé do instrumento ótico.
Jennifer Aniston balançou o rabo assim que nos viu chegar, Madison se
agachou para fazer carinho na barriga dela, que se abriu toda, querendo
mais.
— Pelo menos ela não fez cocô aqui. — Me abaixei para coçar a orelha
da cachorra e Madison foi ajustar o telescópio.
— Vou trocar de lente — avisou, mexendo no aparelho. — Qual
planeta você quer ver?
Olhei para cima e cocei a nuca, sem saber. Não entendia muito disso.
— Saturno — pedi, voltando a alisar o pelo da Jennifer Aniston.
— Só um minuto... — murmurou distraída, olhando pela lente,
concentrada.
Estava sexy. Não sei o que tinha de tão erótico em vê-la mexer em um
telescópio com propriedade. Talvez fosse a camisola provocadora ou a
bunda erguida bem na minha direção... Desviei antes que começasse a ficar
duro ali.
— Vem — chamou, gesticulando para me aproximar.
Levantei e a abracei por trás, descansando o queixo suavemente sobre
a sua cabeça. Ela me deu espaço para poder olhar e me inclinei, vendo o
planeta através da lente.
— Puta merda — foi tudo o que consegui dizer.
Era inacreditável. Não brilhava tanto, porém era magnífico, o planeta
tinha o tom meio amarelo, dourado, e era possível ver um arco o rodeando,
mesmo que a imagem fosse um pouco borrada. Simplesmente fantástico.
— Isso é magnífico — falei sorrindo, sem conseguir sair dali.
— É incrível, não é? — Ela suspirou do meu lado. — Pensar que eles
estão tão longe e são tão enormes...
— Faz tudo parecer pequeno — concordei, a sentindo me abraçar por
trás e não perdi tempo em segurar a sua mão na minha. — Eu não sei se
isso faz sentido, só que todos os meus problemas parecem insignificantes
agora.
Ela riu.
— Faz sentido sim.
Jennifer Aniston entrou no nosso abraço, parecendo querer ver as
estrelas também. Me afastei do telescópio, dando espaço para Madison
apontar para outro planeta.
Estava impressionado. Como passei a vida toda sem ver isso? Era
maravilhoso. Olhei para as estrelas no céu enquanto minha pequena estava
inclinada sobre o aparelho e senti o que ela vinha tentando me mostrar.
— Estamos debaixo de uma obra de arte — conclui e Madison me
olhou por cima do ombro com um sorriso no rosto.
— Exatamente. — Piscou. — Por isso é um pecado não olhar pro céu.
Assenti sem conseguir tirar os olhos dela. A pequena voltou a ajustar a
lente e não deixei de observá-la. Estava me sentindo grato. Obrigado por
trazer magia à minha vida. Obrigado por estar na minha vida. Obrigado
por me deixar entrar. Obrigado por passar o meu aniversário comigo.
— Pronto. — Ela se virou para mim. — Venha ver Júpiter.
— Vem aqui — chamei estendendo a mão.
Ela pegou e a puxei para mim, sentei na espreguiçadeira atrás de nós e
a coloquei no meu colo. Madison não discutiu, apenas deitou a cabeça no
meu ombro. A abracei, rodeando o seu corpo com os braços e dando beijos
na sua testa.
Ficamos olhando para o céu e lembrei de uma citação de Shakespeare.
Encostei a boca perto do seu ouvido e sussurrei:
— Duvides que as estrelas sejam fogo.
Ela se virou na minha direção com a sobrancelha erguida.
— Você está fazendo o dever de casa — murmurou em aprovação e
ergui o canto da boca.
— Estava treinando cantadas mais originais.
Ela revirou os olhos com um sorriso no rosto, mas logo parou para me
encarar com um olhar suave.
— Duvides que o sol se mova — continuou o verso.
— Duvides que a verdade seja mentira... — mas nunca duvides do meu
amor. Não disse em voz alta a última parte, contudo ela sabia.
Aquilo ficou entre nós, mesmo que só por um momento. Madison
desceu o olhar pelo meu peito e franziu a testa, intrigada.
— Você tirou a corrente — observou, passando a mão no meu peito.
— Decidi aposentar ela. — Beijei o seu queixo e levantei da
espreguiçadeira, trazendo-a junto.
— Por quê? — perguntou Madison, preocupada. — Era algo
importante.
— Ela significava outra coisa também. Algo que não está mais
funcionando pra mim.
Seguimos para dentro da sala e Jennifer Aniston veio nos seguindo
para deitar em cima do sofá como se fosse proprietária da casa.
— E a moeda? — questionou curiosa.
— Ainda está aqui. — Bati no bolso da calça. — Sempre vou usá-la, só
não vai ficar presa ao meu pescoço. Agora... — Fiquei na sua frente e a
sequei de cima a baixo. — Se você não quiser que eu te pegue aqui, sugiro
que vá correndo para a nossa cama.
Madison me olhou por exatos dois segundos antes de sorrir
afrontosamente. Dei um passo na sua direção e ela deu um para trás, me
provocando. Ergui a sobrancelha e a pequena atrevida me deu as costas,
subindo lentamente as escadas, em um aviso tácito de que não seria eu a
pegá-la.
Seria ela que me pegaria. E estava ansioso por isso.
Colin Scott

Madison entrou no quarto primeiro e eu fui logo atrás. Fechei a porta


atrás de mim e percebi todo o ar mudar. Ela estava diferente. Caminhei em
sua direção e quando a pequena se virou para mim, foi com uma confiança
que me deixou fraco.
Segurei o seu rosto nas mãos e me aproximei, sentindo o seu perfume
gostoso. Ela se ergueu e abraçou o meu pescoço, me pegando de surpresa
ao me dar um beijo quente para caralho.
A ruiva passou a língua em torno do meu lábio, provocando e abri a
boca, ansioso para chupá-la. Madison colocou aquela língua molhada e
quente na minha boca, tocando a minha. Assim que me inclinei para
mordiscar o seu lábio, ela recuou.
A encarei confuso, observei os seus seios cheios subindo e descendo
pelas respirações ansiosas, com os mamilos durinhos na camisola. Seu
cabelo espalhado entre eles e sua cara de quem estava molhada e excitada.
Ergui a sobrancelha, silenciosamente perguntando se ela queria que eu
me afastasse. E o que recebi como resposta foi um movimento negativo
com a cabeça.
Meu pau pulsou quando entendi o que ela queria. Madison queria ficar
no controle. A imaginei rebolando em cima de mim freneticamente e só a
ideia fez minha boca ficar seca.
— Sou todo seu. — Abri os braços em divertimento, me encostando na
escrivaninha, mostrando que ela poderia fazer o que quisesse comigo.
Madison se aproximou, se encaixando entre as minhas pernas abertas.
O que não foi nada bom para o meu pau duro, que só queria dar um
esfregada naquele corpo gostoso.
— Eu só preciso... — Ela enlaçou o meu pescoço de novo e encostou a
boca bem perto da minha, o suficiente para sentir o seu hálito quente e
excitante. —... que você me deixe fazer o que eu quero. — Seus dedos
entraram no meu cabelo e a provocadora me puxou para o beijo mais
erótico da minha vida.
Ela colocou a língua na minha boca com a propriedade de quem
invadia um território. Foi lenta, de um jeito calmo de quem sabia que estava
me enlouquecendo, já que eu não podia puxá-la e foder com a sua boceta ali
mesmo.
Gemi e rocei a minha língua com a dela em um beijo molhado. Ela me
puxou mais para si e a abracei, pressionando o seu corpo gostoso no meu.
Madison chupou meu lábio inferior e depois passou para a minha língua.
Que porra... Meu Deus, que inferno!
Ela sugou a minha língua como se estivesse chupando meu pau e sabia
que aquela era a intenção da cretina. Puxei o seu quadril para mim, fazendo-
a sentir minha ereção pesada e inchada. Esfregando de leve nela.
Madison gemeu, soltando a minha língua e indo beijar o meu pescoço.
Joguei a cabeça para trás, a deixando lamber tudo. E foi exatamente o que a
minha pequena fez. Ela passou a língua pelas minhas veias pulsantes, bem
onde eu era sensível.
Meu corpo todo arrepiou e estremeci, roçando o pau nela de novo, sem
conseguir me controlar. Podia gozar só por tê-la nos braços lambendo a
porra do meu pescoço.
Madison desceu as mãos perigosamente perto do meu abdômen e não
perdi tempo. Tirei a minha camiseta de uma vez e ela olhou meu corpo com
nítido desejo.
Você deve estar tão molhadinha nesse momento.
— Vem aqui, pequena — chamei, e minha voz saiu rouca de tão
excitado que estava.
Ela passou os braços pelo meu pescoço e voltou a me beijar. A abracei
e enterrei os dedos naqueles cachos, querendo mantê-la no lugar. Desci a
outra mão para a sua bunda e a banda se encaixava quase toda na minha
mão.
— Feita pra mim — murmurei em sua boca, metendo a língua nela e a
fazendo gemer baixinho. Apertei a bunda, a puxando para esfregar a sua
virilha no meu pau. — Feita pra receber meus tapas. — Bati de leve na
carne cheia e ela choramingou, querendo mais.
— Você disse que ia ficar quieto — repreendeu, me puxando para si.
— É bom você saber — sussurrei, indo falar perto do seu ouvido, a
sentindo suspirar e derreter nos meus braços. — Eu nunca fico quieto. —
Mordisquei o lóbulo da sua orelha, babando-o.
Ela espremeu as pernas uma na outra e desceu aquelas mãozinhas para
alisar meu abdômen, sentindo as dobrinhas e meu sangue gelou. Madison
chegou no zíper da minha calça, abrindo-o.
O som do deslizar do zíper foi suficiente para fazer minhas bolas
chorarem e meu pau se erguer, ansioso. Toquei seu rosto, querendo beijar
aquela boca, mas Madison me fodeu ali.
Ela se ajoelhou na minha frente.
Ah, cacete.
— Madison... — avisei, respirando pesadamente.
— Você disse que era todo meu — respondeu sem me olhar, encarando
o meu pau na calça, completamente erguido.
— E sou — concordei, tocando o seu rosto perfeito. — Todo seu.
Ela abaixou minha boxer e a ajudei, descendo mais a calça para soltar
totalmente o meu pau. Ele saltou para fora ereto, vermelho, duro e cheio de
veias. A cabeça estava lambuzada pela lubrificação e eu sabia que ela nunca
o colocaria todo na boca.
— Meu Deus — foi tudo o que ela disse, assustada. Sua boca fez um
“O” de surpresa e foi fofo.
Ergui o canto do canto em um sorriso, alisando a sua bochecha.
— Não precisa querer colocar tudo — avisei, porém ela lambeu os
lábios sem tirar os olhos do meu pau, que estava quase implorando pela
atenção dela.
Gemi quando ela se aproximou e respirou pesadamente perto, o ar
quente tocando a cabeça sensível. Enterrei os dedos no seu cabelo e ela
finalmente o abocanhou.
Puta que pariu, a boca dela era a porra do céu.
Gemi, torcendo o pescoço para aliviar a tensão do meu corpo, queria
estocar na sua boca, só que não podia. Madison chupou apenas a cabeça,
rodando a língua pela pele e me fazendo gemer. Apertei ainda mais o seu
cabelo, mas sem machucar. Meu medo era de ser demais para ela, por isso
respirei fundo, tentando controlar a vontade de meter com tudo.
Minha pequena soltou a cabeça em um estalo, deixando tão babado ao
ponto de pingar saliva. Logo que ela ergueu os olhos para mim... de joelhos,
pagando um boquete. Meu Deus, eu gozaria só por vê-la assim.
— Não precisa se conter — ela pediu, lambendo a cabeça sem tirar os
olhos de mim. Que porra! — Não precisa se conter comigo — disse,
voltando a colocar na boca.
Trinquei os dentes com força e segurei com mais firmeza o seu cabelo,
querendo foder aquela boca atrevida.
— Se for demais ou machucar... — Gemi quando ela chupou com mais
força, me avisando sutilmente que queria tudo. Merda.
Estoquei na sua boca do jeito que ela queria. E a ruiva pareceu gostar.
Gemeu e se inclinou para frente ansiosa, esfregando os seios nas minhas
coxas.
Fodi mais rápido, segurando o seu cabelo e vendo os seus lábios
ficarem esticados ao redor do meu pau, indo ao limite. Até a boquinha dela
foi feita só para mim, na medida certa.
Travei o maxilar com força. Ela não conseguia engolir nem até a
metade, entretanto me dava muito tesão ver a minha pequena me chupando
de joelhos.
Madison babou bem o meu pau, ele deslizava na sua boca com
facilidade, deixando um eco ao sair. Logo em seguida eu fazia questão de
voltar a preencher sua boca, metendo com movimentos curtos. Alisei o seu
rosto com carinho, me sentindo protetor, com medo de a machucar ou
assustá-la.
Estoquei um pouco mais fundo, tocando na sua garganta, só para dizer
com todo o meu corpo que ela era minha. Só minha. Senti que ela sugou
mais e quis passar meu pau em todo o seu corpo para marcar território.
Ela deu uma última chupada e depois passou a língua lentamente pela
cabeça em formato de cogumelo. Aquela língua quente e melada, babando o
meu pau duro, deixando a pele vermelha e brilhante... Minhas bolas
pesaram e meu coração acelerou, querendo meter mais.
Madison voltou a me chupar e alisei o seu queixo macio e delicado que
me engolia. Ela abriu mais a boca para mim, babando tudo ao redor,
fazendo a saliva escorrer pelo talo.
— Isso... — incentivei ofegante, travando o maxilar. Suas unhas
cravaram no meu quadril, me puxando mais para si e fazendo os músculos
se contraírem. — Boca gostosa — gemi, revirando os olhos e sentindo um
tesão do cacete.
Me forcei a me concentrar naquela visão do paraíso, não queria perder
nada. Ela de joelhos, me pagando um boquete, sua cabeça ruiva indo e
vindo com movimentos certeiros, os lábios sugando o meu pau, sua língua
tímida passando ao redor. Era tudo demais.
Alisei o seu queixo com carinho, porque não conseguia simplesmente
não deixar de ser cuidadoso com ela, mesmo recebendo um oral. Por mais
que ela me pedisse, não conseguia.
Madison inclinou a cabeça de lado, tentando me engolir mais e percebi
que estava começando a cansar o seu pescoço. Acariciei a sua nuca e com
muita dor e sacrifício, tirei o meu pau de dentro daquela boca quente e
úmida.
Ele saiu erguido, irritado, pulsando, bem babado, tinha saliva
escorrendo até as bolas e toda a minha força de vontade foi usada para não
me masturbar ali. A pequena ergueu o olhar confusa e ofegante, sua boca
estava toda melada e vermelha, acariciei a região tentando respirar fundo.
— Você...
— Estava começando a machucar você, meu amor — falei, tentando
acalmar o meu coração acelerado.
Ela ergueu a sobrancelha e lambeu novamente o meu pau, me fazendo
suspirar tremulamente.
— Você vai me matar — alertei, ela levantou o canto da boca e
simplesmente tirou a camisola, mostrando os seios para mim.
Meu Deus, eu estava fodido. Não existia um homem na terra que
resistiria a isso. Ela estava nua, vestindo apenas uma calcinha pequena que
mal cobria a sua boceta. Senti minhas bolas pesarem e meu pau pulsar
violentamente para cima, querendo ser chupado novamente.
Ela colocou a mão em volta dele, o segurando e passou a me masturbar
com velocidade. Joguei a cabeça para trás, estocando com vontade na mão
perfeita dela. Não me segurei, olhei para baixo outra vez e peguei o seu
cabelo com firmeza, do jeito que ela tinha me pedido.
Passei eu mesmo a bater a punheta pois estava desesperado para gozar,
estava perto. E queria me derramar bem nos seios dela. Madison inclinou a
cabeça para trás, oferecendo o seu pescoço macio e sedoso.
Passei o pau ali, alisando a região da pele e acelerando ainda mais,
sentindo as bolas pesadas. O orgasmo veio. A porra saiu espirrando para
fora do meu pau e escorrendo pelos seios dela. Os mamilos rosados
melados ficaram tão perfeitos que quis guardar a imagem para sempre.
Madison passou o polegar entre os seios, o molhando com o sêmen e
depois o colocou na boca, me levando à loucura.
— O que eu faço com você, hein? — brinquei ofegante, a puxando
para cima.
Assim que ela se levantou a peguei no colo, erguendo-a do chão. Ela
riu e se segurou em mim pelo pescoço.
— Eu preciso dizer? — devolveu atrevidamente.
Não, não precisava. Tentei com tudo de mim não a secar nua nos meus
braços, mas foi difícil. Caminhei com a pequena até a cama, a deitando no
colchão. Tirei o resto da roupa e subi para ficar por cima do seu corpo.
Ela me olhou ansiosa, abrindo as pernas para me deixar encaixar ali.
Peguei o seu rosto com carinho e a beijei demoradamente, provando o gosto
do meu próprio pau.
— Colin — gemeu manhosa o meu nome e a puxei mais para mim,
colando os seus seios nus no meu peitoral.
Segurei a sua bunda e esfreguei a entrada da sua boceta no meu pau
ainda endurecido. Seu clitóris deveria estar pulsando, pois ela choramingou
e se esfregou toda no meu pau. Ele roçou a sua calcinha pequena e alisei as
suas coxas macias até chegar na boceta.
Passei o dedo por cima da calcinha úmida, e isso foi o suficiente para
ela erguer os quadris em desespero, precisando ser tocada. Segurei a sua
calcinha e me afastei dela só o bastante para tirá-la do seu corpo, deixando-
a completamente nua.
Boceta deliciosa.
Gordinha, com pelinhos ruivos ao redor e toda melada. Aproximei o
rosto da entrada e inspirei o seu cheiro gostoso, quis esfregar meu rosto ali.
Lambi bem devagar a entrada e a escutei gemer o meu nome, se esfregando
nos lençóis.
— Bota as pernas em cima dos meus ombros — mandei e ela nem
questionou, só obedeceu imediatamente, colocando cada coxa em cima dos
meus ombros, deixando a boceta bem aberta na minha cara.
Soprei de leve ali, onde os lábios melados estavam prestes a
escorrerem de tão molhada que ela estava. Lambi ao redor antes de passar a
língua entre eles, a fazendo se contorcer toda. A segurei no lugar, colocando
as mãos em volta do seu quadril, apoiei os cotovelos na cama, para me
firmar, e ergui o quadril dela de uma vez, deixando a boceta na altura do
meu rosto.
— Colin... o quê? — ela perguntou confusa, porém logo se calou
quando a chupei.
Enfiei a língua bem na entrada lambuzada, gemendo ao sentir o gosto
dela. Meti e tirei devagar, a enlouquecendo.
Madison passou a rebolar os quadris e como eles estavam erguidos, só
fez com que as coxas dela prendessem a minha cara ali. Tudo estava
perfeito, podia morar naquela boceta. A lambi bem, escutando minha
pequena gemer e subi para chupar o seu clitóris inchado.
Passei a língua em cima dele e ela segurou o meu cabelo com força, me
puxando para mais perto. Rodeei em volta dele, a deixando mais melada
ainda.
— Colin... por favor, eu preciso — implorou e sorri contra a sua
boceta, estalando a língua bem em cima do clitóris. — Por favor...
— Você precisa pedir com as palavras certas — provoquei, querendo
muito ouvi-la falar putaria para mim.
Isso me rendeu um puxão de cabelo, fazendo meu sorriso crescer mais.
Me dediquei a chupá-la até o limite.
— Por favor... — pediu mais uma vez e ergui o olhar para ela,
afrontosamente. — Eu quero gozar.
Sorri de forma sacana.
— Agora sim. — Pisquei para ela e esfreguei a língua no seu clitóris
com firmeza.
Ela gozou segundos depois, rebolando na minha cara. Soltei o seu
quadril na cama e a pequena caiu toda derretida. Me inclinei sobre o seu
corpo e abocanhei os seios cheios ainda lambuzados da minha porra, dando
alguns beijos.
Madison me puxou para cima ansiosa e beijei a sua boca, querendo que
ela sentisse o nosso gosto misturado. Segurei o seu corpo nu embaixo do
meu, totalmente rendido e submisso.
— Gostosa. — Ofeguei na sua boca e ela abriu as pernas desejosa,
fazendo meu pau duro cutucar a sua boceta melada de gozo. A cabeça
passou pelos lábios abertos e travei o maxilar para me impedir de estocar
com tudo ali.
Mordisquei o seu lábio inferior uma última vez, a soltando para pegar
uma camisinha. Deslizei o preservativo pela minha ereção e não consegui
me impedir de apreciar a minha pequena jogada na cama. Nua. Gozada. E
ansiosa para ser preenchida pelo meu pau.
Subi nela aos poucos e a peguei de surpresa quando a virei de lado
comigo.
— Colin... — Franziu a testa confusa e excitada.
Peguei a sua coxa e a coloquei em cima do meu quadril, a puxando
mais para mim. Passei o braço protetoramente pela sua cintura e beijei a sua
boca gostosa.
— Vai ser mais gostoso assim de ladinho — falei no meio do nosso
beijo e ela choramingou, me puxando mais para si. — Só até eu meter tudo,
pra não machucar.
Guiei meu pau até a sua entrada e ela já veio jogando os quadris,
querendo sentar. Segurei a sua bunda cheia e macia, empurrando-a na
direção da minha ereção. Comecei a entrar naquela boceta apertada e tive
que trincar os dentes para me controlar. Mordi o seu pescoço para conter
um gemido e ela me abraçou, arranhando minhas costas, tentando puxar
mais o meu quadril para frente.
Esfreguei o pau na sua boceta um pouco, só para acalmá-la, só que
parece que teve o efeito contrário. Madison tremeu nos meus braços,
contraiu a boceta gostosa, me estrangulando e começou a rebolar em mim.
Foi uma delícia senti-la se alargando até o limite. Quando quase botei tudo,
a pequena fez uma cara de dor e parei imediatamente.
— Doendo, meu amor? — perguntei preocupado, alisando das suas
costas até a bunda.
— Um pouco... — Ofegou com as bochechas coradas, ela escondeu o
rosto no meu pescoço e voltou a rebolar, me deixando zonzo de tesão. —
Não para, por favor.
— Mas se estiver doendo...
— Por favor! — pediu desesperada, rebolando e sorri, beijando a sua
bochecha e metendo de uma vez.
Porra. Eu senti o corpo dela se arrepiar. E o meu também. Sua boceta
derreteu, estava tão melada que era possível ouvir assim que deslizei de
volta para estocar com tudo. Madison gemeu, vindo esfregar o quadril com
o meu e percebi que ela gostava quando metia com força.
Cravei os dedos na sua bunda para mantê-la no lugar e comecei a
bombear freneticamente. Madison estremeceu da cabeça aos pés nos meus
braços e tentou abrir mais as pernas, se chocando comigo.
— Colin... — chamou, jogando a cabeça para trás e aproveitei para
chupar o seu pescoço.
Estoquei no mesmo ritmo, enterrando meu pau até o talo na sua
bocetinha melada. Minhas bolas pesadas chegavam a tocar a sua virilha, e
tive que segurar a sua bunda com mais força ou ela iria me fazer gozar se
continuasse rebolando desesperadamente daquele jeito.
Os dedos da minha mão iriam ficar marcados na sua pele e isso me
causou uma puta satisfação. Era a marcação de um território, não tinha nada
nela que não fosse só meu, para proteger, cuidar, comer...
Os seios dela balançavam entre nós, suados, pesados e excitados.
Lambi o seu pescoço e levei o polegar até a sua boca.
— Chupa — mandei em um tom autoritário e vi nos seus olhos que ela
gostou.
A pequena abriu a boca e sugou o meu dedo, passando a língua ao
redor, me deixando louco. Fodi com mais força e ela mordeu o meu polegar
levemente, avisando que iria gozar. Tirei o dedo da sua boca todo babado e
o levei até o bico do seio excitado, passei ao redor com calma e Madison
me puxou mais para si.
Fiquei rodeando o mamilo provocativamente até descer para o clitóris.
Bastou que tocasse no seu clitóris, o esfregando de leve que Madison gozou
no meu pau.
Cacete. Ela contraiu repetidamente, minhas bolas doeram de tão
pesadas e estoquei uma última vez. Gozando junto com ela, derramando o
sêmen na camisinha.
Respiramos pesadamente, ofegantes, tentando buscar ar. Senti o seu
peito subir e descer no ritmo do meu.
Quando o seu coração se acalmou, Madison me abraçou, beijando o
meu pescoço. Peguei a sua mão e a beijei com zelo, carinho e reverência.
Estou completamente apaixonado por você.
Ela suspirou, se aconchegando em mim e alisei as suas costas em um
carinho suave, plantando beijos no seu ombro nu. Estava tão bom tê-la
assim que senti medo de perdê-la e a apertei mais no nosso abraço.
— Eu tenho sido só seu desde que te conheci — contei, dando outro
beijo demorado no seu ombro. — Não estive com mais ninguém desde
aquela festa.
Precisava que ela soubesse, que tivesse confiança em mim. Madison se
afastou só o suficiente para me olhar. Vi no seu rosto as sobrancelhas
erguidas em susto. Seria cômico se não fosse trágico.
— Que festa?
Sorri para a sua cara de espanto.
— A que aconteceu depois que caí em cima de você, no dia que nos
conhecemos.
Ela arregalou os olhos e sua boca fez um “O” em choque.
— Meu Deus... — disse perdida, mas do nada ela começou a rir. —
Meu Deus, você sempre foi a fim de mim!
Revirei os olhos.
— Olha quem fala — provoquei, estalando a língua. — Não foi você
que botou fogo na própria casa só pra parar na minha cama?
— Ai, Colin... — murmurou em um tom de deboche. — Está mais
fácil você ter feito isso do que eu.
Estava.
— Você vai negar até o fim. — Balancei a cabeça em negação para ela
e a peguei de surpresa ao erguê-la enquanto levantava da cama. — Banho
junto ou separado? — perguntei com ela nos braços.
— Junto — disse, olhando para mim com um olhar divertido.
Beijei a ponta do seu nariz e entrei com ela no banheiro, a colocando
no chão.
— Tenho algo muito importante pra falar — avisei descartando a
camisinha.
Madison se virou para mim curiosa, sem ter mais vergonha de estar
completamente pelada na minha frente.
— Eu não sou um ovo... — disse provocando e ela revirou os olhos. —
Mas quando te vi fiquei mexido.
Ela tentou ficar séria, porém não conseguiu. Riu alto.
— Você é tão idiota...
— Não ria. — A peguei pela cintura e a levei para dentro do box. —
Foram essas cantadas que te deixaram nua, hein.
— Colin — alertou. — Não esqueça que sempre tem o sofá te
esperando.
— O sofá hoje é da Jennifer Aniston, gnomo. — Pisquei, ligando o
chuveiro e fazendo a água cair em cima de nós.
Ela me abraçou e eu suspirei baixinho. Era difícil acreditar que o
mundo continuava girando quando eu o sentia parar só por ela me abraçar.
Era uma sensação gostosa saber que ela estava ali nos meus braços e não
iria sair.
Ah, meu amor, como você chega assim e muda tudo na minha vida?
Madison Jensen

Quando saí da cama hoje de manhã senti uma leve dor no meio das pernas,
mas era uma sensação gostosa. Meu corpo estava satisfeito, leve e energizado.
Para falar a verdade eu já podia esquecer a meditação, os abraços, o chá ou
respirar o ar puro da manhã, tudo o que eu precisava para começar bem o dia
era ter Colin Scott dentro de mim.
Isso melhorou tanto meu humor que passei o dia sorrindo para qualquer
pessoa. O que me rendeu olhares estranhos, talvez o porteiro do meu prédio
tenha pensado que eu estava dando em cima dele, só que nem me importei.
Estava feliz. Tinha para quem voltar e abraçar quando chegasse em casa.
Dizer que estava com saudades e sentir o seu cheiro. Estava contando as
horas para vê-lo de novo, provavelmente o atacaria. Colin me pareceu bem
carinhoso, porém não sei se estava preparado para ver o quanto eu era pegajosa.
E também queria outras coisas...
Queria tirar a sua camiseta, tocar o corpo definido, colocá-lo na boca de
novo... Meu Deus, será que eu tinha me tornado uma safada? Corei só de
lembrar de como me ajoelhei na sua frente e olhei ao redor só para conferir se
alguém estava prestando atenção em mim.
Para meu alívio, todos estavam concentrados nos próprios textos. Como eu
deveria estar no meu próprio trabalho, afinal, estava sendo paga. Tinha recebido
hoje o pagamento adiantado pela ajuda na peça, e por mais que a quantia me
ajudasse, também fazia me sentir culpada.
O que me confortava era saber que eu estava mesmo fazendo um trabalho
para ele. O Sr. Stone não estava mentindo quando disse que não teria tempo de
organizar tudo, fiquei responsável pelo figurino, cenário, analisar falhas no
roteiro, verificar se cada um estava conseguindo decorar as falas e ver como
andavam as atuações. A parte que mais me deixava insegura era sobre a minha
própria atuação, tinha passado a manhã vendo vídeos de outras peças para
imitar expressões, decorando minha parte e ensaiando em frente ao espelho.
Até que não fiquei tão ridícula quanto achei que ficaria. Meu lado otimista
me dizia que tudo daria certo. Por mais que fosse muito trabalho e ainda tivesse
minhas aulas, eu precisava daquela renda e ainda me daria oportunidades de
ouro.
Meu celular apitou no bolso e vi que estava na hora da minha última aula,
daria tempo só de passar no refeitório para comer alguma coisa. Peguei minha
bolsa e acenei em despedida para o pessoal que estava ensaiando em cima do
palco do teatro.
Quando ia passando pela porta da saída esbarrei em um corpo grande que
me fez tombar para trás.
— Desculpa — pedi, me equilibrando e olhando para a pessoa.
Era Derek. Ele sorriu abertamente ao me reconhecer.
— Ei, pensei que você estivesse aqui mesmo — cumprimentou.
Coloquei minha bolsa no ombro e sorri de volta em simpatia para ele,
ainda que me sentisse um pouco acanhada. Derek tinha se convidado para jantar
comigo pensando que eu estava disposta a alguma coisa, mas não estava. E
ainda foi praticamente posto para fora por Colin.
— Pois é, eu estou ajudando o Sr. Stone — contei sem jeito, sem saber
como me desculpar. — Derek, eu deveria me desculpar pelo jantar, Colin foi
um pouco grosseiro e...
— Ele sempre é — interrompeu Derek, dando de ombros.
Senti uma pontada estranha no peito, era incômodo misturado com
proteção. Quis defender meu maluco. Colin não é grosseiro, pelo contrário,
quase todo mundo o adorava por ser simpático até demais.
— Ele não é sempre assim — expliquei, entretanto Derek ergueu a
sobrancelha ironicamente.
— Comigo ele é, mas eu até entendo — ele colocou as mãos no bolso da
calça e me olhou de cima a baixo. — Eu entendi tudo errado, não sabia que
vocês estavam juntos.
Pisquei debilmente e meu coração deu uma acelerada. Tínhamos alguma
coisa, eu não sabia se era um relacionamento, contudo significava muito para
mim.
— Então... — Derek coçou a nuca quando eu não disse nada e olhou para
mim um pouco ansioso. — Vocês são exclusivos? Ou podem ver outras
pessoas?
Arregalei os olhos em choque com a pergunta. Se bem que era um bom
questionamento. Eu abri e fechei a boca algumas vezes, sem saber o que dizer.
Acreditava que sim. Ele tinha dito que me esperou por meses, isso tinha que
valer de algo.
Será que Colin era do tipo que gostava de relacionamentos abertos? Ou
pior, será que não tínhamos nada sério e eu estava me iludindo?
— Somos exclusivos — respondi com uma confiança que não sentia e
passei por ele. — Eu já estou atrasada, a gente de se vê depois. — Sorri e
acenei.
Derek murchou decepcionado e acenou de volta, entrando no teatro logo
em seguida. Segui para o refeitório me sentindo insegura. Colin me deu a
entender que o que estávamos construindo era algo só nosso, e eu sentia
verdade nisso.
Só que ninguém falou nada sobre exclusividade, e me dava uma dor física
pensar nele com outra pessoa. Era bom tirar a pedra do caminho. Em um
impulso peguei o celular e mandei uma mensagem a ele.
Eu: Podemos ficar com outras pessoas?
Colin respondeu imediatamente.
Ódio da minha vida: Como é???
Mordi o canto da unha sem saber como começar, não ia perguntar se
estávamos tendo um relacionamento. Era muito cedo e ainda poderia parecer
que estava forçando a barra.
Meu celular tremeu com outra mensagem dele.
Ódio da minha vida: Que papo é esse??
Eu: Eu só queria saber se o que temos envolve outras pessoas ou não.
Ódio da minha vida: Não envolve.
Ódio da minha vida: Nunca.
Ódio da minha vida: Em hipótese nenhuma.
Ódio da minha vida: Você anda querendo sair com alguém?
Eu: Não!
Eu: Eu só não sabia se era exclusivo.
Ódio da minha vida: Onde você está?
Franzi a testa com a pergunta aleatória e respondi que estava chegando no
refeitório. Ele só mandou um “Tá” e depois não falou mais nada. Ok... pelo
menos eu sabia que Colin era só meu por enquanto.
Revirei os olhos para a minha própria tolice e assim que entrei no refeitório
encontrei uma cena inédita que jamais pensei em ver na vida: Amber estava
sentada em uma mesa junto com Bethany e Scarlett.
Chocante. Parei no lugar de tão incrédula que fiquei. Não era ilusão, elas
estavam sentadas juntas amigavelmente.
Bethany é a líder da nossa antiga fraternidade e ela sempre foi horrível
com Scar. As duas viviam se alfinetando e passaram os anos em que vivemos
juntas brigando. Nunca gostei muito da Bethany, já perdi a conta de quantas
vezes desejei que o seu cabelo caísse... o que não aconteceu, todos os seus fios
loiros e lisos pareciam fixos na cabeça.
A única de nós que era amiga dela era a Amber, o que era compreensível.
De quem Amber não gostava? As meninas me falaram que elas tinham
conversado e que Bethany estava tentando mudar. Achei fofo, mas nunca pensei
que as encontraria juntas como se fossem amigas. Ainda era algo estranho de se
ver, não consegui disfarçar a surpresa.
Comprei o meu sanduíche vegetariano e caminhei até a mesa delas. Logo
que Bethany me viu chegar ergueu a sobrancelha em divertimento.
— Surpresa, não é? — provocou e tive que rir ao olhar para as três
sentadas ali.
— Em estado de choque — corrigi, sentando ao lado da Scar.
— Estamos fingindo nos suportar — Scar brincou.
— E até estão indo bem — elogiou Amber para as duas.
— Quem ver de longe pode até pensar que somos civilizadas. — Piscou
Scar para Bethany.
— Já está indo pra casa? — Amber perguntou para mim, ansiosa, com a
cara de quem queria alguma coisa.
— Não, vim só comer alguma coisa, ainda tenho mais uma aula —
respondi, mordendo o meu sanduíche e ela enrugou a ponta do nariz em
desapontamento. — No entanto, não vai demorar, quer fazer alguma coisa hoje?
O rosto de Amber se iluminou e ela quase pulou da cadeira.
— Eu estou tão entediada! — ela resmungou. — Faz séculos que a gente
não sai.
— O aniversário do Peter não foi um dia desses? — lembrei e Amber
revirou os olhos.
— Não conta... todo mundo foi embora cedo naquele dia — retrucou.
— Só foi emocionante pra você, querida. — Scar apontou para mim. —
Que saiu de lá carregada.
Minhas bochechas esquentaram ao lembrar daquele dia e Amber começou
a gargalhar muito alto, chamando a atenção das pessoas ao redor.
— Ai... — Amber limpou o canto dos olhos. — Foi tão engraçado!
— Eu soube dessa história. — Bethany estreitou os olhos para mim com
um sorriso no rosto. — Quem diria, hein, Maddie? Você e Colin Scott...
Eu ainda não tinha falado para as meninas que fiquei com ele e não queria
contar ali. Baixei os olhos constrangida e pensei em um jeito de fugir do
assunto.
— Falando no diabo... — comentou Scar, olhando por cima do meu
ombro.
Não era possível! Olhei para trás em susto e vi não só Colin, como a
maioria do time de hóquei caminhando em nossa direção. Ele tinha os olhos
azuis fixos em mim e estava vestindo o moletom do time, que só o deixava
mais atraente.
Eles chamavam atenção de longe por serem enormes, percebi que nem
todos os meninos estavam ali. Só encontrei Johnny, Drake e Peter, o resto dos
jogadores deveriam ser reservas pois eu não lembrava dos seus nomes, por mais
que já tenha os visto.
Todos os gigantes sentaram à nossa mesa como se tivessem sido
convidados. Colin puxou uma cadeira do meu lado e passou o braço atrás da
minha em um gesto possessivo. Um movimento que não passou despercebido
por ninguém.
— É... — Bethany balançou a cabeça em aprovação. — Isso explica muita
coisa.
Johnny e Drake trocaram um olhar intrigado, enquanto Amber e Scar
sorriram convencidas, sem nenhuma surpresa. Contudo, os olhares delas diziam
que iam me encher de perguntas depois.
Eu só queria sumir. Me encolhi mais na cadeira e isso fez com que me
aconchegasse mais no corpo firme de Colin, ele estava tão cheiro. Era tão bom
ficar perto, e eu já estava com saudade...
Me aproximei um pouco do seu rosto para falar perto do seu ouvido.
— Eu senti a sua falta — falei baixinho para ninguém mais ouvir.
Colin me puxou para si, dando um beijo demorado na minha testa. Ele
inspirou profundamente, percebi que estava sentindo o meu cheiro e aquilo deu
uma acalmada no meu coração.
— Se você continuar me dizendo essas coisas eu vou ter que te sequestrar,
meu amor — murmurou e não me importei mais se tinha alguém olhando, só
sorri e descansei a cabeça no seu ombro.
Nunca dispensaria carinho gratuito. Escondi o rosto no seu pescoço pois
sabia que estávamos sendo alvo de atenção e ainda me sentia desconsertada.
Colin me segurou mais apertado, protetoramente e ficou dando beijos no meu
cabelo.
— OOOOW QUE LINDOS! — falou Amber alto demais, toda derretida.
— Eles não são lindos, amor? — perguntou.
— São, princesa — respondeu Johnny a ela.
Colin riu e eu revirei os olhos, mas ainda me recusando a olhá-los. Queria
ficar naquele casulo que o pescoço dele me oferecia, um lugar perfeito e só
meu.
Eles começaram uma conversa sobre hóquei e senti que já não estavam nos
observando tão atentamente. No entanto, Colin continuava a fazer carinho em
mim, ele levou a mão ao meu cabelo, enterrando os dedos nos meus cachos e
alisando a minha nuca.
— Não tem mais aula hoje? — perguntou, beijando a minha testa.
Me afastei só o suficiente para vê-lo. Encarei os seus olhos azuis lindos e
suspirei.
— Tenho sim.
Ele ficou olhando para as minhas sardas no nariz, parecendo contá-las. Já
tinha pegado Colin fazendo isso algumas vezes e era engraçado.
— Eu vou ficar te esperando — disse, tirando o meu cabelo da frente do
rosto. — Que papo foi esse de ficar com outras pessoas?
Mordi o lábio inferior para conter o riso e balancei a cabeça.
— Alguém me perguntou se o que tínhamos era exclusivo e eu fiquei sem
saber o que dizer — confessei.
Seus olhos me consumiram, me encarando com intensidade.
— Quem perguntou isso?
Respirei fundo, sabendo como isso soaria estranho.
— Derek.
Colin apenas levantou a sobrancelha cinicamente e sabia que estava
zangado. Não comigo, para falar a verdade nunca o vi realmente zangado
comigo.
— Você é ciumento — brinquei. — Isso vem do seu signo.
O canto da sua boca se ergueu.
— Que bom que eu sempre posso colocar a culpa nele. — Colin se
aproximou mais. — Vamos fazer um trato?
O olhei desconfiada, porém assenti.
— Eu sou ciumento com você — admitiu, dando de ombros. — Confesso
que sempre fui bem tranquilo, só que desde que te conheci eu quero tudo só pra
mim — explicou, alisando o meu pescoço e o olhei sem saber o que dizer,
sentindo a minha respiração ficar mais pesada. E quente.
— E qual é o trato? — perguntei, esquecendo que estávamos em um lugar
público e nem ligando para a conversa paralela que acontecia na mesa.
— Se algum dia isso te incomodar você me avisa e eu paro imediatamente.
E se algum dia eu perceber que isso está te machucando, eu vou embora —
sussurrou para mim.
Meu coração doeu ao ouvir isso, não o queria distante de mim. E o ciúme
dele não me incomodava, pelo contrário, tinham momentos em que até era
excitante.
— Você não vai a lugar nenhum — determinei, enlaçando o seu pescoço e
sorrindo para ele. — Eu não deixo.
Colin sorriu de volta e encostou a testa na minha.
— Ótimo — respondeu baixinho. — Porque ainda quero cuidar de
qualquer parte sua que me oferecer.
E se for o meu coração todo?
Suspirei e encostei a cabeça no seu ombro. Colin beijou o meu cabelo e
ficamos prestando atenção na conversa do pessoal. Bethany estava convidando
todo mundo para fazerem uma festa na nossa antiga fraternidade. Olhei de
canto para Scar, esperando a sua reação e ela parecia tranquila em ir, por mais
que tenha sido muito rejeitada pelas meninas de lá.
— Se não tiver nada de casas pegando fogo dessa vez... — Johnny jogou a
indireta para Colin, que bufou do meu lado.
— Em minha defesa, eu nunca dei uma festa pra uma casa pegar fogo. —
Colin colocou a mão no peito. — Aquela foi a primeira vez.
— Agora você é um homem comprometido. — Drake lançou um olhar
satisfeito para nós. — Não pode mais ficar metido nessas festas de caráter
duvidoso.
Aquilo era tão absurdo que eu ri. Não conseguia imaginar Colin longe de
festas, pessoas ou até mesmo de confusão. Ele me olhou de canto, fingindo
estar ofendido.
— Pode rir à vontade. — Colin se encostou relaxadamente na cadeira. —
Mas de agora em diante eu só ando acompanhado.
Revirei os olhos, entretanto quando o olhei, percebi que estava falando
sério mesmo.
— Ah, Maddie... — Suspirou Johnny, parecendo que alguém havia tirado o
peso do mundo das suas costas. — Você não tem ideia do quanto sempre serei
grato.
— Você sabe que ele ainda vai te dar trabalho, não é? — Pisquei para o
capitão.
— Cara... logo você entrou pra coleira. — Um dos jogadores que eu não
lembrava o nome balançou a cabeça em negação para ele.
— Não teve jeito. — Colin lhe lançou um olhar resignado e beijou a minha
testa.
— Como foi que isso aconteceu mesmo? — perguntou Peter, curioso.
Colin se inclinou na direção dele com um sorriso convencido.
— Se você soubesse as cantadas que joguei nela...
Bufei revirando os olhos, Scar riu e Peter deu o dedo do meio para Colin.
— Então, vamos mesmo dar uma festa hoje? — perguntou Bethany para
nós.
Colin me puxou para si e beijou o meu ombro.
— Vamos — determinou ele por todos nós. — Se você quiser deixar por
minha conta... — sugeriu a ela.
Bethany deu de ombros.
— Contanto que não bote fogo lá também — provocou Drake e Bethany
lançou um olhar para ele.
Drake tinha sentado bem longe dela, parecia quase estar fugindo da loira.
Eu podia estar criando coisas na minha cabeça, só que ele parecia
desconfortável na presença dela. E Bethany estava se divertindo, talvez
percebendo o mesmo que eu.
— Tem extintor de incêndio? — Colin perguntou à líder da fraternidade.
— Tem — ela respondeu rindo.
— Ótimo, então estamos todos seguros — confirmou Colin, tranquilo.
— Da próxima vez me escuta — afrontei, erguendo a sobrancelha para ele.
— Se alguém acender uma fogueira, a apague a tempo.
Colin aproximou o rosto do meu.
— Você está disposta a apagar a minha? — perguntou com um meio
sorriso e revirei os olhos.
Meu Deus, essas cantadas são perigosas mesmo. Você começa rindo e
quando menos percebe já está nua e abrindo as pernas.

Colin Scott

Um carrinho de supermercado passou ao meu lado em alta velocidade,


quase me atropelando. Alguém poderia morrer. Tanto quem estava apenas
assistindo quanto quem andava no próprio carrinho.
Sim. Universitários maiores de idade, adultos, estavam dentro de carrinhos
de supermercado apostando corrida no meio da rua. Essa foi a geração que
meus avôs pediram a Deus.
E de quem foi a ideia? Minha, claro.
Não participei, só joguei a ideia e o pessoal comprou. Era bem mais
divertido só ficar vendo os carrinhos desceram rua abaixo.
— Você sabe que a qualquer momento alguém pode acabar se
machucando, não é? — perguntou Johnny, preocupado.
Bufei e bati nas suas costas em consolo.
— Você acha que eu não pensei em tudo? — Abri os braços e pelo jeito
que ele me olhou, achava. — Convidei o pessoal da Medicina justamente por
isso, se alguém precisar de uma ambulância é só gritar por eles.
Johnny apenas me encarou em silêncio.
— Você está falando daqueles estudantes ali? — Ele apontou para um
grupo que estava do lado de fora da casa, brincando de virar doses de tequila e
quem não conseguisse tirava uma peça de roupa. Estavam quase todos seminus.
Era o pessoal da Medicina.
— Johnny, Johnny — cantarolei para ele, estalando a língua. — Você acha
que todas as minhas festas deram certo à toa?
— O que é “dar certo” pra você? — ele debochou, mas o ignorei.
— Se os futuros médicos não puderem socorrer ninguém, temos aqueles
carinhas ali. — Apontei para uns caras que tinha conhecido em um bar de
Providence e sempre os convidava quando fazia algo. — Eles são de uma
funerária e fazem o serviço com um ótimo desconto.
Johnny ficou parado, me encarando por uns trinta segundos. Tentei não rir,
porém era muito bom curtir com a cara dele.
— Não vou nem dar atenção a isso. — O capitão balançou a cabeça em
negação e seguimos para o gramado da fraternidade.
A última vez que fomos ali tinha sido anos atrás, quando Johnny conheceu
Amber. A casa era enorme e tinham tantas meninas morando ali que não sei
como davam conta de decorar os nomes de todas. Elas quase surtaram logo que
nos viram chegar com as bebidas e as caixas de som.
Pareciam divertidas e meio deslumbradas por sermos jogadores de hóquei.
Elas correram para abraçar Amber assim que a viram e as nossas garotas
pareceram meio deslocadas de início, por isso tratamos de sentar em um canto
só nosso com elas.
Como a casa estava simplesmente lotada e Tyler queria ficar no gramado
para tragar a sua maconha, sentamos todos do lado de fora, em uma rodinha só
nossa debaixo de uma árvore que ficava no quintal da casa.
Johnny e eu tínhamos saído apenas para dar uma olhada na corrida de
carrinhos. Não queria ficar por muito tempo longe da minha pequena. Passei
pelos universitários até conseguir vê-la... Foda-se! Meu coração ia dar esse
salto toda vez que eu a visse?
Consegui enxergá-la de longe, estava com um macacão curtinho verde, da
cor dos seus olhos. A blusa branca de alcinha por baixo deixava a pele sedosa
de fora. Ela tinha trançado apenas duas mechas da parte da frente do cabelo, e
as colocado soltas junto com os cachos que desciam perfeitos.
Madison estava rindo com Sienna de algo que Drake disse. Ela estava tão
envolta ali que nem notou que era observada, contudo em algum momento
ergueu os olhos para mim e seu sorriso congelou, deixando as covinhas à
mostra.
Ela inclinou a cabeça na direção da nossa rodinha, me chamando para me
aproximar e sentar ali.
Você fica comigo pra sempre?
— Isso é tão satisfatório — murmurou Johnny, batendo nas minhas costas
para me despertar do meu transe.
— O quê? — perguntei para ele, voltando a caminhar na direção deles.
— Te ver fodido assim. — Ele piscou convencido e lhe dei o dedo do meio
sem negar.
Chegando, sentei atrás de Madison, a pegando de surpresa. Encostei
minhas costas no tronco atrás de mim e a coloquei entre as minhas pernas como
um casal, puxando o seu corpo para descansar as costas no meu peito. E ela
veio, se aconchegou e se deixou ser abraçada por mim.
Todos sentados na grama nos olharam em expectativa.
— E então? Vocês não têm nada a dizer? — sugeriu Scar, esperando um
anúncio formal.
— Estamos juntos — revelei e os meninos deram um estalo de decepção.
— Bosta! — Tyler resmungou tirando a carteira do bolso.
— Não podiam esperar uma semana? — Drake reclamou tirando a dele
também.
— Incrível como a gente sempre perde pra elas — Johnny suspirou e todos
começaram a jogar o dinheiro para Scar.
— É tão bom. — Sienna esticou as pernas na grama e nos olhou de canto.
— Ganhar deles e ver vocês juntos.
— Espera. — Madison se inclinou para frente, entendendo tudo. — Vocês
apostaram isso?
Nem fiquei surpreso. Eles se entreolharam como se fosse óbvio.
— Querida, você achou que nós botamos vocês no mesmo quarto pra quê?
— Scar ergueu a sobrancelha para ela e Madison se virou para mim, indignada.
— Você sabia disso?
Ergui as mãos com um sorriso relaxado no rosto.
— Não fazia ideia — confessei e ela revirou os olhos.
— Mereço que comprem ao menos um sorvete pra mim se estavam
apostando às minhas custas. — A ruiva apontou para as meninas e voltou a se
encostar no meu peito.
— Pode deixar. — Amber piscou para ela.
Notei mais uma vez Taylor um pouco distante. Meu amigo estava calado
demais, com um olhar apreensivo. Talvez estivesse pensando no problema do
seu joelho, ele não estava treinando com a gente. Ficava de canto só nos
observando jogar para não prejudicar a lesão.
Sienna também percebeu que ele estava mais calado e o abraçou de lado,
dando um beijo no seu rosto.
— Tristinho? — perguntou, alisando o cabelo preto liso dele.
Taylor sorriu para ela, mas logo engoliu em seco. Parecia querer nos dizer
uma coisa, no entanto estava sem coragem.
— Pode falar. — Madison sorriu docemente para ele, sentindo a sua
apreensão.
Todos estavam meio aéreos à nossa conversa, só que quando viram que
estávamos esperando Taylor dizer alguma coisa, se inclinaram na direção dele
para ouvir.
— Fofoca? — Drake perguntou interessado, fazendo Scar e Amber
estreitaram os olhos curiosas.
Johnny tirou a maconha de Tyler de uma vez e o maconheiro olhou para o
capitão, abismado.
— O que foi? — perguntou o idiota, perdido.
— O teu irmão vai falar alguma coisa — respondi a ele.
Taylor esfregou as mãos uma na outra, ansioso e me deixando nervoso. O
que diabo ele ia dizer?
— Anda! Estou ficando nervosa — Amber insistiu.
— Ok... — Taylor suspirou. — Eu me meti em um problema.
Hum. Eu me metia em um todo dia.
— Tráfico de drogas? — sugeriu Drake e Taylor negou.
— Assalto? — tentou Scar.
— Não — ele respondeu.
— Está ficando com um professor casado da universidade? — perguntou
Sienna, quase animada por ter adivinhado.
— Meu Deus, bem específico — provoquei.
— Me pareceu empolgante. — Ela deu de ombros.
— Não — Taylor riu do palpite.
— Tráfico de pessoas? — disse Amber e nos voltamos para ela,
assustados. — Todo mundo deu um palpite — se defendeu.
Tyler se virou para o irmão, impaciente já.
— Fala logo!
Taylor coçou a nuca e suspirou.
— Eu meio que estava envolvido com um cara... e ele não era o que eu
pensava — revelou e à medida que foi contando, nos aproximamos mais para
ouvir. — Ele disse que gostava de mim e eu acreditei, só que na verdade... ele...
— Taylor se calou, um pouco vermelho.
— Oh querido, pode nos contar. — Madison alisou o braço dele, em um
carinho.
— Ele gravou um vídeo nosso e está ameaçando mostrar pro papai —
Taylor contou olhando para Tyler, sabendo que o pai deles não sabia ainda que
Taylor era gay.
Caralho.
— Que filho da puta — xingou Drake.
— E o pior... em troca ele quer o meu lugar no time, que eu fique de
reserva.
Assim que Taylor fechou a boca os meninos e eu trocamos um olhar,
sabendo quem era a pessoa que ficaria na posição dele se Taylor fosse para o
banco. Charles Moore.
— Como é? — Tentei me controlar. — Aquele merdinha está te
ameaçando?
Precisava de uma confirmação e Taylor confirmou, engolindo em seco.
— Isso é grave, Taylor. — Johnny olhou sério para o amigo. — Podemos
abrir uma denúncia.
— De quem vocês estão falando? — perguntou Sienna, perdida. —
Conhecem o cara?
— Charles Moore — expliquei, pois ela sabia quem era a peça.
— Não — Sienna fechou os olhos e Madison se virou para mim.
— Aquele? — perguntou minha pequena com os olhos arregalados.
— Exatamente — confirmei, passando os braços pela sua cintura.
— Eu fui idiota. — Taylor coçou os olhos, que estavam lacrimejados, e as
meninas correram para abraçar ele.
— Quem perde é ele. — Madison beijou a testa dele.
— Claro que não foi! — Amber consola. — Vamos acabar com ele.
— Exatamente — concordou Scar, alisando as costas de Taylor. — Eu
quero vingança.
— Eu quero o endereço desse cara! — Tyler determinou.
— Eu também queria — disse Taylor, soltando uma risada pela cara de
revolta de todo mundo. — Queria invadir a casa dele e quebrar o seu maldito
celular com o meu vídeo.
Ele falou como quem não quer nada, mas ficamos em silêncio e nos
entreolhamos com um sorriso diabólico no rosto. Era quase como se cada um
ali estivesse lendo o pensamento do outro.
— Não! — determinou Johnny, já prevendo tudo. — Ninguém vai fazer
nada, vamos abrir uma denúncia...
— Esse cara falou merda das meninas — Drake murmurou zangado,
interrompendo Johnny.
— Como é? — perguntou Sienna sem saber daquela parte.
— Qual é, Johnny? — incentivei o capitão.
— Colin... — ele alertou, sabendo que eu acabaria convencendo o pessoal.
— Quem aqui quer resolver tudo como uma pessoa madura e abrir uma
denúncia no campus? — perguntei entediado e apenas Johnny levantou a mão.
— E quem aqui quer resolver as coisas do meu jeito? — Abri os braços
empolgado e todos levantaram as mãos.
Johnny esfregou as sobrancelhas, cansado.
— E qual é a sua ideia brilhante? — ironizou ele, esperando o pior.
Sorri para o capitão, adorando ver a sua cara de medo.
— Nós vamos invadir a casa dele. — Dei de ombros como se fosse óbvio e
cada um ali gritou em aprovação.
Menos Johnny, que apenas me encarou com o olho esquerdo tremendo.
Talvez ele tivesse um infarto até o fim da noite.
Ainda bem que eu tinha convidado o pessoal da funerária.
Colin Scott

— Eu vou dizer o que vamos fazer — determinei, me levantando e


vários olhos me observaram atentamente. — Primeiro de tudo: precisamos
de meias ou calcinhas.
Todos franziram a testa em confusão.
— Como é? — perguntou Taylor, se inclinando na minha direção para
ouvir melhor.
Revirei os olhos.
— Não sei se vocês sabem, mas a premissa de um bandido é não ser
identificado — esclareci o óbvio e eles balançaram a cabeça positivamente,
entendendo tudo.
— Eu fico com essa parte! — Amber levantou a mão, animada para
participar.
— Ótimo. — Pisquei para ela. — Enquanto isso eu vou em casa pegar
o nosso transporte de fuga, a minivan.
Cada um ali deu uma estremecida ao lembrar que quase morremos na
última vez em que entramos naquela maldita minivan. Contudo, foi
divertido.
— E nesse meio tempo eu vou me embebedar pra tomar coragem. —
Sienna levantou pronta para procurar uma bebida.
Beijei a cabeça ruiva do meu gnomo e segui para o meu carro. Dirigi
até a nossa casa e peguei a minivan de noves lugares de Johnny. Nunca
entendi porque diabos ele a tinha, porém era útil quando queríamos sair
todos juntos, como para invadir uma residência.
A volta para a festa não deve ter durado nem trinta minutos. Estacionei
perto da árvore em que estávamos sentados e procurei por eles, só que não
acreditei no que vi.
Todos estavam escondidos em um canto com gorros pretos cobrindo a
cara, eles cortaram buracos na região dos olhos e da boca, e me perguntei
como conseguiam respirar. Amber tentava passar o gorro na cabeça de
Johnny enquanto ele resmungava alguma coisa para ela, Sienna segurava
uma garrafa de vodka debaixo do braço e já parecia mesmo bêbada.
Meu Deus, como eu ia liderar um assalto com um grupo de bêbados?
Baixei o vidro da janela e coloquei o braço para fora, assobiando para
chamar a atenção deles. Amber conseguiu me ver e acenou alegremente de
volta, chamando os outros para irem até a minivan.
Eles correram para dentro do veículo, depressa, com medo de serem
vistos. Mas porra, como diabo não se chamava atenção com aquela coisa na
cara? Gargalhei sem conseguir me aguentar.
— Você está achando tudo muito engraçado, não é? — resmungou
Johnny, entrando no banco do passageiro ao meu lado. — Saiba que se
formos presos você vai ser apontado como mandante da quadrilha.
— Pode deixar. — Pisquei para ele e esperei todos entrarem no carro.
Quando a porta foi fechada saí da rua e segui para o nosso destino.
Olhei para a minha pequena pelo retrovisor, muito fofa sentada no seu
assento com o gorro preto na cara. Achei um absurdo cobrirem o seu rosto
com aquilo.
— Está conseguindo respirar, meu amor? — perguntei preocupado e
ela ergueu os olhos verdes para mim.
— Não muito — respondeu, tentando abrir mais o buraco da boca para
chegar até o nariz.
— Vamos morrer asfixiados antes mesmo de chegarmos lá —
reclamou Johnny cruzando os braços e quando olhei de canto para ele, ri.
Ri alto para caralho. Ele estava ridículo!
— Olha... — Enxuguei o canto do olho. — Nunca pensei que
encontraria nosso capitão nessas condições.
— Você está impecável, Johnny. — Drake riu também.
— Foi ideia minha esses gorros, peguei da Bethany — admitiu Amber
com orgulho. — Ela até me agradeceu, comprou todos pra uma festa de
Halloween do ano passado e nunca mais usou.
— Não esperava menos de você, Amber — elogiei e ela me estendeu o
meu.
— Aqui está o seu. — Jogou no meu colo.
— Eu boto assim que chegar, obrigado — agradeci.
— Meu Deus, eu estou tão empolgada. — Amber quase pulou do
assento.
— Por que, querida? — perguntou Taylor ao lado dela.
— Esse é o meu primeiro assalto — revelou sorrindo.
— O meu também! — Sienna se virou para ela, animada.
— Com o tempo você se acostuma. — Scar deu tapinhas no ombro da
bailarina e pegou seu litro de vodka para tomar um gole.
— Liga o som, Colin — pediu Tyler, nervoso. — Preciso de coragem.
Liguei o som e coloquei um rap do Eminem. Eles começaram a bater o
pé no piso do carro no ritmo da música, animados. Em algum momento
alguém começou a cantar e logo todo mundo entrou na onda.
— Sabe do que precisamos? — perguntou Scar a eles, segurando a
garrafa na mão. Já estava bêbada. — De uma arma!
Todo mundo levantou as mãos e gritou em comemoração.
— De jeito nenhum! — determinou Johnny, se virando e fazendo os
loucos do banco de trás murcharem tristes. — Ninguém aqui vai pegar em
arma.
— Pode ser de brinquedo — Scar insistiu e ele negou em um
movimento de cabeça.
— Mas como vamos fazer um assalto sem arma? — perguntou Sienna,
confusa.
— Iremos inovar. — Dei de ombros.
— Eu tenho uma ideia! — Drake se inclinou no banco, chamando
nossa atenção. — Vamos comprar uma caixa de camisinhas!
Ninguém disse nada, apenas o encararam em silêncio.
— E o que vamos fazer com isso? — perguntou Madison com cuidado.
— Quando eu era adolescente comprei uma caixa de camisinha e enchi
de água para jogar no meu primo — contou Drake.
— Meu Deus, eu já fiz isso também! Genial, Drake — Amber o
elogiou.
— Genial — concordei, dobrando a esquina. — A próxima parada é na
farmácia.
— Vocês ficaram loucos? — Johnny se virou de novo para olhar os
bancos de trás. — Querem invadir a casa do cara no meio da noite com essa
coisa na cabeça e jogar balões de água nele? O que é isso? Estão na quinta-
série?
Revirei os olhos e se fez um silêncio no carro pelo sermão.
— Não são balões de água — revidei. — São camisinhas.
Johnny tentou passar a mão no cabelo, só que não deu certo por conta
do gorro, o que o deixou ainda mais irritado. Quis rir, porém não achei que
era o melhor momento.
— Ah, eu quase esqueci! Achei umas calcinhas também. — Amber
puxou da bolsa dela algumas peças.
— Pegamos das meninas da fraternidade — avisou Madison. — No
entanto, não sei se estão todas limpas.
— Que horror — Taylor torceu o nariz em nojo.
— Era o que tinha. — Amber deu de ombros.
— Chegamos! — avisei, estacionando o carro na farmácia e assim que
parei eles tiraram os gorros da cabeça e saíram empolgados da minivan.
Fui atrás dos loucos e logo que entrei na farmácia vi que algumas
pessoas nos olharam assustadas. Não entendi o motivo até notar que Sienna
e Amber tinham esquecido de tirar o disfarce da cabeça, estavam parecendo
duas assaltantes. A atendente era uma mulher de meia idade séria e
arregalou os olhos no instante em que nos viu.
— Estamos indo pra uma festa à fantasia! — Abri os braços para
acalmar todo mundo.
Algumas pessoas suspiraram aliviadas, enquanto outras continuaram a
nos encarar com desconfiança. Johnny se apressou a tirar o tecido da cabeça
das meninas.
— Tem certeza que não querem usar as calcinhas? — Amber chegou
do meu lado, já sem o gorro, estendendo as calcinhas.
Talvez a intenção dela fosse ser discreta e falar baixo. Mas Amber não
sabia ser discreta e muito menos falar baixo. Vários olhos se viraram na
nossa direção e eu forcei um sorriso para a loira.
— Não é necessário.
— Você tem certeza? Assim não nos confundem com bandidos — ela
insistiu, me mostrando a variedade de calcinhas na sua bolsa.
— Muito obrigado, Amber, prefiro ficar com outro mesmo.
Ela deu de ombros e Drake seguiu com a caixa de camisinhas até a
atendente. A mulher olhou para nós, para as calcinhas na mão da Amber e
para as camisinhas com uma expressão de horror profunda.
— Não é isso que a senhora está pensando — Johnny se apressou a
explicar.
— Deveríamos levar curativo também — aconselhou Taylor, chegando
por trás. — Caso alguém se machuque.
Oh maravilha! Um casal que estava com duas crianças saiu de fininho,
tentando ficar o mais distante possível de nós.
— Precisamos de algemas também — Scar disse e apontou para a loja
do outro lado da rua. — Tem um sex shop ali, vamos comprar. — Ela saiu,
puxando Sienna com ela.
A atendente estava horrorizada, podia ler os seus pensamentos. Me
inclinei no balcão, tentando melhorar a nossa situação.
— Nós não estamos indo pra uma suruba — avisei sério e ela abriu a
boca em choque.
— Colin, eu acho melhor você ficar calado — aconselhou Johnny.
— Achei uma arma! — Madison gritou empolgada e viramos para ela
em susto.
Corri na direção do meu gnomo, com medo de ela se machucar.
— O quê? — Johnny caminhou depressa até ela.
— Meu Deus — Tyler comentou para a atendente em elogio. — Essa
farmácia está de parabéns, tem de tudo mesmo!
Peguei o objeto da mão dela e suspirei aliviado. Era uma arma de
brinquedo que atirava água. Muito provavelmente era das crianças que
saíram praticamente correndo com os pais.
— Olha, você acabou de me dar um susto. — Passei a mão pelo
cabelo, frustrado e a pequena riu.
— Você achou mesmo que eu ia pegar em uma arma de verdade? —
perguntou, balançando a cabeça em negação para mim e estava tão linda
com os cachos levemente bagunçados, que a abracei.
— Claro que não, você só pega na minha arma — murmurei baixinho e
ela me beliscou na barriga.
— Pronto! — Drake se virou para nós com a sua caixa de camisinhas.
— Podemos ir.
— Cadê as meninas? — Amber procurou por Scar e Sienna, olhando
para a loja do outro lado da rua, porém não as encontrou.
Andamos um pouco, tentando achá-las. Começamos a ligar para elas
quando passamos por duas ruas e não encontramos nada.
— Você viu pra qual direção elas foram? — perguntei a Taylor.
— Não. — Ele balançou a cabeça negativamente.
— E se tiver acontecido alguma coisa? — perguntou Drake, nervoso.
Olhei em volta das ruas, preocupado e paralisei no lugar quando
finalmente enxerguei as duas bêbadas. Não era possível...
Lá estavam elas. Sienna e Scarlett do outro lado da rua, sentadas
tranquilamente em uma mesa, comendo um McLanche Feliz e acenando
alegremente para nós.
Ficamos alguns minutos parados apenas olhando para elas, talvez sem
reação. Até que as duas resolveram vir até nós.
— Compramos pra vocês também! — Sienna estendeu o pacote para
Drake, que o recebeu sem conseguir dizer nada.
— Nós temos que invadir uma casa — lembrei-as com calma e Scar
revirou os olhos.
— Eu sei, não esquecemos das algemas. — A morena estendeu uma
algema felpuda e cor de rosa para mim.
— Bem ameaçador — debochou Tyler, rindo.
— Eu gostei. — Madison pegou a algema. — É fofo.
— Ótimo — chamei todos. — Vamos logo acabar com isso.
Segurei a mão da minha pequena e voltamos para a minivan,
determinados.
Não era bom perder o foco.

— Me dê a sua mão — pediu Amber para Drake.


— Pra quê? — perguntou ele.
— Pra eu subir na janela. — Ela apontou para a janela aberta da casa
da fraternidade em que Charles Moore morava.
Era também a mesma do namorado da Sienna e por incrível que
parecesse, ela não tinha a chave da casa.
— Você tem certeza que sabe qual é o quarto dele? — Scar perguntou a
Taylor.
— Absoluta — confirmou convicto.
Drake juntou as mãos para Amber e ela tentou subir na janela, mas
Johnny a pegou pela cintura, colocando sua namorada de volta no chão.
— Vamos nos acalmar — ele pediu a ela. — Primeiro de tudo,
ninguém aqui vai falar um “ai”! Vamos ficar em silêncio.
Acenamos positivamente em silêncio para o capitão. Pressionei os
lábios, tentando conter o riso. Não conseguia levar o cara a sério quando ele
usava um gorro furado na cara. Me obrigaram a vestir o meu, porém nada
se comparava a ver Johnny Jackson todo sério e carrancudo usando um.
— Vamos tentar entrar pelas portas dos fundos — disse Johnny,
seguindo para trás da casa, entretanto Amber o puxou pelo braço.
— Amor, eu sei tudo sobre assaltos — explicou ela. — Sempre assisti
os canais na televisão. O pessoal sempre entra pela janela.
Concordamos como se aquilo fizesse sentido e o capitão suspirou,
juntando as mãos para ela subir na janela, condenado a fazer tudo o que a
loira pedia. Ela sorriu alegremente para ele e foi a primeira a subir.
Drake deu a mão para Sienna e Scar entrarem logo em seguida e eu
coloquei a minha pequena para cima. Como ela era baixinha tive que a
levantar até o limite. Entrei na casa escura e Taylor foi me passando as duas
camisinhas cheias de água.
Não sabia o que diabos iríamos fazer com aquilo, no entanto Amber
insistiu para trazer por precaução. Assim que entrei entreguei os balões d
´água para a loira e segurei a mão da Madison, a puxando para trás de mim
em proteção. Não era possível ver quase nada ali, os caras daquela
fraternidade não eram normais. Quem não deixava uma única luz acesa?
— Todos aqui? — sussurrou Johnny em comando, olhando para cada
um.
Amber ia abrindo a boca para responder quando corremos para
impedir. Sienna colocou depressa a mão na boca da amiga.
— Querida, você não sabe sussurrar — Sienna explicou baixinho e
Amber acenou positivamente.
— Vamos subir — mandou Johnny, andando devagar pelas escadas,
quase com medo de ouvir a madeira ranger.
Estava tudo em um silêncio assombroso. Andamos na ponta do pé e do
nada a porta da frente da sala se abriu, revelando a silhueta assustadora de
um homem parado na entrada. A mão da Madison estremeceu na minha.
Scar apontou a arma de brinquedo para o homem e Sienna soltou um
grito em susto. Drake se apressou em tampar a boca dela com cuidado, para
abafar o som. Taylor colocou a mão no peito quase tendo um infarto.
— Ei, gente, sou eu! — Tyler caminhou na nossa direção, se
revelando. — A porta estava aberta!
— Seu idiota! — rugiu Taylor na direção dele. — Você quase me
matou de susto.
Senti a tensão do momento ir embora e soltamos um suspiro coletivo
de alívio. Abracei Madison e ela enterrou o rosto no meu peito.
— O que foi? — perguntou Tyler sem entender, fechando a porta atrás
de si.
— Ora “o que foi”? — brigou Taylor. — Como é que entra assim
matando todo mundo de susto?
— Parem de falar! — sussurrou Johnny para os gêmeos. — Vão
acordar eles.
No mesmo instante ouvimos alguém abrindo alguma porta no andar de
cima. Nos agachamos no chão de uma vez. A pessoa falou alguma coisa e
logo em seguida fechou a porta de novamente.
— Silêncio! — ordenou Johnny, olhando feio para nós.
— Cara, tá difícil te levar a sério com essa coisa na cara — Drake
avisou e Johnny deu o dedo do meio para ele.
— Vamos — chamei, subindo as escadas na frente. Quando chegamos
no corredor dos quartos me virei para Taylor. — Qual é o quarto dele?
Eles vieram na ponta dos pés, em completo silêncio. Taylor olhou para
os quartos e pareceu indeciso entre duas portas.
— Essa aqui. — Apontou para a direita.
— Tem certeza? — perguntou Madison a ele.
— Tenho — disse com convicção.
Scar testou a maçaneta, a encontrando aberta e entrou no quarto com
tudo. Sienna, Amber e Madison a seguiram, nos deixando para trás e
tomando controle da situação.
— Mãos pra cima! — Amber mandou, erguendo as camisinhas cheias
de água.
O cara, que estava dormindo, sentou na cama em um susto,
completamente aterrorizado.
— Seu filho da puta! — xingou Sienna e até eu fiquei assustado com o
linguajar da bailarina.
Johnny se apressou em fechar a porta do quarto quando todo mundo
entrou. Ele ligou a luz e... bem, era o quarto errado. Aquele não era Charles
Moore, não sabia quem era o pobre coitado. Ele apenas olhava perdido para
cada um de nós.
— Você deveria ter vergonha do que fez. — Amber balançou a cabeça
para ele. — Transar com o nosso amigo e gravar um vídeo sem ele saber?
Quem faz isso?
É, pelo jeito Amber não sabia quem era Charles. Ou ela era míope. O
rosto do rapaz se iluminou assim que ela falou a última parte.
— Meu Deus — ele implorou, vendo a arma de brinquedo na mão da
Scar. — Eu juro que gravei com o consentimento dele!
Amber se virou para Taylor em busca de orientação, mas nosso amigo
apenas balançou a cabeça negativamente para ela, tentando avisar que
aquele não era Charles. Contudo, talvez ela apenas tenha entendido que não
foi com o seu consentimento.
— Não mostrei o vídeo pra ninguém — o rapaz continuou a falar. — E
nem sei porque ele está tão preocupado se fui eu a parte mais prejudicada.
— A parte mais prejudicada? — debochou Amber, revoltada.
— Amber... — Sienna tentou chamá-la.
— Claro que sim! — o cara argumentou. — Foi o meu rosto que
apareceu! E não fale como se ele não tivesse gostado também.
Amber ficou vermelha e ela se virou para Taylor novamente para
confirmar.
— Eu acho que ele gostou... — ela comentou em tom de dúvida,
esperando uma confirmação da parte de Taylor, que nesse momento cobriu
o rosto com as mãos, horrorizado com a situação.
— Eu garanto que ele gostou! — disse o outro, emburrado. — O vídeo
mesmo prova isso! E eu que deveria ficar com raiva por ele espalhar essa
história pra todo mundo.
— Espere um minuto — pediu Johnny, entrando no meio deles para
acabar com a confusão. — Eu acho que houve um mal-entendido aqui.
— Eu também — disse Amber, convicta. — Você está se achando na
razão só porque o fez gozar? Isso é o mínimo.
Madison enterrou o rosto no meu peito, morta de vergonha. E vi os
queixos de todos caírem em choque com o rumo da conversa.
— O mínimo? — O cara sentado na cama ficou zangado. — Você sabe
quanto tempo demorou?
— Pelo amor de Deus — Taylor entrou na conversa, querendo sumir.
— Me deixe explicar...
— Não, Taylor — Amber o interrompeu, alisando o seu braço em
conforto. — Você não deve explicações a ele. Cada um tem o seu próprio
tempo, uns demoram mais que outros e ele precisa entender isso.
— Quem diabos é esse cara? — perguntou franzindo o cenho, confuso.
— E o que ele tem a ver com o meu boquete?
Meu Deus, que baixaria.
— Nada! — Taylor se apressou a esclarecer.
— Ainda desfaz de você — Amber deu um passo para trás, enojada. —
Depois de conhece-lo tão intimamente.
— Amber, entramos no quarto errado — falei de uma vez por todas
para ela. — Esse não é o cara.
A loira piscou debilmente, processando a revelação. Ela se virou para o
rapaz, que ainda estava sentado na sua cama esperando uma explicação, e
ficou toda vermelha. Não de vergonha, eu a conhecia tempo suficiente para
saber que estava prendendo o riso.
— O que é isso? — perguntou a vítima, vendo Amber ficar toda
inchada.
Johnny entendeu que ela estava prestes a gargalhar e a pegou pela
cintura, a fazendo derrubar as camisinhas no chão do quarto, tampando a
sua boca com a mão para abafar o riso.
— Desculpe por isso — pediu Drake, abrindo a porta do quarto e
deixando Johnny passar com Amber para o corredor.
— Não sabemos nada sobre o seu boquete — contei para tranquilizá-lo
e peguei a mão da minha garota para sairmos.
— Não saia desse quarto — mandou Scar, apontando a arma de
brinquedo para ele. — E você nunca nos viu aqui.
Ela fechou a porta do quarto na cara dele logo que saímos. Suspiramos
em silêncio e Amber tentou, com tudo de si, controlar o riso. Assim que ela
olhou para mim, eu caí na risada também.
Enterrei o rosto no pescoço do meu gnomo, que estava morta de
vergonha.
— Meu Deus, que situação — Madison murmurou baixinho, em tom
divertido.
— Afinal, onde é o quarto do cara do nude? O certo — Tyler
perguntou com as mãos na cintura.
Taylor ainda estava tentando recuperar o fôlego, ele apontou para o
outro quarto e estreitamos os olhos na sua direção.
— Tem certeza? — perguntou Drake uma última vez.
— Agora sim.
Drake abriu a porta do outro quarto com tudo, novamente. E mais uma
vez uma pessoa se sentou na cama em susto ao nos ver entrar e nos trancar
com ele ali dentro. Dessa vez ligamos a luz primeiro e sim, aquele era o
merdinha do Charles Moore.
— É ele? — Amber perguntou para nós e confirmamos com um aceno.
— Mãos pra cima! — mandou, repetindo a sua encenação anterior.
Charles olhou para nós e por mais que estivéssemos com aqueles
gorros ridículos, era óbvio que ele nos reconheceria. Ainda estava com os
hematomas que deixei no seu rosto e aquilo me deixava bem satisfeito.
Puxei Madison para trás de mim, não querendo que ela tivesse qualquer
contato com ele, quase me arrependendo de tê-la deixado vir junto.
— O que vocês querem aqui? — ele perguntou se levantando, mas
Johnny foi até ele e colocou a mão no seu ombro, o empurrando de volta
para a cama.
— O celular — foi tudo o que o capitão disse, em um tom autoritário
que ninguém ousava desobedecer.
Os gêmeos puxaram as meninas para trás dos seus corpos também, em
um gesto protetor, para o caso desse merda tentar alguma coisa.
Charles ergueu o queixo em afronta e Johnny inclinou a cabeça na
direção de Drake, sem desviar os olhos dele. O babaca mediu meu amigo
com o olhar, vendo com certo temor que Drake o quebraria no meio com a
facilidade com que se parte um palito de dente.
Charles engoliu em seco e pegou o celular em cima da sua
escrivaninha.
— O que vocês querem comigo? — Ergueu a sobrancelha para Johnny,
porém o capitão não respondeu, só jogou o celular para Tyler.
O nosso maconheiro da computação o pegou no ar e começou a mexer
no aparelho, procurando os vídeos. Assim que o filho da puta reconheceu
Taylor, ele entendeu tudo. Estreitou os olhos e deu um sorriso debochado na
direção do meu amigo.
— Você já foi chorar pros seus amigos? — zombou Charles.
Tinha um olhar de mágoa em Taylor, senti um aperto no peito por ele.
Era alguém sensível e era horrível vê-lo ser enganado e usado assim.
— Você ia se foder de um jeito ou de outro. — Taylor deu de ombros.
— Você não se garante sozinho, não é? — Charles continuou a
provocar.
Madison saiu de trás de mim e foi segurar a mão de Taylor, em
conforto. A energia dela era algo tão puro que pareceu acalmar meu amigo.
E o ambiente ruim daquele lugar. Me virei para Charles, erguendo a
sobrancelha em um aviso para ele calar a porra da boca.
Amber estremeceu, talvez com medo de que as coisas saíssem do
controle, só que nunca faríamos nada com elas ali.
— Eu ficaria quieto se fosse você — aconselhou Johnny, saindo de
perto dele.
— Vai ser assim — Taylor determinou sério. — Eu não vou participar
do jogo de amanhã, por que já menti pro treinador.
Era a semifinal do Frozen Four, porra! Olhei para Taylor, porém ele me
entregou um olhar resignado. Já tinha sustentado toda a mentira para o
treinador sobre o seu joelho, perderia a confiança dele se falasse a verdade.
Os olhos de Charles se iluminaram em satisfação por conseguir o que
queria e quis muito quebrar a cara dele. Era uma puta injustiça.
— Depois disso acabou — avisou Taylor. — Vou voltar pro gelo e
você vai mofar no banco.
Charles travou o maxilar em afronta, querendo dizer mais alguma
coisa. Ele tentou olhar para cada um de nós, parecendo querer identificar
todos ali presentes. Drake se colocou na frente de Sienna, pois sabia que
Charles a conhecia.
O pau no cu ousou encarar Madison por um segundo, mas logo desviou
quando estreitei os olhos em aviso.
— Tyler... — chamei, sem desviar o olhar do bosta.
— Só um minuto — respondeu o hacker, provavelmente demorando
para se livrar de tudo.
Charles reconheceu Scar. Percebi pela forma como seus olhos se
acenderam, ele a secou de cima a baixo com nítido interesse. Chegou a ser
nojento.
— Uau... — murmurou em aprovação e a garota tatuada se encostou na
parede tranquila, sem se abalar. — Eu já te imaginei nesse quarto mais de
uma vez, entretanto não foi desse jeito. — Charles torceu a boca quando viu
o olhar estranho de Taylor para ele. — Sou bi — esclareceu.
Taylor deu de ombros sem se importar. Scarlett tirou o gorro do rosto,
deixando o seu cabelo preto e liso livre, ela olhou para Charles de um jeito
calmo. O canto da sua boca se ergueu sutilmente em um sorriso, que não
acompanhava a sua expressão carregada de sarcasmo.
Seus olhos lilases o perfuravam em um alerta silencioso. Aquilo era
um sinal de perigo.
— Você tem medo deles, não é? — ela perguntou em tom manso,
quase como o de uma serpente antes de atacar a sua presa. — Está certo,
mas é bom ter cuidado comigo também.
Ela ficou o encarando fixamente por dez segundos e eu não só vi,
como senti Charles se arrepiar. Ele sentiu medo. E aquilo foi palpável no ar.
Estava carregado. Scar não desviou, o seu olhar calmo permaneceu e
somente aquilo foi suficiente para fazê-lo estremecer de leve.
Me aproximei de Madison e a puxei para mim. Estava completamente
arrependido de tê-la trazido, queria ela bem distante daquilo.
— Terminei. — Tyler jogou o celular dele na sua cama, o fazendo
suspirar aliviado.
— Boa sorte no jogo amanhã — desejou Drake em um tom de
deboche, avisando que iria dar muitos empurrões nele.
Charles não respondeu, apenas pegou o celular, provavelmente na
tentativa de conseguir recuperar alguma coisa. No entanto, não ficamos
para ver o desenrolar, Tyler nunca falhava nisso.
Saímos do seu quarto o deixando, com toda certeza, muito pensativo.
Seguimos para o carro e quando entramos na minivan ficamos um minuto
em silêncio, antes de todos começarem a gritar em comemoração de uma só
vez.
— Ai, meu Deus! Vocês viram a cara dele? — perguntou Amber,
animada.
— Quase se cagou. — Taylor se jogou no assento, satisfeito.
— Ele tremeu na base! — Sienna riu.
— Querida, me ensina a fazer aquilo? — Madison perguntou para Scar.
Scar começou a rir para ela.
— Um dia eu ensino — respondeu rindo.
— A gente deveria fazer isso mais vezes — Drake aconselhou e
Johnny revirou os olhos.
— Bom — chamei, olhando todos pelo retrovisor. — Qual a próxima
parada?
— Gente — falou Tyler, pensativo e o olhei em expectativa. — Eu
acho que podia ter deletado os vídeos de casa.
Ninguém disse nada.
— E você fala isso só agora? — ironizou Johnny.
— Eu só lembrei agora — se defendeu o hacker.
— Foi bem mais divertido ver ele quase se mijar. — Scar deu de
ombros.
— E outra... — Madison tirou do bolso do macacão as algemas rosas.
— Não usamos as algemas.
Minha mente pervertida projetou várias imagens dela com aquelas
algemas... Lhe lancei um olhar pelo retrovisor e quando meu gnomo o
encontrou, ficou docemente desconcertada. Era tão linda envergonhada.
Liguei o carro e o som do rap que estava tocando antes se projetou no
veículo. Eles começaram a cantar de novo e saí dali cantando pneu.
É, valeu a pena, mesmo que tenha sido a invasão mais desorganizada
que eu já vi na vida.
Colin Scott

Dou ou não uns empurrões em Charles Moore hoje?


Joguei a moeda para cima esperançoso, mas quando a peguei no ar deu
coroa. Suspirei e guardei ela no meu bolso odiando ter que ser sensato.
Ainda tinha que comprar uma nova corrente para ela, uma que
correspondesse ao meu novo status de pau mandado.
Doeu no coração ter que ir para Princeton jogar as semifinais sem ela,
porém Madison quis ficar acompanhando de casa dessa vez. Scar não podia
ir por conta do trabalho e a pequena não queria deixá-la sozinha.
Me encostei no elevador e esperei ele chegar até a cobertura. O prédio
era enorme, tinha um estilo moderno, só que também casava com o
clássico. Tudo parecia que era feito de ouro, cheirava a coisas caras,
poderosas e inacessíveis.
Assim como o seu dono.
No momento em que o elevador apitou, eu nem me surpreendi com o
tamanho do apartamento. Andei pela cobertura silenciosamente, vendo
como era essa nova casa dele.
Cameron Payne não gostava de ficar no mesmo lugar por muito tempo,
além de mudar constantemente de universidade também dormia em
apartamentos diferentes às vezes. Ele podia, claro, já que tinha milhares de
prédios espalhados pelo país.
— Colin Scott? — perguntou uma voz feminina atrás de mim e me
virei para ver uma mulher de meia idade que parecia trabalhar ali.
— Sim — confirmei e a mulher olhou para o relógio na parede da sala.
— Ele vai sair do quarto daqui a dois minutos — avisou, apontando
para o quarto no fim do corredor.
— Obrigado — agradeci e sorri com o quanto o cara conseguia ser
metódico com disciplina.
Caminhei em direção ao quarto de porta enorme e passado os exatos
dois minutos a porta se abriu, revelando o bilionário. Cameron estava com
um short preto de academia, uma camiseta sem manga da mesma cor, que
preenchia toda a sua musculatura, e tênis de corrida, pronto para treinar.
Ele fechou a porta atrás de si e passou a mão no seu cabelo loiro curto,
erguendo os olhos muito azuis para mim em ironia.
— Você demorou pra vir — disse, passando por mim e dando um
tapinha nas minhas costas.
— Esse é o seu jeito de dizer que sentiu a minha falta? — zombei e
fomos até a academia que tinha dentro da sua cobertura.
— Esse é o meu jeito de achar que você viria encher o saco antes —
respondeu, indo pegar uma corda.
Fui para a esteira querendo correr um pouco. Eu sabia que o louco iria
estar fazendo alguma atividade física, por isso já vim de calça moletom e
tênis, preparado para me aquecer antes do jogo. Cameron foi para a área
mais livre ao meu lado e começou a pular corda.
Não de um jeito normal, como alguém que passou a noite fodendo,
mas rápido, tão rápido que eu quase não conseguia ver a corda passando
pelo seu corpo ou ele erguendo as pontas dos pés.
— Um dia você vai infartar — comentei, aumentando a velocidade da
esteira.
— Todos nós — debochou. — Seu pessoal se preparou pra perder
hoje?
Ri sarcasticamente. Cameron era o capitão do time de hóquei da
Universidade de Princeton, e eu sei que não era legal confraternizar com o
inimigo antes do jogo, só que bem... sabíamos separar as coisas.
— É bom você começar a aprender a perder. — Aumentei a velocidade
da esteira, sentindo meus músculos tencionarem de um jeito bom. — Nós
vamos pras finais.
Cameron pulou mais depressa. Ouvi a corda bater rapidamente no
chão, e assim começou a nossa disputa silenciosa de quem aguentava mais.
Meu corpo já estava no ápice da adrenalina e se não fôssemos atletas já
teríamos caído mortos.
Podia ficar no ritmo que estava correndo até o dia seguinte, porém o
filho da puta aumentava a velocidade da corda e isso me obrigava a ir mais
rápido na esteira. Eu aprendi a gostar de adrenalina com Cameron, nossa
“brincadeira” nada saudável, quando éramos mais novos, era disputar esses
ritmos insanos.
Ele sempre ganhava, óbvio. Eu apenas curtia a adrenalina, já o loiro
precisava explodir a energia até não aguentar mais. Ele praticava todos os
tipos de esportes possíveis, quanto mais violento, mais chamava a sua
atenção.
Olhei-o de lado assim que senti que meu corpo já não aguentava mais.
Cameron me olhou de volta, com um meio sorriso irônico de quem sabia
que eu iria entregar em breve.
Fui mais rápido só para não dar o braço a torcer e ele me acompanhou,
batendo a corda tão depressa que o som ecoou pela academia. Apertei no
botão da esteira respirando com calma e parando.
Me segurei nas laterais até recuperar o fôlego.
— Você está melhorando — elogiou o babaca, parando de pular corda
como se não tivesse feito nenhum esforço. — Quase me cansei dessa vez.
— Vá à merda. — Ergui o dedo do meio para ele e fui me encostar na
parede.
Sentei no chão, esticando as pernas para evitar câimbra. A sensação era
boa, uma energia eletrizante, como quem poderia voltar a correr naquele
momento. Talvez essa fosse a real loucura dos atletas, se testarem.
— Aqui. — Cameron chutou meu pé e me entregou uma garrafinha de
água.
Tomei da mão dele e o loiro veio sentar na minha frente, se encostando
na esteira e esticando as pernas também. Cameron estava suado, mas não
ofegante.
— O que aconteceu? — perguntou do nada e olhei para ele sem
entender.
Cameron inclinou a cabeça na direção do meu peito, onde ficava minha
corrente. Virei a garrafinha de água em cima da minha cabeça para refrescar
um pouco, já me sentindo zerado novamente.
— Não consegui. — Dei de ombros, me encostando na parede outra
vez e Cameron estreitou os olhos, desconfiado. — Eu me apaixonei —
contei de uma vez e o bilionário ergueu os olhos azuis sutilmente.
Estava surpreso, por mais que a sua expressão permanecesse
inalterada. Suspirei e apertei a minha nuca, onde costumava sentir a minha
corrente prata.
— Não consegui controlar — expliquei. — Achei que no instante em
que eu sentisse chegar pudesse dar um passo pra trás e fugir... só que na
verdade eu só quis ficar mais perto, cada vez mais e quando menos percebi
já não tinha como voltar.
Cameron ficou um minuto em silêncio, absorvendo aquilo.
— Sem medos, então? — perguntou, sabendo bem o que a corrente
significava para mim.
— Eu sei que ela pode me machucar, mesmo sem querer — confessei,
sentindo um aperto no peito. — Porém liguei o foda-se, a quero pra mim,
não importa se isso for me quebrar depois.
Notei o choque passar pelos seus olhos ao me ver daquele jeito. Ele
assentiu e logo que me encarou por um momento, já sabia qual era o
assunto que iria tocar.
— Você se entendeu com ela? — perguntou. — Com a sua mãe.
Fechei os olhos, ainda sentindo aquele peso no peito. Eu a amava, só
não tínhamos a mesma relação de antes. Talvez nunca conseguíssemos
voltar para o que já fomos.
— Ela me deu parabéns no meu aniversário, mas ainda quero um
pouco mais de tempo — disse. — Preciso de um pouco mais de tempo.
Cameron suspirou em entendimento.
— É Colin... — Estalou a língua em zoação. — Você está fodido.
Ele ergueu a ponta da sua camiseta para limpar o suor da testa. Isso fez
com que a sua tatuagem aparecesse. Era uma mão feminina, dedilhando um
piano e fazendo as notas subirem até chegarem perto do seu coração.
— Cuidado — Cameron aconselhou, se encostando mais
relaxadamente na esteira e soltando a camiseta. — Tente não ficar
obcecado. — Ele piscou com um sorriso cínico.
Estreitei os olhos na direção de onde ficava a tatuagem. Respirei fundo
e finalmente resolvi fazer a pergunta proibida.
— Quem é ela, Cameron?
Ele paralisou no lugar e todo o ar de deboche que ostentava foi
embora. O bilionário se virou para mim com a sobrancelha levantada,
surpreendido com a ousadia. Sustentei o olhar, pois sabia que ele tinha
capacidade de colocar medo em qualquer um, entretanto não conseguia
fazer isso comigo.
Ficamos nos encarando até Cameron desviar e olhar para a parede de
vidro que tinha na academia. A vista era incrível, dava uma visão
privilegiada do céu.
Ele ficou apenas olhando para ela durante um tempo e pensei que não
fosse me responder.
— Eu não sei — falou.
— Como...
— Não fique obcecado, Colin — me interrompeu firme, com o maxilar
travado. — Não fique pensando nela ou no cheiro que deixou em você
quando foi embora. Não fique tentando lembrar do som da sua voz. Não a
torne um vício. Não tente procurar aquela sensação em outras pessoas, não
vai encontrar. — Ele fechou os olhos com força. — Não acorde todos os
seus malditos dias pensando em como seria se pudesse tocá-la. E não seja
idiota ao ponto de procura-la só pra vê-la mais uma vez, mesmo sem ter a
menor garantia de que ela se lembre de você.
Fiquei parado, o encarando. Era tão estranho ouvir esse tipo de coisa
vindo dele que passei a enxergar Cameron com outros olhos ali. Era
estranho até mesmo saber que existia uma pessoa nesse mundo com quem
ele se importasse.
Queria fazer mil perguntas, no entanto sabia que nenhuma seria
respondida.
— Eu já estou obcecado — confessei.
Desde que a vi pela primeira vez.
Cameron abriu os olhos e me encarou com a sua típica expressão de
cinismo, erguendo o canto da boca em um sorriso.
— Você está tão fodido. — Ele se levantou e foi colocar as suas luvas
de boxe. — Eu espero mesmo que você não a perca, Colin — desejou antes
de começar a socar o saco da academia com movimentos calculados.
Não iria. Era minha e eu daria, todos os dias, motivos para ela ficar.
Observei o bilionário bater no saco cada vez mais forte, com raiva. Me
encostei na parede e suspirei, sem tirar os olhos da cena à minha frente.
Quem é ela, Cameron?

Madison Jensen

Eles ainda não tinham chocado.


Observei a futura mamãe se acomodar direito no seu ninho, aquecendo
os ovinhos. Era tão fofa que dava vontade de tocá-la, mas sabia que isso só
a assustaria. Fiquei olhando o ninho de longe, sem me atrever a chegar
perto ou fazer barulho para assustá-la.
Desci do telhado da minha casa e passei pelos homens que estavam
trabalhando nos ajustes da nossa madeira “estragada”, como gostavam de
dizer. No começo alguns ficaram com raiva de mim por não deixar mexer
no teto, porém logo que dei um sorriso cheio de covinhas para eles e ofereci
brownie se derreteram.
Acenei para o empreiteiro e voltei para casa. Assim que entrei
encontrei Scar na sala tirando os sapatos dos pés, parecia cansada. Exausta.
— Qual foi o último dia em que você dormiu? — perguntei, fechando
a porta atrás de mim.
Ela pensou enquanto se jogava no sofá. Scar suspirou de alívio por
esticar as pernas e me sentei ao seu lado, para alisar o seu cabelo.
— Eu não me lembro... — murmurou, fechando os olhos e respirando
fundo ao sentir meus dedos deslizarem pelo seu cabelo.
— Bom que hoje vamos ser só nós duas — brinquei, me inclinando
para beijar a sua testa. — E eu não vou te obrigar a sair comigo.
Ela sorriu suavemente, ainda com os olhos fechados. Talvez estivesse
pensando em dormir ali mesmo.
— Perfeito — sussurrou e fiquei olhando para ela.
Era tão bonita que chegava a causar um certo impacto quando vista de
perto. Deslizei o meu dedo pelo seu nariz perfeito e ela sorriu, achando
graça do toque.
— Tentando saber se eu fiz uma rinoplastia? — brincou e abriu os
olhos.
Ali estava. Aquele tom lilás brilhante. Não importava a explicação que
eu recebesse, sempre acharia a cor dos seus olhos mágica.
— Estava pensando no quanto você é bonita — contei e ela se
derreteu.
— Você é perfeita, querida. — Ela apertou o meu nariz de brincadeira.
— Agora me conte o que está rolando entre você e o nosso maluco.
Suspirei, já sentindo a falta do cheiro dele. Encostei as costas no sofá e
Scar colocou a cabeça no meu colo, para que eu continuasse a fazer carinho
no seu cabelo.
— Eu... — comecei com certa vergonha, sem saber como dizer aquilo.
— Eu dormi com ele.
Ela ergueu a sobrancelha, me dizendo para continuar, mas pela sua cara
estava se contendo para não gritar de empolgação.
— Acho que ele gosta de mim. — Dei de ombros. — Eu estou
gostando dele. E sei que Colin é impulsivo, amanhã pode mudar de ideia...
— Ah, meu bem — ela me interrompeu. — Ele é louco por você. Sabia
que ganhei uma grana extra só pra acompanhar ele naquele dia do cinema?
— contou e meu queixo foi para o chão.
Belisquei o seu braço e ela riu.
— Não brigue comigo — se defendeu. — Sabia que uma hora vocês
iam acabar se pegando.
— Não acredito que ele atrapalhou meu encontro de propósito. —
Balancei a cabeça, mesmo que no fundo já soubesse disso.
— Ele sempre quis você, querida. — Piscou para mim. — A única
pessoa que não sabia disso era você.
— Pelo jeito... — Ri de mim mesma.
Scar bocejou e eu continuei a fazer carinho no seu cabelo.
— Você vai dormir daqui a pouco — pontuei e ela negou, porém
bocejou novamente, fechando os olhos cansados.
— Música — ela sussurrou pegando o celular e colocando uma música
clássica para tocar.
Scarlett às vezes dormia ouvindo sons mais suaves. Era um conjunto
bonito de instrumentos, todos tocando de um jeito harmônico.
— Te acordo pra ver o jogo? — perguntei.
— Acorda — pediu quase inconsciente, entretanto sabia que ela não
acordaria nunca.
Podia ver as manchas escuras debaixo dos seus olhos, estava morta. E
eu entendia bem essa sensação, já passei por ela antes. Scar não falava
abertamente, contudo, sabíamos que ela não tinha uma família para lhe
bancar, era bolsista assim como eu.
Quando a conheci tive aquele reconhecimento imediato. Uma pessoa
solitária sabe enxergar outra. Nós nos identificamos. Tem aquela dor
silenciosa, aquele olhar de quem pede para ser amada e aceita.
E nós fomos.
— Você sente? — ela perguntou se referindo à música.
O som se alastrou pela sala silenciosa. Era tão suave que realmente
dava uma sensação de calmaria, um momento de paz. Era apenas piano e
violino, pelo que eu podia perceber, mas conseguia deixar tudo perfeito
quando tocado em harmonia.
— Sinto — disse, continuando a passar os dedos pelo seu cabelo liso e
grosso.
Scar fechou os olhos em um suspiro e pegou a minha mão, a abrindo
para dedilhar sobre ela ao som da música. Adorava quando ela fazia isso.
Mostrava aceitação, pelas minhas cicatrizes, e também era como se ela
estivesse me dando um pedaço seu.
Era um momento nosso. Era nosso jeito de dizer que tínhamos
questões sobre o nosso passado que faziam quem éramos hoje.
Scar tocou a ponta do dedo na minha palma assim que a música se
deixou ir apenas pelo piano, ela dedilhou como se estivesse na frente do
instrumento produzindo o som. Um sorriso suave de satisfação se desenhou
no seu rosto, passando a emoção que sentia.
— É a sua forma de magia — constatei a observando.
— É o que você quiser que seja — ela completou, entrando na música.
Senti o seu corpo ceder ao sono. Scar tentou até o último segundo ficar
acordada para sentir a música, porém não aguentou. Em algum momento
senti ela parar de tocar na palma da minha mão e sua respiração se tornar
suave demais.
Tinha adormecido. Estava em outro lugar. Em um lugar bom, eu podia
sentir. Tinham dias que seus sonhos não eram tão tranquilos e aquilo
indicava pesadelos, que eu não sabia de onde vinham, ainda assim em
certos momentos ela conseguia transmitir paz no sono.
E me dava um certo alívio saber que ela tinha lugares bons para
retornar quando seu corpo desligava. Assim como Colin.
— Pra onde você vai quando sonha? — sussurrei, não querendo
acordá-la.
Alisei uma última vez o seu cabelo e tirei a sua cabeça de cima do meu
colo com cuidado. Recolhi os seus sapatos jogados na sala e fui pegar a
bolsa dela para levar ao seu quarto. No entanto, assim que puxei a bolsa de
cima do sofá, ela se abriu e deixou cair um caderno.
Estava aberto em uma página, como se ela estivesse escrevendo nele
antes de o colocar dentro da bolsa. Minha intenção não era ler, entretanto
meus olhos passaram involuntariamente pelas primeiras palavras da página
e quando percebi consumi tudo.

“Se você encontrasse um gênio e ele te concedesse três pedidos, o que


pediria?
Eu sei, é uma perguntei estranha, mas foi a que um cara bêbado me fez
hoje no balcão do bar. Pensei que a primeira coisa que pediria seria
libertar o próprio gênio, me causa calafrios pensar nele preso tendo que
servir a alguém.
A segunda? Bem, dinheiro. Ele resolve a maioria dos problemas, não
é?
E a terceira... eu gostaria de voltar no tempo.
Voltaria para aquele dia, em específico. Voltaria para o momento em
que virei de costas e comecei a caminhar para longe de você. Eu teria
olhado para trás. Me faltou coragem na hora, e quando eu olhei você não
estava mais lá.
E então eu não tinha nada.
Eu tinha o seu cheiro, tinha a sua voz, o toque, mas não o seu rosto. Eu
não sabia que isso iria me assombrar depois, não sabia que olharia para
todas as pessoas e pensaria que poderiam ser você.
Eu não sabia que sonhar com aquele momento se tornaria o meu
refúgio.
É patético, eu sei. E me desculpa por isso, mas eu te guardei em um
lugar especial e se não fosse por aquele momento, eu não teria nenhuma
lembrava boa e pura para guardar na memória. Obrigada por ter sido a
minha primeira.
E me desculpa por não saber a cor dos seus olhos. Qual seria a
sensação? De tê-los olhando diretamente para os meus?
Seria exatamente o meu terceiro pedido. Eu queria mudar de decisão,
no último segundo, olharia para trás e te encontraria me encarando. Sim,
eu senti os seus olhos me seguindo.
Eu os senti. E nunca fui tão cuidada e protegida na vida como naquele
instante em que você me observou. Você quis que eu ficasse, mas me deixou
ir. Sempre vou ser grata por isso.
Você chegou a pensar em mim de novo? Mesmo que eu fosse só uma
vaga memória?
Por favor, se algum dia você me ver na rua, acena para mim? Mesmo
que já tenham se passado anos. Mesmo que você esteja com outra pessoa
do seu lado. Acena para mim? Pode ser de longe, pode só inclinar a cabeça
de lado ou me olhar por um tempo, só o suficiente para eu saber que é
você.
Eu não atrapalharia sua vida, juro. Sorriria de volta, acenaria e
pronto.
Talvez ali acabasse. Talvez a gente nunca mais chegasse a se esbarrar
de novo e tudo bem. Eu só queria ver os seus olhos.
Guardaria o seu rosto na memória, no mesmo lugar em que te
conservei. Talvez eu caminhasse até você e dissesse que consegui. Eu fiz
amigos, demorou, mas consegui. Encontrei pessoas que me acolheram, eu
as amo e acho que sou amada por elas. Queria que você soubesse disso.
Por favor, pensa em mim, nem que seja muito raramente. Não me deixa
ser patética sozinha.
Me permita assombrar os seus sonhos também...”

Acabou. A página terminava naqueles três pontos e não ousei passar a


diante para saber o que tinha nas outras. Parecia ser um tipo de diário, ou
uma carta a alguém muito específico.
Fechei o caderno, o colocando dentro da bolsa e sentindo uma tristeza
me abater. Precisei sentar no sofá e olhar para a garota dormindo tranquila.
Respirei fundo sentindo um aperto estranho no peito. Quis abraçá-la e dizer
que a amava muito.
Senti uma lágrima deslizar pelo meu rosto e caminhei até Scar, me
agachando na altura do seu rosto e sussurrando para ela aquela mesma
maldição que me acompanhou até hoje:
— O que respira o mesmo ar está fadado a se encontrar.
Eu sempre carreguei aquela frase comigo e ela nunca fez tanto sentido
como naquele momento. Talvez eu a estivesse guardando durante todos
esses anos apenas para poder dizê-la ali.
Beijei suavemente a sua testa e suspirei.
— Todos nós atormentamos os sonhos de alguém — falei baixinho
aquilo que sempre acreditei. — Somos os sonhos de alguém, mesmo sem
saber.
Colin Scott

Lições aprendidas do dia: Não irrite seu adversário antes do jogo.


Cameron estava mais agressivo que o normal, e sabia que isso era porque
eu tinha cutucado a porra da ferida dele.
O babaca estava comprando briga de graça. Nada de novo, claro, mas
dessa vez ele estava mesmo descendo a porrada. O hóquei era ótimo para
qualquer um que quisesse liberar a agressividade, as regras do jogo
permitiam isso, e alguns jogadores usavam essa brecha para deixarem as
coisas mais violentas.
Exemplo disso era Drake, tinham jogos que ele só queria brigar e
quando isso acontecia a nossa vitória era certa.
— Você não podia ficar mais agressivo hoje? — joguei a ideia para
Drake e ele ergueu a sobrancelha.
— Está me pedindo pra quebrar a cara de alguém em específico? —
perguntou em deboche.
Dei de ombros.
— Se você quiser quebrar a cara do Charles pode ficar à vontade. —
Apontei para o merdinha sentado ao nosso lado, ele estava se achando por
estar no gelo.
Às vezes deslizava na frente do Taylor apenas de provocação,
parecendo uma criança de cinco anos mostrando um brinquedo novo para a
outra. Taylor estava puto, podia ver. Ficava no banco apenas batendo o pé
de um jeito impaciente, muito provavelmente torcendo para que Charles
levasse um empurrão violento.
Para nossa infelicidade, Cameron ainda não tinha esbarrado com ele.
Bebi minha água depressa vendo que o tempo já estava para acabar,
logo voltaríamos para o gelo. O lado bom era que estávamos ganhando de
2x1, o negócio era manter até terminar o jogo ou arriscar outro gol, porém
se eles empatassem... tudo fodia.
— Cuidado — alertou Taylor, sentando do meu lado. — Hoje ele não
está de brincadeira. — Inclinou a cabeça na direção de Cameron, que já
tinha pegado o seu taco para retornar ao gelo.
Meu amigo de infância era um jogador polêmico assim como eu.
Tínhamos isso em comum, a gente curtia debochar da cara dos adversários
e surpreender com jogadas perigosas. A diferença era que eu usava
estratégia e velocidade para isso, já Cameron utilizava força e violência.
Era aquele tipo de jogador que entrava no gelo pronto para provocar
todo mundo e torcia pelo caos. O típico jeitinho de psicopata.
— Não sendo eu... — Dei de ombros de brincadeira e Johnny me
lançou um olhar em repreensão.
— Eu disse pra você não ir atormentar ele antes do jogo — alfinetou o
capitão.
— Só batemos um papo. — Pisquei em provocação.
— Não sei o que você andou conversando com o cara — Drake deu
um tapinha nas minhas costas. —, entretanto peça desculpas logo.
Eu só perguntei sobre uma garota, se soubesse que isso levaria todos os
jogadores para o hospital tinha ficado quieto... mentira, eu teria perguntado
mesmo assim.
— Todo mundo vai sair vivo. — Me levantei e peguei o meu taco.
Fui para o rinque e esperei cada um ficar na sua posição. Olhei para a
arquibancada e me deu um certo vazio por saber que Madison não estava
ali. Recebi a sua mensagem me desejando um bom jogo, ela disse que
estaria acompanhando de casa e o conforto era saber que meu gnomo estava
me assistindo naquele momento.
Beijei a minha pulseira da sorte, que estava amarrada no meu pulso, e o
gesto não passou despercebido pelos jogadores, nem pelas meninas na
arquibancada. Sienna, Amber, Tyler e uma amiga de curso da Amber
estavam sentados perto do rinque e mantinham os olhos atentos na minha
direção.
Ajustei o meu capacete quando o juiz apitou, avisando que o disco
estava solto no gelo. O som mal ecoou pelo estádio e já começou a
adrenalina.
Todos os jogadores começaram a correr atrás do disco em tempo
recorde, uns esbarrando nos outros. Deslizei para o meio da confusão, mas
um jogador atacante do outro time já tinha pegado o disco. Ele saiu
correndo em direção ao nosso gol e segurei a respiração achando que ia dar
merda, no entanto Drake deu um empurrão tão forte nele, que o jogador foi
arremessado para o outro lado.
O disco ficou perdido no meio do gelo. Patinei depressa até ele, só que
o filho da puta o pegou mais rápido que eu.
Cameron Payne dominou o disco no taco com propriedade e parou no
lugar, me encarando com a sobrancelha erguida.
— E então? — incentivou o babaca, levantando o canto da boca em um
sorriso competitivo.
Olhei ao redor, vendo que os outros jogadores já vinham até nós e
tentei tomar a posse dele. Cameron me driblou depressa, de sacanagem, e
Drake logo surgiu do meu lado. Nosso jogador defensivo tentou empurrar
Cameron, só que o loiro deslizou com facilidade.
Outros jogadores foram tentar tomar o disco do bilionário. Um deles
foi Charles Moore, ele foi cheio de si até Cameron, me empurrando para
fora do caminho no processo e Drake foi tentar ajudar o merdinha.
Charles meteu a porra do taco na frente do Drake, impedindo a sua
passagem e foi para cima do Cameron. PORRA!
O cara era maluco?
Cameron deslizou para trás, surpreso com o ataque e Charles foi atrás
dele novamente. A tensão no gelo era grande, todos os jogadores pararam
no lugar, abismados com a ousadia. A qualquer momento a porrada seria
grande.
Johnny se aproximou de mim com um olhar aterrorizado, quase me
pedindo para fazer alguma coisa, contudo, dei de ombros. Ou Charles era
muito, mas muito burro, ou ele queria morrer.
Cameron apenas ergueu a sobrancelha para ele, o desafiando uma
última vez a ir para cima de novo. Charles foi. Fiz uma careta, já prevendo
a tragédia, e os jogadores foram um pouco para trás, já sabendo o que ia
acontecer. O movimento foi tão rápido, que só consegui acompanhar pois
estava prestando bastante atenção.
Cameron segurou o taco habilidosamente com uma só mão,
controlando a posse do disco. Ele esperou Charles vir na sua direção e
quando o idiota chegou perto, Cameron bateu o seu braço livre bem no
meio das pernas de Charles. O impacto foi forte para caralho. Tanto que o
corpo de Charles voou para cima, o fazendo cair com tudo de costas no
gelo.
O braço de Cameron pareceu um ferro acertando fortemente nas pernas
fracas do outro. Escutei o som do estalo e a galera da torcida gritou em
empolgação. Algumas garotas cobriram o rosto em horror para a violência e
enquanto todo mundo via Charles gemendo no chão, Cameron só
arremessou o disco em direção ao gol com força.
Meu pulso acelerou quando olhei para Peter, porém o nosso goleiro
não conseguiu pegar, passou por entre as suas pernas. Ele tinha ficado um
pouco desatento com o movimento.
— Puta merda! — xingou Peter, frustrado.
Eles empataram.
Olhei por cima do ombro para Johnny. Ele estava puto também.
— Quer morrer, porra?! — brigou Johnny chegando perto de Charles,
quase o chutando. — Morre! Mas não entrega o jogo junto!
Me coloquei na frente do capitão, tentando acalmar todo mundo que se
aglomerava ao redor.
— Ele quebrou minha perna! — choramingou Charles, torcendo o
rosto em dor.
O juiz apontou para Cameron, avisando que teria punição pelo
“excesso”. A equipe médica apareceu ao nosso redor, se agachando para
examiná-lo e o treinador estava a um passo de surtar. Olhei para o idiota se
contorcendo no gelo e não consegui me segurar.
— Tem merda na cabeça? — perguntei para Charles, só para
confirmar.
— Olha, como a pessoa pode ser tão idiota a esse ponto... — Drake
apenas balançou a cabeça em negação, sem sentir nem um pouco de pena.
— O quê? — perguntou Charles e se virou para nós, zangado. — Ele
estava com o disco, eu tinha que fazer alguma coisa.
Johnny apenas o encarou sem conseguir dizer nada. E eu também. Meu
Deus, qual era a dele? Esse cara não assistia aos nossos jogos? Só patinava
no gelo por diversão?
Peter perdeu a paciência e se agachou na altura do rosto dele.
— Primeira regra básica do hóquei. — Nosso goleiro estalou os dedos
na cara do babaca para ele prestar bem atenção. — Nunca compre briga
com aquele cara. — Peter inclinou a cabeça na direção de Cameron.
— Se perdermos esse jogo por sua causa, juro que eu mesmo te mando
pro hospital — prometeu Johnny, apontando o dedo na cara de Charles.
— Não quebrou nada — avisou o médico e ouvi o treinador suspirar
aliviado.
— Está com sorte hoje. — Pisquei para Charles tranquilo, no entanto
ele não prestou atenção na provocação.
— E o braço dele? Como não quebrou? — perguntou Charles e o
treinador suspirou profundamente. Ele apenas apontou para o banco,
avisando para Charles sair dali imediatamente.
O idiota foi levado na maca, olhando feio para algo atrás de mim. Me
virei e encontrei Cameron encostado relaxadamente no canto do rinque com
os braços cruzados, apenas esperando o jogo começar de novo, parecia
quase entediado. O loiro ergueu o canto da boca em zombaria e acenou para
Charles em despedida.
Não consegui evitar soltar uma risada. Era cômico ver Charles
emburrado, sendo levado como uma criança na maca e tentando lançar
olhares ameaçadores.
— Você está achando engraçado? — reclamou Johnny, aparecendo do
meu lado.
— Claro que não. — Fechei a cara na mesma hora. — É uma situação
terrível.
O capitão revirou os olhos.
— É o seguinte, tente com tudo de si mandar o disco pra mim —
avisou e ergui a sobrancelha para ele.
— Eu tenho uma ideia melhor... — sugeri e Johnny estreitou os olhos,
desconfiado. — Você confia em mim?
— Não — respondeu imediatamente.
— E é por isso que você é o capitão. Sempre sensato.
— Colin...
— Você pode ser rápido o quanto for, entretanto quando chegar no gol
eles vão te cercar e o disco não passará — avisei para ele. — Chegando
perto do gol, joga pra mim. Tenta tirar o disco do chão, que vou estar logo
atrás para pegar.
Johnny arregalou os olhos, surpreso.
— Acha que pega no ar?
Sorri para ele.
— Não vamos ser draftados na primeira rodada à toa, capitão. — Bati
nas suas costas, o empurrando para a sua posição.
Johnny saiu um pouco inseguro e eu sabia que era arriscado, mas a
graça das jogadas perigosas era essa. Podia dar certo ou muito errado.
O juiz tirou Cameron do jogo, por um tempo, como punição e
substituímos Charles por outro jogador defensivo. Assim que o apito soou a
loucura foi a mesma.
Eles tentaram várias vezes fazer gols para virarem o placar, porém
seguramos bem. Só depois de muitas tentativas consegui pegar no disco,
aproveitei a marcação falha e o joguei para Johnny.
Aquela emoção da plateia começou ao verem o astro com o disco, ele
voou no gelo e como toda a atenção estava voltada para o capitão do nosso
time, consegui ficar bem atrás, despercebido.
Como eu previ, cercaram Johnny bem na hora de arremessar. Já tinha
um jogador posicionado quase em frente ao gol justamente para prevenir
esse momento. Me preparei atrás deles, meio distante e levei a pulseira da
sorte do meu amor próxima da boca, até onde consegui, queria dar um
beijo, só que não dava por causa do capacete.
Johnny ergueu o disco no taco, o jogando para trás no ar. Todos os
torcedores acompanharam o movimento em susto, sem entenderem porque
o capitão estava arremessando para longe do gol.
Respirei fundo em concentração, sem me distrair. Vi o disco vindo com
tudo na minha direção e bati o taco estrategicamente nele, o jogando de
volta para a rede do gol, fazendo ele passar por cima do ombro do goleiro,
que olhou perdido para o lance.
Puta que pariu, entrou.
Entrou mesmo.
Entrou, cacete!
— CARALHO! — xingou Johnny, tirando o capacete da cabeça em
choque.
Os torcedores se levantaram em um só movimento, ouvi os gritos
enlouquecidos do pessoal dos dois times e os jogadores reservas
começaram a bater os tacos no chão em um sinal de respeito pelo lance.
— Porra! Você vai valer cada milhão que vão te pagar nos
profissionais. — Drake passou o braço pelos meus ombros, rindo.
— Pode tatuar meu nome na testa já — provoquei, recebendo um tapa
na nuca.
Tinha acabado de conseguir virar o jogo ao nosso favor mais uma vez,
em uma jogada foda. A plateia começou a gritar o meu nome e eu ergui o
taco para eles em comemoração, no entanto a minha cabeça estava só em
um lugar.
Será que ela viu?
Será que sentiu orgulho?
Será que não tem um dia da minha vida em que eu não queira estar
com ela?
Será que ela topa ser minha para sempre?
— Como se sente indo pras finais? — perguntei para Taylor ao sair do
estádio da Universidade de Princeton.
Conseguimos segurar o placar até o fim do jogo e ao que tudo
indicava, tínhamos grandes chances de ganhar o Frozen Four.
— Sinto como se não tivesse ajudado em nada disso — respondeu
cabisbaixo. — Só atrapalhei na verdade.
Parei no lugar e ele suspirou resignado.
— Não foi culpa sua — alertei pela última vez. — Sabe de quem é a
culpa? — Ergui a sobrancelha. — Da falta de camisinha dos pais dele.
Meu amigo me encarou por uns segundos antes de soltar uma risada e
voltar a caminhar na direção do pessoal.
— Prometo que no próximo jogo vou dar tudo de mim — murmurou.
— Nada mais de distrações desnecessárias.
— Se apegar a alguém não é distração desnecessária — avisei.
Taylor me olhou por cima do ombro, curioso.
— Quem diria... — provocou com um sorriso.
Dei de ombros sem me importar e segui de encontro ao pessoal que nos
esperava no estacionamento. Amber e Sienna queriam sair para comemorar,
todo mundo topou, e se fossem outros tempos eu iria na hora. Mas toda a
minha vontade era voltar correndo para casa e dormir abraçado com a
minha pequena.
— Vou voltar com o pessoal do time no ônibus — falei, me despedindo
deles e talvez meus amigos compreenderam que eu só estava com saudade
de uma certa ruiva, pois nem estranharam.
Passei pela multidão que se acumulava na saída do estádio e escutei de
longe uma voz, que eu conhecia bem, me chamar. Olhei para trás
encontrando Cameron caminhando calmamente na minha direção.
— Já vai? — perguntou parando, sem se aproximar muito.
— Já — confirmei, piscando para ele. — Não chore no banheiro à
noite, eu sempre volto.
Cameron revirou os olhos e pegou algo no seu bolso, ele jogou o
objeto para mim e peguei no ar com uma só mão.
Abri a palma e olhei sem acreditar para o que ele havia me dado. Uma
corrente de ouro, onde cabia perfeitamente uma moeda no seu pingente. Ele
talvez fosse uma das poucas pessoas que sabiam o que aquilo significava
para mim.
Era como se estivesse me dando uma nova chance, uma oportunidade
para que a minha história tivesse um fim diferente. Olhei para frente e o
encarei em silêncio por um momento.
— Ela está segura comigo — disse, apertando a corrente entre os
dedos. — Eu vou cuidar bem dela, se tornou a coisa mais preciosa na minha
vida.
Ele apenas piscou em entendimento, sabendo que eu não estava me
referindo ao colar. Cameron se virou para ir embora, e o observei se
distanciar.
— É a primeira vez? — perguntei, o fazendo parar no lugar e me olhar
por cima do ombro. — Que você demonstra afeto por alguém — expliquei
sorrindo e ele ergueu o canto da boca em divertimento.
— Não — negou como se estivesse tendo uma lembrança. — Teve
uma outra vez.
Ficamos nos encarando e eu sabia que não podia perguntar. Por isso
somente me despedi.
— Obrigado, irmão. — Apertei a corrente na mão.
Ele inclinou a cabeça em despedida e seguiu o seu caminho. Entrei no
ônibus, que logo iria sair, e sentei no banco ao lado da janela, olhando para
as pessoas passando ao meu lado.
O ônibus começou a andar e sair do estacionamento para pegar estrada.
Me encostei melhor no assento, suspirando ao sentir a poltrona acolchoada
nas minhas costas, coloquei minha mochila no chão e tirei dela um certo
cacho ruivo.
Alisei o cabelo cortado da pequena e enrolei um dedo na curva do
mesmo. Amava o jeito como eles se formavam, podia passar o dia vendo
ela colocá-los atrás da orelha, ou só passando a escova com delicadeza
depois de lavar. Nem sabia se Madison estava acordada ainda, mas tudo o
que eu queria era chegar em casa e abraça-la até que o seu corpo passasse a
fazer parte do meu.
Peguei meu celular para ver se ela tinha mandado alguma mensagem e
vi que mandou várias durante o jogo.
Meu amor: Esse jogo está violento, cuidado.
Meu amor: Acabei de ver que você levou um empurrão... doeu muito?
Meu amor: Espero que não tenha se machucado.
Meu amor: Acabei de ver o seu lance com o Johnny, estou tão
orgulhosa! Você foi perfeito!
Meu amor: Amber acabou de me contar que você que conseguiu os
lugares pra gente no último jogo! Eu amei ver tudo de perto.
Meu amor: Acabei passando a noite sozinha, Scar apagou assim que
chegou em casa.
Meu amor: Você vai demorar muito?
Sorri ao ler cada uma das mensagens e me perguntei o que tinha feito
para merecê-la. Se pudesse voaria até ela nesse momento, só para beijar
cada canto do seu rosto e sussurrar no seu ouvido o quanto era perfeita.
Digitei uma mensagem para ela.
Eu: Não vou demorar, já estou no ônibus.
Eu: Estou morrendo de saudade.
Ela viu na mesma hora e começou a digitar.
Meu amor: A gente se viu hoje de manhã.
Eu: Eu sei, não é um absurdo? Tempo demais.
Meu amor: Não demora, estou aqui fora te esperando. Estava
alinhando os chacras.
O que diabo era chacras?
Eu: Vou chegar daqui a pouco, pequena.
Me encostei no assento e tentei tirar um cochilo enquanto segurava o
cacho dela. Tempos depois já estávamos em Providence, no estádio da
universidade. Peguei o meu carro no estacionamento e fui para a casa.
Assim que cheguei entrei na sala ansioso, procurando por ela. Deixei
minha mochila em cima do sofá e fui para a área externa da piscina, vendo
Madison ali.
Parei no lugar ao ver a cena à minha frente. A ruiva estava sentada em
uma espreguiçadeira, com um caderno grande de desenho encostado nas
suas pernas, ela tinha um lápis na mão e estava rabiscando algo na folha,
um desenho. Parecia tão concentrada naquilo que nem me viu chegar.
Ela fazia o lápis passar com tanta suavidade pela folha que era como se
estivesse acariciando-a. Me encostei na parede da área sem querer
atrapalhá-la, poderia passar o dia vendo aquilo. No entanto, ela me sentiu.
Não viu, porém sentiu. Percebi o momento em que parou de desenhar e
suspirou profundamente, ela levou os olhos até mim e seu rosto se
iluminou. Sorriu, mostrando suas covinhas, e eu só consegui lhe dar um
sorriso calmo de volta.
Era engraçado quando você compreendia que amava alguém. O corpo
parecia se acalmar, em um estranho relaxamento de aceitação. Talvez tenha
sido amor desde o começo e só agora notei.
Olhei para ela e os seus olhos esmeralda brilhantes me fascinaram por
alguns segundos, me deixando cego para qualquer outra coisa no mundo.
Eu não a queria apenas por um tempo ou alguns meses, muito menos por
anos. Era para uma vida e talvez além disso.
— Você chegou cedo — comentou e fiquei a admirando.
— O ônibus saiu na hora — disse sem me mover e ela me deu um
sorriso suave.
Caminhei na sua direção como se estivesse sendo puxado por um imã.
Me agachei na sua frente em um gesto de rendição e ficamos com os rostos
na mesma altura. Madison me deu toda a sua atenção, curiosa para saber o
que eu estava fazendo.
Peguei aquela mãozinha na minha e a abri para mim, vendo as
cicatrizes e calos na sua palma. Alisei com extremo cuidado a região, as
pontas dos meus dedos tocaram cada uma das cicatrizes e a senti suspirar
perto do meu rosto. Uma eletricidade passando por nós.
— Você... — sussurrei sem conseguir tirar os olhos daquela mão. —
Só você.
Toquei na minha corrente de ouro nova, que estava no meu pescoço, e
abri o pingente para tirar a moeda. Coloquei o meu destino na sua palma.
Em todos os sentidos possíveis. Era o meu coração e eu estava entregando
para que ela fizesse o que quisesse com ele, até mesmo me machucar no
caminho. Era seu.
A moeda ficou perfeita ali, era como se tivesse sido criada apenas para
poder descansar naquela mão. Toquei a cicatriz mais grossa dela e beijei.
Com amor e carinho. Pedindo silenciosamente para ela aceitar o meu amor,
eu não estava pedindo nada em troca.
Quando ergui o olhar a vi com os olhos marejados, emocionada.
Madison tocou o meu rosto, alisando o maxilar, quase como se pedisse para
explicar o que significava, por mais que ela já soubesse.
— É seu. — Engoli em seco e ela fechou a mão, segurando a moeda
ali.
— Eu vou cuidar bem dela — prometeu com a voz embargada e a
olhei tranquilo, sabia disso. — É uma honra... — Uma lágrima desceu pelo
seu rosto e eu a limpei com o polegar. — E uma dualidade — disse. — Pra
ter cara, precisa ter coroa. — Ela virou a moeda na nossa frente, me
mostrando os dois lados. — Para ter um sim, precisa de um não. Para ter o
seu lado — Ela pegou a minha mão, colocando a moeda ali e depois
colocou a sua palma em cima da minha, fechando em uma concha. —,
precisa ter o meu também.
Assim que ela me olhou eu não consegui, sentei na espreguiçadeira e a
puxei para o meu colo. Madison me abraçou, enterrou o rosto no meu
pescoço e inspirou profundamente, sentindo o meu cheiro como eu sentia o
dela. Beijei o seu cabelo percebendo que estava segurando nos braços,
naquele momento, a pessoa mais preciosa do mundo. Era minha e eu iria
amá-la todos os dias, cuidar dela e fazê-la sorrir.
A afastei só o suficiente para podermos nos olharmos. Ainda tinham
lágrimas que desciam pelo seu rosto e eu as beijei com calma, tirei o meu
colar de ouro do meu pescoço e coloquei nela. Madison o recebeu de bom
grado e se ela iria carrega-lo, eu precisava contar o significado.
— Meu pai morreu no dia do meu aniversário — contei e ela me
encarou em choque.
Seu olhar confuso perseguiu o meu rosto em busca de respostas.
— Foi antes de vir para a universidade — revelei e ela me abraçou
forte.
— Ele te deu a moeda? — perguntou baixinho, perto do meu ouvido.
— Deu — sussurrei no mesmo tom dela. — Era um homem bom e
romântico. — Dei um sorriso triste. — Sempre me falava de como amava a
minha mãe, fazia de tudo por ela. Era tão bonito vê-los juntos que até
cheguei a ansiar por isso um dia.
Abracei-a, enterrando o rosto no seu cabelo. Ela estava ali, eu a amava
e era tudo o que eu queria.
— O que aconteceu? — questionou depois de uns minutos em silêncio,
ela alisou as minhas costas suavemente, dizendo com o gesto que estava
tudo bem se eu não quisesse falar.
— O amante dela o matou no meu aniversário — contei e Madison
afastou o rosto para me olhar.
Ela encostou a testa na minha e segurou a moeda com mais firmeza,
entendendo a importância daquilo. Entendendo porque eu não queria
arriscar, entendendo que era difícil para mim entregar o meu coração
quando não podia confiar nem na minha própria mãe. Foi uma desilusão.
Era tudo mentira.
— Você chegou a ver? — perguntou temerosa e neguei com um
movimento de cabeça.
Aquele trauma eu não carregava. Não vi, cheguei tarde demais. Assim
que cheguei em casa a polícia já estava lá, na minha festa surpresa.
— Passei a usar a corrente prata pra carregar a moeda depois disso —
revelei, tocando o novo colar que descansava no pescoço macio dela. — Ela
simbolizava um aviso de que eu precisava me manter distante disso.
O amor era perigoso. Ele conseguia destruir com o melhor que havia
em uma pessoa, aprendi isso com o meu pai, dolorosamente.
— E essa? — Tocou na corrente de ouro. — O que significa?
Olhei para ela com um sorriso tranquilo.
— Que você vale a pena.
Madison alisou o meu rosto e me olhou de um jeito diferente, com uma
certa clareza.
— Vou usar com orgulho — jurou.
A pequena abriu a mão que segurava a moeda e ficou olhando para ela
no meio da sua palma, ela permaneceu em silêncio e quando me olhou
novamente senti o impacto.
Era quase do mesmo jeito que ela olhava para o céu. Madison ficou me
encarando e não sei quanto tempo se passou, pois tudo pareceu parar ali.
Um sorriso satisfeito se espalhou no seu rosto.
Ela jogou a moeda para cima sem tirar os olhos de mim e a pegou no
ar. Olhamos juntos para a sua palma, querendo ver o resultado. Deu cara.
Não sabia o que ela tinha perguntado, mas Madison jogou a moeda
novamente para cima e a pegou, me mostrando mais uma vez o resultado.
Cara.
A olhei confuso, ela apenas sorriu para mim e jogou de novo, com uma
tranquilidade que me intrigou. Deu cara. Três vezes. Se fosse um dado eu
diria que estava viciado.
— O que você está perguntando? — perguntei curioso e ela me olhou
com carinho, pegou a minha mão, colocou a sua por cima da minha e
entrelaçou os nossos dedos.
— Algo que já sei — contou a pequena, jogando a moeda para cima
mais uma vez, dessa vez deixando para eu pegar.
Senti o metal gelado cair sobre a minha mão e quando vi o resultado...
deu cara. Foi então que entendi.
Eu entendi só pelo jeito que ela estava me olhando. Compreendi o que
ela estava perguntando à moeda. E compreendi a resposta. Ficamos parados
no lugar até ela se aproximar, encostar a testa na minha e suspirar baixinho.
— Oi. — Sua voz saiu em tom calmo.
Toquei o seu rosto sem afastá-la de mim.
— Oi — falei baixinho.
Ela fechou os olhos e roçou o nariz com o meu.
— Eu te esperei demais — sussurrou e senti minha própria garganta
fechar.
Me aproximei mais, tocando a sua boca com a minha. Sentindo que o
mundo de repente ficou mais calmo.
— Queria ter chegado antes. — Minha voz saiu embargada.
Ela abriu os olhos e me encarou serena.
— Você veio no tempo certo.
Segurei o amor da minha vida nos braços com carinho e proteção,
beijei o seu rosto sem conseguir confiar em mim mesmo para falar, apenas
fiquei ali com ela.
Em algum momento deixei a moeda, que estava segurando, cair
próxima dos nossos pés. Escutei o som dela caindo no chão, girando até
finalmente parar com um lado para cima.
Cara.
Ainda podia ouvir a voz do meu pai: cara é sempre sim.
Madison Jensen

Deslizei a ponta do dedo pelo seu nariz e Colin fechou os olhos em um


suspiro ao sentir o toque. Ele deitou na espreguiçadeira e me levou junto,
por cima do seu corpo. Desci a mão para acariciar a sua boca perfeita e ele
entreabriu os lábios para mim, deixando escapar outro suspiro quente, que
me tocou.
Passei o dedo lentamente pela sua boca macia e vermelha. Tinha uma
marquinha no canto do sorriso que se desenhava com tanta frequência no
seu rosto. Ela dava um charme a mais.
Me inclinei mais perto do seu rosto e o beijei. Era certo. Era uma
junção. Nós. Eu e ele.
Sua língua entrou na minha boca e eu suguei sem resistir. Queria tudo.
Segurei o seu rosto e intensifiquei o beijo, suspirando ofegante quando senti
a sua língua deslizar sugestivamente na minha boca, entrando e saindo.
Inspirei profundamente, fazendo os meus seios roçarem no peitoral
dele. Me afastei devagar apenas para poder olhá-lo. Eu queria ver tudo.
Colin abriu os olhos e me fitou com desejo, carinho, ternura e... amor.
Do mesmo jeito que eu o olhava de volta. Era amor. Não havia uma
parte nele que eu não amava. Dei um meio sorriso tranquilo, me sentindo
em paz.
Beijei o seu queixo com calma. O seu cheiro gostoso de canela me deu
uma sensação de estar em casa. Um lugar seguro onde eu me sentia
acolhida e amada. Inspirei profundamente, querendo absorver tudo dele.
Nunca cheguei a viver isso antes, mas era tão grata... Obrigada por ter
finalmente chegado. Eu fiquei sozinha demais sem você.
— Você é tão lindo — murmurei perto da sua boca e Colin me encarou
protetoramente.
— Vem aqui, amor da minha vida. — Passou os braços em volta do
meu corpo, me apertando contra si.
Ele me puxou para mais um beijo, segurei o seu rosto, o queria mais
perto de mim e acabei esfregando os meus seios doloridos em seu peitoral
no processo. Senti a sua ereção crescendo na calça jeans, tão duro que
fiquei molhada só de imaginar.
Colin se afastou ofegante, o suficiente para poder me olhar. Ele tirou
com cuidado um cacho da frente do meu rosto, o colocando atrás da orelha.
Deslizou os dedos pelo meu rosto tão suavemente que senti uma vontade
estranha de chorar ao receber tanto carinho.
— Faz isso... — pedi, me derretendo sempre que ele me tratava assim.
— Faz isso pra sempre?
Colin me olhou daquele jeito... e percebi com certa tranquilidade que
ele sempre me olhou assim. Desde o começo. Desde a primeira vez.
O mesmo olhar que me deu no momento em que me entregou o seu
destino, o qual eu carregava agora no pescoço. Era a maior honra da minha
vida, ainda mais depois que soube do significado por trás. Eu valia a pena.
— Eu vou ser cuidadoso e carinhoso com você todos os dias —
prometeu, beijando a ponta do meu nariz demoradamente. — Vou contar
todas as suas sardas, vou sempre admirar os seus cachos até mesmo quando
eles estiverem brancos. — Pegou um cacho meu e o beijou com ternura. —
Eu vou beijar a sua mão sempre que te ver, porque você é perfeita demais
pra não ser mimada. Vou te abraçar todas as noites antes de dormir... —
jurou baixinho, aproximando a boca da minha e dei toda a minha atenção ao
que ele ia dizer. — Vou dizer que te amo ao acordar e vou provar isso a
cada hora do dia até o anoitecer.
Colin passou o polegar delicadamente pelo canto dos meus olhos e
ficou os fitando com tanta sinceridade, que eu só consegui sentir um sorriso
genuinamente feliz crescer em mim.
— Eu te amei desde a primeira vez em que você me irritou — falei
para ele, sentindo meu peito apertar.
Colin me deu um sorriso suave e percebi que sua respiração se alterou
ao me ouvir, talvez surpreso. Parecia grato e honrado.
— Namora comigo — pediu olhando para mim com ansiedade. —
Posso ser exatamente o que você quiser, vou fazer de tudo pra você ser feliz
comigo...
Coloquei um dedo na sua boca, calando-o e balancei a cabeça
negativamente de um lado para o outro. Vi um certo desespero, misturado
com tristeza, no seu rosto e quis apagar aquilo imediatamente.
— Você já é exatamente o que eu quero — enfatizei. — E eu já sou
sua. — Assim que terminei de falar os seus olhos se acenderam em
satisfação.
Colin se sentou de uma vez, me pegando desprevenida e me levando
junto de si, já que eu estava em cima do seu corpo. Ele abriu minhas pernas
para me encaixar bem em cima da sua virilha, inchada da ereção. Me
segurei nos seus ombros fortes e ele encostou a testa na minha, segurando o
meu pescoço com carinho.
— Repete — pediu. — Repete, por favor. — Suspirou baixinho.
Olhei nos seus olhos e falei sem desviar.
— Eu sou sua.
Suas mãos pesadas e grandes desceram pelo meu corpo, me fazendo
arrepiar toda. Quando finalmente chegou no meu quadril ele me apertou
contra si e eu senti o quanto estava duro. Acabei roçando o meu clitóris no
caminho, tentando buscar um alívio.
Deixei escapar um gemido, inspirei profundamente e lambi o lábio
inferior ao senti-lo ficar seco. Minha boca precisava da língua dele. E
minha boceta... de repente a senti molhar.
— Colin...
— Eu fico duro pra porra quando você fala que é minha. — Ergueu os
quadris, esfregando o pau em mim e pulsei em excitação. — É tão bom
saber que ninguém mais pode te ter... — Subiu a mão até alcançar a alça da
minha blusa e a desceu lentamente, deixando o seu polegar arrepiar a minha
pele no caminho. — Só minha.
Ele se inclinou para beijar a pele com os pelinhos eriçados. Fechei os
olhos e suspirei ao sentir a ponta da sua língua deslizar pelo ombro. Tentei
fechar as pernas, querendo sentir algo esfregar em mim, me tocar. Abracei
os ombros dele, o puxando para mais perto e Colin subiu a sua lambida.
Sua língua deliciosa babou o meu pescoço e eu joguei a cabeça para
trás, dando uma rebolada em cima da sua ereção. Segurei o seu cabelo com
força. Sedenta.
— Me beija — pedi e a sua outra mão apertou com força minha bunda,
me segurando no lugar.
Eu abri a boca ansiosa, já pronta para pedir novamente quando ele
meteu a língua nela com tudo, me fazendo gemer bem alto. Contraí a
boceta, esfregando os seios nele.
Nunca me senti tão desesperada para ser alargada do que naquele
momento. Tentei tirar a sua camiseta e Colin ergueu os braços, deixando
que eu a arrancasse do seu corpo para voltar a beijá-lo logo em seguida.
Era tão bom sentir a sua pele cheirosa e firme... adorava o seu corpo.
Deixei a sua boca por um instante para beijar e morder os seus bíceps.
Queria deixar vermelho e marcado. Desci até chegar no mamilo dele e o
abocanhei.
O seu pau se esfregou em mim mais violentamente em resposta. Colin
segurou o meu cabelo com força, me puxando de volta para a sua boca e
Deus... gostei tanto dessa brutalidade.
Ele me deixou bem próxima da sua boca e quando me inclinei para
frente querendo mais, o cretino se afastou, me deixando desesperada. O
aperto no meu cabelo só me deixava mais excitada.
— Eu preciso — pedi, erguendo a sobrancelha para ele
ameaçadoramente.
Colin sorriu sacanamente e jurei que ele iria ficar me provocando como
gostava de fazer. Mas esqueci que ele gostava mais ainda de me
surpreender.
Levantou da espreguiçadeira, me carregando junto com um só braço, e
me pressionou com tudo contra a porta de vidro que dava de entrada para a
sala. Minhas pernas automaticamente se fecharam em volta da sua cintura.
Comecei a me esfregar nele, porque estava tão gostoso ser pressionada
assim...
Colin segurou meu cabelo com mais força, quase me fazendo chorar de
tesão. Seus dentes fecharam sobre o meu lábio inferior, o mordiscando forte
e talvez eu curtisse tudo com força, porque não lembrava de querer tanto
que alguém tivesse total controle sobre o meu corpo como naquele
momento.
— Me come — implorei e ele se afastou só o suficiente para me olhar.
Talvez estivesse surpreso. E eu também, porém perdi completamente a
vergonha, só queria o seu pau dentro de mim imediatamente.
— Repete — disse, passando a língua por cima da minha boca aberta e
ansiosa.
Ele rebolou bem em cima de onde eu estava toda molhada e percebi
que aquilo só o tinha deixado mais duro. Abri mais as pernas, dando total
acesso para ele fazer o que quiser comigo.
— Mete em mim. — Cravei as unhas no seu pescoço musculoso e
Colin trincou os dentes.
Estava tão gato sem camisa e de pau duro na minha frente. Me
esfreguei nele, o fazendo roçar de volta, mesmo que involuntariamente. O
seu corpo não estava aguentando mais.
Colin me apertou tanto contra a porta com os quadris, que senti meus
ossos estralarem. Segurou o meu cabelo com força e gemi em resposta.
— Vou meter tanto que a sua bocetinha vai ficar assada amanhã —
prometeu e fechei com mais vontade as pernas em volta da sua cintura.
Ele tirou a minha blusa, deixando os meus seios livres. Assim que os
viu Colin salivou e colocou um na boca, babando o mamilo. Estremeci de
tesão, encharcada. Ele me segurou pela bunda para me tirar dali e abriu a
porta de vidro, entrando na sala comigo. Pouco me importei se ia chegar
alguém, eu só queria dar para ele.
Colin me jogou em cima do sofá grande e venho para cima de mim.
Abri as pernas para sentir o seu pau grande e inchado roçando na minha
virilha. Gemi quando ele esfregou por cima do meu clitóris e foi chupar os
meus seios ainda mais.
Desci para arranhar de leve o seu peitoral e fiquei mais ansiosa e
molhada à medida que chegava naquele abdômen trincado. Passei pelos
gominhos suspirando e sentindo a minha nuca suar de tanto calor. Toquei a
sua calça jeans e ele mordeu delicadamente o meu peito.
Gemi, sentindo minhas pernas estremecerem e abri a sua calça,
metendo a mão dentro da boxer. Era quente ali e sufocante para o seu pau,
que já se erguia desesperado para ser tocado. Quando envolvi a minha mão
nele, Colin se elevou nos dois braços para me encarar.
Ele estava tenso. Suas veias do pescoço saltavam para fora de um jeito
sexy, seu maxilar estava travado e os braços fortes tensionados. Levei o
polegar à cabeça, sentindo a lubrificação.
Colin mordeu o lábio inferior sem desviar os olhos de mim. Ficamos
nos fitando, apenas escutando as respirações ofegantes e pesadas um do
outro. Minha boceta contraía se sentindo vazia. Precisava dele.
Achava incrível como não dava para fechar a mão de tão grosso que
era. Desci e subi com o aperto, começando a masturbá-lo e Colin gemeu,
respirando fundo. Fazendo seu peito subir e descer.
Ele enfiou uma das pernas no meio das minhas e a pressionou em cima
da minha boceta, girando com calma para me provocar. Conseguiu. Abri as
pernas e já não aguentava mais. Precisava sentir. Ele se apoiou em um
cotovelo e levou uma das mãos até a minha saia, tocando a minha calcinha
úmida.
— Tão melada — murmurou perto do meu ouvido, saindo como um
meio gemido.
Virei o rosto de lado e o beijei. Colin chupou a minha língua de um
jeito delicioso, passando a dele na ponta bem devagar. Apertei o seu pau na
minha mão e o seu dedo empurrou a minha calcinha de lado para tocar bem
na minha entrada.
Empurrei o meu quadril para frente em desespero e o seu dedo deslizou
com facilidade para dentro. Sendo engolido.
Colin mordeu o meu lábio, ele segurou a minha mão que estava
tocando o seu pau e a tirou da cueca. Me afastei do nosso beijo sem
entender, mas ele puxou a minha outra mão e as colocou juntas acima da
minha cabeça, prendendo os meus punhos enquanto continuava a estocar o
dedo dentro de mim.
Deixei que ele me segurasse e prendesse, tranquilamente. Ele colocou
o polegar bem em cima do meu clitóris e me esfreguei o máximo que pude,
quase enlouquecendo. Colin ficou olhando os meus seios balançarem na sua
cara, pela posição os bicos ficaram apontando perto da sua boca e ele não
perdeu a oportunidade.
Mordiscou e lambeu toda a região. Lambeu bem entre eles, deixando
tudo coberto de saliva. Eu estava pronta para gemer muito, porém quando
senti todo o decote babado Colin saiu de cima de mim, me deixando
desorientada.
— O que... — murmurei débil, só que logo fui colocada sentada no
sofá.
Minha visão estava nublada de tanto tesão, logo que abri os olhos
completamente só vi o seu pau na minha frente. Enorme. Colin estava em
pé diante de mim.
— Abre as pernas pra mim, meu amor — pediu com carinho e obedeci
como se fosse um robô.
Ele voltou a colocar o dedo dentro de mim e contorci todo o meu
corpo, me sentindo estremecer e melar mais. Colin meteu e tirou o dedo
rapidamente e gemi na mesma proporção, fechando minhas pernas
involuntariamente ao sentir tanto tesão assim acumulado, sufocando a sua
mão ali.
Ele apontou o pau na direção da minha boca e eu a abri, chupando a
cabeça enorme. Babando bem. Pensei que meu namorado queria um
boquete, entretanto não era isso. Deixou o pau ficar bem lambuzado para
trazer até meus seios e pressionar a cabeça bem no mamilo inchado pelas
chupadas.
Gemi, tendo que me segurar nas suas coxas. Ele repetiu o movimento
com o outro seio e passou o pênis bem entre eles.
— Posso? — perguntou, tocando o meu rosto suavemente e olhei para
cima.
— Pode o quê? — perguntei confusa, já sem conseguir me concentrar
em nada a não ser no seu dedo me masturbando.
Colin ergueu o canto da boca ao ver o meu rosto.
— Foder os seus seios — disse, passando o pau neles, que estavam
babados.
Abri a boca, sentindo os peitos pesados só com a ideia e acenei com a
cabeça, confirmando. Colin pegou as minhas mãos e as colocou do lado de
cada seio, me ensinando a segurá-los para permitir que o seu pau passasse
entre eles de um jeito bem apertado.
Apertei os seios um no outro, os segurando firme enquanto ele
continuava a meter na minha boceta lambuzada. Abri mais as pernas, sem
deixar de rebolar os quadris, sujando toda a sua mão. Colin colocou o seu
pau entre os meus seios melados e começou a fodê-los.
Me encostei nas costas no sofá e Colin veio se inclinar em cima de
mim, apoiando um joelho no sofá, se mantendo em pé e meio inclinado ao
mesmo tempo. Esfreguei a minha boceta na sua mão ao sentir o pau deslizar
pelos meus seios... não sei como, mas aquilo me deixou tão excitada.
A imagem da cabeça inchada do pênis sumindo e aparecendo entre os
meus peitos, os mamilos rosados tão sensíveis, e o pau chegando no meu
queixo... era demais. Coloquei a minha língua para fora e fiquei lambendo
quando encostava na minha boca. Colin gemeu rouco, passando a ir mais
rápido e seu polegar massageou em volta do ponto mais sensível da minha
boceta.
Contraí, prendendo o seu dedo lá e gozei. O orgasmo veio. Estralei o
pescoço e gemi, rebolando descontroladamente na sua mão. Colin
continuou a meter o dedo e se afastou para se agachar na minha frente,
colocando a cabeça entre as minhas pernas. Ele afastou mais de lado a
calcinha e passou a língua bem na entrada, entre os lábios melados.
Senti a lubrificação sair, melar tudo. Molhando a sua língua gostosa
que lambia cada gota do meu gozo.
Suspirei trêmula. Minhas pernas estavam fracas, letárgicas. Meu
coração disparado contra o peito e a respiração saindo ofegante. Senti uma
gota de suor escorrer na minha nuca, mas... ainda queria senti-lo dentro de
mim.
Me sentei melhor no sofá e olhei para Colin agachado à minha frente,
com a boca vermelha e melada. Ele subiu lentamente pelo meu corpo, sem
desviar, com um olhar predador. Segurei o seu pescoço e o beijei, amando
sentir o meu gosto no beijo.
— De quatro — mandou. Ele me pegou pela cintura com um único
braço e me virou no sofá.
Torci o pescoço ansiosa e me apoiei no braço do móvel, empinando a
bunda para trás. Colin montou atrás de mim e puxou minha saia, embolada
na cintura, para baixo até tirá-la do corpo junto com a calcinha, me
deixando completamente nua.
Rezei para ninguém chegar em casa hoje e olhei para a porta, temerosa.
No entanto, quando senti aquelas mãos grandes e firmes segurando o meu
quadril, esqueci de tudo.
— Vou pegar uma camisinha — informou se afastando, mas segurei o
seu punho antes que ele fosse.
— Tomo anticoncepcional. — Olhei por cima do ombro para ele e
empinei mais a bunda na sua direção, deixando alta.
Colin observou o movimento e gemeu, fazendo uma cara de dor. Ele
alisou cada banda da mesma.
— Estou limpo — prometeu. — Amanhã eu mostro os exames.
Pisquei para ele e Colin afastou meus joelhos, me deixando mais
aberta. Senti a sua língua passar na minha boceta uma última vez antes do
seu corpo cobrir o meu.
Ele colocou o pau na entrada e logo que a cabeça passou, meu corpo
inteiro se arrepiou. Me contorci toda, jogando o quadril para trás. Era muito
bom sentir que ele estava me abrindo, me alargando inteira. Ainda doía,
porém era uma dor gostosa que me fazia querer mais.
Colin meteu devagarinho, me enlouquecendo. Assim que chegou na
metade eu já estava gemendo e rebolando ansiosa. Ele ficou roçando um
pouco só com a metade até empurrar com tudo, me preenchendo
completamente.
Me senti completa. Sufocada. Mordi meu lábio inferior para não gritar
de tanto tesão. Meu Deus, eu amava o tamanho dele. Era para deixar
qualquer uma incapacitada de sentar decentemente por uns dias.
— Está bem, pequena? — perguntou, gemendo abafado, todo tenso
para não estocar.
— Estou — respondi em um suspiro ao me permitir deitar mais a parte
da frente do corpo e empurrar a bunda para ele.
— Puta que pariu. — Colin segurou cada lado do meu quadril com
propriedade, como se fosse o dono e começou.
Bombeou com força, me levando à loucura. Ele batia o quadril contra
a minha bunda, metendo na boceta com tudo. Tirava até a cabeça para botar
tudo dentro de novo. Meu corpo ia para frente com o impacto e Colin se
inclinou sobre as minhas costas para jogar o meu cabelo para o lado e
segurar o meu pescoço no lugar.
Meus mamilos começaram a roçar no sofá e melei tanto o pau dele que
conseguia ouvir o som à medida que ele ia me comendo com mais força.
Podia sentir os seus músculos tensionando contra mim. Seu peitoral
encostou nas minhas costas, me prendendo e foi tão gostoso.
Seu aperto no meu pescoço passou a ser mais firme e me segurei para
não gemer. Jogava minha bunda para trás, querendo realmente sentir tudo.
Colin estocou tão fundo que suas bolas bateram na minha boceta. Por mais
que fosse impossível, era como se ele estivesse tocando o meu útero.
Passei a contrair e lambuzar o seu pau duro, que me deixava esticada e
preenchida ao limite. Com certeza ficaria sem poder sentar amanhã.
Quando ele tocou um certo ponto que me deixou louca, joguei a cabeça
para trás. Todo o meu corpo ficou tenso e rebolei desesperadamente,
querendo mais. Gemi e Colin apertou mais o meu pescoço, metendo
justamente onde me fazia arrepiar inteira.
Ele beijou as minhas costas e aquilo me quebrou. Me fodia sem pena,
quase me rasgando no meio, mas também beijava carinhosamente as
minhas costas.
O seu braço estava apoiado do lado da minha cabeça, peguei a sua mão
e entrelacei os dedos com os meus. Colin veio mais para mim, soltou o meu
pescoço e pegou minha outra mão, a segurando e colocando cada braço de
um lado meu, protetoramente.
Ele beijou o meu rosto virado de lado.
— Eu te amo — sussurrou, ainda metendo firme.
Abri a boca para deixar escapar um suspiro e apertei a mão dele na
minha. Meu corpo inteiro contraiu com a última metida. Gozei novamente,
melando o seu pau. Colin soltou uma das minhas mãos e a desceu para
alisar o meu corpo, das costas até a bunda, me apertando até gozar.
Senti minha boceta ser preenchida com a sua... porra. E foi delicioso.
Fiquei encharcada, ele gozava muito e eu gostava disso. Quando saiu de
dentro, senti seu gozo pingando e escorrendo quente pelas minhas coxas.
Colin ficou parado atrás de mim, parecendo apreciar a imagem.
— Você é gostosa pra cacete — disse, alisando a minha bunda.
Eu estava morta. Suspirei cansada e só senti os seus braços envolvendo
minha cintura, puxando meu corpo para si. Colin me colocou no seu colo
com cuidado e beijou o meu rosto.
— Cansada? — perguntou em tom de brincadeira, levantando do sofá e
subindo as escadas até o nosso quarto, sem se preocupar com o fato de
estarmos pelados.
— Muito — disse, descansando a cabeça no seu peito quente, sentindo
aquele cheiro tão bom dele.
Queria que seus braços me abraçassem à noite, queria escutar a sua
respiração e a sensação de segurança e amor que só ele me dava.
— Meu bem — chamei quando chegamos no nosso quarto e Colin
parou no lugar para me dar a sua atenção, surpreso com o nome carinhoso.
— Eu te amo também. — Toquei o seu rosto e Colin se derreteu um pouco.
Fechou a porta atrás de si com o pé e pegou a minha mão para beijá-la,
fechando os olhos no processo.
— Não há simplesmente nada nesse mundo que eu não faria por você
— disse, beijando a minha testa e me colocando em cima da cama.
Olhei apaixonada para ele e Colin ficou me olhando de cima, até me
beijar uma última vez para depois sair e pegar as nossas roupas jogadas
junto com o meu caderno na área externa e na sala.
Aproveitei para tomar um banho e vestir um pijama quentinho. Só
quando deitei novamente na cama que lembrei que Scar ainda estava na
casa. Graças a Deus ela não acordou, esperava de verdade que estivesse
hibernando.
Segurei a minha nova corrente de ouro, sentindo o peso do pingente.
Era isso. Sempre foi. Sorri ao imaginar que era exatamente o que eu queria,
mesmo sem saber. Beijei o pingente com carinho, prometendo baixinho que
sempre cuidaria bem do seu coração.
Fechei os olhos pedindo por sonhos bons e tranquilos.
Senti os braços dele me envolverem por trás em algum momento e sua
mão segurar a minha. Colin beijou o meu ombro e inspirou profundamente
perto do meu pescoço.
Senti a sua respiração tranquila, mas também ativa, como se estivesse
pensando em alguma coisa. Ele ficou alisando o meu dedo anelar, aquele
em que se colocava uma aliança.
Beijei o seu braço, que me envolvia, e suspirei em paz.
É tão bom estar em casa.
Colin Scott

Alguns anos atrás

Estava começando a chuviscar, os pingos umedeciam a minha roupa e


a cada minuto a chuva engrossava mais. No entanto, eu não iria embora,
tinha se tornado um ritual. Três meses depois e eu ainda ia todos os dias no
túmulo dele.
Talvez assim ele soubesse que eu ainda o amava. Ela podia ter o
enganado, mas eu o amei. O meu sentimento foi de verdade. Ele foi amado
profundamente, foi o melhor pai, o melhor amigo, meu maior exemplo e
professor.
Eu o amei.
Só queria que isso tivesse sido suficiente para suprir a falta do amor
dela.
A raiva ainda não tinha passado, e talvez eu nunca mais conseguisse
olhá-la de novo. Minha mãe ainda usava a aliança, ainda chorava, ainda
implorava meu perdão, ainda tentava falar comigo todos os dias, contudo,
eu não podia. Seria como se estivesse o traindo de novo.
O problema era que eu a amava também. Doía ter que ignorá-la em
respeito a ele. Talvez o maior choque da infância fosse descobrir que os
nossos pais não são perfeitos. São seres falhos, que nos decepcionam e
machucam. Tinham vezes em que cabia perdoar e outras não. Eu ainda não
sabia qual era o nível da minha ferida.
Caminhei até chegar na sepultura de Brian Scott, um dos cirurgiões
mais renomados e bem sucedidos do país. Morto aos 49 anos de idade. Pela
porra do amante psicopata da esposa.
O cara tinha sido preso, porém ainda não parecia punição suficiente.
Nada seria.
Fiquei apenas parado ali, em frente à sepultura, por um tempo,
sentindo a chuva me molhar. Estava com duas coisas bem preciosas no meu
bolso e não sabia o que fazer com elas.
A primeira era a aliança de casamento dele, eu fiquei com ela. A
segunda era a moeda que ele me deu.
A moeda era minha, Brian Scott me deu quando era um garoto. Ele me
via sempre metido em confusões e fazendo besteiras na escola, que decidiu
deixar todas as minhas decisões nas mãos do destino. De acordo com ele, a
sorte me traria melhores escolhas do que as quais eu fazia normalmente.
Foi em tom de brincadeira, ainda me lembrava do seu sorriso assim
que me deu de presente. Entretanto, a levei a sério. Até as decisões mais
importantes era ela que tomava.
Pensei em jogá-la fora.... No entanto, ela já fazia parte de mim. Não
podia fazer isso, como também não podia esquecer a lição que aprendi com
a morte dele.
— Está chovendo — avisou alguém atrás de mim.
Sabia exatamente quem era. Fechei os olhos e inclinei a cabeça para
trás, gostando de me molhar.
— Eu vou continuar usando a moeda — falei para Cameron Payne. —
Só não sei o que fazer com a aliança ainda.
Ele se aproximou, até ficar do meu lado, e ficou calado por um tempo.
— Ela negou — contou Cameron e me virei para ele. — A herança.
Ela negou, tudo vai passar pro seu nome.
Engoli em seco. Não queria aquele dinheiro, mas aquilo me trouxe
esperança. Talvez isso significasse que ela ainda se importava com ele. Ou
era o que meu coração desejava.
— Era o mínimo. — Dei de ombros e Cameron acenou em
concordância.
— Você não quer conversar com ela...
— Não — interrompi duro e olhei para ele em aviso, não falaria com
minha mãe tão cedo. — Já a perdoamos demais. Ele mais do que eu, me
criou mesmo sabendo que não era meu pai...
— Ele era o seu pai — enfatizou Cameron, erguendo a sobrancelha
para mim.
Era. O único pai que tive, me amou mesmo que eu tenha sido mais um
erro dela. Mais uma traição. Compartilhávamos tudo, menos o mesmo
sangue.
— Vou comprar uma corrente — falei, tocando a moeda no bolso na
calça. — Pra guardar a moeda.
Ele olhou para o túmulo, pensativo.
— E a aliança?
— Não sei — revelei, escutando as gotas da chuva baterem na pedra da
sepultura.
Me lembrei da vez em que meu pai se banhou na chuva comigo. Minha
mãe nos acompanhou, ele a segurou pela cintura a obrigando a se molhar e
foi tão divertido... Foi um dia tão feliz que me peguei sorrindo. Olhei para o
lado, vi Cameron ensopado e aquilo me rendeu uma risada.
— Você está ridículo — murmurei e ele revirou os olhos, mostrando o
dedo do meio para mim.
— Não consegue, não é? Ficar sério por mais de uma hora —
debochou, tirando a água do seu cabelo loiro dourado.
— Eu já chorei demais — pontuei, olhando para a sepultura novamente
e dessa vez sem aquela raiva no meu coração.
Lembrei dos momentos bons, das risadas, dos abraços, das vezes em
que eles reviravam os olhos achando graça de algo que eu disse. Senti
saudade. Mas não ódio. Talvez a chuva tenha limpado a minha alma.
— Eu já chorei demais — repeti tranquilo, agora para o meu pai e
quase podia sentir o seu sorriso de volta.
De repente senti uma vontade absurda de abraçar a minha mãe. Não a
mulher que o matou. A minha mãe. Aquela que sempre estava comigo, que
beijava a minha testa antes de dormir, que fazia os meus pratos favoritos
quando criança, que me ensinou a andar de bicicleta e foi o meu porto
seguro por todos esses anos.
Queria rir dos nossos momentos junto com ela. No entanto, logo
reprimi esse sentimento. Amar alguém era realmente perigoso.
— Vamos pra casa — chamei Cameron e a chuva parou quando
começamos a caminhar de volta.
O céu foi ficando mais limpo, olhei para cima e me perguntei se meu
pai estava me olhando de volta. Se ele se ressentia comigo por não
conseguir odiá-la completamente.
O amor era uma fraqueza. E podia tentar ficar imune disso. Ou podia
me atingir antes mesmo que eu percebesse chegar.
Peguei a aliança no meu bolso e olhei para ela na minha mão. Aquilo
significava que uma pessoa queria viver o resto da sua vida com outra. Me
parecia uma ideia fantasiosa agora...
Será que algum dia eu vou sentir vontade de comprar uma para
alguém?
Colin Scott
Eu: Preciso de um favor da minha melhor amiga.
Digitei e os três pontinhos já apareceram imediatamente na conversa.
Sienna: Pensa que eu não sei que você fala isso pras meninas também?
Eu: Que mentira.
Eu: Só digo quando quero alguma coisa.
Sienna: E o que o digníssimo quer de mim?
Eu: Queria comprar uma coisa pra minha pequena e preciso da sua
opinião.
Sienna era perfeita para isso, não conhecia pessoa mais feminina e que
usasse mais joias do que ela. Ok, minha namorada não ligava muito para
bens materiais, ficava tão satisfeita com coisas simples que eu poderia dar
uma folha de papel que ela seria a pessoa mais grata do mundo.
No entanto, isso não significava que eu não fosse lhe dar tudo.
Sienna: Que fofo!!!
Sienna: É roupa? Eu ajudo.
Sienna: Me encontra aqui na estufa.
Olhei para a mensagem, confuso.
Eu: Estufa?
Sienna: Sim, aqui da Universidade.
Sienna: Fica no prédio do pessoal da Botânica.
Eu: Ok.
Guardei o celular no bolso e me virei para Drake, que caminhava ao
meu lado em silêncio. Tínhamos acabado de sair do treino e acho que o
treinador estava tentando nos matar antes das finais, porque passamos uma
hora a mais treinando até gastar cada energia do nosso corpo.
— Você sabe onde fica a estufa daqui? — perguntei para ele e Drake
pensou um pouco.
— Eu acho que sei... um pouco longe, por quê? — Ergueu a
sobrancelha, curioso.
— Preciso ir lá. — Dei de ombros, desconversando e ele não deu
importância, cansado.
— Cara, dividir o quarto com o Tyler está impossível, acredita que ele
passa a noite me chutando? — disse apertando a nuca. — Vou passar na
casa de uma garota agora, mas não queria dormir lá...
— Veja as suas opções, é ela ou Tyler.
Drake suspirou e eu entendia. Dormir junto era intimidade demais. A
única pessoa com quem eu aceitaria fazer isso era com a minha pequena
mesmo.
— Quando você se apaixona passa a gostar. — Dei um tapinha no seu
ombro. — Pra falar a verdade acho que nem consigo mais dormir sem ter o
corpo pequeno dela nos braços.
Drake balançou a cabeça em divertimento para mim.
— Interessante como você virou pau-mandado — provocou e revirei
os olhos. — Logo o líder da nossa revolução.
— Eu deixo em suas mãos nossa revolução. — Apontei para ele. — Já
sou líder da associação de moradores. — Abri os braços em rendição.
— E da associação dos cachorros castrados.
Sim, eu usava a coleira com orgulho agora.
— É a vida — falei, satisfeito demais.
Caminhamos mais um pouco, porém do nada, Drake me lançou um
olhar desconfiado.
— Você vai pegar flores pra ela? — perguntou curioso e o olhei sem
entender. — Na estufa.
— Não — neguei. — Vou encontrar Sienna.
— Hum...
Ele ficou calado, no entanto eu sabia que o espírito fofoqueiro que
habitava nele ia começar a falar mais alto.
— O que vocês vão fazer? — perguntou como quem não quer nada.
Sorri sem deixar que ele visse.
— Vou pedir um favor pra ela — comentei, me virando para ele
quando chegamos no carro. — Quer vir?
Drake colocou as mãos nos bolsos da calça e tentou parecer
desinteressado. Ele deu de ombros como se não fizesse diferença.
— É bom eu ir. — Ele foi abrindo a porta do meu carro para entrar. —
Você não sabe onde fica a estufa.
Revirei os olhos antes de colocar meus óculos escuros e entrar no
carro.
— Você não ia ver uma garota? — perguntei só de provocação.
— Posso aparecer mais tarde.
Liguei o carro e saí do estacionamento sem pressionar mais. Não sabia
se era só um capricho ou um interesse por alguém que não podia ter. Drake
geralmente não ficava em cima de nenhuma menina assim. Ele, de todos
nós, era o que menos prestava.
Eu não sabia o que ele queria, mas era bom tentar disfarçar melhor. Ela
tinha namorado. Era um merda, entretanto ainda tinha.
Dirigi até a estufa da universidade em silêncio. Era bem longe de onde
ficávamos e ainda não entendia o que ela fazia ali.
— O que ela faz aqui? — perguntei a Drake assim que entramos na
estufa.
O lugar era gigante, espelhado e bonito. Uma estufa de respeito.
Tinham vários estudantes espalhados, cuidando de flores e plantas que
haviam no local. Tentei procurar Sienna entre eles, só que não achei.
— Ela adora jardinagem — Drake explicou e lembrei das plantas que
Madison estava batizando no nosso quarto.
Sienna realmente tinha plantado elas no jardim e vinha cuidando delas.
Eu sabia que era um interesse porque já a peguei mexendo na terra, mas não
que ia para a estufa da universidade para passar seu tempo livre.
Andamos pelo lugar gigante até encontrá-la. Sienna estava sozinha em
um canto, rodeada de rosas de diferentes cores, usava um avental de
jardinagem como todo mundo ali, para não se sujar, e fones de ouvido. Seu
cabelo loiro platinado estava preso em um coque meio bagunçado no alto
da cabeça e ela tinha óculos redondos e grandes no rosto, que a deixavam
com ar de cientista.
Era engraçado, quem a conhecesse jamais pensaria que ela metia a mão
na terra, literalmente. Sua postura de bailarina chamava atenção e o jeito
que batia os pés em um ritmo continuo no chão à medida que escutava
música no fone, também.
Assim que ela nos viu abriu um sorriso genuíno, que fez os seus olhos
azuis acinzentados curvarem nos cantos.
— Acharam difícil encontrar? — ela perguntou, tirando o fone de
ouvido e demos a volta nas flores que tinham ao redor dela.
— Drake já sabia onde ficava — respondi, dando um beijo na sua
cabeça.
Drake ficou andando em volta, observando as rosas com respeito e se
inclinando de leve para sentir o perfume.
— Você que as plantou? — ele perguntou olhando para uma em
específico.
— Sim — respondeu Sienna com orgulho e um sorriso acanhado. —
Não são cheirosas? — perguntou como se elas fossem suas filhas.
— São — confirmou Drake, distraído.
— Só é um pouco frio aqui — comentei, sentindo a umidade do ar me
arrepiar.
— Já me acostumei. — Ela deu de ombros e se virou para mim. —
Então, Romeu, o que você tem em mente?
— Eu queria comprar uma joia — contei, me encostando em um apoio
atrás de mim.
— Que chique — ela murmurou em aprovação. — Podemos ir ao
shopping daqui a pouco.
— Perfeito. — Pisquei para ela.
Drake tinha sentado em um banquinho perto da Sienna e estava
olhando para cada rosa, intrigado com tudo. Ele parecia querer tocar, no
entanto não tinha coragem. Deveria ser interessante vê-las crescerem aos
poucos e ficarem tão bonitas assim. Não sabia explicar, mas fazer aquilo
era, de alguma forma, a cara da Sienna.
— Pode tocar — ela autorizou para Drake e ele se afastou um pouco
das flores.
— Acho melhor não — disse, ainda olhando hipnotizado para elas. —
São delicadas demais, tenho medo de machucar.
Sienna ficou olhando para o meu amigo e pegou a sua mão. Drake
ficou paralisado a observando levar os seus dedos até à pétala de uma rosa
branca. Ele a alisou com carinho, quase temendo que ela se desmanchasse
com o seu toque.
— Elas parecem frágeis — comentou Sienna para Drake, soltando a
sua mão. — Porém, não precisa ter medo, são firmes.
Drake ficou encarando a rosa, deslizando o dedo pelo seu caule com
extremo cuidado. Nunca o vi tocar em algo com tanto carinho.
— Eu já senti esse cheiro em você antes — soltou do nada e Sienna se
virou para ele, surpresa.
Ela lhe deu um sorriso suave, quase agradecido.
— Venho aqui sempre. — A loira tirou os óculos do rosto. — Às vezes
fico com o cheiro delas.
Sienna colocou os óculos no colo e ficou mexendo no arco deles, senti
que estava um pouco desconcertada. Não consegui deixar de sorrir para
eles. Drake a olhou e tocou o seu queixo com a mesma reverência que
direcionou às flores, a obrigando, com cuidado, a erguer o olhar.
Olha, isso estava tão bom que por nada no mundo sairia dali para dar
privacidade a eles.
Sienna fitou Drake e ele encarou os seus olhos azuis.
— São lindas — elogiou, se levantando do nada e beijando a cabeça da
loira como eu fiz quando cheguei.
Ela ficou paralisada por um instante, mas logo se recompôs e se
levantou também, limpando as mãos no avental. Sienna começou a ajeitar
as suas coisas e fomos esperá-la do lado de fora.
O momento tinha passado e eu tinha a impressão que aquela conversa
não tinha sido somente sobre rosas.

Passamos três horas na joalheria. Três horas. A culpa foi


exclusivamente minha, eu sabia disso.
— Nunca mais me chame pra comprar nada com você — reclamou
Drake no banco de trás.
— Eu não chamei — lembrei-o. — E precisava de tempo também.
— E eu achava que demorava pra comprar sapato — Sienna
resmungou.
Eles não entendiam. Era um anel que eu não queria trocar. Claro, se ela
não gostasse eu compraria outro. Contudo, simbolizava muita coisa,
precisava ser escolhido com calma. E eu tinha comprado outras coisas.
Como um telescópio novo, um kit de material de pintura, uma calcinha
vibradora, além de macacões que eu achei a cara dela.
E cuecas, para caso ela precisasse jogar mais em mim de novo.
— Pra onde você está indo? — perguntou Drake. — Não vamos pra
casa?
— Não, vamos pro teatro. Bom que vocês já têm o privilégio de ver a
minha atuação — provoquei.
— Isso eu não perderia por nada. — Riu Sienna.
Estacionei na frente do teatro da universidade e deixei todos os
presentes da Madison no carro. Entregaria quando chegássemos em casa.
Ela estava passando a maior parte do tempo no seu novo “emprego”, eu
vinha pegá-la todos os dias e acabava ensaiando junto com o pessoal. O que
não atrapalhava, nem o treino ou a faculdade, já que quando nos reuníamos
em grupo não demorávamos mais do que quarenta minutos por dia.
E também, eu costumava ensaiar mais sozinho, decorando o texto no
meu tempo livre. Às vezes quando tinha uma folga chegava a ir em certos
encontros que eles organizavam, e até que estava me saindo bem.
Eles tinham bem mais desenvoltura do que eu, claro, levei tempo para
conseguir relaxar completamente, mas estava confiante que a minha
participação não seria um desastre como pensei no início. Para a felicidade
dos ambientalistas, a maioria dos ingressos já foram vendidos, então o
propósito estava sendo atingido.
Entramos no teatro em silêncio para não atrapalhar o pessoal. Estava
escuro na área dos assentos, o palco iluminado e um canhão de luz ficava
em cima da pessoa que estava encenando no momento. A cena era da briga
de Romeu com o primo de Julieta, na parte em que ele o mata.
— Você não era o Romeu? — sussurrou Sienna perto de mim.
— Ainda sou — respondi baixinho de volta, entrando em uma fileira.
— Só que como precisei faltar o ensaio de hoje, inventei uma desculpa.
Esse é o meu substituto.
— Eles estão se saindo bem — elogiou Drake.
— Também estudam um pouco de Artes Cênicas, tem uns que são
muito bons — expliquei, sentando ao lado de um homem que também
assistia à peça.
Ficamos bem perto do palco, então dava para ver o rosto de cada ator
dali. Virei de lado e vi que o homem sentado ao meu lado era o professor da
Madison, Sr. Stone.
— Oh, Romeu. — Ele sorriu para mim ao me reconhecer e sorri de
volta.
— Como vai? O senhor conseguiu tempo para vir assistir? — perguntei
a ele pois o homem quase não aparecia.
Ele suspirou, tampando o seu tablet em cima do colo.
— Consegui. — Se virou para o palco, admirado. — Sabia que iam se
sair bem. E a nossa Julieta está organizando tudo perfeitamente.
Assenti com orgulho da pequena. O homem do nada se virou para mim
e estreitou os olhos, como se tentasse ver melhor o meu rosto. Estranhei
aquilo, mas não comentei.
— Vocês são próximos? — perguntou curioso para mim. — Você e a
Srta. Jensen.
Namorados. O olhei sem entender o porquê da pergunta. O professor
não esperou por uma resposta minha, ele só destravou o seu tablet na sua
perna e me mostrou um quadro.
Era uma pintura com os traços que eu conhecia bem, da Madison.
Fiquei paralisado com a beleza da arte. Tinham várias cores, a maioria
escuras, tons de azul escuro como a noite e estrelas brilhavam quase para
fora do quadro. Ela chegou a desenhar as nebulosas em vários tons, de um
jeito que te instigava a ficar olhando, e no canto da pintura...
Era eu. Ela me desenhou dormindo. Meu rosto parecia em paz,
descansando e tendo bons sonhos. Me lembrei dela me observando dormir e
dizendo que eu tinha uma respiração tranquila, porém nunca pensei que ela
desenharia o meu rosto.
Ficou tão perfeito... Meu Deus, ela tinha tanto talento.
— Sabe o significado? — questionou o homem e eu já tinha até
esquecido da sua presença.
— Não — respondi, sem conseguir desviar. — Você sabe?
— Também não — respondeu intrigado, voltando a analisar a pintura.
— Essa menina tem muito talento... Ela deixa a sua alma falar nos seus
quadros, como se contasse um segredo. É sobre sensibilidade, mais do que a
técnica em si.
Engoli em seco querendo tocar na tela. Estava com um sentimento
novo no peito. Orgulho.
— Ela é extraordinária — concordei.
— A vaga do estágio é dela — ele soltou e olhei para o homem,
surpreso. — Eu até pensei em reconsiderar... Ela é muito tímida e às vezes
isso pode atrapalhar o artista a se destacar, porque indiretamente também
viramos um produto. Quase não a notei na sala, entretanto o talento dela
fala por si, é sutil e sensível.
Um sorriu cresceu tanto no meu rosto, que fez o homem sorrir também.
— Você não vai se arrepender — avisei a ele. — Não existe pessoa
mais competente.
Ele acenou e quando se voltou para o palco novamente a pequena já
tinha aparecido. O canhão de luz focou no seu rosto e consegui ver com
clareza todas as sardas na ponta do nariz.
Ela estava bem, adotou uma expressão triste assim que a ama lhe
contou que Romeu seria exilado, eu podia ver o seu desespero e era incrível
como se saía bem em tudo que se propunha a fazer. Em algum momento o
meu substituto chegou e eles se abraçaram, os braços dele a envolveram e
foda-se, eu não era feito de gelo.
Ergui a sobrancelha ameaçadoramente para o cara, mas ele não viu.
Segurou o rosto dela nas suas mãos e começou a recitar as falas. Juro que,
se ele a beijasse acordaria sem a língua no dia seguinte.
— Aconselho que você não falte mais aos ensaios — sussurrou Drake
na minha direção em provocação.
Sienna riu ao ver a minha cara. Tentei apenas me manter na minha. O
falso Romeu continuou a aproximar o rosto do dela, alisando a sua
bochecha. Senti um aperto no coração, porque sim, só eu podia fazer isso
com ela. Era só minha. Quando essa maldita peça iria acabar?
Me lembrei do dia em que fomos no parque e a pequena me contou que
estava dormindo com um cara. Será que era ele? Nunca mais entrei no
assunto, foi antes de mim e não ficaria investigando o seu passado.
O cara beijou a sua testa e ok... Isso já foi demais! Me levantei e passei
por Drake e Sienna, eles tentaram inutilmente me puxar pela camiseta,
porém passei por eles e subi no palco, atrapalhando todo o ensaio.
— Cheguei. — Sorri para os estudantes, que me olharam assustados.
Madison franziu a testa, tentando entender o que diabos eu estava
fazendo ali. Sabia que hoje talvez dormisse no sofá.
— Já pode ir. — Apontei para o Romeu impostor e ele olhou para os
outros atores em busca de orientação.
Fui na sua direção e dei um tapa amigável nas suas costas, o
incentivando a ir para os bastidores. Ele seguiu sem entender nada e assumi
o seu lugar, segurando o rosto da pequena nas mãos como ele estava
fazendo.
Ela forçou um sorriso, fingindo bom humor, no entanto estava com
uma cara de quem ia chutar os meus ovos.
— Ficou doido? — sussurrou perto da minha boca.
— Fiquei — respondi no mesmo tom. — De ciúme.
Ela revirou os olhos e voltou a respirar fundo para continuar.
— Já está indo embora? — ela perguntou alto, seguindo o roteiro da
peça. — Preciso ter notícias suas todo dia, a cada hora.
Suspirei em cansaço.
— Meu Deus, que mulher grudenta — provoquei baixinho e ela ergueu
a sobrancelha.
— O sofá te espera hoje, Colin — avisou pertinho e sorri para ela.
— Não perderei a oportunidade de lhe transmitir o meu amor — falei
alto, recitando o texto do roteiro.
— Vamos nos ver de novo? — perguntou Julieta em um tom triste.
Não, os dois morrem no final.
— Não duvido nem por um momento — completei dramaticamente.
Pobre, Romeu. Mal sabia o que lhe esperava.
Madison abriu a boca para dizer a próxima fala, mas estava tão
absurdamente linda que aproximei minha boca da dela com calma. A ruiva
parou no lugar e eu a puxei para mim pela cintura, a pressionando contra o
meu corpo. Segurei o seu rosto e a beijei.
Ela se derreteu. Suspirou na minha boca e a abriu para mim, passando
o braço pelo meu abdômen. Senti o seu cheiro tão bom me acalmar, parecia
que meu coração ficava mais leve quando a segurava assim tão perto.
Beijei ela até ficarmos ofegantes. Éramos só nós dois ali e não ouvi
nada à nossa volta. Quando a soltei ela ficou manhosa, vermelha e passei o
polegar pelo seu rosto, no nariz, nas bochechas até terminar na testa.
Ela ficou parada, apenas recebendo o carinho e abraçando a minha
cintura.
— Química — alguém elogiou nos bastidores.
Ergui meu olhar e percebi que o pessoal ainda achava que estávamos
na atuação. Ela escondeu o rosto no meu peito, envergonhada, entretanto
esse era o momento em que o Romeu se despedia. Era triste, era ali que eles
se despediriam para não se verem nunca mais. Só não sabiam que era a
última vez.
Beijei a sua cabeça mais uma vez e me afastei dela.
— Adeus. — Dei um passo para trás e Madison me olhou desolada,
como se eu estivesse mesmo indo embora. Quase doeu deixá-la parada
sozinha no meio do palco. — Eu te amo — falei com tanta sinceridade que
ela sorriu para mim. — Eu te amo mais do já amei qualquer coisa nesse
mundo — continuei, mesmo sabendo que não estava no roteiro.
Dei mais um passo para trás, sumindo do palco e entrando na escuridão
dos bastidores. Ela ficou parada embaixo do canhão de luz, ainda olhando
na minha direção e em algum momento a luz apagou, deixando tudo no
completo escuro.
As pessoas começaram a bater palma e só senti um corpo pequeno se
chocando com o meu, me abraçando. Ela deitou a cabeça no meu peito e
ficou ali enquanto a abraçava de volta.
— Eu também te amo — declarou contra a minha camiseta.
Era tão bom ouvir aquilo justamente da pessoa pela qual você faria
tudo.
— Eu comprei algo pra você — contei e as luzes voltaram ao normal
no teatro. Pessoas passavam de um lado para o outro, tentando não nos
atrapalhar.
— O quê? — perguntou curiosa.
— Depois eu te dou. — Beijei a sua cabeça.
Talvez eu não desse agora. Talvez eu demore algum tempo. Talvez
alguns anos até. Contudo, estava comigo. Eu sabia o que queria. Nunca me
vi tão certo de algo como daquilo. Madison ergueu os olhos esmeralda para
mim e soube também que queria uma garotinha ruiva com aqueles olhos um
dia.
Queria mais uma parte dela para amar.
— Vocês arrasaram. — Senti uma mão bater nas minhas costas e olhei
por cima do ombro, vendo que era o Romeu Fake.
Madison sorriu para ele.
— Obrigada! Você também foi ótimo — elogiou e ele piscou para ela
antes de sair.
Fiquei o observando sumir da minha vista para finalmente perguntar.
— Se lembra quando estávamos no parque? Que você disse que estava
com uma pessoa... — joguei a indireta e ela franziu a testa, até se lembrar e
abrir a boca em choque.
— Meu Deus — murmurou vermelha e depois começou a rir.
Fiquei esperando que me desse uma explicação. Ela riu tanto que
acabei tendo que acompanha-la, mesmo sem saber o motivo.
— Eu inventei aquilo — disse do nada e fiquei parado, processando
aquilo.
— O quê?
— Eu inventei — repetiu voltando a me abraçar, ainda com um sorriso
no rosto. — Queria parecer experiente.
Tirei um cacho da frente do seu rosto e balancei a cabeça em negação
para ela.
— Eu não me importaria com isso — avisei e Madison se ergueu na
ponta dos pés para me beijar.
— Eu sei, mas a verdade é que você é o meu segundo — contou e
voltei a beijar a sua testa.
Eu só quero ser o último.
Segurei a sua mão e fomos buscar as suas coisas. O lado de fora do
teatro estava cheio de estudantes indo para a casa e vi Drake e Sienna
acenando para nós de longe. Meu amigo estava no telefone e parecia me
direcionar um olhar ansioso.
— OS OVOS! — ele gritou para mim e franzi a testa.
— Nasceram! — Sienna completou com um sorriso.
— Ah Meu Deus! — Sorriu Madison, animada.
Beijei a sua cabeça e passei o braço pelos seus ombros. Finalmente!
Tinha muitos motivos para comemorar hoje. Talvez eu desse uma festa...
Sempre era uma opção. Meu amor ganhou um estágio e os ovos
chocaram.
Agora só torcia para que esses passarinhos não voassem tão cedo, não
queria que ela voltasse para a sua casa. Podia ficar dormindo comigo para
sempre.
Madison Jensen

A vaga era minha! Sim, a vaga era minha! Não sabia quando o Sr.
Stone iria me dizer oficialmente, estava até com medo de comemorar e ele
mudar de ideia depois, no entanto meu coração foi a mil assim que Colin
me contou exatamente tudo o que meu professor havia dito.
Podia respirar melhor agora, no próximo semestre teria uma renda fixa
e um trabalho que seria na minha área. Ainda para completar, os ovinhos
chocaram.
— Acha que vai demorar muito pra eles voarem? — perguntou Scarlett
do meu lado.
A abracei pela cintura e descansei a cabeça no seu ombro.
— Nadinha — murmurei em resposta.
Todos nós nos reunimos no telhado para vermos os passarinhos. O que
foi um pouco decepcionante, já que não era possível enxerga-los de noite
pois estavam dormindo. Só dava para ver a mamãe fofa que dormia em
cima do ninho. Subimos no telhado, em silêncio, apenas para observá-los.
A verdade é que esperamos tanto esses ovos chocarem que quando
aconteceu virou um evento. Amber saiu correndo da aula, Tyler tentou tirar
foto deles e Taylor até se emocionou.
— Precisamos comemorar — determinou Amber empolgada, tentando
falar baixo para não os acordar. — Tanto pelos passarinhos quanto pela
Maddie.
— Verdade — concordou Colin, passando o braço pela minha cintura e
me puxando para si. — Minha namorada de um metro e quarenta agora é
uma artista de renome.
Belisquei o abdômen do idiota.
— Eu tenho um metro e quarenta e você é solteiro — retruquei afiada.
Ele riu e enterrou o rosto no meu pescoço.
— Um e quarenta? — perguntou, se fazendo de desentendido. — Disse
um metro e setenta.
— Dia de semana — cantarolou Sienna.
— Desde quando isso nos impediu? — Scar ergueu a sobrancelha para
ela.
— Pois vamos descer logo, já está escuro demais — disse Johnny,
pegando a mão da namorada. — Cuidado onde pisam — alertou, apontando
para o telhado destruído.
Colin segurou a minha também e me guiou para descermos juntos. Eu
vi que alguns vizinhos passaram estranhando ao nos verem reunidos no
telhado, mas não questionaram. Talvez já estivessem acostumados.
As únicas três crianças que moravam na nossa rua passaram mais de
uma vez de bicicleta tentando descobrir o que fazíamos. Colin gritou para
eles que estávamos vendo os ovos chocarem e creio que isso só os deixou
mais confusos. Eram fofos. Três irmãos que deveriam ter em torno de dez a
doze anos.
O triste era que pareciam ter meu namorado como um ídolo. Tudo o
que Colin dizia, os pobres coitados acreditavam. Ou seja, iriam dar muita
dor de cabeça para os pais.
Fomos para casa e me arrumei depressa. Coloquei um vestido preto
tomara que caia, curtinho e colado ao corpo. Calcei uns saltos e pus brincos
prata para completar. Meus cachos estavam ajudando hoje, ainda assim
trancei as duas mechas da frente e depois as amarrei juntas atrás, deixando-
as caírem em uma cascata no resto do cabelo solto.
Quando saí do banheiro tomei um susto ao ver que o quarto estava
cheio de sacolas. Caminhei até elas sentindo meu coração acelerar.
Vi as compras no carro logo que voltamos, no entanto, achei que eram
de Sienna, nem cheguei a cogitar que eram presentes para mim.
Tinha macacões, material de pintura, algumas velas aromáticas,
incensos, um telescópio, dentre outras coisas. Eram tantos presentes que
nem consegui abrir tudo. Sentei na cama e peguei uma sacolinha vermelha
específica porque tinha um cartãozinho pendurado nela. E eu conhecia bem
aquela letra.
“És, para mim, como o alimento para a vida. Ou a chuva amena para
o solo no tórrido verão”.
— Shakespeare. — Sorri ao reconhecer o soneto.
— O próprio.
Ergui o olhar e encontrei Colin encostado na porta com os braços
cruzados em frente ao peito. Ele desceu o olhar pelo meu vestido, secando
cada curva do meu corpo de um jeito que fazia com que eu me sentisse tão
bonita...
— Talvez devêssemos comemorar aqui mesmo — sugeriu caminhando
na minha direção com uma expressão predadora.
Prendi a respiração, ansiosa. Ele parou na minha frente e me estendeu a
mão com calma, a postura totalmente diferente do seu olhar, que parecia
querer me devorar. Peguei a sua mão e Colin me puxou para ficar em pé.
Como eu estava de salto, fiquei na altura da sua boca. O seu aroma era
tão bom, passei a mão pela sua barba por fazer que arranhava de leve, mas
de um jeito gostoso. Os músculos contraindo à medida que eu descia o
carinho pelo seu pescoço. Não consegui desviar dos seus olhos nem por um
minuto.
— Você ainda tem o verdinho? — perguntou com a voz rouca e o
encarei confusa. — O vibrador — esclareceu.
Fiquei surpresa com a pergunta e mais ainda com o apelido que ele
tinha dado para o meu vibrador. Respirei fundo sentindo o meu rosto
esquentar, porém não desviei. Engoli em seco, excitada e acenei
confirmando.
— Abre o presente — pediu e só então me lembrei que ainda segurava
a sacola vermelha.
Meu Deus, nem tinha agradecido!
— Eu amei a citação — disse, sorrindo na sua direção. — Amei tudo.
— Apontei para os presentes. — Obrigada de verdade, você não precisava
ter me dado essas coisas.
Colin passou as mãos na minha cintura e me pressionou junto ao seu
corpo, tanto que meus seios ficaram sufocados contra o seu peitoral. Sua
perna entrou no meio das minhas, levantando um pouco o meu vestido.
Apoiei as mãos no seu peito para me equilibrar e de repente todo o ar do
mundo sumiu.
Ele se inclinou na minha direção e achei que fosse me beijar. Aguardei
ansiosa, só que não foi isso que Colin fez. Ele desceu o nariz pelo meu
pescoço e inspirou profundamente na minha pele até descer pelo decote do
tomara que caia.
Me arrepiei, quis fechar as pernas, porém não pude, a dele ainda estava
no meio das minhas.
— Abre — mandou naquele tom de comando que me deixava
molhada.
Achei que estivesse falando das pernas e obedeci. A coxa dele entrou
mais e roçou na minha boceta, fazendo o meu corpo todo vibrar. Colin me
segurou mais no lugar e subiu para falar perto do meu ouvido, soprando a
minha pele no caminho.
— Eu quis dizer a sacola — provocou, tocando com a língua na minha
orelha.
Torci o pescoço desejosa. Peguei a sacola e a abri, tirando o que tinha
dentro. Eu não acredito... Era uma calcinha vibratória. Ele tinha colocado
uma citação fofa de Shakespeare do lado de um vibrador? A calcinha
parecia um fio dental preto na parte da bunda, mas quando chegava na
frente tinha um vibrador embutido, daqueles que apenas massageava o
clitóris, roçando em cima.
— É da cor do seu vestido — comentou Colin, descendo o olhar pelo
meu vestido como se eu estivesse nua.
— É — concordei debilmente.
Ele pegou a calcinha da minha mão e desceu as mãos pesadas pela
minha bunda até chegar no limite do vestido. Colin entrou na roupa,
tocando a minha calcinha. Ofeguei quando senti o seu dedo alisando o
tecido úmido. Senti a sua ereção contra a minha barriga, pesada e dura.
Para minha surpresa, ele se agachou na minha frente e puxou, com
cuidado, a calcinha que eu estava usando para baixo, fazendo-a deslizar
pelas minhas pernas até chegar nos saltos. Colin a tirou de mim e colocou a
nova, fazendo eu ficar cada vez mais excitada só por sentir o tecido subindo
pelas minhas pernas e a sua mão roçando em mim. Ele ergueu um pouco
meu vestido, encaixou a calcinha na minha bunda, metendo o fio dental
nela e deu uma lambida na minha boceta antes de voltar a ficar em pé.
Eu já estava melada e ofegante. O puxei para um beijo assim que se
levantou, chupei aquela língua sentindo o meu gosto e quis mesmo passar a
noite toda ali, comemorando só nós dois.
No entanto, o destino não estava ajudando.
— Gente, vamos!
Gemi frustrada ao escutar Amber. Colin soltou um palavrão e ajustou o
meu vestido no lugar protetoramente, para ninguém me ver caso entrassem
no quarto. Peguei a minha bolsa em cima da cama e nos encaramos uma
última vez.
Se passássemos mais um segundo no cômodo, não sairíamos nunca
mais. Por isso o puxei logo para o corredor.
Seria uma noite longa, passaria todos os minutos querendo sentar nele.
A boate era bem escura e tinha aquelas luzes neons que faziam quem
estava de branco brilhar no meio da multidão. Pena que meu vestido era
preto. Mas para o meu consolo, eles entregaram para todo mundo, na
entrada, uma pulseira que brilhava no escuro.
Ficamos no andar de baixo e achamos uma mesa no canto, onde dava
para todos se sentarem no sofá em formato de L que tinha em volta.
Contudo, talvez Colin não tivesse entendido aquilo, já que não me deixou
sair do seu colo.
— Hum... tem poste de pole dance ali — murmurou Sienna
interessada, apontando para o poste no centro da boate.
Michael passou o braço pelos ombros dela e sussurrou algo no seu
ouvido. Para a nossa infelicidade, o namorado da minha amiga tinha
resolvido vir junto, ele quase não interagia com ninguém e ficava grudado
em Sienna de um jeito sufocante. Por mais que fosse sutil, conseguia
perceber o incômodo dela.
Amber até tentou conversar com ele para não o excluir, porém desistiu
de lhe dar atenção depois que viu o seu desinteresse.
— Você sabe dançar pole dance? — perguntou Scar curiosa.
— Sei... faz um tempo que não treino, mas sei. — Sienna deu de
ombros e ficou olhando para o poste.
— Eu queria aprender — murmurou Amber, virando a sua décima
garrafa de bebida. — Vamos pegar mais um pouco? — chamou e era a
minha vez de ir com ela.
Levantei do colo do Colin e ele ficou secando descaradamente a minha
bunda. A minha sorte era a escuridão do local ou todo mundo perceberia.
— Você não fica com dor no corpo? — ele perguntou para mim e o
encarei confusa. — Por carregar toda a beleza do mundo nas costas.
Ri e balancei a cabeça em negação para ele.
— Essa até que não foi tão horrível assim — elogiei antes de lhe dar
um beijo.
— Estou sempre melhorando — argumentou e Amber me puxou para
segui-la.
Senti os olhos dele em mim, nas minhas costas, na bunda, nas pernas...
era quase palpável. Entramos no meio da pista de dança, passando pelas
pessoas até chegarmos no bar.
— Você está tão gata! — elogiou Amber se inclinando no balcão,
querendo chamar a atenção do barman.
— Você também — devolvi, vendo o quanto a loira estava linda.
Ela se virou para mim empolgada, como se tivesse acabado de ter uma
ideia fantástica.
— Vamos tomar tequila hoje?
Opa! Tequila era a única bebida que conseguia deixá-la bêbada mesmo.
E aquela bolinha de energia alcoolizada era engraçada demais para
dispensar.
— Tem certeza? — perguntei com calma e ela balançou a cabeça
positivamente. — Eu sou fraca pra essas coisas, mas a Scar consegue te
acompanhar...
— Perfeito! — Sorriu sem me deixar terminar, se virou para o barman
e fez o pedido.
— Ei, cachaceira! — uma voz familiar chamou atrás de nós.
Era Nelly, colega de curso da Amber. Ela estava com um vestido
branco e acabava se destacando pela luz neon.
— Ah, você veio! — cumprimentei a abraçando.
— Parabéns pelo estágio. — Ela sorriu para mim.
Meu Deus, tinham contado para todo mundo?
— Ainda não é oficial — expliquei depressa. — Entretanto, acho que
vou conseguir.
— Ansiosa pra assistir à peça.
— O pessoal está arrasando — contei com orgulho. — E Colin... você
sabe como é, não leva nada a sério.
Nelly arregalou os olhos, parecendo se lembrar de algo e seu rosto
perdeu todo o sangue. Olhei em volta sem saber o que tinha causado essa
reação nela.
— Eu fiquei em choque quando soube de vocês! — exclamou,
entrando no seu modo agitado. — Menina, você está bem servida!
Eu ri e confirmei apenas com um aceno, ficando um pouco vermelha.
Estava mesmo. Olhei por cima do ombro, sentindo falta de Amber, e vi que
a trapaceira já estava prestes a virar a segunda dose de tequila. Meu Deus,
que tragédia.
— Querida! — Corri para tirar o copo da sua mão. — Por que não
ficamos só com uma, hein?
— Essa outra é pra Scar — explicou cinicamente, piscando para mim
como se não estivesse prestes a beber a dose.
— Vamos. — Nelly pegou a mão de Amber e a minha, nos puxando
para dentro da multidão de novo. — Benny já chegou também, está com os
meninos.
Nelly nos arrastou de volta à nossa mesa e não sei o que aconteceu em
um período tão curto de tempo. Quando saímos estava um clima harmônico,
agora Drake apontava furiosamente o dedo para Tyler, que tentava se
esconder atrás do Taylor. Johnny apenas abanava as mãos entre os dois,
tentando controlá-los, Benny assistia a confusão assustado do seu lado e
Colin...
Bem, estava encostado no sofá querendo rir.
— O que aconteceu? — perguntei ao meu namorado e ele me puxou de
volta para o seu colo assim que me viu.
— Senti sua falta. — Enterrou o rosto no meu pescoço, beijando a
região.
Passei o braço pelos seus ombros e apontei para a confusão à nossa
frente. Colin abraçou a minha cintura e ficou olhando para os meninos.
— Algum sem noção inventou de brincar de verdade e desafio,
perguntaram pro Tyler como foi pegar a irmã do Drake — contou a fofoca.
É, não foi uma boa ideia.
— Quem perguntou isso? — perguntou Nelly, passando por nós para se
sentar no outro canto do sofá, ao lado de Benny.
— Colin — respondeu Scar como se fosse óbvio e nem fiquei surpresa.
— No dia em que ela foi nos visitar! — Drake apontou o dedo para
Tyler, revoltado. — De baixo do meu nariz. — Drake balançou a cabeça em
negação.
— Podemos esquecer essa história? — implorou Johnny e Amber se
jogou no colo dele, virando o segundo copo de tequila que ela estava
“guardando para a Scar”.
— Com você dormindo logo ao lado... — contribuiu Colin,
incentivando o caos.
— Foi muita sacanagem mesmo — apoiou Amber, apontando o seu
copo para Colin.
Ai quando esses dois se juntavam...
— O que você queria que eu fizesse? — se defendeu Tyler, se
escondendo atrás de Taylor, o usando como escudo.
— Resistisse — respondeu Drake e Tyler bufou.
— Ora, eu duvido que se uma garota entrasse no seu quarto e tirasse a
roupa...
Ah, Tyler! Você não se ajuda também. Drake se levantou, mas Johnny e
Taylor se colocaram na frente dele para empurrá-lo de volta para o sofá.
Amber se levantou junto, já que estava no colo de Johnny, e bem na hora
um garçom chegou na nossa mesa.
— Os camarões chegaram — anunciou o garçom, trazendo uma
bandeja e Sienna foi pegar o prato.
— Olha só! Eu pedi camarão — falou Sienna animada demais,
tentando distrair a atenção do pessoal.
— Ah, eu adoro camarão! — Amber empurrou Johnny para o sofá de
novo e sentou nas pernas dele.
Drake continuou a direcionar olhares cortantes na direção de Tyler, até
ele suspirar e decidir se defender.
— Olha, depois desse dia eu prometi a mim mesmo que nunca mais
faria isso — Tyler jurou e Drake relaxou um pouco.
— Hum... — murmurou Amber, comendo um camarão. — Mas logo
depois você já estava se agarrando com a Maddie.
Fechei os olhos em derrota. Colin ficou imediatamente tenso e suspirei,
sabendo que a confusão estava feita.
— Isso é verdade — concordou Colin, apontando o dedo para o
coitado.
— Eu fui a vítima. — Tyler apontou para o próprio peito e eu ri só de
lembrar do momento.
— A vítima — repetiu Colin em deboche, apertando os braços na
minha cintura.
— É verdade — concordei. — Eu que ataquei ele — falei em tom de
desculpas para Tyler.
E ele deu de ombros.
— Não tem problema — me dispensou com um aceno. — Foi ótimo.
Bati a mão na minha própria testa, massageando-a só em imaginar a
reação do louco que me segurava no colo. Colin abriu a boca, em choque
com a cara de pau, e se levantou para ir para cima dele.
Tyler se levantou em susto e começou a dar a volta na mesa, Johnny e
Taylor tentaram ficar entre eles e Drake apenas estendeu a perna na direção
do Tyler, fazendo-o cair em cima do namorado da Sienna.
— Que porra! — Michael se levantou todo sujo de cerveja,
derramando o próprio copo em si.
Sienna apenas pegou a bandeja de camarão e foi sentar longe deles, do
lado da Scar. Me levantei junto e puxei Colin para se sentar de volta no
sofá.
— Por que não esquecemos isso? — sugeri para todo mundo e me
sentei em cima do meu namorado, o impedindo de ir atrás de Tyler outra
vez.
Ele me abraçou, se acalmando.
— Ainda teve a cara de pau de dizer que foi “ótimo” — Colin
resmungou e beijei a sua testa.
— Isso é porque eu beijo muito bem — brinquei e ele suspirou,
olhando para mim.
— Foi horrível — corrigiu Tyler, indo se sentar bem distante de nós.
Colin se sentiu melhor com aquilo e revirei os olhos.
— Quem quer pegar mais tequila? — perguntou Amber, animada.
— Princesa, você não quer parar já? — Johnny se virou para ela,
carinhoso.
— Verdade, amor — concordou sensata, o abraçando. — Por que não
continuamos com a brincadeira?
— Eu acho melhor parar — aconselhou Scar.
— Ah, eu tenho um babado fortíssimo pra contar — Amber falou e
Drake imediatamente se inclinou na sua direção para ouvir. — Soube que o
Colin colocou um piercing no pau.
O quê?
— O quê? — Nelly fez a pergunta por mim, horrorizada.
Todo mundo olhou na nossa direção, assustados e só balancei a cabeça
negativamente, em choque.
— Isso é mentira — foi tudo o que consegui dizer. — Eu vejo todo dia.
Assim que fechei a boca me dei conta do que disse. Senti meu rosto
esquentar de vergonha e Colin riu.
— Eu não tenho — ele informou para Amber. — Mas já quis botar.
Amber se virou para Johnny, batendo no seu ombro.
— Você me disse que ele tinha.
— Eu disse que achava que tinha — se defendeu.
— Como o meu pau virou o assunto? — perguntou Colin, curioso.
Me virei para ele abismada.
— Você já quis botar? — perguntei e ele deu de ombros.
— Sim.
Apenas o encarei firme.
— Não — determinei e ele estreitou os olhos em divertimento para
mim.
— Ia ser a cereja do bolo, gnomo — justificou. — Vamos pegar o que
já é perfeito e deixar ainda mais bonito.
— Não tem cereja do bolo — neguei. — Você não vai fazer isso,
Colin!
— Eu pensei que o pau fosse meu — brincou em provocação.
— Mas quem senta nele sou eu. — Apontei para o meu próprio peito.
— Boa! — elogiou Sienna e só então percebi que todos ali estavam
prestando atenção na nossa conversa.
— Eu já conheci uma cara com um piercing nos ovos — disse Scar,
assustando todo mundo.
— Nos ovos?! — Drake cobriu a própria região como se estivesse
sentindo dor.
— Meu Deus — disse Benny chocado, ajeitando os óculos no rosto.
— Que coisa... — Taylor tentou buscar uma palavra para aquilo. —
Inovadora.
— Sim — concordou Scar e eles continuaram a falar sobre o homem
com o piercing nos ovos enquanto eu me virava para Colin, agora que tinha
privacidade.
— Você ia mesmo colocar um piercing? — questionei uma última vez,
só para confirmar tamanha loucura.
Ele não iria colocar piercing algum. Não tinha negociação. Nem hoje,
nem amanhã, nem nunca.
Madison Jensen
Colin se aproximou de mim, me segurando mais perto do seu corpo.
— Sim — sussurrou, me puxando mais para perto. — Pense no quanto
seria gostoso sentir lá dentro.
Senti um arrepio passar pelo meu corpo e toquei o rosto do maluco,
alisando o canto dos seus olhos.
— Você não vai furar o seu pênis — determinei e ele sorriu.
— Fica tão sexy mandona assim — disse, beijando a curva do meu
decote exposto pelo vestido.
Quase no limite do tomara que caia, ofeguei e olhei em volta, com
medo de alguém ter visto. Porém, para o meu alívio, estávamos na
penumbra, o lugar era muito escuro e o pessoal estava entretido na conversa
sobre piercing.
As mãos pesadas de Colin subiram e desceram pela minha cintura, em
uma carícia que me deixou tensa. Suspirei devagar, o ar de repente ficou
mais pesado. Quente. Virei para ele com calma e peguei Colin secando o
meu pescoço, quase como se fosse algo que ele quisesse lamber.
Quando o seu olhar encontrou com o meu percebi o quanto ele estava
excitado.
— Você quase beijou o meu peito — avisei e Colin não demonstrou
qualquer arrependimento, apenas continuou me olhando e se aproximou
mais.
Fiquei parada com os braços em volta do seu pescoço, o esperando vir.
Ele encostou o nariz perto do meu ouvido, respirando fundo ali, para depois
soprar na minha pele.
— Oh, foi mesmo? — perguntou cinicamente e entreabri os lábios,
sentindo-os secos.
Passei a língua devagar pelo lábio inferior, molhando-o, com medo de
apenas encarar ele e perder a cabeça. Colin desceu a mão, que alisava
minha cintura, para acariciar minha coxa. Assim que os seus dedos tocaram
a minha pele eu espremi as pernas, nervosa. Trêmula.
Senti a umidade da minha boceta molhando a calcinha. Ele apertou a
minha coxa ao mesmo tempo que encostou levemente os lábios no meu
pescoço, em um beijo suave e... me arrepiei inteira.
Joguei o pescoço mais para o lado, querendo que ele beijasse tudo
mesmo. Colin lambeu a região, sua língua gelada da bebida que estava
tomando fez todo o meu corpo estremecer. Ela passou tão devagar no meu
pescoço, de um jeito tão sugestivo, a saliva gostosa dele me melando de
uma forma que me fez cravar as unhas nos seus ombros para conter meu
gemido.
Juntei as pernas uma na outra e ele percebeu. Colin me abraçou mais,
colocando meu corpo em um casulo protetor. Ele continuou a deixar beijos
demorados no meu pescoço e ombro nu. Mordiscando de leve e inspirando
o meu aroma.
Eu apenas fechei os olhos, querendo muito sentir tudo, ficando sedenta.
Adorei a sensação de me sentir toda lambida, o ar da boate deixando minha
pele mais arrepiada. Ele arranhou a região com a sua barba por fazer e ali
foi o meu limite.
Precisava dele. Olhei em volta e todos continuavam conversando sem
prestar atenção em nós.
— Não podemos fazer essas coisas em público. — Tentei acordar meu
lado racional e bem nesse momento senti o seu pau duro na minha bunda.
Ah, que coisa gostosa... Fiquei com vontade de afastar a minha
calcinha e senti-lo.
— Quem disse? — provocou, roçando de leve o pau em mim e me
fazendo contorcer todo o corpo no seu colo.
— Colin — gemi, enterrando o rosto na curva do seu pescoço,
querendo sumir e pedir para ele continuar ao mesmo tempo.
Senti o seu cheiro bom, os seus músculos tensos, o jeito que ele era
gostoso... Colin me apertou mais com carinho, alisou o meu braço nu,
sentindo a pele toda arrepiada, e beijou a minha cabeça com calma.
— Eu cuido de você, meu amor — prometeu, passando o dedo
sugestivamente pelo meu braço, me fazendo querer arrancar toda a roupa
que estava entre nós.
Ergui os olhos para o pessoal novamente, mas para mim, tudo estava
escuro demais, não sabia se era da excitação ou do próprio ambiente. Colin
mexeu um pouco a perna para colocar a mão no bolso da calça e seu pau
duro roçou em mim no processo. Eu precisava...
Algo vibrou na minha boceta, fazendo-a ficar ainda mais melada! Todo
o meu corpo se contraiu, me fazendo soltar um gemido agudo bem alto.
Apoiei as mãos na mesa, assustando todo mundo, e fazendo vários pares de
olhos se virarem na minha direção.
A DROGA DA CALCINHA.
Eu esqueci que estava usando, podia sentir que ela estava vibrando
bem em cima do meu clitóris como uma tortura.
— Querida? — perguntou Sienna, preocupada.
— Você está bem? — Nelly estreitou os olhos para mim, tentando
enxergar o que acontecia.
Não. Tem algo vibrando na minha calcinha.
— Estou. — Forcei um sorriso e senti outra vibração apertando mais o
clitóris. QUE INFERNO. — Meu Deus!
Os braços de Colin me apertaram, me trazendo de volta para o conforto
do seu corpo e percebi que o cretino estava querendo rir. Mordi o lábio
inferior, contendo um gemido e respirei fundo, acalmando o meu coração
acelerado.
O pior de tudo era que eu queria que o vibrador apertasse mais. Queria
o pau duro, que cutucava a minha bunda, entrando em mim. Queria a boca
dele na minha, mas não podia ser ali.
O vibrador começou a girar e meu Deus... cravei as unhas com força
nos braços do Colin, quase arrancando um pedaço da sua pele. Fechei os
olhos e tentei controlar o meu corpo.
— É o camarão — explicou Colin para o pessoal. — Ela é alérgica —
mentiu.
— Meu Deus, eu esqueci! — Sienna murmurou, mortificada.
— Tirem o camarão de perto dela! — Drake começou a tirar o camarão
da mesa e todo mundo se levantou para tirar a bandeja de perto.
— Eu vou leva-la pra tomar um ar. — Colin se levantou comigo, me
mantendo junto ao seu corpo e suspirei de alívio quando minhas pernas
esticaram.
Ainda estavam bambas e ao levantar rocei ainda mais no vibrador. No
entanto, pelo menos, Colin me tiraria dali. Se ele não me desse um orgasmo
nesse minuto seria caso de morte. Dele, no caso.
— Não! — mandou Taylor e quase chorei. — Temos que levá-la pro
hospital.
Todos assentiram em concordância e as meninas começaram a pegar as
bolsas em cima do sofá para irem embora.
— Não é necessário, eu cuido disso...
— Ela está vermelha — Amber cortou Colin, apontando para o meu
rosto.
Deveria estar mesmo, me sentia sufocada, precisava da pessoa que
estava me abraçando, dentro de mim. Senti o vibrador aumentar a
velocidade e mordi o lábio com força para reprimir o gemido. Cravei as
unhas no abraço de Colin, avisando silenciosamente para ele pegar a
oportunidade e fugir.
— É o camarão — falei, espremendo as pernas e apontando para a
bandeja, meu dedo tremendo de tanto tesão acumulado. — Tem... tem... —
PELO AMOR DE DEUS. — Tem alguma coisa nele, não comam!
Eles olharam para a bandeja que Drake segurava e deram um passo
para trás, assustados. Colin me segurou mais firme e acenou em despedida
para eles.
— Estamos indo. — Apontou para a bandeja e pegou minha bolsa em
cima do sofá. — Não comam o camarão!
Ele saiu comigo pela boate, passando pelas pessoas enquanto eu me
contorcia no caminho, abraçando o seu corpo como se fosse o meu bote
salva-vidas. Colin entrou em um banheiro e trancou a porta atrás de si.
Me soltei dele e assim que meu namorado se virou, com um olhar
sedento e ao mesmo tempo divertido, na minha direção, eu perdi a
paciência. Empurrei-o contra a porta com toda a minha força e o puxei pela
camiseta para um beijo, quase rasgando o tecido no processo.
— Porra... — Ele gemeu ao sentir minha língua deslizando para dentro
da sua boca gostosa.
O maldito vibrador continuava a girar no meu clitóris, fazendo eu me
molhar toda ao ponto de sentir que estava toda melada até na coxa. Gemi
sufocada no beijo, chupando a língua dele.
Colin me puxou para o seu corpo, sabendo que eu precisava de tudo
naquele momento. Ele me ergueu nos braços e enrolei as pernas na sua
cintura depressa, ficando louca ao sentir o seu pau duro roçando na minha
virilha toda lambuzada. Colin nos mudou de posição, me colocando contra
a porta e dando uma esfregada na minha boceta, bem onde a calcinha já
estava fazendo um ótimo trabalho.
Gemi enlouquecida, jogando minha cabeça para trás e rebolando
descontroladamente nele, girando meu quadril para ter mais contato. Colin
abaixou o meu vestido tomara que caia até a cintura e meus seios saltaram
para fora, livres, balançando no ar à medida que eu me esfregava mais na
sua calça jeans.
Ele os abocanhou, chupando com força o mamilo, babando bem a
região e os deixando duros de excitação. Senti a sua barba por fazer me
arranhar e segurei o seu cabelo, cravando os dedos para não tirá-lo dali.
Porém, Colin se afastou para chupar o outro, deixou o seio inchado e
babado. Assim que senti a sua boca sugando o outro bico arrepiado, o quis
em cada parte do meu corpo.
— Preciso de você — pedi manhosa, rebolando no seu jeans e sentindo
o seu pau pular de tão duro.
Estocou em mim, pressionando o quadril bem em cima da minha
boceta. Gemi tão alto que o som preencheu todo o banheiro pequeno.
— Ocupado? — Escutei alguém bater à porta atrás de mim, mas por
nada nesse mundo sairia dali.
Colin subiu as lambidas até chegar na minha boca, já aberta para
receber a sua língua.
— Sim! — Colin gritou e abriu mais as minhas pernas para girar o seu
pau bem na minha virilha.
Gemi sem consegui me conter, segurando os seus ombros para me
manter no lugar. Ouvi a pessoa se desculpar e talvez tenha ido embora. Ou
talvez não, pouco me importei.
— Colin, já chega — sussurrei implorando, meu coração batendo tanto
que o sentia na garganta.
Ele mordiscou o meu lábio inferior inchado e me empurrou com mais
força contra a porta, fazendo o seu pau me cutucar e que inferno... queria
rasgar a sua roupa e colocá-lo dentro de mim.
— Olha pra mim — mandou e obedeci imediatamente, faria qualquer
coisa que ele me pedisse.
Ficamos nos encarando enquanto eu enterrei os dedos no seu cabelo,
precisando do contato. Meu clitóris pulsou tanto que senti minha boceta
escorrer de tão melada.
— Agora, Colin — pedi e ele levou uma mão entre nós, até o zíper da
sua calça. Sem desviar de mim.
Quando o senti colocar o pau para fora quase chorei de alívio. Abri as
pernas ansiosa e ele afastou a minha calcinha ensopada com o polegar, só a
parte que ficava na entrada, deixando o vibrador brincando com o meu
clitóris. Colin passou a cabeça do pau na minha boceta e gemeu ao sentir o
quanto estava lambuzada.
— Puta merda, pequena. — Ele trincou os dentes como se estivesse
sentindo dor e o abracei, empurrando o quadril na sua direção para senti-lo
entrar.
Ele gemeu na minha boca e o beijei, segurando o seu pescoço. Minha
língua duelava com a dele enquanto seu pau deslizava para dentro, me
alargando completamente, abrindo caminho.
— Melada pra caralho — murmurou na minha boca, descendo para
mordiscar o meu pescoço. Senti os seus dentes mordendo a minha pele e
minhas pernas tremeram por senti-lo começar a roçar.
— Eu amo sentir entrar gostoso assim — falei, sentindo-o meter até
entrar todo.
Colin empurrou com força, bombeando de uma vez e fazendo o seu
pau ficar enterrado até o talo na minha boceta. Estocou com tanta vontade
que meu corpo bateu contra a porta.
Estremeci dos pés à cabeça de tanto tesão. Comecei a rebolar
desesperada, sentindo o pau sair todo melado e entrar de novo em mim.
Colin continuou metendo com força e senti meu corpo inteiro vibrar. As
suas mãos fortes desceram para minha bunda até chegarem perto da boceta
e ele abriu minhas pernas até o limite, sentindo o tanto que lambuzei tudo
ao redor.
Separou bem minhas coxas e passou a meter o pau até eu senti-lo lá
dentro. Abracei os seus ombros e beijei aquela boca gostosa, que estava tão
próxima da minha. O vibrador girou no meu clitóris, tremendo e
aumentando a pressão. Foi o meu fim.
Gozei, nunca me senti tão melada como naquele momento. Colin não
parou e eu gemi alto. Minha boceta contraiu, esfregando e esmagando o seu
pau. A senti escorrer de tanto gozo.
Colin segurou o meu rosto com uma mão e passou a alisar a minha
bochecha, sem deixar de estocar em mim. Olhei nos seus olhos azuis e vi
tudo ali. Tesão. Vontade. Carinho. Amor.
O puxei para mais um beijo, só porque não conseguia deixar de beijá-
lo. Minhas pernas estavam para cederem, fracas depois do orgasmo. E ele
percebeu, pois me soltou e tirou o pau duro de dentro de mim.
O senti sair erguido e totalmente lambuzado, tanto que o vi brilhar sob
a luz do banheiro. Inchado, grosso e cheio de veias.
Colin deixou que eu me equilibrasse no chão antes de me colocar de
frente para a pia pequena que havia no local, onde tinha um espelho bem
em cima. Apoiei minhas mãos na louça e empinei minha bunda para trás,
pronta para senti-lo entrar em mim de novo.
Seu corpo surgiu atrás do meu, grande e forte. O seu braço passou pela
minha barriga, me segurando no lugar quando meteu novamente o pau na
entrada da minha boceta. Joguei a cabeça para trás, gemendo e descansando
ela no seu peitoral.
Olhei para frente e ficamos nos encarando enquanto ele empurrava
dando uma rebolada no caminho, tocando o meu ponto G. Precisei me
segurar na pia e inclinar o tronco para frente, meu corpo inteiro tremeu e
joguei a bunda para trás, querendo mais. Seu pau deslizou pela minha
boceta gozada, me fazendo contrair e sentir outro orgasmo chegar. Achei
que estivesse esgotada, mas não.
Nos olhamos e vi ele descer a mão que me segurava para dentro da
minha calcinha minúscula, a afastando de lado e ele mesmo passou a
massagear o meu clitóris com o polegar. Já estava tão pulsante... inchado.
Torci as pernas e fechei os olhos com força, rebolando enlouquecidamente
de novo.
Quando voltei a abrir os olhos ele puxou mais a minha bunda para trás
e olhou fixamente para mim, para os meus seios balançando, para os meus
olhos e minha boca. E só pela sua expressão de puro prazer e tesão eu senti
minha respiração falhar.
Apertei tanto as mãos na pia que os meus dedos ficaram brancos. Meu
coração acelerou e ele meteu fundo, me fazendo gemer alto, o som saindo
cortante pelas estocadas violentas. Contraí e mais uma vez gozei. Meu
Deus, ia infartar.
Colin enfiou uma última vez em mim, gozando dentro.
Os seus braços me apertaram e suspirei em derrota. Estava me sentindo
saciada, senti o seu pau contraindo dentro de mim, derramando mais gozo,
até a última gota e quis absorver tudo. Ele travou o maxilar em alívio, tirou
o meu cabelo da nuca e passou a beijar a pele com carinho.
O sêmen quente escorreu pelas minhas coxas assim que o pênis
deslizou para fora, mas daquela vez acho que era tanto meu quanto dele.
Colin me virou de frente e o abracei, morta.
Estava sem equilíbrio, manhosa e ofegante. Ele me encostou na porta
novamente e descansou a testa na minha. Estávamos ofegantes e ficamos
ali, respirando o mesmo ar, esperando nossos corações se acalmarem.
— Sente meu coração. — Peguei a sua mão e a coloquei entre os meus
seios, bem onde estava a minha corrente de ouro.
Colin passou a mão delicadamente pelos meus seios, alisando os bicos
e dando um beijo carinhoso em cada um antes de cobri-los, erguendo o meu
vestido.
Me deixei ser cuidada. Era bom.
Ele ajeitou a própria calça, depois se abaixou para me limpar e tirar a
calcinha de mim, passando-a pelas minhas pernas. Toda molhada e pesada.
Quando passei os meus saltos por ela Colin a levou até o nariz, cheirando e
guardando no bolso da calça.
— Eu fico com isso — informou e me mostrou o controle da calcinha,
que estava guardado no bolso da sua calça.
Balancei a cabeça em negação para ele, ainda encostada na porta.
Morta. Minha cara com certeza assustaria qualquer pessoa naquele
momento. Estendi a mão para Colin e ele se levantou, me abraçando.
Beijou a minha testa e eu só deitei a cabeça no seu ombro, alisando as
suas costas perfeitas. Me sentia acolhida, amada, só queria ficar assim com
ele a vida toda.
— Eu te amo — declarei beijando o seu queixo, que era onde
alcançava com os saltos, e sentindo o seu cheiro bom.
Colin me apertou mais, tão forte que conseguiu até acalmar o meu
coração.
— Amor da minha vida — sussurrou pertinho do meu ouvido, beijando
a minha bochecha. — Amor da minha vida — repetiu ao segurar o meu
rosto com proteção.
Me aproximei dele e ficamos roçando os narizes, suspirando um para o
outro e dando beijos despreocupados.
Alguém tentou abrir a porta de novo, nos assustando. Abracei Colin e
ele só gritou para a pessoa que estava ocupado.
Peguei a minha bolsa jogado no banheiro, sem nem me lembrar de
quando a larguei no chão, e saímos de lá com a maior cara limpa. Tinha
uma garota esperando para entrar. Ela nos olhou de cima a baixo, deixando
claro que sabia o que estávamos fazendo.
Fiquei um pouco envergonhada, mas o bom humor venceu. Enterrei o
rosto no peito do Colin e ri.
E fui para a casa com o amor da minha vida.
E fiz amor com ele a noite toda.
Madison Jensen
Arte não é uma forma de expressar só sentimentos, mas também
magia. Ela se comunica, fala por você, ela se pinta, desenha, constrói,
expressa e cria vida.
O poder que se concentra nas mãos de um artista é gigante. Ele cria
algo novo, coloca no mundo uma coisa que não existia antes. Ela nasce,
cresce e nunca morre. Pode até ser que se deteriore com o tempo, no
entanto se chegou a tocar alguém algum dia, tem o seu lugar no mundo.
Talvez os sonhos de Colin sejam assim. Eles se perdem no mundo no
instante em que o seu corpo acorda. Eles morrem quando a realidade chega.
Somem do seu alcance, não o permitindo capturá-los. E tudo o que eu
queria era poder dá-los a ele. Seria um presente, a minha maior prova de
amor.
Lhe devolver o que foi perdido, lhe dar o que ele nem sabe que é seu. E
deixar que se eternize, como William Turner tentava fazer com a luz do sol.
Sempre senti que ele a amava de alguma forma, que acordava e
pensava que a luz seria o seu guia. Sempre achei que ele a queria para si,
capturá-la e conseguir fazer com que ela fizesse parte do mundo.
Observei Colin respirar tranquilamente, seu peito subindo e descendo
enquanto o ar entrava e saía do seu corpo. Tão bonito... Ajustei o caderno
de desenho nas minhas pernas e continuei a rabiscar na folha.
Alguns artistas tinham o sol como inspiração, o amanhecer, as flores, o
mar, as estrelas e a própria vida. Eu tinha Colin. Passei a tornar o meu ritual
favorito observá-lo despertar de manhã.
Quando o canto da sua boca se ergueu em um sorriso eu percebi que
ele tinha voltado. Acordou. E era como o momento em que o sol nascia de
manhã, iluminando o quarto.
— Eu sinto os seus olhos em mim — ele murmurou, abrindo os olhos
para me encarar.
Sorri para ele de volta e coloquei um cacho, que estava atrapalhando
minha visão, atrás da orelha.
— Você virou o meu sol — justifiquei e ficamos nos olhando em
silêncio.
Não precisei explicar mais, ele entendeu. Sempre compreendia. Eu não
precisava me esconder dele, ou ter vergonha de compartilhar meus
interesses e crenças. Ele nunca tentava me ridicularizar, apenas me aceitava
como eu era, me amava por completo.
— Você sempre foi o meu — sussurrou e fiquei com vontade de pintá-
lo exatamente como estava. Cansado depois de ter passado quase a noite
toda dentro de mim, não paramos depois do episódio do banheiro. — Desde
o dia em que caí em cima de você.
Meu sorriso se tornou mais pleno, tranquilo.
— A vela — brinquei e ele me entregou um olhar divertido.
— A maldita vela.
Fechei o meu caderno de desenho e o deixei em um canto para ir até a
cama ficar com ele. Colin abriu os braços, pronto para me colocar no seu
casulo, como fazia todas as noites. Porém, dessa vez eu apenas me sentei na
sua frente. Ele se ergueu, encostando as costas na cabeceira para me olhar
mais de perto.
— Vou te contar uma história. — Ergui a sobrancelha e Colin me olhou
atento, me puxando mais para perto.
— Qual história?
— De uma menina que descumpriu uma regra — contei e seus olhos
suavizarem. Ele tocou o meu queixo com carinho, alisando a minha pele.
— Que regra ela quebrou?
Peguei a sua mão na minha e a beijei, como ele costumava fazer
comigo. Abri a sua palma entre nós e fiquei traçando as marcas da sua mão,
bem em cima da linha da vida.
— Ela pediu respostas — continuei passando o dedo pela sua palma,
onde alguns acreditavam que se escondia todo o destino de uma pessoa. —
Ela pediu a outra parte.
Ele franziu a testa, buscando entender. Coloquei a minha mão do lado
da sua, bem onde começava a minha linha do coração, exatamente onde a
sua terminava. E elas juntas, uma do lado da outra, seguiram um mesmo
caminho. Ele compreendeu, tocou o meu dedo mindinho com o seu e os
entrelaçou, como no dia em que fizemos nossa promessa de estarmos
sempre um com o outro.
— Exatamente. — Sorri, erguendo o olhar para ele. — A outra parte.
Colin levou os nossos dedos unidos até ele e beijou o meu, com
carinho e reverência.
— Que resposta ela teve? — perguntou, me olhando de um jeito tão
amoroso que senti meu coração apertar.
— Não precisa procurar pelas estrelas, elas simplesmente vêm até você
toda noite — recitei e ele beijou mais uma vez a minha mão. — Elas estão
te procurando também e por isso brilham. O que respira o mesmo ar —
Apontei para o espaço entre nós. —, está fadado a se encontrar.
Colin ficou me olhando e se aproximou aos poucos. Suspirei em
expectativa quando ele segurou o meu rosto nas suas mãos e ficou olhando
meus olhos como se fossem a coisa mais fascinante do mundo.
— A vela era pra isso, luz da minha vida? — perguntou e gostei tanto
daquele nome carinhoso, que me peguei sorrindo.
Confirmei assentindo e Colin beijou demoradamente a ponta do meu
nariz.
— Você ilumina o meu mundo — declarou tão sincero que meu corpo
inteiro se acalmou ao ouvir aquilo. — É a pessoa mais preciosa do mundo
pra mim, não há nada que eu não faria por você. Nunca pensei que seria
possível amar alguém tanto assim. — Tocou o canto da minha bochecha,
onde formava a minha covinha. — Obrigado por trazer essa paz pro meu
coração.
Olhei para cada canto dele. O formato charmoso da sua boca, o jeito
que ela se curvava quando ele sorria, os seus olhos perfeitos, seu nariz e
cada detalhe. Quis gravar tudo.
— Passei tanto tempo pensando em cada característica sua... —
revelei, beijando o seu queixo e o sentindo suspirar de satisfação por me ter
perto. — Eu ficava na janela do meu quarto olhando as estrelas e pensando
se você estaria vendo a mesma que eu.
Ele me abraçou. Passou os braços pela minha cintura e me puxou para
o seu colo. Encostamos a testa um no outro e Colin roçou o nariz no meu.
— Onde você morava, pequena? — Ele já tinha me feito essa pergunta
antes.
E eu tinha me esquivado. Não por vergonha, apenas por sentir que não
era o momento.
— Eu não tenho pais — falei de novo, mesmo sabendo que ele já
sabia. Colin engoliu em seco e me deu espaço para continuar. — Fui
abandonada ainda bebê em um abrigo... não era ruim — me apressei a dizer
quando enxerguei a dor no seu olhar. — Gostava de lá.
E era verdade, fui bem cuidada por um tempo. Colin olhou para as
minhas mãos, tocando cada cicatriz e pedindo, silenciosamente, uma
explicação.
— Eu mataria a pessoa que fez isso com você — murmurou com uma
raiva que eu desconhecia. — Nunca teria a deixado se sentir sozinha, nem
por um segundo. Eu sei que você não sente ódio por ninguém, nem pelas
piores pessoas do mundo, mas eu sinto por você.
Sorri tristemente para ele e balancei a cabeça negativamente.
— Não precisa sentir ódio por mim — disse e ele beijou com calma
cada cicatriz das minhas mãos. — Um dia chegou uma funcionária nova —
continuei e ele me deu toda a sua atenção. — Ela era rígida demais, batia
nas mãos das crianças com uma palmatória, por qualquer coisa. Se não
arrumássemos a cama na hora certa, se não chegássemos no café no
momento em que ela chamava...
Colin fechou os olhos e parecia sentir a dor que eu já não sentia mais.
Quis apagar aquilo dele, eu estava bem.
— Ela ficou lá por pouco tempo — expliquei. — Alguns meses, logo
descobriram que estava machucando as crianças.
— Ficou tempo o bastante pra te ferir — murmurou com ódio, tocando
em mim com cuidado, como se estivesse com medo de me machucar.
— Ficou — concordei, olhando as minhas mãos. — No começo
formaram bolhas, depois pensei que fossem sumir, só que aí cicatrizou...
— Elas são perfeitas — me interrompeu, entrelaçando os dedos com os
meus. — Perfeitas — repetiu me encarando firme.
Obrigada por isso. Suspirei para ele e Colin me encarou, esperando-
me continuar. Parecia ansioso para saber como era cada passo da minha
infância, infelizmente eu não tinha nada de muito emocionante para contar.
— Quando eu tinha seis anos uma senhora pediu a minha guarda. —
Não consegui terminar de falar sem sentir um sorriso se abrir no meu rosto.
Era bom falar dela com alguém, poder compartilhar lembranças
gostosas que tivemos.
— A sua vó? — perguntou curioso e assenti.
— Era como eu a via — expliquei com cuidado. — Ela não era a
minha vó mesmo. Todos a chamavam de Ney, mas para mim ela era vovó.
Ele me entregou um olhar gentil e seu rosto relaxou em quase um
sorriso, por saber que eu tive alguém por mim.
— Eu consigo te imaginar criança... — comentou relaxadamente. —
Pequena, sonhadora, esperançosa e cheia de ideias românticas sobre o
mundo. — Sorri, tirando um cacho do meu rosto.
— Exatamente. — Tinha boas lembranças e aquela pontada de
saudade, que sempre vinha logo que pensava nela. — Vovó veio de uma
família de cultura cigana, ela era um espírito livre, como gostava de dizer.
Vivia viajando, nunca conseguia ficar muito tempo no mesmo lugar.
Colin estreitou os olhos surpreso, mas intrigado, vi uma preocupação
passar pelo seu rosto.
— Com quem ela te deixava? — perguntou e dei de ombros.
— Sozinha.
O julgamento estava ali, aquele que sempre vinha quando eu explicava
a nossa dinâmica. Ela viajava por algum tempo e eu me virava com as
coisas de casa. Ney me ensinou a cozinhar, a ir à escola só, a me virar, e a
esperar na nossa casa pelo seu retorno. Éramos felizes com essa rotina, por
mais que no fundo eu me sentisse só.
Colin franziu a testa não gostando daquilo e dei um beijo bem entre as
suas sobrancelhas, para acalmá-lo.
— Não a veja assim — implorei baixinho. — Era o seu jeito de viver,
ela me amou profundamente, nunca duvidei disso nem por um dia. Ela me
ensinou sobre magia, destino, as estrelas e o universo. Tudo o que sou hoje
teve início nela.
Colin se encostou melhor na cabeceira e me encarou pensativo.
— Qualquer pessoa que tenha conseguido conviver com você, não
importa o tempo que tenha sido, é alguém de muita sorte — disse e me
emocionei.
Eu que tive sorte por tê-la na minha vida.
— O que aconteceu com ela? — questionou, porém pelo seu olhar, já
sabia.
Olhei para a janela do quarto, onde a luz do sol já adentrava,
iluminando o ambiente. O dia estava lindo e o ar puro. O ar. Sempre ele.
— Ela foi respirar um ar diferente — sussurrei, contando aquele
segredo. — Um dia ela viajou e não voltou mais.
Já estava tão velhinha que não chegou a ser uma surpresa, no entanto
eu senti a dor na época. Como já era maior de idade não precisei ir para um
lar e para a minha surpresa, ela tinha deixado uma quantia de dinheiro para
mim. Era pouco, entretanto foi o suficiente para me sustentar na faculdade
até agora.
— Foi respirar um ar diferente — repetiu Colin e quando o olhei
percebi que estava pensativo, como se testasse as palavras. — Gostei desse
ponto de vista — disse e sorri para ele.
— Tudo no mundo é sobre pontos de vistas — expliquei, alisando o
seu pescoço. — Até o jeito que encaramos a morte.
Você já conseguiu se livrar da dor do seu luto?
— Eu não sou tão positivo como você — explicou, quase como se
tivesse ouvido os meus pensamentos. — Não consigo perdoar tão fácil
assim.
Entendi ali que o seu luto não era sobre o seu pai. Era sobre a sua mãe.
Eram quase duas mortes, uma por uma pessoa que realmente faleceu e outra
por alguém que ele decidiu se afastar.
— Ainda sente raiva? — perguntei com cuidado e ele me encarou.
Ficou me olhando com uma pontada de tristeza. Colin engoliu em seco
e balançou a cabeça negativamente. Tinha uma culpa dentro de si, era
possível vê-la.
— Eu nunca consegui odiá-la — confessou como se estivesse tirando
um peso das costas ao colocar para fora. — Nem por um dia. — Ao dizer
aquilo, ele baixou o canto da boca em derrota.
— Sua mãe... — comecei insegura, sem saber se ele queria falar dela
comigo. — Você não fala mais com ela? Nem por ligação?
Colin suspirou devagar e senti a dor que carregava no corpo. Ele queria
odiá-la, entretanto não conseguia.
— Ela me liga, eu não atendo. Ela me dá parabéns no meu aniversário
e eu sou breve... ela tenta me ver no natal, e eu invento uma desculpa —
disse apreensivo e senti um aperto no peito. — Dói saber que eu a machuco.
Nunca a tratei mal ou fui grosseiro com ela, respondo rapidamente as suas
mensagens, mas nunca dou abertura.
— Não consigo te imaginar tratando mal qualquer mulher, Colin —
falei e ele esboçou um sorriso.
— Me acho cruel por afastá-la, só que se não o fizer, acabo sendo
desleal com o meu pai... alguém precisa odiá-la.
— Por quê? — perguntei com carinho. — Se nem ele a odiou.
Ele ficou me encarando, perdido.
— Talvez tenha odiado — murmurou. — Eu não sei, de verdade.
Assenti, concordando e peguei o meu pingente no peito, o abri e peguei
a nossa moeda. Coloquei-a na mão dele, fechando em punho e beijando os
seus dedos.
— Você pode decidir se atende ou não na próxima vez que ela ligar —
aconselhei, deixando nas mãos do destino.
Ele concordou e ficou olhando para a moeda como se ainda tivesse
mais uma pergunta a fazer.
— Você não me disse onde morava — pontuou. — Com a sua vó.
— Em um conjunto de trailer bem precário. — Enruguei a ponta do
nariz, sabendo que cara ele faria.
E lá estava. Revolta. Ele parecia querer me pegar e voltar no tempo
para mudar a minha vida. Só que não podíamos mais lamentar por essas
coisas.
— Não passei necessidade — esclareci, sentindo-o se acalmar um
pouco. — Só era muito apertado — brinquei. — Eu gostava de ficar na
janela do meu quarto e a vista do céu de lá era privilegiada.
Ele me deu um sorriso suave, satisfeito por me ver feliz.
— Era lá que cantava os seus parabéns? — perguntou e confirmei.
— Todos os anos.
Colin pegou o meu rosto entre as mãos e beijou com carinho a minha
testa, demoradamente. Inspirou de um jeito profundo e quando se afastou
quis por a moeda de volta no pingente, mas neguei com um movimento.
— Você vai carregar o nosso destino. — Empurrei a moeda na sua
direção. — Precisa mais dele do que eu.
Ele ficou me olhando por um momento, porém aquiesceu com uma
nítida satisfação no olhar que não entendi.
— Nosso destino — concordou, pegando com cuidado a moeda e só
então notei o que tinha falado. — Eu quero compartilhar tudo com você...
um dia vai ser a nossa casa, a nossa cama, os nossos cachorros, até os
nossos passarinhos — disse com um olhar divertido e me peguei sorrindo,
por mais que o meu coração estivesse a mil. — Um dia vão ser os nossos
filhos e a nossa vida.
Eu quero tudo isso. Suspirei e sorri para ele.
— No nosso futuro eu vou encontrar tudo isso. — Aproximei o meu
rosto do dele.
— Ansioso por todos os nossos momentos. — Roçou o nariz no meu.
Eu também, Colin. Eu também.
Mordi o último pedaço da maçã antes de jogá-la no lixo e ir até o carro
da Sienna. Ela e Scar estavam no gramado ajustando as coleiras dos
cachorros.
— Olha, Brad Pitt, eu juro que se você mijar de novo na minha calça,
eu vou te castrar — prometeu Sienna, apontando o dedo ameaçadoramente
para ele.
O coitado apenas balançou o rabo e a encarou com um olhar
apaixonado.
— Tadinho. — Caminhei na direção deles e acariciei a orelha dele.
— Colin não vai te deixar hoje? — perguntou Scar, estranhando.
Balancei a cabeça negativamente com um sorriso.
— Ele está de castigo — contei.
Colin ia passar a manhã ensaiando o seu Romeu, até insistiu para me
deixar no campus, mas neguei. Ele às vezes decorava o texto em casa e
como já estava chegando perto da estreia da peça, era bom que ficasse mais
afiado com o roteiro. Apesar da gente sempre ensaiar em casa e no palco
quando conseguíamos conciliar o horário, combinamos de fazer mais um
ensaio no teatro hoje, só nós dois, depois de todas as aulas.
— Muito bem. — Scar piscou para mim com um meio sorriso.
— Bom dia, pessoas lindas! — desejou Amber, abrindo a porta da casa
e Johnny vinha seguindo-a logo atrás.
— Bom dia — falei de volta.
Eles pegaram os cachorros nas guias, preparados para levá-los para
passear um pouco.
— Já vão? — perguntou Johnny e Sienna assentiu. — Eu vi que o
nosso Romeu já está ensaiando lá em cima — provocou com um sorriso.
— Quem ele escolheu como Julieta dessa vez? — perguntei curiosa.
— Tyler — contou Amber, rindo. Ela se despediu de nós, puxando o
namorado junto com os cachorros. — Beijinhos, meninas!
Sienna mandou um beijo para eles e assim que viramos para irmos até
o carro, demos de cara com três criaturinhas. Ou três crianças. Os garotos
que moravam na nossa rua estavam nas suas bicicletas, parados na nossa
calçada e nos olhando com desconfiança.
Eu os conhecia. Zach e Miguel deveriam ter uns 12 anos e eram
gêmeos, a única diferença entre eles era que Miguel usava óculos. O
terceiro era Ozzy, muito fofo, deveria ter uns 10.
— Bom dia! — Sorri para eles.
Contudo, não me retribuíram, continuaram de cara fechada.
— Eu sei o que vocês estão aprontando — falou Zach, o mais velho,
apontando para nós.
— Oh é mesmo? — perguntou Scar, se encostando no carro da Sienna
e dando corda.
— Sim — confirmou Miguel. — Eu vi o que vocês fizeram ontem à
noite.
Franzi a testa sem entender e quando olhei para as meninas, vi que elas
estavam tão perdidas quanto eu.
— Você tem namorado? — o garoto gordinho, Ozzy, perguntou para
mim.
— Eu? — Apontei para o meu próprio peito, só para confirmar que ele
estava mesmo falando comigo. O garoto balançou a cabeça positivamente.
— Tenho sim.
Ele murchou triste. Meu Deus, as crianças estavam cada vez mais
precoces.
— Não viemos aqui pra você dar em cima dela — brigou Zach, se
inclinando na sua bicicleta ameaçadoramente. — Viemos aqui pra dizer que
vimos tudo ontem.
— E temos provas! — Miguel levantou o dedo, convicto.
— Do que exatamente? — questionou Sienna, intrigada.
Os gêmeos bufaram cinicamente e o Ozzy me olhou com ansiedade.
— Onde está o seu namorado? — insistiu e eu tive que rir daquilo.
— Agora? Sendo o Romeu. — Apontei para a casa atrás de nós.
Nesse momento a porta da casa se abriu novamente e Colin saiu de lá
apenas de calça moletom. Me fazendo suspirar só por encarar aquele
tanquinho. Ele veio caminhando na nossa direção e logo passou o braço
pelos meus ombros.
— Ei, Alvin e os esquilos — Colin cumprimentou os meninos sorrindo
e olhei para ele sem acreditar naquele apelido.
— Alvin e os esquilos? — repetiu Scar debilmente.
— Eles parecem, admita. — Sorriu para ela, e ela apenas balançou a
cabeça em negação para ele.
Os garotos acharam o máximo, o encararam com o olhar admirado,
apoiando tudo o que saía da boca dele.
— Ei, Colin! — Zach estendeu o punho fechado ao meu namorado. —
Como vai, cara?
— Vou bem. — Colin bateu no punho dele, em parceria. — O que
vocês estão fazendo?
— Estamos investigando — informou o outro com orgulho.
— Muito bem — elogiou Colin em aprovação. — Essa é uma rua
perigosa, fiquem de olho em tudo. Talvez encontrem até gnomos
escondidos nos jardins.
Revirei os olhos, suspirando profundamente. Ele riu e beijou a minha
cabeça.
— Vocês não deveriam estar na escola? — Sienna ergueu a
sobrancelha para eles em divertimento.
— É feriado — mentiu Miguel e os outros dois apenas balançaram a
cabeça, em apoio ao irmão.
— Estávamos jogando beisebol — contou Zach com uma careta. —
Mas acabamos atingindo a janela da outra casa.
— Tivemos que sair fugidos, pedalamos logo pra cá — completou
Miguel.
— Pelo menos pediram desculpas? — perguntei e eles olharam para
Colin.
— Fizemos do jeito que você ensinou. — Zach piscou para o meu
namorado e Colin sorriu orgulhoso.
— Muito bem — elogiou e nos viramos para Colin com a pergunta
implícita no ar. — A regra básica quando se quebra algo dos vizinhos... —
Ele balançou a mão para os garotos, esperando-os continuarem.
— Fugir e fingir que não fomos nós — repetiram os três com
propriedade.
Apostava que decoravam mais os ensinamentos dele do que qualquer
coisa que viam na escola. Me virei para Colin e o encarei em repreensão.
— Sinceramente eu não sei quem é pior, você ou as crianças.
— Ele — respondeu Scar por mim.
— E você? — Ozzy se virou para Scarlett, ficando todo vermelho de
vergonha. — Tem namorado?
O menino estava mesmo procurando uma namorada. Ela sorriu com
carinho para ele.
— Não, meu bem.
O rosto de Ozzy se iluminou.
— Se quiser dicas pra conquistar garotas, eu tenho uma cantadas
ótimas. — Colin apontou para ele e belisquei o seu abdômen.
— Não escute ele, querido. — Me virei para Ozzy com cuidado. — Pra
falar a verdade, nenhum de vocês. — Apontei para todos. — Ignorem tudo
o que ele disser.
— Eu conquistei a ruiva aqui só com um bom papo — se gabou Colin
para eles. — Tanto que ela botou fogo na própria casa só pra ficar perto de
mim.
Ah Deus, dei-me paciência. Os garotos olharam para mim chocados e
revirei os olhos.
— Não levem nada do que ele disser a sério — relembrei.
— Vimos vocês ontem lá em cima. — Miguel apontou para o teto da
casa em reforma.
O esperamos completar o raciocínio. Estava curiosa.
— Eu sei o que estão fazendo. — Zach estreitou os olhos. — Estão
escondendo um corpo ali.
Ok. Colin estava mesmo fazendo escola.
— Intrigante — pontuou Colin. — A elevação desse gramado sempre
me deixou com uma pulga atrás da orelha.
Sienna ergueu a sobrancelha para os meninos.
— Estávamos vendo um ninho de passarinho — explicou querendo rir.
— Os ovinhos chocaram e fomos ver.
Eles ficaram olhando para ela com nítida decepção.
— Ainda não sei se acredito nisso — resmungou Zach, frustrado.
— Pois continue investigando. — Scar deu um tapinha incentivador no
seu ombro e eles suspiraram cansados, desistindo da nossa presença.
— Vamos andar mais um pouco — informou Zach, chamando os
outros. — Ainda tem muito o que verificar por aqui.
— Isso é verdade — concordou Colin, piscando para eles.
Os garotos acenaram para nós e saíram pedalando pela rua. Me virei
para Colin e apontei para o meio do seu peito.
— Você vai ensaiar — mandei e ele suspirou, beijando o meu rosto
com carinho.
— Está difícil olhar pro Tyler e dizer pra ele que o amo
profundamente.
Eu daria tudo para ver isso.
— Por favor, diga pra Drake filmar tudo — pediu Sienna, abrindo a
porta do carro.
Ela e Scar entraram e ficaram apenas me esperando.
— Até mais tarde. — Me ergui na ponta dos pés e o beijei. — No
teatro.
— No teatro — repetiu, suspirando ao me largar. — Amo você.
Sorri para ele.
— Eu te amo — disse entrando logo no carro ou ele não me deixaria ir
nunca.
Fiquei o olhando parado com as mãos no bolso do moletom vendo o
carro se distanciar, como se já estivesse com saudade. Senti que de alguma
forma fiquei mais ligada a ele ao saber sobre a falta que sentia da sua mãe,
assim como ele ficou mais ligado a mim depois de lhe contar sobre a minha
história.
Era um “eu te amo” mais vivo, mais pleno. Era um “eu te amo” que eu
sentia se espalhar pelo meu corpo de um jeito que me deixava letárgica.
Me encostei no banco do carro e vi as meninas me olhando pelo
retrovisor com um sorriso no rosto.
— Vocês são fofos demais — murmurou Scar.
Fiquei um pouco em silêncio antes de contar a elas.
— Eu falei pra ele — disse de uma vez e isso chamou a atenção delas.
— Sobre as minhas mãos. — Mostrei as palmas para elas. — Contei da
vovó... e que era sozinha.
Até encontrar vocês.
— Era — corrigiu Sienna com delicadeza e sorri para elas.
— Era — concordei, olhando para as minhas irmãs de vida.
Toquei as cicatrizes, alisando as dobras com a ponta do dedo. Sempre
as considerei feias, mas ele disse que elas eram perfeitas.
— Ele disse que as minhas mãos são perfeitas. — Suspirei apaixonada
e vi o sorriso discreto de Scar pelo retrovisor.
— Tudo em você é perfeito, meu bem — elogiou ela, piscando para
mim e me inclinei para beijar o seu rosto.
— Tudo em você é perfeito também — devolvi.
Ela me deu um olhar triste e permaneceu em silêncio, como se não
acreditasse naquilo. Sienna e eu nos entreolhamos sabendo que a camada
dela era bem mais profunda do que a minha, embora não falasse sobre.
Eu só desejava, do fundo do meu coração, que um dia alguém beijasse
todas as suas cicatrizes como Colin fazia com as minhas.
Sendo elas visíveis ou não.
Colin Scott

Girei a moeda sobre a mesa da sala, ela ficou rodando na minha frente
e fiquei apenas observando suas faces passarem. Cara e coroa. Quando ela
finalmente caiu, parando com um lado para cima, eu fechei os olhos.
Fiquei com medo do que veria.
Podia ligar para ela... ou afastá-la mais, como fazia a cada dia. Ela
merecia essa punição pelo que tinha feito, todos os dias eu repetia isso para
mim mesmo. Porém, ainda continuava sendo a minha mãe. E, infelizmente,
meu coração nunca foi frio.
Senti minha respiração se alterar de ansiedade, queria a minha pequena
ali comigo. Sentia falta da presença do seu corpo no meu. Queria passar os
braços pela sua cintura e a apertar contra meu peito, beijar os seus cachos,
dizer que a amava e segurar as suas mãos nas minhas com cuidado.
Ela parecia mais preciosa do que nunca para mim agora. Assim que me
contou do seu passado, senti no fundo do meu peito um instinto primitivo
de proteção, de nunca deixar nada feri-la ou machuca-la e sempre preservar
aquela bondade.
Seus pais a deixaram. Foi machucada quando era uma criança, sem ter
como se defender. Madison foi deixada sozinha. E o lado bom nisso foi que
alguém pegou aquela preciosidade para amar, parecia que tinha lhe dado o
carinho que merecia.
Queria voltar no tempo e fazer tudo diferente. Queria lhe avisar que ela
seria muito amada, queria impedir que a machucassem. Queria dizer a ela
que era o amor da vida de alguém, que preenche o meu coração de um jeito
único, como se ele tivesse sido feito apenas para ela.
Queria abraça-la e não soltar nunca mais.
Não podia fazer nada pelo seu passado, mas o futuro dela seria
diferente. Seria comigo. Madison não comemoraria o seu aniversário
sozinha. E eu não passaria mais o meu em reclusão.
Abri os olhos e vi o resultado da moeda.
Coroa.
— Foda-se — bufei, guardando a moeda no bolso em frustração.
— Vamos, Romeu!
Olhei por cima do ombro e encontrei Tyler descendo as escadas, pronto
para ensaiar comigo novamente. Minha nova Julieta não era nada atraente,
ignorava todas as minhas juras de amor e ficava pedindo a cada dois
minutos para largarmos aquilo e irmos jogar vídeo game.
— Sem reclamações dessa vez. — Apontei o dedo para ele e joguei o
roteiro no seu colo assim que Tyler se deitou no sofá.
— Não sei pra quê isso, você já sabe esse texto todo — resmungou, se
apoiando no cotovelo e lendo as falas outra vez.
Eu já tinha decorado tudo. Sabia exatamente todas as minhas falas,
entretanto Madison queria que eu treinasse mais o último ato, não estava me
saindo bem no momento em que todo mundo morria. O que era
compreensível, como iria fazer aquilo sem rir?
— Já, só que preciso me manter sério na última parte — respondi, me
levantando.
— Os dois estão morrendo, o que tem de engraçado nisso? — Ele abriu
os braços sem entender.
— Não sei. — Encolhi os ombros.
Realmente não sabia. A pessoa que conseguia permanecer séria deveria
levar o Oscar, nos ensaios todo mundo ficava com cara de enterro nos
bastidores enquanto via Madison se fingir de morta. Eu até conseguia me
controlar, porém quando chegava o meu momento de morrer... explodia em
risadas.
Tyler se sentou, imponente e ficou lendo o roteiro até chegar na parte
em que paramos. Aqui Romeu tinha sonhado com Julieta, sonhado que ela
o encontrava morto, e era nessa cena que ele descobria a sua morte.
— Quinto ato — avisou Tyler, se encostando no sofá e cruzando os
braços em frente ao peito.
— Meus sonhos auguram uma novidade prazerosa que não tarda —
recitei reflexivo, como se estivesse falando sozinho.
Continuei as falas até chegar na vez de Tyler. Ele informou, de um jeito
bem tedioso e sem emoção, o momento em que Romeu era avisado da
morte de Julieta.
— Me perdoe por lhe trazer essa má notícia — murmurou o pior ator
do mundo em um bocejo.
Ignorei o idiota e tentei me concentrar na situação do personagem. Ele
estava encarando o luto naquela ocasião e disso eu entendia. Era como se o
mundo abrisse sobre os seus pés, como se não existisse mais equilíbrio. Era
perda. Negação. Raiva. Dor. E depois... aceitação.
Perdão.
Peguei a moeda no bolso e fiquei olhando para ela. “Coroa” era sempre
não ou tinham momentos em que podia ser um talvez?
Você me perdoa, pai? Se eu disser que sinto falta da minha mãe?

Madison Jensen
Sienna estava atrasada para a sua aula, então só nos deixou no campus
e seguiu para o seu prédio. Scar e eu passamos um tempo na biblioteca
estudando, e fofocando também. Quando começou a ficar tarde seguimos
para os nossos prédios, que eram um pouco longe dali.
A parte ruim de ser universitária era a de caminhar demais, para quem
não tinha carro e estudava nos prédios mais distantes, como eu. Brown
parecia uma cidade, milhares de estudantes e setores, sempre tinha que ficar
rodando de um lado para o outro.
— Vai ficar até tarde hoje? — perguntou Scar, quase chegando perto de
onde seria a sua próxima aula.
— Combinei de encontrar Colin no teatro à noite — contei, passando o
meu braço pelo dela. — E você?
— Também. — Suspirou, encostando a cabeça na minha. — Tudo o
que eu quero são férias...
— Está pertinho — incentivei.
Scar ergueu a cabeça e endireitou a postura do nada, como se tivesse
visto algo.
— Chernobyl — murmurou baixinho e inclinou a cabeça na direção de
dois garotos conversando.
Estavam meio longe, mas os reconheci. Michael e Charles Moore. Era
incrível como o namorado da minha amiga continuava falando com Charles
mesmo depois de tudo o que ele fez. E isso contando que Charles ainda
andou falando da Sienna!
— O namorado do ano. — Scar estalou a língua em escárnio.
— Um dia ela vai terminar. — Tentei ser otimista.
— E nesse dia eu vou soltar foguete — Scar respondeu. — E esses, só
vão destruir o teto da casa dele.
Ri e balancei a cabeça em negação para ela. Passamos perto deles e
assim que nos viram, se afastaram um do outro. Michael baixou a cabeça e
continuou andando como se não quisesse ser pego na presença do outro.
Charles, no entanto, ficou parado no lugar.
Ele se encostou na parede e ficou nos observando de um jeito sinistro,
tanto que senti um arrepio passar pelo meu corpo.
— Scar...
— Continua andando — ela mandou sem se abalar. — Ele só quer
intimidar.
Assenti e tentei não olhar na sua direção. Só que sentia que ele estava
nos encarando, acompanhando cada passo e foi involuntário olhar de canto
para ele.
Charles tinha se afastado da parede e estava caminhando na nossa
direção. Entretanto, ele andava com dificuldade, como se estivesse manco.
Lembrei do jogo e como quase quebrou a perna. Subi a minha avaliação e
nossos olhares se encontraram.
Ele estava com ódio. E aquilo me deu medo.
Virei para frente depressa e continuei a caminhar como se não ligasse
para a sua presença.
— Ele está manco — avisei para Scar. — Por pouco não quebrou a
perna no último jogo.
— Uma pena, de fato — ela comentou com um sorriso suave.
Fiz uma careta ao lembrar do lance, foi horrível de assistir, foi quase
um milagre o osso não ter se partido no meio.
— O corpo dele foi jogado no gelo como se fosse um saco de lixo.
— Que bosta — resmungou em frustração. — Agora estou arrependida
de não ter assistido.
Revirei os olhos e soltei uma risada, esquecendo por um segundo, que
havia um louco atrás de nós. Esperava que ele arranjasse algo melhor para
fazer do que ficar nos seguindo.

Eu: Já estou aqui.


Ódio (amor) da minha vida: Preso na aula ainda, meu amor.
Ódio (amor) da minha vida: Daqui a uns 30 minutos eu saio.
Eu: Fica tranquilo!
Entrei mais para os bastidores do teatro, procurando algum canto para
desenhar. Acabei entrando em uma sala ampla e cheia de livros que tinha
ali, sentei no chão, me encostando em uma estante, e apoiei o caderno em
cima das minhas pernas.
Continuei a deslizar o lápis em volta do esboço dos olhos de Colin,
levemente caídos de um jeito charmoso, debochados e sempre com alguma
piada na ponta da língua. Os seus olhos contavam uma história, eles
entregavam a sua essência e talvez eu gostasse de desenhá-los apenas para
tê-los em mim quando o próprio não estivesse por perto.
Quando estava finalizando os cílios escutei a porta fechar atrás de
mim, alguém entrou na sala e girou a chave, se trancando comigo ali dentro.
A pessoa apagou a luz, deixando tudo no escuro.
Olhei em volta em susto e encontrei o contorno de uma sombra na
minha frente. Alguém parado, apenas olhando para mim, e minha pele
inteira se arrepiou.
Levantei depressa, derrubando o caderno no chão e a pessoa deu um
passo para frente. Mancando. Charles.
— Charles — falei e meu coração acelerou em nervosismo.
Ele deu mais um passo na minha direção e tentei ir para trás, porém a
estante de livros atrás de mim me impediu. Charles colocou cada braço de
um lado do meu corpo, me prendendo ali.
Seu rosto ficou próximo demais e não sabia o que ele queria comigo.
Ainda era pelo dia em que fomos na sua casa?
— O que você quer? — perguntei assustada.
— Eu sei — foi tudo o que ele disse com o maxilar travado de ódio.
Franzi a testa sem entender ao que estava se referindo e aquilo o irritou
mais ainda. Ele pegou o meu queixo de um jeito forte que me machucou.
Tentei sair de perto, bati no seu peito e cheguei a chutar o meio de suas
pernas, mas ele me pressionou contra a estante com força, fazendo minha
cabeça bater nos livros.
Olhei em volta, procurando um jeito de sair. No entanto, Charles não
permitiu, puxou meu rosto de volta para ele, fazendo-me encará-lo.
— Eu sei — repetiu, só me deixando mais confusa. — Meu pai
conhece a família deles.
Apertou mais o meu queixo e eu quase chorei de dor. Fechei os olhos,
os sentindo lacrimejarem.
— Olha pra mim! — mandou com raiva e abri os olhos, assustada. —
Ele fodeu minha perna. Vai voltar ao normal, só que a lesão irá me impedir
de entrar nos profissionais.
Olhei para baixo, na direção da sua perna. Foi ele que provocou.
Assisti ao jogo e tinha sido outro jogador que o machucou, não Colin. Eu
não tinha nada a ver com aquilo.
— Eu... — Engoli em seco com medo de irritá-lo ainda mais. — Eu
não sabia disso.
Ele estreitou os olhos para mim.
— Foi o seu namorado que mandou ele ir pra cima de mim — disse,
cuspindo as palavras para fora e balancei a cabeça em negação.
Colin não tinha feito isso.
— Colin não teve nada a ver...
Ele apertou mais o meu queixo, com ódio. E soltei um gemido agudo
pela dor. Meu Deus, ia quebrar a minha mandíbula.
— Eu sei que eles são irmãos! — gritou puto e continuei a negar. Colin
não tinha irmãos. — Cameron Payne ia querer quebrar a minha perna
justamente no dia que eu entro em jogo? Um dia depois do irmão dele
invadir o meu quarto com vocês? Muita coincidência, não?
Ele estava louco. Entramos no seu quarto por causa do Taylor, não
tinha nada a ver com a lesão no gelo, foi ele que provocou aquilo. E por que
não se resolvia com o próprio Cameron?
— Você entendeu tudo errado...
Charles bateu a minha cabeça de novo contra a estante, com mais
força, e a dor foi insuportável. Gritei com o susto, aquilo foi perigoso. Senti
minha cabeça latejar e ouvi tentarem destrancar a porta, como se alguém
estivesse mexendo no trinco sem conseguir abri-lo.
Paralisamos os dois no lugar e a porta foi aberta. Cheguei a pensar que
fosse Colin, porém me enganei. Era Scar.
Ela parou no lugar ao nos ver ali e Charles desceu o aperto até chegar
no meu pescoço, em uma ameaça silenciosa para ela se manter distante ou
tentaria me sufocar.
— Ou você sai daqui agora ou vai sobrar pra você — ameaçou ele sem
paciência.
Scar estreitou os olhos para ele e entrou na sala. Charles me largou,
jogando o meu corpo no chão com brutalidade, para ir na direção dela.
Levantei depressa para ajudar a minha amiga, mesmo que a minha cabeça
estivesse latejando.
Charles a empurrou pelos ombros contra a parede ao lado de uma
escrivaninha, fiquei com medo de ela se machucar na mesa. Fui na direção
deles, mas Scar resolveu o problema antes que eu chegasse perto. Ela pegou
um troféu, que estava em cima da escrivaninha, e o movimento foi tão
rápido que meu coração quase parou.
Scar arremessou o objeto pesado com tudo na cabeça de Charles, no
momento em que ele ia para cima dela novamente. A pancada o fez gritar e
dar um passo para trás, de tão forte que foi o impacto.
— Sua puta desgraçada! — xingou Charles, colocando a mão na
cabeça que sangrava.
— Scar — chamei-a para sairmos dali e ela me olhou de canto.
— Saia daqui, querida — pediu com tranquilidade antes de dar um
chute muito forte na perna machucada dele, com a ponta do seu salto para
frente.
Meu Deus. Escutei o osso estalar.
Cobri o rosto com as mãos, sentindo uma agonia por ver aquilo. Ele
gritou alto, caindo no chão e começou a xingá-la. Fui na sua direção e puxei
Scar para longe dele, querendo manter distância.
— Está bem? — ela perguntou preocupada e assenti, a levando para
fora da sala.
Não estava, sentia minha cabeça latejar, meu queixo doía e tinha
acabado de presenciar um osso se deslocando, mas só queria sair logo
daquele lugar. Estava com uma energia ruim e eu só queria me ver livre
daquela sensação. Precisava de um incenso.
— Ele te machucou? — Me virei para ela e Scar balançou a cabeça
negativamente.
— Eu vim assistir o ensaio de vocês e acabei escutando seu grito... —
contou se distanciando da porta.
Paramos no lugar ao sentirmos alguém atrás de nós. Olhei por cima do
ombro, temendo que fosse Charles de novo, só que era Colin. Ele estava
parado, nos olhando de cima a baixo, parecendo tentar entender o que tinha
acontecido.
Charles soltou mais um grito na sala e meu namorado estreitou os
olhos na direção da porta, confuso, porém assim que reconheceu a outra
voz, a sua expressão se tornou ameaçadora. Fechei os olhos, já sabendo a
confusão que isso ia dar.
— Colin... — chamei baixinho e seu rosto suavizou um pouco. Ele
veio na minha direção e Scar nos deu espaço.
Colin tocou o meu queixo com carinho, quase com medo de me
machucar.
— Você está bem, meu amor? — questionou aflito e confirmei para
acalmá-lo.
Nesse momento Charles saiu da sala, mancando, dando de cara com
Colin. Meu namorado tensionou os músculos e o encarou como se fosse
parti-lo ao meio, sua postura ficou tão dura que comecei a tentar puxá-lo
para longe, não querendo que ele se envolvesse em problemas.
— Foi ele? — Colin perguntou de um jeito que nunca o vi falar antes,
quase assassino, sem tirar os olhos de Charles.
— Sua vagabunda! — o babaca xingou, olhando Scar. Ele ergueu o
queixo afrontosamente para Colin, como se quisesse uma briga.
— Foi ele — Scar respondeu tranquilamente, ela estava encostada em
um canto apenas nos esperando.
Fiquei tensa e Colin pareceu sentir, ele se inclinou rapidamente para
beijar a minha testa com ternura, um beijo que me fez suspirar.
— Nunca mais alguém vai tocar em você — foi tudo o que ele disse
antes de se afastar de mim e empurrar Charles Moore para dentro da sala,
colocando a mão no seu peito.
Colin fechou a porta trás de si com um chute forte, se trancando com
ele lá dentro.
— Meu Deus. — Tentei ir até eles, mas Scar veio segurar o meu braço
com delicadeza.
— Deixe-o resolver, querida — pediu ela, despreocupada. Enlaçou o
braço no meu e me levou para longe, talvez tentando me distrair. — Então,
o que você estava fazendo lá dentro?
Meu caderno de desenho! Olhei por cima do ombro, recordando que o
deixei jogado no chão.
— Eu estava desenhando antes de ele se trancar comigo lá dentro... —
Ao terminar a frase lembrei de uma coisa.
Como ela tinha aberto a porta? Scar entendeu a pergunta implícita,
piscou para mim em divertimento e tirou um grampo do bolso da sua calça
jeans, me mostrando ele antes de guardá-lo novamente.
Fiquei olhando para ela, porém a garota tatuada ergueu a sobrancelha
sutilmente, avisando que não me contaria.
Ah, Scar, onde você aprendeu isso?
Colin Scott
Ele tocou nela.
— Charles vai ficar internado por alguns dias — informou Johnny, se
sentando do meu lado.
— Eu sei — disse sem me importar, batendo o pé de um jeito
impaciente enquanto encarava a porta à minha frente, esperando notícias.
Ela é tão pequena... e ele ainda teve coragem de por a porra das mãos
em cima dela.
— A perna dele quebrou mesmo — continuou Johnny.
— Que bom.
Ele bateu a cabeça dela contra a estante. Esse cara estava tão fodido.
— Mas isso eu acho que não foi você, suspeito que tenha sido a Scar
— contou em dúvida e encolhi o ombro, indiferente.
Por mim, podia ter quebrado as duas. E todos os ossos do corpo.
— O lado bom é que ele continua vivo e não vai ter nenhum dano
permanente. Talvez em três ou quatro meses os hematomas comecem a sair.
— Johnny tentou ser otimista e olhei de lado para ele.
— Não vejo o lado bom nisso.
Os dedos das minhas mãos estavam enfaixados. No entanto, não sentia
dor. Eu o tinha feito prometer, jurar, que jamais iria olhar ou ao menos
pensar nela de novo. Se eu soubesse que chegou perto dela mais uma vez...
não teria saída para ele.
E Charles compreendeu o recado.
— Você foi proibido de jogar nas finais — avisou Johnny e acenei em
confirmação.
Sabia disso. E estava pouco me fodendo. Ela era mais importante. Era
o amor da minha vida e ninguém iria machucá-la. Nunca. Não enquanto eu
respirasse.
— Isso não vai te prejudicar — Johnny informou. — Você vai perder
só um jogo, já que esse é o último, no próximo semestre já vai estar de
volta... isso se não tiver problemas com a justiça.
Ele me lançou um olhar significativo, me dizendo quem eu tinha que
procurar e assenti.
— Eu já liguei pra ele — falei e Johnny respirou mais tranquilo. — Ele
vai dar um jeito.
Cameron sempre dava um jeito.
— Nessas horas é bom o ter como amigo.
Neguei com um movimento, batendo o pé no chão enquanto esperava a
porta à nossa frente abrir.
— Ele não é só um amigo... É minha família — me peguei dizendo e
Johnny bateu nas minhas costas, talvez achando que eu apenas o
considerava demais.
Só que era mais do que isso. Ele era o meu melhor amigo. Foi quem
sempre esteve comigo. Meu irmão. E eu fui a única pessoa que ele já
deixou se aproximar. Éramos do mesmo sangue.
— Colin? — Johnny chamou e o olhei de canto. — Estou orgulhoso de
você.
Parei de bater o pé no chão com aquilo. Fiquei encarando o meu amigo
que mais pegava no meu pé e por quem eu tinha muita admiração. Johnny
Jackson tinha acabado de dizer que estava orgulhoso de Colin Scott.
E foi justamente quando mandei alguém para o hospital.
— Devo mandar mais pessoas pro hospital? — perguntei, erguendo o
canto da boca em um sorriso e ele revirou os olhos.
— Você cuida dela — explicou e fiquei sério novamente.
Cuidava. Sempre cuidaria.
— Você nunca foi responsável com nada, mas é com ela. — Ele
indicou a porta que estávamos esperando abrir.
— Ela é a pessoa mais importante pra mim — disse. — Eu sempre vou
cuidar dela e a amar, mesmo se um dia ela não me quiser mais.
Johnny me deu um olhar satisfeito.
— Colin Scott? — chamou a enfermeira, abrindo a porta.
Me levantei depressa. O pessoal que estava em um canto distante,
esperando notícias, se levantou junto. As meninas juntaram as mãos,
preocupadas.
Tínhamos levado Madison para fazer uma tomografia e outros exames,
para ter certeza que não houve nada com ela.
— Algum familiar? — perguntou a enfermeira, nos olhando confusa.
— Todos nós — respondeu Amber imediatamente.
— Certo. — A mulher sorriu em nossa direção. — Tudo ok com a
mocinha, ela não teve nada sério. Apenas vai ficar com um inchaço na
cabeça e talvez algumas manchas roxas na mandíbula.
Todos suspiraram aliviados e quis, nesse momento, procurar a sala em
que Charles estava internado para terminar o serviço, porém minha pequena
era mais importante. Ela estava bem e logo estaria sem nenhum machucado.
Eu cuidaria dela, não deixaria que erguesse um garfo, nem para comer.
— Ela está lá dentro, já podem entrar — a mulher se despediu e olhei
para eles, pedindo silenciosamente para ir na frente.
— Pode ir. — Taylor piscou para mim. — Esperamos aqui.
Respirei fundo e entrei na sala, a encontrando sentada em uma cadeira,
tomando uns remédios que lhe foram passados.
— Tem o gosto horrível. — Ela enrugou a ponta do nariz lindo e me
agachei na sua frente, quase pedindo desculpa. — Oi, meu bem. — Sorriu
para mim, mostrando aquelas covinhas que queria ver até o fim da vida.
— Me desculpa — pedi, sentindo minha garganta fechar e ela me
olhou sem entender.
Tocou o meu rosto com aquelas cicatrizes e beijei a sua mãozinha.
— Pelo quê? — perguntou confusa.
— Por não ter estado lá pra proteger você. — Senti meu peito doer por
ver o canto do seu rosto tão perfeito machucado.
Eu já tinha quebrado o braço quando era criança, já tinha me ralado e
sofrido empurrões violentos no hóquei, só que nada, nunca, me doeu tanto
quanto vê-la ferida. Nada. Se pudesse sugaria aquilo e colocaria tudo em
mim.
— Você não pode estar em todos os lugares. — Ela sorriu para mim e
se inclinou para beijar a minha testa, voltando a trazer paz para o meu
mundo e luz para a minha vida.
E soube ali, que nunca surgiria um momento perfeito. Talvez fosse
maluco fazer aquilo sendo jovem, porém sabia o que queria. Eu sempre
soube, desde que a vi pela primeira vez.
Me apoiei em um só joelho e peguei a sua mão na minha. Madison
estreitou os olhos, sem entender o que eu estava fazendo.
— Eu fiquei com a aliança do meu pai — contei e ela assentiu, me
dando um olhar triste de consolo. — Ela contava uma história. Uma história
que não deu certo e aquilo me perseguiu, me fez ter medo. Eu planejei
jamais viver isso, mas eu não tinha planejado que você chegaria —
continuei e ela esboçou um sorriso, emocionada. — Obrigado por ter me
esperado. Obrigado por me fazer digno de você. Obrigado por aguentar as
minhas piadas ruins. Obrigado por rir das minhas cantadas. Obrigado por
aceitar carregar o meu destino. Obrigado por me ensinar sobre arte e magia.
Obrigado por ter me feito pensar em você em cada minuto do meu dia.
Uma lágrima escorreu pelo seu rosto e seu nariz ficou vermelho na
ponta.
— Eu já entreguei o meu coração, só que quero entregar todos os meus
anos também. — Peguei o anel que sempre carregava no bolso, apenas
esperando o momento certo. Abri a caixa e ela se permitiu chorar. — Casa
comigo? Eu sei que somos jovens, não precisa ser agora. Pode ser quando
você quiser, quando terminarmos a faculdade. Não importa. Mas usa o meu
anel?
Ela assentiu, engolindo em seco como se não conseguisse falar e me
estendeu a sua mão. Coloquei o anel no seu dedo e beijei a mão. Ele era
prata e tinha vários diamantes espalhados, como se fosse o céu à noite, as
estrelas que ela gostava de observar.
— Eu uso — ela respondeu, sorrindo para mim sem deixar de chorar.
— Eu caso. E te entrego todos os anos da minha vida.
— Eu quero mais uma coisa — brinquei, indo beijar a sua boca.
Colei os meus lábios nos dela e Madison abraçou o meu pescoço, me
puxando para perto.
— O quê? — perguntou baixinho, roçando os nossos narizes.
— Quero uma casa cheia de crianças ruivas — disse, tirando os seus
cachos da frente do rosto e ela suspirou apaixonada.
— Eu também quero... Entretanto, você precisa me prometer que não
vai ensinar coisas erradas pra elas — provocou com um sorriso e eu ri.
— É por isso que você será a voz da razão. — Beijei o canto da sua
boca. — E daremos uma moeda pra cada uma delas, deixando na mão do
destino.
Ela concordou e tocou o meu rosto, pensativa.
— E você já se decidiu? — perguntou, tocando a corrente que
descansava no seu peito. — Sobre o seu destino.
Assenti em silêncio. Devolvi a moeda para ela, colocando-a no seu
pingente e me levantando decidido. Sentindo leveza.
— Acho que vou fazer uma ligação. — Pisquei e ela me encarou com
orgulho, estava linda com o seu novo anel.
— Diga a ela que quero conhecê-la — falou e sorri de volta.
— Ela vai te amar. — Beijei a sua cabeça e saí do quarto, dando espaço
para o pessoal falar com a minha noiva.
Minha mulher.
Fui para fora do hospital e peguei o celular. Por um instante, senti
medo, contudo respirei fundo e liguei. Esperei um pouco, até que fui
atendido.
— Colin?
Fechei os olhos ao ouvir aquela voz, sentindo uma vontade
insuportável de chorar. Meu coração acelerou e minha mão começou a suar
frio. Aquela voz... eu senti tanta saudade.
— Meu amor? — Ela estava chorando, sua voz saiu embargada,
provavelmente com medo que eu desligasse. — Você está bem?
Engoli em seco e coloquei a mão no bolso. Nervoso e inseguro.
— Mãe — foi tudo o que consegui dizer e ela desabou em choro.
Meu peito apertou, só queria abraçá-la. Toda a raiva, ódio, rancor, eu
deixei para sentir nesses anos. Eu consumi tanto isso, que se dissipou, não
sobrou mais nada. Agora só havia a saudade.
— Oi, querido — respondeu com a voz trêmula.
Eu ainda te amo.
— Senti a sua falta. — Suspirei, sentindo o peso do mundo sair das
minhas costas. Minha mãe ficou em silêncio e a ouvi fungar. — Senti
demais.
Eu não falava ao telefone com ela há anos. Ouvir a sua voz me trouxe
de volta à infância. Me trouxe de volta para aquele amor materno que nunca
me faltou.
— Eu também, querido. — Ela fungou. — Eu também.
— Tem uma pessoa que eu quero te apresentar.
Ela é a minha noiva e creio que você irá amá-la assim que vê-la.
Madison Jensen
Lista de coisas que eu preciso te contar, vovó:

1. Fiquei noiva há uma semana atrás.


2. Eu sei, aos 22 anos. Mas não vamos casar
imediatamente, sabe?
3. Também entrei na minha primeira briga, no mesmo dia
em que fiquei noiva. Fiquei com a cabeça dolorida, no
entanto já estou bem!
4. Eu ouço um “eu te amo” todos os dias agora, sempre
de um jeito diferente. Às vezes é um olhar, um carinho,
um cuidado... é muito bom ser amada assim.
5. Tenho que confessar uma coisa à senhora: Eu pedi pra
ler a minha mão naquele dia. Ainda consigo ouvir a sua
voz pronunciando todo o meu destino.
6. Obrigada por me dar o meu primeiro vestígio de
magia.
7. Eu te amo, vovó. Sinto a sua falta.
8. E estou indo, nesse momento, participar de uma peça
de teatro, me deseje sorte!

Fechei o meu bloquinho depressa, o colocando dentro da bolsa antes de


me olhar no espelho novamente. O camarim estava lotado, as meninas
passavam maquiagem umas nas outras, ajudando na caracterização, e eu
ajustei a minha peruca uma última vez.
Ficava estranha de cabelo castanho. E liso. Contrastava com as minhas
sobrancelhas ruivas, porém as escureci com maquiagem. Suspirei,
decidindo não olhar nenhuma mensagem para não ficar nervosa. O resto do
pessoal parecia bem tranquilo, a maioria já acostumada com aquilo, o que
não era o meu caso.
O lado positivo de tudo isso era que peguei um pouco de experiência
em cênicas. Organizei cada detalhe e na parte dos bastidores, estava
impecável. Olhei outra vez no espelho, me vendo de um jeito novo.
A pessoa à minha frente era uma mulher de 22 anos que estava para
receber uma proposta tentadora de estágio. Uma artista com talento.
Alguém confiante. Noiva. Parecia tão diferente de mim..., ainda assim era
eu.
Observei meu novo anel, cheio de diamantes espalhados em volta, e o
beijei, virando minha mão aberta para cima. Lembrando do dia em que
apanhei até ganhar aquelas cicatrizes, nem mesmo recordava o motivo, era
muito nova, só senti a dor. Naquela época estava sozinha, perdida, com
medo.
Ergui o olhar novamente para o espelho e então percebi que tinha um
sorriso calmo e sincero no meu rosto.
Estava feliz com a minha vida. E com as minhas cicatrizes.
— Querida... — chamou uma garota loira ao meu lado, tocando o meu
ombro. — Deixa só eu ajeitar a sombra? É um minutinho.
Ela sorriu simpática e a reconheci por trás da caracterização. Era
Rebecca Cavedon, uma garota do meu curso que eu achava um amor de
pessoa. Nunca chegamos a conversar muito porque eu ficava mais reclusa,
no entanto me sentia confiante para começar a me abrir. Quem sabe fazer
novos amigos?
— Claro. — Sorri para ela e a garota puxou uma cadeira do meu lado.
Ela começou a passar corretivo no meu queixo e sabia que estava
tentando amenizar as manchas que se formaram por Charles ter apertado
demais.
— Dói quando toco? — Rebecca perguntou preocupada, a notícia do
meu encontro com Charles já tinha se espalhado pelo campus.
Neguei.
— Não, já passou.
— Está nervosa? Você entra daqui a pouco. — Ela olhou as horas no
celular, animada e sorri para ela.
— Um pouco. — Encolhi os ombros. — Eu não me saio tão bem assim
nessa parte de atuação.
Rebecca assentiu e piscou para mim.
— Eu adoro... costumam dizer que sou bem dramática — contou e ri.
— Você se saiu bem nos ensaios — elogiei.
— Obrigada! — agradeceu alegre e a vi morder o lábio inferior, como
se quisesse falar alguma coisa. — Posso te perguntar algo?
Assenti curiosa.
— Você teve alguma coisa com o Derek? É que ele me chamou pra sair
esses dias e não sabia se ainda tinha alguma coisa entre vocês.
Neguei depressa.
— Nós nunca tivemos nada — esclareci, sorrindo para ela. — Só
saímos uma vez e o encontro foi por água a baixo. — Ri por lembrar
daquele dia.
— Então, o caminho está livre?
— Totalmente — confirmei, piscando para ela.
— Bem... — Ela avaliou a minha maquiagem uma última vez. — Está
perfeita, você vai arrasar, Julieta.
Agradeci e me levantei, pronta para entrar. Um leve tremor passou pelo
meu corpo quando vi que estava lotado. Fiquei feliz por saber que o
dinheiro arrecadado iria para uma boa causa, mas ainda estava nervosa.
Respirei fundo, torcendo para o meu Romeu não começar a rir na parte da
morte.
Por que se ele começasse, eu riria também e tudo iria desandar.

Caí no chão, aliviada por tudo ter ido divinamente bem até agora.
Julieta tinha acabado de adormecer, fingindo a sua morte. Essa era a parte
mais tranquila da peça para mim, tinha apenas que ficar imóvel, ter
respirações leves e controladas. Como fazia meditação, conseguia me
desligar completamente do mundo exterior assim.
A peça seguiu normalmente e só consegui me atentar ao que acontecia
ao redor quando senti aquele cheiro bom de canela se aproximando de mim.
Meu Romeu se ajoelhou ao meu lado, tocando o meu rosto com
carinho.
— Ah, meu amor... — recitou, próximo demais do meu rosto. — Por
que continuas tão linda? — perguntou, parecendo sincero.
Ele se inclinou um pouco mais para me beijar. Seus lábios encostaram
nos meus e quis muito corresponder, suspirei na sua boca e ele se afastou,
continuando a seguir o roteiro. Não podia abrir os olhos para vê-lo, mas
senti que me observava.
Colin se aproximou novamente de mim, dando um último beijo na
minha testa. Um beijo demorado. Meio que não gostava de encenar essas
cenas de despedidas com ele. Odiava vê-lo se despedir, mesmo que não
passasse de teatro.
— Ficarei para sempre contigo — prometeu, vindo alisar a minha
bochecha e o público estava tão silencioso, que até a sensação era a mesma
de quando ensaiávamos apenas nós dois.
Ele se distanciou de mim e pareceu estar “bebendo o veneno”. Fiquei
apreensiva, porque sabia que era ali que Colin começava a rir. Percebi que
sua respiração se alterou assim que ele fingiu a morte e eu pressionei os
lábios para me impedir de soltar uma risada.
Colin caiu depressa do meu lado, quase querendo acabar logo com
aquilo. Abri um único olho para vê-lo ao meu lado e vi que o meu Romeu
estava respirando fundo para controlar a risada.
Os outros personagens entraram em cena e tiveram um breve diálogo.
Então foi a minha vez de acordar novamente.
De fato, essa coisa de morrer, dormir, levantar, morrer de novo,
acabava me deixando zonza.
— Onde está o meu Romeu? — perguntei, olhando em volta com o
cenho franzido.
E não sei para quê, fui olhar na direção da plateia. Foram apenas uns
segundos. Olhei na direção do pessoal, eles estavam na primeira fileira. E
Amber... seu rosto estava todo vermelho e logo que nossos olhares se
encontraram, ela começou a rir.
Johnny a puxou para o seu peito depressa, querendo abafar a sua risada
e algumas pessoas lhe repreenderam. Continuei procurando o meu Romeu
como se não soubesse que ele estava do meu lado, se fingindo de morto e
fazendo de tudo para permanecer sério.
Virei para ele e coloquei a mão no meu peito, simulando um susto.
— O que é isso que segura em sua mão, meu verdadeiro amor? —
questionei, tocando o seu rosto.
Percebi que ele ia soltar uma risada e coloquei a mão em cima da sua
boca, impedindo que o som saísse. Para quem estava assistindo até parecia
que a Julieta tentava matar o Romeu pela segunda vez, sufocado.
— Um cálice! — falei alto demais, querendo me sobressair a qualquer
som que Colin fosse soltar. Belisquei o seu pescoço, o mandando parar com
aquilo. — Um veneno...
O corpo do idiota tremeu de leve ao ouvir a gargalhada abafada de
Amber e o beijei logo. Colando a minha boca na dele de uma vez, do jeito
que estava no roteiro. Julieta acabou ingerindo o resquício do veneno no
beijo com o Romeu e morreu outra vez.
Caí em cima do corpo de Colin, me jogando ao lado do seu pescoço.
Os outros atores começaram a chegar, para dar passagem à próxima cena,
que era com os familiares deles.
— Você não podia ficar parado por um minuto? — reclamei baixinho,
perto do seu ouvido, ainda jogada em cima dele. — Qual a dificuldade de se
fingir de morto?
— Eu não consegui — sussurrou abrindo um único olho, o seu rosto
estava coberto pelo meu corpo e não tinha como o público ver. — É
engraçado... admita.
— Não é — menti.
— Prestou atenção em uma coisa? — perguntou enquanto ouvíamos os
outros atores continuarem a peça. — Tem uma verdade muito crua nessa
cena.
— Qual é? — perguntei curiosa.
— Meus beijos são de matar.
Meu Deus, a cada dia piorava. Ri baixinho e torci para ninguém pensar
que a Julieta estava voltando à vida mais uma vez.
— Você é ridículo.
— Eu tenho uma coisa importante pra falar... — disse, o ato já quase
no final.
— Não pode esperar?
— É sobre o nosso casamento. — Pelo amor de Deus, ele queria falar
disso agora? — Se você for mesmo até o fim, eu juro que te faço esquecer
o Mário.
Franzi a testa. Mário?
— Quem é Mário? — sussurrei confusa.
— Está vendo? Já esqueceu. — Ele riu e graças aos céus a cortina
fechou bem nesse momento.
Belisquei o ombro dele e o idiota me virou, para ficar por cima de
mim.
— Eu te amo — declarou, me beijando.
Nem tive tempo de responder, pois Colin me pegou como se estivesse
com fome. Passei os braços pelo seu pescoço e ele acariciou todo o meu
rosto, metendo a língua na minha boca. Gemi, já sentindo vontade de
aproximar mais o seu corpo do meu.
— Pessoal... — Escutei alguém nos chamar e me afastei um pouco,
apenas para poder ver quem era.
Rebecca nos olhava com divertimento, ela apontou para o elenco se
reunindo no palco para receber os aplausos. Empurrei Colin para o lado, me
recompondo para juntar a dignidade que ainda me restava.
Levantei, forçando um sorriso sem graça na direção de todo mundo.
Colin passou o braço pela minha cintura e me puxou para frente do palco
quando as cortinas se abriram de novo. Óbvio que ele amou receber toda a
aclamação, eu apenas acenei timidamente para as pessoas.
Assim que as cortinas se fecharam, dando fim ao espetáculo, uma mão
tocou o meu ombro. Olhei para o lado e vi o meu professor nos encarando
com orgulho.
— Sr. Stone — cumprimentei com um sorriso. — Como o senhor está?
— Ótimo. — Ele piscou para mim e Colin deu um último beijo no meu
rosto antes de se afastar, nos dando privacidade. — Podemos conversar um
pouco?
Assenti nervosa e caminhamos para os fundos. O Sr. Stone me levou
para o canto dos bastidores e se virou para mim com um sorriso no rosto.
— Você fez um trabalho excelente aqui. — Piscou para mim e pegou
algum documento na pasta que carregava consigo.
Me senti em paz ao saber que pude ajudá-lo. Porém, algo pesava na
minha consciência, quando o vi tirar um papel para me entregar, abaixei a
cabeça.
— Eu preciso contar uma coisa — falei, sentindo minha garganta secar.
— Menti pro senhor — soltei de uma vez.
Ergui o olhar temendo o que encontraria, contudo o meu professor
apenas me encarava confuso.
— Colin... — Apontei para o palco. — Aquele dia em que ele falou
que eu era uma “ótima atriz” foi só uma brincadeira. Era pra me provocar.
Na verdade, eu não tinha experiência. — Torci o nariz e o seu olhar
suavizou. — Quando me ofereceu a proposta não consegui recusar,
precisava do dinheiro. — Encolhi os ombros em sinal de impotência.
— Você nunca tinha participado de um evento assim? — questionou e
confirmei. — Tenho uma pergunta pra lhe fazer e espero que seja sincera,
ok?
Assenti, engolindo em seco.
— Quem pinta aqueles quadros? — perguntou e arregalei os olhos. —
Os que você me entrega na aula.
— Eu — respondi imediatamente, receando que ele pensasse que não
eram meus.
— Então, é apenas isso que preciso saber. — Piscou para mim,
estendendo o documento. — A vaga é sua.
Fiquei parada, olhando para ele durante um minuto inteiro. Estava na
minha frente. Eu me esforcei e a recompensa veio. Peguei o papel da mão
dele e olhei para a proposta de estágio. Era minha.
— Mais uma pergunta — ele disse, curioso.
— Respondo qualquer pergunta — me apressei a dizer e o homem riu.
— É só uma curiosidade. — Deu de ombros. — É ele, não é? Na
última pintura.
Meu corpo relaxou. Todos os músculos do meu corpo descansaram,
porque quando lembrava daquele quadro, isso acontecia comigo. Era uma
das coisas mais lindas que eu já tinha pintado.
— É — contei. — Ele dormindo.
Se tornou o meu sol.
— Nada inspira mais um artista do que um amor genuíno. — Sr. Stone
piscou para mim e apertou o meu ombro antes de ir embora.
É, ele tinha razão.

Li rapidamente a proposta do estágio, que começaria no próximo


semestre, antes de guardá-la na bolsa. Estava uma loucura na saída do
teatro, veio muito gente assistir. Tirei a caracterização da peça, deixando os
meus cachos livres novamente e saí pela porta dos fundos, procurando o
pessoal.
Como estava cheio acabamos nos desencontrando, não sabia onde
estava Colin. Peguei o celular e mandei mensagem no nosso grupo.
Eu: Onde vocês estão?
Scar: No estacionamento, só esperando vocês dois.
Guardei o aparelho no bolso e tentei passar pela multidão que se
aglomerava na saída. Como era baixinha, não conseguia ver ninguém e
ainda estava distante do estacionamento. Colin deveria estar me
procurando.
Olhei por cima do ombro, tentando achar algum dos meninos por ali,
mas acabei encontrando outra pessoa.
Alguém que chamou minha atenção.
Parei no lugar, sentindo um reconhecimento estranho, uma sensação de
familiaridade. Ele era alto e forte, se destacava entre as pessoas que abriam
caminho para sua passagem, como se temessem entrar na sua frente. Eu não
era a única a observá-lo, percebi que algumas cabeças viravam na sua
direção discretamente. Talvez atraídas pela energia, tinha aquele ar de
poder, dominância... e perigo.
Era, definitivamente, um dos homens mais bonitos que já vi. Tinha um
cabelo loiro curto, dourado, vestia uma camiseta preta colada ao corpo e
usava uma calça social da mesma cor. Caminhava com as mãos dentro dos
bolsos, porém era possível ver o relógio de ouro brilhante.
Quando cheguei aos seus olhos, eu entendi de onde vinha aquele
reconhecimento. Foram aqueles olhos muito azuis que me fizeram ter a
certeza.
Colin tinha mesmo um irmão...
A semelhança, talvez não fosse tão nítida para quem não conhecia
aqueles olhos tão bem, no entanto eu os desenhava constantemente. Sabia.
Ele era o mesmo jogador que derrubou Charles.
Cameron Payne. Eu sabia quem ele era, por mais que nunca o tivesse
visto pessoalmente.
Parecendo sentir que estava sendo observado, ele se virou para mim.
Nossos olhares se encontraram e ele o desceu até encontrar a minha
corrente de ouro. Franziu a sobrancelha, intrigado e passou a caminhar na
minha direção.
Olhava para mim como se me analisasse clinicamente, até que parou
na minha frente.
— Então você é a garota dele — murmurou observando o meu queixo,
talvez vendo as manchas que ficaram visíveis depois que retirei a
maquiagem.
— E você é o irmão — foi tudo o que consegui dizer, sendo capaz de
ver melhor, a semelhança entre os olhos, de perto.
Cameron arqueou a sobrancelha surpreso, parecendo não esperar que
eu o reconhecesse.
— Onde ouviu isso? — perguntou.
— Os olhos — expliquei.
Ele permaneceu em silêncio e me encarou discretamente, como se
procurasse mais ferimentos em mim.
— Ele te machucou muito? — perguntou e inclinei a cabeça de lado,
curiosa.
— Colin te contou? — questionei e ele apenas confirmou, assentindo.
— Ele não chegou a me ferir muito — falei e vi Colin se aproximando por
trás dele. Assim que nos viu, parou no lugar.
Estava surpreso, intrigado e parecia também aliviado. Ele caminhou até
mim, passou o braço pela minha cintura e beijou a minha cabeça.
— Você sumiu — murmurou e suspirei ao sentir os seus lábios
encostarem na minha pele.
— Estava muito cheio — expliquei e ele assentiu, virando para o loiro
que nos observava em silêncio.
— É ela — Colin avisou, apertando a minha cintura e Cameron deu um
sorriso sutil enquanto olhava o colar no meu pescoço.
— Percebi.
Sorri para ele em cumprimento e senti que deveria deixá-los a sós para
conversarem. Eu fiquei na ponta dos pés para beijar a bochecha de Colin
antes de sair de lá. Queria entender mais sobre essa história, contudo daria
espaço a eles.
— Eu te espero no estacionamento — falei ao meu namorado e virei
para o loiro. — Foi um prazer te conhecer.
Estendi a minha mão para ele e Colin me apertou mais contra si, pois
sabia que aquilo era um gesto de confiança meu. Cameron não hesitou em
me cumprimentar, no entanto, assim que sentiu a textura das minhas
cicatrizes, algo passou pelos seus olhos. Era familiaridade.
O loiro apertou minha mão e sua expressão suavizou, esboçando um
sorriso para mim.
— O prazer foi meu. — Piscou e sorri em despedida.
Se você é importante pra ele, é para mim também. O engraçado foi que
senti que ele estava querendo me dizer a mesma coisa.
Colin beijou a minha cabeça e me distanciei deles, querendo deixá-los
a sós. Me afastei, sentindo-me um pouco aliviada. Confusa, sim, mas
aliviada por saber que Colin tinha mais uma pessoa para amá-lo. Mais uma
pessoa em quem talvez tivesse precisado se apoiar quando seu pai morreu e
deixou de falar com a sua mãe.
Passei pelas pessoas que começavam a se dispersar até chegar no
estacionamento, onde o pessoal deveria estar no esperando. Procurei por
eles e não os achei. Já ia pegar o meu celular para mandar uma mensagem,
quando vi Scar.
Ela estava encostada em uma parede em um canto, olhando distraída
para o céu e com os seus fones de ouvido. Talvez me esperando chegar. Me
aproximei dela aos poucos e percebi que os seus dedos batiam suavemente
na calça jeans, dedilhando um instrumento imaginário.
Toquei o seu ombro com cuidado e ela se virou para mim com um
sorriso contido. Tirou um fone do ouvido e olhou por cima do meu ombro,
parecendo procurar Colin.
— Eles foram comprar alguma coisa pra comer — ela disse, apontando
para uma lanchonete do outro lado da rua. — Fiquei aqui por medo de não
me achar.
Enlacei o braço no dela, descansando a cabeça no seu ombro macio.
— Colin está conversando com um amigo, daqui a pouco ele chega e a
gente vai — falei e ela assentiu.
Me entregou um fone, convidando-me a entrar no seu mundo privado.
E eu aceitei. Coloquei-o, suspirando ao ouvir a música. Tão suave que
chegava a acalmar meu coração, se fazia um silêncio estratégico entre uma
nota e outra. Então o piano vinha, com violino e harpa.
A senti suspirar ao meu lado, voltando a encarar o céu, pensativa.
— Você acredita mesmo nessas coisas? — perguntou em um tom
reprimido, como se estivesse com medo de externalizar o pensamento ou
ser ouvida.
— Em quê?
— Uma vez você me disse que se uma pessoa olha pra uma estrela —
ela sussurrou e virei para olha-la de perfil. Tão linda que parecia uma
pintura. — E outra pessoa no mundo, na mesma hora e momento, olhar pra
mesma estrela... isso as faz conectadas.
Sorri, voltando a descansar a cabeça no seu ombro.
— Eu acredito — confirmei, tentando achar a estrela que ela estava
admirando. — Acredito que isso faz os corações delas pulsarem na mesma
sintonia, nem que seja só enquanto observam a mesma estrela.
Senti que ela respirava fundo. Pegou a minha mão e passou a dedilhar
nela, tocando o seu instrumento silencioso.
— Isso é tão bonito... — falou distraída. — Eu não sei em que ritmo o
meu coração bate.
— Talvez no mesmo ritmo de alguma pessoa perdida no mundo —
contei, sentindo os seus dedos dançarem na minha mão.

Colin Scott
— Comprei um anel pra ela — contei, caminhando ao lado de
Cameron pela parte de trás do teatro.
— Eu vi. — Ele colocou as mãos nos bolsos. — Ela parecia um pouco
machucada no queixo.
Fechei os olhos por um momento, sentia uma dor sempre que via
aquelas manchas. Iriam sair, mas ainda me causava náusea saber que
alguém a tocou.
— Estou metido em muitos problemas? — questionei, me virando na
sua direção e ele sorriu ironicamente.
— Você vai voltar pro time no próximo semestre. — Piscou para mim.
— Sem danos, só um jogo perdido.
— E ele? — perguntei, porque sabia que Cameron tinha vindo para
Providence apenas para conversar com o reitor.
— Vai ser expulso, tanto do time quanto da universidade — declarou,
me fazendo relaxar mais.
— Pensei que eles não fossem o expulsar...
— Teve um preço — ponderou, estralando o pescoço e o olhei com
desconfiança.
— Você pagou pra eles?
Cameron negou.
— Eles concordaram em manter o cara longe, só que em troca eu tenho
que me transferir para cá e cursar o último semestre aqui — contou e parei
no lugar. — Ah, e entrar pro time de vocês também — completou.
Que merda. Não queria que aquilo o afetasse. O reitor não foi idiota,
com Cameron se formando aqui, daria um reconhecimento a mais para a
universidade e também com ele no time, era quase uma certeza que
ganharíamos o campeonato de hóquei.
— Você não precisa...
— Eu já concordei — me cortou, dando de ombros. — Já ia me mudar
de todo jeito.
Fiquei o encarando por um tempo, sem acreditar.
— Obrigado, irmão — agradeci, sabendo que aquilo era só mais uma
coisa que ele fazia por mim.
Cameron piscou e sorriu para mim antes de caminhar na minha frente.
— Quem disse que fiz por você? — debochou e revirei os olhos, rindo
daquela mentira. — Gosto de conhecer novos lugares. Estava pensando em
uma universidade nova mesmo.
O acompanhei até chegarmos no estacionamento, indo na direção de
um carro. Provavelmente o mais caro dali. Ele parou um momento, quando
ia abrindo a porta, para olhar o céu, ficou fitando uma estrela e a pergunta
estava presa no fundo da minha garganta.
— É por ela, não é? — perguntei, no entanto Cameron não se virou
para me olhar, continuou admirando a noite.
Vi a sua mão apertar mais a porta do carro, deixando claro que tinha
me ouvido.
— Tudo isso — continuei. — Os apartamentos espalhados, as
mudanças... — Deixei a frase morrer, esperando por algum sinal seu de que
estava prestando atenção.
Ele se virou para mim e me deu um sorriso sem humor.
— Não se meta mais em problemas, Colin. — Entrou no carro e baixou
o vidro para me olhar uma última vez. — A sua garota sabe... peça pra ela
não comentar com ninguém.
Dei um passo para trás e fiquei o encarando, sem entender. Não tinha
falado para ela.
— Os olhos — esclareceu antes de sair com o carro pelo
estacionamento.
Respirei fundo, apertando a nuca. Nunca tinham nos reconhecido pelos
olhos, nem mesmo quando éramos crianças, por mais que fôssemos bem
próximos. Andei um pouco pelo local até achá-la, estava em um canto
escuro e distante com Scar.
As duas estavam tão na sombra que só consegui reconhecê-las quando
me aproximei mais. Assim que o meu amor me viu, se afastou de Scar e
veio na minha direção com uma pergunta silenciosa no rosto.
Segurei o seu rosto entre as mãos assim que ela ficou na minha frente e
beijei a ponta do seu nariz, sentindo aquele cheiro tão bom que me
acalmava.
— Ele já foi embora? — perguntou e assenti, me afastando só o
suficiente para olha-la. Ela tocou o canto dos meus olhos, alisando a região.
— Por que ninguém sabe disso?
Beijei o seu nariz de novo e suspirei baixinho.
— Os pais de Cameron eram casados — contei do começo, para ela
entender. — E amigos dos meus pais, os quatro tinham uma relação boa, ou
era o que me contavam.
Ela escutou atenta.
— Vocês são irmãos por parte de mãe? — perguntou e neguei, minha
mãe era bem amorosa. Totalmente diferente do que a dele foi.
— Por parte de pai — comentei, sentindo um gosto agridoce por saber
que meu pai de sangue era alguém que eu não cheguei a conhecer bem e
nem fazia a mínima questão. — O pai do Cameron teve um caso com a
minha mãe enquanto ainda era casado, e então ela me teve.
Madison me deu um olhar triste e me abraçou bem apertado.
— Ela traiu o meu pai na época — o verdadeiro. — E ele a perdoou.
Ela suspirou no meu peito.
— Eu entendo.
— Ela errou demais com ele. — Apertei o meu amor precioso nos
meus braços.
— Por que ninguém sabe do parentesco de vocês? — perguntou e
beijei a sua cabeça.
— Isso não é sobre mim — sussurrei. —, essa parte da história é dele.
Tudo o que precisa saber é que cresci com meu irmão, estudamos nas
mesmas escolas. Nos víamos quase sempre e ele sempre esteve ali pra mim
assim como eu sempre estive pra ele.
— Mas ninguém pode saber disso — ela concluiu.
— Foi a única coisa que ele já me pediu na vida. — Abracei o seu
corpo pequeno. — Então vamos manter esse segredo.
— Tudo bem — concordou, beijando o meu peito. — É mais uma
coisa que virou nossa.
Sorri para a garota perfeita.
— Exatamente.
— É bom você saber que Charles me falou sobre isso naquele dia —
contou e ergui a sobrancelha. — Parece que ele também sabe.
Ok... não sabia como o filho da puta tinha ouvido sobre. Porém,
avisaria a Cameron. Nem mesmo eu entendia o porquê era preciso esconder
isso, só que era importante para ele. Então sempre cumpri a minha parte.
— Ele foi expulso. Do time e da faculdade — contei, sentindo aquele
peso a menos. — Não vai mais chegar perto de você.
Sorriu para mim.
— Não estou preocupada com isso. — Deu de ombros. — Depois que
Scar quebrou a perna dele, era bom que Charles tomasse cuidado.
Balancei a cabeça em negação para ela, de brincadeira e peguei a sua
mão, que estava com o anel, na minha, entrelaçando os nossos dedos.
— Julieta — provoquei e ela estreitou os olhos para mim. — Tarde
demais a conheci, por fim. Cedo demais, sem conhecê-la, amei-a
profundamente — recitei um trecho da peça e Madison levantou a
sobrancelha em divertimento.
— Só Shakespeare pra salvar as suas cantadas.
A cada dia elas melhoravam.
Colin Scott
Entrei no vestiário com uma tranquilidade que me espantou. Ser
cortado do jogo dói, ainda mais do jogo da final do campeonato, mas ser
cortado sabendo que vou voltar no outro semestre com tudo e por um
motivo que não me arrependia... não tinha aquela frustração.
Apenas o sentimento de torcer para que ganhássemos essa, por mais
que fosse bem difícil.
Iríamos jogar contra a Universidade da Dakota do Norte, no espaço
deles. Então nossos torcedores estavam bem escassos, podia-se ouvir a
gritaria dos adversários do lado de fora. A galera ali levava hóquei à sério,
assim como era na Brown, um jogo das finais no território deles era um
evento.
Assim que chegamos só vimos uma multidão de pessoas com
camisetas do time e bandeiras balançando no ar. Lógico que considerava as
comemorações da nossa universidade bem mais animadas, barulho era com
a gente. No entanto, eles também não ficavam para trás.
Passei pelos armários vendo os caras indo para o rinque de patinação.
O treinador optou por deixar mais jogadores defensivos dessa vez, os
atacantes do outro time eram tão bons quantos os nossos e precisavam de
reforço. Então ficariam Drake, Taylor e Benjamin atrás enquanto Johnny e
outro jogador atacante ficariam prontos para fazerem os gols.
Encontrei o treinador analisando uma pasta, quando me aproximei dele
vi que era a ficha com os nossos nomes, lances, jogos, faltas e expulsões.
— Como vai ser coordenar um jogo sem mim? — provoquei, ouvindo
Oscar Green suspirar antes de baixar a pasta e se virar para mim.
— Pelo menos um jogo que não vou infartar — resmungou, indo para
a entrada do rinque e se encostando na parede do corredor, observando os
jogadores ajeitarem o uniforme.
O acompanhei, me encostando na parede paralela a dele, vendo Johnny
falar a estratégia de jogo para Drake.
— Eu disse pra você não se meter mais em confusão — alfinetou o
treinador depois de um tempo em silêncio, mas notei que não tinha uma real
repreensão no seu tom de voz.
— Foi necessário. — Dei de ombros.
Ele suspirou, coçando a sobrancelha grossa.
— Não estou confiante que vamos ganhar hoje — ele soltou e eu
também não estava.
Seria um jogo acirrado e Johnny não me teria para lhe passar o disco.
Contudo, o que me intrigou foi que o Sr. Green não parecia decepcionado
com isso.
— Eles vão dar um jeito — incentivei e o treinador cruzou os braços
em frente ao peito, parecendo tranquilo.
— Cameron Payne vem pro nosso time no próximo semestre —
comentou erguendo a pasta que segurava.
Ah, agora eu entendi esse seu bom humor. Com Cameron no time era
quase uma certeza que ganharíamos o próximo Frozen Four. Nossa equipe
era uma das melhores da liga universitária do país atualmente, com esse
bônus poderíamos ser draftados com honra.
— Esse jogo ainda não está perdido — ponderei e o treinador deu de
ombros.
— Não estou colocando pressão neles, se perdermos ficamos em
segundo — disse tão despreocupado que fiquei com vontade de rir.
— O senhor anda fazendo terapia? — perguntei intrigado. — Está tão
calmo que estou assustado.
Ele apenas negou com um movimento relaxado.
— Estou calmo por causa daquela garota ruiva bem ali. — Ele apontou
para a minha ruiva, sentada toda linda e fofa nas arquibancadas. — Você
está apaixonado e isso significa que não vai mais se envolver em orgias
com atores pornôs.
Definitivamente. Eu era só dela e ela só minha.
— Agora sou um homem de responsabilidade. — Estalei a língua em
provocação e ele bufou cinicamente.
— Nem quando você estiver casado e com filhos — ele debochou e eu
ri.
— Pretendo ter tudo isso — revelei, o surpreendendo. — Com ela.
Sr. Green se virou novamente para Madison, como se estivesse vendo-
a pela primeira vez.
— Garoto, ela te pegou de jeito, não foi?
Suspirei a observando sorrir para Amber, mostrando aquela covinha
perfeita.
— Pegou — concordei.
Os jogadores começaram a entrar no gelo e pisquei para Johnny
quando ele me olhou, desejando boa sorte. Ele se posicionou junto com os
outros, a tensão e ansiedade estavam no ar. Assim que o juiz apitou, o
pessoal da Dakota do Norte se levantou dos assentos para aplaudir os seus
jogadores.
Era bonito de se ver, amava essa energia quando jogávamos em casa. O
capitão do time deles conseguiu tomar posse do disco primeiro e correu
para o nosso gol. O cara era rápido, não no mesmo nível que Johnny, porém
era muito difícil alcançá-lo.
Tentou fazer uma jogada arriscada, arremessando o disco por cima do
nosso goleiro e por sorte, não deu certo. Só que essa sorte talvez não
durasse, eles tinham atacantes fortes e rápidos, logo iriam furar a nossa
barreira. E não tinha ninguém para passar o disco para o nosso capitão
relâmpago.
— Odeio admitir — falou Sr. Green do meu lado. — Mas você faz
falta.
— Eu faço falta pra todo mundo. — Suspirei cansado e ele revirou os
olhos.
Ri e dei um tapinha no seu ombro antes de sair novamente para sentar
ao lado do meu gnomo. Estava lotado demais e normalmente ficava com
medo de alguém machucá-la, se desse alguma briga na torcida.
O que era engraçado de analisar. Ela sempre foi a minha prioridade,
mesmo quando ainda negava isso para mim mesmo.

3x1 para eles.


E já estava começando o último tempo do jogo. Ou seja, nosso time
tinha vinte minutos para tentar ganhar antes de acabar. A galera da Dakota
do Norte estava em êxtase, eles comemoravam tanto que nem tinha como
não ficar feliz por eles, pelo menos um pouco.
Jogar em casa era importante, trazer a vitória para o seu pessoal, que
torcia e estava ali esperando o resultado. Já perdemos uma vez quando
jogamos na Brown e foi terrível causar o desânimo de todo o campus.
Claro, me senti na obrigação de fazer uma festa. No entanto, nessa
ninguém foi preso. Ou se foi, não me levaram junto.
— Vamos perder, não é? — perguntou o gnomo do meu lado,
encostando a cabeça no meu peito.
Passei o braço pelos seus ombros e encostei o nariz nos seus cachos,
sentindo o cheiro doce e suave de cereja. Beijei ela, alisando a sua pele. Era
gostoso demais a sensação de tê-la nos braços, só para mim, que eu podia
fazer carinho quando quisesse, sussurrar no seu ouvido que era a garota
mais linda do mundo e que a amava.
— Provavelmente, pequena. — Beijei a sua testa e ela se encolheu, me
abraçando mais de perto.
— Você não está triste?
— Não. — Dei de ombros, tranquilo.
Ficaríamos em segundo, era uma colocação mais que vantajosa e ainda
teriam oportunidades bem melhores para ganhar o Frozen Four depois.
— Eu também não consigo ficar triste — ela sussurrou no meu ouvido,
com medo de ser ouvida. — Eles estão felizes que nem dá pra ficar
rancorosa.
Pior que era verdade. Olhei para o rinque e vi Johnny mandando um
aceno para Amber, ela balançou a mão alegremente de volta e gritou bem
alto que estava morrendo de orgulho dele. O capitão se derreteu e sorriu na
nossa direção antes de voltar a atenção ao jogo.
Tinham feito uma pausa, pois um jogador do outro time se machucou.
Ele foi logo substituído e em alguns minutos, o jogo acabaria. Os meninos
pareciam satisfeitos com o resultado, Taylor estava brilhando na parte
defensiva, feliz por poder ter participado da final.
Peguei a mão da minha pequena e entrelacei nossos dedos, sentindo as
suas cicatrizes. Ela se remexeu no assento e pegou seu celular do bolso da
calça, leu a mensagem enviada e me mostrou a tela com um sorriso
brilhante no rosto.
Era da Scar, ela tinha ficado em casa por conta do trabalho e também
porque precisava usar o fim de semana para estudar. Ela tinha mandado
uma foto no nosso grupo, dos passarinhos mais famosos da nossa rua. Eles
voando.
— Eles voaram! — Minha namorada se virou animada para o pessoal,
mostrando a foto para Amber, Sienna, Tyler, Nelly e Benny.
— Quem são esses? — perguntou Nelly, jogando as suas tranças box
braids para trás do ombro.
— Os nossos passarinhos do telhado! — Amber estalou os dedos na
cara da amiga e ela se lembrou.
— Meu Deus, eles já estão voando? — perguntou chocada.
— Precoces — elogiei.
— Isso quer dizer que nossa casa fica pronta em breve. — Sienna
suspirou aliviada e Tyler murchou no seu assento.
Eu também.
— Quem vai fazer o nosso jantar agora? — Tyler perguntou, perplexo
e Sienna balançou a cabeça em negação para ele.
— Quem vai dormir de conchinha comigo agora? — questionei no
mesmo tom para a pequena nos meus braços.
— Vamos fazer que nem o Johnny e a Amber, às vezes um dorme no
quarto do outro... eu também não sei mais dormir sem ser de conchinha. —
Ela riu, franzindo a testa ao constatar aquilo.
— GOL! — gritou Benny se levantando, o único de nós atento ao jogo.
Olhei depressa para o gelo e sim! Gol, porra! Drake tinha conseguido
jogar de longe o disco para Johnny, que o estabilizou no taco e arremessou
com tudo na rede, nem precisando correr dessa vez. O lance se repetiu no
telão e fiquei feliz por saber que ao menos perdemos com uma diferença
pequena de apenas um ponto.
O juiz apitou encerrando o jogo e os meninos deslizaram pelo gelo,
indo cumprimentar os jogadores do outro time pela vitória.
— Próxima temporada, eles que nos esperem. — Amber piscou,
animada.
— Não quebre nenhum osso até lá — mandou Sienna, apontando o
dedo na minha cara.
Pisquei para ela.
— Pode deixar, senhora.
— Não vou mentir — disse Benny, se levantando. — Queria que
tivéssemos ganhado.
— Faz parte. — Tyler se espreguiçou.
Todos começaram a se levantar dos assentos, mas permaneci sentado.
Respirei fundo, sentindo uma ansiedade ao saber onde passaria depois de
sair dali.
Minha mãe morava na mesma cidade em que estávamos. Ela me pediu
para a encontrarmos depois do jogo, indo até a sua casa. Topei porque meu
coração pedia por isso, só estava com medo do que encontraria quando a
visse.
Se estaria magoada, machucada ou triste por eu ter me afastado tanto
tempo. Se ainda teríamos o mesmo amor de antes.
Minha noiva percebeu o meu dilema e senti a sua mãozinha segurar a
minha. Ela se inclinou na minha direção e beijou o canto da minha boca.
— Eu estou com você.
Ela só me disse isso. E assim que olhei para os seus olhos esmeralda,
entendi que era o suficiente.

A casa bonita e em estilo rústico à minha frente tinha um ar de


aconchego. Arborizada, a porta de madeira e o cheiro que preenchia o lado
de fora deixavam claro que ali era um ambiente acolhedor.
Um lar.
Ela tinha se mudado depois da morte do meu pai e eu nunca visitei a
sua nova casa. Respirei fundo e bati à porta, sentindo uma mão confiante
segurar a minha, me dando apoio.
— Nossa moeda disse que era a hora — ela sussurrou, me mostrando o
colar e sorri para o meu amor, beijando a sua cabeça.
A porta se abriu e fechei os olhos por um momento, usando o beijo
como desculpa para não olhar para frente. Entretanto, Madison apertou a
minha mão em incentivo e meu coração acelerou.
Ergui os olhos para a pessoa parada na porta e o tempo parou. Na
minha frente estava uma mulher morena muito bonita, como sempre foi, e
seus olhos pretos marejaram assim que encontraram com os meus. Não sei
quanto tempo passou enquanto ficamos nos encarando, talvez tenha sido
apenas o tempo que precisávamos.
Em algum momento, uma lágrima deslizou por seu rosto e seu lábio
tremeu levemente. Apertei mais a mão pequena na minha e respirei fundo,
tomando coragem para dar o primeiro passo.
— Mãe...
Ela me deu um sorriso trêmulo, vindo me abraçar. Meus braços a
envolveram forte, sentindo falta dela. Quando olhei de canto para a ruiva ao
meu lado, ela tinha um sorriso suave no rosto e parecia emocionada.
— Ah, querido — minha mãe murmurou. — Eu senti tanto a sua falta,
tanto, tanto.
Eu também. Foi quase uma vida.
— Eu deveria ter vindo antes — falei, sentindo uma falta de ar
estranha.
Ela se afastou de mim e o seu rosto estava todo molhado, vermelho.
Enxugou rapidamente as lágrimas e se voltou para Madison, que tinha
juntado as mãos em frente ao corpo, apenas nos esperando acanhada. Minha
mãe ficou olhando para as suas bochechas coradas, e não tinha como ser
diferente.
Ela se apaixonou pelo amor da minha vida também.
— Como vai? — perguntou Madison, sorrindo lindamente para ela.
Passei um braço pela cintura da minha ruiva e a coloquei contra o meu
corpo protetoramente.
— Mãe, essa é a minha noiva — contei e ela ergueu os olhos surpresa,
mas logo passou quando olhou para Madison de novo.
Ela se derreteu ao ver aquelas covinhas e abriu um sorriso acolhedor de
volta para ela.
— Oi, meu bem. — Estendeu a mão para ela e fiquei apreensivo. — É
um prazer conhecer você.
Já ia me adiantando para impedi-la de apertar a mão da minha mãe,
contudo a pequena estendeu logo a sua, a apertando, do mesmo jeito que
tinha feito com Cameron. Minha mãe sentiu as cicatrizes, deu para
perceber. Ela franziu um pouco o cenho, no entanto rapidamente disfarçou
com um sorriso, nos convidando a entrar.
A casa era toda de madeira, espaçosa, havia um jardim na varanda da
sala, com flores e uma mesinha branca no centro, dando vida ao ambiente.
Em cima da mesa havia vários rolos de lã, me lembrei que ela gostava de
fazer crochê.
Fazia várias coisas para mim, como gorros no natal e luvas, isso a
acalmava. Era uma imagem vívida na minha memória.
— Eu fiz alguns brownies pra vocês — ela disse atrás de mim.
Olhei por cima do ombro e vi que em cima da bancada da cozinha
tinha um banquete. Bolos, brownies, waffles, dentre outras coisas. Isso me
deu uma vontade de chorar, pois vi o leve tremor na sua mão, ela estava
nervosa, com medo que eu fosse embora e nunca mais a visse.
— Está tudo perfeito — elogiou a pequena, sorrindo para ela.
Minha mãe olhou para ela, apaixonada. Minha garota caminhou até a
bancada e pegou um pedaço de bolo de chocolate, surpreendendo a dona da
casa quando se ergueu na ponta dos pés para dar um beijo no seu rosto.
— Obrigada — agradeceu, corando um pouco. — Eu vou ficar ali no
jardim um pouco — avisou olhando para mim, me dizendo que nos daria
privacidade para que eu conversasse com ela.
Assenti em entendimento, a observando se distanciar para sentar na
mesa que havia no meio do jardim. Peguei minha mãe olhando para ela com
um sorriso no rosto.
— Ela parece ser um amor — disse sem tirar os olhos da minha
pequena. — Se eu tivesse uma filha ia querer que fosse que nem ela.
Percebi que Madison escutou, dava para ouvir nossa conversa de onde
estava sentada, por mais que fosse relativamente distante. Ela ficou um
pouco tensa, talvez ansiosa e isso causou um aperto no meu coração. Queria
dividir tudo com ela, até a minha mãe. Era uma pena não poder dividir o
meu pai também, ele teria a amado.
Lembrando disso, tirei do bolso aquilo que não era meu e eu carregava
comigo. Minha mãe se virou para mim, apreensiva e assim que lhe mostrei
o que trouxe, ela chorou.
A aliança de casamento deles.
Ela cobriu a boca com as mãos e notei que ainda usava a sua. Um
alívio tomou conta de mim, não queria que ficasse presa ao passado, mas
precisava saber se ela ao menos o amou.
— Você... o amava? — perguntei, colocando a aliança em cima da
mesa.
Minha garganta ficou seca e ela confirmou com um movimento de
cabeça, sem conseguir falar. Esperei o seu tempo, queria abraçá-la, porém
sabia que precisávamos dessa conversa se quiséssemos continuar a nossa
relação.
— Eu fui idiota — disse depois de um tempo, enxugando o rosto com a
mão trêmula. — Eu o amava, só que fui idiota — repetiu e peguei a sua
outra mão na minha.
Engoli em seco e tentei dar um meio sorriso para lhe acalmar.
— Está tudo bem — incentivei, apertando a sua mão e isso só a fez
chorar ainda mais.
— Estava passando por um momento ruim no meu casamento, conheci
uma pessoa e tudo desandou — falou rapidamente, atropelando as palavras.
— Ele ficou agressivo, pediu pra eu me separar. E eu ia consertar tudo,
terminei com ele, ia contar ao seu pai, mas...
Foi tarde demais. Pensei em silêncio. Ela apertou a minha mão,
nervosa, era possível perceber todo o seu desespero.
— Não vai embora — implorou, olhando nos meus olhos. — Eu não
consigo perder o meu filho de novo.
Senti o meu coração quebrar. A puxei para mim, abraçando-a forte.
— Você é minha mãe. — A minha voz saiu embargada. — Eu sempre
vou te amar.
— Ah, meu bebê — choramingou, usando o nome que costumava me
chamar quando criança. — Eu senti tanto a sua falta. — Me apertou mais e
olhei por cima do seu ombro, vendo que Madison estava na varanda com os
olhos em nós, emocionada e me dando um meio sorriso.
— Eu também — respondi, beijando a sua cabeça e ela se afastou um
pouco.
— Eu guardei tudo, Colin. Tem um quarto lá em cima com tudo que é
seu. — Ela sorriu, apontando para cima. — Guardei todos os presentes que
você me deu, guardei algumas roupas suas, seus brinquedos, cartas que
você me deu e até os seus sonhos.
Era incrível como uma mãe conseguia sempre fazer com que um filho
se sentisse especial.
— Como guardou os meus sonhos? — perguntei curioso, achando
aquilo engraçado e ela me deu um sorriso nostálgico.
— Um dia você simplesmente me disse que não se lembrava mais
deles. Os perdeu, então eu os guardei pra você — explicou, me deixando
confuso. — Ainda não consegue se lembrar?
Neguei com um movimento. Nunca lembrei, acordava e eles
desapareciam.
— Sempre foi assim — falei e ela negou suavemente.
— Toda noite parecia ser o mesmo sonho. Eu achava tão bonito o jeito
com que você os descrevia pra mim, mesmo sendo só uma criança... É um
pecado que os tenha esquecido.
Respirei fundo, sentindo uma certa curiosidade. Nunca senti falta
disso, nunca achei que importasse.
— O que eu contava? — questionei e ela suspirou, dando um sorriso
como se estivesse lembrando do momento.
— Você dizia que era como se estivesse jogado no espaço... —
comentou com um olhar amoroso.
— No espaço? — repeti em divertimento e ela assentiu, me dando um
sorriso de volta.
— Perdido entre as estrelas, “nadando” entre elas, como você mesmo
dizia. No começo achei normal um garoto sonhar com aventuras espaciais,
mas um dia você me disse uma coisa que me intrigou.
— O quê? — perguntei, vendo-a pegar a aliança de cima da mesa e a
segurar na sua mão com cuidado.
— Você me disse que conseguia ver as estrelas por toda parte, porém
quando olhava para baixo... tudo mudava. Era tão bonito que logo que você
passou a esquecê-los, eu resolvi guarda-los, querido. — Ela ergueu os olhos
e a esperei continuar. — Você via um conjunto de trailers velhos quando
olhava para baixo — murmurou e senti um arrepio passar pelo meu corpo.
— Me disse que tinha uma garota lá, que ela colocava a cabeça pra fora da
janela e ficava te olhando de volta.
Meu coração parou e apertei a mesa, precisando me equilibrar em algo,
balancei a cabeça em negação. No entanto, minha mãe girou o anel na mão
e continuou a falar.
— Era como se ela não soubesse que você estava vendo-a... entretanto
olhava diretamente pra você e tinham dias em que ela conversava, teve um
em que você me disse que ela trouxe um cupcake para a janela e assoprou
uma vela imaginária em cima dele.
O ar do mundo sumiu. Meu pulso acelerou e meus olhos marejaram.
Só consegui perguntar uma coisa.
— Como ela era?
Minha mãe suspirou triste, ainda olhando a aliança, quase fascinada
por ela.
— Você nunca a descreveu pra mim. Eu gostava de pensar que você
estava se comunicando com alguém através dos sonhos e das estrelas.
Balancei a cabeça em negação de novo e quando olhei para a garota
sentada no jardim, a encontrei olhando diretamente para mim. Senti que o
mundo tinha entrado em um silêncio confortável, pois ela estava me
observando do mesmo jeito que admirava as estrelas à noite.
Os seus olhos derramavam lágrimas silenciosas e ela me deu um
sorriso suave, movimentando os lábios de um que eu entendesse, como
fazia para nos comunicarmos nos jogos.
“Déjà vu”
Minha garganta fechou. Lembrei exatamente do dia em que disse isso
para ela quando a vi sentada na minha janela.
— Eu vou guardar isso lá em cima — minha mãe avisou, carregando
consigo a aliança e assenti, sem desviar da garota no jardim.
Me levantei e caminhei até ela sem desconectar os nossos olhos. O
amor da minha vida ainda chorava silenciosamente, eu me agachei na sua
frente para que ficássemos na mesma altura.
Ela pegou a minha mão na sua e só então notei que segurava um fio de
lã vermelho da minha mãe, que estava em cima da mesa. Ela o enrolou em
silêncio no meu dedo mindinho e me pareceu um momento especial.
— Obrigada por ter comemorado os meus aniversários comigo —
sussurrou, sem tirar os olhos da lã enquanto a amarrava no meu dedo e senti
uma lágrima descer pelo meu rosto. — Obrigada por nunca ter me deixado
sozinha. — Ela puxou o fio preso em mim até a sua própria mão. — Eu
prometo que você será a única estrela no céu que eu vou procurar à noite.
Assim que ela ia amarrando o fio no seu próprio dedo, a parei, peguei
a lã e coloquei a sua mão sobre a minha, querendo eu mesmo fazer aquilo.
— Eu prometo que vou sonhar com você todas as noites — sussurrei
de volta, passando a enrolar o dedo dela na lã. — E quando acordar, você
ainda será o meu único sonho.
Dei o último nó e aquilo significou tudo. Eram promessas, juramentos,
um casamento.
— Antes de te ver, eu já te amava — confessei. — Você e eu. — Puxei
o dedo para o meu peito e o fio fez com que ela se aproximasse, encostando
a testa na minha. — Somos sonhos, somos instantes, somos suspiros, somos
errados, somos nós e somos amarrados um ao outro. Já estava feito.
Ela roçou o nariz no meu e entrelaçou os nossos dedos mindinhos
amarrados, os prendendo ainda mais.
— Já estava feito. — Fechamos os olhos juntos e respiramos o mesmo
ar.
Você nunca precisou procurar pelas estrelas, meu amor. Elas vêm até
você toda noite.
Colin Scott
Alguns anos depois

— Vamos falar baixinho pra não acordar a mamãe, ok? — sussurrei,


passando o braço pelas suas pernas pequenas para erguer a outra ruiva da
minha vida.
Os braços curtinhos abraçaram ansiosos o meu pescoço, e ela me
apertou forte enquanto eu caminhava pela casa.
— Mas já está de manhã — resmungou no meu ouvido.
Era verdade, já estava começando a amanhecer e daqui a pouco a luz
da minha vida iria acordar para ver o sol nascer e tomar seu chá. Ela estava
atrasada, o que era ótimo para a nossa surpresa. Dia 22 de fevereiro merecia
um evento importante.
Era o dia em que Madison Jensen nasceu, deixando o mundo um lugar
melhor. Astral afastou o rostinho do meu pescoço, para me olhar, e passei a
contar silenciosamente as suas sardas na ponta do nariz. Amava que ela se
parecesse tanto com a mãe, fazia com que eu quisesse encher a casa de
crianças ruivas. Mais um pedaço da minha pequena para amar.
Mais sardas para contar.
Peguei o bolo em cima da mesa, que ficava no corredor do nosso
quarto, e abri a porta. Ela ainda estava dormindo, debruçada na cama e
odiei atrapalhar os seus sonhos. Às vezes me contava deles e eu ouvia com
atenção, sabendo que eram importantes.
Nunca cheguei a lembrar dos meus, ainda se perdiam no ar logo que eu
abria os olhos, porém acalmava o meu coração saber que eu a encontrava
até quando ia dormia. Todas as noites.
Coloquei Astral em cima da cama e ela sorriu animada, engatinhando
até sua mãe. Fui até a escrivaninha e completei a nossa lista “Coisas que eu
amo em você”, naquele dia eu coloquei que era o jeito como ela enrugava a
ponta do nariz antes de acordar. Depois de ler a sua lista sobre exigências
do amor da sua vida e ver que ela me descreveu mesmo sem nem perceber,
decidi que deveríamos fazer uma nova. Todo dia eu a preenchia, era a
primeira coisa que ela lia depois de acordar.
Abri só um pouco a janela do quarto, o suficiente para deixar a luz do
sol refletir bem no seu rosto perfeito.
Madison enrugou a ponta do nariz de um jeito fofo, torcendo o canto
da boca e deixando uma covinha aparecer. Suspirei ao me agachar na sua
frente e coloquei a mão sobre a sua barriguinha, que já estava começando a
crescer.
O nosso segundo bebê estava a caminho, já estava de três meses. Ela
abriu os olhos e o verde esmeralda brilhou para mim, fazendo meu coração
errar uma batida, como sempre. A cada dia eu te amo mais...
— Bom dia. — Ela sorriu para mim e Astral surgiu por trás dela,
dando um beijo demorado na bochecha da mãe.
— Bom dia! — desejou e Madison virou para ela, alisando o seu
rostinho.
— O que você faz acordada antes de mim, meu amor? — perguntou à
filha com carinho e Astral apontou para o bolo.
— Papai vai cantar parabéns pra você — avisou e a minha esposa se
sentou na cama, me olhando com um sorriso brilhante ao ver o bolo.
O seu colar de ouro brilhava, descansando entre os seus seios. Deixei o
bolo em cima da nossa mesinha e me inclinei para beijar o seu pescoço
cheiroso que estava à mostra, me sentindo inebriado pelo aroma.
— Eca — reclamou Astral e rimos enquanto eu puxava minha mulher
pela cintura, para mais perto de mim.
— Te amo — sussurrei dando beijos preguiçosos pelo seu pescoço, me
afastei dela e apertei de brincadeira o nariz da sapeca que nos olhava com
cara de nojo. — Te amo também, sua pequena pilantra.
— Não a chame assim — defendeu Madison, a colocando no seu colo
e ela veio, pois amava ser mimada pela mãe. — Se ela é danada, é
inteiramente culpa sua.
Nossa menina era uma bolha de energia, vivia metida em confusão e
falava mais do que qualquer pessoa na casa. Por quem será que ela puxou,
não é?
— Minha? — Coloquei a mão no peito cinicamente e voltei a pegar o
bolo. — Eu não sei com quem essa pestinha aprende tanta coisa. — Pisquei
em provocação para Astral e a minha filha revirou os olhos, me fazendo rir.
Assim que minha esposa viu o bolo se emocionou, ela sorriu
lindamente e apertou a filha nos braços. Astral tirou um cacho da frente do
rosto da mãe e beijou a sua bochecha.
Comecei a cantar parabéns baixinho junto com a nossa filha, me
aproximando delas e colocando o bolo em cima da cama. Quando Madison
descesse e fosse na nossa garagem, encontraria um carro novo enfeitado
com um laço gigante e mais tarde teria uma festa para ela.
No entanto ali, enquanto o sol nascia, seríamos apenas nós três. Ou
quatro, contabilizei admirando o formato da barriguinha da minha mulher.
Logo que terminei de cantar e Astral de bater palmas, Madison já
tinha derramado algumas lágrimas. Peguei o fósforo que tinha trazido
comigo e acendi a vela. Ela se inclinou para frente e fechou os olhos
enquanto soprava a vela, apagando a chama.
— O que você pediu, mamãe? — perguntou Astral, já começando a
bocejar.
— Nada. — Madison encolheu os ombros. — Já tenho tudo, só
agradeci.
Sorri para o amor da minha vida, me sentindo em paz. Astral rastejou
da nossa cama e nos avisou que voltaria para o seu quarto, pois estava
muito cansada. Daqui a pouco ela levantava novamente para ir brincar com
as outras crianças e aterrorizar a vizinhança.
— Ontem, sua mãe pediu pra avisar que iria passar o dia com a gente
— ela disse e me inclinei para voltar a beijar o seu pescoço.
Minha mãe fazia isso pelo menos uma vez na semana, ela se
aproximou muito da minha esposa, virou quase uma filha e hoje em dia ela
não conseguia mais viver sem ela e Astral.
— Perfeito — falei assim que minha mulher me abraçou forte, rindo ao
sentir minha barba fazer cócegas nela.
Era domingo, então poderíamos passar o dia na cama. Sem viagens
para jogos de hóquei ou eventos na sua galeria. Depois da faculdade, fui
draftado na primeira rodada, assinando um contrato milionário. A vida era
um pouco agitada com os jogos, mas eu sempre as carregava comigo
quando podia. Minha esposa tinha mais flexibilidade, por ser dona da sua
própria galeria agora, e torcia por mim em quase todos os jogos.
Desci mais alguns beijos no ombro da luz da minha vida e encostei a
testa na dela, suspirando pertinho.
— Feliz aniversário, pequena — desejei e ela roçou o nariz com o meu.
— Eu te amo, meu maluco — sussurrou e a abracei, achando que a
nossa paz iria durar por algum tempo.
Contudo, estava enganado, nunca durava. Escutei o grito estridente, de
uma voz que eu conhecia bem, do outro lado da rua, avisando que o café da
manhã estava pronto.
— Chega a ser impressionante que a gente consiga ouvi-la daqui —
murmurei e Madison me beliscou.
— É melhor irmos logo — aconselhou a ruiva nos meus braços.
Eu já estava faminto, então me levantei puxando-a comigo. Pronto para
começar mais um dia divinamente maluco na nossa família.
Você chegou a olhar as estrelas hoje?
Eu olhei. Da minha janela, nesse exato momento, elas estão tão lindas
que me senti realmente conectada a elas. Enquanto as observava me
perguntei se você também estaria vendo a mesma que eu. Me perguntei se
isso nos faria conectadas. Me perguntei se você acredita em magia.
É sobre as coisas simples da vida, como admirar as estrelas, como
fechar os olhos e sentir a luz do sol, como ouvir o som da chuva ou sorrir
para alguém. É sentir o seu coração suspirar enquanto lê um livro. É, às
vezes, se conectar com algum personagem. É se questionar se amores assim
existem mesmo.
É sonhar. É ser o sonho de alguém, até mesmo sem saber.
Já parou para pensar no quanto você é especial? Deveria.
“Essa pessoa que está segurando a outra metade da fita está por aí,
em algum lugar. Ela não sabe que você existe, não sabe o seu nome, qual a
cor dos seus olhos, nem os seus gostos ou defeitos. Mas ainda sonha com
você.”
Eu agradeço à Maddie, por ser minha amiga enquanto escrevia esse
livro. Agradeço a ela por existir e me ensinar um pouco sobre a vida.
Agradeço ao Colin por me fazer rir. Agradeço a ele por ser protetor e tão
descontraído. Agradeço a eles por fazerem meu coração pulsar em um ritmo
novo.
Eu os amo profundamente, vivo por eles, sonho com eles. Fazem parte
de mim, é uma extensão da minha alma. E é tão bom poder compartilhá-los
com alguém.
Se você se apaixonou também, obrigada por amá-los junto comigo.
Essa série pode se chamar “Os Canalhas do Hóquei”, mas para mim ela
é muito mais sobre as mocinhas e como elas encontram um amor nos seus
jogadores de hóquei.
A primeira foi jogando um drink na cara dele. A segunda foi fazendo
um ritual debaixo da janela do seu vizinho.
E a terceira... bem, essa foi algo muito especial e eu espero te ver lá.
No momento em que Scarlett Miller encontra novamente com Cameron
Payne. Sobre essa história... o meu coração chama por ela tem um bom
tempo.
Esse romance exigiu a participação de pessoas que me auxiliaram e
ajudaram até com os mínimos detalhes. Pessoas que eu vou levar para a
vida e acho que nenhum agradecimento pode expressar o quão grata eu sou
pelo que elas fizeram por mim.
Primeiro eu agradeço a você que chegou até aqui, muito obrigada por
ter escolhido esse livro para ser a sua leitura. Em segundo, aos meus pais,
por sempre me apoiarem em todos os momentos e entenderem os meus
sumiços por estar escrevendo. Segundo às minhas betas, assessoras,
revisora e administradoras dos dois grupos de leitoras (sem essas meninas
eu não sei o que faria): Tan Wenjun, Bruna Pallazo, Bruna Celestino, Aline
Bianca dos Santos, Stephany C. Gomes, Hanna Câmara, Evelyn Fernandes,
Francielle Gomes e Mayanne Rocha.
Vocês nem sabem o quanto são necessárias na minha vida.
Além de todas as leitoras dos grupos de Whatsapp, que sempre foram
compreensivas comigo, vocês são as melhores pessoas que eu poderia pedir
na minha vida. Obrigada às minhas parceiras maravilhosas, que aceitaram
divulgar esse livro e fizeram um trabalho incrível.
Também à Camila Cocenza, Maya Passos e Angel Guedelha, três
autoras que desde o início me apoiam em cada passo.
Não posso deixar de agradecer duas amigas minhas, Maria Carolina
Melo e Amanda Rocha. No dia em que tive que falar do adiamento desse
livro, fiquei mal por não conseguir cumprir o prazo que prometi, chorei o
dia inteiro e elas me levaram para comer chocolate. Me abraçaram e me
fizeram rir, quando cheguei em casa eu me senti muito melhor. Isso não tem
preço.
Agradeço à minha amiga Alessandra Mata, que me escuta falar sobre
os meus personagens e livros, às vezes durante horas (você é uma
guerreira). Também ao meu amigo, João Antônio Barros, que é meu maior
panfletador e está sempre disposto a me matar de vergonha.
Por fim, à minha amiga Maria Eduarda França, que me deixou passar
as minhas férias improvisadas na sua casa e me impediu de pensar em
trabalho por uns dias. Obrigada por ser esse amor de pessoa.
Eu sou muito grata a todos vocês, de coração.
Sua avaliação é de extrema importância para mim e para os futuros
leitores. Avalie, comente e compartilhe, se possível.
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