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2 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 41. ed., atual., São Paulo: Malheiros, p. 627.
Essa sujeição dos bens públicos às normas de Direito Público gera reflexos
inexoráveis no que diz respeito à manutenção da posse, nos casos de turbação, ou
sua retomada, nos casos de esbulho, como será visto mais adiante.
Também para a correta resposta à questão jurídica submetida à análise da
Procuradoria do Estado, faz-se necessária rápida abordagem da tricotômica clas-
sificação dos bens públicos quanto à sua destinação5:
“a) de uso comum – são os destinados ao uso indistinto de todos, como os mares,
ruas, estradas, praças, etc;
b) de uso especial – são os afetados a um serviço ou estabelecimento público,
como as repartições públicas, isto é, locais onde se realiza a atividade pública
ou onde está à disposição dos administrados um serviço público, como teatros,
universidades, museus e outros abertos à visitação pública;
c) dominicais, também chamados dominiais – são os próprios do Estado como
3 JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de Direito Administrativo. 10. ed., rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2014, p. 1112.
4 JUSTEN FILHO, Marçal. Op. cit., p. 1117.
5 Nesse sentido, rezam os artigos 98 e 99 do Código Civil:
“Art. 98. São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público
interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem.”
“Art. 99. São bens públicos:
I – os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças;
II – os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou estabelecimento da adminis-
tração federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os de suas autarquias;
III – os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de
direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades.
Parágrafo único. Não dispondo a lei em contrário, consideram-se dominicais os bens pertencentes às pes-
soas jurídicas de direito público a que se tenha dado estrutura de direito privado.”
6 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 30. ed., rev., atual. São Paulo: Ma-
lheiros, 2012, p. 930.
7 Anoto que as conclusões desta peça jurídico-opinativa são aplicáveis aos bens de uso comum e especial,
mas não aos bens dominicais, como já fora outrora alertado no Parecer PA no 29/2008:
“31. Em relação aos imóveis públicos enquadrados nas categorias de bem de uso comum ou especial, o regime acen-
tuadamente publicístico que lhes é peculiar apresenta uma nota característica concernente à proteção da posse des-
ses bens de raiz. Ao contrário do particular turbado ou esbulhado na posse de imóvel, que somente poderá manter
ou recuperar a posse por sua própria força se o fizer de imediato, nos termos do artigo 1.210, § 1o, do Código Civil,
a pessoa jurídica de direito público desapossada de imóvel de uso comum ou especial poderá, a qualquer tempo,
valer-se da autotutela para recuperar a posse do bem, muito embora também possa, facultativamente, se servir de
ação de reintegração de posse (art. 926 e segs. do CPC).” (grifei)
8 Vale aqui trazer à baila as palavras de Oswaldo Aranha Bandeira de Mello a respeito da autotutela – ou
autoexecutoriedade – dos atos administrativos:
“Na hipótese de ser oposta resistência por terceiro, atingindo o ato administrativo, e mesmo a autoexecutoriedade
jurídica do seu mandamento, impõe-se o uso de coação pela força policial. É admissível, quando prevista a autoexe-
cutoriedade do ato, ainda que não prescrito, o uso da força policial, uma vez seja indispensável para o cumprimento,
ex officio, daquela e não haja outras sanções possíveis a se aplicar, que atingissem o mesmo fim colimado.
...
Embora, à primeira vista, se possa ter a impressão de que a autoexecutoriedade do ato administrativo constitui um
meio para o exercício abusivo de poder, ela, na verdade, está incorporada ao direito público moderno dos países
democráticos, sendo o berço dessa concepção o Direito Administrativo francês.
Realmente, não há risco para as liberdades dos cidadãos e para seu patrimônio no reconhecimento da autoexecu-
toriedade dos atos administrativos. Ao mesmo tempo que se faculta tal prerrogativa à Administração Pública, com
referência aos seus atos de direito público, se atribuem aos particulares remédios judiciais que permitem a suspensão
ou proibição da autoexecutoriedade quando envolver via de fato, isto é, corresponder a uma violação de direito.
Além disso, o ato poderá ser anulado e o particular haver a indenização dos danos sofridos, apurada perante os
tribunais a plena responsabilidade da Administração Pública.
Verifica-se, consequentemente, que é da própria natureza do ato administrativo a sua autoexecutoriedade, ao contrário
dos atos de direito privado. A autoexecutoriedade é a regra, nos casos em que ela seja efetivamente necessária, e retro-
expostos, no direito público; e a exceção no direito privado. Neste, a justiça pelas próprias mãos só se admite em casos
excepcionalíssimos, como seja a legítima defesa contra agressão injusta, ou o desforço pessoal nos casos de esbulho de
posse. Naquele, ao contrário, ela se realiza em princípio, desde que não haja proibição legal, direta ou indireta, como
salientado.” Princípios Gerais de Direito Administrativo. 3a ed., vol. I. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 626/627.
polícia administrativa, que exigem execução imediata, amparada pela força pú-
blica, quando isto for necessário.”9
Para que a autotutela dominial ocorra é preciso, antes de tudo, que seja incon-
trastável a natureza jurídica pública do bem tutelado, afastados, pois, quaisquer
direitos de quem dê origem à atividade administrativa protetora.
...
...
Afora a doutrina estrangeira citada por Cretella Jr. no texto acima trans-
crito, Marcello Caetano também é defensor da autotutela administrativa dos
bens públicos:
14 TJ-SP; 10ª Câmara de Direito Público; APELAÇÃO no 0059868-96.2012.8.26.0224; Rel. Des. Marcelo
Semer; Data da decisão: 14/04/2014.
15 TJ-SP; 7ª Câmara de Direito Público; APELAÇÃO CÍVEL No 0005805-02.2010.8.26.0642; Rel. Des. Moacir
Peres; Data da decisão: 13/08/2012.
deu nos limites do poder de autotutela. Ocupação que, por se tratar de bem pú-
blico, não induz posse. Inexistência de direito a indenização. Ação improcedente.
Recurso improvido.”16
16 TJ-SP; 10ª Câmara de Direito Público; APELAÇÃO COM REVISÃO no 539.476-5/5; Rel. Des. Antonio
Carlos Villen; Data da Decisão: 15/12/2008.
17 Menciono, ainda, o Parecer GPG/Cons no 37/2014 (cópia anexa), que, respondendo à consulta formulada pela
Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano – CDHU, teceu considerações acerca da manutenção/
retomada da posse de bens dominicais, inclusive no que concerne à atuação da Polícia Militar em tais situações.