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ADMINISTRAÇÃO II
Lucas Casagrande
Administração da qualidade
e o modelo japonês
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Neste capítulo, você vai trabalhar com a gestão da qualidade, que se
tornou a base daquilo que chamamos de administração japonesa.
Para isso, trataremos inicialmente do que se entende por qualidade
e gestão da qualidade. A partir daí, trabalharemos o contexto que a
originou.
O contexto que originou a gestão da qualidade é importante para
entender as necessidades que a produzem. Com base nisso, trabalhare-
mos com algumas ferramentas de qualidade total e, ao final, discutiremos
como a qualidade total se integrou ao início da industrialização japonesa
no pós-guerra. O pós-guerra japonês criou, culturalmente, uma gestão
da qualidade aliada à produção de antemão.
O que é qualidade?
Muito ouvimos falar a respeito de qualidade, mas, afinal, o que isso significa?
Uma definição clássica de qualidade é a de que se trata do “[...] grau até
o qual um conjunto de características inerentes satisfaz as necessidades”
(PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE, 2008). O que isso quer dizer?
A satisfação de necessidades (explícitas ou implícitas) de um produto ou
serviço significa receber o que se espera por este. Dito de outro modo, qualidade
2 Administração da qualidade e o modelo japonês
Mas cuidado: alta qualidade não pressupõe que um produto deva atender
a inúmeras expectativas diferentes das iniciais. Um produto pode ser extre-
mamente simples e, no entanto, ser de alta qualidade. O contrário também é
verdadeiro: um produto que se preste a atender diversas expectativas de forma
pouco satisfatória é um produto de baixa qualidade.
Um erro comum é confundir qualidade e grau de funcionalidade. Qualidade
é a característica de atender às expectativas; grau é a característica de incluir
expectativas a serem atendidas.
Seguindo o exemplo do smartphone, este é um aparelho de telefonia móvel
que se propõe a atender muito mais expectativas do que um antigo aparelho
celular. Ao considerarmos as funções básicas do celular, como se comunicar,
um celular antigo, que seja menos frágil a quebras, defeitos e interrupções
que um smartphone moderno, pode ser considerado de maior qualidade – mas
com menos recursos, com menor grau de funcionalidades.
Administração da qualidade e o modelo japonês 3
Histórico da qualidade
A preocupação com a qualidade não é uma questão nova. Historicamente, a
preocupação de um comprador com a conformidade daquilo que estava com-
prando sempre existiu. No entanto, a administração da qualidade só se torna
uma ferramenta necessária à medida que a produção em massa toma o lugar
da produção artesanal. Isso ocorre porque o artesanato, forma de produção
predominante até poucos séculos atrás, não necessitava gerir a qualidade
como processo. Como sua produção era individualizada, a qualidade era uma
preocupação operacionalizada de acordo com cada caso específico.
Um automóvel, produzido antes do taylorismo e do fordismo, sem uma linha
de montagem, era um produto único, feito sob medida para um abastado cliente
com suas necessidades específicas. O controle da qualidade era feito no próprio
produto, testando este individualmente em todas as suas especificidades.
A expectativa de qualidade se dava por meio de uma relação pessoalizada,
em que a produção e o processo de comercialização se davam de acordo com
expectativas específicas. É importante ressaltar que esse modo de produção
tinha, sim, uma preocupação com a qualidade – mas essa preocupação se
dava dentro do processo artesanal (ANTÓNIO; TEIXEIRA; ROSA, 2007).
No começo do século XX a concorrência entre as fábricas de automóveis
se focou, essencialmente, na corrida pela diminuição de custo. Porém, sendo
o automóvel uma arma em potencial, a qualidade não poderia ser descartada:
uma falha em alta velocidade, tal como uma roda que se solta, pode gerar
consequências gravíssimas. Assim, como aliar uma qualidade confiável a
um baixo custo?
Com o ganho de escala e a padronização proporcionados pela administração
científica, o controle de qualidade por produto se tornava um gasto dispen-
dioso. Afinal, por que haveríamos de testar minuciosamente 10 mil carros
supostamente idênticos um ao outro? Nasce, aí, um ferramental específico a
uma função: a administração da qualidade.
Como você já viu na administração científica, o começo do século XX
foi marcado por uma mudança radical na forma de produção, especialmente
nos EUA. Até então, a produção, eminentemente planejada e executada pelos
próprios trabalhadores em um esquema que até hoje podemos visualizar em
pequenas oficinas mecânicas de bairro, é esquematizada e ocorre uma divisão
do trabalho, tanto vertical quanto horizontal. Essa divisão progressiva possi-
bilita maior eficiência, mas com trabalhos mais repetitivos. A especificação
das peças não era mais uma atribuição do operário, mas, sim, dos engenheiros.
4 Administração da qualidade e o modelo japonês
Dessa forma, Shewhart instituiu uma metodologia até hoje muito utilizada:
o PDCA (plan, do, check and act, ou planeje, faça, confira e aja). A ideia é
relativamente simples: devemos planejar o que fazer (criar especificações,
plan), produzir (do), posteriormente aferir a conformidade (check) e, caso algo
não esteja dentro dos parâmetros aceitáveis, corrigir (act). Ao finalizar, o ciclo
recomeça. Esse momento é tido historicamente como o início da qualidade total.
Qualidade total
A partir do trabalho de Shewhart, e posterior divulgação por parte de Williams
Deming (1982), a busca pela qualidade se tornou, paulatinamente, uma questão
cada vez mais cultural. A busca pela alta conformidade, já aceita no começo
do século, se expandiu para uma concepção de qualidade mais abrangente,
que inclui expectativas mais amplas e intangíveis. A partir da década de 1950,
qualidade não mais significava somente ‘conformidade técnica com o projeto’,
6 Administração da qualidade e o modelo japonês
Normas de qualidade
Para que fosse possível que as empresas se descentralizassem e se tornassem
mais dependentes de seus fornecedores, porém de forma confiável, tornou-se
paulatinamente necessário elaborar novas formas de padronização do que
entendemos por qualidade. O conjunto mais famoso e utilizado de normas de
qualidade é composto pela ISO (International Organization for Standardiza-
tion), sendo a ISO 9000 e suas variantes as mais utilizadas.
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Ferramentas de qualidade
Não existe uma forma única e garantida de atingir a qualidade total. Algumas
ferramentas se destacaram a partir do fim da Segunda Guerra Mundial para a
criação de um ambiente voltado à qualidade total, dentre elas:
PDCA
Ciclo PDCA
Corrigir Identificar
erros problemas
Check Do
Checar Fazer
Verificar Implementação
conformidade
Verificar
Operacionalização
expectativas
A ideia por trás do PDCA é que a empresa esteja em uma constante busca
pela melhoria contínua de seus produtos e serviços. O planejamento não é único,
e sim passível de constantes revisões, conforme a experiência nos mostra acertos
e erros. Conforme Aguiar (2002), em maior detalhe, o PDCA é:
Carta de controle
Diagrama de controle
90
80
70
60 Peça
Média
50
LSE
LSC
40
LIC
30 LIE
20
10
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Reclamações de um Smartphone
120,00%
100,00%
80,00%
60,00%
porcentagem
40,00% acumulado
20,00%
0,00%
r e
ria er
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ur
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Ba Câ
m
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Ta lo ss a
Ve A D ur
Seis Sigma
0,13 0,13
2,14 13,59 34,13 34,13 13,59 2,14
z –3 –2 –1 0 +1 +2 +3
68,26%
95,44%
99,74%
Veja o Quadro 1.
Administração da qualidade e o modelo japonês 13
Quadro 1. Sigmas.
Material Método
Máquina
Medida Meio
Ambiente
Uma vez elencadas todas as possibilidades com base nesses seis eixos,
torna-se mais fácil checar cada um deles e, assim, descobrir onde reside o erro.
Com frequência, são encontrados erros que ainda não geraram problemas e
que podem ser utilizados para prevenir problemas futuros.
Leituras recomendadas
CAMPOS, V. F. TQC: controle da qualidade total no estilo japonês. 9. ed. Nova Lima,
MG: Falconi Editora, 2014.
IMAI, M. Kaizen: a estratégia para o sucesso competitivo. 5. ed. [s.l.]: Imam, 1994.
PANDE, P. S.; NEUMAN, R. P.; CAVANAGH, R. R. The six sigma way. New York: McGraw-
-Hill, 2000.