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APRENDER

NA FLORESTA

A PEDAGOGIA DE UMA
ESCOLA NA FLORESTA
Todos os direitos deste ebook estão

reservados à autora. N āo é permitida a sua


cópia ou reproduç āo.
As fotos deste ebook foram tiradas e

trabalhadas pela autora.


Cátia Lopes
Professora, autora, co-fundadora da pré-escola
na floresta Being Free Being Me. Criadora da
página com livraria digital
@umaescolanafloresta
Conteúdos
A minha escola na floresta
A brincadeira livre( não-
estruturada)

O que é a pedagogia Forest School?


Formação Forest School Leader -
Nível 3
Como é a organização do dia na
Escola da Floresta?
Como promovemos a segurança das
crianças?
Que roupa usam as crianças?

Como integramos as diferentes


áreas do currículo?

A estrutura do espaço em fotos


O papel do adulto
E no Inverno?
Deixem as crianças sujarem-se - A
mud kitchen
Brincadeiras de risco

Atividades dos 0 aos 10 anos


Evidências ciêntificas: Os
benefícios da aprendizagem na
Natureza
Referências
A Minha Escola na Floresta

A minha pré-escola é um projeto educacional e democrático ao ar livre para


crianças entre os 2 e os 5 anos de idade. A escola está situada no sudeste da
cidade de Londres e o seu projeto educativo foca-se sobretudo na auto
aprendizagem e na criação de relacionamentos positivos e de respeito mútuo.
As crianças decidem o que querem aprender e nós proporcionamos um
ambiente seguro onde elas se conectam com outras crianças e adultos para
partilhar, negociar, resolver problemas e aprender novas competência. As
nossas atividades planeadas são flexíveis no sentido em que acomodam os
desejos e as ideias dos mais novos. Para além disso, as crianças têm acesso a um
conjunto de atividade, previamente discutidas, em diferentes estações de
trabalho.
Os pequenos participam também na criação de seu próprio conjunto de regras e
acordos em grupo. Desta forma, eles podem desenvolver a sua individualidade e
a sua capacidade de fazer parte de uma comunidade de aprendizagem através
da interação e cooperação.
Na nossa pré-escola, entre outras, usamos as seguintes estratégias:
Questionamento: permitimos que as crianças questionem e se expressem
livremente, mas sempre respeitando os sentimentos dos outros à sua volta.
Tomada de decisões e votação: encorajamos as crianças a fazerem o maior
número possível de escolhas e a votarem nelas.
Debate sobre os sentimentos e emoções: os alunos têm a oportunidade de
trabalhar técnicas para explorar e gerir os seus sentimentos diariamente.
Praticamos yoga, meditação, cantamos cançōes, criamos espaço para a
conversa e para a reflexão em conjunto.
Interação: incluímos muitas atividades que promovem brincar à vez, partilhar e
colaborar para o ganho do grupo.
Promoção do respeito e da empatia: as crianças são encorajadas a ouvir os
outros, a aprender a apreciar as ideias e os valores dos seus pares, a
compartilhar e a colaborar.
Liderar e compartilhar o sucesso: as crianças podem liderar atividades para
ensinar os seus colegas. Os mais novos aprendem interagindo, observando e
imitando outras crianças e adultos.
Criar regras: incentivamos e ajudamos as crianças a criar regras de grupo com
assistência e orientação.
A Brincadeira Livre ( Não - Estruturada)

Na Escola na Floresta promovemos a brincadeira livre como forma de


desenvolver capacidades emocionais, sociais, intelectuais e físicas. Permitimos
também que o ambiente desenvolva a criatividade e a experimentação,
eliminando assim o elemento de falha e concentrando-se no ato de fazer e não no
resultado final. As crianças são livres para iniciar e interromper atividades a
qualquer momento. As atividades decorrem sem pressa e as crianças têm a
oportunidade de dedicar um tempo para explorar o que estão a fazer.
Todas as atividades popostas são encaradas apenas como sugestão. Nós ,
educadores estamos sempre abertos às ideias das crianças pois elas podem dar
outra utilidade igualmente criativa aos materiais propostos.
O adulto é apenas um facilitador das aprendizagens, por este motivo, deve apenas
sugerir e não forçar a atividade.
A brincadeira livre nunca é imposta.
O que é a pedagogia Forest School?
O movimento Forest School é um processo que oferece aos
participantes oportunidades de desenvolver a confiança e autoestima
através de atividades práticas ao ar livre e na natureza. As raízes deste
movimento plantaram-se na Escandinávia no século XIX. O movimento
pretende incentivar e inspirar as crianças através de experiências
positivas ao ar livre.
O modelo escandinavo coloca as crianças no controlo da sua própria
aprendizagem e os adultos ajudam e facilitam. Esta abordagem foi
amplamente adotada na Dinamarca na década de 80 como uma solução
para a falta de instalações internas para crianças em idade pré-escolar.
No Reino Unido, o movimento tem raízes nos anos 30, contudo foi em
1993 que surgiu a primeira pré-escola inspirada na filosofia.
Segundo a Associação Forest School no Reino Unido, esta pedagogia
olha para os seus participantes como iguais, únicos e com valor; como
seres competentes para explorar e descobrir. Segundo este
movimento, as crianças têm também o direito de experimentar riscos e
desafios adequados; assim como escolher, iniciar e dirigir a sua própria
aprendizagem e desenvolvimento. Além disso, os alunos têm o direito a
experimentar o sucesso de forma regular, a desenvolver relações
positivas consigo mesmos e com outras pessoas e a ter uma relação
forte e positiva com o mundo natural.
A metodologia Forest School para além de se centrar nos participantes foca-
se nas mudanças das estações do ano e na unicidade de cada uma. Por este
motivo, as sessões de Forest School decorrem durante todo o ano
independentemente do estado do tempo. Em Portugal existem já alguns
projetos que integram esta filosofia e em 2017 foi fundada a Associação
Escola da Floresta - Forest School Portugal que nasceu da intenção de
estimular e nutrir a abordagem e o movimento Forest School. Segundo a
página do facebook do movimento, este projeto baseia-se em três pilares:
formação, cooperação em rede e disseminação. Para além deste, existe
também o movimento Forest School em Portugal que consiste num grupo
que pretende formar um movimento de pessoas que desejam trazer a prática
das Forest Schools (Escandinávia, Reino Unido) para Portugal. Através deste
movimento pretende-se a criação de encontros; promoção e realização de
formações Forest School em Portugal assim como o impulsionar da criação
de novos projetos em Portugal.
FORMAÇÃO FOREST SCHOOL LEADER -
NÍVEL 3
Esta qualificação é sobretudo para profissionais
com experiência com crianças e jovens e que
desejem liderar as suas próprias sessões
de Forest School. Geralmente a formação demora
entre nove a doze meses e consiste numa mistura
de sessões presenciais e trabalho autodidático.
As sessões presenciais incidem sobretudo na
manipulação de ferramentas e na gestão do
ambiente na floresta.
As três unidades principais da formação são as
seguintes:
Competências práticas e gestão da floresta
Desenvolvimento da aprendizagem num
ambiente de Escola na Floresta.
Metodologia e avaliação
A parte teórica do curso é feita através de um
portfolio com evidências de várias formas, desde
atividades práticas a dissertações
A formação de nível 3 não é indispensável desde
que não use ferramentas e fogo nas sessões. Há
imensa literatura em inglês que o pode ajudar a
conhecer em detalhe todo o conceito
de forest school. Independentemente ou não de se
fazer o curso, se fizer sessões de atividades na
floresta é fundamental que tenha um curso de
primeiros socorros.
Como é a organização do dia na Escola da
Floresta?
Começamos o dia com uma avaliação dos riscos na floresta que é
feita pelos adultos antes da chegada das crianças. A avaliação consiste
essencialmente em verificar indícios de ramos que poderão partir,
recolher todo o lixo do chão e alertar os membros do público para a
realização de atividades com as crianças. O estado do tempo também é
verificado diariamente antes da sessão. Se os ventos estiverem acima
dos 40 km/hora a sessão é cancelada e as crianças são levadas para a
nossa casa abrigo. Os alunos começam a manhã na floresta com uma
reunião de círculo. Aí começamos por cantar canções, falar sobre como
se sentem naquele dia e rever as regras de segurança.
As regras de seguranças são a única coisa não
negociável na Escola da Floresta e consistem no
seguinte:

Respeitar os limites físicos - o espaço de aprendizagem é


delimitado com estacas e fitas coloridas. As crianças são
ensinadas que não podem sair daquele espaço sem um
adulto.
Não tocar em plantas perigosas na floresta – as crianças
aprendem desde cedo a identificar todas as plantas
perigosas existentes no ambiente envolvente.
Lavar sempre as mãos antes de comer e depois de ir à casa
de banho.

Depois da reunião da manhã as crianças escolhem o que


querem fazer. Os adultos apresentam as atividades que
planearam e as crianças têm a liberdade de escolher se
querem trabalhar com um adulto ou independentemente. O
espaço está dividido em estações de trabalho que seguem o
currículo inglês do pré-escolar. As áreas são as
seguintes: círculo para reunião, área da construção e
exploração física, mud kitchen, canto da leitura e da
escrita, canto dos números e área de meditação e de
descanso. Para além disso, as crianças almoçam na floresta
uma refeição quente servida por nós e dormem a sesta em
sacos de cama numa tenda ou em camas de rede no Verão.
Como é que promovemos a segurança
das crianças?
Para além das regras de segurança já referidas acima,
trabalhamos um jogo que se chama 1,2,3 onde é que
tu estás? Este jogo é ensinado aos pequenos nas
primeiras sessões e tem como objetivo prevenir que as
crianças se dispersem ou se percam.
Primeiro um adulto escode-se na floresta e o outro
pergunta às crianças “Alguém sabe onde é que o adulto
x está? Quando eles dizem que não o adulto diz: Vamos
lá chamá-lo/a. Vamos chamá-lo alto, 1;2;3, onde é que
tu estás? As crianças chamam alto e de seguida vão
ouvir o adulto escondido a responder o seguinte: " Um,
dois, três eu estou aqui." Assim, os mais pequenos vão
todos procurar o adulto escondido seguindo o som da
sua voz. Depois é a vez das crianças se esconderem.
Com a prática regular deste jogo os alunos passam a
conseguir encontrar rapidamente os amigos seguindo o
som da sua voz.
Que roupas usam as crianças?
Um aspeto importante da segurança das crianças é a
roupa que elas usam nas nossas sessões, por este
motivo tentamos assegurar diariamente que as
crianças estão vestidas apropriadamente para a
estação do ano em que nos encontramos.
Este é o kit recomendado pela escola para as duas
principais estações do ano:
Inverno
Camada interior :
Verão camisola interior de lã
e collants quentes
T-shirt ou Camada
sweatshirt leve de intermédia: camisola
manga comprida quente de preferência
Calças ou de gola alta.
jardineiras à prova Casaco de Inverno (à
de água. prova de água)
Meias de verão Calças ou jardineiras à
Botins prova de água.
Chapéu de sol Meias de aquecimento
Casaco corta- Botins com lã no
vento e à prova de interior ou sapatos da
água neve.
Cachecol e gorro
Luvas de preferência à
prova de água.
kit de Inverno

kit de Verão
Como íntegramos as diferentes áreas
do currículo?
Como já referi acima, na Escola da Floresta seguimos o
currículo inglês que é constituído por sete áreas que
passo a nomear: literacia, numeracia, artes,
desenvolvimento Social e emocional, desenvolvimento
físico, comunicação e linguagem e estudo do
meio. A primeira forma de integrar todas estas áreas é
através das estações de trabalho onde existem
atividades potenciadoras dos objetivos para as
diferentes áreas. A comunicação e a linguagem envolve
dar às crianças oportunidades de experimentar um
ambiente rico em linguagem para desenvolvera sua
confiança e a sua competência para se expressar, falar,
comunicar e ouvir em várias situações. O ambiente ao ar
livre é incrivelmente rico e promotor da linguagem. Isto
deve-se essencilamente ao facto de ser um meio onde
facilmente se cria a sensação de liberdade e alegria,
apanhe-se luz natural e respira-se muito oxigénio.
Assim, as crianças usam linguagem verbal e não verbal
para expressar os seus sentimentos, necessidades,
pensamentos e para pensar através dos problemas.
Na atividade física proporcionamos oportunidades para
as crianças serem ativas, interativas e desenvolverem a
sua coordenação, controle e movimento. Como parte das
suas brincadeiras não estruturadas, as crianças podem
correr, subir às árvores, brincar em circuitos, subir e
descer diferentes níveis do terreno, participar em
qualquer outro jogo físico ou rotina na floresta,
movimentando todo o corpo. Acreditamos também nos
benefícios do yoga, mindfulness e meditação como parte
do desenvolvimento físico e mental. Por este motivo,
procuramos incorporar asanas, pranayamas, atenção
plena e meditação no nosso quotidiano.
O desenvolvimento pessoal, social e emocional envolve
ajudar as crianças a desenvolver uma atitude positiva
para consigo mesmas e com os outros; desenvolver as
relações interpessoais; o respeito pelos outros; expandir
habilidades sociais e aprender a gerir os seus
sentimentos, assim como entender o comportamento
apropriado quando estão em grupo e ter confiança
nas suas próprias habilidades.
Outras ferramentas importantes que usamos com os
alunos para proporcionar um ambiente mais centrado na
criança são:
O questionamento: permitir que as crianças
questionem as coisas, sejam curiosas e expressem as
sua dúvidas a qualquer momento.
Lista de escolhas diárias: os alunos podem escolher e
votar diariamente entre uma variedade de atividades.
Interação: semanalmente, incluímos muitas atividades
que permitem esperar pela sua vez, partilhar, colaborar
e desenvolver o entendimento. Para além disso
respeitamos a opção do aluno de dizer "não" às
atividades (a menos que seja um problema de saúde e
segurança ou que quebre as regras do grupo).
Finalmente garantimos que as crianças conheçam seus
direitos e as suas responsabilidades.
Trabalho das emoções: na Escola da Floresta ajudamos
os alunos a entender e a identificar as diferentes
emoções dentro de si e dos outros e as consequências
delas nas suas ações.
Os mais pequenos têm oportunidade de liderar atividades
para os seus pares com apoio do adulto e sem
imposições. Para além disso, permitimos que as crianças
resolvam o problema por elas antes de o adulto
intervir.Damos-lhe também a oportunidade de trabalhar
os seus pontos fortes sem enfatizar as fraquezas.
No que diz respeito às outras quatro áreas mais
específicas, estas são integradas da seguinte forma:
Literacia: O desenvolvimento da escrita será feito
através do uso de paus na lama e na terra para fazerem
marcas e escreverem palavras simples. Também terāo
acesso a papel e lápis para escreverem as suas notas.
No sistema inglês a formação correta das letras ou das
palavras não é relevante até mais tarde, porque na
verdade o que interessa é que as crianças escrevam
independetemente dos erros ou da formação da letra.
Cantigas, rimas e poemas, assim como livros de ficção
e não ficção são excelentes recursos para serem
relacionados com o ambiente natural. Por este motivo,
os alunos terão acesso a um cantinho da leitura
diariamente.
Matemática: na floresta, as crianças têm oportunidade
de associar cores e organizar os elementos naturais de
acordo com vários critérios. Há oportunidades para
contar e calcular, explorar padrões, formas e espaços no
ambiente natural. Os mais novos podem ainda fazer
medições de capacidade e comprimento. Estes objetivos
podem materializar-se através de atividades como:
construir cabanas, cozinhar no fogo, apanhar paus de
diferentes dimensões ou através da brincadeira
imaginária. A pedagogia da Escola na Floresta permite o
uso constante de linguagem positional e descritiva.
Estudo do Meio: Os mais pequenos terão a oportunidade
de descobrir e identificar seres vivos. Eles mostram
curiosidade por falar e perguntar acerca do que foi visto
e do que está a acontecer. Assim desenvolvem uma
mente inquisitiva fazendo previsões, discutindo eventos
passados fazendo sequências de tempo, descobrindo
como é que o meio natural funciona. Existem sempre
oportunidades para os mais pequenos planearem e
construirem usando várias ferramentas.
Expressões Artísticas: O ambiente natural alimenta as
oportunidades das crianças para explorar texturas e
cores. Há também oportunidades para fazer música,
contar histórias criativas, brincadeira imaginária e estão
disponíveis também uma série de recursos naturais que
ajudam as crianças a dar asas à imaginação.
A Estrutura do Espaço em Fotos

Canto da Leitura

Espaço para a atividade física


Mud Kitchen
Escrita e Expressões Artísticas
Tenda para
descaso

Zona de reunião e
almoço
Abrigo

Casa de
Banho
O Papel do Adulto
O papel do adulto na Escola na Floresta tem variadas
facetas, todas elas muito importantes no
desenvolvimento socio-emocional da criança.
O adulto é um facilitador, guia, modelo, negociador,
promotor de investigação, parceiro de brincadeira e
aquele que dá conforto. Gollov, um investigador das
escolas na floresta nórdicas afirma que os adultos têm a
função de observar e promover diferentes atividades,
contudo a sua principal missão é ensinar as crianças a
tomar decisões e a assumir responsabilidades. Nas
escolas da floresta a aprendizagem deve ser iniciada
pelas crianças e não imposta pelos adultos.
Se uma criança quiser construir uma casa para pássaros,
ela será capaz de decidir que materiais usar, contudo o
adulto tem a missão de facilitar as técnicas para
concretizar o projeto.
A criança pode também demonstrar um interesse pelos
números, contudo cabe ao adulto apresentar-lhe a
melhor forma de manipular o conceito de número.
Os educadores precisam assim de ouvir atentamente as
ideias, sugestões e perguntas das crianças, assim como
sondar o seu pensamento, fazendo perguntas relevantes
e desafiadoras. É também importante que façam
sugestões e incentivem as crianças a explorar mais as
sua ideias.
De seguida dou alguns exemplos de perguntas com as
quais os adultos podem interagir com crianças:
Qual foi a primeira coisa que fizeste?
O que é que tu descobriste sobre...?
Estou a perguntar-me como / por que chegaste a essa
conclusão ?
Gostaria de saber o que vai acontecer a seguir?
Consegues adivinhar o que ...?
O que / por que é que tu achas ...?
E se...?
O que poderias tentar a seguir?
Farias algo diferente?
Existe algo / alguém que possa ajudar?
E no Inverno?

Existe uma expressão nórdica que define bem o nosso


conceito de estar na floresta no Inverno: " Não existe mau
tempo, apenas roupa inapropriada."
Nós passamos o Inverno na floresta devidamente
equipados, pois esta estação do ano é única e cheia de
experiências significativas, e por isso é indispensável
usufruir dela. Se as temperaturas estiverem negativas,
optamos por passar menos tempo na floresta, cerca de três
a quatro horas em vez das habituais seis.
O tempo frio encoraja as crianças a pensar como se
vestirem apropriadamente e como manter-se ativas e
quentes. Os adultos podem pedir às crianças para ajudarem
na preparação de bebidas e comida quente e assim dar o
mote para a discusão sobre a importância destes para o seu
corpo nos dias frios. O Inverno trás também um
conhecimento mais profundo da vida animal, no sentido em
que permite ás crianças descobrirem como é que eles vivem
nesta altura. Os mais pequenos aprendem conceitos como
hibernação, conservação de energia e migração. Para além
disso, existe toda uma oportunidade de ver o efeito do gelo
e até da neve nas plantas assim como estudar as mudaças
da flora nesta estaçāo do ano.
Para refletir antes que chegue o Inverno ...

Nos países escandinavos, onde as temperaturas chegam


aos 20 graus negativos, as crianças dormem a sesta na rua,
dentro de carrinhos.
Em Portugal, onde as temperaturas negativas raramente
existem, as crianças são "proibidas" de sair á rua logo ás
primeiras chuvas, já para não falar do frio.
Os escandinavos consideram que dormir na rua, para além
de melhorar os hábitos de sono, promove o
desenvolvimento saudável da criança.
Os portugueses consideram que deixar as crianças na rua,
ao frio faz mal. "Vai ficar doente!" - é a frase que mais se
ouve, quando algum pai se atreve a deixar o seu filho
brincar na rua num dia de temperaturas mais baixas .
Alguns médicos costumam dizer que um vírus nunca se cura
no lugar onde foi apanhado e aconselham os seus doentes a
apanhar ar fresco todos dias como forma de promover uma
cura mais rápida.
Quantas e quantas crianças não passam Invernos inteiros
doentes porque vivem entre a sua casa e a escola??
Serão as nossas crenças culturais limitadoras na forma
como educamos as crianças?

Nota: post publicado na página do facebook @umaescolanafloresta em


outubro de 2019. Este post chegou a 700.000 pessoas, teve 4700 partilhas e
327 comentários.
Deixem as crianças sujar-se...
A Mud Kitchen
A mud kitchen é uma parte indispensável numa escola da
floresta, isto porque todas as crianças procuram
naturalmente a água e a terra como forma de explorar. Os
mais pequenos gostam de sujar-se, cheirar, mexer e tocar.
A experiência e o contato direto com a terra desenvolve a
concentração das crianças, para além de promover
aprendizagens transversais às várias áreas. Para além
disso, a lama/terra contêm bactérias que estimulam o
sistema imunitário e aumentam o nível de serotonina no
cérebro dos mais novos, assim como o nível de endormofina
que acalma e ajuda a relaxar. Toda a exposição à micróbia
do exterior é fundamental no desenvolvimento do sistema
imunitário e na prevenção de alergias.
O facto de as crianças gostarem naturalmente de se sujar,
vai muitas vezes contra as expetativas dos adultos que as
rodeiam, contudo este é um comportamento natural que
tem de ser aceite como normal a bem de um
desenvolvimento equilibrado dos mais novos.
Brincadeiras de Risco

Está nos nossos instintos de pais e na


nossa cultura a necessidade de
proteger e de evitar que os nossos
filhos corram riscos, contudo esta
proteção tem relevado ter mais
malefícios que benefícios.
Normalmente, as experiência que se
retira de um risco são muito
superiores aos danos que causa. Só
correndo riscos é que a criança
conseguir avaliar o risco. Para além
disso, o risco surge da necessidade
de a criança de se movimentar, que é
insdispensável para a capaciade de
foco e atenção.
As atividades arriscadas ajudam-nos
a conhecer os limites do nosso
próprio corpo e prepara as crianças
para os desafios da vida adulta.
Arriscar permite-lhes desenvolver as
competências emocionais, cognitivas,
sociais importantes para o futuro.
Quando correm riscos os mais novos
aprendem também, a superar os
medos a regular emoções.
Atividades dos 0 aos 12
Até aos 2 anos de idade as atividades na natureza são
sobretudo sensoriais. Podemos envolver crianças a partir
dos seis meses em sessões de escola na floresta. A criança
deve ir à descoberta de forma independente mas sob a
supervisão do adulto. Os bebés são encorajados a explorar os
elementos naturais sem serem interrompidas sabendo que
têm uma base segura para voltar. Por este motivo é
necessário dar oportunidade ao bebé para se movimentar e
explorar através dos sentidos e examinando texturas e
sensações. Recursos naturais como o musgo, as penas,
pedaços de madeira, pedras, terra, flores podem ser
descobertos através das mãos e da boca.
Deixar os bebés caminhar, gatinhar e subir pequenas ladeiras
e inclinações permite-lhe conhecer e sentir os efeitos da
gravidade no seu corpo. Desta forma, eles também aprendem
quando, como começar, como mudar a velocidade e quando
parar.
Atividades práticas a partir dos 2 aos 5 anos :

Usar objetos naturais para explorar o som ou fazer


instrumentos.
Jogar jogos sociais
Caça aos insetos
Observação de aves
Fazer casas para animais
Decalcar de folhas
Pintar com pigmentos naturais
Criar colagens naturais
Construir cabanas
Fazer uma caça ao tesouro na floresta
Fazer poções naturais
Criar uma mud kitchen
Fazer caretas de lama
Recolher elementos naturais e organizá-los por categorias
Fazer jogos de memória com elementos naturais
Fazer um "pau andante"
Fazer papagaios de papel
Caça às texturas
Fazer peças de joalharia com elementos naturais
Atividades práticas para crianças dos 6 aos
10 anos :

Construir cabanas
Construir abrigos à prova de água
Gravar e identificar o canto dos pássaros
Fazer um baloiço com corda
Camuflar roupas com elementos naturais
Usar ferramentas para fazer instrumentos naturais
Criar esculturas com barro e elementos naturais
Cozinhar no fogo ( com supervisão do adulto)
Criar um espetáculo de fantoches
Fazer nós
Fazer tecelagem com elementos naturais
Fazer mandalas com elementos naturais
Criar uma horta
Fazer um herbário
Criar um álbum fotográfico da fauna da floresta local
Observar e identificar de pássaros
Gravar os sons do Inverno
Preparar bebidas quentes para beber na floresta
Fazer uma recolha de lixo na mata local
Evidêcias Ciêntíficas
Os benefícios de aprender na natureza
As evidências ciêntificas sobre os benefícios da
educação na natureza são cada vez mais fortes. Começo
por fazer referência a um estudo que está currentemente
a ser aplicado nas escolas britânicas.
As universidades de Stirling e Edimburgo concluíram que
uma milha diária é uma “intervenção efetiva” e tem
resultados positivos mensuráveis ao nível da
concentração, saúde mental e atividade física.
O objetivo é que todos os dias, durante o horário das
aulas, os alunos corram ou andem, no exterior, se
possível na natureza por 15 minutos (~ 1 milha) a um
ritmo auto-selecionado.
Outros estudos demonstram que as crianças agora sabem
menos sobre o mundo natural do que nunca na história da
humanidade. Segundo a National Trust, menos de uma em
cada dez crianças brinca regularmente em lugares
selvagens em comparação com a geração anterior, um
terço nunca subiu a uma árvore e uma em cada dez não
sabe andar de bicicleta.
Um estilo de vida cada vez mais fechados e sedentários está a levar
ao crescimento de sintomas físicos e mentais angustiantes,
incluindo obesidade, problemas comportamentais, stress e falta de
consciência da natureza e dos seus benefícios.
Felizmente, aumentar o tempo ao ar livre para as crianças é a forma
mais simples de lidar com esses problemas e uma educação
florestal oferece uma gama de benefícios comprovados à saúde e
ao bem-estar.
Angela Hanscom, uma terapeuta ocupacional pediátrica, no seu livro
Descalços e Felizes relata com evidências todos os problemas que a
ausência de natureza tem despontado no desenvolvimento da
crianças e o que é que podemos fazer para os melhorar.
Richard Luov criador da expressão Deficit de Natureza e
investigador do relacionamento das crianças com o mundo natural
nos contextos atuais e históricos, também apresenta fortes
argumentos acerca da ausência de Natureza na vida das crianças e o
seu impacto no mundo escolar atual.
Referências
Associação Escola da Floresta - Forest School Portugal
https://www.facebook.com/escoladaflorestapt/

Forest School Association


https://www.forestschoolassociation.org

Movimento Forest School e Beach School em Portugal


https://www.facebook.com/groups/380072355666473/

A minha Pré-Escola: https://www.beingfreebeingme.com

Bilton, Helen (2017) "Brincar ao Ar Livre", Porto Editora

Finlay, Brett (2017) "Cuidar do Intestino das Crianças.


Deixem-nos Comer Terra." Matéria Prima

Hanscon, Angela (2018) "Descalços e Felizes" Livros


Horizonte

Louv, Richard (2010) " Last Child in the Woods" Atlantic


Books
Os meu ebooks
Contactos

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