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Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

ENFERMAGEM

MATERIAL INSTRUCIONAL ESPECÍFICO

Tomo 2

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Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

CQA - COMISSÃO DE QUALIFICAÇÃO E AVALIAÇÃO

ENFERMAGEM

MATERIAL INSTRUCIONAL ESPECÍFICO

Tomo 2

Material instrucional específico, cujo conteúdo integral ou parcial


não pode ser reproduzido ou utilizado sem autorização expressa,
por escrito, da CQA/UNIP – Comissão de Qualificação e Avaliação
da UNIP - UNIVERSIDADE PAULISTA.

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Questão 1
Questão 1.1
Sr. Roberto, 50 anos, pai de três rapazes, viúvo, servidor público, analista de sistemas,
procurou o serviço de saúde do trabalho reclamando de “aperto no peito”. Na consulta de
enfermagem, verificou-se que ele era fumante e sedentário, apresentava processos
familiares alterados e estava insatisfeito com o seu salário e o excesso de peso. Diante
desse diagnóstico, concluiu-se que o estilo de vida do cliente era de risco para sua saúde
mental e então elaborou-se um plano de autocuidado. O que o(a) enfermeiro(a) deve incluir
nesse plano?
A. Prescrever orientações para evitar o fumo, encaminhar para a orientação nutricional e
recomendar atividade física.
B. Negociar com ele práticas de redução do fumo e estabelecimento de um programa de
atividades físicas e recreativas e encaminhá-lo para a reeducação alimentar.
C. Orientar para a busca do apoio dos filhos e de orientação sexual e recomendar que faça
dieta sem sal e hipocalórica, deambule diariamente e reduza o tabagismo.
D. Recomendar que realize atividades recreativas, observe dieta hipocalórica, evite o fumo e
busque relacionamentos amorosos.
E. Recomendar que realize atividades físicas e recreativas, observe dieta para reduzir
hipertensão e obesidade e busque satisfação sexual.

1. Introdução teórica

Cuidar em enfermagem e promoção de saúde

Cuidar é um fenômeno universal que sempre esteve presente na história humana,


como forma de viver e de se relacionar, acompanhando a evolução dos tempos e convivendo
com as mais variadas formas de sociedade. As relações de cuidar se caracterizam por
relações saudáveis em que pessoas exibem comportamentos de cuidar, ajudando umas às
outras. Cuidar de alguém é ter estima e apreço pela pessoa, querendo seu bem-estar de
forma integral (WALDOW, 2007; SILVA et al, 2009).
Cuidado consiste em esforços transpessoais, de ser humano para ser humano, no
sentido de proteger, promover e preservar a humanidade, ajudando as pessoas a
encontrarem um significado para sua própria existência, para a doença, dor e sofrimento. É

1Questão 15 - Enade 2004


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um modo de estar com o outro, em momentos especiais da vida, como na promoção e na


recuperação da saúde, no nascimento e na morte (WALDOW, 2007; SILVA et al, 2009).
Segundo Waldow (2007), o cuidado pode ser encarado como um processo que
favorece o empoderamento, o crescimento e a realização da humanidade, permitindo uma
concepção mais acurada da realidade. Cuidar é uma característica humana que foi adotada
pela enfermagem tornando-se sua essência e o ideal moral da profissão (SILVA et al, 2009;
WALDOW, 2007).
De acordo com Santos (2009), cuidar do outro é, antes de tudo, cuidar de si,
enquanto cuidado é um processo em que se ajuda o outro a crescer, por meio da confiança
mútua e da construção de um relacionamento saudável. Pensando nesse contexto, Orem,
em 1958, mencionou pela primeira vez o termo autocuidado, no campo da enfermagem, ao
refletir acerca da necessidade do ser humano aprender a se cuidar para promover sua saúde
e seu próprio bem-estar (SILVA et al, 2009), gerando, assim, a concepção de autocuidado.
Para Silva et al (2009), o autocuidado é uma atividade do indivíduo apreendida por
ele e orientada para um objetivo. É uma ação desenvolvida em situações concretas da vida,
às quais o indivíduo dirige para si mesmo para regular os fatores que afetam seu próprio
desenvolvimento.
Autocuidado é um elemento essencial para o bem-estar e a chave para o sucesso da
promoção de saúde. Esse conceito está embasado na premissa de que cada indivíduo,
sozinho, pode fazer as escolhas que determinam o quanto o seu estilo de vida é saudável. À
medida que as pessoas reconhecem o efeito significativo que o estilo de vida e o
comportamento exercem sobre sua saúde, elas podem assumir responsabilidades no sentido
de evitar comportamentos de alto risco, como o fumo, o uso de álcool e drogas, o consumo
excessivo de alimentos e outras práticas não saudáveis (BRUNNER e SUDDARTH, 2005).
Desse modo, com vista à promoção da saúde e ao bem-estar, o plano de cuidados de
enfermagem deve englobar o autocuidado para o desenvolvimento da autonomia dos
indivíduos no cuidado com a própria saúde, encorajando-os a promover comportamentos
benéficos ao organismo.
Segundo Brunner e Suddarth (2005), a nutrição é um componente essencial para a
promoção da saúde e do bem-estar físico e emocional. Uma boa nutrição tem sido sugerida
como o fator mais simples e significativo na determinação do status de saúde e de
longevidade. A prática de exercícios físicos também está relacionada à promoção da saúde,
porque melhora o funcionamento do sistema respiratório e circulatório, reduz o colesterol e o
peso pelo aumento da queima de calorias e ainda retarda as mudanças degenerativas,

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aumentando a força muscular e a resistência física. Por isso, um programa apropriado de


exercício pode ter efeito significativo na saúde física e mental de um indivíduo e deve ser
praticado regularmente (BRUNNER e SUDDARTH, 2005).
A administração do estresse e a sua redução também são fatores importantes da
promoção de saúde. Um estressor pode ser definido como um evento ou situação, que cria
um potencial para alterações fisiológicas, emocionais, cognitivas ou comportamentais em um
indivíduo. O estresse deve ser combatido e minimizado pelo potencial risco à saúde, por
meio de técnicas de relaxamento, pela prática de exercícios físicos e pelo enfrentamento das
situações estressantes (BRUNNER e SUDDARTH, 2005).
Conclui-se que a alimentação saudável, a prática de exercícios físicos, a redução do
estresse e a eliminação ou redução de hábitos não saudáveis como o tabagismo e o etilismo
constituem fatores importantes para a promoção de saúde que devem ser estimulados pelo
profissional da área, por meio do encorajamento da prática do autocuidado.

2. Análise das alternativas

Questão 1.

A – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. O enfermeiro deve estimular e negociar a redução do hábito de fumar e
não prescrever orientações para evitar o fumo. Se assim o fizer, o profissional impõe sua
conduta e desrespeita a autonomia e o poder de decisão do Sr. Roberto.

B – Alternativa correta.
JUSTIFICATIVA. O profissional deve respeitar o Sr. Roberto, negociando com ele estratégias
para redução do tabagismo; deve estimular e estabelecer um programa de atividades físicas
e recreativas para a promoção de sua saúde e minimizar risco de problemas relacionados à
saúde mental; deve, ainda, encaminhá-lo para um programa de reeducação alimentar que,
provavelmente, irá elaborar um cardápio ideal para o Sr. Roberto perder peso.

C – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. O enunciado da questão não apresentou dados relacionados à falta de
apoio familiar ou mesmo a problemas relacionados à orientação sexual do Sr. Roberto. Por
isso, a alternativa não se relaciona à resolução dos problemas do cliente.

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D – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. A realização de atividades de recreação é positiva para o Sr. Roberto, mas a
observação de uma dieta hipocalórica não é coerente. Faria mais sentido se a alternativa
apresentasse um programa de reeducação alimentar, para que o paciente mude o seu
hábito alimentar e, assim, consiga perder peso. Além do mais, a busca de relacionamentos
amorosos pode não resolver os processos familiares alterados porque o enunciado não
explicita detalhadamente quais são os problemas familiares enfrentados pelo cliente.

E – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. O enunciado não mencionou que o Sr. Roberto tem hipertensão arterial ou
mesmo problemas relacionados à sua sexualidade.

3. Indicações bibliográficas

• WALDOW, V. R. Cuidar: expressão humanizadora da enfermagem. 2. ed. Petrópolis (RJ):


Vozes, 2007.
• SILVA, I. J.; OLIVEIRA, M. F.; SILVA, S. E. D.; POLARO, S. H. I.; RADUNZ, V.; SANTOS,
E. K. A.; SANTANA, M. E. Cuidado, autocuidado e cuidado de si: uma compreensão
paradigmática para o cuidado em enfermagem. Rev Esc Enferm USP 2009; 43(3): 697-
703.
• SMELTZER, S. C.; BARE, B. Brunner e Suddarth: tratado de enfermagem médico-
cirúrgica. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
• SANTOS, A. C. C. F. Referencial de cuidar em enfermagem psiquiátrica: um processo de
reflexão de um grupo de enfermeiras. Esc Anna Nery Rev Enferm 2009 jan-mar;
13(1):51-55.

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Questão 2
Questão 2.2
A violência vem sendo abordada como um complexo fenômeno biopsicossocial e um
problema de saúde pública. O crescente interesse em profissionais da área de saúde na
investigação deste fenômeno está diretamente relacionado às sérias e profundas
repercussões para a saúde, com destaques epidemiológicos para o aumento de casos
envolvendo crianças, adolescentes, mulheres e idosos.
Considerando os diferentes grupos humanos, como a violência pode ser classificada?
A. Sexual, física e afetiva.
B. Estrutural, afetiva e sexual.
C. Estrutural, conjuntural e institucional.
D. Física, institucional e policial.
E. Social, policial e conjuntural.

1. Introdução teórica

Violência

A violência é considerada um importante problema de saúde pública em todo o


mundo, que afeta principalmente crianças, adolescentes, mulheres e pessoas idosas. Trata-
se de um fenômeno complexo e multicausal, que está enraizado nas estruturas sociais,
econômicas e políticas, bem como nas consciências individuais. Nesse contexto, o Relatório
Mundial da Organização Mundial da Saúde (OMS) categorizou a violência a partir das suas
manifestações empíricas, como mostrado a seguir (OMS, 2002; MINAYO, 2004).
• Violência autoinfligida – dirigida pela pessoa contra si mesma. Inclui os comportamentos
suicidas e os autoabusos (agressão a si mesmo e automutilações).
• Violência interpessoal – classificada em dois âmbitos – o intrafamiliar e o comunitário.
• Violência intrafamiliar – ocorre entre os parceiros íntimos ou entre os membros da
família, principalmente no ambiente domiciliar, mas pode acontecer fora dele. Inclui
agressões contra crianças, mulheres e pessoas idosas.
• Violência comunitária – ocorre em ambiente social em geral, entre conhecidos e
desconhecidos. Inclui violência juvenil, agressões físicas, estupros, ataques sexuais e

2Questão 16 - Enade 2004


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violência institucional, que é aquela que ocorre, por exemplo, em escolas, locais de trabalho,
prisões e asilos.
• Violência coletiva – ocorre nos âmbitos macrossociais, políticos e econômicos,
caracterizando a dominação de grupos e do Estado. Nessa categoria, no âmbito social,
incluem os crimes cometidos por grupos organizados, atos terroristas e de multidões.
Abrange ainda ataques econômicos entre grupos e nações, geralmente motivados por
intenções e por interesses de dominação.
À classificação criada pelo Relatório da OMS, acrescenta-se outro tipo de violência, a
estrutural. Essa categoria se refere aos processos sociais, políticos e econômicos que
reproduzem e cronificam a fome, a miséria e as desigualdades sociais, de gênero, de etnia e
mantêm o domínio adultocêntrico sobre as crianças e adolescentes. A violência estrutural é
difícil de ser quantificada, perpetua-se nos processos históricos, repete-se e naturaliza-se na
cultura, sendo responsável por privilégios e formas de dominação na sociedade. A maioria
dos tipos de violência citados tem sua base na violência estrutural (MINAYO, 2004).
Assim, considerando o momento ou o período em que a violência acontece, ela pode
ser classificada do modo apresentado abaixo (BURKER, 1995; AZEVEDO, 2004).
• Estrutural ou “endêmica” – congênere a uma doença crônica, pois é instalada numa
parte da sociedade e vai criando metástases por toda a sociedade. Sua cura envolve um
planejamento eficaz, coordenado pelas instituições para solucionar a problemática em
questão.
• Conjuntural ou “epidêmica” – registra-se em momentos ocasionais e, mesmo que não se
vislumbre uma solução, com o passar do tempo é esmorecida. As manifestações populares
para reivindicação de solução de problemas sociais, econômicos ou culturais são exemplos
de violência conjuntural.
Segundo a OMS (2002), a natureza dos atos violentos pode ser classificada nas
quatro modalidades expostas a seguir.
• Física – significa o uso da força para produzir traumatismos, feridas, dor ou incapacidade
em outrem.
• Psicológica – inclui as agressões verbais ou gestuais, com o objetivo de aterrorizar,
rejeitar, humilhar a vítima, restringir a liberdade ou, ainda, isolá-la do convívio social.
• Sexual – diz respeito ao ato ou ao jogo sexual que ocorre nas relações heterossexuais
ou homossexuais e visa a estimular a vítima ou utilizá-la para obter excitação sexual e
práticas eróticas, pornográficas e sexuais impostas por meio de aliciamento, violência física
ou ameaças.

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• Privação ou descuido – envolve abandono, negligência ou privação de cuidados,


definidos como a ausência, a recusa ou a deserção de cuidados necessários a alguém que
deveria receber atenção e cuidados.
Todas as tipologias descritas acima comportam as diferentes classificações da
violência humana e evidenciam um fenômeno complexo e multifacetado, relacionado ao
indivíduo e à sociedade. Como a violência é uma questão de práxis sociopolítica que pode
gerar problemas sociais, emocionais, psicológicos e cognitivos durante toda a vida, é
fundamental, no âmbito da saúde, o estabelecimento de um diálogo entre os serviços
médicos, clínicos e de emergência e a saúde pública, para melhorar o atendimento das
vítimas de violência e minimizar a frequência com que o evento ocorre (MINAYO, 2004).
As ações coletivas para reduzir a violência demandam entendimento com a educação,
os serviços sociais, a justiça, a segurança pública, o ministério público, o poder legislativo e,
sempre, com os movimentos sociais, visando à promoção de uma sociedade cujo valor
primordial seja a vida (e não a morte) e a convivência saudável de seus cidadãos (MINAYO,
2004).

2. Análise das alternativas

A – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Essas são classificações de acordo com a natureza dos atos violentos.

B – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. A violência afetiva e sexual são classificações de acordo com a natureza dos
atos violentos.

C – Alternativa correta.
JUSTIFICATIVA. Todas são formas de classificações da violência humana, referenciadas pela
Organização Mundial da Saúde (OMS), conforme explicitado no texto sobre a temática.

D – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. A violência física está relacionada à natureza do ato violento, não sendo a
violência policial um tipo de classificação do fenômeno.

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E – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Violência policial não é considerada uma classificação de violência, posto
que ela deve ser classificada por outra nomenclatura, como por exemplo, física.

3. Indicações bibliográficas

• WORLD HEALTH ORGANIZATION. World report on violence and health. Geneve: WHO;
2002. Disponível em
<http://www.who.int/violence_injury_prevention/violence/world_report>. Acesso em 17
jun. 2010.
• MINAYO, M. C. S. Violência: um velho-novo desafio para a atenção à saúde . 2004.
Disponível em <http://br.monografias.com/trabalhos901/violencia-desafio-atencao-
saud/violencia-desafio-atencao-saud2.shtml#_Toc171344603>. Acesso em 17 jun.
2010.
• BURKE, P. Violência social e civilização . São Paulo: Braudel Papers, 1995. p. 1-12.
Disponível em <http://www.braudel.org.br/publicacoes/bp/bp12_pt.pdf>. Acesso em
17 jun. 2010.

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Questão 3
Questão 3.3
Mário, 40 anos, compareceu ao Pronto Socorro com queixa de cefaleia intensa e fotofobia.
Na avaliação inicial, o enfermeiro mediu a pressão arterial utilizando um manguito com
largura que correspondia a 40% da circunferência de seu braço e bolsa inflável de
comprimento que envolvia 90% do braço. Durante a deflação do manguito o enfermeiro
auscultou o primeiro som (Fase I de Korotkoff) no valor de 138 mmHg na escala do
manômetro, porém os sons persistiram até o zero, com abafamento no valor de 88 mmHg.
Considerando as circunstâncias descritas e as observações realizadas, qual o registro correto
relacionado com os valores da pressão arterial?
A. PA = 135/85 mmHg.
B. PA = 138/88 mmHg (manguito estreito em relação à circunferência do braço).
C. PA = 135/0 mmHg.
D. PA = 135/85/0 mmHg (manguito estreito em relação à circunferência do braço).
E. PA = 138/88/0 mmHg.

1. Introdução teórica

Pressão arterial (PA)

O sistema circulatório, formado pelo coração e pelos vasos sanguíneos, é responsável


pela condução e distribuição de nutrientes para os tecidos e deles retira os produtos de
excreção, por meio da circulação sanguínea. Esta é impulsionada pelo coração que, ao
contrair, força o sangue para a artéria aorta, distendendo-a e criando uma pressão no seu
interior. Essa pressão, por sua vez, empurra o sangue ao longo das artérias, das arteríolas,
dos capilares, das vênulas, das veias e, finalmente, de volta para o coração, caracterizando
o fluxo sanguíneo corporal (GUYTON, 2008).
A pressão que o sangue exerce sobre as paredes das artérias, dependendo da força
da contração do coração, da quantidade de sangue e da resistência das paredes dos vasos,
é chamada de pressão arterial (GUYTON, 2008). Sintetizando, para que o sangue possa
circular pelo corpo é necessário que o coração faça pressão para empurrá-lo para as
artérias. Ao passar nas artérias, o sangue encontra uma resistência (pressão) provocada

3 Questão 14 – Enade 2007

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pelo atrito com a parede do vaso, denominada de pressão arterial. Assim, essa pressão
depende do calibre da artéria: quanto mais estreita é a artéria, maior a resistência à
passagem do sangue e, por consequência, maior será a pressão arterial.
A pressão arterial (PA) é produto da relação débito cardíaco (DC) que é a quantidade
de sangue bombeado pelo coração em um minuto versus a resistência periférica total (RPT),
que é a resistência dos vasos da circulação periférica, ou seja, PA = DC x RPT (GUYTON,
2008).
A força do coração para bombear o sangue é chamada de pressão máxima, ou
sistólica. A resistência que a artéria oferece à passagem do sangue é chamada de pressão
mínima, ou diastólica. Em geral, a pressão arterial é expressa como a proporção da pressão
sistólica sobre a diastólica, com valores normais para o adulto variando de 100/60 até
140/90 mmHg. Um aumento na PA acima do limite superior de normalidade é denominado
hipertensão, enquanto uma diminuição abaixo do limite inferior é chamada hipotensão
(BRUNNER e SUDDARTH, 2005).
Segundo o Ministério da Saúde, o valor normal da pressão arterial para um adulto
com idade superior a 18 anos deve ser menor que 120/80 mmHg, considerando estado pré-
hipertensivo o indivíduo com níveis pressóricos entre 120 e 139 (sistólica) e 80 e 89
(diastólica) e hipertensão arterial com valores iguais ou superiores a 140/90 mmHg (BRASIL,
2006).
A medida indireta das pressões sistólica e diastólica, pelo método auscultatório, é o
mais empregado na prática clínica, sendo um modo simples e fácil de aferição da PA, mas
que deve ser realizada com critérios.
Os instrumentos utilizados para aferir a PA são o esfigmomanômetro e o estetoscópio.
Este é o instrumento que amplifica os sons e os transmite até os ouvidos do operador.
Aquele, de coluna de mercúrio ou aneroide, possui um manguito inflável que deve ser
apropriado para cada indivíduo, devendo ter uma largura de 40% e o comprimento de 80%
da circunferência do membro (o manguito médio para adulto é de 12 a 14 cm de largura e
30 cm de comprimento). Os sons provocados pela passagem do sangue nas artérias e
ouvidos pelo profissional de saúde são chamados de sons de Korotkoff. O primeiro som claro
é a pressão sistólica provocada pela contração do músculo cardíaco que impulsiona o
sangue pela artéria e a pressão diastólica ocorre no ponto em que o som muda ou
desaparece (BARROS, 2002; BRUNNER e SUDDARTH, 2005).
É importante ressaltar que, para ter o valor diagnóstico necessário, a PA deve ser
medida com técnica adequada, utilizando-se de aparelhos confiáveis e devidamente

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calibrados. As recomendações para o procedimento de medida da pressão arterial,


referenciado pelo Ministério da Saúde (2006), também devem ser respeitadas. Segue a
norma para aferição de PA, segundo o Ministério da Saúde:
A posição recomendada para a medida da PA é a sentada.
1) Explicar o procedimento ao paciente, orientando que não fale e descanse por 5 a 10
minutos em ambiente calmo, com temperatura agradável. Promover relaxamento, para
atenuar o efeito do avental branco (elevação da pressão arterial pela tensão provocada pela
simples presença do profissional de saúde, particularmente do médico).
2) Certificar-se de que o paciente não esteja com a bexiga cheia; não praticou exercícios
físicos há 60-90 minutos; não ingeriu bebidas alcoólicas, café, alimentos ou fumou até 30
minutos antes; e não esteja com as pernas cruzadas.
3) Utilizar manguito de tamanho adequado ao braço do paciente, cerca de 2 a 3 cm acima
da fossa antecubital, centralizando a bolsa de borracha sobre a artéria braquial. A largura da
bolsa de borracha deve corresponder a 40% da circunferência do braço e o seu
comprimento deve envolver pelo menos 80%.
4) Manter o braço do paciente na altura do coração, livre de roupas, com a palma da mão
voltada para cima e o cotovelo ligeiramente fletido.
5) Posicionar os olhos no mesmo nível da coluna de mercúrio ou do mostrador do
manômetro aneroide.
6) Palpar o pulso radial e inflar o manguito até seu desaparecimento, para a estimativa do
nível da pressão sistólica; desinflar rapidamente e aguardar um minuto antes de inflar
novamente.
7) Posicionar a campânula do estetoscópio suavemente sobre a artéria braquial, na fossa
antecubital, evitando compressão excessiva.
8) Inflar rapidamente, de 10 em 10 mmHg, até ultrapassar, de 20 a 30 mmHg, o nível
estimado da pressão sistólica. Proceder a deflação, com velocidade constante inicial de 2 a 4
mmHg por segundo.
9) Após identificação do som que determinou a pressão sistólica, aumentar a velocidade
para 5 a 6 mmHg para evitar congestão venosa e desconforto para o paciente.
10) Determinar a pressão sistólica no momento do aparecimento do primeiro som (fase I de
Korotkoff), seguido de batidas regulares que se intensificam com o aumento da velocidade
de deflação.
11) Determinar a pressão diastólica no desaparecimento do som (fase V de Korotkoff).
Auscultar cerca de 20 a 30 mmHg abaixo do último som para confirmar seu

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desaparecimento e depois proceder à deflação rápida e completa. Quando os batimentos


persistirem até o nível zero, determinar a pressão diastólica no abafamento dos sons (fase
IV de Korotkoff).
12) Registrar os valores das pressões sistólica e diastólica, complementando com a posição
do paciente, o tamanho do manguito e o braço em que foi feita a medida. Não arredondar
os valores de pressão arterial para dígitos terminados em zero ou cinco.
13) Esperar 1 a 2 minutos antes de realizar novas medidas.
14) O paciente deve ser informado sobre os valores obtidos da pressão arterial e a possível
necessidade de acompanhamento.
15) É fundamental que o profissional de saúde conheça e utilize as normas padronizadas
para determinar corretamente o valor da pressão arterial.

2. Análise das alternativas

A – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. O primeiro som auscultado foi no valor 138 mmHg, e não 135 mmHg. O
abafamento do som ocorreu no valor 88 mmHg, e não 85 mmHg. Sendo assim, o correto
seria 138/88 mmHg.

B – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. O primeiro som auscultado foi no valor 138 mmHg, e o abafamento do som
ocorreu no valor 88 mmHg, o que torna o valor 138/88 mmHg correto. Contudo, a largura
do manguito correspondia a 40% da circunferência do braço do Mário, o que é considerado
ideal e não estreito, conforme a alternativa menciona.

C – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. O primeiro som auscultado (sístole) foi no valor 138 mmHg, e não 135
mmHg.

D – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. O primeiro som auscultado foi no valor 138 mmHg, e não 135 mmHg. O
abafamento do som ocorreu no valor 88 mmHg e não 85. Sendo assim, o correto seria
138/88 mmHg.

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E – Alternativa correta.
Justificativa. O primeiro som auscultado foi no valor 138 mmHg, correspondendo à I fase de
Korotkoff e ao valor da pressão sistólica. Houve, no entanto, a persistência dos batimentos
até o nível zero. Quando isso ocorre, a pressão diastólica é determinada no abafamento dos
sons (fase IV de Korotkoff), que incidiu no valor de 88 mmHg, e o momento em que houve
o desaparecimento do som (fase V de Korotkoff) deve ser registrado. Assim, o registro
correto da PA é 138/88/0 mmHg.

3. Indicações bibliográficas

• BARROS, A. L. B. L. (cols). Anamnese e exame físico: avaliação diagnóstica de


enfermagem no adulto. Porto Alegre: Artmed, 2002.
• BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção
Básica. Hipertensão arterial sistêmica para o Sistema Único de Saúde. Brasília (DF):
Ministério da Saúde, 2006.
• GUYTON, A. C. Fisiologia Humana. 6. ed. [reimpr]. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2008.
• SMELTZER, S. C.; BARE, B. G. Brunner e Suddarth: tratado de enfermagem médico-
cirúrgica. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.

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Questão 4
Questão 4.4
Ana, 55 anos, após herniorrafia inguinal, ficou cerca de 12 horas sem urinar e começou a
apresentar eliminação frequente de pequena quantidade de urina, além de bexiga palpável e
sensação de desconforto em abdome inferior.
Considerando esse quadro clínico, a enfermeira da unidade cirúrgica prescreve o que segue.
I. Favorecer a micção, permitindo a paciente urinar sentada.
II. Estimular a micção por meio do barulho, visão da água corrente e irrigação do períneo
com água morna.
III. Realizar cateterização vesical de alívio.
IV. Manter uso contínuo de fralda.
No caso de Ana, a prescrição contida no item
A. I é contraindicada no 1o pós-operatório.
B. II não se aplica a esse quadro clínico.
C. III deve ser precedida das prescrições contidas nos itens I e II.
D. III deve ser realizada apenas por prescrição médica.
E. IV deve ser precedida da prescrição contida no item I.

1. Introdução teórica

Cuidados de enfermagem no pós-operatório

O período pós-operatório estende-se do momento em que o paciente deixa a mesa de


cirurgia até o momento em que realiza a última consulta de acompanhamento com o
cirurgião. Esse período pode ser tão breve quanto uma semana ou tão longo quanto vários
meses. Durante o período pós-operatório, o cuidado de enfermagem é direcionado para o
restabelecimento do equilíbrio fisiológico do paciente, para o alívio da dor, para a prevenção
das complicações e para o ensino do autocuidado ao paciente (BRUNNER e SUDDARTH,
2005).
Os cuidados de enfermagem ao paciente no pós-operatório, desde as primeiras horas
até 24 horas após a cirurgia, compreendem a ajuda continuada para a recuperação dos
efeitos da anestesia, a frequente avaliação do estado fisiológico, a monitorização quanto às

4Questão 15 – Enade 2007


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complicações, o tratamento da dor e a implementação de medidas para independência do


paciente e sua plena recuperação.
Nas horas iniciais à admissão na unidade clínica, a ventilação adequada, a
estabilidade hemodinâmica, a dor incisional, a integridade do local cirúrgico, as náuseas e
vômitos, a condição neurológica e a micção espontânea constituem preocupações básicas
para o profissional de enfermagem (BRUNNER e SUDDARTH, 2005).
A retenção urinária após a cirurgia é uma condição frequente, que pode acontecer
por uma série de razões. A anestesia, os agentes anticolinérgicos e os opioides interferem
na percepção da bexiga cheia e na urgência de urinar, além de inibir a capacidade de iniciar
a micção e esvaziar completamente a bexiga. As cirurgias abdominal, pélvica e de quadril
podem aumentar a probabilidade de retenção devido à dor.
Para identificação da retenção urinária, a distensão da bexiga e a urgência para urinar
devem ser avaliadas com frequência pela equipe de enfermagem, por meio da palpação da
região suprapúbica para observação de distensão da bexiga (bexiga palpável) ou da
sensibilidade local (sensação de desconforto) e da avaliação da frequência e do volume
urinário (BRUNNER e SUDDARTH, 2005).
Espera-se que o paciente urine dentro de oito horas após a cirurgia. Se houver
distensão da bexiga ou se o paciente não conseguir urinar até esse período, os métodos não
invasivos para encorajar a micção devem ser tentados, como deixar fluir água para que o
paciente seja estimulado pelo barulho e pela observação do fluxo da água ou aplicar calor
no períneo. A comadre deve estar aquecida para não causar desconforto ao paciente e inibir
a micção. Quando o paciente relatar que não consegue utilizar a comadre ou o compadre,
pode ser permitido utilizar a cadeira higiênica ou que o paciente se sente ou permaneça de
pé, na lateral da cama para urinar, especialmente os homens, tomando as medidas de
segurança para evitar a queda do paciente (BRUNNER e SUDDARTH, 2005).
Caso o paciente não consiga urinar, mesmo após a realização das medidas não
invasivas de estímulo à micção, a cateterização vesical deve ser efetivada, utilizando o
cateter vesical de alívio, que deve ser removido após o esvaziamento da bexiga para
minimizar o risco de infecção. A cateterização intermitente continua a cada quatro a seis
horas, até que o paciente possa urinar espontaneamente e o resíduo pós-micção seja menor
que 100 ml. Um histórico criterioso e uma intervenção de enfermagem imediata ajudam o
paciente no retorno rápido a um ótimo funcionamento, com segurança e tão
confortavelmente quanto possível (BRUNNER e SUDDARTH, 2005).

17
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

2. Indicações bibliográficas

• SMELTZER, S. C.; BARE, B. G. Brunner e Suddarth: tratado de enfermagem médico-


cirúrgica. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
• GOMES, A. M. Enfermagem na unidade de terapia intensiva . São Paulo: EPU, 2008.
• GALLO, B. M. Cuidados Intensivos de Enfermagem: uma abordagem holística. 6. ed. São
Paulo: Guananabara Koogan, 1997.
• CARVALHO, R.; BIANCHI, E. R. F. Enfermagem em centro cirúrgico e recuperação . São
Paulo: Manole, 2007.

3. Análise das afirmativas

JUSTIFICATIVA GERAL. Observa-se que Ana apresenta um quadro de distensão vesical,


frequente em pós-operatórios de cirurgias abdominais e pélvicas. Nesse caso, as medidas
não invasivas devem ser tentadas antes da técnica invasiva de cateterização vesical para
evitar infecção.

I – Afirmativa correta.
JUSTIFICATIVA. Após a tentativa de estímulo visual e auditivo (fluxo de água), o profissional
pode permitir que Ana se sente para urinar, tomando os devidos cuidados para evitar
complicações.

II – Afirmativa correta.
JUSTIFICATIVA. A observação/escuta da água corrente e a aplicação de água morna no
períneo são métodos não invasivos de primeira escolha para estimular a micção, que devem
ser tentados pelo enfermeiro.

III – Afirmativa correta.


JUSTIFICATIVA. A cateterização vesical de alívio deve ser realizada somente após a
realização de métodos não invasivos para estímulo à micção.

IV – Afirmativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. A colocação de fralda geriátrica só é necessária em casos de incontinência
urinária. Como o quadro clínico apresentado por Ana é característico de retenção urinária e

18
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

não de incontinência, as técnicas não invasivas de estimulação da micção devem ser


aplicadas primordialmente.

Alternativa correta: C (a prescrição de enfermagem no caso de Ana deve ser a realização de


cateterização vesical de alívio, que deve ser precedida das prescrições contidas nos itens I e
II).

3. Indicações bibliográficas

• SMELTZER, S. C.; BARE, B. G. Brunner e Suddarth: tratado de enfermagem médico-


cirúrgica. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
• GOMES, A. M. Enfermagem na unidade de terapia intensiva . São Paulo: EPU, 2008.
• GALLO, B. M. Cuidados Intensivos de Enfermagem: uma abordagem holística. 6. ed. São
Paulo: Guananabara Koogan, 1997.
• CARVALHO, R.; BIANCHI, E. R. F. Enfermagem em centro cirúrgico e recuperação . São
Paulo: Manole, 2007.

19
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

Questão 5
Questão 5.5
Na reunião da Liga de Diabetes, a discussão deste mês foi sobre o caso de Paulo, de 18
anos. Ele apresenta diabetes mellitus tipo 1 e faz tratamento com o esquema insulina NPH+
insulina ultrarrápida pré-prandial. Foi orientado a realizar a automonitorização da glicemia
antes de cada refeição e ajustar a dose da insulina ultrarrápida, conforme o valor da
glicemia observado. Em consulta de retorno, os resultados dos exames e as informações de
Paulo indicaram que os objetivos do tratamento foram alcançados, porém ele se queixou
que está "cansado da rigidez no controle da glicemia e de tantas picadas diárias ".
Frente ao relato, os alunos de graduação em enfermagem sugeriram as intervenções a
seguir.
I. Confrontar o resultado da hemoglobina glicada com os resultados da glicemia pré-
prandial a fim de certificar-se da adesão de Paulo ao controle orientado.
II. Substituir a automonitorização da glicemia por testes de glicosúria antes das refeições.
III. Manter a automonitorização domiciliar das glicemias como uma parte fundamental no
tratamento.
IV. Analisar, conjuntamente com Paulo, seu esquema de alimentação, exercícios e
medicação, visando a estabelecer uma forma alternativa de automonitorização domiciliar das
glicemias.
São corretas apenas as intervenções
A. I e II. B. I e III. C. II e III. D. II e IV. E. III e IV.

1. Introdução teórica

Diabetes Mellitus

Segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS), no ano de 2000 havia


177 milhões de portadores da Diabetes Mellitus (DM) em todo o mundo, com expectativa de
alcançar 350 milhões de pessoas em 2025. Atualmente, no Brasil, são cerca de seis milhões
de pessoas com DM, podendo chegar a 10 milhões ainda no ano de 2010. Juntamente com
a hipertensão arterial, o DM é a primeira causa de óbito e de hospitalizações, de
amputações de membros inferiores e representa 62,1% dos diagnósticos primários em
pacientes com insuficiência renal crônica e submetidos à diálise (BRASIL, 2006).

5Questão 17 – Enade 2007


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Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

O diabetes Mellitus é um conjunto de doenças metabólicas caracterizadas por níveis


elevados de glicose no sangue (hiperglicemia) resultante de defeitos na secreção e/ou na
ação da insulina, envolvendo processos patogênicos específicos. Tal distúrbio pode gerar
disfunção ou complicação em vários órgãos, especialmente olhos, rins, nervos, cérebro,
coração e vasos sanguíneos (BRUNNER e SUDDARTH, 2005; BRASIL, 2006).
A insulina é um hormônio produzido e secretado pelas células beta das ilhotas de
Langerhans do pâncreas, responsável por controlar o nível de glicose sanguínea ao regular a
sua produção e o seu armazenamento. No estado diabético, as células podem parar de
responder à insulina ou o pâncreas pode parar de produzi-la, desencadeando a hiperglicemia
(BRUNNER e SUDDARTH, 2005).
Os sintomas clássicos do DM são a poliúria (micção aumentada), a polidipsia (sede
aumentada), a polifagia (aumento no apetite) e a perda involuntária de peso, conhecidos
como os “4 Ps". A fadiga, a fraqueza, a letargia, o prurido cutâneo e vulvar, a balanopostite
e as infecções de repetição são sintomas que levantam suspeita clínica para o diagnóstico da
doença.
A presença de níveis elevados de glicose sanguínea, anormalmente elevada, é o
critério sobre o qual se fundamenta o diagnóstico de DM. A glicemia casual (realizada em
qualquer hora do dia, independentemente do horário das refeições) igual ou superior a
200mg/dl ou a glicemia de jejum maior ou igual a 126mg/dl e a glicemia de 2 horas no teste
de tolerância à glicose igual ou superior a 200mg/dl são elementos primordiais para o
diagnóstico clínico de DM, segundo o protocolo do Ministério da Saúde (BRASIL, 2006).
Os tipos de diabetes mais frequentes são o diabetes tipo 1, anteriormente conhecido
como diabetes juvenil ou DM insulino-dependente, que compreende cerca de 10% do total
de casos, e o diabetes tipo 2, anteriormente conhecido como diabetes do adulto ou DM não
insulino-dependente, que compreende cerca de 90% do total de casos. Outro tipo de
diabetes encontrado com maior frequência e cuja etiologia ainda não está esclarecida é o
diabetes gestacional, que, em geral, é um estágio pré-clínico de diabetes, detectado no
rastreamento pré-natal (BRASIL, 2006).
O DM tipo 1 caracteriza-se pela destruição das células beta pancreáticas por um
processo autoimune, levando à deficiência absoluta da insulina, resultando em uma
produção descontrolada de glicose pelo fígado e, assim, à hiperglicemia. Como
consequência, as injeções de insulina são uma terapêutica necessária para controlar os
níveis sanguíneos de glicose (BRUNNER e SUDDARTH, 2005). Segundo o Ministério da
Saúde (2006), o desenvolvimento de DM tipo 1 pode ocorrer de forma rapidamente

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Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

progressiva, principalmente, em crianças e adolescentes (pico de incidência entre 10 e 14


anos) ou de forma lentamente progressiva, geralmente em adultos, com idade inferior a 30
anos.
O DM tipo 2 resulta de uma sensibilidade diminuída à insulina nos tecidos,
denominada de resistência à insulina, sendo esse hormônio menos efetivo na estimulação da
captação da glicose pelos tecidos ou por uma redução na produção de insulina pelas células
pancreáticas. O DM tipo 2 ocorre com maior frequência nas pessoas com idade superior a 30
anos e nos obesos e seu tratamento consiste na dieta adequada, na prática de exercícios
físicos, no uso de hipoglicemiantes orais e na aplicação de insulinoterapia (BRUNNER e
SUDDARTH, 2005; BRASIL, 2006).
Os portadores de DM tipo 1, pela maior complexidade do cuidado, devem ser
acompanhados por um especialista em endocrinologia, conforme recomendado pelo
Ministério da Saúde (2006). Os planos terapêuticos para tratamento do DM tipo 2
fundamentam-se no controle glicêmico com a prevenção das complicações agudas por meio
da mudança no estilo de vida e da farmacoterapia, e na prevenção de complicações crônicas
por meio da identificação e do tratamento das complicações decorrentes da doença.
A aplicação de insulina exógena no tecido subcutâneo é uma necessidade para o
indivíduo com DM tipo 1. As preparações de insulina variam de acordo com três
características: o período de tempo de ação, a espécie (origem) e o fabricante, conforme
apresentado no quadro 1.

Quadro 1. Categorias de Insulina.


Evolução da Agente Início Pico Duração da Indicações
ação máximo ação
Ação rápida Humalog 10 - 15 min 1h 3h Redução rápida
do nível de
glicose
Ação curta Regular ½-1h 2-3h 4–6h Administrada 20 a
30 minutos antes
da refeição.
Ação NPH 3–4h 4 - 12 h 16 – 20 h Administrada
intermediária Lenta depois das
refeições
Ação longa Ultralenta 6–8h 12 – 16 h 20 – 30 h Controle da
glicose em jejum

Fonte. Brunner e Suddarth, 2005.

Os esquemas de insulina variam de uma a quatro injeções por dia e, geralmente,


envolvem uma combinação de uma insulina de ação curta com uma de ação prolongada,
conforme cada caso clínico. O monitoramento domiciliar da glicemia é um dos cuidados mais
importantes no tratamento da DM. Sua finalidade é direcionar a terapêutica no sentido de
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Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

obter e manter a glicemia o mais próximo possível da normalidade e seus resultados


permitem compreender a interação entre medicação, atividade física, alimentação e a
variabilidade glicêmica decorrente delas (GROSSI e PASCALI, 2009).
Para que haja a aderência do paciente ao tratamento, é primordial que o enfermeiro
desenvolva atividades de promoção de saúde com os indivíduos diabéticos, por meio de
ações educativas individuais e/ou coletivas com uma abordagem motivacional e
incentivadora, orientando sobre a automonitorização da glicemia capilar, a técnica de
aplicação da insulina e as possíveis complicações decorrentes da terapêutica ou da doença
para que haja o sucesso do tratamento.

2. Análise das afirmativas

I – Afirmativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Os alunos de enfermagem devem analisar os exames já realizados pelo
paciente na consulta de retorno, que, por sua vez, indicaram que os objetivos do tratamento
foram alcançados, conforme referido no enunciado. Assim, não existe necessidade de nova
solicitação de exames laboratoriais.

II – Afirmativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. O monitoramento da glicemia domiciliar é um dos principais
comportamentos para o autocuidado e um dos mais importantes dentro do tratamento para
DM, não sendo recomendada sua substituição.

III – Afirmativa correta.


Justificativa. A equipe deve reconhecer e enfatizar a automonitorização da glicemia capilar
como uma importante ferramenta para o paciente conhecer melhor o seu perfil glicêmico e o
seu tratamento e para que os profissionais de saúde direcionem a terapêutica mais
adequada para manter a glicemia o mais próximo possível da normalidade.

IV – Afirmativa correta.
JUSTIFICATIVA. Para que haja a aderência do paciente ao tratamento, é importante que
Paulo esteja sempre envolvido nas decisões sobre sua terapêutica. Assim, frente ao relato
do paciente de insatisfação com a rigidez no controle da glicemia e das constantes picadas
diárias, a equipe de saúde deve promover uma nova avaliação de todos os métodos

23
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

empregados para o seu tratamento, buscando alternativas para sanar ou minimizar o


desconforto referido por Paulo, visto que a eficácia da terapêutica e da monitorização
depende do paciente.

Alternativa correta. E.

3. Indicações bibliográficas

• SMELTZER, S. C.; BARE, B. G. Brunner e Suddarth: tratado de enfermagem médico-


cirúrgica. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
• BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção
Básica. Diabetes Mellitus: normas e manuais técnicos . Brasília (DF): Ministério da Saúde,
2006.
• GROSSI, S. A. A.; PASCALI, P. M. (org.) Departamento de Enfermagem da Sociedade
Brasileira de Diabetes. Cuidados de Enfermagem em Diabetes Mellitus. São Paulo:
Sociedade Brasileira de Diabetes, 2009. Disponível em
<http://www.diabetes.org.br/attachments/1118_1324_manual_enfermagem.pdf>.
Acesso em 22 mar. 2010.

24
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

Questão 6
Questão 6.6
Sara, 42 anos, foi submetida à craniotomia para clipagem de aneurisma cerebelar esquerdo.
Após a cirurgia, os sinais vitais estavam estáveis e ela se recuperava bem da anestesia
geral. No quarto dia, Sara apresentou um quadro de cefaléia, confusão e perda de força em
mão direita. Seu nível de consciência deteriorou de forma acentuada e ela foi intubada e
encaminhada à unidade de cuidados intensivos. No momento encontra-se em ventilação
mecânica, em jejum, SNG aberta, sonda vesical e cateter central. Dentre as intervenções de
enfermagem, qual é a indicada para Sara?
A. Promover aspiração endotraqueal em horários fixos.
B. Manter a cabeceira elevada a 30º e alinhamento mentoesternal.
C. Fechar SNG, se apresentar desequilíbrio hidroeletrolítico.
D. Manter decúbito lateral com flexão de quadril superior a 90º.
E. Realizar limpeza da incisão cirúrgica com clorexidina.

1. Introdução teórica

Cirurgia intracraniana

A craniotomia envolve a abertura do crânio por meios cirúrgicos para ganhar acesso
às estruturas intracranianas. Esse procedimento é realizado para remover tumores cerebrais,
reduzir a pressão intracraniana, evacuar um coágulo sanguíneo e para controlar uma
hemorragia cerebral (SMELTZER e BARE, 2005).
As complicações da cirurgia intracraniana incluem o aumento na pressão intracraniana
(PIC), o choque hipovolêmico e o sangramento, a infecção e os déficits neurológicos. A
elevação da PIC pode ocorrer em consequência de um edema ou tumefação cerebral,
devendo ser tratada com um diurético osmótico, o manitol. O tratamento pós-operatório da
cirurgia intracraniana inclui:
a) a redução do edema cerebral, por meio da administração do manitol;
b) o alívio da dor, porque é comum o paciente apresentar cefaleia pelo estiramento e
irritação dos nervos do couro cabeludo durante a cirurgia;
c) a prevenção de crises convulsivas, por causa do alto risco de epilepsia após
procedimentos neurológicos supratentoriais;

6Questão 18 – Enade 2007


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Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

d) a monitorização da PIC.
As principais metas de enfermagem para um paciente submetido à cirurgia intracraniana
devem incluir a preparação adequada para a cirurgia, homeostase neurológica para
melhorar a perfusão do tecido cerebral, regulação térmica, ventilação e troca de gases
normais, capacidade de lidar com a privação sensorial, adaptação às alterações na imagem
corporal e ausência de complicações (SMELTZER e BARE, 2005).
Depois da cirurgia intracraniana, o profissional de enfermagem deve avaliar a função
respiratória (padrão e frequência respiratória), porque um pequeno grau de hipóxia pode
aumentar a isquemia cerebral, acrescendo a avaliação da gasometria arterial. As flutuações
nos sinais vitais são cuidadosamente monitorizadas e documentadas porque indicam a PIC
aumentada. A temperatura do paciente deve ser medida em intervalos para avaliar
hipotermia secundária à lesão do hipotálamo. As verificações neurológicas devem ser
realizadas frequentemente para detectar a PIC aumentada, resultante do edema ou
sangramento cerebral. O enfermeiro deve estar alerta para o desenvolvimento de
complicações relacionadas à cirurgia.

2. Análise das alternativas

JUSTIFICATIVA GERAL. O quadro clínico apresentado por Sara é sugestivo de hipertensão


intracraniana, uma complicação frequente após cirurgias intracranianas.

A – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. A aspiração endotraqueal em horários fixos pode aumentar a pressão
intracraniana, devendo ser realizada, com cautela, somente quando houver necessidade.

B – Alternativa correta.
JUSTIFICATIVA. Elevar a cabeceira do leito auxilia na drenagem venosa do cérebro e reduz
o edema cerebral. A estabilização/alinhamento mentoesternal é importante para manter o
fluxo sanguíneo adequado para o cérebro.

C – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Não está relacionado com o aumento da PIC.

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Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

D – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Não está relacionado com o aumento da PIC.

E – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Não está relacionado com o aumento da PIC.

3. Indicações bibliográficas

• SMELTZER, S. C.; BARE, B. G. Brunner e Suddarth: tratado de enfermagem médico-


cirúrgica. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
• MEEKER, M. H.; ROTHROCK, J. C. Cuidados de enfermagem ao paciente cirúrgico. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 1997.
• HUDAK, C. M.; GALLO, B. M. Cuidados intensivos de enfermagem: uma abordagem
holística. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1997.
• DIEPENBROCK, N. Cuidados Intensivos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.

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Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

Questão 7
Questão 7.7
Paula, 16 anos, iniciou o atendimento pré-natal na Unidade Básica de Saúde (UBS) após
teste de gravidez positivo. Depois de algum tempo, a agente comunitária, responsável pela
área em que se situa a residência de Paula, procurou a enfermeira da UBS dizendo que a
adolescente "não havia realizado nenhum dos exames solicitados; tinha tentado interromper
a gestação e, apesar de não estar passando bem, não procurou o hospital por medo de ser
presa." A enfermeira, então, decidiu realizar visita domiciliar, encontrando a gestante
descorada, sem perdas vaginais, com epistaxe e sangramento gengival, ambos de moderada
intensidade. Para a assistência à adolescente, a enfermeira corretamente suspeita de
A. ameaça de abortamento, o que requer guia da UBS para o encaminhamento de Paula a
ambulatório médico especializado de referência na área da saúde da mulher.
B. infecção polimicrobiana associada a abortamento infectado, o que requer utilização do
sistema regional de urgência e emergência para o encaminhamento de Paula a hospital
de média complexidade.
C. processo inflamatório decorrente de abortamento completo, o que requer o
acompanhamento de Paula pela UBS e pelo serviço de referência para educação em
saúde de adolescentes.
D. processo infeccioso decorrente de abortamento incompleto e inevitável, o que requer
guia da UBS para o encaminhamento de Paula a hospital de referência para
procedimentos de baixa complexidade.
E. distúrbio de coagulação associado a abortamento retido, o que requer utilização do
sistema regional de urgência e emergência para o encaminhamento de Paula a hospital
de média complexidade.

1. Introdução teórica

Abortamento

O abortamento constitui grande problema de saúde pública no Brasil, representando


uma das principais causas de óbito materno no país. O abortamento é definido como a
interrupção da gravidez até a idade gestacional de 20ª a 22ª semana ou com produto da

7Questão 20 – Enade 2007


28
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

concepção pesando menos que 500 gramas, enquanto aborto é o produto da concepção
eliminado no abortamento e não o ato propriamente dito (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005).
O abortamento pode ser classificado quanto à idade gestacional, ao tipo, ao grau de
eliminação do concepto, à presença de complicações e à situação clínica. Apresenta-se a
seguir um resumo da classificação dos abortamentos segundo a literatura (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2005; ROCHA E NETO, 2003).
a) Quanto à idade gestacional – pode ser classificado como precoce (até a 12ª semana)
e tardio (da 13ª semana até a 22ª semana).
b) Quanto ao iipo – classifica-se em espontâneo ou natural, provocado ou induzido e
habitual ou de repetição (quando ocorre dois ou mais abortamentos sequenciais).
c) Quanto ao grau de eliminação – pode ser completo (quando todo o produto da
concepção é eliminado), incompleto (quando a placenta permanece retida na cavidade
uterina) e retido (quando todo produto da concepção fica retido na cavidade uterina).
d) Quanto à presença de complicações – classificado em não infectado e abortamento
infectado ou séptico, no qual ocorre a invasão bacteriana da cavidade uterina, provocando
endometrite, caracterizado pela presença de dor abdominal, de eliminação de exsudato
purulento e fétido através do colo uterino, febre e comprometimento do estado geral da
mulher.
e) Quanto à situação clínica – classificado em abortamento evitável, pode ocorrer dor do
tipo cólica e sangramento discreto, mas o colo uterino permanece fechado, não havendo
perda gestacional e nem indicação de internação hospitalar; e abortamento inevitável,
quando a mulher apresenta cólica e sangramento vaginal moderado ou intenso e com
dilatação do colo do útero, permitindo a eliminação parcial ou total do produto da
concepção.
Nos casos de abortamento, a conduta mais frequente é encaminhar a mulher para
uma Unidade de Saúde Hospitalar que presta assistência de média ou de alta complexidade
para realização dos procedimentos pós-abortamento. Segundo o Ministério da Saúde (2005),
os sinais e sintomas que requerem atendimento de emergência são a presença de cólicas
por tempo prolongado, sangramento prolongado (maior que duas semanas) e abundante,
dor abdominal intensa ou prolongada, febre, calafrios ou mal-estar geral e desmaios.
O conhecimento dos aspectos clínicos do abortamento e de suas classificações
fornece subsídios para que o profissional de saúde exerça o cuidado imediato às mulheres
nesta situação, na perspectiva da integralidade do atendimento.

29
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

2. Análise das alternativas

A – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Paula estava grávida e já tinha tentado interromper a gestação. Não se
pode confirmar o diagnóstico de ameaça de abortamento pelo quadro clínico que ela
apresenta, visto que tal diagnóstico indicaria encaminhamento imediato para uma
assistência hospitalar de urgência e emergência de média complexidade.

B – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Pelo quadro clínico descrito não existe evidência de abortamento infectado
e nem de infecção, que são caracterizados principalmente pela presença de quadro febril e
pela perda de exsudato transvaginal fétido, quadro que Paula não apresenta.

C – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. O processo inflamatório é caracterizado pela presença da sintomatologia:
dor, hipertermia, hiperemia, edema e perda de função. Estas não são características
apresentadas por Paula. Como não houve perda vaginal, não se pode caracterizar o
diagnóstico de abortamento completo, que ocorre quando existe perda total do concepto e
dos órgãos anexos. Tal quadro clínico não requer somente atividades de educação em
saúde, sendo necessário priorizar os sinais e sintomas que Paula apresenta no momento e
encaminhá-la imediatamente a um hospital.

D – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. O processo infeccioso é caracterizado pela presença de febre, o que não
ocorre com Paula. O abortamento incompleto é conceituado quando existe perda do
concepto, mas não ocorre a expulsão dos órgãos anexos, como a placenta. Como não houve
perda vaginal, está descartada esta alternativa. Paula deve ser encaminhada a um serviço
de média complexidade para realização da curetagem e correção do distúrbio de
coagulação.

E – Alternativa correta.
JUSTIFICATIVA. O distúrbio de coagulação é evidenciado em Paula pela presença de pele e
mucosas descoradas, epistaxe e sangramento gengival, demonstrando que está havendo
perda sanguínea importante. Observa-se que houve abortamento retido porque Paula havia

30
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

tentado interromper a gestação, mas não houve perda vaginal, indicando que o concepto e
seus anexos ficaram retidos na cavidade uterina. Todo caso de abortamento deve ser
encaminhado, em regime de urgência ou emergência, para uma Unidade de Saúde
Hospitalar que realiza assistência de média ou de alta complexidade para que os
procedimentos pós-abortamentos sejam realizados.

3. Indicações bibliográficas

• BRASIL. Ministério da Saúde. Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à


mulher. Brasília: Ministério da Saúde, 2001.
• BRASIL. Ministério da Saúde. Atenção Humanizada ao abortamento: norma técnica.
Brasília: Ministério da Saúde, 2005.
• REZENDE, J.; MONTENEGRO, C. A. B. Obstetrícia Fundamental. 11. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2008.
• ROCHA, M. I. B.; NETO ANDALAFT, J. A questão do aborto: aspectos clínicos,
legislativos e políticos. In: BERQUÓ, E. (org.). Sexo e vida: panorama da saúde
reprodutiva no Brasil. Campinas (SP): UNICAMP, 2003. p. 257-294.

31
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

Questão 8
Questão 8.8
Joana, terceira filha de mãe fumante crônica, nasceu de parto cesariana, com idade
gestacional de 36 semanas, pesando 1800 gramas e com insuficiência respiratória
moderada. Segundo a Norma de Atenção Humanizada do Recém-Nascido (RN) de baixo
peso: Método Mãe-Canguru (Portaria Nº 693/2002), qual é a conduta correta da enfermeira
no seu plano de assistência?
A. Garantir a aplicação do método, após decisão consensual entre mãe, familiares e
profissionais de saúde; e capacitar a família para reconhecer situações de risco do RN,
nos primeiros 15 dias.
B. Ensinar à mãe e à família os cuidados com o RN e assegurar à puérpera visita irrestrita
no berçário; iniciar a segunda etapa do programa, caso a criança atinja ganho ponderal
de 10 gramas/dia.
C. Incentivar contato pele a pele entre a mãe e a criança, imediatamente após o parto,
orientando a colocação do RN sobre o tórax da mãe para incentivar o aleitamento
materno e estreitar o vínculo afetivo.
D. Orientar a mãe e a família sobre as condições de saúde do RN, estimular livre e precoce
acesso dos pais à Unidade Neonatal e propiciar o contato tátil sempre que possível,
acompanhado pela equipe nos primeiros cinco dias.
E. Iniciar as medidas para estímulo à amamentação, os cuidados com as mamas, a ordenha
manual e a armazenagem e a administração do leite ao RN.

1. Introdução teórica

Atenção humanizada ao recém-nascido de baixo peso

O Método Mãe-Canguru (MMC) tem sido proposto como uma alternativa ao cuidado
neonatal convencional para bebês de baixo peso ao nascer. Trata-se de um novo método de
assistência que implica no contato precoce pele a pele entre a mãe e o recém-nascido de
baixo peso (RNBP) de forma crescente e segura. As vantagens apresentadas pela literatura
para aplicação do método são: aumento do vínculo mãe-filho; menor tempo de separação
mãe-filho evitando longos períodos sem estimulação sensorial; estímulo ao aleitamento
materno; maior competência e segurança dos pais no manuseio de seu filho de baixo peso;

8Questão 21 – Enade 2007


32
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

melhor controle térmico do RNBP; menor número de RN em unidades de cuidados


intermediários; melhor relacionamento da equipe de saúde com a família; redução da
infecção hospitalar e diminuição no tempo de permanência hospitalar (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2002).
O Ministério da Saúde do Brasil recomendou e definiu as diretrizes para a implantação
do método nas unidades assistenciais integrantes do Sistema Único de Saúde (SUS) pela
publicação do Manual de Atenção Humanizada ao Recém-Nascido de Baixo Peso, em 2002.
Segundo Venâncio e Almeida (2004), a Norma do Ministério propõe a implantação do novo
método em três etapas. Em princípio, nas unidades neonatais (unidades de terapia intensiva
neonatal - UTIN), em sequência, nas unidades canguru ou alojamento conjunto canguru e,
por fim, nos ambulatórios de seguimento (canguru domiciliar) após a alta hospitalar.
Na primeira etapa, período após o nascimento de um RNBP que necessita de
internação na UTIN, preconiza-se o acesso livre e precoce dos pais à unidade, o estímulo à
amamentação e a participação da mãe nos cuidados do bebê, sendo um período de
adaptação e treinamento. Os cuidados que devem ser prestados nesse período incluem
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002):
• a orientação da mãe e do familiar sobre as condições do RNBP;
• o estímulo o livre e precoce acesso dos pais à UTIN, proporcionando o contato físico com
a criança;
• o acompanhamento e a oferta de orientações com relação ao cuidado com o bebê e às
medidas para controle da infecção hospitalar;
• o estímulo à amamentação, informando sobre os cuidados com as mamas, a ordenha e o
armazenamento do leite materno e o estímulo ao contato precoce pele a pele entre pais
e filho.
Nos primeiros cinco dias após o parto os profissionais deverão prestar todos os
ensinamentos para os pais e familiares e realizar o acompanhamento destes na UTIN
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002).
Na segunda etapa, mãe e filho permanecem internados em enfermaria conjunta,
realizando a posição canguru o maior tempo possível, funcionando como “estágio” de pré-
alta hospitalar de mãe e filho. São critérios de elegibilidade para a permanência nessa
enfermaria: disponibilidade materna; decisão em consenso de mãe, familiares e profissionais
de saúde pelo método; capacidade materna de reconhecimento das situações de risco do RN
e habilidade de colocar o bebê em posição mãe-canguru. O bebê deve ter alcançado a
estabilidade clínica, nutrição enteral plena, peso mínimo de 1.250 gramas e ganho diário de

33
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

peso maior que 15 gramas. A terceira etapa consiste no acompanhamento ambulatorial da


criança após a alta hospitalar até o momento que o peso do bebê atinge 2.500 gramas
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002).

2. Análise das alternativas

A – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Na primeira etapa do MMC, preconiza-se o acesso livre e precoce dos pais à
unidade, o estímulo à amamentação e a participação da mãe nos cuidados do bebê, sendo
um período de adaptação e treinamento. Os profissionais de saúde deverão prestar todos os
ensinamentos para os pais e familiares e realizar o acompanhamento destes na UTIN nos
primeiros cinco dias após o parto e não 15 dias, conforme alternativa.

B – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. A mãe deve ter acesso livre e precoce à UTIN e são critérios de
elegibilidade para a inserção do bebê na segunda etapa do MMC (enfermaria conjunta) a
estabilidade clínica, a nutrição enteral plena, o peso mínimo de 1.250 g e ganho diário de
peso maior que 15 g (e não 10 g, como mencionado na alternativa).

C – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. O RNPB apresenta quadro de insuficiência respiratória moderada, no qual
não se recomenda contato pele a pele imediatamente após o parto, em função do risco de
complicações respiratórias no bebê. Nesse caso, o RNPB deve ser encaminhado à Unidade
Neonatal para que seja prestada uma assistência de alta complexidade.

D – Alternativa correta.
JUSTIFICATIVA. O RNPB com problemas respiratórios deve ser encaminhado para uma
Unidade Neonatal para que seja mais bem assistido pela equipe de saúde. Nessa fase, que
correspondente à primeira etapa do MMC, os cuidados que devem ser prestados incluem
orientar a mãe e o familiar sobre as condições do bebê; estimular o livre e precoce acesso
dos pais à UTIN, proporcionando o contato físico com a criança; acompanhar e oferecer
orientações com relação ao cuidado com o bebê e às medidas para controle da infecção
hospitalar; estimular a amamentação e oferecer os ensinamentos para os pais e familiares
nos primeiros cinco dias após o parto.

34
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

E – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Apesar do MMC priorizar o contato pele a pele entre pais e filhos e o
estímulo à amamentação, o enfermeiro deve informar a mulher sobre os cuidados com as
mamas, a ordenha e o armazenamento do leite materno e não realizar esses cuidados como
sugere a alternativa.

3. Indicações bibliográficas

• BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Área de Saúde da


Criança. Atenção humanizada ao recém-nascido de baixo peso: método mãe-canguru:
manual do curso. Brasília (DF): Ministério da Saúde, 2002.
• VENANCIO, S. I.; ALMEIDA, H. Método mãe-canguru: aplicação no Brasil, evidências
científicas e impacto sobre o aleitamento materno. Jornal de Pediatria, 2004, 80(5): 173-
80.
• CARVALHO, M. R.; TAMEZ, R. N. Amamentação: bases científicas. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2005.

35
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

Questão 9
Questão 9.9
Avalie as afirmativas e a relação proposta entre elas.
I. Lucas, quatro anos, foi admitido no Pronto Socorro Pediátrico apresentando frequência
respiratória de 55 incursões por minuto, temperatura de 38,8ºC, tosse intermitente e queixa
de dor torácica à direita agravada pela inspiração profunda e que irradia para o abdome.
Entre os cuidados, a enfermeira colocou a criança em decúbito lateral direito e instalou uma
tenda com oxigênio fria.
PORQUE
II. A imobilização do tórax afetado reduz o atrito pleural, minimizando o desconforto, e a
umidificação hidrata as vias aéreas, criando uma atmosfera que impede a redução de
temperatura.
Assinale a alternativa correta.
A. As duas afirmativas são verdadeiras, e a segunda justifica a primeira.
B. As duas afirmativas são verdadeiras, e a segunda não justifica a primeira.
C. A primeira afirmativa é verdadeira, e a segunda afirmação é falsa.
D. A primeira afirmativa é falsa, e a segunda afirmação é verdadeira.
E. As duas afirmativas são falsas.

1. Introdução teórica

Cuidados de enfermagem à criança com pneumonia

As infecções respiratórias são grandes responsáveis pelas doenças agudas na criança.


A etiologia e a evolução das infecções são influenciadas por inúmeros fatores, inclusive pela
idade da criança, pela estação do ano, pelas condições de habitação e por problemas
médicos pré-existentes (WHALEY e WONG, 1999).
A pneumonia, inflamação do parênquima pulmonar, é comum durante toda a infância,
ocorrendo com maior frequência no período de lactância e no início da infância. As
pneumonias virais ocorrem mais comumente do que as bacterianas e são observadas em
crianças em todos os grupos etários. As manifestações clínicas da doença e o tratamento
variam conforme o agente etiológico (WHALEY e WONG, 1999).

9Questão 23 – Enade 2007


36
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

As pneumonias bacterianas demonstram padrões clínicos distintos, os quais facilitam


sua diferenciação de outras formas de pneumonia. Seu estabelecimento é abrupto e, em
geral, precedido por uma infecção viral. Os sinais e sintomas são febre, indisposição,
respirações rápidas e superficiais, tosse e dor torácica, a qual é frequentemente exacerbada
pela respiração profunda. Sintomas meníngeos são comuns e os calafrios acontecem com
frequência (WHALEY e WONG, 1999).
Segundo Whaley e Wong (1999), a maioria das crianças com maior idade que
apresenta pneumonia pneumocócica pode ser tratada em casa, aplicando as devidas
medidas terapêuticas, como a administração de antibioticoterapia, o repouso no leito, a
ingesta liberal de líquidos por via oral e a administração de antitérmicos para febre, bem
como de um sedativo para a tosse. Por outro lado, a pneumonia no lactente ou na criança
jovem deve ser tratada no ambiente hospitalar, pois a evolução da doença é mais variável e
as complicações são bem mais comuns.
Os cuidados de enfermagem à criança com pneumonia são principalmente de suporte
e sintomáticos, mas exigem a avaliação respiratória completa e a administração de oxigênio
e de antibióticos. A frequência e o estado respiratório, a disposição geral e o nível de
atividade da criança devem ser constantemente avaliados. O repouso, a conservação de
energia e o sono devem ser encorajados. Para evitar a desidratação, os líquidos devem ser
administrados por via endovenosa durante a fase aguda (tosse) e a ingesta hídrica deve ser
estimulada, mas de maneira cautelosa para prevenir contra a aspiração e para reduzir a
possibilidade de agravar a tosse fatigante.
As crianças podem ser colocadas em uma tenda umidificada com oxigênio com vapor
frio para umidificar as vias aéreas e propiciar uma atmosfera fria, que auxilia na redução da
temperatura. Frequentemente, é necessária a troca de vestimenta das crianças e das roupas
de cama, de modo a evitar o resfriamento na atmosfera úmida. Geralmente, as crianças
devem ficar em posição semiereta, podendo, todavia, determinar a posição mais confortável.
Deitar sobre o lado afetado imobiliza o tórax naquele lado e reduz o atrito pleural, reduzindo
o desconforto da criança. A febre é controlada por meio da administração de antitérmicos,
prescritos pelo médico, sendo necessário o controle regular da temperatura corpórea. O
controle dos sinais vitais deve ser rigoroso (WHALEY e WONG, 1999).
A criança hospitalizada mostra-se apreensiva e ansiosa, de modo que a diminuição da
ansiedade e da apreensão reduz a angústia psicológica e provoca o relaxamento na criança,
que, por sua vez, diminui os esforços respiratórios contribuindo para melhora no seu quadro

37
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

clínico. Encorajar a presença de uma pessoa que cuide da criança oferece uma fonte de
conforto e apoio a ela, contribuindo na redução dos agentes estressores.
A família também merece suporte e apoio emocional. Os pais devem ser mantidos
informados sobre a evolução do quadro clínico da criança durante o período de
hospitalização e orientados quanto aos cuidados domiciliares apropriados para o tratamento
domiciliar da pneumonia.
De acordo com Whaley e Wong (1999), a eficácia da prescrição de enfermagem é
determinada pela reavaliação contínua e pela avaliação dos cuidados com base nas
seguintes diretrizes de observação e resultados esperados:
• Observar os movimentos e o esforço respiratório da criança.
• Observar os sinais e sintomas de progressão no sentido do estado de saúde antes da
doença.
• Observar o comportamento e a atividade da criança.
• Observar outros membros da família e os contatos para evidência de infecção.
• Medir a temperatura.
• Observar sinais de hidratação adequada.
• Observar comportamento alimentar.
• Avaliar a criança para evidências de complicação, como desidratação, perda de peso ou
disseminação da infecção para outras áreas do corpo.
• Observar o comportamento da família e entrevistar os membros da família em relação
aos seus sentimentos e preocupações.
Por meio da realização de cuidados de enfermagem eficientes e adequados para cada
criança com pneumonia, o profissional promove o restabelecimento de sua condição de
saúde de um modo mais rápido e menos traumático e, assim, melhora o prognóstico da
doença.

3. Análise da questão

Observa-se que o quadro clínico apresentado por Lucas é sugestivo de pneumonia


bacteriana, doença frequente em crianças nessa faixa etária. A enfermeira, ao suspeitar de
pneumonia, com presença de dor torácica à direita, resolveu colocar a criança em decúbito
lateral direito porque deitar sobre o lado afetado imobiliza o tórax naquele lado e reduz o
atrito pleural, reduzindo o desconforto da criança. Constitui uma ação eficaz, além da
explicitada, instalar uma tenda com oxigênio fria porque a terapêutica umidifica as vias

38
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

aéreas e propicia uma atmosfera fria, que auxilia na redução da temperatura. Assim, a
primeira e a segunda afirmativas estão corretas e a segunda afirmação justifica a primeira.
Alternativa correta. A.

3. Indicações bibliográficas

• WONG, D. L. Enfermagem pediátrica: elementos essenciais à intervenção efetiva . 5. ed.


Guanabara Koogan, 1999.
• ALMEIDA, F. A.; SABATÉS, A. L. (org). Enfermagem pediátrica: a criança, o adolescente
e sua família no hospital. Barueri (SP): Manole, 2008. p. 284-302.

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Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

Questão 10
Questão 10.10
Antonio de Pádua, 25 anos de idade, foi levado à Unidade Básica de Saúde por um colega.
Antonio trabalha há 90 dias em uma construção civil, apresenta-se hoje com febre e
exantema maculopapular, acompanhado de linfadenopatia retroauricular, não relata história
de vacinação contra rubeola. Reside em alojamento da empresa com outros 10
trabalhadores, visitou a esposa e as filhas no município vizinho há 30 dias. O caso foi
notificado como suspeita de rubeola. A enfermeira da UBS fez algumas considerações para
orientar as medidas de controle e prevenção. Qual a alternativa que apresenta a justificativa
e a decisão corretas?

1. Introdução teórica

Rubeola

A rubeola é uma doença exantemática aguda, altamente contagiosa, cujo agente


etiológico é um vírus do gênero Rubivirus, da família Togaviridae. Trata-se de uma doença
de curso benigno, cuja importância epidemiológica está associada ao risco de abortamentos,
de natimortos e de malformações congênitas, desencadeados pela transmissão do vírus de
mãe para filho durante o período gestacional, denominada Síndrome da Rubeola Congênita
(SRC).
A rubeola é caracterizada pelo exantema maculopapular e puntiforme difuso, que se
inicia na face, couro cabeludo e pescoço, espalhando-se posteriormente para tronco e
membros. O exantema é precedido, em 5 a 10 dias, por linfadenopatia generalizada,

10Questão 31 – Enade 2007


40
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

principalmente, subocipital, pós-auricular e cervical posterior. Pessoas jovens e adolescentes


podem apresentar o período prodrômico, caracterizado pela febre baixa, cefaleia, dores
generalizadas, tosse, coriza e conjuntivite.
O período de incubação do vírus acontece de 14 a 21 dias, com duração média de 17
dias, enquanto sua transmissibilidade ocorre de 5 a 7 dias antes do início do exantema e de
5 a 7 dias após o sintoma. A transmissão do vírus da rubeola acontece pelo contato direto
com as secreções nasofaríngeas de pessoas infectadas, por meio da aspiração de gotículas
pelas vias respiratórias. A transmissão indireta, embora seja pouco frequente, ocorre
mediante contato direto com as secreções nasofaríngeas, sangue e urina de um indivíduo
infectado.
Todo caso suspeito de rubeola deve ser avaliado e diagnosticado corretamente. O
Ministério da Saúde (2008) define caso suspeito como todo o paciente que apresenta febre e
exantema maculopapular, acompanhado de linfoadenopatia, independentemente da idade e
situação vacinal. O diagnóstico da doença é realizado pela avaliação clínica, laboratorial e
epidemiológica. Para diagnóstico clínico o profissional de saúde deve realizar um exame
físico minucioso para caracterização da doença, e considerando que cerca de 20 a 50% das
infecções pelo vírus da rubeola são subclínicas. O diagnóstico laboratorial é realizado por
meio da detecção de anticorpos específicos IgM no sangue, na fase aguda da doença -
desde os primeiros dias até quatro semanas após o aparecimento do exantema, enquanto os
anticorpos específicos da classe IgG são geralmente detectados anos depois da infecção
(BRASIL, 2008).
A recomendação do Ministério da Saúde é que todo caso suspeito de rubeola deve ser
notificado imediatamente pelo nível local à Secretaria Municipal de Saúde, seguindo o fluxo
apresentado na figura 1.

Figura 1. Conduta frente a um caso suspeito de rubeola.


Fonte: Ministério Da Saúde, 2008.

41
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

A imunização e as ações de educação em saúde são consideradas as principais


estratégias para controle da circulação do vírus da rubeola e prevenção da doença e da SRC.
Recomenda-se a vacinação de rotina das crianças com 12 meses, para manter alta
imunidade do grupo, realizada constantemente nas Unidades Básicas de Saúde, conforme
calendário básico vacinal. A vacinação de bloqueio específica para os contatos com um
indivíduo com suspeita de rubeola é primordial para evitar a disseminação do vírus. A vacina
deve ser administrada, de preferência, dentro de 72 horas após a exposição, abrangendo
pessoas do mesmo domicílio do caso suspeito, vizinhos próximos, creches, indivíduos que
dividem o mesmo alojamento ou sala de trabalho, entre outros espaços comuns.
A investigação epidemiológica para obter informações detalhadas e uniformes para
todos os casos suspeitos consiste em outra estratégia de controle da doença. Tal ação é
importante para a detecção de outros possíveis casos suspeitos e permite classificar o caso
conforme os critérios de risco. A partir da investigação epidemiológica, é possível
desencadear as ações de controle mais específicas, como
• bloqueio vacinal: realizado a partir de todo caso suspeito, com imediata vacinação das
pessoas suscetíveis;
• operação limpeza: realizada a partir de todo caso confirmado, com vacinação mais
abrangente (vizinhança, bairro ou até município);
• isolamento dos casos: crianças e adultos acometidos de rubeola devem ser afastados da
escola, da creche ou do local de trabalho, durante o período de transmissibilidade.
A rubeola é uma doença de notificação compulsória desde a segunda metade da
década de 1990. Segundo o Ministério da Saúde, somente no ano de 1997 foram notificados
cerca de 30.000 casos de rubeola no país, demonstrando um número elevado de pessoas
infectadas pelo vírus na época. A partir da implementação do Plano de Erradicação do
Sarampo, ocorrido em 1999, houve maior vigilância e controle da doença no país, havendo,
coerentemente, um decréscimo significativo no número de casos de rubeola no Brasil, sendo
notificados 1.480 casos em 2002, evidenciando uma queda de 95% nos casos confirmados.
No ano de 2003, durante a 44ª Reunião do Conselho Diretor da Organização Pan-
Americana de Saúde (OPAS), o Brasil assumiu o compromisso de eliminar a rubeola e a
síndrome da rubeola congênita até o ano de 2010. Desde então, em virtude da
implementação de políticas de saúde mais rigorosas para o controle e erradicação da
doença, o número de casos confirmados da doença diminuiu substancial e
progressivamente, chegando a 233 casos no ano de 2005 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008).

42
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

No ano de 2008, como estratégia para a erradicação da rubeola, o Brasil realizou a


maior campanha de vacinação dessa doença no mundo. Foram vacinadas 65,9 milhões de
pessoas na faixa etária de 19 a 39 anos, no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do
Norte, Mato Grosso e Maranhão, enquanto nos demais estados, a faixa etária de
abrangência foi de 20 a 39 anos. A orientação do Ministério para garantir uma maior
cobertura vacinal era que a vacina dupla (sarampo e rubeola) ou a tríplice viral (sarampo,
caxumba e rubeola) deveria ser aplicada indiscriminadamente, independentemente do
antecedente de vacinação ou doença.
O aumento da cobertura vacinal da população com idade inferior a um ano associado
à implementação e aprimoramento dos serviços de atenção básica contribuiu para uma
significativa redução da mortalidade infantil e do número de pessoas com doenças
imunopreveníveis, dentre elas a rubeola, melhorando a qualidade de vida e de assistência à
saúde da população brasileira (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008).

2. Análise das alternativas

A – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Conforme referido pelo Ministério da Saúde, 25 a 50% dos casos são
subclínicos, o que não corresponde à maioria dos casos. É muito importante a busca da
fonte de infecção e a avaliação dos contatos para evitar a disseminação da rubeola, ao
contrário do mencionado na justificativa.

B – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. As medidas de controle da doença devem ser providenciadas a partir da
notificação de um caso suspeito, independentemente da intensidade dos sintomas
apresentados.
DECISÃO. Afirmativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Mediante um caso suspeito, a Unidade de Saúde do município deve notificar
imediatamente a Secretaria Municipal de Saúde para providenciar as medidas de controle da
doença, incluindo ações de vigilância epidemiológica locais.

C – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. No ano de 2003, durante a 44ª Reunião do Conselho Diretor da
Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), o Brasil assumiu o compromisso de eliminar a

43
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

rubeola e a síndrome da rubeola congênita até o ano de 2010. Como estratégia, o Brasil
planejou, para o ano de 2008, uma grande campanha de vacinação contra a doença.
DECISÃO. Afirmativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. A campanha educativa da população é essencial para evitar a disseminação
do vírus e assim controlar a doença. Contudo, na presença de um caso suspeito é
recomendável a vacinação de bloqueio com a vacina tríplice viral para a faixa etária de 6
meses a 39 anos de idade, de forma seletiva e não indiscriminada.

D – Alternativa correta.
JUSTIFICATIVA. O vírus é transmitido por via respiratória e sua transmissibilidade ocorre de
5 a 7 dias antes do início do exantema e de 5 a 7 dias após o sintoma.
DECISÃO. Afirmativa correta.
JUSTIFICATIVA. Sabendo-se que o isolamento dos casos pode diminuir o risco de
transmissão viral, e que o período de transmissibilidade acontece de 5 a 7 dias antes do
início do exantema e de 5 a 7 dias após o exantema, pode-se considerar uma decisão
correta o isolamento de Antônio por 7 dias, visto que, o paciente apresenta as lesões
exantemáticas no momento, ou seja, encontra-se no período de transmissibilidade da
doença. As ações de vigilância epidemiológica são importantes para obter informações
detalhadas e uniformes para o caso e assim controlar melhor a doença. Entretanto, deve-se
desconsiderar a família de Antônio como fonte de infecção porque, provavelmente, o
contágio aconteceu depois da visita de Antônio. Considerando-se que o período de
incubação do vírus é de 14 a 21 dias, presume-se que sua contaminação aconteceu cerca de
14 a 21 dias antes do surgimento dos sintomas, período posterior à visita.

E – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. A rubeola é uma doença de curso benigno para homens e mulheres, sendo
essencialmente relevante a SRC. E, devido à eliminação da circulação do vírus da rubeola no
país, um caso confirmado dessa doença, independentemente da localidade ou período de
ocorrência, é considerado como surto pelo Ministério da Saúde.
DECISÃO. Afirmativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. A partir de um caso suspeito já é recomendado o bloqueio vacinal
imediato (até 72 horas após a exposição), devendo abranger as pessoas do mesmo
domicílio, independentemente do gênero ou idade, e os indivíduos que dividem o mesmo
ambiente de trabalho ou alojamento.

44
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

3. Indicações bibliográficas

• BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de


Vigilância Epidemiológica. Doenças Infecciosas e Parasitárias: guia de bolso. 7. ed.
Revisada. Brasília (DF): Ministério da Saúde, 2008.
• BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de
Vigilância Epidemiológica. Plano de ação: campanha nacional de vacinação para
eliminação da rubéola no Brasil. Brasília (DF): Ministério da Saúde, 2008.

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Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

Questão 11
Questão 11.11
Considere os fragmentos do discurso de um paciente:

...a caminho do centro cirúrgico, a maca atravessa corredores gelados,


porém o frio dentro de mim não tem a ver com a temperatura do dia. Entre
o apartamento e a mesa de operação tenho um longo caminho... Luto
contra cada instante, tenho que chegar intacto à mesa. Preciso vencer
alguns metros de corredores. Conto a possibilidade de vida por metros. Não
sinto dor, indisposição, náuseas, eu poderia ter caminhado, ir batendo um
papo...
Brandão apud Jouclas et al, 1998, p. 46.

Essa narrativa revela a assistência em grande parte dos hospitais no país. Mas, existem
iniciativas no âmbito da assistência humanizada que preconizam:
I. práticas mais flexíveis que atendam às necessidades dos pacientes, possibilitando, por
exemplo, que caminhem até o centro cirúrgico;
II. valorização da dimensão subjetiva da assistência, como o conforto, o acolhimento e a
escuta empática, possibilitando, por exemplo, várias opções de transporte;
III. priorização do cuidado interativo, da energia criativa, emocional e intuitiva, envolvendo,
por exemplo, a inclusão da família no acompanhamento até a sala cirúrgica,
desconsiderando aspectos técnicos e científicos;
IV. articulação do cuidado técnico e científico, constituído pela enfermagem, com o cuidado
ético e relacional efetivo, explicando ao paciente os motivos da obrigatoriedade desse tipo
de transporte.
Considerando a assistência humanizada, está correto apenas o que se afirma em
A. I e II. B. I e III. C. II e III. D. II e IV. E. III e IV.

1. Introdução teórica

Humanização da assistência hospitalar

Os inúmeros avanços no campo da saúde pública brasileira, como a descentralização


e a regionalização da atenção e da gestão da saúde, a ampliação dos níveis de
universalidade, de equidade, de integralidade e de controle social convivem, de modo

11Questão 16 – Enade 2007


46
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

contraditório, com problemas de diversas ordens no panorama nacional da saúde (BRASIL,


2004).
A fragmentação e a verticalização dos processos de trabalho e o despreparo da
equipe de saúde em lidar com as dimensões sociais e subjetivas traduzem uma assistência
impessoal e fragmentada, com fracos vínculos entre os profissionais de saúde e a
comunidade, e entre os próprios profissionais. A organização burocrática, autoritária e
centralizadora das instituições de saúde brasileiras, principalmente no âmbito hospitalar,
condiciona a baixa responsabilização, o descompromisso, a fragmentação do trabalho e a
insatisfação dos trabalhadores e usuários (PASCHE, 2009). Esses problemas comprometem
diretamente a qualidade da assistência à saúde no Brasil e, por sua vez, as condições sociais
e de saúde da população.
Para minimizar ou sanar esses problemas, o Ministério da Saúde do Brasil propôs uma
reformulação nos modelos de gestão de saúde e na formação dos profissionais da área, por
meio da instituição da Política Nacional de Humanização da Atenção e da Gestão da Saúde,
para garantir o direito constitucional de “saúde para todos”.
Para o Ministério da Saúde (BRASIL, 2004), humanizar é ofertar atendimento de
qualidade, articulando os avanços tecnológicos com acolhimento, com melhoria dos
ambientes de cuidado e das condições de trabalho dos profissionais. Também deve traduzir
princípios e modos de operar no conjunto das relações entre profissionais de saúde e
usuários, entre diferentes profissionais, entre as diversas unidades e serviços de saúde, e
entre as instâncias que constituem o Sistema Único de Saúde (SUS).
Humanizar é tomar a saúde como valor de uso, é ter como padrão na atenção o
vínculo com os usuários, é garantir os direitos dos usuários e seus familiares, é estimular
para que eles se coloquem como atores do sistema de saúde, mas é também ter melhores
condições para que os profissionais efetuem seu trabalho de modo digno e criador de novas
ações e que possam participar como co-gestores de seu processo de trabalho (BRASIL,
2009).
A humanização supõe troca de saberes (incluindo os dos pacientes e familiares),
diálogo entre os profissionais e modos de trabalhar em equipe. Deve, também, levar em
conta as necessidades sociais, os desejos e os interesses dos diferentes atores envolvidos no
campo da saúde. Trata-se, então, da produção de um novo tipo de interação entre os
sujeitos que constituem os sistemas de saúde e deles usufruem, acolhendo tais atores e
fomentando seu protagonismo (BRASIL, 2004).

47
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

A humanização estabelece-se, portanto, como a construção/ativação de atitudes


ético-estético-políticas em sintonia com um projeto de corresponsabilidade e qualificação dos
vínculos interprofissionais e entre estes e os usuários na produção de saúde. Éticas porque
tomam a defesa da vida como eixo de suas ações. Estéticas porque estão voltadas para a
invenção das normas que regulam a vida, para os processos de criação que constituem o
mais específico do homem em relação aos demais seres vivos. Políticas porque é na relação
entre os homens que as relações sociais e de poder se operam, que o mundo se faz
(BRASIL, 2004).
Desse modo, a política de humanização deve ser tratada como um elemento de
transversalidade para o SUS, estando presente desde a recepção e acolhimento do usuário
no sistema de saúde, até o planejamento e a gestão das ações e estratégias de saúde,
sejam elas de promoção, prevenção e/ou reabilitação. Sendo assim, quando se considera o
cenário hospitalar, é necessário entender que a humanização precisa estar voltada não só ao
paciente internado e aos seus familiares, mas também à própria equipe de saúde, uma vez
que será pela inter-relação efetiva e afetiva existente entre eles que o cuidado poderá ser
desenvolvido de maneira mais humana, ética e solidária (COSTA et al, 2009).
A aposta da Política de Humanização é na superação do atual cenário da gestão e da
assistência hospitalar, sendo necessário incluir os sujeitos de suas práticas em todos os
processos de decisão. Assim, um hospital humanizado é aquele cuja estrutura física,
tecnológica, humana e administrativa valoriza e respeita a pessoa, colocando-se a serviço
dela, garantindo-lhe um atendimento de elevada qualidade.
É, portanto, da convergência de vários aspectos presentes nos contextos hospitalares
que se conseguirá implantar e implementar a política de humanização como estratégia eficaz
para um atendimento resolutivo e acolhedor ao usuário, e garantir educação permanente
aos profissionais, bem como sua participação nos modelos de gestão, para alcançar
melhorias na produção de cuidados de saúde (BRASIL, 2004).

2. Análise das afirmativas

I – Afirmativa correta.
JUSTIFICATIVA. A humanização do atendimento pressupõe a valorização e o respeito ao
indivíduo, garantindo-lhe um atendimento individualizado e de qualidade, de acordo com as
necessidades de cada um. Isso permite ao profissional de saúde maior flexibilidade nas

48
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

práticas de saúde, inclusive possibilitando que os usuários caminhem até o centro cirúrgico,
desde que em boas condições para tal.

II – Afirmativa correta.
JUSTIFICATIVA. Humanizar é também valorizar as dimensões subjetivas e sociais de cada
indivíduo, acolhendo-o e mantendo uma postura de escuta e compromisso em dar respostas
às necessidades de saúde de cada usuário. No referido caso, a dimensão subjetiva poderia
ter sido respeitada por meio da permissão da escolha do usuário sobre os possíveis meios de
transporte para chegar ao centro cirúrgico.

III – Afirmativa incorreta.


JUSTIFICATIVA. Apesar de preconizar a assistência voltada ao paciente internado e aos seus
familiares, pressupondo o respeito mútuo e o aumento no vínculo entre
instituição/profissionais de saúde e usuários, a humanização deve garantir a qualidade da
assistência, de modo que nunca será possível desconsiderar os aspectos técnicos e
científicos do atendimento.

IV – Afirmativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. A articulação do cuidado técnico e científico com o cuidado ético e
relacional é um dos preceitos do cuidado humanizado. Entretanto, a obrigatoriedade da
utilização de macas para transportar o paciente ao centro cirúrgico desrespeita o direito de
participação do usuário no que tange ao cuidado à sua saúde.

Alternativa correta: A.

3. Indicações bibliográficas

• COSTA, S. C.; FIGUEIREDO, M. R. B.; SCHAURICH, D. Humanização em Unidade de


Terapia Intensiva Adulto (UTI): compreensões da equipe de enfermagem. Interface
(Botucatu) [online] 2009; 13(1): 571-580.
• PASCHE, D. F. Humanização nos hospitais: reforma na gestão e nas práticas de saúde
no contexto de produção de novos sujeitos. Rev Med Minas Gerais 2009; 19 (4 Supl 2):
33-4. Disponível em

49
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/revista_medica_mg.pdf>. Acesso em 21
mai. 2010.
• BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Núcleo Técnico da Política Nacional
de Humanização. HumanizaSUS: Política Nacional de Humanização: a humanização
como eixo norteador das práticas de atenção e gestão em todas as instâncias do SUS .
Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
• BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Programa
Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar . Brasília: Ministério da Saúde, 2001.

50
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

Questão 12
Questão 12.12
A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher apresenta objetivos, metas, ações
e estratégias para atingir os princípios de humanização e de qualidade da atenção. Dentre
outros, pode-se citar: "a capacitação técnica dos profissionais de saúde e funcionários dos
serviços envolvidos nas ações de saúde para uso da tecnologia adequada, acolhimento
humanizado e práticas educativas voltadas à usuária e à comunidade" (Brasil, 2004). É
relevante para essa capacitação considerar que:
I. a redução da morbimortalidade pelo câncer de mama requer do enfermeiro domínio da
técnica do exame clínico e conhecimentos para incentivar a realização do autoexame pelas
mulheres; ação de eficácia cientificamente comprovada na prevenção primária da doença.
II. a vulnerabilidade para o câncer de colo de útero pode ser representada pela falta de
conhecimento, portanto, não basta ao enfermeiro incrementar a oferta de colpocitologia
oncótica na rede básica, é preciso sensibilizar e mobilizar a população feminina para a
prática do autocuidado e do sexo seguro.
III. a assistência em planejamento familiar demanda fornecimento de anticoncepcionais e
acompanhamento das usuárias, além de promoção de ações de educação em saúde e
aconselhamento sobre concepção e anticoncepção, visando à escolha livre e informada das
opções disponíveis tanto para os homens quanto para as mulheres.
IV. a redução da vulnerabilidade aos agravos à saúde sexual e reprodutiva das adolescentes
requer desenvolvimento de ações educativas que abordem a sexualidade na perspectiva de
gênero, classe e diferença social, de modo que a informação resulte em comportamento
adolescente socialmente desejável.
É correto apenas o que se afirma em
A. I e II. B. I e IV. C. II e III. D. II e IV. E. III e IV.

1. Introdução teórica

Política de atenção integral à saúde da mulher

Atendendo às reivindicações do movimento de mulheres, o Ministério da Saúde do


Brasil criou em 1984 o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM). O
programa foi anunciado como uma nova e diferenciada abordagem da saúde da mulher com

12Questão 19 – Enade 2007


51
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

base no conceito de assistência integral à saúde, envolvendo a oferta de ações globalmente


dirigidas à mulher (OSIS, 1998).
Em 2004, foi lançada a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher,
princípios e diretrizes, que apresentou propostas para promoção de saúde, ampliação do
acesso aos serviços, humanização e melhoria da qualidade da atenção à saúde da mulher
que deverá ser implementado pelas Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, com apoio
técnico e financeiro do Ministério da Saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).
Os objetivos dessa Política são a promoção da melhoria das condições de vida e
saúde das mulheres brasileiras, mediante a garantia de direitos legalmente constituídos; a
ampliação do acesso aos meios e serviços de promoção, prevenção, assistência e
recuperação da saúde no Brasil; a contribuição para a redução da morbimortalidade
feminina no país por causas preveníveis e evitáveis; a amplificação, a qualificação e a
humanização da atenção integral à saúde da mulher atendida no SUS (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2004).
Segundo o Ministério da Saúde (2006), essa política incorpora, num enfoque de
gênero, a integralidade da assistência e a promoção da saúde como princípios norteadores.
Procura consolidar os avanços no campo dos direitos reprodutivos e sexuais, com ênfase na
melhoria da atenção obstétrica, no planejamento familiar, na atenção ao abortamento
inseguro e no combate à violência doméstica e sexual, agregando também a prevenção e o
tratamento de mulheres portadoras de doenças crônicas não transmissíveis e de câncer,
assim como mulheres que vivem com HIV/Aids.

2. Análise das afirmativas

I – Afirmativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Para que o enfermeiro consiga identificar alterações mamárias é
importantíssimo que tenha domínio do exame físico das glândulas mamárias e estimule as
mulheres a realizar o autoexame das mamas. Entretanto, o autoexame não é recomendado
pelo Ministério da Saúde para o rastreamento e a detecção do câncer de mama.

II – Afirmativa correta.
JUSTIFICATIVA. A literatura apresenta diversos fatores de risco para o desenvolvimento do
câncer de colo uterino, entre elas, está a pouca instrução justificada pelo pouco
conhecimento das mulheres com relação à importância da prática do sexo seguro/protegido

52
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

para prevenção da transmissão das doenças sexualmente transmitidas, como o HPV, um dos
principais precursores do câncer de colo uterino. Assim, é primordial que o enfermeiro, além
de realizar a consulta de enfermagem para coleta da colpocitologia oncótica, também realize
atividades educativas para sensibilizar as mulheres para utilizarem preservativo em todas as
relações sexuais.

III – Afirmativa correta.


JUSTIFICATIVA. Segundo o Ministério da Saúde, o programa nacional de atenção integral à
saúde da mulher deve realizar ações de planejamento familiar, cuja assistência deve incluir o
acesso à informação e aos métodos e técnicas para concepção e anticoncepção, aceitos
cientificamente e que não coloquem em risco a vida e a saúde das pessoas, assegurando ao
casal a decisão livre e consciente de ter ou de não ter filhos.

IV – Afirmativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. A falta de informação sobre saúde sexual e reprodutiva é um dos fatores de
risco para o desenvolvimento do câncer de colo de útero, que deve ser trabalhada pelo
enfermeiro por meio de atividades educativas direcionadas à população. Entretanto, as
ações educativas, individuais ou coletivas, devem enfatizar ações de prevenção da doença
por meio da transmissão de informações relacionadas à prática do autocuidado e do sexo
seguro e não definir como deverá ser o comportamento social de qualquer indivíduo,
conforme referido na alternativa.

Alternativa correta. C.

3. Indicações bibliográficas

• BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações


Programáticas Estratégicas. Política nacional de atenção integral à saúde da mulher:
plano de ação 2004-2007. Brasília (DF): Ministério da Saúde, 2004.
• BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações
Programáticas Estratégicas. Política nacional de atenção integral à saúde da mulher:
princípios e diretrizes. Brasília (DF): Ministério da Saúde, 2009.

53
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

• BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção


Básica. Controle dos cânceres do colo do útero e da mama. Brasília (DF): Ministério da
Saúde, 2006.
• RICCI, S. S. Enfermagem materno-neonatal e saúde da mulher. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2008.

54
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

Questão 13
Questão 13.13
Após o cadastramento das famílias que compõem a área de abrangência de uma unidade de
Saúde da Família, as equipes se reuniram para definir as estratégias de ação frente à
problemática identificada: a elevada incidência de jovens usuários de drogas e de pessoas
com transtorno mental e história de internação psiquiátrica. Diante dessa situação, a equipe
decidiu realizar uma pesquisa para conhecer as dificuldades das famílias em cuidar dos
indivíduos com transtorno mental. Do ponto de vista metodológico, o que deve ser
considerado para a execução dessa pesquisa?
A. Considerar o sexo e a idade dos sujeitos como variáveis dependentes do estudo.
B. Enviar questionários às famílias para avaliar o grau de confiabilidade do teste de
hipótese.
C. Implantar, antes da coleta de dados, um programa de capacitação das famílias para que
se instrumentalizem quanto às formas de atenção.
D. Aplicar às pessoas com transtorno mental um teste que avalie o seu desempenho
cognitivo e categorize o tipo de atenção requerida.
E. Elaborar um projeto justificando o problema, determinando objetivos e a trajetória
metodológica.

1. Introdução teórica

Pesquisa em enfermagem

A pesquisa científica é a investigação sistemática que utiliza métodos para responder


às questões ou resolver os problemas. A pesquisa científica em enfermagem é destinada a
desenvolver conhecimentos sobre temas importantes para os enfermeiros, incluindo a
prática, o ensino e a administração (POLIT et al, 2004).
A pesquisa em enfermagem é conduzida dentro de dois amplos paradigmas: o
positivista e o naturalista. No paradigma positivista, presume-se que exista uma realidade
objetiva e que os fenômenos naturais sejam regulares e ordenados. Está associado com a
abordagem científica tradicional, processo sistemático e controlado, e está relacionado à
pesquisa quantitativa. No paradigma naturalista, é presumido que a realidade não seja uma
entidade fixa, mas uma construção da mente humana, enfatizando a compreensão da

13Questão 28 – Enade 2007


55
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

experiência humana, e está relacionado à pesquisa qualitativa (POLIT et al, 2004;


LOBIONDO-WOOD, 2001).
No estudo quantitativo, o pesquisador parte do ponto inicial de um estudo
(elaboração de uma questão de pesquisa) para o ponto final (a resposta à sua questão),
utilizando uma sequência lógica de fases e passos, descritos no quadro 1.

Quadro 1. Sequência de fases e passos para o desenvolvimento de uma pesquisa quantitativa.


Fase Passos
1. Formulação e delimitação do problema de pesquisa, considerando a
relevância clínica ou teórica da questão.
2. Revisão da literatura relacionada ao tema, para compreender o que
já é conhecido sobre o tópico.
Conceitual 3. Definição da estrutura teórica.
4. Formulação de hipóteses, que é a previsão do pesquisador da
relação que ele espera encontrar. A maioria dos estudos quantitativos é
destinada a testar hipóteses de pesquisa.
5. Seleção do delineamento da pesquisa, que especifica qual
abordagem de pesquisa será adotada (método de pesquisa).
6. Identificação da população a ser estudada.
Delineamento e 7. Delineamento do plano de amostragem.
Planejamento 8. Especificação dos métodos para medir as variáveis de pesquisa.
9. Finalização e revisão do plano de pesquisa.
10. Condução de um estudo piloto e realização de revisões.
11. Coleta de dados.
Empírica 12. Preparação dos dados para análise.
13. Análise dos dados.
Analítica 14. Interpretação dos resultados.
15. Comunicação e publicação dos resultados.
Divulgação 16. Utilização dos resultados na prática clínica.
Fonte: Lobiondo-Wood (2001) e Polit et al. (2004).

A fase conceitual da pesquisa científica, correspondente aos passos de 1 a 4, é a


etapa em que o pesquisador desenvolve uma fundamentação teórica para o tema que
pretende estudar. Os passos 5 a 10 correspondem à fase de delineamento e planejamento
ou a segunda fase do trabalho, na qual o investigador toma decisões sobre os métodos a
serem usados para abordar a questão a ser estudada e planeja a coleta de dados. Tais fases
devem estar contempladas no projeto de pesquisa.
A terceira fase de uma pesquisa científica, denominada fase empírica, é a etapa em
que o pesquisador realiza a coleta de dados para responder ao seu problema de pesquisa e
os prepara para a análise. A fase seguinte – analítica, compreende a análise e a
interpretação dos resultados obtidos na fase empírica. Por fim, a fase de divulgação
corresponde à etapa em que o pesquisador divulga os resultados de sua pesquisa para que
sejam incorporados à prática de enfermagem.
Os estudos qualitativos apresentam uma sistematização diferenciada quando
comparados aos estudos quantitativos. Na pesquisa qualitativa, o pesquisador tem uma
56
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

abordagem flexível à coleta e análise dos dados, sendo difícil definir, com precisão, o fluxo
de atividades a serem desenvolvidas. Com frequência, as pesquisas com essa abordagem
começam com uma questão ampla a ser respondida e apresentam as seguintes fases de
desenvolvimento: conceitualização e planejamento, condução do estudo e divulgação
(POLIT et al, 2004; LOBIONDO-WOOD, 2001).
É imprescindível que o enfermeiro tenha conhecimento básico sobre a elaboração e o
desenvolvimento de uma pesquisa científica para que possa fundamentar suas decisões,
ações e interações com os clientes com base científica, permitindo assim o aprimoramento
da assistência de enfermagem e o aperfeiçoamento da profissão (POLIT et al , 2004).

3. Análise das alternativas

A – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Variáveis dependentes são usadas para designar os efeitos presumidos de
uma pesquisa. Para o desenvolvimento do estudo, os pesquisadores podem até utilizar as
variáveis sexo e idade, entretanto, tais informações não respondem ao objetivo de conhecer
as dificuldades dos familiares no cuidado ao indivíduo com transtorno mental.

B – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. O objetivo da pesquisa é o de conhecer as dificuldades das famílias em
cuidar dos indivíduos com transtorno mental. Assim, a meta da pesquisa é levantar
informações relacionadas à realidade vivenciada pelas famílias, que não pressupõe testar
hipóteses. Além disso, é eticamente incorreto enviar questionários às famílias antes da
aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa.

C – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. A coleta de dados sobre as dificuldades das famílias deve acontecer antes
da aplicação dos resultados na prática clínica, ou seja, antes da implantação das
intervenções de enfermagem.

D – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Como o objetivo do estudo é conhecer as dificuldades dos familiares no
cuidado ao indivíduo com transtorno mental, os sujeitos da pesquisa devem ser os
familiares.

57
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

E – Alternativa correta.
JUSTIFICATIVA. Seguindo a sequência metodológica para uma pesquisa científica, os
profissionais de saúde devem elaborar um projeto de pesquisa que contemple as fases de
conceitualização da temática, delineamento e planejamento da pesquisa (fases 1 e 2).
Assim, o primeiro passo é a elaboração do projeto, na qual devem estar descritos a
justificativa e a relevância do problema de pesquisa, os objetivos e a trajetória metodológica
da pesquisa.

3. Indicações bibliográficas

• POLIT, D. F.; BECK, C. T.; HUNGLER, B. P. Fundamentos de Pesquisa em Enfermagem:


métodos, avaliação e utilização. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.
• LOBIONDO-WOOD, G.; HABER, J. Pesquisa em enfermagem: métodos, avaliação crítica
e utilização. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2001.

58
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

Questão 14
Questão 14.14
João, dependente de drogas e contaminado pelo vírus HIV, é atendido pela enfermeira do
ambulatório de saúde mental. Durante a consulta, revela que é enfermeiro da terapia
intensiva da instituição e frequentemente injeta metade da droga prescrita aos pacientes
(opiácio) em si próprio. Considerando a situação descrita e os aspectos éticos e legais,
preconiza-se que a enfermeira
I. esteja comprometida com a assistência de enfermagem a João, sem discriminação de
qualquer natureza, abstendo-se de revelar esses informes confidenciais a pessoas que não
estejam obrigadas ao sigilo.
II. assuma a assistência a João, cidadão pleno de direitos e deveres, e reflita que ele está
sendo atendido como paciente e, como tal, independentemente de sua patologia, tem
direito ao sigilo de suas informações e de seu diagnóstico.
III. garanta a assistência a João e comunique o caso à diretoria de enfermagem,
considerando que ele pode cometer danos à própria vida, à de terceiros e ao patrimônio da
empresa, por integrar o quadro funcional do hospital.
IV. comprometa-se com a assistência a João, mesmo sendo dilemática a situação, porém o
denuncie ao Conselho Regional de Enfermagem, visando a cumprir os preceitos éticos e
legais da profissão.
É correto apenas o que se afirma em
A. III e IV. B. II e IV. C. II e III. D. I e II. E. I e III.

1. Introdução teórica

Aspectos éticos e legais na assistência de enfermagem em saúde mental

Os aspectos éticos e legais da atuação dos profissionais de enfermagem estão


pautados no Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (CEPE), reformulada pelo
Conselho Federal de Enfermagem, em 2007, e na Lei do Exercício Profissional de
Enfermagem.
O CEPE (2007) leva em consideração a necessidade e o direito de assistência em
enfermagem da população e os interesses dos profissionais e de sua organização. Está
centrado na pessoa, na família e na coletividade, pressupondo que o profissional deva

14Questão 29 – Enade 2007


59
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

trabalhar em conjunto com os usuários para garantir uma assistência adequada e de


qualidade.
De acordo com o CEPE (2007), é responsabilidade dos profissionais de enfermagem o
exercício da profissão com justiça, compromisso, equidade, resolutividade, dignidade,
competência, responsabilidade e lealdade. O profissional deve assegurar à pessoa, à família
e à coletividade uma assistência livre de danos decorrentes de imperícia, negligência ou
imprudência (Art. 12), realizando o atendimento sem discriminação de qualquer natureza.
O CEPE (2007) apresenta no capítulo II, relacionado ao sigilo profissional, que é
direito dos profissionais de enfermagem abster-se de revelar informações confidenciais de
que tenha conhecimento em razão do exercício profissional a pessoas ou entidades que não
estejam obrigadas ao sigilo e é dever a manutenção de segredo sobre fato sigiloso obtido
em razão de sua atividade profissional.
Todo profissional de enfermagem, no exercício da profissão, deve conhecer e
respeitar os princípios ético-legais da profissão para a promoção do ser humano na sua
integralidade, respeitando a vida, a dignidade e os direitos humanos.
Nesse contexto, faz-se prioritário o respeito ao indivíduo com transtorno mental, pois
pode ser vítima dos mais variados abusos por parte da sociedade, dos familiares e até
mesmo dos próprios profissionais de saúde. A reflexão acerca do frequente desrespeito
sofrido pelo indivíduo com transtornos mentais, nas diversas dimensões, gerou um
movimento nacional e internacional de combate à discriminação e ao preconceito à pessoa
com doença mental. No Brasil, esse movimento culminou na elaboração da Lei Nº 10.216 de
2001, que dispõe sobre os direitos da pessoa portadora de transtorno mental, para sua
proteção e para assegurar o respeito e o atendimento sem qualquer forma de discriminação
(BRASIL, 2001).
Desse modo, são direitos assegurados pela Lei Nº 10.216 à pessoa com transtorno
mental (BRASIL, 2001):
• Ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, conforme suas necessidades.
• Ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua
saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na
comunidade.
• Ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração.
• Ter garantia de sigilo nas informações prestadas.
• Ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou
não de sua hospitalização involuntária.

60
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

• Ter livre acesso aos meios de informações a respeito de sua doença e de seu
tratamento.
• Ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis.
• Ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental.
A assistência de enfermagem em saúde mental exige que o enfermeiro conhecedor
dos parâmetros éticos e legais da assistência à pessoa com transtorno mental assuma o
compromisso com o trabalho interdisciplinar e que tenha conhecimento teórico-prático
suficiente. Vale ressaltar que o trabalho do enfermeiro em saúde mental e psiquiátrica deve
estar fundamentado na parceria com o cliente e a família para atender com qualidade e
respeito às múltiplas facetas do transtorno mental.

2. Análise das afirmativas

I – Afirmativa correta.
JUSTIFICATIVA. Segundo o Código de Ética em Enfermagem - artigo 15, é dever do
enfermeiro prestar assistência de enfermagem sem discriminação de qualquer natureza. O
artigo 81, do capítulo II do mesmo Código, aponta que é um direito do profissional abster-se
de revelar informações confidenciais de que tenha conhecimento em razão do seu exercício
profissional a pessoas ou entidades que não estejam obrigadas ao sigilo. Por isso,
considerando os aspectos éticos e legais da profissão, a enfermeira deve continuar
comprometida com a assistência a João e abster-se de revelar as informações confidenciais.

II – Afirmativa correta.
JUSTIFICATIVA. A enfermeira deve assumir a assistência de João sem discriminação de
qualquer natureza, conforme recomendação do Código de Ética em Enfermagem. É
importante esclarecer a João que, apesar de ser funcionário da instituição, ele está sendo
atendido como paciente e como tal, tem direito ao sigilo profissional.

III – Afirmativa incorreta.


JUSTIFICATIVA. Como a informação foi transmitida durante a assistência de enfermagem, a
enfermeira tem o dever de manter segredo sobre o fato.

61
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

IV – Afirmativa incorreta.
Justificativa. Como a informação foi transmitida durante a assistência de enfermagem, a
enfermeira tem o dever de manter segredo sobre o fato.

Alternativa correta. D.

Comentário. É importante frisar que o CEPE foi revisado, atualizado e publicado em 2017
pelo Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), mantendo os mesmos direitos e deveres
relacionados à profissão citados na questão.

3. Indicações bibliográficas

• STEFANELLI, M. C.; FUKUDA, I. M. K.; ARANTES, E. C. (org). Enfermagem psiquiátrica:


em suas dimensões assistenciais. Barueri (SP): Manole, 2008.
• TOWNSEND, M. C. Enfermagem psiquiátrica. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2002.

62
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

Questão 15
Questão 15.15
Reginaldo, 46 anos, portador de doença renal crônica, vai iniciar hemodiálise três vezes por
semana enquanto aguarda a chamada para se submeter a transplante renal. Ele foi
encaminhado para receber o esquema de vacinação contra hepatite B, na Unidade Básica de
Saúde próxima de sua residência, onde recebeu a primeira dose de 2 mL de vacina por via
intramuscular profunda. A segunda dose foi administrada após intervalo de 30 dias, tendo
sido agendada a terceira dose para 180 dias após a primeira, data em que Reginaldo se
encontrava internado no hospital devido a uma intercorrência gastrintestinal. Sessenta dias
após a data agendada compareceu à UBS e solicitou o reinício do esquema de vacinação
porque havia ultrapassado os prazos estipulados no calendário. Qual a conduta e a
orientação corretas a serem oferecidas a Reginaldo?
A. Reiniciar o esquema de três doses conforme solicitado pelo cliente porque a interrupção
do esquema anula os anticorpos anteriormente produzidos.
B. Dar continuidade ao esquema administrando a terceira dose e agendando a quarta dose,
prevista para pacientes de grupos de risco, porque os pacientes nesta condição têm
menor produção de anticorpos.
C. Reiniciar o esquema e acrescentar uma quarta dose, seis meses após a terceira, porque
na repetição do esquema o organismo demora mais tempo para desenvolver a memória
celular contra a hepatite.
D. Encerrar o esquema de vacinação administrando a terceira dose porque a ampliação do
intervalo entre as doses supre a necessidade da quarta dose, se cumpridos os prazos
iniciais.
E. Substituir a vacinação por imunoglobulina específica uma vez que o esquema não pode
ser reiniciado nem completado porque o paciente não é mais virgem da estimulação pelo
antígeno.

1. Introdução teórica

Imunização contra a hepatite B

O Ministério da Saúde do Brasil instituiu o Programa Nacional de Imunizações (PNI)


para o controle de importantes doenças transmissíveis como tuberculose, hepatite B,

15Questão 30 – Enade 2007


63
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

difteria, coqueluche, tétano, poliomielite, sarampo, caxumba e rubeola e, em algumas


regiões, febre amarela. As orientações preconizadas pelo PNI devem ser de conhecimento
geral, das instituições de saúde, públicas e privadas, dos profissionais de saúde e da
população (BRASIL, 2008).
A imunização contra a hepatite B é preconizada pelo PNI desde 1998. As vacinas
contra hepatite B são constituídas por produtos que contêm o antígeno de superfície do
vírus (AgHBs) purificado. As comercializadas no Brasil são, unicamente, as produzidas por
engenharia genética. As dosagens recomendadas (em microgramas ou mililitros) variam
conforme o produto, devendo-se seguir as orientações das bulas e as normas atualizadas
estabelecidas pelo PNI para cada situação específica (BRASIL, 1998; BRASIL, 2006).
A vacina é apresentada em unidades monodose ou em frascos de 10 ou 50 doses,
isolada ou combinada com outros imunobiológicos. A composição varia conforme o
laboratório produtor. Todas apresentam o hidróxido de alumínio como adjuvante e podem
conter timerosal como conservante (BRASIL, 2006).
A imunização contra a hepatite B deve ser administrada a partir do nascimento,
preferencialmente nas primeiras 12 horas de vida, ainda na maternidade, por via
intramuscular, no vasto lateral da coxa, em crianças menores de dois anos, ou na região
deltoide, em pessoas acima dessa idade. O esquema vacinal é composto por três doses,
para pessoas imunocompetentes, com intervalos de um mês entre a primeira e a segunda
dose e seis meses entre a primeira e a terceira dose, seguindo um esquema de zero, um e
seis meses (BRASIL, 2006; BRASIL, 2008).
A vacina contra hepatite B pode ser aplicada simultaneamente com as outras vacinas
do PNI, não havendo comprometimento da eficácia e nem aumento dos efeitos adversos.
Intervalos maiores do que os recomendados proporcionam resultados equivalentes, não
havendo necessidade de reiniciar o esquema vacinal (BRASIL, 2006; BRASIL, 2008).
Prematuros menores de 33 semanas ou com peso inferior a 2.000 gramas
apresentam menor produção de anticorpos em resposta à vacina e, por isso, devem receber
uma dose extra com dois meses de idade. Para a prevenção da transmissão vertical da
hepatite B, é fundamental a administração precoce da vacina, preferentemente nas
primeiras 12 horas, bem como da imunoglobulina humana específica. Para pacientes
imunodeprimidos, como os renais crônicos, a vacina deve ser administrada em dose dupla
para a idade, conforme apresentado no quadro 1.

64
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

Quadro 1. Vacinação contra hepatite B e seguimento recomendado para renais crônicos e hemodialisados.
Grupos Condição Dose/Esquema Seguimento
especiais
Dose dupla em relação
à recomendada para a Testar 1 a 2 Repetir esquema uma
mesma idade, meses após a vez para os sem
Pré-diálise conforme o protocolo. última dose. resposta adequada.
Esquema de quatro
doses: 0, 1, 2 e 6
meses.
Renais
Crônicos

Repetir esquema uma


vez para os sem
resposta adequada.

Dose dupla em relação Testar 1 a 2 Retestar anualmente os


Hemodialisados à recomendada para a meses após a com resposta adequada
mesma idade, última dose. e fazer reforço para os
conforme o protocolo. que apresentarem títulos
Esquema de quatro menores que 10 UI/ml
doses: 0, 1, 2 e 6 na retestagem.
meses.
Fonte. Secretaria de Vigilância em Saúde/Ministério da Saúde, 2008.

A vacina produz eventos locais de pequena intensidade, como dor e endurecimento


local. Reações sistêmicas, como a febre, também são incomuns. Reações alérgicas
(anafiláticas) à vacina são raras, mas constituem a única contraindicação para aplicação da
dose subsequente (BRASIL, 2008).

2. Análise das alternativas

A – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Não existe necessidade de reiniciar o esquema vacinal quando houver
intervalos maiores do que os recomendados pelo Ministério da Saúde, pois proporcionam
resultados equivalentes.

B – Alternativa correta.
JUSTIFICATIVA. Intervalos maiores do que os recomendados pelo Ministério da Saúde
proporcionam resultados equivalentes, não havendo necessidade de reiniciar o esquema
vacinal. Os pacientes renais crônicos devem receber o esquema de quatro doses (0, 1, 2 e 6
meses) por apresentarem menor produção de anticorpos.

65
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

C – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Não existe necessidade de reiniciar o esquema vacinal quando houver
intervalos maiores do que os recomendados pelo Ministério da Saúde, pois proporcionam
resultados equivalentes.

D – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Os pacientes renais crônicos devem receber o esquema vacinal composto
por quatro doses (0, 1, 2 e 6 meses) para garantir a eficácia da vacinação, de modo que a
terceira dose não supra a necessidade da quarta dose, mesmo se os prazos de
administração forem cumpridos.

E – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. As doses já administradas produzem resultados equivalentes, mesmo
quando ultrapassados os prazos determinados pelo Ministério da Saúde. Ou seja, o esquema
vacinal contra hepatite B deve ser completado sempre que houver o início da aplicação do
esquema vacinal, não havendo necessidade de reiniciar o esquema ou mesmo de
administrar a imunoglobulina.

3. Indicações bibliográficas

• Governo do Estado de São Paulo. Secretaria de Estado da Saúde. Coordenadoria de


Controle de Doenças. Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof. Alexandre Vranjac”.
Norma técnica do programa de imunização. São Paulo: CVE, 2008.
• Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de
Vigilância Epidemiológica. Manual dos centros de referência para imunobiológicos
especiais. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.
• Governo do Estado de São Paulo. Secretaria de Estado da Saúde. Coordenadoria dos
Institutos de Pesquisa. Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof. Alexandre Vranjac”.
Norma do programa de imunização. São Paulo: CVE, 1998.

66
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

Questão 16
Questão 16.16
Nadir, enfermeira auditora da Secretaria Municipal de Saúde de Castro Alves, analisou o
consumo de hipoclorito de sódio 1% utilizado na desinfecção de artigos de inaloterapia das
Unidades Básicas de Saúde e apresentou em reunião técnica o gráfico abaixo.

Considerando o gráfico e que não houve mudança na quantidade de inalações realizadas no


período de análise, é correto afirmar:
A. A média mensal de consumo foi inferior ao esperado, portanto, há risco de disseminação
de microrganismos patogênicos entre os usuários do serviço.
B. Os dados não podem ser utilizados isoladamente, sendo necessário verificar a ocorrência
de casos de doença respiratória nos usuários para estabelecer o grau de risco decorrente
da provável baixa concentração do cloro.
C. A média mensal de consumo foi menor que o esperado, mas não oferece risco de
infecção respiratória aos usuários das unidades, porque nelas não há circulação de
microrganismos altamente patogênicos.
D. Os traçados das duas médias de consumo de hipoclorito se mantêm paralelos sugerindo
que o padrão de desinfecção vem se mantendo sem o comprometimento da
biossegurança.
E. O consumo médio mensal de hipoclorito está abaixo do esperado porque algumas
unidades estariam utilizando concentrações de cloro menores, compensando com a
imersão do material por mais tempo, sem oferecer, entretanto, risco aos usuários.

16Questão 32 – Enade 2007


67
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

1. Introdução teórica

Desinfecção de artigos

Os artigos utilizados em estabelecimentos de saúde para realização de diagnósticos e


tratamentos ou para a efetuação de procedimentos de saúde podem se tornar veículos de
agentes infecciosos, disseminando infecções, se não sofrerem processos de
descontaminação após cada uso. Um processo que pode interromper essa cadeia é a
esterilização de artigos. Outro processo é a desinfecção de artigos, utilizados conforme a
área de contato e o tipo de artigo. A desinfecção é o método capaz de eliminar a maioria
dos organismos patogênicos com exceção dos esporos e esterilização é o processo de
destruição de todos os organismos vivos da superfície do material.
Os artigos destinados à penetração através da pele e de mucosas adjacentes, nos
tecidos subepiteliais e no sistema vascular, bem como todos os que estejam diretamente
conectados com este sistema, são chamados de críticos. Estes requerem esterilização para
evitar a disseminação de infecções. As agulhas, os materiais cirúrgicos e os cateteres são
exemplos de artigos críticos (BRASIL, 1994; SOUZA e MOZACHI, 2005).
Os artigos destinados ao contato com a pele não-íntegra ou com mucosas íntegras
são chamados de semicríticos e requerem desinfecção de médio ou de alto nível, ou
esterilização, para ter garantida a qualidade do múltiplo uso destes. São exemplos de artigos
semicríticos os circuitos de terapia respiratória e endoscópios.
Os artigos destinados ao contato com a pele íntegra do paciente são chamados de
não-críticos e requerem limpeza ou desinfecção de baixo ou médio nível, dependendo do
uso a que se destinam ou do último uso realizado. Materiais para inaloterapia, estetoscópio,
otoscópio e termômetro são exemplos de artigos não-críticos.
A esterilização de artigos médico-hospitalares pode ser feita por meio físico, químico
ou físico-químico. Os esterilizantes físicos são as autoclaves, que utilizam o vapor saturado
sob pressão (calor úmido) e as estufas, que esterilizam por meio do calor seco. O
glutaraldeído e o formaldeído são os principais esterilizantes químicos. Os métodos físico-
químicos são realizados à baixa temperatura, utilizados em materiais sensíveis ao calor,
umidade ou a ambos, sendo a esterilização a óxido de etileno uma das formas mais
utilizadas (SOUZA e MOZACHI, 2005).
A desinfecção pode ser classificada em baixo, médio e alto nível. Na desinfecção de
alto nível são destruídas as bactérias, fungos e alguns esporos, enquanto, no nível médio,

68
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

destrói-se a maioria dos vírus e fungos e, por fim, a desinfecção de baixo nível destrói as
bactérias em formas vegetativas e alguns vírus e fungos. Para a desinfecção, podem ser
empregados os seguintes desinfetantes: álcool, hipoclorito de sódio, iodóforos, fenólicos,
quaternários de amônia, formaldeído, glutaraldeído, peróxido de hidrogênio, ácido
paracético, entre outros (BRASIL, 1994; SOUZA e MOZACHI, 2005).
O hipoclorito de sódio é um desinfetante químico com um amplo espectro de ação,
que dependendo da concentração, varia de desinfetante de baixo nível até o de alto nível. O
real mecanismo de ação do produto ainda é desconhecido, mas se acredita que aconteça a
inibição de reações enzimáticas dentro das células, desnaturação proteica e inativação do
ácido nucleico. O hipoclorito a 1% é uma solução de baixo custo, baixa toxicidade e de ação
rápida, indicado para desinfecção de nível médio, incluindo materiais de inaloterapia e
oxigenoterapia não-metálicos. Seu uso é limitado pela presença de matéria orgânica e pela
capacidade corrosiva e descolorante, podendo desencadear irritação na pele e nas vias
respiratórias.
Para assegurar a desinfecção dos artigos, é importante observar o registro do produto
no Ministério da Saúde, na Divisão de Saneantes Domissanitários (DISAD) e as
recomendações do Órgão para o processamento de artigos e superfícies em
estabelecimentos de saúde, assim como as instruções contidas no rótulo sobre o uso, a
diluição, o prazo, a validade e a toxicidade da solução. Os artigos médico-hospitalares
necessitam de um apurado controle para não disseminar infecção e assim não comprometer
a vida do paciente (BRASIL, 1994; SOUZA e MOZACHI, 2005).

2. Análise das afirmativas

A – Afirmativa correta.
JUSTIFICATIVA. Observa-se por meio da análise do gráfico que a média mensal de consumo
do hipoclorito de sódio a 1% para desinfecção dos materiais de inaloterapia foi inferior ao
consumo mínimo mensal esperado. Isso indica que o processo de desinfecção está sendo
realizado abaixo do necessário, havendo predisposição para a disseminação de
microrganismos patogênicos entre os usuários das Unidades de Básicas de Saúde por via
respiratória.

69
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

B – Afirmativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Os dados apresentados no gráfico podem ser utilizados isoladamente e
indicam a pouca utilização do hipoclorito de sódio a 1%, evidenciando um processo de
desinfecção deficitário.

C – Afirmativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Como a média mensal do consumo de hipoclorito de sódio a 1% foi menor
do que o esperado, existe risco para disseminação de microrganismos por via respiratória,
visto que os materiais de inaloterapia são considerados artigos não-críticos que podem
disseminar microrganismos patogênicos e, por isso, é recomendável sua desinfecção.

D – Afirmativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Nota-se que os traçados das duas médias de consumo de hipoclorito
realmente se mantêm paralelos. Isso sugere que o processo de desinfecção nas Unidades
Básicas de Saúde está aquém do esperado.

E – Afirmativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Não se pode inferir, por meio da análise do gráfico, que determinadas
unidades de saúde estão utilizando outras concentrações de hipoclorito, tampouco o tempo
de imersão do material. O gráfico fornece apenas o consumo da solução comparado ao
consumo esperado.

3. Indicações bibliográficas

• BRASIL. Ministério da Saúde. Coordenação de Controle de Infecção Hospitalar.


Processamento de Artigos e Superfícies em Estabelecimentos de Saúde. 2. ed. Brasília
(DF): Ministério da Saúde, 1994.
• MOZACHI, N. O hospital: manual do ambiente hospitalar. 2. ed. Curitiba: Manual Real,
2005.
• SANTOS, N. M. C. Enfermagem na prevenção e controle da infecção hospitalar. 3. ed.
São Paulo: Iátria, 2003.

70
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

Questão 17
Questão 17.17
O enfermeiro tem um papel essencial na recuperação e reabilitação da saúde dos clientes
com hanseníase. Assim sendo, que ações ele pode desenvolver no cuidado a essas pessoas?
A. Realizar avaliação do cliente em seus aspectos biológicos, culturais e sociais; prescrever
medicamentos normatizados e desenvolver atividades de educação em saúde.
B. Estabelecer o diagnóstico da doença; promover a cidadania e prescrever medicamentos
para essas manifestações de doença.
C. Gerenciar as ações da assistência de enfermagem; promover a cidadania e prescrever
medicamentos.
D. Dar suporte psicossocial; trabalhar com os estigmas da doença e administrar
medicamentos prescritos pelo médico.
E. Dar suporte psicossocial, cultural e biológico; promover a cidadania e encaminhar ao
médico para o tratamento medicamentoso.

1. Introdução teórica

Hanseníase

A Hanseníase é uma doença infectocontagiosa, de evolução lenta, transmitida pelo


Mycobacterium leprae ou Bacilo de Hansen, que é um parasita intracelular obrigatório, com
afinidade por células cutâneas e dos nervos periféricos. A doença é transmitida pelas vias
respiratórias ou pelo contato direto com a pessoa doente não tratada e se manifesta
principalmente por sinais e sintomas dermatológicos e neurológicos, como lesões na pele
que apresentam alteração de sensibilidade e lesões dos nervos periféricos, cujo
comprometimento pode acarretar incapacidades e deformidades. Tais incapacidades podem
desencadear importantes problemas psicossociais, como a redução da capacidade de
trabalho e a limitação social.
A hanseníase constitui um sério problema de saúde pública no Brasil em virtude da
significativa incidência da doença, apesar da redução drástica no número de casos no
período de 1985 a 2000 (de 19 para 4,68 doentes em cada 10.000 habitantes). Segundo
informações do Ministério da Saúde, o Brasil mantém uma média de 47 mil casos novos
anuais de hanseníase no último quinquênio (BRASIL, 2002; 2004).

17Questão 13 – Enade 2004


71
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

Dados epidemiológicos recentes revelam que, em 2007, os coeficientes de casos


novos e a prevalência da doença no Brasil alcançaram valores aproximados de 21 e 22 casos
para cada 100.000 habitantes, respectivamente. No período de 2001 a 2007 houve maior
ocorrência de casos novos nas regiões Norte e Centro-Oeste, seguidas pelo Nordeste,
Sudeste e, por fim, a região Sul (BRASIL, 2008).
Em virtude da situação epidemiológica no país, o Ministério da Saúde lançou, em
novembro de 2002, o Plano Nacional de Mobilização e Intensificação das Ações para
Eliminação da Hanseníase e Controle da Tuberculose. A principal meta do Plano é unir
diversos segmentos sociais, profissionais de saúde e gestores do Sistema Único de Saúde
para a eliminação da hanseníase no Brasil.
Por se tratar de uma doença curável e de fácil diagnóstico, ações de prevenção da
doença, recuperação e reabilitação da saúde devem ser realizadas pelos profissionais de
saúde, principalmente os atuantes na atenção básica, como a Equipe de Saúde da Família.
Assim, a Equipe deve estar comprometida na transmissão de informações relacionadas aos
sinais e sintomas da doença, da garantia de acesso fácil ao serviço de saúde, ao diagnóstico
e ao tratamento da hanseníase, e na orientação dos indivíduos com hanseníase e de sua
família durante o processo de cura.
De acordo com o Ministério da Saúde (2002), são atribuições do enfermeiro na
recuperação e reabilitação em saúde:
• solicitar exames para confirmação diagnóstica;
• prescrever medicamentos, conforme normas estabelecidas;
• executar tratamento não medicamentoso das reações hansênicas;
• prestar cuidados básicos de saúde à clientela alvo dos programas institucionais;
• desenvolver atividades de educação em saúde;
• aplicar os procedimentos de intervenção, referência e acompanhamento, conforme as
normas vigentes dos programas de saúde;
• realizar visitas domiciliares;
• efetuar a avaliação do desempenho do cliente com hanseníase na realização das
atividades da vida diária;
• prescrever técnicas simples de prevenção e tratamento das incapacidades físicas;
• fazer avaliação clínica dermatoneurológica;
• aplicar tratamento;
• identificar e encaminhar pacientes com reações hansênicas;
• identificar e encaminhar pacientes com reações medicamentosas;

72
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

• identificar casos e encaminhar para confirmação diagnóstica;


• fazer a dispensação de medicamentos;
• gerenciar as ações da assistência de enfermagem;
• fazer previsão e requisição de medicamentos, imunobiológicos e material de consumo.
O Programa Nacional de Controle da Hanseníase recomenda que as equipes de saúde
da família somem esforços no sentido de levar a informação sobre a doença, a importância
do diagnóstico precoce e do tratamento oportuno e eficaz para que o controle dessa
endemia se torne factível e para alcançar o desafio da erradicação da doença no país.

2. Análise das alternativas

A – Alternativa correta.
JUSTIFICATIVA. Segundo o Ministério da Saúde, são papéis do enfermeiro o
desenvolvimento de atividades educativas, a prescrição de medicamentos, conforme normas
estabelecidas e a avaliação sócio-biológico-cultural do paciente para o sucesso do
tratamento.

B – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. O estabelecimento de diagnóstico clínico e a classificação da doença, assim
como a prescrição de medicamentos, incluindo as reações hansênicas, são de
responsabilidade do médico e não do enfermeiro.

C – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. O gerenciamento das ações de enfermagem e a promoção de cidadania são
competências do enfermeiro, mas este não deve prescrever nenhum medicamento sem o
prévio estabelecimento de normas para tal.

D – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. O enfermeiro deve proceder a avaliação social, biológica e cultural para
conhecer a situação do paciente e, por meio dessas informações, trabalhar para garantir o
sucesso do tratamento. O profissional não deve estigmatizar a doença e sim desmitificá-la.
Também cabem ao profissional a administração e a prescrição dos medicamentos, se forem
estabelecidas normas para tal.

73
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

E – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. O enfermeiro deve proceder a avaliação social, biológica e cultural para
conhecer a situação do paciente e, por meio dessas informações, trabalhar para garantir o
sucesso do tratamento. Não é responsabilidade do enfermeiro oferecer suporte cultural para
o cliente. A prescrição medicamentosa é competência médica, mas o acompanhamento do
tratamento deve ser realizado pelo enfermeiro.

3. Indicações bibliográficas

• BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de


Atenção Básica. Guia para o controle da hanseníase. Brasília (DF): Ministério da Saúde,
2002. Disponível em
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_de_hanseniase.pdf>. Acesso em 17
mai. 2010.
• BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de
Vigilância Epidemiológica. Vigilância em Saúde: situação epidemiológica da hanseníase
no Brasil. Brasília (DF): Ministério da Saúde, 2008. Disponível em
<http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/boletim_novembro.pdf>. Acesso em 17
mai. 2010.

74
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

Questão 18
Questão 18.18
Maria, supervisora de enfermagem da clínica médica, notificou a chefe de unidade Alice de
que, apesar de todos os seus esforços pessoais e profissionais, a equipe de enfermagem
persistia desrespeitando a privacidade dos clientes nos procedimentos de higiene corporal,
fazia os curativos com a mesma luva usada no banho e apresentava alto índice de
absenteísmo. Diante dessa situação, Alice transferiu Maria para outro setor, e comunicou à
equipe sua decisão de proceder a uma auditoria prospectiva para avaliar se a equipe
aplicava corretamente os seguintes princípios de enfermagem:
A. proteção de danos biológicos e pessoais do cliente, respeito à autoridade, organização do
processo de trabalho e aplicação das normas de segurança.
B. atendimento às necessidades individuais do cliente, aplicação de normas de
biossegurança, prevenção de infecção hospitalar, reconhecimento da liderança.
C. reconhecimento da liderança, organização do processo de trabalho, controle do
absenteísmo e das normas de biossegurança.
D. proteção de danos trabalhistas e pessoais, utilização de equipamentos de proteção
individual e manutenção das funções fisiológicas do paciente.
E. respeito aos direitos do paciente hospitalizado, controle rígido da frequência, organização
do processo de trabalho.

1. Introdução teórica

Princípios de enfermagem

A Enfermagem é uma profissão comprometida com a saúde e com a qualidade de


vida da pessoa, da família e da coletividade. O profissional de enfermagem, seja enfermeiro,
técnico ou auxiliar, deve exercer suas atividades com competência para a promoção do ser
humano na sua integralidade, respeitando a vida, a dignidade e os direitos humanos em
todas as suas dimensões (COFEN, 2009).
O exercício da enfermagem está alicerçado na prestação de serviços ao indivíduo, à
família e à coletividade, no seu contexto e circunstâncias de vida. Compreende um
componente próprio de conhecimentos técnicos e científicos, construído e reproduzido por

18Questão 17 - Enade 2004


75
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

um conjunto de práticas sociais, políticas e éticas que se processa pelo ensino, pela pesquisa
e pela assistência (CEPE, 2007).
Todas as ações dos profissionais de enfermagem devem ser regidas pelos princípios
éticos e bioéticos da saúde. Sabe-se que o aprimoramento do comportamento ético do
profissional de enfermagem passa pelo processo de construção de uma consciência
individual e coletiva e pelo compromisso social e profissional, configurados pela
responsabilidade no plano das relações de trabalho, com reflexos no campo científico e
político (CEPE, 2007). Contudo, os quatro princípios fundamentais da bioética descritos a
seguir devem sempre ser respeitados pela equipe de enfermagem.
Os princípios da Bioética estão elencados a seguir (KOERICH et al, 2005; CEPE,
2007).
• Beneficência – relaciona-se ao dever de ajudar aos outros. O profissional se
compromete em avaliar os riscos e os benefícios potenciais e a buscar o máximo de
benefícios, reduzindo ao mínimo os danos e riscos ao cliente.
• Não-maleficência – implica no dever de se abster de fazer qualquer mal para os
pacientes, de não causar danos ou colocá-los em risco.
• Respeito à autonomia – refere-se à autodeterminação ou autogoverno, ao poder de
decidir sobre si mesmo. Aos profissionais de enfermagem, cabe buscar essa autonomia
no conhecimento, isto é, construir um corpo de conhecimento específico que possibilite
uma maior autonomia no processo de cuidar, vinculando o pensar ao ato de fazer.
• Justiça – relaciona-se à distribuição coerente e adequada de deveres e benefícios
sociais.
Como descrito anteriormente, a Enfermagem tem suas atividades orientadas pelos
princípios bioéticos referidos acima, que devem ser utilizados como recurso para análise e
compreensão das situações de conflito, sempre que estas se apresentarem, comparando
com casos semelhantes que já tenham ocorrido e ponderando as consequências das
condutas tomadas anteriormente sobre os clientes, familiares e a comunidade (KOERICH et
al , 2005).
O exercício da profissão também é orientado pelas normas contidas no Código de
Ética dos Profissionais de Enfermagem (CEPE), que foi reformulado em 2007, sob a
coordenação do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), com a participação dos
Conselhos Regionais de Enfermagem (COREN) e dos profissionais de Enfermagem. O Código
inclui princípios, direitos, responsabilidades, deveres e proibições pertinentes à conduta ética
dos profissionais de enfermagem, considerando a necessidade e o direito de assistência em

76
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

enfermagem da população e os interesses do profissional e de sua organização (CEPE,


2007).
De acordo com os artigos 12 e 21 do CEPE (2007), a enfermagem é responsável pela
proteção do paciente, assegurando-lhe uma assistência livre de danos provocados por
imperícia, negligência ou imprudência. Entende-se por negligência a falta de cuidado ao
exercer determinada ação, ou seja, a desatenção; imperícia refere-se à falta de
conhecimento para exercer a ação; e a imprudência implica em praticar determinada ação
mesmo com a consciência de que poderá causar dano ao outro, ou seja, a precipitação
(FONTANA E LAUTERT, 2008).
Como exemplo de desrespeito aos princípios éticos e aos artigos 12 e 21 do CEPE
(2007), podem-se citar as ações omissas ou incorretas, que certamente reverterão em
prejuízo ao paciente e estão diretamente relacionadas à falta de ética e de respeito à pessoa
humana. Nesse sentido, podem-se citar as técnicas de esterilização inadequadas, as falhas
na higienização das mãos e a quebra técnica da cadeia asséptica em determinados
procedimentos, como curativos, cirurgias, cateterismo vesical e outros. Tais ações
caracterizam a falta de cuidado ou o cuidado incorreto da saúde do indivíduo, sendo
considerados agravos que não devem ser realizados pelos profissionais da enfermagem
(MONTEIRO et al , 2008).
Do ponto de vista ético, é esperado que o enfermeiro utilize sua criatividade ao
gerenciar as ações assistenciais, ao tomar decisões e ao adequar os recursos humanos e
materiais de que dispõe, assegurando um atendimento das necessidades dos clientes com
isenção de riscos (FREITAS e OGUISSO, 2008). Especialmente o enfermeiro com cargo
administrativo, tendo responsabilidade sobre as decisões e intervenções de caráter
institucional do serviço de enfermagem, necessita alicerçar suas decisões nos princípios
éticos da profissão, como a justiça, o respeito às pessoas, a honestidade, a veracidade, o
sigilo e a beneficência, a fim de se manter íntegro em seu posicionamento e para que suas
decisões sejam respeitadas por todos por estarem fundamentadas em conhecimentos
reconhecidos cientificamente.
Assim, o profissional da enfermagem deve atuar na promoção, prevenção,
recuperação e reabilitação de saúde sempre amparado pelos princípios da bioética para
garantir o respeito à dignidade humana e à qualidade de vida das pessoas.

77
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

2. Análise das alternativas

A – Alternativa correta.
JUSTIFICATIVA. Ao desrespeitar a privacidade do cliente nos procedimentos de higiene
corporal e ao realizar os curativos com a mesma luva utilizada no banho, os profissionais de
enfermagem desrespeitaram os princípios contidos no Artigo 19 e 21 do CEPE. Evidencia-se
o desrespeito à proteção do cliente contra danos biológicos e pessoais, como também a falta
de organização no processo de trabalho e de aplicação das normas de biossegurança,
demonstrando imprudência no exercício da profissão, que pode acarretar prejuízos aos
clientes. Nota-se, também, que há um desrespeito à autoridade exercida pelo supervisor de
enfermagem, que já aplicou medidas para modificar essa situação, e, no entanto, não foram
seguidas pela equipe.

B – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Prevenção de infecção hospitalar e reconhecimento da liderança não são
princípios de enfermagem.

C – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Reconhecimento da liderança e controle do absenteísmo não são princípios
de enfermagem.

D – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Não são princípios de enfermagem.

E – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Todo paciente deve ter seus direitos respeitados, independentemente se
está hospitalizado ou não. Com relação ao controle rígido da frequência, pode-se dizer que o
modo como foi escrito não está claro (frequência do quê?) e assim, não se pode estabelecer
relação com os princípios de enfermagem.

3. Indicações bibliográficas

78
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

• CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. COFEN. Resolução 311, de 9 fev. 2007, do


Conselho Federal de Enfermagem. Código de Ética dos Profissioinais de Enfermagem.
[online]. Disponível em
<http://www.portalcofen.gov.br/2007/materias.asp?ArticleID=7323&sectionID=37>.
Acesso em 22 fev. 2010.
• OGUISSO, T.; ZOBOLI, E. Ética e Bioética: desafios para a enfermagem e a saúde. São
Paulo: Manole, 2006.
• KOERICH, M. S.; MACHADO, R. R.; COSTA, E. Ética e bioética: para dar início à reflexão.
Texto Contexto Enferm 2005 Jan-Mar; 14(1): 106-10.
• FONTANA, T. T.; LAUTERT, L. Aspectos ético-legais do controle da infecção hospitalar:
algumas reflexões relativas ao enfermeiro. Cienc Cuid Saude 2008 Out/Dez; 7(4): 546-
550.
• MONTEIRO, M. A. A.; BARBOSA R. C. M.; BARROSO, M. G. T.; VIEIRA, N. F. C.;
PINHEIRO, A. K. B. Dilemas éticos vivenciados por enfermeiros apresentados em
publicações de enfermagem. Rev Latino-am Enfermagem 2008 Nov-Dez; 16(6).
• FREITAS, G. F; OGUISSO, T. Ocorrências éticas com profissionais de enfermagem: um
estudo quantitativo. Rev Esc Enferm USP 2008; 42(1): 34-40.

79
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

Questão 19
Questão 19.19
O Programa Saúde da Família (PSF) requer um trabalho interdisciplinar para lidar com a
complexidade da saúde. Partindo dessa premissa, a equipe básica do programa pode ser
constituída por:
I. enfermeiro;
II. auxiliares de enfermagem;
III. médico;
IV. agentes comunitários;
V. assistente social.
Devem fazer parte efetivamente da equipe os profissionais indicados nos itens
A. I e III, apenas.
B. II e IV, apenas.
C. I, II e III, apenas.
D. I, II, III e IV, apenas.
E. I, II, III, IV e V.

1. Introdução teórica

Programa de Saúde da Família (PSF)

Em 1994, o Ministério da Saúde do Brasil criou o Programa Saúde da Família (PSF)


para a reorganização do modelo assistencial da atenção básica à saúde do Sistema Único de
Saúde (SUS), substituindo o modelo tradicional de assistência. O PSF prioriza as ações de
prevenção de doenças e as ações de promoção e recuperação da saúde das pessoas, de
forma integral e contínua, operacionalizada mediante a implantação de equipes
multiprofissionais que prestam atendimento à comunidade nas unidades básicas de saúde
ou no domicílio. Assim, esses profissionais e a população acompanhada criam vínculos de
corresponsabilidade, o que facilita a identificação e o atendimento aos problemas de saúde
de uma determinada comunidade.
De acordo com a Portaria N° 648, de 28 de março de 2006, que aprovou a Política
Nacional de Atenção Básica, estabelecendo normas e diretrizes para a organização da
Atenção Básica do PSF, a equipe multiprofissional de saúde deve ser composta por, no

19Questão 21 - Enade 2004


80
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

mínimo, um médico de família, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e agentes


comunitários de saúde, que devem ser responsáveis por, no máximo 4.000 habitantes, com
média de 3.000 habitantes de uma delimitada região geográfica, mantendo uma jornada de
trabalho de 40 horas semanais (BRASIL, 2006).
Conforme a Portaria, devem ser características do processo de trabalho da Saúde da
Família:
1) a manutenção de cadastramento atualizado das famílias e dos indivíduos e a utilização,
de forma sistemática, dos dados para a análise da situação de saúde considerando as
características sociais, econômicas, culturais, demográficas e epidemiológicas do território;
2) a definição precisa do território de atuação, o mapeamento e o reconhecimento da área
adstrita, que compreenda o segmento populacional determinado, com atualização contínua;
3) o diagnóstico, a programação e a implementação das atividades segundo critérios de
risco à saúde, priorizando solução dos problemas de saúde mais frequentes;
4) a prática do cuidado familiar ampliado, efetivada por meio do conhecimento da estrutura
e da funcionalidade das famílias que visa propor intervenções que influenciem os processos
de saúde doença dos indivíduos, das famílias e da própria comunidade;
5) o trabalho interdisciplinar e em equipe, integrando áreas técnicas e profissionais de
diferentes formações;
6) a promoção e o desenvolvimento de ações intersetoriais, buscando parcerias e
integrando projetos sociais e setores afins, voltados para a promoção da saúde, de acordo
com prioridades e sob a coordenação da gestão municipal;
7) a valorização dos diversos saberes e práticas na perspectiva de uma abordagem integral
e resolutiva, possibilitando a criação de vínculos de confiança com ética, compromisso e
respeito;
8) a promoção e o estímulo à participação da comunidade no controle social, no
planejamento, na execução e na avaliação das ações; e
9) o acompanhamento e a avaliação sistemática das ações implementadas, visando à
readequação do processo de trabalho.
Mediante a adstrição dos usuários, as equipes do PSF podem estabelecer vínculo com
a população possibilitando a corresponsabilidade com a saúde da comunidade, sendo
compreendida como a principal estratégia de reorganização da atenção à saúde do SUS.

81
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

2. Análise da questão

De acordo com a Portaria N° 648, de 28 mar. 2006, que aprovou a Política Nacional
de Atenção Básica, a equipe multiprofissional do PSF deve ser composta por, no mínimo, um
médico, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e agentes comunitários de saúde.

Alternativa correta. D.

3. Indicações bibliográficas

• BRASIL. Portaria Nº 648, de 28 mar. 2006. Aprova a Política Nacional de Atenção Básica,
estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica
para o Programa Saúde da Família (PSF) e o Programa de Agentes Comunitários de
Saúde (PACS). Disponível em
<http://dtr2004.saude.gov.br/dab/docs/legislacao/portaria_648_28_03_2006.pdf>.
Acesso em 15 dez. 2009.
• BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção
Básica. Saúde da família no Brasil: uma análise de indicadores selecionados: 1998-
2005/2006. Brasília (DF): Ministério da Saúde, 2008.
• FIGUEIREDO, N. M. A. (org). Ensinando a cuidar em saúde pública. 2. ed. São Caetano
do Sul (SP): Yendis, 2008.

82
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

Questão 20
Questão 20.20
A violência contra a mulher se caracteriza, incontestavelmente, como uma violência de
gênero, que se manifesta sob várias formas, trazendo:
I. dores crônicas e distúrbios gastrointestinais;
II. distúrbios emocionais e mentais;
III. gravidez indesejada e aborto;
IV. DSTs/HIV/AIDS e distúrbios sociais;
V. doença inflamatória pélvica e abuso de drogas.
Quais dessas consequências afetam a saúde da mulher?
A. I e III, somente.
B. I e V, somente.
C. II e IV, somente.
D. III e V, somente.
E. I, II, III, IV e V.

1. Introdução teórica

Violência contra a mulher

Gênero é conceituado como um elemento constitutivo das relações sociais fundadas


sobre as diferenças percebidas entre os sexos. Em nossa sociedade, caracterizada
principalmente pelo patriarcado, o gênero feminino remete à esfera familiar e à
maternidade, enquanto o masculino remete à esfera pública, fazendo dele o provedor e
protetor da família e, assim, hierarquicamente superior.
A desigualdade estrutural entre homens e mulheres e os diferenciados papéis que
ambos devem desempenhar na sociedade, na qual a virilidade está associada à dominação e
a feminilidade está vinculada à submissão e à passividade, servem para fundamentar e
consolidar a violência de gênero, que se baseia nas relações de poder e de dominação do
masculino diante do feminino (GIFFIN, 1995).
A violência contra a mulher, definida pela Convenção Interamericana para Prevenir,
Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher – Convenção de Belém do Pará/ONU, como
"todo ato baseado no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou

20Questão 23 - Enade 2004


83
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

psicológico à mulher, tanto na esfera pública como privada" (MINISTÉRIO DA SAÚDE,


2005), é fenômeno complexo, multifatorial e universal que atinge todas as classes sociais,
etnias, religiões e culturas, ocorrendo em populações de diferentes níveis de
desenvolvimento social e econômico.
A violência contra a mulher manifesta-se de diversas formas. São considerados atos e
comportamentos violentos: agressões físicas ou ameaças, maus-tratos psicológicos, abusos
ou assédios sexuais e desrespeito aos seus direitos na esfera da vida reprodutiva ou da
cidadania social, como estupro, abuso sexual de meninas, assédio sexual no ambiente de
trabalho, violência contra homossexualidade, tráfico de mulheres, turismo sexual, violência
étnica e racial, mutilação genital, entre outros (PENNA e SANTOS, 2007).
As consequências da violência de gênero são diversas e afetam a saúde da mulher,
da comunidade e da sociedade. Heise (1994) classificou as consequências da violência de
gênero como fatais, que englobam o suicídio e o homicídio, e não fatais constituídas pelas
alterações na saúde física e mental da mulher. A depressão, a ansiedade, a disfunção
sexual, as desordens da alimentação, o comportamento obsessivo/compulsivo e os
problemas de personalidade são exemplos das doenças mentais que podem aparecer em
função da violência de gênero, enquanto as doenças sexualmente transmissíveis, as lesões,
os traumatismos, a doença inflamatória pélvica, a gravidez indesejada, o abortamento
espontâneo, a dor pélvica crônica, a dor de cabeça, os problemas ginecológicos, o abuso de
drogas, de álcool e de medicamentos são exemplos das manifestações físicas relacionadas à
violência (GIFFIN, 1995).
Os profissionais e os serviços de saúde devem estar preparados para identificar e
atender as mulheres vítimas de violência, dirigindo sua assistência à reestruturação física,
psicológica, social e moral destas, permitindo que os direitos humanos das mulheres sejam
respeitados.

2. Análise da questão

A violência contra a mulher pode ser manifestada na saúde física e mental da vítima
pela presença de dores crônicas, distúrbios gastrointestinais, gravidez indesejada e
abortamento, presença de doenças sexualmente transmissíveis como HIV/Aids, doença
inflamatória pélvica, distúrbios mentais e sociais como a depressão, a ansiedade, os
transtornos obsessivos compulsivos, o isolamento social, os problemas de personalidade e as
desordens da alimentação.

84
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

Alternativa correta. E.

3. Indicações bibliográficas

• BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações


Programáticas Estratégicas. Área Técnica de Saúde da Mulher. Prevenção e Tratamento
dos Agravos Resultantes da Violência Sexual contra Mulheres e Adolescentes: norma
técnica. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2005.
• GIFFIN, K. Violência de gênero, sexualidade e saúde . Cad. Saúde Públ., 1994; 10(1):
146-155.
• PENNA, L. H. G.; SANTOS, N. C. Violência contra a mulher. In: FERNANDES, R. A. Q.;
NARCHI, N. Z. Enfermagem e saúde da mulher. Barueri (SP): Manole; 2007. p. 171-89.

85
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

Questões 21 e 22
Questão 21.21
A reorganização do processo de trabalho em enfermagem passa pela qualificação da força
de trabalho, pela integração dos profissionais e o resgate do sentido de trabalho na
perspectiva interdisciplinar. Inclui, ainda, a abertura de espaços democráticos, de discussão
e de decisão com o usuário, visando a ampliar escutas e trocas.
Com que princípios definidos pelo Sistema Único de Saúde (Lei Nº 8.080/90) esse texto se
relaciona?
A. Garantia de acesso e acomodação do usuário.
B. Integralidade na assistência e treinamento profissional em serviço.
C. Participação de trabalhadores e usuários na gestão e integralidade da assistência.
D. Acomodação do usuário e treinamento profissional em serviço.
E. Gestão de qualidade total e garantia de acesso.

Questão 22.22
O diretor do Distrito de Saúde "Salveiros", após avaliar o Sistema Único de Saúde, concluiu
que este não está atendendo satisfatoriamente o princípio básico da integralidade e solicitou
que os enfermeiros gerentes das unidades de saúde da região apresentassem propostas
para reversão dessa situação. Foram apresentadas as seguintes propostas:
I. A enfermeira do Pronto Socorro sugeriu que o PS tenha vacinas disponíveis para atender
vítimas de acidentes evitando, com isso, que esses pacientes sejam encaminhados a
outro serviço para receber esses cuidados profiláticos.
II. A enfermeira do Hospital Geral sugeriu a implantação da consulta de enfermagem na
alta hospitalar com protocolos próprios que garantam ao paciente orientações sobre os
cuidados necessários e a prevenção de novos agravos no período de convalescença.
III. A enfermeira da Unidade de Saúde da Família propôs a ampliação das equipes do PSF
com a inclusão de profissionais das especialidades médicas mais procuradas pela
população.
IV. A enfermeira da Unidade Básica de Saúde propôs a anulação da delimitação da área de
abrangência, de modo que os pacientes procedentes de qualquer parte do município, e
até fora dele, pudessem se vincular a qualquer unidade de sua escolha.
São corretamente articuladas com o conceito de integralidade do SUS apenas as propostas

21Questão 25 - Enade 2004


22Questão 27 – Enade 2007
86
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

A. I e II porque reduzem a dicotomia entre as ações curativas e preventivas nos serviços de


saúde.
B. III e IV porque oferecem mais serviços e a um maior número de pessoas.
C. I e III porque os usuários atendidos por médicos especialistas na rede básica
necessitarão, cada vez menos, de Pronto Socorro.
D. III e IV porque prevêem o atendimento da população holisticamente.
E. I e II porque não falam dos direitos do cidadão brasileiro e sim da ampliação de serviços.

1. Introdução teórica

Sistema Único de Saúde (Lei N° 8.080/90)

A definição da Constituição Federal do Brasil, em 1988, foi a primeira e grande


conquista do Movimento da Reforma Sanitária, ocorrido na década de 1970 e impulsionado
pelos trabalhadores de saúde, por centros universitários e por setores organizados da
sociedade, no contexto da democratização do país. A Constituição Federal (CF) destaca o
direito à saúde por um cunho universalista e igualitário quando conceitua no artigo 196 que
“a saúde é direito de todos e dever do Estado”, deixando explícita a importância da
universalidade da assistência à saúde (BRASIL, 2002).
O Sistema Único de Saúde (SUS) pode ser considerado uma das maiores conquistas
consagradas pela CF, criado com a finalidade de alterar a situação de desigualdade na
assistência à Saúde da população, tornando obrigatório o atendimento público a qualquer
cidadão, sendo proibidas cobranças de dinheiro sob qualquer pretexto. A principal meta do
SUS é tornar-se um importante mecanismo de promoção da equidade no atendimento às
necessidades de saúde da população, por meio da qualidade no atendimento à saúde
(BRASIL, 2002; FIGUEIREDO, 2008).
O SUS foi criado pela Constituição Federal de 1988 e foi regulamentado pelas Leis
Orgânicas de Saúde N° 8.080/90 e N° 8.142/90. A Lei N° 8.080, de 19 set. 1990, dispõe
sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o
funcionamento dos serviços de saúde. Também define o SUS como um conjunto de ações
e serviços de saúde prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e
municipais, com os objetivos de identificar e divulgar os fatores condicionantes e
determinantes da saúde, formular políticas de saúde destinadas ao atendimento à
população e assistir as pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção e

87
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

recuperação da saúde, com a realização integrada de ações assistenciais e de atividades


preventivas (BRASIL, 1990).
Os princípios e diretrizes do SUS foram estabelecidos no capítulo II da referida Lei
Orgânica. A universalidade, a integralidade e a equidade da assistência à saúde constituem
os princípios doutrinários do SUS (BRASIL, 2007), cujas conceituações estão mostradas a
seguir.
• Universalidade – compreendida como a garantia de acesso aos serviços de saúde para
toda a população, em todos os níveis de assistência, sem preconceitos ou privilégios de
qualquer espécie.
• Integralidade – entendida como o conjunto articulado e contínuo de ações e serviços
preventivos e curativos, individuais e coletivos, em todos os níveis de complexidade do
sistema; também pode ser interpretado como as ações de promoção, proteção e
recuperação à saúde de um indivíduo como um ser indivisível, o homem como um ser
integral, biopsicossialmente e atendido em uma visão holística por um sistema também
integral.
• Equidade – compreendida como a promoção da igualdade com base com
reconhecimento das desigualdades que atingem grupos e indivíduos e na implementação de
ações estratégicas voltadas para sua superação.
As principais diretrizes do SUS, definidas pela Lei Orgânica Nº 8.080/90, foram as
indicadas a seguir.
• Participação da Comunidade – estabelece o direito da população de participar das
instâncias de gestão do SUS, por meio da gestão participativa, e dos conselhos de saúde,
que são instâncias de controle social. Essa participação social significa a corresponsabilidade
entre o Estado e a sociedade civil na produção da saúde.
• Intersetorialidade – prescreve o comprometimento dos diversos setores do Estado com a
produção da saúde e o bem-estar da população.
• Descentralização político-administrativa com direção única em cada esfera de governo,
com ênfase na descentralização dos serviços para os municípios – prevê, para cada esfera
do governo, atribuições próprias e comando único.
• Hierarquização e regionalização da rede dos serviços de saúde – organizam os serviços
de saúde segundo os níveis de complexidade - básica, média e alta, oferecidos por área de
abrangência territorial e populacional, conhecidas como regiões de saúde. Quanto mais bem
estruturado for o fluxo de referência e contrarreferência entre os serviços de saúde, melhor
a sua eficiência e eficácia.

88
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

• Transversalidade – estabelece a necessidade de coerência, complementaridade e reforço


recíproco entre órgãos, políticas, programas e ações de saúde.
• Resolutividade – diz respeito à capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis
de assistência;
• Preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral.
Cabe ressaltar que todo profissional de saúde que atue nos serviços de saúde no
Brasil deve conhecer as regras que estabelecem o sistema de saúde vigente no país, assim
como os princípios e diretrizes que o norteiam e os direitos e deveres de cada cidadão.

2. Análise das questões

Questão 21.
Quando o autor afirma que a reorganização do processo de trabalho em enfermagem
consiste na qualificação da força de trabalho e na integração dos profissionais de saúde
objetivando o cuidado na perspectiva interdisciplinar, ele infere que cada pessoa é um ser
indivisível, que deve ser assistido globalmente, ou seja, que o homem é um ser integral e
deve ser atendido com uma visão holística e por um sistema também integral, resgatando
assim o princípio da integralidade. Ao mencionar a necessidade de abertura de espaços
democráticos, de discussão e de decisão com o usuário, o autor fundamenta-se no princípio
da participação da comunidade (trabalhadores e usuários) sobre a gestão de sua saúde.

Alternativa correta. C.

Questão 22.
I – Afirmativa correta.
JUSTIFICATIVA. A partir do momento em que o pronto-socorro oferece o serviço de
imunização para as vítimas de acidentes, a unidade hospitalar associa a prática de uma
assistência curativa e de alta complexidade com a prevenção de doenças, reduzindo a
dicotomia entre o curativo e preventivo. Assim, proporciona ao paciente um atendimento em
todos os níveis de complexidade, promovendo a integralidade da assistência.

II – Afirmativa correta.
JUSTIFICATIVA. A conduta está articulada ao conceito de integralidade porque a unidade
hospitalar, que executa o atendimento de média ou de alta complexidade, ao realizar

89
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

consulta de enfermagem na alta hospitalar para realização de práticas educativas, vincula a


assistência curativa à promoção de saúde e à prevenção de doenças ou complicações.
Assim, a proposta contempla um atendimento em todos os níveis de complexidade,
reduzindo a dicotomia entre o curativo e o preventivo.

III – Afirmativa incorreta.


JUSTIFICATIVA. Essa conduta não contempla o conceito de integralidade, pois abrange
somente a atenção básica de saúde, não representando o atendimento em todos os níveis
de complexidade do sistema.

IV – Afirmativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Essa conduta não está fundamentada no conceito de integralidade, pois
contempla somente a atenção básica de saúde, que está direcionada para a promoção de
saúde e de prevenção de doenças. Sendo assim, não representa o atendimento em todos os
níveis de complexidade do sistema.

Alternativa correta. A.

3. Indicações bibliográficas

• BRASIL. Lei N° 8.080 de 19 set. 1990 – DOU de 20/09/90. Lei Orgânica de Saúde.
Disponível em <https://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm>. Acesso em 05
fev. 2010.
• BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Sistema Único de Saúde (SUS):
princípios e conquistas. Brasília (DF): Ministério da Saúde, 2000.
• SOUZA, R. R. Brasil. Ministério da Saúde. O Sistema público de saúde brasileiro. Brasília
(DF): Ministério da Saúde, 2002.
• FIGUEIREDO, N. M. A. Ensinando a cuidar em saúde pública. 2. ed. São Caetano do Sul
(SP): Yendis, 2008.
• BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa.
Departamento de Apoio à Gestão Participativa. Caminhos do direito à saúde no Brasil.
Brasília (DF): Ministério da Saúde, 2007.

90
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

Questão 23
Questão 23.23
No Pronto Socorro Municipal, a população que aguardava atendimento revoltou-se ao
perceber que um homem de 40 anos, casado e com quatro filhos, que estava na sala de
espera, aproximadamente há 4 horas, faleceu antes de ser atendido. Este acontecimento foi
noticiado pela mídia e mobilizou os trabalhadores e o gestor do Pronto Socorro a discutirem
propostas de melhoria do atendimento. Considerando os princípios norteadores da Política
Nacional de Humanização, estiveram em pauta as seguintes ações:
I. Acolhimento da demanda por meio de critérios de avaliação de risco.
II. Garantia do acesso referenciado aos demais níveis de assistência.
III. Organização da fila de espera, considerando a idade do usuário.
IV. Definição de protocolos clínicos adequados.
São corretas apenas as ações propostas em
A. I e IV.
B. I, II e III.
C. I, II e IV.
D. II, III e IV.
E. III e IV.

1. Introdução teórica

Política Nacional de Humanização (PNH)

A Política Nacional de Humanização (PNH) foi instituída pelo Ministério da Saúde em


2003, atrelada a um compromisso de efetivação real do Sistema Único de Saúde (SUS),
partindo do reconhecimento do “SUS que dá certo”. A PNH está fundamentada na premissa
da necessidade de assegurar a atenção integral à população e na valorização dos
trabalhadores de saúde, no avanço da democratização da gestão e do controle social
participativo, propondo estratégias para ampliação da condição de direitos e de cidadania
das pessoas (BRASIL, 2004).
Segundo Santos-Filho (2007), a Política de Humanização parte de conceitos e
dispositivos que visam à reorganização dos processos de trabalho em saúde, propondo
transformações nas relações sociais que envolvem gestores e trabalhadores de saúde em

23Questão 26 – Enade 2007


91
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

sua experiência cotidiana de organização e condução dos serviços e, também,


transformações nas formas de produzir e prestar serviços de saúde à população.
Para a construção de uma Política de Qualificação do SUS, a humanização deve ser
entendida como uma política que opere transversalmente em toda a rede do SUS, que
implica na elaboração de princípios e modos de operar no conjunto das relações entre
profissionais de saúde e usuários, entre os diferentes profissionais e entre as instâncias que
constituem o SUS (BRASIL, 2004).
A humanização implica na troca de saberes e no diálogo entre os profissionais de
saúde e a comunidade, assim como o diálogo entre os profissionais de saúde e o trabalho
em equipe visando aumentar o grau de corresponsabilidade dos diferentes atores que
constituem a rede SUS na produção de saúde. Assim, a humanização estabelece a
construção de atitudes ético-estético-políticas em sintonia com um projeto de
corresponsabilidade e qualificação dos vínculos interprofissionais e entre estes e os usuários
na produção da saúde.
De acordo com o Ministério da Saúde, os princípios norteadores da PNH são os
indicados a seguir (BRASIL, 2004).
• Valorização da dimensão subjetiva e social em todas as práticas de atenção e gestão em
saúde, fortalecendo e estimulando processos integradores de compromissos e
responsabilização.
• Estímulo a processos comprometidos com a produção de saúde e com a produção de
sujeitos.
• Fortalecimento do trabalho em equipe multiprofissional, estimulando a
transdisciplinaridade e a grupalidade.
• Utilização da informação, da comunicação, da educação permanente dos espaços da
gestão na construção da autonomia e do protagonismo de sujeitos coletivos, focando a
aprendizagem significativa.
As diretrizes do PNH, definidas pelo Ministério da Saúde, são mostradas a seguir
(BRASIL, 2004).
• Elaboração de projetos de saúde individuais e coletivos para usuários e sua rede social,
considerando as políticas intersetoriais e as necessidades de saúde.
• Incentivo às práticas de promoção de saúde.
• Estabelecimento de acolhimento e de inclusão do usuário que promovam otimização dos
serviços, fim das filas, hierarquização dos riscos e acesso aos demais níveis de atenção
em saúde.

92
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

• Comprometimento com o trabalho em equipe, visando ao aumento no grau de


corresponsabilização.
As prioridades do PNH são a redução das filas e do tempo de espera com ampliação
do acesso e atendimento acolhedor resolutivo com base nos critérios de risco; a garantia de
informação aos usuários, do acompanhamento de pessoas de sua rede social, do respeito
aos direitos contidos no código do usuário do SUS e da participação ativa dos trabalhadores
e usuários na gestão de saúde, assim como a educação permanente.

2. Análise das afirmativas

I – Afirmativa correta.
JUSTIFICATIVA. O acolhimento por meio da avaliação dos critérios de risco é um dos
princípios do PNH que deve ser incorporado nas instituições de saúde para garantir uma
assistência à saúde eficiente e com qualidade. Observa-se que, nesse caso específico, o
senhor não foi atendido anteriormente porque não houve qualquer avaliação profissional
sobre seu risco de morte, o que deve ser criteriosamente discutido pela equipe profissional e
pelos gestores de saúde.

II – Afirmativa correta.
JUSTIFICATIVA. Uma estratégia que pode ser adotada pela equipe para favorecer a
corresponsabilização e a resolutividade do atendimento, conforme referenciado pelo PNH, é
o trabalho em articulação com outros níveis de atenção em saúde e a garantia do acesso
aos demais níveis de saúde.

III – Afirmativa incorreta.


JUSTIFICATIVA. Ao organizar a fila de espera considerando somente a idade do usuário, a
equipe de saúde não respeita o princípio de acolhimento resolutivo com base nos critérios de
risco.

IV – Afirmativa correta.
JUSTIFICATIVA. Sabe-se que a PNH visa à reorganização dos processos de trabalho em
saúde, propondo transformações nas relações sociais e nas formas de produzir e prestar
serviços de saúde à população. Como o caso descrito evidenciou uma assistência
inadequada da equipe de saúde do pronto-socorro, todos devem trabalhar em conjunto para

93
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

elaboração e definição de protocolos de assistência clínica que sejam adequados e eficazes


no atendimento à população, sem colocar em risco a vida dos indivíduos e garantindo o
respeito aos direitos dos usuários.

Alternativa correta. C.

3. Indicações bibliográficas

• BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Núcleo Técnico da Política Nacional


de Humanização. HumanizaSUS: Política Nacional de Humanização: a humanização
como eixo norteador das práticas de atenção e gestão em todas as instâncias do SUS.
Brasília (DF): Ministério da Saúde, 2004.
• SANTOS-FILHO, S. B. Perspectivas da avaliação na Política Nacional de Humanização em
Saúde: aspectos conceituais e metodológicos . Ciência e Saúde Coletiva, 2007; 12(4):
999-1010.
• BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde.
Departamento de Gesto da Educação em Saúde. Política Nacional de Educação
Permanente em Saúde. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2009. Disponível em
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_educacao_permanente_s
aude.pdf>. Acesso em 17 mai. 2010.

94
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

Questão 24
Questão 24.24
O enfermeiro da unidade de clínica médica do Hospital Cotinha necessita realizar a previsão
mensal dos materiais utilizados em sua unidade. Considerando que o consumo de equipos
de soro nos últimos 3 meses foi de 330 unidades e o estoque de segurança de 20%, qual é
a cota mensal adequada de equipos de soro para prover essa demanda?
A. 396
B. 300
C. 132
D. 110
E. 100

1. Introdução teórica

Previsão da demanda

As previsões sobre a demanda ou o consumo de materiais são fundamentais para a


consecução dos objetivos da administração de materiais, que consistem em prover o usuário
do material certo na quantidade solicitada e nas melhores condições operacionais e
financeiras para a organização (BARBIERI e MACHLINE, 2006).
Previsão da demanda é um processo pelo qual se procura antever o que irá ocorrer
no futuro para antecipar as providências necessárias para atender àqueles objetivos. Faz
parte do planejamento da organização da gestão. Demanda é a quantidade de um bem ou
serviço que as pessoas estariam dispostas a adquirir sob determinadas condições. Por
exemplo, se foram solicitadas 200 unidades de um item num dado período, mas só foram
entregues 180 unidades, por falta desse item no estoque, há uma demanda não atendida de
20 unidades. Para efeito de previsão, devem-se considerar 200 unidades do produto e não
180 para estimativa adequada da demanda (BARBIERI e MACHLINE, 2006).
A previsão da demanda para efeito das gestões de materiais em hospitais é
tipicamente uma previsão de curto prazo, que pode variar desde o próximo mês até, no
máximo, um ano à frente. Para a gestão de materiais, interessa saber a previsão de todos
os itens individualizados, ou seja, na máxima degradação (BARBIERI e MACHLINE, 2006).

24Questão 33 – Enade 2007


95
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

O processo de previsão, para ter validade como instrumento de planejamento, deve


ser realizado de modo consciente, utilizando-se um modelo de previsão. Qualquer modelo de
previsão deve contemplar os seguintes componentes de modo inter-relacionado:
informações, hipóteses sobre o futuro, método de previsão, interpretação, uso e avaliação,
conforme figura 1.

Figura 1. Previsão da demanda: modelo genérico.


Fonte: Barbieri e Machline, 2006. p. 85.

Segundo Barbieri e Machline (2006), há duas hipóteses importantes em relação à


demanda futura: esta é função de uma demanda passada, por exemplo, se nos últimos três
meses a demanda cresceu 10% ao ano, em média, projeta-se um crescimento de 10% para
o próximo ano; a demanda futura não será uma função da demanda passada por motivos
que estão fora do alcance da organização que faz a previsão.
O método escolhido deve ser compatível com a hipótese utilizada e o tipo de
informação disponível. Um modelo de previsão, genericamente considerado, envolve
diversos procedimentos, tais como:
a) especificar os objetivos da previsão (o quê e para quem prever);
b) definir as dimensões temporais e espaciais;
c) definir as hipóteses;
d) definir as fontes de dados;
e) selecionar métodos de previsão;
f) interpretar e usar a previsão;
g) acompanhar e avaliar a previsão.
Um resumo dos métodos de previsão da demanda está apresentado no quadro 1.

96
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

Quadro 1. Métodos de previsão da demanda.


Método Descrição
Ingênuo Previsão baseada na última demanda observada.
Método qualitativo baseado na experiência dos gestores, mediante um processo
Júri de opinião grupal, com votações quando as opiniões divergem.
Método baseado em opiniões de especialistas mantido em anonimato entre si, com o
Delphi objetivo de obter um consenso a respeito de algum assunto complexo.
Previsão com base em comparação com itens similares ou que guardam algum aspecto
Analogia comum.
Taxas
Calcula uma taxa (aritmética ou geométrica) que represente o crescimento ou declínio
de
de uma dada série temporal e aplica ao último dado da série.
Crescimento
Média móvel
Considera como previsão da demanda a média aritmética de um número constante de
aritmética
períodos temporais.
simples
Considera como previsão da demanda a média ponderada por meio de um sistema de
Suavização
pesos que decresce exponencialmente à medida que o período vai recuando no
Exponencial
passado.
Análise de
regressão e Método que procura identificar a relação de causalidade entre duas ou mais variáveis.
correlação
Método baseado no modelo do ciclo de vida do produto, um modelo no qual os
Curva S
produtos passam por estágios diferentes ao longo do seu ciclo de vida.
Fonte. Barbieri e Machline, 2006. p.87.

2. Análise da alternativa correta

Considerando que o consumo de equipos de soro na clínica médica do Hospital


Cotinha nos últimos 3 meses foi de 330 unidades, podemos calcular o consumo mensal de
equipos utilizando a regra de três que segue.
Leia-se: se em 3 meses foram consumidas 330 unidades, quanto se consume em um mês?

3 meses ----------- 330 equipos


1 mês ----------- X

3X = 330 equipos

X = 330 = 110 equipos em um mês


3

Pode-se afirmar que, na respectiva unidade, o consumo de equipos é de 110


unidades ao mês.
Partindo da afirmativa que o estoque de segurança de equipos da unidade é de 20%,
devemos acrescentar 20% no número total de equipos consumidos mensalmente (110

97
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

unidades). Para tal, pode-se aplicar novamente a regra de três para calcular a cota mensal
adequada de equipos para a unidade, considerando o estoque adicional, como segue.
Leia-se: Em um mês consome-se 110 equipos, o equivalente a 100% do estoque, quanto
deve ser acrescido no estoque para garantir 20% a mais de equipos?

110 equipos/mês ----------- 100% do estoque


X ----------- 120% do estoque

100X = 110 x 120

X = 13200
100

X = 132 equipos/mês.

Desse modo, pode-se afirmar que para prover a demanda adequada de equipos de soro e
garantir a cota mensal adequada desse material, a unidade deve estocar 132 equipos ao
mês.

Alternativa correta: C. 132 equipos.

3. Indicações bibliográficas

• BARBIERI, J. C.; MACHLINE, C. Logística hospitalar: teoria e prática . São Paulo: Saraiva,
2006.
• KURCGANT, P. Administração em enfermagem. São Paulo: EPU, 1991.
• DIAS, M. A. P. Administração de materiais: uma abordagem logística . São Paulo: Atlas,
1998.
• BORBA, V. R.; LISBOA, T. C. Teoria geral de administração hospitalar: estrutura e
evolução do processo de gestão hospitalar. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2006.

98
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

Questão 25
Questão 25.25
O Centro Dia de Convivência de Idosos Vida Feliz com capacidade para atender 20 idosos,
em cada período, teve aumento de procura por parte dos familiares de idosos que
apresentam sequelas de acidente vascular encefálico (AVE). A equipe de saúde do Vida Feliz
reuniu-se para planejar as ações necessárias para acolher esta demanda e optou por utilizar
como instrumento a metodologia do Planejamento Estratégico Situacional (PES).
Considerando o PES, está corretamente correlacionado o momento com a respectiva ação a
ser implementada pela equipe em:

1. Introdução teórica

Planejamento Estratégico Situacional (PES)

Planejamento é uma ferramenta administrativa que possibilita a percepção de uma


determinada realidade, a avaliação e a determinação dos caminhos a serem seguidos e a
construção de um futuro referencial, estruturando um trâmite adequado para enfrentamento
das situações. Segundo Melleiro et al (2005), planejar é um processo contínuo que engloba

25Questão 35 – Enade 2007


99
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

o exercício da razão, da sensibilidade e do conhecimento, envolvendo atividades de maior ou


menor complexidade ocorridas no trabalho, propiciando a construção de planos para
enfrentar as situações.
No gerenciamento em Enfermagem, o planejamento é um exercício contínuo, definido
como o conjunto de conhecimentos teóricos e práticos ordenados de modo a possibilitar a
interação com a realidade, programar as estratégias e as ações necessárias para alcançar os
objetivos e metas pré-estabelecidas. Planejamento é uma função privativa do enfermeiro,
juntamente com a organização, coordenação, execução e avaliação dos serviços da
assistência de enfermagem.
O Planejamento Estratégico Situacional (PES) foi concebido pelo economista chileno
Carlos Matus Romo, a partir da rejeição da ideia de uma só racionalidade de planejar. Trata-
se de um método de planejamento por problemas, principalmente problemas mal
estruturados e complexos, que são aqueles para os quais não existe uma solução normativa.
Os problemas são abordados em suas múltiplas dimensões – política, social, econômica,
cultural, entre outros, e as soluções dependem dos recursos disponíveis para solucioná-los e
dos atores sociais envolvidos (TEIXEIRA E FERNANDES, 2003).
O método possibilita a explicação de um problema a partir da visão do ator social que
o declara. Permite-se, assim, a identificação de possíveis causas da situação problemática e
a busca por diferentes modos de abordar e propor suas soluções, envolvendo assim a
participação ativa dos atores sociais (MELLEIRO et al, 2005).
O PES é desenvolvido por meio de quatro momentos diferentes para o processamento
técnico-científico do problema: o explicativo, o normativo, o estratégico e o tático-
operacional.
No momento explicativo, a realidade é descrita mediante a seleção de problemas
relevantes, buscando a compreensão ampla dos motivos pelos quais esses acontecem e
identificando os centros práticos de ação. De um modo simples, é o momento em que se
realiza a seleção, a compreensão e a análise do problema. Esse momento pode ser
sintetizado por meio das seguintes etapas (TEIXEIRA E FERNANDES, 2003; MELLEIRO et al,
2005):
• Brainstorming (tempestade de ideias).
• Limpeza e agrupamento dos problemas.
• Seleção de problemas prioritários para ação.
• Explicação ou análise dos problemas.

100
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

No momento normativo, ocorre a identificação dos atores que integram o problema e


dos recursos disponíveis para solucioná-los, ou seja, desenha-se o plano de intervenção e
são elaboradas propostas de ação, com a construção de planilhas de programação de ações.
No momento estratégico, a análise situacional está focada na construção da
viabilidade do plano, mapeando todos os atores que possam cooperar ou se opor ao que
está sendo proposto e avaliando o tipo de controle que cada um detém dos recursos
essenciais para o êxito do plano.
O momento tático-operacional consiste na implementação das ações propostas e na
adequação às situações apresentadas. É a fase de gestão do plano, que significa a criação
de um sistema de alta responsabilidade, em que as pessoas assumem compromissos de
executar as tarefas específicas, em tempos definidos.
Segundo Melleiro et al (2005), o PES consiste em um potente instrumento do
processo do trabalho gerencial cujo método permeia o permanente exercício de diálogo e de
reflexão acerca dos problemas que incidem em uma determinada realidade, visando prever
situações e alternativas, antecipar possibilidades de decisão e preparar estratégias para a
obtenção de governabilidade sobre elas.

2. Análise da questão

Conforme já referenciado, o método PES prevê quatro momentos para o


processamento dos problemas, mostrados a seguir.
1. Momento Explicativo – realização da seleção, compreensão e análise do problema.
2. Momento Normativo - desenha-se o plano de intervenção e elaboração das propostas de
ação.
3. Momento Estratégico - construção da viabilidade do plano, mapeando-se todos os atores
que possam cooperar ou se opor ao que está sendo proposto e,
4. Momento Tático-Operacional – implementação das ações.
Constata-se que a única alternativa que apresenta o planejamento do cuidado da
equipe de saúde do Vida Feliz correlacionando-o ao PES é a letra B. As demais alternativas
não correspondem às etapas do PES.

Alternativa correta. B.

101
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

3. Indicações bibliográficas

• MELLEIRO, M. M.; TRONCHIN, D. M.; CIAMPONE, M. H. T. O Planejamento estratégico


situacional no ensino do gerenciamento em enfermagem . Acta Paul Enferm. 2005;
18(2): 165-71.
• TEIXEIRA, A. B.; FERNANDES, P. C. O Planejamento estratégico situacional e a gestão
da atenção de um serviço hospitalar: o caso da Unidade de Cardiologia Intensiva do
Hospital Geral de Bonsucesso – Ministério da Saúde (Rio de Janeiro). [monografia]. Rio
de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública, 2003. Disponível
em <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/ct/pdf/ALFREDO%20BRASIL_monografia.pDF>.
Acesso em 08 mar. 2010.
• ARTMANN, E. Planejamento Estratégico Situacional no nível local: um instrumento a
favor da visão multissetorial. [online]. Disponível em
<http//www.ensp.fiocruz.br/biblioteca/dados/OPESNIVELOCALJavier.rtf>. Acesso em 08
mar. 2010.

102
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

Questão 26
Questão 26.26
A indústria automobilística Aston-Brasil, com 3000 funcionários, produz veículos automotores
em quantidade para suprir o mercado crescente e com qualidade para diferenciá-lo de seus
competidores. No último trimestre, apresentou alto índice de acidente de trabalho,
acarretando preocupação à administração da indústria. A assistência à saúde dos
trabalhadores sempre foi provida por uma equipe multiprofissional de saúde, que atua no
ambulatório da indústria, cada profissional atendendo de forma independente em um
consultório, sem interferências de uma área no trabalho da outra. O enfermeiro Nero foi
designado, pela administração, para avaliar a situação. Solicitou à equipe uma reunião para
propor a articulação das ações de saúde para os trabalhadores da indústria e a integração
dos profissionais na construção de planos de ações preventivas em saúde, o que gerou
muitos conflitos na equipe. A administração se dividiu discutindo duas propostas: a primeira,
proibir Nero de reunir a equipe multiprofissional, pois cada profissional realiza de forma
adequada seu trabalho individualmente, e a segunda, estimular Nero a realizar novas
reuniões, entendendo que a manifestação de conflitos é saudável no trabalho em equipe.
Quais teorias de administração embasam, respectivamente, as propostas discutidas?
A. das Relações Humanas e Científica.
B. dos Sistemas e Clássica.
C. Clássica e Científica.
D. Estruturalista e das Relações Humanas.
E. Científica e Estruturalista.

1. Introdução teórica

Teorias de administração

Teoria é um conjunto coerente de ideias capazes de explicar as relações entre


determinados fatos observáveis. As primeiras teorias de administração nasceram na Era
Industrial Clássica. Cada teoria administrativa aborda com ênfase determinados aspectos da
administração, marginalizando outros aspectos que não são preocupantes, conforme
observado na figura 1 (Chiavenato, 2004).

26Questão 36 – Enade 2007


103
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

Abordagens tradicionais
da administração

Ênfase nas Ênfase na Ênfase nas


tarefas estrutura pessoas

Administração Teoria Clássica Organização Teoria das


Científica (1911) Burocrática Relações
(1903) (1947) Humanas
F. Taylor H. Fayol M. Weber (1932)
E. Mayo
K. Lewin

Figura 1. Abordagens tradicionais da administração na Era Industrial Clássica.


Fonte. Chiavenato, 2004 – p.37.

A Teoria da Administração Científica foi iniciada pelo engenheiro Frederick W. Taylor,


no século XX, cuja essência é determinar o melhor método de trabalho do operário,
enfatizando as tarefas desempenhadas pelos trabalhadores. Sua preocupação foi tentar
eliminar o desperdício e as perdas sofridas pelas empresas e elevar os níveis de
produtividade por meio da aplicação de métodos e técnicas da engenharia industrial. A
Teoria Taylorista impõe sobre o trabalhador o seguimento de um método de trabalho que
deve ser planejado e estruturado por um profissional especializado, suprimindo o direito de
escolha do operário sobre seu próprio esquema de trabalho.
Sua teoria fundamenta-se na ideia de que a administração das tarefas está assentada
na organização racional do trabalho para a definição do método pelo qual o operário poderia
se tornar mais eficiente em suas atividades. A Teoria de Taylor abriu caminho para o
surgimento da fragmentação e do mecanicismo das tarefas para permitir a especialização do
operário, tornando o trabalho mais eficiente pela simplificação e padronização das
atividades. Um exemplo típico dessa fragmentação e padronização é a linha de montagem,
na qual o trabalhador executa tarefas simples e repetitivas ao longo de sua jornada diária de
trabalho. Henry Ford teve a intuição de utilizá-la para produzir automóveis e reduzir os
custos de produção, obtendo sucesso ao utilizar as ideias inovadoras de Taylor.
A Teoria Clássica da Administração foi iniciada pelo engenheiro francês Henri Fayol,
por volta de 1916, com ênfase na estrutura organizacional e preocupação com as funções de
104
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

gerência. Para Fayol, administrar é prever, comandar, controlar, coordenar e organizar. Sua
ideia foi padronizar e proporcionar regras genéricas de aplicação, de caráter prescritivo e
impositivo, como se fosse uma receita para lidar com todos os assuntos administrativos.
A Teoria Burocrática foi introduzida pelo sociólogo Max Weber, em 1947, embasado
no pressuposto que para criar uma organização eficiente, com prevalência da ordem, da
disciplina e da total previsibilidade do comportamento dos seus participantes, é necessário o
seguimento de seis dimensões administrativas - divisão de trabalho, hierarquia de
autoridade, regulamentação, comunicações formalizadas, impessoalidade e competência
profissional. Nessa organização, impera a racionalidade, visando atingir a previsibilidade do
comportamento das pessoas dentro da organização, que passa a ser conduzida por um
administrador profissional.
A ênfase nas pessoas teve início com a Teoria das Relações Humanas, introduzida por
George Elton Mayo, psicólogo social, na década de 1930, que enfatizava a importância do
fator humano na organização e a necessidade de humanização e democratização das
organizações, alicerçada nas obras de Taylor e Fayol e contrária à Teoria Clássica. Com essa
teoria, os conceitos de organização formal, disciplina, departamentalização, centralização,
mecanicismo, entre outros, cedem lugar aos novos conceitos como organização informal,
liderança, comunicação, motivação, grupos sociais, recompensas simbólicas e sociais. A
maior contribuição da Teoria das Relações Humanas foi ressaltar a necessidade de boas
relações humanas no ambiente de trabalho, o tratamento mais humano às pessoas, a
adoção de uma administração mais democrática e participativa, na qual as pessoas exerçam
um papel mais ativo e dinâmico.
A Era Industrial Neoclássica trouxe uma profunda reformulação das tradicionais
teorias administrativas, de abordagem predominantemente normativa e prescritiva,
substituindo-as por teorias de cunho explicativo e descritivo, mais adequadas aos novos
tempos (figura 2).

105
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

Figura 2. Novas abordagens da administração na Era da Industrialização Neoclássica.


Fonte. Chiavenato, 2004, p.45.

A Teoria Estruturalista surgiu em 1950 a partir da necessidade de visualizar a


organização como unidade social grande e complexa, buscando compatibilizar ideias da
Teoria Clássica e da Teoria das Relações Humanas. Preocupou-se com o estudo da
organização formal (estabelecida pela organização, por meio do organograma e manuais) e
da organização informal (comportamento de grupos sociais informais dentro da organização
formal), ou seja, foi uma abordagem múltipla e compreensiva na análise das organizações,
focalizando-as como complexos de estruturas formais e informais.
A Teoria Neoclássica, também denominada Escola do Processo Administrativo, surgiu
em 1957 para redimensionar e atualizar os velhos conceitos clássicos de administração. A
Teoria trabalha temas importantes como o tamanho organizacional, os tipos de organização
e a departamentalização, tendo sempre por base o processo administrativo.
A Teoria Comportamental teve início após a década de 1950, como fruto do
movimento humanista iniciado pela Teoria das Relações Humanas. O comportamento
individual cedeu lugar ao comportamento grupal e, posteriormente, ao comportamento
organizacional.
Por fim, com ênfase no ambiente e na tecnologia, as Teorias de Sistemas e da
Contingência foram desenvolvidas. A Teoria de Sistemas apareceu na década de 1960, com
base no pressuposto que nenhuma organização existe no vácuo e cada organização interage
e se relaciona com seu ambiente (sociedade). Um sistema é definido como um conjunto
integrado de partes, que são íntima e dinamicamente relacionadas. Todo sistema faz parte
de um sistema maior (suprassistema), que forma seu ambiente, e é constituído de sistemas
menores (subsistemas). Assim, as interações entre empresas e seus ambientes passaram a
106
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

explicar com maior profundidade certos aspectos da estrutura organizacional e dos


processos operacionais utilizados pelas empresas.
A Teoria da Contingência surgiu após a década de 1970, trazendo a concepção que
não existe uma única melhor maneira de organizar as empresas, pelo contrário, as
características estruturais das empresas dependem das características ambientais que as
circundam. Segundo essa Teoria, as empresas bem-sucedidas são as que conseguem se
adaptar e se ajustar adequadamente às demandas ambientais, nas quais estão os clientes,
consumidores e usuários, sendo prioridade sua valorização.

2. Análise da questão

A primeira sugestão analisada pela equipe administrativa de “ proibir Nero de reunir a


equipe multiprofissional, porque cada profissional realiza de forma adequada seu trabalho
individualmente”, está fundamentada na Teoria da Administração Científica. Tal teoria refere
que cada trabalhador deve realizar sua atividade de modo individual e sistemático, de
acordo com o que foi planejado pela gerência e conforme treinamento específico. Vale
lembrar que a teoria é representada pela organização do tipo “linha de montagem”, na qual
cada trabalhador realiza uma única atividade de modo repetitivo.
A segunda sugestão “estimular Nero a realizar novas reuniões, entendendo que a
manifestação de conflitos é saudável no trabalho em equipe ”, está fundamentada na Teoria
Estruturalista que se preocupa em estudar a organização formal e a informal, conciliando a
teoria Clássica (impositiva) com a teoria das relações humanas (que enfatiza o papel das
pessoas e grupos sociais na organização). A presença de fatores estressantes ou conflitos
nas relações formais (impositivas) ou informais (grupos) de trabalho podem influenciar
diretamente o trabalhador e sua produtividade, podendo gerar insatisfação e desestímulo
para a execução de suas tarefas. Tal situação pode provocar, por exemplo, a falta de
atenção na realização das tarefas que, por sua vez, pode desencadear um acidente de
trabalho. Por isso, é importante que Nero levante com os funcionários da empresa Aston-
Brasil quais são os conflitos gerados pelas relações formais e informais do trabalho para
conseguir levantar os problemas específicos e planejar a assistência de enfermagem mais
adequada para a situação.

Alternativa correta. E.

107
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

3. Indicações bibliográficas

• CHIAVENATO, I. Administração: teoria, processo e prática. 4. ed. Rio de Janeiro:


Elsevier, 2007.
• CHIAVENATO, I. Administração nos novos tempos. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
• BORBA, V. R.; LISBOA, T. C. Teoria geral de administração hospitalar: estrutura e
evolução do processo de gestão hospitalar. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2006.

108
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

Questão 27
Questão 27.27
Alice tem 28 anos e chegou ao Pronto Socorro com seu filho Mateus de um ano e três
meses, com história de duas internações hospitalares por pneumonia. A criança frequenta
uma creche municipal e há dois dias apresenta diarreia, febre intermitente, bradipneia,
vômito e perda de peso. Foi encaminhada pela Unidade Básica de Saúde com tratamento do
Plano C para desidratação, já tendo recebido uma dose de antitérmico e recebendo soro de
re-hidratação oral 15 mL/kg/hora por sonda nasogástrica. Após alguns exames clínicos e
laboratoriais, Alice foi informada de que Mateus está com tuberculose pulmonar. Ao ser
esclarecida de que o diagnóstico havia sido confirmado pela identificação do Bacilo de Kock
no lavado gástrico, Alice mostrou-se convencida de que Mateus contraiu tuberculose há uma
semana, através do leite materno de uma conhecida que o amamentou uma única vez. Alice
foi orientada sobre a fisiopatologia, o tratamento e a prevenção da doença de Mateus.
Considerando o pensamento do educador Paulo Freire, essa ação educativa teve qual
abordagem e objetivo?
A. Biologicista, com informações a respeito do modo de transmissão da doença para corrigir
a convicção de Alice em relação ao meio pelo qual Mateus foi infectado.
B. Dialógica, com a transformação dos saberes existentes, ajudando Alice a compreender
por si mesma o modo de transmissão da tuberculose.
C. Higienista, com a instituição de medidas de precaução para interromper a cadeia de
transmissão da doença na família e na comunidade.
D. Construtivista, com a demonstração à Alice de seu desconhecimento e a este atribuindo
como uma das causas do adoecimento de Mateus, visando ao aprimoramento de sua
conduta.
E. Paternalista, com a inclusão de Alice num programa de apoio econômico, garantindo
seus direitos e a construção de sua cidadania.
1. Introdução teórica

Pensamento educador de Paulo Freire

Paulo Reglus Neves Freire (1921-1997), conhecido como Paulo Freire, foi um
educador e filósofo brasileiro que se destacou pelo seu trabalho na educação popular,

27Questão 24 – Enade 2007


109
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

alicerçado na escolarização e na formação da consciência humana. É considerado um dos


pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial (GADOTTI, 1996).
Sua principal obra, Pedagogia do Oprimido, publicada em 1970, é considerada a mais
completa e importante literatura na educação. Traduzida em mais de 20 idiomas, tornou-se
referência para o entendimento da prática de uma pedagogia libertadora e progressista
(GADOTTI, 1996).
Nesse livro, Paulo Freire propõe uma explicação da importância e da necessidade de
uma pedagogia dialógica emancipatória do oprimido, em oposição à pedagogia da classe
dominante. De acordo com esse modelo pedagógico, o educador, por meio da educação
dialógica problematizante e participante, procura conscientizar e capacitar o povo para a
transição da consciência ingênua à consciência crítica, com base nas fundamentações
lógicas do oprimido. Caracteriza-se por um movimento de liberdade que surge a partir dos
oprimidos, sendo a pedagogia realizada e concretizada com o povo na luta por sua
humanidade (CABRAL, 2005).
Na referida obra, Paulo Freire descreve que não deve haver uma relação de
verticalidade entre educador e educando. Destaca a concepção bancária de educação, vista
como um ato de depositar ou uma dádiva para com o povo, considerado como uma tábua
rasa. Essa pedagogia dicotomiza o sujeito narrativo (o educador) e os objetos ouvintes (os
educandos), evidenciando uma relação de verticalidade, completamente alheia à experiência
existencial dos educandos. De acordo com essa visão, o saber é uma doação fundamentada
na absolutização da ignorância, manifestação instrumental da ideologia da opressão, que
visa transformar a mentalidade do oprimido e não a situação que o oprime (FREIRE, 1987;
CABRAL, 2005).
Segundo Paulo Freire, o respeito à autonomia e à dignidade de cada indivíduo é um
imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros. É nesse
sentido que o educador critica a educação vertical e defende o pensamento dialógico.
Para o autor, os homens educam-se entre si mediatizados pelo mundo, pela educação
problematizadora, que exige a superação da contradição educador-educando, e pelo
diálogo, em que ambos se tornam sujeitos do processo e crescem juntos em liberdade,
procurando o conhecimento verdadeiro e a cultura pela emersão das consciências para uma
inserção crítica na realidade. A dialogicidade é a essência da educação e uma prática da
liberdade (CABRAL, 2005).
De acordo com Paulo Freire, o diálogo é atuar e pensar como sujeitos e permitir que
as outras pessoas que nos rodeiam também sejam sujeitos críticos (GADOTTI, 1996). O

110
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

diálogo se faz numa relação horizontal, baseada na confiança entre os sujeitos e na


esperança transformada na concretização de uma procura eterna, fundamentada no
pensamento crítico. Começa na busca do conteúdo programático que, para o educador-
educando, dialógico, problematizador, não é uma doação, mas uma devolução organizada,
sistematizada e acrescentada ao povo dos elementos que foram entregues de uma forma
desestruturada (FREIRE, 1987).
Diálogo, conceito chave e prática essencial na concepção freireana, implica na
observação simpática, em atitudes compreensivas e numa percepção crítica da realidade do
povo, constituída pelo seu conjunto de dúvidas, anseios e esperanças, por parte do
educador para que expresse uma ação cultural. A prática pedagógica passa a ser uma ação
política de troca de concretudes e de transformação, na qual ambos são sujeitos do ato
cognoscente (capaz de adquirir conhecimento), que desmistificam a realidade e criticam-na
para conhecê-la recriando o conhecimento e descobrindo-se como refazedores permanentes.
É o aprender ensinando e o ensinar aprendendo. Não é apenas um método, mas uma
estratégia para respeitar o saber do educando (FREIRE, 1987; CABRAL, 2005).
Destaca-se uma importante concepção do pensamento educador de Paulo Freire,
reproduzida a seguir.

Para colocar o diálogo em prática, o educador não pode se colocar na posição


ingênua de quem se pretende detentor de todo o saber, deve, antes, colocar-se na
posição humilde de quem sabe que não sabe tudo, reconhecendo que o analfabeto
não é um homem perdido, fora da realidade, mas alguém que tem toda uma
experiência de vida e, por isso, também é portador de um saber.
PAULO FREIRE, IN MOACYR GADOTTI, PAULO FREIRE: UMA BIOBIBLIOGRAFIA,
1996.

Uma das interfaces do cuidado integral é a utilização de práticas educativas em


saúde. No modelo assistencial tradicional, a prática educativa configura uma transmissão de
informações, na maioria das vezes, descontextualizadas, de cunho moral e disciplinador,
utilizando estratégias verticalizadas de educação, ditando comportamentos a serem
adotados para a manutenção da saúde, em substituição aos saberes e práticas populares
relativos aos processos de saúde-doença (GÓES e LA CAVA, 2009).
A proposição de práticas educativas de saúde sensíveis às necessidades dos usuários
insere-se no modelo de educação preconizado por Paulo Freire – o dialógico. A referida
metodologia pedagógica tem como ponto de partida o conhecimento sistemático da
realidade em que vivem os sujeitos, que são convidados a deixar o silêncio para
compartilhar suas experiências de vida. Fundamenta-se no diálogo como uma condição

111
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

essencial e necessária para a prática educativa. Assim, proporciona uma democratização do


saber científico e, por consequência, o desenvolvimento da autonomia dos indivíduos no
cuidado à sua própria saúde (GÓES e LA CAVA, 2009).

2. Análise das alternativas

A – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. O modelo biologicista de educação não foi defendido por Paulo Freire e não
considera o conhecimento prévio do educando e o diálogo entre educador e educando. Está
fundamentado no conhecimento biológico, que deve ser transmitido pelo educador –
educação vertical.

B – Alternativa correta.
JUSTIFICATIVA. A pedagogia dialógica foi fundamentada por Paulo Freire, em 1987. Trata-
se de uma estratégia que pode ser utilizada pelos profissionais de saúde, porque respeita o
saber do cliente/paciente, permitindo ao cliente a elaboração de um pensamento crítico para
melhor compreensão de sua própria situação de saúde. No referido caso, o profissional de
saúde considerou o conhecimento prévio de Alice acerca da doença e o seu modo de
transmissão. Com base nesse conhecimento, orientou-a sobre os modos de transmissão da
doença.

C – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. O modelo higienista de educação não foi defendido por Paulo Freire. Esse
modelo caracteriza-se pela verticalidade das ações educativas, ou seja, também não
considera o conhecimento prévio do educando e o diálogo entre educador e educando.

D – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. O pensamento construtivista foi defendido por Piaget, que discorre sobre a
concepção de que cada fase de desenvolvimento da inteligência humana apresenta
características e possibilidades de crescimento da maturação ou de aquisições. O
conhecimento dessas possibilidades faz com que os professores possam oferecer estímulos
adequados a um maior desenvolvimento do indivíduo.

112
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

E – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. No pensamento paternalista, o educador assume um papel de autoridade e
não considera o conhecimento prévio e o diálogo – modelo vertical de educação. O referido
modelo não foi defendido por Paulo Freire.

3. Indicações bibliográficas

• FREIRE, P. R. N. Pedagogia do Oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
• GADOTTI, M. Paulo Freire: uma biobibliografia . São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire;
Brasília; UNESCO, 1996.
• CABRAL, A. Pedagogia do Oprimido. Rev. Lusófona de Educação. [online]. 2005, nº. 5
[citado 28 mai. 2010], p.200-204. Disponível em
<http://www.scielo.oces.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-
72502005000100014&lng=es&nrm=iso>. Acesso em 29 jun. 2010.
• GÓES, F. G. B.; LA CAVA, A. M. A concepção de educação em saúde do enfermeiro no
cuidado à criança hospitalizada. Rev. Eletr. Enf. [online] 2009;11(4): 932-941. Disponível
em <http://www.fen.ufg.br/revista/v11/n4/v11n4a18.htm>. Acesso em 29 jun. 2010.

113
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

Questão 28
Questão 28.28
Os usuários da Unidade Básica de Saúde de Linha Rosa chegam às 5 horas para serem
atendidos pelo médico a partir das 8 horas da manhã. Formam uma fila em frente ao posto
e quem chega primeiro tem mais chance de ser consultado.
Os graduandos em enfermagem da Faculdade Nightingale, em estágio curricular na Linha
Rosa, questionaram a organização do atendimento e sugeriram à equipe de saúde da
Unidade que aplicasse os princípios da Política Nacional de Humanização (PNH). Como tais
princípios eram desconhecidos, a gerente da Unidade solicitou aos graduandos que
orientassem à equipe na implantação do PNH. Usando os princípios da educação
permanente, as ações educativas a serem desenvolvidas devem priorizar a
A. aprendizagem significativa, tendo em vista o conhecimento prévio dos trabalhadores da
Linha Rosa referente à organização do serviço.
B. transmissão vertical do conhecimento por meio de aulas expositivas sobre os princípios
básicos da PNH.
C. participação de integrantes de serviços humanizados, possibilitando a reprodução dessa
experiência na Linha Rosa.
D. memorização dos princípios básicos da PNH para posterior implantação pelos
trabalhadores da Linha Rosa.
E. explanação por especialistas que sintetize o conteúdo do PNH aos trabalhadores da Linha
Rosa, agilizando o processo de implantação.

1. Introdução teórica

Política Nacional de Humanização (PNH) e educação em enfermagem

A Política Nacional de Humanização (PNH) foi instituída pelo Ministério da Saúde em


2003, fundamentado na premissa da necessidade de assegurar a atenção integral à
população e na valorização dos trabalhadores de saúde, no avanço da democratização da
gestão e do controle social participativo, propondo estratégias para ampliação da condição
de direitos e de cidadania das pessoas (BRASIL, 2004).
Segundo Santos-Filho (2007), a Política de Humanização parte de conceitos e
dispositivos que visam à reorganização dos processos de trabalho em saúde, propondo

28Questão 34 – Enade 2007


114
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

transformações nas relações sociais, que envolvem gestores e trabalhadores de saúde em


sua experiência cotidiana de organização e condução dos serviços; e, também,
transformações nas formas de produzir e prestar serviços de saúde à população.
Para a construção de uma Política de Qualificação do Sistema Único de Saúde (SUS),
a Humanização deve ser entendida como uma política que opere transversalmente em toda
a rede do SUS, que implica na elaboração de princípios e modos de operar no conjunto das
relações entre profissionais de saúde e usuários, entre os diferentes profissionais e entre as
instâncias que constituem o SUS (BRASIL, 2004).
Humanização implica na troca de saberes e no diálogo entre os profissionais de saúde
e a comunidade, assim como o diálogo entre os profissionais de saúde e o trabalho em
equipe visando aumentar o grau de corresponsabilidade dos diferentes atores que
constituem a rede SUS, na produção de saúde. Assim, a humanização estabelece a
construção de atitudes ético-estético-políticas em sintonia com um projeto de
corresponsabilidade e qualificação dos vínculos interprofissionais e entre estes e os usuários
na produção da saúde.
Os princípios norteadores da PNH são (BRASIL, 2009):
• a inseparabilidade entre a atenção e a gestão dos processos de produção de saúde,
referindo-se às práticas de saúde interdependentes e complementares;
• a transversalidade entendida como a adoção de concepções e práticas que aumentem o
grau de abertura da comunicação intra e intergrupos e ampliam as grupalidades;
• a autonomia e o protagonismo dos sujeitos que têm relação com a corresponsabilidade
entre gestores, profissionais de saúde, usuários na produção de saúde e a participação
coletiva nos processos de gestão em saúde.
Com a implantação da PNH, o Ministério da Saúde pretende alcançar objetivos
estratégicos como a redução de filas e do tempo de espera, com ampliação do acesso; o
atendimento acolhedor e resolutivo baseado nos critérios de risco; a implantação de modelo
de atenção com responsabilização e vínculo; a garantia dos direitos dos usuários; a
valorização do trabalho em saúde e gestão participativa nos serviços (BRASIL, 2004).
O referencial teórico-político da PNH contextualiza que a institucionalização da política
de humanização pressupõe transformações em diversos eixos que permeiam a atenção e a
gestão em saúde (BRASIL, 2004), conforme segue.
• Eixo das instituições do SUS – a PNH deve fazer parte dos planos estaduais e municipais
dos vários governos, aprovados pelos gestores e pelos conselhos de saúde
correspondentes.

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Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

• Eixo da gestão do trabalho – propõe a promoção de ações que assegurem a participação


dos trabalhadores nos processos de discussão e decisão na gestão de saúde.
• Eixo da educação permanente – a PNH deve compor o conteúdo profissionalizante na
graduação, na pós-graduação e na extensão em saúde, vinculando-o aos Polos de
Educação Permanente e às instituições formadoras.
• Eixo da informação/comunicação – indica a ampliação do domínio social sobre a PNH,
por meio de ação de mídia e discurso social amplo.
• Eixo da atenção – propõe uma política incentivadora do protagonismo dos sujeitos, da
democratização da gestão dos serviços e da ampliação da atenção integral à saúde,
promovendo a intra e intersetorialidade com responsabilização sanitária pactuada entre
gestores e trabalhadores.
• Eixo do financiamento – propõe a integração de recursos vinculados a programas
específicos de humanização.
• Eixo da gestão da PNH – indica-se a pactuação com as instâncias intergestoras e de
controle social do SUS, o acompanhamento, o monitoramento e a avaliação sistemáticos
das ações realizadas, de modo integrado às políticas de saúde, estimulando a pesquisa
relacionada às necessidades dos SUS na perspectiva da humanização.
Uma das principais estratégias para produzir políticas públicas fundamentadas e
coerentes com os princípios do Sistema Único de Saúde é a Educação. É neste contexto que
o eixo da educação permanente se faz importante para a implementação e resolutividade da
Política Nacional de Humanização.
A educação permanente é definida como o processo de aprendizagem no trabalho, no
qual o aprender e o ensinar se incorporam ao cotidiano das organizações e ao trabalho. Ela
é feita a partir dos problemas enfrentados na realidade cotidiana e considera os
conhecimentos e as experiências de cada indivíduo. A educação permanente propõe que a
atividade educativa direcionada aos trabalhadores da saúde sejam iniciadas pela
problematização do processo de trabalho. É uma estratégia alicerçada na premissa que, para
produzir mudanças nas práticas de gestão e de atenção à saúde, é fundamental que os
profissionais de saúde sejam capazes de dialogar com as práticas e concepções vigentes,
problematizando-as, e assim de construir novos pactos de convivência e práticas que
aproximem o SUS da atenção integral e de qualidade (BRASIL, 2009).
A educação permanente está fundamentada na aprendizagem significativa. Esse novo
paradigma é fruto da visão de que o conhecimento não se “transmite”, mas se constrói a
partir das dúvidas e dos questionamentos das práticas vigentes à luz dos problemas

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Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

contextuais. Permite revelar a complexidade e a articulação das explicações dos diferentes


problemas e torna evidente a necessidade de estratégias múltiplas, que, para serem
propostas e implementadas, necessitam articulação com a gestão do sistema (BRASIL,
2009).
Assim, a educação permanente é uma estratégia potente para a democratização da
gestão do sistema e para a transformação das práticas de gestão, de atenção e de controle
social. Como consequência, é fundamental para o desenvolvimento da Política de
Humanização do SUS.

2. Análise das alternativas

A – Alternativa correta.
JUSTIFICATIVA. A educação permanente está fundamentada na aprendizagem significativa
que é feita a partir dos problemas enfrentados na realidade cotidiana, considerando os
conhecimentos e as experiências prévias de cada indivíduo. Constitui um princípio essencial
para a implementação da Política Nacional de Humanização.

B – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. As estratégias educativas baseadas na transmissão vertical do
conhecimento, conforme “modelo escolar”, têm se mostrado pouco eficazes para possibilitar
a incorporação de novos conceitos e princípios às práticas de saúde estabelecidas. Por isso,
devem ser desestimuladas.

C – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Para que haja mudança na prática assistencial da Unidade Básica de Saúde,
é fundamental que a equipe de saúde discuta os problemas enfrentados na unidade e juntos
construam uma nova estratégia de enfrentamento da situação para a implementação da
humanização da assistência (acolhimento e classificação de risco). Nem sempre uma
experiência de outra unidade será efetiva na resolução dos problemas da referida UBS. Por
isso, é irrelevante a participação de integrantes de serviços humanizados. A equipe necessita
trabalhar suas necessidades e resolver o problema de acordo com seu contexto.

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Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

D – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. A memorização dos princípios básicos da PNH não é a estratégia
fundamental para sua implementação, pois não é suficiente para reconsiderar as próprias
práticas de saúde e nem leva em consideração a contextualização do problema por cada
membro da equipe de saúde. Por se mostrar pouco eficaz na produção de conhecimento ou
de competências técnicas específicas ou para a promoção de mudanças na organização dos
serviços, tal método de ensino deve ser desestimulado.

E – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. A explanação por especialistas sobre o conteúdo do PNH retoma a
transmissão vertical do conhecimento, que tem se mostrado pouco eficaz para possibilitar a
incorporação de novos conceitos e princípios às práticas de saúde estabelecidas. Por isso,
não deve ser realizada.

3. Indicações bibliográficas

• BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Núcleo Técnico da Política Nacional


de Humanização. HumanizaSUS: Política Nacional de Humanização: a humanização
como eixo norteador das práticas de atenção e gestão em todas as instâncias do SUS.
Brasília (DF): Ministério da Saúde, 2004.
• SANTOS-FILHO, S. B. Perspectivas da avaliação na Política Nacional de Humanização em
Saúde: aspectos conceituais e metodológicos . Ciência e Saúde Coletiva , 2007; 12(4):
999-1010.
• BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde.
Departamento de Gestão da Educação em Saúde. Política Nacional de Educação
Permanente em Saúde. Brasília (DF): Ministério da Saúde, 2009. Disponível em
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_educacao_permanente_s
aude.pdf>. Acesso em 29 jun. 2010.

118
Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

Questão 29
Questão 29.29
A reorganização do processo de trabalho em enfermagem passa pela qualificação da força
de trabalho, pela integração dos profissionais e o resgate do sentido de trabalho na
perspectiva interdisciplinar. Inclui, ainda, a abertura de espaços democráticos, de discussão
e de decisão com o usuário, visando a ampliar escutas e trocas.
Com base no texto acima, em que modelo de assistência a enfermagem deve centrar suas
práticas cuidativas e educativas?
A. Humanista.
B. Biologicista.
C. Flexneriano
D. Tecnicista.
E. Teologicista.

1. Introdução teórica

Modelos de assistência à saúde

O cuidado é uma expressão de nossa humanidade e constitui um elemento essencial


para o desenvolvimento dos seres humanos. O cuidado humano e o cuidar estão
historicamente relacionados à enfermagem, sendo vistos como o ideal moral da profissão
(WALDOW, 2007). O modelo assistencial adotado pela enfermagem para a prática do
cuidado apresenta características divergentes ao longo da história. Fundamentalmente,
esses modelos assistenciais estão pautados nos diferentes paradigmas existenciais
predominantes em cada época.
A partir do século XVII, o pensamento newtoniano-cartesiano foi o fio condutor do
fazer científico e da assistência à saúde no Brasil. Esse paradigma, denominado modelo
biomédico, está centralizado na doença e na intervenção curativa, fundamentando-se no
referencial biologicista do processo de saúde-doença (GÓES e LA CAVA, 2009).
O paradigma newtoniano-cartesiano de assistência à saúde fez com que o profissional
de saúde deixasse de assistir integralmente ao ser humano, para vislumbrá-lo como uma
máquina, composta por partes independentes que, ao adoecer, necessita ser “consertada”.
Esse paradigma contribuiu tanto para espetacular eficiência tecnológica, como também para

29Questão 26 - Enade 2004


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Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

a mutilação e compartimentalização da ação humana, especialmente na área da saúde,


consolidando-se como verdade paradigmática para a medicina e para a enfermagem.
Sob esse ponto de vista, a assistência e o cuidado ao ser humano foram relacionados
às doenças e ao curativismo, mantendo uma abordagem reducionista, altamente
mecanizada, tecnicista, especializada e impessoal, sem vislumbrar a promoção de saúde.
Entretanto, a partir do final do século XIX, uma nova visão de realidade começou a
surgir – holismo, superando aos poucos o pensamento newtoniano-cartesiano. O novo
paradigma desvela um universo holístico, sistematizado, interligado e dinâmico, cujas partes
estão essencialmente inter-relacionadas e só podem ser entendidas como um conjunto
(BARBOSA et al, 2001).
No contexto da saúde, o paradigma holístico traduz a concepção do corpo humano
como um sistema, como um todo indivisível, inter-relacionado e interdependente. Segundo
Teixeira (1996), para que a saúde seja holística, ela necessita ser estudada como um
sistema, como um fenômeno multidimensional, que envolve aspectos físicos, psicológicos,
sociais e culturais, todos interdependentes e não arrumados em sequência de passos e
medidas isoladas para atender cada uma das dimensões apontadas.
De acordo com o novo modelo, os profissionais de saúde devem redimensionar o
modo de assistir ao ser humano, reavaliando sua relação com a clientela e assumindo a
responsabilidade do equilíbrio de indivíduos e sociedades. A concepção holística também
preconiza a prevenção de doenças e a promoção da saúde em detrimento ao curativismo,
indicando a importância da mudança no modelo assistencial utilizado pela saúde (TEIXEIRA,
1996).
Atualmente, vivencia-se uma fase de transição entre os dois paradigmas assistenciais.
Os dois modelos são empregados pelos profissionais de saúde nos mais diferentes níveis de
assistência. Contudo, observa-se que a impessoalidade, a insensibilidade e a mecanização
do cuidado, características do modelo newtoniano-cartesiano de assistência, estão
associadas ao entendimento de desumanização, enquanto o cuidado holístico relaciona-se
ao cuidado humanizado.
Conforme referido por Brischialiari et al (2008), o cuidado humanizado relaciona-se à
assistência holística e integral por contemplar a dimensão subjetiva do ser humano, devendo
abranger as dimensões psíquicas, físicas, culturais, espirituais e sociais de cada cliente.
Humanização implica, ainda, na abertura de espaços democráticos, na troca de saberes e no
diálogo entre os profissionais de saúde e a comunidade/cliente, visando aumentar o grau de
corresponsabilidade dos diferentes atores da produção de saúde.

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Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

Por promover a integralidade do cuidado e a relação igualitária entre


instituições/profissionais de saúde e a comunidade/clientela, o modelo holístico de
atendimento é recomendado, nacional e internacionalmente, como o ideal para assistência à
saúde.
Uma das interfaces do cuidado integral é a utilização de práticas educativas em
saúde. As estratégias frequentemente adotadas pelos profissionais de saúde para essa
prática estão alicerçadas no modelo tradicional de assistência, caracterizadas pela
transmissão de informações verticalizadas, que ditam comportamentos a serem adotados
para a manutenção e promoção da saúde, sem considerar os saberes e as experiências
individuais e coletivas.
Contudo, em oposição ao modelo tradicional, recomenda-se a adoção do modelo
dialógico de educação, que está alicerçado no modelo holístico de cuidado e tem como
ponto de partida o conhecimento sistemático da realidade em que vivem os sujeitos, que
são convidados a deixar o silêncio para compartilhar suas experiências de vida. Essa
proposta educativa proporciona uma democratização do saber científico e,
consequentemente, o desenvolvimento da autonomia dos indivíduos no cuidado com a
própria saúde (GÓES e LA CAVA, 2009).
A transição para o novo modelo se dará lenta e gradativamente. Para que ocorram
mudanças significativas no cuidado à saúde são necessárias revisões nos atuais modelos de
assistência, nos mecanismos de preparação e de formação do profissional de saúde e nas
pesquisas científicas desenvolvidas pela área.

2. Análise das alternativas

A – Alternativa correta.
JUSTIFICATIVA. O cuidado humanizado contempla a dimensão subjetiva do ser humano,
abrangendo as dimensões psíquicas, físicas, culturais, espirituais e sociais de cada cliente,
tratando o indivíduo como um todo e fornecendo espaço para discussão e participação do
usuário nos processos de decisão sobre sua própria saúde. Por isso, a assistência
humanizada deve ser estimulada e praticada pelos profissionais de saúde.

B – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. O modelo biologicista de assistência está focalizado na doença e na
intervenção, direcionando a prática em saúde somente para a esfera curativa.

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Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

C – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. O modelo flexneriano é marcado pela prática médico/curativa, individual,
assistencialista e especializada.

D – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. O modelo tecnicista de assistência está centrado na intervenção,
direcionando a prática em saúde somente para a esfera curativa.

E – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. O modelo teologicista de assistência está centrado na figura divina, na qual
“um ser superior” é responsável pela doença e, também, pela cura.

3. Indicações bibliográficas

• BARBOSA, M. A.; FONSECA, A. P. M.; BACHION, M. M.; SOUZA, J. T.; FARIA, R. M.;
OLIVEIRA, L. M. A. C.; ANDRAUS, L. M. S. - Terapias alternativas de saúde x alopatia:
tendências entre acadêmicos de medicina. Revista Eletrônica de Enfermagem [online]
2001;3(2). Disponível em <http://www.revistas.ufg.br/index.php/fen>. Acesso em 29
jun. 2010.
• BRISCHIALIARI, A.; MAFTUM, M. A.; WAIDMANN, M. A. P.; MAZZA, V. A. Sensibilizando
a equipe de enfermagem ao cuidado humanizado em saúde mental mediante oficinas
educativas. Rev. Eletr. Enf. 2008;10(4): 1080-90. Disponível em
<http://www.fen.ufg.br/revista/v10/n4/v10n4a21.htm>. Acesso em 29 jun. 2010.
• TEIXEIRA, E. Reflexões sobre o paradigma holístico e holismo na saúde. Rev. Esc. Enf.
USP 1996; 30(2): 286-290.
• GÓES, F. G. B.; LA CAVA, A. M. A concepção de educação em saúde do enfermeiro no
cuidado à criança hospitalizada. Rev. Eletr. Enf. [online] 2009; 11(4): 932-941. Acesso
em 29 jun. 2010. Disponível em
<http://www.fen.ufg.br/revista/v11/n4/v11n4a18.htm>. Acesso em 29 jun. 2010.

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Material Específico – Enfermagem – Tomo 2 – CQA/UNIP

ÍNDICE REMISSIVO

Questão 1 Cuidar em enfermagem e promoção de saúde.


Questão 2 Violência.
Questão 3 Pressão arterial (PA).
Questão 4 Cuidados de enfermagem no pós-operatório
Questão 5 Diabetes Mellitus.
Questão 6 Cirurgia intracraniana.
Questão 7 Abortamento.
Questão 8 Atenção humanizada ao recém-nascido de baixo peso.
Questão 9 Cuidados de enfermagem à criança com pneumonia.
Questão 10 Rubeola
Questão 11 Humanização da assistência hospitalar.
Questão 12 Política de atenção integral à saúde da mulher.
Questão 13 Pesquisa em enfermagem.
Questão 14 Aspectos éticos e legais na assistência de enfermagem em saúde mental.
Questão 15 Imunização contra a hepatite B.
Questão 16 Desinfecção de artigos.
Questão 17 Hanseníase.
Questão 18 Princípios de enfermagem.
Questão 19 Programa de Saúde da Família (PSF).
Questão 20 Violência contra a mulher.
Questão 21 Sistema Único de Saúde (Lei Nº 8.080/90).
Questão 22 Sistema Único de Saúde (Lei Nº 8.080/90).
Questão 23 Política Nacional de Humanização (PNH).
Questão 24 Previsão de demanda.
Questão 25 Planejamento Estratégico Situacional (PES).
Questão 26 Teorias de administração.
Questão 27 Pensamento educador de Paulo Freire.
Questão 28 Política Nacional de Humanização (PNH) e educação em enfermagem.
Questão 29 Modelos de assistência à saúde.

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