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CONTABILIDADE FINANCEIRA

Unidade II
5 OPERAÇÕES DE ARRENDAMENTO MERCANTIL

Durante a vigência do CPC 06 (R1), o arrendamento mercantil era definido como sendo um acordo pelo
qual o arrendador (detentor jurídico do ativo) transmitia ao arrendatário (aquele que utiliza o bem), em troca
de um pagamento ou série de pagamentos, o direito de usar um ativo por um período de tempo acordado.

Os arrendamentos mercantis podiam ser classificados como financeiro ou operacional e antes da


Lei n. 11.638/07 ambos eram reconhecidos como despesas na arrendatária no momento de vencimento
das prestações. Isso porque, até então, o entendimento que prevalecia era de que o dono do bem
é quem deveria registrá-lo em seu ativo e, portanto, os objetos de arrendamento mercantil eram
reconhecidos no balanço do arrendador.

A Lei n. 11.638/07, que propiciou condições para convergirmos às normas internacionais de


contabilidade, mudou o tratamento contábil dos arrendamentos mercantis financeiros.

Como as normas internacionais baseiam-se na premissa de que a essência da transação deve


prevalecer sobre a forma como tal transação foi contratada, o objeto do contrato de arrendamento
mercantil financeiro, que transferia à companhia os benefícios, riscos e controle de seu uso, passou a ser
reconhecido como ativo e as prestações a serem pagas, como passivo.

Saiba mais

A Ibracon mostra que 74% das empresas que compõem o IBrX-100


tiveram impacto da adoção da nova norma IFRS 16 nos balanços do primeiro
trimestre de 2019. Para saber mais sobre a nova regra, acesse o link:

NOVA regra contábil afeta 74% das companhias. Contadores CNT,


São Paulo, 25 set. 2019. Disponível em: https://contadores.cnt.br/noticias/
tecnicas/2019/09/25/nova-regra-contabil-afeta-74-das-companhias.html.
Acesso em: 22 jan. 2019.

O arrendatário passou a reconhecer em seu balanço as operações de arrendamento mercantil


financeiro como um ativo, e em contrapartida a um passivo, já que se tratava de um financiamento.

As operações de arrendamento mercantil operacional continuavam fora do balanço da arrendatária


porque, nesse caso, mantinha-se a característica de aluguel. No entanto, esse modelo de reconhecimento,

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disposto no CPC 06, foi emitido com base na norma internacional IAS 17 – Leases, emitida pelo Iasb.
Porém, o órgão já estava há tempos revendo essa norma, o que acabou culminando na emissão da
IFRS 16 cuja vigência iniciaria a partir de 2019.

Desse modo, o Brasil acabou por adotar um modelo que já estava em fase de substituição pelo Iasb.
Em função do novo texto da IFRS 16, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis emitiu o CPC 06 (R2)
com efeitos a partir de 2019.

Saiba mais

Para saber mais sobre o objetivo da Iasb, acesse:

https://cfc.org.br/tecnica/assuntos-internacionais/

Esse CPC 06 revisado trata, portanto, dos princípios para o reconhecimento, mensuração, apresentação
e divulgação de arrendamentos com o objetivo de garantir que os arrendatários e arrendadores forneçam
informações relevantes que permitam aos usuários das demonstrações contábeis avaliar o efeito que
essas operações provocam na posição financeira e no desempenho financeiro e, principalmente, nos
fluxos de caixa da entidade.

Como já visto, o contrato de arrendamento mercantil é celebrado por meio de um contrato realizado
entre pessoa jurídica (arrendador) e pessoa física ou jurídica (arrendatário).

Nota-se, portanto, a existência da figura do arrendador e do arrendatário.

• Arrendador: proprietário do ativo, ou seja, a entidade que fornece o direito de uso do ativo.

• Arrendatário: entidade que obtém o direito de uso do ativo por um período definido no contrato
em troca de contraprestações e que, no final do contrato, declara a opção de compra ou a
devolução do ativo, objeto do contrato.

5.1 Arrendamento mercantil

De acordo com o CPC 06 (R2), Apêndice A – Definição de termos: arrendamento, trata-se do


contrato que transfere o direito de usar um ativo (ativo subjacente) por período de tempo em troca
de contraprestação.

Lembrete

Ativo subjacente é o ativo, objeto do arrendamento, para o qual o


direito de uso desse ativo foi fornecido pelo arrendador ao arrendatário.

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Segundo o novo texto do CPC 06 (R2), para que um contrato seja considerado de arrendamento é
necessário estarem presente, portanto, dois requisitos essenciais: direito de controle do uso de um (b)
ativo identificado.

Com essa nova redação, alguns contratos que não eram considerados de arrendamento mercantil
poderão ser assim considerados, bem como arrendamentos atuais poderão ser desconsiderados
como tais.

Desse modo, na contratação do arrendamento mercantil, a entidade deve avaliar se o contrato é ou


contém um arrendamento.

O CPC 06 (R2) item 9 define quando um arrendamento é ou contém um arrendamento da seguinte


forma: o contrato é ou contém um arrendamento se ele transmite o direito de controlar o uso do ativo
identificado por um período de tempo em troca de contraprestação.

Para ajudar a entidade a fazer a avaliação sobre se o contrato é ou contém arrendamento, o CPC 06 (R2)
publicou o seguinte fluxograma.

Existe ativo identificado? Não


Considere os itens B13 a B20
Sim
O cliente tem o direito de obter
substancialmente todos os benefícios Não
econômicos do uso do ativo durante
todo o período de uso?
Considere os itens B21 a B23.
Sim
O cliente, o fornecedor, ou nenhuma
Cliente das partes, têm o direito de direcionar Fornecedor
como e para qual finalidade o ativo é
usado durante todo o período de uso?
Considere os itens B25 a B30.
Ninguém; a forma como e
para qual finalidade o ativo
será usado é predeterminada
O cliente tem o direito de operar o ativo
durante todo o período de uso, sem
Sim o fornecedor ter o direito de alterar
essas instruções operacionais?
Considere o item B24(b)(i).
Não
O cliente projetou o ativo de modo
que predetermina como e para Não
qual finalidade o ativo será usado
durante todo o período de uso?
Considere o item B24(b)(ii)
Sim
O contrato O contrato não
contém arrendamento contém arrendamento

Figura 1 – Fluxograma para identificação de um arrendamento

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O ativo é identificado ao ser expressamente especificado no contrato ou ao ser implicitamente


especificado na ocasião em que for disponibilizado para uso do arrendatário.

Entretanto, se o arrendador tiver o direito substancial de substituir o ativo durante todo o período
de uso, o ativo não será considerado identificável e o contrato não poderá ser considerado como de
arrendamento mercantil.

Dispõe o CPC 06 (R2) que o arrendador somente terá o direito substancial de substituir o ativo se
estiverem presentes as seguintes condições:

• Tiver a capacidade prática de substituir ativos alternativos durante todo o período de uso.

• Puder beneficiar-se economicamente do exercício do seu direito de substituir o ativo.

5.1.1 Alcance do pronunciamento técnico CPC 06 (R2) – Arrendamentos

Segundo o item 3, Alcance, a entidade deve aplicar este pronunciamento a todos os arrendamentos,
incluindo arrendamentos de ativos de direitos de uso em subarrendamentos, exceto para:

(a) arrendamentos para explorar ou usar minerais, petróleo, gás natural e


recursos não renováveis similares;

(b) arrendamentos de ativos biológicos dentro do alcance do CPC 29 – Ativo


Biológico e Produto Agrícola mantidos por arrendatário;

(c) acordos de concessão de serviço dentro do alcance da ICPC 01 – Contratos


de Concessão;

(d) licenças de propriedade intelectual concedidas por arrendador dentro do


alcance do CPC 47 – Receita de Contrato com Cliente; e

(e) direitos detidos por arrendatário previstos em contratos de licenciamento


dentro do alcance do CPC 04 – Ativo Intangível para itens como: filmes,
gravações de vídeo, reproduções, manuscritos, patentes e direitos autorais.

Entretanto, o item 4 determina que o arrendatário pode, mas não é obrigado, a aplicar esse
pronunciamento a arrendamentos de ativos intangíveis que não sejam aqueles descritos no item 3(e).

5.1.2 Classificação de arrendamento

Uma das principais alterações do CPC 06 (R2) foi a eliminação da classificação entre arrendamento
mercantil financeiro e arrendamento mercantil operacional para o arrendatário.

A definição de arrendamento financeiro e de arrendamento operacional consta no Apêndice A –


Definição de termos do pronunciamento.
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• Arrendamento financeiro: transfere substancialmente todos os riscos e benefícios inerentes à


propriedade do ativo subjacente.

• Arrendamento operacional: não transfere substancialmente todos os riscos e benefícios


inerentes à propriedade do ativo subjacente.

Por força do pronunciamento, o arrendatário deverá dar o mesmo tratamento contábil para o
arrendamento financeiro e operacional, de forma que passem, em ambos os casos, a serem reconhecidos
no balanço patrimonial os ativos e passivos da entidade.

Observação

É importante destacar que para o arrendador nada mudou. As duas


formas de arrendamento continuam existindo e, portanto, o arrendador
deverá continuar a classificar os arrendamentos mercantis em financeiros
e operacionais.

As principais razões para a mudança do reconhecimento dos ativos e passivos e o respectivo reflexo
nas demonstrações contábeis foram:

• Na crise financeira de 2008 muitas empresas apresentavam balanços indicando excelente


posição financeira, mas quebravam em seguida, pois os balanços não representavam sua real
saúde financeira.

• Contratos de aluguéis de longo prazo não eram reconhecidos no balanço patrimonial. Os passivos
de aluguéis de longo prazo, muitas vezes com valores significativos, não estavam reconhecidos e,
portanto, o balanço das entidades não refletia a existência de passivos.

• As despesas de aluguéis eram apresentadas de maneira equivocada, prejudicando a análise das


demonstrações financeiras ao não serem apresentadas de forma transparente, como despesas de
depreciação e despesas financeiras.

5.2 Mensuração e reconhecimento do arrendamento mercantil no arrendatário

Na data de início, o passivo do arrendamento deve ser mensurado pelo valor presente dos
pagamentos do arrendamento a serem pagos futuramente. O valor presente de cada parcela deve
ser descontado utilizando-se a taxa de juros implícita no contrato, quando puder ser determinada
imediatamente. Se essa taxa não puder ser determinada imediatamente deve-se usar a taxa incremental
sobre o empréstimo do arrendatário.

Taxa de juros implícita no arrendamento é a taxa de juros que faz com que o valor presente dos
pagamentos do arrendamento e do valor residual seja igual à soma do valor justo do ativo subjacente e
de quaisquer custos diretos iniciais do arrendador.
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Taxa incremental sobre empréstimo do arrendatário é a taxa de juros que o arrendatário teria que
pagar ao pedir emprestado, por prazo semelhante e com garantia semelhante, os recursos necessários
para obter o ativo com valor similar ao ativo de direito de uso em ambiente econômico similar.

O ativo deve ser mensurado pelo direito de uso ao custo. O custo do ativo de direito de uso, conforme
Item 24 do referido CPC, deve compreender:

• O valor da mensuração inicial do passivo de arrendamento.

• Quaisquer pagamentos de arrendamento efetuados até a data de início, menos quaisquer


incentivos de arrendamentos recebidos.

• Quaisquer custos diretos iniciais incorridos pelo arrendatário.

• Estimativa de custos a serem incorridos pelo arrendatário na desmontagem e remoção do


ativo subjacente.

Após a data de início, o arrendatário deve mensurar o ativo de direito de uso ao custo:

• Menos qualquer depreciação acumulada (aplicar o CPC 27 – Ativo imobilizado).

• Menos quaisquer perdas acumuladas por redução ao valor recuperável (aplicar o CPC 01 – Redução
ao valor recuperável de ativos).

• Corrigir qualquer remensuração do passivo de arrendamento para refletir quaisquer reavaliação


ou modificações do arrendamento.

O passivo deve ser mensurado pelo presente dos pagamentos futuros.

Após a data de início, deve ser mensurado:

• Pelo aumento do valor contábil para refletir os juros sobre o passivo de arrendamento.

• Pela redução do valor contábil para refletir os pagamentos do arrendamento efetuados.

• Pela remensuração do valor contábil para refletir qualquer reavaliação ou modificações


do arrendamento.

5.2.1 Isenção de reconhecimento

O arrendatário pode decidir não aplicar o CPC 06 (R2) para:

• Arrendamentos de curto prazo.

• Arrendamentos de ativos subjacentes de baixo valor.

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Arrendamentos de curto prazo são os que não ultrapassam o exercício financeiro, ou seja, são
realizados no período de 12 meses. Se o arrendamento conter opção de compra não poderá ser
considerado de curto prazo.

A IFRS 16 definiu com baixo valor os contratos de até US$ 5000.00, porém o CPC não traz definição de
valores. Dispõe, entretanto, nos itens B3 a B9 que o arrendatário deve avaliar o valor do ativo subjacente com
base no valor de um ativo novo, independentemente da idade. O arrendamento do ativo subjacente não
se classifica como baixo valor se a natureza do ativo é tal que o ativo não é normalmente de baixo valor.
Por exemplo, arrendamentos de veículos não se classificam como arrendamento de baixo valor porque
o veículo novo normalmente não é de baixo valor.

Observação

Ativos subjacentes de baixo valor podem incluir computadores pessoais,


tablets, pequenos itens de mobiliário de escritório e telefones.

5.2.2 Contabilização do arrendamento mercantil no arrendatário

• Ativo: deve ser contabilizado como direito de uso, no ativo imobilizado, sujeito à depreciação e
redução ao valor recuperável (impairment) e mensurado pelo valor de custo.

• Passivo: deve ser contabilizado ao valor presente dos pagamentos do arrendamento que não são
efetuados nessa data, utilizando-se a taxa de juros implícita no arrendamento.

• Depreciação: deve ser consistente com a depreciação aplicada a outros ativos e reconhecida
como custo ou despesas em conformidade com o CPC 27 – Ativo imobilizado.

De acordo com item 32, do CPC 06 (R2):

Se o arrendamento transferir a propriedade do ativo subjacente ao arrendatário


ao fim do prazo do arrendamento, ou se o custo do ativo de direito de uso
refletir que o arrendatário exercerá a opção de compra, o arrendatário deve
depreciar o ativo de direito de uso desde a data de início até o fim da vida útil
do ativo subjacente. De outro modo, o arrendatário deve depreciar o ativo de
direito de uso desde a data de início até o que ocorrer primeiro entre o fim da
vida útil do ativo de direito de uso ou o fim do prazo de arrendamento.

Resumindo:

• Se exercer a opção de compra ao final do contrato: vida útil do ativo.

• Se não exercer a opção de compra ao final do contrato: prazo do contrato ou vida útil do bem,
dos dois o menor.
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Os encargos financeiros a apropriar são a diferença entre o valor total das contraprestações
adicionado o valor residual e o valor presente dessas contraprestações, que é reconhecido como direitos
de uso do ativo arrendado.

Devem ser contabilizados em conta redutora do passivo e devem ser apropriados ao resultado de
acordo com o princípio da competência, a débito da conta de despesa ou custo e a crédito da conta
encargos financeiros a apropriar.

5.2.3 Exemplo de contabilização de arrendamento mercantil no arrendatário

Em 2 de janeiro do ano X1 a empresa Delta Indústrias Químicas S.A. adquiriu, por meio de
um contrato de arrendamento mercantil com um banco, um misturador para produtos químicos,
modelo inox com capacidade para 1000 litros. Na negociação ficou acertado um prazo de cinco
anos com contraprestações anuais de R$20.000,00 com pagamentos ao final de cada ano e uma
taxa de juros implícita no contrato de 12% ao ano. A vida útil econômica do equipamento foi
estimada em oito anos.

A empresa Delta Indústrias Químicas declara que não tem interesse em comprar o equipamento ao
final do contrato.

1. Contabilizar a operação.

Tabela 7

1) Cálculo do valor presente


Valor
Ano Contraprestação Juros presente
líquido
1 20.000,00 2.142,86 17.857,14
2 20.000,00 4.056,12 15.943,88
3 20.000,00 5.764,40 14.235,60
4 20.000,00 7.289,64 12.710,36
5 20.000,00 8.651,46 11.348,54
100.000,00 27.904,48 72.095,52
O valor presente é calculado pela fórmula: VP = VF/1 + i)n
Os juros são calculados pela diferença entre o valor presente e o valor da parcela
2) Cálculo da depreciação
Veículos 72.095,52 / 5 = 14.419,10
Depreciação de acordo com o CPC: Item 32
Se exercer a opção de compra = Vida útil do ativo
Se não exercer a opção de compra = Prazo do contrato ou vida útil do ativo, dos dois o menor
O prazo do contrato é menor que a vida útil do ativo

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3) Controle de passivo 12%

Ano Juros Amortização Saldo devedor

72.095,52
1 20.000,00 8.651,46 11.348,54 60.746,99 72.095,52x 12%
2 20.000,00 7.289,64 12.710,36 48.036,63 60.746,99 x 12%
3 20.000,00 5.764,40 14.235,60 33.801,02 48.036,63 x 12%
4 20.000,00 4.056,12 15.943,88 17.857,14 33.801,02 x 12%
5 20.000,00 2.142,86 17.857,14 - 17.857,14 x 12%
27.904,48
Juros = Taxa de juros x saldo devedor
Amortização = Valor da parcela (-) Juros
4) Contabilização
Pela aquisição do ativo
D = Direitos de uso – Veículos de carga 72.095,52
D = Encargos financeiros a apropriar (PC) 2.142,86
D = Encargos financeiros a apropriar (PNC) 25.761,62
C = Arrendamento mercantil a pagar (PC) 20.000,00
C = Arrendamento mercantil a pagar (PNC) 80.000,00
Pelo registro da depreciação
D = Despesas de depreciação 14.419,10
C = Depreciação acumulada 14.419,10
Pela apropriação dos juros
D = Despesas de juros 8.651,46
C = Encargos financeiros a apropriar (PC) 2.142,86
C = Encargos financeiros a apropriar (PNC) 6.508,61
Pelo pagamento das parcelas
D = Arrendamento mercantil a pagar (PC) 20.000,00
C = Caixa 20.000,00
Pela transferência do arrendamento mercantil a pagar do PNC para o PC
D = Arrendamento mercantil a pagar (PNC) 20.000,00
C = Arrendamento mercantil a pagar (PC) 20.000,00
Pela transferência dos encargos financeiros a apropriar do PNC para PC
D = Encargos financeiros a apropriar (PC) 2.142,86
C = Encargos financeiros a apropriar (PNC) 2.142,86

5.3 Mensuração e reconhecimento do arrendamento mercantil no arrendador

O arrendador deve classificar cada um de seus arrendamentos como arrendamento financeiro e


arrendamento operacional. O fato de o arrendamento ser arrendamento financeiro ou arrendamento
operacional depende da essência da transação, em vez da forma do contrato.

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5.3.1 Arrendamento financeiro

Na data de início, o arrendador deve reconhecer os ativos mantidos em arrendamento


financeiro em seu balanço patrimonial e deve apresentá-los como recebível ao valor equivalente
ao investimento líquido ao arrendamento, e deve utilizar a taxa de juros implícita no contrato
para mensurar o investimento líquido no arrendamento. Os custos diretos iniciais, que não sejam
aqueles incorridos pelos arrendadores fabricantes ou revendedores, estão incluídos na mensuração
inicial do investimento líquido no arrendamento e reduzem o valor da receita reconhecida ao longo
do prazo do arrendamento.

Após a data de início do arrendamento financeiro o arrendador deve reconhecer a receita


financeira ao longo do prazo do arrendamento com base em um padrão que reflita a taxa de retorno
periódica constante sobre o investimento líquido do arrendador no arrendamento de acordo com
os seguintes critérios:

• Deve alocar a receita financeira ao longo do prazo do arrendamento de forma sistemática e racional.

• Deve aplicar os recebimentos do arrendamento relativos ao período contra o investimento bruto


no arrendamento para reduzir tanto o principal quanto a receita financeira não auferida.

• Deve aplicar os requisitos de desreconhecimento e redução ao valor recuperável ao investimento


líquido no arrendamento (aplicar o CPC 48 – Instrumentos financeiros).

• Se classificar o ativo como mantido para venda deve aplicar o CPC 31 – Ativo não circulante
mantido para venda e operação descontinuada.

5.3.2 Arrendamento operacional

O arrendador deve reconhecer os recebimentos decorrentes de arrendamento operacional como


receita pelo método linear ou outra base sistemática que represente melhor o padrão em que o benefício
do uso do ativo subjacente é diminuído.

Deve, ainda, observar as seguintes situações:

• Reconhecer os custos, incluindo a depreciação, incorridos na realização da receita de arrendamento


como despesa.

• Adicionar os custos diretos iniciais incorridos na obtenção do arrendamento ao valor contábil do


ativo subjacente e reconhecê-los como despesas ao longo do prazo do arrendamento na mesma
base que a receita do arrendamento.

• Depreciar os ativos subjacentes, quando sujeitos à depreciação, de forma consistente com


a política de depreciação normal adotada para outros ativos similares (aplicar o CPC 27 –
Ativo imobilizado).
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• Reconhecer as perdas por redução ao valor recuperável (aplicar o CPC 01 – Redução ao valor
recuperável de ativos).

• Contabilizar a modificação como novo arrendamento a partir da data da modificação,


considerando quaisquer recebimentos de arrendamento antecipados ou acumulados, referentes
ao arrendamento original, como parte dos recebimentos do arrendamento do novo.

5.3.3 Contabilização do arrendamento mercantil no arrendador

Arrendamento financeiro:

• Ativo: o arrendador deve reconhecer os ativos mantidos em arrendamento financeiro em seu


balanço patrimonial e deve apresentá-los como recebível no ativo circulante ou não circulante
conforme o prazo.

• Receitas de vendas: a contrapartida do ativo será em contas de resultado como receita de vendas.

• Receitas financeiras a apropriar: diferença entre o valor total das contraprestações adicionado
o valor residual e o valor presente contabilizado com recebíveis.

Devem ser contabilizadas como contas redutoras do ativo e apropriadas ao resultado como receitas
financeiras e a débito da conta de receitas financeiras a apropriar.

Arrendamento operacional:

• Ativo: deve ser registrado o valor do ativo subjacente diminuído da depreciação acumulada.

• Resultado: reconhecer as receitas das contraprestações e a despesa de depreciação.

5.4 Contratos de aluguel – Tratamento como arrendamento mercantil

No contrato de aluguel, apesar de não se tratar formalmente de um contrato de arrendamento


mercantil, há transferência do direito de usar o ativo por um período de tempo em troca de
contraprestação, exatamente como define o pronunciamento técnico em referência e, por isso, o
locatário deverá contabilizar a operação da mesma forma que um arrendatário e o locador deverá
contabilizar a operação da mesma forma que um arrendador.

6 LEASEBACK

Caracteriza-se como leaseback o retroarrendamento pelo vendedor junto ao comprador, isto é,


envolve a venda de um ativo e o concomitante arrendamento mercantil do mesmo ativo pelo comprador
ao vendedor.

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Unidade II

Esse é o caso de uma empresa que vende um bem e imediatamente o aluga de quem o comprou.
Há diversas razões pelas quais as empresas celebram contratos desse tipo, como, por exemplo, a
necessidade de capital de giro para pagar seus passivos ou liberar capital investido em imobilizado.

O tratamento contábil dependerá fundamentalmente da possibilidade de reconhecimento da


transferência do ativo como uma venda e, para tanto, deve ser aplicado o CPC 47 – Receita de contrato
com cliente.

De acordo com os itens de 100 a 102 do CPC 06 (R2), se a transferência do ativo pelo vendedor
arrendatário satisfaz os requisitos do CPC 47 para ser contabilizado como venda do ativo, então:

• O vendedor arrendatário deve mensurar o ativo de direito de uso resultante do retroarrendamento


proporcionalmente ao valor contábil anterior do ativo referente ao direito de uso retido pelo
vendedor arrendatário. Consequentemente, o vendedor arrendatário deve reconhecer somente o
valor de qualquer ganho ou perda referente aos direitos transferidos ao comprador arrendador.

• O comprador- arrendador deve contabilizar a compra do ativo utilizando os pronunciamentos aplicáveis


e o arrendamento, aplicando os requisitos de contabilização do arrendador nesse pronunciamento.

Se o valor justo da contraprestação pela venda do ativo não equivale ao valor justo do ativo, ou se os
pagamentos pelo arrendamento não são a taxas de mercado, a entidade deve fazer os seguintes ajustes
para mensurar os rendimentos da venda ao valor justo:

• Quaisquer termos abaixo do mercado devem ser contabilizados como pagamento antecipado de
pagamentos do arrendamento.

• Quaisquer condições acima do mercado devem ser contabilizadas como financiamento adicional
fornecido pelo comprador arrendador ao vendedor arrendatário.

A entidade deve mensurar qualquer potencial ajuste requerido pelo item 101 com base no valor mais
facilmente determinável entre:

• A diferença entre o valor justo da contraprestação pela venda e o valor justo do ativo.

• A diferença entre o valor presente dos pagamentos contratuais pelo arrendamento e o valor
presente dos pagamentos pelo arrendamento a taxas de mercado.

Caso a transferência do ativo pelo vendedor arrendatário não satisfaça os requisitos do CPC 47 para
ser contabilizado como venda do ativo, a operação é tratada como se fosse a de um empréstimo, em
que o bem pode até estar sendo transferido para o nome do credor, mas por questão de garantia. Assim:

• O vendedor arrendatário deve continuar a reconhecer o ativo transferido e deve reconhecer o


passivo financeiro equivalente aos valores recebidos decorrentes da transferência. Ele deve
contabilizar o passivo financeiro aplicando o CPC 48 – Instrumentos financeiros.
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• O comprador arrendador não deve reconhecer o ativo transferido e deve reconhecer o ativo
financeiro equivalente aos valores pagos decorrentes da transferência. Ele deve contabilizar o
ativo financeiro aplicando o CPC 48 – Instrumentos financeiros.

Lembrete

Nesse caso, não há contabilização de operação de arrendamento, mas


sim de empréstimo.

Exemplo de aplicação

Em 1/12/08, uma empresa do ramo industrial realizou um contrato de arrendamento mercantil de


um equipamento. O contrato será pago em 24 parcelas mensais de $35.000,00 cada e mais uma parcela
adicional no valor de $ 80.000,00, que será paga juntamente com a 24ª parcela, com pagamentos
sempre no final de cada mês.

A taxa de juros implícita de juros no contrato é de 1,2% ao mês e a vida útil econômica estimada do
equipamento é de oito anos.

O valor presente das parcelas no início do contrato, calculado à taxa de juros implícita, é de $786.190,00
e espera-se um valor residual na venda do equipamento pela empresa no valor de $186.190,00, o que
justifica a cláusula de opção de compra declarada.

Ao contabilizar o contrato desse arrendamento mercantil, o valor total das despesas que
afetaram o resultado de dezembro de 2008, decorrentes dessa operação, foi, em $:

A) 6.250,00.

B) 9.434,28.

C) 35.000,00.

D) 15.684,28.

E) 14.439,48.

Resolução da questão

As despesas decorrentes de uma operação de contrato de arrendamento mercantil são: despesas


de depreciação e despesas financeiras em função da taxa implícita do contrato.

O enunciado já apresenta o valor presente das parcelas no início do contrato, evitando, portanto,
o acúmulo de cálculos.
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Unidade II

Despesas de depreciação do equipamento.

Prazo do contrato = 24 meses

Vida útil estimada do equipamento = 8 anos = 96 meses

Como a empresa declara a opção de compra prevalece a vida útil estimada do equipamento.

Valor presente = 786.190,00

Valor Residual = 186.190,00

Despesas de Depreciação = 786.190,00 (-) 186.190,00 = 600.000 / 96 meses = 6.250,00

Despesas financeiras (Juros)

Os juros são calculados sobre o saldo devedor.

Saldo devedor em 01/12/X8 = 786.190,00

Taxa de juros = 1,2% ao mês

Valor dos juros no primeiro mês = 9.434,28

Total das despesas

Despesas de depreciação = 6.250,00

Despesas de juros = 9.434,28

Total = 15.684,28

Resposta correta: alternativa D.

Resumo

Foram estudadas as operações de arrendamento mercantil que sofreram


relevantes alterações, principalmente no que se refere aos procedimentos
a serem observados pelos arrendatários.

O profissional dessa área está no centro de importantes decisões a


serem tomadas pelas empresas ao reconhecerem contabilmente suas
transações. No entanto, há procedimentos a serem seguidos e aplicados
em casos concretos que surgem no desenvolver das atividades da empresa.

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CONTABILIDADE FINANCEIRA

Exercícios

Questão 1. O arrendamento mercantil, ou leasing, é um contrato de locação que define termos sob
os quais uma parte concorda em alugar uma propriedade de outra parte. Portanto, o leasing garante
ao locatário a utilização do ativo. Esse contrato também garante ao locador, o proprietário do imóvel,
pagamentos regulares do locatário por um determinado número de meses ou anos. Caso descumpram
os termos vigentes no contrato, tanto o locatário quanto o locador são obrigados a enfrentarem as
consequências também contidas no contrato. Além disso, a partes constituintes desse contrato são
denominadas “arrendador” (banco ou sociedade de arrendamento mercantil) e “arrendatário” (locador).

REIS, T. Arrendamento mercantil: entenda como funciona esse tipo de contrato. Suno, 2018.
Disponível em: https://bit.ly/2URig2C. Acesso em 13 fev. 2020.

Sobre contrato de arrendamento, avalie as afirmativas a seguir:

I – O proprietário do bem tem direito a 15% dos benefícios do uso do ativo que objeto do contrato.

II – Por força do contrato o arrendatário terá direito a todos os benefícios provenientes do ativo.

III – Caberá ao arrendador todos os ônus decorrentes do uso do ativo arrendado.

IV – O arrendatário dividirá os custos decorrente do uso do ativo objetivo do contrato com o arrendador.

Qual das afirmativas descaracteriza o contrato de arrendamento:

A) I e II, apenas.

B) I e III, apenas.

C) II e IV, apenas.

D) I, III e IV, apenas.

E) I, II, III e IV.

Resposta correta: alternativa D.

Análise das afirmativas

I – Afirmativa incorreta.

Justificativa: o arrendatário terá direito ao benefício integral proveniente do uso do ativo arrendado.

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Unidade II

II – Afirmativa correta.

Justificativa: por força da lei, os benefícios do uso do ativo serão integralmente pertencentes
ao arrendatário.

III – Afirmativa incorreta.

Justificativa: os custos do uso do ativo são de responsabilidade do arrendatário.

IV – Afirmativa incorreta.

Justificativa: é de responsabilidade do arrendatário os custos decorrentes do uso do ativo arrendado.

Questão 2. O arrendatário pode decidir não aplicar as normas presentes no CPC 06 (R2) se o contrato
for de curto prazo. Um arrendamento pode não ser considerado de curto prazo se:

I – O contrato de arrendamento for superior a 12 meses.

II – For inferior a 12 meses e contiver a opção de compra no contrato.

III – For superior a 24 meses.

IV – For inferior a 24 meses e contiver a opção de compra.

Estão corretas:

A) I, apenas.

B) I e II, apenas.

C) I e III, apenas.

D) II e III, apenas.

E) I, II e III e IV.

Resposta correta: alternativa E.

Análise das afirmativas

I – Afirmativa correta.

Justificativa: contratos de curto prazo não podem ter a duração maior que um exercícios fiscal, ou
seja, 12 meses.
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CONTABILIDADE FINANCEIRA

II – Afirmativa correta.

Justificativa: se a opção de compra estiver presente no contrato de arrendamento, este não será
considerado de curto prazo.

III – Afirmativa correta.

Justificativa: não serão considerados de curto prazo os contratos superiores a um exercício fiscal.

IV – Afirmativa correta.

Justificativa: a opção de compra, presente no contrato de arrendamento, impede que ele seja
considerado de curto prazo.

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