❯ Interesse do Poder Público nas Ações Possessórias
O interesse processual se caracteriza diante da necessidade e a utilidade do provimento
jurisdicional pleiteado. Em se tratando de hipótese onde resta demonstrado o esbulho à posse jurídica de um ente público, há interesse processual do Estado na propositura de ação possessória para reaver a posse, mormente diante da impossibilidade de utilização de desforço imediato para proteção possessória após a concretização do esbulho.
❯ (Im)Possibilidade da Proteção Possessória em face do Poder Público
Não há óbice à propositura de ação em face da fazenda pública, visando a proteção
possessória, observados os requisitos legais. No entanto, em se tratando de hipótese onde o litígio diz respeito à imóvel já incorporado ao patrimônio público, a reintegração se torna inviável - ainda que haja nulidade no processo de desapropriação - à luz do princípio da supremacia do poder público e da indisponibilidade dos bens públicos, devendo a contenda ser resolvida em perdas e danos. Ainda, sendo o bem público ocupado por particular, este não poderá intentar ação possessória contra o Estado haja vista que sua ocupação não induz posse, mas mera detenção - o que não impede, por outro lado, que a proteção possessória seja invocada em relação à terceiro.
❯ Vedação do Art. 562, Parágrafo Único do CPC
É incabível a concessão de liminar em ação de reintegração ou manutenção de posse
contra a fazenda pública sem prévia audiência de seus representantes legais. Tal vedação se justifica pela presunção de legalidade dos atos administrativos, bem como em razão do princípio da supremacia do interesse público.
❯ Imissão na Posse X Reintegração de Posse
A ação de reintegração de posse, elencada no CPC dentre as ações tipicamente
possessórias, visa restituir a posse em caso de esbulho; já a ação de imissão na posse, de natureza petitória, apesar de tutelar indiretamente o direito de posse, possui como escopo principal o direito de propriedade. Assim, as espécies se distinguem em seu fundamento: nas ações possessórias, o pedido se funda no direito de posse do autor, enquanto nas petitórias, o pedido é baseado no direito de propriedade. ❯ Reintegração de Posse e Desapropriação Indireta
Como já dito, o bem já incorporado ao patrimônio público e afetado à função
administrativa, ainda que nos casos de nulidade em processo de desapropriação ou de desapropriação indireta (quando não há o trâmite regular e indenização prévia), não está sujeito à reintegração de posse pelo expropriado, tendo em vista a supremacia do interesse público em detrimento ao interesse particular. Nesse caso, eventual ação de reintegração de posse deverá ser convertida em ação indenizatória, resolvendo-se a lide em perdas e danos.
REFERÊNCIAS JURISPRUDENCIAIS
1 - APELAÇÃO CÍVEL. POSSE (BENS IMÓVEIS). REINTEGRAÇÃO DE POSSE. BEM PÚBLICO.
CARÊNCIA DE AÇÃO. AUSÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR. O interesse concerne à utilidade e à necessidade da pretensão deduzida pelo autor na petição inicial. Na hipótese dos autos, a ação possessória é via útil e necessária ao Município cujo esbulho de imóvel público restou concretizado. (TJRS - Apelação Cível 70066386335/2015 - J. 30/06/2016)
2 - APELAÇÃO CÍVEL - FALTA DE INTERESSE PROCESSUAL - REJEIÇÃO - AÇÃO DE
REINTEGRAÇÃO DE POSSE - BEM PÚBLICO - AUTORIZAÇÃO DE USO - NOTIFICAÇÃO PARA DESOCUPAÇÃO VOLUNTÁRIA - DESCUMPRIMENTO - ESBULHO POSSESSÓRIO CARACTERIZADO - PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO - DESNECESSIDADE - ABUSO DE PODER - NÃO CARACTERIZAÇÃO - INEXISTÊNCIA DE OFENSA AO CONTRADITÓRIO E A AMPLA DEFESA - SENTENÇA CONFIRMADA - RECURSO NÃO PROVIDO. 1. O interesse processual consubstancia-se na necessidade de o autor vir a juízo e na utilidade que o provimento jurisdicional poderá proporcionar-lhe. 2. No caso em debate, implementada a condição alegada pela parte ré, restou comprovada a necessidade do ajuizamento da ação. 3. A autorização de uso de bem público tem como características a discricionariedade e a precariedade, podendo ser revogada a qualquer tempo pela Administração Pública, não havendo que ser precedida de procedimento administrativo. 4. No caso concreto, embora notificada para desocupar o imóvel, a parte ré recusou-se a fazê-la; logo, caracterizado o esbulho possessório, devendo ser confirmada a sentença que determinou a reintegração de posse do imóvel descrito na inicial. 5. Recurso não provido. (TJMG - Apelação Cível nº 1.0408.12.001440-7/001 - J. 16/05/0017)
3 - APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. IMÓVEL PÚBLICO. PROPRIEDADE
DO INSTITUTO MINEIRO DE GESTÃO DAS ÁGUAS. DETENÇÃO DE PARTICULAR. IMPOSSIBILIDADE DE PROTEÇÃO POSSESSÓRIA. Em se tratando de imóvel pertencente à autarquia estadual, pessoa jurídica de direito público dotada de autonomia administrativa e financeira, não terá o particular direito à proteção possessória, ainda que tenha sido cadastrado como contribuinte imobiliário e venha arcando, há anos, com os ônus fiscais e de manutenção, pois perante o Poder Público o particular exerce mera detenção. Recurso não provido. (TJMG - Apelação Cível nº 1.0123.11.004989-7/001 - J. 28/06/2018)
4 - APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO REINTEGRAÇÃO DE POSSE - VIA ELEITA INADEQUADA -
DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA - EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO - RECURSO DE APELAÇÃO IMPROVIDO. I A pretensão autoral deverá ser indenizatória em lugar da pretensão reintegratória de posse de imóvel por desapropriação indireta. Dispõe o art. 35 do decreto-lei n 3.365/41 que: "os bens expropriados, uma vez incorporados à fazenda pública, não podem ser objeto de reivindicação, ainda que fundada em nulidade do processo de desapropriação. qualquer ação, julgada procedente, resolver-se-á em perdas e danos". A decisão recorrida não merece reparo já possuindo fundamento suficiente, e o apelante não trouxe argumento que alterasse o posicionamento adotado. II - À unanimidade de votos, recurso de apelação conhecido e improvido nos termos do voto do relator. (TJPA - Apelação Cível nº 2009.3.006626-9 - J. 18/10/10)
5 - RECURSO ESPECIAL. POSSE. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. BEM PÚBLICO
DOMINICAL. LITÍGIO ENTRE PARTICULARES. INTERDITO POSSESSÓRIO. POSSIBILIDADE. FUNÇÃO SOCIAL. OCORRÊNCIA. 1. Na ocupação de bem público, duas situações devem ter tratamentos distintos: i) aquela em que o particular invade imóvel público e almeja proteção possessória ou indenização/retenção em face do ente estatal e ii) as contendas possessórias entre particulares no tocante a imóvel situado em terras públicas. 2. A posse deve ser protegida como um fim em si mesma, exercendo o particular o poder fático sobre a res e garantindo sua função social, sendo que o critério para aferir se há posse ou detenção não é o estrutural e sim o funcional. É a afetação do bem a uma finalidade pública que dirá se pode ou não ser objeto de atos possessórias por um particular. 3. A jurisprudência do STJ é sedimentada no sentido de que o particular tem apenas detenção em relação ao Poder Público, não se cogitando de proteção possessória. 4. É possível o manejo de interditos possessórios em litígio entre particulares sobre bem público dominical, pois entre ambos a disputa será relativa à posse. 5. À luz do texto constitucional e da inteligência do novo Código Civil, a função social é base normativa para a solução dos conflitos atinentes à posse, dando-se efetividade ao bem comum, com escopo nos princípios da igualdade e da dignidade da pessoa humana. 6. Nos bens do patrimônio disponível do Estado (dominicais), despojados de destinação pública, permite-se a proteção possessória pelos ocupantes da terra pública que venham a lhe dar função social. 7. A ocupação por particular de um bem público abandonado/desafetado - isto é, sem destinação ao uso público em geral ou a uma atividade administrativa -, confere justamente a função social da qual o bem está carente em sua essência. 8. A exegese que reconhece a posse nos bens dominicais deve ser conciliada com a regra que veda o reconhecimento da usucapião nos bens públicos. (STF, Súm 340; CF, arts. 183, § 3°; e 192; CC, art. 102); um dos efeitos jurídicos da posse - a usucapião - será limitado, devendo ser mantido, no entanto, a possibilidade de invocação dos interditos possessórios pelo particular. (STJ - REsp. nº 1.296.964/DF - J. 18/10/2016) 6 - AGRAVO DE INSTRUMENTO - REINTEGRAÇÃO DE POSSE CONTRA A FAZENDA PÚBLICA - OITIVA PRÉVIA. 1 - Deve-se observar o art. 928, parágrafo único, do CPC, segundo o qual 'contra as pessoas jurídicas de direito público não será deferida a manutenção ou a reintegração liminar sem prévia audiência dos respectivos representantes judiciais'. 2 - A tese da derrotabilidade das regras exige, para sua aplicação, uma excepcionalidade fática e jurídica não demonstrada nas razões recursais, além da remota probabilidade de novo afastamento da disposição normativa que se pretende superar. (TJMG - Agravo de Instrumento nº 1.0114.14.015544-0/001 - J. 26/03/2015)
7 - AGRAVO DE INSTRUMENTO.REINTEGRAÇÃO DE POSSE. BEM PÚBLICO.REVOGAÇÃO DA
DOAÇÃO EFETUADA ÀQUELE DE QUEM O AGRAVANTE ADQUIRIU O IMÓVEL. PRESUNÇÃO DE LEGALIDADE DESSE ATO. AUTORIZAÇÃO LEGISLATIVA DE CONCESSÃO DE DIREITO REAL DE USO DO IMÓVEL PARA A AGRAVADA. FALTA DE PROVA DOS REQUISITOS PARA O DEFERIMENTO LIMINAR DA PRETENDIDA PROTEÇÃO POSSESSÓRIA. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. (TJPR - Agravo de Instrumento nº 1527874-5 - J. 10/08/2016)
8 - APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE IMISSÃO NA POSSE - AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DA POSSE -
FUNGIBILIDADE - ART. 554 - INAPLICÁVEL - AÇÕES PETITÓRIAS - AÇÕES POSSESSÓRIAS - SENTENÇA MANTIDA. 1. Não cabe a fungibilidade esculpida no art. 554 do CPC⁄15 entre ações petitórias e ações possessórias, tendo em vista a diferença entre o escopo das primeiras, fundadas no direito de propriedade, e das segundas, baseadas tão somente na posse. 2. Recurso conhecido e desprovido. (TJES - Apelação Cível nº 0006448-65.2012.8.08.0035 - J. 04/07/2017)
9 - APELAÇÃO CÍVEL. POSSE. AÇÃO DE INTERDITO PROIBITÓRIO. REQUISITOS. O interdito
proibitório visa impedir atos de turbação e esbulho e tem como requisito a prova da posse e de justo receio de ser molestada. – Circunstância dos autos em que presente a prova da posse e justo receio de ser molestada; e se impõe manter a sentença. HONORÁRIOS RECURSAIS. CABIMENTO. O tribunal ao julgar o recurso majorará os honorários advocatícios levando em conta o trabalho realizado no grau recursal, § 11, observando os parâmetros fixados nos §§ 2º a 6º, do art. 85 do CPC/15. - Circunstância dos autos em que o resultado do recurso autoriza majoração dos honorários de sucumbência. Recurso desprovido. (TJRS - Apelação Cível nº 70070191689 - J. 27/10/2016)