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Exegese versus
Argumentação
Curso online
Produção de
textos filosóficos
Prof. Dr. Mateus Salvadori
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Exegese versus Argumentação
ARGUMENTATIVO EXEGÉTICO
ESTILO ARGUMENTATIVO
que precisam ter para os fins a que se destinam, e por quê. Em outras palavras:
o engenheiro mecânico dá palpite sobre o que está certo e o que está errado no
motor recém-construído. De modo semelhante, o autor de um texto argumenta-
tivo dá palpite sobre onde a teoria de determinada pessoa está certa e onde está
errada e o porquê.
ESTILO EXEGÉTICO
ESTILO EXEGÉTICO-ARGUMENTATIVO
- É importante ter em mente que esses caminhos de escrita não são os únicos
que existem, mas apenas alguns dos mais comuns. Além disso, seu passo-a-pas-
so não é rígido, ou seja, não se trata de receitas de bolo que têm que ser obedeci-
das à risca para que o produto final dê certo (vale a pena lembrar que o passo-a-
-passo indicado nos diagramas é apenas um exemplo de como cada modelo
pode ser executado, e não a fórmula universal caracterizadora do modelo).
Todos os modelos admitem adaptações e, certamente, o tom pessoal de cada
pesquisador ou escritor também contribui enormemente para variações em
termos de resultado.
- Como é feita a escolha de um caminho? A escolha por um caminho deve levar
em conta diferentes fatores.
-- Um deles é a afinidade, isto é, o gosto pessoal do autor: algumas pessoas
gostam mais de escrever sobre do que de discutir com. Já outras têm a preferên-
cia oposta. E há também as que gostam das duas coisas. Adotar o modo de tra-
balho que mais se gosta tem um grande impacto sobre a qualidade do trabalho
final: quando fazemos o que gostamos temos chances maiores de êxito porque
conseguimos nos dedicar durante mais tempo à tarefa e, consequentemente,
temos chances maiores de ficarmos muito bons naquilo que fazemos.
-- Mas o gosto pessoal não deve ser o único critério de escolha. Também é pre-
ciso levar em conta o que se tem. Quer dizer, é necessário avaliar se o material
disponível permite ser tratado em termos argumentativos, ou em termos exegé-
ticos, ou em ambos. Se os textos disponíveis (os que estão sendo pesquisados)
forem todos exegéticos, quer dizer, se não for possível identificar uma disputa
em meio aos textos, provavelmente a investigação argumentativa terá encontra-
do um obstáculo logístico. Por outro lado, se todo o material disponível trata de
disputas, e se não há nada exatamente obscuro em meio a essas disputas, fazer
uma exegese cuidadosa e que busque ampliar a compreensão geral que se tem
de um determinado conceito talvez não seja muito produtivo.
-- Um autor deve procurar observar o que é que tem em mãos e pensar: que tipo
de pesquisa poderia surtir efeitos aqui? Há algo não muito claro, que precise ser
mais bem esclarecido? Há alguma relação entre ideias ou entre conceitos que
ninguém está enxergando e que, se explorada, contribuiria para uma compreen-
são mais aprofundada de tal filósofo? Há intérpretes discordando entre si, ou
sustentando pontos de vista opostos sobre uma mesma coisa? Alguém está
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Exegese versus Argumentação
dizendo algo de que eu discordo? Fazer a si mesmo esse tipo de pergunta ajuda
a adquirir clareza sobre que tipo de pesquisa o material permite.
-- Por último, também é importante conhecer o círculo onde o trabalho será
recebido. Há ambientes completamente exegéticos e há ambientes completa-
mente argumentativos. Um autor precisa dar uma olhada em que tipo de mate-
rial é produzido pelas pessoas que compõem o ambiente onde ele pretende que
o texto seja lido e onde ele pretende ser aceito enquanto autor ou pesquisador,
a fim de tentar identificar qual tipo de trabalho tem boa recepção dentro desse
ambiente e qual não tem. Orientadores, tutores e supervisores podem ajudar
nisso, mas uma boa ideia é passar a “frequentar” o ambiente onde se pretende
que o futuro texto seja lido. Frequentar é algo que se pode fazer de maneira lite-
ral – participar de círculos, debates e reuniões em grupos de estudo, grupos de
pesquisa, eventos, conferências etc. – mas também de maneira metafórica,
digamos assim: é possível, e recomendável, ler os textos oriundos do ambiente
intelectual de interesse, ler o que é publicado nas revistas onde se pretende pu-
blicar etc. Acompanhando, dessa forma, a produção intelectual de cada ambien-
te, é possível adquirir uma boa noção sobre que tipo de trabalho cairia bem em
cada círculo e sobre quais os círculos mais indicados para receber o tipo de tra-
balho que se pretende fazer.