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Unidade II
5 OPERAÇÕES DE ARRENDAMENTO MERCANTIL
Durante a vigência do CPC 06 (R1), o arrendamento mercantil era definido como sendo um acordo pelo
qual o arrendador (detentor jurídico do ativo) transmitia ao arrendatário (aquele que utiliza o bem), em troca
de um pagamento ou série de pagamentos, o direito de usar um ativo por um período de tempo acordado.
Saiba mais
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Unidade II
disposto no CPC 06, foi emitido com base na norma internacional IAS 17 – Leases, emitida pelo Iasb.
Porém, o órgão já estava há tempos revendo essa norma, o que acabou culminando na emissão da
IFRS 16 cuja vigência iniciaria a partir de 2019.
Desse modo, o Brasil acabou por adotar um modelo que já estava em fase de substituição pelo Iasb.
Em função do novo texto da IFRS 16, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis emitiu o CPC 06 (R2)
com efeitos a partir de 2019.
Saiba mais
https://cfc.org.br/tecnica/assuntos-internacionais/
Esse CPC 06 revisado trata, portanto, dos princípios para o reconhecimento, mensuração, apresentação
e divulgação de arrendamentos com o objetivo de garantir que os arrendatários e arrendadores forneçam
informações relevantes que permitam aos usuários das demonstrações contábeis avaliar o efeito que
essas operações provocam na posição financeira e no desempenho financeiro e, principalmente, nos
fluxos de caixa da entidade.
Como já visto, o contrato de arrendamento mercantil é celebrado por meio de um contrato realizado
entre pessoa jurídica (arrendador) e pessoa física ou jurídica (arrendatário).
• Arrendador: proprietário do ativo, ou seja, a entidade que fornece o direito de uso do ativo.
• Arrendatário: entidade que obtém o direito de uso do ativo por um período definido no contrato
em troca de contraprestações e que, no final do contrato, declara a opção de compra ou a
devolução do ativo, objeto do contrato.
Lembrete
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CONTABILIDADE FINANCEIRA
Segundo o novo texto do CPC 06 (R2), para que um contrato seja considerado de arrendamento é
necessário estarem presente, portanto, dois requisitos essenciais: direito de controle do uso de um (b)
ativo identificado.
Com essa nova redação, alguns contratos que não eram considerados de arrendamento mercantil
poderão ser assim considerados, bem como arrendamentos atuais poderão ser desconsiderados
como tais.
Para ajudar a entidade a fazer a avaliação sobre se o contrato é ou contém arrendamento, o CPC 06 (R2)
publicou o seguinte fluxograma.
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Unidade II
Entretanto, se o arrendador tiver o direito substancial de substituir o ativo durante todo o período
de uso, o ativo não será considerado identificável e o contrato não poderá ser considerado como de
arrendamento mercantil.
Dispõe o CPC 06 (R2) que o arrendador somente terá o direito substancial de substituir o ativo se
estiverem presentes as seguintes condições:
• Tiver a capacidade prática de substituir ativos alternativos durante todo o período de uso.
Segundo o item 3, Alcance, a entidade deve aplicar este pronunciamento a todos os arrendamentos,
incluindo arrendamentos de ativos de direitos de uso em subarrendamentos, exceto para:
Entretanto, o item 4 determina que o arrendatário pode, mas não é obrigado, a aplicar esse
pronunciamento a arrendamentos de ativos intangíveis que não sejam aqueles descritos no item 3(e).
Uma das principais alterações do CPC 06 (R2) foi a eliminação da classificação entre arrendamento
mercantil financeiro e arrendamento mercantil operacional para o arrendatário.
Por força do pronunciamento, o arrendatário deverá dar o mesmo tratamento contábil para o
arrendamento financeiro e operacional, de forma que passem, em ambos os casos, a serem reconhecidos
no balanço patrimonial os ativos e passivos da entidade.
Observação
As principais razões para a mudança do reconhecimento dos ativos e passivos e o respectivo reflexo
nas demonstrações contábeis foram:
• Contratos de aluguéis de longo prazo não eram reconhecidos no balanço patrimonial. Os passivos
de aluguéis de longo prazo, muitas vezes com valores significativos, não estavam reconhecidos e,
portanto, o balanço das entidades não refletia a existência de passivos.
Na data de início, o passivo do arrendamento deve ser mensurado pelo valor presente dos
pagamentos do arrendamento a serem pagos futuramente. O valor presente de cada parcela deve
ser descontado utilizando-se a taxa de juros implícita no contrato, quando puder ser determinada
imediatamente. Se essa taxa não puder ser determinada imediatamente deve-se usar a taxa incremental
sobre o empréstimo do arrendatário.
Taxa de juros implícita no arrendamento é a taxa de juros que faz com que o valor presente dos
pagamentos do arrendamento e do valor residual seja igual à soma do valor justo do ativo subjacente e
de quaisquer custos diretos iniciais do arrendador.
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Unidade II
Taxa incremental sobre empréstimo do arrendatário é a taxa de juros que o arrendatário teria que
pagar ao pedir emprestado, por prazo semelhante e com garantia semelhante, os recursos necessários
para obter o ativo com valor similar ao ativo de direito de uso em ambiente econômico similar.
O ativo deve ser mensurado pelo direito de uso ao custo. O custo do ativo de direito de uso, conforme
Item 24 do referido CPC, deve compreender:
Após a data de início, o arrendatário deve mensurar o ativo de direito de uso ao custo:
• Menos quaisquer perdas acumuladas por redução ao valor recuperável (aplicar o CPC 01 – Redução
ao valor recuperável de ativos).
• Pelo aumento do valor contábil para refletir os juros sobre o passivo de arrendamento.
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CONTABILIDADE FINANCEIRA
Arrendamentos de curto prazo são os que não ultrapassam o exercício financeiro, ou seja, são
realizados no período de 12 meses. Se o arrendamento conter opção de compra não poderá ser
considerado de curto prazo.
A IFRS 16 definiu com baixo valor os contratos de até US$ 5000.00, porém o CPC não traz definição de
valores. Dispõe, entretanto, nos itens B3 a B9 que o arrendatário deve avaliar o valor do ativo subjacente com
base no valor de um ativo novo, independentemente da idade. O arrendamento do ativo subjacente não
se classifica como baixo valor se a natureza do ativo é tal que o ativo não é normalmente de baixo valor.
Por exemplo, arrendamentos de veículos não se classificam como arrendamento de baixo valor porque
o veículo novo normalmente não é de baixo valor.
Observação
• Ativo: deve ser contabilizado como direito de uso, no ativo imobilizado, sujeito à depreciação e
redução ao valor recuperável (impairment) e mensurado pelo valor de custo.
• Passivo: deve ser contabilizado ao valor presente dos pagamentos do arrendamento que não são
efetuados nessa data, utilizando-se a taxa de juros implícita no arrendamento.
• Depreciação: deve ser consistente com a depreciação aplicada a outros ativos e reconhecida
como custo ou despesas em conformidade com o CPC 27 – Ativo imobilizado.
Resumindo:
• Se não exercer a opção de compra ao final do contrato: prazo do contrato ou vida útil do bem,
dos dois o menor.
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Unidade II
Os encargos financeiros a apropriar são a diferença entre o valor total das contraprestações
adicionado o valor residual e o valor presente dessas contraprestações, que é reconhecido como direitos
de uso do ativo arrendado.
Devem ser contabilizados em conta redutora do passivo e devem ser apropriados ao resultado de
acordo com o princípio da competência, a débito da conta de despesa ou custo e a crédito da conta
encargos financeiros a apropriar.
Em 2 de janeiro do ano X1 a empresa Delta Indústrias Químicas S.A. adquiriu, por meio de
um contrato de arrendamento mercantil com um banco, um misturador para produtos químicos,
modelo inox com capacidade para 1000 litros. Na negociação ficou acertado um prazo de cinco
anos com contraprestações anuais de R$20.000,00 com pagamentos ao final de cada ano e uma
taxa de juros implícita no contrato de 12% ao ano. A vida útil econômica do equipamento foi
estimada em oito anos.
A empresa Delta Indústrias Químicas declara que não tem interesse em comprar o equipamento ao
final do contrato.
1. Contabilizar a operação.
Tabela 7
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CONTABILIDADE FINANCEIRA
72.095,52
1 20.000,00 8.651,46 11.348,54 60.746,99 72.095,52x 12%
2 20.000,00 7.289,64 12.710,36 48.036,63 60.746,99 x 12%
3 20.000,00 5.764,40 14.235,60 33.801,02 48.036,63 x 12%
4 20.000,00 4.056,12 15.943,88 17.857,14 33.801,02 x 12%
5 20.000,00 2.142,86 17.857,14 - 17.857,14 x 12%
27.904,48
Juros = Taxa de juros x saldo devedor
Amortização = Valor da parcela (-) Juros
4) Contabilização
Pela aquisição do ativo
D = Direitos de uso – Veículos de carga 72.095,52
D = Encargos financeiros a apropriar (PC) 2.142,86
D = Encargos financeiros a apropriar (PNC) 25.761,62
C = Arrendamento mercantil a pagar (PC) 20.000,00
C = Arrendamento mercantil a pagar (PNC) 80.000,00
Pelo registro da depreciação
D = Despesas de depreciação 14.419,10
C = Depreciação acumulada 14.419,10
Pela apropriação dos juros
D = Despesas de juros 8.651,46
C = Encargos financeiros a apropriar (PC) 2.142,86
C = Encargos financeiros a apropriar (PNC) 6.508,61
Pelo pagamento das parcelas
D = Arrendamento mercantil a pagar (PC) 20.000,00
C = Caixa 20.000,00
Pela transferência do arrendamento mercantil a pagar do PNC para o PC
D = Arrendamento mercantil a pagar (PNC) 20.000,00
C = Arrendamento mercantil a pagar (PC) 20.000,00
Pela transferência dos encargos financeiros a apropriar do PNC para PC
D = Encargos financeiros a apropriar (PC) 2.142,86
C = Encargos financeiros a apropriar (PNC) 2.142,86
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Unidade II
• Deve alocar a receita financeira ao longo do prazo do arrendamento de forma sistemática e racional.
• Se classificar o ativo como mantido para venda deve aplicar o CPC 31 – Ativo não circulante
mantido para venda e operação descontinuada.
• Reconhecer as perdas por redução ao valor recuperável (aplicar o CPC 01 – Redução ao valor
recuperável de ativos).
Arrendamento financeiro:
• Receitas de vendas: a contrapartida do ativo será em contas de resultado como receita de vendas.
• Receitas financeiras a apropriar: diferença entre o valor total das contraprestações adicionado
o valor residual e o valor presente contabilizado com recebíveis.
Devem ser contabilizadas como contas redutoras do ativo e apropriadas ao resultado como receitas
financeiras e a débito da conta de receitas financeiras a apropriar.
Arrendamento operacional:
• Ativo: deve ser registrado o valor do ativo subjacente diminuído da depreciação acumulada.
6 LEASEBACK
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Unidade II
Esse é o caso de uma empresa que vende um bem e imediatamente o aluga de quem o comprou.
Há diversas razões pelas quais as empresas celebram contratos desse tipo, como, por exemplo, a
necessidade de capital de giro para pagar seus passivos ou liberar capital investido em imobilizado.
De acordo com os itens de 100 a 102 do CPC 06 (R2), se a transferência do ativo pelo vendedor
arrendatário satisfaz os requisitos do CPC 47 para ser contabilizado como venda do ativo, então:
Se o valor justo da contraprestação pela venda do ativo não equivale ao valor justo do ativo, ou se os
pagamentos pelo arrendamento não são a taxas de mercado, a entidade deve fazer os seguintes ajustes
para mensurar os rendimentos da venda ao valor justo:
• Quaisquer termos abaixo do mercado devem ser contabilizados como pagamento antecipado de
pagamentos do arrendamento.
• Quaisquer condições acima do mercado devem ser contabilizadas como financiamento adicional
fornecido pelo comprador arrendador ao vendedor arrendatário.
A entidade deve mensurar qualquer potencial ajuste requerido pelo item 101 com base no valor mais
facilmente determinável entre:
• A diferença entre o valor justo da contraprestação pela venda e o valor justo do ativo.
• A diferença entre o valor presente dos pagamentos contratuais pelo arrendamento e o valor
presente dos pagamentos pelo arrendamento a taxas de mercado.
Caso a transferência do ativo pelo vendedor arrendatário não satisfaça os requisitos do CPC 47 para
ser contabilizado como venda do ativo, a operação é tratada como se fosse a de um empréstimo, em
que o bem pode até estar sendo transferido para o nome do credor, mas por questão de garantia. Assim:
• O comprador arrendador não deve reconhecer o ativo transferido e deve reconhecer o ativo
financeiro equivalente aos valores pagos decorrentes da transferência. Ele deve contabilizar o
ativo financeiro aplicando o CPC 48 – Instrumentos financeiros.
Lembrete
Exemplo de aplicação
A taxa de juros implícita de juros no contrato é de 1,2% ao mês e a vida útil econômica estimada do
equipamento é de oito anos.
O valor presente das parcelas no início do contrato, calculado à taxa de juros implícita, é de $786.190,00
e espera-se um valor residual na venda do equipamento pela empresa no valor de $186.190,00, o que
justifica a cláusula de opção de compra declarada.
Ao contabilizar o contrato desse arrendamento mercantil, o valor total das despesas que
afetaram o resultado de dezembro de 2008, decorrentes dessa operação, foi, em $:
A) 6.250,00.
B) 9.434,28.
C) 35.000,00.
D) 15.684,28.
E) 14.439,48.
Resolução da questão
O enunciado já apresenta o valor presente das parcelas no início do contrato, evitando, portanto,
o acúmulo de cálculos.
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Unidade II
Como a empresa declara a opção de compra prevalece a vida útil estimada do equipamento.
Total = 15.684,28
Resumo
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CONTABILIDADE FINANCEIRA
Exercícios
Questão 1. O arrendamento mercantil, ou leasing, é um contrato de locação que define termos sob
os quais uma parte concorda em alugar uma propriedade de outra parte. Portanto, o leasing garante
ao locatário a utilização do ativo. Esse contrato também garante ao locador, o proprietário do imóvel,
pagamentos regulares do locatário por um determinado número de meses ou anos. Caso descumpram
os termos vigentes no contrato, tanto o locatário quanto o locador são obrigados a enfrentarem as
consequências também contidas no contrato. Além disso, a partes constituintes desse contrato são
denominadas “arrendador” (banco ou sociedade de arrendamento mercantil) e “arrendatário” (locador).
REIS, T. Arrendamento mercantil: entenda como funciona esse tipo de contrato. Suno, 2018.
Disponível em: https://bit.ly/2URig2C. Acesso em 13 fev. 2020.
I – O proprietário do bem tem direito a 15% dos benefícios do uso do ativo que objeto do contrato.
II – Por força do contrato o arrendatário terá direito a todos os benefícios provenientes do ativo.
IV – O arrendatário dividirá os custos decorrente do uso do ativo objetivo do contrato com o arrendador.
A) I e II, apenas.
B) I e III, apenas.
C) II e IV, apenas.
I – Afirmativa incorreta.
Justificativa: o arrendatário terá direito ao benefício integral proveniente do uso do ativo arrendado.
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Unidade II
II – Afirmativa correta.
Justificativa: por força da lei, os benefícios do uso do ativo serão integralmente pertencentes
ao arrendatário.
IV – Afirmativa incorreta.
Questão 2. O arrendatário pode decidir não aplicar as normas presentes no CPC 06 (R2) se o contrato
for de curto prazo. Um arrendamento pode não ser considerado de curto prazo se:
Estão corretas:
A) I, apenas.
B) I e II, apenas.
C) I e III, apenas.
D) II e III, apenas.
E) I, II e III e IV.
I – Afirmativa correta.
Justificativa: contratos de curto prazo não podem ter a duração maior que um exercícios fiscal, ou
seja, 12 meses.
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CONTABILIDADE FINANCEIRA
II – Afirmativa correta.
Justificativa: se a opção de compra estiver presente no contrato de arrendamento, este não será
considerado de curto prazo.
Justificativa: não serão considerados de curto prazo os contratos superiores a um exercício fiscal.
IV – Afirmativa correta.
Justificativa: a opção de compra, presente no contrato de arrendamento, impede que ele seja
considerado de curto prazo.
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